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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL E PROPEDÊUTICA

Prof. Msc Paulo Leão


2016.2

DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Roteiro de aula 04

Persecução Penal. Inquérito e ação penal. Procedimento. Garantias do investigado. Atribuições da


autoridade policial. Intervenção do Ministério Público. Outros meios de colheita de indícios da
infração. Sujeitos do processo. Juiz. Ministério Público. Acusado e seu defensor. Assistente.
Curador do réu menor. Auxiliares da justiça. Assistentes. Peritos e intérpretes. Serventuários da
justiça. Impedimentos e suspeições. Instrumentos legais de obtenção de prova: delação premiada,
infiltração de agente policial em organizações criminosas, ação controlada.

INQUÉRITO POLICIAL:

- órgão responsável: POLÍCIA JUDICIÁRIA.


- objetivo: “(...)apuração das infrações penais e da sua autoria”.
O IP é um procedimento administrativo preparatório para o oferecimento da denúncia e tem
como objetivo a reunião dos elementos de convicção que habilitem o órgão de acusação para a
propositura da ação penal (PÚBLICA ou PRIVADA).
-destinatários:
a)IMEDIATO: MP ou OFENDIDO.
b)MEDIATO: JUIZ
O juiz se utiliza dos elementos constantes no inquérito policial para o recebimento da peça
inicial e para a formação de seu convencimento. Utiliza também para fundamentar medidas
cautelares aplicadas durante a fase inquisitorial (ex: quebra de sigilo telefônico, prisão cautelar,
etc.).
-natureza jurídica: PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO-PERSECUTÓRIO DE
NATUREZA INQUISITIVA
ÄNATUREZA INQUISITIVA: a autoridade que instaura é a mesma que preside o
procedimento. A natureza inquisitiva não está diretamente relacionada à existência ou não de
contraditório. O traço marcante do SISTEMA INQUISITIVO é a não separação da figura daquele
que inicia, preside e decide o procedimento, e não a existência ou não de contraditório. O inquérito
policial não possui contraditório simplesmente porque o legislador assim não desejou.
èCONSTITUCIONALIDADE DA INEXISTÊNCIA DE CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA NO INQUÉRITO POLICIAL
Inexiste inconstitucionalidade na ausência de previsão de contraditório e ampla defesa no
inquérito policial uma vez que este não é processo e não se destina a decidir litígio algum, ainda
que na esfera administrativa. Não tem por objetivo a aplicação de uma penalidade, mas de
possibilitar o exercício de um direito, qual seja, ação penal. Mesmo assim se reconhece a incidência
de alguns direitos fundamentais como é o caso de fazer-se assistir por advogado, o de não se
incriminar e o de manter-se em silêncio.

CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO:

a)PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DE CARÁTER INVESTIGATÓRIO


PROCEDIMENTO (SENTIDO ESTRITO) – concatenação de atos dentro do processo.
A expressão procedimento deve ser entendida no seu SENTIDO AMPLO, uma vez que as
diligências ocorrem segundo as determinações da autoridade policial na medida da conveniência e
oportunidade. Não existe um rito ou uma ordem predeterminada pela lei.
PROCEDIMENTO deve ser entendido como sinônimo de ATIVIDADE.
Em decorrência de inexistir um procedimento a ser seguido não é possível o reconhecimento
de NULIDADE PROCEDIMENTAL. Ex.: a instauração de uma portaria inepta não acarreta a
nulidade do restante do inquérito.
O AUTO DE PRISÃO EM FLAGRANTE contém regras que visam garantir a lisura da
situação excepcional que é a prisão em flagrante. O desrespeito de alguma das determinações da
elaboração do auto de prisão em flagrante comprometerá a legalidade da prisão, e não o caráter
investigativo do inquérito que dele decorrer.

b)PREPARATÓRIO E INFORMATIVO
O inquérito policial objetiva reunir os elementos necessários para a propositura da ação
penal, ele visa garantir o mínimo de VIABILIDADE FÁTICA exigido para o início da ação penal, o
que se verifica a partir da existência dos seguintes elementos: MATERIALIDADE DO CRIME E
INDÍCIO DE AUTORIA.

c)OBRIGATÓRIO E INDISPONÍVEL [PARA A AUTORIDADE POLICIAL]


Em regra, a AUTORIDADE POLICIAL não tem discricionariedade quanto à instauração ou
não do inquérito policial. Sempre que tomar conhecimento da ocorrência de infração penal que
caiba AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA deverá instaurar o inquérito.
Hipóteses de desnecessidade de instauração:
i)NOTÍCIA INIDÔNEA hipótese que a notícia criminis não fornece o mínimo de
informação necessária.
ii)FATO NOTORIAMENTE ATÍPICO a conclusão da atipicidade não deve demandar uma
análise aprofundada. O que a autoridade policial analisa é a tipicidade formal. Não cabe a ela a
análise da tipicidade material (ex: insignificância).
iii)EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ex.: homicídio evidentemente prescrito.
iv)INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO [Lei dos Juizados Especiais].
Elaboração do TERMO CIRCUNSTANCIADO.

d)FACULTATIVO E DISPONÍVEL [PARA O TITULAR DA AÇÃO PENAL]


O TITULAR DA AÇÃO PENAL poderá propor a ação sempre que dispuser de elementos
suficientes indicativos de autoria e materialidade, podendo PRESCINDIR do INQUÉRITO
POLICIAL.

e)ESCRITO [art. 9º, CPP]


Tendo em vista o seu objetivo (reunir elementos para a propositura da ação penal) o
INQUÉRITO POLICIAL deve ser escrito.

f)SIGILOSO[art. 20, caput, CPP]

Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o SIGILO necessário à ELUCIDAÇÃO DO


FATO ou exigido pelo INTERESSE DA SOCIEDADE.
O sigilo previsto no dispositivo não é em favor da acusado, mas PARA A ELUCIDAÇÃO
DO FATO ou EM DECORRÊNCIA DO INTERESSE DA SOCIEDADE. [necessidade de
conveniência no caso concreto]
A competência para decretar o sigilo é do DELEGADO.
O JUIZ só decreta o sigilo quando provocado nos casos de proteção do acusado. Também,
quando é requerida, pelo MP ou pela Autoridade Policial, e deferida a quebra de sigilo de dados
bancários, fiscais, telefônicos, etc. (sigilo telefônico: art. 8º, caput e parágrafo único, da Lei
9.296/96)
Contra quem pode ser imposto o sigilo:
i)MP – IMPOSSIBILIDADE: não faria sentido já que o membro do MP é o destinatário do
IP.
ii)JUIZ – IMPOSSIBILIDADE
iii)ADVOGADO – DIVERGÊNCIA [INTERESSE DAS INVESTIGAÇÕES X
PRERROGATIVA DO DEFENSOR PARA EFETIVO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA];
-o entendimento atual, objeto do enunciado n. 14 da súmula vinculante do STF é que ao
advogado do indiciado não pode ser oposto o sigilo das investigações: É DIREITO DO
DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS
DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTADOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO
REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM
RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA.

èNECESSIDADE DE PROCURAÇÃO DO ADVOGADO


O art. 7º, XIV, Estatuto do Advogado – garante o direito de acesso aos autos, mesmo sem
procuração.
STF e STJ se posicionaram no sentido de que somente poderá ter acesso aos autos com segredo de
justiça o advogado que tenha procuração.

HC 93.767 (trecho do voto do Min. relator Celso de Mello)


No que concerne ao inquérito policial há regra clara no
Estatuto do Advogado que assegura o direito aos advogados
de, mesmo sem procuração, ter acesso aos autos (art. 7°, inc.
XIV) e que não é excepcionada pela disposição constante do §
1° do mesmo artigo que trata dos casos de sigilo. Certo é que
o inciso XIV do art. 7° não fala a respeito dos inquéritos
marcados pelo sigilo. Todavia, quando o sigilo tenha sido
decretado, basta que se exija o instrumento procuratório para
se viabilizar a vista dos autos do procedimento investigatório.
Sim, porque inquéritos secretos não se compatibilizam com a
garantia de o cidadão ter ao seu lado um profissional para
assisti-lo, quer para permanecer calado, quer para não se
auto-incriminar (CF, art. 5°, LXIII). Portanto, a presença do
advogado no inquérito e, sobretudo, no flagrante não é de
caráter afetivo ou emocional. Tem caráter profissional,
efetivo, e não meramente simbólico. Isso, porém, só ocorrerá
se o advogado puder ter acesso aos autos.

èSIGILO DO INQUÉRITO E CONTEÚDO DO QUE PODER SER ACESSADO PELO


ADVOGADO [HC 90.232 e súmula vinculante n. 14 do STF]
O advogado poderá ter acesso às informações já introduzidas nos autos do inquérito; aquelas
informações cujas diligências estejam em curso não poderão ser acessadas.

HC 90.232 - STF
II. INQUÉRITO POLICIAL: INOPONIBILIDADE AO
ADVOGADO DO INDICIADO DO DIREITO DE VISTA DOS
AUTOS DO INQUÉRITO POLICIAL.
1. Inaplicabilidade da garantia constitucional do contraditório
e da ampla defesa ao inquérito policial, que não é processo,
porque não destinado a decidir litígio algum, ainda que na
esfera administrativa; existência, não obstante, de direitos
fundamentais do indiciado no curso do inquérito, entre os
quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se
incriminar e o de manter-se em silêncio.
2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado -
interessado primário no procedimento administrativo do
inquérito policial -, é corolário e instrumento a prerrogativa
do advogado de acesso aos autos respectivos, explicitamente
outorgada pelo Estatuto da Advocacia (L. 8906/94, art. 7º,
XIV), da qual - ao contrário do que previu em hipóteses
assemelhadas - não se excluíram os inquéritos que correm em
sigilo: A IRRESTRITA AMPLITUDE DO PRECEITO LEGAL
RESOLVE EM FAVOR DA PRERROGATIVA DO DEFENSOR
O EVENTUAL CONFLITO DELA COM OS INTERESSES DO
SIGILO DAS INVESTIGAÇÕES, de modo a fazer impertinente
o apelo ao princípio da proporcionalidade.
3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma
garantia constitucional do indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que
lhe assegura, quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando
solto, a assistência técnica do advogado, que este não lhe
poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do
inquérito sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar
declarações.
4. O direito do indiciado, por seu advogado, tem por objeto as
INFORMAÇÕES JÁ INTRODUZIDAS NOS AUTOS DO
INQUÉRITO, NÃO AS RELATIVAS À DECRETAÇÃO E ÀS
VICISSITUDES DA EXECUÇÃO DE DILIGÊNCIAS EM
CURSO (cf. L. 9296, atinente às interceptações telefônicas, de
possível extensão a outras diligências); dispõe, em
conseqüência a autoridade policial de meios legítimos para
obviar inconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu
defensor dos autos do inquérito policial possa acarretar à
eficácia do procedimento investigatório.
5. Habeas corpus de ofício deferido, para que aos advogados
constituídos pelo paciente se faculte a consulta aos autos do
inquérito policial e a obtenção de cópias pertinentes, com as
ressalvas mencionadas.

Redação de súmula proposta pela OAB: “O advogado constituído pelo investigado, ressalvadas
as diligências em andamento, tem o direito de examinar os autos de inquérito policial, ainda que
estes tramitem sob sigilo”. Portanto, até mesmo a proposta da OAB excluía as investigações em
andamento.

g)NÃO HÁ PARTES, AUSÊNCIA DE CONTRADITÓRIO


No inquérito policial não há imputação formal, conseqüentemente não há ACUSADOR nem
ACUSADO.

i)OFICIOSIDADE
A atuação da autoridade policial ocorre de OFÍCIO, não depende de provocação.

j)OFICIALIDADE
Somente os órgãos estatais é que podem presidir o INQUÉRITO POLICIAL.

INCOMUNICABILIDADE NO INQUÉRITO POLICIAL [art. 21, CPP]


CPP Art. 21. A INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO
dependerá sempre de despacho nos autos e somente será
permitida quando o INTERESSE DA SOCIEDADE ou a
CONVENIÊNCIA DA INVESTIGAÇÃO o exigir.
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de 3
(TRÊS) DIAS, será decretada por despacho fundamentado do
JUIZ, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do
Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o
disposto no art. 89, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil (Lei no 4.215, de 27 de abril de 1963). (Redação
dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966)

Quem pode ordenar: JUIZ. [art. 21, parágrafo único, CPP].


Instrumento: despacho fundamentado.
Quem pode requerer: autoridade policial ou MP.
Prazo máximo de duração da incomunicabilidade: 3 DIAS.

èCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 21 DO CPP


Discussão quanto à recepção ou não do dispositivo pelo texto constitucional de 1.988.
a)NÃO RECEPÇÃO: é a posição do TRF1!
i)se a incomunicabilidade é vedada até mesmo durante o Estado de Defesa (art. 136, § 3º, IV da CF.
Na vigência do ESTADO DE DEFESA: IV - é vedada a incomunicabilidade do preso) por maior
razão ela não seria tolerada em situações normais;
ii)art. 5º, LXIII da CF (o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado) assegura a assistência
moral de pessoa da família e técnica por advogado.
b)RECEPÇÃO:
i) a CF veda incomunicabilidade somente no caso de Estado de Defesa, em outras para outras
situações não existiria vedação;
ii)a regra do art. 5º, LXIII se teria aplicação específica para as prisões em flagrante.

COMPETÊNCIA DE ATUAÇÃO DA AUTORIDADE POLICIAL:


èA nomenclatura mais correta é AMPLITUDE DA ATRIBUIÇÃO, pois a autoridade policial
não exerce competência.
Critérios de fixação:
i)EM RAZÃO DO LUGAR
ii)EM RAZÃO DA NATUREZA
PRECATÓRIOS e REQUISIÇÕES: serão necessários somente quando o pedido ultrapassar os
limites da comarca. [literalidade do art. 22, CPP]
CPP Art. 22. No Distrito Federal e nas comarcas em que
houver mais de uma circunscrição policial, a autoridade com
exercício em uma delas poderá, NOS INQUÉRITOS A QUE
ESTEJA PROCEDENDO, ordenar diligências em
circunscrição de outra, independentemente de precatórias ou
requisições, e bem assim providenciará, até que compareça a
autoridade competente, sobre QUALQUER FATO QUE
OCORRA EM SUA PRESENÇA, noutra circunscrição.

ðFLAGRANTE PELA AUTORIDADE POLICIAL: a instauração do inquérito policial deve ser


feita por aquele que efetuou a prisão e os atos subsequentes serão realizados pela autoridade do
local onde o crime se consumou. [art. 290 e 308 CPP] [art. 22, parte final, CPP – “(...)bem assim
providenciará, até que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua
presença, noutra circunscrição”.] Instauração do inquérito policial: autoridade que realizou o
flagrante. Condução do IP: autoridade do local onde o crime se consumou.
èAo inquérito policial não se aplica o art. 5º, LIII da CF (NINGUÉM SERÁ PROCESSADO
NEM SENTENCIADO SENÃO PELA AUTORIDADE COMPETENTE). Na fase do IP não há
processo, nem dele decorrerá sentença. Não se pode alegar nulidade dos atos investigatórios
realizados fora da circunscrição da autoridade, ademais os vícios do IP não contaminam o processo.

VALOR PROBATÓRIO DAS INFORMAÇÕES DO INQUÉRITO POLICIAL:


O IP possui VALOR PROBATÓRIO RELATIVO, a prova nele produzida não foi realizada
perante o juiz nem sob o crivo do contraditório e ampla defesa. Em verdade se tratam de elementos
de informação e não de prova.
Utilização no processo: POSSIBILIDADE, desde que confirmada com outros elementos obtidos
no processo.
Atenção para o art. 155, caput, do CPP: fala que no IP são colhidos elementos informativos. O Juiz
não pode fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos. No entanto,
ressalva as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. O Juiz pode fundamentar sua decisão
exclusivamente nestas, porque são provas, não são apenas elementos informativos. Aqui já fala que
é prova porque há contraditório nestes casos: a) prova cautelar, por exemplo, interceptação
telefônica: o acusado vai poder rebatê-las durante a instrução (contraditório diferido); b) não
repetíveis: perícias são feitas por órgãos técnicos do Estado (não é produzida por nenhuma das
partes); c) provas antecipadas: são colhidas perante o Juiz, presente a defesa e a acusação
(contraditório).
INVESTIGAÇÃO PRESIDIDA PELO MP
Discussão quanto à possibilidade do membro do MP presidir as investigações criminais.

a)MP NÃO PODE INVESTIGAR [teses institucional dos delegados de polícia]


i)interpretação literal do art. 144, § 1º, IV da CF (A POLÍCIA FEDERAL, instituída por lei como
órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: IV -
exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União) que determina a atribuição
da polícia federal em exercer, COM EXCLUSIVIDADE, as funções de polícia judiciária da União.
ii)o constituinte especificou em capítulo próprio o exercício do poder de polícia;
iii)a investigação presidida pelo MP comprometeria a estrutura do sistema acusatório.
iv)comprometimento da parcialidade da atuação do MP.

b)MP SÓ PODE INVESTIGAR NAS HIPÓTESES DE PREVISÃO EXPRESSA NA LEI.


[tese defendida pelo Min. Nelson Jobim]

c)MP TEM AMPLO PODER DE INVESTIGAÇÃO.


i)a expressão “(...) com exclusividade (...)”, presente no art. 144, § 1º, IV da CF, é utilizada para
delimitar a competência da Polícia Federal em relação a Polícia Estadual. As funções de polícia
judiciária da União são exercidas com exclusividade pela PF, e não pela polícia estadual.
ii)o sistema vigente na fase do inquérito policial não é acusatório, mas o INQUISITIVO. O
sistema acusatório só tem início com o processo.
iii)imparcialidade se exige do membro do judiciário e não do membro do MP.
iv)a titularidade da ação penal é do MP e a função do inquérito policial é a reunião de elementos
para a fundamentação da denúncia/queixa, não haveria razão para não se permitir que o MP
presidisse as investigações. TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS – (origem nos EUA)– se a
constituição outorga determinado fim a um órgão, implícita e simultaneamente concede a ele os
meios para se desincumbir de tal mister.
v)a lei orgânica do MP prevê tal possibilidade.
vi)existem normas que prevêem que outras autoridades que não a policial presida investigações. É o
caso da investigação realizada por ministros do STF e do STJ ou por CPI.
ðTRFs: POSSIBILIDADE.
ðSTJ: POSSIBILIDADE. [Súmula 234 STJ];
SÚMULA 234 STJ A participação de membro do Ministério
Público na fase investigatória criminal não acarreta o seu
impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

HC 7.445 – STJ
"HABEAS CORPUS" SUBSTITUTIVO DE RECURSO
ORDINÁRIO. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. ATOS
INVESTIGATÓRIOS REALIZADOS PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO. VALIDADE. ORDEM DENEGADA.
I. São válidos os atos investigatórios realizados pelo
Ministério Público, que pode requisitar informações e
documentos para instruir seus procedimentos
administrativos, visando ao oferecimento de denúncia.
II. Ordem que se denega.

ðSTF – não é pacífico, mas a tendência é de se admitir.


-2ª TURMA: POSSIBILIDADE
- Repercussão geral no RE 593727: informativos 671 e 672 (ainda não acabou a
votação).
Cezar Peluso acompanhado por Ricardo Lewandowski: “(...) à luz da ordem jurídica, o
Ministério Público poderia realizar, diretamente, atividades de investigação da prática de
delitos, para preparação de eventual ação penal, em hipóteses excepcionais e taxativas,
desde que observadas certas condições e cautelas tendentes a preservar os direitos e
garantias assegurados na cláusula do devido processo legal. Essa excepcionalidade,
entretanto, exigiria predefinição de limites estreitos e claros. Assim, o órgão poderia fazê-
lo observadas as seguintes condições: a) mediante procedimento regulado, por analogia,
pelas normas concernentes ao inquérito policial; b) por consequência, o procedimento
deveria ser, de regra, público e sempre supervisionado pelo Judiciário; c) deveria ter por
objeto fatos teoricamente criminosos, praticados por membros ou servidores da própria
instituição, por autoridades ou agentes policiais, ou por outrem se, a respeito, a
autoridade policial cientificada não houvesse instaurado inquérito. (...)”
“O Min. Gilmar Mendes, acompanhado pelos Ministros Celso de Mello, Ayres Britto(
Presidente), e Joaquim Barbosa, negou provimento ao recurso. Ressaltou que a 2ª Turma
reconhecera, de forma subsidiária, o poder de investigação do Ministério Público, desde
que atendidos os requisitos estabelecidos no inquérito criminal, inclusive quanto à
observância da Súmula Vinculante 14. Destacou ser imperioso observar: a) ritos claros
quanto à pertinência do sujeito investigado; b) formalização do ato investigativo; c)
comunicação imediata ao Procurador-Chefe ou ao Procurador-Geral; d) autuação,
numeração, controle, distribuição e publicidade dos atos; e) pleno conhecimento da
atividade de investigação à parte; f) princípios e regras que orientariam o inquérito e os
procedimentos administrativos sancionatórios; g) ampla defesa, contraditório, prazo para
a conclusão e controle judicial. Verificou que seria lícita a investigação do parquet nos
crimes praticados por policiais e contra a Administração Pública. Além disso, a 2ª Turma
teria reconhecido a higidez da atividade complementar de investigação quando o órgão
ministerial solicitasse documentação, como no caso dos autos, em que a mera aferição de
documentos para saber se teria havido, ou não, a quebra da ordem de precatórios
acarretaria desobediência.
Celso de Mello reconheceu a legitimidade do poder investigatório do órgão, extraída da
Constituição, a partir de cláusula que outorgaria o monopólio da ação penal pública e o
controle externo sobre a atividade policial. Salientou que o parquet não poderia presidir o
inquérito policial por ser função precípua da autoridade policial. Consignou que a função
investigatória do Ministério Público não se converteria em atividade ordinária, mas
excepcional a legitimar a sua atuação em casos de abuso de autoridade, prática de delito
por policiais, crimes contra a Administração Pública, inércia dos organismos policiais, ou
procrastinação indevida no desempenho de investigação penal, situações que
exemplificativamente justificariam a intervenção subsidiária do órgão ministerial. Realçou
a necessidade de fiscalização da legalidade dos atos investigatórios, de estabelecimento
de exigências de caráter procedimental e de se respeitar direitos e garantias que
assistiriam a qualquer pessoa sob investigação — inclusive em matéria de preservação
da integridade de prerrogativas profissionais dos advogados, tudo sob o controle e a
fiscalização do Poder Judiciário. O Presidente (Carlos Ayres Britto) afirmou que o
Ministério Público teria competência constitucional para, por conta própria, de forma
independente, fazer investigação em matéria criminal. Mencionou que essa interpretação
ampliativa melhor serviria à finalidade, conferida pelo art. 127 da CF, de defender a ordem
jurídica, sobretudo em âmbito penal. Aludiu que diversas leis confeririam competência
investigatória ao parquet (Estatuto do Idoso; Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA;
Lei Maria da Penha; Estatuto de Defesa e Proteção do Consumidor). Por fim, asseverou
que o inquérito policial não exauriria a investigação criminal. Ademais, outros órgãos,
além do Ministério Público, poderiam desempenhar atividades investigativas. Após, pediu
vista o Min. Luiz Fux.”

ÄRESOLUÇÃO N. 3 DO CNMP REGULAMENTA O PICÃ


ðProcedimento investigatório criminal [PIC] – é instrumento de natureza administrativa e
inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do MP, terá como finalidade apurar a ocorrência
de infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de
propositura, ou não, da respectiva ação penal. [Resolução n. 13 CNMP – disciplina a instauração e
tramitação do procedimento investigatório criminal].
Natureza jurídica: NATUREZA ADMINISTRATIVA E INQUISITORIAL.
Autoridade responsável: MEMBRO DO MP COM ATRIBUIÇÃO CRIMINAL.
Finalidade: apurar ocorrência de infrações de natureza pública com intuito de realizar a preparação
para o juízo de propositura, ou não, da ação penal.

INÍCIO DO INQUÉRITO POLICIAL: [art. 5º, CPP]


Formas de início do IP:
a)DE OFÍCIO [art. 5º, I, CPP]
b)REQUISIÇÃO DO JUIZ OU DO MP [art. 5º, II, CPP]
c)REQUERIMENTO DO OFENDIDO OU QUEM TIVER QUALIDADE PARA
REPRESENTÁ-LO NAS AÇÕES PRIVADAS E NAS AÇÕES PÚBLICAS SUBSIDIÁRIAS
[art. 5º, II, CPP]
d)REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO OU QUEM TIVER QUALIDADE PARA
REPRESENTÁ-LO NAS AÇÕES PENAIS PÚBLICAS CONDICIONADAS [art. 5º, § 4º,
CPP]

a)DE OFÍCIO [art. 5º, I, CPP]


Hipóteses de instauração de ofício:
i)QUANDO TOMAR CONHECIMENTO DA INFRAÇÃO POR QUALQUER UM DO
POVO [delatio criminis simples]
A autoridade somente estará obrigada a instaurar o IP se procedente as informações.

