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Reexame necessário

Segundo previsão do art. 496 do CPC, a sentença proferida contra a União, Estado,
o DF, o Município e as respectivas autarquias e fundações de direito público, bem como
a que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal, somente
produzirá efeitos após sua confirmação pelo Tribunal. Trata-se do instituto do reexame
necessário, que pela letra da lei é condição impeditiva da geração de efeitos da sentença
proferida nas condições previstas pelo dispositivo legal mencionado, preferindo a melhor
doutrina entende-lo como condição impeditiva do trânsito em julgado, sendo possível a
sentença pendente de julgamento de reexame necessário gerar efeitos.
As exceções ficam por conta do 496, § 3º: “Não se aplica o disposto neste artigo
quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de valor certo e líquido
inferior a: I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e
fundações de direito público; II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o
Distrito Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e os Municípios
que constituam capitais dos Estados; III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os
demais Municípios e respectivas autarquias e fundações de direito público”. Nessas
circunstâncias a remessa do processo ao tribunal dependerá da regular interposição do
recurso de apelação pela Fazenda Pública, admitindo-se o trânsito em julgado da sentença
já em primeiro grau de jurisdição no caso de não haver o recurso voluntário.
É pacífico na doutrina o entendimento de que o reexame necessário não tem
natureza recursal, não se devendo admitir expressões como “apelação ex officio”,
“recurso de ofício” ou “recurso obrigatório”. São várias as razões para que o reexame
necessário não seja considerado um recurso: a) ausência de voluntariedade: o recurso é
um ônus processual, sendo que a sua existência depende de expressa manifestação de
vontade da parte, por meio de sua interposição. A vontade da parte, portanto, é
determinada, sendo a voluntariedade um princípio recursal, derivado do princípio
dispositivo. O reexame necessário, conforme se depreende do próprio nome, nada tem de
voluntário, porque sua existência decorre de expressa manifestação da lei, sendo
irrelevante a vontade das partes e mesmo do juiz, que será obrigado a ordenar a remessa
dos autos ao Tribunal e, não o fazendo, proporcionará a avocação dos autos por seu
presidente (496, § 1º); b) o reexame necessário não é dialético, porque não existem razões
nem contrarrazões, cabendo ao Tribunal tão somente analisar os atos praticados até a
sentença. Como consequência lógica, também não haverá contraditório; c) a previsão de
um prazo de interposição é característica de todo e qualquer recurso, o que não ocorre
com o reexame necessário, que deverá existir sempre que as condições assim exigirem,
independentemente de eventual demora do processo chegar ao Tribunal; d) o reexame
necessário, apesar de estar previsto em lei federal (CPC), não se encontra previsto como
recurso (princípio da taxatividade); e) a legitimação recursal regulada pelo 996 (partes,
terceiro prejudicado e Ministério Público) não se aplica ao reexame necessário, instituto
cuja “legitimidade” é do juízo, que determina a remessa do processo ao Tribunal.
Registre-se que, apesar de não poder ser considerado uma espécie de recurso,
aplica-se ao reexame necessário um instituto tipicamente recursal: a proibição da
reformatio in pejus. Dessa forma, a Fazenda Pública não poderá ter sua situação no
processo piorada em decorrência do julgamento do reexame necessário (Súmula 45, STJ),
sendo que, na pior das hipóteses para a Fazenda Pública, sua situação manter-se-á
inalterada. Além disso, aplica-se ao reexame necessário a regra do 932, III, IV, “a”,
admitindo-se seu julgamento monocrático pelo relator.
COISA JULGADA
COISA JULGADA FORMAL E COISA JULGADA MATERIAL
Em todo processo, independentemente de sua natureza, haverá prolação de uma
sentença (ou acórdão nas ações de competência originária dos tribunais), que em
determinado momento torna-se imutável e indiscutível dentro do processo em que foi
proferida. Para tanto, basta que não seja interposto o recurso cabível ou ainda que todos
os recursos cabíveis já tenham sido interpostos e decididos. Na excepcional hipótese de
aplicação do art. 496, CPC, ainda que não seja interposta apelação contra a sentença,
haverá o reexame necessário, de forma que o processo só chegará ao seu final após essa
análise obrigatória da decisão pelo tribunal de segundo grau. A partir do momento em
que não for mais cabível qualquer recurso ou tendo ocorrido o exaurimento das vias
recursais, a sentença transita em julgado.
