Sei sulla pagina 1di 6

TRIBUNAL MARÍTIMO

AR/NCF PROCESSO Nº 29.761/15


ACÓRDÃO

Veleiro “TUGELA” e B/M “DONA PAULA”. Abalroamento seguido de


naufrágio a 12 milhas náuticas da costa durante a madrugada com perda total
do barco de pesca. Veleiro impulsionado apenas pelo vento com dificuldade
de manobra que navegava em área com grande tráfego de barcos de pesca.
Condenação.

Vistos e relatados os presentes autos.


Tratam os autos de um abalroamento ocorrido na madrugada do dia 12 de
outubro de 2014, a cerca de 12 milhas náuticas pelo través de Canavieiras, BA,
envolvendo um barco de pesca e um veleiro, que resultou no naufrágio do barco de pesca,
sem notícias de danos a pessoas ou de poluição.
Envolveram-se no acidente o veleiro “TUGELA”, de bandeira das Ilhas
Cayman, com 24m de comprimento, 71,43AB, classificado para esporte e recreio em área
de navegação de mar aberto, casco construído em fibra reforçada no ano de 2003, de
propriedade de Nicolás González Cuadrado, cidadão uruguaio habilitado como Capitão
Amador e o B/P “DONA PAULA”, com 10,95m de comprimento, 3,51m de boca e 8AB,
classificado para pesca artesanal em área de navegação de cabotagem com restrição a 10
milhas DVC (nos limites de visibilidade da costa), casco construído em madeira no ano
de 2007, lotado com 04 POP e 01 MOP, inscrito em Ilhéus sob a propriedade de José
Paulo Sobrinho, cujo mestre era o POP Egildo Adriano dos Santos.
Conforme apurou o inquérito o veleiro “TUGELA” partiu de Barcelona, na
Espanha, com destino a Punta Del Leste, no Uruguai fazendo escalas, levando a bordo
seu proprietário, o Capitão Amador Nicolás González Cuadrado e um marinheiro, Sr.
Carlos Fernando Viana Temesio, ambos de nacionalidade uruguaia. Fizeram-se a vela em
Salvador na manhã do dia 11 de outubro e assim seguiam em sentido sul, com vento do
quadrante leste 085º a 15 nós. Por volta da 01h55min do dia 12 de outubro, navegando no
rumo verdadeiro 180º a 8 nós de velocidade, o comandante Nicolás avistou luzes brancas
e tênues no horizonte. Desceu do convés para conferir o radar e o AIS, mas nada
detectou. Voltou em poucos minutos para o convés e escutou uma batida forte. Guinou
para leste rapidamente, deu partida no motor e gritou para que seu tripulante viesse para o
convés imediatamente. Baixaram a vela, aproaram com a popa do barco de pesca e
verificaram que o veleiro não havia sofrido avarias, mas que o barco de pesca tinha
perdido sua proa que o levaria ao naufrágio. Viram que o resgate dos tripulantes do barco
1/6
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
===============================================================
de pesca não seria fácil, pois as ondas causavam um balanço muito grande no veleiro.
Prepararam-se, então, para atirar ao mar uma das duas balsas salva-vidas que havia a
bordo e escutaram no VHF que um barco de pesca se aproximava para prestar socorro.
Às 02h35min os tripulantes do barco de pesca foram resgatados e em seguida, depois de
por rádio terem anotado os telefones e contatos, o veleiro seguiu viagem até a cidade do
Rio de Janeiro, tendo seus tripulantes se apresentado perante a Autoridade Marítima no
dia 15 de outubro.
Os tripulantes do veleiro “TUGELA” acrescentaram em seu depoimento que
ao se aproximarem do barco de pesca para prestar-lhes socorro ficaram receosos com a
atitude agressiva dos pescadores, que estavam revoltados em razão do acidente. Disseram
que dois tripulantes tentaram se aproximar com uma pequena balsa, mas antes que
conseguissem manobrar para recolhê-los eles retornaram para o barco de pesca e ali
permaneceram até o socorro chegar. Atribuíram a causa do acidente ao fato de o barco de
pesca não estar iluminado e não ser detectável pelo radar.
Foram ouvidos também dois tripulantes do B/P “DONA PAULA”, o mestre
Egildo Aleriano dos Santos e o pescador José Edivan da Silva, que disseram que estavam
fundeados com 2,8 ton. de gelo, óleo, material de pesca e quatro tripulantes a bordo
quando por volta da 01h30min avistaram o veleiro se aproximando rapidamente, ora
apresentando a luz de bombordo, ora a luz de boreste e também uma luz amarela na
mesma altura que as luzes de navegação. O mestre deu partida no motor, mas foram
colhidos na bochecha de bombordo pelo veleiro que praticamente passou por cima do
barco de pesca, guinando para bombordo retornando em seguida. O abalroamento
destroçou a proa do barco de pesca, mas esse permaneceu flutuando. Foram feitas
chamadas de socorro pelo VHF, que foram atendidas por várias embarcações, mas não
pelo veleiro. Disseram também que o veleiro recusou a prestar-lhes socorro, tendo eles,
inclusive, baixado uma balsa e sinalizado com um pedaço de isopor, mas o veleiro não se
aproximou em momento algum para recolhê-los. Voltaram então para o que restara do
barco de pesca e esperaram por cerca de uma hora até que o B/P “DEUS É FIEL” os
resgatou e os levou até a boca da barra de Canavieiras, de onde outro barco de pesca os
levou até o cais. O mestre acrescentou que tinha vinte anos de experiência no mar, que
não emitiu sinais sonoros nem tentou comunicar-se com o veleiro antes do abalroamento,
que não conhecia as regras 7, 8, 13, 14 e 15 do RIPEAM, nem o contido nas NPCP’s ou
NORMAM’s, que na região há intenso trânsito de veleiros e outras embarcações de
esporte e recreio, tendo ele já passado por outras situações em que teve que se afastar
para evitar abalroamentos. Atribuiu o acidente a um erro do comandante do veleiro, pois
deveria ter desviado, uma vez que estava navegando e o barco de pesca fundeado.

