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Procedimentos de coleta de dados em

trabalhos de conclusão do curso de


Secretariado Executivo da Unioeste/PR
Débora Andrea Liessem Vigorena * Patrícia Stafusa Sala Battisti **

Resumo
O estudo tem o propósito de conhecer Introdução
as escolhas dos concluintes do curso de
Secretariado Executivo da Universidade O campo de atuação do secretário
Estadual do Oeste do Paraná, no tocan- executivo vem crescendo nos últimos
te aos procedimentos de coleta de dados anos, exigindo novas habilidades e com-
utilizados no trabalho de conclusão de petências para enfrentar os desafios do
curso. Foram coletados, através da pes-
quisa documental, os relatórios finais de
mercado de trabalho. Diante disso, a
estágio do curso dos anos de 2000, 2001, formação curricular desse profissional
2009 e 2010, anos iniciais desse tipo de precisou acompanhar as mudanças, com
formato de trabalho de conclusão e os vistas a prepará-lo para atuar como ges-
anos mais recentes, respectivamente. tor, empreendedor e articulador, incluin-
Fez-se uma análise dos relatórios com o
do conhecimentos técnicos, científicos,
objetivo de identificar os procedimentos
de coleta de dados que apresentassem sociais, políticos e administrativos. Nes-
indícios de natureza qualitativa. Para tan- sa formação, o estágio supervisionado,
to, parte-se da pesquisa bibliográfica para além de ser uma disciplina obrigatória
entender a conceituação de pesquisa para todos os cursos, é fundamental para
qualitativa e depois se destacam os pro- a aplicação do conhecimento teórico ad-
cedimentos de coleta de dados nos rela-
tórios analisados. A análise de conteúdo
quirido pelo discente, considerando a ne-
foi utilizada para identificar e discutir os cessidade de profissionais competentes.
procedimentos de coleta citados. Conclui- Desta forma, o estágio não deve ser
se que os estudantes fizeram pouco uso apenas o cumprimento de uma exigên-
dos procedimentos de natureza qualitati- cia legal, mas um meio que propicie ao
va e sugere-se que sejam estimulados a
aluno uma visão da teoria vivenciada na
conhecê-los e saber como realizar a trian-
gulação dos dados levantados. prática. Além disso, deve resultar em um
trabalho científico, fruto da observação
Palavras-chave: Pesquisa qualitativa. sistemática, da aplicação de métodos
Metodologia em secretariado. Procedi- e técnicas e pesquisa, com conclusão e
mentos de coleta de dados. proposta de intervenção.

*
Unioeste/PR. E-mail: d_vigorena@yahoo.com.br
**
Unioeste/PR. E-mail: patriciasala5@hotmail.com.br

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Para que esse estágio seja frutífero na literatura da pesquisa qualitativa. No
tanto no quesito da elaboração de um quarto tópico, aponta-se a metodologia
trabalho acadêmico quanto no de ofere- utilizada na comparação entre os instru-
cer melhorias na empresa estagiada, a mentos indicados no referencial teórico
metodologia constitui-se na parte crucial e aqueles efetivamente utilizados pelos
do desenvolvimento, pois é por meio acadêmicos. No quinto item, são apre-
de sua especificação que se vislumbra sentados os resultados colhidos através
como a abordagem será feita e por meio dessa comparação, e nas considerações
de quais métodos. É por meio da me- finais são indicados possíveis caminhos
todologia que o estudante-pesquisador a serem trilhados no futuro.
se orienta no processo de investigação
e, ainda, é possível avaliar se os proce- Organização do estágio
dimentos metodológicos escolhidos são
confiáveis e se a trajetória percorrida curricular no curso de
por ele pode ser bem-sucedida e trazer Secretariado Executivo
soluções. da Unioeste
Os instrumentos usados na coleta
de dados são tão fundamentais quanto - Campus de Toledo
o próprio resultado do trabalho. Ao ter Conforme o Regulamento do Estágio
conhecimento sobre as técnicas de coleta Supervisionado do Curso de Secretaria-
existentes na literatura e sua análise, o do Executivo (2007) da Universidade
trabalho do acadêmico toma uma forma Estadual do Oeste do Paraná, o estágio
mais eficiente e confiável. Assim, o texto representa o conjunto de atividades
que segue pretende analisar as escolhas de aprendizagem profissional, social e
das técnicas de coletas de dados feitas cultural proporcionado ao discente por
pelos acadêmicos concluintes do curso meio da pesquisa nas linhas teóricas do
de Secretariado Executivo da Unioeste curso e pela participação em situações
em trabalhos de natureza de tendência reais de trabalho.
qualitativa, através de uma análise O estágio é realizado de forma in-
comparativa entre os trabalhos dos anos dividual, sob supervisão semidireta. O
de 2000, 2001, 2009 e 2010, respectiva- discente é orientado por um docente da
mente os dois primeiros e os dois últimos área (Supervisor de Estágio) e por profis-
anos com trabalhos de conclusão em for- sionais do campo de estágio (supervisor
ma de estágio, apresentado no formato técnico). O campo de estágio pode ser
de relatório. realizado em organizações públicas ou
Para isso, o segundo tópico explica privadas e em instituições de ensino que
o modo de elaboração do trabalho de apresentem possibilidades de atuação
conclusão de curso elaborado a partir relacionada à formação profissional e
do estágio supervisionado. Em seguida, acadêmica do discente, caracterizando-se
descrevem-se as técnicas de coleta de como um estudo de caso. Os temas dos
dados encontradas mais frequentemente trabalhos devem ser delimitados pelas

