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Manual de sistemas de Wetlands construídas para o tratamento de esgotos


sanitário: implantação, operação e manutenção

Book · May 2018

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4 authors:

Eduardo Lucas Subtil Roseli Frederigi Benassi


Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal do ABC (UFABC)
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Lucia Helena Coelho Tatiane Araujo de Jesus


Universidade Federal do ABC (UFABC) Universidade Federal do ABC (UFABC)
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SISTEMAS DE BIORRETENÇÃO PARA MANEJO DE ÁGUAS DE CHUVA E CONTROLE DE ENCHENTES View project

Freshwater Phytoplankton Ecology View project

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Prof. Dr. Dácio Roberto Matheus
Prof. Dr. Eduardo Lucas Subtil
Profa. Dra. Lúcia Helena Gomes Coelho
Profa. Dra. Luísa Helena dos Santos Oliveira
Profa. Dra. Mércia Regina Domingues Moretto
Profa. Dra. Tatiane Araújo de Jesus
Prof. Dr. Wanderley da Silva Paganini
Engª. Aldrew Alencar Baldovi
EQUIPE

Engª. Aline Alves Sanchez


Bióloga Juliana Martins Stopa

MANUAL DE SISTEMAS DE
WETLANDS CONSTRUÍDAS
PARA O TRATAMENTO DE
ESGOTOS SANITÁRIOS
implantação, operação e manutenção
Universidade Federal do ABC
Ministério da Saúde – FUNASA
Sabesp

Organizadora
Profa. Dra. Roseli Frederigi Benassi

Equipe
Prof. Dr. Dácio Roberto Matheus
Prof. Dr. Eduardo Lucas Subtil
Profa. Dra. Lúcia Helena Gomes Coelho
Profa. Dra. Luísa Helena dos Santos Oliveira
Profa. Dra. Mércia Regina Domingues Moretto
Profa. Dra. Tatiane Araújo de Jesus
Prof. Dr. Wanderley da Silva Paganini
Engª. Aldrew Alencar Baldovi
Engª. Aline Alves Sanchez
Bióloga Juliana Martins Stopa

Equipe Técnica sob Coordenação da Gráfica e Editora Copiart

Projeto gráfico, diagramação e capa


Rita Motta

Revisão
Sergio Meira (Soma)
Sumário

Apresentação 4
1. Introdução 6
2. Ecotecnologias 8
3. Sistemas alternativos de tratamento de esgotos 9
4. Wetlands construídas 11
4.1 Definição 11
4.2 Vantagens 11
4.3 Tipos de wetlands construídas 12
5. Componentes principais 20
5.1 Macrófitas aquáticas 20
5.2 Material suporte 23
5.3 Microbiota 25
6. Eficiências de remoção via wetlands construídas 27
7. Dimensionamento de wetlands construídas 29
8. Implantação, operação e manutenção 37
9. Possíveis complicações e soluções 40
9.1 Colmatação 40
9.2 Manejo das macrófitas aquáticas 41
9.3 Ecotoxicidade 44
10. Considerações finais 46
Referências 48
ApreSentAção

O presente documento, intitulado Manual de sistemas


de wetlands construídas para o tratamento de esgotos sa-
nitários: implantação, operação e manutenção, foi ideali-
zado e escrito por discentes e docentes vinculados ao
Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade Federal do ABC (PPG-CTA/
UFABC), com a colaboração de um docente da Universi-
dade de São Paulo (USP) e também Superintendente de
Gestão Ambiental da Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp).
Este material faz parte de um projeto de pesquisa e
extensão financiado pela Fundação Nacional de Saúde
(FUNASA), intitulado Desempenho de sistemas de trata-
mento de efluente sanitário por leito de macrófitas aquáti-
cas emergentes para remoção de poluentes e reaproveita-
mento de nutrientes: contribuições para o aprimoramento
do uso e disseminação da tecnologia/SISTREMAE. O objeti-
vo principal do projeto é realizar estudos experimentais

|4|
para avaliar o desempenho de unidades, em escala piloto, de
wetlands construídas, cultivadas com macrófitas aquáticas emer-
gentes, para o tratamento de efluentes sanitários, com vistas a
difundir o uso dessa ecotecnologia.
Ao longo de 27 páginas são apresentados, de forma didática e
concisa, conceitos teóricos e práticos relacionados ao tratamento
de esgoto sanitário usando plantas aquáticas, tais como: dimen-
sionamento, monitoramento de desempenho do sistema e reso-
lução de problemas. Nesse contexto, esperamos que este mate-
rial possa contribuir como uma importante fonte de informações
para a formação e capacitação de profissionais que desempe-
nham atividades técnicas operacionais na área de saneamento
básico e ambiental.
Boa leitura!

|5|
1
introdução

De acordo com o diagnóstico dos serviços de água e


esgoto, realizado em 2015, pelo Sistema Nacional de
Informação sobre Saneamento (SNIS), pouco mais de
50% da população brasileira têm acesso à coleta de
esgoto e cerca de 70% de todo esgoto coletado pas-
sa por algum nível de tratamento antes de seu lança-
mento nos corpos hídricos (BRASIL, 2017). Como se
sabe, a falta de tratamento de esgotos sanitários tem
como consequências: a veiculação hídrica de doenças
infecciosas, tais como diarreia e hepatites virais; im-
pactos ambientais negativos, como a degradação de
corpos hídricos; e o comprometimento da qualidade
de vida humana.
Embora sejam intrínsecas as relações entre o sanea-
mento básico e a qualidade de vida e da saúde pública,
o Brasil ainda apresenta um déficit em termos de co-
bertura de serviços básicos de saneamento, com maior
carência nas áreas periféricas dos centros urbanos

|6|
e nas zonas rurais, onde se concentram as populações mais po-
bres. Em áreas rurais e com pequenas comunidades, os sistemas
alternativos de tratamento são opções viáveis, em relação aos
sistemas convencionais e coletivos de grande porte, por utiliza-
rem tecnologias simples, de baixo custo de implantação e fácil
manutenção.
Até mesmo nos grandes centros urbanos, cuja solução técnica
que vem sendo empregada para o tratamento de esgoto tem
sido voltada para sistemas centralizados, o uso de tecnologias al-
ternativas como solução descentralizada para o tratamento local
(on site) do esgoto tem o potencial de diminuir a necessidade de
infraestrutura de coleta e transporte, além de possibilitar o reúso
de água e reduzir custos.
Nessa perspectiva, os investimentos em sistemas alternativos de
tratamento nessas áreas possibilitam a universalização e o aces-
so ao saneamento básico às populações de baixa renda.

|7|
2
ecotecnologiAS

Ecotecnologia pode ser entendida como uma ciência


aplicada que integraliza os campos da Tecnologia e da
Ecologia com o intuito de minimizar, por meio do co-
nhecimento dos ecossistemas e da sociedade, os im-
pactos ambientais negativos. Assim sendo, podem ser
consideradas ecotecnologias todas as técnicas, pro-
cessos, produtos, serviços e equipamentos que visem
a minimizar danos aos ecossistemas e que promovam,
ao mesmo tempo, o desenvolvimento sustentável.
Os sistemas de wetlands construídas são um exemplo
de ecotecnologia utilizada em muitos países no trata-
mento de esgotos sanitários.

