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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

PLANO MONOGRÁFICO

NATÁLIA KALIL PEIXOTO

A BUSCA POR AUTOCONHECIMENTO: OS SIGNIFICADOS E OS RITUAIS DO


CONSUMO DE ASTROLOGIA

Porto Alegre

2018
NATÁLIA KALIL PEIXOTO

A BUSCA POR AUTOCONHECIMENTO: OS SIGNIFICADOS E OS RITUAIS DO


CONSUMO DE ASTROLOGIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


como requisito para obtenção do título de
Bacharel em Publicidade e Propaganda pela
Escola Superior de Propaganda e Marketing –
ESPM.

Orientadora: Profª. Ms. Janie K. Pacheco

Porto Alegre
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Alcides e Heloísa, e ao meu irmão, Tiago, por
me apoiarem em todas as minhas decisões e me incentivarem mesmo nos momentos mais
difíceis. O apoio e carinho de vocês foram a minha maior força e inspiração nessa aventura de
me mudar para Porto Alegre. Também agradeço imensamente todos os meus amigos que
acompanharam essa experiência comigo, compreenderam os meus momentos e me motivaram
quando eu mais precisei. São muitos que eu gostaria de citar: Juliana, Marina e José Vitor, os
melhores amigos que vou levar por toda a minha vida. Em Porto Alegre, a família que a
ESPM-Sul me deu: Bruna, Bruneide, Julia, Rafaela, Haru, Luccas, Maranhão, Lucas, Rodrigo,
Matheus e Cassio. Obrigada por tudo.
Aos professores que fizeram parte da minha trajetória na graduação, pelos
aprendizados dos últimos quatro anos e meio. À Adriana, minha qualificadora, agradeço a
disponibilidade, a atenção e as considerações sobre o que deveria ser melhorado. Os pontos
indicados foram essenciais para o aprimoramento do meu trabalho.
À Janie, minha orientadora, dedico meu agradecimento especial. Muito obrigada por
toda ajuda nos últimos meses, por me tranquilizar e me fazer acreditar que conseguiria.
Obrigada pelo carinho, pela paciência e, principalmente, pelos ensinamentos.
Astrology is a language. If you understand this
language, the sky speaks to you.

(Dane Rudhyar)
RESUMO

A presente monografia visa compreender os significados e os rituais do consumo de


astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios. Especificamente,
busca-se caracterizar a presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, identificar os
significados do consumo de astrologia e analisar os rituais do seu consumo. Para isso dar
conta de tais objetivos, realizou-se uma pesquisa qualitativa-exploratória, em que foram
entrevistados quatro homens e quatro mulheres de 21 a 33 anos, com ensino superior
concluído ou em andamento, que consumiram conteúdo online, produtos e/ou serviços
astrológicos no mês anterior à pesquisa. A coleta de dados dá-se a partir de pesquisa
bibliográfica, pesquisa documental e entrevista em profundidade e a análise dos dados
coletados vale-se da análise de conteúdo. Nos resultados obtidos destaca-se que para os
entrevistados a astrologia é entendida como ferramenta que auxilia na busca por
autoconhecimento. Além disso, ela está presente na vida deles desde a infância. Jornal, revista
e internet são os principais meios de comunicação de massa utilizados para o consumo de
astrologia. Dentre eles, o consumo de conteúdo online é o que tem mais relevância.

Palavras-chave: Consumo. Rituais de consumo. Astrologia. Autoconhecimento. Meios de


comunicação de massa.
ABSTRACT

This project aims at comprehending the meanings and rituals of consumption regarding
astrology amongst middle class men and women. More specifically, the research characterizes
the role of astrology in the interviewees' daily lives, identifies the different meanings behind
the consumption of astrological material, and analyzes the rituals behind the practice. To
achieve this goal, a qualitative exploratory research was performed, in which four men and
four women, between the ages of 21 and 33 years, who have completed their graduate studies
or are currently enrolled in such, as well as have consumed products and/or astrological
services of different kinds in the month prior to the research, were interviewed. The data
collection built upon bibliographic research, documental research, and interviews, and the
collected data analyses. Through observing the results, it is apparent that, for the interviewees,
astrology is understood as a tool that aids in the pursuit of self-knowledge. Moreover,
astrology appears to be present in all of the individuals' lives since childhood. Jornals,
magazines and the internet take a primary role as means of mass communication used for the
consumption of astrology. Amongst these, online consumption appears to retain further
relevance for the group.

Key-words: Consumption. Consumption rituals. Astrology. Self knowledge. Mass media.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Perfil dos entrevistados ........................................................................................ 28

Quadro 2 – Definição de astrologia......................................................................................... 31

Quadro 3 – Ingresso da astrologia na vida do entrevistado..................................................... 34

Quadro 4 – Presença da astrologia na vida cotidiana .............................................................. 35

Quadro 5 – Motivos para alguém se interessar por astrologia ................................................ 36

Quadro 6 – Referências no mundo da astrologia .................................................................... 38

Quadro 7 – Classificação das referências no mundo da astrologia ......................................... 39

Quadro 8 – Consumo relacionado à astrologia ....................................................................... 40

Quadro 9 – Situações que propiciaram o estudo de astrologia ............................................... 42

Quadro 10 – Conhecimentos buscados a partir da astrologia ................................................. 43

Quadro 11 – Circunstâncias para buscar a astrologia ............................................................. 45


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 1

2 CONSUMO E RITUAIS ....................................................................................................... 6

2.1 Considerações Preliminares acerca do Consumo ................................................................. 6

2.2 Rituais de Consumo .............................................................................................................. 8

3 ASTROLOGIA .................................................................................................................... 14

3.1 Surgimento da Astrologia ................................................................................................... 14

3.2 A Astrologia e a Sociedade Moderna ................................................................................. 18

3.3 A Presença da Astrologia nos Meios de Comunicação ...................................................... 21

4 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA ................................................................................. 25

4.1 Vertente de Pesquisa ........................................................................................................... 25

4.2 Tipo de Estudo .................................................................................................................... 26

4.3 Unidade de Estudo .............................................................................................................. 26

4.4 Técnicas de Coleta de Dados .............................................................................................. 28

4.5 Técnica de Análise de Dados.............................................................................................. 29

5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ......................... 31

5.1 Presença da Astrologia no Cotidiano ................................................................................. 31

5.2 Os Significados do Consumo de Astrologia ....................................................................... 38

5.3 Os Rituais de Consumo de Astrologia ................................................................................ 44

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 50

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 53

APÊNDICE A – Roteiro entrevistas ..................................................................................... 55


1

1 INTRODUÇÃO

Com dificuldade em acreditar no governo, na mídia e nas grandes instituições, as


novas gerações estão vivendo conflitos de confiança e buscando respostas para a incerteza e
instabilidade sobre o futuro no “além”, como evidenciam os resultados da pesquisa intitulada
Peoplestrology, no ano de 2018. Neste contexto, a astrologia, por ser pessoal e específica ao
indivíduo, aparece como uma solução para uma cultura hiper-individualizada, auxiliando as
pessoas a se identificarem e se redefinirem.
Segundo Campion (2010), a astrologia lida com os efeitos, consequências ou
significados das estrelas nos assuntos na Terra. O autor defende que ela é a prova da
necessidade humana de procurar um significado para a vida. Dentre as diversas definições da
astrologia concedidas por astrólogos norte-americanos em uma conferência em 1998 na
cidade de Seattle, destaca-se “o estudo da relação entre os corpos do nosso sistema planetário
e a vida na Terra, e a arte de interpretar os seus significados” (2010, p.16).
Atualmente, a astrologia vem sendo abordada como fato social1 e fenômeno da cultura
global (PEOPLESTROLOGY, 2018). Mais importante do que determinar verdades ou
significados definitivos, ela possibilita interpretações de sentido. A pesquisa Peoplestrology
(2018) contou com dois mil e oitocentos participantes em vinte países com o objetivo de
identificar por que as pessoas estão interessadas em astrologia e como macrotendências
podem impactar o futuro da astrologia. A pesquisa denominou o que a astrologia oferece às
pessoas como “significados culturais”, e obteve cinco significados culturais como resultado
para classificar a Nova Era da astrologia na modernidade: empatia (autoconhecimento x
conhecer o outro), comunidade (diferenciação x pertencimento), esperança (espiritualidade x
cientificismo), transformação (destino x poder de escolha) e consciência (ego x cosmos).
Segundo a Peoplestrology (2018), no mundo contemporâneo, a espiritualidade acompanha a
mesma lógica do consumo. O indivíduo decide os códigos, estilos e rituais que mais se
encaixam com a sua personalidade, a fim de definir sua própria identidade
(PEOPLESTROLOGY, 2018).
Neste âmbito, compreende-se a importância da relação entre consumo e cultura, pois
toda ação acontece por meio de interferências simbólicas, que dão sentidos e significados às
experiências individuais, afirmam Barbosa e Campbell (2006). Enquanto no passado o

1
O sociólogo francês Émile Durkheim definiu fatos sociais como instrumentos sociais e culturais que definem as
formas de agir, pensar e sentir na vida de uma pessoa que se fazem presentes na coletividade da qual ela faz
parte.
2

homem ocidental consumia para suprir necessidades físicas e sociais, de acordo com Barbosa
(2010), no mundo atual, a “essência” do consumo é mais vasta e subjetiva. A autora defende
que as mudanças nos antigos padrões de consumo se deram a partir do século XVI no mundo
ocidental e que agora é atribuído ao consumo uma função mais ampla do que apenas de
satisfazer necessidades. Para Barbosa e Campbell (2006), o consumo moderno está
relacionado ao consumo individual e, com frequência, os indivíduos tomam sozinhos a
decisão do que consumir, fazendo com que suas emoções e seus desejos sejam a essência
desta escolha. Assim, o ato de consumir pode ser encarado como “um caminho vital e
necessário para o autoconhecimento” (2006, p.52).
Dentro do eixo do consumo, o estudo dos rituais é essencial para sua compreensão
(MCCRACKEN, 2003). Para o autor, os rituais de consumo são ferramentas para atribuir
significado aos bens de cada indivíduo, e neles são percebidos os aspectos simbólicos do
sistema de consumo. Apoiado nas considerações de McCracken, Rook (2007) define ritual
como uma atividade expressiva e simbólica que engloba diversos comportamentos que se dão
em sequência e que têm tendência a se repetir com o passar do tempo. Diferentemente dos
hábitos comportamentais, os rituais possuem uma roteirização dramática, normalmente com
começo, meio e fim (ROOK, 2007).
Levando em conta que a astrologia é consumida pela sociedade contemporânea, como
foi destacado no estudo intitulado Peoplestrology (2018), e que a pesquisa identificou que os
significados culturais obtidos são a busca por empatia, comunidade, esperança, transformação
e consciência, este estudo busca investigar: Quais os significados e os rituais do consumo
de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios?
A partir deste problema, esta pesquisa busca compreender quais os significados e os
rituais do consumo de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios.
Para alcançar este propósito foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos:
caracterizar a presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, identificar os significados
do consumo de astrologia e analisar os rituais de consumo de astrologia.
O estudo justifica-se para a autora nos âmbitos pessoais, profissionais e acadêmicos.
Na esfera pessoal, o interesse em astrologia surgiu durante a sua adolescência, quando
buscava autoconhecimento, encontrando nesta ferramenta respostas e, também, mais
perguntas e questionamentos. A partir da presença diária da astrologia na vida da
pesquisadora, surgiu o desejo de compreender os significados do seu consumo para, assim,
aprofundar-se ainda mais no tema.
3

De acordo com o Google Trends2, o termo “mapa astral” teve um crescimento de


408% de setembro de 2013 a setembro de 2018. Somando a isto, cada vez mais encontram-se
produtos personalizados, serviços de consultoria e pessoas interessadas na busca pelo
autoconhecimento. Isto denota o crescente interesse das pessoas sobre o assunto.
A autora desta monografia estuda a astrologia e presta serviços remunerados voltados
à sua prática. Assim, a esfera profissional se justifica pelo desejo de se aprofundar nesses
conhecimentos e abrir para diferentes oportunidades profissionais neste campo.
No âmbito da comunicação e, em particular, da publicidade, a astrologia relaciona-se
com ambas, pois está presente em diversos veículos como jornais, revistas, sites, etc. Ela é um
tema relevante para o estudo do consumo, afinal, por ser um tema em ascensão, diversas
marcas estão se apropriando de seus símbolos para lançar produtos e coleções especiais. No
Brasil, em 2017 e 2018, notam-se alguns cases de marcas que utilizaram a astrologia, por
exemplo: Imaginarium – loja de presentes e decoração – lançou copos dos signos do zodíaco,
Vivara – marca de joias – lançou uma coleção de pingentes de signos, Farm – marca de
roupas – lançou uma coleção de camisetas dos signos e MAC Cosmetics – fabricante de
cosméticos – lançou batons dos signos.
Mais do que uma resposta a uma questão pessoal, esta pesquisa deseja alcançar
pessoas interessadas em astrologia, auxiliando na compreensão dos assuntos abordados e
apresentando significados possíveis ao tema de interesse. E, quem sabe, assim, motivando
mais indivíduos estudarem e pesquisarem sobre a astrologia tanto para o âmbito pessoal
quanto acadêmico.
Dentre os poucos estudos acadêmicos encontrados que enfocam a astrologia, há o
estudo pioneiro, no contexto brasileiro, de Luís Rodolfo Vilhena (1990), que analisa o tema
sob um viés antropológico. A pesquisa do cientista social sobre o mundo da astrologia é uma
investigação a respeito das crenças e representações de um grupo de indivíduos pertencentes
às camadas médias cariocas. O aspecto de destaque em sua conclusão é que a ênfase nas
ideias contrárias aos valores científicos, utilizada para construir a identidade dos entrevistados,
não os impede de fazerem associação com os valores modernos, em que o simbolismo
permanece em diversos âmbitos. A astrologia torna-se um veículo que revela e problematiza
as tensões de seus valores, mesmo quando parece negá-los.
Mais um estudo relevante para pensar astrologia e sua relação com os meios de
comunicação de massa, sobretudo, jornal, é a pesquisa de Theodor Adorno (2008 [1957]) que

2
Ferramenta do Google que permite a pesquisa de termos específicos e apresenta gráficos com a frequência que
eles são procurados.
4

interpreta a coluna de astrologia do jornal norte-americano Los Angeles Times. Sua conclusão
é que os conselhos da coluna de astrologia manipulam o prazer do indivíduo visando à
integração social. Para Adorno, a astrologia nos meios de comunicação é posicionada de
maneira conformista e autoritária.
Foram encontrados alguns outros trabalhos voltados à astrologia, são eles: Astrologia
& Narrativas do Céu, artigo de Ana Cristina Vidal de Castro (2015) pela Faculdade Cásper
Líbero, que aborda as relações da astrologia com os meios de comunicação; Astrologia
Zodiacal, artigo de Bruno Bertolossi de Carvalho (2017) pela Universidade de Medellin, que
trata do simbolismo como fundamento da cosmologia; Escrito nas Estrelas, artigo de
Rosilene Alves de Melo (2007) apresentado no XIII Encontro de História Anpuh-Rio, que
estuda as relações entre cultura, natureza e o mundo sobrenatural a partir de almanaques
astrológicos de feira, anuários de orientação metereológica para agricultores editados no
Brasil; A Identidade Profissional dos Astrólogos, monografia de Fabíola Petró (2016) pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que aborda questões voltadas à contrução da
identidade profissional da ocupação de astrólogo em Porto Alegre; As Dimensões Imaginárias
da Astrologia, dissertação de mestrado de Thácio Ferreira dos Santos (2012), que analisa as
dimensões simbólicas da astrologia que são manifestadas nas relações interpessoais e na
organização da vida cotidiana de indivíduos residentes em Recife.
Este estudo possui capítulos dois teóricos organizados para a melhor compreensão do
problema apresentado. O capítulo dois, chamado Consumo e Rituais, aborda considerações
preliminares acerca do consumo e rituais de consumo. Os autores utilizados para tais
definições são McCracken (2003), Barbosa e Campbell (2006), Oliven (2006), Lima (2006),
Barbosa (2010), Johnson (1997), Segalen (2002) Smith (2002), Peirano (2003) e Rook (2007).
No capítulo três, nomeado Por dentro do mundo da Astrologia, apresentam-se o
surgimento da astrologia, suas definições, sua presença no mundo contemporâneo e sua
presença nos meios de comunicação, a partir dos autores Adorno (2008 [1957]), Vilhena
(1990), Rüdiger (1996), Müller e Müller (2002), Giddens (2005), Suzuki (2008), Cassé e
Morin (2008), Campion (2010) e Arroyo (2011).
A metodologia aplicada nesta pesquisa é qualitativa, exploratória, mediante pesquisa
bibliográfica e documental. A entrevista em profundidade com roteiro semiestruturado é a
técnica de coleta adotada para coletar os dados empíricos. Foram entrevistados oito pessoas,
de ambos os sexos, interessadas em astrologia que tenham consumido no último mês
conteúdo online, produtos e/ou serviços vinculados à astrologia. A técnica de análise de
conteúdo foi empregada para analisar o material empírico obtido.
5

Em seguida, é apresentado o capítulo de análise e discussão dos resultados a partir do


referencial teórico e dados empíricos reunidos. E, por fim, o capítulo de considerações finais
resgata o problema de pesquisa e objetivos específicos, respondendo a essas indagações e
concluindo o estudo.
Sendo assim, esta monografia busca se aprofundar no consumo de astrologia,
identificando seus significados e rituais. Convida-se o(a) leitor(a) a mergulhar no universo da
astrologia – um saber milenar que não se perdeu ao longo dos anos e ganhou força no
contexto moderno. Se ela é real ou falsa? Para estudar seu consumo, essa questão pouco
importa. O fato é que ela é um “estudo simbólico” (SUZUKI, 2007) que está em evidência e
seu consumo cresce a todo momento, mesmo sem comprovação científica de sua efetividade.
Por que não buscar compreendê-la? Boa leitura!
6

2 CONSUMO E RITUAIS

Este capítulo trata do consumo e dos rituais sob a perspectiva das ciências sociais. A
partir da apresentação e discussão de tais temáticas, será possível um melhor entendimento e
análise dos questionamentos do presente estudo.

