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Volume 1
2ª edição
Análise Macroeconômica
Análise Macroeconômica
Volume 1 Cleber Barbosa
2ª edição
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
Departamento de Produção
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO
Cleber Barbosa EDITORA ILUSTRAÇÃO
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Tereza Queiroz Sami Souza
INSTRUCIONAL REVISÃO TIPOGRÁFICA CAPA
Cristine Costa Barreto Cristina Freixinho Sami Souza
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Diana Castellani PRODUÇÃO GRÁFICA
E REVISÃO Elaine Bayma Patricia Seabra
Alexandre Rodrigues Alves
COORDENAÇÃO DE
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO PRODUÇÃO
DO MATERIAL DIDÁTICO Jorge Moura
Débora Barreiros PROGRAMAÇÃO VISUAL
AVALIAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO Andréa Dias Fiães
Letícia Calhau
B238a
Barbosa, Cleber.
Análise macroeconômica. v. 1 / Cleber Barbosa. – 2. ed.
- Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010.
158p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 978-85-7648-422-3
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
Todos os dados apresentados nas atividades desta disciplina são fictícios, assim como os nomes de empresas que não
sejam explicitamente mencionados como factuais.
Sendo assim, qualquer tipo de análise feita a partir desses dados não tem vínculo com a realidade, objetivando apenas
explicar os conteúdos das aulas e permitir que os alunos exercitem aquilo que aprenderam.
1
AULA
Conhecendo a Macroeconomia
Meta da aula
Apresentar as questões econômicas abordadas
pelo campo da Macroeconomia através de quatro
conceitos-chave: o crescimento econômico; a
inflação; as relações externas (dívida externa);
a distribuição de renda.
Pré-requisitos
Naturalmente, você se recorda do que estudou em
Formação Econômica Brasileira. Pois os princípios
abordados naquela matéria, vistos sob a ótica da
escassez, que permeia o uso de todos os recursos
econômicos, vão ajudá-lo a entender o que será
discutido nesta aula. Pronto para aprender?
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
INTRODUÇÃO
!
outros ramos do saber.
O que é a Economia?
O termo “economia” vem do grego,
oikos = casa e nómos = distribuição,
administração.
8 CEDERJ
necessário, portanto, que saibamos priorizar objetivos e lidar com todas as
1
variáveis envolvidas no processo.
AULA
Ainda sobre a origem dos termos, pense: será que economia e ecologia têm
algo a oferecer uma à outra?
!
Economia ou sistema
econômico?
Lembre-se: ao longo da aula, você vai
conviver com um uso convencionado para o
termo “economia”. Compreenda que, ao utilizar esse
conceito, estamos nos referindo a um sistema econômico
– ou ao conjunto de atividades, de bens e de serviços que
movem uma economia. Essas atividades são exercidas
pelas empresas e pelo governo, e envolvem todos
os indivíduos (consumidores e produtores)
concentrados em uma determinada região
(um país, um estado, uma cidade).
O QUE É A MACROECONOMIA?
CEDERJ 9
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
! Quatro importantes
variáveis da macroeconomia
– nível de preços;
– nível de emprego;
– taxa de câmbio;
– taxa de juros.
MACROECONOMIA OU MICROECONOMIA?
O PREÇO
10 CEDERJ
Sobre a variável preço, vale notar que um dos efeitos de sua
1
dinâmica de alteração é a inflação.
AULA
A INFLAÇÃO
Atividade 1
Quanto custa hoje? 1 4
Ontem você saiu de casa com dois objetivos muito claros e bem distintos: comprar dez
quilos de arroz para uma feijoada para a qual você vai contribuir e sondar o preço daquele
automóvel importado que você sonha comprar. Ao passar por dois supermercados, você
tem uma surpresa desagradável: o arroz está 10% mais caro. Ainda assim, você compra o
arroz e parte em direção a uma revendedora da marca de automóveis que lhe interessa.
Chegando à loja, você descobre que o preço do automóvel desejado subiu, embora as
outras marcas nacionais tenham mantido seus preços.
Dito isso tudo, com base no que vimos sobre preços e inflação, discorra sobre os casos
do arroz e dos carros. Em algum ou em ambos os casos pode-se concluir que há um
processo inflacionário?
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CEDERJ 11
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Resposta Comentada
Não há elementos suficientes para identificarmos com precisão se estamos diante de um
processo inflacionário. Se observarmos uma grande quantidade e variedade de produtos
poderíamos suspeitar que está havendo um aumento generalizado de preços. Quando o
aumento ocorre em um ou poucos dos produtos, o caso pode ser de aumento de preços
relativos. Isto é, alguns produtos ficaram mais caros em relação aos outros. Uma seca que
tenha atingido a plantação de arroz pode ter prejudicado a colheita do arroz repercutindo
para o mercado em elevação de preços. Isso não é inflação. Será se o aumento do preço
do arroz causar aumento do preço de um almoço no restaurante, que por sua vez causar
aumento no preço do táxi porque o taxista almoça naquele restaurante, e tal aumento no
táxi implicar aumento na obturação do dente posto que o dentista vai para o trabalho de
táxi e assim por diante.
O EMPREGO
RENDA
DJ Alemão
Provavelmente você já ouviu falar em renda, embora talvez não consiga definir
o conceito de forma clara. Pois a renda se refere aos ganhos provindos do
trabalho. A renda depende também de inúmeras variáveis, desde a demanda
do mercado por trabalhadores de um determinado setor até a oferta de
trabalhadores disponíveis para determinada atividade. A desigualdade de renda
dentro de uma economia é a base de nossa tão conhecida diferença de classes.
Figura 1.4: Sua renda é
Ao longo da História, teóricos dos mais diversos campos tentaram explicar e
quanto seu trabalho paga.
solucionar o problema da diferença de classes, provindo das diferentes funções que
trabalhadores exercem dentro de um sistema econômico e dos diferentes níveis de renda que decorrem dessas
atividades. Já houve os que defendessem uma igual remuneração para atividades bastante diferentes entre si,
assim como houve os que entendessem o abismo que separa ricos e pobres como uma característica imutável do
sistema produtivo. Essa é uma discussão em aberto, que vale ser travada com seus colegas, tutores e professores.
12 CEDERJ
1
AULA
Mike McGarry
Figura 1.5: O uso do vapor na produção industrial foi
o primeiro grande avanço tecnológico em direção às
economias modernas.
Atividade 2
Onde quer que precisem de mim 1 2 3
Resposta Comentada
Provavelmente sua renda vai cair. Se há muitos trabalhadores disponíveis para uma mesma
função e se há poucos postos de trabalho à disposição da categoria, provavelmente o empresário
pagará menos aos trabalhadores. Como sua renda provém do trabalho assalariado, é seu
valor no mercado que vai determinar seu nível de renda.
CEDERJ 13
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Kadri Poldma
A TAXA DE CÂMBIO
14 CEDERJ
Depende de quantas figurinhas iguais àquela estão
Marcin Krawczyk
1
circulando entre seus amigos. Pois é basicamente assim que o
AULA
Banco Central opera: se há muitos dólares circulando no país,
o preço do dólar cai. Todo mundo tem dólares, ninguém quer
comprar, então o valor do dólar vem abaixo. Pois se o Banco
Central deseja elevar o preço do dólar, tornando o real mais
barato, ele compra dólares no mercado e os soma à sua reserva.
O exato oposto acontece quando há poucos dólares no mercado
– o que equivale a dizer que o dólar está caro em relação ao
real. Neste caso, o Banco Central vende dólares de sua reserva
por valor mais baixo do que o praticado pelo mercado.
Figura 1.7: O dólar, que era
usado como moeda padrão nas
negociações internacionais, vem
?
perdendo terreno para o euro, a
moeda da União Européia.
!
Câmbio Fixo x
Câmbio Flutuante
16 CEDERJ
Atividade 3
1
AULA
O gargalo das exportações 1 2 3 4 5
Resposta Comentada
A soja ou qualquer outra mercadoria a ser exportada está submetida a uma comparação
entre duas moedas: a do exportador (aquele que vende para fora) e a do importador (aquele
que compra de fora). Se o comprador está pagando muito caro pela soja, é sinal de que sua
moeda está fraca em relação à do vendedor – ou do exportador (no caso, os produtores
brasileiros de soja). A partir daí, conclui-se que é preciso desvalorizar a moeda do exportador, em
relação à do importador. Derruba-se o real e valoriza-se o dólar. Assim fica mais fácil exportar.
Duro será convencer a comitiva de importadores de automóveis, que o aguarda no lobby do
banco, presidente. Já vimos também como se altera o valor de uma moeda: vendendo-a ou
comprando-a no mercado. No nosso caso, queremos que o dólar tenha seu valor aumentado.
Logo, precisamos retirar dólares do mercado. O que equivale a dizer que o Banco Central,
nesse caso, deve comprar dólares.
A TAXA DE JUROS
CEDERJ 17
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Atividade 4
Comprando devagar 1 2 3 4
Deu no jornal: os juros subiram mais de dez por cento. Absurdo. E você ainda precisa
comprar um fogão novo, é urgente. Na caderneta de poupança, você tem três vezes o
valor do fogão, embora tenha se planejado para não usar esse dinheiro. Sua idéia era
pagar prestações a partir do seu salário, já que em poupança não se mexe. Mas e agora?
Será que com os juros muito mais altos do que aqueles que você viu no mês passado
continua valendo a pena comprar a prazo?
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Resposta Comentada
Embora seu dinheiro aplicado na caderneta de poupança venha render o aumento dos juros,
nas compras a prazo implicará pagar muito mais por um determinado produto. Se você tem
o dinheiro para cobrir o preço do fogão, vale mais a pena comprar à vista e depositar na
poupança o que você havia planejado usar nas prestações.
18 CEDERJ
1
Mercado Financeiro e Especulação
AULA
No filme Rogue Trader (1999), do diretor inglês James Dearden, um operador da Bolsa de
Valores do sudeste asiático joga de forma arriscada com tendências do mercado financeiro
e acaba por causar a falência de um dos maiores bancos da Grã-Bretanha. A história é real e
serve para ilustrar o funcionamento do mercado de ações.
A Economia em Desequilíbrio
Um bom exemplo do que acontece com uma economia em desequilíbrio está no documentário
Roger & Me (1989), do diretor americano Michael Moore. No filme, uma cidade do interior
dos Estados Unidos sente os piores efeitos de uma indústria especializada que fecha suas
portas: desemprego, esvaziamento econômico, depreciação imobiliária; a economia local
vem abaixo.
CEDERJ 19
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
?
O caso mexicano
Acompanhe um caso: nos últimos anos,
o México assumiu uma posição mais próxima da economia
americana, investindo nessa crença de que faria parte de um
sistema econômico maior. Como as leis de defesa ambiental mexicanas
são mais flexíveis do que as americanas, e como a mão-de-obra mexicana
é mais barata do que a empregada nos Estados Unidos, o México acabou se
tornando um belo ambiente para a instalação de indústrias dedicadas a finalizar
produtos feitos nos Estados Unidos.
No México, essas indústrias receberam o nome de maquiladoras – ou
“maquiadoras”, em bom português. As maquiladoras foram responsáveis pelo
aquecimento da economia mexicana durante um determinado período. No
entanto, diante da eterna busca pelo melhor ambiente industrial, o México vem
perdendo terreno para países emergentes como a China, onde a mão-de-obra é
ainda mais barata. O processo pode não ter fim. Enquanto isso, nos Estados
Unidos, em áreas anteriormente dedicadas à produção industrial, já se
fala no surgimento de um Cinturão de Ferrugem (Rust Belt). Para
saber mais sobre esse tema, digite “cinturão de ferrugem” ou
“rust belt” em um mecanismo de buscas da internet.
Há artigos nos jornais O Estado de S. Paulo e
The Washington Post.
20 CEDERJ
AS VARIÁVEIS APLICADAS
1
AULA
A taxa de juros sobre o mercado
Atividade 5
Juros, para que te quero?
2 3 4 5
ECONOMIA
F oi dado pelo
Banco Central o
sinal verde para
mais um aumento na taxa
de juros. Diferente do que
semana o presidente do
BC, Henrique Meirelles,
a partir de amanhã o
mercado opera com um
aumento de 0,25 ponto
havia declarado há uma percentual.
CEDERJ 21
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
MUNDO
Tomando por base os dois fragmentos de notícia, reflita e responda: de que maneira
uma elevação da taxa de juros, acompanhada das restrições para a exportação, pode
influenciar no preço da geladeira e na sua idéia de comprar uma geladeira?
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Resposta Comentada
Se os juros subiram, isso significa que o financiamento para as compras a prazo está mais caro.
Logo, quem pretendia comprar a prazo vê-se estimulado a poupar mais para se beneficiar dos
juros pagos pelo banco, até que possam comprar sua geladeira à vista. Ao mesmo tempo, se
o mercado dos produtores brasileiros de geladeiras na Argentina foi limitado, isso equivale a
dizer que a procura por geladeiras caiu, o que fará aumentar a oferta dela no Brasil. Se já há
um estoque formado, é possível que os produtores sejam obrigados a baixar os preços, a fim
de escoarem a produção. No meio disso, talvez você consiga até comprar a geladeira
à vista.
22 CEDERJ
Voltando ao caso do México e ao que explicamos sobre ambientes
1
industriais perfeitos, perceba que países como a China hoje representam
AULA
um bom espaço para montar uma indústria multinacional, inclusive
porque ali a mão-de-obra é muito mais barata do que nos países de
origem dessas empresas.
Mais adiante: já vimos que um aumento salarial eleva os custos de
produção. Agora perceba que esse aumento no custo pode ser repassado
para os preços. Se isso se repetir como um processo contínuo e geral (em
toda a economia), pode-se assistir ao início de um momento de inflação.
A inflação, como você já viu, refere-se ao aumento da moeda
circulante em um país. Então perceba: se você ganha mais e o empresário
repassa para os preços o novo custo que você gerou, tudo fica mais
caro. Se você ganha mais e tudo fica mais caro, o dinheiro vale menos.
Acompanhou?
Esse processo acaba retirando mais uma vez o poder aquisitivo dos
trabalhadores, que, novamente, vão reivindicar outros reajustes. No final
da bola de neve, pode se formar um círculo vicioso e inútil de “salários
versus preços”, tal qual um cão que tenta morder a própria cauda.
A discussão mais detalhada sobre esse aspecto é um dos grandes
temas da economia, mas não trataremos dele agora. O que nos interessa
saber, no momento, é que os salários são fonte de renda para as famílias
e custo para as empresas. Podem, em momentos de elevação, atrair
novos empregos e gerar mais consumo. Porém, ao mesmo tempo, causar
maiores custos e repasses aos preços.
Atividade 6
Parabéns, você está um pouco mais rico. Este é seu contracheque. 1 2 4
Dois salários mínimos.
CEDERJ 23
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
ECONOMIA
E m pronunciamento
em rede nacional
de TV, o Presidente
Luis Inácio Lula da Silva
anunciou, na noite de
ontem, um novo patamar
para o salário mínimo. A
partir desta segunda-feira,
o mínimo passa a 350 reais,
nível mais alto desde...
E agora? O que deve acontecer com o preço da sua geladeira Brasfreezer? Justifique sua
resposta.