Art. 5º. § 3º Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração
penal em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.

èINÍCIO DA PERSECUÇÃO PENAL E A DELAÇÃO ANÔNIMA (DELAÇÃO


APÓCRIFA): STF entendeu que o ESCRITO ANÔNIMO não autoriza, desde que
ISOLADAMENTE CONSIDERADO, a imediata INSTAURAÇÃO DE “PERSECUTIO
CRIMINIS”. A DELAÇÃO ANÔNIMA, enquanto FONTE ÚNICA DE INFORMAÇÃO, não
constitui fator que se mostre suficiente para legitimar, DE MODO AUTÔNOMO, sem o
CONCURSO de OUTROS MEIOS DE REVELAÇÃO DOS FATOS, a instauração de
procedimentos estatais.

Nada impede, contudo, que o PODER PÚBLICO, provocado por DELAÇÃO ANÔNIMA
(“DISQUE-DENÚNCIA”, P. EX.), adote MEDIDAS INFORMAIS destinadas a apurar,
previamente, em averiguação sumária, “com prudência e discrição”, a possível ocorrência de
eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o OBJETIVO de CONFERIR A
VEROSSIMILHANÇA DOS FATOS nela denunciados, em ordem a promover, então, EM CASO
POSITIVO, a formal instauração da “PERSECUTIO CRIMINIS”, mantendo-se, assim,
completa desvinculação DESSE PROCEDIMENTO ESTATAL em relação às PEÇAS
APÓCRIFAS.

PEÇAS APÓCRIFAS não podem ser formalmente incorporadas a procedimentos instaurados pelo
Estado, salvo quando forem PRODUZIDAS PELO ACUSADO ou, ainda, QUANDO
CONSTITUÍREM, ELAS PRÓPRIAS, O CORPO DE DELITO (COMO SUCEDE COM
BILHETES DE RESGATE NO CRIME DE EXTORSÃO MEDIANTE SEQÜESTRO, OU COMO
OCORRE COM CARTAS QUE EVIDENCIEM A PRÁTICA DE CRIMES CONTRA A HONRA,
OU QUE CORPORIFIQUEM O DELITO DE AMEAÇA OU QUE MATERIALIZEM O
“CRIMEN FALSI”, P. EX.).

èPRINCÍPIOS ENVOLVIDOS: VEDAÇÃO DO ANONIMATO; INVIOLABILIDADE DA


VIDA PRIVADA; PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA X INTERESSE PÚBLICO; EFETIVA
TUTELA PENAL; LIVRE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO COMO PRINCÍPIO
DEMOCRÁTICO.
Äa regra seria pela total desconsideração da delação apócrifa, mas uma análise do art. 5º, IV
da CF frente aos demais princípios e valores também constitucionais, pautando-se pela
proporcionalidade, faz concluir pela flexibilização dessa situação. A carta anônima não pode, por si
só, fundamentar a instauração do IP, mas poderá fazer com a autoridade busque mais indícios que
justifiquem tal instauração.

èEUGENIO PACELLI: A chamada DELAÇÃO ANÔNIMA, com efeito, não pode ser
submetida a critérios rígidos e abstratos de interpretação. O único dado objetivo que se pode
extrair dela é a vedação da INSTAURAÇÃO DE AÇÃO PENAL com base, UNICAMENTE,
em DOCUMENTO APÓCRIFO. E isso, porque, de fato, FALTARIA JUSTA CAUSA À AÇÃO,
diante da IMPOSSIBILIDADE, demonstrada a priori, da indicação do MATERIAL
PROBATÓRIO a ser desenvolvido no curso da ação.

HC PARA TRANCAR INQUÉRITO OU AÇÃO PENAL (OU MS CONTRA


PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO)
a)SE O INÍCIO TEVE COMO FUNDAMENTO A CARTA/BILHETE APÓCRIFO: HC deve
ser concedido.
b)SE O INÍCIO DECORREU DE INVESTIGAÇÕES INICIADAS A PARTIR DA
CARTA/BILHETE APÓCRIFO: HC não deve ser concedido.

HC 100042-STF
EMENTA: A INVESTIGAÇÃO PENAL E A QUESTÃO DA
DELAÇÃO ANÔNIMA. DOUTRINA. PRECEDENTES.
PRETENDIDA EXTINÇÃO DO PROCEDIMENTO
INVESTIGATÓRIO, COM O CONSEQÜENTE
ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL.
DESCARACTERIZAÇÃO, NA ESPÉCIE, DA
PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. MEDIDA
CAUTELAR INDEFERIDA.
- As autoridades públicas não podem iniciar qualquer medida
de persecução (penal ou disciplinar), apoiando-se,
unicamente, para tal fim, em peças apócrifas ou em escritos
anônimos. É por essa razão que o escrito anônimo não
autoriza, desde que isoladamente considerado, a imediata
instauração de “persecutio criminis”.
- Peças apócrifas não podem ser formalmente incorporadas a
procedimentos instaurados pelo Estado, salvo quando forem
produzidas pelo acusado ou, ainda, quando constituírem, elas
próprias, o corpo de delito (como sucede com bilhetes de
resgate no crime de extorsão mediante seqüestro, ou como
ocorre com cartas que evidenciem a prática de crimes contra a
honra, ou que corporifiquem o delito de ameaça ou que
materializem o “crimen falsi”, p. ex.).
- Nada impede, contudo, que o Poder Público, provocado por
delação anônima (“disque-denúncia”, p. ex.), adote medidas
informais destinadas a apurar, previamente, em averiguação
sumária, “com prudência e discrição”, a possível ocorrência
de eventual situação de ilicitude penal, desde que o faça com o
objetivo de conferir a verossimilhança dos fatos nela
denunciados, em ordem a promover, então, em caso positivo, a
formal instauração da “persecutio criminis”, mantendo-se,
assim, completa desvinculação desse procedimento estatal em
relação às peças apócrifas.

èFORMAS DE CLASSIFICAÇÃO DA NOTICIA CRIMINIS


ðCOGNIÇÃO IMEDIATA – a autoridade policial tem notícia do crime por suas
atividades de rotina.
ðCOGNIÇÃO MEDIATA – a autoridade policial tem notícia do crime por terceiros.
Requisição do MP, do Juiz, representação.
ðCOGNIÇÃO COERCITIVA – a autoridade policial tem notícia do crime por meio de
prisão em flagrante. [art. 8º, CPP]

èFORMAS DE CLASSIFICAÇÃO DA DELATIO CRIMINIS


ðDELATIO CRIMINIS SIMPLES – delação feita por qualquer um do povo.
ðDELAÇÃO POSTULATÓRIA – comunica o crime e pede a instauração. ex.:
representação.

b)REQUISIÇÃO DO JUIZ OU DO MP [art. 5º, II, CPP]


A requisição deve ser acompanhada com PEDIDO DE DILIGÊNCIA.
Instrumento: OFÍCIO REQUISITÓRIO.
Natureza jurídica da requisição: ORDEM. Tem caráter obrigatório. [requisitar = exigir
legalmente]. O descumprimento poderá configurar CRIME DE PREVARICAÇÃO.

èREQUISIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA


Discussão quanto à figura da autoridade coatora no caso de IP instaurado em decorrência de
requisição (AUTORIDADE POLICIAL x MP).
STF/TRF1 – A autoridade coatora no caso de IP instaurado em decorrência de requisição é o MP.
(TRF1: HC 2009.01.00.047764-7, HC 2008.01.00.011776-0, C 2005.01.00.061091-0.)
STJ – divergente:
a)AUTORIDADE POLICIAL
b)MP [AgRg no REsp 700115]

c)REQUERIMENTO DO OFENDIDO OU QUEM TIVER QUALIDADE PARA


REPRESENTÁ-LO NAS AÇÕES PRIVADAS E NAS AÇÕES PÚBLICAS SUBSIDIÁRIAS
[art. 5º, II, CPP]
Hipóteses AÇÃO PENAL PRIVADA EXCLUSIVA e AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA
DA PÚBLICA.
Nos crimes de AÇÃO PRIVADA o IP só pode ser iniciado se houver requerimento (art. 5º.
§ 5º Nos crimes de AÇÃO PRIVADA, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a
REQUERIMENTO de quem tenha qualidade para intentá-la).
Requisitos do requerimento: [art. 5º, § 1º, CPP]
CPP Art. 5º. § 1º O requerimento a que se refere o no II
conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos
e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da
infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua
profissão e residência.
Recurso do despacho que indefere requerimento: recurso para chefe de Polícia. art. 5º,
§ 2º, CPP (Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso para o
chefe de Polícia).

d)REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO OU QUEM TIVER QUALIDADE PARA


REPRESENTÁ-LO NAS AÇÕES PENAIS PÚBLICAS CONDICIONADAS [art. 5º, § 4º,
CPP]
Hipóteses: AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA.
Nos crimes de AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA o IP só pode ser iniciado se houver
representação.
CPP Art. 5º. § 4º O inquérito, nos crimes em que a AÇÃO
PÚBLICA depender de REPRESENTAÇÃO, não poderá sem
ela ser iniciado.

ATOS DO INQUÉRITO POLICIAL [art. 6º e 7º, CPP]


i)PRESERVAÇÃO DO LOCAL DO CRIME [art. 6º, I, CPP]
CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o
estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos
criminais; (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
(Vide Lei nº 5.970, de 1973)
-necessidade de se garantir a conservação do local do crime.

ii)APREENSÃO DOS OBJETOS APÓS LIBERADOS PELOS PERITOS [art. 6º, II,
CPP]
CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá:
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
liberados pelos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº
8.862, de 28.3.1994)
-tomada de posse dos objetos que têm relação com o fato.

iii)COLHEITA DAS PROVAS E DAS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS [art. 6º, III, CPP]
CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: III - colher todas
as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
-o inquérito não reúne provas acabadas, serve apenas como início de prova. A prova
definitiva surge no curso do processo.
-a prova produzida no IP poderá auxiliar na convicção do juiz, mas deverá ser
confirmada por outras provas produzidas no processo. Tal entendimento é reforçado pena nova
redação do art. 155 CPP: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida
em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008).

PROVA TESTEMUNHAL NO INQUÉRITO POLICIAL:


Não há máximo legal;
As testemunhas são intimadas;
Descumprimento da ordem de comparecimento ð possibilidade de CONDUÇÃO
COERCITIVA.
Äaplicação analógica do art. 218, CPP (art. 218. Se, regularmente intimada, a
testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade
policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar
o auxílio da força pública) .
Änão há necessidade de autorização judicial, basta a expedição de mandado de
condução coercitiva.
Äpossibilidade de caracterização de CRIME DE DESOBEDIÊNCIA.
Ä é possível a aplicação da multa.
CPP Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a
multa prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por
crime de desobediência, e condená-la ao pagamento das custas
da diligência. (Redação dada pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

***atenção*** OFENDIDO ð presta DECLARAÇÕES


TESTEMUNHA ð presta DEPOIMENTO
SUSPEITO ð presta INTERROGATÓRIO

iv)OITIVA DO OFENDIDO[art. 6º, IV, CPP]


CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: IV - ouvir o
OFENDIDO;
-o ofendido não presta compromisso, eventual mentira não caracterizará falso
testemunho, poderá caracterizar CALÚNIA.

v)OITIVA DO INDICIADO [art. 6º, V, CPP]


CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá:
V - ouvir o INDICIADO, com observância, no que for
aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste
Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 (duas)
testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;
-crítica à nomenclatura utilizada pelo dispositivo ð “indiciado” é espécie de
suspeito.
INDICIAMENTO – conjunto de atos que oficializam a suspeita.

ACUSADO/DENUNCIADO/IMPUTADO/QUERELA
SUSPEITO INDICIADO RÉU SENTENCIADO CONDENADO
DO

A partir A partir da Após o


Oferecimento da denúncia/queixa da sentença transito em
citação condenatória julgado

Atos de indiciamento:
1)QUALIFICAÇÃO E INTERROGATÓRIO
2)IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL
3)FOLHA DE VIDA PREGRESSA
O termo deve ser assinado por 2 testemunhas [TESTEMUNHAS FEDATÁRIAS OU
INSTRUMENTAIS], mas não é necessário que as testemunhas tenham acompanhado todo o
interrogatório.
èADVERTÊNCIA DO DIREITO AO SILÊNCIO
A ausência dessa advertência vicia o ato.

èCURADOR DE MENOR [art. 15, CPP]

Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial.

MENOR DE 18 não pode ser indiciado.


Segundo a posição dominante, o NCC revogou tacitamente o art. 15, CPP.
A ausência de curador não é causa de nulidade absoluta, mas relativa (STJ).

vi)RECONHECIMENTO DE PESSOAS OU COISAS E ACAREAÇÕES [art. 6º, VI,


CPP]
CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá:VI - proceder a
reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações;
ACAREAÇÃO: confronto pessoal entre 2 ou mais pessoas sobre um determinado ponto
divergente. Testemunha, vítima e indiciado podem ser acareados.

èATRIBUIÇÃO DE FALSA IDENTIDADE PARA OCULTAR ANTECEDENTES


CRIMINAIS
Discussão quanto à caracterização do crime de atribuição de falsa identidade (art. 307, CP) quanto à
conduta de apresentar-se como outra pessoa perante a autoridade policial.

TRF1:
O TRF1 já decidiu no sentido de não caracterizar o crime previsto no art. 307 do CP:

• PENAL. PROCESSO PENAL. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. ART. 12, CAPUT C/C


ART. 18, I e III, DA LEI Nº 6.368/76. MATERIALIDADE E AUTORIA
COMPROVADAS. FALSA IDENTIDADE (ART. 307, CP). INEXISTÊNCIA DE CRIME.
1. A materialidade e a autoria do crime de tráfico de entorpecentes foram demonstradas
pelo conjunto probatório acostado aos autos. 2. Tendo o acusado adquirido a substância
entorpecente em país estrangeiro (Bolívia), internando-a ilicitamente em território
nacional, em associação eventual com outro comparsa, impõe-se a aplicação das causas de
aumento de pena prevista no art. 18, I e III, da Lei nº 6.368/76.
3. Inexistência do crime descrito no art. 307 do CPB quando o agente se
atribui falsa identidade perante a autoridade policial em atitude de autodefesa. Precedentes
do STJ. 4. O Plenário do eg. Supremo Tribunal Federal, na sessão de 23/02/2006, concluiu
o julgamento do HC nº 82.959/SP, reconhecendo, em controle
difuso, a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90, que proibia a progressão de
regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos, reconhecendo,
assim, a possibilidade de progressão do regime de cumprimento da pena, para os que
tenham sido condenados pela prática de crime hediondo, uma vez preenchidos os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício. 5. Habeas corpus concedido de ofício para
reconhecer a possibilidade do acusado, ora apelante, progredir o regime de cumprimento
da pena, desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, que
deverão ser analisados e sopesados pelo Juízo da Execução. 5. Apelação criminal provida
parcialmente. (Numeração Única: 0000847-25.2005.4.01.3601 ACR 2005.36.01.000847-5 / MT; APELAÇÃO
CRIMINAL. Quarta Turma. Julgado em 07/05/2007).

Contudo, a última decisão entende tipificado o crime:

• PENAL. PROCESSO PENAL. APELAÇÕES. ART. 157, § 2º, INCISOS I E II, DO


CÓDIGO PENAL. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. DOSIMETRIA
DA PENA. ATRIBUIÇÃO DE FALSA IDENTIDADE À AUTORIDADEPOLICIAL.
ART. 307, DO CÓDIGO PENAL. SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
APELAÇÕES DOS RÉUS DESPROVIDAS. APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL PARCIALMENTE PROVIDA. 1. Da análise dos autos, verifica-se
que a materialidade e a autoria do delito pelo qual foram os acusados, ora apelantes,
condenados em primeiro grau de jurisdição restaram comprovadas nos autos, nos termos do
que visualizou o MM. Juízo Federal a quo, ao proferir a v. sentença apelada, às fls. 379/388,
particularmente, às fls. 381/384. Presentes, assim, no caso em comento, a materialidade
e a autoria do delito pelo qual foram os acusados, ora apelantes, condenados em primeiro
grau de jurisdição, não há que se falar na inexistência, ou na insuficiência, de
provas a embasar a prolação de sentença condenatória. 2. Da análise dos autos, verifica-se
que deve ser mantida a dosimetria da pena efetuada pelo MM. Juízo Federal aquo, tendo em
vista a observância, na hipótese, dos parâmetros estabelecidos nos arts. 59 e 68, ambos do
Código Penal. 3. O fato de o acusado se
atribuir falsa identidade perante a autoridade policial, apresentando-se com outro nome,
caracteriza o delito previsto no art. 307, do Código Penal. Aplicação de precedentes
jurisprudenciais dos egrégios Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça. 4.
Sentença parcialmente reformada. 5. Apelações dos réus desprovidas. Apelação do
Ministério Público Federal parcialmente provida.(Numeração Única: 0003926-44.2007.4.01.3600 ACR
2007.36.00.003926-0 / MT; APELAÇÃO CRIMINAL. Quarta Turma. Julgado em: 10/12/2013).

STF/STJ:

Os tribunais superiores parecem ter consolidado o entendimento de que não se trata de


uma manifestação do direito de autodefesa, restando configurado o tipo penal.

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. CRIME DE FALSA IDENTIDADE. ART.


307 DO CÓDIGO PENAL. ATRIBUIÇÃO DE FALSA IDENTIDADE PERANTE A
AUTORIDADE POLICIAL. TIPICIDADE DA CONDUTA.
I- O Supremo Tribunal Federal manifestou-se, nos autos do Recurso Extraordinário n.
640.139/DF, submetido ao rito previsto no art. 543-B, do Código de Processo Civil, pela tipicidade
da conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial, com o objetivo de ocultar
maus antecedentes. Essa orientação foi recentemente adotada pela 3ª Seção desta Corte Superior
de Justiça, nos autos do REsp n. 1.362.524/MG, submetido ao rito dos recursos repetitivos, de
relatoria do Ministro Sebastião Reis Júnior, julgado em 23.10.2013.II- A decisão agravada não
merece reparos, porquanto proferida em consonância com a jurisprudência desta Corte Superior.
III - Agravo Regimental improvido. (AgRg no REsp 1385271 / MG AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL 2013/0175733-8.Quinta Turma. 01/04/2014).

vii)EXAME DE CORPO DE DELITO E OUTRAS PERÍCIAS [art. 6º, VII, CPP]


CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: VII - determinar,
se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a
quaisquer outras perícias;
PERÍCIA: exame em pessoa ou em coisa por pessoa habilitada (PERITO). É a prova
técnica por excelência.

viii)ORDENAR A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL E FAZER JUNTAR A FOLHA DE


ANTECEDENTES [art. 6º, VIII, CPP]
CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: III - ordenar a
identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se
possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;

IDENTIFICAÇÃO DATILOSCÓPICA:
-evolução histórica:
1)[Súmula 568 STF] – a identificação criminal não constitui constrangimento ilegal,
ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente.
SÚMULA 568 STF [SÚMULA NÃO FOI CANCELADA,
MAS NÃO TEM MAIS APLICAÇÃO]
A identificação criminal não constitui constrangimento ilegal,
ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente
(vide observação).

2)[art. 5º, LVIII, CF] - o civilmente identificado não será submetido à identificação
criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
3)[art. 5º, Lei 9.034/95] – obrigatoriedade da identificação datiloscópica das pessoas
envolvidas em ações praticadas por organizações criminosas.
Lei 9.034/95 Art. 5º A IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL de
pessoas envolvidas com a ação praticada por
ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS será realizada
independentemente da identificação civil.

4)[art. 3º, Lei 10.054/00] – trazia mais 6 hipóteses nas quais deverá ocorrer a
identificação. [REVOGADA]

5)[art. 3º, Lei 12.037/09] – trata da matéria de maneira mais adequada que a lei
antecessora.
Lei 12.037/09 Art. 3º Embora apresentado documento de
identificação, poderá ocorrer identificação criminal quando:
I – o documento apresentar rasura ou tiver indício de
falsificação;
II – o documento apresentado for insuficiente para identificar
cabalmente o indiciado;
III – o indiciado portar documentos de identidade distintos,
com informações conflitantes entre si;
IV – a identificação criminal for essencial às investigações
policiais, segundo despacho da autoridade judiciária
competente, que decidirá de ofício ou mediante representação
da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa;
V – constar de registros policiais o uso de outros nomes ou
diferentes qualificações;
VI – o estado de conservação ou a distância temporal ou da
localidade da expedição do documento apresentado
impossibilite a completa identificação dos caracteres
essenciais.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados
deverão ser juntadas aos autos do inquérito, ou outra forma de
investigação, ainda que consideradas insuficientes para
identificar o indiciado.

REGRA: o civilmente identificado não deve sofrer identificação criminal.


EXCEÇÕES: [HIPÓTESES EM QUE, AINDA QUE SEJA CIVILMENTE
IDENTIFICADO, DEVERÁ SER SUBMETIDO À IDENTIFICAÇÃO CRIMINAL]
a)o documento apresentar rasura ou tiver indício de falsificação;
b)o documento apresentado for insuficiente para identificar cabalmente o indiciado;
c)o indiciado portar documentos de identidade distintos, com informações
conflitantes entre si;
d)a identificação criminal for essencial às investigações policiais, segundo despacho
da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante representação da autoridade
policial, do Ministério Público ou da defesa;
e)constar de registros policiais o uso de outros nomes ou diferentes qualificações;
f)o estado de conservação ou a distância temporal ou da localidade da expedição do
documento apresentado impossibilite a completa identificação dos caracteres essenciais.

ix)AVERIGUAR VIDA PREGRESSA [art. 6º, VIII, CPP]


CPP Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá: IX - averiguar a
vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual,
familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado
de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer
outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.

VIDA PREGRESSA – fornecimento de dados que possam ser úteis. Influenciam na


identificação do valor da multa, individualização da pena etc.

x)REPRODUÇÃO SIMULADA DOS FATOS [art. 7º, CPP]


CPP Art. 7º Para verificar a possibilidade de haver a infração
sido praticada de determinado modo, a autoridade policial
poderá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que
esta não contrarie a moralidade ou a ordem pública.
Objetivo: identificação do modus operandi. Segundo o posicionamento da
jurisprudência, o indiciado não é obrigado a fazer a reconstituição, ainda já tenha confessado.

èPEDIDO DE DILIGÊNCIAS:
-se solicitadas pelo JUIZ ou pelo MP – autoridade policial deve realizar. [art. 13, II, CPP]
-se solicitadas pelo OFENDIDO ou SEU REPRESENTANTE ou pelo INDICIADO –
discricionariedade da autoridade policial em realizá-las ou não. [art. 14, CPP].

CASOS ESPECIAIS DE INDICIAMENTO


a)JUIZ E MP - não podem ser objeto de indiciamento as pessoas que possuem foro por
prerrogativa de função, quando houver impedimento legal. Ex.: juiz e MP.

b)AUTORIDADES COM PRERROGATIVA NO STF


-é possível que os parlamentares sejam investigados pela PF, mas existem regras
específicas trazidas pela jurisprudência e doutrina para esses casos.
Ä[a investigação feita pela PF não é irregular]
-a iniciativa da investigação deve ser confiada ao MPF, contando com a supervisão
do ministro-relator do STF.
Äa instauração depende de autorização. PF não pode instaurar o IP de forma
direta.
ÄIP instaurado sem essa autorização é nulo.
-no exercício da competência penal originária do STF a atividade de supervisão
judicial deve ser desempenhada durante a tramitação de toda a investigação (desde a abertura até a
propositura da ação penal).
Äfundamento: caso contrário estaria ocorrendo o esvaziamento da própria
idéia de prerrogativa.
-após a conclusão das investigações o IP é remetido para o STF.
Informativo 483 STF
Ressaltando que a prerrogativa de foro tem por escopo garantir
o livre exercício da função do agente político, e fazendo
distinção entre os inquéritos originários, a cargo e competência
do STF, e os de natureza tipicamente policial, que se regulam
inteiramente pela legislação processual penal brasileira,
entendeu-se que, no exercício da competência penal originária
do STF (art. 102, I, b, da CF c/c o art. 2º da Lei 8.038/90), a
atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente
desempenhada durante toda a tramitação das investigações, ou
seja, desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o
eventual oferecimento, ou não, de denúncia pelo Ministério
Público, sob pena de esvaziamento da própria idéia dessa
prerrogativa. Em razão disso, concluiu-se que a
AUTORIDADE POLICIAL NÃO PODERIA TER
INDICIADO O PARLAMENTAR SEM AUTORIZAÇÃO
PRÉVIA DO MINISTRO-RELATOR DO INQUÉRITO.
Ademais, em manifestação obiter dictum, asseverou-se que a
autoridade policial também dependeria dessa autorização para
a abertura de inquérito em que envolvido titular de prerrogativa
de foro perante esta Corte.

