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Transcrição de Entrevistas

Fabiana Lopes da Cunha, Londres. Inglaterra, 2017.

Entrevistado: Paulo Esteves (Mestre Esteves) Parte I

Tempo: 56:00 e 26:00

Fabiana: Bom, hoje é dia 21 de agosto e estou aqui no barracão com o mestre Esteves e
vamos fazer nossa primeira entrevista. Me fala seu nome completo, onde você nasceu...

Paulo Esteves: Meu nome é Paulo Esteves Rodrigues da Silva. Minha origem é de
Manaus, mas eu mal conheci minha terra. Eu cresci mesmo no Rio de Janeiro.

Fabiana: E segundo o Henrique vocês rodaram o Rio também, não? Em vários


bairros...

Paulo Esteves: É...na verdade até eu me estabilizar mesmo chegamos a morar em


vários bairros do Rio mesmo.

Fabiana: E agora você está na Estácio?

Paulo Esteves: Ah, sim. Faz muitos anos já. Desde de garoto estou na Estácio.

Fabiana: Deixa eu te perguntar, eu soube que você morou um tempo aqui em Londres,
que período foi esse?

Esteves: Hum...rapaz...primeira vez que vim em Londres foi em 1997, numa turnê com
a Alcione. Na época estava na escola Estácio e ela me ligou dizendo que havia um
trabalho e queria que trouxesse a bateria do Estácio. Então eu juntei um grupo e viemos
numa turnê pela Europa. O Henrique estava envolvido e ajudou a montar o esquema da
turnê. Apenas não completamos a França, ficamos em Londres e depois retornamos ao
Brasil.

Fabiana: E para quais lugares vocês foram nessa turnê?

Esteves: Primeiro show foi aqui em Londres, no Royal...um teatro famosos aqui né...ai
fizemos um show na Noruega, Suíça, Holanda, Finlândia e por último, salvo engano,
fomos para a Suécia e depois Londres novamente, até o retorno para o Brasil.
Completamos, mais ou menos, um mês de turnê.

Fabiana: Bastante tempo! E como foi a recepção dessa turnê?

Esteves: Foi ótima! Na verdade, os shows centrais foram aqui em Londres né. Os
outros, em Helsinki fizemos uma boa apresentação com a identidade da Mangueira. E
na Suíça, um teatro no qual todo dia fazíamos um show. Era lotado, mas eu achei pouco
receptivo, eles não sentiram nosso calor talvez.

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Fabiana: Imagino. Era um público de gringos e não de brasileiros não é?

Esteves: Isso...

Fabiana: E na França não deu muito certo você disse, por que?

Esteves: Bom, houve um problema com as passagens e não pudemos continuar, enfim,
não pudemos terminar. Mas no geral foi boa a turnê.

Fabiana: E quando teve seu primeiro contato com a London School?

Esteves: Foi a partir do momento que fizemos os shows aqui, que na minha opinião
foram os melhores. Então tivemos esse contato com a London School. Nesse ano o
Henrique foi convidado para fazer um carnaval na London, ai eles gostaram e me
convidaram para o ano seguinte e assim eu fiz meu primeiro trabalho com a escola e eu
comecei a me envolver cada vez mais com o carnaval aqui. Foi uma experiência
importante para mim porque eles tinham um formato bem diferente do Rio de Janeiro.
O Henrique impôs um ritmo e eu também forcei um pouco a barra para fazer algo muito
mais próximo do nosso carnaval no Rio. E ai arrebentou, pois, eles nunca haviam tido
uma boa colocação e nesse ano nós fomos vice campeões.

Fabiana: O que vocês mudaram nesse ano? Foi o samba? O que vocês levaram para a
London School?

Esteves: Bom, eles tinham uma dinâmica própria, ensaiavam, faziam coisas sem pé
nem cabeça em minha opinião, faziam as coisas um pouco frias sabe?.

Fabiana: Não havia fantasias?

