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Rudinei Borba
Pesquisador Independente e
Autodidata
Fevereiro / 2013
RESUMO
ABSTRACT
The purpose of our work is to study the funeral ritual known as Arísùn Batuque
in Rio Grande do Sul, where outline a parallel with the traditional Yoruba diaspora,
demonstrating that our worship preserved, even if briefly, the Yoruba acculturated not
ritualistic. Through this text, perhaps we can better understand the concepts that involve
death and the cult of Éégún.
KEYWORD: Batuque, yorùbá, death, arísùn, éégún, ìgbàlè, ìsinkú, ancestors, funeral,
wake, sleep.
ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
“Um ancestral que possui filhos e devotos não dorme e não silencia no Orun”.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
SUMÁRIO
1. Introdução ...............................................................................................................5
3. A Morte ................................................................................................................. 10
5. O Arísùn ................................................................................................................ 23
6. O Ìgbalè ................................................................................................................. 27
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SUMÁRIO DE IMAGENS
Imagem 1 ........................................................................................................................ 33
Cortejo Fúnebre yorùbá (1) realizado na Rep. Pop. do Benin
Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto
Imagem 2 ........................................................................................................................ 33
Cortejo Fúnebre yorùbá (2) realizado na Rep. Pop. do Benin
Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto
Imagem 3 ........................................................................................................................ 34
Mulheres (Ìsokún) despedindo-se do morto na Rep. Pop. do Benin
Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto
Imagem 4 ........................................................................................................................ 34
Bebida servida aos convidados do funeral na Rep. Pop. do Benin
Foto tirada pela fotógrafa Veera Lehto
Imagem 5 ........................................................................................................................ 35
Um descendente tendo contado com Éégún na Nigéria
Foto sem informação
Imagem 6 ........................................................................................................................ 35
Integrantes da aldeia levando tecidos novos para que fosse ofertado ao morto no
momento do preparo de seu funeral.
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INTRODUÇÃO
A Morte;
O Ìsinkú (funeral);
O Arísùn;
O Ìgbalè.
1. Podendo ser traduzido como “Aquele que viu o sono” (a tradução é nossa), assunto que será
amplamente estudado no decorrer do nosso trabalho.
2. Os Iorubás (em iorubá: Yorùbá) são um dos maiores grupo étno-linguístico ou grupo étnico na África
Ocidental, composto por 30 milhões de pessoas em toda a região. Constituem o segundo maior grupo
étnico na Nigéria, com aproximadamente 21% da sua população total.
3. Casa dos mortos, Ilé-Éégun, podendo ser traduzido como “terra dos ancestrais” (a tradução é nossa).
4. Forma abreviada da palavra Egúngún, querendo dizer “Mascarado”, ou seja, espírito materializado de
um ancestral, antepassado.
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5. Espírito perturbador ou escurecido. Também conhecido como ser imaginário de forma humana.
6. São os Ajogun: Òfò – Prejuízos, Ègbà – Paralisia, Èjò – Problemas, Èpè – Maldição, Èwòn – Prisão,
Èse – qualquer outro malefício que possa afetar os seres humanos, entre outras energias maléficas.
7. Espaço visível que habitamos e que coexiste paralelamente com o espaço abstrato (òrun).
8. Wándé Abimbólá recebeu da maioria dos Bàbáláwo o título Àwíse Àgbàiyé – Porta voz mundial da
cultura yorùbá no mundo.
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Percebemos também que os Éégún estão separados dos Ajogun, que é suficiente
para entendermos que os nossos ancestrais não estariam em posição de nos causar danos
as nossas vidas, muito pelo contrário, o autor mencionado diz que eles nos ajudam a
superarmos nossos obstáculos da vida, afinal, somos seus descendentes vivendo
paralelamente no mundo visível.
Pensamos que render culto a um Éégún é tão importante quanto cultuar nossos
Òrìsà, pois um yorùbá acredita que não há um sem o outro. Um Éégún só será honrado
após a morte se tiver tido uma vida digna, podendo se tornar mais tarde um protetor de
sua família.
