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UNIVERSIDADE DO PORTO

PRIMEIRO CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA POLITÉCNICA


E DA ESCOLA MÉDICO-CIRORGICA
1837-1937

MEMÓRIA HISTÓRICA
DA

ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Reimpressão no 150.° Aniversário da Academia Politécnica do Porto


MCMLXXXVII
MEMÓRIA HISTÓRICA
DA

ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Reimpressão no 150.° Aniversário da Academia Politécnica do Porto


MCMLXXXVII
MEMÚRIA HISTÓRICA
DA

ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO


POR

A R T U R D E MAGALHÀIS BASTO
AN 1 1 0 0 rROF. AUXILIAM DA FACL'l.DAni DE LETRAS DD pftRTO

PRECEDI DA DA «MEMÓRIA»
SOBRE A ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO,
PELO CONSELHEIRO
ADRIANO DE ARREU CARDOSO MACHADO

UNIVERHDADE CO PORTO

POR ORDEM DA UNIVERSIDADE DO PORTO


NO I.» CENTENÁRIO DA FUNDAÇÃO DÁ ACADEMIA POLITÉCNICA
CONVENÇÕES

An. - «Annuario da Academia Polytechnics do Porto».

Todas as citações no género de 0 - 3 , 0-5, D-32,


-Í-I), etc., referem-se a livros manuscritos do Arquivo
<la antiga Academia, hoje existentes na Reitoria da
Universidade do [Virto.
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA

Ao pausar cm Dezembro de 1936 e Janeiro de 1987 o primeiro


centenário tia fundação das duas Escolas que deram origem à
Universidade <l<> Pdrto—ou sejam a Escola Medico­drúroioa e a
Academia Politécnica — deliberou a C omissão nomeada pelo Senado
Universitário, para Iralar das comemorações, que as Faculdades, repre­
sentantes actuais rins ciladas h'seolus, publicassem Memórias Hisló­
ricas em que se descrevessem a rida <■ o desenvolvimento dos gloriosos
estabelecimentos de ensino, criados cem anos antes por Manuel da
Silva PaSSOS, i a que acima nos referitnos.
Em cumprimento dessa deliberação a Faculdade de Ciências
tomou sabre si o encargo de fa\er elaborar ama noticia histórica da
A eade m ia Politécnica.
Uma parte natural desse trabalho já estará escrita e publicada.
A Portaria de 29 de Maio de 1ST? determinara ao Director da
citada Academia que esta se finesse representar na Exposição Univer­
sal de Paris a realixar m ano imediato. A forma t/essa representa­
ção rinha indicada no Programa que acompanhava a dita Portaria,
e que, em seus 1A> C 2." números, estabelecia o envio duma Memória­
Para dar cumprimento a essa Portaria prontificou­se o Director Esta termina pelas palavras seguintes ;
que era então o distinto Professor, C onselheiro Adriano de Abreu — « A terceira parte desta memoria não pode ser incluída no
Cardoso Machado — futuro Par do Reino, Ministro de Estado, Reitor presente annuario» (x).
da Universidade de C oimbra, Procurador C era/ da C oroa, etc. ■—, a
tomar sobre si o encargo de escrever a parte dessa Memória relativa Não pode, porquê?
à organização administrativa e escolar da referida Academia, da qual Pm­ falia tie esporo ? Por ainda não estar elaborada f
daria urna *notícia histórica» « desde a sua fundação até à época Não o sabemos ao certo, î'arece­nos que esta última hipótese é
actual*, indicando também as * leis e regulamentos» por que se que será a verdadeira. Mus seja como fòr, do que não há dúvida é
regiam o estabelecimento «e suas dependências» (l). que essa terceira parte nunca foi publicada. 0 trabalho de Adriano
Adriano Machado rlieidin o seu trabalho, que intitulou Memoria Machado ficou, portanto, incompleto ; não abrange a história propria­
Histórica da Academia Polytechnica do Porto, pelo menos em três mente da Academia 1'olilccnica, criada, como dissemos, em 1837; da
partes. tarefa is u escrever /iremos agora a honra de ser encarregado pelo
O primeiro volume do An nu a r in datjiiele estabelecimento Conselho Escolar da Eacuhladc de < 'teorias do Ptrto.
(1877­1878) inseriu, as duas primeiras parles, amim epigrafadas : A presente Memória — de acordo com a sugestão que nos
foi apresentada — coutpreende. além dos vinte t très capítulos que
1
I — Origens (17C L ­IS 03). elaborámos, os dois iniciais publicados tm IS 78 por Adriano
II — Academia Real de Marinha e C ommercio da C idade do Machado.
Porto (1803­1837) (*). Respeitámos integralmente o trabalho deste ilustre Professor.
Apenas lhe motleruixtinios a ortografia. E M alterámos os alga­
rismos das remissões a páginas anteriores, isto 0 fixemos por assim o
(') Comunicação feita por Adriano Machado ao Conselho Acadúmico em sessão
do 18 de Junho de 1877 — (J­5, fis. 104 v.o — no Arquivo da Reitoria da Universidade
do Porto).
(*) Vide Annuario cit. de págs. 85 a 334. (') Vide Annuario cit. pág. 334.
exigir a diferente situação dos respectivos assuntos nas páginas desta Ao terminarmos estas indispensáveis explicações, cvmpre-nos
nova edição. agradecer a confiança em nós depositada pelo ( onselho Escolar da
Vem a propósito observar que convém não se perder de lem- Faculdade de Ciências, e penitencianno-nos antecipadamente das im-
brança, ao lerem-se os dois primeiros capítulos deste livro — de págs. perfeições ou erros que o nosso trabalho há-de 1er, não por defeito
1 a 134 — , que eles foram escritos em 1877-78, e que, por conse- da nossa vontade, mas por culpa da nossa insuficiência.
guinte, quando aí, por exemplo, se descreve o edifício da Academia,
ou se diz que o brigue da aula de Manobra Naval foi desmanchado Tal como nos foi possível realixá-lo, êle demonstrará ao menos,
há poucos anos, ou se fat qualquer comentário ou referência a factos segundo se nos afigura, que a Academia Politécnica do Porto, vítima,
ou épocas, essa* palavras têm de ser reportadas à data de 1877-78 durante longuíssimos anos, de perseguições e invejas, e do mais des-
em que foram escritas. coroarei abandono, desleixo ou indiferença dos Podares públicos, pôde
Devemos ainda notar que, em os capítulos cuja autoria nos per- tudo vencer e, sempre levantando mais alto o seu prestígio, conquistar
tence, nos limitámos a traçar as linhas gerais das vicissitudes — das a respeitosa admiração de todos os meios cultos nacionais e estranjeiros.
alternativas prósperas ou infaustas — do desenvolvimento histórico Isto o conseguiu a Academia Politécnica do Porto mercê da ina-
da Academia Politécnica, deixando para as Monografias que cada balável fé, do inigualável xêlo e imdtrapassável dedicação de quantos
uma das Secções da Faculdade de Ciências elaborará as biografias a serviram, mercê, igualmente, dos resultados que produxiu e do alto
dos lentes e a pormenorixação e a crítica dos métodos e do valor valor mental e profissional dos metnbros do seu corpo docente, em
científico do ensino que na Academia se ministrou. que se contaram alguns dos nomes que mais honra e brilho deram à
Baseámo-nos para o nosso trabalho sobretudo nos Annuarios da cátedra e ciência portuguesas.
Academia Polytechnica e nos livros de registo de ofícios, ?ios livros de
Provisões e Cartas Régias, e nos das Actas, da antiga P&Utécniea, que Dezembro de 1937.
ainda existem tia Reitoria da Universidade. São por vexes escassos
os elementos que para dados assuntos esses livros nos fornecem, mas
têm, em compensação, o selo da iniludível autenticidade. A. DE MAUALHÍIS BASTO.
I

ORIGENS

(1762 —1803)

M LINDADA em 1803 com o nome de Academia Real da Marinha e


Comércio do Porto, e reformada, com o título de que hoje usa,
pelo decreto de 13 de Janeiro de 1K37, a Academia Politécnica tem a sua
primeira raiz numa aula de náutica estabelecida nesta cidade em 1762.
No ano anterior ao da criação desta aula os principais negocian-
tes do Porto, vendo ameaçada a navegação pelos piratas e corsários de
Argel e de Salé, propuseram ao liei um imposto especial para a cons-
trução e custeio de duas fragatas de guerra, destinadas a comboiar as
embarcações nas suas viagens entre esta cidade e os portos da então
colénia portuguesa, hoje império, do Brasil,
Consistia o imposto em 2 por cento sobre o valor das fazendas
importadas e exportadas pelo consulado da alfândega do Porto, e so-
bre a importância dos fretes das mercadorias que saíssem nas esqua-
dras comboiadas.
Os negociantes pediam que a cobrança da nova contribuição, bem
como a construção e administração das fragatas, fosse encarregada il
«Junta administrativa da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas
do Alto-Douro, cujos privilégios seriam acrescentados com os que ha-
viam sido concedidos à Companhia de Pernambuco. A nova contri-
buição era proposta com o carácter de donativo oferecido pelo comér-
cio, que espontaneamente se sujeitava ao seu pagamento, e sé devia
conservar-se enquanto existissem as fragatas, e fossem empregadas
nos usos para que eram requeridas.
A Companhia das Vinhas do Alto-Douro era a principal interes-
sada no bom Êxito desta pretensão, aliás de manifesta utilidade pú-
blica, não só por que se alargava a esfera do seu poder, como porque
2 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ORIGENS S

tinha, com outros extraordinários privilégios, o comércio exclusivo dos Na verdade, a carta patente de 12 de Maio de 1764 nomea por
vinhos, águas­ardentes e vinagres exportados pela barra do Porto para capitão­tenente das fragatas de guerra da repartição da cidade do
as capitanias de S. Paulo, Rio de Janeiro, Baía e Pernambuco (1). Porto a António Rodrigues dos Santos, com «obrigação de ser mes­
Ela foi provavelmente a autora do plano, posto que tivesse o cuidado tre da aula da cidade do Porto, na qual lerá todos os dias que não
de o ocultar, e todos os membros da sua Junta administrativa, alguns forem de guarda, e explicará a náutica aos oficiais da marinha e mais
dos quais eram na verdade grandes armadores, aparecem assinados pessoas que se quiserem aplicar àquela ciência». ('}
na representação como símplices negociantes, confundidos com os ou­ Este professor já tinha servido como capitão­tenente na índia
tros signatários. Portuguesa, e havia sido mestre da aula de náutica de Goa e substi­
Apoiada particularmente por João de Almada e Melo, governa­ tuto de igual aula na corte (').
dor das armas do Porto, e primo do secretário de estado Francisco A instituição dos guardas­marinhas, criada em 1761 (3), não cor­
Xavier de Mendonça Furtado (*), foi aquela representação favoravel­ respondera aos intuitos do seu fundador, e foi abolida por decreto de
mente deferida, em todos os pontos acima indicados, pelo alvará de 9 de Julho de 1774, por mostrar a experiência que esta espécie de
Novembro de 1761 (3). cadetes da armada não curava de adiantar os seus conhecimentos,
Ainda não estava acabada a primeira fragata, que só" ficou pres­ nem na teoria nem na prática da marinha (4). Todavia a mesma ex­
tes em Março ou Abril de 17(53, e já o decreto de 30 de Julho de periência havia mostrado as vantagens da aula de náutica do Porto,
17(i2 criava 12 tenentes do mar e 18 guardas­marinhas com­aula e e o aviso régio de 25 de Fevereiro de 1775 (5) recomenda a conser­
residência na cidade do Porto (4). vação e progressos desta aula.
Este é o verdadeiro documento que fundou a Aida de Náutica. Do alvará acima citado, de 24 de Novembro de 1761, deduz­se
O ilustre Fernandes Tomaz cita como tal a carta régia de 2!) de Ou­ que tudo que dizia respeito I administração das novas fragatas ficava
tubro de 17B4 (5), mas alguns meses antes desta data já estava des­ pertencendo a Junta da Companhia das Vinhas do Alto­Douro; mas
pachado e provavelmente em exercício o respectivo professor (fl). uma Carta Régia da mesma data (b) e um Aviso Régio do dito mês e
ano ( ), redigidos com estudada obscuridade, foram na prática inter­
( l ) § 19 ria Instituição aprovada por Alv. de 10 de Setembro de 1756, pretados como se tivessem conferido ao governador das armas do
(') Carta particular de Francisco Xavier de Mendonça para o dito governa­ Porto a jurisdição imediata sobre aquela administração.
dor, dâ 25 de Novembro de 1761, registada no livro denominado da marinha da Fundado na citada carta régia, o governador nomeou para lente
Comp. Ger. da Agr. das Vinhas do Alto­Douro, li. 53 v.°.
da aula de náutica, por portaria de 23 de Outubro de 1770, a José
(°) Transcrito na Historia dos estabelecimentos scientifieos, literários e
artísticos de Portugal, do Sur. José Silvestre Ribeiro (Lisboa 1871 e s e g ) , tom. 1.»
Monteiro Salazar, como consta de um documento transcrito pelo Sr.
pag. 296.
(*) Na cit. Hist, dos estabel., tom. l.o pag. 300. ( l ) Carta patente de 12 de Maio de 1764, registada no cit. livra da marinha fl.
(') Fernandes Toma/ — Repertório geral das leis extravagantes (Coimbra (*) Citada carta patente.
1815 e Lisboa 1825 — 2 vol. — 2.» edição Coimbra 1834) letra A n.° 1450. (s) Decr. de 2 de Julho de 1761 na colecção da legislação portuguesa do
(") Das contas prestadas pela Companhia vê­se que ela no ano de 1764, o Desembargador António Delgado da Silva, pag. 800.
primeiro do exercício da aula de náutica, dispendeu com esta aula o seguinte : (') Decr. de 9 de Julho de 1774 registado no citado livro da marinha. Pou­
cos meses depois, a França suprimia também os seus guardas marinhas. (Ordon­
Para reedificação da casa da aula . . ■ É>9$449
nance du 22 sept, 1774, cit. em A. Vallet de ViriviHe, Hist de l'instr. publ. en
Por soldos ao lente António Rodrigues. . 137$6O0
Europe, pag. 267).
Ao lente da aula do donativo pelas despe­
( s ) Registado no cit. livro da marinha,
sas que fez na jornada de Lisboa para esta 38$400
(8) C. R. de 24 de Novembro de 1761, dirigida ao governador das armas
Como o lente BÓ foi despachado em 12 de maio, parece que recebeu mais do Porto, registada no citado livro da marinha, fl 5.
do que lhe competia como capitão­tenente; mas pode ser que se lhe mandasse (7) Aviso Régio de 2fi da Novembro de 1761 dirigido á Junta da Companhia
pagar por esta repartição uma parte dos soldos anteriores. das vinhas do Alto­Douro e registado no cit. livro da marinha fl. 1.
4 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO OK1C.KNS 5

José Silvestre Ribeiro na sua Historia dos estabelecimentos seirtilifi­ gio a receita e a despesa (1). Foi, todavia, exceptuada desta ordem a
cos, litterarios e artísticos Se i'urtugal (1). Desse documento se v6 que aula de náutica, assim como o escaler e a provedoria da marinha.
o ordenado do professor era de 16$000 reis por mês, ou 192$000 reis Aquela aula foi expressamente cometida à direcção da Junta da Com­
por ano, quantia que corresponde hoje a 240$000 reis, ou 1:344 fran­ panhia das Vinhas do Alto­Douro, sob a inspecção superior do Erário
cos (8). O primeiro professor, se nato vencia mais do que o soldo da Régio, a que devia prestar conta anual das despesas e progressos da
sua patente, como o diz a sua carta de nomeação, receberia só 180$000 mesma aula ( ). Estas despesas, com as do escaler e provedoria de
reis, como capitiío­tenente (8). marinha, seriam pagas no futuro pelo produto do imposto da décima
À cobrança do imposto, ou (como lhe chamam os documentos) do sobre os dividendos dos accionistas da Companhia (s).
donativo dos 2 por cento, bem como o pagamento das despesas a que Começaram então a correr melhor os tempos para a instrução
era destinado, continuou a cargo da Companhia dos Vinhos. Em pública. A pedido da Junta, criou­se nesta cidade nma aula de
1774, porém, passou a cobrança para a alfandega com obrigação de debuxo e desenho. O decreto de 27 de Novembro de 1779, que a
entregar o seu produto à Junta da Companhia, que continuaria a cor­ fundou, diz que as suas despesas serão pagas, como as da aula de
rer com as despesas a que era destinado (4). náutica, pelo produto dos 2 por cento para a construção das fragatas ;
A idea de que este imposto era um donativo, oferecido pelo co­ e o aviso régio de 4 de Dezembro do mesmo ano (4) chega a dizer
mércio para um fim do qual não podia ser distraído, estava de tal que dos dois princípios régios de onde dimana esta instituição, um é
maneira arreigada no ânimo do Governo, que o seu rendimento, ape­ ■o citado decreto, outro o alvará de 24 de Novembro de 1761, que
sar de exceder muito a despesa, foi ainda por alguns anos religiosa­ foi, como vimos, o que estabeleceu aquele imposto (5). Isto, porém,
mente entregue à Junta da Companhia (5). Em 1778, porém, mandou era uma ficção jurídica, um modo de inculcar que o chamado dona­
o Governo receber os saldos existentes e transferir para o Erário Ré­ tivo dos comerciantes do Porto ainda era aplicado em benefício desta
cidade. Finalmente, o mesmo aviso citado, sem recear contradizer­Be,
nem tratar de conciliar­se, acaba por dar a verdadeira ordem, man­
(') Tom. 1, pag. 301. dando que as despesas desta aula sejam, como as de náutica, satisfei­
(') Antes da lei de 6 de março de 1822 as nossas peças de ouro valiam tas pela décima descontada aos accionistas da Companhia. Era este
61400 reis. Esta lei elevou­aa a 71500 reis e o decreto de 3 de marco de 1847 a o princípio estabelecido, como dissemos.
8(000 rei», valor que lhe foi conservado pela lei de 1854 em vigor. Segundo esta
A referência que o citado decreto e aviso de 1779 faziam à le­
lei, o seu peso é de 14,188 gramas: o seu toque é de 22 quilates ou 916*/3 milés­
gislação de 1761, não deixou de causar na prática alguma confusão.
siuias. Daqui se deduz que um quilograma de ouro fino — 1:090 —— gramas de Com ela argumentou o governador das armas do Porto para susten­
ouro de moeda portuguesa = 76,89 peças. O toque da moeda francesa é de 900
miléasimas, e um quilo de ouro fino igual a 1:111 ­« gramas cie moeda francesa
(') Avisos régios de 14 de Outubro de 1778, 16 de Janeiro de 1779 e 20
4 de Abril de 1792, registados no cit. liv. de marinha, fl. 68 v,, fl 69 e fl. 68 v.
igual a 8:444— francos. (') Cit. Av. 1779 e 1792.
(') Vej a nota 6,a da pag. 2. (a) Cit, aviso régio de 16 de Janeiro de 1779. A décima dos accionistas da
(') Decr. de 27 de Outubro de 1774 e dec. de 3, e aviso régio de 5 de Companhia era cobrada pela sua Junta administrativa (Alvará de 12 de Novembro
Novembro do mesmo ano. Os dois últimos documentos, num dos quais é men­ de 1774 § 9 na colecção de legislação).
cionado o primeiro, acham­se registados no citado livro da marinha­ (*) O cit. decreto e Av. reg. vêm transcritos na Historia dos Estabekcimen­
{*) O seu produto médio anual desde 1762 até 1775 inclusive orçava por tos scient, Ut. e artist, de Portugal, do Snr. Silvestre Ribeiro, tom. 2, pag. 66e67.
42:267$323 reis. No fim de 1774 o excesso do rendimento sobre a despesa mon­ ( ) O aviso régio de 4 de Dezembro de 1779, conforme vem transcrito na
tava a perto de 188 contos que equivalem hoje a 235 contos ou 1.316:000 cit. Hist, dos Eiitabtltcimtntos scientificos, refere­se ao alvhrá de 24 de Novembro
francos. de 1767 e não de 1761, mas é erro tipográfico ou da cApia.
6 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ORIGENS 7

tar a preteosáo de superintender na aula de deBenho, como o tinha local os alunos atraídos pela fama de Francisco Vieira ('), os quais
feito na de náutica. Daqui resultou a suspensão do exercício daquela em verdade chegaram ao número de 120.
aula por algum tempo, até que o conflito foi superiormente resolvido Quanto à índole do ensino nestas aulas, pouco sabemos dos docu-
a favor da Junta da Companhia das Vinhas. mentos que pudemos consultar. A instrução na de náutica era mera-
O próprio decreto que instituiu a aula de desenho lhe deu por mente prática, e completava-se a bordo das embarcações mercantes
«lente» a António Fernandes Jácome, com o ordenado de 16$000 reis que navegavam para os domínios ultramarinos. A princípio os donos
por mês ou 192$000 reis por ano, que corresponde hoje, como já vi- e caixas das embarcações, ou por patriotismo ou por influência da
mos, a 240$000 reis ou 1:344 francos. Junta da Companhia das Vinhas, admitiam à prática da pilotagem os
Este professor foi dispensado do serviço em 1800 {') e substi- alunos de náutica. Depois, como entrassem a recusar-se, o Aviso
tuído por Francisco Vieira, cognominado Portuense, que devia â ilus- régio de 25 de Novembro de 1761, registado na Intendência da Mari-
trada proteção da Junta da Companhia dae Vinhas do Alto-Douro o nha do Porto, impôs-lhes esta obrigação, ordenando que *se não matri-
ter apurado em Roma 9 notável talento com que honrou a arte culasse a equipagem de navio de mais de 150 toneladas, sem que nela
portuguesa. Ao novo professor foi estabelecido o ordenado de (>0Q$000 fosse compreendido algum aulista, legitimado com despacho do Pro-
reis por ano (2) ou 3:750 francos (3). vedor da Junta da Administração da Companhia, para ter no navio o
Francisco Vieira so" entrou em exercício em Junho de 1802, e, emprego e exercício proporcionado à sua aplicação e préstimo, como
tendo-se ausentado temporariamente em Novembro desse ano, foi a sempre se tem praticado». Esta instituição produziu muito bons pilo-
sua cadeira regida até Junho do seguinte por seu pai Domingos Fran- tos (a). O ensino do desenho devia ser apropriado ao curso de pilo-
cisco Vieira, que assina os termos de matrícula durante este período, tagem. Pelo menos parece ter sido este o lado por onde a Junta da
como substituto da aula de desenho. Companhia das Vinhas encarou a utilidade da sua instituição {'). Toda-
As duas aulas de que nos temos ocupado funcionavam no edifí- via o aviso régio de 4 de Dezembro de 1779 justifica a fundação desta
cio do Seminário dos meninos órfãos, 011 Colégio da Graça, circuns- aula pelo desenvolvimento que ia tomando no Porto a indústria fabril.
tância que não deixou de ter influência nos futuros planos da instru- Parece, porém, que se pretendeu imitar a aula de desenho de Lis-
ção pública do Porto. Em 1802, porém, a aula de desenho teve de boa, tratando-se principalmente do desenho de figura. Nos termos
ser mudada para o hospício dos religiosos de Santo António da Pro- da matrícula, lavrada em 1802, cita-se o alvará de 23 de Agosto de
vi ricia da Soledade (*), por se prever que não caberiam 110 antigo 1781, que estabelecera aquela aula, e até se declara que a matrícula
é ordenada pela Real Mesa Censória, que tivera a superintendência
da aula de Lisboa, mas fora extinta em 1787.
(') Aviso régio de 8 de Novembro de 1800, registado no cit. liv. de mari- Animada com os progressos que via nas suas aulas, desejosa de
nha. Todavia foi abonado dos seus vencimentos como lente jubilado até ao fim melhorar o Colégio dos Órfãos da Graça e de empregar em benefício
de Dezembro de 1810. da instrução desta cidade os créscimos do imposto lançado sobre os
(*) Aviso régio de 20 de Dezembro de 1800, regist. no cit. liv., fl. 70.
seus accionistas, a Junta da Companhia das Vinhas dirigiu em 1803
(s) Em 1798 foi criado o papel moeda. Os pagamentos faziam-se metade
em papel e metade em metal. Os 300*000 reis em metal equivaleriam hoje a
375*000 reis, ou 2-100 francos; mas os 3004000 reis em papel sofriam um des- (') Representação da Junta da Companhia das Vinhas de 4 de Janeiro de
conto que variava conforme as circunstâncias. Não sendo possível estabelecer 1803, na Historia dot Estabelecimento» identifico», tomo 2, pag 402 e Editai da
rigorosamente o par da moeda em tais condições, calculámos o franco em todo dita Junta.
o período da duração do papel moeda em 160 reis, que foi o cambio mais usual (*) Cit representação.
naquele período. Cl O Av. Reg. de 16 de Janeiro de 1779 acima citado, diz: iQuaoto ao
(*) Situada na Lameda, depois Cordoaria, e hoje Campo dos Mártires mestre do risco, que a Junta considera ser muito úllil aos aulitta* de pilotagem,
da Pátria. será respondido este artigo em ocaaião oportuna».
8 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

uma Representação ao Príncipe Regente, pedindo uma aula de matemá-


tico, outra de comércio e duas para o ensino das línguas francesa e
inglesa, e propondo os meios para a sustentação destas aulas e para
a construção dum edifício em que elas funcionassem {'). Nos baixos
deste edifício haveria lojas de abóbada para se alugarem em proveito
dos Órfãos da Graça. Deste modo se evitaria (diz a Junta) a neces-
sidade que obriga os alunos dele a pedir esmolas pelas portas, para
poderem subsistir, distraíndo-se por isso da educação e do ensino a
que ali se destinam.
O Seminário dos Órfãos, ou Colégio de Nossa Senhora da Graça,
era um estabelecimento fundado pelo padre Baltazar Guedes em 1051,
para habitação, educação e amparo dos órfãos pobres. Num livro
publicado 14 ou 15 anos antes da mencionada Representação, querendo
engrandecer a importância deste Colégio, diz o Padre Agostinho
Rebelo da Costa que dele saíram, ainda em vida do fundador, 212
órfãos para religiosos, 39 para sacerdotes, 8 mestres de teologia, 6
doutores em cânones e leis, 2 qualificadores da Inquisição e um bispo
(*). No tempo em que este livro foi escrito, havia no colégio mais de
70 órfãos e 28 pensionistas. «Aprendiam latim, musica, náutica e
desenho e outras artes em que muito se distinguiam» (3). A-pesar-do
que diz o autor, consta que a maior parte dos órfãos saíam do esta-
belecimento para o comércio, a navegação e as indústrias, e apenas
alguns, que tinham outro amparo ou que mostravam notável aptidão
para as letras, se destinavam ft vida ociosa ou fts profissões liberais.
A obra citada chamou a atenção do público para este estabelecimento,
e a influência dela sente-se, até no estilo, na Representação da Junta
e ainda mais no alvará de 29 de Julho de 1803, que aprovou os esta-
tutos da Academia Real de Marinha e Comércio.
«Não posso deixar em silêncio {diz o citado autor) a profunda
inadvertência dos portuenses a respeito deste colégio, que, sendo um
monumento de piedade tão interessante ao público, e da conservação

(') Representação de 4 de janeiro de 1803 na Historia dos Estabelecimen-


to» scientificos, litterarios e artísticos de Portugal, tom. 2, pag. 401.
(*) Dtscripção topograhpica e histórica da cidade do Porto, por Agostinho
I). J O Ã O VI
Rebelo da Cos>ta, Porto 1789, pag. 121. (O Snr. Inocêncio no seu Diccion. bibliogr.
cila uma edição de 1788). Fundador dn Real Academia de Marinha e Comércio, de cujo edifício
H Cit. Descrip., pag. 120. se vêem, sobre a mesa, os planos.

Quadro a óleo da Faculdade de Ciências do Porto.


ORIGENS 9

do qual tanto depende o aumento da monarquia, eles mais se empe-


nham em deixar por sua morte muitos mil cruzados às Ordens Tercei-
ras e a outras corporações riquíssimas, do que a este pobre e tão
necessário estabelecimento. Por esta causa, aqueles inocentes meni-
nos são obrigados a assistir aos ofícios de defuntos, a acompanhar oa
enterros, as procissões e a mendigar esmolas, com total distração do
seu estudo, para conseguirem deste modo um pedaço de pio com que
se alimentem» (').
O Príncipe Regente concedeu mais do que se lhe pedira, fun-
dando em 1803 a Academia Real de Marinha e Comércio da cidade
do Porto.
Antes, porém, de nos ocuparmos desta Academia, parece-nos con-
veniente dar uma notícia, embora muito sumiíria, dos estabelecimentos
de Portugal, em que no ano de 1803 se professavam cursos análogos
aos que foram instituídos naquela Academia.

Para o ensino do comércio havia em Lisboa uma aula fundada


em 1756 (2) com estatutos aprovados por alvará de 19 de Maio de
1759 e subordinada à Junta do Comércio. Tinha ao princípio um só
professor para ensinar em curso trienal com lições de 4 horas por dia,
a arimética, os pesos, medidas e moedas nacionais e estrangeiras,
câmbios, seguros, fretamentos, comissões e escrituração por partidas
dobradas. Não se ensinava nem a geografia, nem as linguae vivas.
nem se exigiam outras condições para a matrícula senão a idade de
14 anos e saber 1er, escrever e as quatro operações de números intei-
ros. Os alunos chamavam-se assistentes ou praticantes da aula de
comércio. Havia 20 assistentes que recebiam uma pensão, A Junta
do Comércio podia admitir assistentes supranumerários, com tanto que
não excedessem de 30, porque (dizia prudentemente o estatuto) não
pode abranger a mais de 50 discípulos o cuidado dum só mestre.

(') Cit. Deacripção, pag. 121. O autor desta obra era um do* frequentado-
res das reuniões de Francisco de Almada, corregedor e provedor da comarca do
Porto, presidente do Cofre desta cidade, e nela intendente da marinha, inspector
das obras públicas nas três províncias do norte, etc. etc. V. Apontamento» bio-
gráfico» do Dr. Franciêco áe, Almada e Mendonça, Porto — Tip de Gandra «
Filhos, 1839, folheto de 8 pág.
(') Cap. 1G dos Estât, da Junta do Comércio, aprovados por Alvará de 16
de Agosto de 1756.
10 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ORIGENS 11

Em regra não se admitiam assistentes senão de 3 em 3 anos. Em A frequência deste estabelecimento não era muito numerosa. Em
1801 o ensino foi distribuído por dois professores e o curso tornou-se 1800 foi de 20, em 1801, de 17, e em 1803, de 12 alunos ('); mas
bienal. O primeiro ensinava no 1.° ano a arimética, a álgebra ele- coube-lhe a glória de ter criado o grande pintor Domingos António
mentar e a geometria pelo Compêndio de liezout ; o segundo, as outras de Sequeira, que foi depois director da aula de desenho da Academia
disciplinas acima designadas. Havia também um substituto. A-pesar- Real de Marinha e Comércio do Porto.
-da regra adoptada nos estatutos, o curso de comércio nos anos de Na Real Academia dos Guardas-Marinhas (não na Academia de
1802 e 1803 era frequentado por 303 alunos. Este número foi excep- Marinha) estudava-se em dois anos, juntamente com o 2." e 3.° anos
cional, mas há muitos anos de mais de 150 alunos. matemáticos, o desenho de marinha com um só mestre, que era o
Para o desenho havia em Lisboa uma aula especial, a que já nos mesmo de construção naval prática. Na Academia de Fortificação o
referimos, criada pelo alvará de 23 de Agosto de 1781, que lhe deu * desenho topográfico e de arquitectura militar era ensinado por um
os estatutos, subordinada a princípio à Real Mesa Censória, e, depois professor em lições de uma hora e nm quarto aos alunos reunidos dos
da extinção desta, em 1787, à Mesa da Comissão geral sobre o exame três primeiros anos do curso. Para substituir este professor havia
e censura aos livros, que também foi abolida em 1794, ficando desde dois substitutos (*). No Colégio dos Nobres dava-se um curso de dese-
esta data sujeita à inspecção do Erário Régio. Tinha dois professores nho por um professor especial. Os exercícios de desenho de arqui-
e outros tantos substitutos. Um dos professores ensinava o desenho tectura eram dirigidos por este professor em presença dos professores
de história ou de figura, o outro o de arquitectura. de arquitectura civil e militar e de combinação com eles. Finalmente
O curso para os alunos ordinários abrangia os dois ramos de devia haver uma cadeira de desenho e arquitectura, anexa à Facul-
desenho e durava cinco anos, podendo todavia ser reduzido pela auto- dade de Matemática da Universidade de Coimbra, mas esta não foi
ridade superior em benefício dos discípulos de rara habilidade e que provida até o ano de 1803, nem muitos anos depois.
tivessem alcançado prémios. Admitiam-se alunos extraordinários, que Para o ensino da marinha havia duas Academias quási iguais,
nâo eram obrigados ao rigor do curso, nem à frequência diária das que até alguns documentos parecem considerá-las como um estabele-
aulas. Para a matrícula em desenho de figura, exigia-se que o aluno cimento só; a Real Academia de Marinha, criada por lei de 5 de
soubesse 1er, nâo tivesse defeito de vista e mostrasse nuns oito a Agosto de l"i 7^>, e a'dos gnardas-marinhas pela de 1 de Abril de
quinze dias de exercícios que nâo era falto de aptidão. Para a matrí- 17ÍH5, ambas subordinadas ao conselho do almirantado (s).
cula em desenho de arquitectura exigia-se, além disso, o conhecimento A primeira tinha por destino formar oficiais e pilotos para a
das quatro operações de arimética. O ensino de desenho de figura armada, bem como pilotos da marinha mercante, e habilitar com o
compreendia nâo só" o desenho de figura humana, mas o de diversos curso matemático os alunos que se propunham a seguir os estudos das
objectos da natureza, começando-se pela cópia de estampas e passan-
do-8e à de modelos de relevo. O professor de arquitectura emprega-
ria metade do tempo da aula (a duração das aulas era de 4 horas no
verão e 2 a 3 no inverno) no ensino de arimética e geometria ele- O Halbi, Essai statistique sur le royaume de Portuga! — Paria 1822 — 2
vol., tom. 2, pag. 72.
mentar, e o resto do tempo no das ordens de arquitectura, desenho de
(') O Estatuto de 2 de Janeiro de 1790 estabelece um professor e um
ornato e perspectiva, e das noções indispensáveis sobre a solidez real subalitiito O decreto de 2 de Outubro de 1794 criou o lugar de director da aula
e aparente das construções. Havia três prémios para os alunos ordi- de desenho (cil, na Hist, dos Estabel. teientif, l 2, p. 370). Posteriormente o
nários de desenho de figura e outros três para os de arquitectura. desenho teve maior desenvolvimento na Academia de Fortificação, mas isso não
pertence ao ano a que nos referimos.
Os prémios eram de 30$000 reis, 20$000 e 10$000, e alcançavam-Be
(.".) A principio a Academia Real da Marinha estava sujeita ao inspector
em concurso, sendo os assuntos dados pelo professor respectivo e gra-
geral da marinha. A lei de 26 de Outubro de 1766 passou-a para o conselho do
duando-se a dificuldade dos assuntos, segundo a ordem dos prémios. almirantado.
12 MEMÓRIA HISTÓRICA. DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ORIGENS 13

armas científicas na Academia de FortificaçSo e Desenho, a que muito e manobra nos navios do Estado, ficavam habilitados para serem pro-
depois sucedeu a Escola do Exército. movidos a segundos pilotos ( ).
Na Academia de Marinha havia três professores e outros tantos Para admissão à matrícula na Academia não se exigia mais do
substitutos. O primeiro ensinava arimética, geometria, trigonometria que a idade de 14 anos, pelo menos, e aprovação pelo lente do 1.°
plana e seu uso prático, e princípios elementares de álgebra até as ano na prática das quatro operações ariméticas.
equações do 2.° grau. O segundo, continuação da álgebra, sua aplica- Os professores eram tirados da classe dos substitutos que tinham
ção à geometria, cálculo diferencial e integral, princípios fundamen- acesso por antiguidade relativa. Estes deviam ter completado o curso
tais da estática, dinâmica, hidrostática, hidráulica e óptica. O ter- de cinco anos da Universidade de Coimbra e ter o grau de licenciado
ceiro, trigonometria esférica e arte de navegação teórica e prática. pela mesma Universidade. Eram propostos pelo conselho da Facul-
O curso académico era de três anos para os oficiais e pilotos da ar- dade de Matemática e pelos três professores catedráticos da própria
mada, dos dois primeiros anos para o curso preparatório da Academia Academia.
de Fortificação, e do 1." (excepto a álgebra elementar) e do 3.° anos Das disposições disciplinares nada diremos por agora, porque são
matemáticos para pilotos de navios mercantes. Na designação do 3.° ano
quasi as mesmas que veremos a respeito da Academia do Porto. Só
compreendo, além da cadeira respectiva, a instruçãe nos exercícios
importa dizer que havia a princípio 24 partidos ou prémios para os
práticos do Observatório Real da Marinha, a-pésar-de ser um estabele-
alunos mais distintos, e 12 para os que se preparassem para entrar
cimento independente ('). Os estudantes que tivessem ganho o par-
na Academia de Fortificação. Sobre a frequência do 3.° ano não
tido ou prémio no 1.° e 2." anos e aprovação no 3.° (no qual não ha-
Be dava partido, de maneira que havia 6 para cada um dos dois pri-
via prémio) eram admitidos nos navios de guerra com o uome de vo-
meiros anos ; e como na classe de voluntários da armada não eram
luntários da real marinha, com soldo e comedorias durante o em-
admitidos senão os premiados, o número daqueles voluntários ficava
barque; e sobre as provas que tivessem dado de capacidade e génio
reduzido a 6 por ano.
para a vida do mar, podiam Ber consultados para segundos tenentes
Nesta Academia, aliás notável pelos excelentes professores que
da armada (*). Os alunos aprovados no 1.° ano e matriculados no 2.°,
sempre teve, não havia professores de desenho, nem de línguas vivas,
seriam admitidos até o número de 30, como aspirantes de pilotos da
nem mestre de aparelho e manobra naval, como os veremos na Aca-
armada, com os vencimentos competentes; e depois de concluírem o
curso, e de terem como aspirantes dois anos de prática de navegação demia da Marinha e do Comércio do Porto. Segundo o ideal que se
traduz nas disposições legislativas e nas práticas académicas, este es-
tabelecimento tinha a índole de uma escola politécnica no sentido
francês desta palavra, e tanto que o doutor Ciera, numa informação que
(') A lei da fundação da Academia determinava que junto da aula de nave- deu ao Governo em 1800, dizia que, se nesta Academia fossem estabe-
gação houvesse uma casa para guarda e uso dos instrumentos astronómicos e
lecidas uma cadeira de física e outra de química, ficariam completas
marítimos e um observatório donde se pudesse avistar qualquer parto do céu e
onde estivessem, ou para onde se pudessem transportar os instrumentos para as as habilitações dos seus discípulos para todas as profissões ('). Não é
observações. Este observatório foi transferido para a Ribeira da» Nau» e cons-: pois de estranhar que a víssemos constituir em 1837 como Escola Poli-
lituido num estabelecimento especial pelo alvará de 18 de Março de 1798. Vej.
Hi»t. do» Etlabel. trient., tom. 3o pag. 361.
{") Alvará du 20 de Maio de 1796 na cit. Hiít. do» Etlabel. trient., tom. 2,
pag. 875. Êsle alvará não fala em prémios ou partidos, mas esta condição era {') Lei da fundação da Academia de & de Agosto de 1779, na colecção de
exigida pelo decreto de 14 de Dezembro de 1782, que neste ponlo não foi derro- legislação da Delgado e Res. Reg. de 10 de Fevereiro e 17 de Outubro de 1798 na
gado, e assim se entendeu na prática. Mem. do Dr. Filipe Fnlque, a pág. 61 do muitas vezes citada Hitt do» Etlabel. scient., tom. 2.°, pag. 337 e seg.
apêndice ao 2.° vol. do Inquérito acerca da» reparticõe» de marinha, Lisboa — (') Memoria do Dr. Filipe Folque a pag. 62 do apêndice, 'vol. 2.° do cit.
Imprensa Nacional, 1856. Inquérito àcerea da» repartifõe» de marinha.
14 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ORIGENS 15

técnica de Lisboa. Foi mais um desenvolvimento do que uma trans- por qualquer dos lentes da Academia, suficiente inteligência das qua-
formação. tro regras fundamentais da arimética e da tradução francesa (1).
Ela na verdade não tinha um curso de marinha, nem de guerra, Para os lugares de professores substitutos exigiam-se os precisos
nem mercante. Os voluntários que ela dava à armada iam na quali- graus pela Universidade de Coimbra, ou exame geral do curso mate-
dade de guardas-marinhas extraordinários fazer na Academia destes o mático pela Academia Real de Marinha, ou o curso da própria Acade-
curso de construção, aparelho, manobra, táctica naval e artilheria, sem mia. Os substitutos eram promovidos a lentes por antiguidade.
o que não podiam passar a oficiais ('). Em alguns pontos os estatutos da Academia da Marinha e do
A outra Academia a que acima aludimos, a dos guardas-marinhas, Comércio do Porto referem-se aos estatutos da Academia dos Guardas-
antecessora da que hoje é Escola Naval, tinha em si todo o curso ma- -Marinhas c a estes recorria algumas vezes nos casos omissos o con-
temático que já encontrámos na Academia de Marinha. A princípio selho daquela Academia, preferindo-os aos próprios estatutos da Aca-
ainda havia entre estes dois estabelecimentos diferenças importantes a demia Real de Marinha de Lisboa, que por via de regra deviam ser-lhe
respeito do dito curso, mas na época em que os estamos considerando, subsidiários.
em 1803, aquelas diferenças já tinham sido inteiramente eliminadas (*). AB matemáticas ensinavam-se com maior desenvolvimento na Fa-
A prática do Observatório era aprendida no mesmo estabelecimento culdade de Matemática da Universidade de Coimbra.
em que praticavam os alunos da Academia de Marinha de Lisboa. Pelos estatutos de 1772 tinha esta Faculdade quatro cadeiras, que
eram frequentadas em outros tantos anos. A do 1." ano, denominada
Além dos três lentes e de dois substitutos de matemática havia
de geometria, compreendia elementos de arimética, geometria e trigo-
na Academia dos Guardas-Marinhas um lente de artilharia e dois mes-
nometria plana com aplicação à geometria e estereometria. A do 2.° ano,
tres, um de aparelho, outro de construção naval prática e de desenho.
chamada álgebra, compreendia a álgebra elementar, princípios de cál-
Estes eram os cursos de aplicação que tinham de ser frequentados
culo infinitesimal, directo e inverso, com aplicação ít geometria sublime
pelos voluntários, depois de haverem concluído os estudos matemáticos
e transcendente. A cadeira de foronomia no 3.° ano compreendia a
da Academia de Marinha. Os aspirantes a guardas-marinhas estu-
ciência geral do movimento com a sua aplicação a todos os ramos de
davam-os juntamente com as aulas de matemática; no primeiro ano
foronomia, que constituem o corpo das ciências físico-matemáticas.
aprendiam o aparelho do navio e manobra; no 2.°, desenho de marinha
A de astronomia no 4.° ano tratava da teoria do movimento dos astros
e noções de construção; no 3.° continuavam com o desenho e estu-
tanto física como geométrica e da prática do cálculo e observações
davam artilharia.
astronómicas. Foi nesta cadeira que por muito tempo os alunos de
Os guardas-marinhas saíam da classe dos aspirantes, por promo-
matemática se aperfeiçoavam nas teorias mais sublimes da análise (').
ção que se dava, logo que estes tivessem obtido a aprovação no l."
A estas cadeiras foram acrescentadas duas em 1801 (3), uma de
ano. A admissão à praça de aspirante dependia das seguintes condi-
astronomia prática, outra de hidráulica.
ções: idade de 15 a 17 anos, ter o foro de fidalgo por si ou por seu
E inútil falar da cadeira de arquitectura e desenho anexa a esta
pai ou mãi, ou ser filho de capitão de mar e guerra, ou de coronel do
Faculdade nos termos dos Estatutos, porque, como já observámos, não
exército, senão de maior patente, e mostrar por uma atestação, passada
teve professor senão muitos anos depois do de 1803.

(') Decr. de 13 da Novembro de 1800 na colecção de legislação de Delgado. (') Estatutos da Acad. dos Guardas-Marinhas de 1 de Abril de 1796; decr.
(') Res. Reg. de 14 de Dez. de 1779 publicada no Edital de 8 de Janeiro de de 14 de Dezembro de 1782; decr. de 3 de Novembro e Reg. de 19 do Dezembro
1800 na colecção de legislação de Delgado. O laborioso autor da Hist dos Esta- de 18Û0.
bel. scient-, tom. 2.°, pag. 421, traz a citada Res. como de 20 de Outubro ; mas esta (') Sor. Castro Freire. Mtm. hist, da Fac. de matem- de Coimbra, 1872, pag. 45.
é talvez a data da consulta. 0 cit. Edital é o mesmo que o dito autor menciona (') Carta régia de 1 de Abril de 1801.
a pag. 422 com o titulo de decreto.
16 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ORIGENS 17

O curso da Faculdade de Matemática não se limitava às cadeiras à sorte, dois dias antes do exame, quatro pontos sobre que eram argu-
privativas da Faculdade. Nos seus 1." e 2.° anos deviam os alunos mentados por quatro lentes sobre a presidência de um outro lente es-
dela frequentar a história natural e a física experimental, que em colhido pelo candidato. O bacharel formado, que aspirasse a maiores
1803 se ensinavam no 1," e 2." anos da Faculdade de Filosofia (1). graus (o de licenciado e o de doutor), era obrigado a frequentar mais
Em 1803 a distribuição legal do curso matemático na Universi- um ano, tornando a ouvir as lições de mecânica e astronomia teórica
dade era o seguinte: (1.* cadeira do 3.° e dita do 4.° ano). No fim deste ano, que era então
1." ano : cadeira de geometria (compreendendo as matérias acima o 5.° do curso, defendia publicamente teses da sua escolha, contra oito
designadas) — História natural do 1.° ano da Faculdade de Filosofia ('). doutores que lhe serviam de argiientes na presença da Faculdade.
2." ano : cadeira de álgebra (como acima).— Física experimental Depois deste acto, que se chamava de repetição, seguia-se o exame
na Faculdade de Filosofia. privado, a que só assistiam os lentes e substitutos da própria Facul-
3.° ano: 1." cadeira—Estática, mecânica, óptica e acústica. 2." dade e o reitor da Universidade. Sendo aprovado, era-lhe conferido
cadeira — Hidrostática, hidráulica, observações práticas sobre constru- o grau de licenciado, o qual o habilitava para receber o de doutor.
ção das obras hidráulicas, descrição e uso das máquinas empregadas Esto último grau não dependia de novo exame. Era uma simples for-
nestas obras, â vista de modelos ou de estampas. malidade, assaz dispendiosa para o doutorando.
4.° ano : 1.* cadeira — Teoria de astronomia, física e geométrica, Na Faculdade de Matemática, assim como na de Filosofia, admi-
levando as disciplinas pelo fio da análise até os últimos descobrimen- tiam-se três classes de alunos: ordinários, obrigados e voluntários.
tos das desigualdades seculares; 2.* cadeira — Trigonometria esférica Pertenciam à 1." classe os estudantes que pretendiam formar-se ou
e sua prática, cálculo de tábuas astronómicas, construção e uso dos graduar-se na própria Faculdade ; à 2.", os que eram obrigados a fre-
instrumentos astronómicos e prática das observações. Os estudantes quentar alguma parte do curso matemático como preparatório para
praticavam no observatório, que estava bem provido e organizado e outras Faculdades; à 3.a, os que apenas desejavam estudar para sua
era sabiamente dirigido, servindo tanto para o ensino prático como própria instrução. Os actos dos alunos da 2.a destas classes eram
para o cálculo das efemérides, e para as observações próprias dos es- menos rigorosos. Os voluntários podiam passar para qualquer das
tabelecimentos astronómicos (8). outras classes a todo o tempo que o desejassem, fazendo os exames e
Aos estudantes aprovados no 4.° ano conferia-se o grau de bacha- apresentando certidão dos preparatórios legais. Eram condições para
rel. Se queriam ser bacharéis for/nados tinham de fazer novo acto ou a matrícula dos ordinários a obrigados a idade de 15 anos pelo me-
exame geral sobre as matérias matemáticas de todos os anos, tirando nos, e aprovação em latim e filosofia racional, bem como a prova de
expeditos na prática das quatro operações fundamentais. Aos volun-
(') Pelos estatutos, eslas disciplinas esludavam-se no 2.o e S.o anos da tários só era necessária esta última prova. No ano da graduação exi-
filosofia; no 1° ano ensinava se a filosofia racional o moral, que posteriormente gia-se também o exame de grego, que sempre foi muito superficial.
passou para o Colégio das Artes (Liceu de Coimbra). A carta régia de 24 de Os estatutos recomendavam muito a inteligência das línguas riras da
Janeiro de 1791 criou a cadeira de botânica e agricultura; mas outra carta régia Europa, principtãincnte da inglesa e francesa, mas não obrigavam à
de 21 de Janeiro de 1801 mudou novamente a botânica para a cadeira de história
natural, na forma dos estatutos, e criou a cadeira de metalurgia para a qual
frequência nem ao exame destas línguas (').
transferiu a agricultura. Esta parece que era a situação legal em 1803, mas é
certo que no ano de 1811 a 1812 a botânica era ensinada com a agricultura no
3.» ano (Hint, dos estabel. scient., t. V, pég. 129).
(*) Pelos estatutos, o observatório era apenas uma escola de ensino prá-
tico. A carta régia de 4 de Dezembro de 1799 elevou-o à altura de um verda-
deiro estabelecimento astronómico. (Snr. Castro Freire, cit. Mem. hist, da Facm (') Estât, da Univ., (Lisboa, H cg. ofic tipogr. 1773 — 3 vol.), parte 2», tit.
de Mat., pág. 44. Vej. a cit. Mem. a pág. 95 e seg). 2, cap. 3, § 4 no 3.° vol.

UNIVERSIOACE D3 PQf. 0
FACULDADE 0 1 CiÊ - I .S
BIBLIOTECA
18 MEMÓRIA HISTÓRICA 1>A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Para completarmos a notícia dos estabelecimentos, em que se


professavam cursos análogos aos da Academia Real de Marinha e
Comércio do Porto, necessitaríamos ainda de examinar a organização
do ensino da agricultura, das línguas vivas e da filosofia racional ;
mas ganhar-se-á em brevidade, som se perder cm clareza, deixando estes
pontos para os lugares em que tivermos de nos ocupar daqueles ra-
II
mos dos estudos da Academia.
ACADEMIA REAL DA MARINHA E COMÉRCIO
DA CIDADE DO PORTO

(1803— 1837)

As aulas que a Junta da Companhia Geral da Agricultura das Vi-


nhas do Alto-Douro pediu na Representação que já" mencionámos, de
4 de Janeiro de 1803, limitavam-se a quatro, que eram uma de mate-
mática, outra de comércio, e duas das línguas francesa e inglesa, para
acrescentar ta duas que já havia no Porto, de náutica e desenho.
A Junta propunha-se a organizar bem os dois cursos de pilotagem
e de comércio. E verdade que, referindo-se à aula de matemática,
não a inculca so* como útil ao aperfeiçoamento destes cursos, mas tam-
bém como proveitosa aos «militares da guarnição desta cidade, aos ar-
tistas e a tôdas as mais pessoas, cujas profissões requerem o conheci-
mento desta ciência». Nestas palavras se antevê a idea moderna,
ainda hoje mal definida, do ensino secundário especial. Igual idea
domina o discurso da Junta, quando, para mostrar a vantagem do en-
sino das línguas vivas, diz que «muitas obras, que se acham escritas e
se vão escrevendo em matemática, em comércio, em agricultura, em
fábricas e em navegação, é no idioma francês e inglês». Assina a Junta,
adiantando-se a quási toda a Europa, fundava o ensino preparatório
da educação industrial. Todavia o ãcu principal fim era criar os dois
cursos de aplicação, que mencionámos, constituindo ao mesmo tempo
a instrução preparatória e a técnica destes cursos (1).
Pedindo que estas quatro aulas se estabelecessem no Colégio dos
< >rfãos, onde já funcionavam as de náutica e desenho, «para principiar

(') Vej. a Representação da Junta na já oit Hist, dos Estabel. scient., t. Il,
|>ág 401.
20 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL 1>E MAHINHrt E COMÉRCIO 21

o aproveitamento pelos miseráveis órfãos», mostrava a Junta o seu tino nesta Academia mais completos, como o deve ter conhecido o leitor, se
prático, porque tinha naquele Colégio uma população certa para a fre­ acaso nos acompanhou até este ponto, e como adiante se verá melhor.
quência do novo estabelecimento, sem correr o perigo de lutar com a Também esta Academia era com razão considerada como o nosso pri­
indiferença ou com os hábitos de uma ignorância tradicional. meiro estabelecimento de instrução pública, depois da Universidade
Deferindo ao pedido da Junta, o Governo determinava, no alvará de Coimbra, e na ordem cronológica pertence­lhe um dos primeiros
de 9 de Fevereiro de 1803, «que na cidade do Porto se erigissem lugares entre os institutos de ensino secundário especial c do superior
aulas de matemática, de comércio, das línguas inglesa e francesa, para técnino da Europa.
governo das quais (dizia o citado alvará) mandou formar estatutos A idea de faculdade transparece às vezes nos seus estatutos.
próprios» {'). Neste último ponto se desviava o alvará da Represen­ Assim, o artigo 40 fala em alunos «que houverem de seguir e cultivar
tação da Junta, a qual pedia que as aulas fossem reguladas pelos esta­ as matemáticas por elas mesmas». Para estes, assim como para os
tutos das que se achavam estabelecidas na Corte, e das quais demos que pretendessem aplicar os conhecimentos adquiridos na Academia a
notícia. fins diversos do da navegação, exigia­se o curso de filosofia racional
Não parou, porém, o Governo neste primeiro passo. Pelo alvará e moral, como para OH que aspiravam a frequentar as matemáticas na
de 29 de Julho do mesmo ano, e pelos estatutos da mesma data, criou Universidade (art. 10, comparado com os art. 27 e 38), O art. 46 até
um curso de matemáticas igual ao das Academias, Real da Marinha de parece admitir graus quando diz: «não poderá ser consultado para
Lisboa e dos Guardas­Marinhas, e acrescentou, às aulas já criadas pelo lente ou substituto da Faculdade de Matemática ou Filosofia e Agricul­
alvará anterior de 9 de Fevereiro, uma de filosofia racional e moral e tura o que níío tiver o grau de licenciado pela Universidade de Coim­
outra de agricultura, esta porém para ser provida quando as circuns­ bra ou para o futuro por cs(<t Academia». O artigo 22 manda fazer
tâncias o permitissem. Cada uma destas cadeiras, excepto a última, no fim do curso matemático um exame geral como o da formatura de
teriam um lente e um substituto. Subordinado ao lente de navegação matemática da Universidade, e por fim o alvará de 1H de Agosto de 1825
(3.° ano matemático) haveria um mestre de aparelho e manobra naval, introduziu um ano de repetição, uma defeza de teses e um exame pri­
como na Academia dos Guardas­Marinhas. Enfim (alguns meses depois vado, à imitação do que se exige aos licenciados da Faculdade de Mate­
dos estatutos) a aula de desenho foi montada com tal pompa, que o mática da Universidade. Não faltam cartas régias de despachos para
seu director num discurso inaugural lhe chamou «academia de dese­ lentes da «Faculdade de Matemática da Academia». Todavia, este es­
nho e pintura» (2). tabelecimento nunca disputou à Universidade o exclusivo de conferir
No novo estabelecimento encontra­se claramente delineado o graus científicos, e o que se prova dos artigos citados é que os legis­
plano, embora muito incompleto, dum instituto politécnico no sentido ladores não tinham ideas claras a respeito da diferença ainda hoje
alemão desta palavra. muito questionada entre as Faculdades e as Escolas de habilitação e de
Esta Academia concentrava em si todos os cursos, quer prepara­ aplicação.
tórios quer de aplicação industrial, que em Lisboa se achavam repar­
tidos por diversos estabelecimentos; e em geral estes cursos eram O curso matemático da Academia era repartido em três anos e
compunha­se das três cadeiras seguintes :
(') Cit. Alvará na coleção da legislação lie Delgado. 1." cadeira (1.° ano) — arimética, geometria, trigonometria plana,
(") Discurso feito na abertura da academia de desenho t pintura na cidade seu uso prático e princípios elementares de álgebra até its equações do
do Porto, por Francisco Vieira Junior, primeiro pintor da C amará e C orte e lente
2.° grau inclusive.
da mesma academia. Por ordem de sua alteza real. — Lisboa 1803 — transcrito
na Hist, dos Estabel scient., vol. HI, pág. 24. O cit. A. julga que este discurso 2." cadeira (2.° ano) ■— continuação da álgebra, sua aplicação à
foi recitado em 1802, e algumas razões há a favor desta opinião; mas parece que geometria, cálculo diferencial e integral ; princípios fundamentais de
foi em 1803, como veremos. estática, dinâmica, hidrostática, hidráulica e óptica.
22 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO l'ÙRTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 23

3." cadeira (3.° ano) — trigonometria esférica e arte de navegação


da arimética, como na Academia de Marinha de Lisboa, a aprovação
teórica e prática, seguida das noções de manobra e do conhecimento e
em francês, como na Academia dos Guardas-Marinhas, obtida porém
uso prático dos instrumentos astronómicos e marítimos. Ao professor
num exame mais solene do que se requeria neste último estabeleci-
desta cadeira estava subordinado, como dissemos, um mestre de apa-
mento (1). E para o curso completo de matemática exigia-se ainda a
relho e manobra naval, matéria que se não estudava na Academia de
aprovação em filosofia racional e moral e em inglês (*). Além disso,
Marinha de Lisboa e que os voluntários da armada tinham de apren-
havia nesta Academia o ensino de desenho, que fazia parte do curso
der na dos Guardas-Marinhas, depois de concluído o curso matemá-
completo (s).
tico daquela Academia.
Portanto, a Academia do Porto dava uma instrução mais com-
No mais, os cursos matemáticos destas três Academias eram in-
pleta do que os estabelecimentos análogos da Corte. Todavia, os seus
teiramente iguais; e o decreto de 3 de Novembro de 1825, «conside-
alunos não gozavam das mesmas vantagens. A sua superioridade
rando a analogia, ou antes identidade, tanto das disciplinas que se
apenas lhe servia para justificar a igualdade em alguns direitos; e o
aprendem, como do método de ensino que se acha adoptado nas Reais
amor do privilégio é tSo vivaz, que ainda hoje dura, e muito mais aceso,
Academias de Marinha estabelecidas na capital (') e na cidade do
na Escola Politécnica, sucessora da Academia Real de Marinha de
Porto», mandou que aos alunos das duas referidas Academias, que de-
Lisboa.
sejassem prosseguir na outra os seus estudos, se lhes levassem em
conta os anos em que tivessem sido aprovados, sem que fossem obri-
C/irso de pilotagem, Havia duas espécies de cursos de pilota-
gados a repetir os exames.
gens, o curso simples e o curso completo. Ambos eles se compunham
Antes desta determinação, já o conselho da Academia do Porto
de duas partes : uma, a que poderemos chamar académica (porque não
havia resolvido que os discípulos da Academia de Marinha de Lisboa
seria exacto dar-lhe o nome de teórica) ; outra, prática, A diferença
pudessem continuar na primeira o seu curso matemático, uma vez que
entre estes dois cursos estava só na primeira parte. Eram prepara-
tivessem os preparatórios legais (').
tórios comuns a qualquer deles um exame sobre as quatro operações
Pareceria, pois, que a índole dos dois cursos era exactamente a
fundamentais da arimética, perante o lente do 1.° ano matemático, e
mesma. Todavia, ao passo que na Academia de Lisboa dominava,
o exame de francês, feito com as formalidades dos exames, chamados
como já observámos, o ideal dum estabelecimento de habilitação, pre-
menores, da Academia. Para o curso completo exigia-se mais a filosofia
valecia no Porto o carácter dum instituto ao mesmo tempo prepara-
racional e a língua inglesa (4), mas na prática esperava-se por estes
tório e de aplicação, sendo que em 1819 resolveu o conselho desta
exames até à conclusão do curso ou ainda depois, de maneira que as
Academia que os discípulos da 3." cadeira de matemática não fossem
duas mencionadas disciplinas quási tanto se podem dizer preparatórias
admitidos a exame sem terem sido aprovados em aparelho e mano-
como complementares (5).
bra naval (3).
O curso simples de pilotagem reduzia-se ao l.° e 3." anos mate-
Para admissão no 1." ano matemático da Academia do Porto,
exigia-se, além de um exame sobre as quatro operações fundamentais

(') Estatutos da Academia R. da Mar. e Com. da cidade do Porto de 29 de


(') Não se trata da Academia dos Guarda*-Marinhas, porque, a-pesar-de se
Julho de 1803, artigos 6 e 9. Só no primeiro triénio, isto é, até o ano do 1805 a
dar nela a mesma razão de identidade do curso matemático, era, como rimos,
1806, era dispensado o preparatório do francas ; mas ainda assim os alunos eram
tima instituição aristocrática, que não se queria equiparar com os estabelecimen-
obrigados a dar conta deste exame durante o curso.
tos plebeus.
O Cit. Estatutos, art. 10.
(') Livro n.o 91 das actas — Acla da sessão de 30 de Junho de 1821, ti 9 v.
<;') Idem, art. 88,
O Acta da sessão do 21 de Junho de 1819, livro 93, ti. 21, eoolirmadu na
(') Estatutos de 1803, §§ 9 e 10.
sessão de 8 de Julho, de 1824, livro 91, II. 17.
( ) Esta prática tinha fundamento no parágrafo 23 do citado estatuto.
21 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO WS

máticos, aparelho e manobra naval e desenho de marinha (1). O curso de Lisboa era imperfeitíssimo com relação ao da Academia do Porto :
completo tinha a mais o 2." ano matemático e os preparatórios ou não tinha aula de aparelho e manobra, nem de francês, muito menos
complementos hfí pouco enumerados (*). a de inglês, nem desenho, nem álgebra elementar, nem era completado
A parte prática dos cursos de pilotagem, quer simples quer com- pela prática da navegação. Na verdade, os Estatutos da Academia
pleta, consistia num certo número de viagens aos portos do Brasil e Real de Marinha de Lisboa dispunham : «quanto aos pilotos que qui-
do Báltico. No regresso de cada uma destas viagens, os autistas de- serem unicamente destinar-se a servir nos navios mercantes, ouvirão
viam apresentar ao lente do 3." ano matemático nina derrota circuns- as lições de arimética, geometria plana e esférica e navegação ; e apre-
tanciada contendo as observações que tivessem feito sobre as variações sentando certidão de terem sido aprovados no exame geral dos ditos
da agulha, latitudes e longitudes dos lugares por onde haviam passado, dois anos, e requerendo patente de pilotos, o lente da navegação lha
assim como os configurações das costas, portos e ilhas que tivessem mandará fazer pronta, sendo assinada com o seu nome e firmada com
avistado, e finalmente uma descrição hidrográfica. O lente examinava o sClo da Academia Real» ('). Também a igualdade de que tratam os
as derrotas e dava sobre elas o seu voto, dirigindo tudo em carta fe- estatutos da Academia do Porto, parece referir-se ao curso de pilotos
chada ao secretário da academia. Depois de três destas viagens, po- da armada, para os (piais era necessário todo o curso matemático.
diam os aulistas tirar as suas cartas de sota-pilotos. Para obterem
a de pilotos precisavam de mais duas viagens com os mcaraoe requi- Curso de eomérctO. Segundo os estatutos de 1803 este curso era
sitos. As cartas eram passadas pela Junta da Companhia (3). bjenal ; mas para se matricularem nele precisavam os alunos de ter
Para as viagens de instrução prática os alunos podiam requerer os exames do 1." ano matemático e das línguas francesa e inglesa (2).
à Junta da Companhia das Vinhas que os mandasse admitir nos na- Os exames das línguas vivas deviam ser mais rigorosos para os alunos
vios de 150 toneladas para cima que navegassem do Porto para o de comércio, aos quais se exigia o «"perfeito conhecimento delas», ao
Brasil ou para o Báltico. A Cases alunos seriam ministrados todos passo que para os outros cursos bastava que os alunos as tivessem
os meios próprios para as observações de que tinham de dar conta «aprendido suficientemente» (3).
nas suas derrotas. No caso de concorrência (porque cada navio não O curso bienal de comércio era regido por um só professor, porque
tinha obrigação de levar mais de um aluno) eram preferidos os que o substituto só entrava em serviço da aula no impedimento do pro-
tivessem o curso completo de pilotagem (4). prietário. Em 1819, porém, o substituto prestou-se a reger uma das
Os sota-pilotos e pilotos, munidos com as cartas passadas pela aulas, e então decidiu-se que pudessem os alunos ser admitidos anual-
Junta da Companhia, podiam exercer a respectiva profissão em quais- mente sem dependência da conclusão do curso, como até então se havia
quer embarcações e portos destes reinos, «entrando pela igualdade de praticado (4). No 1.° ano do curso ensinavam-se os princípios e as
circunstâncias no mesmo paralelo e concurso dos discípulos da Aca- doutrinas doa contratos de seguros, de cambio, de fretamentos, de
demia Real de Marinha de Lisboa; pois não é da intenção de sua Al- compra e venda, de comissões, etc. (5). No 2° ano, escrituração por
teza Real que entre uns e outros se suponha diferença alguma* (Cit.
Estai S 26). Isto não era grande favor, porque o curso da Academia
('I Estât, da acad. real da marinha de 5 de agosto de 1779. Não mencio-
nam a álgebra elementar, que estava no 1." ano. Os Est. da Acad. Heal dos (luar-
C) Os Estatutos não exigiam expre»S»mtS0te o desenho para o curso sim- das-Marinhas tinham a álgebra elementar no 2 o ano, o que depois foi alterado.
ples de pilotagem; mas parece que sempre foi considerado como disciplina neces- (»1 Estât de 1803, §§ 11) e 42, e Edital de 1818.
sária ao curso de náutica. (3| Estât, de 1803, art. 10; mas na prática não se fazia diferença entre os
(') Cil. Estatutos, art. 10 e 23. examinandos de línguas vivas.
<"> Cit. Est. §g 24, 25, 53 e 54. {*) Sessão de 19 de outubro de 1819 no respectivo Liv. das Actas, fl 22.
O Estât, de 1803. §§ 83, 24 e 53, e avis. réf. de 25 de Nov. 1781, cit. (al Assim o disse por incidente, numa alegação avulsa de 13 de Dezembro
supra pug. 99. de 1811, o professor do comércio, tratando uma questão, que durou anos, sobre
o modo ne se conferirem os prémios aos alunos desta aula.
26 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA ti COMÉRCIO 37

partidas dobradas, geografia histórico-comercial, direito mercantil pá- gavam-o a observar cada ano um curso completo, compreendendo os
trio e das nações com quem Portugal tem maior comércio (cit. Est. de diversos ramos de desenho, «de maneira que faça públicas as obras
1803, §§ 42 e 43, e E s t da aula de comércio de Lisboa de 19 de Abril da arte, assim naturais como de arbítrio e de convenção, explicando
de 1759, aprovados por alvará de 19 de Maio do dito ano, §§ 12 a 15). distintamente os princípios de perspectiva, o modo de preparar as tin-
Este curso era muito mais completo do que o da aula de comér- tas e de dar as aguadas» (S 30). Atendiam, porém, especialmente ao
cio de Lisboa, que não ensinava as línguas vivas, nem a geografia, nem desenho topográfico e de marinha, determinando que o professor ensi-
o direito mercantil pátrio e comparado, mas só" alguns ramos dele. nasse «mui positiva e eficazmente o desenho de marinha, fazendo co-
Para animar a frequência, a Junta da Companhia das Vinhas do piar e reduzir plantas de cartas, baías, enseadas e portos, represen-
Alto-Douro, que empregava um numeroso pessoal nas suas vastas e tando vistas de ilhas, cabos e promontórios, e também a de navios
variadas administrações, obrigava-se a preferir para os serviços da considerados em diferentes posições e manobras, e que ultimamente
contadoria os alunos da aula de comércio deste estabelecimento (cit. habilitasse os seus discípulos na praxe do ensino das cartas geográfi-
Est., 1803, S 51), A-pesar-disso este curso, depois de passado o pri- cas e topográficas» (§ 31). O professor dirigia os seus alunos aos
meiro triénio ('), que se abriu com 84 alunos, teve sempre uma fre- terrenos e posições em que melhor os pudesse costumar a * estudar de
quência pouco numerosa, H a 12 alunos, termo médio. O preparató- perto a natureza e a imitá-la quanto possível fosse, nas cópias «las
rio da 1." cadeira de matemática afastava-lhe muita concorrência, por- variadas perspectivas c objectos que oferece» (S 35). Os alunos
que as matérias eram ensinadas num só ano e cientificamente, em vez deviam ser divididos em turmas, para que não se embaraçassem nos
de o serem em dois ou três anos numa série de exercícios práticos, seus exercíeios e a todos tocasse o fruto das lições (>; 3»i).
como convinha a estudantes do curso de comércio. Além disso, como De uma polémica travada desde 1805, mas mais desenvolvida-
até 1819 este curso era rigorosamente bienal, só eram admitidos novos mente em 1811,,sobre a votação dos prémios, vê-se que os estatutos
alunos de dois em dois anos, e esta circunstância não deixava estabe- eram diversamente interpretados a respeito da índole do ensino do de-
lecer uma concorrência regular.
senho. Os lentes de matemática entendiam que este ensino se devia
A principal utilidade que a Academia prestou à maioria dos nego- fazer todo num só ano e que o seu principal fim era despertar as
ciantes que a frequentaram proveio das aulas de francês e inglês, que vocações dos alunos.
regularmente contavam muitos alunos. Todavia, o curso de comércio Aqui podiam ventilar-se duas questões — uma de direito, outra
não deixou de fazer serviços importantes, generalizando, já directa- de facto. Como deveriam entender-se os estatutos ? Como eram eles
mente, já por intervenção dos seus alunos, os conhecimentos comer- na realidade aplicados pelos professores, que tinham a seu cargo exe-
ciais, especialmente o da escrituração, cujos processos, hoje quási tri- cutá-los ?
viais, eram então geralmente ignorados. Quanto ã primeira questão, não há dúvida que os estatutos obri-
gavam o professor a dar cada ano um curso de todos os ramos de
Curso de desenho. Os estatutos de 1803 impunham ao profes- desenho. Mas daqui não se segue que os alunos fossem obrigados ou
sor respectivo a obrigação de apropriar as lições e regras do desenho autorizados a concluir num só ano o curso de todos esses ramos. Pelo
às profissões a que os alunos se destinavam (S 28). Para isso obri- contrário, os estatutos parecem ter por fim abrir cursos especiais aco-
modados as profissões a que os alunos se destinavam, Assim, os dis-
cípulos de pilotagem, por exemplo, estudariam o desenho de marinha :
(') A aula lie comércio não deveria ter-se aberto senão no 2.° ano de ins"
os que se dedicassem ãs construções, o desenho de arquitectura ; outros,
tituïçâo da Academia, isto é, no de 1804 a 1805, porque o l.o matemático servia-
-1 tie de preparatório. Todavia entrou em exercício logo no de 18H3 a 1804, de o desenho artistíco, a pintura, etc.
maneira que o to curso de comércio foi trienal, ensinando o professor de comer. O modo como foi montado este ensino prova que se deu particu-
cio em 18u3 a 1804 as matérias próprias do 1." ano matemático. lar atenção ao desenho artistíco, sem se excluírem os outras ramos.
28 MEMÓRIA HISTÓRICA HA ACA11EM1A POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DC M A R I N H A E COMÍ.RC10 2d

mormente o de marinha, que mereceu aos redactores dos estatutos Em confirmação do que dizemos, ainda hoje há na Academia
mais minuciosa descrição. obras de merecimento de muitos alunos dela. Alguns frequentaram a
Na verdade, além do lente e substituto da aula de desenho no- aula durante 4, 5 e até 7 anos. A maioria, porém, dos discípulos
meados por cartas régias de 18 de Outubro de 1803, em conformi- ordinário* vencia o curso num ano.
dade com os estatutos, outra carta régia da mesma data nomeou para Para a matrícula neste curso exigia-se a frequência e aprovação
director desta aula, com o ordenado de u'00$000 reis, a Francisco da 1.* cadeira de matemática, o que reduzia muito o número dos alu-
Vieira, que j;í conhecemos como professor antes do estabelecimento nos de desenho, como sucedia ao curso de comércio. Admitiam-Be,
da Academia de Marinha e Comércio. Os estatutos não mencionam porém, alunos extraordinários, à imitação do que permitiam os esta-
este cargo; e uma consulta de 7 de Janeiro de 180<>, em que a Junta tutos da aula de desenho e arquitectura de Lisboa. A estes não se
propunha a Domingos de Sequeira para sucessor do dito Francisco exigia preparatório algum, mas por via de regra não eram matricu-
Vieira, falecido no ano antecedente, mostra que este cargo era provi- lados na secretaria académica, e por isso não figuram na nossa esta-
sório e aconselhado pela conveniência de ser bem dirigida esta aula tística.
no seu começo. Todavia, o cargo existiu até A sua supressão em (> de
Novembro de 1 1821, confirmada pelo decreto de 13 de Outubro de Curso de agricultura. A cadeira de agricultura não é mencio-
1824, art. 4, e ainda alguns anos depois vemos nomeado para êle, em- nada nos estatutos, salvo no § 56. Foi criada pelo alvará de 29 de
bora por um governo ilegítimo Augusto Iioquemont, por' carta régia Julho de 1803, que aprovou os mesmos estatutos para ser provida
de 28 de Novembro de 1881. Os dois primeiros directores tinham «quando as circunstâncias o permitissem», o que só aconteceu por
ama reputação europeia como pintores e não podiam deixar de impri- virtude da carta régia de 3 de Outubro de 1818, que lhe deu por
mir no eiiRino o cunho do seu génio artístico. O primeiro lente de lente o Dr. Agostinho Albano da Silveira Pinto.
desenho, depois do estabelecimento da academia, foi José Teixeira A Junta inspectora havia pedido reiteradamente ao grande botâ-
Barreto, pintor e gravador, que, depois de jií ter nome de artista, ha- nico português Félix de Avelar Brotero, que se encarregasse de ensi-
via estudado em Roma com José Cades e Ganlieraux, pintor de his- nar a agricultura, e ofereceu-se a comprar terreno para as experiên-
tória. O substituto da aula foi Raimundo Joaquim da Costa, aluno cias e a ministrar-lhe os instrumentos e máquinas necessárias (1). Bro-
da aula de desenho e arquitectura de Lisboa, onde alcançara fí pré- tero não pode aceitar o convite ; e, quando foi nomeado o Dr. Agos-
mios. Mestres como estes deixam bem perceber qual seria a direcçãc tinho Albano, não podia a Junta inspectora dar a este distinto pro-
do ensino do desenho no seu tempo. O seu notiível discípulo e suces- fessor os meios que oferecera a Brotero, porque então as despesas da
sor no magistério, João Baptista Ribeiro, seguiu-lhes o exemplo, con- Academia excediam muito as forças da sua dotação.
tinuando as tradições dos seus mestres alguns anos ainda depois da Não encontrámos regulamento ou disposição alguma a respeito da
transformação da Academia de Marinha e Comércio em Politécnica. organização deste curso. Não lhe podia ser aplicado o programa da
A idea que Francisco Vieira ligava a este curso revela-se clara- Faculdade de Filosofia da Universidade, único estabelecimento em que
mente no simples título do opúsculo que publicou em 1803: — * Dis- então se ensinava a agricultura, porque havia nela cadeiras subsidiá-
curso feito na abcrtimi da academia de desenho e pintura na cidade
do Porto por Francisco .lost' Vieira Jtntiar, primeiro pintor da mottrra que, DOS termos da matrícula da atila de desenho, Francisco Vieira assioa-se
e corte, e lente do mesma aeadçmio* {'). Júnior até outubro de 1802; e desde novembro de 1803 o sou nome aparece sem
este distintivo. Ma* o título pomposo de academia de desenho e pintura não qua-
drava à modesta aula de desenho anexa » de náutica, nem aquela aula fóta lua-
O A circunstancia de se denominar lente em vez do director parece justi- tituida por D. João VI, a quem Vieira no seu discurso atribui a criação da Academia.
ficar a opinião do Snr. Silvestre Ribeiro, de que êsla discurso foi proferido em 10 (') Hrotero, Reflexões sobre a agricultura de Portugal, nag Mem. da Acad-
de Junho de 1802 (Hist dos Estub. scient, tomo 3.°, pág. 2'à e 24). A isto acresce Real das Scienc. de Lisboa, tom. IV, Parte 1.» (1815).
30 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO 1 ' Ò R T O ACADEMIA REAL 1)1 MARINHA E COMÉRCIO 'li

rias, que faltavam à Academia, a de zoologia e mineralogia no 1.° ano, Em 182!) o governo ilegítimo de D. Miguel demitiu com vários
de física experimental no 2.° e as duas do 3." ano, uma de química, outros lentes o da cadeira de agricultura (13 de maio) e suprimiu a
outra de botânica que formava a 1." parte da própria cadeira de agri- própria cadeira pela lies. de 31 de julho (1).
cultura ('). A supressão fundava-se em que esta cadeira não tinha aprovei-
O director literário da Academia de Marinha e Comércio, numa tado nem podia aproveitar por falta dos indispensáveis preparatórios
informação de 13 de Setembro de 1824 O, propunha que se criasse o filosóficos, e abonava-se com a informação do director literário da
lugar de substituto desta cadeira e se reduzisse o seu curso a 3 anos, Academia, que era o mesmo que em 1824 havia sustentado calorosa-
ensinando-se no 1.° a zoologia, mineralogia, botânica e física gorai; no mente a conservação desta cadeira (*).
2.° a física particular e a química; no 3. n a agricultora, exigindo-se A freqtiôncia deste curso era na verdade pequena. Desde o ano
como preparatório deste curso trienal, o 1." ano matemático, a filoso- de 1819 a 1820 até o de 1828 a 1829 não houve mais de 86 alunos
fia racional e alguma das línguas francesa ou inglesa. Daqui poderia matriculados, ou 8 a 9 por ano, termo médio, e destes eram raros os
deduzir-se que â data desta informação o curso de agricultura tinha que levavam o curso ao fim. O pior era que para a agricultura prática
mais de 3 anos. Parece, porém, que foi sempre bienal, estudando-se faltavam completamente os meios materiais, e para a agricultura cien-
no 1.° ano a química e a botânica, e no 2.° a agricultura. Esta era tífica não havia as aulas subsidiárias. A-pesar-disso, o decreto de
com certeza a distribuição do curso desde que o lente Agostinho 19 de Outubro de 1836 compreendeu no quadro provisório da Acade-
Albano publicou as suas •Primeiras linhas de chimica e botânica, mia de Marinha e Comércio um lente e um substituto da cadeira de
coordenadas- para uso dos que frequentam a atila de agricultura da botânica e agricultura, devendo o lente ser encarregado da direcção
real academia de mariíúia e commerdo*, parte 1.° — Porto, 1827. do jardim botânico, quando o houvesse. Nesse mesmo ano foi no-
A 2.* parte, que devia conter os elementos de agricultura, não chegou meado para esta cadeira o Dr. António da Costa Paiva, hoje Barão
a publicar-se (3). de Castelo de Paiva (Decreto de 20 de Outubro de 1836 e C. R de
A proposta do director para a criação do lugar de substituto e 3 Janeiro de 1837).
para a organização do curso não teve resultado. Em 1827. porém, a
carta régia de 30 de junho, nomeando o bacharel em medicina Pedro Limjuas francesa e inglesa. No princípio deste século o francês
António Soares Veloso para substituto da cadeira de filosofia racio- era geralmente conhecido em Portugal das classes abastadas, e o in-
nal e moral, impôs-lhe a obrigação de substituir também nos seus gles era bastante estudado na cidade do Porto, onde havia muitos ne-
impedimentos o lente de agricultura. gociantes ingleses e um importante comércio com a Grã-Bretanha.
Todavia, a creação de aulas públicas para o ensino destas línguas na
Academia de Marinha e Comércio do Porto foi quási uma novidade na
O A cadeira de botânica e agricultura foi criada na Faculdade de Filosofia história da instrução pública em Portugal.
por C Régia de 24 de Janeiro de 1791, separando-se a botânica da cadeira de hia- O método estabelecido nos estatutos para o ensino destas línguas
tória natural, que segundo os estatutos da Universidade compreendia os três rei-
não variava essencialmente do que então se costumava seguir no es-
nos. Depois, n C. Régia de 21 de Janeiro de 1801 tornou a passar a botânica
para a cadeira de história natural, ficando a agricultura com uma cadeira priva- tudo do latim. O s professores ditariam as suas lições pela gramática
tiva Parece porém que esta última disposição não vigorou por muito tempo que so achasse mais conceituada, adestrariam os seus discípulos na
Em 1811 a 1812 e provavelmente já em 1807, senão antes, a botânica formava pronúncia das vozes e na leitura, e far-lhes-iam reconhecer, no autor
com a agricultura uma só cadeira.
Ct Publicada na Hist, dos Estabel. scient., t. II, pág. 405 e seg.
(') Esta distribuição de curso vem indicada no prólogo das citadas Primei- ('] Citada na Historia dos Estabelecimentos scientificos, t. V, p«g. 347
ras Unhas de chimica e botânica, e está conforme com o registo dos pontos para (f) Informação do director litterario Joaquim Nararro de Andrade de 13 de
oa actos da cadeira de agricultura, setembro de 1824, na cit. Hist, dos Estabel scient., t. II, pág. 405 e seg.
yj MEMÓRIA UISI'OKICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 3a

que seguissem e nas traduções que fizessem, os lugares que mais viva- Filosofia racional e moral. Esta disciplina destoava um tanto
mente depusessem do génio da língua, assim como do estilo e gosto da índole da Academia. Não era exigida senão para o curso com-
mais seguido e depurado dos autores dignos de se estudarem. Nas pleto de matemática. A lei criou este cadeira com o fim principal-
versões prefeririam sempre os nossos clássicos para aperfeiçoarem os mente de facilitar o estudo desta matéria como preparatório das Fa-
alunos no conhecimento da língua pátria. Com uma boa intenção, culdades da Universidade. Por isso os estatutos mandavam que o
aliás pouco exequível, mandavam os estatutos que os professores esco- ensino dela fosse dirigido pelos métodos e autores seguidos na Uni-
lhessem os assuntos mais análogos ao destino dos alunos, de maneira
versidade (Cit E s t 1803, §§ 10, 27 e 38). No Porto havia outra
que os que se habilitassem para negociantes traduzissem autores que
aula de filosofia racional, como em várias outras terras do reino; mas
tratassem de comércio; os que se dirigissem ít pilotagem, «as obras
na Academia o ensino era mais perfeito em razão das superiores ha-
mais eruditas e completas de geografia, etc.» (Est. de 1803, §§ 39 a
bilitações que se exigiam, dos seus professores.
41). Os estatutos do Colégio dos Nobres anteciparam-se a condenar
A Junta inspectora e o Governo deram sempre muita considera-
este método, recomendando que as lições das línguas modernas fossem
ção a esta disciplina. O professor tinha, como os de matemática, co-
«pela maior parte de viva voz, sem que os professores carregassem os
mércio, desenho e agricultura, GQOíJOOO reis de ordenado. O 1.° subs-
discípulos com multidão de preceitos desnecessários em línguas que
tituto foi nomeado com o vencimento de 350^000 reis, como os subs-
são vivas e que se aprendem muito mais facilmente e melhor lendo,
titutos de desenho e comércio ; mas recebeu sempre na razão de
conferindo e exercitando, em repetidas práticas» (Est. de 7 de Miirço
450$000 reis, ordenado que depois se estabeleceu para os substitutos
de 1761, tit 8, S 2.°). Mas cada método tem seu lugar. Onde não
de matemática, e só muito mais tarde para OB de desenho e comércio.
se estudam as línguas mortas, que são o mais perfeito instrumento
pedagógico para o desenvolvimento das faculdades e para o conheci- Uma carta régia de 29 de Setembro de 1829 levou a tal altura
mento da gramática geral e das leis da linguagem, é conveniente que este curso, que não admitia a matricularem-se nele alunos que não
esta falte seja suprida, quanto é possível, por ocasião do-estudo das tivessem exame da língua latina, e frequência e exame de arimética
línguas vivas ('). e geometria elementar (l). Ainda que este providência partiu de um
governo ilegítimo, não prova menos a importância que se ligava ao
A Junta inspectora escolheu para mestres indivíduos a quem ensino de filosofia racional na Academia de Marinha e Comércio.
estas línguas eram pátrias, como Miguel Sheil, professor, e Toraaz
Danagan, substituto para inglês, os abades Dupuy Melgueil e Pedro Cadeira de primeiras letras. Este cadeira foi criada pela Re-
I>acroix para professor e substituto de francês. solução Régia de 8 de Outubro de 1811 com o ordenado de 400$00
Nos trinta e dois anos úteis do período de que tratamos (não reis, como tinham os professores das línguas vivas. Outra Res. Reg.
contando os de 1832 a 1834, em que a Academia esteve fechada de 12 de Janeiro de 1816 criou um lugar de substituto com ordenado
por causa do cerco do Porto) teve a aula de inglês 1200 alunos, e a igual ao do proprietário, e com a obrigação de ensinar de manhã e de
de francês 2518. Neste período as línguas vivas não eram exigidas tarde. Este chamada substituição equivalia, pois, a uma segunda ca-
para curso algum senão para a Academia. Apenas as Academias dos deira. Estes ordenados foram reduzidos em 1825, o do proprietário
Guardas-Marinhas e de Fortificações obrigavam os alunos a um exame a 250$000 reis, e o do substituto a 150$000 reis (*), mas ainda assim
prévio de francês, feito perante um dos seus professores. Nestas cir- ficaram muito superiores aos dos outros mestres de instrução primária
cunstâncias, aquela frequência mostra quam útil e popular teria sido do reino, que eram de 90$000 reis.
nesta cidade do Porto o ensino secundário especial, organizado se-
gundo as regras da pedagogia moderna.

(1) Cit- Hitt. dos Estabelecimentos Scientificos, t. V. p*g. 347.


0) Kramer, na Encijlclopâdie des gemmmten Ertiehungs und UntericKtttce- (*) Art 5 do Alvará de 16 de Agôito de 1826 na colecção dai leis.
tens, 6." vol. art. Eealschult, pág. 688.
34 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 35

O director literário, que propusera a redução, dizia que esta ca-


tacão do estabelecimento e satisfazer as despesas, dando anualmente
deira não tinha a menor conexão com os estudos da Academia (1) ;
conta ao Governo (Alvará de 9 de Fevereiro de 1803, §§ 5 a 8 e le-
œaa a Junta inspectora, quando consultou a sua criação, parecia ter
gislação citada na parte em que tratámos das antigas aulas de náutica
o pressentimento do BÍstema americano, que não aprecia muito as gra-
e desenho).
duações de instrução adoptadas na Europa. A Junta, não querendo
A Junta da Companhia compunha-se de um provedor e sete de-
isolar o seu estabelecimento das classes populares, procurava ofere-
putados, eleitos de dois em dois anos pelos accionistas que tivessem
cer-lhes cursos completos de habilitação e aplicação ao comércio e à
um certo número de acções. A Junta dividia pelos seus membros o
marinha. O seu grande defeito, que impediu de tirar vantagem da
cuidado especial ou a inspecção de um ou mais ramos de serviço, con-
criação desta cadeira, foi meter, entre ela e os outros cursos, o 1." ano
forme a aptidão de cada um. Antes da fundação da Academia, as
matemático, que pelo método universita'rio de ensino das respectivas
aulas de náutica e desenho já eram objecto duma das oito inspecções
matérias, opunha uma barreira insuperável à maioria dos alunoB. Os
em que se achavam distribuídos os trabalhos da Junta ; mas o novo
nossos mapas não compreendem a frequência desta cadeira, da qual
estabelecimento requeria maior cuidado, maior trabalho e uma aptidão
não encontramos livros de matrícula, e apenas uns mapas de alguns
mui diversa da que os accionistas costumam procurar para a gerência
poucos anoa.
dos seus interesses. Ainda que a Junta se mostrou sempre digna da
inspecção que lhe foi cometida, entendeu ela que devia auxiliar-se de
Inspecção, administração e direcção da Academia de Marinha e um funcionário especial, e, fundada no art. 58 dos estatutos, criou o
Comércio. Enquanto as Academias da capital estavam distribuídas lugar de rice-inspeclor «para por sua intervenção serem levados à
por diferentes ministérios, esta ficava subordinada ao Ministério do presença de sua Alteza-Real todos os negócios ocorrentes relativos à
Reino (Est de 1803, § 57), A sua imediata inspecção, direcção e Academia». A Junta nomeou para este* lugar Manuel José Sarmento,
administração competia à Junta da administração da Companhia Geral em atenção aos «relevantíssimos serviços que o estabelecimento deve
da Agricultura das Vinhas do Alio-Douro ('), que se oferecera a este ao nomeado, e ao incansável zelo patriótico com que o promoveu e
encargo sem outro prémio que o serviço do rei e o bem da pátria (3). organizou» (1). O vice-inspector recebia de ordenado 1.800$000 reis,
Assim, a esta Junta pertencia, segundo os estatutos, admitir os alunos quantia que, atendendo-se já a que metade era paga em papel, e que
à matrícula (§ 6), passar as cartas de sota-pilotos e de pilotos (§§ 25, o papel, até o ano em que foi suprimido este lugar, sofreu um desconto
26 e 23), regular o horário das aulas, ouvindo os professores (§ 14), médio de 22 °/°. correspondia hoje a 2.000$500 reis ou cerca de
propor, consultado o parecer do conselho académico, as reformas con- 11.200 francos ( ). A-pesar, porém, dos encómios que acompanharam
venientes, assim na parte literária, como na económica (§ 57), propor a nomeação e a-pesar-da remuneração que se lhe seguiu, não há na
s nomeação e demissão de professores (§ 50), prover directamente todos secretaria da Academia indício algum importante de serviços dêáte
os mais empregos (§ 58), ministrar à Academia quanto fosse conve- funcionário. Os próprios vestígios de serviços insignificantes são
niente ao ensino (§§ 48 e 57), dirigir a administração das obras do muito raros. Assistiu às sessões solenes da abertura em 1804 e 1811.
edifício e, enfim, cobrar os impostos e receitas que constituem a do- Nas actas das outras sessões não se menciona nem a sua presença
nem a sua ausência.
Diz um autorizado escritor, e repete-o outro igualmente autori-
(') Informação já mais vezes citada, de 13 de Setembro de 1824 na Histo-
ria dos estabelecimento» «cientifico», t. II, pág. 405. zado, que até 1812 era o vice-inspector quem punha o.cumpra-se nas
('> Alvará de 9 de Fevereiro de 1803, gg 5 a 8 na colecção das leis,
(') Representação da Junta da administração da Companhia Geral da agri-
(') Provimento de 2 de Setembro de 1803, registado no livro do registo das
cultura da* vinhas do Alto-Douro, de 4 de Janeiro de 1803, na cit. Historia dos
cartas régias e nomeações a (1. 5 na secretaria da Academia Politécnica.
estabelecimentos scientificos, t. II, pég. 401
("( Veja-se a nota 2.» a pág. 93 e 3.» a pág. 97.
36 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO rs7

cartas régias dirigidas à Academia e que a Junta inspectora lho Reg. não se reduz a isso, mas define também as atribuições do direc-
proibira desta em diante (1). Aqui, porém, há alguma equivocação. tor literário.
Em primeiro lugar a Academia não tinha o privilégio de lhe serem Nos termos dos diversos documentos, que temos referido, este
dirigidas cartas régias. As de que se trata são cartas régias de no- cargo deve ser «ocupado por pessoa de reconhecida probidade, litera-
meação ou provimento. Em segundo lugar o vice-inspector até 1812 tura e prudência, e dotada de juizo maduro, exacto, sólido e zeloso do
escrevia simplesmente o seu nome naquelas cartas sem despacho al- bem público, do adiantamento e progresso das ciências, preferindo-se
gum: o cumpra-se pertencia à Junta inspectora. Foi uma vez, em 1812, a outros quaisquer indivíduos os que no longo exercício do magistério
que o vice-inspector, achando-se em Lisboa, pôs numa daquelas car- na Universidade de Coimbra houvessem mostrado possuir em grau emi-
tas o 'cumpra-se e registe-se», um mês depois de se achar exarado nente as referidas qualidades».
nela igual despacho lançado pela Junta 0 . Portanto, se a Junta al- O director literário teria a seu cargo o regimento e direcção geral
guma coisa fês, foi estranhar a novidade, não condenar um uso antigo. dos estudos e o governo ordinário da Academia, fazendo guardar a
O lugar de vice-inspector era, pelo modo como o exercia o dito boa ordem e subordinação entre os seus empregados, e zelando a obser-
Manuel José Sarmento, uma verdadeira sine-euro, que não podia es- vância dos estudos. Ele representaria o corpo docente nos casos em
capar à patriótica vigilância das Cortes de 1820. Foi na verdade su- que os estatutos o mandam ouvir, podendo consultar todos os profes-
primida por um decreto delas, de 6 de Novembro de 1821, sendo a sores em congregação ou só alguns deles, e proporia à Junta, depois
extinção confirmada por decreto de 13 de Outubro de 1824, a r t 3-°. desta consulta ou sem ela, quanto lhe parecesse conveniente, para que
Sobre a consulta da Junta inspectora de 3 de Fevereiro de 1816 a mesma Junta resolvesse (se lhe competisse) ou solicitasse a decisão
foi criado pela Res. Reg. de 27 de Agôsto de 1817 o cargo de Direc- superior. As propostas ou informações do director deviam acompa-
tor Literário desta academia com o ordenado de 1.200$000 reis, que nhar as consultas da Junta. Enfim, o director literário teria a sua
corresponde hoje a 1.305.f000 reis (7.250 francos). Em duas autoriza- morada no edifício da Academia, logo que nele houvesse cómodo para
das publicações que já citámos (3), vem transcrito um documento, como habitação, o que nunca chegou a realizar-se (1).
se fosse a dita resolução, o que não é exacto. O documento de que Depois da criação do cargo de director literário, ainda aparecem
se trata, é apenas um trecho extraído da carta régia que nomeou para os termos de matrícula dos estudantes, com a declaração de que são
director literário o Dr. Joaquim Navarro de Andrade. A Res. Reg. lavrados «por despacho da ilustríssima Junta, etc.» ; mas isto foi para
provavelmente limitava-se às palavras *co-mo parece» escritas na con- se aproveitarem os livros em que estas e outras palavras, comuns a
sulta da Junta inspectora, e deste modo aprovava tudo quanto a Junta todos os termos, se acham impressas. Em todos os livros destinados
propunha, que era mais do que se encontra no aludido documento. à inscrição dos alunos, depois do ano de 1817 a 1818, se encontra
Na verdade, este documento limita-se a justificar a criação daquele uma folha intercalada, declarando que de 1818 a 1819 em diante os
emprego e a declarar as qualidades que deve ter quem houver de o despachos para matrícula eram do director literário, sendo este o pre-
ocupar, ao passo que a consulta da Junta aprovada pela citada Rcs. sidente dela.
As Cortes de 1821 a 1823 fizeram nas disposições que temos
(') Sor. José Maria de Abreu, Relatório da inspecção extraordinária à Aca- referido algumas alterações, que duraram pouco.
demia Politécnica do Ptrto em 1864. Lisboa, Imp. Nacional, 1865, pág. 70, not.
Snr. Silvestre Ribeiro, Historia dos estabelecimentos scientificos.
(') A parte da consulta que extractámos foi comunicada ao director literá-
(') Carta de 9 de Outubro de 1821, nomeando João Gonçalves das Neves rio pela Junta inspectora em oficio de 19 de Janeiro de 1818, registado no livro
para a cadeira de primeiras letras. 0 cumpra-se do vice-inspector é de 21 de dos ofícios da Academia Politécnica. — Veja-se também a Carta Rígia de 9 de
Agosto de 1812. Setembro de 1817, que nomeou o Dr. Joaquim Navarro de Andrade para o cargo
(*) Cit. Relatório da inspecção extraordinária, pág. 129 e cit. Historia dot de director literário. Ambos estes documentos foram publicados na Representa-
estabelecimentos scientificos, t. II, pág. 395. ção às Cortes aérais extraordinárias e constituintes da nação portuguesa, por Joa-
quim Navarro de Andrade — Coimbra, Imprensa da Universidade, 1822.
38 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 39

Uma ordem de 6 de Novembro de 1821 reduziu a 200$000 reis


1.190 fracos ('). Na sua falta, ou impedimento, serve o lente mais
o ordenado do director literário, e por uma lei de 17 maio de 1822
antigo. Os negócios graves, e todos os que pelas leis estavam na parte
foi a Junta da administração da Companhia Geral da Agricultura das
deliberativa a carga das autoridades inspectoras, são discutidos em
Vinhas do Alto-Douro privada da inspecção de quaisquer estabeleci-
conselho dos lentes e decididos à pluralidade de votOB, para serem pro-
mentos públicos e obrigada a remeter à competente repartição o pro-
postas ao Governo as resoluções que carecem da sua aprovação, ou
duto dos direitos que arrecadasse, passando o imposto de consumo
executadas pelo director as que couberem na competência da Acade-
sobre o vinho, na cidade do Porto e seu termo, a ser cobrado pelo pro-
mia. A conta da despesa é fiscalizada pelo conselho dos lentes, a
vedor e corregedor da comarca desta cidade (Cit lei nos art. 4, 24
quem é apresentada pelo secretário no fim de cada ano.
e 26). As Cortes esqueceram-se de providenciar sobre os pagamentos
que até então se faziam pelo cofre da Junta, e nó em Janeiro de 1823 Tais são na matéria sujeita as disposições do citado decreto, das
resolveram que esta Junta continuasse a pagar aos empregados da quais algumas ainda estão em vigor.
Academia pelos rendimentos que fosse percebendo (').
Os directores da Academia de Marinha e Comércio desde a cria-
Pouco duraram, como dissemos, estas disposições. A lei de 21
ção deste cargo foram os seguintes :
de Agosto de 1823 revoga quanto as Cortes haviam ordenado a res-
1.° Dr. JOAQUIM NAVARRO DE ANDRADE do conselho de S. M., 2.°
peito da Companhia dos vinhos, salvas algumas restrições que não
lente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, igualado
pertencem ao nosso assunto. O aviso régio de 23 de Setembro de
ao 1.° lente, sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lis-
1823 (*) não só reintegra o director literário no seu primitivo ordenado,
boa, deputado da Junta da Directoria Geral dos Estudos e Escolas do
mas manda-o embolsar da quantia que lhe tinha sido deduzida. Fi-
Reino desde 1808. Tinha sido despachado em 1791 lente catedrático
nalmente, o decreto de 13 de Outubro do mesmo ano declara que, em
da Faculdade de Medicina, depois de dois anos de opositor, regendo
tudo o que não fôr contra as atribuições do director literário, regula-
nos primeiros quinze anos do seu magistério a cadeira de instituições
das pela Res. Reg, de 27 de Agosto de 1817, acima extractadas, a
médicas, passando depois a reger a cadeira de terapêutica particular
Junta da Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro con-
no 4.° ano do curso médico. Escreveu para uso das aulas dos 2.° e
servará o título e funções de inspectora da Academia, como lhe fora
4.° anos médicos dois opúsculos em latim, que a sua Faculdade man-
concedido pelo alvará de 9 de Fevereiro de 1803 e pelos estatutos
dou estampar na imprensa da Universidade. Recitou por motivo das
aprovados por alvará de 29 de Julho do mesmo ano.
exéquias da Senhora D. Maria I a oração fúnebre latina, que foi man-
Assim, as cousas continuaram como dantes até à extinção dos dada imprimir por ordem de S. M. na imprensa do Rio de Janeiro.
privilégios da Companhia pela legislação de 1832 a 1834, com a qual Foi nomeado director da Academia de Marinha e Comércio do Porto
veio a cessar a intervenção da Junta nos negócios académicos. Desde por carta régia de 9 de Setembro de 1817, cargo de que tomou posse
o princípio do Julho de 1834 entrou a administração desta Academia com muita pompa a 11 de Fevereiro de 1818. Faleceu no Porto,
na regra dos demais estabelecimentos do Estado, conservando todavia na freguesia de Santo Ildefonso, em Junho de 1831.
o director literário o seu antigo ordenado e atribuições até ao decreto
2.° Dr. SEBASTIÃO CORREIA DE ANDRADE, 3." lente da Faculdade
de 19 de Outubro de 1836.
de Matemática com exercício na cadeira de geometria da Universidade
Por este decreto o director é um dos lentes da Academia, no-
de Coimbra. Foi nomeado director literário da Academia da Mari-
meado pelo Governo, com a gratificação (além do ordenado da sua ca-
nha pelo Governo de D. Miguel, em carta régia de 3 de Fevereiro de
deira) de 200$000 reis, que hoje correspondem a 213^333 reis ou
1832. Faleceu em S. Miguel das Aves, concelho de Vila Nova de
Famalicão, em 26 de Outubro de 1838. A sua biografia encontra-se
Cl Cit. Hist, dot estabelecimentos scienUficot, t. II, pâg. 424.
(') Registado a íl. 21 do livro 92 da secretaria da Academia Politécnica.
(') As peças de ouro, que desde 6 de Março de 1822 aie S de igual mês do
1847 valiam 7*500 reis, valem hoje 8»000 reis.
40 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA RKAL DE MARINHA K COMÉRCIO ■11

na Memoria histórica da Faculdade de Matemática do Sr. Castro cio e filosofia racional ; o de professores aos das línguas francesa e
Freire, Coimbra, 1872. Serviu o cargo de director literário só até a inglesa. Os estatutos parecem admitir diferença entre lentes e pro­
entrada do exército libertador no Porto em 9 de Julho de 1832. fessores (SS 1, 11, 14, 57 e 58). A primeira classificação era repu­
3." AGOSTINHO ALBANO DA SILVEIBA PINTO, bacharel formado tada por mais honrosa {*). Em 1818 o lente de comércio recusou­se
na Faculdade de Medicina e doutor na de Filosofia pela Universidade a aceitar um documento em que o director literário o tratava por pro­
de Coimbra, onde foi opositor e demonstrador de história natural. fessor. A questão podia ser importante fora do campo da vaidade,
Professor de francês na Academia de Marinha e Comércio da cidade porque os estatutos de 1803 igualavam os lentes deste estabelecimento
do Porto (C. R de 28 de Fevereiro de 1815), e depois lente da ca­ aos da Academia Real da Marinha de Lisboa (§ 50), e portanto aos
deira da agricultura na mesma Academia (C. R. de 3 de Outubro de da Universidade (Est da Academia Real da Marinha de Lisboa de 5
1818). Director da Real Escola de Cirurgia do Porto por decreto de Agosto de 1779), os quais gosavam de jubilação mais favorável do
26 de Agosto de 1826. Demitido pelo Governo intruso de D. Miguel que o comum dos professores. Todavia os estatutos de 1803 não são
em 13 de Maio de 1829. Restituído por virtude da entrada do exér­ firmes na sua distinção. Os professores de matemática são muitas
cito libertador em 1832 e jubilado na cadeira de agricultura por C. R vezes, e sem excepção, mencionados como lentes (§§ 1 a 4, 6, 7 e 11
de 6 de Dezembro de 1834. Encarregado interinamente da direcção e passim). Como lentes são mencionados também os de filosofia
desta Academia por decreto de 28 de Outubro de 1833, e definitiva­ racional e agricultura (SS 1 e 56). Os de línguas estrangeiras nunca
mente por C. R de 6 de Dezembro de 1834, vencendo" como director téra outro título senão o de professores (§§ 1 e 39). Mas os de comér­
só a diferença entre o ordenado deste cargo e o de professor jubilado. cio e desenho, que no § 1 são contados como professores e quási
Regeu um curso de economia política nesta cidade em 1837 a con­ excluídos da classe de lentes, aparecem restituídos a esta categoria, o
vite da Associação Comercial. Deputado às CôrteB em todas as legis­ primeiro no § 43, o segundo em muitos logarès (§§ 28, 30, 35, 36 e 56).
laturas desde 1838 até o seu falecimento. Sócio efectivo da Acade­ A secretaria de estado também não guardava a maior coerência nos
mia Real das Ciências de Lisboa. Vice­presidente do Tribunal de seus tratamentos, pois que na C. R de 9 de Outubro de 1811, que
Contas. Ministro da Marinha e Ultramar desde 18 de Dezembro de nomeou o professor de primeiras letras, deu­lhe o nome de lente,
1847 até 29 de Março de 1848. Faleceu em 11 de Outubro de 1852 posto que o secretário da Academia nunca o tratava senão como mestre.
com 67 anos de idade. Tinha sido exonerado do cargo de director O mestre de aparelho e manobra naval não gosava da graduação
desta Academia em 19 de Outubro de 1836 em consequência dos de professor, e era, como todos os mais cargos estranhos ao magisté­
acontecimentos políticos desse ano. A lista dos seus escritos acha­se rio, provido directamente pela Junta Inspectora, segundo a regra do
no Diceionario bibliographico do Sr. Inocêncio Francisco da Silva e na . § 58 dos estatutos.
Memoria histórica da Faculdade de Filosofia do Sr. Joaquim Augusto Os estatutos exigiam para o magistério de matemática, agricul­
Simões de Carvalho, Coimbra, 1872. tura e filosofia racional, o grau de licenciado pela Universidade de
4." J o i o BAPTISTA RIBEIRO, por decreto de 22 de Outubro de 1836 Coimbra, «ou para o futuro por esta Academia» (*); para o d e comér­
e C. R de 27 de Maio de 1837, substituto da aula de desenho desta
Academia (C. R de 22 de Outubro de 1811}, e proprietário desta {') Lentes como legentes­ Antigamente fazia se distinção entre ciências
aula (C. R de 6 de Junho de 1833). Foi, até o seu falecimento, 24 maiores e menores, e entendia­se que somente eram próprias destas os exercícios
de Julho de 1868, director da Academia Politécnica, literários, e que naquelas fizessem os estudantes o papel de meros toutintes, e os
lentes repetissem as suas preleções pent tomarem conta delas aos mesmos estudan­
tes. Vej. Esta», da Universidade, 1772, liv. 3. parte I, tit. 4, cap. I § p. 2, pág.
Do magistério na Academia de Marinha e C omercio, Os pro­
109 e seg.
fessores e substitutos eram nomeados pelo rei sob proposta da Junta (*) Quer dizer, o exame geral de matemática da Academia, porque os Esta­
Inspectora. As cartas régias das primeiras nomeações davam o nome tutos de 1803 não estabeleciam uma instituição semelhante à da licenciatura da
de lentes aos professores proprietários de matemática, desenho, comér­ Universidade. Esta é de criação posterior, como se verá.
42 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAI. DE MARINHA E COMÉRCIO 43

cio a aprovação neste curso pela aula respectiva de Lisboa ou por ao que fora provido na cadeira que direitamente pertencia ao outro ( ).
esta Academia; para o de desenho, títulos em forma passados por Aca- A antiguidade regulava-se pela data do despacho, e em igualdade de
demias bem reputadas, ou obras próprias que acreditassem o pro- data pela do grau ou habilitação académica, segundo a legislação da
posto (§ 56). Universidade (2).
Os estatutos eram omissos sobre as habilitações dos professores Ainda que o citado art. 5 dos estatutos de 1803 parece restricto
de francês e inglês. A Junta propunha quem lhe parecia melhor, até aos substitutos ds matemática, todavia scguiii-se como princípio geral
que pela carta régia de 11 de Setembro de 1826 se estabeleceu o con- a promoção dos outros substitutos às respectivas cadeiras. Houve
curso para o provimento das cadeiras destas aulas, bem como das de apenas duas excepções, ambas na cadeira de francês, uma em 1811, e
primeiras letras e seus substitutos. Em fins de 1834 foi ampliado o outra em 181Í).
sistema de concurso para o provimento de todos os logares do magis- A Junta inspector considerava o estado eclesiástico como uma
tério académico, regra a que todavia se faltou nos provimentos que se espécie de impedimento impediente do magistério, a-pesar-de serem
fizeram pouco depois da revolução de Setembro de 1836, nem então eclesiásticos o primeiro professor e substituto de francês. Foi preciso
era possível observá-la, porque quási todos os lentes se recusaram a que baixasse uma insinuação do Governo para que ela, desviando-se
jurar a constituição de 1822, e foram exonerados, faltando portanto do seu propósito, consultasse para substituto de matemática o bacha-
professores para constituir o júri dos exames. rel Domingos Salgado, que era presbítero ( ). Não consta, porém que
Em 1825 criou-se a classe de opositores ha cadeiras de matemií- i-ste fosse nomeado, parecendo que o Governo se conformou com a
tica, à imitação do sistema estabelecido na Universidade de Coimbra doutrina da Junta. Houve uma excepção em 1829 a respeito de um
desde o alvará de 1 de Dezembro de 1804, modificado por algumas lente do 3.° ano matemático, que era beneditino, mas foi no tempo
disposições posteriores. Só podiam ser admitidos como opositores os de um Governo ilegítimo, e depois do alvará de 10 de Junho de 1826
licenciados em matemática pela Universidade de Coimbra ou os alu- que abrira a carreira do magistério aos membros das Ordens e Cor-
nos da Academia, que tivessem repetido o 2.° e 3." anos matemáticos porações Regulares.
e satisfeito a certas provas de que se tratará no logar competente. Antes de 1836 não há lei que estabeleça o ordenado dos profes-
A admissão à classe de opositor dependia duma votação, por pluri- sores da Academia. Estes ordenados eram declarados nas primeiras
dade de votos, da congregação de matemática, presidida pelo director cartas de nomeação, e o precedente ficava constituindo direito para o
literário. Os opositores regiam, na falta dos proprietários e substitu- futuro. Os lentes de matemática, desenho, comércio, filosofia racional
tos, as cadeiras para que fossem nomeados; argumentavam, por turno, e agricultura, venciam 600$000 reis. O director da aula de desenho
juntamente com os lentes de matemática, nos actos de repetição, e vencia os mesmos 600§000 reis, com obrigação de residir no Porto
podiam encorporar-se com os mesmos lentes nas solenidades da Aca- pelo menos três meses cada ano. lista obrigação consta da consulta
demia. O serviço dos opositores, que era gratuito, dava-lhes apenas de 7 de Janeiro de 1806, em que a Junta inspectora propõe para
o direito de serem propostos, conforme a aptidão de que nele tives- èttfl cargo a Domingos António de Sequeira em sucessão ao falecido
sem dado provas, para as substituições ou cadeiras que vagassem Francisco Vieira Portuense, que, como diz a citada consulta, se havia
(alvará de 16 de Agosto de 1825, art. 3 e 4).
Os substitutos de matemática eram promovidos por antiguidade (') Cit. Hilt, dos estabelecimentos seitntifícos, I. V, pàg. 221.
As cadeiras vagas desta ciência (1). Nunca se faltou a esta regra ('"') O caso de que trata a cilada Historia dos tstabelecitnento sscientijicos foi
senão uma vez por engano, e ainda então deu-se uma reparação com- decidido pela legislação da Universidade, que era o alvará de 1 de Dezembro de
pleta ao substituto preterido, sendo igualado em honras e vencimentos 1804, art. 8 e 11, decreto de 11 de Setembro de 1772, C. R. de 24 de Janeiro de
1791 e estatutos velhos da Universidade.
(s) Consulta de 26 de Outubro de 1804 na História dos estabelecimentos
(i» Kst. ile 1803, § 5, junto com os estatutos da Academia Real de Marinha seientifteos, t. II, pág. -H94.
de Lisboa de 5 de Agosto de 1779, título dos substitutos in fine-
II MEMÓRIA HISTÓKICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA D o PORTO
ACADEMIA REAL D E MARINHA E COMÉRCIO tfi

sujeitado àquela condição. Os professores de francês e inglês ven- Em 1836 os apuros do Tesouro obrigaram a uma redução geral
ciam 400*000 reis. Nos ordenados dos substitutos havia mais varie- nos vencimentos de todos os funcionários públicos. O decreto de 19
dade e confusão. O de filosofia racional, José Francisco Gonçalves, de Outubro desse ano dava aos lentes proprietários de matemáticai
a quem a sua carta de nomeação de 18 de Novembro de 1803 arbi- agricultura, comércio, desenho e filosofia racional 500*000 reis, e aos
trava 350*000 reis, recebeu sempre na razão de 450*000 reis. Este respectivos substitutos 350*000 reis, excepto o de agricultura (criado
era também o ordenado dos substitutos de matemática, desde 1813 ou então), que tinha 250*000 reis. O* professores proprietários das ca-
1814, anos em que foram pela primeira vez providas estas substitui- deiras de francês • inglês conservaram os seus ordenados de 400*000
ções. Os substitutos de desenho e comércio venciam 350*000 reis reis, mas os dos seus substitutos foram reduzidos a 250*000 reis, en-
até o ano de 1824, e de então em diante 450*000 reis. Os substitu- quanto que o mestre de aparelho e manobra naval manteve o seu de
tos de francês e inglês, e o mestre de aparelho e manobra naval, reis 300*000 reis. Os professores proprietários e substitutos de primeiras
300*000. O proprietário e substituto da cadeira de primeiras letras letras ficaram na situação em que os colocara o alvará acima citado
400|000 reis cada um, ordenados que, pelo art. fi do alvará de 16 de de 16 de Agosto de 1825.
Agosto de 1825, foram reduzidos, como já se disse, o de 1." a
A princípio havia, ao que parece, alguma condescendência com
250*000 reis, o do 2.° a 150*000, sem prejuízo dos professores exis-
os professores que faltavam sem causa justa às suas obrigações aca-
tentes (1).
démicas. Ao mesmo tempo costumava pagar-se ao substituto, que
Estes ordenados no ano de ] 803, em que pela maior parte foram regesse a cadeira, um ordenado igual ao do proprietário substituído,
criados, montavam a mais do que parece, a-pesar-do rebate do papel- donde resultava uma duplicação de despesa, às vezes mal justificada.
-moeda que entrava em metade dos pagamentos, se considerarmos a A estes abusos puseram cobro o decreto de 18 de Agosto de 1824 e
mudança do valor nominal do ouro. Assim, atendendo a que este re- o alvará de 16 também de Agosto de 1825. O primeiro determinou
bate foi, desde a criação do papel-moeda em 1798 até o fim de 1821, que, nas proximidades dos trimestres (porque os vencimentos dos pro-
de 18,73 % (média anual), e a que as peças de ouro que hoje correm fessores eram pagos aos quartéis) o director literário enviasse à Junta
por 8*000 reis valiam então 6*400, teríamos a seguinte equivalência : inspectora um mapa das faltas dos lentes e mais empregados, e que
se descontasse nos respectivos vencimentos o tempo de faltas não
Valor actual motivadas. O 2.° reduz a 50*000 por ano, ou nesta razão, o au-
Deutc 1798 i 1821 Peçaa Grama* «Jc
ouro fino mento do ordenado do substituto que rege a cadeira, e ainda assim
Em rela Cm franco*
exige que a regência exceda a três meses por ano, porque do contrá-
300$000 reiB . . . . 42.485 552.54 3398880
rio o substituto tem de contentar-se com o seu ordenado (cit. alv. § 4).
1:903
350$000 • . . . . 49.566 644Í53 O meBmo alvará determinou que os ordenados, não só dos professores,
3968528 2;220
400*000 » . , . . 56.647 736.72
senão de todos os empregados da Academia, começassem a contar-se
4538176 2:537
4501000 » . . . . 63.727 828.81
desde a posse que tomassem dos seus cargos, excepto se entrassem
5098816 2:854
6008000 » . . . . 84.970
em folha â data da nomeação ou promoção, porque, em tal caso, era
1105.09 6798760 3:806
esta a data de que principiavam a correr os ditos ordenados (cit alv.,
art. 10).
Em 1822 o valor das peças de ouro foi elevado a 7*500, e desde Os lentes da Academia, como equiparados aos da Universidade,
então os ordenados deminuíram realmente em relação ao ouro. gosavam da jubilaçâo aos vinte anos de serviço.
O art. 14 do alvará de 10 de Janeiro de 1826 estabeleceu uma
(') O citado alvará de 1825 estranha que o substituto de primeiras letras aposentação com 8/a de ordenado aos 20 anos, e com o ordenado por
tivesse o mesmo ordenado que o proprietário; mas jà mostrámos que esta substi- inteiro aos 30 anos de magistério se o professor se impossibilitasse
tuição era antes uma 2.* cadeira.
M MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAI. DE M A R I N H A E COMERCIO 47

de continuar em exercício, e só depois de 40 anos de serviço distmto que foram acabar os 20 anos, se nela tivessem lido cinco anos intei-
concedia a jubilaçao sem aquela condição. Este mesmo alvará, porém, ros, e só quando não tivessem os ditos cinco anos, jubilariam na
declarou que nSo intentava derrogar na legislação dos estabelecimen- cadeira em que mais tempo leram (log. cit. § inicial). O lente de que
tos que a tinham especial (art. 15). Por isso não foi aplicado a esta
se trata, havia regido a cadeira de agricultura por mais de 16 anos.
Academia, que no ponto sujeito se regulava pelas leis e exemplos da
Portanto era nesta que devia ser jubilado, eontando-se-lhe o tempo da
Universidade.
regência do francês, e assim tinha os 20 anos de serviço, como vimos.
Em todo o período de que nos estamos ocupando, que abrange Esta jubilaçao foi julgada subsistente por decreto de 23 de Julho de
33 anos, houve nesta Academia quatro jubilacões com o ordenado por 1838.
inteiro. Os espaços que mediaram entre as datas das cartas de nomea- Para a jubilaçao da Universidade, e portanto nesta Academia, não
ção e as dos respectivos títulos de jubilação foram os seguintes: se exigia mais do que a efectividade de serviço durante os 20 anos.
João Baptista Fetal da Silva Lisboa, lente do 3." ano matemático Se os professores antes deste tempo se impossibilitavam de continuar
por C. R de 18 de Novembro de 1803, jubilado por C. R de 18 de no magistério, na prática concedia-se-lhes a aposentação com uma
Julho de 1825, 21 anos e 8 meses. parte do seu vencimento. A aposentação era uma graça especial, mas
Joaquim António de Oliveira, lente do 2.° ano matemático por autorizada pelos precedentes. No período de que tratamos, houve
C. R de (5 de Agosto de 1813, aposentado (aliás jubilado) por porta- nesta Academia duas aposentações, ambas com metade do ordenado,
ria de 25 de Outubro de 1834, 21 anos, 2 meses e 19 dias. sendo uma dum lente de filosofia racional com 9 anos e 10 meses,
José Francisco Gonçalves, substituto de filosofia racional por outra dum professor de primeiras letras com 13 anos e 9 meses.
G R. de 18 de Novembro de 1803, e proprietário por C. R. de 30 de
Além das jubilacões de que fizemos menção, houve outra dum
Agosto de 1813, jubilado por C. R de 18 de Janeiro de 1825, 21
professor de francês, o abade Pedro Lacroix, qne não teve mais ser-
anos e 2 meses.
viço na Academia do que oito anos e 22 dias. Ignoramos, porém, as
Dr. Agostinho Albano da Silveira Pinto, professor de francês por circunstâncias desta jubilaçao.
C. R de 28 de Fevereiro de 1815 e lente de agricultura por C. R de
3 de Outubro de 1818, jubilado por Q R de 6 de Dezembro de 1834, Os lentes e substitutos de matemática tinham a seu cargo o reci-
com 19 anos, 9 meses e 8 dias. Este professor, porém, já estava em
tar por turno, segundo a ordem da antiguidade, uma oração congratu-
serviço na cadeira de francês em Outubro de 1814 e com este tempo
latória no aniversário do Príncipe Regente (Estatutos de 1803, §§ 11 e
completava e até excedia os 20 anos.
12, Res. Reg. de 3 de Fevereiro e decreto de 16 de Setembro de 1814,
O Conselho Académico negou a validade desta jubilaçao, como comunicado à Academia em ofício do secretário da Junta inspectora
se vê das actas das sessões de 13 e 15 de Janeiro de 1838, fundaii- de 17 de Janeiro de 1815). Uma carta régia de 29 de Setembro de
do-se : 1.° em que não se lhe devia levar em conta para a jubilaçao 1829 estabelecia este turno entre os lentes proprietários de matemática,
na cadeira de agricultura, cujo ordenado era de (>00$000, o tempo comércio e filosofia racional ('). Esta carta régia, como emanada de
que teve de serviço na cadeira de francês, cujo ordenado era de um Governo ilegítimo, não pôde ser considerada como pertencente à
400$00 reis; 2.° em que ainda neste caso lhe faltava algum tempo legislação académica, mas não pertence menos à sua história desde
para completar os 20 anos. Mencionámos este caso por mostrar como aquela data até à entrada do exército libertador no Porto em 9 de
o Conselho entendia a lei, a qual todavia não citou. Parece, porém, Julho de 1832.
que não a interpretou como cumpria. O assento principal desta maté- No dia da abertura solene ou inauguração da Academia, que foi
ria era os estatutos velhos da Universidade (aprovados em 1597 e em 4 de Novembro de 1803, devido haver, e na verdade houve uma
confirmados novamente pelo alvará de 15 de Outubro de KÍ53), liv.
3, t i t 22. Segundo estes estatutos, os lentes jubilavam na cadeira em (') Cit. R. n.° 4 na Historia dos estabelecimentos scientificos, t. V, pèg. 347.
48 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 49

oração recitada pelo lente da 3." cadeira de matemática ( § 1 1 dos SUBSTITUTOS DE MATEMÁTICA
Est.) ; mas a lei não estabelecia esta formalidade para o futuro, como
se vê do § 12 dos mesmos estatutos. O 1.° director literário introdu- Obti. Os estatutos de 1803 haviam criado tantos togares de
ziu-a, imitando o uso da Universidade, tendo-se prestado o lente Agos- substitutos de matemática, quantas as cadeiras; mas foram providos
tinho Albano da Silveira Pinto a recitá-la nos três anos seguidos de pela primeira vez em 1813 e 1814. O Alvará de 16 de Agosto de
1818 a 1820, e o substituto de francês no ano de 1821. A citada 1825 suprimiu uma destas substituições, para quando se desse a
carta régia do Governo intruso torna-a obrigatória e encarrega-a ao vacatura.
director literário ou quem suas vezes fizesse (cit. C. R, n.° 3). a) João Carlos de Miranda, da 1.* cadeira (1814); h) António
José da Costa Lobo, da 3," cadeira (1814); c) José Avelino de Castro,
Concluiremos esta parte relativa ao magistério com uma lÍBta da 2." cadeira (1814); d) José Carneiro da Silva, da 1.» cadeira (1820);
nominal dos professores de cada uma das aulas da Academia de Mari- e) António Lebre de Sousa Vasconcelos (1829) ; f) Rodrigo Ribeiro
nha e Comércio, seguindo, em relação a cada cadeira, a ordem crono- de Sousa Pinto (1831); g) António Fortunato Martins da Cruz (1835);
lógica dos despachos. k) Francisco Adão Soares (1835).
No fim da 2.» parte desta memória, publicamos uma relação alfa-
M E S T R E S DE A P A R E L H O E MANOBRA NAVAL
bética do pessoal docente e director da Academia de Marinha e
Comércio com as notícias bibliográficas que pudemos coligir. Ob.t. Estavam subordinados ao lente de navegação (do 3.° ano
matemático). Eram nomeados pela Junta da Companhia. Em 1807
1." AULA DE MATEMÁTICA
figura entre os examinadores de aparelho e manobra naval José Dias
PROPRIETÁRIOS da Silva, mas a primeira nomeação de que tenho noticia no tempo da
Academia de Marinha c Comércio é de
a) Manuel José da Cunha e Sousa Alcoforado (1803); b) Joa- a) Pedro Gonçalves Salazar (1808); /;) José António da Nativi-
quim António de Oliveira (1814); c) João Vieira Pinto (1829); d) Antó- dade (1832).
nio Lebre de Sousa Vasconcelos (1830) ; e) Joaquim Torcato Álvares AULA DE DESENHO
Ribeiro (1835) ; f) António Luiz Soares (1836).
D1HECTORE9

2." AULA DE MATEMÁTICA


a) Francisco Vieira, cognominado o Portuense (1803) ; b) Do-
PHOPRIETÀRIOS mingos António de Sequeira (1806); (Extincção do cargo em 1821);
£') Augusto Roquemont (1831).
a) José Calheiros de Magalhãis e Andrade (1803); h) João Car-
PROFESSORES
los de Miranda (1820); c) José Carneiro da Silva (1834); d) José
Ricardo da Costa (1837). «) José Teixeira Barreto (1803) ; b) Raimundo Joaquim da Costa
(1811) ; c) João Baptista Ribeiro (1833).
3.* AULA DE MATEMÁTICA
SUBSTITUTOS <

PROPRIETÁRIOS

a) Raimundo Joaquim da Costa (1803) ; b) João Baptista Ribeiro


a) João Baptista Fetal da Silva Lisboa (1803); b) José Avelino (1811); e) Manuel da Fonseca Pinto (1834). Depois deste, mas no
de Castro (1825); r) Pr. Caitano das Dores (1829); d) João Vieira mesmo ano, foi por equívoco nomeado António José Teixeira de
Pinto (1830) ; e) António José da Costa Lobo (1834 ?) ; f) Diogo Kopke Abreu Junior, cujo despacho foi declarado nulo por não estar vago o
(1836). lugar; d) Joaquim Cardoso Vitória Vila-Nova (1836).
60 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO


51
AULA DE COMÉRCIO
SUBSTITUTOS
PROPRIETÁRIOS

«) José Francisco Gonçalves (1803); b) José Duarte Salustiano


a) José Honório Guerner (1803) ; b) José Porfírio da Silva Lima Arnaud (1813); c) Pedro António Soares Veloso (1827); d) Francisco
(1806); c) António Pedro Gonçalves (1819); d) Francisco Joaquim Luiz Correia (1832) ; e) José da Cruz Moreira (1836).
Maia (1828); e) Manuel Joaquim Pereira da Silva (1836).
AULA DE FRANCÊS
SUBSTITUTOS
PROPRIETÁRIOS

a) José Porfírio da Silva Lima (1803); b) António Pedro Gon- a) Abade Dupuy Melgueil (1803); b) Abade Pedro Lacroix
çalves (1806); e) Francisco Joaquim Maia (1819); d) Genuíno Barbosa (1808); e) Hugo Lacroix (1811); d) Dr. Agostinho Albano da Silveira
Bettamio (supranumerário —1824); e) Domingos José de Castro (1828); Pinto (1815); c) Francisco Soure* Ferreira (1819); /') Henrique Er-
f) António Pereira de Araújo Júnior (1829); g) José Luiz Lopes Car- nesto de Sousa Coutinho (1831); g) António Carlos de Melo (1835);
neiro (1833); h) Luiz Baptista Pinto de Andrade (1836). //) António Pinto de Almeida (1836).
AULA D E A G R I C U L T U R A SUBSTITUTOS

a) Dr. Agostinho Albano da Silveira Pinto (1818); (') b) Antó- a) Abade Pedro Lacroix (1803); b) Inácio Xavier Gayoso (1808);
tónio da Costa Paiva (Barão de Castelo de Paiva) (1830). c) António Teixeira de Magalhãis (1819).

SUBSTITUTOS AULA DE INGLÊS

PROPRIETÁRIOS
Esta aula não tinha substitute. Em 1827, porém, foi nomeado
Pedro António Soares Veloso para substituto da cadeira de filosofia a) Miguel Shcil (1803); b) António Dias de Faria (1827);
racional e moral com obrigação de reger também a cadeira de agricul- c) José Eleutério Barbosa de Lima (1832); d) Manuel Joaquim Duarte
tura no impedimento do seu proprietário. e Sousa (1836).
Em 1836 foi criado o lugar de substituto da cadeira de botânica KUIISTITUTOS

e agricultura, e nomeado para êle José Pinto Rebelo de Carvalho, que


a) Tomaz Danagan (1803); b) António Dias de Faria (1811);
não aceitou.
r) Luiz José Monteiro (1825); il) Henrique Daniel Wenck (1832);
FILOSOFIA RACIONAI, e) António José Dias Guimarãis (1835); f) Carlos Mac-Cartley da
PPOPRIETARIOS
Cunha (1836X
AII.A DE PRIMEIRAS LETRAS
a) Manuel Joaquim de Faria Lobo (1803); b) José Francisco
Gonçalves (1813); c) José Duarte Salustiano Arnaud (1827); d) Antó- PROPRIETÁRIOS

nio José Lopes Alheira (1832) ; t) Carlos Vieira de Figueiredo (1836). a) João Gonçalves das Neves (1811); b) José Luiz Coelho Mon-
teiro (1825); c) Luiz José Monteiro (1835).
(') O Governo de D. Miguel suprimiu a cadeira de agricultura pela Res. SUBSTITUTOS
Rég. de 31 de Julho de 1829. Snr. Silvestre Ribeiro, cil Hist, dos Estab. Seient.,
tom. V. p. 347. a) José Luiz Coelho Monteiro (1816); //) Luiz José Monteiro
(1825); c) José Maria da Silva Azevedo (1829); d) António Ventara
Lopes (1835).
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO
52 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
n
DISCIPJJNA ACADÉMICA b) Matrículas. O termo de matrícula devia conter o nome, fi­
liação e naturalidade do aluno e o curso a que se destinasse. Devia
a) C ondições de admissão dos alunos. Estas condições variavam também declarar os estudos que o aluno tinha feito, mas isto não se
conformo os cursos a que os alunos se propunham, o jíí foram mencio­ cumpria. A própria designação do curso limitava­se à da disciplina
nadas, quando escrevemos da organização destes cursos. em que o estudante se matriculava. O termo era lavrado pelo secre­
Os alunos achavam modo de iludir a exigência dos preparatórios tário, e assinado por este, bem como pelo aluno e por um lente de
matriculando­se como voluntários, classe que, como vimos, existia le­ matemática que presidia à matrícula. De 1818 em diante o presidente
galmente nas Faculdades de Matemática 6 Filosofia da Universidade de da matrícula era.o director literário; mas não há termo algum assinado
Coimbra. Na aula de desenho, conquanto os estatutos proibissem por êle. O próprio secretário se descuidava de os subscrever.
expressamente ao professor admitir alunos que não tivessem aprova­ O serviço de matrícula devia começar em 20 e terminar em 30
ção nas matérias do 1." ano matemático {'), admitiam­se discípulos ex­ de Setembro (g 7 dos Estât.), mas quási sempre continuava pelo mês
traordinários, como na aula de desenho c arquitectura de Lisboa (8). de Outubro, o anos houve em que chegou até Novembro, não falando
Esta classe tinha de comum com a dos voluntários não estar sujeita em matrículas ainda mais tardias em casos extraordinários. A O R.
aos preparatórios, mas distinguia­se dela em não ser obrigada a uma de 29 de Setembro de 1829, que por vezes temos citado a­pesar­de
frequência regular e assídua, que1 em verdade não é da essência de não ser documento legítimo, admitia que este Berviço se prorogasse até
um ensino de sua natureza individual, nem pode ser exigida a pes­ 15 de Outubro e não mais, e ainda assim só para os alunos que pro­
soas que precisam de ganhar com o trabalho próprio o sustento diário. vassem a impossibilidade de se terem matriculado no praso dos estatutos.
Em 1821 resolveu o conselho académico proibir a admissão de A matrícula não custava aos alunos senão os emolumentos que
alunos vohintários (3). O n.° 10 da C. Rég. de 29 de Setembro de pagavam ao secretário.
1829 estabeleceu igual proibição, mas este documento (>or haver di­
manado de um Governo ilegítimo não impediu o conselho académico c) Tempo lectivo e sua divisão. Os estatutos determinavam
de restabelecer em 1834 esta classe de alunos, aos quais permitiu que o tempo lectivo durasse desde o 1." de Outubro até o último dia
matricularem­se como obrigados, se no fim do ano apresentassem as de Junho (g 13). Parece que se devia entender por tempo lectivo o
certidões exigidas pelos estatutos (4). destinado ãs lições ou ao ensino, e que o mês de Julho seria consagrado
A condição da idade de 14 anos pelo menos, a­pesar­dos termos aos exames, os quais principiariam desde que findasse o curso lectivo
genéricos com que é imposta no g ó' dos mesmos estatutos, não se con­ (g 17). A não se entender assim, as férias seriam maiores do que os
siderou obrigatória senão para ■ matricula no 1.° ano matemático, que mesmos estatutos permitiam. Todavia, a princípio interpretou­se de
devia preceder o curso desta ciência, bem como o do comércio e de­ outra forma aquela disposição, c até ao ano de 1808 faziam­se exames
senho. em Junho e até em Maio. Desta data em diante cumpriram­se rigo­
As matrículas em disciplinas que não dependiam do 1.° matemá­ rosamente os estatutos.
tico não obrigavam a idade determinada (5). Os meses de Agosto e Setembro eram de férias, bem como 14
dias do Natal (de 24 tie Dezembro a 6 de Janeiro) e 15 na Páscoa
I1) Estai, de 1803, § 28.
(desde o dia de Ramos até o domingo tia Pascoela).
(*) Estai, de 23 de Agosto de 1787. A 5." feira era feriado, salvo se na semana houvesse dia santo ou
(5| Acta da Congregação de 30 de Junho de 1821 e edital de 20 de Setem­ ■í de gala (').
bro do dito ano no livro dos editais, II 28.
i {*) Acta da Congregação de 8 de Outubro de 1834 A palavra obrigados
não traduz bem o pensamento da resolução do conselho. Entende­se compreen­ (') Estai, de 1803, g 15; Estât, da Acad. Real da Marinha de Lisboa de 5 de
der também os alunos ordinários. Agosto de 1779; Estât, da Universidade de 1772, liv. 2, til. 2, capitulo 8, §§ 4 a 6;
(*) Edital do director literário, de Setembro de 1818, no livro dos Editais. Estai, velhos da mesma Universidade, liv. 2, til. 48, §§ 7 a 8. — O director literá­
.vi MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX) PORTO
ACAI>EMIA REAL OE MARINHA E COMÉRCIO
;.:.
Segundo estns disposições, os cursos lectivos vinham a ter 35 se­
manas ou cerca de 1G5 dias úteis, incluindo os destinados ãs repeti­ Segundo a lei, os professores de matemática deviam repartir o
ções, que eram às 2."" feiras (S 10). tempo das lições diárias em duas partes iguais, uma para a sua expli­
O horário estabelecido em 13 de Outubro de 1804 foi o seguinte: cação, outra para ouvir um ou mais estudantes sobre a lição explicada
1." o 2.° ano matemático das H as 10 horas da manhã no Inverno; 3." na véspera (1). Nas 2.°" feiras, repetiam­se as lições estudadas na se­
ano matemático, inglês e filosofia racional das 10 horas até ao meio mana anterior {'), interrogando­se os alunos uns aos outros, para o que
dia ; comércio, desenho e francês, das 2 as 4 da tarde. No verão as se tiravam ã sorte 3 defendentes c f> arguentes, presidindo o professor (3).
aulas de manhã começavam uma hora mais cêdo, e de tarde uma hora Deveria também haver umas repetições mensais, como se achava esta­
depois da indicada. belecido para a Universidade e para a Academia Real de Marinha de
Eisboa (4) ; mas parece que em nenhum destes estabelecimentos se le­
Este horário foi alterado pela Junta inspectora de acordo com o
vava tão longe como isto a antiga máxima, repcí/lio meter slitdionuu.
conselho académico, na forma do S 14 dus estatutos, em 4 de Outubro
de 1817, passando as aulas a ter só 1 '/a hora de exercício, em vez
de duas como até então. Segundo o novo horário, os trabalhos esco­ d) Faltas liírr/írms. Aos estudantes que nâo estivessem na
lares no inverno principiavam as 8 horas dl manhã e acabariam à aula seis minutos depois de começadas tis lições, ou que se ausentassem
meia hora depois do meio dia; DO verão uma hora mais cedo. Divi­ dela antes destas acabadas, era apontada a falta pelo guarda respec­
dido este espaço em 3 partes iguais, a 1." parte seria "destinada para tivo (5). Na aula de aparelho e manobra naval as faltas eram apon­
as aulas do 2." ano matemático, francês e manobra naval ; a 2.a para tadas pelo mestre da mesma aula (6).
as do 1." ano matemático, comércio, desenho e inglês ; a 3." para os Os estatutos desta academia não diziam o numero das faltas que
do 3.° ano matemático e filosofia racional e moral. Neste horário faziam perder o ano. Igual omissão se dava nos Estatutos da Acad.
ainda não é mencionada a cadeira de agricultura, que só se abriu no Real de Marinha de Lisboa de 5 de Agosto de 1779. Pelos da Uni­
ano de 181!» a 1820, devendo ter o seu exercício na 1." hora ('). versidade, de 1772, perdia­se o ano com um mês de faltas, ou com
Em 1833 estabeleceu­se ara novo horário, dando­se a 1." hora e dois meses se fossem justificadas. A justificação não se admitia, se o
meia ao francês, 2.° matemático, comércio e manobra naval : a '2. ' à aluno estava ausente, sem licença do reitor, da sede da Universidade ;
filosofia raciona] e 1.° matemático; ;l &■ ; l 0 3." matemático, desenho e para os que estivessem presentes, bastava qualquer indisposição em
inglês. Neste horário também se não menciona a cadeira de agricul­ que o excesso do estudo e a comoção dos espíritos, que é inevitável
tura que não funcionava desde 1829. nas acções literárias, possa prejudicar a saiide {'). Estas e outras dis­
Do exposto resulta que cada aula tinha, até 181", 10 horas por
semana e desta data em diante 7 '/l horas por semana ou 247 horas (') Estatutos de 1803, § 16 e Estât, d* Academia Real de Marinha de Lis
por ano, que praticamente se reduziriam a 20ti em algumas aulas. boa de 5 de Agosto de 1779, titulo do tempo $ horas das lições­
t ) Cit. Estât, de 1803. Em Lisboa as repetições eram nos sábados como
na Universidade.
(') Cit. Estât, de 1803 e do 7 de Agôsto de 1779, titulo dos exercícios
rio da Academia de Marinha e Comércio do Porto resolve» que o dia de gala semanários.
tirava o feriado de 5.» feira, por ser esta a regra seguida nas Academias da Corte, (*) Estât, de 1803 e 1779 nos lugares citados. Veju­se sobre os diversos
nos termos dos seua estatutos (oficio do Reu secretário de 29 de Outubro de 1829, exercícios das aulas os Estât, da Univ., liv. 1.°, til, 4.°, cap. 1 e 2; liv. 2.°, tit. 10.°,
no livro dos ofícios, II. 118, cap. 1 a 3, e liv. 3.°, p. l a , tit. 4 ° , cap. 1 a 4 e parle 2.*, tit. 5.° seus capítulos, e
p. 3.a, tit, 4.o.
(') O Edital de 5 de Outubro de 1819 dava ít agricultura a 2.a hora e ao
inglês a 1.», mas estas boras foram mudadas por despacho do director de 11 do (") Estât, da Academia Flea! da Marinha de Lisboa de 5 de Agôsto de 1779,
dito mês e ano, o que mostra que o director se julgava autorizado a modificar o titulo de algumas disposições pertencentes é boa ordem, etc. Estât, de 1803, § 47
horário. ("l Congregação de 21 de Junho de 1819.
(') Estât, da Universidade de 1772, liv. !.», lit. 4.o, cap. 3.«, e § 20.
56 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA I COMÉRCIO 57

posições dos estatutos da Universidade foram modificadas pela carta contidas «debaixo do título semelhante em os estatutos das Academias
régia de 26 de Setembro de 1787, que comunicou a perda do ano aos da C o r t o . Estas Academias, porém, não eram perfeitamente uniformes.
estudantes, que sem gravíssimas causas faltassem a 20 lições diárias Na Academia de Marinha de Lisboa havia as seguintes dispo­
ou a 2 sabatinas. sições :
Aplicando esta legislação à Acad. Real de Marinha de Lisboa, o Os alunos eram obrigados a dar conta de si e do que aprende­
decreto de 28 de Dezembro de 1800 determinou : 1.° que perdessem o ram, quando lho exigissem os respectivos lentes. Fora disso, guarda­
ano os estudantes que sem justa causa fizessem 20 faltas ou faltassem riam nas aulas rigoroso silêncio e tratariam seus mestres com todo o
a 2 sabatinas ; 2." que a justificação das faltas devia realisar­se no 1." obséquio e obediência. Os que faltassem a estes preceitos seriam
dia em que o estudante voltasse à aula, apresentando ao lente certidão admoestados até três vezes e por fim excluídos da aula. Estas penas
jurada do motivo por que faltou (') ; 3." que os estudantes que perdes­ eram­lhes aplicadas pelo respectivo professor (estât, de 5 de Agosto
sem o ano seriam publicamente avisados para não voltarem à aula, de 1779, título de algumas disposições pertencentes d boa ordem das
sob pena de se dar conta deles ao intendente geral da polícia, para aulas).
serem reputados por vadios, nos termos do decreto de 14 de Dezem­ Os estatutos da Academia dos Guardas­Marinhas determinavam
bro de 1799 (■). que se algum aluno faltasse essencialmente à subordinação e respeito
Estas disposições eram aplicáveis à Academia Real de Marinha devido aos seus mestres, estes o repreendessem, ou fizessem prender
e Comércio do Porto por força do § 47 dos seus estatutos. Nesta ou representassem para que fosse expulso, conforme a grandeza da
academia, porém, as faltas aos exercícios práticos, sem grave e mani­ falta (estât de 1 de Abril de 1796, título de algumas disposições
festa causa, eram contadas por três, e, se o aluno vencesse partido, relatiras, etc.)
perdia o duplo do vencimento diário dele relativo aos dias em que Segundo os estatutos da aula de desenho da Corte, o aluno que
houvesse faltado (estatutos de 1803 § 37). Todavia as faltas aos não estivesse na aula com decência e modéstia ou perturbasse os mais,
exercícios de aparelho e manobra naval eram contadas como as faltas pela primeira vez seria admoestado, pela segunda repreendido aspera­
às lições ordinárias (Res. em Congregação de 21 de Junho de 1819), mente e castigado, e pela 3.a despedido da aula com consentimento
e os alunos que perdessem o ano naquela aula, não eram admitidos a da Real Mesa Censória, a cuja inspecção estava sujeito este estabe­
exame na 3." cadeira de matemática enquanto não se mostrassem apro­ lecimento (estât, de 13 de Agosto de 1789).
vados na mesma aula (Cit Congregação de 21 de Junho de 1819). Os estatutos da Aula de Comércio de Lisboa eram omissos a este
respeito.
e) Olmgações, faltas e penas disciplinares. Os estatutos desta Desta variedade de disposições resultava um certo arbítrio, sem
Academia não estabeleciam disposições especiais a respeito do regímen que daí viesse algum inconveniente. O arbítrio era até o principio
e boa ordem das aulas. Neste ponto o § 47 remetia­se às disposições adoptado nos estatutos velhos da Universidade (Liv. 2, t i t 20, § 3),
que, encarregando ao reitor a sua execução, o autorizavam a admoestar,
repreender e castigar, como visse que convinha ao caso.
(') Havia igual disposição no art. 2.° dos decididos pela C. R. de 28 de Na Academia de Marinha e Comércio do Porto, a admoestação
janeiro de 1790 para a Universidade, mas este artigo permitia justificar perante a ou repreensão por factos ocorridos na aula pertencia ao professor,
congregação as faltas que não foram logo abonadas perante o lente. Na nossa como nos mais estabelecimentos da Corte ; mas a exclusão de um es­
Academia seguia­se o principio da justificação imediata (Edital da Secretaria de 3 tabelecimento em que um mesmo aluno podia cursar diversas aulas,
de Outubro de 1824).
não podia deixar de pertencer ao director a quem a lei encarregava,
(*) 0 decreto de 27 de Dezembro de 1800 vem extractado na Hist, do»
como acima dissemos, de zelar a observância dos estatutos e de fazer
Estab. Stitnt., do Snr. Silvestre Ribeiro, T. II, pág. 379. O de 14 de Dezembro de
1799 encontra­se na colecção das leis de Delgado. guardar a boa ordem e subordinação entre os empregados e os estu­
dantes.
58 MKHi'lRIA HISTÓRICA HA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA I COMÉRCIO 59

f) Prémios e partidos. Pelas nossas antigas leis académicas Os prémios na Universidade são de instituição mais recente. Fo­
havia diferença entre os partidos e os prémios propriamente ditos. O s ram estabelecidos para todos os anos de todas as Faculdades, sem ex­
primeiros tinham o carácter de pensão ou bolsa para ajudar as despe­ ceptuar aquelas que tinham muito grande frequência ('), e incluindo
sas dos estudos dos alunos pobres e aplicados. O seu principal fim ti s próprias em que havia os partidos, que são aquelas a que nós cha­
era chamar as escolas os indivíduos que não tivessem posses, mas que mamos de ciências naturais (medicina, matemática e filosofia).
se sentissem com força para alcançar pelo seu estudo em cada ano os
Os estatutos da Academia de Marinha e Comércio do Porto
meios de continuar o curso no seguinte. Os prémios tinham unica­
criaram 24 prémios, sendo l(i para matemática, 4 para desenho e 4
mente por fim promover a emulação entre os estudantes.
para comércio (§§ 44 a 4b). Até ao alvará de 16 de Agosto de 1*25,
Esta distinção vem clara no Av. Régio de 8 de Junho de 1793, aqueles prémios tinham antes a índole de partidos. Os próprios es­
mandando que se não dessem prémios nesse ano por ter havido perdão tatutos no S 37 lhes dão este título; e no S 46, justificando a criação
de acto e faltar a prova do exame, que é a única ou principal para dos prémios no curso de comércio, tomam era consideração a falta de
verificar o merecimento dos premiados, mas que se dessem os partidos meios que possa dar­se em alunos inteligentes para subsistirem e se
que foram instituídos para beneficiar os estudantes pobres e beneméri­ apresentarem com decência nas aulas.
tos nas Faculdades frequentadas por menor numero de alunos ('). Na Por isso que eram partidos, isto é, destinados a sustentar os alu­
verdade os partidos haviam sido criados no reinado de I). Sebastião nos durante os estudos, não lia via prémios para os que se houvessem
para 30 estudantes da Faculdade de Medicina: em luOb" criaram­se distinguido no último ano do curso. Assim se entenderam e execu­
outros para praticantes de farmácia (*). O s alvarás que os estabele­ taram sempre os citados SS dos estatutos em conformidade com os
ceram exigiram que os partidistas fossem cristãos velhos. Por isso estatutos da Academia de M a r i n h a . d e Lisboa (a) e com a legislação
a legislação liberal do reformador da Universidade de Coimbra de­ da Universidade que regulava a distribuição dos partidos (*).
nunciou este estabelecimento como «um nocivo pretexto para arruinar
Pela mesma razão estes partidos eram avultados e pagos em pres­
as famílias dos vassalos, para introduzir neles a divisão, e para dila­
tações; na Universidade, aos quartéis, nesta Academia aos meses, com­
cerar por meio dela a união cristã e a sociedade civil nestes reinos
preendendo os das férias. Aqui eram de 728(1011 reis (450 francos)»
e todos os seus domínios» (s). Todavia, ao mesmo tempo que anulou
distribuídos em mesadas de liXOOII reis (').
os decretos anteriores a este respeito para apagar os vestígios de into­
lerância, que maculavam as nossas leis, conservou a instituição e um­
pliou­a à Faculdade de Matemática (4). Posteriormente fez­se extensiva (') Os prémios foram criados nas Faculdades de Teologia e Direito por alvará
à Faculdade de Filosofia (5). régio de 25 de Setembro de 1787, na cit. colecção do snr. José Marin de Abreu.
fí Estât da Acad de Marinha de Lisboa de 5 de Agosto de 1799, tit. dos
partidos.
('} Estai da Univ. tit. 3, P. t.a, tit. 6, cap. 4, e P. 2.*: tit. 7, cap. 2; Estât.
(') Cil. Av. de 8 de Janeiro de 1793 na colecção ile legislação académica do da Academia de Marinha e Comércio de 18()3, § 44 e mais documentos.
Snr. José Maria de Abreu e na Historia doa Eslnb Scient., tom. V, p. 8 Em 1824 não se distribuíram prémios aos estudantes que tinham sido apro­
(') Alv. de 18 de Fevereiro de 1606 m coleção de legislação do Snr. Justino vados na !■' cadeira de matemática, que eram 9. (Is estudantes recorreram para
de Andrade e Silva, Lisboa 1854 e seg. o (inverno, o qual, depuis de 1er mandado consultar a Junta inspectora, ouvidos
rt Eslatutos da Univ. de 1772, lív. 3, p. I.*, lit 6, cap. 4, § 2. Vej, também os lentes tis matemática e o director literário, decidiu que para os prémios não
o preâmbulo e o § 3 do alv. de 20 du Agosto de 1774, na colecção de leis de bastava a aprovação, mas era necessário um merecimento distinto. (Re*, llég.
Delgado. 30 de Maio de 1826, sobre consulta da Junta Insp. de 28 de Abril do dito ano,
('( Estât, da Univ., cap citado e p. 2.a, til. 7, cap 2 e p 3 », tit. 6, cap. 4, § 5. informação dos lentes de 16 de Novembro s do director literário de 22 de Dezem­
(*) Aviso nég. de 23 de Janeiro da 1778 na colecção de legislação académica bro 1824, no livro do [legislo de ofícios e ordens da Junlu, liv\ 92, pág. 38 a 60),
do snr. José Maria de Abreu. Pelos estatutos, a Faculdade de Filosofia só tinha Nas ditas informações cita­se a legislação da Universidade que regula os partidos.
os partidos para os praticantes do dispensatório farmacêutico. [*) Estât, de 1803, g 44 e vários documentos.
60 MEMORTA HISTÉRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL OK MARINHA E COMÉRCIO 01

O alvará de 16 de Agosto de 1825, uo art. 8, reduzia os 24 pré- votações eram feitas por escrutínio na forma dos estatutos da Acade-
mios a 12, e o valor deles a 40$000 reis, sendo 6 para matemática, 2 mia de Marinha de Lisboa.
para comércio, 2 para desenho e 2 para agricultura, que pelos esta- g) Krames. Os estatutos tratam desta matéria nos §S 17 a 22,
tutos não os tinha. Para a diminuição da quantia, funda-se o citado mas ocupam-se apenas dos exames de matemática. O primeiro dos
alvará em que não ê o valor pecuniário dos prémios, mas sim a honra citados S§ remete-se aos estatutos da Academia de Marinha de Lisboa,
e a distinção de os haver merecido, o principal motivo que excita a que não podiam tratar senão dos exames desta ciência. Os outros
emulação entre os estudantes. Deste modo o citado alvará não re- cursos regulavam-se por estas disposições na parte aplicável e pelos
duziu s() o número e valor dos prémios, mas alterou a índole da insti- estatutos análogos dos estabelecimentos da Corte.
tituição. Não foi porém consequente, porque mandou que dos 6 pré-
Todos os estudantes eram obrigados a fazer exame no fim do ano.
mios de matemática fossem 3 para cada um dos anos em que são
Os que não o fizessem, ficavam reconduzidos por uma vez somente no
vencidos na forma dos estatutos, e o mesmo se entende a respeito dos
mesmo ano, transferindo-se-lhes para o seguinte o seu exame, ao qual
outros cursos. Assim, continuou a faltar prémio para estimular a emu-
deviam prestar-se sob pena de serem expulsos {§ 18).
lação entre os alunos do último ano dos cursos.
Os exames de matemática recaíam sobre três pontos ou assuntos
Os prémios de matemática eram dados pelos très lentes desta das matérias dadas durante o ano, titados à sorte 24 horas antes.
ciência. A este respeito nunca houve questões, nem o S 44 dos esta- Presidia ao exame o lente do ano e argumentavam dois lentes ou su-
tutos as permitia. Duvidou-se, porém, na congregação de 31 de Julho bstitutos de matemática. O acto duraria unia hora {'). Os examina-
de 1822 se era necessária a unanimidade de votos; se os alunos do dores não se satisfariam só pela conta que o estudante desse do
curso simples de pilotagem (que passavam do 1.° para a 3.° ano ma- ponto, mas pretenderiam reconhecer o seu talento e génio para o es-
temático) podiam concorrer a prémio com os do curso completo, e se tudo da ciência, e a facilidade de combinar por si mesmo as verdades
os repetentes podiam entrar em igual concurso com os discípulos do elementares que aprendeu e de variar metodicamente as demonstrações
ano. O Av. Rég. de 1 de Julho de 1823 decidiu negativamente a e usos ; isto, porém, com a devida prudência e moderação, para que o
primeira questão, (1) afirmativamente a 2.*, e não resolveu a 3.". Esta discípulo se não confunda (§ 19).
foi decidida negativamente pelo governo intruso de D. Miguel em Res.
No fim do exame procedia o júri à votação, por escrutínio sobre
de 24 de Setembro de 1830 (*), que não pertence à legislação acadé-
a aprovação ou reprovação.
mica por terem sido anulados todos os actos de autoridade daquele
Por uma disposição especial a esta Academia, o estudante que
Governo.
houvesse dado boa conta de si durante o ano, mas satisfizesse mal à
Desde 1805 até 1812 questionou-se se os prémios de desenho e prova do acto, podia ser submetido a um novo exame particular, por
comércio deviam ser votados por todo o corpo académico ou só pelos decisão dos examinadores sobre proposta do mestre do mesmo estu-
professores da especialidade. Os lentes de matemática sustentavam a dante (§ 20).
primeira opinião com fundamento nos §§ 45 e 4<i dos estatutos. A Depois da aprovação anual nas três cadeiras de matemática, os
Res. Rég. de 25 de Agosto de 1812, sobre consulta da Junta Inspe- estudantes que pretendessem ter a carta do curso completo deviam
ctora de 10 de Abril do dito ano, pfts termo a esta pendência, deter- sujeitar-se a um exame geral das disciplinas deste curso, à semelhança
minando que se procedesse íl votação na presença de todo o corpo do exame de formatura na Faculdade de Matemática da Universidade.
docente, mas si» tomassem parte nela os professores especiais. As O exame versava sobre nove pontos, sendo três de cada uma das três
cadeiras, tirados à sorte dois dias antes, e sobre uma dissertação, cujo
(') 0 § 44 dos estât, parece exigir a unanimidade; os estatutos da Univer-
•idade só a pluridadc de votos, liv. 3, P. 1.«, tit. 6, cap. 4, § 10. (') Estât da Aead. de Marinha de Lisboa. A ordem de 28 de Junho de 1821
Cl Na Hist, dos Kstab. Scient., tom V, p. 349. determinou que os argumentos não durassem mais de 20 niinutos.
62 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA 1'Ot.lTKCNICA DO PORTO ACADHMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 63

objecto era da* livre escolha do estudante, uma vez que fosse assunto Houve nesta Academia um único acto desta qualidade, que foi cm
de matemática e obtivesse a aprovação do presidente, que também era 1830. Nesse tempo não estavam em efectivo serviço na secção ma-
escolhido pelo examinando entre os lentes desta ciência. O exami- temática senão très lentes, dos quais dois nomeados pelo Governo in-
nando podia ser inquirido vagamente em arimética, trigonometria es- truso. Em 21 de Maio do dito ano tomou a congregação de niatema'-
férica e efemérides. C) exame geral devia ser feito nos últimos dias tica a respeito daquele acto as seguintes resoluções: 1.* que as teses
de Setembro, a-pesar-de serem feriados (§§ 21 e 22 dos estât, e estai apresentadas pelo estudante Joaquim Toreato Álvares Ribeiro fossem
da Univ. livro 3, P. 3.a, tít. ti, cap. 2). Esta última disposição, porém, aprovadas ; 2." que o acto publico da defesa das mesmas teses se
não se cumpriu senão uma vez. fizesse no dia 17 de Junho ; 3," que a ordem dos argumentos fosse na
0 alvarií do 16 de Agosto de 1S25 ainda introduziu um exame forma dos estatutos; 4." que segundo a letra da lei ficava assentado
de repetição e outro privado em matemática, 1 imitação dos que pre- em congregação que este acto se concluísse de manhã por não haver
cedem o grau de licenciado nesta Faculdade da Universidade de Coim- lentes que viessem argumentar de tarde ; ó.a que para o exame privado
bra. A repetição consistia na nova frequência simultânea do 2." e 3.° devia o discípulo tirar ponto das matérias do 2." e 3." anos ; 6.a que
anos matemáticos, a cujas lições c exercícios os repetentes ficavam por falta de número suficiente de lentes argumentasse no exame pri-
obrigados como os alunos ordinários. O exame de repetição versava vado cada um dos dois arguentes por dobrado tempo.
sobre uma dissertação e varias teses extraídas de todos os ramos do Todos estes exames tinham por fim habilitar os candidatos para
curso, livremente escolhidas pelo examinando, a cujo arbítrio ficava opositores ao magistério de matemática. Como em 1S34 se introduziu
também o número delas, uma vez que não fosse menor de 12 por cada o sistema de concursos para o provimento das substituições, cessou
ura dos anos. As teses deviam ser aprovadas pelo lente do .'!.' de facto esta instituição que deu A Academia um dos seus mais hábeis
a quem competia presidir ao acto, c argumentavam nele todos os lentes e instruídos professores (').
e substitutos de matemática na presença de todo o corpo da Academia Em todos os exames das outras disciplinas o júri era composto
Pelo costumo da Universidade, cada arguente escolhia uma só tese, só do professor e substitutos, excepto em agricultura, para cujos exa-
da qual dava conhecimento ao defendente com antecipação de alguns mes havia só o professor da cadeira.
dias. Sobre este acto não havia julgamento de aprovação ou repro- Os alunos do curso de comércio tiravam ponto 24 horas antes do
vação. exame (').
Depois, podia o candidato, quando lhe parecesse, requerer ao di- Os exames de desenho duravam muitos dias, como era necessário
rector litenírio que lhe mareasse dia para exame privado. para que os examinandos pudessem fazer as suas estampas. Costu-
Este exame versava sobre dois pontos, um da 2.', outro da 'A:' mavam prolongar-se pelas férias, o que foi proibido pela Congregação
cadeira, escolhidos pelo candidato de entre très pontos de cada uma em 30 de Junho de 1825.
destas cadeiras tirados ã sorte quatro dias antes. Devia haver seis
arguentes; e, quando faltasse algum, um dos lentes argumentaria duas h) Gariae. As cartas de pilotos o sota-pilotos eram passadas
vezes. Presidia o lente do 3." ano, e, enquanto êlc argumentava, to- pela Junta da administração da Companhia Geral de Agricultura das
mava a presidência a do 2.". Assistiam só os lentes e substitutos de Vinhas do Alto-Douro, como inspectora da Academia (estai SS 25
matemática, e o director literário. Kindo o exame, que devia ser feito
com o maior rigor, procedia-se ã votação sobre a aprovação ou repro-
vação ('). (l> O Snr. Joaquim Torcalo Álvares Ribeiro. Este professor foi provido
em concurso, mas na consulta insistiu-se no direito que êle tinha de ser provido
por haver desempenhado o serviço de opositor.
(') Cit. Alv. de Ifi de Agosto de 1825, §§ 3 e 4, o Estât, da Universidade de (*) Isto só desde 1825 por efeito da resolução da Congregação de 30 de
1772, liv. 3.o, P, 8.*, lit. 6.», cap. 3.° junto com outros tufarei a que o mesmo junho de 1825.
cap. 3.0 se refere.
M MEMÓRIA HISTO'UCA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÓtTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO i­.;,

26 e 63). As^ suas funções de inspecção cessaram em 1834. Desde tes da fundação da Academia. Este, pelo menos, felicita­se pela ri­
então podia aplicar­se o disposto nos estatutos da Academia de Mari­ queza dos meios que havia para o aproveitamento dos seus discípulos.
nha de Lisboa, que mandou passar as cartas de pilotos mercantes pelo Assim o prova o discurso, a que já aludimos, recitado, ao que parece,
lente de navegação (3.° ano matemático), devendo ser firmadas com o em 1803.
selo da Academia (cit. estatutos da Acad. de Mar. de Lisboa — título
«A única consolação que me acompanha (dizia 6le), é o vêr­me,
do exame geral, etc., in fine). F.ra, porém, mais regular que estas car­
n'este logar que occupo, munido dos mais raros monumentos e exem­
tas fossem passadas pelo director literário, e assim se praticou.
plares que podem insinuar, dispor e guiar os principiantes até que
As cartas de matemática eram passadas pelo lente do 3." ano João cheguem íl sublimidade de qualquer das artes a que se quizerem apli­
Baptista Fetal da Silva Lisboa. Este porém jubilou em 1825, e, não car, tendo uma colecção de obras as mais completas e especiaes em
se julgando o seu sucessor autorizado para continuar esta praxe, o di­ geometria, perspectiva e arquitectura, além de outra de ornatos e es­
rector literário determinou em 1826 que estas cartas fossem passadas tampas as mais singulares, com as estátuas dos mais célebres gregos» (1).
pelo mesmo director e em seu nome, e subscritas pelo secretário da
Provavelmente estas aquisições datam do ano de 1802, em que
Academia. Antes desta resolução, o secretário tinha mandado impri­
Francisco Vieira começou a reger a aula de desenho. Neste tempo
mir umas cartas com tenção de as passar aos estudantes que houves­
havia só esta aula e a de náutica, e as receitas destinadas ao seu cus­
sem acabado o terceiro ano matemático, depois da jubilação do refe­
teio eram muito superiores ãs despesas do pessoal.
rido lente Fetal (1).
Para o estudo de náutica e astronomia cuidou, logo no principio
As cartas de comércio, no tempo da antiga Academia de Marinha da Academia, a Junta inspectora de comprar alguns instrumentos e
do Porto, foram sempre passadas pela Junta inspectora. A última de utensílios. Assim, «desde o começo, possui a Academia alguns exce­
que há registo é datada de 1825, o que não admira, porque i\ grande lentes instrumentos de Dollond ; para as práticas trigonométricas um
maioria dos alunos deste curso valia o saber, de pouco lhes valia a
grafómetro e um teodolito, que dão 30 , <■, para as práticas de as­
carta.
tronomia náutica, três sextantes com graduação de prata, um quarto
Pela carta do curso completo de matemática pagava­se ao secre­ de círculo que dá 15', uma bússola de caixa de cobre de movimento
tário da Academia um emolumento de 2$400 reis. Pela do curso sim­ universal, e um relógio de Arnold de pesos e pêndula de compensação.
ples de pilotagem, 1$600 reis. Isto, só depois da Rég. Reg. de 17 de Tem mais duas lunetas para observações de eclipses, de 3 pés de foco,
Agosto de 1824, porque até então todas as cartas eram gratuitas. uma das quaes com apparelho para movimento lento no sentido hori­
sontal e vertical, de bastante aumento para mostrarem os satélites
ESTABELECIMENTOS E MEIOS PRÁTICOS DE ENSINO
de Saturno. Posteriormente, em 1828, adquiriu uma esfera armilar
e dois ricos globos para o estudo da geografia, o s de maior dimensão
Os estatutos encarregavam a Junta inspectora de prover a Aca­ que ainda hoje existem no reino» (8).
demia «de instrumentos astronómicos e marítimos, das cartas geo­ O observatório é que nunca teve um edifício conveniente. A
gráficas, topográficas, livros, esferas e de tudo quanto se carecesse para
a completa instrucção dos discípulos, uso dos lentes em seus exer­
cícios, decência e lustre da Academia» (§ 57).
{') Discurso feito na abertura da Academia de Desenho e Pintura na cidade
A aula de desenho não faltava nada do que havia sido solicitado do Porto por Francisco Vieira Júnior. Lisboa 1803, transcrito na Hist, do» Estab.
pelo insigne pintor portuense Francisco Vieira, que era lente dela an­ identifico», T. Hl, pág. 24 e seg.
( ) Discurso recitado na Acad. Polyt. do Porto na abertura do anno lectivo de
1846 para 1847 pelo lente da §.« cadeira, Joaquim Torquato Álvares Ribeiro,
(') Oficio do secretário da Academia de 30 de Outubro de 1826, DO registo
Porto 1847, pâg. 8 e 9. Grande parle deste discurso vem transcrita uu Historia
dos ofícios fl 110.
dos Estabelecimtnto* feientificos.
se MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

princípio esteve numa casa particular. Uma tentativa de roubo mos-


trou que os instrumentos nâo estavam ali seguros, pelo que foram re-
movidos para a Academia, onde se construiu um observatório provi-
sório, dominando todo o edifício da Academia e sem a solidez e firmeza
necessárias para observações rigorosas (1). s h
Para o ensino de aparelho e manobra naval havia um navio de -a _2

dois mastros (brigue), que ainda há poucos anos foi desmanchado,


(*( • £ «
porque, extinto ou abandonado o curso de pilotagem, ocupava inu- OS Q S
tilmente o espaço de duas grandes salas. &" » S.
A Academia tinha uma biblioteca, mas muito pobre. Em 1824, =
&. :=
o director literário qualifica-a de miserável e vergonhosa {*). O alvará
de 16 de Agosto de 1825 mandou aplicar à compra de livros a im- il
portância dos prémios que por falta de alunos distintos nâo fossem
distribuídos (cit. alvará, a r t 8). A Res. 11 de Julho de 1825, comu- •go
nicada em Aviso de 5 de Setembro do mesmo ano, conformando-se
com o parecer da Junta inspectora de 21 de Maio anterior, destinava
3 =
400$000 reis para as despesas do expediente ordinário da Academia ja fn
e mandava que, quanto em cada ano sobejasse desta quantia, se em-
pregasse em livros a benefício da biblioteca (3). Em 1828 foi a bi- H «
blioteca acrescentada com um sortimento de livros (4) ; mas a maior
cópia dos que a Academia de Marinha legou à Academia Politécnica,
sua sucessora, vem-lhe da providência dada no decreto de 9 de Julho • J l
de 1833. ï3 IJJI
Este decreto, fundando no Porto uma biblioteca pública e dotan- !•§ P I
do-* com os livros que compunham as livrarias de vários conventos p3 <—" jj j oj N
O
extintos, determinou que, dos exemplares duplieados, se dessem a esta
Academia as obras que tivessem por objecto as ciências matemáticas, o B.
S I
i
a navegação, o comércio, a agricultura, indústria e artes, geografia,
cronologia e história, ou quaisquer outros ramos de conhecimentos par-
ticularmente ligados com aqueles (cit. decreto, art. 11, g 1).

