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A Religião Filosófica de Friedrich Schleiermacher e seu

desenvolvimento Teológico1
Raphaelson Steven Zilse*2

Resumo: Este artigo tem o intento de compreender o desenvolvimento, em Friedrich


Schleiermacher, não apenas de uma análise filosófica da religião, mas, a partir de um olhar
que abrange sua primeira obra filosófica e a última teológica, uma religião filosoficamente
desenvolvida. Para isto, a princípio, ocorrerá uma análise de seu exame filosófico da religião,
cujo intento é compreender o que vem a ser a essência religiosa do ser humano, desenvolvido
na obra, “Sobre a Religião”, com um foco maior, todavia, no segundo discurso, que expõe a
metodologia utilizada e o conteúdo, propriamente dito, da essência religiosa, que é definida
como intuição e sentimento do Universo. Como ponto intermediário, entre o estudo do “Sobre
a Religião” e o desenvolvimento teológico posterior, haverá a análise donde Schleiermacher
derivou as bases para sua estrutura epistemológica e ontológica a partir de dois pontos
essenciais: o “chão transcendental”, que servirá como objeto da intuição (o que,
posteriormente, Schleiermacher vai modificar) e agente causativo do sentimento, e o nível
mais elevado de consciência humana, que será desenvolvido como o “sentimento de absoluta
dependência”. Todavia, como dito acima, Schleiermacher não permanece na análise filosófica
da religião, mas, levando as bases e as consequências desta análise para dentro do
cristianismo, re-estrutura as doutrinas essenciais desta religião, na obra Fé Cristã, com
explícita exposição de seu ponto de partida na Introdução desta obra como sendo a
“consciência de dependência absoluta”, que, por ele, é definida como estar em um
relacionamento com Deus, ou, conceitualmente, também conhecido como piedade.

Palavras-chave: Schleiermacher. Filosofia da Religião. Teologia. Epistemologia religiosa.


Ontologia religiosa.

1
Artigo da Comunicação Apresentada no 27º Congresso Internacional da Soter (15-18 de julho, 2014)
originalmente publicado nos Anais do Congresso. ZILSE, Raphaelson. A Religião Filosófica de Friedrich
Schleiermacher e seu desenvolvimento Teológico. In: Anais Congresso Do Congresso da Soter, 2014, Belo
Horizonte. Disponível em: <http://www.soter.org.br/documentos/documento-wP3I07ByjGz0kHbf.pdf>.
*Especialista em Filosofia Contemporânea, Mestrando em Teologia pelas Faculdades EST (São Leopoldo, RS-
BR), bolsista CNPq: raphaelson.zilse@gmail.com.
Introdução

Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834), teólogo, filósofo, filólogo e


