EXCELENTÍSSIMA (O) SENHORA (O) DOUTORA (O) JUÍZA (O) DE
DIREITO DA COMARCA DE MIRINZAL/MA
Proc. Nº 605-54.2018.8.10.0100
CARLIANE RIBEIRO ARAÚJO, brasileira, solteira, lavradora e
trabalhadora do lar, portadora de RG nº 0475968820139 SSP/MA, CPF nº 613.510.273-79, atualmente residente e domiciliada à Rua Nossa Senhora da Conceição, nº 23, Bairro Vila Isabel Cafeteira, Cruzeiro do Anil, na cidade de São Luís/MA, por seus advogados in fine signatários, com endereço profissional e eletrônicos constantes no rodapé, onde recebem notificações e intimações de estilo, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nos termos dos arts. 396 e 396-A do Código de Processo Penal, oferecer a presente:
RESPOSTA À ACUSAÇÃO
No corpo da ação penal epigrafada, que lhe move o Ministério Público,
na qual responde pela prática de delito tipificado no art. 121, caput, do Código Penal, de acordo com as razões de fato e fundamentos de direito a seguir escandidos: I – TEMPESTIVIDADE
O art. 396 do Código de Processo Penal estabelece o prazo de
10 (dez) dias, após a citação, para o acusado responder à acusação do Ministério Público, conforme vejamos:
Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário,
oferecida a denúncia ou queixa, o juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias. (grifos nossos)
Desta forma, insta ressaltar que, a defesa apresenta a devida
resposta à acusação, a despeito de não ter havido citação da Ré, tampouco de seus patronos.
II – BREVE RELATO DOS FATOS
Nos autos do Inquérito Policial e na denúncia do Ministério
Público, consta que:
No dia 09 de setembro de 2018, por volta das 21 horas, no
Povoado Beleza, localizado no município de Central/MA, Termo Judiciário da Comarca de Mirinzal/MA, a Ré, com manifesto animus necandi desferiu golpe de faca contra o Sr. João Felisberto de Sousa, atingindo-lhe na região do abdômen e provocando as lesões expostas no Auto do Exame de Corpo de Delito de fls. 22/23, as quais, por sua natureza e sede, foram a causa eficiente da morte da vítima.
Ademais, a denúncia relata ainda que, no dia, hora e local
dos fatos, vítima e Ré, que mantinham união estável, estavam trabalhando em um evento realizado no povoado supramencionado, ocasião em que também ingeriram bebida alcoólica, quando após uma discussão do casal, a acusada supostamente agredida por João Felisberto de Sousa, desferiu-lhe um golpe de faca.
Em seguida, a vítima foi socorrida e levada do Hospital da
Santa Casa na cidade de Cururupu/MA, local em que após procedimento cirúrgico veio a óbito.
Consta no caderno investigativo, o exame de corpo de delito
de fl. 22, mapa topográfico de lesões de fl. 23 e registro fotográfico de fls. 29/30, os quais demonstram que a causa da morte foram as múltiplas lesões sofridas na região do abdômen.
Desta feita, verifica-se que há evidências quanto a
materialidade do delito e fortes indícios acerca do envolvimento da denunciada no crime em comento. Nota-se que a materialidade emerge do exame cadavérico, bem como corroborada pela prova testemunhal produzidas em sede policial.
Diante do exposto, indícios há suficientes que perfazem a
justa causa necessária para o ajuizamento na inicial acusatória, razão pela qual o Ministério Público denuncia a Vossa Excelência CARLIANE RIBEIRO ARAÚJO, como incurso nas sanções do art. 121, caput, do Código Penal (Homicídio Simples) [...]
Primeiramente, quanto aos fatos em questão, importa
esclarecer alguns pontos que ajudarão este Douto Juízo a compreender as circunstâncias de cometimento do delito e suas repercussões na esfera criminal, bem como auxiliará a se chegar na verdade real dos fatos. Desta forma, destaque-se que a Ré e a vítima mantinham relacionamento amoroso, do qual resultou o nascimento do único filho do casal.
No dia do evento criminoso, importa destacar que ambos, Ré e
vítima, estavam trabalhando em evento político local, entretanto, ao contrário do que cita a inicial acusatória, a Ré não ingeriu bebida alcoólica durante o período em que estava trabalhando, somente após o término do trabalho, quando esta passou a aproveitar a festa.