(') Oficio do director da Academia Polit, de 22 de Maio de 1837 no livro 67


da secretaria.
(*) Informação de 13 de Setembro de 1824 na Historia dos Estab. scientifi-
co*. T. II, pág. 419.
<") Registo de ;oficiog e ordens da Junta no Arquivo da Acad. Polit, liv. 92
í
pag. 61.
(*) Cit. discurso do lente da 5.a cad. Joaquim Torquato.
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 87

A Academia naquele tempo não tinha cadeiras de física, nem de


química, nem de história natural, e, ainda que estas ciências estavam
ligadas com a agricultura, o decreto parecia excluí-las, porque doava
expressamente um exemplar de cada um dos duplicados pertencentes
aqueles ramos à Escola Médico-Cirúrgica desta cidade (cit deer., art.
11, § 2).
Com este donativo adquiriu a nossa biblioteca muitos volumes c
algumas obras de estimação ; mas nem por isso ficou muito rica das
que mais de perto interessam à cultura das ciências professadas nesta
Academia.
A biblioteca governava-se pelo regulamento que lhe deu o direc-
tor Joaquim Navarro de Andrade, em 2 de Setembro de 1829, com
o título de «Instruções por que se deve regular o guarda da biblio-
teca> (!). Este guarda era o porteiro e oficial da secretaria António .
de Almeida dos Santos Júnior, que desde aquela data ficou «encarre-
gado do arranjamento, guarda e conservação dos livros da biblioteca,
com a gratificação de 300 reis diíírins, que lhe seria satisfeita pelos
réditos próprios da dita biblioteca» {*).

EDIFÍCÍO

Quaudo a Junta da Administração da Companhia das Vinlms do


Alto-Douro, na representação que acima mencionámos, de 4 de Janeiro
de 1803, pediu que se levantasse um edifício para as aulas, propunha
que nos baixos dele se construíssem lojas de abóbada, para se aluga-
rem em benefício do Seminário dos ( >ríaos da Graça, na conformidade
da planta que acompanhava a mesma representação.
No alvará de í) de Fevereiro de 1803, que resolveu a pretensão
da Companhia, não dá o Governo sinal de ter recebido a planta, e até
ordena que a Junta a mande levantar e submeter à aprovação régia,
pelo Ministério do Reino (cit. alvará S§ 3 e 5). E provável que já en-
tão se tratasse de fundar um estabelecimento muito mais completo do
que aquele para que tinha sido feita a mesma planta. Aquele alvará

(') Livro (92) do Registo de ofícios e ordens da Junta, no Arquivo da Acad.


Polit., pàg. 94 a 96.
(*) Port, do director literário de 2 de setembro de 1829 em conformidade
coro as determinações da Junla inspectora no cit. livro, pág. 93.
68 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA K COMÉRCIO CO

esqueceu-se de falar nas lojas, e vê-se de outro alvará de 29 de Julho


dicos importantes, que ainda podem servir para fixar as relações entre
do mesmo ano que foi um esquecimento grave.
a Academia, que é um estabelecimento do Estado, e o Colégio dos
Na verdade, este último alvará declarou que um dos principais
Órfãos, que o é municipal.
objectos da criação desta Academia fora acrescentar o património do
O projecto exorbitou da lei, porque, em vez de se ocupar só da
Seminário dos Órfãos da Graça, e que as lojas do edifício mandado
Academia, risca um novo edifício para o Colégio que o Governo não
construir para as aulas fossem arrendadas, sendo o seu produto admi-
se obrigara a construir, e liga este edifício com o da Academia, de
nistrado como as mais rendas daquele Seminário pela Câmara desta
maneira que em parte ficam ambos os estabelecimentos debaixo do
cidade, a qual teria todo o cuidado em que os Órfãos frequentassem
os estudos, «sem se distraírem com a assistência dos enterros, e muito
menos a pedir esmolas, visto que pela referida consignação cessa a
necessidade e indigência em que viviam» (1).
A planta foi levantada em 1807 pelo capitão de infantaria com
exercício no Real Corpo de Engenheiros, Carlos Luiz Ferreira da
Cruz Amarante, e aprovada em 26 de Setembro do dito ano pelo
ministro do reino António de Araújo de Azevedo.
O projecto do engenheiro Amarante consta de cinco folhas. Uma
destas contém o plano térreo, outra o andar nobre; as três restantes,
os alçados, excepto o do lado do nascente que não desenhou, como
êle mesma declara, para não aumentar o número de plantas. Um
alçado que existe da fachada do nascente, foi levantado em Maio de
1817 por outro arquitecto em conformidade com a planta baixa (*).
Das cinco folhas mencionadas so" as duas primeiras têm a aprovação
do ministro, mas nem por isso deixou de se regular pelas outras a
arquitectura adoptada para as obras feitas no tempo da administração
da Companhia das Vinhas do Alto-Donro.
Como em 1834 cessaram as obras e sé em 1865 se continuaram
por um novo plano, aquelas plantas ficariam descuradas e acham-se
bastante danificadas. O engenheiro que em 1862 elaborou o novo
projecto teve-as presentes, mas não as estudou senão em relação ao FACHADA NORTE no EDIFÍCIO DA ACADEMIA DE MARINHA EM 1833
fim a que propunha, e, se alguém as mencionou, foi como simples re- COM o SEU TORREÃO DO NASCENTE
miniscência histórica (3). Todavia, são estas plantas documentos jurí- (Desenho feito em 1833 p o r / . C. Fitaria Vtla-Nova).

(') Comparem-se as palavras transcritas no texto coin o que escrevemos mesmo tecto. Mas se o projecto excedeu os limites da concessão que
de pág- 7, a 9. o alvará de 29 de Julho de 1803 fizera aos Órfãos, estes ainda exce-
(') Do nome do arquitecto só se lê o primeiro e as últimas leiras do último, deram os limites do mesmo projecto, porque trazem alugado um espaço
Joaquim . -. aijo. Esta última pliinla, que foi a que se pôs em obra, faz alguma maior do que êle aplicava a este destino.
diferença da primitiva noa torreões do nascente.
Assim, em toda a parte do nascente, compreendida entre os tor-
[*} Snr. José Maria de Abreu no já citado Relatório da inspecção extraordi-
nária, feita à Academia Politécnica em 1864, Lisboa, Imp. Nac. 1865, pág. 32.
reões das extremidades, na extensão de 61r",64, não havia lojas aigu-
70 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

mas, e os Órfãos estão gosando há muitos anos as rendas de todos os


baixos desse lado, assim como os das duaH lojas provisórias estabele­
cidas em dois dos arcos do frontão do norte, onde não as podia haver,
porque era por ali a entrada para a Academia. A tudo isto se deve
atender na avaliação das indemnizações que direitamente pertencem frvttt y*t*1» dv
C ttma,*! Umpt éà /*>'* A •
aos Órfãos, quando se expropriarem as lojas para se continuarem as
obras em conformidade com o novo plano.
Em rigor, estas rendas extraordinárias devem ter sido capitaliza­
das para se construir com o seu produto o novo Colégio e sua igreja.
Pode ser que fosse esta a mente com que o Estado, ou quem o repre­
sentava, consentira em que elas fossem percebidas pela administração
dos Órfãos, visto que o imposto estabelecido para a Academia não
podia ser distraído para a construção do edifício do Colégio a não ser
a título de indemnização paga antecipada e lentamente por aquelas
rendas.
Segundo a planta de 1807, a forma do espaço ocupado pelo edi­
fício da Academia e Colégio dos ( )rfãos era um pentágono. A fachada
do norte, "que era a frente principal da Academia, olha para a praça,
outrora Feira da Farinha, hoje dos Voluntários da Rainha, e mede
61n',81 ; a do nascente, voltada para a rua que a separa do extinto
Recolhimento do Anjo, hoje Mercado do mesmo título, tem 89' n ,lí);
a do sul, 35 m ,55. A linha do poente quebra­ae a 38"',95, contidos da
extremidade do norte, e daí corre na direcção de SSE. e na extensão
de 55m,88 até acabar na quina, da parede do sul. Os ângulos entre
os lados do sul e poente, e entre as duas linhas deste último quadrante,
são obtusos ; os outros são rectos.
A arquitectura é a mesma do novo plano que acompanha esta
memória. Apenas sobre os torreões havia uma ática (1).
No andar térreo a Academia não tinha senão, além da entrada, . . I— «■­*■ «■ £^—*.>«. Cf.. /­m •

uma aula de primeiras letras (aula que ainda então não estava criada), ». CW«t> • . » • * ■ . . . . . . d . l è ­ .

uma sala para o 1.° guarda, e a casa do navio. A 1.» tem 8, m 28X7,34 = *md.w M . A*.> r*'t***t *m *■#/ f

61,m,r>l ; a 2." 5, n, 04X7,29 = 36,"|S74 ; a 3." é uma elipse com os eixos


de 17,'n48 e 8,m87 e a superfície correspondente de 121,'"a77.
A parte principal da Academia ficava no 1." andar. Ao longo
da fachada do norte havia as seguintes divisões : aula de comércio
> *<% h h t~t ­k~t. A :.. r. .1. ,l 4. ■>. t. A'•"—

(') A Memória de Adriano Machado não saiu acompanhada do prometido


plano, nem de qualquer outro, nem mesmo de qualquer gravura (Nota de A. de M. B.). Planta de Cruz Amarante, antes das alterações que lhe foram introduzida»
ACADEMIA HEAL DE MARINHA E COMÉRCIO 71

(8. n i llX 10,98 = 89, mï 05); dita do l.° ano matemático (8, m 01Xll m =
88, n , ï ll) ; salão para os actos solenes 13/-92 X 10,m97 = 152mí70) ; aula
do 2,° e 3.° matemáticos (7,m97 X l l m = 8 7 , n > , 6 7 ) ; sala sem designação
(8,'"05Xl0 m ,97=88, n,2 31); mais dois gabinetes o duas escadas, ocupando
ambas uma área de cerca de 3b' metros quadrados. Estas divisões
são todas ao correr da frente do norte e acham-se separadas das se-
guintes por um corredor de 57,"'41 de comprido e 2m,70 de largo. An-
te-sala da livraria (6, m 38X4, m 16 = 26, mí 54); pátio para luz (8,m27 X
7,70 =68,"*68)í escada principal (10,m97 X 8,27); aula de agricultura
(7, m 7SX7,'"63 = 59,mí3(3); outro pátio para luz (5,m51 X7.78); e uma
sala ( 1 , ^ 2 ^ 8 , 0 6 = 66,^66). Este correr de salas recebe a luz por
um claustro que lhes fica ao sul, excepto a ante-sala da livraria e a
última sala, que a recebem de janelas voltadas, a 1." ao nascente e a
2.* ao poente. Temos ainda do lado do nascente a livraria, com 10,"64
de comprido e (i,""38 de largo ((57,^^24), mais quatro quartos sepa-
rados, dois a dois, por um corredor, ocupando tudo uma superfície de
43"' quadrados. Do lado do poente há a elipse da casa do navio, que
tem a altura dos dois andares. Finalmente na ática do poente, que
devia estender-se desde o torreão da norte até o Angulo obtuso que
formam entre si as duas linhas do poente, devia ser estabelecida a aula
de desenho. No alçado da frente do norte aparece desenhado o obser-
vatório, mas não há a planta baixa deste estabelecimento.
No tempo da administração da Companhia construiu-se no sul a
parte que vai desde a entrada actual da Academia Politécnica até a
quina do nascente, toda a fachada de leste, e levou-se até o cimo do
andar térreo a parede exterior da fachada do norte e do torreão do
poente. A Companhia, porém, fez muitas construções provisórias no
terreno que devia ser ocupado pelos edifícios reunidos da Academia
e Colégio, não se esquecendo de aproveitar quasi todos os baixos des-
sas construções para lojas que eram arrendadas em proveito dos ( )rfãos.
Antes de feitas estas obras, a Academia não tinha espaço sufi-
ciente para as suas aulas. Estas acomodavani-se como era possível
no edifício dos Órfãos, exceptuando a de desenho, que ainda no ano
de 1804 funcionou no Hospício de Santo António de Vai Piedade ã
Cordoaria, onde hoje está o Hospício dos Expostos. O observatório
estava numa casa alugada, como dissemos. A secretaria ainda em
1824 se achava numa sala dos Órfãos, a quem se pagava 30$000 reis
de renda.
78 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA UO PORTO
ACADEMIA REAL l>E MARINHA E COMÉRCIO 73

No tempo do cerco do Porto (1832 a 1834) o edifício académico sendo de 5 reis em quartilho (943 '/a r e i s o u ° francos e 90 c. por
foi convertido em Hospital Militar. Em 13 de Outubro de 1834 come- hectolitro) nos dois meses de abril e maio, e 2 reis (377 Va o u 2 fran-
çaram os estudos no palacete da Snr." Viscondessa de Balsemão, hoje cos e 30 c. por hectolitro) no resto do ano.
do Snr. Visconde da Trindade, na praça que então se chamava dos O imposto para o edifício da Academia foi ampliado a todos os
Ferradores e agora de Carlos Alberto. Só as aulas de desenho e meses do ano pelo alvará de 10 de Agosto de 1825, § 1.
manobra continuaram nos seus antigos locais, que eram nas constru-
ções provisórias do lado do poente. O hospital militar só deixou
livres as aulas da Academia em 183G.

DOTAÇXQ

O alvará de !) de Fevereiro de 1803 estabeleceu distintamente


duas fontes de receita para duas aplicações diversas ; uma para a
construção do edifício, outra para os ordenados do pessoal (§§ 4 e 8).
Ainda havia diversas despesas que os estatutos de 29 de Julho do
mesmo ano mandavam pagar pela contadoria da Junta Inspectora,
sem declarar a receita com que haviam de ser satisfeitas (cit. E s t §§
48 e 57).
Para o edifício estabeleceu o citado Alvará de Fevereiro, por
espaço de 10 anos, o imposto de um real em cada quartilho de vinho
que se vendesse a retalho na cidade do Porto e distrito do privilegio
exclusivo da Companhia durante os seis meses de Julho a Novembro.
Este imposto corresponde a 188 3/s rois, on a um franco e 18 c. por
hectolitro.
O distrito privilegiado da Companhia abrangia, além do terreno
demarcado para os vinhos de exportação, a cidade do Porto e quatro
léguas em volta, que eram, segundo a medida daquele tempo, 24.088
metros (1). Então o imposto de consumo sobre o vinho era um real LADO POENTE DO EDIFÍCIO DA ACADEMIA POLITÉCNICA, EM 1833

em quartilho, durante todo o ano, para as obras públicas e barra do (Desenho feito em l 8 j j por / . C. Vitória VilaNova)
Porto, mais um real para a Casa de Correcção nos quatro meses de
Dezembro a Março, e 4 reis para as estradas do Douro nos dois meses E notável que esta contribuição fosse estabelecida por proposta
de Abril e Maio. A totalidade do imposto sobre este consumo, depois da Junta da Administração da Companhia das Vinhas do Alto Douro (')»
de aumentado pelo citado alvará de 9 de Fevereiro de 1803, ficava que era verdadeiramente quem a pagava, porque tinha o exclusivo da
venda do vinho a retalho no distrito do seu privilégio.
Cl O raio do circulo privilegiado à volta da cidade do Porto era de três
léguas peln § 28 da Insliluição da Companhia de 31 de Agosto de 1756, aprovada
por alvará de 10 de Setembro do dito ano. Foi elevado a quatro léguas por
Cl Representação de \ de Janeiro de 1803, na liist. dos Estab. Bcitntifieo»,
alvará de 16 de Dezembro de 1760.
T. 2.0, pág. 401.
74 EMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Quanto à receita para pagamento do pessoal, o alvará de 9 de


Fevereiro de 1803 apenas dispunha que «os ordenados dos lentes,
substitutos e roais pessoas empregadas em as novas aulas, fossem sa-
tisfeitos por onde o são actualmente OB de náutica e desenho» (cit. alv.,
§ 8). Segundo a legislação a que este alvará aludia (que então não'
tinha sido publicada e que ainda hoje em parte se conserva inédita), a
receita para esta despesa consistia, como dissemos, na decima dos di-
videndos dos accionistas da Companhia das Vinhas. O rendimento
deste imposto era calculado no Av. Rég. de 16 de Janeiro de 1779
em quatro contos e tantos mil reis, mas desde 1803 até L820 inclusive
nunca desceu de 6-856*000 reis (42.850 francos), nem subiu de
8.403$500 reis, ou 52.522 francos (1).
Esta quantia não era suficiente para o quadro estabelecido no al-
vará e estatutos de 29 de Julho de 1S03. A carta Rég. daquela
mesma data, dirigida ao desembargador Corregedor da Comarca do
Porto, determinava que do cofre das rendas desta cidade se aplicasse
cada ano até a quantia de 2.400$000 reis para os ordenados dos pro-
fessores e prémios dos alunos.
A terceira categoria de despesas a que aludimos não tinha con-
signação especial. A final decidiu-se que fossem pagas pelas receitas
criadas para o pagamento do pessoal.
Assim, em 18 de Janeiro de 1819, «deliberou a Junta que em
conta do edifício e obras da Academia se credite o rendimento da con-
tribuição estabelecida pelo § 4 do dito alvará de 9 de Fevereiro de 1803
e debite pela despesa do novo edifício, das aulas interinas, e outras
quaisquer obras ou concertos. E que em conta de despesas da Acade-
mia Real de Marinha e Comércio desta cidade se credite o rendimento
da contribuição estabelecida pelo S 8 do sobredito alvará, bera como
a consignação ordenada por Carta Régia de 29 de Julho de 1803, e
se debite pelos ordenados dos lentes e mais empregados, prémios,
custo de instrumentos, móveis e mais despesas que o § 57 dos esta-
tutos manda prover, fazendo-se os encontros necessários daquelas adi-
ções que se acharem lançadas em contrário desta deliberação» (*).

(") Parecer da comissão de inslrucão pública de 24 de Setembro de 1821


oo Diário das CÔrtts de Novembro desse ano, a pág. 2967. Plano térreo <l:i R. A. de Marinha s Comércio
O Livro intitulado iDeapesas gerais das aulas régias», no cartório da Com c Colégio dos Meninos i TfJlos
panhia das Vinhas.
por Cruz Amnrinttr — iXo-f
ACADEMIA R E A L U E MARINHA E COliÉRCIO 75

A dotação para o pessoal e expediente era muito inferior às des-


pesas, como se vê da seguinte nota delas, referida ao ano de 1820 :

Vice-inspector 1.800$000
Director literário 1.1'OOfiOOO
Secretário da Junta Inspectora . , 160$000
Secretário da Academia 96$000
Oficial e contínuo da Academia 180.$000
Primeiro guarda 220$000
Seis guardas a 144$000 reis 864$000
Pois serventes , . , 152$000
Total do pessoal de inspecção, direcção, secretaria e
polícia 4.672$000
lentes de matemática 3
» de filosofia racional, comércio,
desenho e agricultura 4
Director da aula de desenho. . . . 1
8 a 600$000 4.800$000
4 Professores de francês, inglês e de primeiras letras
a 400ÇOOO reis I.fi00$000
3 Substitutos de matemática e 1 de filosofia racional,
4 a 450$000 reis l.KOO$000
2 Substitutos de comércio e desenho a 350$000 reis . 700Ç000
2 Substitutos de francês e inglês e 1 mestre de apa-
relho c manobra naval, 3 a 300$000 reis . . . . Í)QO!?000
Total do pessoal docente 9.800$000
Despesas diversas, a saber :
24 prémios para os alunos a reis 72|00Q . . . . . 1.72K$000
Toque dos sinos para a entrada e saída do estabeleci-
mento , liOfOOO
Aluguer da casa que serve de observatório . . . . 67Ç200
Dito da sala de secretaria 30$000
Expediente, despesas do aniversário de sua majes-
tade, etc 8641460
Soma das despesas diversas 2.730$650
70 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 77

Resumo : dências, montava a 2.242$000 reis (14.012 */l francos), que não devia
Inspecção, direcção, secretaria e policia 4.672$000 realisar-se desde logo, porque se respeitavam os direitos dos empre-
Pessoal docente 9.800$000 gados existentes.
DespeaaB diversas 2.739$650 A dotação especial da Academia veio a cessar desde que foram
Total . . . 17.211*650 extintos as privilégios da Companhia das Vinhas do Alto-Douro pela
legislação de 1832 a 1834. A consignação dos 2.400$000 reis pela
Câmara Municipal já tinha sido retirada pelo Governo de D. Miguel.
A esta quantia ainda havia que acrescentar a de 7,'i$000 reis,
As despesas totais foram fixadas pelo decreto de 19 de Outubro
importância do vencimento do patrão do escaler, resto do antigo en- de 1836 cm 10.642$000 reis.
cargo da administração das fragatas de guerra que devia ser paga
Do que dissemos, quando nos ocupámos do magistério da Acade-
pela décima dos accionistas da Companhia.
mia, deduz-se que os vencimentos do pessoal docente, nos termos do
As duas verbas de que se compunha a receita consignada paru
citado decreto montava a 7.500$0$0 reis. A esta verba deve acrescen-
estas despesas eram computadas no mesmo ano em 9.932$800 reis,
tar-se a de 100&000 reis para gratificação dos substitutos que even-
sendo 7.532Ç800 reis a importância da décima dos accionistas da Com-
tualmente regessem cadeiras. As outras despesas eram as seguintes :
panhia e 2.400$000 reis do cofre das remias municipais (').
Havia, pois, um deficit de 7.352$000 reis on 45.050 francos. Os Primeiro secretário da Academia 250$000
desfalques acumulados desde 1803 a 1820 montavam no fim deste
Um bibliotecário que servirá nos impedimentos do se-
último ano a 64.540$830 reis (403.380 francos), que era quanto a Com- cretário da Academia
panhia havia adiantado para as despesas correntes da Academia (*). 250$000
Qm guarda-mer e fiel da Academia . . . * . . . . 240$000
As Cortes suprimiram os lugares de vice-inspector da Academia e Seis guardas subalternos a 146$000 reis 876$000
de director da aula de desenho, e reduziram a 20OÇ000 reis o ordenado Dois serventes a 72$000 reis 144$000
do director literário. Era uma economia total de 2.600$000 reis, que Gratificação ao lente que servir de director . . . . 200$000
ainda estava muHo longe de estabelecer o equilíbrio. A diminuição Expediente ordinário da Academia 400*000
do ordenado do director não chegou a realisar-se, senão em 1836, Prémios aos estudantes 4801000
como já dissemos.
Aluguer das casas enquanto a Academia se não esta-
Em 1825, pelo alvará de 16 de Agosto, que várias vezes temos belecer no edifício que lhe pertence 200$000
citado, reiiniram-se os dois cofres, por onde até então se faziam sepa-
radamente as despesas do edifício e do pessoal. Ao mesmo tempo Total das despesas diversas 3.040SO00
fizeram-se algumas economias, suprimindo-se uma substituição de ma-
temática, a dois lugares de segundos guardas, reduzindo-se os ordena-
Antes do citado decreto gastava a Academia no pessoal docente
dos do professor e do Bubstituto da aula de primeiras letras e dimi-
e diversas despesas 13.299Ç200 reis, não incluindo as obras do edifí-
nuindo-se o número e quantia dos prémios pecuniários. O mesmo
cio que há muito tempo se achavam suspensas.
alvará elevou a 240.f000 reis o ordenado do secretário da Academia,
que era de 96$QO0 reis. A economia líquida, resultante destas provi-
SECRETARIA

nt Cit. tiv. das «Despesas gerais das aulas régias» fl 87 v. A-pesar-de se haver transferido para administração directa do
(*) Cil parecer da comissão de instrução pública de 24 de Selembro de Erário Régio a receita e despesa do antigo estabelecimento das fra-
1821, no Diário da» Cõrtts. gatas de guerra do Porto, a Provedoria da Marinha, que era uma das
78 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA ■ COMÉRCIO 79

repartições daquele estabelecimento, continuou sob a direcção da Com­ os termos de matrícula c fazia o nmis serviço própria das secretarias.
panhia das Vinhas do Alto­Douro (1). Al primeiras actas eram escritas em nome dele, mas por outra letra e
Criada esta Academia, o escrivão da Marinha foi encarregado não têm a sua assinatura. A primeira acta subscrita pelo secretário
das funções de secretário dela, «com o mesmo ordenado que lhe está é de 13 de Nov. de 1810, e a primeira escrita e assinada por ele é de
estabelecido» ( ). 13 de Maio de 1812.
Este ordenado tinha sido de 96$000 reis; fora elevado a 24GSS000 Os secretários da Academia de Marinha e Comércio do Porto
reis, e outra vez reduzido a íMi$000 reis por Av. Reg. de 16 de Janeiro foram : — 1." João Peixoto da Silva (1803 — 1808); 2.° Francisco Pei­
de 1779 (3), que vigorava quando se promulgaram os estatutos de 1803. xoto da Silva, filho do precedente (1808 — 1809) ; 3.° Agostinho Pei­
O alvará de 16 de Agosto de 1825 tornou a elevá­lo a 240$000 reis (4), xoto da Silva, irmão do antecedente (1809 — 1828); 4." Manuel Nunes
e o decr. de 19 de Outubro de 1836 levou­o a 250$000 reis. de Matos (1828 — 1834), tendo já antes disso exercido o lugar no im­
Antes deste alvará, a Res. Rég. de 17 de Agosto de 1854 já tinha pedimento do proprietário; 5.° José Augusto Salgado (desde 10 de
melhorado a situação deste funcionário, concedendo­lhe os mesmos Abril de 1834). Todos foram nomeados pela junta da Companhia
emolumentos estabelecidos a favor do secretário da Academia de Ma­ das Vinhas do Alto­Douro.
rinha de Lisboa, pelo decreto de 27 de Setembro de 1800 (5).
Os emolumentos eram os seguintes : *

Matrícula, informação, certidão ou atestação de fre­ LISTA ALEAUÉTTCA DOS LENTES E DIRECTORES DA ACADEMIA
quência 480 DA MARINHA E COMÉRCIO DA CIDADE DO PORTO
Busca de livros pertencentes a cada ano . . . . . 180
Cada carta de aprovação no 3.° ano, havendo o curso
inteiro ou completo 2$400 Agostinho Albano da Silveira Pinto. — Filho do bacharel José
Cada provimento de prémio ou carta do 3.° ano de Xavier da Silveira Pinto e de sua mulher D. Maria Perpétua Pereira
curso de pilotos 1$600 da Silveira. Nasceu na cidade do Porto em 17 de Julho de 1785.
Faleceu na freguesia de Águas Santas, do concelho da Maia, distrito
Os lentes na ocasião da posse costumavam dar ao secretário uma do Porto, em 18 de Outubro de 1852.
peça de ouro (14.188 gramas), e uma gratificação ao primeiro gunrda Dos principais factos da sua vida pública já demos conta a
e aos outros subalternos ; prática abusiva e como tal reprovada pela pág. 40, onde tratámos dele como director desta academia. Veja­se
Port de 28 de Junho de 1833 (6). também um facto que lhe diz respeito a pág. 46 e 47.
O secretário escrevia as actas, enchia e assinava ou devia assinar Ainda que é datada de 28 de Fevereiro de 1815 a carta régia do
seu despacho para a cadeira de francês desta Academia, já assistiu
como professor à sessão do conselho de 10 de Outubro de 1814, cer­
*(.■> Vej. supra pág­ 5 e 6.
tamente por haver sido nomeado pela Junta inspectora.
O Estai, de 29 de Julho de 1803, § 7. O texto diz teserivão da matricula*
erradamente, em vez de «escrivão da marinhai. As cartas régias dos seus primeiros despachos, bem como as
(*) tiegist­ no livro da marinha da Companhia das Vinha* fl 59, No alv. actas do conselho até à de 31 de Julho de 1818, suprimem­lhe o
de 16 de Agosto de 1825, § 9, o dito Avis. Rég. é citado com a data de 10 de último apelido.
Janeiro, e pode ser que seja esta a verdadeira. O Dircionario Bibliúgraphico do snr. Inocêncio Francisco da Silva
(') Cit. Alv. § 9, na colecção de legislação.
nos três artigos que lhe dedica nos tom. l.o e 8.°, menciona as
(6) Na colecção de legislação de Delgado, pàg. 649 e seg.
(") Regist. DO liv. (661 da Acad. de Mar., fl. 149 e 150. soguint.es obras do Conselheiro Agostinho Albano:
so MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Ode ao corpo militar de lentes e doutores voluntários. Coimbra,


Impr. da Uoiv. 1808. — 8.".
Novos elementos de grammatica franceza, extrahidos dos gram-
maticos mais celebres e act editados em França. Lisboa 1815. A 2."
edição saiu com o título de Elementos de grammatica franceza pura
uso dos aiumnos que estudam esta lingua na real academia de mari-
nha e commercio da cidade do Porto. Lisboa, Impr. Rég. 1818, de
100 pág. — Fez-se uma 6." edição no Porto, Tip, Comercial, 1852, de
vu — 231 pág.
Primeiras linhas de ckitnica e botânica coordenadas para uso
dos que frequentam a aula de agricultura na real acad. da marinha
t commercio. Parte l.a Porto 1827. 4.° de xvm-200-149 pág.
A 2.» parte que devia tratar da agricultura não chegou a publicar-se.
Noções sobre a cholera-morbus indiana, extrahidas principalmente
da obra de J. Kennedy e outros- Lisboa Impr. Rég. 1832 — 8.°, de
xii — 113 pág.
Conclusões practicas ou aphorismos deduzidos - da observação
sobre a cholera morbus. Porto, Tip. de Álvares Ribeiro, 1833. — 8.°
gr., de 10 pág.
Código pharmaceutic lusitano, ou tractado de pharmaconomia,
no qual se explicam as regras e preceitos com que se escolhem, conser-
vam e preparam os medicamentos, e se apresentam as virtudes, usos e
doses das formulas phurmaceuticas. l.a ediç. Coimbra 1835; 3." ediç.
ibid. 1841 ; 4." ediç. Porto, Tip. da Revista, 1 8 4 6 . ^ 8 . " gr., de LIX —
606 pág.
Pharmacographia do código pharmaceutic lusitano. Coimbra,
Impr. da Univ. 1836.—8.o gr., de xix — 391 pág.
Epidemia catarrhosa. Porto, Impr. de Alvares Ribeiro. — 8.° gr.,
de 16 pág.
JHscurso pronunciado na inauguração da cadeira de economia
politica instituida pela Associação Comercial do Porto no dia 30 de
maio de 1837. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1837. — 8.° gr., de
38 pág.
Prelecções preliminares ao curso de economia politica da eschola
da Associação Commercial do Porto. Porto, ibid. 1837.—8.o gr., de
293 pág. com o retrato do autor.
Exame da questão sobre a livre navegação do rio Douro. Porto,
ibid. 1840. — 8.° gr., de 56 pág.
ACADEMIA REAL [JE MARINHA E COMÉRCIO ,S1

A divida publica portuguesa, sua hisforia, progressos e estado


actual. Lisboa, tmpr. Nac. 1839 — 4.0, de xiv —206 pag.
A crise financeira em 1841, a commissão creada por decreto de
22 de março do mesmo anno, e as Memorias do snr. deputado líoma.
Porto, Tip. da Revista, 1841.—8." gr.
Exame critico das causas próximas da actual situação financeira.
Lisboa, Imp. Nac. 1843. — 4.°.
Exposição synoptica do systema geral da fazenda publica em
Portugal, addicionada com algumas observações. Ibid. 1847. — 4.° gr.
- 57 pág.
Elogio de Agostinho José Freire, no n.° 7 dos Annaes da Sociedade
Litteraria Portuense. Porto 1839.
Memoria biographica do conselheiro José Ferreira Borges, no
tom. 1.° da Revista Litteraria.
Foi também redactor principal da Revista Estrangeira. Coimbra.
Impr. da Univ. 1837 e 1838, e da Revista Litteraria, Porto 1838 a
1843, 11 vol. 8.° p . , e publicou vários artigos no Repositório da So-
ciedade Litteraria Portuense, e em muitos outros jornais. Consta maus
(acrescenta o snr. Inocêncio) que, além de importantes trabalbos ma-
nuscritos, deixou prontos para a imprensa dois volumes da obra de
que ultimamente se ocupava, por êle intitulada Historia financeira de
Portugal desde o tempo do Conde D. Henrique até o nosso.
Atribui-se-lhe mais a redacção dos seguintes escritos ou pelo
menos a parte principal na sua colaboração:
Memoria estatistico-historica sobre a administração dos expostos
na cidade do Porto, redigido pela camará municipal da mrsma cidade.
Porto, tip. da viúva Álvares Ribeiro 1823. - 4.° de 42 pág,
Relatório que a commissão sanitaria da cidade do Porto fez subir
á augusta presença de S. M. Imperial o Duque de Bragança. Lisboa,
Imprensa do Governo, 1833.— 4.° 35 pág.
Balbi cita como manuscritos deste professor uma sábia dissertarão
sobre a quinquina do Rio de Janeiro; uma memória sobre as febres e
seu tratamento; e uma sábia dissertação sobre a história da agricultura
portuguesa.
Vej. as biografias mencionadas pelo snr. Inocêncio Francisco da
Silva.

António Carlos de Melo e Silva. — Nasceu em Santa Eulália de


Águeda, bispado de Aveiro, em 21 de Maio de 1794. Falecido entre
S2 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO
83

1838 e 1840. Filho de Bernardino José de Melo e mulher Francisca e jubilado com o ordenado por inteiro por decr. de 31 de Dezembro
Leonor de Melo. Bacharel formado era medicina pela Universidade de de 1858 e C. R. de 19 de Janeiro de 1859.
Coimbra, e doutor pela de Louvara. Obteve em concurso a proprie- Como livre pensador, começou as suas publicações literárias pela
dade da cadeira de francês desta Academia por decr. de 9 de Fev. e tradução anotada dos romances de Voltaire. Em 1851 converteu-se
C. B. de 28 de Março de 1835. Foi dos exonerados por decr. de 19 subitamente ao cristianismo, e publicou em 1866 uma obra ascética
de Outubro de 1836, em consequência de se haver recusado a jurar a com o título de Novíssimos ou últimos fins do homem. O intervalo
Constituição de 1822. Foi provido na direcção da Escola Normal do entre as duas obras de tão oposta inspiração é preenchido com escritos
Porto por decreto de 8 de Março de 1838. e trabalhos de ciências naturais que lhe grangearam o louvor de sábios
nacionais e estranjeiros.
António da Costa Paiva, — 1.° Barão de Castelo de Paiva desde O artigo que lhe consagra o snr. Inocêncio Francisco da Silva, no
1854, bacharel formado em Filosofia e Medicina pela Universidade de tom. 8," do seu Diccionario Bibliographico Portuguez, menciona as
Coimbra, e doutor pela Faculdade de Medicina de Paris. Sócio efec- seguintes publicações ;
tiva da Academia Beal das Ciências de Lisboa. Membro correspon- Romances de Voltaire, traduzidos em portuguez e ampla e livre-
dente das Academias de Medicina e Cirurgia de Tolosa, Montpellier e mente annotados Porto 1836.— 8.° gr.
Marselha; associado estrangeiro da Sociedade Zoológica de Londres, Aphorismos de medicina e cirurgia praciicas. Porto, Tip. Co-
da Sociedade de História Natural de Cassei, da Sociedade das Ciências mercial Portuense 1837.— 8.° gr.—205 pág.
Naturais de Estrasburgo, das Sociedades Botânicas de França e de Relatório do Barão de Castello de Paiva, encarregado pelo go-
Edimburgo, da Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro. verno de estudar o estado da Ilha da Madeira sob as relações agríco-
Vogal extraordinário do Conselho Geral de Instrução Pública até h las e económicas, Lisboa 1855, Imp. Nacional — 4 . ° — 11 pág.
extinção deste Conselho em 1868. Nasceu no Porto em 12 de Outu- Descripção de dous novos coleopteros de Camboja, Lisboa Tip.
bro de 1806. Reside desde 1855 na Ilha da Madeira, por causa duma Universal 1860.— 8.° gr.— 11 pág. e uma estampa.
afecção pulmonar, mas tem vindo frequentes vezes a Lisboa. Descripção de duas especks novas de coleopteros das Ilhas Caná-
Nascido de pais cque o educaram austeramente», como êle mesmo rias, Ibid 1861. - 8.° gr. de 8 pág\
diz na sua auto-biografia, e sustentado por dois parentes durante os Descripção de duas espécies novas de coleopteros originários de
seus estudos em Coimbra e Paris, adquiriu uma fortuna avultada, que Angola, seguida da de outras duas igualmente novas, também de An-
tem distribuído pelos hospitais e outros estabelecimentos de benefi- gola por T. V. Wollasfon. Na Gazeta Medica de Lisboa n.° 11 de
cência do pais, reservando para si o usufruto ou antes acumulando nas 1862, e também em folheto separado.
suas mãos os rendimentos até os repartir segundo os impulsos da sua Noticia da descoberta de dous molluscos novos e também dos types
piedade. A esta Academia doou êle uma inscrição de assentamento da vivos de duas espécies fosseis do archipelago madeirense, publicado em
Dívida Pública Portuguesa do valor nominal de 1.000$000 reis a Londres nos Annals and Magazine of Nat. Hist. Agosto 1862.
beneficio do Jardim Botânico, de que foi o primeiro director. Origens dos mezes de Março e Maio. Nos Fastos de Ovídio trad,
Regeu desde 1834 até 1836 uma cadeira de filosofia racional e pelo snr. António Feliciano de Castilho (1.° Visconde de Castilho) tom.
moral, que havia no Porto além da de igual disciplina em a nossa 2.°, pág. 217 e seg. e tom. 3.» pá?. 191 e seg.
Academia. Foi nomeado lente de agricultura e botânica da mesma Description of a new sempervivum from the Salvage Island by
Academia por decr. de 20 de Outubro de 1836 e C. R. de 3 de Janeiro the Baron do Castello de Paiva. No Seeman's Journal of Botany,
de 1837. Depois de reformado este estabelecimento em Politécnica, Londres 1866.
foi despachado lente da 10," cadeira (botânica) e director do Jardim Description de dix espèces nouvelles de mollusques terrestres de
Botânico por doer. de 11 de Janeiro, e C. R. de 28 de Julho de 1838i l'archipel de Madeira. No Journal de Conchyologie de Melb. Crosse
et Fischer. Paris n.° 4 de 1866.
84 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 85

Novíssimos ou últimos fins do homem. Lisboa, Tip. Uoiv. 1866. O sábio professor da Politécnica do Porto doou à Academia Real
— 8 gr.— 2 tomos com 436 e 451 pájí. «Eis aqui uma obra (diz o das Ciências de Lisboa um herbário madeirense, composto de 600
snr. Camilo Castelo-Branco) que não parece de hoje em dia, quer a espécies por êle coligidas e ordenadas; outro herbário de 372 espécies
vejamos virtual quer literariamente. A substancia d'ella prende com por êle observadas e recolhidas nas ilhas Canárias, e uma colecção
os tempos luminosos do muito crer e do muito entrar-se o homem do completa dos moluscos terrestres e fluviais do arquipélago madeirense.
convencimento do seu nada. A forma, o dizer, é de tão bom quilate Deu também ao Jardim Real de Kew um herbário de plantas naturais
portuguez, que apenas poderei estremar a vernaculidade do autor dos do continente de Portugal e das ilhas dos Açores. Veja-se no cit.
Solilóquios d'entre as paginas lusitanissimas do auetor dos Novíssimos artigo do snr. Inocêncio a indicação de várias obras e jornais estran-
que tanto horabro a hombro se eleva com o oratoriano, de quem te- geiros em que foram honrosamente mencionados os trabalhos do ilus-
mos um devoto livro idêntico na intenção e no titulo... O snr. Ba- tre professor que honrou o magistério portuense.
rão do Castello de Paiva, a um tempo movido de ferventes estímulos
de amor a Deus, e consubstanciado no modo de exprimil-os pelo estylo António Dias de Faria. — Substituto da cadeira de inglês por C.
dos mysterios do século de ouro, tanto em fé, como em brilho de elo- R. de 5 de Janeiro de 1811, e proprietário da mesma cadeira por C.
quência, deu á estampa os seus Novíssimos». R. de 3 de Dezembro de 1827. Em 1832 foi esta cadeira provida em
Monographic* molluscorum terrestrium, fiuvialium, lacustrium José Eleutério Barbosa de Lima.
insularum maãeirensium, nas Memor. da Acad. R. das Scienc. de
Lisboa —sáencias mat. e natur. — tom. 4.° P. l. a 1867. (Vej. a res- António Fortunato Martins da Cruz.—Filho de Cosmo Martins da
peito desta importante monografia o Die. Bibliogr. do snr. Inocêncio, Cruz e de sua mulher Custódia do Sacramento Ludovina. Nasceu no
tom. 8.°, pág. 420). Porto em 13 de Fevereiro de 1796. Aluno premiado da nossa Acade-
Biographia 1877, Lallemant Frères, Lisboa. «Escrevi (começa mia, bacharel formado em matemátrea e medicina pela Universidade
o autor) este esboço biographico, só por contentar alguns amigos de Coimbra. Provido, precedendo concurso, no lugar de substituto da
que insistiam em publicar-me a vida». São 4 páginas de ascetismo, «faculdade de mathematica da academia de marinha e commercio do
em que o autor se esquece quási Completamente do seu assunto, omi- Porto», por decr. de 30 de Janeiro e C. R. de 17 de Fevereiro de 1835.
tindo a maior parte do que constitue a sua glória mundana. Exonerado, como quási todos os seus colegas, por decreto de 19 de
Colaborou com o sûr. Alexandre Herculano na publicação da Outubro de 1836, em razão de se ter recusado a jurar a Constituição
Chronica d'El-Rei D. Sebastião por Fr. Bernardo da Cruz Lisboa. de 22 proclamada pela revolução de Setembro de 36. Foi provido
Impr. de Galhardo e Irmãos. 1837. — 8." gr. de xvi —446 pág., e numa das substituições de medicina da Escola Médico-Cirúrgica desta
do Roteiro da viagem de Vasco da Gama em 1497 (atribuído a Álvaro cidade por decreto de 17 de Maio de 1838, e promovido em 7 de Ja-
Velho), 2.* ediç. correcta e aumentada de algumas observações princi- neiro de 1854 à propriedade da 7.a cadeira da dita escola (história
palmente filológicas por A. Herculano e o Barão de Castelo de Paiva. médica, patologia geral, patologia e terapêutica internas). Foi um dos
Lisboa, Impr. Nac. 1868. — 8.° gr. de XLIIJ — 180 pág. e mais uma primeiros médicos do Porto, onde faleceu em 1855. Era Cavaleiro
de índice. Na l. a edição desta obra tinha colaborado com o snr. Ba- das Ordens da Torre e Espada, e da Conceição, e de S. Maurício da
rão de Castelo de Paiva, o snr, Diogo Kõpke, também lente da Acade- Sardenha. Foi médico de S. M. Et-Rei Carlos Alberto da Sardenha,
mia Politécnica. Porto, Tip. Comercial Portuense, 1838. — 8.° gr. de falecido no Porto em 27 de Julho de 1849.
xxvii— 183 pág.
O snr. Inocêncio menciona também a these inaugural do snr. António José da Costa Lobo. — Nasceu no Porto, freguesia da Sé,
Barão do Castelo de Paiva, sobre tísica pulmonar, impressa em França em 21 de Janeiro de 1784. Filho de António José de Sousa Lobo e
e defendida perante a Faculdade de Medicina de Paris. D. Rosa Ricarda. Frequentou nesta Academia desde a sua fundação
86 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO
87

em 1803 o curso de matemática, do qual fez exame geral era 3 de jurar a Constituição de 1822. Adido, por virtude da carta de lei de
abril de 1807. Substituto de matemática pela Res. Rég. de 15 e C. 19 de Outubro de 1840, e decr. de 9 de Dezembro do mesmo ano, ao
R. de 20 de Julho de 1814. Era substituto da 3." cadeira, posto que Liceu do Porto, como substituto de inglês com o vencimento anual de
a sua Carta não o declarasse. Foi indevidamente preterido na pro- 125$000 reis. Professor de história, cronologia e geografia no mesmo
moção à propriedade desta cadeira por José Avelino de Castro, que, Liceu por C. R. de 10 de Maio 1852, tendo sido antes disso substituto
conquanto houvesse sido nomeado substituto oa mesma data, devia da cadeira de oratória. Reitor do dito por C. R. ou decr. de 30 de
ter-se na conta de mais moderno, porque Costa Lobo era mais antigo Maio de 1855.
na matrícula, na habilitação e na graduação adquirida pelo exame Escreveu no n.° 3.° dos Annues da Sociedade Literária Portuense
geral. Assim o reconheceu a C. R. de 20 de Junho de 1826 (') que em 1837 uma Memoria sobre as ruinas e antiguidades de Pompeia.
sem revogar o despacho feito deu ao preterido uma reparação com- «O auctor (diz o snr. Inocêncio Francisco da Silva) visitou pes-
pleta equiparando-o em ordenado e em honras ao lente José Avelino soalmente aquellas ruinas, e offereceu aos seus patrícios, na linguagem
ao qual devia preceder, porque assim o tinha decidido já a Res. Rég. materna, a exposição do que alli viu, examinou, admirou e indagou.
de 10 de Maio do dito ano (*). Foi dos lentes demitidos por D. Miguel Tem, pois, para nós, afora qualquer outro mérito, o de ser este es-
em 13 de Maio de 1829. Restituído ao magistério pela entrada do cripto o único que possuímos escripto originalmente em portuguez,
exército libertador do Porto, em Julho de 1832, tornou a ser exone- sobre aquele interessante assumpto» (').
rado era 19 de Outubro de 1836 por nao ter querido jurar a Consti- Fez também algumas traduções para o teatro, e escreveu um
tuição de 1822. Nessa época devia estar regendo a cadeira do 3.° drama original a que deu assunto a catástrofe de Alfarrobeira.
ano matemático desde 1834, porque o lente José Avelino de Castro
havia perdido o seu togar em 1832. Foi jubilado por C. R. de 14 de António José Lopes Alheira. — Bacharel formado em medicina.
Dezembro de 1839, porque à data da última exoneração já contava Provido por C. R. de 16 de Novembro de 1832 na cadeira de filosofia
mais de 20 anos de serviço. Faleceu em 1844 (?). racional e moral da nossa Academia, «vaga pela ausência e criminosa
fuga de José Duarte Sallustiano Arnaud». Tendo-se recusado a jurar
António José Dias Guimarâis. — Filho de Domingos José Dias a Constituição de 1822 proclamada pela revolução de Setembro de
1836, foi exonerado por decreto de 19 de Outubro do dito ano. Pro-
Guimarãis e de sua mulher Ana Miquelina Rosa. Nasceu no Porto em
vido na cadeira de ideologia, gramática geral e lógica do Liceu Nacio-
1 de Maio de 1805. Faleceu em S. João da Foz a 9 de Agosto de
nal do Porto por decr. de 11 de Janeiro de 1840. Fahceu, segundo
1857 e foi sepultado na Igreja dos Terceiros de S. Francisco no Porto.
parece, em fins de 1851 ou princípios de 1852 na freguesia de Santo
Racharei formado em leis. Emigrara em 1828 por constitucional.
Ildefonso desta cidade.
Substituto da cadeira de inglês desta Academia, tendo precedido con-
curso, por decr. de 9 de Fevereiro e C. R. de 17 de Fevereiro de 1835.
Exonerado, por decreto de 8 de Outubro de 1836 por não ter querido António José Teixeira de Abreu Júnior. — Foi nomeado substi-
tuto de desenho por decr. de 15 de Outubro de 1834; mas este des-
pacho foi anulado pela Port, de 15 de Dezembro do mesmo ano, por-
que o iogar Unha sido provido em Manuel da Fonseca Pinto, ainda
(') No livro do registo das cartas régias, fi. 69 vers-, na secretaria da Acad.
que este se demorou a tirar a sua Carta, cuja data é de 5 de Novem-
Polit. Vej. acima pág. 165.
Cl Mencionada em ofício da Junta Inspectora de 29 de Maio de 1826, regis- bro do dito ano.
tado oo livro de registos de oficiou e ordens da II.ma Junta (livro 921, existente
na secretaria da Acad. Polit, pág. 69. Antes disso, a Junta avisadamente susten-
tara a precedência do lente José Avelino «em quanto sua magestade não mandar
(') Dieeion. bibliogr. portug. vol. 8,°, pág. 199.
o contrário*. Ofic. da Junta de 80 de Dezembro de 1825 no cit. livro, pág. 68.
88 MEMÓRIA HISTÓRICA I>A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

António Lebre de Sousa Vasconcelos. — Substituto de matemática


por C. R. de 10 de Dezembro de 1829, e lente do 1.° ano matemático
por C. R. de 8 de Outubro de 1830. Estes despachos ficaram anula-
dos por terem sido feitos pelo Governo de D. Miguel. Se era, como
presumo, irmão de Joaquim Lebre de Sousa Vasconcelos, lente da Fa-
culdade de Matemática na Universidade de Coimbra, seria filho de José
Lopes Lebre Teixeira, e natural da Mealhada.

António Luiz Soares. — Filho doutro do mesmo nome e de sua


mulher Caitana Maria de Jesus. Nasceu a 7 de Setembro de 1805 na
freguesia de Miragaia, cidade do Porto. Frequentou nesta Academia o
curso de matemática desde o ano de 1819 a 1820 até ao de 1821 a 22,
continuando ainda depois disso no estudo do inglês. Serviu numa bate-
ria montada em 1826 contra a divisão do general Silveira, e em toda a
campanha do exército libertador, onde foi 2.° tenente de artilharia,
depois l.o tenente ajudanie de campo do comandante geral, e final-
mente capitão da 6,a bateria montada. Foi feito Cavaleiro da Torre e
Espada por decreto de 9 de Junho de 1833 pelo serviço que prestou
nas linhas do Porto, ganhando na batalha de 5 de Setembro do dito
ano o grau de oficial da mesma Ordem (decr. de 25 de Setembro de
1833). Os seus serviços nas linhas do Porto e Lisboa foram louva-
dos na ordem de dia de 25 de Setembro de 1833. Foi nomeado lente
do l.o ano matemático desta Academia por decr. e carta rég. de 31
de Dezembro de 1836.
Em 1846 tomou armas pela Junta do Porto. Depois da conven-
ção do Gramido em 1847, ausentou-se para o Brasil, e fundou um co-
légio na cidade de Pelotas, província de S. Pedro do Sul.
Em 1851 entrou de novo no serviço da Academia. Teve o au-
mento do terço do ordenado por decreto de 29 de Maio de 1861. Fa-
leceu em Lordêlo do Ouro, concelho do Porto, em 23 de Janeiro de 1875.
Escreveu :
Exposição dos elementos d'arithmetic a para o uso dos estudantes
do collegio de Santa Barbara na cidade de Pelotas. Pelotas Tip. de
L. J. Campos, 1840.'— 8.° peq. de 260 pág. e 8 estampas.
Exposição das suas lições sobre a numeração e as í operações na
escola da associação industrial portuense, com explicação para este en-
sino nas escalas primarias, impressas no Jornal da mesma associação
em 1853.
ACADEMIA REAL D E MAKINHA K COMÉkCIO
89

Bússolas de redução de pezos e medidas antigas ao systema mé­


trico e reciprocamente — noções do systema métrico para a explicação
das ditas bússolas no referido Jornal de 1853.

António Pedro Gonçalves,— Nasceu no Porto a 26 de Novembro


de 17G8. Filho de João Gonçalves e de Tereza de Oliveira. Frequen­
tou nesta Academia o curso de comércio desde 1803, e foi nomeado
substituto da cadeira desta disciplina por C. R. de 29 de Julho de
1806. Promovido I propriedade da mesma cadeira por C. R. de 11
de Jan. de 1819. Faleceu em 1828.

António Pereira de Araújo Júnior.— Substituto da cadeira de


comércio no tempo do Governo do D. Miguel por C. R. de 18 de De­
zembro de 1829.

António Pinto de Almeida.— Nomeado para ■ cadeira de francos


por decr. de 19 de Outubro e C. R. de 10 de Dezembro de 1836.
Reformada a Academia de Marinha e Comércio pelo decr. do 13 de
Janeiro de 1837, passou este professur para o Liceu Nacional do
Porto, por virtude do art. 166 do cit. decr., mas só começou a rece­
ber pela folha do Liceu em Fevereiro de 1841. Parece que faleceu
em 1852 na freguesia de Cedofeita.

António Teixeira de Magalhãis. — Substituto da cadeira de francês


por C. R. de 28 de Fevereiro de 1815. estava regendo esta cadeira,
quando foi preterido no despacho para a propriedade dela por Fran­
cisco Soares Ferreira em 1819, o continuou a regê­la até ao dia 11 de
Março de 1821, no qual tomou posse o novo proprietário (1). Faleceu
em 1831 depois de 13 de Julho desse ano.
No Diccion. Bibliogr. do snr. Inocêncio, tom. l.°, pág. 280 e tom.
8.°, pág. 312 e seg., vem mencionado como professor régio de retórica e
de grego no Porto e Draga um autor deste mesmo nome, cujos escri­
tos foram publicados desde 1782 até 1825. Não é impossível que à
identidade do nome corresponda a da pessoa. O substituto de francês
da nossa Academia era retórico, e recitou a oração de abertura no ano

(') Vem esta observação no caderno das falias doa estudantes de francês
no ano de 1820 a 21.
90 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA S E A L DE MARINHA E COMÉRCIO íil

de 1821, porque espontaneamente se prestou a este serviço que não Augusto Roquemont. — Retratista, director da aula de desenho da
3ra obrigatório e de que nenhum outro professor se quiz encarregar nossa Academia por C. R. (de D. Miguel) de 28 de Novembro de 1831,
sm tempo algum, senãn o lente Agostinho Albano da Silveira Piuto «não obstante o decreto (aliás alvará) de 13 de Outubro de 1824 que
vide supra pág. 48). É provável que o director literário, que então suprimiu o dito logar». A cit. C. R. diz que êle é de nação Hesse
3ra o conselheiro Joaquim Navarro de Andrade, a quem chamavam em Darmstadt. O conde Raczynski (a pág. 251 do seu Dictionnaire Histó-
Coimbra «língua de prata», nâo aceitasse o oferecimento de António rico-artistique du Portugal - Paris 1847, e Les Arts en Portugal, pág.
Teixeira de Magalhãis para recitar o discurso de abertura não se fi- 96), diz que é natural da Suiça, e deixa entender que nasceu em 1806.
zesse bom conceito das suas letras. Corre que era filho natural de Luiz x, Grão-Duque de Hesse-Darmstadt.
O catálogo das obras mencionadas nos citados lugares do Diccio- Veio para Portugal em 1830, depois de ter passado muito tempo na
nario Bibliographico é o seguinte : Itália. Raczynski cita, como seus melhores retratos, os do conde e
Quadro da vida humana ou a taboa de Cehes Tkebano, tradu- condessa de Farrobo, de pé ; de Woodhouse no Porto ; do coronel Sar-
zido do grego em portuguez. Porto 1787. 8.° de x— 52 pág. Lisboa, mento e do barão e baroneza de Lemercier. O cit. A. indica como a
1819 — 8.° de 54 pág. melhor das suas obras um quadro representando numa paisagem os
Compendio de rhetorica portugueza escripto para uso de todo o qualro filho:! do snr. Hodgson, negociante inglês, e acrescenta que é
género de pessoas que ignoram a lingua latina. Porto oífi. de Antó- a todos os respeitos um quadro excelente digno dos bons pintores
nio Alves Ribeiro Guimarâis 1 7 8 2 . - 8 . ° de vut — 141 pág. E nova- flamengos da época de Van der Helst, tendo-lhe sido pago este quadro,
mente Lisboa, Tip. Rollandiana... 8.°. com mais dois retratos, por 456$000 reis. - O mesmo autor cita um
Epistolas e evangelhos com varias orações proprias, que se lêem pequeno quadro de género com muitas figuras, de cerca de 14 centí-
na missa, em os domingos e /estas do anno, conforme o uso do missal metros, representando um pároco de aldeia visitando os fregueses no
romano etc., traduzidos em vulgar. Lisboa, Tip. Rollandiana 1819,— dia de Páscoa, e outro representacfdo uma cena popular na proviucia
l2.o e 2 tomos. do Minho, um grupo de músicos, um homem e uma mulher que dançam
cercados de espectadores, numa paisagem, quadro de um colorido bri-
Odes de Anacreonte, traduzidas do grego em verso portuguez.
lhante e ao mesmo tempo harmonioso, cujas figuras tem cerca de 27
Lisboa, Imp. Reg. 1819. — 8.° de 118 pág. Saíram com as iniciais
centímetros.
A. T. M. Contém 56 odes com o texto na frente.
Nova traducção das éclogas de Virgílio com notas e uma noticia tM. Roquemont é um pintor consciencioso, despido de orgulhosa
da vida do poeta: por A. T. M. Porto, Tip. da Viuva Álvares Ribeiro presunção, inteligente, colorista verdadeiro. É dotado em muito alto
Filhos. — 1825. — 8.° de 136 pág. grau do sentimento das artes, e julga-as maravilhosamente» (1). O
snr. Raczynski cita muitas vezes a Mr. Roquemont, e copia um breve
António Ventura Lopes. — Substituto da cadeira de primeiras artigo sobre a arquitectura portuguesa a pág. 410 e seg. de Les Arts
letras da nossa Academia por decr. de 9 de Fevereiro e G. R. de 5 de en Portugal.
Março de 1835. Tinha sido professor de instrução primária na fre-
guesia de Miragaia desta cidade desde 1821. Recusou jurar a Consti- Barflo do Castelo de Paiva. — Vide supra António da Costa Paiva.
tuição de 1822 proclamada pela revolução de Setembro de 1836, e
foi exonerado por decr. de 19 de Outubro do dito ano. Ficou adido, Bernardino Joaquim Pinto. — Foi nomeado director interino da
por virtude da lei de 19 de Outubro e decreto de 9 de Dezembro de Academia de Marinha e Comércio por decr. de 27 de Setembro de 1836,
1840, à Escola Normal de Ensino Mútuo desta cidade, com o venci- mas nâo aceitou e foi exonerado por decr. de 8 de Outubro do mesmo
mento anual de reis 75$000. ano. Por isso não o incluí na relação dos directores a pág. 39-40.

(') Raczynski, Dieion., pág. 251 e Les Arts en Portugal, pág. 96.
92 MEMÓRIA. HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA R E A L DE MARINHA E COMÉRCIO
'.Kl

Caetano ( F r . ) das Dores. — Monge beneditino. Lente do 3.o


ano matemático por C. R. de 10 de Dezembro de 1829. Faleceu pro- Parece que passou parte do tempo do seu exílio em França, e
vavelmente em 1830 sem que chegasse a reger a cadeira. parte na Inglaterra. Frequentava a biblioteca de Renues, e ai se lhe
abriu o gosto pelos estudos arqueológicos.
Carlos Mac-Carthy da Cunha.— Substituto de ingles por decr. Na emigração não recebeu subsidio ; vivia dos socorros que lhe
de 19 de Outubro de 1836. Passou para o Liceu do Porto na forma enviava a família, e do seu trabalho como colaborador do Plymouth
<5r Davenport Journal.
do art. 166 do decr. de 13 de Janeiro de 1837, mas só começou a ser
abonado pela folha do mesmo Liceu em Fevereiro de 1841. Parece Fez a campanha da liberdade, comandando diversas baterias du-
que faleceu em 1844. rante o cerco do Porto, e distinguindo-«a na decisiva batalha da Assei-
ceira, onde foi condecorado com a Torre e Espada. Em 24 de Julho
de 1834 foi promovido ao posto de capitão.
Carlos Vieira de Figueiredo. - Proprietário da cadeira de filoso-
fia racional e moral depois da exoneração do médico António José Lo- Em 1836 foi nomeado lente do 3.° ano matemático da nossa Aca-
pes Alheira pelo decr. do 19 de Outubro de 1836. Não chegou a tirar demia por decreto de 23 de Outubro e C. R. de 8 de Dezembro do
dito ano. Reformada a Academia em Politécnica, foi despachado para a
a sua carta, porque em 12 de Dezembro do mesmo ano oficiou ao di-
5.a cadeira (trigonometria esférica, princípios de astronomia, geodesia
rector partieipaqdo-lhe que estava resolvido a demilir-se ; e foi na ver-
e navegação) por decr. de 11 de Janeiro e C. R. de 27 de Setembro
dade exonerado por decr. de 28 do dito mês. Foi pai de Carlos Au-
de 1838.
gusto de Figueiredo Vieira, guarda-salas da Biblioteca do Porto e autor
de algumas obras. «Prestou (diz o snr. Inocêncio) importantes serviços ás letras na
publicação de valiosíssimos escriptos inéditos que jaziam quasi igno-
rados, e promettia fazel-os maiores se a. morte o não arrebatasse" tâo
Danagan. —Vide Tomaz.
cedo» (1).
Publicou as seguintes obras:
Diogo Kopke. — Filho de Diogo KÕpke e de D. Ana de Barbosa
Ayalla. Nasceu no Porto a 16 de Fevereiro de 1805 e ai se finou de Quadro elementar da historia portugueza, segundo as épocas das
moléstia de peito era 25 de igual mês de 1844. suas revoluções nacionaes. Porto, Tip. Comercial, 1840. Impresso
em uma folha, ao largo, sem o nome do autor.
Seus pais destinavam-o ao comércio, e tiveram-o num colégio de
Inglaterra, de onde voltou aos 10 ou 11 anos de idade. Vendo nele Apontamentos archeologicos. Ibid. 1840. —8.» máx. de 48 pág.
«Recheadas de erudição histórica e geographica, fundidas pelo molde
uma decidida inclinação para as leiras, não lha quizeram contrariar, e
da mais apurada critica» (').
mandaram-o para Coimbra, a-fim-de estudar a medicina ; mas outra
vez lhe erraram a vocação. Nos primeiros anos dos seus estudos uni- Roteiro da viagem que em descobrimento da índia pelo Cabo da
versitários não precisou Diogo Kõpke de desenganar seus pais, porque Boa Esperança fez D. Vasco da Gama em 1497. Segundo um ma-
nuscripto coetâneo, existente na Bibl. Publica Portuense. Publicado
tinha de frequentar os três primeiros anos dos cursos de matemática
por Diogo Kõpke e o dr. António da Costa Paiva. Ibid. 1838. — 8.° gr.
e filosofia, que eram preparatórios para o de medicina, fcntão não lhe
de xxvit. —183 pág. — (Veja acima o artigo que trata do dr. António
foi difícil obter anuência da sua família para concluir o curso da Fa-
da Costa Paiva).
culdade de Matemática, em que na verdade se formou.
Assentou praça de cadete no 4.° regimento de artelharia, sendo Tractado breve dos rios da Guiné e de Cabo Verde, desde o rio
de Sanagâ até aos baixos de Santa Anna, pelo capitão André Alvares
depois promovido ao posto que pelos seus estudos lhe pertencia.
de Almada. Ibid. 1 8 4 1 . - 8 . ° de xiv - 108.
Em 1828 teve de emigrar por haver tomado parte na malograda
contra-revoluçào do Porto a 16 de Maio desse ano. Então era tenente
adido ao Estado-Maior. (') Diccion. Bibliogr. Portug. Tom. 2.o, pág. 160.
(*) Revista litttraria, tora. V. pág. 499.
ACADEMIA REAL DE M A R I N H A E COMÉRCIO
94 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔKTO 95

Primeiro roteiro da Costa da índia desde Goa atê Diu, narrando Roma. O intendente, porém, não escolheu coisa que prestasse, e os
a viagem que fez o vice-rei D. Garcia de Noronha em socorro d'esta dois insignes pintores portugueses não são obra sua (').
mesma cidade, etc., por D. João de Castro. Ibid. 1843. — 8.0 máx. Era 1791 obteve Sequeira um primeiro prémio da Academia de
de xLvi — 284 pág. S. Lucas, sendo o assunto do concurso o milagre dos pifes e dos pei-
Carta physko-mathematica sobre a theoria da pólvora em geral xes. Em 1794 foi nomeado académico de mérito da mesma Acade-
e a theoria do melhor comprimento das peças em particular. Escrita mia, oferecendo para isso a Degolação do Baptista. Depois de ter dado
por José Anastácio da Cunha em 1760. brilhantes provas do seu talento em algumas cidades de Itália, e estu-
dado aí os melhores modelos, voltou à sua pátria em abril de 1796.
Todas estas obras têm introduções, prefácios, ou notas, muito eru-
Chegado a Lisboa visitou Pedro Alexandrino e Cirilo Volkmar
ditas da pena de Diogo Kôpke.
Machado, a quem se lastimou do abatimento da arte, e lhes propôs
Foi o principal redactor do Museu Portuense, jornal literário pu-
que se unissem todos para a exaltar, dando-lhe mais estimação, e maior
blicado de Agosto de 1838 até Janeiro de 1839.
valor às obras. Pela sua parte bem se esforçou por levar a cabo o
«Occupava-se ultimamente (diz o sor. Inocêncio) de colligir e
seu propósito, mas debalde. Todos desejavam ter uma obra sua, mas
ordenar para a impressão todos os escriptos inéditos de D. João de
ninguém lhe chegava ao pi aço. O conde do Vai de Reis quis imcum-
Castro». Começou e adiantou muito o índice ou catálogo de todos os bi-Io da pintura de dez batalhas numa das suas ante-càmaras, mas
manuscritos que possuía a Biblioteca Pública do Porto. aterrou-se com o preço de reis 4.800$000 que Sequeira lhe exigia.
Domingos António de Sequeira, ou somente Domingos de Se- O pintor desanimou, e caiu em tal melancolia, que se fez monge da
queira. — Cumendador da Ordem de Cristo, Cavaleiro da Imperial do Cartuxa.
Cruzeiro do Brasil, director honorário da Academia de Belas-Artes de Parecia já perdido para o século, quando D. Rodrigo de Sousa
Lisboa, conselheiro da Academia Romana de S. Lucas. Nasceu em Coutinho conseguiu que o snr. D. João vi o nomeasse por decreto de
Belém, subúrbios de Lisboa, a 10 de Março de 1768 e faleceu de apo- 28 de Junho de 1802 primeiro pintor da câmara e corte com reis
plexia em Roma a 7 de Março de 1837 (e não em 1838 nem 1839, 2.000$000 de ordenado, e a obrigação de dirigir e executar com o
como disseram alguns dos seus biógrafos). seu colega Francisco Vieira Portuense a melhor parte das pinturas do
Foi Sequeira um dos primeiros discípulos da Aula de Desenho da novo Palácio da Ajuda.
Corte aberta em 1781, onde alcançou alguns prémios. Depois de a Em Setembro de 1803 foi aceito para mestre da snr.a Infante
cursar durante 5 anos, foi estudar a pintura com o engenhoso e extra- D. Maria Tereza, e deram-lhe sege e hábito de Cristo, e depois novas
vagante Francisco de Setúbal, a quero ajudou a fazer alguns tetos no honras e pensões para si e sua filha {*).
palácio de João Ferreira, rico sapateiro e negociante de couros. Pro- Em 7 de Janeiro de 1806 foi proposto pela Junta da Administração
tegido pela casa dos Marialvas, obteve uma pensão de 300$000 reis da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto-Douro para dire,
paga pelo bolsinho de S. M. para estudar em Roma, aonde chegou em ctor da aula de desenho da nossa Academia, com a obrigação de resi-
1788, elegendo para seus mestres, em pintura, Cavalluci e, em compo- dir no Porto três meses por ano a-fim-de vencer o seu ordenado. E
sição e desenho, Picola. foi na verdade nomeado por C. R. de 8 de Maio de 1806, na qual to-
O snr. Trigoso cuidava que Sequeira e Vieira foram dos alunos
enviados a Roma pelo intendente geral da polícia Pina Manique (1).
que formavam o que então se chamava a academia portuguesa em (') Vej. a nota do snr. duque de Palmela em Racjsynski, Diccion. historieo-ar-
tistiq. du Portugal. Paris 1847, pág. 267. Sigo e quasi copio a Cirilo Volkmar
Machado.
(') Discurso do sor. Trigoso no Congresso de 1823, resumido na Hist, dos ( ) Cirilo Volkmar Machado, Colltecão dt memoria» relativas ás vidas do*
Estab. scient do snr. Silveslre Ribeiro, III. 57. pintores e eseulptores, arekitectos e gravadores portugueze*. Lisboa, Imp. de Vi-
ctorino Rodrigues da Silva. 1823, pág. 149 e seg.
96 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX) PORTO

davia se não menciona aquela obrigação. Verdadeiramente, só serviu


o dito cargo em 1806 e 1807, posto que recebesse o ordenado respe-
ctivo até à supressão do lugar em 1821. De 1808 em diante não há
outro vestígio do serviço de Sequeira como director da aula de desenho
desta Academia. Apenas em 1813 um Av. Reg. de 11 de Agosto (1)
manda «que os lentes de desenho communiquem ao director da aula
d'esta faculdade, Domingos António de Sequeira, o estado d'esta aula
e progressos dos seus discípulos, assim como todas as circunstancias [*MTMI^—
IIBÍH:' ftiim: 1
que sobrevierem, para enviar-lhes as providencias necessarias> ( a ).
No ano de 1808 em que Sequeira principiou a desaparecer do
exercício do referido cargo, foi ele envolvido num processo crime pe-
rante o Juizo da Inconfidência. Era acusado : l.o de ter pintado uma
alegoria, justificando o general Junot e deprimindo a nação portuguesa;
2.o de ter convertido em casa de pintura a sala do docel do paço da
Ajuda; 3.° de ter consentido que entrasse um cavalo em uma casa
do paço.
Da primeira arguição, única que hoje se pode reputar por deson-
rosa da memória de Sequeira, so defendeu êle, alegando que não pro-
cedera voluntariamente, porque tinha de emigrar ou de obedecer a
Junot, que lhe indicara o pensamento do quadro. Ainda assim reve-
lou ai mesmo o seu patriotismo, porque, iludindo a intenção do gene-
ral francês, pintou a cidade de Lisboa, sentada em atitude trvste, ampa-
rada pela religião e pelo génio da nação portuguesa, e Junot em acção
de a consolar. Junot não ficou satisfeito com o esboço, pelo qual era
acusado o seu autor. Além disso Sequeira reeusou-se a pintar outros
quadros encomendados pelo mesmo Junot, ainda com risco de perder
o seu logar. Sequeira podia ter acrescentado, se a ocasião lho tole-
rasse, que não era o patriotismo português quem havia de escolher
entre Junot e Beresford.
FACHADA SUL DA ACADEMIA
Em consequência deste processo, que não revela senào a inveja
das testemunhas da acusação (3), esteve Sequeira preso no quartel da
Ateado de Cruz Amarante

{') Citado em oficio da secretaria da Junta inspectora de 1 de Setembro de


1813, regist. na secret, da Acad. de Mar. e Com., liv. 96, fl. 2.
{*) Transcrito do cit. ofic. da secret, da Junta insp.
(*) Manuel da Costa, arquitecto, pintor e maquinista; Archangelo Foschini,
mestre de pintura do Infante D. Pedro Carlos; e Bartolomeu António Calisto,
pintor da Casa Real; todos empregados nas pinturas do Palácio da Ajuda, que só
podiam lutar com Sequeira perante o Juizo da Inconfidência. Vej. o Jornal do
Commercio de Lisboa de 22 e 24 de Novembro de 1866.
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO <J7

Luz desde 15 de Dezembro de 1808 até 18 Janeiro do ano se-


guinte.
Do seu patriotismo deu Sequeira ura bom documento, se é cerlo,
como o afirmou no Congresso em 1823 o snr. José Liberato Freire de
Carvalho, que êle preferira a sua Pátria à pensão de 16.000$000 reis
com que a Imperatriz da Rússia o pretendia atrair à sua corte.
Mais claras foram ainda as provas que deu dos seus sentimentos
liberais, porque logo, como visse destruída a obra patriótica de 1820,
pediu os seus passaportes (') e a 7 do Setembro de 1823 saiu de Lis-
boa para Paris, aonde chegou a 20 de Outubro (*). E não devia nada
a sua pessoa à revolução de 20, porque em 1821 foi suprimido o lu-
gar de director da aula de desenho da Academia de Marinha e Comér-
cio do Porto, que lhe rendia 600$000 reis; e em 1823 o Congresso
reduziu-lhe os vencimentos que percebia como pintor do Paço da Ajuda.
Em 26 de Setembro de 1826 partiu de Paris para Roma, onde
esteve desde 1 de Novembro do dito ano até 7 de Março de 1837, em
que faleceu ( s ).
Das obras de Sequeira, as que pude ordenar cronologicamente
no breve espaço que me foi dado consagrar ao estudo da sua biogra-
fia sâo as seguintes:
1791. Milagre dos pões e dos peixes, que lhe ganhou um pri-
meiro prémio da Academia de S. Lucas, onde deve existir este quadro.
1792. Dae a Cezar o que é de Cezar, quadro pertencente a
Lord Howard. (Nota do snr. Duque de Palmela no cit. Diet de Racz.,
pág. 267). — O snr. Raczynski, na sua obra Les Arts en Portugal —
Paris 1846— pág. 278 e seg„ duvidou que este esboço pertencesse a
Sequeira e teve tentações do o atribuir a Pompeo Battoni. Isto prova
a influência que teve no nosso artista o seu mestre Cavalucci, imita-
dor de Battoni.
1794 Degolação de S. João Baptista, obra para ser recebido
como académico de mérito da Acad. de Roma (Cirilo). — Deve existir
na Academia de S. Lucas.

('I Nota enviada pelo snr. Duque de Palmela (D Pedro) ao snr. Conde de
Raczynski, e por este publicada DO cit. Diction, historicoartistiquê du Portugal,
pág. 267.
(') Nota do snr. Miguéis, gnnro de Sequeira DO cit. Diction., pág. 268.
O Cit. nota do snr. Mieuéis.
=

98 MEMÓRIA HISTÓRICA KA ACADRMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADKMIA KKAI. 1)K MARINHA K COMÉRCIO
99

1792 a 94. Os dois tetos pintados em Roma, acima referidos. dos snrs. Visconde e Viscondessa da Pedra Branca e seus dois filhos
1803. Desembarque de Affonso d'Albuquerque nas índias, per- (cit. notas dos snrs. Miguéis e Silva).
tenceu ao falecido snr. Barão de Forrester, residente no Porto. 1827. O Calvário. Foi gravado por António Biordi (cit. nota
(Racz. Les Arts en Portugal — pág. 387). do snr. Miguéis), que ofereceu a sua gravura à Rainha dos Franceses
1806. Desenho d'um ancião abraçando 5 jovens que estam (nota do snr. Conde de Lavradio em Racz. Les Arts en Portug., pág.
tocando lyra, alusivo a 5 alunos da Academia de Marinha e Comércio 285, onde se cita o Journal des Débats de 23 de Abril de 1841).
do Porto que êle escolheu para lhes ensinar pintura. Existe no museu Pertence à galeria do sur. Duque de Palmela.
portuense. 1828. Adoração dos Reis Magos, (cit. nota do snr. Miguéis),
1812 ou 1813. Distribuição dos alimentos pelos habitantes de Pertence ao snr. Duque de Palmela.
Lisboa aos camponezes fugidos das suas terras devastadas pelos fran- 1829 a 36. O baptismo do Salvador. —A crucificação de Christo.
ceses em 1810, gravado por Francisco de Queiroz em 1813. A pin- Estes dois quadros pertencem ao Duque do Braciano (snr, Miguéis).
tura original parece que pertenceu ao snr. Conde de Farrôho (cit. — A fé: pertencia à grã-duquesa Helena, de S. Petersburgo, (dito) —
Diet, de Racz., pág. 267 in fine e seg., e pág. 270). A Sagrada Veronica num convento em Roma.
1814. Desenhos para a baixela de prata oferecida ao Duque de O Caminho da Cruz na igreja da Paz em Roma.
Wellington, ã qual se diz ter custado reis 600.000$000. — Estes dese- Uma sacra família — Nossa Senhora — O anjo Raphael e Tobias
nhos «stavam em poder do snr. Sequeira, sobrinho do nosso pintor. pae e filho —Santo Antonio pregando aos peixes—O Salvador. Estes
Racz. ' Les Arts en Port., pâg. 284, assina-lhes a data de 1812. A de 5 quadros pertenciam ao snr. Miguéis, ministro de Portugal junto da
1814 é do snr. Duque de Palmela no Diet, de Racz. O presente foi Santa Sé em 184IÍ.
dado em 1816. Da baixela vem uma extensa descrição no Investiga- São também desta época várias obras de Sequeira existentes em
dor Português em Inglaterra vol. xvin, 1817, copiada do Jornal de poder do marquês Hercolani em Roma. (Nota do snr. Duque de Pal-
Bellas-Artes ou Mnemosine Lusitana. mela no Diet, de Racz.).
1821. Panorama de Lisboa — (snr. D. Francisco de S. Luiz, 1836 e 1837. A ascenção do Senhor—O juízo final. Estes 2
Lista de alguns artistas portug. Lisboa, Inipr. Nac. 1839, pág. 30). qualros foram pintados nos últimos momoatos da vida de Sequeira,
1822. Desenho da medalha para prémio dos industriais distintos. quando estava já muito doente, o acham-se incompletos (snr. Miguéis
(Hist, dos Estab. Scient, do snr. Silvestre Ribeiro, iv, 153). e Raczynski). Pertencem ao sur. Duque de Palmela.
1823. Morte de Camões, este quadro foi oferecido ao Imperador Seria muito extensa a lista de todas as obras de Sequeira, nem
do Brasil o snr. D. Pedro 1.° (4.° de Portugal), quo por esta ocasião ainda a há completa, que nós saibimos. Era um pintor fecundíssimo.
nomeou o autor Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro (Nota do snr. Desenhava sempre e tudo lhe servia para exercitar a sua arte, quasi
Miguéis no Diet, de Racz., pág. 268). Esteve na exposição do Louvre o seu vicio: o lápis, a pena, um rolo de papel queimado. Teve durante
em 1824 (cit. snr. D. Francisco de S. Luiz), e foi louvado por Gérard, a sua vida, como quasi todos os grandes pintores, diversos estilos ou
Granet, Vernet, e outros pintores franceses (Nota do snr. Conde de maneiras. O snr. conde de Raczynski a princípio não fazia grande
Lavradio ao snr. Raczynski Les Arts en Portug., pág. 284). conceito de Sequeira, e tudo quanto era bom, duvidava que fosse dele.
1824 a 26. A fugida para o Egypto. Existe no Brasil em O Dae a Cezar o que i de Cezar parecia-lhe de Battoni: o Descendi-
poder dos snrs. Viscondes de Pedra-Branca. (Nota do snr. Miguéis mento da Cruz, copia de algum quadro de Rembrandt, cuja biografia
no Diet, de Racz.) Este quadro foi litografado em Paris por M. Ganni, ainda então era muito imperfeitamente conhecida. Só depois de vêr
primeiro pintor do rei de Nápoles. (Nota do snr. Silva no cit. die.) os 4 quadros do Duque de Palmela se desenganou de que Sequeira
— É da mesma época 6 pertence aos mesmos senhores um quadro de era um artista de mérito superior.
família com 4 figuras, quasi de grandeza natural, que são os retratos Na nossa Academia há um quadro de D. João vi com o alçado
100 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL UE MARINHA K COMÉRCIO 101

desta Academia, pintado por Sequeira, provavelmente em 1807. 0 ilus- decr. de 19 de Outubro de 1836 com os outros seus colegas que não
tre pintor foi "também gravador. A ôle se deve o desenho e gravura quiseram jurar a Constituição de 1822 proclamada pela revolução de
do Conde Ugolino a pedido de Napoleão Bonaparte, irmão de Napo- Setembro de 1836. Ficou adido à Academia por efeito da lei de 19
leão m, para ilustração duma história da Toscana escrita pelo Príncipe. de Outubro e decr. de 9 de Dezembro de 1840, com 200$000, e nesta
posição se finou em 3 de Junho de 1869, creio que em Vila-Nova de
Domingos Francisco Vieira. — Rroguista e pintor de paisagens, Gaia, onde residia.
imitador do estilo de Pilement. Esteve regendo a aula de debuxo e
desenho da cidade do Porto oa ausência de seu filho Francisco Vieira Francisco Joaquim Maia.— Do Conselho de Sua Majestade. Depu-
Portuense, professor da mesma aula, desde o principio de Novembro tado da Nação por um dos círculos do Porto na legislatura de 1853 a
de 1802 até o fim de Junho de 1803, pelo que recebeu 4Q0$000 reis, 56. Comendador da Ordem de Isabel a Católica de Espanha. Filho
correspondentes à quantia de 600$000 reis anuais, que era o orde- de Rodrigo da Silva Maia e Caitana de Jesus Maria José. Nasceu no
nado da cadeira (vide acima pág. 6). Assina os termos de matrícula Porto, rua da Ponte-Nova, freguesia da Sé, a 28 de Setembro de 1789.
deste período de 8 meses, como «lente substituto de desenho»; mas Frequentou nesta Academia, desde a sua fundação em 1803, os cursos
verdadeiramente não era substituto da cadeira ; regia-a temporariamente. de matemática e comércio, desenho e línguas, tendo sido premiado do
2.° ano matemático em 1805. A sua carta do curso de comércio é
Domingos José de Castro. — Irmão de José Avelino da Castro, de 18 de Janeiro de 1819. Foi nomeado substituto da cadeira desta
de quem trataremos no seu lugar. Foi aluno desta Academia, e nos disciplina por C. R. de 11 de Julho de 1819. Pelas suas ideas libe-
anos de 1816 e 1817 obteve prémio no 1.° e 2.° anos matemáticos. rais foi com alguns outros seus colegas demitido pelo Governo de
Foi nomeado substituto da cadeira de comércio por C. Et de 16 de Ou- D. Miguel em 13 de Maio de 1829. Reintegrado pela entrada do exér-
tubro de 1828. Certamente foi promovido a propriedade da mesma
cito libertador no Porto em 9 de Julho de 1832, foi promovido à pro-
cadeira até 18 de Dezembro de 1829, que é a data da nomeação dou-
priedade da cadeira de comércio por decr. de 13 e C. R. de 19 de
tro substituto, António Pereira de Araújo Júnior. Este assina junta-
Novembro de 1834. A revolução de Setembro de 1836 deu causa à
mente com Domingos José de Castro os termos dos exames de comér-
sua exoneração pelo decr. de 19 de Outubro do mesmo ano, decreto
cio em 1830 e 1831, o que mostra que eram ambos professores. Não
que muitas vezes temos citado e continuaremos a citar, porque exo-
há porém registo da Carta Régia que devia ter nomeado Domingos
nerou quási todos os lentes desta Academia por se recusarem a jurar
José de Castro para a propriedade desta cadeira. Estes despachos
a Constituição de 1822. Ficou adido à Academia Politécnica com o
ficaram sem efeito por terem provindo do Governo do snr. D. Miguel.
vencimento de 350$000 reis por virtude da lei de 19 de Outubro e
decr. de 9 de Dezembro de 1840. Jubilado por C. R. de 8 de Março de
Francisco Adão Soares. — Filho de outro e de D. Juliana Josefa. 1854. Faleceu de aí a pouco em 24 ou 26 de Junho do mesmo ano.
Nasceu no Porto a 15 de Março de 1800. Frequentou nesta Acade-
mia o curso completo de matemática, e o de comércio. Foi premiado
Francisco Luís Correia.— Substituto da cadeira de filosofia racio-
em 1818 e 1819 no l.° e 2.° ano matemático, em 1820 em comércio
nal por C. R. de 16 de Novembro de 1832. Exonerado em conse-
em relação ao lectivo de 1818 a 19, e em 1821 em desenho. Depois quência dos acontecimentos políticos de 1836 pelo decr. de 13 de
cursou na Universidade de Coimbra a Faculdade de Matemática em Outubro do mesmo ano. Adido pela lei de 19 de Outubro e decr. de
que se formou, tendo sido premiado todos os anos. Foi nomeado, 9 de Dezembro de 1840 ao Liceu do Porto com o vencimento de
precedendo concurso, «2.° lente substituto da Faculdade de Matemá- 175$000 reis, e nomeado professor de filosofia racional do mesmo
tica da Academia de Marinha e Comércio do Porto» por decr. de 30 Liceu por C. R. de 23 de Março de 1825. Foi jubilado em 1861 e
de Janeiro e C. R. de 18 do Fevereiro de 1835. Foi exonerado pelo parece que faleceu em 1862.
102 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 103

Francisco Soares Ferreira. — Filho de outro do mesmo nome, e Junta da Companhia das Vinhas, inspectora desta aula, experimentasse
de D. Maximiana Lufsa Joaquina ou Rebelo. Nasceu no Porto, fregue- nela a vocação do seu protegido para a arte. O mesmo snr. Inocên-
sia da Sé, a 16 de Janeiro de 1777. Frequentou as matemáticas nesta cio acrescenta que Vieira fora frequentar a aula pública de desenho
Academia desde 1803. Proprietário da cadeira de francês por G. R. de Lisboa que começava a florescer sob a hábil direcção do professor
de 20 de Novembro de 1819, preterindo o substituto. Tomou posse Joaquim Manuel da Rocha.
desta cadeira a 11 de Março de 1820. Em 1826 era empregado da Em 1789 conseguiu Vieira, da Companhia das Vinhas do Alto-
Companhia das Vinhas do Alto-Douro. Faleceu de Outubro de 1830 -Douro, uma pensão de 300$000 reis, para se ir aperfeiçoar a Roma,
a Maio de 1831. onde elegeu para mestre, à falta de outro melhor, a Domingos Corvi,
desenhador correcto, mas frio no colorido. Em 1791 ganhou um pri-
Francisco Vieira Júnior,—Cognominado Portuense para o dis- meiro prémio em roupas. De Roma passou a estudar o colorido de
tinguir do outro célebre pintor do mesmo nome, denominado Lusitano. Corregio em Parma, onde foi admitido entre os directores de Acade-
Nos termos de matricula da Aula de Desenho do Porto assina-se Júnior mia, dou lições de desenho a uma filha do duque daquele, então,
até Outubro de 1802; desde Novembro de 1803 assina-se apenas Estado, e tirou a excelente cópia de S. Jeronymo, boje pertencente à
Francisco Vieira. Filho do -droguisla e pintor Domingos Francisco galeria dos snrs. Duques de Palmela, e a da famosa Magdalena, cópia
Vieira (vej. acima este nome) e de D. Maria Joaquina. Nasceu no que foi adquirida pelo snr. Luis Pinto Balsemão (').
Porto em 13 de Maio de 1765. Faleceu na Ilha da Madeira em 2 de Em 1794 voltou a Roma e dai a três anos partiu para a Alema-
Maio de 1805, posto que o snr. Inocêncio Francisco da Silva no tom. nha em companhia de Bartolomeu António Calisto, de quem se sepa-
9.° do seu Dice. Bibliogr,, diga (certamente por equivoco ou erro rou em Dresde, e aí se ficou a tirar muitas cópias da excelente gale-
tipográfico, que êle aliás não sofreria em outro biógrafo), que foi ria desta cidade. Dai passou a Hamburgo ê a Londres, onde travou
em 1806, amisade com o gravador Bartolozzi, a quem tirou o retrato. Em Lon-
Francisco Vieira principiou os seus estudos no Porto, estudando dres começou a gravar a água forte uma grande e laboriosa chapa que
a paisagem com seu pai, e a figura com João Glama Stroberle ( l ). não levou a cabo, pintou o Viriato que foi estampado pelo dito grava-
Podia ter cursado a aola pública de desenho do Porto, instituída no dor e oferecido ao snr. D. João vr, o fez um quadro grande da Senhora
fim do ano de 177Í', de que foi primeiro mestre António Fernandes da Piedade ou Desrendimento da Cruz para a capela do ministro de
Jácome (supra pág. 5 e 6); mas Cirilo não o diz, e o snr. Inocêncio, Portugal, que era D. João de Almeida MPIO e Castro, depois Conde das
num artigo que publicou em 1865 no Archivo Pittoresco, expri- Galveias. Ai casou com uma jovem e rica viúva italiana, parente do
me-se a este respeito dum modo ambíguo. Todavia, é provável que a seu amigo Bartolozzi, e com ela veio para Lisboa no fim do ano de
1800 ou princípios de 1801.
O Avis. Rég. de 20 de Dezembro de 1800, sob proposta da Junta
(') Cirilo Volkmar Machado trata de Juãu Glama com o título errado de
da Companhia das Vinhas do Alto-Douro, nomeou-o para a cadeira de
João Glama Strebel ou Slrabile, u pág 135 da sua Collecc. de mem. relativas às
vidas dot pintores, etc, Lisboa 1828. A melhor e mais aulorisada noticia ilâsle
desenho do Porto com o ordenado de (>Q0$000 reis, que era muito
pintor vein na Lista de alguns artistas portuy. tio snr S. Luís, Lisboa 1839, png. mais do que percebia o seu antecessor António Fernandes Jácome,
38 e sejj., baseada em informações do pintor João André Chiape, amigo de João pouco antes dispensado do exercício desta cadeira. (V, supra pág. 6).
Glama. Vieira não veio a tomar conta do seu novo emprego senão em Junho
O primeiro que disse que Francisco Vieira estudara com João Glama foi de 1802.
Cirilo, pág. 136 e 139. Não duvido, mas observo que Chiape diz que João Glama
•não deixou discípulos porque não era do seu gánio admiti-los» (S. Luis log rit.
pág. 39, col 2 al. Ignoro a data das informações de Cliiapc. Podem ter sido (') Cirilo não fala na cópia de íí Jeranyma. Mpnciona-a liac/ynski no
escritos antes de lhe ser conhecido o mérito de Vieira. Diet, histor.-art., pág. 299.
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No entretanto, ocupava-se em Lisboa a trabalhar nas ilustrações nâo era primeiro pintor da câmara e corte. Os exemplares que se
para a edição dos Ltisiadas intentada por D. Rodrigo de Sousa Couti- imprimiram deste discurso, não são tão raros como inculca o snr»
nho, cujos quadros tinham de ser compostos e desenhados por êle e Inocêncio, Ainda os há à venda na Imprensa Nacional. O snr. Sil-
gravados pelo seu arnigo Bartolozzi, empresa que não foi avante, nem vestre Ribeiro transcreveu-o no tom. 3." da sua Hist, dos Estab. Scient
parou tanto em projecto, que não ficassem dela onze quadros ou esbo- Além das pinturas de Vieira de que fizemos menção, há o Desem-
ços pintados a óleo, que hoje fazem parte da galeria dos snrs. Duques barque de Vasco da Gama na índia; D. Ignez de Castro ajoelhada
de Palmela. com os filhos deante de D. Afonso (quadros que pertencem hoje a
Em 1802 fez um quadro que lhe tinha sido encomendado para a S. M. o Imperador do Brasil); D. Filippa de Vilhena (condessa de
festividade com que o Senado de Lisboa tencionava celebrar, como Atouguia); a paisagem de Venus e o amor (gravado por Bartolozzi),
celebrou, na igreja de S. Domingos, a paz geral de Amiens estipulada ambas pertencentes à galeria da Condessa da Anadia; quatro quadros
em 27 de Março, Este quadro representa a Monorchia Lusitana, da igreja da Ordem Terceira de S. Francisco do Porto, que são Santa
acompanhada das virtudes, das artes, da fama, etc., com o retrato do Margarida confessada á hora du morte por um frade franciscano ;
snr. D. João vi ao peito. N. Senhora da Conceição; Santa Isabel dando esmolas; e 5. Luiz,
No mesmo ano foi nomeado primeiro pintor da Real Citmara, por rei de França, orando; duas paisagens no Museu Allen, da Câmara
decr. de 28 de Junho, com o vencimento de 2.000$000 reis, que pode- Municipal do Porto; um S. Sebastião na colecção de Burba, citado por
ria acumular com o ordenado de professor de desenho no Porto, e Cirilo; A Adoração do Santíssimo, existente no Museu Portuense.
com a obrigação de dirigir e executar juntamente com Domingos Antó- Francisco Vieira adoeceu gravemente, quando eslava a fazer o
nio de Sequeira as obras de pintura no Paço da Ajuda. Francisco quadro de Duarte Pacheco defendendo o passo de Cambalam em
Vieira só entrou, como dissemos, na regência da sua cadeira em Junho Cochim, para a Casa das Descobertas nò Paço de Mafra. Foi para a
de 1802, e ausentou-se em Novembro desse ano para voltar em Outu- Madeira com licença de 1 de Abril de 1805. e aí teve poucos dias
bro do seguinte, a-fim-de assistir á solenidade da inauguração da Aca- de vida,
demia de Marinha e Comércio, que se celebrou em 4 de Novembro Segundo o snr. Inocêncio, Diccionario Bibliograpkico Portuguez,
de 1803. tom. 9, pág. 389, faleceu o ilustre director da aula de desenho da
Francisco Vieira tinha sido nomeado director da aula de desenho nossa Academia em 2 de Maio de 1806. Esta data é impossível, por
desta Academia por C. ft. de 1 de Outubro de 1803, com o mesmo que a consulta da Junla da Companhia das Vinhas, que propõe para
ordenado de reis 600$000, que j,i tinha como professor da antiga aula o cargo de director da dita aula a Domingos de Sequeira, já menciona
desta disciplina. O juramento pelo seu novo cargo foi prestado por o falecimento de Francisco Vieira. Aquele algarismo foi escrito por-
António José Vieira Júnior, seu irmão, como procurador seu, e o res- engano, se não por erro tipográfico, como dissemos, porque o snr. Ino-
pectivo termo e datado de 5 de Junho de 1804; mas é certo que exer- cêncio refere-se ao artigo que escrevera em 1865 no Archiva Pitlo-
ceu o seu cargo no ano .interior e- neste mesmo. — Consta da con- resco, e aí diz que a morte do eminente pintor foi em 1805. Sem pre-
sulta da Junta da Companhia das Vinhas do Alto-Douro de 7 de Janeiro tendermos duvidar da data do dia e mês acima indicados, observamos
do 1806, propondo a Domingos A. de Sequeira para o lugar de direc- que uma acta do Conselho da nossa Academia de 7 de Outubro de
tor da aula de desenho, que este cargo não obrigava a maior residên- 1805 refere o director da aula de desenho como ausente em Lisboa.
cia do que três meses por ano. (V. piig. 43 e 44). Parece que Vieira A respeito do lugar, a acta nâo está certa; mas não deixa do causar
cumpriu melhor esta obrigação que o seu sucessor. estranheza que tivesse levado tanto tempo a chegar a noticia do fale-
Foi em 1803, se bem o entendemos, que Vieira recitou o dis- cimento dum homem tão notável ao conhecimento dos seus colegas.
curso mencionado a pág. 28. Aos argumentos com que ai sustentá-
mos esta opinião, acresce que Vieira em 10 de Junho de 1802 ainda Genuíno Barbosa Bettamio. — Era lente da Aula de Comércio da
Raia. Foi nomeado substituto de igual cadeira da nossa Academia
106 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A(.'AliF.MlA RKA1. DC MARINHA TC COMÉRCIO
107
por C. R. de 30 de Julho de 1824, com metade do respectivo orde-
nado, o qual havia de receber por inteiro logo que houvesse vacatura. para o Colégio Militar substituir o mestre de francês (com 30$000
Prestou juramento em 19 de Fevereiro de 1825 e faleceu em Maio de reis mensais e mesa, segundo consta duma notícia que lhe mandaram
1827, antes de se dar a suposta vacatura. de Lisboa). Esta carta revela um certo desarranjo intelectual que
bem justifica a preterição. Depois de 1813 nunca mais se fala neste
Henrique Daniel Wenck.— Cavaleiro da Ordem de N. S. da Con- professor.
ceição e Comendador da de Cristo. Foi nomeado substituto da cadeira
de inglês por Port, de 23 de Novembro de 1832, dispensando-se o João Baptista Fetal da Silva Lisboa. - Devia ser licenciado ou
concurso exigido pelas instruções anexas à C. R. de 11 de Setembro pelo menos bacharel formado em matemática. Segundo o snr. Ino-
de 1826. Nomeado verificador da Alfândega Grande de Lisboa por cêncio Francisco da Silva, Dice. Bibliogr. Portug., tom. 3.«, pág. 445,
decr. de 15 de Fevereiro de 1834, deixando então vago o lugar que nasceu em Lisboa, freguesia de Santa Justa em 1768. Foi nomeado
tinha nesta Academia. Km 1839 e talvez já antes era guarda-mór da tente da 3." cadeira de matemática da nossa Academia por C. R. de
dita Alfândega. Fscrivào da Mesa Grande da mesma pur G. R. de 20 18 de Novembro de 1803, mas recebeu o seu ordenado desde o 1.» de
de Agosto de 1851. Km 1805 era chefe do serviço da mesma Alfân- Outubro deste ano, porque o Avis. Rég. de 13 do mesmo mês permi-
dega. Posteriormente foi director geral das alfândegas, lugar em que tia que os lentes nomeados pudessem entrar no exercício dos seus
obteve a sua aposentação. lugares ainda quo não tivessem prontas as suas cartas. Acontece,
porém, que a consulta da Junta propondo João Baptista Fetal para o
Henrique Ernesto de Almeida Coutinho. — Proprietário da cadeira 3." ano matemático tem a mesma data da C. R. que o nomeou, em
quanto a consulta propondo outros oito professores é datada de 20 de
de francês no tempo de D. Miguel por C. R. de 8 de Julho de 1831,
Setembro. Ai há necessariamente alguma troca de datas. O certo é
despacho que caducou pelo triunfo das armas liberais.
que Fetal entrou em serviço antes da composição destes documentos,
porque foi êle o que em 4 de Novembro de 1803 recitou o discurso
Hugo Lacroix. — Nomeado proprietário da cadeira de francês por
inaugural da abertura da Academia, que o g 11 dos Estatutos encar-
C. R. de 22 de Outi bro de 1811, depoií da jubilaçâo de seu irmão, o
regava ao lente da 3." cadeira de matemática. Este discurso foi
abade Pedro Lacroix. (Vej. este nome). Preteriu, e creio que com
impresso com o título de «Oração que na abertura da academia real
toda a razão, o substituto da cadeira que então era Inácio Xavier
da marinha e commercio da cidade do Porto, recitou João Baptista
Gayoso. A C. R. de 28 de Fevereiro de 1815 nomeou o Dr. Agosti-
Fetal da Silva Lisboa, lente proprietário da cadeira do 3." anno
nho Albano para esta cadeira, sem dizer o que fora feito de Hugo
mathematico da mesma academia, no dia 4 de novembro de 1803».
Lacroix. Este ainda assistiu ao Conselho Académico de 25 de Outu-
Lisboa, 1803.
bro de 1813, e na de 13 de Maio de 1814 é mencionado como tendo
faltado. Em 10 de Outubro deste ano já assiste à sessão como pro- Foi jubilado com todo o ordenado por C. R. de 18 de Julho de
fessor de francês o dr. Agostinho Albano, posto que ainda não esti- 1825, «por ter exercido, durante 22 annos, as suas funções com zelo,
exactidão e disvelo*.
vesse encartado. Suspeito que Hugo Lacroix foi havido por jacobino,
e como tal se lhe deu a cadeira por vaga. Entrou na folha da Academia Politécnica, como jubilado, até 18
de Setembro de 1839, dia em que provavelmente faleceu. (O sur.
Inácio Xavier Gayoso. — Substituto da cadeira de francês por C. Inocêncio estava mal informado quando no lugar acima citado data a
R. de 7 de Dezembro de 1808. Foi preterido em 1811 por Hugo morte deste professor de 1835). Era muito respeitado pelos colegas.
Lacroix. (V. este nome). Em Outubro de 1813 dirigiu uma carta à
Academia, queixando-se de ter sido preterido, e participando que ia João Baptista Ribeiro. - Do Conselho de S. M., Comendador da
Ordem de Cristo e Cavaleiro da Conceição. Filho de António José
108 MEMÓRIA HISTÓRICA UA ACAOKM1A POLITÉCNICA DO PORTO

Ribeiro e de Isabel Maria. Nasceu oo logar da Ponte de Santa Mar-


garida, freguesia de S. João de Arroios, concelho de Vila Real, a 25
de abril de 1790. Faleceu no Porto em 24 de Julho de 186B.
Desde menino revelou extraordinária vocação para o desenho.
Conheceu-lha D.-Fr. Caitano Brandão, arcebispo de Braga, por ocasião
duma visita que fez a Vila FAeal, a ponto de rogar ao pai que lho dei-
xasse levar consigo para o mandar instruir. Igual pedido fez depois
o morgado de Mateus, D. José Maria de Sousa, o editor da célebre
edição dos Lusíadas conhecida pelo seu nome. Depois de novas ins-
tâncias de várias pessoas no mesmo sentido, decidiu-se o pai a man-
dá-lo para a cidade do Porto, aos 12 anos de idade, sendo recomen-
dado por um Fr. João de Deus ao bacharel em filosofia José Jacinto
do Sousa.
Matriculou-se a 20 de Maio de 1803 na aula de desenho, que
então era regida por Domingos Francisco Vieira, durante a ausência
temporária de Francisco Vieira Portuense. Continuou nos anos seguin-
tes o estudo desta arte cora o dito Francisco Vieira, Domingos Antó-
nio de Sequeira, José Teixeira Barreto e Raimundo Joaquim da Costa.
Obteve 3 prémios em desenho, o 1.° em 1807 pela cópia, a lápis de
Espanha, duma estampa representando Andrómaca a abraçar Heitor;
o 2.° em 1808 pela cópia, por meio de aguadas, da vista do porto de
Nápoles; o 3.° em 1809 pela cópia dum palácio a aguadas. Foi um
dos cinco alunos desta Academia que Domingos António de Sequeira
escolheu para lhes ensinar pintura.
Substituto da cadeira de desenho desta Academia por C. R. de
22 de Outubro de 1811. Nomeado mestre de desenho e pintura de
miniatura das Sereníssimas Senhoras Infjntas por port, do mordomo-
-mór de 28 de Julho e alv. de 18 de Setembro de 1824, pelo que o
Avis. Reg. de 24 de Novembro de 1825 (1) lhe concedeu a gratifica-
ção de 150$000 paga pelo cofre da Academia, «e isto (diz o cit. Aviso)
em quanto não tem exercício, porque neste caso outro será então o
ordenado». Continuou, porém, no serviço da Academia. Promovido
à propriedade da cadeira de desenho da mesma Academia por decr.
de 6 de Junho de 1833. Nomeado director e professor de desenho
histórico da Academia Portuense de Belas Artes por decr. de 3 de

(') Registado no livro (92) do Regalo .Jus Ofícios e Ordens da II.™» Junta,
no arquivo da Academia Politécnica, pág. 62.
PROF, JOÃO BAPTISTA RIBEIRO
1." Dinx'tor da Aeaduniiii
s a

ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO


109

Dezembro de Î836, lugar de que pouco depois desistiu. Continuou a


reger a cadeira de desenho da Acad. Polit, ainda que só foi despachado
para ela por decr. de 11 de Junho de 1838 e C. R. de 18 de Maio de
1839. Jubilado por C. R. de 28 de Julho de 1853, obteve o aumento
do terço do ordenado pela Port, de 23 de Maio de 1854 (»), e foi ju-
bilado, com este aumento, em 1862.
Em 1836 pediram a sua exoneração, por não quererem jur.tr a
contituïçao de 22, todos os lentes da Academia de Uarinlu e Comércio,
excepto o snr. João Baptista Ribeiro. Foi ontào nomeado director desta
Academia por decr. de 22 de Outubro de 1836. Quando se encartou
neste emprego (C. R, 27 de Maio de 1837), já aquela Academia tinha
sido reformado em Politécnica. Ainda que este hábil pintor não tivesse
as suficientes habilitações cientificas para a direcção do estabelecimento,
sabia aconselhar-se com pessoas competentes, e encontrou nos pro-
fessores todo o auxilio de que precisava, conservando este cargo até o
seu falecimento, posto que não estivesse em efectivo exercício desde
1866.
Ao snr. João Raptista se deve a or^anisação do Museu Portuense
de pinturas e estampas, da qual fora encarregado, ainda no tempo do
cerco do Porto, por port, de 10 de Setembro de 1833.
As suas produções artísticas são as seguintes:
Quatro painéis e cola para a festividade com que se solenizou na
igreja da Graça desta cidjde a restauração de 1808 Foram descritos
num folheto de João António de Sousa Azevedo, morgado de Pinheiro
e mereceram geral aplauso.
Retrato do arcebispo da Bala, D. Fr. Vicente da Soledade Castro,
e um grupo de dois sobrinhos deste arcebispo, em 1820.
Grupo, em miniatura, dos retratos de duas filhas dos snr. Vis-
conde de Beire, em 1823. Dois retratos da Rainha D. Carlota Joa-
quina, um em miniatura, outro a óleo em corpo inteiro. No mesmo ano.
Retratos das snrj" Infantas D. Ana de Jesus Maria, D. Isabel Ma-
ria e D. Maria de Assunção. Dito do snr. D. João VI tirado a furto em
1824, tão bom, que se deu ordem ao nosso encarregado de negócios

(') Segundo a legislação^ desse tempo havia dois processos separados, ura
para a jubilação, outro para a verificação da idoneidade para a continuação no
serviço, de que dependia o aumento do terço. Só depois da jubilação se instau-
rava o 2.0 processo.
110 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAI. DB MARINHA E COMÍKCIO 111

em Paris para ali o mandar gravar. — Retrato da Duquesa de Ferreira,


8, Jerónimo, e o retrato de Francisco Rodrigues de Freitas, ba-
em miniatura, para a snr.a Infanta D. Ana de Jesus.
rão de S. Jerónimo, no hospital de Vila-Real,
Durante o cerco do Porto fez doits retratos do snr. D. Pedro IV,
S. Miguel, rários anjos e almas, na igreja das freiras do Louriçal.
um como coronel de caçadores 5, outro como comandante em chefe
Retratos em corpo inteiro, dos snrs. D. João vi, D. Pedro iv,
do exército, e litografou a snr.a Infanta D. Maria Amélia, tendo pre-
D. Maria n e D. Pedro V, na sala dos capelos da Universidade de
viamente feito para ensaio o seu próprio retrato dele.
Coimbra.
Em 1834 fez a lápis de cores o retrato da sm:a D. Maria II, e
O retrato de corpo inteiro do primeiro conde de Amarante no pa-
em 1836 o do snr. D, Fernando a dois lápis.
lácio de Canelas; no oratório de Canelas Santo António e no teto a
Das seguintes obras não temos a data :
figura da Religião,
A Assumpção de N. Senhora, e S. Francisco de Salles, no teto
O snr. Manuel Bernardes Branco, de cujo artigo publicado em
da capela- mór da igreja dos Congregados.
1860 ao periódico portuense intitulado Miscellanea Litteraria ('), ex-
A Annunciação na igreja da Graça.
traclámos ou copiámos a maior parte do que fica escrito, menciona
A Senhora da Soledade na capela das Almas de Santa Catarina.
ainda as seguintes obras pintadas a óleo, dois flortiros e uma águia,
S. José e o menino Jesus na igreja de Massarelos.
de tamanho natural, que o snr. J. Baptista ofereceu ao snr. D. Fernando,
O Senhor dos A/Jlitos na capela dos justiçados.
ao snr. D. Luis e ao snr. D. Pedro v,
N. Senhora do Livramento na capela das Convertidas.
A apresentação de N. Senhora, a Anunciação, o Repouso no Egipto,
João Carlos de Miranda.— Na acta da sessão académica de 13
e 8 pequenas figuras, na capela do snr. Bernardo de Melo.
de Maio de 1813 é mencionado como substituto de matemática, posto
N. Senhora do Carmo, em meio corpo, em casa do snr. João Luiz
que então se achava em Valença por ordem do marechal Beresford (8).
de Souto e Freitas.
Um Avis. Reg. anterior a 19 de Junho de 1813 3utoriza-o a assistir
Dois tetos nos paços da câmara municipal do Porto; o retrato de
aos actos de matemática da nossa Academia, e manda-lbe apresentar
corpo inteiro de D, João VI e o duque do Porto, nos paços da mesma
a sua carta régia de substituto dentro de seis meses, a sob pena de se
câmara.
consultar o seu lugar» (3). Na verdade, regeu a cadeira do primeiro
Retrato de D. João VI a meio corpo na sala das sessões da Com-
ano matemático no lectivo de 1813 a 14 (*), mas só tirou a sua
panhia das Vinhas do Alto-Douro.
carta de substituto de matemática em 7 de Setembro de 1814. Foi
Retratos dos lentes da Academia Politécnica, José António de
substituto da primeira cadeira, ainda que a cit. C. R. não o declara.
Aguiar e José Carneiro da Silva, na sala das sessões solenes da Aca-
Promovido à propriedade da 2.* cadeira de matemática pela C. R. de
demia Politécnica.
13 de Janeiro de 1820, que se desencaminhou, passando-se-lhe outra,
Retrato em corpo inteiro do ex-prior da ordem do Carmo, Luiz
António Machado, na secretaria do hospital da dita ordem.
Retrato de D. Pedro I V na Biblioteca Pública. (') O exemplar de que nos servimos pertenceu ao sor. João Baptista Ribeiro,
Quatro paisagens representando as estações, no Museu Portuense. que fez duas emendas no texto, escritas pela sua letra. As datas doa prémios na
Quatro painéis de meninos no salão de baile da casa que foi do aula de desenho são extraídas dos competentes registos, e se estou em desacordo
com as que se lêin no cit. art-, é porque este provavelmente se refere ao principio
snr. condo do Bolhão, hoje do snr. visconde de Fragozela.
do ano lectivo em que esses prémios foram ganhos, em quanto que nós nos refe-
Dez painéis nas salas da casa dos snrs. Maias da rua das Flores. rimos ao em que foram votados
Todas estas obras existem no Porto nos lugares acima indicados. ('( Consta duma nota no livr. (66) doa officios, fl 5.
A Ascenção, a Se7ihora do Livramento, S. João, a Senhora do (*) 0 Av. Reg. de que se trata, vem citado num oficio do secretário de 19
Rosário, e Santo António na matriz de Valongo. de Junho de 1813 cit. liv. 66 fl. 10.
(*> Consta do termo n.° 57 do livro das actas, fl. 15.
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com salva, a 13 de Abril do mesmo ano, tomou posse em 3 de Outu- matemático da nossa Academia por C. R. de 6 de Agosto de 1813 e
bro próximo seguinte. posse de 11 de Maio de 18J4 A Port, de 25 de Outubro de 18í>4,
Este professor era militar, tendo feito, ao que parece, a campanha que o aposentou, diz que êle servira desde 1811. Na acta de 13 de
da peninsula; mas só pudemos averiguar que era 31 de Julho do 1826 Maio de 1813 vem mencionado como ausente em Coimbra. Um Av.
pertencia ao real corpo de engenheiros como capitão. Rég. anterior a 19 de Junho de 1813 autoriza-o a vir aos actos de ma-
Seguindo a causa do snr. D. Miguel, nào voltou ao exercício do temática e obriga-o a apresentar a sua carta no praso de seis
magistério desde a entrada do exército libertador no Torto em 9 de meses (1).
Julho de 1832; mas foi jubilado com dois terços do ordenado na ca- Como bom liberal que era, foi demitido com outros colegas pelo
deira do 2.° ano matemático da Academia de Marinha e Comércio por sur. D. Miguel em 13 de Maio de 1829, e f esteve preso por espaço
decr. de 11 e C. R. de 20 de Setembro de 1843. Ignoro a data do de 3 anos e degredado por outros tantos» (*). Foi aposentado com o
seu falecimento. ordenado por inteiro pela Port, acima citada, de 25 de Outubro de 1834.
Foi nomeado director da nossa Academia por decr. de 8 de Ou-
João Gonçalves das Neves. — «Lente de primeiras letras», com tubro de 1836, comunicado em Port, de 10 do dito mês, e parece que
400$000 reis de ordenado, por C. Et. de 9 de Outubro de 1811. Dei- tencionava aceitar, porque em of/cio de 15 do mesmo, respondendo
xou de reger a sua cadeira, por doente, desde o princípio do ano de ao director interino que lhe dera parte da nomeação, diz: «De tudo
1817 ('), e foi aposentado com meio ordenado pela Res. Rég. de 11 fico sciente e agradeço a V. S.a os seus attenciosos cumprimentos».
de Julho de 1825, comunicada em Av. Rég. de 19 de Agosto do Mas provavelmente recusou, e foi exonerado dai a poucos dias por
mesmo ano. Faleceu em 9 de Julho de 1836. decreto de 20 do mesmo mês. Por isso não o incluí na relação dos
directores a pãg. 39-40.
João Vieira Pinto. — Foi aluno desta Academia, premiado em co- Então já residia em Coimbra, de onde parece que era natural.
mércio e desenho (1821) e na 1.» cadeira de matemática, que frequen- Foi pago pela folha da Academia até Outubro de 1841 ; depois entrou
tou no lectivo de 1821 a 22, posto que o prémio só lhe foi conferido a receber os seus vencimentos pelo Ministério da Fazenda. Ignora-
em 1824. Depois, cursou cora distinção na Universidade de Coimbra mos a data do seu falecimento, que deve ter sido posterior a 1855.
as Faculdades de Matemática e de Medicina, nas quais se formou.—
Foi nomeado Jente do 1.° ano matemático por C. R. de 10 de Dezem- Joaquim Cardoso Vitória Vila-Nova. — Substituto de desenho na
bro de 1829 e transferido para a cadeira do 3.° ano por C. R. de 8 Acad. da Marinha e Comércio do Porto por decreto de 19 de Outubro
de Outubro de 1830. Estes despachos não subsistiram por não te- de 1836. Igual substituição lhe foi dada na Acad. Polit, por decr. de
rem sido feitos pelo Governo legítimo; mas nem por isso ficou intei- 11 de Junho de 1838 e C. It. de 21 de Junho de 1839. Faleceu em
ramente perdida para o magistério portuense a ilustração deste pro- 5 de Junho de 1850.
fessor, que foi nomeado para a Escola Industrial do Porto (hoje Insti-
tuto) por C. R. de 22 de Fevereiro de 1854. Foi delegado do extinto
Joaquim Navarro de Andrade. — Director da nossa Academia por
Conselho de Saúde do Distrito do Porto, por C. R. de 10 de Janeiro de C. R. de 9 de Setembro de 1817 até ao dia 18 de Junho de 1831, em
1851, funções que ainda exerce. que faleceu.
Num edital seu, de 14 de Maio de 1831, vem com os títulos se-
Joaquim António de Oliveira. — Bacharel formado em leis e em
matemática ppla Universidade de Coimbra. Lente do primeiro ano
(') Av. Reg. cit. no ofic. do secretário da Acad. de 19 de Junho de 1813, no
livro (66) dos officios ft. 9.
(') Oficio do secretário da Acad. de 13 de Novembro de 1822, no liv. (66) C) Port, de 25 de Outubro de 1834. citado no texto.
doa oficioa (1. 61.
114 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

guintes : — «do Conselho de sua Magestade, fidalgo cavalleiro da sua Real


Casa, commendador da Ordem de Chrislo, physico-mór do reino hono-
rário, lente de prima jubilado na Universidade de Coimbra e direc-
tor litterario da Acad. da Marinha e Commercio d'esta cidade do Porto».
Era também sócio correspondente da Academia Real das Ciências de
Lisboa, e deputado da Junta da Directoria Geral dos Estudos e Escolas
do Reino desde 1808.
Doutorou-se, juntamente com seu irmão João de Campos Navarro,
em 20 de Julho de 1788 na Faculdade de Medicina, em cujo serviço
entrou logo como opositor. Em 6 de Fevereiro de 1791 foi despachado
7.° lente catedrático com exercício na cadeira de instituições mêdico-ci-
rúrgicas. Em 19 de Outubro de 1801 foi promovido a 4.° lente da
sua Faculdade com exercício na cadeira de aforismos, em que obteve
a sua jubilação a 15 de Junho de 1822. Passou a lente de véspera,
por C. R. de 29 de Julho de 1812, que qualifica de muito distintos os
seus serviços no magistério. Em 11 de Outubro de 1817 foi igualado
em honras e proventos a lente de prima por haver recitado, a oração
latina nas exéquias da rainha D. Maria I, oração que foi mandada im-
primir no Rio de Janeiro.
Tinha sido eleito deputado às Cortes Constituintes, mas não aceitou.
O snr. Dr. Mirabeau na sua importante Mem. histórica e comme-
morativa da Faculdade de Medicina, Coimbra, Impr. da Univ. de 1873,
diz que J. N. de Aûdrade viveu nove anos em descanso das lides aca-
démicas. Este é na verdade o tempo que sobreviveu à sua jubilação,
mas nem por isso deixou de o empregar com zelo na direcção da
nossa Academia.
Ainda no 1." de Outubro de 1830 estava para ir recitar o dis-
curso de abertnra da mesma Academia, quando foi rapidamente aco-
metido dum ataque de gota, moléstia de que sofria desde muito, e de
que faleceu dentro de 9 meses. Foi só daquele dia em diante que
não pôde tornar à Academia, fazendo ainda assim o serviço que podia
desempenhar em casa, apesar de ter sido encarregado interinamente
da direcção literária, durante o seu impedimento, o lente de matemá-
tica João Carlos de Miranda.
Joaquim Navarro de Andrade escreveu.
Undenam palustrium locorum imatubritas ? Quœnam morborutn
inde pendentium natura!' Quœnam generalis therapia?—Objecto que
lhe foi dado pela Faculdade em 1787 para a dissertação inaugural, que
existe inédita na Riblioteca da Universidade.
ACADEMIA HEAL UK MARINHA E COMÉKCIO 115

Distributio methodica interpretandorum apkorismorum Hippocratis,


superiori jttssu, in usos académicos, juxta nosologicam methodum chi-
rurgiœ practices Plenckii, primarumque iinearum praxeos medicinalis
Cullenii, instituía et ordinata. Conimbricœ 1819, 8.°
Carta apologética e analyUca ao redactor do periódico intitulado
tO Portuguez» impresso em Londres. Lisboa, Tip. Rollandiana 1822.
4.0 de 22 pág.
Representação ás cortes geraes extraordinárias e constituintes da
nação portuguesa. Coimbra, Impr. da LJaiv. 1822, fol. É uma espécie
de auto-biografia, com o fim de evitar a redução dos seus ordenados.
Informação de 13 de Setembro de 1824 acerca do plano de re-
forma da Academia Real da Marinha e Comércio do Porto, publicada
pelo snr. conselheiro José Silvestre Ribeiro no tom. 2.° da sua Hist,
dos Estabelec. Scient., pág. 405 a 420. Desta informação resultou o
alvará de 16 de Agosto de 1825, que se conformou quási inteiramente
com ela.
Parece que ainda publicou outro opúsculo em latim para uso dos
alunos da cadeira de instituições médicas, porque na representação acima
citada diz o snr. J. N. de Andrade que escreveu para uso das aulas do
2." e 4.° anos médicos dois opúsculos em latim, que a sua Faculdade
mandou estampar na imprensa da Universidade.

Joaquim Torcato Álvares Ribeiro. —Do Conselho de S. M., Co-


mendador da Ordem de Cristo. Filho de António Álvares Ribeiro e
D. Maria Máxima Delfina da Silva. Nasceu no Porto, rua de S. Miguel,
freguesia da Vitória, a 26 de Fevereiro de 1803. Faleceu, estando a
banhos nas Caldas de Vizela, a 2 de Setembro de 1868.
Foi aluno desta Academia, premiado no 1.° ano matemático em
1820, no 2.° em 1824 com relação ao lectivo de 1821 a 22, e em co-
mércio em 1825.
Tendo frequentado o curso de repetição introduzido nesta Acade-
mia pelo alv. de 16 de Agosto de 1825, defeudeu teses e fez o exame
privado em 1830. (Vej. acima pág. 62 a 63). Matriculou-se como
opositor às cadeiras de matemática, desta Academia em 2 de Outubro
do dito ano. Foi nomeado, precedendo concurso, lente proprietário
da 1." cadeira de matemática (que estava regendo como opositor), por
decr. de 30 de Janeiro e C. R. de 16 de Fevereiro de 1835.
Em 1836, recusando-se a jurar a Constituição do 22, proclamada
116 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 117

pela revolução de Setembro, foi exonerado por decr. de 19 de Outu- José Avelino de Castro.— Filho de José António de Castro e de
bro. Adido à Academia Politécnica, por efeito da lei de 19 de Outu- D, Gertrudes Claudina de Castro. Nasceu no Porto a 30 de Julho de
bro e decr. de 9 de Dezembro de 1840 com o vencimento anual de 1791 e ai faleceu em 29 de Maio de 1854. Matriculou-se na antiga
350$000 reis (meio ordenado). Nomeado proprietário da 5." cadeira aula de desenho do Porto em Junho de 1802, tendo por mestre a
da mesma Academia (astronomia e geodesia) por decr. de 12 de No- Francisco Vieira Portuense. Instituída em 1803 a Academia de Mari-
vembro e C. R. de 11 de Dezembro de 1844. Teve o aumento do nha e Comércio, cursou nela nesse mesmo ano o francês e inglês e
terço do ordenado por decr. de 1, e apostila de 9 de Junho de 1858. 1." ano do curso de comércio, de que fèz exame em 1804 ( ! ), pas-
Nomeado director da Academia Politécnica em Agosto de 1868, não sando depois a frequentar na mesma Academia o curso de matemática,
chegou a tomar posse deste lugar, mas exerceu-o de facto desde 1H(>(>, que terminou em 1807, tendo sido premiado no 1.° ano em 1805, e no
e já desde 1865 como lente decano, no impedimento do director João 2.° em 1806 (no 3." ano não havia prémios). Gostava tanto do dese-
Baptista Ribeiro, e foi à sua pertinaz iniciativa e incomparável zelo que nho, que ainda em 1813 se tornou a matricular como discípulo ex-
esta Academia deveu o terem-se continuado as obras do seu edifício traordinário da cadeira respectiva. Nomeado substituto de matemática
e haverem-se começado e adiantado muito as do Jardim Botânico, que pela Res. Bég. de 15 e C. R. de 20 de Julho de 1814. Foi substituto
quási se pode dizer que é obra sua, adiantando avultadas quantias que do 2.° ano, ainda que a C. R. uão o diz. Foi promovido à propriedade
só depois do seu falecimento foram restituídas aos seus herdeiros. da 3.» cadeira por C. R. de 18 de Julho de 1825, preterindo, por um
Homem de grandes afectos, amava com tanto estremecimento esta equivoco da Junta Inspeclora, o seu colega António José da Costa Lobo
(vej. acima este nome), que, a-pesar-de ter sido nomeado substituto
Academia como ao mais querido dos filhos, e pugnava pelo crédito
de matemática no mesmo dia que José Avelino, era mais antigo na
dela, como o faria pela honra própria o cavalheiro mais pondunoroso.
habilitação. Conhecido o equívoco, deu-se'uma reparação completa ao
Foi director da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do
lente preterido, mas José Avelino continuou a reger a cadeira do 3." ano.
Alto-Douro, a qual ergueu do abatimento em que cairá depois da extin-
Em 13 de Maio foi demitido juntamente com os seus colegas
ção dos seus antigos privilégios, etc. A-pesar-de ter de dividir a sua
Agostinho Albano da Silveira Pinto, Autónio José da Costa Lobo, Fran-
atenção por muitos negócios, foi um professor distinto pelo seu ex-
cisco Joaquim Maia, Joaquim António de Oliveira, e José Carneiro da
traordinário talento, ciência e assiduidade.
Silva, porque (dizia do Paço de Queluz o snr. D. Miguel) «assim pelos
Escreveu :
errados princípios que têm abraçado e sustentado, como pelo descré-
Discurso recitado na academia polytechnica do Porto na abertura
dito em que têm incorrido, não merecem a minha real confirmação».
do anno lectivo de 1846 para 1847 pelo lente da 5,a cadeira Joaquim — Infelizmente, este professor, aliás dislinlissimo, não perseverou nos
Torquato Alvares Ribeiro. Porto, 1847. — 4.° de 27 pág., incluindo princípios que o íizeram demitir, e foi reintegrado por Av. Rég. de
uma de notas. 27 de Dezembro de 1831 ( ! ). Entrando o exército libertador no Porto
A academia polytechnica e a portaria do ministério do reino de 14 em 9 de Julho de 1832, José Avelino ausentou-se desta cidade e per-
de agosto de 1862. Porto, Tip. de Manuel José Pereira, 1 8 6 2 . - 4 . ° deu a cadeira. Restabelecida a paz e consolidado o sistema liberal,
de 27 pág. (sem declaração do nome do autor). José Avelino, associado com um lilho do mesmo nome, estabeleceu
Na sala das sessões solenes da Academia há o retrato deste be-
nemérito professor, desenhado pelo snr. Guilherme António Correia,
substituto da cadeira de desenho da Acad. Polit.
(') O curso de comércio principiou no lectivo tie 1803 a 1804 pela inalcmá-
tica elementar, regida pelo professor da cadeira de comércio, porque nesse ano
losé António da Natividade. — Mestre de aparelho e manobra na- a M cadeira de matemática, que era preparatória do dito curso, teve muito grande
val por nomeação da Junta Inspectora de 6 de outubro de 1832. Fale- número de alunos.
ceu em 23 de Janeiro de 1861. (') Livro 60, a, 50 v. e livro 92, pág. 112, no arquivo da Acad. Polit.
118 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔH.TO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 119

uma aula particular, em que cora muita inteligência se ensinava a ins-


trução primária, as línguas francesa e inglesa, a geografia e o comér- e que consta que ainda ali vivia em 1826. Da naturalidade não sei.
cio, e dava lições pelas casas às meninas das famílias abastadadas. O falecimento aconteceu entre 21 de Junho de 1819 e 5 de Outubro do
Escreveu, segundo o snr. Inocêncio : mesmo ano, estando êle em Braga í 1 ), provavelmente em Setembro.
Memoria sobre os principias do calculo differencial. 1809. Inédita. Foi nomeado lente da 2.a cadeira de matemática (2.o ano) por
Ensaio sobre a composição das equações. Também inédita. Ofe- C. R. de 1 de Outubro de 1803, o que nâo combina perfeitamente na
recida em 1810 à Academia Real das Ciências, que em prémio o no- data com as das consultas da Junta Inspectora. Na verdade, esta ha-
meou no dito ano seu sócio correspondente. via-o proposto em 20 de Setembro do dito ano para lente de matemá-
Expostção da idéa que deve formar-se das qualidades negativas. tica sem designação da cadeira. Foi até êle o único professor então
Inédita. Remetida à Academia Real das Ciências de Lisboa em Maio consultado para esta ciência, e assim parecia económico, visto que no
de 1816. primeiro ano da fundação da Academia era inutilmente dispendiosa a
pressa de nomear professores para a 2,a e 3.a cadeiras que neste ano
Oração que no faustissimo dia 26 de Outubro de 1828, anniversa-
tinham necessariamente de licar, como ficaram, sem exercício. Toda-
rio de sua magestade fidelíssima o snr. D. Miguel I, recitou na Acad.
via, a mesma Junta em 18 de Novembro de 1803 propôs os três lentes
Real da Mar. e Commerc. da cidade do Porto José Avelino de Castro,
de matemática, e então, incluindo outra vez o nome deste mesmo José
lente catkedratico do 3." anno da mesma academia, e socio correspon-
Calheiros, indigitou-o nara o 2." ano. A Carta Régia acima citada,
dente da Acad. R. das Sc. de Lisb. Mandada publicar pela Ill.ma Junta,
conformando-se com esta proposta, é anterior á mesma proposta. Uma
etc. Porto 1829, Tip. da Viúva Álvares Ribeiro & Filhos. — 4.° de
incoerência análoga, posto que menos sensível, já nós a encontrámos
36 pág. (>).
no despacho e proposta de João Baptista Fetal da Silva Lisboa (vej.
Exposição do estado actual da Real casa d'Asylo dos naufragados,
acima esto nome). Escreveu :
mandada erigir em S. João da Foz do Douro, Porto, 1832.
Balbi no seu Essai Statistique sur le Royaume de Portugal (Paris Regras das cinco ordens da arckitectura, segundo os princípios
1822) traz o seguinte artigo: de Vignola, com um ensaio sobre as mesmas ordens, traduzido do
—tJosé Avelino de Castro. Ce jeune mais profond géomètre, élevé francez, e com um augmenta de varias reflexões interessantes. Coim-
de l'Académie de Porto, dont il est suppléant à la chaire des mathéma- bra, na Impr. da Univ. 1787. — I o com estampas. Segunda edição.
tiques, de seconde année, possède parfaitement cette science et celles Lisboa, Imp. Reg. 1830. Saiu com as iniciais J. C. M. A.
dont elle est la base. Il a composé plusieurs savants mémoires, en-
tre autres un sur la théorie des équations, qui lui valut l'honneur José Carneiro da Silva. —Filho de Manuel José Carneiro e D.
d'être admis à l'Académie des sciences de Lisbonne». (*) Ana Clara de Santa Rosa. Nasceu no Porto, na rua de Traz, fregue-
sia da Vitória, a 14 de Abril de 1791. Frequentou nesta Academia o
José Calheiros de Magalhãis e Andrade. — Sócio correspondente curso completo de matemática, e as línguas francesa e inglesa, come-
da Academia Real das Ciências de Lisboa. O snr. Inocêncio supõe çando no lectivo de 1809 a 1810. Foi premiado nos dois primeiros
que era formado em medicina, e não duvido, mas provavelmente era anos de matemática, únicos em que se davam prémios. Devia ter
também em matemática. O mesmo A. diz que era natural de Braga, concluído o seu curso em 1812, em que fez exame de aparelho e ma-
nobra naval, que se costumava estudar no mesmo tempo que a astro-
nomia (3.» cadeira); mas só fez acto desta cadeira em 1815 e o exame
(') Pode ser que esta oração tivesse sido impressa depois da demissão do
snr. José Avelino em 13 de Maio de 1829, com as emendas necessárias para o
congraçar com o governo da snr. I). Miguel. P) Assina uma carta dirigida ao Morgado Mateus datada de 21 de Junho
('> Cit. Essai Stat. tom. 2° Appendix à la géographie littéraire, pág. XUI. de 1819, transcrita no livro das actas das sessões do Conselho Académico a II. 28.
A acta de 5 de Outubro do dito ano, fl. 21 v., diz que êle faleceu em Braga.
120 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA Do POSTO ACADEMIA REAL DE MARINHA K COMÉRCIO 121

geral do curso em 1818. Estudou era Coimbra a matem., em cuja do decr. de 13 de Janeiro de 1837. Ainda entrou na folha da Acade-
Faculdade tomou o grau de licenciado. mia até Janeiro de 1841 ; desde Fevereiro desse ano passou a ser abo-
Foi nomeado substituto de matemática pela C. R. de 13 de Ja- nado pelo Liceu, a que ficou adido.
neiro de 1820, que se extraviou, sendo-lhe passada outra em 13 de
Abril do mesmo ano, e tomou posse a 13 de Agosto próximo seguinte. José Ouarte Salustiano Arnaud ('). —Bacharel formado nas Fa-
Foi substituto da primeira cadeira, porque entrou para o lugar de João culdades de Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra. Subs-
Carlos de Miranda que tinha sido promovido. Demitiu-o o Governo tituto da cadeira de filosofia racional da nossa Academia pela Res.
de D. Miguel em 13 de Maio de 1829. A entrada do exército liberta- Rég. de 30 de Julho e C. R. de 30 de Agosto de 1813. Promovido à
dor no Porto em 9 de Julho de 1832 restituíu-o ao seu lugar. Não propriedade da mesma cadeira por C. R. de 15 de Setembro de 1827.
tardaram, porém, muito, novas convulsões politicas, próprias do pri- Km Avis. Rég. de 21 de Julho de 1819 foi-lne prorogado por
meiro período do sistema liberal, a inquietá-lo na sua carreira. A re- mais seis meses a licença com vencimento para estar na corte do Rio
volução de Setembro de 1836 viu-se obrigada a proclamar a Consti- do Janeiro. Não cheguei a verificar a origem desta ausência, nem o
tuição de 1822, que o povo reputava por uma obra mais sua do que seu termo; mas em 1821 não se fizeram os exames de filosofia por
a Carta de 1826, que todavia lhe custara muito sangue e heróicos sa- falta de substituto da cadeira.
crifícios. José Carneiro da Silva, assim como todos os outros profes- Este professor seguiu o partido do snr. D. Miguel, que por Avis.
sores da Acad. da Marinha e Comércio, excepto João Baptista Ribeiro, Rég. de 25 de Agosto de 1829 o nomeou director da Real Escola de
recusarara-se a jurar aquela Constituição e foi exonerado" por decreto Cirurgia do Porto. — Em 1832, depois da entrada do exército libertador
de 19 de Outubro de 1836. A lei de igual dia e mês do ano de 1840, nesta cidade, ausentou-se êle, e a cadeira foi tida por vaga.
e o decreto de 9 de Dezembro do mesmo ano, remediaram o mal da- Em 31 de Julho de 1826, data do termo do juramento da Carla
quela exoneração, mandando que ficassem adidos à Academia Politéc- pelos lentes da nossa Academia, era José Salustiano médico da Câmara
nica com metade dos vencimentos os professores exonerados, até que Real, e da Relação do Porto, delegado do Físico-mór do reino, sub-ins-
lhes fosse designado o serviço conforme as suas habilitações. José pector e director da ponte do Douro.
Carneiro da Silva foi daí a pouco despachado por decr. de 15 de De- Faleceu, há muitos anos, mas não sabemos a data.
zembro de 1840 e C. R. de 12 de Maio de 1841, para a cadeira de
história natural aplicada às artes e ofícios (a 7.a) da mesma Academia, iosé Eleutório Barbosa de Lima. — Nomeado interinamente para
com a antiguidade e graduação que tinha quando foi exonerado. Foi a cadeira de inglês desta Academia pela Port, de 17 de Julho de 1832
um professor muito digno. Faleceu nesta cidade em 27 de Abril de e definitivamente pela C. R. de 14 de Maio de 1833. Consta de outro
1853. Na sala das sessões solenes da Academia vô-se o retrato deste documento que era também substituto de francês. Exonerado em
sábio professor, excelentemente pintado a óleo pelo snr. João Baptista razão dos acontecimentos políticos de 1836 antes dos seus colegas
Ribeiro. que tiveram a mesma sorte, pelo decr. de 28 de Setembro de 1839.
— Ainda vivia em 1855. - Na Biblioteca da Academia há alguns livros
José da Cruz Moreira. — Bacharel, creio, que em Leis, substituto que êle lhe doou. - Escreveu e imprimiu uma crestomatia francesa,
da cadeira de comércio desta Academia por decr. de 19 de Outubro outra inglesa, de que vi, há muitos anos, algumas folhas soltas, igno-
de 1836; transferido para o lugar de substituto da cadeira de filosofia rando so as chegou a acabar e fazer públicas.
racional e moral da mesma Academia por dec. de 3 de Dezembro de
1836 e C. R. de 22 de Janeiro de 1837. — Como esta cadeira não
fazia parte do plano da Academia Politécnica, José da Cruz Moreira
devia passar para o Liceu Nacional do Porto, na forma do art. 166 (*) O kecretàriu da Academia escreve algumas veinB erradamente Arnaut.
122 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 123

José Francisco Gonçalves.—Nomeado substituto da cadeira de José Luís Lopes Carneiro. — Era caixeiro da Companhia das Vi-
filosofia desta Academia por C. R. de 18 de Novembro de 1803 com nhas do Alto-Douro, quando foi preso por causa dos seus sentimentos
o ordenado de 350$00O reis. Venceu, porém, sempre na rasão de liberais em 31 de Julho de 1828. Em 25 de Março de 1830 foi-lhe
450$000 reis por ano ( 1 ). Nomeado para a propriedade desta cadeira dada por expiada a culpa com a prisão que sofreu. Nomeado substi-
pela Res. Rég. de 30 de Julho de 1813 {»). Jubilado por C. R. de 18 tuto da cadeira de comércio desta Academia por C. R. de 1 de Junho
de Janeiro de 1827. Faleceu entre este ano e o de 1832. de 1833, na qual se menciona «a longa prisão que sofreu, e a atros
perseguição que lhe moveu o Governo usurpador». — Em 1836 recu-
José Honório Guerner.—Nomeado lente da cadeira de comércio sou-se a jurar a Constituição de 22, e foi exonerado pelo decr. de 19
desta Academia por C. R. de 1 de Outubro de 1803. A esse tempo de Outubro daquele ano. Adido à Academia Politécnica por efeito da
era professor da aula de igual disciplina em Lisboa. Faleceu em 1806, lei de 19 de Outubro e decr. de 9 do Dezembro de 1840, com o ven-
talvez em Junho ou princípios de Julho. cimento de 200$000 reis (metade do ordenado dos substitutos da Aca-
demia Politécnica), faleceu nesta situação em 9 de Janeiro de 1860,
provavelmente na freguesia de Cedofeita desta cidade.
José Luís Coelho Monleiro. — Filho de João Caitano de Sousa.
Natural de Vila-Meã (actualmente do concelho de Amarante, distrito
do Porto) onde nasceu muito provavelmente era 1781. Matriculou-se Joio Maria da Silveira e Azevedo.— Nomeado no tempo do snr.
na aula de desenho do Porto em 15 de Junho de 1802, -tendo por D. Miguel para o lugar de substituto da cadeira de primeiras letras da
mestre o grande Francisco Vieira Portuense. Foi nomeado substituto Acad. da Marinha e Comércio por C. R. de 2 de Abril de 1829, des-
da cadeira de primeiras letras da nossa Academia por G. R. de 19 de pacho que, como todos os daquela procedência, ficou nulo.
Junho de 1816, com obrigação de dar aula de manhã e de tarde, e
com o ordenado igual ao do proprietário da mesma cadeira, que era
de 400$000 reis. Foi promovido à propriedade da mesma cadeira por José Pinto Rebelo de Carvalho. —Foi nomeado para substituto da
C. R. de 17 de Agosto de 1825. À data da entrada do exército liber- cadeira de agricultura desta Academia por decr. de 22 de Outubro de
tador no Porto em 1832, era falecido. 18:56, e exonerado por outro decr. de 31 de Dezembro do mesmo ano,
Escreveu, segundo o snr. Inocêncio, Rápido esboço sobre a maço- por não ter querido aceitar o despacho.
naria. Lisboa, Impr. Rég. 1823. — Opúsculo de folha e meia de
impressão.
José Porfírio da Silva Lima. — Substituto da cadeira de comér-
Compendio grammatical da lingua portugueza, ordenado e offere-
cio desta Academia por C. R. de 18 de Novembro de 1803. Promo-
cido ao III."'0 Snr. Joaquim Navarro de Andrade. Lisboa, Impr.
vido à propriedade da mesma cadeira por C. R. de 29 de Julho de
Rég., 1828.
1806. Faleceu em 15 de Janeiro de 1819, pouco depois duma ques-
Analogia entre o maçonismo e o judaísmo. Porto. 1828.
tão que teve por escrito com o director literário Joaquim Navarro An
Andrade, em virtude da qual foi repreendido pela Junta Inspectora.