|8|
3
SiStemAS AlternAtivoS
de trAtAmento de eSgotoS

Embora o saneamento básico seja de grande importân-


cia para a saúde pública e para a qualidade ambiental, a
universalização dos serviços continua sendo um desafio
para o Brasil. Parte do déficit existente pode ser atribuído
ao grande investimento necessário para a coleta e trata-
mento de esgoto utilizando sistemas centralizados, ou
seja, que acabam sendo implantados longe do local onde
o efluente é gerado, mas próximos ao local de descarte
(corpo hídrico). Embora esses sistemas tratem grandes
volumes de águas residuárias, o custo demandado para
sua construção, operação e manutenção é alto, princi-
palmente devido à necessidade de se instalar bombas e
tubulações de grande porte para coletar o efluente gera-
do nos grandes centros urbanos. Além disso, tem-se a
falta de capacidade para atender ao aumento do volume
de esgoto gerado em decorrência da expansão demo-
gráfica e do crescente aumento no consumo de água.
Os maiores déficits observados encontram-se em lo-
calidades urbanas ou rurais isoladas e em domicílios

|9|
dispersos localizados na zona rural. Essa condição geográfica di-
ficulta o acesso dessas populações aos sistemas de saneamen-
to, seja pela necessidade da execução de grandes extensões de
redes para coletar os esgotos gerados e levá-los até uma esta-
ção de tratamento, seja pelas dificuldades na prestação dos ser-
viços de saneamento considerando a implantação de sistemas
convencionais isolados, não se tratando apenas de uma questão
relacionada aos recursos financeiros, pois após a implantação é
necessário operar e manter os sistemas para que cumpram seus
objetivos e atinjam os resultados e a eficiência esperados.
Nesse contexto, os sistemas alternativos de tratamento de es-
gotos têm sido muito utilizados, principalmente por priorizarem
a facilidade de construção e manutenção, a qualidade ambien-
tal, a qualidade de vida, necessitarem de um baixo investimento
quando comparados aos sistemas convencionais e utilizarem
racionalmente os recursos naturais, com o foco nos princípios e
conceitos da sustentabilidade. Ademais, as tecnologias alterna-
tivas também possibilitam o tratamento em sistemas isolados
(descentralizados), o que vai ao encontro dos princípios essenciais
do eixo central da Política Nacional de Saneamento, pois atendem
ao princípio da participação e possibilitam maior aproximação da
almejada universalização do atendimento em saneamento, con-
siderando a “garantia de meios adequados para o atendimento da
população rural dispersa, inclusive mediante a utilização de solu-
ções compatíveis com suas características econômicas e sociais
peculiares” (Lei Federal n. 11.445/2007, Artigo 48, inciso VII).
Para tanto, uma série de tecnologias alternativas, constituídas
por sistemas isolados, pode ser aplicada para o tratamento de
esgoto. Dentre elas, destacam-se as fossas sépticas, os filtros
biológicos e as wetlands construídas.

| 10 |
4
Wetlands conStruídAS

4.1 Definição
As wetlands construídas (WC), também conhecidas
como alagados construídos, são sistemas alagados
artificiais desenvolvidos para tratar águas residuá-
rias, principalmente as de esgotos sanitários. Esses
sistemas são projetados para utilizar plantas aquáti-
cas e micro-organismos para controlar a poluição da
água, melhorando sua qualidade. As wetlands cons-
truídas foram pensadas para tirar proveito da capaci-
dade de assimilação e conversão de matéria orgânica
(carbono) e nutrientes (nitrogênio e fósforo), como
ocorre nos alagados naturais.

4.2 Vantagens
Dentre as principais vantagens da utilização de wetlands
construídas para o tratamento de esgotos sanitários,
destacam-se:

| 11 |
• Baixo custo de implantação, operação e manutenção se
comparadas com estações convencionais de tratamento de
efluentes;
• Baixa demanda energética;
• Tolerância para flutuações de vazões de entrada;
• Esteticamente mais agradáveis que as estações de trata-
mento convencionais;
• Potencial de reúso ou reciclagem da água;
• Reciclagem de nutrientes;
• Reciclagem de nutrientes com a compostagem das plantas
aquáticas;
• Ausência de vibração e ruídos;
• Tendência a minimizar ou até eliminar maus odores do esgoto;
• Atendem aos requisitos da legislação com relação aos pa-
drões de emissões.

4.3 Tipos de wetlands construídas


Há basicamente dois tipos principais de wetlands construídas,
classificadas de acordo com o nível da coluna d’água: as de fluxo
superficial e as de fluxo subsuperficial, sendo esta última dividi-
da em fluxos subsuperficial horizontal ou vertical, dependendo
da direção do fluxo do fluido. A seguir são descritos os tipos de
wetlands construídas aqui mencionadas.
Wetlands Construídas de Fluxo Superficial (WCFS): quando pre-
sente, o meio suporte (substrato) permanece saturado e com flu-
xo de água escoando pela superfície, ou seja, acima do material
suporte (Figura 1).

| 12 |
Figura 1 – Representação gráfica de uma
wetland construída de fluxo superficial (WCFS)
Fonte: Sanchez (2017)

As WCFS possuem condições favoráveis para o desenvolvimen-


to de diversas espécies de macrófitas aquáticas, que podem ser
flutuantes, submersas ou emergentes. O afluente a ser tratado
é distribuído homogeneamente na superfície do leito, escoa ho-
rizontal e superficialmente, com profundidade da água em torno
de 0,5 m e baixa velocidade de escoamento. O efluente tratado é
coletado por tubulações de drenagem situadas na parte inferior
do material suporte. Ressalta-se que tal sistema opera com a ali-
mentação contínua de afluente.
As WCFS são recomendadas, principalmente, para o tratamento
terciário de efluente com foco na remoção de nutrientes, em es-
pecial o fósforo. Deste modo, é necessária uma etapa prévia de
tratamento secundário com foco na remoção de matéria orgânica
e sólidos suspensos.
Vale destacar que as WCFS podem ou não possuir substrato. Des-
te modo, na ausência de substrato, utilizam-se exclusivamente
macrófitas aquáticas flutuantes.
Dentre as macrófitas aquáticas flutuantes mais cultivadas nes-
te tipo de sistema, destaca-se o Aguapé. Esta planta aquática é
conhecida por suas propriedades cumulativas de biomassa, por

| 13 |
acelerar a ciclagem de nutrientes e por sua elevada capacidade
de crescimento vegetativo. A remoção de poluentes se dá, princi-
palmente, na sua fase de crescimento. O aguapé apresenta ampla
resistência em águas altamente poluídas com grandes variações
de nutrientes, pH, substâncias tóxicas, metais pesados e varia-
ções de temperatura.
Wetlands Construídas de Fluxo Subsuperficial (WCFSS): o fluxo
de água ocorre horizontal ou verticalmente sob a superfície do
leito plantado, por entre os poros do material filtrante (substra-
to). Desta forma, o fluido permanece em contato apenas com as
raízes das plantas (Figura 2). Nesses sistemas são utilizadas as
macrófitas aquáticas enraizadas ao material suporte, ou seja,
macrófitas emergentes.

Figura 2 – Representação gráfica de uma


wetland construída de fluxo subsuperficial
Fonte: Sanchez (2017)

Os sistemas de fluxo subsuperficial são subdivididos ainda em


fluxo horizontal ou vertical, dependendo da direção em que o es-
goto escoa, conforme ao que será abordado a seguir.
Wetlands Construídas de Fluxo Subsuperficial Horizontal (WCFH):
o fluido é inserido no sistema pela zona de entrada e percola

| 14 |
lentamente em uma trajetória aproximadamente horizontal pelos
“vazios” do substrato até atingir a zona de saída, onde é coletado
através de um dispositivo de controle de nível (Figura 3).

