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Cultura, noo
Processo de Implantação do M odelo
Modelo
Organizacional de Células Semi-autôn omas:
Semi-autônomas:
um Est udo de Caso em uma Empresa do Ramo Industrial
Estudo
Resumo Abstract
No presente artigo, buscou-se identificar se a The present article aimed to investigate if the
cultura organizacional, representada a partir dos organizational culture, represented by values, and
valores, e se as dependências de poder por meio if power dependence, indicated by organizational
dos interesses organizacionais atuaram como interests acted as a source of acceptance and/or
fonte de aceitação e/ou de resistência à resistance regarding the implementation of the
implantação do Modelo Organizacional de Organizational Model of Semi-autonomous Cells,
Células Semi-autônomas, realizada entre 1999- carried out between 1993-2003. The research is
2003. A pesquisa constitui um estudo de caso de a case study focusing on a Brazilian multinational
uma multinacional brasileira, líder de mercado, that has a leading position in the market and 4,870
possuindo 4.870 funcionários na região employees in the metropolitan region of Joinville,
metropolitana de Joinville (SC). Para o state of Santa Catarina. Data were analyzed by
tratamento dos dados, empregaram-se means of descriptive-qualitative procedures. The
procedimentos descritivo-qualitativos. O nível de level of analysis is organizational, and the unit of
análise é o organizacional, e a unidade de análise analysis is formed by directing and operational
é formada por grupos: dirigente e operacional. groups. It was possible to conclude that the
Pôde-se concluir que a Empresa em questão organization in question reacted in a resistant way
reagiu de modo resistente tanto em relação aos in relation to organizational values as well as
valores quanto aos interesses organizacionais, já interests, as both of them promote system
que ambos promovem a perpetuação do sistema, perpetuation, more strongly at the beginning of
mais fortemente no início do processo. No the process. During its implementation, there
decorrer da sua implantação, ocorreram were modifications in the organizational values
alterações nos valores organizacionais para a favoring the reaction of acceptance, but the
reação de aceitação, permanecendo resistente no organization remained resistant concerning
que compete às dependências de poder. power dependence.
seus integrantes. Quando isso ocorre, os indivíduos De acordo com Bion (apud ZIMERMAN, 1995),
podem redirecionar seus esforços para atos todo grupo trabalha em dois níveis,
egocêntricos – tais como fazer objeções simultaneamente. Um nível denomina-se “grupo de
repetidamente para bloquear o progresso do trabalho” e está direcionado para os aspectos
grupo, questionar a competência dos demais conscientes da tarefa. O outro nível denomina-se
membros, tentar dominar o grupo - para satisfazer “grupo de supostos básicos” e funciona obedecendo
as suas necessidades pessoais. Esses às leis do inconsciente. Esse nível opõe-se a todo
comportamentos mostram-se prejudiciais à coesão processo de desenvolvimento do grupo. São três
do grupo e à realização da tarefa. Assim, embora as modalidades de supostos básicos: Dependência,
uma ênfase excessiva nas funções de tarefa possa Luta e Fuga e Acasalamento.
aumentar o desempenho do grupo a curto prazo, O suposto básico de dependência remete ao fato
a longo prazo pode minar a sua eficácia e a de o grupo procurar apoio, proteção e segurança
tentativas infrutíferas de socializar novos membros, em um líder, e acontece em razão da necessidade
bem como ao “congelamento” do grupo numa das de seus membros de ter alguém que os oriente.
suas primeiras etapas de desenvolvimento.