QO – Inq 2.411-MT [Informativo 503 – STF]


EMENTA: Questão de Ordem em Inquérito.
1. Trata-se de questão de ordem suscitada pela defesa de
Senador da República, em sede de inquérito originário
promovido pelo Ministério Público Federal (MPF), para que o
Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) defina a
legitimidade, ou não, da instauração do inquérito e do
indiciamento realizado diretamente pela Polícia Federal (PF).
2. Apuração do envolvimento do parlamentar quanto à
ocorrência das supostas práticas delituosas sob investigação na
denominada “Operação Sanguessuga”.
3. Antes da intimação para prestar depoimento sobre os fatos
objeto deste inquérito, o Senador foi previamente indiciado por
ato da autoridade policial encarregada do cumprimento da
diligência.
4. Considerações doutrinárias e jurisprudenciais acerca do
tema da instauração de inquéritos em geral e dos inquéritos
originários de competência do STF:
i)a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que,
nos inquéritos policiais em geral, não cabe a JUIZ ou a
TRIBUNAL investigar, de ofício, o titular de prerrogativa de
foro;
ii)qualquer pessoa que, na condição exclusiva de
cidadão, apresente “notitia criminis”, diretamente a este
Tribunal é parte manifestamente ilegítima para a formulação
de pedido de recebimento de denúncia para a apuração de
crimes de ação penal pública incondicionada. Precedentes:
INQ no 149/DF, Rel. Min. Rafael Mayer, Pleno, DJ
27.10.1983; INQ (AgR) no 1.793/DF, Rel. Min. Ellen Gracie,
Pleno, maioria, DJ 14.6.2002; PET - AgR - ED no 1.104/DF,
Rel. Min. Sydney Sanches, Pleno, DJ 23.5.2003; PET no
1.954/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa, Pleno, maioria, DJ
1º.8.2003; PET (AgR) no 2.805/DF, Rel. Min. Nelson Jobim,
Pleno, maioria, DJ 27.2.2004; PET no 3.248/DF, Rel. Min.
Ellen Gracie, decisão monocrática, DJ 23.11.2004; INQ no
2.285/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, decisão monocrática, DJ
13.3.2006 e PET (AgR) no 2.998/MG, 2ª Turma, unânime, DJ
6.11.2006;
iii)diferenças entre a regra geral, o inquérito policial
disciplinado no Código de Processo Penal e o inquérito
originário de competência do STF regido pelo art. 102, I, b, da
CF e pelo RI/STF. A prerrogativa de foro é uma garantia
voltada não exatamente para os interesses do titulares de
cargos relevantes, mas, sobretudo, para a própria regularidade
das instituições. Se a Constituição estabelece que os agentes
políticos respondem, por crime comum, perante o STF (CF,
art. 102, I, b), não há razão constitucional plausível para que as
atividades diretamente relacionadas à supervisão judicial
(abertura de procedimento investigatório) sejam retiradas do
controle judicial do STF. A iniciativa do procedimento
investigatório deve ser confiada ao MPF contando com a
supervisão do Ministro-Relator do STF.
5. A POLÍCIA FEDERAL NÃO ESTÁ AUTORIZADA A
ABRIR DE OFÍCIO INQUÉRITO POLICIAL PARA
APURAR A CONDUTA DE PARLAMENTARES
FEDERAIS OU DO PRÓPRIO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA (NO CASO DO STF). No exercício de
competência penal originária do STF (CF, art. 102, I, “b” c/c
Lei nº 8.038/1990, art. 2º e RI/STF, arts. 230 a 234), a
atividade de supervisão judicial deve ser constitucionalmente
desempenhada durante toda a tramitação das investigações
desde a abertura dos procedimentos investigatórios até o
eventual oferecimento, ou não, de denúncia pelo dominus litis.
6. Questão de ordem resolvida no sentido de anular o ato
formal de indiciamento promovido pela autoridade policial em
face do parlamentar investigado.

Ementa: PROCESSUAL PENAL. DEPUTADO FEDERAL. FORO POR PRERROGATIVA


DE FUNÇÃO. COMPETÊNCIA DO STF INCLUSIVE NA FASE DE
INVESTIGAÇÃO. DENÚNCIA LASTREADA EM PROVAS COLHIDAS
POR AUTORIDADE INCOMPETENTE. DENÚNCIA REJEITADA. I – Os elementos probatórios
destinados a embasar a denúncia foram confeccionados sob a égidede autoridades
desprovidas de competência constitucional para tanto. II - Ausência deindícios ou provas que,
produzidas antes da posse do acusado como Deputado Federal, eventualmente pudessem apontar
para a sua participação nos crimes descritos na inicial acusatória. III - A competência do Supremo
Tribunal Federal, quando da possibilidade deenvolvimento de parlamentar em ilícito penal,
alcança a fase de investigação,materializada pelo desenvolvimento do inquérito. Precedentes desta
Corte. VI - A usurpação da competência do STF traz como consequência a inviabilidade de tais
elementos operarem sobre a esfera penal do denunciado. Precedentes desta Corte. V - Conclusão
que não alcança os acusados destituídos de foro por prerrogativa de função. VI – Denúncia
rejeitada. (Inq 2842 / DF - DISTRITO FEDERAL
INQUÉRITO. Julgamento: 02/05/2013).

èPROPOSITURA DA DENÚNCIA PELO MP SEM A CONCLUSÃO DO IP ð


POSSIBILIDADE. [Inq 2245 - STF]

PRAZO PARA O TÉRMINO DO INQUÉRITO [art. 10, CPP]


-indiciado PRESO: 10 DIAS
Ätermo inicial: dia da execução da prisão.
-indiciado SOLTO: 30 DIAS.
-possibilidade requerer reabertura do prazo.

PRAZOS – PARA CONCLUSÃO DO INQUÉRITO

RÉU PRESO RÉU SOLTO


JUSTIÇA COMUM 10 dias 30 dias
CPPM 20 dias 40 dias
JUSTIÇA FEDERAL 15 dias (pode duplicar 30) 30 dias (pode duplicar 60)
NOVA LEI DE DROGAS 30 dias (pode duplicar) 90 dias (pode duplicar)
Lei de economia popular: 10 DIAS SOLTO OU PRESO

A CONTAGEM DO PRAZO DO INQUÉRITO POLICIAL É PENAL OU PROCESSUAL?


è É UM PRAZO PROCESSUAL.
VOLTA DO INQUÉRITO POLICIAL [art. 16, CPP]

Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do inquérito à autoridade
policial, SENÃO para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.

Possibilidade de requerimento da devolução do IP relatado à autoridade policial para a


realização de novas diligências imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
REGRA: MP não pode requerer a DEVOLUÇÃO do IP relatado.
EXCEÇÃO: somente quando houver DILIGÊNCIAS IMPRESCINDÍVEIS para o
oferecimento da denúncia.

èINDICIADO PRESO E A APLICAÇÃO DO ART. 16 DO CPP


Prof. Frederico (Marcato) interpreta o art. 16 juntamente com a segunda parte do art. 46 de
forma a concluir que a devolução do inquérito não pode ocorrer no caso de réu preso. A segunda
parte do art. 46 trata da reabertura do prazo na devolução quando o réu estiver solto, nada tratando
do réu preso.
No caso de diligência imprescindível, estando o réu preso, o membro do MP deve requerer a
diligência diretamente para a autoridade policial.
CPP Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando
o réu preso, será de 5 (cinco) dias, contado da data em que o
órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito
policial, e de 15 (quinze) dias, se o réu estiver solto ou
afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à
autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que
o órgão do Ministério Público receber novamente os autos.

èINDEFERIMENTO JUDICIAL DE DILIGÊNCIA REQUERIDA PELO MP


Como regra não é possível que o magistrado indefira a diligência requerida pelo MP, exceto
no caso de réu preso.
A opinio delicti pertence ao MP. O indeferimento nesse caso é inócuo, o MP poderá
requerer a realização da diligência diretamente à autoridade policial.
Medidas cabíveis no caso de indeferimento: requisição direta à autoridade policial e
correição parcial.

ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


As possibilidades de arquivamento decorriam da análise a contrário senso do art. 43, CPP, que foi
revogado pela Lei 11.719/08. O novo tratamento sobre a rejeição da denúncia/queixa é tratado pelo
art. 395, CPP.
ARTIGO REVOGADO LEI 11.719/08
CPP
Art. 43. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
(REVOGADO PELA LEI Nº 11.719, DE 2008).
I - o fato narrado evidentemente não constituir crime;
II - já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra
causa;
III - for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição
exigida pela lei para o exercício da ação penal.
Parágrafo único. Nos casos do no III, a rejeição da denúncia
ou queixa não obstará ao exercício da ação penal, desde que
promovida por parte legítima ou satisfeita a condição.

CPP
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício
da ação penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008).
Parágrafo único. (Revogado). (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

èPRESCRIÇÃO EM PERSPECTIVA, VIRTUAL OU PROGNOSTICAL


-pedido de arquivamento sob o fundamento de que a prescrição ocorrerá durante o curso do
processo.
-STF, STJ (súm. 438) e TRF1 não admitem.
Äargumentos: inexistência de previsão legal; atentaria contra o princípio de
inocência, parte do pressuposto de que o réu seria condenado;
èargumentação que justificaria o arquivamento pela prescrição virtual: faltaria uma das
condições da ação penal, qual seja, o interesse de agir pela falta de utilidade do processo.

O arquivamento só pode ocorrer por determinação JUDICIAL, a pedido do MP.


Äcompetência para o pedido de arquivamento: MEMBRO DO MP.
ðo pedido de arquivamento deve ser fundamentado.
Äcompetência PARA ARQUIVAR: JUIZ.
ðtrata-se de uma atuação administrativa na qual objetiva efetivar o princípio
da obrigatoriedade.
***atenção*** è não há arquivamento de IP por:
a)DELEGADO; [art. 17, CPP]
b)JUIZ, DE OFÍCIO;
-medida judicial cabível pelo promotor: correição parcial
c)PROMOTOR SEM ATUAÇÃO JUDICIAL.

èDEFERIMENTO DO ARQUIVAMENTO E RECORRIBILIDADE


REGRA: da decisão que defere o arquivamento não cabe recurso.
EXCEÇÃO: caberá REMESSA OBRIGATÓRIA no caso de CRIME CONTRA A
ECONOMIA POPULAR [art. 7º da Lei 1.521/51]
Ähavendo provimento do recurso de ofício, deverá ser aplicado o art. 28 do CPP por
analogia.
Lei 1.521/51 Art. 7º. Os juízes recorrerão de ofício sempre
que absolverem os acusados em processo por crime contra a
economia popular ou contra a saúde pública, ou quando
determinarem o arquivamento dos autos do respectivo
inquérito policial.

èINDEFERIMENTO DO PEDIDO DE ARQUIVAMENTOç [art. 28 CPP]


CPP Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de
apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito
policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso
de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa
do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e
este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério
Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a
atender.
-situação na qual o membro do MP entende ser hipótese de arquivamento, mas o magistrado,
de forma diversa, entende que é caso de propositura da ação.
-segundo o art. 28 do CPP o JUIZ deve indeferir o pedido de arquivamento e encaminhar o
processo para o PROCURADOR-GERAL decidir se é caso ou não para propor a denúncia.

ðPRINCÍPIO DA DEVOLUÇÃOï o juiz transfere a apreciação do caso ao chefe do MP, ao


qual cabe a decisão final sobre o oferecimento ou não da denúncia.
Ätrata-se de função anômala do juiz.
Äfiscaliza o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.

ðPRINCÍPIO DA INDEPENDÊNCIA FUNCIONALï o promotor que pediu o arquivamento


não pode ser obrigado a propor a denúncia. Deve ser indicado outro promotor.
-obrigatoriedade do promotor indicado em propor a denúncia: o posicionamento majoritário
entende que o promotor indicado deverá propor a denúncia. Nesse caso ele atuaria como longa
manus do chefe do MP.
Ähá quem defenda que mesmo nesse caso existiria violação do princípio da
independência.
Äna prática, a solução adotada pela instituição, para evitar discussões quanto ofensa
ao princípio da independência funcional, é a figura do “PROMOTOR DO ART. 28”, nomeia-se um
promotor que sempre atuará nesse caso.

èHAVERIA OBRIGATORIEDADE, PELO PROMOTOR INDICADO, DE PEDIR A


CONDENAÇÃO? Não, haverá obrigatoriedade, tão somente, para propositura da ação e para seu
acompanhamento.

è ARQUIVAMENTO E AÇÃO PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA


-a AÇÃO PENAL PRIVADA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA só tem cabimento no caso de
inércia do membro do MP. No pedido de arquivamento não existe inércia do promotor, portanto,
esse tipo de ação não terá cabimento nessa hipótese.

èARQUIVAMENTO E AÇÃO PENAL PRIVADA


-o arquivamento na ação penal privada ocorrerá em duas hipóteses:
a)transcurso do prazo decadencial previsto no art. 38 do CPP. [6 MESES]
b)pedido expresso do querelante
Äo pedido será considerado como renúncia e acarretará na extinção da
punibilidade.
-natureza jurídica do arquivamento: DECISÃO ADMINISTRATIVA.
Äfunção anômala do juiz (FISCALIZAÇÃO DO PRINCÍPIO DA
OBRIGATORIEDADE).

èexiste a discussão quanto à natureza jurídica da decisão que determina o arquivamento do


inquérito policial. Como regra geral trata-se de uma decisão administrativa decorrente do
acolhimento judicial do pedido do membro do MP. A atuação do judiciário seria anômala, visando
preservar o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.

èno processo penal brasileiro o motivo do arquivamento do IP condiciona o PODER DECISÓRIO


e a EFICÁCIA DO PROVIMENTO emanado do judiciário.

ðMOTIVO DO ARQUIVAMENTO CONDICIONANDO O PODER DECISÓRIO


-o Min. Sepulveda Pertence afirmou que o STF somente poderia analisar o mérito do
pedido de arquivamento, realizado pelo PGR, quando este tivesse sido realizado sob o fundamento
de atipicidade da conduta ou de extinção de punibilidade. Na hipótese de pedido de
arquivamento sob o fundamento de insuficiência probatória não haveria qualquer liberdade por
parte do tribunal para esse tipo de apreciação, já que impossível a aplicação do art. 28 do CPP.

ðMOTIVO DO AQUIVAMENTO CONDICIONANDO A EFICÁCIA DO


PROVIMENTO
-a depender do motivo que fundamente o arquivamento, a decisão terá ou não força
de cosia julgada, ou seja, será ou não possível eventual reapreciação da situação. O arquivamento
realizado sob o fundamento da extinção da punibilidade ou da atipicidade de conduta não
permitirá o desarquivamento. [PRODUÇÃO DOS MESMOS EFEITOS DA COISA JULGADA]

A jurisprudência do STF (INQ nº 510/DF, Rel. Min. Celso de


Mello, Plenário, unânime, DJ de 19.04.1991;e outros) diz que
o pronunciamento de arquivamento, em regra, deve ser
acolhido sem que se questione ou se entre no mérito da
avaliação deduzida pelo titular da ação penal, exceto nas duas
hipóteses em que a determinação judicial do arquivamento
possa gerar coisa julgada material, a saber: prescrição da
pretensão punitiva e atipicidade da conduta.
-apenas nas hipóteses de atipicidade da conduta e extinção da
punibilidade poderá o Tribunal analisar o mérito das alegações
trazidas pelo Procurador-Geral da República. Isso evidencia
que, nas demais hipóteses, como nada mais resta ao Tribunal a
não ser o arquivamento do inquérito, a manifestação do
Procurador-Geral da República, uma vez emitida, já é
definitiva no sentido do seu arquivamento. Inq 2164/DF inf.
439

èARQUIVAMENTO E FORMAÇÃO DA COISA JULGADA


-arquivamento faz coisa julgada? Depende:
-fará coisa julgada MATERIAL [quando o juiz se manifestar sobre o mérito]:
a)declaração de extinção da punibilidade;
b)reconhecer a atipicidade da conduta

-fará coisa julgada FORMAL – quando reconhecer a ausência de prova


Äjulgamento tomado com base na cláusula rebus sic stantibus – se alterar o
quadro probatório a decisão poderá ser alterada. [STF - Inq 2.054;STJ – HC 64.564].
èINFORMATIVO 439 – STF
-no pedido de arquivamento pelo PGR, 3 situações devem ser observadas:
(a)pedido de arquivamento pela EXTINÇÃO DE PUNIBILIDADE;
(b)pedido de arquivamento pela ATIPICIDADE DE CONDUTA;
(c)pedido de arquivamento pela INEXISTÊNCIA DE LASTRO PROBATÓRIO.

-na situação (c) o tribunal fica inviabilizado de analizar o pedido. A opinio delicti pertece ao
PGR, não sendo possivel a aplicação do art. 28 do CPP.
1)ARQUIVAMENTO PELA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
-STF pode analisar o mérito das alegações.
-decisão pelo arquivamento gera coisa julgada material.

2)ARQUIVAMENTO PELA ATIPICIDADE DO FATO


-STF pode analisar o mérito das alegações.
-decisão pelo arquivamento gera coisa julgada material.
3)ARQUIVAMENTO POR FALTA DE PROVAS
-o convencimento pela reunião de fatos suficientes pertence ao promotor.
-decisão pelo arquivamento gera coisa julgada formal.

Inq 1604 STF


Inquérito policial: arquivamento requerido pelo chefe do
Ministério Público por falta de base empírica para a denúncia:
IRRECUSABILIDADE.
1. No processo penal brasileiro, o motivo do pedido de
arquivamento do inquérito policial condiciona o poder
decisório do juiz, a quem couber determiná-lo, e a eficácia do
provimento que exarar.
2. Se o pedido do Ministério Público se funda na extinção da
punibilidade, há de o juiz proferir decisão a respeito, para
declará-la ou para denegá-la, caso em que o julgado vinculará
a acusação: há, então, julgamento definitivo.
3. Do mesmo modo, se o pedido de arquivamento - conforme
a arguta distinção de Bento de Faria, acolhida por Frederico
Marques -, traduz, na verdade, recusa de promover a ação
penal, por entender que o fato, embora apurado, não constitui
crime, há de o Juiz decidir a respeito e, se acolhe o
fundamento do pedido, a decisão tem a mesma eficácia de
coisa julgada da rejeição da denúncia por motivo idêntico
(C.Pr.Pen., art. 43, I), impedindo denúncia posterior com base
na imputação que se reputou não criminosa.
4. Diversamente ocorre se o arquivamento é requerido por
falta de base empírica, no estado do inquérito, para o
oferecimento da denúncia, de cuja suficiência é o Ministério
Público o árbitro exclusivo.
5. Nessa hipótese, se o arquivamento é requerido por outro
órgão do Ministério Público, o juiz, conforme o art. 28
C.Pr.Pen., pode submeter o caso ao chefe da instituição, o
Procurador-Geral, que, no entanto, se insistir nele, fará o
arquivamento irrecusável.
6. Por isso, se é o Procurador-Geral mesmo que requer o
arquivamento - como é atribuição sua nas hipóteses de
competência originária do Supremo Tribunal - a esse não
restará alternativa que não o seu deferimento, por decisão de
efeitos rebus sic stantibus, que apenas impede, sem provas
novas, o oferecimento da denúncia (C.Pr.Pen., art. 18; Súmula
524).
7. O mesmo é de concluir, se - qual sucede no caso -, o
Procurador-Geral, subscrevendo-o, aprova de antemão o
pedido de arquivamento apresentado por outro órgão do
Ministério Público." (INQ 1604, Rel. Min. Sepúlveda
Pertence, DJ 13.12.02)

èRATIFICANDO ESSE POSICIONAMENTO PODE SER CITADO O SEGUINTE


JULGAMENTO (HC 94982/SP) ð Teve início ação por VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
(art. 184, § 2º, CP), logo em seguida, PELO MESMO FATO, teve início INQUÉRITO para apurar
o crime previsto no ART. 189, LEI 9.279/96 (CRIME CONTRA A MARCA – AÇÃO PENAL
PRIVADA). Nesse segundo caso, reconhecida a DECADÊNCIA, o MEMBRO DO MP solicitou o
arquivamento do IP pela EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. A defesa entrou com HC para pleitear
o TRANCAMENTO da primeira ação, com fundamento na formação de COISA JULGADA
MATERIAL formada com o ARQUIVAMENTO DO IP DECORRENTE DA EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. O STF acolheu a argumentação da defesa, deferindo o HC para que fosse
trancada a ação penal que estava em curso.
Informativo n. 541 – STF
Pirataria: Duplicidade de Procedimentos e Coisa
Julgada - 3
Por reconhecer ofensa à coisa julgada, a Turma, em
conclusão de julgamento, por maioria, deferiu habeas
corpus para trancar ação penal instaurada em desfavor
de acusado pela suposta prática do delito previsto no art.
184, § 2º, do CP. No caso, o paciente fora surpreendido
expondo à venda produtos com marca falsificada e, no
curso do processo criminal, o Ministério Público
requerera a instauração de inquérito policial para apurar
possível crime contra o registro de marcas (Lei 9.279/96,
art. 189), sem prejuízo da continuidade da ação penal já
em trâmite. Entretanto, esse inquérito fora arquivado, em
virtude da extinção da punibilidade do fato, pois não
ajuizada queixa-crime no prazo legal. Por esse motivo, a
impetração aduzia que o processo em curso possuía
como objeto os mesmos fatos examinados no inquérito
arquivado — v. Informativo 530. ]
HC 94982/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.3.2009. (HC-
94982)

Pirataria: Duplicidade de Procedimentos e Coisa


Julgada - 4
De início, ressaltou-se que, conforme manifestação do
órgão do Ministério Público pelo arquivamento do
aludido inquérito, não existiria dúvida quanto à
identidade dos fatos, mas sim divergência quanto a sua
classificação jurídica e a natureza da ação penal. Assim,
o promotor oficiante pronunciara-se sobre os mesmos
fatos e reputara, no exercício de sua independência
funcional, que a tipificação dos fatos e a natureza da
ação penal seriam outras, requerendo, em
conseqüência, o arquivamento do feito, pela extinção da
punibilidade do fato, o que fora acolhido pelo magistrado.
Citou-se, no ponto, jurisprudência do STF no sentido de
que o pedido de arquivamento de inquérito policial,
quando se baseie na extinção da punibilidade, não é de
atendimento compulsório, mas deve ser resultado de
decisão do órgão judicial competente, dada a
possibilidade da formação de coisa julgada material.
Desse modo, asseverou-se que se tem concluído pela
ocorrência da coisa julgada material ainda que o
arquivamento tenha se dado após manifestação de novo
representante do Ministério Público, a partir de
reinterpretação e nova qualificação dos mesmos fatos,
pouco importando se a decisão tenha sido proferida por
órgão jurisdicional incompetente ou se entre membros
de diversos Ministérios Públicos. Daí a observação de
que, na espécie, o pedido de arquivamento fora
solicitado por membro do mesmo parquet. Acrescentou-
se, ainda, que o reconhecimento da coisa julgada
inspira-se no princípio da segurança jurídica, o qual tem
peculiar relevo no campo penal, e que a circunstância de
a extinção da punibilidade ter sido feita por decisão que
reconhecera a decadência (CP, art. 107) não alteraria a
ocorrência da coisa julgada. Por fim, enfatizou-se que,
em razão do advento da Lei 11.719/2008, passou-se a
admitira extinção da punibilidade, independentemente de
sua causa, como hipótese de absolvição sumária (CPP,
art. 397). Vencidos os Ministros Marco Aurélio e
Menezes Direito, que indeferiam o habeas sob o
fundamento de que, por ter sido o inquérito arquivado
depois de já ajuizada a ação penal pública
incondicionada (CP, art. 184, § 2º), isso não poderia
afetá-la, ainda que lastreada nos mesmos fatos.
Destarte, afastaram a possibilidade de retroação da
eficácia da coisa julgada a ponto de apanhar a ação
penal em curso.
HC 94982/SP, rel. Min. Cármen Lúcia, 31.3.2009. (HC-
94982)

èARQUIVAMENTO PELA AUSÊNCIA DE ILICITUDE E POSSIBILIDADE DE


REABERTURA DO INQUÉRITO POR NOVAS PROVAS
-discussão se a ausência de ilicitude configuraria, ou não, coisa julgada material, tendo em
conta que o ato de arquivamento ganhara contornos absolutórios, pois o paciente fora absolvido
ante a constatação da excludente de antijuridicidade (estrito cumprimento do dever legal).
-STF: não concedeu a ordem sob o fundamento de que a jurisprudência da Corte seria farta
quanto ao caráter impeditivo de desarquivamento de inquérito policial nas hipóteses de
reconhecimento de ATIPICIDADE, mas não propriamente de EXCLUDENTE DE ILICITUDE.