pastor, nasceu em Breslau, Prússia (hoje Wroclaw, Polônia), numa época dominada pelo
desenvolvimento moderno do conhecimento, a “Era da Razão”, segundo Kant, definida pela
luta em prol da única verdadeira obrigação, o sapere aude, o ousar saber, segundo o mesmo
pensador (KANT, 2014). Schleiermacher, vivendo sua vida acadêmica em meio às
publicações iluminadas de Kant (Crítica da Razão Pura [1781], e as outras até 1804) e
movimentos políticos revolucionários, sobretudo a Revolução Francesa, em 1789 (quando
Schleiermacher tinha seus 21 anos de idade), foi indubitavelmente formado pela consciência
crítica do conhecimento que influenciaria, em última análise, tanto seu fazer teológico quanto
sua própria crítica à racionalização iluminista.
Estas bases modernas podem ser vistas em Schleiermacher, também em outros
momentos como crítica, mas, positivamente, sobretudo, no desenvolvimento de sua estrutura
epistêmico-ontológica, a Dialética, que servirá de molde (fundamento, estrutura e limites)
para o desenvolvimento posterior tanto de sua Filosofia da Religião e sua Teoria
Hermenêutica, quanto de sua Teologia e redefinição da Dogmática. Para ele, como
desenvolvido em sua Dialética, conhecimento é a relação entre as funções orgânica (receptora
da experiência e elaboradora da imagem, Bild) e formal (sintetizadora da experiência em
conceito, Begriff) (BOWIE, in: SCHLEIERMACHER, 1998, p. xvi), tendo por centro da
relação a intuição (Anschauung), fazendo com que “começar no meio [seja] inevitável”
(BOWIE, in: SCHLEIERMACHER, 1998, p. xxvi). Todavia, a intuição também é
influenciada pelo sentimento (Gefühl), como um estado do indivíduo, assim, “cada intuição de
acordo com sua natureza, está conectado com um sentimento” (FRANK, 2005, p. 28).
Destarte, é a partir da relação dessas duas funções na intuição que, influenciada pelo
sentimento, gera aquilo que pode ser denominado como a autoconsciência imediata, a relação
do sujeito enquanto ser e pensar (BOWIE, in: SCHLEIERMACHER, 1998, p. xxv).
Além da forte influência Iluminista, Schleiermacher foi influenciado e influenciou
outro movimento contemporâneo, e, até certo ponto, contraposto ao Iluminismo e sua ênfase
na racionalidade humana. Falar do movimento Romântico e de Schleiermacher seria
redundante, pois todo o conteúdo e consequência desta nova perspectiva relacional Universo-
ser humano são descritas com o enfoque religioso por Schleiermacher em sua obra “Sobre a
Religião”, obra que havia sido elaborada como resposta a pedidos de seus companheiros
romantistas fascinados pela interpretação da religião por ele. Não obstante, há alguns traços
essenciais deste movimento que podem ser ressaltados e que, como será visto, também serão
fundamentais para a definição do Infinito e de seu relacionamento com o finito como
desenvolvida por Schleiermacher.
O primeiro, que pode ser tido como o ponto de partida fundamentalmente divergente
do do Iluminismo, é a “sede pelo infinito”, como ressaltam Reale e Antiseri, onde “o infinito é
o sentido e a raiz do finito” (REALE; DARIO, 2007, p. 12), e onde, por causa disto, como
segundo ponto, é formada uma nova visão da vida oriunda da interligação orgânica de
natureza e ser humano (REALE; DARIO, 2007, p. 12). Estes dois pontos (sede pelo infinito e
realidade interligada) remetem, então, à “pertença ao uno-todo”, que define o ápice da
existência com o poder “ser um com o todo... ser um com tudo o que vive!” (HÖLDERLIN,
apud: REALE; DARIO, 2007, p. 12). A partir destas bases, como “novidade” trazida pelo
Romantismo, a religião é novamente remetida para o centro do existir, todavia, ela é
reformulada como a “relação do homem com o infinito e com o eterno” (REALE; DARIO,
2007, p. 13), e é justamente este o ponto de partida e o desenvolvido por Schleiermacher em
sua obra “Sobre a Religião”, e o que, como ele mesmo expõe, define sua vocação:
“representar mais claramente aquilo que vive em todos os verdadeiros seres humanos, e trazer
isso para casa, para suas consciências” (SCHLEIERMACHER, 1860, p. 125).
Todo contexto, como exposto, influencia a vida e o pensamento de um sujeito e, em
contraposição, é influenciado por ele. Contudo, é especialmente no caso de teólogos que
surge, a partir desta relação sujeito-contexto, uma situação que os põe em confronto com uma
decisão fundamental: (conscientemente) dialogar ou não com o mundo e suas mudanças?
Uma posição já havia sido tomada pela Ortodoxia de forma negativa, isto é, qualquer diálogo
relevante com o mundo e o desenvolvimento de uma teologia a partir dos pressupostos
desenvolvidos pela razão humana fora eliminado com o desenvolvimento da doutrina da
inspiração verbal da Bíblia (HÄGGLUND, 2003, p. 265). Esta (im)posição dogmática
sobrenaturalista, todavia, vinha sendo criticada pelo movimento pietista que, com sua forte
ênfase da experiência e no Jesus, estudando histórico-gramaticalmente a Bíblia, buscava ver
os traços humanos com os quais a encarnação do Logos de Deus fora interpretado e
testemunhado. Neste contexto teológico, Schleiermacher, que estudou na universidade pietista
de Halle, foi influenciado pela exegese histórica da Bíblia. Todavia, foi a sua experiência na
criação e educação até o início dos estudos teológicos na comunidade dos Irmãos Morávios,
mais do que qualquer outra coisa, que influenciara sua perspectiva fundamental acerca do
relacionamento entre ser humano e Deus, educação desta escola que tinham por centro “a
experiência [como] o fundamento de toda certeza, tanto no nível natural como no da
revelação” (HÄGGLUND, 2003, 282). Segundo o próprio Schleiermacher, numa carta de
18021:3
Foi aqui que aquela tendência mística se desenvolveu, a qual tem sido de
tão grande importância para mim, e tem me suportado e me carregado através de
todas as tempestades de ceticismo. Então, estava apenas germinando, agora obteve
desenvolvimento completo, e eu posso dizer que, depois de tudo o que passei, eu me
tornei novamente um Herrnhuter [Morávio], apenas de uma ordem superior.
(SCHLEIERMACHER, 1860, p. 283-284)

