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All content following this page was uploaded by João Vitor M. Bravo on 16 July 2015.
RESUMO
A Cartografia Moderna tem como um dos escopos de pesquisa a Cartografia Histórica. No presente
artigo, avalia-se a geometria de um mapa analógico do séc. XVII, que é uma carta portulana da costa
litorânea dos atuais Estados de São Paulo e Paraná. Não se aplica um estudo cartométrico sistemático
que permita uma melhor compreensão de como foram construídas as cartas de navegação, mas apontar
a presença de determinação astronômica e a proposta do seu autor na comunicação da informação.
Valeu-se do software Global Mapper 8.0 para efetuar o georreferenciamento de pontos comuns a carta
portulana com uma atual, cuja amostra de pontos permitiu gerar uma rede de meridianos e paralelos
que está implícita nessa carta. Além disso, houve avaliação da precisão da carta, que se obteve medido
os erros de latitude e distâncias dessa amostra de pontos. Os resultados indicam que os erros, dada à
condição instrumental da época em que a carta portulana foi construída, são pequenos. Quanto a função
representativa da carta, está em consonância com a comunicação cartográfica.
Palavras-chave: Carta portulana, georreferenciamento, avaliação geométrica.
1. INTRODUÇÃO
2. VISUALIZAÇÃO ESPACIAL
A Carta Portulana de Paranaguá-Cananéia, não obstante, foi criada a partir dos mesmos
princípios de aquisição do conhecimento. O individuo que construiu a representação buscou
compreender o espaço por meio de ‘processos cognitivos’ e ‘processos de classificação’. Os processos
cognitivos são importantes na formação da visualização mental do espaço em análise; fazem parte deste
processo a percepção e a cognição. Nos ‘processos de classificação’, a taxonomia e a partonomia são os
principais agentes e têm relação com a densidade em análise na identificação dos grupos.
A taxonomia utiliza da cognição, sendo assim é mais ‘densa’ no que se refere à quantidade e
qualidade de informações analisadas, considerando que essa analisa núcleos distintos, talvez não
próximos, procurando um padrão instrinseco a esses núcleos. Quanto a partonomia, pode-se dizer que
essa se baseia nos processos de percepção, que são mais rápidos e não utilizam de esquemas ou
conhecimentos prévios sobre o espaço em análise.
3. CARTA PORTULANA
No século XII, com o renascimento das relações comerciais oriundo das Cruzadas, inicia-se
uma nova fase: o mercantilismo. Para realizar as viagens para o Oriente, tornou-se indispensável um
produto que atendesse as necessidades dos navegadores. Surge nesse século, que corresponde a Baixa
Idade Média, a carta portulana ou de marear, que contribuiu para intensificação do comércio, iniciado
no Mediterrâneo, e às futuras explorações marítimas, como a descoberta de nova rota para o comércio
como o Oriente, que contornava o continente africano.
Não se pode afirmar o ano do surgimento do primeiro exemplar dessa carta, mas ela permitiu
conduzir os navegadores aos portos conhecidos. Essa carta era complementada com informações
oriundas do ‘livro de derrota’ dos navios, no qual eram registradas as distâncias entre os portos,
descrevendo o ancoradouro e os rumos magnéticos entre eles, ganhando a denominação de ‘portulano’.
Como menciona Dreyer-Eimbcke (1992), esse termo tem origem no latim, por meio do italiano. Em
1285, essa denominação é usada pela primeira vez, com sentido de descrição dos portos marítimos. Do
italiano, refere-se a uma apresentação descritiva das costas, com suas características e localidades, e
especialmente dos portos.
Esse produto era desenhado em pele bovina; costumava-se levar um exemplar de reserva nos
navios, pois ele se deteriorava facilmente, tornando-se ilegível e sem utilidade. Dos portulanos
conhecidos o mais antigo é a Carta de Pisa, que data do último quartel do séc. XIII.
