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N038B

NOTÍCIA EXPLICATIVA
DA FOLHA 38-B
SETÚBAL

G. MANUPPELLA (COORDENADOR)
M. T. ANTUNES
J. PAIS
M. M. RAMALHO
J.REY

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

INSTITUTO GEOLÓGICO
E MINEIRO
LISBOA 1999

dconomia
SECRETAR IA DE ESTADO DA INDUSTRIA E ENERGIA

INSTITUTO GEOLÓGICO E MINEIRO

Estrada da Portela - Zambujal


2720 ALFRAGIDE - PORTUGAL
NOTÍCIA EXPLICATIVA
DA FOLHA 38-8
,
SETUBAL

G. MANUPPELLA (COORDENADOR) *
M. T. ANTUNES **
J. CARDOSO ***
M. M. RAMALHO *
J . REY ****

DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA

INSTITUTO GEOLÓGICO
E MINEIRO
LISBOA 1999

* Instituto Geológico e Mineiro


** Universidade Nova de Lisboa
*** Universidade Aberta
**** Univ. Paui-Sabatier - Toulouse
COLABORADORES:

M. T. ANTUNES , P. LEGOINHA e J. PAIS (Univ. Nova de Lisboa) - Cenozóico


R. BAPTISTA (Petrogal)- Sismoestratigrafia
J. CABRAL (F. C. U. L.) e R. P. DIAS (1. G. M.) - Neotectónica
J. CARDOSO (Univ. Aberta) -Arqueologia
S. DAVEAU (Centro de Geografia da Univ. de Lisboa) - Geomorfologia
R. P. DIAS (I. G. M.)- Tectónica
G. MANUPPELLA (I. G. M.) - Jurássico, Recursos Geológicos
L. T. MARTINS (F. C. U. L.) - Rochas Ígneas
M. M. RAMALHO (1. G. M.) - Malm
J. REY (Univ. Paui-Sabatier- Toulouse) -Cretácico
V. PEREIRA (1. G. M.)- Recursos Geológicos
M. SIMÕES (Univ. Nova)- Hidrogeologia
S. MACHADO (1. G. M.) - Geologia, Processamento do Texto
ÍNDICE

1- INTRODUÇÃO 5

li- GEOMORFOLOGIA .... ...... . 6

III- ESTRATIGRAFIA 15

IV- ROCHAS ÍGNEAS ...... ..... .... ...... ................................... . 78

V - TECTÓNICA ..................... ... ............ ............... ... .. ... 80

VI - RECURSOS GEOLÓGICOS 101

VIl - HIDROGEOLOGIA ....... 105

VIII -ARQUEOLOGIA ........... . 109

BIBLIOGRAFIA .. .. ........ 131


I - INTRODUÇÃO

A Carta Geológica de Setúbal na escala 1:50 000 abrange a área


da folha 38-B da Carta Corográfica de Portugal do I. G. C .. Foi obtida a
partir de reduções de novos levantamentos e revisões da antiga carto-
grafia geológica realizada por G. ZsvszEWSKI et ai. (1965}. A base
cartográfica utilizada foram as cartas à escala de 1 :25 000 da Carta
Militar de Portugal (Folhas 453, 454, 464, 465}.
Os primeiros levantamentos geológicos da Península de Setúbal
foram realizados por C. Ribeiro e J. F. Nery Delgado e deram lugar a
duas folhas à escala 1:100 000 (inéditas, c. 1866-67) divulgadas
somente em 1949 (in ZsvszEWSKI , 1949}, a que se seguiram levanta-
mentos à escala de 1 :20 000 realizados sob orientação de P. Choffat
(CHOFFAT, 1905, 1908}.
H. SEIFERT (1963} apresenta um estudo sobre a geologia regional
da Arrábida .
G. ZsvszEWSKI (ibidem) publicou a Carta Geológica da Região de
Setúbal à escala 1:50 000.
Para além da Cartografia Geológica publicada, numerosos autores
interessaram-se pelos problemas geológicos do Meso-Cenozóico da
Região de Setúbal , lembramos: H. TINTAM (1967} clarifica aspectos
biostratigráficos relativos ao Caloviano; G. MANUPPELLA et a/. (1977 ,
1978} estudam aspectos litoquímicos das séries Lias-Dogger. O Malm
foi pormenorizadamente estudado por M. M. RAMALHO (1971) que defi-
niu a biozonação daquele período com base em foraminíferos e algas
calcárias , enquanto uma síntese paleogeográfica é publicada por
MOUTERDE et a/. (1979) .
F. FüRSICH et a/. (1980} e R. LEINFELDER (1983) prosseguiram OS
estudos iniciados por M. M. Ramalho, debruçando-se sobre as varia-
ções de fácies e a paleogeografia da região. Lembramos ainda os
trabalhos realizados por J. REY (1972, 1979, 1993) sobre o Cretácico
da Estremadura. Nos estudos sobre o Cenozóico, salientamos os
numerosos trabalhos de M. TELLES ANTUNES et ai. (1992, 1995, 1996,
1998, etc.) , de JOÃO PAIS et a/. (1991 ), de M. T. AZEVEDO (1979, 1982,

5
1986) e muitas outras contribuições fornecidas por especialistas
mencionados na bibliografia.
Nos estudos realizados no âmbito da morfostrutura que caracteriza
a Cadeia da Arrábida , talvez um dos exemplos mais elegantes da
tectónica pelicular, salientamos os trabalhos de A. RIBEIRO et ai. (1979,
1990).
No Quaternário, os numerosos trabalhos de João Cardoso contri-
buem amplamente para um melhor conhecimento das características
biostratigráficas daquele andar.

11 - GEOMORFOLOGIA

O RELEVO

A Arrábida é, segundo Orlando Ribeiro, uma "pequena unidade


natural perfeitamente individualizada" que corresponde aos aflora-
mentos calcários da parte meridional da Península de Setúbal.
Planaltos e colinas sucedem-se sobre cerca de 35 km de oeste para
leste, numa largura média de 6 km (apenas 2 km a oeste, perto do
Cabo Espichei, até 7 km na parte oriental, perto de Setúbal) . Este
modesto alinhamento serrano domina, a norte, vastas planuras de
baixa altitude e cai, a sul, sobre as águas abrigadas da baía de
Setúbal, por arribas alterosas. Foi P. Choffat que, numa memória
fundamental de estratigrafia e tectónica (1908) , estendeu ao conjunto
desta unidade natural o nome de "Arrábida", primitivamente reservado
à mais alta das serras (501 m no Formosinho). A mesma designação
geográfica foi retomada por O. Ribeiro na monografia que dedicou à
região em 1935.
A Cadeia da Arrábida prolonga-se para oeste, por baixo das águas
do Atlântico, por um alinhamento de dimensão e orientação compará-
vel , o Planalto Afonso de Albuquerque, inserido entre os canhões de
Cascais e Setúbal (VANNEY & MouGENOT, 1981 ). Considerando apenas
a organização do relevo da parte emersa da cadeia montanhosa (Fig. 1)
distinguem-se fundamentalmente duas subunidades. A metade
ocidental , de estrutura monoclinal simples, com inclinação para norte,
encontra-se completamente arrasada por uma aplanação bastante
perfeita, muito provavelmente devido à abrasão marinha, que foi depois
soerguida e balançada de leste para oeste; é a chamada Plataforma do

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Fig. 1 - Esboço morfológico da Arrábida. 1: Rebordo monoclinal em rocha dura; 2: monte anticlinal ; 3: aplanação principal a cerca de 200 m;
4: arrebite da aplanação; 5: rechãs litorais embutidas; 6: depressão cársica ; 7: colinas arredondadas; 8-9: vale (8: de forma larga,
9: encaixado) ; 10-13: litoral (10: costa arenosa, 11 : arriba com menos de 100m , 12: com 100-200 m, 13: com mais de 200m) ; 14:
área baixa periférica. Extraído de S. DAVEAU, O. RIBEIRO, H. LAUTENSACH, Geografia de Portugal, I. A Posição Geográfica e o Território,
Edições João Sá da Costa, Lisboa, 1997, Fig . 39; segundo O. RIBEIRO, "Excursão à Arrábida", Finisterra, 6, Lisboa, 1968.
Cabo. No resto da cadeia diferenciam-se formas estruturais bastante
variadas, modeladas numa estrutura enrugada, de disposição mais
complexa.
Os elementos mais elevados da Cadeia da Arrábida, que se podem
considerar aproximadamente circunscritos pela curva de nível de
250 m, correspondem a afloramentos de calcários jurássicos. De oeste
para leste são: o Píncaro, a Serra da Arrábida s. s. e a Serra de São
Luís.
Por seu turno, as partes mais deprimidas podem classificar-se em
três tipos. Primeiro, as vastas terras baixas periféricas, a norte e a
leste, que são tectonicamente abatidas e constituídas por espessas
séries cenozóicas detríticas. A depressão circunscrita de Sesimbra é
um pequeno graben de forma triangular, enquadrado por um acidente
diapírico. O sistema de vales da parte oriental, que circunda a Serra de
São Luís, foi aberto por erosão nas fácies detríticas do Jurássico.
Estes vales parece terem-se individualizado por erosão diferencial
a partir de uma superfície de erosão subaérea, cujos testemunhos se
conservam nos afloramentos mais resistentes do Jurássico, do
Paleogénico e do Miocénico, a uma altitude que oscila entre 180 e
250m. Esta antiga superfície de erosão está, em especial, conservada
no topo do relevo monoclinal que circunda a norte a cadeia. Devia
ligar-se à superfície de aplanação litoral que caracteriza a parte ociden-
tal da cadeia (Plataforma do Cabo). No entanto, na parte central da cadeia,
o escalonamento em altitude das formas do relevo é muito menos nítido,
possivelmente por afundamento relativo da parte montante da bacia da
ribeira de Coina, entre Sesimbra e o Formosinho.
A grande escarpa meridional, pela qual a Cadeia da Arrábida mergu-
lha nas águas da baía de Setúbal, deriva com certeza de um impor-
tante acidente tectónico com a mesma orientação. Ignora-se ainda, no
entanto, a amplitude do recuo erosivo que a actual vertente costeira
sofreu em relação àquele.
O essencial dos conhecimentos relativos à geomorfologia da Cadeia
da Arrábida deve-se a Orlando Ribeiro (1935 e 1968). Apenas foram
objecto de estudos mais pormenorizados as extremidades ocidental
(DAVEAU & AZEVEDO, 1980-81) e oriental da cadeia (ALCOFORADO, 1981 ).
Encontram-se em curso estudos da vertente costeira meridional, que
incluem não apenas a parte emersa mas também a parte submersa
acessível à observação por mergulho (PEREIRA, 1988; "ERLIDES", 1992;
PEREIRA & REGNAULD, 1994).

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A PLATAFORMA DO CABO E O SEU ENQUADRAMENTO

De uma grande continuidade e perfeição, a plataforma culminante


da parte ocidental da Arrábida atinge 240 m no rebordo da depressão
de Sesimbra , enquanto, na sua extremidade oeste (Cabo Espichei) ,
ela domina directamente o mar por arribas de 140 m de altura. Em cerca
de 1O km , a inclinação mantém-se regular e próxima de 1 %. A leste de
Sesimbra, a mesma aplanação apresenta uma inclinação mais forte
(3,7 %), que lhe permite atingir 321 m a SE.
A drenagem das várias partes da plataforma é de tipo longitudinal,
ou seja, de direcção consequente à sua deformação. Sobressai, pela
sua continuidade , o vale da pequena ribeira da Mareta, hoje não
funcional por causa das infiltrações no calcário. Este vale parece
testemunhar a primeira fase de erosão da plataforma, aquando da sua
emersão, fase que seria também responsável pelo modelado dos
cabeços monoclinais correspondentes aos afloramentos do Cretácico,
que limitam a norte a plataforma.
Nitidamente dominada por estas formas culminantes, estende-se, a
norte da cadeia, uma vasta superfície de interflúvios, geralmente esta-
belecida entre 45 e 70 m de altitude. É correlativa das formações
pleistocénicas dos Conglomerados de Belverde, caracterizados por
calhaus de quartzo rolados, e de Marco Furado, argilosos , heteromé-
tricos e avermelhados. É possível que as rechãs mais altas que
acidentam, a oeste de Sesimbra, a vertente costeira meridional, entre
160 e 11 O m, sejam testemunhos da mesma fase de evolução do
relevo, ou , talvez, em parte, da fase anterior, que modelou os cabeços
monoclinais.
A rede de pequenos rios, que entalham a superfície de 45-70 m, é
de tipo ainda elementar, sendo constituída por numerosos elementos
paralelos, consequentes à inclinação da superfície . Apenas se nota um
começo de concentração, com ligeiro desvio para oeste da direcção
dominante, através de uma série de pequenas capturas. Esta modifi-
cação parece resultar de um leve balançamento neotectónico do
compartimento afectado (DAVEAU & AzEVEDO, 1980-81 ).
A leste de Sesimbra, a drenagem , dirigida para norte, nasce nas
imediações da vertente costeira meridional. É constitu ída pela ribeira
da Pateira, afluente da Lagoa de Albufeira, e pela Vala Real (ribeira de
Coina) , o principal eixo de drenagem da Península de Setúbal , que
parece coincidir com uma linha de deformação neotectónica impor-
tante.

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A SERRA DA ARRÁBIDA STRICTO SENSU

O relevo mais importante de toda a cadeia é um monte anticlinal de


estrutura complexa e dissimétrica. Tem um traçado curvo e atinge 7 km
de comprimento. A serra domina directamente a sul a enseada do
Portinha e acaba a leste no litoral, em Outão, onde está profunda-
mente mordida pelas pedreiras que alimentam a fábrica de cimento
Secil. A parte ocidental da serra é a mais elevada e atinge 501 m no
Formosinho . A estrada panorâmica contorna a sul esta parte da serra,
mas, mais para leste, corre no topo aplanado, a cerca de 400 m de alti-
tude. Os Calcários de Pedreiras (J2p) , que constituem o topo da serra,
são densamente carsificados em superfície, formando um lápiaz inex-
tricável.
A extremidade ocidental da serra domina abruptamente um
pequeno elemento de aplanação situado a cerca de 200 m (Terras do
Risco e Fojo), que pode ser considerado o testemunho mais oriental da
Plataforma do Cabo. Uma larga depressão de origem cársica abre-se
ali , atapetada de aluviões a cerca de 160 m de altitude . O Píncaro
(380 m) é um relevo dissimétrico, que cai directamente para o mar por
uma enorme escarpa. A sua origem é enigmática: deformação excep-
cionalmente acentuada da Plataforma do Cabo ou relevo residual
acima dela?
A vertente sul da Serra da Arrábida, muito abrupta, é constituída
pelos Dolomitos do Convento (J1 -2cd· O seu traçado é determinado
pelo grande cavalgamento basal, que afecta, a leste, o Miocénico do
Portinha e que se prolonga, a oeste, pelo Vale da Mata do Solitário. Na
vertente norte da serra individualiza-se uma série de hog-backs,
separados uns dos outros por uma rede apertada de falhas de direc-
ção meridiana, que fragmentam perpendicularmente o anticlinal. Um
fenómeno de colapse-structure da cobertura discordante (J3 AR) do
núcleo calcário (J2p) pode ter acentuado o vigor destas formas de
pormenor.

AS SERRAS DE SÃO LUÍS E DOS GAITEIROS

A Serra de São Luís corresponde a outro núcleo anticlinal, de


dimensão mais reduzida (2 km de comprimento e apenas 392 m de
altitude) , mas de características estruturais semelhantes: o monte
central é constituído pelos Calcários de Pedreiras (J2p) e por

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Dolomitos (J1 ·2cd · Ele é fragmentado por uma rede de falhas N-S e é
limitado a sul por um cavalgamento que afecta o Miocénico.
O núcleo principal continua-se a NE, na direcção de Palmeia, pela
Serra dos Gaiteiros, que é limitada a sul pelo prolongamento do
mesmo cavalgamento. Mas é fundamentalmente constituída pelas
Argilas, grés, conglomerados e calcários de Vale da Rasca (J 3RA)· Esta
continuação da Serra de São Luís encontra-se completamente arra-
sada por uma superfície de erosão desenvolvida a cerca de 230 m,
hoje bastante dissecada.

A COLINA DE PALMELA

Na extremidade NE da cadeia ergue-se , dominando directamente a


baixa de Setúbal , uma pequena mesa inclinada de calcarenitos miocé-
nicos, encimada pela vila de Palmeia e, na extremidade meridional
mais elevada (232m) , pelo castelo que foi sede da Ordem de Santiago.
Domina-se daí a imensidão das planuras do Sul de Portugal. Ainda que
nitidamente destacada na paisagem , a Colina de Palmeia é apenas
separada da Serra dos Gaiteiros pelo profundo entalhe do Vale da
Ribeira do Livramento e liga-se , a oeste, ao alinhamento da Serra do
Louro, um dos elementos da "costeira" setentrional.

A "COSTEIRA" SETENTRIONAL

Em toda a parte oriental da Cadeia da Arrábida, o contacto entre o


conjunto de serras e vales circundantes, desenvolvidos nos aflora-
mentos do Jurássico, e a grande planície arenosa situada a norte, faz-se
através de um relevo bastante estreito e de traçado sinuoso, mas
muito contínuo, e que culmina, como a Serra dos Gaiteiros e como a
Colina de Palmeia, a altitudes que oscilam entre 200 e 256 m (Serra
de São Francisco) .
Trata-se de um relevo de tipo "costeira", ou seja, de uma forma
transversalmente dissimétrica, desenvolvida numa estrutura monocli-
nal. Os pontos culminantes correspondem ao afloramento de uma
bancada calcária do Paleogénico ou da base do Miocénico. A "frente"
meridional corresponde aos Conglomerados, arenitos e margas de
Picheleiros. O "reverso" incorpora diversos andares, de litologia
variada, do Miocénico. Ele é, em geral , dissecado num rosário de

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pequenas colinas pelas cabeceiras da rede hidrográfica que corre para
o norte. O topo da "costeira" constitui uma nítida linha divisória de águas.
Na base da vertente norte sucedem-se as aldeias da antiga comarca
de Azeitão, célebre desde a época árabe pelas suas produções agrí-
colas diversificadas, que abasteciam tanto Lisboa como Setúbal.
Na parte central da cadeia, o alinhamento de colinas monoclinais
começa por desdobrar-se com o aparecimento de um segundo alinha-
mento, correspondente a bancadas cretácicas. Torna-se, a seguir,
menos contínuo, sendo as colinas separadas por vales pouco profun-
dos, de orientação sul-norte. As areias pliocénicas penetram aqui
bastante para o sul , cobrindo em parte os afloramentos dos
Conglomerados da Comenda (J3c 0 ), que não ultrapassam altitudes
próximas de 130 m. A paisagem e a ocupação humana lembram aqui
as que caracterizam normalmente as vastas planícies arenosas, situa-
das a norte da "costeira".
Mais para oeste, reaparece um rosário de cabeços que orla, a
norte, a Plataforma do Cabo. Correspondem aqui, em geral, a aflora-
mentos do Cretácico.

OS VALES ORIENTAIS E A DEPRESSÃO DE SETÚBAL

A complexa rede de vales, que circunda a Serra de São Luís e o


sopé norte da parte oriental da Serra da Arrábida s. s., parece ter-se
constituído ao longo de fases sucessivas de erosão, a partir da super-
fície culminante de 180-250 m, correlativa da Plataforma do Cabo .
Acima do entalhe actual das ribeiras , conservam-se vários níveis
aplanados e escalonados. O mais desenvolvido situa-se a cerca de
100-120 m de altitude, no interflúvio entre a bacia superior da ribeira
de Coina e as cabeceiras da ribeira de Ajuda. Localmente, perto da
confluência das ribeiras de Alcube e de Ajuda, este nível conserva uma
cobertura de areias finas e pouco argilosas, marcadas por sensível
eolização. Mais a leste, a sul da Serra de São Luís, é a cerca de 80 m
que se conservam restos de formas aplanadas, a montante da colina
do Viso, que atinge 160 m nos Calcários de Pedreiras (J2p) . A disposi-
ção complexa das formas de pormenor do relevo sugere que possam
ter ocorrido vários episódios de capturas locais.
O conjunto destas formas de erosão escalonadas cai bruscamente
sobre as terras baixas da depressão de Setúbal , onde se distinguem

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colinas de interflúvio, a cerca de 50 m de altitude, e largos fundos
aluviais a menos de 20 m. O casario da cidade oculta antigas formas
litorais, onde se associavam esteiros e restingas arenosas. O sítio
portuário corresponde à margem seguida pelo profundo canal que
sulca o vasto delta submarino, pelo qual o estuário do Sado desagua
na baía exterior, permitindo assim a fácil penetração dos barcos de
mar.

A DEPRESSÃO DE SESIMBRA

Apenas duas reentrâncias acidentam suficientemente o traçado da


vertente meridional da Cadeia da Arrábida, para ter permitido o desen-
volvimento de aglomerações litorais. O Portinha corresponde, como já
se viu, à inflexão do eixo anticlinal do Formosinho. Não passa hoje de
uma praia turística muito frequentada.
Sesimbra é, pelo contrário, um centro urbano e porto de pesca de
certa importância. Aproveita uma estrutura tectónica bastante complexa,
de forma triangular, dominada e abrigada pelos rebordos levantados
da Plataforma do Cabo . Estes enquadram dois afloramentos das
Formações evaporítico-vulcânicas da base do Mesozóico. A depressão
é essencialmente constitu ída por um sinclinal dissimétrico, no eixo do
qual se conservam rochas do Cretácico . Goza de um clima local muito
protegido, onde se acentua ao máximo a feição geral "mediterrânea"
de um trecho de litoral atlântico, escarpado e virado a sul , que
contrasta fortemente com as características já muito mais "continen-
tais" das pequenas depressões do interior da cadeia, onde não são
raras as frias noites invernais, com forte irradiação (ALCOFORADO et ai.,
1993; MORA, 1998).

A VERTENTE COSTEIRA MERIDIONAL

É a grande escarpa litoral, que a limita a sul , que confere o essen-


cial da sua inconfundível originalidade à Arrábida. Trata-se de uma
vertente complexa que associa formas devidas à erosão marinha (as
arribas propriamente ditas e as rechãs devidas à abrasão marinha,
aquando de níveis marinhos diferentes do actual) e formas de erosão
subaérea, sobretudo desenvolvidas nas partes superiores da vertente

13
costeira (cornijas rochosas alternando com vertentes regularizadas,
cobertas por blocos coluviais, em muitos casos consolidados por um
cimento calcário mais ou menos endurecido) .
O estudo desta complexa forma de relevo é difícil, por várias
razões. Uma grande parte da vertente está vedada à observação
directa, ou pelo seu carácter muito escarpado ou por se encontrar por
baixo do nível do mar. Recentemente, começou-se o estudo das
formas submersas superiores através de mergulhos individuais, mas
é ainda difícil ligar os primeiros resultados assim obtidos aos conheci-
mentos resultantes da observação por teledetecção da plataforma
continental (VANNEY & MouGENOT, 1981). Outra dificuldade provém da
interferência de uma neotectónica local diferenciada com os movimen-
tos eustáticos do mar durante o Quaternário .
As rechãs mais altas são provavelmente formas descontínuas de
erosão subaérea, desenvolvidas em função de antigos níveis mari-
nhos, numa altura em que o litoral tinha uma posição mais meridional.
Situadas a oeste de Sesimbra, estas rechãs altas encontram-se a alti-
tudes variadas, que parecem acompanhar mais ou menos as defor-
mações sofridas pelos vários elementos da Plataforma do Cabo. São
possivelmente correlativas, no tempo, da superfície plistocénica de
interflúvios, desenvolvida nos sedimentos terciários ao norte da
Plataforma do Cabo. No entanto, não se pode afastar a hipótese de
corresponderem a elementos desigualmente abatidos da Plataforma
do Cabo.
Mais bem conservados são os níveis mais baixos, um deles situado
a cerca de 30-50 m de altitude, o outro a poucos metros acima do nível
actual. O primeiro é sobretudo observável na Chã dos Navegantes,
onde um complexo de rechãs mais ou menos inclinadas conserva uma
cobertura de areais de origem litoral.
O nível dito do Forte da Baralha está muito bem conservado neste
local, onde, sobre mais de 300 m de comprimento e uma dezena de
metros de largura, existe, na base da arriba, um degrau muito regular,
afeiçoado no calcário e acompanhado por sapa basal e pequenas
grutas, onde se conservam areais e blocos rolados de praia.
O nível encontra-se aqui a 7 m acima do nível médio do mar.
Prolonga-se para oeste até às imediações do Cabo Espichei , onde é
sobretudo representado por uma série de grutas, abertas na base de
uma alta arriba. Este baixo nível está longitudinalmente deformado,
tendo uma altitude diferente nos vários compartimentos delimitados
por falhas transversais ao litoral. Perto do Cabo Espichei, o nível inclina

14
de 4 para 2 m de leste para oeste. Num compartimento central
encontra-se horizontal, a cerca de 3-4 m, e, no compartimento do
Forte , inclina de 7 para 5 m de leste para oeste (PEREIRA & REGNAULT,
1994).
Mais para leste, o nível do Forte da Baralha prolonga-se através de
vários retalhos , que não foram ainda todos estudados. No trecho de
litoral aberto em calcários miocénicos, situado logo ao sul do Portinha,
abrem-se neste nível várias grutas, que conservaram depósitos e
fósseis . Estes permitem afirmar que as grutas foram ocupadas pelo
homem há cerca de 30 000 anos , e reconstituir, numa larga medida ,
o ambiente coevo (ANTUNES, 1991 ). Parece bastante provável que o
modelado do nível litoral do Forte da Baralha data do alto estacio-
namento do mar durante o período interglaciário do Eemiano , há
100 000-120 000 anos .
Foram reconhecidos , por H. Regnault, níveis marinhos hoje
submersos, entre os quais o mais nítido e generalizado encontra-se
cerca de 7 m abaixo do nível actual do mar. Este nível não parece
deformado e é provisoriamente considerado como podendo datar de
cerca de 6000 anos.
As grandes vertentes regularizadas e providas de uma cobertura
contínua de blocos coluviais, que constituem o essencial da vertente
costeira meridional , são formas de evolução lenta e de origem bastante
antiga. Em certos lugares (perto do Forte da Baralha) a formação colu-
vial cimentada está recortada na base pela paleoarriba do nível
emerso de 7 m, noutros lugares continua-se por baixo do nível actual
do mar até , pelo menos, o nível de -7 m.

III- ESTRATIGRAFIA

As formações cartografadas na folha de Setúbal e referidas nesta


Notícia Explicativa enquadram-se num contexto tectono-sedimentar
mais vasto, relacionado com a génese da Bacia Lusitânica, as quais,
por sua vez, foram determinadas pelo processo de formação do
Atlântico Norte.
A primeira fase de pré-rifting é geralmente considerada como tendo
ocorrido no Triássico, sendo os depósitos correlativas de natureza
essencialmente fluvial (conglomerados, arenitos e pelitos vermelhos)
com espessura muito variável em toda a bacia.

15
A topografia que caracterizava a bacia era irregular e estruturava-se
segundo blocos limitados por falhas relacionadas com acidentes do
SOCO (RIBEIRO et a/. , 1979; WILSON et a/. , 1989).
A série terrígena acima corresponde fundamentalmente aos Grés
de Silves (CHOFFAT, 1887, 1903, 1904; PALAIN , 1976) que com a acen-
tuação do pré-rifting passam superiormente a sedimentos pelítico-
-carbonatado-evaporíticos, conhecidos pela designação de Margas de
Dagorda (CHOFFAT, 1882, 1903-1904; PALAIN , 1976). Sobre a última
unidade assenta o complexo vulcano-sedimentar idêntico ao de
Santiago do Cacém (MANUPPELLA, 1989). Este complexo assinala o
rifting s. s. que irá permitir a formação de um novo mar de uma nova
bacia. Em Sesimbra não se conhecem os depósitos mais grosseiros da
Formação dos Grés de Silves.
Durante o Lias-Dogger, que corresponde a um período de acalmia
na actividade de rifting, na região de Setúbal localizada no bordo SE
da bacia, sedimentam calcários e dolomitos que constituem séries
relativamente monótonas, enquanto no resto da Bacia Lusitânica sedi-
mentavam carbonatos com fácies diferenciadas (MouTERDE et a/. ,
1979; WATKINSON , 1989; AzEREDO, 1993; GRAÇA COSTA et a/. , 1988).
Com o segundo rifting e após a lacuna de parte do Oxfordiano nesta
região , inicia-se um novo período de sedimentação que irá abranger
todo o Jurássico superior. Contrariamente à sedimentação monótona
que caracteriza o Lias-Dogger, as unidades do Malm apresentam ,
como se verá, marcadas variações de fácies e de espessura de W
para E. As unidades, em geral marinhas para W da Serra da Arrábida,
são afectadas, para E de Sesimbra, por forte continentalização que
leva à deposição dos conglomerados de Vale da Rasca e Comenda.
De acordo com J. REY (1972) , os sedimentos cretácicos assentam
em concordância sobre a Unidade Espichei. A série caracterizada por
variações de fácies verticais e laterais atinge a sua máxima espessura
ao longo do litoral W, entre a Praia dos Lagosteiras e a Foz, onde desa-
parece sob os sedimentos cenozóicos. Para E sofre rápido bisela-
mento e a N da Serra da Arrábida desaparece sob o Paleogénico.
Em discordância sobre os sedimentos cretácicos assenta espessa
série cenozóica que, para N, atinge uma espessura superior aos 800 m.
A série é dominada por sedimentos terrígenos e elásticos com interca-
lações calcárias.
As variações laterais de fácies são marcadas, em particular a W do
meridiano central da carta, onde se manifesta uma maior frequência de
carbonatos.

16
JURÁSSICO INFERIOR

Hetangiano-Sinemuriano inferior

A formação mais antiga cartografada é a Formação dos Grés de


Silves, representada na Península de Setúbal por três unidades, visto
a unidade basal, como já se disse, não aflorar. As três unidades acima
são constituídas pelo Complexo Pelítico-Carbonatado-Evaporítico
(Margas de Dagorda) , Dolomitos em plaquetas (sensu Choffat) e
Complexo Vulcano-Sedimentar.

J1 0 a- Complexo pelítico-carbonatado-evaporítico (Margas de Dagorda)

Os afloramentos da unidade com evaporitos encontram-se no


núcleo extruso do Vale Tifón ico de Sesimbra, bem como ao longo dos
cavalgamentos da Arrábida, de Sesimbra, de Gaiteiros e nas estrutu-
ras do Viso e de Palmeia, onde constitui injecções que lubrificaram os
movimentos ao longo das estruturas cavalgantes.
É constituído essencialmente por pelitos vermelhos , esverdeados e
cinzentos, siltosos, nos quais se intercalam evaporitos, gesso, sal-
-gema e frequentes finas camadas margo-dolomíticas.
Os limites inferior e superior não são visíveis, devido aos contactos
por falhas que caracterizam os afloramentos. A unidade que descreve-
mos sucintamente corresponde às Margas de Dagorda (CHOFFAT, 1903-
-04, 1905). A espessura do conjunto não é bem conhecida e portanto
nada adiantamos.

J1p- Dolomitos em plaquetas (sensu Choffat)

Os Dolomitos em plaquetas encontram-se intercalados na unidade


evaporítica e afloram na área da extrusão de Sesimbra e a oriente do
cavalgamento homónimo. São conhecidos também (ZBYSZEWSKI , 1965)
a N da Capela de S. Luís e nos Barrancos do Boqueirão, S. Paulo e
Capuchos, onde afloram placas dolomíticas com /socyprina sp.
A unidade anterior passa gradualmente para o topo a níveis mais
dolomíticos (dolomicritos) equivalentes aos Dolomitos em plaquetas de
Choffat (ibidem) . As camadas decimétricas e centimétricas na face
inferior contêm fauna de lamelibrânquios e gasterópodes euri-halinos,
que tem sido atribuída com reserva ao Hetangiano (CHOFFAT, ibidem) ou

17
ao Hetangiano-Sinemuriano (ZsvszEWSKI et a/., 1965; MouTERDE et a/.,
1979). No seu conjunto estas camadas apresentam espessuras da
ordem dos 3,5-7 m.

J1vs- Complexo Vulcano-Sedimentar

0 Complexo Vulcano-Sedimentar (MANUPPELLA & AZEREDO, 1996)


aflora somente no bordo E do cavalgamento de Sesimbra. Apresenta-se
muito semelhante à mesma unidade aflorante em Santiago do Cacém ,
mas com espessura inferior. Foi cartografada pela primeira vez como
tal, aquando da revisão da Carta Geológica de Setúbal. O afloramento
que passamos a descrever é a ocorrência conhecida mais a N desta
unidade, visto ela ter sido reconhecida somente no Algarve e em
Santiago do Cacém (MANUPPELLA, 1983, 1992 a e b) e representa a
manifestação do primeiro rifting.
Num corte geológico efectuado ao longo da estrada Sesimbra-
-Santana passando pela Serra da Achada , de baixo para cima,
observa-se:

1) Tufo argiloso vermelho (1 ,5 m)


2) Rocha eruptiva alterada (2 m)
3) Dolomitos englobando restos de tufo violáceo (3 m)
4) Rochas eruptivas englobando restos de dolomitos (6,2 m)
5) Pelitos com gesso intercalado (1 ,5 m)
6) Rocha eruptiva (12 m)
7) Complexo argilo-dolomítico com restos de rochas eruptivas (4 m)
8) Rocha eruptiva (11 m)

L. MARTINS (1991) afirma que a série acima referida constitui uma


alternância de rochas eruptivas de natureza toleítica, de tufos vulcâni-
cos argilosos e de pelitos com gesso e dolomitos, que confirma a
nossa primeira hipótese de se tratar de um complexo vulcano-sedi-
mentar. A espessura é da ordem dos 70 m.