Nesta esteira, vale ressaltar que a Ré estava trabalhando até
por volta de 20 horas da noite no dia do evento, e, após esse horário, passou a aproveitar a festa e ingerir bebida alcoólica ao lado de seu ex- companheiro, sua prima e sua tia. Após um tempo, a Ré percebeu que seu ex-companheiro havia saído, momento em que passou a tentar encontrá-lo, sendo informada por outras pessoas que estavam no local de que ele havia saído com outra moça.
Naquele momento, tomada pelo ciúmes e pela fúria de saber
que seu ex-companheiro estava com outra mulher, a Ré decidiu confrontar a mulher que estava na companhia de seu ex-companheiro, para se certificar da história que lhe havia sido contada.
Após cientificar-se de tudo que tinha interesse, a Ré se afastou
do ex-companheiro, tendo ido sentar-se com sua tia e sua prima em outra mesa.
Minutos depois, a Ré se levantou para buscar uma cerveja,
momento este que seu ex-companheiro chegou por trás e lhe desferiu a primeira agressão. De mais a mais, após a agressão, a Ré foi aconselhada por sua tia a não chegar mais perto do seu ex-companheiro. Momentos depois, após beberem algumas cervejas, a Ré e sua tia decidiram ir ao banheiro e, neste momento, o seu ex-companheiro, ora vítima, chegou e começou a lhe desferir diversos socos e pontapés no rosto e em outras partes do seu corpo, e, unicamente com o intuito de defender-se e desvencilhar-se das agressões que vinha sofrendo, a Ré se utilizou do primeiro objeto que encontrou para desferir um golpe na vítima, que mais tarde viria a falecer em razão de tal agressão.
Cumpre dizer que, naquele momento, o único intuito da Ré era
se ver livre das agressões que estava sofrendo, em nenhum momento pensou em ceifar a vida da vítima, ao contrário, queria apenas fazer cessarem as agressões contínuas a que estava acometida, lutando por sua própria vida, dado que se não tivesse efetuado o golpe de faca, a vítima não cessaria com as seguidas agressões.
Note-se que a Ré e a vítima mantinha relacionamento amoroso
conturbado, onde aquela costumeiramente sofria agressões por parte de seu ex-companheiro, fato que contribuiu para que, no momento do evento criminoso, a Ré esperasse pelo pior, já que se encontrava sofrendo diversas agressões por parte da vítima e não teve outro meio de se livrar destas senão desferindo um golpe de faca.
Inclusive, após àquele momento, a Ré ainda se dirigiu ao
hospital da cidade para buscar informações a respeito do estado de saúde da vítima, pois não imaginava que o golpe desferido pudesse lhe causar quaisquer complicações mais graves, já que sua intenção era apenas lesionar a vítima lhe permitindo, assim, escapar do espancamento que vinha sofrendo.
Estes são os fatos ocorridos naquele fatídico dia, através dos
quais se demonstra a inocência da Ré, isto porque atuou em legítima defesa de sua vida, não havendo qualquer animus de ceifar a vida da vítima, senão de apenas lesioná-la para se desvencilhar das agressões.
III – DO DIREITO
III.a – Preliminarmente
1) Da Absolvição Sumária da Ré por legítima defesa
O art. 397 do Código de Processo Penal, ao tratar das hipóteses
de absolvição sumária no processo criminal, dispõe, in verbis, que:
Art. 397. Após o cumprimento do disposto
no art. 396-A, e parágrafos, deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente
da ilicitude do fato;
[...]
Desta forma, percebe-se que entre as causas que ensejam a
absolvição sumária dos réus no processo criminal estão as excludentes de ilicitude.
No caso em tela, nítido é que a Ré agiu amparada por tal
dispositivo legal, isto porque a Denunciada agiu estritamente em legítima defesa da própria vida, já que no momento do evento narrado na denúncia a Ré estava sendo agredida com socos e pontapés pela vítima, e somente agiu desferindo um golpe de faca para preservar a própria vida.
O art. 23 do Código Penal, que dispõe acerca das excludentes
de ilicitude no direito criminal, estabelece que:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício
regular de direito.
