Sei sulla pagina 1di 149

Física Experimental

Básica na Universidade

Agostinho Aurélio Campos


Elmo Salomão Alves
Nivaldo Lúcio Speziali
Física
Experimental
Básica
na Universidade

Agostinho Aurélio Campos


Elmo Salomão Alves
Nivaldo Lúcio Speziali

Departamento de Física
Universidade Federal de Minas Gerais

Edição Junho/2018

Belo Horizonte, MG, Brasil

1
© 2018, Os Autores

Esse livro não pode ser comercializado sob qualquer forma sem autorização escrita de todos os Autores.

Capa: SplashArt Purple Square by Joe Dyer (2012) https://www.flickr.com/photos/69294818@N07/8192652547/


Attribution (http://creativecommons.or/licenses/by/2.0/)
Photo Attribution by PhotosForClass.com

2
Sumário

Apresentação ................................................................................................................................ 5
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA ........................................................................... 6
Avaliação e expressão de medições e de suas incertezas ............................................................. 7
Apresentação de tabelas e gráficos ............................................................................................. 16
Ajuste de uma curva aos dados experimentais ........................................................................... 17
EXPERIMENTOS DE MECÂNICA ................................................................................................ 20
Movimento retilíneo com aceleração constante ......................................................................... 21
Movimento de um projétil .......................................................................................................... 24
Forças impulsivas ....................................................................................................................... 28
Propriedades elásticas de sólidos................................................................................................ 31
Constante elástica de molas ........................................................................................................ 33
Deformação elástica de uma haste: constante de flexão e módulo de flexão ............................ 35
Movimento harmônico simples: sistema massa-mola ................................................................ 39
Momento de inércia: movimentos combinados de translação e de rotação .............................. 43
Colisão inelástica ........................................................................................................................ 49
Densidade de um líquido ............................................................................................................ 51
Pêndulo de torção ....................................................................................................................... 53
Força de atrito estático................................................................................................................ 56
Deformação inelástica e processo irreversível ........................................................................... 58
Tensão superficial....................................................................................................................... 61
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA ................................................................................... 66
Calor específico da água ............................................................................................................. 67
Determinação da capacidade térmica de um calorímetro ........................................................... 69
Gases ideais ................................................................................................................................ 71
Calibração de um termopar ........................................................................................................ 74
Calor específico de um gás: determinação de  pelo método de clément-desormes ................. 78
Calor específico de um gás: determinação de  pelo método de rüchhardt .............................. 81
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO ........................................................................... 84
Elemento resistivo linear ............................................................................................................ 85
Resistividade elétrica .................................................................................................................. 88
Resistência interna de um voltímetro ......................................................................................... 90
Análise de circuitos elétricos: regras de kirchhoff ..................................................................... 92
Campo magnético da terra .......................................................................................................... 94
Circuito rc ................................................................................................................................... 97
Campo magnético no centro de uma bobina ............................................................................ 100

3
Lei de indução de faraday......................................................................................................... 103
Diodo semicondutor ................................................................................................................. 106
EXPERIMENTOS DE ONDAS ...................................................................................................... 111
Ondas estacionárias em um meio sólido .................................................................................. 112
Ondas estacionárias em um tubo .............................................................................................. 116
Velocidade do som em metais .................................................................................................. 120
EXPERIMENTOS DE ÓTICA........................................................................................................ 124
Interferência e difração da luz .................................................................................................. 125
Interferômetro de michelson..................................................................................................... 131
Lentes e espelhos ...................................................................................................................... 135
Polarização da luz ..................................................................................................................... 139
APÊNDICES.................................................................................................................................... 143
Redação de um relatório ........................................................................................................... 144
Valores de grandezas e constantes físicas ................................................................................ 146
Código de cores para valores de resistências ........................................................................... 147
Valor eficaz de tensões e correntes .......................................................................................... 148

4
APRESENTAÇÃO

Embora haja muitos livros de autores nacionais e estrangeiros para o acompanhamento de


disciplinas teóricas e conceituais de física básica em nível universitário, o mesmo não se pode dizer
sobre textos para disciplinas de laboratório de física. Por isso, é comum que em cada instituição de
ensino sejam produzidos textos próprios, geralmente em forma de apostilas, para atender às
necessidades das disciplinas experimentais ofertadas em uma determinada época.
Esse livro tem como base um conjunto de roteiros que vinham sendo elaborados, aprimorados há
vários anos por alguns professores do Departamento de Física da Universidade Federal de Minas
Gerais, entre os quais, os autores dessa obra. Esses textos tiveram seus conteúdos, figuras e formato
modificados, adaptados e atualizados pelos autores. Deve-se registrar, também, a participação de
monitores de graduação que contribuíram para a viabilização de vários dos experimentos propostos
nesse livro.
Em todos os experimentos, considera-se que o estudante tenha domínio dos conceitos de Física
no nível do Ensino Médio. Nos experimentos mais complexos, exige-se algum conhecimento de
Cálculo, mas, ainda assim, procura-se usar um formalismo matemático tão simplificado quanto
possível.
Esse livro apresenta um texto introdutório em que são apresentadas para o estudante informações
básicas sobre medições, avaliação de incertezas, construção e análise de gráficos, para que ele possa
apresentar os resultados na forma de relatórios com um mínimo de qualidade e rigor científico.
Os experimentos propostos estão agrupados em quatro temas: Mecânica, Termodinâmica,
Eletromagnetismo e Ondas e Óptica. Procura-se, em todos os roteiros, apresentar textos auto
consistentes de forma que os experimentos possam ser feitos mesmo por estudantes que não tenham
visto o conteúdo em uma disciplina teórica. Em algum experimento em que um formalismo mais
detalhado foi considerado mais interessante para o aluno, o conteúdo correspondente foi colocado em
um Apêndice ou indicado em uma referência bibliográfica. Dessa forma, os experimentos podem ser
realizados sem os pré-requisitos de disciplinas teóricas de conteúdo correspondente. Embora aulas
expositivas e de laboratório sejam complementares no processo de aprendizagem de um tema, a
exposição teórica não precisa, necessariamente, preceder a atividade prática. Se, por um lado, uma
exposição teórica prévia prepara o aluno para melhor compreender o conteúdo abordado em um
experimento, por outro, a realização do experimento antes da abordagem do conteúdo em uma aula
expositiva ressalta os aspectos fenomenológicos e prepara o aluno para o seu estudo formal ao
envolvê-lo com a aplicação das leis físicas relacionadas.
A primeira edição desse livro foi impressa e publicada pela Editora UFMG, em 2007, e a segunda
edição revisada, em 2009. Depois de 2014, ele passou a ser divulgado como um e-book, na internet.

Belo Horizonte, Junho de 2018

Os Autores

5
I N T R O D U Ç Ã O A O

L A B O R A T Ó R I O D E

F Í S I C A

6
AVALIAÇÃO E EXPRESSÃO DE MEDIÇÕES E DE SUAS INCERTEZAS

INTRODUÇÃO

A Física – assim como todas as outras ciências – é baseada em observações qualitativas e


quantitativas e resultados das observações experimentais e das medições são a base para formulação
ou para a comprovação de teorias. São as medições realizadas em um experimento que indicam se
uma teoria é satisfatória ou não e se ela deve ser reformulada. Portanto, medições precisas são
fundamentais para o estabelecimento das leis da Física.
Medir é um procedimento experimental em que o valor de uma grandeza é determinado em termos
do valor de uma unidade que foi estabelecida por meio de um padrão. O resultado desse procedimento
– a medida da grandeza – deve conter as seguintes informações: o valor da grandeza, a incerteza
da medição e a unidade. Além disso, para que qualquer indivíduo saiba avaliar a qualidade e
reproduzir uma medição, é importante qualificar a incerteza que foi indicada, bem como descrever
como foi feita a medição. No Brasil, o sistema legal de unidades é o Sistema Internacional, ou SI (ver
Apêndice A), e as regras para a expressão dos resultados e das incertezas nas medições são definidas
pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e pelo INMETRO (Instituto Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Neste texto, é apresentado um resumo dessa
terminologia, adaptada para ser utilizada em um laboratório de ensino.

RESULTADO E INCERTEZA DE UMA MEDIÇÃO


Não se pode medir uma grandeza física com precisão absoluta, ou seja, toda medição está sujeita
a incertezas intrínsecas que podem ser devidas ao processo de medição, aos equipamentos utilizados,
à influência de variáveis que não estão sendo medidas e, também, ao operador. É importante expressar
o resultado de uma medição de forma que outras pessoas o entendam e saibam com que precisão o
resultado foi obtido; ou seja, é importante dar uma indicação quantitativa da qualidade do resultado.
Considere-se, por exemplo, a situação em que um grupo de alunos deseja determinar o valor da
aceleração da gravidade g, medindo o tempo de queda de um objeto, de uma altura h = 20,0m. Em
uma primeira etapa, cada aluno usou um cronômetro digital, com precisão de 0,01s, que ele próprio
acionava no início, ao largar o objeto, e no final, quando o objeto tocar o chão. Eles repetem esse
procedimento muitas vezes, independentemente uns dos outros, e verificam que os valores obtidos,
em cada medição, diferem entre si. Na Figura 1, apresenta-se a distribuição dos resultados dessas
medições. Nessa distribuição, o valor obtido em cada medição está representado na abscissa e cada
barra vertical representa o número de vezes que esse valor foi encontrado (esse número é, de fato,
uma média entre o número de valores em cada intervalo de tempo considerado no eixo das abscissas;
por isto ele não é inteiro). A variação nos valores obtidos para a medida de uma grandeza é intrínseca
ao processo experimental e pode depender de vários fatores.
No exemplo dado, a variação nos valores medidos depende de como cada aluno marca o início e
final do movimento de queda do objeto e da variação na posição inicial em que o objeto foi solto.
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

Pode-se observar que os resultados das medições estão distribuídos em torno de ~2,02 s e que eles
variam, aproximadamente, de 1,90 s a 2,10 s. Observa-se também que há um grande número de
resultados de medidas próximos ao do valor de maior incidência e que valores mais afastados são
menos frequentes. Sempre que se efetua uma série de medições de uma grandeza, as medidas
apresentam essas características. Isso é inerente ao processo de medição.

Figura 1. Distribuição dos resultados das medições Figura 2. Distribuição dos resultados das medições
do tempo de queda de um objeto. do tempo realizadas com um sensor de final da queda
do objeto.

Em uma segunda etapa, os alunos modificaram o procedimento de medição do tempo de queda e


utilizaram um dispositivo que inicia automaticamente a medição do tempo no momento em que o
objeto é solto e a interrompe quando o objeto atinge um sensor sobre o solo. Com esse sistema, a
precisão das medidas melhora significativamente. Os resultados dessas medidas estão mostrados na
Figura 2, onde se observa uma dispersão bem menor dos valores obtidos. Os alunos poderiam afirmar
que, com esse processo de medição, o tempo de queda está entre 1,97 s e 2,03 s.
Em ambos os casos, é razoável afirmar que o valor médio do tempo de queda é o valor de maior
incidência, ou seja, 2,02 s pois em ambas as figuras os resultados estão distribuídos de maneira
simétrica em torno desse valor. Claramente, há uma menor dispersão dos valores no segundo caso e
isso reflete uma melhor precisão devido à forma como a medição foi efetuada.
O parâmetro associado ao resultado da medição de uma grandeza que caracteriza a dispersão dos
valores obtidos é chamado de incerteza da medição. Esse parâmetro informa o intervalo de valores
que poderiam ser atribuídos à grandeza em questão dentro de uma margem de confiança.
Os critérios e métodos de avaliação e expressão de incertezas em medições são estabelecidos
internacionalmente sob coordenação do International Committee for Weights and Measures (CIPM)
do Bureau International des Poids et Mesures (BIPM)1. No Brasil, isso é estabelecido pelo o
INMETRO, que traduziu o documento produzido pelo BIPM, Évaluation des données de mesure –
Guide pour l’expression de l’incertitude de mesure – GUM 2. O GUM trata o problema de incertezas

1
Ver www.bipm.org/en/committees/cipm/.
2
Guia para Expressão da Incerteza de Medição, 3ª Ed. Brasileira, ABNT, INMETRO, Rio de Janeiro, 2003,
www.inmetro.gov.br/inovacao/publicacoes/gum_final.pdf.

8
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

de uma maneira bastante rigorosa e completa e é um documento de grande importância para


laboratórios de metrologia. O rigor descrito no GUM deve ser respeitado sempre que for necessário
preencher uma ou mais das condições seguintes:
 manter o controle da qualidade e a garantia da qualidade na produção;
 respeitar e fazer cumprir leis e regulamentos;
 conduzir pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento na ciência e na engenharia;
 calibrar padrões e instrumentos e executar ensaios no contexto de um sistema nacional de
medição de forma a obter rastreabilidade a padrões nacionais;
 desenvolver, manter e comparar padrões físicos de referência, nacionais e internacionais,
incluindo materiais de referência.

Dependendo do método utilizado para expressar o valor da incerteza de uma medição, ela pode
ser qualificada, de maneira resumida, em duas categorias:
Incerteza tipo A: a incerteza é avaliada por meio de uma análise estatística de muitas medidas;
Incerteza tipo B: a incerteza é avaliada por meio de métodos não estatísticos, quando não se
dispõe de observações repetidas.
Avaliação da Incerteza tipo A
Nessa avaliação, a incerteza é calculada com base em um grande número de valores obtidos em
medições de uma mesma grandeza. Considere que uma medição foi repetida n vezes, nas mesmas
condições, obtendo-se os valores x1, x2, ... xn. Nesse caso, estabelece-se que a melhor estimativa para
a medida é dada pela média aritmética x dos valores obtidos, ou seja,
1 n
x   xi
n i 1 ,

e a incerteza padrão da medição é definida como o desvio padrão u da média das medidas, dado por
1
 1 n
 2

  xi  x 
2
u 
 n(n  1) i 1  .

Exemplo 1
Considere que um aluno fez um conjunto
de 8 medições do tempo t de queda de um medida ti (s) |ti - <t>| (s)
objeto. Os valores obtidos estão mostrados na 1 2,06 0,0425
2 1,96 0,0575
tabela bem como o valor da média do tempo e
3 2,00 0,0175
a média do valor absoluto da diferença entre 4 2,03 0,0125
cada medida e a média. 5 2,05 0,0325
6 2,04 0,0225
7 1,99 0,0275
8 2,01 0,0075
média 2,0175 0,0275
O valor médio t é a média aritmética dos valores observados

9
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

1 n 1
t   ti  8 2,06 + 1,96 + 2,00 + 2,03 + 2,05 + 2,04 + 1,99 + 2,01 = 2,0175 s
n i 1

A incerteza u(t) no tempo de queda é igual ao desvio padrão da média,


1
 1 n 2
 2

u   ti    0, 01191 s


 n(n  1) i 1 

Portanto, o valor do tempo de queda do objeto deve ser escrito como 3

t = (2,02 ± 0,01) s.

Avaliação da Incerteza Tipo B


Quando o número de medições realizadas é pequeno e, portanto, não é possível se estimar a
incerteza com base em um cálculo estatístico, a determinação da incerteza deve ser feita assumindo
uma distribuição de valores possíveis com base em todo conhecimento e informações que possam
contribuir para avaliar a variação da quantidade medida. Assim, para a estimativa da incerteza, uma
pessoa pode usar dados de medições anteriores, o conhecimento sobre os instrumentos e materiais
utilizados, as especificações do fabricante e os dados de calibração dos instrumentos. Portanto, essa
avaliação tem uma certa subjetividade. Em alguns casos, essas informações podem permitir ao
operador inferir uma distribuição aproximada para as medidas, cujo desvio padrão aproximado deve
ser usado como uma estimativa para a incerteza padrão da medição.

Exemplo 2
Considere que um objeto de massa m foi colocado sobre uma balança que apresentou uma leitura
de 93 g. A única informação disponível sobre a balança era “erro máximo = 4g”.
Nessa situação, o resultado da medição da massa do objeto pode ser
m = (93 ± 4)g .

Há casos em que a única informação que se tem sobre a medição de uma grandeza x é que o seu
valor se situa entre os limites x e x+. Nesse caso, é aceitável supor que x pode assumir qualquer
valor dentro desse intervalo com igual probabilidade, ou seja, a chance de se medir o valor de x no
intervalo entre x– e x+ é um e será zero fora desse intervalo, que corresponde a uma distribuição
retangular.
Em casos como este, o valor mais provável da grandeza x é a média das medidas e a incerteza
pode ser o desvio padrão dessa distribuição retangular, dados respectivamente por
x  x x  x
x e u
2 2 3

3
Conforme detalhado posteriormente, a incerteza deve ser escrita com apenas um algarismo significativo e ela
determina o número de algarismos da medida.

10
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

Exemplo 3
Na Figura 3, está mostrado um voltímetro analógico
usado para medir uma tensão elétrica. Devido a flutuações
na tensão, observa-se que o ponteiro do aparelho oscila,
aproximadamente, entre V = 12,5V e V+ = 14,0V. Usando-
se esses valores como limites para uma avaliação da
incerteza Tipo B, obtém-se
V  V
V   13,25 V, e
2
V  V
u  0, 43V
2 3 Figura 3. Voltímetro analógico durante a
medição de uma tensão elétrica.
Assim, o resultado da medição dessa tensão é (13,3  0,4)V.

Exemplo 4
Na Figura 4, está mostrado um
osciloscópio sendo usado para medir a tensão
elétrica em um indutor. Devido a ruídos no
circuito, a amplitude do sinal registrado não é
estável. Observando-se o sinal na tela, pode-se
estimar que a tensão pico-a-pico está entre
4,3 divisões e 5,5 divisões (cada divisão vale
0,1 V). Usando-se esses valores como limites
para uma avaliação da incerteza Tipo B
obtém-se

5,5  4,3 0,1V Figura 4. Sinal observado na tela de um osciloscópio.


V   0, 49 V
2 divisão Devido a ruídos, a tensão pico a pico do sinal oscila entre
e os limites indicados pelas barras brancas.

5,5  4,3 0,1V


u   0, 035 V
2 3 divisão

Portanto, o resultado da medição dessa tensão


pico-a-pico é de (0,49  0,04) V.

Como escrever o resultado de uma medição


Em toda medição é importante se expressar o resultado com o número correto de algarismos
significativos. Inicialmente, é preciso lembrar as seguintes regras sobre algarismos significativos:
 os algarismos zeros escritos à esquerda do primeiro algarismo não nulo não são significativos.
Exemplo: 0,0034 m = 3,4 mm. Em cada uma dessas medidas há apenas dois algarismos
significativos (3 e 4).

11
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

 todo algarismo zero escrito à direita de um algarismo não nulo é significativo.


Exemplo: 0,003400 m = 3,400 mm. Em cada uma dessas medidas há quatro algarismos
significativos (3 e 4 e os dois últimos zeros).
 quando utilizada em uma medida, a potência de 10 não altera o número de algarismos
significativos.
Exemplo: 0,0034 m = 3,4 mm = 3,4103 m = 3,4103 µm
Em cada uma dessas medidas há apenas dois algarismos significativos (3 e 4).

Para se apresentar corretamente o resultado de uma medição devem ser observadas estas três
regras:
 A incerteza deve ser arredondada de forma a ter apenas um algarismo significativo.
 A incerteza incide sobre o último algarismo significativo da medida, ou seja, é a incerteza que
determina o número de algarismos significativos de uma medida.
 O resultado de uma medição deve ser escrito na forma (veja outras formas no exemplo que
segue):
(valor da grandeza  incerteza da medição) [unidade]
No Exemplo 1, depois de realizadas as várias medições, obteve-se o tempo médio de queda do
objeto de 2,0175 s com um desvio padrão da média de 0,0275 s. A incerteza é obtida arredondando-
se o desvio padrão para ficar com um algarismo significativo, ou seja, u = 0,03 s. Como essa incerteza
incide sobre o segundo algarismo após a vírgula da medida, esta deve ser arredondada e truncada
nesta casa. Portanto, o resultado dessa medição deve ser apresentado em uma dessas formas:
t = (2,02  0,03) s
t = 2,02 (3) s
t = 2,02 (0,03) s

Seria INCORRETO expressar esse resultado em qualquer das formas seguintes.

(2,0175  0,03) s Como a incerteza é de 0,03 s, não faz sentido


indicar o resultado com precisão maior que
esse valor, ou seja, os algarismos 7 e 5 não são
significativos e não devem ser escritos.

(2  0,03) s A incerteza deve incidir sobre o último


algarismo significativo, portanto, faltam dois
algarismos significativos no resultado, ou seja
(2,02 ± 0,03) s.

(2,0175  0,0275 ) s A incerteza deve ter apenas um algarismo


significativo, portanto deve ser arredondada
para 0,03 s.

12
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

É importante observar que o número de algarismos significativos no resultado é determinado


apenas pela incerteza, e não pelo instrumento utilizado. A incerteza é inerente ao processo de
medição. Por exemplo, se forem feitas muitas medições do diâmetro de uma moeda utilizando-se
uma régua milimetrada, obtém-se, facilmente, uma incerteza da ordem de décimos de milímetros. No
entanto, utilizando-se essa mesma régua milimetrada para se medir o comprimento de um automóvel,
com certeza não se obterá uma incerteza da mesma ordem (a incerteza poderá ser de até um
centímetro).
O resultado final de uma medição deve ter sempre um número de algarismos significativos
consistentes com a incerteza. No entanto, para se evitar erros de arredondamento, todos os cálculos
intermediários – cálculos da média, desvio padrão, etc. – devem ser feitos com todos os algarismos
disponíveis.

Propagação de incertezas
Nem sempre é possível se fazer a medição direta de uma grandeza. Muitas vezes, o valor da
grandeza deve ser determinado por meio de medições de outras grandezas relacionadas com ela.
Nesse caso, em que a medição é indireta, a incerteza o valor a ser determinado depende das incertezas
de todas as medições feitas. Esse cálculo é conhecido como propagação de incertezas.
Considere uma grandeza Y, que não pode ser medida diretamente, mas que é uma função f de N
outras grandezas X1, X2, ... XN , ou seja,
Y  f ( X 1 , X 2 , , X N ) .

Se resultados das medições de X1, X2, ... XN forem iguais a x1  u(x1), x2  u(x2), ... xn  u(xN), então o
resultado y da medição da grandeza Y depende de todas essas medições, ou seja,
y  f ( x1 , x2 , , xN ) .

A incerteza padrão da medição de uma grandeza obtida por meio de uma medição indireta é
chamada de incerteza padrão combinada uc, e é dada por
2
N
 f  2
u ( y)   
2
c  u ( xi )
i 1  xi 
,

ou seja, a incerteza padrão combinada4 da grandeza y é igual à raiz quadrada da soma dos
2
 f 
quadrados das incertezas das medições das outras grandezas, ponderadas pelo termo   . Esse
 xi 
termo avalia o quanto o resultado da medição varia com a mudança em cada grandeza xi.
Observação: a equação anterior é válida apenas para o caso em que todas as grandezas de entrada (xi)
sejam independentes umas das outras. Para efeito de simplificação, o caso em que elas são
correlacionadas não será tratado aqui.

4
Esse cálculo para a incerteza padrão combinada é válido apenas se todas as grandezas xi forem independentes umas
das outras. O caso, mais complexo, em que elas são correlacionadas não será tratado neste texto.

13
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

Exemplo 5
Deseja-se medir a potência elétrica P dissipada por um resistor ligado à rede elétrica. Para isso,
foram feitas várias medições da resistência elétrica R do resistor e da tensão elétrica V da rede.
Determinou-se, então, os valores médios e as incertezas padrão dessas grandezas. Os resultados
obtidos são

R = (2,5  0,3)  e V = (127  1) V .

Então, a potência elétrica dissipada no resistor é dada por

V 2 127 2
P   6451, 6 W
R 2, 5

Como P depende de V e de R, a incerteza padrão combinada uc(P) da potência é dada por


2 2
 P  2  P  2
uc ( P )    u (V )    u ( R)
 V   R  .

V2
P
Como, R , então

P 2V P V2
  2
V R , R R .

Substituindo na equação os valores de u(V)=1V e u(R)=0,3, tem-se que


2 2
 2 127   127 2 
uc ( P )     (1) 2   2 
 (0,3) 2  781W
 2,5   2,5 

Portanto, a maneira correta de escrever o valor da potência é


P = (6,4  0,8)103 W

Na Tabela 1, estão mostrados exemplos de cálculos da incerteza padrão combinada para alguns
casos em que a grandeza que se deseja medir depende das demais grandezas por meio de relações
simples.

14
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

Tabela 1 – Exemplos de expressões para a incerteza padrão combinada

y  f ( x1 , x2 ,, xN ) Incerteza padrão combinada uc(y)

y  ax1  bx2 
uc ( y )  a 2 u 2 ( x1 )  b 2 u 2 ( x2 )  ...
em que a, b,... são constantes)

2
uc ( y ) N
 u ( x1 ) 
y
   pi
i 1  x1 
 

2 2 2
uc ( y )  u ( x1 )   u ( x2 )   u ( xN ) 
y  ax1p1 x2p2 ... xNpN   p1    p2   ...   pN 
y  x1   x 2   xN 

A incerteza padrão combinada relativa é igual à raiz


quadrada positiva da soma dos quadrados das incertezas
padrão relativas das grandezas, ponderadas pelos
quadrados dos respectivos expoentes.
u ( x)
y  a ln x uc ( y )  a
x
y  ae x u ( y )  ae x u ( x)

15
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

APRESENTAÇÃO DE TABELAS E GRÁFICOS

Os resultados de medições são comumente apresentados em tabela e gráficos, tanto para registrar
as informações obtidas quanto para mostrar comportamentos e tendências das grandezas medidas em
relação a outras.

TABELAS
As tabelas devem ser numeradas para serem referenciadas no texto. Uma tabela deve conter
as seguintes partes.
Legenda: colocada acima da tabela, deve conter a referência (por exemplo, Tabela 1) seguida
por uma descrição sucinta do seu conteúdo e, quando necessário, das variáveis,
símbolos e abreviações não incluídas no texto.
Cabeçalho: é a primeira linha da tabela, que deve conter os nomes ou símbolos das grandezas
listadas nas colunas, com suas respectivas unidades e, caso necessário, incertezas.
Conteúdo: os resultados que se pretende apresentar; se forem medidas, devem ter o número
correto de algarismos significativos.

GRÁFICOS E FIGURAS
Um gráfico é um recurso extremamente útil para a apresentação de resultados experimentais, pois
permite uma visualização ampla dos resultados e da dependência existente entre as grandezas
representadas. Um gráfico deve conter:
Legenda: colocada abaixo da figura, deve conter a referência (por exemplo, Figura 1), seguida
de uma descrição sucinta do seu conteúdo e, quando necessário, das variáveis,
símbolos e abreviações não incluídas no texto.
Eixos: no caso de gráficos, cada eixo deve conter o nome ou símbolo da grandeza
correspondente, com suas respectivas unidades. As escalas devem ser ajustadas para
permitir que os dados ocupem todo a área do gráfico. Podem ser lineares ou
logarítmicas para ressaltar a dependência entre as grandezas.
Exemplo 6
50

Tabela 2. Tensão elétrica V e a corrente


V (V)

elétrica I no resistor de resistência R=(500  40

3) .
V (V)  0,1V I (mA) 30

11,3 22,5 0,3


15,8 31,8 0,4 20

19,5 40,0 0,5


22,7 44,4 0,5 10

29,1 59,2 0,6


38,4 76,1 0,6 0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
42,3 83,8 0,7 I (mA)
50,0 99,3 0,8
Figura 5. Tensão elétrica V versus corrente elétrica I
em um resistor de resistência R=(500  3) . A reta é
descrita pela equação V = aI + b, em que
a = (506  5)  e b = ( 0,3  0,3) V foram obtidos
por uma regressão linear.

16
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

AJUSTE DE UMA CURVA AOS DADOS EXPERIMENTAIS

Em muitas das análises de dados de experimentos de Física, deseja-se determinar uma expressão
analítica ou um modelo matemático que melhor descreva a relação entre as grandezas medidas. Para
isso, há métodos para se encontrar os parâmetros de uma equação ou de uma curva que melhor se
ajusta a um conjunto de dados. Esse procedimento é conhecido como ajuste de curva.
Considere um conjunto de n pontos (xi, yi), em que i = 1, 2, ..., n que podem, por exemplo, terem
sido obtidos medindo-se uma grandeza y enquanto se varia outra grandeza x. Deseja-se determinar
os m parâmetros aj de uma função f (xi, aj) que melhor se ajusta ao conjunto de pontos, ou seja, de
forma que a função f (xi, aj) gere um valor bastante próximo de yi para todos os pontos.
A melhor maneira de se determinar esses parâmetros por meio do método de mínimos
quadrados. Esse método estabelece que os parâmetros aj que melhor ajustam uma função aos dados
são aqueles que minimizam a soma dos quadrados das diferenças entre os valores medidos yi e os
correspondentes valores de f (xi, aj). Essa soma é dada por
n 2

S    yi  f ( xi , a j )  .
i 1

Então, os parâmetros aj, com j =1, 2, ..., m, que minimizam S são as soluções do sistema de equações
dado por
 S
 0
a1

 
 S
 0
 am

A solução do problema de mínimos quadrados pode ser complicada e, dependendo da função f,


esse problema só é resolvido por meio de algoritmos numéricos. Quando a função f é linear em relação
aos parâmetros aj que se deseja ajustar, esse sistema de equações tem solução analítica. Por exemplo,
a função f ( x)  a  bx  cx 2 é linear nos parâmetros a, b¸ e c, portanto, o sistema de equações acima
tem solução analítica. Quando a função f não é linear nos parâmetros a serem determinados, os
parâmetros são determinados utilizando-se algoritmos iterativos que já estão desenvolvidos em vários
programas de computador, tanto comerciais quanto de domínio público. Esse procedimento é
conhecido como ajuste não linear por mínimos quadrados.
Regressão linear
Na Física, é comum que a relação entre as grandezas seja linear, ou seja, são descritas pela
equação de uma reta. Nesse caro, deseja-se, então, determinar a reta que melhor se ajusta a um
conjunto de pontos (xi, yi). Esse é um exemplo de ajuste linear de mínimos quadrados ou regressão
linear.
Considere a reta descrita pela equação
f ( x)  ax  b .

17
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

Os parâmetros a e b que melhor ajustam essa reta aos pontos (xi, yi) são os que minimizam a soma
S    yi  ( axi  b )  . Portanto, esses parâmetros são as soluções das equações
2

S
 2  yi  axi  b xi  0
a e

S
 2  yi  axi  b   0
b .

