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Publicada pela primeira vez em 1959, na revista "Senhor", esta curta obra logo
recebeu vestes de romance. A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, de Jorge
Amado, é, antes de tudo, uma crítica azeda aos comportamentos burgueses. A obra
está inserida na segunda fase do Modernismo (o intitulado "Romance da Seca"). Os
autores desta geração priorizaram a problemática ruralista do Nordeste,
evidenciando os contrastes e as explorações sociais sofridas pelos sertanejos.
Com A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água, Jorge Amado faz uma profissão
de fé espírita, ao mesmo tempo em que lança profundas indagações sobre o
sentido da vida. A dupla de críticos ingleses Terry Gillian e Michael Palin, autores de
O Cânon Ocidental, considera este romance uma verdadeira aula de metafísica,
embora aponte algumas falhas estruturais e de linguagem que o prejudica um
pouco.
Os becos, as ruas, os espaços habitados pela gente pobre, humilde, feliz e excluída
da velhaSão Salvador são dissecados aos olhos do leitor que necessita de uma
certa malícia, ironia e humor para compactuar com o escritor que lida de forma
divertida, dolorida e irônica com a morte.
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Tavares: "Muitas dessas criaturas anônimas, todavia, merecemdo romancista um
tratamento especial que as fixa, situa. Adquirem contornos precisos, ganham
individualidade, constituem-se em núcleos dramáticos entre misturando-se no
emaranhado dos acontecimentos. "Mesmo havendo momentos de introspecção
psicológica nas personagens, elas tendem mais a uma classificação como "planas",
não chegando muito a surpreender o leitor.
FOCO NARRATIVO
Não tem-se neste livro o Jorge Amado esquerdista politizado que assinou produções
nas décadas de 1930 e 1940. Desta feita, se mostra o contador de histórias
pitorescas da Bahia.
LINGUAGEM E ESTILO
É um autor sem rodeios, que consegue ser incisivo quando o momento exige, mas
que também é poético, suave, sempre mantendo a sobriedade. Suas descrições
nunca ficam nelas mesmas, ele vai além, interagindo o espaço descrito com as
personagens, ou às vezes, divagando sobre isso. Assim, valoriza-se a plasticidade
da imagem em detrimento a sua objetividade.
PERSONAGENS PRINCIPAIS
ENREDO
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ao se transformar em Quincas, teria a sua primeira morte, ao se desligar da família.
Se a morte não foi física, pelo menos foi moral. Quincas era uma vergonha para a
família. Ficamos sabendo também que de fato o personagem seria um recordista de
morte, somando ao todo pelo menos três. E o narrador nos adverte: "Não sei se
esse mistério da morte (ou das sucessivas mortes) de Quincas Berro D'Água pode
ser completamente decifrado. Mas eu o tentarei, como ele próprio aconselhava,
pois o importante é tentar, mesmo o impossível."
No capítulo III, a filha Vanda chega à pocilga, e recorda do quanto tentara trazê-
lo de volta em vão. O defunto "era um morto pouco apresentável, cadáver de
vagabundo falecido ao azar, sem decência na morte, sem respeito, rindo-se
cinicamente, rindo-se dela (...) Cadáver para necrotério, para ir no rabecão da
polícia servir depois aos alunos da Faculdade de Medicina (...) Era o cadáver de
Quincas Berro D'Água, cachaceiro, debochado e jogador, sem família, sem lar, sem
flores e sem rezas. Não era Joaquim Soares da Cunha, correto funcionário da Mesa
de rendas Estadual(...)", aposentado, bom esposo. Vanda indaga-se como pode um
homem, aos cinqüenta anos, abandonar tudo e começar nesta idade "a
vagabundear pelas ruas, beber nos botequins baratos, freqüentar o meretrício,
viver sujo e barbado, morar em infame pocilga, dormir em um catre miserável?"
Por mais que tentasse não conseguiria compreender. Loucura de hospício não era.
Assim, nem Quincas havia dado o último suspiro, a família já o iria transformar em
Joaquim Soares da Cunha.
No capítulo IV, a família vê-se às voltas com a vergonha e como evitá-la. Para
isso, qual seria amelhor forma de se livrar do defunto? Neste capítulo também tem
a chegada do médico para o óbito. E o médico conclui: "- Ele está rindo, hein! Cara
de debochado. Vanda fechou os olhos, apertou as mãos, o rosto vermelho de
vergonha."
