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Nada é impossível para Deus

Kathryn Kuhlman

Prefácio Um tributo a Kathryn Kuhlman


Creio que, a esta altura, todos a conhecem. Durante quase um
quarto de século ela foi um vaso de Deus que fez com que a
cura e a restauração fluíssem nas vidas de milhares de seres
humanos. É amada e admirada por milhões de pessoas e
difamada somente por aqueles que não acreditam na cura divina
ou por quem não fez nenhum esforço em compreendê-la ou ao
que ela representa. Mas eu a vi, antes de apresentar-se diante
de uma multidão para expressar sua ilimitada fé em Deus, e a
observei cuidadosamente. Uma e outra vez dizia: "Querido
Deus, a menos que me unjas e me toques, eu não sou nada.
Quando a carne se põe no meio do caminho, eu não tenho
nenhum valor. Se não receberes toda a glória, eu não posso
ministrar". E, de repente, sobe à plataforma. É explosivo, quase
incrível. Não é tanto o que diz, porque sempre é tão claro e
simples como o estilo de pregação que o próprio Senhor Jesus
usava. Não o compreendo, e ela também não; mas quando o
Espírito começa a mover-se sobre ela, (e se sente
repentinamente movida a desafiar o poder do diabo no nome de
Jesus), começam a acontecer os milagres. Em todo lugar, todos,
até os mais rígidos e dignos, caem prostrados ao chão. Católicos
e protestantes elevam as mãos e adoram a Deus, unidos... tudo
decentemente e com ordem. O poder do Espírito Santo cai sobre
as pessoas como as ondas do oceano. Os representantes dos
meios televisivos logo compreenderam que ela não era falsa,
nenhuma fanática. Conheciam pessoas que tinham sido tocadas
por seu ministério. Sua sabedoria divina e sua capacidade não
têm igual. Não é rica, nem está obstinadamente agarrada ao
materialismo. Eu sei! Ela pessoalmente reuniu e entregou ao
Teen Challenge o dinheiro necessário para construir em nossa
granja um lugar para a reabilitação de viciados. Suas orações
trouxeram o dinheiro necessário para construir igrejas em países
subdesenvolvidos de todo o mundo. Apoiou a educação de
meninos pouco capacitados e também outros jovens
superdotados receberam seu amor e seu cuidado. Entrou
comigo nos guetos de Nova Iorque e impôs suas mãos
carinhosas sobre sujos viciados. Nunca duvidou nem voltou
atrás; sua preocupação era genuína. Qual é a razão por que
faço este tributo? Porque o Espírito Santo me ordenou que o
fizesse! Ela não me deve nada, e eu não lhe peço nada
mais que o mesmo amor e respeito que demonstrou por mim
durante anos. Mas, muitas vezes, damos tributo unicamente aos
mortos. Agora, pois, darei a uma grande mulher de Deus, que
tocou tão profundamente minha vida e as de milhões de pessoas
mais: Te amamos, no nome do Senhor! A história dirá sobre
Kathryn Kuhlman: Sua vida e sua morte deram glória a Deus.
David Wilkerson, autor de A cruz e o punhal.
Capítulo 1

O que chegou tarde


Tom Lewis.

Tom Lewis, coronel reformado do Exército, é um dos produtores


de filmes mais conhecidos de Hollywood. Sua lista de créditos no
"Quem é quem na América" ocupa tanto espaço como as
medalhas sobre seu peito. Foi o produtor fundador do Screen
Guild Theatre, fundador do Serviço de Rádio e Televisão das
Forças Armadas Americanas, do qual foi comandante durante
toda a Segunda Guerra Mundial, e criador e produtor executivo
de "O Show de Loretta Young". Como diretor da Universidade
Loyola, recebeu inúmeros prêmios por excelência em produções
televisivas, tanto no país como das forças armadas americanas
estabelecidas em todo mundo. Devoto católico-romano, conta-se
agora entre o crescente grupo dos assim chamados "católicos
carismáticos". No inverno passado, meu filho (jovem diretor de
filmes), e um produtor de mesma idade dele, planejavam realizar
um programa especial de TV sobre o "povo de Jesus" 1. Aceitei
escrever a apresentação, mas a contragosto. Como os "Meninos
de Jesus" eram jovens, imaginei que meu filho e seu sócio
deveriam contratar pessoal de idade similar. Minha investigação
preliminar sobre os jovens, a respeito dos quais desejava saber
mais, gerou em mim grande interesse e respeito por eles. Muitos
tinham saído do inferno da dependência de drogas, através de
uma fé renascida em Jesus Cristo. Até esse momento, eu ainda
não tinha estudado a motivação religiosa do movimento.
Entretanto, do ponto de vista humano, não pude me sentir
menos do que muito impressionado por sua sinceridade, assim
como assombrado e pasmado diante de sua maneira tão familiar
de falar sobre Jesus, como se Ele estivesse ali mesmo com eles.
1

"Jesus People", um movimento cristão surgido na década de 70.


Eu sempre tinha me considerado um homem razoavelmente
religioso, que desfrutava da vida sacramental da Igreja Católica
Romana. Eu não saía por aí referindo-me a Jesus Cristo como
se me encontrasse com Ele pessoalmente com freqüência. Na
verdade, muito raramente o mencionava por seu nome. Pensava
que era melhor evitar o tratamento muito pessoal e preferia uma
referência mais reservada, como "meu Senhor", ou "o bom
Senhor". Como parte de minha tarefa, me pediu que estudasse o
ministério de Kathryn Kuhlman. uma pessoa muito estimada pela
"gente de Jesus". A senhorita Kuhlman vinha uma vez por mês
ao auditório Shrine de Los Angeles para realizar um culto de
milagres. Pedi dois assentos, na seção do centro, sobre o
corredor, perto da frente. Entretanto, aparentemente não era
assim que se obtinham os ingressos. Teria que entrar numa fila
e arriscar tentar conseguir a localização desejada. A capacidade
do auditório era de 7.500 pessoas, e me disseram que algumas
vezes tentava entrar o dobro dessa quantidade de gente. Isto me
deixou espantado, e essa sensação continuou durante quatro ou
cinco meses, já que foi esse o tempo que tive que esperar até
poder chegar a entrar na fila. O dia em que cheguei a esse lugar
era anormalmente quente para o mês de março, até na
ensolarada Califórnia. Saí da rodovia na rua Hoover para evitar o
trânsito da zona próxima ao auditório. Normalmente essa zona
do centro da cidade estaria quase deserta em um domingo. Mas
enquanto me aproximava do estádio, todos os lugares
destinados para estacionar e as ruas estavam ocupadas. Os
ônibus chegavam um após o outro à entrada principal, onde
descarregavam seus passageiros. Alguns tinham placas que
diziam "Fretado"; outros revelavam o nome de seus pontos de
origem. Lembro de um de "Santa Bárbara", e outro, de "Las
Vegas". Para meu assombro, havia um, cheio de pó, que tinha
uma placa de "Portland, Oregon"... que "pequena viagem"
tinham feito somente para assistir a um culto de milagres do
Kathryn Kuhlman. Me perguntei o que seria o que a senhorita
Kuhlman daria ali dentro. Não podia ser comida; havia muitas
pessoas. Tampouco podia ser um bingo... como gerenciar 7.300
cartões de bingo? Uma longa fila de pessoas em cadeiras de
rodas avançava pela rua Jeferson para uma entrada lateral, pela
qual eram imediatamente admitidas. Algo similar acontecia com
um grande grupo de homens e mulheres com hinários nas mãos;
aparentemente eram os membros do coro. Também havia
muitos com colarinhos romanos e mulheres vestidas
sobriamente. Me perguntei o que estariam fazendo ali todos
esses padres e freiras. Encontrei um local, onde estacionei meu
automóvel, e logo me juntei aos milhares de pessoas que
esperavam diante da entrada principal do estádio. Meu relógio
marcava onze em ponto. As portas seriam abertas à uma.
Normalmente, eu não teria esperado tanto tempo por coisa
alguma, nem sequer pela segunda vinda. Mas logo compreendi
que essa era uma definição apressada. Começou a reunir-se
uma grande quantidade de gente atrás de mim, e me encontrei
perto do centro de uma grande multidão. Isto me deu uma ligeira
sensação de claustrofobia, por isso me concentrei em tomar
notas mentais com as quais construiria minha apresentação:
grande multidão, muito ordenada; vários jovens que respondiam
às características dos "Meninos do Jesus". Estes jovens tendiam
a formar grupos, como ilhas num mar de corpos. Cantavam
enquanto esperavam, não muito forte, não necessariamente
para que outros os ouvissem; nem sequer atuavam como se
tivessem muita consciência da presença de outros. Cantavam de
forma bastante quieta e meditativa. Isso me pareceu estranho,
incomum. Lembrava um grupo de cristãos coptos que vi uma vez
em Roma, orando de forma audível, mas não em uníssono,
independentemente de outros, mas juntos. Agora a quantidade
de gente tinha realmente aumentado muito, e alguém que estava
lá dentro se compadeceu de nós. As portas se abriram uns vinte
minutos antes da uma. As pessoas que estavam atrás de mim se
lançaram para a frente, e me empurraram para além da entrada.
Isto me surpreendeu, porque tinha a mão na carteira, preparado
para pagar meu ingresso. Uma senhora que estava justo atrás
de mim viu, e riu. "Aqui, o dinheiro não o levará a nenhuma
parte", disse. "Mas, se está lhe queimando no bolso, haverá uma
oferta voluntária mais tarde." Assim todos se comportavam: em
ordem, não festiva, como a multidão que assistiria a uma partida
no estádio, bastante quieta, não muito comunicativos uns com
outros, embora amistosos, quando se dava ocasião para
conversar. Encontrei um assento bastante atrás e para o lado. A
plataforma, brilhante e muito iluminada, estava cheia de
atividade. Homens e mulheres com hinários nas mãos
procuravam seus lugares em uma espécie de arquibancada que
ocupava todo o espaço. Em ambos os lados havia dois grandes
pianos. Parecia que havia centenas de pessoas no coro, mas,
assim como entre o resto do povo, não havia desordem nem
confusão. Apesar do constante movimento devido aos que
chegavam tarde, o coro continuava cantando como se estivesse
em uma silenciosa catedral. O diretor, um homem magro, branco
e de aspecto aristocrático, guiava o ensaio com precisão e
inquestionável autoridade. Uma anciã de aspecto encantador se
sentou à minha direita. Pela atenção que me dedicou ou aos
milhares de pessoas que a rodeavam, era como se estivesse
sozinha na Capela de Nossa Senhora da Catedral de São
Patrício. Tinha uma Bíblia aberta sobre o regaço, e algumas
vezes a lia em silêncio.

A Bíblia parecia o equipamento comum de muitos dos presentes.