Gaspar (2009:9-10) menciona que não há registro anterior a 1500 que expresse a maneira de
usar a carta portulana. Esse autor destaca o tratado de Pedro Nunes, publicado em 1537, como obra de
referência à prática e uso dessa carta. Os seus comentários em relação a essa obra estão na afirmação de
que “os rumos são representados por linhas retas, fazendo ângulos verdadeiros com os meridianos,
que são retilíneos e eqüidistantes entre si, formando uma malha quadrada com os paralelos”. Em
relação a essa proposta pode-se afirmar que a determinação em alto mar da longitude ocorrerá somente
no século XVIII e o desconhecimento da distribuição espacial da declinação magnética são elementos
essenciais à prática da navegação. Por essas observações, pode-se assegurar que os marinheiros não
teriam conhecimento à construção dessa carta.
Por outro lado, Kimble (2005:235) esclarece que há registro de um livro intitulado The Boke of
Ydrography, do século XVI no qual se pode entender a prática dessa carta:
“selecione uma linha, próxima dos portos de saída e de chegada percorridos por um
dia, de modo que esteja mais perto possível paralela à linha (imaginária) se juntado os
portos, comparando com as duas linhas divisoras: então veja que a linha que passa
através do centro da rosa dos ventos está paralela à linha selecionada e então se obtêm
os pontos de apoio procurados”.
Essa diferença na visada denota que o cartógrafo ‘encaixou’ a representação das ilhas no mapa,
em um momento distinto àquele usado para representar o continente. Pode-se considerar que a
partonomia, usada inicialmente, atua no campo de visão desse cartógrafo (percepção). Esse campo de
visão está indicado pelas hachuras que dão a impressão de profundidade e do ‘modelo’ de superfície.
Esse limite visual está baseado na linearidade observada na divisa terra x mar e planície costeira x
montanha. Essas linhas podem ser tomadas como base para a criação do mapa. A Figura 2 mostra a
linearidade observada pelo cartógrafo para terra x mar (em vermelho), bem como o ‘limite’ visual
planície costeira x montanha (em preto).
Figura 2 – Linearidade observada para diferenciar terra x mar (vermelho) e planície costeira x montanha (em preto).
Fonte: Soares e Lana (2009:17).
A taxonomia, como processo mental que exige mais raciocínio e tem conceitos embutidos em
suas ações, caracteriza-se pela indistinção feita pelo mapeador na escolha da representação das ‘vilas’.
Agrupou essas regiões por pertencerem ao mesmo grupo de vilas de atracadouro. Nesse caso, mostra-se
que a escolha do cartógrafo foi fundamentada por um raciocínio mais apurado e conceitual.
Observa-se pelo Gráfico 1, que a maior discrepância entre os valores de latitude está
situada para a cidade de Paranaguá. Isto sugere que as maiores diferenças a respeito da magnitude e
dispersão dos erros aumentam para o sul. Isto é corroborado por Gaspar (2009), que ainda menciona
que os mapas antigos estão sujeitos a erros de compilação, o que justifica a dispersão desses erros. A
Figura 4 ilustra o erro de latitude da amostra de pontos.
Gráfico 1 – Variações de latitude.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da análise semântica pode-se concluir que os elementos taxonomia e partonomia estão
presentes na construção do mapa. Observou-se que ao elaborar a carta, o mapeador se valeu, em função
do conhecimento de sua época, de uma representação gráfica singela, mas representativa. Isso é
indicado pelas hachuras (planície costeira x montanha) e linearidade encontrada no limite terra x mar.
Quanto a análise cartométrica, notou-se que os erros, dada à condição instrumental da época em
que a carta portulana foi construída, são pequenos. Com a introdução do elemento quantitativo no mapa
histórico foi possível precisar e matizar as informações, indicando que o produto ora em análise
apresentou resultados satisfatórios na determinação e indicação das latitudes.
A importância da análise semântica e cartométrica desses produtos cartográficos, sejam eles
analógicos ou digitais, reside em detectar o processo de construção e apresentação dos mesmos, pois
compreender esses processos permite que se classifique e qualifique tais produtos.
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