Figura 3 – Representação gráfica de uma wetland


construída de fluxo subsuperficial horizontal
Fonte: Sanchez (2017)

Esse tipo de sistema é recomendado principalmente para o tra-


tamento secundário de esgoto sanitário com foco na remoção
de matéria orgânica e sólidos suspensos. Embora não seja man-
datória uma etapa de tratamento preliminar, é fortemente reco-
mendado o tratamento prévio com foco na remoção de partículas
grosseiras e sólidos sedimentáveis, a fim de prolongar a vida útil
do sistema, minimizando a ocorrência de entupimentos.
No Brasil, as macrófitas aquáticas mais utilizadas em WCFH per-
tencem às espécies Typha sp. (Taboa) e Eleocharis sp. (Junco), as
quais se adaptam a solos ricos em matéria orgânica, pois possuem
grande capacidade de acumulação de material orgânico. Além dis-
so, são boas assimiladoras de grandes quantidades de nutrientes,
tais como nitrogênio e fósforo, e alguns metais pesados.
A Taboa é tolerante a ambientes com diferentes teores de salini-
dade e se desenvolve bem em condições de elevada concentração

| 15 |
de sólidos dissolvidos. Além disso, tem também como caracte-
rísticas a fácil adaptação a várias condições climáticas e a grande
produção de biomassa.
As WCFH podem ser operadas em regime de fluxo contínuo,
intermitente ou até mesmo em batelada.
A Figura 4 ilustra um sistema de WCFH em escala piloto utilizado
em um experimento desenvolvido na Estação de Tratamento de
Esgotos (ETE) de Arujá (SP).

Figura 4 – Wetland construída de fluxo subsuperficial


horizontal, cultivada com Eleocharis sp. e Typha sp.
Fonte: Sanchez (2017)

| 16 |
Wetlands Construídas de Fluxo Subsuperficial Vertical (WCFV):
o fluido é introduzido na subsuperfície e escoa homogênea e ver-
ticalmente entre os vazios do material suporte até atingir a par-
te mais inferior do leito, onde é coletado através de tubulações
(Figura 5).

Figura 5 – Representação gráfica de uma wetland


construída de fluxo subsuperficial vertical
Fonte: Sanchez (2017)

Esse tipo de sistema é recomendado principalmente para o trata-


mento terciário de efluentes com foco na remoção de nutrientes,
em especial nitrogênio, que é removido com maiores eficiências
neste tipo de WC. Desse modo, é necessária uma etapa prévia de
tratamento, ou seja, tratamento secundário, com foco na remo-
ção de matéria orgânica e sólidos suspensos. Isso evita que a alta
carga orgânica iniba as transformações necessárias para a remo-
ção de nitrogênio e também a colmatação do sistema, visto que,
quanto maior a carga de sólidos aplicada, maior é a possibilidade
de ocorrer esse fenômeno. As WCFV também atuam na remoção
de sólidos suspensos remanescentes de etapas anteriores.
Esses sistemas operam com a alimentação intermitente do
afluente em períodos curtos, seguida de intervalos longos de

| 17 |
descanso. Tal procedimento ajuda a evitar a obstrução do filtro,
além de aumentar a transferência de oxigênio para o interior do
meio filtrante, contribuindo para a alta remoção dos poluentes.
De maneira geral, a principal vantagem dos WCFV em relação aos
WCFH é a maior taxa de transferência de oxigênio da atmosfe-
ra para o sistema, em decorrência do tempo de pausa. Assim, as
condições aeróbias favorecem a ocorrência da nitrificação, poten-
cializando a remoção de nitrogênio neste tipo de WC.
Vários tipos de macrófitas podem ser empregadas nas WCFV:
desde plantas vasculares, como, por exemplo, Typha spp. (Taboa),
até algas. Em regiões subtropicais, como a América do Sul, as ma-
crófitas mais empregadas são Phragmites australis (Caniço-de-
-água), Typha spp. (Taboa), Juncus spp. (Junco) e Cyperus papyrus
spp. (Papiro-Brasileiro).
Há ainda os sistemas híbridos ou combinados que associam
sistemas de fluxo vertical e horizontal, aliando as vantagens de
ambos os fluxos e potencializando a eficiência no tratamento do
efluente (Figura 6).

Figura 6 – Representação gráfica de uma wetland construída híbrida


Fonte: Sanchez (2017)

| 18 |
É um tipo de sistema mais completo, capaz de remover matéria
orgânica, sólidos suspensos e nutrientes. No entanto, é forte-
mente recomendado o tratamento prévio com foco na remo-
ção de partículas grosseiras e sólidos sedimentáveis a fim de
prolongar a vida útil do sistema ao minimizar a ocorrência de
entupimentos.
Estudos mostram que as WC também podem ser aplicadas na
remoção de metais pesados e patógenos. No entanto, o tempo de
detenção hidráulica para alcançar patamares adequados de re-
moção de patógenos e metais é mais elevado em comparação ao
TDH necessário para remover poluentes físico-químicos.

| 19 |
5
componenteS principAiS

As wetlands construídas possuem três componentes


principais: as macrófitas aquáticas, o material suporte
e as comunidades microbianas. Sendo assim, o trata-
mento efetivo do esgoto é obtido através da interação
física, química e biológica da água residuária com es-
ses três elementos.

5.1 Macrófitas aquáticas


As macrófitas aquáticas são vegetais visíveis a olho
nu, que flutuam ou permanecem total ou parcialmente
submersas em ambientes de águas doces ou salobras.
As plantas desempenham um importante papel no
tratamento em WC. Dentre as principais atribuições,
destacam-se: promoção de área superficial para ade-
rência de micro-organismos (nas raízes); liberação de
oxigênio para o material filtrante; prevenção da col-
matação do material filtrante; embelezamento paisa-
gístico; e retirada e armazenamento de nutrientes.

| 20 |
As macrófitas aquáticas podem ser classificadas em três princi-
pais grupos: (1) emergentes, (2) livres flutuantes e (3) submersas
(Figura 7).

Figura 7 – Representação gráfica dos tipos de macrófitas aquáticas


Fonte: Sanchez (2017)

(1) Macrófitas aquáticas emergentes: enraizadas e folhas fora


da água (Caniço-de-água, Taboa, Junco e Papiro-Brasileiro);
(2) Macrófitas aquáticas flutuantes: flutuantes sobre a superfície
do corpo hídrico (Aguapé, Alface-d’água e Samambaia-aquática);
(3) Macrófitas aquáticas submersas:
a. Enraizadas: enraizadas e folhas submersas (Elódea, Cabomba);
b. Livres: flutuantes ou presas a outras espécies de plantas
aquáticas ou caules (Utriculária).

| 21 |
As espécies mais utilizadas no Brasil são as do gênero Phragmites
australis (Caniço-de-água); Typha spp. (Taboa); Eleocharis spp.
e Juncus spp. (Junco); Cyperus papyrus spp. (Papiro-Brasileiro);
Eichhornia crassipes (Jacinto-d’água, Aguapé, Baronesa, Rainha-
-dos-lagos); Pistia stratiotes (Alface-d’água) e Salvinia (Samam-
baia-aquática, Erva-de-sapo, Marrequinha, Murerê). Alguns
exemplos estão discriminados na Figura 8.

a b c

Figura 8 – Exemplares de (a) Typha sp. (Taboa),


(b) Eleocharis sp. (Junco) e (c) Eichhornia crassipes (Jacinto-d’água,
Aguapé, Baronesa, Rainha-dos-lagos)
Fonte: Acervo dos autores

Vale destacar que a escolha da espécie adequada deve levar em


consideração alguns fatores, tais como:
• Principais poluentes que se deseja remover do esgoto;
• Tipo de wetland construída utilizada;
• Condições climáticas da região e adaptabilidade da espécie;
• Disponibilidade da planta no local de implantação do sis-
tema; e
• Características físico-químicas da água residuária a ser
tratada.

| 22 |
Para os sistemas de fluxo subsuperficial recomenda-se que se-
jam plantados inicialmente de 10 a 20 indivíduos por m² distri-
buídos ao longo de todo o leito. Já para os sistemas de fluxo su-
perficial recomenda-se que as macrófitas ocupem inicialmente
apenas 50% da área superficial do leito.
É importante reforçar que as macrófitas aquáticas demandam
manutenção adequada como podas, retirada de ervas daninhas
e folhagem desprendida, a fim de garantir a eficiência do sistema
e evitar a devolução de nutrientes e matéria orgânica ao sistema.