O trânsito em julgado da decisão, ou seja, o impedimento de modificação da
decisão por qualquer meio processual dentro do processo em que foi proferida é chamado
tradicionalmente de coisa julgada formal, ou ainda de preclusão máxima, considerando-
se tratar de fenômeno processual endoprocessual.
Se todas as sentenças produzem coisa julgada formal, o mesmo não pode ser
afirmado a respeito da coisa julgada material. No momento do trânsito em julgado e da
consequente geração da coisa julgada formal, determinadas sentenças também
produzirão, nesse momento procedimental, a coisa julgada material, com projeção para
fora do processo, tornando a decisão imutável e indiscutível além dos limites do processo
em que foi proferida. Pela coisa julgada material, a decisão não mais poderá ser alterada
ou desconsiderada em outros processos.
Essa imutabilidade gerada para fora do processo, resultante da coisa julgada
material, atinge, tão-somente, as sentenças de mérito proferidas mediante cognição
exauriente, de forma que haverá apenas coisa julgada formal nas sentenças terminativas
ou mesmo em sentenças de mérito, desde que proferidas mediante cognição sumária,
como ocorre para a maioria doutrinária na sentença cautelar.
A coisa julgada material depende da coisa julgada formal, mas o inverso não
acontece.
CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA
A doutrina é unânime em associar a coisa julgada material à imutabilidade da
decisão judicial de mérito que não pode ser mais modificada por recursos ou pelo reexame
necessário, na específica hipótese prevista pelo art. 496, CPC. Existe, entretanto, séria
polêmica a respeito do que exatamente se torna imutável em razão do fenômeno da coisa
julgada material, sendo possível destacar três correntes doutrinárias.
Majoritariamente, a doutrina pátria adota o entendimento de Liebman, afirmando
que a coisa julgada é uma qualidade da sentença que torna seus efeitos imutáveis e
indiscutíveis. Para essa parcela doutrinária, após o trânsito em julgado da sentença – ou
acórdão – de mérito, os efeitos projetados no plano prático por essa decisão não mais
poderão ser discutidos em outra demanda, ou mesmo pelo legislador, o que seria
suficiente para concluir que tais efeitos não poderão ser modificados, estando protegidos
pelo “manto” da coisa julgada material. A intangibilidade das situações jurídicas criadas
ou declaradas, portanto, seria a principal característica da coisa julgada material.
Em crítica a essa corrente doutrinária, outra parcela da doutrina entende que os
efeitos da sentença de mérito transitada em julgado não se tornam imutáveis, bastando,
para se chegar a tal conclusão, a verificação empírica de que tais efeitos poderão ser
modificados por ato ou fato superveniente, mormente pela vontade das partes.
O efeito principal da sentença condenatória, que é permitir a prática de atos
materiais de execução, só pode ser gerado uma vez, sendo inadmissível a existência de
sucessivas execuções fundadas numa mesma sentença. Na sentença declaratória, a certeza
jurídica pode ser afastada por ato das partes, como na hipótese de dívida declarada e
posteriormente quitada pelo devedor ou na ação de investigação de paternidade julgada
improcedente com o posterior registro voluntário realizado pelo réu da paternidade do
autor. Por fim, na sentença constitutiva, é possível voltar à mesma situação jurídica
existente antes da coisa julgada material, servindo, de exemplo, o novo casamento entre
pessoas divorciadas judicialmente.
Para essa corrente doutrinária, é o conteúdo da decisão, contida em parte
dispositiva, que se torna imutável e indiscutível em razão da coisa julgada material. Antes
da coisa julgada, a sentença era mutável e com o fenômeno jurídico ora analisado passa
por uma modificação de sua condição jurídica, tornando-se imutável. A coisa julgada,
portanto, não seria uma qualidade da sentença que opera sobre seus efeitos, mas uma
situação jurídica, que torna uma sentença imutável e indiscutível.
