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DIREITO AO ESQUECIMENTO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO // RIGHT TO


OBLIVION IN THE INFORMATION SOCIETY

Conference Paper  in  Nature · August 2015

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2 authors:

Marília Bachi Comerlato Marcelo Negri Soares


UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados Centro Universitário de Maringá
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DIREITO AO ESQUECIMENTO
NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
RIGHT TO OBLIVION IN THE
INFORMATION SOCIETY

IV Congresso Nacional da FEPODI


Artigo aprovado em 22/08/15 20:47

GT DIREITO E NOVAS TECNOLOGIAS.


Autor(es):

 Dr. Marcelo Negri Soares


 Ma. Marília Bachi Comerlato

Resumo: Este trabalho visa a reflexão e análise acerca do Direito ao Esquecimento, especialmente na
Sociedade da Informação. Apesar de não haver dispositivo legal específico que dele o trate, o referido direito
é recepcionado pela Constituição Federal, pela Doutrina e Jurisprudência brasileira. O Direito ao Esquecimento
se diferencia dos demais conflitos que envolvem os princípios constitucionais da liberdade de expressão e da
privacidade, principalmente pelo fator tempo, requisito indispensável para sua configuração e reconhecimento.
Este estudo, com esteio no método hipotético-dedutivo, foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica e
documental. O trabalho não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas busca instigar reflexões e indagações
sobre o Direito ao Esquecimento e a influência da Sociedade da Informação na resolução de conflitos dele
decorrentes.

Palavras-chave: Direito Constitucional; Direito ao Esquecimento; Sociedade da Informação

Abstract: This work aims to reflection and analysis about the Right to Oblivion, especially in the Information
Society. Although there is no specific legal provision, that right is received by the Federal Constitution, by the
Brazilian Doctrine and Jurisprudence. The Right to Oblivion is different from other conflicts involving the
constitutional principles of freedom of expression and privacy, especially by the time factor, indispensable
requirement for your configuration and recognition. This study, with mainstay in the hypothetical-deductive
method, was conducted from bibliographical and documentary research. The work does not pretend to exhaust
the subject, but seeks to instigate reflections and questions on the Right to Oblivion and the influence of the
Information Society in the conflict resolution arising.

Keywords: Constitutional Law; Right to Oblivion; Information Society

SUMÁRIO: 1. Introdução 2. Desenvolvimento 3. Considerações Finais 4. Referências.


2

1. Introdução

A forte presença e popularização dos computadores, da informática e da Internet na


sociedade contemporânea contribuíram imensuravelmente para a transformação da realidade
mundial, e, ainda que de maneira indireta, todos os setores da sociedade sofreram alguma
mudança em razão dessas tecnologias. Com o Direito, enquanto ciência social aplicada, não
foi diferente; o Poder Judiciário se adaptou consideravelmente a essas transformações, seja
no âmbito informático, seja em relação às demandas apreciadas. E o Poder Legislativo, ainda
que a passos vagos, está em plena tentativa de acompanhamento dessas transformações,
criando e modificando normas que sejam capazes de abranger as exigências atuais.

As facilidades e qualidades advindas da rede mundial de computadores são


inumeráveis. No entanto, é necessário observar que essa tecnologia acarretou também a
amplificação de alguns problemas antes existentes, bem como o surgimento de novas
circunstâncias que merecem atenção.

Uma dessas situações merecedoras de maior reflexão, tema do presente estudo, é o


paradoxo das incontáveis vantagens decorrentes da facilidade de acesso e promoção da
informação e a excessiva exposição do indivíduo, que possibilita que situações pretéritas e
já consolidadas sejam rememoradas e acometam novamente os personagens envolvidos
nesses eventos superados. A questão espaço-tempo tomou proporções nunca antes atingidas,
e os efeitos dessa Sociedade da Informação, por enquanto, não são totalmente conhecidos,
tendo em vista que ainda não há uma geração que nasceu, cresceu e se desenvolveu nessas
circunstâncias. Como assevera Paulo José da Costa Jr.1:

O legislador caminha sempre com o passo trôpego. Avança com vagar.