2.1 Considerações Preliminares acerca do Consumo


O consumo é um ato eminentemente cultural, afirma McCracken (2003). Para o autor,
a cultura contempla as ideias e atividades que, por meio das quais, produzimos e criamos o
nosso mundo, enquanto consumo abrange os processos pelos quais bens e serviços de
consumo são desenvolvidos, adquiridos e utilizados. O consumo, como observam Barbosa e
Campbell (2006), pode ser definido como uma estratégia empregada no dia a dia por
diferentes grupos sociais para estabelecer várias situações em termos de direitos, estilo de
vida e identidades.
O consumo está “associado à exaustão e/ou à aquisição de algo" (BARBOSA;
CAMPBELL, 2006, p. 23). Os autores defendem que podemos consumir, por meio de
produtos, ou construir, através de experiências, uma determinada identidade. Nesse contexto,
quando compreendemos o significado do consumo no viés de reprodução social e construção
de subjetividades e identidades, estamos usando-o para identificar dimensões da vida social
por uma nova perspectiva. Apesar de muitos autores analisarem o consumo com foco em
coisas obtidas no mercado, o campo de análise de consumo é bem mais complexo e abrange
“várias atividades, atores e um conjunto de bens e serviços que não se restringem
necessariamente aos providos sob forma de mercadorias” (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p.
25).
De acordo com Oliven (2006), o consumo é uma categoria central para compreender a
complexidade da sociedade contemporânea. O autor defende que “não existe consumidor
isolado” (2006, p. 7). Afinal, mesmo quando um indivíduo decide comprar um produto, essa
ação é vinculada ao contexto em que ele vive e interage. Corroborando esta perspectiva, Lima
(2006, p.22) ressalta que “as escolhas materiais envolvem julgamentos feitos em termos de
valores elaborados na cultura e, por isso, seus usos sociais podem constituir cercas ou
estabelecer pontes entre as pessoas, em todas as sociedades”.
Seguindo nesta abordagem, Barbosa (2010) define a sociedade contemporânea como
“sociedade de consumo”, uma vez que o consumo é uma atividade existente em toda
sociedade humana e reflexo de esferas presentes da vida social. Para Don Slater, “a cultura de
7

consumo está associada à modernidade como um todo, seria impossível uma única definição”
(apud BARBOSA, 2010, pp.31-2). Do ponto de vista cultural, o consumo não é aplicado
como a mais importante forma de diferenciação social, “variáveis como sexo, idade, grupo
étnico e status ainda desempenham um papel importante naquilo que é usado e consumido”
(BARBOSA, 2010, p. 9). Sendo assim, a designação da identidade e do estilo de vida não é
uma ação individual e arbitrária.
Barbosa e Campbell (2006) ainda defendem que não existe uma única razão pela qual
consumimos, e sim uma série de motivos, como a busca do prazer, a defesa ou a afirmação do
status, pois o consumo exerce uma função mais significativa que apenas satisfazer
necessidades. Desta forma, é possível que o estudo do consumo encontre as mais profundas e
definitivas questões que o indivíduo possa se fazer, relacionadas com a essência da realidade
e com a razão de sua existência – como alegam os autores, questões do “ser e saber”.
Uma das características do consumo moderno é a dimensão em que produtos e
serviços são adquiridos para uso individual, contrastando com os modelos passados, em que
esses itens eram comprados para uso coletivo, como, por exemplo, para famílias (BARBOSA;
CAMPBELL, 2006). O modelo de consumo que prevalece nos dias de hoje é individualista,
pois enfatiza o direito de os indivíduos de decidirem o que consumir e é voltado a saciar
vontades, que só podem ser detectadas subjetivamente. Os autores afirmam que o
consumismo (sem pretender enfatizar qualquer conotação negativa do termo) moderno “tem
mais a ver com sentimentos e emoções do que com razão e calculismo, na medida em que é
claramente individualista, em vez de público, em sua natureza” (2006, p. 49).
No contexto contemporâneo, frisam Barbosa e Campbell (2006), “o eu” individual é
aberto e flexível, ou seja, não existe um conceito fixo ou único do self 3 . Desta forma, o
indivíduo está frequentemente comprometido no processo de recriar sua identidade e seu
estilo de vida, e o consumo tem se apresentado como a principal atividade utilizada para
solucionar esse dilema. Nessa perspectiva, Barbosa (2010) defende que estilo de vida e
identidade podem ser constituídos e reconstituídos a partir do estado de espírito do indivíduo,
pois não dependem da posição social, idade ou renda, não se trata mais de uma questão de
opção individual.
A atividade de consumir como um caminho indispensável e preciso para o
autoconhecimento faz com que o mercado se torne necessário “para o processo de descoberta
de quem realmente somos” (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p.52). Assim, a reação aos

3
O self é o “eu”, a imagem que uma pessoa tem de si mesma, afirma Johnson (1997).
8

produtos diz mais sobre a identidade do indivíduo do que o produto em si, uma vez que diz
respeito à emoção e ao desejo, que são a essência do consumo individualista.
Para Barbosa (2010), as escolhas dos indivíduos não flutuam em um vácuo cultural,
por mais que estes sejam livres para tomar suas próprias decisões, elas são influenciadas por
fatores como gênero, classe social, grupo étnico, entre outros. Além disso, mesmo com a
possibilidade de tomar suas próprias decisões a respeito de estilo de vida e identidade, estes
costumam ser contínuos, por largos períodos de tempo.
A partir dos entendimentos dos autores apresentados, notamos que a sociedade e a
cultura têm acentuada presença na maneira como os indivíduos se comportam, e também no
consumo contemporâneo. É neste âmbito que o estudo dos rituais de consumo se mostra
relevante.

2.2 Rituais de Consumo


Na definição trazida por Johnson (1997, p.201), “ritual é um padrão de fala ou
comportamento usado para criar e manter o senso de conexão com um sistema social”. Dois
exemplos clássicos de ritual são os cantos do hino nacional em eventos esportivos e as
orações em cerimônias religiosas. Mas os rituais também ocorrem em escala menor, com o
objetivo de conservar as relações sociais e suas definições de realidade – por exemplo, um
casal trocando beijos, que exerce uma função em manter uma definição de relacionamento
amoroso.
No século XIX o antropólogo evolucionista inglês James Frazer foi um dos primeiros
a teorizar sobre os rituais na obra O ramo de ouro, afirma Segalen (2002). Na visão daquele
pensador há quatro categorias para classificar os ritos: “simpáticos”, que intervêm uma
natureza de similaridade; “animistas”, que personificam o poder; de base “dinamista”, que
defende um poder de tipo “mana” e “contagionistas”. Tais classificações podem se combinar
de forma positiva ou negativa, direta ou indiretamente (apud SEGALEN, 2002).
Pouco tempo depois, no início do século XX, Arnnold Van Gennep (1909) lançou a
obra Ritos de passagem, assinala Muller (2002). “Segundo ele [Van Gennep], todo indivíduo
passa por vários status no curso de sua vida e as transições são frequentemente marcadas por
ritos diversamente elaborados segundo as sociedades em questão”4 (2002, p.633). Deste modo
o nascimento, a infância, o casamento e a morte são momentos propícios para os ritos de
passagem. Além dessas transições na vida dos indivíduos, muito características das

4
No original: “Selon lui, tout individu passe por plusieurs status au cours de sa vie e as transitions sont
fréquemment marquées par des rites diversement élaborés selon les societés”.
9

sociedades tradicionais estudadas pela etnologia, há também “ritos de passagem que


acompanham a adesão a um status profissional, religioso, político ou outro”5 (apud MULLER,
ano, p.633). Para Van Gennep
[...] todos os ritos apresentam, de um ponto de vista formal, uma estrutura ternária
associada, [...] uma fase de separação em que o indivíduo é afastado de seu estado
anterior, uma fase de latência, em que o indivíduo está entre dois status, e uma fase
de agregação, em que o indivíduo adquire seu novo status 6. (apud MULLER, ano,
p.633)

No âmbito da etnologia (ou antropologia), o rito ou ritual inscreve-se na vida social


em “vista da presença de certas circunstâncias que pedem a repetição de seus efeitos” 7
(SMITH, 2002, p.630). Assim, os procedimentos que se fazem presentes no ritual são
efetivados com o propósito de se realizar uma determinada tarefa a fim de que esta produza
um efeito desejado. O rito não é exclusivo da esfera religiosa – é esta que não pode existir
sem ele – porque é através dele que ela se manifesta. Os ritos são assim entendidos como
“criações culturais particularmente elaboradas as quais requerem a articulação de atos,
palavras e representações de muitas pessoas ao longo de gerações”8 (SMITH, 2002, p.630).
Para que o ritual exista, é imprescindível que haja a repetição de um dado
comportamento, sublinha Segalen (2002). Todavia nem toda repetição pode ser considerada
um ritual. O registro ritual é universal, uma vez que toda sociedade elabora formas simbólicas
para fazer frentes a determinadas circunstâncias sociais. Por mais que em um primeiro
momento a conceitualização dos ritos fosse voltada a uma conjunção social, religiosa e
política, com características coletivas, com o crescimento dos espaços e as contribuições dos
estudos etnológicos à sociedade moderna, gradualmente, os ritos foram direcionados para
aspectos mais mundanos e individuais. Como sublinha a autora, uma das características
centrais do ritual é a sua plasticidade, a sua capacidade de ter mais de um significado, de
adaptar-se à mudança social. E mesmo na sociedade moderna tão apegada à técnica, a
racionalidade e à eficácia as manifestações rituais ainda se fazem presentes.
Peirano (2003) corrobora a ideia de que os rituais marcaram – continuam a marcar – a
vida social. De acordo com a autora, para compreender o que é um ritual é necessário
observar em campo o grupo em questão, ou seja, a análise deve ser etnográfica. Na sociedade
5
No original: “Il existe d’autres rites de passage accompagnant l’acession à un status professionnel, religieux ou
politique ou autre”.
6
No original: “Tous ces rites présentent d’un point de vue formel, une structure ternaire associant [...] une phase
de séparation où l’individu sort de son état antérieur, une phase de latence, où l’individu est entre deux status, et
une phase d’agrégation, où la personne acquiert son nouvel état”.
7
No original: “Le rite s’inscrit la vie sociale par le retour des circonstances appelant la répétion de son
effectuation”.
8
No original: “[...] les rites sont des créations culturalles particularièrement élaborées exigeant l’articulation d’es
actes, de paroles et représentations de três nombreuses personnes, au long des générations”.
10

contemporânea, eventos como casamento, formatura, campanha eleitoral e jogo final de Copa
do Mundo não são rotineiros e, por isso, são considerados especiais. Por este motivo, esses
tipos de evento têm potencial para serem vistos como “ritual”, pois são percebidos como
“único[s], excepcional[is], crítico[s], diferente[s]” (PEIRANO, 2003, p. 9). Nas palavras da
autora:
Sugiro que a natureza dos eventos rituais não está em questão: eles podem ser
profanos, religiosos, festivos, formais, informais, simples ou elaborados. Se
aceitamos que todos os eventos mencionados [...] podem ser analisados como rituais,
não nos interessa seu conteúdo explícito – interessa, sim, que eles tenham uma
forma específica (2003, p. 9).

McCracken (2003, p.114) define ritual como uma ação social aplicada à manipulação
do significado cultural, para fins de “comunicação e categorização coletiva e individual”. Para
o autor, o ritual pode afirmar, relembrar, marcar ou retificar os símbolos e significados
convencionais da ordem cultural. Desta forma, ele é uma importante e multifacetada
ferramenta para manuseio do significado cultural.
Nesse sentido, os significados dos bens de consumo ultrapassam sua natureza de
objeto e seu valor comercial (MCCRACKEN, 2003). A atribuição de significado baseia-se em
sua capacidade de levar e comunicar significado cultural. Nesse sentido, o autor apresenta um
modelo de transferência de significado.
11

Figura 1 – Modelo de transferência de significado

Fonte: Adaptado de McCracken (2003, p.100).