1 Religião Filosófica

1.1 Sobre a Religião

Über die Religion: reden an die Gebildeten unter ihren Verächtern (Sobre a Religião:
discursos a seus cultos menosprezadores) é a primeira obra publicada de Schleiermacher,
lançada em 1799. Schleiermacher pode ser tido como o pensador que inaugura a era moderna
do fazer teológico, segundo seu mais sagaz intérprete e crítico teológico, Karl Barth (1982, p.
425), todavia, é essencialmente com sua obra “Sobre a Religião” que esta era é estabelecida e
direcionada. Nela, sob pedidos de seus companheiro romantistas (como Schelling e os irmãos
Schlegel), Schleiermacher busca (re)apresentar a religião, ou, melhor dizendo, a essência da
religião, como sendo um aspecto fundante e determinante do ser humano, perspectiva que,
numa era moderna, cuja interpretação da religião resumia-se em sobrenaturalismo, por um
lado teológico anti-iluminista, e ética, por outro racionalista, buscava se posicionar como
diálogo entre fé e razão. Não obstante, é contra estas perspectivas reducionistas e fracionárias,
mas especialmente preconceituosas da religião na era moderna que Schleiermacher se
posiciona ao definir a essência religiosa como sendo nem conhecimento e nem prática, mas
experiência (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 33).
De forma literária, especialmente na primeira edição, é impressionante o
desenvolvimento por Schleiermacher de seus pensamentos, desenvolvimento quasi artístico,
fazendo com que a obra não possa ser reduzida a uma exposição acadêmica de uma análise
sistemática, mas, a partir do intento, que é ser um diálogo íntimo (utilizando da segunda
pessoa do singular), e em paralelo com o espírito literário predominante da época romântica,
busca ser não uma descrição, mas uma experiência. Acerca da obra, de forma objetiva, sua
estrutura é subdividida em cinco discursos.

1
É importante observar que esta carta fora escrita em 1802, apenas três anos após a publicação de sua obra
Sobra a Religião, e, já aqui, ele reconhece o amadurecimento completo desta “tendência mística”.
O primeiro discurso é uma apologia da religião, a “Defesa”, onde, após ressaltar a
suposta “emancipação” iluminista do ser humano “adulto” de qualquer questão religiosa
(“tendo feito um universo para si mesmo, você está acima da necessidade de pensar do
Universo que o fez” [SCHLEIERMACHER, 1958, p. 2]), busca apresentar aquilo que o
homem “culto” não consegue compreender, “as mais profundas profundezas de onde todo
sentimento e concepção recebem sua forma” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 11), a província
na mente pertencente à piedade (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 21). No segundo, “Natureza
da Religião”, que será o ponto essencial de análise a seguir, Schleiermacher parte da pergunta
“o que é religião?”, e, para respondê-la, ou melhor, para levar o leitor à reflexão acerca dela,
ele urge que isto ocorra “sem se deixar ser corrompido por velhas memórias ou preso por
preconceitos, você deve se esforçar para entender o objeto apresentado simplesmente por si
mesmo” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 26), ou, como Tommy Akira Goto ressalta, usando
a linguagem fenomenológica de Husserl, um “voltar às coisas mesmas” (GOTO, 2004, p. 74).
No terceiro discurso, “Cultivo da Religião”, fala-se sobre a impossibilidade do ensino ou
treinamento da essência da religião, simplesmente por esta não poder ser transmitida em
conceitos, mas poder apenas ser experianciada num despertar pelo Universo
(SCHLEIERMACHER, 1958, p. 123-4). O quarto, “Associação na Religião, ou Igreja e
Sacerdócio”, trabalha as organizações religiosas, seu desenvolvimento estrutural e clerical, e,
mesmo reconhecendo e concordando com a concepção crítica dos seus males, quer, não
obstante, apesar da consciência subjetiva e individual, desenvolver uma perspectiva relacional
da essência religiosa partindo do ser humano, pois, “se há religião, ela deve ser social, pois
esta é a natureza do homem” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 148). Já no último, o quinto,
“Religiões”, Schleiermacher faz o diálogo entre cristianismo e as diversas formas em que a
essência religiosa pode se expressar, pois, a “multiplicidade do religioso é baseada na
natureza da religião” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 212), e “esta multiplicidade é
necessária para a completa manifestação da religião” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 213).