Mais lentamente que os fatos sociais, que evoluem vertiginosamente,
reivindicando normas e providencias. Surgem assim os valores novos, que
vão avante das leis, desprotegidos, a reclamar tutela. [...] A tarefa de
renovação é ininterrupta.

Assim, a reflexão acerca do Direito ao Esquecimento é de grande importância,

1
COSTA Júnior, Paulo José da. O direito de estar só: tutela penal da intimidade. 4. ed. ver. atual. - São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 09.
3

pois tenta auxiliar o sistema jurídico a acompanhar os fatos sociais. Ainda que os efeitos
desse direito também sejam somente deduzíveis, o esforço é para torná-los os mais eficazes
possíveis.

O controle das informações expostas na Internet2 é algo extremamente sensível,


pois, se exacerbado, acarreta o risco de censura, fator indiscutivelmente prejudicial para a
democracia; se muito brando, importa na exposição excessiva dos indivíduos e sua
intimidade, que é uma afronta à dignidade da pessoa humana por vezes irreparável. O
confronto entre os direitos constitucionais da liberdade de expressão e da proteção da
privacidade são muito peculiares, sendo, geralmente, resolvidos somente diante do contexto
do caso concreto, por meio da ponderação dos princípios constitucionais que consista no
menor sacrifício ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Assim, o texto tem como objetivo geral a análise dos efeitos que a Sociedade da
Informação pode acarretar sobre o direito de liberdade de expressão, tendo como baliza
constitucional interpretativa o direito à privacidade, à intimidade e, sobretudo, o princípio da
dignidade da pessoa humana. O método utilizado para desenvolvimento do presente trabalho
é o hipotético-dedutivo, realizado por meio de análise de jurisprudências, artigos científicos,
doutrina, legislação nacional e internacional, a fim de promover uma discussão razoável e
fundamentada.

2. Desenvolvimento

O Direito ao Esquecimento certamente não é um tema novo na doutrina


jurídica, suas raízes vêm do direito norte-americano, alemão e, em nosso país, no direito
penal, atrelado às funções da pena, especificamente na ressocialização do apenado e no
instituto da reabilitação, com respaldo nos direitos e princípios constitucionais, como o
direito à liberdade de expressão, privacidade, intimidade e dignidade da pessoa humana.

Dessa forma, o Direito ao Esquecimento, em sua essência, significa que fatos


pretéritos não precisam ser lembrados para sempre. Esse é o conceito mais puro e

2
Internet (Inter Communication Network) é uma rede internacional de computadores que se comunicam entre
si por meio de uma linguagem informática, enviando pacotes de informações de que fazem parte os
endereços virtuais do remetente e do destinatário.
4

simplificado do referido direito, que é um desdobramento do direito à privacidade e à


intimidade, previstos na Constituição Federal. Desde logo, é importante observar a expressão
"precisam" ao invés de "devem". A escolha é apurada, pois denota a subjetividade desse
direito, tendo em vista que faz referencia à necessidade da aplicação do Direito ao
Esquecimento, e não à obrigação, como será demonstrado no decorrer do
texto.

Em outras palavras, o conceito do direito em questão pode ser entendido como a


faculdade de um indivíduo requerer que determinadas informações a seu respeito sejam
apagadas ou omitidas e não mais mencionadas.

Nesse sentido, a edição do Enunciado 531 da VI Jornada de Direito Civil,


promovida pelo Conselho da Justiça Federal em 2013, é uma orientação doutrinária com
base na interpretação do Código Civil e especifica o direito de ser esquecido entre os direitos
da personalidade, nos seguintes termos:

ENUNCIADO 531 - A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade


da informação inclui o direito ao esquecimento.
Artigo: 11 do Código Civil
Justificativa: Os danos provocados pelas novas tecnologias da informação
vêm-se acumulando nos dias atuais. O direito ao esquecimento tem sua
origem histórica no campo das condenações criminais. Surge como parcela
importante do direito do ex-detento à ressocialização. Não atribui a
ninguém o direito de apagar fatos ou reescrever a própria história, mas
apenas assegura a possibilidade de discutir o uso que é dado aos fatos
pretéritos, mais especificamente o modo e a finalidade com que são
lembrados.