O modelo de McCracken (2003) aponta que a publicidade, a moda e os rituais de


consumo são responsáveis pela transferência de significado aos consumidores individuais. Por
meio da publicidade e do sistema de moda, os bens de consumo ganham significado no
mundo culturalmente constituído, que é caracterizado pelo autor como “o mundo da
experiência cotidiana através do qual o mundo dos fenômenos se apresenta aos sentidos do
indivíduo” (2003, p.101). Para o autor, o mundo culturalmente constituído é ressignificado
pela cultura, que possui “lentes” pelas quais todos os acontecimentos são vistos e ela define
como esses acontecimentos são percebidos e absorvidos.
Desta forma, a publicidade é uma poderosa ferramenta para transferência de
significado, pois evidencia uma forma de representação do mundo culturalmente constituído,
como em propagandas de televisão. Por meio de exposições a estímulos, a propaganda deve
fazer com que o mundo e o bem sejam percebidos de forma harmônica e considerados um só,
fazendo com que a transferência do significado seja efetuada (MCCRACKEN, 2003).
Segundo o autor, a propaganda:
[...] É um tipo de canal através do qual o significado está constantemente fluindo,
em seu movimento do mundo culturalmente constituído para os bens de consumo.
Através do anúncio, bens antigos e novos estão constantemente destituindo-se de
significados e assimilando outros (MCCRACKEN, 2003, p.109).
12

No sistema da moda, no entanto, a movimentação de significado é mais complexa,


pois precisa de mais fontes de significado, de agentes de transferência e de meios de
comunicação. Neste processo, além da transferência de significados que ocorre na publicidade,
novos significados são dados também por “líderes de opinião”, que são encarregados por
aprimorar o significado cultural existente e, por fim, engajar uma mudança e criação de novos
significados culturais (MCCRACKEN, 2003).
Sendo assim, a publicidade e o sistema de moda atribuem significado aos bens de
consumo, mas “os consumidores individuais vêm a perceber o significado cultural carregado
pelos bens de consumo somente em circunstâncias excepcionais”, como, por exemplo, quando
sua casa é roubada e perdem seus bens (MCCRACKEN, 2003, p.113). De acordo com o autor,
são quatro tipos de rituais para a transferência de significado dos bens de consumo ao
consumidor final: rituais de troca, de posse, de arrumação e de despojamento.
O primeiro, denominado ritual de troca, é referente à troca de presentes, como nos
aniversários e no Natal. O segundo, ritual de posse, permite ao consumidor reivindicar e
declarar posse acerca dos seus bens de consumo ou personalizá-los para atribuir significado
pessoal. Já o ritual de arrumação ocorre quando o indivíduo investe tempo e esforço com o
seu objeto a fim de transferir o significado desse bem de consumo ao consumidor. Por fim, o
ritual de despojamento é aquele em que o consumidor “liberta-se” do significado de um
objeto, seja extraindo o significado relacionado ao dono anterior ou desfazendo-se do bem
(MCCRACKEN, 2003).
O ritual, ou rito, é uma ação expressiva e simbólica, consequência de variados
comportamentos que acontecem em sequência fixa e episódica e tendem a se repetir com o
passar do tempo, na perspectiva de Rook (2007). Sendo assim, de acordo com o autor, “o
comportamento ritual roteirizado é representado drasticamente e realizado com formalidade,
seriedade e intensidade interna” (2007, p.83). O ritual é uma linguagem corporal que trabalha
como um símbolo natural, possibilitando as interações entre pessoas. O autor defende que os
rituais e hábitos comportamentais simbolizam conjuntos sobrepostos: nem todos os hábitos
implicam rituais, e nem todos os rituais necessariamente caracterizam uma atividade habitual.
Geralmente, o ritual é uma experiência maior e plural, enquanto os hábitos costumam ser
comportamentos singulares.
A experiência ritual envolve quatro componentes: artefatos rituais, roteiro do ritual,
representação do(s) papel(éis) do ritual e audiência do ritual (ROOK, 2007). Os artefatos
rituais comunicam mensagens simbólicas individuais que formam o significado da
experiência como um todo. O roteiro indica os artefatos a serem usados, sua sequência
13

comportamental e quem deve utilizá-los. Por fim, a audiência do ritual pode ser maior do que
a da pessoa com papel específico em sua produção.
A partir das ideias e definições apresentadas sobre consumo e rituais, finaliza-se o
presente capítulo. A seguir trata-se dos conteúdos necessários para o capítulo de astrologia,
abordando o seu surgimento e sua presença no mundo contemporâneo.
14

3 ASTROLOGIA

O presente capítulo aborda o surgimento e definições do que conhecemos como


astrologia e, sobretudo, suas vinculações como forma de autoconhecimento e conexão com o
universo.

3.1 Surgimento da Astrologia


Do grego astro logos, astrologia significa literalmente “o mundo das estrelas”.
Segundo Vilhena (1990), a astrologia é uma arte divinatória que relaciona os movimentos
celestes com os acontecimentos terrestres. O estudo contempla um sistema de classificações
que possibilita a atribuição de significados a esses movimentos celestes, assim como um
conjunto de técnicas que definem a forma mais adequada para interpretá-los. Enquanto arte
divinatória, a astrologia faz parte da categoria mais específica de mancia9, que contempla, por
exemplo, a quiromancia (leitura das linhas e sinais da mão) e a cartomancia (leitura das cartas,
como o tarô). Como mancia, o estudo astrológico é dado principalmente a partir da leitura da
carta natal, popularmente conhecida como mapa astral, que apresenta a personalidade e
aspectos da vida do indivíduo a que se refere.
De acordo com Müller e Müller (2002), a astrologia nasceu provavelmente na
Babilônia há mais de dois mil anos e inspirou o pensamento de todas as culturas próximas.
Assim como na astronomia, a astrologia também observa os movimentos dos planetas e das
estrelas, mas se difere deste estudo a partir da atribuição de significado aos planetas e
movimentos planetários observados.
Por conta dos significados atribuídos aos planetas e movimentos planetários, para
Campion (2010), a astrologia une o céu e a terra. O autor a define como “a evidência da
necessidade humana de buscar um significado para a vida” (2010, p.12). Desta forma, os
astrólogos dizem que o céu é um “espelho” da vida na terra, pois quando observado, o
indivíduo vê seu próprio reflexo. Pode ser vista, portanto, como uma ferramenta para a
autocompreensão e iluminação espiritual. Diferente da astronomia, “que se preocupa com as
medições e movimentos das estrelas e dos planetas e com o estudo e a composição das suas
origens físicas” (2010, p.11), a astrologia trabalha com os efeitos, consequências ou
significados das estrelas e planetas nos assuntos da Terra. Quanto aos valores do mundo
ocidental, o autor sustenta:

9
Mancia é o nome dado aos métodos de adivinhação.
15

Como as autoridades religiosas tradicionais têm perdido sua ascendência em grande


parte do mundo ocidental, as pessoas cada vez mais constroem a sua própria
identidade religiosa buscando a sabedoria antiga e filtrando-a através de uma visão
moderna ou em teorias orientais adaptadas para a mente ocidental (CAMPION,
2010, p.20).

As pessoas procuram astrólogos na intenção de se conectarem a algo maior, um


sentido de propósito cósmico e significado pessoal, assinala o autor. Ele explica que o
sociólogo alemão Max Weber chama essa busca por sentido de “encantamento”. Para Weber,
citado por Campion (2010), em tempos passados, as pessoas no Ocidente já viveram em um
mundo mágico. Após a revolução científica dos séculos XVIII e XIX, criou-se um universo
essencialmente sem um significado. No modelo weberiano, o interesse pela astrologia tornar-
se-ia uma “busca pelo reencantamento, uma tentativa de restaurar os elos pessoais com um
mundo mágico” (CAMPION, 2010, p.27).
Sobre os elementos que compõem a astrologia, Campion (2010) dá início ao tema
abordando o Zodíaco – nome que se deu às doze constelações pelas quais a Terra passa em
um ano. Essas doze constelações formam um sistema com doze divisões de mesmo tamanho,
denominadas signos do zodíaco, e cada uma delas é ligada a um planeta (para fins
astrológicos, Sol e Lua são considerados planetas). A respeito dessa ligação entre os signos e
planetas, o autor defende que “a lógica não é baseada em uma demonstração empírica de que
a natureza dos planetas está ligada àqueles signos que eles regem” (2010, p.38). Cada planeta
e cada signo possui um significado e seu próprio grupo de princípios:

PLANETAS:
 Sol: o “eu”, self ou ego;
 Lua: a mãe, o lar e as emoções;
 Mercúrio: comunicação e pensamento;
 Vênus: o princípio feminino, as artes e buscas prazerosas;
 Marte: o princípio masculino, energia e agressão;
 Júpiter: crença, esperança, expansão e otimismo;
 Saturno: dúvida, restrições e limites;
 Urano: revolução, independência e individualidade;
 Netuno: sonhos, ilusões e delírios;
 Plutão: profundidade, poder e paixão.
16

SIGNOS:
 Áries: energia, iniciativa e afirmação;
 Touro: estabilidade, praticidade e sensualidade;
 Gêmeos: comunicação, ideias e flexibilidade;
 Câncer: afirmação, energia e emoção;
 Leão: estabilidade, energia e entusiasmo;
 Virgem: praticidade, flexibilidade e pureza;
 Libra: comunicação, equilíbrio e harmonia;
 Escorpião: estabilidade, emoção e intensidade;
 Sagitário: energia, flexibilidade e otimismo;
 Capricórnio: afirmação, praticidade e conservadorismo;
 Aquário: estabilidade, comunicação e idealismo;
 Peixes: emoção, flexibilidade e sensibilidade.

O horóscopo, segundo Campion (2010), é um mapa esquemático do céu, captado em um


momento específico – é necessário saber o horário, a data e o local a serem considerados para
fazer a relação com a pessoa ou evento que será analisado. Um mapa astral/natal é um
horóscopo baseado no momento de nascimento do indivíduo. Nesse sentido, Cassé e Morin
(2008) defendem que, nas civilizações individualizadas, os horóscopos estabelecem o caráter
e o futuro de cada um.
Para entender a astrologia, é necessário compreender o significado de cinco conceitos-
chave: elementos, signos, planetas, casas e aspectos, afirma Arroyo (2011). Os quatro
elementos (fogo, terra, ar e água) dizem respeito à personalidade dos indivíduos – o fogo é
caracterizado pela iniciativa, a terra pela estabilidade, o ar pela intelectualidade e a água pela
sensibilidade. Cada um dos elementos relaciona-se a três signos do zodíaco, cujas
características são semelhantes àquilo que o elemento representa.

 Fogo: áries, leão e sagitário;


 Terra: touro, virgem e capricórnio;
 Ar: gêmeos, libra e aquário;
 Água: câncer, escorpião e peixes.
17

As casas astrológicas são as diretrizes de interpretação em um mapa astral e representam


as áreas de experiências onde as energias dos signos e planetas trabalham (ARROYO, 2011).
Cada casa representa uma área da vida do indivíduo e, para interpretá-la, considera-se o signo
em que a casa se encontra e quais planetas estão “dentro” dela. Assim, as representações de
cada casa são:

 Casa 1: personalidade e aparência pessoal;


 Casa 2: dinheiro e recursos;
 Casa 3: irmãos e educação primária;
 Casa 4: mãe e lar;
 Casa 5: filhos e lazer;
 Casa 6: trabalho e saúde;
 Casa 7: casamento e relações de compromisso;
 Casa 8: herança e transformações;
 Casa 9: viagens e ensino superior;
 Casa 10: pai e carreira;
 Casa 11: amigos e intelectualidade;
 Casa 12: espiritualidade e o inconsciente.

Por fim, o último conceito-chave é os aspectos formados entre os planetas (ARROYO,


2011). As interações entre os planetas do mapa natal podem ser consideradas desafiadoras ou
harmônicas, de acordo com o aspecto a ser analisado.
Diferentemente de Arroyo (2011), que apresenta a astrologia por conceitos, para
Vilhena (1990), a astrologia trabalha com signos, e não com conceitos. A leitura do mapa
astral é a técnica de interpretação mais utilizada na astrologia, sendo realizada a partir da
interpretação do simbolismo dos signos, casa e planetas. Com o mapa astral, o astrólogo
poderia definir, por meio de múltiplas unidades de interpretação, a personalidade do indivíduo
a quem o mapa se refere. Por mais que todas as unidades sejam importantes, muitas delas são
contraditórias entre si – desta forma, cabendo ao astrólogo selecionar e sintetizar as diversas
combinações de forma mais ou menos coerente. Ainda sobre o mapa astral, o autor defende:
Há num mapa astral muito mais informações do que simplesmente a personalidade e
as idiossincrasias 10 de um indivíduo; lá se encontram informações que também
dependem de fatores externos a ele, como sua carreira, seus pais, etc. Nessa carta,
por outro lado, se encontram organizados todos os aspectos que compõem a vida

10
Característica de comportamento peculiar.
18

desse sujeito, não representados como um acúmulo caótico de fatos fortuitos, mas
sim como um todo coerente detectável através das configurações planetárias
(VILHENA, 1990, pp.65-66).

Ainda sobre o que compõe a astrologia, vale ressaltar os trânsitos astrológicos que,
segundo Müller e Müller (2002), é a interpretação do efeito de um planeta em movimento –
trânsito – numa data futura. Nos horóscopos, eles são utilizados para fazer previsões e analisar
aspectos formados entre planetas.
Assim, a partir das informações apresentadas acerca do surgimento da astrologia e
elementos que a compõe, surge o contexto da astrologia e a sociedade moderna. O próximo
subcapítulo abordará esse tema.

3.2 A Astrologia e a Sociedade Moderna


Como afirmado anteriormente, as revoluções políticas e científicas foram essenciais
para a consolidação da ideologia moderna, que valoriza o indivíduo e a razão (VILHENA,
1990; CAMPION, 2010). Tais revoluções reforçam as descontinuidades que marcam a
sociedade moderna em relação às sociedades que existiam antes no mundo, observa Giddens
(1991). Estas “descontinuidades” da ordem social moderna em relação às ordens sociais
tradicionais devem-se, principalmente, ao fato de que o mundo moderno é marcado pela ideia
de “mudança”. Inovações e transformações existiram em todas as sociedades, mas em nossa
época a “mudança” apresenta características que a distinguem de outros períodos. Isto tem a
ver com três fatores, segundo o autor (1991, pp.15-16):
 Ritmo da mudança – fator tempo. Na modernidade, a mudança torna-se é maior, mais
rápida e intensa. Ser “moderno” é estar em constante transformação e atualização. Na
modernidade, a inovação prevalece sobre a tradição. Nas sociedades tradicionais,
prevalecem a força das convenções e ideia de que a vida social deve permanecer, se
possível, inalterada;
 Escopo da mudança – fator espaço. Na modernidade, as transformações sociais se
ganham força no tempo e no espaço. As inovações econômicas, políticas e culturais
próprias do mundo moderno atingem praticamente todo o planeta;
 Natureza da mudança – o mundo moderno produz instituições sociais novas. Podem
ser citados fenômenos sociais como o Estado-Nação, artefatos tecnológicos e o
trabalho assalariado.

Nessa nova ordem social que se consolida também devem ser observadas as noções de
risco e tradição, afirma Giddens (2005), pois ambas têm seu sentido e existência
19

indissociáveis da modernidade. A noção de risco parece ter se constituído nos séculos XVI e
XVI e é definida como “a dinâmica mobilizadora de uma sociedade propensa à mudança, que
deseja determinar seu próprio futuro em vez de confiá-lo à religião, à tradição ou aos
caprichos da natureza” (2005, p.34). Sendo assim, a palavra só começa a ser usada em
sociedades direcionadas ao futuro, pois presume a tentativa de rompimento com seu passado.
Nas culturas tradicionais, quando uma adversidade acontecia na vida de alguém, era
considerado um acontecimento casual ou uma vontade dos deuses e espíritos. Mesmo com a
modernização, esse conceito de destino e cosmologia ainda exerce influência sob a sociedade,
mas são percebidas como superstições utilizadas para justificar suas decisões. Neste sentido o
autor observa que “não surpreende em absoluto que pessoas continuem consultando
astrólogos, especialmente em momentos decisivos de suas vidas”, pois a astrologia é algo que
se distancia da racionalidade ocidental (2005, p.34).
Assim como a noção de risco, a de tradição também é uma criação da modernidade,
uma vez que nos tempos medievais não tinha necessidade de tal palavra, pois havia tradição
em todos os lugares (GIDDENS, 2005). Assim, destaca o autor, é equivocado dizer que, para
ser tradicional, os símbolos e práticas devem ter existido por séculos, visto que a permanência
no decorrer do tempo não é, necessariamente, uma das características que define a tradição.
Os aspectos que definem a tradição são o ritual e a repetição. Indivíduos podem seguir
tradições, mas elas são sempre pertencentes a grupos. O que a distingue é que ela estabelece
um tipo de verdade e, por mais que ela possa se alterar, ela proporciona uma base para a ação,
através de seu próprio ritual e simbolismo, que muitas vezes não é questionada. Enquanto
forem capazes de ser justificadas, as tradições continuarão sendo apoiadas e seus rituais e suas
repetições continuarão exercendo um importante papel social (GIDDENS, 2005).
Na modernidade, na perspectiva de Giddens (1991), diferentemente das sociedades
tradicionais, o pensamento e a ação dos indivíduos estão em constante processo de refração.
Nestas sociedades “o passado é honrado e os símbolos valorizados porque contêm e
perpetuam a experiência de gerações. A tradição é um modo de integrar a monitoração da
ação com a organização tempo-espacial da comunidade” (1991, p.44). Na vida social
moderna, ao contrário, as práticas sociais dos indivíduos são “constantemente examinadas e
reformadas à luz de informação renovada sobre as próprias práticas, alterando assim
constitutivamente seu caráter” (1991, p.45). É neste fato que se constitui a reflexividade,
afirma o autor. A revisão em vista de um novo conhecimento ou informação é constitutiva das
instituições modernas e como tal da própria reflexividade.
20

No âmbito do conhecimento científico, observa Giddens (2002), tanto no âmbito das


ciências sociais quanto naturais, os filósofos iluministas e os pensadores da ciência moderna
imaginavam que haviam preparado uma passagem segura entre estes dois mundos:
[Para eles] as afirmações da razão deveriam superar os dogmas da tradição,
oferecendo uma sensação de certeza em lugar do caráter arbitrário do hábito e do
costume. Mas a reflexividade da modernidade solapa a certeza do conhecimento,
mesmo nos domínios centrais da ciência natural. A ciência depende não da
acumulação indutiva de demonstrações, mas do princípio metodológico da dúvida.
Por mais estimada e aparentemente estabelecida que uma determinada doutrina
científica seja, ela está aberta à revisão [...], à luz de novas ideias ou descobertas.
(2002, p.26)

