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Oração: rebelião contra o status quo

f. . >ce ficará chocado com a história que vou lhe contar. Isto é,
V caso tenha pelo menos um pouco de consciência social.
Uma senhora pobre e negra vivia em sua casinha numa das
principais cidades do país. A casa, construída pelo finado marido
num terreno diminuto que comprara com sacrifício, era o único
bem que possuía. Certo dia, o vizinho começou a fazer reformas na
casa dele, e, como resultado, as paredes da casa da viúva começaram
a rachar, com perigo de desabamento. Apesar das leis existentes, o
vizinho sempre se esquivava de reparar os danos. Viúva, desespe­
radamente pobre e sem qualquer conhecimento do sistema legal,
a mulher, mesmo assim, levou o caso à justiça. Ela acreditava que a
justiça seria feita. Não tendo recursos, o juiz nomeou um advogado
para lhe dar assistência jurídica gratuita. Infelizmente, o advogado
pouco se interessou pelo caso, e o juiz designado para resolver a
pendência revelou-se um ateu intolerante. O único princípio pelo
qual se orientava, como ele mesmo disse, era que “os negros devem
ficar no seu canto”. As possibilidades de uma sentença favorável
à viúva eram, portanto, muito remotas. Tornaram-se ainda mais
remotas quando ela percebeu que não dispunha do ingrediente
indispensável para obter uma sentença favorável em casos assim,
a saber, uma boa gorjeta. Mesmo assim, ela insistiu.
De início o juiz nem mesmo tirou os olhos da revista que esta­
va lendo e mandou-a embora, marcando a audiência para outro
dia. Audiência após audiência, sempre adiando o estudo do caso,
o juiz começou a reparar na pobre viúva. Finalmente, a insistência
da mulher, que não desistia do caso, despertou nele um pouco de
consciência. Sentiu-se culpado e irado. Por fim, possesso de raiva
é professor de história e envergonhado, atendeu ao pedido da mulher e fez com que a
da doutrina e de teologia sistemática
lei fosse cumprida. Foi uma vitória significativa sobre “o sistema”
no Gordon-Conwell Theological
Seminary, em South Hamilton,
— pelo menos naquele tribunal corrupto.
Massachusetts, nos Estados Unidos. Ao apresentar essa história, não fui muito honesto. Na verdade,
Também leciona na Trinity Evangelical até onde eu saiba, nunca aconteceu um caso como esse, em todos
Divinity School. É autor de inúmeros os detalhes, mas também não se trata de uma história inventada por
artigos e de dois livros.
mim. É uma parábola contada por Jesus (Lc 18.1-8) para ilustrar
Adaptado de "Prayer: Rebelling
Against the Status Quo", Christianity
a natureza da oração de petição.
Today, v. 17, n. 6, 2 nov. 1979. Usado Obviamente, o paralelo que Jesus estabelece n ã o é en tr e Deus
com permissão. e o ju iz corrupto, mas entre a viúva e seu pedido. Esse paralelo
tem dois aspectos. Primeiro: a viúva recusou-se esmorecer”, isto é, jam ais aceitar a situação vi­
a aceitar aquela situação injusta em que estava gente (Lc 18.1).
envolvida, assim como o cristão não deve re- O desaparecimento da oração de petição
signar-se ao mundo decaído. Segundo: apesar em face da resignação tem uma origem histó­
dos desencorajamentos, a viúva insistiu em seu rica interessante. As religiões que dão ênfase à
pleito, como devem os cristãos também proce­ aceitação silenciosa sempre fazem pouco caso
der. O primeiro aspecto diz respeito à natureza da oração de petição. Já os estóicos afirmavam
da oração, e o segundo, à suaprática. que esse tipo de oração revelava a recusa em
Desejo demonstrar que nossas orações irre­ aceitar o mundo existente como expressão da
gulares e fraquejantes, especialmente no que se vontade de Deus. Diziam que era uma tenta­
refere a pedidos, são em geral feitas de maneira tiva de fuga tentar modificá-lo. Eles criam que
equivocada. Diante do fracasso na oração, ten­ tal mudança seria ruim. Um argumento seme­
demos a nos flagelar por causa da pouca disposi­ lhante é encontrado no budismo. O mesmo
ção, dos desejos insípidos, da técnica ineficiente pensamento, embora obtido por um processo
ou da mente dispersiva. Percebemos que, de diferente de raciocínio, pode ser detectado em
alguma maneira, nossa p rá tica está errada e nos nossa cultura secular.
esforçamos para descobrir onde estamos falhan­ Secularismo é a atitude que entende a vida