O suposto básico de luta e fuga refere-se a uma
No nível socioemocional, os processos de grupo condição em que o grupo se mostra defensivo
ocorrem em três dimensões: intrapessoal, contra qualquer situação-problema. Na
interpessoal e de grupo. modalidade de luta, o grupo tende a atacar a
situação, respondendo agressivamente ao
A dimensão intrapessoal é decisiva na interação
problema e, com isso, evitando tratar dele. Na
com os outros, pois a apreensão e a interpretação
fuga, o grupo esquiva-se da situação, física ou
de cada situação interpessoal e grupal são
psicologicamente, ao criar um inimigo externo,
influenciadas pelo repertório relacional,
ao qual atribui todos os males. Assim, evita
motivação e ideologia da pessoa. “Dificuldades
deparar com obstáculos reais e enfrentá-los.
intrapessoais não resolvidas aparecem nas
situações de grupo, de forma direta ou indireta” O suposto básico de acasalamento alude à união,
(MOSCOVICI, 1999). em busca de apoio mútuo, de dois ou mais
membros, e à sua separação do restante do grupo.
A dimensão interpessoal é a mais visível e
Nesses casos, o grupo costuma expressar
marcante do grupo. Desenvolve-se em comportamentos defensivos, o que o afasta de
decorrência do processo de interação entre os um processo de amadurecimento e de
membros e pode assumir formas afetuosas e de desenvolvimento.
cooperação ou formas conflitivas, competitivas
e de aparente cordialidade. “As habilidades De acordo com Moscovici (1999), equipe é um
interpessoais facilitam o estabelecimento de grupo que compreende seus objetivos e está
objetivos e metas grupais, diagnóstico e resolução engajado em alcançá-los de maneira
de problemas, planejamento e implementação de compartilhada. Para isso, a comunicação entre
mudanças intragrupais e intergrupais” os membros do grupo deve acontecer de forma
(MOSCOVICI, 1999, p. 103). verdadeira, com estímulo de opiniões divergentes,
a confiança deve ser grande para possibilitar o
O grupo constrói um clima emocional próprio assumir riscos e para atingir os resultados. Os
por meio das relações entre os seus membros. A objetivos devem ser compartilhados. O respeito
dimensão em que o grupo opera compreende os e a cooperação devem ser elevados e deve haver
movimentos do conjunto como um todo, em seus investimento constante do grupo em seu próprio
níveis de interação intrapessoal e interpessoal, desenvolvimento. Um grupo transforma-se em
de tarefa e socioemocional. equipe quando passa a prestar atenção à sua
própria forma de operar e procura resolver os Figura 1 – Fase 1 da implantação das Células
problemas que afetam o seu funcionamento Semi- autônomas
(MOSCOVICI, 1999).
Um grupo de trabalho autônomo é um sistema Facilitador
alternativo, no qual um produto inteiro é
produzido por um pequeno grupo de
Células
funcionários. Os grupos são responsáveis pelo
seu próprio gerenciamento, exigindo menor
supervisão (SPECTOR, 2002), mas também
maior maturidade emocional para trabalhar.
Pesquisas demonstram que a satisfação no
trabalho é normalmente maior no sistema de Fonte: Projeto de Aperfeiçoamento do Modelo
Organizacional Células Semi-autônomas, 1999, p. 2.
grupos autônomos do que nos sistemas
tradicionais (CORDERY, MUELLER e SMITH,
1991; PEARCE e RAVLIN, 1987). FASE 2 – É o período em que o Facilitador deixa
de ser o executor para dar apoio à equipe no
desenvolvimento das Células Semi-autônomas.
2 O caso em análise Estas começam a assumir mais responsabilidades
e maior autoridade na busca de resultados. Cada
O caso em análise é o da Empresa MM, uma célula terá um representante que auxiliará a célula
multinacional brasileira, líder mundial do mercado quanto ao cumprimento das metas, treinando e
em que atua, possuindo fábricas na Itália, orientando os demais integrantes. No início, o
Eslováquia e China, com escritórios nos Estados Representante será escolhido pelo Facilitador, em
Unidos e Cingapura. Atualmente, conta com consenso com a Chefia e deverá preencher alguns
4.870 funcionários na matriz brasileira, situada requisitos para ocupar a função por um ano,
na região metropolitana de Joinville (SC). Destes, como: grau de escolaridade e know-how técnico.