(') Os ordenados dos professores eram pagos aos quartéis, e adiantados ;


mas José Francisco Gonçalves recebeu no ano de 1805 tudo o que lhe pertencia
José Ricardo da Costa. — Ainda que o decreto da sua nomeação
desde o dia 18 de Novembro de 1803. é anterior ao da reforma da Academia Politécnica, só tomou posse de-
(*) Não encontro registo da Carta Régia da sua nomeação para a proprie- pois desta reforma. Portanto não pertence verdadeiramente a Aca-
dade da cadeira de filosofia racional. demia da Marinha.
124 MEMORIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX) PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉKCIO 125

José Teixeira Barreio. — Filho de Domingos Teixeira, pintor tea-


Lacroix. — Vide supra Hugo Lacroix, e infra Pedro Lacroix.
tral e maquinista ('). «Nasceu no Porto pelos aoos de 1767. Tendo
15 anos tomou o hábito dos bénédictines no convento de Tibàis, e
Luís Baptista Pinto de Andrade. — A-pesar-de não ser muito di-
com ôle o nome de Fr. José da Apresentação. Quatro anos depois
fícil obter informações completas a respeito da vida deste professor,
passou para S. Bento da Saúde de Lisboa, e os Prelados o mandaram
assim como doutros em cujas biografias deixámos importantes lacu-
à aula do Rocha (ou Joaquim Manuel da Rocha) estudar o desenho;
nas, estas pequenas dificuldades somadas produzem a impossibilidade
e em 1790 o enviaram a Roma, onde foi discípulo de José Cadiz e de
de as vencer no breve espaço de que pudemos dispor. Nem o nosso
Mr. Cagneraux, pintor de história, pensionado francês, que se havia
fim era outro senão apresentar as datas da vida académica dos nossos
ali estabelecido. Por intervenção de D. Alexandre de Sousa seeulari-
professores, porque para mais nos não chegava o tempo. Se muitas
zou-se em 91. Aplicou-se então à gravura, e abriu, só em contornos,
vezes excedemos os limites deste propósito, foi para aproveitar o en-
as estampas para Scherszí poetici de Rossi; e por painéis de sua in-
sejo de resumir aqui tndo o que tínhamos à mão sobre a história do
venção gravou Moysês nas aguas; a mulher de Dário, diante de Ale-
magistério deste estabelecimento, aliviando o trabalho de quem um
xandre; o repouso do Egypto; Venus com algumas nymphas, etc. etc.
dia tentar refazer esta obra ou fazer outra mais perfeita e acabada.
Veio em 97» (*).
Do snr. Luis Baptista não temos agora mais do que as seguin-
O snr. Cardeal Patriarca S. Luís dá a respeito deste pintor e gra-
tes datas :
vador as seguintes noticias:
Decr. de 6 e C. R. de 28 de Dezembro de 1863, que o nomeou
«Havia nos mosteiros de Tibâes e Santo Thyrso muitos quadros
substituto da cadeira de comércio desta Academia.
pintados por este artista antes de ir para Roma e depois que de lá
Decr. de 25 de Fevereiro e apostila de 12 de Maio de 1836, que
veio. Tinha caracter mui ameno e uma grande viveza de engenho.
o promoveu à propriedade da dita cadeira.
Eu possuo algumas das suas estampas e um quadro a óleo que repre-
Decr. de 18 de Maio e apostila de 6 de Julho de 1865, que lhe
senta a Ressurreição de Lazaro, de que éle me fez presente. Por sua
concedeu o aumento do terço do ordenado.
morte testou de grande número de quadros da sua colecção a favor
do mosteiro de Tibães, e com êlés se deu princípio ao Museu insti- Foi jubilado com o dito aumento por decr. de 28 de Março de
tuído naquela casa beneditina, para onde eu também concorri com to- 1867, e faleceu a 10 de Julho de 1868.
das as medalhas que pude ajuntar, e assisti à fundação e collocação
das pinturas» (3). Lufs José Monteiro. — Filho de Pedro José Monteiro e Rosa Luísa.
F"oi nomeado lente de desenho da nossa Academia por C. R. de Nasceu no Porto, freguesia da Vitória, a 25 de Julho de 1799. No-
1 de Outubro de 1803. Círilo não é exacto, quando diz que José Tei- meado substituto da cadeira de primeiras letras da Academia da Ma-
xeira Barroto em 1805 sucedeu a Vieira no lugar de director da Aca- rinha e Comércio por C. R. de 12 de Setembro de 1825. Substituto
demia Portuense. da cadeira de inglês por C. R. de.5 de Novembro de 1828, despacho
que desde a entrada do exército liberal no Porto, em 9 de Julho de
Faleceu em G de Novembro de 1810. — No Museu Portuense há uma
1832, ficou nulo como todos os mais do Governo do snr. D. Miguel'
fuga para o Egypto deste digno professor, da qual existe, bem como de
Promovido à propriedade da cadeira de primeiras letras por decr. d e
algumas obras suas, uma gravura pelo snr. Raimundo Joaquim da Costa.
9 de Fevereiro e C. R. de 11 de Março de 1835.
Em consequência dos sucessos políticos de 1836 foi exonerado
(') Cirilo Volkmar Molhado, Collecc. de Mem. relativas ás rida» dos pinto- pelo decr. de 19 de Outubro desse ano. Deu-se então ao ensino par-
res, ele. Lisboa 1823, pãg. 144 ticular, e estabeleceu um colégio às Escadas da Sé desta cidade, onde
(') Cit. Cirilo, pág, 298. se recebiam alunos internos e externos e se ensinavam todos os pre-
(J) Luta áe ait/uns artistas portugueses eolligida de escriptos e documentos
paratórios para a Universidade, e as línguas francesa e inglesa, dese-
pelo Ex."<o e Rev.»™ Bispo Conde, D. Francisco. Lisboa, Imp. Nau. 1839, a páf. 18.
126 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ACADEMIA REAL DE MARINHA F. COMÉRCIO 127

oho, música e,dança. Parece que lhe correu melhor a fortuna do que Manuel José da Cunha e Sousa Alcoforado. — Foi ajudante do
aos lentes nomeados para os lugares dos demitidos, pois os pagamen- Real Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra, como êle
tos andavam atrazados um auo e mais. declara no fim dos termos da matricula dos estudantes do curso de
Por virtude da lei de 19 de Outubro de 1840 e decreto de 9 de comércio desta Academia no ano de 1803 a 1804. Nomeado lente do
Dezembro do mesmo ano, devia ser adido com 125$000 reLs à Escola 1.° ano matemático da mesma Academia por C. R. de 18 de Novem-
Normal e de Ensino Mútuo do Porto, mas parece que o foi ao Liceu bro de 1803, ainda que já assistiu corno lente do dito ano à sessão
desta cidade, que o empregou na regência do curso de inglês depois inaugural de abertura em 4 do dito mês e foi abonado dos seus ven-
da reforma dos Liceus em 186¾. cimentos desde o 1.° de Outubro antecedente. Esteve ausente da Aca-
demia no ano de 1808 a 1809, em que a sua aula ficou fechada por
Manuel da Fonseca Pinto. — Foi aluno desta Academia e obteve causa dos acontecimentos políticos dessa época. É referido como au-
um prémio de desenho em 1827. Substituto da cadeira de desenho sente em Lisboa em 13 de Maio de 1810, e em igual dia e mês do
da mesma Academia por C. R. de 5 de Novembro de 1834. Exone- ano seguinte já o seu lugar é mencionado como vago. Parece que foi
rado pelo decr. de 19 de Outubro de 1836, por se ter recusado a ju- condenado por jacobino e que morreu em África.
rar a Constituição de 22. Provido interinamente na cadeira de dese-
nho na Faculdado de Matemática da Universidade de Coimbra por decr.
Miguel Sheil, a quem o secretário da Academia algumas vezes
de 15 de Julho de 1840, lugar que, se o exerceu, nâo foi por mui-
chama erradamente Shiel. Um documento intitula-o «Reverendo» ( 1 ).
tos anos.
Foi nomeado para a cadeira da língua inglesa por C. R. de 1 de Ou-
tubro de 1803. Faleceu em 1827, pouco depois do dia 27 de Setem-
Manuel Joaquim Duarte e Sousa. — Professor da cadeira da lín- bro em que ainda aparece assinado nos lermos dos exames. Escre-
gua inglesa da nossa Academia por decr. de 8 de Outubro de 1836. veu uma gramática inglesa que ainda em 1836 servia para o estudo
Adido ao Liceu Nacional do Porto por efeito do artigo 166 do decreto da língua nesta Academia.
de 13 de Janeiro de 1837, ainda que entrou na folha dos vencimentos
da Academia até Janeiro de 1841, passando para a do Liceu em Feve- Pedro António Soares Veloso. - Racharei em medicina pela Uni-
reiro do dito ano. As notícias que dôle tenho, acabam no ano de 1861. versidade de Coimbra. Nomeado substituto da cadeira de filosofia ra-
cional desta Academia, «com obrigação de substituir também a de agri-
Manuel Joaquim de Faria Lobo. — Nomeado professor da cadeira cultura», por C. R. de 30 de Junho de 1827. Seguiu o partido do snr.
de filosofia racional de nossa Academia por C. R, de 1 de Outubro de D. Miguel, e tendo-se ausentado do Porto, quando entrou nele o exér-
1803. Aposentado com meio ordenado pela Res. Rég. de 30 de Julho cito libertador (9 de Julho de 1832), o seu lu^ar foi tido por vago.
de 1813, «em atenção a ter sido o primeiro da instituição da cadeira
de filosofia e achar-se impossibilitado de exercê-la».
Pedro Gonçalves Salazar. — Mestre de aparelho e manobra na-
val desta Academia por nomeação da Junta Inspectora de 17 de Se-
Manuel Joaquim Pereira da Silva.—Cavaleiro da Ordem de tembro de 1808. Era miguelista, e abandonou o seu lugar desde que
Nossa Senhora da Conceição. Nomeado professor da cadeira de co- o snr. D. Pedro iv entrou no Porto (9 de Julho de 1832).
mércio da nossa Academia por decr. de 19 de Outubro e C. R. de 30
de Novembro de 1836, e para igual cadeira da Acad. Polit, por de- Pedro Lacroix. - (Abade). Irmão doutro professor desta Aca-
creto de 18 de Junho e C. R. de 28 de Julho de 1838. Teve o au- demia, Hugo Lacroix. Foi nomeado substituto da cadeira de língua
mento do terço do ordenado por decr. de 23 e apostila de 30 de Ju- francesa por C. R. de 1 de Outubro de 1803 e proprietário por C. R.
nho de 1858. Faleceu em 8 de Janeiro de 1863.
O Certidão transcrita no livro 60, fl. 33 v.
128 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO 129

de 6 de Outubro de 1808. Jubilado por moléstia pela Res, Rég. de


Allegoria á acclamação de Sua Alteza Real o principe Regente na
21 de Outubro de 1811, sobre a consulta da Junta Inspectora de 19
cidade do Porto a 18de junho de 1808, painel original do mesmo
de Julho do mesmo ano.
J. T. Barreto pintado a cola Gravura a água-forte.
Allegoria mixta á entrada do exercito francez n'esta cidade, de-
Raimundo Joaquim da Costa. — Filho de Manuel da Costa Simões
senho original do mesmo J. T. Barreto a aguadas de nanquin.
e Maria de Jesus, Nasceu em Lisboa a 31 de Agosto de 1778. Fale-
Planta topographica da Vila de Amarante. Desenho de Antó-
ceu no Porto a 8 de Abril de 1862.
nio Joaquim.
Foi aluno da Academia de Desenho e Arquitectura de Lisboa,
Vista de Amarante incendiada pelos francezes. Idem.
onde estudou desenho de figura cnm Eleutério Manuel de Barros, e
O 1." conde de Amarante a cavallo, defendendo a passagem do
arquitectura civil com Germano Xavier de Magalhâis, tendo no 1.° e
Tâmega contra o exercito de Soult. Desenho do snr. João Baptista
2.° ano do seu curso o 3.° prémio, e no 3.°, 4.° e 5.° anos o 1.° pré-
Bibeiro.
mio. Estudou gravura com o mencionado Eleutério Manuel de Bar-
Outro retrato do mesmo conde em sentido allegorico por ter accla-
ros, e com o ilustre portuense Joaquim Carneiro da Silva.
mado em Villa-Real em 1808 os direitos da Casa de Bragança, e ter
Nomeado substituto da cadeira de desenho da nossa Academia
tomado aos francezes a praça de Chaves e o forte de S. Francisco.
por C. R. de 1 de Outubro de 1803, e proprietário pela de 22 de Ou-
Desenho do mesmo J. B. B.
tubro de 1811.
Retrato da snr." Infanta D. Isabel Maria. Desenho a lápis de
Em 1832 obedecendo ao Governo do snr. D. Miguel saiu. do Porto
J. B. B.
abandonando a cadeira. Terminada a guerra civil, recolheu-se a esta
Nossa Senhora da Roa Nova. Desenho a lápis, tirado pelo
cidade e entregou-se ao ensino particular, regeitando a cadeira de gra-
mesmo, da estátua de grandeza natural feita pelo distinto aluno da
vura histórica da Academia Portuense de Belas-Artes, para que fora
nossa Academia João Joaquim Alves de Sousa Alão para a frontaria da
nomeado por decr. de 3 de Dezembro de 1836.
igreja dos Terceiros Franciscanos desta cidade.
Ao tempo que éle abandonou a sua cadeira, já tinha mais de 28
Allegoria mixta. «Espelho em que nos devemos considerar».
anos de serviço do magistério, e merecia a jubilação. Esta foi-lhe
Assunto tirado do Brado do pastor às suas ovelhas pelo ftispo de
concedida com dois terços do ordenado, como era de lei (porque a
Cabo Verde. Desenho, de improviso, de J. B. B., era 1822. Nâo tem
concessão do ordenado todo era de estilo mas não de lei expressa)
o nomo do desenhador nem do gravador.
por C. B. de 27 de Setembro de 1843.
Escreveu no traclado de perspectiva linear, que não se imprimiu,
<iB. J. da Costa desenhava com muita graça, tanto cópias por es-
mas servia de guia aos alunos da sua aula (1).
tampas, como países pelo natural, e tinha particular talento para pre-
parar países a aguadas de Nanquin, que depois banhava de cores ( 1 ).
Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto. — Do conselho do S. M., comen-
Todavia, distinguiu-se particularmente na gravura.
dador da ordem de Cristo, sócio da Academia Beal das Ciências de
Gravou:
Lisboa, e do Instituto de Coimbra. Filho de José de Sousa Bibeiro
Fuga para o Egypto, de José Teixeira Barreto. A água-forte e
Pinto, ou, como diz o assento do baptismo, do dl*. José de Sousa Bi-
buril. Dizem ser esta a sua melhor gravura.
beiro, e de sua mulher D. Bernarda Maria Correia; neto paterno de
António de Sousa e Margarida de Sá, e materno do António Pinto de
(') Necrológio assinado pelos snrs. João Baptista Ribeiro e Manuel José Car- Rezende, e de Inocência Maria Correia. Nasceu no lugar de Fundoaes,
neiro, (discípulos de Raimundo Joaquim da Costa, e o primeiro seu colega neBta freguesia de S. Miguel de Oliveira do Douro (hoje do concelho de Sin-
Academia, o 2.° professor na Portuense de Relas-Artes), publicado no Diário Mer-
cantil de 4 de Junho de 1862.
(') Cil. Necrológio.
mo MEMÓRIA HISTÓRICA 1>A ACADEMIA POLITÉCNICA MO PORTO
ACADEMIA HEAL DE MARINHA E COMÉRCIO 131

fàis, anteriormente do extinto de Ferreiros dos Tendais, distrito de Escreveu :


Viseu) em 24 de Janeiro de 1811.
Curso completo de mathematicas puras por L. B. Francœur, tra-
Frequentou nesta Academia os dois primeiros anos do curso ma- duzido do francês por Francisco de Castro Freire e Rodrigo Ribeiro
temático.
de Sousa Pinto. Coimbra, Impr. da Univ. 1838-39, 8.° gr. 2 tomos.
O director deste estabelecimento, lendo mal a data do seu nasci- Segunda edição correcta e consideravelmente augmentada. Ibid. 1853
mento, entendeu que era de 1809, e admitiu-o à matricula em 1824, a 58. 8.° gr. 4 tomos. Há uma 3." ediç. de 1871, em volumes sepa-
quando éle ainda nào tinha os 14 anos exibidos pelos Estatutos. Su- rados, da geometria analytica, e da algebra.
priu o aluno com o seu talento o que lhe faltava em idade, e alcançou
Additamentos às notas do calculo diferencial e integral de Fran-
um prémio em 1825. Passou então a cursar na Universidade de
cœur. Coimbra, Imp. da Univ. 1845. 4.° de 48 pág., opúsculo que
Coimbra a Faculdade de Matemática, mas, teodo-se fechado as aulas
foi depois encorporado quási todo na 2.a ediç. da obra antecedente.
da Universidade no lectivo de 1828 a 29, veio aproveitá-lo a esta Aca-
Calculo das ephemerides astronómicas. Ibid. 1849. 4.° de 182 pág.
demia, frequentando o 2." matemático, em que foi igualmente premiado.
Das refracções atmosphericas. Lisb. Impr. Nac. 1850. 8.° gr.
Em 1831 teve esta Academia a honra de o contar no número dos
de 24 pág. e uma estampa.
seus professores, como substituto de matemática por C. R. de 15 de
Breves reflexões sobre as parallaxes das estrellas, e sobre os ins-
Abril do dito ano. Infelizmente para este caso, os despachos desta
trumentos do observatório de Coimbra, no vol. 1 do Instituto (1853)
época ficaram sem efeito desde 9 de Julho de 1832, e o snr. R. R. de
pág. 45.
Sousa Pinto, abríndo-se de novo as aulas da Universidade, -aí foi aca-
Noticia sobre as variações da collimação do polo de um circulo
bar o curso da Faculdade de Matemática, na qual tomou o grau de
moral de Fortin, achadas por Mr. Mauvais, no 3.° vol. do Inst
doutor em 31 de Julho de 1836. Ao mesmo tempo frequentou na-
pág. 198.
quele estabelecimento a medicina e as cadeiras subsidiárias da filoso-
fia natural, não passando todavia do 2.» ano médico porque no mesmo Complemento da geometria descriptiva de Fourcy. Coimb. Impr.
da Univ. 1853, 4.° do 100 pág.
ano de 1836, ainda antes do seu doutoramento, foi empregado na re-
gência da cadeira de cálculo. Noticia sobre um comita que se observou em Abril de 1854, no
vol. m do Inst., pág. 3.
Ficou habilitado como opositor ao magistério da sua Faculdade Apontamento de trigonometria espherica, no cit. vol. do Inst., pág.
pelo decreto de 1 de Setembro de 1836, e foi autorizado pela port. 130 e 185, e em separado. Coimbra, Impr. da Univ., 1854, 4.o gr.
22 de Maio de 1837 a assistir aos actos. Parece que era por esse de 8 pág.
tempo substituto da cadeira de filosofia racional e moral no Colégio das
Elementos de geometria de L B. Francœur, traduzida pelos tentes
Artes, lugar que perdeu pela sua nomeação para substituto da Facul-
da Fac. de Mat. Francisco de Castro Freire e Rodrigo Ribeiro de Sousa
dade de Matemática em 1838 ou 39. Pinto. Coimbra, Imp. da Univ., 1856.
Pela C. R. 10 Nov. 1840 foi nomeado para a 5." cadeira da mesma Apontamentos de optica, 1856, 4.° gr. de 18 pág. com estampa.
Faculdade (astronomia prática). Nota sobre a carta de M. Wils Brown na qual se indica um novo
Nesta qualidade pertencia-lhe um dos dois lugares de astrónomo methodo para o calculo das distancias lunares observadas no mar, no
do observatório de Coimbra, o 2.°, porque o 1.° compelia ao lente da vol. v do Inst. pág. 10.
cadeira de matemática celeste, que era mais antigo.
Noticias dos pequenos planetas descobertos em 1855 e 1856, no
Presentemente é lente de prima jubilado, parece que desde 1868, cit. vol. do Inst., pág. 158.
e director do Observatório Astronómico da Universidade desde 1866.
Elementos de astronomia. Primeira Parte. Coimbra, Imp. da
Os serviços que tem prestado a este estabelecimento, ao magistério
Univ. 1858, 4.° de 218 pág. incluindo um suplemento de 1859, com
e à ciência, dâo-lhe direito a um dos mais honrosos lugares na histó- estampas. Há desta obra uma edição de 1873 em 2 vol. contendo
ria das matemáticas em Portugal.
132 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ACADEMIA R E A L DE MARINHA E COMÉRCIO 133

a 1.* e a 2.a parte. Numa advertência por onde começa o 1.° vol.
Seiastiao Corvo de Andrade. Filho de Francisco Maria de An-
diz o A. qae no meio do ano de 1866 estava impresso o mais essen-
drade Corvo. Nasceu no Porto, não se sabe quando. Matriculou-sa
cial das duas primeiras partes desta obra, e da 3." a teoria da lua,
no 1." ano da Faculdade de Filosofia em 1799, e doutorou-se na de
quando a urgência de outros trabalhos astronómicos o obrigou a in-
Matemática era 12 de Abril de 1807, com o nome de Fr. Sebastião
terromper a impressão.
Corvo de S. Vicente. Era então religioso da ordem de S. João de
Eclipse do sol em 15 de março de 1858, no vol iv do Inst., pág. 22. Deus; passou depois a freire professo da ordem militar de Cristo, onde
Geometria elementar theorica e pratica, por Francisco de Castro tomou o nome de Sebastião Corso de Andrade, (foi o último habitador
Freire e Rodrigo Ribeiro de Sousa Pinto. Coimbra, Impr. da Univ. do convento de Tomar em Coimbra). Este último nome foi o de que
1859. Depois mais vezes reimpressa. sempre usou nos documentos da nossa Academia, Foi ajudante do
Eclipse solar de 18 de julho de 1860. Memoria apresentada ao Observatório Astronómico da Universidade, onde fez bons serviços
Ex.mo Ministro do reino, pela comissão portugueza. Ibid. 4.° de com o seu colega o dr. Luís Fortunato ou Fr. Luís do Coração
39 pág. (i). de Maria. Era 3.° lente da Faculdade de Matemática da Universidade
Relatório sobre a visita aos observatórios de Madrid, Paris, Bru- de Coimbra, quando o snr. D. Miguel o nomeou para director da
xellas e Greenwich. Coimbra. Ibid. 1861, 4.° de 31 pág. incluindo nossa Academia pela Carta Régia de 3 de Fev. de 1832, lugar que
1 inumerada. perdeu desde a entrada do snr. D. Pedro ív no Porto em 9 de Julho
Observação do cometa de 1861, no vol. X do Inst. pág. 204. do mesmo ano.
Cometa em agosto de 1862 no vol. xi do Inst., pág. 12Q.
Segundo um boato, de que dá notícia o snr. Inocêncio Francisco
Posição geographipa do observatório astronómico da universidade da Silva, o snr. Sebastião Corvo do Andrade havia seguido com entu-
de Coimbra. Coimbra, Impr. da Univ., 1867. siasmo as doutrinas liberais, mas chegada a revolução de 24 de Agosto
Taboas para a correcção das passagens meridianas no observató- de 1820 se despeitara por não ser chamado a fazer parte da Junta
rio astronómico da universidade e intervalles equatoriaes dosjios do re- Provisória do Porto, como representante da Universidade, sendo-lhe
tículo do circular meridiano de Coimbra. Ibid. 1867 e 1868. preferido o snr. Francisco de S. Luís, com o que se transferiu
Additamento ao calculo dos eclipses. Ibid. 1868 o seu entusiasmo para o partido reacionário, praticando pelo tempo
Nota sobre a parallaxe equatorial do sol e additamento a esta adiante alguns excessos que provocaram a sua exclusão da Universi-
nota. Ibid. 1869. dade em 1834.
Uso do instrumento de passagens pelo primeiro vertical, com as O snr. Sebastião Corvo de Andrade regeu por alguns anos a ca-
taboas dos ângulos horários e das distancias zenithaes nas passagens deira do 1.° ano matemático na Universidade, e por essa ocasião im-
pelo primeiro vertical do observatório astronómico da universidade de primiu para uso dos seus alunos os três seguintes opúsculos : — Nota
Coimbra. Ibid. 1870 e 1871. sobre as propriedades das linhas trigonométricas ; Nota sobre a dizima
Memoria sobre as refracções athmospkericas, apresentada à Aca- periodica com breves noções do methodo de exhaustão; Nota sobre o
demia Real das Ciências de Lisboa. Feita em 1854. livro V de Euclides e particularmente sobre a definição V; as quais
notas foram todas impressas em 1825 na Impr. da Univ. e publicadas de
novo no tom. vindo Instituto de Coimbra. «N'ellas tratou o snr. Corvo
de supprir algumas doutrinas que se achavam deficientemente tratadas
(') A comissão compunha-se dos snrs. Rodrigo Ribeiro do Sousa Pinto, pre-
sidente, Jacinto António de Sousa, lente da Faculdade de Filosofia, o João Carlos na arithmética e trigonometria de Bezout e a omissão do livro v de
de Brito Capelo, ajudante do Observatório Meteorológico do Infante D. Luís na Euclides nas lições de geometria, patenteando com este seu trabalho
Escola Politécnica de Lisboa. A observação foi feita no Cabo de Oropesa (Espa- não só o seu zelo pelo ensino, mas também a perspicácia de engenho
nha) pela comissão portuguesa e por outra comissão de astrónomos espanhóis.
134 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

de que era dotado, juntando ainda aos seus profundos conhecimentos


como raathematico, muita litteratura e erudição» (1).
0 snr. Corvo escreveu também um compêndio para uso da aula
de arimética, geometria e geografia elementar no Colégio das Artes
(Liceu de Coimbra), mas nao chegou a ser impresso, a-pesar-do favo-
rável parecer da Congregação de matemática em 9 de Março de 1827,
a cujo exame fora submetida esta obra pelo Av. Rég., 23 de Agosto
de 1826.
Faleceu o snr. Corvo de Andrade na quinta da Carreira, freguesia III
de S. Miguel das Aves, concelho de Vila Nova de Famalicão, em 26 de
Outubro de 1838 (*). A ACADEMIA REAL DE MARINHA E COMÉRCIO
E
Totnaz Danagan. Substituto da cadeira de inglês por C. R. de A REVOLUÇÃO DE SETEMBRO (1)
1 de Outubro de 1803. Faleceu em 1810.

Ao Director da Academia Real de Marinha e Comércio da cidade


do Porto foi enviada, em 10 de Setembro de 1836, a seguinte circular
do Ministério do Reino, 1." Repartição:

• Illustrissime Senhor:

Ordena-me Sua Excellencia o Senhor Manuel da Silva Passos


participe a Vossa Senhoria, para sua inteligência, que Sua Majes-
tade A Rainha, por Decreto da data de hoje, Foi Servida Nomea-lo
Ministro e Secretario d'Bstado dos Negócios do Reino.

Deos Guarde a Vossa Senhoria.


Secretaria d'Estado dos Negócios
do Reino em dez de Setembro de !836.

Ill.mo Snr. Director d'Academia de Marinha e Commercio da


cidade do Porto.
Barão de Tilheirast.

Dias depois, pelo ja" referido Ministério, nova circular foi enviada
ao mesmo destino:

«Tendo sido proclamada nesta Capital, no dia 10 do corrente,


a Constituição Politica de vinte e trez de Setembro de mil oitocentos
('l Sor. Francisco de Castro Freire, Mentor, hiatorica da faculdade de ma-
thematiea, Coimbra, Itnpr. da Univ. 1872, a pàg. 55. Vinte e dous, que Sua MageBtade A Rainha, acompanhada de Seu
{'I Snr. Castro Freire, Mem. cit. pág. 186, corrigindo o que escrevera Augusto Esposo, Veio Jurar aos Paços da Camará Municipal pelas
a pàg 55. cinco horas e meia da tarde do dito dia, para reger como Lei Fun-

(') Este capitulo e o» subsequent» lîo da tutoria de A. de M. B.


136 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A ACADEMIA REAL DE MAR E COM, E A REVOLUÇÃO DE SETEMBRO 137

dameolal da Monarchia com as modificações que as Cortes fïeraes Era, portanto, necessário nomear novo Director.
da Nação Portuguesa Decretarem; assim o Manda Sua Magestade
Passos Manuel, por Dec.OB do dia 8 de Outubro, exonerou Ber-
participar, pela Secretaria d'Estado dos Negócios do Reino, ao Di-
rector da Academia de Marinha e Comercio da Cidade do Porto, nardo Pinto (1) e substituíu-o pelo lente jubilado Dr. Joaquim António
para que jure e faça immediatamente jurar pelos Empregados seus de Oliveira, que residia em Coimbra, nomeando Director interino,
subalternos, segundo a formula junta, a mesma Constituição, dando enquanto este não se apresentasse a ocupar o seu cargo, João Bap-
logo parte do assim o haver cumprido; devendo os Chefes das tista Ribeiro (8).
Repartições prestar o referido juramento nas mãos do seu imme-
diato, deferindo-o depois a todos os outros empregados respectivos.
Começou nesta data — 8 de Outubro de 1836 — o longo período
da Direcção deste Professor, que teria fim apenas com a sua morte
Paço das Necessidades em dezesseiB de Setembro de 1836. em 24 de Julho de 1868, trinta e dois anos mais tarde ! (3)
Para o Director da Academia de Commercio e Marinha da Baptista Ribeiro assumiu aquelas pesadas funções num momento
Cidade do Porto. particularmente grave e de verdadeira crise da sua Academia : a pri-
Manuel da Silva Passos.*
meira dificuldade proveio-lhe da imediata demissão imposta a quási
todos os seus colegas do corpo docente : sem professores como haviam
Nesta data era Director da Academia Real de Marinha e Comércio
as aulas de abrir e funcionar?!
do Porto o professor jubilado de Agricultura, Conselheiro Agostinho
No dia seguinte àquele em que o Conselheiro Agostinho Albano
Albano da Silveira Pinto. Cartista convicto, c portanto adversário
deixara o cargo de Director, ou, mais claramente, no dia 27 de Se-
dessa nova situação política a que se deu o nome de Setembrismo, é
tembro, fora exonerado Francisco Luiz Correia, de Lente Substituto
possível que êle mesmo pedisse a exoneração daquele cargo, — a qual
da Cadeira de Filosofia Racional e Moral ; (4) no dia 28, coube a
efectivamente lhe foi concedida a 26 de Setembro í1), sendo nesse
mesma sorte a José Eleutério Barbosa de Lima, Professor proprietá-
mesmo dia nomeado para a sua vaga o Dr. Bernardo Joaquim Pinto (*),
rio de Língua Inglesa e substituto de Língua Francesa ; (5) e no dia
Antes, porém, destes acontecimentos, Agostinho Albano tinha tido
7 de Outubro a António José Dias Guimarâis, substituto de Língua
necessidade de se ausentar para Lisboa, e deixara interino nas funções
Inglesa. (*)
de Director o Dr. José Carneiro da Silva, por ser o mais antigo dos
Mas não se ficou por aqui, como vamos ver.
lentes à data assistentes no Porto (3).
Em 8 de Outubro, no mesmo dia em que João Baptista Ribeiro
Ora sucedeu que o Dr. Bernardo Joaquim Pinto não aceitou o
foi nomeado Director interino da Academia, Passos Manuel ordenava
cargo para que o Governo o designara, e José Carneiro da Silva não
a esse Professor que, «sem perda de tempo», lhe enviasse «uma rela-
estava disposto a continuar na Direcção interina da Academia.
ção nominal dos Empregados da sua Repartição, que deixaram de
«As minhas obrigações — dizia êle terminantemente, num ofício
prestar Juramento I Constituição Política de 1822, cora as modifie*
que, em 4 de Outubro, dirigiu a Passos Manuel — são as de Lente do
segundo ano Matemático, as quais ajudando-me Deus hei-de continuar
a desempenhar, como costumo, sem que haja coisa alguma que me
possa forçar a aceitar outras» (*). ('> (O 3), fli. o e i v.o,
(') Reg. de O. R. e Of. (O. 4), fli. 2 ; v.o.
(») Substituia-o interimente Joaquim Torcato Alvares Ribeiro desde 2-5 de Outu-
(l) Reg. de O. R. « Or (O. 4), fli. 24 f.o, bro de 1864. Anuário de 1880-81.
(*) Id. fis. 24. Adriano Machado diz que o Dec. é de 27 c que o nomeado se (*) Reg. de O. R. e Of. (O-4) fis. 24 v.o. 27 de Setembro nâo é a data indicada
chamava Bernardino — vid. retro pág. 91 ; mas Btrnardo é o que se lê a pág. 24 e 26 por Adriano Machado, retro pág mai é a que se encontra no livro 0-4, cit. Tinha
do livro O. 4, cit. lido nomeado por Dec. de 16 de Out. de 1832. Id., id.
(*) Reg. de Of. {O 3) fis. 8 e 8 v.o. Cl Id. fli. 25.
(41 Reg. de Of. (O. 3), fli 8 v.o. {") Id. fis. 26 v.o Adriano Machado indie» a data de 8 de Outubro, cfr. retro pág. 86.
138 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO i
A ACADEMIA REAL DE MAR. E COM. E A REVOLUÇÃO DE SETEMBRO 139

ções que as Cortes Decretarem» ( 1 )— juramento ordenado, como sa­ Feita e aprovada esta lei pela maioria da Nação Representada
bemos, pela Portaria de 16 de Setembro atrás reproduzida. em Cortes, reservo para então a prestação do meu juramento.
É bem possível que até essa data ainda ninguém tivesse cum­ Sem grave injustiça não podem por esta declaração ficar lesa­
dos os direitos qtie me assistem, e a que não renuncio, pois foram
prido a ordem ministerial. E é quasi certo que, à excepção de João
adquiridos com vinte e dois anos de bons serviços, e como tal re­
Baptista Ribeiro, e, segundo cremos, de Carlos Vieira de Figueiredo, conhecidos por Sua Magestade Fidelíssima a Ftaiulia no Diploma
e Manuel Duarte e Silva ultimamente nomeados, (*) nunca nenhum ou­ em que foi servida conferir­me a nomeação de Director da Real
tro professor, dos que o eram antes de 15 de Outubro de 1836, pres­ Academia de Marinha e Comerciei. (')
tou jamais o ordenado juramento. (3).
O Conselheiro Agostinho Albano recebeu neste mesmo dia 15, na Todos os outros lentes receberam, provavelmente, convites aná­
sua Quinta de Rebordâos, à Maia, da parte de João Baptista Ribeiro, logos ao que foi mandado a Agostinho Albano, o, por alguns factos
e assinado pelo Secretário da Academia, um Aviso para que se di­ que no­lo denunciam, cremos que quási todos pensavam como êle.
gnasse vir imediatamente à «Casa em que a mesma Academia se acha, Sabemos, por exemplo, que o Dr. António José Lopes Alheira,
para prestar o juramento» exigido pelo Governo. Proprietário da Cadeira de Filosofia Racional e Moral, e António
Mandavam que comparecesse à uma hora da tarde. Carlos de Melo e Silva, professor de Língua Francesa, tinham já an­
Era, porém, meio dia quando recebeu a convocação ! tes daquela data abandonado as aulas, o que, para os substituir,
Não podendo, ainda que quizesse, estar no Porto à hora indicada, bem como a Barbosa de Lima — que fora exonerado de prof, de Inglês
enviou uma carta a justificar a sua falta e a explicar os motivos por e Francês, como dissemos — Jofto Baptista Ribeiro nesse mesmo dia
que em nenhum caso prestaria o juramento ordenado. 15 convidou Carlos Vieira de Figueiredo a tomar conta da regência
Dessa carta extraiamos um trecho deveras interessante: de Filosofia, Manuel Joaquim Duarte e Sousa, da regência de Inglês,
e António Pinto de Almeida, de Francês, a­fim­de se evitarem inter­
«Sendo repugnante com a razão e os princípiog de direito a rupções inconvenientes ao ensino. (*)
prestação do juramento de observância duma lei que ainda há­de
Naquele mesmo dia 15 de Outubro seguiu para Lisboa o exigido
fazer­se, entendo que excede as atribuições e autoridade do Go­
verno a exigência de tal j u r a m e n t o ; neste caso entendo estar a
Auto de. Juramento de algum empregadas da Academia, e bem assim
Constituição de 1822 o i n a cláusula expressa. a relação dos que não quiseram jurar a C onstituição Politica. (s)
Com esta cláusula a dita Constituição de 1822 deixa de ser o Destes documentos não conhecemos o teor, mas podemos adivi­
que é para ser o que houver de s e r ; em tais termos o juramento nhar uma parte do que diziam lendo o Decreto de 19 do mesmo mês,
prestado a uma lei, cujas disposições não são fixas, é inteiramente
que demitiu «das cadeiras que ocupavam na Academia de Marinha e
vão e nuga tório.
Comércio da Cidade do Porto os professores abaixo designados :
António José da Costa Lobo (4)
(') Reg. de Ordens Reg. (O­4) fis. 26.
(*) Estes dois professores continuaram a exercer as mesmas funções depois do Dec (') Reg. de Of. (O­3) fis. 35 e v.o
de 19 de Out. 36, adiante transcrito, que exonerou os que nSo prestaram juramento.
(') Reg de Of. (0­3) ils. 8 v.o e 9 —Vieira de Figueiredo antes de 15 de Outu­
(•) Em (O­4) fis. 33, encontra­se o Dec. de 3 de Dezembro de 1836 exonerando, bro de 1836 estava nomeado substituto. (Ibid).
em virtude das suas poucas forças e avançada idade, o bacharel António Alexandre Ro­ Duarte e Sousa foi nomeado por Dec. de 8 de Outubro de 1586 — Anuário 77­78.
drigues de Oliveira, de Lente Substituto de Filosofia. N5o conhecemos a data da nomea­ Pinto de Almeida só foi nomeado em 19 de Outubro de r83&. Anuário de 1877­
ÇÏ0 deste professor. Se é anterior a 15 de Outubro de 1836, parece que êle deve ter ■78 pág. »58.
prestado o dito juramento pois o seu nome nSo vem entre os dos lentes demitidos, como ('1 Reg. de Ordens Régias. (0­4) fis. 29.
se verá. O mesmo diremos de João Tomás de Carvalho que por Dec. de 6 de Dezem­
f) Em 24 de Setembro de 1836, Costa Lobo (que se encontrava <a uso de ba­
bro de 1836 foi exonerado de Lente Substituto de Matemática (O­4) fis. 33 v.o.
nhos» em Leça da Palmeira) oficion ao Director Interino da Academia, Dr. José Car­
140 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔKTO
A ACADEMIA REAL DE MAR E COM E A REVOLUÇÃO UE SETEMBRO 141

José Carneiro da Silva


de aprovação superior, executando-sc desde logo, pelo Director, as
Joaquim Torcato Alvares Ribeiro.
medidas que forem da competência da Academia.»
Lentes proprietários de Matemática Uma tabela anexa ao Decreto regularia para o futuro as despe-
António Fortunato Martins da Cruz
sas, e vencimentos dos Isentes, Professores e mais empregados, ficando
Francisco Adão Soares.
suprimidos todos os empregos que não fossem designados na Tabela
Substitutos de Matemática. em referência. (')
Agostinho Albano da Silveira Pinto (Lente de Agricultura).
0 Quadro do Pessoal docente passava a ser constituído por :
Francisco Joaquim Maia (Lente de Comércio).
José Luiz Lopes Carneiro (Substituto da Aula de Comércio).
3 lentes de Matemática e 2 Substitutos (diminuía de um substi-
António José Lopes Alheira (Lente de Filosofia Racional e Moral). tuto).
Manuel da Fonseca Pinto (Substituto de Desenho).
1 Lente de Comércio e 1 Substituto.
António Carlos de Melo e Silva (Professor de Francês).
1 Ijente da Cadeira de Agricultura (à qual se haveria de anexar
José Luiz Monteiro (Professor de primeiras letras).
a Cadeira de Botânica e a Direcção do Jardim Botânico) e
António Ventura Lopes (Substituto daquela disciplina)». (') 1 Substituto.
No mesmo dia em que ordenava estas medidas drásticas, violen-
1 Lente de Filosofia Racional e Moral e 1 Substituto.
tas, Passos Manuel referendava simultaneamente um curto diploma,
1 Lente de Desenho e ] Substituto.
já citado num capítulo anterior, pelo qual estabelecia em novas bases
1 Professor de lingua Inglesa e 1 Substituto.
o regime literário e económico da Academia, acabando com a inspec-
1 Professor de Língua Francesa e 1 Substituto.
ção que, até à data, nesse Estabelecimento exercera tam profícua-
1 Professor de Primeiras Letras e 1 Substituto.
mente a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
1 Mestre de Manobra Naval.
«Servirá de Director da Academia — dizia o referido Decreto —
um dos Lentes dela, nomeado pelo Governo, com a gratificação de
No dia 20 do mesmo mês de Outubro foi exonerado o Director
duzentos mil reis, além do ordenado da sua respectiva cadeira».
Joaquim António de Oliveira C), que não chegara a exercer aquele
Como noutro lugar já ficou dito, mas aqui convém repetir para
cargo, e no dia 22 imediato foi assinada uma Ordem Régia dirigida
encadeamento dos factos, por este Decreto «os negócios graves da
a João Baptista Ribeiro, na qual «Sua Majestade, havendo dado as
Academia, e todos os que, pelas leis da sua organização estavam
providências necessárias para os Estudos não serem interrompidos»,
na parte deliberativa a cargo das Autoridades inspectoras», passaram
mandava participar-lhe que aprovava as medidas por êle adoptadas
a ser «discutidos em Conselho dos Lentes, e decididos a pluralidade
naquela ocasião, e ordenava-lhe que continuasse» no exercício do
de votos, cujo resultado será proposto ao Governo, quando carecer
cargo de Director da Academia, .vencendo a gratificação de 200$000
reis anuais, designada no Decreto de 19 do corrente.» (3)
Em 20 de Outubro de 1836 passou, portanto, João Baptista
neiro da Silva, dizendo:— «Pode considerar-me demitido do meu emprego de Leme da
Ribeiro a verdadeiro e efectivo Director, embora só era 27 de Maio
Academia, desde o momento em que para o exercer seja necessário jurar a Constituição
de 1822, por isso que tal juramento se opõe àquele que mui nobremente e espontanea-
do ano seguinte obtivesse a competente Carta de Lei.
mente prestei à Carta e á Rainha, e em virtude do quai fiz gostosamente todos os sacri- Que providências teria adoptado o Governo para que os estudos
fícios que dependeram de mim». (Reg. de Of., O 3 , fis. 8. A data que ai se 1C' é 24 de não houvessem sofrido interrupção ?
Outubro, mas facilmente se vê, pela data do oficio anterior, que o mes está errado: Ou-
tubro em vez de Setembro).
{') Reg. de O. R. (O-4) fis. 27 e v.o
(') Reg. de Ord. Reg. (O-4) fis. 29,
(*) (0-4) fis. 2;.
(") (O-4) fis. 29 e v.o.
142 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A ACADEMIA REAL DE MAR. E COM. E A REVOLUÇÃO DE SETEMBRO 143

Fizera o xjue é racional : nomeara lentes para substituírem os que Costa Paiva regia desde 1834 a velha Cadeira de Filosofia Ra­
tinba demitido. cional e Moral que no Porto fora criada pela Reforma Pombalina da
Das cadeiras de Matemática não ficara um só professor! O lente Instrução (').
proprietário de Agricultura; o proprietário de Filosofia Racional e Este distinto homem de ciência, em ofício de 27 do mês de Ou­
Moral ; o substituto de Desenho ; os lentes de Comércio ; os professo­ tubro de 1836, e respondendo a outro de Baptista Ribeiro, da mesma
res de Francês; e os de Primeiras Letras, tinham sido exonerados data, declarava que exercia ainda o Professorado da dita Cadeira, e
também, como dissemos. acrescentava :
Em 19 de Outubro, no mesmo dia em que todos os acima enu­
merados deixaram de pertencer ao quadro docente da Academia de «Respondo mais que, imediatamente que me seja transmitida a
ordem de principiar o ensino da Agricultura e Botânica na Acade­
Marinha e Comércio do Porto, Passos Manuel nomeara um substituto
mia, de pronto deixarei o professorado de Filosofia, se o Governo
para Comércio (José Cruz Moreira) ; (') outro para Desenho (Joaquim julgar incompatível a simultânea direcção das duas Cadeiras*. (')
Cardoso Vitória Vila­Nova); um lente proprietário da Cadeira de
Comércio {Manuel Joaquim Pereira da Silva) ; outro, também proprie­ Foi isto o que aconteceu: Costa Paiva foi exonerado em 8 de
tário, da Cadeira de Francês (António Pinto de Almeida, que já regia Novembro de Lente de Filosofia. (3)
essa disciplina, a convite de João Baptista Ribeiro, conforme tivemos A Cadeira de Filosofia Racional da Academia continuou a ser
ocasião de dizer) ; um substituto da mesma disciplina (Joio Baptista regida por Carlos Vieira de Figueiredo até que este professor, em 10
Pereira Leal); e um substituto de Inglês (Carlos Mac­Cârthy da de Dezembro, comunicou por ofício a João Baptista Ribeiro estar re­
Cunha). 0 solvido a pedir a exoneração de «lente proprietário» da dita cadeira. (*}
No dia 20 foi nomeado o novo proprietário da Cadeira de Agri­ Nessa data, porém, já tinha sido transferido de substituto de Comér­
cultura e Botânica, Dr. António da Costa Paiva; a 22, o substituto cio para o lugar de substituto de Filosofia, José da Cruz Moreira,
da mesma cadeira, Dr. José Pinto Rebelo de Andrade, que aliás não pelo que supomos que o ensino desta disciplina não chegou a ser in­
aceitou ; a 23, o lente proprietário do 3.° ano Matemático, Diogo Kópke. terrompido. (5)
Como por outro lado, depois das demissões de Francisco Luiz Algumas das lacunas que ainda subsistiam no professorado da
Correia, José Eleutério Barbosa de Lima, e António José Dias Gui­ Academia desapareceram quasi por completo em fins de 1836 e co­
marãis (o primeiro era substituto de Filosofia Racional e Moral ; o meços do ano imediato.
segundo, proprietário de Inglês e substituto de Francês; o terceiro, Em 6 de Dezembro foi nomeado o lente substituto de Comércio,
substituto de Inglês) essas vagas tinham sido preenchidas, conforme Luiz Baptista Pinto de Andrade (fi); em 31 de Dezembro o lente do
dissemos, por Carlos Vieira de Figueiredo (Filosofia), Manuel Joaquim 1.° ano de Matemática, António Luiz Soares ; em 12 de Janeiro
Duarte e Sousa (Inglês), e António Pinto de Almeida (Francês); e seguinte, o do 2." ano Matemático, João Ricardo da Costa, Ç) ficando
como ainda João Baptista Ribeiro, proprietário de Desenho, e José
António da Natividade, Mestre de Manobra Naval, se diziam prontos
(') É o que diz Adriano Machado e nos parece verdade pelos factos narrados no
a reassumir as suas funções, o elenco do professorado, embora incom­ texto, embora a Res. Régia de 8 de Nov. de 1836, que exonerou Costa Paiva de lente
pleto, era em número bastante para se poder supor que os estudos dessa cadeira, afirme que ela pertencia à Academia de Comércio (O­4) ris. 30 v.o.
não houvessem realmente sofrido com tantas perturbações. (*) (O­3) fis. 10.
(:l) (0­4) fis. 30 v.o
I') (O­3) fis. 11.
(') Anuário, 77­78. (*) Anuário, de 1877­78. Dec. de 3 de Dezembro de 1836.
(*) Vide Memorias de Nomeações, etc., acrescentada por João Baptista Ribeiro. (*) (O­4), fl», 33 ■ v.o
Ms. do Arq. da Fac. de Ciências do Porto. (') (0­3) fls. 12. Em 12 de Abril de 1837 ainda estave em Lisboa, fl>. 15.
144 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA Do PÔHTO

então quasi recomposto o quadro do pessoal docente que os aconteci-


mentos políticos a que fizemos alusão haviam por complote desmantelado.
Advirtamos que, tempos depois, a lei de lit de Outubro de 1840,
e o Dec. de 9 de Dezembro do mesmo ano, pretenderam reparar o
mal feito aos antigos professores da Academia pelo Setembrismo,
mandando considerar adidos à Academia Politécnica os professores
exonerados por motivo da dita Revolução e determinando que ficas-
IV
sem a vencer metade dos respectivos ordenados até que lhes fosse
designado serviço, conforme as suas habilitações.
A RECUPERAÇÃO DO EDIFÍCIO OCUPADO
Alguns já tinham encontrado novo rumo para a sua vida, mas P E L O HOSPITAL MILITAR
outros nâo.
Como no Cap. II desta Memória ficou dite, António José da
Costa Lobo fora jubilado por C. R. de 14 de Dezembro de 1839; Como sabemos, as necessidades prementes da Guerra Civil ha-
António Fortunato Martins da Cruz tinha passado a Lente substituto viam obrigado a instalar no edifício da Academia de Marinha e do
da Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1838 ; António José Lopes Colégio dos Meninos Órfãos da Graça o Hospital Militar, o qual, por
Alheira fora nomeado Professor de Ideologia, Gramática Geral e Ló- não chegar para o movimento, tivera ainda como anexo o antigo Re-
gica do Liceu Nacional do Porto, por Dec. de 11 de Janeiro de 1840; colhimento do Anjo, que lhe ficava próximo.
Manuel da Fonseca Pinto obtivera nomeação interina de professor de Mal o Cerco fora levantado, em Agosto de 1833, logo o Reitor
Desenho da Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra, do referido Colégio oficiou ao Presidente e Vereadores da Comissão
por Dec. de 15 de Julho de 1840; António Carlos de Melo e Silva Municipal do Porto, administradora daquele estabelecimento, mos-
fora nomeado Director da Escola Normal do Porto, por Dec. de 8 de trando os gravíssimos prejuízos que os pobres órfãos estavam sofrendo,
Março de 1838. e pedindo que lhes fosse restituído o edifício. (!)
A estes não se aplicaram as leis dos adidos. Mas beneficiaram
das suas disposições : José Carneiro da Silva que veio a ser despa-
chado Lente da 7." Cadeira (Zoologia) por Dec. de 15 de Dezembro (') Eis o teor disse curioso documento :
Ulmos Senhores.
de 1840 e C. IÎ. de 12 de Maio de 1841; Joaquim Torcato Alvares
— «Havendo embarcado pa o Sul bast<=> forças do Exercito Libertador, tendo
Ribeiro que, depois de ser adido, foi nomeado proprietário da 5." ca-
felizmente dezaparecido desta cide o fl.igello do cólera-morbus, parece-me chego o
deira (Astronomia e Geodesia) por Dec. de 12 de Novembro e C . R . momto de puder suplicar a restituição deste Collo aos miseráveis órfãos seus dunos, remo-
de 11 de Dezembro de 1K44; Francisco Adão Soares que ficou vendo-se os doentes que ainda neile existem pa os outros Hospitais, pa esses Conventos
adido à Academia até morrer ; Agostinho Albano da Silveira Pinto Abandonado», e p.a tantas casas gd« que ali deixarão os prófugos rebeldes. Attodos os
que continuou como lente jubilado que era; Francisco Joaquim Maia inconvenientes que esta medida ofereça, opponho os Seg'<™ de que sou testemunha ocular,
e deixo 4 razão e á justa acomparação de uns e outros, e o deferimento da Supplica.
que ficou adido até 1854, ano em que a C. R. de 8 de Março o jubilou;
Tomado o Collo pa Hospital, ficarão os infelizes orfJios em tanta estreiteza e aperto,
José Luiz Lopes Carneiro que morreu em 18IÍ0 sendo ainda adido da que, pa amontoados nâo morrerem da explos.ïo das bombas, ou do' vapor infetto da La-
Politécnica; e Antonio Ventura Lopes que ficou adido à Escola Normal. trina, a que moravão contíguos, foi necessário sair para fora a metade délies q frequemão
José Luiz Monteiro é dado, pelo ilustre A. da primeira e segunda mal as aulas; nâo dío conta das lições; vão-se esquecendo do q sabiSo e tem-se desmo-
parte desta Memória, ou seja dos Cap. I e II, como falecido â data ralisado: não sendo possível remediar estes males senão fazendo-os recolher ao Collo;
mas não podem recolherse, por não terem casa em que vivâo. Onze dos me"»» vencem
da entrada do exército libertador no Porto. Mas, visto que o seu
por dia 150 « . arbitrados na gde. carestia dos viveres: arbítrio agora lesivo não só pela
nome aparece entre os dos professores demitidos pela Revolução de quantia mas por différentes circunstancias. No Collo andâo de socos ; e la fora de Capa-
Setembro, só depois desta data deve ter falecido.
146 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔKTO
A RECUPERAÇÃO DO EDIFÍCIO OCUPADO PELO HOSPITAL MILITAR

Mas os Órfãos ainda tinham aposentos em que, bem ou mal — 0 Prefeito da Província do Douro Remette à Comissão Munici-
conforme Deus era servido ! — alguns deles se albergavam. pai interina o oficio do Director Literário interino d'Academia do
A Academia é que apenas haviam sido deixadas duas salas na Porto, e a Copia da Portaria do Ministério do Reino adjunta, para
ala do poente; a de Desenho e a de Manobra Naval. As restantes que a mesma Comissão pondere tudo o mais, que lhe lembrar a
respeito do que nelta se trata, e remeta copia das Ordens que tenha
estavam transformadas em enfermarias e outras dependências do Hos-
recebido sobre estes objectos, bem como da correspondência que
pital, tendo sido removido para escuras e húmidas arrecadações o ma- tenha tido para alcançar o despejo do edifício, afim de tudo ser le-
terial escolar. vado por esla prefeitura ao conhecimento do Ex.mo Snr. General
Por isso, tam grande ou maior desejo que o do Reitor do Colé- Barão do Pico do Celeiro, e conseguir-se o effectivo desempenho das
Ordens do Governo.
gio dos Órfãos era o do Director da Academia em rehaver o edifício ;
e tanto assim que não tardou também a iniciar as necessfírias deli- Palácio da Prefeitura no Porto 9 de Janeiro de 1834.
gências para o mesmo efeito. 0 Prefeito, Manoel Gonçalves de Miranda.
Prova-o o seguinte ofício do Prefeito da Província do Douro à Pa o I||mo Presidente e Membros da Comissão Municipal inte-
Comissão Administrativa da Câmara Municipal s rina ('I

tos com q gostão m a i s : em casa usão d e tunicas; e fora d e hábitos, o q estragïo r»to. Pouco depois o Governo de D. Pedro, Duque de Bragança, Re-
Os orfaons que ficarão, são obrigos a ouvir a toda a hora as Conversações torpes e obsce- gente em nome da Rainha, expedia ao Prefeito da Província do Douro
nas dos S o l d o dissolutos, com os quais vivem em mH proximidade, e não podem guar-
as «convenientes ordens» para se realisar a mudança do Hospital ; (*)
dar a disciplina do Collo. Estejão nas aulas, no coro, no refeitório, ou nos seus aposen-
tos apenas toca a campainha do Hospital para tudo, interrompem-se todos os actos da
mas de nada tais ordens valeram, visto que muitos meses depois, em
comunidade, para irem abrir as portas, acender a banqueta etc, e acompanharem o San- Setembro de 1N34, ainda tudo continuava na mesma !
tíssimo não so a este Hospital, mas ao do Anjo q.do lá £ perciso: isto em virtude de uma Para que a Academia no ano lectivo imediato pudesse reabrir e
convenção em q u e eu não fui parle contractante, nem seria sem primeiro representar os
começar a funcionar, (3) foi preciso arranjar outra casa.
gd™ inconvenientes d'ella.
Com a respectiva autorização superior, foi então que se escolheu,
E s t e n d o o Collo tão pobre, gasta azeite e cera em benefo do Hospital. Qàu os

orfaòs eraô S n r « da sua casa ião elles m.mos buscar à fonte da cosinha a agoa 5 perci-
como jií ficou referido, o Palacete do Visconde da Trindade, situado
savão: agora dão-se por mes 2400 rs metal a qm lha acarreta. Nesse tempo os criados na actual Praça de Carlos Alberto, edifício hoje ocupado pelos Ser-
cosiSo o pão no forno da casa ; agora paga-se a um torneiro o qual furta a farinha, e cose viços Municipalizados do GÍÍS e Electricidade.
mal o pão. O telheiro aonde se acende o lume ameaça um incêndio no Collo; já depois
A Academia esteve aí instalada durante o ano de 1834-35, com
q" a 7 nm.cs o habito pegou duas vezes o fogo na casa visinha.
uma população de mais de cento e quarenta alunos (*) ; apenas as
N ã o se restituindo o Coll» percisa-se q*° antes de construir cosinha e forno e inu-
aulas de Desenho e Manobra Naval continuaram a ser leccionadas,
tilisar duas casas q u e rendem dose moedas. Sei muito bem q u e o remédio indicado não
está nas atribuições da Comissão; mas está nas minhas representar / com todo o res- como anteriormente, no edifício próprio da Academia, na ala do
peito / a Authoridade Competente para não Correr na Censura do Evangelho fazendo de poente.
rafeiro mudo, estando a meu cargo um Estabelecimento de que a Relegião, a Causa da
Os meses foram correndo, acabou o período lectivo... e o Hos-
R a i n h a , e da Pátria podem tirar as maiores vantagens.
pital permanecia ainda onde estava um ano antes !
D» gã> a V . Snr» por largos anos, como pedirão e hão mester os Orfaons. Agostinho Albano insistiu então mais outra vez na conveniência
R e a l Coll° de N . S n r » da Graça 22 d e Agosto de 1833. evidentíssima da desocupação do edifício académico ; mas nada mais
D e V . S,a Ulmos S n r " da Comissão Municipal desta Ctde mui a t f S° e Cdo

O R ° Anto Xavier Pacheco. (') Livro 14 — Suplemento às Prop., fis 40 no Arq da Câmara Municipal.
{") (0-4), fis 8. Ofícios de i í de Maio d e 1834.
{Livro ij de Suplemento às Proprias — Kòlhas 82 D o Arquivo da Câmara Mu-
(') Id , fis. 9, v.o
nicipal).
(') I d e m , fis. 11,
148 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A RECUPERAÇÃO DO EDlFlclO OCUPADO PELO HOSPITAL MILITAR 149

conseguiu do que a autorização para... continuar na casa de aluguer, Ill. m o s Snr.»


por mais um ano (1835-36). (1)
Em resposta ao Oficio que V. S™ fizerão a honra de dirigir-me
E certo que nos primeiros meses de 1836 se trabalhava já na em data de 12 do corrente, tenho a expor a V. Sas. que depois das
adaptação do antigo Convento de S. João Novo a Hospital Militar. (*) Ordens Expedidas do Ministério da Guerra, para o Hospital Militar
Mas as obras — que se fizeram sempre com lentidão enervante, se remover do Edifício da Graça, vierão outras do mesmo para esta
— a dada altura pararam por completo. remução só ter lugar quando o local para honde deve sér feita, es-
tiver nas circunstâncias de poder alojar os Enfermos comodamente,
A situação parecia querer eternizar-se...
o que desgraçadamente está ainda muito distante em consequência
A 8 de Outubro de 1836, como dissemos, João Baptista Ribeiro de não continuarem as obras no Convento de S. João Novo, o des-
foi encarregado da Direcção da Academia, e, por simples coincidência tinado para o Hospital.
ou talvez por sua iniciativa, logo em 14 do mesmo mês Joaquim Ve- Em quanto se conservarem os Enfermos no Edificio da Graça,
loso da Cruz, Administrador Geral do Distrito do Porto, sugeriu â não he possível ceder em beneficio da comodidade dos meninos
Órfãos, alguma parte do quo o mesmo Hospital esta ocupando, por
Câmara Municipal uma forma prática e simples de resolver rapida-
que em todo ele estão acantonadas as diferentes Enfermarias, com
mente todas as dificuldades. as devidas separações, e quando mesmo fosse possível era imprati-
Estava reconhecido que o que embaraçava tudo era a falta de cável o fazer entre elles e os doentes a necessária separação, por-
dinheiro : bastava, portanto, que a Câmara se prontificasse a adiantar que o Edifício não a p/imite.
a pequena soma que era preciso gastar nas «obras indispensáveis para Em qualquer caso eu não lenho autoridade algúa para fazer
serem recolhidos no Hospital Militar de S. João Novo os-doentes e qualquer alteração no local do Hosp.«', he necessário que me seja
ordenada pelo Ministério da Guerra de quem dimanão as Ordens
utensílios, que ocupam o edifício da Academia desta cidade e do ex- que devo dar a execução.
tinto Recolhimento do Anjo»; essas obras, pelo orçamento feito, im-
portavam apenas na quantia de Rs. 228$000 ! Deoa Guarde a V. S.» Porto 16 de Novembro de 1836.

A Câmara concordou com a sugestão, e tam depressa elas se fi- Ill m f " Senhores. Presidente e mais Membros da Illustrissime
zeram que em 28 do mesmo mês as obras projectadas estavam con- Camará Municipal da Cidade do l'orto.
cluídas. Começaram nesse dia a ser transferidos os utensílios do Hos- José Ignacio d'Albuquerque, Director (')
pital, e no dia seguinte devia iniciar-se a mudança dos enfermos. (9)
Tal, porém, ainda desta vez não chegou a rea!izar-se, porque Não tardou muito, porém — talvez em princípios de Dezembro
sobrevieram ordens superiores, mandando suspender a muda enquanto seguinte —que o Hospital, enfim, fosse mudado para o antigo Con-
certas e determinadas adaptações se não fizessem no edifício em que vento de S. João Novo!
ia ser instalado o Hospital !
E tudo ficou na mesma.
João Baptista Ribeiro podia ufanar-se de haver ganho uma ba-
Esta situação ainda durava em 16 de Novembro seguinte quando talha. Mas novas dificuldades tinha agora de vencer. Onde arranjar
a Câmara recebeu o seguinte ofício : dinheiro para reparar o edifício dos enormes estragos causados não
só" pela ocupação militar, mas também pelos projécteis que sobre êle
haviam caído nos duros meses do Cerco ? !
('I (O-S), fis. 6 y,o e 7. Of. de 13 de Agosto de 1835 de António José Dias
Guimaríís, no impedimento do Prefeito da Provinda. Disse mais tarde João Baptista Ribeiro, num ofício em que his-
(•) (O.4). fli. 1 1 . toriou as canseiras dos seus primeiros tempos de Director:
(*) Liv. 40 de Próp. (Arq. da Câm. Municipal) ih. 130, oficio de J. V. da Cruz
k C. M. do Porto, de 19 de Outubro de 1836. As obras atingiram o custo de 2551520
Ri. Ib.
(') Livro 16 do Suplemento às proprias, fis. 164, do Arquivo Municipal do Porto,
150 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

«Coube-me a aorte de dirigir este Estabelecimento desde que


se patenteou a Revolução de Setembro, a quai lhe ocasionou uma
quási completa desmenbraçâo ; tive por ieso de responder ao Go-
verno de Sua Magestade por Ioda a Academia, coadjuvando-o na
sua reforma.
«Achei então as Aulas dispersas por casas de aluguer, e suma
dificuldade em fazer evacuar o Hospital Militar, para reuni-los no V
seu próprio edifício; porím. isto ainda não bastava, era forçoso re-
parar-lhe os grandes estragos, bem como os dos utensílios e fa- A CRIAÇÃO DA ACADEMIA POLITÉCNICA
zendas.
«Principiei a representar ao Governo esta necessidade a 16 de A breve Ditadora de Passos Manuel, quando nada mais houvesse
Dezembro de 1836, prosseguindo até 31 de Agosto de 1837 sem
obter alguns meios». (')
que a tornasse credora da gratidão das gerações presentes, bastava-lhe
para isso a obra verdadeiramente notável que realizou no campo da
instrucção pública.
Como veremos, as dificuldade* monetárias não impediram João
E o Porto, em especial, deve-lhe indelével reconhecimento.
Baptista Ribeiro de em breve iniciar, mesmo sem que o Estado lhe
Além do que fez pelo Museu ou Ah um ]). Pedro, que existia
mandasse dinheiro, as reparações indispensáveis para que a Academia
desde 1833, mas não tinha dotação; não falando do Lient Nacional,
pudesse voltar a instalar-se no sen quasi perdido iar...
criado por Dec. de 14 de Novembro de 1836; da Academia Portuense
de Belas-Artes, fundada por Dec. de 22 de Novembro do mesmo ano;
da Escola Medico-Cirúrgica que, por Dec. de 2!) do mês seguinte!
surgiu da Escola de Cirurgia, - rj a Passos Manuel que se deve por
Dec. de 13 de Janeiro de 1837 a transformação da Academia de Co-
mércio e Marinha, em Academia Politécnica.
Diz nesse Decreto o emérito reformador da Instrução :

— • Attendendo à necessidade de plantar no pais as seiencias


industriais, que diferem muito dos Estudos clássicos e puramente
scientificos, e até dos estudos theoricos contendo simplesmente a
discripção das Artes : e offerecendo para este fim a populosa e rica
cidade do Porto a localidade mais apropriaria pelo seu extenso co-
mercio e outras muitas circunstancias; podendo a Academia Real
da Marinha e Commercio satisfazer até certo ponto a este impor-
tante objecto, logo que receba uma organização mais conveniente:
Hei por bem, em continuação do Plano Geral d'Estudos, Decretar a
parte relativa á reforma d'aquella Academia, que lhe foi apresen-
tada pelo Vice Reitor da Universidade, encarregado d'esté Plano, e
que vai assignado por Manoel da Silva Passos, Secretario d'Estado
dos Negócios do Reino 0 Secretario d'Estado dos Negócios do
Reino assim o tenha entendido, e faça executar.

Palácio das Necessidades, em 13 de Janeiro do mil oitocentoi


(') (0-31, fis. 30. Oficio de 14 de Dezembro de 1837 a Joaquim Veloso da Cruz, e trinta e sete.
Administrador Geral do Distrito do Porto. Rainha
Manoel da Silva Passos* (')
(') Anuário, de 1879-80, pig. 141.
152 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Acabava a benemérita Academia Real da Marinha e Comércio,


transformada em Academia Politécnica ; iam ser inaugurados em Por-
tugal os estudos industriais. (1) Mas em má hora nasceram, como o
seguimento deste trabalho o irá demonstrando.
O novo estabelecimento novo se lhe pode chamar porque pro-
fundamente diferia daquele que o precedeu — destinava-se a formar
(art.0 155 do Dec. cit.) :

l.° Engenheiros civis de todas as classes, tais como os Enge-


nheiros de Minas, os Engenheiros Construtores, e os Engenheiros de
Pontes e Estradas.
2.° Oficiais de Marinha.
3.° Pilotos.
4.° Comerciantes.
5." Agricultores.
6.° Directores de Fábricas.
7." Artistas.

Como se vê, eram demasiado ambiciosos, embora, sem sombra de


dúvida, louvabilíssimos, os desígnios do Reformador.
Seriam porém exequíveis ? Que possibilidades dava êle para rea-
lizar tam vasto plano?
NSo muitas, na verdade.
Para habilitar a tam grande número de profissões, em que o en-
sino não podia deixar de ser ministrado em grau variado e em quali-
dade diferente, visto que ao lado de cursos superiores como o de en-
genharia civil, havia outros de feição modesta, como os de artistas e
pilotos, estabelecia a Lei apenas onze cadeiras ou cursos (art.0 157):

l.° Arimética, Geometria elementar, Trigonometria Plana, Álge-


bra até às equações do segundo grau ;
2." Continuação da Álgebra, sua aplicação a Geometria, Cálculo
diferencial e integral, princípios de Mecânica ;

(') «O pensamento de Passos Manuel foi de-certo o dotar o pais, num dot seus
centros mais populosos e activos, de um ensino análogo ao que na Escola Central de Ar-
tes e Manufacturas de Paris fora iniciado, oito anos antes, pelos esforços e cooperação de
Olivier, Péclet, Lavallée e Dumas; foi, numa palavra, o de criar nesta cidade uma Escola
Politécnica industrial!. (Representação do Conselho Académico da Ac. Polit, do Pûrto,
JO de Março de 1885, in Anuário de 1885-86, pág. 195).
A CKIAÇÃO NA A C A D E M I A POLITÉCNICA 153

3." Geometria descritiva e suas aplicações;


4." Desenho relativo aos diferentes Cursos ;
5." Trigonometria esférica, e princípios de Astronomia, de Geo-
desia, Navegação Teórica e Pnítica ;
fi.° Artelharia e Táctica Naval;

MANUEL OA SILVA PASSOS

(O criador da Academia Politécnica do Pert»)

7." História Natural dos três Reinos da Natureza, aplicada as Ar-


tes e Ofícins ;
8." Fisica e Mecânica industriais ;
9.° Química, Artes Químicas e Lavra de Minas;
10." Botânica, Agricultura e Economia rural, Veterinária ;
II. 8 Comércio e Economia industrial.

A L* Cad. seria comum para o Liceu Nacional, recentemente


criado (art." 157, S 4."). Acrescente-se que, «do mesmo modo, as ca-
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A CRIAÇÃO DA ACADEMIA POLITÉCNICA 155

deiras de Física, Química e Princípios de História Natural do Liceu»


Para cada um dos cursos ou cadeiras havia um Professor Pro­
eram «substituídas pelas cadeiras 7.a 8.a e 9." da Academia», podendo
portanto dizer­se que «o Liceu vinha a ficar uma dependência da pru­tário, e para todas seis substitutos apenas, sendo um deles espe­
Academia». (1) cial para a cadeira de Desenho (art 162). Era, na verdade, muito
pouco...
Haveria ainda na Politécnica, além dos onze já nomeados, o
Acrescentemos que, desejando o Reformador que o ensino fosse
Curso de Aparelho e Manobra Naval, regido por um Mestre subordi­
essencialmente prático e experimental, não só manteve na Academia
nado ao Lente de Navegação ; mas a Arquitectura Civil e Naval seria
os estabelecimentos que vinham já do tempo da sua antecessora, mas
estudada na respectiva Aula da Academia Portuense de Belas­Artes
concedeu­lhe mais — . . . em teoria — um Gabinete de História Natu­
(§ § l.° e 2.° do art. 0 157).
ral industria], um Gabinete de Máquinas, um Laboratório Químico e
Foram extintas todas as outras cadeiras da velha Academia de
Oficina Metalúrgica, e um Jardim Botânico e Experimental (art. 165).
Marinha (à excepção da de Primeiras Letras que subsistiria indepen­
Os estudantes politécnicos realizariam também experiências, mani­
dente e fora do Plano da Politécnica), passando os respectivos pro­
pulações e os mais exercícios práticos nas oficinas da Academia Por­
fessores para as cadeiras mais análogas estabelecidas no Liceu, com
tuense de Belas­Artes e nas salas do Conservatório das Artes e Ofí­
os seus artigos ordenados (art.0 166).
cios, estabelecimentos pouco antes criados e que seriam para êsse fim
Seria possível, dispondo­se apenas de tam reduzido número de
considerados comuns à Politécnica (art.0 157, § 3."). A intenção evi­
cadeiras, «habilitar os alunos em todos os cursos a que se destinavam»?
dentemente era a melhor... Diga­se, porém, disde já que o Conser­
Como, sobretudo, formar engenheiros civis segundo mandava o
vatório nunca abriu as suas portas, <■ os* Gabinetes, Laboratórios e
Decreto, não havendo uma cadeira de Construções? !
Jardim prometidos, existiram durante muito tempo, como veremos,
Dessa extrema deficiência de cadeiras resultem, como era inevitá­ apenas no papel,..
vel, o gravíssimo inconveniente de se aglomerarem numa só cadeira
Quanto a ordenados, jubilações e garantias dos Professores, esta­
várias disciplinas, «algumas até sem ligação» entre si. (*)
beleciam o art.0 162 a seu S l.° que os lentes catedráticos venceriam
Note­se, porém, desde já que a­pesar­de tudo, a­pesar­das lacunas
7001000 anuais e os substitutos 400$000.
e imperfeições da Reforma, logo no primeiro momento apontadas e
As jubilações, garantias e maneira de provimento das Cadeiras
tentadas remediar pelo Conselho Académico — algumas delas talvez
rcalizar­se­iam pelo método estabelecido pela Lei da Reforma Literá­
atribuíveis ao desejo de não onerar demasiadamente o Tesouro Público,
ria para os mais Professores da Instrução Superior (').
depauperadíssimo naquela época, — a Academia Politécnica do Porto
Esta foi, nas suas linhas essenciais, a primeira orgânica da nova
assim mesmo produziu excelentes resultados. A­pesar­das condições
Academia.
ingratas em que por força das circunstâncias durante muitos anos os
seus professores tiveram de ensinar, eles formaram engenheiros muito
distintOB, «nomes vantajosamente conhecidos na engenharia e ciência
portuguesa». (*)
(') Esta matéria estava re^lada nos art.os no,, u o , 124 e ■ 25 da cit. Reforma­
Os lentes que tivessem dez anos de bons serviços, continuados ou interpolados, po­
deriam jubilar­se, recebendo metade dos ordenados ; tendo quinze anos, receberiam dois
(') An. de 85­86, p. 210, em que cita s art o 42 do Dec. de 17 de Novembro
de 1836. terços, e se tivessem vinte, o ordenado por inteiro, podendo neste caso, continuar no cier­
cicio de suas cadeiras, vencendo mais em cada ano, enquanto servissem, a terça parte do
(') Anuário de 1881­82, pág. 17: Discurso de Abertura por Dr. Francisco de
Sales Gomes Cardoso, Director inteiino. respectivo ordenado.
(a) RepresentaçSo da Ac. Po), em 30 de Março de 1885, in Anuário de 85­86, Quanto a Provimentos: a primeira nomeação dos membros que faltassem para com­
pág, 196. por o Corpo Catedrático da Academia, seria feita pelo Governo; as restantes seriam fei­
tas precedendo Concurso de provas públicas perante o Conselho Académico.
VI

A «INSTALAÇÃO» DA ACADEMIA POLITÉCNICA


E O SEU PERÍODO TRANSITÓRIO

f\>i apenas cm 15 de Março de 1837, dois meses depois da sua


criação, que oficialmente se instalou, a Academia Politécnica do Porto.
Perante a Congregação dos Lentos, Professores e Substitutos,
João Baptista Ribeiro apresentou o Decreto de 13 de Janeiro daquele
ano, e por unanimidade se acordou em que o dito Decreto se consi-
derasse em vigor desde o 1.° de Março então corrente, cumprindo-se
pontualmente o que êle ordenava em seus artigos, «sem quebra ou di-
minuição alguma».
Desde o 1.° de Março daquele ano de 1837 a Academia de Ma-
rinha e Comércio passara, portanto, a chamar-se Academia Poli-
técnica (1).
Antes ainda de instalada a nova Politécnica fora requerido, por
portaria do Ministério do Reino, um «breve Relatório» do seu estado,
«e das providências de que carecesse para o seu progresso e melho-
ramentos», prova evidente — deve frisar-se — do interesse que aquela
instituição continuava merecendo a Passos Manuel.
João Baptista Ribeiro, para dar execução a essa Portaria, convi-
dou os seus colegas a fornecerem-lhe por escrito sugestões e opiniões,
e organizou com todas elas um Relatório completo e interessante, que
em 30 do mesmo mês enviou à Secretaria dos Negócios do Reino (1).
Esse documento diz-nos (s) que então funcionavam apenas as ca-

(') Deitai resoluções foi lavrado, pilo Secretario José Augusto Salgado, o respec-
tivo termo, que >e pode ver reproduzido no Anuário de 1879-80, pág. 163-164.
('( O-3 fl«. u v.o Ofício de J. B, Ribeiro da data acima indicada.
(*> Id. fl». 13 e seguintes.
158 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACAIIF.MIA POLITÉCNICA DO PORTO
A «INSTALAÇÃO» DA ACAt) POLIT. E O SEU PERÍODO TRANSITÓRIO 159

deiras correspondentes ao 1.", 4.°, 5.°, 7.°, 8," e !).° Cursos do Decreto
Como estaria repartido entre todos eles o serviço escolar?
de 13 de Janeiro (') seguindo­se nelas o método de ensino anteriormente
As cadeiras de Filosofia e Línguas eram provavelmente regidas
praticado na Academia de Marinha e Comércio.
pelos antigos Lentes, Proprietários e Substitutos, José da Cruz Mo­
Infelizmente, o Relatório não informa quem regia essas cadeiras;
reira, António Pinto de Almeida, Manuel Joaquim Duarte e Sousa, João
apenas permite afirmarmos que o 2.° Curso estava confiado ao Lente
Baptista Pereira Leal e Mac­Carthy da Cunha.
Catedrático João Ricardo da Costa.
Essas disciplinas, no entanto, já não faziam propriamente parte
Vejamos, porém, o que é possível conjecturar­se.
da Academia, mas sim da sua secção, o Liceu Nacional, que aliás não
O termo da instalação da nova Politécnica, a que já nos referi­ fora organizado ainda, visto dele se encontrarem providas apenas
mos, foi assinado pelos seguintes «Lentes, Professores e Substitutos» (*): aquelas três cadeiras (1).
As Matemáticas, 1." c 5.° Cursos, deviam estar, como é natural,
João Baptista Ribeiro (Director e Prof, de Desenho)
a cargo respectivamente de António Luís Soares e Diogo Kõpke, que
Doutor António da Costa Paiva (Agricultura e Botânica)
eram seus Lentes Proprietários; o Desenho (4." Curso) era regido, com
Diogo Kõpke (3.° Ano Matemático)
toda a certeza, por João Baptista Ribeiro e Vila­Nova Portugal.
Manuel Joaquim Pereira da Silva (Prof, de Comércio)
Mas a História Natural, a Física e a Química?
. José da Cruz Moreira (Filosofia) Não o podemos dizer.
Manuel Joaquim Duarte e Sousa (Inglês)
E notaremos com estranheza nâo se declarar que estivesse em
Joaquim Cardoso Vitória Vila­Nova (Sub. de Desenho). exercício a Cadeira do Comércio (o 10." Curso), visto ter Proprietário
Luís Baptista Pinto de Andrade (Sub. de Comércio) e Substituto nomeados.
António Luís Soares (l.° Ano Matemático)
De muita e muita coisa carecia ainda a nova Academia; muito
António Pinto de Almeida (Francês) era preciso fazer.
João Baptista Pereira Leal (Francês).
O Relatório de 30 de Marro, há pouco citado, começava por
observai que, destinando­se a Escola a formar, entre outras espécies
De todos estes Professores falámos já.
Havia, porém, na Academia outros que aqui não aparecem; além (') As referidas disciplinas de Filosofia, Francês e Inglós mantiveram­se sempre,
de João Ricardo da Costa, faltam Carlos Mac­Carthy da Cunha, su­ até à abertura, em 1 8 4 1 , do Liceu Nacional, com efectivo exercício na Academia Poli­
bstituto de inglês, e José António da Natividade, Mestre de Mano­ técnica, a­pesar­de terem sido extintas pelo art.» lût, do Dec. de 13 de Janeiro de 1837.
bra Naval. Entre as razoes que, para assim ptoceder, deu Jofci Baptista Ribeiro, em Of. diri­
gido a 31 de Março de 1838 ao Barão de Tilheiras, Repartição do Ministério do R e i n o ,
i<'l„,:,duzimos as seguintes: — «/V/o artigo 163 do Dec de 13 de Janeiro de 1S37 é de­
(') Ou seja: l.o e 5.0 «no matemáticos ; 4.0 de D e s e n h o ; 7.0 História N a t u r a l ;
terminado que ficam em vigor os Estatutos Je Ifi de Julho de 1S113 em tudo o que não
8.0 Física e Mecânica ; e 9 0 Química,
é doutra maneira estabelecido nos últimos Dec. da Reforma Literária.
(*) N o relatório que estamos utiiisando e ác que apenas conhecemos a cópia in­
*E como nor ditos Estatutos / sadiamente disposto que os alunos do C omercio se­
serta no Livro Registo de Ofícios de 1833­1834 (0­31, da Academia, lê­se : — tAchão­se
jam aprovados em Inglês e Francês, ,11/n aprovação <■' preparatório de Lei; e o curso
sem (sic) exercida as C adeiras correspondentes ao 1.0 j o g,ê 7 0 S.o e o.e C ursos do Re.
11.» desta .luidemia mal poderia C OmhitKtT­Se com o , onhcctmento daquelas Línguas que
gulamenlo que fat parte do Decreto de IJ de Janeiro de 1837, seguindo­se nelas o me­
Iam gramdti VtntOftns piorno,;», M C omércio desta populosa cidade; sendo o grande
thodo d'ensino anteriormente praticado na Academia de Marinha e C omércio* (tis. 13).
objecto desta Academia dar ilustrado impulso a tudo o que respeita às C iências Indus­
Cremos que há erro de cópia. Como é que as ditas Cadeiras podiam estar sem
triais, como aponta o relatório do Dec. da sua última Reforma: e porque lambem m
exercício, e ao mesmo tempo seguir­se nelas um qualquer método de e n s i n o ? !
ditas Línguas são preparatório da Lei para a Pilotagem, para o 1.0 C urso, efacil­
Além disso nSo é de admitir que estivesse fechada a 4 » Cadeira (Desenho) ha­
mente para todos os estudos Académicos, onde, em geral, se usam compêndios escritos
vendo proprietário e substituto da mesma. Esta» considerações nos levaram à convicção
naquelas Línguas; concluo pois que acho de grande utilidade publica a continuação
de que por lapso o copista escreveu sem onde deveria ter escrito em.
das três C adeiras de Filosofia Racionale Moral, de Jnglês e Francês* ( 0 ­ 3 , ils. 40 v.o 6 4 1 ) .
160 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A «INSTALAÇÃO» DA ACAD. POLIT. E O SEU PERloDO TRANSITÓRIO 161

de Engenheiros, os de Pontes e Calçadas, faltavam no seu programa


exactamente alguns dos estudos indispensáveis para que os alunos que rio, estabelecer o ensino de Geografia Física, e organizar sem demora
desejassem obter aquela formatura recebessem cabal instrução ! os Estabelecimentos que àqueles estudos diziam respeito, na confor-
Era uma lacuna muito grave, que urgia remediar. midade do art 0 165 do Dec. de 13 de Janeiro último.
Nada aconselhava também a reunião do ensino da Arquitectura Relativamente à disciplina de Desenho, cuja Aula era frequen-
Civil e Naval no mesmo Curso, de mais a mais com a agravante des- tada por 126 alunos, número que se esperava aumentasse ainda mais
sas disciplinas serem professadas na Academia de Bclas-Artes. Sem quando em todos os Cursos da Academia se estudasse o desenho que
falar das dificuldades provenientes da absoluta diversidade das maté- lhes fosse imposto, tornava-se absolutamente impossível que um único
rias, e da acumulação de doutrinas, não era possível estudar-se Arqui- Professor ministrasse, com consciência e proveito escolar, o ensino
tectura Naval juntamente com a Civil, visto que a primeira carecia individual a tam grande número de alunos ; era preciso que para o
de amplíssimos conhecimentos, e só ela exigia mais tempo de prelec- auxiliar lhe dessem não só o Substituto, mas também um Agregado
ção do que o ensino simultâneo dum e outro ramo de ciências con- da Academia Portuense de Belas-Artes.
sentiria. Finalmente era lembrada ao Governo a vantagem, ou melhor
Havia, além disso, como já dissemos, falta de pessoal docente. necessidade, de tornar mais acessíveis em preço os cursos da Acade-
Era imprescindível aumentar-se o número de Substitutos. mia; matrículas a Rs. 19.Ç200, como mandava o art" 163 da Lei, era
demasiado caro, «atenta a escassês dos meios pecuniários na classe
O Decreto de 13 de Janeiro, no seu art.0 162, determinara, como
vimos, que eles fossem seis, um dos quais especial para a- Cadeira de de alunos» a quem os estudos da Academia poderiam interessar, e
Desenho. Sobravam assim apenas cinco para os dez Cursos restan- teria como resultado impedir a inscrição de grande número de rapa-
tes, em alguns dos quais um Substituto só não bastaria para servir zes não providos de meios de fortuna.
permanentemente de demonstrador !
*
Propunha-se no Relatório que o número de Substitutos fosse
aumentado com mais dois, fazendo o total de oito, distribuídos da
Nesses primeiros meses, verdadeiro e embaraçoso período transi-
seguinte forma :
tório, os estudos, como é natural, estiveram um pouco desorganizados.
— Para os cincos ( 'ursos de Matemáticas puras e mixtas (1.°, 2.°,
O Relatório de 31 de Março de 1S37, que vimos aproveitando,
3.°, 5:° e 6.°) três substitutos.
refere, por exemplo, que «a Cadeira correspondente ao Segundo Curso
— Para o Curso de Desenho (4.°) um.
do dito Regulamento», ou seja Continuação da Algebra, sua aplicação
— Para os Cursos de Ciências Filosóficas (7.°, H.°, 9." e 1.°) três.
à Geometria, Calculo diferencial t integral, princípios de Mecânica,
— Para o Curso de Comércio (11.") um.
não funcionava ainda, tanto «pela falta do Lente Catedrático João
Conviria que, de futuro, as Cartas Régias das nomeações desi-
Ricardo da Costa nomeado por Decreto de 13 de .Janeiro,— o qual
gnassem expressamente as doutrinas que cada Substituto viria ensi-
ainda não apareceu a-pesar-dc se lhe haver oficiado pura isso — assim
nar, visto ser grande a diversidade de ciências que se versavam na
como, pela falta de substitutos, dos quais a Faculdade (sic) se acha
Academia e não ser fácil encontrar-se quem estivesse apto a ensiná-las
desprovida». Isto «não pode deixar de sentir-se, visto que muitos Es-
a todas com proficiência.
tudantes destinados ao Segundo Curso ficaram sem a instrução por
Pelo que diz respeito ao estudo da Astronomia, este não se podia
eles desejada, enquanto que outros, aproveitando-se da prática da Aca-
fazer a sério enquanto se não reparasse o Observatório, visto que, por demia de Marinha e Comércio, passaram do 1." ao 5.° Curso», (isto é,
deficiências de construção, era impossível realizar-se ali uma observa- passaram de Arimctica, Geometria Elementar, Trigonometria Plana,
ção exacta ! Algebra até às equações do segundo grau ao estudo de Trigonometria
Quanto a Ciências Naturais era de utilidade, segundo o Relató- Esférica, princípios de Astronomia, de Geodesia, Navegação Teórica
162 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A «INSTALAÇÃO» 1>A ACAD. POLIT. E O SEU P E R l o U O TRANSITÓRIO 163

e Prática) sem terem adquirido portanto aqueles conhecimentos que Destes, o Governo nomeou apenas dois : António Rogério Gro-
lhes teriam tornado mais proveitosas as doutrinas ensinadas no 5.° micho e Padre Joaquim Santa Clara, ambos por Decretos de 29 de
Curso, «acrescendo ainda a mui ponderosa razão de se não poderem Maio do mesmo ano. (1) As Cadeiras de Geometria Descritiva e de
fazer os Actos por não haver para isso os Lentes que a Lei de 29 de Física e Mecânicas Industriais vieram mais tarde a ser providas res-
Julho de 1803 determina». pectivamente em José Vitorino Damásio e José Parada Leitão, por
Mas não tardou muito — muito mais rapidamente do que seria Dec.™ de 27 de Novembro seguinte, (*) e a de História Natural em
de esperar — que tudo se fosse normalizando. José Carneiro da Silva, por Dec. de 15 de Novembro de 1840. (7)
João Ricardo da Costa não demorou a vir a Lisboa, onde andara Para substitutos entraram Francisco José Martins Giesteira (Dec.
tratando de obter a sua Carta Régia de nomeação. (1) de 27 de Novembro de 1837) (4), João José de Vasconcelos (Dec. de 3
E não levou muito tempo também que o Governo ordenasse ao de Abril de 1839) (5) e José António de Aguiar (Dec. 9 de Julho
Conselho da Academia, em Portaria Confidencial, informasse *confi- do mesmo ano) (*).
dencialmente sobre o modo mais próprio de prover as Cadeiras» va-
gas, não só da Academia, mas também do Liceu, e bem assim «àcêrea Professores, e dos mais ilustres, arranjaram-se com relativa fa-
das pessoas que, por seus talentos e distintas qualidades, devam ser cilidade.
nomeadas para cada uma das mesmas Cadeiras». Custou muito mais a conseguir que o Governo lhes pagasse.
Em cumprimento dessa Portaria, que tem a data de 21 de Abril Ao terminar o ano lectivo de 1836-37 ainda eles nada tinham
de 1837, o Conselho propôs, em 17 de Maio imediato, os seguintes recebido !
nomes para as vagas da Politécnica : —«7/ÍÍ vinte e seis anos que exerço o lugar de Lente — dizia
1." António Máximo Pereira Dias — bacharel formado em Ma- Ribeiro, no 1.° de Setembro de 1837, ao Ministro do Reino Júlio Go-
temática pela Universidade de Coimbra e Repetente na mesma Facul- mes da Silva Sanches — | posto asseverar a V. E.r.a que nunca tal
dade — para Lente do 3.° Curso (Geometria Descritiva, etc.) ; vi, nem ouvi que se praticasse com tais empregados» (s).
2.° António Rogério Gromieho Cíouceiro — com o Curso com- Mas o não recebimento dos Ordenados — registe-se para honra
pleto e distinto da Academia de Marinha — para o (>." Curso (Arte- desses beneméritos Isentes da velha Politécnica — não impediu que
Iharia e Táctica Naval); todos eles cumprissem, em geral, com inexcedívcl zelo o seu dever
3.° António Pedrosa Barreto — bacharel formado em Medicina docente.
na Universidade de Coimbra — para o 7.° Curso (História Natural); Estamos historiando ainda uma fase da vida da Academia em
4." Padre Joaquim de Santa Clara Sousa Pinto — frequentou que, se não lhe concedem o que ela pede, é por falta de disponibi-
na U. C , com distinção científica, o Curso de Filosofia Natural ; não lidades financeiras. PasBOs Manuel ainda governa e dá repetidas pro-
fez acto de formatura nesta Faculdade por falta de meios, e por ter vas de que se interessa pelo estabelecimento que foi sua criação.
sido perseguido por sua adesão aos princípios constitucionais — para
o fl.° Curso (Química, etc.). (*)
História, Joaquim d» Costa Ramalho Ortigïo; l o a cad., Oratória, Poética t Litera-
tura, José Maria de Sousa Lobo; Lingua Alemã, Inácio José Schlegel; Lingua Grega,
(l) (0-3) fia. 15. Or. de J. R. da Costa a J. B. Ribeiro, datado de Lisboa, i í João Duarte de Sousa. Il>. fit. 18.
de Abril de 1837, anunciando a sua próxima vinda para o Porto. João Ricardo da Costa (') (H-l). fis. l o i v.o e 163 v.o.
já assina com os seus colegas um ofício do Conselho Académico, a 17 de Maio de 1837. O Ib. fis. 165 v.o.
Id., fis, 15 v.e 16. (!) Ib. fl» 178 v.o
(*) Em ofício de z de Junho seguinte, o Conselho propôs os seguintes nomes para (*) Ib. 8t. 108.
professores do Liceu: I.a cad.. Gramática Portuguesa e Latina, José Rodrigo Passos ; (») Ib. fli. 173.
4.» cad., Moral Universal, José Alves de Oliveira; 6.» cad., Geografia, Cronologia e O ib. fli. 177,
O (O-3). fis. S3 v.o.
164 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX) PORTO
A «INSTALAÇÃO» DA ACAI). POLIT. % O SEU PERÍODO TRANSITÓRIO 165

Em 21 de Abril de 1837 — na mesma Portaria, ou noutra de igual obter a exacta medida do tempo, base de toda a observação Astro-
data, em que foram solicitadas confidencialmente as indicações, a que nómica.
já fizemos referência, para o preenchimento das Cadeiras vagas,— orde- 2.° Se para evitar esta falta de solidez, e afim de obter um ho-
risonle descoberto se passa por cima da varanda, e atravessando
nou o Ditador que lhe fosse enviada uma exposição detalhada do es-
os telhados por via d'uni pranchão de madeira, a fim de collocar
tado em que se encontrava o Observatório. (') os instrumentos sobre o parapeito que deve circular lodo o Edifício,
Essa exposiç.ïo, remetida em 22 de Maio, fornece-nbs minuciosos e que já se acha construído sobre as frentes Occidental e Austral
esclarecimentos de evidente interesse histórico; nâo só por isso, mas da porção do Ediflcio jà elevado, offerecem se vários inconvenientes
ainda pelo facto das sensatas ideas que contêm, julgámo-la merece- como a pouca largura do referido parapeito, a direcção das paredes
que o formão, que não consentem que se observe á roda do Obser-
dora de ser conhecida : vador a circunferência inteira do horisonte, o afastamento do Obser-
vatório, e portanto o ria Pêndula, o perigo que correm os instru-
«0 Observatório destinado aos exercícios d'Astronomia Pratica mentos nesta conducção atravez dos telhados, e finalmente a cer-
no 5." Curso desta Academia é de provisória construção, achando-se teza do detrimento dos mesmos pelos Alumnos d'Academia, detri-
ainda por construir o local próprio que forma parte do plano do mento que nenhuma vigilância poderá evitar.
Edifício d'Academia.
3 ° A grade de ferro da varanda tolhe a observação da Decli-
Houve tempo em que esta falta era supprida pelo aluguer de nação d'Agulha Magnética, sobre a qual obra a attração do referido
uma casa particular para os fins do Observatório; mas uma tenta- metal. E portanto forçoso transportar a A pulha Azimuthal para o
tiva de roubo fez com que os instrumentos se recolhessem á Aca- mencionado parapeito, e aqui de novo se renovão os inconvenientes
demia, e deo de mais occasião á construcção do Observatório pro- anteriormente expendidos. É provável que lodos estes inconvenien-
visório. tes desaparecerão no Observatório próprio; mas sobre este ponto
São vários os inconvenientes que este Estabelecimento appre- não ha dado algum para fundamentar juízo, sendo com tudo per-
senta: miltido duvidar dos bons requesitos d'uni Observatório que, segundo
1.° Acha-se elevado sobre quatro paredes que formão um pa- as plantas e elevações do Ediflcio o indicar, deverá ser construído
raltelogramo com um travejamento que, excedendo as dimensões na parte interna do Edifício sobre as paredes do mesmo, e em con-
do referido parallelogramo, sustenta na parte interna um solho de siderável altura.
madeira, e na parte externa um pavimento de lousa, cujas arestas Mas seja isto como for, até que o referido Observatório se cons-
cercadas por uma grade de ferro formão uma varanda externa ao trua, é muito conveniente que liaja um local para os exercícios que
Ediflcio. Até à altura do referido solho as mencionadas quatro pa- reúna as qualidades necessárias para délies poderem tirar todo o
redes não tem braceamento interno nem abobadas, nem de solhos proveito tanto os Alumnos como a Sciencia em Geral.
correspondentes a a n d a r e s : circunstancia esta que junta à elevação Na penúria actual do Thesnuro Nacional o primeiro recurso que
considerável do Ediflcio, á deminuição superior da grossura das pa- se ofíerece é a appropriação de alguma porção de Edifício perten-
redea, á natureza do travejamento e solho de madeira, ao appendice cente á Fazenda Nacional para os indicados fins. Uma casa onde
da varanda que falta de solidez em si propria, obra como um peso se guardassem os instrumentos, uma parede solida e isolada para a
collocado sobre as extremidades d'outras tantas alavancas quantas Pêndula Astronómica, uma varanda ou eirado em pedra donde se
são as traves, tudo concorre para dar ao local tal falta de solidez descubra lodo o horisonte terrestre e alguma porção do mar, seria
que não somente treme todo pelas passadas dos Observadores, mas tudo quanto se desejasse. Mas se algum dia se quizesse conBtruir
até pelo impulso do vento, a ponto que nem se pode fazer uso de um Observatório Astronómico na Cidade do Porto, o local que a
Orisontes artificiais, nem de instrumento algum em que a verticali- natureza e a apparencia do terreno imediatamente apponta é aquelle
dade é essencial, privando até do bom regulamento da Pêndula As- onde actualmente se acha colocado o Telegrafo no alto da Senhora
tronómica e sua verificação petas Alturas correspondentes tomadas da Lapa, Telegrafo que tornado em Edifício de construção perma-
com o Quadrante competente, de sorte que nem sequer se pode nente poderia armonisar cnm o Observatório e mesmo servir-lhe de
guarda. Para um Observatório bem pouco é necessário. Uma casa
de muita elevação sobre seus alicerees, cujo pavimento fosse pedral,
(') 0-3, fis. i6. Of. de 11 de Maio de 1837 de J. B. Ribeiro a Manuel da Sil e cujas paredes fossem solidas, cnm uma fenda na sua cobertura
(ou telhado) para observações de passagens pelo Meridiano, e janel-
166 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

las para os quatro pontos Cardeaes; junto a esta casa uma plata-
forma um pouco mais elevada, fortemente construída em pedra, e
comunlcando-se internamente com o Observatório, uma porção cir-
cular, tanto da casa como do eirado, deveria ser isolado dos res-
tos dos pavimentos, e construído com uma solidez de rochedo.
Tal é o esboço d'uni Observatório que reuniria numa solidez a
economia e utilidade scientific», e que escarneceria dos Sumptuosos
Edifícios que a ostentação, a vaidade ou a Ignorância tem decorado
do falso titulo de Observatórios Astronómicos.
VII
Porto 22 de Maio de 1837.

João Baptista Ribeiro, Director Litterario (')», A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU
EDIFÍCIO PRÓPRIO
EscuBado, talvez, será advertir que esta exposição, simples mas
eloquente, não produziu qualquer resultado. O Obxer ralaria conti-
Um dos problemas cuja solução mais preocupava João Baptista
nuou na mesma.
Ribeiro, desde o primeiro dia em que assumiu a Direcção da Acade-
Na mesma, não ! Cada vez pior, como se verá...
mia Politécnica, era o da instalação deste estabelecimento no seu
edifício próprio.
São verdadeiramente dignos de admiração e de louvores a ener-
gia e a actividade que Ôlc desenvolveu para conseguir, como conse-
guiu, triunfar de tôdas as dificuldades, e realizar aquele seu deside-
ratum num prazo relativamente curto.
Contamos já como custou a fazer remover o Hospital Militar.
Já dissemos que o edifício se encontrava devoluto desde fins
de 1836.
E sabemos também que êle estava inabitável ; a Academia não
podia voltar para lá enquanto o não reparassem dos enormes estra-
gos causados pelo bombardeamento do tempo do Cerco e por quatro
anos de ocupação pelo Hospital Militar.
João Baptista Ribeiro começou por fixar as obras de realização
indispensável e mais urgente; no dia IH de Dezembro de 1836 enviou
o respectivo orçamento a Passos Manuel, pedindo a concessão da com-
petente verba—758$000 rs. apenas! — e mostrando que, sem a exe-
cução dessas reparações, era impossível dar aulas no edifício da Aca-
demia (1).
Outras teriam, é claro, de se fazer, de maior vulto, mas de ne-
necessidade menos imediata ; segundo orçamento enviado em 31 do

(') O - 3 , fis. IO VU a |g. (') (0-3), ils. 30, 31 e 31 v o. Of. dp J. B. Ribeiro de 14 de Dez. de 1837.
168 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADFMIA POLITÉCNICA DO PORTO A TRANSFERENCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU EDIFÍCIO PRÓPRIO 169

mesmo mês às instâncias superiores, estas últimas obras ascenderiam E não esteve com hesitações...
a 2.118$000 rs. (1) Ao mesmo tempo que em contínuos ofícios insistia pela outorga
Passos Manuel, porém, não deferiu a petição. Nem admira. Pois dos meios reclamados desde Dezembro, foi fazendo il sua responsabi-
se o Tesouro nem tinha dinheiro para pagar aos Professores ! lidade as obras mais necessárias. Em 5 de Julho já estavam arran-
J o i o Baptista Ribeiro insistiu por muitas vezes, solicitando os jadas (e o seu custo pago por Baptista Ribeiro) cinco salas, além de
758$000 rs., mas nada conseguiu. Passos Manuel pouco depois aban- terem sido consertados os telhados, a escadaria e a respectiva cla-
donou o Poder ; um mês e outro mês foram passando, e tudo conti- rabóia (1).
nuava na mesma. Mas não se limitou a execução de obras a acção enérgica d o
D e cá eram enviadas representações sobre representações. novo Director.
Como resposta... unicamente o silêncio! Autorizada por portaria de 29 de Novembro de 1834, assinada
J á em 19 de Maio João Baptista Ribeiro tinha participado dcso- pelo Bispo-Conde F r . Francisco de S. Luiz (*), tinha instalada a sua
ladamente ao Ministro que, se as obras não fossem iniciadas sem sede no edifício da Academia, e aí ocupava ainda duas salas, a Socie-
mais demora, êle, com grande mágua, seria obrigado à vergonha de dade tie Srirnnns Medira* v <ir Lil/oatitra.
ter de «anunciar ao público que os estudos não começariam em O u - João Baptista Ribeiro, sem explicações, apropriou-se duma dessas
tubro por falta de instalação; — porquanto o Barão de Ponte Nova vem salas em Fevereiro de 1837.
morar na sua casa, na qual está actualmente parte da Academia» (*). A Direcção da Sociedade, como é natural, não gostou, c enviou-lhe
E r a um grito angustioso bem digno de atenção. um protesto indignado, mas nada mais obteve do que a resposta de que
Mas nem assim foram dadas as reclamadas, precisas e tam ur- a sala era precisa para uma Aula de Matemática, e que o Governo
gentes providências! E sem elas terem chegado, findou em 31 de diria se o que estava feito merecia ou não a sua aprovação.
Agosto o contrato de aluguer da casa em que a Academia se encon- E passou a d i a n t e . . .
trava instalada ! Ribeiro descobriu em seguida que no último andar do edifício
Outro qualquer que não fosse dotado da força de vontade e do havia três salas que lhe convinham.
espírito decidido, empreendedor e prático de J o ã o Baptista Ribeiro Tomou conta delas, embora soubesse que o Colégio dos Órfãos
teria há muito cruzado os braços, de desalento e cansaço. as reputava como suas.
Mas com êle as coisas passaram-se de modo bem diverso. Ao ter disso conhecimento, o Reitor daquele benemérito Estabe-
Naquele dia 31 de Agosto já importantes obras estavam reali- lecimento Municipal oficiou alarmado à C a m a r á :
zadas ! O Estado não dera o dinheiro. Mas adiantara-o êle !
Assumiu essas graves responsabilidades, porque — segundo escre- III mo Snr.
veu — acima de tudo colocou as necessidades do ensino e o aspecto
Eale Coilg° esteve sempre de posse de huns quartos com três
político da questão; o Governo perderia o prestígio público se não
salas nos Altos do Edifício novo da Academia, cuja posse consta de
fossem abertas as Aulas no futuro ano lectivo por falta de verba, hum Alvará de 1). João Seislo: sempre a Academia se acomodou na
quando era certo que a Cidade pagava, havia trinta e quatro anos, salas de baixo destinadas p» Aulas; porem agora o Director da
um avultadíssimo tributo exclusivamente destinado ao custeio das des- mesma pretende tomar posse das três salas pertencente! ao Collg"
pesas da Academia. deixando Iam som" os cpiartos sem sala alguma, na quais ficão inu-
tílisados q'" ao seu fim pela entrada p > as dtas 1res salas ser junta,
e comunicável com os mesmos quartos.
(') Ib. fia. í i v.o. Of. de J. B. Ribeiro de 5 de Julho de 183;; e fis. 23 e v.".
Of. de 31 de Agftsto do mesmo ano. (') Id. ib. Of. de 5 de Junho de 1837.
(') (0-3(, fis. 21 v.o. Of. de 5 de Julho de 183;, cit. (*) (O-4), fis. 11 v.o.
170 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU EDIFtCIO PRÓPRIO 171

An le» de eu saber a pertenção do Director, o Mestre da Obra


da Academia veio pedir-me a chave de uma porta contigua aos dt<« Mas a Câmara não se convenceu com a dialética do decidido
quartos, e comunicável do Coligo p a a Academia, e isto p- obsequio, Director. E por ofício de 3 de Julho seguinte comunicou-lhe que não
e q logo q acabasse a obra a entregava; porem concluída esta, e dava as salaB, •« menos que não seja por uma convenção particular» (1).
não sendo entregue a chave, e sendo arguido o Mestre da Obra p.
vezes, respondeu enfim, q o Snr. João Batista Director eatava de
Ribeiro apelou para António Dias Oliveira, Chefe da 4." Repar-
posse dela, e que a não queria dar, dizendo q ja tinha posse nas tição do Ministério do Reino.
ditas salas p» as dispor p» o fim, q pertendia, e q como começasse Não sabemos se venceu ! Parece-nos que desta vez não levou
a por em pratica, principiando obras nellas, eu procurei imediata- avante o seu desejo.
mente suspende-las o q fiz p» q chegasse ao conhecimento de V. S.«
esperando a decisão, a qual espero seja favorável as posses deste
Coligo, que V. S.» I I I . - " como Administradores Zelosos protegem.

Deos Guarde a V. S.» Real Coltg° dos Orphãoa 21 de Junho A vinda para o Porto do Visconde de Sá da Bandeira, que em
de 1837.
meados de 1837 fora nomeado Lugar-Tonente da Rainha nas Provín-
III."»» Snr. Luciano Simões de Carv.° cias do Norte, trouxe, finalmente, os primeiros auxílios pecuniários do
D.mo Presidente da III."»» Camará
Governo. Convencido da justiça e necessidade das obras tam longa-
0 Reitor Manoel Joaquim Ferreira ('). mente reclamadas por João Baptista Ribeiro, Sá da Bandeira man-
dou, por Portaria de 15 de Setembro de 1837, ao Contador da Fa-
Nesta mesma data, Ribeiro oficiou igualmente ao Presidente da zenda do Distrito do Porto que pusesse â disposição do Director da
Câmara, expondo-lhe a justiça e necessidade da sua pretensão: Academia a quantia de 200$000 rs. para as reparações mais urgen-
— «Os Lenteg da Academia estão por pagar há um ano, e ainda tes (s) — metade do que Ribeiro lhe pedira em ofício do dia ante-
não abandonaram as suas cadeiras ; mas o seu patriotismo não poderá rior... (3).
levá-los à situação de preleccionar sem terem casa para as Aulas com- Também certamente por influência do mesmo ilustro titular, logo
petentes!» (*> — dizia êle irrcspondlvelmcnte. em Beguida o Governo, por Portaria do Ministério do Reino de 26 do
Em face do que se passava, a Câmara resolveu mandar proceder mesmo mês, ordenou que fossem consignados 524$000 rs. mensais
a uma vistoria do local. para a continuação das reparações iniciadas por J. Baptista Ribeiro
Nesse acto, realizado segundo cremos em 30 do mesmo mês, o e que as somas que este adiantara lhe fossem pagas pela força do
Director da Academia mostrou aos representantes da Municipalidade rendimento das primeiras prestações, mandando mais que as obras
os textos legais que, no seu entender, o autorizavam a proceder como que faltasse realizar fossem feitas por meio de arrematação.
procedeu. Além do Alvará de 9 de Fevereiro de 1803, que no seu Finalmente !
art. 2° mandava «que as aulas se estabeleçam no Colégio dos Meni- João Baptista Ribeiro, embora não concordasse com esta idea da
nos Órfãos, e nas casas que melhor proporção tenham para este fim», empreitada, exultou. A citada Portaria de 26 de Setembro trouxe-
havia vária outra «legislação por onde consta que o Edifício é do pú- -Ihe não só a satisfação moral de vêr que tinha sido prestada justiça
blico, e que de nenhum modo pertence aos Órfãos, os quais gosíim os às suas intenções e ao seu desinteressado proceder, mas deu-lhe tam-
rendimentos das lojas do Edifício, como expressamente determina o bém as possibilidades materiais para realizar inteiramente os projectos
Alvura de 29 de Julho de 1803» (3) em que trabalhava.

(') Livra 49 de Proprias — Pdg. 612 (Arq. Municipal).


(') (O-3), fis. í o v.o. <') (P-J), fis. 21 e v.o.
Ia) (O-3), fis. î*. (*) <P-3), fis. 14 v.o.
(*) Registo de Editais de 1815 a . . . <i-t| fis , 59 v.o.
172 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA D o PORTO
A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA o SEU EDIEÍCIO PRÓPRIO 173

o A Politécnica devia abrir, segundo a sua Lei orgânica, no dia


1. de Outubro. Seria isso possível?! A-pesar-de quanto já estava Os requerimentos dos candidatos à matrícula seriam dirigidos ao
feito, faltava ainda tanta coisa! .. Director Literário da Academia, instruídos com os seguintes docu-
mentos :
Para João Baptista Ribeiro não havia impossíveis absolutos. Se
- P a r a o 1.° Curso, certidão de assentamento de baptismo, por
não abrissem exactamente no dia 1, abririam alguns dias mais tarde.
onde constasse serem maiores de 14 anos, na conformidade do art 0 6
Que importava, desde que a inauguração se fizesse ainda naquele ano?!
dos Estatutos de 29 de Julho de 1803, da antiga Academia de Mari-
Redobrou de actividade.
nha ; e certidão de aprovação na Língua Francesa ou Inglesa ;
Facilmente obteve do Administrador Geral do Distrito, contra o
— Para o 2.°, 3.° e 4.° Cursos, certidão de aprovação no 1." ;
estabelecido na Portaria do Ministério do Reino, mas de acordo com
— Para o 5.°, certidão de aprovação no l.° e 2.°;
as exigência dos factos e das realidades, autorização para que as obras
— Para o 8.°, certidão de aprovação no 1.", e nas Línguas Fran-
continuassem a fazer-se como até ali ; nada queria com o sistema das
cesa e Inglesa.
arrematações, que obrigava a longas formalidades prévins, com as
Os alunos que se quisessem matricular em qualquer desses Cur-
quais se gastava inutilmente tempo precioso.
SOB pagariam de propinas !Ȥti00 rs. na abertura, e outro tanto no
fim do ano, conforme determinado no Dec. de 13 de Janeiro de 1837
Adivinha-se o justificável júbilo com que Ribeiro pode anunciar
em 18 de Setembro de 1837 a abertura de matrículas para o novo (art 0 163); e nas Aulas do Liceu 4$S00 na entrada e outro tanto no
ano lectivo. fim do ano (Dec. de 17 de Novembro de 1836, art." 62). (1)
Os editais diziam que os requerimentos deveriam ser entregues
de 20 a 30 daquele més ; de 30 em diante, até 20 de Outubro, só" se- Entretanto as obras iam-se fazendo em ritmo acelerado.
riam admitidos os de quem não tives.se podido apresentá-los antes, por E em 6 de Novembro, graças a indomável vontade de Ribeiro e
motivo justificado. e à coadjuvação eficacíssima de Sá da Bandeira e Veloso da Cruz,
Administrador Geral do Distrito, realizava-se o milagre em cuja pos-
Naquele ano, «o ensino académico» constaria dos seguintes cursos :
1.° Arimética, Geometria elementar, Trigonometria plana, Álge- sibilidade, até aí, quási ninguém acreditava : as aulas eram nesse dia
bra até as equações do 2." grau ; inauguradas uo edifício próprio da Academia !
2.° Continuação da Álgebra, sua aplicação ã Geometria, cálculo
diferencial e integral princípios de Mecânica ; Convém, em parêntesis, notar que Ribeiro tinha feito, por muito
3.° Desenho relativo aos diferentes Cursos ; menos custo do que fora inicialmente calculado, quási todas as repara-
^ 4.° Trigonometria esférica, princípios de Astronomia, de Gco- ções—as mais urgentes —indicadas no Orçamento de 16 de Dezembro
desia, Navegação teórica e prática ; a este curso estaria subordinado ( ), e, além dessas, outras obras que imperiosa necessidade, só mais tarde
o de Manobra e Aparelho Naval ; conhecida, obrigara a executar, como sejam : — conserto do mobiliário
5.° Artilharia e Táctica Naval ; que, ao ser retirado das lojas térreas onde tinha estado armazenado
b'.° Química e Artes Químicas ; durante cinco anos, desde o princípio do Cerco, se viu encontrar-se
era lamentável estado de ruína; arranjo, num andar superior, duma
7." Botânica, Agricultura, Economia Rural e Veterinária ;
sala enxuta e segura, de cuja chave ficou entregue o Guarda-mór, para
N.° Comércio. Escrituração mercantil.
Além destes cursos haveria mais as seguintes aulas pertencentes
ao Liceu do Porto: (') Registo de Editais, (i-t), (Is. 58 e v.o.
1." Ideologia, Gramática geral e Lógica; (*) Só nío tinham sido executadas as que diziam respeito à construção dum corre-
2.™ Língua Inglesa ; dor, e ao acabamento de quatro salas, do salão dos Actos, e do Observatório. (0-3), fis.
î l v.o. Of. de J. B. Rib. a Veloso da Cruz, em 14 de Dezembro de 1837.
3." Língua Francesa.
174 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU EDIFÍCIO PRÓPRIO 175

servir de arrecadação; reparação dos utensílios para uso das Aulas,


do segundo aposento da Sociedade de Ciências Médicas e Literatura,
deteriorados por motivo das mudas e das péssimas condições do local
o último que a esta Sociedade restava, e que lhe servia de Gabinete
em que se arrecadavam ; arranjo dum vestiário, pois não havia um
de Leitura. A tal respeito, em 11 de Dezembro daquele ano, António
quarto, à porta principal, em que o Porteiro recolhesse os chapéus,
Luiz de Abreu, Secretário da Administração Geral do Distrito do
bengalas e capotes dos alunos, para não entrarem com eles nas aulas ;
Porto, remetia a João Baptista Ribeiro um requerimento ali recebido,
remoção dos montões de entulho que pejavam o andar térreo do edi-
para que este informasse.
fício; preparação, nesse andar, dura local, devidamente arejado e ilu-
minado, em que se acomodaram os grandes aparelhos e volumes, que O documento, que aqui se arquiva em homenagem à obra meri-
não tinham cabido em cima na casa da arrecadação. (1) tória que a Sociedade realizou, dizia :
O custo das obras relativas aos artigos do Orçamento até então III mo ,. Ex.mo Snr-
executados havia sido previamente calculado em 758$000 ; mas essas,
e todas as extraordinárias, importaram apenas em 527$000 ! Baptista A Sociedade Ulteraria Portuonse instituída nesta invicta Cidade
Ribeiro economizara, portanto, 20<)$OQO rs., afora o valor das obras em 13 de Dezembro de 1833 com c titulo de Sociedade deSciencias
Medicas e de Litleraltira obteve do Governo de Sua Magestade fide-
extraordinárias. Acrescente-se que, examinando-as o Mestre António
líssima permissão para celebrar as suas sessões em uma das salas
de SouBa Moreira, que fizera o primeiro Orçamento, «achou tudo Be- da Academia de Marinha e Commercio, hoje Academia Polytechnic»,
guro e bem acabado», e atitorizadamente afirmou que se se tivesse e para ter no mesmo Edifício tim aposento para o seu Gabinete de
seguido o sistema de empreitadas não se teria conseguido fazer o que Leitura, como consta da copia junto da Portaria do Ministério do
fez por tam baixo preço (*). Reino de vinte e nove de Novembro de mil oitocentos e trinta e
quatro. Cesta graça usou a Sociedade Litteraria, sem alguma in-
terrupção, até Fevereiro do correrfle a n n o ; quando, sem ser preve-
Em 6 de Novembro de 183?, como dissemos, a Academia Poli- nida, se vio despojada da sala das sessões, e obrigada a selebral-as
técnica do Porto pôde enfim inaugurar as aulas do novo ano lectivo no limitado espaço que lhe servia de Gabinete de Leitura.
no seu edifício. Representou a Sociedade pelo seu 2.o Secretario ao. Director
Infelizmente, quando isto se conseguia à custa de tam hercúlio es- Litlerario d'Academia sobre a falta de execução d'uma Portaria do
Governo de Sua Magestade que devia estar registada nos respecti-
forço mandava o Governo por Portaria de 25 de Outubro de 1837
vos livros d'Academia; mas só depois de novamente instado, res-
fossem instaladas no edifício da Politécnica, a título provisório, duas pondeo que lho fora necessária a sala para uma Aula de Mathema-
aulas da Academia de Belas-Artcs; ficariam ali enquanto para elas tica, e sobre esse objecto representara ao Governo, cuja resolução
se não aprontasse local conveniente no Museu Portuense, onde uma aguardava.
aula de Belas-Artes estava acomodada. Esse estabelecimento foi Passado tempo sufTiciente tornou a Sociedade a instar com o
Director Litlerario para dar a execução â Portaria do Governo, pois
ocupar duas salas na fachada oriental do edifício, mas tôdas as mais
que ella jamais perturbou o exercício das funções Académicas; po-
dessa ala ficaram insusceptíveis da Politécnica as poder aproveitar, rem não obteve resposta alguma, ate que chegado o tempo em que
por servirem de passagem para aquelas (s). a Academia passou para o seu próprio e mais vasto Edifício, ficou a
Talvez por isto é que João Baptista Ribeiro se viu obrigado em Sociedade também privada do aposento que lhe servia de Gabinete
Novembro daquele ano a tomar a resolução violenta de se apropriar de Leitura. A Sociedade Litteraria tem feilo quanto com seus limi-
tados recursos podia para preencher os fins da sua instituição mar-
cados nos seus Estatutos e para continuar a merecer a protecção
('» (0-3), fis. 31 »... do Governo. E na verdade ambos os objectos elEa se lisongea de
(') Rtgisto de Editais, I t, ri*. 61, Portaria de 25 de Outubro de 1837. ter conseguido por quanto durante um anno publicou um jornal lit-
(3) (0-4), fis. 46. Of. do Cons.o Académico da Ac. Politécnica de i$ de Junho lerario conhecido no Reino e fora delle, que acabou peta falta de
de 1838 meios da Sociedade e pela falia de protecção externa devida á ge-
ral tendência dos espíritos para objectos a que o jornal era estranho
176 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU EDIFÍCIO PRÓPRIO 177

e continuará a ser a Sociedade; tem publicado varias memorias que


constituem oa seus Annaes ; e estabeleceu um instituto vaccínico Nesse ano lectivo de 1837-183«, em que as Aulas funcionaram
que muito bem tem feito á população da Cidade e das Províncias ainda sem Programa oficialmente aprovado e houve Perdão de Acto,
do Norte : alem disto depois de merecer a especial protecção do a frequência dos alunos, por cadeiras, e o seu aproveitamento, foram
Governo de Sua Magestade na concessão da sala para sessões, e de os seguintes : (')
apoáento para Gabinete de Leitura, teve lambem a honra de ser
consultada pelo mesmo Governo sobre as providencias de que ca-
Número de estudantes
recia para o progresso e melhoramento da instituição vaccinica, Alunos admitidos Habilitados para
Cadeiras à frequência por gozarem da die Não habilitados que frequentaram, con-
providencias que a Sociedade teve depois o praser de ver approva- cadeiraa pensa de exame tados individualmente
daa na Circular do Ministério do Reino de quatro de Julho de 1837,
e no officio do mesmo Ministério de vinte e nove de Julho, em que 120
participa & Administração Gerat do Porto, que forão dadas as pro-
1." (Mat.) . . 29 2 27
videncias para que as remessas de Vaccina da Sociedade Lilteraria 2 / (Id.) . . . 14 .'! 11
NOTA
fossem francas de porte pelos Correios. 3.* (Des.) . . 2 2
Á vista pois do direito que a Sociedade Lilteraria tem de cele- 6.* (Quíni.) . 48 48 Por carta de lei de 1838
brar as suas sessões em uma das Salas da Academia Polytechnica, 7.' (Bot.). . . 65 63 foram dispensados dos
2
e de ter ahi um aposento para Gabinete de Leitura, direito de que a 8.* (Com.) . . actos todos os estudan-
5 5 tes que, pela matrícula
Sociedade não prescinde, e de que se julga merecedora pela sua
Total por ca-
effectiva utilidade ; attendendo a que sem um local gratuito conce- e frequência, estavam
dido pelo Governo a Sociedade, por falta de meios pecuniários, não
deiras . . . 163 123 40 h a b i l i t a d o s para fa-
tendo onde se reúna, perecerá e com ella a instituição vaccinica, zê-los.
que já se tem ressentido destes contratempos, recorre a V. Ex.ci»
para que em virtude das prerogativas que a lei lhe concede, faça
Apenas seis dos oito cursos para que tinham sido abertas matrí-
executar a Portaria do Ministério do Reino de vinte e nove de No-
vembro de 1834. culas tiveram alunos: 1.° e 2.° de" Matemática, Desenho, Química,
E receberá mercê. Botânica e Comércio. As cadeiras de Trigonometria Esférica e Arti-
lharia e Táctica Naval não funcionaram.
Porto aete de Dezembro de 1837.
De 229 tinha sido em 1836 na Academia de Marinha o número
Agostinho Albano da Silveira Pinto de matrículas. Como se vê do Mapa acima reproduzido, esse número
Francisco Ignacio Pereira Rubião baixara para 163. Qual a causa deste facto ? Motivara-o em grande
José Pereira dos Reis, (2.« Secretario)
parte, o custo das propinas, que, justamente nesse ano lectivo de 1837-
Antonio Fortunato Martins da Cruz» t1)
-38, começaram a ser cobradas (8). Isto era patente, sobretudo, nos
cursos de Artistas, Pilotos e Agricultura destinados a classes em regra
Não conhecemos documentos que nos digam qual foi a informa-
pouco abastadas. É preciso não esquecer que na antiga Academia de
ção que João liaptista Ribeiro deu a este Requerimento, nem qual o
Marinha a inscrição era gratuita...
despacho que o mesmo teve do Administrador Geral. Mas supomos
*A diminuição das despesas da matrícula — dizia ura pouco mais
não nos afastarmos muito da verdade afirmando que o que estava
tarde o Conselho Académico em seu Relatório de 11 de Dezembro
feito ficou feito, e que a Sociedade de Ciências Médicas e de Litera-
de 1838— parece tona medida de primeira necessidade, a qual ainda
tura, despojada da sede pela forca das circunstâncias, e a-pesar dos
aumentaria os rendimentos públicos, porque muitos Estudantes, que
seus inegáveis serviços... morreu na rua ao abandono.
frequentam como Ouvintes, de certo prefeririam frequentar como

| l ) Este Mapa é extraído do Anuário de 1878-80, pág. 250-251.


(') 0-3 tis. 28 v.o a 30.
(*) (0-3), fis. 93. Of. de 17 de Novembro de 1839.
178 MEUÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A TRANSFERÊNCIA DA POLITÉCNICA PARA O SEU EDIFÍCIO PRÓPRIO 170

Ordinários, se as suas posses lho permitissem* ('); na Cadeira do P R O J E C T O DE LEI


Comércio, por exemplo, havia em Dezembro de 1838, além dos alunos
matriculados, mais de trinta ouvintes ! Artigo 1.°—As propinas do matricula serão de dous mil reis
Outra causa teria contribuído também para que o número de na entrada, e outra igual quantia no fim de cada ano lectivo, ficando
matrículas houvesse diminuído : a lei esquecera-se de garantir vanta- revogado nesta parte o artigo cento sessenta e 1res do Decreto da
nova Reforma Littersria.
gens imediatas aos alunos que obtivessem Cartas de Capacidade nos
Artigo 2 a — As disposições do artigo trinta e seis do Decreto
Cursos da Academia. Não se determinara, como, por exemplo, fora
da creação da Escola do Exercito é igualmente applicado aos ahim-
estabelecido relativamente às diferentes Faculdades da Universidade, nos da referida Escola que tivessem frequentado os Cursos prepa-
que, em igualdades de circunstâncias, o Politécnico diplomado teria torios na Academia Polytechnica do Porto.
preferência naqueles empregos, cujo bom desempenho dependesse de Artigo 3.0 — Og indivíduos que appresentem caria de habilitação
conhecimentos adquiridos nos cursos da Academia. A este respeito d'Academia Polytechnica serão em circunstancias iguaes preferidos
pelo Governo para os Empregos públicos, como os que tiverem o
argumentava com evidente razão o Conselho Académico da Politécnica:
Curso de Agricultores para Inspectores e Administradores das Maltas
— * Exigindo as Leis tantas habilitações aos Médicos, porque das suas e Pinheirais ; para as Alfandegas e logares de Fazenda os que tive-
mãos pende muitas vexes a vida dos setts concidadãos, não devem por rem o Curso de Comerciantes; Para os Arsenaea e Fabricas da Na-
certo ser menos escrupulosos com os Pilotos, a cuja ciência se con- ção oa que tiverem o Curso de Artistas e Directores de Fabricas;
fiam muitas vexes centenares de vidas e grossos cabedais; mas há nas Construções Publicas, Navaes, Trabalhos Geographicoa, etc. etc.
os Alumnos Engenheiros Civis, C o n s t r u c t o r s , Geógrafo*.
sobre este ponto tal abuso que é raro encontrar um Piloto com carta
Artigo 4.° — Não será matriculado individuo algum por Sota-
de alguma Academia, e com a instrução indispensável para vencer os
-Pilnto ou Piloto de Navios sem a Carta de Capacidade do respectivo
embaraços e perigos a que anda contbiuamente exposto. Dificilmente Curso passada em alguma das Academias Nacionais.
ousam sair da trilhada carreira do Brasil, que seguem já quási por § único. — Os que tiverem cinco viagens pelo menos para os
instinto, e em tam grande destrédito têm caído, que as Companhias mares do Norte, ou ao Sul das Ilhas de Cabo Verde a Oeste de
de Segurança repugnam segurar navios dirigidos por Piloto Portu- trinta grãos Longitude 0. de Greenwich, poderão, Apresentando as
derrotas das referidas Viagens, ser admitidos a exame nas ditas
guês com destino para os mares do norte ! A que degradação teem
Academias e o titulo de approvação lhes valerá como Carta de Ca-
chegado os descendentes dos primeiros entre os navegantes modernos, pacidade.
daqueles cujos nomes ainda enchem os mares ! » (*) Artigo 5.o — Os Alumnos que tendo completado o Curso de
Oflïciaes de Marinha, e quiserem servir na Armada Real, serão
Diminuição do preço das matrículas e garantias aos diplomados
imediatamente nomeados Guarda Marinhas.
era o que no momento mais interessava à Politécnica. Artigo 6.0 — Dss obras que se acharem no Deposito Geral das
A pedido do Governo, o Conselho Académico consubstanciou Livrarias, e das que houver repetidas na Biblioteca Publica de Lis-
pouco depois estas e outras reclamações de interesse material e moral boa e Porío, o Governo mandará entregar á Acadrmia Polytechnica
para a Academia — como seja a manutenção dos cursos preparatórios o que for concernente ás matérias ensinadas na mesma Academia
e de que não tenha ainda exemplares.
para a Escola do Exército e Escola Naval, do primeiro dos quais
Artigo 7 ° — Fica authorisado o Governo a mandar entregar á
falaremos desenvolvidamente em capítulo subsequente — no seguinte
Academia Polytechnica a cerca do extinto Convento das Carmelitas
interessante da Cidade do Porto para Jardim Botânico e Experimental, bem como
a parte do Convento que a mesma Academia pediu aa Governo para
Laboratório.
Artigo 8.0 — 0 Governo fica autorisado a mandar vir das Pos-
sessões Ultra-Marinas os productos três Reinos da Natureza, que pos-
(') (0-3), fis. 59. são servir para augmenter as colecções dos Gabinetes e Jardim d'Aca-
(') (0-3), fis. 6o e cit. Relatório de 11 de Dezembro de 1838. demia Polytechnica.
180 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Artigo 9.» — O Governo mandará pôr á disposição do Conselho


Académico a quantia de doua contos e setecentos mil reis, que foi
incluída no seu Orçamento para o anno económico de mil oitocen-
tos trinta e nove, a dm de se organisarem os Gabinetes menciona-
dos no artigo cenlo sessenta e cinco do Decreto de trese de Janeiro
de mil oitocentos trinta e sete.
Artigo IO.» — A Academia Polylechnica continuará a ter um
Mestre de Manobra e Apparelho Naval, um Bibliolhecario, seis guar-
das subalternos e dous serventes com os Ordenados apontados no
VIII
Decreto de deienove de Outubro de mil oitocentos trinta e seis.
§ l.o — Não se deverá considerar prejudicado pela Carta de
Lei de sete de Abril de mil oitocentos trinta e oito o que diz res- O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS
peito ao primeiro official do Jardim, e aos guardas dos Gabinetes e
Laboratório sendo estes de nomeaçSes do Director, mas precedendo
concurso perante o Conselho Académico-
Os art.os 158 e 159 § 1." do Dec. de 13 de Janeiro de 1837 que
8 2.0 — 0 Secretario d'Academia ficará vencendo o ordenado
de quatrocentos mil reis annuaes. instituiu a Academia Politécnica determinavam que a designação dos
Artigo l l . o — O Conselho Académico ilea authorisado para do preparatórios para a admissão à primeira matrícula, a ordem por que
dinheiro das matriculas fazer a despeza da impressão das obras que deveriam ser estudadas as disciplinas, a sua distribuição por cada um
adoptar para Compêndios, entrando na receita d'Academia o pro- dos anos, a forma de exames, o emprego diário do tempo, a maneira
duto dos exemplares vendidos, até indemnisar o Tbesotiro da refe-
dos exercícios práticos, as leituras, manipulações e experiências que
rida quantia.
os Professores teriam de fazer diariamente — se considerariam assun-
Artigo 12.0 — O Conselho Académico fica authorisado para fa-
zer a distribuição dos prémios pelos Estudantes de mérito dislinclo tos regulamentares, cuja definição anual ficava pertencendo ao Con-
de todas as Cadeiras d'Academia Polytechnica. I t de Desembro selho Académico.
de 1838 (seguem-se as assignaturas) ('). Tem a data de 7 de Agosto de 1838 o primeiro desses Progra-
mas; já muito antes a Portaria de 21 de Abril de 1837 havia lem-
brado ao Conselho a obrigação legal de o elaborar, (1) mas logo fora
ponderado, em resposta, que se devia esperar pelo definitivo provi-
mento das Cadeiras ainda vagas. (*)
Determinavam-se nesse documento as disciplinas a estudar em
cada ano dos cursos e fixavam-se com minúcia, não só os programas
particulares de cada Cadeira, mas também os dos exercícios científicos
a fazer durante o ano.
Laboriosíssima e eriçada de dificuldades foi a confecção desses
Programas, visto ser preciso, pelas razões já apontadas, não sé- com-

(') J. Silvestre Ribeiro, Historia dos Estabelecimentos Scientijicos, etc., VI, Lis-
boa, 1876, pág. l 6 í , dá outra data à Portaria.
(*) Registos de Editais de 181$ a, , . (sic), fis. 61 v.o, ofício de J. B. Rib. « Ma-
nuel da Silva Passos, datado, certamente por engano, de 11 de Abril (talvez Maio) de
(l) 0-3, fls. 62 v.o a 64. l8
37- Q« e esta data está errada demonstrao, parece-nos, o facto de nesse ofício se fazer
referência à Portaria de íl de Abril cil. acima no teito.
182 MEMORIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 183

binar «a grande variedade de cursos com o pequeno uúmero de Ca- Esse documento, por «ordem do Conselho Académico», foi publi-
deiras», como conciliar, tanto «quanto possível, o bem geral da Ciên- cado em folheto. (1) Consta de trinta e uma páginas.
cia com o destino particular de cada classe de estudantes». Os En- Começa por uma Introdução em que se descrevem os objectivos
genheiros civis e os oficiais de Marinha deviam estudar as Ciências da nova Academia Politécnica, se encarecem as vantagens dos seus
Matemáticas e Filosóficas «com todo o rigor das teorias e com o maior cursos e, quanto ao modo como foi elaborado o Programa, se diz :
desenvolvimento» ; aos Artistas, Agricultores, etc., bastava aprende-
rem «os princípios mais elementares destas ciências, seguidas do maior «N'este trabalho o Conselho Académico empregou todo o zelo,
número possível de aplicação às artes. O Conselho Académico sentiu de que se preza, procurando aplanar as difTiculdadeg que encontrou
que nâb estava na mente do Legislador que todos os alunos fossem na grande variedade de cursos combinado com o pequeno numero
de Cadeiras, que talvez uma indispensável e restricta economia não
obrigados a aprender da mesma maneira as ciências, e vendo no art." permitiu augmenlar, e conciliando, quanto possível, o bem geral da
160 da Lei da nova Reforma Literária que lhe era concedido o poder si-ii-iii-ia com o destino particular de cada classe de Estudantes,
de organizar os programas dos diversos cursos como julgasse acertado, tendo em toda a consideração, que não fossem interrompidos em
assim o fez», deliberando que «a segunda classe de alunos, tais como seus cursos, tanto os que de novo se matricularem, como os que
antes d'esta nova disposição tiverem já estudado algumas das ma-
os Artistas», aprenderiam «os elementos das Ciências Matemáticas e
térias que lhes são relativas.
Filosóficas nas respectivas Cadeiras, porém as variadas aplicações
Para conseguir estes resultados foi necessário sobrecarregar
destes elementos às artes seriam aprendidas nos Gabinetes, Labora- algumas cadeiras especiais com doutrinas mui variadas, distribuídas
tórios, Oficinas, etc., e as respectivas experiências, manipulações, pro- por dous ou três annos, segundo a sua importância e multiplici-
cessos, etc., dirigidos já pelos Lentes respectivos, já pelos Substitutos dade, e de tal maneira dispostas que umas não se achem essencial-
demonstradores natos, para esse fim nomeados pelo Conselho Acadé- mente dependentes das outras, afim de que possam ser annualmenle
frequentadas pelos alunos dos respectivos cursos que tiverem con-
mico». (1) Nesta conformidade, divididos os alunos em duas classes,
cluído os estudos das Cadeiras communs, que em todos elles ocu-
foi mais tarde elaborado, como veremos, o Regulamento para os Actos, pam os primeiros annos, como é indispensável. Na redacção d'esté
que por Dec. de 6 de Novembro de 1839 recebeu a aprovação do programma, o Conselho Académico teve muito em vista os estudos
Governo. do Lyceu Nacional do Porto, que pelo artigo 42 da Lei da Reforma
Litteraria fica sendo uma secção da Academia Polytechnica, assim
Ao que o Conselho nSo pôde dar cabal remédio foi à falta de como os da Academia Portuense de Bellas Artes, conforme lhe é re-
cadeiras. Algumas especiais tiveram de ser sobrecarregadas « com comendado no artigo 161 da mesma Lei, o que tudo se pode ver no
doutrinas mui variadas, distribuídas por dois ou três anos, segundo a quadro junto.
sua importância ou multiplicidade». Emquanto aos exercícios scienliflcos o Conselho teve presentes
os methodos adoptados em diversos estabelecimentos d'instrucçao
tanto Nacionaes como Estrangeiros, mas nenhum- adoptou total-
A maneira como os Professores da Academia Politécnica se hou- mente, não porque deixasse de os considerar modelos dignos de Be
veram nesse difícil trabalho, demonstra saber, inteligência e boa von- imitarem, ou porque desconhecesse o mérito litterario d'aquelles
tade. Não atingiram evidentemente a meta da perfeição. Mas eles que os seguem, ruas por julgar indispensáveis certas alterações, e
mesmo se lamentaram de serem obrigados a ficar «muito aquém dos modificações, exigidas pela natureza particular d'esta Academia, ao
mesmo tempo destinada ás theorias, e ás praticas, e que tem de ser
seus desejos, por causas que não está ao seu alcance remover, e que frequentada por alumnos cujos gráos d'instrucçao muito devem va-
só com o tempo irão desaparecendo». riar segundo as classes a que se dedicam.
Os professores da Academia Polytechnica estão bem longe de
persuadirem -se que nos trabalhos, que agora apresentam ao publico
(') Preâmhulo dum Projecto de Lei, do Cons Académico da Ac. Politécnica, de
1840, adiante cit. O-J, fis. 101. (') Porto, Imprensa Constitucional, 1838.
184 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 185

tenham tocado a meta da perfeição, elles ficaram mesmo muito


VIII — C ursos preparatório» para os officiaes do exer­
áquem doa seus desejos, por causas que não está ao seu alcance
remover, e que só com o tempo irão desapparecendo ; mas tem a
consciência de não se terem poupado a trabalho algum para preen­
J l,° Engenheiros.
( 2.° Artilheiros.

cher os seus deveres, procurando, por todos os meios no lugar que I 3 ° Infantaria e Cavalaria.
ocupam, tornarem­se úteis a seus Concidadãos. Elles serão sem­
pre dóceis As lições da experiência, fazendo ou admittindo para o nos quais as disciplinas e ordem das matérias que se estu­
futuro as innovaçSes que ella aconselhar sem repugnância alguma,
cada curso :
porém com toda a circunspecção que o caso exige, para o que se
acham authorisados pelos artigos 158 e 159 § 1.° da citada Lei da I — ENGENHEIROS

Reforma Litteraria, tão conformes com a boa razão. É hoje bem ge­
1° De minas — 1.° Anno : I.» Cadeira; Desenho de figura e pai­
ralmente reconhecido que só por este meio se podem estudar as
sagem, na 4.» Cadeira. 2.° Anno: 2.» Cadeira; 8.» Cadeira. 3.° Anno:
■ciências que o espirito do progresso faz variar successivamente;
3.a Cadeira; Desenho de topographia, e paisagem pelo natural, na
nunca deixando prevalecer o amor da usança ao dos aperfeiçoa­
4.» Cadeira. 4" Anno: 9» Cadeiro; Zoologia, Mineralogia, e Geo­
mentos, nem lambem a avidez da novidade és provas reiteradas
gnosia, na 7." Cadeira; Desenho de perspecliva, plantas, e perfis das
d'uni bom methodoi.
maquinas em uso no serviço das minas, na 4. a Cadeira. 5 ° Anno:
Botânica, na 10* Cadeira; Lavra de minas e Metallurgia, na 7 » Ca­
deira; Desenho de plantas, e cortes de minas, e de convenção para
No final da Introdução, o Conselho Académico explicava qne nSo designar os terrenos, na 4. a Cadeira.
publicava ainda as normas que regulariam os erames c acios porque 2." — C onstructors de navios. — 1." Anno: 1.' Cadeira; Desenho
o nfto podia fazer sem prévio consentimento do Governo ; e estabelecia de figura e paisagem, na 4 * Cadeira 2.° Anno: 2.» Cadeira; 8« Ca­
quais as condições exigidas aos candidatos à matrícula no 1° ano dos deira, 3." Anno: 3.» Cadeira; Desenho de perspectiva, plantas, e
cursos da Academia Politécnica : perfis das machinas para levantar grandes pezos, na 4.» Cadeira.
4." Anno: Botânica, na 10." Cadeira; Architeclura naval, na Acade­
—14 anoB de idade completos.
mia das Bellas Artes. 5.» Anno: Pratica de Architeclura Naval.
— aprovação era leitura, escrita e gramática portuguesa, c nas 3." Geographo*. — 1. Anno: 1.» Cadeira; Desenho de figura e pai­
quatro operações fundamentais de Arimética. sagem, na 4.» Cadeira. 2." Anno: 2.» Cadeira; 8 » Cadeira. 3, Anno:
Seguia­se o : 3.» Cadeira; Chimica mineral, na 9.» Cadeira; Desenho de topogra­
phia e paisagem pelo natural, na 4.» Cadeira. 4° Anno: Astronomia
e Geodesia, na 5.» Cadeira; Zoologia, Mineralogia, e Geognosia, na
QUADRO DEMONSTRATIVO DOS DIFERENTES CURSOS 7.» Cadeira. 5.° Anno: Pratica no Observatório, e Ensaios topogra­
DA ACADEMIA POLYTECHNIC,» DO PORTO phicos, na 5» Cadeira; Desenho Geographico, reducção das plantas
de costas, bahias, enseadas, portos, e t c , na Academia de Bellas
Esses cursos eram : Artes.
4.o de pontes e estradas. — í.° Anno: 1.» Cadeira; Desenho de
1 ° De minns. figura e paisagem, na 4." Cadeira. 2.a Anno: 2 a Cadeira; 8 " Ca­
2.° Construtores de navios, deira­ 3,° Anno: 3," Cadeira; Chimica mineral, na 9.» Cadeira. De­
I — Engenheiros senho de topographia e machinas, na 4.» Cadeira. 4. Anno: Astro­
8.» Geógrafos.
4­° fie pontes e estradas. nomia e Geodesia, na 6» cadeira; Zoologia, Mineralogia, e Geogno­
II — Officiaes de Marinha sia, na 7.» Cadeira 5 ° Anno: Botânica, na 10.» Cadeira; Construc­
çííes publicas, no 2.« anno da 6.» Cadeira; Architectura civil, na
III — Directores de Fabricas
Academia de Bellas Artes.
IV — Piloto»
V — C ommentantes II — O F F I C I A E S DE MAHINHA
VI — Agricultores
a
VII — Artistas 1° Anno: 1 Cadeira; Desenho de figura e paisagem, na 4.»
Cadeira. 2.° Anno: 2.» Cadeira; 8.» Cadeira. 3." Anno: 3.» Cadeira;
Desenho de topographia e de paisagem pelo natural, na 4.» Cadeira.
186 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 187

4.° Anno: Artilharia e Táctica Naval, na 6.» Cadeira; Aparelho e Ma-


VII — ARTISTAS
nobra Naval ('). 5.o Anno: Astronomia, Navegação, e Geodesia, na
5." Cadeira; Architectura Naval, Desenho Geographico, reducção das 1° Anno: 1.» Cadeira; Desenho de figura e paisagem, na 4.»
plantas de costas, bahias, enseadas, portos, etc , na Academia de Cadeira. 2.° Anno: Parte da 8.» Cadeira; Desenho de paisagem pelo
Bellas Artes (*). natural, na 4.» Cadeira. §.« Anno: Parle da 9.» Cadeira; Desenho
de maquinas, arabescos e decorações, na 4.» Cadeira.
Ill — DIRECTORES DK FABRICAS
VIII — CURSOS PREPARATÓRIOS PARA OS OFFICIAIS DO EXERCITO
J.° Anno: 1.» Cadeira; Desenho de figura e paisagem, na 4.»
Cadeira. 2.» Anno: 2.» Cadeira; 8.» Cadeira. 3.° Anno: 3.» Cadeira; 1° Engenheiro». — I.o Anno: 1.» Cadeira; Desenho de figura e
Botânica, na 10.» Cadeira; Desenho de paisagem pelo natural, e ma- paisagem, na 4.» Cadeira. 2.° Anno: 2.» Cadeira; 8.» Cadeira, 3 °
chinas na 4.» Cadeira. 4.o Anno: Zoologia e Mineralogia, na 7.» Ca- Anno: 3.» Cadeira; 9.» Cadeira; Metallurgia, na 7.» Cadeira. 4 ° Anno:
deira; 9.» Cadeira; Desenho de Maquinas, ornatos, e decorações. Astronomia e Geodesia, na 5.» Cadeira; Botânica, na 10.» Cadeira;
S.» Anno: Economia Industrial, na 11.» Cadeira; Architectura civil, Mineralogia e Geognosia, na 7.» Cadeira,
na Academia de Bellas Artes. 2 ° Artilheiro». — 1.° Anno: !.» Cadeira; Desenho de figura e
paisagem, na 4.» Cadeira. 2 o Anno: 2.» Cadeira; 8 » Cadeira. 3 o
IV — PILOTOS
Anno: 3.» Cadeira; 9.» Cadeira; Princípios de Metallurgia, na 7.»
J.» Anno: 1.» Cadeira; Desenho de figura e paisagem, na 4.» Cadeira.
Cadeira. 2 ° Anno: Parte da 9.» Cadeira; 8.» Cadeira; Desenho de 3.° Infanttria e Carallaria. — 1 •> Anno: 1.» Cadeira; Desenho
paisagem pelo natural, na 4.» Cadeira. 3 ° Anno: Astronomia e Na- de figura e paisagem, na 4 » Cadeira. 2° Anno: 8 » Cadeira; 9.»
vegação, na 5 » Cadeira; Aparelho e Manobra Naval; Desenho de Cadeira.
Cartas Geographicas, reducção de plantas de costas, bahias, portos,
etc., na Academia de Bellas Artes. NOTA. — A ordem das matérias designadas n'estes Cursos é
destinada para os Estudantes que principiarem seus Cursos no anno
V — CoMMKRCIANTKB
lectivo proximo futuro; porem aquelles que tiverem já frequentado
algumas Cadeiras desta Academia declararão, no acto de matricula
í.° Anno: I.» Cadeira; I.° Anno da 11» Cadeira. 2° Anno: se querem estudar as matérias d'uma Cadeira designada, ou o curso,
2.0 Anno da 11.* Cadeira; Desenho de figura e paisagem, na 4.» Ca- ou cursos que pretendem seguir, para o Conselho Académico lhes
deira. 3.o Anno: 3.» Anno da 11» Cadeira. designar as Cadeiras que devem frequentar, afim de se combinar,
da melhor maneira possível, os interesses dos Estudantes com os
VI — AGRICULTORES da Sciencia.
PREPARATÓRIOS
1." Anno: 1.» Cadeira; Botânica e Veterinária, na 10.» Cadeira
2.o Anno: Parte da 8.» Cadeira; Botânica e Agricultura, na 10.» Ca- Para a 1.» Cadeira de todos os cursos, (no anno de 1838 para
deira; Desenho de figura e paisagem, na 4.» Cadeira. 3° Anno: 1839) a pratica das I a " quatro operações de Arithmetiea; Gramática
Parte da 9.» Cadeira; Botânica e Economia rural, na 10.» Cadeira; da Língua Portugueza, ou titulo d'approvaçào passado em qualquer
Desenho de paisagem pelo natural, dos órgãos da vegetação e da re- Lyceu.
producção dai plantas, maquinas e construcções rurais, na 4.» Para o 2.° Anno em todos os Cursos, o exame da Lingua Fran-
Cadeira. ceza, ou titulo d'approvnçao passado em qualquer Lyceu. N, B. Os
Artistas poderão demorar este exame até á matricula do 3.° Anno.