5.2 Material suporte


O material suporte ou substrato, também conhecido como ma-
terial filtrante, funciona tanto como meio de suporte para o esta-
belecimento das macrófitas aquáticas, quanto como filtro para a
retenção de sólidos suspensos presentes no esgoto e como meio
para aderência dos micro-organismos.
Além disso, é no material suporte que ocorre a maioria dos pro-
cessos químicos e biológicos característicos desses sistemas e
principais responsáveis pela melhoria da qualidade da água.
A escolha do tipo de material filtrante deve estar associada com
as finalidades do tratamento. Assim, está condicionada à capaci-
dade de manter boas condições de fluxo ao longo do tempo, além
de promover adsorção de compostos inorgânicos, tais como ni-
trogênio amoniacal e ortofosfato.
Nas wetlands construídas podem ser utilizados materiais supor-
tes de diferentes tipos, tais como: areias, solos naturais, pedras,
cascalhos, cinzas, cascas, pneu picado, fibra de coco, entre ou-
tros; e em diferentes granulometrias.

| 23 |
Cada substrato possui características próprias, como granulome-
tria, porosidade e permeabilidade (condutividade hidráulica), que
vão influenciar na dinâmica de escoamento do sistema. Diante
disso, indica-se variar a granulometria do material, a fim de mini-
mizar as chances de ocorrer a colmatação do sistema. A condu-
tividade hidráulica do material filtrante também é um fator que
influencia no processo de colmatação, sendo mais indicado o uso
de substratos com maior condutividade hidráulica, garantindo
boas condições de fluxo no sistema ao longo do tempo.
A fim de manter elevada a condutividade hidráulica e elevar a
vida útil dos sistemas, os substratos mais amplamente utiliza-
dos e recomendados para wetlands construídas são: areia, brita e
cascalho. A Tabela 1 traz a faixa de granulometria dos materiais
suporte mais comuns.

Tabela 1 – Faixa granulométrica dos principais


materiais suporte utilizados em wetlands construídas

Material suporte Granulometria (mm)


Areia 0,06 a 2
Brita tipo 1 9,5 a 19
Brita tipo 2 19 a 25
Cascalho 2 a 60
Fontes: NBR 6502/1995; e NBR 7211/2009 (ABNT, 1995; 2009)

Vale destacar que nas zonas de entrada e saída de esgoto, bem


como próximo às tubulações, recomenda-se a utilização de

| 24 |
materiais suporte de maiores granulometrias, a fim de minimizar
a ocorrência de entupimentos.

5.3 Microbiota
A microbiota mais comumente encontrada em WC é composta
por fungos e bactérias. Tais micro-organismos se desenvolvem,
principalmente, aderidos ao material suporte ou às raízes das
macrófitas aquáticas, formando o biofilme.
Nas weltands construídas, os micro-organismos desempenham
importante papel tanto na mineralização da matéria orgânica e
do fósforo orgânico quanto na conversão das variadas formas
de nitrogênio. As bactérias, leveduras e fungos são responsáveis
pela decomposição da matéria orgânica, pois consomem e utili-
zam grande parte do carbono disponível como fonte de energia
para síntese, manutenção e crescimento celular.
As bactérias também são importantes na remoção do nitrogê-
nio orgânico, um nutriente que, em elevadas concentrações no
efluente, implica em risco à saúde humana, como a metemoglo-
binemia em crianças, causada pelo excesso de nitrato, e danos
ambientais, como a eutrofização de ambientes aquáticos. Por-
tanto, a remoção biológica do nitrogênio no tratamento de esgo-
tos em leito de macrófitas torna-se imprescindível para melhorar
a qualidade do efluente que será lançado nos corpos receptores.
Tal remoção ocorre via processos de amonificação, nitrificação e
desnitrificação. No primeiro processo, ocorre a transformação do
nitrogênio orgânico em amônia (N-NH4+) pela ação de bactérias
aeróbias e anaeróbias, associadas às raízes das macrófitas. Em
seguida, na nitrificação, a amônia é convertida em nitrito (N-NO2-)
e nitrato (N-NO3-), por bactérias nitrificantes, na presença de

| 25 |
oxigênio dissolvido. Por último, o nitrato é reduzido a nitrogênio
gasoso (N2), sob condições anóxicas, por bactérias desnitrificantes.
Comunidades de protozoários e micrometazoários (Figura 9)
também são facilmente encontradas no leito de macrófitas e
destacam-se por consumirem matéria orgânica particulada, con-
trolarem o crescimento de bactérias e fungos e serem predadoras
de micro-organismos patogênicos, auxiliando no tratamento do
esgoto e na desinfecção do efluente. Além disso, são importantes
bioindicadoras que permitem monitorar o desempenho e a efi-
ciência do sistema.

a b

c d

Figura 9 – Exemplares de protozoários: (a) amebas com teca


semelhantes a Arcella sp., (b) ciliados livres nadantes semelhantes
a Paramecium sp., (c) ciliados móveis de fundo semelhantes a
Aspidisca sp. e (d) ciliados sésseis semelhantes a Vorticella sp.
Fonte: Silva (2016)

| 26 |
6
eficiênciAS de remoção
viA Wetlands conStruídAS

Em relação à remoção de poluentes, os sistemas de


wetlands construídas têm obtido bons resultados
conforme mencionado, de acordo com o tipo de sis-
tema adotado. No Brasil, alguns estudos compara-
ram as eficiências de remoções de nitrogênio, fósforo,
Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda
Química de Oxigênio (DQO) obtidas nas diferentes
configurações de sistema de WC (Fluxo superficial,
subsuperficial horizontal e subsuperficial vertical).
Tais resultados estão apresentados na Tabela 2.

| 27 |
Tabela 2 – Eficiências médias obtidas para nitrogênio (N),
fósforo (P), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e
demanda química de oxigênio (DQO) em sistemas de wetlands
construídas de acordo com o tipo de fluxo d’água adotado

Tipo de WC Poluente Remoção Média (%)


P 85,0
N < 10,0
WCFS
DBO 31,0
DQO < 20,0
P 51,5
N 30,0
WCFH
DBO 81,5
DQO 76,5
P 60,0
N 45,0
WCFV
DBO 59,0
DQO 63,5
Fonte: Machado (2017)

| 28 |
7
dimenSionAmento de
Wetlands conStruídAS

Para fins didáticos, o dimensionamento de uma


wetland construída foi dividido em passos, conforme
descritos a seguir:
Passo 1: Escolher o tipo de WC mais indicado
para o tratamento desejado, ou seja, optar pela
WC que potencialize a remoção do(s) principal(is)
poluente(s);
Passo 2: Caracterizar físico-quimicamente o es-
goto a ser tratado, determinando a concentração
afluente (que chega ao sistema) do principal po-
luente a ser removido;
Passo 3: Definir a eficiência de remoção e/ou a
concentração final desejada para o principal po-
luente que se pretende remover.
Passo 4: Determinar a vazão média a ser tratada,
em função da contribuição per capita e da popula-
ção atendida.