Destarte, percebe-se que o caput do dispositivo acima
colacionada impõe claramente que NÃO HÁ CRIME quando o agente pratica o fato em legítima defesa, ou seja, se o Autor pratica o ato amparado por qualquer situação de legítima defesa, seja ela da sua própria vida, de terceiro, ou até mesmo putativa, não pode ser caracterizado o crime.
E mais, o art. 25, que trata especificamente da legítima defesa,
dispõe, ipsis litteris, que:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Ora, Excelência, no caso em discussão resta evidente que a
situação descrita se amolda perfeitamente ao que está tipificado pelo dispositivo legal supra expendido.
Note-se que a Ré, tendo sido confrontada com agressões
contínuas, entre socos e pontapés, desferiu golpe de faca na vítima apenas com a intenção de se proteger e defender a sua própria vida.
Naquele momento a Ré tinha certeza que o ex-companheiro,
ora vítima, somente cessaria com as agressões quando esta viesse a falecer, isto porque já conhecia o agressor e seu histórico de violência contra ela, razão pela qual não viu qualquer outra possibilidade de sair daquela situação com vida. E mais, após o golpe desferido, a Ré, caso estivesse dotada de animus necandi, poderia ter prosseguido com os golpes de faca, o que não fez, pois seu único intuito era sair com vida daquela situação, tanto que após aquele momento ela saiu dali para buscar abrigo e proteção em outro local.
Desta forma, em função de tudo o que foi exposto neste tópico,
a Denunciada REQUER SEJA DECRETADA SUA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA, com fulcro no art. 397, II do Código de Processo Penal, dado que atuou única e exclusivamente em legítima defesa da própria vida e, por isso, não pode ser caracterizado o crime.
III.b – DA DESQUALIFICAÇÃO PARA DO DELITO PARA
LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE, PREVISTA NO ART. 129, § 3º DO CÓDIGO PENAL
Caso seja superada a preliminar de absolvição sumária, a Ré
pugna pela desqualificação do delito para aquele tipificado pelo art. 129, § 3º do Código Penal.
A Ré foi denunciada pelo crime previsto no art. 121, caput, do
CP, ou seja, homicídio simples na modalidade dolosa, que exige para sua configuração a existência de animus necandi, que seria a vontade ou intenção de produzir o resultado.
Contudo, de acordo com o relato dos fatos no início desta
petição, evidencia-se claramente que a Ré em nenhum momento agiu com a intenção de matar o seu ex-companheiro, ora vítima, ao contrário, diante da situação em que se encontrava, a Denunciada atuou para lesionar a vítima e, assim, poder se desvencilhar das múltiplas agressões a que estava acometida. O Código Penal, em seu art. 129, § 3ª, colaciona que:
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
[...]
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam
que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Nesse desiderato, o dispositivo acima citada é claro ao
estabelecer que se as circunstâncias evidenciam que a Ré, agindo com animus laedendi, não quis a produção do resultado morte ou nem assumiu o risco de produzi-lo, a tipificação correta é aquela prevista no art. 129, § 3º do CP.
In casu, a Ré agiu com interesse apenas de lesionar a vítima
para proteger a própria vida e se permitir fugir da situação de agressão em que se encontrava, em nenhum momento, ao desferir o golpe de faca, atuou com a intenção de ceifar a vida do ex-companheiro, tanto que depois, inclusive, se dirigiu ao hospital para tentar ajudá-lo e saber do seu estado de saúde.
Neste caso, o resultado morte se produziu por circunstâncias
alheias à vontade da Denunciada, já que esta, no momento da agressão, sequer imaginou que a faca tivesse perfurado a vítima, dado que o ex- companheiro continuou andando normalmente após a lesão.
Nesse interim, caso não seja absolvida sumariamente,
REQUER SEJA DESQUALIFICADO O DELITO PARA O CRIME PREVISTO NO ART. 129, § 3º DO CÓDIGO PENAL. III.c – RECONHECIMENTO DAS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO PREVISTAS NO ART. 121, § 1º OU ART. 129, § 4º
A Ré, caso não sejam aceitas as teses defensivas supracitadas,
ou mesmo em caso de ser aceita apenas a desqualificação para o crime de lesão corporal seguida de morte, pugna pelo reconhecimento da causa de diminuição de pena por ter cometido o crime sob violenta emoção, já que todas as circunstâncias apontam que a Ré descobriu uma traição do seu ex-companheiro momentos antes dos eventos descritos na denúncia.
