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PLANO MONOGRÁFICO
Porto Alegre
2018
NATÁLIA KALIL PEIXOTO
Porto Alegre
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, Alcides e Heloísa, e ao meu irmão, Tiago, por
me apoiarem em todas as minhas decisões e me incentivarem mesmo nos momentos mais
difíceis. O apoio e carinho de vocês foram a minha maior força e inspiração nessa aventura de
me mudar para Porto Alegre. Também agradeço imensamente todos os meus amigos que
acompanharam essa experiência comigo, compreenderam os meus momentos e me motivaram
quando eu mais precisei. São muitos que eu gostaria de citar: Juliana, Marina e José Vitor, os
melhores amigos que vou levar por toda a minha vida. Em Porto Alegre, a família que a
ESPM-Sul me deu: Bruna, Bruneide, Julia, Rafaela, Haru, Luccas, Maranhão, Lucas, Rodrigo,
Matheus e Cassio. Obrigada por tudo.
Aos professores que fizeram parte da minha trajetória na graduação, pelos
aprendizados dos últimos quatro anos e meio. À Adriana, minha qualificadora, agradeço a
disponibilidade, a atenção e as considerações sobre o que deveria ser melhorado. Os pontos
indicados foram essenciais para o aprimoramento do meu trabalho.
À Janie, minha orientadora, dedico meu agradecimento especial. Muito obrigada por
toda ajuda nos últimos meses, por me tranquilizar e me fazer acreditar que conseguiria.
Obrigada pelo carinho, pela paciência e, principalmente, pelos ensinamentos.
Astrology is a language. If you understand this
language, the sky speaks to you.
(Dane Rudhyar)
RESUMO
This project aims at comprehending the meanings and rituals of consumption regarding
astrology amongst middle class men and women. More specifically, the research characterizes
the role of astrology in the interviewees' daily lives, identifies the different meanings behind
the consumption of astrological material, and analyzes the rituals behind the practice. To
achieve this goal, a qualitative exploratory research was performed, in which four men and
four women, between the ages of 21 and 33 years, who have completed their graduate studies
or are currently enrolled in such, as well as have consumed products and/or astrological
services of different kinds in the month prior to the research, were interviewed. The data
collection built upon bibliographic research, documental research, and interviews, and the
collected data analyses. Through observing the results, it is apparent that, for the interviewees,
astrology is understood as a tool that aids in the pursuit of self-knowledge. Moreover,
astrology appears to be present in all of the individuals' lives since childhood. Jornals,
magazines and the internet take a primary role as means of mass communication used for the
consumption of astrology. Amongst these, online consumption appears to retain further
relevance for the group.
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1
3 ASTROLOGIA .................................................................................................................... 14
1 INTRODUÇÃO
1
O sociólogo francês Émile Durkheim definiu fatos sociais como instrumentos sociais e culturais que definem as
formas de agir, pensar e sentir na vida de uma pessoa que se fazem presentes na coletividade da qual ela faz
parte.
2
homem ocidental consumia para suprir necessidades físicas e sociais, de acordo com Barbosa
(2010), no mundo atual, a “essência” do consumo é mais vasta e subjetiva. A autora defende
que as mudanças nos antigos padrões de consumo se deram a partir do século XVI no mundo
ocidental e que agora é atribuído ao consumo uma função mais ampla do que apenas de
satisfazer necessidades. Para Barbosa e Campbell (2006), o consumo moderno está
relacionado ao consumo individual e, com frequência, os indivíduos tomam sozinhos a
decisão do que consumir, fazendo com que suas emoções e seus desejos sejam a essência
desta escolha. Assim, o ato de consumir pode ser encarado como “um caminho vital e
necessário para o autoconhecimento” (2006, p.52).
Dentro do eixo do consumo, o estudo dos rituais é essencial para sua compreensão
(MCCRACKEN, 2003). Para o autor, os rituais de consumo são ferramentas para atribuir
significado aos bens de cada indivíduo, e neles são percebidos os aspectos simbólicos do
sistema de consumo. Apoiado nas considerações de McCracken, Rook (2007) define ritual
como uma atividade expressiva e simbólica que engloba diversos comportamentos que se dão
em sequência e que têm tendência a se repetir com o passar do tempo. Diferentemente dos
hábitos comportamentais, os rituais possuem uma roteirização dramática, normalmente com
começo, meio e fim (ROOK, 2007).
Levando em conta que a astrologia é consumida pela sociedade contemporânea, como
foi destacado no estudo intitulado Peoplestrology (2018), e que a pesquisa identificou que os
significados culturais obtidos são a busca por empatia, comunidade, esperança, transformação
e consciência, este estudo busca investigar: Quais os significados e os rituais do consumo
de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios?
A partir deste problema, esta pesquisa busca compreender quais os significados e os
rituais do consumo de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios.
Para alcançar este propósito foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
caracterizar a presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, identificar os significados
do consumo de astrologia e analisar os rituais de consumo de astrologia.
O estudo justifica-se para a autora nos âmbitos pessoais, profissionais e acadêmicos.
Na esfera pessoal, o interesse em astrologia surgiu durante a sua adolescência, quando
buscava autoconhecimento, encontrando nesta ferramenta respostas e, também, mais
perguntas e questionamentos. A partir da presença diária da astrologia na vida da
pesquisadora, surgiu o desejo de compreender os significados do seu consumo para, assim,
aprofundar-se ainda mais no tema.
3
2
Ferramenta do Google que permite a pesquisa de termos específicos e apresenta gráficos com a frequência que
eles são procurados.
4
interpreta a coluna de astrologia do jornal norte-americano Los Angeles Times. Sua conclusão
é que os conselhos da coluna de astrologia manipulam o prazer do indivíduo visando à
integração social. Para Adorno, a astrologia nos meios de comunicação é posicionada de
maneira conformista e autoritária.
Foram encontrados alguns outros trabalhos voltados à astrologia, são eles: Astrologia
& Narrativas do Céu, artigo de Ana Cristina Vidal de Castro (2015) pela Faculdade Cásper
Líbero, que aborda as relações da astrologia com os meios de comunicação; Astrologia
Zodiacal, artigo de Bruno Bertolossi de Carvalho (2017) pela Universidade de Medellin, que
trata do simbolismo como fundamento da cosmologia; Escrito nas Estrelas, artigo de
Rosilene Alves de Melo (2007) apresentado no XIII Encontro de História Anpuh-Rio, que
estuda as relações entre cultura, natureza e o mundo sobrenatural a partir de almanaques
astrológicos de feira, anuários de orientação metereológica para agricultores editados no
Brasil; A Identidade Profissional dos Astrólogos, monografia de Fabíola Petró (2016) pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que aborda questões voltadas à contrução da
identidade profissional da ocupação de astrólogo em Porto Alegre; As Dimensões Imaginárias
da Astrologia, dissertação de mestrado de Thácio Ferreira dos Santos (2012), que analisa as
dimensões simbólicas da astrologia que são manifestadas nas relações interpessoais e na
organização da vida cotidiana de indivíduos residentes em Recife.
Este estudo possui capítulos dois teóricos organizados para a melhor compreensão do
problema apresentado. O capítulo dois, chamado Consumo e Rituais, aborda considerações
preliminares acerca do consumo e rituais de consumo. Os autores utilizados para tais
definições são McCracken (2003), Barbosa e Campbell (2006), Oliven (2006), Lima (2006),
Barbosa (2010), Johnson (1997), Segalen (2002) Smith (2002), Peirano (2003) e Rook (2007).