Esteves: Não. Foi o Henrique que incrementou isso. Eu também forcei um pouco a
barra para que isso acontecesse. Ai mudou tudo né. Consegui melhorar um pouco e ai a
coisa ficou mais próxima do que realmente é uma bateria de escola de samba e assim
chegamos a vice campeão, que para eles foi como se fosse campeão mesmo. Foi isso.
Em resumo, minha chegada foi por meio da turnê com a Alcione. Depois o Henrique
passou a ser carnavalesco lá e eu assumi a parte musical.

Fabiana: Foi ai que passou a morar aqui?

Esteves: Sim. Conheci uma menina e acabei casando e fiquei quatro anos e acabei me
separando, voltei para o Brasil. Mas nesses quatro anos eu fiquei aqui.

Fabiana: E aqui você fazia o que para se virar?

Esteves: Então, eu fiquei como contratado da London School. Fazendo a parte musical,
na verdade eu trabalhava para melhorar a bateria deles. Fazia alguns shows também.
Mas eu era mesmo um profissional da London, trabalhava para eles. Dava aulas,
workshopings, viajava pelos países da Europa, tudo em nome da London.

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Fabiana: Bom, no carnaval Rio de Janeiro você atua a muitos anos, não? O Henrique
falou que desde pequeno já procurava coisas para fazer instrumentos. Como foi isso?

Esteves: Sim, na verdade eu sempre fui muito voltado para parte musical né. Gostava
muito de Carnaval, de samba, desde muito novo. Eu reunia uma molecada na rua e eu
mesmo fazia o surdo com lata, colocava papel para engomar. Era uma diversão, sempre
tinha isso nas ruas, os antigos nos ensinavam a fazer e sempre tinha uma molecada que
gostava de carnaval. Pegávamos baldes de tintas e forrávamos com papel de
supermercado, aqueles de antigamente meio marrom, sabe? Engomávamos e
esperávamos secar. A gente se virava assim. E eu tinha uma avó de consideração que
era envolvida com mangueira, a Tia Alice e ela que colocava a molecada nesse rumo do
samba. Minha orientação musical principal foi na Mangueira. Eu ia para os ensaios e
gostava dos ritmos e ficava lá com o mestre e aprendia muito.

Fabiana: E você começou com qual instrumento?

Esteves: Comecei com Repique. As crianças começavam na malandragem e depois iam


aprendendo. Conforme iam pegando idade, passavam para a bateria oficial, entendeu? E
minha avó nunca me permitia, pois tinha medo. Na Mangueira naquela época havia
muitos integrantes do morro, muita gente malandra mesmo...então ela tinha medo. Por
isso ela não queria que eu me envolvesse direto com a bateria, devia achar que pegaria
caminhos errados. Nessa época fomos morar no Estácio e a escola era perto da minha
casa. Então eu fui deixando de acompanhar ela na Mangueira e ia para o Estácio, na
época era São Carlos. Então, o que eu não consegui na Mangueira, eu consegui no
Estácio...que era desfilar na bateria e minha história começou.

Fabiana: E nessa época você tinha quantos anos?

Esteves: Por volta de 16, 17 anos. Nessa época eu comecei a vivenciar com intensidade
tudo isso. Minha vida era dentro do barracão do Estácio, fui me enturmando, me
enraizando ali.

Fabiana: E hoje você trabalha somente com música ou faz alguma outra atividade?

Esteves: Na verdade eu nunca dependi da música para viver. Eu fui policial civil,
sempre frequentei o samba, mas minha profissão nunca dependeu do samba. A vida no
mundo samba é muito ingrata, é um dinheiro que não é certo. De uma época para cá que
começou essa coisa do dinheiro, dos contratos, pois houve uma espécie de
profissionalização do samba. Eu não acompanhei essa balada. Sempre tive meu
trabalho.

Fabiana: E o tempo que ficou em Londres você pegou alguma licença?