Dois jovens sentados atrás de mim tinham Bíblias, mas não as
liam. Simplesmente cantarolavam ou cantavam as letras dos
hinos que o coro ensaiava na plataforma. Isso eu não gostei.
Nunca me agradei dos teatros ou concertos ou cinemas em que
o público participa, sobretudo quando não lhe foi especialmente
solicitado que o fizesse. Mas ia escutar muito mais destes
jovens. Enquanto isso, as luzes brilhantes sobre a plataforma
baixaram um pouco, e lhes acrescentou cor. As cores pastéis
dos vestidos das mulheres do coro faziam um agradável
contraste com o azul do cenário curvo que rodeava tudo. Uma
vez terminado o ensaio, o coro começou a cantar segundo o
programa. A maioria dos hinos eram conhecidos e muito
queridos: "Quão grande és Tu", "Sublime Graça". Os cantores
eram excelentes; mais tarde soube que provinham de igrejas de
todas as denominações da zona de Los Angeles. Sem
interrupção, o coro começou a cantar "Ele me tocou". Senti que
uma tensa expectativa se apoderava da audiência. A luz de um
spot se concentrou em uma área à direita do público. Todos
ficaram de pé e aqui e acolá algumas pessoas começaram a
aplaudir. A senhorita Kuhlman, uma figura frágil e magra, vestida
com um encantador vestido branco, subiu à plataforma,
cantando com o coro. Aproximou-se de um conjunto de alto-
falantes à direita do centro do cenário, tomou um microfone
pendente que colocou ao redor do pescoço, e sem se deter,
dirigiu o coral em "Ele me tocou", energicamente, várias vezes, e
finalmente em forma decrescente. Em seguida, sem explicação
nenhuma, continuou com "Ele é o Salvador de minha alma". O
público e Kathryn Kuhlman pareciam concordar em que estes
hinos eram especiais para ela. Sem explicações, uma vez, mais,
começou a orar em voz alta. O público ficou de pé, com as
cabeças inclinadas, seguindo sua oração em silêncio. Soube
então o que era o que tinha sido distinto no canto dessas "ilhas"
de jovens que esperavam fora do auditório; o que era isso tão
especial no canto desse grande coro que estava sobre a
plataforma. Estavam cantando, sim, mas era mais do que cantar.
Não estavam atuando; estavam adorando. E o público reagia de
forma diferente. Não era público, era uma congregação.
Cantavam a uma só voz com o coro, quando lhes indicava.
Oravam em uníssono com a senhorita Kuhlman. Isto não era um
show, era uma reunião de oração. Não sei como me senti nesse
momento; provavelmente impressionado, e agradado por ter
feito um descobrimento interessante. Entretanto, logo descobri
outra coisa, que me surpreendeu muito. Uma e outra vez, os
jovens que estavam sentados atrás de mim gritavam "Amém", e
"Louvado seja Deus", aparentemente em resposta a uma oração
ou a uma afirmação. Muitos outros faziam o mesmo. Outros
levantavam as mãos em um gesto de súplica que relacionei com
a posição
das figuras bíblicas representadas nos vitrais de igrejas. "Já
imagino aonde terminará tudo isto", pensei, e automaticamente
comecei a procurar a saída mais próxima. Uma das coisas que
mais me incomodava era um jovem que estava em uma das filas
superiores do coro. Esteve quase todo o culto com as mãos
levantadas. Este deve ser "o" milagre do culto de milagres,
pensei. Nenhum sistema circulatório pode suportar a tensão de
uma postura como essa durante muito tempo. Certamente seus
braços cairiam como chumbo em pouco tempo. Mas depois me
esqueci dele; esqueci-me de todos. Como a senhora que estava
sentada a meu lado, era como se estivesse em uma capela
remota, exceto, talvez, por uma Presença que normalmente não
se sente em um auditório tão grande. Sim, era isso. Havia uma
Presença ali, e era por isso que esta multidão de tantos milhares
de pessoas ficava tão calada que, por momentos, eu podia
escutar o som de minha própria respiração. Era por isso que se
perdia a noção do tempo. Havia algo diferente ali; havia amor,
específico e real. Sim, e mais que amor, estava essa Presença.
Lembrei das palavras de uma canção dos Meninos de Jesus:
"Saberão que somos cristãos por nosso amor, por nosso amor.
Saberão que somos cristãos por nosso amor". Começaram as
"curas": duas na fila perto de onde eu estava. Eu os vi antes que
a senhorita Kuhlman os chamasse. Vi a expressão maravilhada
de terem sido curados, depois sua incredulidade, a compreensão
do fato e sua felicidade. Havia muitas, muitas curas na
plataforma nesse momento. Alguns se levantavam das cadeiras
de rodas. Uma freira paralítica caminhou; fazia anos que não
podia fazê-lo. Vi gratidão nos que foram curados, um
agradecimento tão evidente que quase podia ser tocado. Os
drogados eram libertados, e na evidência de seus rostos
transformados, luminosos, vi renascimentos interiores e
regenerações morais. Perdi a conta do que vi, porque, em algum
ponto desconhecido para mim, deixei de ver e comecei a sentir.
Senti no mais profundo da minha consciência. Compreendi que
participava de uma conversa, a mais assombrosa, nua, honesta
conversa de minha vida. Estava falando com Deus. Em algum
lugar no meu interior, estava contando a Deus coisas que nunca
tinha sabido antes, ou que não tinha podido ou querido admitir.
Apesar de toda a evidência de minha carne, dos fatos visíveis e
aparentes de minha ocupada vida, o amor e a companhia de
meus filhos e seus amigos, meus próprios amigos, que eram
muitos, meus interesses no mundo, meus hobbies, apesar de
toda essa evidência, estava dizendo a Deus que estava inquieto
e sozinho. Profunda, desesperadamente solitário. Não de gente,
nem de coisas. Tinha muito disso. Disse a Deus

que estava vazio. Então me invadiu a emoção mais forte que


jamais havia experimentado: fome. Uma fome selvagem, rude,
primitiva. Vi que a plataforma e os corredores estavam cheios de
gente. A senhorita Kuhlman convidava aqueles que queriam a
Cristo em suas vidas para que fossem à frente, reconhecessem
seus pecados, recebessem a Jesus como seu Salvador pessoal,
e se entregassem completa e irrevogavelmente a Ele. Segui-os.
Coloquei-me entre eles. Eu, que não participava, que me tinha
feito sozinho, o sofisticado. Eu estava tomando esse
compromisso, surpreendentemente consciente de tudo o que
significava e da responsabilidade que assumia. Pedi a Deus que
me livrasse de todo temor. E Ele o fez. Essa noite, enquanto
voltava, em meu carro, à minha pequena cidade do Ojai, chorei.
Chorei durante todo o caminho. Não me sentia nem triste nem
feliz: sentia-me... limpo. Durante a noite, despertei e senti que
compreendia, instantânea e plenamente, o que tinha acontecido.
Me re-consagrei a Cristo, percebi que não duvidava e nem temia
esse compromisso, e dormi profundamente uma vez mais, sem
sonhar. Na manhã seguinte, já bem adiantada, fui caminhando
desde meu lar no campo até a pequena cidade do Ojai. Sentia-
me bem, descansado e em paz. As emoções do dia anterior já
tinham ficado para trás. Passei junto à capela a que estava
acostumado a freqüentar, uma capelinha de estilo colonial
espanhol, localizada na rua principal. Era a época da Quaresma.
Eram aproximadamente 11:30, e eu sabia que devia estar sendo
celebrada a missa. Assim era. Cheguei a tempo para a
celebração eucarística a que usualmente chamamos Santa
Comunhão. Fui para o altar automaticamente, e como só havia
seis ou oito pessoas presentes, recebemos ambos os elementos
da Santa Eucaristia, pão e vinho. Em vez de voltar para os
fundos da capela, ajoelhei-me no primeiro banco. Foi bom que o
fizesse. O que eu tinha tomado em meu corpo não era pão e
vinho, não era um símbolo, não era uma lembrança. Era o Corpo
e o Sangue de Cristo, e o resultado em mim foi o mais profundo
conhecimento da real presença de Cristo. Foi uma experiência
de grande e inexprimível gozo, e meu corpo estremeceu
violentamente devido ao esforço que realizava para contê-lo.
Jesus, o Cristo, estava ali comigo, e cada célula de meu corpo
era testemunha de que Ele era real. Descansei minha cabeça
nos ombros e, por um momento, o tempo ficou suspenso. Deus
vive. Deus vive verdadeiramente, e se move entre nós, e exala
seu Santo Espírito sobre nós. E por mérito do sangue derramado

por nós por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos
espera neste mundo de dor... e mais à frente. Louvado seja
Deus!

Capítulo 2

Não há escassez no depósito de Deus


Capitão John LeVrier
Lembro a primeira vez que estive cara a cara com o capitão
LeVrier. Um policial e diácono batista. Estava em uma situação
crítica. Desesperado, tinha voado de Houston até Los Angeles.
Mas deixemos que ele mesmo conte sua história. Sou policial
desde que tinha vinte e um anos. Em 1936 comecei no
Departamento de Polícia de Houston, e cheguei a ser capitão da
Divisão de Acidentes. Em todos esses anos jamais estive
doente. Mas em dezembro de 1968 fiz um exame físico, e tudo
mudou. Eu conhecia o doutor Bill Robbins desde que ele era um
interno e eu era um novato em minha profissão. Quando
comecei minha carreira, ele estava acostumado a me
acompanhar no automóvel da patrulha. Logo depois do que eu
pensava ser um exame médico de rotina em seu consultório, no
Sanatório Saint Joseph, o doutor Robbins tirou as luvas de
borracha e se sentou na beirada da escrivaninha. Sacudiu a
cabeça. "Eu não gosto do que encontrei, John", disse. "Quero
que veja um especialista." O olhei de esguelha enquanto
terminava de ajustar minha camisa na calça e segurava meu
cinturão com a arma. "Um especialista? Para que? As costas
doem um pouco, mas que policial...?" Ele não me escutava. "vou
encaminhá-lo ao doutor McDonald, um urologista do sanatório."
Eu sabia que era melhor não discutir. Duas horas depois, logo
depois de um exame ainda mais cuidadoso, escutava outro
médico, o doutor Newton McDonald. Ele não suavizou as coisas.
"Quando pode internar-se, capitão?" "Me internar?" Detectei um
pouco de temor em minha voz. "Eu não gosto do que encontrei",
disse deliberadamente. "Sua próstata teria que ser do tamanho
de uma pequena noz, mas está grande como um limão. A única
forma de averiguar a causa é fazendo uma