9. Dentro do pensamento tradicional yorùbá, nunca se a expressão “morrer”, onde para os mesmos um
ancestral nunca morre, pois seria o mesmo que aniquilar sua existência. Acredita-se que a pessoa faz
Sùn (dorme) e ou está viajando, o que dá o entendimento que poderá voltar de viagem a qualquer
momento, ou seja, reencarnando num de seus descendentes.
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A melhor maneira de ser reconhecido após a morte é vivendo uma vida justa,
com caráter e dignidade, podendo assim ser lembrado por seus descendentes, caso
morra acima dos setenta anos, estará maduro para fazer sua jornada de retorno até o
òrun, sem ser influenciado nesse caminho de volta.
Pensamos que assim que uma pessoa tenha alcançado o seu tempo de vida na
terra, teríamos que efetuar uma consulta oracular para saber qual a sua atual situação no
òrun, onde Ifá e ou Òrìsà mostrará se foi uma morte natural ou castigo por algum tipo
de transgressão. O oráculo também poderá mais tarde indicar se o “viajante” já foi
julgado merecedor, ou não, de ser cultuado como Éégún.
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seu sacerdote consulta o oráculo de Ifá13 através dos ikin14 para saber qual era a situação
de Verger no outro mundo. O resultado da consulta causou grande emoção, tanto de
Gilberto Gil (responsável pela apresentação do documentário), como também das
demais pessoas envolvidas na gravação. Verger havia alcançado seu status de ancestral,
dando sequência aos seus rituais fúnebres.
Através da fala de Ifágbenusolà podemos entender que o culto dos Eégún foi mal
compreendido na diáspora afro-brasileira, onde alguns adeptos acreditam ser prejudicial
tocar as roupas de Eégún. O autor nos ajuda a concluir o raciocínio dessa primeira parte
do nosso trabalho, descrevendo claramente a importância do culto ancestral, bem como,
desmistifica o algum tipo de perigo no culto.
Acreditamos que o medo pode estar dentro de nós, pois se não termos uma boa
conduta na terra, como poderemos cultuar nossos Éégún? Pensamos que atualmente
algumas pessoas não querem viver a vida de forma regrada, passando a ignorar algumas
formas comportamentais impostas por nossa sociedade e que também nossa
ancestralidade poderia desqualificar.
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Também pensamos que o medo do culto Éégún possa estar associado ao fato de
se lidar com a morte, mas que na próxima parte do nosso texto poderemos estudá-la
melhor.
A MORTE
Na nossa sociedade o medo da morte faz parte do nosso cotidiano, onde fazemos
de tudo para aumentar nossos anos de vida, mas acabamos esquecendo que a melhor
maneira de se viver muitos anos é através do nosso caráter.
Omotobàtálá16 (informação pessoal) nos diz que: "Ser mentiroso não priva uma
pessoa de se fazer rico. Romper um contrato não priva alguém de ter uma idade
avançada. Porém o dia que morrer, aí terá problemas".
16. Aworìsà e escritor Obalufon Osvaldo Omotobàtálá realizou pesquisas e se iniciou na Rep. Pop. do
Benin, onde publicou diversos livros explicando a cultura Yorùbá Nàgó.
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kardecista que acredita numa reencarnação em qualquer parte do mundo, o yorùbá tem a
crença numa nova existência dentro do mesmo âmbito familiar.