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linhas teóricas do curso: Secretariado, justificativa do trabalho; fundamentação
Administração e Comunicação. teórica; procedimentos metodológicos;
Em relação aos objetivos da disci- análise e interpretação dos dados co-
plina do Estágio Supervisionado em letados, contemplando o diagnóstico
Secretariado Executivo (Esseb) citam-se: organizacional e a operacionalização do
propiciar o desenvolvimento profissional estágio; sugestões e recomendações; e
por meio de reflexão crítica sobre as ati- considerações finais.
vidades vivenciadas na organização; ca- Dentre os tópicos acima mencionados
pacidade de propor soluções ao problema destacam-se neste estudo os procedimen-
de pesquisa identificado, baseando-se em tos metodológicos, mais especificamente,
investigações e fundamentação teórica; a definição das técnicas de coleta de da-
proporcionar experiência acadêmico-pro- dos em estudos de natureza qualitativa.
fissional orientada para a competência De acordo com Denzin e Lincoln (2000),
técnico-científica no trabalho profissio- a pesquisa qualitativa busca responder
nal; possibilitar a avaliação contínua do às perguntas sobre como a experiência
curso ofertado e promover a integração social é criada e ganha significado. Para
da instituição com a sociedade. isso, pode se utilizar de diferentes es-
Para tanto, o Esseb é iniciado no 3º tratégias de investigação e métodos de
ano do curso com uma disciplina teórica, coleta e análise de dados.
perfazendo a carga horária de 136h/a,
com o objetivo de subsidiar o discente A pesquisa qualitativa
no desenvolvimento do Diagnóstico
Organizacional e do Projeto de Estágio. e os procedimentos de
Para apoiar o desenvolvimento dessas coleta de dados
atividades são exigidas 72h de estágio
prático na organização. A partir da década de 1980, prin-
Finalmente, no 4º ano, a disciplina cipalmente, aparece uma profusão de
teórica de Esseb II visa instrumentali- novas perspectivas sobre os métodos
zar o discente na elaboração e defesa do utilizados para se fazer pesquisa. A pes-
Relatório Final de Estágio, totalizando quisa qualitativa aos poucos deixa de ser
136h/a teóricas e 136h de estágio prático vista como a que não tem rigor científico
na organização. O Relatório Final de em detrimento da pesquisa quantitativa.
estágio representa o resultado do que Cada vez mais os sujeitos que compõem
foi apresentado no projeto, devendo ser o corpus da pesquisa são vistos dentro
claro, coerente e mostrar a capacidade do de seus ambientes naturais, nas suas
discente de reunir os dados pesquisados, relações interpessoais, ambientes e rela-
estuda-los e colocá-los em uma sequência ções nos quais constroem e reconstroem
lógica e bem elaborada. a realidade. Nesse sentido, a pesquisa
Cabe ressaltar que o Relatório Fi- qualitativa é cada vez mais utilizada
nal contempla os seguintes tópicos: nas ciências sociais e o intuito é o de “[...]
introdução; objetivos geral e específicos; ampliar a legitimidade dos temas pesqui-
sados com conhecimentos de diferentes

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disciplinas e traduzindo-os em formas base principalmente ou em perspectivas
criativas e inovadoras” (CHIZZOTTI, construtivistas [...] ou em perspectivas
2003, p. 230). reivindicatórias/participatórias [...] ou
Na verdade, a interação entre as em ambas”.
pesquisas quantitativas e qualitativas Essas perspectivas visam buscar as
tem sido vista como positiva, visto que experiências individuais, construídas so-
essa interação colabora para aumentar cialmente, e têm por objetivo desenvolver
o “[...] nível de credibilidade e validade teorias, reivindicar políticas ou colaborar
aos resultados da pesquisa” (OLIVEIRA, para a mudança do objeto pesquisado.
2010, p. 39) e propicia a complementari- Creswell (2007, p. 184) diferencia a
dade entre elas. Enquanto na pesquisa pesquisa qualitativa da quantitativa da
quantitativa a maior crítica deve-se à seguinte forma:
falta de considerar que o pesquisador [...] os procedimentos qualitativos apresen-
esteja profundamente marcado pela sua tam um grande contraste com os métodos
cosmovisão, pela sua realidade social de pesquisa quantitativa. A investigação
etc., na pesquisa qualitativa, a crítica qualitativa emprega diferentes alegações
vem justamente do fato de que os resul- de conhecimento, estratégias de investiga-
ção e métodos de coleta e análise de dados.
tados das análises sejam feitas de forma
Embora os processos sejam similares, os
muito subjetiva. Assim, a interação en- procedimentos qualitativos se baseiam em
tre elas não invalida as pesquisas; pelo dados de texto e imagem, têm passos únicos
contrário, como sustenta Oliveira (2010), na análise de dados e usam estratégias di-
colabora para evitar o “reducionismo” a versas de investigação.
que cada um dos tipos de pesquisa possa A pesquisa qualitativa analisa os
estar sujeito. “microprocessos”, estudando as ações so-
A pesquisa qualitativa, de maneira ciais em que o investigador possa parti-
mais detalhada, é entendida como uma cipar ou não da comunidade pesquisada,
investigação que tem como preocupação “[...] realizando um exame intensivo dos
central o exame dos dados em um tipo dados” (MARTINS, 2004, p. 289).
de profundidade que não é captada pelos Embora considere o fato de que
números, tabelas e dados quantitativos, trabalhos de diferente natureza sejam
mesmo que não sejam eles representa- denominados “qualitativos”, Godoy
tivos a outros casos de estudo, ou seja, (1995) encontra quatro características
o que se pretende descobrir, muitas principais desse tipo de pesquisa, dentre
vezes, é particular àquela situação e, as quais interessa destacar três neste
por isso, é examinado no detalhe para momento:
aquele caso, tendo em conta a perspec- a) o ambiente natural é fonte direta
tiva histórica e/ou social do momento em dos dados: para esse tipo de pes-
que se faz a análise. Creswell (2007, p. quisa, quanto mais o pesquisador
35) define a pesquisa qualitativa como se inserir no meio que investiga,
“[...] aquela em que o investigador sem- melhor será sua absorção da re-
pre faz alegações de conhecimento com alidade e seu desempenho como