A solução desse sistema de equações é simples e dela se obtém a inclinação a e o coeficiente


linear b da reta ajustada; também podem ser obtidas suas respectivas incertezas padrão u(a) e u(b):
n  xi yi   xi  yi 2
a , S  xi
  xi  u (a) 
2
n x 2
 2
,
i
(n  2) n  xi  ( x
2
i)
 yi  a  xi S
b , u (b )  ,
n ( n  2) n  xi2    xi 
2

Há situações em que é possível utilizar o método de regressão linear para ajustar uma função que
não é linear, desde que seja possível expressá-la em termos de outras variáveis de forma a obter uma
função linear. Veja o exemplo a seguir.
Exemplo 7
Sabe-se que durante o resfriamento de um objeto, a sua temperatura T decresce
exponencialmente com o tempo t, ou seja, esse processo é descrito por uma equação do tipo
T  ce kt . Considere que em um experimento foi medida a temperatura desse objeto em diferentes
instantes de tempo, obtendo-se os pontos (Ti, ti) que estão representados na Figura 6(a). Nesse
gráfico, também está plotada a função f (t )  ce  kt . Nesse caso, a determinação dos parâmetros c e
k da função f que melhor se ajusta ao conjunto de dados (Ti, ti) não pode ser feita por uma regressão
linear, pois a função não é linear em k.
30 4
ln(T / C)
T ( C)

o
o

25
3

20

15 2
 kt
f (x) = ce
10
i = yif (xi) 1

0 0
0 100 200 300 400 500 0 100 200 300 400 500
t (s) t (s)

(a) (b)
Figura 6. Temperatura T de um objeto em função do tempo t, enquanto ele se esfria. (a) gráfico de T versus t,
(b) gráfico de lnT versus t.

18
INTRODUÇÃO AO LABORATÓRIO DE FÍSICA

No entanto, é possível reescrever essa função de forma a se obter uma equação linear. Isso pode
ser feito, calculando-se o logaritmo de ambos os termos da função, obtendo-se
ln T  ln(c)  kt
Percebe-se, então, que lnT varia linearmente com t, ou seja, o gráfico de lnT  t é o de uma reta
cuja inclinação a = k e tem coeficiente linear b = ln(c), como mostrado na Figura 6(b).
Assim, ao invés de se fazer um ajuste não-linear por mínimos quadrados da função exponencial
T  ce  kt aos dados (Ti, ti), que é um cálculo aproximado, é melhor fazer uma regressão linear
com os dados (lnTi, ti).
Dessa regressão linear obtêm-se a inclinação a e o coeficiente linear b da reta que melhor se
ajusta aos dados:
a =  (6,64  0,07) s1 e
b= (3,31  0,03)
Com estes valores, calcula-se, então, k e c
k = a = (6,64  0,07) s1 e

c  eb   27, 4  0, 08  o C .

19
Experimentos de Mecânica

E X P E R I M E N T O S D E

M E C Â N I C A

20
Experimentos de Mecânica

MOVIMENTO RETILÍNEO COM ACELERAÇÃO CONSTANTE

INTRODUÇÃO

A 2ª lei de Newton estabelece que a força resultante F sobre um objeto é igual ao produto da
massa inercial m do objeto pela aceleração a adquirida por ele, ou
F  ma .

Como exemplo de aplicação dessa lei,


considere o sistema mostrado na Fig. 1. Um objeto
de massa m1 está sobre uma superfície horizontal,
sem atrito, e é ligado por uma corda a outro objeto
de massa m2, que está suspenso na extremidade da
corda. A corda inextensível e de massa desprezível
passa por uma polia, também de massa
desprezível, que gira sem atrito. Na figura também
estão mostradas as forças que atuam sobre cada Figura 1. Diagrama de forças que atuam em dois
objeto: os pesos P1 e P2 dos objetos de massas m1 e objetos presos por uma corda inextensível, de
massa desprezível. O objeto de massa m1 desliza
m2, respectivamente, forças T da corda sobre cada
sobre uma superfície horizontal, sem atrito.
objeto e a força N que a superfície faz sobre m1.
 Os módulos das forças que a corda faz sobre cada objeto são iguais. Por que?
 Os módulos das acelerações dos dois objetos são iguais. Por que?

Considere a1 a aceleração do objeto sobre a superfície horizontal e a2 a aceleração do objeto


dependurado. No objeto sobre a superfície horizontal atuam a força normal à superfície N, seu peso
P1 e a tensão da corda T. De acordo com a 2ª lei de Newton, as equações para as componentes x e y
dessas forças são

F 1x  m1a1 x  T e
F 1y  m1a1 y  N  m1 g  0

Para o objeto dependurado na corda só existem forças na direção y, sendo possível escrever

F 2y  m 2 a 2 y  T  m2 g

Como a corda é inextensível, os módulos das acelerações serão iguais para os dois objetos, porém
terão sinais contrários: um deslocamento de m1 no sentido de x positivo causa um deslocamento de
m2 no sentido negativo de y; ou seja, a1x = – a2y = a . Eliminando T nas equações em y e em x, tem-se
m2
a g
m1  m2 . (1)

21
Experimentos de Mecânica

 Considerando que o movimento do objeto sobre a superfície horizontal é na direção x, mostre, a


partir das definições de velocidade v=dx/dt e aceleração a=dv/dt, que a equação do movimento
do objeto é dada por

1 2
x(t )  xo  vo t  at
2 , (2)

em que xo e vo são, respectivamente, a posição e a velocidade iniciais do objeto.


 Esboce os gráficos da distância, da velocidade e da aceleração do objeto de massa m1 em função
do tempo, a partir do instante em que ele começa a se movimentar.

Considere, agora, uma situação um pouco


diferente, em que o objeto de massa m1 está sobre um
plano inclinado de um ângulo  em relação à
horizontal, como representado na Fig. 2.
 Represente, em um diagrama, as forças que atuam
sobre os objetos mostrados na Fig. 2. Mostre que,
nesse caso, os objetos se movem com uma Figura 2. Um objeto de massa m1 desliza sobre
aceleração dada por uma superfície inclinada de um ângulo  .

m2  m1 sen
a g
m1  m2 (3)

Verifique que para  = 0 esse resultado é mesmo da equação 1.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Analisar o movimento de um objeto que se desloca sob a ação de uma força constante.
Sugestão de material
 Computador, interface, sensor de movimento, trilho de ar, objetos com massas m1 e m2 5m1),
suporte (ms  m1 ), carrinho (mc  8m1 ), fio inextensível e trena.

PROCEDIMENTO
Observação: O processo de aquisição automática de dados e posterior tratamento dessas
informações com uso de computador é específico a cada experimento e depende dos instrumentos e
programas utilizados. Explicações detalhadas sobre o uso do sistema de aquisição e dos programas,
assim como os parâmetros adequados ao experimento, deverão estar disponíveis junto à montagem.
Neste experimento, é utilizada a montagem representada na Fig. 3, para analisar o movimento de
um objeto sujeito a uma força constante. Um carrinho desliza puxado por um fio que passa por uma
roldana e em cuja extremidade está dependurado um suporte onde são colocados objetos de massas
conhecidas. Ar sob pressão sai através de orifícios dispostos sobre o trilho e permite que o carrinho
22
Experimentos de Mecânica

se desloque praticamente sem atrito. A roldana é parte de um sensor que, ligado a um computador,
permite que se determine a posição do objeto em cada instante.
Inicialmente, será estudado o movimento do carrinho com o trilho na horizontal e, posteriormente,
com o trilho inclinado.

Figura 3 – Um carrinho se move sem atrito sobre um trilho de ar.

Análise do movimento do carrinho com o trilho na horizontal


 Ligue o compressor de ar e, em seguida, alinhe o trilho na horizontal. Para isso, com o o
carrinho solto sobre o trilho, ajuste os parafusos localizados nos pés do trilho até que o
carrinho fique em equilíbrio e não tenha um movimento preferencial em qualquer direção.
 Procure se familiarizar com os instrumentos e com o programa de aquisição de dados. Você
deverá obter gráficos de posição versus tempo, de velocidade versus tempo e de aceleração
versus tempo referente ao movimento do carrinho. Faça algumas medições preliminares com
diferentes valores de massas colocadas sobre o suporte e procure entender as mudanças
observadas em cada gráfico.
 Use uma balança para medir a massa dos objetos, caso elas não tenham sido previamente
medidas. Escolha uma razão conveniente entre as massas m1 do carrinho e m2 do suporte com
objetos e obtenha os gráficos de posição, velocidade e aceleração versus tempo.
 Faça um ajuste da equação do movimento com os dados de distância versus tempo obtidos
experimentalmente. Isso é feito no programa com a opção de ajuste de curvas pelo método de
mínimos quadrados. A partir dos parâmetros obtidos desse ajuste, calcule a aceleração do
carrinho.
 Essa aceleração também pode ser calculada de duas outras formas:
por meio do cálculo da inclinação do gráfico de velocidade versus tempo e por meio do cálculo
do seu valor médio no gráfico de aceleração versus tempo. Compare os valores da aceleração
determinados por esses três métodos.
 Calcule o valor esperado para a aceleração (equação 1) e compare com aqueles obtidos
experimentalmente. Procure justificar as eventuais diferenças observadas.
Análise do movimento do carrinho com o trilho inclinado
 Com os calços fornecidos, incline o trilho (no máximo até cerca 5 graus). Se necessário,
modifique a razão entre as massas que possibilitem as medições. Obtenha, então, os gráficos
de x x t, de v x t e de a x t.
 Meça o ângulo de inclinação do trilho e compare o valor medido da aceleração com o valor
esperado, dado pela equação 3. Discuta esses resultados.

23
Experimentos de Mecânica

MOVIMENTO DE UM PROJÉTIL

INTRODUÇÃO

Conforme proposto por Galileu no seu livro Diálogos sobre novas ciências, o movimento de um
projétil na superfície da Terra pode ser analisado, separadamente, nas direções horizontal e vertical.
Desprezando-se as forças de atrito, a única força que atua em um projétil é o seu peso e, portanto, ele
se move com velocidade constante na direção horizontal, e com aceleração constante, na vertical.
Isso resulta em uma trajetória parabólica.
Considere a trajetória de um objeto lançado na superfície da Terra com uma velocidade vo que
faz um ângulo  com a horizontal, como representada na Fig. 1. Nessa figura, também estão
representados os eixos cartesianos, com origem no ponto de lançamento. Nessa situação, as
coordenadas x e y da posição do objeto, em função do tempo, são dadas por

x(t) = vo cos t e y(t) = vo sem t –


2
½gt (1)

 Demonstre que a trajetória do objeto é


parabólica, ou seja, é descrita por uma função
y(x) = x2+x+. Especifique as constantes ,
e em função de vo ,  e g.
Figura 1–Trajetória de um projétil lançado com
velocidade vo em uma direção, cujo ângulo com a
horizontal é .

PARTE EXPERIMENTAL

Neste experimento, são sugeridos dois procedimentos para se obter a trajetória de um projétil: no
primeiro, as medições são feitas manualmente, e, no segundo, por meio da aquisição de imagens com
uma câmera de vídeo e posterior tratamento das imagens. A escolha de um ou de outro depende da
disponibilidade ou não de uma câmera de vídeo. A análise dos dados é semelhante para os dois
procedimentos.
Objetivos
 Registrar e analisar a trajetória de um projétil.
 Determinar o ângulo de lançamento, a velocidade inicial e ponto de contato com o chão.

24
Experimentos de Mecânica

REGISTRO DA TRAJETÓRIA DO PROJÉTIL SOBRE UMA FOLHA DE PAPEL


Sugestão de material
 Canaleta para lançamento, esfera, anteparo, folha de papel em branco, folha de papel-carbono,
régua, trena e transferidor.

PROCEDIMENTO
Na Fig. 2, apresenta-se uma maneira simples de se obter a trajetória descrita por uma esfera que
é lançada como um projétil. Depois de deslizar por uma canaleta, uma esfera sai com uma velocidade
vo em uma direção que faz um ângulo  com a horizontal e atinge um anteparo que é posicionado
perpendicularmente ao plano da trajetória da esfera. Sobre esse anteparo, é fixada uma folha de papel
branco e, sobre esta, uma folha de papel carbono. Quando a esfera se choca com o anteparo, fica
registrada sua posição sobre a folha de papel. No instante do choque, a distância do anteparo à
extremidade da canaleta corresponde à coordenada x da posição da esfera; a coordenada y
corresponde à altura da marca feita no papel. Para se obter registros da trajetória da esfera, ela é solta
na canaleta, repetidas vezes, de uma mesma altura. Inicialmente, o anteparo é colocado encostado na
extremidade da canaleta. Após cada lançamento, o anteparo deve ser deslocado de uma mesma
distância nas direções x e –z.

Figura 2. Montagem utilizada para registrar a trajetória de uma esfera; se a cada vez que
o anteparo for afastado da canaleta uma distância x, ele também for deslocado, da mesma
distância, na direção -z, as marcas dos impactos registrarão as coordenadas x e y da esfera;
desse modo, a trajetória real do projétil é transferida para a folha, no anteparo.

 Faça alguns lançamentos preliminares para determinar de que altura a esfera deve ser solta na
canaleta para gerar uma parábola de tamanho compatível com o do anteparo.
 Para o registro de cada marca, solte a esfera três vezes a fim de minimizar erros aleatórios
inerentes ao processo. Obtenha a primeira marca com o anteparo encostado na canaleta. Dessa
forma, a extremidade da canaleta corresponde à origem (0,0) do sistema de coordenadas.
Visando ao registro completo da trajetória, após cada registro, desloque o anteparo 2,0 cm nas
direções x e –z.
 Retire, então, o papel e trace nele os eixos das coordenadas x e y com origem na primeira
marca produzida pela esfera. Utilizando uma régua milimetrada, meça as coordenadas médias
de cada ponto e construa uma tabela com os valores obtidos.
 Analise os dados como descrito no final desse roteiro.

25
Experimentos de Mecânica

REGISTRO DA TRAJETÓRIA DO PROJÉTIL COM UMA CÂMERA DE VÍDEO


Sugestão de material
 Canaleta para lançamento, esfera, régua, transferidor, papel carbono, câmara tipo “webcam”,
computador com programas adequados para aquisição e tratamento de imagens e dados.

PROCEDIMENTO
OBS. O processo de aquisição automática de dados e posterior tratamento dessas informações com uso de
computador é específico a cada experimento e depende da instrumentação e dos programas utilizados.
Explicações detalhadas sobre o uso do sistema de aquisição e dos programas, assim como os parâmetros
adequados ao experimento, deverão estar disponíveis junto à montagem.
Na Fig. 3, está mostrada a montagem para se obter a trajetória de um projétil utilizando uma
câmera de vídeo. Uma esfera, depois de ser solta de determinada altura em uma canaleta, é lançada
com uma velocidade vo, que faz um ângulo θ com a horizontal. A câmera registra a trajetória da esfera
por meio de imagens que são capturadas a uma determinada taxa. Uma escala deve ser colocada no
plano da trajetória da esfera para permitir, na análise dos dados, determinação das coordenadas da
esfera em cada imagem.

Figura 3 – Montagem utilizada para se registrar a


trajetória de uma esfera usando uma câmera de vídeo.

 Posicione a câmera perpendicularmente ao plano da trajetória da esfera. No programa


utilizado para capturar as imagens, ajuste a taxa de aquisição de imagens e outros parâmetros
necessários para o registro da trajetória da esfera. Faça testes até ter certeza de que o processo
de aquisição está correto.
 Uma vez feito o registro adequado das imagens da trajetória da esfera, use um programa de
computador para determinar as coordenadas (x, y) da esfera em cada imagem.
Análise dos dados
 Utilizando um programa de computador, construa o gráfico y versus x. Em seguida, determine
os parâmetros , e  da função y(x) =  x2+ x+ que melhor se ajustam aos dados
experimentais obtidos.
 Determine, então, o ângulo  e o módulo da velocidade de lançamento da esfera. Compare o
valor desse ângulo com o que foi medido no registro da trajetória da esfera e, também, com o
valor do ângulo de inclinação da canaleta no ponto de lançamento da esfera.
 Para verificar a validade da equação obtida para a trajetória da esfera, calcule a posição em
que a esfera atingirá o piso do laboratório, depois de ser lançada com a extremidade da
canaleta posicionada na borda da mesa. Em seguida, marque esse ponto sobre uma folha de
papel colocada sobre o piso. Cubra essa folha com uma folha de papel-carbono e, em seguida,
solte a esfera pela canaleta, da mesma altura em que ela foi solta anteriormente. Repita esse

26
Experimentos de Mecânica

procedimento pelo menos três vezes. Compare o resultado medido com o calculado segundo
a equação do movimento.
 Considere a energia potencial gravitacional da esfera na posição inicial em que a esfera foi
solta na canaleta. Com base no princípio de conservação da energia mecânica, determine o
módulo da velocidade da esfera no instante em que ela deixa a canaleta. Compare esse valor
com o obtido anteriormente. Comente os resultados.

27
Experimentos de Mecânica

FORÇAS IMPULSIVAS

INTRODUÇÃO

Há várias situações em que a força resultante que atua sobre um objeto varia com o tempo e, em
algumas delas, essa variação pode ocorrer em um intervalo de tempo muito curto. Isso acontece, por
exemplo, durante colisões.
De acordo com a segunda lei de Newton, F  dp dt , ou seja, a variação do momentum de uma
partícula é igual à força resultante F que atua sobre ela. Considere que o momentum de uma partícula
muda de pi, no instante ti, para pf, no instante tf. A variação p no momentum dessa partícula é,
portanto,
tf

p  p f  pi   Fdt . (1)
ti

Define-se o vetor impulso I de uma força F que atua sobre uma partícula durante o intervalo de
tempo de ti a tf como
tf

I   Fdt . (2)
ti

Assim, o impulso da força resultante F que atua sobre uma partícula é igual à variação do
momentum da partícula, ou seja, I = p. Esse resultado é conhecido como Teorema do impulso-
momentum.

PARTE EXPERIMENTAL

Neste experimento, será estudado como a força de tração em um fio varia com o tempo quando
ele é esticado bruscamente. Esse estudo será feito com fios de materiais diferentes.
Objetivo
 Medir e analisar a força de tração sobre um fio ao ser esticado bruscamente.
Sugestão de material
 Computador, interface, sensor de força, suporte, fios de nylon e de algodão, objeto com
gancho para ser preso ao fio e régua.

PROCEDIMENTO
OBS. O processo de aquisição automática de dados e posterior tratamento dessas informações com
uso de computador é específico a cada experimento e depende da instrumentação e dos
programas utilizados. Explicações detalhadas sobre o uso do sistema de aquisição e dos
programas, assim como os parâmetros adequados ao experimento, deverão estar disponíveis
junto à montagem.

28
Experimentos de Mecânica

A montagem utilizada neste experimento está mostrada na Fig. 1. Uma das extremidades de um
fio está presa em um sensor de força, ou transdutor, e um objeto está preso na outra extremidade. O
sensor de força é um dispositivo que converte a força exercida nele em um sinal elétrico. Esse sensor
é conectado a um computador por meio de uma interface. Um programa no computador monitora a
aquisição dos dados transmitidos pela interface e registra-os em um gráfico.
Ao ser solto de uma determinada altura, o objeto tem sua queda interrompida, bruscamente,
quando o fio é esticado. Neste experimento, será obtido o gráfico da tensão no fio em função do
tempo, durante esse processo.
 Esboce o gráfico da tensão no fio em função do tempo, desde o instante em que o objeto é solto
até o instante em que ele fica em equilíbrio. Explique por que você espera que esse gráfico seja
dessa forma.

Figura 1 - Ao ser solta de uma certa altura,


uma esfera é freada, bruscamente, quando o fio
é esticado. A força que atua no fio, e é medida
pelo sensor, é registrada, em função do tempo,
em um gráfico no computador.

 Procure familiarizar-se com os instrumentos e com o programa de aquisição de dados a ser


utilizado. A força que vai ser medida atua no sensor durante alguns centésimos de segundo.
Para obter um número suficiente de medidas nesse intervalo, deve-se escolher uma taxa de
aquisição de dados adequada – número de pontos a serem coletados por unidade de tempo.
No programa de aquisição de dados, escolha uma taxa de aquisição suficientemente alta para
registrar a variação da força durante o movimento a ser estudado.
 Inicialmente, utilize, na montagem, um fio de algodão com cerca de 30 cm de comprimento.
Segure o objeto de forma que a tensão, no fio, seja nula e pressione o botão de tarar que se
encontra no próprio sensor para ajustar a leitura da força em zero. Então, posicione o objeto
a uma altura de, aproximadamente, 20 cm acima de sua posição mais baixa (esse valor deve
ser medido, pois será utilizado posteriormente). Inicie a aquisição de dados e, logo em
seguida, solte o objeto. Observe, na tela do computador, o gráfico da tensão no fio em função
do tempo.
 Repita o experimento utilizando um fio de nylon.
 Observe que, nos gráficos obtidos, há vários picos associados aos intervalos de tempo em que
o fio está esticado. Você irá analisar apenas o intervalo correspondente ao primeiro pico. Com
um programa adequado, calcule a área sob os picos obtidos para os dois fios.

29
Experimentos de Mecânica

 Faça um diagrama das forças que atuam no objeto enquanto o fio é esticado e indique qual
força o sensor mede. Lembre-se de que, na equação 1, F é a força resultante sobre o objeto e
o sensor mede a tensão no fio. Com base nessas informações e no valor da área sob o primeiro
pico no gráfico, calcule o impulso da força resultante sobre o objeto.
 Durante o movimento de queda livre do objeto, ou seja, do instante em que ele é solto até
imediatamente antes de ser puxado pelo fio, sua energia mecânica é conservada. Com base
nessa lei de conservação, calcule a velocidade do objeto imediatamente antes de o fio ser
tensionado. Com o valor do impulso da força resultante, determine a velocidade do objeto no
instante em que o fio deixa de exercer força sobre ele. Lembre-se de que o momentum final e
o inicial têm sentidos opostos. Calcule, então, a perda percentual de energia nesse processo.
 Para os fios utilizados, compare os valores obtidos para a perda percentual de energia, a tensão
máxima no fio e o tempo de interação deste com o objeto e tente explicar as diferenças entre
eles. As formas das curvas F versus t são diferentes? Elas são simétricas? Por que?
 Suponha que você vai saltar de uma determinada altura, preso a uma corda que vai sustentar seu
corpo para que você não atinja o solo. As curvas I e II do gráfico apresentado a seguir mostram
como varia a tensão em duas cordas em função do tempo, quando elas são tensionadas
bruscamente.

I
F
II

Apenas com base nesse gráfico, escolha com qual dessas cordas você acharia mais conveniente
saltar. Justifique sua escolha. Esboce o gráfico que você considera que seria o da tensão de uma
corda utilizada para saltos em bungee jumping.

BIBLIOGRAFIA

 “Entendendo a Física do bungee jump”, A. Heck, P Uylings e E. Kedzierska, Physics


Education vol. 45, pág. 63 (2010).
 A compreensão sobre dissipação de energia durante colisões é importante para a fabricação
de automóveis mais seguros. Procure sobre esse assunto na internet buscando termos como
“teste de colisão” ou “vehicle crash test”.

30
Experimentos de Mecânica

PROPRIEDADES ELÁSTICAS DE SÓLIDOS

INTRODUÇÃO

Sob a ação de uma força externa, todo objeto deforma-se, ou seja, tem a sua forma e/ou dimensão
alterada. A razão entre essa força e uma determinada área de seção reta do objeto é chamada de
tensão. Diferentes tipos de deformação podem ocorrer dependendo do material, das dimensões do
objeto e do tipo de tensão a que ele é submetido. Se o objeto recupera sua forma primitiva após cessar
a atuação da força, essa deformação é elástica. Em geral, para pequenas deformações, a tensão é
proporcional à deformação e a constante de proporcionalidade é chamada de módulo de elasticidade.
O módulo de elasticidade depende do material de que é feito o objeto e do tipo de deformação
produzida; ele caracteriza o material quanto à rigidez ou flexibilidade: quanto maior o seu valor,
maior a rigidez do material (menor flexibilidade).
Uma tensão que atua perpendicularmente à superfície do objeto no sentido de puxá-la ou empurrá-
la, é chamada, respectivamente, de tração ou compressão. Considere a haste de comprimento x e área
da seção reta A, mostrada na Fig.1a, que é esticada de x por uma força F, perpendicular à superfície
da haste. Nesse caso, a tensão e a deformação são definidas por
F x
tensão  deformação 
A e x ,

F A
e o módulo de elasticidade Y  é chamado de módulo de Young. Esse módulo é uma
x x
propriedade do material que mede a resistência do sólido a tensões de tração. Esse resultado é
conhecido como lei de Hooke e é comumente expresso na forma
F  k x

YA
em que k  é a constante de deformação elástica.
x
Na Fig. 1b, uma força F atua paralelamente à superfície de área A de um objeto, fazendo-a
deslocar-se de x em relação a outro plano paralelo, situado a uma distância y.
Nesse caso, a deformação e a tensão, são chamadas de cisalhamento e são definidas por
F
tensão de cisalhamento  x
A e deformação de cisalhamento  ,
y

F A
e o módulo de elasticidade G  , chamado de módulo de cisalhamento, está associado à
 x y
resistência do material a tensões de cisalhamento.

31
Experimentos de Mecânica

(a) (b)
Figura 1. Em (a), uma força F, aplicada perpendicularmente a uma das faces do bloco
produz uma deformação de tração. Em (b), se aplicada paralelamente a uma das faces, a
força produz uma deformação de cisalhamento.

Há outros módulos definidos para outros tipos de deformações de sólidos, mas que não serão
discutidos aqui.
Na Tabela 1, estão apresentados os valores médios dos módulos de Young e de cisalhamento de
alguns materiais.

Tabela 1
Valores aproximados dos módulos de
Young Y e de cisalhamento G de alguns
materiais.
Material Y (GPa) G (GPa)
Aço 200 a 207 76 a 83
Alumínio 69 26
Cobre 117 45
Ferro 170 a 200 75
Madeira (pinho) 11 4
Vidro (SiO2) 94 26

Nos experimentos que seguem, serão determinadas as constantes de deformação elástica e os


módulos de elasticidade de alguns materiais.

32
Experimentos de Mecânica

CONSTANTE ELÁSTICA DE MOLAS

Na Fig. 2a, se vê uma mola helicoidal, de massa desprezível, pendurada por uma de suas
extremidades, em equilíbrio. Na Fig. 2b, um objeto de massa m está suspenso, em equilíbrio, na outra
extremidade da mola. O peso do objeto produz um alongamento x na mola e é equilibrado por uma
força F = kx exercida pela mola no objeto, em que k é a constante elástica da mola.

(a) (b)
(b) (b)
Figura 2 - Mola em duas situações de equilíbrio:
em (a) a mola não está alongada e em (b) a mola
Figura 3. Associação de duas molas a) em
está alongada de x devido ao peso do objeto de
série e b) em paralelo.
massa m.

Para pequenas deformações, a constante elástica da mola é dada por


F mg
k 
x x (1)

em que g é a aceleração da gravidade.


Uma mola helicoidal com voltas bem juntas e com um diâmetro médio D muito maior que o
diâmetro d do fio, é deformada por uma força de torção no seu fio. Para esse tipo de mola, sua
constante elástica é dada por [P. Mohazzabi e J.P. McCrickard, Am. J. Phys. 57, pag. 639 (1989)]

Gd 4
k
8ND3 , (2)

em que N é o número de voltas da mola e G é o módulo de cisalhamento do material do fio.


Duas situações simples e interessantes de serem estudadas são os casos de associação de duas
molas em série e em paralelo, como mostrado na Fig. 3.

33
Experimentos de Mecânica

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar a constante elástica de uma mola.
 Determinar a constante elástica de uma associação de molas.
 Determinar o módulo de cisalhamento do material de uma mola.
Material utilizado
 Duas molas, objetos para serem pendurados na mola, suporte e régua milimetrada.

PROCEDIMENTO
Este experimento consiste em se aplicar várias forças a uma mola vertical e medir os respectivos
alongamentos produzidos.
 Pendure o suporte para os objetos na extremidade da mola, como ilustrado na Fig. 2. Coloque
um objeto de cada vez no suporte e anote, para cada um, a massa e o respectivo alongamento
produzido na mola.
 Retire todos os objetos do suporte. A mola volta à sua posição inicial? O que se pode afirmar
sobre esse tipo de deformação?
 Associe as duas molas em série, como mostrado na Fig. 3a. Repita o procedimento anterior
com este novo arranjo.
 Associe, a seguir, as duas molas em paralelo, como mostrado na Fig. 3b e, depois, repita o
procedimento anterior com este arranjo.
 Faça os gráficos de F versus x com os dados obtidos com uma mola, com as duas molas
associadas em série e com elas associadas em paralelo.
 Por meio de uma regressão linear, determine o valor da constante elástica e sua respectiva
incerteza, para cada uma das situações.
 Sejam k1 e k2 as constantes elásticas, respectivamente, da primeira e da segunda molas. Com
o valor obtido para a constante elástica da associação de molas em série (ou em paralelo),
determine o valor de k2.
 Explique por que na associação de molas em série o conjunto ficou “mais macio” do que com
cada mola individualmente e, na associação em paralelo, ficou “mais duro”.
 Com um paquímetro, meça o diâmetro médio da primeira mola e, com um micrômetro, meça
o diâmetro do seu fio. Determine, então, o módulo de cisalhamento do fio da mola e comente
sobre o resultado obtido.

34
Experimentos de Mecânica

DEFORMAÇÃO ELÁSTICA DE UMA HASTE:


CONSTANTE DE FLEXÃO E MÓDULO DE FLEXÃO

Considere a situação em que uma haste, presa por uma de suas extremidades (Fig. 4), é flexionada
por uma força vertical aplicada na extremidade livre. Essa flexão depende do valor da força aplicada,
do material e da forma geométrica da haste. No regime elástico, o comportamento da haste será
análogo ao de uma mola, ou seja, o módulo F da força aplicada é diretamente proporcional à flexão
y produzida na haste – lei de Hooke –, ou seja,
F = kf y , (3)

em que kf é a constante de flexão da haste.

Figura 4 - Deformação de flexão y de uma haste


produzida pelo peso de um objeto pendurado na haste a
uma distância x do ponto em que ela está fixa.

