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ThalisonBozani Rocha
Resumo
Nas duas décadas finais do século XX Karl Rahner, Jürgen Moltmann, Leonardo
Boff, Wolfhart Pannenberg, Colin Gunton e Millard Erickson, buscaram refletir e
reaplicar a doutrina trinitária, produzindo um grande número de estudos dogmáticos,
bíblicos e históricos.1 O objetivo desse ensaio é mostrar a compreensão da doutrina da
trindade formulada por Leonardo Boff e também pelos conservadores e como ambas se
relacionam. Com isso apresentarei qual a importância da doutrina da Trindade para a
comunhão na vida da Igreja.
Palavras chaves
Introdução
*
Graduando em Teologia pela Escola de Ensino Superior FABRA, Serra, Espirito Santo.
Email: thalison.rocha25@outlook.com
1
Franklin Ferreira citando no artigo Agostinho e a Santíssima Trindade: Para a bibliografia, cf. J.
Scott Horrell, “O Deus trino que se dá, a imago Dei e a natureza da igreja local”, Vox Scripturae v. 6 – n.
2 (Dezembro 1996), p. 243-244. Cf. também J. Scott Horrell, “Uma cosmovisão trinitariana”, Vox
Scripturae v. 4 – n. 1 (Março de 1994), p. 55-77.
de si mesmo, é vida e amor. Tudo isso está contido na realidade
comunhão.2
Wayne Grudem define do seguinte modo: “Deus existe eternamente como três
pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo – e cada pessoa é plenamente Deus, e existe só um
2
Boff, Leonardo. A Santíssima Trindade é a melhor comunidade/ Leonardo Boff. 12. Ed. –
Petrópolis, Rj : Vozes, 2011. p. 13 e capa.
3
Campos, Heber carlos de. O ser de Deus/ Heber Carlos de Campos. _ São Paulo: Cultura
Cristã, 2012. P.105.
4
McGrath, Alister E. 1953 – Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a
teologia cristã/ Alister E. McGrath; [tradução Marisa K. A. de Siqueira Lopes]. – São Paulo: Shedd
Publicações, 2005. (P. 378)
5
Deus.” Com um parecer bem semelhante, a confissão de Fé de Westminster define a
Santíssima Trindade da seguinte forma:
5
Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática/ Wayne Grudem – São Paulo: Vida Nova, 1999. p.
165.
6
Ibid., p.1009
7
Lawson, Steven J. Pilares da graça: 100 – 1564 D.C/ Steven Lawson; tradução Valter Graciano
Martins. – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. – (Longa linha de vultos piedosos; v.2)
8
Steven Lawson citando Gerald Bray em seu livro “Pilares da graça” nas Paginas 230 – 231,
Gerald Bray, Creeds, Councils&Christ (Downers Grove, III.:InterVarsity, 1984), 206 – 207.
9
Traduzido “Corpo da divindade”
Deus é somente um, ainda que haja três pessoas distintas
existindo numa única divindade. Esse é um mistério sagrado, que a luz
dentro do homem jamais poderá descobrir, Assim como as duas
naturezas em Cristo, que é uma única pessoas, causam espanto,
também as três pessoas da Trindade que são somente um Deus. Isto é
muito profundo: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo – não são
três deuses, mas somente um Deus. As três pessoas na bendita
Trindade são distintas, mas não divididas: três substâncias, mas
somente uma essência.10
Foram postas duas teorias ocidentais para uma melhor abordagem sobre a
doutrina da Trindade. Essas duas teorias são normalmente denominadas como
“interpenetração mútua” (em grego, pericórese, ou, perichoresis) e “apropriação”. Esse
termo grego, também encontrado tanto no latim (circumincessio) como no português
(“interpenetração mútua”), passou a ser de uso geral no século VI. 11Essa teoria usada
para explicar a comunhão das três pessoas da Trindade tem como sentido o fato de
envolver - circum - e entrar numa profunda intimidade. Cada membro da Trindade, em
algum sentido, habita no outro, sem diminuição da total pessoalidade de cada um.12 O
mútuo relacionamento entre as três pessoas, equivalentes no âmbito da Trindade, tem
sido defendido de modo a fornecer um modelo aplicável tanto às relações humanas no
âmbito das comunidades quanto às teorias política e social cristãs.13
10
Watson, Thomas. A fé cristã, estudos baseados no breve catecismo de Westminster / Thomas
Watson; traduzido por Trinity Traduções e Publicações S/C._ São Paulo: Cultura Cristã, 2009. P. 135 -
136
11
Ibid., p. 379.
