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Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral

Godfrey N. Uzoigwe

Introdução: um período de guerras e de transformações revolucionárias

A geração de 1880-1914 assistiu a uma das mutações históricas mais significativas dos tempos modernos. Com
efeito, foi no decorrer desse período que a África, um continente com cerca de trinta milhões de quilômetros quadrados, se
viu retalhada, subjugada e efetivamente ocupada pelas nações industrializadas da Europa. Os historiadores até agora não têm
a dimensão real das consequências desastrosas, quer para o colonizado quer para o colonizador, desse período de guerras
contínuas, embora em geral sublinhem que se tratou de uma época de transformações revolucionárias fundamentais.
A importância dessa fase histórica, no entanto, vai muito além da guerra e das transformações que a
caracterizaram. No passado, impérios ergueram-se e desmoronaram, conquistas e usurpações também são tão antigas como
a própria história, e, desde há muito, diversos modelos de administração e de integração coloniais têm sido experimentados.
A África foi o último continente subjugado pela Europa. O que há de notável nesse período é, do ponto de vista europeu, a
rapidez e a facilidade relativa com que, mediante um esforço coordenado, as nações ocidentais ocuparam e submeteram um
continente assim tão vasto. É um fato sem precedentes na história.
Como explicar tal fenômeno? Ou, antes, por que a África foi repartida politicamente e sistematicamente ocupada
naquele exato momento? Por que é que os africanos foram incapazes de pôr cerco a seus adversários? Tais questões têm
suscitado, entre os historiadores da partilha da África e do novo imperialismo, explicações bastante engenhosas desde os
anos de 1880, mas nenhuma delas se mostrou totalmente aceitável, tanto assim que a história da partilha tornou-se um dos
temas mais controversos e apaixonantes do nosso tempo. O especialista vê-se assim perante uma tarefa imensa: encontrar o
fio da meada no fantástico emaranhado de interpretações tão contraditórias.

A partilha da África e o novo imperialismo: exame das diferentes teorias

O bom-senso faz-se necessário, portanto, para que se possa introduzir um pouco de ordem na confusão de teorias a
que essa mutação capital da história africana deu origem. Essas teorias podem ser classificadas em: teoria econômica, teorias
psicológicas, teorias diplomáticas e teoria da dimensão africana.

A teoria econômica
Essa teoria conheceu vicissitudes de toda sorte. Quando o comunismo ainda não constituía ameaça ao sistema
capitalista ocidental, ninguém punha realmente em dúvida a base econômica da expansão imperialista. Não é, pois, casual o
sucesso da crítica de Schumpeter à noção de imperialismo capitalista entre especialistas não marxistas. Os repetidos ataques
a essa teoria apresentam hoje resultados cada vez menos concludentes. Em consequência, a teoria do imperialismo
econômico, sob forma modificada, volta a encontrar aceitação.
Que se deve entender por imperialismo econômico? As origens teóricas da noção remontam a 1900, quando os
social-democratas alemães colocaram na ordem do dia do congresso anual do seu partido, realizado naquele ano em Mainz, a
Weltpolitik, ou seja, a política de expansão imperialista em escala mundial.
Foi lá que, pela primeira vez, Rosa Luxemburgo apresentou o imperialismo como o último estágio do capitalismo. Foi
lá também que George Ledebour fez observar que
a essência da Weltpolitik era o impulso profundo que conduz todos os capitalismos a uma política de pilhagem, a qual
leva o capitalismo europeu e o americano a instalarem-se no mundo inteiro².

A formulação clássica dessa teoria, no entanto – aliás, a mais clara –, é a de John Atkinson Hobson. Afirma ele que
a superprodução, os excedentes de capital e o subconsumo dos países industrializados levaram-nos a colocar uma
parte crescente de seus recursos econômicos fora de sua esfera política atual e a aplicar ativamente uma estratégia de
expansão política com vistas a se apossar de novos territórios.