Para uma terceira parcela doutrinária, firme em lições do direito alemão, toda
sentença tem um elemento declaratório, consubstanciado na aplicação da norma abstrata
da lei ao caso concreto. Esse elemento declaratório tem como efeito a certeza jurídica de
que, diante dos fatos alegados e considerados pelo juiz, o direito material conforme
declarado pela sentença existe. Nesse sentido, reconhecendo que outros efeitos da
sentença poderão ser modificados por ato e fatos supervenientes, mormente pela vontade
das partes, essa corrente doutrinária limita aos efeitos da declaração da norma abstrata ao
caso concreto a imutabilidade própria da coisa julgada.
É interessante perceber que, mesmo os defensores da corrente doutrinária apoiada
nas lições de Liebman reconhecem que, tratando-se de direitos disponíveis, as partes
poderão dispor de seu direito, mesmo após o seu reconhecimento por meio de sentença
de mérito transitada em julgado, ou seja, da coisa julgada material. Ainda assim, esses
doutrinadores continuam a entender que a coisa julgada material é uma qualidade da
sentença que torna imutáveis os seus efeitos, à luz das condições fáticas e jurídicas de sua
prolação, ou seja, quanto a direitos e obrigações existentes ou inexistentes à época da
prolação da sentença.
Apesar da notória discussão doutrinária, uma análise profunda das três principais
correntes doutrinárias expostas é suficiente para se notar que existem mais semelhanças
do que diferenças entre os doutrinadores. Todos reconhecem que toda sentença tem um
elemento declaratório, consubstanciado na subsunção da norma abstrata ao caso concreto,
e considerado pelo aspecto de elemento que compõe o conteúdo da decisão ou que gera
efeitos práticos para fora do processo, torna-se imutável e indiscutível. Parecem também
concordar que eventos futuros, referentes à vontade das partes, poderão modificar outros
efeitos gerados pela sentença, como ocorre no efeito condenatório no caso de pagamento
da dívida ou do novo casamento no caso de divórcio.
LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA
Somente o dispositivo da sentença de mérito torna-se imutável e indiscutível,
admitindo-se que os fundamentos da decisão possam voltar a ser discutidos em outro
processo, inclusive com a adoção pelo juiz de posicionamento contrário ao que restou
consignado em demanda anterior. É natural que essa rediscussão dos fundamentos da
decisão seja admitida somente se não colocar em perigo o previsto no dispositivo da
decisão protegida pela coisa julgada material. Afirma-se corretamente que a coisa julgada
material não se importa com contradições lógicas entre duas decisões de mérito,
buscando, tão-somente, evitar contradições práticas que seriam geradas no caso de dois
dispositivos em sentido contrário. A missão de evitar as contradições lógicas – mesmos
fatos e fundamentos jurídicos considerados de maneira diferente em distintas decisões
judiciais – é destinada a outros institutos processuais, tais como a prejudicialidade,
conexão, continência, litisconsórcio, intervenções de terceiro e tutela coletiva.
O art. 504, CPC, com desnecessárias repetições, confirma que somente o dispositivo
torna-se imutável e indiscutível em razão da coisa julgada material, prevendo que não
fazem coisa julgada:
(I) os motivos, ainda que importantes;
(II) a verdade dos fatos;
Na realidade, os motivos, a verdade dos fatos e a decisão incidental da questão prejudicial
fazem parte da fundamentação da sentença e, por isso, não produzem coisa julgada
material. Não precisaria ser dito tanto para dizer tão pouco; bastaria ao dispositivo apontar
sem rodeios que somente o dispositivo da sentença faz coisa julgada material.
Coisa julgada e questão prejudicial
Em regra, os motivos, a verdade dos fatos, a decisão incidental da questão prejudicial
fazem parte da fundamentação da sentença e não fazem coisa julgada.
Questão prejudicial: é aquela que condiciona o conteúdo do julgamento de outra questão,
que nessa perspectiva passa a ser encarada como questão subordinada.