1.2 A Essência Religiosa do Ser Humano

Como pode ser visto, são múltiplos os pontos acerca da religião trabalhados por
Schleiermacher nesta obra e, paralelamente, são múltiplos os enfoques que poderiam ser
dados para a análise de seu desenvolvimento pleno acerca do fenômeno religioso. Todavia,
pode-se compreender que, pela extensão, mas, essencialmente por ser onde ocorre a
explanação do núcleo conceitual de sua estrutura, o segundo capítulo é um ponto de partida
importante para a compreensão do pensamento schleiermacheriano. Este é o capítulo onde
ocorre a exposição do que Schleiermacher quer expressar ao falar da natureza da religião,
aquilo que, a seu ver, foi obscurecido tanto pela racionalização moderna da religião na
teologia natural, quanto pelas formulações dogmáticas restritivas das tradições eclesiásticas.
Para compreender o desenvolvimento teórico e o telos que Schleiermacher pretende
chegar, necessita-se compreender o caminho percorrido, também apresentado neste segundo
capítulo de sua obra. O movimento metodológico de Schleiermacher pode ser compreendido à
luz de uma teoria mais recente, estruturada por Edmund Husserl como método
fenomenológico, contudo, mais especificamente, o movimento dentro dela que é denominado
de “redução eidética”: a busca pela essência do fenômeno através de uma abertura ao “sentido
mais originário, desincorporando de si mesmo toda disciplina ou teoria especulativa” (GOTO,
2004, p. 75). A princípio, isto é algo que já ocorre no primeiro capítulo, contudo de forma
mais sutil, perceptível quando Schleiermacher argumenta que religião vai além daquilo que
seus contemporâneos cultos estavam menosprezando, existindo, por detrás das formas contras
as quais se posicionavam, uma essência. Todavia, este argumento é explicitamente
desenvolvido no segundo capítulo ao apresentar que a única maneira para a apreensão da
essência da religião é “não se deixar seduzir nem por antigas lembranças nem corromper-se
por preconceitos” (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 28), mas abrir-se ao sentido originário que
é pré-conceitual, e, através da “arte analítica”, “poder apresentar uma realidade semelhante”
ao essencial da religião (SCHLEIERMACHER, 1958, p. 32), o originário ponto de contato
entre todas as religiões. Sendo este o caminho percorrido e desenvolvido por Schleiermacher
rumo ao seu intento de compreensão da essência da religião, resta a pergunta de qual, afinal, é
esta essência da religião cujo acesso seria possível ao ser humano?
Para Schleiermacher, mesmo após a desestruturação, num sentido eclesiástico, da
religião, e após a de-roupagem das diversas formas simbólicas pelas quais ela pode ser
expressa, a essência religiosa, por mais que se tente, não pode ser reduzida a um
desenvolvimento conceitual da ideia de Deus, pois isto não se diferenciaria de todo
pensamento metafísico especulativo desenvolvido. Mas, para Schleiermacher, a essência da
religião que pode ser apreendida pelo ser humano é algo muito mais concreto, o mais
empírico que a religião pode verdadeiramente ser para o ser humano: “a consciência imediata
da Deidade como Ele é encontrado em nós mesmos e no mundo” como uma “intuição do
Universo [...] a fórmula mais universal e elevada da religião” (SCHLEIERMACHER, 1958,
p. 36). Como consequência, o objeto do estudo religioso já não é mais Deus em si mesmo,
mas se torna a consciência humana que apreende o Universo, o Infinito, Deus como o Todo.
Não obstante esta subjetividade, é através da compreensão da intuição como momento
de correlação entre o intuir e o intuído que a religião pode ser apreendida como contendo
referência a uma realidade para além da consciência subjetiva, a algo para além de nós
mesmos, o que, todavia, não necessariamente implica na possibilidade de conhecimento desta.
E é seguindo esta sequência lógica que Schleiermacher vai dizer que sobre a religião: “sua
essência não é pensamento nem ação, senão intuição e sentimento” (SCHLEIERMACHER,
1958, p. 33).
Apesar disto, como Robert M. Adams ressalta (2005, p. 36-37), é importante observar
a mudança de ênfase terminológica de intuição (na primeira edição de 1799), para sentimento
(a partir da segunda, em 1806, contudo, não rejeitando ou excluindo por total o conceito de
intuição). Com isto, a mudança essencial que ocorre é da posição do sujeito da experiência
religiosa, isto é, de um olhar para fora pela intuição, àquilo que produz a intuição, para o olhar
para dentro, ao sentimento que é despertado pelo suposto objeto da intuição na reflexão, mas
que, assim, se torna sujeito ao causar a experiência religiosa no sujeito passivo. A essência da
religião, desta forma, continua sendo uma consciência (um determinado nível dela) no ser
humano, todavia, agora, esta consciência é fundamentalmente voltada ao ser humano, apesar
de compreender que, em sua essência, ela é despertada por algo exterior a si mesma, o
Universo, o Infinito, Deus.