No capítulo três, nomeado Por dentro do mundo da Astrologia, apresentam-se o
surgimento da astrologia, suas definições, sua presença no mundo contemporâneo e sua
presença nos meios de comunicação, a partir dos autores Adorno (2008 [1957]), Vilhena
(1990), Rüdiger (1996), Müller e Müller (2002), Giddens (2005), Suzuki (2008), Cassé e
Morin (2008), Campion (2010) e Arroyo (2011).
A metodologia aplicada nesta pesquisa é qualitativa, exploratória, mediante pesquisa
bibliográfica e documental. A entrevista em profundidade com roteiro semiestruturado é a
técnica de coleta adotada para coletar os dados empíricos. Foram entrevistados oito pessoas,
de ambos os sexos, interessadas em astrologia que tenham consumido no último mês
conteúdo online, produtos e/ou serviços vinculados à astrologia. A técnica de análise de
conteúdo foi empregada para analisar o material empírico obtido.
5
2 CONSUMO E RITUAIS
Este capítulo trata do consumo e dos rituais sob a perspectiva das ciências sociais. A
partir da apresentação e discussão de tais temáticas, será possível um melhor entendimento e
análise dos questionamentos do presente estudo.
consumo está associada à modernidade como um todo, seria impossível uma única definição”
(apud BARBOSA, 2010, pp.31-2). Do ponto de vista cultural, o consumo não é aplicado
como a mais importante forma de diferenciação social, “variáveis como sexo, idade, grupo
étnico e status ainda desempenham um papel importante naquilo que é usado e consumido”
(BARBOSA, 2010, p. 9). Sendo assim, a designação da identidade e do estilo de vida não é
uma ação individual e arbitrária.
Barbosa e Campbell (2006) ainda defendem que não existe uma única razão pela qual
consumimos, e sim uma série de motivos, como a busca do prazer, a defesa ou a afirmação do
status, pois o consumo exerce uma função mais significativa que apenas satisfazer
necessidades. Desta forma, é possível que o estudo do consumo encontre as mais profundas e
definitivas questões que o indivíduo possa se fazer, relacionadas com a essência da realidade
e com a razão de sua existência – como alegam os autores, questões do “ser e saber”.
Uma das características do consumo moderno é a dimensão em que produtos e
serviços são adquiridos para uso individual, contrastando com os modelos passados, em que
esses itens eram comprados para uso coletivo, como, por exemplo, para famílias (BARBOSA;
CAMPBELL, 2006). O modelo de consumo que prevalece nos dias de hoje é individualista,
pois enfatiza o direito de os indivíduos de decidirem o que consumir e é voltado a saciar
vontades, que só podem ser detectadas subjetivamente. Os autores afirmam que o
consumismo (sem pretender enfatizar qualquer conotação negativa do termo) moderno “tem
mais a ver com sentimentos e emoções do que com razão e calculismo, na medida em que é
claramente individualista, em vez de público, em sua natureza” (2006, p. 49).
No contexto contemporâneo, frisam Barbosa e Campbell (2006), “o eu” individual é
aberto e flexível, ou seja, não existe um conceito fixo ou único do self 3 . Desta forma, o
indivíduo está frequentemente comprometido no processo de recriar sua identidade e seu
estilo de vida, e o consumo tem se apresentado como a principal atividade utilizada para
solucionar esse dilema. Nessa perspectiva, Barbosa (2010) defende que estilo de vida e
identidade podem ser constituídos e reconstituídos a partir do estado de espírito do indivíduo,
pois não dependem da posição social, idade ou renda, não se trata mais de uma questão de
opção individual.
A atividade de consumir como um caminho indispensável e preciso para o
autoconhecimento faz com que o mercado se torne necessário “para o processo de descoberta
de quem realmente somos” (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p.52). Assim, a reação aos
3
O self é o “eu”, a imagem que uma pessoa tem de si mesma, afirma Johnson (1997).
8
produtos diz mais sobre a identidade do indivíduo do que o produto em si, uma vez que diz
respeito à emoção e ao desejo, que são a essência do consumo individualista.
Para Barbosa (2010), as escolhas dos indivíduos não flutuam em um vácuo cultural,
por mais que estes sejam livres para tomar suas próprias decisões, elas são influenciadas por
fatores como gênero, classe social, grupo étnico, entre outros. Além disso, mesmo com a
possibilidade de tomar suas próprias decisões a respeito de estilo de vida e identidade, estes
costumam ser contínuos, por largos períodos de tempo.
A partir dos entendimentos dos autores apresentados, notamos que a sociedade e a
cultura têm acentuada presença na maneira como os indivíduos se comportam, e também no
consumo contemporâneo. É neste âmbito que o estudo dos rituais de consumo se mostra
relevante.
4
No original: “Selon lui, tout individu passe por plusieurs status au cours de sa vie e as transitions sont
fréquemment marquées par des rites diversement élaborés selon les societés”.
9
contemporânea, eventos como casamento, formatura, campanha eleitoral e jogo final de Copa
do Mundo não são rotineiros e, por isso, são considerados especiais. Por este motivo, esses
tipos de evento têm potencial para serem vistos como “ritual”, pois são percebidos como
“único[s], excepcional[is], crítico[s], diferente[s]” (PEIRANO, 2003, p. 9). Nas palavras da
autora:
Sugiro que a natureza dos eventos rituais não está em questão: eles podem ser
profanos, religiosos, festivos, formais, informais, simples ou elaborados. Se
aceitamos que todos os eventos mencionados [...] podem ser analisados como rituais,
não nos interessa seu conteúdo explícito – interessa, sim, que eles tenham uma
forma específica (2003, p. 9).
McCracken (2003, p.114) define ritual como uma ação social aplicada à manipulação
do significado cultural, para fins de “comunicação e categorização coletiva e individual”. Para
o autor, o ritual pode afirmar, relembrar, marcar ou retificar os símbolos e significados
convencionais da ordem cultural. Desta forma, ele é uma importante e multifacetada
ferramenta para manuseio do significado cultural.
Nesse sentido, os significados dos bens de consumo ultrapassam sua natureza de
objeto e seu valor comercial (MCCRACKEN, 2003). A atribuição de significado baseia-se em
sua capacidade de levar e comunicar significado cultural. Nesse sentido, o autor apresenta um
modelo de transferência de significado.
11
comportamental e quem deve utilizá-los. Por fim, a audiência do ritual pode ser maior do que
a da pessoa com papel específico em sua produção.
A partir das ideias e definições apresentadas sobre consumo e rituais, finaliza-se o
presente capítulo. A seguir trata-se dos conteúdos necessários para o capítulo de astrologia,
abordando o seu surgimento e sua presença no mundo contemporâneo.
14
3 ASTROLOGIA
9
Mancia é o nome dado aos métodos de adivinhação.
15
PLANETAS:
Sol: o “eu”, self ou ego;
Lua: a mãe, o lar e as emoções;
Mercúrio: comunicação e pensamento;
Vênus: o princípio feminino, as artes e buscas prazerosas;
Marte: o princípio masculino, energia e agressão;
Júpiter: crença, esperança, expansão e otimismo;
Saturno: dúvida, restrições e limites;
Urano: revolução, independência e individualidade;
Netuno: sonhos, ilusões e delírios;
Plutão: profundidade, poder e paixão.