Ex.: na ação de alimentos, por exemplo, a relação de parentesco (natural ou socioafetivo)
entre autor e réu é questão prejudicial à consideração do direito dos alimentos; na ação de
cobrança de aluguéis, é prejudicial ao direito à condenação a existência de contrato de
locação. Nesses casos, a solução da primeira questão (a relação de parentesco ou
inexistência de locação) condiciona o conteúdo do julgamento da segunda questão (o
direito aos alimentos, o direito aos alugueis): se o juiz resolve que inexiste parentesco ou
inexiste locação, logicamente inexiste direito aos alimentos e inexiste direito aos alugueis.
Contudo, se afirmar existente o parentesco ou a locação, então deve considerar outras
questões (binômio necessidade-possibilidade, existência de inadimplemento para os
alugueis) para julgar o direito aos alimentos e o direito aos alugueis.
Ocorre que somente a questão prejudicial que constitui fundamento necessário de solução
da questão principal pode lograr autoridade de coisa julgada.
Em suma, os limites objetivos da coisa julgada abarcam todas as questões expressamente
decididas pela sentença no dispositivo, seja por força de expresso pedido das partes (art.
503, caput), seja por força de indicação do juiz, nos casos em que essa indicação é
expressamente permitida pela legislação (art. 503, §§ 1.º e 2.º). Todas as demais questões
decididas na fundamentação não fazem coisa julgada (art. 504).
LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA
Segundo previsto no art. 506, CPC, a coisa julgada vincula somente as partes, não
prejudicando terceiros. Trata-se da eficácia inter partes da coisa julgada, regra do sistema
processual, ao menos no tocante à tutela individual.
A eficácia inter partes justifica-se em razão dos princípios da ampla defesa e do
contraditório, não sendo plausível que a sentença de mérito torne-se imutável e
indiscutível para sujeito que não participou do processo. Essa justificativa só tem algum
sentido quanto aos terceiros interessados (que têm interesse jurídico na causa), porque no
tocante aos terceiros desinteressados (não mantêm nenhuma relação jurídica
interdependente com a relação jurídica objeto da demanda), número infinito de pessoas,
faltará interesse processual para discutir a decisão transitada em julgado, de forma que a
sua imutabilidade torna-se uma consequência natural da impossibilidade processual de
modificar a decisão.
A doutrina acertadamente ensina que todos os sujeitos – partes, terceiros
interessados e terceiros desinteressados – suportam naturalmente os efeitos da decisão,
mas a coisa julgada os atinge de forma diferente. As partes estão vinculadas à coisa
julgada, os terceiros interessados sofrem os efeitos jurídicos da decisão, enquanto os
terceiros desinteressados sofrem os efeitos naturais da sentença, sendo que, em regra
nenhuma, espécie de terceiro suporta a coisa julgada material.
Mesmo no sistema da coisa julgada inter partes existem duas exceções, de forma
que os sucessores e os substituídos processuais, ainda que não participem do processo
como partes, suportam os efeitos da coisa julgada. São titulares do direito e dessa forma
não haveria sentido que não suportassem os efeitos da coisa julgada material.
Os sucessores assumem os direitos e obrigações do sucedido, transmitindo-se
também a esses a imutabilidade decorrente da coisa julgada. Registre-se que, havendo
sucessão do direito durante o processo judicial, impõe-se como pressuposto da extensão
da coisa julgada ao sucessor a informação da existência da demanda judicial. A regra se
aplica na hipótese de alienação de coisa litigiosa, na qual o adquirente deve ter ciência
dessa situação da coisa para suportar a vinculação à decisão em processo do qual não
participou.
Os substituídos são representados na demanda por sujeito que a lei ou o sistema
considera apto à defesa do direito em juízo, sendo que nessa excepcional hipótese admite-
se que a coisa julgada atinja titulares do direito que não participaram como parte no
processo. Registre-se posição doutrinária no sentido de excluir a coisa julgada a terceiro
que não tenha tido oportunidade de participar da demanda na qual seu direito material foi
decidido. Essa corrente doutrinária entende que, não tendo oportunidade de participar do
processo, o substituído processual não poderia suportar a coisa julgada material em
respeito aos princípios da ampla defesa e do contraditório.