Segundo (Bascom, 1960, p. 06) o fato dos humanos poderem escolher o seu
destino não se limita em saber quando de seu regresso a seu criador, ou seja, a o seu
local de origem. Portanto uma pessoa nunca saberá quando irá morrer, onde informa:
[...] Cada indivíduo kem um dia predekerminado no qua1 kem que vo1kar
ao paraíso. Eske dia é fixado para e1e quando e1e nasce por O1orun, o Deus do
céu ou do paraíso. Não pode ser poskergado por orações, sacrifícios,
encankamenkos, magia ou por qua1quer oukros meios. Não há nenhum modo de se
pro1ongar o período de vida concedido por O1orun, mas pode ser reduzido pe1as
oukras divindades (orisha), pe1as bruxas (aje) e por encankamenkos [feikiços]
ou magia (ogun), mas há encankamenkos para assegurar que aque1a pessoa não
morrerá aké que o seu kempo [rea1] kenha acabado. Eskes que morrem
nakura1menke porque são idosos e sobreviveram o seu kempo concedido são
chamado de "aque1e que possui o (seu) dia" (o1ojo), significando que e1e
a1cançou o ú1kimo dia dado por O1orun, mas uma criança [...].
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poderemos regressar ao Òrun para podermos ser 1embrados, isko ju1gado por
O1órun se nos concederá essa dádiva ou não, por isso devemos viver denkro dos
princípios imposkos por nossa kradição [...] (A tradução é nossa).
[...] Todo ser humano esco1he um bom deskino, mas na viajem de regresso
a kerra na (concepção do nascimenko), ankes de enkrar no venkre da mãe, o
individuo passa pe1os oukros p1anos enkre o céu e a kerra, neskes espaços
acaba kendo conkako com os Ajogun, e caso não kenha feiko os sacrifícios
necessários poderá sofrer a1guma inf1uência deskas enkidades ma1évo1as. Caso
não eskeja preparado para viajem ao mercado, ou seja, para o nascimenko,
poderá nascer com a1guma persona1idade que vai de conkra os bons princípios do
ser humano, kais como: Inveja, egoísmo, avareza, ma1dade, e demais senkimenkos
provocados por essas forças negakivas. [...] (A tradução é nossa).
Ao ler a parte do texto, entendemos que existe um caminho longo a ser traçado
pelo indivíduo antes do nascimento, sendo importante que a pessoa esteja preparada
para viajem a caminho da terra. Estando este pensamento adequado à nossa crença,
pensamos que existe também o trajeto de retorno ao òrun após o término de nossa
existência aqui nesse plano.
Dentro da tradição yorùbá a morte é conhecida como Ikú, sendo uma entidade
muito temida por ser o “Rei dos Ajogun”. Entendemos que o medo da morte não deveria
ocorrer quando estamos vivendo de acordo com a filosofia imposta por nossa cultura,
onde podemos consultar as divindades através do oráculo e fazer as oferendas
recomendadas, onde possamos ser vitoriosos nos obstáculos de nossas vidas.
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[...] mas não para kodos, que acredikam eskar denkro ou mais a1ém, o
céu. Aque1es que kêm sido cruéis ou ma1dosos, ou são acusados de assassinako,
assa1ko, roubo, ca1unias, feikiçarias, ou de ker prejudicado as pessoas, são
punidos por seus maus akos na kerra, no céu ruim, (orun buburu, orun buruku),
kambém conhecido como o céu de cacos (orun apadi). Informankes de Ifé
mencionaram que caminhar no so1 do meio-dia é uma das punições, mas e1es
descrevem o mau céu quenke como pimenka, não como fogo.
Ikú também é conhecido por Oníkó, este último era seu nome em tempos
primordiais e pela sua ação de causar a morte, a expressão Ikú ficou mais conhecida
atualmente, ou seja, Ikú é a sua qualidade e Oníkó é seu nome mais primitivo.
Segundo Ifátókun Itaniy, ainda em seu site na web, relata que “Ikú Oníkó é um
servente de Olórun, sendoi criado para trazer de volta à alma do viajante a cidade do
céu”. Informa ainda o itan do odù Ogbe Oyekún:
Ikú foi um ser físico de nome Oníkó, quando viveu àiyé (kerra), mais
precisamenke, foi um Bàbá1awo muiko devoko da kradição Yorùbá e por seu
kraba1ho, junko à assiskência de Onípìpín Òrun, e1e sabia a hora de que cada
homem iria morrer. Após sua morke, O1ódùmarè concedeu-1he o poder de kornar-se
invisíve1, para que pudesse rea1izar suas karefas de forma discreka. Desde
enkão, ninguém sabe onde vive e quando akuará, reskando saber apenas que um
dia e1e aparecerá.