Para ele, estava aí “a raiz econômica do imperialismo”. Embora admitindo que forças de caráter não econômico
desempenharam certo papel na expansão imperialista, Hobson estava convicto de que,
mesmo que um estadista ambicioso, um negociante empreendedor pudessem sugerir ou até iniciar uma nova etapa
da expansão imperialista, ou contribuir para sensibilizar a opinião pública de sua pátria no sentido da urgente
necessidade de novas conquistas, a decisão final ficaria com o poder financeiro³.
Adotando livremente as teses centrais dos social-democratas alemães, assim como as de Hobson, V. I. Lênin salientava
que o novo imperialismo caracterizava-se pela transição de um capitalismo de orientação “pré-monopolista”, “no qual
predomina a livre concorrência”, para o estágio do capitalismo monopolista “intimamente ligado à intensificação da luta pela
partilha do mundo”.
Assim como o capitalismo de livre concorrência prosperava exportando mercadorias, o capitalismo monopolista
prosperava exportando capitais derivados dos superlucros acumulados pelo cartel dos bancos e da indústria. Segundo Lênin, é
esse o estágio final do capitalismo. Concordando com Rosa Luxemburgo, e em contradição com Hobson, Lênin acreditava
estar o capitalismo destinado à autodestruição, pois, tendo finalmente partilhado o mundo entre si, os capitalistas,
convertidos em pessoas que vivem de rendas, parasitas, sustentados pelos lucros de seus investimentos, estariam ameaçados
pelas nações jovens, que exigiriam uma nova partilha do mundo. Os capitalistas, sempre ávidos, recusariam. O conflito,
portanto, não poderia ser atalhado senão por uma guerra, no fim da qual os capitalistas seriam obrigatoriamente vencidos.
A guerra, portanto, é a consequência inevitável do imperialismo e trará consigo a morte violenta do capitalismo.
Surpreende que esta propaganda entusiástica tenha sido aceita por numerosos especialistas marxistas.
Nacionalistas e revolucionários do Terceiro Mundo também adotaram, sem sombra de hesitação, as doutrinas de Hobson e de
Lênin. Aliando-se aos intelectuais de esquerda do Ocidente, descreviam o imperialismo e o colonialismo como resultado de
uma exploração econômica descarada.
Não obstante nem Hobson nem Lênin terem se preocupado diretamente com a África, está claro que suas análises
têm implicações fundamentais no estudo da partilha do continente. Ainda assim, um enorme exército de especialistas não
marxistas demoliu mais ou menos a teoria marxista do imperialismo econômico aplicada à África.
Uma reação típica dos especialistas marxistas a essa aparente vitória consiste em dizer que, ainda que as críticas a
Hobson e a Lênin sejam basicamente justas, estão mal direcionadas. “O alvo” escreve Bob Sutcliffe, “é muitas vezes uma
miragem, e as armas utilizadas não são adequadas”, pois o imperialismo, concebido como fenômeno global, considera o valor
do império como um todo e, portanto, “um balanço de nível nacional não faz o menor sentido”.
As teorias psicológicas
Preferimos analisar aqui em termos psicológicos as teorias que comumente se classificam como darwinismo social,
cristianismo evangélico e atavismo social, porque seus adeptos acreditam na supremacia da “raça branca”.
O darwinismo social
A obra de Darwin, A origem das espécies por meio da seleção natural, ou a conservação das raças favorecidas na
luta pela vida publicada em inglês em novembro de 1859, parecia fornecer caução científica aos partidários da supremacia da
raça branca, tema que, depois do século XVII, jamais deixou de estar presente, sob diversas formas, na tradição literária
europeia. Os pós-darwinianos ficaram, portanto, encantados: iam justificar a conquista do que eles chamavam de “raças
sujeitas”, ou “raças não evoluídas”, pela “raça superior”, invocando o processo inelutável da “seleção natural”, em que o forte
domina o fraco na luta pela existência. Pregando que “a força prima sobre o direito”, eles achavam que a partilha da África
punha em relevo esse processo natural e inevitável. O que nos interessa neste caso de flagrante chauvinismo racista – já
qualificado, e com muita razão, de “albinismo” – é que ele afirma a responsabilidade das nações imperialistas.
Resta concluir que o darwinismo social, aplicado à conquista da África, é mais uma racionalização tardia que o móvel
profundo do fenômeno.

Cristianismo evangélico
O cristianismo evangélico, para o qual A origem das espécies era uma heresia diabólica, não tinha, por sua vez, o
menor escrúpulo em aceitar as implicações racistas da obra. As conotações raciais do cristianismo evangélico eram
moderadas, todavia, por uma boa dose de zelo humanitário e filantrópico sentimento muito disseminado entre os estadistas
europeus durante a conquista da África. Sustentava-se, assim, que a partilha da África se devia, em parte não desprezível, a
um impulso “missionário”, em sentido lato, e humanitário, com o objetivo de “regenerar” os povos africanos. Já se afirmou,
além disso, que foram os missionários que prepararam o terreno para a conquista imperialista na África oriental e central,
assim como em Madagáscar. No entanto, se é verdade que os missionários não se opuseram à conquista da África e que, em
certas regiões, dela participaram ativamente, esse fator, por si só, não se sustenta como uma teoria geral do imperialismo, em
razão de seu caráter limitado.
Atavismo social
Foi Joseph Schumpeter o primeiro a explicar o novo imperialismo em termos sociológicos. Para ele, o imperialismo
seria a consequência de certos elementos psicológicos imponderáveis e não de pressões econômicas. Seu raciocínio, exposto
em termos antes humanistas do que da preponderância racial europeia. Funda-se no que ele considera ser um desejo natural
do homem: dominar o próximo pelo prazer de dominá-lo. Essa pulsão agressiva inata seria comandada pelo desejo de
apropriação, próprio do ser humano.
O imperialismo seria, portanto, um egoísmo nacional coletivo: “a disposição, desprovida de objetivos, que um
Estado manifesta de expandir-se ilimitadamente pela força”. O novo imperialismo, por conseguinte, seria de caráter atávico,
quer dizer, manifestaria uma regressão aos instintos políticos e sociais primitivos do homem, que talvez se justificassem em
tempos antigos, mas certamente não no mundo moderno. Schumpeter demonstra então como, pela sua própria natureza, o
capitalismo seria “anti-imperialista” e benevolente. Dirigido por empresários inovadores, seria totalmente oposto às
motivações agressivas e imperialistas das antigas monarquias e classes de guerreiros, cujas ambições não teriam objetivos
precisos. Ao contrário destas, o capitalista teria objetivos claramente definidos e por isso seria inteiramente hostil aos
comportamentos atávicos próprios de antigos regimes. Assim, conclui Schumpeter, a explicação econômica do novo
imperialismo, baseada no desenvolvimento lógico do capitalismo, é falsa.
Por mais sedutora que seja essa tese apresenta um defeito grave: é nebulosa e a- histórica.
As teorias psicológicas, embora possam conter algumas verdades que ajudam a compreender a partilha da África,
não conseguem explicar por que essa partilha se deu num determinado momento histórico. No entanto, fornecem elementos
para explicar por que a partilha foi possível e considerada desejável.