2 Pressupostos Filosóficos

A despeito do formato literário dialogal e até poético da obra “Sobre a Religião”, esta
releitura filosófica da religião, provida por Schleiermacher, tem por pressuposto questões
filosóficas últimas, e não mera especulação desprovida de fundamentos. E não só, mas seus
pressupostos estão muito mais relacionados ao desenvolvimento epistemológico na filosofia
do que propriamente oriundas da reflexão teológica dogmática. Embora haja o diálogo com
diversas linhas de pensamento e diversos autores, pode-se compreender que são três os
principais pontos de partida com os quais Schleiermacher desenvolve seu alicerce ideológico:
Immanuel Kant e sua estrutura epistemológica (muito mais do que sua própria análise da
religião na perspectiva ética) e, de forma indireta, Gottfried W. Leibniz, por Schelling, e,
através de seu professor Eberhard e da análise de citações por Friedrich H. Jacobi, Benedito
de Espinoza2.4Certos aspectos deste último possuem, por causa de sua análise de segunda
mão, o que poderia ser denominado de “interpretações não acuradas”, contudo, apesar disto,
“elas apresentam penetração, cuidado e habilidade” na interpretação do núcleo do pensamento
de Espinoza (BRANDT, 1941, p. 36). Mais importante, todavia, é perceber que as datas de
composição dos dois ensaios sobre o sistema spinozista de pensamento são da década (1793 e
1796) da composição da obra “Sobre a Religião” (1799).
Nesses ensaios, Schleiermacher, para analisar Espinoza, compara seu sistema com os
de Leibniz e Kant. Um primeiro ponto que deve ser ressaltado acerca da análise por
Schleiermacher é sua admiração à crítica de Espinosa sobre o transcendentalismo do Deus
teísta. Além disto, ao longo de sua análise, Schleiermacher reconhece o que poderia ser um
paralelo de sentido entre o que Espinosa denomina de monismo, a substância infinita
imanente e “causa eficiente de todas as coisas” (ESPINOSA, apud: BARTUSCHAT, 2010, p.
52), e o que Kant denomina de noumenon, ou coisa-em-si-mesma, pois ambos referir-se-iam à
realidade incondicional última. Contudo, para Schleiermacher, Kant ainda teria necessitado de
um Deus transcendente “somente por causa de uma inconsistência remanescente de um velho
dogmatismo.” (SCHLEIERMACHER, apud: BRANDT, 1941, p. 37)
Assim, desta análise crítica de Espinoza e comparação majoritariamente com Kant,
Schleiermacher retém a concepção de um “chão” fundamento da realidade e imanente, mas
que, levando para além de Espinosa, também é transcendente à realidade material. Neste
sentido, Schleiermacher não pode ser denominado estritamente de panteísta, justamente pela
falta da redução total da realidade última, do Todo, a uma substância imanente, como em
Espinoza, contendo, apesar de tudo, uma realidade ainda transcendente. Schleiermacher, desta
forma, a partir de sua teoria epistemico-ontológica e este “chão transcendental”, poderia ser
denominado como sendo um realista transcendente35(FRANK, 2005, p. 16). A ideia deste
fundamento último da realidade é inserida e desenvolvida por Schleiermacher, para além do já
expresso em sua obra “Sobre a Religião”, sobretudo, em sua teoria da Dialética, uma teoria
que tem o intento de ser “uma ciência do conhecimento transcendendo a oposição entre
conhecer e fazer”46e que, no caso religioso, será a porta de entrada para a consciência
receptiva ao Universo.

2
Há distinções entre Leibniz e Espinoza, contudo, estes poderiam ser estabelecidos como apenas um ponto de
fundamento, pois, segundo o próprio Schleiermacher, a filosofia de Leibniz era, em sua essência, a mesma da
de Espinoza. Destarte, o foco neste artigo recairá sobre a recepção de Espinosa. (FRANK, 2005, p. 18)
3
“Realista” por ter uma realidade exterior à mente que fornece o conteúdo para o conhecimento pela intuição
e “transcendental” pela realidade última não se reduzir a esta realidade exterior.
4
Importantíssima é a similaridade desta definição com a da essência da religião como também sendo nem
conhecimento e nem ato, fazendo com que a Dialética possa ser definida como o método teórico da
Como já expresso na introdução, é aqui que sua relação com Kant e com a
modernidade é explicitada. Esta teoria é desenvolvida como relação entre as funções orgânica
e formal. Enquanto que na orgânica ocorre a recepção dos dados externos à mente (remetendo
ao aspecto realista de sua teoria epistemológica), o que faz com que também seja conhecida
com o conceito de receptividade, na formal, os dados que são recebidos da receptividade são
interpretados, sintetizados e organizados. Todavia, conhecimento não pode ser visto como um
destes pontos isolados, mas é a relação que ocorre entre eles, relação da qual não se pode sair,
e relação que dá, como única possibilidade, o início do conhecimento num ponto
intermediário, ponto que Schleiermacher denominará de intuição (Anschauung).
Intuição (Anschauung) é a “relação do sujeito como ‘pensador’ e como ‘ser’” (ZILSE,
2013, p. 152), fazendo com que, como já expresso, a epistemologia schleiermacheriana seja
também uma ontologia, e, assim, intuição é a consciência imediata do ser de si e do mundo,
uma autoconsciência. A autoconsciência imediata é onde Schleiermacher estabelece os três
níveis de consciência do ser humano. Apesar do forte paralelo com Kant, é provável que seja
Espinoza sua matriz para o desenvolvimento epistemológico, como ressalta Frank (2005, p.
17), e, mais especificamente, na sua própria tripartição da consciência. Esta teoria é apoiada
quando se estuda a própria estrutura epistemológica spinozista que triparte o conhecimento
entre: imaginatio, ratio e scientia intuitiva. Contudo, é justamente a partir deste último nível
desenvolvido por Espinoza que há os paralelos essenciais com Schleiermacher e seu terceiro
nível de autoconsciência como consciência de dependência absoluta. O desenvolvimento de
Espinosa pode ser compreendido como ponto de partida para Schleiermacher quando se
observa que, nesta tripartição da consciência, é a scientia intuitiva o ponto onde a mente
humana “se conhece a si mesma de tal modo, a partir de Deus como a sua causa, que esse
conhecer determine a sua vida no todo”. Apesar de não reter esta teoria por completo, o
paralelo essencial é pela autoconsciência produzida no ser humano a partir de um todo como
ponto de partida para a reflexão religiosa, isto é, para Schleiermacher, como será analisado a
seguir, também é no terceiro nível, o da consciência de dependência absoluta, que o ser
humano tem a experiência receptiva com o Universo. Esta epistemologia-ontologia da
realidade religiosa do ser humano de Schleiermacher, contudo, não finda como uma análise

