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Breve resumo dos argumentos

Por Hugo Matias

Pergunta: O conselheiro que é coordenador de colegiado deve sempre reproduzir com


o seu voto a precisa orientação que recebe de seu colegiado de origem? Resposta: Não.
Nem sempre.
Argumento 1 – não existe constrangimento legal, normativo, regimental ou
regulamentar que estabeleça a necessidade de o conselheiro (coordenador de curso)
consultar o colegiado de onde vem, menos ainda de seguir, com o seu voto, a orientação
deste colegiado. Tampouco qualquer norma prevê a deliberação, em colegiado, sobre
questões pertinentes às decisões tomadas em conselho diretor.
Argumento 2 – a maior parte das matérias em que os conselheiros votam não tem
relação direta com o cotidiano do colegiado, cuja competência é didático-pedagógica, e
boa parte delas não tem sequer relação indireta com o que é competência do colegiado.
Argumento 3 – a posição de que sim, o coordenador deve sempre reproduzir
exatamente a orientação do colegiado em seu voto pressupõe uma concepção de
relação entre representante e representado que traria uma longa série de
consequências absurdas.
Argumento 4 – a posição de que sim pressupõe equivocadamente que somente há um
modelo para o entendimento da relação entre representante e representados e que
somente esse modelo é legítimo e garante efetiva representação.
Argumento 5 – a uma compreensão alternativa da relação entre representante e
representado, para a qual não se exige que o coordenador de colegiado sempre
reproduza, em seu voto, a orientação do seu colegiado de origem, e que (a) não implica
as consequências absurdas mencionadas no Argumento 3, (b) é legítima, uma vez que
garante adequadamente a representatividade requerida para a relação entre
coordenador e colegiado, (c) é compatível com as normas e regimentos da UFRB, com
as competências de coordenador e colegiado de curso e as funções de um conselheiro,
(d) é mais realista para descrever a ação concreta da maioria dos coordenadores de
colegiado, na imensa maioria de suas ações em reuniões de conselho.
Teras
– ou, sobre representação política
Por Hugo Matias
Em algum dos corredores do prédio do CCAAB, em meio à correria da vida comum neste
centro de ensino, dois colegas de trabalho se encontram casualmente e travam conversa
sobre tema corrente da política institucional da UFRB e, ao que parece, da atual política
nacional no Brasil.
Teras: Olá Hugo! Para onde vai com tanta pressa? Parece um pouco transtornado. Seria
o caso de perguntar de onde vem?
Hugo: Meu bom amigo Teras! Não posso dizer que faz tempo que não nos vemos –
porque com muita frequência vejo o senhor passar ao longe –, mas não sei qual a última
vez em que nos encontramos num desses corredores em condição de conversar
efetivamente sobre qualquer coisa.
Teras: Então o encontrei numa dessas raras oportunidades?

Hugo: Somente se também o senhor estiver disponível para jogar algumas palavras fora.
Teras: Certamente. Não só porque o fim de tarde chegou mais cedo para mim – de modo
muito atípico. Principalmente porque estou curioso para saber o que o tirou de sua
habitual pressa tranquila e o transportou para essa estranha pressa descomposta que
observo.
Hugo: Acabo de sair de uma reunião de conselho de centro. Ultimamente elas têm sido
mais tensas do que eu gostaria. Os temas são polêmicos e controversos e, mesmo
quando não o são, a atmosfera que respiramos os corrompe e degenera em ocasião de
disputa e dissenso. E, por favor, não me entenda mal: compreender essa atmosfera tem
sido uma ótima distração. Sinto-me um meteorologista, anotando as variações de clima,
umidade, pressão, velocidade dos ventos, precipitações, aqui e acola, em cada conversa,
afim de compor o quadro geral de toda a sucessão de estações. Talvez um dia prever os
seus rumos e até plantar alguma coisa com ciência e discernimento.
Teras: E não está sendo divertida toda essa observação, anotar as nuanças e os caprichos
da natureza ao nosso redor? Compreender essa atmosfera?
Hugo: Ah sim, observar é estimulante. Mas a minha constituição é frágil e respirar essa
atmosfera é outra coisa!
Teras: Ouvir isso é muito divertido. Mas eu confesso que minha curiosidade só aumenta.
Não sou muito afeito a analogias muito elaboradas. Sou prático e por isso pergunto:
como discussões em reuniões de conselho de centro, cujos temas até muito pouco
tempo atrás simplesmente não te diziam respeito, agora absorvem o senhor a esse
ponto. Além do mais, sei que o senhor somente vai a essas reuniões na condição de
suplente de conselheiro. Isso e o caráter muito recente de sua inserção por aqui não
deveriam manter o senhor a uma boa distância do olho de cada furacão nessas
reuniões?
Hugo: Penso que sim. Mas acho que me deixei capturar em uma dessas polêmicas por
um comentário que fiz. Na verdade, tentava justificar uma intervenção breve numa das
reuniões, juntamente com as condições em que o fazia.
Teras: Preciso que explique melhor.
Hugo: Muito bem. Em certo momento, manifestei o meu entendimento em uma das
situações de grande dissenso. Esse entendimento foi rápida e corretamente
interpretado como sendo alheio ao entendimento do colegiado que eu deveria
representar, uma vez que integrava o conselho por ter sido eleito em tal colegiado. Não
que eu estivesse traindo o meu colegiado, mas simplesmente não houve tempo ou
oportunidade para debatermos isso antes da fatídica reunião de conselho. Em todo
caso, posteriormente, o entendimento que expressei foi endossado pelo meu colegiado.
Lá, no entanto, na reunião de conselho, iniciou-se uma discussão sobre a legitimidade
de votar segundo entendimento assim produzido. E eu tive de me justificar dizendo que
o meu entendimento, de fato, não representava (no sentido pretendido por aqueles a
quem eu fiz esse esclarecimento) o preciso entendimento do meu colegiado (lembro
que, àquela altura eu não os havia consultado) e nem era necessário que assim fosse.
Isso não tornaria, de modo nenhum, ilegítima minha participação.