2/6
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
===============================================================
Além deles foram ouvidos o mecânico náutico Laurindo Alves de Oliveira e
o POP Francisco José Gama Monteiro, que descreveram apenas o bom estado geral do
barco de pesca.
O laudo de exame pericial direto feito pela Capitania dos Portos do Rio de
Janeiro descreveu o veleiro como em ótimo estado de conservação, com suas luzes de
navegação e demais equipamentos de bordo funcionando normalmente, sem deficiências
nos aparelhos de governo e propulsão, equipado com radar, sonar e AIS, apresentando
arranhões nos dois bordos decorrentes do acidente. Disseram os peritos do Rio de Janeiro
que teria havido falha na vigilância por parte dos comandantes do veleiro e do barco de
pesca, mas como não tiveram acesso ao barco de pesca e não puderam confirmar se este
possuía refletor radar ou se suas luzes estavam funcionando a contento, declararam não
ser possível definir a causa determinante para o acidente.
O laudo de exame pericial indireto feito pela Capitania dos Portos em Ilhéus
descreveu o barco de pesca a partir do relato das testemunhas e dos documentos
apresentados, afirmando que o mesmo teria naufragado em um local cuja profundidade
chega a mais de 50m, impossibilitando o resgate do barco; qualificou três dos tripulantes
e as duas testemunhas não tripulantes que foram ouvidas; anotou o local do acidente
como a cerca de 12 milhas no través da cidade de Canavieiras e descreveu as condições
meteorológicas como boas e que não teriam contribuído para o acidente. Disseram os
peritos que, uma vez que o barco de pesca estava fundeado, seria obrigação do veleiro
manobrar para evitar o abalroamento e que ele deveria, ademais, ter tomado uma das
seguintes medidas para atenuar os efeitos do acidente: fazer contato via rádio com o
mestre do barco de pesca e pedir que se lançassem na água para que fossem recolhidos;
lançar na água boias salva-vidas com retinida ou balsas, material que dispunha a bordo,
para recolher os tripulantes do barco de pesca; sinalizar com material pirotécnico para
avisar às embarcações ao redor a gravidade do acidente e solicitar socorro por rádio a
todas as embarcações ao redor, informando estar impossibilitado de prestar socorro. E
não tendo o comandante do veleiro tomado nenhuma dessas providências, teria
descumprido vários artigos da Lei nº 7.273/84, que dispõe sobre busca e salvamento, e da
LESTA, além de várias regras do RIPEAM. Afirmaram que a causa determinante para o
acidente teria sido a não adoção de medidas adicionais de segurança por parte do
condutor do veleiro, que fazia uso de vela e do piloto automático em uma área em que
havia embarcações de pesca fundeadas, as quais teria detectado visualmente com
antecedência.
O Encarregado do Inquérito acompanhou o entendimento dos peritos da
DelIlheus e afirmou que o uso de velas restringia a capacidade de manobra do veleiro e

