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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Carolina Guerra Libério

Fetichismo, Narcisos e A Medusa:


Considerações sobre fotografia e psicanálise.

São Paulo – SP
2008
Carolina Guerra Libério

Fetichismo, Narcisos e A Medusa:


Considerações sobre fotografia e psicanálise

Artigo apresentado para a


disciplina de Regimes de sentido
nas mídias, ministrada pelo Prof.
Dr. Oscar Cesarotto no segundo
semestre de 2008 como parte do
Programa de Estudos Pós-
Graduandos em Comunicação e
Semiótica da Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo.

São Paulo – SP
2008
Fetichismo, Narcisos e A Medusa:
Considerações sobre fotografia e psicanálise.

Carolina Guerra Libério1

A fotografia em seu dispositivo surge como realização do pensamento cartesiano de


um espaço matematicamente calculável e, portanto, pré-visível. Materialização de um outro
cogito da visão, a câmera fotográfica tem como base conceitos e postulados da física e da
fisiologia ótica, ou seja, é transformação de texto científico em imagem, constituindo-se
imagem técnica (FLUSSER, 2002). É o automatismo da fotografia o que a difere de
representações visuais anteriores, apesar de sua estreita relação com a pintura do
renascimento e classicismo. No entanto, o que há de automatizado na fotografia é
justamente o que nela podemos ver como sintomático.

Enquanto as bases de construção do aparelho fotográfico concentram-se na visão


enquanto processo fenomenológico, o ato de fotografar e assim também o consumo de fotos
ligam-se ao olhar no sujeito. Enquanto encarnação dos princípios da razão cartesiana, a
fotografia se encontra na lógica da ciência que exclui do olhar o desejo, o que talvez
explique o motivo de sua escopofilia ser à amplas medidas socialmente aceitável. No
entanto, e à revelia de Descartes, “O campo visual é ótico, certo, mas a pulsão sexual o
torna háptico” (QUINET, p. 11, 2004). O olhar implica então em algo mais que a visão,
sendo afinal pulsional. O desejo dá ao olho funções táteis, ativas, torna a sensibilidade do
visual tangível, torna o ato de olhar em ato sexual. O olhar não escapa à libido e é de fato aí
que se encontra a grande aventura do fotográfico.

Enquanto forma de materialização virtual divisionalmente separada do que


representa, a foto oferece ao olhar um objeto, que pode ou não ser desejado pelo sujeito,
mas que encontra-se ali, à sua disposição. Ela estabelece linhas de corte, estando sempre
fadada à separar a parte do todo, um instante do fluxo, o sujeito da sua imagem. Para Freud

1
Mestranda pelo Programa de Estudos Pós-Graduandos em Comunicação e Semiótica
é justamente pela linha de corte que se compõe o fetiche, e como vemos, linhas de corte
não faltam à fotografia, seja em seu ato ou na contemplação de fotos. “Substituto ou véu, o
fetiche constitui para o sujeito um objeto sexual, cuja separação em relação ao corpo dá a
garantia da perenidade de seu gozo” (HUOT, p. 176, 1991).

O fetiche seria o substituto ao objeto perdido, testemunha da impossibilidade de


perda pelo sujeito de seu objeto sexual, objeto que de fato nunca possuiu. É justamente na
noção de falta que entra a noção de objeto a segundo Lacan. Enquanto para Freud o objeto
é um objeto perdido, para Lacan ele é um objeto faltoso. Como objeto de promessa de
gozo, sempre transitório, metonímico, o objeto a é indefinido, e sempre outro, é o que
buscamos para suprir o furo da falta. Segundo Maia (2008, s/p), “O objeto a é designado
em sua ‘função de furo’, tendo uma ‘borda que atrai, condensa, captura o gozo’.” É
particularmente interessante nesta citação a possibilidade de analogia entre uma forma de
descrição de funcionamento do objeto a e a fotografia, em que a foto forma-se através de
um furo e, contida por bordas, condensando o espaço em um plano, enforma, captura
enfim.

Para além da falta, o Outro.

Em seu livro “Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise”, Quinet (2004) fala
do olhar como “esse furo iluminado no lugar do Outro para o sujeito” (p.11). Para além da
falta, onde não sabemos dizer o que falta, está o Outro:

“O vazio da janela é a falta no Outro – buraco


deixado vazio pelo objeto perdido desde sempre. A
estratégia do sujeito é fazer com que o objeto
causa do desejo volte para a janela vazia. Para este
fim, ele usa seja o eu como imagem do outro, (...)
seja a fantasia, que encena sua relação com o
objeto. Em suma, o sujeito aloja um espelho ou um
quadro no vazio deixado pela extração do objeto a
no campo do Outro.”
(QUINET, 2004, p.12)
Espelho ou quadro, é essencialmente a relação entre ver, ser visto e dar a ver que
está em jogo entre o eu e o Outro. Do outro lado da lente, do outro lado da foto, quem
ocupa o lugar? Enquanto realização do desejo de ver, metáfora do saber presente desde a
filosofia antiga até à ciência atual (QUINET, 2004), nos sentimos autorizados a fotografar e
a ver fotografias. Conforme essa conjugação e à luz dos preceitos científicos racionais, a
câmera seria “braço ideal da consciência, em sua disposição aquisitiva” (SONTAG, p.14,
2004). A noção de consciência ‘aquisitiva’ – exploratória do saber – presente nesta frase
ilustra o que pensam a maior parte das pessoas ao tirar fotografias. No entanto, mais do que
um ato de aquisição, o ato fotográfico é um ato discursivo, e se é justamente pelo e no
discurso que se faz o escrutínio da análise, ele certamente vai para além da ‘consciência’.