Teras: Meu bom amigo, eu ouvi dizer desse comentário e, para ser sincero, esperava
que se tratasse de um equívoco. Porque não posso conceber que o senhor tenha
declarado tal disparate. Mas vejo que não foi um equívoco, e lamento. Não é óbvio que
como representante de um colegiado junto a um conselho o senhor tem o dever de
precisamente representá-lo sempre?
Hugo: À sua pergunta preciso responder sim e não. Sim, devo representar sempre. Mas
o que significa representar? Se se pretende que isto significa reproduzir ou reapresentar,
como um espelho, uma posição tomada em algum outro lugar, não posso concordar que
seja assim e não me disponho a me portar tão absurdamente.
Teras: Mais uma vez preciso frisar a minha surpresa. Não é precisamente o que se requer
de alguém na posição de representante? Ainda que as palavras em que o senhor a
colocou (elas dão um tom negativo a isto), a representação consiste sim em apenas
reapresentar posição tomada em outro lugar, para que essa posição seja ouvida no
conselho de que o representante faz parte.
Hugo: É precisamente essa a confusão que enfrento para fazer entender qual é a minha
posição. Certamente, o entendimento que o representante obtém junto ao seu
colegiado de origem deve ser trazido por ele ao conselho, mas votar sempre seguindo
esse entendimento seria problemático por uma série de razões que eu desejaria
apresentar, caso o senhor me conceda isso.
Teras: Não apenas porque continuo curioso acerca do seu ânimo, mas também porque
não poderia negar ao senhor a defesa de seu pensamento, por mais que o considere
absurdo e claramente equivocado. Não foi Hume que sugeriu que o conhecimento é a
certeza que nasce da comparação de ideias? Apresente as suas para que possamos
compará-las às minhas e tenho certeza de que o senhor será trazido à razão.
Hugo: O senhor, tudo o indica, já tem as suas certezas, muito embora não tenha
comparado com seriedade a ideia que defende a nenhuma outra. No entanto, fico grato
por me conceder a oportunidade do debate. Isso é mais do que aquilo que já consegui
com outros. Muito bem. Gostaria de destacar que é preciso estabelecermos com clareza
o tópico de nosso debate. A pergunta a que respondem as ideias que pretendo
apresentar é esta: “O conselheiro, representante de um colegiado de curso, deve
sempre votar seguindo o estabelecido por esse colegiado?” O senhor concorda que essa
pergunta é a que nos introduz no debate?
Teras: Sim, a sua formulação é satisfatória. Se trata precisamente disso. É esse mesmo
o nosso ponto de partida.
Hugo: Então prossigamos. A minha resposta sumária a essa questão é não, nem sempre
o conselheiro precisa seguir estritamente o voto recomendado por seu colegiado. E a
primeira razão que apresento é que esse constrangimento não está prescrito em
absolutamente nenhum regulamento aqui da UFRB. O Estatuto da UFRB sequer utiliza
o termo representante para designar a relação entre o coordenador e o seu respectivo
colegiado. Segundo o seu texto, ocupam vaga no conselho diretor os coordenadores dos
colegiados e não os representantes do colegiado (Art. 35, alínea c). Pode parecer um
detalhe sem importância, mas toda essa questão gira em torno do que parecem ser
detalhes sem importância, sutilezas de nossa vida institucional.
Teras: Isso não faz sentido. É tudo muito curioso, mas não faz sentido. Se o coordenador
não é um representante, sob que condição ele faria parte do conselho?
Hugo: Penso que o coordenador é tornado conselheiro não para levar ao conselho a
posição irrevogável do colegiado, mas porque foi considerado capaz de oferecer
conselhos a partir de seu julgamento, de sua experiência institucional etc., e assim
participar, de maneira qualificada, dos debates e processos de tomada de decisão no
âmbito do conselho. Assim, proponho que o coordenador não faz parte do conselho
como um representante stricto sensu. Obviamente, ele deve apresentar, em discussões
que o tornem oportuno, as necessidades relacionadas diretamente aos estudantes e
professores do curso que ele coordena, juntamente com o colegiado de que faz parte.
Isso faz dele representante em algum sentido, mas em nada isso o constrange em seu
modo de votar.
Teras: Isso parece interessante. Eu não havia pensado na função de conselheiro
desempenhada por coordenador de colegiado nesses termos. Mas não há mesmo
qualquer outro regulamento da UFRB que fale sobre isso com mais clareza?
Hugo: Os regulamentos não dizem muito sobre o comportamento dos conselheiros nas
instâncias deliberativas da UFRB e, repito, não há nenhuma declaração direta acerca de
como deve votar o coordenador de colegiado de curso. No entanto, o Regimento Geral,
quando fala sobre colegiados de curso e sobre o papel do coordenador, diz coisas que
podem ser de alguma ajuda. No art. 64 estão listadas todas as competências dos
colegiados. Todas se referem ao cotidiano de gestão do curso e apenas o inciso XVI
menciona o integrar o conselho acadêmico. Por inferência, podemos dizer que quando
o coordenador ocupa assento neste conselho o faz como representante do colegiado.
Aliás, o inciso I do art. 65, que dispõe sobre as competências do coordenador, diz que
ele administra e representa o colegiado. Esse texto denuncia o descuido terminológico
em nossos regimentos. Obviamente aí se confundem colegiado e curso. O colegiado não
é administrado pelo coordenador, o curso sim. O curso não é representado pelo
coordenador, o colegiado sim. Também se diz, no inciso V do mesmo art. 65, que o
coordenador deve dar cumprimento às deliberações do colegiado. No entanto, o
contexto de todo o artigo se refere ao cotidiano de administração – assim o digamos –
didático-pedagógica do curso. A competência didático-pedagógica do colegiado é
diversas vezes enfatizada nesses documentos. Em nenhum momento há qualquer
referência à atuação do colegiado como integrante de outro conselho deliberativo,
tampouco está entre as competências do colegiado, já aludidas no art. 64, dar
encaminhamento a voto do coordenador em outras instâncias deliberativas de qualquer
natureza. Por fim, o mais interessante é que estabelece, no inciso IV, que é competência
do coordenador julgar pedidos de reconsideração contra decisões emitidas pelo próprio
colegiado. No mínimo, isso demonstra que o coordenador de colegiado não está tão
aderido ao colegiado como todos parecem supor.