do. Creio que o problema está na compreensão como um fim em si mesmo. Ele pressupõe
inadequada da natureza da oração e que nossa a impossibilidade de qualquer relacionamen­
oração, na prática, nunca terá a persistência da to com Deus. A consequência é que a única
viúva até que nosso entendimento do assunto norma ou regra na vida, seja na busca de um
seja tão claro quanto o dela. sentido, seja na procura de padrões morais, é
Qual seria, então, a natureza da oração de o mundo tal como é. O pensamento secular
petição? Em sua essência, é a rebeldia — re­ argum enta que temos de chegar a um acor­
beldia contra o mundo em seu estado caído, a do com o mundo tal como é. Procurar outro
recusa absoluta e definitiva em aceitar como referencial para estruturar a vida é futilidade,
normal o que é ameaçadoramente anormal. uma tentativa de “fuga”. Desse ponto de vista,
Nesse aspecto negativo, é a rejeição a todo pro­ Deus, a quem dirigimos a oração de petição,
grama, todo esquema, toda interpretação que não apenas costuma ser visto como uma ideia
destoe da norma estabelecida originariamente vaga, mas também a forma de ele se relacionar
por Deus. Dessa maneira, é uma afirmação do com o mundo é entendida de maneira diferente.
abismo intransponível que separa o bem do mal, Essa concepção de Deus não contradiz as crenças
a declaração de que o mal não é uma variação seculares. Deus pode estar “presente” e “ativo”
do bem: é sua antítese. no mundo, mas sua presença e sua atividade em
Expressando de outra maneira, aceitar a vida nada mudam a situação.
“do jeito que ela é” (o que significa reconhecer a Contra tudo isso, deve-se dizer que a oração
in evita bilid a de da forma em que ela acontece) é de petição só floresce onde houver uma dupla
aceitar a derrota do ponto de vista cristão acerca crença. Primeira: que o nome de Deus tem sido
de Deus. A aceitação do que é anormal traz em santificado de maneira muito irregularmente,
si a pressuposição oculta e não reconhecida de que seu Reino se apresenta com pouca intensi­
que o poder de Deus para mudar o mundo, para dade e que sua vontade é feita em raras ocasiões.
vencer o mal com o bem não se manifestará. Segunda: que Deus pode mudar essa situação.
Nada destrói tão rapidam ente a oração A oração de petição é, portanto, a expressão
de petição (e com ela, o ponto de vista cris­ da esperança de que a vida, tal como existe,
tão acerca de Deus) quanto a resignação. Jesus não apenas p o d e, mas deve ser diferente. Por­
fez menção do “dever de orar sempre e nunca tanto, é impossível viver no mundo de Deus da
maneira que Deus deseja e realizar sua obra de estar “desanimado” ou “esmorecido” é agir como
modo coerente com quem ele é sem se dedicar se Deus e o mundo não estivessem em campos
à oração regular. opostos. Por que então oramos tão pouco a favor
Creio que esse é o verdadeiro significado de nossa igreja local? Qual o problema: técni­
da oração de petição na vida de nosso Senhor. ca ruim, disposição pequena, mente desatenta?
Grande parte de sua vida de oração não é Não creio nisso. São muitos e acalorados os
explicada pelos escritores dos evangelhos (por debates (justificados parcial ou totalmente) em
exemplo, M c 1.35; Lc 5.16; 9.18; 11.1), mas torno da mediocridade da pregação, da aridez
percebemos algumas características nas circuns­ do culto, da superficialidade da comunhão e da
tâncias da vida de oração de Jesus. ineficiência do evangelismo. Por que então não
Em primeiro lugar, a oração de petição pre­ oramos com tanta persistência quanto discuti­
cedeu as grandes decisões de sua vida, como mos esses assuntos? A resposta, muito simples,
a escolha dos discípulos (Lc 6.12). De fato, a é que não cremos que fará qualquer diferença.
única explicação possível para a escolha daque­ Por mais desesperadora que seja a situação, acei­
le bando de homens sem projeção, orgulhosos, tamos que seja imutável: o que é sempre será.
ignorantes e desprovidos de entendimento é Esse não é um problema relacionado com a
que ele orou antes de escolhê-los. Em segun­ prática da oração, e sim com sua natureza. Ou,
do lugar, ele orava quando se via sob enorme mais precisamente, com a natureza de Deus e
pressão, após um dia caracterizado por intensas seu relacionamento com este mundo.
atividades, que lhe exigiram todas as suas ener­ Ao contrário da viúva da parábola, achamos
