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O nome do parlamentar foi citado nas colaborações dos executivos da J&F Joesley Batista, Ricardo Saud e
Demilton Antônio de Castro como beneficiário de uma propina de R$ 1 milhão como contrapartida ao
fornecimento de apoio à candidatura de Eduardo Cunha para a Presidência da Câmara dos Deputados. Os
repasses ocorreram em 2014, e Eduardo Cunha se elegeu presidente da Câmara em 2015. Na época dos
fatos, Marcelo Castro era deputado federal, cargo ocupado até o início de 2019, quando foi diplomado
senador da República.
Trata-se de um “mandato cruzado”, ou seja, situação de um parlamentar que deixa de ocupar o cargo eletivo,
por causa do término da legislatura, para assumir um outro, mas em uma casa legislativa diferente. Dessa
forma, Marcelo Castro, ao deixar a condição de parlamentar federal para ocupar uma vaga de senador da
República, já não teria mais direito ao foro especial para crimes cometidos como deputado.
O entendimento decorre de decisão tomada há um ano pelo STF quando, ao julgar a questão de ordem na
Ação Penal nº 937, definiu que o foro para deputados e senadores na Suprema Corte se aplica apenas a
crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao exercício do cargo parlamentar. Os demais
processos em curso devem ser remetidos para outras instância da Justiça.
Corrupção e lavagem de dinheiro – Conforme trechos do termo de colaboração de Ricardo Saud, a JBS pagou
R$ 30 milhões em propina ao então deputado federal Eduardo Cunha, para que ele financiasse campanha de
políticos aliados que posteriormente votariam nele para presidente da Câmara dos Deputados. Nesse
contexto, o senador Marcelo Castro teria sido beneficiado com a quantia R$ 1 milhão, repassada por Cunha,
como forma de garantir-lhe apoio. O valor teria sido retirado em espécie em um supermercado no estado do
Piauí.
As informações foram corroboradas por dados contidos numa planilha fornecida por Saud na qual consta a
expressão “Beneficiário EC-RJ”, em referência a Eduardo Cunha eleito pelo Rio de Janeiro, além da presença
do nome “Marcelo Castro” e a quantia a ser paga em um estabelecimento chamado Comercial Carvalho.
http://www.mpf.mp.br/pgr/noticiaspgr/raqueldodgepededecliniodeinvestigacaocontrasenadormarcelocastroporlavagemdedinheiroecorrupcao 1/2
201953 Raquel Dodge pede declínio de investigação contra senador Marcelo Castro por lavagem de dinheiro e corrupção — ProcuradoriaGeral da República
do nome “Marcelo Castro” e a quantia a ser paga em um estabelecimento chamado Comercial Carvalho.
“Isso afasta por completo a ideia de que tais repasses tenham sido feitos a título de doação de campanha,
ainda que não contabilizada. Sem qualquer dúvida, o pagamento ao deputado Marcelo Castro teve como
contrapartida o seu apoio à candidatura de Eduardo Cunha para presidente da Câmara dos Deputados”,
afirma Dodge.
Artigo 350 do Código Eleitoral – No documento endereçado ao STF, a procuradora-geral deixa claro que não
existem indícios de crimes eleitorais. Ela afirma que, embora as transferências tenham sido realizadas em
2014 e coincidam com o período eleitoral, isso não significa que essas verbas tenham sido utilizadas para
custear gastos de campanha; “ao revés, trata-se simplesmente de um coincidência temporal inevitável, já
que havia um fluxo contínuo de propina transitando pelos caixas desses empreendimentos”, pontua.
Mesmo sob uma perspectiva abstrata, prossegue a PGR, as condutas não se amoldam ao artigo 350 do
Código Eleitoral (falsidade eleitoral), configurando, na verdade, crimes de corrupção ativa e passiva, além de
possível lavagem de capital. “Ausentes indícios mínimos sobre a utilização, em campanha eleitoral, de
valores não contabilizados e não declarados à Justiça Eleitoral, não há o que se falar na prática de falsidade
ideológica eleitoral, pois inexistiu omissão dos então candidatos em suas respectivas prestações de contas”,
conclui.
Competência – Para Dodge, a competência jurisdicional deste caso deve ser da Justiça Federal, pois envolve
supostos atos praticados por parlamentar valendo-se da função pública. Quanto ao aspecto territorial – em
qual estado deve tramitar o processo –, a PGR afirma ser necessário remeter o caso para a Seção Judiciária
do Distrito Federal e para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Primeiro, pelo fato de o Ministro Edson
Fachin já ter determinado a remessa de cópias dos termos de colaboração de Joesley Batista, Ricardo Saud,
Demilton Antônio de Castro e do doleiro Lúcio Funaro à Justiça do Distrito Federal. E ainda, por já existir no
TRF1 um inquérito policial com a finalidade de apurar a suposta prática de corrupção, lavagem de dinheiro e
organização criminosa, por pessoas apontadas por Lúcio Funaro.
http://www.mpf.mp.br/pgr/noticiaspgr/raqueldodgepededecliniodeinvestigacaocontrasenadormarcelocastroporlavagemdedinheiroecorrupcao 2/2