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Resposta Comentada
Provavelmente, o preço da sua geladeira vai subir junto com seu salário. Você é o consumidor
do produto que ajuda a fabricar. Se o patrão precisa aumentar seu salário, ele vai passar por
uma elevação em seus custos, o que precisa ser compensado de alguma forma. Logo, a
menos que seu patrão esteja disposto a ver seu lucro diminuir, ele irá repassar o aumento
do custo salarial para o preço da geladeira. Portanto, se de um lado você está ganhando
mais, porém os preços das coisas estão mais elevados, é possível que seu poder
de compra fique como antes.
24 CEDERJ
!
1
Maior remuneração e
AULA
menor inflação?
Talvez você esteja se perguntando se é possível
que, em algum caso, um aumento na remuneração não
seja inflacionário.
A resposta é: claro que sim.
Pense em um trabalhador produzindo, por dia, mil mercadorias que,
vendidas, valem R$ 1.500,00 (desconsidere qualquer outro custo de
produção que não seja o do trabalho).
Se sua produtividade – ou quanto o trabalhador produz em média a cada
período de trabalho – for dobrada (duas mil mercadorias por dia), o trabalhador
pode receber um aumento de renda de até 100%, e tal aumento não será
inflacionário. Isto porque ele está reivindicando para si apenas o acréscimo de lucro
que sua produtividade gerou.
Você está ganhando em cima de um crescimento econômico que gerou com seu
trabalho.
Moral da história: os aumentos de remuneração em função da produtividade não
representam aumento de custos. Portanto, não são inflacionários.
CEDERJ 25
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Atividade 7
O salário é “imexível” 3 4 5
Resposta Comentada
Ao vender dólares no mercado e ao valorizar a taxa de câmbio, o real subirá na cotação em
relação ao dólar. Assim, tudo o que se compra em dólares precisará de menos reais na hora
da conversão de uma moeda à outra (a taxa de conversão é a taxa de câmbio), ou seja: os
produtos importados, as passagens aéreas ao exterior, as compras que se fazem quando se
está em outros países etc. estarão mais baratos. Nos efeitos sobre a inflação, pode-se afirmar:
ela deverá diminuir. Os produtos importados que servem como matéria-prima ou como insumo
à produção estarão mais baratos. Isto implica dizer que os custos com as compras de bens
importados estarão menores, o que possibilita queda nos preços. Conclusão: a valorização
cambial tem um efeito antiinflacionário, posto que os custos com matérias-primas e insumos
importados diminuem. Pode-se, portanto, repassar essa diminuição de custos aos preços,
ocasionando a redução da inflação.
26 CEDERJ
O nível de preços e seu bolso vazio
Tess
1
AULA
São vários são os efeitos da elevação de
preços. Por ora, vamos citar a redução do poder
de compra dos salários e a conseqüente queda na
demanda agregada (a demanda total da população
por um determinado item), ou seja: a redução dos
níveis de compra.
CEDERJ 27
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
!
Fonte: Eurostat/IPEA.
O Brasil já se consagrou
campeão mundial de futebol, vôlei e
boxe, não é mesmo? Mas é também medalhista
em outros esportes: já foi campeão em maior
inflação, maior taxa de juros, menor salário
mínimo, maior concentração de renda...
28 CEDERJ
ou bem cobre a cabeça, deixando os pés ao frio, ou faz o contrário.
1
Isto significa que não há solução ótima. Pois na Macroeconomia isso
AULA
também ocorre.
O trade-off é uma expressão inglesa que, em economia, representa
uma situação-dilema (ou um conflito de decisão), em que uma ação em
proveito de alguma coisa dificulta uma outra.
Você poderia pensar: basta que os economistas tomem medidas
para baixar a inflação, estimular a iniciativa privada (nossos empresários),
aumentar a produção e o emprego, elevar as exportações para adquirir
dólares para saldar a dívida externa e distribuir a renda. O caso é que,
infelizmente, há algo que complica um pouco essa história: é o chamado
trade-off, que ocorre na hora de procurar resolver tais problemas
econômicos.
Creio que já reunimos os elementos básicos para entender um
pouco da complexidade que envolve os problemas macroeconômicos.
Pois se um país tem como metas diminuir a inflação, o desemprego, a
dívida externa e melhorar a distribuição da renda, o que se deve fazer?
Se utilizarmos as variáveis juros, câmbio, preços e salários,
podemos até amenizar um desses problemas. No entanto, fatalmente a
gravidade de algum dos outros irá se aprofundar. Como assim?
Suponha que a política econômica de um país seja a de elevar a taxa
de crescimento econômico. Ao diminuir a taxa de juros, os empresários
irão investir mais, aumentando o emprego e a produção. Isso é positivo,
mas outras coisas não tão positivas também podem ocorrer: taxas de
juros mais baixas aumentam o consumo, o que estimula os empresários
a aumentar os preços. Esta última relação será tanto mais forte quanto
mais intenso for o crescimento da demanda pelos produtos e serviços.
Quando os empresários produzem mais, além de contratar mais
pessoas, eles também compram mais insumos importados. Desse modo,
gastam dólares que poderiam ser utilizados para pagar a dívida externa.
Tudo isso pode acontecer em maior ou menor grau de intensidade.
Tudo depende de em que nível esteja o desenvolvimento do país em
questão ou sua situação econômica.
Se o objetivo do país for baixar a inflação, então é preciso conter
o nível salarial da população, para que não haja pressão de custos sobre
os preços. Parece um pouco chocante, mas lembre-se de que, para a
empresa, salário é custo.
CEDERJ 29
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
CONCLUSÃO
Cris Watk
?
Crescimento ou desenvolvimento?
Trecho retirado da edição 236 (25/11/02) da revista Época:
“Provocado a comparar suas idéias com as do ministro preferido dos
militares, Delfim Netto, e as do ex-minstro Pedro Malan, o atual ministro
da Fazenda Antonio Palocci faz uma didática culinária. ‘Nem acreditamos que
primeiro é preciso crescer o bolo para depois repartir (tese dos anos verde-
oliva), nem que o bolo se divide sozinho (tese de Malan). Vamos dividir o
bolo durante o crescimento.’ Em outras palavras: Palocci pode até
usar o idioma de Malan e receber elogios de Delfim, mas
promete ser diferente.”
30 CEDERJ
!
1
AULA
Quatro problemas (macro)
econômicos nacionais
– inflação;
– crescimento econômico baixo;
– dívida externa alta;
– má distribuição de renda.
CEDERJ 31
Análise Macroeconômica | Conhecendo a Macroeconomia
Atividades Finais
1 2 3 4 5
Com o que você estudou nesta aula e munido das informações contidas no texto,
explique o porquê do risco da espiral inflacionária.
Resposta Comentada
A citada variação de mais de 5% do PIB significa a magnitude do crescimento econômico do Brasil
em 2004. Como sabemos, quando a economia cresce, os empresários vendem mais e fazem mais
investimentos. Claro que ao vender e investir mais, eles estão contratando mais funcionários. Com
mais salários, o consumo aumenta no país. O risco da inflação está na pressão desse maior consumo
sobre as vendas. Afinal, se há maior demanda, há maiores vendas e o risco de proporcionar maiores
preços. Com o aumento de preços pode-se ter mais inflação, o que fará o poder aquisitivo dos
salários diminuir. A partir daí, pode ser gerada uma corrida de reajustes de salários que acabem
representando um aumento de custos e preços, ou seja: está presente na notícia do jornal a relação
entre a meta de crescimento econômico e o efeito colateral de gerar inflação.
RESUMO
32 CEDERJ
1
AULA
A Economia lida com a articulação entre suas variáveis, e é assim, de
forma combinada, que tenta resolver problemas em um ou outro setor
de atividades.
Cada variável econômica agregada apresentada nesta aula interfere nas
demais, e a forma como vão ser aplicados os conceitos econômicos vai ser
sempre bastante particular, levando em conta as características próprias de
cada sistema econômico.
Ao longo desta disciplina, você terá uma visão geral do que se estuda em
Macroeconomia, uma das mais importantes disciplinas estudadas pelo
curso de Ciências Econômicas. Ali, a Macroeconomia está dividida em três
semestres. Nós, por outro lado, preferimos enfocar esta matéria no nível
do interesse e da importância que se observa para um futuro administrador
de empresas.
CEDERJ 33
2
AULA
Medindo as atividades econômicas
Meta da aula
Apresentar o conceito de Produto Interno
Bruto, suas aplicações, suas variáveis e
seus desdobramentos.
2
verificar a utilidade do PIB como indicador
das atividades econômicas;
diferenciar PIB real, PIB nominal, deflator
3
do PIB e PIB per capita.
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
INTRODUÇÃO
O QUE É O PIB?
36 CEDERJ
Para efeito ilustrativo, suponha que, no ano X, um país tenha
2
produzido apenas três produtos (a, b, c), da seguinte forma:
AULA
Produto Quantidade Preço de
produzida (q) mercado (p) R$
A 2 2
B 4 3
C 1 5
O CONCEITO EM DETALHES
CEDERJ 37
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Atividade 1
Com quantos pneus se faz um carro 1
Resposta Comentada
No cálculo do PIB, o valor a ser considerado para a produção de dois automóveis é de R$ 10
mil. Se o preço final de cada carro é de 5 mil e se os pneus são bens intermediários à produção
dos carros, então os pneus já estão incorporados ao preço final dos carros. Caso somássemos
a esses R$ 10 mil os bens intermediários (ou dez pneus, cinco para cada carro), teríamos para
o cálculo do PIB o valor de R$ 11 mil, o que causaria certa discrepância na soma final. Este é
um exemplo do erro da dupla contagem. Ou seja: neste caso, os pneus teriam sido contados
duas vezes: na venda para a montadora e na venda para o consumidor final.
C 1 5
38 CEDERJ
Assim, o PIB desse país seria:
2
PIB = 2 x 2 + 4 x 3 + 1 x 5 = R$ 21,00
AULA
Agora suponha que todos os preços tenham dobrado,
mas que a quantidade produzida tenha permanecido a
mesma. Observe que, neste caso, o PIB terá dobrado (PIB
= R$ 42). Essa discrepância causará uma grave distorção
para um indicador com a função de informar a variação
da produção total (agregada).
!
de 2003. Assim se calcula o PIB real.
Aumento na produção ou
nos preços?
Se o PIB aumentou de um ano para o outro, pelo
menos uma das duas coisas ocorreu: ou o país elevou
a quantidade produzida em sua economia ou os
bens e serviços sofreram aumentos
de preços.
CEDERJ 39
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Sendo:
QB a quantidade de bananas produzidas;
PB o preço das bananas;
QV a quantidade de veículos produzidos;
PV o preço dos veículos no mercado.
40 CEDERJ
Atividade 2
2
AULA
A partir da tabela abaixo, tome o ano de 2002 como seu ano-base. A partir daí, 2
como você calcularia o PIB real em cada um dos períodos seguintes?
Resposta Comentada
Em 2002, o PIB real é 1.100. Como? (100 x 1) + (20 x 50) = 1.100; em 2003, é 1.620. Como?
(120 x 1) + (30 x 50) = 1.620; e em 2004, o PIB real é 2.140, já que (140 x 1) + (40 x 50) =
2.140. Como você já viu, o PIB nominal utiliza os preços vigentes em cada ano, enquanto o PIB
real fixa os preços de um ano como base para calcular apenas as variações nas quantidades
produzidas a cada período. Assim, o PIB real torna-se uma medida mais adequada para estimar
a produção total de bens e serviços finais de um país.
O DEFLATOR DO PIB
CEDERJ 41
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Deflator do PIB
!
uma indicação da taxa de inflação do período.
42 CEDERJ
O PRODUTO NACIONAL BRUTO
2
AULA
Já vimos que o PIB expressa o total da produção, a soma de toda
a renda criada dentro dos limites geográficos de um país. Pois parte dessa
renda gerada dentro do país pode ser enviada ao exterior. Isso acontece
quando parte da renda pertence a empresas estrangeiras que estejam
produzindo no país. Nesse caso, essas empresas podem enviar parte de
seu lucro para o exterior.
O produto nacional bruto (PNB), por sua vez, representa a
produção cuja renda correspondente é de propriedade dos indivíduos
residentes no país de forma definitiva. Ou seja: o PNB é a soma de tudo
o que é produzido aqui e fica aqui.
Portanto, a diferença entre PIB e PNB é a renda líquida enviada
ao exterior (RLEE ou a renda que é mandada para o exterior menos
aquela procedente do exterior).
Um exemplo: um país sul-americano cuja indústria seja exclusivamente
dedicada à siderurgia tem um PIB de R$ 1 milhão. No entanto, suponha
que, ao longo do ano, esse país tenha importado R$ 200 mil em minério
de ferro e exportado R$ 300 mil em aço. Quando calcularmos o Produto
Nacional Bruto, chegaremos ao valor de R$ 900 mil.
Veja:
PNB = 1 milhão – 300 mil + 200 mil = 900 mil
Ou ainda:
PNB = PIB – RLEE
Ou ainda:
CEDERJ 43
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
44 CEDERJ
somente à ilegalidade. Pensemos, por exemplo, nas donas de casa ou nos
2
vendedores ambulantes, que mantêm seus negócios à parte dos impostos
AULA
e das contribuções. Esses não são contados quando se calcula o PIB.
Hoje, estimativas apontam para uma equação assustadora: cerca
de 50% da economia brasileira podem estar ligados à informalidade.
Repare que as dimensões de uma economia informal podem significar
a divisão de um país em dois: um real e um oficial. O crescimento da
informalidade pode representar um verdadeiro problema administrativo
no âmbito governamental, já que apenas uma parcela da população
contribui com impostos, por exemplo, mas é a totalidade das pessoas
que precisa ser beneficiada pelas políticas públicas.
Atividade 3
A senhora do lar
1 2
Explique a razão da frase: “Se um patrão demitir sua empregada doméstica,
que tinha carteira assinada, e casar-se com ela, reduz-se o valor do PIB”.
________________________________________________________
_________________________________________________________
_______________________________________________________
Resposta Comentada
O serviço de empregada doméstica é uma atividade profissional com valor de mercado.
Logo, entra no cálculo do PIB. Demitida, passada à informalidade e casada com o patrão, a
empregada passa a ser dona de casa e deixa de ser assalariada. Assim, o PIB cai de valor
pelo cancelamento da despesa que o ex-patrão deixa de ter com a nova esposa.
O PIB DESMEMBRADO
CEDERJ 45
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Tabela 2.1: Crescimento do PIB brasileiro total e por setores nos anos de 2003
e 2004 (%)
Fonte: IPEA
46 CEDERJ
Por outro caminho: o total da renda gerada nesse sistema
2
econômico é reutilizado pelas famílias, por meio da compra de bens e
AULA
serviços no mercado de produtos – os supermercados, as lojas etc. Estes,
por sua vez, irão fluir novamente para o mercado de fatores de produção.
Como num fluxo circular.
O PIB pode ser medido de duas formas: somando as rendas pagas
pelas empresas dentro do mercado de fatores (de produção), ou pelo total
dos gastos dos consumidores no mercado de bens e serviços.
Ainda que na prática haja mais complexidade (há impostos, as
famílias não gastam tudo o que ganham, nem tudo o que é produzido é
vendido etc.), cada transação tem uma espécie de comprador e vendedor, de
forma que o valor do bem ou do serviço coincida com o valor da renda.