Teras: Eu estou surpreso! Primeiro com o trabalho que o senhor se deu de fazer toda
essa exegese dos regulamentos e normas que nós temos. Ele me foi certamente
instrutivo. Em segundo lugar, estou surpreso com o descuido desses regulamentos, em
omitir essa prescrição tão importante. Ao que parece, não há mesmo nenhum
regulamento que constranja o coordenador a votar segundo uma deliberação do
colegiado, tampouco está claro que seja de competência do colegiado deliberar sobre
como um voto em conselho de centro deva ser. Isso com toda certeza será suficiente
para convencer aqueles mais apegados à estrita letra da lei, norma, regulamento ou
regimento. E muitos andam por aí se declarando absolutamente aferrados às normas.
Mas esse não é o meu caso. O senhor e eu compreendemos que essa é uma questão
mais profunda, uma questão de princípios, não acha? Por isso, faço duas objeções.
Quando o senhor distinguiu quanto ao coordenador, que há um porquê e um para quê
– distinção com a qual eu agora concordo – não ficou claro que essas duas dimensões
da razão pela qual o coordenador de colegiado tem assento no conselho diretor se
excluem mutuamente. O meu parecer é que não se excluem. Além disso, o fato de que
não está explícito nos regulamentos que o voto do colegiado deve ser seguido pelo
coordenador em sua função de representante não significa que esteja dispensado de
assim proceder. Ainda é seu dever moral, embora não regimental, representar o seu
colegiado.
Hugo: As posições se invertem, meu caro Teras. Agora é o senhor que precisa explicar o
que significa esse dever moral de representar o colegiado.
Teras: Certamente. A razão para o que acabo de dizer é muito simples: é essa
representação que garante a democracia nos processos decisórios empreendidos no
âmbito do conselho diretor. Quod omnes tangit, ab omnibus tractari et approbari debet.
Perdoe-me se parece pedantismo, mas esse é o princípio – consagrado por Guilherme
de Okham, em seus Diálogos – para um processo de tomada de decisão que seja justo
ou moralmente adequado: o que é do interesse de todos, por todos deve ser tratado e
aprovado. Como o colegiado não está presente ao conselho diretor, o seu representante
fala estritamente em lugar dele e, portanto, deve falar como ele falaria, votar como ele
votaria, reapresentar a sua posição.
Hugo: Prezado Teras, eu o felicito por ser um interlocutor realmente qualificado. Isso
não é apenas incomum, mas raro e de muitíssimo valor! Acho que agora nós nos
transportamos da superfície da questão para regiões mais profundas. Essa é certamente
uma formulação mais clara das opiniões mal acabadas que tenho ouvido. Ela me
permitirá, contudo, revelar todo o contrassenso que esse pensamento oculta.
Teras: Amigo Hugo, a sua bajulação não me tolherá os sentidos. O senhor ainda precisa
ser convincente em sua argumentação contra um princípio tão bem estabelecido.
Hugo: Realmente, seria uma tarefa muito difícil argumentar contra esse princípio. Eu
fico feliz porque isso não será necessário. A única coisa que preciso demonstrar para
defender a minha posição é que esse princípio não se aplica à matéria em questão. E é
justamente isso que produz toda sorte de contradições – as quais irei discutir – para a
posição pelo senhor defendida.
Teras: Peço que o senhor não se demore, então. Estou agora mais curioso do que nunca.
Só espero que essa estratégia não se mostre uma camuflagem, uma cortina de fumaça
lançada sobre a questão. Não serei complacente com esse tipo de expediente.
Hugo: Estou certo de que o senhor se satisfará com as razões. Gostaria, ainda, de mudar
o método que venho utilizando. Desejo fazer algumas perguntas, às quais o senhor
responderá com toda honestidade, critério e perspicácia.
Teras: Concordo.
Hugo: O senhor sabe como o colegiado de curso é constituído?
Teras: Não é só o senhor que conhece algo sobre os regulamentos da UFRB. Eu sei que
há um documento que rege o funcionamento dos colegiados e diz que os colegiados
serão constituídos por 20% dos docentes que ministram aula em determinado curso.
Esses membros do colegiado são docentes escolhidos por seus pares e haverá pelo
menos um representante de cada área de conhecimento do curso. Além desses, o
colegiado ainda será composto por representantes discentes, na proporção de 1/5 das
vagas do colegiado.
Hugo: Precisamente. O senhor citou a Resolução do CONAC 008/2009, que dispõe sobre
o regimento interno dos colegiados, especificamente, o art. 3.
Teras: Em que isso nos ajuda quanto à questão?
Hugo: O senhor percebe que se o coordenador representa o colegiado do curso, por sua
vez, o colegiado do curso também representa mais alguém?
Teras: Sim. Isto está claro.
Hugo: E quem o colegiado representa?
Teras: Os professores que compõem o colegiado representam os professores que
ministram aula no curso e os representantes discentes representam os estudantes que
fazem esse mesmo curso.

Hugo: O escopo de representação, segundo o modo como se constituem os colegiados,


não parece estar bem circunscrito ao que diz respeito ao curso?
Teras: Sim.
Hugo: No entanto, as deliberações realizadas no conselho diretor, só muito raramente
se referem a algo diretamente relacionado aos cursos. Boa parte das decisões em que o
representante do colegiado toma parte simplesmente não são relacionados ao curso,
nem direta, nem indiretamente. Aliás, eu preciso comentar isso: por essa razão, a pauta
do conselho diretor não é trazida para o âmbito do colegiado na imensa maioria das
vezes, porque simplesmente não interessa.
Teras: Compreendi o que o senhor pretende. Mas o senhor ignora o fato de que mesmo
questões que não podem ser diretamente atreladas ao interesse do curso sempre o
podem ser atreladas ao interesse geral de toda a comunidade.
