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ESBOÇO HISTORICO .
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REGIMEN ELEITORAL
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( 1821 -- 1921) ·.

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RIO DE JANEIRO
Typ, do Jor11ai do Commerçlo, de Rodrlcues & C

1922
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CÂMARA DOS DEPUTADOS 6fi-Mü003'1-6.g.°f


BIBLlO.TECA

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As instrucções de 7 de Março de 1821 e a legislação
durante o lmperio
· No decreto expedido por D. João VI em 7 ,ele Março de 1821,
rnandantlo proceder á eleição ·de deputados brasileiros ás Côrtes Con-
stitHintes de Lisboa, foi .determinado que essa eleição seria realizada
segundo o methodo e as instrucções adoptadas pela Constituição Hes-
pap.hola de 1812, que, nesta parte e por esta razão, póde ser conside-
___.!'.3-da _c~mo a nossa primeira lei eleitoral. De accôrdo com. os disposi-
tívos queã'eviam sér observados, o povo em massa nomeava compro~
mis'sarios, que, por seu turno, escolhiam immediatamente os eleitores
de parochia .. Estes designavam os ·eleitores de comarca, que, dentro-
de cu.rtu prazo, concorriam á capital da província para alli eleger os
deputados. O numero de eleitores de comarca era o triplo do de
deputados a eleger; o de eleitores de parochia de un-i por 200 fogos·;
o de comi)romissarios., de 11 para um eleitor parochíal, 21 para dois
e 31 de trez para cima. .
Artigos especiaes regulavam, em detalhe, o processo da eleição,
que,~ semlo de quatro gráos, o.fferecia na pratica as mais serias ·diffi-
\:Uldades, o que levou ·o Ministro do Reino, Ignacio da Costa Quin-
tella, tendo em vista " a total disparidade de circumstancias en~re Por.
tugal e o Brasil", a permittir, por circular de 23 de Março de 1821.
qne os capitães generaes e governadore5· das capitanias, elevadas nesst1.
época a: províncias, na conformidade do systema hespanhol, fizessem
na materia as 1nodificações que a sua prudencia e o conselho de pes-
soas doutas e zelosas do bem publico lhes suggerissem, ,cingindo-se em
todo o .caso, o mais possível, ao espírito das Instrucções, que haviam ·
acompanhado o citado decreto, de 7 de Marco.
· 'N'as eleições de procuradores geraes das provif).cias, convocada!.
por decreto de 16 de Fevereiro de 1822, assigtiado por D. Pedro l;
então Príncipe Regente, ainda serviram a,s' referidas .i nstrucções; ma"
na dos 100 deputados á Constituinte, convocada por dec:-ecQ de 3 d\.
-6-
. i'
Junho daquelle anno, já foram observadas outras: as que José Boni-
1ac10 formulara e fizera publicar em r9·do mesmo mez.
.t'or estas ultimas, que foram ligeiramente alteradas por decrett..
úe J de Agosto, tambem de 1822, a eleição era de dois gráos, tendi,
Rido simplificadas todas as tormalidades do processo eleitoral. Houve::.,
porém, restricções ao direito de voto. Só podiam votar em cada ·paru-
chia, e quando nella residissem por mais de um anno, os casados e os
maiores de 20 annos, que não fossem filhos - familia. Estavam im-
pedidos de fazel-o: os religiosos regulares, os estrangeiros não natura-
Iisados, os criminosos e os que recebessem salarios ou soldadas, exce-.
ptuados os guarda-livros, . os primeiros caixeiros de casas commer-
cia.es. os administradores pe fazendas ruraes e fabricas, e os criados
da Casa Real, menos os de galão branco.
No tocante aos requisitos para ser eleitor, dizia o n. 6 do capitulo
II: "Não póde ser eleitor quem não tiver, além das qualidades reque-
ridas para votar, dómicilio certo na provincia ha quatro annos peio
mei1os. Além disso, deverá ter 25 annos de e<lade, ser homem probo
e honrado, de bom entendimento, sem nenhuma sombra de suspeita e
mimizade á causa do Brasil, e decente subsistencia por emprego, ou
industria, ou bens". '
Dissolvida a Constituinte em 12 de Novembro de 1823, foi convo-
cada outra por decreto de 17 do mesmo mez e anno; mas a sua eleição
não chegou •a effectuar-se, porque, em 25 de Março de 1824, D. Pedro
promulgou como Constituição do Imperio o projecto que fôra organi-
zado pelo Conselho de Estado, o qual . se inspirara, quanto ·ao systema·
eleitoral, nas instrucções de 19 de Junho de 1822.
São estes. os dispositivos constituciona.\es relativos ao assumpto:
"Art. 90. As nomeações dos deputados 'e senadores para a Assem
bléa Geral, e dos membros dos Conselhos Geraes das Provincias, ,se-
rão feitas por eleições indirectas, elegendo a massa dos cidadãos acti-
vos, em assembléas parochiaes, os eleitores de provinda, e ·estes ós
representantes da Nação e provincia.
Art. 91. Têm voto nestas eleições primarias:
I. Os cidadãos brasileiros, que estão no 8tJSO de seus direitos
políticos.
II. Os estrangeiros tmturalisados. , .
Art. 92. S~o exclui dos de votar nas assembléas paroch~<\.es:
I. Os menores de vinte e cinco annos, nos quaes se não comp,re-
hendem os casados e officiaes militares, que forem maiores de vinte
e um anrtos os bachareis formados e cierigos de ordens sacra.S.
II. Os' filhos-famili~, que estiverem na companhia de seµs p~is,..
s;al:vo se servirem officios publicas.
-7-
' III. Os criados de, servir, em cuja classe ,não entram ·<(>S guarda-
livros e prim~iros· caixeiros das casas de commercio, os criados da Casa
Imperial, que não forem de galão branco, e os administradores das
fazendas ruraes e fabricas.'
IV. Os reiigiosos e quaesquer que vivam em cümmunidade
claustraJ.
V. Os que não tiverem de renda liquida annual cem mil réis .por
bens de raiz, industria, commercio ou empregos. ·
Art. 93 ., Os que não podem votar nas assembléas primarias de
parochia não podem ser membros, nem votar na nomeação de alguma
autoridade electiva nacional ou local.
. Art. · 94.; Podem ser eleitores e votar na eleição dos deputados,
senadores e membros dos Conselhos da Provincia todos os que podem
votar na assembléa parochial. Exceptuam:-se:
I. Os que não tive.remi de renda liquida annual duzentos mil réis
por bens de raiz, industria, commercio ou emprego.
II . Os libertos.
III. Os cr;iminosos pronunciados em querela ou devassa.
Art. 95. Todos os que podem ser· eleitores são habeis para serem
nomeados deputados. Exceptuam-se :
I. Os que nãd tiverem quatrocentos mil réis de renda liquida, na
fórma dos arts. 92 e 94.
II . Os estrangeiros naturalisados. .
111. Os que não professarem a religião do Estado.
'Art. 96. Os• cidadãos brasileiros em qualquer parte que existam
são elegíveis em cada districto eleitoral para deputados ou senadores,
ainda ·quango ahi não sejam nascidos, residentts óu domiciliados.
Art. 97 . Uma lei regulamentar marcará o modo ·pratiCo das elei-
ções e o "numero de deputados relativamente á população do Imperio."
Promulgada a Constituição, necessario se tornara que fossem con-
stituídas as duas camaras de que se compunha o poder legislativo,
procedendo-se á eleição dos deputados e senadores que as deviam for-
. mar, e, pára esse fim, o Governo fez baixarem as instrucções ·annexas
ao decreto de 26 de Março de 1824, organizadas pelo Ministro do
lmperio, João Severiano Maciel da Costa, mais tarde Visconde e
Marquez de Queluz.
Tratando dessas instrucções, escreveu Francisco Belisario, em seu
interessante estudo sobre "O svstema Eleitoral no Brasil" :
'As instntcções de 26 de 'Março nada garantiam, antes facilita....
vam o furor pouco escrupuloso das facções e dos partidos em con-
quistar b poder , ·
O resultado da ·eleição parochial dependia absolutamente da mesa
eleitoral: seu poder e arbítrio não conheciam limites; sua formação
'
- ..8 -

era a mais irregular e filha · sempre das inauditas desordens e de-


mas1as.
"Segundo o § 3° do capitulo 2° das instrucções, no dia da eleição
o presidente da assembléa eleitoral (era o juiz de .fóra ou ordinario,
ou quei:n suas vezes fizesse nas freguezias), de accôrdo com o paro-
cho, propunha á assembléa eleitoral, isto é, á massa do povo reunido
aa matriz, dois cidadãos para secretarios e dois para escrutadores, que
fossem da confiança publica. Estes quatro cidadãos, sendo approvados
ou rejeitados por acclamação do povo, com o presidente e o parocqo,
formavam a mesa eleitoral. ·
"A esta mesa assim composta a lei entregava um- poder illi,mitado
Não havia nenhuma qualificação anterior de votantes: acceitava a
mesa os votos de quem queria e recusava outros a pretexto de falta
de condiÇões legaes. Não havia chamada, nem prazo algum marcado
para o recebimento das cedulas, que começava e terminava quando·
parecia 'á mesa. ·
• "Além da maior amplitude e arbítrio na faculdade de conhecer da
idoneidade dos votantes para acceitar-lhes os vqtos, ainda a lei (1§ 3°
do capitulo 2°) ordenava ao presidente que perguntasse aos· "circum-
i;tantes (palavras textuaes) si algum sabia ou tinha que denunciar
rnborno ou concluio para que a eleição recahisse em pessoa ou pessoas
determinadas. Verificando-se (con_tinuava a lei) a existericia do fa-
cto, si houver arguição, perderá o incurso o direito activo e passivo de·
voto, por esta vez sómente. A mesma pena soffrerá o calumniador".
"A ingenuidade desta disposição é qigna dos tempos patriarchaes.
"O poder da mesa ia até o ponto de· ser ella quem marcava o nu-
mero dos eleitores da parochia em que funccionava. Para a designação
dest!! numero a lei estabelecia condições ; porém era ella de tal modo
executada que dava frequentemente Jogar a abusos ...
"Com taes factildades comprehende-se a summa importancia que
adquiria a nomeação das mesas eleitoraes. Era, entretanto, entregue á
acclamação do povo, que acceitava ôu rejeitava as pessoas indicadas
pelo presidente.
"Ainda se conservam, e é provavel que se conservem para sem-
pre, na lembrança de todos os que assistiram ás eleições ante1:iores a·
1842, as scenas d~ que eram theatro as nossas egrejas na formação das
mesas eleitoraes. Cada partido tinha seus candidatos, cuja acceitação,
ou ·antes, imposição, era questão de vida 'ou n:iorte. Quaes, porém, os
meios de chegarem as diversas parcialidades a um accôrdo? ·Nenhum.
A turbulencia, o alarido, 'a violencia, a pancadaria decidiam o confli-
do. Findo· elle, o partido expellido da conquista da mesa nada mais
tinha que fazer alli, estava irremissivelmente perdido. Era praxe con-
~- 9-