Vêm depois o Programa e os Exerciam Científicos das diferen-


(') Par» a matrícula no 4.0 Ano dos Cursos de Engenheiros, Geógrafos e Oficiais
de Marinha, e no |,« Ano do Curso de Pilotos, exigia-se exame de Geografia nesta
tes cadeiras. A-pesar-da sua extensão, afigura-se-nos que constituiria
Academia, ou título de aprovaçSo passado em qualquer Liceu. grave lacuna a sua falta nesta Memória :
(*) Para completar o Curso de Comércio, e o de Oficiais de Marinha, exigia-se la CADEIRA
exame da Lingua Inglesa nesta Academia, ou título de aprovação da mesma Lingua em
qualquer Liceu. Arithmetiea; Algebra até é composição das equações; Geome-
tria elementar plana, o a 1res dimensões; Geometria descriptiva da
linha recta e plano; Trigonometria rectilínea.
MEMÓRIA HISTÓRICA BA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O 1'KlMMKij PROGRAMA DOS CUKSOS ACADÉMICO* 189

Prática dos instrumentos mais usados no levantamento das


plantaB. rão estudadas), e pelaa varias circumstancias do Movimento Diurno,
passsr-se-há á discussão das apparencies, do conhecimento, da na-
Texto: Elementos de Mathematicas puras de Lacroix, e Geome- tureza, das formas, dimensões e distancias, e dos movimentos ver-
tria descriptive de Fourcy.
dadeiros dos astros. Tratar-se-há da medida do tempo, em suas
2» CADEIRA varias espécies, que estes nos oíTerecern. Explicar-se-há a Lei da
Attracção Universal, cujas consequências serão miudamente expen-
Algebra transcendente; Geometria anatylica, comprehendendo didas. Em sumula, habilitar-se-ha o Alumno para a perfeita intelli-
a Trigonometria Espherica; Calculo differencial, integral, das varia- gencia dos princípios sobre os quaes é fundada a pratica das Obser-
ções, e directo das diferenças finitas. vações e Cálculos, que constituem a 2.» Divisão desta 1.» Parte
Texto: N'este anno lectivo, o Curso completo de Mathematicas do Curso.
puras de Francuttr, que nos annos immédiates será substituído por 2.» Astronomia Pratica. — Dar-se-ha idéa do modo de construir
Lacroix,
as Taboas Astronómicas Gpraes, e as Ephemerides náuticas; e insi-
3.» CADEIRA
nar-se-ha o uso das mesmas. Indicar-se-hao os processos, e de-
Geometria descriptiva e sua» principaes applicants; Mecânica monstrar-se-hão as formulas relatives á exacta medida do tempo, o
dos sólidos e fluidos, e suas principaes applicações. às varias circunstancias do Movimento Diurno, á determinação das
Latitudes e Longitudes Terrestres por meio d'observaçoes astronó-
Geometria descriptiva das curvas e planos tangentes, das cur- micas, e ao calculo das marés. Será n'esta Divisão que o Alumno
vas com suas tangentes. Exercícios e resolução de problemas: se preparará com os princípios de Calculo Astronómico, que subse-
por Fourcy.
quentemente verá applicados na Geodesia e Navegação.
Principaes applicações da Geometria descriptiva á theoria das
sombras, á perspectiva, à gnomonica, aos trabalhos civis, à fortifica- Geodetia
ção, Ã architecture, aos elementos das machinas, ás conslrucções
navaes, e l e : por postillas. 1." Topograghia. Devendo a Topographia ser estudada na L»
Mecânica dos sólidos e fluidos: por Francœur, (ultima edição). Cadeira, na 5.» tratar-se-ha somente da
Mecânica appiicada ás artes. Theoria e construcção das principaes 2° Geomorphia. Estender-se-hão os principio» adquiridos na
machinas empregadas na architectura civil e hydraulica, em levan- 1.» Cadeira á consideração da verdadeira figura da Terra, quô será
tar grandes pesos, no serviço das grandes forjas, officinas metalúr- analyticamente estudada. A extensão das operações geodésicas
gicas, artes induslriaes, etc. — Machinas hydraulicas mais importan- chamará em seu socorro vários princípios astronómicos já desen-
tes; seus diversos usos, com especialidade no esgotamento das mi- volvidos, pelos quaes se determinará a posição dos pontos mala im-
nas. — Agentes mecânicos, inclusive o vapor. — Por postillas. portantes. Virá aqui a propósito enunciar os principio» da cons-
trucção das Cartas Geographicas.
4.* CA num A
Desenho de figura e paisagem: por estampas. Desenho de 1o- Navegação
pographia. Paisagem: pelo natural. Desenho de plantas, perfis,
l.o Navegação d'Estima. Tratar-se-ha daa Cartas [1 ydrograpbi-
machinas do serviço das minas, transporto de grandes pesos, fabri-
ens, e da resolução de lodos os problemas das derrotas.
cos ruraes, etc —plantas e cortes de minas; ornamentos, arabescos,
decorações, e desenhos de convenção, etc.: flores, arbustos e arvo- 2-e Navegação Astronómica. Descrever-se-hão os intrumentoa
res, instrumentos agrícolas, jardins e pomares, etc. astronómicos usados na náutica; recitar-se-há a applicação doa pro-
blema» d'Astronomia Pratica, precedentemente expendidos. Exerci-
5.a CADKIKA cicio» de calculo, diários náuticos, e observações, formam uma
parle eísencialissima da 5.» Cadeira. N'estes será o respectivo
Astronomia Lente coadjuvado por um Substituto.
Este curso será baseado sobre as doutrinas encerradas nos 8
í.° Astronomia Physica. - Principiando pelos movimentos appa-
compêndios de Franeœur, intitulados Uranographia, Astronomia
rentes dos corpos celestes referidos á posição d'um observador col-
Prática, e Geodesia e Navegação; mas na impossibilidade de se da-
locado sobre a superficie terrestre, (cujas formas e dimensões se-
rem todas as matérias que elles incluem, ou de seguir a ordem
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O P R I M E I R O PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 1Q1

exacta d'esté Auctor, um programma, exhibido pelo Lente respectivo


2.» Parte do 1.° Anno
previamente a cada lição, indicará as doutrinas que formarão seu
objecto, e a ordem em que serão tratadas. Conhecimentos preliminares sobre a Táctica Naval, Ordens de
marcha, evoluções, manobras para restabelecer a ordem alterada
Apparelho e Manobra Naval por mutação de vento, manobras que devem praticar-se antes, e du-
rante o combate, desembarque em um paiz inimigo.
Aparelho pela obra de João de Fontes Pereira de Mello. — Ma-
Seguir-se-ha quanto se julgar conveniente os princípios de Tác-
nobro naval peto Compendio de Manoel do Espirito Santo Limpo.
tica Naval de Manoel do Espirito Santo Limpo, addicionado com
prelecções e postillas exlrahidas dos maia acreditados Tácticos.
6.» CADKIHA
2.° Anno
ártilheria, Táctica Naval, e Construcções publicas
Construcções publicas
Estas matérias serão ensinadas em dous annos.
Exame dos diversos edifícios. — Fundamento dos edifícios. —
1 " Anno — Ártilheria e Táctica Naval Construcções de alvenaria — Estradas de todas as espécies. — Meios
de transporte por terra.
/.» Parte do J.o Anno
Firmes de alvenaria, de madeira e de ferro.
Noções essenciais sobre Ártilheria de terra e mar, e descripção fontes «J Suspensas.
das armas e machinas de guerra, antigas e modernas. — Descrip- I Moveis.
ção dos componentes da pólvora, seu guisamento, fabrico e conser-
vação; theoria da inflamação, e determinação de sua força por meio Canaes.
dos provêtes mais usados. — Pesos e medidas empregados na Árti- Aqueductos.
Construcção dos
lheria, e melhodo de calcular as medidas da pólvora e os diâmetros Comportas.
das balas. — Divisão, descripção, traçado e nomenclatura das bocas Adufas.
de fogo, seus reparos, e das machinas mais usadas na Ártilheria de
Precauções contra as cheias. — MBÍOB de transporte por agua.
terra e mar; discussão das dimensões que mais lhes convém. —
— Determinação dos orçamentos.
Noções sobre os metais e suas principaes propriedades, ligas e
As matérias de que se compõe esta Cadeira serão ensinadas
usos; applicação d'alguns d'estes ao fabrico das bocas de fogo, e
por postillas.
projectis, e o methodo porque este se consegue. — Palamenta, ar-
7» CADKIRA
mamento, sortimento das bocas de fogo, massame das baterias de
bordo, e os instrumentos empregados na Ártilheria de terra e mar. Zoologia, Mineralogia, Geognosia, Lacra de Minas, Metallurgia
Methodo de provar, encravar, desencravar, pôr fora de serviço,
Estas matérias serão ensinadas em doua annos.
deitar grão nas bocas de fogo. — Elementos de Pirotechnica, e Buas
applicações aos arteflcios de fogo usados na guerra terrestre e ma- 1." Anio
rítima. Reconhecimento, empilhamento, arrumação e conservação
dos projectis em terra e mar.— Manobras de força, e sua applica- Zoologia. — Noções preliminares sobre Anatomia, e Physiolo-
ção à maneira de montar a Ártilheria a bordo dos navios, e em gia comparada. Classificação dos animaes por famílias naturaea.
terra; e a maneira de a lançar ao mar por occasião de temporal; — Descripção dos mais interessantes ás nrteg; seus usos. Por Cuvier
Balística e suas principaes applicações á pratica nas différentes bo- (quadro elementar).
cas de fogo. — Considerações geraes sobre a velocidade inicial dos Mineralogia. — Noções preliminares sobre physica e Chímica.
projectis, penetrações dos mesmos nos meios resistentes, e irre- Classificação dos mineraes, Descripção dos mais interessantes ás
g u l a r i d a d e dos tiros. artes; seus usoa. Por Brard (Novos elementos).
Geognosia, — Noções preliminares sobre sciencias Physico-ma-
Seguir-se-ha quanto fôr possível as doutrinas expendidas no
thematicas. Divisão da crusta do Globo em épocas geognosiicas:
Compendio de Antonio Lope» da Costa e Almeida, dando-se postil-
•ua aub-divisão em formações e os caracteres próprios a cada uma.
las n'aquellas partes em que se julgar conveniente.
Por Rozet-
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 193

2.° Anno . í." Parte — Chimica Mineral

Zoologia — Noções preliminares sobre Anatomia, e Physiologia Descripção d'Instrumentés e Apparelhos chimicos. Noções so-
comparada. Classificação dos Animaes por famílias naturaes. Des. bre a natureza dos corpos; suas propriedades geraes. Nomencla-
cripção dos mais interessantes ás arles; seus usos Por Cuvier. tura Chimica. Theoria dos equivalentes chimicos Theoria atomis-
Lavra de Minas. — Indícios próximos e remotos da presença lica. Corpos simples não metallicos: suas combinações mais im-
dos minérios, combustíveis, etc.: sua disposição no seio da terra. portantes ás sciencias e i s artes. Metais, suas ligas e combinações
Lavra propriamente dita, tanto da superficie como do interior da mais usadas. Sans, generalidades sobre estes corpos, sua classifi-
terra. Transportes e machinas usadas no serviço das minas (omit- cação, e descripção particular.
t í n d o s e aouelles de que já houver conhecimento pelo estudo da Phi-
sica e da Mecânica). Trabalhos nas minas. Geometria subterrânea. 2.» Parte — Chimica Vegetal
Ideas geraes sobre a administração das minas. Por Brard (Elemen-
Noções geraes sobre a composição das substancias vegetais a
tos práticos de exploração).
seus produclos. Princípios imediatos dos vegetais; sua classflea-
Metalturgia.— Noções preliminares sobre Chimica- Instrumen- ção, analyse, e emprego nas artes.
tos usados em metallurgia. Ensaios docimasticos, e operações me-
tallurgicas. Por postillas. 3.» Parte — Chimica vegetal

Princípios immediatos dos animaes: sua classificação, analyse,


8.» CADEIRA e emprego. Princípios líquidos e sólidos que entram na composi-
ção dos animaes, ou são elaborados por seus órgãos; sua analyse
Phiaica elementar, e suas prineipaea applkações- e usos.
Artes Chimicas
Está adoptado para compendio d'esta Aula o Tratado de Phy-
sica do snr. Mosinho, que servirá de guia nas prelecções que tive- As applicações da Chimica às artes far-se-hão, quando se tra-
rem por objecto o desenvolvimento successive dag lheorias phisicsB, tar das substancias n'elas empregadas: dar-se-hão então os proceB-
dos sólidos e fluidos incompressiveis, elásticos, e imponderáveis. sos mais usados, bem como os princípios em que se funda a arte,
Depois de cada uma d'estas lheorias addicionar-se-ha uma exposi- ou artes que se consideram. Assim, quando se tratar do Chloro, por
ção das suas princípaes applicações ás arles, exlractando das obras exemplo, mencionar-se-hio os diversos processos de branquea-
especiaes d'esté género, taes como as de Borgnis, Christian, Ha- mento, e explicar-se-hão os mais vantajosos O mesmo se fará so-
chette, Peclet, Tredgold, e l e , o que for mais interessante, e produ- bre o fabrico e pintura dos vidros e louças, sobre a tinturaria, cor-
zindo o numero de exemplos necessários para fazer conhecer a dif- tumes dos couros, preparação dos melhores vernizes, do vinho, cer-
ferença entre as investigações puramente Phisicas, e as Phisico in- veja, etc.
dustriais, e para adquirir familiaridade com os problemas d'esta ul- Postillar-se-ha sobre estes diversos objectos.
tima espécie, nos quaes entram dados alheios aos da primeira, como Texto, Lassaigne (Elementos de Chimica; ultimo edição).
são o consummo de tempo, força e numerário.
10 » CADEIRA
Finalmente far-ae-liá distinguir nas machinas compostas o
essencial do acessório, e avaluar as vantagens relativas, conforme As matérias d'esta Cadeira são ensinadas em três a n o s .
as circunstancias, da applicação dos diversos motores, tanto anima-
dos como inanimados, insistindo especialmente sobre as modifica- 1 o Anno
ções, e melhoramentos das machinas de vapor. Botânica theorica. — Glossologia, Anatomia, Physiologia. Taxo-
nomia: por Brotero (ultima edição).
9. a CADKIIIA Botânica Pratica. - Exposição do systems sexual de Linapu
feita no Jardim Botânico.
Chimica, e Artes Chimicas Veterinária Theorica. — Princípios da Pathologia applicados
aos estudos das doenças dos animais: (por Huzard).
As matérias d'esta cadeira são divididas em 1res partes, e estu- Veterinária prática. — Demonstração das refiridas doenças
dadas na ordem seguinte: feita no jardim experimental, ou por auxilio de estampas.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 195

2.° Anno 2.» Parte

Botânica theorica. — As doutrinas que lhe correspondem no Economia industrial com referencia ao obreiro, fabricante, com-
1,- anno. rnerciante e cultivador, applicando os princípios especiaes, e parti-
Botânica pratica, — Pelo methodo do anno precedente. culares da mesma economia a cada classe, e mais largamente á
Agricultura theorica. — D e s c r i p ç ã o dos terrenos, Methodo commerciante.
d'adubar, semear, cultivar, plantar, afolhar, etc., as terras.
EXEHCICIOS SCIENTIFICOS
Theoria» geraes da Sciencia: por postillas.
Agricultura prática. — Explicação e uso prático dos instrumen-
tos empregados n'esta Sciencia. Exercícios dos processos ope- Ha nas sciencias a considerar duas partes distintas, ainda que
ratórios. mutuamente dependentes, e de tal forma entrelaçadas que em al-
3.° Anno guns pontos parecem confundir-se: são a theoria e a prática. A pri-
Botânica theorica. — As doutrinas que lhes correspondem nos meira, filha da profunda meditação alimentada com as vigílias dos
annos precedentes, ensinadas na mesma ordem. Sábios, resumindo em si a metaphísica, e a força da sciencia, forma
Botânica prática.— Segundo o systema dos dois primeiros annos a sua alma, ou essência. A segunda, procedente da necessidade,
Economia rural theorica. — Noções geraes acerca do methodo aperfeiçoada com o uso, indispensável ao mesmo tempo nos Obser-
porque se extracta m da agricultura as maiores vantagens possíveis, vatórios, e nas humildes Officinas, sempre porém obediente aos
ensinadas por Postillas. dictâmes da primeira, e seguindo os seus influxos, parece formar o
Economia rural prática. — Exposição prática dos melhores edi- corpo, ou porção mechanica da mesma sciencia
fícios ruraes, quintaes, etc., feita por via de estampas, e no jardim Quanto mais progredimos no estudo, maia nos convencemos
experimental. da necessidade de sua estreita alliança: e a nenhuma d'ellas pode-
mos rasoavelmente d a r á preferencia; pois o que cada uma tem de
11 » CADEIRA
sublime, tem a outra de indispensável, e qualquer d'ellas indepen-
Commercio dente mal poderia utilisar-nos.
A prática sem a theoria era apenas um cego, entregue ao cego
As matérias d'esta Cadeira serão ensinadas em 1res annus. acaso, marchando por tentativas, tropeçando e cahindo a cada passo;
1 ° Anno a theoria sem a pratica não passava dn belta concepção, habitando
Escripttiração dos principais livros de commercio por partidas alguns cérebros privilegiados, ou quando muito as paginas de dou-
dobradas, os princípios em que se funda a theoria d'esté methodo, e rados livros para ornar pomposas bibliothecas. É preciso portanto
as regras porque se executa: a natureza e necessidade das contas unil-as para lhes dar uma existência proveitosa á sociedade; e foi
geraes, as diversas espécies de balanços, etc. isso o que se pretendeu n'estes exercícios scientificos.
Compreende-se sob a denominação de exercícios scientificos
2 o Anno
tudo quanto tendo a fixar os Estudantes nos conhecimentos adqui-
Código commercial no que pertence ás matérias comprehend!-' ridos, e a guial-os na progressiva acqtiisição d'outros. No estudo
das na parte do commercio terrestre, e do commercio marítimo. da theoria, exercitando sua memoria, desenvolvendo sua inteli-
exemplincando-as em quanto á prática dos diferentes contractos com gência, dilatando sua imaginação, excitando n'elles o amor da ver-
as formulas dos documentos que as légalisant e tornam valiosas dade, finalmente ensinando os a exprimir suss ideas com rigor e
Reducção de câmbios. Pegos e medidas estrangeiras, regra justeza, e a represenlal-aa por eignaea convencionaes, e linguagem
conjuncta, etc, propria. No emprego da prática, fazendo que n'elles se torno aeto
mechanico o que ao principio dependia de esforço de espirito, fa-
3a Anno miliarisando-os com os instrumentos, operações, e processos pjo-
1* farte prios das sciencias a que se dedicarem, e habilitando-os para ço-
nhecel-OB, corrigil-os e methoral-os, qualquer que seja a sua forma
Geographia commercial. Descripção topographies, e commer-
ou circunstancias accessoriaa. Por todas eslaa considerações pa-
cial dos principais Portos Commerciaes, e especialmente dos que
receram as seguintes divisões, e denominações de exercícios as
negoceiam com Portugal e Domínios.
mais proprias e dignas de preferencia;
Descripção das nossas estradas mais proprias para o transito
de artigos commerciaes. Movimento dos nossos Portos.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO P L I R T O

O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS


197
\ Diários
, 0 Jraes
,
\ Repetições Aulas Kspeciaes
Theoricos
| Ordinários
{ Escriplos Nas aulas especiaes seguir-se-ha quanto for possível o que fica
1 Extraordinários
Exercícios determinado a respeito das precedentes.
scientificns. Applicação de formulas
Disposições Ceraes
Uso de machinas
Ensaios e Experiências Os Lentes guardarão a maior economia no tempo de suas pre-
Práticos Manipulações lecções, alim d'elle lhes não faltar para a explicação de todas as ma-
Trabalhos graphicos, Topo- lerias que peio Conselho Académico foram distribuídas a cada Ca-
graphicos, de Observató- deira
rio, etc. Attenderao a todas as duvidas que os Estudantes lhes propoze-
rem, resolvendo-as com brevidade, so a sua explicação depender
EXKHCICrOS TIIEOKICOS de princípios estabelecidos, ou demorando sua solução se depender
de doutrinas que proximamente devem adquirir, para quando estas
se estabelecerem.
Oraea
Se porém involverem noções d'outras sciencias ou theoremas
Dinrios transcendentes, fora do alcance dos Estudantes, limitar-te-hão a
dar-lhes uma breve explicação, indicando-lhes os conhecimentos de
Nas aulas de Mathematica, os Estudantes, que os respectivos que depende a sua decisão.
Lentes designarem, exporão suceessivamente as matérias dos trata-
dos adoptados, desenvolvendo toda a sua metaphisica, cálculos, etc.: Recordações
sendo guiados e corrigidos nos lugares aonde lhes não tiverem dado
a verdadeira intelligencia pelos mesmos Lentes, os quais lhes farão Depois d'urn numero indeterminado de lições que possam con-
conhecer a elegância e rigor das demonstrações, os princípios em s i d e r a r s c , por sua ligação e serie de princípios que encerram, como
que ellas se fundam, e a differençar bem os theoremas das suas secção ou divisão natural da Sciencia, o Lente determinará uma re-
applicações; 1er as formulas, notar sua symetria, e os diversos pro- cordação, em que sejam apiesenlados esses princípios separados de
blemas que podem involver; e finalmente interpretar todos os resul- demonstrações, e ligados entre si segundo a sua dedueçâo e ordem
tados do calculo, principalmente quando estes parecerem apresentar mais natural, formando uma synopsis. Estas recordações devem
absurdos ou contradições. Os Lentes interrogarão sobre os pontos ser de tal maneira ordenadas que a sua totalidade forme o resumo
difficultosos a diversos Estudantes para os conservarem attentos, e das disciplinas proprias de cada Cadeira.
poderem melhor julgar do talento de cada u m ; devendo evitar toda N'estes exercícios o Lente interrogará o maior numero possí-
a profusão de erudição, que seja superior á capacidade, e conheci- vel de Estudantes, não guardando ordem ou serie sucessiva para
mentos dos mesmos Estudantes, da qual lhes pode resultar grave que todos venham prevenidos como se cada um houvesse de ser
prejuízo, pela falta de tempo para se explicarem matérias de uti- perguntado.
lidade. EXEliCICIOS POR KSCKITO
Filotophia Natural

Nas aulas de Philosophia ouvirão os Lentes um ou maia Estu- Estes exercícios terão lugar ou em épocas fixas e se denomi-
dantes sobre as matérias que se tiverem explicado no dia lectivo narão ordinários, ou fora d'essns épocas quando as matérias que
antecedente, pelo menos durante o primeiro quarto d'hora. No reslu se Iratarem o exijam, e então se denominarão extraordinários.
do tempo explicarão as matérias que se seguirem, não podendo os
Estudantes interromper a sua prelecção para lhes apresentarem du- Ordinários
vidas; mas reservando-as para as occasiões em que os Lentes lhes Todos os Estudantes são obrigados a apresentar no flm de
perguntarem se tem sido entendidos. Em tudo mais ae regularão cada mez um exercício ou dissertação por escripto que versará
pelo que flcu dito acerca do ensino de mathematica, fazendo única* sobre a resolução d'algum problema geral que envolva dífliculdade,
mente as alteraç5es que a natureza de cada um doa ramos que en- demonstração d'alguma theorÏB, ou finalmente sobre qualquer ma-
sinarem. teria das que estudarem, a qual pela sua importância reclame uma
attenção particular.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 199

Poder* também aer objecto d'estes exercícios, quando o Lente dos exercícios vocaes, e por escripto, de que temos falado, hajam
julgar conveniente, a synopsis ri'uma grande divisão, ou secção já também os Práticos; tanto para melhor fixar as idéas sobre as
completamente estudada das doutrinas que ensinar, Em todo o theories expostas, como para conhecer as utilidados que podem
caso compete ao Lente escolher e designar o thema para estes tirar de suas applicaçôes.
exercícios; o que fará no principio de cada mez. a
/ Cadeira
0 Conselho Académico determinará mensalmente na primeira
reunião quaes devem ser os Lentes, que no seguinte mez devem N'esta cadeira, além dos exercícios práticos insepareveis dos
exigir estes exercícios, afim de não serem sobrecarregados ( s vocaes, e que n'elles vão envolvidoa, fará o Lente conhecer aos
Estudantes com mais d'um no mesmo mez. Estudantes oa instrumentos pertencentes aos différentes ramos da
«ciência que professa, dando a historia da sua descoberta até ao
Extraordinários
seu actual aperfeiçoamento, seus usos, e os casos em que são pre-
Quando os Lentes julgarem necessário, pars exercitar a inte- feríveis aos outros; os erros a que induzem, o modo de os conhe-
ligência dos Estudantes, ou para os familiarisai com alguns princí- cer, e as formulas para no calculo os corrigir, fazendo notar as pre
pios roais interessantes pelas suas applicaçôes, lhe» proporão cauções que devem haver quando com elles se trabalhar, etc.
alguns problemas para resolverem por escripto á sua vista, ou para Irá com os Estudantes ao Campo para os exercitar o mais
Ih'os entregarem depois d'algum dia feriado, segundo a difficuldade possível na prática dos referidos instrumentos, tendo o cuidado de
do objeto. N'este numero entra a resolução doa problemas cujos variar os problemas de maneira que se empregue o maior numero
dados se tivessem tomado un Campo. de formulas trigonométricas, e de theoremas geométricos. Também
Estes exercícios porém devem sempre ser de maia fácil exe- os exercitará nos processos do lívelamento de topografia, etc.
cução do que os ordinários, e não demasiadamente frequentes.
2 " Cadeira
Disposições geraes
Além da prática do calculo, que tem necessariamente de
Quando designarem os objectos dos Exercícios os Lentes indi-
acompanhar os exercícios theoricos, o Lente exercitará os Estu-
carão aos Estudantes os Auctores que podem com mais utilidade
dantes, quanto for possível, nas construcçõea graphicas das equações.
consultar: devendo escolher os que possam ser entendidos por
elles, de maneira que os não obriguem a traduzir ou transcrever; 3 " Cadeira
mas pelo contrario os convidem a apresentar suas idéas, e a emitir
francamente suus opiniões. O Lente d'esta Cadeira executará todas as vezes, que seja
Tanto os Exercícios Ordinários como Extraordinários serão possível e convir, as applicaçôes dos princípios da geometria des-
datados e assignado? pelos Feus Auctores, e apresentados aos seus critiva ás artes e sciencias que dela dependem; e oa exercitará noa
respectivos Lentes, os quaes poderão interrogal-os sobro qualquer trabalhos graphicos desta sciencia
ponto d'elles, e declarar o seu juízo sobre os mesmos, mostrando No Estudo da Mechanica repetirá as experiências mais notáveis
as inexactidões aonde as houver, e os princípios que deveriam para poder comparar oa aeus resultados com os do calculo, nnian-
escolher ou methodos que deveriam seguir com preferencia para dn-lhes as differences que houverem e as causas d'eslas
darem a estes exercícios mais elegância, e finalmente louvando os
que o merecerem. 4.a Cadeira
Estes Exercícios deverão ser condados a todos oa Lentes que 0 Lente da 4.a Cadeira dará-desenvolvimento ao quadro de-
quizerem por elles formar um juizo mais exacto do talento e appli-
monstrativo dos cursos, servindo.lhe aquelle quadro de programa
cação dos Estudante?, afim de poderem com justiça votar sobre o
para os différentes cursos academicoa.
merecimento de cada um.
Os alumnus principiarão pelo desenho linear copiado do antigo,
e na maior grandeza possível; depois aprenderão a dar-lhe as som-
ExhUCIC.IOR PRATICO! bras, e proseguirão até copiarem academias, e grupos: durante
estas applicaçôes o Lente lhes ensinará as proporções e beleza das
Estes exercícios diversificam tanto entre si quanto aa aciencias formas, o bom gosto do desenho em que consiste a boa planta das
a que são relativos ; por isso os classificaremos pela ordem das figuras; as linhas que lhes dão o movimento e a vida; as grandes
Cadeiras. E de sumiria importância, que n'estas scienciai, além vantagens que resultam de seguir a unidade de tempo, de acção,
MEMÓRIA HISTÓRICA I)A ACADHMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 201

de lugar, costumes e o mais que coavam á perfeição de qualquer


Exercitará também os Estudantes no serviço de artilheria de
composição clássica.
bordo, e os acompanhará ás experiências do Polygone, que houver
A paisagem será, de preferencia, ealtidada por uma Bérie de
de fazer o Corpo d'Artilheria estacionado nesta cidade, afim de lhes
obras elementares originaes de Jean Pillement, lythographadas por
mostrar como praticamente se construe uma bateria, espaldão, e os
1. B. Ribeiro. Far-se-ha conhecer a necessidade da perspectiva
mais trabalhos próprios n'estas experiências. Fará applicar as for-
linear e aérea, o uso da Camara-cscura, e outros instrumentos pró-
mulas balísticas e comparar os resultados d'estas com aquelles que
prios ao desenho de paisagem ; e por ultimo Iratar-se ha de habili-
a experiência fornecer; adestrará nos methodoB de avaliar as dis-
tar os alunos a desenhar a olho.
tancias não so pelos meios práticos mas também pelo uso dos micro-
Oa ornatos e decorações serão estudados de preferencia pelas metros, sextantes, e outros instrumentos, no conhecimento d r s tiros
Lojas de Raphael, em grande folio, atém de outros Mestres antigos de ponla em branco, máximos aliances, ângulos de elevação e car-
e modernos.
gas que são relativas a cada espécie d'arma e de tiro.
Oa alumnos d'Agricullura copiarão por boas estampas, e depois
pelo natural as flores, plantas, arbustos, arvores, etc.; os instru- 7." Cadeira
mentos de trabalhar a terra, a forma das estufas, jardins, bosques,
O Lente d'esta Cadeira deverá apresentar aos Estudantes exem-
pomares, etc , etc-
plares dos diversos produclos da natureza, tanto no reino animal
5.* Cadeira quando se tratar da Zoologia, como no mineral quando se passar a
explicar a Mineralogia.
Não só o I.enle desta Cadeira deve fazer adquirir aos Estu- Ensinará a maneira de os distinguir e classificar, e indicará as
dantes um perfeito conhecimento dos instrumentos astronómicos, varias modificações que soffrem os que são empregados nas orles,
mas lhes fará repetir as observações, ensaiando-os nos.diferentes distribuindo-os aos Estudantes para que elles mesmos os examinem
methodos de conhecer as Longitudes, Latitudes, e t c , e na resolução e classifiquem.
dos variados problemas da Geodesia, Astronomia e Navegação. Fará lambem conhecer os instrumentos próprios dos différen-
Nos exercícios que formam tão importante parte d'esta Cadeira tes ramos das suíencias que ensina, e os seus usos, ensaiando al-
•era o Lente respectivo coadjuvado por um Lente Substituto. guns mineraes, calculando os seus componentes e por estes a sua
riqueza, empregando finalmente os diversos processos para sua
Appardho e manobra naval
perfeita analyse, e indicando ao mesmo tempo os que devem prefe-
O respectivo Mestre ensinará aos Estudantes a nomenclatura, rir-se para se obterem oa metaes em grande com a maior economia.
uso, posição e dimensões de todo o massame, poleame, e velame
6".a Cadeira
do navio, apparelhanrio para este fim e desapparelhando o navio
modelo. Ensinar-llies-ba também o methodo das amarrações, com O Lente desta Cadeira fará conhecer aos Estudantes os diver-
todas as suas circunstancias, tanto dentro como fora do navio, a sos instrumentos, machinas e apparelhos de que tem a servir-se; as
prática das roças, e maneira de apparelhar e fazer uso da cabria, peças de que se compõem, os princípios em que se funda a sua
ou barcaça de querena, o corte do panno, a construcção das espar- construcção, a historia resumida de sua descoberta ou invenção, e
relas para substituir o leme perdido, c a prática do officio de mari- das modificações mais importantes que lhes tiverem sido feitas; de-
nheiro; fazendo-lhes executar e mandar as différentes manobras niorando-se sobre suas vantagens, importância, e variados usos na
explicadas theoricamenle. prática, quer seja para auxilio das sciencias correlativas á Physica,
e das artes que d'ella dependem, quer seja na investigação das leia
M Cadeira da natureza, e de seus mais importantes phenomenos.
0 respectivo Lente além de exercitar os Estudantes na resolu- Executará e fará executar pelos Estudantes as experiências re-
ção dos problemas que lhes são próprios, deverá, quando as cir- lativas a cada parte da seiencia, cuja theoria fór desenvolvendo: com-
cunstancias o permittirem, fazer-lhes conhecer todas as palamen- parará os seus resultados com os do calculo, fazendo notar as diffe-
tas, armamentos, sortimentos das bocas de fogo, massame daa rences aonde as houver, e as causas que as produzem, distinguindo
baterias dos navios, os instrumentos de que se faz uso na artilheria mui cuidadosamente entre estas causas as que provém da omissão
marítima, e terrestre, e as diversas armas e machinas que tem de dados no calculo, das que procedem da imperfeição dos instru-
applicação na guerra, e as vantagens que d'ellas se podem tirar. mentos, e indicando então as necessárias correcções
Finalmente variará quanto fór possível as experiências para
que umas sirvam de prova ás outras-
MEMÓRIA HISTÓRrCA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
0 PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 203

9.» C adeira
tindo no escrúpulo e circtimspeeção com que devem marchar de
Serão apresentados aos Estuiiantes dVsla Cadeira différentes degráo em degráo ale chegarem ao conhecimento do vegetal, e mos­
produclos chimicos pelo Beti respectivo Lente, que lhes indicará os trando­lhe a excellencia do methodo analytico de que devem usar
seus usos nas sciencias e artes 0 mesmo Lente fará lambem principalmente nas classificações, etc.
conhecer os instrumentos, machina? , e apparelhos necessários pura Estes exercicios serão feitos no Jardim Botânico, ou no Campo,
obter e analyser estes productos: ensinará a montelos e desmou­ segundo o permittirem as circuinstancias : n'este ultimo caso o Lenle
tal­os, e a ordem que deve ter um Laboratório. Descreverá os dif­ instruirá os Estudantes no conhecimento dns terrenos, ensinando­
férentes processos empregados nas différentes operações chimieas, ­lhes a distinguir pela simples inspecção quanlo possível for as dif­
e as suas vantagens relativas, insislindo particularmente sobre todas ferenças que elles apresentam e a cultura que lhes é mais propria;
as precauções que exigem e de que depende a sua boa execução. fazendo­lhes notar os defeitos que houverem tanto nos instrumen­
Repetirá ou fará repetir pelos Estudantes as operações indispensá­ tos, v. nos trabalhos agricoles, como na escolha das sementeiras,
veis á inlelligencia daa theories, prevenindo­os sobre os diversos etc ; designando os locaes mais próprios para se estabelecerem as
accidentés que poderão ter lugar durantes estas, e ensinando­lhes officines, não esquecendo notar os defeitos que apresentem as que
as maneiras de os precaver e remediar. se exeminarem.
Finalmente exercitará bem os Estudantes na escripluração das Ensinará o methodo de conslriicção dos prédios ruraes e final­
formulas chimieas, e sobre tudo que concorrer para o perfeito co­ mente fará conhecer praticamente as doenças dos animées, e os
nhecimento da sciencia, e facilidade da pratica. meios de as curar, mostrondo­llies todas as vantagens que se
podem tirar dos conhecimentos da Veterinária.
1Ù » C adeira
J í a C adeira
Sendo o objecto d'eata Cadeira a Botânica propriamente dita, a
Agricultura, a Economia rural, e a Veterinária, os exercicios práti­ Exercitará os Estudantes o respectivo Lente na arte de escri­
cos que lhe são relativos podem reduzir­se aos seguintes: pturar os livros por Partidas dobradas á medida que fôr enun­
Classificação dos vegelaea, precedendo o necessário exame e ciando os seus preceitos, fazendo­lhes sentir a preferencia que este
descripção de seus órgãos principaes e acessórios, tanto de repro­ methodo merece sobre o das Partidas singelas.
ducção como de vegetação. Adestrará os Estudantes no uso e forma de escripluração dos
Observações minuciosas feitas a olhos nus, ou com instrumen­ diversos livros auxiliares. Exemplificará as matérias do Código
tos próprios Bobre a «structura interna dos vegetaes, arranjos, di­ Commercial comprehendidas na parte do C ommercio terrestre e
mensões, e posições relativas das différentes partes que os com­ marítimo em quanlo á prática dos différentes conlrectoa, com as
põem ; para o que se farão as indispensáveis dissecções, macera­ formulas dos documentos que os légalisant e tornam valiosos,
ções, etc. Investigações e experiências sobre o progresso gradual Acompanhará a theoria oo C ommercio do Banco com a prática
da germinação, crescimento, inflorescencia. e l e ; notando a acção de suas respectivas operações, afim de facilitar o conhecimento dos
dos agentes externos sobre as plantas, quer depois do seu desen­ différentes câmbios e seber como se regulam, e operam seus
volvimento, sua nutrição, absorpção, excreção, ele. Finalmente to­ Arbitro» e as vantagens que d'elles resultam, etc.
dos os trabalhos expérimentées que tendam a firmar as theoriaa,
e a fortificar, ou destruir as hypotheses até hoje admitidas, em Este Programa tinha ti data de 7 de Agosto de 1S38 c era
quanto ao modo d'acçâo dos órgãos vegetaes, e ás modificações
S U Í n a d o p o r J o s é A u g u s t o S a l g a d o , S e c r e t á r i o , e p o r .João B a p t i s t a
de que estes são susceptíveis em sua eslructura e funeções, em um
período qualquer do seu desenvolvimento, e tanto no seu estado phy­ Ribeiro, Director Literário, V i n h a tio fim a lista d o s :
siologico como no pathologico.
PROI'KssnliKs
Todos estes trabalhos serão executados pelos Estudantes, o
acompanharão as theories a que são relativos, ou em seguidamente designados pare regerem as diversas
ás lições oraes, ou quando mais conveniente julgar o respectivo cadeiras da Academia Polytechnics, do Porto
Lente, que a elles presidirá, apresenlando­lhes as plantas sem esco­ no ano lectivo de 1888 para 1839
lha <■ como à sorte, e limitando­se a indicar­lhes os processos, a
I.» Cadeira — João Ribeiro da C osta.
esclarecel­os em suas duvidas, e a dirigil­os onde errarem ; insis
2, a « — Antonio Luiz Soares.
3» « ­ ­ José Victorino Damásio.
EMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA I» PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 205

4a » — João Baptista Ribeiro. agricultores, de artistas, de engenheiros militares, de artilheiros, e de


fc» • — Diogo KSpke.
infantaria c de cavalaria, estes três últimos preparatórios.
«* » — Antonio Rogério Gromicho Couceiro.
7a , . - Francisco Martins Giesteira.
Não negamos que o Conselho Académico teria talvez evitado
8 ' • — José de Parada e Silva. muitas lutas, muitos dissabores e muitos trabalhos se tivesse feito
!• ' * — Joaquim de Santa Clara Souza Pinto. como vinte anos depois se dizia. Quanto a isso, estamos de acordo.
'" " ' — Antonio da Costa Paiva. Quanto ao mais, diremos que não se deve julgar sem com-
11.« n — Manuel Joaquim Pereira da Silva.
preender, e para compreender qualquer facto do passado é preciso
Manobra e |
app. naval \ Joti Anionio da
Natividade. colocarmo-nos na época e conhecermos as condições em que o facto
se deu.
SUBSTITUTOS
E certo que a Reforma de 1837 estipulava à Academia Politéc-
Joaquim Cardoso Victoria Villa Nova. nica, como fim especial, o ensino das ciências industriais ; não menos
Luiz Baptista Pinto d'Andrade. certo é, porém, determinar-lhe que formasse Engenheiros Oiris de to-
das as classes.
Dada a multiplicidade c variedade dos cursos que, por Lei e pe- Qual seria o Conselho Académico que, embora reconhecendo as
las tradições da Academia, devia ter e quiseram que tivesse este esta- dificuldades do momento, mas que o futuro poderia remediar, não se
belecimento de ensino não era possível organizar um Programa muito esforçasse por manter àquele estabelecimento de ensino a tradição de
melhor. Porém... escola superior que lhe vinha da Academia de Marinha?!
Mais de vinte anos depois um crítico ilustre censurou o Conse- Ao Conselho Académieo ordenou-se-lhe que organizasse os Pro-
lho Académico por não ter removido «os embaraços e incompatibili- gramas para todos os cursos de que a escola devia constar: o Con-
dades» da «abstrusa e anómala organização» estabelecida pela Reforma selho cumpriu o que se lhe ordenara, acrescentando apenas, sem auto-
de 1837, o que poderia ter feito estremando o «ensino que propria- rização expressa da lei, três cursos preparatórios para oficiais do exér-
mente convinha» ft Academia Politécnica. Disse-se que o Conselho, cito, mas fê-lo porque já existiam tais preparatórios na anterior
«em vez de procurar conciliar nos programas, que ordenou para o Academia.
ano lectivo de 1838, um tam encontrado sistema de cursos e doutri- As responsabilidades do maior mal não lhe cabem.
nas, com que se confundiu num ensino enciclopédico a ciência profis- Pertence-lhe sim a glória de não ter deixado escapar a oportuni-
sional nas suas mais elevadas teorias e a ciência industrial nas mo- dade escassa mas única que se lhe dava para criar o ensino da Enge-
destas proporções da arte e do ofício», deveria ter fixado os limites nharia e os estudos superiores de Ciências no Porto: Matemáticas,
que «eram indicados pelas condições c fim da sua instituição». (1) Física, Química, Botânica, etc.
Também se acusou o Conselho Académico de ter tornado ainda Nâo falava o Decreto de 13 de Janeiro em parte alguma do en-
mais incompleto o ensino, «pelo muito que nele se quis ampliar o sino de Construções Civis?! Sim, não falava. Mas não estaria nas
número de cursos» ('), os quais, como se viu, ficaram sendo trêse: de atribuições do Conselho Académico a criação do respectivo ensino?
engenheiros de minas, de engenheiros construtores de navios, de en- Não estava : o Conselho não tinha esse direito, afirmou o ilustre
genheiros geógrafos, de engenheiros de pontes e estradas, de oficiais crítico a quem há pouco aludimos.
de marinha, de directores de fábricas, de pilotos, de comerciantes, de Opinião contrária sustentava, parece-nos com lógicos fundamen-
tos, o Director da Academia em 1855: —«o não ter sido criada uma
(') Jos* Maria de Abreu Relatório da inspecção extraordinária feita à AcaJv
Cadeira» em que se ensinassem Construções não importava «o excluí-
mm PoUtecnica do Pfirto em iHf,4. Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, pie 12 rem-se de fazerem parte dos cursos ; e não importava, porque o con-
f> Id. ib. pig. 13 trário seria supor que a lei mandava um absurdo, que o Legislador
206 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

ignorava até o que significavam essas classes de disciplinas que fa­


ziam o objecto da criação ou ampliação deste Instituto.» (')
Esta questão é, porém, ociosa ; não vale a pena discuti­la pois
que o Governo, aprovando os Programas de 1838, e mais ainda lou­
vando os Professores que o elaboraram (Portaria de 26 de Outubro
do mesmo ano) {*), sancionou tudo que nos mesmos Programas se es­
tabeleceu.
Referindo­nos ainda a esse documento façamos notar que o Con­
selho Académico, usando dos poderes concedidos pela Reforma, fez IX
passar o estudo da mecânica geral e industrial, da 2.° Cadeira (jt£
muito sobrecarregada com Álgebra, ma aplicação à geometria, cal­ O PRIMEIRO REGULAMENTO DOS ACTOS
cula diferencial e integral), para a 3." Cadeira {Geometria Descri­
tiva) (3).
Mas prossigamos. Em 12 de Setembro de 1838 foi publicado o Edital anunciando
a abertura de matrículas nu Academia Politécnica, o primeiro edital
para matrículas na verdadeira Politécnica:

E D I T A (.

J0X0 BAPTISTA RIBRIIIO, Cmnmendador da Ordem de Christo,


Cavalleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa;
Lente da 4.» Cadeira da Academia Polytechnic* do Porto; Mestre de
Desenho e Pintura de Soas Altezas a? Senhoras Infantas do Portu­
gal, e Director da Academia Polytechnics ria Cidade do Porto etc.
Faço saber que em conformidade dos Art"» 7 e 11 dos Estatutos da
Academia, hão­de a b r i r se ns matriculas para o anno lectivo proximo
no dia 20 do corrente, para nos princípios de Outubro se dar co­
meço ao exercício das différentes Aulas; e por isso todos os estu­
dantes, que se quizerem matricular, me appreaentarao seus reque­
rimentos, munidos rios seguintes documentos: para a matricula da
1« Cadeira — certidão de idade de quatorze anos completos, e cer­
tidão de npprovaçao em leitura, escripta n grammalica portuguesa,
e das qualro operações arithmetics? ; para a 2» cadeira certidão de
acto na 1.» a certidão de exame na lingua Francesa, tuilo conforme
o Programma da Academia feito em sete de Agosto passado; e pa­
garão de propina de matricula em qualquer das Cadeiras da Acade­
mia a quantia de dezenove mil e duzentos reis, sendo metade no
principio do anno, e a outra metade no fim, na forma do Ari." 163
da I,ei da Reforma Litteraria. Além rios onze Cadeiras da Acade­
{') Registo de Of.■ expedidos (O 5), fis I j l , Of. de J. B. Ribeiro «o Conselho mia Polytechnics terão também exercício a Cadeira de Ideologia,
Superior de Init. Public», de 30 de Setembro de 1855. Grammatuta Geral, e Lógica, e as das Línguas Francesa e Inglesa,
(') Anuário de 1879­80, pág. 215. pertencentes ao Lyceu do Porto, e nestas a propina de matricula
(*) Anuário de 1885­86, pig. Î I O , 211. será de nove mil e seiscentos rei*, metade no principio, o metade
no fim do anno: Art. 62 da Lei ria Reforma Lideraria. E para que
208 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS ijoy

chegue á noticia do quem convier, mandei fazer o presente que


§ 1.* — Os exames á porta fechada praticar-se-hão somente nos
assigno. Porto dose de Setembro de 1838 — Eu José Augusto Sal-
casos dos Preparatórios indicados no Programma impresso para o
gado, Secretario da Academia o escrevi — João Baptista Uibtiro,
anno lectivo actual a paginas 6, 8 e 10.
Director Litterario (')
Art. 2." — O affixamento das listas dos Estudantes para faze-
rem actos; a annunciação do dia em que estes deverão começar; a
A-pesar-do que prometia este Edital, a Academia só abriu no declaração do numero de Estudantes que formarão cada turma,
dia 22 de Outubro, como se depreende de mn anúncio, de 16 do quando as houver, e o numero das turmas diárias, sao preliminares
mesmo mês, assinado por João Baptista Ribeiro, pelo qual se tornou que, previamente determinados pelo Conselho Académico, se prati-
público que naquele dia 22, pelas 11 horas da manhã, seria dado carão nas formas usuaes até aqui estabelecidas.
§ 1." — Nestas habilitações tomar-se-ha por Lei que sessenta
início ao ano lectivo de 1838-1839, recitando nesse acto uma Oração
faltas, ainda quando para ellas tenha havido causa grave; ou vinte
Inaugural de abertura o Lente de Física, José de P a r a d a e Silva; faltas sem causa motivada, inhabilitão o Estudante de fazer acto e
no dia imediato principiaria o exercício das Aulas, com o horário inutilisão-lhe a frequência do anno lectivo: seis faltas sem causa
seguinte : grave preterem o Estudante de fazer acto na ordem do aeu numero
— Comércio e Francês, das 8 às 9 e '/» da manhã; da matricula.
§ 2.* — Se o Estudante frequentar somente parte das matérias,
— 1.» e 3.» Cadeira e Manobra, das 9 e Va às 11 da m a n h a ;
que constituem o objecto de ensino d'alguma Cadeira, como fôr de-
— Zoologia, Física e Lógica, das 11 da manhã à meia hora terminado no Programma desse anno, para ficar inhabilitado de fa-
depois do meio dia ; zer acto das referidas matérias será bastante que falte com causa a
— Botânica, Química, Cálculo, Desenho e Inglês, da 7a hora às um terço, e sem causa a um sexto do numero das lições.
2 da tarde (*). Art. 3.' — Os actos serão feitos sobre pontos, tirados á sorte,
vinte e quatro horas antes da hora respectivamente marcada, na pre-
sença do Lente da respectiva Cadeira.,
As aulas iniciamin-se, e foram prosseguindo com regularidade
§ 1." — A 4.* Cadeira, pela natureza das matérias nela insina-
até J u n h o do ano seguinte. das, é excepção desta regra.
Em 15 deste mês o Conselho aprovou o Regulamento para os Art. 4.° — Os pontos terão sido previamente feitos pelos Lentes
actos (9), que veio a ser aprovado e confirmado pelo Governo em das respectivas secções, e authoriBados pelo Conselho Académico.
Decreto de 6 de Novembro de 1839 (*). Estes pontos Berao de tal forma ordenados que em vinte e quatro
horas poderão perfeitamente abranger-se em si e em seus immedia-
Eis o teor desse documento fundamental para a história da vida
tos fundamentos, consequências e applicaçoes praticas.
académica do estabelecimento de que aqui nos ocupamos: § 1.° — Os pontos constarão de uma única sorte. De cada sorte
que sahir em ponto, entregar-se-ha urna copia a cada vogal que assis-
REGULAMENTO tir ao acto, uma a cada Estudante que tiver de fazer acto sobre
PARA os ACTOS DA ACADEMIA POLYTECHNICÁ DA CIDADE DO PORTO,
esse ponto, e uma Bera registada nos Archivos da Academia.
A QUE S E R E F E R E O D E C R E T O DATADO DK H O J E
§ 2.° — SaO julgadas secções para o effeito da approvação dos
pontos e mais disposições deste Regulamento a reunião das Cadeiras
Artigo 1.° — O aproveitamento dos Estudantes nas matérias de seguintes: AB cadeiras 1.*, 2.*, 3.*, 5.*, 6.*, formão a secção de Ma-
cada uma Cadeira que cursarão durante o anno lectivo sera determi- thematica ; as Cadeiras 7.*, 8.*, 9.*, e 10.' formão a secção de Filoso-
nado pela maneira corao se houverem em actos públicos e na forma fia; a 4.* Cadeira e a 11.* formão secções separadas.
maia explicitamente especificada noa artigos abaixo referidos. Art. 5.° — Os actos serão feitos segundo as determinações do §
19 dos Estatutos da antiga Academia de Marinha e Commercio.
I1) Registo de Editais de 1815 a . . . (1 -1) fls. 62 v.o. Nos objectos porem que forem alheios ao ponto não sé esperará do
(') Registo de Editais, 1.0 t., fls. 63. Estudante senão a enunciação de princípios, e não se exigirão de-
(*) O-3, 0«. ;3 v. a 77. A data que damos acima é a que se encontra no fecho monstrações que requerem prévio estudo.
dêsie documento, no cit. livro nu. da Academia. Art. 6.* — Um mesmo bilhete poderá servir de ponto a dous ou
(*) Anuário de 1879-80, pág. 216. maia Estudantes quando, em consequência de circumstancia, como
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 211

no caso de grande numero de Estudantes, o Conselho Académico de- § 1." — O género das obras de concurso será sempre em confor-
terminar a reuniSo de vários Estudantes em uma turma. midade do que se acha estabelecido no Programma de Ensino para
Art. 7.° — Haverá tantas urnas de pontos para cada Cadeira, o mmo lectivo de 1838 para 1839,
quantas as divisões em que se classifieão os Cursos que obrigao á Ksiiis obras devem ser feitas pelos Alumnos, franqueando-lhes para
frequência dessa Cadeira. Os pontos de cada unia serão acommo- HM effeito o tanta ntptetíro os iwodatoi análogos aos fins que se
dados á natureza dos conhecimentos que exige cada divisão. proixwerem seguir na Academia.
§ L° — Entender-se-ha por dirisão de maior qvttUficaçilo aquelta § 2.° — Durante o tempo do concurso o Lente eviíará quanto
cujos alumnos devem ser munidos das matérias ensinadas na res- for possível o auxilio manual a bem das ditas obras; maa fará as
pectiva Cadeira em toda a sua generalidade e seu desenvolvimento: advertências que entender, para assim compensar os seus aj'imnos
divisões de menor ijiuilifirtii-ão são aquellas cujos alumnos eseusão com as vantagens que costumão ter nos actos ou exames oraes -das
de certas matérias e theorias por demasiadamente abstractas, ou por outras disciplinas.
inúteis ao seu destino especial. Art. 14." — Na 5." Cadeira haverá tres divisões: a i . " com-
Art. 8." — A divisão a que pertence o Estudante é declarada na prehende Officines de Marinha.
occasião da matricula; e segundo CBta declaração é que se formula- A 2.* divisão comprehende Engenheiros Geographos e os de
rão as pautas para os actos. Querendo o Estudante mudar de divi- Pontes e Estradas, e o 1.° Curso preparatório para os Officiaes do
são, pode fazei-lo, precedendo despacho do Director, que terá ouvido Exercito,
o Lente respectivo. Não poderá porem passar de Curso que suben- A 3." divisão é a dos Pilotos.
tende menor qualificação para outro que a exige maior, sem de novo A L * divisão tira pontos em Astronomia, Geodesia e Navega-
repetir actos nas matérias antecedentemente estudadas, no rigor d'a- ção; a 2.' em Astronomia e Geodesia; e a 3.* em Astronomia e Na-
quelles que correspondem ás respectivas divisões de maior qualificarão. vegação.
Art. 9." — Na 1." Cadeira haverá duas divisSes, e por tanto duas Na 1." e 2." divisão a duração dos argumentos é de trinta mi-
urnas. nutos; na 3.* é somente de vinte minutos.
A l . * divisïo, de maior qualificação, comprehende os cursos de: § 1.* — Os Alumnos desta Cadeira terão, alem do exame theo-
Engenheiros de todas as espécies ; Officiaes de Marinha ; Directo- rico, um exame de pratica, que constará da descripção e uso dos ins-
res de Fabricas; Pilotos; Preparatórios para os Officiaes do Exercito. trumentos que lhes são respectivos. Os Officiaes de Marinha e os
A 2." divisão, de menor qualificação, comprehende os cursos dos Pilotos serão n'esta occasião interrogados sobre a derrota que tive-
Comerciantes, Agricultures e Artistas. rem feito, conforme lhes tiver sido determinado pelo respectivo
Art. 10." — Nos actos de uma e d'outra divisão haverá dous Lente: e n'esta occasião serão igualmente interrogados os Engenhei-
Lente» arguentes, e será presidente o Lente da respectiva Cadeira; ros Geographos acerca dos trabalhos práticos e os que tiverem tam-
disposição esta que é geral a todos os actos das secções Mathemati- bém sido designados pelo respectivo Lente.
cas e Filosóficas, Nos actos desta 1." Cadeira, na 1." divisão cada Art. 15.° — Na 6." Cadeira os argumentos serão dous, cada um
argumento deverá durar pelo menos trinta minutos ; na 2." divisão dos quais deverá durar trinta minutos.
cada argumento durará pelo menos vinte minutos. 8 1.° — Os exames em Manobra Naval constão de interrogações
Art. 11." — Na 2.' Cadeira haverá duas divisões c duas urnas: e exercícios práticos, sob a direcção do respectivo Mestre, e com assis-
a i . * divisão comprehende os Cursos dos Engenheiro» de todas as es-' (encia dos Lentes da 5.* e f>.* Cadeiras, que, querendo, poderão in-
pecies, Officiais de Marinha, 1.° e 2.* Curso dos preparatórios para terrogar os Examinados. N'estes exames não haverá pontos: assis-
os officiaes do Exercito, Directores de Fabricas. tirão tantos dos discípulos do Curso quantos sejam necessários para
A 2." divisão comprehende o Curso de Pilotos. a manobra do modelo, nSo sendo d'esta assistência dispensados os
A duração dos argumentos é a mesma da 1." Cadeira. mesmos examinados emquanto durarem os exames. Cada examinado
Art. 12.° — Na 3.* Cadeira haverá igualmente duas divisões c mandará n'nm;i serie de manobras, cujas tenções finaes devem-lhe
duas urnas: a 1." divisão comprehende Engenheiros de todas as es- ser previamente indicadas pelo Mestre ou Lentes assistentes; todos
pécies, Officiaes do Exercito, Officiaes de Marinha. tres tem voto sobre o aproveitamento do Estudante. Cada exame
A 2.* divisão comprehende os Directores de Fabricas. durará até que os vogaes julguem que podem fazer juizo sobre os
A duração dos argumentos é a mesma das Cadeiras antecedentes. conhecimentos do examinando. Não poderão comtudo ultrapassar o
Art, 13.° — O aproveitamento dos Alumnos nas disciplinas da espaço de uma hora.
4." Cadeira será determinado pelas provas que de si derem n'um
Concurso Geral.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 213

Art. 16.° —Na 7.' Cadeira haverá tre» divisões; a 1.* abrange
Art. 24." —N'aquellas cadeiras em que se tiverem feito traba-
Engenheiros de Minas, Engenheiros Geographos, e Engenheiros de
lhos graphicos, deverão estes ser apresentados aos Vogaes do acto,
Pontes e Estradas,
para coadjuval-os no conceito que devem formar do aproveitamento
A 2." divisão comprehende: Directores de Fabricas, e os Cursos do Examinado.
preparatórios para os Officiaes Engenheiros e ArtilheiroB.
Art. 25.° — N'este juizo deverá entrar em conta a informação
A 3.* comprehende os Cursos preparatórios para a Escola Me-
vocal dada pelo Lente respectivo previamente ao acto, sobre a fre-
dico-Cirurgica.
quência e signais d'aplicaçflo evidenciados no decurso do anno lectivo.
Era cada divisão os argumentos durarão pelo espaço de vinte
Art. 26.° —Os Estudantes que deixarem de comparecer para
minutos: outro tanto terá lugar na 8.', 9,* e 10.* Cadeiras.
fazerem acto em sua competente vez, não poderão em outra occa-
Art. 17.* — Na 8.* Cadeira haverá duas divisões; a 1." com-
sião fazel-o sem mostrarem cora documentos justificativos, que ti-
prehende: EugenheuroB Geographos, Engenheiros Constructores de
verSo causa legitima que os obrigou á referida falta.
Navios, Engenheiros de Pontes e Estradas, Preparatórios para os
Escusas por falta de saúde, corroboradas do competente docu-
Officiaes Engenheiros do Exercito e os Artilheiros, e Directores de
mento legal, e bem assim as licenças de transferencia de acto para
Fabricas.
Outubro |Kir motivo justificado, devem ser apresentadas antes da
A 2.* divisão comprehende os Pilotos, Agricultores, Artistas e
hora marcada para a tiragem dos pontos. Todos os requerimentos
Preparatório» para Officiaes de Infanteria e Cavallaria.
tendentes a similhantos escusas e licenças, deverão ser dirigidos ao
Art. 18.* — Na 9.* Cadeira haverá duas divisões: a i . * abrange: Director d'Academia que sobre elles resolverá o que fôr de justiça.
os cursos preparatórios para a Escola Medico Cirúrgica, os Artistas,
Art. 27.° - Os vogaes dos actos de cada secção serão os Lentes
Directores de Fabricas.
d'esse mesma secção. Em caw porem de necessidade o Conselho Aca-
A 2.* inclue: os Engenheiros de Minas, Engenheiros Geogra- démico deliberará sobre o que fôr conveniente. Os Vogaes dos exa-
phos, Engenheiros de Pontes e Estradas, Agricultores, os preparató- mes da 4.* Cadeira serão o Lente Proprietário e Substituto da mesma
rios para os Officiaes do Exercito em geral. Cadeira.
Art. 19.* — Na 10.* Cadeira haverá duas divisões; a 1.* com-
Secretaria d'EBtado dos negócios do Reino em 6 de Novembro
prehende: os Agricultores e preparatórios para o Escola Medico-Ci- de 1839. — Julio Ornam da Silva Sanche*. — Está conforme. — Ba-
rurgica. rão tie 'lïlheiros.
A 2.* abrange os; Engenheiros de Minas, Engenheiros Cons-
truetores de Navios, Engenheiros de Pontes e Estradas, Directores
Como se vê deste Regulamento, as onze cadeiras da Academia
de Fabricas e os preparatórios para os Engenheiros do Exercito.
Art. 20.' — Na 11." Cadeira não há divisões. foram agrupadas em quatro secções:
Art. 21.* — Em todos os actos das referidas Cadeiras os votos
serio dados em escrutínio secreto por AA (approvado) e RR (repro- 1 a — Arimética, geometria elementar, trigonometria plana.
vado). Dous RR reprovão e tornão nulla a frequência do Estudante Álgebra alé As equações dn segundo grau;
n'aquele anno lectivo: um R qualifica a approvação de pela maior -' a - Cont. da Algebra, sua aplicação à geometria, cálculo
parte. Nenhum Estudante, na votação sobre cujo acto entrou um diferencial e integral;
R, pode ser premiado nas matérias do acto que fez. MATKMATICA l 3 a - Geometria descritiva e suag aplicaçSea, princípios de
§ 1." — Quando os Vogaes d'um acto conhecerem que o Exami- mecânica;
nado se não acha habilitado para a divisão segundo a qual tirou õ « — Trigonometria esférica e princípios de Astronomia, da
ponto, 'podem conforme fôr de justiça, approval-o n'uma divisão in- Geodesia, Navegação teórica o prática ;
ferior áquella em que propoz examinar-sc. M — Artilharia e táctico Naval, Construções Civis.
Art. 22." — No caso de manifestarem os actos um conceito di- 7.» — História natural doa três reinos da nalureia aplicada às
verso do que se esperava do Estudante, poderá ter logar o recurso de Artes e Ofícios ;
que trata o § 20 dos Estatutos de 29 de julho de 1803, da Academia FILOSOFIA 8a — Física e Mecânica industriais;
Real de Marinha e Commercio. 9.» — Química, Artes Químicas e lavra de minas;
Art. 23.° — O resultado dos actos de cada dia será declarado de- 10.» — Botânica, Agricultura e Economia rural. Veterinária.
pois de se concluírem aquelles que n'esse dia tiverem lugar.
DF.SKNIIO > 4..i — Desenho relativo aos diferentes coisos.
COMÉRCIO i 11.»—Comércio e Economia industrial.
214 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O PRIMEIRO PROGRAMA DOS CURSOS ACADÉMICOS 215

Vè­se também a forma engenhosa como se pretendeu remediar Como se verifica, o número de alunos contados individualmente
o grave inconveniente das mesmas aulas terem de ser frequentadas decrescera ainda, embora muito de leve, em relação ao ano anterior.
por alunos de muito variados graus de ensino: estabeleceram­se em Quanto ã ausência de alunos na 5." cadeira e à escassez na 6.",
cada cadeira tantas divisões quantos os graus de qualificação que a causa — segundo informação dimanada do próprio Conselho Aca­
para cada curso o aluno devia atingir. démico — foi não haver, em consequência da Reforma Literária, estu­
Não havia outra maneira de cumprir o Decreto ! dantes habilitados para frequentarem essas disciplinas. Mas o não
Desde já notaremos que na prática este sistema, o único possí­ ter aumentado o conjunto da população escolar resultava, segundo o
vel, mas já de si defeituoso, veio a ser modificado para pior, por não mesmo Conselho, dos factos já" indicados para o ano lectivo anterior:
se executar o disposto no art 0 8.° do Regulamento, quando determi­ do elevado preço das propinas, e da falta de garantias de colocação
nava que o Estudante na ocasião da matrícula declarasse a divisão a a quem obtivesse o seu diploma na Politécnica.
que pertencia. A matrícula nas cadeiras comuns a diversos cursos Por isso o Relatório final desse ano de 38­39 insistia na neces­
fazia­se indistintamente. 8(5 no fim do ano «os lentos em vista das sidade de providências a tal respeito; E acrescentava : —«0 gravame
notas da frequência dos seus ouvintes, formam duas classes chama­ das matriculem, na/n instituto que tem por fim o ensino das eie'ncias
das divisão de maior qualificação, e divisão dv ntvnov qualificação. industrial's, tio qual concorrem necessariamente classes menos abas­
Os actos feitos na primeira dessas divisões valem para os cursos tadas, na verdade quasi nralvalixa os benéfico» intuitos da sua
superiores, sem se atender aos preparatórios que cada aluno devia criação». O grande número de ouvintes que seguiram, como no ano
ter para se matricular neles; os da segunda divisão servem só para anterior, as diversas cadeiras dos vários cursos, era prova do que o
os outros cursos (')». Conselho afirmava.
Para terminar o presente Capítulo, vejamos agora, examinando
o seguinte quadro, o primeiro resultado da aplicação deste Regula­
mento e o movimento discente da Academia nesse ano lectivo de
1838­1839 ("):
Aluno* Aprovados Alunos distintos Total
Não
Cadeiras culados Nemine Repro­ distintos
por Diacre­ nados menção
cadeiras citer Prémio accessit honrosa cadeiras

1.* 19 . 3 5 1 10 ] 1
2." 7 2 — — 5 o — — 2
3.' 2 2 ■ ­
a
4." 18 3 4 11 2 2
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— — — ■^

5.' » i
%.'(!■'a) 1 .— — — 1 — — — ­ o
7.­a) 37 14 15 — 8 — — — —
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9." 34 10 17 1 6 — — — — 3 3
io.'»; 47 17 21 1 8 3 — — 3 ■ia g
li/ 3 1 — — 2 — — — ­
Total dan 177 59 62 3 53 8 — — 8 1S '>­3
cadeiras
121
«
y.

(') J . M, D E A B R E U , Relatório cil , p i g . 47.


(*) Mapa extraído do Anuário de 79­80, png. Î 5 2 ­ Ï 5 3 .
X

AS PRIMEIRAS DIFICULDADES MATERIAIS


DA NOVA ACADEMIA

Quando, em meados de 1838, o Conselho Académico da Acade-


mia Politécnica do Porto terminou os trabalhos preparatórios para a
elaboração dos programas a vigorar no futuro ano lectivo, imediata-
mente verificou que, no reduzido número de salas que tinham sido
deixadas para i utilização da Academia era absolutamente impossível
instalar todos os Cursos, tanto mais que os exercícios práticos deviam
fazer-se fora das horas marcadas ao ensino das teorias, e que as aulas
de Física, Química e Metalurgia, além de exigirem um loca! parti-
cular, cada uma delas precisava infalivelmente dum gabinete, pelo
menos, para guarda de suas respectivas máquinas, exemplares, etc.
Como dissemos, a Academia de Belas Artes estava instalada a
título provisório, na face oriental do edifício. Ora se essas depen-
dências ficassem desocupadas, já a Politécnica tinha onde estabelecer
os novos cursos. Por isso o Conselho Académico deste Estabeleci-
mento, em 25 de Junho de 1838, oficiou a Joaquim Veloso da Crue,
Administrador Geral do Distrito, pedindo se dignasse ordenar que as
Belas Artes abandonassem imediatamente as salas que ocupavam,
por serem precisas no futuro ano lectivo e ter de se fazer aí deter-
minadas adaptações e arranjos, autorizados por Portaria de 25 de
Outubro do ano transacto, obras essas que só durante as férias se
poderiam executar (1).
Tal pedido não logrou, porém, o êxito desejado. Veloso da
Cruz, sem se negar a coadjuvar os esforços, que classificou de louvá-
veis, do Corpo Docente da Politécnica, observou que, na execução

(') 0-3, fis. 45 v.o e 46. Of. de 25 de Junho de 1838, cil.


218 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADE MIA POLITÉCNICA DO PORTO
AS PRIME IRAS DIFICULDAD E S MATE RIAIS DA NOVA ACADE MIA 219

dos seus deveres de Administrador Geral e dos seus desejos de cida­


Onde ir buscar recursos para comprar não só móveis e utensí­
dão interessado nos progressos da Instrução Pública, tinha de atender
lios para aquelas novas aulas, mas ainda máquinas, instrumentos,
também âs necessidades da Academia de Belas Artes. As razões que
vidros, etc., de que nas ditas aulas se carecia?!
determinaram a instalação provisória deste estabelecimento naquele
O que a Politécnica herdara da antiga Academia de Marinha,
edifício subsistiam ainda; entendia, portanto, que não era possível,
se exceptuarmos alguns bons instrumentos náuticos e a «colecção de
pelo momento, satisfazer à requisição que lhe fora dirigida. E acres­
modelos e estampas para estudo do desenho de figura, de paisagem e
centava : — € Tenho mais a ponderar a V. Ex.a* qne me parece remo­
de ornato» —que era valiosa, — constava apenas do arruinado obser­
verse uma grande parte do obstáculo cansado, logo que seja cons­
vatório, do «navio modelo para os exercícios práticos de aparelho e
truído o tapamento da verba lOfl do Orçamento, com o qual fica
manobra naval», da «biblioteca, que mui pouco avultava em obras
ocas­iâo para se formarem diversos locais independentes sabre si,
importantes para o ensino das ciências» ('), e de alguns móveis. Mas
posto que com uma serventia comum pelo corredor, para neles se
a Politécnica precisava de muito mais material de ensino, e os Gover­
estabelecer o ensino de diversas matérias.*
nos nada lhe davam porque o P oder do Orçamento superava todos os
Concluía asseverando que se estava tratando com muita eficácia outros poderes do E stado. E ra mais forte que todas as leis — dizia
de dar à Academia de Belas Artes um local próprio e que lhe per­ em 1847 no seu discurso de abertura daquele uno lectivo um ilustre
tencesse inteiramente; assim, ainda que a Politécnica não ficasse lente da Academia Politécnica: — «pelo Orçamento M tirou a esta
desde logo convenientemente instalada, faria um pequeno sacrifício academia o sobejo dos prémios que se não conferissem, que, pelo
por algum tempo, em favor de outro E stabelecimento de­ Instrução alvará de 1825, era destinado ao aumento da sua Urraria.' P elo
Pública (1). orçamento c com o fundamento de centralizar os rendimentos do
Conformou­se com este rasoável parecer o Conselho Académico Sktado entram no Tesouro os rendimentos para a construção do
e mandou construir o tapamento a que Veloso da Cruz em seu ofício cilifíciox e vai em catorxe anos (desde 1833, portanto) que nele se
aludia (■). não trabalha » (8).
Resolvida da melhor forma possível a questão das salas, outro
João Baptista Ribeiro, vendo­se forçado a solucionar por qualquer
problema surgia de não menor gravidade.
forma o difícil problema da falta de verba, resolveu audazmente,
Tinham sido criadas de novo, como dissemos, as Cadeiras de
como de costume, as dificuldades. "Realizou as mais urgentes aquisi­
Geometria Descritiva, de Artelharia e Tática Naval, de História
ções com o rendimento das matrículas (3).
Natural, de Física e de Química.
E quando chegou a ocasião de dar contas ao Ministro do em­
Mas a dotação da Politécnica, igual il da Academia de Marinha,
prego dessas importâncias, justificou­se declarando que, se não hou­
era absolutamente insuficiente; o dinheiro destinado para despesas de
vesse feito o que fêz, não teriam podido funcionar algumas das aulas,
material e expediente da E scola, 400$00G rs. pela lei orçamental de
«pois longe de produzirem vantagens, seriam uma quimera, faltando­
31 de Julho de 1839 (3), escassamente chegava para as despesas diá­
­lhes a parte prática » (*).
rias de papel, tinta, drogas, livros e estampas elementares, limpeza e
O Governo aprovou tacitamente este proceder, pelo que João
asseio do E difício e das Aulas.
Baptista Ribeiro continuou a adoptá­lo nos anos seguintes. E como
('( 0­3, fls, 50. Of. de Veloso da Cruz à Câmara Municipal, de 18 de Julho
de 183g. (') José Maria de Abreu, Relatório da IniptCfih extraordinária /titã à Acade­
mia P olytechnka do P orto, em 1864 Lisboa, 1865, pág. 41.
(') lb, fis, 51, ofi de J. B. Rib. a Velozo da Cruz da mesma data.
(*) In Silvestre Ribeiro, ob. cit., tomo VI, pág 174. O orador era Joaquim
(*) O­3, fis. n o , of. do J. B. Ribeiro em 13 de Junho de 1840. A verba dos
Torcato Álvares Ribeira.
40oJooo rs. anuais no tempo da Ac. de Marinha era suficiente, mas as suas despesas
nío »e podiam comparar com as da Politécnica. Id. ib. C) O­3, fls 91 v.o a 92 v.o Of. de J. B. Ribeiro de 6 de Novembro de 183¾.
(*) O­3, fls. 92. Id. Ib.
220 MEMÓRiA HISTÉRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
AS PRIMEIRAS DIFICULDADES MATERIAIS DA NOVA ACADEMIA 221

as Cortes não se resolvessem a votar nos Orçamentos da Academia alunos tinham também de frequentar a Cadeira de Botânica. Até em
as verbas pedidas para a organização dos Gabinetes de Física e de preço devia o terreno convir, visto ser pequena a sua área (').
Zoologia e Laboratório Químico, foi também principalmente à custa Como a primeira, também a Segunda Representação não obteve
das matrículas que êle improvisou um modesto Laboratório ; que resposta !
comprou ou mandou fazer fogões, fornos e outros aprestos, tanto para Tanto num Relatório desse ano (') como no do ano imediato (3),
a aula de Química, como para as de Física e Zoologia; que adquiriu voltou a fazer-se o mesmo pedido. Nada se conseguiu nem se conse-
algumas obras necessárias para a Biblioteca, principalmente das ciên- guiria naqueles tempos mais chegados. E sem Jardim Botânico e sem
cias a cargo das Aulas de Física, Química e Zoologia, etc. (1). um Laboratório Químico digno de tal nome —não falando já da misé-
A cadeira de Botânica é que Baptista Ribeiro não pôde dar o ria dos outros Gabinetes — teve de ir vivendo a Academia.
prometido, e já muito antes projectado, Jardim experimental, para
servir de Escola Prática de Agricultura.
Por isso o Conselho, em 27 de Dezembro de 1837, recorreu a
Rainha, mostrando a necessidade urgente de dotar a Academia com
esse estabelecimento e indicando uma fórmula que cumulativamente
resolveria o problema da conveniente instalação do Laboratório de Dizia respeito também a um assunto importante outra Represen-
Química:— «A Comissão criada por Portaria de 24 de Setembro de tação que o Conselho Académico enviou pela mesma época à Rainha:
1836 — dizia a Representação — já ofereceu a V. Maj.'lp íirn plano
àcèrca dos terrenos que nesta Cidade poderiam servir para um Jar- — «A Academia Polytccnica do Porto, penetrada do maia pro-
dim Botânico, e o respectivo orçamento para a sua organização e fundo respeito, vai por este modo á presença de V. Mag0* Fidelís-
custeio. Diariamente se conhece a falta extrema de um tal estabele- sima suplicar que sejam inchados no Orçamento do proximo futuro
anno económico, os ordenados do Mestre de Aparelho Naval, do Bi-
cimento, e é assaz lamentável que, ao amor decidido que à Química c
bliothecario, de três guardas subalternos e dous serventes, que ficarão
Botânica votam os alunos da Academia, sejam forçados a responder fora do orçamento do corrente ano, porquanto será impossível desem-
os Lentes com livros e estampas que nem sempre podem dar urna penhar as obrigações a cargo desta Academia privando-a daquelles
idéa exacta das produções da natureza. * Estes grandes inconvenien- Empregados que sempre teve ha trinta e cinco anos; e açora pela úl-
tes terminarão se aprouver a V. Maj,'1'' conceder a esta Academia a tima reforma conta mais cinco Aulas, afora os Estabelecimentos ane-
xos, em vez de se lhe augmentarem meios proporcionais para desem-
Cerca do Extinto Convento dos Carmelitas para Jardim Botânico, e
penhar os fins da sua destinação, pelo contrario se pertende dimi-
o Refeitório, Cosi n ha e suas anexas para Laboratório » (*). nui-los com notável detrimento da instrucçao pública tao generosa
Mas foi bradar num deserto. Ninguém atendeu. e proficuamente protegida pelo maternal governo de V. Magestade.
Insistiu o Conselho em nova Representação, enviada a 20 de Ju-
nho de 1838. Aí repetiu os citados argumentos, mostrando que a Deos Guarde a V. Mag'!*
Academia Polytecnica do Porto, 25 de Junho de 1838.
cerca dos Carmelitas, com as casas nela situadas, e quasi inteiramente
(seguem as assignaturas)» (*)
separadas do edifício do Convento, oferecia condições excelentes para
o projectado fim. Quanto a situação não a podia haver melhor, pois
a cerca ficava entre a Academia e a Escola Médico-Cirúrgica, cujos

(') 0-3, fis. 4s.


1*1 O . 3 , fls. $f. De 11 de Dez de 1838. Vid. especi«lmente fls. 61.
(') Id. fls. 109 v.o Of. de J. B. Ribeiro de 1840. l*| Id,, fl 77 v. a 79 De 11 de Agosto de 1839.
(2) Registo de Editais, (l-l) fis. 6 i . Representação de 27 de Dezembro de 1837. n O-3,fls.46 v.o.
222 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO AS PRIMEIRAS DIFICULDADES MATERIAIS DA NOVA ACADEMIA 223

Como se vê, um esquecimento (') privara a Academia de cinco de 1837, comunicava ao Ministro estar para breve a abertura do
empregados do quadro do seu pessoal menor, do Bibliotecário e do novo ano escolar, mas ignorava o que faria o Corpo Académico, can-
Mestre de Manobra Naval ! sado de trabalhar sem que se lhe desse o que lhe era devido: — *na
Uma disciplina estabelecida taxativamente na Lei, ficara sem qualidade de Director deste Estabelecimento, aliás tam rico pelas
preleccionador! E aos funcionários legallssimamcrite providos nos contribuições que, o público paga para a sua dotação, não posso pres-
Beus cargos, o Estado — por esquecimento ! — deixava de lhes pagar ! cindir dr instar com V. Er." para que se sirva prover de remédio,
Parece que, dada a sem-razào de semelhante proceder, a Repre- mandando pagar a estes beneméritos Empregados da Nação, que
sentação do Conselho Académico deveria ter tido imediato despacho tendo a seu cargo a nobre missão de instruir o piíblico, recebem em
favorável. Puro engano ! Só no orçamento de 1830-40 foram nova- recompensa privações qm a decência e dignidade mandam calar!* (1)
mente incluídos os funcionários que nos dois anos anteriores haviam Em 12 do mesmo mês todos os Professores apelaram, em massa,
ficado fora do quadro dos efectivos da Academia (*). para o Visconde de Sá da Bandeira.
João Baptista Ribeiro, Diogo Kopke, António Luiz Soares, An-
À espera que lhes pagassem estiveram também durante muito tónio Rogério Gromicho Couceiro, Manuel Joaquim Pereira da Silva,
tempo todos os Lentes da Politécnica. Acabara o ano lectivo de Luiz Baptista Pinto de Andrade, Dr. António da Costa Paiva, José
1836-37 sem terem recebido a mínima parcela dos seus ordenados. da Cruz Moreira, Joaquim Cardoso Vitória Vila-Nova, Manuel Joa-
Num ofício já aqui citado, João Baptista Ribeiro, em 1 de Setembro quim Duarte e Sousa, Carlos Mac-Carthy da Cunha, António Pinto
de Almeida, Jòâo Baptista Pereira Leal, José António da Natividade,
(') I.í-se no Ari.o 6 l . o do Resumo do Parecer da Comissão de Instrucçâo subscrevem um ofício em que formulam a sua justa reclamaçSo:
Pública sobre o Orçamento (N o I J 4 ) : — «Não obstante a reiterada c mui cficai (!) diligência feita
A c a d e m i a P o l i t é c n i c a do Porto pelo Director Literário desta Academia pgra conseguir que os lentes
Crédito pro- Crédito pedido
posto pela no
e mais empregados recebam os sem ordenados em dinheiro de con-
Comissão Orçamento tconornias tado, ou em títulos admiss/rcis no pagamento dos Décimas, têm sid>>
Secção 1 » baldadas aquelas diligências c esforços; pelo que o Conselho Acadé-
I Director, com gratificação 200(000 mico deliberou unanimemente representar a V. Er.n, como lugar
11 Lente» proprietários a 7 0 0 ( 0 0 0 7 700(000 Tenente de Sua Majestade nas Províncias do Norte, que, achando-se
6 ditos tubstilutoa a 4 0 0 ( 0 0 0 . 2 400(000 por pagar dos seus ordenados há um ano, sofrendo cm consequência
I Secretário 2 511(00.-1
privações que mal se combinam com a justiça, e mesmo ainda com a
I Bibliotecário (que deve ser nm lente
substituto)
decência inerente ao Magistério; além disso sabendo o Conselho que
I00(000
I Guarda-Mór 240(000 agora se apuraram cem contos de réis prorenien/cs da renda de bens
3 Guardas a 1 4 6 ( 0 0 0 438ÍOOO nacionail, cuja quantia é destinada a pagamentos peculiares a esta
Piémios segundo os estatutos 480(000 invicta Cidade; e sendo certo que os Portuenses pagam há trinta e
11.808(000 12 208(000 13 142(000 934ÍOOO quatro anos, um avultadíssimo tributo para com elle se custear toda
Sala da Comissão, 20 de Março de 1838 a despesa desta Academia, os recorrentes, pois, confiando nos princí-
(') O-3. fls. 8 1 , Of- de J. B. Ribeiro de 13 de Setembro de 1839 Advirta-se pios de justiça e eminentes virtudes que caraele.rixam V. E.c,<>, pedem
que em 1839 (9 de Outubro) uma Portaria do Ministério do R e i n o mandos abonar ao
queira mandar pagar-lhes os seus ordenados vencidos, pelo menos até
Mestre de Manobra, por meio de folhas adicionais, o que tivesse vem ido desde o 1.0 de
Janeiro em diante, p o d e n d o , quanto aos meses subsequentes, ser compreendido nas folhas
gerais do Estabelecimento, que ainda não estivessem processadas, com o vencimento a
que tivesse direito. O 4, fls. 54 v.o. (') O-3, fls. 23 v o e 24,
224 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA PO PORTO

o fim de Dexembro, para ficarem igualados com os das Academias


de Lisboa, e evitar-se uma excepção odiosa e menos merecida pelos
recorrentes* (1).
Supomos que este ofício impressionou o espírito recto de Sá da
Bandeira, pois, embora levasse ainda dois ou três meses a chegar a
ordem para se fazerem as folhas dos vencimentos dos Professores e
mais empregados da Academia, essa ordem sempre chegou. Mas as
XI
folhas não foram elaboradas ao gosto da Repartição de Contadoria, e
andaram em viagem do Porto para Lisboa e de Lisboa para o-Pôrto (8),
COMEÇA A GUERRA AOS ' P R E P A R A T Ó R I O S
tantas vezes e gastando nisso tanto tempo, que, segundo cremos, só
MILITARES» DA POLITÉCNICA
em começos de Janeiro de 1839 vieram finalmente a ser pagas !

No Programa de 1838, reproduzido no Capítulo V I I I desta


Memória, aparece coordenada, conforme já fizemos notar, uma série
& Cursos preparatórios para a Escola do Exército. Não se tratava
duma novidade, visto que antigas providências haviam analogamente,
e desde muito, substituído ns Aulas Regimentais dos Corpos Militares
estacionados no Porto, pelos estudos cursados na Academia de Mari-
nha e Comércio da mesma Cidade. Não obstante esse precedente, e
a-pesar também do referido Programa 1er merecido a aprovação
régia, a Secretaria dos Negócios da Guerra, que a ].rincípio autorizara
a concessão de licenças a Militares de guarnição nas províncias do
Norte para a frequência desta Academia, declarou a alguns coman-
dantes de Corpos que este Estabelecimento não tinha a prerrogativa
de preparar estudantes para os Curses da Escola do Exército.
O Conselho Académico não pôde deixar de estranhar essa mu-
dança de opiniões. Julgou-se com sólidos argumentos para protestar.
E assim tez.
A Politécnica ficara gozando de todas as prerrogativas da antiga
Academia de Marinha e Comércio, e esta encontrava-se equiparada
«à Academia de Marinha de Lisboa nas vantagens ou prerrogativas
dos Alunos de ambas as Academias (art.° 26.° dos Estatutos de 1808),
e nesta conformidade eram eles admitidos na Academia de Fortifica-
ção, Artelharia e Desenho juntamente com os Estudantes formados
na Universidade, sem diferença alguma para qualquer dos três Esta-
(') O - j , fls. 24 e v o . belecimentos».
(') O-3, fls. %l vo Of. de Joaquim Veloso da Cruz a J. B. Ribeiro de 3 de «E evidente — dizia o Conselho Académico da Politécnica em
Janeiro de 1839.
sua Representação à Rainha, aos 11 de Agosto de 1839 — que se a
226 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔKTO A A GUERRA AOS « PRKPAR A l ÓRJOS MILITARES» DA POLITÉCNICA 227

Academia de Fortificação não tivesse sido reformada, a Academia Estando o objecto da mesma consulta intimamente ligado com
Politécnica do Porto satisfaria aos preparatórios que se exigiam na a ínstrucçào dos OITiciaes do nosso Exercito, que e um dos fins prin-
cipais da Inslituigão da Escola da minha Direcção, julguei do meu
de Fortificação, porquanto os estudos da Academia de Marinha e
dever em materia de tanla monta ouvir a opinião do Conselho
Comércio ficaram subsistindo, com outros mais que lhe foram tam d'esta Escola, o qual concordou completamente com a opinião que
sabiamente adicionados, e a Academia Politécnica gozando das prer- já d'outra vez tinha emitido a semelhante respeito, e havia feito
rogativas da antiga Academia (art." 163.° da Lei da nova Reforma). chegar ao conhecimento do Governo, em officio que dirigi pela pri-
Ora é verdade — prosseguia a l!<ipn xn/tação — que pela Reforma da meira Direcção em vinte e cinco de Setembro de 1838, sobre um
requerimento de José Maria Tristão, Alferes de Infanteria N.° 14.
Academia de Fortificação aumentaram os preparatórios que se exi-
Como não se trata desla vez de requerimento d'um simples particu-
giam, o que poderia contrariar as mencionadas razões, se os cursos lar, mas sim da proposta d'uma corporação liUeraria, gerei mais ex-
preparatórios mencionados no programa da Academia Politécnica do tenso e mais explicito na minha resposta.
Porto não satisfizessem as exigências da Escola do Exército em que Foi na letra das lei» que instituirão a Escola Polytechnica, a do
foi reformada a Academia de Fortificação.8 Sustentava, porém, o Exercito, e a da Academia do Porto que fundei a minha antecedente
Conselho que tal não acontecia. A instrução que aqui se ministrava informação: é nas mesmas leis, e também nos relatoiioa que aa
precedem, que me fundarei agora para dizer a V, Ex.ci» que não
não tinha diferenças reais (as que existiam eram, afirmava-se, facil-
pode ter logar o que perlende o Conselho da dita Academia-
mente sanáveis) da que era ministrada pela Escola Politécnica, de 0 Relatório do Decreto de onze de Janeiro de 1837 explicou
Lisboa, e não havia disposição alguma na Lei da formação da Escola claramente que a creação da Escola Polytechnica era uma necessi-
do Exército que conferisse aquele Estabelecimento da Capital o exclu- dade geralmente reconhecida para se poder convenientemente con-
sivo de preparar alunos militares ('). cluir a ingtrucção do Exercito e da Marinha; ponderou os inconve-
nientes que haveria em crear uma Escola preparatória para cada
Estes eram os principais argumentos do Conselho Académico na ramo de ínslrucção especial militar, e considerou o plano doa a t u s
representação que, como ficou dito, em 11 de Agosto de 1839 fêz estudos como o gérmen da educação mililar, sem a qual esta ins-
subir até junto da Rainha, pela Secretaria dos Negócios da Guerra, trucção geria incompleta. 0 relatório do Decreto de dose do mesmo
mostrando a necessidade de ser declarado, aos Corpos Militares, mez, que réorganisai a Escola do Exercito, declarou de um modo
bem explicito que não podia ser a mesma Escola radicalmente bem
« que podem as praças, que mais lhes convier, frequentar a Academia
formada, como precisava, em quanto se não créasse uma Escola de
Politécnica do Porto, e aprender nela os preparatórios para entrar na Sciencias Fysicas e Malemalicas, na qual os aluirmos adquirissem to-
Escola do Exército» (1). dos os princípios necessários para poderem entrar, com o indispen-
Recebida pelo citado Ministério, foi a dita representação enviada sável desenvolvimento no estudo da difícil sciencia da Guerra e
à Escola Politécnica para informar. suas vastíssimas applicaçSea; e pelo decurso do mesmo Relatório Be
confirma a creação d'uma tul Escola com a creação da Escola Poly-
A informação, a-pesar-de extensa, vale a pena reproduzi-la, dada
technica. 0 mesmo relatório insistindo na necessidade de instruir
a importância do assunto na história das grandes lutas sustentadas, os OfTiciaes do Exercito concluo affirmando, que pela creação da Es-
durante longos anos, pela Academia do Porto: cola Polytechnica e pela nova organísação da do Exercito, se asse-
gura nos mesmos OfTiciaes um poderoso meio de alcançarem esta
111.™° e Ex.n>° Snr. tão desejada e precisa instrucçãe.
Tenho a honra de aceusar a recepção do officio, que me foi di- O decreto de Irese do mesmo mez, pelo qual foi reorganisada
rigido em vinte oito d'Agosto ultimo pela primeira Direcção d'esse a Academia de Marinha e Commercio do Porto, funda-Be na necessi-
Ministério, para informar sobre uma representação do Conselho dade de plantar no paiz as sciencias induslriaes, que different) muito
d'Academia Polytechnica do Porto, que por esta ocasião devolvo. dos estudos clássicos a puramente seientifleos, e até dos estudos
theoricos, contendo simplesmente a descripçâo daa a r t e s ; indica
depois a mencionada Academia como podendo satisfazer até certo
(') Registo de Ofícios (O-3) fls. 79 v.-8o.
ponto este importante objecto, logo que receba uma organiaação
C) Id. ibidem.
mais conveniente; e finalmente no primeiro artigo do seu regula-
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
COMEÇA. A GUERRA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES» DA POLITÉCNICA 229

mento (art." 155 de um plano de Instrução superior que em outra


parte trata da instrucção militar) diz que o fim especial d'Academia ao ponto de se crearem em ambas ellas Conselhos d'aperfeiçoa-
Polytechnica do Porto é o ensino das sciencias industriaes e é des- mento, aos quais devão concorrer Lentes d'ambos os Estabelecimen-
tinado a formar Engenheiros Civis, Officiaes de Marinha e Pilotos, tos, e Officiaes dos Corpos scientificos; para que nenhuma parte da
Commercíantes, Agricultores, Directores de Fabricas e em geral os Instrucção sejs isolada e deixe de convenientemente concorrer para
Artistas. o fim d'estes Estabelecimentos que é não só facilitar a instrucção aos
É por tanto evidente pela simples letra dos relatórios e decre- Alumnos, mas que esla instrucção seja dirigida para a maior utili-
tos citados, que a Escola Polytechnica, peia natureza da sua insti- dade do serviço do Estado. Esias circunstancias não se dão n'Aca-
tuição e de seus estudos, é destinada para a educação do Exercito; demia Polytechnica, nem se podião dar, porque a sua instituição,
posto que muitíssimo interessante, é d'uma natureza mui différente,
e que a Academia Polytechnica o não é, pela natureza também da
e o seu fim outro completamente.
sua instituição e de seus estudos*
Recorrendo agora a alguns artigos das respectivas Leis, devo O Conselho d'Academia Polylechuíca funda-se nos privilégios
fazer as seguintes ponderações. 0 artigo primeiro de Decreto de que tinha este Estabelecimento, como Academia de Marinha e
onze de Janeiro determina qual é o objecto principal da Escola Po- Commercio: este argumento não colhe, por que não se pode argu-
lytechnica, e OB seus artigos quinto e sétimo marcão os cursos de mentar dentro dos limites da legalidade senão em quanto se observa
estudos pertencentes a cada arma do Exercito Nenhuma das leis o rigor da Lei; ora as leis vigentes são os Decretos de onze, dose e
vigentes sobre esta materia marca outros cursos preparatórios da trese de Janeiro de 1837, e todos estes, como já fica dito, não favo-
Instrucção Militar: são estes pois os cursos legais da instrucção pre- recem a pertenção appresentada pela maioria do Conselho da dita
paratória dos Officiaes do Exercito. Academia Polytechnica.
Os artigos vinte, vinte e dims, e vinte e seis do Decreto de dose Também se funda em princípios de economia para os Alumnos:
de Janeiro determinão qual a habilitação que devem ter os alumnos eu direi a esle respeito, que considerando bem a grande difference
que quiserem seguir os Cursos da Escola do Exercito com destino que ha no preço das matriculas e das cartas, e a maior duração do
para as diversas a r m a s : entre estas habilitações figurão principal- curso que a Academia propõe no seu Programma para os Officiaes
mente os cursos preparatórios. Estes cursos são os da Escola Po- de Infanleria e Cavallaria, posto q.ue imperfeito, pode considerar se
este argumento, como não tendo importância, e não vem a haver
lytechnica, não somente porque as suas doutrinas são do numero
economia senão para os Alumnos, que tenhão as suas famílias mesmo
das que se cnsinão na mesma Escola, mas por que é aqui que se
na Cidade do Porto, cujo numero é insignilicante relativamente ao
ensinão legalmente, pois a Lei determinou que se ensinassem aqui
doa Militares das Províncias do Norte. É também de advertir que
para ura determinado fim, e peto mesmo modo que a lei julgou ne-
nenhum Alumno pode concluir o seu curso d'estudos militares sem
cessário para conseguir este fim. É este o único modo de enten-
vir a Lisboa, e que todos os que sahirem d'Academia Polytechnica
der a Lei da Escola do Exercito, que é clara e claríssima, e não pelo
virão aqui terminar os seus estudos na mesma situação que até
modo em demasia forçado que, perdoe o Conselho d'Academia do
então tiverem tido no Exercito, pois a vantagem de passarem para
Porto, este a quiz entender, e que tende a nada menos do que a
a Escola do Exercito com o posto de Alferes Alumno lhes não pode
admittir em regra, que qualquer homem munido de documentos por
ser conferida, sendo perfeitamente claro e explicito da letra do
onde prove ter estudado onde quer que for, doutrinas análogas ás
artigo trinta e seis do Decreto de dose de Janeiro, que esta vanta-
da Escola Polytechnica possa matricular-se na Escola do Exercito,
gem só pertence aos Alumnos da Escola do Exercito que tiverem
como se fora Alumno da Escola Polytechnica; o que, como V. Ex LÍa coucluido na Escola Po.ylechniea os respectivos cursos de estudos
sabe perfeitamente, seria ura grande absurdo preparatórios para os corpos scientificos
N'esta doutrina que estou advogando nada ha por ultimo que
seja novo n'este nosso mesmo pai/.. Resta-me dizer agora alguma cousa sobre a comparação dos
É pois evidente que depois da publicação dos Decretos de onze Estudos na Escola Polytechnica, e n'Acudemia do Porto.
e dose de Janeiro, decretos que não foram derogados, nem o podião É hoje perfeitamente reconhecido quo nenhum passo pode
ser pelo do immediato dia trese, não ha em Portugal um curso le- dar-se com segurança nos Estudos d'applicaçâo doa corpos scienli-
gal de instrução militar senão o que se apprende nas Escolas Poly- ficos, e nos multiplicados e importantes trabalhos a que estes são
technica e do Exercito, e muito fácil é ver como estas duas Escolas destinados, se os indivíduos que aspirão ao serviço d'estes mesmos
estão organisadas uniformemente, e de modo a tenderem o maia corpos não tiverem feito um profundo estudo das sciencias fysicas
intimamente possível para os fins da sua instituição; cfiegando-se e mathemalicas. Foi sem duvida alguma em consequência d'esté
principio que a Lei da Escola Polytechnica estabeleceu o aeu curso
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO COMEÇA A GUERRA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES» DA POLITÉCNICA 231

do Estudos, Ali se dá com efTeito ao estudo d'estas sciencias o O ensino da Fysica e da Chymica não segue ali o mesmo excel-
desenvolvimento e >igor que ellas demandão; outro tanto se pode lente syslenia ordenado para a Escola Polytechnica. No terceiro
dizer das sciencias chymicas, naturaes e económicas e arte de anno da Escola Polytechnica estuda-se a Mechanica no seu maior
desenho, não se gastando todavia em tudo isto senão o tempo desenvolvimento seientifico, como é realmente necessário, e alta-
absolutamente indispensável mente reclamado pela experiência; aprendem se os cursos desen-
Os conhecimentos que se ensioão n'Academia Polytechnics do volvidos de Fysica e Chymica que os Alumnos pelos seus estudos do
Porto achão se designados no artigo do Decreto de trese de Janeiro anno antecedente estão perfeitamente em estado de seguir com todo
sob o numero cento e cincoenla e sete. I)a comparação dos simples o aproveitamenh : e estuda-se a Botânica, que os alumnos, tendo jâ
enunciados dos Estudos da Escola Polytechnica e d'Academia Poly- estudado o Curso de Introducção e a Chymica elementar, estão no
technica se conhece facilmente a dilîerença que existe entre os caso de poderem vencer n'um anno em que estudão tão difficeis
dous Estabelecimentos: em um estudão se as sciencias em lodo o matérias.
rigor das theories, empregando-as depois nas suns applicaçSes mais 0 terceiro anno d'Academia do Porto e organisado d'outro
geraes; no outro não se estuda das sciencias senão o indispensável modo; o estudo da Mechanica é menos vasto, tanto assim porque
para a educação industrial. Para exemplificar, passo a comparar o o determina o Lei, como por se gastar uma grande parte do anno
curso d'Engenheiios Militares da Escola Polyteclinica com o curso na Geometria Descriptiva e applicações que rigorosamente se hão
idêntico offerecido no programma publicado pela Academia em 1838. de aprender na Escola do Exercito. Jà fica dito o que há a dizer
No primeiro anno da Escola Polytechnica reunirão-se todos os sobre o ensino da Chymica que faz parte d'esté mesmo anno.
conhecimentos malhcmaticos necessários para os Offlciaes dos 0 quarto ano da Escola Polytechnica Ipara o Estado Maior e
Corpos não scientiftcos, e uma introducção à historia natural dus Engenheiros! está organisado de maneira que se adquirão mui vas-
três reinos, que encerra o que elles precisão saber d'esla sorle de tos conhecimentos na Astronomia e Geodesia, e graças ao modo
doutrinas. Este mesmo anno, que é commum aos Estudantes todos por que os alunos tem sido educados desde o principio do curso,
da Escola, serve para preparar convenientemente aquelles que vão poderão elles vencer juntamente com este estudo, o estudo da
entrar nos profundos Estudos das Mathematicas superiores e das Mineralogia, Ceologia, e princípios de Métallurgie, e aprender a
sciencias filosóficas. E não se diga que o curso de Introducção a Economia Politica e princípios de Direito Administrativo e Commercial,
Historia Natural é inutil, púia não tem aqueles Offlciaes nutra occa- 0 correspondente anno d'Academia do Porto parece demasiado
sião de aprenderem durante os seus estudos, as matérias do mesmo carregado para quem ainda não tem a mais leve noção das sciencias
curso; e para os Alumnos dos Corpos Scientiftcos è um utilíssimo Naturaes, ou então as différentes doutrinas do ano se hão de estu-
preparatório para os estudos subsequentes das sciencias naturaes. dar sem o preciso desenvolvimento: tanto quanto se podo avaliar
0 primeiro ano d'Academia do Porto não eslA assim organi- do programma, o rsludo d'Aslronomta, por exemplo, é essencial-
s a i t : falia Hie a Geometria Algébrica, a Trigonometria Esférica, e mente destinado ou indispensável para o estudo da navegação e
o Curso de Introducção á Historia Natural. conhecimento mais elementares da Geodesia
No segundo ano da Escola Polytechnica estuda se com o maior É agora fácil de ver que, empregando-se quatro annos no Curso
desenvolvimento quanto é necessário da Analise e do Calculo mais d'Academia do Porto para Engenharia Militar, não aprende o estu-
Sublime para o estudo profundo da Mechanica, da Astronomia-, dante a Economia Politica a que é obrigado; não traz noções algu-
Geodesía e para a Fysica Mathematical e estuda-se da Fysica e dá mas de Zoologia, e vem necessariamente menos forte em conheci-
Chymica cursos completos, mas elementares, que são para algumas mentos theoricos do Fysica e de Mathematics; sendo lambem para
classes de alumnos o que elles precisão aprender n'estas sciencias, observar, que segundo a distribuição do trabalho do Regenho nos
e preparão os Estudantes que no seguinte anno devem passar ao dous Estabelecimentos, deve t e r s e aproveitado mais no de Lisboa.
terceiro para o maia elevado destas sciencias e suas applicaçSes- E preciso observar igualmente que os Alumnos que se destinam
No segundo anno d'Academia Polytechnica não se segue o para a Infanteria e Cavallaría não estudavão a Geometria Algébrica
mesmo sistema: o programma não deixa ver claramente o que se e Trigonometria Esférica, nem noç3es algumas de Historia Natural,
ensina de Mathematica, mas é verdade que falta o Calculo das Pro- apesar de haverem gasto um anno mais que em Lisboa.
babilidades; não se ensina a Fysica Mathematica, nem de certo se O desenvolvimento dos programmas da Escola Polytechnica,
podia ensinar, estudando-se esta sciencia no mesmo anno em que que tenho enviado para essa Secretaria d'Eslado, e que brevemente
se vão aprendendo os conhecimentos malhematïcos, que para remellerei a V. Ex. d » pelo que pertence ao anno lectivo que vai
grande parte d'esté estudo são absolutamente indispensáveis. começar, mostra em toda a evidencia, e em todo o detalhe como a
232 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO COMEÇA A GUERRA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES» DA POLITÉCNICA 233

instrucção n'esta Escola é vasta, necessária e bem ordenada. Os fundamentos das allegações do Director da Escola Poly-
Parece por tanto claramente provado, que os cursos d'Academia technica redusem-se a dous pontos principaes : l.o que a Escola
do Porto não satisfasem aos fins que o Governo de Sua Magestade Polytechnica é o único Estabelecimento legalmente authorisado
teve presentes na organisacão dos Cursos de instrucção militar. para preparar Alumnos para a Escola do Exercito. 2 o que ainda
Poderia agora entrar na analyse de uma questão extremamente quando o não fora, a discrepância entre a soma das matérias qua
importante, qual é da conveniência ou não conveniência de ser dada se ensinão na Escola Polytechnica e aquelas que se professao na
a instrucção preparatória para os estudos d'applicaçao do Exercito Academia Polytecnica, inhabilitarião a esta ultima de alcançar um
e d'outras profissões do serviço do Estado em um único Estabeleci- tal intento. A especiosidade d'estes argumentos não será difficil
mento; mos depois do que deixo expendido parece-me desnecessá- apontar.
rio entrar agora n'esta indagação, que me levaria longe, e julgo por È claro que toda a divergência de opiniões entre os dous
tanto escusado tomar com este assumpto mais tempo a V. Ex.ci*. Estabelecimentos procede de ideas que disem respeito a Oligar-
Antes de terminar este officio devo declarar a V- Ex. c ' a que chias liderarias, e monopolio de conhecimentos. Os conhecimentos
tanto eu, como os outros Membros do Conselho d'esta Escola, faie- são cosmopolites, e a Academia Polytechnics de bom grado adopta
mos os maia puros votos pela prosperidade d'Academia Polytechnic» por seu esse absurdo, esse principio proscripto na Escola Poly-
do Porto; que damos áquelle interessante e util Estabelecimento technica, e voluntariamente arimilte em regra q"e qualquer homem
toda a importância que lhe é devida, e que respeitamos completa- munido de documentos por onde prure ter estudado onde quer que
mente a Corporação a quem a sua instrucção está confiada; mas for (salvas as excepções da Lei) doutrinas análogas ás do qualquer
temos para nós igualmente que é preciso respeitar a indole d é c a d a Estabelecimento preparatório possa matricnlar-se em outro Estabe-
Escola, e não a desviar dos fins da sua instituição lecimento que exige o prévio conhecimento d'essas matérias.
O Legislador nos Decretos de onze, dose e trese de Janeiro de
Deos Guarde a V. Ex. d *. Escola Polytechnica 21 de Setembro
1837 tratou, não de crear Instituições que legalmente possuíssem o
de 1839 — Ill.mo e Ex »o Snr Barão da Ribeira de Sabrosa — José
exclusivo da Sciencia, mas sim de instituir meios que divulgassem
Feliciano da Silva Coita, Director da Escola Polytechnica (')
os conhecimentos; assim aquelles que são essenciaes para a ins-
trucção das classes militares, como aquelles que impelem o pro-
Ouvimos o bem deduzido discurso, na realidade impressionante, gresso das artes, da vida e da civillsaçâo.
do adrogado da acusação. Nunca pôde ser nem foi seu intento limitar a consideração de
Ouçamos agora a defesa. homens instruídos aquelles que sahissem d'esta ou d'aquella Aca-
demia, e avisadamente se absteve de tal enunciar em artigo algum
Nâo deixa de ter interesse vêr a habilidade e os argumentos
dos três mencionados Decretos. Consultemos a lei a respeito do
com que ela procura rebater as alegações do antagonista. nosso caso particular, e ahi acharemos que os conhecimentos exi-
Perdôe-ge-nos também reproduzir integralmente essa longa e ver- gidos como curso preparatório para a Escola do Exercito são
dadeiramente curiosa peça do processo: mas perderia muito do seu (Artigo vinte de sua creaçãol as disciplinas especificadas no Artigo
valor se a resumíssemos : sexto do Decreto da creação da Escola Pollytechnica, que nenhuma
palavra indica ahi devão sér exclusivamente estudadas. Assim
III.mo e Ex mo Snr.
caduca sem esforço todo e qualquer argumento fundado na letra
O Conselho da Academia Polytechnica do Porto, a quem V. Ex.» da Lei contra a pertenção d'Academia.
mandou transmittir a informação do Director da Escola Polytechnica Esta clara interpretação da Lei foi já reconhecida em pratica
de Lisboa, que pertpnde invalidar as rascSes em que esta Academia pela mesma Escola do Exercito, embora em theoria a ella repugne.
t e fundou para rogar a Sua Magestade Houvesse por bem declarar Se a Letra da Lei se oppõe a que todo outro qualquer Estsbeci-
que os cursos n'ella convenientemente ordenados se julgassem menlo luterano, que não seja a Escola Polytechnica, forme Alum-
sumeientes preparatórios para a frequência da Escola do Exercito nos para a Escola do Exercito, como é que n'esta ultima so tem
tendo procedido ao mais deliberado exame dos argumentos que se admittido os Rachareis Formados em Mathematics pela Universidade
produaem em contrario, não acha motivo para rescindir um só de Coimbra?!
ponto do seu pedido. tiesla por tanto agredir o argumento da discrepância entre a
somma das matérias ensinadas em correspondentes cursos dos dous
Estabelecimentos litleraríos.
{') (0-3) fis. 8í v.o a 87.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
COMEÇA A OUKRSA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES» DA POLITÉCNICA 23E

É verdade intuitiva que a Escola e a Academia tem cada uma


as theorias mais elevadas e as applicaçoes necessárias, em quanto
sua indole particular, mas esta particularidade não tolhe a que mu-
que aquellas cujos destinos na sociedade, como Artistas por exem-
tuamente se assemelhem n'aquellas feições geraes, cujo deaenvol-
plo, não precisão senão das ultimas, a ellas somente se dedicão.
vimenlo é o essencial preparatório para toda e qualquet explicita
Todo o programa d'Academia dá indícios evidentes d'este systems.
applicação. As sciencias exactas e naturaes, ou professadas em
Em todo este ensino não é indispensável que a distribuição
theorias transcendentes, ou applicadas ás necessidades das artes mu-
das disciplinas pelos diversos annos de estudo seja exactamente a
tuamente se entrelação e se dão as mãos; e affoulamente o dise-
mesma em Lisboa como no Porto; basta que no fim dos cursos
moe, que todos os preparatórios (com a singela excepção que abaixo
trilhão os respectivos Atumnos iguais conhecimentos Só o tempo
indicaremos) que se exigem para o perfeito desenvolvimento do
Militar na Escola de applicação do Exercito, são essenciaes ao escla- i' que poderá indicar as vantagens li'uiria ou d'oulra ordem de ma-
recido proficiente das Artes Industrias». térias; e quando os Discípulos d'esla Academia tiverem occasião de
hombrear com os Alumnos da Escola Polytechnica, conhecer se ha
As applicaçoes das theorias são a verdadeira sciencia das scien-
a vantagem d'esle ou d'aqoelle outro system».
cias, e não o abstracto desenvolvimento das mesmas. Esta mesma
Procedendo porem a uma mais restrict» comparação daquellas
doutrina se acha consignada DOS Decretos mencionados, e por ella,
mesmas Cadeiras, a que allude o Director da Escola Pilylecbnica
e não por denominações e relatórios, é que se deve julgar da ex-
em sua informação, ver-se-ha que as apparentes objeeçSes contra a
tensão do ensino que cada Estabelecimento admitle. A Escola Po-
Academia Polytechnic», se reduzem a nenhum valor.
lytechnics (destinada aos preparatórios dos Militares) ocupa-se na
Biz-se que no primeiro anno falta a Geometria Algébrica, a
instruecão de Engenheiros civis, um dos objectos apparentements
Trigonometria Esférica, e o curso de introditeçãn à Historia Natural.
exclusivos d'Academia Polytechnica. A Academia Polytechnica do
Na primeira cadeira da Escola Polytechnica dá-se somente a intro-
Porto, destinada ao ensino das scienciaa i n d u s t r i e s , é obrigada
ducção á Geomelria Algébrica, e esta mesma inlroducção se deu
pela lei à formação de Officiaes de Marinha, objecto para o qual de-
n'esta Academia, porque era indispensável para o conhecimento
vem concorrer a Escola Polytechnica e a Escola Naval.
exacto da Trigonometria Rectilínea.
Outros iguais raciocínios se poderiam faser em quanto a Archi-
Não se deu a Trigonometria Espherica porque o Conselho Aca-
tecturas Civil e Naval, ensinadas simultaneamente na Escola do
démico julgou mais conveniente ílal a quanto tratasse do ensino de
Exercito, e nas Academias de lie lias-Aries,
analyse ás três dimensões, onde Francoeur (autor que ae adoptou
Eis aqui por onde julgamos se deve interpretar, tornamos a di-
para compendio na Segunda Cadeira) a ensina
iel-0, as forças instruetivas de cada Estabelecimento; eis aqui por
Em quanto á introdução da Historia Natural já o Conselho
onde foi legalmente forçoso á Academia Polytechnica sahir das atlri-
Académico na representação que dirigiu a Sua Magestade em onse
buições de sua denominação; e eis aqui por onde se guiou na for-
d'Agosto, apontou que precedia o estudo de cada uni dos 1res Rei-
mação do seu program ma, não confiando n'essa sua denominação ex-
nos, de forma que a indicada falta é suppositicia.
clusiva de Industrial, não confiando no fraseado d'um relatório, mas
Allega-se mais que no segundo anno falta o Calculo das Proba-
sim examinando o theor da Lei de sua instituição, em seus porme-
nores, em seu espirito, e em seu exigido desenvolvimento. Desta bilidades, e que se não ensina a Fysica Mathematira. 0 Conselho
sorte é fácil de ver que, em quanto que na coordenação de seus d'Academia Polytechnica não fez menção do Calculo das Probabili-
cursos, e das matérias de cada cadeira, a Academia Polytechnica dades no seu programma, porque fazendo este parte do Capitulo
teve de atender á educação industrial; foi-lhe igualmente neces- primeiro do Livro quinlo das Mathematicas Puras de Francoeur,
sário estabelecer cursos em applicação a Engenheiros e Officiaes julgou ocioso copiar o índice da obra que adoptava por Compendio,
de Marinha, em que estudassem as Scioncias Mathcmalicas e Filo- e quando M disse que a Algebra Trancendente se ensinava na
sóficas com toda a extensão e ri^or das theorias; e com quanto Segunda Cadeira, se quiz indicar que se ensinavam todas as mate-
pareça difficil uma tal combinação, lisongea-se a Academia que a rius encerrados no livro quinto de Francoeur. O calculo das Pro-
approvação da Coroa lhe dá direito a que seus esforços n'este ponto babilidades, entre outros, foi por tanto ensinado, e varias forão as
não forão nugatorios. applicaçfles que d'elle fez o respectivo Lente para obier que seus
aluninos entrassem bem no espirito do methodo, e pode o Conselho
Ensinadas as theorias em todo o seu desenvolvimento por uma
affirmer a V. Ex.» que era impossível ensinar-se mais calculo e com
parte, e havendo diárias e minuciosas applicaçBes das mesmas As
mais aproveitamento.
artes nos gabinetes e laboratórios sob a presidência doa Lentes Su-
A Fysica deu-se pela obra do Senhor Mousinho d'Albuquerque-,
bstitutos, demonstradores natos, é fácil a umas classes adquirirem
que toda explicou o Lente respectivo, não omitlindo o profundo
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO COMEÇA A GUERRA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES. DA POLITÉCNICA 237

estudo das theorias mais devadas, as quais reservou para o fim do tas ideas são uma introdução essencial ao estudo da Geognosia,
anuo quando os Alumnos linhãn os necessários conhecimentos. No que era impossível encetar sem esta preparação; e isto mesmo ex-
terceiro anno ensinou-se toda a Mechamca de Francoeur e desen- pos o Conselho Académico a V. Ex.ci» em sua representação de
volverão se todas as theorias que se julgarão necessárias para que onze d'Agoslo passado. Em quanto à economia do tempo que
Ob Alumnos ficassem com os sufflcientes conhecimentos d'esté se allega na comparação dos cursos preparatórios de Infanteria e
ramo das Mathematicas. Lagrange, Prony, Poisson e outros não Cavallaria, é verdade que n'Academia Polytechnica gastão os alum-
ficarão desconhecidos aos Estudantes da terceira cadeira: é por nos mais um annn do que na Escola, porque estudão a Fyfica e Chy-
tanto menos exacto o que a este respeito se allega na informação mica com toda a extensão, n que é longe de lhes ser desnecessário.
do Director da Escota Polytechnica. Esta extensão de tempo é Ioda em proveito dos Alumnos, maa se
Em quanto a quinta Cadeira não ha difficuldade em conceder isto que se julga um seu beneficio, for declarado um seu prejuiso, o
que ela ae acha sobre carregada de matérias, mas este peso recahe Conselho não tem objecção em reduzir a um único ano este curso
em trabalho sobre o Lente da Cadeira, e não deduz prejuiao ao preparatório; do mesmo modo não tem o Conselho objecção em ins-
estudante na tenuidade ou superficialidade das matérias ensinadas. tituir uma apropriada introducção á Historia Natural dos 1res Reinos
Do programa è claro de vêr que esta Cadeira encerra por assim para oa Alumnos d'esté curso preparatório quando elles se apresen-
dizer dous cursos distintos, que reunidos formão um terceiro, e tarem para o seguir, no que proveitosamente pode empregar-se um
que em certa epocha do anno marchão simultaneamente. Assim Substituto d'Academia
vemos que a Engenheiros, Officines de Marinha e Pilotos se exige a Quanto à falta de Trigonometria Esférica é esta real, porque o
frequência ria Astronomia; nos primeiros a Geodesia, sem H Nave- Conselho Académico julgou e jutga inutil o estudo d'uma materia,
gação, aos últimos a Navegação sem a Geodesia; aos segundos da qual não vê a imediata applicação aos destinos especiaea d'essa
uma e outra. 0 argumento do pouco desenvolvimento emquanto classe de Alumnos.
às Sciencias Naturaes, que devão ter os Alumnos da Academia,
A única objecção que parece ri'algum peso é a falia de Econo-
quando entrão no estudo das matérias da quinta Cadeira, confessa
mia Politica, mas do modo npontado na Representação do Conselho
o Conselho Académico, com seu programma presente, não poder
a Sua Magestade em onze de Agosto passado, em nada influe sobre
entender, nem pode elle perceber quaes são essas Sciencias Natu-
o progresso dos Alumnos na Escola do Exercito, podendo elles ma-
raes requisitas com que seus Alumnos não venhão preparados para
lricular-se n'esta como voluntários no primeiro anno, e estudarem
ella.
simultaneamente a Ecocomia Politica com as matérias d'esse pri-
A igual valor se reduz a interpretação do Artigo trinta e seia meiro anno.
da Instituição da Escola do Exercito, em quanto ao privilegio de Al- Em quanto à maior economia de meios pecuniários na frequên-
feres Alumnos concedido aos estudantes, que tendo o curso pre- cia da Escola Polytechnica em Lisboa do que n'esta Academia, o
paratório da Escola Polytechnica se matricularem como ordiná- Conselho Académico gostosamente referira isto ao juiso particular
rios na Escola do Exercito. Igual disposição attende os Alumnos dos interessados que em breve espaço decidiriâo por suas matricu-
d'Academia Polytechnica, quo sahindo d'ella se matricularem na las a questão.
mesma Escola, que d'outra forma seria illusoria a interpetracão do
Terminará o Conselho Académico esta jà prolongada resposta
Artigo cento e sessenta e quatro da Lei da Nova Ueforuia Lille*'
com uma referencia plena a seu programma, e com os seus since-
raria. Sistematicamente se anexarão semelhantes privilégios a
ros votos pela prosperidade da Escola Polytechnica, cuja já reconhe-
cada um dos Estabelecimentos Litlerarios de Instrucção superior.
cida utilidade não pretende nem levemente offuscar, na sustenta-
A Universidade de Coimbra tem o seu no Artigo cento e oito.
ção do que esta Academia julga seus justos direitos.
Também nada colhe o argumento da existência e composição
do Conselho d'aperfeiçoamenlo da Escola Polytechnics. Com iguais
Deos Guarde a V. Ex. cia - — Academia Polytechnica onze d*Ou-
e talvez superiores forças em relação a seus melhoramentos exigi-
tubro de 1839 — ni.mo e Ex ™« Barão da Ribeira de Sabrosa- — (ae-
dos, se acha o Conselho d'Academia Polytechnica, e nella, sempre
guem-se as assinaturas do Conselho)» (').
attenta á marcha progressiva das Sciencias, dócil às lições da expe-
riência, achar-se-ha toda a proinplidão em alterar seus programmas
segundo as necessidades ^cientificas do dia.
Não é exacto o que se aponta sobre a falta de ideas de Zoolo-
gia no curso preparatório para os Engenheiros Militares, porque es- Cl (O-j), fis. 87 v.o a Ql vo
238 MEMÓRIA HISTÓH1CA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
COMEÇA A GUERRA AOS «PREPARATÓRIOS MILITARES. DA POLITÉCNICA 239

Findas as alegações... o Júri reuniu para deliberar. alunos que frequentaram a antiga Academia de Fortificação, tinham
A sentença foi proferida, e em 21 do mesmo mês comunicada seguido os cursos preparatório» na Academia do Porto, e quando a
ao A.: — nesBa data o Ministro da Guerra oficiou ao Director da esta se lhe extorquiu tal prerrogativa, de que ela sempre gozou, e
Academia Politécnica, dizendo ter sido resolvido que 09 militares, qm Uie ê confiscada pela Lei da nora Reforma Literária, alguns
cujos requerimentos estavam afectos ao Governo sobre o objecto militares nela matriculados deixaram os estudos sem que até agora
da discussão, poderiam frequentar a Academia, mas que esta devia conste terem-se matriculado na Kscola Politécnica; outros, no acto
representar às Cortes a solicitar a precisa alteração nas Leis vigentes, de requerer licenças para estudar, declararam que só lhes convinha
a-fim-de naquele estabelecimento de ensino se estabelecerem os Cursos frequentar no Porto; e outros finalmente a quem só foi permitida c
que legalmente habilitassem os Alunos Militares a passar à Escola frequência em Lisboa desistiram dns licenças, ficando assim bastante,
do Exército., militares privados da instrução que pretendiam e poderiam obter.*
Isto representava a afirmação tácita de que os cursos da Aca- Porque recusar — insistia o Relatório — à Academia Politécnica
demia eram deficientes para aquele fim . . , a prerrogativa de que fruíra a de Marinha e Comércio, se, « compa-
A Academia, porém, não concordou, como se vê pelo Relatório rando com imparcialidade os cursos preparatórios da Escola Poli-
e Projecto de Lei (1) que logo começou a preparar, e dos quais em técnica com os que apresentou no citado Programa a Academia Poli-
24 de Janeiro de 1840 enviou uma cópia a Passos Manuel, não só técnica, se vê que eles abrangem as mesmas disciplinas, havendo
por este ter «muito a peito o aumento da Instrução», mas também apenas alguma diferença e pequena na sua distribuição pelos diversos
e principalmente por haver sido êle o Instituidor da Academia, cir- anos dos cursos?» Faltava é certo na Academia a Cadeira de
cunstância que lhe dava o dever moral de « promover o seu engran- Economia Política e Direito Administrativo, mas isso remediar-se-ia
decimento e dignidade. » com a aprovação do art." 2.° e seus parágrafos do Projecto de Lei
O extenso Relatório, a que acabamoB de aludir, começava por que juntamente apresentavam, e que integralmente rezava assim :
mostrar um tanto prolixamente a necessidade da instrução científica
dos oficiais do exército, para concluir pela vantagem de facultar a I» fí o .1 li C T 0 I» E I. K I
todos os militares não apenas os cursos da Escola Politécnica, mas
também os da Universidade, da Academia Politécnica, e até «de Artigo 1 » — Os cursos preparatórios para admissão na Escola
do Exercito também poderão ser estudados na Academia Polytech-
outros estabelecimentos científicos, onde » as ciências físico-químicas
nics do Porto.
fossem ensinadas — caso os houvesse ! Argumentava ainda a Aca-
§ l.° — As disciplinas que devem constituir cada um dos cur-
demia que o negarem-lhe o direito a ter os ditos cursos preparatórios sos preparatórios para a Escola do Exercito serão de tal modo colo-
era ofender injustamente os militares da guarnição do Porto, e con- cadas pelo Consetho Académico nos diversos annos lectivos, que os
trariar até o espírito de outras leis vigentes : — « A falta du Aula alumnos no fim de seus respectivos cursos tonhão adquirido todoa
os conhecimentos que a I.ei exige para a admissão na dita Escola
de Matemática no 3." Regimento de Artelharia de quartel nesta
do Exercito.
cidade, quando esta Aula é concedida a todos os outros Regimentos
§ 2.° — 0 Conselho Académico na organisação de seus program-
da mesma Arma, prova hem claramente que a nossa maneira de mas terá muito em vista todas as alterações que legalmente se fize-
entender a Lei se conforma com a intenção do Legislador. » rem no numero e desenvolvimento das disciplinas que constituem
E que resultara da negação desse tão discutido direito, ou — o os cursos preparatórios para a Escola do Exercito, a fim de que os
alumnos que tenhlo estudado na Academia Polytechnica possão en-
que equivale ao mesmo — da negação das licenças aos militares para
trar na Escola do Exercito com todos os conhecimentos legal-
frequentarem esses cursos ? O pior possível ! « Talvez metade dos mente exigidos.

(') O-J, flí, 99 t 104.


(') 0-3, Us. 98 e v.o Of. de J. B. Ribeiro de z 4 de Janeiro de 1840.
240 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Artigo 2.° — Os alumnos que estudarem os cursos preparatórios


de Officines de Engenheria e do Estado Maior na Academia Poly-
technica completarão estes cursos estudando a Economia Politica e
Direito Commercial e Administrativo na oitava cadeira do Lyceo
do Porto.
§ único. — Em quanto não fòr provida a cilada oitava Cadeira
do Lyceo do Porto, será permitido aos Alumnos da Academia Poly-
technica malricular-se no primeiro anno da Escola do Exercito como
Ordinários sem o Exame de Economia Politica, Direito Administra-
tivo e Commercial nos Cursos em que se exigir o referido exame, XII
ficando obrigados a apresentar certidão de matricula na decima Ca-
deira da Escola Polytechnics, ou logo no primeiro anno, ou quando O FALAZ DECRETO DE 20 DE SETEMBRO DE 1844
mais conveniente o julgar o Conselho da dita Escola do Exercito,
E AS ASPIRAÇÕES DA ACADEMIA
não sendo por isso prejudicados seus interesses particulares.
Artigo 3 ° — Os alumnos que tiverem completado com aprovei-
tamento na Academia Polytechnica algum dos curBos preparatórios
para a admissão na Escola do Exercito, gosarão de todas as vanta- As reclamações feitas repetidamente a quem de direito pelo
gens e prerogatives que pelo artigo trinta e seis do Decreto de dose Conselho Académico da desprezada e infeliz Politécnica do Porto,
de Janeiro de 1837 para a Escola do Exercito, são concedidas aos para que fossem decretadas algumas das providências de que ela
que çompletão com aproveitamento algum dos referidos cursos na mais urgentemente carecia, foram-se acumulando até 1843 sem que
Escota Polytechnica, como se as disposições do referido artigo fos- surgisse um Governo disposto a atendê-las.
sem também litteralmeote applicadas aos alumnos que os frequen-
tão na Academia Polytechnica. As propinas continuavam elevadas, e consequentemente baixo o
Artigo i.° — Na concessão das licenças aos Militares que pre- número de matrículas ; os estudantes continuavam sem garantias, fin-
tendam estudar algum dos cursos preparatórios para a Escola do dos os seus cursos, e iam escasseando; o-Jardim Botânico e o Labo-
Exercito serão igualmente consideradas a Escola Polytechnica e a ratório Químico continuavam a ser um sonho; os Gabinetes não se
Academia Polytechnica. Porto sete de Janeiro de 1840 —(seguem-se organizavam; o curso preparatório para a Escola do Exército, tinha
as assignaturas do Conselho Académico) (1).
muito poucos alunos (1). porque só" a raros militares eram conce-
didas licenças para o frequentarem.
O R e l a t ó r i o e o P r o j e c t o d e L e i f o r a m e n v i a d o s a o seu d e s t i n o .
Mas b a l d a d a m e n t e se esperou naquele a n o e no imediato q u e q u a l -
Nesta situaçSo se estava quando em fins de 1843 foi apresen-
q u e r d a s m e d i d a s q u e p r e c o n i z a v a m f o s s e m t o m a d a s em c o n s i d e r a ç ã o
tado às Cortes pelo Governo um Projecto de Lei de Instrução Pública
pelos legisladores.
no qual apareciam finalmente incluídas algumas das medidas desde
tanto tempo reclamadas pela nossa Academia (').
No Relatório que nesse ano o Conselho Académico enviou à
Rainha, ao mesmo tempo que se lhe dirigem calorosos agradeci-
mentos, pelas concessões que se esboçavam, pedia-se licença para

('( Em 17 de Outubro de 1843 foram examinados e aprovados um 2.0 sargemo


Furriel de Infantaria n.o 3, e um de Cavalaria n.o 7 ; em 23, um 1 o sargento de In.
fantaria n.o 9; em 25 um cabo de Esquadra de Caçadores n.o 7 e um furriel de Infan-
taria n.o 3 (0-5, fls. 1). Em 17 de Novembro do mesmo «no um 2 o sargento de Infan-
taría n.o 13, e u m ,.<, de Cavalaria n.o 6 (Ib. (is. 2 v.o e 3) ; em 29 um An.peçada de
(') O-J, fis IOJ v o- 104.
Infantaria 9 (Ib. fis. 4, etc.).
(') Relatório anual da Ac. ao Governo, de 25 de Novembro de 1843. (O-3, ils 3)
242 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO O FALAZ DEC. DE IO DE SETEMHkO DE 1844 E AS ASPIR. DA ACADEMIA 243

insistir em alguns pontos da maior importância, que parecia conve- § 1.* — Os que tiverem cinco viagens, pelo menos, para os
mares do Norte ou ao Sul das Ilhas de Cabo Verde a Oeste de 30°
niente ficarem bem expressos na lei.
de Longitude, Oeste de Greenwich, apresentando as derrotas destas
Esta deveria : viagens, poderfío ser admitidos a exames nas Academias Nacionais...
I.° Determinar com toda a claresa as vantagens que § 2.» - . . .
teriam os alunos que fizessem os cursos da Academia, não Art.0 143." — As propinas da Matrícula ficam reduzidas a
BÓ os de Comércio e Agricultura, que estavam já alguma 1$200 reis no principio de cada ano, e a igual quantia no fim.
Art.° 144.° — A gratificação do Director desta Academia será
coisa favorecidos, mas também os de Artistas e Directores
igual à gratificação concedida a cada um dos Directores da Escola
de Fábricas, que poderiam ser empregados nos Arsenais Médico-Ciriirgica e Academia de Belas-Art.es do Porto (Dec. de 27
e Fábricas do Estado, e os de Engenharia Civil, que o de Agosto de 1844).
Governo poderia ocupar nas Obras Públicas e Empresas Art.° 145.° — Os indivíduos, que apresentarem Carta de capa-
em que tivesse influencia, tanto no Reino, como nas P r o - cidade de algum dos cursos da Academia Politécnica do Porto, em
igualdade de circunstâncias, terão preferência no provimento dos
víncias U l t r a m a r i n a s ;
empregos públicos, cujas funções forem mais análogas às disciplinas
2." P ô r termo de vez ao abuso que se continuava pra- de cada um desses Cursos (').
ticando de se concederem cartas de Piloto, a quem não
possuía suficientes conhecimentos de navegação; Recebeu a Academia com manifestações de júbilo a publicação
3." Remover para sempre os obstáculos que, desde deste Decreto.
algum tempo, se opunham aos militares que pretendiam Em parte compreende-se.
frequentar a Academia (1). Nesse ano de 1843-44, para 68 alunos matriculados tinha havido
A 20 de Setembro de 1844, foi, finalmente, publicado o Decreto 69 ouvintes, facto que por si só bem mostrava, por um lado, a neces-
com força de Lei, que diz, na parte referente à Academia Politécnica : sidade de diminuir o preço das matrículas, e, por outro, a de dar
garantias efectivas, justas e exclusivas aos (pie na Academia adqui-
Art." 138.° — É autorizado o governo para estabelecer, nos rissem a sua Carta de Curso.
locais maia apropriados, o Jardim Botânico e experimental da Aca-
demia Politécnica do Porto; e bem assim o Laboratório, mandado Além disso, a autorização concedida ao Governo pela nova lei
criar pelo art." 165.° do Dec. de 13 de Janeiro de 1837. para o estabelecimento do Jardim Iiotânico e do Laboratório Quí-
Art." 139.° — Fica suprimida na mesma Academia a Cadeira mico permitia a esperança de que estes estabelecimentos não tardas-
de Artilharia e Táctica Naval. sem enfim a ter realização.
Art.° 140.° — OB cursos preparatórios para a admissão das
P o r estes motivos, é compreensível o regosijo da Academia.
Escolas do Exército poderilo ser estudados na Academia Politécnica
do Porto; e na concessão das licenças aoB militares, que pretendam O que, à primeira vista, se não compreende muito bem, é que o
estudar algum destes cursos, serïo igualmente consideradas a Es- Conselho não tivesse por qualquer modo exteriorizado pesar pela e x -
cola Politécnica de Lisboa, e a Academia Politécnica do 1'ôrto. tinção da 6." cadeira.
Nos regulamentos do Governo se adoptaríío as medidas conve- Nem no Relatório de 1843-44, enviado à Rainha em 21 de O u -
nientes para se efectuar esta disposição.
tubro deste último ano, nem nos Relatórios subsequentes, até ao de
Art.° 141." — Os alunos que, tendo completado o curso de
Oficiais de Marinha, quizerem servir na Armada Real [wderilo ser 1848-49, inclusive, (8) se encontra uma única palavra a tal respeito.
nomeados Guardas-Marinhas. Antes desta data apenas no discurso proferido pelo lente Álva-
Art.° 142.° — Nao será matriculado indivíduo algum por Sota-
-Piloto, ou Piloto de navio, sem Carta de capacidade do respectivo
curso, passada em alguma das Academias Nacionais. (') Anuário, de 187980, pág. î î o .
{') Relatório de 1843-44 (0-5, Ai. 8); de 1844 45 (Ib. fls. 14); de 184546 (Ib.
As. 21 v.o); de 1846.47 (Ib. fls. í } v.o); de 1847.48 (Ib. tis. 41); de 1848-40 (Ib. As.
(') 0-5, lis. 3 v.o 45 v-°b
244 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

res Ribeiro, na abertura do ano lectivo de 1846-1847, aparece uma


ligeira censura à dita supressão (1).
Supomos que a explicação de tilo extranho silencio reside no fa-
cto da Academia reconhecer, talvez, que a ti." cadeira (Artelharia e
Táctica Naval) não tinha grande razão de existir numa Politécnica
destinada propriamente ao ensino daa ciências industriais e à forma-
tura de engenheiros civis.
Verdade era que desde 1838, como vimos, fazia parte da 6,1 Ca-
deira a disciplina de Construções Públicas.
Mas da mesma forma que esta disciplina fora no Programa, como
recurso, anexada à Cadeira de Artelharia e Tácjtica Naval, agora, que
esta Cadeira estava suprimida, resolvi r-se-ia analogamente o problema,
anexando Construções a outra cadeira, a uma qualquer que com estas
matérias tivesse maiores afinidades.
A primeira vez que na Academia se estudaram Construções Ihí-
blicas foi apenas no ano lectivo de 1840 a 1841, e foram ensinadas
pelo lente proprietário da 6." Cadeira António Rogério Gromícho Cou-
ceiro ; vaga esta Cadeira pela demissão voluntária do respectivo titu-
lar, ofereceu-se, ou foi convidado, o lente de Mecânica e Geometria
Descritiva, José Vitorino Damásio, para reger gratuitamente Cons-
truções (*), isto é, a segunda parte das disciplinas a cargo da 6."
Cadeira.
No ano lectivo de 1843 a 1844 Construções tinham sido leciona-
das por Damásio. Quando, portanto, o Dec. de 20 de Setembro de
1844 extingiu a 6." Cadeira, o Conselho Académico não teve, em boa
verdade, grandes razões para se alarmar, e muito naturalmente limi-
tou-se a encarregar a Secção de Matemática de propor qual o melhor
modo de continuarem a sor ensinadas as matérias de Coitstruçòrs.

(') Di»c. de Joaquim Torquato Álvares Ribeiro, lente da g.a cadeira, in Silvestre
Ribeiro, ob. cit., vi, p, 176.
(') Na acta do Conselho Académico de 29 de Julho de 1843 lê-se: — « O Snr.
Damásio ofereceu-se para ir em Outubro reger a Cadeira de Construções Públicas, e re-
quereu que se adoptasse para Compêndio a nova edição do Sganzim; o que o Conselho
aprovou, louvando muito o seu oferecimento ».
Na acta da sessão seguinte, de 2 de Outubro do mesmo ano, aquela passagem foi
emendada: — tonde du que o Snr. Damásio se ofereceu para reger aquela Cadeira, deve
lêrie que foi convidado pelo Conselho para reger a 6.* Cadeira, e que êle aceitou »
J-4. H»- "S-
O FALAZ DEC. DE 2o DE SETEMBRO DE 1 844 I AS ASP1R. DA ACADEMIA 245

A referida Secção alvitrou que esta disciplina se encorporasse


na 3." Cadeira ('), de que Damiísio tinha a propriedade.
E assim, logo no mesmo ano de 1844-45, se começou a praticar.
As matérias de Consttruçùes Ptíblicaa passariam a constituir «o
objecto da segunda parto de cada ano lectivo : tratando-se no primeiro
ano da resistência dos materiais empregados nas construções, estabi-
lidade destas e estudo das máquinas; no segundo ano, da construção
das estradas e pontes ; e no terceiro ano princfpios de hidráulica e
construções hidráulicas; sendo leccionadas na primeira parte do ano
lectivo a mecânica e a geometria descritiva » (*).
Só um homem com a capacidade de trabalho de Damásio e com
o seu amor a Escola, poderia aguentar o desmesurado trabalho que
isto representava.
No ano lectivo de 1846-46 e nos dois seguintes não houve alu-
nos em Cousin/cars, mas hnuve-os nos de 1848 a 49, e de 49 a 50, e
foi Damásio quem gratuitamente os ensinou (s).
Note-se que este Professor, « para dar melhor desenvolvimento
ao estudo », chegou durante algum tempo « a dar duas aulas diaria-
mente, uma de Mecânica ou de Geometria Descritiva, e outra de
Construções públicas, ampliando ainda este Curso com o estudo da
construção das máquinas de vapor e locomotivas » (4).
Com a dedicação e desinteresse material de tara ilustre como
activo Professor, a Academia pôde conscienciosamente continuar a
formar Engenheiros Civis. Outros lentes, mais tarde, como veremos,
se sacrificaram também.
Mas era uma situação falsa que não poderia prolongar-se inde-
fenidamente.
Foi isso que não viu o Conselho Académico em 1844; e assim se
explica, talvez, porque de princípio èle não protestou contra a supres-
são da o." Cadeira.