A constante de flexão kf depende do material, do comprimento x, da largura l e da espessura e da


haste. No caso de uma haste muito comprida em relação às suas largura e espessura, pode-se mostrar
que

Yle3
kf 
4 x3 (4)

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a constante de flexão e o módulo de Young de uma haste, no regime elástico.
Sugestão de material
 Uma haste ou mais, prendedor, suporte, objetos de massa (mi ± mi), régua e paquímetro.
Como haste, pode-se usar uma lâmina de serra (“segueta”) de aço ou uma régua de madeira,
plástico ou de outro material.
São sugeridos dois procedimentos diferentes para se determinar a constante de flexão e o módulo
de Young da haste, ambos com base na montagem representada na Fig. 4 e nas equações 3 e 4. No
primeiro, a distância x entre o ponto de fixação da haste e a sua extremidade livre será mantida

35
Experimentos de Mecânica

constante e serão feitas medidas da flexão y para diferentes forças aplicadas na extremidade livre. No
segundo procedimento, a força aplicada na extremidade da haste é mantida constante, enquanto varia-
se a distância x (que é equivalente a reduzir o comprimento da haste).

PROCEDIMENTO

PARTE I
 Com uma das extremidades da haste fixa no suporte, pendure, gradativamente, objetos na
extremidade livre e meça a flexão y correspondente a cada força aplicada.
 Trace o gráfico de F versus y e, por meio de uma regressão linear, determine o valor da
constante de flexão da haste e sua respectiva incerteza.
 Meça as dimensões da haste e calcule o valor do módulo de Young do material da haste e sua
respectiva incerteza. Comente o resultado obtido.

PARTE II
 Com um objeto pendurado na extremidade da haste, varie a distância entre o ponto de fixação
e a extremidade livre da haste. Meça os valores correspondentes da flexão y para cada
comprimento x. Informe-se sobre o valor máximo que a haste pode ser deformada para
permanecer no regime elástico. Trace o gráfico de y versus x e, por meio de uma regressão
linear, determine o valor do módulo de Young do material da haste e sua respectiva incerteza.
Justifique o alto valor encontrado para a incerteza ∆E.
 Compare o resultado encontrado com o valor médio do módulo de flexão para diferentes tipos
de aço, que é de (1,9 ± 0,2) x 1011 N/m2.

36
Experimentos de Mecânica

APÊNDICE: CONSTANTE ELÁSTICA DE MOLAS EM SÉRIE E EM PARALELO

Considere duas molas de massas desprezíveis e de constantes elásticas k1 e k2, associadas em


série, como mostrado na Fig. A1(a).
 Mostre que uma força de módulo F, aplicada na extremidade desse conjunto, atua igualmente em
cada uma das molas.
Os alongamentos produzidos em cada mola por essa força são dados por:
F F
x1  e x2 
k1 k2

(a) (b)
Figura A1 – (a) Na associação de duas molas em série, a força F atua nas duas e o
alongamento de uma é independente do da outra. (b) Na associação de duas molas em
paralelo, a força aplicada é distribuída nas duas e o alongamento de uma é igual ao da outra.

O alongamento total do conjunto é dado por


F
xsérie = x1 + x2 = ,
k série

e, então,
F F F 1 1 1
+ =  = +
k1 k2 k série k série k1 k2
Com um raciocínio análogo, é fácil chegar-se à equação para n molas associadas em série:
1 1 1 1
= + ...+ .
k série k1 k2 kn

37
Experimentos de Mecânica

Na associação mostrada na Fig. A1(b), com as duas molas de constantes elásticas k1 e k2


associadas em paralelo, a força F é aplicada no conjunto de forma a manter horizontal a haste que
une as molas. Portanto, quando em equilíbrio, as molas estarão alongadas de uma mesma quantidade
x e as forças exercidas F1 e F2 em cada uma se somam para anular a força F , ou seja,
F = F1 + F2 .

Da equação anterior, tem-se que


F = kparal. x = k1 x + k2 x = ( k1 + k2) x

em que k paral. é a constante elástica dessa associação.


Então,
k paral. = k1 + k2

Analogamente, chega-se a uma expressão para a constante elástica de n molas associadas em


paralelo:
k paral. = k1 + k2 + . . . + kn.

38
Experimentos de Mecânica

MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES: SISTEMA MASSA-MOLA

INTRODUÇÃO

Existem na natureza muitos fenômenos que apresentam um comportamento periódico, ou seja,


que se repetem em intervalos iguais de tempo. Variações periódicas de uma grandeza podem ser
descritas por uma soma de funções senoidais. Dos movimentos periódicos, um muito importante é o
que é produzido quando a força resultante sobre um objeto é proporcional e contrária ao seu
deslocamento. Esse movimento é chamado de harmônico simples e ocorre, por exemplo, no
movimento de oscilação de um objeto preso a uma mola.
Na Fig. 1, está mostrada uma montagem em que um objeto de massa m está em equilíbrio,
pendurado na extremidade de uma mola. Nessa situação, a resultante das forças que atuam nele é nula
e o sistema está parado na posição que será considerada x = 0. Se o objeto for deslocado verticalmente
de x, a partir dessa posição, e, em seguida, solto, ele passa a se mover sob a ação de uma força
resultante dada por
F   kx , (1)

em que k é a constante elástica da mola. Essa força é contrária ao sentido do deslocamento (por isso,
o sinal negativo) e, portanto, tende a levar o objeto de volta à sua posição de equilíbrio. Forças desse
tipo são chamadas de forças restauradoras.

Figura 1. Sistema massa-mola na vertical em que atuam no objeto de


massa m o seu peso P e a força elástica F da mola. Vê-se a posição do
objeto ao se deslocar x de sua posição de equilíbrio xo = 0.

Considerando-se a 2ª lei de Newton, pode-se escrever

d 2 x(t )
m  kx(t )
dt 2 , (2)

em que x(t) é a equação do movimento, ou seja, descreve a posição do objeto em um instante t


qualquer.
A solução dessa equação diferencial é

39
Experimentos de Mecânica

x(t )  A cos(t   ) , (3)

em que A é a amplitude do deslocamento,  = 2 /T é a frequência angular, T é o período, f  1 T


é a frequência, e  é a constante de fase do movimento do objeto. A constante de fase do movimento
pode ser determinada a partir das condições iniciais do movimento do objeto, ou seja, conhecendo-se os valores
da sua posição e velocidade no instante t = 0.

 Mostre que, para a equação 3 ser uma solução da equação 2, a frequência angular tem de ser dada
por
k
 . (4)
m
Portanto, o período de um movimento harmônico simples é dado por
m
T  2 (5)
k

 Esboce o gráfico de x versus t para um movimento harmônico simples. Identifique, nesse gráfico,
a amplitude e o período do movimento. Indique que alteração haverá nesse gráfico se a constante
de fase for modificada.

Com base nas equações 1 e 3, pode-se escrever o módulo da força resultante sobre o objeto como
F (t )   Fmax cos(t   ) (5)

em que Fmax = m2A é a amplitude dessa força.

PARTE EXPERIMENTAL

Para se estudar experimentalmente o movimento oscilatório de um objeto pendurado em uma


mola são propostos dois procedimentos. No primeiro, são feitas medições do período de oscilação do
sistema usando-se um cronômetro. No segundo procedimento, utiliza-se um sistema de aquisição de
dados para medir a posição x(t) do objeto enquanto ele oscila..
Objetivos
 Analisar o movimento de um sistema massa-mola oscilante e medir o período e a posição do
objeto
 Determinar a constante elástica da mola e os parâmetros da equação de movimento desse sistema.
Sugestão de material
 Mola, cronômetro, objetos de massas diferentes, suportes, sensor de força e computador.

PROCEDIMENTO
Parte I
Este experimento consiste em se pendurar objetos de massas diferentes na extremidade de
uma mola e medir o período de oscilação para cada situação.

40
Experimentos de Mecânica

 Pendure, na mola, um objeto de massa conhecida e, em seguida, coloque-o para oscilar. Com um
cronômetro, meça o período desse movimento. Repita esse procedimento variando-se a massa do
objeto dependurado na mola.
 Tendo como base a equação 5, utilize processos de linearização e de regressão linear para
determinar a constante elástica da mola.
Parte II
Neste experimento, será medida a força que atua em um objeto que oscila na extremidade de
uma mola, em função do tempo. Para isso, a mola será dependurada em um sensor de força, como
mostrado na Fig. 3. O sensor de força é conectado, por meio de uma interface, a um computador e
um programa fará a aquisição das medidas de força F(t) e o seu registro gráfico.

Figura 3 - Montagem para medir a força exercida


por uma mola sobre um objeto que oscila
dependurado na sua extremidade.

 Junto à montagem haverá explicações sobre o uso do sistema de aquisição de dados e dos
programas utilizados. Procure familiarizar-se com os instrumentos da montagem e com o
programa de aquisição de dados.
 Escolha uma taxa de aquisição de dados adequada para sua medição, ou seja, quanto pontos
serão medidos por segundo. Para isso, lembre-se de que o movimento é periódico e você
deseja ter um número suficiente de pontos medidos por período.Toda informação sobre esse
movimento está contida em apenas um período, portanto é suficiente registrar apenas alguns
ciclos do movimento.
 Com o objeto em repouso na extremidade da mola, ajuste a leitura do sensor em zero (tarar o
sensor). Ponha, então, o objeto para oscilar e, depois, comece a aquisição de medidas da força
em função do tempo.
 Analisando o gráfico obtido, estime os valores dos parâmetros Fmax ,  e  da equação 5 .
 Em seguida, utilizando um programa de ajuste de dados (instruções anexas à montagem),
determine os valores dos parâmetros Fmax ,  e  que melhor ajustam a curva descrita pela
equação (5) aos resultados experimentais F(t). Expresse os valores de Fmax ,  e  com suas
respectivas incertezas.
 Com o valor da massa do objeto, determine a constante elástica da mola e a sua respectiva
incerteza. Encontre o valor da amplitude A de oscilação do movimento. Escreva a equação do
movimento do objeto.
 Determine o valor da constante elástica da mola por algum outro processo e compare-o com
o valor encontrado anteriormente e com o valor encontrado na parte I desse experimento.
 Repita a aquisição de dados de F(t) com uma maior amplitude de oscilação e compare o
gráfico obtido com o anterior. O período de oscilação se alterou? Comente.
41
Experimentos de Mecânica

42
Experimentos de Mecânica

MOMENTO DE INÉRCIA:
MOVIMENTOS COMBINADOS DE TRANSLAÇÃO E DE ROTAÇÃO

INTRODUÇÃO

Movimentos de rotação e translação combinados, chamados de rolamentos, são muito comuns no


dia-a-dia; as rodas de um veículo, por exemplo, giram – movimento de rotação – ao mesmo tempo
que se deslocam para frente ou para trás – movimento de translação. A inércia de um objeto para um
movimento de translação depende de sua massa. Para uma rotação, a inércia depende do momento de
inércia desse objeto. Essa grandeza leva em conta a distribuição de massa do objeto em relação ao
eixo em torno do qual ele gira.
Considere um objeto girando com velocidade angular  em torno de um determinado eixo, como
ilustrado na Fig. 1. Cada elemento de massa dm desse objeto, localizado a uma distância r do eixo de
rotação, descreve uma trajetória circular de raio r, com uma velocidade linear v = r e, portanto, com
uma energia cinética de rotação dK = ½ dm 2 r2. A energia cinética total de rotação K do objeto é
obtida somando-se as energias de todos esses elementos de massa, ou seja,
1 2 2
2
K r ω dm . (1)

Figura 1 - Um objeto gira com velocidade angular de módulo em torno de um eixo
perpendicular ao plano da figura, que passa pelo ponto O.

Considerando que o objeto gira apenas em torno do eixo O (ele não gira em torno de si mesmo),
a velocidade angular é a mesma para qualquer elemento de massa dm, portanto, o termo 2 pode ser
colocado fora da integral e o resultado para a energia cinética de rotação é
1 2 2 1
K ω  r dm  ω 2 I , (2)
2 2

em que a grandeza I   r 2 dm é denominada momento de inércia do objeto.

43
Experimentos de Mecânica

Pode-se mostrar que qualquer objeto com distribuição de massa com simetria cilíndrica ou
esférica em relação ao seu eixo central (objeto em forma de cilindro, disco, anel, casca esférica ou
esfera maciça), tem um momento de inércia dado por

I  MR 2 , (3)

em que é M é a massa do objeto, R é o seu raio e é um parâmetro que depende apenas da sua simetria.
Mostra-se que  é igual a 2/5 para uma esfera, igual a 1/2 para um cilindro e igual a 1 para um aro
ou anel. Mostra-se que para objetos e forma de esfera, cilindro, aro ou anel, esse parâmetro vale,
respectivamente, esfera= 2/5, cilindro=1/2, aro= anel=1.
As atividades experimentais aqui abordadas são divididas em duas partes: na primeira, estuda-
se o movimento de objetos que giram sem deslizamento e,na segunda, com deslizamento. No segundo
caso, há dissipação de energia e a energia mecânica não se conserva.

MOVIMENTO DE ROTAÇÃO SEM DESLIZAMENTO

Considere um objeto de seção circular que desce uma rampa, rolando, sem deslizar, como
ilustrado na Fig. 2.

Figura 2 - Vista lateral de um objeto de seção circular descendo um plano inclinado.

Como não há deslizamento (e desprezando-se o atrito com o ar), a energia mecânica desse sistema
se conserva, ou seja, em qualquer instante a soma das energias potencial gravitacional, cinética de
translação e cinética de rotação é constante.
 Com base na conservação da energia mecânica mostre que, se o objeto for colocado para rolar
sobre a rampa a partir do repouso, após percorrer uma distância x, módulo v de sua velocidade
será dado por
2 g sen 
v2  x, (4)
1 
em que g é a aceleração da gravidade e é o ângulo de inclinação da rampa. Note que, nessa
expressão, a velocidade de um objeto de seção circular não depende de sua massa nem de seu raio,
mas apenas da maneira como essa massa é distribuída, em torno de seu eixo, ou seja, do parâmetro
.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar, experimentalmente, o parâmetro  para um aro ou cilindro e para uma esfera.
44
Experimentos de Mecânica

Sugestão de material
 Rampa com ~1,5m de comprimento, com suporte para elevação de um dos lados da rampa,
esfera, aro e cilindro, trena, cronômetro.

PROCEDIMENTO
 Eleve uma das extremidades da rampa de forma que ela faça um ângulo de cerca de 5o com
a horizontal. Especifique o ângulo escolhido.
 Antes de iniciar as medidas, familiarize-se com a forma como será feita a medição do tempo
gasto pelo objeto para percorrer determinada distância desde o instante em que ele é solto.
 Coloque um dos objetos – esfera e aro (ou cilindro) – para rolar sobre a rampa e meça o tempo
de percurso para diferentes distâncias. Faça isso para, pelo menos, cinco distâncias diferentes
e, para cada distância, repita a medição do tempo de percurso pelo menos cinco vezes, para a
minimizar os erros aleatórios. Procure obter essas medidas com desvios percentuais de no
máximo 2%, pois a determinação do valor de  é bastante sensível a essas medidas.
 Como a rampa é reta e considerando-se que a força de atrito permanece constante durante
todo o percurso, a força resultante sobre o objeto é constante e, portanto, sua aceleração a
também. Para um movimento de translação com aceleração constante,
x =½at2 e v = at.

 A partir das medidas das distâncias percorridas e dos respectivos tempos médios, calcule as
velocidades do objeto ao final de cada percurso. Com base na equação 4, obtenha, por uma
análise gráfica, o valor de  (e sua respectiva incerteza) para o objeto utilizado e compare-o
com o valor esperado.
 Repita os procedimentos e as medições com o outro objeto.

MOVIMENTO DE ROTAÇÃO DE UM VOLANTE

A Fig. 4 ilustra o movimento de um pequeno volante que desce, rolando, por uma calha inclinada.
volante

calha

Figura 4 - Um pequeno volante desce rolando por uma calha inclinada.

Sejam M a massa e R o raio do volante, r o raio de seu eixo e  o ângulo de inclinação da calha
em relação à horizontal. Durante o movimento desse volante, as forças que atuam nele são o seu peso
P, a força de atrito fa e a força normal N que a calha exerce em seu eixo. Essas grandezas estão
representadas na Fig. 5.

45
Experimentos de Mecânica

Figura 5 - As forças que atuam no volante são o seu peso P, a força de atrito fa e a força
normal N exercida pela calha.

O peso atua no centro de gravidade do volante e a normal, no ponto de contato do eixo do volante
com a calha. Como essas forças atuam em uma direção que passa pelo eixo do volante, elas não
produzem torque. Por sua vez, a força de atrito atua a uma distância r desse eixo, e é perpendicular e
ele, portanto produz o torque que faz o volante girar.
Dependendo da inclinação da calha e do atrito entre ela e o volante, podem ocorrer dois tipos de
movimento do volante: com deslizamento ou sem deslizamento.

MOVIMENTO COM DESLIZAMENTO, SEM ROTAÇÃO


Se a força de atrito entre o volante e a calha for desprezível, ela não produz torque e o volante
não gira, mas apenas desliza sobre a calha. Nesse caso, o movimento do volante é idêntico ao de uma
partícula de mesma massa que ele, localizada no seu centro de massa.
 Mostre que, nessa situação, a aceleração acm do centro de massa do volante é paralela à calha e
tem módulo
a cm  gsen . (1)

Considere que o volante, inicialmente em repouso, é solto de uma altura h em relação à base da
calha. Desprezando-se todas as formas de atrito, a energia mecânica se conserva.
 Mostre que, nessa situação, o volante chega ao final da calha com velocidade vcm dada por

v cm  ( 2 gh ) 2 .
1
(2)

MOVIMENTO SEM DESLIZAMENTO


Se a força de atrito fa entre o volante e a calha for menor que a força de atrito estático máxima,
ou seja, se
f a  e Mg cos  ,

o volante não deslizará sobre a calha. Nesse caso, há movimentos de translação e de rotação do
volante – ele gira com velocidade angular  em torno de seu eixo, enquanto seu centro de massa se
desloca com velocidade
vcm   r ,

em que r é o raio do eixo do volante, como mostrado na Figura 2.

46
Experimentos de Mecânica

Se não houver deslizamento, a energia mecânica do volante é conservada (por que?).


 Mostre, então, que, ao ser solto de uma altura h, o volante chega ao final da calha com velocidade.
1
  2
 2 gh 
vcm    , (3)
I
 1  cm2 
 Mr 
em que Icm é o momento de inércia do volante em relação ao seu eixo.
Durante a descida, a aceleração do centro de massa do volante é constante (por que?), portanto
2 2
v cm  v o  2 a cm d ,

em que vo= 0 é a velocidade inicial do volante. Assim,


gh
acm  d . (4)
I cm
1
Mr 2
 Mostre que se r<<R , o momento de inércia do volante é, aproximadamente,
1
I cm  MR 2 .
2

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Medir a aceleração e a velocidade do centro de massa de um volante que desce, rolando, por
uma calha inclinada.
 Analisar o movimento do volante em duas situações: com deslizamento e sem deslizamento.

Sugestão de material
 Calha, volante, trena e cronômetro

PROCEDIMENTO
 Posicione o volante na calha inclinada de aproximadamente 5 em relação à mesa, e, em
seguida, solte-o. Repita o mesmo procedimento que foi feito com a esfera e com o cilindro
para determinar a velocidade com que ele chega ao final da calha. Para isso, meça a distância
percorrida pelo volante e o tempo médio gasto no percurso. Calcule, então, os valores da
aceleração e da velocidade final do centro de massa do volante, com suas respectivas
incertezas.
 Considere, então, duas hipóteses: o volante desliza ou ele não desliza enquanto desce pela
calha. Para cada uma dessas hipóteses, calcule a aceleração e a velocidade final esperadas
para o volante (não é necessário calcular as incertezas).
 Compare esses resultados com os que foram obtidos experimentalmente e discuta qual das
duas hipóteses é a mais adequada à situação analisada.

47
Experimentos de Mecânica

 Agora, ajuste o ângulo de inclinação da calha para aproximadamente 30o e repita os


procedimentos descritos nos itens anteriores.
 Discuta as diferenças entre os resultados obtidos para as duas inclinações.

48
Experimentos de Mecânica

COLISÃO INELÁSTICA

INTRODUÇÃO

Uma colisão entre dois objetos pode ser classificada considerando-se a energia cinética do sistema
antes e depois da colisão: quando essa energia se conserva, a colisão é elástica, caso contrário, ela é
inelástica. Quando os dois objetos permanecem unidos após a colisão, esta é perfeitamente inelástica.
Considere uma bola de algum material elástico que, ao ser solta de uma altura hi, chega ao chão
com velocidade vi, como representado na Fig. 1a. Durante o contato com o chão, a bola é comprimida
e perde parte de sua energia cinética; em seguida, ela sobe com velocidade vj, até atingir uma altura
hj, como representado na Fig. 1b.

Figura 1 - (a) Uma bola de borracha, solta de uma altura hi,


chega ao solo com velocidade vi. (b) Após a colisão com o
piso, ela sobe com velocidade vj até atingir uma altura hj.

Na colisão com o chão, a perda de energia cinética da bola é


1 1
E  m i2   2j   mi2 1  r 2  ,
2 2

j
em que r  é chamado de coeficiente de restituição da colisão.
i
Em uma colisão elástica, tem-se r = 1 já que E = 0. Em uma colisão inelástica, parte da energia
cinética é dissipada e, portanto, r < 1.
Em cada colisão com o chão, a bola perde parte de sua energia cinética e atinge, sucessivamente,
alturas cada vez menores. É possível determinar-se o coeficiente de restituição medindo-se as alturas
hi e hj (veja figura 1). Considerando-se que há conservação de energia mecânica nos intervalos antes
e após cada colisão, então,
1 2 1 2
mi  mghi e m j  mgh j
2 2

Portanto o coeficiente de restituição é dado por

49
Experimentos de Mecânica

j hj hj
r  ou r2  .
i hi hi

Dessa forma, a altura que a bola atinge após colidir-se com o chão é igual à razão entre as alturas
máximas antes e depois de cada colisão e esse valor independe da altura inicial de que ela caiu.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar o coeficiente de restituição na colisão de uma bola com o chão.
Sugestão de material
 Fita métrica fixada sobre um suporte ou na parede da sala e bola de material elástico com alto
coeficiente de restituição.

PROCEDIMENTO
 Solte a bola de uma altura inicial h0  2 m e anote a altura h1 que ela atinge após a primeira
colisão. Repita essa operação, pelo menos, cinco vezes e determine o valor médio de h1 e o
desvio h1. Sugestão: treine esse procedimento algumas vezes antes de começar a fazer as
medidas.
 Em seguida, solte a bola da altura h1 e determine a altura h2 que ela atinge após a colisão; essa
altura é a mesma que a bola atingiria após duas colisões com o chão, depois de ser solta da
altura h0. Repita esse procedimento até, pelo menos, a altura h6 e anote os resultados em uma
tabela. Faça o gráfico de hn em função de n.
h h h hn
 Utilizando a equação r 2 = 1 = 2 = 3 = . . . , mostre que hn = h0 r 2n .
h0 h1 h2 hn1
 Com base na equação acima, faça um gráfico e uma regressão linear para determinar o
coeficiente de restituição e sua respectiva incerteza. Compare o valor de h0 encontrado a partir
do gráfico com o valor medido.
 Utilizando o valor do coeficiente de restituição encontrado, determine a fração percentual da
energia cinética dissipada em cada colisão da bola com o chão.
 Qual é o coeficiente de restituição de uma bola que atinge 10% da altura original da queda depois
de 5 colisões?

50
Experimentos de Mecânica

DENSIDADE DE UM LÍQUIDO

INTRODUÇÃO

Um objeto, ao ser mergulhado em um fluido qualquer, fica sujeito a uma força para cima devido
à diferença entre as pressões nas suas partes superior e inferior. O módulo E dessa força, chamada de
empuxo, é igual ao peso do fluido deslocado pelo objeto, ou seja,
E   gV

em que  é a densidade do fluido, g é a aceleração da gravidade e V é o volume do fluido deslocado


pelo objeto. Esse resultado é conhecido como Princípio de Arquimedes.
Considere o objeto pendurado em um dinamômetro, como mostrado na Fig. 1a. Nessa situação,
a leitura no dinamômetro é P. Em seguida, esse objeto é imerso em um líquido e, ao atingir o
equilíbrio, a leitura no dinamômetro passa a ser P’, como mostrado na Fig. 1b.

 Mostre que, nessa situação,


P  P   gV .

Então, medindo-se o peso aparente P’ e o volume V submerso do objeto, pode-se determinar a


densidade do líquido.

(a) (b)
Figura 1 - Representação das forças que agem sobre o objeto; Em (a), o dinamômetro
indica o peso P; em (b), o dinamômetro indica o peso aparente P.’

51
Experimentos de Mecânica

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a densidade de um líquido.
Sugestão de material
 Cilindro de alumínio graduado, dinamômetro, recipiente transparente contendo líquido de
densidade desconhecida, haste com suporte e régua.

PROCEDIMENTO
 Utilizando o dinamômetro e a régua, determine o peso e o volume do cilindro de alumínio.
 Mergulhe o cilindro, ainda pendurado no dinamômetro, gradualmente no líquido. Para cada
graduação do cilindro, registre o valor do peso aparente P’ e o do volume mergulhado V.
 Faça o gráfico de P’ em função de V. A relação linear entre essas grandezas pode ser
representada pela equação P’ = a + b V . Especifique as grandezas físicas que correspondem
às constantes a e b.
 Com os resultados obtidos, faça uma regressão linear e determine os valores dessas duas
constantes.
 Compare os resultados encontrados neste experimento com aqueles mostrados na Tab. 1 e
veja se é possível identificar o líquido utilizado.

Tabela 1
Densidades de alguns líquidos, em g/cm3, à
temperatura ambiente (~20o C).
Água 1,00 (1)
Benzeno 0,90 (1)
Etanol 0,80 (2)
Éter 1,49 (1)
Glicerina 1,26 (1)
Mercúrio 13,6 (1)

52
Experimentos de Mecânica

PÊNDULO DE TORÇÃO

INTRODUÇÃO

Um pêndulo de torção é um exemplo de um oscilador harmônico simples, em que o elemento


de restituição é o torque produzido pela torção de um fio e o elemento de inércia é um objeto preso
na extremidade livre do fio. Na Fig.1 apresentam-se exemplos de pêndulos de torção.

Figura 1 - Alguns exemplos de pêndulos de torção. Em (a) e (b), a torção no fio de


suspensão proporciona o torque restaurador; em (c), o torque é causado por uma mola
espiral e um volante – esse tipo de pêndulo é usado como base de tempo em relógios
mecânicos.

Se a amplitude de oscilação  for pequena, o torque restaurador  será proporcional ao


deslocamento angular Lei de Hooke , isto é,
 =  k,

em que k é uma constante que depende das propriedades do fio comprimento, diâmetro, material  e
é denominada constante de torção do fio. Chamando de I o momento de inércia do objeto em relação
ao eixo de rotação, a 2ª Lei de Newton para movimento de rotação estabelece que a aceleração angular
é proporcional ao torque restaurador, isto é,

d 2
   k  I
dt 2 .

Assim, a equação de movimento de um pêndulo de torção é

d 2 k
  0 . (1)
dt 2 I

Observa-se uma forte semelhança dessa equação a de um sistema massa-mola. Nesse sistema, a
força restauradora é

53
Experimentos de Mecânica

F =  Kx ,

em que K é a constante elástica da mola e x é o seu deslocamento linear. Essa equação pode ser
reescrita como

d 2x K
 x0 , (2)
dt 2 m

m
cuja solução é um movimento oscilatório, com um período de oscilação dado por T  2  .
K
Por analogia, o período de oscilação de um pêndulo de torção, para pequenas oscilações, é dado
por

I
T  2
k (3)

em que a constante de torção está relacionada com o módulo de cisalhamento  do fio pela equação

 r4
k , (4)
2

em que r é o raio do fio e  é o seu comprimento. O módulo de cisalhamento, que é uma propriedade
do material foi definido no experimento Propriedades Elásticas de Sólidos.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar a constante de torção e o módulo de cisalhamento de um fio.
 Determinar o momento de inércia de um objeto.
Sugestão de material
 Suporte, régua, cronômetro, micrômetro, fio de aço, um cilindro e paralelepípedo.

PROCEDIMENTO
A montagem utilizada nesse experimento está mostrada na Fig. 2. Girando-se o cilindro de
um pequeno ângulo, ele oscilará devido à torção no fio de aço.
O momento de inércia de um cilindro, em relação a um eixo coincidente com a direção do fio,
como mostrado na Fig. 2, é dado por
1
Icil  MR 2
2 ,

em que M e R são, respectivamente a massa e o raio do cilindro.

54
Experimentos de Mecânica

Figura 2 - Um cilindro maciço é pendurado em uma das extremidades de um fio de aço,


que tem a outra extremidade fixa em um suporte; o pêndulo pode ser modificado
substituindo-se o cilindro por um paralelepípedo.

 Meça diretamente essas grandezas e determine o momento de inércia do cilindro.


 Produza um pequeno deslocamento angular no cilindro para ele comece a oscilar. Espere até
que o movimento se estabilize e, então, meça o tempo correspondente a, pelo menos, 10
oscilações completas. Determine o período de oscilação do pêndulo.
 Determine a constante de torção do fio e seu módulo de cisalhamento com as respectivas
incertezas.
 Troque o cilindro pelo paralelepípedo e meça o período de oscilação do pêndulo assim
formado. Com o valor determinado para a constante de torção do fio, obtenha o momento de
inércia do paralelepípedo. Compare esse resultado com o obtido usando-se a relação

M 2
I paral  ( a  b2 )
12 ,

em que a e b são os comprimentos das arestas e M é a massa do paralelepípedo.

 O paralelepípedo possui três arestas diferentes. Justifique a escolha das duas arestas, a e b, para
o cálculo do momento de inércia.

55
Experimentos de Mecânica

FORÇA DE ATRITO ESTÁTICO

INTRODUÇÃO

A força de atrito estático fe entre duas superfícies em contato pode ter estes valores:

fe  e N , (1)

em que e é o coeficiente de atrito estático e N é o módulo da força normal às superfícies. O valor de


e depende da natureza das superfícies e é praticamente independente da área de contato entre elas.
Quando uma força externa F é aplicada na direção do movimento, essa equação é válida até
imediatamente antes de as superfícies começarem a se mover. Nessa situação, o módulo dessa força
é igual ao valor máximo da força de atrito estático, ou seja, F  f e max  e N .
Um método simples para se medir o coeficiente de atrito estático entre duas superfícies está
representado na Fig. 1. Um objeto é colocado sobre uma superfície inclinada em relação à horizontal.
Em seguida, aumenta-se a inclinação da superfície até que o bloco comece a se mover quando o
ângulo é e.
 Mostre que, nessa situação, o coeficiente de atrito estático é dado por

  tan e . (2)

Bloco
Lâmina

Figura 1 - Um bloco é colocado sobre uma superfície plana, que é inclinada até que ele
comece a deslizar.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar o coeficiente de atrito estático entre duas superfícies.
 Analisar a dependência do coeficiente de atrito estático com a rugosidade, com a área de uma
superfície e com a força normal a ela.
Sugestão de material
 Base, transferidor, três lâminas de diferentes materiais, bloco de metal polido em forma de
paralelepípedo, quatro objetos com suporte para fixar-se um no outro e pedaço de flanela.