Hugo: Não ignoro isso. É verdade o que o senhor diz, mas o coordenador não é um
representante da comunidade em geral. Ele o é para o colegiado. Note que a
comunidade em geral tem os seus representantes no conselho. São os representantes
discentes, docentes e dos servidores técnicos.
Teras: Eu não poderia pensar que o coordenador de colegiado também representa um
grupo de docentes e de discentes?
Hugo: Poderia, mas isso leva a um absurdo interessante: torna-se possível que o
coordenador, representando docentes tenha de votar de modo diferente do
representante docente no conselho. Os dois estariam representando os mesmos
docentes e votando de maneira diferente. Além disso, não se esqueça que parte do
colegiado é também de discentes. Um absurdo semelhante se poderia produzir na
relação entre o seu voto e o da representação discente. Um terceiro absurdo, ainda mais
interessante, é que eventualmente, o posicionamento do representante discente no
colegiado pode ser minoritário – ainda que unânime entre os discentes – e, portanto,
derrotado no âmbito do colegiado. Mas o coordenador, votando contrariamente aos
discentes, por força de seu compromisso com o colegiado, ainda estaria votando como
seu representante, isto é, dos mesmos discentes, em algum sentido obscuro.
Teras: Tudo isso me parece muito complexo. Eu ainda não discerni sua intenção com
esses últimos apontamentos.
Hugo: Não parece óbvio que o coordenador, em sua condição de representante do
colegiado, está naturalmente atrelado a uma entidade abstrata que é o curso, já que
atrelá-lo a grupos de docentes e discentes levaria a absurdos como os apresentados. E
uma vez que o coordenador, de alguma maneira, se interessa pelas necessidades
relacionadas ao curso, o escopo de interesses representados não coincide mais com
aquele que é o ponto de partida para o seu entendimento da representação aqui em
pauta.

Teras: Não obstante as questões levantadas tenham algum impacto no meu


entendimento, ainda não estou convencido. Essa estratégia de argumentação – reductio
ad absurdum – talvez tenha um papel em discussões filosóficas altamente especulativas,
mas não me parece ter importância prática para os temas de que ora tratamos.
Hugo: Não posso ver um problema de consequências mais práticas do que dois
representantes de um mesmo grupo votando de modos diferentes, eventualmente
contrários. Isso levaria ao questionamento de toda a instituição que gerou esse conflito
de interesses. Em todo caso, há outros problemas de ordem prática se supusermos que
o representante deve sempre extrair o seu voto da orientação estrita de seus
representados. Por exemplo, o senhor não acha que se houver mesmo uma exigência
de que o coordenador leve ao conselho um entendimento tirado do colegiado que ele
representa, por sua vez os membros do colegiado e o representante discente do
colegiado não precisariam fazer o mesmo?
Teras: Sim. O que vale para uma instância vale para a outra. Isso seria perfeitamente
compreensível.
Hugo: No entanto, efetivamente, os membros docentes do colegiado não o fazem para
absolutamente nenhuma questão! Eles não se sentem desconfortáveis em votar, em
reunião do colegiado, segundo o seu próprio entendimento da matéria em questão. Não
vão atrás dos outros professores que os elegeram para saber como avaliar uma questão
ou outra. Em boa parte das vezes, o representante discente também não o faz. De outro
modo, ele teria de realizar uma assembleia dos estudantes de seu curso antes de toda
reunião de colegiado. Aliás, pelo que o senhor sugere acerca da representação, as
pautas do conselho deveriam sempre seguir a mesma escalada, de cada professor e
aluno do curso, passando pelo colegiado, até o conselho.

Teras: Eu já estou ficando tonto com toda a profusão de detalhes que, a meu ver,
somente mostram a imperfeição do mecanismo, mas não a sua impossibilidade.
Hugo: Gostaria de destacar mais algumas imperfeições. Ainda posso contar com a sua
paciente colaboração em responder às minhas perguntas?
Teras: A esta altura, todas elas me parecem armadilhas. Mas como posso agora fugir
delas, uma vez que consenti no debate? Por favor, faça as suas perguntas.
Hugo: Mais uma vez, amigo Teras, ressalto o seu precioso compromisso com o que o
senhor chamou comparação de ideias. Geralmente, não consigo participar de muitos
debates porque os interlocutores, de maneira geral, acham que debater é nada mais do
que insistir teimosamente com a sua ideia. Eles sequer se dão o trabalho de ouvir ideias
concorrentes, menos ainda pesá-las com honestidade na balança da razão.
Teras: Concordo que o debate já não faz mais parte da vida comum e que, mesmo em
meio acadêmico a palavra debate não designa mais uma realidade. Funciona mais como
peça decorativa em falas indisfarçadamente monológicas. Também agradeço o fato de
que a sua argumentação não esconde as suas raízes e não pula de um item para o outro
com a rapidez de um pensamento que pretende não ser julgado. Mas peço que
continuemos enquanto ainda tenho paciência para ouvir.
Hugo: Sim, voltemos. Deixemos de lado agora o que ocorre nos colegiados e voltemos a
nossa atenção para o que ocorre nos conselhos. Posso dizer que o principal da atividade
do conselho é a deliberação?
Teras: Óbvio.
Hugo: E que a deliberação somente é legítima se antecedida de discussão?
Teras: Mais uma obviedade.
Hugo: Essa discussão também se deve fazer no âmbito do conselho?
Teras: Com certeza.
Hugo: E para que serve a discussão no conselho?
Teras: Ora, o senhor agora zomba de mim? Acabou de me perguntar se concordo com
a ideia de que a deliberação somente é legítima se antecedida de discussão e eu disse
que sim. Por que repetir a pergunta? Não pedi que não gastasse a minha paciência?
Hugo: Perdoe-me. Eu poderia ter ido direto ao ponto. É que se o coordenador deve levar
o entendimento do colegiado que representa, de maneira incorrigível, ao conselho, a
discussão efetivamente se faz no âmbito do colegiado. Isso torna inútil a discussão no
âmbito do conselho, além de inoportuna e inconveniente. Por isso, refaço a minha
pergunta destacando a ênfase que pretendia dar desde o início: para que serve a
discussão no conselho?