Esteves: Sim, peguei. Consegui uma bolsa também, que permitiu que eu viesse para cá
e eu fiquei os 4 anos que falei antes. Mesmo depois que voltei para o Brasil eu continuei
vindo com frequência, para ver minha filha, ai também já havia nascido a Paraíso.

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Fabiana: Vocês ficaram na London até 2000, é isso?

Esteves: Foi, exatamente.

Fabiana: Então, como disse o Henrique, você teve a ideia de criar a Phoenix, que foi
antes da Paraíso. Como foi isso?

Esteves: Bom, o que aconteceu. A Paraíso não existia, era difícil romper o vício
musical da London. Eles se achavam discípulos da Mocidade. O toque de caixa da
Mocidade, que eu acho muito bonito é diferente das minhas origens, que estão na
Estácio. Mas isso não influenciou em nada.

Fabiana: E como surgiu essa história da Mocidade?

Esteves: Bom, um cara daqui, o Pato, muito meu amigo, eles receberam a Mocidade
uma época, muito antes de eu chegar e tiveram uma simpatia e assim criaram a Escola
pautada na identidade da Mocidade. Esse povo da London inculcou que tem suas raízes
na Mocidade Independente. Só que quando eu e o Henrique chegamos de Mocidade não
tinha nada, só a cor, entendeu? E principalmente na bateria, que era algo parecido com
despencar panelas da prateleira. Ai, como eu disse, a gente foi forçando a barra pra
mudar isso. E eu sempre saia aqui com amigos brasileiros para fazer batucadas nos
bares...

Fabiana: E quais os bares que vocês mais frequentavam aqui?

Esteves: Bom, não lembro agora. Mas era os bares aqui de Londres, independentes da
London. Então, eu fiz muitas amizades nessas andanças que eu fiz na Europa, cada lugar
eu fazia um contato, um amigo. Foi ai que me veio a ideia do projeto Phoenix, isso
antes da Paraíso, ela não existia ainda. Esse projeto seria reunir os melhores ritmistas
que eu conheci em toda a Europa, que tocavam bateria. A maioria, claro, acabou sendo
daqui de Londres mesmo. Então, eu aluguei uma igreja para fazermos o projeto. A ideia
era colocar cavaco, violão, uma harmonia de corda, um cantor. E essa rapaziada
reunida, em torno de 30 ou 40 para passarmos a tarde tocando e cantando samba, esse
era o projeto Phoenix. Isso foi uma vez só, apenas um dia. Eu trabalhei meses, foi sem
envolvimento com dinheiro. Teve muitas pessoas envolvidas. Montamos um esquema e
tudo aconteceu, levamos cerveja, cachaça, todos os instrumentos e foi.

Fabiana: Tudo isso dentro da Igreja...que legal. Isso jamais aconteceria no Brasil
(Risos).

Esteves: Na verdade esse projeto foi um modo de incentivar uma melhora na bateria da
London. Foi uma maneira de mostrar que poderia ser diferente. O Xavier que hoje é
cantor da London participou desse projeto, cantou com a gente lá. Então, na verdade eu
fiz isso para mostrar as coisas boas do samba e que isso poderia acontecer aqui também.
Bom, ai nasceu a Paraíso. Porque que nasceu a Paraíso? Na verdade a Paraíso é uma
dissidência da London School, você sabe disso.

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Fabiana: Sim, eu sei. Mas eu gostaria que você contasse como foi e como sentiu todo
esse processo.