·-stante: clecla1:ava-sé coacto e retirava-se da egreja, onde, com as fOr-


malidades legaes, fazía-se a eleição conforme queria a mesa.
"Ainda assim, nenhum candidato estava seguro nas eleições se-
cundarias. Estes eleitores, que com tanta ·difficuldade arrancavam o
direito de falar em nome dos votantes, não se preoccupayam com can-
didato algum á deputação. . . Reunindo-se no$ collegios para a eleição
secundaria, assignavam as actas em branco e remettiam-nas aos gabi-
netes dos presidentes das· provincias, onde afinal se fazia livremente
a eleição ... Os registros das actas nas notas dos tabelliães publicas
foram creados depois.· Por sua vez ficara"l inutilisados com o recurso
das duplicatas eleitoraes." .
O depoimento de Francisco Belisario é absolutamente insuspeito
-e corresponde á realidade dos factos nos. ultimas annos da Regencia e
l9go em segµida á Maioridade; e elle mesmo se encarregou de provai-o,
<:itando, em apoio de suas affirmações, varias trechos dos relatoriós
ministeriaes de 1837, 1838, 1839 e 1843. Deve-se, porém, assignalar,
como tambem fez aquelle illustre brasileiro, que nos primeiros tempos
as instrucções de Março éle 1824 deram os melhores resultados e que
-com ellas foram derrotados, em 1830, 1831 e 1835,. Lucio Soares Tei-
xeira r!e Gouveia, José Antonio da Silva e Joaquim Vieira da Silva e
Souza, deputados, que, nomeados ministros, não conseguiram ser re-
ditos, Of' dois primeiros por Minas Geraes e o ~erceiro pelo Maranhão.
A verdade é que ellas só se tornaram de todo imprestaveis quando
<is governo~; sob a allegação de ser necessario restaurar o dominio da
· ara véprimir o espírito de anarchia que lavrava por toda parte,.
.enveredáram elo caminho da reacção, intervindo ostensivamente nos
pleitos eleitoraes pa:ra ·constituírem camara·s unanimes, que lhes asse-
gurassem duradoura preponderancia na política do paiz. .
' Dessa inten'.enção official ha documentos deveras suggestivos.
Um delles é o officio que, em 6 de Março de 1837, o então Ministro
.interino do Imperio, Manoel da· Fonseca Lima e Silva, barão de Su-
ruhy, dirigiu ao Presidente da Parahyba. Eil-o, na integra ("Decisões
do Goyerno" - 1837) :
"Tendo chegado ao conhecimento do Reg-ente, em nome do Im- ,
•perador, o Senhor D. Pedro II, que, na ocêasião em que na Provincia
da Parnhyba se expédiram as convenientes ordens para se proceder á
-eleição de deputados á Assembléa Geral Legislativa que devem servir
na proxima legislatura, se levantou um partido de miseraveis ambi-
·ciosos que, entre si combinados, se propuzearam com o maior escan-
<lalo e a despeito déj.s respectivas leis a obter os cargos de representantes
-pór aquella provincia, · com ·exclusão dos ·' cidadãos benemeritos, for-
mando para esse fim horríveis cabalas e compromettendo com ellas
até algumas autoridades· e pessoas respeitavei~, a quem poderem illu-
10-

dir, sendo entre todos de notar o cdh1inoso expedient~ de augmentar-


se o munero de eleitores da provincia, especialmente dos de Piancó e
Souza,· a um ponto tão excessivo e extraordinario que por si mesmo·
deu, a conhecer as intenções de que se achavam possuidos de gra:ngea-
rem votos a todo custo, para o que não só induziram os respectivos..
parochos a apresentarem listas falsas de seus parochianos, introdu-
zindo nellas nomes de indivíduos suppostos, com a promessa de serem
os mesmos parochos attendidos e contemplados nas votações, mas tam-
bem chegaram a perseguir a todos aquelles que, não se conformando·
com os seu.s puniveis planos, tinham escrupulo de offeri.der desta sorte
os direitos dos mais cidadãos da província, em quem com toda jus-
tiça podiam os seus votos ser empregados ; e sendo constante a falsi-
dade c:o~ que os ditos parochos na apresentação de suas listas attes-
taram indignamente o augmento da população em suas respectivas
parochias no curto espaço de um anno, e com especialidade as dos dois..
mencionados districtos, que mais avultaram, porque nem ho'uve immi-
gr_ação para elles, que alterasse o seu antigo numero de fogos, nem
era possivel este augmento, combinando-se os maippas ;estatisticos
organizados no anno antecedente ; e notando-se, além daquella falsi-
dade, a repugnancia de alguns juízes de paz em darem novos mappas..
na conformidade das ordens que lhes foram expedidas, o que dá occa-
sião a suppôr-se a sua connivencia com os autores de todo o tra~a.
acerca daquella inculcada, população, que lhes convinha conservar·
occulto_; pretendendo uns ·e outros por todos estes tortuosos e subser..:.
sivos meios que a maioria da votação recahisse sómente nas pessoas.
de seus favoritos, isto é, que os votos ·dos imaginados eleitores da-
quellas duas parochias deddissem exclusivamente da eleição. da pro-
víncia, suffocando todos os dos mais eleitores: o mesmo Regente,.
ponderando em todas estas circumstanciàs mencionadas, que tornar'a m
l.llegal e monstruosa a eleição de deputados á Assembléa Geral Legis-
lativa pela província da- Parahyba, e intoleravel e punivel o procedi-
mento dos que lhe. deram impµlso, ha por bem annullar a referidél: .
eleição, e ordena que V. Exa., tendo presentes todas as irregularidades.
e absurdos de que se valeram aquelles influentes, dê as providencias..
' necessarias para que proceda á nova eleição na conformidade das leis; ·.
ficando na intelligencia de que deve empregar á maior vigilancia em
que sejam exactas as listas dos habitantes de cada um dos districtos,
que servem de base ás primeiras votações, e fazer · responsaveis os
parochos· e as mais autoridades, de que dependem, de qualquer inexa-
ctidão que nellas notar, obstando as cabalas que contra .o art. 101 do-
Codigo Criminal costumam em taes condições formar os que sem me-
rito algum querem ter parte na representação nacional, fazendo della
.um modo de vida, e na qual se tem visto figurarem entes nullos; e-
- 11-

estando finalment_e certo de que será nulfa a eleição, cuja marcha não
foi fundada nas ·1eis existentes .
Deus guarde. a V. Exa.".
Esse acto não ficou isolado : foi tambem annullada e por eguaes
motivos a eleição realizada em Sergipe.
Não contestamos a ' procedencia das razões adduzidas pelo go'-
verno para justificar o seu procedimento, tanto mais quanto Limpo
de Ab:reu, depois Visconde de Abaeté, que, ainda em Março de 1837,
substituiu a Lima. e Silva no Mi:nisterio do Imperio, as confirmou por
completo em . relatorio apresentado naquelle anno á Assembléa Geral.
Mas as resoluções tomadas valem como prova da criminosa interven-
ção official, não sómente nos pleitos elei~oraes, como tambem em
assumpto da competencia privativa do Parlamento, essencial á organi-
zação de qualquer assembléa politica - qual o reconhecimento dos
podere:; de· seus membros. - E essa intervenção era acceita sem
protest0, · porque, no dizer de ·Paula Souza - de quem os proprios
adversarios affirmavam que uma promessa equivalia á certeza, tal a
austeridade de seu caracter - a reacção operada no período de 37 a 42
estabekcera · a omnipotencia do poder executivo, habilitando-o a es-
magar a sociedade e a collocar a opposição no dilemma de ou submet-
ter-se ou recorrer a meios illegaes de resistencia.
A eleição de 1840, a primeira depois da Maioridade, mostra bem
que, nesse tempo e a este respeito, os dois partidos monarchicos não
agiam de modo differente. O liberalismo tríumphante, que promovera
<' movimento ele que resultou para D. Pedro II entrar, aos qinze annos
de edade, nõ ·exercício de suas elevadas funcções magestaticas, não
vacillou em associai-o, logo no inicio de seu reinado, aos maiores atten-
tados contra a liberdade de. voto.
São bem ·conhecidos os acontecimentos políticos que então se des-
dobraram, tornando ephemera a existencia do ministerio constituído
em 24 de Julho de 1840, dia immediato ao daquelle movimento, e .a o
qual coubera presidir á mesma eleição. Succedeu-lhe o de 23 de 1\farço ·
de 1841, com orientação e tendencias ·inteiramente diversas; e a este
ultimo se deve a dissolução da Camara eleita em Outubro do anno
anterior. Essa dissolução, a primeira do Imperio sob o regímen con-
stitucional, se revestiu de circumstancias especi.aes: foi decretada dois
dia~ antes da abertura .da Camara eleita e solicitada ao Soberano n'uma
exposição collectiva do Ministerio, na qual s!io . assim descriptas as
condições em que se realizou o pleito : ·
"Senhor:
''Os ministros de V . M. Imperial incorreriam em grave respon-
sabilidade para com o paiz, trahiriam as suas consCiencias, seriam in-
dignos da confiança que V. M. Imperial tem nelles depositado, si não
12 -

viessem peciir com o mais profundo "respeito a V. M. Imperial uma


medida qne as circumstancias reclamam imperiosamente para manter
contra os embates das facções o systema monarchico constitucional
representativo, unico que póde assegurar a salvação do Estado.
"E' sem duvida melhor prevenir a tempo as consequencias que
a marcha incalculavel das facções costuma acarretar comsigo do que
lutar com ellas depois de haverem produzido irreparaveis estragos.
"A actual Camara dos Deputados, Senhor, não tem a força mo-
ral indispensavel para acreditar seus actos e fortalecer entre nós o
systema representativo. Não póde representar a opinião do paiz, por-
que a expressão da vontade nacional e das necessidades publicas só:.
mente. pótle produzi1 a ljberdadt de votos. A existe_ncia dessa camara
não é compatível com a idéa· de um governo regular, porque nella pre-
. dominam homens que, pondo de parte os meios constitucionaes, não
recuam diante de outros que subvertem todas as idéas de organização
social, invadem, usurpam e pretendem constranger, no exercicio de
~uas attribuições, outros poderes do Estado.
"Ainda não se apagaram da memoria dos brasileiros as 'recor-
dações dos tramas e violencias que na eleição da actual Camara dos
Deputados foram commettidas em quasi todos os pontos do Imperio.
O triumpho eleitoral, calcadas embora as leis do pudor, foi o objecto
em que puzeram todo o seu desvelo as influencias que, a despeito .da
','ontade nacional, então predominavam, e o resultado coroou ·seus
deploraveis esforços; porque contam na Camara dos Deputados deci-
dida maioria~
"O Brasil inteiro, Senhor, se levantará para attestar que em 1840
não houve eleições regulares. São irregular::nente (até mesmo em
massa ) suspensas autoridades cuja adhesão é suspeita ou duvidosa;
·ordens com prevenção lavradas são confi'adas aos agentes que presi-
dem á empreza eleitoral, para remover obstaculos e impedir que pre-
domine a vonta<:le publica; empregados ·publicos são collocados na
dura collisão de optar entre o sacrifício da sua consciencia e· o pão
de seus filhos; operarios de repartições publicas, soldados, marinheiros
de embarcações de guerra são constrangidos d levar á carga cerrada,
em listas que lhes são impostas, um voto de que não têm consciencia ;
agentes subalternos de menor moralidade, e C1utorizados para ·proce-
der como lhes approuver, arregimentam e armam in:dividuos cujos .
direitos são mais que contestaveis, cuja nacionalidade mesma ·é du-
vidosa, e muito dos quaes, não pertencendo ás parochias, não têm
nellas votos ; estes regimentos invadem os templos, arrancam das me-
sas com violencia, e rasgando-lhes as vestes, cidadãos que para as ·
compôr haviàm sido chamados, e os substituem por outros á ·força ;
expellem dos mesmos templos com insultos e ameaças éidadãos paci- ·
-13 -