A seguir, vê-se um diagrama do fluxo circular da renda e dos
bens e serviços de um sistema econômico. As setas externas ilustram o
fluxo circular da renda. As setas internas representam o fluxo de bens
e serviços.
Mercado de
Produtos
Despesa =
PIB Empresas
Famílias
(Unidades
(consumidores)
Produtivas)
Salário,
lucro e
Trabalho aluguel
Capital
Renda Insumos
Terra
= PIB
Mercado de
fatores de
produção
CEDERJ 47
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Valores em US$
!
Entre 2003 e 2004, o
Brasil passou de 15º colocado
no ranking mundial do PIB para 12º,
ultrapassando a Índia, a Coréia do Sul e
a Holanda. No entanto, em 1998, o Brasil
estava em 8º lugar. Ou seja: mais próximo
dos países de maior atividade
econômica no mundo.
48 CEDERJ
A RENDA PER CAPITA
2
AULA
A renda per capita é a quantia em reais que cada habitante
receberia caso o PIB fosse dividido igualmente entre toda a população.
Note que a renda per capita é uma média, uma estimativa, uma vez que
desconsidera o fator distribuição de renda.
Abaixo, os números da renda per capita no Brasil, durante a
década de 1990.
Fonte: www.ipea.gov.br
CONCLUSÃO
CEDERJ 49
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
Atividades Finais
O PIB e as metrópoles nacionais 1 2 3
A tabela a seguir informa dados oficiais para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro
(2002).
Fonte: www.ibge.gov.br
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
2. Seria possível ocorrer um aumento do PIB nominal ao mesmo tempo que houvesse
diminuição do PIB real?
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
3. Por que razão quanto mais inflacionária for a economia de um país mais correto
será utilizar o PIB real (ao invés do nominal) para medir seu crescimento?
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
50 CEDERJ
2
Resposta Comentada
AULA
1. Os valores da renda total são obtidos dividindo o PIB do estado por sua respectiva população.
Os resultados diferem um pouco dos apresentados na tabela, posto que os dados do PIB estão
arredondados.
2. Sim, basta que o efeito da elevação dos preços seja maior do que a queda na quantidade de bens
e serviços gerados no período. Lembre-se de que dois elementos afetam o PIB nominal: os preços e
as quantidades. No PIB real, só as quantidades se alteram, pois os preços são mantidos constantes,
dado o ano-base. Quer um exemplo? Veja a tabela a seguir, com os dados sobre os anos de 1991
e 1992. Apesar do enorme salto no PIB nominal entre 1991 e 1992, a taxa de crescimento real do
PIB foi negativa. Ou seja, houve recessão. Observe o ritmo do crescimento médio dos preços através
da variação do deflator do PIB: naquela época, a inflação era extremamente alta.
Fonte: www.ibge.gov.br
3. Quanto mais alta a inflação, mais os preços estarão influenciando os valores do PIB nominal.
Sendo assim, o mais adequado é utilizar o PIB real, pelo mesmo motivo citado na resposta
anterior.
RESUMO
CEDERJ 51
Análise Macroeconômica | Medindo as atividades econômicas
52 CEDERJ
3
AULA
O PIB e os componentes da
demanda agregada
Meta da aula
Descrever a equação de composição do
Produto Interno Bruto (PIB) a partir da
renda e da demanda agregada.
2
distinguir os elementos que compõem a
demanda agregada e identificar seu papel
e seu peso na economia de um país;
3 avaliar a importância do relacionamento das
empresas com mercados internos e externos
no cálculo do PIB.
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
INTRODUÇÃO
Sanja Gjenero
Figura 3.1: No espaçoso carrinho do PIB, cabem sua renda, tudo que você
compra e contrata, os investimentos que você faz em nome de seu negócio,
tudo que o governo gasta em nome do seu bem-estar, o que é vendido
para outros países e o que é comprado de fora.
Imagine-se comprando um sanduíche. Pense que você saiu de casa com cinco
reais na carteira e que os entregou ao balconista de uma lanchonete. Em um
primeiro momento, você pode pensar: eu tinha um dinheiro em mão, mas não
o tenho mais. Comi o sanduíche e estou cinco reais mais pobre.
No entanto, perceba: o balconista da lanchonete tinha um sanduíche à sua
espera. Depois que você abriu a carteira, o sanduíche passou a não mais
existir para ele. Ainda assim, no lugar do sanduíche, o balconista recebeu
cinco reais. Fica fácil notar que comprar um sanduíche é equivalente a vender
cinco reais.
Transponha agora essa compreensão para o campo da Macroeconomia, que lida
com o fator “sanduíche” de forma agregada (ou a partir de todos os sanduíches
produzidos em um país). Como vimos estudando desde a primeira aula deste
curso, o produto interno bruto (PIB) expressa o valor de tudo que um país
produz, em bens e serviços, em um determinado período. Todos os sanduíches,
todos os empregos de balconista, tudo o que o dono da lanchonete investe em
seu estabelecimento, os impostos pagos pela lanchonete ao governo etc.
Agora veja: assim como acontece em nosso exemplo da lanchonete, quem se
apropria desses bens e serviços produzidos pelo país? De que forma isso ocorre?
De onde partem os recursos que movimentam a economia? Que importância
tem para um país o nível de poupança de sua população? As respostas a essas
perguntas você terá ao longo desta aula.
OS COMPONENTES DO PIB
54 CEDERJ
Para início de conversa, podemos dizer que todo bem e todo serviço
3
produzido em determinado país é utilizado para consumo das famílias e
AULA
investimento por parte das empresas, além de poder ser adquirido pelo
governo ou exportado (vendido a outro país).
Note que, quando falamos em exportação, assumimos que
exportamos uma fração do que produzimos. Pelo mesmo raciocínio,
podemos concordar que também adquirimos parte da produção de
outros países.
Consideremos então esse princípio e expressemo-lo em termos
matemáticos. Daí chegaremos à seguinte I D E N T I D A D E :
PIB = C + I + G + (X – M) (1)
Sendo:
IDENTIDADE
PIB, o produto interno bruto;
É a equação que é
C, o consumo agregado; sempre verdadeira,
quaisquer que sejam
I, o investimento agregado; as circunstâncias
ou as hipóteses
G, o consumo do governo; estabelecidas. Numa
X, as exportações; e identidade, os lados
das equações são
M, as importações. inequivocamente
iguais.
à despesa das famílias com a compra de bens e serviços, sejam eles São os investimentos
feitos pelas empresas
geladeiras ou técnicos especialistas em geladeiras, por exemplo. em equipamentos,
Os investimentos referem-se exclusivamente às empresas: são as bens de capital,
edificações etc. que
despesas com máquinas, equipamentos, plantas industriais (FORMAÇÃO visam a aumentar
sua capacidade
BRUTA DE CAPITAL FIXO) e estoques. Ou seja: são todas as despesas envolvidas produtiva.
O conjunto desses
no funcionamento de uma empresa, a não ser as relativas à remuneração
fatores é o que se
da força de trabalho e ao pagamento de impostos. Sobre os investimentos, costuma chamar
também planta
trataremos mais detalhadamente na próxima seção. industrial.
CEDERJ 55
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
partes do mundo.
E, por fim, as importações representam os valores
do que se compra do exterior, ou tudo que é produzido
em outros países e vai ser consumido aqui. Importações
e exportações trataremos mais à frente.
Figura 3.2: O café é tradi-
cionalmente nosso herói
de exportação. Ao longo OS INVESTIMENTOS
da história do Brasil,
intervenções do governo
visaram a manter o status
Já vimos, de forma geral, os componentes do cálculo do PIB.
do produto no mercado Vimos que um deles se refere aos investimentos por parte das empresas.
internacional. Após a crise
de 1929, foram a ação do Agora cabe fazer uma diferenciação sobre os tipos de investimentos
Estado e o desempenho do
café nos mercados inter- existentes.
nacionais que nos defen-
deram da recessão que se Quando você monta uma empresa, conta com seu capital inicial,
abateu sobre o mundo. com seu maquinário e com a mão-de-obra. No entanto, em um mercado
Você pode ver mais
sobre o assunto no site aberto e competitivo, é necessário que você destine regularmente
www.culturabrasil.pro.br/
vargas.htm. recursos que serão revertidos a esse negócio. Vale então ter claro que há
investimentos de dois tipos: realizados e desejados (ou planejados).
56 CEDERJ
De forma mais simples: se toda a produção destinada à venda for
3
efetivamente vendida, os estoques involuntários (variação de estoque)
AULA
serão zero. Nessas condições, os investimentos planejados serão iguais
aos realizados.
Perceba:
Ir = Ip + ∆estoque
Ir – Ip = ∆estoque
Sendo:
Atividade 1
A Abragel e o mercado 1 2 3
A
(10/06/2006)
Associação que declara a intenção
Brasileira dos de investir 100 milhões
Fabricantes de de reais em edificações
Geladeiras (Abragel) e equipamentos.
divulgou ontem nota em
E m entrevista coletiva
à imprensa, na noite
de ontem, o consultor
da Abragel Nestor Antártico
lamentou o que qualificou como
nossas geladeiras no mercado
externo”. Segundo Antártico,
metade das geladeiras produzidas
neste trimestre encalhou nos
estoques.
“decepcionante desempenho de
CEDERJ 57
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Agora, presumindo que todos os conselhos de Nestor foram seguidos pela entidade,
responda às perguntas a seguir:
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Respostas Comentadas
Se você articular as três notícias de jornal, verá que a Abragel investiu 100 milhões de reais em
planta industrial e 20 milhões em estoque. Você já aprendeu que os investimentos planejados
são a soma desses dois fatores. Portanto, o investimento planejado pela Abragel foi de 120
milhões de reais (a). Da segunda notícia, depreendemos que investiram-se 20 milhões de
reais nos estoques das empresas. Repare que se chegou a esse montante por decisão de
consultores. Logo, estamos falando sobre investimento planejado em estoque (b). Na terceira
notícia, lemos que o mercado não se comportou como a entidade esperava, o que resultou
no encalhe de metade do estoque. Como já definimos que o estoque era de 20 milhões de
reais, chegamos aos 10 milhões de reais encalhados (c). Ao longo da aula, você já viu que a
variação não-planejada do estoque se refere a quanto do estoque formado não conseguiu ser
vendido. Logo, neste caso, estamos falando de 10 milhões de reais (d). Por fim, como já vimos
que o investimento realizado é igual ao planejado acrescido da variação involuntária dos
estoques, chegamos ao número de 130 milhões de reais (e).
58 CEDERJ
AS IMPORTAÇÕES E AS EXPORTAÇÕES
3
AULA
No cálculo do PIB, é de praxe considerar as exportações e as
importações de forma conjunta. Comumente, referimo-nos a essa dupla
de fatores sob o termo exportações líquidas (X-M), que representa as
compras dos produtos nacionais feitas pelos estrangeiros (exportações),
descontadas as compras de bens estrangeiros realizadas pelas famílias
nacionais (importações).
Sendo mais claro: a exportação líquida de geladeiras é igual à
soma de todos os aparelhos que se vendem para fora, descontados os
que se compram de fora.
Agora pense: qual a relevância das importações para a equação
que descreve os destinos do PIB?
A resposta é clara: as famílias, as empresas e o governo compram
produtos nacionais, mas também podem importar. Como o PIB diz
respeito aos bens e serviços produzidos em um país, é necessário descontar
desse cálculo o valor de tudo que foi importado. Se não houvesse o
desconto dessa despesa, não teríamos uma identidade. Veja como.
Imagine uma família comprando um automóvel Audi A8. Essa será
uma despesa com importações, pois esse carro não é fabricado no Brasil.
Supondo que esse veículo custe 50 mil dólares, essa despesa (convertida
em reais) estará associada a duas variáveis da equação 1: em um primeiro
momento, representa um item de consumo (C) das famílias, mas, como
tal valor também será descontado do item importações (M), a equação
do PIB estará representando adequadamente a igualdade entre o valor
da produção e o total das despesas.
Note: se nessa identidade não houvesse o item importações, o
item consumo traria consigo o valor do carro, que não é um produto
nacional.
Perceba:
PIB = C + I + G + (X – M) (1)
CEDERJ 59
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Fonte:www.ibge.gov.br
60 CEDERJ
dos mercados externos? Há quem defenda que essa dependência é
3
maléfica, há quem diga que é o caminho inevitável e que o que importa
AULA
é a maneira como a gerenciamos.
Na introdução desta aula, você viu que uma despesa que você
faça é igual à receita de outra pessoa. Perceba agora que tudo o que
você gasta provém do que ganha. Suas despesas, qualquer dona de casa
tem isso bastante claro, precisam “caber” no seu orçamento. Seguindo
o mesmo raciocínio e visto o PIB pela ótica dos gastos, veja que ele pode
ser descrito também pela ótica da renda.
Você já viu: o valor de tudo que é produzido com bens e serviços
tem como contrapartida a remuneração de quem os produziu (direta
e indiretamente). Logo, o valor do PIB é distribuído em renda para as
famílias. Ou seja, sua renda pode ter apenas três destinos: o consumo
(C), a poupança (S, do inglês savings) ou o pagamento de impostos (T,
do inglês taxes). Dessa maneira, tem-se outra identidade:
PIB = C + S + T (2)
Sendo:
C, o consumo agregado;
S, a poupança agregada;
T, a arrecadação de impostos do governo.
(1) PIB = C + I + G + (X – M)
(2) PIB = C + S + T
Logo,
C + S + T = C + G + I + (X – M) (3)
Para que você não se perca: assumimos aqui que os três destinos
da sua renda equivalem ao conjunto consumo das famílias + gastos do
governo + investimentos das empresas + exportações líquidas. Jamais
perca de vista que estamos tratando de um fenômeno cíclico. As riquezas
circulam dentro de uma economia.
CEDERJ 61
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
?
A
A poupança
poupança e e as
as
exportações
exportações
Lidando
Lidando com
com os
os fatores
fatores que
que compõem
compõem oo cálculo
cálculo
do
do PIB – equações (1) e (2) – chegamos à seguinte
PIB – equações (1) e (2) – chegamos à seguinte
equação:
equação:
C
C++ SS +
+TT=
= PIB
PIB =
=CC+
+GG++ II +
+ (X
(X –– M)
M) (3)
(3)
Observe:
Observe: a
a partir
partir dessa
dessa identidade,
identidade, podemos
podemos chegar
chegar a
a ainda
ainda outra:
outra:
(S
(S –– I)
I) +
+ (T
(T –– G)
G) =
= (X
(X –– M)
M) (4) (4)
Perceba
Perceba que dividimos o setor privado (S e I) e o setor público
que dividimos o setor privado (S e I) e o setor público (T
(T e
e G).
G). Esta
Esta
igualdade
igualdade diz, entre outras coisas, que as exportações serão superiores às
diz, entre outras coisas, que as exportações serão superiores às
importações
importações quando:
quando:
•• o
o nível
nível de
de poupança
poupança forfor maior
maior do
do que
que o o que
que se
se gasta
gasta investindo
investindo
(S – I); e/ou
(S – I); e/ou
•• o
o governo
governo gastar
gastar menos
menos do do que
que arrecada
arrecada (T
(T -- G).
G).