| 29 |
Passo 5: Calcular a porosidade do leito com base na porosida-
de do material suporte. A porosidade do leito pode ser deter-
minada de acordo com a Equação 1:

(Eq. 1) Equa

Onde: Onde:
Equação
P: Porosidade do leito (%); P: Porosidade do leito (%);
Vt: Volume útil total do leito (m3); e
Vt: Volume útil3 total do leito (m3); e
Vs: Volume de sólidos presentes no leito (m ).
Onde:
Vs: Volume de sólidos presentes no leito (m3).
P: Porosidade do leito (%);

Destaca-se que os volumes utilizados são


(m );obtidos experi-
3
Vt: Volume útil
Destaca-se total
quedoosleito
volumes e utilizados são obtidos experime
3
mentalmente. Ainda, ressaltar
vale ressaltar
Vs: Volume
que as que aspresentes
deWCFS
WCFS com
sólidoscultivadas
cultivadas
no leito (m ).
macrófitas com
aquáticas flutuante

macrófitas aquáticas suporte


flutuantes não utilizam material suporte e,
e, portanto, a porosidade a ser considerada é igual a 1. As g
Destaca-se
materiais suporteque os volumes
utilizados utilizados
em wetlands são obtidos
construídas estãoexperimenta
listadas na
portanto, a porosidade a ser considerada é igual a 1. As granulo-
ressaltar
no itemque as WCFS cultivadas com macrófitas aquáticas flutuantes n
5.2.
metrias de alguns materiais suporte utilizados em wetlands cons-
suporte e, portanto, a porosidade a ser considerada é igual a 1. As granu
truídas estão listadas na Tabela
materiais suporte 1,6:apresentada
Passo utilizados
Determinar
no item
em wetlands 5.2. estão listadas
construídas
o coeficiente de decaimento na Ta
do poluente

Passo 6: Determinar
no item
o5.2.
coeficiente
comportamento de decaimento
da remoção do poluente dooupoluente
contaminante em função

(KT), que representapela


o comportamento da remoção
temperatura e pelo tempo. do poluente
Desta forma, a constante KT em temp
Passo 6:aDeterminar
determinada o coeficiente
partir da Equação 2. de decaimento do poluente (K
ou contaminante em função da influência causada pela tempe-
comportamento da remoção do poluente ou contaminante em função da
ratura e pelo tempo. Desta forma, a constante KT ematempera-
pela temperatura e pelo tempo. Desta forma, constante KT em tempera
tura T (°C) podedeterminada
ser determinada a Equação
a partir da partir da2. Equação 2.

Onde:
(Eq. 2)
K20: Constante de decaimento a 20°C (d-1);
Coeficiente de temperatura; e
Onde: Onde:T: Temperatura da wetland construída (°C).
K20: Constante de decaimento
K20a: Constante
20°C (d-1);de decaimento a 20°C (d-1);
θ: Coeficiente de temperatura;Coeficiente
e
Os valoresdedatemperatura; e e do coeficiente de temperatura ( )
constante K20
T: Temperatura da wetland construída (°C).
T: removido.
a ser Temperatura
Na da wetland
Tabela construída
3 estão (°C).
apresentados os principais valores
para wetlands construídas de fluxos superficial (WCFS) e subsuperfici
Os valores da constante K20 e do coeficiente de temperatura ( ) de
| 30 |
a ser removido.
Tabela Na Tabela
3: Valores 3 estão apresentados
para a constante de decaimento eoscoeficiente
principaisdevalores enc
temperatur
e WCFSS
para de acordo
wetlands com ode
construídas poluente
fluxosasuperficial
ser removido.
(WCFS) e subsuperficial (W
Os valores da constante K20 e do coeficiente de temperatura (θ)
dependem do poluente a ser removido. Na Tabela 3 estão apresen-
tados os principais valores encontrados para K20 e θ para wetlands
construídas de fluxos superficial (WCFS) e subsuperficial (WCFSS).

Tabela 3 – Valores para a constante de decaimento e


coeficiente de temperatura para sistemas de WCFS e
WCFSS de acordo com o poluente a ser removido.

Tempe- Constante
Tipo Poluente ratura de decaimento deCoeficiente
de WC Temperatura
(°C) K20 (d-1)

DBO5,20 0,678 1,06

WCFS Nitrogênio
Amoniacal (NH4) 0,2187 1,048

Nitrato (NO3) 1,000 1,15


20
DBO5,20 1,104 1,06

WCFSS Nitrogênio
Amoniacal (NH4) 0,2187 1,048

Nitrato (NO3) 1,000 1,15


Fonte: Kadlec; Wallace (2008); Wang et al. (2010); Crites et al. (2014)

Passo 7: Definir a altura da coluna do fluido (nível do esgoto).


A United States Environmental Protection Agency (USEPA) reco-
menda operar sistemas de wetlands construídas com o nível
de 0,5 m.
Passo 8: Com os parâmetros citados definidos, é possível cal-
cular a área superficial (As) necessária para a instalação do leito
(Equação 3).

| 31 |
Passo 8: Com os parâmetros citados definidos, é possível calcula
(As) necessária para a instalação do leito (Equação 3).

(Eq. 3) Equação 3

Onde: Onde:
As: Área superficial do leitoA(m: Área
2
); superficial do leito (m2);
s
Qméd: Vazão média através do leito (m3/d);
Q : Vazão média através do leito (m3/d);
Ca: Concentração do poluenteméd no afluente - concentração de entrada (mg/L);
Ce: Concentração do poluentea no
C : efluente - do
Concentração concentração de saída- concentração
poluente no afluente (mg/L); de entrada
KT: Coeficiente de decaimento do poluente (d
Ce: Concentração );
do-1poluente no efluente - concentração de saída (m
h: Altura do nível do esgotoK(m); e
T: Coeficiente de decaimento do poluente (d );
-1

p: Porosidade do leito (%). h: Altura do nível do esgoto (m); e


p: Porosidade do leito (%).

Passo 9: Com base na área superficial (As) calculada, deve-se


determinar as dimensões (largura e comprimento) do leito.
Recomenda-se que o comprimento seja consideravelmente
maior que a largura do leito,9:a fim
Passo Comde garantir
base o modelo
na área de(Aflu-
superficial s) calculada, dev

xo em pistão. dimensões (largura e comprimento) do leito. Recomenda-se que o


consideravelmente maior que a largura do leito, a fim de garantir o modelo d
Passo 10: É possível ainda calcular o tempo de detenção hi-
dráulica (TDH) pela Equação
Passo 10:4,Éa possível
qual expressa a razão
ainda calcular entrede detenção hid
o tempo
as características da wetland
Equação 4, a qual construída e a entre
expressa a razão vazão média do da wetland c
as características
efluente. média do efluente.

(Eq. 4) E

Onde: Onde:
TDH: Tempo de detenção hidráulica
TDH: Tempo(d); de detenção hidráulica (d);
l: Largura do leito (m);
l: Largura do leito (m);
c: Comprimento do leito (m);
c: Comprimento do leito (m);
h: Altura do nível do esgoto (m);
p: Porosidade do leito, em número
h: Alturadecimal; e esgoto (m);
do nível do
Qméd: Vazão média através do p: leito (m3/d).do leito, em número decimal; e
Porosidade
Qméd: Vazão média através do leito (m3/d).