Teras: Bom, no conselho, cada conselheiro pode ter o seu julgamento esclarecido ou
enriquecido pela discussão, pelo ponto de vista do outro. Espere um pouco. Sei que me
referi ao julgamento do conselheiro e imagino que o senhor está pensando que assim
contradigo a minha tese de que ele, o conselheiro, deve trazer o posicionamento do
colegiado. Mas isso não seria adequado, pois não me refiro às discussões acerca das
quais o colegiado deliberou. O conselheiro julgará por si mesmo outro tipo de questão.
Hugo: Então, de fato, minha pergunta funcionou como uma armadilha, não é?
Teras: Note, no entanto, que não me deixei enredar por ela.
Hugo: Mesmo assim, percebo que o senhor já admite que há questões que não são
pertinentes ao colegiado e, sobre elas, o coordenador pode exercer a sua competência
discricionária.
Teras: Em nenhum momento foi minha intenção defender o contrário.
Hugo: A questão que propus agora ainda não se encerrou. Essa simples concessão que
o senhor faz tem uma série de implicações interessantes. Não estou muito certo sobre
por qual delas devo começar. Mas como devo começar por algum lugar, penso em
discutir primeiro uma situação que me parece divertida: suponha ter havido no
colegiado uma discussão e essa discussão produziu um entendimento que, embora
endossado pela maioria, não o foi pelo coordenador. Ele estaria, segundo o seu modo
de pensar, obrigado a contrariar as suas convicções e votar segundo o entendimento do
colegiado, certo?
Teras: Sim. Acho que esse é o coração do problema.
Hugo: Transportemo-nos agora para a reunião do conselho diretor. Lá a obrigação do
coordenador de colegiado seria somente votar ou, participando da discussão, ele
também deveria argumentar em favor do voto do colegiado?
Teras: No mínimo ele estaria obrigado a apresentar com rigor as razões do colegiado
para votar de uma determinada maneira.
Hugo: Mas ele estaria impedido de apresentar as suas próprias convicções e argumentos
sobre a matéria?
Teras: Suponho que a discussão e o processo de tomada de decisão seriam prejudicados
e empobrecidos se ele não tivesse o direito de manifestar sua própria avaliação da
matéria, mesmo que ela fosse contrária à de seu colegiado.
Hugo: Desse modo, seria possível que ele convencesse outros conselheiros a votar
segundo as suas próprias convicções ao passo em que ele mesmo estaria obrigado a
votar contra elas? Achei essa situação divertida por causa da esquizofrenia que impõe à
pessoa e função do conselheiro.
Teras: Acho que compreendi o problema, mas certamente não acompanho o seu
estranho senso de humor.
Hugo: Permita-me discutir uma outra situação: suponha que o coordenador vai à
reunião do conselho munido da orientação de seu colegiado, desta vez também convicto
dela. Não estou admitindo que o colegiado tenha competência para instruir o voto de
seu coordenador em reuniões do conselho diretor, senão ex hypothesis. Espero ter
demonstrado que essa competência simplesmente não está prevista em nenhum
regulamento. Feita a ressalva, continuemos. Durante a reunião, o coordenador se deixa
convencer pelo discurso de outros conselheiros de que a orientação tirada do colegiado
precisa de correção. O que ele fará neste caso? Parece-me que ele tem três opções:
votar, mesmo assim, conforme orientação que trouxe. Mas essa opção implica que a
discussão no âmbito do conselho não tem valor. Sendo assim, o voto poderia ser
mandado via ofício, memorando, email ou mesmo pelo whatsapp.
Teras: Por favor, mantenha a compostura!
Hugo: Perdoe-me o excesso. A segunda possibilidade seria votar conforme o seu novo
entendimento, mas isso seria trair a orientação do colegiado. A terceira opção seria
trazer a questão de volta para o colegiado, com a anuência do conselho.
Teras: Somente a terceira me parece acertada.
Hugo: No entanto, bem compreendida, ela também não é satisfatória. Em primeiro
lugar, nem sempre há disponibilidade para isso. Por exemplo, se nenhum fato novo foi
trazido nessa discussão, mas apenas uma argumentação melhor elaborada para
sustentar posição divergente daquela trazida do colegiado, o coordenador não poderia
pedir vista do processo em pauta, principalmente se se tratar de matéria de urgência,
segundo o art. 27, § 2º do Regimento Geral. Em segundo lugar, mesmo que o
coordenador solicite o retorno do tema para discussão em colegiado, ele estaria
contrariando a orientação do colegiado que foi votar de uma determinada maneira. Ao
agir dessa maneira, o coordenador se comportaria como agente de crítica ao
posicionamento do colegiado. Deixaria de ser, segundo posição pelo senhor defendida,
o seu legítimo representante.
Teras: Prezado Hugo, o senhor acha mesmo que o colegiado se sentiria desacatado
numa situação em que o coordenador, por zelo de consciência, trouxesse de volta
alguma matéria para nova apreciação? E também pergunto, o senhor não acha que há
matérias que por sua complexidade, importância ou natureza polêmica deveriam
constranger o coordenador a buscar orientação sempre no colegiado que o elegeu?
Hugo: Meu amigo Teras, de fato agora estamos tratando o coração de toda a questão,
mas não nos afobemos. O senhor acabou de fazer perguntas às quais é necessário
responder separadamente e com muito cuidado. O senhor há de concordar que sim, em
algumas situações o colegiado pode se sentir desacatado em ter uma matéria sobre a
qual já houve deliberação trazida de volta, e isso mostra, como o senhor já notou, que
a terceira opção para o modo de lidar do coordenador com a situação que agora
analisamos é parente chegada da segunda opção. Para se sentirem desacatados basta
que os demais membros do colegiado não percebam o motivo para o retorno da matéria
como o coordenador, seu representante, percebe. Esta eventual discrepância de
percepções constitui o ponto fulcral de todo o nosso debate. E não há nada de novo
nesse debate. A literatura sobre representação política trata dele como “controvérsia o
mandato independente”, segundo a formulação de Hanna Pitkin.
Teras: Ora, eu não sabia que há toda uma literatura sobre o assunto.