A
A partir
partir da
da mesma
mesma igualdade,
igualdade, perceba:
perceba:
(S
(S +
+ T)
T) –– (I
(I +
+ G)
G) =
= (X
(X –– M)
M) (4a)
(4a)
O DÉFICIT
PÚBLICO
Ou
Ou seja:
seja: se
se o
o nível
nível de
de poupança
poupança da da população
população e eaa receita
receita advinda
advinda
dos impostos (mecanismos de financiamento)
dos impostos (mecanismos de financiamento) superarem superarem
Ocorre quando os
gastos do governo os
os investimentos
investimentos feitos
feitos pelas
pelas empresas
empresas e e os
os gastos
gastos do
do
são superiores ao governo
governo (gastos internos), teremos maior produção e, por
(gastos internos), teremos maior produção e, por
que ele arrecada com conseguinte,
impostos. Ou seja, conseguinte, melhores
melhores condições
condições para
para exportar.
exportar. No
No caso
caso
quando o governo
contrário,
contrário, teremos
teremos carência
carência de de recursos,
recursos, oo que
que nos
nos
gasta mais do que levará a importá-los.
levará a importá-los.
arrecada. Para
Para que
que fique
fique mais
mais claro,
claro, um
um país
país será
será
exportador de recursos
exportador de recursos
62 CEDERJ
3
para
para oo resto
resto do do mundo
mundo quando quando suasua
atividade
atividade econômica apresentar um
econômica apresentar um bom
bom nível
AULA
nível
de
de poupança
poupança e/ou
e/ou umum governo
governo sem sem déficits
déficits em
em seu
seu “caixa”.
“caixa”. De
De
outro modo, um país com D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente
outro modo, um país com D É F I C I T P Ú B L I C O e nível de poupança insuficiente
para
para contrabalançar
contrabalançar osos investimentos
investimentos privados privados terá terá necessariamente
necessariamente um um nível
nível de
de
importações maior do que o de exportações.
importações maior do que o de exportações. Como assim? Como assim?
Pense:
Pense: se
se um
um país
país está
está consumindo
consumindo mais mais do do que
que produz,
produz, é é preciso
preciso que
que alguém
alguém
(o exterior) esteja fornecendo parte desse produto.
(o exterior) esteja fornecendo parte desse produto. Vale registrar Vale registrar
que
que tal
tal situação
situação ocorreu
ocorreu no no Brasil
Brasil durante
durante a a década
década
de 80 do século
de 80 do século passado. passado.
DA = C + I + G.
Y = DA = C + I + G (5).
A equação (5) é a forma simplificada da equação (1), que continha
as exportações líquidas.
CEDERJ 63
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
64 CEDERJ
Veja um exemplo: uma pessoa poupa dez reais. Quando poupa
3
(ou aplica) essa importância, a agência bancária, como intermediário
AULA
financeiro, tenta emprestar os dez reais para alguém, que pode ser um
empresário que precise do dinheiro para investir. Nesse caso, o que a
pessoa deixou de consumir para poupar deverá ser gasto pelo empresário,
sob forma de investimentos. Daí o equilíbrio.
Atividade 2
Poupança, um negócio do Japão 1 2 3
Agora responda: que ligação você percebe entre o hábito de poupar e o crescimento
econômico?
______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
A poupança (ou o que podemos chamar “taxa de poupança bruta”) é o resultado da conta
“renda menos consumo e impostos”. Quando uma pessoa poupa, ela deixa seu dinheiro
no banco. Este disponibiliza tal quantia para empréstimos. Parte desses empréstimos deve
se destinar a empresários que precisem investir para aumentar a produção, mas que não
disponham dos recursos. Assim, quanto maior a taxa de poupança de uma população maior a
possibilidade de financiamento dos investimentos. E quanto maior o investimento maiores serão
a produção e o emprego gerados no futuro. A partir daí, gera-se mais crescimento econômico.
O Japão, por exemplo, tem uma das maiores taxas de poupança do mundo.
CEDERJ 65
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
!
menores do que os planejados.
Ir = Ip?
Atividade 3
Brasil, país do futuro 1 2 3
66 CEDERJ
3
De posse desses fatos “históricos”, analise esses dados “concretos”:
AULA
O Estado brasileiro gasta 30 bilhões de neorreais ao ano.
O nível de poupança do Brasil está na casa dos 60 bilhões de neorreais.
Os impostos pagos ao Estado chegam à marca dos 80 bilhões de neorreais.
Agora responda: diante desse quadro, de quanto os empresários dispõem para investir
na potente indústria nacional?
Resposta Comentada
Antes de mais nada, vale comentar que o primeiro dado, sobre a auto-suficiência do Brasil
na produção de petróleo, é real. Agora vamos em frente: ao longo desta aula, você trabalhou
em cima da substituição dos fatores que compunham a seguinte equação: PIB = consumo +
investimentos + gastos do governo + exportações líquidas (PIB = C + I + G + (X – M) (1)).
Viu também que, em uma economia em equilíbrio, o PIB se iguala à renda e à demanda
agregada (PIB = Y = DA). Viu ainda que a renda das famílias se desdobra em consumo,
poupança e impostos. Logo,
PIB = Y = DA = C + I + G + (X – M)
Y=C+S+T
C + S + T = C + I + G + (X – M)
S + T = I + G + (X – M)
Mas como já definimos que o “novo Brasil” não importa nem exporta,
S+T=I+G
CONCLUSÃO
CEDERJ 67
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
Atividades Finais
1. Dados do IBGE informam que a participação do consumo no PIB brasileiro caiu de
58% em 2003 para 55,3% em 2004. A média histórica da participação do consumo é
de cerca de 65%. Considerando que o IBGE acusou, no período, um crescimento do
PIB de 4%, comente se essa redução do consumo representa uma perda de bem-estar
das famílias.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Não necessariamente. O consumo pode aumentar, ainda que em proporção ao PIB ele diminua
(dados mostram elevação de 4% do consumo em 2004). Se o consumo cai em proporção ao
PIB, a taxa de poupança pode ter aumentado. Se esta última foi maior que a taxa de investimento
(FBCF), então a taxa a mais de poupança foi destinada a financiar os gastos do governo (déficit
público) ou foi enviada ao exterior (por exemplo, para reduzir a dívida externa).
Sobre o panorama descrito, que se refere ao caso real brasileiro, saiba: segundo declarou o
economista Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA), em entrevista ao jornal Valor Econômico (5/4/2005), “a taxa de poupança é
muito importante porque mostra que o Brasil tem sido capaz de gerar domesticamente a poupança
necessária aos investimentos”.
Pelos dados do IBGE, a taxa de investimentos contabilizada (apenas) pelo FBCF foi 0de 19,6%, e
a da poupança, de 23,2%. Em termos de dados macroeconômicos, essa situação é confortável,
pois indica que o investimento privado não precisou de recursos externos e que a poupança
interna deve ter contribuído para melhorar as contas externas.
68 CEDERJ
3
Para ser uma situação negativa, o nível de consumo das famílias precisa estar abaixo de um patamar
AULA
socialmente aceitável. Ainda assim, lembre-se de que níveis elevados de poupança e de investimento
são elementos favoráveis ao crescimento econômico, e que, no longo prazo, permitem elevar o
padrão de vida da população.
2. Reflita: o investimento em estoques pode assumir valor negativo? Em que caso isso
ocorre?
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Sim, investimentos em estoques representam os produtos que foram produzidos porém não
vendidos ou utilizados em determinado período. Quando ocorrer o contrário disso, ou seja, bens
que sejam vendidos sem que tenham sido produzidos naquele período, tem-se o investimento
em estoque negativo. Para que isso ocorra, basta que a demanda seja maior do que a produção
planejada. Nesse caso, os empresários procurarão atender a esse excesso de demanda com
a venda de seus estoques.
RESUMO
CEDERJ 69
Análise Macroeconômica | O PIB e os componentes da demanda agregada
LEITURA RECOMENDADA
Nesta aula foi citado o FMI. Se você quiser saber um pouco mais sobre o
que faz o Fundo Monetário Internacional, bem como ter acesso a dados de
outros países, visite o site do fundo: www.imf.org (em inglês).
70 CEDERJ
4
AULA
Determinação da renda e da
produção de equilíbrio
Meta da aula
Descrever o modelo simplificado de
determinação da renda de equilíbrio.
2
identificar o valor da renda de equilíbrio, o nível
de poupança (na condição de equilíbrio) e o efeito
do aumento da poupança na economia de uma nação;
analisar o processo de multiplicação de renda
3
a partir da comparação entre diferentes tipos
de multiplicadores;
4
aplicar o modelo keynesiano a situações hipotéticas
dentro da economia de um país.
Pré-requisito
Esta aula utiliza os conceitos apresentados na Aula 3,
além de fazer uma aplicação da soma de uma extensa
série de termos. Caso alguma dificuldade persista
após o término desta aula, uma breve consulta aos
elementos que compõem o cálculo do PIB pode ajudar.
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
INTRODUÇÃO
72 CEDERJ
?
4
AULA
Renomado economista
inglês, John Maynard Keynes
publicou, em 1936, sua Teoria geral
do emprego, do juro e do dinheiro.
A obra aborda temas contemporâneos ao
período entre guerras, quando uma severa crise
econômica espalhava-se pelo mundo. Para ele, o
alto desemprego decorrente da Grande Depressão,
no final dos anos 20, era devido à insuficiência
generalizada da demanda agregada na tarefa de
absorver o total de bens e serviços produzidos ao
redor do mundo. Dado o quadro de grave recessão,
não havia quem estivesse propenso a adquirir o que
era produzido. Para Keynes, a demanda agregada
era baixa principalmente por conta do baixo
nível de investimentos. Segundo o economista,
Figura 4.2: John Maynard a receita para restabelecer a prosperidade
Keynes (1883-1946). estaria no papel dos gastos do governo,
que, alcançando patamares mais altos,
impulsionariam a produção e o
emprego, permitindo que a
economia retomasse o rumo
do crescimento.
O CONSUMO
CEDERJ 73
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
74 CEDERJ
além de sua renda, como por exemplo sacar dinheiro de uma poupança
4
para atender ao seu consumo básico.
AULA
Tabela 4.1: Diferentes valores de consumo e de poupança estimados a partir da
variação na renda anual esperada por um indivíduo. Conforme aumenta a renda
anual, também aumenta o consumo até que se atinja uma situação em que é
possível poupar.
Renda anual
Consumo anual Poupança anual
esperada
(em R$) (em R$)
(em R$)
10.000 12.500 -2.500
12.000 14.000 -2.000
20.000 20.000 0
30.000 27.500 2.500
!
especial: a P ROPENSÃO MARGINAL A CONSUMIR ou (PMc). consumo aumenta,
dados os limites da
renda, a propensão
marginal a consumir
diminui. Um
A propensão marginal indivíduo que tenha
a consumir pode ser calculada da ganhos bastante
seguinte maneira: limitados, após suprir
suas necessidades
(1) PMc = (mudança no consumo) /
básicas, terá uma
(mudança na renda) propensão marginal
próxima de zero.
CEDERJ 75
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
O CONSUMO AUTÔNOMO
C representa o consumo;
Co representa a parcela de consumo que não depende
da renda, ou seja, o consumo autônomo e se refere aos
gastos essenciais (arroz, feijão, conta de luz etc.);
c mede a variação do consumo em relação à variação da
renda, a propensão marginal a consumir (PMc).
Y é a renda esperada.
76 CEDERJ
A RENDA DISPONÍVEL
4
AULA
A partir deste ponto da aula, podemos refinar ainda mais o
conceito de renda. Na aula passada, vimos que a renda tem três destinos
possíveis: consumo, poupança e pagamentos de impostos. Chamemos
então de renda disponível tudo o que resta às famílias, descontados dos
ganhos totais os impostos diretos (imposto de renda, CPMF etc.), ou
seja, vamos assumir que a renda disponível, que pode ser revertida para
o consumo ou para a poupança, é a principal variável envolvida na
determinação do nível de gastos (ou consumo) de um indivíduo. É certo
que outras variáveis, como a taxa de juros, também afetam o consumo,
mas, neste modelo simples, apenas a renda será considerada.
Para resumir o parágrafo anterior, modificamos um pouco a
expressão matemática que havíamos apresentado anteriormente e
descrevemos o consumo como uma função que depende da renda
disponível, como se segue:
!
C = Co + cYd
A única diferença
entre esta expressão e a anterior
é justamente a forma como a renda
é expressa: Yd é a renda disponível, ou
seja, a renda apropriada pelas famílias,
descontados os impostos diretos
pagos ao governo.
POUPAR OU CONSUMIR?
CEDERJ 77
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
normalmente faz com que uma parte seja direcionada ao consumo e que
outra vá para a poupança (lembre-se de que não existe outro destino
da renda que não seja um desses dois, a menos que se rasgue dinheiro,
o que não seria um comportamento racional). Perceba que alguém que
ganhe muito pouco provavelmente destinará grande parte ou a totalidade
de uma variação positiva da renda ao consumo, a fim de satisfazer suas
necessidades, enquanto outra pessoa que seja muito bem remunerada
tenderá a destinar seus novos ganhos à poupança.
Além do conceito de propensão marginal a consumir, os
economistas também se referem à propensão marginal a poupar, que
representa a fração da renda adicional que uma pessoa destina à
poupança. Uma vez que as pessoas ou gastam ou poupam sua renda
adicional, a soma da propensão marginal a consumir com a propensão
marginal a poupar deve ser equivalente a 1. Vamos entender melhor
essa idéia?
O valor da propensão marginal a consumir normalmente está
entre 0 e 1. Como a PMc é uma fração, o valor 1 indica que nenhuma
parcela da renda adicional será poupada; toda a quantia será gasta.
Para você não ter dúvidas quanto a esses valores, basta lembrar que
a propensão marginal a consumir é calculada dividindo-se a mudança
no consumo pela mudança na renda. Se minha renda adicional foi de
R$ 1.000, e eu gastá-la por completo (-R$ 1.000), o resultado da divisão é
1 (1.000/1.000). Para algumas pessoas, o valor de PMc igual a 1 é razoável,
e significa que toda a renda adicional recebida é gasta. Para outras, o valor
0 também é razoável, e significa que uma renda adicional de R$ 1.000 foi
integralmente destinada à poupança (0/100), na Tabela 4.1, a PMc era
igual a 3⁄4, ou seja, 1⁄4 da renda adicional não foi gasto, mas destinado
!
à poupança.
78 CEDERJ
Pensando em termos nacionais, se a propensão marginal do país
4
para o consumo for de, digamos, 0,8, e se a renda nacional variar 10 u.m.
AULA
(10 unidades monetárias, uma moeda qualquer), o consumo agregado
no país deverá aumentar 8 u.m.. Simples, concorda? Exatamente o
mesmo cálculo que fizemos anteriormente, levando em conta apenas
um indivíduo.
Em suma: vimos que um aumento da renda disponível pode se
reverter para o consumo. Vimos também que há um segundo caminho,
a poupança. Como o aumento da renda se converte em mais consumo e
mais poupança, o que não for destinado ao consumo vai necessariamente
para a poupança, e vice-versa.
Disto resulta:
c+s=1
Nessa equação, a nova variável s (do inglês savings) é a propensão
marginal a poupar, que significa a parcela da variação da renda que será
destinada à poupança.