O tempo de detenção hidráulica corresponde ao tempo em que o


| 32 |
dentro do sistema em tratamento. Assim, o TDH é um parâmetro que influ
eficiência do sistema. Dessa forma, é recomendado testar diferentes TD
acordo com o poluente foco de remoção, avaliar o tempo ideal de detençã
O tempo de detenção hidráulica corresponde ao tempo em que
o esgoto permanece dentro do sistema em tratamento. Assim, o
TDH é um parâmetro que influencia diretamente a eficiência do
sistema. Dessa forma, é recomendado testar diferentes TDH no
sistema e, de acordo com o poluente foco de remoção, avaliar o
tempo ideal de detenção da água residuária no sistema de WC.
Os valores de TDH para WC de fluxo superficial variam entre 5 e
30 dias, e para WC de fluxo subsuperficial (USEPA, 2000) variam
entre 2 e 5 dias (USEPA, 2000), ambos de acordo com o objetivo
de remoção. Em geral, sistemas que visam à remoção de matéria
orgânica e sólidos requerem TDH menores. Já para a remoção efe-
tiva de nutrientes é necessário operar o sistema com maiores TDH.
Passo 11: Escolher a espécie de macrófita mais adequada
levando-se em consideração os aspectos físico-químicos do
efluente a ser tratado.

Exemplo: Deseja-se tratar o esgoto de um pequeno conjunto ha-


bitacional no qual residem 10 pessoas. O esgoto deve ser tratado
em nível secundário, ou seja, com foco na remoção de matéria
orgânica. O objetivo é remover 80% da matéria orgânica biologica-
mente degradável (DBO5,20 ). Após a análise do efluente, constatou-se
que a concentração de DBO5,20 encontrada foi de 250 mg L-1.
Dados do sistema: Q = 120 L/hab.dia; p = 0,5 mm; T = 25°C.
Passo 1: Para a remoção de matéria orgânica, o WC mais indi-
cado é o de fluxo subsuperficial horizontal.
Passo 2: A análise prévia do esgoto a ser tratado indicou que a
concentração afluente de DBO5,20 é de 250 mg L-1.

| 33 |
subsuperficial
Dados horizontal.
do sistema: Q = 120 L/hab.dia; p = 0,5 mm; T = 25 °C.

Passo 2:
Passo 1: APara
análise prévia dodeesgoto
a remoção a ser
matéria tratado oindicou
orgânica, que aindicado
WC mais concentração
é o deafluente
fluxo
-1
250 mg L .
de DBO5,20 é dehorizontal.
subsuperficial

Passo 3: Deseja-se remover 80% da DBO


Passo 2:3: ADeseja-se remover 80% daa DBO
, logo a concentra-
a5,20
Passo análise prévia do esgoto 5,20, logo
ser tratado concentração
indicou final do parâmetro
que a concentração afluente
deve ção
50émg
ser5,20 -1 do parâmetro deve ser 50 mg L , da seguinte forma:
final
L , da
-1
de DBO de 250 mgseguinte
L-1. forma:

Passo 3: Deseja-se remover 80% da DBO5,20, logo a concentração final do parâmetro


deve ser 50 mg L-1, da seguinte forma:

Onde:
Onde:
E = Eficiência de remoção (%)
E DBO
= Eficiência de remoção
afl = Concentração (%) do afluente (mg/L)
de DBO
DBO
DBO = Concentração de DBO do afluente (mg/L)
aflefl = Concentração de DBO do efluente (mg/L)
Onde:
DBOefl = Concentração de DBO do efluente (mg/L)
Portanto:
E = Eficiência de remoção (%)
DBOafl = Concentração de DBO do afluente (mg/L)
Portanto:
DBOefl = Concentração de DBO do efluente (mg/L)
Portanto:

21

Passo 4: Considerando-se que a vazão de esgoto gerado por 21


habitante é de 120 L/dia e que 10 pessoas residem do conjun-
to habitacional,
Passo têm-se:
4: Considerando-se que a vazão de esgoto gerado por habitante é de 120 L/dia
e que 10 pessoas residem do conjunto habitacional, têm-se:

Passo 5: Utilizando a brita 1 como material suporte, a porosidade do leito, medida


experimentalmente, é de 0,5 mm.
| 34 |
Passo 6: De acordo com os valores de DBO5,20 encontrados na Tabela 2 para K20 e
para WCFSS, é possível calcular o coeficiente de decaimento (KT) para a temperatura do
Passo 4: Considerando-se que a vazão de esgoto gerado por habitante é de 120 L/dia
e que 10 pessoas residem do conjunto habitacional, têm-se:

Passo 5: Utilizando a brita 1 como material suporte, a porosi-


dade5:do
Passo leito, medida
Utilizando a brita 1experimentalmente,
como material suporte, aé porosidade
de 0,5 mm. do leito, medida
experimentalmente, é de 0,5 mm.
Passo 6: De acordo com os valores de DBO encontrados na
Passo 5: Utilizando a brita 1 como material suporte, a 5,20
porosidade do leito, medida
Tabela 2 para
Passo 6: De acordo
K20 e θ para WCFSS, é possível calcular o coeficien-
com os valores de DBO5,20 encontrados na Tabela 2 para K20 e
experimentalmente, é de 0,5 mm.
te deédecaimento
para WCFSS, (KT)opara
possível calcular a temperatura
coeficiente do sistema
de decaimento (KT) para (25°C):
a temperatura do
sistema (25° C):
Passo 6: De acordo com os valores de DBO5,20 encontrados na Tabela 2 para K20 e
para WCFSS, é possível calcular o coeficiente de decaimento (KT) para a temperatura do
sistema (25° C):

Passo 7: A altura da coluna do fluido (nível do esgoto) é de 0,5


Passo 7: A altura da coluna do fluido (nível do esgoto) é de 0,5 m, como sugerido pela
USEPA.
m, como sugerido pela USEPA.
Passo 7: A altura da coluna do fluido (nível do esgoto) é de 0,5 m, como sugerido pela
Passo
USEPA. Passo 8: A8: A área
área superficial
superficial (As) necessária
(As) necessária paradoa leito
para a instalação instalação do
é de 5,2 m 2
:
leito é de 5,2 m2:
Passo 8: A área superficial (As) necessária para a instalação do leito é de 5,2 m2:

22

22
Passo 9: A partir da área superficial calculada, determinou-se
que a largura e o comprimento do leito devem ser de 1,0 m
e 5,2 m, respectivamente.

| 35 |
Passo 9: A partir da área superficial calculada, determinou-se que a largura e o
Passo 10: O TDH ideal para este sistema de tratamento é de
comprimento do leito devem ser de 1,0 m e 5,2 m, respectivamente.
1,1 dia:
Passo 10: O TDH ideal para este sistema de tratamento é de 1,1 dia:

Passo
Passo 11: 11: Levando-se
Levando-se em consideração
em consideração as de
as necessidades necessidades de em
tratamento do esgoto

tratamento do esgoto em questão, a macrófita aquática Ta-


questão, a macrófita aquática Taboa é a mais indicada devido à alta taxa de incorporação de
biomassa.
boa é a mais indicada devido à alta taxa de incorporação de
biomassa.
Assim, o WC de fluxo subsuperficial horizontal cultivado com a macrófita aquática
Taboa, com dimensões de 5,2 m x 1,0 m e com o tempo de detenção hidráulica de 1,1 dias tem
a potencialidade de tratar o esgoto doméstico gerado por 10 habitantes com 80% de eficiência
Assim, o WC de fluxo subsuperficial horizontal cultivado com
de remoção de matéria orgânica. No entanto, vale destacar que tal sistema não removeria
a macrófita aquática Taboa, com dimensões de 5,2 m x 1,0 m
nutrientes em níveis adequados por não ser o objetivo do sistema dimensionado, podendo ser
e com o
dimensionada tempo
outra depara
wetland detenção hidráulica
a remoção de 1,1 dias
e o reaproveitamento dos tem a po-
nutrientes antes do
tencialidade
lançamento de receptor.
final no corpo tratar o esgoto doméstico gerado por 10 habi-
tantes com 80% de eficiência de remoção de matéria orgânica.
No entanto, vale destacar que tal sistema não removeria nu-
trientes em níveis
8 Implantação, adequados
operação por não ser o objetivo do sistema
e manutenção
dimensionado, podendo ser dimensionada outra wetland para a
remoção e o reaproveitamento
Independentemente dos nutrientes
do tipo de WC adotada, durante a antes do lança-alguns
sua implantação,

mento final no corpo receptor.