Informativo n. 538 – STF


Desarquivamento de Inquérito Policial e Excludente
de Ilicitude - 1
A Turma, por maioria, indeferiu habeas corpus no qual
pleiteado o trancamento de ação penal instaurada a
partir do desarquivamento de inquérito policial, em que
reconhecida excludente de ilicitude. No caso, o citado
inquérito apurava homicídio imputado ao paciente,
delegado de polícia, e a outros policiais, sendo
arquivado a pedido do Ministério Público do Estado do
Espírito Santo, que reputara configurado o estrito
cumprimento do dever legal. Passados dez anos da
decisão judicial, fora instalado, pelo parquet, o Grupo de
Trabalho para Repressão ao Crime Organizado - GRCO
naquela unidade federativa — que dera origem,
posteriormente, a Comissões Parlamentares de Inquérito
em âmbito estadual e nacional —, cujos trabalhos
indicariam que o paciente e os demais policiais não
teriam agido em estrito cumprimento do dever legal, mas
sim supostamente executado a vítima (“queima de
arquivo”). A partir disso, novas oitivas das mesmas
testemunhas arroladas no inquérito arquivado foram
realizadas e o órgão ministerial, concluindo pela
caracterização de prova substancialmente nova,
desarquivara aquele procedimento, o que fora deferido
pelo juízo de origem e ensejara o oferecimento de
denúncia. A impetração alegava que o arquivamento
estaria acobertado pelo manto da coisa julgada formal e
material, já que reconhecida a inexistência de crime,
incidindo o Enunciado 524 da Súmula do STF
(“Arquivado o inquérito policial, por despacho do Juiz, a
requerimento do Promotor de Justiça, não pode a ação
penal ser iniciada, sem novas provas.”).
HC 95211/ES, rel. Min. Cármen Lúcia, 10.3.2009. (HC-
95211)
Desarquivamento de Inquérito Policial e Excludente
de Ilicitude - 2
O Min. Ricardo Lewandowski suscitou questão de ordem
no sentido de que os autos fossem deslocados ao
Plenário, porquanto transpareceria que as informações
as quais determinaram a reabertura do inquérito teriam
se baseado em provas colhidas pelo próprio Ministério
Público. Contudo, a Turma entendeu, em votação
majoritária, que, antes, deveria apreciar matéria
prejudicial relativa ao fato de se saber se a ausência de
ilicitude configuraria, ou não, coisa julgada material,
tendo em conta que o ato de arquivamento ganhara
contornos absolutórios, pois o paciente fora absolvido
ante a constatação da excludente de antijuridicidade
(estrito cumprimento do dever legal). Vencido, no ponto,
o Min. Ricardo Lewandowski que, ressaltando o contexto
fático, não conhecia do writ por julgar que a via eleita
não seria adequada ao exame da suposta prova nova
que motivara o desarquivamento. No mérito, também por
maioria, denegou-se a ordem. Aduziu-se que a
jurisprudência da Corte seria farta quanto ao caráter
impeditivo de desarquivamento de inquérito policial nas
hipóteses de reconhecimento de atipicidade, mas não
propriamente de excludente de ilicitude. Citando o que
disposto no aludido Verbete 524 da Súmula, enfatizou-se
que o tempo todo fora afirmado, desde o Ministério
Público capixaba até o STJ, que houvera novas provas
decorrentes das apurações. Ademais, observou-se que
essas novas condições não afastaram o fato típico, o
qual não fora negado em momento algum, e sim a
ilicitude que inicialmente levara a esse pedido de
arquivamento. Vencidos os Ministros Menezes Direito e
Marco Aurélio que deferiam o habeas corpus por
considerar que, na espécie, ter-se-ia coisa julgada
material, sendo impossível reabrir-se o inquérito
independentemente de outras circunstâncias. O Min.
Marco Aurélio acrescentou que nosso sistema convive
com os institutos da justiça e da segurança jurídica e
que, na presente situação, este não seria observado se
reaberto o inquérito, a partir de preceito que encerra
exceção (CPP, art. 18).
HC 95211/ES, rel. Min. Cármen Lúcia, 10.3.2009. (HC-
95211)

ÄARQUIVAMENTO IMPLÍCITOÃ - fenômeno decorrente de situação na qual o


PROMOTOR DEIXA DE INCLUIR NA DENÚNCIA ALGUM FATO INVESTIGADO ou
ALGUM DOS INDICIADOS, sem justificação ou expressa manifestação deste procedimento.
[DENUNCIA UM DOS CO-AUTORES, MAS SE OMITE QUANTO AO OUTRO]
-o arquivamento implícito pode possuir 2 aspectos:
a)ASPECTO OBJETIVO: omissão referente a um FATO não considerado.
b)ASPECTO SUBJETIVO:omissão referente a um AGENTE não considerado.
-jurisprudência: não admite o ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO.
Äfundamento: a simples omissão não implica arquivamento, o pedido de
arquivamento deve ser fundamentado.
-procedimento a ser adotado pelo juiz no caso de omissão do MP: antes de receber a
DENÚNCIA deve solicitar a manifestação do MP. Persistindo a omissão deverá ser aplicado o art.
28 CPP.
-omissão do MP e do magistrado: havendo omissão tanto do magistrado como do promotor
haveria o arquivamento implícito;
Äincidência da Súmula 524 STF ð eventual nova denúncia dependerá da
demonstração de nova prova
SÚMULA 524 STF Arquivado o inquérito policial, por
despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

èem decisão recente veiculada no Informativo do STF não foi esse o posicionamento
adotado. Ainda que inexistente novas provas, não foi acolhida a argumentação da defesa
quanto a impossibilidade de novo processo.
Informativo n. 562 – STF
Inquérito Policial e Arquivamento Implícito
O sistema processual penal brasileiro não agasalhou a
figura do arquivamento implícito de inquérito policial.
Com base nesse entendimento, a Turma desproveu
recurso ordinário em habeas corpus interposto contra
acórdão do STJ que denegara writ lá impetrado ao
fundamento de que eventual inobservância do princípio
da indivisibilidade da ação penal não gera nulidade
quando se trata de ação penal pública incondicionada.
No caso, o paciente fora preso em flagrante pela prática
do delito de roubo, sendo que — na mesma delegacia
em que autuado — já tramitava um inquérito anterior,
referente ao mesmo tipo penal, contra a mesma vítima,
ocorrido dias antes, em idênticas condições, sendo-lhe
imputado, também, tal fato. Ocorre que o parquet — em
que pese tenha determinado o apensamento dos dois
inquéritos, por entendê-los conexos — oferecera a
denúncia apenas quanto ao delito em que houvera o
flagrante, quedando-se inerte quanto à outra infração
penal. O Tribunal local, todavia, ao desprover recurso de
apelação, determinara que, depois de cumprido o
acórdão, fosse aberta vista dos autos ao Ministério
Público para oferecimento de denúncia pelo outro roubo.
Destarte, fora oferecida nova exordial acusatória, sendo
o paciente novamente condenado. Sustentava o
recorrente, em síntese, a ilegalidade da segunda
condenação, na medida em que teria havido
arquivamento tácito, bem como inexistiria prova nova a
autorizar o desarquivamento do inquérito.
RHC 95141/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
6.10.2009. (RHC-95141)

ÄARQUIVAMENTO INDIRETOÃ - arquivamento indireto surge quando o membro do MP se


vê sem atribuição para oficiar em um determinado feito e o magistrado, por sua vez, se diz com
competência para apreciar a matéria.
èex.: promotor de justiça entende que os fatos ali investigados são de competência da Justiça
Federal e requer a remessa dos autos, mas o juiz estadual entende ser matéria de sua competência.
-solução cabível: aplicação analógica do o art. 28 do CPP.
Äa manifestação do promotor deve ser entendia como pedido de arquivamento
indireto.
-arquivamento indireto é diferente de conflito de atribuições.

èCONFLITO DE ATRIBUIÇÕES ENTRE MEMBROS DO MPF E MPE


-entendimento anterior – seria competência do STJ.
-entendimento atual – seria competência do STF [Petição 3.528]
ÄEugênio Paceli – se o conflito for virtual seria do STJ, quando for concreto seria
do STF.
èSÚMULA 696 STF
SÚMULA 696 STF Reunidos os pressupostos legais
permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz,
dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo
penal.
-juiz não pode conceder a suspensão condicional do processo de ofício. A SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO tem estreita ligação com titularidade da ação penal pelo MP,
implicará o afastamento da ação penal.
-é errado o argumento de que a suspensão condicional do processo é direito subjetivo do réu.
-suspensão condicional do processo: pena mínima < 1 ano.
Äjurisprudência recente do STF – ainda que a pena mínima cominada for superior a
um ano, se a pena de multa estiver cominada de maneira alternativa, admite-se a suspensão
condicional do processo.

èARQUIVAMENTO NA JUSTIÇA FEDERAL - competência para manifestação sobre


arquivamento de inquérito policial, inquérito parlamentar ou peças de informação:

REGRA: CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO.

EXCEÇÃO: PGR nos casos que são da sua competência originária.

Änesse caso a Câmara se manifestará, mas de forma opinativa apenas.

LC 75/93 Art. 62. Compete às CÂMARAS DE


COORDENAÇÃO E REVISÃO:

IV - manifestar-se sobre o arquivamento de inquérito


policial, inquérito parlamentar ou peças de informação,
exceto nos casos de competência originária do
Procurador-Geral;

DESARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL


CPP Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito
pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de
outras provas tiver notícia.
-após o arquivamento do inquérito policial a autoridade policial somente poderá proceder
novas pesquisas se tiver notícia de novas provas.
Äfundamento: dispositivo visa impedir que, apesar da manifestação judicial pelo
arquivamento, a autoridade policial proceda investigações de forma arbitrária, por isso exigir a
notícia de novas provas.
ðnovas investigações dependerão da existência de notícia de nova prova.

èARQUIVAMENTO DO IP E INÍCIO DE NOVA AÇÃO PENAL [Súmula 524 STF]


-após o arquivamento do inquérito policial a ação penal somente poderá ser proposta se
existir novas provas.
SÚMULA 524 DO STF Arquivado o inquérito policial, por
despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.

èRETRATABILIDADE DO PEDIDO DE ARQUIVAMENTO REQUERIDO PELO MP


-STF se posicionou no sentido de que o pedido de arquivamento, homologado ou não pelo
judiciário, tem natureza irretratável, não sendo passível de REVISÃO ou RECONSIDERAÇÃO.
Inq 2.054 – STF
“aplicando precedente do Plenário (Inq 2028/BA), no sentido
de que o pedido de arquivamento pelo órgão do Ministério
Público possui caráter irretratável, não sendo passível,
portanto, de reconsideração ou revisão, ressalvada a hipótese
de surgimento de novas provas, entendeu-se que não seria
possível considerar, como prova nova, no caso, a tomada dos
depoimentos dos auditores fiscais,. Inq 2054/DF, rel. Min.
Ellen Gracie, 29.3.2006. (Inq-2054)”

èARQUIVAMENTO FUNDADO EM PROVAS FORJADAS X DESARQUIVAMENTO X


PROVA PRODUZIDA PELO MP
-no caso houve arquivamento do IP em decorrência da extinção de punibilidade fundada em
provas forjadas no âmbito da polícia. O MP realizou alguns depoimentos, descobriu tal situação e
propôs a denúncia.
-o STF entendeu que as provas produzidas pelo MP não eram suficientes para a propositura
da denúncia, mas serviriam para o desarquivamento do IP irregularmente arquivado.
Informativo 446 – STF Desarquivamento de Inquérito e
Excludente de Ilicitude
A Turma iniciou julgamento de habeas corpus em que se
discute a possibilidade de desarquivamento de inquérito
policial, com fundamento no art. 18 do CPP ("Depois de
ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade
judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade
policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas
tiver notícia."), e posterior oferecimento de denúncia, quando o
arquivamento decorre do reconhecimento da existência de uma
excludente de ilicitude. No caso, após o arquivamento do
inquérito, o Ministério Público reinquirira testemunhas e
concluíra que as declarações destas, contidas naquele, teriam
sido alteradas por autoridade policial. Diante dessas novas
provas, o parquet oferecera denúncia contra os pacientes.
Pretende-se, na espécie, o trancamento da ação penal. O Min.
Ricardo Lewandowski, relator, deferiu, em parte, o writ para
anular o recebimento da denúncia, que poderá ser repetida,
depois da realização de novas investigações, por meio do
competente inquérito policial, no prazo previsto em lei.
Considerou possível a reabertura das investigações, nos termos
do citado art. 18, in fine, ante os novos elementos de convicção
colhidos pelo Ministério Público. Asseverou que o
arquivamento do inquérito não faz coisa julgada - desde de que
não tenha sido por atipicidade do fato - nem causa preclusão,
haja vista se tratar de decisão tomada rebus sic stantibus.
Todavia, entendeu que, na hipótese, o parquet não poderia ter
oferecido denúncia com base em investigações realizadas de
forma independente da polícia, realizando, deste modo,
contraprova para opô-la ao acervo probatório obtido no âmbito
policial. Após, pediu vista dos autos a Min. Cármen Lúcia.
HC 87395/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 24.10.2006.
(HC-87395)
ATUALMENTE, COM VISTAS AO MIN. CARLOS
BRITTO, DESDE 26082010.

ÄPROVA NOVAÃ - é aquela que produz uma alteração no contexto probatório. A prova deve ser
substancialmente inovadora, e não apenas formalmente nova.  
 

SUJEITOS DO PROCESSO PENAL:

1. INTRODUÇÃO: OS SUJEITOS DO PROCESSO PENAL:

Sujeitos processuais são as pessoas entre as quais se constitui, se desenvolve e se completa a


relação jurídico-processual.
A relação processual é uma relação triangular, um “ato de três pessoas” (actum trium
personarum): juiz e partes (autor e réu), que são os sujeitos principais (ou essenciais) do processo.
Existem, porém, os sujeitos secundários (ou acessórios ou colaterais), que são as pessoas
que têm direitos perante o processo, mas podem existir ou não, sem afetar a relação processual,
como, por exemplo, o ofendido (assistente da acusação) ou o fiador do réu.
Por fim, existem os terceiros, que não têm direitos processuais, e que apenas colaboram
com o processo. Podem ser eles interessados (v. g., o Ministro da Justiça, nos crimes de ação
pública condicionada à sua requisição) e não interessados (testemunhas, os peritos, os auxiliares da
justiça etc.).
Em sentido material, quanto à infração penal em si, as partes são o autor do crime e a vítima.
Em sentido formal (no processo penal), parte é aquele sujeito processual que deduz ou contra o qual
é deduzida uma relação de direito material-penal. São partes no processo penal, portanto, o autor
(em geral o Estado, através do Ministério Público, e, excepcionalmente o ofendido, por meio da
ação penal privada) e o réu (pessoa que transgrediu, ou se presume tenha transgredido, a ordem ou
direito com a prática da infração penal).

2. JUIZ

O juiz ocupa posição proeminente na relação processual, na qual se apresenta com:


1) poder jurisdicional: Dispõe o artigo 251 que ao juiz incumbirá “prover à regularidade do
processo”. Deve, portanto, não só evitar que as irregularidades de rito e de ordem formal ocorram,
mas promover as medidas que assegurem a justa aplicação da lei penal do processo.
2) poder de polícia/poderes administrativos: Ao juiz incumbe “manter a ordem no curso dos
respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a força pública”. Trata-se de atividade
administrativa, em que o juiz pratica atos de polícia com o objetivo de assegurar a ordem no
decorrer do processo, podendo requisitar o concurso da polícia.
Para que possa exercer validamente as funções jurisdicionais é necessário que tenha:
a) capacidade subjetiva:
a.1) em abstrato:
- capacidade funcional: existência de requisitos pessoais para o ingresso na magistratura;
- capacidade para o exercício das funções judicantes: adquirida com a nomeação, posse e
exercício efetivo do cargo;
a.2) em concreto: inexistência de suspeição/impedimento para o processo;
b) capacidade objetiva: competência para o processo.
Para que o juiz possa desempenhar suas funções com independência, são-lhe outorgadas
prerrogativas de ordem constitucional: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de
vencimentos.

2.1 Incompatibilidade, impedimento e suspeição


Para que o juiz possa julgar com imparcialidade e isenção de ânimo, é necessário que
estejam excluídas relações que configurem a suspeição ou o impedimento/incompatibilidade (não
há no nosso direito positivo distinção clara entre as hipóteses de incompatibilidade e
impedimentos).
A suspeição decorre dos vínculos do juiz com qualquer das partes.
O impedimento decorre da relação de interesse dele com o objeto do processo.

Diferenças entre causas de impedimento e causas de suspeição:


CAUSAS DE IMPEDIMENTO CAUSAS DE SUSPEIÇÃO.
As causas de impedimento referem-se a As causas de suspeição referem-se ao
vínculos objetivos do juiz com o processo, animo subjetivo do juiz quanto as partes,
independentemente de seu animo subjetivo, em regra são encontradas externamente ao
sendo encontradas em regra dentro do processo.
processo. Normalmente estão fora do processo.
São causa de nulidade absoluta: alegáveis a São causa de nulidade relativa, sujeitas à
qq tempo pelas partes. preclusão temporal.

O artigo 112 do CPP dispõe que “o juiz, o órgão do Ministério Público, os serventuários ou
funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver
incompatibilidade ou impedimento legal, que declararão nos autos”.
O artigo 255 dispõe que “o impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por
afinidade cessará pela dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo
descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz
o sogro, o padrasto, o cunhado, o genro ou enteado de quem for parte no processo”.

2.1.1 Impedimento
As hipóteses de impedimento encontram-se nos artigos 252 e 253 do CPP:
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
I – tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério Público,
autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito;
Obs.: O inciso I fala apenas em cônjuge, mas a doutrina reconhece por equiparação
constitucional do companheiro.
II – ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha;
III – tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito,
sobre a questão;
IV – ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral
até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.
Art. 253. Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem
entre si parentes, consangüíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau,
inclusive.
Segundo o STF, as hipóteses de impedimento são taxativas.
Existindo o impedimento o juiz deve abster-se espontaneamente de servir no processo,
declinando-a nos autos. Não se dando a abstenção, poderá qualquer parte, inclusive o Ministério
Público, argüir a incompatibilidade ou impedimento, seguindo-se o processo estabelecido para a
exceção de suspeição (art. 112, in fine, CPP).
Alguns autores defendem que os atos praticados por juiz impedido são inexistentes,
baseados no seguinte raciocínio: segundo o 564 CPP, a NULIDADE ocorrerá nos seguintes casos:
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz. Como O CÓDIGO NÃO MENCIONA NEM
O IMPEDIMENTO E NEM A INCOMPATIBILIDADE, é necessário fazer uma interpretação a
contrario sensu: somente haverá nulidade nas hipóteses de suspeição. Se for impedimento, é
inexistência. Entretanto, o STF já decidiu que os atos praticados são válidos até o reconhecimento
do impedimento.

Observações: Art. 252, III, CPP


a) Para o STF, magistrado que julgou recurso administrativo, pronunciando-se de direito
sobre a questão está impedido de participar no julgamento de apelação criminal (STF – HC 86.963).

b) Antes da lei 11.719/08, entendia-se que o reconhecimento do impedimento estava


condicionado à manifestação do Juiz quanto ao fato ou ao direito no processo, sendo que a mera
prática de atos instrutórios não era causa de impedimento. Com a inserção do princípio da
identidade física do juiz no processo penal, os tribunais passaram a entender que tendo o juiz
participado da instrução do processo, deverá reconhecer seu impedimento com base no art. 252, III
(STJ – HC 121.416).

2.1.2 Suspeição
As causas de suspeição estão no artigo 254 do mesmo Código:
Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das
partes:
I – se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
Para a maioria da doutrina aplica-se tb se a amizade for entre juiz e advogado de qq das
partes.
II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato
análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;
III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das
partes;
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
VI – se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.
O juiz pode afirmar sua suspeição, ainda, por razões de foro íntimo.
A suspeição não pode ser declarada nem reconhecida quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la (art. 256, CPP). Fundamento: dever de boa-fé processual.
A suspeição pode ser afirmada pelo juiz (em decisão irrecorrível) ou pelas partes mediante
exceção (quanto ao assistente da acusação, Tourinho defende que pode apresentar exceção, mas
Mirabete afirma a impossibilidade). O STF possui uma decisão de 1987 admitindo a possibilidade
de que o assistente de acusação possa apresentar exceção: “RE 113102/PB – PARAIBA
RECURSOEXTRAORDINÁRIO Relator(a): Min. ALDIR PASSARINHO Julgamento:
23/09/1987”
Nos termos do 564 I CPP, as decisões tomadas por magistrado suspeito são nulas.

2.1.3 Incompatibilidade
É de se notar que, enquanto os casos de suspeição e de impedimento encontram-se
expressamente arrolados e tratam de fatos cuja configuração final ostenta boa dose de objetividade,
bastando a só comprovação de sua existência para ser atingida a imparcialidade, as hipóteses de
incompatibilidade, ao contrário, reclamam o exame detido de cada situação concreta, quando não
afirmada de ofício pelo magistrado. Por isso mesmo, não se exige fundamentação judicial para a
declaração ex officio de impedimento para a causa (STF HC 82798 – Info 315. Rel. Min. Pertcene).
Ex.: nos juízos coletivos não podem funcionar no mesmo processo juízes que sejam parentes
entre si. à Aquele que chegou depois tem que se declarar incompatível.

2.2) Princípio da identidade física do juiz


Por fim, vale registrar que, no processo penal, o princípio da identidade física do juiz
(princípio da imediatidade) foi integrado pela Lei n. 11.719/08, que incluiu o § 2º ao art. 399 do
CPP: O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

* Colocavam os Juízes Substitutos para fazer as instruções dos processos e os Juízes


titulares só sentenciavam e isso não gerava nulidade. Agora, em tese, não pode mais. Com as
exceções do art. 132, do CPC.

2.2.1) Possibilidade de aplicação do 132 CPC

Os tribunais estão aplicando em processo penal as regras do processo civil:“em razão da


ausência de regras específicas, deve-se aplicar por analogia o disposto no art. 132 do CPC,
segundo o qual no caso de ausência por convocação, licença, afastamento, promoção ou
aposentadoria, deverão os autos passar ao sucessor do Magistrado.” (CC 99023/PR, 3ª Seção, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, DJU de 28/08/2009).

2.2.2) Possibilidade de interrogatório por precatória

HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO. NULIDADE. INTERROGATÓRIO EFETUADO POR


PRECATÓRIA. IDENTIDADE FÍSICA DO JUIZ. AGENTE PRESO EM OUTRO ESTADO.
AUSÊNCIA DO RÉU NAS AUDIÊNCIAS DE INSTRUÇÃO. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL NÃO DEMONSTRADO. ORDEM DENEGADA.
1. O princípio da identidade física do juiz deve ser interpretado de acordo com as
circunstâncias do caso concreto, porque o legislador, por certo, não proibiu a realização
de interrogatório por precatória, nos processos em que tal medida é a única forma de dar
andamento à ação penal.
2. A ausência do paciente às audiências de instrução não caracteriza nulidade, porque
foram elas acompanhadas pelo defensor constituído, com exceção de apenas uma, realizada
por precatória, de cuja expedição a defesa não fora intimada. E, nesta, a nulidade
decorrente é relativa, nos termos do enunciado nº 155 do Supremo Tribunal Federal, e, em
princípio, o tema não pode ser apreciado em habeas corpus, por exigir exame sobre
eventual prejuízo à defesa, o que seria possível somente com o exame aprofundado de todo
o processo, o que é pertinente somente nas instâncias ordinárias.
3. Coação ilegal não caracterizada.
4. Ordem denegada.
(HC 135.456/SC, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 18/03/2010, DJe 24/05/2010)

3. MINISTÉRIO PÚBLICO

O Ministério Público surgiu como resultado da ampliação dos poderes de intervenção


estatal, em substituição ao modelo acusatório privado. No Brasil, a instituição de um modelo
essencialmente acusatório somente veio a lume com a Constituição da República de 1988, com uma
completa redefinição do papel do Ministério Público na ordem jurídica.
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e
individuais indisponíveis (art. 127 da CF).
É função institucional do Ministério Público promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei (art. 129, I, CF), estando credenciado a todos os atos destinados a
efetivação do jus puniendi (requerer diligências, ser intimado, impetrar recursos, etc). Não obstante,
o Parquet deve conduzir-se com imparcialidade, pois deve defender os interesses da sociedade e
fiscalizar a aplicação e a execução das leis, podendo, inclusive, pleitear a absolvição do acusado e
recorrer em favor do réu (órgão legitimado para a acusação e não órgão de acusação). É sua
atribuição, ainda, o controle externo da atividade policial.
Para o exercício de suas amplas funções, o Ministério Público está rodeado de garantias
destinadas a lhe proporcionar autonomia e segurança em qualquer de suas atribuições. A
Constituição de 88 garantiu vitaliciedade (que, nos termos do art. 129 §3°, é assegurada após 02 –
dois anos – de exercício), irredutibilidade de vencimentos e inamovibilidade.
Os membros do MP estão sujeitos às seguintes vedações: receber, a qualquer título e sob
qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; exercer a advocacia; participar
de sociedade comercial, na forma da lei; exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra
função pública, salvo uma de magistério; exercer atividade político-partidária, salvo exceções
previstas em lei. Os componentes do Parquet admitidos antes da Constituição podem optar pelo
regime anterior de garantias e vantagens (art. 29, § 3.°, ADCT).
O Ministério Público está estruturado em órgãos, sendo inerentes a eles os seguintes
princípios institucionais:
1) unidade: é uma característica orgânica. O MP é um todo como órgão estatal, embora possua
diversos estamentos e suas atribuições sejam repartidas em vários MPs: União, Estados.
2) indivisibilidade: significa que o MP é único, de modo que qualquer membro poderá atuar no
feito, sem que ocorra qualquer vinculação ao ato praticado por outro membro do parquet; e
3) independência funcional (art. 127, § 1.°, CF): não há por esse princípio hierarquia entre os
membros do Ministério Público ou qualquer outro Poder.
Além desses princípios, a doutrina aponta outros: indisponibilidade (não pode dispor da ação
penal), irrecusabilidade (o promotor não pode ser recusado), independência (não está sujeito à
ordem de ninguém), irresponsabilidade (em regra o promotor não pode ser civilmente responsável
pelos atos praticados no exercício da função), devolução (em certos casos, o superior pode exercer a
função própria do subordinado) e substituição (designação pelo Procurador-geral de outro membro
da instituição para propor a ação penal).