Limites

Onde a base da Unidade Vulcano-Sedimentar aflora, constata-se


que este complexo ravina a Unidade inferior das Margas da Dagorda.

18
Pelo contrário, o limite superior é dado pela sobreposição dos
Dolomitos de Sesimbra. As características dos limites superior e infe-
rior são idênticas às da Bacia de Santiago do Cacém e do Algarve.

Estratigrafia

É actualmente aceite pela maioria dos autores, mesmo que com


reserva , que as três unidades que acabámos de descrever possam ser
datadas do Hetangiano-Sinemuriano inferior? com base em autores
anteriores (CHOFFAT, 1905; PALAIN , 1976). No Algarve existe uma data-
ção absoluta do Complexo Vulcano-Sedimentar, a qual indica a idade
de 188 ± 4 Ma (FERREIRA & MACEDO, 1979), o que confirma, pelo menos
para o topo , a atribuição ao intervalo referido.

Sinemuriano

J1 5 e- Dolomitos de Sesimbra

Sobre a Unidade Vulcano-Sedimentar assenta espessa série dolo-


mítica (50-60 m) que se inicia com 1-2 m de espessura de brecha
dolomítica, à qual se sobrepõem camadas laminadas, sendo as lami-
nações formadas por leitos de pel e intradolomicrite com tapetes micro-
-algais. Aproximadamente a meio da sucessão aparece um conjunto
de camadas mal estratificadas. Toda a unidade apresenta-se intensa-
mente fracturada.

Limites

O limite inferior é representado pelo aparecimento sobre o


Complexo Vulcano-Sedimentar de espessa série dolomítica que marca
o início da sedimentação marinha após o primeiro rifting.
O limite superior é formado pelo aparecimento de intradolomicrites
e margas dolomíticas e esparíticas, com extraclastos por vezes ricos em
braquiópodes, lamelibrânquios, belemnóides e raríssimos amonóides.

Estratigrafia

A micrografia mostra que a unidade é constituída por dolomicrites


por vezes com fenestrae e por intradolosparites bioclásticas com

19
Paleomayncina termieri (Hottinger). Esta formação traduz uma fácies
margino-marinha, inter a supratidal. Considerando o Complexo Vulcano-
-Sedimentar datável do Hetangiano-Sinemuriano inferior, pensamos
poder datar a base dos Dolomitos de Sesimbra do Sinemuriano infe-
rior, e o topo, face à presença de P. termieri do Pleisbaquiano inferior.
De facto , esta espécie é muito frequente entre o Carixiano e o
Domeriano inferior, embora P. termieri ocorra desde o Sinemuriano
superior ao Domeriano médio. Para maiores esclarecimentos consul-
tar ZBYSZEWSKI et a/., 1965 e MANUPPELLA & AZEREDO, 1996.

J1 MV - Margas dolomítícas e calcários dolomítícos com braquiópodes


da Meia Velha

Esta unidade com cerca de 50 m de espessura aflora a W de


Sesimbra, na Cova da Mijona, e a E de Sesimbra na Serra da Achada.
Corresponde às camadas H, I e J de CHOFFAT (1905). Na Serra da
Achada é essencialmente formada por dois conjuntos margosos ricos
por vezes em braquiópodes, belemnóides, etc., separados por calcá-
rios com abundante fauna, idêntica à anteriormente referida .
Esta unidade foi separada em seis termos A- F Uá descritos e defi-
nidos em MANUPPELLA & AZEREDO, 1996).
Aqui faremos apenas uma sucinta descrição do contexto petrográ-
fico e do seu conteúdo paleontológico.
Os calcários são constituídos por intradolomicrites e intradolospari-
tes. As margas intercaladas são formadas por dolomicrites argilosas
com abundante fauna de braquiópodes. Foram notadas finas interca-
lações de dolomicrites com tapetes algais e microbianos com lamina-
ção oblíqua de baixo ângulo.
Enquanto o termo A é estéril do ponto de vista faunístico , a partir do
termo B, com características margo-dolomíticas (intrapeldolomicrites)
e com extraclastos, ocorrem Paleomayncina termieri (Hottinger) e
Favreina salevensis (Parejas) , bem como corais .
O termo C é constituído por dolomitos mal estratificados.
O termo D é formado por calcários bioclásticos com braquiópodes,
lamelibrânquios e belemnóides e raríssimos amonóides. Micrografica-
mente são biointra e biopelmicrosparites com restos de braquiópodes
e lagenídeos. Salientamos aqui que estas microfácies são semelhan-
tes às de níveis estudados na região de Tomar-Rio de Couros, atribuí-
das ao Domeriano superior (MouTERDE & RocHA, 1981 ).

20
O suprajacente termo C é formado por calcários margosos ricos em
braquiópodes, por vezes formando lumachela (CHOFFAT, 1905).
Os termos D e E correspondem à camada J, na qual Choffat loca-
liza a presença de Dactylioceras communis (Sowerby) , bem como as
últimas colheitas de Spiriferina.
A unidade termina com o termo F que é constituído por conglome-
rados com matriz micrítica, com intercalações de granulometria mais
fina que, para o topo, passam a calcários bioclásticos com laminações
oblíquas planares de pequeno ângulo. Com excepção de raras costi-
lhas de amonóides, a unidade revelou-se azóica. O mesmo acontece
no afloramento da Cova da Mijona onde a granulometria se reduz
sensivelmente.
A Unidade da Meia Velha foi cartografada e descrita pela primeira
vez em MANUPPELLA & AzEREDO (1996), onde se poderão colher amplas
informações . Muito provavelmente sedimenta em ambiente marinho
aberto, pouco profundo (amonóides, braquiópodes, etc.).
Admite-se , também , que correspondam a sedimentos mal consoli-
dados, depositados sobre um talude pouco inclinado, provavelmente
como resultado de actividade sísmica derivante da tectónica distensiva
que marcava aquele período.

Limites

O limite inferior da Unidade Meia Velha é representado pela brusca


sobreposição aos dolomicritos, por vezes intraclásticos, com tapetes
algais e microbianos da Unidade Dolomitos de Sesimbra, de margas
dolomíticas com intercalações de bancadas laminíticas formadas por
intradolomicrites.
O limite superior é representado pelo contacto com os Dolomitos
oolíticos da Califórnia.

Estratigrafia

Após a sedimentação dos Dolomitos de Sesimbra, depositam-se os


seis termos A a F da Unidade Meia Velha que acabámos de descrever
sucintamente. Esta unidade, que se diferencia da anterior pelo seu
conteúdo paleontológico, inicia a sua sedimentação em ambiente mari-
nho aberto, talvez sobre uma plataforma aberta, não muito profunda
(amonóides, belemenites, etc.), pouco inclinada.

21
Comparando os termos por nós definidos com os de CHOFFAT {1903-
-1905) , podemos dizer que: os termos A, B, C descritos correspondem
provavelmente às camadas H e I de CHOFFAT (1905) , que são por ele
datadas do Sinemuriano superior-Toarciano, com base na ocorrência de
S. wa/cotti (Sowerby) e Liospiriferina rostrate (Schloteim) que, de acordo
com RoussEL {1977), indicariam o Carixiano-Toarciano inferior. A presença
de Paleomayncina termieri (Hottinger) reforça a idade por nós proposta,
visto que, de acordo com SEPTFONTAtNE {1984-1985), P. termieri estaria
cantonada ao Sinemuriano superior-Domeriano médio.
Pelo contrário, os termos D e E acima descritos correspondem à
Camada J de CHOFFAT (1905), na qual este autor localiza a presença
de amonóides Dactylioceras communis (Sowerby) , bem como as últi-
mas colheitas de Spiriferina. D. communis é indicadora do Toarciano
inferior (CHOFFAT, 1905; MouTERDE et a!., 1979). O desaparecimento
das Spiriferinas acima do nível E está de acordo com RoussEL (1977)
que considera o desaparecimento das Spiriferinas no Toarciano infe-
rior. Assim poderemos datar a Unidade Meia Velha do Carixiano ao
Toarciano inferior com exclusão do termo F.

JURÁSSICO INFERIOR A MÉDIO

J1·2ca- Dolomitos da Califórnia

Os Dolomitos da Califórnia, com cerca de 30 m de espessura, aflo-


ram na Serra da Achada, na Serra dos Pinheirinhos, entre a Cova da
Mijona e a Falha de Corroias. O melhor corte é visível ao longo da
estrada que de Sesimbra sobe para a Serra da Achada.
Sobre a unidade anterior depositam-se cerca de 30 m de dolomitos,
constituídos essencialmente por peldolomicritre/sparite e por intradolomi-
crite/sparite, distinguindo-se ainda oólitos, pelóides e intraclastos. Esta
série termina com um nível laminar dolomicrítico pelóidico, com fenes-
trae e níveis calcedónicos. A sedimentação, que na unidade anterior tinha
características de mar aberto, volta a dar-se em ambientes confinados.

Limites

O limite inferior da Unidade Califórnia está representado pelo apare-


cimento sobre as últimas microbrechas do termo F (Unidade Meia
Velha) de dolomitos oolíticos em camadas relativamente espessas.

22
O limite superior é formado por um nível margoso dolomítico
cinzento-esverdeado que se deposita imediatamente a seguir aos
dolomitos com níveis siliciosos, correspondendo à primeira camada da
Unidade Margas, calcários oolíticos e dolomitos com Gervilia.

Estratigrafia

A falta de elementos paleontológicos seguros não nos permite


fornecer uma datação adequada.
A sua datação será discutida conjuntamente com as sucessivas
duas unidades.

J1 -2G - Margas, calcários oolíticos e dolomitos com Gervilia

Esta unidade, com 60 m de espessura máxima, aflora na Serra da


Achada onde constitui um afloramento que bisela para NW e SE e
ainda na Serra de S. Lu ís onde foi impossível separá-la da unidade
suprajacente, Dolomitos de Cabo de Ares, sendo neles englobada.
Aflora ainda na Serra dos Pinheirinhos onde é pouco visível , apre-
sentando significativa redução de espessura e profunda alteração.
Esta unidade, de um ponto de vista litológico, foi dividida em dois
termos A e B.

Termo A

É constituído por dolomitos argilosos amarelos no exterior e cinzen-


tos no interior, bem visíveis na nova estrada Sesimbra-Santana que
percorre a Serra da Achada. Trata-se de dolomicrites/sparite azóicas
com fenestrae para o topo, o que indica exposição subaérea.

Termo B

Sobre o termo anterior assentam argilas amarelas, calcários oolíti-


cos e argilas calcárias que englobam finos leitos micríticos.
Micrograficamente este termo é constituído essencialmente por
intramicrites com quartzo e feldspato que passam a oopelbiosparites e
pelmicrites laminares com laminações microbiano-algais.
Para o topo os microtapetes aumentam de frequência, apresen-
tando intercalações de microbrechas. A espessura deste conjunto é
cerca de 40 m.

23
O conteúdo paleontológico limita-se a gasterópodes e lamelibrânquios
(CHOFFAT, 1905; ZsvszEWSKI, 1965), enquanto o conteúdo micropaleon-
tológico está limitado a Favreina prusensis Favre.

Limites

O limite inferior está representado pela deposição sobre os Dolomitos


oolíticos da Califórnia de uma camada de marga dolomítica cinzento-
-azulada azóica. Este nível que é extremamente contínuo entre a Serra
da Achada e a Cova da Mijona foi utilizado como limite cartográfico.
O limite superior é definido através de dolomitos em camadas maci-
ças pertencentes aos Dolomitos de Cabo de Ares .

Estratigrafia

Como foi já dito (MANUPPELLA & AZEREDO, op. cit.) a fauna malacoló-
gica (CHOFFAT, 1905) poderia datar esta unidade do Bajociano, mas o
próprio autor tem dúvidas quanto a esta datação.

J 1-2A- Dolomitos de Cabo de Ares

Esta unidade, com cerca de 120 m de espessura, é formada por


dolomitos com elevada percentagem de magnésio (MANUPPELLA, 1978)
e apresenta-se em camadas que aumentam de espessura da base
para o topo.
A Unidade Cabo de Ares aflora na Serra dos Pinheirinhos entre a Cova
da Mijona e o Forte da Baralha, na Serra da Achada, na Serra da Arrábida
e na Serra de São Luís. Salientamos que, quer na Arrábida quer em
São Luís, nesta unidade foi englobada a Unidade Margas, calcários
oolíticos e dolomitos com Gervilia. De facto, a intensa dolomitização e
tectonização não permitiram a separação das duas unidades naquelas
áreas. Petrograficamente correspondem a dolomicrites com fenestrae
e para a base apresentam frequentes laminações microbiano-algais
e microbrechas. Este conjunto de características leva-nos a admitir uma
deposição em ambiente inter a supratidal. A dolomitização que afecta
esta unidade é muito provavelmente epigenética a penecontemporânea.
É de salientar que a unidade, junto a Santana, sofre brusca redução
da espessura, em afloramento, passando de 120 para 20-30 m de
espessura (de E para W) . Esta redução é, aparentemente, provocada

24
por falhas conjugadas que seccionam a Unidade Cabo de Ares pondo-a
em contacto, para W, com calcários micríticos, nos quais foi identificada
Alzonel/a cuvilleri Bernier e Neuman, espécie característica do Batoniano
inferior e que, por sua vez, se situam por baixo de outros níveis calcá-
rios , com Ataxella occitanica (Peybernes) , espécie característica do
Batoniano superior-Caloviano basal (PEYBERNES, 1991 ). O conjunto de
camadas calcárias referidas constitui a unidade que se descreve a
seguir, os "Calcários de Pedreiras". No sector das pedreiras de Sanchez,
a S-SW de Malhadas, as camadas calcárias com Ataxel/a occitanica
encontram-se cerca de 20 a 30 m acima dos níveis dolomíticos, o que
pode ser verificado em toda a região da Serra da Achada; os calcários
micríticos assentam sobre os dolomitos por meio de um nível brechóide.
Face às relações geométricas acima descritas é lógico admitir-se que
parte da série dolomítica de Cabo de Ares, aflorante a SE entre Cabo
de Ares e o paralelo de Pedreiras, seja temporalmente equivalente às
referidas camadas de calcário micrítico que , em termos cartográficos,
como se disse, afloram lateralmente, a S-SW de Malhadas. Esta variação
lateral de fácies reflectirá, provavelmente, um controlo tectónico.

Limites

O limite inferior da unidade que descrevemos é constituído pelo


contacto dos dolomicritos com os calcários oolíticos do termo B da
Unidade Margas, calcários oolíticos e dolomitos com Gervilia.
O limite superior da unidade é dado por uma brusca mudança na
litologia. De facto , o registo da série litostratigráfica mostra-nos que
dos Dolomitos de Cabo de Ares passa-se através de uma brecha
(pedogenética?) a uma série calcária com características essencial-
mente micríticas, pelóidicas e bioclásticas que corresponde à Unidade
Calcários de Pedreiras.

Estratigrafia

Recordamos que o último elemento seguro de datação foi o


amonóide Oactylioceras communis, do Toarciano inferior, no topo do
termo E da Unidade "Margas dolomíticas e calcários dolomíticos com
Braquiópodes da Meia Velha". A partir deste nível, como se disse, só
voltamos a ter um indicador estratigráfico (Ataxella occitanica,
Batoniano superior-Caloviano basal) , já na formação carbonatada
suprajacente, os Calcários de Pedreiras. Por outro lado, nunca se

25
conseguiu definir estratigraficamente o Batoniano inferior em toda a
Península de Setúbal , provavelmente devido à dolomitização e/ou a
fácies não favoráveis à existência de organismos. Supondo correcta a
hipótese de considerar os Dolomitos de Cabo de Ares como equiva-
lente lateral dos calcários micríticos, parte significativa da unidade
dolomítica deverá corresponder ao Batoniano inferior.
Deste modo, para o conjunto representado pelas três últimas
unidades descritas ("Dolomitos da Califórnia", "Margas, calcários oolí-
ticos e dolomitos com Gervilia" e "Dolomitos de Cabo de Ares") e
incluindo, também , o termo F da Unidade "Margas dolomíticas e calcá-
rios dolomíticos com Braquiópodes da Meia Velha", subjacente às
anteriores, propomos, com reserva, o intervalo de tempo Toarciano
inferior-Batoniano médio (?) .

Variações de fácies

Como já foi focado , a única variação de fácies que se pode definir


como tal é a que acontece junto a Santana. Trata-se, porém , mais de
uma variação de tácies derivante de um controlo tectónico do que uma
variação a nível sedimentológico.
Queremos, no entanto, salientar que globalmente a unidade apresenta
variações de dolomitização, assinaladas pela variação dos teores de
MgO, maiores junto à costa (18-21 %) e menores no interior (Serra de São
Luís). Salientamos ainda que na Serra de São Luís foram observados
fenómenos de dolomitização com formação de areias dolomíticas.

J1·2- Dolomitos do Convento de São Luís

Na Serra de São Luís afloram dolomitos e margas dolomíticas com


grandes Gervilia (ZBYSZEWSKI , 1965), as quais englobam grandes
blocos de dolomitos (dolosparites) cavernosos.
Estes dolomitos toram explorados pela empresa Cut a partir dos
anos 70. As sondagens realizadas nas pedreiras abandonadas confir-
maram a descontinuidade da dolomite.
Salienta-se ainda que a Serra foi atingida por forte tectonização que
provocou profunda fracturação que não permitiu a sua separação. Por
este facto , neste sector, as duas unidades, Margas, calcários oolíticos
e dolomitos com Gervilia e Dolomitos de Cabo de Ares, foram reunidas
numa única unidade, Dolomitos do Convento de São Luís.

26
Limites

Limite inferior desconhecido.


O limite superior é formado pela deposição dos Calcários de Pedreiras.

Estratigrafia

Os critérios aplicados para a datação das três últimas unidades,


Califórnia, Gervilia e Cabo de Ares , são totalmente aplicáveis à Unidade
Dolomitos do Convento de São Luís pelo que datamos com reserva
esta unidade do Toarciano inferior-Batoniano médio (?).

J 2pe - Calcários de Pedreiras

Sobrepondo-se aos Dolomitos de Cabo de Ares e do Convento de


São Luís, aparecem calcários micríticos com pelóides, bioclastos e
raros intraclastos, com cerca de 230 m, que afloram entre o Forte da
Baralha e a Ribeira do Cavalo na Serra da Achada, na Serra da
Arrábida, no anticlinal do Viso e na Serra de São Luís.
Os melhores cortes são visíveis no Facho da Azóia (MANUPPELLA,
1983), na Serra da Achada e na de Arremula.
Referiremos dos cortes acima mencionados apenas o do Facho da
Azóia por ser o mais acessível (Fig. 2). Os outros dois são consultá-
veis na bibliografia (ZsvszEWSKI , 1965). Salientamos que a sedimenta-
ção dos Calcários de Pedreiras se inicia pouco antes do aparecimento
de Ataxel/a occitanica (Peybernês) do Batoniano médio (?) , e na Serra
da Achada assenta sobre uma brecha dolomítica.
O estudo micrográfico de amostras colhidas ao longo do corte da
Achada e do v. g. Arremula evidenciou rica microfauna de pfenderinídeos
muito semelhante à conhecida em Santiago do Cacém.

Limites

O limite inferior na região é representado por brecha dolomítica


bem visível nas pedreiras de dolomito de Sanchez.
O limite superior, muito bem visível nas pedreiras de Pedreiras, é
representado por um "hard ground" constituído por uma crosta ferrugi-
nosa a pseudolaterítica, que corresponde à bem conhecida discordân-
cia estratigráfica entre o Dogger e o Malm , que bisela a unidade a dife-
rentes níveis e que corresponde ao elemento separador entre o
Dogger e o Malm em outros locais da Bacia Lusitânica.

27
FAUNA E FLORA

CORTE
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FACHO da AZO/A

PETROGRAFIA

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Fig. 2- Corte do Facho da Azóia (ln: MANUPPELLA, G., 1983).

28
Estratigrafia

Como já se disse, o estudo micrográfico dos cortes permitiu eviden-


ciar rica fauna de foraminíferos: Ataxella occitanica (Peybernês} ,
Pa/eopfenderina trochoidea (Smout e Sugden) , P salernitana (Sartoni
e Crescenti) , Kurnubia palastiniensís Henson, etc., associação que
permite datar a unidade do Batoniano superior-Caloviano basal.
A existência de Caloviano na região da Arrábida foi primeiramente
evidenciada por TINTANT (1967} , com base, sobretudo, na fauna de
braquiópodes. Segundo MouTERDE et a/. (op. cit.), o facto da referida
fauna incluir Digonella arrabidensis e Zeil/eria pseudoantiplecta, formas
idênticas às que ocorrem na região de Pedrógão onde existem
amonóides do Caloviano superior, indicaria que, também na Arrábida,
estaria representada a parte superior daquele andar.
A presença de pfenderinídeos abundantes é comum em ambientes
confinados, de fraca energia, sub a intertidais (veja-se, por exemplo,
SEPFONTAINE, 1984) o que está de acordo com a interpretação
paleoambiental que temos vindo a fazer.

Variações de fácies

Entre Setúbal e o Forte da Baralha, esta unidade não apresenta


acentuadas variações de fácies. Fazem excepção os afloramentos da
Serra de São Luís onde , por vezes, a Unidade Pedreiras se apresenta
com fácies dolomítica.
Pelo contrário , do ponto de vista das espessuras , a unidade apre-
senta fortes variações de E para W, com acentuado biselamento para W.
De facto, se na Serra da Arrábida os Calcários de Pedreiras apre-
sentam cerca de 230 m de espessura, já na Serra da Achada a mesma
é da ordem dos 200 m e, no Facho da Azóia, possuem cerca de 180 m.
Saliente-se que o biselamento é verificado no que se considera ser o
Caloviano, que passa de 11 O m na Serra da Arrábida para 30 m no
Facho da Azóia.

Paleoecologia

Pretende-se fazer aqui uma apreciação global , mesmo que sucinta,


dos paleoambientes do Lias-Dogger. Após a deposição do Complexo
Vulcano-Sedimentar, manifestação do primeiro rifting e até aos

29
finais do Sinemuriano, a sedimentação apresenta características
margino-marinhas ou peritidais, aliás, comuns a outras zonas das
Bacias Lusitânica e Algarvia.
A partir do Carixiano, movimentos distensivos sucessivos à disten-
são inicial provocaram pequenas variações faciológicas.
De facto, assiste-se à sedimentação da Unidade Meia Velha com
características de plataforma aberta de pequena profundidade. Esta
transgressão , limitada na região em causa, manifesta-se mais franca-
mente nas regiões a N do Tejo. Enquanto a N do Tejo a transgressão
atinge o seu máximo durante o Toarciano, na Península de Setúbal
durante o Toarciano inferior aborta, voltando a instalar-se um meio
deposicional margino-marinho, com a deposição dos Dolomitos da
Califórnia e das Margas, calcários oolíticos e dolomitos com Gervilia.
As últimas unidades do Dogger a sedimentar são representadas
pelos Dolomitos de Cabo de Ares e pelos Calcários de Pedreiras.
Pelo menos durante todo o Batoniano inferior(?) , o ambiente de sedi-
mentação que caracteriza os Dolomitos de Cabo de Ares é do tipo
margino-marinho a supratidal (dolomitos primários, fenestrae, dolomiti-
zação) .
A partir do Batoniano superior, nova transgressão, mas sempre limi-
tada, vai permitir a deposição de calcários pelmicríticos ricos em micro-
fauna de pfenderinídeos, indicadores de ambiente deposicional mari-
nho confinado. Estas fácies são comuns também na Bacia de Santiago
do Cacém (MANUPPELLA, 1983).
A partir do Caloviano superior, a bacia fica subaérea com deposição
de fácies continentais representadas por crostas ferruginosas a pseu-
dolateríticas.

JURÁSSICO SUPERIOR

Oxfordiano médio-superior

J3 Ar- Margas, argilas, conglomerados e calcários com calhaus negros da Arrábida

Generalidades

Após a lacuna do Oxfordiano, a sedimentação retoma o seu curso,


estando em geral representada na região entre Setúbal e o meridiano

30
de Santana por conglomerados ("Brecha da Arrábida"), calcários argi-
losos intraclásticos (calhaus negros) com margas intercaladas. A sedi-
mentação processa-se em ambientes confinados (salobres) e com
abundante matéria orgânica.
Para W daquele meridiano a Unidade Arrábida apresenta forte varia-
ção de fácies , estando representada exclusivamente por calcários com
calhaus negros . Veremos que esta diferenciação da litostratigrafia em
dois sectores, um oriental outro ocidental , manter-se-á ao longo da
história geológica do Malm.

Sector oriental

Os seus afloramentos distribuem-se ao longo do flanco N da Serra


da Arrábida, entre a fábrica de cimento Secil e a Ponte do Covão a E
de Pedreiras, assim como no flanco sul da Serra, onde se localizam os
melhores cortes geológicos entre Píncaro e a Praia de Alpertuche.

Corte-tipo

Os cortes geológicos mais ilustrativos são o corte do Fojo e, por


razões paleontológicas, o corte da Serra da Achada-Píncaro. Estes
cortes amplamente descritos por LEINFELDER (1983) serão aqui sucin-
tamente referidos.

Corte do Fojo (40 m)

Este corte localiza-se entre a Pedreira de "Brecha da Arrábida" do


Bico dos Agulhões e a estrada do Portinha da Arrábida.

1) Calcários argilosos bioclásticos com Praekurnubia sp. e Ataxela


occitanica do Batoniano sup. em parte calichificados (MANUPPELLA,
1983) (1m).
2) Conglomerado calcário com cimento calcário avermelhado e com
elementos dimensionalmente variáveis pouco rolados em cama-
das espessas, separados do subjacente Dogger por uma super-
fície ondulada, representativa da paraconformidade. Na base,
em calcários avermelhados, foi encontrada Heteroporella lusita-
nica RAMALHO .
3) Margas com calhaus negros com abundantes restos carbonosos
(3-5m) .

31
4) Margas nodulares siltosas esverdeadas com intercalações de grés
fino (4-5 m) .
5) Calcários micríticos com calhaus negros e com intercalações de
margas com linhite. Distinguem-se calcários bioclásticos com
ostracodos e restos de Gastropodes além de Cayeuxia sp.,
oogónios de carófitas além de microfauna remobilizada do
Dogger (7 m) .
6) Calcários margosos cinzentos com carófitas (2m) .
7) Zona coberta (2 ,7 m) .
8) Margas siltosas nodulares com intercalações de grés finos , já per-
tencentes à unidade superior- Calcários e grés intercalados do
Risco .

O segundo corte precedentemente mencionado (Achada-Píncaro)


atravessou uma sucessão formada por uma alternância de espessas
camadas de calcário micrítico com calhaus negros e de calcário
margoso por vezes fortemente bioclástico.

Corte Serra da Achada-Píncaro ("' 40 m)

Este corte localizou-se a W do v. g. Píncaro entre as Pedreiras e o


ponto cotado dos 321 m junto da escarpa marítima.

1) Calcário esverdeado bioclástico parcialmente calichificado com


braquiópodes e Chablasia datáveis do Batoniano-Caloviano
(1 ,60 m) .
2) Alternância de espessas camadas de calcário micrítico com
calhaus negros. Contêm raros Planorbis sp. e bivalves (8,70 m).
3) Biomicrites com abundantes carófitas e "calhaus negros" com
intercalações de margas com "calhaus negros". Nota-se biotur-
bação em pequena escala. Contém Planorbis, Gasteropodes e
Cayeuxia sp . (17,4 m).
4) Calcários margosos cinzentos passando a calcários micríticos
para o topo. Contém Alveosepta jaccardi, lituolídeos aglutinantes
e verneuolinídeos (4 m).
5) Calcários bioclásticos espessos com A. jaccardi, oogónios de
Carofitas e, para o topo, Heteroporella lusitanica (1 ,7 m).
6} Calcários margosos com carófitas, que passam a biomicrites com
"calhaus negros" a margas lenhitosas.

32
Limites

O limite inferior da Unidade Arrábida, como já foi dito, é formado


pela bem conhecida paraconformidade (MANUPPELLA & AzEREDO, 1996)
comum a toda a Bacia Lusitânica.
O limite superior é formado , no flanco S da Arrábida, pelo brusco
aparecimento de uma sedimentação siliclástico-carbonatada que
caracterizará a Unidade Calcários e grés intercalados do Risco.
No flanco N da serra, pelo contrário, o limite superior é formado pela
base da Unidade Calcários de Azóia.

Sector ocidental

Tendo em conta a uniformidade litológica que caracteriza a série


para W de Sesimbra, descreveremos sucintamente apenas um corte,
nomeadamente a parte basal do Corte do Facho (M. M. RAMALHO,
1971 ), que de baixo para cima é constituído por:

Corte do Facho (limitadamente à parte inferior)

Este corte localiza-se entre o Casal dos Golamas a S e o v. g.


Facho a N junto das estradas Sesimbra-Cabo Espichei.

1) Calcários micríticos por vezes intraclásticos, com calhaus negros,


com raras intercalações margosas. Contêm Alveosepta jaccardi
e abundantes ostracodos e oogónios e caules de carófitas. Faz-se
presente que A. jaccardi nunca aparece misturada com os restan-
tes organismos, mas sim isolada.
2) Salienta-se ainda que no pequeno corte do cerro do Burgau, M. M.
RAMALHO (1971) refere ter encontrado na base do Malm
Heteroporella /usitanica.

Limites

O limite inferior é representado por crostas ferruginosas que fossi-


lizaram a superfície de discontinuidade entre as unidades inferiores
do Lias-Dogger. O limite superior é gradual e situa-se onde desapa-
recem os calcários com "calhaus negros" e se sobrepõem os calcários
cinzentos compactos intraclásticos e bioclásticos da unidade supraja-
cente.

33
Variações de fácies

As variações de fácies que afectam a Unidade Arrábida manifes-


tam-se de E para W e podem ser enquadradas no contexto litológico e
no âmbito das espessuras.
De facto , a Unidade Arrábida , tal qual como foi descrita, aflora
somente a E do meridiano de Santana, estando representada para W
daquele meridiano exclusivamente por calcários com calhaus negros
englobados na Unidade suprajacente "Calcários de Azóia" ( J3A).
No que se refere às espessuras, também se apresentam com grande
variabilidade: oscilam entre um máximo de 60 m na Arrábida e um
mínimo de 15 m para E daquela serra, não aflorando na Serra de S. Luís.
Para W de Santana, os calcários com "calhaus negros" atingem um
máximo de 60 m no Corte do Picoto e um mínimo de 15m no Corte do
Facho {M . M . RAMALHO, 1971 ).
Há ainda que assinalar que, na estrutura do Viso, a Unidade Arrábida
seria constituída , de acordo com ZsvszEWSKI (1965) , essencialmente
por conglomerados e brechas com raros calcários intraclásticos e
extraclásticos intercalados, actualmente pouco ou nada observáveis
(urbanização e recuperação de pedreiras). A ausência de fósseis e as
características faciológicas levam-nos a admitir que, na estrutura do
Viso , quer a Unidade Arrábida quer a Unidade Azóia não estejam
representadas e que o que foi cartografado como Unidade Azóia possa
ser parte integrante da Unidade de Vale da Rasca.
O conteúdo biostratigráfico bem como a sua litologia são indicadores
que a Unidade Arrábida sedimentou em ambiente lagunar salobro.
O elevado volume de sedimentos ricos em Ostracodos-Carófitas justifi-
cam a grande quantidade de matéria orgânica contida nos sedimentos.
A forte presença de pirite é indicadora de fundos anóxicos (margas
fétidas) . Deve-se salientar que a presença de intercalações calcárias
com A. jaccardi seria indicadora de pulsações com características
marinhas mais marcadas.

Estratigrafia

É actualmente aceite pela maioria dos especialistas (M. M. RAMALHO,


1971 ; ELLIS et a/., 1990, etc.) uma datação do Oxfordiano médio-
-Oxfordiano superior para a unidade descrita. As fácies confinadas que
aparecem no extremo sul da Bacia de Lisboa, na Arrábida, etc. são
correlacionáveis com a Formação de Cabaços (M. M. RAMALHO, 198 1).

34
Kimeridgiano-Oxfordiano superior

J3A• J3Ri• J3 88 - Calcários de Azóia (J3A), Calcários com grés intercalados


do Risco (J3R;), Dolomitos de Forte da Baralha (J3 88 )

Generalidades

As três unidades, de que a seguir trataremos, são o testemunho do


retorno da sedimentação marinha comum às zonas sul e central da
Bacia Lusitaniana, associada a uma relativa e moderada subida do mar,
podendo corresponder à principal deposição de carbonatos durante o
Malm na Península de Setúbal. Salientamos que, se tomarmos como
série de referência a Unidade Azóia, as Unidades Risco e Forte da Baralha
terão de ser consideradas como variação de fácies da Unidade Azóia .
De acordo com FELBER et a/. (1982) e LEINFELDER (1983) a Unidade
Azóia é constituída, para E do meridiano de Sesimbra, por micrites
claras e biomicrites. Nas zonas mais a E podem aparecer calcários
oolíticos e intrasparites.
Formam afloramentos extensos e alinhados E-W, apresentando
fortes variações de espessura de N para S e de E para W.
De um ponto de vista litológico, a unidade é formada, para W de
Sesimbra, por calcários negros betuminosos na base, a que se seguem
alternâncias de calcários micríticos e organodetríticos (ZsvszEWSKI ,
1965).

