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Como citar este artigo: Barreto ES, Oliveira JS, Araújo AJS,

Queiroz PES, Schulz RS. Redução da mortalidade materna e


atuação do enfermeiro. Rev Enferm Contemp. 2018;7(1):20-26.
doi: 10.17267/2317-3378rec.v7i1.1370
Artigo original

Redução da mortalidade materna e atuação do enfermeiro


Reduction of maternal mortality and the nurse’s acting

Élida de Souza Barreto1, Juliana de Souza Oliveira2, Anne Jacob de Souza Araújo1,
Paula Elis de Souza Queiroz1, Renata da Silva Schulz1
1
Centro Universitário Jorge Amado. Salvador, Bahia, Brasil.
elidabarreto12@hotmail.com, annejacob@hotmail.com, paulaelis_@hotmail.com, renata.s.schulz@gmail.com
2
Autora para correspondência. Centro Universitário Jorge Amado. Salvador, Bahia, Brasil. juliana.soliveir@gmail.com

RESUMO | INTRODUÇÃO: De acordo com Sistema de In- ABSTRACT | INTRODUCTION: According to the Sistema
formações sobre Mortalidade (SIM), no Brasil entre 2004- de Informação sobre Mortalidade (SIM), in Brazil between
2014 houveram 18.364 óbitos maternos. Com isso, o Mi- 2004-2014 there were 18.364 maternal deaths. Thus,
nistério da Saúde (MS) tem adotado, ao longo dos anos, the Ministry of Health (MS) has adopted, over the years,
políticas que visam à melhoria da saúde da mulher. OB- policies aimed at improving women health. OBJECTIVE:
JETIVO: Avaliar os índices de mortalidade materna em To evaluate the maternal mortality rates in Salvador and
Salvador e na Bahia e descrever como o enfermeiro pode Bahia and describe how the nurse can act in the reduction
atuar na redução desses índices. METODOLOGIA: Trata- of these indices. METHODOLOGY: This is an ecological,
-se de uma pesquisa ecológica, descritiva de abordagem descriptive, quantitative approach, with information
quantitativa, com informações coletadas sobre a mortalida- collected on maternal mortality in Salvador and Bahia in
de materna em Salvador e Bahia nos últimos dez anos, por the last ten years, through DATASUS. RESULTS: In Bahia,
meio do DATASUS. RESULTADOS: Na Bahia, segundo os ca- according to reported cases of maternal mortality, 1,764
sos notificados de mortalidade materna foram registrados maternal deaths were registered in 2004 to 2014. In
1.764 óbitos maternos nos anos de 2004 a 2014. Em Sal- Salvador, 2004 had the lowest maternal mortality rate
vador o ano de 2004 apresentou o menor índice de mor- with 17 deaths, may be associated with the expansion
talidade materna com 17 óbitos, podendo estar associado of PSF, the nurse’s main means of acting to reduce
à expansão do PSF, principal meio de atuação do enfer- mortality through prenatal program care. In 2008, there
meiro para redução da mortalidade através do programa were 36 reported deaths, which may be related to the
de pré-natal. Já em 2008 apresentou um somatório de 36 low population coverage of the program and structural
óbitos notificados, esses podem ter relação com a baixa co- and operational problems of the service in recent years.
bertura populacional do programa e problemas estruturais CONCLUSION: The rate of maternal deaths is still high
e operacionais do serviço nos últimos anos. CONCLUSÃO: in Bahia and Salvador. However, it was verified the
O índice de óbitos maternos ainda se mostra elevado na importance of the nurse’s role in reducing these rates,
Bahia e em Salvador. Contudo, verificou-se a importância since prevention occurs in primary care, an environment
da atuação do enfermeiro para a redução dessas taxas, where nurses have autonomy regulated by law to provide
pois a prevenção se dá na atenção básica, ambiente onde qualified prenatal care.
o enfermeiro possui autonomia regulamentada em lei para
prestar o cuidado pré-natal qualificado. KEYWORDS: Maternal mortality. Prenatal assistance.
Women’s health. Nursing.
PALAVRAS-CHAVE: Mortalidade materna. Assistência
pré-natal. Saúde da mulher. Enfermagem

