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(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
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Além deles foram ouvidos o mecânico náutico Laurindo Alves de Oliveira e
o POP Francisco José Gama Monteiro, que descreveram apenas o bom estado geral do
barco de pesca.
O laudo de exame pericial direto feito pela Capitania dos Portos do Rio de
Janeiro descreveu o veleiro como em ótimo estado de conservação, com suas luzes de
navegação e demais equipamentos de bordo funcionando normalmente, sem deficiências
nos aparelhos de governo e propulsão, equipado com radar, sonar e AIS, apresentando
arranhões nos dois bordos decorrentes do acidente. Disseram os peritos do Rio de Janeiro
que teria havido falha na vigilância por parte dos comandantes do veleiro e do barco de
pesca, mas como não tiveram acesso ao barco de pesca e não puderam confirmar se este
possuía refletor radar ou se suas luzes estavam funcionando a contento, declararam não
ser possível definir a causa determinante para o acidente.
O laudo de exame pericial indireto feito pela Capitania dos Portos em Ilhéus
descreveu o barco de pesca a partir do relato das testemunhas e dos documentos
apresentados, afirmando que o mesmo teria naufragado em um local cuja profundidade
chega a mais de 50m, impossibilitando o resgate do barco; qualificou três dos tripulantes
e as duas testemunhas não tripulantes que foram ouvidas; anotou o local do acidente
como a cerca de 12 milhas no través da cidade de Canavieiras e descreveu as condições
meteorológicas como boas e que não teriam contribuído para o acidente. Disseram os
peritos que, uma vez que o barco de pesca estava fundeado, seria obrigação do veleiro
manobrar para evitar o abalroamento e que ele deveria, ademais, ter tomado uma das
seguintes medidas para atenuar os efeitos do acidente: fazer contato via rádio com o
mestre do barco de pesca e pedir que se lançassem na água para que fossem recolhidos;
lançar na água boias salva-vidas com retinida ou balsas, material que dispunha a bordo,
para recolher os tripulantes do barco de pesca; sinalizar com material pirotécnico para
avisar às embarcações ao redor a gravidade do acidente e solicitar socorro por rádio a
todas as embarcações ao redor, informando estar impossibilitado de prestar socorro. E
não tendo o comandante do veleiro tomado nenhuma dessas providências, teria
descumprido vários artigos da Lei nº 7.273/84, que dispõe sobre busca e salvamento, e da
LESTA, além de várias regras do RIPEAM. Afirmaram que a causa determinante para o
acidente teria sido a não adoção de medidas adicionais de segurança por parte do
condutor do veleiro, que fazia uso de vela e do piloto automático em uma área em que
havia embarcações de pesca fundeadas, as quais teria detectado visualmente com
antecedência.
O Encarregado do Inquérito acompanhou o entendimento dos peritos da
DelIlheus e afirmou que o uso de velas restringia a capacidade de manobra do veleiro e
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que seu condutor, ao avistar as embarcações fundeadas, deveria ter desligado o piloto
automático e passado a utilizar propulsão mecânica, o que aumentaria sua capacidade de
manobra e, assim, poderia ter evitado ou ao menos minimizado os efeitos do acidente.
Indiciou, assim, como único possível responsável pelo acidente o comandante do veleiro
“TUGELA”, Sr. Nicolás González Cuadrado.
Não havendo comprovação nos autos de que o indiciado havia sido
notificado sobre o encerramento do inquérito, a PEM pediu novas diligências nesse
sentido. A delegacia da Capitania dos Portos em Ilhéus devolveu o ofício informando a
impossibilidade do cumprimento da diligência, pois a advogada que teria participado da
audiência não teria obtido de seu cliente a procuração formal que lhe concedesse poderes
para em seu nome receber notificações. No mesmo ofício de resposta a Delegacia da
Capitania de Ilhéus encaminhou cópia da ação penal proposta em face do indiciado na
Comarca de Canavieiras, como incurso no crime de tentativa de homicídio de cinco
pessoas, descritas como possíveis vítimas os Srs. Egildo Aleriano dos Santos, José
Edivan da Silva, Edimilson Souza Oliveira, George Freire Oliveira e Bartolomeu Carmo
Santos. A denúncia do Ministério Público teria sido recebida pelo Juiz de Direito da Vara
criminal daquela Comarca iniciando o processo, que tomou nº 0000561-
55.2015.805.0043.
