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Essas mulheres estavam superando o medo – legítimo por causa das conse-
qüências da pena de morte também para familiares e amigos(as) de
gente crucificada1 – ao se colocarem a caminho do sepulcro. Agora
elas são recolocadas no lugar onde sempre estiveram junto a Jesus e
seu ministério: são portadoras da Boa Nova, apóstolas dos apóstolos,
mulheres em meio às construções das relações de poder sociorreligioso.
Com o referencial da memória e em perspectiva de gênero, quero revisitar
esta tradição fundante da igreja judeu-cristã. Analiso o texto de 1 Cor
15,3-8 como o relato escrito mais antigo sobre a ressurreição de Jesus
Cristo e os textos evangélicos que testemunham sobre o mesmo tema.
Aponto para diferenças e conflitos na transmissão e na elaboração des-
ta tradição, presentes não apenas nos próprios textos bíblicos, mas também
e talvez especialmente na história interpretativa e em sua aplicação
dogmática. Com isto, foco dois objetivos: evidenciar processos de
silenciamento e exclusão de mulheres não apenas das tradições ‘mítico-
literárias’ mais antigas, mas conseqüentemente, de ministérios eclesiais
ordenados, exclusão esta presente até hoje ainda em algumas igrejas;
A ‘casa’ que acabamos de visitar, vasculhar e varrer está marcada pelo evento
fundante da vida, morte e ressurreição de Jesus. Esta ‘casa’ está marcada
também pela experiência religiosa de mulheres e homens discípulos(as)
deste Jesus. Esta experiência não é predeterminada ou (de)limitada
por questões de gênero, o que constatamos através da experiência
visionária e apostólica das mulheres. No movimento de Jesus, esta
experiência religiosa vem marcada pela diversidade que foi sendo
Notas
1
Tácitus, Annalen VI, 19 descreve o ‘ritual’ da crucificação, referindo-se ao tempo de
Tibério, o qual “ordenou matar todas as pessoas que estavam presas por terem sido
acusadas de participar de uma conspiração junto com Seiano. Havia ali um monte
de cadáveres, de ambos os sexos, de todas as idades, ilustres e ignorantes. [...] Não se
permitia que parentes e pessoas amigas se aproximassem para pranteá-los, nem para
observá-los por mais tempo. [...] os guardas tinham de permanecer junto aos cadáve-
res até que estivessem apodrecidos e fossem arrastados para dentro do rio Tibre. [...]
Anulado estava qualquer sentimento de comunhão por causa do poder do medo, e
na mesma medida em que crescia o horror também diminuía a compaixão“ (tradu-
zido por mim). Veja outros comentários em Schottroff (1995, p. 39-82).
2
Veja o estudo aprofundado destes textos na dissertação de Matos (2004), principal-
mente p. 90-136.
3
Lamentavelmente não nos é informado de onde e de quem Paulo recebeu esta tradi-
ção, mas com certeza foi oriunda de grupos judeu-cristãos com os quais Paulo se
relacionou após a sua ‘conversão’ no caminho a Damasco, onde permaneceu com os
discípulos(as) por algum tempo (At 9,1-25).
4
Maiores informações a respeito, veja dissertação de Guizzo (2005).
5
Esta multiplicidade de percepção e de discurso é observada e analisada também pela
metodologia exegético-semiótica no que diz respeito à ‘discursivização’ da morte de
Jesus. Veja Genest (1998, p. 104-7).
6
Este processo pode ser analisado exegeticamente pela Crítica Textual, que estuda e
avalia as diferentes transmissões escritas do mesmo evento ou discurso por meio de
vários manuscritos de origens geopolíticas e de épocas distintas.
7
Sobre a questão sinótica e sua relevância para a interpretação, veja Wegner (1998,
p. 122-164).
8
Sobre questões históricas e construção de identidade própria após o ano 80, veja
Richard (1997, p. 7-9); Pesavento (2004, p. 89-98).
9
Lembre-se, aqui, que os evangelhos são compilados paralelamente ou em oposição
Referências
DAHN, KREMER. Ver, visão, olho. In: COENEN, L.; BROWN, C. (Orgs.).
Dicionário internacional de teologia do novo testamento. 2. ed. Tradução de
Gordon Chown; revisão de Júlio P. T.Zabatiero. São Paulo: Vida Nova, 2000.
V. II. p. 2591-2598.