3/6
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
===============================================================
que seu condutor, ao avistar as embarcações fundeadas, deveria ter desligado o piloto
automático e passado a utilizar propulsão mecânica, o que aumentaria sua capacidade de
manobra e, assim, poderia ter evitado ou ao menos minimizado os efeitos do acidente.
Indiciou, assim, como único possível responsável pelo acidente o comandante do veleiro
“TUGELA”, Sr. Nicolás González Cuadrado.
Não havendo comprovação nos autos de que o indiciado havia sido
notificado sobre o encerramento do inquérito, a PEM pediu novas diligências nesse
sentido. A delegacia da Capitania dos Portos em Ilhéus devolveu o ofício informando a
impossibilidade do cumprimento da diligência, pois a advogada que teria participado da
audiência não teria obtido de seu cliente a procuração formal que lhe concedesse poderes
para em seu nome receber notificações. No mesmo ofício de resposta a Delegacia da
Capitania de Ilhéus encaminhou cópia da ação penal proposta em face do indiciado na
Comarca de Canavieiras, como incurso no crime de tentativa de homicídio de cinco
pessoas, descritas como possíveis vítimas os Srs. Egildo Aleriano dos Santos, José
Edivan da Silva, Edimilson Souza Oliveira, George Freire Oliveira e Bartolomeu Carmo
Santos. A denúncia do Ministério Público teria sido recebida pelo Juiz de Direito da Vara
criminal daquela Comarca iniciando o processo, que tomou nº 0000561-
55.2015.805.0043.
Devolvidos novamente os autos à PEM ela ofereceu representação em face
do Sr. Nicolás González Cuadrado, com fulcro no art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54.
Depois de resumir os principais fatos narrados no inquérito a PEM afirmou
que o representado teria sido negligente no tocante à manutenção vigilância necessária
durante a singradura, infringindo as normas e procedimentos estabelecidos para a
segurança do tráfego aquaviário e a salvaguarda da vida humana no mar, em especial as
Regras 5 a 8, 16 e 18, alínea “b”, do RIPEAM, sendo sua conduta a causadora do
abalroamento. Pediu sua condenação nas penas da Lei e ao pagamento das custas
processuais.
A representação foi recebida na Sessão Ordinária do dia 30 de março de 2017
depois de ter-se discutido em plenário a possibilidade de inclusão também do
comandante do barco de pesca no pólo passivo, pois estaria fundeado a 12 milhas da
costa em área de intenso tráfego, quando a classificação de seu barco permitia que
navegasse somente a até 10 milhas da costa, somado ao fato de que não teria iluminado
adequadamente sua embarcação, contribuindo para o acidente, mas os membros da Corte
decidiram finalmente, por unanimidade, por receber a Representação nos termos
apresentados pela Douta Procuradoria Especial da Marinha.
O representado, estrangeiro residente fora do Brasil, foi citado por edital (fl.