(') O 5, Ba. 98 v.o e 99. Na acta da sessão de 19 de Outubro de 1844 diz-se


que Damásio apresenlou verbalmente o parecer de SecçSo, mas que o Conselho n3o tomou
a tal respeito deliberação alguma. Livro de Actas, cit. ills. 18.
(") J. F. Nery Delgado — Elogio Histórico dt José Victorino Damásio, in Anuá-
rio, de 1889-90,
(3> O-5. As. 99.
I4) J. F. Nery Delgado — Elogio Histórico de José Victorino Damásio, in
Anuário de 1889-90.
246 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Só o tempo revelou à Academia Politécnica o mal que lhe fêz


o Decreto de 20 de Setembro de 1884; só" o tempo lhe podia mos-
trar que das benéficas disposições do Decreto acima reproduzidas
nenhuma foi posta sem enormes delongas em vigor, se exceptuarmos
a da redução de matrículas.
Passaram-me muitos anos sem que fosse dado o terreno para o
Jardim Botânico. O Laboratório Químico continuou como estava.
XIII
O Governo não se resolvia a fazer os regulamentos de que falava o
a r t 0 140.°, motivo pelo qual os oficiais do exército só excepcional-
mente— com dificuldade e protecções — conseguiam licenças do Mi- LUTANDO CONTRA A MARÉ
nistério da Guerra para a frequência da Academia. A providência
respeitante à matrícula de Pilotos na Intendência da Marinha, foi A Academia Politécnica do Porto, mercê de firmes dedicações e
como Be não existisse: «10 mezes depois de publicada a lei », a Inten- de hercúleos esforços, conseguira organizar-se e começara a produzir
dência declarava oficialmente « que ainda lhe não havia sido incum- resultados prometedores.
bida pela Secretaria do Estado a observância » do preceito legal sobre
Isso era um facto.
a matrícula dos pilotos, e que « não lhe constava que em. Lisboa esti-
Mas o que ninguém calcula c falta contar é as dificuldades que
vesse » (') em execução tal preceito !
houve a vencer e quantos esforços e sacrifícios precisaram os seus
Acrescentemos, para terminar este Capítulo, que, entre as varias lentes de fazer para que ela conseguisse viver e formar alunos distin-
disposições do Decreto de 20 de Setembro de 1844, uma havia tos, apenas com os escassos 40O$OO0 rs. anuais que o Dec. de 183(i
aumentando os estudos preparatórios dos alunos que quizessem fre- lhe concedera para despesas de material e expediente, visto de ne-
quentar as Escolas Medico-Cirúrgicas. nhuma outra receita dispor durante alguns anos, depois que em Setem-
Os candidatos ft matrícula nestas Escolas teriam de apresentar bro de 1840 deixou de poder gastar o produto das matrículas, e de-
daí para o futuro documento comprovativo de haverem sido aprova- pois que em 1841 lhe foram negadas, contra o disposto no art." 8 do
dos não só nos exames de Química, Zoologia c Botânica (como até Alvará de Hi de Agosto de 1826, as importâncias dos prémios não
então), mas também nos de Física e 1." ano Matemático. concedidos e que, como dissemos, se destinavam a despesas da Bi-
Indirectamente esta alteração produziu efeitos benéficos para a blioteca.
Academia, pois fêz aumentar o número de alunos por cadeiras (2). Chegou a haver anos em que hem a própria dotação dos 400$000
Sirva isto ao menos, e mais a diminuição do preço de matrículas, rs. votados no Orçamento foi paga!
para que se possa dizer que nem tudo foi mau, ou inútil, nesse De- Vamos ver como, a-pesar-de tudo, foi possível fazer o milagre
creto de 20 de Sstembro de 1844, na verdade qutfsi só cheio — pelo de manter aberto, e realizar ensino profícuo, um Estabelecimento ao
que diz respeito ft nossa Politécnica — de boas intenções... qual o Estado dava pouco mais que dez tostões por dia — quando
dava ! — para despesas de material e expediente, — e nada mais !
Os prodígios que se fizeram não são f;íceis de imaginar.
Contaremos alguns factos, como exemplo.
Em 21 de Outubro de 1K41, o Conselho Académico autorizou os
(') Discurso de abertura, de 1846-47, de J. Torcato Alvares Ribeiro, i.it. professores da Secção de Filosofia (7.a Cad. História Natural; 8.»
S. Ribeiro vi, pAg. 176. Física 6 Mecânica Industriai» ; 9.a Química, Artes Químicas e Larra
(*) Id. ib,
de Minas; 10." Botânica, Agricultura r Economia Rural) a adquiri-
248 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTANIK) CONTRA A MARÉ 249

rem para as Buas Cadeiras os objectos de maior necessidade, até à Julho, fizeram­se reparações no telhado arruinado da Casa em que
quantia de 35O$OG0 reis (1) : era quási toda a dotaçïio dum ano. Mas estava o Navio ; ainda sobraram uns mil réis, mercê do que Costa
que fazer? ! Paiva foi autorizado a encomendar alguns livros imprescindíveis
Em 27 do mesmo mês resolveu­se tomar de arrendamento a Cerca para a Biblioteca (').
das C artnelitas para nela se organizar o Jardim Botânico {*) — mas Era tam miserável o estado da Academia quanto a material de
passadas semanas deliberou­se sôbre­estar nessa deliberação dadas ensino e tam parcos eram os recursos daquela que em 2 de Outubro se
as dificuldades que surgiram (3). resolveu, por sugestão de Damásio, apelar para a generosidade de Joa­
Para uso da 6.a cadeira foi autorizada a Secção de Matemática quim Gomes da Costa, da Cidade de Braga, pedindo­lhe alguns dos
em 6 de Novembro a escolher e encomendar «algumas obras de Arqui­ magnetes que esse indivíduo possuía (8).
quitectura Hidráulica», «podendo dispor até a quantia de (i0$000» (4). Não sabemos se o pedido foi atendido...
E com isto acabou­se a verba ! . . . Meses antes, certo benemérito oferecera alguns objectou de An­
Pouco tempo depois, estando em Lisboa José António de Aguiar, gola (3), talvez para o Gabinete de História Natural, que era duma
Santa Clara pediu autorização ao Conselho para o imcumbir de com­ pobreza confrangedora.
prar na Capital «alguns objectos que eram necessários para a Aula Como dissemos, quási todas a3 peças que neste Gabinete havia
de Química».
tinham sido emprestadas, e, na Sessão do Conselho Académico de 28
Mas o dinheiro ? ! de Julho de 1845, o lente de Zoologia José Carneiro da Silva «decla­
Foi preciso que Aguiar fizesse a compra à sua própria custa, su­ rou que a viúva de António Bernardo Ferreira exigia que lhe fossem
jeitando­se a que a Academia lhe pagasse quando pudesse... (5). entregues todos os objectos que, por consentimento de seu marido,
O mesmo Santa Clara, no ano lectivo seguinte, no 1." de Janeiro tinham vindo para o Gabinete Zoológico » !
de 1843, pediu que se mandasse confeccionar para a sua aula uma Que remédio senão restituir « tudo, aceitando porém o que »
vulgaríssima tina hidro­pneumática. aquela senhora «quisesse dar» ( 4 )!...
Mas o colega Diogo Kopke opôs embargos, dizendo que não se O Gabinete de Física possuía um instrumento realmente bom :
devia dispender importância alguma sem primeiro se proceder à com­ a « Máquina Kléctriea », que tinha vindo da casa do extinto Salva­
posição do navio (6).
­Vidas da Foz, (5) e que fora comprada pela Junta da Companhia
O Conselho ponderou as razões dum e doutro colega, e atendendo dos Vinhos.
à pequena soma que custaria a tina resolveu que se começasse por Mas pouco mais ali havia ! Se os Lentes de Física e de Quí­
esta obra, e que o primeiro dinheiro que houvesse fosse aplicado na mica quiseram ter na aula «um aparelho para a extracção do gaz» . . .
reparação reclamada por Kopke... foram obrigados a comprarem­no eles à sua custa! (6)
Em 28 do mesmo mês arranjou­se dinheiro e mandou­se final­ No Laboratório de Química lutava­se com falta do essencial
mente compor o barco, por empreitada (7). Pouco tempo depois, em para as mais cnmesinhas experiências.
Chegou­se, por vezes, a não se poder trabalhar!
(') Actas dos Conselhos, J ­ 4 , fls 4. Na sessão de 13 de Outubro daquele mesmo ano de 1845 o
(') Id. Ib. fis. 4 v.o
A Id , fls. 5.
(') W . As S­
(*| Id., fls. 8 ».0.
(1 J­4. ^ >!■
(') Id fls. 15.
O Id., fls, 11 v.o.
(") O ­ 3 , fls. IX v.o
Na C asa do A7avio em 1850 nïo havia mais que o barco—o qual ocupava o
(<) J . ­ 4 ,fls.19.
recinto de canto a canto, —quatro bancas, e um retrato de D. João VI ( D ­ J í , fls. zo),
(') J. 4, fls. | | v.o I6! O­5, lis. 8 6 e v o
fí J ­ 4 . ■*­ 45­
250 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO LUTANDO CONTRA A MARÉ 251

Lente dessa Cadeira, Santa Clara, instou por que se representasse ao No art. 8," do Alvará de 16 de Agosto de 1825 se determinava
Governo a pedir a concessão dalguma verba para se montar o dito que quando sucedesse nao se distribuírem alguns dos doze prémios
por nao concorrerem Alunos de distinto mérito que os devessem
Laboratório e depois para pagar as respectivas despesas permanentes (')■
obter, a sua importância revertesse em benefício da Biblioteca da
Mais ou menos como esse, todos os Gabinetes, a­pesar do que, Academia; porém, Senhora, a última vez que a Academia recebeu os
à custa de verdadeiros milagres, se conseguira, continuavam era afli­ doze prémios por inteiro, foi em Agosto de 1841, quando se pagou
tiva penúria ! A carência de dinheiro era angustiosa ! a Folha dos Vencimentos dos Empregados do mês de Outubro de
Em 3 de Fevereiro de 1846 foi o lente de Matemática (cuja 1840, e desde essa época em diante sempre nas Folhas dos prémios
foram riscados aqueles que nao haviam sido distribuídos aos Alunos,
aula pouco mais possuiria que o material lierdado da velha Academia
mas que, em virtude da Lei, nelas iam incluídos.
de Marinha) quem requereu que se solicitasse das instancias superio­ Desta sorte, Senhora, ficou a Academia reduzida a ter somente
res um subsídio especial para que Vitorino Damásio, nesse momento a quantia de 40O8ÍKX) rs. anuais para as despesas do material e expe­
em França ('), pudesse comprar certos instrumentos matemáticos de diente, votada nos Orçamentos do Ministério do Reino: esta quan­
mais urgente necessidade para o ensino (3). tia, porém, que podia ser suficiente para a Academia de Marinha e
Comércio, de nenhuma sorte pode suprir as despezas da actual Aca­
A representação enviada a Rainha em virtude dôste requeri­
demia Politécnica, sendo apenas indispensável para os reparos do
mento, resume quanto temos dito sobre a triste história das dificul­ Edifício e expediente da Secretaria, como leve em vista Sua Majes­
dades financeiras da Academia Politécnica, e suas causas — nos primei­ tade o Senhor D. .loan 6.\ de feliz recordação, quando a Concedeu
ros dez anos de atribulada existência deste estabelecimento : DOC Sua Real Resolução de 11 de Julho de 1825.
Acresce além disso, Senhora, que nem a mesma consignação
Senhora ! votada nos < IrcBiite&toa tem sido há dois anos entregue à Académie,
Tendo­Se Vossa Majestade Dignado, por Decreto de 13 de Ja­ como até aí era costume, mas tem o Director tomado sobre si a res­
neiro de 1837, criar a Academia Politécnica do Porto em lugar da ponsabilidade de suprir as despesas dela com os diminutos rendi ­
de Marinha e Comércio que enlílo existia, Determinou no art. 165 los das matriculas; o ano naBsado, até sem licença de Vossa Majes­
que, além dos estabelecimentoi existentes, tivesse t nova Academia tade, para se nao ver na dura necessidade de fechar este Estabeleci­
um Gabinete de Histeria Natural, um Gabinete de Maquiou, um mento; este ano, porém, foi para isso autorizado por Vossa Majes­
Laboratório Químico, e Oficina Metalúrgica, ■ um Jardim Botânico tade, pela Ordem de Pagamento n." 7!).
o Experimental, mas, nem neste Decreto, nem na Legislação poste­ A vista do exposto, o Conselho da Academia, tendo em consi­
rior, ae teem dado à Academia meios para poder organizar estes deração o achar­se actualmente em França o lente dela, José Vito­
Estabelecimentos. rino Damásio, que com licença de Vossa MajeRtade, ai foi mandado
A Academia, nos primeiros anos de sua existência, nutriu a pela Companhia das Obras Públicas de Portugal, e parecendo­lhe
lisongcira esperança de que, com o produto das propinas de matrí­ que nele se dao as qualificações indispensáveis para bem desempe­
cula, juntamente com a consignação de 40O$O00 rs. anuais concedi­ nhar as Comissões de que íõr encarregado, entendeu ser ocasiilo opor­
dos pelo Dec. de 19 de Outubro de 1836 para as despesas de ma­ tuna de pedir a Vossa Majestade Seja Servida conceder meios pan
terial e expediente, poderia ir tendo meios para organizar os ditos iKider organizar os Estabelecimentos criados pelo citado artigo lii.r)
Estabelecimentos ; porém, viu­se iludida em sua especial iva, quando do Dec. de 15 de Janeiro de 1837; e talvez, Senhora, este Conselho
Vossa Majestade, por Portaria de i de Setembro de 1840, Mandoif não possa facilmente ter outra ocasião tem adequada para se prover
entrar no Cofre da Contadoria da Fazenda do Distrito do PÔrto, daqueles objectos de que tanto precisa.
com a quantia existente no Cofre da Academia, I Ordenou que dal Os objectos pedidos na Relação junta sao os que este Conselho
em diante se continuasse a praticar o mesmo, sempre que houvesse julgou serem de maior necessidade para desempenho do serviço de
alguma quantia recebida. que se acha incumbido, e para satisfazer completamente aos finsquo
Vossa Majestade teve em consideração, quando se dignou criar a
Academia Politécnica do Porto, pelo Dec. oitndo de Janeiro de 1837.
(') Id. ib. Ils. i l .
Academia Politécnica, 27 de Março de 1846 • (').
I*) Id. ib. fis. 2o.
(') Em J de Julho de 184b, Damásio escrevia de Paris participando que breve­
mente regressaria a Portugal. O­4, ils. . . . (n. t.) (') Reg, de Of. expedidos (O­J) fis. ij v.° a 18.
252 MEMÓRIA HISTÓRICA IJA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTANDO CONTRA A MARÉ 253

Mas os Governos em vez de darem dinheiro, pediam e insistiam


se instalarem no segundo andar, pertencente ao Colégio dos Órfãos (1)
em que lhes indicassem o modo de reduzir as despesas...
— isto em satisfação do desejo-ordem do mesmo Capitão ...
Pediram-no em 1842, (1) voltaram a fazê-Io em 184() (2).
Lá esteve aquartelado também o já citado Batalhão Académico.
E claro que a resposta foi sempre a mesma : — não pode ter
No dia seguinte a Junta mandava por intermédio de António
lugar economia ou redução algtwia, (3) «assim no pessoal como no
Luiz de Seabra, da Repartição dos Negócios do Reino, apresentar
material desta Academia, sem prejuízo da Instrução Pública» (4).
«com a brevidade possível ao 11."'° e Ex."10 Sr. Francisco de Paula
Como havia, na verdade, de se reduzir o que já estava reduzido Lobo de Ávila, encarregado dos Negócios da Guerra, o Lente da
il expressSo mais simples! mesma Academia Joaquim de Santa Clara, e o Substituto José Antó-
A coroarem as dificuldades desta acidentada e difícil vida, sur- nio de Aguiar» (s).
gem em 184(5 as perturbações provenientes das lutas políticas nacio-
Em 2 de Novembro o Director recebeu «ordem para pftr à dis-
nais. O movimento insnrreceional da Maria da Fonte, que em Maio
posição de um certo João Maria Rissotto alguns instrumentos da
daquele ano eclodiu no Minho, e determinara a demissão e fuga de
Academia » ; dos que este indivíduo escolheu e levou foi passado
Costa Cabral e a formação dum novo Governo, reacendeii-se meses
recibo « por um sujeito que se intitulava Sub-Director da Repartição
depois com o Golpe de Estudo de !) de Outubro que levou ao poder
dos Negócios do Reino» (3).
um ministério retintamente cartista, com Saldanha como Presidente
Novos instrumentos de uso topográfico foram entregues mediante
do Conselho.
recibo em 23 de Janeiro de 1847 ao Professor Luiz Augusto Parada
Logo no Porto se organizou uma Junta Provisória do Supremo
e Silva Leitão, por ordem da Junta (*}.
Governo do Reino, sob a presidência do Conde das Antas, e vice-pre-
Vários outros Lentes da Politécnica aderiram à Revolução :
sidência de José da Silva Passos.
António Luiz Soares, Lente da 1.* Cadeira e Capitão de Arte-
Aa aulas da Politécnica, dias antes abertas, foram encerradas
Iharia da 3." Secção, foi passado à 1." Secção, despachado Major e
por ordem da Junta, desde 18 de Outubro até 3 de Novembro, «em
depois Tenente-Coronel e Director do Trem.
consequência de se ter mandado organizar um Batalhão denominado
João Ricardo da Costa, Lente da 2.a Cadeira, foi nomeado Major
de Artilheiros Académicos.» Em 2 de Novembro a Junta determi-
do chamado Batalhão Fixo.
nou que se conservassem encerradas por mais quinze dias; em 17,
José Vitorino Damásio, Lente da 3." Cadeira, e Capitão de Ar-
que não se abrissem até 2 de Dezembro; em 30 que continuassem fe-
telharia da 3." Secção, foi passado à l.% despachado Major, e depois
chadas por mais um mes, (5) e em 7 de Janeiro de 1847 que não
Tenente-Coronel e Chefe do Estado-Maior do Conde das Antas.
reabrissem até nova ordem (6).
O já citado Parada Leitão, Lente da 3.* Cadeira, e Capitão de
No dia 22 de Outubro de 1846 o Guarda-Mór da Academia foi
Infantaria da 3.* Secção, foi passado à 1." Secção, despachado Major,
avisado pelo respectivo Director de que devia facultar o Edifício
Chefe do Estado-Maior do Visconde de Sá da Bandeira, e por fim
logo que Joaquim Ribeiro de Faria Guimarãis, Comandante do 2."
Director da Academia quando, em 31 de Março de 1847, a Junta
Ila/alhâo de Artistas, ali se apresentasse com os seus homens, para
demitiu do seu lugar João Baptista Ribeiro (5) que, para cúmulo de
(') 0 - 3 , ils. 148 v.o.
desgraça, não se tendo mostrado afecto ao movimento revolucionário,
Cl o - 5 , ils. 20. fora espancado e roubado por três soldados de Cavalaria que em 16
(') M. ib. lis. 20.
(4) Id. lis. Í O . Of. de J. B. Kiliciro ao Ministro do R e i n o Luiz da Silva Mou-
sinho de Albuquerque, de 2o de J u n h o de 1846. O O - ; , lis. 2 i v.o
(r,| Id. Ils. 23 v.o e jeg. (!> Id. Us. 2 3 .
!") Id. Its. 25. (*) Id. As. 24 v.o
{*) Id. fis. 24 V.B
ft Id. fis. 25.
254 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTANDO CONTRA A MAKE 255

de Janeiro do dito ano lhe haviam « fraudulentamente mandado para Portaria de 30 resolveu no sentido afirmativo, favorável aos alunos (1).
casa como aboletados » (1).
E que aconteceu aos Lentes que se envolveram na Revolta ?
Desde Outubro de 1846 até Julho de 1847 só foram pagos aos Apenas isto: os que nela «tomaram parte activa e decisiva»,
empregados da Academia os vencimentos do primeiro daqueles me­ tiveram por castigo deixar de receber os vencimentos atrazados « até
ses ( ), excepção feita de alguns Lentes que, por estarem ao serviço à época em que voltaram à obediência do Governo legitimo» (").
da Junta, parece terem recebido alguns outros ordenados (3). É certo que por dec. de 17 de Novembro de 1847 o lente su­
Foi um ano absolutamente perdido para os estudos, com a agra­ bstituto João José de Vasconcelos foi demitido, mas por ter sido no­
vante da Academia ver defraudados os seus misérrimos Gabinetes meado por S. M, Abade duma freguesia do Arcebispado de Braga, lo­
de alguns instrumentos que tanta falta lhe faziam. gar de que logo tomou posse (3).
Um óculo, um oitante, uma agulha de marear, quatro mapas, e O exército espanhol do general Concha entrou no Porto em 30
um estojo de compassos para b o r d o ­ t i n h a m sido levados, segundo de Junho de 1847, e no princípio de Julho ficaram constituídas as
se dizia, para o Vapor Mindelo, quando este navio foi ao Algarve com
Autoridades legítimas ; o Governo considerou como obedientes a estas,
Sá da Bandeira (*).
desde essa data, os Lentes que, tendo embora servido com os rebeldes,
Em Julho de 47, finda a guerra civil pela Convenção de Gra­ se conservassem no País (4).
mído, João Baptista Ribeiro foi restituído ao seu lugar de Director, António Luís Soares autorizado pelo Barão de Almofala, então
e logo oficiou ao Comandante do mencionado vapor, pedindo notícias' Comandante da 3." Divisão Militar — mas sem licença do Governo—,
dos aludido» objectos (5). Não estavam a bordo!... Contudo foi pos­ tinha­se ausentado para o Brasil ; por isso nada recebeu (5).
sível dar­se com o paradeiro de quási todos eles, à excepção do oi­
João Ricardo da Costa deixou de ser abonado dos vencimentos
tante e da bússola; restituíu­os antes de 16 de Julho daquele ano (6) «o
relativos ao período decorrido desde Dezembro de 1846 até o fim de
intitulado Chefe da Repartição de Marinha da Junta, António José
Junho de 1847; Parada desde Fevereiro até Junho de 1847; Damásio
Dias Guimarãis» (7),
desde Abril até Junho de 1847 inclusivamente (6) — isto provavel­
O encerramento da Academia provocara casos complicados. mente porque declararam, respectivamente, que só em Dezembro,
Os trinta e oito alunos que se tinham matriculado e pago as Março e Abril começaram a ter parte activa e decisiva na subleva­
respectivas propinas, ­ cinco dos quais pertenciam à Escola Médica ção (7).
( ) e que não tiveram aulas, deveriam receber as importâncias de­ Restabelecida a paz, no ano lectivo imediato (1847­1848) a Aca­
sembolssadas se não desejassem continuar os estudos, ou ser­lhes as demia reabriu as suas portas para retomar a antiga vida de aflições.
mesmas levadas em conta se quizessem frequentar a Academia no E certo que em 4 de Outubro de 1847 lhe foram pagos uns mí­
ano seguinte? O Director, embaraçado, consultou a esse respeito seros 174$613 rs., «resto da prestação para as despesas do ano eco­
em 3 de Setembro de 1847 o Ministro e Secretário de Estado doa nómico de 1845­46 » ; mas deve ainda assim notar­se que parte dessa
Negócios do Reino, António de Azevedo Melo e Carvalho, (8) que por quantia, 84.? 400, foi entregue em notas do Banco de Lisboa pelo seu

O 0 ­ 5 , fis 25.
Ci Id. fis. 25 e v.o
Cl Id., fis; 2 7 . (') O­S, ils. 34 v.o.
ft Id. fis. 33.
1*1 Id., fis. 25 v 0 e 26
ft Id. fis. 33.
ft Id. Us. 26.
I4) I d . fis. 34.
(e) Id. fis. 3 5 .
{'■) Ki­^1 essa mio mais larde a Portugal reassumiu e exercício da sua cadeira. Of.
Cl Id., fis. 3 0 .
de J B. Ribeiro de 30 d e Maio de 1851. O ­ 5 , fis. 73 v.o.
ft Id., fis. 2 9 V.O,
Cl Id. fis. 34.
C) Id. fis. 31 v.o e 33 ­ 3 3 v.o.
256 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO LUTANDO CONTRA A MARK 257

valor nominal ('), ou seja com um valor efectvo igual a 80 % do E de notar, todavia, que nesse período em que a Academia viveu
valor nominal (*). quasi inteiramente abandonada do Estado, não a abandonaram os alu-
E nada mais o Estado deu até fins de 1850, pelo menos, — ano nos ! Estes pelo contrário começavam a afluir.
em que, aos 3 de Novembro, mandou que a Academia entrasse nos O decreseimento da população escolar tinha sido alarmante até
Cofres do Distrito com todo o dinheiro que possuísse. ao ano anterior ao da redução do preço das matrículas (1844); ulti-
Por essa ocasião, João Baptista Ribeiro dirigiu ao Conde de mamente porém, exceptuando o ano anormal da Patuleia, o mapa da
Tomar, novo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Reino, frequência apresentava tendências animadoras (') :
um ofício em que se lêem os seguintes notáveis períodos :
Alunos matriculados
— « Peço a V. Es.* que sobre este objecto me permita dizer Ano* lectivos
Contados
que o único dinheiro que a Academia tem tido ultimamente para as individualmente por cadeira
despesas diárias é essa quantia em Notas, da qual já está gasta a
quantia de 48$000 rs. [... Se entregar os 38S400 rs. restantes] não
sei com que meios hei-de pagar BB despesas de Maio e Junho, pois 1837-1838 120 163
que nenhum outro dinheiro existe em Cofre, e só para o fim de Ju- ls:S8-1839 112 177
nho, com o encerramento das matrículas, é que poderá haver algum 1839-1840 88 139
dinheiro para o pagamento delas » (*). 1810-1841 GO 105
1841-1842 46 81
1842-1843 54 101
Nos últimos quatro anos úteis a despesa da Academia, que tinha 1843-1844 CS 110
importado anualmente em menos da terça parte da consignação votada 1844-1845 81 146
nos Orçamentos (4), fora coberta quasi exclusivamente com o exíguo 1845-1846 82 142
rendimento das matrículas: 154$800 em 1844-45; 12í)!fn00'em 1845- 1848-1847 m 00
-46; 128$400 em 1847-48; 152$160 em 1848-49 (»). Custa a com- 1847-181s 71 125
1848-1849 70 149
preender como esse dinheiro houvesse chegado para pagar os conser- 18-)9-185() 103 189
tos dos telhados, e o reparo de todo o edifício, «que por velho e 185(1-1851 91 1G5
sumamente irregular» demandava «continuamente considerável e
pronta despesa » ; para, além de livros, comprar drogas e outros uten-
sílios indispensáveis à Aula de Química, e instrumentos novos para a Não podiam os adversários da Academia Politécnica argumentar
Aula de Física e Astronomia; para pagar consertos que houve de se com a desnecessidade desse Estabelecimento de ensino 110 Porto, por
mandar fazer em instrumentos antigos, e preparações para a Aula dó falta de frequência; como se vê, as matrículas por cadeira em 1849-
História Natural; para comprar estampas, nanquim e outros objectos -50 excederam até as do ano de 1837-38.
necessários para a Aula de Desenho (s). O desinteresse dos Governos não se manifestava, porém, apenas
na recusa de meios financeiros para a Academia viver; lembremos
que as disposições benéficas do Decreto de 20 de Setembro de 1844
(') O 5, fls. 41 e seg.
continuavam letra-morta, à excepção, como tivemos já ocasião de
(') Id fl<. 65 IO natas Je motda vendidas a 20 °jB deram 38*.400 em 184«)
-1850 Id.
observar, no que dizia respeito ao preço das matrículas.
(8) Id., fis. 6 î v.o A-pesar-de se terem feito numerosos pedidos e representações,
{') Id. ib , Us <>3. ainda não tinha sido mandado abrir concursos para preenchimento
('( Id., As. «S-
(s) Id , fis. 49. {') Mapa estatístico geral — An. da A c . 79-80, pág. 244.
258 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTANDO CONTRA A MARK 250

das vagas de Substitutos, dos quais a falta obrigava os Lentes P r o -


prietários a um trabalho extenuante, e determinava por vezes, quando porque se nao tem dado cumprimento a esta determinação da Lei;
pelo contrario vejo que continua o abuso de se concederem Cartas
algum deles adoecia, o encerramento tias respective* aulas. de Piloto a quem nao possui nenhuns conhecimentos teóricos, e as
A Academia, devendo ter seis, apenas tinha três lentes substitu- mais das viv.es bem pouca prática, o que redunda cm grande des-
tos e dos três que existiam um era privativo da Cadeira de Desenho, crédito da Marinha Portuguesa e prejuízo do Comércio.
e outro de Comércio (Decreto de 6 de Dezembro de 183b), Eram pre- Obsta igualmente ao melhoramento da Academia a falta de
cisos e há muito baldadamente se pediam pelo menos mais dois, um recursos pecuniários. Desde 13 de Maio de 18-lli. Md que se passou
a Ordem de Pagamento X." 1040 para se pagar à Academia a quan-
especialmente habilitado para reger as Cadeiras da Secção de Mate- tia de l'T-iSfilJ, resto da prestação para as despesas do ano econó-
mática e outro para as de Filosofia (1). mico de 1815 a 1846, e cujo pagamento somente M efectuou em 1
Um Decreto de 8 de Outubro de 1845, referendado pelos Condes de Outubro de 1847, entrando nesta conta 8(>$4O0 em Notas do
de Tomar e do Tojal, Ministros e Secretários de Estado respectiva- Banco de Lisboa polo valor nominal, os Cínicos recursos da Acade-
mia toem sido o produto das matrículas, o qual, ainda nos anos
mente dos Negócios do Reino e Fazenda, pusera à disposição do Mi- mais felizes, pouco teem excedido a 120J00O.
nistério do Reino para uso e acomodação da Academia Politécnica, ' ''ou estes meios tem a Academia de fazer os consertos indis-
Escola Médico-Cirúrgica e G u a r d a Municipal do Porto o edifício e pensáveis do Edifício, o que só de per si absorveria toda a consigna-
cerca do extinto Convento dos Carmelitas, mandando conceder à ção votada nos Orçamentos, ainda que fosse paga integralmente;
Ordem Terceira do Carmo a parte do mesmo edifício, e cêrca que se tem do pagar as despesas de Secretaria, as dos Gabinetes e Labo-
ratório Químico, o que ê impossível, e por isso acontece ir tudo em
pudesse dispensar (').
decadência, e não se poderem fazer as práticas necessárias c ordena-
Pois os anos iam passando sem que o Ministério do Reino se das por Lei.
resolvesse a executar aquilo para que fora autorizado! Existem na Academia três Substituições vagas, uma pela morte
Contra este e outros desleixos, desconsiderações e injustiças pro- de Francisco José Martins Giesteira ('), outra pela demissão dada
testou mais uma vez o Director da Politécnica no seu Relatório de ao Doutor João José de Vasconcelos, a a terceira que nunca foi
provida, por nilo terem aceitado a mercê os indivíduos que o Go-
21 de Setembro de 1848, em que se lê :
verno tem para ela nomeado; muito conviria que elas fossem pro-
vidas, para que nilo aconteça estar um Lente a reger duas Cadeiras,
Determinando o. Decreto de 1844 no artigo 138.°, que nesta eomo por vezes tem sucedido.
Academia haja ura Jardim Botânico e Experimental, e sendo O Seria também conveniente a nomeação dos Guardas dos Ga-
Governo autorizado para conceder o terreno para êle, ainda até binetes, e com especialidade do Laboratório Químico, onde a falta
agora nao teve lugar esta concessão, a-pesar das repetidas instâncias de um preparador faz com (pie o respectivo Lente com dificuldade
feitas |)or esta Academia. possa fazer as análises necessárias, principalmente quando estas sâo
Determinando o mesmo Decreto, no art." 140.', que nesta Aca- requisitadas pela Autoridade Judiciária, como amiudadas vezes tem
demia se possam escudar os Cursos Preparatórios para a admissão acontecido» (').
na Escola do Exercito, logo em Outubro do mesmo ano se negaram
as licenças aos Alunos Militares, (pie pretendiam vir matricular-se
Assim clamava a nossa Politécnica em 21 de Setembro de 1848-
nesta Academia, e desde então tais licenças nunca se concederam.
No art." 142." o § 1/ ordena-se que ninguém possa ser matriculado Mas ouvi-la-ia alguém ? !
por Sota-Pilolo nos navios, sem ter Carta de Capacidade passada O Relatório de 1848-49 (25 de Setembro deste último ano) re-
por alguma das Academias Nacionais. Ignoro quais os motivos pete as mesmas queixas, e desvenda-nos ainda alguns pormenores di-
gnos de serem conhecidos. Além de referir pela primeira vez a falta
(') O 5, ris. 40 v.o que, como sabemos, fazia a 0." Cadeira, suprimida pelo Dec. de 1844,
C) Dec. incluído noutro de ío de Ooutubro de 1852, in Anuário de 1883.1884,
pig- 301. (') Faleceu em g de Maio de 1840. Anuário 8n-8l, pág. 155.
C) O.5, fis. 41 a 4 í .
260 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO TORTO LUTANDO CONTRA A MARÉ 261

e de aludir à carência de instrumentos precisos na 1," e 5." Cadeiras vares Ribeiro, João Ricardo da Costa, Joaquim de Santo Clara de Sousa
informa-nos de que os poucos que existiam eram «os que há quarenta Pinto, José de Parada e Silva Leitão, José Vitorino Damásio, Luiz
anos vieram para a Academia de Marinha e Comércio e a que faltam Baptista Pinto de Andrade, Joaquim Cardoso Vitória Vila-Nova,
todos os aperfeiçoamentos modernos», e revela-nos o modo lamentável José António de Aguiar, todos estes Professores tinham assinado uma
como o Estado retribuía os sacrifícios dos professores : — « os orde- Representação à Rainha, pedindo uma vez mais, e encarecidamente,
nados pagos com grandes reduções, e com a quarta parte em Notas, fosse servida remediar ti dita falta de substitutos, «a fim de se evi-
e de mais disso no atrazo em que se acham, recebendo-se apenas seis tar que se fechem as Aulas por falta do haver quem as reja» ! (')
ou oito meses por ano, não podem chegar para subsistir, sendo o Um dos signatários, José António de Aguiar, substituto de Mate-
Porto a Cidade mais cara depois de Lisboa, e muito menos para a mática, falecera pouco depois (a 5 de Janeiro de 1850). (')
compra de livros e outros objectos». Fssa morte, provocando mais uma vaga, contribuiu certamente
Depois disto o Relatório queixava-se, com evidentíssima razão, para que o Conselho Superior de Instrução Pública finalmente se
da asfixiante penúria em que vegetava a Academia, e da revoltante resolvesse a determinar por Portaria de 30 daquele mês o provimento
desigualdade que havia entre o tratamento que lhe era dado e aos de duas substituições da Secção de Matemática, (3) e o mesmo, não
restantes Estabelecimentos de Ensino do País:—«a falta de paga- sabemos em que dato, relativamente ft secção de Filosofia.
mento das prestações votadas nos Orçamentos para as despezas do Antes de anunciados os respectivos concursos, o Conselho Aca-
material e expediente, faz com que se não possam comprar os objec- démico da Politécnica propôs Aquele Conselho a nomeação para as
tos mais indispensáveis, nem fazer as despesas precisas, vendo-se a vagas de Matemática do José Avelino de Castro e João Vieira Pinto,
Academia, há anos, reduzida ao produto das matrículas, as quais, com dispensa de provas por terem exercido « o Magistério com dis-
quanto muito, poderão montar a 140$000 rs., e com êle é que tem de tinção, como Proprietários, na Faculdade de Matemática da Academia
se fazer face as despesas ocorrentes, não havendo paridade alguma Real de Marinha e Comércio do Porto». (4)
entre esta Academia e os outros estabelecimentos análogos, a quem se O alvitre não mereceu aprovação e os concursos abertos pelo
concedem muito maiores somas para o custeio de semelhantes des- praso de 60 dias em 22 de Julho de 1850 (5), realizaram-se (6) em
pesas» ('). Novembro seguinte.
Depois de tanto se ter remado contra a maré alguma coisa se Em Matemática apareceram como candidatos Pedro de Amorim
começou por essa época a conseguir. Viana e Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa ; saíram ambos aprova-
As dotações anuais voltaram a ser pagas com maior ou menor dos em mérito absoluto, tendo votado em contrário Álvares Ribeiro,
pontualidade 0- com a declaração de que Gustavo Adolfo, em virtude de deficiências
Em princípios de 1850 foi atendida a reclamação relativa aos reveladas nas provas práticas, devia, em seu entender, ficar esperado
lentes substitutos.
Meses antes, em 9 de Novembro de 1849 todo o Conselho Aca-
(') 0 - | , fis- 47 e v ° -
démico — JoSo Baptista Ribeiro, José Carneiro da Silva, António da l!l Id., fis. 51 v.o.
Costa Paiva, Manuel Joaquim Pereira da Silva, Joaquim Torcato Al- [*) A Port, do Cons. Sup de I. Pub. está transcrita em D - J 2 , fis. 17. Deve
observar-se que a demora tinha sido devida aos Ministros,*e nao ao Cons., que dera havia
muito o seu parecer favorável.
(') O 5, flj. 45 v.o-47. (1) O 5, fis. 54 v.o of. de 8 de Março de 1850.
H Pelo menos nos Relatórios seguintes apenas há referências i exiguidade da |'l 1)-32, fis 21. Avelino de Castro e Vieira Pinto ainda reclamaram. O-5,
dotação. tis. 71 v.o 72.
Num oficio de 18 de Julho de 1851 alude-se à vinda dum Aviso de Crédito e (") Podem ver-se os Programas organizados pelos Lentes Vitorino Damásio, Pa-
Ordem de pagamento à Academia de 400*000 para as despesas do expediente. Id. fis. 75. rada Leitão e Alvares Ribeiro, in O-5 Ils. 55 v.0-61 v.o.
262 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTANDO CONTRA A MARK 263

para outro concurso. Quanto ao mérito relativo foi unanimemente


6V cadeira, licenças aos alunos Militares (1). « instrumentos, máquinas
elassficado em primeiro lugar Amorim Viana (Sessão do Conselho
e outros aparelhos », etc.
Académico de 20 de Novembro de 1850) (1).
Chamava ainda a atenção do Governo para o estado da Biblio-
Realizaram-se na mesma data Concursos para as Substituições
teca, onde faltavam todas as obras modernas sobre as diversas ciên-
de Filosofia, nos quais se bateram Francisco de Sales Gomes Cardoso,
cias ensinadas na Academia ; não se valorizavam as habilitações aca-
José Frutuoso Aires de Gouveia Osório, Arnaldo Anselmo Ferreira
démicas, como era fiícil fazê-lo se se desse preferência no provimento
Braga e Manuel Albino Pacheco Cordeiro. Em mérito relativo a
dos empregos a quem as tivesse ; os ordenados dos funcionamos eram
classificação foi a seguinte: — 1." Ferreira Braga; 2." Gomes Car-
pagos com grandes atrazos ; a exigua dotação de material e expediente
doso ; 3.° Aires de Gouveia ; 4." Pacheco Cordeiro (*).
mal dava para os reparos dispendiosíssimos do edifício! (a)
Amorim Viana e Ferreira Braga foram nomeados por Decretos
A tudo isto era preciso prover!
de 6 de Março de 1851 (3); Gustavo Adolfo por Dec. de 21 de Agosto
Tornava-se ainda urgente remediar « a pequenez da casa que
seguinte, e Francisco de Sales Gomes Cardoso por Dec. de 23 de Ju-
serve de Laboratório Químico» (3); o estado lastimável do Observa-
nho do mesmo ano (4).
tório— «que se acha [...] incapaz de nele se fazerem observações as-
Tendo entretanto morrido o Substituto de Desenho Vitória Vila- tronómicas»—, e a falta de Guardas, pois a-pesar-da Lei determinar
-Nova (a 6 de Julho de 1850) (5) logo em 30 do mesmo mês fora au- que fossem seis estavam agora reduzidos a dois (4).
torizada a abertura do concurso para preenchimento dessa vaga (6).
Numa palavra : é certo que se ganhara, ao fim de mais duma dú-
Concorreu apenas Francisco da Silva Cardoso, o qual conquistou apro-
zia de anos de luta, indiscutivelmente uma grande batalha; vencera-sc
vação unanime em Junho de 1851 (7).
a maré que estivera prestes a fazer naufragar a Academia.
Embora estivesse arredado o perigo de terem de ser encerradas
Havia alunos, professores e 400$000 reis anuais para despesas.
algumas das aulas por falta de Substitutos, e o Estado pagasse à
J:í era alguma coisa !
Academia a devida dotação, subsistiam em 1851 muitos outros dos
Mas nada se conseguira quanto a melhoramentos materiais, por-
antigos entraves ao progresso daquele Estabelecimento de Ensino
que o Estado teimava em não dar dinheiro, embora o Porto conti-
Superior.
nuasse a pagar o imposto com que contribuía desde 1803 para a sua
E caso digno de ficar bem frizado !
instrução superior...
Para que a maior parte desses entraves desaparecesse bastava
que se cumprissem as leis já" existentes !
Como os anteriores, o Relatório de 2« de Setembro daquele ano
enumerava as necessidades principais da Academia : Jardim Botânico,

(') J-4 lis, J5 v.o-39, e r>5, il- r„,


s
( ) Of do Cons. Académico de 26 de Novembro de 1850: O-c, fis 68 e v.o.
('( 0»j, Us. 70 v.o e 71. Bi.iga por C. K. de 2 de Anui de 51, e Viana por C.
R. de 9 de Junho (H-i, lis. 183 v.» 184).
O H-I, fis. 188 e 185, respectivamente C K de 23 de Oui, e 31) de Ag<',sto
de 1851
(') Deve dizer-se que algumas eram concedidas. Vide of de 11 de N'V. 1851
(6) O 5, lis. 04 »0
0-5. flu. 70,.
f) Id. lis. 1,7
(3) O-5, ils. 77.
Il M II- 74 v.o Os Programas do Concurso, a lis. 67. Professores de Relas
Ares completaram o Júri, fis. 72 v.o. (') Id fis 83.
(«) Id. (Is. 84.
XIV

D. M A R I A I I NA ACADEMIA

Q u a n d o cm princípios de 1852 começou a constar que a Família


Real realizaria cm breve uma visita as províncias do Norte, logo na
alma dos Lentes da Academia Politécnica deve ter raiado a espe-
rança de que a Rainha, fundadora daquele estabelecimento, ao certi-
ficar-se por seus olhos do abandono em que êle vivia por parte dos
altos poderei do listado, alguma coisa faria em seu favor.
I). M u i a II entrou no Porto no dia 80 de Abril do já referido
ano de 1852, acompanhada por seu marido o rei I). Fernando, e por
seus filhos I). Pedro, Duque de Bragança e Príncipe Real, e D. Luiz,
Duque tio Porto.
Os lentes da Politécnica, impecáveis e graves nas suas «casacas,
coletes e calças pretas, sapatos e meias de seda preta, e lenço branco
ao pescoço » — como tinha sido acordado cm Sessão do Conselho
Académico, de 16 do mesmo mês ( ) — foram esperar os régios via-
jantes e era seguida compareceram ao solene beija-mão que no mesmo
dia da chegada foi concedido no Paço dos Carrancas, onde a Família
Real se hospedou.
Em nome de todos os colegas João Baptista Ribeiro disse :

Senhora I
O Corpo Cathedratico da Academia Polytechnic*, animado do
mais profundo respeito e satisfação, tem a honra de vir dar as boas
vindas a Vossa Magestude e prestar a homenagem d'iimor e leal-
dade que consagra á Bua Augusta Rainha, fazendo sinceros votos
para que a Divina Providencia prolongue a enehu de felicidades a
preciosa vida de Vossa Magestade.

(') Actas das Sessões Q-4) fis. 41 v,o


2G6 MEMÓRIA HISTÓRICA I>A ACADEMIA POLITÉCNICA KO PORTO D. MARIA II NA ACADEMIA 267

Digne-se pois Vossa Magestade acolher benignamente a rincera No dia 3 de Maio D. Maria II, D. Fernando, o futuro D. Pe-
expressão destes sentimentos que a Academia nutre pok c o n t a m - dro V c D. Luiz visitaram aquele estabelecimento. Recebidos com
çilo de Vossa Magestade, de KI-Rei. de Suas Altezas o Príncipe
estrepitosas aclamações, atravessaram os corredores por entre alas de
Real e o Infante I». Luiz, Duque do Porto.
académicos e dirigiram-se para a sala da recepção.
Foi então que Alvares Ribeiro eloquentemente falou:
R e p a r e m o s a g o r a b e m tia r e s p o s t a d o S a n Majestade:
SENHORA I
Agradeço muito ao corpo cathedratieo da Academia Politechniea
A Academia que hoje honraes com a Vossa Augusta Presença,
da cidade invicta as suas felicitações pela minha vinda ao Porto.
deve ã sua existência ao avô de Vossu Magestade, o Senhor D. João 6 0
O meu coração enehe-se ãc vivo prazer quando vejo cm volta
de saudosa memorio: elle entendeu que devia assignalar o começo
de mim os estabelecimentos de instrução publica, era cujo numero
de Sua Regência com erguer este Monumento ás sciencias e ás
a escola politécnica do Porto ocupa um tilo distinto lugar.
a r t e s ; e à sua voz, e como por encanto fez levantar-se de um
Os estabelecimentos de ensino silo os d o g m a do um trono campo inculto os alicerces, e estas paredes do grandioso edilicio,
livre.
que uin dia havia do encerrar todas as oficinas onde se ministrasse
Vôa sois por consequência um dos degraus do Meu throno. o ensino à mocidade estudiosa.
Desejarei muito saber que a Academia Politechniea prospera, Ds reis poderosos que em eras remotas governaram o Egyplo
por que, nascendo no meu reinado constitucional, teiihn-the amor não podendo iseinpl&r-se da lei geral, pretenderam ao menos a
de Mãe (').
immortalidade para seus nomes, erigindo para seus tumules essas
formosas pyramides, que parecem esconder seu fastígio entre as
Frases protocolares, ou expressão de sentimentos verdadeiros?! nuvens para que não pudessem medil-as.
Nada autoriza a não admitir a segunda hipótese. Porém n a a i moles cnlossaes servem apenas para attestor a
loucura de sua vaidade, e de recordar a violência, com que força-
Que era preciso então?
ram milhares de vassallos a trabalhos improduetivos para os povos.
Kru preciso mostrar à Bainha que a Academia, mtã filha, em Mais esclarecidos do que esses Reis da antiguidade, sem o seu
vez de prosperar definhava, porque lhe faltava a sua alta protecção. orgulho, e melhor Pae, o augusto Avô de Vossa Mageslade quiz que
Era preciso lembrar, embora com todo o respeito, h Soberana, — as luzes da sciencia se diflundisseiii pelos seus súbditos; e fundou
esla Academia, onde podessem ir procurar instrução os que se
como na saudação que lhe dirigiram o fizeram os estudantes da dedicassem á pilotagem e ao commercio ; onde os artistas pudessem
mesma Politécnica, — era preciso lembrar-lhe que so" a mão que for- premunir-se dos princípios da geometria e do desenho, sem os
mou a Academia poderia dar-lhe o impulso de que necessitava para quaes mal podem as suas obras ser acabadas e competirem com
vir a satisfazer completamente o nobre pensamento que a criou (*). as dos outros paizes mais adiantados.
Dessa delicada missão se encarregou um dos mais talentosos e A Academia, com os outros Institutos seienlifleog e artísticos
que o Porto e Lisboa devem á sua sabedoria, são o Monumento
dedicados Professores que a Academia Politécnica contava entre os que ha de perpetuar o norne do seu Fundador.
membros do seu corpo docente: Joaquim Toreato Álvares Ribeiro. Vossa Mageslade não esqueceu as sabias lições de Seu Augusto
Predecessor: esta Academia, que já não satisfazia a todas as ne-
(') Do Braz Tisana (diário do Porto) n o 254, de 3 de Maio de 1852. cessidades do ensino, foi reorganisada, creando-se nella novas
C) Da Felicitação dos Estudantes da Polytechnics — no Braz Tisana, n.e cit. cadeiras e novos cursos; as artes tiveram na sua reconstrução
Esta Felicitação era assinada por: Henrique Guilherme Tomaz Branco, presidente; José subsídios que lhes faltavam; e transformada em Polytecnica, offe-
Joaquim Gomes Coelho; Manuel de Almeida Ribeiro; Henrique Augusto da Silva; José rece hoje instrução ao piloto, ao artista, ao commercianle, ao mes-
Joaquim Lopes Cardoso; António Lui* Vieira de Sá; Joaquim Teixeira de Macedo; tre de fábricas, ao engenheiro civil, e princípios preparatórios aos
Júlio Kopke da Fonseca ; José Joaquim de Araújo Peixoto; Luiz José da Cunha; t r a n ' officiais do exercito de terra e da armada.
cisco Xavier de Almeida Ribeiro; António Maria de Lemos do Amaral; António Pinto El-Rei, Augusto Esposo de Vossa Mageslade, não se mostra
Teixeira MourSo. menos sollicito na protecção á instrucção : preza as artes, por que
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADKMIA POLITÉCNICA DO PORTO
1>. MARIA II NA ACADEMIA 2 CO

as estudou, e por que as pralica: inda agora nas horas de descanço


fora confiado o amestrar nas praticas e na Iheoria da astronomia
desta viagem por Vossas Magestades emprehendiila para se mos­
náutica, e nos princípios Ibeorícos da navegação áquelles a quem
trarem aos povos e conhecerem as suas precisões, enriqueceu o
incumbe conduzir a salvamento aos porlos as embarcações a quem
seu Album com preciosas reminiscências do paiz que percorreu.
se confiam tantas vidas e tantas riquezas.
Em El­Rei encontrou sempre o lillerato, o artista, o industria],
Alumnos da Academia Polylecbnica, mancebos que vos dedi­
acolhimento, e sua bondosa aíTahilidade dá acesso a todos, sempre
caes às sciencias e às artes, lomaí brios de verdes que o vosso
promplo a collocar­se á frente de empregas úteis para o paii e para
Rei vos dá o nobre exemplo de amar as letras e as a r t e s ; sirvam­
os povos que adoptou por filhos.
nos de estimulo vossos Principes, que tem, como vós, dado vigí­
Senhora I lias e culto ás sciencias, e que hoje vem inspirar­vos o sagrado
N'estes dias solemnes que haveis passado entre os Portuenses, fogo de Minerva, examinando os vossos trabalhos.
mostrastes quam bem compreendeis a edueação dos Principes. Com soberanos tão sollicitos pela instnicção, com Principes
Por mandado Vosso, Suas Altezas liam trajado vestes cidadãs, assim dedicados às leiras, vós não carecereis de dizer com o
e aecompanhados de seu venerando Preceptor, ham apparecido immortal Camões :
em toda a parte, conversando com iodas as classes do povo, visto Ma* falta­lhe pineei, fallam­Ihe cores.
de perlo e fallado áquelles que não cosliimam ter acesso aos Reis. Honra», premio, favor que as artes criam (').
Ê assim, Principes, que aprendeis desde tenra idade a conhecer
como a utmospliera dos palácios é impregnada dos vapores da lisonja, Não se podia dizer com mais brilho, nem sobretudo com mais
que só deixam ver os objectos como atruvez de um prisma corado.
elegância c mais verdade, o que era preciso que a Rainha ouvisse !
Ainda mais prolkua e nobre lição acabam de dar­vos, Princi­
pes, Vossos Heaes Progenitores, tiazendo­vos a este alcaçar das Nâo era possível fazer justíssimas recriminações, nem formular amar­
sciencias e das a r t e s ; aqui nào se usa a lingoagem da lisonja, por gas queixas, com mais dignidade e com maior diplomacia !
que os professores que aqui vedes, acostumados a serem os inter­ Tão notável esse discurso pareceu ao Conselho Académico, que,
pretes da sciencia (que outra cousa não é do que a verdade) pe­ além de ter sido mandado imprimir à custa do mesmo Conselho,
rante esses esperançosos mancebos que hoje formam o vosso cor­
mereceu a honra excepcional de ficar integralmente transcrito numa
tejo, não saberão dizer­vos senão a verdade. — Aqui, Principes, e
mormente vós. Sereníssimo Duque de liraganca, herdeiro presum­ das Actas das Sessões — Da de 7 de Maio de 1852, a primeira que o
ptive dó sólio porluguez, ouvireis da nossa boca, que nem sempre Conselho realizou depois da visita de Suas Majestades.
as palavras alli­sonoras que se escrevem nas leis, correspondem á O resultado imediato da vinda ao Porto da Família Real foi um
realidade, aqui ouvireis que os laboratórios e estabelecimentos prá­ alegrão para os estudantes :
ticos, com que Vossa Previdente e Augusta Mãe dotou esta Aca­
demia, ou não tiveram existência, ou a tem mingoada e definhada; Sua Magestade A Rainha Querendo dar aos Estudantes da Aca­
aqui ouvireis que, ha vinte annos, desde que o Tliezouro Nacional demia Politécnica do Porto uma demonstração de sua benevolência
se fez administrador da ampla dotação, com que Vosso Visavô a por ocasião de vir a esta Cidade ; atendendo a que os estudos tem
prendara, não mais se assentou uma pedra no edifício destinado a corrido com toda a regularidade: Ê servida determinar que se d i m
conter os Gabinetes, em que as ciências naturaes e applicadas se por findos os trabalhos lectivos do ano que termina, ficando dis­
ensinao; aqui ouvireis, Senhores, que nem mesmo lhe ham deixado, pensados os exames, o que A Mesma Augusta Senhora Manda par­
com que prover­se de instrumentos, ■ com que faça acquisição ticipar ao Director da Academia para seu conhecimento, aguardando
dos livros mais indispensáveis para a sua lliblioleca. as ulteriores determinações que lhe serão comunicadas pelo Minis­
E vós. Sereníssimo Duque do Porto, que vos alistastes, como tério do Reino.
voluntário, na Marinha Portugueza, a qual um dia haveis de íllus­
trar com vossos feitos, e procurar restituir ao esplendor a fama Paço do Porto 5 de Maio de 1852.
Duque de Saldanha
que ella linha quundo as armadas lusitanas eram respeitadas e
temidas dos reis e dos povos do lodo o Oriente: não esqueçáes Para João Baptista Ribeiro Director da Academia Politécnica (').
que a marinha mercante é a base da marinha de guerra, e o vehi­
eulo do commercio que enriquece as nações; tomai a peito a pros­
(') Actas das Sessões Académicas, J 4, fl. 42 v.o a 44 v.o
peridade de um estabelecimento, ao qual por Vosso Augusto Bisavô
{') D.32, fis. 38 v.o
270 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA
D. MARIA II NA ACADEMIA 271

Para os estudantes resultou mais um Perdão de Acto : para a


Academia parece que, pelo menos momentaneamente, um pouco mais Academia de Marinha), equiparando-lhes os ordenados aos dos guar-
de atenção da parte dos Poderes Públicos. das do Liceu e Academia de Belas-Artes (1).
Citaremos a este propósito um facto que parece sintomático • o Fosse por influência do Governador Civil, fosse por determina-
do Governador Civil do Distrito, Visconde de Podentes, ter visitado o ção espontânea da Rainha, fosse pelo que fosse, o que é certo é que
Estabelecimento e pedido ao respectivo Director que lhe desse uma em 20 de Outubro desse mesmo ano de 1852 uma das reclamações
nota das mais urgentes necessidades. há mais tempo e mais instantemente formuladas pela Academia foi
Dias depois, em 14 desse mês de Maio, João Baptista Ribeiro atendida : um decreto daquela data concedeu finalmente ao referido
entregava-lhe um Memorial em que mais uma vez se reeditavam estabelecimento parte da Cerca do Convento dos Carmelitas para Jar-
reclamações que desde 1837 se faziam nos Relatório, e nas Repre- dim Botânico — e distribuiu a parte restante que era incomparavel-
sentações enviadas aos Governos. Numerosas deficiências que havia mente maior e compreendia o edifício, pela Guarda Municipal, Escola
desapareceriam imediatamente se se cumprissem as Leis, e quanto a Médico-Cirúrgica e Ordem 3." do Carmo (,').
estas era apenas o cumprimento da Lei - e nada m a i s ! - o que o O que o legislador se esqueceu foi de dar também à Academia
Conselho estava já cansado de reclamar! Porque não quereriam os meios financeiros para criar o Jardim .. Coisas mínimas de que o
Governos fazer o que constituía um dever estrito do Poder Exe- Pretor não cuida...
cutivo?! Como, aliás, lhe cumpria, o Conselho Académico agradeceu à
Era de facto estranho ! Rainha, «em extremo penhorado, pela generosa protecção que Vossa
Porque não se concedia à Academia o terreno para o Jardim Majestade Se tem dignado conceder sempre à Academia» !. (s)
Botânico? Por que não lhe davam local para a instalação conve- Um outro facto da mesma época demonstra também que as
niente do Laboratório Químico? Porque não se decidia definitiva- altas esferas ligaram um pouco mais de atenção ao mesmo estabeleci-
mente a questão dos alunos militares? Porque não se facultavam mento.
meios para realizar obras que evitassem ao menos que o Observatório Sucedendo falecer a 27 de Abril de 1853 o Lente da 7.a cadeira
desabasse? Porque não tinham preferência nos empregos públicos os
diplomados da Academia? Porque continuava a ser permitido passar
(') 0 - 5 , fis 8s v.0-84.
Cartas de Pilotos a quem não possuía habilitações? Porque se não (*) Vide o Dec. por ex. in Anuário 83-84, pág 302303.
coneediam verbas para a compra absolutamente indispensável de má- Deve notar-se que, tnuilo antes, em 1 de Maio de 1850, o Governador Civil do
quinas e instrumentos, tanto para as aulas de Matemática como para Porto, Joaquim José Dias Lopes de Vasconcelos, oficiara ao Director da.Academia
os diferentes Gabinetes?! Porque não aprovaram o Regulamento dizendo que era necessário proceder à partilha e divisão do Edifício e terreno da Cerca
interno da Academia enviado ao Governo em Julho de 1838? Por- do mencionado Convento destinado para diversos estabelecimentos públicos e parte òo qual
fora concedido à Ordem Terceira do Carmo pelo Decreto de 8 de Oi.tubro de 1845, para
que recusavam, contra a expressa letra duma Lei antiga e não revo-
prover ao melhoramento do seu Hospital ; rogava portanto o dito Governador que o
gada, a concessão do remanescente dos prémios não distribuídos, e Director da Academia comparecesse naquele loca) pelas 1 botas do dia 2 do corrente
que devia ser aplicado em proveito da Biblioteca?! mês ;i IMIII.II- tomar nota da dita partilha e dar dela conhecimento ao Conselho Acadé-
O Memorial depois de enumerar todas essas queixas, tantas e mico, a - t í m d e representar ao Governo CiviS o que mais conviesse a semelhante respeito.
(D-32, fis. 18 v.° e 19) N3o sabemos se tal diligencia se realizou, porque é quási nos
tantas vezes formuladas, lembrava ainda que seria de toda a justiça
mesmos termos o oficio que foi enviado ao Director da Academia em 27 de Agosto de
não só igualar o ordenado do Secretário da Academia Politécnica ao 1852 pelo Secretário Geral servindo de Governador Civil, para que assista à divisão e
que recebia o Secretário da Academia de Belas-Artes, mas também demarcação do terreno que fõr considerado necessário para o dito Estabelecimento.
repor em seis o número dos guardas (tantos quantos eram os da (D-32, fis. 4 0 v.0). O Hospital do Carmo tomou posse do seu terreno no dia 26 de
Abril de 1853 (Id., fis. 45).
(a) 0-5, fis. 89.
272 ISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO D. MARIA II NA ACADEMIA 273

José Carneiro da Silva {»), logo a 27 do mês imediato o Conselho Su­ Em 5 de Julho de 1853 o Conselho apelou para os Senhores
penor de Instrução Pública mandava publicar editais a anunciar con­ Deputados da Nação Portuguesa rogando­lhes que a Câmara fosse
curso de 60 dias, com início no dia 28, para o provimento da aludida «servida declarar, por meio dum Projecto de Lei, que está em pleno
vaga (■)!
vigor e inteira execução» o art 0 140 de Dec. com força de Lei de 20
No dia 30 de Julho o Conselho Académico da Politécnica exa­ de Setembro de 1844, o qual, a­pesar­de ter sido referendado por todos
minou os documentos dos candidatos ­ que eram Domingos Martins os Ministros, o Ministério da Guerra se obstinava em não respeitar,
da Costa, Arnaldo Anselmo Ferreira Braga, Dr. Francisco de Salles denegando sistematicamente licença aos Militares para fazerem os seus
Cornes Cardoso, e António Teixeira Barbosa; e decidiu que o júri do cursos preperatórios na Academia Politécnica (l).
Concurso fosse composto por todo o Conselho (3). Noutra Representação, à mesma Câmara e na mesma data, o Con­
Todavia as provas não se realizaram, por motivos que adiante selho pedia a inscrição no quadro do pessoal da Academia de três
se dirão.
novos lugares : um Lente Subsíiiuio privativo para a Aula de
Talvez também ainda reflexo dessa fugaz aragem de hon­io,itaãe, Química, um guarda preparador para o Laboratório da mesma dis­
DO ano lectivo seguinte, 1853­54, a dotação orçamental continuou a ciplina, e outro guarda ainda, além dos existenteB, para o serviço das
ser paga em dia ; os prémios concedidos aos estudantes foram pron­ Aulas (s).
tamente satisfeitos e até os Substitutos que regeram Cadeira rece­ Parece que 0 Conselho Superior de Instrução estranhou que este
beram gratificações. pedido não fosse feito directamente ao Governo e sim às Cortes, pois
Pela primeira vez o Relatório dizia: que em 2 de Agosto o Director da Academia declarava ao Vice­Pre­
sidente do mesmo Conselho que, se assim se fizera, fora «em razão
No ano lectivo findo de 1853 a 1854, em razão de se terem
do direito de petição que assiste a todos os Cidadãos» (3).
posto à disposição da Academia os meios concedidos por Lei para
o custeamento de suas despesas, puderam fazer­se alguns reparos
e consertos e compraram­se alguns objectos necessários para uso Na época a que nos estamos referindo Rodrigo Fonseca Maga­
das Atilas [ . . ] Por esla ocasião ciimpre­mo agradecer a V. Ex.» Ihãis enviou o seguinte ofício ao Director da Academia :
(Kodrigo da Fonseca Magalhães) a brevidade que houve em se man­
darem pagar os prémios conferidos, e também as gratificações aos Tendo Sua Mageslade, A Rainha, nomeada por Derroto de 2 do
subslitutos, que regeram cadeiras. Há muitos anos que os subsli­ passado a Sebastião Rotamio d'Almeida, para Lento da Cadeira de
tutos que regiam Cadeiras não recebiam galardão por sens serviços Chimica applicada ás Artes da Eschola Industrial tio Porto: e sendo
extraordinários, e coube a V Ex.* reparar esta falta não merecida, de muila conveniência que, em quanto se não completa o pessoal
e praticar um acto de inteira justiça (*). da dita Eschola, entre o referido Lente no exercício da sua Cadeira;
Manda a Mesma Augusta Senhora que a Academia Polytecnica do
Foi muito, para quem estava habituado a tratamento tam diverso. Porto facilite uma das suas Saltas ao agraciado, afim de que elle
ahi possa dar começo às lições das disciplinas da Cadeira em que
Mas quanto ao mais, quanto âs outras reclamações — e elas eram tan­
foi provido na Eschola de que so traia. Paço das Necessidades,
tas ! — as coisas continuaram na mesma. em 7 de Junho de 1853. Rodrigo da Fonseca Magalhães (4).

I') 0­5, fit. 89 Oficio, a comunicar o falecimento, a José Manuel de Lemos


Vice­Presidents do Conselho Superior de InstruçSo Pública, de 29 de Abril de 1853'
J B. Rtbeiro ofereceu em Julho de 53 o retrato de Carneiro pintado por fie, Ribeiro
iJ­4. "Is 5í) como já tinha oferecido o de José Amónio de Aguiar (íb ) l') O­s, fis 91 v 0.92 v.
(') D í i , ih. 4 6 . (') O­5. lis. Q2 v.o e 93.
("l J­4, fis. 51 v,o. rt 0­5, fi». 96.
Ci O s, fis. 114. (*) D­32, ils 4 8 .
274 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
D. MARIA II NA ACADEMIA 275

Estas determinações foram imediatamente cumpridas, como o vai proceder no edifício da dita Academia, para o definitivo estabe-
declara o ofício que, em 18 de Julho seguinte, Joio Baptista Ribeiro lecimento da Escola Industrial, cumprindo, também, que o Gabi-
dirigiu ao Ministro. nete de Fisic.a o Laboratório Químico da Academia Polilecnica do
Ficaram à disposição do Lente de Química da nova Escola In- Porto continuem a ser c o m u n s a ambos os estabelecimentos.

dustrial a própria sala de aula de Química e o laboratório (') para Paço das Necessidades em 2 de Maio de 1854-
neles o dito professor fazer as suas prelecções a horas que se não
Rodiigo da Fonseca Magalhães (')
encontrassem com o serviço da Academia. Outras dependências não
havia : — « todas as salas e quartos da Academia estão ocupados
O Ministério do Reino concedeu sem demora dois contos de réis
pelos quatro estabelecimentos nele existentes, que são, além da Aca-
para se realizarem as obras necessárias para a instalação da dita
demia Politécnica do Porto, o Colégio dos Órfão*, a Academia das
Escola, e o director desta — a quem João Baptista Ribeiro entregou
Belas-Artes e o Liceu Nacional». Ribeiro lembrava, porém, «que no
«o Desenho original da Elevação da principal frente e entrada» do
lado do norte do edifício, comoV. Ex.» verá da planta (que enviava)
edifício, da autoria de Cruz Amarante — fez elaborar com base nesse
há duas salas por acabar, as quais ficam contíguas à Aula e Labora-
tório Químico desta Academia, e que se fossem acabadas, o que não desenho uma « Planta da parte do Palácio da Graça destinado para
demandaria grande despesa, podiam estebelecer-se nelas a Aula e o estabeleci mento da Escola Industrial do Porto*, de acordo com a
Laboratório da Escola Industrial, ou dar mais larguesa e comodidade qual planta se foram executando as obras (a).
à Aula e Laboratório Químico da Academia». A obra estava orçada Segundo informava João Baptista Ribeiro em 1857 (30 de No-
em um conto de réis, «atendendo a que a obra de pedreiro está quási vembro) a planta primitiva, quanto ao exterior, tinha sido respeitada,
concluída, faltando uma singela parede de perpianho, os madeira- excepto no que dizia respeito « aos dois torreões, com a ordem ática,
mentos, solho, telhados, portas e janelas » (*). destinados para aula de Desenho » : esses foram abolidos. Quanto
ao interior, haviam sido feitas algumas modificações : « no andar
E assim se começou a insinuar no edifício da Academia o futuro nobre há uma sala para ensino de Física e Química e Laboratório
Instituto Industrial, estabelecimento de que era Director interino e
Químico ; no 2.° andar, grande sala para aula de Desenho». E acres-
Lente da 4.» Cadeira (por Dec. de 30 de Dezembro de 1852 e 4 de
centava : — « O corpo saliente do meio da fachada tem no andar
Agosto de 1853), .José de Parada da Silva Leitão (3).
nobre o Salão dos Actos e Funções Académicas, e por cima o Obser-
No ano seguinte uma Portaria do Ministro do Reino determinava: vatório Astronómico, rematando elegantemente o edifício» (s). Frize-
mos que isto era o Projecto...
Devendo ser abertas no próximo més de Outubro as Aulas da
Escola Industrial do Porto; Manda Sua Magestarte EI-Rei, Regente Entretanto, a falta de pessoal menor na Politécnici cada dia se
em nome do Rei, que o Director da Academia Politécnica daquela fazia sentir mais. Era 22 de Fevereiro de 1854 faleceu um dos guar-
cidade facilite ao Director interino da referida Escola as casas do das. Ficaram, portanto, apenas dois, para vigilância de perto duma
Conselho, aulas e Laboratório de Química, Gabinete de Fisica e Bi- centena de alunos num casarão enorme, sendo certo que, havia muito,
blioteca, a-fim de se fazerem os trabalhos preparatórios para aber-
tura daquele curso, emquanto não terminarem as obras a que se
era preciso pagar pela verba do material a um adventício que fizesse
o serviço (4). Um dos guardas tinha mais de cinquenta anos de Casa,
(') Deliberação do Conselho Académico, em «essao de 15 de Julho de 1853 (J-4,
e oitenta de idade ! (5).
fis. 47 v,o e 48). Supunha-se que se encontrava vago quási todo o andar superior do
Ed.fkio, que estava em poder dos Órfãos, o, quais ocupariam apenas uma sala, com a
itvrana (fis 47), mas verificouse depois que todas as salas estavam ocupadas (fis i 8 y o l (l) D - J 2 , fls. 6 l v.o
("I O-5, fis. 93 v.0.94. .(*) 0 - 5 , fis. 156 v.o.
(s) Id fis 149 v.o. (') Id., fis: 15b v.o.
(4) I d , fis. 184 v.0-185.
(6) Id., fis. 185.
276 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Então o Governo compadeceu-se.


Em Abril já estavam publicados editais para o concurso de...
um guarda! Quer dizer, ficou a Academia na mesma, apenas com
três guardas (1).

Nesse ano, no entanto, ainda nem tudo correra mal.


Como já dissemos em 1853-54 foi paga em dia a dotação orça-
mental, foram pagos prontamente os prémios distribuídos aos estudan- XV
tes, e até os Substitutos receberam gratificações pelas regências.
Mas foi justamente durante esse ano, quando, por virtude destas «EXTLNGA-SE A ACADEMIA POLITÉCNICA!»
atenções, parecia que, a-pesar do resto, dias mais felizes iam surgir
para a desditosa Academia, foi justamente durante esse ano que um
raio caído do céu —do céu aberto da Câmara dos Deputados...—a Já em Outubro de 1852 começara a constar que se preparava
fez estremecer até aos fundamentos... nova Reforma da Instrução Superior.
José Vitorino Damásio estava nessa ocasião em vésperas de par-
tir para Lisboa, e o Conselho Académico, em sessão de 27 daquele
mês, deu-lhe um voto de confiança « para fazer tudo aquilo que enten-
desse que era para utilidade e para conservação da Actual Academia»,
— sinal de que os boatos eram de causar apreensões.
Determinou-se-lhe mais, que se êle. tivesse «conhecimento de que
há algum projecto para reforma da Academia», deveria «fazer todos
os esforços para demorar a sua publicação, e, se não puder obstar, que
diligencie para ao menos ser consultado o Conselho Académico» (1).
Que a Câmara dos Deputados vinha sendo agitada por uma viva
discussão sobre questões que se prendiam com a reforma do ensino
superior, sabêmo-lo nós.
Em 10 de Março daquele ano, o deputado Magalhãis Coutinho
apresentara ï m sessão da sua Câmara um projecto de Lei pelo qual
os graus académicos em Medicina não seriam concedidos apenas pela
Universidade, mas também pelas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa
e Porto. Esse projecto dera origem a uma questão acirrada, que
se estava debatendo acalorada e por vezes azedamente no Parlamento
entre os deputados defensores dos privilégios da velha e gloriosa Uni-
versidade e os que pugavam pelos direitos das Escolas modernas. Não
havia maneira de chegarem a acordo, nem de se encerrar o debate.
Pelo contrário. Palavra puxa palavra, e os discurèos em volta da
mesma questão e assuntos dela derivados não tinham fim.
(') Id , fis., 106 v.o e 107

(') Actas das Sessões do C. Acad. (J. 4) fia. 45 v o.


278 M E M Ó M A HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
«EXTINGA-SE A ACADEMIA POLITÉCNICA!» 279

Nesses debates foram-se gastando meses sobre meses, mais dum — « 4.° Escolas Industriais, que formarão os Engenheiros Mecâni-
ano. Entretanto a Academia Politécnica foi vivendo. cos, Químicos e Metalúrgicos e bem assim os Mestres, Contra-Mestres
Mas as nuvens que se andavam a formar desencadearam enfim e oficiais das indústrias mecânicas, químicas e metalúrgicas. Uma des-
a trovoada.
taB escolas será estabelecida na cidade de Lisboa e outra na do Porto.
Em 3 de Fevereiro de 1854, fez-se na Câmara dos Deputados — « õ.° Escola de Agricultura, compreendendo uma Escola Cen-
a segunda leitura dum Projecto de Lei, em que se propunham as bases tral de Agricultura em Lisboa ; três escolas regionais, uma em Évora,
dentro das quais o Governo seria «autorizado a reformar os estabe- outra em Coimbra ou Viseu, e outra no Porto ou em Braga; e quintas
lecimentos de Instrução Superior» do País (1). de ensino em todos os distritos administrativos do Continente e Ilhas.
Segundo esse Projecto, o ensino superior passaria a compreender — « 6.° Poderá estabelecer-se uma Escola de Pilotos na cidade
oito ramos:
do Porto».
A Escola Politécnica ficaria tendo como fim especial habilitar
1.° Teologia
com os conhecimentos das ciências matemáticas e físicas os alunos
2.° Jurisprudência que Be destinassem ao serviço técnico do Estado (Base VI).
3.° Ciências matemáticas, físicas e histórico-naturais Já se adivinha que as Faculdades de Matemática, Filosofia e
4.° Ciências Médicas Medicina da Universidade de Coimbra, e a Academia Politécnica do
5.° Ciências Profissionais Porto seriam suprimidas, como aliás aconteceria também às Escolas
6.° Administração Pública Mèdico-Cirúrgicas e às Academias de Belas-Artes de Lisboa e do
7.° Literatura Porto — estas duas substituídas por uma Escola de Belas-Artes, com
fi.° Belas-Artes. sede em Lisboa (Base XXV).
Deve acrescentar-se que segundo este Projecto organizar-se-iam
Para o ensino de Teologia e Jurisprudência destinar-se-iam as também em Lisboa uma Faculdade de Letras e uma Escola de Admi-
Faculdades de Teologia e de Direito da Universidade de Coimbra ; nistração (Bases I X e X).
para o de Oiênçias matemáticas, etc., criar-se-ia em Lisboa uma
Tudo para a Capital... depois do terremoto.'
Faculdade de Ciências ; para o de Ciências Médicas haveria um Fa-
O autor não esquecera os interesses dos Professores das Escolas
culdade de Medicina e Cirurgia em Lisboa, uma Escola Subsidiária
a suprimir. Quanto aos lentes da Academia Politécnica jubilar-se-iam
no Porto, e duas Escolas de Farmácia, uma em Lisboa, outra no
ou aposentar-se-iam na conformidade das leis, ou seriam «colocados
Porto.
na Faculdade de Ciências, ou nas Escolas Profissionais que se orga-
O ensino das Ciências Profissionais seria —dizia a Base V ^ nizarem » (Base XVIII).
ministrado pelas seguintes escolas :
— « 1.° Escola do Exército, que habilitará os oficiais de Infanta- Quem seria o autor deste Projecto? Quem seria tam terrível
ria, Cavalaria, Artelharia, Estado-Maior e Engenharia Militar;
reformador ?
— <2.° Escola Naval, que habilitará os oficiais de Marinha e
Era seu nome Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, individuali-
os Construtores Navais;
dade muito distinta e notável até, tanto pelos seus ascendentes e pelo
- « 3.° Escola das Obras Públicas, que formará os Engenheiros
seu passado, como pela sua inteligência, carácter e saber.
de Pontes e Calçadas ; os Construtores Civis e Arquitectos ; os Enge-
Filho do Visconde de Vila-Maior — título que herdou — êle
nheiros Hidrtfgrafos e Geógrafos ; os Engenheiros Hidráulicos ; e os
fora, como Garrett e José Estêvão, soldado do Batalhão Académico,
Engenheiros de Minas.
durante o Cerco do Porto. Jogara heroicamente a vida pelo novo
regime; recebera ferimentos graves na defesa da Serra do Pilar em
(') Vide Teóf. Brag» — Hist, da Universidade de Coimbra, IV, p. 166.
280 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
«KXTINGA­SE A ACADEMIA POLITÉCNICA!» 281

20 de Outubro de 1832, e conquistara a fita da Torre e Espada, do


valor, lealdade e mérito. reforma da instrução de Passos Manuel; ocupa­se seguidamente dos
direitos do Porto ã conservação da sua Academia, da conveniência
Era então aluno distinto da Universidade de Coimbra. Finda a
campanha reatara o 8 estudos e formara­se. Especializara­se em Quí­ dessa conservação, do pretenso peso da Academia na Economia do
mica. Em 1 8 5 4 ­ n e s t e facto reside talvez a explicação da orien­ Estado, da necessidade da existência da Academia Politécnica reco­
tação geral do seu p r o j e c t o ­ e r a Professor da Escola Politécnica nhecida pelo próprio autor do Projecto que pretendia suprimi­la, da
de Lisboa ! . . . (1) vida atribulada que a mesma vinha tendo entre « promessas falazes
de melhoramentos, e surdas ameaças de aniquilação», do falso e inju­
Nâb nos interessa aqui saber o que fizeram as outras Escolas
rioso conceito que alguns faziam do amor dos Portuenses pelo estudo.
quando Oliveira Pimentel apresentou na Câmara dos Deputados o
O último, capítulo era um justo e digno protesto contra a projectada
seu trabalho. Da Academia Politécnica sabemos n<Ss que imediata­
mente deliberou protestar. O respectivo Conselho Académico encar­ transmissão ao Poder Executivo das funções que em assuntos de
regou alguns dos seus membros de redigirem a Representação a enviar Reforma pertenciam ao Legislativo, embora se declarasse nada recear
à Rainha. Mas logo depois resolveu (em sessão de 3 de Abril) subs­ do Governo, que ultimamente tinha dado várias provas de simpatia
tituir a Representação por uma Memória que seria impressa para pela Academia Politécnica.
mais larga difusão e na qual amplamente se fizesse a análise do fami­ A Memória tem a data de 1." de Maio de 1854 e é assinada por
gerado Projecto. Desse trabalho foi encarregada uma Comissão com­ todo o corpo docente da Academia (').
pssta de Santa Clara, Parada, Torcato e Braga. Na mesma sessão,
este último apresentou as bases em que, «com especialidade, deve ser Tinham defeitos a organização e o funcionamento deste estabele­
fundada a Memória, as quais foram aprovadas e se mandou que cimento ? !
fossem distribuídas por todas as Câmaras Municipais e mais Autori­ Ninguém os negava. Mas porque nâo os remediaram, já que o
dades e Corpos Colectivos que quisessem representar contra o Pro­ Conselho Académico não cessara nunca — desde 1838 ! — de pedir
jecto» (*). para eles remédio nos seus Relatórios anuais e nas suas represen­
Em sessSo de 28 de Abril seguinte Parada Leitão leu a Memória tações?!
a enviar às Cortes, e o Conselho Académico aprovou­a louvando « o Sim. A Academia precisava de ser reformada, para satisfazer
Sr. Parada pelo trabalho que tinha tido» na sua «confeição» (8). integralmente ao que dela se desejava. Mas reformassrm­na, come­
Não reproduziremos aqui esse extenso, mas notabilíssimo e vi­ çando por lhe darem o que deviam dar­lhe; extinguir não é reformar!
brante documento, sem dúvida a defesa mais calorosa e eloquente Com 4OO5OOO rs. de dotação para todas as despesas como é que
que se podia fazer da Academia Politécnica. Começa êlc por falar queriam, por exemplo, que se organizassem gabinetes e laborató­
do modo como nasceu este estabelecimento de ensino, da consideração rios, « cada um dos quais, depois de organizado, só para subsistir dum
que o Porto merecia aos governos durante o regime absoluto, e da modo não vergonhoso, absorveria toda» aquela Borna, que, aliás, «a<5
desde há muito pouco tempo» era paga «com regularidade, e que,
a­pesar­de exígua como é, já foi cerceada em alguns anos». A vista
<■) Mai. tarde, por Decreto de 5 de Julho de ,869, e outro, de reconduzo, de
disto — dizia a Memória — parece­nos podermos avançar, que o pou­
14 de Junho de , 8 7 a . governou como Reitor a Universidade de Coimbra. Herdara de
.eu pat o titulo de Vi.conde de V.l. Maior, por diploma de 15 de Julho de , 8 c , e o, quíssimo que esta Academia possui em material indispensável para o
arrmnho. de Par do Reino. Morreu e,n Coimbra a í o de Outubro de ,884
V,de O Instituto, de Coimbra, vol. xvi, „.« ; , p. l66. . Inocê„ciot Die. B,bl
vb. /ulto Máximo de Oliveira Pimentel, e Suplemento. (') Breve Memoria sobre a Instrução Publica Superior no Porto e nas Provín­
(') Act», dai Seisõe. Acad. (J 4) fls 60 cias do Norte, oferecida aos Senhores Deputados da Nação Portuguesa pelos Lentes
(*) Id. A.. 60 v o da Academia Polytechmca: Porto: — Typ. de Faria Guimarães, Largo do Laranjal,
n» 4. Op. de 24 pág.
282 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

ensino, além do pouco que herdou da Academia de Marinha e Comér-


cio, é quasi um milagre de .economia, que teria sido por certo mais
bem avaliado, se ela em vez de estar a cinquenta léguas da Capital
estivesse dentro dos seus muros».
Reforma?! Sim. Mas no sentido do progresso! Era «a pri-
meira vez» que o Porto ouvia «a palavra reforma aplicada à instru-
ção como sinónimo de supressão, de aniquilação ».
XVI

Mas estaria realmente ameaçada a existência da Academia Poli-


técnica?! UM RAIAR DE ESPERANÇAS!

Trinta anos mais tarde o Dr, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel


- V i s c o n d e de Vila Maior — declarou que o seu famigerado projecto
A veemente Memória da Academia, a que fizemos referência no
fora apresentado apenas tcomo meio estratégico para fazer cessar a
Capítulo precedente, foi no dia 20 de Maio de 1857 enviada ao Mi-
discussão quasi anárquica em que se havia envolvido uma parte da
nistro do Reino, Rodrigo da Fonseca Magalhâis (1).
Câmara dos Deputados» a propósito do projecto de Magalhâis Cou-
tinho a que já fizemos referência. Embora a 23 este ainda a não tivesse recebido, (') cremos bem
que não tardou a lê-la, pois parece poder interpretrar-se como res-
E acrescentou : - * O meu projecto foi mandado à Comissão de
posta a Portaria de 30 do mesmo mês, pela qual Fonseca Magalhâis
Instrução Pública, e lá ficou, como eu esperava, sem ter as honras de
ordenou ao Conselho Superior de Instrução Pública eonsultas.se sobre
um parecer: porém ao menos a importuna discussão, que tomava im-
as providências a tomar para melhor organização da Academia Poli-
produtivamente tanto tempo à Câmara, acalmou ou antes cessou de
técnica.
todo. Eu mesmo não instei pelo Parecer da Comissão ; o Projecto
Seria isto indício de que melhores dias se aproximavam ?
era extremamente revolucionário para a época, e, não tendo o apoio
H que providências teriam sido propostas?
do Governo, não havia probabilidade de o fazer vingar » (1).
Não o sabemos, roas podemos talvez depreendê-lo da clara, ex-
Pois, não lhe deve ter ficado muito grata a Academia Politéc-
tensa e pormenorizada lista de reclamações que a pedido do referido
nica, embora por um lado, como afirmou mais tarde, ela tivesse
Conselho para esse efeito a Academia elaborou, e que passamos a re-
razões para estimar que entre os inimigos que a guerreavam na sombra
sumir, conservando-lhe a disposição por capítulos.
aparecesse finalmente um com lealdade e coragem de a atacar às
claras e de frente !
Laboratório Químico. Insistia-se na sua instalação na Igreja já
profanada e no claustro a ela contíguo do extinto Convento das Reli-
giosas Carmelitas, e argumentava-se com o grande pé direito e abo-
badado da Igreja, com a conveniência do Claustro, para despejos e
arrumações, e da água de bica que ali havia, etc.
6A Cadeira. Mais uma vez se afirmava a necessidade absoluta
da sua restauração, não para « nela se ensinar Artelharia e Táctica
Naval», matérias que já pertenciam «às respectivas escolas especiais,

{') In O Instituto, vol, 44, p. 526-528. O 0-5, fl». 108 v ° .


(*| U ib.
284 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
UM RAIAR DE ESPERANÇAS ! 285

mas para completar os cursos do Programa, o qual marcava o


forma «a que ninguém seja admitido a matricular-se (na Intendência
ensino de Construções publicas ». Fazia-se notar que mesmo « assim
de Marinha) sem que apresente certidão de aprovação 110 exame
fica a cargo da 3." Cadeira a Mecânica de Sólidos e Fluídos, Máqui-
perante as competentes Academias. »
nas Hidráulicas e de Vapor, e Geometria Descritiva, não podendo
Curso de Pilotagem. Dizia-se a este respeito que, « para facilitar
tão variadas disciplinas ser lidas numa Cadeira, nem num só ano, e
por isso tem sido lidas por dois Substitutos, o que os impossibilita de a habilitação de Pilotos com o curso teórico, com que durante a exis-
acudirem à regência de qualquer das outras Cadeiras quando o Pro- tência da Academia Real de Marinha e Comércio tantos se habilita-
prietário esteja impedido ». ram, e que posteriormente à criação da Academia Politécnica tem
rareado, ou antes cessado de habilitar-se, muito convinha reduzir o
Observatório. Descrevia-se o lamentável estado a que chegara.
Curso de Pilotos na Academia a dois anos, como antigamente, dis-
«O Observatório interino, que foi levantado numa parte do edifício,
pensando-os de cursar outras aulas, que na Academia Politécnica são
está incomunicável, por ter apodrecido o travejamento da escada (!)!
obrigados a cursar. »
O engenheiro Plácido António de Abreu, Director das Obras Públicas
Criação duma Cadeira de Construções Navais. Apontavam-se
do Distrito, procedeu já, por ordem do Ministério das Obras Públicas
as vantagens que daí adviriam « para a indústria de construções de
(Portaria de 5 de Junho de 1854), e assistindo cu (João Baptista Ri-
navios mercantes, que no Porto e em outros portos do Minho e Beira
beiro), e o Lente de Astronomia da Academia, ao exame, ao orçamento
tanto tem prosperado.»
(sic) de quanto importaria essa obra indispensável e urgente, e deve
Criação de duas novas Cadeiras : —Geologia, Mineralogia e Arte
ter subido a informação à respectiva Secretaria de Estado».
de Minas; —Agricultura, Economia Rural, Tecnologia. «Atendendo
Digamos em parêntesis que, efectivamente, em 5 de Junho de
a quanto estão sobrecarregadas a 7.* Cadeira, onde se ensina Zoolo-
1854, antes de enviada este Relação, o Director Geral das Obras
gia, Mineralogia, Geologia, Lavra de Minas e Metalurgia; a 9." Ca-
Públicas, Barão da Luz, havia ordenado ao Conselheiro Director das
deira, onde se explica Química Inorgânica o Orgânica, Artes Quími-
Obras Públicas dos Distritos do Porto, Braga e Viana, que mandasse
cas, e, interinamente, por causa do Curso Administrativo, Tecnologia;
proceder à confecção do projecto e orçamento referentes às obras
e a 10." Cadeira, onde o Professor tem de leccionar Botânica teórica
requeridas pelo Director da Academia para o Observatório Astronó-
e prática, Veterinária, Agricultura e Economia Rural, e considerando
mico (1). Escusado é acrescentar que tais obras nunca se fizeram...
que não é possível dar-se a cada um destes ramos da ciência, por
Freqilêrma de Militares. Citavam-se factos e disposições legais
falte de tempo, aquele desenvolvimento que o estado actual das ciên-
para mostrar a justiça com que havia tantos anos se pediam provi-
cias e os fins da Academia exigem », o Conselho Académico propunha
dências no sentido de ser transformada em realidade «a permissão
da Lei, concedendo-se licenças aos Militares, que se propusessem, a «a criação de duas novas Cadeiras, ficando então a Secção de Filo-
cursar na Academia Politécnica do Porto as disciplinas preparatórias sofia a constar das seguintes:
da Escola do Exército, uma vez que mostrem aproveitamento.» 7." Cadeira — Zoologia e Veterinária.
8,« » — Física e suas principais aplicações.
Criação duma Cadeira de Economia Política. Lembrava-se a
9.1 » —Química Orgânica e Inorgânica.
utilidade desta nova disciplina, para os estudantes que se dedicassem
10. ' » — Botânica teórica e prática.
ao Comércio; além disso completar-se-iam assim os cursos preparató-
Nova » — Geologia, Mineralogia e Arte de Minas.
rios da Escola do Exército, e desapareceria « o pretexto de que a
* * — Agricultura, Economia Rural, Tecnologia.
Academia não tem os estudos suficientes» para aquela Escola.
Máquinas e Instrumentos. Aludia-se a uma relação junta de
Habilitação de Piloto». IVdia-se o cumprimento da Lei, de
instrumentos e máquinas mais necessários; mas, infelizmente, tal rela-
O D 32, fls 62 v o ção não a encontrámos.
Remanescente dos prémios. Pedia-se o cumprimento do Alvará
286 HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA UO PORTO UM RAIO DE ESPERANÇAS! 287

de 16 de Agosto de 1825, não revogado, e indispensável para 0 me­ 200$000 rs. ; outro Guarda 1.° Oficial do Jardim Botânico a 200$000 ;
lhoramento da Biblioteca. e 3 Guardas a 146$000 rs.
Guardas. Frizava­se a necessidade de serem nomeados o 1 » Também nesse ano de 1854­55 foi aumentado o corpo docente
Oficial do Jardim Botânico e o Guarda do Laboratório Químico da Academia.
lugares que existiam na Lei (art 0 162." do Dec. de 13 de Janeiro de' Como dissemos num Capítulo anterior ('), tinha sido posta a Con­
1 8 3 7 ) ­ a l é m de mais dois, para perfazerem o número de cinco curso em 1853 a vaga de Professor proprietário da 7.* Cadeira;
a­pesar do Dec. de 19 de Outubro de 1836 marcar seis Guardas à
tinham­se apresentado quatro candidatos; chegara a escolher­se o Júri,
Academia.
que seria constituído por todo o Conselho, mas à última hora o Con­
curso nâo se realizou. É que surgira em 10 de Agosto daquele ano
Tais foram as aspirações e necessidades urgentes que o Conselho uma Lei, publicada no Diário do Governo, n.° 209, a qual consignava
Académico da Politécnica, por intermédio do seu Director, em 31 de certo preceito para cuja execução, em 5 de Setembro seguinte, o
Agosto de 1854, enumerou no documento que enviou ao Conselho Conselho Superior de Instrução Pública ordenou ao Director da Aca­
Superior de Instrução Pública ('). demia Politécnica que fizesse «convocar o Conselho Académico a­fim­de
Se os altos poderes do Estado quizessem atendê­las ! . . . formular os Regulamentos necessários para inteira execução da Lei na
E de presumir que a informação que o referido Conselho, ba­ parte respectiva àquela Academia, devendo êle Director remeter depois
seado nesse documento, deve ter mandado ao Governo, tenha con­ tudo ao sobredito Conselho Superior para este propor ao Governo o
tribuído para as medidas que por essa época começaram a dar que mais convier». Na mesma data foi mandado arrancar o Edital
satisfação a algumas das reclamações acima enunciadas, pois é certo para o Concurso da 7.* Cadeira, e dadas como de nenhum efeito as
que durante o ano lectivo imediato (1854­55), em que continuou a ser ordens que a tal respeito haviam sido superiormente transmitidas (*).
paga muito pontualmente a magra dotação da Academia, «principiou Em sessão de 1.° de Outubro daquele ano de 1853, o Conselho
­ d i z o competente Relatório — a ter execução a Lei de 20 de Se­ Académico resolveu que uma Comissão — composta por João Bap­
tembro de 1844, que obriga os Pilotos práticos a vir requerer exame, tista Ribeiro, Francisco Joaquim Maia, lente proprietário, adido, e
para, à vista dos diários das respectivas viagens, se lhes passar a' José Augusto Salgado, Secretário da Academia, como adjunto e Se­
competente carta de piloto ou sota­piloto; pelo Ministério da Guerra cretário da Comissão — elaborasse o Regulamento a que acima se
foi concedida licença a vários militares, em número de 19, para fre­
alude (■).
quentarem esta Academia, tendo­se remetido em tempo competente
Nas Sessões de 24 e 27 de Outubro (*) foi discutido o respectivo
uma relação ao Ministério do Reino do seu aproveitamento, cum­
Projecto, trabalho da referida Comissão, tendo dois dos lentes pro­
pnndo­se assim a Portaria de 4 de Agosto de 1853 » (').
posto emendas. O art." 1.°, aprovado por todos menos por António
Além disso, no Orçamento do ano de 1855­56, aparecem já seis Luiz Soares, é assim redigido : — « A antiguidade para a promoção
Substitutos a 400$000 rs., 1 Guarda do Laboratório Químico (3) a dos Lentes Substitutos Ordinários à Classe de Catedráticos será con­
tada do primeiro despacho para o Magistério, conforme o art.0 l.° da
(') O­5, fli. i i o v . o i i j3 » o Carta de Lei de 17 de Agosto de 1853.» Álvares Ribeiro propôs
(*) M , ils 132 v.o a 135,
que a esse art.0 se acrescentasse: — « § único: Vagando a propriedade
(") Em 26 de Setembro de 5 6 foi afi.ado o edital para o concurso de Guarda do de qualquer Cadeira da Academia Politécnica será proposto para
Uboretóno. ma, ficou deserto. Ib. fb. , 4 , „ . R e p e t i d o n o , „ „ ime ^ g

•aceder o me,mo fl,. 150. O Tribunal do Con». Sup. de Inst, em sessão de 8 de Janeiro
de 1858 entortem o Director . nomear profanamente para êeee carÊo pessoa à 5Ua (') Cap. XIV, págs. 271.
eecolha; eete recaiu sobre Fr.nci.co Pereira de Amorim e Va.concelos, com can. de (') D­3Î, fis. 52.
cepeadede obtida na Academia no Curso de Matéria. Filceóficee em que .e distinguira
<*J J­4. fis. 53.
Of. de R,be.ro ao Presidente do dito Tribunal em 30 de J.neiro 1858, id ils i 5 o (*) Id., f!.. 54 v.o a 55 v.o
288 HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNI UM RAIAR DE E S P E R A N Ç A S ! 289

Lente Proprietário dela o Substituto mais antigo da respectiva secção.» Como já dissemos, José Vitorino Damásio tomara em 1843 à
u a r t £. d i z i a : - « O concurso para as Substituições vagas será sua conta a regência dessa disciplina cumulativamente com Geome-
regulado pelos Programas especiais.» (') tria Descritiva c Mecânica (3.° Cadeira).
Aprovado o dito Regulamento, imediatamente dele aproveitou o No princípio do ano lectivo de 1851-52, Pedro de Amorim
Substituto Arnaldo Anselmo Ferreira Braga, q u e , p o r Dec. de 19 do Viana, novo lente Substituto, oferecera-se a Damásio para ensinar
Julho de 1864, e Apostila de 6 de Agosto seguinte, foi promovido Ù Geometria Descritiva, e insistiu no oferecimento com o fundamento
propriedade da 7." Cadeira (*). de desejar exercitar-se e desenvolver-se nestas matérias. Damásio
Para a substituição vaga, abriram-se Concursos, com o prazo de aceitou, ficando portanto a reger somente Mecânica, e em dias alter-
60 dias a contar de 2 de Janeiro de 1855 (3), e elaborou-se o res- nados Construções Públicas.
pectivo programa («); e e de notar que, tendo havido dúvidas na Mas logo em seguida Damásio adoeceu gravemente e obteve
admissão do candidato Domingos Martins da Costa (>), foi este a-final licença do Governo (Portaria de 30 de Outubro de 1851) para ir
quem triunfou em luta com António José da Costa Sampaio, Manuel para a Ilha da Madeira ('), sem deixar de receber os seus vencimentos
Alb.no lacheco Cordeiro, Agostinho António de Sousa Coelho e Al- pela Folha da Academia.
meida Oliveira e António Luiz Ferreira Girão ((1).
Viana continuou a reger Geometria Descritiva, mas acumulou
Não concorreu, como da primeira vez, Francisco de Sales Gomes essa regência com a de Mecânica; Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa
Lardoso. Certamente que não lhe valia a pena. Costa Paiva Pro- encarregou-sè de Construções Públicas (), que começou a reger
fessor da 10.' Cadeira de que êle era Substituto, (Restava grave- logo que tomou posse do Lugar de Substituto, isto é, ainda no ano
mente doente, e o acesso à respectiva propriedade garantia-lho o lectivo de 1851-52 (3). Por sinal, tendo sido encerradas as aulas no
novo Regulamento. dia 28 de Abril de 1852, devido à visita da Família Real e ao Per-
Com efeito Gomes Cardoso veio a ser promovido em 1859 (8) dão de Acto subsequente, Gustavo Adolfo continuou a ensinar em
como adiante se dirá. sua casa o estudante que havia frequentado Construções, a-fim-de
Quanto a Professores ainda a situação não era de todo má. que este pudesse gozar do Perdão de Acto, atendendo a que o ano
Para o que o Governo não dava remédio era para a falta da nessa disciplina começara muito tarde (1).
Cadeira de Construções, cujas matérias tinham de continuar anexas José Vitorino Damásio regressou curado da Madeira em Julho
I 3. Cadeira, o que era motivo de complicações muito graves. seguinte.
Voltou para o Porto, mas logo no ano imediato foi chamado a
<'> J-4. As 55 v.o Este Regulamento (com o acrescentamento das seguin- Lisboa a-fim-de prestar serviço no Conselho Geral das Obras Públi-
.«palavras ao ,„.«, 2 o _ p r o g r a n l a s e s p e c i a i | l . o r g , n i „ d o l ,, A c i d e n | i , ., foj cas e Minas, junto do Ministério das Obras Públicas, e de assumir o
v.ado em J 8 de Outubro de ,853 , Jogo Manuel de Lemos, Vice-Presidente do Con-
selho Supenor de Instrução Pública, .para q u e s e sirva fazê-lo constar »0 mesmo Conse- cargo de Director Interino e Lente Interino da 0." cad. do Instituto
lho > (O 5, fls. 102) Industrial Lisbonense (5).
(') Anuário de 188384, p, ; 0 ; O-,, b. no
(') D-32, (ts 68,
(') Vide em Elogio Histórico Je Jose Victorino Damásio por Nery Delgado
(«» O-5. A, , .6 v.o a , , 8 v.o O progr. tem a data de 4 de Dezembro de 1854 Anuário de 89-90 (p. 99 e 100 e notas) a notícia mais desenvolvida do que se passou
I ) D 32, I1S 6 9 . Portaria do Ministério do Reino mandando admiti-lo de tb com Damásio por esta ocasião.
de Janeiro de 1855
(*) O-5, fis. 94 V.o
ft Proposta do Cons. Académico, de 31 de Março de 1855. em favor de Do- (b) Id. fis. 99 e v o
mingos Martins da Costa. (O.5, Ht. 122 ».a « 123 v.o).
(*) Id. fis. 99 v.o
('I Gomes Cardoso era Substituto dessa Cad. e das f.; 8.1 « 9 , a .
(r,| I d , fis. 131 v o e 149 —Nomeado por Dec de 4 de Agosto de 1853,
|8) Anuário de 1883-84, p ;h.
fis. 149.
290 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
UM RAIAR UE E S P E R A N Ç A S ! 291

Por esse facto Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa continuou a


reger Construções Civis, (') arbitrando­lhe o Conselho o ordenado do 2." — Há­de a Secção de Matemática marcar qual dos anos do
Proprietário, por entender que ao caso se aplicava o disposto no art." curso trienal da 3." Cadeira há­de lêr­se este ano?
6 da Carta de Lei de 17 de Agosto de 1853 (8). Decidido unanimente que sim.
Mas a dada altura o Governo invalidou essa deliberação, por 3.°­—Se houver algum professor que se ofereça gratuitamente
a reputar ilegal. Na sessão do Conselho Académico de 23 de Outu­ para 1er um dos outros anos da 3." Cadeira, há­de aceitar­se o ofere­
bro de 1855, o Secretário da Politécnica interino, Francisco da Silva cimento?
Cardoso, (3) leu uma Portaria do Conselho Superior de Instrução Pú­ Decidido unanimente que sim (1).
blica, que remetia por cdpia outra do Ministério do Reino de 10 do Amorim Viana pensou alguns dias no caso, e na sessão imediata
mesmo mês, a qual mandava anular a gratificação arbitrada ao Sub­ do Conselho Académico (f) de Novembro) apresentou uma proposta (2)
stituto Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa; «a Cadeira de C ons­ na qual se oferecia para 1er C anstruçôes, comprometendo­se a não
truct* não estava compreendida no quadro do ensino, nem o Con­ pedir por esse serviço a gratificação que a lei marcava para o Substi­
selho da Academia tinha competência para criar novas cadeiras, com tuto que regesse a 3.a Cadeira, embora se reservasse o direito de ape­
aumento de despesas para o Tesouro, por ser isto proibido pela Lei lar para o Governo da decisão tomada na anterior sessão do Conselho;
de 5 de Agosto de 1854, art.» 7.° e 18."». O Ministério do Reino em segundo lugar pedia que lhe dessem a regência da 3." Cadeira»
mandava igualmente anular o prémio atribuído nessa disciplina ao por ser o Substituto mais antigo.
aluno José Joaquim Gomes Coelho, irmão do futuro Júlio Denis, — Esta proposta foi submetida à Secção de Matemática, e na Ses­
por considerar tal atribuição «desvio de alguns dos prémios perten­ são imediata (12 de Novembro) o Conselho, quanto à regência da 3."
centes às disciplinas legalmente estabelecidas, e contra o art 0 23 da Cadeira, resolveu não reconsiderar (3).
mencionada Carta de Lei » (*). Em 1801­1862 ainda C onstruções eram regidas por um Substi­
Para que não deixassem de ser ensinadas as matérias de C ovs­ tuto de Matemática, gratuitamente (4).
truçõe», sd havia pois um recurso: nada ganhar quem as regesse, en­ O que dissemos relativamente à gratuitidade de ensino de Cons­
quadradas nas disciplinas da 3.* Cadeira. Era preciso defender «o truções a que Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa fora condenado,
desmantelado mas invencível reduto » ! aplica­se igualmente a outros Substitutos.
Em face de tudo isto Gustavo Adolfo ofereceu­se imediatamente Francisco Sales Gomes Cardoso teve a seu cargo de 1853­54
para reger de graça Construções Civis, enquanto Amorim Viana decla­ até 1856 a disciplina de Botânica (10." cadeira) por se ter ausentado
rava que nunca ensinaria matérias que a Lei não autorizasse ( 5 )... o respectivo Proprietário Barão de Castelo de Paiva (5).
O Conselho, forçado a encarar o problema, dividiu­o, por pro­ A esse e outros Substitutos que regeram Cadeiras, como Fran­
posta de Álvares Ribeiro, em três partes:
1 . ° ­ A regência da terceira Cadeira há­de ser feita pelo Substi­
tuto mais antigo ou alternadamente em cada ano pelos dois Substitutos? (l) J­+, fis. 69 v.o,
Decidido por maioria que fosse regida alternadamente. (*) Id. fis. 70.
(1) Id. fis. 70 v.o.
(') Id. fl*. 130. (*) O­J, fis. 262 \.o.
C) ib. a», i j t . (s) O­s, fis. 136 v o, O Barâo de Castelo de Paiva ate fins de Setembro de 1856
(3) Era o Substituto mai, moderno; exercia o cargo de Secretário por ter falecido foi vogal da Comissão para a factura do Código Florestal, e da Secção de Agricultura no
pouco antes José Augusto Salgado D­32, fis. 75. Conselho Geral do Com. Agricultura e Manufacturas, por Dec. de a de Nov. de l8$3­
(l) J­4. ''•■ &9­ A Portaria in D ­ J Î , fis. 78 vo e 79 Cost» Paiva regressou ao Porto, mas no i.o de Janeiro de 1857 voltou a ausentar­se
(6) J­4, fis. 69 v.o. em Comissão do Governo, na forma da Portaria do Ministério do Reino de 1 de Janeiro
de 1857. lb., fis. 149 v o
292 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO UM RAIAR DE ESPERANÇAS! 293

cisco da Silva Cardoso, Ferreira Braga e Amorim Viana ('), o D i ­ No anno pretérito quando os outros centros de instrução supe­
rector da Academia abonara­lhes os vencimentos dos Proprietário»; rior foram convenientemente considerados quanto ás suas dotaçíes,
a Academia Polytechnica, indubitavelmente o primeiro estabeleci­
mas Rodrigo da Fonseca Magalhâis, em Portaria de 2(5 de Maio de
mento da sua classe nas províncias do norte, ficou esquecida, per­
1856, proibiu que tal se fizesse daí para o futuro e mandou a manecendo no mesmo estado em que sahiu das mSos de V. Ex."
Baptista Ribeiro que indicasse o modo de indemnizar a Fazenda Na­ Nós por muitas vezes temos representado sobre isto, dese­
cional do que a mais pagara aos referidos Professores (2). nhando fielmente a carência dos meios, e notando que a nossa
E os Substitutos tiveram de se sujeitar pequena dotação para pouco mais chega que para reparar o edifício ;
o que nïo é possível dispor da mais pequena parcella para encobrir
a nudez e pobreza dos Gabinetes e da Bibliotheca, da qual o estado
No Relatório de 55­56 diz­se que a 3.» e IO.1' Cadeiras ainda se torna cada vez mais lastimoso, porque o pouco de que podíamos
eram regidas por substitutos, em razão dos seus proprietários conti­ dispor, n3o da dotação, mas dos prémios que nao forem conferidos
nuarem ausentes em comissão do Governo, tendo a 3." sido regida nas différentes aulas, e que segundo a dispoBÍçao ainda vigente do
Alvará de 16 de Agosto de 1825 deviam sêr aplicados exclusiva­
por dois conjuntamente mas pro diviso, sem que um tivesse rece­
mente para compra de livros, isso mesmo nos tem sido negado
bido gratificação alguma, — « tal é o zelo do Magistério desta Aca­ uprsar da expressa determinação da lei: estas tam justas requisiçOes
demia na instrução dos seus alunos » (3). por em quanto níto tem BÍdo devidamente attendidas.
No ano seguinte Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa continuou Por todos estes motivos ousamos incomodar a V. Ex.* ; e por
por deliberação do Conselho Académico a reger gratuitamente a dita que em extremo confiamos (pie nfto poupará esforços para engran­
disciplina de Construções, « p a r a do modo possível ser suprida a decer uma obra toda de V. Ex.*, e da qual, como das outras do seu
género, é que devem partir para a nossa pátria os verdadeiros meios
grande falta que faz a 6." cadeira » (4).
da ilustração.

Academia 23 de Abril de 1855.


Outro grave problema da Academia ­ mas a este não podia o
zelo e dedicação dos Professores dar­lhe solução conveniente — e r a o Ill,1"" e Ex.""' Snr. Manoel da Silva Passos, Ministro e Secretario
financeiro e económico. d'Estado Honorário, c Deputado em Cortes (').
Enquanto a outros estabelecimentos científicos eram concedidas
as precisas dotações, a Academia Politécnica continuava quási na A antiga pretensão de se fazer reverter como outrora para a
indigência. compra de livros da Biblioteca o remanescente de prémios não distri­
Como recurso extremo, em 25 de Abril de 1855, o Conselho Aca­ buídos, não conseguiu vingar. O Ministro do Reino Silva Sanches,
démico apelou para Passos Manuel : em 20 de Setembro de 1856, declarou que embora o Governo reco­
nhecesse « a utilidade da proposta providência, não pode aceder a ela,
111."'" e Ex,"1* Snr. em consequência do preceito consignado no a r t ° 24 da Lei do Orça­
Estando prestes a entrar cm discussão, na Câmara de que mento Geral do Estado de 17 de Julho de 1858, que lhe inibe de
V. Ex.* é digno Membro, a lei do Orçamento, nós. como Lentes da transferir para qualquer outra despesa as somas votadas para cada um
Academia Polytechnica do Porto, dirigimo­nos a V. Ex." para que dos Capítulos do sobredito Orçamento» (').
por essa occasiao promova com a sua valiosa influência o aumento
da dotação d'esté estabelecimento, cuja gloriosa creaçâo é devida sô A regra orçamental era óptima. Mas as consequências, para a
e unicamente a V. Ex." Academia, é que não eram b o a s . . .
Pelo que se passava com o Laboratório Químico pode fazer­se
(') 0­5, fis 138 1 1 idea do que iria pelos restantes Gabinetes.
(') Id, fis. 138 vo
["I Id ils, 145. (') Registo de Ofícios e Exp. (O­jJ, lis 123 v « ■ 124
<*! Id. fis. I 6 Î . (') 1.­32, fis. 88.
294 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
UM RAIAR DR ESl'EKANÇAS ! 295

Em 1 de Novembro de 1853, o Lente Santa Clara de Sousa E sarcástico continuava : — « Se Sua S." entende que tais análi-
Finto, a f i r m a v a : - «O Laboratório está pobríssimo de tudo: não te- ses se podem fazer só com um fogão, um abano, carvão, carqueja,
mos reagentes, não temos cápsulas, não temos tubos, não temos fras- lumes prontos, panelas de folha e tubos de vidro, tudo isso a Acade-
cos, enfim nada temos» - o u antes tinha apenas « usadíssimos cacos mia lhe pode fornecer, mas eu entendo (talvez mal) que isto não basta,
com que faço uma ou outra operação para a prática dos Estudantes». e que são necessários outros aparelhos e utensílios de mais subido va-
E referindo-se às análises que os Juizes lhe mandavam realizar
lor ; e esses, repito, nem a Academia os tem, nem tem dinheiro para
para instrução de processos crimes, acrescentava : — « Não sei nem
os comprar, porque o Governo de Sua Majestade lhos não tem dado,
posso compreender a razão por que sobre o Laboratório da nossa»
a-pesar-das reiteradas instancias dela » ( ).
Academia, « para o qual o Governo não tem dado um ceitil, hâo-de
Para conclusão digamos que em 28 de Fevereiro de 1860 um
carregar tantas e tam repetidas análises» toxicológicas, «enquanto
preparador do Laboratório declarou que os reagentes que ali existiam
que os Laboratórios de Coimbra e Lisboa, que tam bem sortidos se
eram os que estavam numa caixa havia dezasseis anos ou mais ! ( ),
acham, e t€m tantos meios à sua disposição, estão sempre às moscas
como é costume dizer-se » (1). Em 1856 a Junta Geral do Distrito resolveu espontaneamente
Acentue-se que Santa Clara afirmando que nada havia no Labo- representar ao Governo acerca das medidas «de maior urgência e
ratório exagerava. Havia pelo menos, como Ôle mesmo dissera em 31 proveito » de que a Academia carecia, (3) repetindo esta diligência
de Março de 1850, além dum Fogão grande, dois fogões pequenos de em 1857 (4).
barro (desses «que por aí se compram a 20 réis»); duas cápsulas de
porcelana rachadas no fundo; um maçarico ; um cântaro de barro em Esclareça-se, porém, que o Governo dessa data não parece ter
que estava a água ; ácido sulfúrico ; ácido azotico ; e alguns outros rea- tido má vontade à Academia Politécnica.
gentes, mandados pelo Conselho vir de França, «o que o competente Era de alguns dos membros das Câmaras que vinham a oposição
Ministro lhe não levou a bem»... (*}. e a guerra.
Insistia teimosamente o Delegado do Ministério Público para que O que nesse ano de 1857 se passou na Câmara dos Deputados,
a Academia facultasse os instrumentos e utensílios necessários às aná- quando se discutiu o Projecto de Lei da Comissão de Fazenda rela-
lises toxicológicas requisitadas pelo Juiz de Direito Criminal. Mas tivo A inclusão no Orçamento duma pequena verba destinada às ur-
facultar o quê, se nada havia?! gentíssimas obras da Academia, é concludente.
São dignos de ficar arquivados nesta Memória alguns trechos da Contemo-lo rapidamente.
resposta de Santa Clara a uma dessas exigências.
O Projecto rezava assim :
Fizera êle já saber ao Juiz « que o Laboratório não tem actual-
mente aparelhos e utensílios para tais análises, nem meios para os ha- Senhores: —A continuação das obras para o acabamento do
ver; e então, como ha-de a Academia prestá-los? Ignora Sua S " edifício da Academia Politécnica portuense é indispensável nâo 80
peloi estabelecimentos de instrucSo teórica e prática que nela já
que Nemo <iat quoá non habet? Eu disse nessa resposta - prossegue
o lente — e em português claro: Não há, nem pode haver». O Dele-
gado invocava Portarias, mas Santa Clara replicava que o espírito (') D-31, Os. 56 v.o 57. Of. de Sant» Clara ao Director da Academia, em 15 de
Novembro de 1853.
destas « nunca foi nem pode ser obrigar a Academia a prestar o que
l'| D 3 2 , fis 131 v.". De certa data em diante era o Procurador Régio que pa-
nao tem, nem pode haver, aliás obrigariam a um impossível, e a im-
gava as despesas feitas com reagentes para exames toxicológicos criminais. Isto deu-se
possíveis ninguém é obrigado ». por ex. ja em 1856. (D 32, (Is. 90).
(") L-32, lis. 83. Of. do Governador Civil, Barïo do Valado de 7 de Maio d*
(') L-32, lis 55 v o 56. 185b, pedindo em nome da Junta ao Director da Ac. a nota das ditas providências.
(') D-32, St, 20 v o (*) L-32, fis. 95 v.o Id. de 4 de Março de 1857; O-5, fls. 146 v.o Relação e of.
de J. B. Rib. de 24 de Maio de 1857.
296 RIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

existem, mas por ser pelas mias proporções c arquitectura o dito


edifício um dos mais úteis e importantes da secunda cidade do País.
O imposto especial para a construção de tam i m i t a n t e e van-
tajoso edifício foi encorporado no rendimento do Estado, e a indcmni-
saçao prometida pelo dec. de 14 de Julho de 1832 ainda nao foi
satisfeita 1
A urgência de concluir tam importante edifício tem sido na
Câmara electiva proclamada. Baste mencionar o parecer n " 110 da
Comissão de Fazenda de 1852, e a proposta assinada por mais de
quarenta deputados, e apresentada na sessão de 12 de Maio de 1854
pelo ilustre deputado o snr. Basílio Alberto de Sousa Pinto.
A conveniência de reunir quasi todos os estabelecimentos cien-
tíficos, Literários e artísticos do Porto naquele edifício é incontestável
Assim a vossa Comissão de Fazenda, tendo ouvido sobre a pro-
posta n." 9-E a ilustre Comissão de Obras Públicas, oferece à dis-
cussão e aprovação da Câmara o seguinte projecto de Lei :
Artigo 1.» - É votada a soma de 4.000JOOO réis, no ano eco-
nómico de 1857-1858, para a continuação das obras do edifício da
Acadeima Politécnica da cidade do Porto.
§ 1,° —Esta quantia será paga pela soma de 40.800$000 réis
12
nu ^ J ! ^ °
Obras Públicas. -* d ° art
-' U
' d0
O ç a ^ n t o do Ministério das

§ 2.» - O Governo poderá sem detrimento do dito edifício fazer


no plano das obras as alterações que a economia, o fim para que é
destinado e a experiência exigirem.
Art. 2.» - Fica revogada a legislação em contrário.
Sala da Comissão, 30 de Abril de 1857.
Manuel da Silva Passo»
José da Silva Passos
Barão de Almeirim
Luiz Augusto Rebelo da Silva
Faustino da Gama
António Cabral de Sd Nogueira (com declaração)
Augusto Xavier da Silva
Joaquim Honorato Firrtira,

Convém advertir, antes de resumir o debate parlamentar sobre


este Projecto, q u e desde minto se pensava efectivamente em trazer
para o edifício da Academia outros estabelecimentos culturais que
havia no Porto.

m / í ""TV4 d e J a D e Í r ° d C 1 8 5 5 , ° B a r a ° d o V a k d o ' Governador JOSÉ DA SILVA PASSOS


Uivil do Distrito, dando cumprimento à Portaria do Ministério do
Keino de 6 de Julho de 1854, preguntava a JoSo Baptista Ribeiro se A quem a Academia Politécnica ficou devendo assinalados serviços
considerava aquele edifício com as proporções e capacidade necessá-
UM RAIAR DE ESPERANÇAS! 297

rias para serem transferidas para o mesmo a Biblioteca Pública, a


Academia de Belas-Artes e o Museu (').
Como não podia deixar de ser, a resposta foi negativa. Estando
já ali pessimamente instalados quatro estabelecimentos — Academia
Politécnica, parte da Academia de Belas-Artes, o Liceu Nacional, e,
no andar superior, o Colégio dos Órfãos — sem falar na recente
Escola Industrial em organização — e achando-se ainda por erguer a
maior parte do edifício, evidentíssimo era que, não chegando o espaço
para tentos estabelecimentos que jíí lá estavam, não havia capaci-
dade para mais nenhum ! Concluísse-se a construção e já o caso
seria diverso ! E para tanto bastaria, segundo Baptista Ribeiro, que
nos Orçamentos do Estado fosse para esse fira incluída, « durante
muito poucos anos », a verba de cinco ou seis contos (2).
Passados meses, em 20 de Dezembro do mesmo ano de 1855,
uma Portaria do Ministério do Reino mandou organizar, por arqui-
tecto a nomear pelo Ministério das Obras Públicas, o Orçamento e
plano das obras que seria preciso fazerem-se para a instalação no
referido edifício de todos os Estabelecimentos literários do Porto (s).
Esse arquitecto entender-se-ia com o Governador Civil do Distrito,
com o Comissário dos Estudos, e com o Director da Politécnica.
No dia 17 de Janeiro seguinte estas três últimas individualidades
e o Conselheiro Director das Obras Públicas do Distrito reúniram-se
na Academia (4). Nessa reunião resolveu-se apenas, segundo cremos,
que Baptista Ribeiro pedisse à Escola Médico-Cirúrgica, à Academia
de Belas-Artes, ao Liceu Portuense e à Biblioteca Pública os pro-
gramas das obras que julgavam necessário realizar no já referido
edifício para instalação desses estabelecimentos. Obtidos estes infor-
mes, Ribeiro mandou-os ao Conselheiro Plácido, Director das Obras
Públicas do Norte, acompanhando-os de tftdas as plantas necessárias,
para que êle, como técnico, elaborasse ou fizesse elaborar os orça-
mentos e os projectos das respectivas obras (5). Foram, porém, de-
correndo meses e meses, e nada mais se adiantou... (6)

(') O-5, ris. 118 V o 119.


(*) O-5, fli. 119 e v.o R e s p . de J B Ribeiro, de 9 de Janeiro de 1855.
(") D - 3 I , fl» 81 v o
(1) D . 3 2 . fK 82.
('') 0-5 fis. 144 e v.o Of. de J. B. Ribeiro ao Governador Civil, Barão do
Valado, em 14 de Fevereiro de 1 8 5 ; .
(*) Id fis. 157 v.o
298
IV'HICA r>A ACADKMIA POLITÉCNICA DO PORTO
UM RAIAR DE ESPERANÇAS 1 299

£0r& r0JeCt d 6 LPÍ C à 8CSS


da cZrT
da Câmara U r de
do. Deputado,, f 0 Maio
° de 1857, data­ em^ ' lque, a m eacen­
nt­ José Passos sugeriu, ao terminar, uma alteração ao Projecto que
tuêmo­Io nenhuma das obras ree.amadas se começara ainda a £ ^ ) . se discutia : em seu entender os 4 contos deviam sair não da verba das
Sá Nogueira falou em primeiro lugar, apenas para di*er o motivo obras do Ministério das Obras Públicas, mas das receitas gerais do
de haver vo^do a proposta eon, declaração ; é q u e c n t c n c l ( . r a (, J™ Estado, já que o rendimento do imposto dava entrada no Cofre Geral
d.a que as obras deviam ser inspeccionadas pelo Governo : não tenho da Nação.
duvula em votar o projecto ­ afirmou ; m a s dar dinheiro « J Discursaram depois o Ministro das Obras Públicas, Carlos Bento
para quê, não se po<ie votar (Apoiado,)* da Silva, dando o seu apoio ao Projecto, e Sá Nogueira, concordando
José da Silva Passos foi o segundo a usar da palavra e pronun­ com as considerações de José Passos.
ciou um longo discurso. Mas chegou a vez da oposição falar: Fontes Pereira de Melo,
embora confessasse reconhecer a necessidade de concluir o edifício,
de C ^ T T Z ­ T V ° ,1mara COm° f6ra f"ndada « * « * « * exprimiu a sua opinião de que o projecto, tal como estava redigido —
trui, 2 2« ", ' S r qUe Pa™ eSta haVÍa Sid° '"­ d « d ° — 4 contos tirados dos quarenta votados para o Ministério das Obras
Públicas — era não só «o mesmo que não votar cousa alguma para a
tru,r um ed,f c,o segundo plano aprovado pelo Governo, e Won do
conclusão do edifício da Escola Politécnica do Porto s , mas também,
imposto especalmente criado com o fim de ocorrer As despegas a fa­
e por outro lado, «sacrificar o entretenimento das obras e reparos
zer com a dita Academia. Explicou de P ois que tal imposto álLI
CaÇã de que carecem muitos dos edifícios públicos».
1 ^ ^ 1 í' d G S d e Q U e e n t r a r a ™ V Í ^ ° r ° r > ­ ­ ^ 14 de
n ma s Í ve b , 7 ^ " ^ ^ ^ ^ fô
—­Porado Em conclusão: o que Fontes queria era torpeâear os míseros
a .ma só verba todos os impostos estabelecidos no consumo do vinho quatro contos...
que se pagavam no Douro e que se calculasse a importância do r e Z Passos pediu a palavra para dfeer, esclarecendo o seu « ilustre
dmento por certo número de anos, p a r a q u e a e indemnizassem as amigo», que já manifestara a opinião de que aquela verba devia sair
pessoas e corporações que percebiam algumas partes dos impostos das receitas gerais do Estado, não se prejudicando assim as reparações
encorporados no rendimento do Estado pelo decreto citado » doutros edifícios.
bm aparte comentou :
E voltou a afirmar que era urgente e justo dar remédio ao estado
P A * 7 " P a r e C e q U e é Um m a " f a d ° q U e p e r s e K " e ^noh cidade. No tristíssimo de abandono em que se encontrava a Academia Politécnica.
lôrto paga­se um imposto para as obras da barra, e nós todos sabe­
mos o estado em que ela se acha! (Apoiados). Dissera Sá Nogueira que tinha estado no Porto em 1849 e que
visitando a Academia « vira que ela não tinha salas para as aulas de
«No Porto paga­se um imposto para as obras da Academia­ a
A c j d e c , . est, por concluir (Am<l^ , 0 Estado recebTdo o iZ instrução teórica e prática que ali estão estabelecidas ; mas não é só
posto especial que para elas era destinado»! isto, Snr. Presidente!» — exclama José Passos.
E com veemência : «Desde 1837, a Academia Politécnica tem sido abandonada; <■
uma escola de instrução prática e teórica que tem um laboratório sem
oiça d V l Í r a 7 g 0 n , h a ' S'm Pre8Ídente' qUe a Acadumiil *<***■ sala capaz, nem máquinas nem instrumentos, nem produtos ; que tem
mca do Iorto tenha sido construída debaixo do Governo Absoluto o um observatório também sem sala, nem instrumentos, e até sem esca­
ren e dÍnentos q rd V e Í °; ^ ° "* Hberdadt ' " * * ■ *»*> ^ *>« das para se subir para êle, porque estão podres; que tem um .lardim
rendimentos e deixado ex.st.r a Academia em um ,st.ulo , , , , 6 urna Botânico que não serve para uso dos alunos da Academia Politécnica
vergonha e um opróbrio para aquela cidade e para o G O V T , , lib, r " e da Escola Médico­Cirúrgica, porque não está definitivamente orga­
nizado; paga­se aos empregados mas não há meios para o agricultar» !
(') M ib « Este estado deplorável — afirmou José Passos — não pode con­
tinuar 3 .
300 A HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
UM KAIAR U t ESLERANÇAS ! 301

Fontes, que esteva apostado em destruir os argumentos apresen-


que se dava à cidade do Porto votando o projecto em discussão,
tados em favor do Projecto, levantou-* logo em seguida para declarar
a-fim-de se fazerem obras no edifício da Academia Politécnica para
ter duvidas a opor à asserção feita por Passos (José) de que „ Governo
o qual a cidade pagava um tributo!» (Apoiados).
estivesse usufruindo «o imposto especial pago pela cidade do Porto com
Concluiu afirmando votar «envergonhado» «este pequeno pro-
destino à construção do edifício da Academia; era preciso vêr se este
imposto especial» não seria «como muitos outros - e citou o Subsí- jecto», mas que votaria «na primeira ocasião um projecto tam largo
dio Literário criado por Pombal - q u e na sua primitiva tiveram apli- como deseja o nobre deputado, como deseja a Câmara como deseja
cações especiais, e ^ ] e i g s u b s e q í i e n t e s f o r a n j e n c o r p o r a d o g todo o governo ilustrado».
geral do Estado ». O Ministro das Obras Públicas, Carlos Bento da Silva, falou
ainda e apoiou as ideias dos irmãos Passos, pois não seriam os quatro
Dizia isto em nome dos princípios ; não para combater o Projecto-
contos que haviam de agravar o deficit orçamental.
nem pensar nisso... Quanto a esse assunto o que èle queria era que
Ia enfim passar-se à votação, mas Fontes pediu à Câmara que
houvesse um sistema na distribuição do dinheiro, «que se veia pri-
lhe permitisse dizer ainda duas palavras.
meiro os meios de que se pode dispor e depois se distribuam pelas
E a questão reacendeu-se !
obras que mais reclamam a atenção da Câmara».
As duas palavras de Fontes mnltiplicaram-se extraordinariamente
Pede então a palavra Passos Manuel, o grande reformador
porque falou durante talvez meia hora para contestar que fosse consi-
Como patrono eleito da Academia Politécnica afirmou que o que
derado restituição o que se ia fazer à Cidade do Porto ; e, embora
a cidade do Porto queria não era favor nem privilégio. O tributo
insistindo mais uma vez em que não combatia o projecto, foi esse o
que a mesma pagava, nSo era até certo ponto dever, mas sim genero-
seu papel em toda a sessão, como acaba de se ver.
sidade, porque, se não pagasse este imposto, o edifício da Academia
Politécnica do Porto devia sêr feito à custa do Estado, como o da Carlos Bento da Silva, o Ministro, respondeu-lhe. Não fazia
Escola Politécnica de Lisboa, o da Universidade, e o de todos esta- sentido *que a Câmara, que votou antes de ontem um empréstimo
belecimentos literários; e isto, porque não havia Municipalidade a de 100.000^000 réis para a reconstrução do edifício da Escola Poli-
respeto da instrução pública; a instrução pública derrama-se por técnica de Lisboa, e a terça parte das matrículas para reparações e
toda a parte. construções na Universidade de Coimbra, hoje parasse diante da soma
de 4.000$000 réis e chegasse tam cansada ao Porto que não tivesse
Depois de se queixar de que tivessem sido os seus próprios amigos
ânimo para votar essa sòina indispensável ! » (Apoiados — Vozes :
políticos quem tivesse combatido a criação, com a amplitude decretada
— Muito bem).
«pela e, de 1837», de 17 liceus nas capitais dos Distritos, salientou
Mas a oposição não se dava por vencida.
que a Academia Politécnica não tinha nada do que se lhe prometeu e
Vendo o terreno a fugir-lhe, um dos seus membros, Casal Ribeiro,
de que carecia — acrescentando :
pediu a palavra e atacou o Ministro das Obras Públicas por pregar o
- «É preciso atender la necessidades da Academia Politécnica
princípio das economias e não o aplicar.
do Porto, como o temos feito com a Escola Politécnica de Lisboa
para a qual ainda ontem votamos um empréstimo para fundar o seu' Declarou que ia votar contra o projecto, porque entendia que era
edifício ». irregular concederem-se 4.000$000 à Academia, e depois 36.000$000
para acudir às necessidades das Obras Públicas ; que isso era votar
Muito melhor evidentemente - como havia dito Fontes, talvez
o Orçamento aos bocadinhos.
com manha de rapoao para adiar a questão - seria contrair-se tam-
Teve de descer à liça um novo campiâo da Academia.
bém «um empréstimo para com ele dentro dum ou dois anos se con-
António de Serpa pediu a palavra e falou nestes termos sensatos:
cluir o edifício da Escola (sic) Politécnica do P o r t o - mas sem pre-
— « Snr. Presidente, eu tenho visto desnaturar completamente a
juízo dessa medida supunha que «era um testemunho de consideração
questão (Apoiados), tem-se votado este ano, tem-se votado em todas
302
1STÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCN UM RAIAR DE E S P E R A N Ç A S ! 303

M Câmaras despesas mais importantes do que esta do que afio» se obras, convinha progredir executando esse plano, ou se pelo contrário
trata, e não se espera para o Orçamento.
cumpria introduzir nele algumas alterações (1).
«Ainda ontem se votou uma verba mais crescida para um esta­ Em face da resposta do Director e da Consulta do Conselho Su­
beleamento análogo , os ilustres deputados q „ e estão sempre a a t r perior de Instrução Pública, no ano seguinte a Portaria do Ministério
c r é que 6 w tem do Reino de 19 de Janeiro de 1858 ordenou:
iso : e t r tr**** ** °­ s *—; í — « 1.° que as obras do edifício continuem desde já, segundo o
cm os e votaram uma verba mais importante sem lhes acudirem as
primitivo projecto na parte que deva subsistir ;
r e b o e s que agora lhes causam tantos escrúpulos. A verba qu
ontem se votou era mais importante; mas ontem não lembrou espe « 2.° que o Conselho da Escola (sic) Politécnica do Porto nomeie
rar pela d.cussão do Orçamento. Ainda aqui se não voto , ^ de entre os seus membros uma Comissão que presida à projecção, di­
ano despesa mais justificada. recção e fiscalização das obras ;
«Pagava­ee um imposto loca! para o edifício de que se trata, e «3.° que esta Comissão proponha por este Ministério o que tiver
este a p o s t o fo, encorporado „ a s contribuições g e r a l do Estado por conveniente para a conclusão do Edifício na ordem a que nele se
O que hoje se va! fazer é uma retribuição. Fala­se no Subsídio Lite­ possam acomodar todos os estabelecimentos científicos do Porto ;
rário mas a questão aí era diversa. O Subsídio Literário era 1 «4.™ que o Director das Obras Públicas faça parte da mesma
em relaÇã a PSÍS e era apHead0 Comissão, como Fiscal por parte do Governo» (2).
HoTeV ° ° • **«***> *«L
Hoje entra na recata geral e da receita geral sai a despesa para toda Etc.
amstrução. É uma questão de contabilidade. Na primeira sessão que, após essa Portaria, o Conselho da Aca­
«Mas não sucede isto com este imposto; este imposto é pago so" demia realizou a 22 de Janeiro de 1858 tratou­se de nomear a Co­
pela cidade do Porto, para um edifício na mesma terra. I W ^ missão acima referida, saindo eleitos à pluralidade de votos, em escru­
rou­se aos .mpostos gerais do Estado; é justo que deles saia agora a tíneo secreto, João Baptista Ribeiro, Arnaldo Anselmo Ferreira Braga
despesa de construção do edifício. Ainda por este lado ,ne e Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa (3). Passados onze meses, em
que esta despesaé justa e equitativa (Apouuio,). A questão esta
24 de Outubro, era enviada a Loulé a proposta das obras a realizar,
debatida, e não direi mais nada. »
observaudo­se «que nenhum obstáculo pode haver para a continua­
Finalmente !
ção das obras na parte em que deve subsistir o primitivo projecto, a
Passou­se à votação!
não ser a demora em pôr ã disposição da Comissão os meios indis­
Foi aprovado o a r t 1 ­ eliminado o 2.« por proposta da Gomis­ pensáveis para ocorrer às respectivas despesas» (4).
são, e aprovados o § 2 e o a r t 2.°,
Surgiram, porém, dificuldades. Essa Proposta não foi aprovada
E no Orçamento do Estado para o ano económico de 1857­1858 — «tudo dependia das plantas» (b) — pelo que a Portaria de 31 de
Uh 1857) aPareCeU C Dezembro de 1860, nomeava nova Comissão para examinar o estado
~ 0 é ° ^ " °"^ada * " * • ^
Politéc!^ i Para COntmUaÇa
° ^ 9
° bras d o Edifí
™ ^ Academia do edifício em que se acham estabelecidas a Academia Politécnica e

I') O ; , fis. l o i
Saiba­se no entanto que isso, no momento, de nada valeu (*) D­3J, Hs. 105 v o. A disposição do art. 4 0 « foi confirmada [...] pelo Minis­
Esta verba continuou a figurar nos Orçamentos posteriores, mas, tério das Obras Públicas em 19 de Fevereiro de 1879 participada ao Director das Obras
como vamos vêr, 8<5 muito mais tarde a Academia começou a recebê­la, Públicas do Distrito do Porto em oficio de 12 do dito mê» e ano». Nota marginal lan­
çada no dito livro D 32, e assinada por J. A. Albuquerque, suretdria interino.
(;l| Id. As 159 ».<•■
A Portaria de 27 de Agosto de 1857, do Marquês de Loulé (*\ O­5, fis. 115 e v.o
mandava que o Director informasse se, havendo algum plano para as (") O­5, Us. 240.
304
ISTÓRICA DA ACADEMIA POUTÉCNI

UM RAIAR UE ESPERANÇAS ! 305

a Escola Industrial desta cidade e organizar o p]ano geral das obras


MaÍB uma vez se verificou o velho axioma: — Há males que
Chvd, que servia de Presidente, pelos Directores das Obras Públicas vêem por bens. O estado de ruína do edifício livrara­o daquele
Academ.a Pditéenicae Escola Industria., e por dois Vogais um de intruso... (1)
cada um destes estabelecimentos, escolhido, peb respecívo C o n s Î Por cima da sala que servira ao Liceu ficava a aula de Comér­
P cio, que também por essa ocasião teve de ser desocupada. As traves
fciíR^p! ^ P°1ÍtóCnÍCa f0Í
° Unte Substit
«'° ^, de soalho estavam podres, e foi preciso escorar o teto para se evitar
8 cçao de Fdosof.a António Lui, Ferreira Girão (¾ Como no edi­
que abatesse a armação do telhado !
fício funcionavam duas aulas da Academia Portuense das Belas Artes
e o L l ceu Naoonal, a Portaria determinava que a Comissão, caso Z O teto da aula de Desenho encontrava­se na mesma lamentóvel
conhecesse ser preciso todo o edifício para a Politécnica e Escola In­ situação : em ameaça de desabamento iminente. A armação do telhado
dustrial, propona as providências que conviesse adoptar para dar ou­ entre a Casa do Navio e a do Liceu, e que cobria a entrada para as
tra sede aos restantes estabelecimentos (4). aulas de Desenho, Comércio e Matemática, tinha as terças quebradas
Instalada essa nova Comissão em 21 de Janeiro de 1801 foi o e abatidas até o dormente, que se encontrava suspenso por ferros c
seu primeiro cuidado vistoriar o edifício. Logo reconheceu ser'indis­ cachorros de pedra ; em 1861 o dormente esteva já traçado, e alguns
pensável fazer nele alguns reparos mais dispendiosos do que aqueles ferros deschumbados do lado de cima, por não poderem com o peso
que se costumavam realizar por conta da exígua verba votada annal­ dos telhados. Como todas essas armações tinham ligação entre si,
mente para expediente. Essas obras foram orçadas em 2.100$000 réis para consertar umas era preciso repará­las a tôdas, e a desgraçada
Pediu­se esse dinheiro ao Ministro, mas nada se obteve. E en­ verba de expediente não chegava para nada !
quanto a Comissão ia preparando o plano geral das obras a realizar A parede do corredor que dava servidão às aulas do lado do
tudo continuou no mesmo abandono. Poente e Nascente, e que separava o Colégio dos Órfãos da Acade­
A parte do edifício em que funcionava o Liceu encaminhava­se mia, estava totalmente podre, e sustentada apenas pela cal que anual­
a passos firmes para o desabamento, tanto que em 1861 aquele Esta­ mente se lhe deitava, sucedendo até, quando nela se abriam buracos,
belecimento de Ensino Secundário mudou para uma c a l aíugtdl. passarem por estes os órfãos, se lhes aprazia virem servir­se das
Ambos os Estabelecimentos lucraram com a mudança, diga­se retretes da Politécnica que no mesmo corredor existiam.
Além de telhados novos e de novos estuques nas aulas de Dese­
u l Z n A T ' n ? P Í ° ' C O m ° 8 a b e m 0 S ' ° L i c e u fôra ­ " t o r a d o
nho e Comércio e no salão de Desenho, era preciso fazer o telhado
uma Secção da Academy e tudo ia bem. Mas desde que passou a
não ser asmm, logo surgiram desinteligências e conflitos, provocados da Casa do Navio e sala contígua do lado sul, numa superfície de
pnncpalmente pelos estudantes. Subiam com frequência ao Governo 1500 ml ; fazer e pintar caixilhos, e pôr vidros nas janelas dessa
queixas do Reitor do Liceu, por causa de incidentes entre os alunos Casa; caiar todo o edifício por dentro e por fora; e finalmente
dos dois Estabelecimentos (5). remover entulhos ! (*) Como não havia dinheiro, nada se fazia.
Além disso a falta de salas originava também desagradáveis O edifício continuava tendo cada vez mais o aspecto trágico dum
questões entre os próprios Lentes. ^auaveis pardieiro abandonado !

0 G­5, fis. 240.


(') Livrara­se de um, mas logo esleve ameaçado de outro. Em 2cj de Outubro
() Id. fis, 240 e v o ,
de i 8 b l , o C omissário dos Estudos do Distrito do Parto propôs ao Conselheiro Direc­
(|) J 4. As. Sessîo do Co Ac.™ d e 16 de Jan. de iHto tor Geral de Instrução Pública a mudança para o edifício da Academia, da aula do En­
1 » No Anuria da l„sPrcçào Extrordlnár,a de j M dfi jino Mútuo que funcionava no extinto Convento dos Carmelitas. A idea nîo foi por
J
( I O ­ 5 , fis 2 4 2 e v.o ' * ■*•>'
diante. O 5, fis. 242.
(") O­5, fis. 242 v o 244.
:m HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO U U RAIAR Lit ESPERANÇAS ! 307

E já não falamos das dificuldades enormes cora que esta escola Já estava principiada, desde o tempo da Academia de Marinha,
estava a lutar por não ter acomodações suficientes para os serviços a parede da frente norte do edifício. Baptista Ribeiro vinha pedindo,
As salas de aula eram tara poucas que se tornava «difícil a combi- desde Novembro de 1857, que se concluísse essa fachada (1). A Por-
nação das horas para harmonizar as lições para os diferentes cursos.» taria de 19 de Setembro de 1863 acima referida fez-lhe a vontade,
« A sala chamada dos exames », onde se realizavam também as sessões pois mandou que as obras começassem por ali. A antiga Comissão
solenes da Academia, era « nos tempos ordinários dividida por um encarregada de fiscalizar e dirigir a construção foi reorganizada em
tabique de lona», improvisando-se desse modo duas salas; a Secre- Sessão do Conselho Académico de 3 de Fevereiro de 1864 e ficou
taria estava « por assim dizer num corredor de passagem, com grave constituída por Baptista Ribeiro, Presidente, e Parada Leitão, Gustavo
prejuízo dos trabalhos desta repartição.» A Biblioteca era «o lugar Adolfo e Ferreira Girão ('), Antes de 17 de Março de 1865 já se
único mas impróprio,» onde se reuniam os lentes no intervalo dos trabalhava na frontaria norte (3).
trabalhosí 1 ). Mas até na Biblioteca funcionaram a u l a s : - a s do Notemos ainda, antes de passarmos a outro capítulo, que o ano
Lente da 3. à Cadeira no ano de 1859-1860 (*). de 1857 foi por mais dum motivo uma época relativamente próspera
Entretanto nesta vergonha e nesta miséria o tempo foi passando na vida da Academia.
não sem que se continuasse a preparar o projecto das grandes obras Já contámos como lhe foi concedida a verba anual dos quatro
a realizar. Em sessão de 30 de Julho de 1862 o Conselho Acadé- contos para as obras. Falta ainda dizer que nesse ano foi também
mico votou agradecimentos a Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa criada, mercê da iniciativa e da calorosa defesa dos Irmãos Passos,
«pelo jnuito trabalho que teve em elaborar as plantas e cortes para o a Cadeira de Economia Política e de Princípios de Direito Comer-
edifício da Academia, oferecendo para subir ao Governo um trabalho cial e Administrativo (Lei de 15 de Julho de 1857), e além disso foi
que honra a Academia» (*), do que se depreende sem sombra de votada a quantia de 1.100$000 para melhoramentos dos Gabinetes
duvidas que já se encontravam feitos naquela data os cortes e plantas Científicos !
a que se alude. Em 29 de Agosto o Conselho Superior mandou que a Academia
Ao cabo de dois anos estava, portanto, concluído o projecto de organizasse os Programas para o Concurso de Economia Política (4) ;
Gustavo Adolfo : mas só em 26 de Janeiro de 1863 era enviado ao quanto ao Subsídio, a mesma entidade dirigiu no mês imediato a
Governo o plano gerai de todas as obras, orçadas em 234.929$550 Baptista Ribeiro a seguinte Portaria :
r é i s - f e i t a s as quais haveria acomodações no edifício, não só para as
duas Academias (Politécnica e de Belas Artes), mas também para a Achando-se votada, pelo Capítulo 4.°, art,0 3.°, Seeç&o 2.* da
Escola Industrial e Biblioteca Pública ('). Tabela dos despesas do Ministério do Beino, autorizadas para o
corrente ano económico, a quantia de 1.10OJ00O réis para conserva-
Mas como tudo levava imenso tempo a resolver, foram precisos ção e aperfeiçoamento dos Estabelecimentos dependentes da Acade-
mais sete longos meses para que finalmente, a 19 de Setembro mia do Porto, Manda Sua Magestade El-Rei, pelo Conselho Supe-
daquele ano de 1863, o Governo autorizasse o início dos trabalhos rior de Instrução Pública, ao' Director da referida Academia que
e mandasse « pôr à disposição da Academia a soma de 8.000$000 faça convocar o Conselho Académico, a-fim deste informar com a
réis incluída nos orçamentos de 1862-1863, e 1863-1864» (5).
{') O-S, fls. 156 v o 157 e 157 v o 15g. Representações de 30 de Novembro e
I de Dezembro de 1857.
( ) V.de Relatório d. Comissão «carregada do plano Geral do edifício de *6 de ('I O-s, fls. í74 vo
Janeiro de 1863, trecho reproduzido no Relatório de T. M. de Abreu . , , , , l") O-p, fls. i86 v.o
<*) 0-5, tis. 115. "' * *
(*) Em sessão de 1 de Outubro de 57 foi eleiu a Comissão que havia de elabo-
Is) J-4, fls 115.
rar o Programa, compost* por Alvares Ribeiro (5 » cad.), Pereira da Silva (II.» cad.) e
ft No Relatório da Inspeeçáo extraordinária de J. M. de Abreu, p. 35. Amorim Vi*na (Subst. de Matemática). (J-4, fls 79).
(5) Relatório de J. M. de Abreu, eit. pig. 35.
litis
1STÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔ
UM SAIAR DE ESPERANÇAS! 309

Vem 8 e r 8
ïïtîa da I Í " ° '****»»*» de instruo posta do Ministro foi. que * todos os estabelecimentos literários e
prática da Academia a q u e convenha aplicar a dita tòma em nre científicos estão legalmente sujeitos ao pagamento de tais direitos,
8e„ça das necessidades de ensino, e progress das ciências cuja isenção só poderia ser permitida em virtude duma lei especial, e
Coimbra, 26 de Setembro de 1857. que, por conseguinte, o pagamento de que se trata deve ser feito
Joti Ernesto de Carvalho t Rêgo, Vice­Presidente, <•> pela verba de 1.100$000 réis [...] donde também devem sair as de­
mais despesas e transportes, indispensáveis para aquisição dos objec­
tos aludidos » (1).
de 1100$00$ rs, «nfe poder chegar para infceira fi , Por fim o novo material chegou.
de tôda 8 as necessidades que existem, mas Sd para remediar a l g u Z Com inteira justiça o Conselho Académico deliberara em sua
de maior urgência», o Conselho assentou em que fosse repart7da sessão de 19 de Novembro de 1857 ;— « ponderados e feitos patentes
pelo Ex.mo Snr. C ons.o Director Presidente os muitos e mui desve­
tara! Jardim Botâmco, Aula de Desenho, Gabinete de Instrumentes lados c relevantes sernços, que à Academia ton prestado, e continua
Astronómicos, Náuticos e Topográficos (3). a prestar o Ex.»<<> Snr. Deputado José da Silva Passos, que, com
28 ^ T G O T è r n ° , T o ? " 1 0 1 1 6 a P 0 r t o r i a d ° M i n i 8 t é r i 0 d 0 ífeiao de incansável zelo e dedicação tem promovido e continua a promover a
todo o momento o bem estar possível da mesma Academia ; » sendo
PúbHca d D e 7« H" 8 5 8 ' 06 ° f í C Í 0e dano
° C O nmandaram
SeIh
° S u p 6apHcar
ri0r de
aI » ­ ™ * »
nooToof Î if" ,'"? '
.100*000 nu conforme os desejos da Academia (*), ­ a cuja disposição
«*. * pelo mesmo Ex.mo Snr. Presidente proposto por tão justos motivos
um voto de agradecimento Académico ao mesmo KJC .'»O Senhor De­
^ s a quantm foi posta pela ordem de 10 de Abril seguinte <■) putado José da Silva Passos», o Conselho unanimemente aprovou
Autorizado peio Conselho, o Director João Baptista Ribeiro en­ esse voto e resolveu *que desta mesma avta se lhe remeta cópia
comendou para a Fábrica de Lerebours e Secretan (? ) de Paris (6) di para seu conhecimento na parte respectiva. » (')
versos lust­umeutos e máquinas até ao valor de 870$00. O Banco
Mercantil foi encarregado de fazer o pagamento por intermédi do
seu correspondente na Capital francesa, e Manuel de Almeida Ri­
ilaU ,í C a d e m Í a ' qUe alÍ 8e aCha f0Í i n c u m b i d d
'* °*
aquisição e remessa (').
A encomenda pouco antes de Outubro de 1859 foi carregada

Porto. Procurou­se obter­lhe i s e n t o de direito,, «a exemplo do


que se pratica com outros estabelecimentos literários» (»), mas a rcs­

2 JTD"f4, 'fl».« Î79.T S«mVï of deí"'i 1de? 1Outubro


U
i0? £ V p0r ia de 8 de e i r o
° '" ' J­ ­ '»5«.
de 1857.
("I Id 80. Sessão de 19 de Novembro de I8CT
(*) D. J Í , fls 107 e , .

E.I. d2 N ^ d o ' Ù ! " ' * RÍU


' * ~ P
" ­ ™>> "'"««» « ­ • ­
(') J­4, fls. 88. (') D­32, ils. 128
(8) O.5, fli. 191. Cl J­4, fls. 8o,
XVII

ENTRE DUAS ARREMETIDAS

(1*54-1863)

Regressemos um pouco atrás, e respiguemos, dos Relatórios


anualmente enviados pela Direcção da Academia Politécnica ao Go-
verno, a notícia de alguns factos de maior interesse para a história
da vida interna deste estabelecimento aos quais ainda não fizemos
referência, acrescentando de passagem informações complementares
colhidas noutros documentos. Estudaremos neste capítulo o período
decorrido entre 1854 e 1863, isto é, entre o ano em que o Deputado
Oliveira Pimentel apresentou em Cortes o seu famoso Projecto de
Reforma da Instrução, e aquele em que novo movimento se esboçou
contra a integridade da Academia Politécnica.

No ano lectivo de 1854-55 a dotação foi paga pontualmente.


Passou de 130 para 132 o número de alunos matriculados, tendo em
seus estudos sobressaído alguns por maneira tam assinalada que os
respectivos Lentes declararam desejar poder distingui-los, se possível
fosse, com mais do que o prémio.
As Cadeiras 3.11 e 10.", em razão dos respectivos proprietários
ainda estarem impedidos em comissões do Governo, continuaram a
ser regidas pelos respectivos substitutos.
Jíí dissemos que nesse ano o Ministério da Guerra concedeu
licença a desanove Militares para frequentarem a Academia ( ).

Como no ano anterior, também no de 1855-56 logo no princípio


da época foram pagos os 400$000 rs. da dotação de expediente.

(') Relatório de 30 de Setembro de 1855 (O-5. Ht. 132 v. 133).


312
IA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCN
KNTKE UTIAS ARREMETIDAS 313

A frequência aumentou enormemente, pois p a s s o u de 182 para 158 o Princípios de Trigonometria plana, e Geografia Matemática, e outra
umero de alunos; mas este extraordinário acréscimo foi decido 8 0 de Princípios de Física e Química e Introdução à História Natural
bretudo a ter sido fechada a Universidade por causa do Cólera e d e dos três Reinos, estatuiu no art." 6.° que os exames das disciplinas
lá terem v,ndo alguns aluno s para a Academia ('). ensinadas nessas duas cadeiras, um ano depois destas serem abertas,
constituiriam habilitação necessária para a primeira matrícula em
todos os cursos de Instrução Superior, em qualquer classe (').
dotaÍ Tfr^SlrÍaTel 7T^ «■""» * Assim foi cumprido, findo o prazo legal, na Academia Poli­
irequencia toi de 132 estudantes; também houve como
técnica ; o Edital de abertura de matrícula de 6 de Setembro de 1856
nos a antenore8t aIguns que ae ^ tendo 2 Z 2
prémios, mas, como estes eram apenas nove, foram sorteados re e­ diz : — « Tendo decorrido o praso marcado no art.0 6.° da Lei de 12
P r 8 0rífÍC0 9 trÔS eStUdantPS a de Agosto de 1854, todos os alunos que quiserem matricular­se no
2 couberam.
não c°ou b eZ Onze
o' estudantes
7 tiveram áemtm*— «* ^
1.° Ano [... ] são obrigados a habilitar­se para a L* matrícula com
Nesse ano nâo funcionou o laboratório Químico, «em razão das os exames das disciplinas das cadeiras criadas pela referida lei, além

i r : Vm^ztt ■; fcola rustria1'aonde se ­L das outras a que são obrigados pelas leis vigentes para poderem
alcançar a mencionada matrícula » ('). O Edital de 1 de Setembro
Tivcm dP j^^rjrs^r^­ss:
PCM ordenadas pela autoridade judicia!. A­propósito o RelatÍÍ
de 1857 exigia certidão de aprovação nas disciplinas de Arimética,
etc., como determinavam a Carta de Lei de 1854 e a recente Portaria
8e nVenÍente P a r a b6m do Conselho Superior de Instrução Pública de 11 de Agosto de
to ; %r ' * ­ —cos académieZ J
to míhses fossem requeridas ao Laboratório da Escola Médico! 1857 (s).
todo o e 7 8 e 'I maÍS b e m m0Dtad0
' ° r e a n i z a d 0 e •«**> de Mas, pouco depois, começou a pensar­se que nâo era bem isso
tudo o necessano, e haver ali um Lente e um Farmacêutico privati­ que mandava a Lei : ela não era aplicável senão aos cursos superio­
vos de toxicologia, e haverem ali mais meios pecuniários para e n t e a r res, e na Academia Politécnica havia cursos que não tinham aquele
a despesa das Analises. » Observava­se que o Lente de QuímicÍ d carácter — v. g. Pilotos, Comércio, Artistas, Oficiais do Exército —
Academia, ocupado com M requisites judiciais, se via o Lg do a pelo que não deviam ser exigidas aos candidatos a estes cursos as
de.xar os seus alunos trinta e mais dias sem lições ('). referidas habilitações (4).
No 1.° de Outubro daquele ano de 1857 o Conselho Académico
çâo d f e o L d e D e Z e
Ír° ^ 1858 tinha Baptí8ta
K W "a»18a ^atisfa­ representou ao Conselho Superior de Instrução Pública, expondo este
8eU RdatÓrÍ0 (refcrente
TJfJZ r ^ "­58) que parecer: o Conselho não se julgou autorizado a resolver o caso,
ma favoráveis foram o andamento e fim deste ano lectivo. > Um consultou o Governo, e ordenou, em 9 do mesmo mês, que enquanto
motivo havia mesmo para grande r e d i j o : era o facto do Governo não baixasse a decisão ministerial fossem admitidos provisoriamente
r a t e n d o «a Representação do Conselho Académico s o b r e 7 " ! A matrícula os alunos que a requeressem unicamente para os estudos
nuína interpretação da Carta de Lei de 12 de Agosto de 1854 ar­ industriais (5).

Z^ÍZ^f0 ao mod0 de —­ ­ ­­s « ­ ~ (') O jj, fls. 153, » « 154. Representação do Conselho Académico a S. If, eni i
I T A n . t 6 8 i d e P r o a s e e"i™os torna­se necessário explicar que a Cart, de Outubro de 1857
de Lei de 12 de Agosto de 1854, que criou no Liceu do Pô to c o l o l*) I I , Ils. 66 v o
™ J ™ » * ^ uma Cadeira de Arnica, M X ^ ^ lJ) Id.fls.66 v.o e 67.
(') O 5, fls. 153 TO 154. Representação do Conselho Académico ao Rei em I
de Outubro de 1857.
rt Relator^ de , 7de Fevereiro d e l857 (Q fls
fy D­32, fls 101 v.o 103. E J­4, fls, 78 v o Sessão do Cons. Acad, de 1 de
(1 O­s.fl,. , 6 , , . . . , 6 4 . Relatório de , * de Março de 1858 Outubro de 1857.
314
MEMÓRIA H1STÓR.CA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Em 13 do mesmo mês o Marquês de Loulé declarou em Porta-


ria, com grande satisfação para a Academia Politécnica, que «a habi-
litação prescrita no art.» 6.° da Lei de 12 de Agosto de 1854 não é
necessárm nem exigível para a 1.' matrícula no curso de instrução
dos Pilotos, Comerciantes, Aspirantes a Oficiais do Exército e Artis-
tas », e mandou inscrever até ao dia 31 «os alunos que no presente
ano se tiverem apresentado e apresentarem ainda até ao dia 15 do
corrente para se matricularem em qualquer dos indicados quatro cur-
sos, e que não houverem sido inscritos nos Livros da respectiva ma-
tricula unicamente por falta da habilitação aludida » (1)
Observemos desde já que não era essa condição a única erigida
pela dita Lei: ela impunha também a realização de exames prepara- (g
tórios com júris rnlxtos de professores da Academia e do Liceu Mas
a Academia, pelas razões que adiante se dirão, não pôs em prática
tais exames.
Outros factos ocorridos durante o ano lectivo de 1858-59 deram
também razão ao contentamento de Baptista Ribeiro, expresso nas ,5
palavras atrás reproduzidas: foi em 1858 que o Parlamento votou a m 5 PI
—' c
verba de 4.000$000 rs. para prosseguimento das obras da Academia
e 1.100$000 para melhoramento dos gabinetes. Embora os quatro
contos nao tivessem sido ainda recebidos, o Governo mandara entre-
gar o subsídio do conto e cem, tendo além disso habilitado Baptista § t
Kibeiro a distribuir os prémios aos alunos no dia da abertura das m M 1
Aulas, mandando pontualmente pagar a dotação do expediente. m
Foi igualmente nesse ano de 1857-58 que pela primeira vez se m
fizeram algumas obras no Jardim Botânico, havendo esperanças de
que os trabalhos continuassem e que no ano lectivo imediato os alu-
nos já lá pudessem enfim começar a praticar !
<s>
Também nesse ano lectivo se aumentara o corpo docente da Aca-
demia, após o concurso que se realizou para provimento da nova Ca- <ss>
deira de Economia Política e Princípios de Direito Administrativo e
Comercial (*).
Tinham sido cinco os candidatos (3). Todos individualidades de
I lllllllllllllllllinil HIIIIIIIIHIH

(') D-32. fis. 103 e vo


<*) O-5. As 173-174 Reluório de 7 de Dezembro de 1858.
rt O Ediul de 60 dia,, a contar de 28 de Desembro de 1857. fo, mandado pelo
C. Sup. de Inst. Pub. ao Director da Ac. em í l do mesmo mês. D.3 fis 104
E N T R E DUAS ARREMETIDAS 315

alto valor meDtal: José Luciano de Castro, António Ribeiro da Costa


e Almeida ; Arnaldo de Sousa Dantas da Gama ; Custódio José Vieira
e Adriano de Abreu Cardoso Machado. Foi este último o vencedor (');
o Dec. de 17 de Julho de 1858 e a Carta Régia de 1 de Setembro do
mesmo ano nomearam-no Lente proprietário da 12.a Cadeira (*).
Não se julgue, porém, pelo que acabamos de dizer que a Acade-
mia tivesse entrado enfim numa fase decisiva e franca de prosperi-
dade e de progresso.
A Cad. de Construções continuava a ser regida pelo Substituto
Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, gratuitamente, por simples obsé-
quio ao Director, o qual a tal respeito dizia : — « NSo tenho outra re-
compensa para este digno Professor senão mencionar aqui o seu Ser-
viço, o que é superior a qualquer elogio».
Continuavam as aulas e gabinetes sem os necessários livros de
consulta, sem os indispensáveis jornais científicos, — comprava-se com
grande sacrifício o Jornal da Escola Politécnica de França — sem os
precisos modelos, máquinas, instrumentos, reagentes, drogas e miné-
rios. Pois como haviam 400$000 rs. de chegar para tudo?! Só os
contínuos consertos dos telhados consumiam uma grande parte dessa
verba. Eram quatro os estabelecimentos literários abrigados pelos
mesmos tetos ; mas srt a Academia era obrigada a consertar os exten-
sos, irregulares e danificadíssimos telhados do edifício! Essa coabi-
tação forçada dava além disso por vezes origem a desagradáveis
incidentes, « por motivo das dúvidas que se suscitam entre os chefes
desses Estabelecimentos. » (3)

(') J-4, fls. 8 j v o 84, Acta da Ses. do Cons. Académico de 17 de Abril de 1858.
(*) Anuário de 1883-84, p. 77.
Como se tratava duma nova Cadeira no quadro dos estudos da Academia foi pre-
ciso nâo só elaborar o respectivo Programa (apresentado pelo respectivo Lente em 7 de
Outubro de 1858, 0-5, fls. /07 e alterado no ano imediato, J-4, fls. pj) mas também
determinar quais os cursos qire à frequência das novas disciplinas seriam obrigados
O Conselho Académico resolveu em Sessío de 30 de Julho de i860, dividir em duas
partes as matérias dessa Cadeira, estabelecendo a obrigatoriedade do estudo de Economia
Politica e Direito Administrativo aos alunos dos Cursos de Engenheiros, Directores de
Fábricas e Agricultura; e de Economia Política e Direito Comercial aos alunos do Curso
de Comércio. Deliberou mais que da II.* Cad. passasse para a 11.» a Economia indus-
trial, e da 10.» a Economia Rural, Administrativa e Legislativa (J-4, fis. 101 v.o).
(") Citaremos um exemplo.
No dia 6 de Dezembro de 1858, um guarda da Academia intimou o continuo do
Liceu a que logo que acabasse a aula de Comércio retirasse o que pertencia às aulas
316
HISTÓRICA DA ACADEMIA POUTÉCN
EN IRE DUAS ARREMETIDAS 317

dois t L l t v ^ U m ! T Î V e r a m d e 8Cr — l a r i a d o 8 vam a segunda parte, mas as duas partes dessa Cad., em lugar de
do,8 jornaleiros aos qua,s „e pagava - é c l a r o ! - p e l a verba do serem lidas em curso bienal por um só" professor, tinham-no sido por
e s p e r t e . . . « Por falta de guardas - acrescenta o í l i a t o ™ 1 dois, como se fossem duas. No citado ano lectivo a leitura de Cons-
os Lentes os q n e descem d a s suas Cadeiras para irem buscar livros truções foi menos regular que de costume, por continuar vaga uma
f u r n a s modelos e estampas. Entram e saem das aulas sem «Te substituição de Matemática, e o único Substituto da Secção ter sido
obrigado a tomar conta da regência da 1." parte da dita 3.* Cad.,
fazer a alguma reqmsicão de serviço. Os que há apenas chegam para
cujo Catedrático continuava em Lisboa em Comissão do Governo.
velar pela polícua académica, o que é bem difícil de fazer „„„, JZ
Neste apuro «fora indispensável aceitar para a 2.* parte da referida
belecimento tio irregular como este» (')
Cad. os serviços do proprietário da 2.* (Amorim Viana), o qual, ape-
na d n N e 8 8 e J n ° ^ ] 8 5 9 d c U - 8 e U m a d d e n t e <»ue P ° d - i a ter origi- sar-dos seus muitos recursos intelectuais, não pôde aturar por todo o
nado a Perda total do edifício. Referimo-nos ao incêndio que a 15 ano o duríssimo trabalho de duas nulas tam difíceis » ('). Verifican-
de Julho se declarou em dependências do Colégio dos O r L por do-se, por isso, cada vez mais a urgente necessidade de restauração
baixo da Secretaria e do corredor da Biblioteca ã P o r felic dade da 6." cadeira, a Academia enviara à « Câmara dos Senhores Deputa-
o s e s t r o deu-se de dia, acudindo-sc-.he a tempo. E como „a B i - dos» uma Representação «apoiando-se num Parecer das Comissões de
bhoteca hav,a poucos livros, foi relativamente fãcil salvá-los a todos Instrução Pública e Fazenda da mesma Câmara 1 . Mas nada se con-
« Com os meios enérgicos e eficazes empregados» pelo Director'
seguira.
«l\T TfÍGS e a , U n O S d a A c a d ™ * «vitou-se talvez a com- O número individual de matrículas nesse período lectivo de
pleta destruição deste e dos mais estabelecimentos l i t e r * » . , acomo-
dados n o e d l f í c I O ; g a i b a . 8 e ) p Q r é m q u e fts d e 8 p e g a s ^ ^ ^ ^ 1859-60 fora de 193.
Pensara-se nesse ano em actualizar o antigo programa des cursos
fazer «para reparar, os consideráveis estragos causados pelo fogo
da Academia; a ciência fizera grandes progressos desde 1838, e as
* foram pagos por esta Academia sem ter verba alguma para casos
semelhantes, do que resultou ficar a do expedient da S e c r Z a matérias que se ensinavam já não eram bem as indicadas no dito pro-
reduzida à expressão mais simples. » grama, mas sim as dos Compêndios modernos que se adoptavam. Era
mesmo preciso — por mais duma vez o Conselho o reconhecera — re-
formar o velho plano geral dos estudos. Nomeada em 1859 para esse
dos il*™* Í m e d Í a t ° ^ 1 8 5 9 " 6 0 ' " * • * * « " • « d » as dificuldades fim pelo Conselho Académico uma Comissão, esta, porém, concluiu,
dos anos antenores e agravaram-se outras. Ultimamente as matérias
ser impossível «passar além da combinação de 1838», dada a falta
am 9 Í d IeCCÍOnadaS P r Um da
M^tem^r"' ° ° ^ *"** de enorme da Cadeira que o Decreto de 20 de Setembro de 1844 su-
Matemática, como anexas à 3.» Cad., d a qual como sabemos, forma- primira.
A Comissão foi de parecer que até ser restaurado este «elemento
dêsse M t a t o M que íuncíon»am «j.,., „„
naqueIa alegando que ordem
essencial do antigo plano dos estudos» «não convinha criar uma si-
tuação que parecesse não só definitiva, mas nem mesmo duradoura,
pois a não ser a esperança de que o estado actual fosse apenas pro-
visório, não se animaria lente algum a reger por devoção a 6* Cad. de
Construções». «A observação afigura-se, efectivamente, justa —acres-
Atl»
a KJMi . tÎT'
P d ÍP t n a d SeCretá Ín,erín
°^' °A cDafr' ) eAmnj,aÓ n( Í D
O centava o Relatório — . Era melhor estar parado do que retrogradar,
A cha.0u p a r a 0 c a s o °a "a | "
e n ç ã o d Q "D°. r e c | o r R*beiro
fls d ,Costa
Costa e
) O- . fls ,05.,,,. Relat6rio _ informaçâo d e8 d eD e 2 e m b r o ^ e para encobrir o atrazo da Reforma Ditatorial de 1844, era preciso
(I U 5, Hi. Î46 e v.o 3
^ conservar da de 1837 pelo menos o fantasma».

(1) O-5, fis. î l 8 v.o e seguintes.