Submetido 12/04/2017 Aceito 16/03/2018 PublicadoRev Enferm Contemp, Salvador, 2018 Abril;7(1):20-26
27/03/2018
DOI: 10.17267/2317-3378rec.v7i1.1370 | ISSN: 2238-2720
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Introdução de mortalidade materna estão as obstétricas dire-
tas, relacionadas às complicações no período ges-
A Organização Mundial de Saúde – OMS carac- tacional, parto ou puerpério, por omissão, interven-
teriza mortalidade materna como a morte de uma ções e tratamentos incorretos, como: hipertensão,
mulher no período gestacional ou puerperal, sen- hemorragias, abortos e infecções puerperal5.
do este compreendido 42 dias após o término da
gestação, independentemente da duração ou loca- Nesse contexto o Ministério da Saúde tem adotado,
lização da gravidez, podendo ser relacionada a ao longo dos anos, políticas que visem à melhoria da
qualquer causa, seja essa agravada pela situação saúde da mulher. Dentre algumas pode-se destacar
gestacional ou através de intervenções prestadas a o Projeto Maternidade Segura de 1996; o Progra-
ela, exceto as causas acidentais ou incidentais1. ma de Humanização do Pré-Natal e Nascimento
(PHPN) de 2000; o Pacto Nacional pela Redução
De acordo com o Guia de Vigilância Epidemioló- da Mortalidade Materna e Neonatal de 2002; A
gica do Óbito Materno a redução da razão de Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da
mortalidade materna no mundo e, especialmente no Mulher (PAISM) de 2003; A Lei do Acompanhante
Brasil, ainda é um enorme desafio para a saúde e de 2005; e o destaque para a Rede Cegonha de
sociedade. Apesar dos avanços na diminuição das 2011. Esses programas e políticas trazem à tona a
taxas, no ano de 2015 ainda foi observado altos necessidade de que seja considerada assistência à
índices de mortalidade por causas evitáveis, confi- saúde da mulher em todo o seu período de vida6, e
gurando assim como um grave problema de saúde trazem o enfermeiro como principal aliado na pre-
pública que atinge de diferentes formas as regiões venção e redução da mortalidade materna.
brasileiras2.
Para isso o Ministério da Saúde tem reconhecido a
Segundo o Sistema de Informações sobre Morta- importância da assistência de enfermagem na obs-
lidade (SIM), no Brasil entre 2004-2014 houve tetrícia e inserido estes profissionais, cada vez com
18.364 óbitos maternos, sendo a região Nordeste a mais autonomia, nos programas e portarias que tra-
mais acometida, com quantitativo de 6.514 óbitos, tam da temática, objetivando agir na redução dos
equivalente a 35,47% da mortalidade materna do índices supracitados e garantir os direitos da mulher
país, e a região Centro-Oeste com a menor taxa à vida e saúde7.
nacional de 7,74% (total de 1.422 óbitos confirma-
dos e notificados)3. A redução das taxas de mortalidade materna no
Brasil está intimamente associada à qualidade da
Diante dessa realidade, o Brasil juntamente a 191 assistência prestada às gestantes e ao acesso destas
outros países, em 2000, assinaram um pacto para aos serviços de saúde. Neste sentido, a motivação
reduzir a desigualdade e melhorar o Índice de De- para realização dessa pesquisa deu-se pela gran-
senvolvimento Humano (IDH) no mundo até o perío- de relevância na saúde pública, visto que o Brasil
do de 2015. Neste documento foram fixadas oito não conseguiu atingir a meta estipulada pela OMS,
metas chamadas Objetivos de Desenvolvimento do e também pela importância da prática assistencial
Milênio (ODM), e dentre elas destacamos a quinta do profissional enfermeiro na identificação precoce
que traz como objetivo a redução da mortalidade dos principais agravos relacionados à mortalidade
materna com uma meta estipulada de 35 óbitos por materna.
100.000 nascidos vivos (NV)4.
Diante do que foi exposto elaborou-se as seguin-
Desde que foi firmado esse pacto, observa-se no tes questões norteadoras: como estão os índices de
Brasil uma redução significativa na taxa de mor- mortalidade materna na cidade de Salvador e no
talidade materna, porém ainda insuficiente para estado da Bahia? Como o enfermeiro pode atuar
alcançar a meta estipulada. Segundo o Relatório para reduzir a mortalidade materna? Sendo assim,
Nacional de Acompanhamento de Objetivos de De- este artigo tem como objetivos: avaliar os índices
senvolvimento do Milênio no ano de 2011 a taxa de mortalidade materna em Salvador e na Bahia e
estagnou-se para menos de 64 óbitos por 100 mil descrever como o enfermeiro pode atuar de forma
NV. Vale ressaltar que dentre as principais causas a diminuir esses índices.