Em suma, se a modernidade rompeu com as tradições nos aspectos vinculados ao


governo, à política e à economia, importantes áreas da vida dos indivíduos ainda permanecem
marcadas pela tradição (sexualidade e família, por exemplo), afirma Giddens (2005). E é
neste contexto que irá proliferar uma expressão da modernidade e do individualismo
contemporâneo que é a literatura de auto-ajuda. Se nas sociedades tradicionais, pontua
Rudiger (1996, pp.237-8), havia “barreiras [morais] em volta das tendências e dos impulsos
da independência individual”, na cultura moderna “verificou-se a progressiva liberação da
subjetividade, a valorização dos desejos e sua transformação em necessidades”. Isto porque o
indivíduo moderno, enquanto sujeito, “precisa ser construído e conservado, através de um
trabalho sobre si mesmo” (1996, p. 238). O sucesso dos inúmeros tratados populares a partir
da metade do século XIX que ensinam como alguém obtém crescimento pessoal, conquista
amigos e alcança posições de poder sinaliza que o indivíduo moderno não encontrou na
modernidade a resposta para seus anseios mais fundamentais (RUDIGER, 1996).
Nas últimas décadas do século XX, a chamada “crise da modernidade”, assinalada por
muitos teóricos, observa Vilhena (1990), propiciou o interesse dos indivíduos por crenças
esotéricas, místicas e simbólicas dentre as quais se encontra a astrologia. Para o autor, “a
cultura esotérica moderna [...] constrói sua identidade a partir de uma rejeição dos valores do
“sistema” ou da “cultura ocidental” (VILHENA, 1990, p.105).
Da mesma forma que a sociedade moderna dispõe um mercado de bens simbólicos
que lhe possibilita atuar a partir de uma lógica própria, o mundo da astrologia também
compõe um “campo intelectual”, uma vez que se desenvolve em nossa sociedade, “com
criadores, público e recursos próprios” (VILHENA, 1990, p.107). Para Arroyo (2011), a
astrologia moderna é uma ideia nova, um produto específico que responde a sérias
necessidades da sociedade ocidental. O autor acredita que se a astrologia continuar se
desenvolvendo de maneira inteligente e com linguagem atual, ela ganhará maior evidência e
ocupará um lugar mais significativo na vida moderna.
21

Os astrólogos baseiam-se sobre o domínio de um conhecimento específico que exige a


posse de um determinado capital cultural11, adquirido através de manuais, cursos e pesquisas,
afirma Vilhena (1990). Este conteúdo é acessível a todos, portanto, a astrologia não é restrita
a um conselho profissional que confira a legitimidade do praticante. Desta forma, o
profissional que trabalha com astrologia “conta apenas com suas informações astronômicas e
seu conhecimento e talento na interpretação” (1990, p.19).
Segundo Campion (2010), há três principais escolas de pensamento que comandam a
astrologia contemporânea. A primeira abordagem é psicológica, em que o mapa astral é
encarado como definição da personalidade e a astrologia visa somente à autocompreensão. A
segunda é espiritual ou esotérica, que define que “o objetivo da astrologia é avaliar o
propósito da alma nesta encarnação e encorajar o crescimento espiritual" (2010, p.81). A
terceira é voltada para os eventos, nos quais o foco da astrologia é dizer as circunstâncias da
vida e antecipar acontecimentos.
Após as observações acerca da astrologia e modernidade, o próximo subcapítulo
enfoca a relação entre astrologia e os meios de comunicação de massa.

3.3 A Presença da Astrologia nos Meios de Comunicação


No contexto da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), o pensador Theodor Adorno
vai para os Estados Unidos da América e lá permanece até o início dos anos 1950, quando
retorna a seu país de origem, a Alemanha. Enquanto esteve exilado na América, desenvolveu
uma pesquisa sobre a interpretação da coluna de astrologia no jornal Los Angeles Times
(MUSSE, 2016). O tema “a astrologia dos meios de comunicação de massa” tinha como
objetivo compreender a “então recente irrupção, num mundo completamente iluminado, “da
calamidade triunfal”, da qual o nazismo foi a expressão mais nítida” (MUSSE, 2016).
Em seu estudo sobre a astrologia, Adorno (2008 [1957]) define sua área de interesse
como “superstição secundária”, o que significa que a experiência inicial da pessoa com o
oculto dificilmente faz parte dos fenômenos sociais que chamam sua atenção, e sim parece
institucionalizada e socializada. Para o autor, as decisões desses indivíduos aparentam, de
certa maneira, ser “alienadas” pelas suas experiências. Sobre essas experiências, o autor
afirma:
A participação nessa experiência se dá, em grande parte, por meio da mediação de
revistas e jornais, visto que o aconselhamento de astrólogos profissionais é muito
caro, e frequentemente tais informações são aceitas como fontes de orientação
confiáveis, sem que a crença seja amparada por qualquer suporte pessoal. [...] A

11
Capital no sentido atribuído por Pierre Bourdieu.
22

astrologia é aceita porque existe, sem muita reflexão, bastando, unicamente, que as
exigências psicológicas do indivíduo correspondam de algum modo àquilo que é
oferecido. A justificativa não interessa (ADORNO, 2008, p.33).

Adorno (2008) defende que, no período de sua pesquisa, é claro o conflito entre a
evolução das ciências naturais e a crença na astrologia. Para o autor, unir estes dois
conhecimentos é considerado uma regressão intelectual e somente necessidades instintuais
muito fortes fazem com que as pessoas aceitem e concordem com a astrologia. Desta forma, o
sistema astrológico atua somente como “superstição secundária”, afinal, é eliminado do
controle crítico da pessoa e oferecido de forma autoritária. Apesar de almejar uma relação
com a teologia, a astrologia é diferente da religião. Por implicar uma abordagem impessoal e
coisificada, sua irracionalidade não é somente tratada como antiga, mas também está no
caráter “do que poderia ser chamado de sobrenaturalismo naturalista” (ADORNO, 2008, p.45).
Em qualquer meio de comunicação de massa moderno, é sustentada a falsa ideia de
que é preciso agradar um determinado grupo para criar o material de comunicação apropriado
à mentalidade dos responsáveis por sua produção. Assim, a responsabilidade é passada dos
manipuladores para os manipulados. O “destino” é projetado nas estrelas a fim de buscar a
elevação e explicação que os indivíduos tanto procuram. A ideia de que a leitura correta das
estrelas revela conselhos diminui o medo que os indivíduos têm dos severos processos sociais
que eles mesmos produzem (ADORNO, 2008).
Para Adorno (2008, p.49), a astrologia busca se distanciar de um “fatalismo não-
refinado e impopular”, pois determina forças externas que atuam nas decisões do indivíduo,
inclusive sua própria natureza, fazendo com que as principais decisões sejam responsabilidade
do próprio indivíduo. Ela costuma propor um caminho mais rápido, que diminui a
complexidade das ações à uma fórmula prática, e, desta forma, faz com que a pessoa sinta-se
parte da “maioria”.
Em 1972, Edgar Morin, junto a Claude Fischler, Philippe Defrance e Lena Petrossian,
coordenou um estudo que investigava por qual motivo a sociedade francesa estava se
interessando cada vez mais em astrologia (PERES, 2001). A sociedade industrial e a crise de
valores da modernidade eram cruciais para que novas doutrinas esotéricas se expandissem.
Peres (2001) afirma que as especulações místicas começaram a ser direcionadas à aconselhar
as pessoas, no que diz respeito às suas necessidades imediatas.
Segundo Fischler (1972), em 1930 começou a desenvolver-se a astrologia de massa,
com foco nos horóscopos que, em 1945, alcançaram a grande imprensa. O autor acredita que
“os horóscopos publicados pela imprensa procurariam acomodar o mundo e o destino do
23

indivíduo, expulsando a infelicidade” (MORIN et al., 1972, p.50). Todavia, existiria também
outro segmento da astrologia, caracterizado por Morin como “erudito”, que impactaria um
público restringido, no qual se "refletiriam aspectos da crise da sociedade moderna que
começam a encontrar cada vez mais espaço na cultura de massas" (VILHENA, 1990, p.100).
Sendo assim, quando os doze signos do zodíaco passaram a individualizar o
horóscopo, iniciou-se uma linguagem astrológica que cresceu até chegar à grande imprensa,
alcançando a cultura de massas (FISCHLER, 1972). De acordo com o autor (1972, p.29), “foi
a grande imprensa quem tirou a astrologia do ocultismo, do underground para onde haviam
relegado a ciência, a razão e a religião”. Desde o início do século XX, os jornais da época já
possuíam anúncios que ofertavam serviços de astrólogos, videntes, cartomantes, entre outros.
Mas foi na imprensa feminina que surgiram os primeiros horóscopos. Em 1932, o jornal
francês semanário chamado Journal de la Femme publicou pela primeira vez uma coluna
sobre “O seu destino dia a dia”, conquistando sucesso e propagando-se rapidamente para
outros jornais da época (FISCHLER, 1972)
No contexto brasileiro, Suzuki (2007) afirma que não se tem conhecimento de
informações estruturadas das atividades dos astrólogos no Brasil desde o seu descobrimento
pelos portugueses até o século XX. Ainda assim, do início do século até a década de 1930, a
astrologia era uma atividade de pesquisadores e profissionais isolados, pois havia dificuldade
de adquirir livros sobre o tema e eles deveriam ser importados, principalmente da escola
francesa. Nos primeiros anos da década de 1940, os astrólogos brasileiros passaram por um
período crítico, pois, por conta da Segunda Guerra Mundial na Europa, as informações
essenciais para elaboração dos cálculos dos mapas, que costumavam vir da Alemanha,
tiveram momentos de interrupção. O período da década de 1950 “pode ser considerado como
o início do despertar da astrologia para o grande público leitor de revistas e jornais. As
pessoas leigas começaram a se interessar por assuntos ligados ao esoterismo” (SUZUKI, 2007,
p.35).
Nesse período, destacou-se a revista semanal O Cruzeiro, uma das mais importantes
publicações em do país, com tiragem de 270 mil exemplares, que teve uma colaboração
efetiva no “renascimento” da astrologia para o grande público. A seção Nostradamus
apresentava previsões diárias e artigos sobre assuntos esotéricos. Foi, também, nesse período
que o astrólogo Omar Cardoso iniciou sua atividade de comunicação, publicando colunas em
revistas, jornais e emissoras de rádios e de televisão, sendo considerado um dos principais
responsáveis pela popularização da astrologia no Brasil. Em 1966, Omar comandava dois
programas de rádio ao vivo e transmitidos por diversas emissoras em todo Brasil; fazia
24

programas diários na televisão, tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo, uns ao vivo e
outros gravados; mantinha uma coluna no Jornal dos Diários Associados Paulistas. O
astrólogo Assuramaya também teve grande relevância para a expansão da astrologia nos
meios de comunicação de massa: durante dez anos, produzia semanalmente uma coluna de
página inteira para o jornal O Dia, no Rio de Janeiro. A coluna abordava diferentes assuntos
relacionados à cultura e à história, com mensagens de grandes mestres, biografias e, por fim,
mensagens de caráter espiritualista. Além disso, no Rio de Janeiro, Assuramaya também tinha
programas de rádio com grande audiência, como na Rádio Nacional, e recebia mais de três
mil mapas astrais por mês para interpretar no programa que ia ao ar toda manhã (SUZUKI,
2007).
A partir desse período, seções astrológicas com previsões para os doze signos do
zodíaco tornaram-se constantes em jornais e revistas semanais e mensais. Matérias com
previsões para determinados períodos e publicações especiais voltadas a grandes eventos
também passaram a ser frequentes. Assim, após ter seu fortalecimento consolidado na década
anterior, nos anos 1960 a astrologia começou a sair do isolamento da prática individual para
uma propagação em todos os meios socioculturais, fazendo com que na década de 1970 fosse
consolido o boom da astrologia no Brasil – uma grande comunidade de astrólogos passou a
ser percebida pelo grande público em diversos cantos do país. Nesse período, no Brasil, foram
fundados centros de pesquisa e associações; promovidos eventos, seminários e congressos;
publicados boletins, livros e revistas; criadas escolas e ministrados cursos; – todos voltados à
astrologia (SUZUKI, 2007).
Suzuki (2007) defende que, no mundo atual, os avanços tecnológicos possibilitam as
trocas entre as pessoas interessadas em astrologia. Além disso, na era dos computadores, a
facilidade do intercâmbio de informações entre astrólogos do mundo inteiro permite a
disseminação de conhecimentos e aperfeiçoamento das técnicas utilizadas. No entanto, para
Ferreira (apud SUZUKI, 2007), essa facilidade de acesso aos conteúdos astrológicos,
especialmente à confecção de mapas, nem sempre é favorável à astrologia. A autora acredita
que “antes, havia poucos astrólogos de alta qualidade e, agora, tem muitos astrólogos de
péssima qualidade” (apud SUZUKI, 2007).
A partir deste e dos demais assuntos tratados no referencial teórico desde trabalho,
será iniciada a estratégia metodológica. Nela serão esclarecidos como serão executados os
procedimentos da pesquisa empírica para responder aos objetivos propostos.
25

4 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA

O capítulo apresenta a estratégia metodológica utilizada para alcançar os objetivos


deste trabalho. Serão apresentados: vertente de pesquisa, tipo de estudo, unidade de estudo,
técnica de coleta de dados e técnica de análise de dados.

4.1 Vertente de Pesquisa


Goldenberg (2011) defende que a pesquisa é uma ação neutra, que tem como objetivo
encontrar regularidades ou leis, nas quais o pesquisador não pode deixar com que seus
preconceitos e aquilo que ele acredita interfiram. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador
preocupa-se “com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma
organização, de uma instituição, de uma trajetória, etc.” (2011, p.4). Acerca dessa questão, a
autora afirma:

Partindo do princípio de que o ato de compreender está ligado ao universo


existencial humano, as abordagens qualitativas não se preocupam em fixar leis para
se produzir generalizações. Os dados da pesquisa qualitativa objetivam uma
compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da
maior relevância do aspecto subjetivo da ação social. […] Enquanto os métodos
quantitativos supõem uma população de objetos comparáveis, os métodos
qualitativos enfatizam as particularidades de um fenômeno em termos de seu
significado para o grupo pesquisado (GOLDENBERG, 2011, p.23)

Para Roesch (2006), nesta vertente de pesquisa o pesquisador deve captar a


perspectiva dos entrevistados. Assim, segundo Bauer, Gaskell e Allum (2008, p.68), “a
finalidade real da pesquisa qualitativa não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário,
explorar o espectro de opiniões, as diferentes representações sobre o assunto em questão”.
De acordo com Lima (2008), o método qualitativo parte do pressuposto de que só é
possível dar significado aos fenômenos humanos com o auxílio de exercícios de interpretação
e compreensão, com base na observação participante e descrição intensa. A autora acredita
que é importante considerar o indivíduo como singular quando analisados os fenômenos
sociais, pois desta forma é resgatada “a ideia de o homem ser reconhecido como singular
universal no processo investigatório” (2008, p.33).
Desta forma, esta vertente de pesquisa é a ideal para o estudo em questão, uma vez
que será necessário entrevistar indivíduos interessados em astrologia a fim de compreender os
significados do consumo deste tema.
26

4.2 Tipo de Estudo


Para Marconi e Lakatos (1996, p.188), a pesquisa exploratória é a investigação de
pesquisa empírica que tem como objetivo formular questões ou um problema para três
finalidades: “desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um
ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou
modificar e clarificar conceitos”. Neste tipo de pesquisa, geralmente são empregados
procedimentos não sistemáticos ou para a conquista de observações empíricas ou para a
análise de dados.
Gil (2008) defende que este tipo de pesquisa tem como objetivo desenvolver,
esclarecer e modificar conceitos e ideias. As pesquisas exploratórias costumam ser apenas a
primeira etapa de uma investigação mais profunda, mas ao final deste processo de pesquisa o
problema deverá estar mais esclarecido. O autor completa:

Pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão


geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Este tipo de pesquisa é
realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se
difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis (GIL, 2008, p. 27).