Teorias diplomáticas
Essas teorias oferecem a explicação puramente política da partilha, e talvez a mais comumente aceita. Mas – é
interessantíssimo – fornecem suporte específico e concreto às teorias psicológicas. Permitem ver os egoísmos nacionais dos
Estados europeus, seja em conflito uns com os outros, seja agindo em acordo para se defenderem, seja ainda reagindo de
maneira decisiva contra as forças dos nacionalistas africanos radicais. Propomos, assim, tratar essas teorias abordando
sucessivamente o prestígio nacional, o equilíbrio de forças e a estratégia global.

Prestígio nacional
O principal defensor desta teoria é Carlton Hayes, que, num texto de grande lucidez, sustenta:
A França procurava uma compensação para as perdas na Europa com ganhos no ultramar. O Reino Unido aspirava
compensar seu isolamento na Europa engrandecendo e exaltando o império britânico. A Rússia, bloqueada nos Bálcãs,
voltava-se de novo para a Ásia. Quanto à Alemanha e à Itália, queriam mostrar ao mundo que tinham o direito de realçar
seu prestígio, obtido à força na Europa por façanhas imperiais em outros continentes. As potências de menor
importância, que não tinham prestígio a defender, lá conseguiram viver sem se lançarem na aventura imperialista, a não
ser Portugal e Holanda, que demonstraram renovado interesse pelos impérios que já possuíam, esta última
principalmente, administrando o seu com redobrado vigor.

Hayes conclui dizendo que, fundamentalmente, “o novo imperialismo era um fenômeno nacionalista” e que seus
defensores tinham sede ardente de prestígio nacional. Em suma, tendo consolidado e redistribuído as cartas diplomáticas no
seu continente, os dirigentes europeus eram propelidos por uma força obscura, atávica, que se exprimia por uma “reação
psicológica, um desejo ardente de manter ou de restaurar o prestígio nacional”.
Conclui Carlton Hayes, portanto, que a partilha da África não foi um fenômeno econômico.

Equilíbrio de forças
F. H. Hinsley17 sublinha, por sua vez, que o desejo de paz e de estabilidade dos Estados europeus foi a causa principal da
extraeuropeia – a era do
partilha da África. Segundo diz, a data decisiva, de verdadeira passagem para a era
imperialismo –, foi 1878. A partir daí, no congresso de Berlim, a rivalidade russo-
britânica nos Bálcãs e no Império Otomano quase levou as nações europeias a
um conflito generalizado. Mas os estadistas, voltando atrás, souberam evitar
essa crise na política de poder. Daí em diante, até a crise da Bósnia, em 1908, tal
política, banida da Europa, correu livremente na África e na Ásia. Quando os
conflitos de interesses na África ameaçaram a paz na Europa, as potências
europeias não tiveram outra escolha senão retalhar a África. Era o preço para se
salvaguardar o equilíbrio diplomático europeu, estabilizado nos anos de 1880.
1. Aponte as principais teorias que foram usadas para explicar a repartição da
África.

2. Fale sobre o que você entendeu sobre a lógica de colonização na visão de John
Atkinson Hobson.

3. É correto afirmar que a visão de Lene tinha uma visão otimista sobre o
imperialismo europeu? Justifique.

4. Fale sobre o que entendeu sobre O darwinismo social e Cristianismo


evangélico estabelecendo as diferenças e relações entre as mesmas.

5. Fale sobre o que entendeu sobre a teoria diplomática.

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