ficos ciue ahi concorrem para exercer um dos mais preciosos direitos
elo cidadão livre,-· qual o de eleger os seus repre~entantes. E, si esses
regimentos não bastam, si o cidadão não se acobarda, a um aceno da-
quelles agentes, obedecidos pela força armada, são accommettidos os
templos, profanados por baionetas, e corre o ~angue brasileiro !
"Quando todos esses meios falham. é empregado outro recurso :
·· empenham-se em perturbar por todos os modos as operações eleito-
raes. Si a maiorià dos cidadãos indignada se retira sem entregar as
suas fütas, apparecem, não obstante, pejadas as urnàs de um numero
dellas excedent~ aos dos cidadãos activos da parochia. Das mãos dos
que as proclamaram recebem as mesas as listas aos maços, aos centos e
sem conta, quer venham ou não assignadas, quer os nomes que por
baixo clellas se leem sejam ou não de cidadãos activos, de meninos, de
-.escravos, e ainda mesmo imaginarias. E, como si tanto não bastara, é
a apuração feita por essas mesas uma amarga e criminosa. irrisão do
direito de votar ! Contam os votos como lhes apraz ; leem os nomes
dos votados como lhes parece ; apuram listas cm massa.
"Esta capital foi, com indignação, ,testemunha dessas saturnaes, as
quaes disseram ser eleições de um povo livre. ·
"A esses attentados outros· accrescem: roubam-se as urnas; sub-
stituem-se nellas as listas yerdadeiras, ou pelo menos publicamente
recebidas, por outras falsas; (f até não se hesita diante da escandalosa
e tão publica falsi.fkaÇão das actas, quando o resultado que apresentam
não está em tudo ao sabor dos interessados.
"Em alguns logai.-es é o numero de eleitores apparentemente au-
gmentado por uma maneira incrivel e espantosa. Collegios houve que,
não podendo sequer dar cem eleitores, apre?entaram todavia mais
de mil.
'Não ha quasi parte alguma do Imperió, Senhor, onde alguns
desses <tttentaclos contra ,a liberdade do voto não fossem perpetrados
em as eleições da actual Camara dos Deputados" .
A seguir, a exposição, que é datada de 1º de Maio de 1842 e assi-
. g-nada pelos ministros Marquez de Paranaguá, Candido José de Ai.-aujo
Vianna; Paulino José Soares de Souza. Visconde de Abrantes, Aure-
fümo de Souza e Oliveira Coutinho e José .CleII}.ente Pereira, procura
justificar a dissolução . da Camàra, invocando a salvação do Estado,
velho 'argumento de que tanto se abusou naquelle tempo para disfàrçar
a fraqueza dos governos ou illudir as exigencias da opinião.
De passagem, convém declarar que as causas reaes da dissolução
não foram as indicadas: existisse unidade de vistas entre os •membros
do Gabinete e não'. tivessem surgido os attritos que se verificaram en-·
tre Au;:-eliano -Coutinho (depois Visconde de Sepetiba) e os seus col-
legas do ministerio de 24 ele Julho de 1840, especialmente quando se
14 -

tratou da demissão do brigadeiro João Paulo dos Santos Barreto,


commandante das armas do Rio Grande do Sul, e, por certo, a mesma
dissolução se não teria dado, porque ella foi apenas uma consequencia
da quéda do partido liberal. Mas isto não quer dizer que não tivessem
havido. vícios e irregularidades na eleição. Houve. E Antonio Carlos,
que occupava a pasta do Imperio naquelle Ministerio, teve a nobre
franqueza de não renegar os seus actos, sustentando-os sob o funda-·
mento de que "o governo, expressão de um partido, tinha o direito de
intervir no processo eleitoral" (Mello Mattos - "Paginas da Historia
Constitucional do Brasil"). .
Para a nova el~ição da Camara, entendeu Araujo Vianna, mais
tarde Visconde e Marquez de Sapucahy, a quem se attribuiu a autoria
da exposição que transcrevemos .em parte (Pereira da Silva - "Me-
morias do meu tempo"), que ·seria acertado expedir outras Instru-
cções, uma vez que nas de 1824 já ninguem confiava.
· D'ahi o decreto de 4 de Maio de 1842, por elle referendado na
qualidade de Ministro do Imperio.
"As instrucções de 4 de ,Maio (é Francisco Belisario quem fala
agora) foram objecto de repetidas accusações ao governo, seqdo a pri-
meira a sua inconstitucionalidade, isto é, falta de competencia do go-
verno para regular o modo pratico das eleições, o que o art. 97 .da
Constituiçãd rnmmette á Assembléa Geral Legislativa. A accusação
era procedente, e o governo só tinha a escusa da situação difficil em
que se achara. Defendia-se elle, entretanto, dizendo que, sendÕ as in-
trucções de 26 de Março de 1824 emanadas do poder executivo, ne-
nhuma razão havia para que o governo não podesse desfazer e sub-
sistir esse acto. Releva, porém, notar que as primeiras instrucções
precederam a reunião da primeira assembléa legislativa, e não podia
o governo, unica autoridade então existente, deix.a r sem execução essa
parte da Constituição. Tendo depois funccionado a assembléa geral
por 15 annos, sem decretar .a lei regulamentar de eleições, era claro
que havia legalisado a do governo. Não. o fizera só tacitamente, mas
expressamente, quando na lei de 30 de Junho de 1830, por exemplo,
depois de estabelecer que as condições de capacidad~ do eleitor deviam
ser avaliadas na consciencia dos votantes, accrescentava que para este
effeito sómente . ficava sem vigor o § 7° do capitulo 2° das instrucções
de 26 de Março de 1824. · -
r "A conjunctura em que o governo se achava era difficil. O mi-
nisterio de 23 de Março havia dissolvido a Camara de 1842, que elle
declarara illegitima e não representante da opinião nacional pelos ví-
cios da eleição, oriundos não só das fraudes e effervescencia · elas
paixões partidarias, como da incapacidade - da lei em contel-as. Não
podia elle mandar proceder ás eleições pela lei que condemnava; e
15 -

com o exaltamento partidario e faccioso daquella quadra revolucio-1


n'aria era impossível, segundo entendia, responder pel.a ordem publica,
si as novas eleições fossem regidas pelas instrucções em vigor.
"As instrucçõt:~ de 4 de Maio constituíram um melhoramento no
systema eleitoral.
"Crearam uma qualificação. prévia dos votantes (e tambem dos.
eleg{veis), feita por uma junta composta do juiz de paz, do parocho e
do subrtelegado de policia.
"A. mesa eleitoral, á qual só competia conhecer d'Z.identidade, e
não mais da idoneidade elos votantes, era nomeada por 16 c1aadâos, ·
cujos nomes ·a ;;orte designava entre os elegíveis. Eram prohibidos os
votos por procuração, origem de infinitos e cur-iosissimos abusos.
"A formação da junta levantou energica opposição. Até então a
e!eiÇão pertencia á turbulencia popular: passava agora á imposição da
autoridade policial, arbitro unico das qualificações e, portanto, da
eleição".
As eleições pa.ra a renovação da Caqiara; dissolvida em Maio,
effecuaram-se em Outubr.o de 1842, segundo as novas instrucções ; e,
apesar da abstenção dos ·liberaes, que, vencidos pelas armas em São
Paulo e Minas e perseguidos: nas demais províncias, deixaram o campo
livre aos adversarios, não correram com perfeita regularidade, porque
a luta. se travara entre grupos que representavam matizes diversos no
seio do proprio partido conservador. E Araujo Vianna, ainda Minis- \
1
tro do Imperio, ~ão occultou a sua decepção ante os factos occorridos,
escrevendo em seu relatorio de 1843 :
"Não será para admirar que entre nós caia em completo des-
credito, que chegue a tornar-se odioso o systema representativo, si a
sabedoria da assembléa geral não occorrer com energicas e bem cal-
culadas providencias, que assegurem a pureza das eleições ...
"() escandalo tem chegado a tal ponto que passa como principio
inquestionavel que, feitas ·as mesas parochiaes, está feita a eleição dos
representantes da nação; e, estabelecido este principio, não ha abuso,
não ha attentado', não ha crime, que os partidos desenfreados não
commettam para installarem nas mesas as pessôas de sua facção e
afastarem não só as que lhe são hostis, mas c.i.inda aquellas que lhes
não são estreitamente adherentes".
Ha nestas palavras uma confissão que merece destaque: 'Araujo
Vianna reconhece e -proclama lealmente que todos os partidos eram
responsaveis pela deturpação do nosso regímen eleitoral, o que im-·
porta affirmar serem capazes de eguaes excessos; e era · natural qué
assim fosse, porque elles se compunham dos mesmos elementos na-
cionaes e, "em geral, as secções políticas de' um paiz têm o mesmo
nível, como o liquido em vasos que se communicam".
-16-

A esse tempo, iá estava feita a convicção de que era imprescin-


dível que a Assembléa Geral cumprisse, quanto antes, o dispositivo
constitucional que mandava regular por uma lei ordinaria o processo
das eleições; e foi essa circumstancia que r.ontribuiu decisivamente
para a votação da lei de' 19 de Agosto de 1846, a primeira que tivemos
sobre a materia. Até então sómente o governo tinha legislado ·a res-
peito.
A qualificação dos ~leitores primarios, dos votantes; era o ponto
capital da. lei. Julgava-se que, sem ella, impossível seria qualquer elei-
ção seria, e, por isto, o legislador a procurou cercar de garantias .
A idéa estava em germen nas instrucções de 1842, pelas quaes a
eferid:i qualificação fôra entregue a uma junta composta do juiz· de
paz, do vigario e do delegado ou subdelegado de policia; mas a inter-
enção dessa ultima autoridade na ,organização da lista dos qualifica-
dos desmoralisou inteiramente o processo. Allegou-se, e com razão,
que o governo, não satisfeito com os recursos que lhe facultavam as
leis· da guarda nacional e do recrutamento, ainda se fortalecera com o
arbítrio de que fôra armado pela lei reaccionaria de 3 de Dezembro de
1841, para, por intermedio de prepostos de sua nomeação e confiança,
impôr cl.iscrecionariamente a sua vontade, nas assembléas primarias.
A le.i de 1846 era, neste ponto, uma lei francamente liberal.
A mesa de qualificação, composta de eleitores e: presidida pelo juiz de
paz mais votad9, c0fferecia, quando regularmente constituída, ,ga-
rantias bastantes para tornar effectivos os direitos dos cidadãos,
accrescendo que das suas decisões havia recm;-sos para ella propria,
para um conselho, presidido pelo juiz municipal, e para a Relação do
Districto. E o que se dava relativamente á, qualificação succedia .tam-
bem nas eleições primarias e nos collegios eleitoraes.

f
A lei não era má; mas não podia extinguir de um dia para outro
o phosphoro, o capanga, os cabos eleitoraes, os mandões de aldeia,
<!mfim, os potentados de toda ordem, que appareciam em scena quando
se feriam pleitos disputados e, contando com a tolerancia e a cumpli-
çidade das autoridades, annullavam muitas vezes qs beneficos effeitos
que della era, licito esperar.
Em todo caso,- ella já representava um grande avanço: con-
sagrava a relativa estabilidade das qualificaçõe5 dos votantes . .
Essas qualificações e uma lei creando as incompatibilidades elei-,
toraes. eram consideradas então por quasi todos como medidas effi-
.:azes para moralizar os nossos costumes políticos. Não eram, porém,
as unicas. Outras tinham sido suggeridas quando fôra discutida a lei
de 19 de Agosto de 1846; e Paula Souza se aproveitou de varias dellas,.
algumas de sua iniciativa e outras que haviam merecido o seu apoio,
para formular, ainda na sessão legislativa daque!le anno, um projecto.
-17-
que, com alterações e emendas, veio á ser transformado na lei de 19
de Setembro de 1855, cujo historico Nabuco, Belisario e Mello Mattos,
t-ntre outros, se encarregaram de fazer em paginas que se não es-
quecem.
Foi a essa lei que se chamou a lei dos circulos.
Consignava, além de ligeiras ino.dificações na lei de 1846, tres
idéas cap1taes : a) as incomp~tibilidades eleitoraes ; b) a divisão das
províncias em círculos ou districtos de um só deputado; c ) a eleição
de sµppl~ntes çle deputados.
Quanto ás incompatibilidades, dispunha no 1§: 20 do art . 1° : "Os
Presidentes de Província e seus Secretarias, os Commandantes de
Armas e .Generaes em' Chefe, os Inspectores. de Fazenda Geral e Pro-
vincial, os Chefes de PoliCia, os Delegados e Sub-delegados, os Juízes
de Direito e Municipaes não poderão ser votados para membros das
assembléas provinciaes, deptitàdos ou senadores nos collegios eleito-
~aes dos districtos em que· exercerem autoridade ou jurisdicção. Os
votos que recahirem em taes empregados serão reputados nullos."
A constituo:ionalidade deste dispositivo era duvidosa, ·porque am-
pliava textos da lei fundamental do paiz, que, em artigos precisos,
estabelecera as condições de elegibilidade dos cidadãos para o Senado
e para a Camara, só reservando para o poder legislativo ordinario
( art. 97) a competencia, para marcar o modo pratico das eleições e o
-nume_ro de deputados. Não se póde, todavia, desconhec<:r as inestima-·
veis vantagens que advieram do preceito legal, obstando que certas
autoridades interviessem nos pleitos eleitoraes por interesse pessoal
immediato, directo.
A creação dos círculos foi assumpto largamente debatido, já tendo
sido assim resumidos os argumentos que lhe eram favoraveis:
1° diminuir a influencia do governo e as fraudes eleitoraes ;
·2°, pôr o eleito em contacto com o eleitor; · •
3°, facilitar a fiscalisação da eleição por parte das· camaras, o que
é difficil e embaraçoso, quando se trata de uma província inteira;
4°, offerecer menores perigos e abalos á sociedade do que uma
eleição geral em toda a província, pondo em jogo o conjunto de pai-
xões e interesses provinciaes ;
5°, moderar o espir'ito. de provincialismo·;
6°, tirar ás grandes deputações o espírito de união e disciplina
que as tornam preponderantes sobre as pequenas;
7°, diminuir a pressão que sobre o governo exercem as grandes
deputações vinculadas p~los mesmos interesses ;
8°, dar logar à ·serem consultados os inter.esses locaes, natural-