De acordo com a própria justificativa do Enunciado aprovado, o Direito ao


Esquecimento "não atribui a ninguém o direito de apagar os fatos ou reescrever a própria
história", pretende, tão somente, assegurar a oportunidade de se questionar como os fatos
pretéritos serão tratados, "mais especificamente o modo e a finalidade com que serão
lembrados". Em outras palavras, confirma a possibilidade de não mais se mencionar um fato,
nem fazer nova notícia ou referência a uma situação ocorrida no passado, diante de
concludente impertinência temporal.

O tema possui seu cerne na Constituição Federal, tendo em vista que nada mais é
do que um complexo confronto entre o direito à privacidade, à intimidade e o direito à
informação, à liberdade de expressão. A ponderação destes direitos já é peculiar por si só,
5

no entanto, o contexto atual da Sociedade da Informação trouxe responsabilidade ainda


maior sobre a resolução de demandas com esse teor.

Dessa forma, o texto parte da premissa, brevemente demonstrada, de que o Direito


ao Esquecimento é constitucional. Nesta esteira, por ser um direito que, apesar de "antigo",
é pouco desenvolvido, pretende-se aprofundar o tema proposto para chegar ao mais próximo
de uma solução teórica e efetiva possível, considerando a sensível particularidade de cada
caso concreto, por meio da ponderação de valores, de modo razoável e proporcional,
observando os direitos fundamentais e as regras já existentes sobre a proteção à intimidade
e à imagem, bem como sobre a censura e livre manifestação do pensamento.

Sobretudo, para melhor compreensão do tema, é importante entender a origem e a


evolução histórica do Direito ao Esquecimento, pois sua aplicação e seus fundamentos não
são novos. No entanto, por ter sido pouco discutido até aqui, e principalmente considerando
os novos fatores que influenciam nos antigos pensamentos sobre o assunto, a tese ainda não
é pacífica.

Muito já se explorou sobre o direito à privacidade, e da mesma forma sobre a


liberdade de expressão. No entanto, sobre o Direito ao Esquecimento enquanto maneira de
ponderar essas duas prerrogativas quando relacionadas a fatos pretéritos, ainda carece de
atenção.

A necessidade de não perpetuar acontecimentos do passado pelos quais o sujeito já


cumpriu a sentença imposta pelo Estado, ou que está prestes a concluí-la, ensejaram o
pensamento sobre a ressocialização do apenado, e posteriormente a reflexão a respeito do
Direito ao Esquecimento. No entanto, a proposta não se restringe ao âmbito criminal.

O ano de 1890, nos Estados Unidos, considera-se, até aonde se tem notícia, como a
data da primeira publicação de artigo de revisão da lei cujo conteúdo abordava o direito à
privacidade, tratando-o como um "direito de ser deixado em paz", em inglês "right to be
alone", com admirável propriedade e fundamentação que perduram no tempo, tanto é que
6

seus autores, Louis Brandeis e Samuel Warren3, são ainda muito citados quando o assunto é
privacidade.

Já a primeira notícia que se tem de um julgamento cujo teor era um embate


entre os direitos da personalidade e a liberdade de expressão, cuja essência da pretensão seria
realmente um direito de ser esquecido e não uma questão corriqueira de privacidade ocorreu
tão somente em 1973 e foi decidido pelo Tribunal Constitucional Federal da Alemanha. As
tentativas de conseguir em juízo uma medida liminar capaz de impedir a divulgação e
exposição de um documentário que retratava um crime e expunha um dos autores que estava
prestes a sair em liberdade, foram primeiramente negadas, no entanto, a partir de Reclamação
Constitucional, o Tribunal Constitucional Federal da Alemanha julgou procedente e
reconheceu a violação do direito de desenvolvimento da personalidade e, que o impedimento
da transmissão do documentário pelo menos até decisão final do processo seria, por essa
razão,
justificado.4