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SIGNOS:
Áries: energia, iniciativa e afirmação;
Touro: estabilidade, praticidade e sensualidade;
Gêmeos: comunicação, ideias e flexibilidade;
Câncer: afirmação, energia e emoção;
Leão: estabilidade, energia e entusiasmo;
Virgem: praticidade, flexibilidade e pureza;
Libra: comunicação, equilíbrio e harmonia;
Escorpião: estabilidade, emoção e intensidade;
Sagitário: energia, flexibilidade e otimismo;
Capricórnio: afirmação, praticidade e conservadorismo;
Aquário: estabilidade, comunicação e idealismo;
Peixes: emoção, flexibilidade e sensibilidade.
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Característica de comportamento peculiar.
18
desse sujeito, não representados como um acúmulo caótico de fatos fortuitos, mas
sim como um todo coerente detectável através das configurações planetárias
(VILHENA, 1990, pp.65-66).
Ainda sobre o que compõe a astrologia, vale ressaltar os trânsitos astrológicos que,
segundo Müller e Müller (2002), é a interpretação do efeito de um planeta em movimento –
trânsito – numa data futura. Nos horóscopos, eles são utilizados para fazer previsões e analisar
aspectos formados entre planetas.
Assim, a partir das informações apresentadas acerca do surgimento da astrologia e
elementos que a compõe, surge o contexto da astrologia e a sociedade moderna. O próximo
subcapítulo abordará esse tema.
Nessa nova ordem social que se consolida também devem ser observadas as noções de
risco e tradição, afirma Giddens (2005), pois ambas têm seu sentido e existência
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indissociáveis da modernidade. A noção de risco parece ter se constituído nos séculos XVI e
XVI e é definida como “a dinâmica mobilizadora de uma sociedade propensa à mudança, que
deseja determinar seu próprio futuro em vez de confiá-lo à religião, à tradição ou aos
caprichos da natureza” (2005, p.34). Sendo assim, a palavra só começa a ser usada em
sociedades direcionadas ao futuro, pois presume a tentativa de rompimento com seu passado.
Nas culturas tradicionais, quando uma adversidade acontecia na vida de alguém, era
considerado um acontecimento casual ou uma vontade dos deuses e espíritos. Mesmo com a
modernização, esse conceito de destino e cosmologia ainda exerce influência sob a sociedade,
mas são percebidas como superstições utilizadas para justificar suas decisões. Neste sentido o
autor observa que “não surpreende em absoluto que pessoas continuem consultando
astrólogos, especialmente em momentos decisivos de suas vidas”, pois a astrologia é algo que
se distancia da racionalidade ocidental (2005, p.34).
Assim como a noção de risco, a de tradição também é uma criação da modernidade,
uma vez que nos tempos medievais não tinha necessidade de tal palavra, pois havia tradição
em todos os lugares (GIDDENS, 2005). Assim, destaca o autor, é equivocado dizer que, para
ser tradicional, os símbolos e práticas devem ter existido por séculos, visto que a permanência
no decorrer do tempo não é, necessariamente, uma das características que define a tradição.
Os aspectos que definem a tradição são o ritual e a repetição. Indivíduos podem seguir
tradições, mas elas são sempre pertencentes a grupos. O que a distingue é que ela estabelece
um tipo de verdade e, por mais que ela possa se alterar, ela proporciona uma base para a ação,
através de seu próprio ritual e simbolismo, que muitas vezes não é questionada. Enquanto
forem capazes de ser justificadas, as tradições continuarão sendo apoiadas e seus rituais e suas
repetições continuarão exercendo um importante papel social (GIDDENS, 2005).
Na modernidade, na perspectiva de Giddens (1991), diferentemente das sociedades
tradicionais, o pensamento e a ação dos indivíduos estão em constante processo de refração.
Nestas sociedades “o passado é honrado e os símbolos valorizados porque contêm e
perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um modo de integrar a monitoração da
ação com a organização tempo-espacial da comunidade” (1991, p.44). Na vida social
moderna, ao contrário, as práticas sociais dos indivíduos são “constantemente examinadas e
reformadas à luz de informação renovada sobre as próprias práticas, alterando assim
constitutivamente seu caráter” (1991, p.45). É neste fato que se constitui a reflexividade,
afirma o autor. A revisão em vista de um novo conhecimento ou informação é constitutiva das
instituições modernas e como tal da própria reflexividade.
20
11
Capital no sentido atribuído por Pierre Bourdieu.
22
astrologia é aceita porque existe, sem muita reflexão, bastando, unicamente, que as
exigências psicológicas do indivíduo correspondam de algum modo àquilo que é
oferecido. A justificativa não interessa (ADORNO, 2008, p.33).
Adorno (2008) defende que, no período de sua pesquisa, é claro o conflito entre a
evolução das ciências naturais e a crença na astrologia. Para o autor, unir estes dois
conhecimentos é considerado uma regressão intelectual e somente necessidades instintuais
muito fortes fazem com que as pessoas aceitem e concordem com a astrologia. Desta forma, o
sistema astrológico atua somente como “superstição secundária”, afinal, é eliminado do
controle crítico da pessoa e oferecido de forma autoritária. Apesar de almejar uma relação
com a teologia, a astrologia é diferente da religião. Por implicar uma abordagem impessoal e
coisificada, sua irracionalidade não é somente tratada como antiga, mas também está no
caráter “do que poderia ser chamado de sobrenaturalismo naturalista” (ADORNO, 2008, p.45).
Em qualquer meio de comunicação de massa moderno, é sustentada a falsa ideia de
que é preciso agradar um determinado grupo para criar o material de comunicação apropriado
à mentalidade dos responsáveis por sua produção. Assim, a responsabilidade é passada dos
manipuladores para os manipulados. O “destino” é projetado nas estrelas a fim de buscar a
elevação e explicação que os indivíduos tanto procuram. A ideia de que a leitura correta das
estrelas revela conselhos diminui o medo que os indivíduos têm dos severos processos sociais
que eles mesmos produzem (ADORNO, 2008).
Para Adorno (2008, p.49), a astrologia busca se distanciar de um “fatalismo não-
refinado e impopular”, pois determina forças externas que atuam nas decisões do indivíduo,
inclusive sua própria natureza, fazendo com que as principais decisões sejam responsabilidade
do próprio indivíduo. Ela costuma propor um caminho mais rápido, que diminui a
complexidade das ações à uma fórmula prática, e, desta forma, faz com que a pessoa sinta-se
parte da “maioria”.
Em 1972, Edgar Morin, junto a Claude Fischler, Philippe Defrance e Lena Petrossian,
coordenou um estudo que investigava por qual motivo a sociedade francesa estava se
interessando cada vez mais em astrologia (PERES, 2001). A sociedade industrial e a crise de
valores da modernidade eram cruciais para que novas doutrinas esotéricas se expandissem.
Peres (2001) afirma que as especulações místicas começaram a ser direcionadas à aconselhar
as pessoas, no que diz respeito às suas necessidades imediatas.
Segundo Fischler (1972), em 1930 começou a desenvolver-se a astrologia de massa,
com foco nos horóscopos que, em 1945, alcançaram a grande imprensa. O autor acredita que
“os horóscopos publicados pela imprensa procurariam acomodar o mundo e o destino do
23
indivíduo, expulsando a infelicidade” (MORIN et al., 1972, p.50). Todavia, existiria também
outro segmento da astrologia, caracterizado por Morin como “erudito”, que impactaria um
público restringido, no qual se "refletiriam aspectos da crise da sociedade moderna que
começam a encontrar cada vez mais espaço na cultura de massas" (VILHENA, 1990, p.100).