-
mente melhor conhecidos dos deputados de districto;
-
-18 -

9°, finalmente, impedir que as maiorias locaes fossem esmagadas


e annulladas pelas pi:ovinciaes, de mo_db a dar entrada no Parlamento
a todas as opiniões política::..
A estes argumentos foram contrapostos outros não menos valio-
sos, durante a discussão e no seio das commissões reunidas de consti-
tuiç:io e legislação do Senado, cuja maioria, depois de examinar o
p~ojecto sob varios aspectos, disse em seu parecer de 9 de Junho de
1855 (só nos referimos aqui á ultima phase da discussão do projecto,
que fôra apresentado por Paula Souza em 1846 e approvado em pri-
meiro turno do debate em Agosto de 1848):
"A eleição por círculos offerece algum~s vantagens que as com-·
mis~.Jes não desconhecem; mas não é extreme de inconvenientes que
as contrabalancem·e talvez excedam. Desde que a honra de representar
a naçã'J depender de menor concurso de vontades, despertar-se-ão mui-
tas ambições que jazem adormecidas, e este excitamento não sei:á de
certu um meio de regularisar as eleições. Quando os candidatos au-
gmentarem em numero e diminuírem em qualidades, haverá razão para
esperar que ~udo se passe mais regularmente? O interesse de cada um
será menos arrojado quando concentrar seus esforços em um collegio
só, ern vez de se dividir por muitos? Os partidos serão menos obsti-
. nados quando o· triumpho ou a derrota em uma localidade não pu-
derem ser neutralizados pelos outros collegios da província? . A certeza
de que ahi se decide a sorte de uma eleição não augmentará a porfia
dos contendores ?
"O maior inconveniente das eleições está nos vestígios de intri-
gas, inimizades e rancores que deixam após si. Ora, é fóra de duvida
que estes inconvenientes çrescerão com os círculos. O maior numero
de esperanças mallogradas, o maior excitamento nos amigos parti,..
culare'l desses novos candidatos, o maior esforço dos influentes quan-
do o ,;eu triumpho importar o definitivo de uma eleição, hão de ne-
cessariamente augmentar esse triste cortejo eleitoral de intrigas, inimi-
zades e rancores, que se prolongam por muitos annos .e, ás vezes, pro-
duzetu consequencias da maior gravidade.
"A organização das camaras se deverá tambem muito ·resentir
desse novo systema; nem todas essas candidaturas menos justificadas
serão mal succedidas. Suppondo eleições livres, como se devem dese-
jar, 0s deputados e senadores não sahirão mais d'entre as pessoas no-
taveis ·:! bastante conhecidas para se fazerem acceitar 'por uma provín-
cia inteira: os empregados subalternos, as notabilidades de aldeia,
os protegidos de alguma influencia local seriío os escolhidos. Si as
eleiçl.íes não forem livres, o ·resultado será peior.
"Quando se indiearem nomes a uma província, o interesse· pro-
prio aconselhará a escolha de pessoa capaz de competir com os outros
19 ~.

concorrentes; si. a indi~ação fôr a tim circulo, cujos candidato,; sejam


mem,;; importantes; a concorrencia dispensàr;i tanto escrupulo. na e.s-:
colha.
"E.' digno ele observar-se, além disto, que nós já temos tido larga
exper._i~ncia · elas eleições r:>or circulos ele um só deputado.: as· províncias.
de ~anta. Catharina, Matto Grosso, Espirito. Santo, Rio. Grande do
Norte e Piauhi deram por muito tempo um só deputado; ainda hoje o
dão as provincias do Amazonas, Espirito Santo, Paraná e Santá Ca-
thanna. E porventura têm sido as eleições. nessas provindas mais li-
vres, puras e perfeitas?"
Sobre o terceiro ponto - a eleição dos · supplentes de· deputados
- <i.s divergencias foram .menores e os debates menos agitados. Entre,:.
tanto, a. modificação era para peior.
Desde 1822 · ·(decreto de 3 de Agosto) que a nossa legislação
cn:tl.ra o logj-r de supplente de deputado, que era o immediato em votos
ao candidato eleito e, por isso, quasi sempre representante da minoria.
A nova lei tirava a esta um meio que muitas vezes lhe permittiu ser
0uvida na Camara temporaria : quando se dava o impedimento ou '{aga
do deputado effectivo. E Bernardo de V.asconcellos, muitos annos
antes, já havia salientado o erro dessa innovação em notavel discurso
qt.te proferfra no Senado.
Dizia elle: "Si a eleição dos supplentes ·se fizer -na mesma occa-
~ião em que a dos deputados, hoje que o governo faz as eleições, não
haverá uma voz no corpo legislativo para contrariar qualquer medida
do governo que sejà damnosa ao paiz. ·.. Esses supplentes são os elei-
tos ·da minoria; e ao paiz não interessa ouvir d. minoria? Que infeliz
não é a condição do governo que acha uma camara unanime. . . não
pôde servir ao paiZ; póde servir a um -partido, esmagando todos os
outros que contrariem ao que a camara representa. Ora, si o paiz
interessa. nas minorias dos corpos legislativos, si quanto mais livre é
o paiz com tanto mais attenção ouve a essas minorias, que vantagem
nos resulta si impedirmos que appareçam representantes dellas no
corpo· legislativo? •E' um dos correctivos do àctual systema a eleição
dos supplentes como tem sido até o presente ::onsiderado" ..
A' lei dos circulas acha-se indissoluvelmente ligado o nome do
~\.farl:luez do Paraná, uma das individualidades mais sympathicas e ·
empolgantes da nossa historia política .. Accusaram-n'o de pretender,
com essa lei, desaggregar os partid0s em proveito da política de con-
ril·iaçãó, que vinha pq1ticando desde que organizou o Gabinete de · 6
de Setembro de 1853, e a que procurpu. serv_ir co.m sinceridade e ele-
vádo descortino patriotico. E'. uma· injustiç<;t: em .Primeiro· togar,, por-
qq.e a reforma dos partid~s "é. uma consequenti<!-1 inevitavel da· fragnten.:.
tação da opinião, que se opera incessant.emen.te "'1)1· virt:ude do appare-

;
-20- .

cimento de necessidades e problemas novos, a que é preciso attender


e dar solução; depois, porque a politica de tolerancia e de concordia,
que tinha por objectivo apaziguar paixões e dissipar odios para attra-
hir todas as energias e capacidades ao serviço do bem publico, se im-
punha imperiosamente naquelle momento. As approximações entre re-
presentantes graduados dos dois partidos mo'narchicos - o liberal e
-o conservador, - a liga, que veio mais tarde, o progresso e, por fim,
a de1imitação dos campos pártidarios, que s'e seguiu ao Ministerio
Itaborahi, não foram effeito da lei. Foram renovações naturaes, de
homens e de idéas, porque a situação do Brasil já era outra: a paz .
estava definitivamente consolidada no Imperio e não era possivel que
subsistissem, irredúctiveis em suas intransigencias dos dias idos, os
aggrupamentos que se tinham formado, um para combater pelos mais
extremados principios liber-ª_es, outro para resistir a .quaesquer innova-
ções, em nome da ordem e da autoridade constitui da. .. .
O Marquez do Paraná falleceu antes de ser executada pela pri-
meira e unica vez a lei dos circulas, - na da eleição para a legislatura
ue 1857 a 1860; - e, pelo resultado obtido, ella não devia ter smo
condemnada, porque a camarà então eleita não .foi uma camara una-
nime. Assim, porém, não succedeu ; e na eleição para a legislatura de
1861 a 1864 já foi observada a le~ de 18 de Agosto de 1860, que re-
sultou de um projecto apresentado em 1859 pelo deputado Sergio ele
.l.\faceclo, Ministro do Imperio, projecto a que o Gabinete de 10 de
Agosto daquelle anno, presidido por Angelo Muniz da Silva Ferraz
(po~teriormente, Barão de Uruguaiana) deu depois inteiro e decidi.elo
ap010.
A lei de 1860, comparada com a de 1855, continha duas modifi-
cações importantes: a que revogou o dispositivo sobre a eleição de
supplentes de deputados, mandando fazer nova eleição no caso ele
vaga, e a que alargou os cii:culos, transformando-os em districtos de
trez deputados.
Essas modificações foram fortemente impugnadá.s durante os de-
bates parla~entares ; mas, na realidade, ellas não eram de ordem a
tornar bôas ou más as nossas eleições. Tiveramos a eleiçãO por pro-
vincia; ensaiaramos a eleição por pequenos circulos; iamos tentar, 'Sem
exito, a eleição por districtos de trez deputados. Nada mais.
Continuando, como continuava, em vigor a lei de 1846, na parte
relativa ás qualificações e ao processo eleitoré].l, claro é que os vicios,
as fraudes e os abusos não poderiam desapparecer pela circutnstancia
de serem maiores ou menores os districtqs em que se dividiam as pro-
vindas. Elles tinham sua origem naquella lei e, para cerceal-os, era
. necessario que a mesma fosse reforma<ila.
___.; 21 -

Nisto accordaram, afinal, todas as parcialidades políticas; e é


-facil demonstral-o.
As falas do throno reflectiam, como se sabe, as idéas e os pro-
grammas dos governos; e, com excepção das de .1863, 1866 e 1867,
todas ellas, - no périodo que vai de 1862 a 18/"5 e atravez dos minis-
terios Caxias (dois), Zaccharias de Góes (trez), Olinda (dois), Fur-
tado, Itaborahy, São Vicente e Rio Branco, - insistiam com empenho
pela referida refórma, inadiavel, dizia uma dessas falas do throno,
"para garantir legitima representação ás diversas opiniões do paiz".
A reforma eleitoral ern, portanto, um medida reconhecidamente
;urgente. Foi votada em 1875. E' a lei de 20 de Outubro daquelle
anno," denominada lei do terço, cujos dispositivos consignam:
. a) melhor e mais garantidora organização das juntas de qualifi-
<:ação de votantes;
b) restricções ao arbitrio çlestas, quanto á inscripção ou recusa
·<1(! inscripção dos mesmos votantes;
e) requisitos que deviam concorrer na pessoa dos alistandos, dis-
pensadas as prova,s e1TI- certos e determinados casos; ·
á) maior estabilidade das qualificações, das quaes só podiam ser
.excluídos os que tivessem sido uma vez alistados, mediante o pre-
enchimento de rigorosas forn:{alidades legaes ;
e) ·recursos de inclusão ou exclusão nos alis.tamentos, entregues,
-em definitivo, á magistratura;
f) julgamento das eleições. municipaes e de juízes de paz a_ cargo
do poder judiciario; .
g) representação das minorias pelE:l systema do voto em chapa in-
-completa; ·
h) incompatibilidades eleitoraes e parlamentares bem definidas.
Como se vê, alguns dos princípios consagrados na lei de 1875 são
:ainda hoje inteiramente acceitaveis; mas, apesar disto, ella não cor-
respondia ás aspirações nacionaes, porque, ao tempo, a eleição clirecta
já ganhara muito terr~no. ,
Antes de 1860, citam-se entre os seus particlarios Paula Souza,
Nunes Machado, Paulo Barboza, Antão, Souza Ramos (Visconde de
Jaguari), Montezuma (Visconde de Jequitinhonha), Honorio Her-
meto (Marquez do Paraná), Landulpho Medrado, Torres Homem
( Viscot;ide de Inhomirim), Paranhos (Visconde do Rio Branco) e
alguns outros, em peque.no numero, que por ella, manifestaram vagos
.Jesejos ou ·accentuadas preferencias ( F. Belisarió, op. cit. ) . ·
· Daquelle anno em deante, porém, muitos foram os que, em dis-
·{'.ursos, em escriptos, em jornaes, em pro)ectos legislativos, em pare-
ceres e até em relatorios ministeriaes, advogaram a idéa que, em prazo
relativamente curto, se faria corrente impetuosa e irreprimível.
-=-
22 ..