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Ikú não é visíve1 aos o1hos humanos e segundo Ifá, sua presença pode
ser senkida por a1gumas pessoas quando seus dias eskão kerminando aqui no àiyé
e eskão preskes a morrer. A morke conskikui em o fina1 de um cic1o, onde
devemos sempre ker em menke que nossa passagem no àiyé é kemporária, e kem
como propósiko gera1 de crescimenko espirikua1, resumindo-se na missão pessoa1
de cada indivíduo.
Aque1e que kem medo da morke não vive a nossa crença ou não enkende que
a vida é um processo de aprendizagem. A vida é uma experiência momenkânea, que
quando chega seu fim é porque a aprendizagem eská comp1eka. A pessoa poderá
assim regressar a seu verdadeiro 1oca1 de origem e conskikuir-se em um
espíriko prokekor para seus seres queridos, que permaneceram no àiyé. [...] (a
tradução é nossa).
Ao ler o texto entendemos que Ikú realmente tinha um nome mais primitivo, e
também considerado muito importante para o cumprimento do ciclo natural da vida,
obedecendo apenas a Olórun.
Para nós a morte de uma pessoa jovem é vista como sendo uma tragédia, por não
ter alcançando seu tempo na terra, onde esta pode ter sido castigada por alguma
divindade ou influenciada por alguma força maligna, podendo ser ajogun e ou Àbíkú21.
Nenhuma pessoa pode escapar de um dia morrer, ou seja, a morte é certa, a vida
não. É preciso encarar a morte como um fato natural e viver a vida plenamente, curtindo
ela da melhor maneira possível, de preferência respeitando todas as pessoas, amando o
próximo e na medida do possível perdoando quando preciso. Devemos consultar o
oráculo para saber quais as oferendas a executar, contando com ajuda de Èsù22 é claro.
21. Significa “Aquele que nasce para morrer”, uma sociedade que vive entre o òrun e o àiyé que traz
desgraça para famílias, enviando uma criança que brevemente retornará, morrendo antes de alcançar
sua maior idade, estes estão ligados aos Ajogun. Para saber mais, ver: Verger, Pierre. La société
egbé òrun des àbíkú, les enfants qui naissent pour mourir maintes fois. Bulletin de l'IFAN, vol.
XXX, Série B, nº 4. (Dakar), 1968, pp. 1448-1487
22. No Batuque o Òrìsà Èsù é conhecido pela sua qualidade, onde é chamado de Bàrà.
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O ÌSINKÚ (O Funeral)
No nosso Batuque a palavra Ìsinkú23 não é muito conhecida, por não termos
ainda a vivência do idioma yorùbá, mas o funeral está muito presente no nosso culto.
Padre Toninho Nunes documentou um texto25 que vem de encontro com nosso
pensamento, onde relata um funeral tradicional na Costa do Marfim, onde relata:
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quando morre um membro na a1deia, não pode pub1icar a sua morke ou manifeskar
seu senkimenko de desconso1o ankes que a nokícia seja comunicada ao chefe da
a1deia. Será e1e que, em seguida, dará ordens ao kocador de kambor para que
convoque a popu1ação na praça púb1ica, debaixo de uma árvore, 1ugar do anúncio
oficia1 de qua1quer nokícia imporkanke.
Através da fala do padre, fica evidente que são executados rituais semelhantes
do nosso Batuque, envolvendo dança, roda ritualística, festa e a presença do tambor nos
rituais.
Dentro dos rituais fúnebres do Batuque há uma exposição do corpo do morto que
teve grande destaque em sua vida. Utilizando ainda o texto de padre Toninho, temos
uma semelhança com o praticado pelos povos africanos não aculturados, como segue:
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conkará com a presença de suas servenkes, que passarão o kempo kodo espankando
as moscas e insekos que se avenkurarem a pousar sobre o corpo.[...]