biópsia. Não podemos esperar. Você deveria internar-se, no


máximo, amanhã pela manhã." Fui direto para casa. Logo depois
do jantar, Sara Ann mandou as crianças para a cama. John tinha
somente cinco anos; Andrew, cinco, e Elizabeth, nove. Então lhe
dei a notícia. Ela escutou em silêncio. Tínhamos sido felizes
juntos. "Não deixe para depois, John", disse com voz calma.
"Temos muito por que viver." Apoiando-me na beira da mesa da
cozinha, olhei-a. Era tão jovem, tão bonita. Pensei em nossos
três lindos filhos. Ela tinha razão, eu tinha muito por que viver.
Nessa noite liguei para minha filha Loraine, casada com um
pastor batista, em Springfield, Missouri. Prometeu-me que
pediria na sua igreja que orassem por mim. Três noites depois,
logo depois de extensos exames (incluindo a biópsia), eu estava
sentado em minha cama no hospital, comendo o jantar, quando
a porta do quarto se abriu. Era o doutor McDonald com um dos
médicos do hospital. Fecharam a porta e aproximaram duas
cadeiras da minha cama. Eu sabia que os médicos geralmente
estão muito ocupados e não têm tempo para bate-papos sociais,
e comecei a sentir que meu pulso se acelerava. O doutor
McDonald não me deixou especular muito. "Capitão, temos más
notícias." Fez uma pausa. Era difícil para ele pronunciar estas
palavras. Esperei, tratando de manter os olhos fixos em seus
lábios. "Você tem câncer." Vi como seus lábios se moviam
formando a palavra, mas meus ouvidos se negaram a registrar o
som. Repetiu. Eu podia ver como se formava a palavra em seus
lábios. Câncer, assim, simplesmente. Um dia sou forte como um
boi, um veterano com trinta e três anos de serviço na Polícia. No
outro dia, tenho câncer. Pareceu ter se passado uma eternidade
até que pude responder. "Bem, o que fazemos? Suponho que
terá que extirpá-lo." "Não é tão simples", disse o Dr. McDonald,
limpando a garganta. "É maligno, e está muito avançado para
que possamos tratá-lo aqui. Vamos encaminhá-lo aos médicos
do Instituto de Câncer M. D. Anderson. Eles são famosos em
todo o mundo por suas investigações no tratamento dessa
doença. Se alguém pode ajudá-lo, são eles. Mas não está muito
bem, capitão, e mentiríamos se lhe déssemos alguma esperança
sobre o futuro." Ambos os doutores foram muito compassivos.
Eu percebi que estavam comovidos, mas sabiam que eu era um
policial veterano, e ia querer conhecer os fatos. Me fizeram
saber isso, francamente, mas com a maior suavidade possível.
Em seguida se foram. Sentei-me, olhando a comida que esfriava
na bandeja. Tudo parecia sem vida: o café, o bife meio comido, a
compota de maçãs. Afastei tudo de mim e me sentei no lado da
cama. Câncer. Sem esperanças.
Caminhei para a janela e olhei para fora, para a cidade de
Houston, que eu conhecia como a palma de minha mão. Ela
também tinha câncer; estava cheia de delitos e enfermidades,
como qualquer grande cidade. Durante um terço de século eu
tinha trabalhado, tentando deter o avanço desse câncer, mas era
uma tarefa interminável. O Sol estava se ocultando, e seus raios
moribundos se refletiam nas torres das Igrejas por sobre os
telhados. Nunca tinha notado antes. Houston parecia estar cheia
de Igrejas. Eu era membro de uma delas, a Primeira Igreja
Batista de Houston. Na verdade, era um ativo diácono de minha
igreja, embora minha fé pessoal não fosse muita. Alguns meus
amigos brincavam dizendo que eu era da mesma classe de
batista que Harry Truman: dos que bebiam, jogavam pôquer e
amaldiçoavam. Embora eu tivesse ouvido o meu pastor pregar
poderosos sermões sobre a salvação, nunca tinha tido nenhuma
vitória em minha vida pessoal. Era diácono por minha posição na
comunidade, mais do que por minha qualidade espiritual. Aqui
estava eu agora, cara a cara com a morte, desesperado para
encontrar algo a que me agarrar. Mas ao pôr os pés na água,
não havia fundo. Sentia como se estivesse afundando. Olhei
para baixo, do nono andar, onde estava. Seria fácil saltar pela
janela. Eu tinha visto algumas pessoas morrerem de câncer,
com seus corpos consumidos pela enfermidade. Seria muito
mais fácil terminar com tudo agora. Mas algo que Sara havia dito
tinha ficado gravado em minha mente: "Temos muito por que
viver..." Voltei para a cama e me sentei na beirada, olhando no
profundo dessa grande nuvem cinza e negra que parecia estar
se fechando sobre mim. Como dizer a ela, e aos meninos, que ia
morrer? No dia seguinte vieram os médicos do Instituto M. D.
Anderson. Houve mais exames. O doutor Delclose, que estava
encarregado de meu caso, foi realmente honesto comigo. "A
única coisa que posso lhe dizer é que será melhor que se
prepare para ver muitíssimos médicos", disse-me. "Quanto
tempo tenho?", perguntei. "Não posso lhe dar nenhuma
esperança", disse ele francamente. "Talvez um ano, talvez um
ano e meio. O câncer está muito espalhado por toda a zona
inferior do abdômen. A única forma com que podemos tratálo é
com grandes doses de radiação, o que significa que, ao mesmo
tempo, mataremos muitos tecidos saudáveis. Mas se quisemos
tentar prolongar sua vida, devemos começar já." Assinei a
autorização, e começaram o tratamento com cobalto nesse
mesmo dia. Eu acreditava na oração. Na Primeira Igreja Batista,
orávamos todas as quartas-feiras pelos doentes. Mas sempre
iniciávamos nossa oração por cura com as palavras: "Se for da
Tua vontade, cura-o..." Era assim que me tinham ensinado. Eu
não sabia nada sobre orar com autoridade, o tipo de autoridade
que tinham Jesus e os discípulos. Realmente eu acreditava que
Deus podia curar as pessoas, mas não acreditava que Ele
fizesse milagres na atualidade. Portanto, quando fui receber o
tratamento com raios, com o corpo raspado e marcado com um
lápis azul como se fosse uma cabeça de gado pronta para a faca
do açougueiro, a única oração que fiz foi: "Senhor, que esta
máquina faça o que deve fazer". Bem, essa não é uma má
oração, já que a máquina fora feita para matar células
cancerosas. Obviamente, os médicos tratavam de evitar que a
radiação afetasse outros órgãos, assim eu estava marcado até
os detalhes em milímetros. O câncer estava na zona da próstata
e devia ser tratado de todos os ângulos. A gigantesca máquina
que irradiava cobalto rodeava a mesa, e a radiação penetrava
em meu corpo de todos os ângulos. Os tratamentos diários
duraram seis semanas. Recebi alta no hospital e me permitiram
voltar ao trabalho, embora devesse retornar todas as manhãs
para receber a dose. Tinham se passado quatro meses desde
que minha doença foi diagnosticada. Aproximava-se a Páscoa, e
Sara comentou que parecia que ia ser melhor que o Natal.
Possivelmente o cobalto tinha obtido seu objetivo. Ou, melhor
ainda, possivelmente os médicos se equivocaram. Então, cento
e vinte dias depois do primeiro diagnóstico, chegou a dor. Era
uma sexta-feira ao meio dia. Eu tinha prometido a Sara que nos
encontraríamos no pequeno restaurante, onde costumávamos
nos reunir para almoçar. Ela já tinha chegado. Eu sorri, apoiei
minha boina de polícia no batente da janela, e me sentei junto a
ela. Enquanto o fazia, senti como se tivesse sido apunhalado. A
dor atravessava meu quadril direito em terríveis espasmos. Não
podia falar, só podia olhar para Sara em muda agonia. Ela
segurou meu braço. "John", sussurrou. "O que está
acontecendo?" A dor se dissipou lentamente, me deixando tão
fraco que quase não podia falar. Contei-lhe. Então, como a maré
que retorna à margem, a dor voltou. Era como fogo nos ossos.
Meu rosto brilhava de transpiração; abri a camisa e afrouxei
minha gravata. A garçonete que tinha vindo nos servir notou que
algo estava mal. "Capitão LeVrier," disse, preocupada, "está
você bem?" "Estarei bem", respondi finalmente. "É que tive uma
dor repentina." Decidimos não comer. Em vez disso, fomos
diretamente ao hospital, e o doutor Delclose ordenou
imediatamente novas radiografias. Enquanto me preparavam,
pus a mão sobre o quadril direito e senti a fenda. Era do
tamanho de uma moeda grande e parecia um oco sob a pele.

Os raios X mostraram o que era: o câncer tinha feito um buraco


que atravessava o quadril. Só a pele cobria a cavidade. "Sinto
muito, capitão", disse o médico. "O câncer está se espalhando,
como esperávamos." Em seguida, em um tom moderado,
concluiu: "Começaremos novamente as aplicações de cobalto, e
faremos tudo o que for possível para que o tempo que lhe resta
seja o menos doloroso possível." As viagens diárias ao hospital
começaram outra vez. Sara procurava manter-se calma. Ela
tinha trabalhado no Departamento de Polícia antes de nos
casarmos, e tinha estado exposta à morte muitas vezes. Mas
isto era diferente. Eu não sabia então, mas os médicos lhe
haviam dito que provavelmente eu não tivesse mais do que seis
meses de vida. Continuei trabalhando, embora cada vez mais
fraco. Era difícil saber se era devido ao câncer ou ao cobalto.
Uma tarde Sara me buscou ao sair do trabalho e me disse:
"John, estive pensando. Faz bastante tempo que estou fora de
circulação. O que diria de eu voltar a trabalhar?" "Já tem
trabalho", disse-lhe, em tom de brincadeira, "somente cuidando
dos meninos. Eu ganharei o pão para esta casa. Ainda faltam
muitas milhas para percorrer." "Continua sendo o policial durão,
não?", disse ela. "Bem, eu também sou durona. Vou me
inscrever na faculdade." Comecei a compreender o que ela
estava fazendo: estava pondo as coisas em ordem. Era hora de
eu fazer o mesmo. Mas antes que pudesse, houve uma
novidade. Cirurgia. "É a única forma de mantê-lo vivo", disse a
cirurgiã. "Este tipo de câncer se alimenta de hormônios. Vamos
ter que redirecionar o curso dos hormônios em seu corpo por
meio da cirurgia. Se não o fizermos, realmente terá pouco
tempo." Aceitei a operação, mas antes de cento e vinte dias, o
câncer apareceu novamente na superfície, desta vez na coluna.
Numa tarde de domingo, em junho, finalmente a ficha caiu. Sara
tinha levado os meninos a um piquenique da Escola Bíblica de
Férias, e eu estava em casa, cuidando de transplantar uma
plantinha num canteiro. Estava tão fraco que estava difícil me
inclinar, mas pensei que o exercício me faria bem. Tinha cavado
uma pequena cova na terra, e quando me inclinei para pegar a
plantinha, uma dor, como se me tivessem aplicado um raio de
mil volts, me paralisou a parte inferior das costas. Caí para a
frente, na terra. Nunca tinha imaginado que podia existir uma dor
tão terrível. Não havia ninguém próximo para me ajudar, então,
me arrastando, um pouco de quatro, um pouco sobre o
estômago, subi os degraus e entrei na casa.
Então, pela primeira vez, me rendi. Jogado ali no piso, na casa
vazia, chorei e gemi descontroladamente. Tinha estado
reprimindo-o por Sara e os meninos, mas essa tarde, com a
casa vazia, fiquei ali chorando e gemendo até que a dor
finalmente se dissipou. Depois disso, seguiu-se uma nova série
de aplicações de cobalto, e mais olhares desesperançados dos
médicos. Tinha recebido minha sentença de morte. O câncer nos
destrói de dentro para fora, e eu não era o único na família que
tinha sofrido desse mal. Os maridos de minhas duas irmãs, que
também viviam em Houston, tinham morrido de câncer. Ambos
tinham aproximadamente cinqüenta anos, como eu. Parecia que
agora era minha vez. Era hora de terminar de pôr minhas coisas
em ordem. Sempre tinha desejado possuir um grande automóvel
antigo. Num impulso de esbanjamento, comprei um Cadillac que
só tinha três anos de uso. Quando terminou o verão, colocamos
a toda a família no carro e partimos, para o que eu acreditei que
seriam minhas últimas férias. Queria que fosse especial para as
crianças. Anos antes, tinha viajado pela costa noroeste do
Pacífico, e agora queria que Sara e as crianças conhecessem
essa parte do mundo, que tinha significado tanto para mim: o
curso do rio Columbia, o monte Hood, a costa de Oregon, lago
Louise, Yellowstone e as Montanhas Rochosas. As crianças não
sabiam, mas Sara e eu acreditávamos que seria nosso último
verão juntos, como família. Voltei para Houston para juntar
alguns fios soltos. Mas quando a vida está destruída além de
toda possibilidade de conserto, é impossível recolher os
pedaços. A única coisa que se pode fazer é deixá-los soltos e
esperar o final. Num sábado pela manhã, no começo do outono,
entrei em casa e liguei a tv no canal Nosso Pastor, da Primeira
Igreja Batista. John Bisango tinha um programa chamado
"Terras Altas". John estava em Houston, vindo de Oklahoma,
onde sua igreja tinha sido reconhecida como a igreja mais
evangelística da Convenção Batista do Sul. O que tinha
acontecido em Oklahoma estava começando a dar-se também
em Houston. Eu estava muito entusiasmado com seu ministério.
Muito fraco para me levantar, fiquei jogado na cadeira enquanto
terminava esse programa e começava outro. "Eu creio em
milagres", disse a voz de uma mulher. Olhei para a tela. Não me
impressionava; poucos batistas se sentiriam impressionados por
uma mulher pregadora. Mas, à medida que avançava o
programa, e esta mulher, Kathryn Kuhlman, falava de
maravilhosos milagres de cura, algo dentro de mim se acendeu.
"Será real isto?", pensei. O programa terminou, e começaram a
passar os créditos na tela. De repente, vi um nome conhecido:
Dick Ross, produtor. Eu conhecia o Dick; conhecia-o desde
1952, quando ele estava em Houston, trabalhando com Billy
Graham na produção do Oiltown, USA".