; . Foi em 1868 que ella surgiu, pela· primeira vez, n'um programma.
de partido: o dos liberaes radicaes, que promettiam se esforçar e, de ·
facto, se esforçaram pelo estabele~imento do s-itffragio· directo . e gene-
ralizado, .formula tambem adoptada em 1870 pelos republicanos.
o grosso do partido liberal, entretanto, tinha ponto de vista mais.
restricto: em seu programma de 1869 declarava que a eleição directa~
t~ndo por base ·a. renda, só seria pleiteada para a Côrte, .as capitaes.
das provincias e as cidades que tivessem m~is de dez mil almas, con-
tinuando a ser de dois gráos nos demais Jogares (Americo Brasiliense.·
- "frogrammas dos Partidos").
E Nabuco de Araujo, que fôra quem rédigira esse programma,.
ainda mantinha a mesma opinião em 1871, no Senado . E' seu illustre·
fjlho quem o affirma n' Um Estadista do lmperio:
"O programma liberal, dissera elle, é censurado porque contem.
disposições diversas para as cidades e para o campo. Isto vem, se-
nhores, do preconceito que nos tem sido tão fatal, isto é, o preconceitcr
das leis absolutas; entretanto que a melhor qualidade da lei é a sua
relação com as circumstancias locaes" . E, para mostrar que não ,hóde-
ronvir ao sertão a lei que convem ao Municipi,J Neutro, pintava. o es-
tado da nossa grande propriedade rodeada de servos da gleba. Nesse-
ponto é curioso o contraste da previsão de Nabuco com a de Cotegipe,
pé!-ra quem a eleição <lirecta no interior é exactamente o meio de des-
truir a excessiva influencia dos senhores, a especie de feudalismo elei-·
torai a que Nabuco se referia. "Entre os senhores e os escravos. a
classe intermediaria é absolutamente dependente", . dizia N abuco .
"Ora, como confiar a ~leição directa no interior do paiz a essa classe·
intermedia, sem condição de independencia ' e liberdade, a qual, na
phrase do Sr. Diogo Velho, presidente de Pernambuco, se compõe de·
servos da gleba? Tenho medo que o senhor da terra, com seus capan-
gas, designe immediatamente o deputado. Ainda hoje aquelle depende
da classe intermedia para as funcções do eleitorado; na eleição directa
seria elle só". ·
"Cotegipe, porém, pensava o contrario: "Para não haver isso, é·
que é preciso· no centro a eleição directa" . Com o progresso da idéa,
porém, Nabuco tinha cedido aos adeantados e aos dominados do espí-
rito de uniformidade. E' o que elle diz em carta a Affonso Celscr
( 1877) : "A idéa da eleição directa nas cidades e indirecta no interfor
é ,d o nosso programma de 1869, e eu a sustentei na sessão de 1871 como·
idéa nossa; ao depois, e com o desenvolvimento da opinião em favor
d~ eleição directa, sentimo-nos fortes e autorizados para generalizar o·
qµe antes queríamos parcialmente. e como por ensaio; assim que o
programma foi alterado e eu acompanhei e segui a alteração" ..
Eis ahi o que occorrera em relação ao partido liberal. E quanto· ,
23

:ilo .cc,mservador? O ·prngt'.amma ··deste encerrava, desde 1837, a se-


.gujnte thes_e: :r(!sisten.cia a .innovaç.ões políticas que não fessem niadu-
r?mente estudadas, (A. Brasiliense, •OP· cit.), e, ;dentro del'la, era pos-
,si,.vel aos .que se aggremiavam sob sua bandeira apoiar ou preinover
.quaesque·r reformas, ainda se não tratando de uma, como a da eleição
di:re~ta, desejada sincera .e ardentemente .por muitos de ·seus ·,·chefes
mais eminentes. ·
: , Meno's de tre~ annos depois .da lei ,de· 1875, a idéa estava vence-
'-<:lora e a corôa chamava ao5 seus conselh115 .o partido liberal para rea-
lizai-a. • ...
Havia, c0.mtudo, uma questão seria para que ella fosse levada a
:effeito : er.a a questão constitucional. Uns opinavam pela COflvocação
.de ·uma coi1stituinte, ·á. vista do disposto nos arts. 90 -a 97 da consti:...
tuição, que era pr:edso rever; 0utros .entendiam que bastava uma lei
ordinaria, de accordo com o art'. 178 da mesmà constituição.- O Vis- ~, ""'
<'.onde 'ele S-inimbú, organizador .do Ministerfo de 5 de Janeiro de 1878, .. .,,,.,
-preferiu a primeira solução pelos motivos constantes do discurso coin ''
que se -.apresentou á Camara dos Deputados: ·
"Sr. ·Presidente, no dia 1° de Janeiro .do corrente anno, achava'-me
ausente ·desta Côrte, quando recebi .'um :telegramma do ·mustre ·Sr.
Duque de Caxias, transmittindo-me, da parte de Sua Magestade, or-
-<'iem ·para comparecer em sua aúgusta presença. Sómerite no . dia 3
-jmde executar essa .ordem. Nesse· dia, fui ao paço de s~ Christovão e
de Sua M~gestade recebi ª. honro~a incu:ribe!l~ia de formar ·o novd
millisterio.
"Sua Magestade, tendo -reconhecido a ·opportunidade de se fazer
~ reforma eleitoral directa, informado da opinião do paiz, <que não vê
1ioje nisto uma questão de partido, ma~ de interesse geral, e .depois de
ouvidos· os presidentes do Senado ·e ·da Camar:a dos Deputados; enten'- . .
<leu, e no meu ·parecer mui logicamente, ·que devia caber a respónsabi-
Iidade desta ·reforma ao partido que -primeiro a reclamou, e semi.;>re '~·-.. >~.
·susteritou como porito principal .do seu prog.ramma. . - ~· .
. 'Honrá.do com a ·confiaruÇa da corôa, não podia desconhecer· nerti''' · "":
-a difficuldade da missão que ·me' era incumbida, nem as ·graves .cir-·
-<.'.umstancias em que se achava nosso paiz. Entendi, porém, qüe ·não
devia declinar dessa honra, porque não· me parece licito a inenhurri ·ci-
-<ladão recusar · á corôa os seus serviços, quando entende ·que e'fíes
podem ser proveitosos á causa publica.
· "Tratava-se, além disso,• de uma idéa pela qual eu, como .todos os
meus· amigos, tin1;i.a sempre propug-nado com a maior insistencia; ·e·
'incorreria em 'grave ·responsabilidade si, achando occasião opportnna.
para promover sua ·realização, a· isso me 'negasse. · ·
· "No desempenho .·dessa tarefa convidei os distinctos cavalheiro_s
. -24 -
y , r-~~~~·:-· . ,.
~~ -:-:--::;·:·-=:-~-..- ~ 1

que compõem o ministerio. Não careço dizer quem elles são; pois <>
paiz os conhece pelos seus altos merecimentos e pelos relevantes ser-
viços que todos lhe têm prestado.
"Acceitando este encargo, nossa confiança está depositada no·
parlamento. E, como a eleição directa é um principio commum entre
o ministerio e a representação nacional, principalmente a camara dos
senhores deputados, estamos persuadidos de que ella, inspiqmdo-se em
verdadeiro patriotismo, com o seu poderoso concurso, ha ·de facilitar a
tarefa, esforçando-se para que seja realidade o que tem sido ~té agora
alvo constante de nossas aspirações .
"Creio não haver neste paiz quem desconheça que, nas circum-
stancias actuaes, com as provas repetidas que temos tido,· as nossas
instituições não podem marchar com segurança para um futuro tran-
quillisador 'si não conseguirmos effectuar a reforma eleitoral pelo-
systema da eleição directa~
"A missão que me foi confiada tornara-se ainda mais difficil de
·desempenhar, porque então estava dispersa a camara dos senhores
deputados e achavam-se ausentes muitos dos meus amigos, de.
c1uem podia tomar conselho. Vi-me, portanto, forçado a tomar a res-
ponsabilidade de resolver por mim só, confiando que não me faltariam
elles com o s~u apoio e concurso.
"Poderíamos seguir um dos dois caminhos para realizar a eleição.
clirecta: por meio de uma lei ordinaria ou mediante reforma consti-
tucional. ·
"Creio que o partido, de convicções sinceras, e que está persuadid<>
da necessidade de executar uma idéa como meio de tornar praticavel
·o systema representativo, não deve fazer questão de formas.
"Accrescentarei mais que, pelo conhecimento que tinha das opi-
niões manifestadas no Senado por diversos membros do partido con-
servador, sabia que muitos votavam pela reforma eleitoral, precedendo
:i da constituição.
"Entendi, pois, que, tratando-se de uma medida da maior impor-
tancia, que intere.ssa tão de perto ao futuro das nossas instituiçõe's .
de uma reforma destinada a garantir o exercício dos direitos políticos
de todos os cidadãos ~ a~sim firmar a verdadeira base do systema re-
presentativo, devia resalvar todos os escrupulos de consciencia dos
que podem concorrer comnosco para a sua realização; e foi precisa-
mente .o que aconselhei á corôa" .. .
Assim procedendo, o inaugurador da situação liberal de 1878
commetteu um grave erro. Sabia-se que o Imperante sempre receiara
n reunião da constituinte, como uma ameaça e um perigo para a mo-
narchia, embora a esphera de acção de uma assembléa .desta natureza
estivesse constitucionalmente delimitada; e Sinimbú, para acalmar os.
I. -25-
seus justos temores, julgou que a difficuldade seria contornada desde
que se convocasse a mesma com poderes limitados, isto é, desde que
fossem estabelecidos os moldes dentro dos quaes se faria a reforma.
Era ·uma illusão, porque o projecto da constit·z~inte con.stituida, como
a qualificara José Bonífacio, provocaria, como provocou, fundos dis-
sentimentos entre os liberaes, sem lograr triumphar das resistencias
dos conservadores. ·
E aquelle illustre estadista, aliás contraindicado para desempe-
nhar o papel que lhe ·dis!ribuiram, por . não ser um chefe de partido,
teve de abandonar o poder, .passando-o a Saraiva, que inspirava res-
peito e confiança inegualaveis, conforme informa o Conde de Affonso
Celso (Affonso Celso Filho - 'Oito Annos de Parlamento".), que
traçou deste modo o seu perfil político:
"Possuía predicad<:,>s especiaes, exercia magnetismo pessoal pouco
vulgar. Bom senso, faro agudo das occasiões, arte em as aproveitar,
idéas daras e praticas, confiança em si, conhecimento do meio em que
vivia, prudencia, altivez, decisão, geito sob apparencias rudes, 'm anha
idisfarçada em explosões de brutal franqueza, conferiam-lhe inquestio-
navel superioridade .
"Ave de vôo curto, mas sabendo bem onde pousar, era, ao que
.dizem, como o definia Té!-yares Bastos". E accrescentou: "Saraiva
arguido de uma feita por não ter tomado certa resolução opportuna
respondeu "a medida era bôa, mas arriscada ; não a puz em pratica
porque, si acertasse, ninguem me agradecia, e, si errasse, todos me
cahiam em cima" .
"Nesta resposta se synthetisa a sua philosophia pólitica".
O. solitario de Pojuca foi um dos mais opportunistas dos nossos
homens de.governo durante o segundo reinado. Em 1880, é esse oppor-
. tunismo que explica o successo que alcança á frente do Gabinete 28
<le Março, que succedeu ao de Sinimbú: reduz o seu programma á
reforma eleitoral e, sendo preciso para conseguil-a pôr de lado o pro-
jecto de reforma da constituição, alija-o como carga inutil e pesada,
porq,ue não devia mostrar mais escrupulos do que os seus adversarios
(vide "Organizações e Programmas Ministeriaes"). E decretou-se a
eleição Jtrecta por uma lei ordinaria, de cuja redacção foi incumbido
Ruy Barbosa, então deputado geral pela primeira vez.
Essa lei, - lei Saraitva ou, lei do censo, - é de 9 de Janeiro de
1881 e estabelece que são eleitores todos os cidadãos brasileiros que
tiverem renda liquida annual de 200$000 por bens de raiz, industria,
commercio ou emprego, excluídas as praças de pret e os serventes das
repartições e estabelecimentos publicos; indica os meios de prova da
mesma renda e as pessoas que ficam is'entas de fazer essa prova em
-27-