Esteves: Tudo bem. O que acontece. Nós ficamos uns 3 anos na London. O que houve?
Bom quando eu cheguei era um diretor de bateria, um cara super solícito, representava
mesmo. Dois anos depois chegou um rapaz, Max. Na verdade ele já fazia parte e eles
chegaram a conclusão que esse rapaz tinha que ser o diretor. Ele era parte da
organização deles e trabalham bem diferente da gente. E justamente depois dessa
melhor colocação da London eles fizeram uma reunião geral. Eles abordaram vários
assuntos nessa reunião, uma espécie de prestação de contas. Bom, no final da reunião
eles disseram que iam fazer mais investimento para o ano, que iam para a Bahia, estudar
a cultura de lá. Eles queriam apresentar o Olodum. Poxa, eu fiquei chateado, pois estava
fazendo outro trabalho rítmico. Dissemos que eles eram uma escola de samba e que
deveriam prezar por isso. Meu inglês não era tão bom na época e eu fiquei ouvindo o
Henrique falar e fui ficando cada vez mais chateado com essa história do Olodum, pois
não era samba. A gente não pode misturar as coisas no Brasil. Bom houve um bate boca
entre o Henrique e o Max, que no fim disse para o Henrique “Você não está no Brasil,
está em Londres”. Bom, isso mexeu comigo, então eu levantei e disse: “Então você vai
ficar com seu Olodum e aqui eu não fico mais”. Não estavam respeitando meu trabalho.
Levantei e fui embora tomar uma cerveja. Quem quisesse me seguir estava a vontade.
Chegamos a conclusão que devíamos fazer outra escola nesse mesmo dia. E então
decidimos que a escola ia se chamar Paraíso.

Fabiana: E porque Paraíso? De onde surgiu essa ideia?

Esteves: Bom, ficamos pensando, pensando e decidimos que deveria ser Paraíso. Por
quê? Nós trouxemos um paraíso para eles, isso aqui é um paraíso para eles, não? E
quem quiser vir para o nosso paraíso que venha. O Phoenix foi mesmo a ideia de
renascer nas cinzes, tentar resgatar o que havia de bom no samba aqui, pois eu sabia que
tinha muita gente boa, só precisavam dos contatos.

Fabiana: E as cores você também definiu em relação à Estácio, não?

Esteves: É, mais ou menos. Porque o Henrique sempre foi Mangueira né, então
decidimos que a cor seria vermelho e branco. Eu decidi que bandeira seria igual da
Estácio, minha raiz né. E o Henrique como é Mangueira colocou o pandeiro verde e
rosa para ficar feliz também. (risos).

Fabiana: Ah, que legal. Interessante...

Esteves: Bom, esse período foi importante, desde a passagem da London, pois muita
gente boa veio para a Paraíso. As coisas aconteceram no momento certo, tivemos sorte,
pois pegamos um corpo bem sólido e experiente.

Fabiana: E o primeiro desfile foi em 2002?

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Esteves: Foi, e já chegamos com grande participação. Nós fomos crescendo e
começamos e entender as dinâmicas políticas para conseguir verba e tudo. Então as
coisas forma se acertando e fomos ganhando cada vez mais corpo.

Fabiana: E vocês formalizaram a escola, com documentação e tudo em que ano?

Esteves: Foi em 2002. A fundação documentalmente reconhecida como instituição. Já


estava tudo funcionando perfeitamente.

Fabiana: E em 2003 então já participaram do julgamento e foram muito bem


colocados, não foi?

Esteves: Exatamente. Fomos vice campeões já. Campeões em uma categoria e vice em
outra. O que eles (London) não conseguiram durante toda a trajetória deles, nós
conseguimos em 3 anos. Eles não compreenderam que essa mudança rítmica e cultural
não faz sentido.

Fabiana: E você é que faz esse diálogo com a música, com o samba do Rio.

Esteves: Sim, meu mundo é esse do samba e isso facilitou para fazer o samba.

Fabiana: Alguns músicos são mais frequentes que outros, não é? Por exemplo, o
Dominguinhos da Estácio, enfim.

Esteves: Ah sim, alguns tem maior participação. Uma questão de contato nosso né. Mas
houve outras oportunidades para trazer outros. Sempre trazemos trabalhos no Brasil
para a Europa. A Paraíso mesmo tem por volta de 20 compositores envolvidos. Sempre
tem um pessoal diferente. Cada ano buscamos trazer novos compositores. O time da
Paraíso só tem fera.