Em maio de 2014, o Tribunal de Justiça da União Europeia também enfrentou a


tese, porém, sua decisão está longe de encerrar o assunto. Diante de uma situação que
envolvia um pedido de retirada de informações pessoais da rede, sobre um anúncio de venda
de imóveis em hasta pública decorrente de arresto com vista à recuperação de dívidas à
Seguridade Social, noticiado em um jornal local, respectivamente em 19 de janeiro e 09 de
março de 1998 e posteriormente digitalizado, ocasionou que, quando se procurava pelo nome
do recorrente nos mecanismos de busca, os links denunciavam o ocorrido, um evento único
e há muito superado que manchavam a reputação do
recorrente.

A decisão do processo C-131/12 na Corte de Justiça da União Europeia, por sua vez,
reconheceu que qualquer pessoa tem o Direito ao Esquecimento, e, dessa forma, concedeu
autoridade para o Google, e mecanismos de buscas, determinarem quando acatar o pedido

3
BRADEIS, Louis D.; WARREM, Samuel D. The right to privacy. Disponível em
<HTTP://groups.csail.mit.edu/Mac/classes/6.805/articles/privacy/Privacy_brand_warr2.html> Acesso em
agosto de 2015.
4
SCHWABE, Jürgen. 50 anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão. Org. e trad. Leonardo
Martins e outros. Uruguai: Ed. Konrad-Adenauer-STIPTUNG E.V., 2005.
7

do solicitante, que o faz diretamente. Recomendou-se, ainda, que se tenha cautela quando o
requerente se tratar de figura pública.5

Vale ressaltar que a decisão é tão somente para excluir a notícia do resultado da
pesquisa nos sites de buscas, e não de onde originalmente está hospedada; ainda, que é válida
para todo o território da União Europeia, assim, se a busca for feita em território alheio a
essa determinação, é possível que a informação ainda seja encontrada. O que possibilita a
reflexão sobre: o que é território significativamente importante para uma pessoa na
Sociedade da Informação? E se fosse a respeito de uma empresa com reputação
internacional? Isso só corrobora, entre outros questionamentos possíveis, que a decisão não
é suficiente para esgotar o tema. Contudo, esses desdobramentos serão refletidos com maior
profundidade em momento oportuno.

As mudanças da revolução tecnológica desde o surgimento do computador e, em


especial, da Internet, não são exclusividade da sociedade brasileira. O impacto mundial
proporcionou diferentes raciocínios a respeito de situações semelhantes; assim, a experiência
estrangeira é um recurso que pode acrescentar noções à construção do entendimento
brasileiro.

A rede mundial de computadores não reverencia limites e fronteiras, sistematizada


de tal forma, tem a mesma essência e função onde quer que seja acessada. Assim, os efeitos
colaterais não se distinguem muito de um país para o outro; contudo, as soluções respeito
deles são muitas vezes diferentes. Observar o raciocínio e a argumentação utilizada sempre
é uma contribuição, ainda que seja para tomar conhecimento que o resultado proporcionado
não é o desejado.

Há, ainda, outras decisões judiciais - não menos importantes - que devem ser
consideradas para o razoável desenvolvimento do tema proposto. Como os Recursos
Especiais números 1.335.153 – RJ6 e 1.334.097 - RJ7, que discutiram diretamente o

5
BRASIL. Disponível em <http://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/5/art20140514-04.pdf> Acórdão do
Tribunal de Justiça. Acesso em agosto de 2015.
6
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 1.335.153 - RJ.
7
BRASIL, Acórdão do Superir Tribunal de Justiça. Disponível em:
<http://s.conjur.com.br/dl/direitoesquecimento-acordao-stj.pdf>. Acesso em agosto de 2015.
8

Direito ao Esquecimento. Os dois mencionados processos, julgados pelo Superior Tribunal


de Justiça, são indiscutivelmente considerados fundamentais para o pensamento a respeito
do Direito ao Esquecimento no Brasil, senão no mundo.