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Metodologia completos, contemplando assim 07 artigos que se
fizeram apropriados para embasar a discussão dos
Realizou-se uma pesquisa ecológica, a qual com- resultados desta pesquisa, bem como manuais e re-
para-se a ocorrência de uma condição/doença re- latórios do Ministério da Saúde.
lacionada à saúde e a exposição da coletividade,
sem abordar informações sobre essa, mas trazen- Por se tratar de um banco de domínio público, não
do dados sobre o grupo, a fim de verificar possí- foi necessário submeter o projeto ao Comitê de Éti-
vel relação de comparação entre elas8, e descri- ca em Pesquisa, visto que não envolve diretamente
tiva de abordagem quantitativa, com informações seres vivos, o que está de acordo com a resolução
coletadas a respeito da mortalidade materna em 466/2012, que norteia as pesquisas com seres hu-
Salvador nos últimos dez anos, por meio do Depar- manos9.
tamento de Informática do Sistema Único de Saúde
(DATASUS) do Ministério da Saúde.

Os dados foram coletados no site: http://www2. Resultados e discussão


datasus.gov.br/DATASUS/, utilizando as informa-
ções do período de 2004 a 2014, uma vez que Na Bahia, frente às informações disponíveis no DA-
estas estão disponíveis apenas até o ano de 2014. TASUS, foram registrados 1.764 casos notificados
Os dados foram organizados mediante tabelas ela- de óbitos maternos entre os anos de 2004 a 2014.
boradas no programa Word do Microsoft Office, e O estado é considerado como tendo um alto indica-
discutidos a partir de referenciais teóricos que con- dor de mortalidade materna desde 1990, e apesar
templem a temática abordada. de declínios existentes ao passar dos anos, o índi-
ce ainda é elevado uma vez que os óbitos mater-
Para embasar a discussão sobre como o enfermeiro nos estão associados à raça negra, predominante
pode atuar de forma a diminuir os índices identi- na população baiana, sendo tal raça predisposta
ficados, foi realizada uma pesquisa nas bases de a complicações hemorrágicas e Doenças Hiperten-
dados: SCIELO (ScientificElectronic Library Online) sivas Específicas da Gestação (DHEG), portanto um
e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe aumento dessa população aumenta também o risco
em Ciências da Saúde), utilizando os seguintes des- de óbito materno10.
critores em Ciências da Saúde (Decs): mortalidade
materna, assistência pré-natal, saúde da mulher, e Em relação ao quantitativo de casos apresentados
enfermagem. em Salvador, a tabela 1 mostra, em comparação
aos dados da Bahia, que os principais anos de
Para seleção dos artigos utilizamos como critérios maior e menor notificação se diferem. Em Salvador,
de inclusão: artigos em português, disponíveis na no ano de 2008 houve o maior índice de mortalida-
íntegra e entre os anos de 2006 à 2016, e, como de materna. Vale salientar que nesse mesmo ano,
critério de exclusão: artigos fora do período esta- na Bahia, ocorreu um quantitativo elevado de óbi-
belecido e que não contemplam a temática. Após tos, somando 172 óbitos (9,75% do total de óbitos
passar pelos critérios estabelecidos restaram 20 do estado). A Bahia em 2007 apresentou a menor
artigos aos quais foram lidos os títulos e resumos taxa, com 146 óbitos maternos confirmados e notifi-
de forma minuciosa para identificar os que aten- cados, correspondendo a 8,27% do total de óbitos
diam ao objetivo da pesquisa, selecionando os que do estado. Em 2009 apresentou a maior taxa com
condiziam com o tema do trabalho, restando assim 195 óbitos notificados, cerca de 11,05 % do total
17 artigos lidos. Foram excluídos os repetidos e in- de casos do Estado no período de 2004 a 2014.