Hugo: Mas há. Em uma resenha interessante sobre o verbete Representação Política,
escrita por Maurizio Cotta e publicada no Dicionário de Política – por sua vez editado
por Norberto Bibbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino –, esse autor diz haver três
modelos principais de representação política mais discutidos na literatura pertinente: a
representação sociológica, a delegada e a fiduciária. Mas destaco agora que,
diferentemente do que subjaz ao modo como tem sido abordada entre nós toda essa
problemática, há uma pluralidade de sentidos para a ideia de representação.
Teras: Bom, se as referências que o senhor traz são confiáveis, é inegável que
deveríamos ver o tema da representação com maior cuidado. Mas estou agora curioso
para saber sobre os sentidos que a representação pode assumir segundo os modelos
aludidos.
Hugo: Permita-me ser muito sumário. Eu não desejo reproduzir aqui todo o debate em
torno da questão. Já mencionei uma resenha interessante a que o senhor pode recorrer
para maiores detalhes. Mas afirmo que a distinção que nos importa é esta: tanto na
forma sociológica como na forma delegada da representação deve haver absoluta
identidade entre a ação do representante e o que seria a ação de seus representados.
O modo como o senhor vem pensando a relação de representação entre coordenador e
colegiado estaria mais próxima da representação delegada, isto é, a ideia de que a pauta
como estabelecida pelo colegiado tem caráter vinculante ao “mandato" do coordenador
em sua função de conselheiro. Isso implica, como já notamos, uma série de dificuldades
impostas pela dinâmica do processo político, à qual o modelo não se adapta bem por
sua estaticidade. Já no modelo fiduciário, o representante, que conta com a confiança
de seus representados, estará comprometido não com a simples imitação do modo de
agir do colegiado que representa, mas estará comprometido com os seus interesses no
modo como são por ele percebidos. Isso lhe confere poder discricionário e flexibilidade
suficiente para agir nas diversas instâncias do sistema político a que tiver acesso em
nome da congregação que efetivamente representa.
Teras: Devo admitir que esse modelo fiduciário tem o seu apelo. Eu ainda não havia
ouvido com clareza a respeito dessa perspectiva sobre representação.
Hugo: Mesmo assim esta é uma perspectiva também muito antiga na tradição política.
É lugar-comum nesta literatura mencionada que, em seu discurso de posse no
parlamento inglês em 1774, Edmund Burke dizia ser o seu trabalho de parlamentar um
“trabalho de razão e juízo”, muito mais do que simplesmente reapresentar quereres e
preconceitos locais. Essa concepção de representação contorna todos os problemas por
mim discutidos que concernem à concepção disseminada em nosso meio sobre
representação. Tudo aquilo que o senhor chamou de imperfeições do mecanismo
político segundo o desenho dado pelos regulamentos da UFRB são, na verdade, facetas
de uma perspectiva sobre representação que, pelas dificuldades que impõe, já faz algum
tempo caiu em descrédito entre aqueles que fazem política com consciência e que
teorizam sobre política.
Teras: Isso significa que o modelo pelo senhor defendido não traz os seus próprios
problemas? Ficando acima de todos os outros.
Hugo: De modo nenhum. Um problema a que eu mesmo já aludi ocorre quando a
percepção de interesses de um colegiado não coincide com a de seu representante.
Espera-se que isso possa ocorrer, mas não com frequência e contundência o suficiente
para desvincular representantes e representados. Na verdade, cada um dos modelos de
representação tomados, se levados ao extremo, promove distorções do processo
político. Assim, mesmo o modelo fiduciário precisa de ajustes, o que consiste
basicamente no uso de certos controles por parte dos representados (com efeito, por
exemplo, sobre a continuidade de seu mandato) e no uso de uma certa moralidade
política, que responsabiliza representantes e os faz prestar contas de suas ações junto
aos representados.
Teras: Se isso é assim tão simples, por que motivo não tem sido mais utilizado?
Hugo: Acho que depende do amadurecimento das instituições em um determinado
sistema. Tenho um exemplo interessante e próximo para citar. Em seu Regimento
Interno, o Conselho Acadêmico da UFBA estabelece, no art. 2, § 4º, que o conselheiro
tem “autonomia representativa” para decidir sobre questões não apreciadas por sua
unidade de origem em assuntos apreciados de forma intempestiva pelo plenário do
conselho. Esse parece ser um dado que aponta para um entendimento, embora
incipiente, do representante como fideicomissionado. Eu suponho que isso resolva uma
parte dos problemas eventualmente enfrentados nos processos de tomada de decisão
naquele conselho, embora restem muitos outros que, me parecem, não foram previstos
ou que são enfrentados de outras maneiras não esclarecidas pelo seu regimento.
Teras: Então, em sua opinião, faltam entendimento acerca das diversas perspectivas
sobre representação, amadurecimento das instituições, quem sabe, discussão
adequada de todas as implicações de um modelo ou outro.
Hugo: Acho importante dizer que muitas vezes, em vez de encarar com compromisso e
disponibilidade mental os problemas cotidianos relacionados à representação,
adotamos soluções provisórias, fragmentadas e pouco institucionais para eles.
Teras: Isso que acaba de dizer me parece certo, lamentavelmente realista. Mas
deixemos de lado, mais uma vez, as nossas queixas. Peço que retome uma questão por
mim proposta e que acabou sem o devido tratamento. Eu perguntava se não
poderíamos discriminar matérias de deliberação segundo a sua complexidade,
importância e caráter polêmico, fazendo com que as mais complexas, importantes e
polêmicas fossem encaminhadas para uma discussão nas bases.
Hugo: Essa expressão, “nas bases”, me dá arrepios. Talvez seja a expressão mais
demagógica de todos os tempos, ultimamente capturada por uma mentalidade
partidária que invade todas as instâncias da ação política, inclusive onde ela é
absolutamente impertinente. Mas discutir isso agora desencaminharia o nosso debate.
Então, retomando a sua pergunta: suponho que adotar tais critérios nos levaria
inevitavelmente ao poder discricionário do representante – portanto, não escaparíamos
à necessidade de dar unidade ao nosso entendimento acerca do que significa a
representação – e, por outro lado, nos levaria inevitavelmente também à arbitrariedade
no processo de discriminar matérias com esses critérios. Isso seria muito ruim. Por
exemplo, o que significa dizer que um tema é polêmico?