Apesar disso, é possível encontrar decisões que não tratem exatamente do Direito
ao Esquecimento, mas que envolvem também o conflito entre os princípios constitucionais
da liberdade de expressão e da privacidade, que se tornam importantes fontes para reflexão
sobre o assunto e apontam argumentos a ser considerados para a lapidação do direito de ser
esquecido, a fim de proporcionar segurança jurídica diante das possíveis e futuras violações.
A título de exemplo, a Reclamação nº 18.685/ES, cujo Relator é o Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, a Reclamação nº 5.027/AC, de relatoria da Ministra Nancy Andrighi, o Habeas
Corpus nº 284.307/SP, o Habeas Corpus nº 256.210 impetrado no Superior Tribunal de
Justiça, e o Processo Digital nº 1102375-05.2013.8.26.0110, julgado pelo Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, de autoria do candidato a Presidente da República nas eleições de
2014, Aécio Neves da Cunha; entre outros.

Assim, o desenvolvimento do estudo do Direito ao Esquecimento pode servir de


modelo para firmar soluções para problemas correlatos, isso porque o direito subjetivo do
indivíduo requerer que sejam apagadas, omitidas ou simplesmente não mais mencionadas
determinadas informações a seu respeito é especificação de uma das aplicações do princípio
geral constitucional da liberdade de expressão e da privacidade.

3. Considerações finais

A Internet é um produto que, por sua vez, oferece inúmeros outros produtos e
atividades. Desde que exista procura haverá demanda. Todavia, impulsionou o consumo de
informação, que tomou status de objeto de negociações das mais variadas formas. E aqui
podemos observar a atual e peculiar importância do Direito ao Esquecimento novamente.
Rodotà, a respeito da privacidade, alerta: "menos privacidade, mais segurança' é uma receita
falsa. [...] A vigilância não conhece fronteiras". E pede para que se tenha mais atenção quanto
a situações que aparecem como inócuas ou benéficas, em princípio bem-intencionadas, mas
que sua exploração em demasia pode colocar o âmago do ser humano em questão. Neste
mesmo sentido, registra Podestá:
9

Pela própria condição inerentemente evolutiva do homem, inviável negar


que o mundo atual proporciona facilidades incomensuráveis se
compararmos com o tempo de nossos antepassados, a demonstrar de
maneira inequívoca que o progresso é algo inato ao ser humano. (...) A
maior preocupação que se verifica com relação ao referido avanço, não está
essencialmente ligada às facilidades que se pode propiciar a vida diária,
mas descaracterizar a própria essência do ser humano. 8

A análise do conflito entre liberdade de informação e privacidade, por quaisquer


que sejam os meios e as formas utilizadas (que inclui as práticas no uso da Internet e o Direito
ao Esquecimento), não poderá ter uma solução estática e absoluta como uma fórmula geral
prévia, tendo em vista que o contexto único dos fatos é que indicará qual a decisão mais
razoável e menos prejudicial à dignidade da pessoa humana. O ser humano é imprevisível,
por mais padrões que se possam constatar, e por se tratarem de direitos que envolvem a vida
social diretamente, qualquer taxatividade é falha desde a origem.

O princípio da unidade dos direitos fundamentais nada mais é do que a união e a


harmonia dos preceitos essenciais, cujo respeito é, acima de tudo, a tênue linha que guia a
técnica da ponderação. A proteção à pessoa humana não deve ser fragmentada, e por vezes
a solução não será dogmática, mas deverá ser necessariamente sempre fundamentada e
almejar o menor sacrifício possível.

Independentemente de qualquer convenção ou contrato social, "esquecer e


lembrar" faz parte do ciclo natural e biológico do ser humano, cujos parâmetros de memória
e esquecimento também são indetermináveis e dependem de pessoa para pessoa. Dessa
forma, o Direito ao Esquecimento segue essa mesma linha, e dificilmente um dia todo o
conhecimento a seu respeito será esgotado.