Ao ler esta parte, percebemos que o Batuque também mantém vivo e presente a
forma de expor o corpo do morto, que é vestido com sua melhor vestimenta ritual, onde
os adeptos prestam suas últimas homenagens. Seguindo relato de padre Toninho, o
mesmo informa:
Nada daqui1o que foi doado poderá ser guardado, kudo deve ser oferecido
em sacrifício ou uki1izado nos dias que sucederão a cerimônia fúnebre. O
kermômekro para dekerminar o quanko uma pessoa foi amada em sua vida kerrena é
medido pe1os dons e pe1a so1enidade da cerimônia fúnebre (dança, música,
comida, bebida e visikankes).
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
Ao ler o texto percebemos que o Batuque Afro-Sul preservou essa mesma forma
de prática no culto, onde efetua os rituais fúnebres apenas de pessoas que atingiram
idade avançada e que merecerão serem lembradas após seu final de vida.
O texto ainda registra que a morte prematura é considerada trágica entre ambas
as culturas, onde nos faz entender que nem todos os espíritos poderão se tornar Éégún.
O Preparo do Caixão
Corroborando nosso estudo, Elenito de Souza27, (2006, p. 59) registrou que: “só
são efetuados os rituais funerários completos se o iniciado possuir nível elevado dentro
do culto, caso contrário os rituais terminam no momento da preparação do caixão”.
Através da fala do autor, entendemos que não é realizado cortejo fúnebre nem
homenagens, caso à pessoa não tenha um nível elevado dentro da nossa sociedade
religiosa.
27. Hélio Elenito de Souza é conhecido no meio religioso do Batuque como “Pai Hélio de Xangô”,
sendo descendente religioso do saudoso Pai Adão de Bará (Èsù Bí-omi) e iniciado a mais de setenta
anos. O autor é um dos poucos a escrever sobre o ritual de Éégún no Batuque do nosso Estado.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
Segundo Omotobàtálá (2003, p. 20) nos informa sobre os costumes yorùbá Nàgó
da preparação do corpo do morto, para posteriormente ser velado:
Essa mesma importância ritual de preparar o corpo do morto e dar o devido tipo
de enterro foi registrada por Babayemi (1980 p. 49), onde diz:
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seja enkerrado, e1e é co1ocado em exibição por um dia ou dois e pode aké mesmo
ser komado em korno da cidade para um ú1kimo adeus. Cankos, danças, a1egria,
fazem parke do processo, onde koda a famí1ia eská presenke quando o caixão é
fina1menke descido à cova, com rikos finais que são rea1izados. "Um ga1o ou
um bode é morko, o sangue aspergido sobre o caixão, e a cabeça do anima1 é
enkerrada com o cadáver". Vários oukros rikuais norma1menke seguem nos
próximos dias para vir a assegurar que o espíriko do fa1ecido enconkre o seu
caminho para o reino anceskra1. [...] (a tradução é nossa).
Através da fala do autor percebemos que são feitos sacrifícios na cova do morto,
diferenciando do nosso culto do Batuque, onde vivemos numa cultura “social” diferente
da yorùbá. Ao estudarmos esse material tradicional, entendemos um pouco mais porque
efetuamos um funeral diferenciado dos demais cultos religiosos do Brasil.
O Velório
Segundo Elenito de Souza, (2006, p. 125) diz que: “[...] são servidas aos
visitantes do velório, bebidas alcoólicas, café, biscoitos, pães, etc.[...]”.
O autor em sua obra (p. 126) também relata que: “[...] é efetuado roda em volta
do caixão para serem entoados cantos de rezas fúnebres pelo Onílù [...]” e grifa que
este procedimento só é realizado quando o morto tenha nível elevado no culto. O
mesmo não nos fornece a explicação que esse procedimento serve para homenagear o
morto no momento do enterro, como feito pelos nativos yorùbá, focando sua explicação
apenas nos rituais praticados dentro do Batuque.
