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Canção meu sonho, dentro de um

Pus o meu sonho num navio navio…


e o navio em cima do mar; Chorarei quanto for preciso,
- depois, abri o mar com as para fazer com que o mar
mãos, cresça,
para o meu sonho naufragar e o meu navio chegue ao fundo
Minhas mãos ainda estão e o meu sonho desapareça.
molhadas Depois, tudo estará perfeito;
do azul das ondas entreabertas, praia lisa, águas ordenadas,
e a cor que escorre de meus meus olhos secos como pedras
dedos e as minhas duas mãos
colore as areias desertas. quebradas.
O vento vem vindo de longe, ( Cecília Meireles )
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
( Cecília Meireles )
Noções
Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.
Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.
Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.
Virei-me sobre a minha própria experiência, e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.
Ó meu Deus, isto é minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera…
( Cecília Meireles )
Canção meu sonho, dentro de um
Pus o meu sonho num navio navio…
e o navio em cima do mar; Chorarei quanto for preciso,
- depois, abri o mar com as para fazer com que o mar
mãos, cresça,
para o meu sonho naufragar e o meu navio chegue ao fundo
Minhas mãos ainda estão e o meu sonho desapareça.
molhadas Depois, tudo estará perfeito;
do azul das ondas entreabertas, praia lisa, águas ordenadas,
e a cor que escorre de meus meus olhos secos como pedras
dedos e as minhas duas mãos
colore as areias desertas. quebradas.
O vento vem vindo de longe, ( Cecília Meireles )
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
Reinvenção cheios da tua Figura.
A vida só é possível Tudo mentira! Mentira
reinventada. da lua, na noite escura.
Anda o sol pelas campinas Não te encontro, não te
e passeia a mão dourada alcanço…
pelas águas, pelas folhas… Só — no tempo equilibrada,
Ah! tudo bolhas desprendo-me do balanço
que vem de fundas piscinas que além do tempo me leva.
de ilusionismo… — mais nada. Só — na treva,
Mas a vida, a vida, a vida, fico: recebida e dada.
a vida só é possível Porque a vida, a vida, a vida,
reinventada. a vida só é possível
Vem a lua, vem, retira reinventada.
as algemas dos meus braços. ( Cecília Meireles )
Projeto-me por espaços
Tu Tens um Medo Ama sem sentir. Sê o que renuncia
Cecília Meireles Ama como se fosses outro. Altamente:
Acabar. Como se fosses amar. Sem tristeza da tua renúncia!
Não vês que acabas todo o dia. Sem esperar. Sem orgulho da tua renúncia!
Que morres no amor. Tão separado do que ama, em ti, Abre as tuas mãos sobre o
Na tristeza. Que não te inquiete infinito.
Na dúvida. Se o amor leva à felicidade, E não deixes ficar de ti
No desejo. Se leva à morte, Nem esse último gesto!
Que te renovas todo dia. Se leva a algum destino. O que tu viste amargo,
No amor. Se te leva. Doloroso,
Na tristeza E se vai, ele mesmo... Difícil,
Na dúvida. Não faças de ti O que tu viste inútil
No desejo. Um sonho a realizar. Foi o que viram os teus olhos
Que és sempre outro. Vai. Humanos,
Que és sempre o mesmo. Sem caminho marcado. Esquecidos...
Que morrerás por idades Tu és o de todos os caminhos. Enganados...
imensas. Sê apenas uma presença. No momento da tua renúncia
Até não teres medo de morrer. Invisível presença silenciosa. Estende sobre a vida
E então serás eterno. Todas as coisas esperam a luz, Os teus olhos
Não ames como os homens Sem dizerem que a esperam. E tu verás o que vias:
amam. Sem saberem que existe. Mas tu verás melhor...
Não ames com amor. Todas as coisas esperarão por ti, ... E tudo que era efêmero
Ama sem amor. Sem te falarem. se desfez.
Ama sem querer. Sem lhes falares. E ficaste só tu, que é eterno.
Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,


que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das
igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da
morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão 􀃓ores amarelas e
medrosas
Carlos Drummond de Andrade
Á Mário de Andrade ausente
Anunciaram que você morreu. Uma palavra lançada à toa Direi: Faz tempo que ele não
Meus olhos, meus ouvidos Baterá na franja dos lutos de escreve.
testemunharam: sangue. Irei a São Paulo: você não virá
A alma profunda, não. Alguém perguntará em que ao meu hotel.