Teras: Um tema é polêmico quando não há sobre ele acordo.
Hugo: Isso qualificaria como polêmicos uma grande parte dos temas debatidos e
votados pelo conselho, senão todos, já que não se debatem temas sobre os quais não
há discordância.
Teras: Poder-se-ia estabelecer que apenas temas muito polêmicos fossem considerados
polêmicos.
Hugo: A imprecisão dessa fórmula daria ocasião a todo tipo de uso para ela, inclusive
usos corrompidos. E o mesmo se aplicará a cada um dos outros termos – importância e
complexidade. Cada agente do processo, segundo os seus próprios interesses poderia
tentar impor a sua própria percepção de importância, complexidade e natureza
polêmica. Faltaria ao conselho critério para repelir usos corrompidos ou simplesmente
incompetentes para o uso dessa qualificação das matérias de debate.
Teras: Sim. Vejo com clareza que o senhor está certo.
Hugo: Este último tópico me traz à mente um problema importante que, embora
aludido, ainda não foi tratado.
Teras: Meu Deus! Então não faltam problemas às nossas instituições de tomada de
decisão, não é mesmo? O que mais pode haver de não ponderado em todo esse
imbróglio em que nos metemos?
Hugo: Ainda não analisamos o seguinte problema: eventualmente, o colegiado pode
propor uma orientação que leva em consideração os interesses do curso, mas que
prejudica interesses mais gerais do Centro de Ensino ou da UFRB como um todo.
Supondo que o colegiado se oriente dessa forma, o coordenador ainda estaria obrigado
a seguir essa orientação?
Teras: Essa suposição é excessivamente abstrata. Os interesses do curso poderiam
mesmo estar em conflito com os interesses do Centro ou da UFRB?
Hugo: Não me parece difícil imaginar uma situação como essa. Posso construir o cenário
mais palpável para discutirmos esse tópico se assim o senhor preferir.
Teras: Por favor, meu amigo de imaginação tão fértil.
Hugo: Suponha que surge em determinado centro a ideia de que é preciso resolver a
questão da falta de docentes para determinados cursos e que uma proposta começa a
circular, segundo a qual poderíamos tomar as vagas que constam para esse centro no
banco de equivalência e utilizá-las para fazer concurso público de pessoal efetivo.
Suponha que essa ideia ganha força em alguns colegiados que vislumbram a
possibilidade de ratear essas vagas, esvaziando o banco de equivalência do centro.
Como o senhor sabe, sempre que é necessário contratar um professor substituto, são
utilizadas vagas do banco de equivalência. Se utilizadas todas as vagas do banco de
equivalência, não haveria possibilidade de realizar ao menos algumas contratações de
substitutos. Mesmo assim, professores efetivos continuariam se afastando para
capacitação, por licença maternidade e por vários outros motivos que seria difícil prever.
E por mais que, em determinado momento, os docentes de alguma congregação
específica se comprometam em assumir os encargos uns dos outros, isso esbarraria nas
normas sobre carga horária máxima de encargos de ensino, na fidelidade de cada um a
esses compromissos, nas diferentes situações concretas de vida, que podem mudar
mesmo para alguém fiel à sua própria palavra, além do fato de que os professores de
uma certa congregação podem mudar, ser removidos, transferidos etc., e os novos
docentes que vierem não se sentirão na obrigação de atender a compromissos feitos
por terceiros. Mesmo assim, esvaziar o banco de equivalência não é uma decisão que
possa ser revertida.
Teras: Certamente, essa questão do banco de equivalência não é clara para todo mundo
e ninguém discordará do fato de que é um tema polêmico.
Hugo: Vejo que o senhor também é dado ao humor das ironias. Destaco que a percepção
de que o tema do banco de equivalência é mal compreendido faz parte do cenário que
estou construindo. Assim, mesmo colegas bem-intencionados podem, por sua
dificuldade de entendimento, se deixar levar por esta proposta. Por mais que se trate
apenas de suposições, já ouvi muitos colegas aventarem essa possibilidade e nos
colegiados e nas áreas é muito comum se falar em que tal vaga pertence ao colegiado
ou à área etc.
Teras: Sim. Este é um entendimento disseminado entre nós.
Hugo: Então. Um coordenador eventualmente perceberia o prejuízo que tal proposta
traria ao centro como um todo e, eventualmente, teria de lidar com a orientação,
unânime em seu colegiado – assim o supusemos –, para votar pela possibilidade de
rateamento das vagas. Eventualmente, ele seria tido como cooptado pela administração
central (para quem, por sinal, esse seria um problema mais claramente delineado), mas,
a rigor, estaria defendendo os interesses até do próprio colegiado que o acusa de
traição. Ele somente poderia votar segundo a sua convicção – e estaria justificado em
fazê-lo – se entendemos a relação de representação como fiduciária. Neste caso, haveria
divergência de percepção de interesses mas não haveria, de modo algum, um problema
de representatividade.
Teras: Então, o que o senhor sugere, no final das contas, é que o representante do
colegiado siga os caprichos de seu próprio entendimento?
Hugo: De modo nenhum. Como já mencionei, ele deve estar sempre comprometido com
os interesses pertinentes ao curso que ajuda a administrar, do mesmo modo que o
colegiado. Frequentemente, recorrerá ao colegiado para orientação e frequentemente
extrairá daí o seu posicionamento para deliberação em conselho. Não digo que isso se
faça em reuniões específicas para deliberação antecipada no âmbito do colegiado, mas
no dia a dia e na convivência com os seus colegas de colegiado. Do mesmo modo,
prestará contas de suas ações no conselho junto ao seu colegiado e se houver, em algum
momento, situações em que a legitimidade de sua representação seja questionada,
deve haver mecanismos para que o colegiado possa requerer o seu mandato para passá-
lo a quem realize melhor o trabalho, assim como deve fazer parte da moralidade do
coordenador – no exercício de seu chamado público – o colocar seu cargo à disposição,
caso ele perceba sua posição como insustentável. Apesar de não parecer, pelo tipo de
coisa que se diz sobre representação esses dias, esse é tanto um sistema mais simples,
como também mais realista e se adequa melhor à vida institucional concreta que
experimentamos.