Tabela 1. Óbito materno por ano segundo estado (Bahia) no período de 2004-2014.

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Visto que Salvador é o maior município do Estado, a tabela 2 apresenta o total de casos notificados de óbitos
maternos entre os anos de 2004 a 2014, com um total de 282 mortes.

Tabela 2. Óbito materno por ano segundo município (Salvador) no período de 2004-2014.

De acordo com a tabela 2 podemos observar que tes, equivalente a taxa de 44 para 100.00 NV12.
em 2004 houve a menor taxa, 6,03% com um to- Essa redução ao longo dos anos é resultado da vi-
tal de 17 óbitos notificados. Já em 2008 ocorreu gilância dos Comitês de Mortalidade Materna, Es-
um crescimento do número de mortalidade, com 36 tadual e Municipal, criados pelo MS em 1987, que,
óbitos, equivalente a 12,76% do total do município. através de estratégias e acompanhamento das po-
Esse aumento pode estar associado à regulamenta- líticas públicas em saúde da mulher, propõem me-
ção da portaria n°1.172/2004 que define o ser- didas de melhoria das informações e registro dos
viço de vigilância epidemiológica como atribuição óbitos, utilizando-se destas para promover ações
dos municípios e estados10. que contribuam para a redução das taxas de mor-
talidade2.
Esses valores elevados podem estar associados à
maior notificação de óbitos ou a vigilância mais or- É importante ressaltar que dois fatores dificultam o
ganizada, assim como, os menores valores devem real acompanhamento dessas taxas: a sub-informa-
ser analisados com cautela, pois podem ser resulta- ção das declarações de óbito, resultante do pre-
do de medidas de controle e prevenção da mortali- enchimento errado e omissão das causas de morte
dade, bem como subnotificação dos óbitos maternos. relacionada à gestação, assim como, o sub-registro,
fruto da omissão do registro do óbito nos cartórios,
Segundo a OMS, em 2015 houve queda de 43% comum nas regiões norte e nordeste, devido a con-
nos números de mortalidade global quando compa- dições socioeconômicas e culturais13.
rados a década de 90, estimando-se uma redução
de 532.000 mortes em 1990, para 303.000 óbitos Pensando nisso o governo da Bahia, em 2007, atra-
maternos em 2015. Nesses últimos 25 anos, período vés do decreto n°10.263 incluiu as ocorrências de
entre 1990 e 2015, ocorreu uma redução de 44% óbitos maternos na lista de notificação compulsória
no índice de mortalidade materna no mundo, equi- e investigação imediata, a fim de proporcionar um
valente a diminuição de 385 óbitos maternos por perfil real desse indicador no Estado e atuar de for-
100.00 NV em 1990, para 216 óbitos maternos ma preventiva para sua redução14.
por 100.00 NV em 201511.
Com o avanço do programa de agentes comunitá-
Apesar da acentuada queda no número de óbitos rios de saúde (PACS) e o Programa Saúde da Fa-
maternos, nenhum país conseguiu alcançar as me- mília (PSF), observou-se redução dos números de
tas estipuladas em 2015. Isso permitiu que fossem mortalidade materna, conforme visto na tabela 1.
acordados novos ODM e novas metas no período Isso porque entre o período de expansão do PSF,
de 2016 à 2030, com o intuito de reduzir a taxa aproximadamente entre 2003 e 2007, houve uma
global da mortalidade materna para 70 mortes reorganização da atenção básica, ampliando a co-
por 100.00 NV e no Brasil para 20 mortes por bertura de atenção à saúde da população e conse-
100.00 NV12. quentemente maior acesso ao pré-natal.