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“instrumento fundamental” de “Relatórios anuais da organização, ma-
sua própria análise, fornecendo teriais utilizados em relações públicas,
material confiável e real; declarações sobre sua missão, políticas
b) pesquisa essencialmente descri- de marketing e de recursos humanos, do-
tiva: pretende observar o escopo cumentos legais, etc.” Yin (2005) destaca
da pesquisa de forma abrangente outros exemplos. como cartas, memo-
e em direções variadas, fazendo randos, correspondências, documentos
uso de materiais variados (gra- administrativos, entre outros. Gil (1988,
vações, fotos, desenhos etc.) para p. 51) acrescenta os documentos oriundos
descrever a realidade de forma dos órgãos públicos, tais como “[...] as-
“holística”; sociações científicas, igrejas, sindicatos,
c) a preocupação do investigador é partidos políticos, etc.”
captar o significado que os parti- Em geral, esse tipo de técnica oferece
cipantes atribuem às coisas: ele duas vantagens principais: o custo baixo
investiga a percepção dos envol- e uma rica fonte de dados, que podem ser
vidos para poder entender a rea- úteis nos mais diversos tipos de estudos.
lidade que os cerca, confirmando Entre as dificuldades citadas, uma recor-
muitas vezes com os próprios rente é a de acesso aos documentos, que
investigados a interpretação a pode ocorrer por a empresa não querer
que se chegou. divulgar certas informações ou por for-
Dentro desse enfoque qualitativo e necer apenas uma parte da realidade.
considerando o estudo de caso como uma Por isso, é importante que esse tipo de
estratégia de pesquisa que abrange essas coleta seja utilizado em combinação com
características, destacam-se os procedi- outra técnica.
mentos de coleta de dados que podem ser A entrevista também é uma técnica
utilizados para investigar o objeto que bastante utilizada nos trabalhos de es-
se pretende conhecer:1 documentação, tudo de caso. Vergara (2009, p. 3) define
entrevista, entrevista em profundidade, entrevista como “[...] uma interação
história de vida, observação direta e verbal, uma conversa, um diálogo, uma
participante e focus group. Além desses troca de significados, um recurso para
procedimentos, pretende-se introduzir a se produzir conhecimento sobre algo”.
contribuição dos estudos linguísticos no Creswell (2007) explica que a entrevista
que se refere à análise do discurso, como pode ser feita face a face, por telefone (ou
forma de apoiar estudos qualitativos na outro meio de telecomunicação), ou em
área das Ciências Sociais Aplicadas. “grupos focais”.2 Duarte (2006, p. 77), por
A documentação engloba todo o re- sua vez, comenta sobre o uso da internet
gistro formal encontrado nas empresas. e a qualifica como o meio mais fácil para
Roesch (2009, p. 166) observa que esse perguntar, mas o “mais difícil de obter
tipo de coleta é largamente utilizado boas respostas”. Mesmo assim, é muito
quando se pesquisam organizações e des- útil para entrevistados inacessíveis de
taca os seguintes exemplos de materiais: outra forma.

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Vergara (2009, p. 5) ressalta a uti- haja interesse, é importante colocar-se
lidade das entrevistas nos casos de se à disposição para mostrar o resultado
querer conhecer “experiências vividas antes da divulgação e guardar sigilo do
ou tendências futuras”, quando se pre- informante, quando for o caso.
tende captar o “[...] dito e o não dito, os No que diz respeito ao tipo de estru-
significados, os sentimentos, a realidade tura que as entrevistas possam ter, os
experimentada pelo entrevistado, as rea- autores utilizam denominações diferen-
ções, os gestos, o tom e o ritmo da voz [...], tes, porém com definições semelhantes.
enfim, a subjetividade inerente a todo Por exemplo, Gil (1988) divide as en-
ser humano”. Também demonstra sua trevistas entre informais, focalizadas,
utilidade quando é associada a outros parcialmente estruturadas e totalmente
métodos, como o da observação partici- estruturadas; Vergara (2009) as nomeia
pante ou o da pesquisa documental. como fechadas, semiabertas e abertas;
Embora possa parecer simples o Yin (2005), por sua vez, as nomeia
pesquisador formar algumas perguntas como entrevistas espontâneas, focadas
e anotar ou gravar as respostas, na ver- e em forma de levantamento formal.
dade essa tarefa é bastante complexa. Assim, embora utilizem nomenclatura
Primeiro, porque a elaboração das per- diferente, as definições caracterizam-se
guntas deve ser muito bem planejada. O pelo grau de intervenção com que são
rol de perguntas deve considerar todas conduzidas, desde aquelas que conferem
as possibilidades de questionamentos maior liberdade ao entrevistador (infor-
possíveis para esgotar o tema em ques- mal, aberta, espontânea), passando por
tão, ou, melhor, antes de ir ao encontro aquelas que possuem um roteiro, mas
do entrevistado deve-se ter muito claro o são passíveis de intervenção por parte
que realmente se espera saber dele, pois do entrevistador (semiaberta, focada,
pode ser difícil conseguir esse encontro parcialmente estruturada), até as que
novamente para perguntar aquilo que se desenvolvem dentro de um quadro
foi esquecido. rígido, composto por perguntas fixas
Uma segunda dificuldade é conse- (totalmente estruturada, fechada, levan-
guir conquistar a confiança do entrevis- tamento formal).
tado, que pode não querer dividir com Roesch (2009, p. 159) não se restrin-
um estranho detalhes de sua empresa. ge a essas divisões e considera apenas
Roesch (2009) elenca alguns passos para a entrevista em profundidade como “a
conquistar a confiança: mostrar conhecer técnica fundamental da pesquisa quali-
a empresa de antemão, enviar informa- tativa”. Essa técnica requer maior habi-
ções prévias do que se deseja, marcando lidade e maior tempo do entrevistador,
a entrevista com antecedência. E, se o porque quer entender como os entrevis-
entrevistado não se sentir confortável tados percebem determinadas situações
com a utilização do gravador, fazer ano- em contextos não muito bem definidos.
tações por escrito ou, ao menos, desligá- Duarte (2006) explica a entrevista
lo em determinados momentos. Caso em profundidade como uma técnica de