Na tutela coletiva não se repete a regra da coisa julgada inter partes presente no
CPC. O tema é versado no art. 103, CDC, e varia conforme a espécie de direito coletivo
lato sensu que compõe o objeto do processo. Nos direitos difusos, a coisa julgada se opera
erga omnes (perante toda a coletividade), em razão da indeterminação e
indeterminabilidade dos titulares do direito (inciso I). Nos direitos coletivos, a coisa
julgada é formada ultra partes (vincula pessoas que não participam do processo como
partes), atingindo somente os sujeitos que compõem um grupo, classe ou categoria de
pessoas (inciso II). Nos direitos individuais homogêneos, a coisa julgada é formada ultra
partes, porque só atinge os titulares do direito individual cujo somatório forma os direitos
individuais homogêneos. Apesar disso, o art. 103, III, CDC, prevê que a coisa julgada
nesse caso se opera erga omnes, o que parece equivocado, mas não gera consequências
jurídicas, considerando que os sujeitos que não são titulares do direito individual
homogêneo são terceiros desinteressados, que, apesar de não suportarem a coisa julgada,
não têm legitimidade para discuti-la e afastá-la em juízo.
Registre-se a existência de normas que limitam a incidência da coisa julgada a
determinados sujeitos num determinado território, como é o caso do art. 2º-A, Lei
9.494/1997, ao prever que “a sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo proposta
por entidade associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá
apenas os substituídos que tenham, na data da propositura da ação, domicílio no âmbito
da competência territorial do órgão prolator” e o art. 22, caput, Lei 12.016/2009, ao prever
que “no mandado se segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos
membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante”.
EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA
O art. 508, CPC, prevê que, com o trânsito em julgado reputar-se-ão deduzidas e
repelidas todas as alegações e defesas que a parte poderia ter levado ao processo para
fundamentar o acolhimento ou a rejeição do pedido. Trata-se da eficácia preclusiva da
coisa julgada.
É simples entender a regra quando aplicada para as possíveis alegações de defesa
do réu. Havendo mais de uma matéria defensiva, caberá ao réu apresentá-las em sua
totalidade, não sendo possível ingressar com outra demanda arguindo matéria de defesa
que deveria ter sido apresentada em processo já extinto com coisa julgada material. O réu
que alega somente o pagamento de dívida, e vem a ser condenado a pagá-la, não poderá
ingressar com outro processo alegando a prescrição e requerendo a repetição de indébito,
porque a alegação de prescrição deveria ter sido elaborada como matéria de defesa do
primeiro processo.
Aplicada ao autor, a regra da eficácia preclusiva da coisa julgada gera maior
controvérsia. A parcela majoritária tem o entendimento que parece ser o mais correto: a
eficácia preclusiva da coisa julgada atinge, tão-somente, as alegações referentes à causa
de pedir que fez parte da primeira demanda, porquanto alegado outro fato jurídico ou
outra fundamentação jurídica, não presentes na primeira demanda, afasta-se do caso
concreto a tríplice identidade, considerando tratar-se de nova causa de pedir. Alegada a
falta de pagamento na ação de despejo e sendo julgado o pedido improcedente, é
admissível uma nova ação de despejo fundada em danos causados ao imóvel locado.
Outra parcela doutrinária entende que a eficácia preclusiva da coisa julgada é mais
ampla, atingindo alegações alheias à causa de pedir presente na demanda que produziu
coisa julgada material. Para essa parcela da doutrina, o art. 508, CPC, atinge todos os
fatos jurídicos deduzíveis na ação, o que naturalmente o faz atingir, inclusive, fatos
jurídicos alheios á causa de pedir narrada pelo autor.
É possível ainda indicar uma terceira corrente doutrinária, intermediária entre as
duas mais comuns, que entende que a eficácia preclusiva da coisa julgada atinge todos os
fatos da mesma natureza conducentes ao mesmo efeito jurídico, mas não fatos de natureza
diversa ou fatos de mesma natureza que produzam efeitos jurídicos diversos.
Interessante notar que a eficácia preclusiva da coisa julgada não contraria os
limites objetivos da coisa julgada. Numa análise apressada e superficial poder-se-ia
questionar a regra do art. 508, CPC, questionando-se que, se nem mesmo as alegações
feitas e decididas na fundamentação fazem coisa julgada, como poderiam se tornar
imutáveis e indiscutíveis alegações que nem menos foram feitas e enfrentadas pelo juiz?