No Brasil, em 2014, o total de óbitos maternos foi Apesar das medidas implantadas para redução
de 1.739 casos notificados3. Em 2015 esse dado da mortalidade materna, observa-se a partir de
apresentou um decréscimo totalizando 1.300 mor- 2008, na Bahia e em Salvador, acentuada dispari-

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dade nos óbitos maternos, uma vez que, segundo o permite maior autonomia e subsídios necessários
Departamento de Atenção Básica (DAB), em 2014 para a atuação nos serviços de pré-natal, puerpé-
o percentual de cobertura do PSF na capital foi de rio e atenção à saúde da mulher e da criança. Alia-
26,34%, totalizando em 714.150 a cobertura po- do a isso proporciona capacitação para promover
pulacional das equipes de saúde, sendo esta con- assistência qualificada capaz de contribuir para re-
siderada baixa em relação a população total de dução da mortalidade materna.
2.710.968 habitantes. Essa disparidade pode estar
associada a problemas encontrados no PSF nos últi- Segundo o Decreto nº 94.406/8724, a Lei de Exer-
mos anos, como: a baixa cobertura do acompanha- cício Profissional da Enfermagem dá cobertura ao
mento de planejamento familiar; baixa cobertura enfermeiro para realizar consultas de pré-natal de
e diminuição da assistência pré-natal, levando a baixo risco, pois possui conhecimento teórico-cientí-
falhas na identificação de comorbidades de risco fico para prestar a assistência18,19.
a saúde da mulher e do bebê, e tratamento destas
durante a gestação; além da fragilidade na busca Neste contexto, a atenção ao pré-natal é funda-
ativa de gestantes; identificação das gestações de mental quando se trata de redução dos índices de
risco bem como referência e acesso aos serviços de mortalidade materna e perinatal. Esse serviço, de
maior complexidade15. acordo com o MS é de fácil acesso e contempla os
seguintes níveis de atenção: promoção, prevenção e
Dessa forma a assistência pré-natal é uma impor- assistência as gestantes e recém-nascidos20, sendo o
tante aliada na redução da mortalidade materna, enfermeiro o profissional mais atuante no pré-natal,
implantada pelo Ministério da Saúde em 2000 no o qual é munido de protocolos de atribuição profis-
Programa de Humanização do Pré-Natal e Nasci- sional que os auxiliam a prestarem uma assistência
mento (PHPN), sendo recomendado que em média de qualidade21.
haja a realização de seis consultas de pré-natal,
iniciadas desde o primeiro trimestre da gravidez, Essa redução da mortalidade materna se dá atra-
para a detecção precoce de riscos e complicações vés de medidas para eliminação dos casos de do-
evitáveis; uma consulta no período do puerpério, enças inerentes à gestação e perpassa a assistência
essa até 42 dias após o parto; e a recomendação hospitalar com o incentivo ao parto normal visando
durante o pré-natal da realização dos exames la- a redução das cesáreas desnecessárias e conse-
boratoriais juntamente às orientações a respeito do quentemente o óbito materno22. Além disso, devem
aleitamento materno16. ser desenvolvidas ações no período pós parto, onde
se torna indispensável à atenção a mulher e ao re-
No intuito de reduzir a mortalidade materna foram cém-nascido por meio da consulta de puerpério.
implantados programas que possivelmente influen- Logo deve ser incentivado durante o acompanha-
ciaram nos óbitos maternos apresentados, como por mento pré-natal como também na maternidade, o
exemplo, no ano de 2011, na Bahia e em Salvador, retorno à UBS após o parto23.
onde o índice de mortalidade materna foi menor
quando comparado aos demais anos. Vale destacar Na atenção básica, o enfermeiro é o principal
que em 2011, para reforçar a atenção a saúde da responsável por essas medidas de eliminação dos
mulher, implantou-se a Rede Cegonha que tem como riscos pertinentes à gravidez, parto e puerpério.
objetivos: um novo modelo de atenção ao parto, Nesse sentindo durante o pré-natal este profissio-
nascimento e à saúde da mulher e da criança; ga- nal deve garantir o acolhimento e acompanhamento
rantia de acesso, acolhimento e resolutividade, e re- necessário para que a gestante possa conduzir de
dução da mortalidade materna e neonatal; e como maneira saudável sua gestação24. Entretanto, este
diretrizes a garantia das boas práticas e segurança acompanhamento também é imprescindível para
na atenção ao parto e nascimento, e melhoria da a busca ativa das gestantes que não iniciaram ou
qualidade do pré-natal17. abandonaram as consultas,