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exploração que busca analisar as per- na percepção dos informantes; avaliar
cepções, informações e as experiências do diferentes situações de pesquisa ou po-
entrevistado, e destaca como vantagens pulações de estudo e desenvolver planos
a flexibilidade do entrevistador e a possi- de entrevistas e questionários”. Esse
bilidade de uma análise mais intensa das procedimento propicia flexibilidade na
respostas. Esse tipo de técnica, segundo coleta de dados, pois pode ser aplicado
o autor, possibilita: em curto espaço de tempo e reunir várias
[...] explorar um assunto e aprofundá-lo, pessoas. Dessa forma, é possível captar
descrever processos e fluxos, compreender aspectos da realidade que estão presen-
o passado, analisar, discutir e fazer pros- tes na interação entre os participantes
pectiva [...], identificar problemas, microin- e que dificilmente são coletados através
terações, padrões e detalhes, obter juízos de uma simples observação.
de valor e interpretações, caracterizar a
A história de vida ou, de forma mais
riqueza de um tema e explicar fenômenos
de abrangência limitada (DUARTE, 2006, abrangente, a história oral, também
p. 63). é considerada uma técnica de coleta
de pesquisa. É usada largamente em
Para a área do secretariado executi-
estudos antropológicos, mas ainda é
vo essa técnica é muito instrutiva, uma
vista com certa reserva nos estudos
vez que está presente, como comenta o
organizacionais, que tendem, em geral,
autor, em pesquisas de “comunicação
a uma abordagem mais pragmática. Os
interna” e “comportamento organizacio-
próprios especialistas de áreas admi-
nal”, sendo possível compreender como
nistrativas têm, no entanto, discutido
a comunicação está sendo veiculada e
novas formas de abordar os estudos nas
compreendida pelos colaboradores ou
empresas, com ênfase nas pesquisas qua-
como determinado serviço ou produto
litativas, discutindo temas como “cultu-
está sendo aceito.
ra, identidade, imaginário” (ICHIKAWA;
Outro procedimento associado à en-
SANTOS, 2006, p. 181).
trevista é o focus group (grupo de foco).
Vergara (2005) relata o surgimento
O objetivo é realizar uma entrevista em
da história oral no âmbito empresarial
grupo que discutirá um tema específico,
brasileiro em 1975, através do patrocínio
conduzida por um moderador. Salienta-
da Fundação Ford por ocasião da realiza-
se que esse tipo de entrevista é uma
ção de cursos de especialistas norte-ame-
contribuição das ciências sociais utili-
ricanos a mexicanos. Ichikawa e Santos
zada desde a década de 1920, mas que
(2006) definem a história oral como uma
se desenvolveu após a Segunda Guerra
apresentação da experiência de pessoas
Mundial em pesquisas na área de marke-
em seu contexto social, oferecendo uma
ting. Recentemente, tornou-se também
alternativa à história oficial escrita.
popular em outras áreas (MORGAN
Ela é interessante também porque pode
apud VERGARA, 2005).
“dar voz” às minorias, aos iletrados, aos
De acordo com Oliveira e Freitas
operários. Vergara (2005), para ilustrar
(2006, p. 326), o focus group é recomen-
essa metodologia, descreve o exemplo
dado para “[...] gerar hipóteses baseadas

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do trabalho de Maria Chistina Siqueira observar o ambiente de trabalho será
de Souza Campos sobre a penetração da importante para compreender os limites
mulher no mercado de trabalho através ou os problemas dessa nova tecnologia.
da história oral de 17 mulheres idosas Na observação participante o pes-
no interior de São Paulo no período con- quisador também acompanha os aconte-
siderado pela pesquisa. cimentos em tempo real, mas não é um
Roesch (2009, p. 168) descreve os observador passivo. Há oportunidade
passos de Denzin (1978) para se cons- de se perceber a realidade do ponto de
truir essa técnica. Inicia-se por definir o vista de alguém que faz parte daquele
problema e as questões de pesquisa. Ao contexto. Existe ainda a possibilidade
determinar os sujeitos da investigação, de manipulação dos eventos vivenciados
o pesquisador descreve os eventos da na realidade investigada por parte do
vida do pesquisado para depois obter pesquisador.
do pesquisado seu modo de contar sua Além dessas duas distinções sobre os
história de forma natural. Após essa tipos de observações, Creswell (2007) dis-
etapa, faz-se uma “análise preliminar e tingue a forma como o pesquisador toma
crítica” das informações para testar as notas de campos sobre comportamentos
hipóteses iniciais e até construir novas e atividades das pessoas no local da pes-
hipóteses. No próximo passo, organizam- quisa, registrando-as de uma maneira
se as informações, que são relatadas ao não estruturada ou semiestruturada
sujeito investigado para verificar suas (neste caso usando questões anteriores
reações. Por fim, retrabalha-se nova- que o pesquisador deseja conhecer). O
mente com o texto à luz da teoria que mesmo autor apresenta as seguintes
iniciou a pesquisa, para que se possam opções sobre os tipos de observação: par-
apresentar proposições ou conclusões ticipante completo, em que pesquisador
sobre o fenômeno estudado, ou, ainda, oculta seu papel; observador como parti-
dar margem para pesquisa posteriores. cipante, em que o papel do pesquisador é
Quanto à observação como procedi- conhecido; participante como observador,
mento utilizado na coleta de dados, Yin em que o papel de observação secundário
(2005) diferencia a observação direta da em relação ao papel de participante e ob-
observação participante. Na observação servador completo, em que o pesquisador
direta, busca-se relatar a realidade por observa sem participar.
meio de um tratamento de acontecimen- Considerando os procedimentos re-
tos em tempo real que pode ser realizado latados até aqui, uma nova perspectiva
por meio de uma visita de campo ao citada na literatura para colaborar na
“local” escolhido para o estudo de caso. interpretação dos dados é a utilização
As possíveis evidências observadas da análise do discurso. A análise do
podem ser úteis para fornecer informa- discurso3 representa uma perspectiva
ções adicionais sobre o assunto que está para os estudos organizacionais para
sendo estudado. Se o estudo de caso for auxiliar na compreensão dos sujeitos
sobre uma nova tecnologia, por exemplo, nas organizações de que fazem parte.