A visão é equivocada, porque não compreende a função instrumental da eficácia
preclusiva da coisa julgada; a impossibilidade de discutir alegações não realizadas em
novo processo só se justifica nos limites da proteção à coisa julgada material. Dessa
forma, sempre que o enfrentamento dessas alegações puder levar á decisão que contrarie
o dispositivo de decisão protegido pela coisa julgada material, aplica-se a regra da eficácia
preclusiva da coisa julgada para impedir a decisão a seu respeito.
RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA
Trata-se de tese defendida por parcela considerável da doutrina nacional, havendo duas
formas, ao que parece, atípicas de relativização da coisa julgada:
a) coisa julgada inconstitucional;
b) coisa julgada injusta inconstitucional
Enquanto na primeira se pretende afastar a coisa julgada de sentenças de mérito
transitadas em julgado que tenham como fundamento norma declarada inconstitucional
pelo STF, na segunda, o afastamento da imutabilidade da coisa julgada se aplicaria às
sentenças que produzam extrema injustiça, afrontando valores constitucionais essenciais
ao Estado democrático de direito.
Coisa Julgada Inconstitucional
O art. 525, § 12, e o art. 535, § 5º, CPC, trazem a previsão de matérias que podem ser
alegadas em sede de defesa típica do executado e que afastam a imutabilidade da coisa
julgada material. Ambos os dispositivos permitem que o executado alegue a
inexigibilidade do título como fundamento de que a sentença que se executa é fundada
em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo STF.
Existe doutrina que defende a inconstitucionalidade dos mencionados dispositivos legais
ao argumento de que a coisa julgada é uma indispensável garantia fundamental, dotando
o sistema de segurança jurídica. A possibilidade de revisão da coisa julgada material em
razão de posterior inconstitucionalidade declarada pelo STF criaria instabilidade
insuportável ao sistema, considerando-se que tutela jurisdicional não definitiva é o
mesmo que sua ausência (Marinoni).
Outra parcela da doutrina considera que os dispositivos legais são constitucionais, ainda
que indesejáveis. Dificilmente o STF irá considerar inconstitucional referidos
dispositivos, ainda que exista ação declaratória de inconstitucionalidade contra o art. 741,
p. único, CPC/73, pendente de julgamento (ADI 2418-3, Rel. Ministro César Peluso).
No tocante à regra em si, tornando a sentença ineficaz, seu principal efeito, a sanção
executiva, desaparece, não se admitindo a execução do título. Há opiniões em sentido
contrário afirmando que o acolhimento dos embargos ou da impugnação quando alegada
a matéria prevista nos mesmos dispositivos, ocorreria a desconstituição da sentença.
Registre-se, por fim, que a forma processual dos embargos e da impugnação para a
alegação da matéria ora discutida é simplesmente uma opção dada à parte para a sua
alegação, sendo também admissíveis a ação rescisória e a ação autônoma com a mesma
finalidade.
Coisa Julgada Injusta Inconstitucional
Diferentemente da coisa julgada anteriormente analisada, essa forma de relativização não
tem uma expressa previsão legal, sendo criação doutrinária e jurisprudencial.
Encontra adeptos e críticos ardorosos, tratando-se, fundamentalmente, da possibilidade
de sentença de mérito transitada em julgada causar uma extrema injustiça, com ofensa
clara e direta a preceitos e valores constitucionais fundamentais.
A doutrina que defende sua relativização entende que a coisa julgada não pode ser um
valor absoluto, que a priori e em qualquer situação se mostre mais importante do que
outros valores constitucionais.
A proposta é que se realize no caso concreto uma ponderação entre a manutenção da
segurança jurídica e a manutenção da ofensa a direito fundamental garantido pela CF.