compreensão desta essência religiosa, perspectiva metodológica que corrobora com o próprio conteúdo da
Dialética, que é a autoconsciência imediata, assim como seus pressupostos e suas consequências. Apesar disto,
a relação entre a teoria Dialética e a análise da consciência religiosa é especialmente vista com o conceito
desenvolvido por Schleiermacher como essência religiosa na obra “A Fé Cristã”: consciência de dependência
absoluta.
filosófica, mas se torna base para a releitura do cristianismo trabalhada em sua teologia,
sobretudo, todavia, em sua “Doutrina da Fé Cristã”.

3 Desenvolvimento Teológico

3.1 A Doutrina da Fé Cristã

A magnum opus de Schleiermacher é, sem dúvida, sua obra “Der christliche Glaube
nach den Grundsätzen der evangelischen Kirche” (A Fé Cristã de acordo com os princípios
da Igreja Evangélica), publicada em dois volumes, entre 1821 e 1822, com uma segunda
edição entre 1830-1831 após revisões feitas por ele. De acordo com o teólogo católico-
romano Hans Küng, esta pode ser considerada a “mais significante Dogmática dos tempos
modernos” (KÜNG, 1994, p. 173). A principal relevância desta obra é que nela
Schleiermacher desenvolve um sistema teológico cristão a partir de e para seu tempo, isto é,
ele colocará em ação o princípio fundamental de sua obra “Kurze Darstellung des
theologischen Studiums” (“Breve apresentação do estudo da teologia”, 1811), o da relação
entre Ortodoxia e Heterodoxia no fazer teológico. Este princípio tem por pressuposto o anseio
de sempre estar atualizando a fé cristã para o mundo em constante desenvolvimento, e, como
ele mesmo diz, dentro do “curso histórico do cristianismo em geral” a teologia deve estar
consciente de sua posição e ser desenvolvida em “todo momento singular como tal dentro
desta história” (SCHLEIERMACHER, 1966, p. 74). Assim, é com um intento de re-fazer a
teologia dentro de seu tempo que Schleiermacher desenvolve o que pode ser considerado
como o sistema teológico sintético da e orientador para a modernidade, fazendo com que,
como Karl Barth disse, “ele não fundou uma escola, mas uma era” (BARTH, apud: KÜNG,
1994, p. 157).
A obra é dividida em duas partes e uma introdução. A Introdução, onde
Schleiermacher diz “expor a concepção de Dogmática que subjaz no trabalho em si”
(SCHLEIERMACHER, 1963, p. 1), é fundamental por ser onde ele explicitamente relaciona
o desenvolvido em sua filosofia da religião (“Sobre a Religião” e “Dialética”) com o fazer
teológico e sua própria subsequente interpretação da fé cristã. Além disto, é nesta seção que
ele define os principais conceitos que servirão de base para o desenvolvimento teológico no
corpo da obra. Alguns destes conceitos trabalhados são: a Igreja Cristã (§2), piedade (§3),
consciência de dependência absoluta (§4-6) e, após definir a relação entre Cristianismo e as
outras religiões, trabalha o que são doutrinas (§15) e proposições dogmáticas (§16ss),
desenvolvimento fundamental para a compreensão da possibilidade e limitação da
conceptualização teológica da consciência religiosa.
Após os prolegômenos, a primeira parte do corpo doutrinário, propriamente dito, é “o
desenvolvimento daquela autoconsciência religiosa que está sempre tanto pressuposta por e
contida em toda afeição cristã religiosa”, pois esta autoconsciência, a de dependência
absoluta, “é o único caminho que, em geral, nosso próprio ser e o ser infinito de Deus podem
ser um em autoconsciência” (SCHLEIERMACHER, 1963, p. 131). Portanto, a relação entre
esta autoconsciência, Deus e o mundo forma o conteúdo central desta “Primeira parte do
sistema de doutrinas”, como ele mesmo a intitula.
A segunda parte deste seu sistema trabalha o que Schleiermacher denomina de
antítese, isto é, o pecado como consciência da deturpação da dependência absoluta (primeiro
aspecto da antítese - §62-85), e Cristo como o redentor do ser humano (primeira seção do
segundo aspecto da antítese): aquele que desperta e leva esta consciência de dependência
absoluta e, consequentemente, a relação com Deus, ao nível mais elevado possível, ao estado
de consciência da graça divina (§91). Após o desenvolvimento da relação entre o ser humano
pecador e o Cristo redentor, Schleiermacher abordará questões eclesiásticas (segunda seção
do segundo aspecto da antítese). Interessantemente, como terceira seção do segundo aspecto
da antítese e como última parte de sua obra doutrinária (§164ss), Schleiermacher trabalha
aquilo que é comumente tido como o primeiro loci a ser desenvolvido teologicamente: a
Trindade. Assim, é a partir do desenvolvimento teológico antropológico, analisando a
condição humana religiosa, e interpretando o testemunho acerca de Jesus como o evento
Cristo a partir desta, que Schleiermacher desembocará na sua compreensão dos atributos
divinos que estão em relação à redenção.