Por fim, o artigo a ser desenvolvido com base nesta prévia apresentação não terá a
intenção de esgotar o tema, que, como visto, é vasto, denso e intenso, mas tão somente
fomentar a discussão e a reflexão sobre o Direito ao Esquecimento.

8
PODESTÁ, Henrique. Direito à intimidade em ambiente da internet. LUCCA, Newton de; SIMÃO Filho,
Adalberto. (coord.) Direito & Internet - aspectos jurídicos relevantes. Bauru, SP: ADIPRO, 2000. p. 155.
10

4. Referências bibliográficas

BARROSO, Luís Roberto. A dignidade da pessoa humana no direito constitucional


contemporâneo: a construção de um conceito jurídico à luz da jurisprudência mundial. Belo
Horizonte: Forum, 2013.

BRANDEIS, Louis D.; WARREM, Samuel D. The right to privacy. Disponível em


<http://groups.csail.mit.edu/mac/classes/6.805/articles/privacy/Privacy_brand_warr2.ht
ml> acesso em agosto de 2015.

BRASIL. Acórdão do Superior Tribunal de Justiça. Disponível em:


<http://s.conjur.com.br/dl/direito-esquecimento-acordao-stj.pdf>. Acesso agosto de 2015.

______. Acórdão do Tribunal de Justiça da União Europeia - Grande Secção. Disponível em


<http://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/5/art20140514-04.pdf> Acesso em agosto de
2015.

______. Conselho da Justiça Federal. VI Jornada de Direito Civil. Enunciado 531.


Disponível em: <http://www.cjf.jus.br/cjf/CEJ-Coedi/jornadas-cej/vijornada.pdf> Acesso
em agosto de 2015.

______. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Diário


Oficial da União. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso
em agosto de 2015.

______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.335.153 - RJ Disponível


em<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&se
quencial=36170660&num_registro=201100574280&data=20140801&tipo=91&format
o=PDF> Acesso em agosto de 2015.

______. ______. Recurso Especial nº 1.334.097-RJ. Disponível em


<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&seque
ncial=29381336&num_registro=201201449107&data=20130910&tipo=91&formato=P
DF> Acesso em agosto de 2015.

COSTA Júnior, Paulo José da. O direito de estar só: tutela penal da intimidade. 4. ed.
rev. e atual. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

MARTINEZ, Pablo Dominguez. Direito ao esquecimento: A proteção da memória


individual na sociedade da informação. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, 2014.

PAESANI, Liliana Minardi (coord.). O direito na sociedade da informação. São Paulo:


Atlas, 2007.

PODESTÁ, Henrique. Direito à intimidade em ambiente da internet. LUCCA, Newton de e


Simão Filho, Adalberto (coordenadores) e outros. Direito & Internet- aspectos jurídicos
relevantes. Bauru, SP: EDIPRO, 2000.
11

RODOTÀ, Stéfano. A vida na sociedade da vigilância - a privacidade hoje. Organização,


seleção e apresentação de Maria Celina Bodin de Moraes. Tradução: Danilo Doneda. Rio de
Janeiro: Renovar, 2008.

ROSSINI, Augusto Eduardo de Souza. Breve ensaio sobre a tutela punitiva na


Sociedade da Informação, suas esferas de proteção e recentes conquistas. In: PAESANI,
Liliana Minardi (coord.). O direito na sociedade da informação II. São Paulo: Atlas, 2009.

SCHWABE, Jürgen. 50 anos de jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão.


Organização e tradução: Leonardo Martins e outros. Uruguai: Ed. Konrad-
AdenauerSTIPTUNG E.V., 2005.

UNIÃO EUROPEIA. Tribunal de Justiça (Grande Seção) da Corte de Justiça da União


Europeia. Processo C-131/12. Disponível em
<http://www.migalhas.com.br/arquivos/2014/5/art20140514-04.pdf>. Acesso em agosto de
2015.

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