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questões metodológicas
Resumo
O presente trabalho é uma expansão da pesquisa de iniciação científica, financiada pelo Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), que teve como tema A Construção do
feminino e a busca pelo pertencimento na escrita de Adriana Lisboa e Daniel Galera (2014). Em tal
contexto, foi possível investigar questões de gênero e de identidade na literatura contemporânea. Após
a finalização de tal trabalho, diversas dúvidas foram ganhando forma, tais como: será que é possível
identificar semelhanças e diferenças quanto à construção de personagens a partir da escrita de autores
negros? E quando temos autores que são homens negros construindo personagens que também são
homens negros, o papel do masculino ganha novos significados? A forma como as relações afetivas
são construídas entre personagens negros, recebe um olhar diferenciado quando temos a cor da pele
demarcando um aspecto identitário? Esse conjunto de reflexões e indagações figura, portanto, como
os elementos-chave deste projeto que se propõe a discutir e problematizar a construção da
masculinidade e do afeto do homem negro na literatura contemporânea negro-brasileira produzida
por escritores negros. A obra escolhida são os Cadernos Negros, coleção que reúne diversos escritos
em prosa e poesia, de diferentes escritoras e escritores negros. Para isso, analisaremos os contos
produzidos por homens negros, a proposta é compreender como a masculinidade é construída em
personagens que são homens e negros, além de investigar como eles se relacionam afetivamente com
os outros indivíduos. Ao falarmos em masculinidade, o homem negro carrega algumas marcas dentro
dos aspectos construídos que abrangem outras esferas como classe social e sexualidade. Cabe
mencionar que seus afetos talvez sejam influenciados por uma imposição estrutural branca. Partindo
do papel de transformação que a literatura possui no sentido de possibilitar formas diversas de
ressignificar o olhar, propomos investigar se os personagens homens/negros cumprem com esse
objetivo, ou seja, almejamos problematizar se, em tais obras, eles formam parte de um projeto capaz
de desmistificar um imaginário pautado em uma construção racista.
Palavras Chaves: literatura; negro-brasileira, homem negro; masculinidade
Introdução
A presente proposta tem como objetivo refletir sobre o projeto de mestrado A construção da
masculinidade e do afeto do homem negro na literatura negro-brasileira: um olhar sobre os
Cadernos Negros, em diálogo com a Sessão Temática 18 - Masculinidades negras na Diáspora
Afrobrasileira: Entre Desconstrução, confrontos e (Re)existências, que compõe a programação do “X
Congresso Brasileiro dos(as) Pesquisadores(as) Negros(as)”.
O projeto em questão, ainda em seu início de desenvolvimento, encontra-se dividido em
quatro partes: a primeira consistirá em uma introdução crítica que justifique a importância do objeto
pesquisado diante de sua trajetória histórica e literária. A segunda constará de uma reflexão acerca do
sujeito negro, relacionando os aspectos que um indivíduo que é homem e negro carrega socialmente.
Além de termos nesta segunda parte subtemas que, relacionados às questões de gênero, dizem respeito
à construção da masculinidade do homem negro e às diversas possibilidades de afetos. A terceira
contará com um estudo que interseccione a unidade introdutória e a unidade 1 aos contos dos
Cadernos Negros – Volume 40.
Diante disso, o método de pesquisa utilizado é o qualitativo, pois faremos uma compreensão
crítica de como os personagens homens e negros são construídos na narrativa de escritores que
também são homens e negros.
Sendo assim, os paradigmas epistemológicos têm como base os estudos de gênero e de raça.
Além de teóricos literários que embasarão todas as questões no que diz respeito à narratividade e aos
estudos do gênero conto.
A pesquisa busca interpretar a relevância de uma literatura contemporânea produzida por
escritores negros e entender os motivos de possíveis invisibilidades dentro da área dos Estudos
Literários. Ainda queremos abordar o termo “literatura negro-brasileira”, defendido por Cuti Silva
(2010), em que observamos um argumento que explica a utilização da nomenclatura para reafirmar
um fazer literário na diáspora, ressignificando e reivindicando uma literatura negra brasileira:
Entendemos que a discussão em torno do nome que recebe a literatura produzida por
escritores negros é um campo ainda em elaboração. Porém, ao adotarmos a ideia mencionada por
Cuti, reiteramos a força que possuem os Cadernos Negros em construir uma identidade literária de
combate e resistência ao racismo estrutural brasileiro.
É justamente sob essa luz que recorremos à teoria de gênero vinculada aos teóricos que
discutem questões raciais para tentar entender sobre qual homem estamos falando. Para isso,
iniciamos um estudo ainda no trabalho de iniciação científica, intitulado A construção do feminino e
a busca pelo pertencimento na escrita de Adriana Lisboa e Daniel Galera (2014), no qual abordamos
a diferença na construção da identidade feminina na escrita de uma mulher e de um homem. Através
dessas leituras chegamos aos estudos de gênero pensados por Judith Butler, em Problemas de Gênero
(2010), obra que também é utilizada na pesquisa em desenvolvimento. A autora levanta questões
diante de uma sociedade tida como falocêntrica; o homem é o centro do universo, as leis jurídicas são
construídas para privilegiá-lo, e todos os outros indivíduos que não se encaixam no dito homem,
branco e heterossexual são vistos como categorias marginalizadas.
Desenvolvimento
Compreende-se que o homem negro se encontra em um lugar subalterno e, apesar de obter
seu gênero favorável ao que Butler chama de falocentrismo, a questão racial nega qualquer lugar
humano dentro da sociedade, começando pela questão corporal que, quando não é sexualizada, é
brutalmente atravessada pela violência, seja ela neste caso física, mas também psicológica.
