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Vol. 5: O século XX
Titulo original: Sioria delle Donne
© Giiis. Lalerza & Figli Spa, Roma-Bari, 1991
Sob a direcçao de
Françoise Thébaud
Nancy F. Cott
Anne-Marie Sohn
Victoria de Grazia
Gisela Bock
Danièle Bussy Genevois
Hélène Eck
Françoise Navaiih
Françoise Collin
Marcelle Marini
Luisa Passerini
Anne Higonnet
Nadine Lefaucheur
Rose-Marie Lagrave
Mariette Sineau
Yasmine Ergas
Yolande Cohen
Jacqueline Costa-Lascoux
Tradução de
Alda Maria Durães, Alice Teles, Alberto Couto,
Egito Gonçalves, João Gaspar Neves, José S. Ribeiro,
Maria João Lourenço e Maria Manuela Marques da Silva
Mulheres, consumo
e cultura de massas
Luisa Passerini
A cultura de massas
entre masculino e feminino
Repetidas vezes, e de vários modos, os intérpretes da cultura de
massas sublinharam as conexões em sua opinião existentes entre
essa cultura e o feminino, tal como este foi definido na história do
mundo ocidental. Desde Edgar Morin, em 1962, até um congresso
que em 1984 pretendeu retomar um tom crítico reagindo à indulgên-
cia dos vinte anos anteriores a respeito da cultura de massas1, propôs-
-se de vários pontos de vista uma equação que levanta muitas per-
plexidades, mas que não pode ser ignorada dados os aspectos de ver-
dade que permite desvendar.
/Á feminização das sociedades que atingiram um certo nível de
conforto baseava-se segundo Morin, em primeiro lugar, numa espécie
de inversão de valores: a emancipação da mulher incluía o acesso às
carreiras masculinas no trabalho e na política, ao mesmo tempo que
elas tomavam com crescente freqüência a iniciativa igualmente no
domínio privado (símbolo disso era a cena do filme To Have and
Have Nol em que Laureen Bacall iniciava uma história de amor
:orpos de mulheres pedindo lume a Humphrey Bogart); ao mesmo tempo, o homem tor-
is revistas e as suas páginas
ias. Aqui vemos uma
nava-se mais sentimental, mais temo, mais fraco. A cultura de massas
eliz e juvenil emergindo do desempenhava uma função-chave nesta mutação, quer como lugar
ivalente, pois perpetua um de afirmação dos valores definidos como puramente femininos,
ilativo à natureza mas tem
uma nova relação de entre os quais a individualidade, o bem-estar, o amor, a felicidade,
com o corpo. Janeiro de quer como amplificador de imagens de mulheres sedutoras, desde a
trty.
cover-girl* a essa Gilda encarnada por Rita Hayworth que repre-
sentava a reunificação de dois termos tradicionalmente inconciliá-
veis: a vamp** e a virgem.;
* Jovem atraente cuja fotografia aparece nas capas das revistas (N.R.).
** Mulher sedutora que atrai os homens por interesse (N.R.).
Mulheres, consumo e cultura de massas 383
no plano da emancipação social e política; ò uso de valores histori- Um novo ataque do Billboard
(frente de libertação dos placards).
camente marcados (força e agressividade peremptoriamente ligadas Colocaram um soutien gigante no
aos homens, suavidade e ternura desde sempre atribuídas às mulheres) tradicional «machão» da Camel
por parte, da cultura de massas, que os fixa em papéis rígidos e os como protesto pela utilização que
a publicidade faz dos seus corpos.
«democratiza», reproduzindo-os em larga escala. A isso se adiciona São Francisco.
o facto de a predominância na vida quotidiana da forma de erotismo
proposto pela cultura de massas deixar inevitavelmente o papel de
protagonista — embora também com muita ambigüidade — à figura
feminina, que o Ocidente identificou com a própria sexualidade.
São portanto bem evidentes os limites do tipo de feminização
analisado por Morin, tanto no plano teórico como no plano histórico.
Além disso, no que respeita a este último, assistiu-se nos últimos
anos, de 1962 até hoje, a um aumento da presença da imagem mas-
culina na publicidade e no cinema2. As reformulações da relação pri-
vilegiada entre a cultura de massas e o feminino propostas vinte
anos depois das teses de Morin apresentam maior subtileza e dis-
tinções mais precisas, entre as quais a distinção fundamental entre o
feminino histórico e as mulheres de carne e osso. Pôs-se em relevo
o caracter sexista da operação com que, na viragem do século, o dis-
lulheres, criação e representação
Mamá (NJU
Mulheres, consumo e cultura de massas 385
• Aparência (N.R.).
lulheres, criação e representação
restitui aos adores sociais uma certa forma de autodeterminação
mesmo que limitada por condicionamentos e pressões, e que nenhum
juízo a priori fere indiscriminadamente a cultura de massasi
Por conseqüência, pode perguntar-se em que medida respostas e
reacções do espectador dependem do seu gênero sexual, e não de um
conjunto de fadores em que o sexo se conjuga com elementos como
classe, raça e geração. Mais uma vez a v a l i a ç ã o deve ser circuns-
tanciada^ em certos períodos e lugares prevalecerá a consciência
do sexo a que se pertence, por sua vez influenciada por heranças
inconscientes de outra natureza. Além do mais, devem ser tidas em
conta as inversões próprias da cultura de massas a que fizemos
alusão. Já se sustentou, por exemplo, que o desafio do movimento
das mulheres à visão masculina da sexualidade feminina — desafio
que se propagou nas metrópoles dos últimos trinta anos — tomou
possível a produção e o consumo de novos tipos de romances de
grande difusão, definidos como «pornografia para mulheres»11. Ou
então, a observação de que a imagem «emancipada» da publicidade
mais exclusivamente dedicada às mulheres na nossa sociedade, a
dos pensos higiênicos, esconde uma retoma do folclore e dos seus
tabus que insiste, de um modo subtil, no sentimento de culpa, ao
contrário do que tenta fazer crer12.