Sendo assim, quando os doze signos do zodíaco passaram a individualizar o
horóscopo, iniciou-se uma linguagem astrológica que cresceu até chegar à grande imprensa,
alcançando a cultura de massas (FISCHLER, 1972). De acordo com o autor (1972, p.29), “foi
a grande imprensa quem tirou a astrologia do ocultismo, do underground para onde haviam
relegado a ciência, a razão e a religião”. Desde o início do século XX, os jornais da época já
possuíam anúncios que ofertavam serviços de astrólogos, videntes, cartomantes, entre outros.
Mas foi na imprensa feminina que surgiram os primeiros horóscopos. Em 1932, o jornal
francês semanário chamado Journal de la Femme publicou pela primeira vez uma coluna
sobre “O seu destino dia a dia”, conquistando sucesso e propagando-se rapidamente para
outros jornais da época (FISCHLER, 1972)
No contexto brasileiro, Suzuki (2007) afirma que não se tem conhecimento de
informações estruturadas das atividades dos astrólogos no Brasil desde o seu descobrimento
pelos portugueses até o século XX. Ainda assim, do início do século até a década de 1930, a
astrologia era uma atividade de pesquisadores e profissionais isolados, pois havia dificuldade
de adquirir livros sobre o tema e eles deveriam ser importados, principalmente da escola
francesa. Nos primeiros anos da década de 1940, os astrólogos brasileiros passaram por um
período crítico, pois, por conta da Segunda Guerra Mundial na Europa, as informações
essenciais para elaboração dos cálculos dos mapas, que costumavam vir da Alemanha,
tiveram momentos de interrupção. O período da década de 1950 “pode ser considerado como
o início do despertar da astrologia para o grande público leitor de revistas e jornais. As
pessoas leigas começaram a se interessar por assuntos ligados ao esoterismo” (SUZUKI, 2007,
p.35).
Nesse período, destacou-se a revista semanal O Cruzeiro, uma das mais importantes
publicações em do país, com tiragem de 270 mil exemplares, que teve uma colaboração
efetiva no “renascimento” da astrologia para o grande público. A seção Nostradamus
apresentava previsões diárias e artigos sobre assuntos esotéricos. Foi, também, nesse período
que o astrólogo Omar Cardoso iniciou sua atividade de comunicação, publicando colunas em
revistas, jornais e emissoras de rádios e de televisão, sendo considerado um dos principais
responsáveis pela popularização da astrologia no Brasil. Em 1966, Omar comandava dois
programas de rádio ao vivo e transmitidos por diversas emissoras em todo Brasil; fazia
24
programas diários na televisão, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, uns ao vivo e
outros gravados; mantinha uma coluna no Jornal dos Diários Associados Paulistas. O
astrólogo Assuramaya também teve grande relevância para a expansão da astrologia nos
meios de comunicação de massa: durante dez anos, produzia semanalmente uma coluna de
página inteira para o jornal O Dia, no Rio de Janeiro. A coluna abordava diferentes assuntos
relacionados à cultura e à história, com mensagens de grandes mestres, biografias e, por fim,
mensagens de caráter espiritualista. Além disso, no Rio de Janeiro, Assuramaya também tinha
programas de rádio com grande audiência, como na Rádio Nacional, e recebia mais de três
mil mapas astrais por mês para interpretar no programa que ia ao ar toda manhã (SUZUKI,
2007).
A partir desse período, seções astrológicas com previsões para os doze signos do
zodíaco tornaram-se constantes em jornais e revistas semanais e mensais. Matérias com
previsões para determinados períodos e publicações especiais voltadas a grandes eventos
também passaram a ser frequentes. Assim, após ter seu fortalecimento consolidado na década
anterior, nos anos 1960 a astrologia começou a sair do isolamento da prática individual para
uma propagação em todos os meios socioculturais, fazendo com que na década de 1970 fosse
consolido o boom da astrologia no Brasil – uma grande comunidade de astrólogos passou a
ser percebida pelo grande público em diversos cantos do país. Nesse período, no Brasil, foram
fundados centros de pesquisa e associações; promovidos eventos, seminários e congressos;
publicados boletins, livros e revistas; criadas escolas e ministrados cursos; – todos voltados à
astrologia (SUZUKI, 2007).
Suzuki (2007) defende que, no mundo atual, os avanços tecnológicos possibilitam as
trocas entre as pessoas interessadas em astrologia. Além disso, na era dos computadores, a
facilidade do intercâmbio de informações entre astrólogos do mundo inteiro permite a
disseminação de conhecimentos e aperfeiçoamento das técnicas utilizadas. No entanto, para
Ferreira (apud SUZUKI, 2007), essa facilidade de acesso aos conteúdos astrológicos,
especialmente à confecção de mapas, nem sempre é favorável à astrologia. A autora acredita
que “antes, havia poucos astrólogos de alta qualidade e, agora, tem muitos astrólogos de
péssima qualidade” (apud SUZUKI, 2007).
A partir deste e dos demais assuntos tratados no referencial teórico desde trabalho,
será iniciada a estratégia metodológica. Nela serão esclarecidos como serão executados os
procedimentos da pesquisa empírica para responder aos objetivos propostos.
25
4 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
12
A amostra da pesquisa foi orgânica – os participantes responderam à pesquisa espontaneamente – e contou
com duas mil e oitocentas pessoas de vinte países, sendo 75,6% do Brasil.
28
13
Os nomes dos entrevistados são fictícios como forma de manter sua identidade e o sigilo das informações
colhidas nas entrevistas individuais.
29
conteúdos das respostas analisadas (FRANCO, 2008). Neste estudo, as categorias de análise
constituídas são a priori e foram formuladas a partir dos objetivos específicos, ficando assim
definidas: presença da astrologia no cotidiano, significados do consumo de astrologia e
rituais de consumo de astrologia.
No capítulo seguinte são trazidos os resultados alcançados com a análise das
entrevistas.
31
De acordo com Campion (2010), a astrologia é percebida como uma ferramenta para a
autocompreensão, como é possível constatar nas respostas dos entrevistados, em que o termo
32
O que é astrologia para mim? É tipo um guia sabe, para ti saber o que tu pode
melhorar. […] Eu uso a astrologia na minha vida para autoconhecimento. Me ajudou
muito no processo de me conhecer e o fato dela não te dar, tipo, uma verdade
absoluta, ela te dá liberdade para diversas interpretações, é incrível (Julia).
[…] Vai além de uma filosofia, ela é uma coisa que você sente, tipo, para mim, eu
uso a filosofia para me autoconhecer e também na minha relação com as pessoas.
[…] Eu também uso de uma maneira de autoconhecimento com o meu mapa astral,
com os trânsitos que estão ocorrendo (Vanessa).
O segundo ponto que teve destaque nas respostas foi a astrologia ajudando na relação
com os outros. Os entrevistados acreditam que saber o signo solar de uma pessoa ou o mapa
astral dela faz com que eles conheçam melhor essa pessoa e saibam como lidar com ela. Em
relação a esse ponto, Vanessa, Julia e Rodrigo comentam como a astrologia conecta-os com
outras pessoas:
[…] Quando uma pessoa é capricorniana, por exemplo, não que ela seja igual as
outras pessoas, mas alguma coisa tem parecido, como se elas […] tivessem um
aspecto parecido, e isso faz eu entender melhor elas, pelo que eu conheço sobre
astrologia, faz eu lidar melhor com aquela pessoa (Vanessa).