Por isso não sinto agora a sua estou pensando, Imaginarei: Está na chacrinha
falta. Sorrirei sem dizer que em você de São Roque.
Saberei que não, você
Sei bem que ela virá Profundamente.
ausentou-se. Para outra vida?
(Pela força persuasiva do Mas agora não sinto a sua falta.
tempo). A vida é uma só. A sua continua
(É semrpe assim quando o
Virá súbito um dia, ausente Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua
Inadvertida para os demais. Partiu sem se despedir:
falta.
Por exemplo assim: Você não se despediu.)
Manuel Bandeira
À mesa conversarão de uma Você não morreu: ausentou-se.
coisa e outra.
Teresa

1 A primeira vez que vi Teresa


2 Achei que ela tinha pernas estúpidas
3 Achei também que a cara parecia uma perna
4 Quando vi Teresa de novo
5 Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
6 (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo
nascesse)
7 Da terceira vez não vi mais nada
8 Os céus se misturaram com a terra
9 E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Manuel Bandeira
"O último poema"
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais [simples e menos
intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem [lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem [perfume
A pureza da chama em que se consomem os [diamantes
mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem [explicação.

Manuel Bandeira
"Preparação para Com sua A memória é um
a morte" plumagem, seu vôo, milagre.
A vida é um seu canto, A consciência é um
milagre. Cada pássaro é um milagre.
Cada flor, milagre. Tudo é milagre.
Com sua forma, sua O espaço, infinito, Tudo, menos a
cor, seu aroma, O espaço é um morte.
Cada flor é um milagre. - Bendita a morte,
milagre. O tempo, infinito, que é o fim de todos
Cada pássaro, O tempo é um os milagres.
milagre. Manuel Bandeira
"Madrigal melancólico" - Ave solta no céu matinal da Não é a irmã que já perdi.
montanha.
O que eu adoro em ti, E meu pai.
Nem é a tua ciência
Não é a tua beleza.
Do coração dos homens e das O que eu adoro em tua
A beleza, é em nós que ela
coisas. natureza,
existe.
Não é o profundo instinto
A beleza é um conceito. O que eu adoro em ti, maternal
E a beleza é triste. Não é a tua graça musical, Em teu flanco aberto como uma
Sucessiva e renovada a cada ferida.
Não é triste em si,
momento, Nem a tua pureza. Nem a tua
Mas pelo que há nela de
Graça aérea como o teu próprio impureza.
fragilidade e de [incerteza.
pensamento. O que eu adoro em ti - lastima-
O que eu adoro em ti, me e [consola-me!
Graça que perturba e que
Não é a tua inteligência. satisfaz. O que eu adoro em ti, é a vida.
Não é o teu espírito sutil,
O que eu adoro em ti,
Tão ágil, tão luminoso,
Não é a mãe que já perdi.
"Arte de amar"

Se queres sentir a felicidade de amar, [esquece a tua alma,


A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro [corpo.


Porque os corpos se entendem, mas as almas.
Manuel Bandeira
José o riso não veio, Se você gritasse,
E agora, José? não veio a utopia se você gemesse,
A festa acabou, e tudo acabou se você tocasse,
a luz apagou, e tudo fugiu a valsa vienense,
o povo sumiu, e tudo mofou, se você dormisse,
a noite esfriou, e agora, José? se você cansasse,
e agora, José? E agora, José? se você morresse...
e agora, Você? sua doce palavra, Mas você não morre,
Você que é sem nome, seu instante de febre, você é duro, José!
que zomba dos outros, sua gula e jejum, Sozinho no escuro
Você que faz versos, sua biblioteca, qual bicho-do-mato,
que ama, protesta? sua lavra de ouro, sem teogonia,
e agora, José? seu terno de vidro, sem parede nua
sua incoerência, para se encostar,
Está sem mulher, seu ódio, - e agora? sem cavalo preto
está sem discurso, Com a chave na mão que fuja do galope,
está sem carinho, quer abrir a porta, você marcha, José!
já não pode beber, não existe porta; José, para onde?
já não pode fumar, quer morrer no mar,
cuspir já não pode, mas o mar secou; Carlos Drummond de Andrade
a noite esfriou, quer ir para Minas,
o dia não veio, Minas não há mais.
o bonde não veio, José, e agora?

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