Na verdade, eu tinha tido um pequeno papel nesse filme, e, a


partir daí, me tornei amigo de Billy Graham e sua equipe, e
cuidava da segurança toda vez que vinham a Houston. E agora
via o nome de Dick Ross relacionado com esta pregadora que
falava de milagres de curas. Eu tinha me mantido em contato
com o Dick através dos anos. Toda vez que eu ia à Califórnia a
trabalho, procurava-o. Tinha-o visitado na sua casa, e até tinha
assistido a sua aula de escola dominical na igreja presbiteriana.
Peguei o telefone e liguei para ele. "Dick, acabei de assistir o
programa de Kathryn Kuhlman. São verdadeiras essas curas?"
"Sim, John, são de verdade", respondeu Dick. "Mas teria que
assistir a uma dessas reuniões no auditório Shrine para ver por
si mesmo. Por que pergunta?" Duvidei por um momento, mas,
em seguida falei: "Dick, tenho câncer. Já apareceu em três áreas
de meu corpo, e temo que a próxima vez me matará. Sei que
parece que estou tentando me agarrar a algo impossível, mas
isso é o que faz um homem que vai morrer." "Vou fazer que a
senhorita Kuhlman lhe ligue pessoalmente", disse Dick. "Oh,
não", protestei. "Sei que ela deve ser muito ocupada para
atender um policial de Houston. Só me diga onde posso
conseguir seus livros." "Eu lhe enviarei seus livros", disse Dick.
"Mas também lhe pedirei que ligue para você, como um favor
pessoal a mim." Em menos de uma semana, ela me ligou. "Sinto
como se já o conhecesse", disse-me, e sua voz soava
exatamente igual como no programa de TV. "Anotamos seu
nome na lista de oração, mas não deixe de vir a alguma das
reuniões." Embora Sara e eu tenhamos lido seus livros e nos
convertidos em ávidos espectadores de seu programa de TV, na
verdade eu adiava o momento de assistir a alguma reunião de
Kathryn Kuhlman. "Onde estivemos durante toda a vida?",
perguntava Sara. "Essa mulher é famosa no mundo todo, mas
nunca ouvi falar dela antes." Como tantos outros batistas,
simplesmente não tomávamos conhecimento de que havia
outras coisas acontecendo no Reino de Deus, além da
Convenção Batista do Sul. Agora nossos olhos estavam sendo
abertos, não só a outros ministérios, mas também a outros dons
do Espírito e ao poder de Deus para curar. Era tudo tão novo,
tão diferente. Mas eu compreendia que era bíblico. Apesar da
minha ignorância dos dons sobrenaturais de Deus, tinham-me
ensinado a aceitar que a Bíblia é a Palavra de Deus. Quando
começamos a ver todas essas referências ao poder do Espírito
Santo, referências que nunca tínhamos visto antes,
nossos corações começaram a sentir fome, não só de cura, mas
também de receber a plenitude do Espírito Santo. Em fevereiro,
soube que meu tempo estava se esgotando. Sara e as crianças
também sabiam. "Papai", disse-me Elizabeth, "você vai à
Califórnia, e ficaremos em casa orando. Acreditamos que Deus
vai curálo". Olhei para Sara Ann. Com os olhos úmidos, assentiu
e disse: "Creio que Deus o curará." Na sexta-feira, 19 de
fevereiro, voei de Houston até Los Angeles. Uns velhos amigos
de Los Angeles me emprestaram seu carro, e encontrei um hotel
onde ficar em Santa Monica. Como policial e como batista,
queria formar uma idéia sobre a senhorita Kuhlman antes de
assistir à reunião, no domingo. Soube que ela geralmente vinha
de Pittsburgh no dia anterior ao culto no Shrine. Também fiz
algumas perguntas, usando minhas técnicas de polícia, e
averigüei onde se alojava. Logo tive toda a informação de que
precisava. Na manhã seguinte, cedo, fui ao seu hotel. Como
policial que era, foi fácil para mim contatar os oficiais da
segurança e lhes tirar informações. Pouco depois me disseram o
horário em que geralmente a senhorita Kuhlman chegava.
Sentei-me no saguão do hotel e esperei. Uma hora depois se
abriu a porta, e ela apareceu. Era exatamente como a tinha
imaginado. Descaradamente, a interceptei quando ia para o
elevador. "Senhorita Kuhlman", disse-lhe, "sou aquele capitão da
polícia do Texas." Ela me mostrou um amplo sorriso e exclamou:
"Ah, sim! Você veio para ser curado". Falamos durante uns
instantes. Em seguida lhe disse: "Senhorita Kuhlman, sou um
crente em Jesus Cristo, nascido de novo. Sei que não tenho que
ser curado para ser crente, porque já o sou. Mas você fala de
algo em seus livros, que eu quero tanto quanto a cura física". "O
que é?", perguntou ela, examinando meu rosto. "Quero ser cheio
do Espírito Santo." "Oh," sorriu docemente, "prometo-lhe que
pode ter isso." "Bom, estou gravemente doente, mas ainda estou
forte para ir ao auditório e esperar na fila. Tenho lido seus livros
e conheço a forma como se conduzem suas reuniões. Me
levantarei bem cedo para conseguir um bom lugar." Despedi-me
e comecei a me retirar. "Espere!", disse ela. "Estou sentindo
algo, e tenho que ser obediente ao Espírito Santo. Venha aqui
pela manhã, e iremos juntos até o auditório. Pode nos seguir em
seu automóvel."
Por um instante, duvidei. "Senhorita Kuhlman, faz tanto tempo
que sou polícial, e aproveitei muitas vezes as situações para
obter o que queria mais rapidamente... Desta vez, não quero
fazer nada que possa ser obstáculo para minha cura.
Simplesmente irei e me porei na fila com os outros." Sua voz
soou encolerizada, e seus olhos brilharam. "Agora, deixe eu lhe
dizer algo", disse, marcando cada palavra. "Deus não vai curá-lo
porque você se comporta bem. Ele não vai curá-lo porque você é
um capitão de polícia. E certamente não curá-lo pela forma como
chegar à reunião." Não foi necessário que dissesse mais nada.
Na manhã seguinte, a segui do hotel até o auditório Shrine.
Chegamos às 9.30. Embora a reunião não começasse até a uma
da tarde, a calçada onde estava a entrada do enorme auditório
estava cheia de pessoas, milhares de pessoas. Entramos pela
parte da plataforma, e a senhorita Kuhlman me disse: "Agora,
sinta-se em liberdade para andar por este lugar, até que veja
que me reúno com os obreiros. Quando isso acontecer, quero
que você esteja comigo." Aceitei, e andei percorrendo o vasto
auditório. Centenas de obreiros, que tinham viajado muitos
quilômetros para colaborar voluntariamente, estavam ocupados,
colocando as cadeiras para o coro de quinhentas pessoas,
preparando a seção onde estariam os que vinham em cadeiras
de rodas, acomodando os que tinham vindo em ônibus fretados,
e arrumando o lugar para o que ia ocorrer. Eu quase podia sentir
a expectativa, enquanto percorria o salão. Era como eletricidade.
Todos sussurravam em voz baixa, como se o Espírito Santo já
estivesse presente. Que diferença das experiências que tinha
tido nos cultos da igreja! Eu também o sentia, e repentinamente,
já não era mais um policial, nem um diácono de uma igreja
batista. Era somente um homem que sofria de câncer, que
precisava de um milagre para viver. Se esse milagre pudesse
acontecer, seria nesse lugar. Um dos homens se apresentou
como Walter Bennett. Reconheci seu nome imediatamente.
Tinha lido seu testemunho em "Deus pode fazê-lo outra vez".
Sua esposa Naurine tinha sido curada de uma horrível
enfermidade. Ele me levou para a porta que dava à plataforma,
onde ela montava guarda. O simples fato de vê-la tão radiante,
sabendo que tinha estado a ponto de morrer, deu-me nova
esperança e fé. Senti vontade de chorar. "John", disse-me
Walter, "temos algo em comum. Você é um diácono batista, e eu
fui um diácono batista, também. Vamos tomar uma xícara de
café." Saímos por uma porta lateral e encontramos um café ali
perto.

"Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus
companheiros batistas não queiram ter mais nada a ver com
você." Sorriu como se soubesse. Falava com tal fé, como se
estivesse certo de que eu ia ser curado. "Não me importa o que
pensem os outros sobre mim, se for curado," falei, "contanto que
Deus toque meu corpo." Walter sorriu. Senti muito amor por este
novo amigo. "Bom, há algo de que podemos estar certos", disse
suavemente. "Deus não o trouxe de tão longe até aqui para
nada. Você vai voltar para Houston sendo um homem novo." O
fato de que esse diácono batista falasse com tanta fé me enchia
de entusiasmo. Estava ansioso para que começasse a reunião.
Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os
obreiros, para lhes dar as últimas instruções antes que se
abrissem as portas. Me juntei a eles sobre a plataforma. "Hoje
temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de
Houston", disse Kathryn. "Ele tem câncer em todo o corpo, e vou
orar por ele agora. Quero que cada um de vocês, homens,
inclinem-se em oração, enquanto rogo ao Senhor por ele."
Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da
senhorita Kuhlman era simplesmente dizer o que Deus fazia à
medida que se desenvolviam os grandes cultos de milagres; que
ela não tinha nenhum dom pessoal de cura, em particular. Fez
um sinal para que eu me aproximasse e esticou suas mãos
sobre mim. Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha
esperado, duvidei. Lembrei o que tinha lido em seus livros, que
muitas vezes, quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao
chão. Eu achava que isso de cair estava muito bem para alguns
pentecostais, mas não era para um batista, e muito menos para
um capitão da polícia. Mas não tinha opção. Dei um passo à
frente e deixei que orasse por mim. Apoiando firmemente os pés
em minha melhor postura de judô, esperei, enquanto ela me
tocava e orava por minha cura. Não aconteceu nada, e quando
comecei a relaxar, escutei-a dizer: "E enche-o, bendito Jesus,
com o Espírito Santo". Senti que cambaleava, e pensei: "Não
pode ser!" Firmei-me sobre meus pés, colocando-os um atrás do
outro, e a escutei dizer pela segunda vez: "E enche-o com teu
Santo Espírito". Senti como se alguém tivesse posto suas mãos
sobre meus ombros e me estivesse empurrando para o chão.
Não pude resistir, e desabei sobre a plataforma. Lutei para
recobrar a posição vertical, justamente quando a escutava dizer
pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito Santo". E caí de
novo.