gias e total atenção (por exemplo, M t 14.23). mais fácil fazer acordo com o mundo injusto e
Em terceiro lugar, ele orava nas situações de caído que nos rodeia, mesmo quando ele invade
crise e nos momentos decisivos de sua vida, as instituições cristãs. Às vezes, estamos cons­
como em seu batismo, na transfiguração e na cientes do mal à nossa volta, mas nos sentimos
cruz (Lc 3.21; 9.28,29). Em quarto lugar, ele impotentes para mudar qualquer coisa. Por mais
orava antes e durante alguma tentação inco­ que nos desagrade, a impotência nos faz de­
mum, sendo o Getsêmani a ocasião mais mar­ clarar trégua na luta contra o erro. Perdemos a
cante (M t 26.36-45). A medida que a “hora” disposição, tanto no que diz respeito ao nosso
se aproximava, o contraste entre a maneira em testemunho social quanto em persistir na ora­
que Jesus a enfrentou e o comportamento dos ção. Felizmente, Deus não nos perdeu, pois sua
discípulos só se explica pelo fato de ele ter per­ ira é a oposição que ele faz ao que está errado, é
severado em oração, enquanto eles dormiam o meio pelo qual a verdade é entronizada para
vencidos pelo desânimo. sempre e o erro é enviado ao patíbulo. Sem a
C ada um desses acontecimentos revela ira de Deus, não haveria razão para viver mo­
nosso Senhor diante da possibilidade de adotar ralmente no mundo, e os argumentos contra
um programa, aceitar uma ideia ou tomar um ca­ esse estilo de vida seriam inúmeros. É nesse
minho diferente do que era pretendido por Deus. sentido que a ira de Deus está intim am ente
A oração de petição marcou cada ocasião em que ligada à oração de petição, porque ela também
ele rejeitou uma alternativa errada. Era a maneira almeja o triunfo da verdade em todas as áreas
de recusar-se a viver neste mundo ou a realizar e o consequente banimento do mal.
os negócios do Pai de outra maneira que não a A estrutura que Jesus nos deu para pen­
estabelecida por Deus. Desse modo, a oração de sar a respeito do assunto foi o Reino de Deus.
petição era um ato de rebeldia contra o mundo Reino é a esfera em que a soberania do rei é
em sua anormalidade perversa e decaída. reconhecida, e a natureza de nosso Rei implica
A oração é a afirmação de que Deus e o que essa soberania seja exercida de modo sobre­
mundo têm objetivos antagônicos. “Dormir”, natural. Em Jesus, a tão esperada era “que há
de vir” já chegou. Nele e por meio dele deu-se Assim, não é fora de propósito enxergar o
a incursão messiânica no mundo. Ser cristão mundo como um tribunal em que possamos
não é, portanto, ter tido a experiência religio­ apresentar nosso caso contra o que está errado
sa correta, mas começar a viver naquela esfera, e a favor do que é certo. A fragilidade na ora­
que é verdadeiramente divina. O evangelismo ção ocorre porque não levamos em conta essa
é frutífero não porque nossa técnica seja “cor­ realidade, e até que a recuperemos não insisti­
reta”, mas porque essa “era” irrompe na vida remos em nosso papel de litigantes. Contudo,
dos pecadores. A era “que há de vir” e que já há inúmeras razões por que devemos recuperar
está alvorecendo não é propriedade de alguma nossa visão e aproveitar a oportunidade, pois
pessoa ou cultura. A “era” de Deus, a “era” de o Juiz perante o qual nos apresentamos não é
seu Filho crucificado está alvorecendo em todo ateu nem corrupto: é o glorioso Deus e Pai de
o mundo. Nossas orações, portanto, devem ir nosso Senhor Jesus Cristo. Você acha que ele
além da preocupação com assuntos particula­ falhará em fazer “justiça aos seus escolhidos,
res e incluir o amplo horizonte de toda vida que a ele clamam dia e noite”? Deixará Deus
humana, na qual Deus está interessado. Se o de atendê-los? Diante dessa dúvida, Jesus afir­
evangelho é universal, a oração não poderá ser mou: “Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça”
restrita a questões locais. (Lc 18.7,8).

Perguntas para estudo

1. Que relação existe entre a oração de petição e a missão da Igreja?

2. W ells afirma que temos duas áreas problemáticas na oração de petição: sua prática e sua natu­
reza. Descreva com suas palavras esses problemas. Qual área é mais importante? Por quê?

3. Observe a interpretação que W ells faz acerca da Oração Dominical, o pai-nosso. Por que ela
é uma oração “missionária”?

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