318
HISTÓRICA DA ACADKM1A POLITÉCNICA DO PORTO
■ E N T R E DUAS ARREMETIDAS 319

A^pesar­destas considerações e em face da determinação contida


Este Professor completara em 16 de Maio de 1857 vinte anos
oTolTT L186 ° a que adiaDte mais de e8pi^ * S w « í de bom e efectivo serviço ('), pelo que requerera e obtivera a devida
o Conselho Académ.co recomendou à C ó r n e o já referida que estu aposentação.
da^e o melhor modo de reformar o programa, tirando o m a C P ­ Em 26 de Julho de 1858 o Conselho Académico propôs ao Go­
ve.to que pudesse da 6 Cadeiras de Geometria e Introdução recen­ verno, para a vaga aberta, o Substituto mais antigo da Secção de Ma­
temente criadas no Liceu (1). temática (*); Amorim Viana, que foi o proposto e tomou posse da dita
Em Janeiro de 1861 ainde esse Projecto de Reforma nâo estava
propriedade da 2." Cadeira no dia 1." de Agosto de 1859 (s), deixou
concluído, mas esperava­se que o ficasse < a tempo d e no ano de 186"
entrar em execução». por esse facto e por sua vez aberta uma vaga de Substituto, para
preenchimento da qual só no ano seguinte se realizou o respectivo
Houvera durante o ano lectivo de 1859­60 um certo movimento
concurso. Em 18 de Abril de 1860, o Conselho Académico examinou
de Professores que convém deixar aqui memorado.
os documentos dos dois candidatos que se apresentaram : Francisco
Por Decreto de 31 de Dezembro de 1858 e Carta Régia de 19
Xavier de Almeida Ribeiro e Doutor António Pinto de Magalhais
de Janeu­o do ano imediato fora jubilado o distintíssimo Lento da 10*
Aguiar, Ajudante do Observatório da Universidade de Coimbra (4).
Cade l r a , Antonio da Costa Paiva, Barão de Castelo de Paiva (»)
Logo no d . 11 de Fevereiro seguinte ('), o Conselho da Politécnica O primeiro nao pode prestar provas por ter adoecido depois de tirar
P opôs, n 0 8 termoa d ^ , a , d a C a r t a d e u d e l f ^ ^ ponto (5). Foi o segundo o aprovado, e nomeado por Decreto de 14
de Julho de 1860 (6). A respectiva Carta Régia é de 12 de Novem­
J^i­ /QT^0"1'
C a d e Í r a fÔ88e
P i e e n c h i d » Pelo Doutor bro do mesmo ano (7), mas desde Outubro, por conveniência de ser­
Í í Z f i F T Card08
° ' S u b s t Í t U t 0 m a Í S a n t i « ° d * Secção viço, Magalhais Aguiar regia a i . ' Cadeira (9).
BB&d0 3 d e Abri1
Í L A lT * ° ' fícou P ° r ^ fi"*» aberta Voltou por esta época a ventilar­sa outra vez com insistência a
«ma vaga de Substitute, para preenchimento da qual pouco depois
foram abertos concursos. ^ antiga questão da frequência dos militares aos cursos preparatórios da
Academia para a Escola do Exército.
e A Í S T S ^ T í ; àOÍB """"""f­­ A ^ n i o Luiz Ferreira Girão Já vimos que o art° 140 do Dec. com força de Lei de 20 de
e Antonio José da Costa Sampaio («). Sá o primeiro prestou provas
pel c ih a e 26 Setembro de 1844, (9) consagrara legalmente os referidos cursoB aliás
r r S í K s : ° r ° ° **­ ­ *« ^
do mtsmo ano ( V " ^ ^ ° ^ ^ de 22 d
* * — * ■
já existentes e sancionados pelo Dec. de 6 de Novembro de 1839 que
aprovara o Regulamento para os actos na Academia. O Ministério
da Guerra, porém, nao lhes reconhecia validade fundado em que o
0
iubiw^r? Í ^ " que provocou na S e c ç a ° d e Kios
«^ » art." 140 já citado exigia que se fizesse um Regulamento, e que tal
jub laçâo do Barão de Castelo de Paiva, determinou­o, na Secvâo de Regulamento nSo aparecera ainda.
Matemáfcca, a ­ubdaçao do Proprietário da 3 , Cadeira, João Ricardo
Cl j ­ 4 ,fiV8o
(') Como já di«aemo« a «Lei de l i de Aeôsto de i R c . . . ­ K I (') Ib fl* 85
l"| 0 ­ 5 , fls. 188
" » . Algebra, Geometn. e Trigonometria M I „ ; ' n H V ' de A
"mé­ (1) J . 4 , fls. 98.
(*) O­5, fl». 320.
I) Anuário de 77 .78, pág 3 , ï °". p. I I Ï . (") Esta é a data indicada num Oficio de J. B. Ribeiro de l á de Dezembro de
ft 0 S , fli. 178 1H60 ( 5 , fls. 117). O Anuário de 1877­78, pág 35 dá a data de 19 de Junho de i860.
Cl J­4, ri». 95 v o (T) Anuário de 77­78, pág. 33.
ft O­5, fli i , i „ o Dec. da nomeação e ft O­s. fl» 117.
O Anuário de 83­84, pág 313. ("l O­s, fl>. 175
320 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Longos anos haviam passado, quando as Portarias de 22 de Se-


tembro e a de Outubro de 1857 do citado Ministério, nomearam uma
Comissão para redigir o necessário projecto do Regulamento referido. îrninrrr
Seriara atendidas desta vez as reclamações da Academia Poli- OD
técnica?! Passaria enfim o Ministério da Guerra a conceder normal-
mente licenças aos alunos militares que pretendessem aqui frequentar
m
M IlllllllllJdlinillhlI IIHIlItlIIIMH
os cursos preparatórios para a Escola do Exército?!
A Comissão nomeada, presidida por um Professor da nossa Aca-
demia ( ), apresentou daí a pouco o seu trabalho com «as providên- QUO BÕOi
cias que pareceram necessárias para que os Cursos Preparatórios para S3
a Escola do Exército pudessem ser frequentados por alunos militares fá o«q DDÕI
na Academia do Porto» (*). <§> S B Gõõ!
Este documento antes de apresentado ao Governo foi enviado
em 3 de Dezembro ao Conselho Académico da Politécnica, para que © B Q GO £
file dissesse o que se lhe oferecesse.
lOlfEI 5ÕO
O Conselho assim fez, elaborando um eztenso Parecer, no qual
começava por se congratular pelo facto de « ver atendidas as suas re- m 2 Dll|õl S Q
00
f
presentações, repetidas durante catorze anos », e por agradecer o «bom
© "
w a
e

conceito em que a Comissão tem o professorado da Academia» e a


pflõt O |
4 o o
«justiça que faz ao zelo com que este há desempenhado seus serviços,
habilitando engenheiros conhecidos dentro e fora do País».
w
Antes de entrar propriamente «na apreciação do Projecto de Re- m 2 CTO o
m
03
41 O
gulamento », o Conselho formulava certos comentários «sobre alguns
O D D goa
dos pontos trocados na parte narrativa do Parecer», e que se nos afi-
guram merecedores de ficar aqui reproduzidos.
m Πgpq
£
Q

a
OflOt 5GO
•A Comi.são "concebe que aluno» de diversas escolas, estudando
por dtversos livros, e por métodos de ensino diferentes, e diferentes
regulamentos de exames, podem alcançar iguais resultado, de seus
50O
estudos; as continuas reformas nos estabelecimentos de Instrução 50O
Pública mostram que ainda não está provado qual é , método a
iegmr; mas também, aliás, conhece a conveniência de que os mito-
do» de ensino e de exame», e o» regulamento» disciplinares e poli-
BE3

(') J. M. de Abreu. Jfcrf da /mp Exlr, p. ,j E ^ ^ ^ ^ ^ D


por J « é V.ionno D.má.io I tinha como vogai, J. M. de Oliveira Pimentel, C i l . n o Ma-
nuel Rodrigw. e António Joaquim P . i s : O Commerça do Porto de o de Nov de ,86* OE
duc. de Faria Guimarâi». *' llllllllltllMO him hm I
ft 0-5, fli. i 7 5 .
E N T R E DUAS AKKKMKT1DAS 321

ciais dos Estabelecimento» que preparam, sejam uniformes entre si


e harmónicos com os que se praticam nos Estabelecimentos para que
habilitam. „
• Neile ponto Dão pode o Conselho concordar com a opinião
da Comissão.
• P a r a as Escolas de Aplicação Francesas do Ponies e Calça-
das, e de Minas, onde se habilitam os Engenheiros que dirigem as
grandes obras públicas daquela Nação esclarecida, não se pregunfa
ao candidato quais os livros por que aprendeu os Cursos Prepara-
tórios ; pois que até muitos Professores vão mandando litografar
as suas lições à proporção que vão lendo as doutrinas do Pro-
g r a m a ; nem quais os métodos de ensino usados nos Institutos
onde estudaram, ou pelos Professores que os ensinaram; unica-
mente se inteira o Conselho de sua proficiência nos conhecimentos
das ciências naturais que ali se exigem como preparatório, e nem
esse exame se requero dos que frequentaram a Escola Politécnica,
ou dos que são declarados admissíveis na lista do Ministro; e para
os estranjeiros basta a declaração do Embaixador de que têm esses
conhecimentos preparatórios. E nós, que estamos ainda bem longe
de levar a instrução especial ao grau de perfeição a que se tem
levado naquela Nação, ventilamos a conveniência de aprender
pelos mesmos livros, e a de ter sido leccionado nos cursos prepa-
ratórios pelo mesmo sistema . . .
«Não concebe, porém, o Conselho para que seja conveniente
ou que, até, seja praticável que professores que ensinam a mesma
ciência, usem do mesmo método de ensino; e nem o que sejam
métodos de ensino de Matemáticas puras, e ciências físicas, harmó-
nicos com os métodos de ensino de uma Escola de Aplicação.
• A outra diferença ainda mais notável é a que respeita à ins-
trução e ensino do Desenho, o qual na Academia é apenas feito em
um ano para todos os cursos preparatórios para a escola de apli-
cação, enquanto que na Escola Politécnica é leccionado em tantos
anos quantos os dos cursos para que se destinam. Há uma obser-
vação • fazer; é certo que no curso preparatório de oficiais mili-
tares, como fora delineado no Programa de Estudos da Academia,
Be exigia apenas ura ano de Desenho; maa em outros cursos o
Programa requer dois, très e quatro anos de Desenho, sendo um
ano frequentado na Aula de Arquitectura Civil das Belas Artes, e os
outros na Aula de Desenho da Academia. E nenhuma dúvida há
em que ae exija aos alunos militares que se destinarem a Escolas
do Exército frequência de mais do que um ano de Desenho.
•A Comissão, poit, não duvida asseverar a Vossa Majestade
que seja qual f6r a ciência do pessoal de um Estabelecimento aonde
se exija ensino de graus tam diversos e métodos de ensino diferen-
tes, não se pode chegar ao fim que se deseja sem perdas de tempo, e
incómodo do aluno, e nunca se pode atingir a um per/eito ensino
322
A HISTÓRICA DA ACADRMJA POLITÉCNICA DO PORTO
E N T R E DUAS ARREMETIDAS 323

17m M ' N S ° h S d l , V Í d a " ^ "" iM»™<*> PÛbliCO, Passados meses este Parecer e o Projecto a que diz respeito subi­
m como é ax.oma.ico na indústria, aprovei». . divisão do tra
b.lhû, é por essa r a „ 0 a u e h o j e v 5 o c r e B C e n d o ram ao Governo.
N.eoes esclarecidas as Escolas f e c a i s ; D 0 P , m i e . p e 8 a r . d j s ; o m Em ofício de 7 de Julho de 1859, o Ministério da Guerra parti­
í^s rin8"iuicõea ns°deíxamde■«■»"«~™'i ■
1Xaren
cipava a sua concordância com todas as ideas expostas nesses docu­
ia.:' ' ^ a t Í ° Í Í r ° 8 f , n S d ê — Estabelecimenios , mentos, inclusivamente com as modificações indicadas pela Academia,
Citam­se 0 8 exempla da Escola Politécnica e da do Exército
onde havia variedade de cursos • acrescenta­se ■ e que nesta conformidade entendia que podia ser aprovado o projecto
do Regulamento, embora «ram a declaração que era provisoriamente,
Cfa­tm"" '? ■ J 0 * ^ ° 8 dfl Ap ÍCacS0 P 0 d e
' um
E^beleeimento
h^a ensinT ' 8 dÍVerSOS
' ' flnS nn
° »«™»>Z CUrS 8
­de
e enquanto não fôr instituído um estabelecimento especial organixado
há a ensm.r princípios comuna a «odas as aplicações, não é ncon­ militarmente » ( ).
Parecia que tudo se resolvera enfim !
HZ *!T " a 0 P e r m " e m ' n e m t a i v e i P«™i.irão por m u i l 0 Puro engano ! O Regulamento estava feito e tinha o placet do
tempo, o talhar em maia larga escala as despesas que exibam um
mui numeroso corpo docente, e os meios de doutrinar Ministério da Guerra. Mas . . . não foi decretado !... (*).
ou nJ^T"H ?"/*** "" t m m imPort™» da conveniência, E tudo continuou na mesma ainda por muitos anos !
H l T^r"" ^ "r * * ° * • * • » * > ^ . J f a para „
O Relatório da Academia de 1859­60 foi acompanhado de notí­
IhMte que.tao, porque * esta resolvida pe]a Lei do P.is . ao . cias descritivas do estado da Biblioteca, do Gabinete de História Na­
o me D o e ;n e o l ,r­ dB T" * 8Ua eXeCUCã0' « <"' fÔra a 2* i
G ô lhe incumbiu.
o bovârno H
tural, do Gabinete de Instrumentos Astronómicos e do Jardim Bo­
tânico.
ÍT S98
mo„l!vV * / V e D t Í I , r ­ 8 e ' ° C o D S e 'ho comentaria o espirito de — « Essas estatísticas — dizia o Relatório — revelam pobreza, mas
monopoliiacao da ciência que têm deixado entrever alguns aliai
ib.luado., membros do corpo docente [ . ] ' mostram o muito que se tem trabalhado para suprir a mesquinhez dos
•Seguindo o exemplo da Comissão o Conselho não entra na orçamentos antigos. Com os 400$000 rs. votados anualmente para
S T T Î d a 7 a d e i r " • d " * — ■ . meios de ensino da consertos e reparos do edifício e despesas do expediente da Secretaria
E.CO a o da Academia Politécnicas. Os Dec. com forca de Lei que nSo era possível conseguir mais. Parte do que há é devido ao zelo, e
^ * 2 ­ » • t8 d. Janeiro de ,837, d e r L l h e s , com abnegação dos Lentes. Assim, por exemplo, para a fundação do La­
pequena dtferença. ,gu.l número e qualidade, de cadeiras; e se
mod rnamente a primeira obteve mais favor, por exemplo na cria boratório cedera o Lente de Química uma parte dos seus ordenados
M lM para a compra de certos objectos científicos, para os quais não basta­
a La's °° '> ~ d ° M M M ^ na de avulta­
das somas para o aeu edifício e Gabinetes, etc, nem por isso vam os meios oferecidos pelo Governo; e os Lentes Arnaldo Ferreira
de juiíai 8e apta
r : CaYoTr
e l facudade . . 1""'°'
­ " ­ *P « —
i o n M
°* ­ £
d o
'"do êste período
Braga, da Cadeira de Zoologia, e Joaquim Torça to Alvares Ribeiro, da
de Astronomia, ofereceram­me 50$000 rs. cada um » !
es.» faculdade a Academy. E nem o Corpo Legislativo negará A­pesar­de terem figurado — tanto no Orçamento de 1858­59,
.qutlo com que o Conselho julgar de futuro que devam m o L " r i
P o l i T " e 8 ' U d 0 ­ ' * * « » « « « ■ ­ « U ­ o a Cadeira de E c o l " . como no de 59­60,— as verbas de 4 contos para obras e 1.100$000
Politica e Direito Administrativo.. (') anomia rs. para os Gabinetes, só esta última foi recebida — como já" dissemos
— e de uma única vez !
de8taS C0n8idera
na J2­S ^ e a Preambulares, o Conselho entrando Era preciso um ajudante para o Bibliotecário,­, que o seria tam­

«3T£pro]ecto ^lamento propunha a,*u™ ie­ 2 bém do Secretário. Tornava­se urgentíssimo tomar providências so­
bre a falta de pessoal menor.
O O­s, r!.. I7S­I76 v.o
(*> O­s, fli. 177­177 vo. (') J M de Abreu, ob cit. p. 17.
(*) Id. ib.
324
:A H I S T Ó R I C A D A A C A D E M I A P O L I T É C N I C A D O PÔKTO
ENTRE DUAS A R R E M E T I D A S 325

de aÍ P O r t a m / e 1 2 d e ° U t u b r o d e 1 8 6 ° ­ «m. prova insofismável mandava. E citavam para exemplo a insinuação havia muito feita
de que os guardas emteo tes não bastavam para a polícia do edifício pelo dito Conselho — jíí em 1854 — da conveniência de se concluir
pois alude a assuadas e gritaria. do 8 estudante 8 dentro da Academia
o edifício da Academia Politécnica, para nele se estabelecerem todos
que o Min.stro queria que o Director evitasse (1).
os estabelecimentos literários do Porto.
A acrescer a tantos motivos de aborrecimento e de deseòsto
dera. 8 e n o ^ um ^ que ^ ^ ^ & ^ A Representação, ao mesmo tempo que enumerava os benefícios
que esta cidade devia a Coimbra representada pelo dito Conselho Su­
refenmo­nos à extinção do Conselho Superior de Instrução Pública
perior, afirmava que, por contraste, de Lisboa se tinha feito à Capital
cuja s de era em Coimbra, e a sua substituição pelo Conselho Gerai
de Instrução Pública, com sede em Lisboa. do Norte «mais duma injúria, cbegando­se até a negar licença aos
militares para frequentarem » na Academia Politécnica * os Cursos
A Academia Politécnica não augurou bem da inovação, e logo
Preparatórios da Escola do Exército, preferindo­se desta arte, com
que no Parlamento Fontes Pereira de Melo, Ministro e Secretario d
a mais incrível cegueira, a transgressão da lei e a ignorância dos
Estedodos Negócios do Reino, apresentou a Proposta que veio a
transformar­se em Le,, dtrigiu aos «Senhores Deputados da Naç­ão Oficiais, ft dolorosa mágoa de ver frequentadas as aulas desta Acade­
Portuguesa » uma ^presentação de protesto, extremamente e n é r g L mia, as quais todavia são e serão cada vez mais concorridas, en­
que corre impressa (*). ^ ^ quanto não proibirem a instrução aos habitantes do Porto e Provín­
cias do Norte ».
d0C
aludidlT ,rent° COm ÇaVa 8e
^ ­ P° r * * » q<» « transferência do E ­depois de asseverar que o tirar o Conselho de Instrução do
alud.do Conselho para a Capital de modo algum podia agradar ao
centro da instrução pública do País, era o máximo inconveniente do
fecto ' i T nZ8equer !íe dava a fráKil esperança de
*» ** *» projecto, a Representação concluía nos seguintes termos, de extrema
facto L u b o . fosse «moderar a 8 suas bem pronunciadas tendências e perigosa violência :
para cenfcal.zar e absorver em si os benefícios, para os quais con­
tnbm o País todo.» Mas ainda que o contrário acontecesse­acres­ • De­eerto este inconveniente é grave, e tem grave, que efec­
tuada a mudança do Conselho, ela ha­de arrastar com o tempo a
centava ­ nenhuma razão ponderosa e de interesse geral aconselhava
da Universiaade, e suprimido este eBcudo, que amparava as Escolas
tal mudança.
Portuenses dos tiros mais raivosos da Capital, serão imoladas estas
Afirmavam os Professores da Academia Politécnica que o antigo mesmas Escolas. A instrução já tem parecido em Lisboa coisa
Conselho Supenor de Instrução Pública trabalhara sempre com n o i ­ inútil no Porto. Na terra que deu o nome e liberdade a Portugal,
vei zelo, imparcmlidade e acerto durante os catorze anos da sua exis­ na terra heróica, que soube sofrer com abnegação e reparar com
t a . Se mais não fêz ­ afirmavam ­ a culpa nâc lhe cabia a êle actividade os estragos dum Cerco longo e assolador, e que lem
sabido prosperar com os seus próprios recursos, sem ae tornar
mas aos Governos, que deixavam esquecidas nas Secretarias as con­
parasita das províncias, nesta terra não é preciso que haja senão
sultas que daquele organismo recebiam, bem como as propostas ou sangue e dinheiro, o primeiro para que a Capital possa em mais
sugestões de providência, de utilidade e justiça que o mesmo lhes descanso disfrutar o segundo. • (')

Mas a­pesar­de tudo o Conselho foi transferido para Lisboa —


C> 0 . s , fk Il8 v.o „ , . gtlaldrw de de Janei
de ,*, «.a PotUrla d0 Mims(ério dQ ReJno mandou ^£ e a Representação teve como único resultado criar ou aumentar no
Co
espírito dos membros daquele organismo as prevenções contra a Aca­
« **■*■"■«• * * * * *»***. paia . e,ah„raÇa­0 d o qual 0 Co„se,h , " S o
9 e s uma Comissao coraposu A d r i demia Politécnica... »
l C: o"o (?;:r :::r ­ ­°—­ Não tardou muito que o Dr. José Maria de Abreu, Director do
novo Conselho Geral, em ofício de 19 de Março de 1860, exigisse

(') Op. cit., pág. 7­


326 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ENTRE DUAS ARREMETIDAS 327

que a Academia lhe enviasse, além da relação dos compêndios adop­ O Ministro — de­certo influenciado pelo Conselho — exprimiu­se
tadoB, a lista dos exames preparatórios que no mesmo Estabeleci­ até em termos um tanto rudes.
mento se deveriam ter realizado, na forma do artigo 7.° e seus §§ da A Portaria do Marquês de Loulé a João Baptista Ribeiro, em 8
Lei de 12 de Agosto de 1854. de Julho de 1860, tem efectivamente um tom pouco amigável, quási
Era a declaração das hostilidades ! acrimonioso, logo no começo ao estranhar que o Programa fosse ainda
A primeira parte do que esse ofício pedia não foi difícil satis­ o mesmo de 1838: «o artigo 158.° do Dec, com sanção legislativa, de
fazer: nada custou a organizar a < Relação dos C ompêndios por que se 13 de Janeiro de 1837 é expresso quando dispõe que sejam anual­
ensina nas diferentes aulas e cadeiras da Academia Polytechnica, noim s mente definidos pelo Conselho Académico os estudos preparatórios e
dos autores e edições»; lá seguiu ao seu destino em 2 de Junho (1). a organização dos diversos Cursos, que constituem o Plano da Aca­
O que não foi possível cumprir foi a ordem de remessa da liste demia » ; e mesmo que assim não fosse, « a experiência e o progresso
dos exames preparatórios, pela razão simples — de nós já conhecida das ciências deviam ter indicado a necessidade da reforma dos pro­
— de que o Conselho os não tinha mandado realizar. Entendera­se — gramas confeccionados há vinte e dois anos ». Era evidentemente
diz João Baptista Ribeiro — que o artigo 7.° e seus §8 da Lei de uma censura...
12 de Agosto de 1854 se referia unicamente aos exames de Geome­ A Portaria determinava em seguida:
tria e Introdução à História Natural, mas que não tinha em vista
alterar a legislação anterior sobre os outros preparatórios. E mesmo l.o Que o Director da Academia Politécnica do Porto, sob sua
quanto aos primeiros, como a Portaria de 13 de Outubro de 1857 imediata responsabilidade, não admita aluno algum á primeira ma­
tricula em qualquer doa cursos académicos, mesmo doa que não
declarara que não eram exigíveis para os Cursos de Pilotos, Comer­
são reputados de instrução superior em vista da Portaria de 13
ciantes, Aspirantes a Oficiais do Exército e Artistas, concluíra­se de Outubro de 1857, sem ter feito previamente os exames prepara­
que não eram exigíveis « na primeira Matrícula, porque esta verifica­se tório» na conformidade do artigo 7 » e s e u s § § da Lei de 12 de Agosto
no primeiro ano Matemático e no Desenho, que são comuns a todos de 1854.
os Cursos Académicos.» Os Júris Mixtos não se constituíram por 2.0 Que o Director, convocando o Conselho da Academia, lhe
Ôsse facto e também por falta de pessoal; os estudantes tinham­se proponha a reforma dos Programas nos termos do artigo 158.» do
Decreto de 13 de Janeiro de 1837 e de acordo com a Lei de 12 de
matriculado apenas com certidões de aprovação nos Liceus, tanto a Agosto de 1854, fazendo subir, em seguida, a mesma Reforma ac
respeito dos Preparatórios anteriormente exigidos, como a respeito da Ministério do Reino para os fins convenientes. ■ (1).
Geometria e Introdução, indispensáveis para os Cursos de Engenharia
Civil {*). Supomos não nos enganarmos afirmando que a alma de tudo
Não concordaram, porém, com tais argumentos o Conselho Geral isto era o Conselho Geral de Instrução Pública, e parece­nos indis­
da Instrução Pública nem o Ministro, os quais insistiram em que era cutível que a exigência da Reforma do Plano Geral dos Estudos
manifesto que o artigo 7.° da Lei de 12 de Agosto de 1854 ordenara tinha por fim levar o Conselho Académico à contingência de ter êle
sem quaisquer restrições que os exames preparatórios para a primeira mesmo de propor que se riscassem do quadro da Academia Politéc­
matrícula na Universidade, na Escola Politécnica de Lisboa e na nica cursos para os quais na verdade faltavam cadeiras. A engenha­
Academia Politécnica do Porto se fizessem perante Júris especiais ria civil passaria a ser monopólio da Escola Politécnica de Lisboa e
por elas eleitos — não somente os exames de Arimética e Introdução a Academia baixaria assim, mais ou menos, i\ categoria de simples
à História Natural, mas todos os exames (3). instituto industrial e comercial.
O Conselho Académico bem o compreendeu. Por isso na Re­
íl| Vide O­S, lia 20J v.0­207 v.o
(') Of. de J. B. Ribeiro de 30 de Abril de i860, 0­$, Ils. 203 v.o (') D­32, ils. 138 v.0.139 v.o
rt D­32, us. 13g.
328 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

presentação ao Rei, em 31 de Julho do mesmo ano, ele falava da


necessidade urgentíssima da restituição da 6.» cadeira, o que aliás
não significaria um progresso, maa uma retrogradação útil; a sua
falta obrigava «o brio dos Lentes a esforços extraordinários que em
verdade dificilmente se poderão prolongar por mais tempo». Mas,
além dessa, outras cadeiras se necessitavam : — « uma Cad. de Mecft­
nica e suas Aplicações com especialidade às Máquinas de Vapor;
outra de Química Orgânica e Análise Química; outra de Geologia,
Mineralogia e Arte de Minas; e ainda outra de Agricultura, — além
de um Professor de Desenho para o ensino de Desenho de Topogra­
fia e de Máquinas » (').
Como veremos, esta afirmação foi mais tarde empregada como
arma contra a própria Academia...
Visto que a Portaria de 9 de Julho de 1860 assim o ordenava,
tratou­s» de iniciar os trabalhos para a elaboração do Programa Geral
dos Estudos. Logo no dia 13 o Conselho elegeu a indispensável
Comissão ; dela faziam parte os lentes : — da 5 / Cad. Joaquim Tor­
cato Alvares Ribeiro; da 8.» José de Parada e Silva Leitão; da 12."
Dr. Adriano de Abreu Cardoso Machado; da 7.' Arnaldo Anselmo
Ferreira Braga; e o Substituto da Secção de Filosofia António Luiz
Ferreira Girão (1).
E enquanto a Comissão vai trabalhar, vamos nós seguindo com
a nossa exposição...

Parece que os alunos que na Politécnica estudavam os pre­


paratórios para a Escola Médica não levavam em geral uma sufi­
ciente bagagem científica, a acreditarmos na palavra honrada do
Conselheiro Francisco de Assis e Sousa Vaz, Director daquela Escola,
que em nome do respectivo Conselho em 8 de Setembro de 1860
oficiou a João Baptista Ribeiro dizendo que os rapazes idos da Poli­
técnica se mostravam defieienltednws dos conhecimentos indispensá­
veis. O Doutor Sousa Vaz preguntava :

■ I.» Se nessa Academia ha programa especial de curso pre­


paratório para as Escolas Médico­Cirúrgicas;
2.o Na (alla de programa especial, que ordem ou precedência

(') O­s. fli. n o w i l l . Representação «o Rei, do Conselho d> Ac. Polit de


31 de Julho de i860.
(*) J­4, fli. QQ e T.a
ENTRE DUAS ARREMETIDAS 329

se observa na frequência doa cursos de Física, Química, Zoologia e


Botânica e que habilitações ae exigem aos que pretendem frequen-
tar qualquer destas disciplinas para fins estranhos & Academia ;
3.0 Se o Conselho Académico tem resolvido e cuida de con-
feccionar programa especial para os cursos preparatórios das Es-
colas Médico-Cirúrgicas, ou que lhe sejam aplicáveis, • (')

A Politécnica sentiu-se agravada nos seus brios profissionais, e


em sessão do Conselho de 1 de Outubro seguinte deliberou que Baptista
Ribeiro respondesse dizendo que, em vista dos «termos em que» viera
redigido o ofício acima citado, o dito Conselho «entendia que, por
sua dignidade, não devia tomar conhecimento dele.» Só o lente da
1." Cad, António Luiz Soares fora de voto contrário, pois queria
que se dessem as explicações pedidas e se entrasse em combinações
com a Escola Médica sobre o ensino dos preparatórios que os alunos
deviam levar desta Academia r).
A Lei de 24 de Abril de 1861 veio solucionar em parte a ques-
tiïo, pois declarou as habilitações que deviam ter os candidatos às
cadeiras das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto (3).

Foi em Julho desse ano que pela primeira vez se realizaram na


Academia os exames de admissão (*), estabelecidos, como dissemos,
pela Lei de 12 de Agosto de 1854.

No ano lectivo de 1860-61 apenas foi possível comprar para a


Biblioteca vinte e um volumes, na importância de 84$00Q rs. Mas
como D, Pedro V mandou que da Real Bibliotem do Porto fossem
entregues à Academia não só um exemplar das obras em duplicado
que houvesse naquela Biblioteca, pertencentes as disciplinas que nas
suas cadeiras se ensinavam, mas também das que tivessem com elas

(•) D j í , fl» 135


|'t J-4, fis. IOÏ r- v.o
(*) Anuário de 83-84, p. 45.
{*) Mandados realizar por Portaria de 11 de Maio de 1861 (J-4, fls. 106). Ver
o Edital para esses exames em T - i , fls . . . Em 8 de Junho seguinte o Conselho Aca-
démico escolheu os Lentes que haviam de faier parte do respectivo Júri (J 4, fls. 106 i » | .
No ano seguinte foram mandados organizar os Programas para esses exames por Dec. de
Zí de Maio de 1862, o que o Conselho prontamente cumpriu (O-5, fls 151). Os Progra-
ma» para 1864-65 encontram-se em O-5, fls. iyb.
330 IA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
ENTRE DUAS ARREMETIDAS 331

relação ou servissem de subsídio, a Biblioteca da Academia enri- Na repartição de Mathematica incluem-se tão bem os de marinha e navega-
quecesse com «uma colecção desses duplicados, entre os quais impor- ção, e os de Sciencias Militares, bem como os de Technogia iaic), que mais Rela-
tantes obras de História, Cronologia e Viagens» editadas pela Aca- ções ou dependência tem da Mathematica.
demia Real das Ciências ('). Algumas das obras ennumeradas no Mappa, mormente de Matheinaticas
puras, são exemplares duplicados, ou edições diversas dos mesmos Authore».
Destas havia algumas truncadas, mas em 1866 Torcato Ribeiro
A maior parte dos livros desU Repartição existia já na Antiga Academia de
então exercendo o lugar de Director da Politécnica, pediu à Academia' Marinha e Commercio. Com tudo não menos de oitenta obras, e cento e vinte
Real das Ciências os volumes que faltavam (*). volumes sem fallar nos duplicados e em folhetos de Ephemerides, tem sido
Aproveitemos a oportunidade para reproduzir o interessante e posteriormente adquiridos.
elucidativo : Na repartição de philosophie compreendem-se toda. as obras relativas aos
diversos ramos, que em Coimbra formão a Faculdade deste nome e alem dessas,
as de philosophie especulativa que em proporção da Somma total figurada no
RELATÓRIO SOBRE A BIBLIOTWCCA DA ACADEMIA POLYTECHNICA DO POBTO
mappa, são em grande numero, e existião já na antiga Academia de Marinha, e
NO ANNÙ DE J859 A 1860
Commercio. Como no Segundo anno Mathematico dessa Academia se ensínavão
os princípios d'statica — Dignamica Hidrostática — Hydraulics e Optica, legou-nos
Po.sue « u Academia mil e noveceolo. e Setenta e oito obras, em cinco
tão bem essa Academia mais protegida que a sua succesBora, a maior parte das
mil, cento e S e t e o u e hum volumes, pertencente, a vária, .ciências como o de-
monstra o seguinte mappa : obras de phisica que hoje possuímos. Contudo algumas obras importantes prin-
cipalmente de Chimica, e historia natural tem sido alcançada modernamente
Seieocias, a que pertencem :
Destas merece mencionar-.e a Sumptuosa Flora Fluminense, mandada de
Hiatoria e suas dependências: obras quatro cenla., volume. Seiscentos e
Setenta. propósito á Academia
Na repartição do Commercio entrão tão bem as obras de economia poli-
Philosophie: obras duzentas e noventa o 1res, volumes oitocentos e vinte
e sete. tica, assim como de Direito Commercial e marítimo, e os poucos que há de Le-
gislação Cível.
Commercio: obras cento e vinte e cinco, volumes duzentos vinte e 1res
Littérature e encyclopedias: obras noventa e oito; volumes Setecentos e Se exceptuarmos o Diccionario do Commercio do Moustriou (quarta edição
trinta e sete. de mil e oitocentos e sessenta), o Diccionario do Commercio, e o de Economia
politica de Coquelin, P mais très ou quatro obras de pouco preço, tudo he do
De.enho e Architecture: obras quarenta, volum.a Cincoenta e Sele - total
tempo da antiga Academia de Marinha.
mil e novecentos e SetenU e oito obras; e Cinco mil e Cento o Setenta e hum
volumes. Na Repartição de Litteratura inlrusarão-se as Enciclopédias, e jornaes por
serem poucos, e não valer a pena Cathaloga-los em Separado.
Contudo, se as obras enciclopédicas existentes na Academia são pouco nu-
Deste mappa se vê que só a Historia e Suas dependências conta mais obras
merosas, os volumes de que elas constão, são os que valem para encobrir a nossa
e volumes do que todas as outras repartições reunidas.
pobreza (entrão porem nesta Conta varias Chronicas religiosas) digo pobreza na
Para esta abundância relativa, mormente em matérias de geographia e via-
Repartição de Litteratura.
gens, concorreo principalmente a junta Inspectora da Academia da Marinha
Só a Encyclopédie méthodique (Paris e Liege mil setecenlos e oitenta e oito)
e Commercio antecessora da actual Academia Polytechnica.
apezar de truncada fornece a esta repartição quasi a terça parte dos volumes,
O resto dos Livros d'Historia foi fornecido peta Ribliotheca Publica desta
Cidade. que lhe estão assignados no mappa.
0 jornal des Savants (mil, e Setecentos e vinte, e 1res athe mil, Setecentos e
Muitos dalle., pouco menos de setecentos volumes, pertencem â Historia
Setenta e Cinco) entra ahi tã« hem com Cento e seis volumes. Porem não se
Ecle.iaafca, assim gera! como particular d o . Reinos de Portugal e Hespanha
incluem aqui senão por excepção as obras de merecimento Litterario, que pelo
Entrão porém nesta conta varias Chronicas Religiosas e agiologícas.qiie em
assumpto de quo se oceupão. tem o geo logar na Repartição d'Historia,
razão do estylo, ou d , pureza d . lingoagem, ocupão distinct» logar na Litteratura
l'atria. Na de Desenho, e Architecture o mappa não comprehei'de algumas obr. s,
que forão ennumeradas em outras repartições.
Assim por exemplo a Arte de bâtir de Rondelet está na âe Mathematica, a
('I 0-5, fls. j o í v.0-303 Voyage pitoresque de La Grèce de Choiseul GoulIíer — as Cerimonies religieuses
(*) Id. ib. e 303 v.a de R. Picard apesar de Ser principalmente devido ás gravuras o alio preço destas
obras, estão na Repartição da Historia.
332 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ENTRE DUAS ARREMETIDAS 333

Todavia nem mesmo incluindo essa» 0 outras obras que mais ou menos Secretario da Academia) com o ordenado de Cento e oitenta mil rois a biblio-
relações tem com as suas especialidades, Desenho e Architecturs chegaríamos a theca tornorse-hia logo mil vezes mais proveitosa.
um* somma avultada. A creação daquelle emprego seria, pois, de muita utilidade, l'ara o conse-
Neita como nas mais divisões, quasi nenhuns são os livros, que adquirimos guir lalvez fosse prudente não exigir por hora mais
depois que á Academia faltou a efficaz proteção da Junta da Companhia Geral da Porém não pode deixar de oceurrer a idea de que a nossa bibliolheca pre-
Agricultura das Vinhas do Alto Douro. cisava de huma somma annual desiínada só para a compra de livros.
Os livros são a despeza necessária da jornada no caminho interminável da
Depois desta exposição geral do estado da Livraria, fdra próprio mencionar Sciencia. Sem uma boa biblíotheca sustentada pelo Estado he impossível esperar
as suas preciosidades bibliographicaB, como ordenou a Direcção Geral d'Instrucçâo que todos os lentes sejão profundos, por que os seus mingnados proventos apenas
Pública em officio de vinte de Julho do anno passado. chegão para o strictameote necessário á vida
Temos, aim, algumas, e não poucas obras de custo e merecimento, mas não Nem estes podem sem ella crear nos alumnos, ordinariamente pobres, o
são estas qualidades BÓ aquellas a que allude o citado officio. habito do estudo ao amor do trabalho, para o qual faltão os instrumentos.
Todavia à mingoa de mais memoráveis raridades podemos referir algumas Neste ponto não pode haver economias e a avareza inutilisa o capital
edições notáveis de autores gregos e o de Pausanias. (Veneza mil e quinhenlos empregado.
e dezasseis) valiosa por ser a — edição princepe — circunstancia que para as bi- Todos, certamente devem 1er notado a insignificante frequência das nossas
bliotecas publicas, faz. esquecer as Lacunas que no texto deixar a lypographia bibliothecas. Huma das cauzas he, segundo creio, a falta de Catálogos impressos :
Aldina hum tanto precipitada na impressão das obras gregas. outra o não estarem abertas o mais tempo que sêr possa. Mas huma das prin-
Do mesmo author possuímos boa edição que deo Joaq Kubn em mil seis cen- cipais hé a falta de livros modernos, aondo mesmo não faltão os antigos.
tos e novents e seis. Leipzique obra rara poslo que mais estimada emquanto ou- 0 remédio contra este mal hé dotar generosamente as Livrarias. Os bene-
tras edições lhe não absorverão o préstimo. fícios serião immenses, maiores do que, talvez, a Creação de Cadeiras se os
A Edição que temos de Aristóteles (mil, e seiscentos e dezenove, texto grego, coraparar-mos com a despeza de que dependem, pois a quantia, que mal sus-
traducção latina) é a milhar que das suas obras existentes se tinha publicado e tenta hum professor, obtém muitos livros, que são outros tantos Mestres
talvez que o seo valor não i1irinniiis.se com a moderna edição de Berlim. A Superioridade intellectual da Alleman,ha mormente em erudição não
A que lemos de Platão (mil e quinhentos e setenta e quatro greco-latina) s'attribue tanto ás suas vinte e 1res universidades, e aos seus mil, e setecentos
he das que mais reputação gosavâo antes de mil e oitocentos e trinta e três, professores, como às suas cento e noventa bibliotecas, e aos seus nove milhões
em que Stallbaum principiou a publicar a sua. A de Tueydides de Amslardão de e meio de volumes impressos.
mil setecentos e trinta e hum (temos outra de mil quinhentos e oitenta * oito) Grandíssimo serviço prestaria, portanto, o Governo A Academia Polytechnica,
tão bem não he commum nem das menos consideráveis. se das Cortes obtivesse para esta bibliotbeca huma dotação de quatro centos mil
A este pequeno Cathalogo de obras raras, que nem porisso inculcamos reis annuaes, quantia impercetivel para o Thesouro, e bastante para hum grande
como singulares, accrescentaremos a Edição de Camões pelo Morgado Malheos resultado.
(Paris mil oitocentos e dezeset (sic)) ainda que tenha arrefecido muito o enlu- A Livraria da Cidade situada lá nos confins delia, muito distante dos Esta-
aiasmo que algum dia levava a preços fabulosos os exemplares desta obra que belecimentos Lilterarios, he quasi inacessível aos que por mais obrigação, e com
por acaso aparecião no Commercio. maior proveito, a poderião frequentar-
Também são para mencionar as obras de Pedro Nunes dadas em segunda Ella não pode suprir a falta, ou a pobreza da nossa, cuja posição he a
edição no seguinle volume:— De arte atque rafione navegandi, Libri duo Ejusdem milhor possível.
in theories» plaaelarum Georgii Purbachii annolationes. et in problema mecha-
nicum Aristolelis, de molu navigii ex remis annntatio una, Ejusdem de erratis Academia Polytechnica do Porto vinte e hum de Janeiro de mil e oitocentos
Orontií Finei Liber unus Ejusdem de crepusculis, &.a Coimbra mil, e quinhenlos e sessenta. João BiptUta Ribeiro — Director — José de Souza Ribeiro Pinto —
e Setenta e três. Bibliothecario provisório, — (*>

Ainda que não seja bem rica a nossa biblioteca, não he tão pobre que a t'( Reg. de Of. exp. (O-s), fl*. í í í a »14
não podessem frequentar alguns centenares de leitores. Ignoramos quais o» fundamentos com que o Prof. A. J. Ferreira da Silva in Pre-
Todavia por falta de empregados, nãn tem sido franqueada ao publico, e o facio do Catalogo da Bibliotheca da Academia Polytechnica, de 31 de Junho de 1882,
seu uso está limitado aos Lentes, e a alguns estudantes mais applicados cuja Parto, 1883, pag vil, atribui ê«te Relatório a Adriano Machado. O dito Relatório está
seriedade inspire confiança e supra a falta de vigilância. publicado nesse Catálogo, pág Vil a XI, mas sem data nem assinaturas, e com mais os
Se fosse creado hum Logar d'Ajudante de Bibliothecario (que hé o mesmo seguintes parágrafos :
334 1ÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PO
E N T R E DUAS ARREMETIDAS 335

Por toda a parte, em todos os sectores da Academia, a penúria


era aflitiva... uma Representação, mas apenas em 1 de Agosto seguinte (1). E nunca
mais foi provido o lugar de Mestre de Aparelho...
No ano de 1861­1862 continuou a sentir­se a falta de a v e n t e s
Por essa época entrou a prestar serviço na Academia o Dr. José
e guardas subalternos (só havia três guardas!). Continuavam a ser
Pereira Cardoso, lente Substituto da Universidade (8).
inscritas no Orçamento as verbas de 4 contos para obras no edifício
De facto Pereira Cardoso exerceu o cargo de «Suplente Extraor­
da Academia e l.lOOSfOOO rs. para melhoramento dos Gabinetes­ mas
dinário» da Academia, pelo menos desde 5 de Fevereiro de 1864 (3).
nada se pagava! A Secção de Matemática carecia de instrumentos
Em Agosto de 1865 dirigiu­lhe Ribeiro um ofício comunicando­lhe
a Aula de Desenho de exemplares de Topografia, de Máquinas e de
que o Conselho o encarregara a êle, Cardoso, da reforma dos Catá­
obras para os alunos que seguiam o curso de Engenheiros de Minas ■
logos da Biblioteca e a mais bem ordenada colocação dos respec­
a Biblioteca nao podia assinar jornais científicos nem as obras de con­
tivos livros (4).
sulta para estar em dia com os progressos da ciência; da magríssima
dotação de Expediente de Secretaria tiveram de ser distraídos 34«3'>0 rs
para comprar : ­ t r ê s exemplares da Química de Girardin, um da de No período a que este Capítulo se refere, deram­se dois inci­
Barruel, e outro da de Orfila; o Archiva Jurídico, um volume de dentes desagradáveis entre Pedro de Amorim Viana e o Conselho
Fídias; outro de Elementos de Astronomia, e outro do Almanac/, Académico, ambos motivados por conflitos entre aquele Professor e
Popular (l),.. alguns dos seus alunos.
Por ocasiSo do seu concurso para lente substituto todos os mem­
Falecera em Janeiro de 1861 José Antonio da Natividade o
bros do Júri que o examinou fizeram elogios ao seu * muito talento»,
velho Mestre de Aparelho Naval 0 .
«muita inteligência», «penetração e saber», embora lhe reconhe­
Só daí a um ano foi aberto concurso para preenchimento da
cessem também falta de prática em levantamentos topográficos e em
vaga. Aprovado o respectivo Programa em sessão do Conselho de
astronomia (*). Mas parece que a sua sociabilidade nâo era tam
5 de Fevereiro de 1862 0 , e realizado o concurso em 28 de Maio
grande como a sua inteligência...
seguinte, o Conselho Académico, depois de várias sessões e de fundas
divergências, entendeu dever suspender a votação do candi lato e
1*1 Id. ib.
pedir ao Governo, que mandasse abrir novo concurso em que se exi­
(*) Em 15 de Outubro de l8b2, João Baptista Ribeiro dirigiu­te ao Conselheiro
gissem maiores habilitações aos concorrentes (1). Nesse sentido se fêz Director da Direcção Geral de Instrução Pública fazendo ver que » em diferentes anos,
e um deles no próximo passado, foi com sacrifício pessoal dos Lentes que se conseguiu
não haver interrupção em algumas das aulas. » No ano lectivo que então começava, ou
­ t Parecerá à prime,ra vtsta, que a nossa biblwtheca podena trocar os <eus
livros de historia e pnnapaImente de histona eccUsiastica, ass.m coma os de lalera­ no seguinte, poderiam repetir­se <as dificuldades de outros anos, e tanto mais que um
lura por outros novos, de scenes naturaes, de commerça, economia Pol„,ca e artes dos Lentes, o da 3 a Cadeira (Vitorino Damásio) se acha ausente há anos em Lisboa
Confesso çue a troca harmonnaria melhor a livrara com o fim especai do estabeleci­ empregado em importante Comissão pelo Governo de Sua Magcstade; outro obteve
mento. licença, que poderá ser prolongada ; e é possível que um ou outro adoeça. Nestas cir­
cunstâncias e dando­se o ensejo de que o Lente Substituto de Matemática da Universi­
Com tudo, ella não poder,a efiectuar­se sento com Uvreins. que necessariamente
dade de Coimbra, o Doutor José Pereira Cardoso, é natural do Porto, onde tem família,
se propunham canhar, e ass,m vina a perder­se uma parte ia valor do capital em
e onde reside o tempo feriado, e me fêz constar que da melhor vontade se prestaria a
pregado. Além disso numa livraria publica importa qtíe haja vanedade de obras e
assuntos, com gue sefam satisfeitas as necessidades também varmdas dos leitores Pelo reger qualquer Cadeira de Matemática nesta Academia que se tornasse mister, de muita
que entendo que a troca de livros seria lesiva e inconveniente » conveniência seria que o Governo do Sua Magestade autorizasse o Conselho a requisitar
(') O s , tli 2(.2­263 o referido Lente à Universidade, uma vez que se desse a condição de nessa ocasião não
sofrer o serviço do ensino na mesma Universidade, e sem que em nada prejudicasse esse
C) O 5. fis 240.241 Relatório de iz de Novembro de 1861.
O O­s, tis 245 v.0.246. serviço a sua antiguidade e carreira universitária 1 (O­;, fis. 259 v.o.260).
(a) Id. fis. 278
<4> O­s, fl«. 254 v.o Of, de , de Agosto de ,861 do Director da Academia
ao Director Geral de Instrução Pública. (*) Id. fis. 28q.
(6) Votos dos membros do Júri in J­4, fis. 38 a 39,
336 HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
E N T R E DUAS ARREMETIDAS 337

Não sabemos que questão houve no ano lectivo de 1859-60 entre


êle pedir para ter em casa,* e que desde já se compre uma obra, e
Retiro de Amorim Viana e dois dos seus alunos de Comíruçõe.s de
para Janeiro se compre outra, sem o que se não presta a continuar
nomes Joaquim Duarte Moreira e Francisco António de Rezende
a reger a 3." Cadeira, para que havia sido designado pela Secção de
Júnior; sabemos apenas que tendo-lhes dado ponto para acto no dia G
Matemática» (x).
de Julho de. 1860, logo na mesma tarde o dito Lente oficiava ao Director
da Academia participando-lhe não ir presidir aos actos que deviam rea- O Conselho, embora com voto contrário de Ferreira Braga e
hzar-se no dia imediato. Em face desta estranha resolução e por não Luiz Baptista Pinto de Andrade, resolveu, em vista das dificulda-
poder providenciar doutro modo, Baptista Ribeiro deu ordem para que des alegadas, convidar Amorim Viana a tomar conta da 1,* Cadeira,
os estudantes fossem prevenidos de que os actos ficavam suspensos como por lei lhe competia ( ). .
enquanto o Conselho não se pronunciasse sobre o assunto. Viana parece que não gostou ; em 28 do mesmo mês oficiava ao
Secretário da Academia dizendo que lhe constava ter aparecido um
O Conselho, reunido em 13 do mesmo mês, deliberou por maio-
segundo exemplar de Geometria Descritiva de Leroy (com o que que-
ria, que as provas em questão fossem prestadas logo que terminassem
reria talvez significar que um dos exemplares lhe poderia ser empres-
os actos do 1.» ano Matemático, tirando os alunos novo ponto (') -
tado ...), e preguntando se podia continuar na regência da 3.' Cadeira
o que parece que se realizou apenas em Outubro (*).
em lugar da IA Em Sessão de 30 imediato o Conselho resolveu que
Amorim Viana tomou essa deliberação como ofensiva, e quei-
Be lhe respondesse afirmativamente, « visto querer continuar a reger
xou-se à Direcção Geral de Instrução Pública, que em 6 deste último
a 3." Cad. sera condições, nem exigências» (').
mês mandou a referida queixa a informar à Academia.
Mas não ficou liquidado o assunto. Em Janeiro seguinte Viana
O Conselho nomeou António Luiz Soares, Ferreira Braga e
escrevia ao Secretário declarando-lhe que não podia continuar a dar
Adriano Machado para darem o seu parecer com brevidade sobre o
as suas aulas, porque lhe negavam os livros para estudar em casa,
que convinha que se respondesse (8).
O Conselho, depois de mais uma vez se ocupar do assunto, estabele-
Amorim Viana nao se saiu bem desta questão, pois que em 26
ceu como regra que os livros não deviam sair da Biblioteca, mas que
de Fevereiro de 1861 uma Portaria do Ministério do Reino pela
os Lentes poderiam levar mediante recibo os que dissessem respeito à
Direcção Geral de Instrução Pública aprovou o procedimento da
Academia (4). sua cadeira, ficando ao Bibliotecário a faculdade de os recolher logo
que na Biblioteca fossem precisos. Foi ainda fixada a doutrina de
Entretanto Amorim Viana deixara de comparecer às Sessões do que «em caso nenhum a falta de livros na Biblioteca, ou de con-
Conselho e provocara outros aborrecimentos aos colegas. No de 17 de cessão deles aos Lentes, é motivo que justifique a falta dos mesmos
Novembro de 1860 Baptista Ribeiro apresentou «um bilhete informe Lentes ao exercício das suas respectivas cadeiras de que se achavam
sem data, adresse, nem assinatura e dois ofícios do mesmo lente Pedro encarregados » ( ).
£ t",Tm„ V l
T " m ^ C a t 0 r 2 e d ° C O m n t e m è 9 ' adereçado ao
te. Sr. Conselheiro Director Presidente, e outro de 16 também do Logo a seguir Amorim Viana teve novo conflito: desta vez com
corrente endereçado a mim Secretário, e tudo mandado à Secretaria um estudante: D. Luiz de Castro Pamplona, futuro Conde de Re-
nos quais exige lhe sejam dados livros para ter em casa, e que à sua zende, conflito que teve grande eco e foi o grande escândalo da cidade.
mais leve requisição se lhe forneçam da Biblioteca todos os livros que
No dia 4 de Maio de 1862, estando Pedro de Amorim Viana

('» J-4. As 99
(') Id fli. 103 (•) J - 4 , ris. 103 e V.Q

('( Id id. (') Id, 103 v.o


{") Id. ris. 104.
{*) J-4. «.. 105 A Po««ri. em D . 3 I , fl, , 4 , v o e *6 de Fevereiro de 1861.
(*) I d . ibid, e v.o
338 HISTÓRICA UA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
E N T R E DUAS ARREMETIDAS 339

na sua aula do 2.° ano Matemático e observando que o 8eu discípulo


D. Luiz de Castro Pamplona conversava com outro, deu­lhe uma por semelhante motivo. A Portaria de 25 de Julho último que ter­
repreensão, a que o estudante replicou em termos menos comedidos minou essa pendência só pôde ser apresentada em Conselho Acadé­
U Lente sentiu­se ofendido e mandou dizer num ofício ao Director mico no 1." dia de Outubro por eu a ter recebido em tempo de
que não voltaria a dar aula enquanto o mencionado estudante fizesse férias» (1).
parte do Curso; e suspendeu as lições. Ouvido o acusado, o Conse­ Efectivamente o Ministro do Reino por sua Portaria de 25 de Ju­
lho, depois de tudo bem ponderado, concluiu que não havia lugar à lho do mesmo ano de 1862 resolvera a questão : mandou comunicar ao
pena de exclusão, mas para não desautorizar Viana decidiu que fÔS8e Lente « que não podia sem causa legítima faltar ao exercício e regên­
êle o único Juiz do castigo a aplicar pela falta de respeito e pela cia da sua cadeira», e aplicou ao aluno a pena de repreensão ! (*)
desatenção do seu discípulo ('). Viana não teve remédio senão regressar de Lisboa para onde
Amorim Viana, irritado por não lhe fazerem a vontade, e ainda tinha ido; foi­Ihe entregue a regência da 2." Cadeira, que ficaria a
por lhe descontarem as faltas no ordenado, comunicou ao Governo reger nos futuros anos, cessando a prática dos Substitutos regerem
o que se passava, mas jrf antes Baptista Ribeiro fizera o mesmo (*) anos alternados as duas Cadeiras de Matemáticas puras (8).
Este justificava­se não sd com as leis, mas também com curio­ Era Agosto de 1862 voltou a ser abonado dos seus vencimentos
sos e sensatos argumentos. As ofensas dum estudante ao seu profes­ por ordem do Ministro (*).
sor melmdres ou caprichos deste, não justificavam as faltas que um
professor desse às a u l a s : ­ «Nada seria mais fácil a quem não qui­
sesse trabalhar do que concordar com um estudante seu conhecido a
d,zer­lhe ou fazer­lhe na aula qualquer palavra ou acção meuos bem
soante « agradável, dar­se com ela por ofendido e desamparar o ser­
viço enquanto o estudante não fosse posto fora ­ quando talvez o não ­
pudesse ser, como no caso em questão, por não haver grau de gravi­
fandamentar a exclu8aomas a r e
stMr ' * —^
No ofício que a este respeito o Director da Academia enviou ao
Governo aquele, sem ressentimentos, concluía exprimindo o desejo, que
era também o de todos os colegas, de que Viana, «como filho prd­
Uigo, ou ovelha desgarrada», voltasse ao redil (4)
O Relatório de 1861­1862 diz ao referir­se a estes episódios­
■ * A desagradável ocorrência entre o Lente da 2.' Cad Pedro
de Amonm Viana e o seu aluno D. Luiz de Castro Pamplona ocasio­
nou ser necessário reger aquela Cadeira ate o fim do ano lectivo
outro Professor, sem, contudo, ter padecido a regularidade do ensino

(') J­4, fls. n o v.o


ft 0­5, fls i 4 9 TO (') O­s, fls. 261.
(") Id. fl». » S ; , (') Id. fls. 2Ó0 e v.o
I') Id. fis. Î S 7 v.o (3) Id. fls. 260 v.o e 2 6 1 .
[') Id. fls 261
XVIII

LUTA DE VIDA OU DE MORTE!

Que teria feito a Comissão de LenteB da Academia Politécnica


que deixámos encarregada — no cumprimento de ordens ministeriais—
de reformar o Plano Geral de Estudos deste estabelecimento ? !
Como nâo era difícil prever, a Comissão, cujo trabalho, concluído
em Maio de 1861 ('), foi aprovado em Sessão do Conselho Acadé-
mico de 18 desse mês, não fez o que supomos que o Conselho Geral
de Instrução Pública a queria obrigar a fazer. Iimitou-se, «do me-
lhor modo que o comportava a míngoa» das cadeiras, a distribuir por
estas as disciplinas que era preciso ensinarem-ae, e a coordenar os vá-
rios cursos naquela data existentes, tudo, em geral, de harmonia com
as modificações que sucessivos Conselhos tinham introduzido no Pro-
grama de 7 de Agosto de 1838, à medida que isso fora exigido pelo
serviço do magistério e pelas circunstâncias que iam ocorrendo, e de
acordo com o que lhe determinavam ou «imcumbiam os art.™ 158 e
161 do Decroto com força de Lei de 13 de Janeiro de 1837».
O Projecto da Comissão tem grande importância nesta Memó-
ria, pois, como veremos, embora não obtivesse aprovação do Governo,
esteve de facto em vigor durante bastantes anos.
Os cursos passaram a ser nove. Do Programa de 1838 (*) desa-
pareceu o Curso dê Oficiais de Marinha, transformando-se o de Pre-
paratórios para Oficiais do Exército em Preparatório para Oficiou
do Exército c da Marinha. Acrescentaram-se dois cursoB novos :
De aspirantes a nfiviais- e Preparatório para a Escola Médico-Ci-
nírgica.

(') J-4, fls. 105 v.o.


(*) Vide retro, págs. 184 185.

I
342 HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTA DE VIDA OU DE MORTE ! 343

A distribuição das matérias por cada Cadeira, e por cada curso, Lojas de Rafael 1776; Frises des entre­pilastres du portique du
sofreu profundas alterações, como se pode ver comparando o Programa Panthéon, gravés par Brinclaire: Fragment antique de la ville des
ae iMd« com o que agora vamos reproduzir: empereurs.
4.* Parle: Desenho de Máquinas, Obras e estampas: — Le
Blanc, C hoix de modèles appliqués à l'enseignement des machines,
e . , . / ' ' T a í ' (1) ­ A ™ < ^ c a , Algebra Elementar, Geometria Plana e
1845 — Máquinas pelo natural.
Sól.da, Trigonometria Rectilini. (Texto): C urso de Mathematical pu­
ras do Francoeur, 2 . . ed. de Coimbra, 1853­1858. A Geometria e 5,a Parte : Desenho de topografia, Obras e Estampas. Puis­
Ingonometrta Rectilínea por Legendre ­ CaUef, Tables de loaa­ sant, Traité de topographie et arpentage 1820: Modèles de cartes to­
v
rtthmes. pographiques chorégraphiques et géographiques; Tripon, Traité élé­
mentaire de topographie et lavis de plans 1846: Mémorial du dépôt
général de la guerre, 1848; Modèles de topographie dessinés et lavés
»■' C ad. ­ Algebra Superior, Geometria analítica no plano e no
par A. M. Porrot.
espaço, cálculo diferencial . integral e suas aplicações às superfí­
e de 8in,p,es e de dup,a CUrValUr8
irr
ccálculo r =**"£ ­o
das vanaçSea, e do cálculo a diferenças finitas. (Texto)­ Fr.n­
5 <• Cad. — Trigonometria Esférica, Uranografla, Astronomia
Prálica (Texto): Franeopur, C urso de mathematical puras, 2.a ed. de
coeur C urso de mathematical puras, 2 a edição de Coimbra 3 ­ o Coimbra 2. o vol.; Delaunay, C ours de astronomie élémentaire 2.» ed.
4." vol. e reato do 2 o.
1860; Dr. Rodrigo, C alculo das ephemerides; Francoeur, Astronomie
pratique 2.a ed. 1840; Dr. Rodrigo, Elementos de astronomia, 1 vol.
3 C Pa
..I r" "t~ ^ /te:
qu
Geomelri
(Texio,
* : «e««iptiva,
Leroy Mecânica Rácio­ Coimbra de 1859; Ephemerides astronómicas
&e'eSrrivr
;«^7 \ , ; D e l 8 u n a y ­ Traité d
ir
< michaniou* rationelle, 2.« edit
*"***«***«. 2.» Parte: Geodesia (Texto): Francoeur, Géodésie (a geomor­
fiaj 2." edit. 1854.
1°57; Latoulave, C inématique des machines, 2.» edit. 1861
3.a Parte: Navegação, Aparelho, Manobra Naval (Texto): Fran­
, J Î V * ? " ' M e c à o i c a * P l i c * d » ■ resistência d o , sólido. « à »
U b . h d . d e de construções, e g p e c i a l m e D t e . p o n l e 9 efllra
coeur, Géodésie, 3.a parte (navegação); Limpo Manobra dos navios;
Melo Aparelho Naval; Nories, Nautical tables.
máquinas de vapor (Texto): Bresae, C ours de méchanique appliquée

6.» C ad. — Suprimida.


P 6; bOUr à
2 ? e d i l 1844 ' ^ ^ ^ ­ * " " »*»'
7.» C ad. — l.a Parte: Zoologia (Texto): Milne Edward..
F . J V T T " i d r * u l i c a ­ C o ­ t r n ç S e . hidráulica., Caminhos de 2.» Parte: Mineralogia e geologia (Texto): Beudant, C ours
Ferro e Telégrafos Eléctrico. (Texto): Bresae tomo 2.». S g . m i n
Élémentaire.
3.» Parte: Metalurgia e Arte de M i a . . (Texto): D u m . . , Traité
de C himie Appliquée aux Arts, 4.° vol.; Buret, Traité de l'Exploita­
2 vo,6 18*60
Parle,: r erd0nDe,,
' TraÍtÍ élémeníaÍ e
' ^^rninsífer,
tion des Mines, 2 vol.

8." C ad.— Física (Texto): Ganot, Traité Élémentaire de Physi­


Rafael, Miguel Angelo, Sabatelli e Greu.e: Julien, C ours prépara­ que, 1 vol. Postilas.

tz::zJ°pr09ramm*adopti
2.. Parte :
pour
Desenho de Paisagem, Obras e Estampas. ­
' ' — * £i­ Pi,,*.
9. a C ad. — (Texto) : Girardin, Leçons de C himie Élémentaire
appliquée aux Arts Industriels, 4." edit, 1860.
Ja tlet amn M
DTdolTw
3r M
\TJ
" TT rfír, ' í
*"* ­ P a*™»»­>
ï8 °"" ™ » *
^"' l»'o ­tural. 10.« C ad.— \.z Parte: Botânica, (Texto): Richard, Nouveaux
3.» PParte
a a . nDesenho de ornato e decorações, o b r a . e estampa.:
éléments de Botanique; Rrotero, Flora Lusitanica.
(') Ao enunciado dos «ssuntos de cad. C.deiri Se™e­se „o / W , „ „ 2­a Parte: Veterinária, Patologia, Terapêutica e Zootecnia
(Texto): Macedo Pinto, C urso de Veterinária, 1854, 2 vol. 8.°.
I»Y vme ri í, c.t. e J. M. de Abreu Relatório cil. pág. log , 3.» Parte: Agricultura — l.o lavoura, 2.» hortas, 3." árvores
IIO,
e arbustos, 4.» jardins, 5.° Economia Rural. (Texto): Raspaíl, C urso
de Agricultura, traduzido e anotado pelo Dr. Figueiredo e Silva.
Mi U E M Q S I A HISTÓRICA DA A C A D E W A POLITÉCNICA DO PORTO

U.\ C ad. — 1.» Parte: F,scriloração por partidas dobradas, or­


ganização de balanços e conta* corrente», noções dos sistemas de
escrituração roais usado»,
2.» Parte: Fórmulas de documentos comerciais,
3.» Parte: Geografia comercial, estatística comercial, redução
dos câmbios, pesos e medidas estrangeiras.

J*.« Cbf, —l.a Parte: Economia Politica. Duração do Curso


de.de Outubro ale 18 de Janeiro. (Texto): A. Forja*. Noto» elementos
de economia politica e estatística, 1869.
2.» Parte: Economia e (Legislação Rural. Duração do Curso
desde 20 de Janeiro até 15 de Fevereiro. Não há compendio.
8.» Parte: Economia e Legislação Industrial. Duração do
Curao desde 17 de Fevereiro até 8 de Março. Não há compêndio.
4« Parte: Princípios de Administração e Direito Administra­
tivo. Duração do Curso desde 10 de Março alé 7 de Maio (Texto): ■3
I. A. de Freitaa, Ineiitúlfõee de Direito Administrativo Português
Coimbra 1867, 1 vol. '
5.* Parte: Princípios de Direito Comercial Duração do Curso
desde 9 de Maio alé ao fim do ano (Texto): C ódigo Comercial Por­
tuguês.

Estas Cadeiras dividiam­ae pelos diferentes Cursos do modo


seguinte:

I —ENGBNHKIROS CIVIS

1.°) Dê Minas

l.o A n o ­ l.a Cadeira; 4.» Cad., 1« e 2,« parte; 9» Cad.


2 o Ano ­ 2 ­ Cad. ; 8.» Cad.; 4 .. Cad., 2.. e 5.. parte.
3.° ADO — 8.» Cad , 1.» parte ; 7.. Cad., 3.» parte.
4.°Ano —3.a Cad., 2.» parte; 7.» Cad., 2.« parte; 4.» Cad.,
4 • parte, Desenho de perspectiva, plantas e perfis das máquinas 03
em uso no serviço das Minas; 10.» Cad., l.a e 2.» parte.
B.o Ano — 4.» Cad., 5.» parte, Desenho de cortes e plantas de
mina», e convenções para designar o terreno; 12." Cad., 1.., 3..
e 4 » parte.
2.") C onstrutores de Navios

l.o Ano —1 > Cad.; 4.« Cad., 1.» parte


2.­ Ano ­ 2 » Cad.; 8.» Cad., l.a parte.
3.o Ano­4.» Cad., 4.« parte, Desenho de perspectiva, plantas
e perfis de máquinas para levantar grandes pesos; 12 a Cad 1 .
e 2.» parte.
LUTA DE VIDA OU DE MORTE ! 345

4.0 Ano — 3.» Cad, 2.» parte, Desenho de Arquitectura Naval


nas Belas­Artes.
S." Ano—Prática de Arquitectura Naval; 10.» Cad,, |.« e
2.» parte.
3,o) Geógrafo»

l.o Ano — 1.» Cad.; 4 a Cad , 1." parte.


2.° Ano —2.» e 8.» Cad.
3.0 Ano — 3.» Cad., 1.» parle; 9.» Cad., Química Mineral; 4.»
Cad , 5.a parte.
4.o Ano —5.» Cad, !.■ e 2 » parte; 7.» Cad, l.a e 2 a parte;
12.» C a d , 1.» e 4 » parte; Desenho geográfico, redução das plantas
de Costas, balas, enseadas, portos, e t c , nas Belas­Artea; 10.» Cad,
1.* e 2 » parte,
4 ° ) De Ponttê « Estradas

l.o Ano— l.a Cad ; 4.» C a d , 1 » parte.


2 . ° A I Í O —2.a e 8.» Cad.; Desenho de Arquitectura nas Belas­
■Artes.
3.o A n o ­ 3 a Cad., l.a parte; 4 a Cad. 3 < e 4.a parte; 9.» Cad.
4.0 Ano ­ 3 » Cad . 2,a parte; 5.» Cad., 1.» e 2.» parte; 7.» Cad ,
l.a e 2.a parte.
o.» Ano— 8 » Cad., 3.» parte; 10.» C a d , l.a parte: 12.» C a d ,
l.a, 8.» e 4 » parle.

II — DlRECTOHES DE FÁBRICAS

l.o Ano —1.» Cad.; 4.» Cad., 1.» parte; 9.» Cad.
2.° Ano—2,a e 8.» Cad.; Desenho de Arquitectura nas Belas­
­ Artes.
8.0 Ano — 3.» Cad., 1 » parle ; 4.» Cad., 3.», 4.» e 5 « parte.
4.o Ano — 3 a Cad., 2.a parle; 12» Cad., ] . ' , 3 » , 4.» e 6.» parte.
5.o Ano —3.a Cad., 3.» parte.

III — PILOTOS

l.o Ano ­ l.a Cad.; 4.» Cad., l.a parte.


2.0 Ano — 5 * Cad , 1.» e 3.» parle; Desenho de Cartas Geográ­
ficas, redução de plantas de Costas, baias, portos, etc., nas Belas­
­Artes; Aula de Manobra e Aparelho Naval; 12.» Cad., explicação
dos artigos do Código Comercial que dizem respeito aos direitos e
obrigações dos Capitais e Oficiais dos Navios Mercantes

IV — COMERCIANTES

l.o Ano— l.a Cad.; 11.» Cad., l.a parte.


2.o Ano— 11. 1 Cad., 2.» parte; 4.» Cad., 1 » e 2.» parle.
3.oAno— 11.» Cad., 8.» parte; 12.» Cad., 1.», 3.a e 5.» parle.
RIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA TIO PORTO LUTA DE VIDA OU DE MORTE! :Í4?

V — AGRICULTORES IX — CURSO PREPARATÓRIO DA ESCOLA MÉDICO-CIRÚRGICA

l.o A n o — 1 » e 9.» Cad. l.o Ano — l.a e 9.» Cad.


2.0 A n o - 8 . . Cad.; 4.. Cad, l.a e 2.a parle; 10.. Cad., 1.. e 2.o Ano — 8 . . Cad.
o.» parte. 3.o Ano — 7 . . C a d , l.a e 2 a parte; 10.» Cad, 1.» e 2.» parle.
3.o A d o - 7 . . Cad., 1 . « 2.. parte; 10.. Cad, (parte prática) e
<S.a parle; 4.. Cad, Desenho pelo natural dos órgãos de vegetação *
e de reprodução das plantas * a
PREPARATÓRIOS
*.« Ano - 12 . Cad, ! . . e 2.. p a r t e ; 4.» Cad , 4.. parte, Dese-
nhos de Máquinas e Construções Navais.
Para a primeira matricula nos Cursos de Instrução Superior:
VI — ARTISTAS
Aprovação em Gramática e Língua Portuguesa em qualquer Liceu.
Exames: de Francês; de Introdução i História Natural, de princípios
de Química e Física; de Arimélica, Álgebra Elementar, Geometria
l.o Ano ~ 1.. Cad ; 4« C a d , J.» parte. e Trigonometria em Liceu.
2 o A n o - R a Cad.; 4.» Cad, 2« parte. Para tirar Carta do Curso: Exame de Inglês.
3.o Ano - 9.» Cad.; 4.. Cad, 3.» e 4.a p a r t e .
Primeira matrlatia em cursos que wío sõo classificados de Ins-
trução Superior, segundo a Portaria de 13 de Outubro de 1857:
VII - CURS08 PREPARATÓRIOS PARA OFICIAIS DO EXÉRCITO E MA- Aprovação em Gramática e Língua Portuguesa em qualquer Liceu;
RINHA Exame de Francês.
Para tirar Carta de Curso de Comércio também se exige cer-
l.o} De Oficiai* dê Estado Maior e Engenharia tidão de aprovação em Língua Inglesa. (')

l o A n o - 1 . . Cad.; 4." Cad, 1.. parte; 9.. Cad. Este Projecto foi enviado ao Governo em Junho ou Julho de 1861 {*).
2.o Ano — 2«, 8.» e 4.» Cad.
A Academia esperou até 1863 ; e como a aprovação não chegasse,
S> A n o - 3 . . Cad., |.a p „ , e ; 7.. Cad., l a e 2 . . parte; 10.. Cad,
1 » e 2.. parte. ' em Sesslo de 15 de Abril desse ano o Conselho Académico resolveu
4.0 A n o - 3 . a Cad., Geometria Descritiva; 5.» Cad, 1.. e 2.« parle. considerá-lo em vigor (8).
Ora o curioso de tudo isto é que durante os longos meses que a
2.°) De Oficiais de Artelharia Academia pacientemente esteve aguardando a aprovaçio superior, o
Conselho Geral de Instrução Pública nao deu sinal de si. Quando o
l.o A n o - ! . . Cad.; 4.a Cad, 1.. e 2.. parte; 9.» Cad. Conselho Académico tomou a libertação citada, logo o Conselho Geral
2.o Ano - 2 . . e 8.. Cad.; 4.» C a d , 4.. parte.
S.» Ano - 3 . . C a d , ! . . parte; 7.. Cad., 1.. e 2,a p a r l e ; t 2.« Cad acordou...
M parte. • Com efeito o novo Programa começou a vigorar de farto em 15
8.o) De Oficiais de Marinha de Abril de 1863, e tem a data de 21 de Julho seguinte o extenso
Parecer daquele organismo, sobre o dito Projecto.
l.o Ano - La Cad.; 4 . . Cad, 1.. e 2.» parle; 9.» Cad
2.» A„o - 2.. e 8.. Cad.; Desenho Geográfico, redução das plan- Indirectamente o Conselho pretendia justificar a demora havida,
tas de Costa., baías, enseadas, portos, e l e , nas Belas-Artes. alegando que o seu trabalho não se limitava «ao simples exame das
matérias compreendidas nesse programa, e à sua distribuição pelos di-
VIII — CURSO DE ASPIRANTES A OFICIAIS

! . . Cadeira. (') K-í >. n. de ns.


4 , . Cadeira, 1.» e 2.a parte. (*) J-4, fis. io6 v.o e 107 v.o.
(9) Id. fis. 117 v.°.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTA D E VIDA OU DE M O R T E ! 349

ferentes cursos e pelas diversas cadeiras» ; fora muito além, visto en- das ciêDcias cresceu e prosperou á custa do ensino técnico c espe-
tender «que esta questão tinha maior gravidade, e que imediatamente cial, aspirando quâsi todas as escolas superiores, por mal cabidas
se ligava à organização do ensino naquele estabelecimento, organização prevenções, a uniformizar os seus estudos para estabelecerem en-
de que essencialmente dependia todo o plano daquele ensino» (1). tre ai uma concorrência em que a ciência nada lucrava, e que muito
prejudicava a instrução, porque «obrava o ensino nuns ramos, e
Não foi difícil ao Conselho Geral de Instrução Pública encontrar
escasseava completamente noutros».
argumentos para condenar inteiramente o Projecto da Comissão da
Academia Politécnica, e justificar outro da própria lavra em que os Nestas condições, o Conselho Geral de Instrução Pública pro-
cursos eram reduzidos a limites que maguaram profundamente a gente punha uma reforma profunda dos Programas da Academia Politéc-
do Porto e do norte do país em geral. nica. Não a transcreveremos na íntegra. Reproduziremos, do rela-
A tese do Conselho Geral era, em síntese, que a Academia Poli- tório, os seus tópicos principais ;
técnica tendo sido criada com o fim especial do ensino das ciências
«A 1.» Cadeira não podia, depois da Lei de 12 de Agosto de
industriais, e não lhe tendo sido dados os elementos necessários para 1854, continuar a compreender as mesmas matérias que hoje se
ensinar mais do que as artes e os ofícios, a isto ou a pouco mais devia lêem nos Liceus Nacionais, e por isso foram substituídas pelas que
limitar as suas pretensões. Como formar engenheiros de todas as clas- fazem o objecto de igual cadeira na Escola Politécnica, tornando
ses — segundo a expressão da lei — se esta não lhe dera «uma cadeira assim comum esta habilitação aoa dois estabelecimentos.
especial de Mecânica, nem um só curso de Construções», e se «a Geo- Ao ensino da Zoologia juntnu-se na mesma Cadeira a 8.a, o da
Botânica e princípios de Agricultura, separando desta a parle da
metria, a Física e a Mecânica que se professavam pertenciam à ins-
Economia Rural e da Veterinária que, pela necessidade de dar maior
trução secundaria nos Liceus»?! extensão ao ensino da Botânica, que particularmente interessava os
Aparentemente, o Conselho Geral tinha razão. Mas na realidade, alunos médicos e farmacêuticos, poucas lições se leram nesta Ca-
não tinha. deira, como ao Conselho Geral constou, pelas informações de utu
dos seus membros que por quási vinte anos a regera.
Sabemos muito bem que, embora não houvesse legalmente uma
No Programa da Academia a Mineralogia, Geologia, Montanis-
cadeira de Construções, e Mecânica não constituísse legalmente uma tica e Metalurgia andavam anexas à Cadeira de Zoologia, o que tor-
cadeira — praticamente, efectivamente, Construções e Mecânica eram nava deflcientlssimo o ensino de tantas disciplinas professadas num
ensinadas em cadeiras especiais. só curso anual, além de que havia maior relação entre os dois ra-
Mas o que o Conselho Geral de Instrução Pública de modo algum mos da História Natural Inorgânica, a Geologia e a Montanistica.
queria era que a Academia — escola de ciências industriais — prepa- Convirá, talvez, por causa do curso preparatório para as Esco-
las Médico-Cirúrgicas, que seja bienal o curso da 8» Cadeira, lon-
rasse alunos «para a admissão às diversas cadeiras científicas do exér-
do-se alternadamente num ano a Zoologia e no outro a Botânica, o
cito e da engenharia civil e naval». Já havia duas escolas superioras que não altera a economia geral do ensino académico.
que habilitavam para esses cursos especiais; três era «um luxo de É este, contudo, um objecto que convém deixar à prudente re-
ciência»... solução do Corpo Docente.
São do Parecer as seguintes palavras : Na 10. • Cadeira estabeleceu-se um curso bienal, porque não era
possível abranger com a devida extensão tantas e Iam variadas ma-
térias num só ano lectivo; e como é indiferente que um desses cur-
«É preciso dizê-lo aqui franca e lealmente; enquanto a instru- sos preceda o outro, sempre o Professor pode reunir na mesma
ção popular eslà muito èquem das suas maia instantes necessida- aula os alunos do primeiro com os do segundo ano, que neste giro
des, enquanto o ensino secundário está ainda mui longe de corres- completam a sua habilitação».
ponder ao que dele deve esperar a instrução intermédia; duplica-
ram-se e triplicaram-se não só inútil mas prejudicialmente os nos- Chegámos ao ponto crucial da Reforma :
sos estabelecimentos de instrução superior, e a parte especulativa
• Dos cursos de Engenheiros que o art. 155.° estabeleceu gene-
ricamente, o principal e mais importante que pode professar-se na
O Vide o Parecer in Diário de Lisboa, 1864, n.o 105, 12 de Maio, p. 1489 a 1491 Academia Politécnica é o dos Engenheiros de Minas, que ali deve
HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTA UE VIDA OU DE MORTE! 351

eoHUuIr «ma verdadeiro Eacola de Minas, estabelecimento é.te de


é uma anomalia e contrasseoso tal que não encontra exemplo em
grande ut.lidade no noaao Pai,, , q u e tem por indispensável com­
Pais algum, ainda o menos culto.
p emento . Escola Prática de Mineiros estabelecida jà pelo Dec de
A Academia Politécnica nos seus programas de 1838, para jus­
31 de Dezembro de 1852 n . min. de S. Pedro da Cova, no distrito
tificar de algum modo a criação do curso de pontes e calçadas,
do Porto; por isao o Conselho Geral de Instrução Pública procurou
havia dividido o ensino da 6.» cad., que tinha por objectivo a Arte­
dar « maior extensão possível a este curso, e para completá­lo pro­
Itiaria e Táctica Naval, em dois anos, compreendendo no segundo
pBe a Vossa Majestade a transferência para aquela Academia da
um curso de construções públicas, de que no decreto orgânico de
Cadeira de Montanística, Docimasia e Metalurgia, criada pelo citado
13 de Janeiro se não fazia menção em parte alguma, e podia por
Dec. do 31 de Dezembro de 1852 na Escol, Politécnica, e one na
isso duvidar­se da legalidade com que neste ponto procedera o
opinião mew.o de** E­eola não tem ali o seu lugar próprio. Esta
Conselho Académico, só por excesso de zelo pelo ensino público,
provWéoc» de reconhecida vantagem carece, porém, de medida
que do­ certo honra a sua dedicação. Mas esta cadeira foi suprimida
legislativa que facilmente o Governo de Vossa Majestade obterá
pelo Dec. de 20 de Setembro de 1814, e por iaso nem mesmo esse
Das outras três classes de Engenheiros Construtores de Navios'
curso de Construções pode dar­se já, nem ser suprido pelas lições
Geógrafos, de Ponte, e Calçadaa, que o Conselho Académico incluiu'
da .'( ■» Cad., onde no. últimos Programa, o Conselho Académico
nos seus Programas de 7 de Agosto de 1838 e reproduziu nos de
compreendeu para se 1er em um só ano a Geometria Descritiva,
18 de Maio de 1861, parece ao Conselho Geral de Instrução Pública
Mecânica Racional, Cinemática das Máquinas, Mecânica Aplicada á
que nenhuma pode subsistir. 0 art. 165.. do Dec. de 13 de Janeiro
resistência dos Sólidos e à Estabilidade das Construções, especial­
de 1ÈW7 estabeleceu que a Academia Politécnica do Porto, além do
mente a Pontes e Estradas, e às Máquinas de Vapor, Hidráulica,
aeu fim especial, o ensino das ciências industriai., era destinada a
Construções Hidráulica., Caminhos de Ferro e Telégrafo. Eléctricos,
formar engenheiros de todas as classes, tai, como engenheiros de
objectos este., cada um dos quais, mal poderia profesaar­se num só
m.nas, engenheiros construtores, engenheiros de pontes e calçadas
curso anual.
O que era portanto aqui perceptivo era a autorização para
formar engenheiros; a. diferentes categorias, porém, e as diversas O Desenho, que é uma parte importantíssima do ensino nas
classes de engenheiro, que por virtude dessa faculdade podiam escolas superiores, não eetà organizado na Academia Politécnica,
formar­se nesta Academia, eram objecto puramente regulamentar nem seria fácil organizá­lo de modo que satisfizesse ao desenvolvi­
segundo o artigo 158° do mesmo decreto; e por consequência da mento e direcção que este estudo requer numa Escola de Pontes e
competência do Governo, nos lermos do art. 9.» da Lei de 12 de Calçadas. O mesmo acontece em relação aos Construtores de
Agosto de 1854. | tanto a Academia Politécnica assim o entendeu Marinharia e Engenheiros Geógrafos; e o Conselho Académico reco­
que nos seu. programas incluiu o Curso de Engenheiros Geógrafos nheceu tanto isto que procurou ocorrer a esta importante falta pelo
que se „ao encontrava mencionado no Decreto de 13 de Janeiro estudo do desenho de Arquitectura Civil e Naval, e Geográfico na
de 1837; e de feito tanto podia acre.centar este, como eliminar outro. Academia das Belas Artes Portuense, como se o fim a direcção
especial do ensino de desenho nesta Academia não estivesse indi­
cado pelo próprio titulo dela.
Sendo por consequência puramente regulamentar este objecto
Assim nenhum dos três cursos deve continuar na Academia
cumpre ponderar se a actual organização da Academia Politécnica
Politécnica do Porto, e unicamente pode ali protessar­se o primeiro
do Porto permite a existência daqueles très cursos de Engenheiros
e segundo ano do curso preparatório de Engenheiro. Construtores
0 Jim especial desta Academia, o ensino das ciências industriais
de Marinha, completando­o com a frequência do 3.o ano na Escola
bastaria para demonstrar a impossibilidade de professar nas mes­
Politécnica, para dali passarem os aluno, a cursar na Escola Naval
mas cadeiras as ciênc.as físicas e matemáticas de modo que as
as Cadeiras especiais que faltam no Parlo >.
l.çOes correspondessem à. variadas profissões a que 0 s alunos se
dedicam, e satisfizesse às opostas exigências do ensino segundo os
flM especiais a que é destinado. Reunir na mesma aula a alta Quanto aos cursos de Agricultores e de Artistas, não poderiam
ciência dos engenheiros de pontes e calçadas com o ensino rudi­ eles «continuar a existir», visto os Dec. de 16 e 30 de Dezembro
mentar do artista e do agricultor, ministrar a mesma instrução ao de. 1852 haverem estabelecido escolas agrícolas e industriais.
engenheiro construtor ou ao. alunos das Escolas Médico­Cirúrgicas
e ao simples fabricante; professar o mesmo curso ao piloto e ao
oficial que se destina à Engenharia e ao Estado­Maior do Exército
Como se vê, se fossem postas em vigor as indicações do Conse­
lho Geral de Instrução Pública, o ensino na Academia Politécnica do
362 Í5TÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTA DE VIDA OU DE MORTE! 353

Porto ficava realmente mais bem organizado, mas o que é verdade de comerciantes. Pois os habitantes deste pais de burgueses enten-
também é que a Academia baixava da categoria de escola superior dem que são tam hábeis como outros quaisquer para professarem
quási à de secundária escola industrial, pois poderia formar apenas enge- ciências, e dizem mais à ilustre corporação que ela não conhece a
nheiros de Mtnas. Em conclusão; a Lei q u e a fundou mandava que classificação das ciências se pensa que os estudos politécnicos são
nela houvesse todos os cursos de Engenharia; por meio dum simples transcendentes e especulativos. A Academia do Porto, formando
engenheiros civis e agricultores, ensina principalmente a parte tec-
Programa revogava-se uma Lei! .. Assim se conseguiria o que as
nológica das ciências, e segundo o espírito da Lei da sua criação ê
indiferenças, desleixos e más-vontades de perto de trinta anos nSo uma escola prática e não uma Universidade».
haviam logrado conseguir.
Criticando o argumento do Conselho Geral, segundo o qual, por
A Consulta do Conselho Geral de Instrução Pública que em não haver cadeiras suficientes para o ensino da engenharia civil, agri-
parte fica transcrita tem a data de 21 de Julho de 1863. cultura e outros cursos, êsBe ensino devia ser suprimido, dizia o ftm-
Mantida em segredo durante mais de dois meses, alguma incon- dista de O Commercio do Porto em 7 de Novembro de 1863 :
fidência a trouxe ao fim desse tempo ao conhecimento público. No
— «O Conselho quer que se forme o curso de minas; e julga-o
Porto a divulgação de tal notícia causou a mais desoladora impressão,
completo com mais uma cadeira; é a de montanística, docimasia e
í o i no dia 10 de Outubro daquele ano que começou a constar nesta metalurgia. Mas a geologia e a mineralogia ficam ainda formando
Cidade estar próxima a publicação dum Regulamento pelo qual a parte da aula de zoologia. É lógico, é natural, que em breve esse
Academia Politécnica deixaria de poder habilitar para os diversos mesmo Conselho venha dizer que não sendo o onsino proporcionado
cursos de engenharia, e para os de agricultores e artistas, e deixaria ao objecto dos cursos, é do interesse do pais, e do crédito da Aca-
mesmo de servir aos alunos que quizessem ter o curso preparatório demia, qi>e o estudo de minas seja riscado do quadro do instituto
portuense».
de engenham. Imediatamente os jornais portuenses iniciaram uma
viva campanha em defesa da Politécnica ameaçada, em que se desta-
Este mesmo jornal noutro númeno (de 15 de Outubro) pondo em
caram O Commerão de Porto e O Jornal do Porto.
confronto o tratamento dado pelos Governos a Lisboa c ao Porto,
José Maria de Abreu - um dos signatários da Consulta - encon- fazia notar que «os decretos de 1837 destinavam a diferentes fins as
t r a v a m em vilegiatura na Foz do Douro, e tentou esclarecer a ques- duas Escolas» Politécnicas daquelas cidades. «Uma era dedicada às
tão. Enviou ao primeiro daqueles jornais uma carto, que foi publi- ciências industriais e comerciais, outra aos estudos militares. Tudo o
cada em 17 de Outubro, a qual em resumo dizia que não era a exis-
mais era acidental em ambas; porém os quadros das cadeiras saíram
tência da Academia Politécnica que estava em causa, como se afir-
em grande parte idênticos e assim se conservaram anos. Reconhe-
mava, mas apenas a sua organização, pois o que se projectava era a
ceu-se, porém, que a Química Orgânica devia separar-se da Química
supressão dos Cursos que não podiam ser mantidos.
Inorgânica por conveniência do ensino ; que era necessária uma cadeira
Tal carta, porém, não logrou sossegar os ânimos, visto ser opi- especial de geometria descritiva; e que a montanistica, a docimasia e
nião assente que a supressão dos cursos de engenheiros civis e de agri-
a metalurgia deviam ter cadeira especial, ficando noutra a mineralogia
cultores equivalia a pouco menos do que ao encerramento da Acade-
e geologia.
mia. Isto afirmava-o, por exemplo, O Jornal do Porto, que em 16 de
«Bons pensamentos eram estes, e ninguém podia rasoavclmente
Outubro dizia ainda :
contrariá-los. Mas como Be o recto pensar conhecesse por limites os
muros duma cidade ; como se a ciência tivesse formas diversas segundo
«Uma das teimas do Conselho Superior de Instrução Publica,
e que nasceu logo que esta corporação foi transferida de Coimbra as casas da sua habitação : o certo é que tudo se votou para a Escola
para Lisboa, é que no Porto a instrução deve ser toda industrial e Politécnica de Lisboa e tudo se negou à Academia do Porto»,
que a alta ciâucia é uma planta exótica neate pais de burgueses" e A opinião pública nesta cidade apaixonou-se profundamente pela
354 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
LUTA DE VIDA OU DE M O K T S ! 355

questão, transformando-a num caso de brio bairrista. O ambiente


demia Politécnica não era propriamente aquele de que todos falavam :
geral de desagrado, transmudou-se num repente em indignação vivíssima.
não era o resultante do Projecto de Reforma apresentado pelo Conse-
E o Porto que sempre até então, em todas as emergências, tinha sabido
lho Cerai de Instrução Pública. O maior perigo residia noutro facto
fazer ouvir a sua voz perante o trono, protestou em massa, clamoro-
de poucos conhecido. Em 1857 tinha sido criada, como dissemos
samente, contra a extorção afrontosa que se planeava. Manifestou-se
oportunamente, uma Comissão para regulamentar o art." 140 da Lei
em primeiro lugar o Corpo Docente da Academia Politécnica ; em se-
de 20 de Setembro de 1844, que autorizava os Preparatórios Militares
guida a Câmara Municipal, por último todas as classe sociais.
na Academia. Essa Comissão elaborara um projecto que não desa-
Uma ComissSo, composta pelo Visconde de Castro Silva, Joaquim
gradou a este Estabelecimento e que foi aprovado pelo Ministério da
Ribeiro de Paria Guimarãis, Alexandre Soares Pinto de Andrade, José
Guerra, como também jií referimos. Ora esse Projecto caíra no esque-
Maria de Sousa Lobo e António José Moreira da Rocha, tomou a ini-
cimento, e assim permanecera, sem nada se resolver.
ciativa dum grande comício de protesto em que se colhessem assina-
Tiansformou-se entretanto o Conselho Superior em Conselho
turas para uma representação a enviar ao Governo, que devia ser assi-
Geral da Instrução Pública com sede em Lisboa.
nada por todos os Portuenses que o quisessem fazer.
E um dia, em face das instâncias para a publicação do Regula-
Esse Meeting, como lhe chamaram, realizou-se a S de Novembro.
mento, o Conselho Geral — continuava o orador — julgou conveniente
Notíciando-o, 0 Commerrio do Porto do dia imediato dizia sem
refundir o trabalho antigo apresentando um Projecto totalmente diverso
enfenaismos nem rodeios :
do primeiro. Esse projecto estava, segundo Faria Guimarãis, quási con-
— « Uma longa história de longos vinte e sete anos narra os su- cluído e o Ministro da Guerra, Visconde de Sá da Bandeira, encon-
cedimentos pasmosos que mostram o desleixo ou a má vontade de trava-se habilitado a adoptá-lo «pela autorização que teve das Cortes».
ter as províncias do norte de Portugal na consideração que merecem. Aí é que estava o maior perigo — afirmou Faria Guimarãis— «acabam
Enfada, enoja, envergonha e contrista, compulsar as páginas dela e as habilitações pela Academia Politécnica e pela Universidade, con-
encontrar ai sucessivas provas do que deixamos dito
centrando-se na Politécnica de Lisboa e Escola de Exército». Essa
Mas o fim do ano de 1863 devia fazur-nos presenciar uma nova
cena desse espectáculo. é que era — na opinião do orador, — a ameaça mais séria e imediata
Depois do desleixo, quizeram alimentar o ânimo destruidor; que passava sobre a Academia.
e tam iludidos andam que com o efeito do próprio desmazelo pre- Todos os argumentos que se empregaram, tudo que se disse em
tendem agora fundamentar o desvelo de iconoclastas !
favor da Academia Politécnica, está magistralmente resumido na nota-
Felizmente, a questão passou do recinto académico para a cidade
inteira. Do edifício arruinado saíram vozes enérgicas. Da terra
bilíssima Memória que por essa ocasião o Corpo Docente da Academia
ofendida levantaram-se os clamores fervorosos, independentes, "ra- enviou ao Soberano e da qual, por ser extensa, se reproduzem aqui
zoáveis e justos. apenas os trechos de maior interesse para a história da Academia Poli-
Até aqui tinha representado a Academia e o corpo municipal' técnica :
Ontem representou o Pôrtoi.
Stnhor !
Foi tam grande a afluência de manifestantes que a sessão, come-
Na historia de todas as nações è citada com louvor a franqueia
çada numa das salas da Casa da Câmara, da Praça Nova, teve de ser
dos súbditos quando falam a seus soberanos; e na história da nossa
transferida para a via pública, para a Praça fronteira, onde se apinhava pátria, história tSo familiar a V. M., frequentes e nobres exemplos
enorme multidão. Do alto duma das varandas do edifício foi lida a se encontram dessa franqueza, sempre benignamente acolhida pelos
mensagem. Cobriram-na, seguidamente, 7500 assinaturas. mais ilustres entre os ilustres antepassados de V. M. ; os quais
Nesse memorável comício Faria Guimarãis, no uso da palavra, nunca hesitavam em relevar até a rudeza das palavras, quando a
bavia, em homenagem à verdade que elas exprimiam.
afirmou que o mais iminente perigo que ameçava a existência da Aca-
HISTÓRICA DA A C A D EH I A POLITÉCNICA DG PORTO
r i I T A D E VIDA OU DE MORTE ! 35?
Há ramio tempo, Senhor, que se .ram. contra o m i s t é r i o
publico exercido nas províncias, especialmente c o n t r a o s ^ J Longe de nòs. Senhor, a mais leve idea de condenar as des­
1 6 Í08trUçS pesas feitas com a instrução pública em qualquer distrito de Portu­
IT " I' ° • » • * * « " ° Por'o, e mais especialmente
ainda, contra a Academia Politécnica; tem­se tentado por diverso! gal, muito menos na capital do reino, porque nenhuma despesa
achamos tão produtiva como esta. Superiores ao ignóbil sentimento
T Z 1 Z r U , n * : e S: a Í D d a " n 5 ° ~ Í U Í ­ m ­ i s e n t e ria inveja, folgamos sempre com o desenvolvimento de toda a ins­
Be ainda nao apareceu Hércules para este Auteu, é porque a terra
trução em qualquer ponto do nosso pais; mas é por isso mesmo que

::: ivzrável rôrç­v,iai «M *—• ­ — ­ °


de o„,« . « o êle surgiu, lhe comunica a cada novo abalo uma por'
rnairt profundamente nos punge a injustiça com que vemos tratado
o Instituto a nosso cargo, injustiça que reflète convertida em afronta
sobre as faces do Porto, injustiça que ataca e ofende não só os maia
sagrados direitos, os mais caros interesses, mas até a dignidade da
M a n i l a r ' 'Umtacio ' 8t
« u n s "c<°« 4" vida da Academia de heróica população desta cidade, e de todo o pais a que ela serve de
Marmha e Comércio, e continuam): A,é )837, pois, a palavra re­ centro social.
forma aplicada à Academia do Porto significousem r e « p . acal Entregue por tal modo ao mais indesculpável auandóno, lutando
sempre com dificuldades que pareciam insuperáveis, esta Academia
c*d. à meam. Academia p , 8 g o u . s i g n i n c a r 0 contrari0i J teria morrido de inanição, se no seu corpo docente não houvesse o
7mÓ7' de ru
" » ' f r u i ç ã o , aniquilação, p a r a consegui a zelo e dedicação de que faz timbre, que não alardeia, mas que neste
o' z r m m e i o se ,em poupado Dm ainda
­ «—d­­ momento não lhe é licito calar. A falta de aparelhos e máquinas
tem sido em parte suprida pelos lentes, até onde os seus meios lho
•os, Uudiram­ae capciosamente a« presencies mais favoráveis à permitem; à supressão de cadeiras lem­se obviado, tomando a seu
Aca emia contidas D d Í Sna
P f , Lei
n 9 á Vda
e Í 8 sua
Parftcriação, recusaram­se­ihe em
m i s Z : ; e " ;lhe
missão que
r V fora "lÍ8/8I6r * '"'P­tantissim™
incumbida. Os laboratórios, os observatórios
cargo os substitutos o ensino permanente das matérias que nelas
se liam; e, por muitas vezes, alguns dos lentes a regência de duas
aulas sem pedirem remuneração alguma: destes esforços e sacri­
todo? T ! K , mà<,UÍDM ' ° 8 m U 8 e U Í ' ° J' r d i m b°«™°< « H » fícios não temos esperado nem esperamos outra recompensa, senão
todos o . Estabelecimentos anexos à Academia Politécnica, d e i
l t ' e H m d l 8 p e n s á " e i s a ° «"«"'o Petiço das ciências que nela , â „ a que achamos nas nossas consciências, servindo­nos de lenitivo o
. « : : ; : r n d a d t °: c r i a r peia — ^ «° «*?. *»*> «;:: lermos conseguido que os alunos deste abandonado Instituto pos­
sam ombrear no nosso pais e nos estranjeiros com os alunos desses
ctseZ Ldér6P 1 ^ ­ ^ ­ . ­ instantes súplica, d o outros Institutos bem dotados, protegidos, afagados pelos governos,
Conselho Académ.co ou não cblinham resposta, ou a recebiam em
erm 08 d ^ ^ ^ ^ ^ ^ ^ e orvalhados até pela régia munificência. Nem uma palavra de ani­
edíflCÍ
mação ou de louvor, estimulo, incentivo nenhum, temos recebido;
Za a r l T T ° q U 6 ' 6 m m P Í a c ­ ^ ^ o ainda, ja ao contrário, para este Conselho parecem estarem só guardadas
em S e a U e r P a r a
evZ„ H V ° °6 r e p a r o s ««*"*­'io. a ­ f i m l expregs5es duras e ásperas, estranhandn­se­lhe até por vezes o seu
evitar o desabamento do que está feito, se tem concedido Ziol
auflcentea chegando este mísero estado a ponto de, por v e z 7 Z próprio zelo no serviço
algumas aulas, correrem grave risco lentes e estudantes d e Z Z
deb
7 t " * ° *> l é 'o • ^ s paredes. P Qr via de regra a ^
po. a a todas as reclamac5es, quando se dignaram responder, pode Donde provém esta guerra '! Qual a causa desta perseguição
redu zlr . 9e a trés p a l a v r „ €0­o há ^ . ^ P .P d acintosa ? Onde estão os inexoráveis inimigos deste Estabelecimento
nem ao menos para obviar â queda e tota. ruína dum doa Z , mi antes da instrução pública do Porto? Por muito tempo os pro­
belos ediflcto. do Porto; mas não faltaram m e i o s para se const" curámos debalde no parlamento, na imprensa, em todos os campos
« ' ,­ ^ ~ * , . « « » ^ande luxo, a Escola Po.itécina £ . . Z do discussão; víamos apenas sombras mal delineadas e fugitivas...
boa .
d o l a a d e lQdo o d j s p e n d 0 8 o m t n M Nessa época, porém, (1854) já era tempo, vimos pela primeira
..no dos seus c u r s o s , ­ e m relação a alguns até com profusa" vez entrar na arena, de vizeira erguida como liai cavaleiro, um dos
E a P0UtéCnÍCa 6 U t r 0 S l0StÍtUt campiões inimigos, e arremessar­noa a luva, que nós sem hesitar
ablT " aulas,
abriam novas r ' e ae criavam novos ° cursos, deixavam
­ <■ ­ Pdei »se se
pro levantámos. Sim, Senhor, foi só em 1851 que pela primeira vez

:rP" zr no orçameDi ° as cadeiras ­ — ­ £ soou no recinto do Parlamento uma voz, aliás autorizada, propondo
clara e perentóriamente a aniquilação da Academia Politécnica. Res­
pirámos então, porque era enfim chegado o momento por que havia
HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO p ô LOTA DE VIDA OU DE M O R T E ! 359

tanto tempo anelávamos; e embora fóMe quá8. ^ a dj¥fir_


amoutoando­a, monopolizando­a em um ponto, para dela privar o
Í Z L . „ " n0S8<Ui Í d e S S
° a9 daqU6le
°PÍnan,e 8 Ô b
" »S° «Trave resto da nação ou tornar­lha quasi inacessível ; sem se lembrar que
já lá vão há muito os mistérios de Eleusys e de Osiris, que já acaba­
e a.nda hoje lhe agradecemos o ensejo q u e nos deparou £ paten­ ram os hierofantas, e que já passou o tempo dos oráculos, das sibi­
tearmos a s nossas ideas sobre assunto tão momentoso. las, dos alquimistas e de todos os mistificadores » 1

(Aludem à Breve Memória sobre a instrução "pública superior no Este documento tem a data de 16 de Outubro de 1863, e é assi­
c T n a V natJr0VtnC Íal1 d
° " " ■ «"'5o publicada, e, depois de largas nado por João Baptista Ribeiro, Director; Joaquim Torcato Alvares
considerações, continuam:)
•A medida proposta pelo Conselho Geral é na essência o mesmo Ribeiro ; Joaquim de Santa Clara Sousa Pinto ; José de Parada e Silva
que o projecto de 1864, a aniquilação da Academia; a diferençaTai Leitão; Arnaldo Anselmo Pereira Braga; Dr. Francisco de Sales
q e reVMle C DO n m e U Gomes Cardoso; Luiz Baptista Pinto de Andrade; Francisco da Silva
mJT ^ " ^ ' ° " * "> 'he dá; é o
mesmo projecto apresentado mais capciosamente, envolvido numa Cardoso ; Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa ; Domingos Martins da
o .vem, mas tao diáfana c u e não é preciso ter vista muito perspicaz Costa ; António Luiz Ferreira Girão ; Dr. António Pinto de Magalhaïs
atra
a rem T M­ ^ ° ^° ^ *M"»*> f m
' « ­ « ' o ­ Aguiar; Guilherme António Corrêa; José Vitorino Damásio.
ZT> Tr *° P r 0 p 5 e " ê , e C l a r a " • " e r u m e m e a supres­
são da Academ.a, mas suprimem­se desde já os seus principais cur­
Pouco depois D. Luiz veio ao Porto. O Prof. Joaquim Torcato
s o s ; noa outros comprimem­se, amalgamam­se, atropelam­se as Álvares Ribeiro, «cujo belo talento» e decidido esforço «estiveram
doutnnas, ach.ta­se e torce­se o ensino, tornando­o até impossível sempre ao serviço da causa benéfica do engrandecimento » da Acade­
/az­se de tudo um imbroglio, substitui se a uma Academia um dis­ mia í1), afirmou perante o Rei:
parate; e quando esse disparate for conhecido, quando a sua inú­
til.dado for demonstrada, a consequência necessária é a sua com­ — • S e n h o r ! — e em ensejo tão solene deve dizer­se toda a
pleta supressão. No assédio desde há muito preparado contra a verdade — há vinte seis anos que a antiga Academia do Porto,
i n . ruçao superior do Porto, é a Academia Politécnica o ponto es­ criada a expensas suas (exemplo único no País) fora elevada no rei­
colh.do para o primeiro ataque, é contra ela que se assesta a arti­ nado de vossa augusta Mãi, sendo ministro Passos Manuel, a Aca­
demia Politécnica e a Lei lhe prometeu os Gabinetes e Escolas Prá­
a
1Z r " , " 8 e e n l 8 ° r"**Ía e o m P l e l ^ = * « > * Médico­Cirur­ ticas de que carecia para bem cumprir as novas obrigações que se
g ficara reduzida a um curso de sangradores, quando multo, lhe davam. Vai em outros tantos anos que incessantemente se
assim lhe esta ja profebzado e essas profecias correm impressas o reclama a execução dessa promessa, e o aumento de cadeiras que
p a n o s . a J u n c a d o : vencido o baluarte do Porto, passa " m a ­ era uma necessidade, mormente depois que ainda se lhe suprimira
nobrar menos clandestinamente contra Coimbra; c só darão por uma­ E quando a estas reclamações se não atendia, quando até
e minada a campanha, quando tiverem obtido o exclusivo, o l n „ por alguns anos nem as mesmas substituições vagas se prenchiam,
P e n 8 , n O 8 U P e r Í 0 r R n Usb a despeito das repetidas instâncias do Conselho Académico, da­
' °*> " U e é * • * ° « " " d e ^eraluZ.
vam­se a outras Escolas novas Cadeiras, e a algumas se duplicavam
(Todas as iras da Memória vão contra o Conselho Geral de
as substituições e se enriqueciam (e ao menos prestavam esse ser­
Instrução Pub ca. Contra êle se dirigem, ev.dentemente a "
viço à ciência! os gabinetes e escolas práticas da Capital. Ao passo
lent ss.mas palavras do final, quando os lentes af.rmam „ à „ s e r e m
que o tributo que espontaneamente haviam oferecido pagar para se
con r a n o s a reformas; o que desejam * que elas não sejam f t 2
■exclusivamente, pelos) ­adeptos duma seita, duma escola pol ca levantar um edifício condigno, fora absorvido para o Tesouro com
economic, ou cientifica, duma q „ „ , 0 „ e r „ „ ■ „ . . i m p r o Z 2 e outra denominação e nova forma na cobrança, e essas obras para­
ram, se levantava um suntuoso edifício na Capital.. . e ainda bem
Lid" d lnC OmrM C m
° ° re8Íma ^ Z ­ T L t o T on que ao menos que aos Institutos dali se atendia como o deman­
ol dado ja neste pais por esforços e sacrifícios, dos quais i c dava a dignidade do pais e o culto da ciência.
lestáve.mente ao Porto cabe a maior e mais gloriosa parte d ma
oligarque que, julgando­se dotada de i n f a l i b i l i d a d e , ­ d e s S a Z
(1) Artigo do Prof. Bento Carqueja in O Com. do Porto, recolhido no An. de 85­
rogafva que Deus guardou só para Si ­ quer disp r a seu a . a n t P
­86, p. 21J. O Discurso foi proferido ero 30 de Nov. de 1863.
do que há mais precioso na sociedade, a ins.ruçào'aglomeran o
360 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO l.UTA UE VIDA OU DE MORTE ! 361

Porém, nem o zelo do professorado, nem o ardor dog seus alu- Mas que informações queria o Conselho?!
nos sucumbe - os seus lentes completam os cursos, lendo até
gratuitamente, e tendo alguns de acumular maia que uma leitura
Que desejava com a tal inspecção? ! Verificar a má e deficiente
a» disciplinas para que lhes não davam cadeiras. Pensar-se-ia' organização inicial da Academia?! Verificar o estado lamentável a
Senhor, que tanto Mo pelo ensino, (anta dedicação pelo aproveita- que, agravando o mal de origem, a incúria governativa e a má-vontade
mento dos alunos, faria emudecer os adversários da instrução pú- de certos políticos tinham levado a Academia Politécnica?! Verificar
blica no Porto, mereceria ao menos algumas palavras de louvor 1 que ao passo que outros estabelecimentos tinham progredido bafejados
E quem o acreditaria? A tudo responde-se com projectos de regu-
lamentos, desatendendo tantos esforços, vedando a sua continua-
pela fortuna, este dificilmente vivia, quási asfixiado pela pobreza or-
ção I Queriam até se revogasse a lei, a pretexto de um programai » ('>. çamental ? ! Verificar o que era público e corrente ? ! Seria isso ? !
E para quê?
Não era preciso mais ! Para reformar — extinguindo — como já de longa data os inimr-
De alguma coisa haviam de valer tão justas reclamações e pro- gos da Academia pretendiam ? ! Ou pura reformar — melhorando ? !
W38t06 I Esta segunda alternativa era a intenção do Governo — obteve-se
Com efeito, a Reforma nâo foi aprovada ! disso a certeza.
O projecto do Conselho Geral de Instrução Pública desapareceu Nesse caso benvinda fosse a Inspecção ! A Academia aceitava-a
sumiu-se no meio do geral e veemente coro de clamores que do Porto de bom agrado !
se ergueram,.. E passados alguns meses, durante os quais provavelmente se pro-
curou esclarecer os fins exactos da Inspecção, a Portaria de 12 de
Mas o Conselho não desarmou. Nâo se deu por vencido. Outubro de 1864, do Duque de Loulé, Ministro do Reino, nomeava o
E quando em sessão da Câmara de Deputados de 26 de Abril de Conselheiro Dr. José Maria de Abreu, já noutro lugar citado, para
1864 foi feita segunda leitura dum novo Projecto de Lei assinado por proceder «a uma inspecção extraordinária à Academia Politécnica do
vários membros daquela Casa, em que propunham a criação na Aca- Porto, a-fim-de se recolher todas as informações e esclarecimentos ne-
demia Politécnica de três cadeiras (Mecânica; Geologia; Química cessários para se conhecer o estado actual do ensino no mesmo esta-
Orgânica e Análise Química) bem como o restabelecimento da fi • cad- belecimento, e para se formar um juízo seguro àcêrca das reformas
para ser lida em curso bienal, compreendendo construções públicas que nele convenha introduzir, já no ponto de vista científico, já nas
máquinas a vapor, caminhos de ferro e obras hidráulicas - e esse Pro- suas relações com os mais institutos de ciências naturais do País» (1).
jecto fo. mandado examinar pelo dito Conselho Geral de Instrução
Fubhca, logo esta entidade aproveitou a oportunidade para voltar a
declarar que o assunto era muito grave, por se prender «com as mais
importantes reformas de todos os estabelecimentos de ciências naturais
no país», e que nada convinha resolver sem se colherem cpor uma
inspecção feita no próprio local dá Academia todas as informações e
esclarecimentos necessários para ilustrar esta importante questão» <*)
«Nâo se trata unicamente de criar algumas cadeiras mais numa escola
s u p e r i o r - insistia a C o n s e l h o - , mas de por elas transformar a sua
primitiva organização» {').

(') An. de 85-86, p. a i 3 - í l 4 .


(*) Relatório de J. A. de Abreu, cit. p. loq (') Relatório de J. M. de Abreu, cit. p, 5.
3
1*1 Id. ib.
XIX

A INSPECÇÃO EXTRAORDINÁRIA

José Maria de Abreu, ao iniciar no Porto os seus trabalhos, «de-


clarou positiva, categórica e oficialmente*, a 20 de Outubro de 1864,
em sessão plena do Conselho Académico, e em nome do Governo, «que
a Academia Politécnica do Porto continuaria a gosar da categoria e
vantagens de estabelecimento de instrução superior que era, e que só
debaixo deste ponto de vista o governo proveria à sua reforma com o
fim de melhorar e completar o seu ensino pelo modo mais conveniente» (1).
Esta declaração perentória, oportuna e hábil fez desaparecer as
apreensões dos Lentes, acalmou os espíritos, desanuviou a atmosfera
de irritações e desconfianças em que no Porto se vivia, e contribuiu
enormemente para que o Dr. José Maria de Abreu visse facilitada a
sua missão.
É um documento muito notável, e de suma importância para a
história do estabelecimento de que esta Memória se ocupa, o Relatório
da Inspecção Extraordinária feita á Academia Polytechnica do Porto
em 1864 pelo Vogal efectivo do Conselho Oeral de Instrução Publica
José Maria de Abreu (Lisboa, Imprensa Nacional, 1865). Não pode-
mos demorar-nos a examiná-lo e a respigar dele tudo quanto de inte-
ressante para este estudo êle contem, sendo, aliás, certo que grande
parte do que aí se lê já o dissemoB, com bem maior desenvolvimento,
nas páginas antecedentes. Fundação da Academia Real de Commercio
e Marinlta, sua transformação em Academia Politécnica, Reforma de
1844, Programa de 1861, edifício da Academia, estado dos seus labo-
ratórios, gabinetes, etc., constituem outros tantos capítulos do dito
Relatório que, pode dizer-se, nada de novo conteem para nós. Mcre-

(') Relatório, de J. M. de Abreu, cit. pág. 8-9; e J-4, lis 125 v.o 126
364 RIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PO
A INSPECÇÃO EXTKAOKLlINAKIA 365

cem no entanto leitura as páginas em que José Maria de Abreu des- e Comércio), procurara aliar nas mesmas aulas o ensino da ciência,
creve a forma como se realizava o Ensino Académico — [A) Exames da arte e do ofício; e confundira a escola preparatória com a espe-
de habilitação; matrículas; B) Lições e exercícios práticos (minucio- cial; a instrução técnica coin as elevadas teorias da ciência pura».
samente descritos por Secções e Cadeiras) ; C) Habilitações, actos e Tudo isto era verdade; mas sabemos as razões por que tudo isso se
préoHos; D) Cursos Académicos]; a Administração Académica [A) fez. Fez-se assim não sé porque, com os elementos que a Lei e os
Administração literária; li) Administração económica]; o Pessoal e o Governos deram, não fora possível fazer melhor, mas ainda por ser
modo do seu reerutamanto, os serviços de Secretaria, etc. legítimo esperar que com o tempo a situação fosse melhorada e per-
Nessas páginas José Maria de Abreu aponta deficiências graves mitisse os necessários progressos.
motivadas na maior parte pela incompleta e viciosa organização que Era precisa uma reforma. Todos nisso estavam de acordo. José
de inicio foi dada à Academia - e que nunca os Governos haviam Maria de Abreu afirma, porém, que a Academia, embora fftsse da
corrigido, por mais que em seus Relatórios, Representações e Alvitres mesma opinião, se alarmara quando ouviu falar em suprimirem-se
continuamente o solicitasse o Conselho Académico. cursos (embora não frequentados muitos deles) por supor «que man-
E o prdprio Inspector quem nobremente afirma que os defeitos tendo integralmente a reforma de 1837, e arquitectando sobre o pri-
dos «métodos e condições com que o ensino se tem professado na Aca- mitivo plano novos pejamentos, lograria ver engrandecida a obra».
demia Politécnica do Porto» eram devidos a «circunstâncias depen- Desvanecidas as apreensões do Corpo Docente da Academia quanto
dentes dos vícios da sua organização e também da escassos quási abso- aos intuitos do Governo, não teve aquele dúvida em concordar e re-
luta de meios para criar os seus estabelecimentos e provê-los do
conhecer que não havia razão para conservar alguns dos cursos, e que
necessário, para que a prática acompanhasse sempre o ensino técnico» (1).
outros precisavam de ser reformados.
Outros factos aponta, no entanto, José Maria de Abreu que de-
Os de engenheiros geógrafos, engenheiros construtores de navios
monstram a existência de certas práticas abusivas e de irregularidades
e de directores de fábricas nunca tinham tido alunos (').
(tanto, por ex., no modo como se encontravam, sem serem rubricados
O de pilotos havia «muitos anos que estava abandonado». De
os livros da Secretaria, como na falta de exigência das matrículas por
curso, ou com declaração do curso ou destino a seguir - contraria- 1854 a 1864 ninguém o frequentara, segundo parece, ou pelo menos
mente ao art 0 8 do Regulamento para os Actos de 1839 e ao art° 7 nenhum aluno concluíra nele os seus estudos (*) ; «desde 1840 a 1854
dos Estatutos de 29 de Julho de 1803, mandado observar pelo art." desasseis estudantes matriculados foram examinados no uso de instru-
163 do Dec. de 13 de Janeiro de 1837), irregularidades de que resul- mentos de topografia e navegação e desde 1832 a 1861, ano em que
tavam ou podiam resultar prejuízos para o ensino e cuja responsabili- faleceu o mestre de aparelho e manobra naval, frequentaram essa aula
dade José Maria de Abreu atribui nalguns casos inteiramente ao Di- muitos alunos voluntários, de que não existe na secretaria a estatistica,
rector (1). não sendo matriculados por não seguirem o curso regular da Academia ;
desde 1854 a 1861 pasBaram-se vinte e cinco cartas de sota-pilotos a
Sem nos determos nos pontos citados, porque para tal nos falta marítimos que vieram à Academia fazer exames teóricos e práticos» (8).
o espaço, forçoso nos é, no entanto, resumir o resultado da Inspecção. Quanto aos cursos de engenheiros de minas e de agricultores não
Todos reconheciam a necessidade da reforma, a começar pelo constava que nos últimos dez anos os tivessem concluído mais de dois
Conselho Académico que foi o primeiro a apontar os erros de orga- alunos em cada curso, número maior que no curso de artistas em que
nização de uma «escola superior - dizia J. M. de Abreu - que, não apenas um parece ter completado os estudos (4).
se desprendendo das tradições da antiga Academia (Real de Marinha

(') falatório, cit. pág. 8. (') Relatório de J. M. de Abreu, cit. pág. 67.
(') Op. cit. pág. 46, 49 e 75. («i id. ib.
(') Id. ib.
(*r Ib. pág. 68.
H a K « B E * 3 '•'■ * £|. ' ­ tHBt&si "'•■■i'.t­X^iyf­ ­ ¾ ¾ ^

366
MEMÓRIA HISTÓR.CA DA ACADEMIA POLITÉCNICA D o PÔKTO
A INSPECÇÃO EXTRAORDINÁRIA 367

^°oZ^::t'°em igual período de a,ios tinha d a d


°•— cultores, de directores de fábricas, de engenheiros geógrafos, e enge­
nheiros construtores, limitando o ensino académico aos seguintes cur­
« O curso de engenheiros de pontes e estradas foi o que maior
sos principais: 1." engenharia civil; 2.° engenharia de minas; 3.° co­
alunoTo 8 b Í H t o U ,l0S I Í l t Í f f i 8
° ^2 an 8>
° ' P ÍB f0rmoU
° 2l mércio ; 4.° pilotagem ; e além destes os cursos preparatórios para as
escolas médico­cirúrgicas, do exército e naval. O Conselho Acadé­
Quanto aos cursos preparatórios, «quasi o único frequentado» era
mico foi também de voto que além destes se poderiam estabelecer
o de habilitação à Escola Médieo­Cirúrgiea C).
outros preparatórios para outras escolas de aplicação, contanto que
Deve observar­se que, a­pesar­do que fica dito, o número de alu­
não prejudiquem os quatro primeiros cursos, que fazem o objecto prin­
nos matriculados na Academia aumentara muito desde o terceiro ano
cipal do seu destino».
Confronte se
i o» , ­ ° m a P * de frequência de 1839 a 1851 José Maria de Abreu entendia que «as propostas» do Conselho
a pág. ^57 desta Memória, com o seguinte : (4)
«para a criação de novas cadeiras merecem Ber tomadas em consi­
deração» ; mas entendia também que, «circunscrevendo o ensino acadé­
Aluno» matriculados
Contados
mico aos quatro cursos principais e alguns dos preparatórios, segundo
Anos lectivos
o voto do corpo docente, e ampliando mesmo este quadro com um
individualmente por cadeira curso superior de artes e manufacturas [...] todo este ensino podia
ser desempenhado pelos lentes da Academia Politécnica e do Instituto
1851 ­1852 90 172 Industrial do Porto». Preconisava como solução mais vantajosa a
1852­1853 129 221
1853­1854 reunião dos dois estabelecimentos, focmando uma só academia ou
129 245
1854­1855 133 261
Instituto Politécnico (l).
1855­1856 158 296 Foi o próprio José Maria de Abreu que dirigiu ao Governo, pelo
1856­1857 132 253 Ministério do Reino, em 26 de Outubro de 1864, um ofício em que
1857­1858 119 223 ponderava a conveniência de um acordo entre aquele Ministério e o
1858­185¾ 158 321
1859­lSfH.» das Obras Públicas sobre a organização do ensino de engenharia civil,
193 395
1860­1861 248 ou de alguns dos seus cursos naquela Academia.
462
1861­1862 182 321 Antes de passarmos adiante, façamos notar que os Isentes da Aca­
1862­1863 142 283 demia concordaram com a reorganização do plano de estudos segundo
as linhas gerais que ficam expostas, porque reforma desejavam­na
havia muito, desde que ela significasse, como era lógico, progresso e
Aumentara o número de alunos da Academia, man tinham sido
melhoramento, tanto assim que anos antes, como vimos, a Comissão
quáa ou totalmente abandonados muitos dos seus cursos. Porquê?
de lentes nomeados para estudarem o mesmo assunto considerara pre­
Pela «má organização» destes, e pela «inutilidade de alguns » ­ d i
maturo e imperfeito tudo quanto se fizesse, enquanto não fosse res­
zia, em seu Relatório, José Maria de Abreu.
tituído ao quadro da Academia, para o ensino de Construções, a 6."
O corpo docente da Academia não teve dúvida em concordar e
cadeira, tendo ao mesmo tempo o Conselho pedido a criação de novus
reconhecer «que era necessário suprimir os cursos de artistas, de agri­
cadeiras julgadas indispensáveis para mais desenvolvido estudo de cer­
tas disciplinas {").
(') Id. ib.
{*) Id. Ib.
C) Id. ib. l'l Relatório, cit. pag. 84 85
(') Vide retro, págs. 317­
ft Do Mappa Estatútko gerai ­ Aa. da Ac. de 1879­80. pág. 244,
368 IA HISTÓRÍCA DA ACADEMLA POL.TÉCN

José Mana de Abreu em seu Relatório ceusura o Corpo Docente


da Academ.a por nunca ter querido circunscrever o ensino « à q X
ursos em que pudesse ministrar-se uma instrução c o m p l e t ! ,'
Que reputa grave e talvez imperdoável pelo facto dos pjprios Lentes
eœnheceren, a impossibilidade de um ensino perfeito de tedoc^
terem rec,amad
r8t™' r °— Í«B^--' * - X
de S e i 8 cadcras, não para organizar novos cursos, mas para instru So
dos que» o programa compreendia (¾ m^ruçáo
Encarada, porém, a questão sob um ponto de vista diverso deve
mos confessar q Ue a tenaz resistência a que José Maria d T È Z
alude é motwo para a gratidão dos Portuenses. É a essa intransig n -
cm -reveladora d u . grande zelo e duma grande dedicação p e l o e Í a -
belecnnentc» a que p e r t e n c i a m - , q u e se deve, esternos certes, que a
e^ZfnTCmCa nUDCa hOUVC88e P e r d Í d ° * — * * - l a e d :
d» P ^ U m faua'Sma ° P r 0 £ r a m a d e 1 8 3 8 ? ! S i m - e r a " Mas os lentes
da Pohtécmea bateram-se por êle porque viram que, enquanto ã Aca
dem l a não fossem dados os necessários clementes de v i d l e d e Z
gresso qualquer arranjo nesse programa traria como conTcquéncLa
amqmlaca. ta vez irremediável do sonho ou ambição que I r i d a
vam, de transformarem aquele desprotegido estabelecimento na magni-
f y e e m e n t e casa de ^ mperwr que na verdade ^ T l
A exaltação mamfestada pelo, lentes, ante o Projecto de Reforma
apresentado pelo Conselho Geral de Instrução Púbica fora nrovo
cada segundo José Maria de Abreu, «por infundadas p r e Z ^ ! '
qu f zeram - escreveu o ilustre Inspector - . q i u W e s q u L r a c o r o L '
e cu-cunspeccão p r u r i a de homens de letras e de funcionários de un a
elevada^erarqma na ordem do magistério . (alusão aos termos v o e " !
tos da Representação da Academia, de 1863).
Não! O motivo dessa excitação fora simplesmente a reacção na-
toral « e n t a a .minencia dum golpe que nem a Academia Polite n C a
nem o l orto mereciam.

mnlHnl a m 0 r t"- L e n t e S P e l ° e n 8 Í n 0 " a 6Uil e s c o l a '«anifestara-se em


mutoplo. sacnfícos que por êle fizeram, o dum modo iniludível a n "
antes, quando do projecto de Reforma da Instrução, de Oliveira P m
te), que os Professores da Academia energicamente combateram, e m b o l

(') Relatório, cit. pág. JQ.


PROF. PARADA L E I T Í O
%&z*^y;:..r~v''-. '^v-^iV'^.

A INSPECÇÃO SXTKAORDINARIA 369

para êleB pessoalmente tal Projecto nenhum prejuízo material acarre-


tasse, pois que se lhes permitia optarem ou pela jubilação ou pelo
ingresso em novos estabelecimentos.
Entre todos os lentes que pelo engrandecimento e progressos da
Academia Politécnica lutaram, sem desfalecimentos e com tão grande
fé, notabilizou-se José Parada e Silva Leitão a respeito do qual o
Conselheiro Adriano Machado escreveu em 1881 :

— « Nos trances mais perigosos por que passou o nosso estabele-


cimento foi sempre o Sn.r. Paratla Leitão que, com o seu bom conse-
Iho e com a sua pena, o sahou de ser reduzido a urna escola de so-
menos importância ou mesmo de ser aniquilado. Honra lhe seja: —
Tinha-lhe amor de pai. Havia sido um dos seus instaladores, reco-
nhecia, como poucos, a necessidade da sita existência e a rivalidade
que despertava em estabelecimentos congéneres, e portanto advogara a
sua causa com tal rigor que jamais lhes foi possível lograr o seu in-
tento. Era talrex o cumprimento dum dever, que lhe corria como
membro desta corporação, mas era mais que isso a afeição que lhe
tributara, que o inspirou por certo no grande múmero de memórias
e representações que produxiu a sua pena em prol da Academia /.../
com uma elegância de forma e vigor de idea que dificilmente se en-
contram » (l).

A intransigência, ou até obstinação, que José Maria de Abreu


censurou é, poiB, como dissemos, e tendo em atenção as circunstâncias
que acabámos de expor, motivo de gratidão da parte da Academia
Politécnica e da gente do Porto, e até merecedora de louvor.

(') An de 80 8 l . pág. Jo.


XX

PROGRESSOS LENTOS

(1865-1882)

Em 25 de Janeiro de 1865, o Conselho Geral de Instrução Pú-


blica pediu à Academia Politéonica que lhe enviasse a Relação dos
Alunos que haviam terminado o Curso de Engenharia Civil desde
1854 a 1864, a-fim-de «satisfazer a uma requisição da Comissão no-
meada para estudar a reorganização do ensino na Escola Industrial
Portuense e na. Academia Politécnica» (')•
Desagradável surpresa foi esta !
Então estava nomeada uma Comissão para — certamente em har-
monia com as ideas de José Maria de Abreu, expostas em seu ofício
de 26 de Outubro do ano anterior (*) — reorganizur e harmonizar o
ensino nos dois estabelecimentos, c nem sequer se tinha comunicado
o facto aos mais directamente interessados ? !
Era verdade ! E havia ainda mais... e pior : o Duque de Loulé
nomeara para aquele fim, por Dec. de 29 de Dezembro de 1864, os
vogais do Conselho Geral de Instrução Pública, Dr. José Maria de
Abreu, João de Andrade Corvo e Joaquim Nunes de Aguiar (8) — e
nem um professor da Academia ou da Escola Industrial.
« Na máxima parte das Comissões nomeadas pelos Secretários de
Estado é uso contemplarem-se alguns membros dos estabelecimentos
que se pretendem regular ou melhorar > ; (*) a Academia sentiu-se, com

('> D - 3 2 , (is. 150.


(*) Vide retro pág. 367.
("l Relatório, cit. pág. 135.
(') O . 3 , fl. 154.
372 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSuS LENTOS 373

certa razão, ferida na sua dignidade, e Torcato Ribeiro, como Director o Jardim Botânico. A extrema pobreza daqueles gabinetes, e o terem
Interino, representou ao Rei manifestando o seu desgosto, e pediu-lhe começado as obras do Jardim, só as quais estão orçadas em 14 con-
que houvesse por bem reparar o imerecido agravo acrescentando a tos, eomprova a urgência de que V. S." ainda antes que a Comissão da
Comissão com dois Professores da Academia que se encontravam em Câmara apresente o seu Parecer sobre o Orçamento se digne oficiar
Lisboa : Vitorino Damásio, Director Geral dos Telégrafos, e António para ser incluído nele este aditamento » ( ).
Pinto de Magalhãis Aguiar, Deputado da Nação (1). O Jardim Botânico (*), confiado à Direcção do Lente da 10." Ca-
Ignoramos se o pedido foi atendido. Tivesse Bido ou não, o que deira, Dr. Francisco de Sales Gomes Cardoso em Novembro de 1864,
nos parece certo é que a Comissão nenhum resultado prático produ- tendo como 1." oficial o farmacêutico do Hospital de Santo António,
ziu. Mais tarde foi a própria Academia que retomou a idea de José da Misericórdia do Porto, Agostinho da Silva Vieira, andava em
Maria de Abreu, chegando a elaborar um interessante Projecto de obras. Mas era insignificante a verba que lhe estava consignada.
Fusão da Academia e Instituto a que adiante aludiremos {*). Não havia evidentemente a pretensão de organizar um Jardim Botâ-
Pelo momento tudo continuou na mesma : os mesmos cursos, os nico modelo no limitado espaço de 7.765mS que lhe fora outorgado,
mesmos programas, tudo igual. mas ainda assim dificilmente e só muito vagarosamente se podiam
fazer as obras necessárias para fundar uma simples Escola Botânica,
Sendo nomeado Ministro do Reino o Marquês de Sabugosa, por
«isto é, um recinto onde, dispostos segundo uma ordem natural, se
Dec. de 5 de Março de 1865, logo Joaquim Torcato Álvares Ribeiro
encontre o máximo possível número de tipos dos géneros das famí-
lhe enviava saudações, e lhe rogava velasse com interesse pelas neces-
lias naturais para o estudo da Fitografia, onde em alguns locais se
sidades da Academia, dizendo que «o Presidente do Conselho de Mi-
possam estabelecer taboleiros de plantas indígenas e próprias á prá-
nistros, tendo a Pasta do Reino, deu a sua palavra de honra na pre-
tica escolar, que de anos a anos têm de ser mudadas para variar a
sença da Câmara dos Senhores Deputados, e nos fins da última legis-
prática, onde existe um pequeno lago para plantes aquáticas, e uma
latura, de que nesta Sessão apresentaria um projecto completo de
pequena estufa, não de elevado preço e excessiva grandeza, mas de-
melhoramentos e reforma desta Academia» ; esperava Torcato Ribeiro
cente e acomodada à extensão do Jardim, onde reunindo o útil ao
que o novo Ministro tomasse «como própria essa promessa», e que
agradável fique também espaço para o gôso público» (s).
«ainda nesta Sessão» desse «o desenvolvimento que n&b pode ne-
gar-se às disciplinas » que na mesma Academia se ensinavam.
Um facto de grande importância se deu neste época : milagrosa-
Havia ainda dois assuntos pendentes da Secretaria de Estado
dos Negócios do Reino para os quais Torcato Ribeiro pediu a aten- mente apareceu em 1865, como Director Geral de Instrução Pública
ção do novo titular desta pasta : — O primeiro era o pedido de serem o lente da Academia Politécnica Adriano Machado, o qual logo deu
anexados os dois lentes da Academia que há pouco citámos à Comis- a este estabelecimento pelo Dec. de 31 de Dezembro de 1868 da sua
são de 29 de Dezembro para a regulamentação doB estudos académi- autoria duas cadeiras : uma de Mecânica e outra de Química Orgâ-
cos e industriais. O segundo era a solicitação do aumento das ver- nica e Análise Química. Mas como a sorte continuava adversa só
bas orçamentais da Academia, elevando a 8 contos a verba de 4 con- metade do que se obtivera perdurou. A Cadeira de Mecânica foi pro-
tos para obras do edifício ; e a três contos a de 650$000 — que já vida em Abril de 1869, como adiante diremos, e não tendo aconte-
tinha sido de 1.100*000 rs I - destinada «ao custeamento das des-
pesas com as experiências e compra de instrumentos para gabinetcB
{') O-5, fls. 285 v.o 286.
de ciências naturais e exactas, com livros para a biblioteca e com
C) Tinha um Rrgulamrnlo, aprovado pela Secção de Filosofia em í j de Junho
de 1800 e assinado por Amónio Luiz Ferreira Girïo, secretario da mesma. Está publ.
(') O-J, fli. Î 8 4 e J85 v.o. in /<n de 81-82, p i ; 00-105.
C) Anuário de 81-83 i>^&- »41 e leg. e p. 9. 1«) O-J. fls. 2<)S
374 MEMÓHIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

eido o mesmo relativamente à de Química sobreveio a Lei de 2 de


Setembro do mesmo ano, que, suspendeu a reforma da instrução pú-
blica que as criara a ambas, e nao permitiu nomeações para novos
lugares do magistério enquanto não se fizesse nova reforma...

Como consequência da criação da Cadeira de Mecânica, houve


necessidade de organizar novos programas, que foram sera demora
elaborados e enviados ao Governo em 21 de Março de 1869 (').
Apresentara-os ao Conselho Académico o Lente substituto Antó-
nio Luiz Ferreira Girão, que também foi autor do excelente relatório
que os precedia. O Governo não os rejeitou nos trinta dias marca-
dos no art. 44." do Dec. de 31 de Dezembro de 1868, acima citado,
pelo que o Conselho da Politécnica os considerou aprovados em ses-
são de 12 de Maio de 1869. *A principal disposição desses pro-
gramas é o terem destinado a nova Cadeira para o ensino das cons-
truções civis e das aplicações da geometria descritiva, sendo as ma-
térias professadas era curso bienal» (3).
Não passaram muitos anos que esse Programa de 1869 sofresse
nova modificação. Motivou-a indirectamente, como vamos ver, o Dec.
de 23 de Dezembro de 1863 que reformara a Escola do Exército.
A Comissão nomeada pelo Dec. de 4 de Maio de 1864 para ela-
borar o regulamento do curso único, preparatório para essa Escola,
não chegara a desempenhar-se da sua missão; três dos seus membros
haviam falecido, e outros passado a exercer cargos que os inibiam de
se ocuparem daquele trabalho. Por esse motivo o Decreto de 14 de
Agosto de 1872 dissolveu a dita Comissão, e nomeou outra, para o
mesmo fim, composta do General de Divisão, Director Geral de Ar-
telharia, Fortunato José Barreiros, que serviria de Presidente; do
Lente da Escola Politécnica, Luiz de Almeida e Albuquerque'; do
Capitão de Engenharia, lente da 6." Cadeira da Escola do Exército,
José Elias Garcia; do Capitão de Artelharia, lente da 4.» Cadeira
desta Escola, Torcato Elias Gomes da Costa; do Tenente de Enge-
nharia, lente da 5.» Cadeira da mesma Escola, Aniceto Marcolino
Barroto da Rocha; e dos lentes da Academia Politécnica do Porto
António Luiz Ferreira Girão e José Joaquim Rodrigues de Freitas {3).
CONSELHEIRO ADRIANO MACHADO

Cl An. de 84 85, pág. 71. 3.° Director da Academia


(*l An. de 84 85, pág. 71-71.
(a> An. de 80 8 1 , páp. 181 182.
PROGRESSOS LENTOS 376

Esta Comissão submeteu à aprovação régia o seu trabalho em


20 de Março de 1873.
Conforme determinava o a r t 3.° do novo Dec. orgânico da Es-
cola do Exército, foram substituídos por um só, de duração de três
anos, os diversos cursos preparatórios que anteriormente havia para
as diferentes armas. Relativamente à Academia Politécnica, a Co-
missão, examinando os seus antigos quadros, tomou de entre as dis-
ciplinas que ali eram estudadas aquelas que deviam fazer parte do
curso preparatório; fixou era seis horas o tempo de permanência
diiíria dos alunos na Academia; ampliou os exercícios práticos; in-
cluiu, como obrigatória, a disciplina de ginástica, à qual devia ser con-
sagrado um dia por semana ; estabeleceu como indispensável para
matrícula os preparatórios que já se exigiam para a matrícula na
Escola do Exército, e fixou os 20 anos como limite de idade para
admissão à primeira matrícula. No regime dos cursos e sistema de
exames e classificação, a Comissão estabeleceu úteis inovações: insti»
tuiu os exames trimestrais de frequência e estabeleceu nesses e nos
exames firiaù, além de uma parte oral, outra escrita, prescrevendo
que não seria admitido àquela nos exames finais o aluno que não
tivesse satisfeito a esta ; quanto à classificação das provas, elas passa-
riam a ser feitas por uma *cota de mérito de 0 a 20, que exprime o
aproveitamento do aluno; este valor é multiplicado por um coeficiente,
a que ae dá o nome de cota de importância : e a soma dos produtos
dá o número total dos valores, que decidem da habilitação do aluno
para a passagem do ano » ( ).
A Comissão propôs finalmente que os alunos que frequentassem
na Academia Politécnica o curso preparatório para a Escola do Exér-
cito fossem obrigados a exercícios militares durante as férias dos três
anos do referido curso.
Ao cuidado e zelo da Academia Politécnica incumbiria finalmente
tomar todas as providências necessárias para a execução deste novo
sistema (*).
O Regulamento elaborado pela Comissão foi aprovado por Dec.
de 2 de Junho de 1873 (s), e o Conselho da Academia Politécnica, em

('} An. de 8o 8 1 , pág. rqo,


(*) Vide o Relatório d» Coiïiissïo e o Regulamento em Anuário de 8 0 - 8 1 , p i g .
18J-124.
(') lb. pig. i g î .
376 EM MÓRIA HISTÓRICA DA ACADE MIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LE NTOS 377

sessão de 6 d e Novembro seguinte, aprovou por sua vez, de harmonia II — Curso preparatório para a Escola de Farmácia nas Escolas
com aquele documento, as disposições regulamentares respeitantes ao Médico­Cirúrgicas (D. de 29 de Dezembro de 1836,
regime e métodos de enBÍno dos alunos civis e dos alunos militares do art." 129 e 130).
referido estabelecimento (*), novamente modificando assim os progra­ III — Curso preparatório para a E scola Naval :
a) Curso dt oficiais de marinha.
mas dos cursos d a Academia de 1869.
b) Curso dt engenheiros construtores navais (D. de 26
E caso digno de registo, que vem muito a propósito aqui frisar : de Dezembro de 1868, art." 23 e 24).
a­pesar­de todas as leis, decretos e alvarás, não obstante os Decretos IV — Curso preparatório para a E scola do Exército (armas es­
de 1844 e 1863, que permitiam serem feitos na Academia os cursos peciais e estado­maior) — (D. de 20 de Setembro de 1844,
art. 140— D. de 24 de Dezembro de 1863, art. 26 § 2.*
preparatórios para a E scola d o E xército, não obstante o citado Regu­
— D. de 2 de Junho de 1873, Ordem do exército n.° 20
lamento de 1873, que confirmava a mesma concessão e regulava os es­ de 30 do mesmo mês c ano).
tudos e a forma doB exames a esta classe de alunos, a­pesar­de tudo
Estes cursos eram professados segundo os quadros seguintes:
não passou a ser dada regularmente essa licença aos militares!
Só muito mais tarde, como veremos, isso aconteceu : — em 1882
I — ËNUE NHE IHOS CIVIS
argumentava­se €com o pretexto de que tratando­se actualmente da
reforma do ensino superior do exército, não há lugar a alterar o que a) De Minas
até ao presente se tem praticado {")». 1." ano—1.* Cad.; 4." Cad. (desenho de figura c paisagem);
Depois do Dec. de 2 de Junho de 1873 que aprovou Qregulamento 9.' Cad.
do Curso Único, preparatório para a E scola do E xército (3), os cursos 2." ano —2.* e 8.* Cad.; 4.* Cad. [desenho de paisagem pelo
natural — desenho de topografia (')].
legais ministrados pela Academia Politécnica ficaram a ser os seguintes :
3." ano — 3." Cad.; 7.* Cad. (metalurgia e arte de mina»),
4.* ano — 13.* Cad. (mecânica aplicada à resistência dos sólidos
CURSOS E SPE CIAIS c à estabilidade das construções, especialmente a pontes e estradas e
as máquinas de vapor); 7.* Cad. (mineralogia e geologia); 4.' Cad.
I — Curso de Engenheiros civis : [desenho de perspectiva, plantas e perfis das máquinas em uso no
nj de mina*. Berviço das minas (*)]; 10.* Cad. (Botânica).
b) de ponte» t estrada*. 5." ano — 5.* Cad. ; 4.* Cad. [desenho de cortes e plantas de
c) Geógrafos. minas, e de convenções para designar os terrenos (')]; 12.* Cad.
II — Directores de fábricas.
III — Comerciantes. b) De P ontes « Estradas
IV — Agricultores.
1." ano — 1 . * Cad.; 4.* Cad. (desenho de figura e paisagem).
V — ArtÎBtas.
2." ano — 2.* e 8." Cad.; Desenho de arquitectura (na Academia
VI ­ Pilotos.
(Decreto de 13 de Janeiro de 1837, art. 155). Portuense de Belas­Artes).
3.° ano — 3.* Cad.; 4.* Cad. [desenho de topografia, ornato, de­
CURSOS PRE PARATÓRIOS corações e máquinas (*)] ; 9.* Cad.

I —Curso preparatório para as E scolas Médieo­Cinírgieas ('j Uma Resolução do Conselho Académico de 30 de Julho de 1881 acabna com
(D. de 20 de Setembro de 1844, art."* 147 a 150). a disciplina de desenho no 1.0 ano deste Curso, e estabeleceu­a no 3.0, ir)M com destino
ao estado do desenhu de ornato e máquinas. Cfr. An. de 80­81, págs. 90 e 94, com An.
de 81­82, págs. 144 e 148.
(') Vide estai Dispoiiçõts Regulamentares in An. de 83­84, pág. 304­306.
('■') Pela Ris. acima cit. passou a ensinar­se neste ano desenho dt topografia, e
(') An, de 8 I ­ 8 J , pág, 30.
f3> Vide retro pág. 375. acabou o que vai indicado no texto.
{") Pela Bei. eit acrescentou­se nesta Cad. o ensino de paisagem pelo natural.
(') Pela Met. cit. deixou de se ensinar nesta Cad. Des. de topografia e decorações.
378 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
PROGRESSOS LENTOS 379

4." a n o — 13.* Cad. (1.° ano); 5." Cad.; 7.* Cad. [zoologia, mine­
3." ano —7.* Cad. (zoologia, mineralogia e geologia); 10.* Cad.
ralogia c geologia (')].
(botânica, parte prática—veterinária); 4.* Cad. [desenho pelo natural
5.° a n o ­ 13.* Cad. (2." ano); 10.* Cad. (Botânica); 12.* Cad. ('). de é­rgaos de vegetação e de reprodução das plantas (')].
4." ano —12.* Cad. (economia política e economia e legislação
e) Geógrafos rurais); 4.* Cad. [desenho de máquinas e construções rurais (*)].

1." ano — 1.* Cad.; 4." Cad. (desenho de figura e paisagem). V —AUTISTAS
2.° ano — 2 . * e 8.* CuJ.
3." ano — 3.* Cad,; 9.* Cad. (química mineral); 4.* Cad. (desenho 1." a n o — 1." Cad.; 4 * Cad. (desenho de figura).
de topografia e paisagem pelo natural). 2." ano — 8 . * Cad.; 4.* Cad. (desenho de paisagem).
4.° ano — 5 ­ * Cad.; 7.* Cad. (zoologia, mineralogia e geologia);
3." ano — 9.* Cad.; 4." Cad. [desenho de ornato, de decoração e
12.* Cad.; 10.* Cad. (Botânica e Veterinária); Desenho geográfico.
de máquinas (')].
redução de plantas de costas, baías, enseadas, portos, etc. (na A.C4­
demia Portuense de Belas­Artes). VI — PILOTOS

I I — D I R E C T O R E S OK F A B R I C A S
I. ano — l." Cad.; 4,* Cad. [desenho de figura (*)].
2.' ano — 5 . " Cad. (astronomia e navegação prática); Desenho
l . " a n o — 1 . * Cad.; 4." Cad. [desenho de figura (*)]; 9.* Cad.
de cartas geográficas, redução de plantas de costas, baías, portos, etc.,
2." ano —2.* e 8.* Cad.; DeBciiho de arquitectam (na Academia
na Academia Portuense de Belas­Artes; 12.* Cad. (explicação dos
Portuense de Belas­Artes).
artigos do Código Comercial que dizem respeito aos direitos e obri­
3.° ano — 3 . * Cad.; 4.* Cad. [desenho de ornato, decoraçoea (') e
gações dos capitais e oficiais dos navios mercantes),
máquinas],
4." a n o — 13.* Cad. (1." ano); 12.* Cad. (Programa dos Estudos da Academia Politécnica do Porto no
5." ano — 13.* Cad. (2.° ano). ano lectivo de 1H38­39, publicado por ordem do C onselho Académico,
de 7 de Agosto de 1838 — Programa do Ensino na Academia Politéc­
III — COMERCIANTES
nica do Porto, distribuído por cursos e cadeiras, aprovado cm sessão
do Conselho Académico de 18 de Maio de 18G1—Resoluções do Con­
1 ■ ano —9.* Cad. (química inorgânica); 8.* Cad.
selho Académico em sessões de fi de Março de 1875 c 9 de Novem­
2.' ano — 11." Cad. (escrituração e arimética mercantil); 12." Cad.
bro de 1878).
[economia política e princípios de direito administrativo (*)].
3 / a n o — 11.* Cad. (instituições de crédito, sistemas monetários, I _ C U R S O P I I K P A R A T O H I O P A R A A S E S C O L A S M É D I C O ­ C I R Ú R G I C A S

legislação aduaneira, noçfies gerais de geografia comercial, noções


especiais da de Portugal, deveres do comerciante); 12," Cad. (direito ]." ano — 8 . * Cad. (física); 9.' Cad. (química).
comercial). 2." ano—7.* Cad. (zoologia).
3." a n o — 10.* Cad. (botânica e fisiologia vegetal).
IV — A G R I C U L T U R E S
Observação. ­ O 1." ano deste curso é exigido como habilitação
l.° a n o — ].*c 9." Cad. para a matrícula no 1.* ano das Escolas Médico­Cirúrgicas; o 2.° ano
2.° ano — 8 . * Cad.; 4. Cad. (desenho de figura e paisagem); para a matrícula no 2.° das mesmas Escolas; e o 3.° para a matrícula
10." Cad. (botânica o agricultura). no 3." ano delas.
(D. de 20 de Setembro de 1844, art. 147 a 150)
(') Pels Res. cit foi aumentado C­sle «no com a 4 • Cad , desenho de topografia.
(') Pela Resolução cit. esta Cad. neste 3.0 ano passou a ser para o ensino de
l'( Pela Res. cit. foi aumentado este ano com a 4.a Cad., desenho de paisagem
pelo natural. desenho de máquinas.
(*) Pela Res cit. passou pata este 4 0 ano o ensino do Desenho que até ai se
|*| Id. id. foi acrescentado o desenho de máquinas.
fazia no 3,0,
(*l Deixou de ser ensinado o desenho de decoiaçSes neste ano pela Resolução cit.
P) Peia Res. cit. foi aumentado este ano com a 4 .1 Cad., desenho de figura Is) Pela Res. cit. o ensino da 4.» Cad. neste curso passou a versar no 1.0, l.° e
* paisagem. J o anos, respectivamente: ornato, máquinas, figura r paisagem e paisagem pelo natural,
t') E paisagem, seg. a Res. cit
IMHaHHMHIMHHI

380 MEMÓR.A H.STÓR.CA DA ACADEMIA POLITÉCNICA Do PORTO PROGRESSOS LENTOS 381

II ­ CURSO PRBPARATÓR.O PARA A KSCOLA DE FARMÁCIA acerca das regras gerais de decoraçSo, distribuição e representação
9." Cad. (química). dos edifícios por meio de plantas, alçados e cortes.
10." Cad. (botânica). 2.° — Exercícios gráficos de­geometria descritiva.
(0. de 29 de Dezembro de 1836. a n . 129 e 130).
3." — » de matemática.
4.°­­ » práticos de química, física e mineralogia.
III ­ CURSO PREPARATÓRIO PARA A ESCOLA NAVAL Gimnástica.
(D. de 2 de Junho de 1873, art. 2.').
a) C urso dos oficiais de Marinha
Aos alunos do curso de infanteria e cavalaria da escola do exér­
1.* Cad. ( 1 / ano de matemática).
8.* Cad. (física). cito que tiverem sido premiados nos dois anos do respectivo curso,
é­lhes permitida licença para seguidamente se matricularem na Aca­
(0. de 26 de Dezembro de 1868, art. 23 n.° l.% demia Politécnica no curso preparatório com destino ao corpo de
b) C urto de Engenharia Naval estado­maior, ou às armas de engenharia e artilheria (D. de 20 de
Novembro de 1878, publicado na ordem do exército, n,° 30, de 27
1.* ano— 1.­,4.­ eR.' Cad. de Novembro do mesmo ano. — Diário do Govtrno de 30 de Novem­
2." ano ~ 2.' Cari.; Construções de geometria descritiva­ 9 • Cad bro, n.* 272).
mímica inorgânica e princípios de metalurgia); Geometria descri­'
uva (1,­ parte).
3 / M O ­ C o n s t r u ç ã o » de geometria descritiva; 3,­ Cad (mecâ­ A Academia ia progredindo, embora muito lentamente. Denuu­
nica e suas aplicações às máquinas, com especial idade às de vapor)­ cia­o, de oerto modo, o exame dos Orçamentos do listado.
m Lad. (botânica e princípios de agricultural; Geometria descritiva
Pelo Dec. de 19 de O u t u b r o de 1836, a que oportunamente fize­
(■;. parte).
I D. de 26 de Dezembro de 1868, , r l . 24 « F a r t o * de 8 de Junho de 1800).
mos referência ('), a despeza com o pessoal, expediente e aluguer de casai
na Antiga Academia de Marinha, tinha sido fixada em 10.642$000 reis.
I V ­ C U R ' 0 PREPARATÓRIO PAHA A KSGOI.A DO EXÉRCITO «DepoÍB da Reforma de 1837, a Lei de 7 de Abril de 1838 consignava
para dotação da Academia (Politécnica) a quantia de 12.2Q8$000 t r i a :
Das disciplinas actualmente professadas na Academia Politéc­
nica do Porto, constituem o curso preparatório as que sito regidas sendo para pessoal 11.323$000 rs. ; para prémios a estudantes, reis
noB seguintes cursos: 480$000 (12 prémios de 40$000 rs.) ; e para expediente ordinário da
Academia 40Q$000 rs. O » .
V curso ­Trigonometria esférica, álgebra superior, geometria ana­
lítica no plano e no espaço. Sabemos sobejamente que embora o Dec. da sua fundação lhe
2." » —Geometria descritiva (1.­ e 2.' parte). atribuísse diversos Gabinetes e Laboratórios, Oficina, J a r d i m Botânico,
3.* ­ Cálculo diferencial, integral, das diferenças, variações e etc., a Politécnica nunca recebeu até" 1857 para todas as despesas
probabilidades. mais que a verba do expediente...
4­° ­ Mecânica racional, e aplicada às máquinas, cinemática. Só a partir do ano económico de 1857­58 se lhe consignou em
5­° * — Astronomia e geodésia.
Orçamento a quantia de 4.000$000 para continuação das obras do
6­° » — Mineralogia e geologia.
7." * ­ Física. edifício e a de 1.100!$OQO rs. «para conservação e aperfeiçoamento dos
8­° —Química inorgânica; princípios de metalurgia. estabelecimentos dependentes da Academia», verba esta que se man­
9.° » —Análise química. teve até ao ano de 1860­61 inclusive, mas que no ano imediato foi
10." — Economia política e direito administrativo. reduzida para 650$000 rs., conservando no entanto a mesma rubrica.
Além destas disciplinas, gate curso preparatório compreendo Em 1K61­62 e em alguns anos seguintes a dita verba aparece, sob
ainda :
a mesma rubrica, mas discriminada :
1." ­ DmanJtO linear, de arquitectura, de máquinas, de figura e
de pamagem, incumbindo­se 0 professor de dar lições de arquitectura (') Vide retro p i g . 1 4 0 1 4 1 .
O An. de 85­86, pág. 4 2 . Cfr. retro, pág. 2 i z , nota I.
382 MÍMÓRIA HISTÓRICA DA ACADKMIA POLITÉCNICA DO PORTO
PROGRESSOS LENTOS 383

Jardim uoiftnico 200.000


Biblioteca—compra de livros . . . . 150.000 aprovada em sessão de 31 de Março, sendo decidido que a distribui-
Gabinete de física e de História Natural ção daquela soma fosse feita pelo Conselho da Academia, por proposta
e Laboratório de Química 300.000 650.000 do Director» (1) — o que dava facilidades para aplicação do dinheiro
mais de acordo com as necessidades ocorrentes, podendo, por ex., o
Em 1866-67 a dotação para estes estabelecimentos foi aumen- dinheiro que sobrasse dos prémios quando niïo houvesse alunos para
tada em 20Q$00G, havendo nova descriminação : todos, ser destinado a algum dos outros fins.
Jardim Botânico 200 000
A-pesar-das importantes obras que, embora mui morosamente
Biblioteca — compra de livros . . . . 150.000 pela exiguidade do subsídio, vinham sendo realizadas desde 1864, o
Gabinete de Vfsica e de História Natural 250.000 edifício da Academia encontrava-se ainda imensamente longe da sua
Laboratório Químico. . 250.000 500.000 conclusão e em parte arruinado !
860.000 O Plano do Edifício do Paço dos Eshidos do Porto, que em
1863 a Comissão encarregada de o organizar enviou ao Governo ( ),
Como dissemos, a Academia recebeu em 1858 a importância de
previa, como dissemos, acomodações amplas e convenientes não só
1.100$000 (*), mas esteve sem nada voltar a receber até 1864, data em
para a Academia Politécnica, mas também para a Escola Industrial,
que lhe pagaram 1.30O$OOO, «correspondente à dotação do ano eco-
Academia Portuense de Belas-Artes e Biblioteca Pública (3).
nómico de 1863-1864 e de 1864-1865», (') dotação que era, eomo acima
As obras estavam sendo executadas de harmonia com esse plano,
vimos, de 650.000 rs. Também só em 1863 o Governo mandou pôr
e pagas pela diminuta verba de 4.000$000 rs. anuais.
i disposição da Academia a quantia de 8.000$000 incluída nos orçamen-
Como se vé das respectivas plantas, e desenvolvidamente o des-
tos de 1862-63 e 1863-64 (8) para continuação das obras do edifício.
creve a Synopse explicativa (4), fora destinada à Biblioteca Pública
«Aiwim, pois, em 1864 a dotação da Academia Politécnica era de
o lado sul — por onde teria entrada — e parte do corpo lateral do
?t.074J}56Q rs. em que se compreendiam : as despesas do pessoal na
edifício voltado a poente ; a Academia de Belas-Artes ficaria a meio
importância de 15.544$650 rs.; a verba da continuação das obras, na
do quarteirão ocidental, cora entrada pelo mesmo lado; a Escola In-
de 4.00$000 rs.: e a importância dos prémios a estudantes, expediente
dustrial ocuparia parte do quarteirão voltado ao sul — por onde teria
e conservação dos estabelecimentos na importância de 1.530$000 rs.» (4).
entrada — e a maior parte do quarteirão oriental ; e finalmente à
Quando em 66-67 a verba para conservação dos estabelecimentos Academia Politécnica caberia todo o quarteirão voltado ao norte (fa-
subiu de 650&000 rs. a 850$000 re., a importância de material, pré-
chada principal) e uma parte dos quarteirões orientei e ocidental.
mios e expediente, passou a ser de réis 1.780$000 rs. mas descrimi-
Dadamente (s). Transcreveremos da Synopse explicativa a descrição deste última
parte do Plano :
Na sessão legislativa de 19 de Março de 1873, o deputado e lente
Adriano Machado propôs que essas verbas figurassem no Orçamento,
com o mesmo destino, mas sem descriminação. «Essa proposta foi
H An. de 8 5 8 6 , pág. 38.
Cl Vide tetro pág, 308 e 314 (') Vide retro pág. 30b. Essa Comissão foi constituída por Miguel do Canto e
Castro, Governador Civil do Porto; João Baptista Ribeiro, Director da Ac. Politécnica!
(') In An. de 85-86, pág. 42, e not. Í , e pig. 43. Há alguns erros e nebulosi-
José de Parada e Silva Leitão, Lente da mesma Academia e Director Interino da Escola
dade» nés» resenha do An., que ficam corrigidas e esclarecidas no tento acima, em face
Industrial; Luiz Vitor Silves, Director das Obras Públicas; e Amónio Luiz Ferreira
dos Orçamentos e das Tabelai de Despezss autorizadas pelo Ministério do Reino.
("> Vide retro pág, 30b. Girão, Lente da Ac. Politécnica.
(') An. de 85.86, pág. 43. (') Só em 187b, pelo Dec. de í? de Janeiro daquele ano, a Biblioteca Pública do
(*) An. de 85-86, pág. 43. Porto foi transformada em estabelecimento municipal.
(*) An. de 86 87, pág. 107-108.
384 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

«Projectou­ae para este estabelecimento no pavimento térreo


um espaço de dezenove metros e setenta e cinco centimplros de
comprimento, de nove metros e vinle e cinco centímetros de lar­
gura, e de toda a altura do edifício, para alojar o navio que serve à
suplicação das lições de manobra; uma sala do espera, outra para
secretaria, outra para as reunifies do Conselho da Academia, um P A Ç O D O S E S T U D O S 3STO P O R T O
gabinete para o director, uma sala para arquivos, outra para o guar­ H 'u S
da­mór, uma oficina metalúrgica, e dois quartos, sendo um para os
guardas, e outro para arrecadação. 3 C
0 reres

Quatro salas mais completam as acomodações da Academia no


pavimento térreo do edifício.
Estas salas, que devem igualmente servir A Escola Industrial,
ft, V . . . . J . . . k . ­ , . | * .­w.H#
são destinadas para aula e laboratório de química, e para gabineles ft. Cn­*ft » U fta m w t i M rm

do Lente respectivo o guarda preparador. t , CoTdft* 44 fri»ft*T. «fttaHft fc


d. U M i *f >lb*«tftwft
A aula de química tem dezoito melros e quarenta centímetros
de comprimento, e oito metros e quarenta e cinco centímetros de
largura, e o laboratório tem quinze metros e cincoenta e cinco cen­
tímetros de comprimento, e seis metros e cincoenta centímetros l, 0*l4*« *■ ■«■lui»

de largura.
a atuam *■ Mtfrn­a ■•»•■». ■ ■
Os sótãos correspondentes a estas últimas quatro salas, excep­
tuando a do laboratório químico (cuja altura deverá compreender a 1, A . M I + » four* * ««Th*
».' ta.n­1» *a>* » ■ a t " * * •**■*
doi sótãos), devem ser utilizados para depósito de utensílios, dro­ ». l a l a Mt»a *• M H F M I
gas e maquinas e, para neles se estabelecer uma oficina para a 1. «ala J'iula U ■!!«»'*■ t * * * " »

Escola Industrial.
r » " T T OOafatUH l a­i»t>»r
Com o deposito de utensílios comunicar se­há por meio duma H l * POLIT t o u r n e * C A
i M O L i LM.DUSi­»l.tL
escada, especialmente construída para esse fim, e os outros sótãos
pertencentes i Academia Politécnica serão servidos pelas duas esca­
das marcadas nas plantas
■ M a sol* a a»»' **•* í< PI
Uma arcada, fechada com gradaria de ferro de quatro melros
»', A « M *» CàV­puta» •*•<***>•
e vinte.e cinco centímetros de largura, e de todo o comprimento
v\ fla¥f«h sa EMiwrh*
do quarteirão voltado ao norte, dá entrada para as salas menciona­ * ' , * * * * . * * H i t * •■rMr.tJÍa

da*, e para um vestíbulo de oitenta e um metros e dez centímetros •:, A« l» oa aaiaw

quadrados de superfície, que conduz á grande escada destinada


para o serviço do primeiro andar do edifício.
Neste primeiro andar projectou­se para a Academia Politécnica
um salão nobre de quatorze metros e quinze centímetros de com­ kaUrtajBAEWkMaMf4
primento, e onze metros e quinze centimelros de largura, para ser­
vir exclusivamente para festas nacionais e académicas; uma sala
para actos de vinte e um metros e setenta e cinco centímetros de
comprimento, e. onze metros de largura; outra de iguais dimensões PROJECTO DE 1862
para o desenho; um gabinete de leitura; uma sala para a aula de Do Prof. Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa
física, tendo de comprimento dezoito metros e quarenta e cinco
(1.° andar)
centímetros, e de largura oito metros e quarenta e cinco centíme­
tros; outra para gabinete de física tendo de comprimento trinta
metros e oitenta centímetros, e de largura seis metros e sessenta
centímetros (estas duas salas pertencerão também A Escola lodus­
PROGRESSOS LENTOS 385

trial), e uma sala de mais de dezoito metros e quinze centímetros


de comprimento, onze metros e vinte e cinco centímetros de lar-
gura, e nove melros e quarenta e cinco centímetros de altura, e
guarnecida com uma galeria ao nível do pavimento do segundo
andar do edifício, e destinada para museu de história natural.
Um espaçoso corredor serve, como se vê da planta respectiva,
à independência destas diferentes salas.
Uma escada especial conduz ao segundo andar, onde a Acade-
mia lem uma sala para as aulas de construções e de mecânica;
outra de doze metros e dezenove centímetros de comprimento, e
onze metros e cinco centímetros de largura para a de geometria
descritiva; uma terceira para o primeiro ano matemático e comér-
cio, outra pa/a o segundo ano de matemática e economia politica,
e, junto à galeria do museu de história natural, outra sala para as
nulas de zoologia e botânica.
O corredor que dá serventia a estas salas conduz também ao
museu industrial, e ao gabinete de máquinas pertencentes á Escola
Industrial, e dos quais a Academia deve também poder servir-ae.
Uma escada especial leva ao observatório e à aula e gabinete
de astronomia estabelecidos no andar inferior ao observatório».