Neste caso, não restam dúvidas de que a Ré naquele momento
estava compelida por intenso ciúmes, dada a conduta da vítima de sair de seu lado no meio da festa em que estavam juntos para se encontrar com outra mulher.
E mais, mesmo que tenha agido somente para defender-se das
agressões sofridas, e não tenha dado causa às agressões a que estavam sofrendo, resta claro que após cobrar satisfações dos envolvidos na situação concubinosa foi alvo de diversas agressões por parte de seu ex- companheiro e os atos se sucederam a partir dali.
Portanto, REQUER O RECONHECIMENTO DA CAUSA DE
DIMINUIÇÃO DE PENA PREVISTA NO ART. 121, § 3º OU ART. 129, § 4º DO CÓDIGO PENAL, nos moldes da lei.
III.d – DOS BONS ANTECEDENTES DA RÉ
É necessário ressaltar que a Denunciada é primária, haja vista
que não possui em seu desfavor nenhuma condenação penal transitada em julgado e jamais se envolveu em quaisquer problemas com a Justiça. Este, inclusive, é raciocínio abordado por GUILHERME DE SOUZA NUCCI ao ensinar sobre a “primariedade”:
“Primariedade é a situação de quem não é
reincidente. Este, por sua vez, é aquele que torna a cometer um crime, depois de já ter sido condenado definitivamente por delito anterior, no País ou no exterior, desde que não o faça após o período de cinco anos, contados da extinção de sua primeira pena”.(Código de Processo Penal Comentado; 4ª ed.; ed. RT; São Paulo; 2015; p. 915).
Insta dizer, também, que a Ré possui bons antecedentes, pois
como preleciona ainda GUILHERME DE SOUZA NUCCI:
“Somente é possuidor de maus antecedentes aquele
que, à época do cometimento do fato delituoso, registra condenações anteriores, com trânsito em julgado, não mais passíveis de gerar a reincidência (pela razão de ter ultrapassado o período de cindo anos)”. (Op. Cit; p. 915).
Desta maneira, a certeza do direito penal mínimo é no sentido
de que nenhum inocente seja punido, corolário do princípio humanístico e constitucional da presunção de inocência.
Tal princípio expressa o sentido da presunção de não
culpabilidade do acusado até prova em contrário: é necessária a prova, isto é, a certeza, ainda que subjetiva, da culpabilidade, não tolerando a condenação e exigindo-se a absolvição em caso de incerteza.
No sentido do exposto é a jurisprudência dos tribunais
brasileiros:
HABEAS CORPUS. TRAFICO. PRISÃO PREVENTIVA.
AUSENCIA DE FUNDAMENTAÇAO IDONEA. OBJETIVA O IMPETRANTE A CONCESSÃO DA ORDEM PARA RELAXAR A PRISÃO CAUTELAR DO PACIENTE, POSTO QUE PRESO EM FLAGRANTE DESDE 23.02.2013, POR SUPOSTAMENTE TER COMETIDO O CRIME DE TRAFICO DE DROGAS SUSTENTANDO A ILEGALIDADE DA MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR EIS QUE DESPROVIDA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA A DECISÃO QUE CONVERTEU A PRISÃO FLAGRANTE EM PREVENTIVA, COM FUNDAMENTO NO RESGUARDO DA ORDEM PÚBLICA E PARA ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENA, SEM, NO ENTANTO APONTAR ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR A SEGREGAÇÃO CAUTELAR DO PACIENTE, BEM COMO NÃO FEZ NENHUMA CONSIDERAÇÃO ACERCA DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO, RAZÃO PELA QUAL ARGUMENTA SER A MESMA NULA, O QUE TORNA ILEGAL A PRISÃO DO PACIENTE. ORDEM QUE MERECE SER