aspectos devem ser levados em consideração, tais como:
● Prefira transplantar mudas de macrófitas que foram retiradas de local próximo e
que, consequentemente, estão mais adaptadas ao clima local;
● Prefira transplantar as mudas no período chuvoso, a fim de minimizar condições
de estresse hídrico para as plantas;
23

| 36 |
8
implAntAção, operAção
e mAnutenção

Independentemente do tipo de WC adotada, durante


a sua implantação, alguns aspectos devem ser leva-
dos em consideração, tais como:
• Prefira transplantar mudas de macrófitas que fo-
ram retiradas de local próximo e que, consequen-
temente, estão mais adaptadas ao clima local;
• Prefira transplantar as mudas no período chu-
voso, a fim de minimizar condições de estresse
hídrico para as plantas;
• Não inicie a operação alimentando o sistema
diretamente com a água residuária que deseja
tratar. Faça uma alimentação gradativa, inserin-
do o esgoto diluído e aumentando a concentra-
ção aos poucos;
• Faça a retirada, o transporte e o plantio das ma-
crófitas aquáticas para o local de implantação
com 20 ou 30 dias de antecedência ao início das
atividades, período destinado à adaptação bio-
lógica das plantas ao novo meio;

| 37 |
• Prefira indivíduos jovens da espécie para obter melhor efi-
ciência do sistema, já que a época de maior incorporação dos
contaminantes, geralmente, é em sua fase de crescimento;
• Se há a intenção de misturar mais de uma espécie de ma-
crófita, pesquise sobre possíveis interações entre as es-
pécies ou se há forte competição entre elas. Evite, nestes
casos, espécies que tendam a competir entre si;
• Evite, sempre que possível, utilizar bombas. Dê preferên-
cias ao transporte de afluente e efluente pela ação da gra-
vidade; e
• Evite, sempre que possível, tubulações de diâmetro estreito
e válvulas, pois estes são passíveis de entupimento, depen-
dendo da constituição da água residuária.

Embora as WC sejam de simples operação, alguns cuidados são


essenciais, tais como:
• As tubulações, eventuais válvulas e bombas devem ser
inspecionadas e limpas periodicamente. A frequência da
manutenção pode variar de 5 a 15 dias, dependendo da
constituição da água residuária (concentração de sólidos
suspensos) e do diâmetro das tubulações utilizadas, a fim
de evitar entupimentos e comprometer tanto a operação a
curto quanto a longo prazo;
• Ervas daninhas que eventualmente possam brotar nas
wetlands construídas devem ser removidas, pois algumas
espécies podem competir com as macrófitas, podendo até
suprimi-las;
• As macrófitas aquáticas devem ser podadas com periodici-
dade de 20 a 30 dias, variando conforme a espécie utilizada

| 38 |
e conforme o crescimento. Plantas utilizadas em sistemas
abastecidos com águas muito poluídas tendem a se repro-
duzir e a crescer mais rapidamente, indicando a necessida-
de de aumento da frequência de manutenção; e
• Controlar o número de indivíduos de macrófitas na WC.
Recomenda-se que, em média, as macrófitas não ocupem
mais do que 50% dos sistemas. Assim, deve-se retirar os
indivíduos mais velhos conforme a proliferação, a fim de
manter a taxa de ocupação das plantas próxima dos 50% da
área superficial do sistema.

Vale destacar que a adequada operação e manutenção de unida-


des de tratamento anteriores ao sistema de WC são essenciais
para a manutenção da longevidade do sistema. Desse modo, caso
haja tanques sépticos ou algum outro tratamento primário, é im-
portante a limpeza para remoção do lodo periodicamente, com o
intuito de evitar a saturação da estrutura inicial e a introdução de
elevados níveis de sólidos suspensos, que comprometem o fun-
cionamento da WC.

| 39 |
9
poSSíveiS complicAçõeS
e SoluçõeS

9.1 Colmatação
Um dos problemas mais comuns que podem ocorrer em
WC é a colmatação. Este fenômeno é um dos maiores
problemas operacionais que ocorrem no tratamento de
esgoto utilizando wetlands construídas. A obstrução do
material filtrante inclui vários processos relacionados
à acumulação de diferentes tipos de sólidos, levando à
redução da capacidade de infiltração do efluente.
A colmatação é influenciada pela formação do biofilme,
crescimento da biomassa, desenvolvimento das raízes
das macrófitas e, principalmente, pela carga de sóli-
dos aplicada. Alguns métodos utilizados para evitar a
colmatação, e assim prolongar a vida útil do sistema,
estão descritos a seguir:
• Aplicação de carregamento orgânico e, principal-
mente, de sólidos suspensos apropriados, a fim
de evitar o crescimento excessivo do biofilme e o
acúmulo de partículas;

| 40 |
• Adoção de tratamento físico-químico primário para remo-
ção efetiva dos sólidos contidos nas águas residuárias; e
• Adoção de um modo de operação, alimentação e repouso
apropriado.

9.2 Manejo das macrófitas aquáticas


Caso o manejo das macrófitas não seja realizado periodicamente,
pode haver complicações relacionadas ao entupimento de
tubulações, ao bloqueamento de canais e à proliferação de veto-
res de doenças, como os insetos. Além disso, podas regulares e a
retirada das folhagens que caem sobre o leito são essenciais para
evitar o retorno de nutrientes e matéria orgânica ao sistema após
a morte das plantas.
Ainda, o excesso de macrófitas aquáticas pode resultar no de-
créscimo de sua taxa de crescimento, diminuindo suas ativida-
des biológicas relacionadas à assimilação das substâncias polui-
doras, comprometendo assim a eficiência do sistema. Portanto,
em casos de elevada taxa de crescimento e disseminação dos
indivíduos, é necessário remover algumas plantas para manter a
ocupação do leito em torno dos 50%, a fim de manter o ambiente
arejado e garantir a umidade e incidência de luz adequada.

9.2.1 compostagem das macrófitas aquáticas


Uma das opções para o destino da biomassa gerada é a com-
postagem das macrófitas aquáticas. Sabe-se hoje que estas têm
grande valor como condicionadoras de solo, no entanto, ainda há
pouca informação sobre as características químicas do material
vegetal, bem como sobre a segurança ambiental necessária na
área de descarte.