contra o livre goso e exercicio dos direitos politicos; refunde, emfim,


em 37 artigos, toda a legislação eleitoral.
A primeira experiencia destà lei é apontada como modelar, tendo
sido excluido da Camara o proprio Barão Homem de Mello, Ministro
do Imperio que a referendara, e eleitos 47 conservadores n'um total
<le 122 deputados. Mas a primeira experiencia sómente.
Nas eleições seguintes a sua execução já deu margem a innume-.
ros abusos, embora fqsse em sua vigencia que retomámos a tradição
perdida de infligir derrotas a Ministros .de Estado, a ultima das quaes
estrepitosa: a que soffreu em 1887, no primeiro districto de Pernam-
buco, o · Conselheiro Manoel ·do Nascimento Machado Portélla, Mi-
1.Jistro do Imperio, derrotado por Joaquim Nabuco, cuja victoria teve
alta significação por ser este um dos mais notaveis. chefes do movimel'}-
to abolicionista que, em vesperas de assaltar os derradeiros reductos do
escravismo, abalava o paiz, naquella hora de agitações e enthu-
siasmos, de norte a sul.
E', porém, fóra de duvida que a lei Saraiva era e é uma lel ma-
gnifica.
No regimen eleitoral do Imperio, cujos lineamentos tentámos es-
boçar, figurará como uma extraordinaria conquista. Si, com ella, nem _
sempre se apurou nas urnas a legitima expressão da vontade popular,
foi porque van<e leges sim~ moribus: a nossa rudimentar cultura poli-
tica o não permittia.

..
,
A. legislação eleitoral da Republica
Deposta a realez~ a 15 de Novembro de 1889, o Governo Provi-
sorio decretou, em 19 do mesmo mez e anno, que seriam eleitores todos
os cidadãos brasileiros no goso de seus direitos civis e politicos, que
soubessem ler e escrever, excluiclos os menores ele 21 annos, com ex-
cepção cios casados, cios officiaes militares, cios bachareis formados,
dos doutores e dos clerigos ele ordens sacras.
Não podiam votar, além dos analphabetos, os filhos-familia (não
sendo como taes considerados os de mais de 21 annos, ainda que em
companhia dos pais) e as praças de :pret do exercito, da armada e dos
corpos policiaes, exceptuados os reformados.
Em relação .aos analphabetos, é, entretanto, de notar que o Mi-
nisterio do I nterior ·resolveu, em 12 de Maio de' 1890, que se incluíssem
no alistamento os já alistados de accôrdo com · a lei Saraiva, aos
.quaes, embora não fossem novamente qualificados, se mandou depois
tomar os votos, desde que exhibissem os seus respectivos titules.
O alistame~to e a eleição para a Constituinte Republicana foram
regulados de modo geral pelos decretos ns . 200 A, de 8 de Fevereiro,
277 D e 277 E, de 22 de Março, 480 e 511, de 13 e 23- de Junho, e
563, de 14 de Agosto, todos de 1890, havendo sobre as duvidas que se
suscitaram uma avultada serie de decisões e avisos.
Para a convocação e eleição das assembléas legislativas dos Esta-
<los foram expedidos os decretos ns. 802, de 4 ele O utubro, e 1 .189,
de 20 de Dezem1Jro, ainda de 1890.
Toda esta legislação ficou, em muitos pontos, a quem da do
I mper io.
Foi, porém, provisoria: desappareceu logo que foi inaugurado o
regimen constitucional .
Dispondo sobre as qualidades de cidadão brasileiro, prescreveu a
lei fundamental da Republica:
"Art. 69. São cidadãos brasileiros:
1 . 0 Os nascidos no Brasil. ainda que ele paj estrangeiro, não resi-
<linclo este a serviço ele sua nação ; .
- 30-
0
_2. Os fill_10S de pai brasileiro. e os illegitimos de niãi brasileira,
nasc~dos em J.?ªlz estrangeiro, si estabelecerem domicilio na Republica;
0
3. ~s filhos de pai brasileiro, que .estiver n'outro paiz ao ·serviço
eh Republica, embora nella não venham domiciliar-se·
0
4. Os estrangeiros, que, achando-se no Brasil aos' 15 de Novembro
d~ 1889, não declararem, dentro em seis mezes depois de entrar em
vigor a constituição, o animo de conservar a nacionalidade de origem;
S.º Os estrangeiros, que possuírem bens immoveis no Brasil e
forem casados .com brasileiras ou tiverem filhos brasileiros, comtanto
que residam no Brasil, salvo si manifestarem. a 'inte1Íção 'de não mudar
de nacionalidade ;
6.0 Os est:rangeiros por .outro modo naturalizados .
. "Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 .annos, que .se
.alistareri:i na forma da lei.
§ .l.º Não podem alistar-se eleitores para .eleições federaes; ou pa;a
as dos.
Estados : . .
1

1.0 Os mendigos;
2;0 Os .analphabetos;
3. 0 As praças de pret, exceptuados os alumnos das escolas militares
·de ensino st:iperior ; · .
. . 4. 0 Os religiosos de ordens monasticas, companhias, congregaçõe.s
·ou cómi:nimidades de qualquer denominação, sujeitas a voto de obe-
.. rlieneiá, regra ou estatuto, que importe a renuncia da liberdade indi-
vidual . ·
.§ 2. 0 São ineleg.iveis os cidadãos não alistaveis .
'Art. 71 . Os direitos de cidadão brasileiro só se suspendem ou
:1)erdem nos c~sos aqui particularizados: · ·
§ V Suspendem-se :
a) ·por incapacidade .phys'ica ou moral; . .
b) por condemnação criminal, emquanto durarem os ~.eus eff.eitos. ·
-§ 2:.0 Perdem-se :
a) por naturalizaÇão em paiz estrangeiro ; . ·,
b) por acceitação de emprego ou pensão àe governo estrangei ro~
sem . licença do· poder executivo federal. ·
1§ 3.0 Uma lei federal determinará as condições de reacquisiçã(j) .dos
direitõs ·.de cidàdão brasileiro".
Pelos cidadãos brasileiros com direito de voto, nos termos · dos
nispositivos 'tran.scfiptos, são eleitos os rep1·esentantes do poder !legis-
lativo e os chefes do poder executivo, observado' ·os preceitos constitu;..
cionaes e as disposições das leis ordinarias, quei· quanto· aos requisitos
de elegi'bilidade dos que te'nham de ser investid0s ·de .mandatos electi-
vos, quer quanto ao exercício elas furicções delles decorrentes. ·•
r
Após a promulgaç~q da , constituição de 24 de Fevereír0· de 1891,
:) primeira lei eleitoral que üvemo~ foi a de n. 35, de 26 de •Janeiro
(~é -1892, na qual toda a mater~ é trataçla methodicamente em eapitulos'
<jue se- intitulam dos eleitores, do alistamento, da comm.issãó .múnici.
pal, dos recursos, dos t~tulos dos eleitores, dos elegiveis, das eleições,
elo i)rocesso el.eitoral, da apuração geral, disposições. penaes e d'isp0si-
ções geraes . ; ·
Segundo essà Jei,. o alistamento era organizado por commissões
seccionaes eleitas 'pelos membros .das cam(;l.ras, intendencias ou conse-
Ü10s municipaes e os seus . immediatos em votos, em numero egual; os
recursos de iuclusão ou . exclusão de eleitores eram para commissões
que, errÍ, cada município, se compunham do presidente da camara, in-
tendencia".OU conselho, e dos presidentes das commissões seccionaes,
:1ave11do ainda recurso das decisões dessas commissões para uma junta
eleitora·!, coD;stituicla, em cada Estado, pelo juiz federal, seu substitutu
e q procurador· seccional ; as mesas eleitoraes eram eleitas pela mesma
forma que as commissões seccionaes de alistamento; os districtos elei-
~oraes l'ram,, como na lei de 1875, de trez deputados; o voto secreto;
os casos de inelegilibidade e de incompatibilidades eleitoraes bem defi-
iiidos; a apuração geral teita pelos cinco vere.adores, intendentes ou
conselheiros muriicipaes rriais votados, e os cinco cidadãos immediatos
em votos ao menos votado da camara,. intendencia ou conselho da séde
do districto, dirigi11do os trabalhos o seu respectivo presidente. No
mais, a lei reproduzia textualmente ou com alterações, procurando
melhorar, tudo que se continha nas leis anteriores. Alguns dispositivos
rtovos t'ram de alcance secundario .
.Posteriormente, a lei n. 35 foi modificadé,l pelas de n. 69, de 1<>
. tie Ágosto de 1892, ns. 153 e 184, de 3 de Agosto e 23 de Setembro de
1893, ns. 342 e 347, de 4 e 7 'de Dezembro de 1895, ns. 380, 411 e
426, de 22 de Agosto, i2 de Novembro e 7 de Dezembro de 1896, nu-
1íiero 620, de 11 de Outµbro de 1899, ns. 907, 908 e 917, de 13 de
Novembro e 9 de Dezembro de 1902, sendo em grande numero os actos
'emanados do poder executivo regulamentando, dando instrucções e
interpretando varios de seus disp0sitivos. .
A lei n. 35, de 26 de Janeiro de 1892, foi applicada pela primeira
\·ez, de mQdo geral, em 1° de Março de 1894, na eleição a que se pro-
cedeu para a renovação da Camara, terço do Senado e escolha do pre-
sidente e vice-presidente da Republica (os primeiros eleitos por suf-
fragio directo), merecendo a sua execução os mais francos applausos.
Houve mesmo. alguns factos dignos de nota: em Pernambuco, por
~xemplo, a apposição ·fez seis, entre os dezesete deputados, sendo' que
(lois dos candidatos eleitos, - Drs. José Mariano Carneiro da ·cunha
~_Loll:r.ep.ço Augusto de Sá e Albuq.uerque --:, estavam presos; e outros
32 ~