Sector ocidental

Corte-tipo

De acordo com M. M. RAMALHO (1971 ), referiremos aqui o Corte do


Facho, realizado entre Casal dos Golamas e o v. g. Facho, mesmo que
sucintamente.

Corte do Facho

Assentando em continuidade sobre os calcários com calhaus


negros seguem-se:

1) Alternância de calcários bioclásticos e de calcários intraclásticos


pelóidicos ricos em Alveosepta jaccardi e com raras Kurnubia

35
palastinensis mas onde se encontra também uma intercalação
rica em Ostracodos e Carofitas (50 m) .
2) Calcários micríticos com Pseudocyclamina e Alveosepta jaccardi
e pequenos Verneulinideos na base (65 m) .
3) Calcários micríticos compactos cremes intraclásticos a microcon-
glomeráticos intraformacionais com raros oólitos. A associação
microfaunística é constituída por: Nautiloculina oolithica,
Labyrintina mirabi/is, Pseudocyclamina sp. , A/veosepta jaccardi,
Chab/asia chablasiensis, Kilianina sp. A microflora está repre-
sentada por: Codiáceas, Cayeuxia piae, Bacinella irregularis,
Salpingoporella anulatada (126m) .
4) Calcários micríticos bioclásticos intraclásticos com raros oólitos por
vezes dolomitizados, contendo: Nautiloculina oolithica, Ps. gr.
Parvu/a - moluchensis, Everticyclamina virguliana, Kurnubia
palastinensis, Lithocodium aggregatum, Sa/pingoporella anulata,
C/ypeina jurassica e "Campbeliel/a" striata (1 00 m).

Limites

O limite inferior da Unidade Azóia é formado pelo topo dos calcários


micríticos com calhaus negros já anteriormente referidos e englobados
na unidade acima por razões cartográficas.
O limite superior é formado pelo brusco aparecimento de sedimen-
tação de siliclásticos com intercalações calcárias, que constitui a supra-
jacente Unidade Espichei.

Sector oriental

Corte-tipo

De acordo com LEINFELDER (1983) admite-se que o corte-tipo para a


região acima e na vertente norte da Serra da Arrábida possa ser o
Corte do Solitário (Arremula) .

Corte do Solitário

O corte é realizável entre o Vale da Rasca e o v. g. Arremula ao


longo de um caminho de pé posto. Consideramos por adquiridas as
macrofaunas referidas em ZsvszEWSKI (1965).

36
É de salientar que as exposições ao longo deste corte são por
vezes más, devido aos materiais escorridos ao longo da vertente.
A sucessão de bancadas, referida por LEINFELDER (1983), é algo
diferente da apontada por FELBER et ai. (1982).

1) Calcários bioclásticos com restos de Nerineia (5 m) .


2) Calcários margosos com carófitas (4,60 m).
3) e 4) Calcários micríticos e biomicríticos com Oncolitus, carófitas e
secções de gasterópodes (6,40 m).
5) Dismicrite com nódulos de Cayeuxia e carófitas (0,5 m) .
6) Calcários bioclásticos com bivalves, restos de gasterópodes,
lituolídeos e A/veosepta jaccardi (2,5 m) .
7) Calcário com fenestrae bioturbado com calhaus negros (1 ,8 m) .
8) Calcários argilosos bioturbados com resto de bivalves.
9) Calcários argilosos bioturbados com caras e calhaus negros
(8 ,5 m) .
10) Biomicrites com nódulos de Cayeuxia, carófitas, "calhaus negros",
tenestrae e "mudcraks".

Limites

O limite inferior da unidade a E de Sesimbra é formado pelo desa-


parecimento das fácies conglomeráticas da Unidade Arrábida e pelo
aparecimento de litologias calcoargilosas.
O limite superior é constituído pela brusca interrupção da Unidade
Azóia , substituída pela deposição de espessa série conglomerática
carbonatada do Vale da Rasca. O contacto entre as duas unidades é
do tipo erosivo.

Variações de fácies

A Unidade Azóia apresenta marcadas variações de fácies de E para


W e no sector oriental também de N para S. De facto a unidade apre-
senta-se muito mais carbonatada para ocidente do que na Arrábida e
ainda a fácies marinha é mais marcada a W de Sesimbra do que a E.
De facto , na Arrábida, a série Azóia apresenta fácies salobres que
caracterizam a unidade inferior, "Arrábida".
Também as espessuras apresentam relativamente forte variação,
sendo maiores a W de Sesimbra e menores a E. Salientamos ainda
que existem variações de fácies limitadas aos respectivos sectores ,
ocidental e oriental.

37
J3 63 - Dolomitos do Forte da Baralha (Sector ocidental)

A Unidade Azóia, que se apresenta calcária na área acima a partir


do Forte da Baralha para W, adquire marcada fácies dolomítica (20-
-21 % MgO, MANUPPELLA et a/. , 1977), tendo sido cartografada como
dolomitos do Forte da Baralha. Devido ao facto de serem praticamente
inacessíveis, podemos dizer somente que se trata de dolomitos secun-
dários, provavelmente tectónicos, em cuja origem as rochas eruptivas
injectadas em falhas de direcção NW-SE devem ter desempenhado
um papel importante. As poucas bancadas visíveis mostram-se forte-
mente fracturadas , dando lugar por vezes a pseudobrechas dolomíti-
cas.

J3Ri - Calcários com grés intercalados do Risco (Sector oriental)

Para E do Vale Tifónico de Sesimbra, a Unidade Azóia sofre uma


variação de fácies aflorante na Encosta do Castelo de Sesimbra e a S
e SE da Serra da Arrábida, representada pelos Calcários e Grés inter-
calados do Risco. Constitui três afloramentos separados, nomeada-
mente, o da Encosta do Castelo de Sesimbra, do Casal do Risco e o
do Fojo. Pelo contrário, entre Pedreiras e o Píncaro e a N da Arrábida,
onde apresenta marcada redução de espessura, a série mantém a sua
identidade com a precedentemente descrita.

Limites

Há que salientar que, enquanto no afloramento do Fojo a Unidade


Risco assenta directamente sobre a Unidade Arrábida, os afloramen-
tos do Risco e da Encosta do Castelo assentam sobre os Calcários de
Azóia, substituindo parcialmente aquela série.
De acordo com LEINFELDER (1983) a Unidade do Risco seria consti-
tuída por uma alternância de margas de grés e calcários, como abaixo
se descreve, ao longo do Corte do Fojo, que será aqui exposto com
pormenor, visto ser referido pela primeira vez em Notícia Explicativa
(ver Fig . 3.2) , continuação do Corte do Fojo anteriormente descrito.

Corte do Fojo

1) Margas nodulares siltosas e grés fino (5 m) .


2) Calcários margosos espessos com oncólitos e carófitas (1 O m).

38
w E
C auelo d e Sc~ lmbra f o )o

• . .. • • • • .. • • .. • • .. • • • • • • ... • • • o o • • .... - . ... o o ••• ? •

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~ Falha

~ Unld. AzÓia

~ Unld . Ralica
/ Dhcordâncla

[8
-
Unld. Arrábida

U±a -
Unld . Rlic O
/ Dlac1 onlamo

Fig. 3 - Esquema, sem espessuras, da distribuição espacial da Unidade do Risco entre


o Castelo de Sesimbra e o Outão.

3) Argilas cinzento-esverdeadas passando a grés de grão médio e


margas siltosas (7 m) .
4) Margas linhitosas (2,40 m) .
5) Calcários bioclásticos e intraclásticos com bivalves e lenhite.
Notam-se extraclastos com Pfenderinideos pertencentes ao
Dogger (2 m).
6) Cobertura (2 ,4 m) .
7) Calcários margosos bioturbados com carófitas, passando a margas
meteorizadas. No topo, dolomicrite bioclástica com fenestrae (6 m).
8) Argilas arenosas, margas nodulares, grés e conglomerados (7 m).
9) Na base, micrites bioturbadas com fenestrae, passando para o
topo a micrites com carófitas e perfurações devidas a Enterop-
neusta (2 m) .
1O) Margas nodulares siltosas (1 ,5 m) .
11) Cobertura (1 m).
12) Biomicrite com carófitas e perfurações de Enteropneusta (1 m).
13) Cobertura (4 m) .
14) Alternância de margas siltosas e calcários micríticos bioclásti-
cos, passando por vezes a calcários margosos bioclásticos (2,5 m).
15) Grés médio esverdeado com intercalações de margas siltosas
nodulares (3,5 m) .
16) Calcário intraclástico bioclástico com oncolitus, passando a calcá-
rios margosos bioclásticos e a margas siltosas (3,5 m).

39
17) Margas siltosas nodulares (2,5 m) .
18) Calcário intraclástico sem organismos (0,80 m) .
19) Argilas arenosas e margas nodulares siltosas, passando a cama-
das silto-arenosas a conglomeráticas com estratificação entre-
cruzada. Contém Ostracodos nas margas siltosas e A. jaccardi
associada a Dasyc/adaceas em duas intercalações carbonata-
das (15m).
20) Micrite bioturbada com fenestrae, contendo A. jaccardi e Lithoco-
dium aggregatum.

Estratigrafia

No sector oriental , de acordo com M. M. RAMALHO (1971 ), no que diz


respeito ao topo da Unidade Azóia, não temos dúvidas ser datável do
Kimeridgiano superior (presença de "Campbeliella " striata e Clypeina
jurassica).
A base da unidade pode ser datada, devido à presença de
Heteroporella lusitanica do Oxfordiano médio-superior.
Para maiores esclarecimentos sobre este assunto , consultar
ZBYSZEWSKI et a/. (1965), FELBER et a/. (1982} e LEINFELDER (1983}.

Kimeridgiano-Titoniano

J 3Es• J 3c 0 , J 3Ra- Calcários, margas e grés de Espichei (J 3E5 ), Conglomerados da


Comenda (J 3 c0 ) e Argilas, grés e conglomerados e calcários
de Vale da Rasca (J3Ral

Generalidades

A parte médio-superior do Malm é caracterizada por uma marcada


variação de fácies que se manifesta a ocidente e a oriente do meridi-
ano de Sesimbra. De facto, enquanto para W a sedimentação marinha
continua mesmo que heterogénea, para oriente de Sesimbra, deposita-
-se espessa série continental. O contacto entre as duas séries, marinha
do Espichei e continental da Rasca-Comenda, faz-se aproximada-
mente na região de Sampaio, a N de Sesimbra, não sendo visível ,
optando-se por separá-las pela falha de Sampaio. Esta opção tem uma
razão de ser. Nas fundações das vivendas da Cotovia, todavia, é visí-
vel a Unidade Espichei.

40
Corte-tipo

De acordo com M. M. RAMALHO (1971 ), tomaremos como unidade de


referência a Unidade Espichei , quer pelo seu rico conteúdo macropa-
leontológico (FüRSICH et a/., 1980) quer pela abundância em microfauna.
De acordo com M. M. RAMALHO (1971 ), o corte-tipo da Unidade Espichei
situa-se entre o flanco sul do Cabo Espichei e a Praia dos Lagosteiras.

Corte do Cabo Espichei (570 m)

O corte geológico, que a seguir descrevemos, localiza-se entre a


fachada sul do Cabo Espichei e a Praia dos Lagosteiras. Mesmo com
zonas pouco acessíveis pode ser seguido na sua quase totalidade.
A série, dominantemente carbonatada , contém intercalações greso-
sas, em geral raras: de baixo para cima , a série será descrita sucinta-
mente . Para maiores informações, consultar ZsvszEWSKI (1965) , M. M.
RAMALHO (1971 ), FüRSICH et a/. (1980) e FELBER et a/. (1982).
Sobre os dolomitos do Forte da Baralha a série inicia com :

1 - 3) Calcários micríticos e microconglomerados com margas inter-


caladas , contendo Labyrinthina mirabilis, Clypeina jurassica,
"Campbeliel/a" striata, Everticic/amina virguliana, Freixialina p/anispira-
lis e Kurnubia palastinensis (40 m) .
4) Zona inacessível formada por margas e calcários intercalados
(13 m).
5 - 9) Calcários nodulosos, micríticos, intraclásticos com intercala-
ções de margas com associação microfaunística idêntica à anterior-
mente assinalada e, ainda, Rectocyclamina arrabidensis. Salienta-se a
presença em margas castanhas de Lithacoceras si/enum.
1O- 14) Grés conglomerático na base, passando a calcários micrí-
ticos nodulares e níveis calciclásticos com intercalações margosas.
Associação microfaunística : C/adocoropsis mirabilis, N. oolitica,
Frexialina planispiralis, Rectocyclamina arrabidensis, Lithocodium
aggregatum, Clypeina jurassica e Terquemella? triangularis, Var. (A) e
Vertriata (93 m) .
15 - 21) Calcários dominantemente micríticos com intercalações de
calcários nodulosos por vezes oolíticos, contendo para o topo (n ível19
de M. M. RAMALHO, 1971) Virgatosphinctes frequens.
A associação microfaunística é formada por: E. virgu/iana, Ps. gr.
Parvula-muluchensis, Fr. planispiralis, "Campbe/iel/a" striata, Thauma-
toporella parvovesiculifera, R. arrabidensis, E. virgu/iana e diversos géne-
ros de ostracodos (70 m).

41
22 - 31) Alternância de calcários nodulosos cinzentos e de calcários
compactos, micríticos, por vezes calciclásticos. Relativamente frequentes
intercalações margosas amareladas e/ou esverdeadas, por vezes
gresosas e de grés em bancadas espessas avermelhadas. A micro-
fauna em geral abundante é presente com as seguintes formas: R.
arrabidensis, E. virgu/iana, Trocho/ina gr. alpina, Fr. planispiralis, Ps.
gr. parvula-muluchensis, "Campbeliel/a " striata, Permoca/cu/us sp.,
Salpingoporel/a annu/ata e Terquemella triangu/aris, bem como diver-
sos géneros e espécies de ostracodos (88 m).
32- 34) Alternância de calcários nodulares bioclásticos e de calcá-
rios compactos micríticos no topo com abundantes nerineias. Finas
intercalações de margas. Para além da microfauna acima mencionada,
contém: Anchispirocyc/ina /usitanica, "Zergatella " Terquemella (?) trian-
gularis, Cylindroporella cf. arabica (89 m) .
35- 44) Calcários micríticos compactos com intercalações de margas
e de calcários nodulares micríticos e de margas com cores diversas.
A associação microfaunística é formada por: A. lusitanica, A. cf.
maynci, Ps. lituus, E. virgu/iana, Ps. gr. parvula-muluchensis, Feurti/ia
frequens, Permoca/cu/us sp., Cylindroporella podolica, S. annulata,
T. (?) triangu/aris, "Zergatella" sp.
Sobre este último conjunto depositam-se as primeiras camadas
areníticas do Cretácico.

Limites

O limite inferior é constituído pelos Dolomitos do Forte da Baralha,


variação de fácies da Unidade Calcários de Azóia.
O limite superior é dado pelo aparecimento de sedimentação sili-
clástica já pertencente ao Cretácico (REY, 1972).

Variações de fácies

Como já foi dito, a Unidade Espichei apresenta fortes variações de


fácies de ocidente para oriente.

Sector ocidental

O corte descrito do Cabo Espichei mostra-nos uma série dominan-


temente carbonatada, marinha, mesmo que confinada, chegando ao

42
r
ponto de conter amonóides. Se seguirmos a unidade para oriente nota-
mos uma progressiva diminuição dos carbonatos e um aumento da
sedimentação de tipo argilo-gresoso. O ambiente mantém-se marinho,
mas progressivamente sempre mais confinado com o aparecimento de
faunas salobres (Ostreídeos, etc.). Para E da Falha de Sampaio a
Unidade Espichei passa a ser representada por duas unidades sobre-
postas decisivamente continentais.

Sector oriental

J3Ra -Argilas, grés, conglomerados de Vale da Rasca (0-300 m)

A primeira das duas unidades, de baixo para cima, é a de Vale da


Rasca.
Cartografada pela primeira vez, é constituída por arenitos, margas, argi-
las e conglomerados calcários que, progressivamente, se vão carregando
de quartzo, quando nos deslocamos em direcção ao topo da série .
Aflora a N das Serras da Arrábida e de S. Lu ís-Gaitei ros, bem como
na estrutura do Viso: os afloramentos cartografados a S da Arrábida
estão tectonicamente reduzidos .
A sua espessura é variável de W para E, aumentando em direcção
a E e diminuindo em direcção a W, acabando por biselar de encontro
aos calcários micríticos de Azóia a norte de Pedreiras.
A sua série, marcada por acentuada monotonia e ausência de orga-
nismos fósseis , é dificilmente reconhecível , facto este devido prova-
velmente à fraca compactação e a fácil meteorização. Referimos aqui
o Corte de Arremula (ZBYSZEWSKI et a/., 1965) mesmo que de um modo
sucinto.

Corte de Arremula

Assentando em continu idade sobre os Calcários micríticos de Azóia


com fácies marinha salobre , mesmo que confinada, a sedimentação
continua com o aparecimento de espessos conglomerados calcários,
alternando especialmente na base com calcários intraclásticos e
microconglomeráticos.
Salientamos aqui que, de acordo com LEINFELDER (1983) , o contacto
entre os Calcários de Azóia e a Unidade Rasca estaria marcado por
profunda calichificação que , aliás, parece afectar em geral a Unidade
Rasca.

43
1) Alternância de conglomerados calcários vermelho-amarelados
e de calcários intraclásticos a microconglomeráticos azóicos (45 m).
2) Margas cinzentas e amareladas arenosas com intercalações rítmi-
cas de, por vezes, possantes conglomerados calcários. Raras
finas intercalações de calcário intraclástico gresoso e de micro-
conglomerados. Distinguem-se também raros calcários margo-
sos nodulares (150 m) .
3) Margas e argilas cinzento-amareladas com intercalações de calcá-
rios intraclásticos, ligeiramente gresosos, passando lateralmente
a conglomerados. Raríssimas intercalações de calcários margo-
sos nodulares (105m).

O topo da série é constituído por conglomerados calcários, em que


se dá o aparecimento de elementos quartzosos, formando o limite
superior da unidade.
A N da Serra de S. Luís-Gaiteiros, o reconhecimento de uma série
litológica é todavia mais problemático. Podemos dizer que as argilas e
as margas aumentam de importância e que o diâmetro dos clastos dos
conglomerados atinge os 40 cm, enquanto a N da Arrábida o seu
diâmetro é da ordem dos 2-20 cm .
Na estrutura do Viso, a Unidade Vale da Rasca pode ser observada
mesmo que com algumas limitações: apresenta sequências seme-
lhantes à do Corte de Arremula, talvez com uma maior dominância das
argilas e margas arenosas na parte médio-superior.

Limites da Unidade Vale da Rasca

O limite inferior é constituído por uma zona fortemente calichificada


e que implicaria uma exposição subaérea da Unidade Azóia e conse-
quentemente o contacto entre as duas unidades far-se-ia por paracon-
formidade. O biselamento que a Unidade Rasca sofre para ocidente
levaria a admitir tal hipótese: no entanto, é de salientar que toda a
Unidade Rasca está afectada por calichificação mais ou menos
marcada. Ficamos assim na dúvida se o caliche observado entre as
duas unidades é anterior ou posterior à Unidade Rasca.
O limite superior é feito pela substituição dos conglomerados carbo-
natados da Unidade Vale da Rasca, pelos conglomerados quartzosos
da Unidade Comenda.

44
J3co- Conglomerados da Comenda (0-600 m)

Esta unidade, cartografada pela primeira vez, é constituída essen-


cialmente por sedimentos fluviais. A sua base bisela a Unidade Vale da
Rasca, chegando a assentar sobre os Calcários de Pedreiras (Dogger) ,
junto da povoação Covões, a N de Pedreiras.
Dois são os afloramentos cartografados: o primeiro está confinado entre
a Serra da Arrábida e os primeiros afloramentos cretácicos a N da serra, o
segundo situa-se entre a Serra de São Luís e a Serra do Louro.
A unidade é constituída por siltes argilosos, areias finas , argilas
nodulares e grés, que passam a conglomerados, os quais se tornam
mais importantes para o topo. Se a N da Arrábida é impossível forne-
cer uma série, visto os afloramentos estarem cobertos pelo coluvium ,
é possível reconhecer um corte razoável ao longo da estrada Palmela-
-Murtinheira-Moinho da Páscoa.
Assentando sobre as Argilas e conglomerados calcários de Vale da
Rasca que, para o topo, como já se disse, vão-se carregando de quartzo,
desenvolve-se uma série de cor dominantemente vermelha e com
marcadas características fluviais , com cerca de 400 m de espessura
entre o Moinho da Páscoa e o limite superior.
Este corte pode ser dividido em dois troços, face às suas caracte-
rísticas litológicas: será aqui descrito sucintamente.
Alternância de grés fino mais ou menos argiloso, siltoso e de argi-
las silto-arenosas com conglomerados intercalados: estes são consti-
tu ídos por elementos sub-rolados de quartzo e quartzito subordinado e
o seu contacto com a camada subjacente é do tipo erosivo. A estratifi-
cação entrecruzada é frequente. Encontram-se normalmente gradados
em série positiva. Podem-se contar cinco intercalações conglomeráti-
cas maciças, atingindo os 4-5 m de espessura, cada uma (160m) .
A parte superior da unidade é constituída quase exclusivamente por
conglomerados com raras intercalações de argilas e grés argilosos,
canalizados. Os conglomerados apresentam uma matriz argila-arenosa.
Os calhaus de quartzo e quartzito, por vezes bem rolados , estão ferru-
ginizados (260 m) .
A espessura do afloramento, situado mais a sul , entre a Arrábida e
São Luís, é sem dúvida superior: estimado em 600 m por LEINFELDER
(1983) , nós pensamos que atinge valor superior, da ordem dos 700-
-750 m. Este valor foi calculado com base nas sondagens para água,
executadas pela empresa A. Cavaco, no flanco S da Serra de São
Luís, a S da estrada para Setúbal.

45
Limites

A Unidade Rasca já anunciava uma progressiva continentalização


da sedimentação no sector oriental. Este fenómeno acentua-se com a
sedimentação da Unidade Comenda.

Limite inferior

Pouco visível: parece haver passagem contínua entre Vale da


Rasca e a Comenda por progressivo enriquecimento em quartzo no
topo da Unidade Rasca.
O limite superior, caracterizado pelo biselamento do Cretácico em
direcção a E (REY, 1972) sobre o Jurássico e no flanco S da Serra do
Louro pela sobreposição das unidades paleogénicas.
Queremos aqui salientar que, onde é visível , os conglomerados da
Comenda terminam com uma camada de dolomitos conglomeráticos.

Estratigrafia

Unidade Espichei

As associações microfaunísticas bem como os amonóides encon-


trados na parte inferior da unidade (RAMALHO, 1971) permitem-nos
datar esta com uma certa segurança do Kimeridgiano superior
(presença de Labyrintina mirabilis imediatamente acima dos Dolomitos
do Forte da Baralha) - Titoniano (presença de Anchispirocyclina lusi-
tanica e "Zergatella sp."). É de salientar que a passagem Kimeridgiano-
-Titoniano está datada pela presença de Lithacoceras siliceum
(Quemsted) .
Os interessados na análise de fácies poderão colher ampla infor-
mação em FüRSICH et ai. (1980) .

Unidades de Vale da Rasca e da Comenda

Estas unidades, que fecham o ciclo sedimentar jurássico a oriente


de Sesimbra, não contêm restos faunísticos que permitam a sua data-
ção, a qual só será possível efectuar tendo em conta as relações
geométricas.
Admitindo uma idade kimeridgiana para o topo da Unidade Azóia,
em particular a N da Arrábida (mesmo que os tempos de sedimentação

46
e subsidência sejam diferentes de W para E}, poderemos datar, com
reservas, do Kimeridgiano a base da Unidade Vale da Rasca. Tendo
em conta que sobre a Unidade da Comenda assentam os primeiros
sedimentos do Cretácico, datados por REY (1972} do Berriasiano, data-
mos, com reserva, o topo da unidade do Titoniano.

CRETÁCICO

De acordo com J. Rey, as unidades cretácicas serão descritas


sucintamente . Para informações mais detalhadas, aconselha-se a
consulta de ZBYSZEWSKI (1965) e J. REY (1972 , 1992).
O Cretácico constitui uma faixa mais ou menos contínua de aflora-
mentos entre o N da Praia dos Lagosteiras, onde atinge a máxima espes-
sura, e o meridiano de Vila Fresca de Azeitão, onde é biselado pelas
unidades paleogénicas, não excluindo causas de natureza tectónica.
Como já se disse, a máxima espessura da série é atingida entre a Praia
dos Lagosteiras, situada a cerca de 1250 m a N do Cabo Espichei , e a
Praia da Foz, onde desaparece sob os sedimentos cenozóicos.
Foi ao longo da costa W da Península de Setúbal onde J. REY
(1972) estabeleceu a série-tipo para o Cretácico da Península de
Setúbal , e que a seguir será descrita de acordo com J . REY (1992) (ver
Quadro 1).

Berriasiano inferior

C1ca- Argilas, grés e grés calcários do Porto da Calada

Esta formação aflora no sinclinal de Sesimbra e na pequena ense-


ada da Praia dos Lagosteiras , onde assenta em concordância sobre os
calcários titonianos. É formada por 40 m de argilas verdes, violáceas
ou azuladas, alternando com bancadas de arenitos amarelos com
delgados leitos de arenitos lenhitosos que apresentam bioturbação.
Notam-se partículas constituídas por calhaus rolados de quartzo com
estratificação entrecruzada.

Limites

O limite interior é formado por um leito de 1,40 m de conglomerado,


com matriz margosa e calhaus rolados de calcário.

47
QUADRO I
Esquema da disposição de W para E da sucessão lito e cronostratigráfica
das unidades cretácicas cartografáveis na Península de Setúbal

Formações Formações
Idades W da Serra da Arrábida E da Serra da Arrábida
(N do Cabo Espichei) (S de Portela)

Albiano Galé
(C'c.)

Rodísio
(C' ..)
Aptiano

Cresmina AI margem
(C'c,) (C'.,)

Regatão (C' ••)


Barremiano 1
Boca do Chapim (C HB)
Papo Seco (C'HB) Fonte Grada
1
Areia do Mastro (C 118) (C'HB)
1
Rochadouro (C 118 )

Hauteriviano

Guia
(C'aJ
Valanginiano

Vale de Lobos
(C'aL)

Berriasiano

Porto da Calada Serre ira


(C'cJ (C'.,)

48
O limite superior é constituído pela primeira camada de grés gros-
seiro branco, pertencente à suprajacente Formação de Vale de Lobos.

Variações de fácies

A partir de São Caetano, a S de Vila Nogueira de Azeitão, a


Formação Porto da Calada é substituída pela Formação Serreira,
formada por grés grosseiros variegados com calhaus rolados de
quartzo, liditos e xistos associados em várias sequências positivas
fluviais.

Estratigrafia

Quer a Formação Porto da Calada quer a Formação Serreira são


estéreis quanto a restos biostratigráficos na região em estudo.
Atribu ídas ao Berriasiano inferior, a primeira é-o por analogia com a
evolução sedimentar da mesma formação , na região Cascais-Sintra; a
segunda, por idênticas razões , com as características da Formação
Serreira, nas regiões Ericeira-Torres Vedras, do Berriasiano médio-
-superior a Valanginiano.
Quanto aos ambientes de sedimentação, a Formação Porto da
Calada deposita-se sobre uma planície costeira em zona inframareal ,
episodicamente entalhada por canais estuarinos ou fluviais. Quanto à
Formação Serreira, deposita-se em ambiente fluvial.

C1GL- Grés, argilas e calcários gresosos de Vale de Lobos e Guia

Por razões de ordem cartográfica, a Formação Guia não foi sepa-


rada da Formação Vale de Lobos, pelo que serão aqui descritas
conjuntamente. Esta formação é formada por 46 m de grés brancos
cau liníticos, finos a grosseiros, com calhaus rolados de quartzo disper-
sos na massa arenítica, formando lentículas com estratificação interna
entrecruzada e bases ravinantes , alternando em sequências positivas
com grés finos e argilas linhitosas cinzentas a violáceas.
Sobre estes, assentam 5 m de calcários gresosos amarelos e arro-
xeados com oólitos ferruginosos com uma fauna variada e abundante,
constituída por: Neocomites afl. neocomiensis REY, Plegiocidaris muri-
cata (ROEMER) , Rhabdocidaris tuberosa DE LoR. , Pyurus rostratus
AGASSJZ, Holectypus almeidae REY, Toxaster casterasi REY, Toxaster

49
afl. subcavatus GAUTHIER, Montlivaltiidae, Exogyra cou/oni (o'ORs) ,
A/ectryonia rectangularis (ROEMER) .
Salientamos que o primeiro destes dois conjuntos representa a
Formação Vale de Lobos e o segundo, a Formação Guia.

Limites

O limite inferior é representado pelo aparecimento de grés grossei-


ros brancos caulinosos ravinando a formação anterior.
O limite superior é constituído pela barra carbonatada anterior-
mente referida.

Variações de fácies

Com excepção de variações acentuadas nas espessuras, 46 m na


costa W da península e 4 m em São Caetano, não se assinalam gran-
des variações. O mesmo podemos dizer para a Formação Guia.
De um ponto de vista sedimentológico, a Formação de Vale de
Lobos sedimentou em ambiente dominantemente fluvial. A Formação
Guia deposita-se em ambiente de plataforma aberta intra a perimareal.

Estratigrafia

A atribuição estratigráfica da Formação Vale de Lobos no intervalo


Berriasiano médio-Valanginiano inferior está assente sobre a passa-
gem lateral à formação carbonatada marinha de Serradão que é obser-
vável a N do Tejo entre os meridianos de Belas e de Sintra.
A Formação Guia, face ao seu conteúdo paleontológico e microfau-
nístico, é datável do Valanginiano superior-Hauteriviano inferior.

Hauteriviano

C1Ma- Margas e calcários recifais da Maceira

Esta formação é constituída por um calcário ferruginoso oolítico


(= 0,50 m) rico em polipeiros rolados , a que se seguem margas, termi-
nando com o membro Lagosteiras, que não foi separado pela carto-
grafia.

50
A série visível a partir da Praia dos Lagosteiras é formada como
segue, de baixo para cima:

-Calcário oolítico ferruginoso, muito rico em polipeiros isolados, gastos


e rolados , acompanhados de braquiópodes, Exogyra couloni
(D'ORB.), Alectryonia rectangu/aris (RoEMER) e Cidarispretiosa
DESOR (0,50 m).
- Margas cinzentas, intercaladas de finos leitos calcários, depois greso-
sos, com Sérpulas, Naticoídeos, Exogyra couloni (D'ORB.) ,
Alectryonia rectangularis (ROEMER), Pectinídeos (25 m) .
- Margas brancas com nódulos de Madréporas, com Echinotiara neo-
comiensis (DE LaR.), Pygopyrina incisa (AGASSIL) , Cidaris ati.
guiaensis DE LaR (1 O m).
- Calcários cinzento-claros, maciços, compactos, parcialmente recris-
talizados e dolomitizados, com Escleractiniários , Neríneas,
Bacinella irregularis RADOICIC (1 O m).

Os dois últimos níveis constituem o membro Lagosteiras (REY,


1993).

Limites

O limite inferior é representado pela sobreposição aos calcários


gresosos com abundante fauna de calcários oolíticos ferruginosos já
pertencentes à Formação superior da Maceira.
O limite superior é representado pela segunda camada do membro
Lagosteiras sobre a qual se depositam, por ravinamento , arenitos finos
amarelos.

Estratigrafia

Esta sucessão é testemunho da evolução regressiva de um


ambiente de plataforma aberta perilitoral para um ambiente de barreira
recital.
A fauna de amonites, identificada na região de Cascais, permite
datar a Formação de Maceira do Hauteriviano inferior.
Em direcção a este, a Formação Maceira está representada por
margas associadas a siltes e grés finos de leito horizontal (24 m em
Sesimbra; 8 m a sul da Portela) .

51
Hauteriviano inferior a Barremiano inferior

C1HB- Formações de Ladeiras, Rochadouro, Areia do Mastro, Papo-Seco, Boca


do Chapim e Fonte Grada

Na extremidade ocidental da Serra da Arrábida, sucedem-se em


continuidade estratigráfica 5 formações carbonatadas e terrígenas, do
Hauteriviano ao Barremiano inferior: Formações de Ladeiras ,
Rochadouro, Areia do Mastro, Papo Seco e Boca do Chapim (REY,
1993). A série de referência pode ser assinalada nas falésias costeiras
a norte da Praia dos Lagosteiras .
Na região de Sesimbra e a este do marco geodésico do Frade , só
aparecem por cima da Formação de Ladeiras depósitos detríticas que
constituem a Formação de Fonte Grada (REY, 1994).

Formação de Ladeiras

É formada por cerca de 40 m de arenitos , calcários argilosos,


margas siltosas verdes ou vermelhas e dolomitos amarelos . O seu
conteúdo biostratigráfico é formado por: Choffatel/a decipiens
SCHLUMB. , Exogyra tubercu/ifera AGASSIZ, Cidaris pretiosa COTTEAU e
Magnosia camarensis DE LoR. Várias superfícies endurecidas , a 8-
-1 O m da base, conservaram pistas excepcionais de dinossáurios
(ANTUNES, 1976), de entre os quais Neosauropus lagosteirensis ANT.,
Megalosauropus (? Eutynichnium) gomesi ANT. e lguanodon sp .