Declarara logo em 18f>3 a Comissão encarregada de elaborar o


plano a que nos estamos referindo, que a pfimeíra condição para se
concluírem as obras e se levar avante o novo projecto era a remoção
do Colégio dos Meninos Órfãos. Relembra a Comissão no seu Rela-
tório que em compensação da perda da casa que os ditos órfãos habi-
tavam, sita no terreno em que se começou a edificar a Academia,
mandara D. João VI que aqueles tivessem dentro do edifício mora-
dia própria e cómoda, e que em lugar da antiga Igreja se edificasse
uma nova, recebendo ainda os Órfãos, como indemnização das rendas
que perderiam, os aluguéis dos baixos do edifício que ee construísse.
Uma vez estabelecido o regime constitucional, as obras iniciadas
em 1803 foram suspensas, e os Meninos Órfãos continuaram a habi-
tar a parte do antigo Colégio, ainda então não demolida, utilizando
também alguns quartos do novo edifício ; a igreja continuou a ser a
antiga, por se não ter chegado a edificar outra, e, como indemnização
das casas destruídas, passou o Colégio a receber as rendas dos bai-
xos da parte jtí construída do novo edifício, as quais montavam, em
1863, a 1.563$000 réis.
Posta a Câmara Municipal do Porto ao corrente do desejo da
Comissão de realizar a transferência dos Órfãos para outro local.
laaaaaaaaaaaaal ■ I

386 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

aquela edilidade declarou em 22 de Janeiro de 1862 que só consen­


tiria na demolição da Igreja se o Colégio fosse mudado provisoria­
mente para o Convento do Carmo, devendo no novo projecto do
P A Ç O 3DOQ BSXTTDOe 3STO P O B T O
edifício darem­se as acomodações necessárias para neste vir a estabe­
lecer­se definitivamente o mesmo Colégio.
Não concordou a Comissão com esta última parte da resposta da
Câmara, pelo que aquela, no seu Relatório, propôs que o Colégio fosse
•I1UOTIK1
efectivamente removido mediante indemnização do valor da casa, das * " , T l l f f c ■ * . ' « . ft* fr—tt*
ft, O — H M i * U l n H H l 1 M
rendas, e da Igreja que perderia, recebendo igualmente indemnização 1
I { W i l É i "km M««Ma JilMtfc

em inscrições de capital correspondente à renda que auferia dos bai­


xos do edifício, visto que não convinha que parte alguma da nova
construção fosse alugada a particulares, que até tinham instalado ali I, * ­ ! * ♦ » k4ftl*uft
I, t'l< »■*• M a l l
tabernas ! It Õ*iMW"éH f u r f l u
m. i. i k t M i a «■ lar*tprt>
O valor das casas a expropriar (entre o Passeio da Graça e * , L * L r i u » a'HH u 4 w

a travessa do Carmo) não excedia a soma de 34.904$000 reis, no­


tando­8e que desta quantia se deveria abater a de 2.370$000 rs. duma
casa, que valendo então 2.800$000 rs., fora reedificada sob a condi­
i, idiiMiMrirMnf!
ção de que a todo o tempo poderia ser apropriada pelo valor primitivo
de 510$000 rs. (1). t , ftftU i * U n M n ■ ■*■</*

Sucedeu, porém, que anos sobre anos tinham passado, as expro­ « H II l^iwu 4'IMP*

• *J«ia *kà\a*'l l u f l W'I i i I I •*


priações não se faziam, e os Órfãos continuavam a ocupar «os restos M4ar tifartar m » « • ­ ­ • » ■ « * *

F u n oomiuii 4 «en»»
do antigo Colégio que não chegaram a demolir­se e alguns quartos ■ U njj.trTBOjtPl.rA ■ *
" " l»l>il»ÏIU*L

do último andar, fachada leste e sul, pertencentes ã nova construção».


Como o Governo não se resolvia a entrar em negociações com a Câ­
mara, não se podia proceder à demolição da antiga Igreja do Colégio, \t ( V I H U 4 I M­ffLti

jíí envolvida pelas' altas paredes do edifício da Politécnica e pelos pré­


dios adjacentes do lado poente, o que constituía além dum estorvo R ■*"
para a continuação das obras, um sério perigo, em virtude do adian­
tado estado de ruína da dita Igreja.
Em ruína se encontravam também as construções provisórias em
que se acomodavam muitas das aulas da Academia Politécnica e do
Instituto Industrial. PROJECTO DE 1862
Compreende­se que com a verba de que se dispunha pouco se Do Prof, Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa
pudesse ter feito do muito que havia a realizar. .Ta* dissemos que toda a (2.° andar)
obra tinha sido orçada em 234.929$")50 ; acrescentando­se­lhe a impor­
tância de 24.960$000 reis, que era a quanto corresponderia em metal

(') Relatório, cit.


PROGRESSOS LENTOS 387

o capital de 52.000|000 em inscrições para pagamento da indemniza-


ção ao Colégio pela perda das lojas, que lhe rendiam 1.563$000, e
juntando-se ainda 34.!l04!$OO0 rs. para as expropriações indispensáveis
para a execução do Plano aprovado — a conclusão do edifício exigia o
dispêndio de 2Í)4.7!)3$000 reis, cerca de 300 contos. Não havendo
para gastar mais de 4 contos por ano, seriam precisos setenta e cinco
anos para que o edifício ficasse concluído !
Com razão José Maria de Abreu em seu Relatório escreveu : —
«A espectativa de três quartos de século para levar ao cabo essa obra
de tão reconhecida e urgente necessidade, é demasiado longa para não
aconselhar como indispensável o emprego de meios mais eficazes» (').
Para isso alvitrava ideas que anos depois, era 187(5, foram apro-
veitadas para a elaboração dum projecto da lei apresentado na Câmara
dos Deputados por António Maria Pereira Carrilho e Dr. António José
Teixeira, que dizia em seu preâmbulo:

— « Senhores :

Quem na capita] das nossas províncias do norte visitar os esta-


belecimentos de instrução pública, fica desagradável mente surpreen-
dido ao contemplar no primeiro dentre eles, no da Academia Polité-
cnica, uma grandiosa fabrics levantada à custa de avultadas sumas,
gastas no longo período de três quartos de século, mas em grande
parle incompleta ainda, em parte arruinada já, envolvendo a antiga
e irregular construção do Colégio dos Órfãos ; contendo dentro em
si a velha igreja, que lhe-a tem ministrado o culto, hoje quási impos-
sibilitado pelo tempo de continuar a servir sem risco ; e as salas do
edifício no pavimento inferior pejadas com vários ramos de comércio
e industria, que a transformaram e dividiram em lojas e casebres,
deBde o botequim e a mercearia até á venda de louça e á taberna!
Observando a frontaria do palácio voltada para o poente, e se-
guindo o alinhamento dela a partir do norte, vô-se imediatamente
incidir numa fieira de prédios velhos e de pequeno valor uns, outros
de preço elevado e construídos de há pouco e todos situados entre
a rua que liga o largo do Carmo com o jardim da Cordoaria, e a
travessa estreita e tortuosa, denominada Viela do Assis, necessitando
por tanto para completar o edifício, de se proceder a uma extensa
e custosa expropriação. Dentro do estabelecimento reflete-se o seu
estado exterior. Gabinetes, laboratórios, observatórios, oficinas, o
que é indispensável para o ensino das ciências naturais, tudo falta,
ou tudo está incompletíssimo».

(') Relatório, cit. pág. j 8 .


388 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 389

E depois de reproduzirem as palavras que José Maria de Abreu Mas foi trabalho baldado ! Este excelente Projecto não chegou
escreveu, relativamente ao edifício, no Relatório da Inspecção Extraor- a ser convertido em Lei.
dinária, Carrilho e Teixeira apresentavam o seu projecto da lei : Em 15 de Março de 1879, o Conselheiro Adriano Machado,
então Director da Academia, mais modestamente apresentou à mesma
Art» l.o 0 Governo é autorizado a contrair um empréstimo
até à quantia de 800.000*000 de réis, com juro que não excede a 6 Câmara ura outro Projecto de Lei, cujo fim principal era apenas o de
por cento ao ano habilitar o Governo a realizar a expropriação das lojas situadas nos
Art° 2.o O produto deste empréstimo, realizado em prestações baixos do edifício da Politécnica, para o que propunha que as expro-
ou séries, conforme se convencionar, será exclusivamente aplicado priações fossem pagas à Câmara Municipal do Porto em inscrições da
à conclusão do edifício da Academia Politécnica do Porto, segundo
o projecto e orçamento apresentados ao Governo em 26 de Ja- Dívida Pública de 3 por cento, de rendimento igual ao das lojas a
neiro de 1863. expropriar. Conjuntamente Adriano Machado — tendo em atenção
Art." 3." O Governo é autorizado a aplicar ao pagamento dos que a dotação da Academia para prémios de estudantes, despesas de
juroa e amortização do capital de empréstimo a verba de 27.000*000 expediente, biblioteca, jardim botânico, museus de mineralogia e zoo-
de réis, que aerá anualmente votada pelas Cortes, logia, laboratório químico, compra de instrumentos de astronomia e
Art.o 4.0 O Governo é autorizado a reunir no Convento de Santa
de modelos para o ensino da Geometria Descritiva e Mecânica Apli-
Clara os recolhimentos do sexo feminino que existem actualmente
na cidade do Porto, a a transferir para qualquer dos edifícios, que cada estava ainda em 1.730$000 rs. ! — propunha mais que da verba
ficarem desocupados, e se julgar mais apropriado, o Colégio dos de 4.000$000 rs., votado para as obras de Academia no exercício cor-
Meninos Órfãos, que está dentro do estabelecimento da Academia rente de 1878-1879, fosse destinada a quantia de 1.000$000 rs. para
Politécnica.
a compra de aparelhos e utensílios do laboratório químico ( ).
Art.o 6.0 Logo que esteja acabada a parte exterior da nova
Em 13 de Abril de 1880, o Lente da Academia Politécnica,
construção, será vendido o palácio de S. Lázaro, onde estão actual-
mente a Biblioteca Pública e a Academia de Belas-Arles, bem como António Pinto de Magalhâis Aguiar, e Deputado (*) como já disse-
o terreno pertencente ao mesmo prédio, e o produto da venda será mos, apresentou na sua Câmara uma Proposta renovando a iniciativa
empregado na conclusão daquelas obras. do Projecto de Lei de Adriano Machado (8) — proposta que teve o
Art." 6.0 O novo edifício será destinado para a Academia Poli- Parecer favorável da Comissão de Obras Públicas, em 3 de Maio
técnica, para o Instituto Industrial, para a Academia das Belas-Artes,
de 1880, e da Comissão de Fazenda, sendo substituído apenas num
e para a Biblioléca Pública, e denominar-se-á Paços dos Estudos
no Porto. artigo do Projecto o ano de 1878-1879 por 1879-1880 (*).
Art.o 7.o A administração dos fundos levantados em virtude das Finalmente !
autorizaçOes concedidas pela presente lei, a direcção e fiscalização A Lei de 19 de J u n h o de 1880, promulgada por El-Rei D. LuLz,
das obras a que são destinados, serão cometidos a uma comissão
referendada por José Luciano de Castro e decretada pelas Cortes, auto-
de cinco membros, sob a inspecção do Governo, ao qual a mesma
Comissão prestará regularmente conta do emprego que fòr dando rizou o Governo « a contratar com a Câmara Municipal do Porto a
aos fundos. expropriação das lojas existentes nos baixos do edifício da Academia
§ único. A Academia Politécnica elegerá para esta Comissão
dois dos seus vogais, o Instituto Industrial um, a Academia de Belas- (') An. de 86-87, P^g- 108-109, Projecto de Lei de Adr. Machado, seguido, de
-Artes outro, e a Câmara Municipal a pessoa que julgar competente. pág. I io-l 14, da relaçiïo doa Aparelhos e utensílios de Química a que se refere o pre-
Art.o go Fica revogada a legislação em contrário. sente Projecto de Lei ; objectos a importar da Alemanha e da França livre» de direito» e
Sala das sessões da Câmara dos Deputados, 31 de Janeiro de 1876. emolumentos na Alfândega (art. 3.0 do diio Projecto).
0 deputado por Pombal, António Jotê Teixeira. António Maria ('} Faleceu Par do Reino, em 15 de Julho de 1881 An. de 8i-8l, pág. 35 e An.
Pereira Carrilho (') 8384, pág. 3*9 3 J í c. retrato.
(a| An. de 86-87, P*fc> " S
l i An. d« 84.85, p. 64.06, era que cita Viário da Camará dos Deputados, de («) Id. náe. I l i a 117.
1876, pág. í*9, J3J e J33 de 1 de Fevereiro.
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390 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔR!

S»AOO D O S E S T U D O S U O P O R T O
Politécnica», nas condições do Projecto apresentado em Cortes, que
também em todas as demais disposições foi tornado em Lei (1).
O Laboratório de Química imediatamente beneficiou. Nesse ano
económico de 1880­81 compraram­se para ele numerosos e variados
aparelhos de Bunzen, Hofmann, Bertholet, St.e Claire­Deville, Salle­
ron, e diversos utensílios indispensáveis, como densímetro, balança sen­
sível, termómetros, frascos, retortas e tubos de vidro, objectos de por­
celana e grés, colecções de modelos de cristalografia, minérios, ctó. (■).
As expropriações também nâo ficaram esquecidas...
Em 13 de Maio de 1881 baixou ao Governo Civil uma ordem
do Ministro do Reino para que se fizesse instaurar o processo para a
expropriação ao Colégio dos Meninos Órfãos da parte baixa que a
eles pertencia no edifício da Academia Politécnica, e isto de acordo
com a Câmara Municipal, e nos termos da autorização concedida pela
Carta de Lei há pouco citada. Uma Comissão mixta —constituída por
parte da Câmara, na qualidade de administradora do Colégio, pelo pre­
sidente da meBma José Augusto Correia de Barros, e por José Carneiro '
de Melo e Manuel Carneiro Alves Pimenta, vereadores, e por parte
da Academia pelo Director Interino Arnaldo Anselmo Ferreira Braga,
Joaquim de Azevedo S. V. da Silva Albuquerque, Secretário interino!
e Rodrigo de Melo e Castro Aboim — foi encarregada de estudar'o
assunto, e acordar sobre os direitoB que possuíam a Academia e o
Colégio nos baixos do edifício do Paço dos Estudos.
Essa ComissSo rettniu nos Paços do Concelho em 4 de Julho do
citado ano de 1881. Azevedo Albuquerque leu «um extenso e bem
elaborado relatório », que foi posto em discussão, e a Comissão, « de­
pois de bem examinar os documentos que lhe foram presentes, e estu­
dar minuciosamente as plantas do edifício para por este modo des­
trinçar quais as lojas de que o Colégio tem direito a ser indemnizado,
e as que está fruindo sem título », acordou nas conclusões do citado
relatório, não sem que Carneiro de Melo e Pimenta fizessem notar
que, em seu parecer, «os documentos apresentados e que se oferecem
como servindo do fundamento às conclusões mencionadas, não as
autorizam completamente», pelo que aqueles Vereadores ressalvaram
<tt„*Jba, ^tnnjta. OAAAAL

(') An. de 80­81, pág. 179­180.


(*) Id. de 81 82, pág. 8 j 97, a relação completa dos aparelhos e utensílio» adqui­ P L A N T A DA ACADEMIA POLITÉCNICA
rido» no cit. ano de 80­81.
Tal qual era em 1884
I'KOORESSliS LENTOS 391

*a sua responsabilidade com anuência do Presidente que no caso de


vir-se a descobrir alguns documentos que mostrem terem os Órfãos
direito a mais larga indemnização, eles protestam empregar todos os
esforços para fazer valer estes direitos » (1).
A acta dessa Sessão foi, em 8 do mesmo mês, enviada ao Minis-
tro do Reino, por intermédio do Governo Civil, acompanhada de um
ofício da Directoria da Academia Politécnica, em que esta expunha
«as considerações e desenvolvimentos que servem para elucidar a
questão » (3).
Os documentos jurídicos que constituíram a base das delibera-
ções da Comissão foram, além da Lei de 19 de Junho de 1880, os
Alvarás Régios de 9 de FWereiro e 29 de Julho de 1803, citados
nesta Memória a págs. 67 e 68, e duas plantas térreas do edifício da
Academia: a de 1807, feita pelo engenheiro Cruz Amarante, e a de
1864 elaborada por Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, segundo os tra-
balhos da Comissão nomeada pela Portaria de 31 de Dezembro de 1861.
Feito o exame comparativo do estado actual com as disposições
do projecto primitivo, chegou-se a conclusão de que os Órfãos tinham
direito a ser indemnizados de desassete lojas do lado da Praça dos
Voluntários da Rainha e dos Passeios da Graça, mas nada deviam re-
ceber de quatro lojas da dita Praça, de três dos mencionados Passeios e
de uma do Campo dos Mártires da Pátria; «também não teem direito de
receber indemnização pelas lojas que se acham estabelecidas» na fachada
lateral da rua do Anjo (que no primitivo projecto era destinada para uso
de habitação dos Órfãos, e estes haviam convertido em lojas de que aufe-
riam rendimentos) «desde que o Governo sé prontifica a dar-lhes habi-
tação própria em outro lugar, como à Comissão declarou o Presidente
da Câmara referindo-se ao ofício que sobre este assunto recebera da
autoridade superior do Distrito ; porquanto nessa nova habitação já fica
atendido o uso que os Órfãos teem direito a haver desses terrenos».
No entanto, atendendo a que o Colégio ficaria muito desfalcado nos
seus rendimentos se estas conclusões fossem observadas com todo o
rigor, a Comissão «acordou que se apelasse para a protecção de bene-
ficência do Governo, enquanto a dar indemnização pela expropriação
das lojas n.os 2 a 17 da Rua do Anjo» (s).

(') Acta da Sessïo de 4 de Julho de i 8 8 i , in An de 1883-84, pág. 307.


(*) Oficio em An. de 83-84, pág. 309-314.
(") An. de 83-S4, p. 313.
392 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 393

O ofício acima referido, que estamos sumariando, frisava a necessi- A Cflmara Municipal do Porto, o Governador Civil e o próprio
dade urgente e evidentíssima de remover o Colégio para fora do edifício : Governo logo se interessaram por encontrar casa própria para onde
sem essa remoção nem seria possível completar o projecto das obras, interina ou definitivamente pudesse ser removido o Colégio dos Órfãos (1).
nem utilizar o que já estava construído. Por outro lado, os Órfãos não Longos anos, porém, haviam de passar, como veremos, sem que tal
tinham «condições higiénicas e até de segurança na parte do edifício fosse conseguido.
actualmente por eles ocupada» — dizia o ofício citado. A Igreja acha-
va-se «em tal estado que fora nela proibido pela Câmara todo o culto As obras do edifício foram continuando, mas em fins de 1882
divino ; a parte do alojamento dos Órfãos correspondente ao lado nas- estavam qutísi a parar, porque era pela parte ocupada pelos Órfãos que
cente do claustro está em tal estado de segurança que o corredor pro- elas tinham de prosseguir. O Governo, por Carta de Lei de 10 de
visório sobre que essa parte assenta — e que estabelecia a única comu- Junho de 1880 ('), autorizara, porém «que a parte do subsídio que não
nicação interna que havia entre as aulas actuais (1881) da Academia fosse dispendida no respectivo ano económico, entrasse no depósito
situadas ao lado norte e sul do edifício, — se acha especado e ameaça público, para, acumolando-se assim, pouco a pouco, se expropriar ao
próximo desabamento, e por isso se ordenou interromper a passagem Colégio os baixos do edifício que a êle pertence». Em Outubro de
por êle, com considerável transtorno para o serviço académico. O 1882, tinha já, dessa proveniência, a Academia em depósito a quantia
desabamento da Igreja, além das vitimas que pode causar, poria em de 3.395$448 rs. e pretendia «expropriar uma loja contígua ao Labo-
risco a bela fachada norte do edifício recentemente construída, e aba- ratório Químico, que mui precisa se faz à Academia» (').
laria em seus fundamentos a totalidade do mesmo edifício» ('). Na Tabela de destribuição da despesa do Ministério do Reino para
o ano económico de 1882-1883 figura a verba de 3.880$000 para con-
tinuação das obras no edifício da Academia, e de 120$000 para o en-
\') No Relatório que tm J l de Dezembro de 1881, o Vereador do Colégio dot carregado dos trabalhos de escrituração — no total de 4 contos —
Órfãos José Carneiro de Melo, apresentou i Câmara Municipal, lê-se:
«Não ignora a Câmara que o edifício em que está actualmente estabelecido o Colé-
podendo ser aplicada a primeira il expropriação das lojas já referidas (4),
gio é, na sua máxima parte, desprovido das condições que a higiene recomenda, devido como acima dissemos.
isto às intermináveis obras da Academia Politécnica, que o tem cercado de grossas e altas
muralhas de pedra, impedindo.assim a entrada de luz e ar puro indispensáveis à vida. E já que voltamos a falar de verbas orçamentais, vem a propó-
Mas não é io a carência dos preceitos de higiene que tornam esta casa imprópia : sito e é de justiça dizer que, na Tabela há pouco citada, se encontram
há ainda » acrescentar o seu mau estado de conservação, ao que, em parte, a Academia
não é também estranha, sem que possam fazer-se reparos de grande vulto, de maneira a
rubricas relativas à Academia, que corroboram que os Governos come-
pô-la em condições sofríveis, atenta a espectativa constante da mudança para outra parte, çavam a prestar justiça a este estabelecimento, inscrevendo : (5)
parecendo-me todavia esta uma aspiração, que nunca se converterá em realidade. Alguns
trabalhos já, é verdade, se teem encetado com este intuito; porém tudo inútil, em razão
de serem inaceitáveis as condições em que tal mudança tem sido proposta». Carneiro de casa, a Igreja e a parte do extinto Convento do Carmo, actualmente ocupado peta cava-
Melo não concordava com a transferência, ainda que provisória, para casa de aluguer paga laria e infantaria da Guarda Municipal, e em moeda ou inscrições um capital suficiente
pelo Estado, porque nem as mudanças continuas lhe pareciam de admitir, nem era certo para produzir u n juro igual ao rendimento das lojas, sitas nos baixos do actual Colégio».
que dum dia para o outro o Estado deixasse de querer continuar a satisfazer o aludido en- Do Relatório da Gtrência da Câmara Municipal do Porto, durante o biennio de
cargo. E falando do edifício chamado da Academia, diz que este devia, segundo a letra ifiNu e iH8i apresentado e lido pelo presidente José' Augusto Corria de Barros na Sessão
do Dec. de 9 de Fevereiro de 1803, ter sido construído com o fim especial de proteger de 26 de Janeiro de 18S2 — Pârto 1RX2 pág' 74 77.
os Órfãos e afinal a Academia tornara-se o maior inimigo dos Órfãos. «Não contente ('( An. de 8i 83, pág. 18.
com os prejuízos que já lhes tem causado, prepara-Ihes ainda novos, pretendendo esbu- (s) An. de 8z 83, pág. 44 e 83-84, pág. 250.
lhá-los das lojas que são suas, cerceando-lhes por tal via grande parte dos rendimentos (a) An. de 8 1 8 3 , pág. 18.
indispensáveis para a sua sustentação». Diz que a Câmara prestaria «um grande serviço )*) An. de 82 83, pág, 44.
ao Porto e à Nação se conseguisse que o Governo cedesse aos Órfãos, em troca da sua ('•) Id. pág. 43-44-
394 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 395

Ordenado do Secretário . . 250$000 Um Gabinete novo se formara, até ! — o de Cinemática (sistema Reu­
Idem do Bibliotecário . . . . 250*000 leaux), criado por um novo e ilustre lente: Joaquim de Azevedo Sonsa
Idem do Guarda­Mor . . . . <MO»Otni
Idem do Guarda . . . . I4(i$u,iu
Vieira da Silva Albuquerque (!).
Idem do Guarda do Laboratório
Químico 'iill it(KI(l Além de Azevedo Albuquerque, nomeado por C. de L. de 29 de
Idem do l.o oficial do Jardim Novembro de 1876 Lente proprietário da L* Cadeira (*), outras notá­
Botânico 2tMit(K)0
veis individualidades tinham entrado nos últimos vinte anos no qua­
Para prémios a estudantes, despezas
de expediente, compra de livros dro do corpo docente da Academia, em substituição daqueles pro­
para a biblioteca, conservação e fessores que a morte, a velhice ou a doença iam afastando da cátedra.
aperfeiçoamento do Jardim Bo­ Em 7 de Outubro de 1863 tomou posse do lugar de Substituto
tânico, dos Gabinetes de Física da 4." Cad. Guilherme António Correia, nomeado por Dec. de 20 de
e História Natural o do Labora­
Agosto de 1863 e Carta Régia de 22 de Setembro do mesmo ano (3).
tório Químico 1 1!» f l H K )
Salários ao servente do Gabinete de Por Dec. de 29 de Dezembro de 1864 e Carta Régia de 6 de
Física e do Laboratório Químico IKDÍIMI.) Abril do ano imediato foi nomeado Lente Substituto da 11.* e 12.*
Retribuição de trabalhos extraordi­ Cadeiras José Joaquim Rodrigues de Freitas, que pouco depois, por
nários de escrituração, secreta­ Dec. de 15 de Maio de 1867 e apostila de 11 de Julho do mesmo
ria e biblioteca ]4<>»I»M> ano, foi promovido a Lente proprietário da dita 11.* Cadeira, da qual
Para publicação do Anuário . . . ■.'.'■Html i
Para despesas com a cultura do Jar­
tomou posse em 10 de Agosto seguinte (4).
dim Botânico 300000 Em 1869 (15 de Fevereiro) tomou posse do lugar de Lente
Substituto temporário da IL* e 12.* Cadeiras, António Alexandre Oli­
veira Lobo, sendo promovido a vitalício por Dec. de 4 de Outubro de
Como se vê, já havia verbas para o pessoal indispensável e até
1871 e C. R de 9 de Março de 1872; tomou posse em 20 de Outu­
para o Annuario da Academia Poly técnica do Porto, cujo primeiro bro de 1871 (5).
número de publicação diz respeito ao ano lectivo de 1877­1878.
Tendo falecido em 2 de Setembro de 1868 Joaquim Torcato
Acrescente­se que.a Secretaria, os Gabinetes de História Natural
Álvares Ribeiro, depois de ter prestado ao ensino e à Academia os
e de Física, o Laboratório Químico, o Jardim Botânico, o Gabinete de
mais assinalados serviços, em 1 de Outubro seguinte o Conselho Aca­
instrumentos topográficos e astronómicos e o da Aula de Desenho, a
démico representou ao Rei pedindo fosse servido nomear para a vaga
Biblioteca, já tinham um aspecto mui diverso daquele que haviam da 5." Cad. o Substituto Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa (6), o
apresentado miserável e vergonhosamente durante dezenas de anos (')• que de facto sucedeu por Dec. de 25 de Fevereiro de 1869 (7}. Para

(') A Biblioteca já linha um Regulamento provisório. An de 81­87, p. 49 (') Vide Relatório de Azev. Albuquerque, in An. de 88 8q, pág. 56­58 ; vide ainda
e um C atálogo impresso (P&rio, 1883), |.a parte, matemática e filosofia natural. An de 78­79, pág. 5 9 ; An. de 8 l ­ 8 í , p. 115.120; An. de 84­85, p. 61 6 1 ; An. de
A Academia tinham também novo Regulamento geral, O que vigorava era um 86­87, P­ 66 67.
feito em 1864 (publi in An. de 82­83 pig 197), mas fizera­se em 1878 outro que nSo (*) An de 80 8 1 , pág. 80.
chegou a ter a aprovação do Governo (ambos in. K­i e K­2). Os serviços de Secretaria <*) I d . pág. 79
estavam jâ devidamente montados. (4) Id. pág. 79 H­i, lis 213 e 215 v.o.
O Observatório Astronómico, continuava «imprestável para observações., mas me­ (51 I d . pág. 8 0 , //­:, fis 2 1 6 v.o o 2 1 8 .
lhorara o Gabinete de instrumentos astronómicos. (*) 0­J2, ils. 319 vo.
O Jardim Botânico tinha, como já dissemos, um Rega feito em 1864. (•) H ­ l , fis 2 1 *
LIUIIHBUBHKHHHHBLH

396 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 397

a vaga de José Vitorino Damásio (quando este Professor, por ter Por Dec. de 23 de Novembro de 1881 foi nomeado Lente Sub-
sido promovido para o Conselho de Obras Públicas, por incompatibi- stituto da Academia José Diogo Arroio. Foi promovido a proprie-
lidade de funções renunciou às que desempenhava na Academia Poli- tário da 7.a Cadeira por Dec. de 14 de Dezembro do mesmo ano e
técnica) foi o único Substituto de Matemática que restava: Antó- C. R de 6 de Fevereiro de 1882 (')•
nio Pinto de Magalhãis Aguiar (Lente proprietário da 3.a Cad. por Em 1882 entraram no Corpo Docente da Academia Manuel de
Dec. de 4 de Março de 1869 e C. R de 12 de Dezembro do mesmo Terra Pereira Viana (*), como Substituto de Matemática, e — para fe-
ano (1). licidade da mesma escola — Wenceslau de Sousa Pereira de Lima, como
No mesmo ano de 1869 foi José Pereira da Costa Cardoso no- Substituto de Filosofia (3).
meado Lente proprietário da 13." Cad. por Dec. de 14 de Abril e
G R de 4 de Abril de 1872 (*); abandonou então a Faculdade de Também houve várias mudanças de Director no período de que
Matemática da Universidade de Coimbra, vindo a ser o primeiro pro- este Capítulo se ocupa.
fessor da nova Cadeira de Mecânica, da Politécnica, à qual efectiva- Em 24 de Julho de 1868, o velho Director Conselheiro João
mente ficou correspondendo o número 13. Baptista Ribeiro, — o homem a quem, embora sem ter sido dotado de
Em 20 de Janeiro de 1873, Adriano de Paiva de Faria Leite excepcional cultura e, possivelmente, lhe faltassem qualidades de admi-
Brandão, Doutor em Filosofia e Bacharel em Matemática pela Uni- nistrador, imenso deve a Academia Politécnica, pela energia e sen-
versidade de Coimbra, tomou posse do lugar de Lente Substituto tem- tido prático com que a serviu e amparou nos seus primeiros passos —
porário da Secção de Filosofia da Academia Politécnica- (3) ; foi pro- em 24 de Julho de 1868, João Baptista Ribeiro morreu (4).
vido vitalïciamente em 1875 e promovido a Lente Proprietário da 9." Em Agosto seguinte sucedeu-lhe, no lugar de Director, o grande
Cad, por Dec. de 18 de Agosto de 1876 e C. R de 29 de Novembro Director Interino desde 25 de Outubro de 1864 Joaquim Torcato
do mesmo ano (*), — lugar que tam altamente honrou. Alvares Ribeiro. MaB, logo em 2 de Setembro do mesmo ano, Álva-
A António Luiz Ferreira Girão sucedeu, coroo Substituto da Sec. res Ribeiro fajeceu (5).
de Filosofia por Dec. de 24 de Maio de 1877 e C. R de 17 de Julho Sucedeu-lhe Adriano Machado que ocupou com dedicação e bri-
do mesmo ano, António Joaquim Ferreira da Silva — uma das glórias lho esse lugar até 31 de Março de 1881, servindo nas suas ausências
da Academia — vindo a ser promovido a Lente proprietário da 8." como interino Arnaldo Anselmo Ferreira Braga (6). No anno de 1881-
Cadeira por Dec. de 20 de Maio de 1880 e C. R de 4 de Novembro -82 foi Director Interino o Doutor Francisco de Sales Gomes Car-
do mesmo ano (6), doso (T) e continuou sendo-o mesmo depois de 1883, em que ficou
Em 1877 foi nomeado Lente Substituto de Matemática Rodrigo vago o cargo de Director, e até 1886, em que foi nomeado o Doutor
de Melo e Castro Aboim, que, promovido em 1881 à propriedade da Francisco Gomes Teixeira.
3.' Cad. por morte de Magalhãis Aguiar, viria por sua vez e pouco
depois a falecer, em 9 de Outubro de 1883 (6). Em Novembro de 1881, visitou o Porto El-Rei D. Luis. Nessa
ocasião Tomás Ribeiro, ainda havia pouco Governador Civil daquela
Cidade e agora Ministro do Reino — com Fontes na presidência do
(') An. de 80-81, pág. 79.
{*) Id. pág. 80 e Ml, fk U I
(') An. de 8 I - 8 J , pág 145 e An. de 83-84, pág. 75.
(™) An. de 80-81; pág. 8 0 nomeado por Dec. de 4 d e Janeiro de 1873 e C R" 1*1 An. de 83-84, pág. 7.
de 6 de Março d o mesmo ano.
(') Id. pág. 7.
(4) Id. ib.
(*) An. de 8o-8l, pág. 247. Vide relo pág. 107-LII.
(e) Id-, ib.
í5) Id. ib. Vide retro pág. 115 116
(") An. de 80-81, pág. 81, e An. de 8,5 84, pág. 18.
(*) An. de 80-81, pág. Î 4 7 e 448.
(') An. de 81-82, pág. 39.
398 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
PROGRESSOS LENTOS 399

Conselho — manifestou ao Dr. Sales Cardoso o desejo de que mio s<5 Na Sessão seguinte (9 de Janeiro de 1882), José Arroio leu o
as obras do edifício da Academia Politécnica tivessem maior incre- Relatório da referida Comissão, e foi presente ao Conselho, já im-
mento, mas também de que os planos de ensino fossem revistos e presso, o Projecto elaborado ('). Então Adriano Machado propôs que
refundidos, como se reconhecia necessário. se oficiasse ao Instituto Industrial, remetendo-lhe um exemplar do
Em virtude desta última sugestão, e procurando aproveitar a Projecto que ia ser posto em discussão e pedindo-lhe que se dignasse
estada no Porto não só do Ministro do Reino mas também do das analisá-lo e dar parte a esta Academia do resultado desse exame, pon-
Obras Públicas, o Conselho Académico reuniu extraordinariamente, a derando ao mesmo tempo que o Conselho Académico se honraria de
pedido de Rodrigues de Freitas, que poucos meses antes, com Azevedo discutir conjuntamente com os seus Colegas do Instituto um assunto
Albuquerque, havia elaborado um plano de reforma da Politécnica. que tanto importava aos dois estabelecimentos (s).
Rodrigues de Freitas expôs nesse Conselho a parte essencial O Instituto respondeu secamente :
desse Plano, o qual tomava como modelo a organização do ensino na
III *» e Kx ""> Snr.
Escola Central das Artes e Manufacturas de Paria e nas principais
Politécnicas e Escolas Superiores Técnicas da Alemanha, Bélgica e Em resposta ao oficio de V S.a datado de 10 do corrente, rece-
Itália. A idea fundamental desse Projecto era a criação no Porto bido em 11, tenho a honra de levar ao conhecimento de V. Sa que
dum Instituto Politécnico, mediante a fusão da Academia com o Ins- convoquei imediatamente o Conselho Escolar, ao qual foi presente o
tituto Industrial, de acordo, afinal, com o que José Maria de Abreu conteúdo do mesmo oficio, e que em resultado da discussão a que elle
deu logar foi approvada uma moção concebida nos seguintes ter-
anos antes preconizara.
mos: — « 0 Conselho Escolar do Instituto Industrial, agradecendo
Resolveu-se redigir uma Representação aos Ministros, em que ao Conselho da Academia Polytechnica o convite que por este lhe foi
se aludisse «ao esboço do Projecto, sem o dar como obra do Con- dirigido para emitir a sua opinião sobre o projecto, já completamento
selho, indicandc-se algumas bases dele, como cursos livres, a gratuiti- organiiado de fusão da mesma Academia e deste Instituto em um só
dade dos cursos nocturnos para operários, e anunciando-se que, se- estabelecimento de ensino superior técnico, denominado Instituto Po-
lytechnica do Porto, resolve responder que rejeita a idea fundamental
gundo esse esboço, o aumento de despesa seria qurfsi de sete contos» (1).
do mesmo projecto, reservando-se a faculdade de motivar o seu voto
Logo foi nomeada uma Comissão de Lentes para, em audiência perante as instancias superiores.
dos Ministros referidos, expor as vantagens da aludida reforma e en-
Deus guarde a V. S.'
tregar-lhes a representação. A Comissão, da qual faziam parte Adriano
Machado e Pereira CardoBO, que não puderam comparecer, transfor- Instituto Industrial do Porto, 14 de Janeiro de 1882
mou-se, vindo a ser constituída por Albuquerque, Rodrigues de Frei- (a) Gustavo Adolpho Gonçalves e Sousa, Director ft,
tas, Ferreira da Silva e Arroio.
Só Tomás Ribeiro recebeu estes professores ; depois de ser entre- Independentemente dá colaboração do Instituto, o Projecto foi
gue da representação, permitiu-lhes que elaborassem um Projecto de aprovado (4), e o Conselho Académico nomeou os Doutores Pereira
Lei dentro das bases que indicavam. Cardoso, Adriano de Paiva e Azevedo Albuquerque para irem a Lis-
Para este fim o Conselho nomeou, em 9 de Dezembro de 1881 (*),
Pereira Cardoso, Rodrigues de Freitas, Albuquerque, Arroio e Fer-
(') Id. fls. 18 v.o. Vide o projecto impresso, com emendas manuscritas a verme-
reira da Silva (s). lho introduzidas pelo Conselho: ni. entre fls. zz e 23.
(*( Id. fls. 19.
|:l) J-6 (Is. 14.
<') J-6 fli. 17.
(*| Os Lentes Aboim e Guilherme António Correia assinaram vencidos, e Oliveira
(') Id. fis. 17 v.o.
Lobo com a declaração de que o curso de Comércio deveria ser organizado segundo o
(') Id. fls 17 »0.
projecto de reforma do mesmo curso, aprovado pelo Conselho Académico em sessão de
31 de Julho de 1877 e enviado ao Governo em 19 de Dezembro do mesmo ano (An. de
400 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 401

boa entregá­lo ao Governo (1). Assim fizeram — por sinal à sua as leis, atentos os conhecimentos científicos do habilitado, compro­
vados pelo seu diploma, lhes concederem.
custa (8) — indo acompanhados pelos representantes da Junta Geral do
Distrito, Câmara Municipal e Associação Comercial. 4. a DIVISÃO

Cursos preparatórios para as Escolas Médico­Cirúrgicas e de


Vejamos rapidamente em que consistia o Projecto, Farmácia.
A Academia Politécnica e o Instituto Industrial fuudir­se­iam
dando lugar a um novo estabelecimento denominado Instituto Politéc­ A segunda secção — a do ensino nocturno — mais especialmente
nico, que ficaria sob a tutela do Ministério das Obras Públicas, Co­ dedicuda a operários e que por isso mesmo seria gratuita para os fre­
mércio e Indústria, por ser uma escola de ciências aplicadas, — uma quentadores, como já acontecia 110 Instituto Industrial, encarregar­se­ia
escola prática e industrial, — embora aliando ao ensino prático o ele­ dos seguintes Cursos :
vado ensino teórico da ciência pura. 1 ■ De Construções Civis, e de Construtores de Obras Públicas.
Dividir­8e­ia esse Instituto Politécnico «em duas secções — uma 2.» » Máquinas.
para o ensino diurno e outra para o nocturno, auxiliando­se uma à 3.° > Telegrafia e faróis
4.° » Directores de fábricas.
outra em certas e determinadas cadeiras».
o." > Químicos industriais e especialmente tintureiros.
«A primeira secção, isto é, à diurna», pertenceriam os cursos
seguintes : Além destes cursos permitir­se­iam C ursos Urres regulados pelo
Conselho do Instituto, e os ouvintes que os seguissem poderiam ser
1.» DIVISÃO.
admitidos a exame, sem serem obrigados a frequentar tais disciplinas
Curso preparatório para os cursos técnicos especiais. com determinado professor (1).
2.» Divislo.
O Projecto elevava o número de Cadeiras do Curso diurno, já
existentes na Academia, de 12 a 21, criando de novo: Estática grá­
Seis cursos técnicoB especiais: fica e construção cie máquinas; Mecânica aplicada à resistência
\ ° Curso — de Engenheiros de Pontes e estradas. dos materiais; Termodinâmica t Máquinas 4$ Vapor; Química orgâ­
2.o — de Engenheiros de Minas. nica e análise química orgânica; Mineralogia, Geologia e Docimasia;
3°­ — de Químicos Industriais. Metalurgia e Lacra de Minas; C onstruções C ivis; Arquitectura e sua
4o — de Engenheiros de Máquinas.
história. Estas matérias estavam já incluídas no quadro da Acade­
5° — de Comerciantes.
6.» — de Arquitectos, mia, mas acumuladas com outras, não sendo possível, portanto, pro­
fessá­las com o desenvolvimento necessário.
3» DivisXo.
Em contrapartida a Física Industrial e a Química industrial,
Curso geral, o qual habilitaria para concorrer aos lugares de tecnologia, principalmente a tinturaria pertencentes ao curso noc­
Lente do Instituto Politécnico, e para quaisquer outros cargos, que turno (todo constituído pelas cadeiras já existentes no Instituto Indus­
trial) serviriam também para completar os cursos da secção diurna
82­83, pági. 251­252) Ferreira da Silva, que tinha feito patte da Comissão encarregada na sua parte industrial (').
de elaborar este Projecto, e havia assinado com declarações o relatório da mesma Comis­ Resumindo as razões que levaram o Conselho a acordar nesta
são, narrou ao Conselho em sessão de 12 de Janeiro de 1882 as razões por que assim
reforma, dizia o respectivo Relatório:
procedera. Fez uma exposição sobre os pontos em que se afastara do voto de maioria
da Comissão e indicou quais as matérias que, em seu entender, tinham sido esquecidas
no citado Projecto. (J­7, fls. 55­58 v.o). ('( Cfr. An. de 82­83 PaR­ ' i '4
('> J­6 fis. 23 (') An. de 82­83, pág­ 2 4 b
(*) An. 8 2 8 3 , oar*, ri
402 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO PROGRESSOS LENTOS 403

— «A criação do Instituto Politécnico transforma duas organi­ Lemos, José Maria de Queiroz Veloso e Maximiano Augusto d'Oliveira
zações imperfeitas numa só relativamente muito superior. No Pro­ Lemos Júnior ('}; em 78, Paulo Marcelino Dias de Freitas {'); em 79
jecto que o Conselho tem a honra de apresentar acha­se consignado o José Pereira Sampaio (3) i> Basílo Ribeiro Teles ; em 81, Bento de
ensino prático em toda a latitude compatível com os meios actuais ;
obteem­se, pela fusão das duas escolas, gabinetes e laboratórios mais
completos e um número de Cadeiras técnicas relativamente conside­
rável. Unifica­se quanto possível a vida do Instituto com o meio
que o rodeia, e, por outro lado, instituindo­se cursos livres, e dando­se
ao Conselho a Faculdade de contratar professores estranjeiros, facili­
t a t e a manifestação de aptidões que poderiam conservar­se ignoradas,
e vivifica­se o ensino superior num país afastado dos grandes centros
de pensamento e de progresso» (1).

Escusado é acrescentar que este projecto, a­pesar­de ter na Aca­


demia Politécnica entusiásticos c tenazes defensores, não logrou vingar...

Para terminar este capítulo, citemos os nomes de alguns alunos


distintos da Politécnica, desta época, que vieram a ser figuras ilus­
tres da sociedade portuguesa, pela sua competência profissional, e sou­
Os ALUNOS DA POLITÉCNICA EM 1880, ACOMPANHADOS POR ALGUNS PROFESSORES
beram honrar, como médicos, engenheiros, advogados, escritores, pro­
No 1.0 PLANO VÊEM­SE O FUTURO ENGENHEIRO ESTEVÃO TORRES
fessores, jornalistas, etc., o estabelecimento em que fizeram os seus E o FUTURO PROF. BENTO CARQUEJA.
primeiros estudos superiores.
Júlio Xavier de Matos, João Henrique Adolfo vou Hafe, Ricardo Sousa Carqueja Júnior (4), José Alves Bonifácio (5) e Francisco Xavier
de Almeida Jorge, Francisco Fernando Godinho de Faria e Silva, Esteves (fi) ; em 82, Manuel de Brito Camacho Júnior, filho de Ma­
José Joaquim Bai"bosa de Araújo Júnior, Afonso do Vale Coelho nuel de Brito Camacho, natural de Aljustrel (7), António Manuel Cer­
Cabral, António José Arroio, Elvino José de Sousa e Brito, foram queira de Carvalho Magro (8), Rodrigo António Teixeira (iuimarãis (*)
estudantes distintos da velha Politécnica portuense e todos laureados etc. etc.
com prémios pecuniários e acessits em Sessão do Conselho Académico
de 3P de Julho de 1874 (\
Em 1875 teve prémio pecuniário na l. a Cadeira Francisco Maria
Esteves Pereira (3) e distinção Tito Augusto Fontes (4). Em 187 (i o
0 J­5. B* ">7­
Conselho distinguiu José Augusto Vieira e Roberto Belarmino do (■­■)
hl. lis I í 8 v.o.
Rosário e Frias (*) ; no ano seguinte António de Sousa Magalhãis e lJl M. tis. 156.
<4> J 6, fls. 10

(') An. de 82 . g | , pág. 251.


h Id. fis. 10 v 0.
rt Id. fis. IO v.o.
(') J ­ 5 . A». 73 v.".
d Ib. fis 42 v.o.
(*) I d . fis. 8 l v.o.
(4| Id. fis. 82 v.o.
n Id. ib.
í) Id. ib.
(*) Id. fis g o v.o.
M^^HH^^^HHI ■■

íi
XXI

WEN0B8LAU DE LIMA E A REFORMA


DA ACADEMIA POLITÉCNICA

Com 24 anos de idade, em 1882, Wenceslau de Sousa Pereira de


Lima — que havia de conquistar as mais altas posições na sociedade e
na política nacional — começara a sua actividade pública e era Lente
Substituto da Academia Politécnica, da sua terra natal.
Deputado às Cortes no mesmo ano, imediatamente se fez sentir a
sua benéfica influência em prol deste estabelecimento.
Prova-o a seguinte moção, apresentada pela Secção de Filosofia
na Sessão do Conselho Académico de 23 de Junho de 1883, e unani-
memente aprovada:
— « 0 Conselho Académico reconhece os importantíssimos servi-
ços que prestou a esta Academia o membro do Conselho Dr. Wences-
lau de Lima, promovendo na actual Sessão Legislativa já a criação
da Cadeira de Mineralogia, Geologia, Metalurgia, Arte de Minas; já
o aumento da dotação actual da Academia de 1,730$000 réis a
2.50OS0O0 réis, e delibera que no assento da presente sessão seja
inserido um voto de reconhecimento e louvor pelos esforços por êle
feitos em bem deste estabelecimento, — resolvendo que desta moção se
dê conhecimento por ofício ao mencionado Professor » (1).
O novo Lente, como César, chegou, viu e venceu. Conseguiu
rapidamente dois enormes benefícios, havia tanto tempo reclamados !
Wenceslau de Lima soubera convencer a Câmara da necessi-
dade de aumentar a dotação da Academia proporcionando a esta os
meios indispensáveis para todas as despesas, pois que os Gabinetes,
a-pesar-dos progressos dos últimos anos, estavam ainda extremamente
carecidos de «seres naturais, máquinas e instrumentos próprios ao

(l) J-6, fis. 66.


406 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO ^VENCESLAU DF, UMA I A RFFOKMA DA ACADEMIA POLITÉCNICA 407

desenvolvimento prático dos alunos» ('). Conseguiu um importante criassem as que mais duma vez tinham sido pedidas, nunca a escola
aumento de 77O$0O0 réis, «verba que —disse Gomes Cardoso em ficaria em situação legal de igualdade perante os estabelecimentos
sessão pública da Academia em 20 de Outubro de 1883— conquanto congéneres do País.
ainda insuficiente com relação ao estado quási despovoado de alguns
Gabinetes, e aos subsídios dados aos diferentes estabelecimentos desta Wenceslau de Lima, que tinha tomado «sobre si a pesada tarefa
natureza existentes no País, já contudo um pouco mais nos pode auxi­ de, chamando a atenção dos poderes públicos para este estabeleci­
liar no desenvolvimento do ensino» (s). mento, concorrer para que o ensino aqui professado não desdissesse
A criação da 6.* Cadeira (3) era também, como sabemos, uma da importância dos cursos a que êle prepara» (') — continuava traba­
aspiração antiga da Academia Politécnica. Pela reforma de 1837, lhando com inteligência, tacto e entusiasmo.
esea Cadeira pertencia à secção de Matemática, e destinava­se ao Tendo sido criado pela C. de Lei de 23 de Maio de 1884 um
ensino de Artelharm, Táctica Naval e C onstruções públicas. Mas novo C onselho Superior de Instrução Pública (*), foi o ilustre Pro­
agora —pela C. de Lei de 14 de Junho de 1883 —passavn a per­ fessor portuense, por Dec. de 19 de Junho do mesmo ano, nomeado
tencer à secção de Filosofia, para nela se preleccionarem Mineralogia, membro da secção permanente do referido organismo (9).
Geologia, Lavra de Minas c Metalurgia, disciplinas estas que até Oportunidade excelente a aproveitar ! Mas que fazer, se o Go­
então estavam acumuladas com a 7." Cadeira. verno e o Parlamento não davam dinheiro !
Nada entibia, porém, uma vontade firme, servida por uma inte­
Como uns progressos trazem outros, logo uma Portaria do mesmo ligência esclarecida. Em 26 de Março de 1885, Wenceslau de Lima
mês determinou que o Conselho Académico organizasse os quadros tomava a feliz iniciativa, a que se associaram os deputados Abílio
dos cursos legais, visto ser necessário ordenar um novo programa Montenegro e Correia de Barros, de apresentar na Câmara um lumi­
geral para a distribuição das cadeiras e disciplinas pelos anos dos noso e memorável Projecto de Lei, o qual era assim redigido :
diferentes cursos, em harmonia com o maior desenvolvimento que, pela
criação da nova Cadeira, devia ter o ensino das ciências professadas Senhores :
na Academia (*). Da entre os estabelecimentos nacionais consagrado» ao ensino
Uma Comissão — composta por Adriano Machado, Francisco da superior, é a Academia Politécnica tio Porto o que se acha em con­
Silva Cardoso, António Joaquim Ferreira da Silva e Manuel da Terra dições menos adequadas a satisfazer aos fins da sua criação. Desti­
nada pelo decreto de IH de Janeiro de 1837 a desempenhar no
Pereira Viana (5) — foi encarregada daquele trabalho, e apresentou,
nosso pais o papel de uma politienica industrial, não recebeu da
em Sessão extraordinária de 18 de Fevereiro de 1884, o seu Projecto sua primitiva organisação, nem obteve das modificações posteriores,
do Programma da Organização dos cursos du Academia Pohjtcchmcn {*''). as condições indispensáveis para o bom desempenho da sua missão.
Mas este Projecto não coi respondia ao que se desejava. Dada a Se Este facto até hoje tem sido de consequências nocivas e muito
escassês das Cadeiras do quadro da Academia, enquanto não se para lastimar, é certo que os mates dele resultantes de ora para
futuro se agravarão por forma que não permitem, sem criminosa
incúria, perda de tempo em vãs especlativas, e o protelar do melho­
(') An. de 8j 84, pág. 15
('I Id. pág. 13
rt Id­ pág. 316: a Carta de Lei de 14 de Junho de 1883 que criou a 6.a Cad. (■> An. de 85­86, pág. 10. Disc, do Director Interino em 10 de Outubro de 1885
l'l J­6, fis. 67 v.o 68. Em 1883 (9 de Maio) a Academia representara superior­ (') Vide retro pág». 324 A Carta de Lei citada no texto in An de 84 85 pág.
mente pedindo a criação dum curso de ciências fisico­naturais, o que n3o foi concedido tJi­'J? Ie*­ de P^B8' '37 _ 1 53 ° Dec. de 18 de Novembro de 1884 mandando execu­
Au. 8 3 8 4 , pág. 315 tar o regulamento do Conselho Superior de Instruçlo Pública. O delegado da Acad Pol.
I») J­6, id. foi Adr, Machado.
(") Id. fls. 86­90 O An de 84.85, pág. 13­14.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA l>0 PORTO

lhoramenlos, que, sem implicarem modificação na indole dêsle esta-


belecimento, ou constituírem assunto que bem mereça título de
reformação do seu plano de estudos, não deixarão comtudo de lhe
aduzir grande melhoria E isto em condições viáveis, porquanto,
com prazer o declaramos, e para este ponto particularmente chama-
mos a vossa esclarecida atenção, pela conversão em lei do projecto
que submetemos ao vosso estudo não serão aumentados os encargos
ao tesouro.

Senhores.
A fugaz passagem pelas c a d e i r a s do poder do insigne
patriota Passos Manuel devemos a Politécnica do Porto, onde entre
nós se fundou o ensino industrial superior. Por motivos que pouco
importa agora considerar, não pôde aquele grande estadista vasar
nos amplos moldes, que dB certo se antolharam ao seu luminoso
espirito, o ensino que inaugurou no nosso pais. Não o fez pelo
decreto de 1837 ; e não o conseguiram a posterior reforma de 1844
e subsequentes medidas legais. Nasceu fraco, e não tem progredido
em robustez aquele malfadado estabelecimento cientifico, destinado
a preencher uma lacuna importantíssima da nossa educação nacio-
nal, e colocado na capital da zona mais populosa, empreendedora e
activa de todo o reino. A isso se tem oposto a hostilidade das cir-
cunstância!1, feita de malquerenças e indiferentismos, cuja paterni-
dade e responsabilidade não queremos apurar, ma6 que obriga os
seus cursos a ministrarem-se ainda hoje num edifício em parte
incompleto, em parte arruinado, e ainda assim aplicado aos mais
heterogéneos destino?, com dotaçSes sempre miseravelmente min-
guadas e uma penúria de cadeiras que orça pelo ridículo ; e a con-
tar-se tão somente como força benéfica para a Academia com a boa
vontade já hoje tradicional dos seus professores, que desde a sua
fundação constantemente tém luctado pela prosperidade do estabe-
lecimento a que pertencem com um zelo e dedicnção condignos do
sacerdócio que exercem, mas nunca devidamente reconhecidos e
apreciados.
Atenuar na medida do possível os defeitos apontados emquanto
CONSELHEIRO WENCESLAU DE LIMA
se não deparar ocasião azada para reformar convenientemente esta
ordem do cousas, é prestar um serviço importante ít educação pro-
fissional superior
E sendo indiscutível que, sem .sacrifícios monetários, pode aten-
der-se ás necessidades mais instantes da Academia, convencemo-nos
que não recusareis a vossa aprovação a um projecto de lei que vi-
sasse a esse fim. Nesta fé passamos a expor-vos as suas baaes:
A propina de matricula e adicionais na Academia Politécnica
são do valor de 11556 réis. Nada justifica a cobrança de impn»(«
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WFNCKKLAU DE LIMA E A REFORMA DA ACADEMIA POLITÉCNICA 409

tão insignificante, muito menor do que o incidente sobre os alunos


de instrução secundária. Por isso vos propomos que se restabeleça
a antiga propina de matricula, determinada pelo artigo 163.° do
decreto de 13 de Janeiro de 1837, com os adicionais sancionados
pelas leis posteriores, uniformizando­se deste modo as propinas de
matricula na Academia Politécnica e nas Escolas Médico­Cirúrgicas,
e ae determine a propina de 4 $500 réis, a exemplo do que se pratica
na universidade, para a concessão de licenças de repetição de acto
sem frequência, acto final fora de época competente e de trânsito
entre classes diferentes. O aumento de receita resultante destas
providências ascenderá a qusntia muito superior a 4:Q00$000 réis.
Com esta verba pode conseguír­se, sem agravamento das nossas
finanças, o que não deixará de concorrer para a sua melhoria, istoé,
vantajosas modificações nos cursos da Academia, pelo desdobra­
mento da 3.», 6.i, 9.» e 13.* cadeiras, e aumento das dotações dos
estabelecimentos académicos.
Para faierdes idea do modo como ae acham sobrecarregadas as
mencionadas cadeiras e da impreterível necessidade de as desdobrar,
por­vos­emos em paralelo, perante o mesmo quadro de disciplinas,
3 seu número na Academia e na Escola Cenlrsl de Paris, a qual tem
servido de tipo e de modelo a outras da mesma ordem no estran­
jeiro e a cujo grupo pedagógico a nossa politécnica pertence.
0 ensino da geometria descritiva e suas aplicações, da mecâ­
nica geral e da cinemática, matérias todas professadas na 3, a cadeira
da Academia Politécnica, está confiado na Escola Central aos cuida­
dos de dois professores, dois repetidores e um chefe de trabalhos.
As disciplinas que actualmente abrange a 6 * cadeira, mineralogia,
geologia, metalurgia e lavra do minas, são explicadas nn mesma Es­
cola por três professores e três repetidores, sendo do dois anos o
curso de exploração de minas. Para o ensino da química, que cons­
titui o da 9 a cadeira, há quatro professores, quatro repetidores e
dois chefes de trabalhos práticos. Enfim, as variadíssimas doutrinas
ensinadas em dois anos na 18,* cadeira por um só professor (mecâ­
nica aplicada e construções civis) são entregues na Escola Central
aos assíduos cuidados de onze professores e dez repetidores.
Ai necessidades da Academia, que bem podeis avaliar quais
sejam em presença do que vos deixamos exposto, não ficam de­
­cerlo satisfeitas com as medidas que vos propomos. A criação de
novas cadeiras, a de repetidores para cada cadeira, ou grupo de ca­
deiras afins, e a de chefes de trabalhos, etc , fica ainda reenmen­
dando­se â consideração de quem pretender reformar conveniente­
mente âsle ramo de serviço público.
Impusemo­nos, porém, o dever do traçar o nosso plano de me­
lhoramentos dentro dos limites da receita criada, e desse propósito
nos não apartamos, embora a isso nos concitassem considerações
do mais elevado alcance.
■1MB

410 MEM^iKIA HISTÉRICA DA ACADKMIA POLITÉCNICA IMS PORTO


WENCF.SLAU DE U M A F. A HF­FORMA DA ACADEMIA [•< U.ITÉCN1CA 411

Quisemos que este projecto nascesse sem o pecado original do


aumento ii« receita, para que mais facilmente pudesse obter salvação. Desdobrando­se as antigas cadeiras 3.*, 6.*, 9.* e 13.", e dotando
Terminamos por aqui a já longa exposição dos nossos propósi­ «com alguns recursos, embora modestos, os diversos serviços que se
tos, pedindo­*os que em nome do ólimo que rle futuro possa fazer­se ligam com as missões (ou excursões de estudo) e o estudo no labora­
não recuseis a vossa aprovação ao que por­venlura haja de bom no
tório», seria enfim possível impulsionar o ensino, *e preparar conve­
seguinte
nientemente os alunos não só com os conhecimentos pníticos próprios
PROJECTO DE LEI de cada uma (ciência), como com as habilitações técnicas que são
indispensáveis nas diversas profissões para que habilita a Academia» ( ).
Artigo 1." A geometria descritiva e suas aplicações, mecânica
geral e cinemática, actualmente professadas por um só lente na 3 a A Comissão de Instrução Superior da Câmara dos Deputados
cadeira do Academia Politécnica do Porto, serão lidas de ora avante não hesitou em solicitar a aprovação do Parlamento para essa Reforma,
em duas cadeiras ; por igual forma se procederá acerca da minera­ «tão útil como inadiável», porque, no estudo que dela fez, começara
logia, geologia, metalurgia e lavra de minas (6.' cadeira), e da quí­ «por averiguar primeiro que tudo a sua parte económica». E a Ôste
mica inorgânica e orgânica (9.» cadeira) ; as disciplinas da 19 ' cadeira
(mecânica aplicada e construções civis) serão distribuídas por três
respeito escreve : — « Efectuar o melhoramento e ampliação de qual­
cadeiras. quer serviço público, sem aumentar a despesa que com êle presente­
§ 1.° 0 conselho académico procederá imediatamente à revi­ mente se faz, é um problema cuja solução parece impossível. Con­
são dos programas dos cursos legais da Academia Politécnica, orde­ tudo a boa­vontade chega muitas vezes a superar os maiores obstácu­
nando e distribuindo as suas matérias pelas dezoito cadeiras que los e a tornar exequível o que se antolhava como absurdo » ( ).
ficam constituindo o seu quadro, estabelecendo e ensino bienal
naquelas que julgar conveniente, e fixando o número de anos de cada
A Comissão de Fazenda, ouvido o Governo, conformou­se coin
um dos cursos legais da Academia, de acordo com o maior desen­ o Parecer da Comissão de Instrução Pública ( ).
volvimento dos estudos. Estes programas, depois de aprovados pelo As Comissões reunidas de Instrução Pública e de Fazenda da
Governo, serão postos em vigor no ano lectivo imediato ao da apro­ Câmara dos Dignos Pares entenderam igualmente que o Projecto
vação desta lei. devia ser aprovado : — « Tem êle por fim o desdobramento de três
§ 2." Para ocorrer às despegas criadas pelas disposições pre­
cedentes, cobrar­se­á a propina de ll$r>20 reis e respectivo adicio­
das treze cadeiras que compõem actualmente o quadro de estudos da
nal, designado no decreto de 26 de Junho de 1880, por cada matri­ Academia Politécnica do Ptirto. São cinco as Cadeiras criadas por
cula noa cursos da Academia Politécnica, e a verba de 4$500 réis virtude deste desdobramento : duas teóricas, a Geometria Descritiva
por cada licença de repetição de acto sem frequência, exame final e a Química Orgânica e Análise Química; três técnicas, a Arte e
fora da época competente, ou trânsito entre diferentes classes O Lavra de Minas, e duas de Construções Civis; e as vossas comissões
excedente da receita será aplicado ao aumento das dotações dos ga­
binetes, aos museus do referido estabelecimento seientífico, e as
reunidas entendem que não só a criação destas cinco cadeiras é essen­
despesas dos alunos em missão. cial para legitimar a existência na Academia da maior parte dos cur­
Artigo 2 o Ficam revogados o artigo 121.° § 3 ° do decreto de sos técnicos que nela actualmente se professam, como absolutamente
29 de Setembro de 1836, artigo 143." do decreto de 20 de Setembro necessária para que os Poderes Públicos levantem com razão bastante
de 1844, e mais legislação em contrário. o como que interdito que desde 1837 pesa sobre a Academia do
Sala das sessões, em 26 de Março de 1885. ­ • W. de Lima,
Albino Montenegro, José Augusto C orreia de Barros.
Porto no tocante a ura dos seus fins legais, o preparo de alunos para
os cursos das armas científicas professadas na Escola do Exército» (*}.

Compreende­se o regosijo que a apresentação deste Projecto pro­


vocou entre os amigos da Academia Politécnica, até então sempre (') Parecer da Comissão de Instrução Superior da Câmara do» Deputados, de 9
desprotegida c muitas vezes espesinhada até ! de Abril de 1885 — An, de 85­86, pàg. 187.
(') Id. ib. pâg. «88. Tem a data de 9 de Abril de 1885.
(a) Id, il), píig. 191. Tem a data de 9 de Abril de 1885.
(*) An. de 85­86, píg. 194. Tem a data de 25 de Maio de 1885.
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412 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO WENCKSLAU UE LIMA E A REFORMA DA ACADEMIA POLITÉCNICA 413

Todos concordavam, enfim ! Ia 8er nm facto a reforma impres­ Citaremos somente um doa capitais, a falta de número indispen­
cindível, pela qual tantas lutas se haviam sustentado ! sável de cadeiras onde fossem lidas as ciências industriais, a ponto
tal que desde longo tempo um ou mais professores, para que não
fosse vã a educação científica ministrada aqui, têm tomado sobre si,
No ano anterior tinham entrado para o corpo docente da Acade­ sem remuneração alguma, a regência de alguns cursos indispensá­
mia Politécnica cinco novos mas notáveis professores: Luis Woo­ veis a que a lei não atendeu.
douse (l), Gomes Teixeira (*) transferido da Faculdade de Matemática A insuficiência de número de cadeiras mais uma vez se tornou
de Coimbra (3), Roberto Mendes (4) e Amândio Gonçalves (5), e já eles manifesta ao conselho quando, ao organisar em 1884 os quadros dos
cursos legais da Academia, de acordo com o que lhe fora ordenado
assinaram ou votaram com os seus colegas uma Representação à Câ­
por portaria de 26 de Junho de 1883, pretendeu atender às justas
mara dos Deputados, mostrando a justiça com que a Academia Poli­ exigências do ensino moderno. Já então o conselho notava que as
técnica devia finalmente ser atendida nos seus clamores de tantos anos, cadeiras mais sobrecarregadas de matérias e onde, portanto, o ensino
e pedindo a aprovação do Projecto : seria fatalmente incompleto, e r a m : a 3.* cadeira, que compreende a
geometria descritiva e suas aplicações, e a mecânica racional e cine­
Senhores ! mática ; s 6.», na qual não só estão incluídas a mineralogia e a geo­
logia, ciências hislórico­naturais, como também a metalurgia e a
Há quarenta e oílo ano» que, por iniciativa de um ilustre arte de minas, cujo ensino tem um carácter diferente ; a 9 1 , que
Ministro da coroa, era criada no Parlo a Academia Politécnica. compreende não só a química mineral e orgânica mas ainda a quí­
Esta criação satisfazia a uma necessidade pública de dia a dia tor­ mica analítica, à qual cumpre dar grande desenvolvimento; e a 13.»
nada mais manifesta :• a de formar com sólida instrução directores cadeira, que abrange quasi toda a ciência do engenheiro civil, isto é,
de empresas industriais e de obras civis. 0 pensamento de Manuel
toda a mecânica aplicada e todas as construções CÍVIB, ciências estas
da Silva Passos foi de certo o dotar o Pais num dos seus centro»
que na Escoia Central de artes e manufacturas estão afectas a onze
mais populosos e activos, de um ensino análogo ao que na Escola
professores e dez repetidores, e que não devem ser lidas na nossa
Cpntral de artes e manufacturas de Parts fora iniciado, oito anos
escola por menos de três professores. Esta simples exposição dis­
antes, pelos esforços e cooperação de Olivier, Péclet, Lavallée e
pensa­nos de insistir, perante a vossa ilustração, sobre a urgência
Dumas; foi numa palavra, o de criar nesta cidade uma Escola Poli­
que há de ampliar nestas quatro cadeiras o ensino respectivo a­flm­de
técnica.
que a educação cientifica nesses diversos ramos seja uma realidade.
É certo, porém, que os meios fornecidos para realísartal ensino Tendo sido apresentado nessa Câmara, em sua sessão de 24 do
foram por demais insuficientes para que os estudos tivessem a in­ corrente, pelo membro deste consetho dr. Wenceslan de Lima, um
tensidade necessária a uma sólida instrução técnica; disto resultaram projecto de lei no qual se atende ao aperfeiçoamento do ensino aca­
para o corpo escolar dificuldades quási invencíveis na organização démico pelo seu maior desenvolvimento naquelas cadeira» em que
dos programa» e dos estudos. E contudo, a­pesar­destas condições
êle é rnais deficiente, vimos pedir­vos que sancioneis com o vosso
desfavoráveis, seja­Ihe licito dizé­lo, a Academia lem visto sair dos
voto um melhoramento da mais alta valia não só para esta escola,
seus cursos nomes vantajosamente conhecidos na engenharia e
como em geral para o ensino público.
ciência portuguesa.
Dar, com efeito, a devida amplitude ao ensino técnico, nunca
Não nos cumpre nesta ocasião insistir cm todos os defeito» de foi mais necessário do que hoje, em que os princípios científicos
organização da Academia Politécnica, sobre que aliás já se têm ma­ devem regular os processo» industrais, e em que é geralmente re­
nifestado, desde muito, a direcção e conselho escolar. conhecida a falta de engenheiros devidamente habilitados para OB
diversos ramos da nossa indústria.
Cl An . de 8 4 8 5 . f*g­ »S­ Este ensino técnico superior impõe­se ainda maia pelo desen­
Id. ib. volvimento que já tem no Pais o ensino elementar profissional nas
(')
Id. pág. 7 1 0 . escolas, institutos e museu» industriai» ; sendo, por isso, necessário
rt
Id. Pág­ 28 dar­lhe o seu complemento indispensável, a instrução técnica
n
(■'■)
Id. Pág 29 Também em 1 fez concurso par» secretário Bento Ferraz
superior.
Vian». Id. pág.,. Realisados os melhoramentos consignados no projecto de lei e
atendidas algumas outras necessidades que serão expostas ao go­
MHL^L^L^HL^MLaiL^L^L^MLlL^L^MI

414 MEMÓRIA HISTÓRICA UA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO WENCESLAU UE LIMA E A REFORMA l>A ACADEMIA POLITÉCNICA 415

vérno de Sua Mageslad»>, a Academia Politécnica poderá ontão desem­ « De ordem do Sua Ex.a o Ministro da Guerra se declara que,
penhar desassombradamente e sem os obstáculos de todas as espé­ em virtude do disposto no Decreto de 10 do presente mês, os can­
cies que até hoje lhe têm entorpecido a marcha, a missão que lhe didatos a alunos dos cursos preparatórios para as armas especiais
compete na instrução superior portuguesa, missão que é especial do estado­maior, u que se refere o Decreto de 26 de Agosto último,
e distinta da de todas as outras escolas do país; e o conselho espera podem solicitar o irem estudar o curso preparatório para as referi­
que o fará em proveito publico. Porto, 30 de Março de ISfiíi — das armas na Academia Politécnica de Pórlo, turnando­se­lhes ex­
Dr. Francisco de Sales Gomes C ardoso, José Joaquim RodrifMtt de tensivas as vantagens e obrigações que, pela legislação em vigor,
Freitas, Dr. Adriano de Paira Faria Leite llrandão, Joaquim de são apliculas uos ulunos militares que frequentam a Universidade
Azevedo Albuquerque, António Joaquim Ferreira da Silva, Dr. José de Coimbra e a Escola Politécnica» Cl.
Diogo Arroio, F. Gomes Teixeira, Luiz Inácio Woodhouse, Manuel
Amândio Gonçalves.
Com a nova organização da Academia, aumentou o quadro do
Tem o voto dos lentes: Francisco da Silva C ardoso, Adiiano
de Abreu C ardoso Machado, Manuel da Terra Pereira Viana, Roberto
pessoal docente.
Rodriyn.es Mendes, Guilherme António C orreia, António Alexandre Em 1885­86 era o seguinte (? ) :
de Oliveira Lobo (')
(') O Decreto de í6 de Agosto, a que se refere este Aviso, é do teor seguinte :
Secundando a Academia, representaram a Câmara Municipal (em . Secretaria de Estado dos Negócios da Guerra — Dtrecfão Geral ­ J « Repar­
0 de Abril) ("), a Associação Comercial (etn 20 do mesmo mes) (3) e tição. — Hei por bem determinar, em conformidade com o disposto 110 artigo 31.0 do
Decreto com força de lei de 24 de Dezembro de 1863, que no ano lectivo de 1885­1886
a .Junta Geral do Distrito (em 16 de Maio) (4); 0 C ommérék do P&ria
n5o sejam admitidas à matricula na Universidade de Coimhra e na Escola Politécnica
publicou uma série de artigos, de Rodrigues de Freitas e de Bento mais de 8 praças do exército com destino às armas especiais e corpo do estado maior; e
Carqueja, expondo a necessidade da reforma <5); O Crinn iro de ,/ntn iro bem assim que na Escola do Exército não sejam admitidas à matricula com destino para
ventilou o momentoso assunto . . . as armas de cavalaria e infantaria mais de 30 praças, sendo 5 para o curso de cavalaria e
25 para o de infantaria. Quando o número dos pretendentes para qualquer das armas,
ficando compreendido 110 número dos que se destinam às armas de cavalaria e infantaria
K, finalmente, em 21 de Julho do mesmo ano de 1885 foi con­
os candidatos a que se refere o § M do citado artigo 31.0, for superior ao que fica desi­
vertido em Lei o Projecto de Weneeslau de Lima ! gnado, deverá verilícar­se então o concurso de que trata o § 1.0 do mesmo artigo, o qual
será documental e feito perante um júri nomeado pelo conselho de instrução da escola
Salvara­se, qtuísi ao cabo de cinquenta anos de luta, a Academia do exército.
Politécnica! O presidente do conselho de ministros, ministro e secretário de estado dos negócios
da guerra, encarregado interinamente dos negócios das obras públicas, comércio e indús­
Ela estava agora a par das suas congéneres em Portugal !
tria, assim o tenha entendido e faça executar. Paço, em 26 de Agosto de 1885. — R E I
Assim a considerava tacitamente o Aviso do Ministério da — António Afaria de Fontes Pereira dt Melo*. Do An. de 85­86, pág. 28.
Guerra de 29 de Setembro seguinte, publicado no Diária do Qorérno (*) Estavam jubilados os seguintes Lentes : Conselheiro Arnaldo A. F. Braga,
de 30 do mesmo mes, que dizia: Pedro de Amorim Viana, Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, Dr. José Pereira da Costa
Cardoso e Conselheiro Adriano A. C. Machado : An. de 85­86, pág. 48.
Em 1885­86 o pessoal do quadro constava de 18 Lentes catedráticos e 4 Lentes
(') An. de 8586, pág. 195­198. Esta Representação fui apresentada na Câmara Substitutos, os quais eram demonstradores natos; do Director, nomeado pelo Governo de
dos Deputados em 13 de Abril de 1885 por Weneeslau de Lima. O Conselho Acadé­ entre o corpo dos Lentes; do secretário, do bibliotecário, do guarda­mór, do guarda­pre­
mico representou também à Camará dns Pares, e essa Representação fui entregue em parador do laboratório químico, do guarda­demonstrador de física experimental, do guarda­
■ de Maio seguinte pelo Lente Pereira Cardoso; An. cit. pay. îo8 ­primeiro oficial do Jardim Botânico, de três guardas subalternos para o serviço e de dois
(') Vide a Representai <'o in An. de 85­86, pág. [98. serventes: um para a secretaria, que serve também de porteiro, e outro do laboratório
C) Vide a Representação in lb. pág. 199 químico e do Gabinete de Física. Além destes empregados eram pagos pelas despesas
(*| Vide a Representação in ib. pág. 201 avulsas da Academia um amanuense da secretaria, um hortelão e um servente do Jardim
n Vide êsses artigos in tb. pág. 202­211 Botânico; e pela dotação para as obras do edifício da Academia um amanuense da Co­
missão das Obras, e um guarda apontador das obras. /d. pág. 46 e 48.
416 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Lente da 1." cadeira (geometria analítica, álgebra superior e tri­


gonometria esférica). — Luh Inácio Woodotue, que então morava na
rua do Breyner, 118.
Lente da 2." cadeira (Cálculo diferencial e integral; cálculo das o
diferenças e das variações). — Dr, Francisco Oòme.s Teixeira, rua de O
Costa Cabral, 132. ­=
Lente da 3.™ cadeira (Mecânica racional; cinemática). — ­/. .1. S,
V. da S. Albuquerque, rua dos Fogueteiros, 1.

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O CORPO DOCENTE DA POLITÉCNICA EM l88o
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Lente da 4,* cadeira (Geometria descritiva). — Dr. F. Gomes


Teixeira (interinamente). S
Lente da 5." cadeira (Astronomia e Geodesiu). — L. I. Woodan.se ­
(interinamente). ­5
Lente da ti." cadeira (Física).— Dr. Adriano de Paira, Quinta g
de Campo Belo, Vila Nova de Gaia.
Lente da 7* cadeira (Química inorgAnica). — Dr. J. D. Arroio,
Praça de Cadouços, 16, Foz.
Lente da S.a cadeira (Química orgânica e analítica) — .1. ,/. Fer­
reira da Silva, rua da Alegria, 929.
WENCESLAU UE LIMA E A KEFuKMA l)A ACADEMIA P o l ITKCNICA 417

Lente da 9.a cadeira (Mineralogia, Paleontologia e Geologia)—


Dr. Wrnceslau de S. P. Lima, rua de Cedofeita, 137.
Lente da 10." cadeira (Botânica). — Dr. F. de Sake Oônm Car-
doso, rua Direita, 20, Matosinhos. .
Lente da 11." cadeira (Zoologia). — Manuel Amândio Conçut res,
rua de Costa Cabral, 637.
Lente da 12." cadeira (Resistência dos materiais e estabilidade
das construções). — Roberto R. Mendes, Hotel América, rua de S.
Lázaro.
Lente da 13." cadeira (Hidráulica e Máquinas). — ! / , da Terra
P. Viana, rua do Vasco da Gama, 28, Eoz.
Lente da 14." cadeira (Construções e vias de comunicação). —
Roberto R. Mendes (interinamente).
Lente da 15." cadeira (Montanística e Docimasia). — Vago.
Lente da 16." cadeira (Economia política, Estatística, Princípios
de direito público, administrativo e comercial; legislação). — António
A. O. Lobo, rua do Príncipe, 50.
Lente da 17." cadeira (Comércio). — J. J. Rodrigvet ié Freitas,
Travessa de Santa Catarina, 52.
Lente da IX." cadeira (Desenho).— F. S. Cardoso, rua da Ale-
gria, 347.
Lente substituto de Matemática. — Vago.
Lente substituto de Filosofia. — Vago.
Lente substituto de Comércio. — Vago.
Lente substituto de Desenha — Guilherme A Correia, Campo
da Regeneração, 124.
Aumentou também a verba para despesas dos estabelecimentos e
museus. Como vimos, o Projecto convertido em Lei de 21 de Julho
de 1885 determinara que o excesso de receita que resultasse do au-
mento das propinas seria aplicado ao aumento das dotações dos Gabi-
netes, dos Museus, e das despesas dos alunos em missão. «O projecto
do orçamento para o próximo ano de 188(1-1887, remetido ao Minis-
tério do Reino, tomando para base a média da frequência nos últimos
três anos e as despesas com as novas Cadeiras criadas, comportava a
despesa da Academia em 25.451$007 réis; em que se compreendem:
as despesas de pessoal na importância de 17.5li0$()50 réis; as das
obras em 4,000$000 réis; e as de expediente, prémios, estabelecimen-
^^^^Bm^m^mm

418 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO WENCESLAU DE LIMA E A REFORMA DA ACADEMIA POLITÉCNICA 419

tos académicos, missões de alunos e publicação do Anuário, em nos anais desta Academia. Esta corporação deliberou abrir uma
3.890$357 réis» (1). excepção na lista das homenagens que em vida dispensa aos benemé-
«A receita para o Estado subiu de 661$266 réis a 5.271$623» (a). ritos professores desta casa, e não só resolveu que se lhe enriasse
uma mensagem de agradecimento e louvor por tão relevantes servi-
Em guina : pode na verdade bem dizer-se que vida nova começou ços, como também q»e fosse colocado o seu retrato nesta sala nobre,
naquela data ! na galeria dits ilustres professores que aqui vedes, bem como aí se
E tudo se devia ao jovem professor e parlamentar ilustre que nota o do eloquoite e venerando tribuno Manuel da Silva Passos,
se chamou Wenceslau de Lima ! que referendou o Decreto de 13 de Janeiro de 1837. Era justo que
O Conselho, por proposta do Prof. Dr. José Arroio em sessão de neste local, onde se encontram as efígies do snr. D. João 6.0, que
9 de Junho de 1885, enviou uma calorosa mensagem de reconhecimento fundou a Academia de Marinha e Comércio do Porto, e do insigne
aquele seu distintíssimo vogal, resolvendo simultaneamente mandar Passos Manuel que referendou o Decreto da reforma da mesma, ãan-
pintar-lhe o retrato a óleo para ficar exposto na Sala das Sessões (3). do-lhc o amplo nome de Politécnica, existisse também o retrato do
Na abertura solene das aulas, em 20 de Outubro do referido sur. Dr. Wenceslau de Lima, que fex. passar este estabelecimento por
ano de 1885, o Doutor Sales Gomes Cardoso, ao inaugurar esse uma nova e mais completa fase (1).
retrato, disse as seguintes palavras, que, pela autoridade de quem as
proferiu, entendemos deverem ficar transcritas nas páginas desta Um homem do Porto criara a Academia Politécnica; outro Por-
Memória : tuense lhe dera, quarenta e oito anos volvidos, os elementos pedagó-
— « Melhoramentos tão imp<»tantes, e que debalde procuraram al- gicos que mais falta lhe faziam para que, dignamente, a Academia
cançar para esta Academia ilustres campeões do bom crédito dela e xc- pudesse realizar os seus fins!
losos professores, promovidos agora e levados a efeito por um só Lente,
que, apenas há très anos, este Conselho, em hora fclix, acolheu em seu
seio com unânime aplauso,— com a mais rigorosa justiça erigiam para
o seu promotor uma distinção especial da parte do Conselho, que
cumpriu este dever de um modo bem significativo; e o galardão que
lhe conferiu deve merecer-lhe toda a consideração, por ser o único

(') Na despesa de pesioal não figuram os vencimento» dos Lentes jubilados, na


importância de 3.499Í990 réis.
C) An. de 85-86, pág. 44 e nola.
(8( J-6, fls. 119: Como Azevedo Albuquerque tivesse então emitido a opinião
de que se agradecesse «ao doutor Wenceslau de Lima pela mesma forma seguida para
com os outros signatários do Projecto de Lei » (volos de louvor na Acta), e essa pro-
posta fosse prejudicada pela de Arroio, — na Sessão de z8 de Julho, em que Ferreira da
Silva propôs o lançamento na acta de um voto de louvor ao Ministro do Reino (o que
foi aprovado), Albuquerque declarou que em seu entender «se devia agradecer ao Mi-
nistro pela forma por que se tinha agradecido ao Lente Lima», propondo, porisso, que
«se mandasse tirar a óleo o retrato do dito membro do Governo, para ser colocado na
Sala das Sessões». A discussão desta Proposta foi adiada, e nunca mais se tornou a
fazer reviver o assunto (J-6, fis. Iti). (') An. de 85-86, pág. tl-13.
■ îaSM • *SÍ£i2r" I I

XXII

A REORGANIZAÇÃO DA ACADEMIA

Mais de um mes antes de ser publicado no Diário do Qovêrrw a


Lei que reorganizou a Academia Politécnica, tinha o Conselho Acadé­
mico deste estabelecimento começado a pensar na reforma dos Pro­
gramas, de harmonia com o projecto já aprovado, na Câmara dos Pares,
cm 30 de Maio anterior. Com efeito, fora resolvido, em 15 de Junho
de 1885 por proposta de Azevedo de Albuquerque, «que os lentes in­
dividualmente, e cada uma das sessões, fossem organizando os progra­
mas respecta vos, e que depois se reunisse o Conselho para se nomear
uma Comissão que lhes desse a organização definitiva» (l).
A esperada e memorável Lei foi publicada em 25 de Julho se­
guinte, e logo no Conselho Académico celebrado nesse dia Ferreira da
Silva alvoroçadamente o participou aos seus colegas, pois recebera
telegrama de Lisboa a comunicar a jubilosa e feliz nova. Impaciente
na sua alegria, o mesmo Professor propos que sem demora se nomeasse
a Comissão para proceder à organização dos Programas. Mas alguns
vogais ponderaram que talvez fosse melhor esperar pela noticia oficial (a).
Esta não Be fez esperar, e em 28 de Julho o Conselho voltou a
retinir, agora expressamente para dar cumprimento ao preceituado no
§ 1." do a r t 0 1." da Lei de que nos vimos ocupando. O Presidente,
Sales Gomes Cardoso, director interino, disse entender que se devia
nomear uma comissão que tomasse a seu cargo a revisão dos progra­
mas, e o Conselho, por proposta de Arroio, escolheu para esse fim os
lentes Gomes Teixeira, Roberto Mendes, Adriano Machado, Guilherme
António Correia e Ferreira da Silva (3).

(') J­6, fl». n o v.o.


(') Id. fis. 122 v.°.
(») Id. fU. 123.
422 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
A NOVA FAKE HA ACADEMIA 423

Isto que se lê no Livro dos Assentos dm Sessões do Conselho da 5.° Que a duração de qualquer dos Cursos de Engenharia fosse
Academia Politécnica de 1881-1887, não se harmoniza, quanto a datas, de seis anos, sendo os quatro primeiros destinados ao estudo das ciên-
com o que afirma o Livro das actas das sessões das comissões nomea- cias gerais e constituindo assim uma Escola Preparatória ; e que os
das em Conselho Académico de 1878-1885 (!), do qual consta que a dois últimos constituíssem escolas especiais de engenharia, sendo des-
21 de Julho deste último ano retiniram os vogais da comissão nomeada tinados ao ensino das Ciências Industriais, particulares à habilitação em
«para proceder à revisão dos programas dos cursos legais da Acade- cada nm dos três ramos de engenharia adoptados;
mia», comissão composta justamente pelos mesmos lentes que o Con- 6.° Que o Curso Superior do Comércio fosse de três anos ; e as
selho só nomearia no dia seguinte ! — a acreditar-se na exactidão do habilitações exigidas para a matrícula nesse curso, bem como as garan-
livro anteriormente citado. tias oferecidas aos alunos, tendo a carta do respectivo curso, fossem as
Em 27 de Julho, estando reunida a dita ('omissão, foram eleitos que se acham consignadas na carta de lei de 6 de Março de 1884,
Presidente o Conselheiro Adriano Machado, vogais os lentes Gomes relativa ao Curso Superior.do Comércio no Instituto Industrial e Co-
Teixeira, Roberto Mendes e Guilherme Correia, e relator o lente Fer- mercial de Lisboa ;
reira da Silva. Como a atenção do Conselho Académico fora cha- 7." Qne usando da atribuição concedida pela carta de lei de 21
mado, havia mais dum mês, para o assunto, e todos os vogais da de Julho de 1885, artigo 1." § 1.°, se organizassem os programas do
Comissão já se achavam preparados para esto trabalho, foi resolvido Curso Preparatório para a Escola do Exército com a mesma duração
que no dia imediato, 28 de Julho, o relator apresentasse os novos pro- e sob as mesmas bases que os correspondentes programas da Escola
gramas a propor e o respectivo relatório ('). Politécnica de Lisboa e da Universidade;
Assim se fez. No dia seguinte, Ferreira da Silva leu a sua expo- 8." Que nos programas figurasse a obrigação de os alunos exe-
sição e, de acordo com ela, foi aprovado por unanimidade : cutarem exercícios e trabalhos práticos fora das horas das aulas, como
1." Que os cursos legais da Academia, que devem ocupar o pri- já era preceituado no D. regulamentar de 2 de Junho de 1873;
primeiro lugar no seu plano de estudos, são os de Engenheiro Civil e 9." Que os projectos de construções, de máquinas, etc., e os exer-
o Curso Superior de Comércio ; cícios de geometria descritiva, feitos pelos alunos, fossem sujeitos à
2.° Que se não mencionassem nos programas os cursos de ofi- apreciação de um júri especial e julgados por forma idêntica à estabe-
ciais de marinha, pilotos, directores de fábricas, agricultores e artis- lecida para os cursos teóricos.
tas, referidos no artigo 155 do Decreto de 13 de Janeiro de 1837, por Seguidamente foram lidos o programa geral das 18 cadeiras, que,
se não poderem considerar, em todo o rigor, como legais, em face das segundo a mesma lei de 21 de Julho de 1885, constituiriam o quadro
medidas legislativas posteriores ao citado decreto de 1837, e que tem da Academia, e o projecto de programa dos seus cursos; e depois de
modificado profundamente a instrução profissional nos seus diversos larga discussão, em que tomaram parte todos os membros da comissão,
ramos ; assentou-se apresentar ao conselho os programas elaborados com o res-
pectivo relatório justificativo.
3.° Que se atendesse à organização dos programas dos Cursos
Preparatórios para a Escola do Exército, Escola Naval, Escolas Mé- Neste Relatório a Comissão começava por Be congratular «por
dico-Cirúrgicas e Escola de Farmácia, considerados pelas leis vigentes poder apresentar um Projecto de Programa dos Cursos Académicos,
como cursos legais da Academia ; que corresponde ao pensamento altamente civilizador que ditou a cria-
4.° Que no Curso de Engenharia Civil houvesse as três divisões ção desta Academia pelo Dec. de 13 de Janeiro de 1837, destinando-a
ou especialidades de Engenheiros de Obra» Piihlirns, Engenheiros de especialmente ao derramamento e ensino das ciências industriais».
Minas e Engenheiros Industriais; E acrescentava: — «Agora que estão realizadas a maior parte das aspi-
rações do Conselho Académico, cumpre a Comissão um dever consi-
gnando o seu reconhecimento ao Governo por ter solicitamente coope-
O J 7
C) Id Ils. 6 j .
424 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO POMO

A NOVA FASE DA ACADEMIA 425

rado para que vingasse uma medida legislativa que não só redunda em
proveito e crédito do estabelecimento a que pertencem os abaixo assi- A 15 de Setembro o Diário <h> (iovêrno publicava finalmente o
nados, como também constitui um grande passo dado para a boa orga- . de reorganização dos cursos legais da Academia:
nização da nossa instrução superior, satisfazendo a uma instante ne-
cessidade pública». Tomando em consideração as propostas que ã minha real pre-
sença fez subir o Conselho da Academia Politécnica do Porto, para
Expunham-se em seguida e fundamentavam-se largamente ideas
execução do disposto noa artigos l.o e 2.° da carta de lei de 21 de
de nós já conhecidas, por serem as das bases aprovadas em 28 de Julho do corrente ano : e
Julho que atrás reproduzimos, e segundo as quais a Academia fica- Coníormando-me com o parecer da secção permanente do Con-
ria representando a Escola Central Portuguesa, «análoga pela organi- selho Superior de Instrução Pública :
zação a tantos outros institutos similares existentes no estranjeiro,
especialmente as escolas de engenharia dearteB e manufacturas e de Hei por bem decretar o seguinte :

minas de Gand, Liège, Louvain e Bruxelas, na Bélgica; e à Escola


Artigo l.« O ensino da Academia Politécnica do Porto com-
Politécnica do Rio de Janeiro». preende as cadeiras, disciplinas e lições seguintes:
Ao terminar, o Relatório diz:— «Confessando o alcance da reorga-
nização dada agora à Academia, a Comissão, entretanto, ousa esperar 1.» Cadeira.—Geometria analítica; álgebra superior: trigonometria
esférica. (3 lições semanais).
que o Governo atenderá às necessidades mais instantes com que ainda
2." Cadeira.— Cálculo diferencial e integral ; cálculo das diferenças
fica lutando este estabelecimento. A criação de repetidores privativos e das variações. (3 lições semanais).
de cada Cadeira ou grupos de Cadeiras análogas, a de alguns lugares 3.» Cadeira— Mecânica racional ; cinemática. (3 lições semanais).
de preparadores, chefes de trabalhos e conservadores ; o aumento de 4.a Cadeira.— Geometria descritiva :
dotação dos diversos estabelecimentos académicos; a melhor remune- 1.» parle — Geometria descritiva e projectiva ; grafo-estática.
ração do seu pessoal, a criação de algumas novas cadeiras, que permi- (3 lições semanais).
2 . ' p a r t e — Aplicações de geometria descritiva. (1 lição se-
tam dar maior desenvolvimento a assuntos especiais a certos cursos,
manal)
etc., tais parecem ser os pontos sobre os quais o governo terá a pro- 5.» Cadeira.— Astronomia e geodesia:
videnciar para que este estabelecimento corresponda perfeitamente ao 1.« parle — Astronomia e geodesia. (3 lições semanais).
fim da sua criação» (1). 2.a parte — Topografia. (1 lição semanal).
G.a Cadeira.— Física :
Em 29 de Julho de 1885 reuniu o Conselho Académico para dis-
l.s parto — Kisica geral. (3 lições semanais).
cutir os trabalhos da Comissão. Ferreira da Silva leu não só a segunda 2.> parle — Física industrial. 11 lição semanal).
acta da Comissão referida, onde vêm expressas as bases que acima 7.» Cadeira.— Química inorgânica :
ficam transcritas, mas também o Relatório. Aprovada, depois de largo 1.» parte — Química inorgânica geral. (3 lições semanais).
debate, a mudança de numeração das Cadeiras, entrou em discussão 2.* parte — Química inorgânica industrial. (I lição semanal).
o Programa Geral elaborado, o que ocupou não só essa como a ses- 8.» Cadeira.— Química orgânica e analítica:
1." parte — Química orgânica geral e biologia. (2 lições se-
são de 30 de Julho, findo o que foi resolvido enviar tudo sem de-
manais).
mora ao Conselho Superior de Instrução Pública (2). 2.» parte — Química analítica. (I lição semanal).
3.* parle — Química orgânica industrial. (1 lição semanal).
9.» Cadeira.— Mineralogia ; paleontologia e geologia. (3 lições se-
manais).
10.» Cadeira— Botânica:
(') J-7, fiY 68 v.o e seg. An. de 85.86, pájj líjáji. 1.» parte — Botânica. (3 lições semanais).
Cl J-6, Si. 125-13-
2." parte — Botânica industrial. Matérias primas de origem
vegetal. (1 lição semanal).
A Ni IVA FASE DA ACADEMIA 427
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLI1ÉCNICA DO PORTO

Art. 2,o Haverá na Academia Politécnica cursos especiais e


11 a Cadeira,— Zoologia: cursos preparatórios.
1.» parte — Zoologia. (3 lições semanais).
2.* parle — Zoologia industrial. Matérias primas de origem
§ 1.° Os cursos especiais s ã o :
animal, (1 lição semanal).
1. Curso de engenheiros civis, de obras públicas, de minas
2 » Cadeira.— Resistência dos materiais e estabilidade das cons-
e industriais.
truções- (Materiais de conslrucção. Resistência dos materiais.
2. Curso de Comércio.
Grafo-estática aplicada. Processos g e r a i s de construção).
§ 2.° Os cursos preparatórios s ã o :
(3 lições semanais).
1. Para a Escola do Exército, oficiais do estado maior, ofi-
13 » Cadeira.— Hidráulica e máquinas, curso bienal.
ciais de engenharia militar engenharia civil e oficiais
1.° ano — Hidráulica. Máquinas em geral. Máquinas hidráu-
de artelharia.
licas. (3 lições semanais).
2. Para a Escola Naval, oficiais de marinha, engenheiros
2." ano—Termo-dinàmica ; máquinas térmicas Motores elé-
construtores navais.
ctricos. Máquinas diversas. Construção de máquinas.
3. Para as Escolas Médico-Cirúrgicas.
(3 lições semanais).
4. Para a Escola de Farmácia.
14.* Cadeira.— Construções e vias de comunicação, curso bienal.
§ 3.° Ficam suprimidos lodos os mais cursos até agora pro-
1." ano — Edifícios. Abastecimento de água e esgotos. Hi-
fessados na Academia Politécnica.
dráulica agrícola. Rios e canais. Portos de mar e faróis.
(3 lições semanais)
Art. 3.o Os cursos de que trata o artigo antecedente far-se-ão
2.» ano — Estradas. Cominhos de ferro. Pontes. (3 lições
.tegundo os quadros seguintes:
semanais).
15 * Cadeira— Montanística e docimasia, curso bienal.
l.o ano — 1.* parte— Docimasia. (1 lição semanal). CURSO UE E N G E N H E I R O S CIVtS UE O B R A S PÚBLICAS

2.* parte — Metalurgia. (2 lições semanais).


2.° ano — Arte de minas. (3 lições semanais) 1 « ano.— 1. Geometria analítica; álgebra superior; trigonometria
16» Cadeira.—Economia politica Estatística. Princípios de direito esférica.
público, administrativo e comercial. Legislação. 2. Química inorgânica geral.
1.* parte — Economia política Estatística. Princípios de 3. Desenho.
direito público, direito administrativo e comercial. (2 Exercícios de matemática,
lições semanais). Química prática.
2.» parte — Economia e legislação de obras públicas, de mi- i " ano — 1. Cálculo diferencial e integral ; cálculo das diferenças e
nas e industrial. (I lição semanal). das variações,
!7.» Cadeira.— Comércio, curso bienal. 2. Física geral.
1.° ano — 1.» parte — Cálculo comercial. Escrituração em 3 Química analítica.
geral e especialmente dos Bancos. (2 lições semanais). 4. Desenho.
2.» parte — Contabilidade industrial. (1 lição se- Exercícios de matemática.
manal). Física prática.
2.o ano — Economia comercial e geografia comercial. (3 li- Química prática.
ções semanais). A " ano.— 1. Mecânica racional ; cinemática.
18.» Cadeira. — Desenho. 2. Geometria descritiva (1 » parte).
M parte — Desenho de figura, paisagem e ornato. (3 lições 3. Economia politica. Estatística. Princípios de direito
semanais). público e direito administrativo.
2.* parte — Desenho de arquitelura e aguadas. (3 lições se- 4. Desenho.
manais). 5. Exercícios de geometria descritiva.
3.» parte — Desenho topográfico. Desenho de máquinas (es- 4 o ano.— 1. Astronomia e geodesia.
boços á vista acompanhados de cotas, para reduzir a de- 2. Geometria descritiva (2.' parte).
senho geométrico) (3 lições semanais).
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A NOVA FASE DA ACADEMIA 420

3. Mineralogia; paleontologia e geologia, 4. Economia política. Estatística, Princípios de direito


4. Botânica. público e direito administrativo.
6. Exercícios de geometria descritiva. 5. Desenho.
Mineralogia prática. 6. Exercícios de Geometria descritiva.
Excursões geológicas. Química prática.
5.0 ano.—1. Topografia. 4 u ano.— 1. Geometria descritiva ( 2 a parte).
2. Resistência dos materiais e estabilidade das constru- 2. Mineralogia, paleontologia e geologia.
ções, 3. RotAnica.
3. Hidráulica e máquinas, 1.» ou 2.° ano. 4. Zoologia.
4. Construções e vias de comunicação, l.o ou 2.° ano. õ. Exercícios de geometria descritiva.
5. Projectos de construções e de máquinas. Mineralogia prática.
Exercícios práticos de topografia. Excursões geológicas.
Missões. 5.° ano.— 1. Resistência dos materiais e estabilidade das construções.
6 ° ano.—1. Hidráulica e máquinas, |.« ou 2 n ano. 2. Hidráulica e máquinas, 1.° ou 2.° ano.
2. Construção e vias de comunicação, 2.° nu I ° ano. 3. Química inorgânica industrial.
3. Economia e legislação de obras públicas, de minas e 4. Botânica industrial. Matérias primas de origem vegetal
industrial. 5. Contabilidade industrial (neste ano ou no 6.o).
4 Projecto de construções e de máquinas. 6. Projectos relativos a máquinas e a química industrial.
Missões. Missões.
6.° ano.— 1. Hidráulica e máquinas, 2 ° ou 1.» ano.
C O B S O DE E N G E N H E M O S CIVI8 DK MINAS 2. Química orgânica industrial.
3. Física industrial,
l.o, 2.°, 3.° e -i.o ano —Como o de engenheiros civis de obras pú- 4. Zoologia industrial Matérias primas de origem animal.
blicas. 5. Economia e legislação de obras públicas, de minas e
f).° ano.— 1, Topografia. industrial.
2 Resistência dos materiais e estabilidade das constru- 6. Contabilidade industrial (neste ano ou no 5.°).
ções. 7. Projectos relativos a máquinas, e a física e química in-
3. Hidráulica e máquinas, l.o ou 2.° ano. dustrial.
4. Montanistica e docimasia, l.s ou 2.° ano Missões.
5. Projecto de máquinas e de montanistica.
Exercícios práticos de topografia. CURSO DE COMÉRCIO
Missões.
6 ° ano.—1. Hidráulica o máquinas 2.» ou i.« ano. J.n ano.—1. Física geral.
2 Montanistica e docimasia, 2.° ou 1.« ano. 2. Química inorgânica geral.
3. Economia e legislação oe obras públicas, de minas e Física prática, especialmente trabalho com o micros-
industrial. cópio.
4. Projectos de máquinas e de montanistica Química prática.
Exercícios de docimasia. 2.° ano. — 1 . Comércio, l.o ou 2.° ano.
Missões. 2. Botânica industrial. Matérias primas do origem vegetal.
3. Química analítica.
CURSO DE E N 0 K N H E 1 R 0 S CIVIS INDUSTRIAIS Química prática.
3.o ano.— I, Comércio, 2.° ou 1.° ano.
I. 0 e 2.o ano,—Como o de engenheiros civis de obras públicas. 2. Economia politica. Estatística. Princípios de direito
3.° ano — I. Mecânica racional; cinemática. público, direito administrativo e comercial.
2. Geometria descritiva (l.a parte). 3. Zoologia industrial. Matérias primas de origem animal.
3. Química orgânica e biológica. 4. Análise química comercial.
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÓK TO 431
A NOVA F A S E DA ACADEMIA

CURSOS PREPARATÓRIOS
hl Para engenheiros construclores navais :
I — C urso preparatório fiara a Escola do Exército l . ° a n o — 1. Geometria analítica; álgebra superior; trigonometria
esférica
a) Para oficiais do estado maior e de engenharia militar; e
para engenharia civil. 2. Química inorgânica geral.
3. Desenho.
l.o ano.— 1. Geometria analítica ; álgebra superior ; trigonometria Exercícios de matemática.
esférica Quimica prática.
2. Quimica inorgânica geral 2." a n o . — 1 . Cálculo diferencial e integral; cálculo das diferenças e
3. Desenho. das variações.
Exercícios de matemática. 2. Geometria descritiva (l.« parte)
Quimica prálica. 3. Física geral
2.o ano.— 1. Cálculo diferencial e integral ; cáleulo das diferenças e 4. Desenho.
das variações. 5. Exercícios de geometria descritiva
2. Física geral. Física prática.
3. Quimica analítica. 3." uno.—1. Mecânica racional; cinemática.
4. Desenho. 2. Botânica.
Exercícios de matemática. 3. Desenho.
Física prálica.
Química prática Ill — C urso preparatório para as Escolas Midico­
C irurgicas
3,° ano.— 1. Mecânica racional e cinemática­
Física geral. Física prática.
2. Geometria descritiva (1 ■' parte).
Quimica inorgânica geral. Química prálica.
3. Economia politica. Estatística. Princípios de direito
Química orgânica, biológica e analítica. Química prá­
público, direito administrativo.
tica.
4. Desenho.
Zoologia.
5. Exercícios de geometria descritiva.
Botânica.
4." ano,— 1. Astronomia e geodesia.
2. Geometria descritiva (2.a parte). IV ­ C urso preparatório para a Escola de Farmácia nas
3. Mineralogia ; paleontologia e geologia. Escolas Mêdico­
C irúrgicas
4. Botânica.
5. Exercícios de geometria descritiva. Quimica inorgânica geral. Quimica prática. Quimica
Mineralogia prática. orgânica, biológica e analítica. Química prática.
Excursões geológicas. Botânica.
b) Para oficiais de artelharia. Art. 4­° Continua em vigor toda a legislação relativa ft Acade­
Os 1res primeiros anos do curso preparatório para estado maior mia Politécnica do Porto, que não íôr contrária ás disposições do
e engenharia. presente Decreto.

II — C ursos preparatórios para a Escola Naval O Presidente do Conselho de Ministros, Ministro e Secretário
de Estado dos Negócios da Guerra, e Interino dos das Obra» Públi­
a) Para oficiais de marinha; cas, Comércio e Indústria, e o Ministro e Secretário de Estado dos
1. Geometria analítica; álgebra superior; trigonometria Negócios do Beino, assim o tenham entendido e foçam executar.
esférica. Paço da Ajuda, em 10 de Setembro de 1885.— REI ­ António Maria
2. Física geral. de Fontes Pereira de Melo ­ Augusto C isar Barjona de Freitas C>.
Exercícios de matemática.
Física prática. (') Diário do Governo, n.o I I I , de 21 de Setembro de 1885.
A NOVA FASE DA ACADEMIA 433
433 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÔR

Outro Decreto, pouco mais dum mès depois (1). distribuiu pelas
Como se vê, por esta reorganização de programas em vez dos
novas cadeiras restantes os lentes proprietários Dr. Sales Cardoso.
cursos de engenheiros civis de minas, de pontes e estradas, e geógrafos (1)
passou a haver: Silva Cardoso, Cons.™ Adriano Machado, Rodrigues de Freitas,
Dr. Adriano de Paiva, Azevedo Albuquerque, Ferreira da Silva, Terra
Viana, Dr. Wenceslau de Lima, Dr. Gomes Teixeira, Roberto Mendes
I Curso de engenheiros civis de ohms públicas ;
I I — Curso de engenheiros civis de minus ; e Luiz Woodhouse (2). Como Adriano Machado, colocado então na
16." Cad. (Economia política), tivesse obtido a jubilaçâo, foi reger essa
III Curso de engenheiros civis industriais.
disciplina António Alexandre de Oliveira Lobo (s).
Gomes Teixeira, que tinha sido nomeado lente proprietário da
Desapareceram os cursos de Directores de Fábricas, Agricultores,
Artistas e Pilotos, mas continuaram o Curso de Comércio e os quatro
cursos preparatórios:

I — Para a Escola do Exército


a) Para oficiais de estado maior e de engenharia mi-
litar ; e para engenharia civil ;
b) Para oficiais de artelharia.
I I — Para a Escola Naval
a) Para oficiais de Marinha.
b) Para engenheiros construtores navais.
I I I ~~ Para as Escolas Mêdico-Cirúrgints.
r V — Para a Escola de Farmácia nas Escolas Méáico-Cirúrgicas.

A mudança da numeração das Cadeiras, e a nova distribuição das


matérias por cada uma delas, determinaram a necessidade de se pro-
ceder a uma nova arrumação do pessoal docente. Já dissemos (*) quais
os lentes que regeram as diferentes cadeiras em 1885-86, mas falta ALUNOS DA POLITÉCNICA, QUE TERMINARAM OS SEUS CURSOS EM 1880-81,
dizer como é que foram providos naqueles lugares. JUNTAMENTE COM ALGUNS PROFESSORES

Por Dec. de 14 de Agosto de 1885 o Dr. José Diogo Arroio,


lente proprietário da cad. de zoologia (antiga 7." Cad.) foi colocado na antiga 3." Cad. (Geometria Descritiva) por Dec. de 15 de Maio de
bova 7.* cad. (Química inorgânica); e Manuel Amândio Gonçalves, lente 1884, foi colocada na 2." Cadeira da nova reforma (Cálculo) (*).
substituto, (s) foi promovido à propriedade da Cad. de Zoologia (nova
íi.*) n (') Decreto de 13 de Setembro de 1885.
(») An. de 87-88, pág. 79-80.
(') Vida retro, pág. 376. Até 1873 houvera ainda o» cursos de engenheiros civis (*) An. de 99-900, pág. 4. O Dr. Aleiandre Lobo, que se jubilou em 1888, foi
construtores de navios. Vide pág. 344345 e 184. nomeado lente substituto das antigas II a e n . a Cad. (por Dec. de 10 de Fevereiro de 1869
(*) Vide retro pág. 416-417. e C. R. 3 de Ag. 69) e provido vitaliciamente no mesmo lugar por Dec. de 4 de Out. 71
(*) Era lente substituto das antigas Cad. 6.» (Mineralogia), J.A (Zoologia), S.a (Fi- e C. R. de $ de Março de 72.
lio), o.» (Química) e 10.» (Botânica) Anuário da Fac. de Sc. de 1911-1914, pág. 55. {*) Anuário da Fac. de Sc, 1911-1914, pag. 48.
(') An. de 87.88, pág. 79.
mBÊÊ^mm

434 MEMÓHIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA Do PORTO


A NOVA FASE DA ACADHMFA 435

Woodhouse era lente proprietário da antiga 2." Cad. (Álgebra


Guilherme Correia continuou, como antes, lente substituto de
Superior); foi agora colocado na L* (geometria analítica, álgebra su-
desenho.
perior, etc.) (1).
Como não houvesse proprietários para a 4 / Cad. (Geometria
Albuquerque fora nomeado em 1876 lente proprietário da antiga
Descritiva), 5 / (Astronomia), 14/ (Construções) e 1 5 / (Montanística),
1.* Cad. (Arimética, Algebra Elementar, Geometria plana, etc.) ; regeu
logo foram abertos concursos para essas vagas, sendo os programas
Mecânica desde 1878-79 ('), provavelmente por estar ausente em Lis-
publicados no Diário do Governo de 17 de Agosto de 1885 (1).
boa o proprietário Magalbãis Aguiar, e em 1885 efectivamente passou
Concorreram dois novos professores : Duarte Leite Pereira da
a ser o proprietário da nova 3." Cad. (Mecânica racional ; cinemática).
Silva, que foi nomeado por Dec. de 4 de Março de 1886 lente pro-
Adriano de Paiva, proprietário da antiga 9." Cad. (Química), foi prietário da 4 / Cad. (*); e Manuel Rodrigues de Miranda Júnior,
colocado na nova fi.a Cad. (Física). que pelo mesmo Dec. foi nomeado proprietário da 1 5 / Cad. (3).
Ferreira da Silva, proprietário da antiga 8 / Cad. (Física), e por
Pouco depois realizaram-se concursos para duas das très vagas
espaço de pouco mais dum ano da 9." (Química), foi colocado ha nova
de substitutos, sendo nomeados, por Dec. de 7 de Abril de 1887,
8.* Cad. (Química orgânica e analítica) (s).
Aarão Ferreira de Lacerda lente substituto da Secção de Filosofia (4),
Wenceslau de Lima, lente da antiga 6." Cadeira (Mineralogia), e Vitorino Teixeira Laranjeira, substituto de Matemática (5), vindo
passou a lente da nova 9." Cad. (Mineralogia, também). este a ser promovido a proprietário da 14/ Cad. (Construções) por
Sales Gomes Cardoso, lente da antiga 10,° Cad. (Botânica, etc.), Dec. de 18 de Agosto seguinte (6), e Aarão de Lacerda a proprietário
ficou como lente da 10." (Botânica, também). da 1 1 / Cad. (Zoologia) por Dec. de (i de Fevereiro de 1890 (7).
Roberto Mendes, lente proprietário da antiga 13." Cad. (Mecâ-
Como Duarte Leite, por Dee. de 14 de Fevereiro de 1889, fosse
nica), foi colocado na nova 12." (Resistência de materiais).
colocado na 5 / Cad. (Astronomia) (¾ deixou vaga a 4/, para a qual
Terra Viana, lente proprietário" da antiga 5.a Cad. (Trigonome- foi nomeado por Dec. de 21 de Feveçeiro de 1891 José AlveB Boni-
tria esférica, astronomia, etc.), foi colocado na nova 1 3 / (Hidráulica). fácio (£). Este mesmo Dec. nomeou o Dr. José Pedro Teixeira lente
Rodrigues de Freitas, lente proprietário da antiga 1 1 / Cad. (Co- substituto da Secção de Matemática (l0), vago por haver sido promo-
mércio), foi colocado na nova 1 7 / Cad. (Comércio). vido a proprietário Vitorino Laranjeira. A promoção de Aarão de
Francisco da Silva Cardoso, lente proprietário da antiga 4 / Cad. Lacerda abriu uma vaga de substituto de Filosofia, para a qual foi
itíesenho), foi colocado na nova 1 8 / (Desenho, também). nomeado Francisco de Paula de Azeredo, por Dec. de 6 de Junho
de 1895 (").
C> Id- 49
ft An. 1888 89, pág. 58.
I3) Nos anos lectivos de 1882-83 e 8 3-"4, «em consequência do grande número {') An. de 85-86, pág 1b.
de alunos» que nesses anos se matricularam nas 8.a e 0 1 cad. (Física e Química), e por |'l Anuário da Fac. de Sc, cil. págs. 49.
falta de espaço nas salas, . foi necessário desdobrá-las em dois cursas, o que com autori- (:1) Id. págs. 59 Este Prof, que era lente proprietário, nu Instituto Industrial,
zação superior se realizou, sendo os alunos de cada uma destas cadeiras separados em já regera a 6.» Cad. na Academia, por ausência de Wenceslau de I.ima em 1883 84 (Vide
duas turmas, e ambas elas presididas e preleccionadas pelo lente respectivo» {An. de An. de 84-85, pág. 14).
83-84, pág 11-12, e de 84-85, pág. 12) . Daqui resultou (em 1883-84) ter o lente da (') Anuário da Fac de Sc, cit. pág. 5455.
9» Cad. o sr. dr. Ferreira da Silva, de preleccionar três Cadeiras durante todo o ano, ft Id pág. 59.
sendo duas às turmas de Química mineral, e uma í de Química Orgânica e Análise Quí- ft Id. ib.
mica aos alunos do 2.0 ano desta disciplina », desdobrada em ciirso bienal por proposta (') Id. pág. 55. Por Dec. de 19 de Main de 1910 (Ib.) foi transferido para a
do lente Ferreira da Silva em 1883, aprovada pelo Ministro, que mandou «louvar o lente SO.» Cad. (Mineralogia e Geologia), criada em 1901, Como veremos.
mencionado por se prestar a reger gratuitamente os dois cursos no mesmo ano» {An. de (") Id. pág. 49. Por Dec. de 8 de Dez. de 19IO foi transfetido para a 3.» Cad. (Ib.).
83-84, pág. 317-318 e 11). ft Id. pág. 49.
('") Id. pág. 49-50.
(") Id. pág. 51.
436 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

O luga» de lente substituto de Comércio nunca se preencheu.


Em vez desse, foi provido um outro que na reforma de 1885 não
existia : o de substituto de Economia Política : para êle foi nomeado
Roberto Alves de Sousa Ferreira (Dec. de 14 de Julho de 1897) (1).
Promovido este professor, menos de um mês depois (*), a proprietário
da mesma cadeira, a sua vaga foi ocupada por Bento de Sousa Car-
queja, por Dec. de 5 de Maio de 1898 (3).
Para a 18." (Desenho) foi nomeado António da Silva lente substi-
tuto, por Dec. de 4 de Maio de 1894, sendo promovido a lente proprie-
tário da mesma Cadeira por Dec. de 23 de Junho do mesmo ano (*).
Convém dizer, antes de passarmos adiante, que Terra Viana e
Roberto Mendes em 1889 trocaram mutuamente de Cadeiras, Bendo o
primeiro colocado na 12.' (Resistência de materiais) e o segundo na
13.* (Hidráulica e máquinas hidráulicas) (6).

O Dec. que reorganizou os cursog legais da Academia foi publi-


cado, como dissemos (8), depois do Conselho Académico ter enviado
ao Conselho Superior de Instrução Pública os novos programas de-
senvolvidos de todas as Cadeiras O que, pela sua extensão, nos é im-
possível reproduzir aqui; podem ver-se, por ex., no Annuario da
Academia Politécnica de 1885-86, de pág. 53 a 132.

Parece-nos que nâb virá fora de propósito — pois completa este


capítulo — deixar indicado qual o regime da Academia, nesta época,
quanto a exames e actos, e a admissão dos alunos.
Os exames eram de duas ordens : exames de freqiiência e exames
finais ou actos; tanto uns como outros eram públicos.
Havia exames de frequência em todas as Cadeiras, excepto na
de desenho; sendo dois em cada Cadeira, um oral e outro escrito, de
ti " "A J^
harmonia com o Dec. de 2 de Outubro de 1879 (8).
Assinatura <L<>K Professores e Secretário da Academia ria acta da Sessão do Conselho
(') Anuário da Fac. de Sc, cit. pág. 5 7 . de 17 de Abril de 1894.
(*) I d . ib. P o r Dec. d e 4 d e Àgôtio d e 1897.
(•) I d . pág. 5 8 .
(*) An. d e 1901-902, pág. 8.
(*) Anuário da Fac. de Se. cit. pág. 5 9 . Dec. d e 15 d e Janeiro de 1889.
(•) Vide retro pág. 4 * 4 .
O An. de 85-86, pág. 16.
(•) An. d e 85-89, pág. 3 1 .
A NOVA FASE DA ACADEMIA 437

Os irames finais ou actos eram «regulados pelo Dec. de 6 de


Novembro de 1839 e por várias resoluções do Conselho Académico,
particularmente pelas que foram tomadas em 6 de Novembro de
1873» ('), como já oportunamente referimos (*). Sabemos que na prá-
tica não se observaram sempre essas disposições : durante bastantes
anos as matrículas fizeram-se sem designação de cursos, nem de clas-
ses, ou divisões. Depois de 1871-72 passaram a distinguir-se «na
matrícula os alunos em duas classes 1.« ou 2.« classe, segundo o
maior ou menor número de preparatórios que se exigiam para a ma-
trícula nos cursos em que o aluno se matriculava».

Conforme se lê num artigo explicativo deste mecanismo, publicado


uo Annuarío da Academia Polytechnica de 1885-86, «esta distinção
correspondia, em relação aos seus efeitos, à dÎBtinçâo entre os alunos
voluntários e ordinários da Universidade, porque permitia a matrícula
nas cadeiras da Academia na 2." classe com menor número de prepa-
ratórios do que na 1.* ; aqui, porém, por meio de declaração de se se-
guir um curso dos chamados menores, na Universidade por decla-
ração de classe».
Noa actos conservou-so a antiga distinção de aprovação com qua-
lificação maior e com qualificação menor.
Os alunos aprovados pela 2." classe com qualificação maior podiam
transitar para a 1.' classe, sem serem obrigados a repetir os actos, mas
precisavam mostrar que tinham «os preparatórios exigidos para a ma-
trícula nessa classe. (Veja-se o a r t 2." e seu § do Decreto de 30 de
Abril de 1863)».
Os alunos de 2." classe, aprovados com qualificação menor, careciam
«de repetir os actos e serem aprovados com qualificação maior, para
poderem passar para 1." classe, uma vez que tivessem os preparató-
rios exigidos. A aprovação com qualificação menor correspondia à
aprovação na classe de obrigado na Universidade».
Os actos, à excepção dos da cadeira de desenho, constavam de pro-
vas orais e eram feitos por cadeiras. Os alunos tiravam ponto com
antecipação de 24 horas, e eram interrogados por doÍB lentes. A mesa
examinadora era constituída, além dos dois lentes arguentes, por um

(') Id. ib.


(') Vide relro pág. 2 0 8 - î l j e 37b.
438 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÓKTO
A NOVA FASE DA ACADEMIA 439

presidente que devia ser o lente da cadeira ('). O conselho poderia,


porém, resolver como achasse conveniente {*), neste e noutros pontos primeira matrícula nos cursos especiais e no preparatório para a Es-
«Em todos os actos das diversas cadeiras devia entrar em conta cola do Exército, o candidato tinha de apresentar certidões de apro-
a informação vocal dada pelo lente da cadeira respectiva, previamente vação nas seguintes disciplinas, ou nas equivalentes, segundo a legis-
ao acto, sobre a frequência e sinais de aproveitamento evidenciados no lação anterior (Dec. de 14 de Outubro de 1S80):
decurso do ano lectivo». 1," Língua portuguesa (1.* e 2." partes)
«O lente presidente do acto podia deixar suspenso até o dia se- 'J.' Língua francesa (1.° e 2.* partes)
guinte a reprovação de um estudante que, tendo durante a sua fre- 3." Arimética, geometria plana, princípios de álgebra e escritura-
quência dado provas não equívocas do seu talento e aplicação, desme- ção (l. a , 2.\ 3.* e 4.* partes)
ceresse este honroso conceito no acto público, e propor secretamente 4." Álgebra, geometria no espaço e trigonometria (1." e 2.° partes)
aos outros lentes o seu conceito, para de comum acordo determinarem 5.a Elementos de Física, Química e Introdução à História Natu-
que o estudante se propuzesse e comparecesse com um exame privado, ral (l. a e 2.a partes)
no qual os referidos lentes, explorando os seus talentos e estudos, de- B.a Desenho (l. a , 2.a, 3.a e 4.a partes)
cidissem entre si com a aprovação ou reprovação (3)». 7.a Literatura nacional (l. a e 2.a partes)
«O aproveitamento dos alunos nas disciplinas da cadeira de dese- K.a Língua latina (1." e 2." partes)
nho era determinado por provas exclusivamente práticas que se davam 9." Filosofia racional e moral, e princípios de direito natural (1."
aos alurios num concurso geral, em conformidade com o programa do parte).
ensino (art 13.°). Os modelos ou desenhos eram distribuídos aos alu- 10." Geografia e cosmografia, História Universal e Pátria ( I " e
nos com antecipação de dois meses. Não havia exame oral». 2." partes)
«Os votos eram dados em escrutínio secreto por AA (aprovado) 11." Elementos de legislação civil, de direito público e adminis-
e RR (reprovado). Dois RR reprovavam j um R qualificava a aprova- trativo português e de economia política.
ção de pela maior parte. Havia, pois, a aprovação plena ou nemine dis- Se a matrícula fosse de aluno voluntário só se exigiam certidões
crepante; a aprovação pela maior parte ou simpliciter; e& reprovação*. das sete primeiras disciplinas acima referidas ; a matrícula no curso
O regulamento de 6 de Novembro de 1839, para o efeito da apro- preparatório para a Escola de Farmácia fazia-se mediante a apresen-
vação dos pontos e mais disposições do regulamento relativos aos exa- tação de certidões dos n.°" 1, 2, 3, 5, 7, S e 9, e para a frequência do
mes, agrupava as cadeiras que então constituíam o quadro da Academia Curso preparatório para a Escola do Exército era precisa licença do
em 4 secções: Matemática, Filosofia Natural, Comércio e Desenho Ministério da Guerra (1).
(art. 4.°, § 2.°)» (*). Esta divisão era ainda conservada. Os alunos admitidos por despacho da Directoria tinham de apre-
sentar no acto da assinatura da matrícula as guias de pagamento da
Para se matricularem, os estudantes deviam fazer requerimento respectiva propina no Cofre Central do Distrito do Pftrto (*).
em que além da naturalidade, freguesia e concelho, filiação paterna e Mais tarde, com a reforma da instrução secundária do Conse-
idade, declarassem os cursos que desejavam seguir. Tratando-se duma lheiro Jaime Moniz, o art° 137 do Dec. de 14 de Agosto de 1895
exigiu para a matrícula na Academia Politécnica a apresentação de
certidão do curso complementar dos liceus (9).
(') Decreto regulamentar de 6 de Novembro de 183g, art. lO.o,
(') Idem, art. »7.0,
(") Idem, art. I I (Anuário da Academia Politécnica do Parto, ano 1879-1880, (') l-t, fis. 138 v.o ediul de ÍZ de Setembro de 1885; e An. de 86-87, pág. 41-4».
pág. 228; Idem, ano 1878-1879, pág 169-170), (*) I-t, loc. cit.
(*| An. de 85-86, pág*. 35.36. Vide retro pág. 113. (") An. de 1901-902, pág. 26. Ver ih. as certidões de preparatórios que foram
então requeridas para a matrícula do* alunos do curso transitório.
XXIII

A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO

Na sessão solene de inauguração dos trabalhos escolares de 1886-


-1887, Gomes Teixeira, novo Director, afirmou em sen discurso que
«uma das maiores necessidades da nossa Academia, e para que deve-
mos chamar principalmente a atenção dos poderes superiores, é a con-
tinuação do edifício» {*).
As obras estavam completamente paralizadas desde 1883 ('), por-
que ainda não tinha sido possível remover para outro local o Colégio
dos OrfãoB.
Como já ficou dito (3), o Governo fora autorizado pelas Cortes,
em 19 de Junho de 1880, «a contratar com a Câmara Municipal do
Porto a expropriação das lojas existentes nos baixos do edifício da
Academia Politécnica», e que pertenciam ao referido Colégio. Nos
termos dessa Carta de Lei (*}, o preço das citadas expropriações seria
pago pela verba votada anualmente para as obras da Academia (5) ;
dessa verba estava posta de parte com esse destino, em Outubro de
1882, a quantia de cerca de três contos e quatrocentos mil reis, soma
que, em 1883, «por nova ordem superior, foi recolhida ao Tesouro
Publico» (6).

(*) An., de 86-87, P*g 8.


(*) An, de 83-84, pág. 16.
(") Vide tetro pág. 389.
(*) Desde já ae ressalva um lapso a págs. 393, em que, citando esta Lei, a apre-
sentámos: com data de 10 de Junho, quando deve ser íg de Junho, como disséramos a
págs, 389.
(*) Vide § 1.0 do Art.o 1.0 da Lei cit. in An. de 80-81, pág. 179. Vide também
retro págs. 393.
O An. de 83-84, pág. 16.
442 A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO MEMÓRIA HISTÓRICA l>A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO 443

Sob proposta do Prof. Ferreira da Silva, o Conselho Académico No ano lectivo seguinte (1886-87) as expropriações, finalmente,
pediu ao Presidente da Câmara do Porto uma relação dos preços por começaram.
que andavam arrendadas as lojas mencionadas ; vendo-se, da mesma Foram expropriadas nove das lojas que ocupavam a ala do Nascente,
relação, que talvez com a parte das verbas votadas no orçamento, e não sobre a rua e praça do Anjo (l), e duas do lado do Campo dos Mártires
gastas nos anos anteriores, se poderiam fazer algumas expropriações, da Pátria, e Cordoaria (*). Tratava-se ainda de obter autorização do
consultou-se em 1884 o Governo, para, na conformidade da Lei de Governo para se expropriarem mais algumas lojas e para se construir
19 de Junho de 1880, mandar organizar o processo para aquele uma sala para aulas (3). «Apropriou-se para sala de estudo e para
fimC). exercícios de Geometria Descritiva uma das velhas salas do edifício,
O Governo deve ter concedido a autorização pedida, visto que em do lado do Passeio da Graça», e procedia-se «à reparação da parte
14 de Julho de 1885 se celebrou um contrato provisório entre a Di- exterior do edifício do lado das lojas expropriadas, e do lado oeste,
rectoria da Academia e a Câmara para a expropriação de oito lojas do junto ao Gabinete de Física» (4).
lado da Rua do Anjo ; (') nesse ano pensava-se também em expropriar Nisto se estava quando, em princípios de 1887, o Ministro das
a loja n.° 4 da mesma rua, e as de n.°" 93 e 94 do Campo dos Márti- Obras Públicas sugeriu a idea de mudar a Escola Médica para o edi-
res da Pátria ts). fício da Academia, transferindo-se para o edifício daquela o Instituto
O Conselho Académico, pela mesma época, no seu desejo de Comercial e Industrial.
apressar a continuação e acabamento do edifício, nomeou «uma comis- A Academia, mandada ouvir pela Direcção Geral de Instrução
são, que ficou composta da das obras, podendo agregar a si as pessoas Pública, não rejeitou a ideia do Ministro (5), que já anteriormente orde-
que julgasse convenientes para de novo estudar o projecto organizado nara (6) o estudo dum ante-projecto para a instalação da Escola Médico-
pela Comissão nomeada por Portaria de 31 de Dezembro 1860, e apon- -Cirúrgica no edifício da Academia, em harmonia com certas e crite-
tando as leves alterações que, porventura, seja necessário fazer-lhe, riosas instruções (7).
apresentar, em desenvolvido relatório, as vantagens gerais que adviriam A elaboração desse trabalho foi confiada ao engenheiro Alfredo
da execução do referido projecto». Esse relatório, depois de estudado Soares, que, acometido de doença mortal, não pôde concluí-lo, deixando
e discutido pelo Conselho, seria publicado e distribuído profusamente, aliás «bem estudados delineamentos gerais» ; estes foram aproveitados
e ao mesmo tempo «enviado aos poderes públicos, acompanhado da pelo engenheiro António Ferreira de Araújo e Silva, o qual, — encarre-
competente representação do Conselho» (4). gado pelo Governo, em 25 de Agosto de 1898, de «apresentar com
Nesse inverno de 1884-85, o estado de ruína da única comunica- urgência o projecto da conclusão do edifício da Academia Politécnica
ção regular que havia entre a parte norte S sul do edifício agravou-se desta cidade, devendo indicar as empreitadas em que poderia ser
de tal modo que foi preciso demoli-la na sua quasi totalidade (5). Era subdividida a execução de todos os trabalhos », — veio a apresentar
urgentíssimo dar pronta solução à questão de remover o Colégio dos meses depois o seu I\ojecto de Conclusão do edifício da Academia
Órfãos para local aproprido, a-fim-de que as obras pudessem progredir.
Assim o fêz vêr ao Governo a Comissão das Obras, numa Represen- ('l Eram as lojas n.o i a 9, An. de 99-900, pág. 9. Vêr a planta térrea do
tação que então lhe dirigiu (6). Paço dos Estudos no Parto.
C\ Eram as lojas n.os 93 e 94. An de 9 9 - 9 0 0 , pág. 9.
('> An. de 8 4 - 8 5 , pág. 14. (s| An. cit pág. 9.
(') Aft. de 8 5 - 8 6 , pág. 1 1 , nota I. E r a m as lojas i, 2, 3, 5, b, 7, 8, 9. (*) An. de 8 6 - 8 7 pág- O-
(*» Id. ib. (6) J - 6 , fis. 185-186 v.o. Acta da Sessão do Cons. Académico, de 2 de Abril
(') An. de 85-86, pág, 21-22. de 1887.
(*t Ib., pág, 20, (8) Portaria de í l de Março de 1887. Cit. in An. de 9 0 1 - 9 0 1 , pág*. 115.
(7) Vide An. de 901-901 págs. 215-216.
(8| Id. íb.
444 A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO

Politécnica do Porto, acompanhado duma Memória descritiva datada


de 15 de Dezembro de 1898 {*). Nesse projecto prevê-se a instalação
da Escola Médica no edifício da Academia, juntamente com este esta-
belecimento, mas não se fala já do Instituto Industrial, Biblioteca
Pública e Academia de Belas Artes, que pelo Projeeto de 1863 ali
deviam ficar instalados também.
Desde o tempo das lutas civis, tinha-se adiantado muito pouco a

A ACADEMIA POLITÉCNICA EM l 8 ? 0 LADO SUL

construção das paredes e divisões internas do edifício. Porém, depois


de 1865, haviam-se completado «as paredes exteriores da fachada do
norte e do torreão do poente ; a parede exteíior a toda a altura do
lado do poente, e numa extensão de 24,m5 ; e uma pouco extensa parte
da fachada do sul, respeitante ao corpo central», (') tudo segundo o
plano de 1863. Como se vê faltava ainda uma parte considerável a

{*) An. cit. págs. 213-112 e a seguir 6 pranchas com plantas e alçados.
(') An. de QOI-901, pág. Î I 4
MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX> PORTO 445

executar das fachadas do edifício — considerável e dispendiosa « não


s<5 pela importância da mão de obra, como pela imposição de grande
volume de cantarias » (1).
Era preciso também construir enorme quantidade de comparti-
mentos variados, e remover um extraordinário volume de entulhos.
Segundo o orçamento elaborado, a despesa total da conclusão das
obras elevar-se-ia a 200.000$Q00 de réis, incluindo expropriações e admi-
nistração {') — pois que dentro das novas paredes do edifício encontra-
vam-se encravados ainda, além do Colégio dos Órfãos, com o seu
claustro e a sua Igreja, dez casas, que, do lado da Praça dos Voluntá-
rios da Rainha e em parte do lado poente, tinham por fachadas as da
Academia (*).
Foi por esta altura que um novo membro do corpo docente da
Politécnica começou a dedicar «todo o seu valimento» e a empregar
«toda a sua actividade na solução do assunto» : referimo-nos ao Prof.
Bento Carqueja, nomeado, como já ficou dito, a 5 de Maio de 1898.
Desperta entusiasmos, converte incrédulos, capta simpatias, aplana difi-
culdades e prepara o terreno para a realização do velho sonho da
Academia Politécnica do Porto.
Sobraça a pasta do Ministério das Obras Públicas um antigo
aluno daquele estabelecimento ; é presidente da Câmara Municipal do
Porto Wenceslau de Lima. O momento é único. Todas as vontades
convergem no mesmo desideratum. O Ministro das Obras Públicas
toma o caso a peito e consegue fazer aprovar pelo Parlamento o seu
JYojecto de Lei que D. Carlos converte na Carta dt Lei de 1 de
Agosto de 1899, do teor seguinte :

DOM CARLOS, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos


Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos súbditos,
que as Cortes Gerais decretaram e nós queremos a lei se-
guinte :
Artigo 1." É o governo autorisado a emitir até à im-
portância de 200.000$000 réis, obrigações do tipo de
lOOfOOO réis, vencendo o juro anual de 6 por cento e

(') Ib % P ág. * i 8 .
(*) Ib. pág. 220.
(") Ib. pág. a i ? .
A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO MEMÓRIA H l S T l W r A DA "^DEMIA POLITÉCNICA DO PORTO 447

amortisáveis em noventa e nove anos, sendo o produto ex- 1899.— E l - R E I , com rubrica e guarda.— José Luciano de
clusivamente destinado à conclusão das obras do edifício Castro •— Manuel Afonso de Espregueira — Elvino José
da Academia Politécnica do Porto, servindo de garantia de Sousa e Brito.— (Lugar do selo grande das armas reais).
os bens e fundos que a Academia administra. Carta de lei pela qual Vossa Magestade, tendo sancio-
§ único. O governo indemnizará" o Colégio dos Meni- nado o decreto das Cortes Gerais de 18 de Julho último,
nos Órfãos da Graça pelo edifício e igreja, que lhe per- que autoriza o Governo a emitir até à importância de
tencem, com a quantia de 30.000$000 réis. 200.000$000 réis, obrigações do tipo de 100$000 réis,
Art. 2." Ao serviço de juro e amortização deste em- vencendo o juro anual de ti por cento e amortisáveis, em
préstimo são atribuídas as seguintes verbas : noventa e nove anos, sendo o produto exclusivamente des-
L« A verba de 6.000$000 réis retirada da verba orça- tinado à conclusão do edifício da Academia Politécnica
mental, que se destina a edifícios públicos e com que o do Porto, servindo de garantia os bens e fundos que a
Governo contribuirá" anualmente para a conclusão do edi- Academia administra, o manda cumprir e guardar como
fício da Academia Politécnica do Porto. nele se contem pela forma retro declarada.
2." O subsídio de 4.0008000 réis que a Câmara Muni- Para Vossa Magestade vêr.— Francisco de Paula da
cipal do Porto resolveu destinar e aplicar ao acabamento Silva e Souto a fez (1).
do edifício da Academia.
3." O rendimento das lojas instaladas nos baixos da Logo que o Projecto desta Lei foi aprovado na Câmara dos Pa-
Academia e que por alguns anos poderão ser arrendadas» res, Elvino de Brito comunicou telegraficamente a notícia ao Director-
podendo esse r e n d i m e n t o calcular-se no mínimo de -interino da Academia, Conde de Campo-Bello, manifestando-se assim
2.500$000 réis anuais. mais uma vez os afectos que prendiam àquela escola «o antigo aluno
Art. 3." Fica o Governo autorizado pela presente lei laureado», e dando este «um motivo de mais estima ao grande ser-
a alienar o terreno e edifícios do Jardim Botânico na praça viço» que à mesma acabava de prestar — conforme afirmou Ferreira
do Duque de Beja, se assim o julgar conveniente aos inte- da Silva (*).
resses do estado. O Conselho da Academia, por proposta do mesmo lente, poucos
Art. 4.° As obras do acabamento do edifício da Aca- dias depois da aprovação do Projecto na Câmara dos Pares enviou
demia Politécnica serão realizadas, segundo a legislação mensagens de reconhecimento não só a Elvino de Brito — cujo nome
de obras públicas, por empreitadas parciais, conforme o o dito Conselho inscrevia com orgulho «ã frente dos beneméritos
projecto e orçamento aprovados peto Governo. deste instituto», entre cujos alunos mais queridos ficaria «tendo as
Art, 5.° Fica revogada a legislação em contrário. primícias que a sua benemerência, a sua dedicação, o seu amor para
Mandamos portanto a todas as autoridades, a quem com a Academia tem jus » (3), — mas também a José Luciano de
o conhecimento e execução da presente lei pertencer, que Castro, Presidente do Conselho de Ministros (*) ; — à Câmara Muni-
a cumpram e guardem e façam cumprir e guardar tão intei- cipal do Porto pela « maneira briosa e generosíssima » por que coope-
ramente como nela se contem.
O Presidente do Conselho de Ministros, Ministro e Se-
cretário de Estado dos negócios do Reino, e os Ministros (') Diário do Governo, n.° 176, de 8 de Agôslo de 189g.
(*) Moção de Ferreira da Silva na sessão extraordinária de 24 de Julho de 1899
e Secretários do Estado dos Negócios da Fazenda e das
[An. de 99-900, págs, i l l ) .
Obras Públicas, Comércio e Indústria, a façam imprimir, (») An. de 89-900 pág. 215.
publicar e correr. Dada no Paço, em 1 de Agosto de |4) Id. pág. »17.
448 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO 449

rou para a realização do grande melhoramento (') ; e ao Prof. Bento Em Agosto de 1905 determinou o Governo que esse estabeleci-
Carqueja « pela dedicação com que acompanhou este assunto em todas mento mudasse para o Palacete da Rua das Taipas, esquina de S. Mi-
as suae fases, concorrendo dessa forma e muito para a sua boa so- guel, e propriedade do Estado, onde, no ano anterior, se tinha insta-
lução» {*). lado a Escola dos Cegos do Porto; esta recebeu então ordem de des-
pejo e mudou para a Rua Ferreira Cardoso ('). Por motivos que não
Estava ganha a batalha ! apurámos, o Instituto conservou-se onde estava, só vindo a ser trans-
E já não era sem tempo ! ferido para o edifício da extinta Faculdade de Letras, na Rua do
Quási cem anos eram passados desde o início da construção do Breiner, em Janeiro de 1933 (l).
monumental edifício da Academia! É possível que uma das razões por que tanto custou à Academia
desembaraçar-se do Instituto tenha sido o facto do projecto elaborado
Faltava desalojar os Órfãos — o que logo se conseguiu — e fazer pelo engenheiro Alfredo Soares e concluído pelo engenheiro Araújo e
sair o Instituto Industrial e Comercial, empresa muito mais difícil. Silva, que destinava aposentos para instalação da Escola Médica no
que havia de demorar ainda trinta longos anos a realizar! (*) edifício da Academia, haver 8Ído feito, como dissemos, com o propó-

(') Id. pág. 119. A Câmara representara «pela conclusão do edifício, indicando tante do Porto, foi nomeado Par do Reino, graça concedida «em circunstâncias excepcio"
ai bem pernadas bases que serviram de fundamento à proposta de lei» — segundo Fer- nais, honrosas para a cidade do Porto e para a própria Câmara, que assim era distinguida
reira da Silva in sessão extraordinária, cit. ib. pig. 214. na pessoa do Senhor Presidente». Por isso a Câmara, em sessão de 8 de Novembro,
(*) Id. págs. 214 e 220. aprovou por aclamação um voto de congratulação pela honra concedida a Wenceslau de
(•) Em 13 de Setembro de 1900, Lima Júnior, Vice-Presidente da Câmara, apre- Lima, cujos dotes intelectuais e qualidades de carácter foram enaltecidas pelos Verea-
sentou em sessío municipal o projecto da construção dum edifício para o Colégio dos dores presentes á sessSo. (Id. fls. 109).
Or fios, aproveitando parte do antigo edifício do Seminário, ao Sul do Cemitério Orien- Nessa mesma sessSo Lima Júnior disse que em consequência do desenvolvimento
tal, e submeteu esse projecto i aprovação da Câmara, a fim de que, logo que íe fizesse das obras da Academia níío podia o Colégio dos Órfãos conservar.se por mais tempo onde
o respectivo acordo com o Governo sobre a forma de pagamento da quantia que Cie estava. Já havia uma casa em vista para instalação provisória do Colégio, sita na Rua
tinha de entregar para essa construção, se pudesse dar começo à obra, visto estarem já dos Mártires da Liberdade, propriedade de António Augusto Alves Guimarãis» ; (lb. id.
bastante desenvolvidas as obras para conclusão do edifício da Academia. [Livro ijy Is. lio) para lá mudaram os Órfãos pouco depois. As obras no antigo Seminário segui-
de Vereações da C. M. do Porto fls. 97 v.o). 'im o seu curso e em 17 de Setembro de 1903 passaram os pupilos do Instituto de Bal-
Passados dias, em SessSo de 20 de Setembro, o Presidente da Câmara, que era azar Guedes para «a sua nova e esplêndida habitação». (Padre F. J. Patrício — Bosqutjo
entSo Wenceslau de Lima, disse que tendo o Governo dado já sessenta contos de réis histórico da fundação t desenvolvimento do Real Collegio de N. S'.• da Graça, Porto,
para as obras da Academia, que iam ter o maior incremento, tornava-se necessária a mu. 1907, págs. 32). «Era vereador da administração do Colégio o considerado comerciante
dança do Colégio dos Órfãos, e por isso propôs que se representasse ao Governo pedindo snr. António de Araújo Serpa Pinto». (Id págs. 32).
a quantia que (le por Lei é obrigado a dar para a construção de nova casa para o Colé- (') Tripeiro, vol. I l l pág. 326 e 386, artigo de José Martins Instituições de Be-
gio, e indemnização dos rendimentos das lojas, e bem assim para que, por um contrato, neficência e Instrução do Parto.
se fixassem as responsabilidades do mesmo Governo para com a Câmara sobre Cste {') Então já o Instituto Industrial estava separado do Instituto Comercial. Para
assunto. (Id. fls. 100 e v.o). a história das relações do Instituto com a Academia parece-nos interessante arquivar aqui
Já se andava provavelmente demolindo o corpo da velha Igreja da Graça, pois que ainda a seguinte nota :
se vê da acta da sessão camarária de 11 de Outubro que «nas excavaçoes a que se está Em fins de 1890 o Director do Instituto oficiou ao Director da Academia pedindo
procedendo» na referida Igreja tinham aparecido uma libra em ouro e quinze moedas de que lhe fosse entregue a sala do Laboratório Químico. Levado este ofício ao Conselho
cobre. (Id. fis. 105). Académico da Politécnica, em sessão de 5 de Dezembro do dito ano de 1890, Ferreira da
Por vir a propósito, registe-se que no dia 20 desse raés chegaram ao Porto o Rei Silva apresentou a seguinte proposta que foi aprovada :
D. Carlos e a Rainha D. Amélia, que a pedido da Comissão Henriquina e da Câmara — t Tenho em vista o oficio da Direcção do Instituto Industrial e Comercial do
Municipal vieram inaugurar a estátua ao Infante D. Henrique. (Id. fls. 105 v.o), Porto, com data do mês de Novembro:
A cidade fez às Majestades entusiástica recepção e Wenceslau de Lima, represen- I. Atendendo ao prejuízo que, para o aproveitamente dos numerosos alunos que
450 MEMÓBIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO 451

sito do Instituto ser transferido para o edifício da Escola Médica mente por falta de dinheiro, a-pesar-dos esforços e sacrifícios do
quando esta viesse para o da Academia. Talvez porque esta mudança Director da Academia, Álvares Ribeiro, que por êle tanto se interes-
nunca mais se fez, o Instituto sentia-se com direito a ficar onde sara (1). e do zelo e dedicação do lente Sales Cardoso.
estava. Na sessão extraordinária do Conselho Académico de 2 de Abril
de 1887 a que já nos referimos (*), e em que o Conselho Académico
Diga-se finalmente que, pouco depois da publicação do Dec. que da Politécnica concordara por maioria com a idéa das transferencias
permitiu a conclusão do edifício da Academia, esta perdeu o seu Jar- acima indicadas, e que implicavam o desaparecimento do Jardim Bo-
dim Botânico, o qual, aliás, nunca chegara a ser o que devia, principal- tânico, foi considerado «que as desvantagens reais que à Academia
advêm da cedôncia do Jardim Botânico para as instalações do Insti-
tuto são, até certo ponto, compensadas pela ampliação do local para
os seus laboratórios e Gabinetes de aulas » (3), visto saírem os Órfãos
ftequentam a sétima e oitava cadeiras, resultaria da cedência do actual Laboratório Químico
da Academia ; e concluír-se o edifício. Aprovaram, em votação nominal, este e os
2. Considerando que as novas acomodações da Academia, ainda depois de apro- restantes considerandos favoráveis à transacção, os lentes Ferreira da
priada» ao seu destino, estio muita âqueni das necessidades que instantemente reclama o Silva, que foi o autor da proposta em que os ditos considerandos se
ensino nas diversas cadeiras, especialmente depois da reforma de í l de Julho de 1885; continham, Arroio, Roberto Mendes, Woodhouse, Guilherme António,
3. Ponderando que as portarias de 2 de Maio de 1854 e 19 de Janeiro de 1858,
Correia e Gòroes Teixeira que era o Director e usou do voto de qua-
(vide neste livro, a págs. 174 e 303) e as Cartas de Lei de 13 de Junho de 1857 e 19 de
Junho de 1880 (id., a págs. 389) para não citar outros documentos legislativos, dâo à Aca- lidade, e rejeitaram-nos os lentes Francisco da Silva Cardoso, Rodri-
demia, sobre o edifício, direitos que ao Instituto não é lícito usurpar; gues de Freitas, Albuquerque, Terra Viana e Duarte Leite (4).
4. Considerando que o Instituto ocupa hoje no 1.0 andar do edifício, para exercí- Em 1888 a Direcção Geral de Instrução Pública mandou que o
cio dos seus cursos e para anecadações, a sala anexa à aula de física, onde fora outrora o Conselho Académico da Politécnica do Porto fosse ouvido sobre a
laboratório químico da Academia ;
cedência ao Ministério das Obras Públicas do falado Jardim, sem se
5. Tendo em vista que pelas dotações da Academia foram feitas as demolições
das antigas lojas e sótãos números IO a 17, da Rua do Anjo, e as obras necessárias para esperar pela resolução dos pontos que haviam sido ponderados nos
sua transformação nos actuais laboratórios e numa aula situada no sótão, aula que serve pareceres dos Conselhos da Academia e da Escola Médica (5).
exclusivamente para proveito do Instituto; Em sua sessão ordinária de 1 de Fevereiro do dito ano de 1888,
6. Considerando que as disposições da Portaria de 2 de Maio de 1854, relativas o Conselho da Politécnica ocupou-se da resposta a dar a essa con-
à comunidade dos Laboratórios, nunca foram nem podiam ser consideradas postergadas
sulta. O Lente Miranda Júnior declarou que não tinha estado pre-
pela Academia, embora por conveniência mútua se não ache arrecadado provisoriamente,
Como no Gabinete de Física, o material científico adquirido pelas dotações dos dois esta- sente à sessão de 2 de Abril, mas que era de opinião que não havia
belecimentos ; necessidade do Jardim, devendo portanto ceder-se imediatamente, «visto
7. Atendendo a que da parte da Academia foi feita ao Instituto Industrial a con- que, erigindo-se nele as oficinas a que é destinado, se tirarão daquele
cessão provisória da sala, que fica situada por baixo da Aula de Botânica do lado dos terreno resultados mais vantajosos para o desenvolvimento do ensino
Passeios da Graça, onde se acha o Gabinete de Máquinas, e que esta concessão de per si
só é roais que suficiente para compensar o aluguer a que o Director do Instituto se quere
de que continuando a estar destinado a Jardim Botânico» (6). Não
referir;
O Conselho da Academia Politécnica é de parecer que se não pode nem deve ceder,
nos termos do pedido do Director do Instituto Industrial, o actual Laboratório Químico (') Vide retro, págs. I I 6 .
da Academia, instalado no local correspondente ás antigas lojas n,™ 14 a 17 da Rua (') Vide retro págs. 4 4 3 , e nota 5.
do Anjo», (») J-6', ris. 186.
Foi também resolvido tentar um acordo, propondo a Academia ceder ao Instituto {') J-6', fV 186 v.o.
a, sala do Laboratório em troca daquela onde estavam instaladas as máquinas (J-6, fis. (*) J-6, fis. IO.
n. t., Sessão cit. de 5 de Dez. de 1890). (*) J-6, fis. I I ,
us MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

obstante, Ferreira da Silva propôs e foi aprovado por todos, menos


pelo dito lente Miranda, que se respondesse à Direcção Geral de Ins-
trução Pública que o Conselho Académico era de parecer que se nâo
cedesse o Jardim Botânico senão nos termos da sua consulta de 2 de
Abril do ano anterior, isto é, mediante a compensação da saída dos
Órfãos e ampliação do local para as aulas, gabinetes, etc. (1). Albu-
querque fez a declaração de voto de que aprovava a resposta no sen-
tido indicado, mas exigindo que ficasse bem declarado na Acta que
havia votado contra a cedência que o Conselho consentira por maio-
ria de um voto somente (*).
A-pesar-destas disposições bem claras da Academia, os que cubi-
cavam o terreno do Jardim continuaram a trabalhar, pois, na sessão
do Conselho Académico de 15 de Maio de 1891, o Prof. Amândio Gon-
çalves tdisse que tivera noticia de que tinham entrado no Jardim Bo-
tânico um condutor de Obras Públicas e algumas praças da Guarda
Municipal para fazer um levantamento para o prolongamento do Quar-
tel do Carmo, e como tinham entrado sem sua autorização declarava
que deu ordens para que lhes não fosse franqueada a entrada no Jar-
dim» (*). Evidentemente o plano do assalto ia-se desenhando e iam-se
precisando os assaltantes...
Passou-se perto dum ano, e, em Março de 1892, a Direcção Geral
de Instrução Public?, consultou a Academia «sobre a cedência duma
parcela do Jardim Botânico para ampliação do Quartel da Guarda Muni-
cipal» (*). Levado o caso ao Conselho Académico pelo Director Gomes
Teixeira, vários oradores se manifestaram desfavoravelmente, sem uma
única voz discordante.
Terra Viana disse que precisava de saber a opinião do lente de
Botânica, a tal respeito. Aarão de Lacerda declarou que era profes-
sor interino, e por pouco tempo, daquela disciplina; por isso limi-
tar-se-ia a informar que a parcela em questão vinha sendo destinada
d cultura ornamental, em consequência da insignificância da dotação,
que durante muitos anos foi de 50$000, a qual, sendo aumentada

(') Ib. fl». n .