Partindo da questão do espelho, do quadro, e da relação do eu com o Outro,


podemos chegar a afirmação de que toda tomada / contemplação de fotografia é ato
narcísico. Não necessariamente da parte de quem é fotografado, posto que objeto, por vezes
inanimado ou apenas desavisado, mas narcisismo daquele que fotografa, e, se o interesse
for despertado, também daquele que contempla: o narcisismo está implícito naquele que se
põe no papel ativo de olhar, posto que olha querendo se ver visto. Ao falar das origens da
fotografia, Philippe Dubois comenta sobre as origens da representação, utilizando-se para
tanto de duas mitologias gregas, também muito citadas na psicanálise: a de Narciso e a da
Medusa. Faremos referência à Medusa apenas posteriormente, pois nesta passagem
específica Dubois comenta a lenda de Narciso segundo Filóstrato, filósofo grego, que a
conta não enquanto narrativa mas como descrição de cena, quadro imaginado, ekphrasis:

“Se a imagem observada na fonte por Narciso é


seu próprio reflexo ‘pintado’ e se o quadro, como a
fonte, é também uma pintura-‘reflexo’, então o que
reflete será sempre a imagem do espectador que a
observa, que nela se observa. Sou, portanto,
sempre eu que me vejo no quadro que olho. Sou
(como) Narciso: acredito ver um outro, mas é
sempre uma imagem de mim mesmo. O que a
proposta de Filóstrato nos revela finalmente é que
qualquer olhar para um quadro é narcísico.”.
(DUBOIS, 2004, p. 143)
É por essa razão que o auto-retrato fotográfico seria ato narcisista por excelência,
sendo ato de olhar como antecipação do olhar do Outro. Bem como nos jogos de encenação
(teatro, cerimonial, etiqueta social, entre outros), no ato de fotografar a si mesmo está
presente a cisão do sujeito que vê e é visto, em que, na instância do ato ver, toma-se o lugar
de um Outro imaginado. O buraco da fechadura torna-se então uma analogia emblemática,
já que coloca tanto a possibilidade de ver quanto a de ser visto, ou de dar a ver. No caso do
auto-retrato fotográfico, olhar pelo buraco da lente é tentar estar dos dois lados da
fechadura ao mesmo tempo, passar pelo furo e tentar não ser surpreendido pelo Outro que
sempre espreita. É, ao mesmo tempo, tentar surpreender-se em sua própria imagem, como
busca de algo que talvez nela esteja sem que o saibamos, posto que, se o olhar do Outro é
desejado, é também temido, paralisante, mortal como o olhar da Medusa.

A dualidade prazer / desprazer que o olhar do Outro implica está contida no mito da
Medusa, bela e cobiçada, antes de condenada por Atenas. “Existem assim duas Medusas em
uma: o fascínio e a repulsão, a sedução e o medo, ambos selados no gozo mortífero do
contato impossível” (DUBOIS, 2004, p.147). Contato impossível como o da fotografia,
pois, se a história do desejo é uma história de ausência, assim também são as fotos.

Entre o maquínico e o humano, é a crença em um poder da ciência que tenta fazer


do ato fotográfico gesto sem prolongamentos. A ausência, a falta, o vazio são essenciais,
tanto para Freud quanto para Lacan, como molas propulsoras na relação entre o sujeito e o
mundo. Para Lacan, é em torno deste vazio que se moldam, por exemplo, as obras de arte
(WIRTHMANN, 2008, s/p). No que tange a fotografia, a compulsão fotográfica, mais que
uma admissão das componentes do desejo, busca acavalar o vazio, muito como no consumo
em geral, afinal o consumismo imagético é apenas mais um entre vários. Admitir a foto
enquanto discurso, pessoal e despersonalizado é aceitar as contradições de um modo
enunciativo que toma parte de uma prótese da visão, que traz implícita seus preceitos. No
entanto, existe em uma foto sempre algo além do que é visto; por vezes, a fotografia
também retrata o invisível. Se o desejo jamais é suprido, então precisamos admiti-lo; se a
falta é impossível de determinar, se não podemos eliminar o vazio, nos resta então uma
única cartada: estudar-lhe a anatomia.
REFERÊNCIAS

DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e outros ensaios. 8. ed. Campinas: Papirus, 2004.

FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da
fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

HUOT, Hervé. Do Sujeito à Imagem: uma história do olho em Freud. São Paulo: Escuta,
1991.

MAIA, Maria Ângela. Pontuações à luz do Curso de Jacques-Alain Miller. Disponível


em: <http://www.opcaolacaniana.com.br/artigos5a.htm>. Acesso em 16 dez. 2008.

SONTAG, Susan. Sobre fotografia. Trad.: Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004

QUINET, Antonio. Um olhar a mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2002

WIRTHMANN, Renata. O objeto transformado em obra. Disponível em:


<http://arteesubjetividade.wordpress.com/2007/09/08/o-objeto-transformado-em-obra/>.
Acesso em: 16 dez. 2008.

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