[…] Quando a gente conhece uma pessoa sabe, e a gente quer saber mais ou menos
como é a personalidade da pessoa, aí vai lá e faz o mapa astral dela para a gente
saber onde a gente está pisando né, com quem a gente está lidando. Acho que a
astrologia te ajuda a descobrir coisas sobre as outras pessoas (Julia).
[…] Hoje em dia eu encaro ela [a astrologia] como uma ferramenta de conexão
assim. Eu acho que é mais do que você se conhecer, é você se conectar com os
outros. Ainda mais tipo, acho que eu tenho um conhecimento mais aprofundado de
astrologia, então muita gente entra em contato comigo por causa disso, então eu
acabo me conectando, de verdade, com muitas pessoas por causa da astrologia
(Rodrigo).
Segundo Adorno (2008), a astrologia é diferente da religião, ainda que aspire uma
associação com a teologia. Nesse aspecto constatou-se proximidade com esta afirmação na
visão dos entrevistados. A entrevistada Vanessa assinala que a astrologia é muito mais aberta
que religião e não gera uma obrigação sobre o indivíduo. Os demais entrevistados que
comentaram a relação da astrologia com religião têm as seguintes percepções:
Eu acredito que [a astrologia] seja mais ou menos uma parada semelhante à religião,
quando tu busca uma identificação, tu busca o teu grupinho assim, tu tem que
acreditar em alguma coisa. A minha religião são os astros. Então, basicamente, eu
acho que é uma forma de tu te situar no mundo sabe, [...] eu acredito que seja uma
lógica parecida com religião. [...] Astrologia parece bem mais lógico [que religião],
por incrível que pareça, porque sei lá, tu está tratando de personalidades diferentes
sabe, tu está tratando da individualidade das pessoas (Joana).
Eu não acredito em Deus, sabe, para mim não existe, e a astrologia parece uma coisa
assim, aceitável, tem até umas questões matemáticas, tipo astrologia horária... Então
digamos que é uma coisa exata, então para mim faz muito mais sentido do que, sei
lá, Deus, que ninguém nunca nem viu. Prefiro me agarrar em algo que faz um pouco
mais de sentido, que parece um pouco mais real, tem estudo por trás. [...] A
astrologia é que nem uma fé, é algo que tu acredita (Julia).
[A astrologia] acabou se tornando depois uma fé ou uma crença, se tornou uma coisa
que eu acredito que acho que tem fundamento científico, então eu me identifiquei,
me interessei cientificamente (Amanda).
Lucas, por mais que afirme não acreditar em nenhuma religião, engloba astrologia no
mesmo âmbito do espiritismo e do budismo, como parte de suas crenças. Joana declara, com
convicção, que a sua religião é “os astros”. Um ponto observado nas falas de Joana, Julia e
Amanda é a astrologia ter uma base científica e lógica, ter como fundamento estudos e fazer
uso da matemática para seus cálculos. Para as três entrevistadas, a astrologia é uma “fé” ou
uma “crença”.
Para caracterizar a presença da astrologia no cotidiano, inicialmente, buscou-se
compreender como ela passou a fazer parte da vida dos mesmos, quem influenciou esse
interesse e de que forma ele aconteceu. Para todos os entrevistados, a astrologia passou a
fazer parte da vida durante a infância. A principal influência foi familiar, normalmente com
figuras femininas (mãe, avó, tia), que introduziram objetos (xícara do signo, quadro, livros,
etc.) ou meios de comunicação de massa na vida do entrevistado, como jornais e revistas. O
Quadro 3 sintetiza o ingresso da astrologia na vida dos entrevistados:
34
Desde que eu fazia palavras cruzadas, desde criança, eu olhava horóscopo, mas não
me identificava, […] mas gostava da ideia sabe. Era como se toda a mídia voltada
para astrologia não oferecesse o conteúdo que eu estava buscando, então apesar de
eu me interessar muito, eu achava muito limitado, raso, superficial. […] Mas eu
gostava da ideia, sempre achei que tinha que ter mais sobre (Amanda).
Desde criança eu conheci astrologia assim que nem todo mundo conhece sabe, esse
é teu signo e tal, revistinha, jornal. E daí eu achava legal assim ler sabe, […] lia
meio que só para ver o que está acontecendo, mas nem acreditava, até porque não
tem como se basear muito por aquilo ali né (Lucas).
Eu acho que uso muito [a astrologia] nesse negócio de me relacionar com o mundo,
com as pessoas, e de tipo, relacionar comigo mesma. Às vezes eu não estou me
sentindo muito bem, eu vou lá e olho ‘cara, o que está acontecendo’, e aí faz sentido
(Vanessa).
Campion (2010) defende que há três principais escolas de pensamento que regem a
astrologia contemporânea: psicológica, espiritual/esotérica e voltada para eventos. A
psicológica – em que o mapa astral é utilizado para definir a personalidade do indivíduo e
busca a autocompreensão – é identificada na fala da maioria dos entrevistados, que, mesmo
falando de maneiras diferentes, acredita que as pessoas vão atrás desse conhecimento
astrológico para se conhecerem e, assim, conhecerem melhor os outros. A astrologia aparece
como uma alternativa mais acessível do que demais ferramentas de autoconhecimento e, além
de gerar uma identificação, faz com que as pessoas se sintam mais conectadas como os outros,
como apontado pelo entrevistado Rodrigo:
Eu acho que [as pessoas] querem se conectar com alguma coisa, elas querem
conseguir se identificar. É uma questão de identificação, você ler um negócio e se
ver naquilo, e saber que tem outras pessoas que são assim, mas ao mesmo tempo o
seu mapa é uma coisa muito particular sua (Rodrigo).
evidência nas entrevistas. Para Vanessa, a astrologia a ajudou a seguir sua intuição e a fazer o
contato entre o “eu superior e a matéria”, cabendo assinalar que o “eu superior” é algo além
do aspecto físico, é energia.
Por fim, a terceira abordagem é voltada para os eventos e, nela, o objetivo da
astrologia é fazer previsões sobre a vida e acontecimentos. Apesar de ser uma das utilizações
mais comuns, ela não é percebida como uma das razões que despertam o interesse das pessoas
em astrologia. Essa abordagem é utilizada para pessoas que não se aprofundaram em
astrologia ou, posteriormente, por aqueles que já têm esse conhecimento astrológico.
Adorno (2008) defende que o sistema astrológico é apresentado de forma autoritária às
pessoas. No entanto, essa visão crítica sobre a astrologia não encontra eco entre os
entrevistados. Para Vanessa, a astrologia faz com que as pessoas se percebam mais
confortáveis, pois não impõe regras e dá liberdade para diferentes interpretações. Por começar
a gostar de algo que não foi imposto, que não era uma obrigação, a pessoa acaba se sentindo
mais envolvida com a astrologia. Essa mesma observação foi comentada por Mauro, que
também acrescentou um ponto de vista sobre aqueles que não acreditam em astrologia:
Todo mundo fica tentando achar um lugar para pertencer, tipo ‘ah, esse é meu signo’,
sei lá, ‘eu sou irritado, mas é porque eu sou ariano’, sabe? [...] Acho que é o que
mais faz as pessoas procurarem pelo signo, para arrumar uma desculpa para os
defeitos ou sei lá, ou procurando pertencimento. Eu acho que para fazer parte
mesmo (Lucas).