Fabiana: E você faz também a ponte do pessoal daqui para o Brasil. O Damien ficou
encantado.

Esteves: Sim o Damien participou da Phoenix comigo, depois se casou com uma
brasileira, a Maitê.

Fabiana: E os shows? Eu vi que trouxeram Martinho da Vila, Alcione, teve mais gente
que trouxeram?

Esteves: Martinho veio, eu mesmo não o vi, quando cheguei ele já havia ido embora. A
Alcione também, o Dominguinhos da Estácio veio, bom tem mais gente que agora não
me lembro. Bom nas Olimpíadas veio o Seu Jorge, o pessoal da mangueira, da Portela.
Passou muita gente aqui. Nada planejado, as coisas acontecem, a gente levanta a
bandeira.

Fabiana: Deixa eu te perguntar algo específico agora, sobre um samba. Você já disse
que cada escola tem uma bateria ligada a um santo, um orixá, é isso?

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Esteves: Bom, essa questão é complexa. Se formos nos aprofundar nesse assunto vamos
levar dias. Isso é meio grotesco para falar a verdade, essa coisa de que a escola da
samba bate para um santo. Não é isso.

Fabiana: Como é então?

Esteves: O que posso te dizer é que cada escola de samba tem uma história. A gente
vai falar do negro, vamos pensar na cultura afro-brasileira. O carnaval é uma herança
portuguesa. Nossa cultura é muito plural e nós fomos invadidos por todo mundo né. A
imposição do catolicismo encontrou resistência dentre os africanos que foram
sincretizando a prática religiosa. O candomblé, a Umbanda tem seus próprios ritmos.

Fabiana: Sim.

Esteves: Então o que acontece no Salgueiro, tinha uma cultura deles, no Império
Serrano, Madureira, são culturas diferentes. Na parte central do Rio tem a Favela, que
dizem que era o nome de uma mulher, que morava no Santo Cristo, na Providência, não
é? Quer dizer cada local desse tem a sua peculiaridade, cada local nasceu uma escola e
um ritmo diferente. Por isso, quando as escolas emergiram cada ponto da cidade tinha
um toque diferente. Hoje é delicado afirmar, mas eu acredito que os cantos de
candomblé originou um ritmo diferente, um toque. Cada canto tem um santo, um toque.
Eu acredito que a Estácio tem muito o toque de Ogum por exemplo. E a Mangueira? A
Mangueira foi inspirada numa banda do exército. Segundo os antigos dizem eles faziam
uma apresentação e tinham que seguir esse ritmo. Não tem nada a ver com santo. O
Salgueiro tem uma tradição de Xangô, sempre foi o destaque principal. Seja qual for o
enredo o Xangô era uma figura central.

Fabiana: Bom queria perguntar, o toque específico da Paraíso que você criou, qual foi
sua influência?

Esteves: Minha inspiração é Ogum, que sempre está voltada para a insistência a luta.
Nada foi feito nas coxas, tudo foi muito pensado, a música, a cultura. Quem é filho de
Ogum é persistente, é lutador, nunca desiste. Eu quis colocar isso.

Fabiana: E o destaque sempre foi a caixa?

Esteves: Sim, o destaque sempre foi a caixa. Isso vem da Estácio né. Sempre o ponto da
caixa é o diferencial. A Estácio sempre foi forte no toque de caixa. Isso eu trouxe para a
bateria da Paraíso.

Fabiana: Engraçado que os ensaios ficam diferentes quando você está presente, isso é
muito marcante.

Esteves: Pois é, todo mundo fala isso mesmo (Risos).

Fabiana: Bom, tenho mais perguntas. Qual a composição da Paraíso em termos de


instrumentos?

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Esteves: Bom como eu disse anteriormente é muito semelhante a dinâmica do Rio. O
número vária, num grupo especial as vezes 250, ai divide proporcional. Normalmente é
4 segunda, 4 terceira. Hoje todas as escolas do Rio de janeiro seguem o padrão da
Estácio.