A coleta de dados em pesquisas exploratórias concede a realização de metodologias


sem fazer uso de técnicas de amostragem probabilística, possibilitando o entendimento de
diversos pontos de vista (MARCONI; LAKATOS, 1996). Em vista disso, o presente estudo
adota a pesquisa exploratória, pois este tipo de pesquisa proporciona o melhor entendimento
dos objetivos propostos, uma vez que investigará um tema cujos estudos são escassos.

4.3 Unidade de Estudo


Segundo Guerra (2006), em busca de alcançar representatividade social, a pesquisa
qualitativa deve apresentar entrevistados e situações de estudo diversificados. A autora
acredita que a saturação é um sinal de que o investigador deve parar de buscar dados, pois os
resultados serão generalizados e não terá nenhuma informação nova relevante.
Bauer e Gaskell (2008) relatam que na pesquisa qualitativa o termo utilizado para
definir uma unidade de estudo é “seleção de entrevistados” e não “amostragem”, como é
utilizado nas pesquisas quantitativas. Os autores acreditam que sem uma informação anterior
que possa preparar a seleção dos entrevistados, a pesquisa poderá não abranger todo o grupo
que deseja, portanto, o pesquisador deve “usar sua imaginação social científica” (2008, p.70)
para definir os entrevistados. Quanto à quantidade de entrevistados, nem sempre mais
entrevistas levam a uma compreensão mais detalhada, pois apesar das experiências parecerem
27

únicas para os entrevistados, as suas representações são o resultado de processos sociais.


Portanto, há um limite de número de entrevistas, que, de acordo com Bauer e Gaskell (2008),
é algo entre 15 e 25 entrevistas individuais.
A unidade de estudo é composta por indivíduos de ambos os sexos que tenham
interesse em astrologia e que tenham, no último mês, consumido conteúdo online, produtos ou
serviços relacionados à astrologia. Para encontrar estes entrevistados, utilizou-se a estratégia
de contatos — contatos prévios da pesquisadora — e a técnica de “bola de neve” — os
entrevistados indicam outras pessoas que têm interesse pelo assunto, como assinala
Oppenheim (1993 apud ROESCH, 2006). A princípio serão entrevistados seis indivíduos e
depois será pedido que eles indiquem outras pessoas que se encaixem no mesmo perfil.
O perfil dos entrevistados levou em conta os entrevistados na pesquisa
Peoplestrology12, que apresentou que não há grande diferença de gênero quando a questão é
acreditar em astrologia. Também, segundo a pesquisa, as gerações Y (nascidos entre 1981 e
1995) e Z (nascidos a partir de 1996) são as que mais se interessam por astrologia.
Primeiramente, serão apresentados os perfis dos entrevistados, a fim de esclarecer o
ambiente social dos mesmos e depois será relatada a análise dos resultados, com o objetivo de
responder ao problema de pesquisa. As entrevistas em profundidade feitas para esta pesquisa
foram aplicadas entre homens e mulheres interessados por astrologia e que consumiram
conteúdo online, produtos ou serviços astrológicos no último mês. No grupo de entrevistados,
a idade varia de 21 a 33 anos, sendo que quatro são estudantes universitários e quatro já
completaram a graduação, conforme os dados descritos no Quadro 1:

12
A amostra da pesquisa foi orgânica – os participantes responderam à pesquisa espontaneamente – e contou
com duas mil e oitocentas pessoas de vinte países, sendo 75,6% do Brasil.
28

Quadro 1 – Perfil dos entrevistados


Nome13 Gênero Idade Escolaridade Atividade Atual
Joana Feminino 21 Cursa Publicidade e Diretora de arte em um canal de
Propaganda televisão
Vanessa Feminino 22 Cursa Dança Bailarina e professora de dança
Lucas Masculino 22 Cursa Administração Não exerce atividade remunerada
Ricardo Masculino 25 Cursa Direito Não exerce atividade remunerada
Julia Feminino 28 Graduada em Design Gráfico Designer em agência de design
Rodrigo Masculino 30 Graduado em Jornalismo Redator em agência produtora de
conteúdo
Amanda Feminino 33 Graduada em Relações Planejamento em produtora de
Internacionais conteúdo criativo
Mauro Masculino 33 Graduado em Publicidade e Publicitário, músico e empresário
Propaganda
Fonte: Elaborado pela autora

Não houve dificuldade para encontrar pessoas interessadas em participar da entrevista,


mas, visto que é um tema muito falado atualmente, algumas pessoas acabavam falando mais
sobre os assuntos da astrologia em si (signos do zodíaco, sinastrias amorosas, etc.) do que
sobre o consumo de astrologia. Sendo assim, foram realizadas outras duas entrevistas que não
foram aproveitadas para a pesquisa. Além disso, como foi utilizado o método de amostragem
de “bola de neve”, dois entrevistados foram indicação de outros, pois se encaixavam no perfil
procurado.

4.4 Técnicas de Coleta de Dados


Neste estudo serão adotadas as técnicas de pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e entrevista em profundidade. Segundo Lima (2008), pesquisa bibliográfica é o
exercício de localizar e consultar fontes variadas de informação escrita guiado pelo objetivo
de coletar materiais sobre um determinado tema. Portanto, esta técnica envolve a busca no
âmbito dos livros e demais documentos escritos as informações necessárias para o tema da
pesquisa.
A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já
realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e
relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a
planificação do trabalho, evitar publicações e certos erros, e representa uma fonte
indispensável de informações, podendo até orientar as indagações (MARCONI;
LAKATOS, 1996, p. 158)

13
Os nomes dos entrevistados são fictícios como forma de manter sua identidade e o sigilo das informações
colhidas nas entrevistas individuais.
29

A pesquisa documental é semelhante à pesquisa bibliográfica, mas difere-se por


utilizar materiais que não tiveram uma análise crítica (GIL, 2008). Lima (2008) defende que
esse tipo de pesquisa é uma importante fonte de dados e informações, especialmente se o
pesquisador precisa investigar assuntos que resgatam aspectos históricos da realidade. Neste
estudo, a pesquisa documental refere-se aos dados obtidos na pesquisa da Peoplestrology.
De acordo com Roesch (2006), a outra técnica empregada neste trabalho, entrevista
em profundidade, é demorada e exige muita habilidade do entrevistador. Para a autora, o “seu
objetivo primário é entender o significado que os entrevistados atribuem a questões e
situações em contextos que não foram estruturados anteriormente a partir das suposições do
pesquisador” (2006, p.159). Gaskell (2008) afirma que a entrevista em profundidade é uma
conversa que dura entre uma hora e uma hora e meia. Esta conversa deve seguir um tópico
guia preparado pelo pesquisador que cubra os temas e problemas da pesquisa (Apêndice A).

4.5 Técnica de Análise de Dados


A técnica de análise de dados adotada neste trabalho será a análise de conteúdo. Para
Gil (2008), para realizar a análise de conteúdo o pesquisador deve ir além da leitura dos dados.
Deve ser feita a revisão da literatura para organizar as informações coletadas e facilitar na
construção de hipóteses. Bauer (2008) complementa que o objetivo da análise de dados é
buscar sentidos e compreensão. “Uma maneira de fazer a análise é construir uma matriz com
os objetivos e finalidades da pesquisa como temas no título das colunas, e o que cada
entrevistado diz, como se fossem linhas. [...] Em uma coluna final se acrescentam notas e
interpretações preliminares” (BAUER, 2008, p.85). Desta forma os dados empíricos serão
estruturados junto às respostas de maneira acessível.
Bardin (1997 apud GIL, 2008) apresenta as três etapas da análise de conteúdo, que
são: pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados, inferência e interpretação. A
pré-análise é a etapa de leitura, escolha e preparação dos materiais para análise. A exploração
do material é a fase mais extensa e cansativa, pois busca analisar as informações determinadas
na pré-análise. Por fim, o tratamento dos dados, a inferência e a interpretação devem fazer
com que os dados apresentados sejam válidos e significativos.
Segundo Franco (2008), a categorização é um procedimento de divisão dos
componentes de um conjunto, sendo primeiramente diferenciados e depois reagrupados, a
partir do sistema definido. As categorias podem ser criadas a priori, sendo pré-definidas a fim
de investigar um objetivo específico, ou a posteriori, que são estabelecidas a partir dos
30

conteúdos das respostas analisadas (FRANCO, 2008). Neste estudo, as categorias de análise
constituídas são a priori e foram formuladas a partir dos objetivos específicos, ficando assim
definidas: presença da astrologia no cotidiano, significados do consumo de astrologia e
rituais de consumo de astrologia.
No capítulo seguinte são trazidos os resultados alcançados com a análise das
entrevistas.
31

5 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo são apresentados, analisados e discutidos os dados reunidos nas


entrevistas em profundidade. A análise das entrevistas está dividida nas categorias: presença
da astrologia no cotidiano, significados do consumo de astrologia e rituais de consumo
de astrologia.

5.1 Presença da Astrologia no Cotidiano


A astrologia é uma mancia que associa os movimentos dos planetas, estrelas e
constelações com os acontecimentos na Terra (VILHENA, 1990). O seu sistema de
classificações, junto ao conjunto de técnicas dispostas para interpretar os movimentos celestes,
proporciona a atribuição de significado aos aspectos analisados. Antes de caracterizar a
presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, expõem-se os significados por eles
atribuídos à pergunta “O que é astrologia para você?”. Embora seja uma pergunta ampla, que
poderia ter respostas muito variadas, houve um padrão nas respostas obtidas, mesmo que
expressadas de maneiras diferentes. De maneira geral, a astrologia é entendida como uma
forma de conhecimento sobre si próprio e sobre os outros, como mostra o Quadro 2:

Quadro 2 – Definição de astrologia


ENTREVISTADO O QUE É ASTROLOGIA PARA VOCÊ?
Joana Um alinhamento específico de astros que tem interferências na nossa personalidade
de alguma forma; semelhante a religião; uma forma de se situar no mundo
Vanessa Uma ferramenta de autoconhecimento; é uma coisa que você sente; uma filosofia
para se autoconhecer e também se relacionar melhor com as pessoas
Lucas Uma base para compreender o comportamento humano; uma forma de
autoconhecimento
Ricardo É se entender melhor e conseguir entender melhor os outros; ajuda a lidar com as
pessoas
Julia Um guia para saber o que você pode melhorar e trabalhar; autoconhecimento; ajuda
a descobrir coisas sobre outras pessoas
Rodrigo Uma ferramenta de autoconhecimento; uma ferramenta de conexão
Amanda Um meio de se entender e se aperfeiçoar; uma ferramenta para entender os outros
Mauro Uma mitologia; a música da vida
Fonte: Elaborado pela autora.

De acordo com Campion (2010), a astrologia é percebida como uma ferramenta para a
autocompreensão, como é possível constatar nas respostas dos entrevistados, em que o termo
32

“autoconhecimento” aparece diversas vezes. Para o autor, as pessoas buscam significado


pessoal na astrologia, criando uma relação de proximidade com o tema. Nesse sentido, os
entrevistados demonstram apreço pela astrologia pelo auxílio proporcionado para o
autoconhecimento, como destacam Julia e Vanessa:

O que é astrologia para mim? É tipo um guia sabe, para ti saber o que tu pode
melhorar. […] Eu uso a astrologia na minha vida para autoconhecimento. Me ajudou
muito no processo de me conhecer e o fato dela não te dar, tipo, uma verdade
absoluta, ela te dá liberdade para diversas interpretações, é incrível (Julia).

[…] Vai além de uma filosofia, ela é uma coisa que você sente, tipo, para mim, eu
uso a filosofia para me autoconhecer e também na minha relação com as pessoas.
[…] Eu também uso de uma maneira de autoconhecimento com o meu mapa astral,
com os trânsitos que estão ocorrendo (Vanessa).

O segundo ponto que teve destaque nas respostas foi a astrologia ajudando na relação
com os outros. Os entrevistados acreditam que saber o signo solar de uma pessoa ou o mapa
astral dela faz com que eles conheçam melhor essa pessoa e saibam como lidar com ela. Em
relação a esse ponto, Vanessa, Julia e Rodrigo comentam como a astrologia conecta-os com
outras pessoas:

[…] Quando uma pessoa é capricorniana, por exemplo, não que ela seja igual as
outras pessoas, mas alguma coisa tem parecido, como se elas […] tivessem um
aspecto parecido, e isso faz eu entender melhor elas, pelo que eu conheço sobre
astrologia, faz eu lidar melhor com aquela pessoa (Vanessa).

[…] Quando a gente conhece uma pessoa sabe, e a gente quer saber mais ou menos
como é a personalidade da pessoa, aí vai lá e faz o mapa astral dela para a gente
saber onde a gente está pisando né, com quem a gente está lidando. Acho que a
astrologia te ajuda a descobrir coisas sobre as outras pessoas (Julia).

[…] Hoje em dia eu encaro ela [a astrologia] como uma ferramenta de conexão
assim. Eu acho que é mais do que você se conhecer, é você se conectar com os
outros. Ainda mais tipo, acho que eu tenho um conhecimento mais aprofundado de
astrologia, então muita gente entra em contato comigo por causa disso, então eu
acabo me conectando, de verdade, com muitas pessoas por causa da astrologia
(Rodrigo).

Segundo Adorno (2008), a astrologia é diferente da religião, ainda que aspire uma
associação com a teologia. Nesse aspecto constatou-se proximidade com esta afirmação na
visão dos entrevistados. A entrevistada Vanessa assinala que a astrologia é muito mais aberta
que religião e não gera uma obrigação sobre o indivíduo. Os demais entrevistados que
comentaram a relação da astrologia com religião têm as seguintes percepções:

[...] Eu me baseio assim as minhas crenças, é tipo espiritismo e astrologia, os dois. E


um pouco de budismo. [...] Não acredito basicamente em nenhuma religião, eu
sempre tive umas ideias de cada uma e pegava ‘ah, isso aqui faz um pouco mais de
sentido, não parece uma viagem’, sabe? (Lucas).
33

Eu acredito que [a astrologia] seja mais ou menos uma parada semelhante à religião,
quando tu busca uma identificação, tu busca o teu grupinho assim, tu tem que
acreditar em alguma coisa. A minha religião são os astros. Então, basicamente, eu
acho que é uma forma de tu te situar no mundo sabe, [...] eu acredito que seja uma
lógica parecida com religião. [...] Astrologia parece bem mais lógico [que religião],
por incrível que pareça, porque sei lá, tu está tratando de personalidades diferentes
sabe, tu está tratando da individualidade das pessoas (Joana).

Eu não acredito em Deus, sabe, para mim não existe, e a astrologia parece uma coisa
assim, aceitável, tem até umas questões matemáticas, tipo astrologia horária... Então
digamos que é uma coisa exata, então para mim faz muito mais sentido do que, sei
lá, Deus, que ninguém nunca nem viu. Prefiro me agarrar em algo que faz um pouco
mais de sentido, que parece um pouco mais real, tem estudo por trás. [...] A
astrologia é que nem uma fé, é algo que tu acredita (Julia).

[A astrologia] acabou se tornando depois uma fé ou uma crença, se tornou uma coisa
que eu acredito que acho que tem fundamento científico, então eu me identifiquei,
me interessei cientificamente (Amanda).