A cultura de massas, comparada por Adorno com a rainha da
história da Branca de Neve, obtém sempre a mesma garantia do
espelho mágico do narcisismo, que estimula e simultaneamente usa
como contexto. A investigação histórica desengana-a, desvendando
de tempos a tempos as conivências com as idéias dominantes do
masculino e do feminino, mas também a influência que sobre elas
exercem as novas idéias a esse propósito. Em última análise, a for-
tuna da cultura de massas depende das escolhas de mulheres e homens
que estão redefinindo a combinação entre feminino e masculino
corporizada por cada indivíduo.'
Modelos culturais
para os consumos de massa
Embora tenham as suas raízes no século anterior, os processos de
produção e distribuição de massa, num sistema industrial que cria
produtos de série destinados a um mercado tendencialmente muito
amplo, envolvem as mulheres sobretudo a partir do final do século
XIX. No período entre as duas guerras o fenômeno acentua-se e ace-
lera-se, pelo menos no que diz respeito ao mundo europeu e norte-
-americano, com diferenças importantes de nível e de desfasamento
no tempo não só entre os diversos países mas também entre regiões
e classes sociais no interior do mesmo país.
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• Verduras (N.T.).
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• Liderança (N.R.).
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Apocalipse e integração
No debate entre especialistas da cultura de massas aparece desde
há algum tempo a oposição que Umberto Eco definiu em 1964
«entre apocalípticos e integrados», advertindo que a fórmula não
sugeria uma aporia, mas combinava duas atitudes complementares.
adaptáveis aos mesmos críticos, e antes ainda à cultura de massas.
Também os intérpretes do apocalipse, que a consideram como uma
catástrofe para os valores culturais, prometem sobre um tal fundo
uma comunidade de super-homens. Mas isso está já implícito no
objecto criticado: típica da cultura de massas, segundo Eco, foi
sempre a tendência para fazer cintilar aos olhos dos utentes, a quem
se pede uma «mediania» disciplinada, o sonho do super-homem que
poderá um dia nascer de cada um de nós, dadas as condições exis- O desenvolvimento da imprensa
feminina adquire dimensõu
tentes e precisamente graças a elas31. surpreendentes. Nela, além da
A indicação mais preciosa que emerge desta análise confirma o cozinha, costura, malha, maquilhagem
e roupa, abrem-se secções sobre a
que várias vezes encontrámos no decurso do parágrafo precedente: educação dos filhos e de correio das
a dualidade de produções culturais que de vez em quando alimentam leitoras, onde as mulheres exprimem
grandes esperanças de inovação, dando afinal respostas em perfeita as suas preocupações.
* Ópera de aabão. Nome por que fiavam conhecidas as telenovelas nos Estados
Unidos (NJL).
*• Ficção « C f . ) .
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Notas
As referências completas estão assinaladas na bibliografia.
1. Tânia Modleski, 1986.
2. Molly Haskell, 1987, e Airn Treneman, 1988.
3. Aodreas Huyssen, 1986.
4. Barbara Ehrcnrcich e Deirdre English, 1979.
5. Kjtfa Ltaviet, lulieaoe Dickey, Teresa Stratford, 1987.
6 JudiA Williamson, 1986.
7. Gianna Pomaía, 1984.
8. Lonaine Gartunan, Margaret Marshment, 1988.
9. Kathy Peiss, 1986.
10. Jadrie Stacey, 1988.
11. A vis Lewallen, 1988, a propósito das análises de Lace de Shirley Conran.
12. Ann Treneman, 1988.
13. Gabriella Tumaturi, 1979.
14. Françotse Wemer, 1984.
15. Susan Forter Benson, 1986, William R. Leach, 1984.
16. Kathy Peiss, 1988.
17. Molly Haskell, 1987.
18. Victoria DeGrazia, 1989.
19. ld., 1987.
20. Edgar Morin, 1957.
21. Françoisc Wemer, 1984.
22. Evelyne Sullerot, 1963.
23. Ibid.
24. Piero Mektini, 1975.
25. Elisabeoa Mondello, 1987.
26. IvUisa Passerini, 1984.
27. PaoU Masino, 1982, p. 183.
28. Laura Lilli, 1976.
29. Elisabenà Mondello, 1987.
30. Francesco Alberoni, 1964, pp. 38-43.
31. Umberto Eco. 1964.
31 Edgar Morin, 1962.
33. Evelyne Sullerot, 1963, p. 129.
34. Milly Buonanno, 1975.
35. Gabriella Parca, 1966.
36. Evelyne Sullerot, 1963.
37. Arme-Marie Dartügna, 1974.
38. Laura LilU, 1976.
39. Milly Buonanno, 1978.
40. ld., 1978.
41. Maria-Teresa Anelli e col., 1979.
42. Milly Buonanno, 1975.
43. Maria-Teresa Anelli c col., 1979.
44. Milly Buonanno, 1975.
45. Tania Modleski, 1982.
46. Milly Buonanno, 1983.