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Segundo Maingueneau (1993, p. 12), escolhem-se os pontos-chave. A autora
qualquer produção da linguagem pode exemplifica desta forma: “[...] como o
ser considerada discurso, e a linguagem emissor se projeta, que referências uti-
só acontece e só faz sentido para sujeitos liza, como se dirige ao receptor, como a
inscritos “[...] em posições sociais ou em linguagem é empregada, que dimensões
conjunturas históricas”, ou seja, a aná- enfatiza, como se dá a comunicação ou
lise do discurso considera o sujeito que a argumentação (que elementos utili-
se comunica não olhando apenas para a za)”. Depois de analisados os trechos
linguagem enquanto estrutura formal, selecionados na direção citada, a autora
mas para a linguagem que se forma e se acrescenta que se deve retornar ao pro-
constrói dentro de determinado espaço e blema inicial para discuti-lo e tecer as
tempo, dentro de ideologias, políticas e conclusões possíveis.
contexto histórico. Vergara (2005) faz duas observações
Para Godoy (2006), a análise do importantes ao trabalhar com esse tipo
discurso faz sentir a necessidade de de análise: primeira, deve-se, além do
que se vá além do discurso manifesto: texto transcrito, levar em consideração
considera-se o que é dito literalmente o não dito, o implícito, ou seja, a gesti-
(enunciado), identifica-se o sujeito do dis- culação, pausas, hesitações, a ironia etc.
curso (enunciação), mas há de se apelar Para que isso seja possível, o pesquisador
às informações de fundo, às informações deve, além da gravação, ter feito notas
mutuamente compartilhadas pelos in- desses aspectos no momento da reunião,
terlocutores sobre os fatos; portanto, é entrevista etc. Uma segunda observação
preciso considerar elementos de um item é sobre preservar a fala real do sujeito,
constitutivo da interpretação, o contexto. para preservar as características e a in-
Para o meio organizacional, Vergara tegridade do documento. Para finalizar,
(2005, p. 29) destaca, por exemplo, a Vergara (2005) cita dois exemplos do uso
negociação e as manifestações de poder da análise do discurso no contexto orga-
que podem ser alvo de pesquisa através nizacional, o primeiro que investiga o
da análise do discurso. A autora fornece atendimento em uma empresa de seguro
passos não rígidos, porém didáticos, de saúde, e o segundo, que identifica o
para se fazer a análise. Após definidos estilo do discurso de liderança gerencial
o tema e o problema da pesquisa e feita em empresas de televendas.
a revisão da literatura que dará suporte Em qualquer procedimento de coleta
ao trabalho, o pesquisador deve definir utilizado, podem-se elencar pontos fortes
o tipo de material que utilizará como e fracos,4 por isso, fazer uso de duas ou
fonte e forma, podendo ser por meio de mais fontes pode funcionar como uma
texto, gravação, reunião, telefonema complementaridade interessante para
etc. Dependendo do formato escolhido, aumentar substancialmente a qualida-
procede-se à transcrição, na qual devem de do estudo. A Figura 1 exemplifica a
ser observados critérios de convenção. triangulação de dados:
Após várias leituras desse material,

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Fonte: OLIVEIRA (2010, p. 205).
Figura 1 - Triangulação de dados

Como pode ser visualizado na Figura


Procedimentos
1, há uma variedade de procedimentos metodológicos
de coleta que podem ser combinados
Este trabalho adota a estratégia
(entrevistas, questionários e observações
do estudo de caso, que é apoiada pela
e análises de documentos). A triangula-
pesquisa exploratório-descritiva, pois
ção pode ser usada para a investigação
teve como objetivo analisar os proce-
de um fenômeno em que o pesquisador
dimentos de coleta de dados utilizados
deve participar intensivamente da in-
em trabalhos de conclusão do curso de
terpretação dos dados. Essa combinação
Secretariado Executivo da Unioeste –
de múltiplas fontes de evidência é um
Campus de Toledo.
fundamento importante para se criar
Segundo Vergara (2000), a pesquisa
um banco de dados para o estudo de caso
exploratória é utilizada em áreas em
e manter um encadeamento de fontes,
que há pouco conhecimento acumulado
sendo este último relacionado com o au-
e sistematizado e que, pela sua natureza
mento da confiabilidade das informações
de sondagem, não comportam hipóteses
em estudo de caso. Além disso, represen-
que, todavia, podem surgir durante ou ao
ta um processo de múltiplas percepções
final da pesquisa. Gil (1988) complemen-
para esclarecer significados, verificando
ta afirmando que a pesquisa descritiva
a repetição de observações e interpreta-
busca a descrição das características
ções (STAKE, 2000; YIN, 2005).
de determinado fenômeno, enquanto a
pesquisa exploratória busca maior fa-
miliaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito. A pesquisa
bibliográfica foi utilizada para conhecer