61 são executivos (diretores e gerentes); 99 são O exercício dessa função não está vinculado ao
facilitadores (ex-supervisores); 451 são técnicos; cargo, podendo ser assumido por qualquer
439 são administrativos e 3.820 são operacionais. integrante. Quando a célula adquirir maior
maturidade técnica e emocional, o representante
será indicado pelos seus integrantes.
2.1 A mudança
A mudança estratégica investigada foi a
Figura 2 – Fase 2 da implantação das Células
implantação do Modelo Organizacional de
Semi-autônomas
Células Semi-autônomas, que teve como objetivo
geral a delegação do gerenciamento da célula ao
pessoal operacional, para eliminar a necessidade Células
permanente de supervisão (Projeto
Aperfeiçoamento do Modelo Organizacional
Células Semi-autônomas, 1999, p. 2). Esse
processo foi projetado em três fases, a saber:
FASE 1 – Compreendeu o período da preparação Facilitador
necessária para iniciar o trabalho em células.
Nessa fase, a figura do Facilitador (antigo Fonte: Projeto de Aperfeiçoamento do Modelo
supervisor) ainda é centralizada, mas auxilia no Organizacional Células Semi-autônomas, 1999, p. 2.
Quadro 1 - Conjunto dos Valores Organizacionais das Células compostas por Dirigentes e Operacionais
CÉLULAS
VALORES DIFICULTADORES VALORES FACILITADORES
SEMI-AUTÔNOMAS
· Individualismo/desunião
DC - Módulo 1 · Dependência (cultura de subordinação) · Abertura para aprender
· Imediatismo
· Medo de ousar
· Disponibilidade para resolver
· Individualismo/desunião problemas
DC Módulo 2
· Dependência (cultura de subordinação) · Abertura para mudanças
· Abertura para aprender
Os valores organizacionais encontrados na uma ou mais pessoas, sem que haja iniciativa
empresa em foco (Quadro 1) caracterizam dois por parte de outros integrantes do grupo para
tipos de preferências de ação: 1º) valores que ajudá-los, a não ser quando solicitada pelo
dificultam a mudança: o individualismo/desunião, facilitador. De modo geral, o trabalho é
a dependência, o imediatismo e o medo de ousar; individualizado, sem visão do todo. A confiança
e 2º) valores que facilitam a mudança: abertura não é generalizada, e as pessoas mostram-se
para aprender, disponibilidade para resolver com dificuldades para se ouvirem, preferindo
problemas, abertura para mudanças. Os valores comunicações distorcidas (fofocas). Alguns
do primeiro tipo de preferências de ação no DC grupos demonstram falta de assertividade para
– Módulo 1 apresentam-se fortemente permeados resolver problemas de aspecto relacional,
entre os grupos estudados, não privilegiando, promovendo a desunião, também encontrada
portanto, o movimento de mudança na no DC- Módulo 2. Como no modelo de gestão
organização e, consequentemente, favorecendo- de células, a interdependência entre as tarefas e
lhe a reação de resistência. Ainda no DC – os membros mostra-se relevante para o
Módulo 1, os valores do segundo tipo de desempenho grupal, os membros deveriam
preferências de ação apresentam-se permeados interagir mais, com uma comunicação eficaz e
entre os grupos, mesmo em menor escala, níveis mínimos de conflito, apesar de que o fato
de um grupo ter falhas na comunicação, ter uma
sugerindo espaço para a reação de aceitação à
liderança empobrecida e/ou altos níveis de
mudança introduzida.
conflito, não significa, por si só, que terá baixo
Os valores do primeiro tipo no DC – Módulo 1 desempenho (ROBBINS, 2002). Pode
mostraram-se em maior abrangência do que os acontecer de dar-se ênfase na realização da
facilitadores. Por exemplo, o individualismo é tarefa, em detrimento das necessidades
fortemente marcado entre os operadores. É socioemocionais de seus integrantes. A curto
comum ocorrer o acúmulo de trabalho sobre prazo, o desempenho grupal pode permanecer
alto, mas, a longo prazo, pode minar a sua anos o operacional dessa empresa tem
eficácia (MOSCOVICI, 1995). Segundo trabalhado sem o hábito de planejar ações,
Bowditch e Buono (2000), para sobreviver à reforçando com isto a abordagem de urgência,
passagem do tempo, um grupo precisa ser que é incompatível com qualquer estratégia
produtivo em termos de atingimento de metas que promova a gestão compartilhada e o
e objetivos e atender às necessidades emocionais planejamento de ações.
e de bem-estar pessoal de seus integrantes.