3.2 Religião Filosófica e Teologia

George Cross, em sua análise da obra “A Fé Cristã”, diz que ao longo de todo o
desenvolvimento doutrinário “podemos perceber o trabalhar de sua profunda convicção de
que credos e todas as doutrinas formais são apenas expressões aproximadas e temporárias da
experiência religiosa e devem sempre estar subordinadas a ela” (CROSS, 1911, p. 57). Sem
dúvida pode-se concordar com Schleiermacher de que o conteúdo propriamente dito de sua
obra é o desenvolvimento teológico, as doutrinas, e não a Introdução como vinha sendo
analisada por seus críticos. Não obstante este reconhecimento da importância e até
predominância do corpo doutrinário como essência do sistema, Barth não está completamente
equivocado ao dizer que é na Introdução (§1-31) que “[...] temos o verdadeiro conteúdo da
dogmática em relação com o que tudo o que procede é apenas uma análise depois do fato [...]”
(BARTH, 1982, p. 211). Esta percepção é compreensível quando se percebe que o
pressuposto epistemológico e metodológico, que dá origem àquela “profunda convicção”
como expressa por Cross, está contido na Introdução. Para Schleiermacher, como já definido
na obra “Sobre a Religião”, a essência da religião não é nem ação nem conhecimento, mas
sentimento. E isto é explicitamente posto como ponto de partida no §3 de sua sistemática,
dizendo que piedade “considerada puramente em si mesma, não é nem um Conhecer nem um
Fazer, mas uma modificação de Sentimento, ou de autoconsciência imediata”
(SCHLEIERMACHER, 1963, p. 5). Este ponto de partida é ainda mais entrelaçado com o
fazer teológico especificamente cristão quando, no §4, ele define piedade como “a
autoconsciência de estar absolutamente dependente, ou, o que é a mesma coisa, de estar em
relação com Deus” (SCHLEIERMACHER, 1963, p. 12).
Pode-se perceber, assim, a explicitação do ponto de partida teológico como sendo a
definição e o desenvolvimento da religiosidade epistemológica e ontológica apresentada em
sua análise filosófica da religião na obra “Sobre a Religião”. Contudo, além disto, está
também o pressuposto do desenvolvido na posterior estruturação teórica da Dialética, onde ele
explicita sua tripartição da consciência e onde expõe o terceiro nível como ponto de contato
com o “chão transcendental”. Esta concepção de “chão transcendental”, como desenvolvida
em sua Dialética, é explícita quando Schleiermacher define seu pressuposto doutrinário do
conceito “Deus” ao dizer que “o Donde de nossa existência receptiva e ativa, como implicada
nesta autoconsciência [de dependência absoluta], é para ser designado pela palavra ‘Deus’, e
isto é, para nós, o significado verdadeiramente original dessa palavra”
(SCHLEIERMACHER, 1963, p. 16). Tendo este ponto de partida, e sem entrar em questões
de concordância ou discordância, é compreensível a análise de Karl Barth ao dizer que
“Monoteísmo cristão [...] é apresentado como sendo o resultado irresistível de um
desenvolvimento natural consistente do espírito religioso, ou sentimento, que já foi provado
estar presente e ser universal” (BARTH, 1982, p. 226).
Além deste desenvolvimento teológico partindo da autoconsciência imediata de
dependência absoluta no chão transcendental, ou, noutras palavras, da piedade em Deus, outro
ponto muito importante que é consequência de todo seu desenvolvimento filosófico dialético
é a limitação e a validade da linguagem teológica. As consequências linguísticas deste
pressuposto subjetivo e individual do ser são desenvolvidas em sua teoria da interpretação na
“Hermenêutica Geral”, contudo, os mesmos pressupostos e as mesmas consequências que
Schleiermacher desenvolve nesta sua Hermenêutica são também trazidos para dentro de seu
fazer teológico e, consequentemente, de sua sistematização teológica. Para Schleiermacher,
“proposições dogmáticas são doutrinas do tipo didático descritivo” (SCHLEIERMACHER,
1963, p. 78)5,7 assim, para compreender as proposições dogmáticas, deve-se remeter ao
conceito de doutrinas. No §15, Schleiermacher diz que “doutrinas cristãs são considerações
das afeições cristãs religiosas postas em fala” (SCHLEIERMACHER, 1963, p. 76), fazendo
com que, em continuação com sua posição religiosa pietista, a experiência predomine sobre a
conceituação. Contudo, esta posição pietista é agora amparada por sua estrutura teórica
dialética, e esta dependência do conceito pela experiência é tamanha ao ponto de dizer que “o
valor das preposições dogmáticas consistem em sua referência às próprias emoções
religiosas” (SCHLEIERMACHER, 1963, p. 83), enfatizando, assim, o aspecto secundário da
linguagem doutrinária e, como “nenhum conhecimento em duas línguas pode ser tido como
completamente o mesmo; nem mesmo... A=A” (BOWIE, in: SCHLEIERMACHER, 1998, p.
xxi), relativo a determinados contextos e formas de interpretação. Esta definição de doutrina
influencia consciente e inconscientemente o fazer dogmático, tanto que, para Schleiermacher,
a Teologia Dogmática não tem a tarefa primordial de prescrever, mas sim de descrever,
sistematizando “as doutrinas prevalecentes em uma Igreja Cristã em um determinado tempo”
(SCHLEIERMACHER, 1963, p. 88). Portanto, também em sua teologia, isto é, em sua
análise da religiosidade como expressa pela fé cristã, da mesma forma como desenvolvida em
sua análise filosófica da religião, a essência religiosa não é conceitos doutrinários, mas a
experiência piedosa.