Lucas, por mais que afirme não acreditar em nenhuma religião, engloba astrologia no
mesmo âmbito do espiritismo e do budismo, como parte de suas crenças. Joana declara, com
convicção, que a sua religião é “os astros”. Um ponto observado nas falas de Joana, Julia e
Amanda é a astrologia ter uma base científica e lógica, ter como fundamento estudos e fazer
uso da matemática para seus cálculos. Para as três entrevistadas, a astrologia é uma “fé” ou
uma “crença”.
Para caracterizar a presença da astrologia no cotidiano, inicialmente, buscou-se
compreender como ela passou a fazer parte da vida dos mesmos, quem influenciou esse
interesse e de que forma ele aconteceu. Para todos os entrevistados, a astrologia passou a
fazer parte da vida durante a infância. A principal influência foi familiar, normalmente com
figuras femininas (mãe, avó, tia), que introduziram objetos (xícara do signo, quadro, livros,
etc.) ou meios de comunicação de massa na vida do entrevistado, como jornais e revistas. O
Quadro 3 sintetiza o ingresso da astrologia na vida dos entrevistados:
34

Quadro 3 – Ingresso da astrologia na vida do entrevistado


ENTREVISTADO COMO A ASTROLOGIA PASSOU A FAZER PARTE DA VIDA?
Joana Mãe comprava revista de signos
Vanessa Lia horóscopo da revista Capricho
Lucas Lia horóscopo em revista e jornal
Ricardo Mãe tinha astróloga que fazia análises de toda família
Julia Avó deu uma xícara do signo de peixes e família sempre falou sobre signos
Rodrigo Tia fez seu mapa astral com astróloga quando nasceu, tinha quadro e livros de
astrologia na adolescência
Amanda Lia horóscopo em jornal na infância e na adolescência começou a ler o horóscopo
do astrólogo João Bidu
Mauro Família sempre falou sobre astrologia, sabia os signos de todos os amigos quando
criança
Fonte: Elaborado pela autora.

Horóscopo é o nome dado ao mapa esquemático do céu que capta um momento


específico para relacionar os aspectos do céu com pessoas ou eventos (CAMPION, 2010). De
acordo com Fischler (MORIN et al, 1972), a linguagem astrológica chegou à grande imprensa
e alcançou a cultura de massas quando os horóscopos passaram a ser individualizados pelos
doze signos do zodíaco. Para os entrevistados, eles foram a principal ferramenta de introdução
da astrologia em suas vidas, como pode ser observado no Quadro 3. Embora o interesse no
assunto tenha sido despertado durante a infância, este não era considerado uma fonte
confiável, como apontam Amanda e Lucas:

Desde que eu fazia palavras cruzadas, desde criança, eu olhava horóscopo, mas não
me identificava, […] mas gostava da ideia sabe. Era como se toda a mídia voltada
para astrologia não oferecesse o conteúdo que eu estava buscando, então apesar de
eu me interessar muito, eu achava muito limitado, raso, superficial. […] Mas eu
gostava da ideia, sempre achei que tinha que ter mais sobre (Amanda).

Desde criança eu conheci astrologia assim que nem todo mundo conhece sabe, esse
é teu signo e tal, revistinha, jornal. E daí eu achava legal assim ler sabe, […] lia
meio que só para ver o que está acontecendo, mas nem acreditava, até porque não
tem como se basear muito por aquilo ali né (Lucas).

Ao serem questionados como a astrologia se faz presente em suas vidas cotidianas, a


maioria dos entrevistados afirmou que ela se faz presente todos os dias. A leitura de
horóscopos, o acompanhamento dos trânsitos astrológicos e as conversas com outras pessoas
são as formas que mais se destacaram, conforme apresentado no Quadro 4:
35

Quadro 4 – Presença da astrologia na vida cotidiana


ENTREVISTADO FREQUÊNCIA COMO A ASTROLOGIA SE FAZ PRESENTE
Joana Diariamente Acompanha os trânsitos astrológicos; conversa
diariamente sobre astrologia e signos
Vanessa Diariamente Usa para se relacionar com o mundo, com as pessoas e
consigo mesma; consulta para saber os trânsitos
astrológicos que estão influenciando no momento
Lucas Frequentemente Consulta para saber os trânsitos astrológicos, como o céu
está no momento e como está afetando sua vida presente
Ricardo Diariamente Lê horóscopo toda manhã; usa a astrologia para se
conhecer melhor e ajuda no relacionamento com os
outros
Julia Diariamente Recebe horóscopo por e-mail todos os dias; pesquisa
muito sobre acontecimentos astrológicos; conversa com
amigos sobre
Rodrigo Diariamente Conversa com pessoas sobre; lê os trânsitos astrológicos
diários e previsões mensais; lê livros e estuda
Amanda Diariamente Ajudando pessoas mais próximas; estuda, pesquisa e faz
mapa astral
Mauro Não se faz muito Verifica um site de astrologia; faz leitura de mapa astral;
presente quando está se sentindo mal ou quer descobrir alguma
coisa; quando quer saber mais sobre alguém
Fonte: Elaborado pela autora.

É possível perceber, assim como na questão sobre o que é astrologia para os


entrevistados, que a astrologia se faz muito presente nas relações entre as pessoas – conversas
entre amigos, ajudando pessoas mais próximas, auxílio para se conhecer mais uma pessoa – e
na relação da pessoa com si mesma, para verificar como os astros estão afetando a sua vida. O
entrevistado Lucas comentou que como a astrologia serve para autoconhecimento, ela
também serve para conhecimento do próximo. Esses dois pontos foram apontados pela
entrevistada Vanessa:

Eu acho que uso muito [a astrologia] nesse negócio de me relacionar com o mundo,
com as pessoas, e de tipo, relacionar comigo mesma. Às vezes eu não estou me
sentindo muito bem, eu vou lá e olho ‘cara, o que está acontecendo’, e aí faz sentido
(Vanessa).

Além do próprio interesse, os entrevistados também comentaram sobre o interesse das


outras pessoas em astrologia. Por mais que alguns entrevistados tenham se aprofundado em
astrologia por curiosidade, eles acreditam que as pessoas se interessam em astrologia por
36

buscarem autoconhecimento, para se identificarem e se conectarem com alguma “coisa”. No


Quadro 5 são apresentados os motivos pelos quais os entrevistados acham que as pessoas se
interessam por astrologia.

Quadro 5 – Motivos para alguém se interessar por astrologia


ENTREVISTADO MOTIVO
Joana Busca uma identificação, algo que torne a pessoa única
Vanessa A astrologia dá liberdade para a pessoa sentir o que ela diz, não impõe nada
Lucas É modinha, virou modismo procurar sobre astrologia; o boom da astrologia nos
últimos tempos despertou a curiosidade das pessoas
Ricardo Busca por autoconhecimento; quando estão interessados amorosamente em
alguém, usam astrologia para descobrir mais sobre a pessoa
Julia Busca por autoconhecimento; buscam respostas; fácil acesso, a própria pessoa
procura saber mais sobre, não depende de terceiros
Rodrigo Querer se conectar com alguma coisa; querer conseguir se identificar e se
diferenciar; para conhecer mais as outras pessoas
Amanda São narrativas para entender os outros; oferece “caixinhas” de classificação das
pessoas; entender onde a pessoa se encaixa; entender as pessoas com quem se
relaciona no âmbito amoroso
Mauro Busca uma mitologia/crença; busca significados e insights; é uma outra forma de
verificar a vida
Fonte: Elaborado pela autora.

Campion (2010) defende que há três principais escolas de pensamento que regem a
astrologia contemporânea: psicológica, espiritual/esotérica e voltada para eventos. A
psicológica – em que o mapa astral é utilizado para definir a personalidade do indivíduo e
busca a autocompreensão – é identificada na fala da maioria dos entrevistados, que, mesmo
falando de maneiras diferentes, acredita que as pessoas vão atrás desse conhecimento
astrológico para se conhecerem e, assim, conhecerem melhor os outros. A astrologia aparece
como uma alternativa mais acessível do que demais ferramentas de autoconhecimento e, além
de gerar uma identificação, faz com que as pessoas se sintam mais conectadas como os outros,
como apontado pelo entrevistado Rodrigo:

Eu acho que [as pessoas] querem se conectar com alguma coisa, elas querem
conseguir se identificar. É uma questão de identificação, você ler um negócio e se
ver naquilo, e saber que tem outras pessoas que são assim, mas ao mesmo tempo o
seu mapa é uma coisa muito particular sua (Rodrigo).

A segunda abordagem – espiritual ou esotérica, em que o objetivo da astrologia é


incentivar o crescimento espiritual – é notada em alguns momentos, mas não foi posta em
37

evidência nas entrevistas. Para Vanessa, a astrologia a ajudou a seguir sua intuição e a fazer o
contato entre o “eu superior e a matéria”, cabendo assinalar que o “eu superior” é algo além
do aspecto físico, é energia.
Por fim, a terceira abordagem é voltada para os eventos e, nela, o objetivo da
astrologia é fazer previsões sobre a vida e acontecimentos. Apesar de ser uma das utilizações
mais comuns, ela não é percebida como uma das razões que despertam o interesse das pessoas
em astrologia. Essa abordagem é utilizada para pessoas que não se aprofundaram em
astrologia ou, posteriormente, por aqueles que já têm esse conhecimento astrológico.
Adorno (2008) defende que o sistema astrológico é apresentado de forma autoritária às
pessoas. No entanto, essa visão crítica sobre a astrologia não encontra eco entre os
entrevistados. Para Vanessa, a astrologia faz com que as pessoas se percebam mais
confortáveis, pois não impõe regras e dá liberdade para diferentes interpretações. Por começar
a gostar de algo que não foi imposto, que não era uma obrigação, a pessoa acaba se sentindo
mais envolvida com a astrologia. Essa mesma observação foi comentada por Mauro, que
também acrescentou um ponto de vista sobre aqueles que não acreditam em astrologia:

Eu acho que as pessoas encontram significados, e esses significados são os que


importam. Desde que para ti surja um insight dentro da astrologia, aí faz sentido. Se
não faz sentido, eu acho que não tem porque procurar. [...] A procura vem muito
dessas pessoas que querem conhecer uma outra forma de verificar a vida, de
procurar uma mitologia nova, e dos outros que não acreditam e tentam “desprovar”
e usar a ciência para mostrar ‘ah, olha, os astros não são assim’ (Mauro).

A astrologia estabelece forças externas que influenciam nas decisões do indivíduo,


inclusive sua própria essência, de forma que as ações e escolhas do indivíduo sejam sua
responsabilidade (ADORNO, 2008). O caminho mais rápido oferecido por ela traz uma
fórmula prática e faz com que a pessoa se sinta parte da “maioria”. Esse aspecto não foi
observado pelos entrevistados, à exceção de Lucas. Ele foi o único que comentou o boom da
astrologia nos últimos tempos e o fato de ela estar “na moda”. O entrevistado, apesar de
“amar astrologia”, tem uma visão crítica do motivo que a faz ser tão popular atualmente:

Todo mundo fica tentando achar um lugar para pertencer, tipo ‘ah, esse é meu signo’,
sei lá, ‘eu sou irritado, mas é porque eu sou ariano’, sabe? [...] Acho que é o que
mais faz as pessoas procurarem pelo signo, para arrumar uma desculpa para os
defeitos ou sei lá, ou procurando pertencimento. Eu acho que para fazer parte
mesmo (Lucas).

Assim, nota-se que a astrologia é, em alguns casos, utilizada para justificar as ações e
as personalidades dos indivíduos, como forma de tirarem de si mesmos essas
responsabilidades.
38

A próxima categoria busca identificar os significados do consumo de astrologia.

5.2 Os Significados do Consumo de Astrologia


Segundo McCracken (2003), produzimos e criamos o nosso mundo através de ideias e
atividades contempladas pela cultura, enquanto o consumo compreende os procedimentos
pelos quais bens e serviços de consumo são criados, obtidos e usados. Para Barbosa e
Campbell (2006), o consumo é uma estratégia aplicada no cotidiano de diversos grupos
sociais, a fim de determinar situações em termos de direitos, estilo de vida e identidade.
Neste sentido esta categoria de análise busca identificar os significados do consumo de
astrologia, entendendo-a como prática cultural alicerçada em atividades específicas. Antes de
chegar aos significados do consumo, procurou-se identificar quais as referências dos
entrevistados no mundo da astrologia, a fim de determinar referências em comum e que tipos
de conteúdo essas referências oferecem. O Quadro 6 apresenta as referências de cada
entrevistado:

Quadro 6 – Referências no mundo da astrologia


ENTREVISTADO QUAIS SÃO SUAS REFERÊNCIAS NO MUNDO DA ASTROLOGIA
Joana Amanda Astro Poética; Newsletters

Vanessa Robert Rappe; Mariana Cosgwell; Isabella Mezzadri, Personare

Lucas Isabella Mezzadri; Br000na; Claudia Lisboa; Astro

Ricardo Astro; Isabella Mezzadri; Luís Louceiro; Lídia

Julia Astrolink; Astro; Br000na; Isabella Mezzadri; Obvious; Spicy Geminimemes; Cris
Nunes; Rafael Villas
Rodrigo Isabella Mezzadri; Eduardo Conte; Astrolink; Personare; Susan Miller; Nicholas
Campion; Derek e Julia Parker
Amanda Claudia Lisboa; Isabella Mezzadri, Susan Miller; CoStar; Br000na
Mauro Daniel Machado; Liz Taylor; Astrologyzone; Linda Godman; Love Signs
Fonte: Elaborado pela autora.

Os entrevistados têm diferentes referências, mas algumas mostram-se comuns para a


maioria. Antes de analisá-las, o Quadro 7 retoma as referências e classifica que tipo de
referência cada uma, visando facilitar o entendimento para a análise.
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Quadro 7 – Classificação das referências no mundo da astrologia


REFERÊNCIAS NO MUNDO TIPO DE REFERÊNCIA
DA ASTROLOGIA
Isabella Mezzadri Influenciadora no Instagram sobre astrologia e autoconhecimento

Astro Site de serviços e conteúdos de astrologia


Personare Site de serviços e conteúdos de astrologia e autoconhecimento
Astrolink Site de serviços e conteúdos de astrologia e autoconhecimento

Br000na Influenciadora no Instagram sobre astrologia e tarot

Claudia Lisboa Astróloga que tem um canal no Youtube


Susan Miller Astróloga e autora de livros sobre astrologia
Amanda Astro Poética Astróloga que posta horóscopos personalizados no Facebook
Newsletters E-mail marketing com horóscopo diário
Robert Rappe Filósofo que dá palestras sobre astrologia

Mariana Cosgwell Coach sobre o sagrado feminino e tradutora

Luís Louceiro Astrólogo e filósofo


Lídia Astróloga da família do entrevistado Ricardo
Obvious Produtora de conteúdo focada em narrativas femininas
Spicy Geminimemes Instagram de entretenimento sobre astrologia
Cris Nunes Estudante que fez curso de astrologia e posta conteúdo sobre
Rafael Villas Astrólogo que escreve sobre astrologia no Facebook
Eduardo Conte Astrólogo e influenciador no Instagram sobre astrologia
Nicholas Campion Astrólogo e autor de livros sobre astrologia
Derek e Julia Parker Astrólogos e autores de livros sobre astrologia
CoStar Aplicativo sobre astrologia, para celulares
Daniel Machado Astrólogo especialista em astropsicologia
Liz Taylor Astróloga responsável pelo site Astrodienst
Astrologyzone Site de serviços e conteúdos de astrologia, cuja responsável é a astróloga
Susan Miller
Linda Godman Astróloga e autora de livros sobre astrologia
Love Signs Livro sobre astrologia, da autora Linda Godman
Fonte: Elaborado pela autora.

Dentre as referências, destaca-se a blogueira Isabella Mezzadri. Em seu perfil na rede


social Instagram, Isabella posta fotos, vídeos e textos sobre astrologia, tanto falando sobre
aspectos gerais quanto acontecimentos específicos. A maioria dos entrevistados a chama
apenas de “Isa”, demonstrando afeição pela influenciadora. Para a entrevistada Amanda, foi a
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Isabella quem abriu as portas para que ela se interessasse mais em astrologia e decidisse fazer
o seu mapa astral. Por mais que a considere uma referência, Lucas afirmou não segui-la mais
no Instagram, pois, em sua opinião, atualmente, Isabella posta textos demais e o Instagram
não é uma boa rede social para leitura de textos. No entanto, a opinião do entrevistado
Rodrigo sobre a influenciadora é positiva:

Acho que a principal, que foi quem mais me despertou interesse em estudar mais
esse tipo de coisa, é a Isabella Mezzadri. […] Ela é uma blogueira assim, ela fala
sobre autoconhecimento, viagens, e fala bastante sobre astrologia, e […] a forma
como ela comunica isso é de uma maneira bem acessível para todo mundo (Rodrigo).