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O Cortejo Fúnebre
Após o velório, o caixão é levado até o cemitério através do cortejo fúnebre, este
realizado ao som do “tambor chocho28” para render homenagens ao falecido. O caixão é
embalado até sua chegada ao cemitério, onde os participantes seguem atrás, abanando
lenços brancos e despedindo-se do morto.
[...] As mu1heres vão dançando com seus panos brancos (os mesmos que
usaram para secar suas 1ágrimas) que agikam no ar. Os 1enços reafirmam a
condição da mu1her como “ìsokún” (kiradoras de 1amenkos ou choronas) e os
homens parenkes do morko ao carregar o caixão e enkerrar o defunko, reafirmam
sua condição de “ìwá1è” (escavadores). [...] (a tradução é nossa).
Onilù: A tè tè ko là’wo
28. No Batuque o Onílù (tamboreiro) é encarregado do toque para o ritual fúnebre de Éégun, onde o
mesmo deixa soltas as cordas que esticam o couro do tambor, fazendo com que o mesmo produza
um som chocho, diferente do som estridente tocado para o culto aos Òrìsà.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
feito através da reza cantada, serve para que o morto não se perca ou desapareça no
caminho de retorno ao òrun.
O Sepultamento
[...] quando uma pessoa morre é cavado um buraco (cova) onde o morko
será enkerrado, a kerra deske buraco kem uma co1oração averme1hada e kambém é
conhecida pe1os Yorùbá como I1èpa, onde kem a conexão com os anceskrais, pois
é onde kiveram sua ú1kima morada [...] (a tradução é nossa).
[...] Segundo, Oukro miko de origem conka a hiskória de um rei que não
foi devidamenke enkerrado quando morreu. "Seus krês fi1hos não kinham
dinheiro para um enkerro apropriado. O primeiro fi1ho viu o cadáver de seu pai
e fugiu. O segundo não veskiu o cadáver e deixou isso para o oukro fi1ho. O
kerceiro, depois de kenkar vender o corpo no mercado (para medicamenkos),
fina1menke o abandonou no meio do mako" (Drewa1 pg. 91). Muikos anos mais
karde, quando o fi1ho mais ve1ho havia se kornado rei, sua esposa não podia
ker fi1hos. Cada um de1es consu1kou um adivinho e chegou à mesma conc1usão,
de que e1e eskava sendo punido pe1o enkerro incomp1eko de seu pai. Mas seu
pai não exiskia mais. Para adicionar ao seu prob1ema, sua esposa foi, enkão,
akacada por um gori1a, e e1a fugiu grávida e envergonhada. E1a deu à 1uz a
uma criança que era mekade macaco e mekade homem e o abandonou no meio do
mako. E1a fina1menke vo1kou e disse ao rei a sua hiskória. E1e foi consu1kar
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
um adivinho que reve1ou que a criança não morreria de fako no mako e que e1a
"iria crescer aké ser Amu'1udun (1ikera1menke, Aque1e que kraz doçura para
comunidade)". O adivinho aconse1hou o rei a vo1kar para o 1ugar da sepu1kura
inacabada de seu pai e rea1izar os rikos apropriados, onde seu pai keria que
"se makeria1izar em um kraje" (Drewa1 pg. 92). Eskas são apenas a1gumas das
muikas hiskórias que exp1icam as origens do Egungun. [...] (a tradução é nossa).
O ARÍSÙN
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
por seus descendentes, bem como, para poder continuar agindo como intermediário
entre os adeptos do culto.