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e descrever a literatura em metodolo- estão focados em um período de tempo
gia qualitativa, pois, como observa Yin específico e único.
(2005), existe a necessidade de compilar Os trabalhos do ano de 2000 não
as técnicas de coleta mais utilizadas para constam em arquivos digitais, pois a exi-
estudos organizacionais. gência de armazenamento nesse tipo de
Para apoiar a investigação deste mídia ocorreu apenas em 2004. Diante
estudo realizou-se uma pesquisa do- disso, optou-se pela análise dos trabalhos
cumental nos arquivos da biblioteca que estão no arquivo da biblioteca da
da Universidade e da Coordenação de Universidade, pois não havia possibili-
Estágio Supervisionado do Curso de dade de localizar os arquivos impressos
Secretariado Executivo, com a intenção da coordenação de estágio, uma vez que
de selecionar trabalhos de conclusão de o prazo de guarda em papel, antes de
curso defendidos nos dois primeiros anos serem incinerados, é de cinco anos. Já
em que passou a ser exigido o Relatório os trabalhos de 2009 e 2010 estão todos
Final de Estágio como requisito parcial armazenados em mídia digital, portanto,
para obtenção do grau de Bacharel em foi possível obter a totalidade de relató-
Secretariado Executivo e aqueles defen- rios finais defendidos nesses anos.
didos nos dois últimos anos em que ainda Para elencar os procedimentos de co-
vigora essa estrutura de estágio. leta de dados que tendem a uma perspec-
Na coleta de dados através do proce- tiva qualitativa, utilizou-se a análise de
dimento da documentação, alguns pontos conteúdo. De acordo com Roesch (2009),
fortes se referem à ampla cobertura e à a análise de conteúdo busca classificar
possibilidade de ser revisada inúmeras palavras, frases, ou mesmo parágrafos
vezes. Mesmo assim, no entanto, os em categorias de conteúdo. Neste estudo,
documentos devem ser cuidadosamen- essa classificação foi realizada por meio
te utilizados para não haver vieses de da criação de uma tabela para agrupar
interpretação durante a investigação os principais procedimentos de coleta.
(YIN, 2005).
Assim, foram selecionados para Resultados e discussão
análise 20 trabalhos defendidos no ano
de 2000, 12 no ano de 2001, 23 no ano Os dados coletados por meio da aná-
de 2009 e 28 no ano de 2010. A pers- lise dos trabalhos selecionados foram
pectiva temporal deste estudo é de corte organizados na Tabela 1, que apresenta
transversal, pois a intenção é estabelecer a frequência dos principais procedimen-
uma comparação entre os procedimen- tos de coleta de natureza qualitativa
tos de coleta de dados utilizados pelos utilizados pelos acadêmicos. Cabe res-
acadêmicos no início da implantação do saltar que os procedimentos listados na
estágio em um novo formato e o que pode tabela representam uma compilação da
ser verificado nesse mesmo sentido mais literatura pesquisada sobre o assunto:
recentemente. De acordo com Cooper e documentação, entrevista, focus group,
Schindler (2003), os estudos transversais histórias de vida, observação direta e
observação participante.

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Tabela 1 - Percentual dos procedimentos de coleta de dados em TCCs - Secretariado Executivo
da Unioeste/PR
2000 2001 2009 2010 Média
Procedimento de coleta Total%
% % % % %
Documentação 27,59 23,52 16,67 38,47 26,56 100
Entrevista 17,24 11,77 16,67 11,54 14,30 100
Focus Group 0 0 0 0 0 100
História oral 0 0 0 0 0 100
Observação direta 37,93 47,06 45,83 26,92 39,44 100
Observação participante 17,24 17,65 20,83 23,07 19,70 100
Fonte: As autoras (2011).

Algumas considerações podem ser verificado neste estudo, é justamente o


tecidas com base nesses dados (Tabela que se espera do pesquisador, como co-
1). A utilização da documentação como menta Yin (2005, p. 112): “[...] o uso mais
procedimento de coleta foi abaixo do es- importante de documentos é corroborar
perado, pois, em média, apenas 26,56% e valorizar as evidências oriundas de
a utilizaram, mesmo possuindo no curso outras fontes.”
disciplinas que enfocam a gestão de do- Em média, 14,3% dos trabalhos utili-
cumentos. Embora no ano de 2010 sua zam as entrevistas como forma de coleta
utilização tenha crescido (38,47%), não de dados. Dentre os procedimentos que
é possível afirmar que realmente repre- tiveram alguma pontuação, a entrevista
senta uma mudança de comportamento, é a menor e não apresenta crescimento
ou se foi apenas um ano esporádico, devi- nem declínio com o passar dos anos. O
do a algum tema que requeira de forma ano de 2000 (17,24%) e o ano de 2009
mais enfática esse tipo de metodologia. (16,67%) apresentam frequência maior
Entre aqueles que escolheram essa que em 2001 (11,77%) e 2010 (11,54%).
abordagem, deve-se destacar que tal Esse resultado provoca um questiona-
escolha representa um passo impor- mento sobre as possíveis razões de a op-
tante do acadêmico ao exercer o papel ção por entrevista ter pouca frequência,
de pesquisador, ou seja, se embrenhar uma vez que é considerada na literatura
na documentação da empresa a fim de sobre estudos qualitativos um dos pro-
procurar dar sustentação ao trabalho cedimentos de maior aproximação da
configura-se em uma tentativa primeira realidade a ser investigada (ROESCH,
de entender os meandros da organização. 2009).
Além disso, verificou-se que a documen- Outra característica percebida du-
tação estava na maior parte das vezes rante a análise dos trabalhos dos aca-
associada a algum outro procedimento de dêmicos foi que, dos que optaram pela
coleta, em especial à observação direta e entrevista, um número muito reduzido
participante. Dessa forma, utilizá-la com preocupou-se em descrever qual tipo
outras fontes de coleta, como foi o caso de entrevista estaria fazendo e de que