Teras: Fiquei intrigado. O que o senhor pretende dizer com isso de que esse modelo se
adequa melhor a “vida institucional concreta que experimentamos”?
Hugo: Pretendo dizer justamente o que disse. Essa discussão, aparentemente, não tinha
muita importância até ser levantada nos últimos tempos – para o que eu dei a minha
singela e involuntária contribuição. Antes disso, os coordenadores iam às reuniões de
conselho faziam o seu trabalho, e os colegiados estavam satisfeitos em saber que as
coisas andavam. Aliás, na maioria dos casos ainda agora é assim, na maioria dos
colegiados, na maioria dos centros de ensino. Os coordenadores operam como
representantes fiduciários. Somente por causa dos temas que ora estão em voga é que
se dedica maior atenção a esse assunto da representação. Fico achando que a discussão
que se faz sobre isso agora é menos um debate do que uma tentativa de se obter certo
resultado político. E preciso deixar claro que esse desentendimento ocorre de tantos
lados quantos houver. Não se trata de um equívoco de um lado ou outro, mas de algo,
até onde posso perceber, generalizado. E posso até admitir que esse é um processo em
muito inconsciente, mas não posso deixar de lamentar pela oportunidade de debate que
se perde. Tenho ainda motivos para crer que em pouco tempo, toda essa atenção ao
tema simplesmente cessará. Eu mesmo apresentei diante do colegiado de que faço
parte a minha posição e, ao mesmo tempo, pus a minha posição de vice-coordenador
de colegiado à disposição. Isso nem gerou a discussão que eu desejava nem a minha
posição de vice-coordenador foi questionada. Não quero pensar que isso se deve ao fato
de que não há especial encanto nessa posição nem há filas para assumir isso. Mas o fato
é que isso continuou como estava. Talvez a discussão se estabeleça quando tivermos
agenda para tal. Em todo caso, também não tenho notícia de que isso está em debate
em qualquer outro colegiado. Pode ser que esteja, mas não tenho notícia. Por sinal,
soube também que, em certo episódio de nossa política institucional recente, os
coordenadores de colegiado estavam orientados a votar segundo uma assembleia
docente, o que, mais uma vez, depõe contra essa aparente clareza de que o
coordenador representa o colegiado (nesse caso, ele seria absorvido a representante
docente?). Não quero julgar o mérito dessa orientação, mas o seu encaminhamento
parece mais que sugestivo.
Teras: Meu caro amigo Hugo, tudo o que o senhor disse até aqui tem alcançado grande
efeito sobre a minha compreensão do tema. Na verdade, até me sinto um pouco zonzo
de tanto ponderar implicações, sentido disso, sentido daquilo. Mas uma coisa em que
não consigo parar de pensar é que haveria uma perda no processo democrático se
mudássemos o nosso modo de entender a representação. Sendo assim, apesar do seu
grande esforço e diligência ainda não estou convencido.
Hugo: Teras, meu bom amigo, preciso dizer – e com toda a consideração e apreço que
tenho pelo senhor – que a esta altura o senhor ainda está aderido a uma compreensão
vulgar de democracia. Há em nosso meio essa noção baixa de que ela, a democracia,
consiste num sistema que articula interesses privados e particulares, no máximo,
interesses grupais, mas sempre fragmentários, e que é democrático um processo em
que esses interesses privados se enfrentam, todos que podem votam e a maioria vence.
Essa suposição já foi exaustivamente atacada por diversos teóricos da democracia como
degenerescência: a tirania da maioria depondo o julgamento sereno da razão. A
democracia não é assim para a maioria das pessoas que pensam seriamente essa forma
de exercício do poder. É no interior dessa forma de pensar que os modelos imitativos de
representação têm mais espaço. Assim, os representantes reapresentam as orientações
de seus representados, não importa o que digam, não importam a suas motivações, não
importam as consequências dessas orientações.
Teras: Penso que agora o senhor deixou de debater e passou a repreender a minha
posição. Isso efetivamente muda as condições de nosso engajamento nessa conversa.
Hugo: Sinto muito. O senhor tem toda a razão. Eu me senti frustrado e não me contive.
Acabei apresentando mais de minha indignação do que minhas ideias contra esta
concepção de democracia. É que esse seria um tema para outro debate, talvez longo e
intenso como o que tivemos até aqui.
Teras: Além do mais, parece-me que há componentes de toda essa problemática que o
senhor ignora por sua inexperiência quanto a essas questões institucionais – já que
chegou há pouco – e, particularmente, quanto àquilo de que o senhor me falava no início
de nossa conversação, isto é, que há uma atmosfera no processo político daqui que o
senhor ainda não conseguiu discernir.
Hugo: Vejo que o senhor retribui a minha repreensão com esse tom condescendente.
Essa é uma maneira viciosa de argumentar, uma vez que me incapacita de defender uma
posição sobre algo que supostamente eu não posso saber por qualquer razão que seja.
Isso lança o debate na escuridão das questões subterrâneas e, francamente, é uma
posição em que não esperava ser colocado pelo senhor.
Teras: Meu bom amigo Hugo, eu também sinto muito. Acho que estamos ambos
exaustos e já não nos encontramos em nossos raciocínios. Sugiro que deixemos tudo
como está e preservemos a boa companhia que somos um para o outro, o que acha?
Hugo: Suponho que deixar alguns debates em suspenso seja o preço a pagar a fim de
guardar os bons interlocutores. Eu certamente poderei viver com isso.
Teras: Em todo caso, meu amigo, o senhor mais falou do que ouviu, não é verdade? E
sou eu quem terá de processar toda a profusão de novas informações e perspectivas
com as quais o senhor me presenteou. Espero que compreenda a minha fadiga.
Hugo: Claro. Certamente. Além do mais, amanhã será um outro dia e ainda teremos
muito com o que nos ocupar...

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