56
Experimentos de Mecânica

PROCEDIMENTO
 Fixe uma das lâminas na base e coloque o bloco sobre ela, como mostrado na Fig. 1. Em
seguida, incline a base, lentamente, até que o bloco esteja prestes a se mover. Meça o valor
do ângulo de inclinação e, utilizando a equação 2, determine o coeficiente de atrito estático
entre as superfícies do bloco e da lâmina. Repita esse procedimento para obter um valor médio
de e.
 Repita o mesmo procedimento utilizando lâminas de materiais diferentes e determine os
coeficientes de atrito entre a superfície de cada uma delas e a do bloco. Verifique se os valores
obtidos, comparativamente, correspondem à sua expectativa.
 Em seguida, analise a influência da área de contato sobre a força de atrito. Para isso, determine
o coeficiente de atrito estático entre uma das lâminas e cada face de diferente área do bloco.
Verifique se o resultado encontrado é compatível com a equação 1.
 Agora, analise a dependência do coeficiente de atrito estático com a força normal à superfície.
Para variar essa força, coloque, gradativamente, objetos de massa conhecida sobre a
superfície. Verifique se o resultado encontrado é compatível com a equação 1.

57
Experimentos de Mecânica

DEFORMAÇÃO INELÁSTICA E PROCESSO IRREVERSÍVEL

INTRODUÇÃO

Duas características observadas no comportamento elástico de um sólido são a linearidade e a


reversibilidade. A linearidade relaciona-se à proporcionalidade entre a força aplicada ao sólido e a
consequente deformação deste. A reversibilidade significa que, aplicando-se uma força crescente e,
em seguida, decrescente em um sólido, este se alonga e, depois, volta à situação inicial pelo mesmo
caminho, isto é, por uma mesma curva em um gráfico de força versus alongamento. Do ponto de vista
das energias envolvidas, em um processo reversível, o sólido, ao retornar ao seu estado inicial, realiza
sobre o agente aplicador da força o mesmo trabalho que este realizou sobre ele para alongá-lo.
Existem sistemas que não apresentam essas características; em alguns casos, a dependência entre
força e alongamento pode, até mesmo, não ter uma expressão analítica, podendo ser conhecida apenas
experimentalmente. O trabalho realizado nesses sistemas, além de produzir deformações mecânicas,
é utilizado para promover reações químicas, modificações estruturais, transformações moleculares e
aquecimento, entre outros. Assim, não é possível ao sistema devolver toda a energia cedida ao agente
aplicador da força e o processo de deformação é irreversível.
Um exemplo simples de uma situação desse tipo ocorre com uma gominha de borracha ao ser
esticada. Nesse caso, observa-se uma não-linearidade entre a força aplicada e o alongamento
produzido e, também, uma irreversibilidade do processo.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Estudar a deformação produzida em gominhas de borracha.
Sugestão de material
 Duas gominhas de borracha, base, haste de sustentação, régua milimetrada, suporte e objetos
com massas de, aproximadamente, 50 g.

PROCEDIMENTO

Alongamento de uma gominha em função do tempo


 Nesta parte do experimento, será aplicada uma força constante em uma gominha e serão feitas
medidas de seu alongamento em função do tempo. Pendure uma gominha na haste de
sustentação e coloque, na extremidade oposta, o suporte para os objetos, como mostrado na
Fig. 1.

58
Experimentos de Mecânica

Figura 1 – Objetos de massas conhecidas são pendurados na extremidade de uma gominha.

 Coloque um objeto de, aproximadamente, 500 g no suporte, segurando-o para que a gominha
não se estique. Deixe que o suporte desça lentamente até ele se equilibrar sozinho, e faça,
imediatamente, a leitura do comprimento inicial yo da gominha, nessas condições. Nesse
momento, dispare o cronômetro. Faça leituras do comprimento y da gominha, a cada 20 s, até
180 s.
 Esboce do gráfico do alongamento y = y – yo da gominha em função do tempo.

Alongamento da gominha em função da força aplicada durante a carga e a descarga


 Agora, utilizando a outra gominha, faça medidas de seu alongamento y em função da força
aplicada. Observando o gráfico obtido na etapa anterior, estime o tempo que se deve aguardar
entre o instante em que cada objeto é colocado no suporte e a leitura do alongamento
correspondente. (Observação: ao acrescentar os objetos, segure o suporte para evitar que a
gominha oscile e relaxe.) Para fazer as medidas, acrescente os objetos, um a um, até atingir a
carga máxima de 700 g.
 Inicie, então, o processo de descarga, retirando os objetos, um a um, e medindo o alongamento
correspondente.
 Responda se no processo de descarga, há necessidade de aguardar algum tempo entre a retirada
de um objeto e a leitura do alongamento.
 Faça o gráfico da força aplicada em função do alongamento da gominha para os processos de
carga e descarga. Observe o gráfico e comente o resultado em termos de linearidade e
reversibilidade.
O trabalho de uma força F aplicada na direção do deslocamento x de um objeto é dado por
W   F dx .
Assim, os valores do trabalho da força sobre a gominha, durante os processos de carga e de
descarga, podem ser determinados calculando-se as áreas sob as curvas no gráfico F versus y.
 Calcule o trabalho líquido realizado depois de um ciclo de carga e descarga e dê uma
interpretação física para ele. Considerando a precisão que se pode ter nas medidas de força e
alongamento, estime a incerteza no valor do trabalho.
 Compare o valor encontrado para o trabalho com o valor de trabalho e/ou energia envolvidos
em algum fenômeno de seu conhecimento.

59
Experimentos de Mecânica

 A gominha de borracha é constituída por um conjunto de cadeias poliméricas com uma


estrutura fibrilar central e ramificações laterais. O fato de o trabalho total realizado no ciclo
ser diferente de zero, deve-se à ruptura de ligações químicas entre as cadeias de moléculas da
gominha no processo de carga; ao se reverter esse processo, fazendo-se a descarga, as ligações
não se refazem. Pode-se estimar a energia necessária para romper uma dessas ligações como
se segue.
O material da gominha tem ponto de fusão em temperaturas de ~ 400 K (~ 130 oC). A essa
temperatura, a energia cinética média por grau de liberdade é de (1/2) kT, em que k é a
constante de Boltzmann (k = 1,38 x 1023 J/K) e T é a temperatura em Kelvin. Essa energia
cinética média é da mesma ordem de grandeza da energia necessária para romper uma ligação
química entre as cadeias do polímero que constitui a gominha.
Partindo desse raciocínio, estime o número de ligações químicas que foram rompidas na
gominha, neste experimento. Compare o resultado com o número de Avogrado NA
(6,02 x 1023 /mol).

60
Experimentos de Mecânica

TENSÃO SUPERFICIAL

INTRODUÇÃO

Fenômenos de superfície têm interesse multidisciplinar e são importantes tanto para a Física
quanto para a Química, a Biologia e as Engenharias. Além disso, há vários efeitos observados no dia-
a-dia, que estão relacionados às propriedades da interface entre duas fases – por exemplo, grãos de
areia, clipes de papel e outros objetos pequenos podem flutuar sobre a superfície da água, mesmo
sendo mais densos que ela; algumas espécies de insetos conseguem andar sobre a superfície da água
sem se molhar; na extremidade de um conta-gotas, um líquido sai na forma de gotas, e não como um
filete contínuo.
Para entender esses fenômenos, considere a interface de um líquido com seu próprio vapor ou
com o ar, como representado na Figura 1. Cada molécula no interior do líquido é atraída pelas demais
moléculas igualmente, em todas as direções, enquanto as moléculas que estão na superfície são
atraídas para o interior do líquido mais fortemente que em direção ao ar. Ocorre, então, uma contração
espontânea da superfície. No interior do líquido, as forças de coesão atuam no sentido de estabilizar
o sistema, reduzindo a energia potencial de cada molécula. Porém, por não ter o mesmo número de
vizinhas, uma molécula na superfície apresenta maior energia potencial que as no interior do líquido.
Portanto, para aumentar a superfície de um líquido, devem-se transferir moléculas de seu interior para
a interface, e isso requer certa energia.

FIGURA 1 - Uma molécula no interior do líquido é atraída pelas demais moléculas,


igualmente, em todas direções, enquanto as moléculas, na superfície são atraídas para o
interior do líquido mais fortemente que em direção ao ar.

Define-se a tensão superficial  como a razão entre o trabalho externo W, necessário para
aumentar de A a área da interface do líquido, e essa área, ou seja,

W
 
A . (1)

61
Experimentos de Mecânica

As forças na interface de um líquido são semelhantes àquelas que mantêm películas elásticas
de sólidos esticadas, por exemplo, em membranas e balões de borracha. No entanto, como a tensão
superficial independe da área da superfície do líquido, esses sistemas são muito diferentes de películas
elásticas sólidas. Quando a área dessas películas é modificada, o número de moléculas na superfície
permanece constante, no entanto, as forças e as distâncias entre as moléculas se alteram. Por outro
lado, uma alteração na área de uma interface ocorre por meio da variação do número de moléculas,
mas a distância média entre elas e a força permanecem praticamente constantes.
A existência de forças na superfície de um líquido pode ser demonstrada com o dispositivo
representado na Figura 2, em que um laço de linha fina tem suas extremidades amarradas a um arame
dobrado em forma de anel. Mergulhando-se esse conjunto em uma solução de água com sabão, forma-
se uma película na parte interna do anel onde o laço de linha flutua livremente, sem forma definida.
Nessa situação, as moléculas do líquido, tanto na parte interna quanto na parte externa do laço,
exercem forças sobre a linha, permitindo que ela fique em equilíbrio. Quando a película na parte
interna do laço é destruída, o laço assume uma forma circular. Isso ocorre devido às forças radiais
exercidas pelas moléculas sobre a superfície da película.

FIGURA 2 - Em (a), forma-se uma película em um anel mergulhado em uma solução de


água com sabão e um laço de linha, preso no anel, flutua nessa película; em (b), removendo-
se a película do interior do laço, este assume uma forma circular.

A tensão superficial de um líquido pode ser determinada medindo-se a força por unidade de
comprimento necessária para aumentar a área da superfície desse líquido. Considere, por exemplo,
um fio dobrado em forma de U, sobre o qual um outro fio, de comprimento , pode deslizar sem
atrito, como mostrado na Figura 3.
fio
fio móvel
película

a) F

FIGURA 3. Em (a), o fio móvel é mantido em equilíbrio pela


força F, de mesmo módulo e com sentido oposto à força exercida
pelas moléculas do interior do líquido; em (b), o trabalho
realizado sobre o fio aumenta a área de cada face da película de F
b)
x.
x

62
Experimentos de Mecânica

Esse conjunto é imerso em uma solução de água com sabão e, em seguida, retirado. Deslocando-
se o fio móvel, forma-se uma película de água com sabão, como mostrado na Figura 3. Se esse fio
for solto, observa-se que ele é puxado pelo líquido devido à tensão superficial que tende a minimizar
a superfície do líquido. Seja F a força necessária para deslocar o fio de x com velocidade constante.
Nessa situação, a energia para mover as moléculas do interior do líquido para a superfície da película
é igual ao trabalho realizado pela força externa sobre o fio. Como a película tem duas superfícies, o
aumento de sua área é de 2x. Utilizando-se a equação 1, obtém-se

F x F
 ou  . (2)
2  x 2

Esse resultado é utilizado, atualmente, nos principais métodos para se medir a tensão superficial
de líquidos. Neste experimento, será utilizado o Método de Du Nouy, também conhecido como
Método do Anel. Nele, um anel metálico circular é suspenso em uma balança de precisão –
dinamômetro de torção –, e uma base de altura ajustável é usada para levantar o líquido a ser medido
até que entre em contato com o anel. Em seguida, o recipiente é novamente abaixado para esticar a
película de líquido que se forma em torno do anel, como mostrado no detalhe da Fig. 4a. O módulo
F da força que o líquido faz sobre esse anel, devido à tensão superficial, é dado por

F  2 (2 r ) cos  ,

em que 2r é o perímetro do anel,  é o ângulo de contato do líquido e o fator 2 se deve às duas
películas que se formam – uma na parte interna e outra na parte externa do anel, como representado
na Figura 4a.
Quando o anel está em equilíbrio, a balança exerce uma força sobre ele, cujo módulo F é

F  4 r cos   P  P ,

em que P é o peso do anel e P é o peso do líquido que é levantado junto com ele. Na Figura 4b, essa
força está representada em função do deslocamento do anel a partir da superfície do líquido.

FIGURA 4 - Em (a) apresenta-se o método utilizado a se medir a tensão superficial de um


líquido: um anel circular é imerso no líquido e, em seguida, retirado lentamente; nesse caso,
a tensão superficial é calculada a partir da medição da força máxima para levantar o anel;
em (b) apresenta-se o gráfico da força exercida sobre o anel em função de sua distância até
a superfície do líquido.
63
Experimentos de Mecânica

Quando o módulo dessa força é máximo, Fmax, ela tem direção vertical; nesse momento, o ângulo
de contato  = 0o. Desprezando-se o peso P do líquido que fica retido no anel e tarando-se a balança
para descontar o peso do anel, a tensão superficial é, então, dada por
Fmax

4 r . (3)

Na Tabela 1, estão relacionados os valores da tensão superficial de alguns líquidos em contato


com o ar.

Tabela 1.
Tensão superficial de alguns líquidos no ar.
Temperatura Tensão superficial 
Líquido
(oC) (103 N/m)
Álcool etílico 20 22,3
Glicerina 20 63,1
Mercúrio 20 465
Água 0 75,6
Água 20 72,8
Água 60 66,2
Água 100 58,9
Oxigênio -193 15,7
Hélio -269 0,12

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a tensão superficial da água e de uma solução de água com sabão.
Sugestão de material
 Dinamômetro de torção com sensibilidade de 104 N, anel metálico com diâmetro de ~2,0 cm,
base elevatória, recipiente para líquido com diâmetro maior que 10 cm, água destilada, álcool,
paquímetro, detergente.

PROCEDIMENTO
 Meça o diâmetro do anel e calcule seu perímetro. Em seguida, limpe-o, cuidadosamente, com
álcool para remover qualquer resíduo de gordura existente nele, enxágue-o com água destilada
e seque-o com uma toalha de papel limpa. Isso feito, não toque mais no anel.
 Lave o recipiente com água corrente, limpe-o com uma toalha de papel embebida em álcool,
enxágue-o e seque-o bem.
 Pendure o anel no dinamômetro e, em seguida, tare a balança – ou seja, ajuste sua leitura em
zero, de forma a eliminar o peso do anel na medida de força.
 Coloque o recipiente com água destilada sobre a base elevatória e ajuste sua altura para que o
anel fique completamente submerso. Em seguida, abaixe-a, lenta e gradualmente, e, ao mesmo

64
Experimentos de Mecânica

tempo, nivele o braço do dinamômetro a cada passo. Faça isso até o instante em que o anel se
desprende da superfície do líquido. Nessa situação, a leitura, na balança, é igual à força
máxima da água sobre o anel, dada pela equação 3.
 Repita essa medida várias vezes e determine o melhor valor dessa força, com sua respectiva
incerteza. Determine, então, a tensão superficial da água, também com a respectiva incerteza.
 Em seguida, deve-se medir a tensão superficial de uma solução de água com sabão. Para isso,
acrescente 5 a 10 gotas de detergente à água do recipiente. Homogeneíze a mistura obtida e
repita o procedimento descrito para se medir a força máxima do líquido sobre o anel.
 Calcule, então, a tensão superficial da solução de água com detergente, com sua respectiva
incerteza.
 Compare os resultados obtidos com aqueles mostrados na Tabela 1.

65
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

E X P E R I M E N T O S D E

T E R M O D I N Â M I C A

66
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

CALOR ESPECÍFICO DA ÁGUA

INTRODUÇÃO

O Efeito Joule consiste na dissipação de energia elétrica sob forma de energia térmica em um
condutor, no qual se estabelece uma corrente. Esse efeito tem aplicação prática, por exemplo em
aquecedores elétricos.
A energia E dissipada em um aquecedor elétrico, em um intervalo de tempo t, é dada por
E = I V t,

em que V é a tensão elétrica e I é a corrente no aquecedor, sendo ambas mantidas constantes.


A situação ilustrada na Fig. 1 apresenta um calorímetro, que consiste de um recipiente
termicamente isolado que contém um aquecedor elétrico e um termômetro. O aquecedor é alimentado
com uma tensão V, estabelecendo-se, assim, uma corrente elétrica I. O calorímetro contém uma massa
m de água.

Figura 1 - Aquecedor ligado à rede elétrica aquecendo uma quantidade de água de massa
m.

A energia transferida para o calorímetro é responsável pela elevação da temperatura T do sistema.


A quantidade de calor Q absorvida é
Q = CS T,

em que CS é a capacidade térmica do sistema (calorímetro + água) e T é a consequente variação de


temperatura. Desprezando-se a capacidade térmica do calorímetro, tem-se
CS = m c,

em que m e c são, respectivamente, a massa e o calor específico da água.


 Demonstre que, nas condições descritas, ligando-se o aquecedor durante um certo tempo, a
temperatura da água é dada por
67
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

IV
T  To  t
mc , (1)

em que To é a temperatura inicial (em t = 0) e T, a temperatura medida no tempo t.


Portanto, mantendo-se V e I constantes, a temperatura do sistema cresce linearmente com o tempo.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar o calor específico da água.
Sugestão de Material
 Miliamperímetro, recipiente termicamente isolado, água, aquecedor, misturador, cronômetro
e termômetro.

PROCEDIMENTO
Este experimento consiste em fornecer energia elétrica a um aquecedor enquanto se mede a
temperatura T da água em função do tempo t. Para isso, usa-se a montagem mostrada na Fig. 1
 Meça a temperatura inicial da água. Depois, ligue o aquecedor à rede elétrica e comece a
marcar o tempo. Anote o valor da corrente no circuito. Meça a temperatura da água em função
do tempo até que a temperatura fique cerca de 10 oC acima da temperatura inicial. Durante o
aquecimento, mexa a água para homogeneizar sua temperatura. Construa o gráfico de
T versus t.
 Tendo como base a equação 1, utilize o processo de regressão linear para obter o calor
específico da água e sua temperatura inicial. Considere 1,00 cal = 4,18 J.
 Que alteração se poderia esperar na medida do calor específico da água se a capacidade
térmica do calorímetro não tivesse sido desprezada?

68
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

DETERMINAÇÃO DA CAPACIDADE TÉRMICA DE UM CALORÍMETRO

INTRODUÇÃO

Quando um sistema absorve calor, pode haver um aumento em sua temperatura, dependendo do
processo termodinâmico envolvido. Define-se capacidade térmica Cs de um sistema como sendo a
razão entre a quantidade de calor Q que ele recebe e a consequente variação de temperatura T, ou
seja,
Q Q
Cs  
T T  TO

em que TO e T são as temperaturas inicial e final no processo, respectivamente.


A capacidade térmica por unidade de massa é chamada calor específico do sistema.
A determinação da capacidade térmica é feita, em geral, com o uso de um calorímetro, que é um
sistema fechado que não permite troca de calor com o ambiente. O procedimento é, então, de fornecer
uma quantidade de energia conhecida e medir a consequente variação da temperatura.
Uma maneira prática de fornecer energia é com o uso de um sistema elétrico. Ao se aplicar a um
aquecedor elétrico uma tensão elétrica V aparecerá nele uma corrente I. A energia E liberada por
esse aquecedor, em um intervalo de tempo t, é dada por
E = V I t .

 Para um sistema que não perde energia para a vizinhança, mostre que sua temperatura final T,
após o aquecedor ficar ligado durante um tempo t, será dada pela equação:

 VI 
T  To   t (1)
 Cs 

em que To é a temperatura inicial e Cs, a capacidade térmica do sistema.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Medir a capacidade térmica de um calorímetro.
Sugestão de material
 Voltímetro, amperímetro, ebulidor, termômetro, cronômetro, fonte de tensão, recipiente
termicamente isolado, agitador, água, cabos para ligações elétricas.
Com um ebulidor convencional, recomenda-se utilizar 200 ml de água, voltímetro com escala
de até ~20 V e amperímetro, de até ~5 A.

69
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

PROCEDIMENTO
 Monte o circuito esquematizado na Fig. 1. Peça ao professor que confira as ligações. Valores
da tensão elétrica a ser utilizada e a corrente correspondente devem estar indicados na
montagem.

Figura 1 - Esquema experimental para se medir a capacidade térmica Cs do sistema


calorímetro com a água.

Meça a temperatura da água T em função do tempo t em que o aquecedor ficou ligado.


Baseando-se na Eq. 1, faça um gráfico e, a partir dele, determine a capacidade térmica Cs do
sistema com sua respectiva incerteza. Sugestão para a coleta de dados: anote os tempos a cada
instante em que a temperatura da água varia de 1 grau, até cerca de 10 °C acima da temperatura
ambiente.
 Sabendo-se que Cs = Ccalorímetro + Cágua e que o calor específico da água é
c = (4,18  0,01)J/(g °C), calcule a capacidade térmica do calorímetro com sua respectiva
incerteza. Discuta seus resultados.
 Baseando-se no resultado obtido, discuta se o processo sugerido e a instrumentação utilizada
foram adequados para se medir a capacidade térmica do calorímetro.

70
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

GASES IDEAIS

INTRODUÇÃO

Gases são fluidos em que a interação entre suas moléculas é bastante fraca e as moléculas não
apresentam organização espacial. Em escala macroscópica, um gás pode ocupar todo o volume finito
do recipiente que o confina. O estado termodinâmico de uma certa quantidade de um gás fica
determinado quando se especificam sua temperatura Kelvin T, sua pressão p e seu volume V. Um gás
é chamado ideal quando essas grandezas macroscópicas, denominadas variáveis de estado, estão
relacionadas de acordo com a equação
pV = nRT, (1)
em que n é o número de moles e R = 8,3145 J/(mol.K) é a constante universal dos gases. Em baixas
densidades, um gás real tem um comportamento próximo ao de um gás ideal. Também, quando se
tem pequenas variações de p, V ou T , um gás real tem comportamento aproximado pela equação
(1).

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Verificar a validade da equação de estado dos gases ideais para uma certa quantidade de ar.
Sugestão de material
Os procedimentos indicados baseiam-se no equipamento representado na Fig. 1.

1. bulbo contendo o gás a ser analisado;


2. câmara externa ao bulbo por onde passa um
fluxo de água para manter a temperatura do
gás no valor desejado
3. entrada e saída do fluxo de água
4. coluna de mercúrio
5. termômetro
6. reservatório móvel de mercúrio
7. mangueira flexível
8. tampa do reservatório de mercúrio
9. banho térmico, com circulador de água e
controlador de temperatura

Figura 1 - O dispositivo utilizado neste experimento, que permite variar e medir a pressão, o volume
e a temperatura de uma certa quantidade de gás, é composto por 9 itens, como descritos acima.

71
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

PROCEDIMENTO
O equipamento necessário para este experimento permite variar-se a pressão, o volume e a
temperatura de uma certa quantidade fixa de gás. Este experimento é constituído de três etapas
distintas e, em cada uma delas mantém-se constante uma das variáveis de estado p, V ou T, enquanto
se observa o comportamento das outras duas. Nas descrições que se seguem, os números apresentados
entre colchetes referem-se aos itens assinalados na Fig. 1. Para a obtenção das medidas de
temperatura, volume e pressão, deve-se considerar que:
 os valores da temperatura T usados nas equações são na escala Kelvin.
 o volume de ar a ser medido é o volume interno do tubo [1], limitado pela coluna de mercúrio
[4]. Especificações para o cálculo deste volume – como, por exemplo, o diâmetro do tubo –
devem acompanhar a montagem.
 para variar a pressão do ar no tubo [1], deve-se mover o reservatório de mercúrio [6] para
cima ou para baixo. Inicialmente, é preciso remover a tampa do reservatório móvel [8] para
que a pressão na superfície do mercúrio, neste reservatório, seja igual à pressão atmosférica
local.

A pressão do ar no tubo [1] é dada por


p = po + gh (2)

em que po é a pressão atmosférica local,  = (13,59 ± 0,01) g/cm3 é a densidade do mercúrio, g é a


aceleração da gravidade local e h é a diferença de altura entre os níveis do mercúrio em [4] e em [6].
Deve ser observado que, nesse experimento, não é necessário que se conheça o valor da pressão
atmosférica local, pois será medida a variação da pressão do gás, dada pelo termo gh da equação 2.
Dessa forma, a análise de variação da pressão deve ser feita com a equação
nRT
gh   po
V , (3)

que resulta da combinação das equações 1 e 2.

Medição da pressão de um gás em função de seu volume, mantendo-se a temperatura constante


Nessa parte do experimento, a temperatura do ar dentro do tubo [1] deve ser mantida constante
pelo banho térmico [2] e [9]. Essa temperatura é medida com o termômetro [5] e poderá ser a própria
temperatura ambiente.
 Varie a altura do reservatório [6] de mercúrio para obter um conjunto de dados que relacionem
a variação de pressão gh com o volume V de ar no tubo.
 Faça o gráfico de gh versus V e, por meio de um processo de linearização (ou ajuste direto
da curva obtida), verifique a validade da equação 3 para descrever o comportamento desse
gás.
 A partir da análise desse gráfico, determine:
o a pressão atmosférica local (compare o valor encontrado com o valor medido com um
barômetro, no laboratório) e
o o número de moles de ar na amostra analisada.
72
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

Considerando que, nas condições normais de temperatura e pressão, 1 mol de gás ocupa um
volume de 22,4 litros avalie se o resultado encontrado corresponde ao esperado.

Medição do volume de um gás em função de sua temperatura, mantendo-se a pressão constante


Nessa parte do experimento, a pressão constante pode ser escolhida como sendo a pressão
atmosférica local. Para isso, as colunas de mercúrio no bulbo [1] e no reservatório [6] devem ser
mantidas no mesmo nível.
Para manter constante a temperatura do gás no tubo [1], utiliza-se o banho térmico [9], com o
controlador de temperatura e uma bomba que faz a água circular pela câmara [2].
 Ajuste a temperatura do banho térmico [9] próxima à temperatura ambiente e faça a água
circular pela câmara [2]. Meça a temperatura e o volume correspondente do gás. Em seguida,
varie a temperatura de 5 ºC em 5 ºC, até cerca de 80º C e, para cada situção, registre os valores
de V e T. Antes de cada registro, verifique se a pressão do gás está constante, ajustando a
altura do reservatório [6] para nivelar as colunas de mercúrio. Antes de cada medida, espere
o tempo necessário para que a temperatura da água se estabilize.
 Faça o gráfico de V versus T e verifique se, nesse caso, a dependência entre essas duas
grandezas corresponde ao previsto na equação 1.

Medição da pressão de um gás em função da temperatura, mantendo-se o volume constante.


 Varie a temperatura do ar, como descrito no item anterior, e meça a variação de pressão gh
com a temperatura T do ar no tubo [1). Note que, para manter o volume do gás constante, o
nível da coluna [4) de mercúrio no tubo [1) deverá estar na mesma posição para todas as
leituras de pressão e temperatura.
 Faça o gráfico de gh versus T e verifique se, nesse caso, a dependência entre p e T
corresponde ao previsto na equação 1.

73
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

CALIBRAÇÃO DE UM TERMOPAR

INTRODUÇÃO

Termopares são termômetros bastante utilizados, na indústria e em laboratórios de pesquisa, para


medições em uma ampla faixa de temperatura, podendo cobrir de ~70 a ~2000 K (aproximadamente
de -200 a 1700 ºC). Por se basear na medição de uma diferença de potencial, um termopar apresenta
facilidade de leitura e de monitoramento de temperatura à distância e é de fácil adaptação em sistemas
de controle e automação. Sabe-se que um campo elétrico pode produzir uma corrente elétrica em
sólidos. Da mesma forma, variações de temperaturas também podem produzir correntes elétricas.
Considere, por exemplo, um fio de metal cujas extremidades são mantidas em temperaturas
diferentes, por meio de contato térmico com reservatórios de calor. Nessa situação, a densidade de
elétrons livres é diferente nas duas extremidades, o que dá origem a um campo elétrico ao longo do
fio; um outro campo elétrico é produzido pelo gradiente de temperatura no metal. Aparecerá nas
extremidades do fio uma diferença de potencial elétrico. A conversão de diferença de temperatura em
tensão elétrica e vice-versa é chamada de efeito termoelétrico. O funcionamento de um termopar
baseia-se em um desses efeitos, conhecido como Efeito Seebeck.
Para mostrar o Efeito Seebeck e o modo como medi-lo, considere dois fios de metais diferentes,
ligados um ao outro, como representado na Figura 1. Cada junção é colocada em contato térmico com
um reservatório de calor; os reservatórios estão a temperaturas são T1 e T2. Um voltímetro ideal é
ligado entre dois pontos de um dos fios, ambos à temperatura T0. Como o circuito formado pelos fios
está aberto, a corrente elétrica, nele, é nula. Nessa situação, surge uma força eletromotriz nas
extremidades livres, que depende do material dos fios e da variação de temperatura entre as junções.
O Apêndice F apresenta uma descrição detalhada do Efeito Seebeck.

Figura 1 - Dois fios – A e B –, de materiais diferentes, ligados um ao


outro para formar as junções 2 e 3. Quando as temperaturas dessas
junções são diferentes, uma força eletromotriz  é produzida nas
extremidades 1 e 4, que estão a uma mesma temperatura T0.

O dispositivo esquematizado na Fig, 1 é a base de um termopar utilizado como termômetro. Para


isso, uma das junções é colocada em contato térmico com o objeto cuja temperatura T se deseja
determinar, enquanto a outra é mantida em uma temperatura constante, chamada de temperatura de
referência TR, como representado na Figura 2. Usualmente, utiliza-se a temperatura do gelo em fusão
como referência.
Para pequenas diferenças de temperatura entre as junções, a força eletromotriz  é proporcional a
essa diferença, ou seja, é dada por
 =  (T – TR). (3)

74
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

em que , chamado de coeficiente Seebeck,5 depende do material dos fios e da temperatura.


Conhecido o coeficiente Seebeck, a temperatura do objeto pode ser determinada por meio da
medição da força eletromotriz que é gerada.

FIGURA 2 - Diagrama esquemático de um


termopar, constituído de dois fios – A e B – de
materiais diferentes. Uma das junções dos fios é
mantida a uma temperatura TR, e a outra deve estar
em contato térmico com o objeto cuja temperatura
se deseja determinar; um voltímetro mede a força
eletromotriz  então produzida.