Atividade 1
Consumir ou poupar? 1
Explique, no nível de compreensão de uma pessoa leiga, como é que, pela teoria
keynesiana, um aumento no consumo autônomo de R$ 10,00 pode resultar em um
aumento nas vendas totais de uma economia em mais de R$ 10,00.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Uma pessoa, ao comprar um produto, gera renda para quem vende. Esta última irá gastar
parte do que recebeu efetuando outras compras. E esse comportamento se repete até que
esse processo termine, ou seja, quando as vendas adicionais cessarem. Espera-se que as
novas compras diminuam a cada fase, posto que nem toda renda é gasta; parte dela pode
ser utilizada para poupar ou importar.
CEDERJ 79
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
A função poupança
80 CEDERJ
refere aos gastos essenciais. Um indivíduo sem renda não poderá gastar
4
com nada que não se encaixe nesse tipo de despesa.
AULA
Atividade 2
Se a função consumo é dada por C = 60 + 0,5 (Y - T), expresse a função poupança
correspondente. 2
Resposta
A poupança é obtida por Y – C.
S = Y - 60 + 0,5 (Y - T) = - 60 + 0,5(Y - T)
A RENDA DE EQUILÍBRIO
Renda anual
Consumo anual Poupança anual
esperada
(em R$) (em R$)
(em R$)
10.000 12.500 -2.500
12.000 14.000 -2.000
20.000 20.000 0
30.000 27.500 2.500
CEDERJ 81
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
82 CEDERJ
A renda de um país, portanto, deve ser considerada a partir da
4
incorporação dos investimentos empresariais e dos gastos governamentais,
AULA
além do consumo nacional, naturalmente: I + G + C (Investimento +
Gasto + Consumo).
Voltando à questão do equilíbrio, nós argumentamos que tal
situação, no modelo keynesiano, é aquela em que a renda esperada é
igual à renda obtida. Uma outra maneira de olharmos para essa condição
é considerar que a renda esperada é determinada por três fatores: os
impostos (que afetam a renda negativamente, diminuindo-a), o consumo
e a poupança esperada, ou:
Yexp = T + C + Sexp
T + C + Sexp = C + I + G
CEDERJ 83
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Gastos Investimentos
governamentais
Renda de equilíbrio
Impostos Poupança
84 CEDERJ
Agora vamos imaginar um incremento em qualquer item dos
4
gastos autônomos, como por exemplo gastos governamentais, que
AULA
representam uma entrada de renda no sistema. Essa despesa adicional
do governo indica que alguém está recebendo mais renda. Vamos
retomar o processo que discutimos anteriormente nesta aula. Diante de
um aumento de renda, o indivíduo eleva seu consumo de acordo com
sua propensão marginal a consumir, lembra? Isso significa que, além
desse indivíduo, haverá outras pessoas se beneficiando desse consumo
adicional por meio do recebimento de renda. Essas pessoas, por sua vez,
também gastarão essa renda com mais consumo, dada a sua propensão
a consumir. Daí em diante, outras pessoas receberão como renda tais
aumentos de consumo, e assim sucessivamente. Da mesma forma ocorre
quando o governo incrementa a renda do sistema com o aumento de
gastos (como infra-estrutura, por exemplo).
Na situação descrita, um aumento nos gastos autônomos gerou
um efeito multiplicador sobre o consumo, o que, por sua vez, acarreta
uma diminuição não planejada nos estoques de diferentes produtos, e
assim surge a necessidade de uma nova produção por parte das empresas,
alterando o sistema econômico e conduzindo a uma nova condição de
!
equilíbrio de renda.
CEDERJ 85
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
1
1− c e Co – cT + I + G
1
O primeiro termo ( ) é chamado multiplicador dos gastos
1− c
autônomos (m). Ele recebe esse nome porque o valor da renda de
equilíbrio será m vezes o valor dos componentes autônomos da equação
(consumo, gastos governamentais etc.), representados pelo segundo termo
(Co – cT + I + G).
O multiplicador dos gastos mostra o efeito de uma variação nos
gastos autônomos sob a forma de uma variação ainda maior na renda.
Como a fração será sempre um valor maior que um (daí se chamar
multiplicador), o produto dessa fração pela variação nos gastos autônomos
naturalmente resultará em um aumento na renda de equilíbrio maior do
que apenas a elevação dos gastos autônomos propriamente ditos.
Ficou mais fácil entender a equação agora? Então voltemos a ela:
1
Ye = (Co − cT + 1 + G )
1− c
86 CEDERJ
Como mencionamos, o segundo termo do lado direito dessa
4
equação diz respeito aos gastos autônomos. Em termos matemáticos,
AULA
podemos perceber com essa equação que a renda de equilíbrio varia
linearmente em função da variável T (os impostos). Como o coeficiente
que acompanha o termo linear T é negativo (-c), a renda de equilíbrio
diminui linearmente à medida que o valor de T aumenta. Em termos
concretos, isso equivale a dizer que quanto mais se aumentam os
impostos, menor será a renda disponível para o consumo e, assim,
menor será a renda de equilíbrio.
Atividade 3
Mexendo na poupança 3
Y=C+I+G
C = 100 + 0,8 Y
I = 150
G = 50
T=0
determine:
c. Suponha que foi feita uma campanha nacional para que todos poupem mais (elevem
sua taxa de poupança). Sendo bem-sucedida tal campanha e considerando que os gastos
autônomos serão os mesmos, qual seria o efeito dessa campanha sobre a renda ou o
produto dessa nação?
CEDERJ 87
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
Resposta Comentada
Observando que Y nesta questão é a renda disponível, a letra a é resolvida utilizando a
1
equação ( Ye = (Co − cT + 1 +),Gda
) qual resulta que a renda de equilíbrio deve ter valor
1− c
de 1.500 u.m.
A função poupança dada pela equação S = – Co + (1- c)Yd, por sua vez, determina o nível
de poupança em 200 u.m.
Por fim, vamos à resposta da letra c: um aumento da propensão a poupar acarreta simultânea
diminuição na propensão a consumir (lembre-se de que elas estão inversamente relacionadas).
Em outras palavras, se as pessoas estão poupando um pouco mais com o mesmo salário
que recebem, apenas o valor de C se alterou (nesse caso, diminuiu). O consumo diminui e no
final a renda de equilíbrio também cairá, dado que o multiplicador diminuiu. Isto é conhecido
como paradoxo da parcimônia. Com base nesta atividade, podemos constatar que o nível da
renda de equilíbrio dado pela equação depende da propensão marginal a consumir e dos
componentes dos gastos autônomos. Quanto maior o valor de algum desses itens, tanto maior
será o valor da renda de equilíbrio.
1
Ye = (Co − cT + 1 + G )
1− c
Como você sabe, mudanças, em qualquer variável, são
representadas pelo símbolo ∆ (delta). Dessa forma, se considerássemos
que todos os elementos constitutivos dos gastos estivessem variando, a
variação da renda de equilíbrio seria representada da seguinte forma:
88 CEDERJ
∆Y = 1 (– c∆T) = – c ∆T
4
1– c 1– c
AULA
Ou ainda:
∆Y −c
=
∆T 1 − c
CEDERJ 89
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
1
Ye = (Co + 1 + G )
1 − c (1 − t )
Co, I e G, como já vimos, são os gastos autônomos. Continuamos
a ter um efeito multiplicador representado (1 / 1 – c (1 – t) que, nesse
caso, assume um valor diferente (menor) que o multiplicador anterior.
Todo esse desenvolvimento foi para você perceber que as relações
implicadas na equação anterior nos dizem que toda vez que haja uma
mudança nos gastos autônomos, toda vez que estes aumentem a renda, os
impostos absorverão parte dessa renda, limitando o consumo adicional.
Atividade 4
Certo como a morte e os impostos
Y = C+ I + G
C = 100 + 0,8 Yd
I = 150
G = 50
T= t Y = 0,3Y
Resposta Comentada
Y = 100 + 0,8 (Y – 0,3) + 150 + 50
1
Ye = (300) = 681,8
1- 0,8(1- 0, 3)
90 CEDERJ
O SETOR EXTERNO NA DETERMINAÇÃO DA RENDA
4
AULA
Até aqui, estamos tratando de um sistema econômico fechado ou
que trave todas as suas relações econômicas com outros países. Quando
o setor externo é levado em consideração no modelo keynesiano, admite-se
que as importações são dependentes do nível de renda da população.
Seguindo esse raciocínio, à medida que os indivíduos vão aumentando sua
renda, mais bens importados são adquiridos. Desse modo, considera-se
que as importações são uma função crescente da renda.
Veja como: considere as exportações como dependentes da demanda
de outros países, isto é, imagine que as exportações não sejam alteradas
por nenhuma variável composta na equação da renda de equilíbrio VA R I Á V E L
ENDÓGENA E
(ou seja, as exportações são uma variável E X Ó G E N A ). Elas dependem apenas
EXÓGENA
de indivíduos inseridos em outro sistema econômico que apresentem
Diz-se que uma
propensão a adquirir nossos produtos nacionais. Como vimos na aula variável é endógena
quando seu valor
anterior, o saldo das relações econômicas de bens e serviços externos é determinado no
interior do modelo.
de uma economia é denominado Balanço das Transações Correntes.
A variável é exógena
É o saldo de movimentos da balança comercial (exportações menos quando seu valor
importações) e de serviços como pagamento de juros da dívida externa.
não é determinado
CEDERJ 91
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
92 CEDERJ
consumir com a propensão marginal a poupar e a importar assume o
4
valor 1. Isto decorre do fato de que uma unidade a mais de renda é
AULA
∆C
destinada ao consumo de produtos nacionais ( = c ) e/ou produtos
∆M ∆S ∆Y
importados = m ) ou à poupança ( = s ). Isso significa dizer que,
∆Y ∆Y
uma vez que há um acréscimo de renda, só existem três maneiras de
utilizá-las: consumindo nacionalmente, poupando ou importando – a
soma dos três assume o valor 1. Isto é: c + s + m = 1.
CONCLUSÃO
Atividades Finais
Desconstruindo o país
Investimentos = 50;
Impostos =10;
CEDERJ 93
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
2. Imagine que haja uma denúncia de que terroristas estariam sabotando os produtos
de todos os países que exportam para o Brasil. Se os brasileiros tomarem essa notícia
como verdadeira, qual seria o resultado disso em termos do valor da renda nacional?
E qual seria o efeito sobre o multiplicador dos gastos externos?
94 CEDERJ
4
Respostas Comentadas
AULA
1. a. nível da renda de equilíbrio
O multiplicador:
2. A renda nacional aumentaria, posto que a parcela de compras com produtos importados
tenderia, em parte, a ser destinada a produtos nacionais. Assim, aumentaria a demanda agregada
por produtos nacionais. O multiplicador, por sua vez, diminuiria, pois na sua composição carrega
a propensão marginal a importar, que nesse caso estaria reduzida. Como a propensão a importar
diminuiu, o valor do multiplicador aumenta.
3. Suponha que as firmas estejam produzindo com todos os seus recursos disponíveis. Assim, se
houver novos pedidos de produção, as empresas terão de adquirir novos recursos, com grandes
possibilidades de terem custos adicionais. Estes serão repassados aos preços, de forma a inibir (pelo
menos em parte) o crescimento da demanda. Em situação de capacidade ociosa, os empresários
só precisariam dar ordens de elevação na produção, sem necessidade de elevar preços. Quanto
mais intensa a capacidade ociosa, menos necessidade o empresário terá de aumentar preços.
4. Se a oferta em determinado ano for superior à demanda, haverá uma acumulação involuntária
nos estoques das empresas. No ano seguinte, os empresários produzirão um volume menor,
para diminuir o total de estoques e ajustar sua produção ao volume demandado. Há uma
tendência ao ajuste da oferta em relação à demanda.
CEDERJ 95
Análise Macroeconômica | Determinação da renda e da produção de equilíbrio
RESUMO
LEITURA RECOMENDADA
96 CEDERJ
5
AULA
Os investimentos
e as taxas de juros
Meta da aula
Explicar a influência das taxas de juros
e da inflação sobre os investimentos
realizados pelas empresas.
Pré-requisito
Ajuda a compreender esta aula uma
breve revisão da tabela que mostra o PIB
brasileiro desmembrado (Aula 3) e o modelo
keynesiano, apresentado na Aula 4.
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
INTRODUÇÃO
98 CEDERJ
Podemos dividir os investimentos em duas fases:
5
A primeira ocorre quando há despesas com a compra de capital,
AULA
o que impulsiona a demanda agregada (ainda não há o resultado dos
investimentos em termos de aumento da produção). A segunda se nota
após a maturação dos investimentos, o que resulta em aumento da
produção (oferta agregada) e da capacidade produtiva da economia.
Ou seja, você pode entender o investimento também como a ação
que eleva a oferta agregada e o estoque de capital no sistema econômico.
São exemplos disso os gastos com instalações industriais, aquisições de
máquinas ou equipamentos, variações de estoques etc.
Saiba ainda que o investimento pode ter duas dimensões: pode
ser bruto ou líquido. Considerando que o estoque de capital também
se deprecia, a diferença entre investimento bruto e líquido é dada pelo
montante de investimento destinado a cobrir o que se desgasta ao longo
do tempo, ou seja, a depreciação.
A equação a seguir mostra a relação entre investimento bruto e
líquido.
IL = IB – D
sendo:
IL = investimento líquido
IB = investimento bruto
D = taxa do estoque de capital depreciado no período.
IL = 10 – 0,1 (10) = 90
onde:
Kt = o estoque de capital no período t
Kt-1 = o estoque de capital no período t-1 (período anterior a t)
CEDERJ 99
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
(4)
100 C E D E R J
Você deve observar que, quando há um gasto com investimentos, a
5
renda e o produto deverão aumentar por conta do multiplicador dos gastos
AULA
(lembre-se do que vimos na aula anterior sobre o modelo keynesiano). Agora
estamos falando que, quando o produto aumenta, os investimentos também
aumentam. Ou seja, desencadeia-se um processo de aceleração, já que, ao
elevar o estoque de capital, a oferta de produto aumenta também.
O princípio acelerador dos investimentos estabelece que uma taxa
de crescimento do produto (PIB) causa uma elevação nos investimentos,
o que, por sua vez, aumenta os níveis de produto, o que acelera os
investimentos mais uma vez, como mostra a equação (4).
O gráfico a seguir apresenta a taxa média dos investimentos no
Brasil entre os anos de 1980 e 2000. Repare que, quanto mais alta a
taxa de investimentos, mais o Brasil esteve ampliando o seu potencial
de crescimento econômico.
25
20
15
10
0
1980 1985 1990 1995 2000
Fonte: Froyen (2001) Anos
Atividade 1
Invista em Marte 1 2
C E D E R J 101
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Qual produto dependerá de maior investimento bruto a fim de que sua demanda seja
atendida? De quanto deverá ser esse montante?
Qual produto apresentará investimento líquido mais próximo do bruto? Explicite ambos
os valores.