Limites

O limite inferior é representado pelo desaparecimento da última


camada margosa do membro Lagosteiras e pela deposição de areni-
tos amarelados, já pertencentes à Formação Ladeiras.
O limite superior é constituído pelo aparecimento do conjunto dolo-
mítico do Rochadouro.

Variações de fácies

Calcários margosos, calcários gresosos e margas atribu íveis à


Formação de Ladeiras podem ser identificados na Serra da Arrábida

52
até ao meridiano de Portela. Mais a este (Quinta da Serra, a W de São
Caetano) , todos os níveis carbonatados desapareceram .

Estratigrafia

A Formação Ladeiras é datável , pelo seu conteúdo de Equinídeos,


do Hauteriviano. As litofácies e biofácies provam um ambiente de sedi-
mentação de plataforma interna infralitoral a médio-litoral.

Formação de Rochadouro

É formada essencialmente por 28 m de dolomites de cor ocre, argilas


siltosas verdes e amarelas, margas brancas e grés finos a grosseiros. Uma
fina camada de calcário bioturbado com Ostreídeos, Natica, trigónias e
Choffatella decipiens ScHLUMB. está intercalada a 8 m do topo.

Limite superior

Sobreposição dos calcários margosos de Areias do Mastro aos


silies esverdeados que formam o topo da Formação Rochadouro .

Estratigrafia

Pela sua posição na sequência estratigráfica, poderia ser datada do


Hauteriviano. Quanto ao ambiente de deposição, a formação deve ter-se
depositado em ambiente infra a supratidal.

Formação de Areia do Mastro

Com uma espessura de 18 m, é constituída por calcários argilosos


cinzento-azulados em bancadas onduladas e margo-calcárias nodula-
res. Apresenta uma intercalação de arenitos e margas siltosas esver-
deadas. A formação apresenta uma associação faunística formada por:
Choffatella decipiens ScHLUMB., acompanhada de Trochotiara bour-
gueti (DESOR) na parte inferior e de Trochotiara sculptilis DESOR,
Heteraster lepidus DE LoR., Heteraster cou/ouni (AGASSIZ), Pseudo-
textulariella scarsellai (DE CASTRO) e Neotrocholina friburgensis GuiL. e
REICH , na parte superior.

53
Limite superior

Os calcários argilosos que constituem o topo da formação são brus-


camente cobertos por depósitos de arenitos finos amarelos com matriz
dolomítica, já pertencentes à Formação Papo-Seco.

Estratigrafia

A associação acima citada permite datar a Formação Areia do


Mastro do Hauteriviano superior-Barremiano inferior.
A sedimentação da unidade processa-se num ambiente de plata-
forma interna infralitoral.

Formação do Papo-Seco

Esta formação, rica em dinossáurios, com 18,50 m de espessura, é


formada por margas e argilas siltosas verdes com lenhite e gesso,
apresentando intercalações de arenitos com estratificação horizontal.
É visível ainda uma barra arenítica de grão grosseiro onde foram
encontradas numerosas ossadas de dinossáurios (DE lAPPARENT &
ZsvszEWSKI, 1957): Megalosaurus superbus SAUVAGE, lguanodon
mantelli MEYER, Astrodon valdensis Lvo. As margas são ricas em lame-
librânquios, gasterópodes (de entre os quais Gymnentone reyi
MENESSIER e Gymnentone incisa (MENESSIER) e ostracodes, Choffatel/a
decipiens SCHLUMB ..

Limite superior

As margas verdes do topo da formação são bruscamente cobertas


por uma superfície transgressiva, sobre a qual se deposita calcário
siltoso bioturbado com restos de Ostreídeos.

Estratigrafia

Pela sua posição, a Formação de Papo-Seco é atribuída ao


Barremiano inferior. O ambiente de sedimentação que caracteriza a
Formação Papo-Seco é de tipo lagunar.

54
Calcários argilosos e arenitos da Formação Boca do Chapim

É constituída por 16 m de espessura de calcários gresosos na base


e argilosos cinzento-azulados em bancadas onduladas. Notam-se inter-
calações de margas nodulares. Para o topo (terço superior) , salienta-se
calcário branco microcalciclástico. A bioturbação é muito frequente ao
longo da série. A biofase é constituída por rudistas , nerineas, Nati-
coídeos, Choffatella decipiens ScHLUMB. , Campanullela capuensis (DE
CAsTRo) , Pseudotextulariella scarsellai (DE CASTRO), Dasicladáceas (?).

Limite superior

É representado por arenitos grosseiros que ravinam as margas


calcárias da formação subjacente.

Estratigrafia

Esta formação é datável do Barremiano inferior e deposita-se em


ambiente infralitoral.

Formação de Fonte Grada

Em Sesimbra e a este do meridiano da Quintola da Maça, a Formação


de Fonte Grada sucede à Formação de Ladeiras. É formada por argi-
las versicolores, grés finos brancos com estratificações horizontais e
grés grosseiros, cinza ou amarelos, feldspáticos, com calhaus rolados de
quartzo, em lentículas de estratificações entrecruzadas (cerca de 30 m) .
A organização em sequências positivas testemunha uma sedimenta-
ção fluvial. Esta formação substitui toda ou parte das Formações de
Rochadouro, Areia do Mastro, Papo-Seco e Boca do Chapim . Ela
depositou-se no intervalo Hauteriviano superior-Barremiano inferior.

Aptiano a Barremiano superior

C1Re- Argilas, grés e dolomitos da Formação de Regatão

A Formação de Regatão foi definida por REY (1993) sobre as falé-


sias dominando o Atlântico, 500 m a W do marco geodésico da Foz.

55
É composta por argilas azuladas, violáceas , brancas ou verdes, siltes
argilosos versicolores, siltes lenhitosos, arenitos finos brancos e areni-
tos grosseiros vermelhos em lentículas com estratificações internas
entrecruzadas, e bancadas onduladas de dolomites gresosas amare-
las. Um nível intermédio de calcário amarelo, distribuído em duas
bancadas onduladas muito bioturbadas, contém uma fauna rica em
gasterópodes, de entre os quais Ptygmatis astrachanicus REK . e
Gymnentome crisminensis MENESSIER (espessura total : 19 m).

Limite superior

É materializado por uma superfície transgressiva, sobre a qual se


deposita a primeira bancada de calcário arenítico bioturbado da
Formação Cresmina.

Estratigrafia

Esta formação é datável do Barremiano superior, exclusivamente


pela sua posição estratigráfica. O ambiente de deposição é represen-
tado por uma planície inframareal que para E passa rapidamente a um
ambiente fluvial.

Barremiano superior-Aptiano inferior

C1cr- Calcários e margas da Formação Cresmina

Esta formação, conhecida somente na parte mais ocidental da


Carta Geológica de Setúbal , é representada por um afloramento de
alguns metros quadrados, que foi preservado junto da costa. É
formada por cerca de 40 m de espessura de calcários amarelos, micrí-
ticos calciclásticos em bancadas onduladas. A biofase é constituída
por: Plorbitolina /enticularis BLUM., Choffatella decipiens SCHLUMB.,
Dasicladácias .
Esta mesma formação aparece, com intercalações margosas e
calcário-gresosas, a N de Corroios e de Quintola. A E de Quintola a
Formação de Cresmina é recoberta em discordância pela Formação
do Rodísio. Já não existe para E nem em toda a extensão da carta
nenhum nível carbonatado e marinho de idade aptiana.

56
Limite superior

É representado pela sobreposição de conglomerados e grés da


Formação Rodísio sobre os calcários da Formação Cresmina.

Estratigrafia

Esta unidade, que foi datada por J. REY (1992) do Aptiano , sedi-
mentou provavelmente em ambiente confinado .

Aptiano superior

C1Ro - Arenitos e argilas da Formação do Rodísio

A N da Azóia e de Quintola desenvolve-se sobre a Formação de


Cresmina cerca de 30 m de conglomerados, grés grosseiros e argilas
cinzentas e rosadas , constituindo afloramentos descontínuos. Estes
sedimentos detríticas fluviais representam a Formação do Rodísio,
definida na região de Cascais e de Sintra (REY, 1993).

Limite superior

O limite superior é representado pela deposição de unidades do


Cenozóico que contactam por paraconformidade com as unidades
cretácicas subjacentes.

Estratigrafia

Esta formação foi datada na região de Sintra-Cascais do Aptiano-


-Aibiano , com base na associação palinológica (REY 1993).

Barremiano superior-Aptiano

C1 AI - Grés e argilas da Formação de AI margem

As três últimas formações- Regatão, Cresmina e Rodísio- afloram


a W da Sesimbra. Pelo contrário, a partir da Cotovia e até Vila

57
Nogueira de Azeitão não há nada que permita diferenciar os grés do
Barremiano superior dos grés aptianos, na ausência dos calcários
intermédios da Formação Cresmina. Todos os depósitos são assim
reagrupados numa unidade compreensiva, a Formação de Almargem.
Portanto, a Formação de Almargem é um equivalente lateral das três
formações antes apontadas.
A Formação de Almargem é formada essencialmente por 45 m de
argilas rosadas , brancas ou vermelhas, micáceas com calhaus rola-
dos. Apresentam intercalações de lentículas areníticas amareladas,
folhetadas , e de arenitos grosseiros ou conglomeráticos com estratifi-
cação entrecruzada.

Limites

Limite inferior - Uma das séries mais representativas pode ser


observada 1 km a SW do marco geodésico de Vinhas, na berma da EN
379. Sobre os grés brancos feldspáticos , a partir da Formação de
Fonte Grada, depositam-se as argilas variegadas da Formação
AI margem .
Limite superior - Formado pela sobreposição dos sedimentos paleo-
génicas que assentam através de uma paraconformidade sobre o
Cretácico inferior.

Estratigrafia

As associações de flora identificadas na Formação AI margem pare-


cem indicar que a formação não atinge o Albiano médio na região de
Lisboa-Ericeira. No entanto, há opiniões contrárias.

Albiano

C2Ga - Calcários e margas da Formação Galé

A Formação Galé aflora nas falésias da Praia da Foz, entre um


acidente injectado no basalto, a sul , e os depósitos discordantes do
Miocénico, a norte. É constituída por 20m de calcários argilosos e greso-
sos, amarelos, bioclásticos, e margas verdes. A biofase contém sobretudo
Ostreídeos, Polyconites sp., Knemiceras uhligi (CHOFFAT), Orbitolina (0.)

58
concava (LAMARCK), Neoiraqia convexa DANILOVA, Hensonina lenticula-
ris (HENSON) e Dasicladáceas.
De acordo com REY (1993), esta formação está recoberta em
discordância por formações terciárias. A sua espessura total e a sua
sucessão completa não podem ser descritas .

Estratigrafia

Sedimentada sobre uma plataforma aberta nerítica, é datada com


base no seu conteúdo faunístico do Albiano.

Conclusões

Seria extremamente longo referir as considerações finais sobre


sedimentação, paleontologia e paleogeografia que J . Rey faz nas suas
publicações sobre a série cretácica aflorante nas regiões de Setúbal ,
Cascais, Sintra e Ericeira.
Para uma aquisição rápida de dados aconselha-se a consulta de
REY (1992 e 1993) onde se poderá encontrar rica informação.

CENOZÓICO n

Os depósitos cenozóicos da Península de Setúbal estão represen-


tados por um Paleogénico ainda mal conhecido e, sobretudo, por
depósitos neogénicos . Foram estudados, de modo sumário, pelo barão
W. L. VON ESCHWEGE (1831) e por D. SHARPE (1842) a quem se deve a
primeira síntese estratigráfica acerca do Terciário, onde, pela primeira vez,
refere unidades litostratigráficas como as Almada beds. Ulteriormente,
são de realçar referências de J. C. BERKELEY ConER (sobretudo em
DOLLFUS, COTTER & GOMES, 1903-1904), de P. CHOFFAT (1906 , 1908,
1950) e de G. ZBYSZEWSKI (ZBYSZEWSKI et a/. 1965; ZBYSZEWSKI, 1967).
Este, ao tentar estabelecer correlações com o Miocénico de Lisboa,
reconheceu haver dificuldades (p . 87): En se basant sur /'échelle stra-
tigraphique établie par BERKELEY CoTTER on a tenté à diverses reprises
de retrouver dans I' Arrábida les horizons miocenes connus à Lisbonne
(. . .) Les levés géo/ogiques récents ont montré qu'il était possible

n M. T. Antunes, J. Legoinha, J . Pais.

59
d' établir un parallélisme entre les principaux termes des deux séries,
mais qu' une séparation des horizons, telle qu'elle a été faite à Lisbonne
ne peut être ici qu'artificie/le. Verificou que as divisões I, IVb, Va e Vb
do Miocénico de Lisboa são muito menos espessas na margem
esquerda do Tejo e não ocorrem na Serra da Arrábida. As variações de
fácies e de faunas são menos acentuadas (ZBYSZEWSKI et ai., 1965,
p. 20; ZBYSZEWSKI, 1967, p. 88) . De modo geral, é muito menor o contri-
buto de sedimentos de origem continental , faltando a bem dizer as
assentadas não-marinhas.
Por outro lado, é difícil reconhecer no terreno os cortes descritos ,
mas nunca figurados, por Zbyszewski que, no concernente a interpre-
tações, não segue critério uniforme quanto à separação entre divisões
(umas vezes é I, outras I e 11, outras 11 e III, outras ainda I a III).
Os depósitos miocénicos, os mais importantes dentre o Cenozóico
da área em causa, repartem-se por três áreas com características
próprias e fácies distintas: flancos sul (Portinha da Arrábida) e norte da
Serra da Arrábida, e região litoral ocidental. No Portinha, predominam
depósitos marinhos, grosseiros, de alta e média energia. No flanco
norte, os sedimentos indicam ambientes marinhos muito litorais em
áreas relativamente abrigadas. No litoral ocidental , as fácies predomi-
nantes são litorais, mas indicam ambientes mais abertos e chegam a
corresponder a condições de mar relativamente profundo.

Paleogénico

0p - Conglomerados, arenitos e margas de Picheleiros

A unidade está bem exposta na estrada entre Azeitão e Picheleiros.


É constituída, na parte inferior, por arcoses que passam a depósitos
essencialmente conglomeráticos, organizados em sequências positi-
vas de granulometria decrescente para o topo. Cada sequência começa
por conglomerados com clastos siliciosos, às vezes de grandes dimen-
sões, passando a arenitos arcósicos e a argilitos, às vezes calichifica-
dos. A espessura excede 100 m.
Na fracção fina , a paligorskite é o mineral argiloso predominante.
A unidade constitui uma banda contínua SSW-NNE, entre Quinta do
Mineiro (SW de Vila Nogueira de Azeitão) e Palmela. Na região de
Arneiros, a banda divide-se , constituindo o flanco sul da Serra de

60
S. Luís. A oeste, a mesma banda está exposta a sul de Alfarim.
Ocorrem pequenos retalhos no Portinha da Arrábida e no Forte de
Albarquel.
Não se conhecem elementos que permitam a datação directa. As
inferências quanto à cronologia assentam unicamente no enquadra-
mento estratigráfico.

12JN - Calcários de Senhora das Necessidades

Os calcários de Senhora das Necessidades constituem uma faixa


contínua desde as proximidades da Fonte do Sol até Quinta do
Mineiro, a SW de Vila Nogueira de Azeitão. Atingem cerca de 150 m de
espessura. Trata-se de calcários (sobretudo "mudstones", "" 86 % de
carbonatos) em geral brancos, com grãos de quartzo, às vezes pulve-
rulentos , com estratificação mal definida. A paligorskite é predominante
na fracção fina . São frequentes estruturas fenestradas , nódulos e rizo-
concreções. Há sinais evidentes de pedogénese.
ZBYSZEWSKI (1964) e ZBYSZEWSKI et a/. (1965) citam a presença de
gastrópodes dulçaquículas [Lymnaea pachygasterTHOMAE, L. af. dilatata
NouLET, L. (Stagnicola) syrtica C. & P., Planorbis (Coretus) comu var.
mantelli DuNK. , P (C.) cornu var. solidus THOMAE, Helix do grupo ramondi,
Helix sp.] nas imediações da capela da Senhora das Necessidades.
AzEREDO & CARVALHO (1986) referem raros fragmentos de ostraco-
dos e de oogónios de carófitas não identificados. Apresentam , também,
resultados de análises de isótopos estáveis, tendo obtido valores
médios de -4,2 para 180 e de -7,5 para 13C.

Aquitaniano

Mpa- Calcários margosos de Palhavã ()

ZsvszEWSKt et a/. (1965) descrevem cortes que atribuíram ao


Aquitaniano I e incluíram no "M1 -2- Complexo burdigaliano inferior e
aquitaniano". Os Calcários margosos de Palhavã (Mpa) (local-tipo: 750 m
E de Vila Fresca de Azeitão, 750 m N do v. g. Cuco, junto aos moinhos
da Bacalhoa) , aqui definidos, constituem a parte inferior da unidade a
que aludem ZBYSZEWSKI et a/. (1965).
Os primeiros níveis marinhos sobre os Calcários de Senhora das
Necessidades (0N) na Fonte do Sol foram datados do Aquitaniano

61
superior a Burdigaliano inferior pela presença de Miogypsina aff.
borneensis TAN e de M. aff. globulina MICHELOTTI ou M. aff. cushmani
VAUGHAN (AZEREDO & CARVALHO, 1986). Referem (ibid.) a presença de
algas coralinas (Lithophyllum sp. e Lithothamnium sp.), Amphistegina
sp., miliolídeos, textularídeos, briozoários, moluscos e equinodermes .
Os calcários estão bem expostos nas proximidades de Venda
Nova. Contêm Venus ribeiroi, coraliários e outros fósseis marinhos.
A unidade só está representada no flanco norte da Serra da
Arrábida entre Venda Nova e Palmeia.
Em conjunto com os Calcários de Senhora das Necessidades,
constituem a crista sul das Serras de S. Francisco e do Louro, que
atinge cotas cerca de 200 m de altitude.
A unidade pode ser relacionada com os níveis com Venus ribeiroi
da divisão I do Miocénico da região de Lisboa; como estes, podem
corresponder em parte a recifes-barreira.

Burdigaliano

MAz- Argilitos e margas de Azeitão

Afloram em banda contínua entre Vila Nogueira de Azeitão e Palmeia.


Assentam sobre os Calcários margosos de Palhavã (Mpa). ZsvszEWSKI
et a/. (1965) incluíram estes depósitos no "M1 -2- Complexo burdigaliano
inferior e aquitaniano", correspondendo a níveis que incluem no
Burdigaliano li e III, e M21v- Burdigaliano superior. A unidade, exposta
na região de Quinta da Torre, inclui bancos de biocalcarenitos e de
ostras intercalados em níveis argila-margosos.
Foram incluídos nesta unidade os depósitos mais grosseiros (areni-
tos e biocalcarenitos ricos de seixos rolados de quartzo) do Portinha da
Arrábida, onde foram reconhecidos (ANTUNES et ai. , 1995):

a) na base, biocalcarenitos e arenitos finos amarelados, pobres de


fósseis , assentes no Paleogénico, orientados N 75° W, 40° N.
A espessura aproximada é de 30 m. Idade 87Srf86Sr - 18,8 Ma
na base, 17,5 Ma no topo.
b) biocalcarenitos, esbranquiçados a amarelados, com rodolitos , e
arenitos grosseiros, às vezes conglomeráticos, com cimento
carbonatado. Na extremidade W do Chão da Anixa cobrem em

62
discordância angular o conjunto (a), enquanto a E assentam por
paraconformidade. Noutros locais, assentam no Jurássico médio
em discordância angular. A espessura aproximada é de 35 m.
Idade 87Srf86Sr- 16,5 Ma.
c) siltitos esbranquiçados e/ou amarelados, pobres de fósseis . A espes-
sura observável é de aproximadamente 8-9 m. Individualizados
na carta. Idade cerca de 16 Ma.

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Fig. 4- Colunas litológicas do flanco da Serra da Arrábida (ANTUNES et ai., 1995).

MFF - Calcarenitos e margas de Foz da Fonte e de Penedo Sul

A unidade aflora nas arribas litorais de Foz da Fonte e Penedo Sul,


no flanco meridional do sinclinal da Lagoa de Albufeira. Os dois cortes
são aproximadamente síncronos . Correspondem a fácies mais proxi-
mais e mais distais , respectivamente. As camadas mais modernas
estão expostas na parte alta do Penedo Sul.

63
Os Calcarenitos e margas de Foz da Fonte e de Penedo Sul (MFF)
assentam directamente sobre o Cretácico inferior (Aibiano) através de
superfície de erosão; há ligeira discordância angular. Predominam
cores alaranjadas e amareladas.
A unidade pode ser subdividida em parte inferior e superior, graças
à superfície de descontinuidade regional que corresponde ao início da
transgressão burdigaliana e à unidade III da região de Lisboa.

Fig. 5 - Coluna litológica do Burdigaliano de Foz da Fonte (ANTUNES et ai. , 1998).

64
O conjunto inferior, com cerca de 12 m de espessura, inicia-se por
um conglomerado com clastos de rochas filonianas e calcários cretáci-
cos, em matriz arenosa média. Abundam restos de moluscos miocéni-
cos. Seguem-se alternâncias de bancadas de biocalcarenitos, corres-
pondentes a ambientes marinhos litorais e níveis argilosos indicando
maior profundidade; segue-se bancada de areia fina e, de novo, biocal-
carenitos, truncados pela disconformidade regional.

Fig. 6- Coluna litológica do Burdigaliano de Penedo (ANTUNES et ai. , 1998).

65
Seguiu-se erosão intensa, com provável emersão antes de nova
transgressão. Verificou-se instabilidade, evidenciada por descontinui-
dades e por concentrações de Turritellas e de valvas de ostras. Depois,
a sedimentação estabilizou e adquiriu carácter cíclico, traduzido por
alternâncias de biocalcarenitos e margas. O máximo eustático do
Burdigaliano verificou-se, sensivelmente, a meio da unidade; corres-
ponde a depósitos margosos ricos de foraminíferos .
ZBYSZEWSKI et a/. (1965) e ZBYSZEWSKI (1967) descreveram OS
cortes de Foz da Fonte e Penedo, atribuindo a parte inferior ao
Aquitaniano-Burdigaliano inferior, e, a superior, ao Burdigaliano supe-
rior a Helveciano inferior.
O estudo magnetostratigráfico permitiu caracterizar duas zonas de
polaridade normal , correlativas das zonas magnéticas C6 e C5E por
corresponderem às zonas N5 a N7 de foraminíferos planctónicos (SEN
etal. , 1992).
ANTUNES et a/. (1997) indicam idades 87SrJB6Sr de cerca de 20 Ma
para o conglomerado basal da unidade e 17,6 Ma para os níveis altos.
Do ponto de vista de datação, G. a/tiaperturus ocorre ao longo de quase
toda a unidade. A abundância e diversidade específica de Globigerinoides
permitem atribuir a parte inferior às zonas N5 e N6 de Blow. No topo,
Praeorbulina cf. transitaria e Globigerinoides triloba são mais abun-
dantes - o que, conjugado com o desaparecimento de Catapsydrax
unicavus, permite atribuir esses níveis a N7 (Burdigaliano superior) .
Os ostracodos, Hemiciprideis he/vetica e Pokornyel/a /usitanica,
característicos do Aquitaniano, ocorrem pela última vez nas camadas mais
antigas. Os níveis mais altos contêm formas tipicamente burdigalianas.
Relativamente às unidades definidas na região de Lisboa por B.
ConER (1903-4), a unidade corresponde ao intervalo desde o final da divi-
são li até a divisão Va (inclusive) (ANTUNES et a/. , 1995; 1996b; 1998).

Langhiano-Serravaliano

MT - Areias de Quinta da Torre

Inicia-se por níveis de biocalcarenitos que passam a areias finas ,


micáceas, brancas, bem expostas na Quinta da Torre.
No Portinha da Arrábida, sobre os siltes da unidade c)- (Argilitos e
Margas de Azeitão) , afloram as unidades: d)- biocalcarenitos esbran-

66
quiçados, fossilíferos, com espessura de cerca de 76 m e atitude N 30° E,
25° SE; aumentam de inclinação para E até 50° SE; e)- arenitos gros-
seiros com bancadas conglomeráticas intercaladas, com níveis fossilí-
feros. Estes apresentam localmente estratificação oblíqua, com estru-
turas que permitem inferir correntes orientadas para E na parte inferior
e para W na superior. Têm espessura estimada na ordem de 100 m e
inclinam 25° para N. São cavalgados pelo Jurássico inferior. A idade
87Srf86Sr - 16,0 Ma, igual para os dois conjuntos , sugere que sejam
correlativas (ANTUNES et a/. , 1995).

Mp; - Arenitos e calcarenitos de Pinhal e Castelo de Palmela

Predominam arenitos compactos, esbranquiçados, com seixos de


quartzo e quartzito; têm cerca de 100 m de espessura. Na parte supe-
rior existem areias finas de cor amarelada com ostras dispersas.
Esta unidade inclui as bancadas espessas de biocalcarenitos do Castelo
de Palmeia que definem uma linha de relevo desde a Quinta de Camarata.
Parece possível estabelecer correlações com as unidades litostrati-
gráficas (divisões) Va3 a VI inclusive, da região de Lisboa, apesar das
diferenças de fácies .

Mpe - Depósitos glauconíferos de Penedo

A unidade aflora bem no Corte de Penedo Norte, no extremo norte


da Praia das Bicas. É fundamentalmente constituída por areias finas ,
mais ou menos argilosas, de cor cinzento-escura.
RoMARIZ & CARVALHO (1961 , pp. 83-94) interessaram-se pelo corte
do Penedo Norte pela ocorrência de níveis glauconíticos. Atribuíram-no
ao Miocénico superior (Tortoniano) .
ZBYSZEWSKI et a/. (1965, p. 26) descreveram o mesmo corte que
dataram do M3VI - Helveciano superior. Ulteriormente, ZsvszEWSKI
(1967, p. 43) considerou-o do Helveciano Vla-b .
Estudos recentes permitiram precisar a datação biostratigráfica e
cronométrica da unidade , bem como caracterizar a evolução da
composição isotópica de 13C e 18Q (ANTUNES eta/. , 1992; 1995; 1996;
1997; LEGOINHA, 1993).
Nos níveis inferiores (camadas 1 a 5) ocorrem G/obigerina angus-
tiumbilicata, Globigerina bulloides, Globigerinel/a obesa, Globigerinel/a
pseudobesa, G/obigerinoides cf. altiapertura, Globigerinoides cf.

67
bulloideus, G/obigerinoides immaturus, Globigerinoides subquadratus,
Globigerinoides triloba, Globoquadrina dehiscens, Globorotalia mayeri,
G/pborotalia praescitula e Neog/oboquadrina continuosa . A associa-
ção de foraminíferos planctónicos não se distingue significativamente
da recolhida nas camadas 12 a 14 do corte do Penedo, pelo que as
consideramos ainda do Burdigaliano superior (N7/N8?) .
Os depósitos da camada 6 assentam mediante uma superfície de
erosão na anterior. Trata-se de um conglomerado cujos clastos são
constituídos por moldes de lamelibrânquios muito rolados . Os clastos
apresentam pátina negra, rica de fosfatos. A amostra 25 forneceu
Globigerina bulloides, Globigerinella obesa, G/obigerinoides bulloideus,
Globigerinoides immaturus, Globigerinoides obliquus, Globigerinoides
sacculifer, Globigerinoides triloba , G/oboquadrina dehiscens,
G/oboquadrina globosa, Globoquadrina praedehiscens, Orbulina sutu-
ra/is, Praeorbulina cf. g/omerosa, Praeorbulina transitaria. As três últi-
mas espécies indicam idade langhiana, biozona N9.
A base da camada 7 (amostra 32) contém G/obigerina angustiumbili-
cata, G. praebul/oides, Globigerinella aequilateralis, G. obesa, G. pseudo-
besa, G/obigerinoides bulloideus, G. ob/iquus, G. triloba, G/oborotalia
peripheroronda, G. praescitula, Orbulina sutura/is, O. universa e Praeorbulina
transitaria. No topo, a camada (amostra 33) deu G/obigerinoides
subquadratus e, com alguma frequência, Globorotalia cf. menardii. Os
foraminíferos planctónicos permitem atribuir a base a N1 O e o topo a N11 .
A camada 8, conglomerática e litificada, é desfavorável para estudo
da microfauna. Contém glauconite e fragmentos de crostas fosfatadas.
Datações 87Srf86Sr a partir de pectinídeos indicam 11 ,5 a 13 Ma. Os
restos de vertebrados são frequentes. Dentre os seláceos, predominam
Carcarinídeos (Hemipristis, Galeocerdo e Negaprion- estenotérmicos
de águas quentes). Os lamniformes, em especial lsurus, são comuns.
Estão ainda representados Sirenídeos, cetáceos odontocetas e
uma foca. Foi encontrado um astrágalo de cervídeo, arrastado para o
mar desde terras emersas próximas.
Segue-se arenito médio, muito glauconítico (camada 9). Datação
K/Ar (Dep. Ciências da Terra da Univ. Coimbra I Dr. Regência Macedo)
deu idade de 10,97 ± 0,25 Ma (Serravaliano final) .
Na base da camada 1O ocorrem Globorotalia cf. menardii, G. mayeri,
Neogloboquadrina continuosa, Globorotalia scitula e G/obigerina druryi mas
não foi detectado G. subquadratus. A associação indica a biozona N14.
É possível estabelecer correlações com as unidades litostratigráfi-
cas (divisões) Vb a Vlc de Lisboa, apesar das diferenças de fácies.

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Fig. 7- Coluna litológica de Penedo Norte (ANTUNES et ai., 1996b).

Tortoniano

MAn -Areias e margas de Quinta do Anjo

Iniciam-se por microconglomerados acres que passam a biocalca-


renitos e a depósitos argila-margosos ricos de ostras, esbranquiçados
e/ou acinzentados. Os microconglomerados definem uma crista entre
Cabanas e as proximidades de Palmeia.
ZsvszEWSKI et ai. (1965, 1967} atribuíram estes depósitos ao Helveciano
Vlc e ao Tortoniano.

69
MGM - Conglomerados de Guarda-Mor

A oeste de Setúbal (Flamenga-Guarda-Mar) afloram depósitos argi-


losos e conglomerados, de cor vermelha, bem estratificados, organi-
zados em sequências positivas. São sobrepostos por areias finas ,
amareladas, consideradas equivalentes de parte das Areias e Margas
de Quinta do Anjo (Man)· Podem corresponder a cones de dejecção
alimentados a partir do Jurássico superior da Serra de Gaiteiros.
CHOFFAT (1908) refere as margas e areias da colina de Gaiteiros,
considerando-as tortonianas, de características cáspicas, não aflo-
rando na parte norte da cordilheira nem em Lisboa.
ZsvszEWSKI (1964) designou o conjunto como Formação vermelha
de Flamenga e Lage, que considerou intercalado entre duas unidades
marinhas.

ML - Depósitos de Ribeira da Lage

A unidade é constituída por areias finas a médias (areolas) , micá-


ceas, amareladas a esbranquiçadas, com frequentes níveis decimétri-
cos concrecionados. Para o topo abundam conchas de Chlamys
macrotis.
A parte superior é constituída por areias finas amareladas, marinhas,
mas onde não foram encontrados fósseis. Têm espessura reduzida.
Assentam no conjunto rico de pectinídeos, do qual estão separadas
por superfície erosiva. Encimadas por outra superfície erosiva, são
cobertas pelas areias feldspáticas de Fonte da Telha e Coina. O conjunto
pode ser observado na Praia do Moinho de Baixo (Foz da ribeira da
Lage). Trata-se de Tortoniano superior? Representarão um reflexo da
crise do Messiniano?
ZsvszEWSKI et a/. (1965, p. 22) atribuíram ao Tortoniano os depósi-
tos da Ribeira da Lage. ZsvszEWSKI (1967, pp. 42-43) correlacionou-os
com o Tortoniano Vlla-b. A associação de foraminíferos planctónicos é
caracterizada por G/oborotalia cf. menardiii (são frequentes formas
com 5 a 5 1/2 câmaras na última volta; no Penedo Norte apresentam ,
em geral, 4 a 4 1/2 câmaras), Neogloboquadrina continuosa,
Globigerina apertura, G/obigerina druryi, G/obigerinopsis aguasayen-
sis, Orbulina sutura/is e O. universa. Não ocorrem G. mayeri nem
Neog/oboquadrina acostaensis. A associação indica N15.

70
As associações de ostracodos de Ribeira da Lage são caracte ri-
zadas por Aurila sp., Neocytherideis linearis, Ponthocythere sp. e
Urocythereis sp. ; têm afinidades com associações conhecidas no
Serravaliano.
Os dinoflagelados são raros e pouco diversificados. Predominam
Lingulodinium, Polysphaeridium e Spiniferites.
Valvas de Chlamys da parte superior da unidade foram datadas de
11 ,5 a 15 Ma pelo 87Srf86Sr (ANTUNES et a/., 1995; ANTUNES et a/., 1996).
A curva de variação de 18Q indica ambientes marinhos abertos e,
para a parte superior, aumento ligeiro de temperatura da água. A queda
de 13C, relativamente aos depósitos glauconíferos de Penedo, pode
estar relacionada com um acréscimo da influência continental e/ou
com cond ições mais oxidantes (ANTUNES et a/. , 1996).