Desta vez fiquei no chão durante vários minutos. Sentia como se


estivesse afundando em uma piscina cheia de amor. Alguém me
ajudou a levantar, e escutei que ela me dizia: "Agora, procure
um assento. Vamos abrir este lugar, e em poucos minutos todos
os assentos estarão ocupados". Deveria havê-la escutado,
porque momentos depois se abriram as portas e o povo entrou
correndo pelos corredores como a lava de um vulcão. Pude subir
por um dos corredores, e me detive, olhando uma seção inteira
do auditório cheia de gente em cadeiras de rodas. Não podia
tirar meu olhar de seus rostos. Alguns eram tão jovens e já
estavam tão deformados... senti desejo de chorar novamente.
"Oh, Senhor, como sou tão egoísta para desejar me curar,
quando há tantas pessoas aqui, algumas delas tão jovens?"
Enquanto estava assim parado, olhando-os, pela primeira vez
em minha vida, escutei a voz de Deus em meu interior, que dizia:
"Não há escassez no depósito de Deus". Com novas forças
voltei para a parte detrás, e lenta, dolorosamente, subi as
escadas até encontrar um assento na primeira fila do mezanino.
Faltava ainda um pouco antes que começasse a reunião. O
enorme coro havia tomado seu lugar na plataforma e fazia os
últimos ensaios. Entretive-me, observando as diferentes pessoas
que estavam sentadas ao meu redor, e me apresentei ao
homem que estava sentado junto a mim. "Sou o doutor
Townsend", saudou-me. "Você é médico?", perguntei-lhe,
assombrado de que um médico estivesse assistindo a um culto
de cura. "Sim", respondeu, tirando seu cartão. "Venho porque
sou muito abençoado. Eu gosto de ver o enorme poder de Deus
em ação." Em seguida, apresentou a sua família. "Trouxe o meu
pai, que veio de outro Estado. Esta é a primeira reunião a que
assiste." Sentado do outro lado do corredor estava um de meus
atores favoritos da TV. "Vejam só.", pensei. "Médicos e estrelas
de TV que vêm e se sentam aqui em cima! Não vieram para ser
reconhecidos, mas sim para participar da reunião." Estava
impressionado. O culto começou. Uma linda jovem, uma modelo
cujo rosto eu tinha visto na capa das revistas femininas que Sara
lia, deu um rápido testemunho sobre o que Jesus Cristo
significava em sua vida. Eu tinha estado em muitas reuniões
evangelísticas, mas esta era incomum. Possivelmente era a
expectativa que havia no ambiente, possivelmente a sensação
de maravilha. Fosse o que fosse, era diferente de qualquer outra
reunião a que tivesse assistido. A senhorita Kuhlman falava da
plataforma. "Sabem, pediram-me que separasse este domingo
para os jovens, mas há pessoas que vieram de
tão longe, que não me atrevo a dizer: 'Só para os jovens'. No
entanto, como há tantos jovens aqui hoje, devo lhes falar". Sua
mensagem foi breve e dirigida aos jovens. Falou do amor de
Deus e, em seguida, apresentou um dos apelos mais
desafiantes que jamais escutei. Bem, se há algo que
impressiona um batista, são as quantidades e o movimento. E
quando vi quase mil jovens deixarem seus assentos e irem para
a frente, para tomar uma decisão por Cristo, isso me
impressionou. Ao contrário da maioria dos cultos evangelísticos
que tinha assistido, esta reunião não tinha fanfarras, nem
testemunhos lacrimogêneos. Só um simples convite desta
mulher alta que havia dito: "Quer nascer de novo?" Os jovens
responderam, muitos deles literalmente correndo pelos
corredores para aceitar esse desafio. Ela parecia ter esquecido o
passar do tempo enquanto os atendia sobre a plataforma,
orando por muitos deles individualmente. Finalmente, voltaram
para seus assentos, mas a congregação estava percebendo que
ia acontecer algo mais. "Pai", sussurrou a senhorita Kuhlman,
em voz tão baixa que eu quase não podia ouvi-la, "acredito em
milagres. Acredito que tu curas no dia de hoje, como o fazias
quando Jesus Cristo estava aqui. Tu conheces as necessidades
das pessoas que estão aqui, neste imenso auditório. Peçote isso
no nome de Jesus. Amém." Em seguida houve um silêncio. Eu
sentia meu coração batendo dentro do peito. Tinha consciência
de cada célula de meu corpo e quase podia sentir a batalha
espiritual que estava ocorrendo enquanto as forças do Espírito
Santo lutavam contra as forças do mal em meu corpo. "OH,
Deus", orei, em adoração. "OH, Deus." De repente, a senhorita
Kuhlman estava falando outra vez, e sua voz falava rapidamente
à medida que recebia conhecimento do que acontecia no
auditório. "Há um homem no mezanino, no extremo direito de
onde estou, que acaba de ser curado de câncer. Levante-se,
senhor, em nome de Jesus Cristo, e receba a cura." Olhei. Ela
apontava para o lado oposto de onde eu estava. Era
extraordinário. Eu somente podia observar, maravilhado,
enquanto sentia um entusiasmo crescente. Isto era real. Eu
sabia. "Não venha à plataforma a menos que tenha certeza de
que Deus o curou", enfatizava ela. Olhei ao meu redor e vi os
ajudantes caminhando pelos corredores. Estavam falando com
pessoas que acreditavam terem sido curadas, certificando-se de
que só aqueles que verdadeiramente tinham recebido cura
fossem dar testemunho. A maioria das pessoas curadas que
davam testemunho tinham estado sentadas no mezanino. Foram
da direita à esquerda: "Duas pessoas estão sendo curadas de
problemas na vista."
"Uma mulher está sendo curada agora mesmo de artrite.
Levantese e proclame sua cura." "Você está sentada na parte do
meio do mezanino." A senhorita Kuhlman dizia: "Você veio hoje
para receber cura. Deus a restaurou. Tire o aparelho de surdez.
Pode ouvir perfeitamente." Olhei. Uma mulher de
aproximadamente quarenta anos estava ficando de pé, tirando
os aparelhos de surdez dos dois ouvidos. Um ajudante, por trás
dela lhe sussurrava algo. Pensei que a mulher ia gritar enquanto
levantava as mãos sobre sua cabeça, louvando a Deus. Podia
ouvir. O doutor que estava sentado ao meu lado chorava,
dizendo: "Obrigado, Jesus". As curas aconteciam em direção a
onde eu estava sentado. "Senhor, que não se acabem", orei.
Então lembrei o que Ele me tinha sussurrado quando estava no
corredor, em baixo: "Não há escassez no depósito de Deus".
Repentinamente vi que a senhorita Kuhlman estava assinalando
para cima e à esquerda, onde eu estava sentado. "Você veio de
muito longe para ser curado de câncer", disse. "Deus o curou.
Fique de pé em nome de Jesus e proclame-o." Eu estava tão
longe da plataforma! Possivelmente ela nem imaginava que eu
estava ali. Mas seu dedo, comprido e magro, apontava em
minha direção. "OH, Senhor," murmurei, "é óbvio que quero ser
curado. Mas, como saber que isso é para mim?" Nesse mesmo
instante, a mesma voz interior que tinha escutado em baixo,
quando olhava aos cadeirantes, disse-me: "Fique de pé!"
Coloquei-me de pé. Sem sentir nada, simplesmente o fiz em
obediência e fé. Então eu senti. Era como ser batizado em
energia líquida. Nunca havia sentido uma força assim
percorrendo todo meu corpo. Senti que poderia tomar em
minhas mãos a lista telefônica de Houston e parti-la em pedaços.
Uma mulher se aproximou de mim. "Você foi curado de algo?"
"Sim", declarei, com vontade de saltar e correr ao mesmo tempo.
"Como sabe?" "Nunca me senti tão gloriosamente bem. Quase
não tive forças para chegar até este assento, e agora, sinto-me
tão bem!" Enquanto isso, eu me esticava e me dobrava, fazendo
coisas que não tinha podido fazer durante mais de um ano.
"Sinto que poderia correr mais de um quilômetro." "Então corra
até a plataforma e testemunhe", disse ela.
Lancei-me a correr. Mas, enquanto o fazia, comecei a me
perguntar: "E se houver aqui alguém de Houston? Vou chegar
correndo à plataforma, e a senhorita Kuhlman vai pôr suas mãos
sobre mim e vou cair no chão. O que pensarão?" Então percebi
que não me importava. Momentos depois, estava junto à
senhorita Kuhlman, na plataforma. Ela caminhou para mim e
disse simplesmente: "Te agradecemos, bendito Pai, por curar
este corpo. Enche-o com teu Espírito Santo". Bam! No chão
outra vez. Mas desta vez, devido à nova energia curadora que
enchia todo meu corpo, levantei-me imediatamente. Na segunda
vez, nem sequer me tocou. Só orou em minha direção, e a ouvi
dizer: "OH, o poder..." E caí de novo no chão. Desta vez fiquei
ali, me regozijando novamente nessa maré de amor líquido.
Mas, mesmo ali, Satanás me atacou. Veio como leão rugindo. "O
que o faz acreditar que foi curado?" A senhorita Kuhlman já tinha
posto sua atenção em outra pessoa. Rolei e me pus de joelhos,
com a cabeça nas mãos, orando: "OH, Pai, me dê fé para aceitar
o que sinceramente creio que me deste". Durante muitos anos
eu tinha recebido muitos estudos bíblicos batistas. Minha mente
tinha sido verdadeiramente exposta à Palavra de Deus, e nesse
momento, um versículo veio à minha mente: "Provai-me agora,
diz o Senhor..." Pensei em todos esses corpos deformados que
tinha visto. "Pai, me mostre um sinal visível para que minha fé se
fortaleça." Abri os olhos, e vi uma garotinha de nove anos que se
aproximava da plataforma. Nunca vi alguém mais feliz. Estava
correndo e saltando, descalça. Dançava de um lado ao outro em
frente à plataforma, junto à senhorita Kuhlman, que se esticava
para tomá-la pela mão, mas não pôde alcançá-la. Deu a volta e
começou outra vez. Novamente a senhorita Kuhlman quis pegá-
la, mas outra vez lhe escapou dançando. Nesse momento, a
mãe da menina já estava sobre a plataforma. Nas mãos tinha um
par de sapatos com rígidas barras de metal. Sem poder alcançar
a garotinha, que continuava saltando e dançando, a senhorita
Kuhlman se voltou para a mãe: "O que temos aqui?" "Essa é
minha filhinha", soluçava a mãe. "Teve paralisia infantil quando
era bebê e nunca pôde tornar a andar sem estes sapatos
especiais. Mas olhe para ela agora!" Toda a congregação
prorrompeu em estrondosos aplausos. "Como você soube que
Deus a curou?", perguntou Kathryn Kuhlman.
"Oh, senti o poder curador de Deus percorrendo seu corpo",
quase gritou a mãe. "Tirei-lhe os sapatos ortopédicos, e ela
começou a correr." Atrás dela havia outra mãe, que tinha nos
braços uma menina de dois anos. "O que aconteceu aqui?",
perguntou a senhorita Kuhlman. "Deus acaba de curar o pezinho
de minha filhinha." A voz da mãe tremia tanto que era difícil
entender o que dizia. A senhorita Kuhlman tomou o pezinho da
menina. "Era este o pé prejudicado?" "Sim, sim, era esse", disse
a mãe, sustentando na mão um sapato especial. "A menina
nasceu com pé chato. Sofreu muitas operações. Se você lhe
tivesse massageado o pé antes, como está fazendo agora, teria
gritado de dor." "Aqui na plataforma há vários médicos", disse a
senhorita Kuhlman. "Eles me conhecem. Há algum médico entre
o público que não me conheça e que não conheça estas
meninas? Poderia vir e examiná-las, por favor?" Um homem
ficou de pé. "Você é médico?", perguntou a senhorita Kuhlman.
"Sim", respondeu ele. "Onde exerce?" "No Hospital St. Luke's,
aqui em Los Angeles." "Poderia nos fazer o favor de vir e
examinar estas meninas?" O médico foi e subiu à plataforma. "A
primeira coisa que posso dizer é que essa garotinha que salta e
corre ali, com essas perninhas tão magras, é um milagre. Se não
fosse por um milagre, não poderia estar parada, e muito menos
saltar de gozo." Em seguida, tomou os pezinhos da menina
menor. "Senhorita Kuhlman", disse com voz séria, "não vejo
nenhuma diferença entre os dois pés desta criatura. Creio que
sua mãe pode tirar o sapato ortopédico." Não precisei de mais
provas. Cambaleando, saí pela parte posterior da plataforma,
procurei um telefone público e liguei para Sara, em Houston.
Estava ocupado. Pedi à telefonista que interviesse na ligação.
"Não posso fazê-lo a menos que seja um assunto de vida ou
morte", disse-me ela. "É exatamente isso, operadora. E pode
ficar na linha a escutar, se quiser." Repentinamente, Sara estava
ao telefone. Tentei falar, mas só conseguia soluçar. Nunca
chorei tanto em minha vida quanto nesse
momento, com o telefone na mão, detrás da plataforma, no
auditório Shrine. Sara repetia: "John, John, foi curado?"
Finalmente pude lhe dar a mensagem. Estava são. Então ela
começou a chorar. Desejei que a operadora estivesse
escutando. Era um assunto de vida, não de morte. Voltei para