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tanta alegre claridade, pareceram a Vanda uma desconsideração para com a morte,
faziam as velas inúteis, tiravam-lhe o brilho augusto. Vanda, velando o pai, começa
a restaurar o homem bom da infância." Neste capítulo também somos informados
como Quincas abandonou tudo: "A verdade é que Joaquim só começara a contar
em suas vidas quando, naquele dia absurdo, depois de ter tachado Leonardo de
'bestalhão', fitou a ela e a Otacília e soltou-lhes na cara, inesperadamente: -
Jararacas! E, com a maior tranqüilidade desse mundo, como se estivesse a realizar
o menor e mais banal dos atos, foi-se embora e não voltou." Contava Quincas com
cinqüenta anos, perambulou pela felicidade durante dez anos. No silêncio fúnebre,
Vanda ouvia o pai dizer jararaca, ela empalideceu. A tia chega. O defunto alegra-se
com a brisa do mar que entra e apaga as velas, sorrindo e ajeitando-se melhor no
caixão.
O capítulo VII está todo às voltas com a tristeza causada em todos os miseráveis
da cidade. Passamos a conhecer o Quincas Berro D'Água e o quanto era querido. Os
amigos estavam inconformados por ter morrido em terra, um homem que se dizia
velho marinheiro, mesmo sem nunca tê-lo sido. Era herança que herdara de
família, dizia. Seu corpo, por sua vontade, pertencia ao mar. Também neste
capítulo somos informados do apelido Berro D'Água, agregado a Quincas. O
espanhol o enganou e ofereceu-lhe água, em lugar de cachaça. Ao perceber o
engodo, Quincas deu um berro fenomenal "- Äguuuuua!", chamando a atenção de
meio mundo, sendo ouvido até no elevador Lacerda. A partir de então,
transformou-se em Quincas Berro D'Água. Todos sofriam a morte de Quincas. O
povo estava de luto. Começa a aparecer as bondades do velho e bom malandro
Quincas Berro D'Água.
No capítulo XI, a cidade neste dia está de luto e quieta. Nem as prostitutas
abriram para o ofício. Os amigos e Quincas saíram acordando todo mundo para a
peixada, pois era aniversário do Quincas. Fizeram o que faziam todas as noites:
farra, bebedeira, confusão... Até chegarem ao saveiro e saírem para apeixada no
mar. Em alto mar, Quitéria do Olho Arregalado e Quincas não comiam. Quincas
olhava o céu, ouvindo Maria Clara cantar. De repente, o anúncio de tempestade,
mas não respeitaram, retardaram a volta, aproveitando mais o momento. A
tempestade chegou e ninguém sabe como Quincas pôs-se de pé e "no meio do
ruído, do mar em fúria, do saveiro em perigo, à luz dos raios, viram Quincas atirar-
se e ouviram sua frase derradeira. Penetrava o saveiro nas águas calmas do
quebra-mar, mas Quincas ficara na tempestade, envolto num lençol de ondas e
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espuma, por sua própria vontade."
"Quanto à frase derradeira há versões variadas." Afinal, quem poderia ouvir direito
no meio de tamanho temporal?
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A MORTE E A MORTE DE
QUINCAS BERRO DÁGUA
(JORGE AMADO)
Esta é uma novela curta, de texto saboroso com muito humor e personagens
fascinantes. A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água foi recebida com festa pela
crítica e pelo público na época de sua primeira publicação, em 1959. A obra
conquistou intelectuais que viram nela um dos melhores tratamentos de um tema
fundamental na obra do escritor baiano.
A novela mostra Jorge Amado a serviço de um proletarismo politicamente
engajado, só que mais lírico do que ideológico. Com ela, o autor tende a idealizar a
vida popular da Bahia e os seus comportamentos sociais, convertendo-os num
modelo que, contraposto ao modelo burguês, hegemônico e oficial, adquire
conotações utópicas. É o grande escritor brasileiro mantendo sua preocupação com
a sorte de seu povo, mas mostrando imensa sensibilidade no tratamento poético de
suas histórias.
RESUMO
Até hoje permanece certa confusão em torno da morte de Quincas Berro Dágua.
Dúvidas por explicar, detalhes absurdos, contradições no depoimento das
testemunhas, lacunas diversas.
Quincas Berro Dágua era um velho debochado e Vagabundo das ruas da Bahia. Um
dia amanheceu morto num quarto imundo. A família avisada acorre à pocilga, a fim
de efetuar o funeral, aparecem no quarto o cabo Martim, Curió, Negro Pastinha, Pé-
de-Vento, malandros amigos do finado. Do choro às libações, na ausência de
parentes, o defunto, redivivo, de conluio com os companheiros, sai para a última
farra que termina no fundo do mar em frente ao porto da Bahia.
Foram testemunhas do que aconteceu apenas Mestre Manuel e Quitéria do Olho
Arregalado.