A corrente que defende esta relativização se divide em dois grupos:
a) os que defendem a inexistência da coisa julgada material em determinadas hipóteses
de extrema injustiça inconstitucional da sentença, de forma que o afastamento da decisão
nem mesmo poderia ser tratado como espécie de relativização.
b) os que concordam que mesmo diante dessa extrema injustiça existe coisa julgada
material, mas seu afastamento é necessário e justificável em razão da proteção de outros
valores constitucionais.
Convém destacar os seguintes posicionamentos doutrinários:
Dinamarco – plano da eficácia
Humberto Theodoro Jr. – plano da validade
Tereza Arruda Alvim Wambier – plano da existência
Os defensores da relativização, nas hipóteses envolvendo ações de investigação de
paternidade decididas antes da existência do exame de DNA, entendem pela aplicação,
por meio de lei, da coisa julgada secundum eventum probationis, já existente na tutela
coletiva. A segunda seção do STJ se manifestou no sentido de que a flexibilização da
coisa julgada nesse caso depende de a decisão transitada em julgada ser resultado da
ausência ou insuficiência de provas, não sendo o suficiente para afastar a coisa julgada
material o simples advento de nova técnica pericial, como o exame de DNA (REsp
706987/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. 14.5.2008). Há, porém,
entendimento que admite nova demanda quando a paternidade não for expressamente
afastada na primeira ação (REsp 826698/MS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 6.5.2008).
Em decisão inédita o STF se manifestou no sentido de admitir a relativização da coisa
julgada em ação de investigação de paternidade em virtude de exame de DNA não
realizado na primeira demanda. Cotejando a coisa julgada e o princípio da dignidade da
pessoa humana (direito à informação genética), preferiu prestigiar o segundo valor
envolvido (RE 363889/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 2.6.2011).
COISA JULGADA SECUNDUM EVENTUM PRO-BATIONIS
No tocante aos direitos coletivos e difusos, a coisa julgada, na hipótese de improcedência
do pedido, traz uma especialidade que a diferencia da coisa julgada tradicional prevista
pelo CPC. Assim, caso a sentença tenha como fundamento a ausência ou a insuficiência
de provas, não se impedirá a propositura de nova demanda com os mesmos elementos da
ação, de modo a possibilitar uma nova decisão.
Exclui-se da análise os direitos individuais homogêneos, porque, nestes, a coisa julgada
opera-se secundum eventum litis.
Majoritariamente, a doutrina entende pela constitucionalidade de ambas as coisas
julgadas afirmando que os sujeitos titulares do direito, ao não participarem efetivamente
do processo, não poderão ser prejudicados por uma má condução procedimental do autor
da demanda.
COISA JULGADA SECUNDUM EVENTUM LITIS
Com o advento do art. 56, CPC, o estudo do tema em questão deixa de ser característica
quase exclusiva – não se pode esquecer do art. 274, CC – da tutela coletiva, passando
também a ser uma realidade no processo individual.
Por meio desse sistema, nem toda sentença de mérito faz coisa julgada material, tudo
dependendo do resultado concreto da sentença definitiva transitada em julgado.
Na tutela coletiva ganha posição de destaque. Significa dizer que, sendo julgado
improcedente o pedido formulado, independentemente da fundamentação, os indivíduos
não estarão vinculados a esse resultado, podendo ingressar livremente com suas ações
individuais. Exemplo: uma empresa petrolífera causa um grande vazamento de óleo
prejudicando os pescadores do local. Havendo uma ação coletiva fundada no direito
difuso a um meio ambiente equilibrado e sendo a ação julgada improcedente, os
pescadores poderão ingressar e vencer ações individuais de indenização contra a empresa
petrolífera. Por outro lado, com a sentença de procedência, os pescadores poderão se valer
desse título executivo judicial, liquidando seus danos e executando o valor do prejuízo.
CONFLITO ENTRE COISAS JULGADAS
“Havendo conflito entre duas coisas julgadas, prevalecerá a que se formou por último,
enquanto não desconstituída mediante ação rescisória. Precedentes citados: AgRg no
REsp 643.998-PE, Sexta Tur-ma, DJe 1/2/2010; REsp 598.148-SP, Segunda Turma, DJe
31/8/2009” (REsp 1.524.123-SC, rel. Min. Herman Benjamin, j. 26.5.2015, p. 30.6.2015).

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