Osmundo Pinho, em “Qual é a identidade do homem negro?” (2004), apresenta uma análise
crítica da situação do homem negro e levanta hipóteses diante das possíveis masculinidades. Entende-
se, mesmo entre homens negros, essa construção como fluída e diversa.
Dentro desse contexto, o afeto não é uma característica levada em consideração, uma vez
que corpos negros são sujeitos à violência e ao racismo estrutural, dificultando uma ressignificação
das relações humanas, sejam elas familiares, de amizade e amorosas. Os contos presentes no
Cadernos Negros – Volume 40 contam com personagens masculinos negros, em sua maioria
moradores da periferia, sendo que alguns cruzam a cidade por conta de seus trabalhos, mantendo-se
esse não lugar, inclusive, geograficamente. As relações na maioria das vezes são afetadas por algum
acontecimento vinculado à violência.
Porém, é de extrema importância ressaltar, devido ao fato de tratarmos de um conjunto de
escritos ficcionais, que as ideias levantadas serão investigadas com base na literariedade da obra,
promovendo o diálogo entre literatura e sociedade, uma vez que o pensar masculino negro está em
discussão no momento presente. Não faremos uma análise sociológica do objeto, nem mesmo uma
interpretação ficcional ignorando os fatores sociais. Até porque, tratando-se de Cadernos Negros e
sabendo de sua relevância social, entendemos que a articulação entre os fatores “externos” e
“internos”, como diria Candido em Literatura e Sociedade (2006, p. 24), talvez seja, neste caso, o
canal de abertura para reflexão do tema proposto: “Veremos então, provavelmente, que os elementos
de ordem social serão filtrados através de uma concepção estética e trazidos ao nível da fatura, para
entender a singularidade e a autonomia da obra.”
Ainda na elaboração do projeto, deparamo-nos com a ausência de textos que falassem sobre
masculinidade negra e afeto negro na literatura. O que justifica a necessidade desta pesquisa e coloca-
nos frente a uma lacuna, pois não temos referências para utilizar como partida. Buscamos separar as
investigações em três partes: literatura negra, masculinidades negras e construção do afeto do homem
negro. Em diversos momentos, a busca nos levou ao mesmo artigo, tese e revista. O que reafirmou a
falta de produção que envolve a temática trabalhada.
Assim como já citado na introdução deste trabalho, o primeiro conflito encontrado foi
mediante a terminologia “literatura afro-brasileira” e “literatura negro-brasileira”. O artigo
“Literatura Afro-brasileira: um processo de afirmação identitária e de resistência negra na poesia de
Cuti” (2017), presente na revista Opiniães, da autora Francys Carla Cavalcanti, discorre sobre a
problemática e reconsidera a utilização de “literatura afro-brasileira”, afirmando que o Estado
Brasileiro por conta da lei 10.639/03 tenta reconfigurar a nomenclatura incentivando autores a adotá-
la, pois sua ampla divulgação traça um “caminho editorial alternativo” (p. 89).
A autora retoma a leitura feita por Cuti em Literatura Negro-Brasileira (2010). Reafirma o
pensamento do autor em defender a nacionalização do termo, para então construir uma identidade
longe do continente africano:
A autora adota “literatura negra” e “literatura afro-brasileira” como sinônimos, pois ambas
trazem a reflexão sobre a figura do negro na literatura negra brasileira, abordando a reconfiguração
social na qual ele deixa de ser somente um objeto de estudo para ter voz e falar por si.
Dentro dessa narrativa diaspórica que se encontram os personagens presentes nos escritos
que estudaremos na pesquisa. Sendo assim, vítimas de uma subalternidade, na qual ainda é possível
encontrar inúmeras opressões. O homem negro, por exemplo, reproduz um machismo estrutural,
mesmo ele sendo vítima de uma opressão racista.
Os autores refletem as diversas masculinidades, colocando-as como processos da vida
prática, o que podemos chamar também de performances, já que elas não são sinônimos de homem,
pois os diversos recortes fazem com que ele receba fatias diferentes do patriarcado, “as
masculinidades não são simplesmente diferentes entre si, mas, também, sujeitas a mudanças.” (2017,
p. 81). São essas alterações responsáveis por organizar as formas de relações, sejam elas de amizade,
sexuais, amorosas, ou familiares, etc. Aborda-se então os seguintes questionamentos:
E aqui colocamos as seguintes perguntas: como é construir uma identidade afetiva diante de
estereótipos que tendem a brutalizar o homem negro ao colocá-lo em uma jaula a ponto de afastar
qualquer possibilidade mais sensível ou empática? Pois, “para ser visto como negro legítimo, é
necessário ser truculento e agressivo, dispensar o trabalho intelectual (...)” (2017, p. 86).
Considerações Finais
Em suma, a pesquisa, ainda em seu estado inicial de desenvolvimento, parte do papel de
transformação que a literatura possui no sentido de possibilitar formas diversas de ressignificar o
olhar, propomos investigar se os personagens homens/negros presentes no volume quarenta da
coleção Cadernos Negros, correspondem às construções masculinas observadas socialmente. Ou se,
tratando de um projeto literário em diálogo com mundo, até que ponto os autores auxiliam para
desmistificar um imaginário pautado em uma construção racista.
Bibliografia:
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro:
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CANDIDO, Antonio. “Crítica e Sociedade” In: Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Outro Sonho
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CAVALCANTI, Francys Carla. “Literatura Afro-brasileira: um processo de afirmação identitária e de
resistência negra na poesia de Cuti” In: Opiniães, n. 10, p.86-102, 2017.
CUTI, Luiz Silva. Literatura Negro-Brasileira. São Paulo: Selo Negro, 2010.
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PEREIRA, Rodrigo da Rosa. “A periferia em Conceição Evaristo e Esmeralda Ribeiro: questões de
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Disponível em:
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