dois, - os Drs. Arthur Orlando da . Silva e José Gonçalves Maia ~,


foragidos, er1 cónsequencia de sua adhesão á revolta da esquadra, que
explodira nesta Capital a 6 de Setembro de 1893 e que ainda não havia
sido jugulada. '
Mas, como tem succedido com todas as r..ossas leis eleitoraes, a
lei n. 35 se prestou, nas eleições subsequentes, a fraudes e irregulari-
dades cesusuraveis. ·
E uma reforma começou a ser insistentemente reclamada.
Até 1902, foram baldadas todas as tentativas para fazei-a. Na-
quelle anno, porém, a commissão ele constituição, legislação e justiça
da Camara dos. Deputados, interpondo parecer sobre um projecto do
Dr. Anizio de Abreu, •accentuon a necessidade que havia de que o
poder legislativo fosse ao encontro das aspirações do paiz, que, pelos
seus orgãos mais autorizados, solicitava providencias que garantissem,
tanto quanto possível, a real manifestação do voto.
Esse parecer, que estava aliás de accôrdo com o pensamento cio
. Sr. Presidente da Republica, em mensagem dirigida ao Congresso N ;:i.-
cional, era a affirmaçã9 de que o estudo do assumpto não podia mais
ser protelado; e a Camara deu-lhe seu assentimento, adoptando o pro-
jecto do illustre deputado piauhiense como 1emenda ao que reorgani-
zava o Districto Federal. ·
Estava dado o primeiro passo para a reforma, que, ao iniciar-se a
sessão legislativa de 1903, tão grande interesse havia ele despertar.
Uma commissão especial, para esse fim nomeada, tomou conheci-
mento de todos os projectos até então apresentados, formulando um
substitutivo que deu Jogar a elevado, luminoso e brilhantíssimo de-
bate. A diversidade de alvitres suggeridos difficultou, porém, o accôrclo
de vistas, obrigando a commissão, para não inutilizar o esforço con-
<>ciente e dedicado dos que queriam collaborar na lei, a transigir um
pouco no rigorismo de algumas disposições radicaes, cuja adopção
pleiteava.
· No Senado, o projecto foi discutido em 1904; e, voltando á Ca-
mara, não encontrou mais embaraços. Salientando que, no momento,
"o opportuno, o util, o profícuo era fazer, - sinão o melhor, no sen-
tido do querer e do pensar de cada um ___,, o possível de obter-se de
todos no interesse impessoal do objectivo commum", a c~mmissão,
depois ele mostràr que "a decretação da reforma ·impunha-se com o
caracter imperativo e absoluto de uma necessidade indeclinavel", con-
cluiu por aconselhar a acceitação do substitutivo cio Senado, que, appro-
vaclo e sanccionado, ficou sendo a lei n. 1.269, de 15 ele Novembro de
1904,. ou lei Rosa e Silva, nome pelo qual é conhecida por ser o cio
autor claquelle substitutivo.
Destacam-se, d' entre as disposições dessa lei, as que prescrevem:
-33-

a unidade do alistamento para as eleições federaes, estaduaes e muni-


cipaes; a intervenção dos juizes de direito, nas sedes das coma:~ª~· e
das autoridades judiciarias mais graduadas, nos termos e mumc1p1os,
na organização e como presidentes das juntas a que incumbia fazel-os,
juntas que tinham por secretarios os escrivães do judicial e que eram
compostas, e111 cada municipio, dos quatro maiores contrib~intes, sendo
dois do imposto predial e dois dos impostos sobre propriedade rural
(nas capitaes e onde não havia contribuintes sobre propriedade rural
serviam os dois maiores contribuintes do i~posto de industrias e pro-
íisseões sobre estabelecimentos commerciaes) e de trez cidadãos elei-
tos pelos membros effectivos da camara, conselho ou intendencia mu-
nicipal, e os seus immedíat~ em votos, em numero egual ; a ex:igencia
de ser a prova de saber ler escrever dada perante a commissão e no
acto de ser apresentado o requerimento pelo alistando, que escreveria,
.em livro especial, seu nome, estado, filiação, edade, profissão e resi-
dencia; a divisão dos municipios em secções ·eleitoraes logo após o
primeiro alistamento e depois da sua revisão no ultimo anno de cada
legislatura, sendo, na mesma occasião, designados os edificios em que
se deviam effectuar as eleições, e não podendo ser essa designação
.alterada no correr da legislatura, salvo o cas0 de força maior com-
provada por Vistoria, hypothese em que o novo edificio seria designado
(1)
\'Om a antecedencia, pelo menos, de quinze dias; a modificação da junta o
de recursos, que passou a ser formada, em cada Estado, pelo juiz fe- -e
deral, como presidente, pelo seu S1:lbstituto e pelo procurador geral do
Estado ; o recurso da annullação global do alistamento para a propria
....::s
ns
junta de recursos e das deciões desta para o Supremo Tribunal Fe-
deral ; a creação dos districtos de cinco deputados, constituindo os Es-
tados que dessem menos desse numero ou dessem até sete um só dis- 1c3
tricto; a permissão para que cada eleitor, que tinha tantos votos quan-
tos fossem os deputados a eleger, menos um, pudesse cumular os seus
votos no mesmo candidato ; a organização das mesas eleitoraes por uma
junta composta do primeiro supplente do juiz substituto federal, como
'_g~
presidente, sem voto, do ajudante do procurador da Republica, tam- C'tS
bem sem voto, como secretario, dos membros effectivos da commissão
de alistamento e de seus respectivos supplentes, votando cada um em \ -~...
'
,.
.._..,· '
dois nomes, e sendo considerados membros effectivos da mesa os vo-
tados em 1°, 3°, 5°, 7°, e 9 lagar e supplentés os votados em 2°, 4°, 6°,
8° e 100; a faculdade de poder cada grupo de trinta eleitores nomear
um mesario, mediante condições que estabelecia; a manutenção do voto
secreto . .como regra, permittindo, porém, ao eleitor que quizesse votar
a descoberto, em chapa assignada, caso em que apresentaria duas cha-
pas, uma das quaes entraria para a urna e a outra, depois de datada e
rubricada pelos mesarios, lhe .seria entregue, constituindo recibo de seu
- 34- .

voto (esse mesmo dispositivo já existia na legislação em vigor,. e.-i;-vi .


d.Ó art. 8° da lei n _ 426, de 7 de Deze.m bro de 18%) ; a apuração das
eieiç,Ôes pelos presidentl;!s dos conselhos municipaes do districto eleito-
rál, sob a . presidencia do juiz substituto . federal ou seus supplentes,
co·nforme a séde (na Capital Federal um dos juizes seccionaes era o
presidente da junta, que se compunha dos juízes das pretorias urba-
nas) ; a distincção entre eleições nullas de pleno direito e simples-
mente annullaveis; a melhor , regulamentação do processo eleitoral e a
observancia de dispositivos claros sobre elegibilidade, inelegibilidade,
incompatibilidades, vagas, multas e penas criminaes.
Muitas foram 'as duvidas levantadas, dentro e fóra do parlamento,
a proposito do art. 1° desta lei, que dispupha:
"Nas eleições federaes, estaduaes e municipaes sómente serão ad-
mittidos a votar os cidadã.os brasileiros, maiores de 21 annos, que se
alistarem na forma da presente lei".
. Era, como se vê, a unidade de alistamento; e, até então, nós ti-
;1hamos o alistamento federal, o estadual e, em diversas circumscripções
da Republica, tambem o municipal.
Podia o Congresso Nacional estabelecer essa unidade de alista-
mento? ·
Tal a these constitucional que, com superior erudicção, foi venti-
lada na Camara dos Deputados, d'onde derivou para as columnas das
a?'azetas partidarias, principalmente em alguns Estados .
A questão era posta deste modo:
Diz o n. 22 do art. 34 da Constituição Federal que compete pri-
vativamente ao Congresso Nacional "regular as condições e o processo
da eleição para os cargos f ederaes, em todo 0 paiz"; e, assim sendo,
não podia legislar sobre as condições e processo para os cargos esta-
duaes e municipaes. Retrucavam os contradictores que, - estatuindo
o art. 70 da constituição que são eleitores os cidadãos maiores de 21
a1mos, que se alistarem na. forma da lei, e accrescentando, no §. 1° e seus
numeros, não poderem alistar-se para as eleições federaes ou para as
dos Estados os mendigos, os analphabetos, as praças de pret e os reli-
giosos sujeitos a voto de obediencia, regra ou estatuto que importe na
renuncia da liberdade individual - , deixara campo aberto á acção do
Congresso Nacional para legislar sobre alistamento para as eleições
estaduaes e municipaes, em todo o paiz, reservando apenas aos poderes
iocaes a attribuição de regular o processo segundo o qual deviam ser
feitas essas eleições.
Não se davam por vencidos os que sustentavam a competencia dos
Estados, allegando que a constituição não fizera mais do que indicar
<'S requisitos necessarios para que qualquer cidadã9 pudesse ser eleitor,
d;onde: se seguia que lhe não era contraria a lei estadual que reconhe-
-35-
cesse a capac.idade eleitoral de 'todos que estivessem co~prehenclidos ~o
seu art. 70, negando-a aos incluídos nos differentes numeras do § 1°;
. que o espiri.to dominante ao ser votada a mesma constituição, - alar-
gamento da autonomia local, - era bastante para convencer de que
esse fôra o pensamento do legislador constituinte, havendo, ao demais,
o art. 65, declarando "ser facultado aos Estados todo e qualquer poder
ou direito que lhes não for negado por clausula expressa ou implicta-
mente contida nas clausulas expressas". E concluíam que na . ausencia
de preceito constit.ucional que vedasse aos Estados terem seu alista-
mento, o legislativo federa.! não podia adaptar o principio consagrado
no art. 1° da refor.ma, tanto mais quanto, - admittido que fosse da
competencia exclusiva da União verificar a capacidade eleitoral dos
cidadãos, - não era estabelecendo em lei a unidade do alistamento ·que
podia chegar a esse resultado, uma vez que, além dos congressos esta-
duaes que tivessem votado leis creando alistamento e que eram os com-
petentes para revogai-as" só ao poder judiciaria cabia oppôr-se á appli-
cação das mesmas leis, tomando conhecimento, em espeCie, dos casos
occorrentes. ."'.1
As divergencias apontadas não ficaram no terreno doutrinaria,'
porque alguns Estados mãntiveram os seús alistamentos, cuja consti.,.
tucionalidade foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal e, mais
tarde, pelo Congresso Nacional. .
A lei· Rosa e Silva, que soffreu alterações parciaes por lei's poste-
. riores (as principaes foram as da lei n. 2419, de 11 de Julho de 1911),
assegurou, a principio, uma folgada representação ás minorias; mas,
dentro em pouco; permittiu que, á sua sombrn., .crescessem os abusos
que yierçi. corrigir, e aos quaes o Marechal Hermes da Fonseca, em
mensagem dirigida ao Congresso N aéional, · por accasião de sua aber-
tura, em 3 de Maio de 1911, se referiu nos termos que se seguem:
"Ao ser promulgada a lei de 15 d~ Novembro de 1904, pareceu aos
espíritos bem intencionados que a solução elo prohlemà eleitoral, pelo .
conseguimento de uma real e verdadeira manifestação da vontade' po-
pular, estava resolvido; infelizmente, como acontece com as reformas
do ensino, mas por motivos bem diversos e bem menos dignos, a nova
lei eleitoral ainda não tinha sido cabalmente executada e já precisava de
ser reformada. .
"Com os primeiros passos para a sua execução, nasceram os appa·
relhps, sempre vivos, de frande e de. ludibrio do voto popular.
"E' imprescindível, por isso, a reforma da 'actual lei, de maneira
a dotai-a de elementos que, quando não impossibilitem de todo, ao
mep.os difficultem de muito a fraude e facilitt>m a acção da justiça
contra os eternos e impenitentes mystificadores da verdade eleitoral.
"Convem que as medidas de acautelament9 não digam respeito
36
tão sómente ao processo eleitoral; mas venham desde a qualificação,
que deverá ser rode.a da das precisas garantias aos direitos do cidadão,
de forma a não ser recusado· o direito que a cada um ~ompete, nem ser
passive!, pelo máo systema de distribuição de títulos, a frande de uns
se subsitituirem a outros por occasião dos pleitos, ou mesmo concor-
rerem. ás votações sob nomes suppostos, com titulas falsos". ·
Na sua mensagem de 1912, o Marechal Hermes da Fonseca insis-
tiu pela reforma, que só em 1913 começou a ser encaminhada com
exito. ·
Em 26 de Agosto daquelle anno, o senador Muniz Frejre, autor
de um projecto apresei1ta.do em 1909, requereu a nomeação de uma
commissão mixta de senadores e deputados, que, estudando aquelle
projecto, outro que o Senador Francisco Glycerio submettera á consi-
deração· ele seus pares em 1911 e o mais que sobre a ma.teria existisse
. pendente ele parecer nas commissõs parlamentares, organizasse es ba-
ses ele uma nova lei eleitoral. ··
ü Senado apprnvou o requerimento e, consultada a Camara, esta
assentiu no pedido . . ·
A commissão, que ficou definitivamente constituida em 9 ele Se-
tembro do mesmo anno e era composta ele cinco senadores e seis depu-
tados, sob a presidencia do Senador Bueno de Paiva, resolveu, em sua
primeira r euni:ão, que fossem formulados dois projectos distinctos: µm
relativo ao alistamento de eleitores e outro ao systema de voto e pro-
cesso das eleições.
O primeiro, tratando . do alistamento, foi ·étpresentado ao Senado
em 31 de Outubro, precedido de succinto parecer em que o relator,
senador João Luiz Alves, justificou as idéas vencedoras, inclusive a
da não manutenção da unida.de de alistamento sobre a qual disse: "o
projeéto não consagra a unidade do alistamento da lei vigente porque
o Supremo Tribunal Federal já reconheceu aos Estados o direitó de
legislarem sobre alistamento ele.itoral para as eleições locaes, direito de
que alguns Estados continuam a usar e de que outros abriram mão
por acto .p roprio, que poderão revogar em. qualquer tempo".
Este projecto e o que veio mais tarde, regulando o . systema ele
voto e o. processo eleitoral, não tiverem rapído andamento, o que levou
o presidente W enceslau Braz a chamar para elles a attenção ·do poder
legislativo, em sua mensagem de 3 de Maio de 1915, na qual escreveu:
"O pleito' que se feriu a 30 de Janeiro ultimo para a renovação
da, Ca.mara e do terço do Senado constitue um valiosíssimo e irretor-
quivel argumento de que se valerão os que clamam justamente contra
·• deturpação de nossos costumes politicos e pr'opugnam pela rdorma
eleitoral.
"Não ha duvidar: esta reforma se impõe hoje mais do que nunca.