Fica em evidência, também, a preferência por conteúdo online sobre astrologia. Todos
os entrevistados citaram ao menos um site ou personalidade que produz conteúdo online. Essa
observação ganha ainda mais relevância quando perguntado aos entrevistados o que eles
consomem relacionado à astrologia, conforme apresentado no Quadro 8:

Quadro 8 – Consumo relacionado à astrologia


ENTREVISTADO O QUE CONSOME RELACIONADO À ASTROLOGIA
Joana Conteúdo online (e-mail marketing, aplicativos, sites); livros

Vanessa Palestras; conteúdo online (sites, redes sociais)

Lucas Conteúdo online (redes sociais, vídeos no Youtube)

Ricardo Conteúdo online (sites, redes sociais)

Julia Conteúdo online (livros, sites, redes sociais); objetos (caneca, agenda, pedra do
signo)
Rodrigo Livros; cursos; palestras; objetos (copo, caderno, pedra do signo); conteúdo online
(redes sociais, sites, e-mail marketing)
Amanda Conteúdo online (vídeos no Youtube, redes sociais, sites, aplicativos); livros
Mauro Palestras; livros; conteúdo online (sites)
Fonte: Elaborado pela autora.

Os avanços tecnológicos possibilitam as trocas entre as pessoas interessadas em


astrologia – especialmente na era dos computadores, a facilidade do intercâmbio de
informações permite a disseminação de conhecimentos e aperfeiçoamento das técnicas
utilizadas (SUZUKI, 2007). Isso é percebido no Quadro 8, pois conteúdo online voltado à
astrologia é, de fato, o que é mais consumido entre os entrevistados. O acesso às informações,
à troca de ideias entre pessoas e ao compartilhamento de conhecimento na internet são mais
fáceis do que no mundo offline – palestras, cursos, consulta com astrólogos, etc. Como,
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Vilhena (1990) observa, o capital cultural dos astrólogos é obtido através de manuais, cursos e
pesquisas, e esses conteúdos são acessíveis a todos (principalmente por meio de conteúdo
online), a astrologia não é limitada apenas aos profissionais da área. Nesse sentido, Ferreira
(apud SUZUKI, 2007) aponta que a facilidade de acesso aos conteúdos astrológicos,
especialmente à confecção de mapas, nem sempre é favorável à astrologia. Para a autora, com
isso, passam a existir muitos astrólogos que não são bons. O entrevistado Rodrigo observa
que as pessoas têm interesse em fazer cursos e participar de palestras, mas têm dificuldade em
encontrar esses tipos de serviços sobre astrologia. Isto é corroborado pelas entrevistadas Julia
e Amanda: ambas afirmam ter interesse em cursos e palestras, mas não veem com frequência
esses serviços serem divulgados. Lucas também tem interesse, mas, como não trabalha, não
tem dinheiro para pagar, e Vanessa tem vontade de se consultar com um astrólogo, mas nunca
procurou, pois acredita que seja muito caro.
Com a astrologia sempre presente em suas vidas de alguma forma, para cada
entrevistado houve um momento determinante que despertou a vontade em se aprofundar no
assunto e buscar esse conhecimento astrológico. Com exceção de Mauro, que teve a
astrologia muito presente durante toda a sua vida de maneira intensa e aprofundada por conta
de sua família, todos os entrevistados começaram a estudar e se aprofundar mais em
astrologia durante o Ensino Médio e o Ensino Superior. No Quadro 9, são apresentados os
momentos e motivos que os entrevistados se aprofundaram nos estudos de astrologia:
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Quadro 9 – Situações que propiciaram o estudo de astrologia


ENTREVISTADO MOMENTO MOTIVO
Joana Primeiro ano do Ensino Médio Curiosidade; buscava uma identificação e
aproximação com outras pessoas
Vanessa Término do Ensino Médio Estava se sentindo perdida, queria buscar
autoconhecimento; estava em um processo
de depressão
Lucas Durante o Ensino Médio Curiosidade
Ricardo Durante a Faculdade Tinha depressão e começou a ler previsões
anuais para “se preparar”
Julia Antes de ingressar na Faculdade Teve depressão, queria buscar
autoconhecimento
Rodrigo Quando da conclusão do Ensino Estava se sentindo perdido, queria buscar
Médio autoconhecimento
Amanda Há um ano e meio, na “onda de Curiosidade, seguia pessoas que falavam de
explosão” da astrologia astrologia e passou a se interessar e estudar
sobre; estava se sentindo perdida
profissionalmente; buscava
autoconhecimento
Mauro Não teve um momento específico Astrologia sempre foi muito presente,
principalmente por influência de sua mãe
Fonte: Elaborado pela autora.

Quando alguns entrevistados passaram por momentos difíceis, com a sensação de


“estar perdido” e, em alguns casos, até mesmo com “depressão”, a astrologia apareceu como
uma forma de se preparar para o que a vida poderia trazer e também para se conhecerem.
Além do autoconhecimento, que é um termo muito citado, a curiosidade também fez com que
alguns entrevistados pesquisassem mais sobre astrologia, a fim de buscar significado para os
horóscopos que liam na infância. Rodrigo e Amanda relataram esses momentos de
aprofundamento:

Eu comecei a me aprofundar mesmo por astrologia quando ia me formar no ensino


médio, estava completamente perdido, não fazia ideia do que ia fazer da minha vida
[...] e não sabia o que eu realmente gostava, precisava de um norte. [...] Motivos:
não saber quem eu era, não saber o que eu queria. E a astrologia foi a ferramenta
mais acessível para mim naquele momento, tipo, teve alguém que apresentou na
minha vida e eu aproveitei, comecei a gostar muito (Rodrigo).

Foi um momento que eu estava me sentindo um pouco perdida profissionalmente,


em uma busca por autoconhecimento mesmo sabe, e foi a primeira vez que eu
percebi que tinha muito mais material e muito mais profundidade no meu signo solar.
[...] Foi mais uma busca por autoconhecimento, foi um momento mais de crise, que
eu estava mais interiorizada, mais focada em mim e que eu tinha mais tempo livre.
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[...] Acabou se tornando depois uma fé ou crença, se tornou uma coisa que eu
acredito, que eu acho que tem fundamento, que tem sabedoria ali (Amanda).

A astrologia despertou o interesse de todos os entrevistados a buscarem outros


conhecimentos. Na maioria dos casos foi um interesse despertado, mas que não foi tão
aprofundado como em astrologia. Os conhecimentos são os mais diversos, voltados à
espiritualidade, mancias, holismo, entre outros, como apresenta o Quadro 10:

Quadro 10 – Conhecimentos buscados a partir da astrologia


ENTREVISTADO CONHECIMENTOS BUSCADOS
Joana Animais místicos; astrologia celta; astronomia; cosmologia; energia das pedras e
dos cristais; crença em ETs
Vanessa Ervas medicinais; chakras; diferentes dimensões; conexão espiritual com outros
planetas e vidas; acreditar em outras vidas; Orixás, Candomblé e Umbanda
Lucas Rituais xamânicos; força da natureza

Ricardo Meditação

Julia Tarô; leitura de mãos; energia das pedras e dos cristais


Rodrigo Energia das pedras e dos cristais; leitura de mãos; tarô; homeopatia; medicinas
orientais; alimentação saudável e natural
Amanda Tarô
Mauro Homeopatia; tratamento holístico; tarô; mitologias
Fonte: Elaborado pela autora.

Não há um conhecimento comum entre todos os entrevistados, mas destaca-se o


interesse em tarô – leitura de cartas. No entanto, a maioria afirmou ter buscado esses
conhecimentos, mas não se aprofundado tanto quanto em astrologia e, em alguns casos, o
interesse se perdeu com o passar do tempo. Outro aspecto interessante para ser observado é
que, mesmo não sendo assuntos abordados pela astrologia, Joana relata que passou a
“acreditar em ETs” e Vanessa passou a “acreditar em outras vidas”. Ainda sobre os novos
conhecimentos buscados, Amanda, Rodrigo, Julia e Joana relatam o seguinte:

Me deixou mais aberta, mas eu não fui muito atrás. [...] Acho que a única terapia ou
área mais espiritual que eu cheguei a ter contato foi com o tarô, mas não me
identifiquei muito, então realmente sou totalmente leiga, acabo consumindo porque
muitas astrólogas usam o tarô de forma conjunta, mas não me identifico muito. Sou
aberta, mas não faz parte do meu interesse tanto quanto astrologia (Amanda).

Sim, [...] teve uma época que eu estava muito das energias, e eu buscava muito
conhecimento assim da energia das pedras, leitura da mão, leitura de cartas, tarô. Eu
gostei muito por um momento, busquei saber, homeopatia, medicinas orientais,
busquei de tudo porque eu queria saber, mas nenhuma das coisas que eu busquei
saber realmente me pegou que nem astrologia (Rodrigo).
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Tarô e o negócio de ler a mão, acho sensacional, só que é difícil... [...] Eu tenho uns
negócios assim com umas pedras, acredito muito na energia delas, tenho várias em
casa, no trabalho... [...] Eu acho que eu sempre tive interesse em tudo isso, mas
depois, com a astrologia e vendo meu mapa como ele é realmente, e que isso já
existe em mim, sabe, eu acho que eu me interessei mais (Julia).

Eu cheguei a pesquisar várias coisas sobre animais místicos, sobre outros tipos de
astrologia, [...] astrologia inclusive me fez entender mais sobre astronomia, [...]
comecei a pesquisar muito sobre cosmologia, muito sobre as estrelas. [...] Eu tive
outros interesses, só que eles se perderam assim. Eu tive interesse nas energias dos
cristais, [...] a função das energias assim. [...] Só que são coisas que eu absorvi as
informações na época só que depois elas se perderam no meio de outros interesses,
não cheguei a me aprofundar e me prender tanto quanto a astrologia (Joana).

Assim, a astrologia despertou interesse dos entrevistados em outros assuntos


esotéricos e espirituais. Em alguns casos, a curiosidade sobre tais assuntos sempre existiu,
mas o conhecimento astrológico os fez pesquisar sobre eles.
A seguir, será apresentada a categoria de rituais de consumo que os entrevistados
realizam voltados à prática da astrologia.

5.3 Os Rituais de Consumo de Astrologia


Conforme Johnson (1997) nos informa, para gerar ou conservar o senso de conexão
com um sistema social, é utilizado um padrão de fala ou comportamento denominado ritual.
Para Smith (2002), no âmbito da etnologia ou antropologia, o ritual insere-se na vida social
por conta da presença de determinadas situações que requerem a repetição de seus efeitos. A
fim de identificar essas situações nos rituais de consumo de astrologia, os entrevistados foram
questionados sobre quais circunstâncias eles consideram propícias para se buscar astrologia –
não apenas avaliando sua própria experiência, mas analisando sua percepção sobre as
vivências de outras pessoas:
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Quadro 11 – Circunstâncias para buscar a astrologia


ENTREVISTADO CIRCUNSTÂNCIAS PROPÍCIAS PARA BUSCAR A ASTROLOGIA
Joana Quando está passando por uma situação difícil; quando alguma interferência
externa no seu círculo cultural desperta sua curiosidade
Vanessa Quando está se sentindo perdido e tem vontade de se conectar consigo mesmo

Lucas Quando algo desperta a curiosidade de saber os acontecimentos do futuro, do


presente ou do passado
Ricardo Quando está interessado em alguém

Julia Quando quer se entender melhor a si próprio; quando está interessado em alguém;
quando está se sente desorientada e busca respostas
Rodrigo Quando está se sentindo perdido e busca algo para ajudar a se conhecer; quando
está interessado em alguém
Amanda Quando está interessado em alguém; momentos de crise
Mauro Quando algo desperta a curiosidade; quando está interessado em alguém ou para
avaliar relacionamentos amorosos
Fonte: Elaborado pela autora.

As circunstâncias, apresentadas no Quadro 11, se repetiram durante as entrevistas em


diversos momentos e, inclusive, podem ser observadas no Quadro 9, que diz respeito aos
momentos e motivos que levaram o entrevistado a buscar astrologia. Apesar de serem
voltados ao consumo próprio, os entrevistados costumam citar exemplos também sobre outras
pessoas buscando astrologia.
Este comportamento evidenciado pelos entrevistados encontra amparo na afirmação
de Giddens (2005) sobre a busca da astrologia pelos indivíduos em momentos decisivos de
sua vida, pois ela é algo que se distancia da racionalidade ocidental vigente na sociedade
moderna. A entrevistada Amanda observou que em momentos de crise as pessoas se voltam
para a espiritualidade ou ferramentas de autoconhecimento. Esses momentos podem ser
quando os indivíduos estão passando por situações difíceis, se sentindo “desorientados e
perdidos”, buscando algo que ajude a se conectarem consigo mesmo ou procurando respostas,
como citado pelos demais entrevistados.
O interesse, especialmente o amoroso, em alguma pessoa, é outro motivo que desperta
o interesse em astrologia e foi verificado pela maioria dos entrevistados. Essas duas
circunstâncias foram evidenciadas nas falas de Rodrigo e Julia:

Tem dois principais motivos. Ou está passando por um momento difícil na vida e
está querendo buscar alguma coisa para te ajudar, quer saber quem ela é, ou saber o
que pode fazer, porque as pessoas acham que a astrologia prevê as coisas né. [...] E o
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segundo motivo é os crushs: todo mundo quer saber o signo da pessoa que está
ficando, se combina com o meu, não combina. Então assim, sempre vão vir atrás de
mim para falar sobre momentos difíceis na vida e querer saber da pessoa que está
gostando, questões amorosas assim (Rodrigo).

Tem uma coisa que faz muitas pessoas irem atrás da astrologia que é tipo gostar de
alguém, nossa, é surreal! Isso é surreal! 90% das minhas amigas quando estão
apaixonadas por alguém querem saber o mapa da pessoa e saber se combina com o
mapa delas (Julia).

Em vista dos aspectos assinalados nas falas dos entrevistados, podemos relacionar a
utilização dos rituais de astrologia com os ritos que se efetivam durante o curso da vida dos
indivíduos, como observado de forma precursora por Van Gennep (apud MULLER, 2002),
mediante os quais os membros das sociedades tradicionais adquirem um novo status social.
Buscando apoio nas observações de Giddens (2005) sobre a presença das tradições no
mundo moderno, o autor defende que o ritual e a repetição são os aspectos constitutivos das
tradições. Assim, uma dada tradição determina um tipo de verdade e oferece uma base para a
ação, por meio do seu próprio ritual e simbolismo, e enquanto for possível justificá-la, seguirá
sendo apoiada e seus rituais e suas repetições seguirão realizando um importante papel social.
Nessa perspectiva, a astrologia pode ser considerada uma tradição, uma vez que nela se fazem
presentes rituais específicos (isto é, um padrão formalizado de comportamento) e repetições
em consonância com as circunstâncias da vida social.
De acordo com Segalen (2002), para que o ritual exista é fundamental que haja
repetição de um determinado comportamento. No entanto, nem todo comportamento que se
repete é um ritual – para identificá-lo, é necessário observar sua característica principal, que é
a sua plasticidade, a sua capacidade de ter mais de um significado, de adaptar-se à mudança
social. No caso da astrologia, as práticas voltadas ao seu consumo são frequentes para todos
os entrevistados; a maioria realiza as práticas astrológicas diariamente ou semanalmente, com
exceção de Mauro que afirmou que depende de seu estado emocional. A leitura de horóscopos
e trânsitos astrológicos são as práticas mais realizadas pelos entrevistados.
Os rituais, na perspectiva de Rook (2007), podem ser percebidos a partir de quatro
componentes: artefatos rituais, roteiro do ritual, representação do(s) papel(éis) do ritual e
audiência do ritual. No consumo de astrologia, os artefatos rituais – comunicam mensagens
simbólicas individuais que foram o significado do ritual – utilizados são: os celulares, os
computadores, as redes sociais (Instagram e Facebook), os sites (Astro, Astrolink, Youtube) e
agenda para anotações.
O roteiro do ritual – responsável por indicar os artefatos a serem usados, sua
sequência comportamental e quem deve utilizá-los – é muito individual de cada entrevistado e,
47

