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A Revolução Russa e os tempos de desilusões

Ariovaldo Santos∗


Resumo: A Revolução Russa de 1917 representou, para o conjunto do proletariado


internacional, o primeiro grande marco do século XX. Foi ela a demonstrar,
efetivamente, a possibilidade de ruptura efetiva com a sociedade burguesa, no rastro
do que já havia sido tentado pela Comuna de Paris, em 1871. O artigo que segue
busca, à luz disto, resgatar algumas das contribuições, ensinamentos e aprendizados
fornecidos por este evento, no transcurso dos 90 anos de sua realização.

Palavras-chave: Comunismo. Marxismo. Revolução Russa. Proletariado.

“Os homens fazem a história, mas nem sempre a fazem em


condições por eles escolhidas”. Esta frase de Marx é útil para se pensar
a Revolução Russa de outubro de 1917, uma vez que ela se efetiva, com
o intuito de romper com a lógica do capital, porém, não se realiza nas
condições desejáveis por aqueles que a colocaram em movimento. Processo
complexo que implicava romper com a estrutura feudal russa, avançando
para o socialismo em direção à consolidação do comunismo, em condições
materiais de atraso das relações sociais e das forças produtivas. E, esse, não é
um fato menor quando se considera que já por ocasião dos estudos de Marx
e Engels alertavam para os limites e mesmo a impossibilidade de se construir
o comunismo partindo das situações de incipiente desenvolvimento das
forças produtivas.
Assim, segundo Marx e Engels (1974, p. 34):
Para que se converta em um poder ‘insuportável’, isto é, em
um poder contra o qual há que fazer a revolução, é necessário
que engendre uma massa da humanidade como absolutamente
‘despossuída’ e, paralelamente a isto, em contradição com um
mundo de riquezas e de educação, o que pressupõe, em ambos
os casos, um grande incremento da força produtiva, um alto grau
de seu desenvolvimento; e, de outra parte, este desenvolvimento
das forças produtivas (que implica já, ao mesmo tempo, uma
existência empírica dada em um plano histórico-universal, e não
na existência puramente local dos homens) constitui também
uma premissa prática absolutamente necessária, porque sem


Professor de Sociologia do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de
Londrina. End. Eletrônico: arioliveira2001@yahoo.com.br.

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ela só se generalizaria a escassez e, portanto, com a pobreza,
começaria de novo, paralelamente, a luta pelo indispensável e se
recairia necessariamente em toda a porcaria anterior.
Mais ainda, havia os limites de construção do socialismo/comunismo
a partir de uma situação de isolamento. Conforme já assinalado por Engels
no texto Princípios do Comunismo e retomado posteriormente em A Ideologia
Alemã, havia a necessidade, dada a complexidade crescente da produção,
de que o processo revolucionário ocorresse envolvendo outras nações na
mesma processualidade, de modo a construir, também, um cinturão de
resistência aos contra-ataques do capital. Politicamente, haveria resistência
da burguesia organizada. Economicamente e socialmente, seria impraticável,
em um único território, obter as matérias-primas necessárias e desenvolver,
isoladamente, as condições necessárias à produção de valores de uso, rompida
a lógica da acumulação, pautada pela produção de valores de troca.
As notas de Marx e Engels não podem ser desconsideradas quando
se pretende pensar as razões pelas quais a Revolução Russa de 1917 não
resultou na efetivação da sociedade emancipada, ou, mais precisamente,
na realização de uma sociedade sem classes. Enfim, se é um fato que a
revolução foi colocada em marcha, também o é que ela jamais transitou para
além da dimensão meramente política, ficando travada a sua transformação
em revolução social.
Certamente, é preciso reconhecer a importância dos esforços para
a superação da sociedade de classes presentes nos objetivos da Revolução
Russa de 1917. Entretanto, mais do que assinalar as suas positividades, sempre
importantes, é igualmente preciso reconhecer os seus limites e debilidades,
sem o que se avança facilmente para o ufanismo estéril. Por outras palavras,
a Revolução de outubro de 1917 teve suas positividades, dentre as quais
é possível destacar os intentos de construção de um projeto distinto de
sociedade, ancorado na superação das classes e da propriedade privada.
Entretanto, como negligenciar que ela não logrou atingir seus objetivos,
pagando um alto preço às condições concretas nas quais se realizou?
Assim, 90 anos depois, é exigência se debruçar sobre os limites vividos
por aquela revolução, que, como todo processo de tal magnitude, jamais
está dado com anterioridade ao próprio movimento histórico. Lembre-se
a este respeito, as sábias palavras de Lênin, às vésperas da Revolução de
Outubro, onde afirma:

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Toda Revolução significa uma brusca virada na vida das massas
populares. Se esta virada não amadureceu, é impossível uma
verdadeira revolução. E da mesma maneira que toda virada na
vida de um indivíduo o ensina e o faz conhecer e sentir muitas
coisas, a revolução brinda ao povo inteiro, em pouco tempo,
com os mais profundos e preciosos ensinamentos [...] Durante
a revolução, milhões e milhões de homens aprendem em uma
semana mais do que em um ano de vida rotineira e monótona.
Pois em uma brusca virada da vida de todo um povo se vê com
especial clareza que fins perseguem as diferentes classes sociais,
de que forças dispõem e com que meios atuam [...] Todo operário,
soldado e camponês consciente deve meditar atentamente nos
ensinamentos da Revolução Russa; sobretudo hoje, em fins de
julho, quando se vê já claramente que a primeira fase de nossa
revolução terminou em um fracasso (LÊNIN, 1979, p. 59).
Disto resulta que, fazer a revolução é mais do que armar o proletariado.
Implica, ao mesmo tempo, compreender as transformações e permanências
que acompanham o processo, realizar a autocrítica permanente, tarefa
indispensável ao militante, como em inúmeras vezes ressaltaram os clássicos
do marxismo e os próprios Marx e Engels, reconhecendo-se os avanços
sem negligenciar a identificação dos fracassos e erros.
E, provavelmente, residem aí, os dois primeiros grandes
ensinamentos da Revolução de Outubro de 1917. Primeiro, demonstrar
que é possível mobilizar esforços no sentido de superação da sociedade
burguesa e das revoluções meramente políticas, ou seja, aquelas que deixam
em pé a estrutura de classes em vez de a superarem. Em segundo lugar, isto
só é possível de ser efetivado caso se acompanhe atentamente a realidade
em movimento, a totalidade concreta, as determinações conjunturais e
estruturais.
Efetivamente, nas condições concretas em que se realizou, as
dificuldades para que a Revolução de 1917 atingisse seus objetivos primeiros
foram se avolumando. Lembre-se, a respeito, as críticas constantes de Lênin
à Inspeção Operária e Camponesa, presente em seus últimos escritos.
Paralelamente, Lênin assinala para o crescimento desmedido da burocracia
soviética, levando ao fortalecimento do aparelho estatal em vez de conduzir
à sua dissolução. Em um primeiro momento registra os limites do aparelho
de Estado soviético:
Nosso aparelho estatal, exceto o Comissariado do Povo para
Relações Exteriores, representa em sua maior parte uma

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sobrevivência do antigo aparelho, que apenas em grau mínimo foi
modificado de forma mais ou menos séria. Foi apenas retocado
ligeiramente em seu aspecto exterior, mas nos demais aspectos
conserva tudo que caracterizava nosso antigo aparelho de Estado.
Creio que, para encontrar os métodos de renová-lo de modo
efetivo, será necessário recorrer à experiência da guerra civil [...]
Concentrarmos as melhores forças do partido, [mobilizarmos]
nossos melhores operários [e buscarmos] novas forças nas raízes
mais profundas de nossa ditadura [do proletariado] (LÊNIN,
1979, p. 08).
E ainda:
Estamos seguros de que nosso aparelho [...] sofre numerosos
defeitos, [...] é duas vezes maior que o necessário, [e] muito
freqüentemente trabalha não para , mas contra nós [...] Passar-
se-ão anos antes que consigamos aperfeiçoar nosso aparelho
estatal e elevá-lo a um nível cultural superior, e não no que se
refere a indivíduos isolados, mas em sua totalidade (LÊNIN,
1979, pp. 12-13).
As notas no mesmo sentido poderiam ser multiplicadas. No entanto,
as referências de Lênin, anteriormente assinaladas, são suficientes, nos
limites deste artigo, para evidenciar os problemas que, já naquele momento,
despontavam e exigiam esforços redobrados no sentido de sua solução.
Explicitam ainda, as referidas notas, elementos que nos ajudam a combater
as formas ideológicas de argumentos presentes, por exemplo, em Alain Bihr
(2001) e John Halloway (2003), que imputam à leitura leniniana a presença
de um permanente fetichismo do Estado.
Algumas interpretações fornecidas pelo pensamento universitário
reforçam, por sua vez, a necessidade de se retomar a Revolução Russa
como tema de debate. Enraizou-se a crença de que todo projeto que busca
eliminar as diferenças de classe entre os homens tende a desembocar em
tirania. Esta leitura é reforçada pelo desmoronamento dos regimes do Leste
Europeu, falsamente identificados com o espírito da Revolução Russa.
Com o esgotamento dos modelos propostos pelos países sob influência
da ex-União Soviética, se fortaleceu a ideologia do fim da história e o
desencantamento intenso nas fileiras dos militantes socialistas e comunistas.
Não foram poucas, nos últimos anos, as produções teóricas exigindo um
socialismo com democracia, como se, em seu conteúdo original, alguma vez
se tenha proposto um sem o outro.