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·"Precisamos garantir o alistamento e a eleição contra os assaltos
dos defraudadores; precisamos impedir as d.uplicatas e triplicatas de
actas e de juntas apuradoras.
. "E' tambem indispensavel que a apuração e o reconhecimento se-
Jam a expressão da verdade eleitoral . .
. ~'De nada valerão, porém, taes medidas, por melhores que sejam,
s1 nao houver a elevação moral e patriotica dos que têm a missão de
cumprir a lei eleitoral.
"Não fechemos os olhos á evidencia: o actual regímen eleitoral
não póde continuar; a naç~o está a exigir do Congresso a ·reforma
eleitoral e o ~umprimento exacto dessa ref9rma por parte de todos,
mas especialmente dos membros do Congresso, que devem dar o
exemplo". . - - ,,~.. .,>l'!"'
Ainda nesse anno ficou sem echo o appello do chefe do poder
executivo, que o renovou na mensagem de 1916, nestes termos: "Na
minha primeira mensagem ao Congresso tive opportunidç,de de accen-
tuar. como o faço agora, a absoluta necessidade de uma reforma elei-
. torai capaz de produzir os resultados por que anceia a opinião publica
do Brasil" e reoroduziu o que affirmara naque~la mensagem .
· Desta vez foi attendido, sendo votadas as leis ns. 3 . 139 e 3. 208,
de 2 de Ag-osto e 27 de Dezembro de 1916.
A primeira declarou insubsistentes, quatro mezP.s depois de sua
promulgação, os alistamentos em vigor, só permittindo votar nas elei-
ções federaes e nas locaes do Districtó Federal e do Territorio do ·
Acre aos qué, - estando nas condições previstas no art. 70 da Con-
stituição e exceptuados os de que trata o § 1° do citado artig-o, - fos-
sem ou viessem a ser alistados na conformidade de suas disoosições,
estabelecendo a seguir: a faculdade de se:r ·requerida a inclusão nii.
lista de eleitores erri qualquer dia util do anno; ci. competencia exclusiva
dos juízes de direito para. resolverem sobre o 'pedido. autorizando ou
não· a inclusão solicitada; a não acceitação .de justificações para as
provas de edade, de residencia e elo exercício de industria ou profissão
ou de 1)0sse ele renda que assegure a subsistenCia; a exigencia de ser o
requerimento escripto em vernaculo e do prôorio punho do alistando,
com a lettra e firma reconhecidas por tabellião, bem como a de ser
exh!bida a carteira de identidade. si no Jogar ·houver e;abinete de iden-
tificação; a declaração em cartorio, no livro a esse fim destinado, dos
documentos que acompanham o requerimento ; a entrega de'iSes do-
cnmentos mediante. recibo, aci escrivão do juízo, que os autoará, fá-
zendo conclusos ao juiz dentro de 48 horas; o prazo maximo de 8 élias
para que o jui- profira seu despacho. aue deverá ser fundamentado
p.o caso de ~er inde;erido o pedido de inclusão; él. oublicação de editaes,
de 15 em JS dias, contendo .os n~mes, edade, profissã,o (; residencia dos
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cidadãos exclui dos ..ou incluidos no alistamento, . no periodo quinzenal


precedente; a permissão para que um eleitor ,requeira a ~ua t~ansfe­
rencia de um para outro município, quando muda de res1denc1a i re-
cursos das decisões dos juizes de direito para uma junta, composta, nos
Estados, no Districto Federal e no Territorio do Acre, do juiz federal
da secção; como presidehte, do seu súbstituto e do procurador geral
e.lo Estado, Districto ou Territorio, recursos que poderão ser interpostos
velo proprio interessado ou seu procurador, nos casos de não inclusão,
de exclusão ·ou de não transferencia, e por qualquer cidadão ou pelo .
represeatante do ministerio publico federal, estadual ou local (no Dis- ·
tricto Federal e no Territorio do Acre), rios casos de inclusão e de nãn
exclusão ; os meios de prova necessarios para ·que possam ter provi-
mento os referidos recursos; as formalidades para a expedição dos
. utulos aos eleitores; as penalidades ~m que podem incorrer autoridades
e alistan<los por acções ou omissões, e, finalmente, algumas provi-
dencias de ordem geral.
A segunda, reguladora do proçesso das eleições, consolidou, cor-
rigindo e melhorando, tudo que havia de bom ·e aproveitavel nas leis
anteriores, e adoptou varias dispositivos novos tendentes a ·extinguir
ou, pelo menos, attenuar muitos dos vicios e falhas que afeiam .os
nossos costumes políticos.
Entre elles, os ·que confiaram aos JUizes de direito a attribuição
de dividir os munici:pios em secções eleitoraes, designarrdo os edific0 s
em que: as mesmas devem funccionar; os que dizem respeito á organi-
zação das mesas, nos quaes se ampliou, tornando mais efficiente, a
acção dos juizes e funccionarios da justiç~ no processo das eleições,
o que demonstra sincero desejo de subtrahil-o o mais possivel á inflt•
encia official; e os que se referem ás normas a que .devem obedecer,
no cumprimento de seu dever legal, as juntas apuradoras, compostas
· de magistrados de responsabilidades e independeneia indiscutiveis.
· Em . relm;ão aos districto~ eleitoraes e' ao systema de voto foram
mantidas as disposições da lei Rosa e Silva, isto é, districtos de cinco
deputados, chapa incompleta e direito ele cada 'eleitor poder cumular
os seus votos em quem. lhe·convier.
.Revogou-se, por~m, a parte que permittia o voto a descoberto .
.Este será sempre secreto, salvo quando deixar de reunir-se a mesa de
qualquer secção situàda fóra da· séde do muhicipio, caso em 'que os
eleitores da mesma sec.ção poderão requerer ao juiz de direito ou mu-
··nicipal, no prazo· de 48 horas, que os seus votos sejam tomados em
cartorio, o que se fará mediante termo em que serão indicados os elei-
tores e os seus candidatos . ·
.As leis ns. 3 . 139, e 3 . 208, .de .2 de Agosto -e 27 de Dezembro .de
. 19J li ~obre alistamento e ·eleições, com as pequenas modificaçõe~ das
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·~is n. 3.424, de 19 de Dezembro de 1917, n. 3542, de 25 de Setembro


de 1918, e ns. 4.226 e 4.227, de 30 de Dezembro de 1920, encerram,
de presente, toda· a n<?5sa legislação eleitoral em vigor.
Bôa ou má? Na primeira prova por que passou, os se.us resultados
foram excellentes, conforme se deprehende das palavras do presidente
vVenceslau Braz, em sua mensagem de 3 ·de Maio de 1918:
"O plano de restabelecimento da concordia social, que resolvi
executar com firmeza, não ficaria completo sem a verdade eleitoral,
que elimina todos os pretextos para agitações e revoltas.
"Decretado novo processo para a qualificação, o Ministerio do
· Interior timbrou em attender a todos os reclamantes, em dirimir du-
vidas, explicar textos, fornecei; materiaes com presteza.
''Logo em seguida, começou a ser. executada outra lei, ã. das elei-
ções propriamente ditas.
"Redobrou o trabalho e com elle a .actividade dos responsaveis
pela sua exeo::ução .
. "A magistratura, salvo lamentaveis excepções, cumpriu o seu de-
ver; mostrou-se arguta, infatigavel e imparcial:
"Por sua vez, o executivo federal tornou bem claro qu<:" o seu
nnlco interesse era ver a lei cumprida honestamente, apurando-se todos
l•S votos legítimos: não podia, não devia, não queria ter candidatos.
"Realizou-se a primeira experiencia no lagar onde nunca houve
eieições regulares durante o regímen vigente, no Districto Federal.
"Brilhante foi o resultado: nem violencias, nem fraudes.
"O paiz teve, no dia 1° de Março ultimo, a prova definitiva de
que é possível praticar-se entre nós a verdadeira democracia, desde
que ó exemplo venha de cima.
. ".Com excepção de ·dois. ou trez Estados, os protestos apenas le-
vantam questões de forma, apontam inobservancia de requisitos pro-
ccssuaes ; não profligam actos de força, nem sonegação audaciosa de
suffragios.
"Todos reconhecem que se realizaram as eleições mais serias de
que ha memoria no Brasil qepois da primeira experiencia da ·lei Sa~
raiva".
Depois, porém, as coisas se têm passado de outro m.odo : reappa-
receram e vão se gerieralizando as fraudes, não estando longe o dia cm
que serão reclamadas novas reformas.
· E' a lic~ão do passado; será tambem a do futUro.
Quem estiJda a nossa historia poiitica sabe bem que temos expe-
rimentado tudo, absolutamente tudo que se encontra na legislação dos
povos cultos para chegar á solução do problema eleitoral, que vem a
ser alistamentos regulares, e~eic;ões reaes, apurações verdadeims; ·e que
sobre o voto temos ensaiado todos os systemÇLS: con:heci~o_s, coi;n ex-ce-
.· 4i -
A não ser. nas capitaes e nos centros populososos, onde ha espirita
publico esclarecido e a opinião se faz respeita·r, este quadro, - com
traços menos vivos e cores mais apagadas, - é de perfeita actualidade,
porque no interior do paiz a resistencia á intolerancia e ao exclusivismo
dos partidos, aos abusos e á omnipotencia do poder é, em regra, im-
·possivel. E d'ahi a relativa inefficacia das nossas leis eleitoraes. ·
.
CÂMARA DOS DErUTADOS
CEUTRO DE DOCUf>' ': lfl!FORMACAO
COORDENA -

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1
1 nnrnm 1111.

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