mesmo quando tem a mesma finalidade, cada um realiza o ritual de uma forma particular.
Porém, alguns aspectos em comum são percebidos, como, por exemplo, o início do ritual se
dá pela necessidade de entender o que está acontecendo com os astros em alguma situação
específica, ou pelo desejo de fazer previsões para o seu dia ou semana. Algumas frases dos
entrevistados mostram esses pontos: “é para saber como vai ser meu dia, [...] tomar algumas
decisões as vezes” (Joana); “quando acontece alguma situação que eu não estou sabendo lidar,
[...] vou para o horóscopo para ver se ele tem uma luz para me dar” (Vanessa); “mais pela
curiosidade mesmo, de entender o que está acontecendo” (Lucas); “para me preparar para o
dia, para ver o que vem por aí, é um guia” (Ricardo); “[uso] para entender sabe, quando não
estou no meu normal, tem algo me afetando, aí procuro saber se tem alguma coisa
acontecendo” (Julia); “o propósito é realmente ter uma previsão, ter uma noção de como vão
ser as energias da semana” (Rodrigo).
Outro aspecto em comum percebido nos roteiros dos rituais é o desfecho dos mesmos.
Para alguns entrevistados, completar um ritual voltado à astrologia traz bons sentimentos,
como “esclarecimento”, “alívio” e “felicidade”, como mostram as verbalizações: “me sinto
esclarecida, me sinto clareada” (Joana); “traz uma harmonia, [...] me sinto aliviada, parece
que coisas que você não consegue enxergar, o horóscopo te mostra, [...] fica mais clara a
situação” (Vanessa); “eu saio muito feliz, muito faceira, [...] entusiasmada” (Amanda). Em
outros casos, o desfecho é relacionar o conteúdo absorvido com o momento que está vivendo,
ou com a sua semana, seu dia. As frases que apontam esse tipo de desfecho são: “eu relaciono
com a minha semana, já me preparo psicologicamente para a minha semana” (Julia); “eu paro
e penso em tudo que tenho planejado para a semana, como isso pode me afetar de alguma
maneira” (Rodrigo); “eu faço uma reflexão sobre a semana que passou e também faço uma
previsão minha de como vai ser a semana, o que eu vou estar fazendo em cada momento”
(Amanda).
Os entrevistados costumam buscar as informações sobre astrologia em fontes já
conhecidas, como sites específicos ou redes sociais de influenciadores e astrólogos. Alguns
rituais são, inclusive, direcionados a apenas um canal, onde o conteúdo oferecido é exclusivo
voltado ao que o entrevistado busca descobrir. As verbalizações a seguir constatam esse fato:
“todo dia de manhã eu chego no trabalho e entro no Astrolink para ver todos os meus
trânsitos ativos no momento” (Rodrigo); “de manhã eu acordo, ponho os óculos, tiro o celular
do carregador e abro o astro.com [para ler o meu horóscopo]” (Ricardo); “Eu acordo e abro
meu horóscopo personalizado, [...] porque eu recebo 6 da manhã geralmente o e-mail. Toda
quinta-feira eu vejo o horoscopinho da Br000na no Instagram” (Julia); “Toda quinta-feira eu
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entro no Instagram da Br000na, [...] daí eu leio o meu sol, o meu ascendente e minha lua.
[...] Toda segunda-feira eu entro no Instagram do Edu Conte, para ver a previsão dele para o
céu da semana” (Rodrigo); “Toda segunda-feira eu chego do trabalho, abro meu Youtube e a
primeira pessoa, o primeiro vídeo que eu assisto é a Claudia Lisboa. Aí eu faço anotações
dos tópicos mais importantes na minha agenda” (Amanda).
Sobre os papéis do ritual – a representação do papel dos indivíduos –, foram
identificados os seguintes papéis ativos: o interessado em astrologia, o produtor de conteúdo
sobre astrologia e, em certos casos, demais pessoas que trocam informações sobre astrologia
(familiares, amigos e conhecidos). No entanto, ainda que haja diferentes papéis, em algumas
situações, alguns entrevistados percebem o estudo de astrologia como algo individual e,
muitas vezes, autodidata, como indicam as verbalizações: “hoje eu consigo aprender mais
sendo autodidata, comprando livros e estudando sozinho” (Rodrigo); “[as pessoas buscam
astrologia] porque acho que é mais fácil o acesso, tu mesmo vai procurar, [...] eu aprendi
basicamente assim, ia lá e pesquisava” (Julia).
A audiência do ritual, o último componente dos rituais de consumo, refere-se às
pessoas que assistem ao ritual, sem um papel específico. No caso dos rituais de astrologia, são
as pessoas que veem as interações nas redes sociais, por exemplo, nos comentários de um post
sobre as previsões da semana, mas não influenciam o consumo.
Considerando a abordagem de McCracken (2003), há a proposição de um modelo de
transferência de significado que indica, através da publicidade e do sistema de moda, como
mundo culturalmente constituído transfere significado aos bens de consumo e, por meio dos
rituais, esses bens transferem significado aos consumidores individuais. O autor defende que a
cultura atribui significado ao mundo culturalmente constituído, pois ela possui “lentes” pelas
quais os acontecimentos são observados e determina como esses acontecimentos são notados
e assimilados.
Sendo assim, por ser uma forma de representação do mundo culturalmente constituído,
a publicidade é uma importante ferramenta para a transferência de significado
(MCCRACKEN, 2003). No caso da astrologia, os perfis de astrólogos e influenciadores que
produzem conteúdo online sobre astrologia, exercem o papel de ferramenta de transferência
de significado. Através da exposição a tais estímulos, esses perfis fazem com que o mundo
culturalmente constituído e a astrologia sejam notados de maneira harmônica, e assim
significados considerados adequados sejam atribuídos pelos entrevistados.
No sistema da moda, a movimentação de significado necessita de mais fontes de
significado, de agentes de transferência e de meios de comunicação, observa McCracken
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(2003). Além da transferência de significados que acontece na publicidade, são dados novos
significados também por “líderes de opinião”, que são responsáveis por aperfeiçoar o
significado cultural existente e, por fim, adotar uma mudança e criação de novos significados
culturais. Tendo em vista que a moda não é apenas vestuário, ela também pode ser pensada
como um determinado comportamento. Nesse caso, a astrologia se encaixa nesse sistema por
ter seu significado movimentado por meio de diversas fontes, agentes de transferência e meios
de comunicação. No consumo de astrologia, os “líderes de opinião” são os astrólogos e
influenciadores do tema, pois influenciam o julgamento dos indivíduos sobre os significados
culturais da astrologia.
Os bens de consumo transferem significado aos consumidores individuais por meio
dos rituais (MCCRACKEN, 2003). O autor determina quatro tipos de rituais: rituais de troca,
de posse, de arrumação e de despojamento. O ritual de troca – referente à troca de bens – é
exercido pela entrevistada Vanessa, que se encontra com um amigo duas vezes por mês para
conversarem sobre astrologia e trocarem informações e conhecimentos. O segundo ritual, de
posse, faz com que o consumidor declare posse sobre seus bens de consumo. Ele é praticado
por todos os entrevistados, uma vez que todos detém conhecimento sobre astrologia quando a
consomem. O ritual de arrumação acontece quando o indivíduo atribui significado desse bem
de consumo ao consumidor. Por fim, o ritual de despojamento é aquele em que o indivíduo se
desfaz do bem. Desta forma no que tange aos rituais apresentados por McCracken (2003),
foram identificados os rituais de troca e de posse entre os entrevistados.
Assim, com as análises dos rituais de consumo de astrologia, encerra-se o capítulo de
análise dos resultados. O capítulo a seguir apresenta as considerações finais do presente
estudo.
50

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objetivo definir quais os significados e os rituais do consumo
de astrologia entre homens e mulheres pertencentes a segmentos médios. Este objetivo geral
divide-se em três objetivos específicos: caracterizar a presença da astrologia no cotidiano dos
entrevistados, identificar os significados do consumo de astrologia e analisar os rituais de
consumo de astrologia.
A respeito da presença da astrologia no cotidiano dos entrevistados, observou-se que
ela está presente em suas vidas desde a infância e, atualmente, se faz presente, na maioria dos
casos, diariamente. A leitura de horóscopos e trânsitos astrológicos e conversas com outras
pessoas são os principais momentos em que a astrologia aparece na vida dos entrevistados. O
principal motivo pelo qual as pessoas se interessam por astrologia é porque ela é uma
ferramenta que auxilia na busca por autoconhecimento.
No que diz respeito ao segundo objetivo – identificar os significados do consumo de
astrologia – constata-se que o mais importante significado é a busca por autoconhecimento.
Dentre outros significados individuais para cada entrevistado, o desejo em se conhecer e saber
mais sobre si é comum entre todos. Por mais que não seja o motivo inicial para alguns, a
astrologia age como ferramenta de autoconhecimento tanto para próprios entrevistados quanto
para as pessoas as quais eles se referem em seus exemplos. Nesse sentido, destaca-se o
consumo de conteúdo online sobre o tema, tanto pela facilidade de acesso às informações
quanto à variedade de fontes de informação. A influenciadora Isabella Mezzadri foi a mais
citada entre os entrevistados, por transmitir seu conhecimento em astrologia de maneira
acessível àqueles que sabem nada sobre o assunto. Também os entrevistados afirmaram que a
astrologia despertou seu interesse em buscar outros conhecimentos – com destaque para o tarô
–, mas não se aprofundaram nesses conhecimentos tanto quanto o fizeram com astrologia.
O terceiro e último objetivo é analisar os rituais de consumo de astrologia. O primeiro
ponto observado é que as pessoas buscam a astrologia em momentos de crise – especialmente
quando estão sentindo-se “perdidas” – ou quando têm um interesse amoroso por alguém.
Nesses momentos, a astrologia surge como uma ferramenta acessível e que traz as respostas
que os indivíduos tanto procuram. Assim, quando os indivíduos passam a confiar na
astrologia, começam a utilizá-la como um guia em algumas situações de suas vidas,
desenvolvendo rituais de consumo.
Para os entrevistados, o objetivo dos rituais é compreender o que está acontecendo
astrologicamente em alguma situação específica e fazer previsões para o dia ou semana. Com
51

esse propósito, os entrevistados buscam, principalmente em conteúdos online, informações


sobre os assuntos de interesse: horóscopo de cada signo, horóscopo personalizado e previsões
de acontecimentos astrológicos. Muitos dos rituais são direcionados especificamente a um
canal determinado, cujo conteúdo oferecido já é conhecido pelo entrevistado e de sua
confiança. Sobre desses canais, apesar de Isabella Mezzadri ser a influenciadora mais
mencionada neste estudo, o Instagram da Br000na foi o mais citado nos rituais, pois toda
quinta-feira ela posta as previsões astrológicas da semana nos stories14 e, assim, as pessoas
criam seus rituais para consumirem esse conteúdo. Por fim, o desfecho desses rituais é que
eles trazem sentimentos bons, como “esclarecimento”, “alívio” e “felicidade”, e são utilizados
para fazer previsões para a semana seguinte dos entrevistados.
No decorrer da pesquisa, surgiram alguns insights e descobertas. Apesar de ser claro
que o consumo de astrologia é majoritariamente realizado na internet, os entrevistados
algumas vezes gostariam de fazer cursos, ir a palestras, consultar astrólogos, mas o consumo
offline é realizado. Ainda que esses serviços existam, a percepção dos entrevistados dá a
entender que não sabem onde encontrá-los e ainda por cima o custo deles é elevado. Em
virtude dessa “falha”, nota-se uma oportunidade tanto para quem já oferece tais serviços
investir em comunicação e marketing, quanto para quem tem interesse em oferecer esses
serviços aprofundar-se nos pontos que devem ser aprimorados e destacar-se nesse segmento.
Uma constatação alcançada, ao relacionar a teoria e os dados empíricos, é que os
autores sempre comentam a astrologia como sendo voltada para o “eu”, uma ferramenta para
o indivíduo buscar “autocompreensão” e “crescimento espiritual”. No entanto, as entrevistas
realizadas demonstram que, sim, a astrologia é voltada ao autoconhecimento, mas também é
muito utilizada na relação do indivíduo com o outro. Muitas vezes os entrevistados e
exemplos por eles apresentados enfatizam que a busca por ela tem como propósito aprimorar
a relação com outras pessoas. Todavia os autores abordados no referencial teórico não
abordaram esse aspecto de uso da astrologia.
Acerca dos rituais de consumo, a teoria de Rook (2007) sobre os quatro componentes
pelos quais os rituais são percebidos foi a mais rica e trouxe mais elementos para análise do
que a teoria de McCracken (2003) sobre os quatro tipos de ritual. As definições de arrumação
e despojamento não se encaixaram para os rituais de astrologia, principalmente pois os rituais

14
Função do Instagram de postar imagens e vídeos que ficam disponíveis para visualização durante vinte e
quatro horas. Por ter um prazo determinado, é muito utilizado para assuntos que se atualizam constantemente,
como os horóscopos semanais.
52

dos entrevistados não envolvem objetos. Os objetos de astrologia (quadro, copo, caderno,
etc.) mencionados não são muito relevantes aos entrevistados.
Houve, ainda, algumas limitações na realização deste estudo. A quantidade de pessoas
que se disponibilizou para ser entrevistada foi muito grande, inclusive a maioria encaixando-
se no perfil procurado. No entanto, conversando rapidamente para avaliar se a pessoa seria
ideal para ser entrevistada, a pesquisadora notou que poucos conseguiam abordar o consumo
de astrologia em vista dos significados que lhe são atribuídos. Conforme mencionado no item
Unidade de Estudo da Estratégia Metodológica, foram realizadas duas entrevistas que não
puderam ser aproveitadas para análise, pois os entrevistados não conseguiam se aprofundar
nos assuntos e somente utilizavam a astrologia em si – seus mapas astrais, os signos e
planetas – para justificar o consumo dela.
Outra limitação foi a bibliografia sobre astrologia. Embora haja bibliografia, os livros
são muito focados em conteúdo astrológico e poucos analisam o consumo de astrologia. Além
disso, a biblioteca da ESPM-Sul não possui livros sobre esse estudo. Sendo assim, os livros
utilizados pertencem ao acervo da pesquisadora – alguns já possuía, outros foram adquiridos
para a elaboração do referencial teórico.
A partir dos resultados alcançados, nota-se que, embora haja muito interesse das
pessoas por astrologia, ela é ainda pouco abordada no âmbito acadêmico. Com isso, surgem
diversas possibilidades de novos estudos que podem ser realizados sobre o tema, tanto
abordando o consumo quanto outros aspectos. Sugere-se os seguintes estudos: uma pesquisa
quantitativa para mensurar os meios de comunicação de massa mais utilizados para consumir
astrologia e qual impacto tem na vida das pessoas, uma pesquisa qualitativa para investigar
possíveis diferenças na percepção de homens e mulheres acerca da astrologia e ainda uma
pesquisa qualitativa para comparar o entendimento de diferentes faixas etárias e classes
sociais sobre astrologia.
Assim, finaliza-se o presente estudo, o qual proporcionou um melhor entendimento
sobre o consumo de astrologia, seus significados e rituais.
53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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54

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VILHENA, Luís Rodolfo. O mundo da astrologia – estudo antropológico. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Ed., 1990.
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APÊNDICE A – Roteiro entrevistas

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Qual a sua idade?


2. Profissão? Escolaridade?
3. Eu gostaria que você me contasse um pouco sobre as suas rotinas durante a semana?
(Ir à faculdade, supermercado, festas, visitar a família, praticar esportes, ver Netflix
etc.)
4. Primeiramente, o que é astrologia para você?
5. Como a astrologia passou a fazer parte da sua vida e como ela se faz presente na sua
vida cotidiana?
6. Na sua visão, por que as pessoas se interessam por astrologia?
7. Quais são suas referências no mundo da astrologia? Por quê? (Astrólogos, blogueiros,
jornais, sites, comunidades, etc.)
8. O que você consome relacionado a astrologia? (Livros, cursos, palestras, objetos,
conteúdo online, etc.)
9. Quais são os motivos que te levaram a buscar esse conhecimento astrológico?
10. A astrologia te despertou interesse em buscas outros conhecimentos? (Homeopatia,
medicinas orientais, alimentação natural, etc.)
11. Quais circunstâncias você considera que são propícias para se buscar a astrologia?
12. Com que frequência você realiza práticas voltadas à astrologia?
13. Pode me descrever uma dessas práticas? Como ela ocorreu? Qual era o seu propósito?
Qual foi o desfecho?

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