3.1) Princípio do promotor natural


Segundo Fernando Capez, tal princípio decorre do art. 5º, LIII, da CF: significa que
ninguém será processado senão pelo órgão do MP dotado de amplas garantias pessoais e
institucionais, de absoluta independência e liberdade de convicção e com atribuições previamente
fixadas e conhecidas. Com isso, o nosso ordenamento não admitiria o promotor de exceção, melhor
dizendo, não admitiria nomeações casuísticas de membros do Ministério Público para determinados
casos em desobediência às regulamentações anteriores.
Eugênio Pacelli defende fortemente a aplicação do princípio do promotor natural, a ponto de
defender (com base na doutrina de Paulo César Pinheiro Carneiro) que a violação do referido
princípio resultaria em nulidade absoluta, porque “a vedação do acusador de exceção integra o rol
de garantias individuais constitucionais, constitutivas do devido processo legal, ainda que não
expressamente alinhadas em nenhum dos incisos do art. 5º da Constituição Federal.”

3.1.1) STF
A jurisprudência do STF parece ter se firmado no sentido da admissão do princípio do promotor
natural. Parece interessante analisar o desenvolvimento da legislação e da jurisprudência do STF
para q se possa concluir em um ou outro sentido:
- 1992: HC 67759, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/1992: a
maioria do TP admitiu tal princípio:
O postulado do Promotor Natural, que se revela imanente ao sistema constitucional
brasileiro, repele, a partir da vedação de designações casuísticas efetuadas pela Chefia da
Instituição, a figura do acusador de exceção. Esse princípio consagra uma garantia de ordem
jurídica, destinada tanto a proteger o membro do Ministério Público, na medida em que lhe
assegura o exercício pleno e independente do seu oficio, quanto a tutelar a própria
coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas o
Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados,
estabelecidos em lei. A matriz constitucional desse princípio assenta-se nas clausulas da
independência funcional e da inamovibilidade dos membros da Instituição. O postulado do
Promotor Natural limita, por isso mesmo, o poder do Procurador-Geral que, embora
expressão visível da unidade institucional, não deve exercer a Chefia do Ministério Público
de modo hegemônico e incontrastável.
- 1993: edição da Lei Orgânica do Ministério Público (L. 8625/93) e do Estatuto do MPU (LC
75/93): o Min. Ilmar Galvão afirma que tais leis conferiram eficácia ao princípio: Ag
169.169-CE (AgRg), rel. Min. Ilmar Galvão, 10.10.95. notícia em Informativo STF.
- 2003: julgado da 2ª T, relatado pela Min. ELLEN GRACIE (RE 387974, julgado em 14/10/2003),
traz na ementa informação de que TP/STF rejeitou a tese do promotor natural, porque
dependente de interposição legislativa, no HC 67.759. Entretanto, a ementa do HC 67.759
explicita que a rejeição do princípio por falta de lei foi tese defendida pela minoria vencida...
- 2005: julgado da 2ª T, relatado pelo Min. CARLOS VELLOSO (HC 85424, julgado em
23/08/2005), traz na ementa informação de que TP/STF rejeitou a tese do promotor natural,
mas a ementa do HC 67.759 explicita que a rejeição do princípio por falta de lei foi tese
defendida pela minoria vencida...
- 2008: julgados da 1ª T (HC 92885/CE, rel. Min. Cármen Lúcia, 29.4.2008; RHC 93247, Rel. Min.
MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 18/03/2008; HC 92885, rel. Min. Cármen
Lúcia, julgado em 29/04/2008 ) reputam existente o postulado do promotor natural no
sistema constitucional brasileiro, mas na 2ª T há julgado rejeitando sua existência (HC
90277, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 17/06/2008);
- 2009: julgado da 2ª T (HC 96700, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em
17/03/2009) reputa existente o postulado do promotor natural;
- 2010: julgado da 1ª T (HC 95447, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 19/10/2010) reputa existente o postulado do promotor natural.

O último julgamento do STF adota o princípio do promotor natural:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PENAL E PROCESSUAL


PENAL. NULIDADE DO JULGAMENTO PROFERIDO PELO TRIBUNAL DO JÚRI E
INOBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL. ACÓRDÃO PROFERIDO PELO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, CONTENDO DUPLO FUNDAMENTO: LEGAL E CONSTITUCIONAL.
NÃO INTERPOSIÇÃO SIMULTÂNEA DE RECURSO ESPECIAL. INCIDÊNCIA DA SÚMULA
283 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE
CABIMENTO SOMENTE DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO POR ENTENDER QUE O
TRIBUNAL DE ORIGEM TERIA ADOTADO O TEMA RELACIONADO À OFENSA
AO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL COMO FUNDAMENTO AUTÔNOMO E
SUFICIENTE PARA DECIDIR A CONTROVÉRSIA. ARGUMENTAÇÃO INSUBSISTENTE.
AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. Tendo o tribunal de origem decidido a controvérsia
com base em fundamento constitucional e legal, impunha-se a interposição simultânea de recurso
especial, sob pena de não o fazendo subsistir hígido o tema afeto à interpretação da legislação
ordinária. O conhecimento do extraordinário, assim, encontra óbice na Súmula 283 do Supremo
Tribunal Federal. 2. In casu o acórdão recorrido assentou (folha 642): “Júri. Duplo homicídio
duplamente qualificado. Atuação em plenário de julgamento de promotorde justiça estranho à
comarca e ao feito. Ferimento ao princípio do promotor natural.Nulidade reconhecida. Embora
não previsto expressamente em lei, o Princípio do Promotor Natural decorre de dispositivos
constitucionais e é admitido na doutrina e na jurisprudência, ainda que comportando alguma
relativização. No caso, a atuação em plenário de julgamento de um Promotor de Justiça estranho à
Comarca e ao feito, sem regular designação e estando a titular da Promotoria em pleno exercício
de suas funções, constitui ferimento ao referido princípio e acarreta a nulidade do julgamento. De
outra banda, estando o réu preso há quase onze meses e pronunciado há cerca de sete meses, está
caracterizado o excesso de prazo na formação da culpa, impondo-se a concessão de habeas corpus
de ofício. Apelo provido, por maioria. Habeas Corpus concedido de ofício, por maioria.” 3. Agravo
regimental no recurso extraordinário. Alegação de não cabimento de recurso especial, porquanto o
acórdão recorrido teria adotado a violação ao princípio do promotor natural como fundamento
autônomo e suficiente ao prover o recurso de apelação interposto contra a decisão proferida pelo
Tribunal do Júri. Argumentação insubsistente, dado que, tendo em vista a realidade processual e os
fatos jurídicos ocorridos na sessão do Júri, o Tribunal estadual assentou a violação a regras
processuais e o vício no ato de designação do Promotor de Justiça que fora designação para atuar
tão somente na assentada em que o recorrido seria submetido a julgamento, o que viria patentear a
ocorrência de nulidade após a pronúncia, razão pela qual o recurso de apelação foi conhecido com
base no artigo 593, III, “a”, do Código de Processo Penal. 4. A reiterada
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que “o princípio do Promotor
Natural, tendo presente a nova disciplina constitucional do Ministério Público, ganha especial
significação no que se refere ao objeto último decorrente de sua formulação doutrinária: trata-se
de garantia de ordem jurídica destinada tanto a proteger o membro da Instituição, na medida em
que lhe assegura o exercício pleno e independente de seu ofício, quanto a tutelar a própria
coletividade, a quem se reconhece o direito de ver atuando, em quaisquer causas, apenas
o Promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e pré-determinados,
estabelecidos em lei” (Habeas Corpus nº 67.759-2/RJ, Plenário, relator Ministro Celso de Mello,
DJ de 01.07.1993). 5. Agravo regimental não provido. (RE 638757 AgR / RS - RIO GRANDE DO SUL
AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. Julgamento em 09/04/2013).

3.1.2) STJ

No STJ, a jurisprudência é tranquila no sentido da admissão do princípio do promotor natural:

3. O princípio do promotor natural, evidenciado na garantia constitucional acerca da isenção na


escolha dos representantes ministeriais para atuarem na persecução penal, almeja assegurar o
exercício pleno e independente das atribuições do Ministério Público, repelindo do nosso
ordenamento jurídico a figura do acusador de exceção, escolhido arbitrariamente pelo
Procurador-Geral.

3.1.3) TRF1

No TRF1, o princípio do promotor natural é amplamente admitido na 4ª e na 5ª Turmas, a


exemplo dos seguintes julgados:
- MCI 2008.01.00.010959-9/MG, Rel. Desembargadora Federal Maria Isabel Gallotti Rodrigues,
Conv. Juiz Federal Rodrigo Navarro De Oliveira, Sexta Turma,e-DJF1 p.1392 de 29/06/2009;
- HC 2008.01.00.046311-0/MT, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz, Quarta Turma,e-DJF1
p.53 de 28/11/2008;
- HC 2008.01.00.019142-4/PA, Rel. Desembargador Federal I'talo Fioravanti Sabo Mendes, Conv.
Juíza Federal Rosimayre Gonçalves De Carvalho (conv.), Quarta Turma,e-DJF1 p.300 de
17/06/2008;
- AG 2006.01.00.026002-0/DF, Rel. Desembargador Federal Daniel Paes Ribeiro, Sexta Turma,DJ
p.134 de 02/04/2007;
- ACR 2001.34.00.026300-2/DF, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz, Quarta Turma,DJ
p.60 de 25/08/2005; e
- ACR 2001.32.00.005669-1/AM, Rel. Desembargador Federal Hilton Queiroz, Quarta Turma,DJ
p.44 de 03/11/2004.
Entretanto, na 3ª Turma, o Desembargador Federal Tourinho Neto nega a existência do princípio
(p.ex.: HC 2008.01.00.024212-2/AM, Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto, Terceira
Turma,e-DJF1 p.24 de 08/08/2008).

3.2) Suspeição e impedimento do MP

Como os juízes, os membros do Ministério Público estão sujeitos à argüição de suspeição e


de impedimento (art. 258 do CPP: “Os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos
processos em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente, consangüíneo ou afim,
em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, e a eles se estendem, no que lhes for
aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos dos juízes”).

4. OFENDIDO
Ofendido, ou vítima, é o sujeito passivo da infração penal. Em casos excepcionais, o Estado
concede ao ofendido ou a quem legalmente o represente o jus persequendi, permitindo assim ao
sujeito passivo do crime o jus accusationis (direito de acusar).
Ao acusador particular se reserva o nome de querelante e ao sujeito contra quem se pede a
atuação da pretensão punitiva o de querelado.
O ofendido ou seu representante legal poderá ser também sujeito processual principal na
chamada ação penal privada subsidiária da pública (art. 5.°, LIV, da CF e art. 29 do CPP), quando o
órgão do Ministério Público não oferecer denúncia no prazo legal.

Obs.:
a) O ofendido pode participar como assistente de acusação.
b) Pode existir litisconsórcio impróprio entre MP e ofendido (até mesmo no Júri), quando houver
crime de ação penal pública conexo com crime de ação penal privada. Esse litisconsórcio é
chamado de impróprio porque são duas peças de acusação, um queixa e uma denúncia, que se
reunirão em um mesmo processo por causa da conexão. Tem doutrinador que chama de Ação Penal
Adesiva.
c) a vítima pode ser conduzida coercitivamente para prestar depoimento (art. 201, § 1º, CPP).

5. ACUSADO
O acusado é a pessoa contra quem se propõe a ação penal, ou seja, o sujeito passivo da
pretensão punitiva, parte na relação processual.
Só estão legitimadas a serem acusadas as pessoas que podem ser sujeitos passivos de uma
pretensão punitiva. Não podem ser acusados os animais, os mortos, as coisas, os que gozam de
imunidade (parlamentar ou diplomática), os menores de 18 anos (estão sujeitos apenas às normas
estabelecidas na legislação especial – Estatuto da Criança e do Adolescente). Os inimputáveis por
doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado têm legitimação passiva, pois a
eles pode ser aplicada medida de segurança, devendo ser representado por curador.
A Constituição Federal assegura diversos direitos e garantias ao acusado (tanto no curso do
inquérito, como no processo e na execução da pena), tais como: devido processo legal, presunção de
inocência, assistência jurídica integral, ampla defesa, inadmissibilidade de provas ilícitas, etc. (vide
art. 5.° da CF).
O acusado deve ser identificado com nome e demais dados da pessoa. O artigo 259
combinado com o art. 41, ambos do CPP, permitem a propositura de ação penal apenas com a
descrição das características físicas do indivíduo, sem seu nome e qualificação. A hipótese não é
usual, nem recomendável, só devendo ser adotada em casos extremos. A qualquer tempo, se for
descoberta a qualificação do acusado, far-se-á a retificação nos autos, sem prejuízo da validade dos
atos precedentes.
O acusado pode deixar de comparecer ao interrogatório ou aos demais atos do processo. O
comparecimento é um direito e não um dever e a ausência injustificada do acusado causa apenas a
revelia. Entretanto, se o acusado não atender à intimação para o interrogatório (o réu não está
obrigado a responder às perguntas que vierem a ser formuladas no interrogatório), reconhecimento
ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser realizado, o juiz poderá determinar a condução
coercitiva à sua presença (art. 260, CPP).
Obs.: Nucci e Pacelli entendem que é inconstitucional a condução coercitiva do réu apenas
para o interrogatório. Hoje entende-se que o interrogatório é ao mesmo tempo um meio de defesa e
de prova. Forçar o réu a comparecer ao interrogatório seria contrário ao princípio esculpido no art.
5º, LXIII, da CF. No entanto, não descartam a possibilidade de condução coercitiva do réu para a
identificá-lo ou qualificá-lo, por exemplo. Nucci afirma que quanto a qualificação o réu não tem
direito ao silêncio.

5.1) Responsabilidade penal da pessoa jurídica


A responsabilidade penal da pessoa jurídica ainda é um tema controvertido na doutrina, mas
as pessoas jurídicas possuem capacidade processual para figurar no pólo passivo de ação penal
ambiental (§ 3º do art. 225 da CF e art. 3º Lei 9.605/98). A CF prevê a responsabilidade penal das
PJ nos crimes contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular (173 § 5º, CF),
mas ainda não há responsabilidade penal da PJ nesse âmbito, por falta de regulamentação. Portanto,
atualmente, a PJ somente pode ser denunciada em crimes ambientais.
Há duas correntes doutrinárias que interpretam diferentemente a questão:
(1) MINORIA: as sanções penais somente são aplicáveis às PF, restando às PJ as
sanções administrativas; os adeptos dessa corrente fazem uma leitura topográfica do
texto;
(2) MAIORIA: não correlaciona, como a primeira, entre sanção penal e PF, de um lado,
e sanção administrativa e PJ, de outro. Para esta corrente, tanto a PF quanto a PJ
estão sujeitas, simultaneamente, a sanções penais e administrativas, as quais
independem da responsabilidade civil. As sanções penais e administrativas estão
previstas na Lei n. 9.605/98 (Lei dos crimes ambientais, mas que traz, além disso, as
sanções administrativas).
Mireille Delmas-Marty imputa a responsabilidade diretamente à PF e indiretamente à PJ
(responsabilidade penal por ricochete ou indireta). Segundo o STJ, é válida a
responsabilidade penal da PJ, tendo acolhido a teoria da dupla imputação: o crime deve
ser imputado à PF e também à PJ:

"Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais desde


que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu
nome ou em seu benefício, uma vez que "não se pode compreender a
responsabilização do ente moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que
age com elemento subjetivo próprio" (REsp 564.960/SC, Rel. Min. GILSON DIPP,
Quinta Turma, DJ 13/6/05).

O STF também já entendeu dessa forma:

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


DIREITO PENAL. CRIME AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA
JURÍDICA. CONDICIONAMENTO À IDENTIFICAÇÃO E À PERSECUÇÃO DA
PESSOA FÍSICA. Tese do condicionamento da responsabilização penal da pessoa
jurídica à simultânea identificação e persecução penal da pessoa física responsável, que
envolve, à luz do art. 225, § 3º, da Carta Política, questão constitucional merecedora de
exame por esta Suprema Corte. Agravo regimental conhecido e provido. RE 548181 AgR / PR –
PARANÁ. Primeira Turma. Julgado em 14/05/2013.

No entanto, em 06 de agosto de 2013, no julgamento do RE 548.181, por 3 votos a 2, a 1ª


Turma do STF admitiu em tese a possibilidade de condenação da pessoa jurídica por crime
ambiental e a absolvição das pessoas físicas, inclusive o gestor da empresa. O STF desvinculou a
responsabilidade penal da pessoa jurídica em relação às pessoas físicas supostamente autoras e
partícipes do delito ambiental, em interpretação ao artigo 225, §3º, da Constituição. Nesse sentido,
colaciona-se passagem do Informativo 714:
"Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica
– 1 É admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que
absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão
responsável pela prática criminosa. Com base nesse entendimento, a 1ª Turma, por maioria,
conheceu, em parte, de recurso extraordinário e, nessa parte, deu-lhe provimento para cassar o
acórdão recorrido. Neste, a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas incriminadas
(Lei 9.605/98, art. 54) teria sido excluída e, por isso, trancada a ação penal relativamente à pessoa
jurídica. Em preliminar, a Turma, por maioria, decidiu não apreciar a prescrição da ação penal,
porquanto ausentes elementos para sua aferição. Pontuou-se que o presente recurso originara-se
de mandado de segurança impetrado para trancar ação penal em face de responsabilização, por
crime ambiental, de pessoa jurídica. Enfatizou-se que a problemática da prescrição não estaria em
debate, e apenas fora aventada em razão da demora no julgamento. Assinalou-se que caberia ao
magistrado, nos autos da ação penal, pronunciar-se sobre essa questão. Vencidos os Ministros
Marco Aurélio e Luiz Fux, que reconheciam a prescrição. O Min. Marco Aurélio considerava a
data do recebimento da denúncia como fator interruptivo da prescrição. Destacava que não
poderia interpretar a norma de modo a prejudicar aquele a quem visaria beneficiar. Consignava
que a lei não exigiria a publicação da denúncia, apenas o seu recebimento e, quer considerada a
data de seu recebimento ou de sua devolução ao cartório, a prescrição já teria incidido. RE
548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013. (RE-548181)
Crime ambiental: absolvição de pessoa física e responsabilidade penal de pessoa jurídica-2
No mérito, anotou-se que a tese do STJ, no sentido de que a persecução penal dos entes morais
somente se poderia ocorrer se houvesse, concomitantemente, a descrição e imputação de uma ação
humana individual, sem o que não seria admissível a responsabilização da pessoa jurídica,
afrontaria o art. 225, § 3º, da CF. Sublinhou-se que, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa
jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-
criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física. Ressaltou-se que, ainda que se
concluísse que o legislador ordinário não estabelecera por completo os critérios de imputação da
pessoa jurídica por crimes ambientais, não haveria como pretender transpor o paradigma de
imputação das pessoas físicas aos entes coletivos. Vencidos os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux,
que negavam provimento ao extraordinário. Afirmavam que o art. 225, § 3º, da CF não teria criado
a responsabilidade penal da pessoa jurídica. Para o Min. Luiz Fux, a mencionada regra
constitucional, ao afirmar que os ilícitos ambientais sujeitariam "os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, a sanções penais e administrativas", teria apenas imposto sanções administrativas às
pessoas jurídicas. Discorria, ainda, que o art. 5º, XLV, da CF teria trazido o princípio da
pessoalidade da pena, o que vedaria qualquer exegese a implicar a responsabilidade penal da
pessoa jurídica. Por fim, reputava que a pena visaria à ressocialização, o que tornaria impossível o
seu alcance em relação às pessoas jurídicas". RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, 6.8.2013.(RE-
548181).

6. DEFENSOR/PROCURADOR

Nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor
(nomeado) ou procurador (constituído), que é obrigatoriamente um advogado (art. 261, CPP).
Diante do princípio constitucional que assegura aos acusados em geral a ampla defesa com os meios
e recursos a ela inerentes e em face da complexidade da vida moderna, em especial com relação ao
processo judicial, é indispensável que o réu seja amparado por pessoa com conhecimentos técnicos
suficientes para que se torne efetiva a referida garantia.
O direito de defesa é indisponível, devendo ser exercido ainda contra a vontade do acusado
ou na sua ausência, razão pela qual, se o acusado não tiver procurador constituído, lhe deve ser
nomeado defensor pelo juiz (art. 263, CPP). A função do defensor é a de apresentar ao órgão
jurisdicional competente tudo quanto, legitimamente, possa melhorar a condição processual do
imputado e que possa honestamente contribuir para dirimir ou diminuir sua imputabilidade ou sua
responsabilidade.
A defesa técnica obrigatória pode ser complementada pela autodefesa do acusado, que é
facultativa, consistindo na participação do réu em quase todos os atos do processo, inclusive com a
possibilidade de apresentar alegações (por exemplo, a manifestação do réu do desejo de apelar da
sentença condenatória, que torna efetivo o recurso).
A Lei 11.719/08 alterou o caput do 265 CPP: O defensor não poderá abandonar o processo
senão por motivo imperioso, comunicado previamente o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100
(cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis. Alguns doutrinadores reputam
tal dispositivo inconstitucional por entenderem que o magistrado não tem poder correcional quanto
aos defensores públicos, além de ferir a própria autonomia da instituição.
A partir da Lei 11.719/08, a falta de comparecimento do defensor, se motivada, poderá
determinar o adiamento da audiência (265 § 1º CPP), incumbindo-lhe provar o impedimento até a
abertura da audiência. Não o fazendo, o juiz não determinará o adiamento de ato algum do
processo, devendo nomear defensor substituto, ainda que provisoriamente ou só para o efeito do
ato. Observe-se, entretanto, que se o ato for extremamente complexo, esta norma deve ser aplicada
com temperamento, dada a possibilidade de ser posteriormente proclamada nulidade decorrente da
atuação de defensor que desconhece o processo.
No procedimento do júri, a regra é determinada pelo 465 CPP:
Se a falta, sem escusa legítima, for do advogado do acusado, e se outro não for por este
constituído, o fato será imediatamente comunicado ao presidente da seccional da
Ordem dos Advogados do Brasil, com a data designada para a nova sessão.
§ 1º Não havendo escusa legítima, o julgamento será adiado somente uma vez, devendo
o acusado ser julgado quando chamado novamente.
§ 2º Na hipótese do § 1º deste artigo, o juiz intimará a Defensoria Pública para o novo
julgamento, que será adiado para o primeiro dia desimpedido, observado o prazo
mínimo de 10 (dez) dias.
O defensor pode ser constituído por procuração ou por indicação no interrogatório (art. 266
do CPP). Só se exigem poderes especiais nos casos expressos: para aceitar o perdão do ofendido,
em nome do réu ou querelado; para argüir o juiz de suspeito; para argüir a falsidade de documento.
Não sendo encontrado o advogado constituído, é necessária a intimação do acusado para
nomear outro (exceto no caso de revelia), só sendo cabível a nomeação de defensor dativo se o réu
não constituir novo defensor.
Nos termos do art. 263 do CPP, se o acusado não possuir advogado, ser-lhe-á nomeado um
defensor pelo juiz (fundamento no art. 8º do Pacto de San José) por ocasião do interrogatório.
Segundo Nestor Távora, a partir da alteração do procedimento comum pela Lei n. 11.719/08, tal
norma perdeu utilidade prática, já que o interrogatório passou a ser o último ato da instrução,
momento em que o acusado já estará acompanhado de defensor. Ainda a esse respeito, observe-se a
dicção do art. 185 § 5º CPP Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garantirá ao réu o
direito de entrevista prévia e reservada com o seu defensor; se realizado por videoconferência, fica
também garantido o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre o defensor que
esteja no presídio e o advogado presente na sala de audiência do Fórum, e entre este e o preso.
(Incluído pela Lei nº 11.900, de 2009)
É dever do advogado nomeado pelo juiz aceitar a indicação, salvo motivo
relevante. A nomeação de defensor dativo não impede que o réu constitua defensor de
sua confiança a qualquer tempo, ou defenda-se, se tiver habilitação (art. 263, CPP).
Havendo mais de um réu, o juiz deve nomear defensor para todos (se possível,
advogados diversos para evitar defesas conflitantes, pois constitui nulidade – por ferir o
princípio da ampla defesa – pluralidade de réus serem assistidos por um único advogado,
salvo se constituído, quando conflitantes as defesas).
Argumenta-se que, em regra, diante do princípio da ampla defesa, o defensor
dativo estaria obrigado a apelar. O STF e o STJ, porém, entendem que não existe tal
dever de recorrer:
(...) TEM-SE FIRMADO A JURISPRUDÊNCIA DO S.T.F. NO SENTIDO DE
QUE NÃO HÁ MALTRATO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA O NÃO
APELAR O ADVOGADO, MESMO DATIVO, DE SENTENÇA DESFAVORAVEL
AO RÉU, ANTE O PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE DO RECURSO.
(RHC 65587, Relator(a): Min. ALDIR PASSARINHO, SEGUNDA TURMA,
julgado em 03/03/1989)