Pensamos que nesse instante o Éégún passa a ser um protetor de sua família
instalado no ìgbàlè, mas entendemos que o mesmo também poderá ajudar seus
descendentes mesmo que não instalado “individualmente”, onde passará a ser cultuado
na forma ancestral coletiva, desde que tenha merecimento é claro.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
Ankepassado fa1ecido, duranke eske riko será ouvida pe1a primeira a sua vez a
sua como Anceskra1. Acredika-se que a voz de Oro neske riko, seja na verdade,
a do espíriko recém-enkerrado que veio parkicipar de seu funera1. Na seqüência
deske rikua1, o Akejumo1e (encarregado dos rikuais) pede ao fa1ecido para
acompanhar os demais Anceskrais fami1iares em procissão aké cidade para
abençoar os parenkes que 1he proporcionaram um enkerro digno. As mu1heres da
famí1ia não kerão acesso a eska parke do rikua1, pois eskarão enc1ausuradas em
seus quarkos. E1as são eskrikamenke proibidas de keskemunhar eske o riko,
porque se acredika que e1as possuem cerkos poderes mágicos, e que poderiam
acabar inkerferindo no rikua1.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
Ao sétimo dia são feitas as comidas ritualísticas, sendo uma parte das mesmas
oferecidas ao ancestral no Ìgbàlè e a outra aos participantes do culto. Neste sétimo dia,
bem cedo, será feita a “primeira” ou “última” refeição com o morto.
Na manhã do sétimo dia é montada no chão do ilé, uma mesa de café para
homenagear o Eégún, onde apenas iniciados com grau elevado participam da refeição,
sendo reservada a cabeceira da mesa para o Eégún. São oferecidas como oferendas as
comidas que a pessoa mais gostava em vida, bem como, outras preparadas
ritualisticamente.
Pensamos que caso uma pessoa não tenha morte madura, morrendo muito cedo,
não deveríamos efetuar a mesa do café, terminando o culto no momento da preparação
do caixão.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
O ÌGBÀLÈ
Igba: n. Duzenkos
O ìgbàlè é uma pequena casa feita geralmente no lado direito, da parte dos
fundos do templo Ilé-Òrìsà31, onde é escavado um buraco retangular no solo para serem
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
efetuados os sacrifícios para os Eégún. Para um yorùbá é através desse local que os
mortos seguem em viajem até o òrun.
Abímbólá (1997, p.71) atribui a terra como o local de descanso dos ancestrais,
como segue:
[...] Todos os rios das kerras Yorùbá, são divindades, igua1 os campos
e monkanhas que são honrados pe1os homens. A mesma kerra é sagrada e na
verdade, kambém é uma divindade. Assim, exiskem dois céus: um eská acima, de
onde baixaram as divindades para criar kudo aqui e oukro abaixo, esco1hido
pe1as divindades para seu descanso fina1 e para onde vão os anceskrais. Quando
uma pessoa morre, não é enkerrada no céu, e sim debaixo da kerra. [...] (a
tradução é nossa).
Não acreditamos que este local deva ser usado para algum uso de feitiços como
alguns acreditam, pois como poderemos usar este espaço sagrado, onde respondem
aqueles que após a morte julgam nossos comportamentos? Pensamos que seria o mesmo
que fazer algo errado e ser condenado neste mesmo momento, pois através do ìgbàlè, os
Eégún são os guardiões do Ilé contra espíritos maléficos e escurecidos.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito do nosso trabalho foi tentar mudar a imagem negativa que a palavra
Éégún causa atualmente em algumas pessoas, onde acabamos generalizando qualquer
espírito que viveu nesse plano baixo esse nome. Entendemos que um espírito só recebe
o nome de Éégún por merecimento, passando a viver junto dos Òrìsà e de nossos
demais ancestrais no òrun.
Não foi nosso propósito discutir toda ritualística do Batuque, e sim tentar
mostrar o quanto conseguimos preservar nossos rituais através dos tempos, sem tentar
resgatar nada dos mesmos.
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ARÍSÙN - O Ritual Fúnebre no Batuque do RS – Rudinei Borba
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABIMBOLÁ. Wande. Ifá will mend our broken world – Thoughts on Yorùbá Religion
and Culture in Africa and the Diaspora, Ifé, Iroko Academic Publishers, 1997.
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IMAGENS
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Imagem 6- Integrantes da aldeia levando tecidos novos para que fosse ofertado ao morto
no momento do preparo de seu funeral.
Foto tirada por Padre Toninho e divulgada no site informado no nosso texto.
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