PARCIALMENTE CONCEDIDA. COM EFEITO, VERIFICA-SE QUE DECISÃO QUE CONVERTEU A PRISÃO EM FLAGRANTE DO PACIENTE EM PREVENTIVA TEM COMO FUNDAMENTO A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E A APLICAÇÃO DA LEI PENAL, SEM BASEAR-SE EM FATOS CONCRETOS QUE EVIDENCIASSEM A NECESSIDADE DA PRISÃO CAUTELAR, ALÉM DA VEDAÇÃO DE CONCESSÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA CONTIDA NO ART. 44 DA LEI Nº 11.343/06. CEDIÇO QUE COM A ENTRADA EM VIGOR DA LEI 12.403/11 A DECRETAÇÃO OU A MANUTENÇÃO DE UMA PRISÃO CAUTELAR DEVE ESTAR EMBASADA NÃO SOMENTE NA PRESENÇA DOS REQUISITOS DOS ARTS. 312 E 313, DO CPP, COMO TAMBÉM NA DEMONSTRAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA E DESNECESSIDADE DA APLICAÇÃO DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO CONTIDAS NO NOVO ART. 319, DO CPP. CEDIÇO QUE A MANUTENÇÃO DA PRISÃO EXIGE A PRESENÇA DE ELEMENTOS QUE A JUSTIFIQUEM, NOS TERMOS DO ARTIGO 312 CPP. SENDO ASSIM, CABE AO JULGADOR INTERPRETAR RESTRITIVAMENTE OS PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DA LEI PROCESSUAL PENAL, FAZENDO-SE MISTER A CONFIGURAÇÃO FÁTICA DOS REFERIDOS REQUISITOS. E O QUE SE CONSTATA É QUE O JUIZ AUTOR DA DECISÃO NÃO INDICOU FATOS CONCRETOS QUE PODERIAM ABALAR A ORDEM PÚBLICA E TAMPOUCO ESCLARECEU A CIRCUNSTÂNCIA QUE ESTARIA A PREJUDICAR EVENTUAL APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DESSA FORMA, VERIFICO AUSENTE A IMPRESCINDÍVEL DEMONSTRAÇÃO DA NECESSIDADE CONCRETA DA MEDIDA EXTREMA, UMA VEZ QUE NÃO HÁ, NA DECISÃO QUE CONVERTEU A PRISÃO EM FLAGRANTE EM PREVENTIVA, RAZÕES IDÔNEAS QUE EXPLIQUEM, NO CASO CONCRETO, QUAISQUER DOS REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA, EM ESPECIAL A GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA E A APLICAÇÃO DA LEI PENAL. DESTAQUE-SE QUE A DECISÃO GUERREADA NÃO APRESENTOU FUNDAMENTOS CONCRETOS PARA A DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR, CONSTANDO DELA APENAS AS GENÉRICAS EXPRESSÕES DA LEI. NO TOCANTE À VEDAÇÃO LEGAL À CONCESSÃO DE LIBERDADE PROVISÓRIA CONTIDA NO ART. 44 DA LEI 11.343/06, A MAIS RECENTE JURISPRUDÊNCIA DO STF VEM CONSIDERANDO-A INCONSTITUCIONAL POR OFENSA AOS POSTULADOS CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA, DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, DA PROPORCIONALIDADE E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. EMBORA NÃO TENHA HAVIDO QUALQUER PROVA DE PRIMARIEDADE, BONS ANTECEDENTES E RESIDÊNCIA FIXA, INEXISTINDO OS REQUISITOS PARA DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, NOS TERMOS DO ART. 310 DO CPP, NÃO HÁ RAZÃO PARA A MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. ASSIM, A MOTIVAÇÃO MOSTRA-SE INSUFICIENTE, POR GENÉRICA E ABSTRATA, FICANDO NO MERO CAMPO DA POSSIBILIDADE E NÃO DA INDISPENSÁVEL PROBABILIDADE NORMATIVA. ASSIM, NÃO RESTOU CARACTERIZADO QUE A ORDEM PÚBLICA ESTEJA AMEAÇADA PELA SOLTURA DO PACIENTE, QUE A INSTRUÇÃO CRIMINAL SEJA AFETADA E QUE A APLICAÇÃO DA LEI PENAL SEJA PREJUDICADA. POR OUTRO LADO, SALIENTE-SE, QUE NA HIPÓTESE EM APREÇO, DIANTE DA APLICAÇÃO DO BINÔMIO NECESSIDADE E ADEQUAÇÃO, VISLUMBRO SEREM PLENAMENTE APLICÁVEIS AS MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS À PRISÃO, PREVISTAS NOS ARTIGOS 319 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. NO CASO DO PACIENTE PARECEM SER SUFICIENTES, PARA O RESGUARDO DO PROCESSO, AS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NOS INCISOS I E V DO ART. 319 DO CPP. DESTA FORMA, VISLUMBRA-SE CONSTRANGIMENTO ILEGAL TENDO EM VISTA A AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE LEGÍTIMA DA DECISÃO QUE DETERMINOU A SEGREGAÇÃO CAUTELAR DO PACIENTE, FAZENDO A RESSALVA DE QUE O ALVARÁ DE SOLTURA APENAS DEVE SER EXPEDIDO CASO O MESMO NÃO ESTEJA PRESO POR OUTRO MOTIVO. CONCESSÃO PARCIAL DA ORDEM PARA SUBSTITUIR A PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA EM DESFAVOR DO PACIENTE, APLICANDO-LHE AS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NOS INCISOS I E V DO ART. 319 DO CPP, BEM COMO PARA ASSINAR TERMO DE COMPARECIMENTO A TODOS OS ATOS DO PROCESSO PARA OS QUAIS FOR INTIMADO E DE MANTER ATUALIZADO SEU ENDEREÇO NOS AUTOS, SOB PENA DE REVOGAÇÃO, SEM PREJUÍZO DE SER NOVAMENTE DECRETADA SUA PRISÃO CAUTELAR COM A DEMONSTRAÇÃO CONCRETA DE SUA NECESSIDADE, DEVENDO O MM JUÍZO A QUO PROVIDENCIAR A INTIMAÇÃO DO PACIENTE PARA ASSINAR TERMO DE COMPROMISSO REFERENTE ÀS CONDIÇÕES DAS MEDIDAS ORA IMPOSTAS, DETERMINANDO A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA, SE POR OUTRO MOTIVO NÃO ESTIVER PRESO. (grifos nossos) (TJ-RJ - HC: 00179705720138190000 RIO DE JANEIRO VOLTA REDONDA 1 VARA CRIMINAL, Relator: SIRO DARLAN DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 07/05/2013, SÉTIMA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 09/05/2013)
Desta feita, impõe-se registrar que a Ré jamais se envolveu em
qualquer situação que abale seu direito à presunção de inocência constitucional, provando que detém circunstâncias judiciais favoráveis que devem ser reconhecidas por este Juízo.
IV – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, REQUER deste Douto Juízo:
a) Seja a Ré ABSOLVIDA SUMARIAMENTE, com fulcro no art.
397, II do Código de Processo Penal;
b) Caso não entenda pela absolvição sumária, seja
desqualificado o delito para àquele tipificado no art. 129, § 3º do Código Penal;
c) O reconhecimento da causa de diminuição de pena prevista
no art. 121, § 3º ou, caso entenda pela desqualificação, no art. 129, § 4º, ambos do Código Penal;
d) Seja a Ré ABSOLVIDA, JULGANDO-SE IMPROCEDENTE A
PRESENTE DENÚNCIA, com fulcro no art. 386, III e IV do Código de Processo Penal, por não constituir o fato como infração penal e por existirem circunstâncias que evidenciem a exclusão do crime, in casu, legítima defesa; e) Requer sejam intimadas as testemunhas elencadas no rol disposto ao final desta petição;
f) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em
Direito admitidos, em especial prova testemunhal;
Termos em que, pede e espera deferimento.
Mirinzal, 07 de março de 2019.
Ângelo Sousa Lima
OAB/PA 26.226
ROL DE TESTEMUNHAS:
1. NIVALDO PIEDADE, residente e domiciliado no Bairro Estiva das
Oliveiras, próximo à quadra;
2. MARIA DE FÁTIMA RIBEIRO, residente e domiciliada à Rua da União,
Bairro Açude;
3. LUZENILDE CARDOSO ARAÚJO, residente e domiciliada à Rua Seis,
Bairro Agrovila;
4. IVANILDO PIRES PEREIRA, residente e domiciliado à Rua Nova