DESPACHO (referente às petições 73615/2005 e 75539/2005): (...) Nesse


ponto, destaco o entendimento da Corte de que defensor dativo não é obrigado
a esgotar os recursos previstos na legislação processual aplicável (HC 73.671-
MC, rel. min. Celso de Mello, DJ 27.02.1996): "[...] A jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal tem salientado - com apoio em autorizado magistério
doutrinário (DAMASIO E. DE JESUS, 'Código de Processo Penal Anotado', p.
381, 10ª ed., 1993, Saraiva) -, no que concerne à tese sustentada pelo ilustre
impetrante, que o Defensor dativo não está obrigado a exaurir as vias recursais
(RTJ 92/1118 - RTJ 94/788 - RTJ 110/639 - RTJ 124/514 - RTJ 126/990), não
se lhe podendo imputar, em conseqüência, o vício da condução deficiente da
defesa, sob alegação de que se absteve de interpor qualquer das modalidades
dos recursos excepcionais: o recurso especial (STJ) ou o recurso extraordinário
(STF). Na realidade, a orientação firmada por esta Corte Suprema identifica, no
ato de recorrer, um comportamento processual meramente facultativo (RT
539/381 - RT 554/443 - RT 599/416 - RT 643/389), enfatizando que não se
impõe ao defensor - mesmo cuidando-se de defensor dativo - o dever de
recorrer da decisão condenatória: 'A jurisprudência mais recente desta Corte
(...) vem mantendo o entendimento de que, ainda quando se trate de defesa
dativa, não tem ela o dever de apelar, por prevalecer, no direito processual
penal, o princípio da voluntariedade do recurso, salvo se a lei o tem como
obrigatório. Se assim é com relação à apelação, o mesmo se dará, por
identidade de razão, com os embargos infringentes. Habeas corpus indeferido.'
(RTJ 110/639, Rel. Min. MOREIRA ALVES) (...) Brasília, 21 de junho de 2005.
Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator
(Ext 912, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 21/06/2005,
publicado em DJ 28/06/2005 PP-00024)
(...) a não interposição de apelação contra sentença condenatória por parte do
defensor, mesmo dativo, não acarreta, por si só, ofensa ao princípio da ampla
defesa, pois não é ele obrigado a recorrer (Precedentes do STF e do STJ). (...)
(RHC 23.699/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em
23/09/2008, DJe 03/11/2008)

(...) Conforme compreensão desta Corte e do Supremo Tribunal Federal,


mesmo nas hipóteses de atuação de defensor público ou dativo, vigora o
princípio da voluntariedade dos recursos, resultando daí que a falta de
interposição de apelo em ataque à decisão contrária aos interesses do réu, por
si só, não acarreta nulidade.
4. Não é de falar em deficiência da defesa técnica se foram observados os
princípios do contraditório e da ampla defesa, revelando os autos que a
defensora pública, embora tenha optado por não recorrer, apresentou
alegações preliminares, compareceu à audiência e formulou alegações finais.
5. Recurso parcialmente provido.
(RHC 15.349/ES, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado
em 18/03/2008, DJe 14/04/2008)

No tocante à necessidade de defesa, é de se observar a Súmula 523 STF: No processo penal,


a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de
prejuízo para o réu.
A ausência de atuação nas fases procedimentais mais importantes (ex. Alegações finais),
seja do defensor público dativo, seja do defensor público, seja do defensor constituído pela parte,
será causa de nulidade absoluta do processo, por violação ao princípio da ampla defesa.
Por outro lado, na hipótese de entender insuficiente, deficiente ou inexistente a defesa
realizada pelo defensor dativo, o juiz deverá nomear outro, podendo, porém, o acusado, a todo
tempo, nomear advogado de sua confiança (arts. 263 e 456 CPP). Todavia, se se tratar de defensor
constituído, o juiz não poderá adotar a mesma providência, uma vez que este (advogado
constituído) não foi por ele (juiz) nomeado.
Não funcionarão como defensores os parentes do juiz (cônjuge ou parente, consangüíneo ou
afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive – art. 267 c/c o art. 252, ambos do
CPP).

7. CURADOR DO RÉU MENOR

Antes do advento do novo Código civil ao acusado menor (de 18 a 21) nomeava-se curador
(CPP, arts. 15, 194, 262), seja na fase de inquérito, seja no momento do interrogatório, seja durante
o processo. Todavia, como asseverava a Súmula 352 do STF, “não é nulo o processo penal por falta
de nomeação de curador ao réu menor que teve assistência de defensor dativo”. A partir do novo
Código Civil não tem nenhum fundamento a nomeação de curador a quem já conta com 18 anos,
tendo em vista que ele é plenamente capaz. Por força da Lei 10.792/03, foi revogado o art. 194 do
CPP. Logo, acabou definitivamente a necessidade de curador para quem tem menos de 21 anos. A
figura do curador ainda subsiste para outras situações: índio não aculturado, por exemplo, réu
inimputável etc.

Apesar de a Lei 10.792/03 não ter revogado expressamente os arts. 15, 262 e 564 do CPP,
trata-se de lapso legislativo, devendo-se reputá-los igualmente revogados.

8. ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO (E DE DEFESA)


Diminuta minoria da doutrina e da jurisprudência (TJRS, baseado em parecer de Lênio L.
Streck) defende a inconstitucionalidade da figura do assistente de MP com fundamento nos
seguintes argumentos: 1) o MP é o único órgão acusador que a CR/88 prevê; 2) admitir a atuação
do assistente equivale a transformar o processo penal em vingança privada.
O artigo 268 do Código de Processo Penal concede ao ofendido o direito de,
facultativamente, auxiliar o Ministério Público na acusação referente aos crimes que se apuram
mediante ação pública, incondicionada ou condicionada, dando-se-lhe, então, a denominação de
assistente. Outros casos de assistência são:
a) art. 26, parágrafo único, da Lei 7.492/86 – assistência da Comissão de Valores Mobiliários –
CVM e do Banco Central nos Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional;
b) art. 80-82 do Código de Defesa do Consumidor;
c) art. 530-H do CPP;
d) art. 2° do DL 201/67.
A OAB não pode ser assistente do MP, ainda que haja advogado no pólo passivo da ação –
posição do STF.
PACELLI (maioria) entende que o ente público pode ser assistente (desde que persiga
interesse diverso do MP), embora reconheça que a matéria é bastante controvertida. A legislação
prevê várias hipóteses de assistência do poder público: 80-82 CDC, §1° do art. 2° do DL 201/67
(apuração da responsabilidade do Prefeito). Tourinho entende que não pode (salvo as hipóteses
acima referidas), porque o MP já representaria o interesse do Estado.
O deferimento do pedido de assistência está condicionado apenas à verificação de ser o
pretendente sujeito passivo do crime (ou contravenção penal após a CF de 88 – para a maior parte
da doutrina) que está sendo apurado, pouco importando a espécie ou a classificação do ilícito.

8.1) Os legitimados para a assistência de acusação

Na falta do ofendido ou do seu representante legal, podem habilitar-se seu cônjuge,


ascendente, descendente ou irmão (CADI). Poderá intervir, como assistente do Ministério Público o
ofendido (pessoalmente ou por meio de seu representante legal, caso seja incapaz). Caso a vítima
tenha morrido, poderá intervir como assistente o cônjuge, o companheiro, o ascendente, o
descendente ou o irmão do ofendido.Não se admite atuar como assistente pessoa fora daquele rol
taxativo do CPP, mesmo que sejam parentes de outras vítimas daquele acusado, em processos
distintos.

(...) INDEFERIMENTO DE PEDIDO DE ASSISTÊNCIA. ILEGALIDADE


NÃO-DEMONSTRADA DE PRONTO. IMPROPRIEDADE DO MEIO
ELEITO. ROL TAXATIVO DE LEGITIMADOS PARA A ASSISTÊNCIA DE
ACUSAÇÃO. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO DE PARENTESCO COM O
OFENDIDO. RECURSO DESPROVIDO.
O mandado de segurança constitui-se em meio impróprio para a análise de
alegações que exijam o reexame do conjunto fático-probatório – como a
apontada existência de conexão entre feitos criminais, se não demonstrada,
de pronto, qualquer ilegalidade.
O simples fato de as recorrentes terem atuado como assistentes de
acusação em ação penal, por serem filhas da vítima do delito de homicídio,
não lhes garante o direito líquido e certo de atuarem como assistentes em
novo feito criminal, cujo ofendido seria o possível executor do primeiro
crime.
Inexistindo relação de parentesco entre a vítima e as recorrentes, não há
que se falar em assistência de acusação, tendo em vista que o rol de
legitimados previsto na Legislação Processual Penal é taxativo.
Não obstante ser cabível a utilização de mandado de segurança na esfera
criminal, deve ser observada a presença dos seus requisitos constitucionais
autorizadores.
Ausente o direito líquido e certo, torna-se descabida a via eleita.
Recurso desprovido.
(RMS 11.585/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado
em 02/05/2002, DJ 03/06/2002, p. 215)

O corréu no mesmo processo não poderá intervir como assistente do Ministério Público (art.
270, CPP). É que ele já é parte. Não faria sentido a sua intervenção como terceiro interessado. A
doutrina majoritária tem entendido que, se o acusado já foi absolvido por sentença transitada em
julgado, ele pode atuar como assistente.

8.2) A assistência de acusação e a macrocriminalidade

Em regra, somente se admite ASSISTENTE DA ACUSAÇÃO EM PROCESSOS NOS


QUAIS EXISTA UM OFENDIDO individualizável. Problema: qual o real conceito de ofendido
para fins de assistência? O CPP não define quem é o ofendido, tampouco estabelece um critério
para permitir sua identificação. Poderíamos entender como aquele que sofre a lesão ou ameaça de
lesão em virtude da infração penal (pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado). Mas
como resolver as hipóteses em que não se visualiza um sujeito passivo determinado (ex.: crime
ambiental ou contra as relações de consumo, tráfico de drogas, embriaguez ao volente)? Devemos
recorrer, ante o silêncio do Código, a outras normas, com base no art. 3.º do CPP (analogia como
forma de suprir lacunas legais). Nos crimes ambientais e contra as relações de consumo, os bens
jurídicos são interesses de natureza difusa e sua defesa judicial, através das ações cíveis, é cometida
ao MP e aos co-legitimados, na forma estabelecida na CF, art. 129, § 1.º, e na Lei n.º 7.347/85.
Assim, se o interesse tutelado é o mesmo nas esferas cível e penal (divergindo apenas os efeitos),
pode-se afirmar que os co-legitimados possuem igualmente legitimidade no âmbito penal, podendo
não apenas propor a ação subsidiária (a CF consagra a ação penal subsidiária como direito
fundamental, uma forma de fiscalização social do MP, não sendo de se a excluir nos crimes sem
sujeito passivo determinado), mas também habilitar-se como assistentes do MP, bastando atender
aos requisitos do art. 5.º, caput, e incs. I e II, da Lei n.º 7.347/85. OBS.: Interessante
fundamentação, entretanto não achei posicionamento parecido na doutrina mais comum: Pacceli,
Capez, Tourinho etc.

8.3) Aspectos processuais

O assistente (parte contingente, adesiva ou adjunta, desnecessária e eventual) não exerce


múnus público e deve ser representado por advogado com poderes expressos.
A admissão indevida só anula o processo se causar prejuízo ao réu, mas a falta de intimação
do assistente regular causa nulidade do processo.
O assistente pode ser admitido a qualquer momento no curso do processo (a partir do
recebimento da denúncia, não no inquérito policial), enquanto não passar em julgado a sentença
(art. 269, CPP), mas não pode oficiar nos autos da execução da pena.
Para o plenário do julgamento do Tribunal do Júri, a assistência deve ser requerida com pelo
menos cinco dias de antecedência (art. 430 CPP - Redação dada pela Lei 11.689/08), se admitido
em tempo inferior é causa de nulidade relativa, tem que provar prejuízo. A doutrina tem admitido a
possibilidade de exclusão do assistente quando houver má-fé, embaraço à acusação ou tumulto
processual.
O Ministério Público será ouvido previamente sobre a admissão do assistente (art. 272,
CPP), mas a falta de sua audiência não invalida a admissão do assistente. Do despacho que
admitir, ou não, o assistente, não caberá recurso (art. 273, CPP). A jurisprudência tem aceito
mandado de segurança contra a decisão que não admite a assistência e correição parcial da que
exclui assistente habilitado.
Embora a intervenção do assistente deva ser entendida como direito subjetivo do ofendido e
demais legitimados, há casos em que se pode trazer prejuízo procedimental ao processo. Deverá,
portanto, o juiz indeferir as habilitações pretendidas.
O assistente receberá a causa no estado em que se achar, não podendo pretender a repetição
de atos (art. 269, in fine, CPP). Uma vez admitido, deve ser intimado de todos os atos do processo,
mas se faltar injustificadamente a um ato do processo não será intimado dos demais (art. 271, § 2.°,
CPP).
O prazo para o assistente apresentar recurso é de 15 dias se não habilitado (art. 598) e de 5
dias para o assistente habilitado, caso em q o início do prazo começa a correr a partir da intimação
da sentença (esse é o entendimento dominante hoje, encontrando-se superado o que considerava o
prazo sempre de 15 dias). Ver HC 50417 STF quanto ao correto entendimento da súm. 448 STF (O
prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imediatamente após o transcurso
do prazo do Ministério Público).

8.4) Amplitude dos poderes do assistente

A intervenção do assistente é ampla, mas não se iguala à do acusador oficial, estando seus
poderes limitados taxativamente no artigo 271 do CPP.
Ao assistente será permitido:
a) propor meios de prova;
b) formular quesitos para a perícia e indicar assistente técnico;
c) formular perguntas às testemunhas (sempre depois do MP);
d) aditar os articulados, ou seja, complementar as peças escritas apresentadas pelo MP;
e) participar do debate oral;
f) arrazoar os recursos interpostos pelo MP
g) interpor e arrazoar seus próprios recursos;
h) requerer a decretação da prisão preventiva e de outras medidas cautelares;
i) requerer o desaforamento no rito do júri.
Obs1: Segundo entendimento do STJ, o CPP prevê taxativamente o rol dos atos que o
assistente de acusação pode praticar. Obs2: o assistente da acusação não poderá aditar a denúncia
formulada pelo MP.
Antes da Lei 11.689/08, o assistente podia aditar o libelo, mas a última reforma do CPP
extinguiu essa peça processual do procedimento do júri.

1) propor meios de provas, devendo o juiz ouvir o Ministério Público antes de decidir sobre sua
realização – não pode arrolar testemunhas, vez que o rol é o da denúncia, mas nada impede a
indicação de testemunhas para serem ouvidas a critério do juiz. Apesar de o momento processual
para o oferecimento do rol de testemunhas seja o do oferecimento da denúncia, doutrina e
jurisprudência admitem que o assistente arrole testemunhas desde que dentro do numero
máximo permitido ou indique testemunhas para serem ouvidas a critério do juiz(“testemunhas do
Juízo”).
2) requerer perguntas às testemunhas;
3) aditar os articulados (manifestação sobre a resposta à acusação, memoriais finais e alegações
finais);
4) participar do debate oral;
5) arrazoar os recursos interpostos pelo Ministério Público, ou por ele próprio, nos casos dos arts.
548, § 1.°, e 598 – o assistente pode interpor:
a) recurso em sentido estrito contra a sentença que decretar a prescrição ou julgar por outro
modo extinta a punibilidade (271 CPP);
b) recurso em sentido estrito contra a decisão q denegar ou julgar deserta a apelação interposta
pelo próprio assistente (581 XV CPP);
c) apelação contra a sentença absolutória do Tribunal do Júri ou do juiz singular, se não for
interposta apelação pelo Ministério Público no prazo legal (271 CPP), inclusive contra a
sentença de impronúncia e contra a sentença de absolvição sumária, prolatadas ao final da 1ª
fase do rito do júri (416 CPP).
A jurisprudência mais recente admite apelação contra sentença condenatória, para agravar a
pena ou da parte não abrangida pelo recurso do MP.
d) carta testemunhável;
e) embargos de declaração;
f) recurso extraordinário (súm. 210 STF).

Súm. 208 STF: O assistente do Ministério Público não pode recorrer, extraordinariamente, de
decisão concessiva de "habeas corpus". Entretanto, os tribunais aceitam haver interesse de agir por
parte do assistente quando do julgamento do HC puder resultar o trancamento da ação penal.

Há 2 correntes quanto à amplitude da intervenção do processo, mais especificamente sobre a


(im)possibilidade de o assistente recorrer da sentença condenatória, as quais guardam íntima relação
com os entendimentos vigentes a respeito do interesse do assistente.
O assistente tem interesse na justa aplicação da lei: a
O interesse do assistente limita-se a tendência atual é no sentido de se conferir maior
obtenção de uma sentença condenatória atenção aos interesses do ofendido (protagonismo da
para satisfazer os prejuízos sofridos. vítima = maior efetividade dos direitos
fundamentais).
¶ Doutrina mais tradicional (Tourinho
STF e Pacelli: (...) o interesse do ofendido não está
Filho): o interesse do assistente seria a
ligado somente à reparação do dano, ‘mas alcança
sentença condenatória, que já teria sido
a exata aplicação da justiça penal’” (HC 71.453, 2ª
alcançado: falta-lhe interesse de recorrer
Turma)
contra sentença condenatória.
O assistente só pode recorrer da sentença O assistente pode recorrer tanto da sentença
absolutória condenatória como da sentença absolutória

Pacelli destaca que a interposição de recursos é cabível sob duas condições: inércia do
Ministério Público e natureza da decisão a ser impugnada (art. 271 CPP). Caso o Ministério Público
já tenha recorrido, ao assistente somente é cabível a apresentação de razões próprias.

Observa-se, então, que, a par de (1) reforçar a acusação, o assistente também atua como (2)
custos legis, assegurando “um certo controle de qualidade e efetividade da atuação estatal na defesa
dos interesses dos membros da comunidade” (PACELLI). O interesse que move a vítima no
processo penal – e que legitima sua presença como assistente – não gira apenas em torno de uma
futura indenização (o que limitaria sua atuação, impedindo-a, por exemplo, de apelar para agravar a
pena do réu). Ora, se a vítima, ao promover a ação privada subsidiária, tem atuação tão ampla
quanto ao do MP (titular originário), não se pode afirmar que seu interesse é meramente econômico,
à medida que faz as vezes do Estado-administração, que se mostrou omisso no momento em que se
deveria pronunciar. O recurso supletivo do assistente visará, aqui, a coibir conseqüências maléficas
advindas da omissão do MP. Não há razão para tratamento diferenciado entre a vítima enquanto
parte principal na ação subsidiária e a vítima enquanto assistente de acusação (a única restrição é
que o assistente atua para complementar a atividade do MP, ao passo que, na subsidiária, a vítima
tem atuação ampla). Se o MP for eficaz, o assistente se revestirá da condição de mero
coadjuvante.

O STF possui três súmulas referentes à assistência, quais sejam:


Súmula n.° 208: O assistente do Ministério Público não pode recorrer
extraordinariamente de decisão concessiva de habeas corpus.
Súmula n.° 210: O assistente do Ministério Público pode recorrer, inclusive
extraordinariamente, na ação penal, nos casos dos arts. 584, § 1.°, e 598, do Código de
Processo Penal.
Súmula n.° 448: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr
imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público.

8.5) O assistente da defesa

Para Távora e Alencar, a Lei n. 9.099/95 também prevê a figura do “assistente da defesa”,
qual seja, o reponsável civil que conduz a composição civil para a satisfação patrimonial da vítima,
com repercussão direta na situação jurídica do infrator.

9. AUXILIARES DA JUSTIÇA

“Auxiliares da justiça” é a designação genérica dos auxiliares permanentes, cuja


participação é obrigatória em todos os processos (oficial de justiça, escrivão, etc.), e dos sujeitos
variáveis da administração da justiça, como os peritos e intérpretes. Em regra, os auxiliares da
justiça gozam de fé pública (presunção juris tantum).
Aplicam-se as prescrições sobre suspeição aos auxiliares da justiça (art. 274, CPP). As
partes podem arguir o embaraço, devendo o juiz decidir de plano, sem possibilidade de recurso (art.
105, CPP). Não se pode opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito, mas elas
deverão declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal (art. 107, CPP).
Os peritos e os intérpretes são auxiliares eventuais da justiça para casos que exijam
conhecimentos especializados. Possuem o mesmo dever de veracidade das testemunhas. São
aplicáveis a eles, além das hipóteses de suspeição do juiz, mais três impedimentos: a) os que
estiverem sujeitos a penas restritivas de direito de interdição temporária do exercício da profissão
ou cargo público; b) os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente
sobre o objeto da perícia; c) os analfabetos e os menores de 21 anos.

INSTRUMENTOS LEGAIS DE PRODUÇÃO DE PROVAS:

1. INTRODUÇÃO: macrocriminalidade

SANTIAGO MIR PUIG ensina que a prática de crimes pode ocorrer em 2 espaços diversos:
a) crimes cometidos em espaço de consenso: são as infrações que qualquer cidadão pode praticar,
como as IMPO, lesão corporal ou homicídio; nesse âmbito, o direito penal deve ser utilizado
como a ultima ratio, cedendo lugar a políticas de descriminalização ou despenalização;
b) crimes cometidos em espaço de confronto: são os crimes que, a exemplo dos ataques do PCC a
SP em 2006, ofendem os bens jurídicos tutelados mais fortemente pelo ordenamento jurídico, os
bens jurídicos mais importantes; nesse âmbito, faz-se necessária a repressão penal, mas sempre
com respeito aos direitos fundamentais, uma vez que é necessário utilizar diferentemente os
instrumentos (processuais) penais de acordo com as diferenças de seus destinatários. Não se trata
de aplicar aos autores desse tipo de crime o direito penal do inimigo, que tem conteúdo político-
ideológico, mas de tratar desigualmente os desiguais. Segundo HASSEMER, o direito penal, no
espaço de confronto, deve ser a prima ratio.

J. MARIA SANCHES afirma que o direito penal de 3ª velocidade é o que cuida dos crimes
praticados pela macrocriminalidade, gênero do qual são espécies as organizações criminosas e a
lavagem de dinheiro.
A CR/88 alude a alguns dos crimes praticados pela macrocriminalidade, como no inciso XLIII
de seu art. 5º, no qual estabelece mandados de criminalização expressos, determinando a tipificação
dos crimes praticados no espaço de confronto: a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis
de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o
terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
O direito penal liberal protege bens jurídicos ligados aos seguintes interesses: vida, liberdade,
igualdade, segurança e propriedade. Quando tais bens jurídicos são violados, atingem
individualmente o cidadão; as vítimas desse tipo de crime são individuais.
O direito penal também pode ser informado por um outro paradigma, centrado na proteção a
bens jurídicos difusos, para cuja compreensão é importante conhecer a teoria sistêmico-
funcionalista dos bens jurídicos de Jakobs.