Fig. 8- Coluna litológica do Miocénico de Ribeira da Lage (A NTUNES et ai., 1996b).

71
Pliocénico

PTc -Areias feldspáticas de Fonte da Telha e de Coina

As unidades anteriores são ravinadas por conglomerados pouco


espessos, descontínuos, melhor expostos junto da Lagoa de Albufeira.
Seguem-se areias finas a grosseiras , quase sempre arcósicas,
frequentemente com estratificação entrecruzada e/ou · estruturas
convolutas, fluviais. A cor é variável desde o branco (areias de Coina)
até o vermelho e amarelo. Os fundos de canal estão atapetados por
leitos de calhaus muito rolados, alguns de rochas ígneas. No seio das
areias ocorrem blocos isolados de arenitos cretácicos e nódulos de
sílex. A espessura máxima excede 300m na região de Pinhal Novo. Na
fracção argilosa predominam caulinite e ilitite. A montmorilonite ocorre
nos níveis fossilíferos bem como nos níveis argilosos (CARVALHO, 1968;
AZEVEDO, 1985).
Cortes na Fonte da Telha foram descritos por G. ZBYSZEWSKI (op.
cit.) e CARVALHO (1968). AZEVEDO (1982) faz uma descrição pormenori-
zada do conjunto arenoso.
Para a parte superior, existem intercalações de argilas cinzentas a
negras com restos de vegetais e grandes cristais maclados de gesso,
lignitos e diatomitos; localmente existem canais com ostras.
A encimar as areias fluviais existe um nível microconglomerático
fossilífero. Na Fonte da Telha foi explorada uma camada rica de
moldes de moluscos mal conseNados e atribuídos ao Pliocénico
(ZBYSZEWSKI , 1947). Esta camada foi correlacionada com os depósitos
com fauna malacológica de Alfeite. A microfauna é desconhecida.
Trata-se de uma associação de carácter marinho litoral, que não
proporciona datação precisa. Na falta de outros elementos, admitimos
com reseNa a idade pliocénica do conjunto, cuja espessura é da
ordem de poucos metros. Parece, portanto, atingir-se um máximo de
regressão, a que sucede, no fim , breve episódio transgressivo.
As areias têm sido intensamente exploradas para a construção civil.
Foram fonte de ouro, na Adiça. As argilas são utilizadas para cerâmica.

Plistocénico

Para além das unidades indicadas a seguir ocorrem vestígios de


praias a altitudes entre 25 e 90 m e que não foi possível cartografar
devido à reduzida representação. Merecem destaque os níveis de

72
terraços marinhos da reg1ao do Forte da Baralha que forneceram
alguns moluscos. ZsvszEWSKI et a/. (1965) referem os seguintes terra-
ços :

a) 60 m de altitude. Areias acinzentadas na rechã imediatamente a


N de Baleeira, a NNW do Forte da Baralha, com fauna de molus-
cos descrita por DoLLFUS & CHOFFAT (1904). Mactra subtruncata
var. triangula REN ., M. solida LINN., Donax vittatus DA COSTA var.
atlantica HIDALGO, Cardium echinatum LiNN , Pecten maximus
LINN , Mytilus edu/is L. , etc.
b) Rechã a 20-25 m de altitude. Areias com calhaus rolados.
c) Duas rechãs entre 8-12 m e 6-8 m. A mais alta apresenta restos
de antiga praia, constituídos por areias consolidadas com calhaus
rolados, atribuída ao Tirreniano 11. Ambas forneceram fauna.

Noutros locais existem retalhos de conglomerados corresponden-


tes a terraços marinhos de 12 a 15m e de 5 a 8 m, atribuíveis ao último
interglaciário e ao início da glaciação de Wü rm ("' 100 000 anos,
Tirreniano 11 e III) .
O terraço de 5-8 m, que nos interessa particularmente, depositou-se
em estreita plataforma de abrasão marinha; tende a preencher a
entrada de cavidades abertas pelo mar nas falésias litorais, como a
Lapa de Santa Margarida e a Gruta da Figueira Brava. ZsvszEWSKI
(1965, p. 1O) descreve a seguinte sucessão (de cima para baixo)
observada junto da Lapa de Santa Margarida (terraço de 5 m):

3 - brecha bem cimentada, avermelhada e acastanhada, com ossos de


vertebrados terrestres, lascas mustierenses e leitos estalagmíticos;
2 - conglomerado de cimento avermelhado e com fragmentos de
Patella safiana, Venus, Tapes, Ostrea, etc.;
1 -conglomerados de grandes elementos com indústrias paleolíticas
misturadas .

ZBYSZEWSKI & TEI XEIRA (1949) indicam , para O terraço de 5-8 m


(nomenclatura actualizada por J . Angel Gonzalez-Delgado, Dep. Geología,
Univ. de Salamanca) :

Designação antiga Designação actualizada


Bivalves
Mactra solida Spisula solida
Tapes pu/lastra Venerupis pu/lastra

73
Venus gallina striatula Chamelea gallina striatula
Cardium echinatum Acanthocardia echinata
Cardium edu/e umbonata Cerastoderma glaucum umbonatum
Cardium norvegicum ponderosa Laevicardium crassum
Mytilus edu/is Mytilus edu/is
Glycymeris (Pectunculus) bimaculata Glycymeris (G.) bimaculata
Pecten maximus Pecten maximus
Murex erinaceus Ocenebra erinacea
Purpura haemastoma Thais haemastoma
Patella coerulea subplana Patella coerulea subplana
Patella safiana Patella safiana
Patella vulgata Patella vulgata

Cirrípedes
Pollicipes cornucopiae Pollicipes cornucopiae

Equinídeos
Echinus milliaris Echinus milliaris
Strongi/ocentrotus /ividus Paracentrotus lividus

Para estes autores, o terraço de 5-8 m terá idade semelhante ao da


base da gruta de "Devil's Tower" em Gibraltar (Tirreniano III).
Patella safiana é considerada característica de águas relativamente
quentes (na actualidade, tem como limite norte de distribuição o litoral
marroquino).
Na Lapa de Santa Margarida foram recolhidos, nestes conglomerados,
instrumentos líticos (entre eles um biface "abevilense" redepositado , e
peças languedocenses). Na Gruta da Figueira Brava a indústria abun-
dante é mustierense com denticulados, confeccionada sobretudo com
seixos de quartzo e quartzito, sendo raras as peças de sílex. No interior
da gruta, os depósitos não estão consolidados por ter ficado ao abrigo
da cimentação carbonatada, protegidos por crostas de estalagmite.
Na extremidade sul da Praia dos Coelhos, existe conglomerado
(mais de 2 m de espessura) com elementos, muito rolados, até 50 cm
de diâmetro.
Com o avanço da glaciação do Würm , o nível do mar foi descendo.
Há cerca de 30 000 anos, a plataforma de 5-8 m e as grutas aí esca-
vadas ficaram em posição elevada sobre extensa planície litoral. O mar
situava-se a cerca de 60 m abaixo do nível actual (MISKOVSKI, 1987,
p. 234). As comunidades humanas encontraram nesses territórios
óptimos locais de caça. As grutas imediatamente sobranceiras, como
a Lapa de Santa Margarida e a Gruta da Figueira Brava, constituíam

74
abrigos naturais. Aí ficaram preservados vestígios da ocupação, consti-
tuídos, principalmente, por ossos de animais, mas também por restos de
Neandertaliano, e por indústrias líticas e de osso. Datações 14C e com
base nas séries de Th/U indicam idade muito aproximada de 30 Ma para
a camada 2 dos níveis arqueológicos explorados (ANTUNES, 1990/91).

P8 e- Conglomerado de Belverde

Esta unidade foi definida por AzEVEDO et a/. (1979) . Consta de conglo-
merados, pouco ou nada consolidados, com elementos essencialmente
de quartzo e quartzito, esbranquiçados, e matriz arenosa. Os clastos,
brancos, são dominados pelos quartzitos, segue-se o quartzo e, rara-
mente, sílex, rochas ígneas podres, arenitos, xistos do Ramalhão, etc.
A espessura observável é pequena (2 a 3 m) e afloram principal-
mente na parte da arriba litoral a norte da Lagoa de Albufeira.
Note-se a frequência de seixos eolizados na parte superior.
Esta unidade forneceu indústrias líticas do tipo "pebble culture", de tipo
pré-acheulense (ZBYSZEWSKI & CARDOSO, 1978; AZEVEDO et a/., 1979a;
AzEVEDO & CARDOSO, 1985), caracterizando a presença humana. No
estado actual dos conhecimentos, as indústrias são compatíveis com
idade entre o Pliocénico superior e o Plistocénico médio, inclusive. Os
"Conglomerados de Belverde" não afloram na generalidade da área.
Estão dispostos segundo uma faixa quase contínua desde pouco a sul
da Fonte da Telha até uns 3 km a norte da Lagoa de Albufeira. Na parte
restante da área cartografada, afloram em pequenos retalhos como nas
proximidades do v. g. Pedras Negras e junto da Ribeira de Apostiça.
Pode corresponder ao Calabriano.

PMF - Conglomerado de Marco Furado

Trata-se de unidade conglomerática com matriz arena-argilosa,


vermelha. Os clastos angulosos são predominantemente de quartzo,
mas ocorrem quartzitos, jaspes, sílex e xistos.
São frequentes os encouraçamentos ferruginosos , particularmente
para o topo. Às vezes as couraças foram destruídas, restando frag-
mentos dispersos à superfície do solo.
Atinge 30 a 40 m de espessura.
Na fracção argilosa predominam a ilite e/ou mica e caulinite
(AZEVEDO, 1982) dominando normalmente a mica.

75
AzEVEDO (1982) separou deste conjunto os conglomerados com matriz
argilosa de Cabanas e Quinta do Anjo, designando-os por Formação
de Cabanas. Fundamentou essa separação no facto de se apresenta-
rem estratificados, inclinados cerca de 50° em concordância (sic) com
o Miocénico marinho e por, segundo a autora, ocorrerem em sondagem
por baixo do conjunto das areias pliocénicas. Atribuiu-lhes cerca de 50 m
de espessura. Todavia, a cartografia revela nítida discordância entre as
unidades tortonianas e os conglomerados, e as características litológi-
cas são em tudo semelhantes às dos depósitos de Marco Furado,
como aliás reconheceu AzEVEDO (1980, p. 24). Observações cuidadas
sugerem que os conglomerados de Cabanas estão justapostos aos
depósitos miocénicos (daí a sua inclinação), resultando de descargas
torrenciais a partir do Jurássico superior da Serra de S. Luís.
Os conglomerados reconhecidos na sondagem podem ser equiva-
lentes dos níveis inferiores de Alfeite.

Holocénico

Or , Odv- Terraços (Or) e depósitos de vertente (Odv)

Terraços, materializados por depósitos argilosos com leitos de


seixos rolados de quartzo, estão bem desenvolvidos no SW do mapa,
a norte do Cabo Espichei , entre 100 e 70 m.
Sobretudo na vertente sul da Serra de S. Luís e na encosta da Praia
de Galápos, existem depósitos de vertente desenvolvidos.
Também , na base da arriba litoral ocidental a norte da Lagoa de
Albufeira, existem depósitos arena-argilosos, provenientes da erosão
da encosta que, pela posição, não foram marcados na carta.

Oad -Areias de duna

As areias de duna estão largamente representadas na área do


mapa. Cobrem os restantes depósitos com os quais se misturam
devido aos trabalhos agrícolas. Merecem citação especial os depósi-
tos situados a norte da Lagoa de Albufeira-Ribeira da Apostiça, onde
as areias dunares estão na dependência das dunas situadas ao longo
da arriba litoral, cuja linha de testo passa pelos vértices geodésicos
Albufeira e Cabo da Malha. É possível reconhecer areias com influên-
cia dunar mesmo nas proximidades de Quinta do Anjo e de Palmeia,
onde não foram cartografadas devido à pequena espessura.

76
Qd- Dunas

Têm grande desenvolvimento, havendo que distinguir as que se


situam no sopé da arriba (em relação directa com a praia) das que
existem no topo. O contacto entre umas e outras apenas é observável
na Lagoa de Albufeira.
As dunas da praia são, fundamentalmente , de tipo longitudinal e
paralelas à arriba. Atingem maior desenvolvimento a norte da área da
carta entre a Fonte da Telha e a Costa de Caparica.
As dunas superiores têm morfologia variada, com destaque para
alguns grandes "barkanes". Constituem uma banda estreita que acom-
panha a arriba fóssil desde as proximidades da Foz da Fonte, ultra-
passando o limite norte da carta.
Um pouco a sul da Fonte da Telha (e nos Capuchos, fora da área
da carta) , existem paleossolos intercalados nas dunas. Nos Capuchos,
são frequentes conchas de Helix disseminadas no paleossolo. Estes
permitiram datações 14C: nos Capuchos, 2220 ± 70 BP, e a sul da
Fonte da Telha, amostras na base e no topo deram 1840 ± 11 O BP e
1190 ± 90 BP, respectivamente. A diferença exprime intervalo sem
movimentação dunar significativa. O desenvolvimento das explorações
agrícolas em tempos do Império Romano poderá explicar esta situa-
ção, que se terá prolongado através dos tempos até o início da domi-
nação islâmica. Abandono subsequente conduziu à remobilização
dunar.
O desenvolvimento vertical máximo dos edifícios dunares na
Península de Setúbal atinge 60 m, e cotas de 111 m no v. g. Cabo da
Malha. Localmente (a norte da Lagoa de Albufeira) foram alvo de
exploração comercial.

Q0 - Aluviões

As linhas de água da carta têm associados depósitos aluvionares


desenvolvidos. Destacam-se as da Ribeira da Apostiça e seus afluentes,
que desagua na Lagoa de Albufeira (FREITAS, 1995), da Vala Real
(Ribeira de Coina) e as da Ribeira do Livramento em Setúbal. As
correspondentes às regiões da Lagoa de Albufeira e da baixa de
Setúbal estão relacionadas com enchimento de vales fluviais abertos,
quando de níveis marinhos mais baixos que os actuais. A espessura é
reduzida, não excedendo 50 m.

77
IV - ROCHAS ÍGNEAS (')

Na área abrangida pela Carta Geológica 38-8, as rochas ígneas


ocorrem, na forma de filões e intrusões diversas, fundamentalmente
distribuídas por dois grupos:

- um, associado ao diapiro de Sesimbra, representado por vários aflo-


ramentos de orientação paralela aos flancos do diapiro;
- outro, intersectando a costa, entre Seixalinho e o Cabo Espichei e
entre este e Fonte da Baralha, com orientação NW-SE, paralela
às falhas que nesta zona afectam as formações sedimentares até
ao Cenomaniano.

Esta distribuição espacial dos afloramentos não se exprime por distinta


litologia dos mesmos. De facto, podemos considerá-los petrograficamente
como teschenitos e doleritos, independentemente do local de ocorrência.
Entre estes tipos petrográficos, é sem dúvida o teschenítico o
melhor representado no diapiro de Sesimbra, sendo de evidenciar os
afloramentos na zona do Forte do Cavalo. Nestes, podemos analisar
macroscopicamente que se trata de uma rocha com duas fácies granu-
lares, a mais grosseira constituindo veios na mais fina.
Microscopicamente, os aspectos texturais e a mineralogia são
comuns às duas fácies identificadas, isto é, clinopiroxena (titanoaugite
zonada) e anfíbola, esta mais abundante e, pelas características ópti-
cas, correspondente à horneblenda, variedade kaersutite, cortando a
rede feldspática, constituída basicamente por plagioclases e feldspato
alcalino em fase tardia, em cujos interstícios se observa analcite, zeóli-
tos, biotite e óxidos. Esta rede apresenta-se variavelmente alterada
para sericite e minerais de argila.
Entre os filões doleríticos é de referir o afloramento junto ao Moinho
dos Sete Caminhos. Trata-se de uma rocha em que a rede de plagio-
clases se articu la de forma subofítica a intergranular com a clinopiro-
xena, a olivina, biotite, óxidos e apatite, incluindo, a primeira, micrólitos
de plagioclase. A olivina, pouco frequente , ocorre em cristais indivi-
duais bem preservados. A particularidade deste filão reside no facto de
a maioria das secções de clinopriroxena corresponderem a pigeonite,

,., Unia Tavares Martins.

78
o que levou o professor C. Torre de Assunção (ln ZsvszEWSKI, G. et ai. ,
1965) a designá-lo por "dolerito pigeonítico com olivina".
Os restantes doleritos aproximam-se mineralogicamente dos
teschenitos, isto é, clinopiroxena, abundância de anfíbola com carac-
terísticas kaersutíticas, rede feldspática e preenchimentos intersticiais
analcíticos e calcíticos com óxidos e biotite.
Quanto aos afloramentos lamprofíricos, considerados na carta 38-B de
1965, são agora integrados nos doleritos. Aliás, a sua inclusão no
grupo dos lamprófiros deixa alguma ambiguidade: Espichelito - dolerito
fino anfibólico; tipo afim dos Camptonitos ; Vosegito- ou tipo afim . De
facto, estes litotipos , com mineralogia semelhante aos teschenitos e
aos doleritos , parecem estabelecer uma transição entre ambos.
Como se verifica, com excepção do afloramento dolerítico do Moinho
dos Sete Caminhos, todos os outros, teschenitos e doleritos, apresentam
um "ar de família" expresso não só mineralógica como quimicamente.
Assim , do ponto de vista químico (MARTINS, L. T., 1991 ), estas
rochas consideram-se alcalinas, uma vez que apresentam razões
Y/Nb < 1; Zr/Nb "" 3; La/Nb "" 0,83, mas para valores de La~ 60 ppm e
Nb ~ 50 ppm. Enquanto a rocha do afloramento de Moinho dos Sete
Caminhos apresenta razões Y/Nb = 1,57; Zr/Nb = 7,5 e La/Nb = 1,14,
ou seja, características químicas transicionais com tendências toleíti-
cas (Y /Nb ~ 2; Zr/Nb "" 11; La/Nb "" 2,5).
Merece referência particular o reconhecimento, nesta região de
Sesimbra (entre a praia a E do Forte da Guarda Fiscal e Santana) , da
expressão mais a norte do Complexo Vulcano-Sedimentar interstratifi-
cado nos calcários dolomíticos do Hetangiano-Sinemuriano, até aqui
apenas referenciado na bacia de Santiago do Cacém e na bacia do
Algarve. Na região a que se refere esta carta geológica, apesar deste
complexo vulcano-sedimentar se apresentar fortemente alterado, é
ainda possível identificar o seu carácter vulcânico, constituído por
escoadas lávicas com intercalações de tufos vulcânicos e piroclastos,
tal como se observa nas duas bacias meso-cenozóicas de Santiago do
Cacém e Algarve. Nestas, a qualidade dos afloramentos permitiu a sua
caracterização petrográfica, mineralógica e química, como sendo toleí-
tica (MARTINS, L. T., 1991 ).
Do anteriormente exposto, deduz-se que, na região abrangida pela
carta 38-B, as rochas ígneas integram os ciclos toleítico (160-190 Ma)
e alcalino (65-1 00 Ma), respectivamente 1. e 3.0 ciclos da Actividade
0

Ígn ea Mesozóica em Portugal (MARTINS, L. T. , 1991 ).

79
Datações Rb/Sr (KAWASHITA, K.; MANUPPELLA, G. & SILVA, A. F., 1993)
para filões doleríticos, cortando o Complexo Vulcano-Sedimentar,
conduziram a valores de 71 ,7 ± 8,2 Ma incluindo-os no ciclo alcalino.
Conclui-se, assim, que, na região de Sesimbra, a actividade ígnea
acompanha a uniformidade de comportamento observada na Orla
Meso-Cenozóica Portuguesa como resposta ao processo tectono-mag-
mático conducente à abertura do oceano Atlântico Central e Norte.

V - TECTÓNICA

TECTÓNICA

Introdução

Do ponto de vista estrutural, na área correspondente à folha n.o 38-B


de Setúbal , a estrutura tectónica mais importante é a Cadeia da
Arrábida, que está localizada na extremidade sul da Bacia Lusitaniana.
A norte da Cadeia da Arrábida existe uma outra estrutura de menor
importância, conhecida como sinclinal de Albufeira.
A Cadeia da Arrábida, sendo uma das estruturas mais importantes
da tectónica de inversão do Miocénico registadas na Bacia
Lusitaniana, tem uma direcção ENE-WSW, paralela à Cordilheira
Bética, e um comprimento de cerca de 30 km. É limitada a norte pelo
sinclinal de Albufeira, a leste pela Falha de Setúbal-Pinhal Novo, a sul
pelo alto estrutural de soco (imerso) da Arrábida e a oeste por uma
provável falha de transferência direita, conjugada da Falha de Setúbal-
-Pinhal Novo (KULLBERG , 1996), situada aproximadamente a 5 km a
oeste do Cabo Espichei (BoiLLOT et a/., 1978).
A Cadeia da Arrábida é essencialmente constituída por sequências
sedimentares carbonatadas, dolomíticas e margosas, com intercalações
de unidades detríticas do Meso-Cenozóico, por vezes, bastante
deformadas, com a presença de dobras e cavalgamentos de direcção
ENE-WSW vergentes para sul (CHOFFAT, 1908; RIBEIRO & RAMALHO,
1986; RIBEIRO et a/., 1990), associados a rampas laterais esquerdas de
direcção N-S a NNE-SSW e localmente com interferência de diapiros
salinos (KuLLBERG et a/., 1991 , 1995a; KuLLBERG , 1996). É de notar
também a existência, na zona do Cabo Espichei , de acidentes com
direcção NNW-SSE de movimentação horizontal direita (Fig. 9) .

80
Modelo Tect,omco
. da Arrábida

/ / Falha, falha provável

/ ' Falha normal


/ ~ Falha inversa ' cavalgamento
...:::;?"
. •. !),
Falha com movunentaçao
. h ..
cv" Eixo de anliclinal onzontal

CP
Devido às enormes diferenças na magnitude e estilo das estruturas
de deformação existentes na Cadeia da Arrábida, esta pode ser subdi-
vidida em diferentes sectores (KU LLBERG, 1996):

- Sector Ocidental;
- Sector Oriental;
- Estrutura de Colapso Gravítico de Palmeia.

Sector Ocidental da Cadeia da Arrábida

Este é o sector menos invertido da cadeia, preservando assim as


estruturas anteriormente ao episódio compressivo miocénico. Neste sector
podem distinguir-se várias estruturas, nomeadamente (KULLBERG, 1996):

- "Monoclinal" do Cabo Espichei ;


- Horst do Forte da Baralha;
- Doma da Cova da Mijona;
- Diapiro de Sesimbra.

"Monoclinal" do Cabo Espichei

O "monoclinal" do Cabo Espichei (Fig. 9) corresponde a um flanco


longo de um anticlinal, com o eixo, situado no mar, de orientação NW-SE.
A série estratigráfica abrange as formações desde o Oxfordiano médio
até ao Albiano. A inclinação das bancadas, que é de 70° N junto ao
farol , diminui gradualmente para NNE em direcção à Foz da Fonte,
sendo de 25° N na Praia dos Lagosteiras .
O flanco longo da dobra tem um perfil em "pescoço de cisne", com
uma variação pronunciada e brusca da inclinação das camadas, mais
acentuada próximo da charneira. Esta geometria é devida, provavel-
mente , a um acidente, a sul - Falha da Arrábida, de orientação E-W,
muito inclinado, que teria funcionado como falha normal durante o
Mesozóico e sido invertida durante o episódio compressivo miocénico,
passando a funcionar como falha inversa, sendo a frente mais avan-
çada da sequência de cavalgamentos vergentes para sul (1 .• linha de
deslocamentos de CHOFFAT, 1908). Durante este episódio compres-
sivo, a acomodação das unidades sedimentares de cobertura, mais
deformáveis, do bloco levantado, à resistência, oferecida pelo bloco do
soco, à propagação da deformação, teria gerado uma dobra deste tipo
( KULLBER G, 1996).

82
Horst do Forte da Baralha

O Horst do Forte da Baralha (Fig. 9) corresponde a um horst cujas


falhas têm orientação aproximada de NNW-SSE, de movimentação
vertical normal e horizontal direita, com ro/1-over associado no bloco
leste, evidenciando uma actividade distensiva importante no final do
Dogger e início do Malm (KULLBERG , 1996).

Doma da Cova da Mijona

O Doma da Cova da Mijona localiza-se entre o Cabo Espichei e


Sesimbra (Fig. 9). Tem uma forma arqueada, com as direcções da
estratificação a descrever trajectórias concêntricas, a inclinação a
variar do núcleo do doma para a periferia de 70° a 40° e o padrão de
fracturação radial. É recortado por falhas normais, com direcções que
variam entre NE-SW a NW-SE, que afectam essencialmente dolomitos
e calcários do Sinemuriano-Oxfordiano. Ocorrem associadas a falhas
conjugadas de menor dimensão, formando grabens na cúpula do
doma. As respectivas estrias são subperpendiculares à linha de inter-
secção dos planos de falha com a estratificação. Entre as bancadas
mais competentes, também se observa frequentemente estrias de
deslizamento normal. Existem , ainda, numerosas fendas de tracção,
dispostas de forma radial , ocorrendo em pares conjugados que se
intersectam segundo linhas perpendiculares à estratificação (KuLLBERG et
a/., 1995a). Há duas hipóteses para a geração deste doma (KULLBERG
et a/., 1991; 1995a):

- diapirismo salino;
-origem magmática, quer directamente provocado pela intrusão de
um pequeno batólito ou !acólito não aflorante quer indirectamente
com magmatismo em profundidade, fornecendo calor para níveis
mais superficiais e, consequentemente, induzindo maior mobili-
dade na unidade evaporítica (KuLLBERG, 1996).

Oiapiro de Sesimbra

O Diapiro de Sesimbra, trata-se de uma estrutura de forma triangu-


lar, resultante da intersecção de falhas de orientação aproximada-
mente NE-SW, NNW-SSE e ENE-WSW (imerso) (Fig . 9) . A estrutura

83
termina a norte contra uma falha normal com polaridade para norte
- Falha de Cova da Raposa-Santana-Covão. Nos bordos da estrutura
existem acidentes dispostos radialmente a partir do seu núcleo.
Os acidentes NNW-SSE (Falha da Achada) e NE-SW estão injec-
tados de material da unidade evaporítica, cuja identação diapírica,
anterior à rotura nestes acidentes, originou um doma assimétrico forte-
mente arqueado, rodeado pelo respectivo sinclinal anelar. O bordo
ocidental da estrutura é constituído por calcários margosos do
Kimeridgiano a Oxfordiano médio, com inclinações para W e NW
bastante acentuadas. O bordo oriental é constituído pelas unidades
dolomíticas e carbonatadas do Sinemuriano-Oxfordiano, suavemente
inclinadas para NE. O núcleo, que é constituído pelas unidades dobra-
das do Jurássico superior e do Cretácico inferior a médio, corresponde
à parte da cúpula dobrada e fracturada do doma diapírico, colapsada
devido à migração lateral das unidades evaporíticas subdjacentes,
principalmente para o acidente ocidental , originando um maior afunda-
mento do bloco SE (KuLLBERG , 1996).
Tanto as unidades do Sinemuriano inferior a Hetangiano como as
unidades do Jurássico e Cretácico no interior do diapiro estão cortadas
por numerosos filões de rochas básicas, em geral muito alterados.
A Falha da Achada, de direcção NNW-SSE, inclinação 50°-60° NE,
foi reactivada como falha inversa, sendo provavelmente responsável
pela inversão dos sedimentos cretácicos, nalguns locais, como se
pode observar na estrada da Califórnia. A Falha de Sesimbra, de direc-
ção NE-SW e inclinação de 70°-80° NW, entre o Forte do Cavalo e
Covão, coloca em contacto tectónico, por cavalgamento, os Calcários
e grés intercalados do Risco (Kimeridgiano a Oxfordiano médio) sobre
os Calcários, grés e margas de Espichei (Titoniano e Kimeridgiano)
(MANUPPELLA , 1994; MANUPPELLA et a/. , 1996).
A Falha do Vale do Brejo-Frade-Zambujal , acidente periférico ao
diapiro de Sesimbra e de particular importância, tem orientação NW-SE.
Inclina para NE, apresentando uma movimentação aparente de desli-
gamento esquerdo que coincide no interior do diapiro com uma maior
espessura aflorante da unidade esvaporítica. Correspondeu , antes da
inversão miocénica, a um cavalgamento periférico do doma, com
deslocamento compatível com o esforço da identação diapírica. A falha
prolonga-se na sua extremidade meridional pela Falha de Cova da
Raposa-Santana-Covão, de movimentação vertical normal com polari-
dade para norte, que funcionou, antes da inversão miocénica, como

84
uma estrutura de transferência de movimento do doma do diapiro, com
amortecimento progressivo para este (KuLLBERG, 1996).

Sector Oriental da Cadeia da Arrábida

Este sector define uma estrutura imbricada 3D , formada por caval-


gamentos sobrepostos de direcção ENE-WSW vergentes para sul e
rampas laterais esquerdas, de orientação NNE-SSW a N-S, oblíquas
aos cavalgamentos . Já em 1908, Choffat marca três "linhas de deslo-
camentos" (cavalgamentos) , sendo a primeira no mar a sul da cadeia,
a segunda correspondendo aos anticlinais de Formosinho-Viso e a
terceira, ao anticlinal de S. Luís.
Os cavalgamentos orientam-se perpendicularmente às rampas
laterais quando afastadas destas, fundindo-se gradualmente nas
rampas laterais à medida que se aproximam delas, comportamento
semidúctil , definindo assim estruturas em duplexes. As dobras são
mais fechadas nos blocos a muro dos cavalgamentos, com a geome-
tria dos eixos sigmoidal e periclinal (KuLLBERG , 1996).

Anticlinal de Formosinho

O anticlinal do Formosinho, com aproximadamente 1O km de


comprimento entre Calhariz, El Carmen, marco geodésico Formosinho
e Outão , é uma estrutura dissimétrica com vergência para sul , encur-
vada e convexa para norte (Fig. 9).
O flanco norte é constituído por uma série sedimentar que vai
desde o Jurássico médio até ao Miocénico, com a inclinação das
camadas a aumentar de norte para sul , passando de 28° N para sooN,
diminuindo novamente na zona de charneira para aproximadamente
25° N.
A estrutura está cortada por numerosas falhas de orientação princi-
pal N-S a NNE-SSW que definem uma sequência de blocos em
dominó, formada por duplexes de cisalhamento simples, limitados por
rampas laterais e rampas frontais. Existem ainda numerosos acidentes
secundários com comportamentos cinemáticos diferentes, consoante a
sua orientação (NNW-SSE- cisalhamentos esquerdos, NW-SE- falhas
normais e NE-SW, ENE-WSW e E-W- cavalgamentos) , induzidos pela
deformação cisalhante no interior dos dup/exes, devido à movimenta-
ção late ral esquerda entre dup/exes adjacentes. Existem ainda,

85
dup/exes de rampa frontal , gerados perpendicularmente à direcção de
compressão máxima (KULLBERG et a/., 1995b; KULLBERG, 1996).

Anticlinal do Viso

O anticlinal do Viso tem uma orientação de NE-SW, é dissimétrico


com vergência para NW (Fig . 9) . O seu núcleo, bastante fracturado ,
injectado por margas de Dagorda, é constituído por calcários e dolomitos
do Jurássico médio , com as camadas do complexo argila-conglomerá-
tico do Jurássico superior a assentar em discordância. A movimenta-
ção vertical diferencial entre estas duas unidades mecânicas resultou
provavelmente do escape vertical do bloco interior mais rígido , devido
à constrição desenvolvida nesta área, o qual pode ter sido acentuado
por uma geometria antiga em horst deste bloco do Jurássico médio,
geometria herdada de fases distensivas precoces e que muito prova-
velmente envolveram o soco (KuLLBERG et a/., 1995b; Ribeiro et a/. ,
1996c). A acomodação da deformação no complexo argila-conglome-
rático do Jurássico superior gerou uma dobra com terminações pericli-
nais muito acentuadas (KuLLBERG , 1996).
No flanco norte, além da inclinação ser menor do que no flanco sul ,
cuja inclinação é praticamente vertical , a espessura do Jurássico supe-
rior também é menor.
Em comparação com outros sectores da cadeia, o anticlinal do Viso
é o que apresenta maior deformação, provavelmente, por: constrangi-
mentos geométricos locais, pois a estrutura está no interior de um
bloco que é ao mesmo tempo um duplex de cisalhamento simples
esquerdo e um duplex de cavalgamentos vergentes para sul; deforma-
ção progressiva, pois o anticlinal foi posteriormente cavalgado pela
estrutura de S. Luís (KULLBERG, 1996).
O anticlinal do Viso está cortado na sua extremidade oriental pela
Falha Setúbal-Pinhal Novo, de orientação aproximadamente N-S.