Devolvidos novamente os autos à PEM ela ofereceu representação em face
do Sr. Nicolás González Cuadrado, com fulcro no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
Depois de resumir os principais fatos narrados no inquérito a PEM afirmou
que o representado teria sido negligente no tocante à manutenção vigilância necessária
durante a singradura, infringindo as normas e procedimentos estabelecidos para a
segurança do tráfego aquaviário e a salvaguarda da vida humana no mar, em especial as
Regras 5 a 8, 16 e 18, alínea “b”, do RIPEAM, sendo sua conduta a causadora do
abalroamento. Pediu sua condenação nas penas da Lei e ao pagamento das custas
processuais.
A representação foi recebida na Sessão Ordinária do dia 30 de março de 2017
depois de ter-se discutido em plenário a possibilidade de inclusão também do
comandante do barco de pesca no pólo passivo, pois estaria fundeado a 12 milhas da
costa em área de intenso tráfego, quando a classificação de seu barco permitia que
navegasse somente a até 10 milhas da costa, somado ao fato de que não teria iluminado
adequadamente sua embarcação, contribuindo para o acidente, mas os membros da Corte
decidiram finalmente, por unanimidade, por receber a Representação nos termos
apresentados pela Douta Procuradoria Especial da Marinha.
O representado, estrangeiro residente fora do Brasil, foi citado por edital (fl.
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140), na forma do art. 55, da Lei nº 2.180/54, c/c art. 73, “b”, do Regimento Interno dessa
Corte, mas não apresentou contestação, tendo sido declarado revel (fl. 150), tendo o
Tribunal Marítimo lhe indicado um curador especial na forma do art. 72, inc. II, do CPC,
múnus cumprido pela DPU-RJ.
A defesa do representado destaca as prerrogativas legais da DPU quanto à
contagem de prazos, intimação pessoal do Defensor e recebimento dos autos, pediu
gratuidade de justiça a seu curatelado e negou os fatos que dão base à representação por
negativa geral, pedindo que o representado seja absolvido.
Aberta a instrução nenhuma prova foi produzida e em alegações finais tanto a
PEM como a DPU reportaram-se às suas peças.
É o relatório.
Decide-se:
A acusação que pesa sobre o representado é que teria sido negligente quanto
à vigilância durante a singradura, infringindo as Regras 5 a 8, 16 e 18, alínea “b”, do
RIPEAM, causando o abalroamento, acusação que foi respondida por negativa geral por
sua defesa.
A prova que consta dos autos é que o abalroamento que envolveu o veleiro e
o barco de pesca se deu pouco além da 01h, a cerca de 12 milhas da costa. O veleiro
navegava impulsionado por suas velas e o barco de pesca estava fundeado, mas com
iluminação incapaz de torná-lo visível por quem navegasse em sua direção. O barco de
pesca avistou o veleiro se aproximando, conforme disse seu comandante, que ora via a
luz de bombordo ora a de boreste, mas não tomou nenhuma atitude para se safar do
abalroamento iminente.
Há nessa situação uma aparente culpa recíproca, motivo pelo qual se cogitou
a inclusão do mestre do barco de pesca no pólo passivo da representação no momento em
que essa foi recebida no plenário. Culpa do comandante do veleiro há com clareza, pois
navegava muito próximo da costa, à noite, sob velas, em uma situação que obviamente o
deixava vulnerável em caso da necessidade de fazer uma manobra de emergência,
devendo por isso ser responsabilizado pelo acidente da navegação.
Culpa aparentemente também há do comandante do barco de pesca, que não
obstante ter avistado que um barco se aproximava nada fez para evitar o abalroamento,
nem mesmo acendeu mais luzes a bordo de maneira que ficasse bem evidente sua posição
para quem vinha em sua direção, mas como ele não foi representado e, assim, não pôde
se defender, não se pode dizer que fora também responsável pelo acidente da navegação.
Desse modo, o acidente da navegação que nesses autos se caracterizou pelo
abalroamento entre um veleiro e um barco de pesca e que causou a perda total do barco
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de pesca, teve por causa determinante a navegação noturna do veleiro sob velas em uma
área muito próxima à costa e de intenso tráfego de barcos de pesca.
Deve, assim, ser a representação julgada procedente para responsabilizar o
representado pelo acidente da navegação.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: abalroamento com perda total da
embarcação abalroada; b) quanto à causa determinante: navegação noturna, sob velas, em
área próxima à costa repleta de embarcações de pesca; e c) decisão: Julgar o acidente da
navegação constante do art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, como decorrente da
imprudência do representado Nicolás González Cuadrado, aplicando-lhe pena de multa
no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com fulcro nos arts. 121, inciso VII, c/c art. 124,
inciso I. Custas processuais dispensado em deferimento do pedido de gratuidade de
Justiça.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 29 de novembro de 2018.
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Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.05.02 15:58:26 -03'00'