Assim, nota-se que a astrologia é, em alguns casos, utilizada para justificar as ações e
as personalidades dos indivíduos, como forma de tirarem de si mesmos essas
responsabilidades.
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Julia Astrolink; Astro; Br000na; Isabella Mezzadri; Obvious; Spicy Geminimemes; Cris
Nunes; Rafael Villas
Rodrigo Isabella Mezzadri; Eduardo Conte; Astrolink; Personare; Susan Miller; Nicholas
Campion; Derek e Julia Parker
Amanda Claudia Lisboa; Isabella Mezzadri, Susan Miller; CoStar; Br000na
Mauro Daniel Machado; Liz Taylor; Astrologyzone; Linda Godman; Love Signs
Fonte: Elaborado pela autora.
Isabella quem abriu as portas para que ela se interessasse mais em astrologia e decidisse fazer
o seu mapa astral. Por mais que a considere uma referência, Lucas afirmou não segui-la mais
no Instagram, pois, em sua opinião, atualmente, Isabella posta textos demais e o Instagram
não é uma boa rede social para leitura de textos. No entanto, a opinião do entrevistado
Rodrigo sobre a influenciadora é positiva:
Acho que a principal, que foi quem mais me despertou interesse em estudar mais
esse tipo de coisa, é a Isabella Mezzadri. […] Ela é uma blogueira assim, ela fala
sobre autoconhecimento, viagens, e fala bastante sobre astrologia, e […] a forma
como ela comunica isso é de uma maneira bem acessível para todo mundo (Rodrigo).
Fica em evidência, também, a preferência por conteúdo online sobre astrologia. Todos
os entrevistados citaram ao menos um site ou personalidade que produz conteúdo online. Essa
observação ganha ainda mais relevância quando perguntado aos entrevistados o que eles
consomem relacionado à astrologia, conforme apresentado no Quadro 8:
Julia Conteúdo online (livros, sites, redes sociais); objetos (caneca, agenda, pedra do
signo)
Rodrigo Livros; cursos; palestras; objetos (copo, caderno, pedra do signo); conteúdo online
(redes sociais, sites, e-mail marketing)
Amanda Conteúdo online (vídeos no Youtube, redes sociais, sites, aplicativos); livros
Mauro Palestras; livros; conteúdo online (sites)
Fonte: Elaborado pela autora.
Vilhena (1990) observa, o capital cultural dos astrólogos é obtido através de manuais, cursos e
pesquisas, e esses conteúdos são acessíveis a todos (principalmente por meio de conteúdo
online), a astrologia não é limitada apenas aos profissionais da área. Nesse sentido, Ferreira
(apud SUZUKI, 2007) aponta que a facilidade de acesso aos conteúdos astrológicos,
especialmente à confecção de mapas, nem sempre é favorável à astrologia. Para a autora, com
isso, passam a existir muitos astrólogos que não são bons. O entrevistado Rodrigo observa
que as pessoas têm interesse em fazer cursos e participar de palestras, mas têm dificuldade em
encontrar esses tipos de serviços sobre astrologia. Isto é corroborado pelas entrevistadas Julia
e Amanda: ambas afirmam ter interesse em cursos e palestras, mas não veem com frequência
esses serviços serem divulgados. Lucas também tem interesse, mas, como não trabalha, não
tem dinheiro para pagar, e Vanessa tem vontade de se consultar com um astrólogo, mas nunca
procurou, pois acredita que seja muito caro.
Com a astrologia sempre presente em suas vidas de alguma forma, para cada
entrevistado houve um momento determinante que despertou a vontade em se aprofundar no
assunto e buscar esse conhecimento astrológico. Com exceção de Mauro, que teve a
astrologia muito presente durante toda a sua vida de maneira intensa e aprofundada por conta
de sua família, todos os entrevistados começaram a estudar e se aprofundar mais em
astrologia durante o Ensino Médio e o Ensino Superior. No Quadro 9, são apresentados os
momentos e motivos que os entrevistados se aprofundaram nos estudos de astrologia:
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[...] Acabou se tornando depois uma fé ou crença, se tornou uma coisa que eu
acredito, que eu acho que tem fundamento, que tem sabedoria ali (Amanda).
Ricardo Meditação
Me deixou mais aberta, mas eu não fui muito atrás. [...] Acho que a única terapia ou
área mais espiritual que eu cheguei a ter contato foi com o tarô, mas não me
identifiquei muito, então realmente sou totalmente leiga, acabo consumindo porque
muitas astrólogas usam o tarô de forma conjunta, mas não me identifico muito. Sou
aberta, mas não faz parte do meu interesse tanto quanto astrologia (Amanda).
Sim, [...] teve uma época que eu estava muito das energias, e eu buscava muito
conhecimento assim da energia das pedras, leitura da mão, leitura de cartas, tarô. Eu
gostei muito por um momento, busquei saber, homeopatia, medicinas orientais,
busquei de tudo porque eu queria saber, mas nenhuma das coisas que eu busquei
saber realmente me pegou que nem astrologia (Rodrigo).
44
Tarô e o negócio de ler a mão, acho sensacional, só que é difícil... [...] Eu tenho uns
negócios assim com umas pedras, acredito muito na energia delas, tenho várias em
casa, no trabalho... [...] Eu acho que eu sempre tive interesse em tudo isso, mas
depois, com a astrologia e vendo meu mapa como ele é realmente, e que isso já
existe em mim, sabe, eu acho que eu me interessei mais (Julia).
Eu cheguei a pesquisar várias coisas sobre animais místicos, sobre outros tipos de
astrologia, [...] astrologia inclusive me fez entender mais sobre astronomia, [...]
comecei a pesquisar muito sobre cosmologia, muito sobre as estrelas. [...] Eu tive
outros interesses, só que eles se perderam assim. Eu tive interesse nas energias dos
cristais, [...] a função das energias assim. [...] Só que são coisas que eu absorvi as
informações na época só que depois elas se perderam no meio de outros interesses,
não cheguei a me aprofundar e me prender tanto quanto a astrologia (Joana).
Julia Quando quer se entender melhor a si próprio; quando está interessado em alguém;
quando está se sente desorientada e busca respostas
Rodrigo Quando está se sentindo perdido e busca algo para ajudar a se conhecer; quando
está interessado em alguém
Amanda Quando está interessado em alguém; momentos de crise
Mauro Quando algo desperta a curiosidade; quando está interessado em alguém ou para
avaliar relacionamentos amorosos
Fonte: Elaborado pela autora.
Tem dois principais motivos. Ou está passando por um momento difícil na vida e
está querendo buscar alguma coisa para te ajudar, quer saber quem ela é, ou saber o
que pode fazer, porque as pessoas acham que a astrologia prevê as coisas né. [...] E o
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segundo motivo é os crushs: todo mundo quer saber o signo da pessoa que está
ficando, se combina com o meu, não combina. Então assim, sempre vão vir atrás de
mim para falar sobre momentos difíceis na vida e querer saber da pessoa que está
gostando, questões amorosas assim (Rodrigo).
Tem uma coisa que faz muitas pessoas irem atrás da astrologia que é tipo gostar de
alguém, nossa, é surreal! Isso é surreal! 90% das minhas amigas quando estão
apaixonadas por alguém querem saber o mapa da pessoa e saber se combina com o
mapa delas (Julia).