Resposta Comentada
Partindo do pressuposto de que tanto os satélites quanto as naves espaciais responderam
por RM$100 do PIB de Marte em 2055, podemos depreender que a demanda por satélites,
em 2056, passou a RM$ 103, enquanto a demanda por naves chegou a RM$ 101. Já vimos
que, no cálculo dos investimentos, há um importante fator chamado coeficiente da relação
entre capital e produto. Este índice visa a estipular quanto deve ser investido para que se
alcance uma unidade de produto. No caso dos satélites, é preciso que se invistam RM$ 412
para atender a uma demanda de RM$ 103. No caso das naves, basta que se invistam RM$
202 para que se atenda à demanda de RM$ 101. Logo, as naves dependem de menor
investimento bruto para que sua demanda seja atendida. No entanto, vimos que satélites
depreciam 10% ao ano, enquanto naves perdem 50% de seu valor no mesmo período. Logo,
se já aprendemos que o investimento líquido é o bruto descontado da taxa de depreciação,
chegamos ao resultado que diz que RM$ 412 investidos em satélites geram RM$ 370,8 de
investimento líquido. No caso das naves, RM$ 202 investidos (investimento bruto) geram
RM$ 101 de investimento líquido. Logo, os satélites apresentam uma relação mais
próxima entre investimento bruto e líquido.
102 C E D E R J
A TAXA DE JUROS
5
AULA
Já vimos que investir requer um desembolso financeiro inicial.
Uma empresa pode investir com recursos próprios ou de terceiros. Em
ambos os casos, a taxa de juros exerce um papel importante na decisão
de investir ou não. Veja como: se a empresa precisar recorrer aos bancos
para financiar a aquisição do nível de capital desejado, ela precisará
pagar os juros de tais empréstimos. Nesse caso, a taxa de juros será um
importante indicador dos custos de investir. Bastante claro, concorda?
Existe, no entanto, uma outra forma de fazer investimentos. Ela
ocorre quando a empresa dispõe de lucros do período anterior retidos em
nível suficiente para bancar seus gastos com investimentos. Ainda assim, a
taxa de juros afetará a decisão de investir. Isso ocorre porque
C E D E R J 103
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
r=n-π (5)
onde:
r = taxa real de juros
n = taxa nominal de juros
π = taxa de inflação
?
A equação das taxas
de juros nominal e real
104 C E D E R J
Por essa razão, os dispêndios com investimentos dependem da taxa
5
real de juros. Observe que, se a economia do país apresenta baixa taxa
AULA
de inflação, a diferença entre juros reais e nominais deverá ser pequena;
sendo assim, nesse caso, tanto faria entender os investimentos a partir
da taxa real ou da nominal.
Note que quanto maior e mais instável for a taxa de juros, maior
será a importância de distinguir os efeitos do juro nominal e do real
sobre novos investimentos.
Atividade 2
Os juros e o mercado 1 2 3
A partir desses dois fragmentos de notícia, determine a taxa de juros real do cheque
especial e verifique a diferença entre os valores das taxas de juros, considerando todos
os termos que a compõem e a equação que a define como um valor aproximado.
C E D E R J 105
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Resposta Comentada
n −π
A taxa de juros real, como já vimos, é dada por ρ = .
1+ π
Ou seja, a partir dos dados que apresentamos, temos:
0, 0779 − 0, 0268
ρ= = 0, 049766 ,
1 + 0, 0268
o que, em termos percentuais, corresponde a 4,9%.
Considerando o valor aproximado (numerador da equação acima), a taxa de juros real seria
0,0511, ou ainda 5,11%. Ou seja, tratamos aqui de uma diferença pouco significativa.
OS DETERMINANTES DO INVESTIMENTO
I = f ( Y , n, π, Kt-1) (7)
A equação (7) informa que o investimento depende das variáveis
nível de produto (Y), taxa de juros nominal (n), inflação (π) e estoque
de capital do período anterior (Kt-1).
A relação entre cada uma destas variáveis e o nível de investimento
é descrita a seguir:
• um aumento no nível do produto estimula os investimentos;
a elevação do produto se traduz em mais vendas e, assim, um estoque
adicional de capital é desejável;
• mantida fixa a taxa de inflação, quanto maior a taxa de juros,
maior será o custo de investir. Como efeito, será menor a motivação para
investir. Quanto menor a taxa de juros, menor será o custo de investir.
Como efeito, será maior a motivação para investir;
• mantida a taxa nominal de juros, uma elevação na taxa de
inflação diminui o valor real do que se pagará com os empréstimos para
investir. Como efeito, por estar mais barato investir, o nível desejado
de investimentos deve aumentar. E uma redução na taxa de inflação
aumenta o valor real do que se pagará com os empréstimos para investir;
conseqüentemente a tendência é de diminuir o nível de investimentos; e
• quanto menor o estoque de capital (no período anterior), maior
será a necessidade de investir para cada nível de produção desejada.
106 C E D E R J
Agora pense: um empresário percebe que a demanda pelos
5
seus produtos está aumentando e, assim, considera que é uma boa
AULA
oportunidade para realizar novos investimentos em sua fábrica. Ele
precisa recorrer aos bancos para financiar seus investimentos. A taxa
de juros é de 100% ao ano. O empresário espera que os preços dos seus
produtos subam 80%. Quanto ele estará pagando de juros reais?
A resposta é simples: o cálculo da taxa de juros real será a taxa de
juros nominal decrescida do índice de preços dos produtos do empresário,
ou seja, 20%.
Saiba, no entanto, que essa taxa não é a que normalmente se
chegaria, visto que não está sendo considerada a taxa de inflação.
Todavia, essa conta é mais apropriada para aquele empresário como
indicação do custo de investir. Isso ocorre porque o índice de preços
de seus produtos reflete com mais precisão o que ele receberá por seus
produtos para abater na taxa de juros nominal.
Veja outro exemplo: um empresário vai financiar a compra de
uma máquina no valor de 100 reais, com taxa de juros de 100%. No
momento do empréstimo, o preço do produto que vende é de 10 reais.
Então, o empréstimo representa o faturamento de dez produtos.
Suponha então que os preços dos seus produtos subirão 150%.
O que o empresário no final vai pagar com o empréstimo, 200 reais,
equivalerá a oito produtos. Isso reflete mais precisamente o custo de
investir do que se o empresário utilizasse a taxa de inflação do período,
que poderia diferir do aumento de preço daquele produto específico.
Lembre-se de que a inflação é uma média, é uma variável agregada.
C E D E R J 107
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
108 C E D E R J
No caso do período Collor, a taxa de juros nominal caiu, embora
5
tenha acompanhado a queda da taxa de inflação na mesma intensidade.
AULA
Isto quer dizer que a taxa de juros real (a que mede a variação do poder
aquisitivo) permaneceu a mesma.
Em termos reais, não houve qualquer vantagem ou desvantagem
em receber juros nominais mais elevados em ambiente de inflação mais
elevado. Diz-se que há uma ilusão monetária quando o individuo só
verifica a taxa de juros nominais e não percebe a taxa de juros real.
?
Variáveis reais e
nominais
Em economia, as variáveis podem
ser classificadas como nominais ou reais.
As variáveis nominais são aquelas expressas em
unidades monetárias. As reais são as expressas em
termos de poder aquisitivo ou poder de compra. As variáveis
reais são obtidas a partir das variáveis nominais. Para chegar à
variável real, basta dividi-la por um índice de preços (deflacionar)
e obtém-se a variável real. A tabela a seguir apresenta três das mais
conhecidas variáveis nominais/reais na economia.
C E D E R J 109
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
Atividade 3
Não se iluda 1 2 3
Reflita e responda: o que você prefere, um salário nominal maior ou um salário real
menor? Justifique sua resposta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Não é possível responder com precisão a essa questão sem que se tenha mais informações
sobre tais valores de salários. De qualquer forma, você pode argumentar o seguinte: o salário
nominal é apenas um número de unidades monetárias. O que vai dizer se esse número vale
muito ou pouco será o nível de preços. Afinal, de que adianta eu receber milhões de u.m.
se os preços das coisas são bem maiores? O salário real, por sua vez, refere-se justamente
ao poder de compra do meu salário. Assim, o salário real maior é garantia de maior poder
de compra do salário. Pode ocorrer uma situação de aumento de salário nominal de 40%
em período de 80% de taxa de inflação, ou redução do salário real em 10% sem qualquer
aumento de salário nominal, o que seria preferível à primeira, pois a redução do salário real
seria menor neste caso.
CONCLUSÃO
110 C E D E R J
Atividades Finais
5
AULA
1. Em determinado país, um trabalhador recebia salários mensais de
1 2 3
R$ 1.000. Um ano depois, seu salário foi para R$ 2.000, enquanto a
inflação atingiu a taxa de 80%. O que aconteceu com o salário nominal e o salário
real nesse caso?
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
3. Por que a taxa de juros é o custo de investir, mesmo se a empresa tiver recursos
próprios para tal?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Respostas Comentadas
1. O salário nominal aumentou em 100%. O salário real aumentou em 20%.
2. Sim, embora essa situação se refira a um equívoco da parte de quem empresta. Se a taxa real
de juros foi negativa, então o valor real do que se emprestou foi menor do que o valor do que se
recebeu com o fim do empréstimo. Sendo assim, quem emprestou perdeu. Isso ocorre quando
quem empresta não percebe ou erra na previsão da inflação que deve ocorrer no período de
vigência do empréstimo. Economicamente, ninguém estaria disposto a emprestar, digamos, a uma
taxa nominal de 10% se estiver imaginando que a taxa de inflação no mesmo período deverá ser
maior do que 10%.
C E D E R J 111
Análise Macroeconômica | Os investimentos e as taxas de juros
RESUMO
Os
Os investimentos
investimentos são
são importantes
importantes para
para o
o sistema
sistema econômico
econômico porque
porque são
são
um
um componente de demanda agregada (estimulam o crescimento do PIB
componente de demanda agregada (estimulam o crescimento do PIB
pelo
pelo lado
lado da
da demanda)
demanda) ee porque,
porque, por
por outro
outro lado,
lado, aumentam
aumentam a a capacidade
capacidade
produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.
produtiva da economia devido à elevação do seu estoque de capital.
Quando
Quando háhá aumento
aumento na
na produção,
produção, os
os empresários
empresários procuram
procuram manter
manter uma
uma
relação entre a produção e seu estoque de capital. Quando a produção
relação entre a produção e seu estoque de capital. Quando a produção
aumenta,
aumenta, o
o estoque
estoque de
de capital
capital desejado
desejado tende
tende a
a aumentar.
aumentar. Tal
Tal mudança
mudança
de estoque de capital é justamente o investimento.
de estoque de capital é justamente o investimento.
Os
Os mais
mais importantes
importantes fatores
fatores que
que influenciam
influenciam o
o nível
nível de
de investimentos
investimentos são:
são: a
a
taxa real de juros – que por sua vez depende da taxa nominal e da inflação
taxa real de juros – que por sua vez depende da taxa nominal e da inflação
—
—e eoo crescimento
crescimento do
do produto.
produto.
A
A existência da inflação faz
existência da inflação faz nascer
nascer dois
dois conceitos
conceitos de
de taxas
taxas de
de juros:
juros: a
a
primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo
primeira é a taxa nominal, que nada mais é do que aquela divulgada pelo
comércio
comércio e e pelos
pelos bancos.
bancos. A
A segunda
segunda é
éaa taxa
taxa real,
real, que
que considera
considera o
o poder
poder
aquisitivo
aquisitivo da
da moeda
moeda ao
ao longo
longo do
do período
período dos
dos empréstimos.
empréstimos. AA taxa
taxa real
real
é
é aproximadamente
aproximadamente igual
igual àà taxa
taxa nominal
nominal decrescida
decrescida da
da taxa
taxa de
de inflação.
inflação.
Quanto
Quanto mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.
mais elevada for a taxa de investimento, mais o país poderá crescer.
Sem
Sem investimento,
investimento, não
não há
há como
como obter
obter crescimento
crescimento econômico
econômico durável.
durável. Em
Em
outras
outras palavras,
palavras, “o
“o investimento
investimento é
éaa alma
alma do
do crescimento
crescimento econômico”.
econômico”.
112 C E D E R J
6
AULA
O sistema monetário
Meta da aula
Descrever o funcionamento básico do sistema monetário.
O QUE É MOEDA?
114 C E D E R J
lhe forneça pão. Ao trabalhar como professor, você será capaz de, com
6
o seu salário, adquirir pão. Se não houvesse a moeda, não haveria essa
AULA
intermediação de troca; você teria de encontrar um padeiro de desejasse
aprender o que você ensina.
Com a moeda, portanto, as trocas são indiretas: o professor dá
aulas (ou troca aulas por dinheiro) e depois troca dinheiro por pão.
É por todos aceitarem o dinheiro que se diz que a moeda é um meio
de troca, isto é, a intermediação pode ser também compreendida como
a moeda exercendo a função de meio de troca.
A função da moeda como unidade de conta deriva do fato de que
ela expressa os valores das mercadorias e de todos os ativos em geral
pela sua própria unidade. Veja um exemplo: quando você vai a um
supermercado, observa o preço do arroz em unidades monetárias (por
exemplo, R$ 2,00 por quilo) em vez de, digamos, “meio quilo de alcatra”.
Os preços “de tudo” estão em termos da unidade de conta (unidade
monetária) da moeda. Esta é, portanto, uma atribuição da moeda: cotar
os valores (unidade de conta) em unidades monetárias.
Por último, como reserva de valor, a moeda pode ser utilizada em
vários períodos de tempo. A pessoa com a posse da moeda pode utilizá-la
no futuro. Como assim?
Quando você recebe o seu salário em dinheiro, pode guardá-lo
para gastar mais tarde. Então, a moeda serve como uma reserva de valor;
pode-se transferir o poder de compra do presente para uma outra data
no futuro.
Você deve observar que o valor da moeda (poder aquisitivo) é
inversamente proporcional ao nível de preços. Toda vez que o nível
de preços sobe, simultaneamente o valor da moeda é reduzido. E se os
preços recuam, o valor da moeda aumenta. Ou seja:
1
M= ,
P
onde M e P representam, respectivamente, o valor da moeda e o
nível de preços.
Quando há inflação, a quantidade de dinheiro que você mantém
no bolso continua a mesma; porém, o poder aquisitivo dela diminui na
mesma proporção em que aumentam os preços dos produtos que você
consome. Com isso, você já pode entender por que, em períodos de alta
C E D E R J 115
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
Atividade 1
Vamos pegar um cineminha? 1
Não é novidade que Gerson está de olho em Marinalva. Mas ontem foi diferente: o
homem reuniu coragem, livrou-se da timidez e convidou a moça para uma sessão de
cinema. Sorte que Marinalva aceitou prontamente. O programa, segundo ele, transcorreu
muito bem. Hoje Gerson contou que estão namorando.
Agora pense: quais foram as funções da moeda utilizadas nessa situação? Justifique
sua resposta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
No exato momento da compra dos ingressos, o dinheiro de Gerson atuou como meio de
troca. Foi com dinheiro que o rapaz conseguiu os ingressos, percebeu? Talvez, no entanto,
antes do convite, dado seu interesse em Marinalva, Gerson tenha procurado saber quanto
custava o cinema. Naquele instante, a moeda lhe serviu como unidade de valor (ou conta).