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forma. Percebe-se, no entanto, que o mação de fatos, não necessariamente de
detalhamento está presente nos anos aprofundamento.
mais recentes. A hipótese de explicação Outro procedimento de coleta bas-
para esse fenômeno é que, provavelmen- tante citado e que representou o maior
te, devido ao crescente estudo na área percentual (média de 39,44%) nos tra-
de secretariado em relação à pesquisa balhos analisados foi a observação di-
científica, demanda-se maior rigor no reta. No ano de 2000, o procedimento
trabalho dos docentes, o que se reflete foi utilizado em 37,93% dos trabalhos;
diretamente na qualidade dos trabalhos 47,06% no ano de 2001; 45,83% em 2009
dos acadêmicos. e 26,92% em 2010. Somado à utilização
Dentre os poucos trabalhos que de- da observação participante (média de
finiram o tipo de entrevista, nota-se a 19,7%) entre os anos analisados, esse
escolha da entrevista semiestruturada procedimento para coleta de dados to-
como a preferida, o que está em conso- taliza 59,14% das fontes de evidência
nância com a recomendação de autores aplicadas nos trabalhos de conclusão
como Oliveira (2010), que sugere que de curso.
essa pesquisa seja feita em tópicos se- O maior percentual para a escolha
miestruturados, com roteiro prévio, e do procedimento da observação está as-
Roesch (2009, p. 159) comenta não ser sociado à natureza do trabalho exigido
recomendável a realização de entrevis- para a conclusão do curso de secretariado
tas sem estrutura, pois “[...] resultam executivo. A pesquisa que o acadêmico
num acúmulo de informações difíceis de deve realizar é em apenas uma empresa,
analisar”. Quando utilizada em estudos caracterizando-se como um estudo de
essencialmente qualitativos, a entrevista caso. Nos estudos de caso, Yin (2005)
torna-se um instrumento de pesquisa afirma que a observação faz parte do
que precisa ser bem planejado, pois processo de investigação, pois é neces-
para se obter êxito com os resultados sário incluir procedimentos de coleta de
é necessário que a pesquisa atenda a dados que tratem de acontecimentos em
algumas recomendações metodológicas tempo real.
sobre como se obterem dados relevantes É preciso salientar que nos trabalhos
e confiáveis (GODOY, 1995). analisados neste estudo nem sempre a
Cabe ressaltar que a entrevista em observação foi classificada como direta
profundidade não foi citada uma única ou participante ou ainda como estrutura-
vez pelos acadêmicos, o que sugere que da ou semiestruturada. Assim, por meio
deva ser dada maior ênfase no ensino da leitura do capítulo de metodologia
desse tipo de pesquisa na graduação, foi possível designar a classificação do
considerada, como já mencionado, ins- procedimento da observação, conforme
trumento fundamental na pesquisa qua- apresentado anteriormente na Tabela 1.
litativa. Outra possível explicação é que Além disso, verificou-se que em al-
as entrevistas em geral se concentram guns trabalhos analisados a observação
em perguntas de caráter mais de confir- consta apenas no capítulo da metodolo-

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gia. No momento de explicitar os resul- Independentemente de como o es-
tados alcançados com as fontes de coletas tágio supervisionado está estruturado,
utilizadas, dificilmente há uma expli- Bianchi, Alvarenga e Bianchi (2003) afir-
cação clara das evidências encontradas mam que o estágio deve ser visto como
através da observação, seja classificada uma oportunidade de trazer benefícios
como direta, participante, estruturada para a aprendizagem, para a melhoria
ou semiestruturada. do ensino e para o estagiário, no que diz
Os procedimentos de coleta de dados respeito à sua formação. Nesse sentido,
focus group e história oral não aparecem é necessário que os professores incen-
em nenhum trabalho de conclusão nos tivem seus alunos para a sua própria
anos pesquisados. Um maior aprofun- valorização, demonstrando ao mercado
damento do focus group, por exemplo, de trabalho e à comunidade que a sua
é bastante útil na área de marketing, universidade está formando profissio-
principalmente para avaliar a reação dos nais que contam com um referencial
consumidores diante de novos produtos teórico-prático que os levará a exercer,
(ROESCH, 2009). No tocante à história com qualidade as funções às quais se
oral, é possível explorar os relatos da destinam.
percepção dos colaboradores sobre o Para que uma pesquisa tenha maior
objeto de investigação, como é o caso de credibilidade, há necessidade de definir
trabalhos sobre clima organizacional. claramente a metodologia utilizada e de
Essa ausência leva a possíveis refle- detalhá-las, como é o caso dos procedi-
xões: ou os alunos não conhecem esses mentos de coleta de dados. Neste estudo
procedimentos ou, se conhecem, não os foi possível visualizar que esses proce-
conhecem em profundidade para utilizar dimentos são descritos de forma ainda
nos trabalhos ou não acham que sejam incipiente e, por esse motivo, os acadê-
válidos ou importantes para serem utili- micos devem ser estimulados a conhecer
zados. Em qualquer dessas hipóteses, a a literatura com maior profundidade e
apresentação desses procedimentos deve aplicar os conhecimentos adquiridos em
ser levada em consideração nas aulas de suas pesquisas.
metodologia e estágio supervisionado. Constatou-se que a falta de expli-
cação mais detalhada entre os procedi-
Considerações finais mentos citados nos trabalhos dificultou
a compreensão do que realmente foi
No curso de Secretariado Execu- utilizado, como, por exemplo, men-
tivo da Unioeste, o Relatório Final de cionar se a observação do campo foi
estágio representa o principal contato participante ou não participante. Além
do acadêmico com a pesquisa científica; disso, os trabalhos não apresentaram
portanto, discutir aspectos da metodo- um planejamento quando a intenção foi
logia relacionados aos procedimentos de combinar mais de um procedimento para
coleta de dados é primordial para gerar coleta de dados, impossibilitando que os
publicações e assim contribuir com os resultados alcançados em cada um deles
estudos na área.