Em vista dos aspectos assinalados nas falas dos entrevistados, podemos relacionar a
utilização dos rituais de astrologia com os ritos que se efetivam durante o curso da vida dos
indivíduos, como observado de forma precursora por Van Gennep (apud MULLER, 2002),
mediante os quais os membros das sociedades tradicionais adquirem um novo status social.
Buscando apoio nas observações de Giddens (2005) sobre a presença das tradições no
mundo moderno, o autor defende que o ritual e a repetição são os aspectos constitutivos das
tradições. Assim, uma dada tradição determina um tipo de verdade e oferece uma base para a
ação, por meio do seu próprio ritual e simbolismo, e enquanto for possível justificá-la, seguirá
sendo apoiada e seus rituais e suas repetições seguirão realizando um importante papel social.
Nessa perspectiva, a astrologia pode ser considerada uma tradição, uma vez que nela se fazem
presentes rituais específicos (isto é, um padrão formalizado de comportamento) e repetições
em consonância com as circunstâncias da vida social.
De acordo com Segalen (2002), para que o ritual exista é fundamental que haja
repetição de um determinado comportamento. No entanto, nem todo comportamento que se
repete é um ritual – para identificá-lo, é necessário observar sua característica principal, que é
a sua plasticidade, a sua capacidade de ter mais de um significado, de adaptar-se à mudança
social. No caso da astrologia, as práticas voltadas ao seu consumo são frequentes para todos
os entrevistados; a maioria realiza as práticas astrológicas diariamente ou semanalmente, com
exceção de Mauro que afirmou que depende de seu estado emocional. A leitura de horóscopos
e trânsitos astrológicos são as práticas mais realizadas pelos entrevistados.
Os rituais, na perspectiva de Rook (2007), podem ser percebidos a partir de quatro
componentes: artefatos rituais, roteiro do ritual, representação do(s) papel(éis) do ritual e
audiência do ritual. No consumo de astrologia, os artefatos rituais – comunicam mensagens
simbólicas individuais que foram o significado do ritual – utilizados são: os celulares, os
computadores, as redes sociais (Instagram e Facebook), os sites (Astro, Astrolink, Youtube) e
agenda para anotações.
O roteiro do ritual – responsável por indicar os artefatos a serem usados, sua
sequência comportamental e quem deve utilizá-los – é muito individual de cada entrevistado e,
47
mesmo quando tem a mesma finalidade, cada um realiza o ritual de uma forma particular.
Porém, alguns aspectos em comum são percebidos, como, por exemplo, o início do ritual se
dá pela necessidade de entender o que está acontecendo com os astros em alguma situação
específica, ou pelo desejo de fazer previsões para o seu dia ou semana. Algumas frases dos
entrevistados mostram esses pontos: “é para saber como vai ser meu dia, [...] tomar algumas
decisões as vezes” (Joana); “quando acontece alguma situação que eu não estou sabendo lidar,
[...] vou para o horóscopo para ver se ele tem uma luz para me dar” (Vanessa); “mais pela
curiosidade mesmo, de entender o que está acontecendo” (Lucas); “para me preparar para o
dia, para ver o que vem por aí, é um guia” (Ricardo); “[uso] para entender sabe, quando não
estou no meu normal, tem algo me afetando, aí procuro saber se tem alguma coisa
acontecendo” (Julia); “o propósito é realmente ter uma previsão, ter uma noção de como vão
ser as energias da semana” (Rodrigo).
Outro aspecto em comum percebido nos roteiros dos rituais é o desfecho dos mesmos.
Para alguns entrevistados, completar um ritual voltado à astrologia traz bons sentimentos,
como “esclarecimento”, “alívio” e “felicidade”, como mostram as verbalizações: “me sinto
esclarecida, me sinto clareada” (Joana); “traz uma harmonia, [...] me sinto aliviada, parece
que coisas que você não consegue enxergar, o horóscopo te mostra, [...] fica mais clara a
situação” (Vanessa); “eu saio muito feliz, muito faceira, [...] entusiasmada” (Amanda). Em
outros casos, o desfecho é relacionar o conteúdo absorvido com o momento que está vivendo,
ou com a sua semana, seu dia. As frases que apontam esse tipo de desfecho são: “eu relaciono
com a minha semana, já me preparo psicologicamente para a minha semana” (Julia); “eu paro
e penso em tudo que tenho planejado para a semana, como isso pode me afetar de alguma
maneira” (Rodrigo); “eu faço uma reflexão sobre a semana que passou e também faço uma
previsão minha de como vai ser a semana, o que eu vou estar fazendo em cada momento”
(Amanda).
Os entrevistados costumam buscar as informações sobre astrologia em fontes já
conhecidas, como sites específicos ou redes sociais de influenciadores e astrólogos. Alguns
rituais são, inclusive, direcionados a apenas um canal, onde o conteúdo oferecido é exclusivo
voltado ao que o entrevistado busca descobrir. As verbalizações a seguir constatam esse fato:
“todo dia de manhã eu chego no trabalho e entro no Astrolink para ver todos os meus
trânsitos ativos no momento” (Rodrigo); “de manhã eu acordo, ponho os óculos, tiro o celular
do carregador e abro o astro.com [para ler o meu horóscopo]” (Ricardo); “Eu acordo e abro
meu horóscopo personalizado, [...] porque eu recebo 6 da manhã geralmente o e-mail. Toda
quinta-feira eu vejo o horoscopinho da Br000na no Instagram” (Julia); “Toda quinta-feira eu
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entro no Instagram da Br000na, [...] daí eu leio o meu sol, o meu ascendente e minha lua.
[...] Toda segunda-feira eu entro no Instagram do Edu Conte, para ver a previsão dele para o
céu da semana” (Rodrigo); “Toda segunda-feira eu chego do trabalho, abro meu Youtube e a
primeira pessoa, o primeiro vídeo que eu assisto é a Claudia Lisboa. Aí eu faço anotações
dos tópicos mais importantes na minha agenda” (Amanda).
Sobre os papéis do ritual – a representação do papel dos indivíduos –, foram
identificados os seguintes papéis ativos: o interessado em astrologia, o produtor de conteúdo
sobre astrologia e, em certos casos, demais pessoas que trocam informações sobre astrologia
(familiares, amigos e conhecidos). No entanto, ainda que haja diferentes papéis, em algumas
situações, alguns entrevistados percebem o estudo de astrologia como algo individual e,
muitas vezes, autodidata, como indicam as verbalizações: “hoje eu consigo aprender mais
sendo autodidata, comprando livros e estudando sozinho” (Rodrigo); “[as pessoas buscam
astrologia] porque acho que é mais fácil o acesso, tu mesmo vai procurar, [...] eu aprendi
basicamente assim, ia lá e pesquisava” (Julia).
A audiência do ritual, o último componente dos rituais de consumo, refere-se às
pessoas que assistem ao ritual, sem um papel específico. No caso dos rituais de astrologia, são
as pessoas que veem as interações nas redes sociais, por exemplo, nos comentários de um post
sobre as previsões da semana, mas não influenciam o consumo.
Considerando a abordagem de McCracken (2003), há a proposição de um modelo de
transferência de significado que indica, através da publicidade e do sistema de moda, como
mundo culturalmente constituído transfere significado aos bens de consumo e, por meio dos
rituais, esses bens transferem significado aos consumidores individuais. O autor defende que a
cultura atribui significado ao mundo culturalmente constituído, pois ela possui “lentes” pelas
quais os acontecimentos são observados e determina como esses acontecimentos são notados
e assimilados.