Anticlinal da Serra de S. Luís

A Serra de S. Luís corresponde a um anticlinal, cujo núcleo é cons-


tituído, essencialmente, por dolomíticos do Convento de S. Luís do
Batoniano médio a Torciano inferior e calcários de Pedreira do
Caloviano a Batoniano superior (Fig. 9} . Os flancos do anticlinal são
formados por unidades detríticas do Jurássico superior e
Paleogénico , cobertas pelo miocénico marinho. O anticlinal é uma

86
dobra assimétrica, de orientação WSW-ENE , cavalgante para sul, com
o flanco sul jurássico a cavalgar o Miocénico deformado em sinclinal.
No núcleo do anticlinal , observam-se horst e grabens de orientação
N-S, resultantes de uma tectónica distensiva durante o Jurássico
médio, posteriormente fossilizados pelas unidades do Jurássico supe-
rior que assentam discordantemente nestes, com uma geometria que
parece materializar a actividade contemporânea de uma falha normal
de orientação ENE-WSW e inclinada para norte , posteriormente reac-
tivada durante a inversão miocénica como falha inversa - cavalga-
mento de S. Luís (KULLBERG , 1996). Na extremidade oriental da Serra
de S. Luís o cavalgamento roda para NE-SW, prolongando-se até as
proximidades de Palmeia. Alguns dos acidentes de orientação N-S
também foram reactivados durante a inversão miocénica.

Estrutura de Colapso Gravítico de Palmeta

A Estrutura de Colapso Gravítico de Palmeia é a mais recente da


cadeia e está localizada na extremidade NE (Fig . 9) . É uma estru-
tura peculiar, provavelmente resultante do elevado gradiente morfológico
criado na sequência da inversão miocénica.
CHOFFAT (1908) interpretou esta estrutura como a última escama de
cavalgamento da cadeia, com vergência para W. RIBEIRO et ai. (1979)
e considera que a estrutura de Palmeia é resultante de colapso por
gravidade com deslocamento para norte de um flanco da cobertura
miocénica do anticlinal de S. Luís. KuLLBERG (1996) também considera
que a escama de Palmeia é uma estrutura de colapso gravítico
vergente para leste , como consequência do elevado gradiente morfo-
lógico existente entre o relevo produzido pelo anticlinal de S. Luís e a
peneaplanação de Pinhal Novo, acomodada pelos sedimentos muito
dúcteis do Jurássico superior e Paleogénico (KuLLBERG , 1996).

ACTIVIDADE NEOTECTÓNICA NA ÁREA MERIDIONAL


DA PENÍNSULA DE SETÚBAL

Introdução

O conceito de neotectónica considerado corresponde ao utilizado


em Cabral (1993, 1995), abarcando as deformações crustais ocorridas

87
após a última reorganização significativa da tectónica regional , que se
terá processado no final do Neogénico. Trata, pois, da actividade tectó-
nica finipliocénica e quaternária (aproximadamente nos últimos 3
milhões de anos) .
Os dados existentes sobre a evolução tectónica no território portu-
guês no Neogénico e Quaternário indicam que, após o período
Miocénico, caracterizado por actividade tectónica intensa em várias
áreas, se seguiu um intervalo de relativa acalmia no Pliocénico, acen-
tuando-se novamente a actividade tectónica no final do Pliocénico,
prolongando-se pelo período quaternário (CABRAL, 1993, 1995).
Esta evolução está testemunhada na região da Península de
Setúbal, nomeadamente na Cadeia Orogénica da Arrábida, onde os
dois impulsos principais de deformação reconhecidos afectam intensa-
mente os depósitos miocénicos aí aflorantes, sendo o segundo
impulso pós-Tortoniano inferior a médio, mas anterior a sedimentos
pliocénicos que assentam em discordância e, escassamente deforma-
dos, sobre os depósitos miocénicos.
Para a identificação e caracterização da actividade neotectónica
regional, utilizaram-se as referências estratigráficas e geomorfológicas
disponíveis, de idade compreendida no período neotectónico conside-
rado, ou seja, inferior a cerca de 3 Ma.

Referências sedimentares

A Península de Setúbal localiza-se na Bacia Cenozóica do Tejo-Sado,


na área vestibular do rio Tejo, junto ao litoral. Consequentemente, as
referências usadas nos estudos de neotectónica consistiram essen-
cialmente em sedimentos fluviomarinhos e sedimentos marinhos de
fácies litoral, associados a testemunhos de superfícies de abrasão
marinha e praias elevadas, cujas idades se estendem do Pliocénico ao
Quaternário , nomeadamente (CARVALHO, 1968; AzEVEDO , 1982;
AZEVEDO & CARDOSO, 1985; BARBOSA & PENA DOS REIS, 1989; MARTINS &
BARBOSA, 1992; BARBOSA, 1995; CABRAL, 1993, 1995; CACHÃO, 1995;
entre outros):

- os sedimentos detríticas siliciclásticos, predominantemente areno-


sos, estuarinos, que assentam sobre as formações marinhas
miocénicas, referenciados diversamente na bibliografia (série
arenosa pliocénica, arenitos de Alfeite , Formação de Alfeite,
areias de Coina, entre outras denominações) e designados por

88
"areias feldspáticas de Fonte da Telha e de Coina" na presente
folha da Carta Geológica; atribui-se-lhes uma idade que poderá
estender-se do Miocénico terminal (fini-Messiniano) ao Placenciano,
principalmente pelo seu enquadramento estratigráfico;
- os depósitos predominantemente grosseiros, de cascalheira de
calhaus rolados de quartzito e quartzo, que assentam em descon-
tinuidade erosiva sobre a série arenosa pliocénica anterior; cons-
tituem uma formação sedimentar fluvial designada por Conglomerado
de Belverde (AZEVEDO, 1982), atribuída ao Plistocénico na
legenda da presente folha da Carta Geológica, mas considerada,
por argumentação diversa, de idade vilafranquiano médio (apro-
ximadamente -2,5 a -2 Ma, Pliocénico superior), em Azevedo
(1982) e Cabral (1993, 1995);
-os depósitos grosseiros, de fácies torrencial , que afloram em diver-
sas áreas da Pen ínsula de Setúbal , identificados por Azevedo
(1982) como a "Formação Vermelha de Marco Furado", situados
sempre em posição estratigráfica culminante, sobrepondo-se
erosivamente à série arenosa fluviomarinha pliocénica ou aos
sedimentos grosseiros do Conglomerado de Belverde , são data-
dos do Plistocénico na legenda da presente folha da Carta
Geológica, embora Azevedo (1982) lhes atribua uma idade do
topo do Vilafranquiano médio (aproximadamente 2 Ma, Pliocénico
superior) , mas que Cabral (1993, 1995) admite poder avançar até
ao final do Vilafranquiano (1 ,6 Ma, base do Plistocénico) .

Referências geomorfológicas

A Superfície do Cabo Espiche/

Como se depreende da descrição do relevo regional , elaborada por


S. Daveau para a presente Notícia Explicativa, a região da Pen ínsula
de Setúbal , nomeadamente o seu sector meridional , apresenta a
morfologia planáltica característica da generalidade da área litoral do
território português, onde se identificam diversos níveis de erosão
escalonados a diferentes cotas, por vezes com sedimentos correlati-
vas preservados.
Com efeito, e como aquela autora salienta, na região a ocidente da
Serra da Arrábida destaca-se, na morfologia, uma superfície de erosão
desenvolvida sobre formações jurássicas de litologia predominante-

89
mente calcária, fortemente deformadas, considerada de abrasão mari-
nha pela sua grande regularidade , proximidade ao mar, e presença de
raros seixos rolados à superfície (RIBEIRO, 1935, 1968; DAVEAU &
AZEVEDO, 1980-81 ; PEREIRA, 1988; CABRAL, 1993, 1995).
Esta aplanação, designada por Plataforma do Cabo, estende-se
desde o Cabo Espichei, onde se situa a uma cota de cerca de 140 m,
até à vizinhança de Sesimbra, a uma altitude de 220m. Imediatamente
a leste ela encontra-se possivelmente deslocada por uma falha de
orientação NNW-SSE, originando o empolamento monoclinal da Serra
de Ares (RIBEIRO, 1935), onde atinge uma cota de 320 m por levanta-
mento do lábio oriental da fractura.
A oriente do relevo do Píncaro que, como refere Daveau (capítulo
"O Relevo", nesta Notícia Explicativa) , poderá resultar de "(uma) defor-
mação excepcionalmente acentuada da Plataforma do Cabo ou (constituir
um) relevo residual acima dela", a mesma superfície de erosão está
preservada no sopé ocidental da Serra da Arrábida, a uma altitude de
cerca de 200-225 m, prolongando-se para leste, onde se encontra repre-
sentada a uma cota semelhante nalguns interflúvios aplanados no sopé da
Serra de S. Luís, no topo arrasado da Serra dos Gaiteiros e nos topos
nivelados dos relevos desenvolvidos em sedimentos terciários com estru-
tura monoclinal (de tipo costeira) das Serras do Louro e S. Francisco.
A plataforma de erosão a 200-225 m de altitude é posterior ao
segundo impulso tectónico da Cadeia da Arrábida (pós-Tortoniano infe-
rior a médio) , uma vez que bisela relevos tectónicos correlativas dessa
fase de deformação. Por outro lado, desenvolveu-se após a génese da
superfície de erosão que se observa ao longo da arriba ocidental da
Península de Setúbal , na base dos sedimentos arenosos estuarinos
atribuídos ao Pliocénico, truncando as formações marinhas miocéni-
cas (CABRAL, DIAS & BRUM, 1984).
Assim, a superfície de erosão do Cabo Espichei (e o seu prolonga-
mento oriental) elaborou-se posteriormente a pelo menos parte do
enchimento fluviomarinho pliocénico do "Sincl inal de Albufeira"
(segundo a nomenclatura de Azevedo, 1982), sendo provavelmente
correlativa da superfície de colmatação do enchimento aluvial pliocé-
nico e datando do Pliocénico superior (CABRAL, 1993, 1995).

A Aplanação Principal e a Superfície das Colinas de Almada

Como salientam Daveau e Azevedo (1980-81 ), a norte do Espichei


e a sul do alinhamento da Lagoa de Albufeira-Ribeira da Apostiça a

90
morfologia apresenta algum escalonamento de formas , que culminam
na Plataforma do Cabo, destacando-se, contudo, uma superfície com
aparência de um glacis suavemente inclinado, descendo de cotas de
100-120 m, a sul , até altitudes de cerca de 60-70 m (excepcionalmente
até 45 m) a norte. Frisam que esta superfície se desenvolveu sobretudo
em rochas brandas (de idades compreendidas entre o Apciano-Aibiano
e o Pliocénico), e consideram-na correlativa da deposição do Conglomerado
de Belverde.
Aquela morfologia suave prolonga-se, a cotas semelhantes, para leste
da área de cabeceira da Ribeira da Apostiça e do canal , escassamente
encaixado, da Vala Real (Riba de Coina), terminando abruptamente a
sul , a uma altitude de cerca de 100 m, no sopé setentrional dos relevos
em costeira das Serras do Louro e S. Francisco, definindo claramente
um importante embutimento por erosão diferencial. A norte deste impo-
nente rebordo erosivo, apenas a elevação de Ruivos (1 09 m) sobressai
na paisagem , correspondendo a um relevo residual de posição, desen-
volvido em sedimentos da Formação Vermelha de Marco Furado.
Na zona setentrional da Península de Setúbal identifica-se também
uma superfície de erosão horizontal de extrema regularidade , bem
preservada a uma cota de cerca de 11 O m no topo aplanado das coli-
nas, localizadas entre Almada e Trataria. Esta aplanação estende-se
para norte do Rio Tejo, onde se encontra testemunhada na região de
Lisboa a E e NE da elevação de Monsanto, observando-se também
evidências suas, à mesma cota, a sul da via rápida para a Costa de
Caparica, no interflúvio que liga Capuchos e Alto do Lazarim (Sobreda)
(CABRAL, 1993, 1995). ParaS e SE deste interflúvio, os terrenos situam-se
sempre a altitudes inferiores a 100 m, só voltando a atingir esta cota
junto ao bordo setentrional dos relevos da Cadeia da Arrábida .
É provável que a aplanação das colinas de Almada se correlacione
parcialmente (atendendo a retoques erosivos posteriores) com a "apla-
nação principal" (nível III) de DAVEAU & AzEVEDO (1980-1981) , referida
acima, correspondendo a uma extensa superfície de erosão elaborada
em estuário, por acção fluviomarinha , que se desenvolveu no interior
da Península de Setúbal por truncatura de uma espessura desconhe-
cida, mas eventualmente importante , de sedimentos pliocénicos
(CABRAL, 1993, 1995). Segundo este modelo, a associação daquela
superfície à fase de sedimentação do Conglomerado de Belverde,
proposta por DAVEAU & AzEVEDO (1980-81 ), implica um embutimento
erosivo importante desta formação sedimentar, no conjunto arenoso
pliocénico.

91
Seguiram-se episódios de retoque erosivo associados a descidas
relativas do nível de base geral , com encaixe da rede hidrográfica e
embutimento de níveis de praia na faixa litoral ocidental , conduzindo a
uma degradação lenta da "superfície principal" de aplanação.
Esta importante superfície de erosão, que se identifica a 100-120 m
de cota na região setentrional da Península de Setúbal e, embora de
forma menos evidente , na área de sopé do Cabo Espichei e das Serras
do Louro e S. Francisco é difícil de datar, tendo-se desenvolvido possi-
velmente no final do Pliocénico ou no Quaternário inferior (CABRAL,
1993, 1995).

A Arriba Meridional e as Rechãs Escalonadas

Como se descreve no capítulo referente ao relevo (DAVEAU , nesta


Notícia Explicativa), o litoral meridional da Península de Setúbal é
caracterizado por uma grande vertente complexa, onde se identificam
diversos níveis de erosão escalonados a diferentes cotas, encon-
trando-se ainda sedimentos de praia correlativas, preservados nos
níveis inferiores.
Aquela autora salienta também que a imponente arriba meridional
se relaciona certamente com um importante cavalgamento que se
encontra imerso na plataforma continental imediatamente a sul
(KULLBERG, 1996). A multiplicidade de níveis, estreitos, nela escalona-
dos, sugere que, desde o final do Pliocénico, tenha sofrido um recuo
erosivo relativamente reduzido .

Movimentos Verticais e Deformações de Grande Raio de Curvatura

Evolução do Sinc/inal de Albufeira

Na Península de Setúbal , entre o flanco meridional do doma anticli-


nal de Monsanto, localizado na região de Lisboa, e o flanco setentrio-
nal dos dobramentos da Cadeia da Arrábida, situados a S, as forma-
ções cenozóicas dispõem-se segundo uma geometria subtabular, ligei-
ramente arqueada em sinforma, desenhando uma estrutura geral-
mente designada por "Sinclinal da Lagoa de Albufeira" ou "Sinclinal de
Albufeira" (AZEVEDO, 1982; RIBEIRO et ai., 1986).
A descontinuidade erosiva que se observa na área ocidental da
Península de Setúbal , entre as formações miocénicas e os sedimentos

92
suprajacentes atribuídos ao Pliocénico, e que corresponde a uma
discordância nos flancos meridional e (menos nítida) setentrional do
"Sinclinal de Albufeira" , representa uma lacuna importante, com erosão
subaérea associada a um período regressivo , possivelmente de
origem tectónica (relacionado com o segundo impulso de deformação na
cadeia orogénica da Arrábida), e/ou essencialmente de origem eustática
(desencadeada pela maior inflexão negativa de toda a curva eustática
cenozóica, no Tortoniano inferior) . Para NE, em áreas de depocentro
(Montijo, Barreiro) , poderá ter ocorrido continuidade na sedimentação
neogénica, como o indica a grande espessura de sedimentos aí
preservados, testemunhada por dados de sondagens e geofísicos
{AZEVEDO, 1982,1991; AZEVEDO, MARTINS & UBALDO, 1994; RIBEIRO et a/.,
1996).
Apesar da ocorrência provável de níveis eustáticos elevados, no
Pliocénico inferior e parte do Pliocénico superior, que podem ter atin-
gido cerca de + 80 m no Zancleano (HAa, HARDENBOL & VAIL, 1987), a
instalação e manutenção de condições de sedimentação estuarina na
área da Península de Setúbal , durante a deposição de toda a série
arenosa pliocénica, incluindo os níveis inferiores, implica uma reacti-
vação da subsidência na área vestibular da Bacia do Tejo durante o
Pliocénico, a qual foi mais intensa na região oriental da Península de
Setúbal (área de Barreiro-Montijo), justificando a espessura de areias de
cerca de 300 m aí identificada (AZEVEDO, 1982, 1991 ). Esta subsidência
traduz-se por uma amplificação do "Sinclinal de Albufeira" durante o
Pliocénico, apenas perceptível numa análise à escala regional.
A evolução quaternária da região da Península de Setúbal , enqua-
drada no contexto evolutivo da Bacia cenozóica do Tejo-Sado, carac-
terizou-se por uma passagem de sedimentogénese, no Pliocénico, a
gliptogénese, no Quaternário, por erosão fluvial associada ao encaixe
da rede de drenagem , em resposta a uma modificação na evolução
tectónica regional , com inversão da subsidência para levantamento em
quase toda a região.
A gliptogénese quaternária, resultante da resposta da rede hidro-
gráfica a uma descida relativa do nível do mar associada a um levan-
tamento regional do continente, a que se sobrepuseram os efeitos de
oscilações glacioeustáticas, está testemunhada pela sucessão de
superfícies planálticas escalonadas na topografia.
A disposição da "Aplanação Principal" na Península de Setúbal ,
situada a 100-120 m de cota na região setentrional (Superfície das

93
Colinas de Almada) e (embora de forma menos evidente) a uma cota
semelhante na área imediatamente a norte do Cabo Espichei e das
Serras do Louro e S. Francisco, sugere a ocorrência de um levanta-
mento em bloco de toda a península, posteriormente à sua génese .
Contudo, embora regionalmente a tendência tenha sido de levanta-
mento no Quaternário, este não se processou com a mesma intensidade
em todas as áreas. Com efeito , na área central da Península de
Setúbal identifica-se um declive bastante regular dos interflúvios no
sentido do "Mar da Palha", que é acompanhado por uma descida da
superfície da base da Formação de Marco Furado no mesmo sentido
(AZEVEDO, 1982).
Embora, devido à erosão subárea, não seja evidente que os inter-
flúvios conservem no seu topo testemunhos da mesma aplanação,
aquela disposição morfológica e estratigráfica sugere um levanta-
mento tectónico progressivamente mais reduzido em direcção ao "Mar
da Palha", ou seja, uma subsidência relativa (e também absoluta?)
desta área. Como salienta Azevedo (op. cit.) , o balançamento dos
interflúvios para um centro comum a NE do Barreiro é também suge-
rido pela convergência da rede hidrográfica para esta zona, disposta
radialmente de modo centrípeto.

Deformações na Plataforma do Cabo e nas Rechãs Meridionais

Como se referiu acima, a aplanação do Cabo Espichei situa-se a


uma altitude de 220 m na vizinhança de Sesimbra, apresentando-se a
leste possivelmente deslocada por uma falha (não cartografada) de
orientação NNW-SSE , que produziu um levantamento "em tesoura" do
lábio oriental, deformando a plataforma e desenvolvendo o empola-
mento monoclinal da Serra de Ares (RIBEIRO, 1935) , onde aquela
culmina a 320 m. Para oeste de Sesimbra, a aplanação estende-se em
direcção ao Cabo Espichei , descendo progressivamente de cota a
partir da longitude do v. g. Facho , desde 200 m até cerca de 140 m no
cabo, evidenciando um balançamento suave para o quadrante W, com
um declive de cerca de 1,2 %.
Na vertente meridional , apenas as rechãs mais altas, a cotas
compreendidas entre cerca de 170 e 150 m, parecem registar a
tendência de balançamento para W que afecta a Superfície
Culminante do Cabo Espichei (BAPTISTA & FERNANDES, 1985).
Destaca-se, contudo, a referência de S. Daveau (baseada em
dados de PEREIRA & REGNAULT, 1994; capítulo "O Relevo", nesta Notícia

94
Explicativa) a deformações longitudinais do nível de praia inferior,
conhecido por "nível do Forte da Baralha", por acção de falhas trans-
versais ao litoral. Atendendo a que estas deformações não são reco-
nhecíveis na superfície culminante do Cabo Espichei (para uma definição
de desnivelamento da ordem de uma dezena de metros) , conclui-se
que se trata de deslocamentos iniciados recentemente.
A semelhança de cotas a que se situam escalonadas as superfícies
de erosão nos flancos setentrional (área de Lisboa) e meridional (área
do Cabo Espichei-Arrábida) do Sinclinal de Albufeira sugere, como se
referiu , uma tendência de levantamento em bloco de toda a Península
de Setúbal (com exclusão da área subsidente de Barreiro-Montijo) ,
que, por sua vez, aponta para uma actividade reduzida , ou mesmo
para inactividade da zona de falha de cavalgante meridional da Cadeia
Orogénica Arrábida.

O alinhamento da Lagoa de Albufeira-Ribeira da Apostiça

Na região SW da Península de Setúbal destaca-se na morfologia o


alinhamento constituído pela Lagoa de Albufeira-Ribeira da Apostiça,
orientado ENE-WSW a E-W. Este eixo fluvial , de orientação anómala
relativamente à restante drenagem regional , estabelece aproximada-
mente a fronteira entre um domínio setentrional , em que se reconhece
a tendência de basculamento para NE, referida acima, e um domínio
meridional , onde a descida de cotas para NNW e a assimetria na distri-
bu ição dos canais afluentes (largamente predominantes na margem
sul e com disposição subparalela segundo a direcção NNW-SSE)
sugerem a ocorrência de um balançamento naquele sentido.
As evidências atrás expostas indicam a existência de uma falha
(ou flexura) ao longo do alinhamento Lagoa de Albufeira-Ribeira da
Apostiça, cuja presença, contudo, ainda não foi comprovada por dados
geológicos. Com efeito, as formações miocénicas, inclinando cerca de
2° paraS , deixam de aflorar na base da arriba ocidental da Península
de Setúbal , em Galherão, cerca de 1 km a norte da Lagoa de Albufeira,
voltando a aflorar um pouco a sul da Lagoa (Vale Grande) , com litolo-
gias semelhantes e uma atitude sub-horizontal. Esta disposição,
embora não exclua a presença de uma falha orientada ENE-WSW,
restringe a amplitude dos deslocamentos verticais (abatimento relativo
do bloco meridional) , que são necessariamente reduzidos .
Saliente-se, contudo, a mudança que se observa nas característi -
cas da superfície erosiva que estabelece o contacto entre o Miocénico

95
e as areias pliocénicas suprajacentes, a qual tende a ser regular e
subparalela à estrutura miocénica, a norte da Lagoa de Albufeira,
adquirindo uma morfologia muito acidentada, com abarrancamento
profundo das formações miocénicas, para sul da Lagoa.

Falha da Ribeira de Coina

Como refere AzEVEDO (1982) , a Ribeira de Coina encontra-se prova-


velmente instalada ao longo de uma zona de falha. Com efeito, para
além de se destacar como um lineamento evidente em imagens de
satélite, a ocorrência de uma falha -ao longo da linha de água permite
explicar a presença de sedimentos do Conglomerado de Belverde,
apenas a ocidente da ribeira. A falha ter-se-á movimentado posterior-
mente à deposição daquela unidade sedimentar, com abatimento rela-
tivo do bloco ocidental , seguindo-se a erosão do Conglomerado de
Belverde no bloco oriental.
A autora (op. cit.) refere ainda evidências deste acidente tectónico
se ter reactivado posteriormente à sedimentação da Cascalheira de
Marco Furado, com movimento em tesoura do mesmo tipo (subida do
compartimento oriental relativamente ao ocidental) , apresentando
separações verticais progressivamente maiores para norte, com um
valor máximo de cerca de 30 m.
Salienta-se a identificação de numerosas microfalhas, afectando areias
pliocénicas nalguns afloramentos localizados junto à Ribeira de Coina (a
norte de Vila Nogueira de Azeitão; Ribeira da Torre e Brejo do Casal
Bolinhos), descritas e interpretadas num parágrafo seguinte, e que poderão
corresponder a uma expressão mesoscópica secundária de um acidente
tectónico principal, disposto ao longo deste importante eixo de drenagem.

Dados de microtectónica

Na região meridional da Península de Setúbal identificaram-se


numerosas microfalhas, afectando as areias pliocénicas , algumas
cortando sedimentos pertencentes ao Conglomerado de Belverde,
situadas em três locais, nomeadamente, na arriba litoral, junto a Fonte
da Telha, a norte de Vila Nogueira de Azeitão, junto a Riba da Torre e
Brejo do Casal Bolinhos, e na vizinhança de Alfarim.
Descrevem-se sucintamente as estruturas observadas e apresenta-se
uma tentativa da sua interpretação.

96
Microfa/has na arriba da Fonte da Telha

Na arriba junto a Fonte da Telha (Adiça) , numa distância ao longo


da vertente de pelo menos 700 m e que se estende até cerca de 500 m
a sul da povoação, afloram numerosas microtalhas, afectando as
formações arenosas pliocénicas e, algumas delas, o Conglomerado de
Belverde (AZEVEDO, 1982; BRUM, 1983; DIAS, 1983; CABRAL, DIAS &
BRUM (1984) ; BAPTISTA & FERNANDES (1985) ; CABRAL, in RIBEIRO et a/. ,
1986; CABRAL, 1993, 1995).
As talhas estudadas são certamente de idade pliocénica superior
ou posteriores, embora os últimos movimentos sejam anteriores ao
desenvolvimento de níveis ferruginosos e manganesíteros que
moldam as superfícies de talha.
Mediu-se um total de 123 fracturas , com grande predomínio de
microtalhas, produzindo separações verticais inversas em níveis de
referência, distribuindo-se os deslocamentos do seguinte modo: talhas
com separação vertical inversa - 85 (69 %), talhas com separação
vertical normal - 16 (13 %), talhas verticais ou com separação verti-
cal indeterminada - 22 (18 %) (Fig . 1O) .
Os elementos de referência nos afloramentos permitiram identi-
ficar separações verticais da ordem de 1 a 2 cm , sendo a maior
separação medida de 1,20 m, inversa. Embora se desconheça o
vector de deslizamento na maioria das talhas , alguns clastos de argila

2.4%

Fig. 1o - Diagrama de densidade de distribuição dos pólos das microfalhas medidas.

97
deformados e calhaus rolados por arraste tectónico indicam um movi-
mento predominante de dip-slip.
Os acidentes apresentam geralmente uma geometria complexa, rami-
ficada e anastomosada, tendendo frequentemente a diminuir de inclina-
ção para o topo da arriba, encontrando-se talhas com separação verti-
cal normal associadas a talhas inversas, numa disposição conjugada.
As microtalhas estudadas apresentam uma grande dispersão de
orientações, notando-se, no entanto, o seu agrupamento em duas
populações: um conjunto de talhas de direcção predominante WNW-ESE,
muito inclinadas para NE, e outro conjunto de fracturas de orientação
próxima de N-S, com maior dispersão de inclinações mas, de um modo
geral , um pouco menos inclinadas para E. Esta distribuição abrange
tanto as talhas com separação inversa como as de separação normal,
e não é aleatória no espaço, encontrando-se as estruturas orientadas
WNW-ESE no sector setentrional do corte estudado e os acidentes
submeridianos a sul.
As microtalhas identificadas na arriba junto à Fonte da Telha locali-
zam-se próximo da intersecção do Lineamento do Vale Interior do Tejo,
reconhecido por CONDE & ANDRADE (1976} e CONDE (1983), com a linha
de costa. Contudo, a sua relação não é evidente , atendendo à discor-
dância entre as suas direcções.
A associação de talhas com separações verticais normais e inversas,
aparentemente numa disposição conjugada, sugere um mecanismo de
geração de talhas antitéticas em upthrusting. Assim , a zona de Fonte da
Telha situa-se possivelmente numa área de influência de dois acidentes
tectónicos em profundidade: um acidente submeridiano a sul de Fonte
da Telha, muito inclinado para leste, com subida relativa do bloco oriental
(upthrusQ, e outra estrutura do mesmo tipo passando junto à povoação,
orientada NW-SE a WNW-ESE e muito inclinada para NE, que sofreu
subida relativa do compartimento setentrional (CABRAL, 1993, 1995).

Microfalhas a norte de Vila Nogueira de Azeitão (Ribeira da Torre e


Brejo do Casal Bolinhos)

Em três afloramentos localizados a norte de Vila Nogueira de


Azeitão, junto às margens da Vala Real (Brejo do Casal Bolinhas,
Ribeiro da Torre e Fonte do Palha} , identificaram-se numerosas talhas,
deslocando sedimentos arenosos pliocénicos , num total de 37. As
fracturas apresentam pouca dispersão de orientações, com uma
direcção preferencial NW-SE a NNW-SSE, e inclinação para NE

98
(Fig. 11 ). Nos casos em que foi possível identificar separações verticais
(16) , estas mostraram-se sempre de tipo normal, com valores oscilando
entre 2 cm e 60 cm e abatimento relativo predominante para NE (Fig. 12).
Como se referiu acima, estas microfalhas estão possivelmente
associadas a um acidente tectónico de orientação NNW-SSE, localizado

10.8%

+ 13.5%

16.2%

Fig. 11 - Diagrama de densidade de distribuição dos pólos das microfalhas, medidas nos
três afloramentos.

~2 . 5%

+ 18.8%

Fig. 12 - Diagrama de densidade de distribuição dos pólos das microfalhas, com compo-
nente de movimentação normal, medidas nos três afloramentos.

99
ao longo da Ribeira de Coina, correspondendo a falhas secundárias
dispostas, na sua maioria, antiteticamente em relação à falha principal,
que se deslocou como componente de movimentação normal, produ-
zindo abatimento relativo do bloco ocidental.

Microfalhas em Fonte do Covão (A/farim)

No talude de um caminho localizado em Fonte do Covão, a sul de


Alfarim, na margem leste da Ribeira das Lages, identificaram-se 9 frac-
turas, afectando sedimentos arenosos pliocénicos e dispondo-se em
dois conjuntos de orientação N-S e WNW-ESE, com pendor predo-
minante para o quadrante oriental (Fig. 13). Cinco das fracturas apre-
sentam separação vertical inversa, num total acumulado de 70 cm.
Os sedimentos pliocénicos mostram-se arqueados, definindo uma
antiforma de eixo orientado NW-SE (Fig. 14). Para ocidente, as areias
pliocénicas aumentam de inclinação e apresentam-se afectadas por
numerosos planos de cisalhamento, inclinando 70° SW, passando-se
imediatamente a W a formações miocénicas. Esta disposição sugere a
presença de um contacto por falha entre as duas formações, disposto
ao longo da margem NE de Ribeira das Lages (NW-SE) e com compo-
nente de movimentação vertical inversa, com subida relativa do bloco
ocidental.

Fig . 13 - Representação, em projecção estereográfica (rede de Schmidt, projecção no


hemisfério inferior) , dos pólos das microfalhas medidas.

100
N

Fig. 14 - Representação, em projecção estereográfica (rede de Schmidt, projecção no


hemisfério inferior), dos planos de estratificação nos sedimentos pliocénicos.
O eixo do dobramento tem direcção de (9° ~ 130°).

Salienta-se que, segundo BAPTISTA & FERNANDES (1985) , é na zona da


foz das Ribeiras da Amieira e das Lajes que muda o sentido da inclina-
ção da estratificação dos sedimentos miocénicos aflorantes na arriba
ocidental da Península de Setúbal. Com efeito, segundo aqueles auto-
res , as formações miocénicas apresentam uma ligeira inclinação para
sul na arriba imediatamente a norte da Lagoa de Albufeira, mostram uma
atitude sub-horizontal na margem meridional da Lagoa de Albufeira
(Vale Grande), e passam a inclinar para norte apenas a sul da área
vestibular daquelas linhas de água. Os mesmos autores (op. cit.) refe-
rem também evidências estratigráficas para a ocorrência de uma falha
na Ribeira das Lajes, com descida relativa do bloco setentrional.

VI - RECURSOS GEOLÓGICOS

GESSO

Foram objecto de exploração, a SE de Santana, depósitos do assim


dito "Gesso Pardo", intercalado nas Margas de Dagorda, extrusas no
Vale Tifónico de Sesimbra. No anticlinal de Gaiteiros, houve também

101
exploração de gesso a S de Palmeia. Actualmente todas as explora-
ções encontram-se desactivadas ou abandonadas.

CALCÁRIO

Os Calcários de Pedreiras e Calcários de Azóia são explorados


actualmente e intensivamente a SE de Pedreiras, na Serra da Achada
e, ainda, a W de Sesimbra, no Vale da Ribeira do Cavalo.
As antigas explorações da Serra de São Luís e do Viso estão total-
mente desactivadas. De acordo com MANUPPELLA et a/. (1977) , as análi-
ses químicas realizadas mostram que se trata de matérias-primas de
elevada pureza (53-54 % de CaO) , mantendo-se a sílica, salvo raras
excepções, entre 0,50 e 1 %. Os óxidos totais não ultrapassam os 2 %.
Actualmente, nas pedreiras da Ribeira do Cavalo e de Pedreiras, os
Calcários de Pedreiras e de Azóia são utilizados como brita e filer para
construção civil e obras rodoviárias , podendo ser ainda aplicados na
produção de cimento, metalurgia, rações para gado, preparação de
celulose, neutralização de resíduos industriais, calagem de solos, etc.
Uma menção à parte merece a pedreira da fábrica de cimentos
Ceci! , instalada em plena Serra da Arrábida, onde são explorados os
Calcários de Pedreiras, de Azóia, argilas, grés, conglomerados calcá-
rios e Calcários do Vale da Rasca, utilizados na produção de cimento.