junto da plataforma e observei. Cinco sacerdotes católicos, um
deles um "monsenhor", estavam sentados na primeira fila, sobre
a plataforma. O monsenhor estava sentado na ponta de sua
cadeira, absorvendo tudo. Ao passar, a senhorita Kuhlman olhou
para ele e viu a expressão de ansiedade em seu rosto. "Gostaria
de experimentar isto?", perguntou-lhe. Ele sabia perfeitamente
do que lhe estava falando, já que ficou em pé, com as dobras de
sua batina sacudindo no ar, e disse: "Sim". Lhe impôs as mãos e
disse: "Enche-o com teu Espírito Santo". Ele caiu ao chão. Ela
se voltou para os outros sacerdotes e lhes disse: "Venham".
Cada um deles caiu ao chão como o monsenhor. Os hippies
eram salvos. As extremidades tortas eram endireitadas. Meu
próprio câncer tinha sido curado. Os sacerdotes católicos eram
cheios do Espírito Santo. Saí como se estivesse flutuando em
uma nuvem e voltei para o hotel. Era mais do que eu podia
compreender. No hotel, fiz todo tipo de exercícios: me sentar e
me levantar, empurrar, coisas que não tinha podido fazer
durante mais de um ano. E as fiz sem problemas. Mesmo sem
ainda não ter feito um exame médico, eu sabia que estava
curado. Durante essa noite, despertei várias vezes, não para
tomar calmantes (tinha deixado de tomar minha medicação essa
manhã, antes de ir ao culto), mas sim para poder dizer em voz
alta, no meio da escuridão: "Obrigado, Jesus. Bendito seja o
Senhor!" Então chegou o momento de me reunir a Sara e às
crianças. Quando cheguei ao aeroporto de Houston, estavam me
esperando. Corri para eles, e abracei Sara tão forte, que
literalmente a levantei do chão. Minha força a deixou sem fôlego.
Em seguida agarrei os meninos, primeiro Andrew, em seguida,
John, levantando-os acima da minha cabeça. Abracei Elizabeth.
Todos falávamos com mesmo tempo. "Seu rosto, John", dizia
Sara. "Está cheio de cor e vida." "Eu sabia que ia ser curado",
dizia Elizabeth. "Orava por você todos os dias, às nove, às doze,
e às seis." "Nós também, papai", apareceu o pequeno John.
"Nós, seus filhinhos, também orávamos. Sabíamos que Deus o
curaria." Era muito, e este veterano capitão da polícia, parado no
meio do aeroporto de Houston, pôs-se a chorar. Pouco depois,
voltei ao Instituto M. D. Anderson para fazer um exame físico.
Tinha uma entrevista com dois médicos no mesmo dia.
A primeira que me examinou foi a que tinha recomendado a
operação. Dei-lhe um exemplar do livro de Kathryn Kuhlman,
"Creio em milagres". Ela o olhou, escutou o relato de minha
história, e em seguida me olhou como se eu estivesse louco.
"Deixe eu lhe dizer algo", disse. "O único milagre que lhe
aconteceu é um milagre médico. Isso é tudo. O que o está
mantendo vivo é sua medicação. Continue tomando-a, e
veremos quanto tempo vive." Eu sorri. "Bom, não tomei
nenhuma medicação desde vinte de fevereiro, já faz mais de um
mês." Ela se mostrou surpreendida e zangada. "Você fez uma
verdadeira tolice, senhor LeVrier", disse. "Não passará muito
tempo, antes que o câncer apareça em outra parte do seu corpo,
e você se irá." Que atitude tão estranha para uma cientista!,
pensei. Saí dali e fui ao consultório do doutor Lowell Miller, chefe
do Departamento de Terapia de Radiação do Hospital Herman.
Esperava que sua reação fosse mais positiva, mas depois da
recente experiência, decidi não lhe contar nada sobre o milagre.
Que o descobrisse por si mesmo. Sua enfermeira me pediu que
fosse ao quarto contiguo e me preparasse para o exame físico.
Então notei algo estranho. Como muitos policiais veteranos, eu
tinha sofrido de varizes nas pernas. Na verdade, não usava
bermuda em público, porque eu não gostava que vissem os
nódulos em minhas pernas. É obvio, quando se está morrendo
de câncer, não nos preocupamos muito com varizes, mas, à
brilhante luz do quarto, olhei minhas pernas, pela primeira vez
desde que voltei de Los Angeles. O Senhor não somente havia
me curado de câncer, mas também tinha feito desaparecer
minhas varizes. Minhas pernas estavam lisas e suaves como as
de um adolescente. Quando o Dr. Miller entrou no quarto, eu
estava me regozijado e louvando ao Senhor. Sentindo saudades
de ver um paciente de câncer tão contente, o Dr. Miller
retrocedeu. "Bom! O que é o que lhe aconteceu?" Isso foi tudo o
que precisei para lhe contar toda a história de como Jesus Cristo
tinha curado meu câncer. "Vejamos", disse o Dr. Miller. "Eu
também sou cristão, mas Deus nos deu suficiente senso comum
para que cuidemos de nós mesmos." "Não vou discutir isso",
falei alegremente. "Essa é a razão por que estou aqui para me
submeter a este exame. Me faça todos os exames que desejar.
Mas lhe digo que não encontrará nada mal." "Ok", disse o
médico. "vamos fazer, então." E a seguir me submeteu ao
exame físico mais completo que já me fizeram. Ao terminar,
disse: "Sabe, desejaria que minha próstata estivesse tão bem
como a sua." Em seguida, examinou a coluna, batendo em
vértebra por vértebra. "Notável", repetia. "Notável."
Me enviou a fazer raios X, e disse depois: "Ligarei dentro de um
ou dois dias, logo depois de que tenha tido tempo de comparar
estas radiografias com as anteriores. Mas por todas as
indicações que tenho, você foi curado." Três dias depois soou o
telefone de minha escrivaninha no segundo andar do
Departamento de Polícia de Houston. Era o doutor Miller.
"Capitão", disse, "tenho boas notícias. Não encontrei
absolutamente nenhum traço de câncer. Agora, queria lhe fazer
uma pergunta. Está acostumado a dar palestras?" "Sobre meu
trabalho como policial?", perguntei. "Não", disse ele, "não sobre
isso. Quero que venha à minha igreja e conte à congregação o
que Deus fez por você." Isso foi o começo. A partir de então,
viajo por todo o país, contando às pessoas que não têm
esperança, sobre o Deus que não tem escassez em seu
depósito de milagres.
Capítulo 3 Caminhando nas sombras
Isabel Larios
O Natal é uma época de muito gozo para mim. Recebo milhares
de cartões de amigos queridos de todo o mundo. Leio cada um
deles. Mas os mais preciosos para mim são os que me
escrevem as crianças. Eles são tão abertos, tão sinceros.
Quando uma criança me diz: "Te amo", nunca duvido de que
realmente o sinta. Por isso, quando recebi um pequeno e singelo
cartão, de uma doce garotinha mexicana-americana que vive na
Califórnia, soube que realmente sentia o que escrevia. Escreveu
para me agradecer por lhe fazer possível viver outro Natal. Lisa
me agradecia porque podia me ver. Mas eu sabia o que ela
queria dizer. E, Deus sabe, não foi Kathryn Kuhlman: foi Jesus.
Lisa Larios estava morrendo de câncer ósseo até que Jesus a
curou no auditório Shrine. A mãe e o pai adotivos da Lisa, Isabel
e Javier Larios, viviam em um modesto complexo de
apartamentos em Panorma City, Califórnia. Isabel nasceu em
Los Angeles, mas foi criada em Guadalajara, México. Javier, que
passa grande parte de seu tempo trabalhando com seu cavalete
de pintor em seu apartamento, é um respeitado garçom na Casa
Vega, um dos restaurantes mais elegantes do Sherman Oaks.
Além da Lisa, têm mais dois filhos: Albert e Gina. "São só os
dores do crescimento, Lisa", falei enquanto minha filha de 12
anos se queixava de dor no quadril direito. Eu estava sentada na
beira da cama, na semi-escuridão, lhe esfregando o quadril e as
costas com linimento. Lisa crescia rapidamente. Já tinha o corpo
de uma mocinha de quinze anos e parecia a imagem viva da
saúde. Mas aqui, na penumbra da noite, enquanto esfregava sua
pele suave, senti que essa dor, em particular, era algo mais do
que essas dores musculares normais que as meninas
experimentam quando estão crescendo. Lisa também sentia
isso. O medo entrou no quarto, junto com a dor.
"Mamãe, acenda a luz do quarto quando sair", sussurrou Lisa.
"Não quero ficar aqui sozinha no escuro." Javier tinha ido
trabalhar no restaurante. As outras duas crianças já estavam
dormindo. Lhe dei umas palmadinhas nas costas e lhe arrumei o
pijama. "Não há nada que temer", falei. "Eu não gosto das
sombras", respondeu ela, com sua cabecinha metida no
travesseiro. "Me dão medo." Acendi a luz do corredor e deixei a
porta de seu quarto aberta. Por um momento me detive na porta,
olhando-a. De onde tinha vindo esse temor repentino? Lisa
nunca tinha tido medo antes. Agora eu podia sentilo em todo o
quarto, como uma rede que descia do teto e cobria toda a cama.
Será que Lisa percebia algo que eu não podia sentir? O dia
seguinte foi um desses estranhos e belos, que às vezes
acontecem na Bacia de Los Angeles. Era o último dia de março,
e uma forte chuva, logo antes do amanhecer, tinha lavado o ar,
deixando-o claro e limpo. O sol brilhava com toda sua força, o
céu era azul radiante, e dava para ver claramente as montanhas
cobertas de neve sobre o horizonte, a leste. Javier se tinha
levantado para tomar o café da manhã com as crianças, antes
que fossem à escola. Depois, ele e eu fomos a Van Nuys fazer
compras. Eu procurava um suéter para Lisa, e Javier queria uns
lápis de carvão, para terminar um desenho que estava fazendo
em seu cavalete. Quando voltamos, pouco antes do meio-dia, a
porta do apartamento estava entreaberta. Lisa estava lá dentro,
jogada sobre o sofá, chorando. Alarmado, Javier se ajoelhou
junto dela e suavemente lhe tirou o cabelo de sobre os olhos. "O
que aconteceu, Lisa?", perguntou com doçura, e o som musical
de seu sotaque mexicano soou nos ouvidos da menina. "É o
quadril, papai", soluçou ela. "Começou a doer muito, assim que o
vizinho foi me buscar e me trouxe da escola." Lisa me passou
um bilhete amassado, de uma das irmãs da escola Santa Isabel.
"Por favor, ocupe-se disto: Lisa tem muita dificuldade para
andar. Acreditamos que deveria consultar um médico." Javier
assentiu. "Ligue para o doutor Kovener", disse. "Não devemos
esperar mais." O doutor Kovner era um amigo da família. Tinha
nos atendido antes, e sempre dizia que Lisa era sua paciente
favorita. Sua secretária nos agendou para o dia seguinte, à
tarde. O doutor tirou algumas radiografias e realizou um exame
preliminar. Em seguida me recebeu em seu escritório. "Senhora
Larios, isto pode ser uma de várias coisas. Temos que começar
com as mais óbvias e começar a trabalhar nisso. Vou internar
Lisa no hospital, onde poderemos fazer outros exames."
No Hospital Comunitário Van Nuys fizeram novos exames. Lisa
tentava ser valente, mas estar constantemente dolorida,
passando a noite fora de sua casa, em um lugar estranho,
rodeada por gente que não conhecia, não era fácil para ela.
Todas as manhãs eu levava as crianças à escola, e em seguida
ia para o hospital, chorando durante todo o caminho, me
perguntando se as pessoas que passavam a meu lado saberiam
da grande dor que eu estava sentindo. No hospital, eu era toda
sorrisos, mas era só uma máscara. Por dentro, estava
destroçada. "É possível que a dor seja causada por um apêndice
aumentado que esteja pressionando um nervo", disse o médico.
"Vamos extrair o apêndice e veremos se isso resolve o
problema." Mas a dor continuou depois que Lisa voltou da
operação. Aparentemente ninguém sabia o que fazer agora. Em
12 de maio voltou para casa. Só podia andar com muletas.
Houve mais visitas ao médico. "Isto me deixa perplexo", disse o
doutor Kovner ao examinar as radiografias novamente. "Acredito
que devemos consultar um especialista." O doutor Gettleman,
cirurgião, era muito metódico. Mandou tirar mais radiografias e
realizou um novo exame, ele mesmo. "Deve continuar usando as
muletas durante mais uma semana", disse. "Traga-a de novo, na
próxima quinta-feira." Apesar das muletas, a dor era cada vez
mais forte. Como que não podia ir à escola, Lisa vagava pela
casa com as muletas, chorando e tentando parecer valente.
Passava a maior parte do tempo na cama. Ao final dessa
semana, voltou ao hospital, desta vez ao Saint Joseph, de
Burbank. "Teremos que operar de novo", disse o Dr. Gettleman.
"Vimos algo nas radiografias. Poderia ser uma bolsa de pus que
causa pressão. Mas também poderia ser um tumor. Há dois tipos
de tumores, benignos e malignos. Se for um tumor benigno, não
teremos problemas. Se for maligno, pode ser muito sério."
Embora pertencêssemos a uma igreja católica romana, e nossos