Sendo assim, percebe-se que a implantação da Portanto, cabe ao enfermeiro, no cuidado pré-natal,
Rede Cegonha possibilitou ao enfermeiro um impor- a necessidade de criar estratégias para as gestan-
tante papel nesse processo, uma vez que a rede tes a fim de que essas compareçam nas próximas

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consultas para continuidade da assistência. É de da assistência à saúde da mulher e consequente-
grande importância ir além das consultas marcadas, mente redução das taxas de óbitos maternos.
utilizando como estratégia de alcance os grupos de
gestantes com ações educativas sobre o período Frente aos objetivos de avaliar os índices de morta-
gestacional, processo de vinculação a maternidade, lidade materna na Bahia e em Salvador e atuação
importância da consulta puerperal, saúde bucal do do enfermeiro para redução dessas taxas, os resul-
binômio mãe e filho, e explicar sobre as particulari- tados dessa pesquisa apontaram que mesmo com o
dades do aleitamento materno e do planejamento declínio dos óbitos maternos registrados e com as
familiar, bem como temáticas sugeridas por elas. implantações das políticas, o índice ainda se mostra
elevado na Bahia e em Salvador. Isso pode estar
Sendo assim, para uma assistência qualificada é im- relacionado ao aumento da vigilância de óbitos,
prescindível que haja a capacitação do profissional bem como aumento da população predisposta aos
de enfermagem, para que se tornem aptos a pres- riscos inerentes a gravidez, além da fragilidade na
tarem assistência digna à mulher ao longo do ciclo cobertura de saúde da população pela ESF.
gravídico-puerperal, podendo essa capacitação ser
complementada por uma especialização em enfer- Verificou-se a importância da atuação do enfer-
magem obstétrica19. meiro para a redução dessas taxas, pois a pre-
venção se dá principalmente na atenção básica,
A implantação dos Centros de Parto Normal pro- ambiente onde o enfermeiro possui autonomia re-
porcionou ao enfermeiro obstetra a capacidade de gulamentada em lei para prestar o cuidado pré-
intervir em ações obstétricas desnecessárias, geran- -natal qualificado, estando atento para garantia
do sentimento satisfatório às parturientes, através da continuidade da assistência e com isso identifi-
da prestação da assistência humanizada e tratando cação de comorbidades que possam vir a colocar
a parturiente em seus aspectos psicossociais, o que em risco a saúde da mulher.
por sua vez articula meios que podem reduzir o ris-
co de mortalidade materno-infantil25. Vale ressaltar que foram encontrados poucos es-
tudos referente a mortalidade materna na Bahia
Nesse contexto, os altos índices de óbitos maternos e em Salvador, o que reforça a importância de
apresentados neste estudo apontam a necessidade uma maior produção científica voltada para esta
na redução dessas taxas de mortalidade, já que temática.
estas são um importante indicador da qualidade da
assistência materno-infantil, tendo como principal
aliado o enfermeiro, o qual promove medidas que
visam a redução da mortalidade por meio de ações Conflitos de interesses
de promoção a saúde materna e prevenção de ris-
Nenhum conflito financeiro, legal ou político envolvendo terceiros
cos inerentes a gestação. Tais ações estão emba- (governo, empresas e fundações privadas, etc.) foi declarado para
sadas por protocolos e manuais técnicos instituídos nenhum aspecto do trabalho submetido (incluindo mas não limitando-
pelo Ministério da Saúde que reconhece o enfer- se a subvenções e financiamentos, conselho consultivo, desenho de
estudo, preparação de manuscrito, análise estatística, etc).
meiro como peça fundamental no progresso para
redução do perfil da mortalidade materna7.

Referências
Considerações finais 1. Organização Mundial de Saúde. Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde.
Durante o período de 1990 a 2015 o mundo con- 10.ed. São Paulo: CBCD; 1995.
centrava esforços para diminuir o índice global de
mortalidade materna. Nesse contexto o Brasil a fim 2. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde.
Manual dos comitês de mortalidade materna. Brasília:
de atingir a meta estipulada no 5º ODM implantou
Ministério da Saúde; 2009.
uma série de políticas e programas para melhoria

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