2. AS TÉCNICAS ESPECIAIS DE INVESTIGAÇÃO (TEI) NA LEGISLAÇÃO

Conforme o art. 50, § 1º, da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção
de Mérida, de 20031), as Técnicas Especiais de Investigação (TEI) designam os procedimentos de
investigação policial e de colheita de provas utilizados na apuração da materialidade e da autoria
das novas formas de criminalidade organizada nacional ou transnacional:
1. A fim de combater eficazmente a corrupção, cada Estado Parte, na medida em que
lhe permitam os princípios fundamentais de seu ordenamento jurídico interno e
conforme às condições prescritas por sua legislação interna, adotará as medidas que
sejam necessárias, dentro de suas possibilidades, para prever o adequado recurso, por
suas autoridades competentes em seu território, à entrega vigiada e, quando considerar
apropriado, a outras técnicas especiais de investigação como a vigilância eletrônica ou
de outras índoles e as operações secretas, assim como para permitir a admissibilidade
das provas derivadas dessas técnicas em seus tribunais.
Enquadram-se no conceito de TEI:
a) vigilância eletrônica e de outras índoles, a ex. da interceptação telefônica e ambiental
(óptica/acústica);
b) quebra de sigilo bancário e financeiro, fiscal e eleitoral;
c) delação premiada;
d) ação controlada/flagrante diferido, gênero do qual faz parte a entrega vigiada, seja de dinheiro
(art. 2º, i, Convenção de Mérida: trata-se da técnica consistente em permitir que remessas
ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem ou entrem nele,
com o conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes, com o fim de
investigar um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência), seja de drogas (60
§ 4º Lei 11.343/06);
f) operações secretas, a ex. da infiltração de agentes de polícia ou de inteligência.

Tais TEI foram previstas, sobretudo, na Lei 9.034/95, que cuidava dos meios operacionais
(instrumentos para investigação ou formação de provas) para prevenção e repressão dos
crimes praticados em (1) quadrilha ou bando, em (2) associação ou em (3) organização
criminosa.

(1) Quadrilha (2) Associações Criminosas (3) Organização Criminosa


ou bando Propriamente Dita
Art. 288 CP 2º, L 2889/56 35, L 11343/06 Convenção de Palermo
(genocídio) (drogas)
Dispositivo
Associarem-se Associarem-se Associarem-se duas Grupo estruturado de três
legal
mais de três mais de três ou mais pessoas para ou mais pessoas, existente
pessoas, em pessoas prática o fim de praticar, há algum tempo e atuando

1
   Promulgada  pelo  D.  5.687/06.
quadrilha ou dos crimes reiteradamente ou concertadamente com o
bando, para o mencionados no não, qualquer dos propósito de cometer uma
fim de cometer art. 1º L crimes previstos nos ou mais infrações graves
crimes 2889/56. arts. 33, caput e § 1º, ou enunciadas na presente
e 34 desta Lei Convenção, com a
[tráfico e fabricação] intenção de obter, direta
ou indiretamente, um
benefício econômico ou
outro benefício material
Número
mínimo de 4 4 2 3
participantes

Portanto, a Lei 9034 previu instrumentos extraordinários de investigação de organização


criminosa. Ela permitiu a utilização desses instrumentos também para associação criminosa (ex.
associação para o tráfico) e quadrilha ou bando (art. 288 do CP). Previu a possibilidade de agente
infiltrado, delação premiada e ação controlada. O problema é que ela não dispunha como isso
deveria ser feito. Ela só previu a possibilidade, mas não esmiuçou os instrumentos extraordinários
de investigação.

Além dessa falha, a lei 9034/95 não definiu organização criminosa. O Brasil começou a
utilizar a definição de organização criminosa prevista na Convenção de Palermo. O problema é que
uma convenção internacional não pode criar crime. O STF entende que só a lei pode criar crime e
cominar pena. Os tratados internacionais só são fontes não incriminadoras.

Em razão disso, surgiu a Lei 12694/11 que finalmente conceituou organização criminosa:

Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3


(três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que
sejam de caráter transnacional.

Até a Lei 12850/13, organização criminosa não era crime. Era forma de praticar crime. Ela
não tinha pena, tinha consequências. O crime de quadrilha tinha tipo penal e pena. Organização
criminosa não tinha pena, só tinha consequências. O crime praticado poderia ter sido praticado na
forma ou não da organização criminosa. Nem sempre a quadrilha ou bando eram praticados na
forma da organização criminosa.

A lei criou a possibilidade de órgão colegiado julgar crimes praticados por organização
criminosa (sentença e incidentes, como prisão preventiva). Não é juiz sem rosto. O juiz sem rosto
fere o princípio do juiz natural. Aqui, sabem-se quais são os julgadores, só não se sabe quem votou
em qual sentido (é como no júri). Não se trata de juiz sem rosto.

A Lei 12850/13 conceituou novamente organização criminosa. Essa lei exige 4 pessoas (ao
invés de 3) e tipifica a organização criminosa. Agora é crime e tem pena (art. 2).

Art. 1. § 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais


pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza,
mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou
que sejam de caráter transnacional.
Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa,
organização criminosa:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes
às demais infrações penais praticadas.

A Lei 12850/13 revogou a lei 9034/95 porque detalhou os instrumentos especiais de


investigação.

E a Lei 12694? Ela foi revogada também? O conceito de organização criminosa da Lei
12964 foi revogado pelo conceito dado pela Lei 12850. Todos os demais dispositivos da Lei 12694
continuam em vigor. Eles não foram revogados pela lei 12850/13. Assim, deve-se trabalhar com as
duas leis.

Agora organização criminosa é crime. Não há necessidade da prática de outro crime para a
sua consumação.

Com a Lei 12850 houve revogação da quadrilha ou bando do art. 288 do CP? O art. 24 da
Lei muda o art. 288 do CP. Ele deixa de se chamar de quadrilha/bando e passa a chamar de
associação criminosa, porque agora bastam três pessoas, mas de resto é igual. A pena é a mesma.

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a
participação de criança ou adolescente.

As penas aumentam-se de metade se houver emprego de arma de fogo. Mas basta uma
arma? Há divergência. Para parte da doutrina, basta uma; para outra, o juiz deve analisar o caso
concreto; para outra parte ainda, a maioria deveria estar armada.

A Lei 12850/13 diz que em qualquer fase da persecução penal é possível a colaboração
premiada, captação ambiental, ação controlada, interceptação telefônica.

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de


outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

I - colaboração premiada;

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

III - ação controlada;

IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais


constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou
comerciais;

V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da


legislação específica;

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação


específica;

VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;

VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e


municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da
instrução criminal.

3. AÇÃO CONTROLADA

3.1 Conceito

Por ação controlada/flagrante diferido/não atuação policial/retardamento do


flagrante entende-se a TEI consistente no retardamento da prisão do agente envolvido
em organização criminosa imediatamente, e mediante monitoramento, prendê-lo no
momento mais oportuno, buscando mais provas e informações.

Trata-se de modalidade de flagrante obrigatório, mas discricionário quanto ao


momento da prisão. Não se trata de flagrante facultativo, que é a modalidade em que
qualquer pessoa maior de 18 anos pode prender.

3.2 Previsão legal

Trata-se de TEI prevista nos seguintes diplomas legais:

Art. 8º da Lei 12850/13:

Art. 8o Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou


administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada,
desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se
concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.

§ 1o O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente


comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e
comunicará ao Ministério Público.

§ 2o A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter


informações que possam indicar a operação a ser efetuada.

§ 3o Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao


Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das
investigações.
§ 4o Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação
controlada.

Art. 9o Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da


intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de
modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.

Art. 4º-B da Lei 9.613/98 alterada pela Lei 12.683/12(Lavagem):

Art. 4o-B. A ordem de prisão de pessoas ou as medidas assecuratórias de bens,


direitos ou valores poderão ser suspensas pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a
sua execução imediata puder comprometer as investigações. (Incluído pela Lei nº 12.683,
de 2012)

Art. 53 II e parágrafo único e 60 § 4º Lei 11.343/06 (Drogas):

Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos
nesta Lei, são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e
ouvido o Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: (...) II - a não-
atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros
produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a
finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de
tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível. Parágrafo único. Na hipótese
do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que sejam conhecidos o
itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de colaboradores.
Art. 60 § 4º A ordem de apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores
poderá ser suspensa pelo juiz, ouvido o Ministério Público, quando a sua execução
imediata possa comprometer as investigações.

Art. 2º, i, Convenção de Mérida: entrega vigiada de dinheiro: trata-se da técnica consistente em
permitir que remessas ilícitas ou suspeitas saiam do território de um ou mais Estados, o atravessem
ou entrem nele, com o conhecimento e sob a supervisão de suas autoridades competentes, com o
fim de investigar um delito e identificar as pessoas envolvidas em sua ocorrência.

3.3 Requisitos
3.3.1 Circunstanciada autorização judicial

A medida exige circunstanciada autorização judicial. No tocante à organização


criminosa, tem-se a previsão de que a ação controlada deve ser previamente comunicada
ao juiz, mas não há menção expressa no sentido de necessidade de autorização judicial.

3.3.2 Proporcionalidade/razoabilidade

É indispensável que o agente policial atue com proporcionalidade/razoabilidade:


não pode o agente policial que se aproxima de uma organização criminosa protelar a
prisão em flagrante para permitir, por exemplo, que várias mortes ocorram com a
justificativa de não atuar para colheita de maior numero de provas e maior apreensão de
criminosos. O que se tolera é, por exemplo, postergar o flagrante em um crime financeiro
qualquer para que outro seja cometido, até que se atinja um montante confiável de
provas.

4. ACESSO A DADOS, DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES DE CARÁTER BANCÁRIO, FINANCEIRO,


FISCAL OU ELEITORAL

4.1 CR/88

A proteção relativa dos sigilos é uma forma de proteção à vida privada (5º X
CR/88), pois o conhecimento público pode trazer um prejuízo aos elementos referentes à
vida pessoal.
No âmbito do direito à privacidade é que se situa a questão da garantia dos sigilos
fiscal, bancário, de correspondência, de dados, de fonte - quanto ao jornalista ou
parlamentar.

4.2 Legislação

Art. 3º VI da Lei 12850/13:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de


outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação


específica;

LC 105/01: sigilo bancário:

Atualmente, a LC 105/01 regulamenta o sigilo das operações de instituições


financeiras, inclusive sua quebra.
1º LC 105/01: regra geral: dever de sigilo das instituições financeiras;
2º LC 105/01: regra geral: dever de sigilo do BC, da CVM e de outros órgãos públicos
fiscalizadores de instituições financeiras;
3º LC 105/01: Poder Judiciário pode pedir quebra de sigilo;
4º LC 105/01: Poder Legislativo Federal (inclusive CPI) pode pedir quebra de sigilo;
6º LC 105/01: autoridades e os agentes fiscais tributários podem examinar operações
bancárias independentemente de autorização judicial.

Art. 198-199 CTN: sigilo fiscal:

Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação,


por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do
ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre
a natureza e o estado de seus negócios ou atividades.

§ 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os
seguintes:

I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;


II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública,
desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão
ou na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a
informação, por prática de infração administrativa.

§ 2o O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será


realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita
pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e
assegure a preservação do sigilo.

§ 3o Não é vedada a divulgação de informações relativas a:

I – representações fiscais para fins penais;

II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;

III – parcelamento ou moratória.

Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos
respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou
específico, por lei ou convênio.

Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tratados,


acordos ou convênios, poderá permutar informações com Estados estrangeiros no
interesse da arrecadação e da fiscalização de tributos.

4.3 Distinção entre sigilo das comunicações telefônicas (reserva de jurisdição) e o


sigilo de correspondência, das comunicações telegráficas e das comunicações de
dados

O 5º XII CR/88 estabelece, como regra, a inviolabilidade da correspondência, das


comunicações telegráficas, das comunicações de dados e das comunicações telefônicas.
Tal inviolabilidade não á absoluta simplesmente porque não existem direitos absolutos no
ordenamento jurídico brasileiro. Portanto, é incorreto afirmar que o único sigilo que pode
ser relativizado é o das comunicações telefônicas, pois o “salvo, no último caso” quer
apenas dizer que os requisitos que se seguem são a única forma de se relativizar o sigilo
das comunicações telefônicas. Tem-se, portanto, uma “reserva de jurisdição”: só o juiz
pode determinar a quebra do sigilo telefônico. E mais: somente nas hipóteses e na forma
que a lei estabelecer e, ainda, apenas para duas finalidades: (1) investigação criminal e
(2) instrução processual penal. Apesar de a CR/88 prever que as CPIs terão poderes de
investigação próprios das autoridades judiciais (art. 58, § 3º), as CPIs não podem fazer o
que a CR/88 diz que só o juiz pode fazer.

Portanto, é necessário atentar à seguinte distinção:


1) em relação ao sigilo das comunicações telefônicas: somente o juiz pode
relativizá-lo, através de uma ordem judicial que autorize a interceptação telefônica, nas
hipóteses e na forma estabelecidas pela Lei 9.296/96, e apenas para fins de (1)
investigação criminal ou de (2) instrução processual penal.
2) em relação ao sigilo de correspondência, das comunicações telegráficas e das
comunicações de dados: pode ser relativizado tanto pelo juiz quanto pela CPI ou por
quem mais a lei autorizar, como, por exemplo, a autoridade penitenciária, a quem a
LEP autoriza relativizar o sigilo da correspondência dos reeducandos (HC 70.814. STF.
1ª Turma, julgado em 01/03/1996). Não há reserva de jurisdição em relação ao sigilo de
correspondência, das comunicações telegráficas e das comunicações de dados.

4.4 Distinção entre sigilo das comunicações de dados e sigilo de dados (RE 418416)

Tese de Tércio Sampaio Ferraz Júnior (artigo “Sigilo de dados: o direito à


privacidade e os limites à função fiscalizadora do Estado”, Cadernos de Dir. Constitucional
e Ciência Política, RT, 1/77,82; e Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, vol. 88, pp. 447, 1993.): utilizada por S. Pertence no voto vencedor da decisão do
STF que diferenciou entre a comunicação de dados (protegida pelo sigilo) e os dados em
si (não protegidos): a comunicação de dados (troca de informações) é inviolável, mas não
seu conteúdo. O que a CR/88 veda é a abertura da carta/e-mail por pessoa diversa de
seu destinatário, mas depois de aberta, cessa a proteção do sigilo das correspondências.
Consequência: em uma operação de busca e apreensão, cartas e e-mails abertos podem
ser apreendidos porque carta aberta não é mais correspondência.
Adotam a tese: STF, STJ, TCU (é válido o convênio entre a Receita e a
FEBRABAN para troca de informações: a Receita Federal pode ter acesso a dados
cadastrais bancários de contribuintes, que não são sigilosos por serem meros
identificadores das pessoas físicas e jurídicas – fundamento que autoriza a fiscalização=
145 §1º CR/88).

(...) IV - Proteção constitucional ao sigilo das comunicações de dados - art. 5º, XVII,
da CF: ausência de violação, no caso.
1. Impertinência à hipótese da invocação da AP 307 (Pleno, 13.12.94, Galvão, DJU
13.10.95), em que a tese da inviolabilidade absoluta de dados de computador não
pode ser tomada como consagrada pelo Colegiado, dada a interferência, naquele
caso, de outra razão suficiente para a exclusão da prova questionada - o ter sido o
microcomputador apreendido sem ordem judicial e a conseqüente ofensa da
garantia da inviolabilidade do domicílio da empresa - este segundo fundamento
bastante, sim, aceito por votação unânime, à luz do art. 5º, XI, da Lei Fundamental.
2. Na espécie, ao contrário, não se questiona que a apreensão dos computadores
da empresa do recorrente se fez regularmente, na conformidade e em cumprimento
de mandado judicial.
3. Não há violação do art. 5º. XII, da Constituição que, conforme se acentuou na
sentença, não se aplica ao caso, pois não houve "quebra de sigilo das
comunicações de dados (interceptação das comunicações), mas sim apreensão de
base física na qual se encontravam os dados, mediante prévia e fundamentada
decisão judicial".
4. A proteção a que se refere o art.5º, XII, da Constituição, é da comunicação 'de
dados' e não dos 'dados em si mesmos', ainda quando armazenados em
computador. (cf. voto no MS 21.729, Pleno, 5.10.95, red. Néri da Silveira - RTJ
179/225, 270).
(...) (RE 418416, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, J. 10/05/2006, TP)
Mandado de Segurança. Sigilo bancário. Instituição financeira executora de política
creditícia e financeira do Governo Federal. Legitimidade do Ministério Público para
requisitar informações e documentos destinados a instruir procedimentos
administrativos de sua competência. 2. Solicitação de informações, pelo Ministério
Público Federal ao Banco do Brasil S/A, sobre concessão de empréstimos,
subsidiados pelo Tesouro Nacional, com base em plano de governo, a empresas do
setor sucroalcooleiro. 3. Alegação do Banco impetrante de não poder informar os
beneficiários dos aludidos empréstimos, por estarem protegidos pelo sigilo bancário,
previsto no art. 38 da Lei nº 4.595/1964, e, ainda, ao entendimento de que dirigente
do Banco do Brasil S/A não é autoridade, para efeito do art. 8º, da LC nº 75/1993. 4.
O poder de investigação do Estado é dirigido a coibir atividades afrontosas à ordem
jurídica e a garantia do sigilo bancário não se estende às atividades ilícitas. A ordem
jurídica confere explicitamente poderes amplos de investigação ao Ministério Público
- art. 129, incisos VI, VIII, da Constituição Federal, e art. 8º, incisos II e IV, e § 2º, da
Lei Complementar nº 75/1993. 5. Não cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério
Público, informações sobre nomes de beneficiários de empréstimos concedidos pela
instituição, com recursos subsidiados pelo erário federal, sob invocação do sigilo
bancário, em se tratando de requisição de informações e documentos para instruir
procedimento administrativo instaurado em defesa do patrimônio público. Princípio
da publicidade, ut art. 37 da Constituição. 6. No caso concreto, os empréstimos
concedidos eram verdadeiros financiamentos públicos, porquanto o Banco do Brasil
os realizou na condição de executor da política creditícia e financeira do Governo
Federal, que deliberou sobre sua concessão e ainda se comprometeu a proceder à
equalização da taxa de juros, sob a forma de subvenção econômica ao setor
produtivo, de acordo com a Lei nº 8.427/1992. 7. Mandado de segurança indeferido.
(MS 21729, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. NÉRI
DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/1995)

4.5 Legitimação ativa para decretar quebra de sigilo BANCÁRIO

4.5.1 Juiz pode decretar quebra de sigilo bancário

3º LC 105/01: Serão prestadas pelo Banco Central do Brasil, pela Comissão de


Valores Mobiliários e pelas instituições financeiras as informações ordenadas pelo Poder
Judiciário, preservado o seu caráter sigiloso mediante acesso restrito às partes, que delas
não poderão servir-se para fins estranhos à lide.

4.5.2 Poder Legislativo/CPI Federal e Estadual podem decretar quebra de sigilo


bancário

4º LC 105/01: O Banco Central do Brasil e a Comissão de Valores Mobiliários, nas


áreas de suas atribuições, e as instituições financeiras fornecerão ao Poder Legislativo
Federal as informações e os documentos sigilosos que, fundamentadamente, se fizerem
necessários ao exercício de suas respectivas competências constitucionais e legais. O
poder legislativo estadual, no âmbito de CPI estadual, pode requerer quebra do sigilo
bancário/financeiro:

“(...)Poderes de CPI estadual: ainda que seja omissa a Lei Complementar


105/2001, podem essas comissões estaduais requerer quebra de sigilo de dados
bancários, com base no art. 58, § 3º, da Constituição.” Mandado de segurança
conhecido e parcialmente provido. (ACO 730, Relator(a): Min. JOAQUIM
BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 22/09/2004)
4.5.3 Autoridades tributárias (Receita Federal) podem acessar dados cobertos pelo
sigilo bancário diretamente, independentemente de autorização judicial (mas não
podem determinar quebra de sigilo bancário – STF AC 33/RE 389808)

A possibilidade de acesso a dados bancários sigilosos é prevista no 6º LC 105/01:

As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos, livros e
registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de depósitos
e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado
ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente. (Regulamento)
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que
se refere este artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação
tributária.

O que se conclui da leitura do dispositivo acima é a possibilidade de quebra de sigilo


bancário pela própria Receita Federal sem necessidade do requerimento ao Poder Judiciário, ou
seja, afastou-se, no caso, o princípio da reserva de jurisdição.
O que o STF entende sobre o tema?
No dia 15/12/2010, foi noticiado pelo site do STF que o Plenário da Corte, no RE 389.808,
entendeu que o direito à privacidade (art. 5º, X, CF) deveria prevalecer em relação à LC 105/01.
Isto é, o afastamento do sigilo bancário de pessoas naturais e jurídicas só é possível a partir de
ordem emanada do Poder Judiciário (art. 5º, XII, CF).
No entanto, o tema não pode ser tido como pacificado, haja vista que está pendente de
julgamento o RE 601.314/SP (que possui Repercussão Geral reconhecida desde 2009).
O que o STJ entende sobre o tema?
De maneira oposta ao STF, o STJ entende que o princípio da reserva de jurisdição, no
tocante à garantia da intimidade (art. 5º, X, CF), pode ser mitigado pelos princípios da capacidade
contributiva (art. 145, § 1º, CF) e da moralidade. O STJ entende que a LC 105/01 pode autorizar a
Receita Federal a quebrar o sigilo bancário de particulares sem que haja prévia autorização judicial.
O sigilo fiscal está regulamentado nos arts. 198-199 CTN.

4.5.4 TCU não pode determinar quebra de sigilo bancário

Decisão recente que confirma este entendimento:

EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.


QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. SEGURANÇA
CONCEDIDA. O Tribunal de Contas da União, a despeito da relevância das suas
funções, não está autorizado a requisitar informações que importem a quebra de
sigilo bancário, por não figurar dentre aqueles a quem o legislador conferiu essa
possibilidade, nos termos do art. 38 da Lei 4.595/1964, revogado pela Lei
Complementar 105/2001. Não há como admitir-se interpretação extensiva, por tal
implicar restrição a direito fundamental positivado no art. 5º, X, da Constituição.
Precedente do Pleno (MS 22801, rel. min. Menezes Direito, DJe-047 de
14.03.2008.) Ordem concedida. (MS 22934/DF. Relator: Min. Joaquim Barbosa.
Julgamento em 17/04/2012. 2ª Turma)
4.5.5 Bacen não pode determinar diretamente a quebra de sigilo bancário
(necessária autorização judicial), mas pode acessar dados bancários sigilosos no
exercício de seu poder de fiscalização

SIGILO DE DADOS - ATUAÇÃO FISCALIZADORA DO BANCO CENTRAL -


AFASTAMENTO - INVIABILIDADE. A atuação fiscalizadora do Banco Central do
Brasil não encerra a possibilidade de, no campo administrativo, alcançar dados
bancários de correntistas, afastando o sigilo previsto no inciso XII do artigo 5º da
Constituição Federal.
(RE 461366 Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO Julgamento: 03/08/2007
Órgão Julgador: Primeira Turma)

4.5.6 MP não pode determinar quebra de sigilo bancário

A 6ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região entendeu que o Ministério Público


não pode requisitar documentos protegidos por sigilo sem a correspondente autorização judicial.
Dessa maneira, a Turma manteve sentença proferida pela Vara Única da Subseção Judiciária de
Sinop (MT) que indeferiu pedido do MP.
De acordo com o relator, desembargador federal Jirair Aram Meguerian, tanto o Superior
Tribunal de Justiça quanto o próprio TRF-1 possuem firme entendimento no sentido de que as
prerrogativas institucionais dos membros do Ministério Público não autorizam a requisição de
documentos protegidos por sigilo sem a correspondente autorização judicial.
Portanto, conforme entendimento do TRF1 e do STJ, MP não pode determinar quebra de
sigilo bancário. Para o STF, também não é possível tal determinação.

1.Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça do Rio


de Janeiro e assim ementado: "MANDADO DE SEGURANÇA - DUPLO GRAU
OBRIGATÓRIO DE JURISDIÇÃO - ORDEM CONCEDIDA À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
- PRESERVAÇÃO DO SIGILO BANCÁRIO - REQUISIÇÃO DE DOCUMENTOS
REALIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO SEM ESPALDO DO PODER JUDICIÁRIO -
DECISÃO MANTIDA. Assegurado o sigilo bancário pela Lei nº 4595/64 as requisições feitas
pelo Ministério Público na intenção de quebra e violação do referido sigilo devem
primeiramente submeter-se à apreciação do Poder Judiciário, atendendo-se os princípios do
Estado de Direito." (fl. 84) Sustenta o recorrente, com fundamento no art. 102, III, a, ter
havido violação aos arts. 127, VI, 129, VI, VIII, da Constituição Federal. 2. Inconsistente o
recurso. Com efeito, o teor do acórdão recorrido está em conformidade com a jurisprudência
desta Corte, que, ao julgar caso semelhante, decidiu de igual modo, segundo se lhe vê à
ementa: "CONSTITUCIONAL. MINISTÉRIO PÚBLICO. SIGILO BANCÁRIO: QUEBRA.
C.F., art. 129, VIII. I. - A norma inscrita no inc. VIII, do art. 129, da C.F., não autoriza ao
Ministério Público, sem a interferência da autoridade judiciária, quebrar o sigilo bancário
de alguém. Se se tem presente que o sigilo bancário é espécie de direito à privacidade, que a
C.F. consagra, art. 5º, X, somente autorização expressa da Constituição legitimaria o
Ministério Público a promover, diretamente e sem a intervenção da autoridade judiciária, a
quebra do sigilo bancário de qualquer pessoa. II. - R.E. não conhecido." (RE nº 215.301, Rel.
Min. CARLOS VELLOSO, DJ de 28.05.99). 3. Do exposto, nego seguimento ao recurso (art.
21, § 1º, do RISTF, art. 38 da Lei nº 8.038, de 28.05.90, e art. 557 do CPC). Publique-se. Int.
Brasília, 25 de abril de 2005. Ministro CEZAR PELUSO Relator

Ocorre que o STF já decidiu não admitir que o MP quebre o sigilo bancário
diretamente, salvo em uma única exceção: quando se tratar de dinheiro público, situação
em que vigora o princípio da publicidade. Fora de tal hipótese, a prova é ilícita e, portanto,
inadmissível.