Sendo assim, por ser uma forma de representação do mundo culturalmente constituído,
a publicidade é uma importante ferramenta para a transferência de significado
(MCCRACKEN, 2003). No caso da astrologia, os perfis de astrólogos e influenciadores que
produzem conteúdo online sobre astrologia, exercem o papel de ferramenta de transferência
de significado. Através da exposição a tais estímulos, esses perfis fazem com que o mundo
culturalmente constituído e a astrologia sejam notados de maneira harmônica, e assim
significados considerados adequados sejam atribuídos pelos entrevistados.
No sistema da moda, a movimentação de significado necessita de mais fontes de
significado, de agentes de transferência e de meios de comunicação, observa McCracken
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(2003). Além da transferência de significados que acontece na publicidade, são dados novos
significados também por “líderes de opinião”, que são responsáveis por aperfeiçoar o
significado cultural existente e, por fim, adotar uma mudança e criação de novos significados
culturais. Tendo em vista que a moda não é apenas vestuário, ela também pode ser pensada
como um determinado comportamento. Nesse caso, a astrologia se encaixa nesse sistema por
ter seu significado movimentado por meio de diversas fontes, agentes de transferência e meios
de comunicação. No consumo de astrologia, os “líderes de opinião” são os astrólogos e
influenciadores do tema, pois influenciam o julgamento dos indivíduos sobre os significados
culturais da astrologia.
Os bens de consumo transferem significado aos consumidores individuais por meio
dos rituais (MCCRACKEN, 2003). O autor determina quatro tipos de rituais: rituais de troca,
de posse, de arrumação e de despojamento. O ritual de troca – referente à troca de bens – é
exercido pela entrevistada Vanessa, que se encontra com um amigo duas vezes por mês para
conversarem sobre astrologia e trocarem informações e conhecimentos. O segundo ritual, de
posse, faz com que o consumidor declare posse sobre seus bens de consumo. Ele é praticado
por todos os entrevistados, uma vez que todos detém conhecimento sobre astrologia quando a
consomem. O ritual de arrumação acontece quando o indivíduo atribui significado desse bem
de consumo ao consumidor. Por fim, o ritual de despojamento é aquele em que o indivíduo se
desfaz do bem. Desta forma no que tange aos rituais apresentados por McCracken (2003),
foram identificados os rituais de troca e de posse entre os entrevistados.
Assim, com as análises dos rituais de consumo de astrologia, encerra-se o capítulo de
análise dos resultados. O capítulo a seguir apresenta as considerações finais do presente
estudo.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo definir quais os significados e os rituais do consumo
de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios. Este objetivo geral
divide-se em três objetivos específicos: caracterizar a presença da astrologia no cotidiano dos
entrevistados, identificar os significados do consumo de astrologia e analisar os rituais de
consumo de astrologia.
A respeito da presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, observou-se que
ela está presente em suas vidas desde a infância e, atualmente, se faz presente, na maioria dos
casos, diariamente. A leitura de horóscopos e trânsitos astrológicos e conversas com outras
pessoas são os principais momentos em que a astrologia aparece na vida dos entrevistados. O
principal motivo pelo qual as pessoas se interessam por astrologia é porque ela é uma
ferramenta que auxilia na busca por autoconhecimento.
No que diz respeito ao segundo objetivo – identificar os significados do consumo de
astrologia – constata-se que o mais importante significado é a busca por autoconhecimento.
Dentre outros significados individuais para cada entrevistado, o desejo em se conhecer e saber
mais sobre si é comum entre todos. Por mais que não seja o motivo inicial para alguns, a
astrologia age como ferramenta de autoconhecimento tanto para próprios entrevistados quanto
para as pessoas as quais eles se referem em seus exemplos. Nesse sentido, destaca-se o
consumo de conteúdo online sobre o tema, tanto pela facilidade de acesso às informações
quanto à variedade de fontes de informação. A influenciadora Isabella Mezzadri foi a mais
citada entre os entrevistados, por transmitir seu conhecimento em astrologia de maneira
acessível àqueles que sabem nada sobre o assunto. Também os entrevistados afirmaram que a
astrologia despertou seu interesse em buscar outros conhecimentos – com destaque para o tarô
–, mas não se aprofundaram nesses conhecimentos tanto quanto o fizeram com astrologia.
O terceiro e último objetivo é analisar os rituais de consumo de astrologia. O primeiro
ponto observado é que as pessoas buscam a astrologia em momentos de crise – especialmente
quando estão sentindo-se “perdidas” – ou quando têm um interesse amoroso por alguém.
Nesses momentos, a astrologia surge como uma ferramenta acessível e que traz as respostas
que os indivíduos tanto procuram. Assim, quando os indivíduos passam a confiar na
astrologia, começam a utilizá-la como um guia em algumas situações de suas vidas,
desenvolvendo rituais de consumo.
Para os entrevistados, o objetivo dos rituais é compreender o que está acontecendo
astrologicamente em alguma situação específica e fazer previsões para o dia ou semana. Com
51
14
Função do Instagram de postar imagens e vídeos que ficam disponíveis para visualização durante vinte e
quatro horas. Por ter um prazo determinado, é muito utilizado para assuntos que se atualizam constantemente,
como os horóscopos semanais.
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dos entrevistados não envolvem objetos. Os objetos de astrologia (quadro, copo, caderno,
etc.) mencionados não são muito relevantes aos entrevistados.
Houve, ainda, algumas limitações na realização deste estudo. A quantidade de pessoas
que se disponibilizou para ser entrevistada foi muito grande, inclusive a maioria encaixando-
se no perfil procurado. No entanto, conversando rapidamente para avaliar se a pessoa seria
ideal para ser entrevistada, a pesquisadora notou que poucos conseguiam abordar o consumo
de astrologia em vista dos significados que lhe são atribuídos. Conforme mencionado no item
Unidade de Estudo da Estratégia Metodológica, foram realizadas duas entrevistas que não
puderam ser aproveitadas para análise, pois os entrevistados não conseguiam se aprofundar
nos assuntos e somente utilizavam a astrologia em si – seus mapas astrais, os signos e
planetas – para justificar o consumo dela.
Outra limitação foi a bibliografia sobre astrologia. Embora haja bibliografia, os livros
são muito focados em conteúdo astrológico e poucos analisam o consumo de astrologia. Além
disso, a biblioteca da ESPM-Sul não possui livros sobre esse estudo. Sendo assim, os livros
utilizados pertencem ao acervo da pesquisadora – alguns já possuía, outros foram adquiridos
para a elaboração do referencial teórico.
A partir dos resultados alcançados, nota-se que, embora haja muito interesse das
pessoas por astrologia, ela é ainda pouco abordada no âmbito acadêmico. Com isso, surgem
diversas possibilidades de novos estudos que podem ser realizados sobre o tema, tanto
abordando o consumo quanto outros aspectos. Sugere-se os seguintes estudos: uma pesquisa
quantitativa para mensurar os meios de comunicação de massa mais utilizados para consumir
astrologia e qual impacto tem na vida das pessoas, uma pesquisa qualitativa para investigar
possíveis diferenças na percepção de homens e mulheres acerca da astrologia e ainda uma
pesquisa qualitativa para comparar o entendimento de diferentes faixas etárias e classes
sociais sobre astrologia.
Assim, finaliza-se o presente estudo, o qual proporcionou um melhor entendimento
sobre o consumo de astrologia, seus significados e rituais.
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ROTEIRO DE ENTREVISTA