filhos estudassem em uma escola católica, nem Javier nem eu
éramos muito religiosos. Raramente íamos à missa, e quase
nunca nos confessávamos. Mas eu sempre me havia sentido
muito próxima de Jesus, e os cartõezinhos que as coleguinhas
da escola da Lisa lhe enviavam, dizendo que estavam rezando
por ela, também ajudaram a me voltar para Deus, em oração. Na
noite anterior à operação, eu estava em casa, só, com o Albert e
a Gina. Eles se foram se deitar cedo, e eu fui ao meu quarto e
me joguei sobre a cama, no escuro. Parecia que todo meu
mundo se tinha feito em pedaços. Tinha carregado Lisa em meu
corpo durante nove meses. Tinha desejado morrer no parto, para
que ela pudesse viver. Tinha cuidado dela, tinha estado com ela
nas noites escuras, tinha rido com ela, tinha
passeado pelo campo com ela, tinha chorado e orado por ela. E
agora os médicos me diziam que possivelmente morreria. Já
tinha chorado até não ter mais lágrimas. Tudo parecia tão inútil,
tão fútil. Enquanto estava assim na cama, olhando as sombras
no teto, comecei a orar. "Querido Senhor, Lisa realmente não é
minha. É tua. Somente nos deixaste tê-la, para criá-la, alimentá-
la, educá-la e amá-la. Um dia ela nos deixará, se casará e criará
seus próprios filhos. Se quiseres levá-la antes que isso
aconteça, eu a devolvo a ti, e te agradeço, porque a deixaste
conosco todo esse tempo, para nos abençoar." Foi uma oração
simples, sem grandes emoções. Mas era sincera. Enquanto
continuava olhando as sombras, adormeci. Sonhei que estava
sentada em um pequeno quarto escuro. Javier estava junto a
mim, segurando minha mão. Uma porta se abriu em frente a nós,
e pelo corredor se aproximaram dois homens vestidos com
batas, dessas que os cirurgiões usam. Um dos médicos estava
chorando e não podia falar. O outro parou diante de nós e disse:
"Sua filha está muito doente. Tem câncer". Despertei,
sobressaltada. Passava da meia-noite, e eu ainda estava jogada
na cama sem me deitar. A casa estava em silêncio. Só a luz do
corredor se filtrava no dormitório. Levantei-me e fui ver os
meninos. Dormiam tranqüilamente. Fui para o living e me sentei
na beirada do sofá, na escuridão. Esse sonho era do diabo?
Estava tentando me assustar? Ou era de Deus, para me advertir
e me preparar? Como saber? Quando ouvi os passos de Javier
na escada, rapidamente fui para nosso quarto e me meti na
cama antes que ele entrasse. Não queria que soubesse o
quanto eu estava preocupada. Lisa precisaria encontrar nós dois
fortes, para enfrentar a operação, na manhã seguinte. Javier e
eu nos sentamos, de mãos dadas, na pequena sala de espera
junto à sala de operações, no hospital. Era natural que ambos
orássemos, e o fizemos em silêncio. Os médicos entravam para
informar às outras pessoas que também estavam esperando.
"Seu pai está muito bem. Nem sequer precisamos operá-lo..."
"Não tem do que se preocupar, sua esposa está perfeitamente
bem." "Pode levar seu filho para casa esta tarde." Às duas da
tarde olhei, e vi que vinham dois médicos pelo longo corredor.
Um deles era o doutor Kovner. Seu rosto estava cinza. O outro
era o doutor Gettleman. Javier se levantou de um salto e foi ao
encontro deles, mas eu fiquei sentada. Sabia o que aconteceria,
e minhas pernas pareciam de borracha. Era a mesma cena que
tinha vivido em meu sonho. "Encontramos um tumor", disse o
doutor Gettleman. "É inoperável. Se tivéssemos cortado,
teríamos que amputar toda a perna." "É câncer?", perguntou
Javier.
"Sinto dizer que sim", respondeu o médico. "Está muito, muito
mal. O osso do seu quadril está como se fosse manteiga. Se
tivesse uma colher, poderia tê-lo tirado todo. A carne que rodeia
o osso está como queijo gruyere, cheia de buracos. O laboratório
já fez uma análise, e é o pior tipo de câncer. A única coisa que
pudemos fazer foi costurá-la outra vez." "Não houve nada que
pudessem fazer?", clamou Javier, com o rosto macilento e
abatido. "Nada no momento. Depois que se recupere da
operação, começaremos o tratamento com cobalto. Falaremos
depois sobre isso." "Mas ficará boa, não é?", perguntou Javier. O
doutor Gettleman sacudiu a cabeça. "Só posso dizer é que
tentaremos lhe prolongar a vida. Não posso prometer nada
mais." Olhei para o doutor Kovner. Embora não dissesse nada, o
seu rosto expressava tudo. Seus olhos estavam cheios de
lágrimas. Lisa estava morrendo, e nenhum de nós podia fazer
nada a respeito. Eu a havia devolvido a Deus, e ele tinha aceito
meu oferecimento. Os médicos aconselharam que não
deveríamos dizer nada a Lisa sobre seu estado. Duas semanas
depois, a trouxemos novamente para casa, em uma cadeira de
rodas, decididos a lhe dar o verão mais feliz de sua vida. O
doutor Kovner não concordou com nossos planos de levar Lisa
em umas longas férias. "Devemos começar o tratamento de
cobalto o mais rápido possível", disse. "Se assinarmos a
autorização e permitimos fazer o tratamento com radiação,"
perguntei, "o que pode nos prometer?" "Não podemos lhe
prometer nada", respondeu ele. "Mas nunca saberá se ajudará
ou não, a menos que o faça." "O que acontecerá se não
permitirmos que lhe faça o tratamento?" "Não me agrada
responder perguntas como essa", disse o doutor Kovner. "Mas,
mesmo com o tratamento, o máximo que podemos estimar é
seis meses. E estará muito, muito, muito mal quando morrer."
Prometi conversar sobre isso com Javier. Ambos sentíamos que
seria cruel que Lisa devesse passar seus últimos meses de vida
sujeita a esse tratamento de radiação. Em 9 de junho, Lisa foi
internada no Hospital Pediátrico de Los Angeles. Era o terceiro
hospital em que entrava em três meses. A doutora Higgins, que
estava encarregada de seu caso, disse que havia três áreas
para onde poderia se espalhar o câncer: fígado, peito ou
cérebro. Qualquer poderia ser fatal. Aparentemente, o câncer se
espalha rapidamente nas crianças em idade de crescimento, e a
única forma de
tentar salvar sua vida era por meio do tratamento com cobalto e
quimioterapia. Finalmente demos nossa autorização para que
lhe realizassem o tratamento preliminar, e começaram a lhe
aplicar uma série de injeções. O organismo de Lisa reagiu
violentamente. Eu me sentava com ela durante toda a noite,
enquanto ela vomitava e perguntava: "Mamãe, o que está
acontecendo comigo? por que estou tão doente?" Era mais do
que eu podia suportar. Javier e eu conversamos novamente e
decidimos que seus últimos dias seriam vividos em nosso lar,
conosco, em vez de no hospital. A levaríamos para casa. O
capelão da escola em que Lisa estudava ficou sabendo de sua
doença e a visitava todas as noites, levando a comunhão.
Comentamos com ele nossa decisão de interromper o
tratamento de cobalto. Ele concordou. "Se ela está morrendo,
deveria passar os últimos dias de sua vida o mais feliz que fosse
possível." "Lisa não tem absolutamente nenhuma possibilidade
de recuperação sem a terapia de radiação", objetou a doutora
Higgins, quando lhe comunicamos nossa decisão. Os outros
médicos opinavam igual. "Se ficar no hospital, talvez possamos
aprender algo que possa ajudar alguma outra garotinha dentro
de cinco ou dez anos." "Não me interessa que minha filha se
converta em uma experiência médica", lhes falei com total
honestidade. "Só quero que ela se cure. Vocês podem me
prometer isso?" "Sinto muito, senhora Larios", disseram os
médicos. "A medicina não pode lhe prometer nada." No dia
seguinte, levamos Lisa para casa, para que morresse em nosso
lar. Passamos o resto do verão tentando fazê-la feliz. Nos
endividamos muito para levá-la a passeio pela costa, comprar as
coisas que queria, como gravador e outros objetos materiais.
Mas tudo parecia tão pateticamente vazio. Não era bom que
estivéssemos sentados ao seu redor, cobrindo-a de presentes, e
esperando sua morte. Numa tarde, em meados de julho, alguém
bateu à porta de nosso apartamento. Abri-a e vi nosso vizinho,
um jovem solteiro chamado Bill Truett, parado no corredor.
"Como está Lisa?", perguntou Bill. "Não está bem", respondi.
"piorou desde que a tiramos do hospital." Bill sorriu fracamente e
me olhou fixo aos olhos. "Ela ficará bem", disse com voz
confiante. Encolhi os ombros. "Espero que sim."
"Não, você não me compreendeu", disse seriamente. "Ela vai
ficar bem. Alguma vez você ouviu falar de Kathryn Kuhlman?"
"Bom, a vi umas duas vezes na TV, mas nunca prestei muita
atenção." "Neste próximo domingo ela vai estar no auditório
Shrine de Los Angeles", disse Bill. "Queria levar Lisa à reunião."
Duvidei por um momento. Realmente não conhecia muito bem o
Bill, e tinha ouvido dizer que as reuniões no Shrine eram muito
prolongadas. Mas ele insistiu tanto, que finalmente concordei em
ir junto com Lisa e ele, só para me livrar dele. Depois de lhe
dizer que iríamos, fechei a porta e me encostei na mesa da
cozinha. Javier estava trabalhando em um desenho junto à
janela, olhando o pátio. Vários de seus desenhos estavam
pendurados nas paredes de nossa casa. Eu sabia que ele
estava interessado em desenvolver seu talento, mas também
sabia que a pintura era uma forma de escape para ele. Quando
estava ocupado com seus desenhos, não tinha tempo para
pensar na Lisa. Observei seu rosto, parecia esculpido em pedra,
ali concentrado em seus carvões. Senti minhas unhas cravarem
na palma da mão, ao fechar o punho, tentando deter as
lágrimas. Javier estava perdido em sua arte. Bill sugeria coisas
estranhas. Mas eu era a mãe da Lisa, e tinha que enfrentar a
realidade. Não podia me agarrar à arte para escapar, nem me
deixar levar pelas tolices que Bill dizia sobre milagres. Eu tinha
que enfrentar as coisas como elas eram. Lisa ia morrer. Bill
voltou na a manhã seguinte e me lembrou de minha promessa
de ir com ele e Lisa ao auditório. "Bill, não quero apagar seu
entusiasmo", falei, "mas os médicos me disseram que Lisa não
pode se curar. Ninguém pode fazer nada." "Então vejamos o que
Deus pode fazer", disse ele simplesmente. Quis retroceder.
Sentia que Bill me estava pressionando. Além disso, detestava
ter que me levantar cedo num domingo pela manhã e dirigir por
toda a cidade só para esperar numa fila durante horas. Bill se
negava a desanimar. "Sei que ela será curada. Minha mãe é
muito próxima desse ministério. Ela conhece muitas pessoas
que foram curadas." Eu não tinha fé nenhuma. Só agradecia que
Lisa não soubesse o quão sério era seu estado. Embora eu não
soubesse, Lisa suspeitava de algo. Ao menos sabia que sua
perna não podia suportar seu peso. Poucos dias antes, tinha
visitado uma amiga em um apartamento próximo, do outro lado
do corredor, e tentou andar sem as muletas. Seu quadril se
dobrou como uma esponja molhada, e ela caiu no chão. Embora
não soubesse o que era, podia perceber que tinha algo muito
ruim no quadril.
Na tarde do sábado, Bill tornou a bater à porta. "Lembre,
amanhã é o dia. Lisa receberá um milagre." "Tudo bem, Bill",
falei, fechando a porta. Mas por dentro sabia que não havia
como isso acontecer. Já não se produziam milagres, ao menos
não para gente como nós. Se havia milagres, eram para os ricos,
os piedosos, os Santos da igreja. Nós somos somente uns
pobres mexicanos católicos que nem sequer íamos muito à
missa. Como podíamos esperar um milagre? No dia seguinte, 16
de julho, de manhã muito cedo, Bill bateu à porta. "Me deixe
terminar o café", gritei. Por dentro, desejava que se fosse sem
nós. Bill e sua noiva Cindy nos estavam esperando com uma
cadeira de rodas. Ajudaram Lisa a descer as escadas, em
seguida rodearam a piscina, percorreram a calçada estreita e a
meteram no automóvel. Pouco depois saímos da estrada Harbor
para o sul, para Los Angeles e o auditório Shrine. Lisa estava na
cadeira de rodas, enquanto eu esperava apoiada sobre uma
velha manta contra a parede do auditório Shrine, me
perguntando quando abririam as portas. Tudo isto parecia tão
estúpido: passar toda a manhã sentada na calçada, me
calcinando sob o Sol, esperando por nada. Finalmente abriram
as portas. Bill empurrou a cadeira de Lisa para a seção
reservada para cadeiras de rodas e eu me sentei junto a ela. Ele
e Cindy foram se sentar em outra parte do auditório. Eu estava