Contudo, há motivo para preocupação se Como é uma empresa com a sua história focada
ocorrer o individualismo/desunião ainda na gestão de pessoas, de maneira autocrática, em
fortemente marcados na fase 2 do DC. que não era permitida a participação ou o
questionamento dos funcionários em relação à
A dependência dos grupos perante uma figura atitude do supervisor (autoridade), no momento
de autoridade mostrou-se fortemente em que a empresa resolve alterar sua forma de
compartilhada no momento inicial da mudança, gestão, o grupo mostra-se receoso para ousar.
já que as pessoas da organização em estudo
estavam habituadas a trabalhar sob supervisão No DC –Módulo 2, percebe-se uma
direta, que direcionava e delegava atividades. minimização dos valores dificultadores em
Durante o DC – Módulo 1, apareceram várias relação ao Módulo 1, e um acréscimo nos
reações emocionais por parte dos operadores, valores do segundo tipo de preferências de
como: sensação de estar perdido, raiva, medo, ação. Nesse momento, o grupo mostra-se mais
receio de errar, entre outras, que inviabilizaram, aberto à mudança e com maior maturidade,
num primeiro momento, o comportamento quando seus membros assumem que possuem
autônomo. Até mesmo no DC - Módulo 2, no dificuldades, mas que acreditam na mudança
qual todos os operadores e facilitadores já haviam e estão buscando ações para melhorias,
passado pelo programa de desenvolvimento, esse demonstrando abertura para aprender e
comportamento de busca por uma liderança, disponibilidade para resolver os problemas.
agora na figura do Representante, ainda é notória. Percebem que estão se adequando ao trabalho
Ou seja, percebeu-se que pelo menos em alguns em célula, aos poucos. Nesse sentido, Enz
grupos ainda há a necessidade de criar um líder (1986, p. 29) comenta que os valores
para direcionar, isentando os demais integrantes organizacionais são “[...] estados
da responsabilidade pelo que acontece na célula preferenciais culturalmente aceitos,
de trabalho, o que impede, que os membros do penetrantes e duradouros, mas capazes de
grupo aprendam a fazer por si mesmos, busquem serem mudados. Os valores influenciam como
autonomia e assumam riscos. Uma das as organizações são desenhadas e não são
modalidades pesquisadas por Bion (apud uniformemente compartilhados por todos os
ZIMERMAN, 1995), encontra-se, fortemente, na subgrupos organizacionais”.
pesquisa realizada, caracterizada pela Os valores encontrados durante as duas fases
dependência que remete ao movimento do grupo
da implantação da mudança estratégica
em busca de apoio, proteção e segurança em um
estudada delinearam o que Morgan observa:
líder. Porquanto, se tal movimento persistir, ele
que nas organizações “[...] existem
opor-se-á a todo processo de desenvolvimento
freqüentemente sistemas de valores diferentes
do grupo pela busca de sua autonomia.
que competem entre si e que criam um
O imediatismo aparece fortemente na mosaico de realidades organizacionais em
primeira fase, pois é um valor que reforça a lugar de uma cultura corporativa uniforme”
cultura da improvisação, já que há muitos (1996, p. 131).