12
Veja o artigo sobre a doutrina da trindade, Prof. Isaías Lobão Pereira Júnior.
http://www.monergismo.com/textos/trindade/trindade_isaias.htm/ Visualizado 22/11/2018
13
Ibid., p. 380
Hipona, por exemplo, destacou que o relato da criação em Gênesis fala de Deus, do
Verbo, e do Espírito (Gn1. 1 – 3), indicando que todas as três pessoas da Trindade
estavam presentes e ativas nesse momento decisivo da história da salvação. As
doutrinas da Pericórese e da Apropriação nos permitem pensar na Trindade como uma
“comunhão do ser”, na qual tudo é compartilhado, unido e trocado mutuamente. Pai,
filho e Espírito não são três porções isoladas e divergentes da Trindade, como se fossem
três subsidiárias pertencentes a uma corporação internacional. Ao contrário, eles são
diferenciações internas da Trindade, o que fica evidente na economia (plano) da
salvação e na experiência humana da redenção e graça. A doutrina da Trindade afirma
que, sob a superfície de complexidades da história da salvação e de nossa experiência de
Deus, encontra – se apenas um único Deus.14
Boff começa apresentando o Deus cristão como um Deus que possui uma
comunicação de vida com ele mesmo, esse Deus é uma “comunhão eterna dos divinos
Três, Pai, Filho e Espírito Santo.” 15 Ele tem a preocupação de apresentar uma teologia
bíblica e diz que uma palavra que foi encontrada para expressar esta dinâmica divina é a
“vida” 16
. Deus é entendido como um viver eterno, doador de vida e protetor de toda
vida ameaçada como aquela dos pobres e injustiçados. Vida é um mistério de
espontaneidade, um processo inesgotável de dar e receber, de assimilar, incorporar e
entregar a própria vida em comunhão com outra vida. Entenderemos alguma coisa da
Santíssima Trindade se a referirmos ao mistério da vida. Pai, Filho e Espírito Santo são
viventes eternos se autorrealizando na medida em que se autoentregam uns aos outros.17
A saber, sobre a dinâmica divina que para ele é a “vida”, ele diz:
14
Ibid
15
Ibid.
16
Palavra que expressa à dinâmica da Trindade para Leonardo Boff.
17
Ibid., p. 77 – 79
18
Ibid., p. 80
Boff também vai apresentar a trindade como uma comunhão que se expressa
junto. A saber, sobre isso ele cita o documento de Puebla:
Como grande parte dos teólogos que estão preocupados com uma teologia
saudável, Leonardo Boff defende a união das três pessoas da Trindade e essa união é
constituída por um laço de amor, vida e essa comunhão é eterna. “Eles emergem
simultaneamente, irrompem eternamente um na direção do outro, constituindo uma só
comunidade de vida, de amor e de união.” 20
Essa união é apresentada de forma como
três fontes em que cada água vai de encontro um com o outro, constituindo uma única
lagoa. “É como três esguichos d’água irrompem para cima e se encontram no topo
formando um só jato torrencial d’água. E isso eternamente.” 21 O grande impacto para a
compreensão da comunhão eterna da Santíssima Trindade é que essa união só pode ser
estabelecida por pessoas diferentes uma das outras, e essa comunhão é então
estabelecida porrelações de intimidade, de mútua entrega, de amor que funda uma
comunhão e uma comunidade. “Entre as divinas Pessoas a comunhão é absoluta e a
relação infinita. Este conviver e coexistir constitui a unidade da assim chamada divina
22
essência ou natureza ou substância.” Santo Agostinho dizia com acerto que o amor
entre os divinos Três fundamenta a união trinitária. Com expressões cujo segredo ele
conhece, escrevia: “Cada uma das pessoas divinas está em cada uma das outras e todas
em cada uma e cada em todas e todas estão em todas e todas são somente Deus.” 23São
Bernardo de Claraval também escreve em seu tratado sobre o amor de Deus e diz que:
19
Leonardo Boff citando “Documento de Puebla, n.212” em seu livro “A Santíssima Trindade é
a melhor comunidade” P. 81.
20
Ibid., P. 77
21
Ibid.
22
Boff, Leonardo. (p. 89)
23
Ibid.
Senhor. Este amor constitui a Trindade na unidade e de certa forma
unifica as Pessoas no vínculo da paz. Amor cria amor. Esta é a lei
eterna e universal, lei que cria tudo e tudo governa. 24
Eis ai uma pergunta que pode ser feita, sabemos que O Pai, Filho e o Espírito
Santo são coeternos e simultâneos. Como deixar de forma clara que cada uma das
Pessoas da Trindade édiferente uma das outras e, ao mesmo tempo, relacionada sempre
entre si? Boff responde da seguinte forma:
24
Leonardo Boff citando São Bernardo de Claraval em seu livro “A Santíssima Trindade é a
melhor comunidade” na página 90, São Bernardo, Livro do amor de Deus, cap. 12, n. 35: PL 182, 996 B.
25
Ibid., p. 91.