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Mesmo as palavras comunismo e comunista perderam seu conteúdo
original. Em suas origens no campo do pensamento de esquerda, comunismo
remetia à efetivação de um determinado modo de produção, no qual os
homens seriam livres organizadores das suas forças produtivas. Assim como
a história dos homens foi marcada por diversos modos de produção (asiático,
feudal, capitalista), o comunismo representaria a superação de todas as
formas anteriores, uma vez que, além de restabelecer o controle social sobre
a produção, ergueria, também, uma organização social que prescindiria da
divisão dos homens, dispostos em classes sociais antagônicas.
Sobre isso não restam dúvidas quando se consulta os textos de
Marx e Engels, sendo suficiente, para os objetivos deste pequeno trabalho,
assinalar uma significativa passagem contida em A Ideologia Alemã, onde os
dois pensadores afirmam:
O comunismo se distingue de todos os movimentos anteriores
em que cai por terra a base de todas as relações de produção e
de tratamento que até agora existiram e pela primeira vez aborda
de um modo consciente todas as premissas naturais como
criação dos homens anteriores, despojando-as de seu caráter
natural e submetendo-as ao poder dos indivíduos associados.
Sua instituição é, portanto, essencialmente econômica, a das
condições materiais desta associação. O existente, o que cria o
comunismo, é precisamente a base real para tornar impossível
tudo que existe independentemente dos indivíduos, enquanto este
algo existente não é, no entanto, outra coisa que um produto da
relação anterior dos próprios indivíduos. Os comunistas tratam,
portanto, praticamente, as condições criadas pela produção e
a relação anteriores como condições inorgânicas, sem chegar
sequer a imaginar-se que as gerações anteriores se propuseram
ou pensaram administrar-lhes materiais e sem crer que estas
condições fossem inorgânicas para os indivíduos que as criavam
(MARX; ENGELS, 1974, p. 68).
A esta leitura originária passou-se a outra, de caráter puramente
ideológico, onde o comunismo, de modo de produção se transformou em
regime político totalitário. Conversão para a qual contribuiu, de maneira
direta, a instauração dos regimes do Leste Europeu, os quais preservaram
o Estado, mantiveram um corpo burocrático sólido e silenciaram vozes
com seus respectivos gullags. Desse modo, interiorizou-se a compreensão,
inclusive nas fileiras do proletariado, de que comunismo era sinônimo de
regimes políticos despóticos, onde os indivíduos eram privados de suas