O valor do coeficiente Seebeck é muito pequeno para os termopares típicos, ou seja, a força
eletromotriz gerada é pequena mesmo para grandes variações de temperatura. Na Fig. 3, representa-
se esse coeficiente em função da temperatura para alguns tipos de termopares comerciais; na Tab. 1,
estão listados valores do coeficiente Seebeck para a temperatura de 20º C.

FIGURA 3 - Coeficiente de Seebeck em função


da temperatura de alguns termopares comerciais.
As letras E, K, J, .... identificam o tipo de cada
termopar.

TABELA 1
Coeficiente de Seebeck de alguns termopares comerciais, a 20º C.
Tipo do Coeficiente Seebeck em
Metais ou ligas da junção
termopar T = 20º C (V/º C)
E Cromel/Constantan 62
J Fe/Constantan 51
K Cromel/Alumel 40
R Pt/Pt + 13% Rd 7
S Pt/Pt + 10% Rd 7
T Cu/Constantan 40

5
Alguns autores chamam este coeficiente de potência termoelétrica.

75
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

Neste experimento, serão vistos o princípio de funcionamento de termopares e o modo como eles
são construídos e calibrados.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Calibrar um termopar.
Sugestão de material utilizado
 Termopar, voltímetro com sensibilidade mínima de 10 V, termômetro de referência,
ebulidor, agitador de água, recipiente para água, recipiente refratário, nitrogênio líquido,
fósforo, isqueiro ou vela.

PROCEDIMENTO
O processo de calibração de um termopar consiste em fazer medições da força eletromotriz gerada
para diversos valores conhecidos de temperatura da junção de medida. Para determinação dessa
temperatura, deve-se utilizar um termômetro de referência, já calibrado.
 Faça a montagem representada na Fig. 2. Diferentemente da situação mostrada na Fig. 2, a
junção de referência será mantida à temperatura ambiente, cujo valor deve ser previamente
medido com o termômetro de referência.
 No recipiente refratário, aqueça cerca de 200 ml de água com o ebulidor, até que o termômetro
de referência indique uma temperatura entre 90 oC e 100 oC.
 Mergulhe a junção de medida do termopar na água. Feito isso, meça, com o voltímetro, a
diferença de potencial e, com o termômetro de referência, a temperatura da água. Mantenha a
ponta do termopar próxima ao bulbo do termômetro para garantir que ambos estejam à mesma
temperatura.
 Em seguida, deve-se medir a diferença de potencial no termopar para diversos valores de
temperatura da água. Para isso, aos poucos, adicione água fria à água quente contida no
recipiente e repita as medidas feitas na etapa anterior.
 Faça o gráfico da diferença de potencial no termopar em função da temperatura da água. Com
base nesse gráfico, verifique se o coeficiente Seebeck desse termopar é constante na faixa de
temperatura observada. Nesse caso, faça uma regressão linear dos resultados das medições e
determine o valor desse coeficiente. Escreva, então, a equação de calibração (T) do termopar.
Determine o valor da temperatura de referência TR encontrado a partir da regressão linear.
 Agora que o termopar está calibrado, utilize-o para medir a temperatura ambiente e a
temperatura de uma pessoa. Meça essas temperaturas, também, com o termômetro de
referência e compare os valores obtidos em cada caso.
 Utilize o termopar para medir a temperatura do nitrogênio líquido e da chama de fogo. Sabe-
se que a temperatura do nitrogênio líquido é de –196 oC. Avalie e comente os resultados
obtidos nessas medições.
 O que você observa com relação ao valor de  quando o termopar é colocado em uma chama?

76
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

APÊNDICE: O EFEITO SEEBECK

Pode-se mostrar que em uma amostra metálica isotrópica e homogênea, um gradiente de


temperatura e um campo elétrico E produzem uma densidade de corrente elétrica J dada por
 dT
J E 
T dx ,

em que  é a condutividade elétrica do metal e  é uma constante. Por simplicidade, supôs-se uma
amostra unidimensional.
Quando a amostra do metal está em um circuito aberto, J = 0 e, nesse caso, o campo elétrico é
dado por
 dT dT
E Q
 T dx dx ,

em que Q é chamada de potência termoelétrica do metal e depende da temperatura.


Considere o circuito mostrado na Fig. 1 do roteiro. A força eletromotriz nesse circuito é dada pela
integral de E ao longo do comprimento do fio, ou seja,
2 3 4
   EB dx   E A dx   EB dx
1 2 3
2 dT 3 dT
   QB dx   QA dx
3 dx 2 dx
T2
 
T1
 QA  QB  dT .

Portanto a força eletromotriz, nesse circuito, é uma função da diferença de temperatura das duas
junções e da diferença entre as potências termoelétricas dos dois metais. Esse resultado é conhecido
como Efeito Seebeck.

77
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

CALOR ESPECÍFICO DE UM GÁS:


DETERMINAÇÃO DE  PELO MÉTODO DE CLÉMENT-DESORMES

INTRODUÇÃO

Processos termodinâmicos em que não há troca de calor são denominados adiabáticos. Esses
processos podem ocorrer em sistemas termicamente isolados ou em transformações rápidas, em que
não há tempo para o sistema trocar calor com a vizinhança – por exemplo, durante uma compressão
ou uma expansão rápida de um gás.
A relação entre pressão p e volume V de um gás durante um processo adiabático é dada por

pV γ  constante,

em que  = cp / cV é a razão entre os calores específicos molares a pressão constante cp e a volume


constante cV do gás. A Teoria Cinética dos Gases prevê que  = 1,67 para gases monoatômicos,  =
1,4 para gases diatômicos, e  = 1,33 para gases poliatômicos.
Clément e Desormes propuseram um método simples para se determinar , como descrito a seguir.
Considere um gás ideal que passa pelas duas transformações representadas no diagrama pV
mostrado na Fig. 1.

p
pi i

Figura 1. Um gás está à temperatura ambiente, no estado


inicial i, e expande-se, adiabaticamente, até o estado a;
f
em seguida, ele retorna à temperatura ambiente, pf Tamb
mantendo seu volume constante. Nesse processo, sua
pressão aumenta e o gás chega ao estado f. A linha
p0 a
tracejada representa a isoterma correspondente à
temperatura ambiente Tamb.. Vi Vf V

Inicialmente, esse gás está no estado i, à temperatura ambiente, com volume Vi e à pressão pi, um
pouco acima da pressão atmosférica p0. Em seguida, o gás expande-se, rapidamente, até um volume
Vf e sua pressão chega à pressão atmosférica. Nesse processo – representado no diagrama pela curva
ia –, a temperatura do gás reduz-se para um valor ligeiramente abaixo da temperatura ambiente.
Considerando-se esse processo como adiabático e quase estático, pode-se escrever

piVi   p 0V f
. (1)

Posteriormente, o gás retorna à temperatura ambiente, mantendo-se seu volume constante. Nesse
processo – af –, a pressão do gás aumenta até o valor pf.

78
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

Uma vez que as temperaturas do gás nos estados i e f são iguais, pode-se escrever
p i V i  p 0V f
. (2)

Eliminando-se Vi e Vf das equações 1 e 2, tem-se que

 pi 
 ln  
p i  p i  p0
      (3)
p 0  p f   p i 
ln 
 p f 

Assim,  pode ser determinado medindo-se as pressões p0, pi e pf.


Considere que essas pressões sejam determinadas utilizando-se um manômetro de tubo em forma
de U, como mostrado na Fig. 2. Nesse dispositivo, mede-se a pressão por meio da diferença de altura
entre os níveis do líquido no tubo em U. Sejam hi e hf esses valores correspondentes respectivamente
às pressões pi e pf . Então,

  gh i   gh f 
p i  p 0  1   e p f  p 0  1  
 p0   p0  , (4)

em que  é a densidade do líquido e g é a aceleração da gravidade.


 Considerando-se que ghi << po, ghf << po e que ln(1 + x)  x para x <<1, mostre que
hi

hi  h f
. (5)

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a razão = cp /cv entre os calores específicos à pressão e à volume constantes do
ar.
Sugestão de material
O procedimento utilizado, neste experimento, para medir a relação entre os calores
específicos de um gás é conhecido como Método de Clément-Desormes e a instrumentação
utilizada está mostrada na Fig.2.

Figura 2. Montagem para determinação da razão cp/cv


de um gás pelo método de Clément-Desormes.

79
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

O aparelho consiste em um balão de vidro tampado com uma rolha de borracha que contém duas
saídas. Uma delas (B) é conectada a uma bomba para se injetar gás no balão, aumentando sua pressão;
ela possui uma válvula de alívio que possibilita a expansão rápida do gás. A outra saída (A) é
conectada a um manômetro de óleo (M). No caso de o gás ser o próprio ar, é recomendável a
colocação de material secante – por exemplo, sílica – dentro do balão, para absorver qualquer
umidade nele presente.
 Procedimento
 Usando uma bomba manual, injete um pouco de ar no balão, provocando um aumento de
pressão caracterizado pelo deslocamento h da coluna de óleo. (O desnível h não deve
ultrapassar 30 cm.)
 Isole a bomba do sistema, usando, se necessário, uma pinça na mangueira e aguarde o bulbo
entrar em equilíbrio térmico com o ambiente, ou seja, até a diferença entre as colunas de óleo
se estabilizar. Anote o valor hi indicado no manômetro.
Nessa situação a pressão no interior do balão será
pi = po + ghi (5)

em que po é a pressão atmosférica local,  é a densidade do óleo e g é a aceleração da gravidade.


 Abra a válvula de alívio (B) por um tempo suficiente para ocorrer uma expansão adiabática
do ar no balão – neste experimento este tempo fica entre 1 e 2 segundos e pode ser monitorado
observando-se o nível das colunas de óleo; elas ficam praticamente niveladas após a expansão.
Aguarde até que o ar atinja novamente a temperatura ambiente – estabilidade do desnível
entre as colunas de óleo – e anote o desnível hf registrado pelo manômetro. Nessa situação, a
pressão no interior do balão será
pf = po + ghf (6)

 Repita o procedimento usando, pelo menos, seis valores diferentes da pressão inicial do ar no
balão.
 Com base em um gráfico de hf em função de hi e do resultado obtido na equação 5, obtenha
o valor de  com sua respectiva incerteza.
 Compare o valor encontrado com os valores determinados pela Teoria Cinética dos Gases e,
considerando a composição do ar, avalie se o resultado corresponde ao esperado.

80
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

CALOR ESPECÍFICO DE UM GÁS:


DETERMINAÇÃO DE  PELO MÉTODO DE RÜCHHARDT

INTRODUÇÃO

Processos termodinâmicos em que não há troca de calor são denominados adiabáticos. Esses
processos podem ocorrer em sistemas termicamente isolados ou em transformações rápidas, nas quais
não há tempo para o sistema trocar calor com a vizinhança – por exemplo, durante uma compressão
ou uma expansão rápida de um gás.
A relação entre pressão p e volume V de um gás durante um processo adiabático é dada por:
pV γ = constante (1)

em que γ = cp /cv = razão entre os calores específicos molares, a pressão constante cp e a volume
constante cv do gás. A Teoria Cinética dos Gases, considerando os graus de liberdade de cada
molécula, prevê que para gases monoatômicos tem-se γ = 1,67, para gases diatômicos γ = 1,4 e, para
gases poliatômicos γ = 1,33.
Rüchhardt propôs um método simples para se determinar γ, como descrito a seguir.
A Fig. 1 mostra um cilindro de volume V e seção transversal A, preenchido com um gás; na parte
superior do cilindro há um êmbolo de massa m. A pressão do gás dentro do cilindro é dada por
mg
p  po 
A
(2)

em que po é a pressão atmosférica.

Figura 1: Um êmbolo de massa m e seção reta de área A


confina um volume V de gás em um cilindro. Dentro do cilindro
a pressão de equilíbrio p é igual à pressão atmosférica po mais
a pressão devida ao peso do êmbolo, mg/A. Ao se liberar o
êmbolo, após fazer um deslocamento y , este oscila em torno
da posição de equilíbrio executando um movimento harmônico
amortecido.

Considere yo = 0 como sendo a posição de equilíbrio do êmbolo. Ao pressioná-lo ligeiramente e


liberá-lo, o êmbolo oscilará com um período T. Devido ao atrito, após algumas oscilações o êmbolo
para na sua posição yo. Deslocando-se o êmbolo y para cima, o volume do gás irá aumentar de V
dado por:
V = Ay (3)

81
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

Este deslocamento provoca uma pequena diminuição p na pressão. A força F resultante sobre
o êmbolo é, desprezando-se o atrito, igual a Ap, ou seja

F
p 
A (4)

Observe que para y positivo, p é negativo. Consequentemente F é uma força restauradora,


linearmente proporcional a y, o que implica em uma oscilação harmônica do êmbolo.
Considerando que este processo seja adiabático, pode-se usar a equação (1) que, fazendo-se a
diferencial, leva à relação
 p V  –1 V + V  p = 0 (5)

Substituindo (3) e (4) em (5), e usando yo = 0 e Fo = 0 na situação de equilíbrio, chega-se à relação:

  p A2 
F   y
V 
  (6)

que é a equação de um oscilador harmônico, com constante elástica igual a ( p A/V


Mostre que

 4 ² mV 
γ   
 A² p²  (7)

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar o coeficiente γ de um gás ideal.
 Determinar se o gás é monoatômico, diatômico ou poliatômico.
Sugestão de material
 Cilindro com êmbolo de diâmetro d e massa m, sensor de baixa pressão.

PROCEDIMENTO
Para se utilizar o método de Rüchhardt para determinação do γ de um gás utiliza-se uma
montagem como a ilustrada na figura 2.

82
EXPERIMENTOS DE TERMODINÂMICA

8
Oscilação da pressão dentro do cilindro
6

Pressão (kPa)
4

-2

-4

-6

-8
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
tempo (s)

(a) (b)
Figura 2 – (a) Dispositivo que permite registrar a oscilação da pressão, quando se faz uma
pequena perturbação no êmbolo dentro do cilindro. (b) Registro gráfico da pressão em
função do tempo; constata-se o movimento harmônico amortecido.

A pressão no interior do cilindro é medida por um sensor que, por meio de uma interface,
transmite os valores para um computador. É importante que a aquisição dos dados seja feita em
frequência alta ( ~1000 Hz) pois o período de oscilação é bem pequeno.
 Procure familiarizar-se com os instrumentos e com o programa de aquisição de dados.
(Instruções adicionais devem estar disponíveis juntamente com a montagem.)
 Escolha um volume inicial. Desloque o êmbolo de sua posição de equilíbrio fazendo uma
pressão sobre ele. Solte-o e registre sua oscilação em um gráfico usando o programa de
aquisição de dados.
 Determine o período de oscilação do sistema a partir de uma média dos valores do período no
gráfico.
 Repita o procedimento com pelo menos 8 diferentes volumes iniciais. Para cada valor de
volume, faça algumas medições do período.
 A partir de uma análise gráfica, obtenha o valor de γ com sua respectiva incerteza, tendo como
base a equação (7).
 Compare o valor encontrado com os valores determinados pela Teoria Cinética dos Gases e,
considerando a composição do ar, avalie se o resultado corresponde ao esperado.

83
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

E X P E R I M E N T O S D E

E L E T R O M A G N E T I S M O

84
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

ELEMENTO RESISTIVO LINEAR

INTRODUÇÃO

Quando um componente de um circuito elétrico é submetido a uma diferença de potencial V,


aparece nele uma corrente I. A resistência elétrica R desse elemento é definida pelo quociente entre
a diferença de potencial aplicada e a corrente resultante:
R = V / I.

O comportamento de I em função de V depende das características do componente elétrico.


Quando a relação V / I é constante para qualquer valor de V, o elemento é chamado de resistor linear.
Essa situação corresponde à Lei de Ohm, segundo a qual a corrente em um resistor é diretamente
proporcional à diferença de potencial, ou tensão elétrica, aplicada nele. Os resistores lineares são,
também, chamados de resistores ôhmicos.
A associação de resistores em série e em paralelo é comumente encontrada em circuitos. Sabe-se
que a resistência R equivalente a vários resistores R1, R2, ... Rn é dada por,
associação em série: R  R1  R2  ... Rn ,
1 1 1 1
associação em paralelo:    ... ,
R R1 R2 Rn

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Encontrar o valor da resistência de resistores em circuitos puramente resistivos.
 Praticar a utilização de um multímetro digital.
Sugestão de material
 Fonte de tensão contínua, multímetro digital, miliamperímetro analógico, resistor R1 com
código de cores, resistor R2 “desconhecido”, painel para ligações, cabos para conexões e
tabela com código de cores.

PROCEDIMENTO
Utilização de um multímetro
Medições de tensão, corrente e resistência elétricas são usualmente feitas com multímetros, que
são aparelhos em que se pode selecionar a função voltímetro, amperímetro ou ohmímetro. Para usar
um multímetro analógico ou digital, devem-se observar as seguintes regras básicas:
 com a chave seletora do aparelho, escolha o tipo de medida a ser feita;
 caso o aparelho não tenha escala automática, escolha a escala apropriada para a medição;
 conecte corretamente os cabos ao multímetro:o conector COM é comum para todos os tipos
de medição e é o polo negativo para medidas de corrente contínua.

85
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Para medições de tensão o multímetro, na função voltímetro, deve-se ligado em paralelo


com o elemento cuja tensão deseja-se medir (Fig. 1a). Para utilizá-lo como amperímetro, deve-se
ligá-lo em série com o elemento (Fig. 1b).
A

I I
R R
V
 

(a) (b)
Figura 1 - Circuito constituído de uma fonte de tensão elétrica , um resistor R e um
multímetro. Em (a), o multímetro, na função voltímetro, está conectado em paralelo com o
resistor; em (b), o multímetro, na função amperímetro, está conectado em série com o
resistor

Determinação da resistência elétrica de um resistor


Nessa parte do experimento, você deverá determinar a resistência de um resistor, R1, e sua
respectiva incerteza de três maneiras diferentes:
i. lendo o valor da resistência fornecido pelo fabricante por meio do código de cores;
ii. medindo-a diretamente com um multímetro na função ohmímetro;
iii. medindo valores de corrente para diferentes tensões aplicadas no resistor.
 Faça as etapas i e ii.
 Para a etapa iii, monte o circuito mostrado na Figura 2.
Atenção: Antes de iniciar as medidas, peça ao professor que confira o circuito.

I
R
V

A

Figura 2 - Circuito constituído de uma fonte de tensão , um resistor R, um multímetro


utilizado como voltímetro V e um miliamperímetro analógico A.

 Varie a tensão da fonte e obtenha pares de valores V, I. Atenção: não exceda o limite de
corrente estabelecido! Trace o gráfico V x I com os dados obtidos. Faça uma regressão linear
para determinar a equação da reta que melhor se ajusta a esses pontos. A partir dos valores
obtidos na regressão linear, especifique o valor da resistência do resistor com sua respectiva
incerteza.
 Compare e comente, do ponto de vista de confiabilidade e precisão, os valores da resistência
desse primeiro resistor encontrados nos três processos. Indique o melhor resultado para o valor
da resistência.
Determinação da resistência elétrica de uma associação de resistores em série ou em paralelo
 Conecte os dois resistores, R1 e R2, em série no painel de ligações. Com o multímetro na
posição ohmímetro, meça o valor da resistência Rs do conjunto. Conecte, agora, os resistores
em paralelo e meça o valor da resistência Rp do conjunto.
86
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

 Use as equações de associação de resistores para determinar a resistência do resistor


“desconhecido” R2, com sua respectiva incerteza. Em seguida, meça essa resistência com o
ohmímetro. Indique o melhor resultado.

87
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

RESISTIVIDADE ELÉTRICA

INTRODUÇÃO

A aplicação de uma diferença de potencial elétrico V em um fio faz aparecer, nele, uma corrente
elétrica i. A resistência elétrica R entre dois pontos quaisquer de um condutor é definida pela equação
V
R
I (1)

A resistência R é uma característica do fio como um todo, ou seja, depende do comprimento, da


espessura e do material de que ele é feito. Por outro lado, a grandeza resistividade ( é uma
propriedade específica dos materiais e depende de características microscópicas intrínsecas. Ou seja,
pode-se lidar com fios de diferentes tamanhos e espessuras de um mesmo metal, cada um deles
apresentando um valor diferente de resistência, porém, com a mesma resistividade. Essa grandeza
informa como é a resposta microscópica do meio, ou seja, qual é a densidade de corrente J quando o
meio é sujeito a um campo elétrico E. Matematicamente, tem-se esta relação microscópica:

E
 
J (2)

Como, no Sistema Internacional de Unidades (SIU) as unidades de E são V/m (Volt/metro) e de


J são A/m2 (Ampère/metro quadrado),  é dado em m (ohm versus metro).
No caso de um fio uniforme de comprimento l e seção reta de área A, tem-se
V I
E e J (3)
l A

Combinando-se as equações 2 e 3, chega-se a uma relação entre a resistência e a resistividade de


um fio uniforme, dada por
l
R
A (4)

Medindo-se a resistência de um fio uniforme e homogêneo em função de seu comprimento, pode-


se determinar a resistividade do material de que ele é feito. Para isso, basta conhecer a área da seção
reta do fio.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar a resistividade elétrica de um fio de metal.
Sugestão de material
 Fio preso a um suporte, cabos para contatos elétricos, régua e ohmímetro.
88
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

PROCEDIMENTO
 Observe a montagem representada na Fig. 1.
Usando um multímetro na função ohmímetro, meça a resistência R de um trecho do fio de
comprimento l, entre o ponto de contato fixo P1 e um outro ponto variável P2. Obtenha pares
de valores para R e l em número suficiente para definir experimentalmente a relação entre essas
duas grandezas.
 Faça um gráfico de R versus l e, tendo como base a equação 4, faça uma regressão linear para
obter a resistividade do fio. A área da seção reta do fio utilizado está indicada na montagem.

Figura 1 - Esquema da montagem a ser utilizada para medir a resistência R em função do


comprimento l de um fio; ao deslizar, o cursor P2 determina diferentes comprimentos l do
fio, que correspondem a diferentes valores de resistência lida no ohmímetro.

A título de ilustração, na Tabela 1, estão relacionados valores da resistividade de alguns materiais,


à temperatura ambiente.

Tabela 1. Exemplos de valores da resistividade de alguns


materiais
Material Resistividade  (10-8 .m)
Cobre 1,72 ± 0,01
Ouro 2,44 ± 0,02
Alumínio 2,82 ± 0,02
Tungstênio 5,6 ± 0,1
Ferro 10,0 ± 0,3
Liga cobre-níquel (Cu-Ni) 44 ± 1
Liga níquel-cromo (Ni-Cr) 100 ± 5
Liga Kanthal 139 ± 4
Carbono  3.500

89
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

RESISTÊNCIA INTERNA DE UM VOLTÍMETRO

INTRODUÇÃO

Ao se conectar um capacitor C com uma fonte de tensão elétrica contínua ou bateria , há


transferência de cargas de uma das placas para outra e a tensão em suas placas aumenta com o tempo,
podendo chegar a ser igual à da fonte, após um tempo suficientemente longo. Por outro lado, se um
capacitor, inicialmente carregado, é ligado a um resistor R, a carga nele acumulada tende a se escoar
através do resistor e a tensão elétrica em suas placas diminui com o tempo. Tais situações estão
ilustradas na Fig.1:

V0

V(t)
R V0/2
(a) S

C 
0
2 4 t

V0
V(t)

(b) S V0/2

C 
0
2 4 t

Figura 1 – Em (a), a tensão V, em um capacitor C, aumenta com o tempo t quando ele é


ligado a uma fonte  ; em (b), estando o capacitor carregado, ao se desligar a fonte, ele se
descarrega através do resistor R; nessa situação a tensão diminui com o tempo t.

As equações que descrevem o modo como a carga no capacitor varia com o tempo nesses
processos podem ser deduzidas, aplicando-se regras de análise de circuitos aos circuitos mostrados
na Fig. 1 – ver experimento “Circuito RC”. No caso da descarga (b), a solução das equações mostra
que a tensão, nas placas do capacitor, varia com o tempo da seguinte maneira:

 t
V ( t )  V0 e  . (1)

em que V0 é a tensão inicial no capacitor e c (constante de tempo capacitiva) é igual ao produto dos
valores da resistência e da capacitância: c = RC.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Determinar a resistência interna de um voltímetro.
90
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Sugestão de material
 Fonte de tensão contínua, capacitor eletrolítico de alta capacitância (C ~ dezenas de mF) e
voltímetro analógico.

PROCEDIMENTO
 Nesse experimento, um capacitor é carregado até uma tensão Vo e, em seguida, devem ser
feitas medições da tensão nele em função do tempo, enquanto ele se descarrega através de um
resistor que, nesse caso, será a resistência interna do próprio aparelho de medida.

V
R

1
S 2

C

Figura 2 - O capacitor C é carregado com a tensão da fonte – chave S no ponto 2;


conectando-se a chave S no ponto 1, a descarga é feita através da resistência interna R do
aparelho de medida V.

 Monte o circuito mostrado na Fig. 2. Carregue o capacitor com uma tensão compatível com
o voltímetro e o capacitor fornecidos, conectando a chave S no ponto 1. Em seguida, desligue
a fonte, mudando a posição da chave S para o ponto 2. Obtenha pares de valores de V e t em
um número suficiente para definir, experimentalmente, a relação entre essas grandezas. Antes
de realizar propriamente as medidas, simule o experimento para se acostumar com a taxa do
decaimento da tensão.
 Tendo como base a equação 1, utilize processos de linearização e regressão linear para
encontrar a resistência interna do voltímetro.
 Justifique por que este processo não é adequado para se medir a resistência interna de um
voltímetro digital.

91
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

ANÁLISE DE CIRCUITOS ELÉTRICOS: REGRAS DE KIRCHHOFF

INTRODUÇÃO

Circuitos elétricos simples formados por uma única malha podem ser analisados com base nas
regras para associações de resistores em série e em paralelo e na relação V = R I. Circuitos mais
complexos são analisados mais facilmente utilizando-se duas regras – conhecidas como Regras de
Kirchhoff – que se baseiam nas leis de conservação de energia e de carga elétrica.
Há duas definições que se fazem necessárias ao se usarem as regras de Kirchhoff: a de nó e a de
malha em um circuito. Um ponto de um circuito a que três ou mais elementos estão conectados é
denominado nó e um percurso fechado do circuito é chamado de malha. No circuito mostrado na
Fig. 1, por exemplo, os pontos B e E são nós e os percursos ABEFA, BCDEB e ABCDEFA são
malhas.
R3
A B C

I3
1 I2 R2 2
I1

F R1 E D

Figura 1 - Circuito elétrico contendo três malhas – ABEFA, BCDEB e ABCDEFA – e


dois nós – B e E. Os sentidos das correntes foram atribuídos arbitrariamente.

As Regras de Kirchhoff são as seguintes:


 A soma das correntes que chegam a um nó qualquer do circuito é igual à soma das correntes
que saem desse mesmo nó (conservação de carga).
 Em uma malha qualquer de um circuito, a soma das forças eletromotrizes das fontes é igual à
soma das diferenças de potencial nos demais elementos da malha – resistores, capacitores e
outros (conservação de energia).
Para analisar-se um circuito utilizando as Regras de Kirchhoff, é preciso, inicialmente, definir um
sentido arbitrário para todas as correntes no circuito. Na Fig. 1, estão indicados os sentidos atribuídos
às correntes I1, I2 e I3 , respectivamente nas resistências R1, R2 e R3.
Aplicando-se a regra dos nós para os nós B e E, obtém-se
I1 = I2 + I3. (1)

Aplicando-se a regra das malhas para as malhas ABEFA e BCDEB obtém-se, respectivamente,
1 = R1 I1 + R2 I2 e (2)

2 = – R2 I2 + R3 I3 . (3)
92
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Resolvendo-se as equações 1, 2 e 3, obtêm-se as correntes I1, I2 e I3. Se for obtido um valor


negativo para uma determinada corrente ou para uma força eletromotriz, isso indica que o sentido
correto para ela é o oposto ao que lhe foi atribuído.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar as correntes e tensões nos resistores de um circuito por meio das regras de
Kirchhoff.
Sugestão de material
 Fonte de tensão 1 = 6 VCC (tensão contínua), fonte de tensão 2 = 3 VCC; multímetro; painel
para conexões; cabo; resistores R1 = R2 = 680  e R3 = 1k.

PROCEDIMENTO
 Com o multímetro, meça as resistências de todos os resistores e as tensões das fontes. Nessas
medidas, cada elemento deve estar desconectado do circuito.
 Com esses valores medidos, use as regras de Kirchhoff para calcular as correntes I1, I2 e I3 no
circuito mostrado na Fig. 1. A seguir, calcule as diferenças de potencial V1, V2 e V3 nos
resistores R1, R2 e R3.
 Monte o circuito mostrado na Fig. 1. Antes de ligar as fontes, chame o professor para conferir
as ligações.
 Meça as diferenças de potencial e as correntes em cada um dos resistores do circuito. Registre
essas medidas, com suas respectivas incertezas.
 Compare os valores de correntes e de tensões medidos nos resistores com os valores
calculados utilizando as regras de Kirchhoff.

93
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA

INTRODUÇÃO

O estudo do campo magnético da Terra tem interesse prático na navegação, na comunicação, na


prospecção mineral, entre outros. Esse campo tem uma configuração semelhante à de um grande ímã
em forma de barra, cujo pólo sul está próximo do pólo norte geográfico da Terra, como representado,
na Fig. 1, por meio de linhas de campo magnético.

Figura 1. Representação das linhas de campo


magnético da Terra, cuja configuração é
semelhante à de um ímã em forma de barra;
o eixo de simetria desse campo não coincide
com o eixo geográfico ou eixo de rotação.

O módulo do campo magnético da Terra varia de 20 µT a 60 µT e, devido a condições


geológicas, ele pode diferir bastante do valor esperado para um determinado local. Na maior parte
dos pontos na superfície da Terra, o campo magnético não é paralelo à superfície. Por isso, em
geral, ele é especificado por meio de suas componentes horizontal, na direção Norte-Sul, e vertical.
Pode-se determinar a componente horizontal do campo magnético da Terra em um local
superpondo-se a ele um campo magnético constante, com módulo e direção conhecidos. A
componente horizontal do campo da Terra é, então, determinada a partir da medição do campo
resultante.
O campo magnético conhecido é produzido por duas bobinas circulares, coaxiais, ligadas em
série e separadas uma da outra por uma distância igual ao seu raio R, como ilustrado na Fig. 2.
Pode-se mostrar que, nessa configuração – conhecida como Bobina de Helmholtz –, obtém-se um
campo magnético uniforme na região central equidistante das duas e situado sobre seus eixos, e seu
módulo é dado por
8  o NI
B
5 5 R , (1)

em que I é a corrente elétrica, N é o número de espiras em cada bobina e µ0 = 1,26  106 Tm/A é a
permeabilidade magnética do vácuo, que é, aproximadamente, igual à do ar.