Teria sido assim: a família do morto - sua respeitável filha Vanda e seu formalizado
genro, Leonardo, funcionário público de promissora carreira, tia Marocas e seu
irmão mais moço, Eduardo- acreditavam que tudo não passava de invenções de
bêbados e patifes. "O que nos leva a constatar ter havido uma primeira morte,
senão física pelo menos moral, datada de anos antes, somando um total de três,
fazendo de Quincas um recordista da morte, um campeão do falecimento, dando-
nos o direito de pensar terem sido os acontecimentos posteriores - a partir do
atestado de óbito até seu mergulho no mar - uma farsa montada por ele com o
intuito de mais uma vez atazanar a vida dos parentes, desgostar-lhes a existência,
mergulhando-os na vergonha e nas murmurações de rua. Não era ele homem de
respeito e de conveniência, apesar do respeito dedicado por seus parceiros de jogo
a jogador de tão invejada sorte e a bebedor de cachaça tão longa e conversada.
Vanda foi chamada quando o santeiro avisou que Quincas havia morrido sozinho
num quarto pobre e sujo. Ela, a filha envergonhada porque o pai, Joaquim Soares
da Cunha (verdadeiro nome de Quincas) homem respeitável, funcionário da mesa
de Rendas Estadual havia se entregado à vida de bêbado. Ela só sabia dele por
meio de terceiros. Achava um horror saber que ele andava bêbado, ao sol, nas
imediações da rampa do Mercado ou sujo e maltrapilho jogando cartas ou abraçado
a negras e mulatas de má vida.
Quando ela chegou, depois de avisar o marido Leonardo e os parentes, Tia Marocas
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e Eduardo, viu o cadáver do pai e apenas via o cachaceiro, debochado e jogador,
sem família, sem lar, sem flores e sem reza. Como podia um homem, aos
cinqüenta anos, abandonar a família, a casa, os hábitos de toda uma vida, os
conhecidos antigos, para vagabundear pelas ruas, beber nos botequins baratos,
freqüentar o meretrício, viver sujo e barbado, morar em infame pocilga, dormir em
um catre miserável. Como podia explicar?
A família fica preocupada com o preço do velório: o caixão era caro, uma fortuna,
"hoje não se pode nem morrer". Compraram uma roupa preta, sapatos pretos,
camisa branca, gravata e meias. Vanda estava preocupada de onde sairia o caixão.
Vanda, recostada ao cadáver do pai, vai se lembrando do passado. Dez anos levara
Joaquim aquela vida absurda, depois que abandonara a família, sua mulher
Otacília. Era citado no jornal como o Rei dos vagabundos da Bahia, o Cachaceiro-
mor de Salvador, o filósofo esfarrapado da rampa do mercado, o senador das
gafieiras. Regressou à infância, lembrou-se de seu noivado e ficou comovida. .
A partir desse momento, a narrativa deixa dúvidas se Quincas estava realmente
morto ou se fingia, como já havia feito tantas vezes antes.
Quando todos chegam para o velório, Quincas no caixão sorria e passou a chamar
as mulheres de Jararacas. Vanda estremeceu na cadeira. Quincas mantinha um
sorriso vitorioso nos lábios. Ajeitou-se melhor no caixão.
Mestre Manuel, navegador, se lembra de como Joaquim recebeu o apelido de Berro
Dágua: "Quem sabia melhor beber do que ele, jamais completamente alterado,
tanto mais lúcido e brilhante quanto mais aguardente emborcava? Capaz como
ninguém de adivinhar a marca, a procedência das pingas mais diversas,
conhecendo-lhes todas as nuanças de cor, de gosto e de perfume.Há quantos anos
não tocava em água? Desde aquele dia em que passou a ser chamado Berro
Dágua. Viu sobre o balcão uma garrafa transbordando de límpida cachaça, encheu
o copo, cuspiu para limpar a boca, virou-o de uma vez. E um berro inumano cortou
a placidez da manhã no Mercado, abalando o próprio Elevador Lacerda em seus
profundos alicerces. O grito de um animal ferido de morte, de um homem traído e
desgraçado: Águuuuuua!".
Quando escureceu, Quincas tornou-se inquieto no caixão. Olhava para a janela e
para a porta. Os quatro amigos de farra e vadiagem chegaram: Curió, era ainda
moço, alegrias e tristezas afetavam-no profundamente. A morte de Quincas
parecia-lhe uma amputação, como se lhe houvesses roubado um braço, uma perna,
como se lhe tivessem arrancado um olho.
O segundo a chegar foi o Negro Pastinha, que chamava Quincas de Pai ("Morreu o
pai da gente...").
Logo depois, Martim . Conhecia Quincas desde que dera baixa do Exército, uns
quinze anos antes: o amor, a conversação, o jogo. Jamais tivera outro ofício
conhecido, as mulheres e os tolos davam-lhe o suficiente com que viver. Trabalhar
depois de Ter envergado a farda gloriosa parecia a Cabo Martim uma evidente
humilhação. Sua altivez de mulato boa pinta e a agilidade de suas mãos no baralho
faziam-no respeitado. Sem falar em sua capacidade ao violão.