Veja: para calcular quanto seria gasto com sua paquera, Gerson precisou utilizar a unidade
que lhe serve de referência em todos os momentos em que pretende adquirir um bem ou
serviço. Mas há ainda mais: se Gerson guardou um pouco mais de dinheiro, especulando
que poderiam ocorrer outras distrações após o cinema, esse dinheiro de reserva serviu à
função de reserva de valor.
Atividade 2
Moedas brasileiras 1
O Brasil já passou por vários períodos de alta inflação. Em vários meses, a taxa de inflação
mensal ultrapassou os 50%, o que já é considerado uma situação de hiperinflação.
116 C E D E R J
De posse dessas informações, você seria capaz de responder como e quais funções da
moeda são destruídas quando se tem uma inflação demasiadamente alta, como a que
6
ocorreu no Brasil dos anos 1980 e da primeira metade da década de 1990? Justifique
AULA
sua resposta.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Quando a inflação é muito alta, em primeiro lugar é a função de unidade de reserva da
moeda que se deteriora: ninguém vai querer guardar moeda para transações futuras se os
preços crescem a cada instante. Nesses casos, as pessoas procuram antecipar as compras
e fazer estoques. Esse fenômeno foi percebido naquela época, quando, nos primeiros dias
dos meses (quando são pagos os salários), os supermercados andavam lotados, o que
contrastava com os corredores às moscas nas últimas semanas do mês. Com a incidência e
a elevação persistente da inflação, a referência de preços pela moeda nacional também vai
deixando de existir. Saiba que, no Brasil, na época de mais alta inflação, muitas mercadorias
foram cotadas em dólar ou até mesmo em títulos do governo, como as chamadas ORTNs
(Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional). A esse respeito, lembre-se de que, na época
próxima ao lançamento do Plano Real (primeiros meses de 1994), havia a URV (Unidade
Referencial de Valor), que servia para cotar os preços das mercadorias. Isto quer dizer que
se utilizava outro fator para servir de unidade de conta para os preços, e não a moeda
propriamente dita. Por fim, se continuasse o ritmo de hiperinflação, seria perfeitamente possível
que as pessoas rejeitassem a moeda como meio de troca, pois a assustadora elevação dos
preços fatalmente faria com que a moeda perdesse o valor rápida e profundamente. Assim,
a inflação é um fenômeno monetário que destrói as funções da moeda. Felizmente, o Brasil
parece ter se livrado do tsunami monetário que é a hiperinflação.
(1923) edina.ac.uk/eig
C E D E R J 117
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
118 C E D E R J
AS MOEDAS METÁLICAS E O PAPEL-MOEDA
6
AULA
Na época em que o ouro era utilizado como moeda metálica, não
havia problemas quanto à questão da aceitação universal deste metal. No
entanto, seu valor intrínseco estimulava que as pessoas lhe retirassem um
pedaço, antes de se desfazerem dela na hora das transações. Até mesmo o
governo lançava mão de políticas de redução do peso do ouro contido na
moeda como forma de aumentar a quantidade de moeda em circulação.
Outro problema que havia na época é que o transporte de grandes somas
em ouro causava um significativo volume de carga, o que facilitava os
VA L O R
assaltos e os saques em viagens (lembre-se dos filmes de faroeste, em que
INTRÍNSECO DA
os bandidos atacavam as diligências procurando os tesouros). MOEDA
C E D E R J 119
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
?
O fim do bimetalismo
e a história da “moeda má que
expulsa a boa”
Em meados do século XVII, o ministro francês Jean-Baptiste
Colbert exerceu grande influência sobre o sistema de moeda
chamado bimetalismo. Esse sistema significava a existência conjunta da
moeda-ouro e da moeda-prata. Como, à época, o ouro tinha maior valorização
e atração do que a prata, os indivíduos mantinham guardada a moeda-ouro o
máximo de tempo possível, procurando se desfazer apenas da moeda-prata. Isso fez
com que houvessse um certo transtorno por falta de moeda suficiente para atender às
necessidades de troca. Depois de muito tempo, tal fenômeno foi percebido e reconhecido
por Colbert como “moeda má que expulsa a boa”. Assim, extinguiu-se o bimetalismo para
dar lugar ao monometalismo (apenas uma moeda metálica).
Algo um pouco parecido com “a moeda má que expulsa a boa” ocorre quando o Banco
Central lança moedas que a população desaprova ou as cédulas demasiadamente
desgastadas ou a ponto de rasgar. As pessoas passam a “livrar-se” delas no primeiro
momento em que vão gastar. Quem as recebe procura fazer o mesmo. Perceba
que, algumas vezes, dentro de um ônibus, os cobradores procuram encher
sua mão de moedinhas e que você torce o nariz ao
recebê-las. Provavelmente, você trata de vingar-se, transferindo-as
ao cobrador da próxima viagem que fizer. Com um pouco
de exagero, pode-se dizer que, no ônibus,
“a moeda má expulsa a boa”.
A MOEDA ESCRITURAL
DEPÓSITO A
em seu banco comercial. Repare: você pode levar toda a sua riqueza em
PRAZO uma única folha de cheque, o que, na época da moeda-ouro, teria de ser
É aquele em que feito em enormes e pesadas malas. Tal praticidade é o que chamamos de
o cliente só pode
resgatar o que moeda escritural (ou depósitos à vista, como veremos a seguir).
depositou após um
certo período de O chamado depósito à vista representa o saldo em conta corrente
tempo estipulado. bancária que pode ser utilizado por meio de cheque para pagamentos ou
Por isso rende juros.
Os bancos utilizam recebimentos. Dessa forma, opõe-se ao que se chama DEPÓSITO A PRAZO.
esse recurso para
suas operações
de empréstimos e
aplicações em títulos. OS BANCOS COMERCIAIS
Um exemplo de
depósito a prazo é o Como você já viu, os cheques representam os valores relativos
CDB (Certificado de
Depósito Bancário). aos depósitos em conta corrente bancária. São os chamados depósitos
à vista. Basta apresentá-los ao caixa, que recebe o papel-moeda,
120 C E D E R J
no valor estipulado no cheque. Denomina-se banco comercial todo
6
AUTORIDADE
estabelecimento bancário autorizado pela AUTORIDADE MONETÁRIA a
AULA
MONETÁRIA
receber depósitos à vista. São exemplos: Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, É a instituição
designada para
Unibanco e tantos outros.
supervisionar e
A atividade principal de um banco comercial é realizar empréstimos. regular o sistema
monetário ou
Os bancos recebem depósitos à vista (e também a prazo) e deixam bancário. No
Brasil, o Banco
parte destes guardados sob a forma de reservas (também chamadas de Central exerce o
encaixes), precavendo-se de que os clientes que os depositaram possam papel de autoridade
monetária.
vir a precisar daquela parcela mantida em reservas. A outra parcela que
se estima que vá ficar sem uso pelos que depositaram é emprestada a
terceiros. Estes últimos pagam juros sobre o quanto estão solicitando
como empréstimo. Para os bancos, esses juros representam os ganhos
brutos com empréstimos.
?
Banco Central do Brasil
(Bacen)
Atividade 3
Pensando com a cabeça do banqueiro 2
Resposta Comentada
Já vimos que o saldo médio representa a parcela dos recursos depositados pelos clientes que
pode ser utilizada pelos bancos, já que fica ociosa na conta corrente. É desses recursos que
o banco se utiliza para fazer empréstimos a terceiros – recursos cujos juros representarão,
no final das contas, o lucro da instituição bancária.
A OFERTA DE MOEDA
Compreendidas as características e as funções da moeda e
analisados os princípios que regem a atividade bancária, veja agora
alguns conceitos que contribuirão para o entendimento dos mecanismos
que geram a oferta de moeda em um país.
A moeda, que nada mais é do que os meios de pagamento (M),
pode ser delimitada como o total do papel-moeda em poder do público
(PMPP) mais os depósitos à vista nos bancos comerciais. Ou seja:
M = PMPP + DVBC (1)
Definindo como Base Monetária (B) o PMPP e o total de reservas
mantidas pelos bancos comerciais (R), temos:
B = PMPP + R (2)
122 C E D E R J
M é um múltiplo de B (DVBC, como já vimos, é bem maior que
6
R). A diferença entre elas é justamente o fenômeno da multiplicação da
AULA
moeda decorrente das operações de empréstimos bancários.
Observe que PMPP é o volume do papel-moeda emitido menos
as reservas dos bancos.
A quebradeira
de bancos na crise dos anos 30
?
(Grande Depressão) e o feriado bancário.
Figura 6.3: Crianças posam para a câmera na extinta favela Biblioteca Franklin Delano/Roosevelt/EUA
de Hooverville, nascida às margens do rio Hudson, em Nova
York, durante o período da Grande Depressão.
No século passado, durante a famosa crise mundial que se deu entre o final dos anos 1920 e
início dos anos 1930, houve um grande corrida aos bancos americanos. Vários deles quebraram.
Os clientes, tomados de pânico pela notícia de que os bancos estavam falidos, resolveram
então, todos ao mesmo tempo, transformar seus depósitos em papel-moeda. Mesmo os
bancos em boa situação financeira não contiveram os inesperados saques e, por estarem com
apenas uma fração dos depósitos (as reservas) em caixa, não tiveram outra saída senão
fechar as portas. Este fato serviu de lição para as autoridades monetárias: em momentos
de desconfiança geral da população ou de grandes boatos, decreta-se o feriado
bancário (os bancos ficam fechados por um período determinado pelo governo,
em geral três dias). Dessa forma, procura-se impedir a corrida inesperada
e impensada de clientes em busca de seus ativos, o que põe em risco o
funcionamento dos bancos.
No Brasil, os mais recentes feriados bancários ocorreram por ocasião do
Plano Collor (1990) e do Plano Cruzado (1986). Na crise argentina
de 2002, também foi decretado feriado bancário. Naquele
caso, não podendo entrar nos bancos, fechados por
decreto, os argentinos optaram por quebrar as
agências. Sim, literalmente.
C E D E R J 123
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
124 C E D E R J
reservas (20% de R$ 400,00), o banco mantém R$ 80,00 como encaixes
6
e disponibiliza R$ 320,00 para emprestar a um terceiro indivíduo. Este
AULA
saca imediatamente R$ 120,00 e deixa o restante guardado no banco
como depósito. Por fim, o banco efetua o encaixe de R$ 40,00 e empresta
R$ 160,00 para alguém que saca todo o empréstimo sob a forma de
dinheiro. Veja quanto foi gerado de novos depósitos apenas com essa regra
de comportamento de encaixes, empréstimos e clientes do banco.
Reservas Empréstimos
Indivíduo Depósitos (DV)
(20% DV) (80% DV)
1º 1.000 200 800
2º 400 80 320
3º 200 40 160
Empréstimos (80%
Indivíduo Depósitos (DV) Reservas (20% DV)
DV)
1º 1.000,00 200,00 800,00
2º 800,00 160,00 640,00
3º 640,00 128,00 512,00
4º 512,00 102,40 409,60
5º 409,60 81,92 327,68
6º 327,68 65,53 262,14
... ... ... ...
C E D E R J 125
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
126 C E D E R J
Assim, os depósitos teriam a seguinte soma:
6
AULA
∑ DV = 1.000 + 720 + 518, 4 + 373, 24 + ...
Dessa soma infinita de termos resulta uma PG de razão 0,72 (basta
dividir um termo por outro subseqüente), isto é:
1.000
∑ DV = 1 − 0, 72 = 1.000 × 3, 51714 = R $3.571, 42
Você pode verificar que o multiplicador bancário diminuiu em
comparação com o exemplo anterior (passou de 5 para 3,517). Isso
se deve a um vazamento no sistema (que ocorre quando os clientes
usam mais papel-moeda do que antes), o que reduz o total de recursos
disponíveis para empréstimos bancários.
No caso anterior, o multiplicador (m) assume a seguinte expressão
(veja a dedução no boxe explicativo):
1
m= (3)
1 − d (1 − r )
onde:
d representa a fração dos depósitos em relação ao total dos meios
de pagamento (M);
r representa as reservas como fração dos depósitos à vista.
O que o multiplicador dado pela equação (3) nos diz é que, quanto
maior a razão entre depósitos à vista e meios de pagamentos, maior será
o multiplicador; e quanto maior a fração das reservas bancárias sobre o
que se recebe de depósitos à vista, menor será o multiplicador. Em outras
palavras, quanto maior d (relação entre o total dos depósitos em razão do
total dos meios de pagamento) e quanto menor r (fração dos depósitos
que são retidos em reservas bancárias), maior será o multiplicador dos
?
meios de pagamento.
C E D E R J 127
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
E definindo:
Temos:
PMPP DVBC
1= + =1= c+d (4)
M M
De (4) em (2)
B = cM + rDVBC = (1 – d)M + r dM
Colocando M em evidência:
B = M (1 – d – rd)
O que dá
B = M 1 − d (1 − r )
M 1
= =m (3)
B 1 − d (1 − r )
6
controle de três modos:
AULA
Operações de open market (mercado aberto)
Reservas compulsórias
C E D E R J 129
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
Taxa de redesconto
Atividade 4
O país em guerra 2 3
O anúncio sobre o
engajamento dos bancos
comerciais no esforço
de guerra brasileiro fez com que,
na tarde de ontem, centenas de
milhares de pessoas fossem às
agências bancárias e esvaziassem
suas contas correntes.
130 C E D E R J
6
AULA
BC se coloca à disposição
Agora responda: o que aconteceria com um banco caso todos os seus clientes, em um
só tempo, fossem fazer retiradas sobre seus depósitos efetuados? E quais seriam, nas
palavras do Sr. Prata, “todos os recursos disponíveis” de que o Banco Central poderia
lançar mão, a fim de evitar o pior?
Resposta Comentada
As corridas repentinas dos clientes aos bancos são motivo de terror para o bom funcionamento
dessas empresas. Mesmo que o banco esteja em situação de lucratividade, em circunstâncias
assim, ele pode “quebrar”. Isto porque o banco trabalha “alavancado”, ou seja, com parcelas de
recursos de terceiros bem maiores do que as de recursos próprios. Sendo assim, o banco não
tem liquidez suficiente para atender a todos os clientes ao mesmo tempo. Em uma situação
assim, a saída seria fechar as portas ou solicitar ao Banco Central que se decretasse um
feriado bancário. Assim, o banco teria tempo para adquirir empréstimos do Banco Central,
de fontes externas, ou mesmo para acalmar seus clientes.
CONCLUSÃO
C E D E R J 131
Análise Macroeconômica | O sistema monetário
Atividades Finais
Dinheiro elástico
1. Segundo o relatório do Banco Central (março de 2005, vol. 7 número 1), os meios
de pagamento totalizaram R$ 120,7 bilhões, ao final de fevereiro de 2005. A base
monetária alcançou, em igual período, o saldo de R$ 23,6 bilhões. Diante desses dados,
de quanto os meios de pagamento aumentariam ao longo do tempo, caso houvesse
a transferência de R$ 1,00 de PMPP para deposito à vista?
Resposta Comentada
O multiplicador bancário ou dos meios de pagamento representa de quanto cada real depositado
em um banco comercial irá ampliar a quantidade de moeda na economia. O valor do multiplicador
é obtido pela divisão entre os meios de pagamento e a base monetária. Sendo assim:
M R $120, 7
m= = = 5,1
B R $23, 6
Ou seja: após um período suficiente de tempo, cada real retirado do bolso (PMPP) e depositado
no banco (DVBC) elevaria os meios de pagamento em pouco mais de R$ 5,00.