94
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Figura 2. Duas bobinas circulares, coaxiais, ligadas em série


e separadas por uma distância igual ao seu raio, produzem um
campo magnético uniforme na região central equidistante das
duas e situado sobre seus eixos – esse arranjo é conhecido
como configuração de Helmholtz. A agulha de uma bússola,
colocada nesta região, orienta-se na direção da soma do
campo magnético das bobinas com o campo da Terra.

Considere que a Bobina de Helmholtz é posicionada sobre a mesa com seu eixo orientado na
direção Leste-Oeste. Nessa situação, o campo magnético B, no centro do arranjo das bobinas, faz um
ângulo de 90º com o campo magnético BT da Terra, como mostrado, esquematicamente, na Figura 3.
Se B=0 T, a agulha de uma bússola, colocada no centro das bobinas, orienta-se na direção da
componente horizontal de BT – a direção Norte-Sul. Para B0 T, a agulha gira de um ângulo  e
orienta-se na direção do campo resultante BR, como representado na mesma Fig. 3.

B
Figura 3. A componente horizontal Th do campo
magnético da Terra somada ao campo B da Bobina
de Helmholtz produz o campo resultante BR. A
agulha de uma bússola orienta-se na direção desse
campo. (Para facilitar a visualização, somente uma
das bobinas do arranjo é mostrada.).

Nessa situação, a componente horizontal BTh do campo magnético da Terra pode ser obtida por
meio da relação
B
tg 
BTh
, (2)

em que B é o módulo do campo magnético das bobinas na região onde se encontra a bússola.
Substituindo a equação 1 em 2, obtém-se
BTh
I tg
C (3)

95
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

8 o N
em que C 
5 5 R

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar o valor da componente horizontal do campo magnético da Terra.
Sugestão de material
 Bússola, bobinas de Helmholtz, amperímetro, fonte de corrente contínua, suporte para bússola
e fios para ligação.

PROCEDIMENTO
 Para a obtenção de bons resultados nas medições, é importante que as bobinas sejam
colocadas longe da influência de campos magnéticos perturbadores – por exemplo, aqueles
produzidos por peças de ferro próximas ao local de medida. Para encontrar o melhor local,
mova a bússola sobre a mesa – se houver materiais magnéticos próximos, a agulha se desviará
da direção Norte-Sul.
Determine o valor médio do raio das bobinas e sua respectiva incerteza.
 Coloque a bússola no centro das bobinas, sobre o suporte, como mostrado na Figura 2; oriente
a Bobina de Helmholtz para que o seu eixo fique na direção Leste-Oeste.
 Neste experimento, a componente horizontal do campo magnético da Terra será determinada
variando-se a corrente nas bobinas e medindo-se, para cada valor, o respectivo ângulo  de
desvio da agulha da bússola. Faça essas medições, atentando para que a corrente máxima
permitida nas bobinas não seja ultrapassada.
 Por meio de uma análise gráfica, tendo como base a equação 3, obtenha o valor de BTh , com
sua respectiva incerteza.

 Indique qual seria a informação complementar à medição feita, necessária para se determinar a
componente vertical do campo magnético da Terra.

96
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

CIRCUITO RC

INTRODUÇÃO

Considere o circuito representado na Fig. 1 com a chave S na posição intermediária entre A e B


e o capacitor C inicialmente descarregado. Se a chave S for fechada em A, a fonte  alimentará o
circuito com uma corrente I, até que a tensão elétrica entre as placas do capacitor seja igual ao valor
da força eletromotriz da fonte (Vab máximo = ).
A S
a
R
B
 C

Figura 1. Circuito que contém uma fonte de tensão


elétrica, um resistor e um capacitor. b

Enquanto houver corrente no circuito, cargas se acumularão nas placas do capacitor. De acordo
com a definição da capacitância C de um capacitor, em cada instante essa carga será dada por
q  CVab ,

em que Vab é a tensão elétrica entre as placas naquele instante.

 Indique, no circuito, o sinal da carga em cada placa do capacitor.


 Escreva a equação da regra das malhas de Kirchhoff para o circuito mostrado na Fig. 1. (veja a
introdução do experimento Análise de Circuitos Elétricos: Regras de Kirchhoff.

Com a chave S na posição A, de acordo com a regra das malhas de Kirchhoff as tensões nos
elementos do circuito são tais que
q
  iR  .
C
Como i = dq/dt , essa equação pode ser escrita na forma
dq q
 R ou
dt C (1)
dq q 
 
dt RC R

Essa é uma equação diferencial de primeira ordem para a variável q.


 Mostre que

97
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO


q(t )  C 1  e t / RC ,  (2)

é uma solução da equação 1.


Estando o capacitor carregado, quando a chave S for colocada na posição B, o capacitor passa a
se descarregar através do resistor R. Nesse caso, com a regra das malhas de Kirchhoff, obtém-se
q
iR  0 ou
C
dq q
 0 ,
dt RC

cuja solução é

q (t )  C e  t / RC ou
 t / RC
(3)
q (t )  qo e

em que qo C é a carga inicial armazenada no capacitor.

 Mostre que, no processo de descarga, a variação da tensão elétrica nos terminais do capacitor
pode ser escrita como
t
V (t )  Vo e RC
, (4)

em que Vo é a tensão elétrica no capacitor no instante em que ele começa a descarregar (t = 0).

No processo de carga ou descarga do capacitor, o tempo correspondente a t = RC é chamado de


constante de tempo capacitiva do circuito e é, geralmente, representado por c.

 Mostre que para esse tempo, num processo de descarga, a tensão elétrica do capacitor cai para
0,37 de seu valor inicial.
 Mostre que RC tem dimensão de tempo.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Obter curvas de descarga de um capacitor em um circuito RC.
 Determinar as constantes de tempo capacitivas dos circuitos analisados.
Sugestão de material
 Computador com interface para aquisição de dados, sensor de tensão elétrica, fios,
capacitor de capacitância C, dois resistores R1 e R2 = 30R1 e fonte de tensão elétrica.
Valores sugeridos: C ~ 2,2 mF, R1 = 300 , e R2 =10 k e fonte de 7 V (CC).

PROCEDIMENTO
Escolhendo-se valores elevados de resistência e de capacitância para os respectivos elementos, a
medição de tempo pode ser feita com um cronômetro comum. Entretanto, um sistema de aquisição
98
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

automatizada de dados possibilita a obtenção de um grande número de medidas em um intervalo de


tempo menor que o possível com um cronômetro. Isso é feito por meio de um medidor de tensão
elétrica conectado a uma interface e a um computador, cujas instruções de uso devem estar junto da
montagem.
Monte o circuito representado na Figura 1 com qualquer um dos resistores. Coloque a fonte na
posição de tensão elétrica mínima – dial girado completamente no sentido anti-horário – e
deixe a chave S na posição A (processo de carga do capacitor).
Atenção: Se for utilizado um capacitor eletrolítico, ligue-o com a polaridade correta, caso
contrário ele pode explodir.
 Entre no programa de gerenciamento do sistema automático de aquisição de dados.
Observando as instruções específicas para o sistema, fornecidas à parte, procure se
familiarizar com a instrumentação e seu programa de gerenciamento.
 Levando-se em conta os valores de R e C utilizados e, a partir da equação 4, estime um tempo
suficiente para que a tensão elétrica caia para cerca de um décimo de seu valor inicial. A partir
deste valor e considerando que cerca de 200 pontos definem bem seu gráfico, avalie uma
frequência de medida adequada para seu sistema e ajuste-o para trabalhar nela.
 Conecte o sensor (medidor) de tensão elétrica nas extremidades do capacitor (terminais a e b
no circuito) e ajuste a saída da fonte para uma tensão elétrica de cerca de 7 V.
 Estando o capacitor carregado, inicie o processo de descarga desconectando a fonte do circuito
e ligando o capacitor diretamente ao resistor – chave S na posição B. Ao mesmo tempo, inicie
a aquisição dos dados, de forma a registrar, no computador, a queda da tensão elétrica no
capacitor em função do tempo. Esse registro deve ser feito em uma tabela e pode ser
visualizado graficamente.
 Utilizando um programa de construção e análise de gráficos, trace um gráfico com a curva de
descarga V versus t para o circuito. Faça uma análise dos dados experimentais mediante o
ajuste de uma curva exponencial que corresponda à equação 4. Uma análise alternativa
poderia ser feita por meio de uma linearização do gráfico seguida de uma regressão linear.
 A partir dos dados do ajuste constate se a equação 4 descreve bem o processo de descarga do
capacitor e calcule, com a respectiva incerteza, a constante de tempo capacitiva do circuito.
Compare o resultado com aquele obtido ao se utilizar diretamente os valores de R e C.
 Repita o procedimento com o segundo resistor. Observe que a mudança no valor da resistência
pode alterar significativamente a frequência apropriada de medida. Reajuste seu valor se
necessário.

99
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

CAMPO MAGNÉTICO NO CENTRO DE UMA BOBINA

INTRODUÇÃO

Sabe-se que uma carga elétrica em movimento ou uma corrente elétrica produz um campo
magnético em sua vizinhança. Na Figura 1, representa-se uma bobina de comprimento L, formada
por N espiras de seção reta circular de raio r. Uma corrente Io nas espiras produz um campo magnético
B cujo módulo, no centro da bobina, é dado por
I 0 N
B cos 
L , (1)

em que µ é a permeabilidade magnética do meio no interior da bobina e cos  é um fator de correção


do campo, introduzido pelo fato de o comprimento da bobina ser finito (veja Fig. 1).
A permeabilidade magnética para o ar é µar  µvácuo = 1,26  10–6 Tm/A.
A direção desse campo é ao longo do eixo da bobina e seu sentido é dado pela “regra da mão
direita” (Lei de Ampère).

Figura 1. Bobina cilíndrica de comprimento L e de raio r, ligada a


uma fonte de corrente elétrica, que produz um campo magnético em
seu interior.

Sabe-se que a força que um campo magnético B exerce sobre um fio reto no qual existe uma
corrente elétrica I é dada por

F=IxB , (2)

em que  é um vetor dirigido ao longo do fio, no sentido da corrente elétrica, com módulo igual ao

comprimento  do fio.

O módulo do campo magnético em uma região pode ser determinado por meio da medição dessa
força. Para isso, utiliza-se uma balança de corrente, como a que é mostrada na Fig. 2. Ela consiste em
uma espira retangular de lados a (largura) e  (comprimento), na qual existe uma corrente elétrica I
(veja detalhe na Fig. 2). Essa espira pode girar em torno de um eixo que está apoiado em dois suportes
verticais. Fixada nesse eixo, há, também, uma haste sobre a qual um objeto de massa m pode ser
posicionado, de forma que a espira fique em equilíbrio com o seu plano na horizontal.

100
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Figura 2 - Balança de corrente utilizada para medir o campo magnético no interior de uma
bobina. Essa balança consiste em uma espira, que pode girar em torno de um eixo; um
objeto de massa m produz um torque na haste em sentido oposto ao que é produzido pela
força magnética na espira.

Considere que essa espira é colocada no interior de uma bobina de forma que o trecho de tamanho
 fique perpendicular ao campo magnético B nessa região (veja Figura 2). Nessa situação, o campo
exerce uma força sobre essa parte da espira, cujo módulo é dado por

F = I  B.

 Explique por que a força magnética sobre as laterais da espira é nula.


 Com base na Figura 2, indique a direção e o sentido da força magnética na espira.

Essa força produz um torque na espira cujo módulo, em relação ao seu eixo de rotação, é

= | r x F | = a I  B .

Para manter-se a espira nivelada horizontalmente, deve-se, então, produzir um outro torque com
sentido oposto. Isso pode ser feito colocando-se um objeto de massa m sobre a haste da balança a
uma distância x do eixo de rotação de forma que se satisfaça a relação

a I  B = m g x. (3)

Neste experimento, o campo magnético no centro da bobina será determinado por meio de
medições da corrente I necessária para equilibrar a espira com o objeto em diferentes posições x.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Medir o campo magnético no centro de uma bobina, utilizando-se uma balança de corrente.

101
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Sugestão de material
 Balança de corrente, bobina de seção reta circular, fonte de tensão contínua para até 2 A, fonte
de tensão contínua para até 8 A, objeto de massa ~ 0,20 g, 2 amperímetros, fios para ligação
e um pequeno laser tipo caneta.

PROCEDIMENTO
 Faça a montagem representada na Fig. 2. Escolha as fontes de tensão e os amperímetros para
a bobina e para a balança de acordo com a corrente máxima permitida a cada um. Ajuste a
posição da bobina de forma que o trecho da espira com comprimento  fique no seu centro.
 Na balança, há um dispositivo – não mostrado na Fig. 2 – que serve para ajustar a inclinação
da espira. Utilize-o para colocar a espira na posição horizontal quando não houver torques
sobre ela, ou seja, quando I = 0 A, e não houver qualquer objeto pendurado na haste da
balança. Essa posição de equilíbrio da espira deve ser registrada com precisão, pois será
utilizada posteriormente. Para isso, direcione o feixe de um laser sobre o pequeno espelho
que está fixado no eixo da balança, como mostrado na Fig. 3. Com a espira na horizontal,
marque a posição em que o feixe refletido atinge um anteparo o mais afastado possível da
balança.

Figura 3 - A rotação do eixo da balança é mais bem


observada por meio do desvio produzido no feixe de um
laser, após ser refletido por um espelho fixado nesse
eixo.

 Ajuste a corrente elétrica I0 na bobina para um valor entre 1,0 e 1,5 A. Essa corrente produz
um campo magnético homogêneo entorno do centro da bobina.
 Esse campo magnético será determinado por meio de medições da corrente I necessária para
equilibrar a espira com o objeto em diferentes posições x. Para isso, coloque o objeto de massa
m sobre a haste, a cerca de 1,0 cm do eixo da balança. Em seguida, ajuste a corrente I na espira
até que esta retorne à mesma posição de equilíbrio registrada inicialmente. Nessa condição, o
feixe do laser deve incidir na posição marcada anteriormente no anteparo.
 Repita esse procedimento para diferentes posições do objeto sobre a haste.
 Faça um gráfico de x versus I e, com base na equação 3, determine o melhor valor para o
campo magnético no centro da bobina, com sua respectiva incerteza.
 Com base na equação 1, calcule o valor previsto para o campo magnético no interior da bobina
e compare-o com o valor medido neste experimento.
 Caso um medidor de campo magnético – teslâmetro – esteja disponível, meça diretamente o
campo magnético no centro da bobina e compare com os dois valores já obtidos.

102
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

LEI DE INDUÇÃO DE FARADAY

INTRODUÇÃO

A maior parte dos geradores de eletricidade – por exemplo, em usinas hidroelétricas ou


termoelétricas e em alternadores de automóveis – funciona com base em uma das leis fundamentais
do eletromagnetismo: a produção de uma força eletromotriz induzida devido à variação do fluxo de
um campo magnético.
A força eletromotriz  que é induzida em torno de um caminho fechado é igual à taxa de variação
do fluxo de campo magnético na área interceptada por esse caminho. Esse enunciado, conhecido
como Lei de Faraday, pode ser expresso como
dB
 
dt , (1)

em que  B   B  dA é o fluxo magnético através de uma superfície e dA é um vetor que é


perpendicular a essa superfície e tem módulo dA. Veja a Fig. 1.
O sinal negativo na equação 1 determina a polaridade da força eletromotriz induzida e tem uma
interpretação física simples, conhecida como Lei de Lenz: a polaridade da força eletromotriz induzida
é tal que tende a produzir uma corrente que cria um fluxo magnético para se opor à variação do fluxo
que a gerou.
Para o caso especial representado na Figura 1, em que uma superfície plana de área A está em um
campo magnético uniforme B, que faz um ângulo  com dA, o fluxo magnético através dessa
superfície é dado por
B = B A cos .

Figura 1 - Linhas de campo magnético através de uma superfície plana de área A

Como exemplo de aplicação da Lei de Faraday, considere as bobinas circulares representadas na


Figura 2. As duas bobinas maiores são separadas por uma distância igual a seus raios e formam um
conjunto chamado de Bobina de Helmholtz. Ligando-se a essa bobina uma fonte de corrente
alternada, produz-se, na sua região central, um campo magnético variável (no tempo) e
aproximadamente uniforme (no espaço), que pode ser escrito como:

103
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

B (t )  B0 cos t ,

em que B0 é a amplitude do campo e   2 f , sendo f a frequência de oscilação da corrente.

Figura 2 - Uma Bobina de Helmholtz, ligada a uma fonte de corrente alternada, produz
um fluxo magnético variável em seu interior. Esse fluxo dá origem a uma força eletromotriz
induzida na outra bobina (menor), cujo valor é medido com o voltímetro

Esse campo magnético produz na bobina menor, de área A e com N espiras (veja Fig. 2), um fluxo
magnético variável que é dado por
 B (t )  NBo A cos cos t

em que  é o ângulo entre B – vetor campo magnético da Bobina de Helmholtz – e a normal ao


plano da bobina menor.
 Mostre que será induzida na bobina menor uma força eletromotriz alternada dada por
 (t )   0sent ,

em que
 0  NAB0 cos  .

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Verificar a indução de corrente elétrica em uma bobina devido à variação de fluxo magnético.
 Medir a força eletromotriz induzida em uma bobina.
Sugestão de material
 Microamperímetro analógico com zero central, diodo emissor de luz (LED), ímã, bobina com,
~1200 espiras, multímetro digital, fonte de corrente alternada, medidor de campo magnético
com sensibilidade de 0,01 mT, Bobina de Helmholtz com ~100 espiras e diâmetro de ~40 cm,

104
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

bobina com menor com diâmetro de ~10 cm e N (>3) espiras e, suporte giratório para bobina
e cabos para conexões elétricas.

PROCEDIMENTO
Observação da corrente induzida em uma bobina
 Conecte a bobina de 1200 espiras ao microamperímetro analógico. Em seguida, movimente o
ímã ao longo do eixo da bobina, aproximando-o e afastando-o dela e observe a corrente
indicada no microamperímetro. Repita esse procedimento, invertendo os polos do ímã e,
também, variando a velocidade dele em relação à bobina. Descreva suas observações e
explique-as com base nas leis de Faraday e de Lenz.
 Retire o microamperímetro e conecte a bobina ao LED. Repita o procedimento descrito no
item anterior e explique o que você observa. Lembre-se de que o LED é um dispositivo que
permite corrente elétrica apenas em um sentido.
Medição da força eletromotriz induzida em uma bobina
 Monte o circuito representado na Figura 2. A Bobina de Helmholtz deve ser conectada à fonte
de corrente alternada e o voltímetro, à bobina menor. Todos os cabos de conexão devem ser
trançados em pares, como mostrado nessa figura, para evitar campos magnéticos adicionais
indesejáveis.
 Gire a bobina menor até alinhar o eixo dela com o da Bobina de Helmholtz. Ajuste a tensão
alternada da fonte para 14 V e, com o voltímetro, observe a força eletromotriz induzida na
bobina menor. Explique a origem dessa força eletromotriz.
 Meça o valor da força eletromotriz induzida na bobina menor para diferentes ângulos  e
registre os resultados obtidos em um gráfico. Considere que, em um circuito de corrente
alternada, o voltímetro mede o valor quadrático médio da força eletromotriz – chamado de
tensão eficaz –, dado por  eficaz   0 2 . (veja Apêndice H)
 Por meio de uma análise gráfica dos dados adquiridos, obtenha o valor da amplitude B0 do
campo magnético induzido na bobina menor.
 Com o medidor de campo magnético, meça o valor eficaz desse campo no centro da Bobina
de Helmholtz e compare-o com o valor determinado no item anterior. Observe que, assim
como no voltímetro, o medidor de campo magnético mede, para campos alternados, o valor
eficaz do campo, que é dado por Beficaz  B0 2.

105
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

DIODO SEMICONDUTOR

INTRODUÇÃO

Materiais semicondutores são a base de todos os dispositivos eletrônicos. Um semicondutor pode


ter sua condutividade controlada por meio da adição de átomos de outros materiais, em um processo
chamado de dopagem. Em geral, os dopantes são inseridos em camadas no cristal semicondutor e,
assim, diferentes dispositivos podem ser construídos dispondo-se adequadamente as camadas com os
diferentes dopantes.
Um diodo semicondutor consiste numa junção de uma camada de semicondutor tipo n com outra
de semicondutor tipo p. Num semicondutor tipo n, os portadores de carga – ou seja, as partículas que
participam da condução elétrica – são elétrons livres, enquanto, num semicondutor tipo p, são buracos
livres, de carga positiva. Em semicondutores dopados, os elétrons e os buracos são provenientes dos
átomos dopantes. Na junção de um material tipo n com um tipo p, os elétrons próximos à junção
difundem da região n para a p, enquanto os buracos difundem no sentido oposto. Quando esses
elétrons e buracos se encontram, eles recombinam-se, deixando, na interface, uma região com os íons
positivos e negativos dos dopantes. Essa região é desprovida de portadores de carga e é chamada
região de depleção. Os íons criam um campo elétrico, nessa região, que impede a continuidade da
difusão de elétrons e de buracos. Essa situação está representada na Fig. 1a.

Figura 1 - Em (a) representa-se a junção de um semicondutor tipo p com um tipo n.


Elétrons e buracos difundem-se através da interface, deixando apenas os íons dos dopantes
nessa região. Esses íons produzem um campo elétrico que impede a continuidade do
processo de difusão. Em (b) representa-se o símbolo de um diodo

Ao ser conectada a uma fonte de força eletromotriz, uma junção p-n permite o fluxo de corrente
apenas em um sentido – da região p para a região n. Considere a situação em que um diodo está
conectado a uma fonte de forma que a região tipo p está em um potencial mais alto que a tipo n. Essa
configuração é chamada de polarização direta. A fonte, continuamente, injeta elétrons na região n, ao
mesmo tempo em que remove outros elétrons – ou, equivalentemente, injeta buracos – na região p.
Nessa situação, o campo elétrico da fonte tem sentido oposto ao campo produzido pelos íons na região
de depleção. Essa região, então, estreita-se, facilitando o fluxo de cargas através da interface.

106
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Por outro lado, diz-se que um diodo está com polarização reversa quando a região tipo p está em
um potencial menor que a do tipo n. Nesse caso, a região de depleção alarga-se, reduzindo, então, a
corrente através do diodo.
Na Fig. 2, estão mostrados circuitos em que (a) o diodo está polarizado diretamente e (b)
reversamente. O diodo só conduz quando está com polarização direta e com uma tensão superior a
uma tensão de corte VF. Quando polarizado reversamente, o diodo não conduz.

i=0
-
V1 R

(a) Polarização direta (b) Polarização reversa


Figura 2 - Quando um diodo está alimentado com polarização direta, como em (a), pode
haver uma corrente no circuito. Em polarização reversa, como em (b), o diodo comporta-
se como uma chave aberta e não há corrente

O gráfico da corrente em um diodo semicondutor em função da tensão aplicada está esboçado na


Fig. 3.

r = inverso da
I inclinação

VF = ponto de
quebra ou
“joelho”

VF V
VF r

Figura 3 - Curva característica do diodo: em polarização reversa (V < 0 no gráfico), a


corrente é praticamente nula; quando polarizado diretamente com V > VF, o aumento da
corrente segue aproximadamente uma reta, e o diodo pode ser considerado um resistor de
pequena resistência em série com uma fonte de tensão

Teoricamente, a dependência I(V) de um diodo é dada pela equação de Ebers-Moll:


I  I s  exp(V / VT )  1 (1)

que, para V > 0,1 V, pode ser aproximada por


I  I s  exp (V / VT ) (2)

107
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

em que Is é uma pequena corrente, aproximadamente constante, que aparece em polarização reversa
e  é o chamado “fator de idealidade” que depende da fabricação do diodo (tipo de material, dopagem
etc.). VT é uma constante de origem térmica dada por
kT
VT 
q

em que k é a constante de Boltzmann, q é a carga do elétron e T é a temperatura absoluta (Kelvin). À


temperatura ambiente (27 oC  300 K), VT  26 mV.

Diodo emissor de luz


Há diversos dispositivos formados a partir de uma junção p-n. Um exemplo muito comum são os
LED’s, ou diodos emissores de luz (light emitting diodes). Em junções construídas com materiais
como arseneto de gálio (GaAs) ou nitreto de gálio (GaN), as recombinações de elétrons e buracos
causam a emissão de radiação eletromagnética na faixa de frequência do visível (ou próximas a ela).
Este efeito é denominado eletroluminescência e é utilizado nos LED’s, que podem ser fabricados para
emitir radiação em diferentes cores, desde o infravermelho ao ultravioleta.
O símbolo e o encapsulamento típico de um LED estão ilustrados na Figura 4.

Figura 4 - Símbolo e pinagem de um LED: a parte


superior mostra como ele é simbolizado, e a parte
inferior mostra o diodo visto por baixo com a
caracterização do anodo e do catodo.

A energia dos fótons emitidos por eletroluminescência é dada por E = hf, sendo f a frequência da
radiação emitida e h a constante Planck. Esta energia é proporcional à tensão de corte do diodo, isto
é, E  q  VF , em que q = 1,6 x 10-19 C é a carga elementar. Desta forma, pode-se relacionar o
comprimento de onda da luz emitida por um LED com sua tensão de corte através da relação
hc
hf   qV F
 (3)

em que c é a velocidade da luz.


A Tab. 1 mostra os elementos semicondutores utilizados, suas tensões de corte (VF) e os
comprimentos de onda da emissão luminosa predominante () de alguns LED’s. Há variações entre
os modelos comerciais.

108
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

Tabela 1. Dados típicos de LED’s comerciais


Cor Material (nm) VF (V)
Azul InGaN 470 3,6
Verde GaP 565 2,1
Amarelo GaAsP/GaP 585 2,1
Vermelho GaAIAs 660 1,8

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Observar o comportamento de um LED em polarização direta e reversa e levantar sua curva
característica I x V.
 Medir o comprimento de onda da luz emitida por um LED e determinar o valor da constante
de Planck.
Sugestão de material
 1 fonte de tensão CC (0 a 25V), 2 multímetros digitais, 1 painel de ligação, cabos, 1 LED, 1
resistor de 220 , 1 espectrômetro.

PROCEDIMENTO
Características elétricas de um LED
 Atenção: todo LED tem um valor máximo de corrente permitido. Verifique qual é esse valor
para não danificar o LED.
 Monte o circuito da Fig. 5 com o voltímetro, inicialmente, sobre a fonte de alimentação.
Chame o professor para conferir. Ajuste a tensão da fonte (não a do diodo!) para 5 V. Observe
a leitura do amperímetro e a luminosidade do LED. Inverta o LED no circuito e identifique
quais são as posições para polarização direta e reversa.

Figura 5. Circuito para obtenção da curva


característica do diodo.

 A corrente no circuito da Figura 5 pode ser calculada por I = ( V – VF) / R. Calcule esta
corrente para os valores sugeridos na montagem da figura e compare com o valor medido para
a polarização direta.
 Ajuste a fonte para a menor tensão possível e, em seguida, conecte o voltímetro aos terminais
do LED. Varie a tensão na fonte até que a tensão sobre o LED seja de, aproximadamente,
1,3 V. Varie lentamente a tensão e registre pares de valores da tensão V sobre o LED e da

109
EXPERIMENTOS DE ELETROMAGNETISMO

corrente I, tendo o cuidado em obter uma boa definição da curva nas proximidades de VF (veja
Figura 3). Evite registrar pontos para correntes acima de 10 mA.
 Tendo como base a relação aproximada entre I e V (equação 2), obtenha, por meio de uma
análise gráfica, os valores das constantes Is e , com os respectivos erros e unidades.
 Apenas como uma referência comparativa, a corrente de saturação reversa Is pode estar na
faixa de 10-4 a 10-17 A e o fator de idealidade, próximo de 2 (LED vermelho).
 Como já foi comentado e ilustrado, para efeito de análise, pode-se considerar que o diodo é
constituído por uma fonte de tensão VF em série com uma resistência r. Ajuste manualmente
uma reta sobre a parte aparentemente retilínea da curva I x V e determine os valores de VF
e de r.

Determinação da Constante de Planck


Neste experimento será utilizado um espectrômetro simples, cujo digrama esquemático está
mostrado na Figura 6, apropriado para medir comprimento de onda de luz visível. A luz a ser
analisada entra por um orifício e incide em uma rede de difração que separa o feixe original em suas
componentes de diferentes cores. Ao se olhar dentro do espectrômetro, as raias luminosas são
visualizadas sobre uma escala pré-calibrada o que permite a leitura dos correspondentes
comprimentos de onda.


 A
B
Figura 6. Espectrômetro. “A” é uma janela para
entrada de luz. Em “B” há, além de uma abertura .
para observação, uma rede de difração .
.
C
(transparente) refletora. Em “C” há uma escala
calibrada para a leitura do comprimento de onda.

 Inicialmente, familiarize-se com o espectrômetro, observando a emissão das lâmpadas


fluorescentes. Será possível observar raias próximas a 403 nm (violeta), 435 nm (azul), 546
nm (verde) e 578 nm (amarelo). A resolução das raias pode ser melhorada ajustando-se o
tamanho do orifício para a entrada de luz.
 Acenda o LED, observe a luz emitida por ele com o espectrômetro e meça o comprimento de
onda da faixa de luz predominante.
 Utilizando a equação 3, determine o valor da constante de Planck. Compare com o valor
esperado (h =6,62610-34 J·s).

BIBLIOGRAFIA

 SZE, S. M. Physics of Semicondutors Devices. 2. ed. New York: John Whiley, 1981. (Capítulo
12 - LED and Semicondutor Lasers)

110
E X P E R I M E N T O S D E

O N D A S

111
EXPERIMENTOS DE ONDAS

ONDAS ESTACIONÁRIAS EM UM MEIO SÓLIDO

INTRODUÇÃO

Ondas estacionárias em uma corda finita


Em uma corda uniforme de densidade linear de massa , submetida a uma tensão T, um pulso ou
uma onda transversal se propaga com velocidade de propagação v dada por

T
v . (1)

Para pequenas amplitudes de oscilação, essa velocidade independe da forma e da amplitude da


onda.
Duas ondas de mesmo comprimento de onda, propagando-se em direções opostas, dão origem a
ondas estacionárias. Isso ocorre, por exemplo, quando vibrações são produzidas em uma corda
esticada com as extremidades fixas, como representado na Figura 1. Nesse caso, as ondas refletidas
em cada extremidade superpõem-se àquelas que estão se propagando em sentido oposto e produzem
configurações determinadas pela condição de que, em qualquer instante, a amplitude deve ser nula
nesses dois pontos, ou seja, as duas extremidades devem ser nodos. Para que essa situação ocorra, o
comprimento  da corda deve satisfazer a relação

n
2,

em que n = 1, 2, 3,… Portanto, as frequências de oscilação dessa uma corda são dadas por
v v
f  n
 2 .