4/6
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
===============================================================
140), na forma do art. 55, da Lei nº 2.180/54, c/c art. 73, “b”, do Regimento Interno dessa
Corte, mas não apresentou contestação, tendo sido declarado revel (fl. 150), tendo o
Tribunal Marítimo lhe indicado um curador especial na forma do art. 72, inc. II, do CPC,
múnus cumprido pela DPU-RJ.
A defesa do representado destaca as prerrogativas legais da DPU quanto à
contagem de prazos, intimação pessoal do Defensor e recebimento dos autos, pediu
gratuidade de justiça a seu curatelado e negou os fatos que dão base à representação por
negativa geral, pedindo que o representado seja absolvido.
Aberta a instrução nenhuma prova foi produzida e em alegações finais tanto a
PEM como a DPU reportaram-se às suas peças.
É o relatório.
Decide-se:
A acusação que pesa sobre o representado é que teria sido negligente quanto
à vigilância durante a singradura, infringindo as Regras 5 a 8, 16 e 18, alínea “b”, do
RIPEAM, causando o abalroamento, acusação que foi respondida por negativa geral por
sua defesa.
A prova que consta dos autos é que o abalroamento que envolveu o veleiro e
o barco de pesca se deu pouco além da 01h, a cerca de 12 milhas da costa. O veleiro
navegava impulsionado por suas velas e o barco de pesca estava fundeado, mas com
iluminação incapaz de torná-lo visível por quem navegasse em sua direção. O barco de
pesca avistou o veleiro se aproximando, conforme disse seu comandante, que ora via a
luz de bombordo ora a de boreste, mas não tomou nenhuma atitude para se safar do
abalroamento iminente.
Há nessa situação uma aparente culpa recíproca, motivo pelo qual se cogitou
a inclusão do mestre do barco de pesca no pólo passivo da representação no momento em
que essa foi recebida no plenário. Culpa do comandante do veleiro há com clareza, pois
navegava muito próximo da costa, à noite, sob velas, em uma situação que obviamente o
deixava vulnerável em caso da necessidade de fazer uma manobra de emergência,
devendo por isso ser responsabilizado pelo acidente da navegação.
Culpa aparentemente também há do comandante do barco de pesca, que não
obstante ter avistado que um barco se aproximava nada fez para evitar o abalroamento,
nem mesmo acendeu mais luzes a bordo de maneira que ficasse bem evidente sua posição
para quem vinha em sua direção, mas como ele não foi representado e, assim, não pôde
se defender, não se pode dizer que fora também responsável pelo acidente da navegação.
Desse modo, o acidente da navegação que nesses autos se caracterizou pelo
abalroamento entre um veleiro e um barco de pesca e que causou a perda total do barco

5/6
(Continuação do Acórdão referente ao Processo nº 29.761/2015........................................)
===============================================================
de pesca, teve por causa determinante a navegação noturna do veleiro sob velas em uma
área muito próxima à costa e de intenso tráfego de barcos de pesca.
Deve, assim, ser a representação julgada procedente para responsabilizar o
representado pelo acidente da navegação.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) quanto à
natureza e extensão do acidente da navegação: abalroamento com perda total da
embarcação abalroada; b) quanto à causa determinante: navegação noturna, sob velas, em
área próxima à costa repleta de embarcações de pesca; e c) decisão: Julgar o acidente da
navegação constante do art. 14, alínea “a”, da Lei nº 2.180/54, como decorrente da
imprudência do representado Nicolás González Cuadrado, aplicando-lhe pena de multa
no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), com fulcro nos arts. 121, inciso VII, c/c art. 124,
inciso I. Custas processuais dispensado em deferimento do pedido de gratuidade de
Justiça.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 29 de novembro de 2018.

NELSON CAVALCANTE E SILVA FILHO


Juiz Relator

Cumpra-se o Acórdão, após o trânsito em julgado.


Rio de Janeiro, RJ, em 25 de março de 2019.

WILSON PEREIRA DE LIMA FILHO


Vice-Almirante (RM1)
Juiz-Presidente
PEDRO COSTA MENEZES JUNIOR
Capitão-Tenente (T)
Diretor da Divisão Judiciária
AUTENTICADO DIGITALMENTE

6/6
Assinado de forma digital por COMANDO DA MARINHA
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=Pessoa Juridica A3, ou=ARSERPRO, ou=Autoridade Certificadora SERPROACF, cn=COMANDO DA MARINHA
Dados: 2019.05.02 15:58:26 -03'00'

Potrebbero piacerti anche