132 C E D E R J
Resposta Comentada
6
O multiplicador (m) é dado por:
1
AULA
m= .
1 − d (1 − r )
No entanto, dada a hipótese em que os novos depósitos gerados sejam todos convertidos ainda em
outros depósitos, como visto na exposição desta aula, o multiplicador assume a expressão:
1
m= , ou seja, m = =10
0,1
Então, como o multiplicador afirma, cada R$ 1,00 depositado gera R$ 10,00. Logo, o acréscimo de
R$ 10 milhões irá gerar R$ 100 milhões a mais no total de meios de pagamento.
RESUMO
C E D E R J 133
7
AULA
A demanda por moeda
Meta da aula
Descrever o processo que leva à demanda por moeda
e definir a Teoria Quantitiva da Moeda.
INTRODUÇÃO Você acaba de receber a notícia de que ganhou sozinho na loteria. O prêmio,
deixado em aplicações financeiras, rende R$ 20 mil mensais. Imagine que,
mesmo rico, você queira usar sua riqueza da forma mais lucrativa possível (não
quer desperdiçar ou esbanjar). Sendo assim, com toda essa bolada na mão,
quanto você retiraria em dinheiro e quanto deixaria em aplicações? Ou seja,
quais os fatores que o motivariam a preferir manter sua riqueza em dinheiro,
em vez de aplicá-la em títulos que rendam juros? Grande parte desta aula
auxilia você a responder perguntas como essa.
Na última aula, estudamos o que é moeda e analisamos os mecanismos que
geram a oferta de moeda. Agora, para completar nossos estudos sobre o sistema
monetário, abordaremos o processo que leva à demanda por moeda.
136 C E D E R J
Por exemplo: imagine que uma pessoa tem como riqueza dois
7
imóveis, um automóvel, uma caderneta de poupança com saldo de
AULA
R$ 5.000,00 e uma renda mensal de R$ 1.000,00. Se mensalmente ela
retira do seu salário R$ 800,00 em dinheiro, podemos dizer que sua
demanda por moeda corresponde a esse valor.
De outro modo, se essa pessoa resolve vender um apartamento,
pois pretende dar a volta ao mundo, naquele período a demanda por
moeda terá aumentado em igual valor ao da venda do imóvel, ou seja,
a demanda por moeda representa o quanto da riqueza será mantido em
moeda em vez de estar alocado em outros ativos (títulos ou imóveis,
por exemplo).
O motivo transação
C E D E R J 137
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
O motivo precaução
onde:
Mt+pd representa a demanda por moeda pelo motivo transacional
e precaucional
Y representa a renda monetária
k representa a proporção média da renda que será destinada à
retenção de moeda, pelos motivos já vistos.
138 C E D E R J
O motivo especulação ou portfólio
7
DEMANDA
AULA
POR MOEDA
Além dos motivos transação e precaução, perceba que as pessoas
POR MOTIVO
podem desejar reter moeda a fim de ESPECULAR (aproveitar uma ESPECULAÇÃO
?
estimula a procura por moeda.
C E D E R J 139
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividade 1
Carro a preço de banana 1
a. Suponha que você tenha em casa R$ 5.000,00. Está juntando dinheiro para
comprar um automóvel. Em um belo dia, um vizinho bate à sua porta informando que,
por estar em uma situação de emergência, oferece seu automóvel, que acabara de
comprar por R$ 50 mil. Agora ele aceita vendê-lo em troca dos seus R$ 5 mil. Se você
aceitar tal proposta, qual dos três motivos de reter moeda você diria que prevaleceu
na sua decisão?
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b. Por que o caso descrito anteriormente não seria (ou seria?) uma situação de demanda
por moeda por motivo especulativo?
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Resposta Comentada
a. O motivo de precaução evidencia a retenção de moeda em nome de imprevistos.
Desconsiderando o fato de seu vizinho estar em uma situação de emergência, do ponto de
vista estritamente econômico tal situação representaria uma boa oportunidade para você, que
fatalmente compraria um automóvel. Portanto, a retenção de moeda se deu por motivo de
precaução.
b. Você estava com o dinheiro retido em casa e acabou pagando R$ 5.000,00 por um produto
que valia dez vezes mais. Logo, você auferiu lucro com o negócio. Ainda assim, esta não é
uma situação de motivo especulativo, já que você não imaginou que um dia o seu
vizinho bateria à sua porta e lhe faria tal proposta.
140 C E D E R J
gastos. Considerando a demanda por moeda como demanda por encaixes
7
ILUSÃO
reais, estamos dizendo que as pessoas não são acometidas pelo que já
AULA
MONETÁRIA
conhecemos como I L U S Ã O MONETÁRIA. Ocorre quando as
pessoas confundem
aumento de variável
nominal com
Charles Thompson
aumento de variável
real. Por exemplo:
se os salários e os
preços aumentam
em um mesmo
montante, as pessoas
são iludidas pelo
aumento do salário
nominal (quanto
estão ganhando em
moeda). Acham que
estão ganhando mais
apenas porque seus
salários nominais
subiram, não
Figura 7.2: Sua coleção de notas pode até crescer, mas, caso os
percebecendo que os
preços aumentem junto, você não estará ficando mais rico.
preços subiram na
mesma proporção,
o que faz com que,
no fim, o salário real
Considerando a demanda por encaixes reais, perceba que, caso permaneça o mesmo.
não haja variação na renda real, não haverá alteração na demanda por
moeda. Incluindo, portanto, a demanda por moeda como a demanda
por encaixes reais, a equação (3) assume a seguinte forma:
onde:
P representa o nível geral de preços.
A equação (4) nos diz que a demanda real por moeda, a demanda
pelo poder aquisitivo da moeda, é uma função positivamente relacionada
ao nível de renda real e negativamente relacionada à taxa de juros.
Os parâmetros k e h expressam, respectivamente, a magnitude com que
a renda real e a taxa de juros afetam a demanda por moeda, isto é, uma
elevação na renda real deve aumentar a demanda real por moeda em k
u.m.; Já uma elevação na taxa de juros deve reduzir a demanda real por
moeda em h u.m.
Na seção a seguir, vamos estudar uma das questões clássicas mais
conhecidas sobre a moeda: a teoria quantitativa da moeda, que estabelece
uma relação entre a quantidade de moeda e os valores que terão as
transações (ou produtos) que são trocadas por elas em uma economia.
C E D E R J 141
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividade 2
A equação da demanda 2
M d = 0,6Y - 2i,
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b. Qual seria a equação da demanda por moeda, caso a renda fosse de 1.000 u.m. e a
taxa de juros do mercado estivesse na casa dos 15%?
Resposta Comentada
a. A equação informa que a demanda por moeda depende da renda e da taxa de juros.
No caso exposto, uma elevação da renda aumenta a demanda por moeda em 0,6 de cada
unidade monetária (u.m.) de renda a mais. Por sua vez, cada ponto percentual a mais de juros
diminui em 2 u.m. a demanda por moeda.
142 C E D E R J
Quantas vezes, no intervalo de um ano, uma nota de real é utilizada
7
VELOCIDADE DE
para fazer pagamentos ou recebimentos? O número de vezes que uma
AULA
CIRCULAÇÃO
moeda passa de mão em mão nos negócios em que é utilizada recebe Taxa pela qual
o nome de VELOCIDADE DE CIRCULAÇÃO , ou velocidade-renda da moeda. a moeda “gira”
pela economia
A maneira mais usual de calcular a circulação da moeda consiste em em determinado
período.
dividir o PIB nominal pela quantidade de moeda (meios de pagamento).
Assim, a velocidade de circulação da moeda é dada por:
PY
V=
M (5)
onde:
V é a velocidade de circulação da moeda;
P representa o nível de preços;
Y representa o nível da produção agregada ou PIB;
M representa a quantidade de moeda no país.
R$ 2 ×1.000
V= = 20
100
Isto quer dizer que, com o PIB nominal de R$ 2.000, 00 e um
estoque de moeda de R$ 100,00, cada real teve de circular em média
vinte vezes para atender às transações que se efetivaram naquele ano.
C E D E R J 143
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
onde
Atividade 3
A batata alemã 1 2 3
Resposta Comentada
Quando falamos em hiperinflação, inferimos automaticamente que estamos lidando com um
processo de rápida elevação dos preços. Como os preços alemães aumentavam rapidamente,
o valor da moeda reduzia-se na mesma intensidade; as pessoas procuravam antecipar os
pagamentos, com o propósito de evitar que tais aumentos recaíssem sobre a moeda que já
detinham em mão. Dessa forma, ao receber moeda, as pessoas tratavam de se desfazer dela
logo, comprando o mais rapidamente possível, antes que o dinheiro perdesse seu poder de
compra. Assim, como esse comportamento era estendido a todos, diante de cenário nacional
tão terrível, a moeda era tida como “uma batata quente”.
144 C E D E R J
?
7
AULA
O monstro da hiperinflação
Costuma-se definir como hiperinflação as taxas
inflacionárias que alcançam patamares superiores a 50%
mensais. Essa taxa, mantida constante ao longo de doze meses
(o que se denomina taxa anualizada), equivale a cerca de 1.300%,
em termos anuais. Ao longo do século XX, quatro países passaram por
ambientes de hiperinflação: Alemanha, Grécia, Hungria e Polônia.
A Alemanha atingiu taxa mensal de inflação de 322% (de agosto de
1922 a novembro de 1923); a Hungria, taxas mensais de 19.800%
(de agosto de 1945 a 1946); a Polônia chegou a taxas mensais
de 81% (de janeiro de 1923 a janeiro de 1924) e a Grécia
registrou taxa de 365% entre novembro de 1943
e o início de 1944.
, (7)
C E D E R J 145
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Pela TQM:
MV=PY
∆M% = ∆P% + ∆Y %
∆M = 0, 1 + 0, 05
∆M = 0, 15
Atividade 4
Você com mais dinheiro na mão 1 2 3
Suponha que o governo coloque mais dinheiro na economia, ou
seja, que faça uma expansão monetária (o governo pode fazer a expansão monetária
resgatando os títulos que vendeu anteriormente ou comprando ativos do público
pagando em moeda). Você conseguiria argumentar como uma expansão monetária
poderia aumentar a produção, em vez de apenas gerar inflação?
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146 C E D E R J
7
Resposta Comentada
AULA
As pessoas que receberam o adicional de moeda irão ao mercado comprar mais bens e
serviços. Se os empresários podem atender ao aumento da demanda sem que tenham
novos custos e caso estejam com os estoques muito elevados, podem não se sentir
estimulados a aproveitar o acréscimo de demanda para aumentar preços. Quanto mais
capacidade ociosa e concorrência o mercado tiver, menos estímulos terão os empresários
a aumentar preços. Nesse ambiente econômico, é possível que a expansão monetária leve
ao crescimento da produção. Essa não foi tão fácil, concorda? Então cabe ressaltar que este
ponto constitui-se de um dos infindáveis debates da teoria econômica: a moeda pode ou
não elevar a produção?
C E D E R J 147
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
custo total de se reter moeda. Se você não aplicou, perdeu o que ganharia
com a aplicação e também perdeu o que a moeda se desvalorizou com
a inflação. Mesmo que não houvesse qualquer aplicação, você perderia
20% do poder aquisitivo da moeda por tê-la guardada em casa.
Assim, a perda que representa o ato de manter moeda é composta
por duas parcelas: a taxa real de juros (o que se deixou de ganhar por
não ter aplicado) e a desvalorização da moeda no período (a taxa de
inflação). Logo, o custo de demandar moeda é composto por:
C = r + ∏ (8)
sendo:
r representa a taxa real de juros;
∏ representa a taxa de inflação;
C representa o custo de manter moeda.
148 C E D E R J
?
7
AULA
Dinheiro da noite para o dia
C E D E R J 149
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Cédula - em papel
Denominação Quantidade Valor
1,00 593.855.459 593.855.459,00
2,00 312.406.788 624.813.576,00
5,00 238.810.124 1.194.050.620,00
10,00 609.646.294 6.096.462.940,00
20,00 196.677.616 3.933.552.320,00
50,00 783.857.653 39.192.882.650,00
100,00 19.333.125 1.933.312.500,00
Total = 2.754.587.059 R$ 53.568.930.065,00
Fonte: www.bcb.gov.br
150 C E D E R J
7
Endereços de portais sobre os bancos e a moeda:
AULA
www.ie.ufrj.br/moeda.
www.caringi.com.br/aberj/bancos.htm.
www.bcb.gov.br/pre/educação/cadernos.
CONCLUSÃO
C E D E R J 151
Análise Macroeconômica | A demanda por moeda
Atividades Finais
A velocidade da economia brasileira
15
10
0
fev/02 ago fev/03 go fev/04 ago fev/05
meses
Resposta Comentada
A velocidade-renda dos meios de pagamento no Brasil durante os meses de fevereiro de 2002
a fevereiro de 2005 esteve dentro da faixa de 15 a 20 vezes, o que dá indicações de que o total
de moeda existente (tecnicamente denominado agregado monetário) circulou em média de 15
a 20 vezes no decorrer do período estimado (media móvel de 12 meses). Ao final de fevereiro
de 2005, a velocidade-renda (V) alcançou 15 vezes. O saldo dos meios de pagamento (M),
como já definimos, chegou a R$ 120,7 bilhões. Como a multiplicação entre M e V resulta
no PIB nominal, estima-se que este tenha sido de cerca de R$ 1,8 trilhão.
152 C E D E R J
7
RESUMO
AULA
A demanda por moeda é justificada por três razões: transação, precaução
e especulação.
Os motivos de transação e precaução se explicam pelo fato da não-
coincidência e da incerteza entre os recebimentos e os pagamentos dos
bens e serviços de que as pessoas necessitam. A demanda por moeda por
motivo de transação e precaução depende positivamente do nível de renda.
Quanto mais alta a renda, mais elevada será a demanda por moeda, e
vice-versa.
A demanda por moeda por motivo de especulação é afetada pela relação
inversa com a taxa de juros. Quanto mais elevada a taxa de juros, menos
as pessoas desejarão reter moeda, pois a retenção de moeda não rende os
juros que alternativamente poder-se-iam ganhar, caso a riqueza estivesse
concentrada em títulos financeiros.
A demanda por moeda é uma demanda por encaixes reais, ou seja, as
pessoas não se importam com o valor expresso pela moeda e sim pelo seu
poder aquisitivo. Assim, a demanda por moeda não considera o fenômeno
da ilusão monetária.
A Teoria Quantitativa da Moeda revela que a quantidade de moeda
multiplicada pela sua taxa de circulação (velocidade-renda) é igual ao
valor das transações ou ao PIB nominal. Essa equação determina que uma
expansão na quantidade de moeda, mantida constante a velocidade-renda,
implica elevação no nível de preços, aumento na quantidade produzida ou
uma combinação dessas duas variáveis.
C E D E R J 153
Análise Macroeconômica
Referências
CEDERJ 155
Aula 1
DEU na mídia. Jornal Valor Econômico, São Paulo, p. A14; 18 dez. 2005.
Aula 2
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Aula 5
156 CEDERJ
Aula 6
Aula 7
CEDERJ 157
ISBN 978-85-7648-422-3
9 788576 484226