Resumo Capítulo 2 – Individualidade do livro Modernidade Líquida de
Zygmunt Bauman
Zigmunt Bauman destaca em sua análise do cotidiano, especificamente
sobre os vínculos sociais possíveis no mundo atual, caracterizado pela velocidade e pela angústia que pairam no ar, considerando que nossas ações efetuadas mudam antes mesmo de se consolidarem as práticas do dia-a-dia.
Capitalismo pesado e capitalismo leve: uma distinção
Capitalismo pesado seria um mundo ordeiro e rigidamente controlado,
obcecado por volume e tamanho, e por isso, também por fronteiras, fazendo-as firmes e impenetráveis, assim alienando o trabalhador não só ao trabalho, qual o faz enquanto ser humano, homem, quanto ser social, de ação para si e para o outro, portanto refletindo em sua vida. Hoje em dia o capital viaja leve, apenas com bagagem de mão, outrora as fábricas do capital pesado, presas ao solo; hoje em dia há vários caminhos, rápidos, não fixados e que dialeticamente transformam ao homem e suas relações, como por exemplo, de existirem várias verdades, que antes, no capitalismo pesado, existiam poucas e os fins para qualquer que fosse o caminho era certo, talvez e muitas vezes doloroso, mas certo. No capitalismo leve os meios são vários e os fins incertos, gerando assim, angústia perante a coleção infinita de possibilidades, pois nada é mais dito unicamente e sim muito flutuante e sedutor, não há o que seguir, e sim quais irei seguir, através de quais meios e tantos fins. Tudo isto traz infinitas possibilidades, cada uma mais apetitosa e atraente que a anterior e assim, preparando o terreno para a mudança seguinte, para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade para sempre, melhor que permaneçam líquidas e fluidas e tenham data de validade, caso contrário, poderiam excluir as oportunidades remanescentes e abortar o embrião da próxima aventura. Viver em meio a chances do que seria razoável experimentar tem o gosto “doce” da liberdade de tornar-se qualquer um, mas enquanto essa fluidez de tornar-se qualquer um sugere que nada está acabado e temos tudo pela frente, a condição de ser alguém, que o tornar-se deve assegurar, anunciando assim que você não está mais livre quando chega ao final; você não é você, mesmo que tenha se tornado alguém. Assim, estar inacabado, incompleto e subdeterminado é um estado cheio de riscos e ansiedades, mas seu contrário também não traz um prazer pleno, pois fecha antecipadamente o que a liberdade precisa manter aberto, portanto a infelicidade advém do excesso e não da falta de escolhas, como no capitalismo pesado. Assim, podendo-se, grosseiramente falando, destacar a dialética entre sujeito e meio, pelo capitalismo leve e suas conseqüências na questão da individualidade do ser. Somos dependentes de uma coletividade, mas não de um “nós” e cada vez mais de “eus”, pois ser dependente de alguém diante da modernidade líquida significa que tal dependência oferece reféns ao destino, ou seja, há coisas que não dominamos e a pessoas que não controlamos, portanto cuidemos de nossos problemas, e apenas de nosso problemas, com a consciência limpa. Há pouco a ganhar fazendo o trabalho de outros, e isso desviaria nossa atenção do trabalho que ninguém pode fazer senão nós mesmos. Assim podemos dizer que não há “salvação” pela sociedade “nós”, por implicação, a responsabilidade pela danação não pode ficar com a sociedade, pois no capitalismo leve são “eus”; a redenção e condenação são produzidas pelo indivíduo e somente por ele – o resultado do que o agente livre fez livremente de sua vida. Significando, assim, que cada vez mais, em uma modernidade líquida, iremos ouvir diariamente que o que está errado em suas vidas provêm de seus próprios erros, foi sua própria culpa e deve ser consertado com suas próprias ferramentas e por seus próprios esforços individuais, e não coletivos.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. In: ___. Individualidade. Rio de