Conclusão

A partir desta análise pode-se compreender um pouco do desenvolvimento ideológico


de Schleiermacher que vai desde sua experiência de vida em comunidades religiosas até o
desenvolvimento reflexivo em sua filosofia e sua teologia. Desta forma, é perceptível a
convergência de sua análise filosófica da religião à estruturação de uma perspectiva da
religião cristã filosoficamente embasada, pré-estabelecendo, a partir destas bases, sua teologia
como releitura moderna dos principais aspectos da religião cristã. Schleiermacher, destarte,
foi um dos primeiros teólogos a reconhecer a dependência, implícita ou explicitamente, do
fazer teológico nos desenvolvimentos filosóficos contemporâneos. Fazendo isto,

5
Para Schleiermacher, como exposto no §15, a linguagem religiosa doutrinária (toda experiência religiosa que
é posta em conceitos é doutrinária) pode ser desenvolvida em três tipos: poética, retórica e didático descritiva.
Schleiermacher viu também a necessidade da atualização hermenêutica da fé cristã para a
exposição desta a seus contemporâneos e modelo para futuros desenvolvimentos.
O caminho percorrido por Schleiermacher inicia no estabelecimento da essência da
religião como intuição e sentimento do Universo, ao contrário de ação ou conhecimento,
como definidos pela perspectiva ética liberal e metafísica ortodoxa. Esta essência é
posteriormente desenvolvida na matriz epistemológica e ontológica da teoria Dialética, mais
especificamente, culminando num terceiro nível de autoconsciência: a consciência de
dependência absoluta em um chão transcendental unificante da realidade. Como apresentado
na Introdução de sua sistematização teológica da fé cristã, estes são pressupostos para a
releitura da fé cristã com uma redefinição de conceitos chaves no fazer teológico, como
religião (vivência da consciência de dependência absoluta), doutrinas (conceituação reflexiva
das emoções religiosas), Deus (o Donde de nossa consciência de dependência) e redenção
(estado de consciência da graça divina despertada por Cristo).
Desta forma, a essência da religião como intuição e sentimento do Universo é a
consciência de dependência absoluta pré-estabelecida na estrutura epistemológica e
ontológica do ser humano, contudo, ela necessita ser conscientizada e elevada ao nível mais
alto possível, a consciência da graça divina, que, entretanto, é despertada apenas por Cristo, o
redentor, aquele que teve a consciência-de-Deus em sua plenitude, possibilitando, assim, com
que Deus e nós, neste nível de autoconsciência, sejamos um. Portanto, como pode ser visto, é
a partir de seus pressupostos filosóficos estabelecidos na análise do fenômeno religioso que
Schleiermacher desenvolverá sua religião filosófica, conceituação válida, todavia, apenas
quando é compreendida como releitura da fé cristã a partir de sua estrutura teológica
filosoficamente embasada.

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