26
Ibid.
sem começo e sem fim, Pai, Filho e Espírito Santo, reciprocidade dos divinos Três num
único amor, irrupção infinita de uma mesma via.” 27
Boff também faz uma pronuncia que deixa claro seu pensamento acerca da
relação de comunhão na Trindade, relação está que explicamos acima chamada de
Pericórese. Ele diz que ao pensar sobre a Trindade devemos pensar na comunhão entre
os divinos três, Pai, Filho e Espírito Santo. E está comunhão que se dá por parte das três
pessoas da Trindade, que os teólogos ortodoxos cunharam a expressão Pericórese que
começou a se espalhar a partir do século VII, especialmente por São João Damasceno
(morreu em 750).30
27
Ibid., p. 90.
28
Termo também usado por muitos teólogos para se referir a Trindade.
29
McGrath, Alister E., P. 386 – 387.
30
Ibid., p.40.
31
Leonardo Boff citando “Fritjof Capra, o capítulo Interpenetração do livro ‘O tao da Física’, S.
Paulo 1987, 213 – 225” em seu livro “A Santíssima Trindade é a melhor comunidade” P. 41.
3. Qual é a relevância, para a Igreja, do modo como a Trindade se
relaciona?
32
Ibid.,P. 157
33
Ibid.
34
Ibid.
35
Ibid.
36
Ibid., 374
37
Bavinck, Herman. The Doctrine of God, reedição (Edimburgo: Banner of Truth, 1991). P. 281.
devemos nos lembrar que Deus se revelou por meio da sua Palavra e devemos buscar
compreensão daquilo que nos foi revelado sobre sua natureza. 38 “Sem a Trindade não
poderia haver a noção de salvação”. Heber Carlos de Campos expressa sobre a
importância desta doutrina nas seguintes palavras:
Podemos ver o exemplo da Igreja Primitiva dos Atos dos Apóstolos que diz:
“Todos os que criam estavam unidos e tinham tudo em comum.” (Atos 2.44) Uma breve
analise sobre o adjetivo comum, pode nos levar a ter um vislumbre melhor, veja o que o
Dicionário Vini diz:
38
Ibid.
39
Ibid., P. 158.
40
Heber Carlos de Campos citando “Catherine Mowry laCugna, God for Us: The Trinity and
Christian Life (San Francisco: Harper Collins, 1991), P.383,” Em seu livro “O Ser de Deus e seus
Atributos”.
41
Vine, W. E. Dicionário Vine: O significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do
Novo testamento/ W. E. Vine; editado por Merril F. Unger, William White, JR.; traduzido por Luís Aron
de Macedo. 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2016. P.484.
Se lá o amor constituía tão forte comunidade, como não deve ser com
a Trindade! Santo Agostinho comentando tal fato disse: “O amor em
Deus é tanto que impede a desigualdade e cria a igualdade inteira. Se
na terra e nos homens pode haver tanto amor a ponto de muitas almas
fazerem – se uma só, como não existir também tal amor entre o Pai e o
Filho, já que ambos são sempre inseparáveis, e, assim, serem um Deus
só? Lá as muitas almas fizeram – se uma só, por uma inefável e
suprema conjunção; aqui igualmente e pela mesma razão as Pessoas
divinas se fizeram não dois deuses, mas um único Deus. 42
42
Leonardo Boff citando (Sermão aos catecúmenos sobre o Credo, I, 4: PL 40, 629) Em seu livro
“A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, P.85.
43
Tema central abordado por Leonardo Boff.
44
Ibid., P. 159
45
Ibid.
46
Ibid., P. 257.
47
Ibid., P. 100.
48
Ibid., P. 99.
Quando a Igreja esquece a fonte da qual nasceu – a
comunhão das Três divinas Pessoas – deixa que sua unidade se
transforme em uniformidade; que um grupo de fiéis assuma sozinho
todas as responsabilidades, dificultando a participação dos demais;
deixa que os interesses confessionais predominem sobre os interesses
do Reino; enfim, o rio de águas cristalinas corre o risco de se
transformar num charco de águas paradas. Importa converte – se à
Trindade para recuperar a diversidade e a comunhão, que cria a
unidade dinâmica e sempre aberta a novos enriquecimentos. 49
Considerações finais
Chegamos ao fim desta pesquisa com a certeza de abordar, mesmo que de forma
geral, os fatores decisivos do tema em questão, depois de ter apontado diversas amostras
da necessidade desta doutrina e como nos é benéfica para nós em nossa realidade.
Certamente não respondemos a todas as questões, por isso faz parte de um processo, um
caminho que vai sendo feito ao se unir a teoria à experiência cristã, na vida pessoal,
espiritual e na pastoral.
49
Ibid.
Bibliografia
Campos, Heber carlos de. O ser de Deus/ Heber Carlos de Campos. _ São
Paulo: Cultura Cristã, 2012.
Lawson, Steven J. Pilares da graça: 100 – 1564 D.C/ Steven Lawson; tradução
Valter Graciano Martins. – São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2013. – (Longa
linha de vultos piedosos; v.2).