Mandado de Segurança. Sigilo bancário. Instituição financeira executora de política


creditícia e financeira do Governo Federal. Legitimidade do Ministério Público para
requisitar informações e documentos destinados a instruir procedimentos
administrativos de sua competência. 2. Solicitação de informações, pelo Ministério
Público Federal ao Banco do Brasil S/A, sobre concessão de empréstimos,
subsidiados pelo Tesouro Nacional, com base em plano de governo, a empresas
do setor sucroalcooleiro. 3. Alegação do Banco impetrante de não poder informar
os beneficiários dos aludidos empréstimos, por estarem protegidos pelo sigilo
bancário, previsto no art. 38 da Lei nº 4.595/1964, e, ainda, ao entendimento de
que dirigente do Banco do Brasil S/A não é autoridade, para efeito do art. 8º, da LC
nº 75/1993. 4. O poder de investigação do Estado é dirigido a coibir atividades
afrontosas à ordem jurídica e a garantia do sigilo bancário não se estende às
atividades ilícitas. A ordem jurídica confere explicitamente poderes amplos de
investigação ao Ministério Público - art. 129, incisos VI, VIII, da Constituição
Federal, e art. 8º, incisos II e IV, e § 2º, da Lei Complementar nº 75/1993. 5. Não
cabe ao Banco do Brasil negar, ao Ministério Público, informações sobre nomes de
beneficiários de empréstimos concedidos pela instituição, com recursos
subsidiados pelo erário federal, sob invocação do sigilo bancário, em se tratando
de requisição de informações e documentos para instruir procedimento
administrativo instaurado em defesa do patrimônio público. Princípio da
publicidade, ut art. 37 da Constituição. 6. No caso concreto, os empréstimos
concedidos eram verdadeiros financiamentos públicos, porquanto o Banco do
Brasil os realizou na condição de executor da política creditícia e financeira do
Governo Federal, que deliberou sobre sua concessão e ainda se comprometeu a
proceder à equalização da taxa de juros, sob a forma de subvenção econômica ao
setor produtivo, de acordo com a Lei nº 8.427/1992. 7. Mandado de segurança
indeferido. (MS 21729, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão:
Min. NÉRI DA SILVEIRA, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/1995).

Vale destacar, todavia, que os precedentes mais recentes, tanto do STF como do STJ,
entendem pela impossibilidade de quebra de sigilo fiscal e bancário de forma direta pelo MP (INQ
2245/MG – STF e HC 160.646/SP – STJ).

Resumo:
Quebra de sigilo bancário por CPI:
STF: é possível, desde que por decisão motivada. CPIs Estaduais e Distritais podem também.

Quebra de sigilo bancário por Receita Federal:


STF – até que se conclua o julgamento do RE 601.314 RG/SP, NÃO é possível;
STJ – é possível;

Quebra pelo TCU:


STF – não é possível;
Quebra de sigilo bancário pelo MP:
STF e STJ (precedentes atuais) – não é possível;

4.6 Legitimação ativa para requerer quebra do SIGILO FISCAL (juiz e autoridade
administrativa)
O sigilo fiscal está regulamentado nos arts. 198-199 CTN:

Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a divulgação, por
parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação obtida em razão do ofício
sobre a situação econômica ou financeira do sujeito passivo ou de terceiros e sobre a
natureza e o estado de seus negócios ou atividades.
§ 1o Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199, os
seguintes:
I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração Pública,
desde que seja comprovada a instauração regular de processo administrativo, no órgão ou
na entidade respectiva, com o objetivo de investigar o sujeito passivo a que se refere a
informação, por prática de infração administrativa.
§ 2o O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração Pública, será
realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega será feita pessoalmente
à autoridade solicitante, mediante recibo, que formalize a transferência e assegure a
preservação do sigilo.
§ 3o Não é vedada a divulgação de informações relativas a:
I – representações fiscais para fins penais;
II – inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;
III – parcelamento ou moratória.
Art. 199. A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos
respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou
específico, por lei ou convênio.
Parágrafo único. A Fazenda Pública da União, na forma estabelecida em tratados,
acordos ou convênios, poderá permutar informações com Estados estrangeiros no
interesse da arrecadação e da fiscalização de tributos. (Incluído pela Lcp nº 104, de
10.1.2001)

4.7 Meio processual adequado para discutir quebra de sigilo bancário

Discute-se qual o meio processual adequado para discutir quebra de sigilo


bancário:

Em regra, o instrumento idôneo para atacar a quebra do sigilo bancário é o mandado de


segurança. Entretanto, existe uma situação em que o STF admite também a impetração de habeas
corpus: quando a quebra do sigilo bancário implicar ofensa indireta ou reflexa ao direito de
locomoção.

Mesmo no caso em que a quebra do sigilo bancário implique ofensa indireta ao direito de
locomoção o indivíduo não está obrigado a utilizar o habeas corpus. Poderá, querendo, impetrar o
mandado de segurança contra a medida. A utilização do habeas corpus é uma opção do indivíduo. A
possibilidade de utilização do habeas corpus nessa situação de violação indireta do direito de
locomoção foi desenvolvida pela jurisprudência do STF em favor do indivíduo, pois, conforme
vimos antes, o habeas corpus é remédio que traz vantagens ao impetrante (é ação gratuita, que não
exige advogado e de rito sumaríssimo, que tem prioridade de julgamento sobre as demais ações nos
tribunais do Poder Judiciário).

O seguinte julgamento do TRF1 retrata o que foi explanado:


PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - QUEBRA DE SIGILO TELEFÔNICO - ART. 5º, XII,
PARTE FINAL, DA CF/88 - LEI 9.296/96 - IDONEIDADE DO HABEAS CORPUS PARA
IMPUGNAÇÃO - PRECEDENTES DO STF - INSTAURAÇÃO PRÉVIA DE INQUÉRITO
POLICIAL - DESNECESSIDADE - PRECEDENTES DO STJ – ORDEM DENEGADA. I - Assente
a jurisprudência do colendo STF no sentido
da idoneidade do habeas corpus para impugnar autorizaçãojudicial de quebra de sigilo, se
destinada a fazer prova em investigação criminal ou processo penal, porquanto dela pode advir
condenação a pena privativa de liberdade, ainda que não iminente, cuja aplicação poderia vir a
ser viciada pela ilegalidade contra a qual se volta a impetração da ordem (HC 79.191, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJU de 08/10/99; HC 84.869, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJU de
19/08/2005; Questão de Ordem em Agravo de Instrumento 573.623-0/RJ, Rel. Min. Gilmar
Mendes, DJU de 05/10/2007). II - A quebra do sigilo telefônico, prevista no art. 5º, XII, parte final,
da CF/88 e na Lei 9.296/96, prescinde da instauração prévia de inquérito policial, exigindo-se
apenas a demonstração da existência de indícios razoáveis da autoria ou participação em infração
penal punida com reclusão e a impossibilidade de obtenção da prova por outros meios. III - A
expressão "investigação criminal", contida no art. 5º, XII, parte final, da CF/88 e no no art. 1º da
Lei , não se restringe ao procedimento administrativo de inquérito policial. IV - Com efeito, o
egrégio STJ firmou entendimento no sentido de que é "prescindível a prévia instauração de
inquérito ou ação penal para a decretação de quebra de sigilo telefônico; isso porque, a
interceptação telefônica, disciplinada na Lei 9.296/96, tem natureza de medida cautelar
preparatória, exigindo-se apenas a demonstração da existência de indícios razoáveis da autoria ou
participação em infração penal punida com reclusão (REsp. 827.940/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ,
DJU 03.03.08 e HC 20.087/SP, Rel. Min. GILSON DIPP, DJU 20.09.03)" (HC 85.968-SP, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia, 5ª T. do STJ, unânime, Dje 18/08/2008). V - Ordem denegada.

4.8 A INCONSTITUCIONALIDADE DO ANTIGO 3° LEI 9.034/95 (ADI 1570): VEDAÇÃO DE JUIZ


INQUISIDOR

3° Lei 9.034/95: Nas hipóteses do inciso III do art. 2º desta lei, ocorrendo
possibilidade de violação de sigilo preservado pela Constituição ou por lei, a
diligência será realizada pessoalmente pelo juiz, adotado o mais rigoroso
segredo de justiça.
2º III Lei 9.034/95: Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos,
sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de
investigação e formação de provas: (...) III - o acesso a dados, documentos e
informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais.

O artigo 3° da revogada Lei 9.034/95 foi declarado inconstitucional em 2004 pelo STF na
ADI 1570:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 9034/95. LEI


COMPLEMENTAR 105/01. SUPERVENIENTE. HIERARQUIA SUPERIOR.
REVOGAÇÃO IMPLÍCITA. AÇÃO PREJUDICADA, EM PARTE. "JUIZ DE
INSTRUÇÃO". REALIZAÇÃO DE DILIGÊNCIAS PESSOALMENTE.
COMPETÊNCIA PARA INVESTIGAR. INOBSERVÂNCIA DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL. IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. OFENSA.
FUNÇÕES DE INVESTIGAR E INQUIRIR. MITIGAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES
DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DAS POLÍCIAS FEDERAL E CIVIL. 1. Lei
9034/95. Superveniência da Lei Complementar 105/01. Revogação da
disciplina contida na legislação antecedente em relação aos sigilos bancário e
financeiro na apuração das ações praticadas por organizações criminosas.
Ação prejudicada, quanto aos procedimentos que incidem sobre o acesso a
dados, documentos e informações bancárias e financeiras. 2. Busca e
apreensão de documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo
realizadas pessoalmente pelo magistrado. Comprometimento do princípio da
imparcialidade e conseqüente violação ao devido processo legal. 3. Funções
de investigador e inquisidor. Atribuições conferidas ao Ministério Público e às
Polícias Federal e Civil (CF, artigo 129, I e VIII e § 2o; e 144, § 1o, I e IV, e §
4o). A realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia.
Precedentes. Ação julgada procedente, em parte. (ADI 1570, Relator(a): Min.
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 12/02/2004)

Para a adequada compreensão do que restou decidido na ADI 1570, é necessário


atentar para as várias modalidades de sigilo que eram objeto do 3º Lei 9.034/95:
bancárias, financeiras, fiscais e eleitorais.
A LC 105/01 regulamenta o sigilo bancário e financeiro, inclusive sua quebra.
No que diz respeito ao sigilo bancário e financeiro, o STF entendeu prejudicada a ADI
1570.
Quanto ao sigilo fiscal e eleitoral é que o STF declarou a inconstitucionalidade
do 3º Lei 9.034/95: o juiz não pode realizar pessoalmente busca e apreensão de
documentos relacionados ao pedido de quebra de sigilo porque comprometeria o princípio
da imparcialidade e, consequentemente, violaria o devido processo legal. Deixou
expresso, também, que as funções de investigador e inquisidor são conferidas pela CR/88
ao Ministério Público e às Polícias Federal e Civil (129, I e VIII e § 2º; e 144, § 1º, I e IV, e
§ 4º, CR/88) e que a realização de inquérito é função que a Constituição reserva à polícia,
não ao juiz.
Por essas razões, o dispositivo viola o sistema acusatório, pois atribui ao juiz a tarefa de
colher provas fora do processo, agindo de ofício (reunião, na figura do juiz inquisidor, das funções
de acusar, defender e julgar):

Sistema inquisitorial Sistema acusatório


Concentração de poder no juiz: recolhe Juiz não pode produzir provas de ofício durante a
prova de ofício e determina a sua produção. fase pré-processual, pois é mero garante das
“regras do jogo”.
Realizado sem as garantias do devido Liberdade de defesa, contraditório e igualdade das
processo legal: o acusado é mero objeto de partes: o acusado é sujeito de direitos na
investigação. investigação e no processo .
Não há separação das funções, Separação entre os órgãos de acusação, defesa e
prejudicando-se a imparcialidade do julgamento, criando-se um processo de partes.
julgador.

4.9 VEDAÇÃO DE JUIZ INQUISIDOR E NOVA REDAÇÃO DO 155 CPP

A Lei 11.690/08 conferiu nova redação ao 155 CPP: O juiz formará sua convicção
pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo
fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Portanto, há que se distinguir entre (1) prova e (2) elementos informativos:

Elementos Provas
investigativos
Produzidos na fase Obtida na fase judicial
investigatória
Produzidos sem Produzidos com contraditório e com ampla defesa.
contraditório e sem Exceção: nas provas cautelares (ex. busca e apreensão), não repetíveis
ampla defesa. (ex. portão arrombado) e antecipadas (ex. oitiva de um idoso), ocorre o
contraditório diferido. Nesse sentido, é de se observar o 156 CPP, que
traz a figura do juiz inquisidor: o juiz pode ordenar, de ofício, mesmo
antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida.
Crítica: o exercício de tal faculdade prejudica a imparcialidade do
magistrado e viola o sistema acusatório.

5. INTERCEPTAÇÃO E CAPTAÇÃO AMBIENTAL

5.1 Conceito

Gravação Interceptação Ambiental Escuta Ambiental


É a captação feita É a captação da conversa entre dois ou É a mesma captação feita por um
pelo próprio mais interlocutores por um 3º que esteja 3º com o consentimento de um
interlocutor. no mesmo local ou ambiente em que se ou de alguns interlocutores.
dá a conversa.

5.2 Previsão legal

Trata-se de TEI prevista no seguinte diploma legal:

Art. 3°, II da Lei 12850/13:

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de


outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:

II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;

6 INFILTRAÇÃO DE AGENTES DE POLÍCIA E DE INTELIGÊNCIA NO GRUPO CRIMINOSO

6.1 Conceito

Agente infiltrado (undercover agent): pessoa integrante da estrutura dos serviços


policiais que é introduzida dentro de uma organização criminosa, ocultando-se sua
verdadeira identidade e tendo como finalidade a obtenção de informações para que seja
possível a sua desarticulação.

Natureza jurídica: meio de obtenção de provas.

Portanto, a infiltração de agentes é a infiltração de agentes do Estado na organização


criminosa.
Antes, poderia haver a infiltração de agentes de inteligência ou da polícia. A lei nova (Lei
12850/13) diz que os agentes de polícia trabalharão na tarefa de agentes infiltrados. Só podem ser
infiltrados os agentes previstos no art. 144 da CF (polícia federal e civil). O MP pode requisitar
agente infiltrado, mas a polícia vai ter que ser consultada sobre isso. Ela que vai dizer se é viável ou
não a diligência. O agente pode se recusar a se infiltrar.

E se o agente infiltrado tiver que praticar crimes? Antes existiam quarto correntes: 1)
inexigibilidade de conduta diversa; 2) não é punível; 3) estrito cumprimento do dever legal; 4) não
há dolo. A melhor tese é a da inexigibilidade de conduta diversa. A lei adotou a inexigibilidade da
conduta diversa.

Art. 13. Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo
agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.

O agente pode ter sua identidade alterada. Obs.: Haverá crime na revelação da identidade do
colaborador. Não haverá crime na revelação de identidade de agente infiltrado.

Art. 14. São direitos do agente:

II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da


Lei no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a
testemunhas;

6.2 Previsão legal

Trata-se de TEI prevista nos seguintes diplomas legais:

Art. 10 e ss da Lei 12850/13:

Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação,


representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após
manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito
policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que
estabelecerá seus limites.

Art. 53 I Lei 11.343/06:

Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei,
são permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o
Ministério Público, os seguintes procedimentos investigatórios: I - a infiltração por agentes
de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos especializados
pertinentes;

6.3 Requisitos

6.3.1 Circunstanciada autorização judicial (10 da Lei 12850/13 e 53 I da Lei 11.343/06).

7. DELAÇÃO PREMIADA

7.1 Direito premial: gênero e espécies:


Para Luiz Flávio Gomes, “direito premial” é o gênero do qual colaboração (não
necessita apontar o comparsa) e delação (necessita apontar o comparsa) premiada são
espécies.
Paulo José Baltazar Jr. prefere denominar todas as espécies de “colaboração
premiada”, a fim de evitar uma abordagem negativa do instituto em função de sua pretensa
imoralidade.

7.2 Críticas ao instituto

7.2.1 Viola direitos fundamentais:

As Ordenações Filipinas se apresentam como a primeira norma brasileira que previu a


delação premiada, nos crimes contra a Coroa. Posteriormente, foi considerada lesiva aos direitos
fundamentais e olvidada. A partir da “Operação Mãos Limpas”, voltou a ter prestígio ao ser
utilizada com o objetivo de atacar a organização mafiosa, mesmo sabendo que se estava
comprometendo direitos fundamentais. A defesa do mecanismo é meramente formal, sendo
criticado por violar o princípio fundamental da ampla defesa e quebrar o valor social de condenação
à delação: corre-se o risco de criar uma geração de alcagüetas, ao incutir no meio social a idéia de
que dedurar é bom, útil.

7.2.2 Não protege suficientemente o colaborador:

Apesar de, no Brasil, a colaboração premiada ser utilizada principalmente no combate à


macrocriminalidade, a legislação confere ao juiz a mera faculdade de diminuir a pena: o delator
pode se submeter e mesmo assim ser condenado sem qualquer redução em sua pena, caso o juiz
venha a entender que a colaboração foi insuficiente. Assim, exporia demasiadamente a perigo a vida
do colaborador.

7.2.3 Previsão legal:

Lei 8250/13:

Art. 8o Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou


administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada,
desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se
concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.

§ 1o O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente


comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e
comunicará ao Ministério Público.

§ 2o A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter


informações que possam indicar a operação a ser efetuada.

§ 3o Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao


Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das
investigações.
§ 4o Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação
controlada.

Art. 9o Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da


intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das
autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de
modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do
crime.

Obs.: é crime revelar identidade de colaborador:

Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia
autorização por escrito:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

7.3 As várias espécies de delação premiada no Direito brasileiro

A seguir, consta um quadro com os principais elementos caracterizadores de cada


uma das espécies de delação premiada no Direito brasileiro, relacionadas a partir da data
de sua inserção no OJ brasileiro.

Data de
inserçã
Fundamento Natureza
o no OJ Crime Beneficiário Requisitos Benefícios
legal jurídica
brasileir
o
Quadrilha
em
Redução de Causa de
hediondos, Participante Desmantelamento do
1990 8º Lei 8072/90 pena: 1/3 a diminuição
tortura, Associado bando/quadrilha
2/3 de pena
tráfico,
terrorismo
1) revelar toda a trama Redução de Causa de
crimes X 25 § 2º Lei Coautor
1995 delituosa pena: 1/3 a diminuição
SFN 7492/86 Partícipe
2) confissão espontânea 2/3 de pena
crimes X 16
ordem parágraf
1) revelar toda a trama Redução de Causa de
tributária- o único Coautor
1995 delituosa pena: 1/3 a diminuição
econômica- Lei Partícipe
2) confissão espontânea 2/3 de pena
relações de 8137/90
consumo
extorsão Redução de Causa de
Libertação do
1996 mediante 159 § 4º CP Concorrente pena: 1/3 a diminuição
sequestrado
seqüestro 2/3 de pena

- Redução
- Causa
- Colaboração de pena:
de
"Lavagem" espontânea 1/3 a 2/3;
diminuição
ou - ou apuração das -
Autor de pena
Ocultação 1º § 5º Lei infrações penais+ Cumprimen
1998 Coautor - causa
de Bens, 9613/98 autoria to da pena
Partícipe extintiva
Direitos e - ou localização dos em regime
da
Valores bens, direitos ou valores aberto ou
punibilidad
objeto do crime semiaberto;
e
- perdão
judicial;
-
substituição
da PPL por
PRD, a
qualquer
tempo.
- primariedade;
- colaboração
efetiva/ voluntária
q resulte em:
a) identificação
co-
- causa
autores/partícipe
extintiva
s; Perdão
13 Lei 9807/99 Acusado da
b) localização da judicial
punibilidad
vítima +
e
integridade
física
Proteção preservada;
aos réus c) recuperação
1999
colaborador total/parcial do
es produto do crime
- colaboração
voluntária q
resulte em:
a) identificação
Se
demais
condenado: Causa de
Indiciado coautores/partíci
14 Lei 9807/99 redução de diminuição
Acusado pes;
pena: 1/3 a de pena
b) localização da
2/3
vítima + vida;
c) recuperação
total/parcial do
produto do crime
Colaboração efetiva de - Causa
que resulte: - extinção de
PF/PJ - identificação demais da ação diminuição
2000 autoras de coautores punitiva de pena
Infrações X Art. 86, Lei
Alterada infração à - obtenção informações - redução - causa
ordem econ 12.529/11
em 2011 ordem e documentos que de 1/3 a 2/3 extintiva
econômica comprovem a infração da da
- requisitos do art. 86, § penalidade punibilidad
1º Lei 12.529/11 e
- colaboração
voluntária q
resulte em:
Se
a) identificação
condenado: Causa de
41 Lei Indiciado demais
2006 Drogas redução de diminuição
11343/06 Acusado coautores/partíci
pena: 1/3 a de pena
pes;
2/3
b) recuperação
total/parcial do
produto do crime

7.4 Questões procedimentais

Feita com a anuência do juiz, que até pode propô-la diretamente. O advogado do delatado
deve participar desse interrogatório: garantia do contraditório.

7.5 Questões resolvidas pela jurisprudência


7.5.1 Impossibilidade de condenação amparada exclusivamente na delação dos corréus

A delação, por si só, não basta para condenação, sendo necessário juntá-la com outros
elementos de prova, conforme entendimento do STF:

HABEAS CORPUS. INTERROGATÓRIOS DOS CO-RÉUS, NOS QUAIS O


PACIENTE TERIA SIDO DELATADO. ATOS REALIZADOS SEM PRESENÇA DO
DEFENSOR DO PACIENTE. APLICAÇÃO RETROATIVA DA LEI N. 10.792/03:
IMPOSSIBILIDADE. VÍCIOS NÃO RECONHECIDOS. CONDENAÇÃO AMPARADA
EXCLUSIVAMENTE NA DELAÇÃO DOS CO-RÉUS: IMPOSSIBILIDADE. ORDEM
CONCEDIDA. (HC 94034, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma,
julgado em 10/06/2008)

Se de um lado a delação, de forma isolada, não respalda condenação, de outro serve ao


convencimento quando consentânea com as demais provas coligidas.

COMPETÊNCIA - HABEAS-CORPUS - ATO DE TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Na dicção da


ilustrada maioria (seis votos a favor e cinco contra), em relação à qual guardo reservas,
compete ao Supremo Tribunal Federal julgar todo e qualquer habeas-corpus impetrado
contra ato de tribunal, tenha este, ou não, qualificação de superior. PROVA - DELAÇÃO -
VALIDADE. Mostra-se fundamentado o provimento judicial quando há referência a
depoimentos que respaldam delação de co-réus. Se de um lado a delação, de forma isolada,
não respalda condenação, de outro serve ao convencimento quando consentânea com as
demais provas coligidas. (STF, HC 75226, Rel. Min. Marco Aurélio, 2ª Turma, unânime, DJU
de 19/09/1997, p. 45528).

7.5.2 Pessoalidade do benefício

O benefício auferido a partir da delação de um corréu não se estende aos demais


agentes, pois se trata de um benefício pessoal.

7.5.3 Sigilo do conteúdo da delação premiada, mas possibilidade de conhecimento dos


nomes das autoridades que propuseram ou homologaram o acordo

PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ACORDO DE COOPERAÇÃO.


DELAÇÃO PREMIADA. DIREITO DE SABER QUAIS AS AUTORIDADES DE
PARTICIPARAM DO ATO. ADMISSIBILIDADE. PARCIALIDADE DOS MEMBROS DO
MINISTÉRIO PÚBLICO. SUSPEITAS FUNDADAS. ORDEM DEFERIDA NA PARTE
CONHECIDA. I - HC parcialmente conhecido por ventilar matéria não discutida no tribunal
ad quem, sob pena de supressão de instância. II - Sigilo do acordo de delação que, por
definição legal, não pode ser quebrado. III - Sendo fundadas as suspeitas de impedimento das
autoridades que propuseram ou homologaram o acordo, razoável a expedição de certidão
dando fé de seus nomes. IV - Writ concedido em parte para esse efeito.
(HC 90688, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em
12/02/2008)

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