| 41 |
Esse material vegetal tem reconhecida capacidade de estocar
nutrientes, que são devolvidos para o ambiente por meio de ex-
creção e decomposição da biomassa e, assim, tal decomposição
desempenha importante papel na ciclagem de nutrientes.
A compostagem é um processo controlado de decomposição mi-
crobiana de oxidação e oxigenação de uma massa heterogênea
de matéria orgânica no estado sólido e úmido, passando pelas
seguintes fases: fitotoxicidade, bioestabilização e humificação.
Dois importantes componentes são gerados como resultado na
compostagem: sais minerais, que contêm nutrientes para as raí-
zes das plantas, e húmus, condicionador e melhorador das pro-
priedades físicas, físico-químicas e biológicas do solo. O objetivo
deste processo é a diminuição do volume dos resíduos sólidos, a
produção de um produto estável, além da reciclagem dos resíduos
orgânicos sem a destruição do seu valor energético intrínseco.
Além disso, o interesse no uso de resíduos orgânicos na agricul-
tura brasileira, quando devidamente tratados ou compostados,
está fundamentado nos elevados teores de carbono (C) dos com-
postos orgânicos (CO) e de nutrientes neles contidos, no aumento
da capacidade de troca de cátions (CTC) e na neutralização da aci-
dez. Quando se aumentam os teores de CO e nutrientes do solo
pode-se trazer melhorias nas suas propriedades físicas e quími-
cas e incrementar a produtividade e qualidade dos produtos agrí-
colas, bem como reduzir os custos na sua produção.
Os micro-organismos (bactérias, fungos e actinomicetos) são os
principais responsáveis pela transformação da matéria em hú-
mus. Outros micro-organismos, como algas, protozoários, ne-

| 42 |
matóides, vermes, insetos e suas larvas, também participam.
Contribuem para degradação da matéria orgânica outros agentes
bioquímicos, como enzimas e hormônios. Por ser microbiano, o
controle desse processo envolve necessariamente a inter-relação
de vários parâmetros, cujos principais são: temperatura, aeração,
teor de umidade, pH, tamanho da partícula, relação C/N, fibra e
micro-organismos.

9.2.2 grau de maturação do adubo orgânico


A incorporação ao solo de resíduos orgânicos crus ou de com-
posto orgânico imaturo pode causar danos às plantações, já que
esses materiais apresentam características de fitotoxicidade por
possuírem reações ácidas.
Para a aplicação correta do adubo orgânico no solo agrícola, re-
comenda-se uma compostagem completa até que o composto
esteja estabilizado ou curado, ou seja, que esse material tenha
um pH acima de 6,5 e relação C/N abaixo de 18.
A temperatura e a relação C/N (1:11 a 1:15) podem ser utilizadas
isoladamente como indicadores do grau de maturidade do com-
posto, desde que a umidade seja mantida em intervalos adequa-
dos (20 a 35%) e a aeração seja suficiente.
Em relação ao período que se leva para a completa maturação do
composto de resíduos orgânicos, alguns estudos observaram que
cerca de oito semanas é o tempo suficiente para a compostagem
da matéria. Porém, para outros estudiosos, não se consegue a
maturação ou humificação antes de 90 a 120 dias.

| 43 |
9.2.3 Métodos de compostagem
As técnicas de compostagem podem variar desde a utilização
de altas tecnologias e orçamentos até as soluções operacionais
mais simples e financeiramente menos onerosas. Em resumo,
a compostagem pode ser realizada, basicamente, segundo três
métodos: natural ou sistema leira windrow, leira estática acelera-
da e sistema dinâmico ou acelerado.
No processo natural, a pilha de resíduos (leiras) é montada sobre
o solo e a aeração é realizada de forma natural, ou seja, por meio
principalmente de revolvimentos manuais (ou por equipamentos
específicos para o revolvimento da leira). Nesses sistemas, as lei-
ras devem ser dimensionadas de forma a manter o calor para a
manutenção do processo. Em leiras estáticas aeradas não há re-
volvimento e a aeração ocorre por meio de insuflamento e exaus-
tão do ar. No processo dinâmico há utilização de dispositivos tec-
nológicos, tais como digestores e bioestabilizadores para acelerar
a compostagem.

9.3 Ecotoxicidade
Apesar da grande capacidade de sobrevirem a ambientes alaga-
dos e poluídos, as macrófitas aquáticas apresentam limites de
tolerância aos ambientes com elevadas concentrações de amô-
nio, fósforo, metais pesados, sais e ácidos orgânicos presentes
em efluentes industriais, agrícolas e domésticos. O nitrogênio na
forma amoniacal e em concentrações elevadas é extremamente
tóxico às plantas. Deste modo, avaliar a ecotoxicidade do efluente
é de suma importância.

| 44 |
Além de remover poluentes de natureza físico-química, as we-
tlands construídas também ajudam na redução da toxicidade das
águas residuárias. A fim de analisar tal redução, os testes de to-
xicidade se apresentam como excelentes ferramentas para com-
plementar a avaliação da qualidade da água e da carga poluidora
(BARSZCZ, 2017).
Os testes de fitotoxicidade, que utilizam plantas para mensurar a
ação tóxica de determinadas substâncias, são considerados alter-
nativas rápidas e de baixo custo para avaliar a toxicidade de com-
postos presentes no esgoto. Tais testes se baseiam na presença
ou não de substâncias no esgoto que possam inibir a germinação
de sementes, o crescimento das raízes ou o desenvolvimento das
plantas (BELO et al., 2011).
Um dos organismos mais utilizados para realizar os ensaios de
toxicidade é a Lactuca sativa, também conhecida como alface. As
análises que utilizam tal espécie se baseiam na ocorrência ou não
da germinação das sementes e também na elongação das raí-
zes, ou seja, quanto menos sementes germinam e quanto menos
as raízes crescem, mais tóxica tende a ser a amostra analisada
(BARSZCZ, 2017).
Outra opção de planta utilizada para a realização de testes de fi-
totoxicidade é o sorgo, Sorghum sp., cuja análise também se ba-
seia na taxa de germinação e no crescimento radicular.

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conSiderAçõeS finAiS

Como visto, as wetlands construídas podem ter inúme-


ras aplicações, arranjos e focos. Podem ser aplicadas ao
tratamento dos mais diversos tipos de efluentes (sani-
tário, industrial, suinocultura, piscicultura, resíduo de
mineração, lixiviado de aterro sanitário etc.) e nas mais
diversas configurações (superficiais, subsuperficiais
verticais e/ou horizontais). Dependendo do tipo de re-
moção pretendido, deve-se obedecer às configurações
recomendadas, visando a atingir a capacidade máxima
de remoção. Tal escolha implicará na compra de ma-
teriais específicos e na utilização de plantas aquáticas
distintas, conforme salientado neste manual.
O nível e o fluxo de água nas WC devem ser seleciona-
dos de acordo com o objetivo de remoção. Os sistemas
de fluxo superficial são muito recomendados como tra-
tamento terciário de efluente para remoção de nutrien-
tes, principalmente fósforo. Já os sistemas de fluxo
subsuperficial horizontal são mais recomendados para

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o tratamento secundário de efluente, com foco na remoção de
matéria orgânica e sólidos suspensos. Têm-se, ainda, os siste-
mas de fluxo subsuperficial vertical, indicados para o tratamento
terciário de efluentes, com vistas à remoção de nutrientes como
o nitrogênio.
Em relação à escolha da espécie ou espécies a serem utilizadas
no sistema, deve-se levar em consideração alguns fatores, tais
como os principais poluentes que se deseja remover do esgo-
to, tipo de wetland construída utilizada, condições climáticas da
região e adaptabilidade da espécie, disponibilidade da planta no
local de implantação do sistema e características físico-químicas
da água residuária a ser tratada. Ademais, para um dimensiona-
mento adequado de um sistema de wetland construída, deve-se
considerar, principalmente, a vazão a ser tratada, tempo de de-
tenção hidráulica e porosidade do leito.
Finalmente, para garantir a vida útil do sistema implantado é es-
sencial realizar manutenções periódicas tanto na parte hidráulica
do sistema quanto em relação às macrófitas aquáticas, com po-
das regulares, sendo que, após as podas, as plantas aquáticas po-
dem ser reaproveitadas por meio de compostagem, produzindo
adubo orgânico de boa qualidade. Além disso, faz-se necessária
uma atenção especial para a ecotoxicidade do efluente, pois esta
pode influenciar negativamente na eficiência do sistema, já que
afeta diretamente o desenvolvimento e desempenho das macró-
fitas aquáticas, podendo acarretar na sua morte.

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