Por último, chegou Pé-de-Vento. Esse não tinha pouso certo, a não ser às quintas e
domingos à tarde, quando invariavelmente brincava na roda de capoeira. Fora isso,
sua profissão levava-o a distantes lugares. Caçava ratos e sapos para vendê-los
aos laboratórios de exames médicos e experiências científicas, o que o tornava uma
figura admirada, opinião das mais acatadas. "Não era ele um pouco cientista, não
conversava com doutores, não sabia palavras difíceis?"
Por eles estivera Quincas esperando, sua inquietação no fim da tarde devia-se
apenas à demora, ao atraso da chegada dos vagabundos. Quando Vanda começava
a acreditar o pai vencido, disposto finalmente a entregar-se, a silenciar os lábios de
sujas palavras, de novo resplandecia o sorriso na face morta, mais do que nunca
era de Quincas Berro Dágua o cadáver em sua frente.
A família foi para casa descansar. Ficaram só os quatro amigos. Vanda concorda
com a presença dos quatro, desde que pela manhã não acompanhassem e enterro.
Ficaram os quatro. Começaram a beber. Os primeiros tragos despertaram nos
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quatro amigos um acentuado espírito crítico. Aquela família de Quincas, tão metida
a sebo, revelara-se mesquinha e avarenta. Fizera tudo pela metade. Não havia
cadeiras para os convidados. Não havia comidas e bebidas. Haviam esquecido as
flores, onde jáse viu cadáver sem flores? Negro Pastinha diz a Quincas que estava
um defunto porreta. Quincas retribui o elogio com um sorriso. Os quatro começam
a rezar mas não terminam. Martim e Curió começam a discutir sobre quem ficaria
com a Quitéria do Olho Arregalado depois da morte de Quincas. O defunto não
gosta da conversa e resmunga ("Hum!") .
Então começam a dar cachaça a Quincas. Depois, trocam sua roupa pelas velhas
que ele usava, que estavam jogadas a um canto. As roupas novas do defunto são
divididas pelos quatro amigos. Lembram-se que aquela era a noite da moqueca na
casa de mestre Manuel. Saem pra rua levando o defunto Quincas ("Ele vai com a
gente.")
Aquela ia ser uma noite memorável. As ruas estavam diferentes, tudo em silêncio.
Tinha corrido a notícia de que Berro Dágua tinha batido as botas, "tava tudo de
luto".
Quando chegaram, Quitéria veio receber Quincas ("Quase morri com a notícia e tu
na farra, desgraçado. Quem pode com tu, Berrito, diabo de homem cheio de
invenção?")
Os quatro brigam com um grupo de maconheiros e a turma de Quincas vence a
peleja.
Mestre Manuel já os esperava em seu barco. Quincas e Quitéria iam juntos,
respirando o ar marinho. Maria Clara, mulher de Mestre Manuel estaca junto do
marido. De repente, cinco raios sucederam-se no céu, a trovoada reboou num
barulho de fim do mundo, uma onda sem tamanho levantou o navio. As pessoas
gritaram ("Valha-me Nossa Senho!"). No meio do ruído, do mar em fúria, do
saveiro em perigo, à luz do raio, viram Quincas atirar-se e ouviram sua frase
derradeira.
"CADA QUAL CUIDE SEU ENTERRO, IMPOSSÍVEL NÃO HÁ."
No meio da confusão
Ouviu-se Quincas dizer:
"- Me enterro como entender
na hora que resolver.
Podem guardar seu caixão
Pra melhor ocasião.
Não vou deixar me prender
Em cova rasa no chão.
Ë foi impossível saber
O resto de sua oração.
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A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D'ÁGUA - Jorge Amado (Resumo)
O texto que serve de suporte a este estudo centra-se na fixação dos tipos
marginalizados para, por intermédio deles, analisar e criticar toda a sociedade. A
ação dá-se, basicamente, em Salvador e gira em torno da boêmia desqualificada
das cercanias do cais do porto.
Joaquim Soares da Cunha foi funcionário público, pai e marido exemplar até o dia
em que se aposentou do serviço público. A partir daí, jogou tudo para o alto:
família, respeitabilidade, conhecidos, amigos, tradição. Caiu na malandragem, no
alcoolismo, na jogatina. Trocou a vida familiar pela convivência com as prostitutas,
os bêbados, os marinheiros, os jogadores e pequenos meliantes e contraventores
da ralé de Salvador.
Sua sede era saciada com cachaça e seu descanso era no ombro acolhedor da
prostituta. Fez-se respeitado e admirado entre seus novos companheiros de
infortúnio: era o paizinho, sábio e conselheiro, sempre disposto a mais uma farra
ou bebedeira.
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liberdade.
Morreu solitariamente sobre uma enxerga imunda e sua morte detonou todo o
processo de reconhecimento/desconhecimento por parte da família real e da família
adotada.
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