Quadro 2 - Conjunto de Interesses Organizacionais das Células compostas por Dirigentes e Operacionais
CÉLULAS
INTERESSES DIFICULTADORES INTERESSES FACILITADORES
SEMI-AUTÔNOMAS
· Medo de perder emprego
· Manutenção do status quo
DC - Módulo 1 · Chefias autocráticas · Disponíveis para aceitar pequenas
· Falta de fluidez na comunicação mudanças
· Falta de reconhecimento
· Desrespeito aos horários de intervalos
· Falta de reconhecimento
DC Módulo 2 · Chefias autocráticas · Sentem-se mais livres (à vontade) e
· Desrespeito aos horários de intervalo responsáveis pelo seu trabalho.
portava-se de forma autoritária. Parecia haver um quando passam meses sem intervalo para descanso
sentimento de perda de poder, apesar de o discurso e isso é reconhecido. Importante ressaltar que o
organizacional privilegiar o aproveitamento desses reconhecimento solicitado não é meramente o
supervisores como staff de melhorias, econômico, mas principalmente o moral, já que a
redirecionando-os para outras atividades cobrança por resultados é muito grande.
estratégicas. Tal fato vem confirmar o que
No DC – Módulo 2, os operadores argumentaram
Bacharach e Lawler (1980) comentam sobre a
que houve maior responsabilidade funcional e
organização ser analisada com relação ao sistema
diversificação, sem a mesma proporção de retorno
de barganhas políticas; para esses autores, os grupos
financeiro. Houve grupos que apenas se diziam
de interesses esforçam-se para influenciar decisões
“injustiçados” em termos de benefícios que recebiam
que os afetem favoravelmente na organização, tendo
da organização versus o número de atividades/
os executivos do nível estratégico papel importante
funções que assumiram, depois da implantação da
neste tipo de processo (FINKELSTEIN, 1992). Na
célula de trabalho. Alegaram que se sentiam bem
opinião de alguns facilitadores, ainda falta o real
em trabalhar em célula, pois o trabalho ficou melhor,
entendimento do papel do facilitador no
mas a compensação não estava adequada, e isso
desenvolvimento de uma célula semi-autônoma, o
tornava as pessoas desmotivadas.
que reforça a cultura da subordinação.
Quando o Representante assume a função, tem
Na sua maioria, os grupos não demonstraram
sido comum arranjar depois outra função e não
conhecimento prévio do projeto, alegando que a
voltar mais para trabalhar na linha. Alguns
comunicação entre os gestores e as células de
facilitadores alegaram que não há operador com
trabalho não ocorreu de forma fluida, o que
perfil adequado para assumir a função de
dificultou o entendimento e aceitação do novo
Representante, além de não haver tempo hábil
modelo. Demonstraram descrença no programa,
para que ele seja treinado. Nesse sentido, alguns
argumentando que “será mais um curso sem
representantes não compreenderam seu
aplicação prática”. O feedback é pouco utilizado
verdadeiro papel, atuando de forma muito
em algumas células ditas imaturas em termos
semelhante aos antigos supervisores.
relacionais. A comunicação não fluiu entre o
representante e a célula, e os operadores não Alguns grupos demonstraram falta de
buscaram informações atualizadas nos respectivos assertividade para resolver suas dificuldades de
quadros de avisos espalhados pela empresa. Muitos relacionamento interpessoal, com comunicações
deles comentaram que estavam ali em seu horário distorcidas a respeito dos integrantes dos grupos,
de folga, não conseguindo descansar a contento. O que não são expostos diretamente às pessoas
impacto dos processos do grupo sobre o seu envolvidas. Poucos grupos demonstraram
desempenho e a satisfação de seus membros é comportamento de união, por meio de
moderado pelas tarefas que o grupo está realizando. disponibilidade para se relacionar de forma
Se houver alto grau de interdependência entre as adequada, com baixa incidência de conflitos, e
tarefas a serem executadas, os membros terão de com interesse em aprender coisas novas.
interagir mais. Portanto, uma comunicação eficaz
Neste módulo, percebeu-se que as pessoas
e níveis mínimos de conflito mostram-se relevantes
demonstraram maior satisfação em trabalhar em
para o desempenho grupal.
células, por sentirem-se mais livres e
Os operadores queixaram-se de que na empresa responsáveis pelos resultados de seu trabalho,
não há uma cultura de reconhecer o trabalho apesar de ainda existirem grupos que tendiam a
realizado, quando as metas são alcançadas ou voltar a comportamentos passados, como
quando trabalham horas extras, por “vestirem a trabalho individualizado, não parecendo
camisa” da empresa. A insatisfação agrava-se acreditar na idéia de células.