Figura 1. Representação dos modos n = 1, 2 e 3 das ondas estacionárias em uma corda que
tem ambas as extremidades fixas.

Essas ondas estacionárias, mostradas na Fig. 1, são chamadas de modos normais de vibração da
corda. O modo fundamental corresponde à frequência em que n = 1; o primeiro sobretom, ou segundo
harmônico, corresponde àquela em que n = 2; e assim, sucessivamente.
As ondas produzidas por vibrações de uma corda são rapidamente amortecidas, a não ser que seja
continuamente fornecida energia para manter suas amplitudes constantes. Se a corda for submetida a
uma força externa, periódica, com frequência igual à de um de seus modos normais, mesmo uma
112
EXPERIMENTOS DE ONDAS

pequena força poderá produzir ondas de grande amplitude. Esse efeito é chamado de ressonância.
Nesse caso, a força externa fornece energia à corda continuamente, e o amortecimento, causado pelo
atrito, determina a amplitude das oscilações – se o amortecimento for pequeno, a amplitude das
oscilações poderá ser muito grande.
Ondas estacionárias em uma barra
Em uma barra, podem ser produzidas vibrações tanto longitudinais quanto transversais e, na maior
parte dos casos, é difícil produzir um tipo de movimento sem o outro. As vibrações longitudinais são
semelhantes às que ocorrem em uma corda. Para uma barra longa e fina, a velocidade de propagação
de pulsos ou de ondas longitudinais é dada por

Y
v
 ,

em que Y é o módulo de Young – uma grandeza característica de cada material – e  é a sua densidade.
Para vibrações transversais, o consequente aparecimento de torques e de forças de cisalhamento
torna a análise mais complicada. Ondas transversais de frequências diferentes propagam-se com
velocidades diferentes, ou seja, uma barra é um meio dispersivo para essas ondas.
Uma outra situação comum em que ocorre dispersão é a que se verifica na propagação da luz em
um líquido ou em um sólido – luz de diferentes cores, ou frequências, propaga-se com velocidades
diferentes e isso dá origem a efeitos como o arco-íris, por exemplo.
 Cite uma evidência experimental de que não ocorre dispersão em ondas sonoras que se propagam
no ar.
Pode-se mostrar6 que uma onda transversal de frequência f se propaga em uma barra com
velocidade

v  2 f c k
,

em que c  Y , k  d / 12 e d é a espessura da barra.



Se uma das extremidades da barra está fixa, os modos de vibração permitidos terão frequências
dadas por7
 ck
f  2
(1,1942 , 2,9882 , 52 , 7 2 , )
8

em que  é o comprimento da barra.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Produzir ondas estacionárias em uma corda, em uma barra metálica e em um aro de arame.

6
KINSLER, L. E.; FREY, A. R.; COPPENS, A. B.; SANDERS, J. V. Fundamentals of Acoustics. 3. ed., Nova York,
John Wiley & Sons, 1982.
7
Idem.
113
EXPERIMENTOS DE ONDAS

 Verificar a relação entre as características desses meios e a frequência e o comprimento de onda


dessas ondas.
Sugestão de material
 Gerador de áudio, vibrador, fio elástico, lâminas metálicas, aro metálico e objetos de massas
diversas.

PROCEDIMENTO
Ondas estacionárias em uma corda
Na Fig. 2, representa-se a montagem utilizada neste experimento. Um objeto, de massa conhecida,
está dependurado em uma das extremidades de um fio elástico; esse fio passa por uma polia e tem
sua outra extremidade fixada em um vibrador mecânico. Esse vibrador é conectado a um gerador de
sinais de áudio e produz no elástico, oscilações, cujas frequência e amplitude podem ser variadas.

Figura 2 - Dispositivo utilizado para produzir ondas estacionárias em uma corda.

 Pendure um objeto na extremidade do fio elástico. Varie, no gerador de áudio, a frequência


de vibração e anote todos os valores fn em que se observam ressonâncias na corda. Faça uma
tabela em que se representem um esboço da forma da onda, o índice n associado e a frequência
de ressonância de cada modo de vibração observado.
 Substitua o objeto por outro de massa, aproximadamente, duas vezes maior ou duas vezes
menor que a anterior e repita as medidas.
 Mediante uma análise dos gráficos de fn versus n para cada uma das situações anteriores,
obtenha as velocidades de propagação da onda. Trace as duas curvas no mesmo gráfico.
Justifique os diferentes valores obtidos com as diferentes massas.
 Determine a densidade linear de massa do elástico por meio a) da equação 1 e, também, b) da
definição de densidade linear de massa  = m/. Comente sobre os valores encontrados.

Ondas estacionárias em uma lâmina


 Depois de remover o fio, encaixe no vibrador o conjunto de lâminas metálicas, como ilustrado
na Fig. 3.
 Varie, no gerador de áudio, a frequência de vibração, enquanto observa as lâminas metálicas.
Determine as frequências de ressonância de todos os modos normais que você consegue
observar em cada um dos dois segmentos de lâmina. Faça uma tabela com um esboço das
formas das ondas estacionárias que são observadas e das respectivas frequências de
ressonância para cada segmento.
 Compare os resultados obtidos em cada segmento. Indique qual deles apresenta a menor
frequência de ressonância e explique por quê. As frequências de ressonância obtidas no

114
EXPERIMENTOS DE ONDAS

elástico esticado são múltiplas da frequência do modo fundamental. Verifique se isso é


observado também nas lâminas.
 Determine, para a lâmina de maior comprimento, as razões fn/f1 entre as frequências de
ressonância de cada modo e a do modo fundamental f1 e compare-as com os valores previstos
teoricamente.
aro metálico

lâminas metálicas

trava

vibrador

Figura 3. Vibrador mecânico, lâminas e aro metálicos usados para produção de ondas
estacionárias.

Ondas estacionárias em uma barra


 Substitua o conjunto de lâminas metálicas do vibrador pelo aro metálico, como ilustrado na
Fig. 3.
 Aumente, no gerador de áudio, gradativamente, a frequência de vibração, enquanto observa o
aro. Determine as frequências de ressonância de todos os modos normais que você consegue
observar. Esboce as formas das ondas estacionárias que são observadas em cada modo.
 Determine a relação entre o comprimento do aro e os comprimentos de onda das ondas
estacionárias. Verifique se as frequências de ressonância são múltiplas da frequência do modo
fundamental.

115
EXPERIMENTOS DE ONDAS

ONDAS ESTACIONÁRIAS EM UM TUBO

INTRODUÇÃO

A velocidade de propagação de uma onda mecânica depende das propriedades elástica e inercial
do meio em que a onda se propaga. Para uma onda sonora, a velocidade v de propagação é dada por

B
v
, (1)

em que a propriedade inercial é a densidade  do meio e a propriedade elástica é o seu módulo de


elasticidade volumar B (veja Apêndice no final do roteiro). A Tab. 1 mostra os valores médios de B,
 e v de diferentes materiais.

Tabela 1. Valores médios do módulo de elasticidade volumar B, da densidade  e da


velocidade do som v de alguns materiais (as incertezas são menores que 10%)
B  v
Material
(10 N/m2)
7
(Kg/m )3 (m/s)
Ar 0C,1 atm 0,014 1,29 331
Ar 20C,1 atm 0,014 1,20 344
Ar 100C,1 atm 0,0090 0,598 386
Hélio 0C,1 atm 0,017 0,178 965
Água destilada 0,22 x 103 1,000 x 103 1497
Alumínio 7,0 x 103 2,7 x 103 5104
Ferro ~20 x 103 7,9 x 103 5130
Vidro pirex 6,2 x 103 2,32 x 103 5170
 Explique por que, apesar de serem mais densos, a velocidade do som em líquidos e sólidos é
maior que em gases.

Ao se propagar em um tubo, as ondas sonoras produzem, no interior dele, regiões de compressão


e de rarefação. Refletidas nas extremidades do tubo, as ondas superpõem-se àquelas que estão se
propagando em sentido oposto e produzem ondas estacionárias. Considere um tubo aberto em uma
extremidade e fechado na outra. O ar em volta dele comporta-se como um reservatório de pressão
constante; portanto, na extremidade aberta, há um nó de pressão. Na extremidade fechada do tubo,
por sua vez, há um antinó de pressão.
Essa descrição é aproximada, pois as ondas sonoras irradiadas a partir da extremidade aberta
produzem oscilações periódicas na pressão do ar ao seu redor. Dessa forma, o nó de pressão não está
localizado exatamente nessa extremidade, mas próximo a ela.
As configurações de ondas estacionárias são chamadas modos normais e são determinadas pelas
condições acima descritas e pela frequência da onda em questão. Na Fig. 1, estão representadas ondas

116
EXPERIMENTOS DE ONDAS

estacionárias de pressão formadas em tubos de vários comprimentos, com uma das extremidades
aberta e a outra fechada.

Figura 1 - Ondas estacionárias de pressão em um tubo que tem uma das extremidades
fechada.

Os modos normais de vibração em um tubo podem ser excitados por uma onda sonora colocada
próximo à extremidade aberta do tubo. Quando a frequência dessa onda coincidir com uma das
frequências dos modos normais do tubo, haverá ressonância, e a intensidade da onda no tubo será
máxima.
Se a frequência da fonte de onda sonora for mantida fixa, as condições de ressonância podem ser
satisfeitas variando-se o comprimento da coluna de ar no tubo. Medindo-se esses comprimentos,
pode-se determinar a velocidade de propagação do som no ar.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Verificar as condições de ressonância em um tubo.
 Determinar a velocidade do som no ar.
Sugestão de material
 Gerador de sinais de áudio, osciloscópio, tubo com êmbolo, alto-falante e microfone.

PROCEDIMENTO
A montagem utilizada neste experimento, mostrada na Fig. 2, consiste de um tubo que tem uma
das extremidades fechada por um êmbolo. O comprimento da coluna de ar no tubo pode ser alterado
movimentando-se o êmbolo. Próximo à extremidade aberta desse tubo, há um alto-falante ligado a
um gerador de sinais de áudio. Um pequeno microfone, ligado a um osciloscópio, está fixado na
extremidade de uma haste e pode ser posicionado em qualquer lugar no interior do tubo. As ondas
sonoras captadas pelo microfone são observadas no osciloscópio.

117
EXPERIMENTOS DE ONDAS

Figura 2 - Dispositivo utilizado para produzir ondas estacionárias em um tubo.

 Ajuste o gerador de sinais de áudio para produzir uma onda senoidal com frequência entre
1,5 kHz e 3 kHz.
 Inicialmente, posicione o microfone próximo ao alto-falante. Conecte o osciloscópio ao
microfone e ajuste-o de forma que se possa visualizar a onda sonora.
 Em seguida, mova o êmbolo e determine todos os comprimentos da coluna de ar no tubo em
que se observam ressonâncias.
 Nessa situação, a distância entre duas posições consecutivas do êmbolo corresponde a meio
comprimento de onda. Considerando as medidas realizadas, determine o melhor valor do
comprimento de onda da onda sonora e o melhor valor da velocidade de propagação do som
no ar.
 Indique que dificuldades seriam encontradas para se realizar este experimento com ondas sonoras
de frequência muito menor ou muito maior que a utilizada.
 Agora, coloque o êmbolo em uma posição em que ocorre ressonância, aproximadamente no
meio do tubo. Em seguida, mova o microfone no interior do tubo e alguns centímetros para
fora da boca do tubo e determine as posições dos nós e antinós de pressão. Esboce a forma da
onda captada pelo microfone. Determine experimentalmente a distância mais próxima da
extremidade aberta do tubo que se encontra um nó de pressão. Comente se a extremidade
fechada do tubo é um nó ou um antinó de pressão.
 Utilizando-se o modelo de um gás ideal (veja o Apêndice deste experimento), pode-se
demonstrar que a velocidade do som nesse gás é dada por

 RT , (4)
v
M

em que R = 8,31 J/K é a constante universal dos gases;  = cp / cv é a razão entre o calor
específico medido a pressão e volume constantes, T é a temperatura; e M é a massa molecular
do gás. Para um gás ideal diatômico,   1,4 e, para o ar seco, M = 28,8 g/mol. Utilizando a
equação 4, determine a velocidade do som no ar e compare-a com o valor medido
anteriormente.

118
EXPERIMENTOS DE ONDAS

APÊNDICE: VELOCIDADE DO SOM EM UM GÁS IDEAL

O módulo de elasticidade volumar B é definido por


p
B  V , (A1)
V

em que  V é a variação no volume de um gás produzida por uma variação  p em sua pressão,
estando o gás a uma temperatura constante. É igual ao coeficiente de compressibilidade isotérmica.
Com base nas equações 1 e A1, e sabendo-se que  = m V, obtém-se
B p
v2  
  (A2)

As compressões e rarefações produzidas por uma onda sonora são muito rápidas e, assim, não há
tempo para calor se transferir de uma região para outra do gás. Portanto esses processos são
adiabáticos e, nesse caso, a relação entre a pressão e o volume do gás, antes da compressão (p0,V0)
e depois dela (p, V) é dada por

pV   p 0V0

Essa equação pode ser escrita como


p p0 p0

 
 p 

 0 0 .

Portanto,
p p p
  0   1   0
 0 0 ,

em que se usou a aproximação   0 . Substituindo-se esse resultado na equação A2 e usando-se a


equação de estado de um gás ideal, p0V0 = nRT, obtém-se
p0 nRT RT
v2   
0 m M .

119
EXPERIMENTOS DE ONDAS

VELOCIDADE DO SOM EM METAIS

INTRODUÇÃO

A propagação de ondas mecânicas em um meio material dá-se pela transmissão de vibrações das
partículas constituintes do meio, produzidas pela fonte geradora da onda. Quando a vibração é
paralela à direção de propagação, a onda é chamada de longitudinal. O som é um exemplo de uma
onda mecânica longitudinal. Uma onda se diz transversal quando produz vibrações perpendiculares
à direção de propagação. Além de ondas longitudinais e transversais, perturbações mecânicas em um
sólido podem produzir, também, ondas de torção.
As propriedades do meio que determinam a velocidade de propagação de uma onda mecânica são
a inércia e a elasticidade. A elasticidade do meio dá origem a forças restauradoras e a inércia
determina como o meio responde a tais forças. Em um sólido, a velocidade v de propagação de pulsos
longitudinais é dada por

Y
v
,

em que Y é o módulo de Young, que caracteriza a elasticidade, e  é a densidade, que caracteriza a


inércia do meio. A Tab. 1 mostra valores de Y,  e v para alguns metais.
Tabela 1. Módulo de Young, densidade e velocidade do som para alguns
metais (as incertezas são menores que 10%)
Y  v
Material
(1011 N/m2) 3
(10 kg/m ) 3 (km/s)
Alumínio 0,70 2,70 5,10
Cobre 1,25 8,96 3,56
Ferro 2,06 7,86 5,13
Aço 2,00 7,81 a 7,90 5,13
Latão 0,90 8,44 a 8,60 3,30

Nesse experimento, pretende-se medir a velocidade de propagação do som em barras metálicas.


Soltando-se uma barra verticalmente, observa-se que ela “pula” ao atingir o piso. Esse fato pode ser
explicado como se segue. Quando a barra se choca contra o piso, é produzido um pulso de compressão
na sua extremidade inferior. Esse pulso propaga-se ao longo da barra e, ao atingir a extremidade
superior dela, é refletido, retornando à extremidade inferior. O pulso, ao atingir a extremidade
inferior, restaura a forma original da barra, que, por sua vez, exerce uma força para baixo sobre o
piso. O piso, em reação, exerce uma força para cima sobre a barra, fazendo-a saltar. Durante o tempo
em que o pulso sobe e desce ao longo da barra, esta permanece em contato com o piso.

120
EXPERIMENTOS DE ONDAS

Sendo l o comprimento da barra e tc o intervalo de tempo em que esta fica em contato com o piso,
a velocidade do pulso é dada por
2l
v
tc .

Portanto, medindo-se l e tc, pode-se obter a velocidade do pulso.


O tempo necessário para um pulso percorrer uma barra metálica de 1 m de comprimento é menor
que um milésimo de segundo (ver Tab. 1). Como não se consegue medir tempos dessa ordem com
um cronômetro convencional, nesse experimento essa medição será feita com base na medida do
tempo de descarga de um capacitor através de um resistor8 (veja sobre isso no experimento Circuito
RC).
A montagem utilizada nesse experimento está mostrada, esquematicamente, na Fig. 1. Ligando-
se momentaneamente a chave S, o capacitor carrega-se até atingir a tensão V0 da fonte. Depois de
solta, a barra atinge a base metálica e, durante o intervalo de tempo em que a barra permanece em
contato com a base, o capacitor descarrega-se através do resistor R. A tensão elétrica no capacitor é
indicada pelo voltímetro V.

Figura 1. Diagrama esquemático da


montagem e do circuito utilizados para medir
o tempo de contato entre a barra e a base
metálicas.

Durante a descarga, a tensão V(t) no capacitor C decresce com o tempo t de acordo com a equação

V (t )  V0 e (t /  )
,

em que  = RC é chamado de constante de tempo do circuito. Então, se a barra for solta sucessivas
vezes, as tensões Vi e Vf , respectivamente, antes e após cada colisão, são tais que

V f  Vi e (tc /  )
.

8
SPEZIALI, N.L; VEAS LETELIER, E F.O; Ondas Longitudinais: Determinação da Velocidade do Som Em Metais.
Rev. Ens. de Fis. 8/1, 3-9 (1986).
121
EXPERIMENTOS DE ONDAS

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a velocidade de propagação de um pulso longitudinal em barras de metal.
Sugestão de material
 Fonte de tensão contínua, capacitor eletrolítico, resistor, multímetro digital, barras metálicas
e trena.

PROCEDIMENTO
Nesse experimento, são sugeridas duas formas de se fazer as medições. Você pode escolher uma
delas, mas deverá argumentar sobre uma possível diferença nos resultados obtidos das duas maneiras.
Para orientar sua escolha, leia previamente os dois procedimentos.
 Monte o circuito mostrado na Fig. 1.
Atenção: antes de ligar a fonte, verifique se o capacitor eletrolítico está ligado com a polaridade
correta e que a tensão da fonte está ajustada para zero volt.
 Para evitar que a ponta da barra se amasse, ela deve ser solta de uma altura de, no máximo,
15 cm acima da base metálica.
 Ligue a chave S para carregar o capacitor.

Procedimento I
 Desconecte a chave S, anote o valor da tensão no capacitor e solte, imediatamente, a barra.
Depois de ela colidir com a base, segure-a no ar, antes que caia novamente, e anote o novo
valor da tensão. Repita esse procedimento várias vezes, anotando, a cada vez, os valores das
tensões no capacitor antes e após cada colisão. Se necessário, carregue novamente o capacitor
para fazer outras medições.
 Esboce o gráfico da tensão no capacitor em função do tempo, desde o instante em que você
começou as medidas até a quarta colisão da barra com a base. Represente, no gráfico, tanto
os intervalos de tempo em que a está no ar, quanto aqueles em que ela está em contato com a
base. Explique o seu esboço.
 Com os valores medidos, faça o gráfico de Vf versus Vi.

Procedimento II
 Anote o valor inicial da tensão no capacitor.
 Desligue a chave S e solte, imediatamente a barra. Segure-a, no ar, depois de ela colidir com
a base. Leia e anote, rapidamente, a tensão no capacitor. Solte novamente a barra, segure-a e
anote a tensão. Repita esse procedimento até que a tensão no capacitor pare de variar.
 Durante cada colisão, a barra fica em contato com a base por um tempo tc. Assim, depois de
n colisões, o tempo total que a barra ficou em contato com base é ntc. Então, a tensão no
capacitor na n-ésima colisão é dada por

Vn  V0 e ( ntc /  )

Faça o gráfico de Vn versus n.

122
EXPERIMENTOS DE ONDAS

Análise
 Para qualquer um dos procedimentos escolhidos, analise o gráfico obtido e as equações
relevantes. Proponha e faça um outro gráfico que lhe permita obter uma relação linear entre
duas variáveis; por meio de uma regressão linear, determine, então, o tempo tc de contato da
barra com a base e a velocidade de propagação do som na barra, com sua respectiva incerteza.
Compare os resultados obtidos experimentalmente com os valores apresentados na Tab. 1 e
avalie as possíveis causas de erro no resultado.
 Discuta a vantagem ou desvantagem de se determinar o tempo de contato tc da barra por meio
da regressão linear de um gráfico linearizado ou por meio de um ajuste de curva exponencial.

123
EXPERIMENTOS DE ÓTICA

E X P E R I M E N T O S D E

Ó T I C A

124
INTERFERÊNCIA E DIFRAÇÃO DA LUZ

INTRODUÇÃO

A luz é uma onda eletromagnética; portanto é constituída por campos elétrico e magnético que
oscilam, periodicamente, no tempo e no espaço, perpendiculares entre si. A natureza ondulatória da
luz fica evidente, quando seu comprimento de onda é comparável às dimensões de obstáculos ou
aberturas existentes em seu caminho. Fenômenos de interferência e difração da luz são exemplos de
sua natureza ondulatória.
O efeito de duas ou mais ondas ao se encontrarem em um ponto do espaço, em certo instante, é
determinado pelo princípio da superposição. Se elas têm a mesma frequência e encontram-se em fase
(seus máximos coincidem), elas produzem uma onda resultante, cuja amplitude é igual à soma das
amplitudes de cada uma – nesse caso, diz-se que ocorre interferência construtiva das ondas. Por outro
lado, se as ondas, ao se encontrarem, estão fora de fase – ou seja, se o máximo de uma coincide com
o mínimo da outra –, ocorre interferência destrutiva e a amplitude da onda produzida é igual à
diferença entre as amplitudes das duas ondas.
Experiência de Young – interferência em fenda dupla
O experimento de interferência com a luz, feito pela primeira vez por Thomas Young, em 1801,
foi determinante para estabelecer-se a natureza ondulatória da luz – somente ondas podem apresentar
o fenômeno de interferência e/ou difração. Nesse experimento, uma onda plana incide sobre uma
placa opaca, que tem duas fendas estreitas e difrata-se em cada fenda, divergindo radialmente, como
mostrado na Fig. 1. As ondas provenientes de cada fenda superpõem-se e interferem construtiva ou
destrutivamente, em um certo ponto, dependendo da diferença de fase entre elas. Devido a esse efeito,
observam-se, em um anteparo colocado na frente das fendas, regiões em que a intensidade da luz é
máxima, alternadas com outras em que a intensidade é mínima, como mostrado, esquematicamente,
na Fig. 1.

Onda plana incidente

Figura1. Uma onda plana de luz coerente, de


comprimento de onda , incide em uma placa, em que há
duas fendas estreitas; as ondas difratadas pelas fendas
superpõem-se e produzem, no anteparo, o padrão de
franjas claras e escuras, alternadas, mostrado
esquematicamente à direita; as cristas das ondas estão
representadas por linhas cheias.

125
Para se obter esse padrão de interferência, com franjas claras e escuras, as ondas provenientes de
cada fenda devem ser monocromáticas – ou seja, de mesma frequência – e coerentes – ou seja, a
diferença de fase entre elas deve permanecer constante no tempo. A luz de um laser tem essa
característica tornando-se assim adequada para a obtenção de padrões de interferência.
Na Fig. 2, está representada uma onda plana que incide em uma placa com duas fendas. Nessa
figura estão indicadas a separação d entre as fendas, a distância D da placa ao anteparo e o
comprimento de onda  da luz. Considere o ponto P, situado no anteparo, em uma posição
determinada pelo ângulo . Para atingir esse ponto, as ondas provenientes de cada fenda percorrem
distâncias diferentes. Se a diferença entre essas distâncias é igual a um número inteiro de
comprimentos de onda, essas ondas chegam em fase em P e a intensidade da luz, nesse ponto, será
máxima. Se, por outro lado, a diferença entre essas distâncias é igual a um número ímpar de meios
comprimentos de onda, as ondas chegam fora de fase em P e a intensidade, nesse ponto, será mínima.

Figura 2. A separação entre as fendas F e F’ é d e a placa


está a uma distância D do anteparo; o resultado da
interferência no ponto P depende da diferença entre as
distâncias FP e F’P.

Se D >> d, as retas FP e F’P são praticamente paralelas e a diferença entre esses dois percursos
é, aproximadamente, dsen. Assim, as condições para haver um máximo ou um mínimo de
interferência em P são:

máximos d sen = m , m = 0, 1, 2, ...


(1)
mínimos d sen = (m + ½) ,

Difração em fenda simples


Na Fig. 3, está representada uma onda plana que incide sobre uma fenda em uma placa opaca. Se
a largura dessa fenda é da ordem do comprimento de onda da luz, observam-se, no anteparo, regiões
claras alternadas com regiões escuras. Esse efeito pode se analisado de acordo com o modelo de
Huygens – cada porção da fenda atua como uma fonte de luz. As ondas provenientes de cada ponto
da fenda podem chegar ao anteparo em fase ou fora de fase, produzindo regiões respectivamente
claras ou escuras.
Considere o ponto P, situado no anteparo, em uma posição indicada pelo ângulo . Pode-se
mostrar que a condição para haver um mínimo de difração nesse ponto é dada por
a sen = m , m = 1, 2, 3, ... (2)

126
em que a intensidade I da luz no anteparo em função de  é dada por

2
 a 
 sen 
I    I m    , (3)
 a  
 
  

em que a é a largura da fenda e Im é a intensidade máxima observada no padrão de difração.

 Verifique, com base na equação 3, que o centro do padrão de difração,  = 0, é um ponto de


intensidade máxima. Com o modelo de Huygens, tente explicar, fisicamente, por que isso ocorre.

Figura 3. Uma onda plana incide sobre uma fenda


de uma placa opaca; as ondas provenientes de cada
ponto da fenda atingem o ponto P em um anteparo
distante.

Princípio de Babinet
O padrão de difração observado quando a luz incide sobre uma abertura de qualquer forma é o
mesmo obtido quando a luz incide sobre um objeto que é o complemento da abertura: essa é uma das
formas de se enunciar o chamado princípio de Babinet. Isso quer dizer, por exemplo, que, se for
recortada uma parte de uma placa opaca, deixando uma abertura de qualquer forma, tanto a placa
quanto a parte removida, individualmente, produzirão o mesmo padrão de difração. Essa situação está
representada esquematicamente na Fig. 4. Esse resultado não se aplica a pontos situados na região
central do anteparo – sombra geométrica do objeto.

P
Figura 4 - Princípio de Babinet: a figura de
difração produzida por uma abertura é a mesma
que a produzida por seu complemento em
qualquer ponto P, situado fora da região central.

127
PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Analisar padrões de difração e de interferência da luz.
 Determinar a largura e a separação entre fendas a partir dos padrões de interferência e de
difração produzidos por elas.
 Determinar a espessura de um fio de cabelo por meio do padrão de difração que ele produz.
Sugestão de material
 Laser de He-Ne, lâmina com fendas e orifícios de várias dimensões, suporte para lâmina,
anteparo, trena, detector de luz, computador com interface para aquisição de dados.

A montagem utilizada nesse experimento está mostrada na Fig. 5. A luz emitida por um laser
passa por uma determinada abertura em uma lâmina e produz um padrão de interferência/difração
sobre um anteparo. A lâmina consiste de um filme fotográfico que contém fendas e orifícios de
diversas dimensões, como mostrado na Fig. 6. O feixe de laser pode ser direcionado para a fenda
escolhida.

a 2a 3a 4a

d=2a d=3a d=4a ?

r 2r n=4 n=8

Figura 6. Reprodução ampliada da lâmina


Figura 5 – Montagem utilizada para os utilizada nos experimentos de interferência e de
experimentos de interferência e de difração. difração.

PROCEDIMENTO

ATENÇÃO: nunca olhe diretamente para o feixe do laser, pois isso poderá causar danos sérios
e permanentes na sua retina.

Determinação da largura de uma fenda retangular


 Faça a montagem ilustrada na Fig. 5. Coloque o suporte das fendas próximo ao laser e o
anteparo, no lado oposto. Meça a distância da fenda ao anteparo. Direcione o feixe do laser
para a fenda identificada com um "a" na lâmina mostrada na Fig. 6.
 Prenda uma folha de papel sobre o anteparo e, cuidadosamente, copie nela a figura de difração
observada. Todas as análises posteriores serão feitas com base nas anotações contidas nessa
folha, portanto faça-as com cuidado e atenção.
128
 Posicione a fenda identificada como “2a” na frente do feixe do laser. Para registrar a figura
observada na mesma folha de papel, desloque a folha verticalmente, de cerca de 2 cm, e copie
nela a figura de difração observada.
 Compare as duas figuras de difração registradas no papel e discuta as seguintes questões:
o Qual das fendas produz uma figura de difração com o máximo central mais largo? Por
que?
o Considerando a tendência observada nas figuras registradas, como deverá ser a figura de
difração se a fenda for mais estreita? E, se ela for mais larga? Verifique se suas conclusões
estão de acordo com a equação 2.
 Na figura de difração que você desenhou para a fenda “a”, meça as distâncias dos quatro
primeiros mínimos de intensidade ao centro do padrão de difração ( = 0). Sugestão: Para
minimizar erros, meça a distância entre dois mínimos simétricos em relação a  = 0 e calcule
a média desses valores. Em uma tabela, anote essas medidas e os índices m correspondentes
a cada mínimo (veja equação 2). Com base nesses resultados, determine o melhor valor para
largura da fenda “a”.

Interferência em fenda dupla


 Direcione o feixe do laser para a fenda dupla identificada na lâmina como “d = 2a” (veja
Fig. 6). Prenda novamente a mesma folha sobre o anteparo e, cuidadosamente, copie nela,
abaixo das figuras de difração, a figura de interferência observada.
 Posicione a fenda dupla identificada como “d = 3a” na frente do feixe do feixe de laser.
Desloque a folha de papel e copie, abaixo da figura anterior, a figura de interferência
observada.
 Qual das duas fendas duplas produz um padrão com os máximos de intensidade mais
próximos um do outro? Por que isso acontece?
 Como as fendas têm uma certa largura, a figura observada no anteparo consiste de um padrão
de difração superposto com um padrão de interferência. O primeiro depende da largura das
fendas e o segundo, da separação entre elas. Para verificar isso, compare as duas figuras de
interferência com a figura de difração que foi obtida com a fenda simples "a".
 Identifique, nas figuras de interferência, os mínimos de intensidade que são devidos à
difração.
 Para o padrão de interferência obtido com a fenda dupla “d = 2a”, meça as distâncias dos três
primeiros mínimos de intensidade ao centro do padrão de interferência (=0). Em uma tabela,
anote essas medidas e os índices m correspondentes (veja equação 1). Com base nesses
resultados, determine o melhor valor para a separação entre as fendas.
Medida da espessura de um fio de cabelo por meio do padrão de difração produzido por ele

PROCEDIMENTO
 Substitua o suporte para as fendas por outro a que possa prender um fio de cabelo.
 Prenda um fio de cabelo ao suporte; alinhe-o adequadamente com o laser até observar um
padrão de difração no anteparo.