DOLOMITO

Na Serra da Achada são objecto de exploração pela empresa Sanchez


os Dolomitos de Cabo de Ares. Estes dolomitos, sempre de acordo
com MANUPPELLA et a/. (op. cit.), são penecontemporâneos a epigené-
ticos, com percentagens em MgO, compreendidos entre 19 e 21 %.
Trata-se talvez dos melhores dolomitos jurássicos extraíveis em
Portugal. Actualmente utilizados na fundição e refinação de produtos
de fusão, poderiam sê-lo também na indústria do vidro.

PEDRAS ORNAMENTAIS

Antes da criação do Parque Natural da Arrábida, era explorada


naquela região a bem conhecida pedra ornamental "Brecha da
Arrábida". Os seus afloramentos distribuem-se entre o Calhariz, as

102
Terras do Risco e o Corte do Fojo . É facilmente observável numa
antiga pedreira localizada a S da estrada para o Portinha da Arrábida.

CONGLOMERADOS QUARTZOSOS

A E de Sesimbra, foi cartografada a Unidade Conglomerados da


Comenda. Estes são constituídos dominantemente por calhaus de
quartzo e quartzito e por uma matriz argila-arenosa vermelha.
Particularmente abundantes na Serra da Comenda, a N da Serra da
Arrábida, e nunca explorados até ao momento actual, podem ser fonte
de seixos rolados . Recursos avultados.

ARGILA

Os principais barreiras localizam-se preferencialmente na nascente


da Lagoa de Albufeira e, nesta área, as argilas ocorrem intercaladas
nas areias com espessuras que, em média, são da ordem dos 8 m.
O barreiro que apresenta maiores dimensões situa-se próximo de
Mesquita.
Os sedimentos mais finos, intercalados entre os níveis conglome-
ráticos da "Formação do Marco Furado" (AzEVEDO, M. T. , 1991 ), da
parte oriental do sinclinal da Lagoa de Albufeira, têm sido utilizados
pelas unidades de cerâmica locais.
A matéria-prima tem sido aplicada em cerâmica de construção.
Como formações potencialmente favoráveis à ocorrência de argi-
las, referem-se os depósitos da cobertura cenozóica em geral, os quais
são susceptíveis de conter níveis argilosos com interesse. Estes foram
atravessados por sondagens e as respectivas espessuras oscilam
entre 5 e 10m.

DIATOMITO

Ao contrário do que acontece com os diatomitos localizados a norte


do Tejo, nestes jazigos não se conhece a presença de linhitos, embora
em determinados casos ocorram camadas de argila cinzenta com
restos de vegetais incarbonizados.
São jazigos de reduzidas dimensões, cujas camadas apresentam
espessuras compreendidas entre 0,80 e 3 m, as quais deram lugar às

103
explorações de Abogaria , Alfarim , Coelheira e Ferrarias. São ainda
conhecidas ocorrências de diatomito nos vales das Ribeiras de
Apostiça e de Ferrarias.

TURFA E LINHITO

Na área abrangida pela folha 38-8, não é conhecida a existência de


turfa. No entanto foi registada a ocorrência de linhito, 500 m a SSE do
v. g. Porto do Concelho, no vale da Ribeira de Apostiça.

AREIAS

Os depósitos arenosos estão largamente representados na área da


folha 38-8, podendo-se afirmar que as suas reservas são vultosas e as
suas características químico-mineralógicas conferem-lhes atributos de
utilização industrial diferentes da construção civil , para a qual têm sido
totalmente canalizadas.
Devido ao seu elevado grau de pureza, as areias têm sido tradicio-
nalmente exploradas na região de Coina e, posteriormente, na área da
Quinta do Conde. A respectiva espessura, obtida numa sondagem , é
de 1O m aproximadamente. São areias granulometricamente homogé-
neas que, do ponto de vista mineralógico, são constituídas por quartzo,
podendo, no entanto , apresentar pequenas quantidades de feldspato ,
rara mica e minerais pesados pouco abundantes. A argila associada é ,
em média, da ordem dos 5 % e constituída por caulinite .
Do ponto de vista químico, obtiveram-se os seguintes resultados (%):

Si0 2 = 93,20 - 99, 30


AI203 = 0,50 - 3,68
Fe 2 0 3 = 0,05 - 0,22
K2 0 = 0,13- 2,72

Na região de Apostiça, afloram areias de tonalidades claras, tão


puras como as de Coina, com espessuras de cerca de 5 m. São, toda-
via , mais finas e melhor calibradas que estas.
Também as areias eólicas, que cobrem a reg ião da Lagoa de
Albufe ira, têm sido objecto de exploração , dada a espessura que apre-
sentam (5- 10 m) (AZEVEDO, M. T., 1991 ).

104
VIl - HIDROGEOLOGIA

A área coberta pela folha de Setúbal situa-se no limite ocidental da


Bacia do Rio Tejo que, pela sua dimensão, situação geográfica, produ-
tividade aquífera e qualidade das águas, constitui a província hidrogeo-
lógica mais importante do País.
A acção conjugada de diversos factores, relacionados com o clima,
a hidrologia, a geologia, o tipo de solo e a cobertura vegetal, determina
a possibilidade da existência de recursos hídricos na região. A sua
influência pode ser de tal modo relevante que, de acordo com a
preponderância de uns relativamente aos outros, define a forma mais
provável à sua ocorrência.
Na globalidade, os recursos hídricos são reconhecidos como o
somatório dos escoamentos superficial e subterrâneo, ou seja, pelo
volume de água que anualmente engrossa os excedentes e que, em
favorecimento da escorrência ou da infiltração, se escoa na rede hidro-
gráfica ou se armazena e circula nas rochas através dos poros ou
fissuras , constituindo aquíferos.
O escoamento superficial na região é de fraca expressão, em
virtude das condições climáticas , geomorfológicas e litológicas. Tais
condições levam ao tipo de drenagem que se instala, sendo a zona
drenada por um sistema hidrográfico que, em traços gerais, se pode
subdividir em três grupos distintos:
1) Bacia de Lagoa de Albufeira
2) Ribeiras que drenam para o estuário do Rio Tejo
3) Ribeiras que drenam para o oceano Atlântico.

A sul e a ocidente predominam as pequenas bacias, constituídas por


linhas de água curtas, pouco ramificadas e efémeras. É através delas que,
no curto período húmido, se processa a escorrência das águas preci-
pitadas sobre os depósitos pouco permeáveis , calcários e argilo-carbo-
natados mesozóicos que formam as vertentes e as arribas litorais.
A norte do sistema montanhoso Arrábida-Palmeia, na planura definida
pelo Miocénico, Pliocénico e Holocénico, instalou-se drenagem de tipo
dendrítico irregular, de pequeno caudal a nulo, na estiagem. A densi-
dade de drenagem nos afloramentos destas unidades é bastante
dependente da existência de depósitos argilosos sobrepostos às
areias de cobertura, cuja presença dificulta a fácil infiltração caracte-
rística destas.

105
O clima da reg ião, bastante dependente da proximidade ao mar e
da orografia, apresenta características semiáridas, sendo classificado
de acordo com o índice hídrico de sub-húmido - seco (ALMEIDA,
1977) . A precipitação é mais incidente nas terras altas, não ultrapas-
sando, em média, os 600 mm/ano. O período húmido, com 1 mm/dia
de chuva, ocorre num terço do ano (97 dias), e, em apenas 24 dias ,
a precipitação excede os 1O mm/dia. A evapotranspiração real
ronda os 400 mm , enquanto o escoamento superficial se limita a um
curto período de tempo, durante a época das chuvas e quando a capa-
cidade de infiltração (90 % dos excedentes) é inferior ao valor dos
excedentes hídricos.

APTIDÃO AQUÍFERA DAS FORMAÇÕES

Nos depósitos detrítico-carbonatados do Mio-Piiocénico que preen-


chem o sinclinal de Albufeira e continuam pela Bacia do Rio Tejo,
formou-se um complexo sistema aquífero multicamada, de superfície
livre à escala regional , de grande potência, heterogéneo e anisótropo.
As suas águas constituem a principal e única fonte alternativa viável de
abastecimento para os diversos fins, doméstico, agrícola e industrial ,
dos municípios situados a sul do Tejo.
Quando sujeito a bombagens, este sistema aquífero exibe compor-
tamento de aquífero semiconfinado, pois, a estabilização dos níveis é
atingida com certa rapidez em resultado da solicitação dos aquitardos
sub e sobrejacentes. No entanto, o aquífero em exploração, no decurso
do tempo, pode exibir diversos comportamentos, variando entre livre,
confinado e semiconfinado .
A diferenciação hidrogeológica, observada neste grande sistema,
ao nível da composição físico-química das águas e do comportamento
hidráulico, permite-nos caracterizar, da base para o topo, as subunida-
des aquíferas seguintes:

- Unidade Aquífera Pliocénica: é constituída por areias finas, médias


ou grosseiras, de cor esbranquiçada ou avermelhada, às vezes
com intercalações argilosas e/ou argila/arenosas. A sua espessura
varia entre 16,5 m na Apostiça, 70 m na Aroeira, 100 m em Vale de
Mulatas, 137 m na Quinta do Anjo, 140 m em Fonte de Negreiros,
158 m na Quinta do Conde, 170 m em Casal do Sapo e 214 m em
Pinhal Novo. As águas captadas nesta unidade são pouco mine-

106
ralizadas (inferior a 150 mg/1) e pouco duras. A transmissividade
média é da ordem de 132 m2fdia (mín. =1,6; máx. =1097) e o caudal
específico médio de 1,71/s/m (mín. = 0,03; máx. = 12,4).

- Unidade Aquífera Miocénica: compreende os depósitos arenosos


(finos a grosseiros) , margas e calcários arena/argilosos que ante-
cedem as areias pliocénicas. A espessura máxima desta unidade,
182 m, foi reconhecida numa sondagem realizada na Quinta do
Anjo. As suas águas caracterizam-se por exibirem maiores teores
de bicarbonato (340 mg/1), sendo, no geral , medianamente mine-
ralizadas (mineralização média de 530 mg/1) , duras e pobres em
sílica. A dureza (média igual a 34° F) , o bicarbonato (média igual
a 339 mg/1) e o cálcio (média igual a 89 mg/1) relacionam-se
indiscutivelmente com a natureza carbonatada dos depósitos
que constituem os aquíferos. A transmissividade e o caudal específico
são consideravelmente diferentes dos encontrados na unidade
aquífera pliocénica, sendo a transmissividade média na ordem de
14,5 m2fdia (mín. = 0,4 ; máx. = 70,9) e o caudal específico, de
0,5 1/s/m (mín. = 0,04; máx. = 1,7) .

FUNCIONAMENTO HIDRÁULICO

A água da chuva que sustenta os aquíferos, a principal fonte de


alimentação, infiltra-se no solo até alcançar a superfície saturada. No
aquífero, a água segue o percurso normal do fluxo subterrâneo que
tende a acompanhar o desenvolvimento da rede de drenagem superfi-
cial , para a Lagoa de Albufeira e para o Rio Tejo.
Por se tratar de uma zona coste ira , a sobreexploração do aquífero
e a concentração de captações podem rebaixar significativamente os
níveis piezométricos, invertendo o sentido do fluxo e permitindo dessa
forma entradas de água salobra, segundo fenómenos de intrusão mari-
nha, principalmente na região da Lagoa.

QUALIDADE DAS ÁGUAS

Numa primeira análise, a qualidade das águas depende da litologia do


aquífero, dado que a sua composição resulta, em grande parte, da interac-
ção entre as fases sólida e aquosa, que se estabelece no mesmo.

107
Os parâmetros mais decisivos para a classificação das águas natu-
rais, destinadas ao consumo doméstico, são os aniões cloreto, sulfato
e nitrato, os quais, de acordo com as directivas da UE, agrupam as
águas em: "não potável, potável e sanitariamente tolerável".
O conceito de potabilidade da água para consumo humano resulta da
possibilidade da sua utilização, sem perigo para a saúde. Pressupõe
ter em conta certas características físicas , químicas, microbiológicas e
radioactivas, definindo critérios de qualidade.
O fluoreto e o nitrato, com 1,5 mg/1 e 45 mg/1 de limite máximo,
respectivamente, são exemplo de substâncias químicas que em quan-
tidades determinadas podem afectar a saúde. No campo da qualidade
bacteriológica, interessa determinar a existência de microrganismos
patogénicos ou que, pela sua presença, sejam indicadores de outros
igualmente perigosos.
A projecção da composição físico-química das águas captadas no
Pliocénico e no Miocénico sobre diagrama logarítmico ScHOELLER/
/BERKALOFF, que reúne as condições de composição química da água
de acordo com a potabilidade definida pela norma da UE, mostra em
termos gerais que, salvo fenómenos modificadores da sua qualidade
relacionados com contaminações, todas se agrupam no campo das
potáveis.
A aptidão destas águas subterrâneas para irrigação pode avaliar-se
através da classificação da U. S. Salinity Laboratory Staff, baseada na
concentração total de sais solúveis e na concentração relativa de sódio
em relação ao cálcio e magnésio (índice SAR- Sodium Adsorption
Ratio). As águas agrupam-se por classes, de acordo com as conduti-
vidades (C) e o perigo de alcalinização do solo (S) que aumenta com
a concentração total de sais, quando o valor de SAR permanece cons-
tante. No entanto, a qualidade da água não é um critério absoluto na
rejeição da utilização agrícola, a qual depende consideravelmente do
tipo de solo, do sistema de rega e da cultura em causa. Assim, a apli-
cação desta metodologia permitiu concluir que:

-as águas do Pliocénico (C 1-S 1) caracterizam-se por baixa salini-


dade , condutividade até 250 ~-tillcm (a 25° C) e baixo teor de
sódio. Podem ser usadas na maior parte das culturas e em quase
todos os solos sem perigo de os salinizar e com escassas possi-
bilidades de alcançarem elevadas concentrações de sódio;
- as águas do Miocénico (C 2-S 1 e C3-S 1) são, no geral, de qualidade
razoável , podendo ser utilizadas em culturas moderadamente

108
tolerantes aos sais, a mu ito tolerantes. As águas das classes
C 2 são de salin idade média e condutividade entre 250 Jlillcm e
750 J..l.Q/cm (a 25° C) (160 mg/1 a 480 mg/1 de mineralização).
Quando a mineralização aumenta, de forma que a condutividade
exceda os 750 Jlillcm (a 25° C) (classes C 3 ), as águas, embora
possam ser utilizadas em plantas tolerantes aos sais, só devem
sê-lo em solos com drenagem adequada e controlo de salini-
dade .

VIII - ARQUEOLOGIA c·>

O PALEOLÍTICO INFERIOR E MÉDIO

As primeiras referências a depósitos plistocénicos e a indústrias líti-


cas correlativas na área que interessa a esta folha devem-se a Carlos
Ribeiro (RIBEIRO, 1871, pp. 29 e 30) , que descreve dois exemplares de
quartzito supostamente talhados, "encontrados num retalho de cama-
das pliocenes, que assenta sobre o calcário jurássico entre Cezimbra
e o Cabo de Espichei". Da observação das representações apresenta-
das, não se evidenciam quaisquer traços de intencionalidade no seu
talhe. Desta forma, embora cabendo, inquestionavelmente, a C. Ribeiro,
as primeiras referências a indústrias paleolíticas e aos hipotéticos
depósitos de onde proviriam , aquelas baseavam-se em elementos
erróneos, que só mais tarde viriam a ser esclarecidos.
Data também dessa altura o levantamento, em belas litografias, de
vistas da costa portuguesa (RIBEIRO, 1949). O trecho do litoral a este do
cabo Espichei e até à Pedra do Frade, a oeste de Sesimbra, corres-
ponde às estampas XII e XIII daquela monografia; nelas se evidencia,
na zona onde se ergue o Forte da Baralha, a rechã da praia de 5-8 m
e, embora menos marcada, a correspondente à da praia de 12-15 m.
Com efeito, mercê da litologia calcária do litoral meridional da Arrábida ,
suficientemente branda para ser modelada pela acção mecânica do
mar, mas tenaz ao ponto de ainda conservar as marcas evidentes daque-
las acções, este trecho litoral afigura-se como o mais expressivo da
costa portuguesa, no respeitante ao escalonamento de sucessivas

1·1 João Luís Cardoso

109
rechãs , a altitudes decrescentes, entalhadas pelo mar no decurso do
Plistocénico. A natureza qu ímica de tais rochas propiciou, por outro
lado, a conservação de conchas ou ossos de vertebrados, situação
igualmente ímpar no que ao território português diz respeito. Foi
também C. RIBEIRO (1867) quem, pela primeira vez, chamou a atenção
para tais ocorrências de conchas fossilizadas , no âmbito do estudo das
linhas de costa antigas, de que foi pioneiro em Portugal. A importância
destas descobertas motivou o interesse de P. Choffat, que promoveu
colheitas em cada um dos níveis marinhos fossilíferos anteriormente
assinalados. Os locais onde se obteve amostragem foram os seguin-
tes (CHOFFAT & DOLLFUS, 1904/1907):

-a 200 m a SW do Forte da Baralha, a 6 m acima do nível do mar.


As conchas são abundantes, constituindo lumachela, apresen-
tando-se frequentemente inteiras;
-a 150 m a NW do Forte da Baralha e à altitude de 62 m. As conchas,
muito mais raras, encontravam-se em pior estado de conservação;
- a 70 m de altitude, recolheram-se restos de conchas de tal forma
partidas e roladas , que impossibilitaram determinação, mesmo
genérica.

As espécies identificadas por Dollfus e Choffat distribuem-se pelos


diversos níveis de rechãs , conforme o seguinte quadro (Quadro 1).
Segundo as informações ecológicas fornecidas pelas espécies
identificadas, Choffat e Dollfus concluíram que as condições climáticas
que presidiram à formação do nível de cerca de 60 m eram idênticas
às actualmente existentes no litoral da Mancha, tendo em conta a
presença de Donax vittatus e de Mactra solida, cujas águas são de
características temperadas frias . Tal conclusão foi contrariada por J.
Bourcart (in ZsvszEWSKI , 1943), salientando que as duas espécies
ocorrem nos arenitos de Rabat, bem como no litoral actual do Algarve.
Para ZsvszEWSKI (1957, p. 118), O. vittatus poderia indicar meio mari-
nho semelhante ao do litoral setentrional do País.
A associação encontrada no nível imediatamente inferior (15 m)
denunciaria condições um pouco mais quentes, do tipo atlântico
temperado, com Mytilus galloprovincialis e Patella coeru/ea.
Enfim, a associação faunística mais moderna, correspondente ao
nível de 6 m, também a mais abundante, revelaria características
temperadas quentes, de que o elemento mais expressivo é Patella
safiana.

11 o
QUADRO I
Distribuição dos moluscos plistocénicos observados na zona do Forte da Baralha
pelos níveis marinhos ali identificados (DOLLFUS & CHOFFAT, 1904/07)

ALTITUDES
06 m 15m 60 m
1. Solen marginatus PENNAN. ........ ...............
"" +
2. Mactra subtruncata var. triangula RENIER +
3. Mactra solida L. ..... ············. + +
4. Donax vittatus var. atlantica HIDALGO +
5. Tapes pu/lastra MONTAGU +
6. Venus gallina var. striatula DA COSTA +
7. Cardium echinatum L. .................... + +? +
8. Cardium edu/e var. umbonata WOOD .......... ....... + +
9. Cardium noNegicum var. ponderosa B. O. D. + +
10. Pectunculus bimaculatus POLI +?
11 . Pecten maximus L. ...... ················ + +
12. Mytilus galloprovincialis LAMARCK +
13. Mytilus edu/is L. , var. div. + + +
14. Patella vulgata L. ... ......................... + +
15. Patella safiensis LK. .... . ............. +
16. Patella coerulea var. subp/ana POTIER et MICHAUD + +
17. Echinus miliaris KL. ... .... ' ... .. .... +
18. Strongylocentrotus lívidos LK. ............•. •...... + +
19. Pollicipes cornucopia GML. ................. +

À referida lista, ZsvszEWSKI (1957) acrescenta Purpura haemas-


toma e Murex erinaceus, sobre a praia de 15 m. O mesmo autor
(ZsvszEWSKI , 1943) precisa as observações anteriores; assim, na zona
do Forte da Baralha, assinala os seguintes níveis:

- entre 4 e 6 m de altitude, um primeiro nível, muito erodido;


-entre 8 e 12 m de altitude, um segundo nível, constituindo corre-
dor marcado pela presença de um belo cordão de seixos cimen-
tados, associados a numerosas conchas e restos de ouriços;
-uma plataforma desenvolvida, a 20-25 m de altitude, que forneceu
pequeno conjunto lítico atribuível ao Paleolítico médio;
-um nível superior a 62 m de altitude, já assinalado por Dollfus e
Choffat.

111
O principal elemento desta nova contribuição é o de referir, pela
primeira vez, a existência de uma plataforma a 20-25 m de altitude,
atribuída ao Tirreniano, com materiais paleolíticos.
O conjunto sedimentar mais moderno estaria representado por brecha
calcária avermelhada, contendo lascas de quartzo e de quartzito, do
Paleolítico médio, assente no nível conglomerático de 5-8 m (ZBYSZEWSKI ,
1943, p. 61 ; 1957, p. 177). Este depósito tem extenso desenvolvimento
lateral , aparecendo recorrentemente em diversas rechãs e grutas que
pontuam o litoral, relacionadas com aquele nível marinho: a sua extraor-
dinária constância ao longo da costa ocidental portuguesa foi salientada
por ZBYSZEWSKI & TEIXEIRA (1949, p. 3). Com efeito, aquele nível foi
identificado na lapa de Santa Margarida (BREUIL & ZsvszEWSKI, 1945),
bem como na vizinha gruta da Figueira Brava (Antunes & Cardoso, in
ANTUNES, 1990/1991 ; CARDOSO, 1993; CARDOSO & RAPOSO, 1995).
Nesta última cavidade, a sucessão observada foi a seguinte , de
cima para baixo:

- C 6- camada estalagmítica, constituída por leitos sobrepostos,


englobando materiais romanos e restos de fauna doméstica
(ovelha) ; O, 15 m;
-C 5- areias pouco consolidadas, avermelhadas, localmente mais
endurecidas pela precipitação de carbonatos; exame mais
pormenorizado permite diferenciar, de cima para baixo:

- areias soltas, correspondendo a remeximentos com materiais


modernos, sobretudo ossos de aves marinhas;
- depósito pouco remexido, com abundante fauna plistocénica,
indústrias líticas e raros fragmentos de ânforas romanas. A sua
formação corresponde à deposição de finos leitos, essencial-
mente arenosos. Em boa parte, trata-se de areias eólicas,
acumuladas de encontro à parede de fundo da gruta, então
exposta; 0,80 m;

- C 4- camada mais endurecida, amarelo-acinzentada, com fauna


escassa, materiais líticos e restos carbonosos; 0,25 m;
- C 3 - leito escuro, carbonoso, de alguns centímetros de espes-
sura, correspondente à acumulação de restos provenientes de
lareiras existentes em outros locais do interior da gruta;
- C 2 -conglomerado de grandes seixos calcários e dolomíticos, por
vezes muito alterados, assente no substrato miocénico; 0,20 m.
-C 1 -substrato miocénico, constituído por calcarenitos grosseiros.

112
No conjunto, a sucessão descrita não ultrapassa 1 m de potência.
Uma datação pelo radiocarbono , feita sobre conchas da C 2, deu o
seguinte resultado (ANTUNES et ai. , 1989}:

ICEN 387 - 30 930 ± 700 BP.

Além de abundante indústria lítica, recolheu-se importante conjunto


faunístico . Deste, apenas os grandes mamíferos foram objecto de
estudo completo (CARDoso, 1993}. As espécies mais abundantes, em
344 restos identificados, são as seguintes:

- Cervus elaphus .. .. .. 34 %;
- Capra pyrenaica .... .. 22 %;
- Bos primigenius ...... 22 %.

Este espectro faunístico indica condições cl imáticas globalmente


temperadas e a existência de manchas florestais dispersas na planície
que então se desenvolvia ao longo do litoral actual , correspondente à
área da embocadura do Sado, estimada a cerca de 60 m abaixo do
nível do mar actual (ANTUNES, 1990/91 , p. 529). Por outro lado, a cabra-
-montês indica biótopo de maior altitude, substrato rochoso acidentado
e clima mais frio, condições verificadas então na serra da Arrábida.
Evidencia-se, pois, a exploração pelo homem paleolítico que se abri-
gou na Figueira Brava, de biótopos bem diferenciados, como é indi-
cado por outros achados de materiais líticos em plena serra (ANTUNES
et ai. , 1992). Enfim , também o litoral de então seria intensamente
explorado, como indica a abundante fauna malacológica recolhida e de
onde se encontra totalmente ausente Patella safiana, presente no nível
de 5-8 m do Forte da Baralha, espécie que não ultrapassa actualmente
a costa atlântica marroquina.
A presença de alguns restos de grandes predadores, como Panthera
(Leo) spelaea, Panthera pardus e, sobretudo, Crocuta crocuta spelaea,
mostra que a ocupação da gruta pelo Homem era descontínua. Neste
contexto, o achado de restos atribuíveis a Neandertais, na C 2
(ANTUNES, 1990/91 , p. 488; ANTUNES & CUNHA, 1992, p. 681 ), poderá ter
várias explicações, a começar por corresponderem a sepultura(s)
tidas em outras salas ainda não exploradas , mas cuja existência é
segura. Seja como for, a presença humana é nítida, consubstanciada
por cerca de 2500 artefactos , cujo estudo revelou indústria de carac-

113
terísticas homogéneas, integrando-se claramente nos conjuntos do
Paleolítico médio portugueses (CARDoso & RAPOSO , 1995). Encon-
tra-se presente o talhe leva/lois e, nos utensílios, predominam os
raspadores - especialmente os simples convexos - seguidos dos
denticulados e dos entalhes. Foi comprovada a existência de utensí-
lios alóctones de rochas siliciosas finas , facto reforçado pela despro-
porção de relação núcleos/utensílios, observada entre o quartzo e
aquelas matérias-primas.
Outra cavidade do litoral meridional da Arrábida é a lapa de Santa
Margarida, debruçada sobre o mar, a qual conserva também vestígios
de enchimento plistocénico, cuja estratigrafia é a seguinte (BREUIL &
ZsvszEWSKI , 1945), de cima para baixo:

- C 4 - areias móveis;
- C 3 - brecha ossífera acinzentada, com indústrias de quartzo inca-
racterísticas;
-C 2- brecha ossífera de matriz greso-calcária avermelhada, com
indústrias de quartzo mustieróides;
-C 1 -conglomerado "grimaldiano", com elementos calcários, atingido
pela maré-cheia, com artefactos paleolíticos, entre os quais um
grande biface acheulense rolado.

A sucessão descrita assenta no substratro miocénico, constituído


por calcarenito médio a grosseiro. Trata-se de sucessão estreitamente
correlacionável com a observada na gruta da Figueira Brava, apenas
a 100 m para este .
A idade do nível conglomerático marinho, sobre o qual assenta o
depósito arqueológico de ambas as grutas, será anterior a 30 000 BP.
Porém, pouco se sabe acerca da correlação dos níveis altimétricos·das
diversas praias levantadas com a escala dos tempos quaternários, o
que inviabiliza a atribuição de idades aos depósitos mais antigos, facto
dificultado pela admissibilidade de tectónica quaternária na região.
Com efeito, DAVEAU & AzEVEDO (1980/81) dedicaram à extremidade
sudoeste da Arrábida estudo geomorfológico. Segundo as autoras, a
aplanação somital , correspondente a uma superfície de abrasão mari-
nha pliocénica, extensa e bem conservada - a plataforma do cabo
Espichei -"bela plataforma de abrasão, que rasoirou todo o relevo até
à base do Risco e do Formosinho" (RIBEIRO, 1968, p. 265) - encontra-se
suavemente inclinada desde Picoto (239 m) até à extremidade ocidental,

114
limitada por escarpa vertical de cerca de 130 m. Esta superfície,
basculada para norte e localmente retocada pelo rejogo tectónico,
dataria, segundo ZBYSZEWSKI (1940) , do Pliocénico superior. O IV e
último nível da sucessão de rechãs, definidas pelas autoras, encontra-
-se representado , na encosta meridional da Arrábida, pela plataforma
dos Navegantes e outras idênticas, entre 40 e 50 m de altitude: '1er-se-iam
desenvolvido posteriormente à fase de deformação tectónica respon-
sável pelo balançamento da plataforma do Cabo e das rechãs altas".
Abaixo do nível referido , mencionam ainda outras pequenas rechãs,
como a do Forte do Cavalo, a oeste de Sesimbra, as quais , por maio-
ria de razão , se apresentam isentas de acções tectónicas. Com efeito ,
a continuidade dos dois níveis principais observados , a 12-15 m e a
5-8 m , sugere estabilidade, no decurso dos últimos 100 000 anos deste
sector da Arrábida, bem como , de um modo mais geral , do litoral
ocidental , onde o último se pode observar com evidente constância
(TEIXEIRA & ZBYSZEWSKI, 1949).
Tais retalhos de antigas linhas de costa constituíam, para além dos
pequenos abrigos e grutas a que se encontravam associados, locais
privilegiados de estacionamento de bandos de caçadores-recolectores
paleolíticos. Não espanta, pois, que, desde as pioneiras recolhas de
Carlos Ribeiro, sejam estes os locais que tenham fornecido a maioria dos
artefactos recolhidos. O reconhecimento das características muito parti-
culares destes levou BREUIL, VAULTIER & ZBYSZEWSKI (1942) , impressio-
nados pelo seu evidente arcaísmo em época já evoluída do talhe da
pedra, a proporem uma designação nova para as indústrias em
apreço: "Lusitaniano" e "Microlusitaniano" passariam , pois, a designar
as indústrias paleolíticas de seixos afeiçoados, desprovidas de bifaces
que, de Leixões à costa algarvia, se dispersam abundantemente pelas
sucessivas praias levantadas, escalonadas ao longo do litoral: "Ce ne
sont, pour la plupart, que des simples galets oblongs segmentés à une
extrémité par deux ou trois coups ; rarement ii y en a davantage".
De exclusiva recolha superficial , tanto em retalhos de depósitos da
frente ocidental da Península de Setúbal (Casal do Mocinho) como do
litoral meridional - rechã de 50-70 m de Boca dos Robaleiros , vd.
SERRÃO et a/., 1974 e de 20-25 m do Forte da Baralha - não se entre-
vêem evidentes variações tipológicas , dificultadas pela escassez das
colheitas; é a simplicidade que domina, imposta pelas limitações da
matéria-prima, correspondente a pequenos seixos quartzíticos.
Assim , o único elo que uniria grupos humanos responsáveis pela
confecção de tão frustes utensílios , de há mais de 1,5 milhões de anos

115
-na área interessada pela folha, representada pelas jazidas de Peru ,
Arcos e Basteza da Mó (AZEVEDO et a/. , 1979) - até épocas relativa-
mente recentes , situáveis no Paleolítico médio, ou mesmo ulteriores,
foi, tão-somente , o de terem recorrido às mesmas técnicas elementa-
res para o fabrico de tais artefactos, forçosamente frustes (CARDoso,
1994).
Com efeito, as jazidas pré-acheulenses da Península de Setúbal
são as únicas, além dos depósitos calabrianos a norte da Serra de
Sintra, a disporem de elementos geológicos de interesse para a
respectiva datação. Conquanto o número de artefactos seja muito infe-
rior ao recolhido no litoral a norte de Sintra, impossibilitando uma
caracterização precisa da utensilagem, encontram-se presentes
exemplares de talhe característico (CARDoso, 1996, Fig. 2, n.o• 9 e 1O;
Fig. 13), executados em pequenos seixos achatados de quartzito.
Pelas características sedimentológicas, admite-se que os respectivos
leitos conglomeráticos, que constituem a Formação de Belverde
(AzEVEDO, 1982), representada na parte norte da folha, se tenham
formado na confluência oceânica de vasto dispositivo fluviodeltaico,
originando vastas praias, onde os bandos de hominídeos circulariam
livremente, entregues sobretudo à recolecção.
Atendendo ao movimento de subsidência que caracteriza a Península
de Setúbal, tais depósitos sofreram, ulteriormente à sua formação,
assentamentos significativos, o que explica as altitudes máximas a que
actualmente se encontram , entre 11 O e 120 m, muito inferiores às veri-
ficadas na Seixosa, a norte de Sintra (cerca de 150 m).
A relevância destas descobertas veio ainda a ser reconhecida por
SERRÃO (1994) , arqueólogo que, já nos inícios da década de 1970,
tinha chamado a atenção para a importância da prospecção arqueoló-
gica dos depósitos de praias do Quaternário antigo (SERRÃO & JORGE,
1970/1971 ).
Assente na Formação conglomerática de Belverde, desenvolve-se
espessa série de arenitos vermelhos com passagens conglomeráticas,
essencialmente constituídas por seixos de quartzo deficientemente
rolados: trata-se da Formação vermelha de Marco Furado, cuja idade
não poderá ser ulterior ao Vilafranquiano médio, a qual se encontra
igualmente representada na área em apreço. Também ela forneceu
diversos artefactos talhados, recolhidos "in situ", dos quais o mais
representativo é uma grande lasca de quartzo, achada perto do cemi-
tério da Baixa da Banheira, já fora dos limites da folha (CARDOso, 1996,
Fig . 18).