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pudessem convergir em uma mesma se à representatividade, à subjetividade,
direção ou apresentassem algum tipo aos problemas técnicos para análise
de relação. Nesse sentido, ressalta-se a dos dados e à impossibilidade de ge-
importância da triangulação de dados neralizações estatísticas. Para superar
para se obterem múltiplas percepções essas limitações, devem-se considerar a
da realidade investigada com propósitos preparação do pesquisador e a escolha
previamente estabelecidos, reduzindo-se dos procedimentos mais adequados à
os possíveis vieses na interpretação dos investigação.
dados (STAKE, 2000). Evidentemente, as limitações não
Ao se estudar a bibliografia sobre são exclusivas da pesquisa qualitativa,
metodologia e verificar que alguns pois também é possível identificar limi-
procedimentos não foram citados nos tes nas pesquisas quantitativas, porém
TCCs, como focus group e história oral, de outra ordem. Por essa razão, a combi-
sugere-se que sejam contemplados nas nação entre procedimentos qualitativos e
disciplinas de Metodologia e Estágio quantitativos pode resultar em análises
Supervisionado. Da mesma forma, a mais enriquecedoras.
análise do discurso desponta como uma
perspectiva interessante para os estudos Procedures of data collection
organizacionais, trazendo a contribuição in the final works from the
da linguística para os estudos na área, Executive Secretary course of
podendo ser abordada na disciplina de Unioeste - PR
língua portuguesa.
Recomenda-se que, para melhor Abstract
compreensão desses temas, sejam rea-
This study aims to know the choices of
lizados outros estudos para aprofunda- undergraduate students of the Executi-
mento dos procedimentos que normal- ve Secretariat course of State University
mente são utilizados em pesquisas de of Western Parana (Unioeste), regar-
natureza qualitativa. Isso é importante ding to data collection procedures used
para os cursos de secretariado executivo in the term papers. Through documental
research, final traineeship reports of the
que estabelecem o estudo de caso como
course were collected. The selected re-
trabalho de conclusão de curso. Segundo ports were from the years 2000, 2001,
Creswell (2007), o estudo de caso aponta 2009 and 2010, the earliest and the latest
para uma pesquisa qualitativa pelo fato years of this kind of term paper format.
de existir preocupação com a profundida- These reports were analyzed in order
de do tema a ser investigado. Para tanto, to identify the procedures for collecting
data that show evidences of qualitative
há necessidade de se compreenderem as nature. To this end, the bibliographic rese-
variedades de procedimentos de coleta arch was done to understand the concept
que podem ser combinados e superar as of qualitative research and then the stu-
possíveis limitações. dy stands out the procedures for collec-
As limitações em pesquisas qualita- ting data in the reports analyzed. Content
analysis was used to identify and discuss
tivas, segundo Martins (2004), referem-
the collection procedures cited. This rese-

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arch concluded that students made little CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Me-
use of qualitative procedures and it sug- todologia científica: para uso dos estudantes
gests that they have to be encouraged to universitários. São Paulo: McGraw-Hill do
know them and also how to perform the Brasil, 1983.
triangulation of data collected. CHIZZOTTI, Antonio. A pesquisa qualitativa
em Ciências Humanas e Sociais: evolução
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cedures. Minho, v. 16, n. 2. p. 221-236, 2003.
CRESWELL, John W. Projeto de pesquisa:
Notas métodos qualitativos, quantitativos e misto.
Trad. de Luciana de O. da Rocha. 2. ed. Porto
1
Quanto aos tipos de técnicas de coleta de dados Alegre: Artmed, 2007.
geralmente citados nas pesquisas qualitativas,
cf., por exemplo, CERVO; BERVIAN (1983); DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Ed.).
MARTINS (2004); OLIVEIRA (2010); ROES- Handbook of qualitative research. 2. ed.
CH (2009); GODOI; BANDEIRA-DE-MELLO; Thousand Oaks: Sage, 2000.
SILVA (2006); THIOLLENT (1997); VERGARA
(2005) e YIN (2005). Ainda que um ou outro
DUARTE, Jorge. Entrevista em profundida-
autor utilize nomenclatura diferente, basica- de. In: BARROS, Antonio; DUARTE, Jorge.
mente as denominações são as apresentadas Métodos e técnicas de pesquisa em comuni-
acima. cação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
2
Uma explicação desse procedimento se en- GADET, F.; HAK, T. (Org.). Por uma análise
contra mais adiante, neste texto, denominado
automática do discurso: uma introdução à
focus group.
3
A literatura em análise do discurso é vasta.
obra de Michel Pêcheux. 2. ed. Campinas,
Neste texto, o objetivo é apenas trazer para SP: Editora da Unicamp, 1993.
o secretariado tendências nas pesquisas em GIL, Antonio C. Como elaborar projetos de
organizações. Para uma introdução mais pesquisa. São Paulo: Atlas, 1988.
aprofundada recomendam-se: Brandão (1995),
Gadet;Hak (1993), Maingueneau (1993), Or- GODOY, A. S. Estudo de caso qualitativo. In:
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2003.
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BRANDÃO, Helena H. N. Introdução à aná- Contribuições da história oral à pesquisa
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