(*| Ib. fU. n .
<') J-í>, fll. n. t.
'*) Ib. SestSo extraordinária de 30 de Março de I8QJ,
A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO 453

depois, fora desviada pelo lente proprietário Amândio Gonçalves (1)


para a criação dos trabalhos de microscopia.
Arroio pronunciou-se em absoluto contra a cedência, porque —
afirmou — sendo já a extensão do Jardim diminuta, ceder qualquer
parcela, por pequena que fosse, equivalia a confessar que o Jardim
não servia nem tiuha servido para nada, e porque entendia que
nenhuma compensação se obteria com aquele sacrifício.
O Conde de Campo-Belo apoiou estas considerações, que inteira-
mente aprovava.
Miranda Júnior disse sentir «que não estivesse presente o lente
proprietário de Botânica, porque desejava que êle reiterasse a sua opi-
nião já manifestada no Conselho da pouco utilidade do Jardim, mas
que, a-pesar-desta opinião», votava contra a cedência, «por o terreno a
ceder ser destinado ã ampliação dum quartel e construção de cavala-
riças, edificações que iam prejudicar muito um estabelecimento de
ensino e os estabelecimentos que lhe ficam próximos»» (*).
Passadas semanas era o Governador Civil que oficiava propondo
a construção duma estufa em troca do terreno a expropriar do Jar-
dim, C) e enviando até um parecer da Direcção de Obras Públicas
respeitante a esse assunto. A Academia estranhou essa insistência e
resolveu responder que «continuava sustentando a inconveniência de
alienação da parte do Jardim, como já fizera conhecer ao Governo» (*).
Pois, a-pesar-de tudo, em Junho seguinte a Direcção Geral de
Instrução Pública participava ter sido cedida ao Comando Geral da
Guarda Municipal a discutida parcela do Jardim Botânico! — «e que
o Director das Obras Públicas tinha ordem de mandar proceder à
construção duma estufa» (5).
Como é natural, tal resolução maguou profundamente o Conselho
da Politécnica.
Gomes Teixeira no entanto parece ter-se limitado a lembrar que

(') Amândio Gonçalves, proprietário da Cad. de Zoologia por Dec. de 1885 (vide
retro pág. 432), fora colocado na Cad. de Botânica por Dec. de 6 de Fevereiro de 1890-
Anuário da Fac. de Ciên, de 1911-1914 cit. pág. 55.
(') Vide sessão extraordinária do C. Ac. de 30 de Março de 1891 (J-6, fis. n. t.).
(") Vide ib. sessío extraord. de 30 de Abril de 1892.
(*> Id. ib.
(») Id. Sewâo ord. de 6 de Junho de 1891 (J. b, fis. n. t ) .
454 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO A CONCLUSÃO DO EDIFÍCIO 455

se aproveitasse a ocasião para pedir ao Governo que, em vêz de cons­ aprovado sem qualquer modificação pelo Conselho Académico em sua
truir a estufa, cedesse á Academia o Observatório Meteorológico da sessão de 8 de Maio de 1901 (1).
Princesa Maria Amélia (instalado na Serra do Pilar), o que seria de E, por termo de posse lavrado em 1 de Outubro desse mesmo
grande utilidade tanto para o ensino de Física como da Astronomia (1). ano, o Observatório Meteorológico passou efectivamente a ser depen­
Duarte Leite achou aproveitável a idea ; Wenceslau de Lima concor­ dência da Academia Politécnica (s).
dou em que se pedisse o Observatório, mas que ao mesmo tempo se Por Dec. de 31 de Março de 1902, Francisco de Paulo Azeredo
significasse «ao Governo que a Academia sente que lhe fosse tirada foi nomeado para o cargo de director do dito Observatório ( ).
parte do Jardim Botânico contra a opinião do Conselho e as vanta­ E no ano lectivo de 1902­1903 deixou o Jardim Botânico de
gens do ensino» ('). E assim se fêz... figurar na lista dos estabelecimentos da Academia pelos quais esta
O Jardim Botânico, contudo, mesmo amputado, lá foi vegetando repartia a costumada verba para despesas de material ( ) . . .
— sim, regelando, ê o termo próprio em toda a sua acepção. Todos
os anos na distribuição da verba de 3,200$000 para despesa de ma­
terial o Conselho da Academia IÍÍ O ia contemplando com quantias
que variaram entre 80$000 e 20G$000 rs. Em cada um dos anos de
1899­1900 e de 1900­1901 foram­lhe atribuídos 110&Û00 rs. (3).
Mas em 17 de Novembro de 1900, Gomes Teixeira convocou uma
Sessão Extraordinária do Conselho, para lembrar que, na" ocasião em
que fora cerceado o Jardim, pedira ao Governo como compensação a
entrega do Observatório já citado ; tendo­se então levantado dificul­
dades a essa transacção, parecia­lhe agora oportuno repetir o pedido,
pelo que convocava o Conselho para que este deliberasse o que se lhe
oferecesse. O Conselho pronunciou­se favoravelmente e resolveu
representar de novo ao Governo (4); Amândio Gonçalves não compa­
receu nessa Sessão.
No ano seguinte, meses decorridos, a Direcção Geral de Instru­
ção Pública determinou que o Conselho enviasse até 15 de Maio um
projecto de organização e regulamento dos serviços do Observatório
da Princesa D. Amélia, no qual fossem atendidas as bases que con­
juntamente mandou. Nomeada para esse fim uma comissão composta
dos lentes Campo­Belo, Azeredo e Bento Carqueja, o seu trabalho foi

O Ern Junho de 1892 já o Conselho Académico d* Academia Politécnica tinha


pedido a cedência do Observatório. An. de 1900­1901, págs. 229. (') J­6, fis. n. t. SessSo cit. no teito. Vide o Projecto do Regulamenta datado
(') J ­ 6 , fis. n. t. — Sessão de b de Junho 92, cit. de 7 de Maio de 1901 in An. de 1900­1901, págs. 223­226.
(*) J­6, As. n. t. Sessão do Cons, de 5 de Nov. 1900. C) An. de 901­902, pág. 173.
(') lb. Sessão cit. de 17 de Nov. 1900. Vide a Representação in An. de 1900­ l:l) Diário do Governo, n.o 81, de 14 de Abril de 1902. ou An.
■1901, págs. 221­223, assinada por 17 lentes, incluindo Amândio Gonçalves. (') J­6, fis. n. t. SessSo de 5 de Novembro de 1902.
XXIV

OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO


DE BENTO CARQUEJA

A reorganização da Academia Politécnica em 1885 implicou, como


é natural, novo Regulamento (l).
Logo em 30 de Julho daquele ano, o Conselho Académico nomeou
uma Comissão encarregada de o elaborar; compunham-na os lentes
Ferreira da Silva, Gomes Teixeira e Woodouse, que, ao cabo de alguns
meses de estudo, apresentaram o seu trabalho, enviado seguidamente
ao Governo em 22 de Dezembro do mesmo ano.
Não valera, contudo, a pena, tantas pressas e canseiras, visto
que só dois anos e meio depois, em 28 de Junho de 1888, esse novo
Regulamento foi decretado ! E por sinal com bastantes modificações
em relação ao projecto da Comissão, as quais, longe de o melhorarem,
o pioraram, como a prática em breve o havia de demonstrar (*).

Antes disso, em 1884, Ferreira da Silva, cuja actividade era pro-


digiosa, tinha elaborado um Regulamento para o Laboratório Quí-
mico, que, discutido e aprovado pelo Conselho Académico, logo come-
çou a ser «observado integralmente, pela absoluta necessidade que
havia de regular o serviço dum estabelecimento tão importante» ( ),
muito embora só em 1885 a Portaria do Ministério dos Negócios do
Reino de 3 de Janeiro, assinada por Augusto César Barjona de Frei-

(') An. de 85-86, pág. 16.


(') Vide Relatório e Propostas apresentadas em sessão annual Je iS8ç do Con-
selho Superior de Instrucçâo Publica, por Azevedo Albuquerque, in An. de 1889-90,
pág«, 136 e seg.
t*l An. de 84-85, pág. II,
458 OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 459
EMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PO

tas, comunicasse ter sido o dito Regulamento aprovado por Sua Ma­ bro de 1839, 2 de Junho de 1837, e 2 de Outubro de 1879, como
gestade (1). dos anteriores programas de ensino (1). estabeleceu (*) nos cursos de
engenharia civil duas secções :
Aproveitemos o ensejo para dizer que na qualidade de Secretário
duma Comissão nomeada em 9 de Dezembro de 1880, e que era com­ — a) a dos estudos preparatórios, ou escola preparatória, cujos
posta pelos lentes mais modernos, aos quais foi incumbida a tarefa de estudos durariam quatro anos.
organizar a Biblioteca, Ferreira da Silva principiara em 1882 um — b) a de aplicação, constituindo escolas especiais de engenha­
novo catálogo da Biblioteca da Academia, trabalho que de 1884 em ria, cujos estudos durariam dois anos.
diante foi confiado ao bibliotecário ('), José Ferreira (3). Já em 1883
fora publicada a 1." Parte desse Catálogo ­ Lima de Matemática c Quere isto dizer que os quatro primeiros anos dos cursos de en­
de Filosofa Natural {*), tendo sido necessário proceder previamente genheiros civis de obras públicas, de engenheiros civis de mina3 e de
a uma nova disposição e arranjo dos livros nas estantes, e à verifica­ engenheiros industriais (3) se consideravam esfndos prejuiratários para
ção e rectificação dos títulos e datas, dos antigos catálogos. Foram os dois últimos anos, que eram os de aplicação e constituíam escolas
também separados e colocados em lugares especiais os duplicados especiais.
existentes (5) ; depois de avaliados por peritos, o Conselho da Acade­ Criaram­se também duas classes de alunos: ordinários e volun­
mia pediu ao Governo autorização para os vender, e aplicar o respec­ tários, deixando a estes plena liberdade de estudarem as disciplinas
tivo produto à compra de outras obras modernas e muito necessárias (6). pela ordem que a cada um melhor conviesse (4).
Um Regulamento, aprovado polo Conselho, e elaborado pela Co­ Em tôdas as cadeiras haveria exames de freqiiência trimenwais
missão acima referida, regia a Biblioteca O, desde então instalada — orais ou escritos — conforme o deliberasse o Conselho, sob pro­
«numa espaçosa e bem iluminada sala, na fachada leste do edifício da posta dos respectivos lentes (5). No curso de desenho teria o mesmo
Academia, e no 2." andar (*,». carácter e as mesmas aplicações dos exames de frequência dos outros
cursos a revisão geral que, no fim de cada trimestre, se faria dos tra­
Mas voltemos ao novo Regulamento da Politécnica. balhos executados durante esse período (6).
Esse diploma, que expressamente revogou tôdas as diposições As notas de tôdas as provas seriam expressas em números, de 0
que se lhe opusessem, tanto dos Dec. regulamentares de 6 de Novero­ a 20 (7).
Os exames finais continuariam a ser orais, e separadamente por
Cadeiras ou partes independentes de Cadeiras, constando duma parte
O Id. pág. 152. A pág. 153 e seg. o Regulamento, que fora anteriormente
publ. no Diário do Governo, n.o 26, de 4 de Fevereiro de 1885. Vide também An. de vaga e dum ponto tirado à sorte três horas antes do acto ( ).
8586, pág. 17­18.
(') An. de 85­86, pág. 11.
(') Art. iJI.*». do Regulamento, in An. de 88­89. Vide neste Livro referências
(3| Nomeado mediante concurso, por Dec. de 14 de Agosto de 1884. Id náes
II e 4 5 . ' *•■ aos Dec. acima citados, retro págs. 208, 375 376 e 43(1. Sobre o regime de exames,
(*) Impresso no Porto, Typ. Central, 1883. segundo o Dec. de 2 de Outubro de 187g, vide An. de 7980, págs. 115.
I6t M Parte do C atálogo de 1883, cit. pág». X I e (*| Art. 2.0 do dito Reg.
(e) An. de 85­80, pág. l i . f'| Vide retro págs. 427­429.
(') Ait. 60.
Õ Vide o Reg. in C atalogo cit. pág. XIII­XV. Vide em Sessão de 5 de Nov.
(s) A r t . 23.0.
de 1889 a proposta de Aarío de Lacerda tendente a tornar efectiva a inspecção que ao
Conselho pertencia sobre a Biblioteca (J­6, fis. n. t.). (°| Art 31.0,
fl A sala media 15m,! 2 :< &m e 4.11,45 de alt. Tinha 12 estantes de 4m de alt. l'l Art 340.
("1 Art. 42 o
8 armários vitrinas, e utna bela mesa de vinhático de 5,50 x I.48. Id. pág. XII.
460 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO OS NOVOS MKLHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 461

O julgamento destes exames seria feito em duas votações pelo Secção II. — Da administração e dos funcionários da Academia, em
respectivo júri, a primeira de aprovação ou reprovação por A A e RR, que se encontram normas relativas ao Conselho Académico, Director,
e a segunda de qualificação para OB que fossem aprovados na pri- Lentes, Secretária e livros da Secretaria, Bibliotecário, Ouarda-Mór,
meira. Esta segunda votação seria feita a descoberto por números Guardas-preparadores e encarregados dos estabelecimentos académi-
de 0 a 20; a soma dos valores arbitrados pelos três vogais do júri cos (guarda preparador do Laboratório Químico, guarda-demonstrador
dividida pelo número destes daria a cota do exame (1). As qualifica- de Física Experimental, e guarda primeiro oficial do Jardim Botâ-
ções menores nestes exames finais ficavam abolidas (*). nico), e guardas stibalternos serventes (1).
Haveria época extraordinária de exames em Outubro, tanto para
os alunos que não desejassem ou não pudessem fazê-los na primeira Este Regulamento não satisfez, descontentou mesmo, em virtude
época, como para aqueles que nesta tivessem ficado reprovados ou de muitas das suas disposições, o corpo docente da Academia.
que não houvessem concluído o exame (*). Razões de descontentamento havia-as também na continuação da
Os estudantes, uma vez conseguida aprovação em todas as dis- diferença de tratamento, quanto a dotações, que a Lei continuava a
ciplinas obrigatórias de qualquer dos cursos da Academia, seriam fazer entre a Academia e as outras escolas congéneres do país.
admitidos em Outubro a exame geral ou de habilitação (4), dividido A Tabela de distribuição da despesa no exercido de 1888-89,
em duas partes: a primeira, constaria da redacção completa de um ao passo que consignava à Academia, para sua despesa variável —
projecto complexo, realizado dentro de prazo previamente fixado; a isto é, para «prémios a estudantes (*), despesas do expediente, compra
segunda, de uma prova oral (5). Se a classificação finai fosse sufi-
ciente, passar-se-ia ao aluno caria de habilitação ou capacidade (6) ;
em caso contrário, só um ano depois, no Outubro seguinte, poderia (') Nas Disposições Gerais, no fim do Regulamento, encontra-se o art. 132.0, que
ser admitido a novo exame. mandava ao Conselho Académico fazer «quanto antes ai instruções e regulamento* inter-
nos necessários para plena execução das disposições do Regulamento e 01 submeterá à
Para OB prémios haveria concursos entre OB alunos que nos exa-
aprovação superior». No cumprimento dessa obrigação, o Conselho Académico elaborou
mes finais tivessem obtido classificação igual ou superior a 15 va- um Regulamento dos exames de habilitação dos alunos da Academia, que foi aprovado
lores a por Portaria de 31 de Janeiro de 1800 (Vide Portaria e Reg. in An. de 80-90, pág».
A média de 15 dava honras de distinto; de 15 a 18, as de 119-123) e um Regulamento e Instruções para os trabalhos das missões, aprov. por Port.
accessit. O aluno que tivesse média de 18 a 20 tornava-se digno de da mesma data (An. cit. pág. U3-II7).
O Em 24 de Abril de 1902 veio a ser instituido por Dec. o novo prémio deno-
prémio pecuniário, o qual pertenceria àquele que alcançasse classificação
minado Premio Rodrigues de Freitas, criado por D. Ana Louise Rodrigues de Freitss,
maiB elevada, recebendo diplomas de prémio honorífico os restantes (8}. viúva daquele ilustre Professor, e da importância do juro anual de três inscrições de
Além das disposições que acabámos de sumariar e de muitas assentamento do valor nominal de 1.200(000 réis, para ser conferido anualmente ao aluno
outras que, com essas, constituem a Secção I do Regulamento de que com mais elevada classificação houvesse concluído o curso de engenharia civil profes-
1888, intitulada Do ensino na Academia, esse diploma contém uma sado na Academia, ou, na falta de alunos em tais condições, ser empregado na aquisição
de livros de Economia Politica destinados a ampliar a secção da Biblioteca da referida
Academia. Vide Diário do Governo, n o 95, de 30 de Abril de 1902, ou An. de 901-
(') Art. 43.0.
-902, pág. 191-193.
C) A r t . 131.o.
Por ocasião da morte de Rodrigue* de Freitas, Azevedo Albuquerque pronunciou
(*) A r t . 46.0.
em Sessão do Cons. Académico emocionadas palavras de homenagem ao extinto, que
{') Art. 53.0.
ficaram registadas na Acta, tendo o Conselho aprovado por aclamação o voto de eterna
(5) Art. 55,0.
saudade proposto por aquele Professor, que pediu também, em nome da viúva de R. de
(•) Art. 57.0.
Freitas, fâsse aceite o retrato deste que ela desejava oferecer à Academia (J-6, fis. n. t.
{') Art. 59.°
Sessão de 30 de Julho de 1896). Na Sessão de 2 ; de Janeiro de 1897 foi resolvido
(') A r t . 63.0.
estudai a possibilidade de comprar 0« livros do falecido Prof. (J-ó, fis. n. t.).
462 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO QE BENTO CARQUEJA 463

de HVTOS para a biblioteca, conservação e aperfeiçoamento do Jardim c) passagem da Geodesia, que pertencia à 1." parte da 5.a
Botânico, dos Gabinetes de Física, de História Natural e de Cinemá- cad. (Astronomia e Geodesia) para a 2." parte (Topografia),
tica, e do Laboratório Químico, Museus, e despesas dos alunos em ficando dispensados de Geodesia na Academia os alunos da
missão, e publicação do Annuario (')» — ao passo que para tudo isso Escola do Exército.
consignava apenas a soma de 2.941$160 réis; atribuía às Faculdades
d) passagem para o 3." ano do curso preparatório para
de Filosofia e de Matemática da Universidade de Coimbra para despesas
Constructores Navais da 1." parte de Geometria Descritiva
análogas 8.144$600, e à Escola Politécnica de Lisboa, 8.108$800 —
que figurava no 2.° ano do curso, correspondente agora
isto reduzindo ao que tinha comparável com a Academia a importante
segundo a proposta à 2." parte desta disciplina;
verba para despesa variável que a esta Escola era concedida (*).
e) estabelecimento de precedências obrigatórias de certas
Note-se ainda, «para mais frisar a mesquinhes da dotação da Acade-
disciplinas em relação a outras, que fossem limitações à facul-
mia e as consideráveis diferenças desta dotação com as das duas refe-
dade concedida aos alunos voluntários de se matricularem
ridas escolas» (Politécnica de Lisboa e Universidade de Coimbra), que
como quisessem ;
ao contrário destas, a Academia erá «especialmente destinada a for-
f) eliminação do art° 19 do Regulamento por estar em
mar engenheiros civis de obras públicaB, minas e indústria e habilitar
contradição com o 87, pretendendo-se que a organização do
para comerciantes» (art, 1.° do Dec. orgânico) (3); a funções mais vas-
horário fosse feita na sessão de encerramento dos anos lectivos;
tas correspondia uma dotação mais reduzida !
g) modificação dos art 0 * 20 e 21, permitindo-se ao lente
Por todas estas razões em 1889, um ano depois de ser posto em julgar da conveniência de empregar maior ou menor parte
vigor o novo Regulamento de que acima se falou, Azevedo Albuquer- da aula em explicar as doutrinas que ensinasse;
que, Delegado da Academia Politécnica ao Conselho Superior de Ins-
h) modificação da prática dos exames de frequência;
trução Púbica, apresentou em Sessão anual desse Conselho, um Re-
i) estabelecimento para o Desenho de um regime de en-
latório sugerindo várias providências, umas de natureza executiva,
sino especial, prático e sem prova oral no exame ;
outras de natureza legislativa, cuja necessidade a Academia reputava
j) modificação da prática dos exames finais, e dispensa
urgente. As primeiras diziam respeito à alteração ou eliminação de
desses exames aos alunos cuja média de frequência fosse igual
certas disposições do Regulamento ; as de segunda espécie ao minora-
ou superior a 17 valores;
mento da «extrema penúria» em que a Academia continuava vivendo,
k) modificação do art.0 44, permitindo que os exames
a-pesar-dos progressos dos últimos tempos.
finais pudessem começar na segunda quinzena de Junho ;
l) divisão do Conselho, para efeitos científicos, em cinco
Enunciemos as primeiras :
secções : Matemáticas Gerais, Matemáticas Aplicadas, Dese-
a) introdução, nos quadros dos cursos, de exercícios nho, Ciências Físico-Qnímicas e Naturais, e Ciências Sociais ;
em Mecânica Racional na 3. a cadeira.
m) alteração do processo de nomeação do Director,
b) decomposição do estudo da Geometria Descritiva na desejando-se que fosse de eleição do Conselho em lista dupla,
4.* cad. em três partes, sendo a primeira constituída pela Geo-
e por dois anos, sem ser permitido um mesmo Professor ser
metria Projectiva e Projecção Central, e considerada inte-
Director por mais de dois biénos sucessivos;
grante da 1.' cad.
u) constituição dum Conselho de Aperfeiçoamento, en-
carregado especialmente de estudar as questões pedagógicas,
(') No Annuario de 1884-85, Gome» Teixeira iniciara uma secção científica, co- as disposições regulamentares que se devessem introduzir na
meçando a publicar ai os seus Fragmentos de um curso de analyse infinitesimal. organização académica a bem do ensino, e de outras funções
(*) Aievedo Albuquerque — Rei. cit. in An. cit. pág. 15,
tendentes a facilitar e a aperfeiçoar o exercício do Conselho
(") lb. ob. cit. pág. 15.
da Academia.
464 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 465

O Conselho Superior de Instrução Pública apreciou em Sessões frequentada, por uma outra de Tecnologia industrial, reclamada várias
Plenárias de 10 e 12 de Outubro estas propostas, aprovou por unani- vezes nas representações do Conselho Académico, em Dezembro de
midade a maior parte delas, rejeitou outras (*), e, à excepção das cons- 1889, 8 de Maio de 1893 e 2 de Abril de 1895 (1). Este desejo e
tantes das alíneas d) f) l) m) e n), todas apareceram no Dec. de 27 de alguns outros foram satisfeitos pelo Dec. de 8 de Outubro de 1897.
Fevereiro de 1890, q u e alterou, modificou e substituiu várias disposi- que diz :
ções do Regulamento de 28 de Junho de 1888 (').
Relativamente às providências da natureza leg-islaiiva, os pontos Usando da autorização conferida ao Governo peta Carta de Loi
de 3 de Setembro último ;
visados eram : aumento das dotações orçamentais para os doze estabele-
Considerando o que por diversas vezos me tem sido represen-
cimentos auxiliares do ensino na Academia (propunha-se que os alunos tado pelo Conselho Escolar da Academia Politécnica do Porto;
de Química pagassem uma cota individual para trabalhos práticos); Tendo ouvido o Conselho Superior de Instrução Pública :
criação duma verba destinada à impressão ilustrada do catálogo do' Hei por bem decretar o seguinte :
Gabinete de Cinemática ; criação de quatro lugares de pessoal subal- Art. l.o É suprimido o Curso de Comércio na Academia Poli-
técnica do Porto;
terno (conservador de instrumentos e modelos dos Gabinetes de Má-
Art. 2 ° A actual cadeira especial de Comércio é substituída
quinas, de Cinemática, de Astronomia e Topografia ; preparadores, para por uma cadeira de Tecnologia Industrial, que compreenderá prin-
cada uma das Cad. 9.'e 11.'-Mineralogia e Zoologia-, servindo também cipalmente o ensino da Electrotecnia e das Indústrias Químicas.
de ajudantes nos respectivos gabinetes; e servente destes dois gabine- Art 3 ° . É extinto o lugar de lente substituto da Cad. de De-
tes) ( ); e finalmente elevação da verba destinada à conclusão do edifí- senho e criado o de tente substituto e auxiliar dos trabalhos práti-
cio da Academia segundo o plano do já falecido engenheiro Alfredo cos das cadeiras do engenharia com o mesmo vencimento.
Art. 4.°. A organização dos cursos professados na Academia
Soares (*),
Politécnica, assim como o Regulamento para os concursos ao magis-
tério da mesma Academia, serão convenientemente modificados por
Muito mais difícil foi transformar em lei estas providências do forma a serem atendidas as alterações introduzidas por êsle Oecrelo.
que as primeiras !
Paço, em 8 de Uulubro de 1897.

Antes mesmo que algumas das que vieram a ter essa sorte fossem El-Rei
aprovadas pelo Governo, outras foram pedidas pela Academia. Está
neste caso a substituição da Cadeira de Comércio, dîminutïssimamente José Luciano de Castro (*)

(') Vide Rei. e Prop. cit. in fine, in An. cit.


(*) Vide esse Dec. in An. de 89-90, pág- 128-131. (') An., de 99-900, págs. JOO A representação de 8 de Maio de 1893 encon-
(*) Dií-noi Azev. Albuquerque ter reduzido nas suas Propostas as exigências do s tra-se reproduzida no An. de 91-93, págs. 151. Foi Terra Viana, em Sessão do C.
Professore, da Academia, de quem era o porta-voz no C. S. de I. P, Efectivamente, Acad. de 5 de Nov. de 1889 quem primeiro propôs a supressão da Cad. de Comércio e
como se vê d» comunicação que lhe enviou a SecçSo de Filosofia, esta pedir» a criação a sua substituição por outra de Física e Química Industrial, cujo título trocou, em Ses"
dos seguintes lugares: 1 chefe de Trabalhos Práticos de Laboratório; t Conservador de sio de 5 de Dei. seguinte, por Tecnologia (J-6, fis. n. t.) Rodrigues de Freitas declarou
Mineralogia ; 1 conservador de Zoologia ; desdobramento das cadeiras 6 « (Física), 8.» que pel» lua parte não se opunha à supressão e a que o Conselho pedisse a sua transfe-
(Química Orgânica e Analítica) e 9.» (Mineralogia, Geologia e Paleontologia); 1 natura- rência para a 16.» (Ib.) Na sessão de ao de Dez seguinte foi lida e aprovada a
lista adjunto para Mineralogia e Geologia; 1 dito para Botânica; 1 dito para Zoologia; Representação a enviar ao Governo (Id. sessão cit.|
S sedente» ; 1 hortelão para o Jardim ; 1 servente do Jardim (Vide Comunicação cit. in (*) Diário do Governo, n.° »31, de 13 de Outubro de 1897. O Regulamento
An. de 89-90, a.a parte, pig. 43-46). Jot Concursos ao Magistério foi aprovado por Dec. de 24 de Abril de 190s como se
(') Rei. e Prop. cit. in An. cit, Além das enumeradas acima, Azevedo Albu- dirá adiante — Diário do Governo, n.o 95, de 30 de Abril de 190Î, ou An. de 901-901,
querque apresentou mais três propostas que não se referem especialmente à Acad. Pol pág. I9J-195
Vide Rei. t Prop, cit
466 MEMÚKIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 467

Para elaborar o plano da organização do cursso de Engenheiros assinado um Decreto, redigido precisamente nos mesmos termos das
Civis Iruîustriais, em virtude da criação desta nova Cadeira, foi no- propostas anteriores. O a r t 18." da Carta de Lei de 12 de Junho
meada uma Comissão (*).
daquele ano autorizara o Governo a reformar os serviços dos minis-
Dois anos depois, Elvino de Brito arrancou do Parlamento a já térios e suas dependências, desde que não houvesse criação de novos
reproduzida Carta de Lei de 1 de Agosto de 1899, que concedeu meios encargos para o Tesouro. A sombra desse preceito, D. Carlos decre-
para a conclusão do edifício da Academia Politécnica. Nesse mesmo tou a reforma tantas vezes solicitada, sem que, efectivamente, os co-
ano, em Julho, o Gabinete Ministerial, ainda presidido por José fres do Estado fossem afectados ! O agravamento das despesas foi
Luciano de Castro, apresentou finalmente à Câmara dos Deputados compensado pelo aumento de 635 rs. nas propinas de abertura e en-
uma notável proposta de lei segundo a qual seria muito melhorado na cerramento de matrícula e pelas novas propinas de matrícula para
Academia Politécnica o ensino das Ciências Físicas e da Mineralogia e trabalhos práticos, de 8$000 em cada Cadeira onde esses trabalhos
Geologia, pela criação de uma Cadeira de Física Matemática e outra
tivessem de executar-se.
de Mineralogia, — e seria imprimido carácter prático ao ensino das
Criaram-se então as duas Cadeiras já mencionadas, de Física
Ciências Matemáticas e Físico-Naturais, pela criação de três lugares
Matemática e de Mineralogia na secção de Filosofia ; três lugares de
de repetidores e dois de demonstradores; reorganizar-se-ia ao mesmo
repetidores para as Cadeiras de Matemática, e dois de demonstrado-
tempo a Secretaria em harmonia com o aumento do Berviço verificado
res, respectivamente, para as Cadeiras de Física e Química.
especialmente depois de 1885 e que era desempenhado, como em 1837,
Foi mais decretado que o pessoal da Secretaria ficaria sendo
apenas por um Becretário e um amanuense (*).
constituído por um Secretário, um primeiro oficial de Secretaria, um
Tal proposta não chegou, porém, a ser discutida! amanuense (Bibliotecário), um guarda-mor (porteiro), três guardas su-
Muda o Governo ; Hintze sob ao Poder e tão valiosos julga os balternos e dois serventes (1).
intuitos dessa proposta, que a renova em Abril de 1901, mas não Estava finalmente realizada a refofma tão instantemente — tão lon-
consegue também fazê-la discutir. gamente!— pedida pelo Conselho da Academia Politécnica do Porto.
Ainda nesse ano, porém, depois de muita persistência por parte Não foi apenas um serviço relevante prestado àquele estabelecimento ;
da Academia (3) e sobretudo graças à admirável e prestantíssima acti- foi um serviço altíssimo prestado ao País, e especialmente à instrução
vidade desenvolvida por um dos seus lentes, o Professor Bento Car- técnica superior, como, com razão, julgava o Governo, na frase com
queja, e ao seu valimento, em 2 de Setembro de 1901 foi finalmente que Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro termina o Relatório que precede o
aludido Decreto.
(') An. de 1903-904, págs. 28.
O Vide essa Proposta in An. de 99-900, pág. 181-186. Vide no mesmo An. Como era seu dever, o Conselho Académico, em 21 de Outubro
pág. 187-207 o Parecer do Conselho da Ac. e Declarações de Voto de Albuquerque.
Terra Viana e Roberto Mendes, «sobre a reforma dos estudos superiores», apresentados
de 1901, dirigiu ao Ministro uma mensagem de agradecimento sincero
ao Governo em 4 de Julho de 1899, em obediência à Portaria de 3 de Janeiro do e profundo, que lhe foi entregue por uma comissão de Lentes em Lisboa,
mesmo ano no dia 29 de Outubro seguinte (*). Mas foi para o Professsor Bento
Albuquerque sustentava ainda que, devendo a Academia ser incontestavelmente um Carqueja que o Conselho reservou as suas mais efusivas saudações :
estabelecimento de ensino técnico superior, «qualquer reforma proveitosa que nâo agrave
inutilmente a despesa pública, implica necessariamente na fusão da Ac. Politécnica com o
(') Vide o Dec. in Diário do Governo n o 197, de 4 de Setembro de 1901, ou in
Instituto Industrial, constituindo-se assim um só Instituto Politécnico-., projecto antigo
de que já aqui nos ocupámos desde págs, 398 a 402. An. de 901,-902, pág. 179-183. Nêsie An. de pág. 188-190, e no Diário do Governo
\\s> 243, de 28 de Outubro de 1901, o Mapa da despesa do pessoal da Ac. Politécnica a
(*) Vide in An. dt 901-902, pág. 202.203, a representação do Conselho Acadé-
que se refere o Dec. datado de hoje (24 de Outubro de 1901) na importância de
mico, de 29 de Julho de 1901, pedindo »0 Governo para ser promulgada a reforma pro-
jectada. ° 445Í+95-
(*) Vide in An. de 901-902 a referida Mensagem.
468 M E M O Ï I A H1STÓKICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Ihno e Ex.mo Sur.

0 Conselho da Academia Politécnica do Porto exultando


com a publicação do Decreto de 2 de Setembro que conside-
ravelmente mel/iorou o ensino, dando à instrução dos alunos
uma feição mais prática, aprovou um voto de louvor e agra-
decimento, na sua sessão de 21 de Outubro último, pelos
relevantíssimos serviços prestados por V. Ex.", aos quais se
deve tão brilhante resultado,
Ê esse voto que tenho a konra de enviar a V. Ex.a, o
qual foi da iniciativa do nosso ilustre colega Snr. Ferreira
da Silva e é concebido nos seguintes termos :
«Que viBto ser um acto de rigorosa justiça, o Conselho
igualmente agradeça ao nosso digno colega o Snr. Bento
Carqueja tóda a inexcedível actividade, zôlo e iniciativa com
que tem promovido este melhoramento, e a continuação e
conclusSo do edifício da Academia».
Deus Guarde a V. Ex.« — Academia Politécnica do
Porto, 7 de Novembro de 1901.— II mo e Ex.mo Snr. Bento
Carqueja, Digníssimo Lente da Academia Politécnica do
Porto.— O Director, Francisco Gomes Teixeira (1).

Em 1901-1902, como preito de grata e rendida homenagem a


Bento Carqueja, abriu-se pela segunda vez a excepção de colocar na
frente do Annuario da Academia Polytecnica do Porto o retrato de
um dos lentes do corpo docente, ainda em exercício. A primeira vez
fizera-se com Wenceslau de Lima ; repetia-se agora com Bento Car-
queja, que se igualara àquele ilustre Professor na valia dos serviços
que tão dedicadamente e em tão curto praso prestara já à Acade-
mia (1).

Antes de finalizarmos este Capítulo, convém deixar aqui mencio-


nadas as nomeações e nova arrumação do pessoal motivadas pela re-
forma de que nos vimos ocupando.

l'j Do An. de 901 -90a, págs. 206-107. Vide J-6, fls. n. t. Sessões de 24 de
Julho de 1899, e de 21 de Outubro de 1901.
(*) Vide An. de 1901-902. PROF. BENTO CARQUEJA
OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 469

Determinava o § 2.° do Art." 2.° da Carta de Lei de 2 de Setem-


bro de 1901 que «a primeira nomeação definitiva» dos três repetido-
res para as Cadeiras de Matemática, e dos dois demonstradores, res-
pectivamente para as Cadeiras de Física e Química, poderia «recair,
independentemente de concurso, sobre indivíduo que reiina capaci-
dade para exercer o cargo, mediante informação do corpo docente e
voto do Conselho Superior de Instrução Pública» ( ). .
O Dec. de 31 de Outubro de 1901 nomeou, nos termos desse §,
para o lugar de demonstrador da cadeira de Física, José Amadeu dos
Reis Castro Portugal ; para o de demonstrador da cadeira de Química,
foi nomeado, à sombra da mesma disposição legal, o por Dec. de 29
ia Novembro do referido ano, o Snr. Dr. José Pereira Salgado {).
Para os lugares de repetidores da secção de Matemática organi-
!0U a Direcção Geral de Instrução Pública uma lista de concorrentes,
jue em 4 de Março de 1902 enviou à Academia (3).
O Conselho Académico reiiniu em 10 de Abril do dito ano de 1902
a-fim-de escolher dessa relação os candidatos a propor ao Governo.
Tendo previamente dividido a secção de matemáticas em três
grupos (1.° composto das Cad. L \ 2.", 3.a, 4." e 5. a —1.* parte; 2.°, das
Cad. 5/—2. a parte, 12.", 14." e 15.»; 3." das Cad. 13." e 17.») o Con-
selho, por escrutínio secreto, deu 8 votos a João Evangelista Gomes
Ribeiro, e 5 ao Snr. Eng.° Vasco Peixoto Taveira, para o 1.° grupo;
a Vasco Peixoto Taveira 7 votos, a Paulo Ferreira (i, a Joaquim Pio
Correia de Brito 1, a João Henrique Von-IIafe 1, a Joaquim Leite
Ferreira Pinto Rasto 1, para o 2.° grupo ; ao Snr. Eng.° Tomaz Joa-
quim Dias 7 votos, a Paulo Ferreira 3, a Joaquim Leite Ferreira Pinto
Basto 1, a Luís Couto dos Santos 1, e a Santos Viegas 1 (4).
«Do apuramento das três votações resultou, pois, que o Conselho
escolheu para indicar ao Governo os três concorrentes que obtiveram
maioria absoluta», ou sejam : para o 1." grupo o candidato Gomes

(') Vide o Dec. cit. in An. de 1901-902, págs. 179-183.


(*) An. de 901 -goî, pig. 184 e 185. Estes dois futuros Prof, já antes presta-
vam serviço na Academia. Relativamente ao segundo ver a honrosíssima proposta de
Ferreira da Silva na Sessão do Conselho Académico de 11 de Outubro de 1901
(J-6, fis. n. t.).
(*) Vide Diário do Governo, n.os 263 e 276, de 21 de Novembro e 6 de Dezem-
bro de 1901, ou An. de 1901-1902, págs. 184-185.
(*) J-6, fli. n. t. Sessão de 16 de Abril de 1902.
470 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
OS NOVOS MELHORAMENTOS E A ACÇÃO DE BENTO CARQUEJA 471

Ribeiro, para o 2." o Snr. Eng.° Vasco Peixoto Taveira, e para o 3.° Foi só por esta época que, atendendo ao que a Academia Polité-
o Snr. Eng.° Toniaz Joaquim Dias (1). os quais foram, efectivamente, cnica representara, o Monarca, por Decreto de 6 de Fevereiro de 1902,
nomeadoB por Dec. de 20 de Novembro seguinte (*). concedeu autorização para que os lentes daquele estabelecimento pudes-
sem passar a usar, como uniforme, o que havia sido estabelecido,
Estabelecia ainda a Lei de 2 de Setembro de 1901 que «o pessoal pelos Dec. de 1 de Outubro de 185(i e de 15 de Setembro de 1857,
científico auxiliar dos Gabinetes de Mineralogia e Geologia, de Botânica para os lentes das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto, com
e Zoologia, actualmente existente na Academia Politécnica do Porto, as seguintes modificações : — «Os alamares da toga serão de cores
como assalariado, será equiparado em categoria e vencimentos ao da diferentes, segundo as secções, a saber : azuis e brancos para a secção
Escola Politécnica» (3). Em harmonia com essa disposição legal foram de Matemática ; azuis para a de Filosofia ; e carmesins para a de ciên-
por Dec. de 5 de Dezembro de 1901 nomeados naturalistas adjuntos : cias económico-sociais* (1).
— António Augusto da Rocha Peixoto, para a secção de Mine-
ralogia.
- O Snr. Dr. Augusto Pereira Nobre, para a de Zoologia.
— Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio, para a de Botâ-
nica (*).
Na mesma data, Francisco de Paulo Azeredo, lente substituto da
secção de Filosofia, foi promovido a lente proprietário de Física Mate-
mática (5).
Em 19 de Abril seguinte, por Edital publicado no «Diário do
Governo», foi aberto concurso para provimento dum lugar de lente
proprietário da Secção de Filosofia (6). Esse lugar foi provido no
Snr. Dr. Alexandre Alberto de Sousa Pinto, por Dec. de 16 de Abril
de 1903 (7).
Como Secretário da Academia foi colocado Bento Vieira Ferraz
Viana; como 1.» oficial da Secretaria Eduardo Lopes; e como ama-
nuense (bibliotecário) António Joaquim de Mesquita Pimentel C á -
todos por Dec. de 18 de Outubro de 1901.

(') J-6. Bi. n. t, Sessão de 16 de Abril de 1901. Vide também Sessões de 26 e


de 30 de Julho.
{') An. de 901 -90» — pig. 1 9 0 1 9 1 .
(*) An. da Fac. de Sciencias, I Q U - I y u e 1913.1914, pág». 50-51. Por vir a propósito registemos aqui que, em Sessfio do Conselho Escolar da Ac.
(') An. de 1901-190Í, pág. 183.
Pol. de 5 de Abril de 1895 discutiuse a resposta * dar ao of. da DirecçSo Geral de Ins-
Cl Diário do Governo, n.o í 8 i , de 12 de Deiembro de I90J e An de IQOI- trução Pública que mandara informar acerca da pretensão dos alunos das Esc. Superiores
-Í901, pág*. 185-186.
para ser decretado o uso obrigatório da capa e batina. Bonifácio propôs que o Conselho
(') Didrio do Governo e An. cit. lac. cit.
considerasse indiferente o uso do vestuário dos alunos da Academia, e Duarte Leite que
O J-6, fl,. n. t. Sessão de 19 de Outubro de 190Í, em que foi nomeado o júri o Conselho Académico, reputando a questão do uniforme insignificante no momento
desse concurso. Vide também sobre o mesmo assunto Sessão de 5 de Novembro. actual, lamentasse que por iniciativa da mocidade académica o mesmo Conselho tivesse
(') An. de 1902-1903, pág. 10.
de se ocupar da conveniência de tornar obrigatório o uso, até aqui facultativo, de capa e
(') Id. pág. 183-184, O mesmo Dec. colocou o guarda-mór (porteiro), doii batina, e resolvesse nSo se pronunciar sobre o assunto. Foi a proposta de Bonifácio a
guarda, subalternos e dois servente». Por Dec. de 24 de Abril de 1902 foi nomeado, aprovada. (J-6, fis. n. t.).
precedendo concurso, um novo guarda subalterno. Ib. pág. 186.
XXV

OS ÚLTIMOS ANOS DA ACADEMIA POLITÉCNICA


E O SEU APOGEU CIENTÍFICO

A criação da cadeira de Tecnologia Industrial exigia que se al-


terasse não só a organização de alguns dos cursos professados na Aca-
demia Politécnica, mas também o regulamento dos concursos ao ma-
gistério para o mesmo estabelecimento (l).
Só em 1902, como dissemos (B), o Dec. de 24 de Abril modi-
ficou o regulamento dos concursos (').
De acordo com a doutrina jíí decretada na Carta de Lei de 19
de Agosto de 1853, art.0 2, o primeiro provimento de todos os luga-
res do magistério na Academia Politécnica seria feito por concurso
público, e a nomeação deveria recair em pessoas de reconhecida pro-
bidade, talento e aptidão. Logo que houvesse vacatura, o Director
convocaria o Conselho para se ordenar o programa dus provas, que
seria enviado ao Governo, o qual, ouvido o Conselho Geral de Ins-
trução Pública, o mandaria publicar na folha oficial.
Para ser admitido ao concurso, o candidato ao magistério da Aca-

('I Vide retro pág, 465, art. 4 o do Dec. de 8 de Outubro de 1897.


('| Id. loc. cit. nota I.
{3I Até então vigorara nessa matéria a doutrina do Dec. de 21 de Agosto de 1865,
que estabekcera para tndos os estabelecimentos de ensino superior, dependentes do Mi-
nistério do Reino, um sistema uniforme de condições e provas a exigir aos candidatos
para a admissão às funções do magistério (Dec. de 22 de Agosto de 1865, cit. An. de
1880-81, págs. 225-243.
A experiência havia «demonstrado que algumas das disposições dos decretos regu-
lamentares de 27 de Setembro de 1854, 21 de Abril de 1858 e 14 de Maio de 1862
careciam de ser reformadas» (Id.).
474 MKMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO OS ÚLTIMOS ANOS DA ACAD POLIT. K O SEU APOGEU CIENTÍFICO 475

demia Politécnica devia apresentar — além doa atestados de boro proce- Foi também só" em 1902 (19 de Dezembro) que o Conselho
dimento moral, civil e religioso, certidão médica, etc.— a) diploma de Académico elegeu uma Comissão composta pelos Lentes de Enge-
um curso completo de instrução superior em que se compreendessem nharia para estudar as modificações a fazer na organização do
a frequência e exame das disciplinas que constituíam as cadeiras ou curso de Minas, bem como no de Engenharia Industrial e das Obras
secção a que os candidatos se propunham; b) diploma de um curso Públicas (v).
completo de instrução superior nos termos acima expostos, ou de um Três meses depois, na Sessão de 30 de Março de 1903 foi dis-
curso das Academias de Belas-Artes, ou do ensino dn segundo grau cutido e aprovado o parecer dessa Comissão, declarando Bento Car-
dos Institutos Industriais, em que se compreendessem a frequência e queja que «o seu voto representava o reconhecimento da impossibili-
exame de Desenho, Geometria Descritiva e Física, para a admissão dade de realizar trabalhos de Electrotecnia em oficinas do Estado,
ao concurso da Cadeira de Desenho. visto não haver instalações desse género, aproveitando a ocasião para
O Dec. de 24 de Abril de 1902, tendo em conta a reorganização mostrar a necessidade de instar para que» se facultasse «à Academia
da Academia de 1897, acrescentou que, para admissão aos concursos o material de Electrotecnia do Instituto Industrial» (*).
da Secção de Matemáticas Puras ('), o candidato devia apresentar Mas em 2 de Setembro Beguinte ainda nada fora decretado a tal
carta de bacharel formado em Matemática pela Universidade de Coim- respeito, motivo pelo qual um Dec. daquela data determinou que, até
bra, ou diploma de um curso de Engenharia pela Academia Politécnica ser feita a reorganização dos cursos da Academia, a cadeira de Física
do Porto ou pela Escola do Exército ; para admissão ao concurso das Matemática (nova 19.*) ficaria provisoriamente no 3.° ano dos três
cadeiras de Engenharia Civil e de Minas (*} deveria eer apresentada cursos de Engenheiros Civis, de Obras Públicas, de Minas e Indus-
carta do curso de Engenharia Civil e de Minas pela Academia Poli- triais, assim como no 3.° ano do curso preparatório para a Escola do
técnica, ou de Engenharia Civil ou Militar pela Escola do Exército ; Exército; a cadeira de Mineralogia (nova 20.") seria professada no
para a cad. de Tecnologia {Física e Química Industrial, Electrotecnia), 4.° ano do curso de minas (s).
carta do curso de Engenharia Industrial pela Academia Politécnica ou
por uma Escola Estrangeira oficialmente reconhecida; e, finalmente,
A criação destas novas Cadeiras e da de Tecnologia tinha sido
para a admissão ao concurso na Secção de Ciências Jurídicas e Eco-
inegavelmente um passo importantíssimo no progresso do ensino téc-
nómicas, carta de bacharel formado em Direito pela Universidade de
nico na Academia. Mas notava-se ainda que a acumulação de maté-
Coimbra, ou diploma de um curso de Engenharia pela Academia Po-
rias em algumas cadeiras da Secção de Engenharia oferecia graves
litécnica ou pela Escola do Exército.
inconvenientes. «Assim, por exemplo, a 14.* cadeira (Construções e
Um artigo transitório do citado Dec. de 24 de Abril assegurava Vias de Comunicação) — dizia uma representação do Conselho Aca-
ao Conselho da Academia Politécnica a faculdade de colocar em qual- démico, em 4 de Março de 1904 — está exageradamente sobrecarre-
quer das cadeiras que viessem a vagar nas secções de Matemáticas gada, abrangendo disciplinas que em escolas congéneres são distribuí-
Puras, Engenharia Civil e Minas e Industrial, definidas pelo mesmo das por três e mais cursos. O mesmo acontece com a 17." Cadeira
Decreto, qualquer dos lentes que àquela data pertenciam à secção de (Tecnologia Industrial), pois que só a Física Técnica, incluindo a Elec-
Matemática, sem que o respectivo substituto tivesse direito a ser pro- trotecnia, tem um programa tão vasto que não é posBÍvel serem regi-
movido (*).

(') J.6, As, n. t.


('I C»d. i.*a 5,»
(') J-6, fis. n. t.
(') C»d. Ií.« a 15»
<") An. de 1903904, pág. 253 e Diário do Governo n.o 196, de 4 de Setembro
(*) Vide Dec. de 24 de Abril de 1902 in An. 1901.902, págs. 193.195. de 1903.
476 MKMÓâlA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO POETO OS ÚLTIMOS ANOS DA ACAD. POLIT. E O SEU APOGEU CIENTÍFICO 477

das todas as matérias convenientemente por um HÓ" professor, mesmo VII — Preparatório para o Curso de Farmácia nas Escolas
num curso bienal». Médico-Cirúrgicas (Dec. de 4 de Setembro de 1836,
Essas disciplinas poderiam considerar-se especiais aos Engenhei- artigos 129 e 130 ; e de 23 de Julho de 1902, a r t 6.°).
ros das Obras Públicas e Industriais, sendo portanto absolutamente V I I I — Curso de habilitação para o magistério de matemáticas,
necessário dar mais desenvolvimento ao respectivo ensino. Para ÍSBO, ciências fmko-químicas, histórico-nalurais e desenho do
aproveitando a circunstância de estarem vagos três lugares de lentes plano dos liceus (Dec. de 3 de Outubro de 1902) (1).
substitutos —, dois na secção de Matemática e um na de Filosofia —,
o Conselho da Academia Politécnica, por proposta de José Alves Bo- No ano de 1905-190b' apareceu maia um Curso de habilitação
nifácio (1). sugeriu, numa representação enviada ao Governo em 1904, ao magistério na secção de Filosofia da Academia Politécnica (*).
a supressão desses lugares—«visto que os professores da Academia
Politécnica fazem concurso por secções e assira é fácil substituírem-se Continuava e continuou em vigor o velho Regulamento de 1888,
uns aos outros, dentro da mesma secção»—e a criação, na vez daque- com as modificações que lhe introduziram os Dec. de 27 de Fevereiro
les, de dois lugares de professores catedráticos. Esta solução permi- de 1890, de 30 de Julho e 23 de Agosto de 1894 (3) e de 7 de Maio
tiria, sem novos encargos para o tesouro público (*), aliviar a acumu- de 1903. Uma destas foi a supressão dos concursos para prémios.
lação de matérias nas 14." e 17." cadeiras, pois que estas poderiam Daí em diante, «na reunião final do Conselho Académico de cada ano
ser desdobradas (3). lectivo, os lentes das diversas cadeiras, tendo em vista as provas da-
Cremos, no entanto, que o Conselho não conseguiu o que pre- das durante o ano e no exame final, organizarão uma lista com a
tendia. classificação numérica dos alunos que. considerarem dignos de honras
académicas, e esta proposta será submetida à aprovação do Conselho
A partir de 1904-1905 os cursos professados na Academia Poli- Académico». Pelo mesmo Decreto acabou a repetição dos exames
técnica, foram os seguintes : em Outubro ; os pontos passaram a ser tirados com vinte e quatro
horas de antecedência, e não apenas três horas, como o art. 40.° do
I— De Engenheiros Oitis de Oltras Públicas. dito Regulamento estabelecera. Etc. (4).
II— De Engenheiros Civis de Minas.
III— De Engenheiros Civis de Industriais. Progredia-se também quanto a dotações.
IV — lieparatório para a Escola do Exército (Dec. de 21 de No Orçamento Geral do Estado, a Academia Politécnica apare-
Abril e de 21 de Janeiro de 1898) (*). cia um pouco mais favorecida desde 1902-1903, o que era motivado
Para Engenharia Militar, Artelharia, Engenharia Civil pela inclusão das novas verbas, relativas ao vencimento do pessoal
e de Minas ; para Infantaria e Cavalaria. criado pelo Dec. de 2 de Setembro de 1901, ou sejam um 1.° Oficial,
V — Preparatório para a Escola Naval (Carta de Lei de 13 dois lentes, dois demonstradores, e três naturalistas; aos vencimentos
de Setembro de 1897). do pessoal do Observatório (1 Director, 2 ajudantes, 1 porteiro-escri-
VI — Preparatório para as Escolas Médico- Cirúrgicas. turário, 1 servente), e ao pagamento das «despesas de instalação dos

(') Vide as cad. que compunham estes cursos, o número de lições semanais de
Cl J - 6 , fli. n. t. cada disciplina, o número de anos de cada curso, in An. de 1904-905, de págs. J4 a 33.
f*) V i d e a Representação em An. de 1903-904, págs. 254-155. (*) Vide An. de 1904-905, pág. 24,
(*) Proposta de Bonifácio, j á cit. (s) Vide in An. de 93-94 o Reg. com estas modificações.
(4) Vide o primeiro desse» Dec. in An. de 87-98, pág. 155. (') Vide Dec. de 7 de Maio de 1903, cit. in An. de 1902-903, págs. 295-296.
478 MEMÓRIA HISTÓRICA UA ACADE MIA POLITÉCNICA DO PÓKTO
OS ÚLTIMOS ANOS DA ACAD. POLIT. E O SE U APOGE U CIE NTÍFICO 479

trabalhos práticos estabelecidos pelo Dec.» acima citado ('), e da ma­ Laboratórios, Gabinetes, Museus iam­se organizando, enrique­
nutenção do Observatório (*).
cendo e ganhando proporções e importância.
Em 1905­1906 foi concedida verba para instalação no novo edi­ A Academia merecia, enfim, dos Poderes públicos a atenção a
fício da Academia dos Gabinetes de Física (600$000), Zoologia que tinha direito.
(300*000) e Mineralogia (200$000). No ano imediato atribuíram­*» * Comparado com a penúria de outros tempos ainda nao distan­
570$000 para expediente e impressos da Secretaria; 950*000 para tes, podia dizer­se que se vivia em desafogo. As dotações fixadas no
hvros, publicações e assinaturas para a Biblioteca e Aula de Dese­
Orçamento de 1907­1908 para material, pessoal assalariado, extraor­
nho; e 6.0401000 para aparelhos, instrumentos, material de ensino e
dinário e diversas despesas, atingiam já 9.295$900 réis» (1).
instalação dos trabalhos práticos (9).
Contudo, a­pesar­das obras no edifício continuarem com regula­
Em Sessão do Conselho Académico de 5 de Fevereiro de 1906 ridade, ainda não havia salas suficientes para as exigências do ensino.
o Presidente Gomes Teixeira comunicou que o Governo pusera à dis­ A Biblioteca, os Laboratórios de Química, e algumas aulas ainda em
posição da Academia 20 contos de réis para mobiliário, parecendo­lhe 1908 estavam instaladas em más condições nos locais antigos, e muito
portanto conveniente nomear uma Comissão composta de Ferreira da material de ensino encontrava­se amontoado e algum encaixotado por
Silva, Azevedo Albuquerque, Roberto Mendes, Sousa Pinto e Bento
falta de lugar e mobília para o dispor (*).
Carqueja, para tratar da instalação dos divemos Gabinetes; propôs
Fora, porém, publicado no ano anterior um diploma em cujos
também que se oficiasse ao Director das Obras Públicas do Distrito
resultados se depositavam grandes esperanças : referimo­nos ao De­
do Porto a pedir­lhe para fazer parte dessa Comissão. Tudo foi apro­
creto de João Franco que conferiu autonomia aos estabelecimentos
vado (4).
de ensino superiores do país, dependentes do Ministério do Interior.

(') No Orçamento de 1904­905 figuram 2.400*000 , * . . este fim, assim distribui­


do. : 900*000 par. o Laboratório Químico, e S oo$ooo para cada um doS três seguinte, (') E duardo Lopes — Genealogia duma Escola. Origem e tradições da Ac.
estabelecimento.: Gabinete e Museu Botânico, Gabinete de Mineralogia, Museu de Politécnica, actual Faculdade de Ciências da Universidade do P arto (1762­1911) in
Zoologia. Anuário da Fac. de Ciências de 1911­1912 e 1913­1914, pág. LV.
(') O Orçamento de 1902­903 autoriza­se, ao in»crever essas verba, «cima refe­ ft Cfr. Mensagem de Gomes Teixeira lida no dia 10 de Novembro de 1908 a
rida,, com o. Dec. de 13 de Janeiro de 1837 e 27 de Agosto de 1844, Carta, de Lei D. Manuel II por ocasião da sua visita à Academia. Vide por ex. O Primeiro de Janeiro,
de 17 de Agosto de 1853, 25 de Abril de 1876, 14 de Junho de 1883, .2 de Março de 11 de Novembro de 1908.
de 1884, 21 de Junho de 1885, 22 de Agôsio e 1 de Setembro de 1887, e Dec. de Aproveitemos a oportunidade desta nota para dizermos que em 25 de Novembro
8 de Outubro de 1897 e 2 de Setembro de 1901. de 1891 « Academia fora visitada por D. Carlos.
(*) E .ta última imporlância foi assim distribuída : O Comercio do P erto do dia imediato, ao noticiar essa visita, conta que a
el­rei foi chamada a atençío, na Aula de Desenho, para uns desenhos que lá havia, exe­
Laboratório Químico , 0 8o$ooo
Gabinete de Física . . . . . . . 900*000 cutados por princesas da Casa Real Portuguesa. D. Carlos preguntou como haviam ido
para ali tais quadros, respondendo Gomes Teixeira que isso fora devido a ser professor
' Zoologia 680*000
das mesmas princesas o pintor Domingos António de Sequeira que desde Maio de 1806
» » Cinemática e Topografia 180*000
ate 1821 foi também director da aula de desenho.
» . Botânica 50.^000
* Mineralogia 500*000 Esses quadros eram :
■ Máquinas 500*000 — Um desenho a lápis, representande o anjo S. Miguel, tendo por baixo inscrito:
» » Construções 500*000 € Infanta D. Maria Ana, fêz em 1773».
— Um pastel, representando duas cabeças de saloios— «Princesa D. Maria Teresa,
* ' Mi<i»s 500*000
" * Docimasia 500*000 fêz em 18041.
• > E lectrotecnia 500*000 — Um desenho a dois lápis, representando duas pequenas cabeças de criança, cópia
do gesso— cD. Carlota Joaquina, princesa do Brasil, fêz em 1804».
O mesmo te lê no Orçamento do ano imediato.
[*) J­6, fls. n. t. Sessão cit. — Uma aguarela, retrato duma religiosa — «D. Maria Francisca Benedict», prin­
cesa do Brasil, fêz em 1781»,
480 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO POKTO
OS l'iLTIMOS ANOS DA ACALí POLIT. E O SEU APOREU CIENTÍFICO 481

Em Fevereiro de 1907 aquele estadista apresentara k Câmara que porventura se assustem de ver realizado entre nós, como na
dos Deputados uma proposta de lei de reorganização dos serviços su- Alemanha e na França, este conceito, diremos que a experiência
periores de instrução pública. Essa proposta constava de quatro par- não será perdida, ainda que o futuro venha a trazer o seu malogro'
tes : — na 1.* reorganizava-se o Conselho Superior de Instrução Pú- «Tudo porém, augura que, ao contrário, o êxito virá coroá-la.
blica ; na 2." dividia-se em duas Direcções Gerais, uma exclusivamente O nosso Pais atravessa manifestamente uma época de renovação em
que as diferentes forças sociais revelam uma ânsia irreprimivel de
destinada ao ensino primário e outra para os restantes graus de en- vida e de movimento. É preciso aproveitar esta energia que des-
sino, a existente Direcção Geral de Instrução Pública ; na 3." estabe- perta, animando a iniciativa em vez de a escravizar, como até aqui,
lecia-se a autonomia de diversos institutos de ensino superior, depen- nas peias de uma excessiva centralização'.
dentes do Ministério do Reino; finalmente na 4.» parte autorizava-se
o Governo a contratar fora do país um certo número de professores O Dec. de 19 de Agosto de 1907 conferiu no seu art." 37 aos
estrangeiros, para virem prestar serviços no ensino primário e secun- estabelecimentos de ensino acima enumerados, e portanto à Academia
dário. Politécnica, capacidade civil, sob a inspecção do Governo para :

Na 3." parte acima citada, a proposta de lei aumentava sensivel- l.o Adquirir a título gratuito os bens que lhes forem trans.
mente as dotações à Universidade de Coimbra, Escola Politécnica de mitidos para uso do ensino a seu cargo ;
Lisboa, Academia Politécnica do Porto, Escolas Médico-Ciriirgicas de 2.o Para os aplicar, quando imediatamente destinados aos
Lisboa e Porto, e Curso Superior de Letras ; dava a estes estabeleci- usos do ensino, ou para aplicar o seu produto, e bem assim quais-
quer dotações do Estado destinadas ao respectivo material, diversas
mentos capacidade civil para adquirir e aplicar bens que íhes fossem
despesas e pessoal assalariado, e ainda as roais receitas compreen-
transmitidos em benefício do ensino a seu cargo e ampliava conside- didas nos n.os 1.° a 6,o do art " 39 que abaixo segue*.
ravelmente as atribuições deliberativas dos Conselhos Escolares e Esse art.o 39 diz :
Académicos. — «Constituem receita dos institutos de ensino superior enu-
merados no art.° 37t ( , a r a ser p 0 r eles aplicada :
Apresentada esta Proposta, como acima ficou dito, não chegou a
l.o Os bens ou o seu produto de que trata o n.° l.o do mesmo
ser discutida pelas Cortes, mas, ligeiramente modificada, foi transfor- artigo ;
mada em Decreto com força de lei, em 19 de Agosto de 1907. 2.° As dotações que lhe* estejam lixadas no orçamento par»
São do seu Relatório os seguintes notáveis períodos : o exercício de 1907-1908, com destino a pessoal assalariado, mate-
rial e diversas despesas;
•Voltemos tim pouco ao nosso passado [. .. ] Concedamos às 3.o Uma parte das respectivas propinas de abertura <• encer-
Escolas Superiores, suposto sem quebra do laço que as deve pren- ramento de matrículas : na Universidade —a quarta parte; na Escola
der MO Estado, mas sem apertar este laço ale ao desconcerto de o e Academia Politécnica e nas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e
concerter em instrumento de inércia, condiç3es de vida própria, Porto — a terça parte; a totalidade no Curso Superior de Letras.
condições de existência saudável, de autonomia razoável na admi- 4 " As respectivas propinas ou indemnizações pagas pelos
nistração da fazenda que lhes pertence, e outrossim no exercício do alunos por trabalhos práticos ou por outros fora das aulas obriga-
ensino. Na constituição das respectivas receitas incluamos parte tórias ;
ao monos do produto das suas propinas de matricula, fazendo 5.o 0 produto de quaisquer análises ou exames feitos em esta-
quanto possível reverter em proveito dos estudos o que em retri- belecimentos seus, gabinetes ou laboratórios à custa destes, por
buição dos estudos se paga. Em uma palavra, deixemos àquela* conta de particulares;
escolas o direito de subsistirem por si mesmas, de caminharem sem ti." A verba que se inscrever no Orçamento do Estado para
tropeços aos seus fins, de exercerem o seu governo como pessoas trabalhos de investigação originalt.
morais incumbidas de um altíssimo papel na sociedade e outorgue-
mos-lhes, nos limites que a qualidade de institutos públicos justa- Pelo art.° 43 do mesmo Decreto, alargaram-se consideravelmente
mente mande respeitar, mas só com a restrição destes justos llmi- as atribuições dos Conselhos Académicos, permitindo-se-lhes determi-
tea, a sua carta de alforria: «a ciência é a liberdade», E àqueles nar os métodos de ensino e a forma dos exames e exercícios ; instituir,
482 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
OS ÚLTIMOS ANOS DA ACAD. POLIT. K O SEU APOGEU CIENTÍFICO 483

criar e ordenar quaisquer serviços, corno cursos especiais, cursos de também para levar pelo mundo o nome da Academia Politécnica do
aplicação científica, explorações e sua remuneração, viagens a países Porto e fundamentaram o seu prestígio nos mais distantes países. Nas
estranjeiros ; criar e sustentar museus, laboratórios, gabinetes, obser- páginas dessa consideradíssinm Revista, aberta a nacionais e estran-
vatórios, jardins, bibliotecas, comprar livros e assinar jornais ; adqui- jeiros, professores das mais notáveis Universidades publicaram com
rir e reparar instrumentos e aparelhos e mais material científico; desvanecimento, a convite ou por seu próprio pedido, valiosos traba-
publicar memórias; promover melhoramentos nos edifícios escola- lhos. Lá ae encontram, ao lado dos professores da Academia, alguns
res e nos anexos ; aplicar as receitas próprias a serviços ou desti- dos nomes mais representativos da cultura mental daquela época :
nos que acudissem âs exigências do ensino e ao progresso da ciência. «Apell, director da Faculdade de Paris; Haton de ta Goupillière,
Aos Conselhos Académicos pertencia ainda organizar e propor os pro- membro do Instituto; D'Ocagne, prof, da Escola de Minas; Gino
gramas para a regência das disciplinas; estatuir regulamentos sobre Leria* da Universidade de Génova; Levi-Civita, da Universidade de
faltas de frequência dos alunos; contratar quaisquer professores ou Pádua; Jahnke, da Escola de Minas de Berlim; Stackel, da Univer-
técnicos, nacionais ou estranjeiros, precisos para o ensino, e contratar sidade de Heidelberg ; Landow, da Universidade de Gõttingen ; Neu-
outro pessoal ; exonerar o pessoal contratado ; assalariar pessoal e berg, da de Liège ; Servais, da de Gand ; Schoute, da de Groningne
exonerar o pessoal assalariado ; resolver àcêrca da dispensa de prazos (Holanda); Nielsen, da de Copenhagen (Dinamarca); Lerch, da Escola
de matrículas; autorizar o desdobramento de frequência de cadeiras Técnica Superior de Briinne (Austria) ; Tauruichi Hayashi, da Tokio
ou cursos obrigatórios, em caso de necessidade ; regular o regime Koto Schihan Gakks, (Japão) ..» (1)
interno dos serviços académicos ou escolares; estabelecer os compe-
A Academia Politécnica do Porto era então um estabelecimento
tentes regulamentos sobre os mais objectos de administração científica
de ensino que honrava não só quem a êle pertencia, mas até quem
e pessoal (1).
era admitido a fazer parte do número dos colaboradores dos SCUB
Era, na verdade, uma autêntica e completa carta de alforria! Annaes.'

Porque neste lugar nos ocupámos especialmente da Academia


Politécnica, diremos que ela, sem dúvida, merecia essa autonomia. Longa tinha sido a caminhada desde que — sucedendo à velha
Além de ter dado as melhores provas de administradora, muitos dos Academia Real de Marinha e Comércio, originada pela modesta Aula
seus filhos (*) e a pléiade brilhantíssima dos seus lentes haviam con- de Náutica que a iniciativa dos homens portuenses de negócio criara
seguido criar-lhe fama em todos os meios cultos do país e do es- em 1762—a Politécnica heroicamente começara a sua odisseia através
tranjeiro. das inclemências da sorte, e da má vontade dos homens.
Os seus Annaes Scientificos, começados a publicar sob a direc- Amparada pela solicitude admirável dos seus lentes, sustentada
ção do sábio matemático Gomes Teixeira em 1905 f3), contribuíram por eles entre dificuldades de toda a ordem, por vezes até à custa de
duros sacrifícios pessoais, defendida ferozmente dos ciúmeB e das arre-
(') Diário do Governo, n.o 188, de 24 de Agosto de 1907, metidas de quantos contra ela conspiraram, ou a atacaram claramente,
{*) Vide em Apêndice a este livro a lista dos Engenheiros diplomados pela Aca-
demia Politécnica do Porto.
O Substituíram o antigo Jornal das Sciencias Mathematicas e Astronómicas de de todos os países, receheu-se em troca grande número de publicações periódicas desses
Gomes Teixeira; foi este Prof, que apresentou a respectiva proposta em Sessío do Con. estabelecimentos. Em 1910, o Relatório da ('omissão Redactora diz que se recebiam
selha Académico de 6 de Feveieiro de 1905 (J-b, fis. n. t.) Em sessSo de 7 de Abri' 234 revistas anualmente, ou seja um valor de 585(000, atribuindo em média a cada
seguinte o Conselho deliberou criar 05 Annaes, e manier o Annuario na parte relativa volume o valor de 2(500. Cada volume dos Annaes ficava por 353(600 réis, donde
a frequência e estatística (Op. cit.). A Portaria de 5 de Maio de 1905 aprovou a sua se conclui que a iniciativa da sua publicação fora vantajosa sob todos os pontos de vista,
publicação. Distribuídos largamente pelas Universidades, Escolas Técnicas e Academias (') Ed. Lopes, ob. cit., pág. LVIII,
484 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

a Academia Politécnica do Porto tudo venceu, foi cumprindo a sua


missão e atingiu os primeiros anos da República na inteira posse de
um alto e incontestável prestígio científico.

Por quanto fica dito nas páginas deste livro se vè que, ao ser
criada, pelo Decreto com força de lei de 19 de Abril de 1911, a Uni-
versidade do Porto, a Academia Politécnica pôde transmitir às suas
sucessoras — Faculdade de Ciências e Escola de Engenharia (futura _
Faculdade) — uma honrosíssima e gloriosa herança de Berviços à Pátria
e à Ciência I

PROF. GOMES TEIXEIRA


4." e último Director du Aendemïa
APÊNDICE
■ ^''■ir^T­Ví.;'!'^;'' ? ^*; I '."■• ­ .

ENGEXHEIROS DIPLOMADOS
PELA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO (1)

D a t a em que
Nomes foi conferida

d o curso
Engenheiros de pontes e estradas (Reforma de 1837J

Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa 18­ 9.0­1850


Henrique Guilherme Tomaz Branco 4­ 3.0.1854
Carlos Augusto de Abreu 6­ 3 0 1 8 5 4
Manuel de Almeida Ribeiro 18 10.0­1854
Francisco Xavier de Almeida Ribeiro 17­ 7.0­1857
Miguel Maria Gomes 22­ 7.0­1858
Francisco da Silva Ribeiro ­ 5.10.0.1858
Henrique Augusto da Silva 27­ 7.0­1859
José de Macedo de Araújo Júnior 7­ 1.0.1860
Joaquim de Azevedo Sousa Vieira da Silva Albuquerque 3­ 8.0­186 [
Joío Allen 3­ 8.0­1861
Francisco António de Rezende 5­ 80­1861
José Joaquim Rodrigues de Freitas 15­ 7.0­1862
José Taveira de Carvalho Pinto e Menezes 15­ 7.0­1862
Artur Kopke de Calheiros Lobo 15­ 7.0­1862
Alfredo Praça de Vasconcelos Pereira de Almeida 17­10.0.1863
Alberto Alvares Ribeiro •*■ 8.0­1864
Torquato Alvares Ribeiro I í ­ 8.0­1864
António Maria Kopke de Carvalho 18­ 7.0­1865
Francisco Garcia Júnior *6­ 7.0­1865
António José Antunes 7" 9°­l8t>5
D. Luiz Benedito de Castro (Conde de Rezende) 5­ 9.0­1866
José Guilherme Parada e Silva Leitão 24­11.0­1866
José Jerónimo de Faria 30­11.0­1866
J0S0 Gualberto Povoas • ■ 21­120 1866
António Tavares de Almeida Lebre 22­12.0­1866

(') Mapa extraído do Anuário da Faculdade de Saéncias da Universidade do


Pert», Coimbra, Imprensa da Universidade, de págs, 419 a 424.

488 MRMORIA HISTÓRICA I.A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO


APÊNDICE 489

Data em OH Data em que


Nomes '°* conferida VTo l
N
foi conferida
a cart* »« a carta
do curso do curso
Alexandre Simões d» Conceição IO_ 40.,8(,,
Kstê>ão Torres 13­ 8.0­1885
Alviro Alio Pacheco . . , ,r .....
15­ 7­ ­186,­ José Maria Pinto Camelo 19. 8.0­1885
Antómo Plácido de Vasconcelos Peixoto 31­7.0.1867 João José Lourenço de Azevedo í . 9.0.1885
Henrique Barbos» Gonçalves Moreira , , . g 0.186" António Vilela de Oliveira Marcondes 23­ 9.0­1885
Custódio de Almeida ,, ,, ,Q/ José Maria de Melo de Matos 9­10.0­1885
13­110­1867
Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 12­12.0­1885
António José de Sá J( 90­1868
Teófilo Leal de Faria 9. 2.0­1886
António Ferreira de Araújo e Silva ,g. Q o, 1868
Wiliam Macdonald Smith 18­ 7.0­1889
Manuel Duarte Guimarâïs Pestana da Silva 15­12.0­1860
José Joaquim GuimarSis Pestana da Silva 15­11.0­1869 Engenheiros Je minas (Rtforma Je ISJJJ
José Macário Teixeira 15­1^­1870
Sebastião José Lopes 1­8.0­1870
Alberto Álvares Ribeiro 19. 8.0.1864
João Honorato da Fonseca Regala 2 2 . 10­1871
Torcato Álvares Ribeiro 19. 8.0.1864
Angelo José Moniz 17­100.1871
Francisco Garcia Júnior i­ 8.0.1865
Rodrigo de Melo e Castro de Aboim 2 + . 8.0.1872
Álvaro Alîo Pacheco 3. 7.0.186"
Alfredo Soares . 30­8.0­1872
José Macário Teixeira ■ 18­ 9.0­1868
Diniz Teodoro de Oliveira „ 90­1872
António José de Albuquerque do Amaral Cardoso 3­120­18­2 António Ferreira de Araújo e Silva 18. 9.0.1868
Lai*. Xavier Barbos. ' 10. O 0 . l 8 J 2 Angelo José Moniz 17­10.0.1871
Manuel Rodrigues de Miranda Júnior 7­10.0.1873 Rodrigo de Melo e Castro de Aboim . 24. 8 0 1 8 7 2
Joaquim Duarte Moreira de Sousa , 5 . , 0­t8­b Alfredo Soares 30­ 8.0­1872
Elvino José de Sousa e Brito 2 g . ­ 0.1876 Diniz Teodoro de Oliveira 9­ 9.0.1872
António Miguel Beleza de Andrade 2­ 7,0.,8­7 António José de Albuquerque do Amaral Cardoso 3­12.0.1871
Joio Henrique Adolfo Von­Hafe , . 80­1878 Luiz Xavier Barbosa 30­ 9.0­1872
Filipe Gonçalves Pelouro fa. 80.1878 Manuel Rodrigues de Miranda Júnior 7­10.o.1873
Paulo de Barros Pinto Osório í g . 70­1878
Justino Marques de Oliveira. . 13. 3.0.1876
António José Arroio j , ío.lg70 Klvino José de Sousa e Brito 29. 7.0.1876
Afonso do Vale Coelho Cabral í 6 . 5.0­1879 Manuel Tavares de Almeida Maia 26. 5.0.1877
António Franco FrazSo 2o _ ; 0.1870 António Miguel Beleza de Andrade 27­ 7.0.1877
Adolfo Bétbézé Neri de Vasconcelos í 0 . ­,0.1879 António Franco FrazSo . 24. 7.0­1878
J0Ï0 Crisóstomo Lopes 1. 8 o 1870 J0S0 Crisóstomo Lopes 2­ 8.0­1879
Frederico Pinto Pereira de Vasconcelos 7 . 8,0.1879 Adolfo Bétbézé Neri de Vasconcelos 7. 8.0­1879
José Joaquim Dia, 4­9.7^­1880 Frederico Pinto Pereira de Vasconcelos n ­ 8.0­1879
Jcïo Rodrigues Pinto Brandlo , , 0 . 70.1880 José Maria Chartres de Azevedo 23­ 7.0.1881
José Maria Chartres de Azevedo , . 8.0.1881 Artur Carlos Machado GuimarSis 4­ 8.0­1882
José Augusto Ribeiro de Sampaio , 23­100­1881 Francisco de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 24. 2.0­1883
Augusto Júlio Bandeira Neiva , , . 50­1882 Manuel Maria Lopes Monteiro 12­ 7.0­1884
Artur Carlos Machado Guimarïis 4­80­1882 António Vilela de Oliveira Marcondes 23­ 90­1885
Isidoro António Ferreira . , , , . 00.188,1 Manuel de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres 15­12.0.1885
Manuel Maria Lopes Monteiro 2<i­ 90.1884 Teófilo Leal de Faria 5. 3 o. 1885
Júlio Pinto da Costa Portela 17­12.0­1884 Wiliam Macdonald Smith , 21­ 7.0.1887
Saturnino de Barros Leal , , . c.o.igge
Henrique Carvalho de Assunção ' 2 0 . 70­188¾
190 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
APÊNDICE 491

I >.il.t i m q u e
f D a t a em que
Nomet "' conferida foi conferida
a Guti Nome* , a n t
do curso
do curto
Engenheiros geógrafos (Reforma de 1837}
Eugénio Estaniilau de Barros 11­10 0.1899
Joaquim P i o Correia de Brito . 4­11.0­1899
Francisco Garcia Júnior . Q_ 2.0.1866
Caetano Marques de Amorim 14­12.0­1899
António Franco Frazão 26­ 7.0­1870
F e r n a n d o Anselmo de Melo G. Sampaio d e Bourbon 3­ 8 0 ­ 1 9 0 1
Estêvão Torres . • 1­12.0­1885
Tomaz Joaquim Dias 9­ 9.0­1901
J o i o António dos Santos Silva 21­10.0­1901
Engenheiros de obras públicas (Reforma de 1885)
Joaquim Augusto Leite Ferreira P i n t o Basto 8­110­1901
J o i o Evangelista Gomei R i b e i r o 18­11.0­1901
Caetano Maria de Amorim ■ 2 2 . 6,0.1886
Alfredo Ferreira 5­ 9 0 ­ 1 9 0 2
Francisco da Silva Monteiro 22­ 6.0­1886
J0S0 Teixeira de Queiroz C. d e Almeida Vasconcelos 13­ 9 0 ­ 1 9 0 2
Francisco Xavier Esteves 22­ 6.0­1886
António Eugénio de Carvalho e Sá 19­ I.o­1904
Joaquim Augusto de Macedo Freitas 22­ 601886
Alexandre de Proença de Almeida Garrett 23 1.0.1904
António H o m e m da Silva R o s a d o l8­i|o­i88"6
Arnaldo Casimiro Barbosa 23­ I.0­1904
Ernesto Eugénio Alves de Sousa Júnior 2­ 8 0 1 8 8 8
Francisco José Ferreira de Lima 15­ 1.0­1904
Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco 4 . 8 0 1888
Alberto da Cunha L e i o Filho »8­ 1.0­1904
José Alves Bonifácio i>. 8 . 0 1 8 8 8
António Teles de Vasconcelos Pignately *b­ 3 , 0 1 9 0 4
Artur Mendes de Magalhâïs R a m a l h o 13­ 8 0 . 1 8 8 8
António Taveira de Carvalho 16­120­1904
António de Sousa Monteiro 1912.0­1888
João de Saldanha Oliveira e Sousa 23­ 3 0 ­ 1 9 0 5
António Rigaud Nogueira 2­ 8.0­1889
Diogo Dominguez Perez 31­ 80­1905
Filipe de Sousa Carneiro Canavarro I I ­ 1 2 0.1889
Hipólito Gustavo Mudat ' 31­ 8 0 ­ 1 9 0 5
R a i m u n d o Ferreira dos Santos 6­ 8 . 0 1 8 8 9
Gervásio Pinto Ferreira Leite .7­ 90­1905
Álvaro Aurélio de Sousa R ê g o 15­11 0­1890
Vitor H u g o Joaé Teixeira Machado 7­ 9.0­1905
João Crisóstomo de Oliveira R a m o s 29 11 0.1890
António Xavier Gomes dos Santos 7­ 9,0­1905
Manuel de Sousa Machado Júnior 12­11.0­1890
António Ferreira da Silva Brito Júnior 4­11.0.1905
Ricardo Severo da Fonseca Costa , 14­11 o. 1890
Joaquim Torcato Álvares Ribeiro' z i ­ i 10.1906
Manuel Gonçalves de Araújo 2­ 8.0.1892
Alberto Ventura da Silva Pinto ' 29­11.0.1906
António Duarte Pereira da Silva 2­ 8.0.1892
Casimiro d e Castro Neves Pereira L e i t e 20­ 4.0­1910
Casimiro Jerónimo de Faria 17­100.1892
Vasco O r t i g ï o de Sampaio 2 7 ­ 1 2 0 1892
Engenheiros de minas (Reforma de 188$)
Gregório Correia Pinto Rola io­ 1.0­1893
Luiz Couto dos Santos . 30­11.0­1894
Ricardo Severo da Fonseca Costa , 6­ 3.0­1891
Flávio Augusto Marinho Pais 2 5 . 4,0.1895
Vasco Ortigão de Sampaio 20­120.1892
Paulo Ferreira 2 3 ­ 8 0 1895
Gregório Correia F i n t o RÓla t o ­ 1 0­1893
António Luiz Soares Duarte 13­ 9 0 1895
Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco 10­ 1.0­1893
D. Rita de Morais Sarmento 30­ 7.0­1896
Flávio Augusto Marinho Pais 4­ 5.0­1894
Octávio de Campos Monteiro 15­1 10.1897
José A m a d e u dos R e i s Castro Portugal 21­12.0­1896
Vasco Peixoto Taveira 18­11.0­189­
Manuel de Matos Ferreira Carmo IO 12 0­1897
Manuel de Matos Ferreira Carmo 10­12.0­1897
Vasco Peixoto Taveira 15­12.0­1897
Emílio Correia do Amaral 3 . 5 0­1898
A n t ó n i o José Gonçalves P o r t o Júnior 8­ 3.0­1899
Américo Augusto Vieira de Castro . 2 3 . 1 0­1899
António Eugénio de Carvalho e Sá 14­ 6 0 ­ 1 8 9 9
Hermínio Soares da Costa e Sousa 11­ 2.0­1899
F e r n a n d o A n s e l m o de Melo G. Sampaio d e Bourbon 28­ 8.0­1902
Ezequiel Pereira de Campos 16­ 6.0­1899
Francisco José Ferreira de Lima , 25­ 1.0.1904
492 UEMÔH1A HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA IX) POKTO

Data em que
foi
Nome. «aferida
do cu no
Alberto da Cunh» Leão Filho 2g. 1,0.1904
Tomai Joaquim Dia« j8. 7.0.,904
António Taveira de Carvalho 16-12.0-1004
Joio de Saldanha Oliveira e Sousa ZJ_ 3.0-1905
António Ferreira da Silva Brito Júnior 4-11.0-1905
Joaquim Torcato Al vare» Ribeiro jr.-110.1906
Alberto Ventura da Silva Pinto 19-11.0-1906
Francisco Xavier Esteves j 0 . g 0-iQ,,

Engenhttros industriais (Reforma de 188$)

José Amadeu dos Reis Castro Portugal ai-u.0.1896


Alberto da Cunha Leão Filho 2g. j 0.1004
Joaquim Torquato Álvares Ribeiro a 1-11.0-1006
Alberto Ventura d» Silva Pinto Ï9-11.0-1906

Esta relação nâo abrange todos os alunos que concluíram o curso,


maB s<5 aqueles que, tendo-o concluído, requereram o respectivo di-
ploma.

(') Concluído em 1885.


Í N D I C E DOS C A P Í T U L O S

I­Origens 1
I I — Academia Real de Marinha e Comércio 19
III — A Academia Real de Marinha e Comércio e a Revoluçïo de
Setembro 135
IV — A recuperação do Edifício, ocupado pelo Hospital Militar. . 145
V — A criaçïo da Academia Politécnica 151
VI — A «instalação» da Academia Politécnica e o seu período
transitório '57
VII — A transferência da Politécnica para o seu edifício próprio. . '67
VIII — O primeiro Programa dos Cursos Académicos 181
IX — O primeiro Regulamento dos Actos 207
X — As primeiras dificuldades materiais da nova Academia ■ . . 217
XI — Começa a guerra aos «preparatórios militares» da Politécnica 225
XII ­ O falaz decreto de 20 de Setembro de 1844 e as aspirações da
Academia 241
XIII — Lutando contra a maré 247
XIV — D­ Maria II na Academia 265
X V ­ «Extinga­se a Academia Politécnica!» 277
XVI — Um raiar de esperanças 283
XVII — Entre duas arremetidas 311
XVIII — Luta de vida ou de morte . . '. 341
XDC — A inspecção extraordinária 363
XX — Progressos lentos ' 371
XXI — Wenceslau de Lima e a reforma da Academia Politécnica­ . 405
XXII — A reorganização ou a nova fase da Academia 423
XXIII — A conclusão do edifício 441
XXIV ­ Os novos melhoramentos e a acçSo de Bento Carqueja . . . 457
XXV — Os últimos anos da Academia Politécnica e o seu apogeu
científico • . 473
s

ÍNDICE DAS GRAVURAS

pá E >.
Fachada norte do edifício da Academia de Marinha era 1833, com o
seu torreão do nascente ™

Lado poente do edifício da futura Academia Politécnica, em 1833 . . 73

15a
Manuel da Silva Passos

Os alunos da Politécnica, era 1880, acompanhados por alguns professores 403

416
O corpo docente da Politécnica em 1880

AlunoB da Politécnica, que terminaram os seus cursos em 1880-81,


4a3
juntamente com alguns professores

A Academia Politécnica em 1870. Lado Sul 444


.

ÍNDICE ALFABÉTICO

A l b u q u e r q u e . Joaquim de Azevedo
S. V. da Sitva 390, 395, 398, 399,
414, 416, 418, 421, 433. 434,
A b o i m . Rodrigo de Melo e Castro 451,461,462,464,466 . . . 478
390, 396 . . . 399 A l b u q u e r q u e . José Inácio de . . 149
A b r e u . António Luiz de. 175 A l b u q u e r q u e . Luiz de Almeida e 374
A b r e u . José Mari» de 59, 68, 204 A l b u q u e r q u e . Luiz da Silva Mou­
*<9. 3*5. 35 2 , 3 6 ' . 3<i3. 3 6 4 sinho de 252
36c, 366, 36;, 368. 308, 371 A l b u q u e r q u e . Mousinho de . . 235
387, 388 398 A l c o f o r a d o . Manuel José da Cunha
A b r e u J ú n i o r . Antonio José Tei e Sousa 48 127
íeira de •49 A l e x a n d r i n o . Pedro. . . . 95
A b r e u J ú n i o r . Antonio José Tei­ A l h e i r a . António José Lopes 50,
xeira de (Notas biográficas) , 87 8 7 , 140, 139 144
A c a d e m i a de Belas­Artes de Lisboa »79 A l m e i d a . António Pinto de 59, 8 9 ,
A c a d e m i a de Desenho e Pintura <>5 139, 142, 158. 159 2S3
A c a d e m i a de Fortificação I I , 12 A l m e i d a . A n t ó n i o Ribeiro dl
13, 3 i , 126 . . . . . 239 Costa e 315
A c a d e m i a dos Guardas­Marinhas A l m e i d a . Sebastião Botamio de 273
de Lisboa 14, 15, 20, 22, 23. 32 57 A m a r a l . António Maria de Lemos
A c a d e m i a Portuense de Relas­Anes do 266
128, 151, 154, I5S. 16°, Ihl A m a r a n t e . Carlos Luiz Ferreira
183, 217, 271, 274, 279, ! 97 da Cruz 68, 275 391
306, 383, 388. 444 . ■ ■ ­ 474 A m é l i a . D Maria no
A c a d e m i a Real das Ciência de A m é l i a . Rainha D 448
Lisboa 39, 40, 85, 114, 118 330 A n d r a d e . Alexandre Soares Pinto
A c a d e m i a Real de Marinha e Co de . . . . . . . . . . 354
mércio do Porto I, 8, 9, 15, 18 A n d r a d e . Dr. Joaquim Navarro de
19, 28, 30, 31, 39, 40. 54. 57 36, 37. 39. 67. 90. " 3 a . . 115
59. 74. »35. ' 3 6 . 15«. '57. >75 A n d r a d e . José Calheiros de Maga­
225, 226, 227, 229, 239, 251 IhSis e 48 . 118
260, 282, 285, 298, 307, 364 A n d r a d e . José Pinto Rebelo de . 142
381, 429 . . . . 483 A n d r a d e . Luiz Baptista Pinto de
A c a d e m i a Real de Marinha de 50. 185. ' 4 3 . 204. 2 2 3 . 261.337 359
Lisboa 12, 14, 15, 20, 22, 23, 24, A n d r a d e . Sebastião Corvo de (No­
25. 55. 57. 59. 61. 64 . . . "5 tas biográficas) 133 134
A c a d e m i a de S. Lucas . . . 95 A n d r a d e . Dr Sebastião Correia de 39
A n u á r i o da Academia Politécnica
A g u i a r . António Pinto de Magalh5is
434 do Porto 394 482
3'9. 359. 372. 389, 396 . ■ A n n a e s Scienuficos 482
A g u i a r . Joaquim Nunes de . 371
A p r e s e n t a ç ã o . Fr José da. . . 124
A g u i a r . José António de l i o , 163 261 A r a ú j o J ú n i o r . José Joaquim Bar­
248. 253 129 bosa de '. . 402
Al&o. João Joaquim Alves de Sousa
500 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
APÊNDICE 501

A r a ú j o J ú n i o r . António Pereira B a t a l h ã o (2 o) de Artistas . . . 252


de 50, 89 100 B a t a l h ã o Fixo J­J C a r d o s o . José Joaquim Lopes . . 266 f>7­ 6". 73. 74. 77. 79, 95. ' ° 3 .
A r n a u d . Jusé Duarte Salustiano 50, B e t t a m i o . Genuino Barbosa. . 50 C a r l o s . Rei D. 445, 448 . . . 467 104, 105, 110, 116, 140 . . . 249
._»'. 121 B e t t a m i o . Genuino Barbosa (Notât C a r l o s . Rei D.— na Academia. . 479 C o n c h a . General 255
A r r o i o . António José 102 biográficas). . . . . . . . 105 C a r n e i r o . José Luiz Lopes 50, 140, 144 C o n d e das Antas 252 253
A r r o i o . José Diogo 397, 398, 399, B i b l i o t e c a da Academia 67, 251, C a r n e i r o . José Luiz Lopes (Notas C o n d e de Amarante III
414, 416, 418, 4*i, 432, 4 S i . 45J 263, 270, 293, 323. 334. 336, biográficas) '23 C o n d e do Bolhão HO
A s s o c i a ç ã o Comercial 400 . . . 414 337. 37*. 38*. 394. 458 . . . 479 C a r n e i r o . Manuel José . . . . 128 C o n d e de Campo­Bello 447, 454 . 454
A s s u n ç ã o . D. Maria de . . . . 109 B r a g a . Arnaldo Anselmo Ferreira C a r q u e j a J ú n i o r . Bento de Sousa C o n d e de Rezende 337
A t e n e u D. Pedro 151 262, 272, 2 8 0 , 288, 2 9 1 , 3 0 3 , 403. 436, 445, 448, 454, 457. C o n d e do Tojal 258
A u l a de Agricultura 50 324. 33°. 336, 337. 359. 390, 397 466. 467, 468, 475 . . . . 478 C o n d e de Tomar 256 258
A u l a de Comércio 50 B i b l i o t e c a Pública 66, 110, 297, C a r r i l h o . António Maria Pereira C o n d e de Vai de Reis . . . . 95
A u l a de Comércio de Lisboa 9 . . 57 306, 329, 383, 388 444 387 388 C o n d i ç õ e s de Admissão dos alunos 52
A u l a de Desenho de Lisboa 7 . . 10 B r a n c o . Camilo Castelo . . . . 84 C a r t a de Capacidade 242 . . . . 243 C o n s e l h o Geral de InstroçSo Pú­
A u l a de desenho da Corte. . . . 57 B r a n c o . Henrique Guilherme Tomaz 266 C a r t a de Capacidade de Pilotos. 258 blica 324, 325, 326, 327, 347,
A u l a de Francês 51 B r a n c o . Manuel Bernardes . . . m C a r t a de Lei de I de Agosto de 348. 349, 358, 3<*>. 3^8 . . . 371
A u l a de Inglês r, 1899 para a conclusão do edifício C o n s e l h o Superior de Instrução
B r a n d ã o . Adriano de Paiva de
A u l a de náutica de Gôa . . . . 3 Faria Leite 396 414 da Academia 445 Pública 272, 324 436
A u l a de náutica do Porto 1, 2, 3, B r i g u e para o ensino de Manobra C a r t a s de Capacidade ? 1 8 C o n s e r v a t ó r i o das Artes e Ofí­
5, 6. ' I , *8, ÎS. 49 483 Naval 66, 248, 149 305 C a r t a s de Curso «3 cios . . . . 155
A u l a de Primeiras Letras . . . . 51 B r i t o . Elvino José de Sousa e 402, C a r t a s de Piloto 242 270 C o n v e n ç ã o de Gramido . . . . 254
A u l a s Regimentais 225 . . . . 238 C a r v a l h o . António de Azevedo C o n v e n t o das C a r m e l i t a s 220,
447 466 2
A u t o n o m i a de institutos de ensino B a r r o s . Eleutério Manuel de . . 128 Melo e 54 271, 283 305
superior, dependentes do Ministé­ B a r r o s . José Augusto Correia de C a r v a l h o . Joïo Tomaz de . . . 138 C o n v e n t o do Carmo 386. . . . 393
rio do Reino 480 3<>o, 407 ­ . . . 410 C a r v a l h o . José Pinto Rebelo de . 50 C o n v e n t o de S­ Bento da Saúde
Á v i l a . Francisco de Paula Lobo de 253 B r i t o . Joaquim Pio Correia de . . 469 C a r v a l h o . José Pinto Rebelo de de Lisboa I 24
l2 C o n v e n t o de S João Novo 148 149
A z e r e d o . Francisco de Paulo de B r o t e r o . Félix de Avelar . . . 29 (Notas biográficas) í
453. 45S 470 B o n i f á c i o . José Alves 403, 435, C a s a de CorrecçSo 72 C o n v e n t o de Tibâis 124
A z e v e d o . António de Araújo de. . 68 C a s a do Navio 248, 249 . . . . 305 C o r a ç ã o d e M a r i a . Fr. Luiz do 133
47> ■
. ■ • • 47° C o r d e i r o . Manuel Albino Pacheco
A z e v e d o . João Amónio de Sousa C a s t r o . Domingos José de . . . 50
(Morgado do Pinheiro) . . . . 109 C a s t r o . Domingos José de (Notas 262 2B8
10 Cordoaria 6 443
A z e v e d o . João Maria da Silveira e biográficas) °
(Notas biográficas) 123 C a s t r o . D. Jo3o de Almeida Melo C o r r e i a . Francisco Luiz 51, 137, 142
A z e v e d o . José Maria da Silva . . 51 C a b r a l . Afonso do Vale Coelho . 402 (Conde das Galveias) . . . . 103 C o r r e i a . Francisco Luiz (Nulas bio­
C a d e s . José (Vide C adit). . . . 28 C a s t r o . José Avelino de 48, 49, gráficas) 101
C a d e i r a de primeiras letras na Aca­ 86, 100 = &' C o r r e i a . Guilherme António 359,
B demia Real de Marinha e Co­ C a s t r o . José Avelino de (Notas 395.399.4^.4^.421,422,435, 45'
mércio 33 ,j4 biográficas). "7 C o r v o . João de Andrade . . . . 371
Balbl si C a d e i r a s da Academia Politécnica, C a s t r o . José Luciano de 315, 389, C o s t a . Agostinho Rebelo da (Padre) 8
B a r ã o de Almeirim 296 segundo o Decreto orgânico de 447, 4^5 4<>6 C o s t a . Domingos Martins da 272,
B a r ã o de Almofala 255 C a s t r o . Miguel do Canto e , 3°3 288 358
'837 152
B a r ã o de Tilheiras 135, 159 . . 213 C a s t r o . Vicente da Soledade (Fiei) 061 C o s t a . João Ribeiro da . . . . 203
C a d i z . José (Vide C adts) ■ . . . 124
B a r ã o de Fonte Nova 168 C o s t a . João Ricardo da 143, 158,
C a g n e r a u x . Mr. (Vide Ganherauí) 124 Cavallucl 94
B a r ã o de Ribeira de Sabrosa 232 . 237 161, 162, 2 5 3 , 2 5 5 , 261 . . . 318
CalistO. Bartolomeu António . . 103 C e r c o do Pôno 72, 110, 145, 149. *79
B a r ã o do Valado 295 297 C o s t a . Joaquim Gomes da 249
C a m a c h o J ú n i o r . Manuel de Brito 403 C h i a p e . João Andié 102
B a r b o s a . António Teixeira . . 272 C o s t a . José Feliciano da Silva . . 232
C a m p o dos Mártires da Pátria 6, 391 Cholera­tnorbus «45
B a r r e i r o s . Fortunato José . . . 374 C o s t a . José Ricardo da . . . . 48
C a p e l a das Almas de Santa Catarina 110 C o e l h o . José Joaquim Gomes 266, 290
B a r r e t o . António Pedrosa . . . 161 C o s t a . José Ricardo da ( Notas bio­
C a p e l a das Convertidas . . . , no C o l é g i o das Artes ><>
B a r r e t o . José Teixeira 28, 49, 108 128 gráficas). U3
C a p e l a dos Justiçados 110 C o l é g i o Militar 107
B a r r e t o . José Teixeira (Notas bio­ C o s t a . Raimundo Joaquim da 28,
C a r d o s o . Dr. Francisco de Sales C o l é g i o dos Nobres 11 . . . . 32
gráficas) 124 49, 108, 124 128
Gomes 154, 262, 272, 291, 328, C o l é g i o de N. Senhora da Graça 6, 8
B a r r o s . Eleutério Manuel de . . 128 C o s t a . Raimundo Joaquim da (No­
359. 373. 397. 398, 414, 417, C o l é g i o dos Órfãos 7, 19, í o , 67,
B a r r o s . José Augusto Correia de tas biográficas) 128
418.433.434 451 145, 169, 2^,3, 274, 297, 305.
390,4<>7 4 to C o s t a . Torcato Elias Gomes da. . 374
C a r d o s o . Dr. José Pereira da Costa 385, 386. 387. 388, 390. 391.
Bartolozzi IO j 392, 393. 442. 445. 44<». 449. 45' C o u c e i r o . António Rogério Gro­
335. 396. 397 399
B a s t o . Joaquim Leite Ferreira Pinto 469 C o m p a n h i a Geral de Agricultura micbo 162, 163, 204, 223. . . 244
C a r d o s o . Francisco da Silva 262, C o u t i n h o . Henrique Ernesto de
B a t a l h ã o de Artilhei ros Académicos 252 290, 292, 359, 406,414, 433,434, 4SI das Vinhas do Alto­Douro I, 2,
3. 4. 5. 6 . 7. 19. 26, 34, 38, 63, Almeida (Notas biográfica») . . 106
502 MEMÓRIA HISTÓRICA UA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
APÊNDICE 503

Coutinho, Henrique Ernesto de


C u r s o s da Academia em (1873) 376 a 381 D o t a ç ã o da Academia Politécnica F a c u l d a d e de Medicina da Uni­
5' C u r s o s da Academia Politécnica em 1886­87, 4 1 7 , 418
C o u t i n h o . Magalhãis 277 . versidade de Coimbra, 3 8 , 40, . 58
282 I I.o Programa) 1 80 a . . .
C o u t i n h o . D . Rodrigo de Sousa 9ç *°3 D o t a ç ã o da Academia Real de Ma­ F a c u l d a d e s de Teologia e Direito. 59
104 C u r s o s da Academia Politécnica,
C r i s t ã o s Velhos rinha e Comércio 7* F a l t a s literárias . 55
58 segundo o Decreto oigànico de
C r u z . António Fortunato Martins F a r i a . António Dias de . . . . 51
<l837) ,52 F a r i a . António Dias de ( N o t a s bio­
da 4 9 , 140, 144 . . , . 176 C u r s o s Livres 4 0 I gráficas) 85
C r u z . António Fortunato Martins
C u r s o s prepaiaiórios para a Escola Farmácia 58
da (Notas biogiáficas ) . . . .
85 do Exército 242, 258, 273, 284, E d i f í c i o da Academia Politécnica
C r u z . Joaquim Veloso da 148, 150, F e i r a da Farinha 70
3 ' « . 3 2 0 . 3 ^ 5 . 3 5 5 . 374. 3 7 5 . 67 a 72, 144 a 150, 166 a 172 F e r n a n d o . Rei D., n o , l i t , 265, 267
■73 217
37b, 4 2 3 . 4 3 2 . 439 476 * 5 * . 3 * 5 . 3 7 « . 383 a 3 9 4 , 415 F e r r e i r a . António Bernardo. . . 249
C u n h a . Carlos Mac Carthy 5 1 , 142
C u r s o s preparatórios para as Esco­ 417. 4 4 1 » 455 F e r i e i r a . Francisco Soares . . . 51
' 5 8 , 159 .' **3
C u n h a . Carlos Mac­Carlhy da ( No­ las Médico­Ciíúrgicas 246 . . 476 E s c o l a de A g r i c u l t u r a . . . . 279 F e r r e i r a . Francisco Soares (Notas
tas biográficas) C u r s o s preparatórios para os Ofi­ E t C O l a de Belas­Artes. . . . 279 biográficas) 102
92
C u n h a . Luiz José da . . . , ciais do Exército ( 1838) 1 8 7 . . 205 E s c o l a dos Cegos do P o r t o . . 449 F e r r e i r a . Joaquim Honorato . . 296
201:
C u r s o de Agricultura ( 1 8 3 8 ) . . 18b E t C O l a do Exército 178, 225 a 228 F e r r e i r a . Manuel Joaquim . . . 170
C u r s o de Agricultura da Academia 232, 2 3 3 , 239, 240, 2 4 1 , 242 F e r r e i r a . Paulo 469
Real de Marinha e C o m é r c i o . 28 278,322,374,375,415,432,474 475 F e r r e i r a . R o b e r t o Alves de Sousa 436
C t t r s O de Artistas ( 1 8 3 8 ) . . 187 E s c o l a de Farmácia nas Escolas F i g u e i r e d o . Carlos Vieira de, 50,
D a m á s i o . José Vitorino 163, 2 0 3 ,
C o r s o de Comércio ( [ 8 3 8 1 . . 186 Médico Cirúrgicas . . . . 43* 138, 139, 142 143
* 4 4 . 245. *49. » 5 " . « 5 1 , 253,
C u r s o de comércio da Academia E s c o l a Industrial do Porto 112, 273 F i g u e i r e d o . Carlos Vieira de ( N o ­
1 6 1 , 277, 289, 320, 335, 3 5 9 ,
Real de Marinha e Comércio 25, 2b 2 7 4 , 2 7 5 , 2 9 7 , 3 0 4 , 306, 3 1 2 , 3 7 1 383 tas biográficas) 92
372 39"
C u r s o d t desenho da Academia Real E s c o l a Médico­Cirúrgica do P o r t o F i l o s o f i a Racional 50
D a n a g a n . T o m a i 32 S'
de Marinha e Comércio. . . 26 67, 144, 1 5 1 , 220, 2 5 4 , 258 F i l o s o f i a racional e moral da Aca­
D a n a g a n . Tomaz (Notas biográfi­
C u r s o de D i r e c t o r e s de Fábricas cas) 2 7 1 , 277, 297, 3 1 2 , 3 2 8 , 358 demia de Marinha e Comércio 33
(1838) 134 3 6 6 , 4 4 3 , 4 4 4 , 449 . . . . 45' F o n s e c a . Júlio K o p k e da . . . ibb
186 D e c r e t o de 20 de Setembro de
C u r s o de Engenharia Industrial E s c o l a Médico­Cirúrgica de Lisboa 277 F o n t e s . Tito Augusto 402
475 1844 242 *43
C u r s o de Engenheiros (1838I . E s c o l a Naval 14, 178, 278 . . 43* F o r t u n a t o . Dr. Luis 133
185 D e c r e t o regulamentar de 2 de J u .
C u r s o de Engenheiros Civis Indus­ E s c o l a Normal do Ensino Mútuo 90 305 F r a n c o . João 479
nho de 1873 . . . 4*3
triais 466 E s c o l a Normal do Farto . . . 144 Franceur 236
4/b D e n i s . Júlio ■ . . . ' . ' . . ' . 290 278
C u r s o de Engenheiros Civis de Minas 476 E s c o l a das Obras Públicas . . F r e i t a s . D. Ana Louise Rodrigues
D e s e n h o , vêr Directores, L e m e s
C u r s o de Engenheiros Civis de E s c o l a de Pilotos 279 de 461
proprietários e Lentes substitutos
Obras Públicas . . . '. E s c o l a Politécnica de Lisboa 13 F r e i t a s . Augusto César Barjona de
47<> D e u s . F r João de 108
C u r s o de Minas 1 3 , 226, 228 a 23b, 238, 239 431 457
475 D i a s . A m ó n i o Máximo Pereira . . 162
C u r s o de Obras Públicas . . 475 240, 279, 280, 3 0 0 , 3 2 1 . 322 F r e i t a s . F'rancisco Rodrigues de
D i a s , T o m a i Joaquim 470
C u r s o de Pilotos (1838) . 18b 3*6. 3 5 3 . 3 5 5 . 3 5 6 , 3 7 4 . 4 ' 5 (Barão de S. J e r ó n i m o ) . . . Ill
D i r e c ç S o Geral de Instrução Pú­
C u r s o Supeiior de Letras. 480 4*3. 4 6 * • 480 F r e i t a s . J o i o Luís de Souto c . . 110
W i « , 336 480
C u r s o de habilitação pura o magislé­ E s c o l a s Industria» 279 F r e i t a s . José Joaquim Rodrigues
D i r e c t o r i a Geral dos Estudos e
rio de matemáticas, ciências fisico­ E s c o l a s Médico­Cirúrgicas 24b de
. 3 7 4 . 3 9 5 . 3 9 8 ­ 4>4. 4 ' 7 .
Esc. das ilo R e i n o , 38 114
­ q u í m i c a s , histórico naturais e *79. 4 3 * . 47« 480 4 3 3 . 436 45«
D i r e c t o r e s da Academia de Mari­
desenho, d.i plano dos liceus . . E s p r e g u e i r a . Manuel Afonso de 447 F r e i t a s . Paulo Marcelino Dias de . 403
477 « h j e Comércio 39
C u r s o de habilitação ao magistério E s t a b e l e c i m e n t o s da Academia °4 F r e q u ê n c i a de alunos na Academia
na secça.i de Filosofia da Acade­ D i r e c t o r e s da Aula de Desenho . 49 E s t e v e s . Francisco Xavier . 403 Politécnica em 1837­38. . . , 177
mia Politécnica D i s c i p l i n a e Polícia Académica 52
3*4 E z a m e t . Vide Rtgul. dt Actos. 61 F r e q u ê n c i a da Academia Politéc­
477 D i s p e n s a t ó r i o farmacêutico
C u r s o matemático da Academia de 58 E x e r c í c i o s por escrito (1838) . 197 nica de 1837­1851 257
D u q u e de Loulé
Marinha do P ô t t u . . . . 361 E x e r c í c i o s Práticos ( 1 8 3 8 ) 198 a 103 F r i a s . R o b e r t o Belarmino do Rosá­
21 L u q u e de Saldanha
C u r s o de Oficiais de Marinha 11838) 268 E x e r c í c i o s Teóricos ( 1 8 3 8 ) . . 196 rio e . . . . 402
85 D u q u e s de Palmela . . . . 103
C u r s o de pilutagein da Academia F u r t a d o . Francisco Xavier de Men­
D u q u e s a de Ferreira 40
Real de Maiinh.i e C o m é r c i o . D & r e s . Kr Caitano das . . . . donça , , . . . , , , , 2
*3 48
C u r s o 1'repuraiórin para o Curso de D A r e s . ( F r ) Caetano das ( N o l a s F u s ã o da Academia Politécnica coro
Farmácia nas Escolas Médico. biigiártc.is) o Instituto Industrial . . . . 40b
­ 1­irú'gicas 92 F a c u l d a d e de Filosofia da Uni
477 D o t a ç ã o da Academia Politécnica
C u r s o Preparatório para a Escola
Naval
em iXbl­b2 e bb­67, 382,. . .
383
versidade de Coimbra, 29, 52,
F a c u l d a d e de Letras . . . .
58 G
47<> 449
D o t a ç ã o tia Academia Politécnica
C u r s o U n i C O preparaiório para a F a c u l d a d e de Matemática da Uni G a b i n e t e de Cinemática e Topo­
em 1 8 8 2 8 3 • ' 394
Escola do Exército . versidade de Coimbra, I I , 13, 15 gr*fia .478
37b D o t a ç ã o da Academia em 1883 . 405 17, 52, 58, 6 1 , 6 í 144 G a b i n e t e de Construções. . .. . 478
604 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO
APÊNDICE 505
O a b i n e t e de Docimasia . . . . 478 H o s p í c i o dos Expostos . . . .
G a b i n e t e de Electrotecnia . . . 478
71
L e n t e s Substitutos de Agricultura . 50
G a b i n e t e de Física 210, 249 . . 478
H o s p í c i o dos religiosos de Santo
A m ó n i o da Província da Soledade
K L e n t e s Substitutos de Desenho 4 9 , 50
G a b i n e t e de Hiitória Natural 249, 250 H o s p í c i o de Santo António de L e n t e s Substitutos de Filosofia Ra­
G a b i n e t e de Hiitória Natural In­ K o p k e . Diogo, 4 8 , 142, 158, 158,
Vale da Piedade cional 51
dustrial ice 71 204, 223 248
H o s p i t a l Militar 72, 144 a 150 , 167 L e n t e s Substitutos de Matemática . 49
G a b i n e t e de Máquinas 155, 250, 478 K f t p k e . Diogo ( N o t a s biográficas) . 9* L i c e u de Coimbra . . . . . . Ib
G f t b l n e t e de Minai 478 L i c e u Nacional do Porto 144, 1 5 1 ,
G a b i n e t e de Mineralogia. . . . 47g I ' 5 3 . "54. ' 5 9 . 16*. 17*. ' 8 3 .
G a b i n e t e e Museu Botânico. . . 478 240,271,274,297,304,305,312, 318
G a b i n e t e de Zoologia 220 . . . 478 I g r e j a dos Congregados L a b o r a t ó r i o Químico, 1­55, 178, L i m a . José Eleutèrio Barbosa de
110
G a b i n e t e * 2 4 1 , 254, 259 . . . 270 I g r e j a da Graça. 220, 2 2 1 , 2 4 1 , 242, 2 4 3 , 246, SI. » 7 '4*
1 to
G a m a . Arnaldo de Sousa Santos da 315 I g r e j a de Massarelos , lio 249, 250, 258, 2 6 3 , 270, 448, L i m a . José Eleutèrio Barbosa de
G a n a . Faustino da 29b i n f a n t a D. Ana de Jesus. 1 IO 450, 45,7, 461 478 (Notas biográficas) 121
G a n h e r a u x (Vide Cagneraus) , . 28 Infantas 109 L a b o r a t ó r i o s de Química . . . 479 L i m a . José Porfírio da Silva, . . 50
G a r d a . Jose Elias . . . . . . 374 I n f a n t e D . Henrique (Vide Henrique) L a c e r d a . Aarão Ferreira de, 435, L i m a . José Porfírio da Silva (Notas
G a y o s o . Inácio Xavier . . . . 51 I n s p e c ç ã o administrativa e direc­ 45» 458 biográficas). 123
G a y O B O . Inácio Xavier (Notas bio­ çáo da Academia de Marinha e L a c r o i x . H u g o , 51 127 L i m a . Wenceslau de Sousa Pereira
gráfica») 106 Comércio L a c r o i x . H u g o (Notas bingiáficas) I06 àe 397. 4 0 5 . 4 ° 7 . 4 1 0 . 4>4. 4<7.
34
O i r á s O . António Luiz Ferreira 288, I n s p e c ç ã o extraordinária & Acade­ L a c r o i x . Pedro, 32, 47 5l 418, 419, 433. 434, 435, 449.
J ° 4 . 3 0 7 . 3 1 8 . 3 1 4 . 3 * 8 . 359, mia Politécnica em 1864 — 3 6 1 , L a c r o i x . Pedro (Notas biográficas). 1*7 454 4ò8
3 7 3 . 3 7 4 . 383 396 363 « 3«>9 Lagrange *3° L í n g u a s francesa e inglesa na Aca­
G i e s t e i r a . Francisco José Martins I n s t i t u t o Comercial e Industrial 443 L a m e d a ou C ordoaria . . . . <> demia Real de Marinha e Comér­
»63, 204 259 I n s t i t u t o Industrial do P o r t o I I I , L a r a n j e i r a . Vitorino Teixeira . 435 cio 31
Q l a m a . Joio 102 *74. 3 0 7 , 3 8 6 . 3 9 8 , 3 9 9 ­ 4 0 0 . L e a l . J o i o Baptista Pereira, 142, L i s b o a . J o i o B a p t i s t a Fetal da
O o m e a . Francisco de Sales . . . 288 444. 4 4 9 . 4 5 o ­ 4 ot > 47S 158, "59 " 3 Silva 46 48 64
G o n ç a l v e s . Manuel Amândio 4 1 2 , I n s t i t u t o Politécnico 3 6 7 , 398, 4 0 0 , L e l t & O . José de Parada e Silva, 163, L i s b o a . J o ã o B a p t i s t a Fetal da
4 1 4 . 4 ' 7 . 4 S * i . 4 5 * . 453 ■ • ■ 454 402 466 204, 2 5 5 , 2 6 1 , 274, 280, 3 0 7 , Silva (Notas biográficas) , . . 107
G o n ç a l v e s . António P e d r o . . . 50 I n s t i t u t o s Industriais 474 328, 359. 369 . 383 L i f l t a alfabética dos Lentes e D u e
G o n ç a l v e s . António Pedro (Notas I n s t r u ç õ e s por que se deve regu­ L e i t & O . Luís Augusto Parada e Silva 253 ciores da Academia da Marinha e
biográficas) 89 lar o guarda da biblioteca , 67 L e i t e . Duarte, 4 3 5 , 4 5 1 , 454 . . 471 Comércio da Cidade do Porto. . 79
G o n ç a l v e s . José Francisco 44, 46, I n s t r u m e n t o s astronómicos e ma­ L e m O B . Amónio de Sousa Maga­ L o b o . António Alexandre Oliveira
50 51 ritime» 64 Hafts e . . . 402 3 9 5 . 399­ 4 ' 4 . 4 ' 7 +33
G o n ç a l v e s . José Francisco (Notas I n t e n d ê n c i a da Marinha do P o r t o 7 L e m O B . José Manuel d e , 272, . 288 L o b o . Antóniu José da Cost» 4 8 ,
biográficas) IJJ L e m p S J ú n i o r . Maximiano Augusto 4 9 . 117. ' 3 9 . "44
O r o m i c h o . Vide C ouceiro, de Oliveira 4°3 L o b o . António José da Costa ( N o ­
G u a r d a Municipal d o Póito 258 , 271 L e n t e ou substituto da Faculdade de tas biográficas) 85
G n a r d a R e p u b l i c a n a ver Quartel Matemática ou Filosofia e Agri­ L o b o . José Maria de Sousa 163. . 354
G u e d e s . Baltasar (Padre). . . . 8 J á c o m e . António Fernandes (Lente) cultura 21 L o b o . Manuel Joaquim de Faria . JO
O u e r n e r . José Honório . . . . 50 6,­ . . , 10} Lentes 41 L o b o . Manuel Joaquim de Faria
G u e r u e r . José Honório (Notas bio­ J a r d i m Botânico 155, 179, 220, 2 2 1 , L e n t e s da Academia Politécnica em (Notas biográficas) 126
S r4 ''*»«) 122 2 4 1 , 242, 2 4 3 , 246, 248, 250, 1837 158 L o p e s . A m ó n i o Ventura 5 1 , 140, 144
G n l n i a r & i s . António Augusto Alves 449 262, 2 7 1 , 3 0 8 , 3 1 4 , 3 2 3 , 3,­3, L e n t e s da Academia Politécnica em L o p e s . António Ventura ( N o t a s
G t t i m a r & l s . António José Dias 5 1 , 382, 394, 4 1 5 , 44Ò, 4 5 1 , 4 i 2 , 1838.39 203 biográficas). 90
'37. M» 254 4 5 3 . 4 5 4 . 455 461 L e n t e s da Academia R e a l de Ma­ L o p e s . Eduardo ­, 470
O u i n t a r & l s . A n t ó n i o José Dias J a r d i m da Cordoaria 6 387 rinha e Comércio do Porto. Vêr L u i z . Rei D 111, 2 6 5 , 266, » 6 7 ,
(Notas biográficas) 86 J e s u s . D Ana de . . . . . . 109 Lista alfabética 79 389 397
Q u l m a f ã i s . Joaquim Ribeiro de J o f i o V I . D . , 29, 9 5 , 103, 104, L e n t e s proprietários de Desenho . 49.
F a n a 252, 3 2 0 , 354 355 109, t i o , 111, 169, 2 5 1 , 267, . 385 L e n t e s proprietários de Agricultura 50
G n l m a r i i S . R o d r i g o António Tei­ J o a q u i n a . D. Carlota 109 L e n t e s proprietários da 1 a Aula de M
xeira 403 Matemática 48
J o r g e . Ricardo de Almeida . . . 402
Jubilação 47 L e n t e s proprietários da 2 a Aula de M a c e d o . Joaquim Teixeira de . . 266
H J u n t a do Comércio 9 Matemática 48 M a c h a d o . Adriano de Abreu Car­
J u n t a da Companhia Geral da Agri­ L e n t e s proprietários da 3 a Aula de doso, 11, III, 136, 137, 143, 315,
H e n r i q u e . Infante D 448 cultura das Vinhas do Alto Douro. Matemática 48 3*4. 3 í 8 , 3 3 3 . 3 3 6 , 339, 367,
H e r c u l a n o . Alexandre . . . . 48 Vide C ompanhia. L e n t e s proprietários de Comércio . 50 3 7 3 . 389. 398, 399. 406, 414,
Horácio 54 J u n t a Geral do Distrito . . . . 400 L e n t e s proprietários de filosofia 4 2 1 , 422 . . . . . . . . 433
Racional t,o M a c h a d o . Cirilo Volkmar . . . 95
506 EMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO APÊNDICE 507

M a c h a d o . Luís António . . . . 110 M i r a n d a J ú n i o r . Manuel Rodri­ O l i v e i r a . António Alexandre Ro­ P e r d ã o de Acto de 1 8 3 8 . . . . 177
M a g a l h a i s . António Teixeira de gues de 435, 451, 452 . . . . 453 drigues de 138 P e r d & O de acto de 1852. 269, 270. 289
5'. 90 M o n t e i r o . José LuizCoelho 51, 140, 144 O l i v e i r a . António Dias . . . . l"t P e r e i r a . Francisco Maria Esteves . 402
M a g a l h a i s . António Teixeira de M o n t e i r o . José Luiz Coelho (No­ O l i v e i r a . Joaquim António de, 46, P e s s o a l da Academia R e a l de Ma­
(Notas biográfica») 89 fas biográficas) 122 48, 117, 137 • '4' rinha e Comércio do P o r t o 47 a
M a g a l h a i s . Germano Xavier de 128 M o n t e i r o . Luiz José . . . . cj O l i v e i r a . Joaquim António de (No­ 5 ' . 75 77
M a g a l h a i s . R o d r i g o da Fonseca M o n t e i r o . Luiz José (Noias bio­ tas biográficas) Kl
2 2
P e s s o a l docente da Academia Poli­
7 , « 7 3 . *7$> 2 ®3 292 gráficas) ,25 O l i v e i r a . José Alves de . . . . 162 técnica, segundo o Decreto orgâ­
M a g i s t é r i o na Academia de Mari­ M o n t e n e g r o . Abílio 407 Opositores 63 42 nico de 1837 155
nha e Comércio 40 M o n t e n e g r o . Abílio 410 O r d e m Terceira do Carmo, 258, 271 P e s s o a l docente em 1885­86, 415 416
M a g r o . A n t ó n i o Manuel Cerqueira M o r e i r u . Joaquim Duarte . . . 336 O r d e n a d o s do pessoal da Acade­ P e s s o a l docente em 1836 (Quadro
de Carvalho . . . . . . . 4°3 M o r e i r a . José da Cruz 51, 142, mia Real de Malinha e Comércio, do) 141
M a l a . Francisco Joaquim, 50, 117, Picola 94
' 4 3 . 'S8, 159 223 74­ 75 M
140, 144, . . . . . . . 287 Pilement 100
M o r e i r a . José da Cruz (Notas bio­ O r d e n a d o s do pessoal da Acade­
M a i a . Francisco Joaquim (Notas g'afica») 120 P i l o t o s 0 3 , 178 246
mia Politécnica em 1838 . . 222
biográfica!) 101 P i m e n t a . Manuel Carneiro Alves . 390
M o r g a d o de Mateus . . . . . 119 O r t i g ã o . Joaquim da Costa Rama­
M a n i q u e . Pina 94 P i m e n t e l . A m ó n i o Joaquim Mes­
M o u r ã o . António Pinto Teixeira , 266 lho 1<>3
M a n u e l I I . ( R e i D ) na Academia 479 M u s e u D Pedro . . . . . . 151 quita 470
O s ó r i o . José Frutuoso Aires de Gou­
M a r e c h a l Saldanha . . . . 252 M u s e u Portuense 109, l i o , 124 . 297 2D2 P i m e n t e l . Júlio Máximo de Oliveira
veia .
M a r i a I . D. ( R a i n h a ) . . . . 39 M u s e u de Tibâis \ 279, 280, 282, 3 1 1 , 320 . . .­ 368
I24 O u v i n t e s na Academia Politécnica. 177
M a r i a I I . D ( R a i n h a ) 110, 111, 135 P i n t o . Agostinho Albano da Silveira
M u s e u de Zoologia .­g
M a r i a I I . ( D ) na Academia. . . 2
<>5 29, 30, 4 8 , 46, 4 8 , s o , 5 1 , 9 0 ,
M a r i a . D Isabel 109 117. i3 b < ' 3 7 . 138. 139. ' 4 ° .
M a r i a A n a . Infanta D. . 479 N 144. «47. 176
Maria Francisca Benedita. P a c h e c o . António Xavier . , 146 P i n t o . Agostinho Albano da Silveira
Princesa do Brasil ( D ), . . ,
479 N a t i v i d a d e . José Amónio da, 49, F a ç o da Ajuda i°4 (Notas hiogiátícas) 79
M a r i a T e r e z a . Princesa D . . ,
479 142, 158, 204, 223
334 P a ç o de Mafra I°5 P i n t O . Alexandre Alberto de Sousa 470
Marque* de Loulé 3*7 N a v a r r o . João de Campos . . . P a ç o S da C â m a r a Municipal do P i n t o . António de Araújo Serpa 449
114
Marques de Sabugosa . . . 3*7 N a v i o . Vid Brigue e Casa do Navio Porto ■ ■ • no P i n t o . Dr. Bernardo Joaquim 136
M a t o s . Júlio Xavier de . . 402 N e v e s . João Gonçalves das (Notas P a ç o s dos Estudos 3K3, 388, . . 39° P i n t o . Bernardino Joaquim (Notas
MatOB. Manuel Nunes de. 79 biográficas) 51, P a i s . António Joaquim 32° biográficas) 91
M a t r í c u l a na Academia Politécnica 112
N o b r e . Augusto Pereira . . . . 470 P a i v a . Adriano de, 39(.), 4 1 6 , 433 . 434 P i n t o . João Vieira, 48 2bl
' 3 . 5 2 . 53. 2 ° 7 . »56, 260. 408, N o g u e i r a . António Cabral de Sá, P a i v a . António iln Costa (Baião de P i n t o João Vieira (Notas biográficas) 112
439 467 296 299 Castelo de Paiva) 50, 9 1 , 142, P i n t O . Joaquim de Sanla Clara Sousa
M a t r i z de Valongo 110 143, I 5 8 , 204, 223, 249, 2tJO, 162, 163, 204, 248, 250, 2 5 3 ,
M e l g u e i l Dupuy, 32 5« 288, 291 3'8 1 6 1 , 280, 294. 3 5 9 ­ ­ ­ ­ 478
M e l o . António Carlos de . 51 P a i v a . Amónio da Cosia 11 o BtrSo ' P i n t O . José de Sousa Ribeiro. . . 333
M e l o . Bernardo de lio dr Custeio de Pui**, Notas Hiu­ P i n t o . Manuel (la Fonseca, 4 8 , 140 144
M e l o . Fomes Pereira de, 299, 301, O b r i g a ç õ e s , faltas e penas disci­ gtálicas) . . . . . ■ ■ ■ «2 P i n t o . Manuel da Fonseca (Notas
3^4. 397 431 plinares J6 P a m p l o n a . I) Luis rti Cwlro, 337 338 liiogiáficas) 126
M e l o . João de Almada e . . . . 2 Observatório 2g4 P a r a d a . José de — e Silva Leitão P i n t o . Rodtigo Ribeiro de Sousa . 49
M e l o . José Carneiro de, 390,. . , 39 2 O b s e r v a t ó r i o da Ac Real da Ma­ Vide Leitão. P i n t o . Rodrigo Kibeiro de Sousa
M e n d e s . Roberto Rodrigues 412, rinha e Comeicio do Porto. . . 66 Partidos (Notas biográficas), 129, 130, 131 132
4'4. 4'7. 4 " . 4 2 2 , 433. 434. O b s e r v a t ó r i o Astronómico da Aca­ P a s s o s . José Rodrigo 102 P l á c i d o . Conselheiro (Director das
436, 451 466 478 demia Politécnica 164, I66, 173, P a s s o s . José da Silva, 252, 200, ObtM Públicas do Norte) . . . 297
M e n d o n ç a . Francisco de Almada e 9
2
7 ° . 2 75 '. 394 198, 299, 300 309 P l a n o do Edifício do Paço dos Es­
M e r c a d o do Anjo. 70 O b s e r v a t ó r i o Astronómico da Uni­ P a S S O S . Manuel da Siva, 135, 13l>. tudos de Porto 383
M e s a da Comissão geral sobre o versidade, 130, 133,, . . . 3jg 137, 140, 142, 151, 153, 157. Poison 23°
exame e censura dos livros. 10 O b s e r v a t ó r i o Meteorológico do I ( J 4 , 107, 168, 181, 23X. I 8 0 , P r a ç a Cai los Alberto 72
M e s t r e s de Aparelho e Manobra Infante D Luís na Academia Po­ 2 9 2 . 2 9 3 , 296, 4 1 8 . . . . 419 P r a ç a dos Ferradores 72
Naval . . . . 49 litécnica de Lisboa IIJ P a s s e i o s da Graça 391 P r a ç a dos Voluntários da Rainha,
M i g u e l . D. 39, 40, '50. ° ° . 77, O b s e r v a t ó r i o Meteorológico da Pedro IV. D., lio Ill /O, 391 445
111, 113, i i 7 t m 128 Princesa Maria Amélia; 454, , . ^55 P e d r o V . D , 111, 205, 166, 2(17 32<; P r é m i o Rodrigues de Freitas . . 4b!
M i r a n d a . João Carlos de 48 , 49 O b s e r v a t ó r i o Real da Marinha . 12 P e d r o ( D . ) Duque de Bragança. . 147 P r é m i o s , 59, (>o, 285 . . . . . 314
M i r a n d a . J0S0 Carlos de (Notas O f i c i n a Metalúrgica, 155 2c0
P e i x o t o . António Augusto da Rocha 470 P r é m i o s '• Partido» 58
biográficas). . . . m O l i v e i r a . Agostinho António de P e i X O t O . José Joaquim tie Alaíljo . 2hii • P r e p a r a t ó r i o s Militares» da IV
M i r a n d a . Manuel Gonçalves de '47 Sousa Coelho e Almeida . , , 288 P e n a s disciplinai*­*, véi ObrigafStt liíLcmca [,l Guerra ses), 225. . 240
508 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO APÊNDICE 509

P r i m e i r o Programa dos Cursos Aca­ R e g u l a m e n t o da Academia Real R i b e i r o . Joai[uim Tnrcato Alvares S e m i n á r i o . Vide também Colégio
démicos, 180 203 da Marinha e Comércio do Porto dos Órfãos.
67 48, 63, 6$, 137, 140, 144, 243,
P r o f e s s o r e s Proprietários de Fran­ R e g u l a m e n t o da Academia Poli­ 244, 260, 26l, 2Ò6, 267, 280, S e q u e i r a . Domingos António de
cês 51 técnica em 1873 II, 28, 43, 49, 104, 105 . . . 479
375 287, 290, 307, 328, 330, 359,
P r o f e s s o r e s Proprietários de Inglês 51 R e g u l a m e n t o dos Actos (O pri­ S e q u e i r a . Domingos António de
P r o f e s s o r e s Proprietários de Pri­ 372, 395. 397 45'
meiro — 1834), 208, . . . . 2
R i b e i r o . Joaquim Torcato Alvares (Notas biográficas), 94 . . . . IOO
meiras Letras '3
5' R e g u l a m e n t o da Biblioteca da (Notas biográficas|, 115 . . Il6 S e r p a . António de 301
P r o f e s s o r e s Substitutos de Francês Si Academia . . . . . . . . S e t ú b a l . Francisco de . . . . . 94
P r o f e s s o r e s Substitutos de Inglês 455 R i b e i r o . Manuel de Almeida . . 266
51 R e g u l a m e n t o dos concursos ao ma­ R i b e i r o . Tomás, 397 398 S h e i l . Miguel, 32 5'
P r o f e s s o r e s Substitutos de Primei­ gistério S h e i l . Miguel (Notas biográficas) . 127
ras Letras 473 RiSSOttO. João Maria . . . . . 253
51 R e g u l a m e n t o Geral da Academia R o c h a . Aniceto Marcolino Barreto S i l v a . Agostinho Peixoto da . 79
P r o g r a m a do Instituto Politécnico Politécnica S i l v a . António da 43b
400, 401 394 da 374
402 R e g u l a m e n t o interno da Academia S i l v a . António Carlos de Melo e
P r o j e c t o de Conclusão do Edifício R o c h a . António José Moreira da . 354
de 1838 270 R o c h a . Joaquim Manuel da, 103 . 124 139, 140 '44
da Academia (1898) 443 R e g u l a m e n t o do Jardim Botânico S i l v a . António Carlos de Melo e
P r o j e c t o de fusão da Academia e 373 R o d r i g u e s . António (Lente) 2
R e g u l a m e n t o do Jardim Botânico R o d r i g u e s , Caitano Manuel. 320 (Notas biográficas) 81
Instituto Industrial 37* de i860 S i l v a . Amónio Joaquim Ferreira da
P r o j e c t o de Lei de melhoramento 394 R o q u e m o n t . Augusto. . , . 4 9
R e g u l a m e n t o de 28 de Junho de R o q u e m o n t . Augusto (Notas bio­ 333. 39°, 398, 40b, 414, 416,
da Academia Politécnica de 1838 1888 — sua modificação peto De­ 418, 421, 422, 424. 433, 434,
■79,
gráficas | O'
180 creto de 27 de Fevereíio de 180,0 464 R u a do Anjo, 391 443 442, 451, 452, 457, 458 • ­ 478
P r o j e c t o de Lei de melhoramentos R e g u l a m e n t o de 6 de Novembro S i l v a . Eng o Araújo e 449
da Academia Politécnica de 1840 2
R u b i ã o . Francisco Inácio Pereira 176
39 de 1839 438 S i l v a . Augusto Xavier da. . . . 296
P r o j e c t o de Lei para a conclusão R e g u l a m e n t o de Policia Acadé­ S i l v a . Carlos Bento da, 299 . . . 301
do edifício da Academia, 387, 388 S i l v a . Francisco Fernando Godinho
324
P r o j e c t o ou plano de reforma da R e g u l a m e n t o provisóiio da" Biblio­ de taria e • 402
Academia 398 teca da Academia . S i l v a . Francisco Peixoto da . . . 79
394 S. L u f s . Fr. Francisco de. . . . 169
P r o j e c t o do Programa da Organiza­ R e i s . José Pereira dos S i l v a . Henrique Augusto da . . . 26b
176 S . M i g u e l das Aves 3'»
ção dos Cursos da Academia em R e o r g a n i z a ç ã o da Academia Po­ S i l v a . José Carneiro da 48, 49, l i o ,
S á . António Luís Vieira de . . . 26b
1884 406 litécnica — Lei de 21 de Julho de 117, 128, 136, 139, 140, 144,
S a l a dos Capelos da Universidade de
P r o j e c t o de reforma dos estudos da 1885, 407 414 163, 249, 2bo 272
Coimbra . . . . . . . . 111
Academia Politécnica de 1861,342 347 R e p r e s e n t a ç f t o à Câmara dos De­ S i l v a . José Carneiro da (Notas bio­
S a l a z a r . José Monteiro (Lente) 3
Projecto de reforma da Instrução, putados em 1885 . . . . . . 412 gráficas), I I 9 IZO
S a l a z a r . Pedro Gonçalves . . . 49
de 1854 J
77 R e t r a t o de Carneiro da Silva 272 S a l a z a r . Pedro Gonçalves (Notas S i l v a . Luís Augusto Rebelo da . . 296
Prony 236 R e t r a t o de José António de Aguiar S i l v a . Manuel Duarte e . . . . 138
í72 biográficas) '27
P r o p i n a s de matricula 481 R e v o l u ç ã o da Maria da Fume, S a l g a d o . Domingos 43 S i l v a . Manuel Joaquim Peieira da
252 255 S a l g a d o . José Augusto, 79, 157, 50, 142, 158, 204, 223, 260 . . 307
R e v o l u ç ã o de Setembro, l o i , 135 '5° Í03 . . . • 287 S i l v a . Manuel Joaquim Pereira da
R e z e n d e J ú n i o r . Francisco Antó­ S a m p a i o . António José da Costa (Notas biográficas) 126
Q u a r t e l do Carmo 462 S i l v e s , luís Vítor 383
330 288 . • ­ 318
Q u a r t e l da Guarda Municipal, 452 453 R i b e i r a das Naus 12 S o a r e s . Alfredo, 443 449
S a m p a i o . Gonçalo António da Silva
R i b e i r o . Hintze, 466 467 Ferreira 47° S o a r e s António Luís, 48, 143, 158,
R R i b e i r o . Casal 391 S a m p a i o . José Pereira . . . 403 159, 203, 223, 253, 255, 329, 33°
R i b e i r o . Francisco Xavier de Al­ S a n c h e s . Júlio Gomes da Silva S o a r e s . Francisco Adão, 49, 140, . 144
R e a l Academia de Marinha , . meida, 266 S o a r e s , Francisco Adão (Notas
318 it.3, 213 293
R e a l Academia dos Guardas­Mari­ R i b e i r o , João Baptista, 28, 40, 49. biográficas) 100
nhãs de Lisboa SantOS. António Rodrigues dos
11 128, 137, 138, 139, 141, 142, S o c i e d a d e Literária Portuense . . 175
R e a l Biblioteca. Vid. Jlibl. Pública. (Capitão­tenente das fragatas de
143. "48. 149. «5°. 157. 158, guerra) 3 S o c i e d a d e de Ciências Médicas e
R e a l Escola de Cirurgia do Porto 40 121 159, Ibï, 166 a 176, 181 203, Literatura, 169 . . . . . . '75
R e a l Mesa Censória, 7 SantOS. Luís Couto dos . . . . 469
IO 204, 206, 207, 208, 219 220, SantOS J ú n i o r . António de Al­ S o u s a . D. Alexandre de . . . . 124
R e c o l h i m e n t o do Anjo, 70, 145 I48 222, 223, 252, 253, 254 256. S o u s a . Gustavo Adolfo Gonçalves e
R e f o r m a da Instrução Superior. meida dos . 67
26O, 265, 269, 27O, 272. 274. S a r m e n t o , Manuel José, 35. . , |6 2bl, 262, 289, 290, 291, 303,
Projecto de 1854 2
75> 287, 29b, 19". 303. 307, 306, 307, 315, 359, 391, 395, 399
R e f o r m a dos Programas de 1885 S c h l e g e l . Inácio José 163
308, 312, 314, 319, 326a32g, S e a b r a . Amónio Luis de. . . . 253 S o u s a . Jacinto António de 132
422 432 ÏH. 335. 33». 33«, 359, 383, S o u s a . João Duarte de 163
R ê g o , José Ernesto de Carvalho e 397 S e c r e t a r i a da Academia Real de
308 R i b e i r o . João Baptista (Notas bio­ Marinha e Comércio, 77,t ■ • • 79 S o u s a . José Jacinto de 108
R e g u l a m e n t o da Academia de gráficas), 107 a 111 S o u s a . D José Maria de — Mor­
107 S e m i n á r i o das Meninos Órfãos da
■888, 457 461 R i b e i r o . João Evangelista Gomes gado de Mateus Wl
4«9 Graça, 6, 8, 67 68
MEMÓRIA HISTÓRICA l»A ACADEMIA POLITÉCNICA DO PÓKTO

S o n s a . Manuel Joaquim Duarte e


V e l o s o . Pedro António Soares (No-
Si, 139, 142, 15S, 159 • - . 223 tas biográficas) . . . .
S o u s a . Manuel Joaquim Duarte e '27
V i a n a . Bento Vieira Ferraz . 470
(Notas biográficas) . . . . 126 V i a n a . Manuel de Terra Pereira
S o u t o . Francisco de Paula da Silva e 447 397, 406. 414, 417, 433, 4 3 4
Substitutos . . . 42 430, 451, 452, 466
V i a n a . Pedro de Amorim, í b l , 262
289, 290, 307, 335, 3 3 6 , 3 3 7
338
T a v e i r a . Vasco Peixoto, 468, . 339
T e i x e i r a . Dr. António José, 387
470 V i e g a s . Santos 409 OBRAS CITADAS NESTE VOLUME
388 V i e i r a . Agostinho da Silva . .
T e i x e i r a . Francisco Gomes, 39; 373
V i e i r a . Custódio José . . . .
412, 414, 416, 431, 4*2, 433 3'5
V i e i r a . Domingos Francisco, 6 .
4 5 ' , 452. 453, 454. 45?, 4°* 108
468, 478, 479 . . . . V i e i r a . Domingos Francisco (Notas
4S2 biográficas . . . . . 100 Apontamentos biográficos do Dr. Francisco de Almada e Mendonça. {Porto —
T e l e s . Basílio Ribeiro . .
403 V i e i r a . Francisco (Portuense), 67,
T e m p o lectivo e sua divisão . Tip. de Gandra e Filhos, 1839).
53 * 8 . *9, 43, 49, t>4, 65, 94, iooi
T o m a z . Fernandes , 2 Archiva Pittoresco.
108
T r i b u n a l de Contas . 40 122
T r i s t ã o . José Maria V i e i r a . J. sé Augusto . . . . . 402 Arts (Les) en Portugal, de Raczynski,
227 V i e i r a J ú n i o r . Francisco (Notas Bosquejo histórico da fundação e desenvolvimento do Real Colégio de N. S.a da
biogriBcM), 102 .
u
105 Graça, pelo Padre F. J. Patricio — Porto, 1907.
V i e l a do Assis . 387
V i l a - N o v a . Joaquim Cardoso Vitó- Breve Memoria sobre a Instrução Publica Superior no Porto e nas Províncias do
U n i f o r m e dos lentes . . 471 ria 48, I42, ,58, 204, 223, 26I, 262 Norte, offerecida aos Senhores Deputados da Nação Portuguesa pelos Lentes
U n i v e r s i d a d e de Coimbra, 13, | | j
V í l a - N o v a . Joaquim CsrtiaWVIto da Academia Polytechnica : Porto — Typ. de Faria Guimarães, Largo do
17, I I , 42. 46, 55, 59, 111, i i 4 , ria (Notas biográfica. )
" 5 . í33, »36, 238. 277*280, "3 Laranjal, n.o 4.
V i l a Nova de Famalicão 39
3OO, 30I, 325, 3 2 b , 3 S 5 i 3 g 6 > V i s c o n d e de Castro Silva '. Catálogo da Bibliotheca da Academia Polytechnica, de SI tie Junho de 1882,
354
4t5. 4*3. 4 6 * . 474 . . . 480 V i s c o n d e de Fragozela no PÔrto, 1883.
V i s c o n d e de Podentes 270 Colecção da legislação portuguesa — Desembargador António Delgado da Silva.
V V i s c o n d e de Sá da Bandeira, 171" Collecção de memorias relativas ás ridas dos pintores e escu/jitores, arckitectos e
'?3.223,355,253 ;
V a p o r Mindelo TTJ
254 gravadores portuguezes — Cirilo Volkmar Machado, Lisboa, Imp. de Vu'ln-
254 V i s c o n d e da Trindade
V a s c o n c e l o s . António Lebre de 72
V i s c o n d e de Vila-Maior, "279, 280! 282 rioo Rodrigues da Silva. 1923.
Sousa, 48 49 V i s c o n d e s s a de Balsemîo
V a s c o n c e l o s . António 1 ebre de 72 Comércio do Porto.
V o n - H a f e . João Henrique Adolfo"
Sousa (Notas biográficas) . 88 402 . . . . Diário das Cortes.
V a s c o n c e l o s . João José de, 163 469
a
Descripção topographica e histórica da cidade do Porto — Agostinho Rebelo da
„ 55.. . . :
V a s c o n c e l o s . José Joaquim Dias
Lopes de . ,
259

„,
w Costa. (Pôrlo 1789)
Diccionario Biblioqraphico — Inocêncio Francisco da Silva.
V a z . Conselheiro Francisco de Assis W e n c k . Henrique Daniel . Dictionnaire Histórico-artistique dit Portugal — de Raczynski, Paris 1847.
e Sousa 5' Discurso feito na abertura da academia de desenho e pintura na cidade do Porto,
3*8 W e n c k , Henrique Daniel (Notas
V e l o s o . José Maria de Queir< z
403 biográficas). , 106 por Francisco Vieira Junior primeiro pintor da Cornara e CÔrte e lente da
V e l o s o . Pedro António Soaarei, 30, W o o d o u s e . Luis Inácio, 41Í, 4*i4|
5°. mesma academia. Por ordem de sua alteza real. — Lisboa 1803.
5« 4'6, 434. 4 5 ' .' 457 Discurso recitado na Acad. Polyt. do Porto na abertura do anno lectivo de 1846
para 1847 pelo lente da 5 « cadeira, Joaquim Torquato Alves Ribeiro —
Pôrlo 1847.
Elogio Histórico de José Vitorino Damásio— Nery Delgado, in Anuário 1889-90.
Encyklopádie des gesammten Erzichungs und Unterichtsulesens — Kramer.
Essai statistique sur le royaume de Portugal (Paris, 1822 — 2 vol., tom. 2) — Balbi.
Estatutos da Academia Real da Marinha e Comércio da cidade do Porto
Estatutos da Universidade (Lisboa, Reg. ofic. tipogr. 1773).
Fragmentos de um curso de analyse infinitesimal — Gomes Teixeira.
512 MEMÓRIA HISTÓRICA DA ACADEMIA POLITÉCNICA DO PORTO

Genealogia duma Escola. Origem e t, adições da Academia Politécnica, actual


Faculdade de C iências da Universidade do Porto — (1762­ 1911 ) ­ Eduardo
Lopes, in Anuário da Faculdade de C iências de 1911­1912 e 1913­1914
Histoire de l'instruction publique en Europe — A. Vallet de Viriville.
Historia dos estabelecimentos «cientifico*, literários e artísticos de Portugal­
José Silvestre Ribeiro. (Lisboa, 1871)
História da Universidade de C oimbra — Teófilo líraga.
Informação do director litterârio Joaquim Navarro de Andrade de 13 de Setembro
de 1824, na Hist, dos Estabelecimentos scientifieos Í N D I C E DAS ESTAMPAS
Instituição aprovada por Alvará de 10 de Setembro de 1756­2.
Instituto de C oimbra.
Jornal das Sciencias Mathematieas e Astronómicas
Memórias de Nomeações etc , acrescentada por João Baptista Ribeiro (Ms ).
p*g».
Memoria histórica da Faculdade de Filosofia, de Joaquim Augusto Simões de
Carvalho (Coimbra, 1872). D. JoJo v i , ■ •
Alçado da tachada norte da Real Academia de Marinha e Comércio,
Memória histórica da Faculdade de matemática de Coimbra ­ Castro Freire (1872). 66_67
1807, de Cruz Amarante • ■
Primeiras linhas de chimica e botnnica coordenadas para uso dos que frequentam
a aula de agricultura da real academia de marinha e commercio, por Agosti­ Planta de Cruz Amarante, antes das alterações que lhe foram intro­
nho Albano — Parte 1.» (Porto, 1827). duzidas J J 2
Reflexões sobre a agricultura de Portugal _ [irotero, nas Memorias da Academia Plano térreo da R. Acad. de Marinha e Comércio, por Cruz Amarante 74­75
Real das Seiencias de Lisboa, tom­ IV, Parte l a (1815). Elevações das frentes nasce e poente da Real Academia de Marinha
Reforma da Instrução de 1854. e Comércio, id., id jjj­jjl
Regulamento dos exames de habilitação dos alunos da Academia de 1890. Elevaçïo da frente norte e corte norte­sul. id,, id °«­ 8 9
Regulamento t Instrução para us trabalhos das missões de 1890. Fachada sul da Academia, id., id. . . . * 96­97
Relatório da Inspecção Extraordinária feita à Academia Polytechnica do Porto Prof. João liaptistii Ribeiro, l.° Director da Academia 108­109
em 1864 prie Vogal efectiro do C onselho Geral de Instrução Pública José Prof. J . T. Alvares Ribeiro. 2." Director da Academia 114­115
liaria de Abreu (Lisboa Imprensa Nacional, 1865) r, xã ■ ii 152­153
Relatório e Propostas, apresentadas em sessão anual de 188!> do C onselho Superior 1). M a n a I I . . .
de Instrução Pública, por Azevedo Albuquerque ­ in Anuário de 1889­90. Prof. Vitorino Damásio m . 0 .„
Reportório geral das leis extravagantes ­ Fernandes Tomaz. (Coimbra 1815 e Josc d a BUI» Passou
Paço dos Estudos — Alçado norte. 1802 .Í ..,
Lisboa 1851 — 2 vol.— 2.» edição Coimbra 1834).
Paço dos Estudos ­ Alçado poeote. Id ^
Representação. Impressa no Porto na Tipografm Popular de 1 L. de Sousa, na
Paço dos Estudos — Alçado sul. Id
rua do Bomjardim, em 1859. Folheto de 8 pàg. i Ï44 ­ vi 'Ti
Representação às C artes aérais extraordinárias e constituintes da nação portuguesa Sala dos Actos Grandes * '
por Joaquim Navarro de Andrade—Coimbra, Imprensa da Universidade, 1822. Prof. Parada Leitão J»"™
Representação da Junta da administrarão da C ompanhia Geral da agricultura Conselheiro Adriano Machado, 3." Director da Academia 374­3,5
Paço dos E s t u d o s ­ P l a n t a do 1.* andar. 1862 384­385
das vinhas do Alto­Douro, de 4 de Janeiro de 1803, na História dos Esta­
Paço dos Estudos ­ Planta do 2 . ' andar. 1862 qnÍTqqi
belecimentos scientifieos.
Planta da Academia Politécnica em 1884
Relatório da Gerência da C âmara Municipal do Porto, durante o biMio de Í880 i Assinaturas dos Lentes cm 1872
1881 apresentado e lido pelo presidente José Augusto C orrêa de Barros na Conselheiro Weneeslau de Lima •'"* | "
Sessão de 26 de Janeiro de 1882 — Porto 1882. Assinaturas dos Lentes cm 1884. **tsn
Assinaturas dos Lentes em 1894 .­ • ■ ■ , .'
Fachada norte da Academia em 1882 , ,­•!
Planta baixa do actua! edifício da Faculdade de Ciências do Porto. . 45­ ■*!»
Prof. Bruto Carqueja
Prof. Gomes Teixeira. 1." r último Director da Academia 481­48.)
EMENDAS E ADITAMENTOS 515

Pág. Lin ha Onde st il Deve ler-se


335 23 E nunca mais E «ó mais uma vez *
336 Nota 4 Acrescentar : — Há alusão a iates facto», sem citação de nome*, em Silvestre
Ribeiro i
i f st. dos Estabeleci mentos Scientificos, etc., v o l . X, pág. 38.
343 3t 9." Cad. — ( J e i t o ) 9.' Cad.: Quimica e Arte* Química»
­ (Texto)
317 ?6 libertação deliberação
359 III Pereira Braga Ferreira Braga
368 14 a que pertenciam a que os ditos lentes pertenciam
EMENDAS K A D I T A M E N T O S 380 20 1800 I860
382 23 4. 00$000 rs. 4.000$000 rs.
391 16 1864 1862
392 34 o Estado deixasse o Estado não deixasse
Entre M I m i i /munas que, paru n*ma arrelia 393 9 Carta de Lei de 10 Carta de Lei de 19
do A., escaparam à sua revisito, derem, por MOM 394 última inha 1864 1860
tmportanleê, oorriair­tt g» seguintes: 443 2 (1886­87) (1885­86)
413 31 99­900 86­87
443 33 99­900 86­87
Pdg. linha Onde se lê Deve terse 443 35 pág. 0 Pág­ «
5t 32 José Maria da Silva Azevedo 447 36
,1osé Maria da Silveira Azevedo 89­900 99­900
123 15 João Maria ita Silveira e Azevedo
139 Josc Maria da Silveira e Azevedo
34 Dec. de 8 de Outubro de 1586
146 Dec. de 8 de Outubro de 1836
15 goalão gastão
147 26 Municipalizado) Municipais
147 30 próprio da Academia, na ala do poente
próprio da Academia, em instalações
150 provisória», na ai» do pnenie
14 Vila­Nova Portugal
Vitória Vila­Nova
162 9 vir i Lisboa vir de Lisboa
167 8 digno»
173 última linha 21 v.°
30­31
174 10 arrecadação ':
174 arrecadação
14 economizara portanto, 206S000 rs.
economizara, segundo afirmava,
174 206$O0O
19 preço (!)
174 preço <■)
28 acomodada.
acomodada (=).
174 34 31 v.° 31
17« 36 (0­41
209 [0­3|
I O primeiro programa dos curaos aca­
O primeiro Regulamento do» Actos
démico*
211
O primeiro programa do» curso» aca­
0 primeiro Regulamento do* Acto»
' démicos „ _ _
213 0 primeiro programa d o * curso* aca­
0 primeiro Regulamento doa Actos UNIVERSIDADE D O PLIRTO
démicos
239 20 seu* parágrafo» FACULDAO­ D l C l ! ,r lAS
seu paragrafo
280 14 à Rainha ao Regente
283 4 1857 B I B L I O T L J A
298 1854
3 de 0 Maio
302 27 de 6 de Maio
o 2.»
312 9 « 5 I."
318 30 3.* cadeira
2." cadeira
318 39 O D ec. da nomeaçãu e
0 D ec. da nomeaçio é de 22 de No­
vembro de 1839; ■ C. R. i de 24
de Janeiro de I860. ­ d n , de 83­84,
319 pág. 323
36 (­5, fia. 217) (*) O 2," Tenente da Armada., Eduardo Jaime de Carvalho c Silva, foi nomeado com
320 IO 5, fis. 217)
25 trocado* metade do vencimento, em i860 ( H ­ i r fia. 214 v.°­ai5) O Dec. de 14 de Dezembro de 1869
tocados
suprimiu o lugar [An. de 79­80, pág. 157).

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