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liberdades básicas, tais como direito de ir e vir. Por desdobramento, comunista
passou a ser identificado como o partidário da referida opressão e atentado
aos direitos básicos de cada um.
Transformado pelo pensamento liberal e conservador em sinônimo
de regime político despótico, comunismo passou a representar, ao mesmo
tempo, a alternativa da qual seria necessário escapar caso se quisesse
preservar o indivíduo e sua individualidade. Assim, melhor seria ter a pior
democracia burguesa do que o melhor comunismo. E, ainda, a melhor
postura consistiria em defender a democracia burguesa, pois esta era real, em
contraposição ao “socialismo real”, ancorado em uma utópica, irrealizável
e imaginária possibilidade de se construir uma sociedade sem senhores ou
dominantes e dominados. Em síntese, segundo estas leituras, que jamais
foram suficientemente rebatidas de modo orgânico pelos defensores da
sociedade comunista nas bases em que a pensaram Marx, Engels e o próprio
Lênin, para nos restringirmos a estes pensadores, apostar na utopia comunista,
que seria a sociedade dos homens verdadeiramente livres e capazes de
gerirem a vida social sem a necessidade de uma classe dominante mediando
a produção e reprodução da vida cotidiana, seria inútil, pois o resultado
desastroso da experiência já estaria dado com antecedência.
A Revolução Russa de 1917 deve ser retomada, ainda, como tema
de debate, por outro legado importante que ela nos deixa, através de Lênin,
e freqüentemente desconsiderado por aqueles que se declaram de esquerda.
Trata-se da importância da teoria para pensar o mundo.
Confrontado aos inúmeros problemas vivenciados pela Revolução,
Lênin escreve em Mais Vale Pouco Porém Bom:
Nosso aparelho estatal encontra-se em estado tão penoso, para não
dizer detestável, que primeiro devemos refletir profundamente
sobre a maneira de lutar contra suas deficiências, e recordar que
estas vêm do passado; que o passado, a despeito de haver sido
subvertido, não desapareceu por completo, não pertence a uma
cultura antiga e superada [...] O mais prejudicial neste caso seria
apressar-se; crer que sabemos algo, ainda que seja pouco; ou
pensar que dispomos de um número mais ou menos considerável
de elementos para organizar um aparelho realmente novo, que em
verdade mereça o nome de socialista, de soviético, etc [...]. Não,
não existe tal aparelho, e inclusive o número de elementos que
o forma é irrisório de tão reduzido, e devemos ter presente que
para criá-lo não se pode regatear tempo, que requer muitos anos

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[...] De que elementos dispomos para criar este aparelho? Apenas
de dois. Em primeiro lugar, os operários, entusiasmados com a
luta pelo socialismo, mas não têm instrução suficiente [...] não
alcançaram nem o desenvolvimento nem a cultura necessários.
O que nos falta é precisamente cultura [...] Em segundo lugar,
os elementos que formam nossos conhecimentos, educação e
instrução são ridículos de tão escasso, se os comparamos com
os demais Estados [...] Para renovar nosso aparelho estatal é
indispensável que nos proponhamos: primeiro, estudar; segundo,
estudar; terceiro, estudar; depois, comprovar que a ciência não
fica reduzida à letra morta ou a uma frase da moda (coisa que,
não há porque ocultá-lo, ocorre com demasiada freqüência entre
nós) mas convertê-la, de fato, em nossa carne e nosso sangue, que
chegue a ser plena e verdadeiramente um elemento integrante da
vida diária (LÊNIN, 1979, pp. 16-17).
Certamente, os elementos anteriormente colocados não esgotam
as possibilidades de avaliação sobre as positividades e limites da Revolução
Russa de 1917. Buscou-se aqui, apenas, destacar alguns problemas para a
reflexão, uma vez que se abandonou de modo intenso, nas últimas décadas,
a necessidade do rigor analítico e teórico, ao mesmo tempo em que se
colocaram aos clássicos em enésimo plano enquanto referências necessárias
de leituras. Como desdobramento, muitos equívocos foram colocados e
assumidos, por desconhecimento, como a melhor solução a determinados
problemas ou à sua apreensão crítica. Observe-se, por exemplo, o grande
culto às ações espontâneas conduzidas pelos “movimentos sociais” e o total
esquecimento das críticas que Marx, Engels e os clássicos do marxismo
realizavam em relação a elas. De igual modo verifica-se o culto à empiria,
condenado pelos antecessores que são retomados como referenciais para as
lutas dos movimentos atuais.
Trata-se, seguramente, aqui, de pequena contribuição a um vasto
debate, o qual seguramente prosseguirá na medida em que se intensificam as
amarras do capital, aprisionando a sociabilidade moderna em caminhos que
comprometem, cada vez mais, a efetivação de relações sociais verdadeiramente
ricas do prisma da humanidade genérica ou da omnilateralidade na qual,
como acentuava Marx, o tempo livre seria o espaço de criação e fluição do
ser social.

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Referências
BIHR, A. Da Grande Noite à Alternativa. São Paulo: Boitempo, 2001.
HOLLOWAY, J. Mudar o Mundo Sem Tomar o Poder. São Paulo: Viramundo,
2003.
LÊNIN, V. I. Últimos Escritos (Testamento Político) & Diário das Secretárias. Belo
Horizonte: Aldeia Global, 1979.
MARX, K.; ENGELS, F. “La Ideologia Alemana” In: ______. Obras
Escogidas. Tomo I. Moscú: Progreso, 1974.

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