116
Na procura de explicações para a evidente sobrevivência tipológica
destas indústrias sobre seixos no decurso dos tempos geológicos,
devemos ter presente a hipótese de ocupação sazonal do litoral por
bandos de recolectores , que ciclicamente o procuravam , ter determi-
nado, de alguma forma , a estagnação evolutiva. De facto , se não se
pretendia mais do que a simples e fácil recolecção de moluscos ao
longo do litoral, numa dada época do ano, seriam dispensáveis arte-
factos mais poderosos e elaborados como os utilizados, pelos mesmos
grupos, na caça. A aparente "paralisia da engenhosidade", invocada
por 8REUIL, VAULTIER & ZBYSZEWSKI (1942), pode dever-se justamente a
uma inteligente adaptação à pouco exigente vida no litoral , bastando a
recorrência a artefactos de ocasião . Não se pretenda, pois, atribuir à
aparente homogeneidade tipológica destas indústrias de seixos
simplesmente talhados , da região em apreço, uma homogeneidade e
significado cronológico-cultural que, efectivamente, não possuem.
Com efeito, com base nos mesmos suportes líticos foi possível o talhe
de instrumentos sobre lasca, tipologicamente muito diferentes, como
os recolhidos em grande abundância na gruta da Figueira Brava, antes
referidos , os quais se podem relacionar com actividades mais espe-
cializadas , como a da caça.

O PALEOLÍTICO SUPERIOR E O EPIPALEOLÍTICO

Neste capítulo inscrevem-se as indústrias de base macrolítica de


tipo languedocense, essencialmente de idade epipaleolítica. Isto mesmo
foi evidenciado no litoral baixo-alentejano; que possuam em tal época
e lugar significado cultural pleno, também parece pacífico, uma vez
que, correspondendo embora a acampamentos temporários e talvez
de carácter sazonal , está já suficientemente conhecida a economia,
modo de vida e relações estabelecidas com o meio circundante pelas
respectivas comunidades que as fabricavam. No quadro destas indús-
trias sobre seixos, avultam determinados caracteres tecno-industriais e
tipológicos , a saber (CARDoso , 1985):

- no concernente à técnica de lascamento, avultam os artefactos


com levantamentos muito inclinados, frequentemente sobrepostos,
dando às zonas trabalhadas aspecto escamoso (talhe em "gradin");
- no que diz respeito à tipologia, trata-se essencialmente de indústrias
de seixos unifaciais, transformados em utensílios maciços de gumes

117
espessos e fortemente convexos, frequentemente com intensos
sinais de utilização. Na terminologia de Breuil e Zbyszewski, trata-se
fundamentalmente de seixos raspadores, de raspadores em "D", e
de raspadeiras nucleiformes, a que se associam os discos talha-
dos em toda a periferia e as lascas, retocadas ou não, cuja real
importância no conjunto destas indústrias ainda não foi cabal-
mente esclarecida: na área em apreço, recolhas não selectivas e
cuidadosas permitem associar às peças nucleares um conjunto
de utensílios sobre lasca, de sílex branco ou cinza e muito homo-
géneo, de origem não-local, incluindo, entre outros artefactos,
furadores , entalhes, denticulados, núcleos de tendência prismá-
tica de lascas e lamelas, buris de ângulo, raspadores unguiformes
e lamelas de bordo abatido, os quais definem um conjunto de
aspecto azilóide (SILVA & SOARES, 1986).

A caracterização que se acaba de apresentar é útil para melhor


compreensão do significado das peças languedocenses, recolhidas na
região. Efectivamente, das 528 peças descritas por BREUIL & ZsvszEwSKI
(1945), provenientes da fachada ocidental da Península de Setúbal ,
482 são languedocenses. Trata-se de materiais de exclusiva recolha
superficial, embora por vezes se encontrem embalados em areias eóli-
cas modernas. Particularmente abundante revelou-se a região do
Casal do Mocinho. Para norte, nas imediações da Foz da Fonte, estas
indústrias ocorrem junto à frente da arriba marinha, apresentando
sempre arestas vivas ou ligeira pátina eólica. Nas imediações da
Lagoa de Albufeira, recolheram-se também algumas peças deste tipo,
correspondendo invariavelmente a achados isolados.
Entre Fonte da Telha e Mina de Ouro, e ao longo do topo das arri-
bas marinhas, assinalou-se a ocorrência de fundos de cabana e de
lareiras, desta época ou posteriores, infelizmente não explorados
(ZsvszEWSKI , 1965), cuja localização se perdeu.

O NEOLÍTICO

As primeiras manifestações neolíticas, referenciadas na área em


apreço , ascendem ao Neolítico antigo evolucionado (2.• metade do
V milénio a. C. , ou inícios do seguinte): trata-se de um povoado iden-
tificado em Fonte de Sesimbra (SOARES, SILVA & BARROS, 1979). Embora
não se tenham feito escavações, a aparente concentração de materiais

118
em determinados sítios aponta para a existência de fundos de cabana,
em encosta suave e desprovida de condições naturais de defesa,
como é habitual em ocupações desta época. Outra zona que atesta
este tipo de ocupação é a vasta plataforma de Pinheirinhos (SILVA &
SOARES, 1986, Fig . 26), bem como O sítio de Amieira (CARDOSO, 1992 a).
Do ponto de vista geomorfológico, a colina suave e de substrato
arenoso onde se implanta a estação quadra-se bem nos contextos da
mesma época da região e do litoral baixo-alentejano. A larga predomi-
nância dos resíduos de talhe sobre os artefactos e, nestes, a expres-
são dominante dos núcleos (sempre de lascas) sugerem uma jazida
com características oticinais, atendendo às recolhas não selectivas do
material , onde os fragmentos cerâmicos são vestigiais. A quase totali-
dade do material é de sílex, não existente no local. O interesse principal
desta ocorrência é o de demonstrar na região e no Neolítico antigo a
existência de estações funcionalmente diferenciadas: ao povoado da
Fonte de Sesimbra e à possível necrópole do estrato interior da gruta
natural , conhecida por Lapa do Fumo, soma-se esta oficina de talhe, a
qual sugere uma já complexa organização da ocupação e exploração
do território. Com efeito, a necrópole da Lapa do Fumo, sobranceira à
escarpa meridional da Arrábida, a oeste de Santana, forneceu restos
de dois vasos em forma de saco e com decoração de folículos impres-
sos a punção, que remontarão ainda a esta fase cultural (SERRÃO,
1975). Porém, não se ignora que tais motivos decorativos, recorrendo
à mesma técnica, perduraram na região até o Neolítico final : disso são
prova os restos exumados no povoado de altura do Alto de S. Francisco,
entre Vila Fresca de Azeitão e Cabanas, investigado por C. Tavares da
Silva e J . Soares (SILVA & SoARES, 1986). A procura de sítios altos e
com condições de defesa, como a colina em referência, testemunha a
crescente necessidade de protecção, sentida pelos ocupantes da região ,
decorrente de uma economia agro-pastoril pela primeira vez com
possibilidades de ser excedentária, proporcionando a acumulação de
bens que careciam de defesa, os quais, por outro lado, propiciavam o
desenvolvimento de actividades de carácter especializado, plenamente
afirmadas no Calcolítico.
É ainda ao Neolítico final que devem reportar-se as grutas arti-
fi ciais (h ipogeus) da Quinta do Anjo, utilizadas po r sucessivas
populações que ocuparam a região durante quase mil anos. Possuem
um corredor, precedido de vestíbulo, desembocando numa grande
câmara circular, munida de "clarabóia". As quatro grutas identifica-
das no século passado foram objecto de importante monografia,

119
na qual se publica todos os espólios exumados (LEISNER, ZsvszEWSKI
& FERREIRA, 1961 ).
Na área interessada pela folha , importa ainda citar duas importan-
tes necrópoles, e que forneceram numeroso espólio arqueológico e
osteológico. Trata-se da já referida Lapa do Fumo e da Lapa do Bugio,
igualmente uma gruta natural aberta no topo da encosta meridional da
serra, junto à povoação de Azóia de Baixo, a qual foi objecto de estudo
de conjunto (CARDoso, 1992 b).

O CALCOLÍTICO

No decurso da primeira metade do III milénio a. C. , a forma de


povoamento dominante na região correspondia a aglomerações de
cumeada, de que se conhecem alguns excelentes exemplos. A prová-
vel fortificação de alguns deles, como o povoado da Rotura (remon-
tando a fase precoce do Calcolítico pleno) e o de Chibanes (Palmela)
demonstra o clima de instabilidade e competição intergrupos que
caracterizaria, na região , quase todo o III milénio a. C. Naquele povo-
ado desenvolver-se-ia uma metalurgia do cobre, expressivamente
representada, entre outros artefactos, por diversos anzóis, que servi-
riam para a pesca no estuário.
Por outro lado, continuaram a ser utilizadas como necrópoles as
duas grutas naturais já referidas, além dos hipogeus de Palmela, como
bem documentam algumas notáveis peças calcárias, de índole ideo-
técnica, oriundas especialmente da Lapa do Bugio, as quais corpori-
zam a existência de influências culturais do mundo mediterrâneo, a
começar pela própria matéria-prima utilizada (o calcário) , tão apreci-
ada, na mesma época, no Mediterrâneo oriental, para a confecção de
artefactos de idêntico cariz.
O Calcolítico inicial , datado no povoado pré-histórico fortificado de
Leceia (Oeiras) entre cerca de 2800 e 2600/2500 a. C. (CARDoso &
SoARES, 1996), encontra-se bem representado no povoado do Pedrão,
sobranceiro ao estuário do Sado. Ali foram encontradas cerâmicas
características desta fase cultural , como os bem conhecidos copos
com decoração canelada (SoARES & SILVA, 1975).
O Calcolítico pleno , por seu turno, apresenta-se muito bem
documentado pelas cerâmicas, igualmente características (decora-
ções em "folha de acácia" e "crucíferas"), exumadas no povoado da
Rotura (COSTA, 1908; SILVA, 1971 ; GONÇALVES, 1971 ), especialmente

120
aplicadas a vasos globulares, considerados de armazenamento .
A abundância destas formas sugere que a acumulação de excedentes
de produção agro-pastoril se terá acentuado nesta fase, a qual corres-
ponde ao florescimento de actividades produtivas relacionadas com a
plena afirmação da chamada "Revolução dos Produtos Secundários".
É também nesta fase que se terá afirmado a metalurgia do cobre, bem
documentada na Rotura. A recolecção de moluscos seria, contudo,
ainda importante na dieta alimentar das populações ribeirinhas deste
período: disso é prova a grande abundância destes restos na Rotura,
povoado que então dominaria vasta enseada estuarina, formada por
um braço do rio Sado, hoje completamente desaparecida.
É neste contexto que ocorrem as primeiras cerâmicas campanifor-
mes, as quais, depois de período de coexistência com os tipos ante-
riores, característicos do Calcolítico pleno, se afirmam plenamente nos
níveis superiores do povoado da Rotura (SILVA, 1971 ), onde predomi-
nam , segundo o referido autor, os vasos campaniformes do Gupo
Internacional; a forma mais característica deste Grupo é a do vaso em
forma de campânula invertida, decorado a ponteado por bandas para-
lelas preenchidas interiormente. A explicação avançada é a de terem
sido os povoados, que conheceram o auge no período imediatamente
anterior, os locais primeiramente ocupados pelos portadores ou utiliza-
dores deste novo tipo de recipientes, os quais, no contexto das cerâ-
micas campaniformes, são considerados os mais antigos .
Das mútuas influências recebidas das cerâmicas calcolíticas
preexistentes e a elas transmitidas, surgiu um grupo de característi-
cas próprias, cuja forma mais típica é a grande taça de lábio aplanado
e decorado. Foi nos hipogeus de Palmeia que se recolheram , aquando
das explorações ali efectuadas por ordem de Carlos Ribeiro, os primei-
ros exemplares de tais recipientes , os quais ficaram conhecidos por
"taças de Palmeia", ao mesmo tempo que certas pontas de cobre, de
seta ou de dardo receberiam, pela mesma razão , a designação de
"pontas de Palmeia". A mescla de elementos da cultura material de
origens distintas evidencia uma das realidades mais marcantes das
cerâmicas campaniformes, cujo verdadeiro estatuto como marcadores
socioculturais e cronológicos na região do Baixo Tejo e Baixo Sado
ainda está longe de se encontrar esclarecido .
Neste período, são reocupados os povoados do Pedrão - abando-
nado desde o Calcolítico inicial , aquando da ocupação do vizinho
morro da Rotura - e do Moinho da Fonte do Sol (SOARES, BARBIERI &
SILVA, 1972), enquanto outros , como o das Malhadas, são pela primeira

121
vez ocupados (SILVA & SoARES, 1986, Fig. 68) , correspondente à
presença isolada do Grupo Campaniforme de Palmeia. Os materiais
exumados apontam para uma prática recolectora no estuário, comple-
mentada pela caça, criação de gado e agricultura pouco importante; a
metalurgia do cobre encontra-se, ao contrário, bem representada pela
presença de cadinhos de fundição e de resíduos.
Verifica-se a continuação do aproveitamento sepulcral de certas
grutas naturais, como as Lapas do Fumo e do Bugio, para além dos
hipogeus de Palmeia, conforme evidenciam as cerâmicas campanifor-
mes exumadas, e onde são agora numerosos os exemplares incisos,
que corporizam o terceiro e último grupo da classificação de SoAREs &
SILVA (1974/77): O Grupo Inciso, consubstanciando uma transição
paulatina e sem sobressaltos para a Idade do Bronze.

A IDADE DO BRONZE

O abandono dos povoados de altura, na região de Setúbal, afirma-se


plenamente na Idade do Bronze. Tal facto deverá ser interpretado no
âmbito da evolução económico-social verificada na região estremenha.
Do Bronze final , são dois machados e uma foice de talão, de bronze,
encontrados em Alfarim e Pedreiras (Sesimbra) (SERRÃO, 1966). A foice
corresponde ao chamado "tipo Rocanes", de produção local ou regio-
nal, como indica a presença de molde de pedra para fundição deste
tipo de artefactos encontrado em Rocanes (Sintra). Tal facto evidencia
a importação de minérios de cobre e de estanho por parte dos habi-
tantes da região estremenha, permutados por matérias-primas aqui
produzidas, com destaque para as de carácter agrícola (cereais):
assim se explicam as alfaias agrícolas como as foices em questão, que
substituíram no final do Bronze final as suas homólogas líticas
(CARDOSO, 1995).
Tais factos evidenciam o desenvolvimento tecnológico e económico
destas populações, estreitamente relacionável com uma sociedade já
complexa e estratificada. Exemplo frisante desta nova realidade é o
monumento funerário da Roça do Casal do Meio (Calhariz), construção
que evoca os tholoi micénicos dos quais é em parte contemporânea,
visto poder situar-se na viragem do li para o I milénio a. C. Trata-se de
construção possuindo longo corredor, comunicando com uma câmara
circular com cobertura em falsa cúpula, envolvida do lado externo por
corredor, delimitado por muro de ortóstatos que envolve todo o

122
monumento (SPINDLER & FERREIRA, 1973). Esta complexa construção
servia de túmulo a dois indivíduos, do sexo masculino, talvez perten-
centes a uma classe sacerdotal em afirmação: não obstante ser
evidente a sua alta categoria - atestada por objectos ditos de prestí-
gio, como um soberbo pente de marfim, fíbula de enrolamento no arco
e pinças de bronze- dela se encontravam totalmente ausentes quais-
quer armas. Aqueles artefactos estão frequentemente representados
em estelas de chefes ou guerreiros heroicizados do Bronze final , de
que é expoente a de Ervidel (GOMES & MONTEIRO, 1976/77), subli-
nhando o alto estatuto das duas personagens inumadas no monu-
mento, o qual revela características até ao presente, únicas em territó-
rio português. Trata-se, sem dúvida, de algo totalmente novo e de
evidente origem exógena, talvez explicável pela presença de popula-
ções mediterrânicas aqui apartadas. Neste monumento recolheram-se
também grandes recipientes de armazenamento, exibindo do lado
externo as características decorações de "ornatos brunidos", produzi-
das por pontas rombas, provavelmente de madeira, constituídas por
finas caneluras definindo motivos reticulados de natureza exclusiva-
mente geométrica. Este tipo decorativo foi identificado pela primeira
vez na Lapa do Fumo (SERRÃO, 1958), sendo característico do último
período do Bronze final (CARDoso, 1995, 1996), com términos aquando
das primeiras influências orientalizantes, no século VIII a. C.
As cerâmicas de ornatos brunidos da Lapa do Fumo - o conjunto
mais importante até agora conhecido -seriam, deste modo, a expres-
são material, na região estremenha, do período proto-orientalizante,
caracterizado na Andaluzia. Corresponderiam a oferendas fúnebres
ou , em alternativa, a deposições relacionadas com santuário rupestre ,
atendendo à dificuldade de se poderem relacionar com quaisquer
sepulturas, a menos que estas fossem de incineração, hipótese que,
embora carecendo de demonstração, é plausível.
À Idade do Bronze e a momento anterior ao Bronze final , pertence
o conjunto arqueológico exumado em gruta natural , situada a escassas
dezenas de metros da Lapa do Bugio -trata-se da Lapa da Furada, onde
se realizaram recentemente escavações, cujas principais conclusões foram
já publicadas (CARDOSO, 1993, 1997; CARDOSO & SANTINHO, 1996).

A IDADE DO FERRO

A Península de Setúbal situa-se entre duas vias de penetração


privilegiadas - o Tejo e o Sado - na perspectiva da circulação e

123
escoamento de matérias-primas oriundas do interior do território,
susceptíveis de serem transaccionadas por produtos trazidos por
comerciantes fenícios que, a partir do século VIII a. C., demandaram a
região. O sucesso de tal empresa pode avaliar-se pela abundância da
difusão daqueles produtos, especialmente cerâmicos, e dos seus
sucedâneos, de origem púnica, a partir do século V a. C., reconheci-
dos em diversas estações, situadas nos estuários e cursos inferiores
daqueles dois grandes rios . No tocante à área que agora interessa,
avulta o povoado de altura de Chibanes, primeiramente estudado por
A. I. Marques da CosTA (1908), o qual evidenciou, além da já mencio-
nada ocupação calcolítica, coeva da verificada na Rotura, uma outra
da li e III Idade do Ferro. Estas conclusões foram confirmadas e preci-
sadas pela intervenção arqueológica ali presentemente em curso
(SILVA & SOARES, 1997). Foi então construído um importante povoado
fortificado , cuja fundação não parece anterior ao século III a. C. ,
ocupando longitudinalmente a crista da serra do Louro, com 300 m de
comprimento. Os materiais importados, simultaneamente de origens
mesetenhas e mediterrâneas, evidenciam o papel polarizador deste
sítio, no tocante às trocas comerciais de âmbito regional então efec-
tuadas, em estreita conexão com o estuário do Sado, primeiro de
origem púnica, do século III a. C. até ao advento do Império Romano.
Com efeito, pode admitir-se que, no decurso do Período Republicano,
o comércio tenha continuado em mãos púnicas, através da manuten-
ção do importante centro comercial que era a cidade de Gades,
pagando pesados tributos a Roma, cujo controlo político e administra-
tivo da região era uma realidade, a contar de meados do século li a. C.
A importância assumida pelo povoado fortificado de Chibanes, a
partir do século III a. C., deverá ser compreendida numa lógica regio-
nal e mesmo transregional. Com efeito, até aos séculos V/IV a. C., o
comércio marítimo seria directamente assegurado pelo povoado da
colina de Santa Maria, actualmente integrada no casco antigo de
Setúbal, enquanto ulteriormente, nos séculos 11/1 a. C., afirmam-se
paralelamente a Chibanes outros núcleos, como o Pedrão, em esporão
rochoso sobranceiro ao Sado, e o Castelo dos Mouros, nos quais os
produtos de origem púnica se mesclam, como em Chibanes, com mate-
riais itálicos, especialmente ânforas vinárias, configurando uma última
etapa da Idade do Ferro, a qual , tal como as anteriores na região,
mantém estreitos os laços ao mundo meridional e mediterrâneo.
Provavelmente uma das actividades principais, de índole industrial,
consistia na produção de salgas de peixe, na zona ribeirinha do vasto

124
estuário, destinadas essencialmente, como viria a contecer ulterior-
mente , em pleno domínio romano, à exportação para o mundo itálico
que, como se disse, controlava, desde meados do século 11 a. C., os
mercados marítimos peninsulares.
Ainda dentro da presença da Idade do Ferro, são de destacar as
sepulturas de inumação da 11 Idade do Ferro do Casalão (Calhariz) ,
constituídas por caixas rectangulares de !ages dispostas verticalmente,
com outras, servindo de cobertura, as quais ofereceram escasso mobi-
liário funerário, entre o qual avulta uma pequena faca de ferro afalca-
tada (SERRÃO, 1964).

O PERÍODO ROMANO

No Período Romano, afirma-se plenamente a importância das acti-


vidades industriais relacionadas com a salga de peixe e seus deriva-
dos (garum) , expressivamente registada em diversas unidades fabris ,
pontuando a orla norte do estuário: o Creiro, no Portinha da Arrábida
(SILVA & COELHO-SOARES, 1987), a Comenda (COSTA, 1923/26; SILVA &
CABRITA, 1964; DIOGO & TRINDADE, 1996), situada na confluência da
ribeira do mesmo nome com o Sado, e a própria área urbana de
Setúbal , onde se localizaram fábricas em dois sítios, a Praça de Bocage
(SILVA & COELHO-SOARES, 1980/81 ; CARDOSO, 1980/81) e a Travessa de
Frei Gaspar (SILVA, COELHO-SOARES & SOARES, 1986) são OS exemplos
mais expressivos de tal realidade. Complementarmente, conhecem-se
diversos fornos de produção de ânforas na mesma margem do estuário,
como os da Quinta da Alegria, a montante de Setúbal (CoELHo-SoARES &
SILVA, 1979), com laboração entre a 2.• metade do século I d. C. e, pelo
menos, o século IV. As ânforas ali fabricadas destinavam-se à emba-
lagem e exportação, por via marítima, daqueles produtos piscícolas.
Porém , é em Tróia, então constituindo uma pequena ilhota arenosa, que
a presença de tais fábricas assume aspecto notável , constituindo
mesmo uma das grandes unidades industriais no Mundo Romano, no
auge da sua existência, aspecto favorecido pela própria posição
geográfica daquele acidente costeiro, favorável ao desenvolvimento
daquelas actividades.
A chamada península de Tróia é constitu ída por extenso corpo
arenoso, estreito e muito alongado, que limita, a ocidente , a emboca-
dura do rio Sado. Encontra-se referida na "Ora Maritima", poema de
Rufio Festa Avieno, composto em meados do século IV d. C., com base

125
em outro poema grego do século I a. C. , o qual, por sua vez, se teria
baseado em um périplo massaliota do último quartel do século VI a. C ..
Na parte relativa ao sector costeiro em causa, diz o seguinte (FERREIRA,
1985, p. 22}:

"... Em seguida, sobressai o cabo Cêmpsico (o cabo Espichei). Mais


adiante e subjacente fica a ilha que os habitantes chamam Ácala. É de
difícil credibilidade o que se narra devido ao seu maravilhoso, embora
não falte o testemunho dos autores a comprová-lo: contam que, nos
confins desta ilha, nunca o aspecto do mar é igual ao restante. Em
todos os lugares existe nas ondas um esplendor e um brilho cristalinos
sendo certo que nas profundidades do mar as águas apresentam uma
imagem azulada. Aí porém o mar está sempre desfigurado por um lodo
sujo, como lembram os antigos, e com a sujidade as águas tornaram-se
espessas'.
(A itálico, trechos originais do périplo; a redondo, interpolador grego
do século I a. C. e Avieno).

A descrição ajusta-se à embocadura do Sado. Apesar dos terrenos


serem uniformes na sua constituição geológica - trata-se de aluviões
modernas- a existência de uma ilha, ali, foi de há muito admitida (ver
especialmente VASCONCELOS, 1905, pp. 17-18 e CASTELO-BRANCO,
1963). A presença de um "lodo sujo" é compatível com uma segunda
boca do rio Sado, situada a sul da actual, então já em fase adiantada
de assoreamento. VICENTE (1976, p. 69), em abono desta hipótese,
descreve a microtopogratia da actual pen ínsula. Assim, o canal da
Comporta encontra-se separado do oceano apenas por uma faixa de
areia com pouco mais de 500 m de largura. Ter-se-ia, deste modo,
formado uma restinga, pela progressão das areias, de sul para norte,
responsável pela junção da antiga ilha ao continente, com o conse-
quente assoreamento da ligação meridional do rio Sado ao oceano.
Esta hipótese é concordante com o sentido do actual transporte sólido
litoral, muito nítido pela observação de fotografias aéreas tiradas a
intervalos espaçados.
A confirmação de tais observações ficou recentemente reforçada
pela escavação de diversas estações neolíticas, situadas na zona da
Comporta, já tora da tolha de Setúbal. Com efeito, as areias de praia
sobre a qual se sediaram diversas comunidades essencialmente reco-
lectoras, no decurso do IV milénio a. C. , verificou-se possu írem níti-
das características marinhas, facto incompatível com a sua actual

126
posição na periferia dos sapais do Sado (SILVA et a/., 1986). Já SoARES
& SILVA (1980) e, depois, ANTUNES (1983) chamaram a atenção para as
características marinhas das faunas malacológica e ictiológica, reco-
lhidas naqueles concheiros neolíticos.
A estação romana de Tróia foi inicialmente ocupada na segunda
metade do século I a . C. , atingindo os derradeiros materiais exumados
o século VI da nossa era. O apogeu da cidade industrial ter-se-á veri-
ficado nos séculos li e III d . C . A zona de maior concentração de estru-
turas e materiais estende-se por cerca de 1 km do litoral fluvial da
península, encontrando-se ainda em grande parte sob as areias. Trata-se
de um dos mais notáveis complexos industriais do Mundo Romano ,
dedicados a uma actividade especializada: a preparação de produtos
derivados do pescado. Para o efeito, construíram-se diversos núcleos
fabris, constituídos por tanques de salga, correspondentes , provavel-
mente, a outras tantas sociedades. (ALMEIDA, PAIXÃO & PAIXÃO,
1978/79). Tanques mais pequenos destinar-se-iam à preparação do
"garum". Tanto o peixe salgado como este condimento, muito apre-
ciado pelos Romanos , seriam exportados em larga escala, por via
marítima, em ânforas fabricadas em diversos fornos existentes na
margem direita do estuário do Sado, alguns dos quais foram anterior-
mente referidos.
São diversos os cemitérios já identificados e parcialmente escava-
dos, bem como diversas são as tipologias das sepulturas e os ritos
funerários (inumação e incineração) . O mais importante apresentava
7 m de potência estratigráfica, tumulações dos séculos 11 , III , IV e da
Alta Idade Média (SOARES, 1980). O centro religioso parece correspon-
der ao local onde, mais tarde , se edificou capela paleocristã. Atesta-o ,
sobretudo, o fragmento de políptico com a representação de Mitra e do
deus Sol. Ali teria o seu templo , o Mitraeum. A tipologia das sepulturas
de um dos cemitérios é única (ALMEIDA, PAIXÃO & PAIXÃO, 1978). Perto,
situa-se uma estrutura hidráulica de captação , armazenamento e distri-
buição de água, destinada à laboração fabril , cujas características são
também únicas no território português (QUINTELA, MASCARENHAS &
CARDOSO, 1993/94).
Outras ocorrências arqueológicas romanas a destacar na área inte-
ressada por esta notícia são de salientar.
No casco urbano de Setúbal, recolheram-se no ano de 1957 (Rua
de Fran Paxeco) , no decurso de obras camarárias , duas ânforas,
contendo na totalidade 18 181 moedas de bronze do Baixo Império,
exaustivamente estudadas e publicadas (FERNANDES, 1995) . Trata-se

127
do mais notável conjunto até ao presente conhecido no Mundo
Romano desta época. Com efeito, o vol. VIII do "Roman Imperial
Coinage", Londres, Seaby, 1983, menciona apenas três com mais de
1O 000 moedas, dos quais o mais numeroso não atinge o número das
presentes neste tesouro que, aliás, contém exemplares extremamente
raros (de Nepociano e Vetrânio, entre outros) e numerosas variantes
desconhecidas.
Devem mencionar-se ainda os dezasseis cepos de âncoras de
chumbo e os três de pedra, encontrados no Mar de Ancão, Sesimbra,
até 1973 (MAIA, 1975). Tais achados testemunham a importante nave-
gação litoral ao longo da costa da Arrábida, durante o Período Romano
(podendo mesmo alguns cepos ser mais antigos) , correspondendo o
local, talvez, mais a fundeadouro importante do que a lugar de naufrá-
gios (MAIA, 1975; SERRÃO, 1994).
Pelo que foi dito, conclui-se que a presença romana na região em
causa foi dominada pelas actividades industriais e comerciais, ambas
de índole marítima. Com efeito, foi diminuta a ocupação agrícola do
território, denunciada pela escassez de materiais e sua fraca relevân-
cia arqueológica (ver SERRÃO, 1973, 1994, que apresenta a cartografia
das estações romanas do concelho de Sesimbra; e CosTA, 1907, que
localiza as dos arredores de Setúbal ; para as restantes , ver FERREIRA
et a/., 1993).

O PERÍODO MUÇULMANO

Se o período visigótico não deixou testemunhos evidentes na


área em apreço - ainda que os materiais paleocristãos de Tróia, do
século VI d. C., sejam coevos de tal presença -já os vestígios da
presença mourisca são evidentes e relevantes. O testemunho mais
notável provém da Lapa do Fumo, onde recorrentemente se têm
encontrado moedas arábicas , correspondentes a várias dezenas de
quirates almorávidas e a um dinar dos Abácidas de Sevilha (FIGANIER,
1958; MARINHO, 1968). Entre os primeiros, avultam exemplares de
grande raridade , cunhados em Silves, e um outro , ainda mais precioso,
cunhado em Beja. A ocorrência deste tesouro monetário em local ermo
e seguro prende-se directamente com a conturbada história da região ,
no decurso da segunda metade do século XII. Com efeito, a primeira
conquista de Sesimbra pelos Portugueses, datada de 1165, culminou um
período de sobressaltos e de instabilidade pol ítica, que teria justificado

128
o ocultamente de tão valioso conjunto , tanto de cristãos como de
adversários político-religiosos (SERRÃO, 1994), na esperança de este
mais tarde vir a ser recuperado. Com efeito, Afonso Henriques, após a
conquista de Lisboa, em 1147, tomou Alcácer, em 1158, e, no ano
seguinte, Évora e Beja, perdidas depois, mas voltadas a mãos portu-
guesas, respectivamente , em 1165 e 1162; neste contexto , facilmente
se percebe a insegurança em que decorreria o quotidiano das popula-
ções muçulmanas de Sesimbra e de Palmela; provavelmente, o
castelo de Sesimbra seria, nessa época, mais fortaleza do que propria-
mente lugar de povoação; voltou de novo a ser reocupado por muçul-
manos , no decurso da invasão almóada de 1190/91 , comandada por
Almansor; os muçulmanos viriam, porém, a encontrar uma fortaleza
totalmente arrasada pelos cristãos (Rui de Pina, Crónica de D. Sancho 1),
sem interesse militar. Com efeito, só após a última reconquista, em
1200, se reedificou o castelo, desde os alicerces . Talvez por isso os
testemunhos mouriscas sejam ali quase inexistentes, ou duvidosos.
Outros testemunhos da presença muçulmana têm sido identificados
na área em apreço: cerâmicas na Lapa do Fumo (CARVALHO & FERNANDES,
1996), no castelo de Palmela (FERNANDES & CARVALHO, 1993) e no
Creiro, Portinha da Arrábida, onde constituíram, curiosamente , os
primeiros achados seguros deste período do concelho de Setúbal
(SILVA & COELHO-SOARES, 1987). No de Palmela, merecem destaque OS
importantes materiais exumados em recentes escavações efectuadas
no interior do castelo (FERNANDES & CARVALHO, 1993).

O PERÍODO PORTUGUÊS

Em 1201, a povoação de Sesimbra recebeu carta de foral, passada


em Coimbra em 1231 . Assim se compreendem os numerosos restos
cerâmicos medievais recolhidos no castelo que, recentemente, têm
sido dados a conhecer (CARVALHO & FERNANDES, 1992; CARVALHO, 1993,
1994). Existe estudo actualizado de inventariação e caracterização do
património monumental e artístico sesimbrense (SERRÃO & SERRÃO,
1997). No próprio castelo de Sesimbra, foi escavada a casa do respec-
tivo alcaide e confrontada a descrição da residência com a planta
levantada no terreno (JoRGE et a/., 1975) .
Também no vizinho castelo de Palmela, se têm recolhido numero-
sos restos cerâmicos medievais portugueses, no decurso das inter-

129
venções arqueológicas ali realizadas , à semelhança do verificado na
área urbana da vila (escavações de A. R. Carvalho e I. C. Fernandes) .
Enfim , na área urbana de Setúbal , em escavações conduzidas por
elementos do Museu de Arqueologia e Etnografia da Assembleia
Distrital de Setúbal recuperaram-se numerosos testemunhos medie-
vais e renascentistas, em boa parte ainda inéditos (SILVA, 1989). Tais
factos salientam o interesse de execução de trabalhos arqueológicos,
em áreas urbanas ocupadas desde a Idade Média, cujos resultados
podem contribuir, de forma determinante, para o esclarecimento de
aspectos de carácter histórico que, de outro modo, ficariam sem
resposta ou permaneceriam de todo desconhecidos.

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Execução Gráfica
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LISBOA
Depósito Legal n.º 138 992/99
2 000 ex.
clonom
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