Fabiana: O que seria isso?

Esteves: A marcação, o surdão... A bateria e o surdo, são 3 tipos de surdo. O primeiro


tempo, o segundo tempo e terceiro tempo.

Fabiana: O samba enredo de 2013 foi uma homenagem aos Orixás, né? Ali eu percebi,
na letra desse samba, uma forte referência ao candomblé, é isso mesmo? Quem criou
isso?

Esteves: Seria um toque para Ogum né.

Fabiana: Eu imagino como seria é isso em Londres, porque eles não sabem dessas
questões, né?

Esteves: Sim, mas seria bom que eles entendesse, assim poderiam compreender melhor
a obra. A gente aqui não faz nada de orelhada, tem sempre uma orientação.

Fabiana: Eu vi no site que fizeram vários projetos com a escola no Reino Unido e
oficinas como a que ocorreu em 2002. Isso ajudou a projetar o samba no Reino Unido?

Esteves: Ah sim, com certeza. Quando eu cheguei aqui e ainda estava na London
School eu percorri vários lugares que ocorriam um samba junto com um mestre que
tinha aqui e que dava aulas de samba, então nós fomos percorrendo e eu fiquei muito
triste porque as pessoas apresentavam o que eles sabiam de samba eu ficava
desesperado. Tinha um rapaz que estava tocando errado o instrumento e eu disse a ele,
mas ele insistiu que estava certo porque tinha aulas com o mestre da escola de samba do
Rio de Janeiro. E eu mostrei para ele por A + B que estava errado. Eu não sou o melhor
professor do mundo, mas eu tenho um conhecimento para passar e graças a deus eu
consegui concertar muitas coisas erradas aqui. Tinha coisa que eles tocavam que
achavam que era samba, mas não tinha nada a ver com samba. Então, voltando a sua
pergunta, esses workshop, essas aulas que a gente oferece aqui mostra para eles o que é
de fato o samba. As aulas de percussão, as passistas tudo isso é importante para eles
saberem o que estão fazendo. Nós estamos fazendo nosso papel que é tocar samba, a
nossa bandeira.

Fabiana: O David meu supervisor aqui em Londres diz que nós brasileiros estamos
colonizando o mundo com música. Aqui eu percebi que nas escolas existem aulas
voltadas para o samba e que são as optativas mais concorridas.

Esteves: Nós temos que defender nossa bandeira, do samba, Se é para tocar samba
vamos tocar samba. Se vier o pessoal lá da Bahia querendo meter um Olodum, um
Forró vai tocar. Mas cada um na sua praia entendeu.

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Fabiana: Deixa te perguntar. O ano passado teve alguns problemas em relação ao
carnaval e não consegui ver a colocação, você sabe me dizer alguma coisa sobre isso?

Esteves: Ano passado? Acho que foi a última, não foi uma boa colocação. Mas te vários
fatores que implicam isso. A avaliação deles é diferente, não podemos cobrar uma
avaliação como se estivéssemos passando na avenida. A gente disputa com várias
categorias, então a avaliação é muito complexa. Mas o importante disso tudo é que eles
nos reconhecem como cultura brasileira e isso com certeza é mais importante.

Fabiana: Me fala mais sobre a sua história lá no carnaval do Rio...

Esteves: Então, como eu já havia dito, minha avó me segurava para não me envolver
com o pessoal da mangueira e eu acabei indo para Estácio e me envolvi com o pessoal,
me enraizei e depois de alguns anos passei a ser diretor e finalmente mestre de bateria.
Passei todas as fases do Estácio, as boas, as ruins. Teve um momento que sai, fui para
outras escolas e até hoje todo mundo me adora.

Fabiana: Interessante a proposta da Paraíso, vocês sempre conseguem reciclar as


fantasias, acho isso muito importante.

Esteves: É, tem que ser, porque aqui é muito difícil achar fantasias. Então temos que
aproveitar as alegorias do ano anterior, enfim.

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