De forma geral, os grupos, mesmo depois de um mudança e com maior maturidade quando seus
ano de atividades na nova forma de gestão, membros assumem que possuem dificuldades,
apresentavam dificuldades para trabalhar com ela. mas que acreditam na mudança e estão buscando
Mas, de modo unânime, concordavam que houve ações para melhorias. Percebem que estão se
melhora significativa do tratamento interpessoal adequando ao trabalho em célula, aos poucos.
entre as pessoas das células, no planejamento e Ao analisar os interesses predominantes na
no foco dos resultados e que isso facilitou mais Empresa Brasileira MM, percebeu-se que
o próprio entendimento do processo de trabalho. interesses dificultadores para aceitar a mudança
No entanto, percebiam que a empresa precisava proposta ocorreram em maior incidência do que
melhorar processos para conseguir que essa nova os interesses facilitadores, concluindo-se que
mentalidade se constituísse em uma realidade e qualquer movimento que promova a não
também que o alcance dos resultados havia ficado satisfação desses interesses pode funcionar como
mais fácil depois da implantação do trabalho em reação de resistência à mudança.
célula, e que conseguiram resolver alguns
problemas antigos. Percebiam que precisavam Assim, pôde-se concluir que a Empresa Brasileira
treinar para melhorar o processo decisório, a MM reagiu à introdução de células semi-
comunicação e a cooperação entre eles. autônomas de modo resistente tanto nos valores
quanto nos interesses organizacionais, já que
ambos promovem a perpetuação do sistema.
5 Conclusão Percebeu-se maior resistência na implantação do
No presente estudo, buscou-se identificar se a processo. Depois de maior conhecimento e
cultura organizacional, representada a partir dos interação com a mudança, notou-se que houve
valores, e se as dependências de poder por meio alterações nos valores organizacionais para a
dos interesses organizacionais, nos diversos reação de aceitação, confirmando Enz (1986, p.
grupos celulares da Empresa Brasileira MM, 29), quando comenta que os valores
atuaram como fonte de aceitação ou de organizacionais são “[...] estados preferenciais
resistência ao novo modelo de gestão. Tal modelo culturalmente aceitos, penetrantes e duradouros,
promoveu mudanças estratégicas (NADLER & mas capazes de serem mudados”, mas que
TUSHMAN, 1990), por alterar permaneceram resistentes no que compete às
predominantemente a sua forma de gestão dependências de poder.
individualista para o desenvolvimento de células
de trabalho, em toda a organização. Referências
Os valores organizacionais encontrados BACHARACH, S. B.; LAWLER, E. J. Power
caracterizam dois tipos de preferências de ação: and Politics in Organisations. São Francisco e
1º) valores que dificultam a mudança: o Londres: Jossey-Bass, 1980.
imediatismo, o individualismo, a dependência e
o medo de ousar e 2º) valores que facilitam a BOWDITCH, J.L.; BUONO, A F. Elementos de
mudança: abertura para aprender, abertura para comportamento organizacional. 4. ed. São
mudanças e disponibilidade para resolver Paulo: Pioneira, 2000.
problemas. ENZ, C. A. Power and Shared Values in the
No DC – Módulo 2, percebe-se uma minimização Corporate Culture. Ann Arbor, Michigan: Uni
dos valores dificultadores, em relação ao Módulo Research Press, 1986.
1, e um acréscimo nos valores do segundo tipo _____. The Role of Value Congruity in
de preferências de ação. Observa-se que, nesse Intraorganizational Power. Administrative
momento, o grupo mostra-se mais aberto à Science Quarterly, v. 33, p. 284-304, 1988.