129
 Na folha em que foram traçados os padrões anteriores, registre o padrão de difração produzido
pelo fio de cabelo.
 Determine o diâmetro do fio de cabelo.

130
INTERFERÔMETRO DE MICHELSON

INTRODUÇÃO

A luz é constituída de campos elétrico e magnético oscilantes se propagam no espaço como ondas.
Quando duas ondas de luz se encontram no espaço, esses campos eletromagnéticos se superpõem e o
campo resultante é determinado pela soma vetorial dos campos de cada onda. Essa superposição de
ondas é chamada de interferência.
Quando as duas ondas se originam de uma mesma fonte, pode haver uma correlação entre as fases
dos campos oscilantes e, nesse caso, em determinados pontos do espaço as ondas podem se superpor
em fase – crista com crista ou vale com vale –, produzindo uma onda resultante com amplitude igual
à soma das amplitudes de cada onda. Esses pontos aparecem mais brilhantes para um observador. Em
outros pontos do espaço, essas ondas podem se encontrar fora de fase – crista com vale. Nesses
pontos, a amplitude é igual à diferença entre as amplitudes das duas ondas e a região correspondente
será escura ou menos brilhante.
O fenômeno de interferência é uma evidência da natureza ondulatória da luz e os dispositivos que
permitem observar esse efeito são chamados de interferômetros. Alguns desses dispositivos são
usados para medir o comprimento de onda da luz ou para medir distâncias extremamente pequenas,
menores que o comprimento de onda da luz. Em 1881, Albert A. Michelson construiu um
interferômetro para testar a existência do éter – um meio hipotético em que a luz se propagaria. Seus
trabalhos foram cruciais para demonstrar que essa hipótese não era viável, contribuindo, assim, para
consolidar a posição, hoje aceita, de que a luz é uma onda que não necessita de um meio para se
propagar.
Neste experimento, o interferômetro de Michelson, mostrado na Fig. 1 será utilizado para medir
o comprimento de onda da luz de um laser e o índice de refração do ar. Nesse dispositivo, o feixe de
luz de um laser incide sobre um divisor de feixe com um ângulo de 45º. Esse divisor consiste de um
espelho semitransparente, que reflete metade da intensidade da luz incidente e transmite o restante.
O feixe que é refletido se propaga em direção ao espelho E1 e o outro, que foi transmitido, se propaga
em direção ao espelho E2. Esses espelhos refletem os feixes de volta ao divisor de feixe onde,
novamente, metade da intensidade da luz proveniente do espelho E1 é transmitida em direção ao
anteparo e a outra metade, proveniente do espelho E2, é refletida também em direção ao anteparo. A
superposição desses feixes no anteparo produze um ponto brilhante ou escuro dependendo de se eles
chegam, respectivamente, em fase ou fora de fase. Como os dois feixes se originam de uma mesma
fonte, inicialmente, eles estão em fase. Ao se superporem em qualquer ponto da tela, a diferença de
fase entre eles depende da diferença entre os caminhos percorridos por cada um até a tela.

131
Figura 1 - Interferômetro de Michelson. O feixe de luz de um laser incide sobre um divisor
de feixe e se divide em dois: o feixe transmitido vai em direção ao espelho móvel E1,
enquanto o feixe refletido vai em direção ao espelho fixo E2. Nesses espelhos, os dois feixes
são refletidos de volta ao divisor de feixe para, então, se superporem sobre o anteparo,
produzindo anéis circulares de interferência.

Colocando-se uma lente divergente na frente do laser, o feixe de luz se expande na forma de um
cone de luz, que dá origem a um padrão de anéis claros e escuros sobre a tela, como mostrado na Fig.
1.
No interferômetro, o espelho E1 pode ser deslocado perpendicularmente ao feixe incidente, por
meio de um micrômetro e, dessa forma, é possível alterar a distância percorrida pelo feixe de luz até
esse espelho. Sejam L1 e L2, respectivamente, as distâncias dos espelhos E1 e E2 ao divisor de feixe.
Depois de passar pelo divisor, cada feixe de luz percorre essas distâncias duas vezes. Portanto, a
diferença de caminho percorrido pelos dois feixes é d = 2(L1  L2). Quando essa diferença for igual a
um número inteiro m de comprimentos de onda , as duas ondas chegarão ao centro do anteparo em
fase e produzirão uma franja brilhante, ou seja,
2d = m , m = 0,1,2,...

é a condição para uma interferência construtiva.


Então, deslocando-se gradativamente o espelho E1 observa-se que as franjas sobre o anteparo se
alternam, sucessivamente, de claro para escuro. Cada vez que uma franja clara se torna escura e clara
novamente, o espelho terá se deslocado de 2d. Dessa forma, medindo-se d e contando-se o número
de vezes que as franjas se alternam, o comprimento de onda da luz pode ser determinado.
O interferômetro de Michelson também pode ser usado para se determinar o índice de refração
de um gás em função da sua pressão. Isso pode ser feito colocando-se no caminho de um dos feixes
uma câmara transparente preenchida com o gás, como mostrado na Fig. 2.

132
Figura 2. Uma câmara transparente é colocada no caminho de um dos feixes do
interferômetro.

Nesse caso, a luz que atravessa a câmara tem o seu caminho ótico alterado em relação ao feixe
que percorre a mesma distância fora da câmara. Isso acontece se o gás contido na câmara for diferente
do ar ou, mesmo sendo ar, se sua pressão for diferente. Isso acontece porque o índice de refração de
um gás também varia com a pressão.
Considere que o comprimento de onda da luz no gás à pressão p é (p). Mostre que o índice de
refração n do gás à pressão p é dado por
0
n( p ) 
 ( p)

em que 0 é o comprimento de onda da luz no vácuo.


O feixe de luz passa duas vezes através da câmara, que tem espessura d. Então, o número de
comprimentos de onda contidos na distância 2d é
2d 2d n( p )
mp  
 ( p) 0 .

Portanto, uma alteração na pressão do gás na câmara que está em um dos ramos do interferômetro
produz um efeito semelhante ao de se alterar a diferença de caminho entre os feixes. Considere que,
ao variar a pressão do gás na câmara, um número de franjas m se alterna de claro-escuro-claro,
devido à variação n no índice de refração. Então,
0 m
n 
2d .

Considere, também, que o índice de refração do gás varia linearmente com a pressão, ou seja,
n
n( p )  n( p0 )   p  p0 
p .

Para p0 = 0, n(0) = 1, que é o índice de refração do vácuo, portanto


o m
n( p )  1  p
2d p .

133
PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar o comprimento de onda da luz de um laser.
 Determinar o índice de refração do ar em função da pressão.
Sugestão de material
 Laser de He-Ne, interferômetro de Michelson, câmara transparente e bomba de vácuo.

PROCEDIMENTO
Atenção: Nesse experimento, são utilizados componentes óticos muito delicados. Os espelhos são
metalizados na superfície frontal e podem ser facilmente danificados se tocados.
NÃO toque e nem tente limpar a superfície de nenhum dos componentes!

Medição do comprimento de onda da luz de um laser


 O interferômetro deve estar montado como mostrado na Fig. 3. Identifique, na montagem,
todos os componentes mostrados nessa figura. Nesse experimento, a câmara de vácuo não é
necessária e deve ser removida. Ligue o laser e verifique se aparecem os anéis de interferência
sobre o anteparo. Se não forem observados anéis, deverá ser feito o realinhamento dos
componentes óticos do interferômetro. As instruções para isso devem estar junto ao
equipamento.
 Para deslocar o espelho E1, gire, lentamente, o tambor do micrômetro. Descreva o que você
observa. Meça o deslocamento do espelho E1 que é necessário para se observar a passagem
de 100 franjas de interferência por uma marca feita sobre o anteparo. Com esse resultado,
determine o comprimento de onda da luz do laser e sua respectiva incerteza. Compare o valor
obtido com o que é especificado pelo fabricante do laser.
Medição do índice de refração do ar em função da pressão
 Coloque a câmara transparente no percurso do feixe de luz entre o divisor de feixe e um dos
espelhos, como mostrado na Fig. 3. Caso não esteja especificada, meça a espessura da câmara.
 Utilizando a bomba de vácuo, retire, lentamente, o ar do interior da câmara. Explique o que
você observa com relação às franjas de interferência sobre o anteparo.
 Preencha a câmara novamente com ar. Lentamente, bombeie o ar para fora, enquanto conta o
número m de franjas que passam pela marca de referência em função da pressão p do gás na
câmara. Faça o gráfico de m em função de p. Determine a equação de n (p) e, em seguida, o
valor do índice de refração do ar à pressão atmosférica, com sua respectiva incerteza.

134
LENTES E ESPELHOS

INTRODUÇÃO

A luz é uma onda eletromagnética e interage com a matéria por meio de seus campos elétrico e
magnético. Nessa interação, podem ocorrer alterações na velocidade, na direção de propagação, na
intensidade e na polarização da luz. Esses fenômenos são descritos pelas equações de Maxwell, mas,
em muitas situações, uma análise baseada nesse formalismo pode ser bastante complexa. Alguns
fenômenos associados à propagação da luz podem ser descritos, de forma mais simples, pela óptica
geométrica.
Nesse escopo, fenômenos tais como a refração e a reflexão são descritos usando-se o conceito de
raios de luz – linhas perpendiculares às frentes de onda, que indicam a direção de propagação da luz.
A óptica geométrica é válida somente em situações em que as dimensões dos objetos com que a luz
interage – por exemplo, lentes, espelhos ou anteparos – são muito maiores que o comprimento de
onda da luz.
O tipo e a posição da imagem de um objeto, formada por um espelho esférico de pequena abertura,
é determinada pela equação
1 1 1
  , (1)
o i f

em que f é a distância focal do espelho e o e i são, respectivamente as distâncias dele ao objeto e à


imagem. Por essa mesma equação, determinam-se, também, o tipo e a posição da imagem de um
objeto formada por uma lente fina. Para a utilização dessa equação, devem-se observar as seguintes
convenções de sinais:
i > 0 – para imagens reais,
i < 0 – para imagens virtuais,
f > 0 – para espelhos côncavos e para lentes convergentes,
f < 0 – para espelhos convexos e para lentes divergentes.

É comum caracterizar-se uma lente por seu grau, ou dioptria, que é dado pelo inverso de sua
distância focal em metros. Assim, uma lente de grau +5 , ou +5 dioptrias, é uma lente cuja distância
focal é igual a (1/5)m = 0,2 m, ou 20 cm.

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivo
 Determinar a distância focal de espelhos e lentes.

135
Sugestão de material
 Trilho para montagem dos elementos ópticos; fonte de luz com objeto; duas lentes
convergentes e uma lente divergente; espelhos plano, côncavo e convexo; anteparo; suportes
para lentes, espelhos e anteparo.

PROCEDIMENTO
Neste experimento, serão analisadas as imagens de um objeto formadas por alguns elementos
ópticos e determinadas as distâncias focais de lentes e de espelhos. O objeto pode ser uma abertura
de qualquer forma em um material opaco, ou um desenho em uma folha transparente, iluminado por
uma lâmpada. As lentes, espelhos e anteparo são montados em suportes que podem ser deslocados
horizontalmente, ao longo de um trilho.
Atenção: Nesse experimento, são utilizados componentes óticos muito delicados.
Entre os elementos ópticos fornecidos, procure identificar, apenas pela observação, os espelhos
côncavo e convexo e as lentes divergente e convergente.
NÃO toque e nem tente limpar a superfície de nenhum dos componentes!

Determinação da distância focal de uma lente convergente usando diretamente a equação 1


 Represente, em um diagrama, um objeto, uma lente convergente, os raios luminosos e a
imagem em uma situação em que ela é real.
 Coloque a lente convergente de maior distância focal fornecida no suporte, sobre o trilho;
alinhe-a com o objeto e com o anteparo. Inicialmente, posicione o objeto na maior distância
possível do anteparo. Mova a lente entre os dois, até obter uma imagem nítida no anteparo.
Registre os valores das distâncias imagem–lente (i) e objeto–lente (o) obtidos. Repita essa
operação para diferentes distâncias objeto–anteparo e registre os respectivos valores de i e de
o.
 Mediante a análise de um gráfico de 1/i versus 1/o, determine a distância focal da lente
utilizada. Compare o valor obtido com o que está indicado na lente.

Determinação da distância focal de uma lente convergente pelo método de Bessel


Na Fig. 1, estão representados, esquematicamente, um objeto luminoso, a uma distância D de um
anteparo, e uma lente convergente, de distância focal f. Para uma mesma distância objeto–anteparo,
existem duas posições da lente em que se observa uma imagem real, nítida, sobre o anteparo, como
mostrado na Fig. 1.
Pode-se mostrar que a separação d entre essas posições é dada por

d  D( D  4 f ) . (2)

 Determine a menor distância que deve haver entre o objeto e o anteparo a partir da qual se poderá
obter apenas uma imagem real nítida do objeto.

136
Figura 1 - Diagrama esquemático em que se mostra a
formação da imagem de um objeto por uma lente
convergente em duas posições distintas.

 Utilizando a mesma lente da etapa anterior e mantendo o objeto e o anteparo fixos, mova a
lente entre eles e determine as duas posições dela em que se observam imagens nítidas.
Utilizando a equação 2, determine a distância focal dessa lente.

Determinação da distância focal de uma lente divergente


 Explique por que os dois métodos, descritos anteriormente, para se medir a distância focal de uma
lente convergente, não podem ser usados para uma lente divergente.
Pode-se mostrar que duas lentes finas, de distâncias focais f1 e f2, separadas por uma distância d,
são equivalentes a uma lente de distância focal F dada por
1 1 1 d
  
F f1 f 2 f1 f 2 . (3)

 Considere duas lentes finas – uma convergente (f > 0) e outra divergente (f < 0) – colocadas muito
próximas uma da outra (d ~ 0). Determine qual deve ser, nessa situação, a relação entre as
distâncias focais das duas lentes para que a lente composta equivalente seja convergente.
 Escolha uma lente divergente cuja distância focal deseje determinar. Em um mesmo suporte,
junte a ela uma lente convergente, de distância focal conhecida, para formar uma lente
composta convergente.
 Determine a distância focal dessa lente composta empregando um dos dois métodos descritos
anteriormente. Utilize, então, a equação 3 para determinar a distância focal da lente
divergente.

Determinação da distância focal de um espelho côncavo


 Trace um diagrama de formação de imagem para um objeto colocado no centro de curvatura de
um espelho côncavo. Indique, nesse diagrama a posição em que a imagem será formada.
 Escolha um espelho côncavo cuja distância focal deseje determinar e coloque-o em um
suporte, sobre o trilho, na frente do objeto. Em seguida, mova esse espelho até obter uma
imagem nítida do objeto na mesma posição em que o objeto se encontra. Determine, então, a
distância focal do espelho.

137
Medida da distância focal de um espelho convexo
 Explique por que o método, descrito anteriormente, para se medir a distância focal de um espelho
côncavo não pode ser usado para um espelho convexo.
 Escolha uma lente convergente de distância focal conhecida e coloque-a no suporte, entre o
objeto e o anteparo. Ajuste a posição da lente para obter uma imagem nítida e não muito
grande no anteparo. Em seguida, coloque o espelho convexo, cuja distância focal será
determinada, entre a lente e o anteparo, como mostrado, esquematicamente, na Fig. 2. Mova
o espelho até obter uma imagem nítida do objeto na mesma posição em que o objeto se
encontra. (Se necessário, gire muito levemente a lente até que a imagem se forme ao lado do
objeto e possa ser visualizada.)

Figura 2 - Diagrama esquemático do método


utilizado para se medir a distância focal de um
espelho convexo.

Para que a imagem do objeto se forme na mesma posição em que este se encontra, os raios de luz
dele provenientes, após passarem pela lente, devem incidir perpendicularmente sobre a superfície do
espelho, como mostrado na Fig. 2. Dessa forma, a imagem formada pela lente atua como um objeto
virtual, localizado no centro de curvatura do espelho convexo. Com base nessas informações,
determine a distância focal do espelho convexo.

138
POLARIZAÇÃO DA LUZ

INTRODUÇÃO

Uma onda eletromagnética é formada por campos elétricos e magnéticos que variam no tempo e
no espaço, perpendicularmente um ao outro, como representado na Figura 1. A direção de polarização
de uma onda eletromagnética é definida como a direção do campo elétrico E dessa mesma onda. Por
exemplo, a onda mostrada na Fig. 1 é linearmente polarizada ao longo da direção y.

Figura 1 - Representação dos campos elétrico E e magnético B de uma onda


eletromagnética que se propaga na direção x.

No caso da luz produzida por lâmpadas comuns e pelo Sol, as ondas são originadas de um grande
número de irradiadores independentes, que emitem ondas polarizadas em direções aleatórias; essa luz
é não-polarizada.
Ondas eletromagnéticas polarizadas podem ser obtidas, no momento da emissão – por exemplo,
ondas de rádio e de televisão são produzidas por oscilações de cargas elétricas nas antenas e, em
geral, são linearmente polarizadas ao longo da direção paralela à antena – ou posteriormente a ela,
pela absorção seletiva das ondas de um feixe de luz não-polarizada.. Há vários processos para se
produzirem ondas de luz polarizadas a partir de luz não-polarizada. Dois desses processos são
discutidos a seguir.
Polarização por absorção seletiva
Um tipo comum de polarizador – dispositivo usado para produzir luz polarizada – consiste em
uma placa feita com um material que só deixa passar as componentes de campo elétrico da luz que
estão em uma determinada direção. Um desses materiais, o polaróide, é constituído de longas cadeias
de moléculas orientadas em uma direção. Essas cadeias são boas condutoras elétricas e absorvem luz
incidente, cujo campo elétrico é paralelo a elas e transmite luz cujo campo elétrico é perpendicular.
Na Fig. 2, está representado um feixe de luz não-polarizada que incide sobre uma lâmina de
polaróide, cujo eixo de transmissão está na direção vertical. A luz transmitida através dessa primeira
lâmina – chamada de polarizador – é linearmente polarizada nessa direção. Na mesma figura também
se mostra uma segunda lâmina de polaróide – chamada de analisador –, cujo eixo de transmissão está
girado um ângulo  em relação ao eixo do polarizador. Ao incidir no analisador, uma onda de luz que
139
tem a componente do campo elétrico E perpendicular ao eixo do analisador é absorvida. O analisador
permite a passagem da componente do campo que é paralela ao seu eixo, cujo módulo é E cos. Como
a intensidade de uma onda eletromagnética é proporcional ao quadrado de sua amplitude, ou seja, do
valor máximo do campo elétrico, a intensidade I da luz transmitida através do analisador é dada por

I  I max cos 2  , (1)

em que Imax é a intensidade da luz polarizada que incide no analisador. Essa expressão é conhecida
como lei de Malus.

Figura 2. Um feixe de luz incide em um


polarizador e sai polarizado na direção vertical;
em (a), o feixe polarizado é absorvido ao incidir
em um outro polarizador, que tem o eixo de
polarização perpendicular ao primeiro, e, então,
nenhuma luz é transmitida; em (b) o eixo de
polarização do segundo polaróide está girado
um ângulo  em relação ao primeiro e parte da
luz incidente é transmitida.

Polarização por reflexão


Quando luz não-polarizada incide na interface que separa dois meios, a luz refletida, na mesma
interface, pode ser parcial ou completamente, polarizada, dependendo do ângulo de incidência e da
relação entre os índices de refração dos meios. Na Fig. 3, está representado um feixe de luz não-
polarizada que incide em uma superfície. Nessa figura, as componentes do campo elétrico da luz,
paralelas à superfície, estão representadas por pontos e as componentes perpendiculares, por setas.
Observa-se que a componente paralela à superfície é refletida mais intensamente que a outra.

Figura 3. Quando um feixe de luz não-polarizada


incide sobre uma superfície que separa dois meios
com um ângulo p , o feixe refletido é
completamente polarizado na direção paralela à
superfície.

Utilizando-se as equações de Maxwell, pode-se mostrar que, quando o ângulo entre os feixes
refletido e refratado é de 90º, como mostrado na Fig. 3, o feixe refletido é completamente polarizado

140
na direção paralela à superfície. Nessa situação, o ângulo de incidência p é chamado de ângulo de
Brewster.
 Com base na lei de Snell (n1 sen 1 = n2 sen2), demonstre que, quando um feixe de luz,
propagando-se no ar, incide sobre a superfície de um material que tem índice de refração n, o
ângulo de Brewster é dado por
tan  p  n
.

 Suponha que um feixe de luz que incide em uma superfície esteja polarizado em um plano
perpendicular a essa superfície. Nessa situação, qual é a intensidade da luz refletida quando o
ângulo de incidência for igual ao ângulo de Brewster?

PARTE EXPERIMENTAL

Objetivos
 Analisar, qualitativamente, a polarização da luz emitida por diferentes fontes.
 Verificar a Lei de Malus.
 Determinar o índice de refração do acrílico por meio de polarização por reflexão – ângulo de
Brewster.
Sugestão de material
 Laser não-polarizado, fotômetro, placa plana de acrílico, transferidor, polarizadores com
medidor de ângulo, suportes e base.

PROCEDIMENTO
 Com um polarizador na frente dos olhos, observe a luz emitida por uma lâmpada
incandescente ou fluorescente. Em seguida, gire o polarizador em torno da direção
perpendicular ao seu plano. Descreva o que foi observado e explique.
 Agora, observe a mesma lâmpada através de dois polarizadores paralelos. Mantenha um deles
fixo e gire o outro. Descreva o que acontece com a intensidade da luz que você observa e
explique o que ocorre.
 Observe, através de um polarizador, a luz refletida por uma superfície qualquer. Gire o
polarizador. Descreva o que acontece com a intensidade da luz que você observa e explique.

Lei de Malus
Atenção: Nesse experimento, será utilizado um laser. Nunca olhe diretamente para o feixe do laser,
pois isso poderá causar danos sérios e permanentes à retina de seus olhos.
Na Fig. 4, mostra-se a montagem a ser utilizada nesta parte do experimento. Um feixe de luz de
um laser, não-polarizado, passa através de dois polarizadores e, em seguida, incide em um fotômetro.

141
Figura 4. Montagem para medir a intensidade
do feixe de um laser em função do ângulo entre
as direções de polarização do feixe e a de um
polarizador.

 Faça a montagem mostrada na Fig. 4 e direcione o feixe do laser para a abertura do fotômetro.
Inicialmente, ajuste o ângulo entre os eixos dos polarizadores de forma que a intensidade da
luz transmitida seja máxima. Em seguida, mantendo um polarizador fixo, gire o outro e meça
a intensidade I da luz em função do ângulo  entre os polarizadores. Por meio de uma análise
gráfica das variáveis I e  , verifique se seus resultados estão de acordo com a Lei de Malus.

Polarização por reflexão


Na Fig. 5 está mostrado um feixe de laser que, após atravessar um polarizador, incide sobre uma
placa de acrílico. Esta placa pode girar em torno de um eixo paralelo à sua superfície. Com um
transferidor pode-se medir o ângulo entre o feixe e a placa.

Figura 5 - Dispositivo para medir o ângulo de


Brewster.

 Monte o laser, o polarizador e o transferidor com a placa de acrílico, como mostrado na Fig.
5. Posicione o polarizador, de forma que o feixe, do laser, após passar por ele, esteja
polarizado verticalmente. Observe a luz refletida pela placa de acrílico sobre a base de apoio
dos componentes da montagem.
 Em seguida, gire, lentamente, a placa de acrílico até o ângulo em que a luz refletida
desaparece. Nessa situação, o ângulo de incidência é igual ao Ângulo de Brewster. Meça esse
ângulo e, a partir dele, determine o índice de refração do acrílico, com a respectiva incerteza.

142
APÊNDICES

A P Ê N D I C E S

143
APÊNDICES

APÊNDICE A

REDAÇÃO DE UM RELATÓRIO

Os resultados de um trabalho técnico ou científico são usualmente apresentados na forma de


artigos ou relatórios. Para os experimentos deste livro, também se sugere os resultados sejam
apresentados na forma de um relatório para que o aluno aprenda a usar a linguagem científica, relatar
os resultados de forma correta e discutir os seus significados e relevâncias.
Um relatório não deve ser uma cópia do roteiro; ele deve ser redigido de forma que outro aluno
que não tenha feito o experimento e não conheça o roteiro possa entender o que foi feito. Um bom
relatório não deve ser apenas uma apresentação de dados, mas deve demonstrar a compreensão dos
conceitos relacionados com os resultados obtidos e com as medições feitas.
Não há uma forma rígida para a redação de um relatório, mas ele deve conter, pelo menos, as
seguintes informações:
Título da experiência
Autores e data
Introdução
Deve ser apresentado um resumo da teoria e das equações que o leitor deve saber para
entender o contexto do experimento. Nessa parte, também se descreve os objetivos do
experimento, o que se pretende verificar e/ou aprender.
Parte experimental e discussão
Este é o item mais importante do relatório, em que são descritos os procedimentos
efetivamente realizados e não como supostamente deveriam acontecer. Os métodos de
medida, os aparelhos utilizados e os cálculos envolvidos devem ser apresentados de forma
concisa e organizada. Os resultados obtidos devem ser apresentados na forma de tabelas e
gráficos, com legendas que descrevam o que cada um mostra. A interpretação e discussão dos
resultados deve demonstrar a compreensão do aluno sobre o tema.
Se houver questões propostas no texto, elas devem subsidiar e serem respondidas na discussão
dos resultados.
Conclusões
Em uma conclusão, apresenta-se um resumo do que foi feito no experimento e dos
resultados obtidos, tendo os objetivos iniciais como referência.

OUTRAS OBSERVAÇÕES
 Os resultados de medidas devem ser sempre apresentadas em tabelas.
 Os resultados finais devem ser apresentados com suas respectivas incertezas e as unidades
devem ser, preferencialmente, as do Sistema Internacional de Unidades.
 Cada gráfico ou tabela deve ser acompanhado de uma legenda que descreve o que está sendo
apresentado. Cada eixo de um gráfico deve ter o nome ou símbolo da variável com sua
144
APÊNDICES

respectiva unidade e deve ter uma escala adequada para que as curvas ocupem toda a região
do gráfico. Quando houver mais de uma curva no mesmo gráfico, deve-se adicionar uma
legenda.
 As etapas intermediárias de um cálculo não devem ser mostradas. É suficiente que se
apresentem as equações utilizadas, os valores de todas as variáveis envolvidas, e o resultado
obtido.

145
APÊNDICES

APÊNDICE B

VALORES DE GRANDEZAS E CONSTANTES FÍSICAS

Símbolo Descrição valor


g Aceleração da gravidade no DF/UFMG (9,784  0,005) m/s2
G Constante gravitacional 6,674 J/mol K
e Carga do elétron 1,602  1019 C
me Massa de repouso do elétron 9,109  1031 kg
mp Massa de repouso do próton 1,673  1027 kg
R Constante universal dos gases ideais 8,314 J/mol K
NA Constante de Avogadro 6,022  1023 mol1
k Constante de Boltzmann 1,381  1023 J/K
h Constante de Planck 6,626  1034 Js
0 Permissividade elétrica no vácuo 8,854  1012 F/m
o Permeabilidade magnética do vácuo 4 x 10-7 Tm/A
c Velocidade da luz no vácuo 3,000  108 m/s

PREFIXOS
Símbolo Nome valor
m mili 103
 micro 106
n nano 109
p pico 1012
k quilo 103
M mega 106
G giga 109
T terá 1012

146
APÊNDICES

APÊNDICE C

CÓDIGO DE CORES PARA VALORES DE RESISTÊNCIAS

O valor da resistência de um resistor é, tipicamente, indicado com um código de cores, como


mostrado a seguir. Os tipos mais comuns de resistores apresentam quatro ou cinco faixas de cores.
Uma das faixas é mais afastada da anterior e indica a tolerância (%) no valor da resistência e, também,
a ordem em que as demais faixas devem ser lidas. As primeiras faixas representam os dígitos d e a
última faixa, o multiplicador m, com o valor em ohms.

Cor Dígito Multiplicador Tolerância


d m
Preto 0 100 Ω dourada: 5%
Marrom 1 101 Ω prateada: 10%
Vermelho 2 102 Ω sem faixa: 20%
Laranja 3 103 Ω = kΩ
Amarelo 4 104 Ω
Verde 5 105 Ω
Azul 6 106 Ω = MΩ
violeta 7 107 Ω
cinza 8 108 Ω
branco 9 109 Ω = GΩ
ouro 10-1 Ω
prata 10-2 Ω

Exemplos

Resistor com 4 faixas: Resistor com 5 faixas:


cinza, vermelho, laranja, ouro = 82 kΩ  5% verde, vermelho, marrom, preto, vermelho = 521 Ω  2%

147
APÊNDICES

APÊNDICE D

VALOR EFICAZ DE TENSÕES E CORRENTES

Considere uma tensão alternada senoidal V (t )  Vo sen (2 f t ) , com amplitude V0 e frequência f ,
aplicada em um resistor R. A potência instantânea p(t) dissipada no resistor é dada por

V02
p (t )  sen(2ft )2
R

O valor médio Pmed dessa potência é obtido integrando-se p(t) no intervalo de um período T =1/f,
ou seja,

1 V02 T Vo2
  sen (2 ft )dt 
2
Pmed
T R 0 2R .

Define-se o valor eficaz Vef de uma tensão alternada como igual ao valor de uma tensão contínua
que, aplicada no mesmo resistor R, produz a mesma potência dissipada. A potência P dissipada por
um resistor R sujeito a uma tensão contínua Vef é dada por

Vef2
P
R .

Assim, igualando as duas equações para a potência tem-se


2
Veficaz V02

R 2 R ou

V0
Vef 
2.

De uma forma geral, o valor eficaz xef de uma grandeza periódica x(t) com período T é dado por

1 T
xef 
T 
0
x 2 (t ) dt
.

O valor eficaz xef de uma grandeza é também conhecido como valor quadrático médio ou valor RMS,
xRMS (do inglês, root mean square).

148

Potrebbero piacerti anche