maravilhada pela quantidade de gente e a cordialidade, a
amizade e o amor que sentia nesse lugar. A reunião começou
com o coro cantando "Ele me tocou". Kathryn Kuhlman, com um
vestido branco vaporoso, apareceu na plataforma. Lisa tocou
meu braço. "Mamãe, se olhar para ela com os olhos
entreabertos, verá um halo ao seu redor." Encolhi os ombros e
não fiz nenhuma tentativa para descobrir o tal halo. Então a
senhorita Kuhlman pregou um breve sermão, ao qual nem
sequer emprestei atenção. Eu sacudia a cabeça. Tudo isto era
muito lindo, mas, por que estávamos perdendo o tempo aqui?
Então, sem aviso prévio, começaram a acontecer coisas. A
senhorita Kuhlman apontava para o balcão. "Há um homem que
está sendo curado de câncer agora. Fique de pé, senhor, e
aceite sua cura." Me virei e tratei de olhar para cima. Mas estava
muito longe. Só o que podia ver eram rostos que se perdiam
para trás na escuridão. Mas ao mesmo tempo, parecia haver luz;
não o tipo de luz que pode ser vista, mas sim a que se sente.
Estava em todo o edifício. Luz e
energia, como se houvesse pequenas chaminhas de fogo que
dançassem de uma cabeça a outra. Senti-me eletrizada. A
senhorita Kuhlman continuava apontando outros lugares no
auditório onde se estavam produzindo curas. Em seguida
apontou para a área onde estavam as cadeiras de rodas, logo
onde nós estávamos sentadas. "Há um câncer ali", disse
suavemente. Levante-se e receba sua cura." Olhei para Lisa,
mas ela não se moveu. É obvio. Como saberia que tinha câncer?
Nós não lhe havíamos dito. Se eu lhe dissesse que a senhorita
Kuhlman estava falando com ela, e se ficasse em pé, seu quadril
e sua perna poderiam se torcer. O que deveria fazer? A
senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça e se dirigiu a outra seção,
assinalando novas curas em outras partes do auditório. Meu
coração quase parou. Tinha passado a oportunidade da Lisa?
Seria muito tarde? Então a senhorita Kuhlman tornou a olhar
para nossa seção, apontando para o lugar onde estávamos.
"Não posso me esquecer disto", disse. "Alguém ali está sendo
curado de câncer. Deve se levantar e aceitar sua cura."
"Mamãe," disse Lisa, "sinto uma quentura no estômago." Não
tínhamos comido da manhã cedo, e comecei a procurar alguma
guloseima em minha bolsa. "Não, não é esse tipo de calor",
disse Lisa, recusando a guloseima. A senhorita Kuhlman
continuava assinalando em nossa direção. Olhei ao meu redor.
Não havia ninguém mais de pé em nossa área. Eu sabia que
devia ser Lisa quem estava sendo curada, mas tinha medo. O
que aconteceria se não fosse para ela? O que aconteceria se
ficasse de pé e caísse? Ou, o pior... o que aconteceria se fosse
Lisa... e não ficasse em pé? Quando pensava que morreria de
incerteza, de dúvida, Lisa se inclinou e me sussurrou: "Mamãe,
acredito que vou subir à plataforma. Creio que estou sendo
curada." "Faça o que quiser", falei, me sentindo aliviada de que
ela tivesse decidido por mim. Mas temia por ela, quando
tentasse caminhar sem as muletas. Um dos ajudantes sentiu que
algo estava acontecendo a Lisa e se aproximou de nós. "Creio
que me sinto melhor", disse-lhe Lisa. "Quero subir à plataforma."
Ele a ajudou a sair da cadeira de rodas. Contive a respiração
enquanto ela se levantava. Por um momento, pensei que
desabaria, mas repentinamente compreendi algo. Esse mesmo
fogo que eu havia sentido que dançava de uma cabeça a outra,
estava agora descansando sobre Lisa. Quase podia ver uma
nova força fluindo em seu corpo.
O conselheiro a ajudou a se apoiar nele, e começaram a descer
pelo corredor. Lentamente, a princípio, em seguida com mais
segurança, chegaram junto à plataforma, onde uma mulher
trocou algumas palavras com eles. Bill Truett se uniu a eles ali, e
logo depois de uma breve conversa, subiram Lisa à plataforma.
A senhorita Kuhlman escutou enquanto a mulher lhe dava
alguns detalhes. Em seguida se aproximou de Lisa. Lisa
retrocedeu um passo, e em seguida caiu ao chão. Contive a
respiração, pensando que sua perna tinha cedido. Mas Lisa ficou
de pé novamente. "Dedico desta menina ao Senhor Jesus
Cristo", disse a senhorita Kuhlman, enquanto Lisa permanecia
de pé em frente a ela, com o rosto banhado em lágrimas.
"Agora, vejamos como caminha." Lisa começou a correr de um
lado a outro do cenário, e todos começaram a aplaudir, louvando
a Deus. Então, como se fossem anjos cantando, o coro começou
a entoar suavemente "Aleluia, aleluia". "Quero que esta cura
seja verificada", disse a senhorita Kuhlman. "Quero que torne a
ver seu médico e peça que lhe faça um exame completo. Em
seguida, retorne para a próxima reunião e testemunhe o que
Deus fez por você." Olhei de esguelha para Bill. Estava
exultante, como se fosse sua própria irmã a que tivesse sido
curada. Logo, eu aprenderia que na família de Deus somos
verdadeiramente irmãos e irmãs. Mas nesse momento só
conseguia pensar em Lisa. Ela continuava correndo de um lado
ao outro da plataforma, ainda mancando um pouco, mas pisando
forte. Mordi o lábio. Sabia que seu quadril era como manteiga e
cederia diante da mínima pressão... mas não aconteceu. Será?
Tinha sido curada? Eu tinha medo de acreditar. Tinha sofrido
uma vez, e tanto, quando o doutor nos havia dito que não havia
esperança. Acreditar agora, somente para descobrir depois, que
era uma falsa esperança, seria mais do que poderia agüentar.
Era mais seguro não acreditar nada. Javier estava saindo para
trabalhar quando chegamos em casa. Lhe contamos o que tinha
ocorrido. "Então começaremos a ter esperanças", ele disse.
"Isso é algo que não tivemos antes. Tivemos tanto amor por
nossa garotinha. Agora temos esperanças. Cedo ou tarde,
possivelmente Deus nos dará a fé para aceitar a maravilha que
está fazendo." Foram as sábias palavras de meu maravilhoso
marido. Bill e Cindy entraram conosco no apartamento. "Tire as
muletas dela", disse Bill, quando eu as estava dando outra vez a
Lisa. "Não compreende? Ela foi curada." Durante o resto da
noite, Lisa andou coxeando pelo apartamento. Eu observava
cada um de seus passos, temendo que pudesse cair. Mas não
caiu. Na verdade, parecia que ela estava ficando cada vez mais
forte bem diante de meus próprios olhos. No dia seguinte, a
primeira coisa que Javier perguntou foi: "Onde está Lisa? Como
ela está?" Eu tinha levantado mais cedo, assim levei Javier para
a janela. "Olhe"', falei, apontando para o pátio. Ali estava Lisa,
pedalando em sua bicicleta ao redor da piscina, brincando com
outras crianças do edifício. Quando Javier se afastou da janela,
seu rosto estava riscado pelas lágrimas. Se eu acreditasse ou
não, dava no mesmo. Ele sim, acreditava. Na semana seguinte
levei Lisa ao Hospital Infantil. Logo depois de uma série de
exames de sangue e várias radiografias do quadril e do peito, o
radiologista disse: "Ligaremos quando tivermos algo". Os olhos
do Javier dançavam quando abriu a porta do apartamento para
mim. "Bem, o que disseram?" Expliquei-lhe a situação e falei que
teríamos que esperar. Ele insistiu em que ligasse para a doutora
Higgins. "Estava a ponto de chamá-la", disse-me a doutora,
quando finalmente consegui me comunicar com ela. "Mas estive
em consulta com outros sete médicos sobre o caso da Lisa. Não
sei o que lhe dizer." Engoli a saliva. "Quer dizer que algo está
mal?" Será que isto foi só um truque cruel, que minhas
esperanças surgiram só para serem feitas em pedaços agora?
"Não sei como pôde ter acontecido", continuou a doutora, como
se não me tivesse ouvido. "Todos vemos o mesmo nas
radiografias. O tumor se reduziu muitíssimo em vez de espalhar-
se. Há evidências de cura." É claro, ela não sabia nada sobre a
reunião de Katbryn Kuhlman, mas havia dito "evidências de
cura". O que mais seria necessário para que eu me convencesse
de que Deus havia tocado a vida da Lisa? "Doutora, tem você
um minuto?", perguntei. "Quero lhe contar algo. Sei que achará
estranho, mas levamos Lisa a uma reunião de Kathryn Kuhlman.
Desde então, ela anda sem muletas, corre, anda de bicicleta,
nada e se comporta normalmente. Acreditamos que Deus a
curou." Houve um longo silencio do outro lado da linha. "Quero
compreender bem isto", disse finalmente a doutora. "Você não
esteve lhe dando nenhuma medicação, verdade?" "Nenhuma",
respondi. "Você recusou que fizesse o tratamento com cobalto e
quimioterapia, verdade?" "Sim", respondi.
Novamente houve um longo silencio. "Bom, pode ser que seu
corpo esteja armando um certo tipo de resistência e jogando isso
fora, o que não parece natural. Ou poderia ser sua Kathryn
Kuhlman. Seja o que for, o tumor está desaparecendo. E até
onde eu sei, é o primeiro caso na história da medicina em que
isso acontece." Eu estava chorando. Lembrava de ter lido, fazia
tempo, a história de Tomé, na Bíblia. Ele acreditou que Jesus
tinha sido levantado dos mortos só quando finalmente viu as
marcas dos pregos em suas mãos. Como eu me parecia com
ele... Mas, mesmo assim, Deus tinha permitido que eu visse
esse milagre em minha filha. "Lhe digo algo mais", disse a
doutora Higgins suavemente. "Todos se alegraram muito no
hospital pelo que aconteceu a Lisa, porque este é um caso no
qual tínhamos perdido toda esperança." Lisa retornou à escola
no outono, sem muletas. Um mês depois a levei ao médico. O
tumor continuava se reduzindo. Estava se retirando. Lisa estava
quase normal. "Como se explica isto?", perguntava eu. "Não
temos explicação", disse o médico. "Nunca houve um caso de
cura como este antes. Se lhe tivéssemos dado tratamento com
cobalto, e o tumor tivesse retrocedido, o teríamos considerado
como um milagre da medicina. Mas sem tratamento algum...
bem, o que podemos dizer?" Nosso sacerdote, entretanto, podia
dizer algo: "Deus tem muitas formas de fazer as coisas.
Certamente isto vem Dele." Agora que Lisa está completamente
sã, muitos de nossos amigos perguntam: "por que aconteceu
tudo isto?" Creio que Deus permitiu esta enfermidade em nossas
vidas, para nos aproximarmos mais entre nós e nos
aproximarmos mais dEle. Na Bíblia encontrei um relato que
explica tudo. Certo dia Jesus estava caminhando por uma rua e
viu um homem que era cego de nascença. Seus seguidores lhe
perguntaram: "Mestre, por que este homem é cego? É porque
ele pecou, ou porque pecaram seus pais?" O Mestre respondeu:
"Não, nenhuma das duas coisas. Ele é cego para que Deus
possa ser glorificado por meio de sua cura." Então o tocou, e o
cego pôde ver. Creio que Lisa chegou a ficar tão doente para
que Deus pudesse ser glorificado em sua cura. Dar a glória a
Deus não é algo que se aprenda através dos livros. Tem que ser
aprendido ao andar com Ele pelo vale de sombras. Se a gente
viver no topo da montanha todo o tempo, torna-se duro e
insensível, sem reagir diante das coisas mais delicadas da vida.
Somente na sombra do vale crescem estes tenros pastos.
Estive muitas vezes observando Javier enquanto desenha.
Adora usar carvões e misturar sombras. "O brilho do sol ressalta
os detalhes", diz, "mas são as sombras que fazem ressaltar o
caráter." Só quando caminhamos nas sombras, aprendemos a
louvar a Deus pelas pequenas coisas. Foi então que
aprendemos que Lisa não era realmente nossa, mas sim de
Deus. Nos momentos mais obscuros, a devolvemos ao Pai
Celestial. Ali, no vale, descobrimos o segredo da renúncia. Mas
quando a demos, Ele teve a misericórdia de a devolver a nós
curada. Lisa já não teme as sombras. Como nós, compreendeu
que até no vale, Deus está conosco. Sua vara e seu cajado nos
confortam, fazendo que nossa taça transborde de sua bondade
e sua misericórdia.
Capítulo 4 O dia em que a misericórdia de Deus se encarregou
Richard Owellen, Ph.D., M.D.
O doutor Richard Owellen é um velho amigo. Conheci-o quando
cantava em nosso coro, em Pittsburgh, enquanto trabalhava
para obter seu doutorado em química orgânica no Carnegie.
Depois de dois anos de estudos em pós-doutorado na
Universidade de Stanford, passou à Universidade Johns
Hopkins, em Baltimore, onde completou seu doutorado em
medicina em três anos. Depois de um ano como interno e dois
de residência em medicina interna, foi contratado por essa
universidade como professor ajudante de medicina, pelo qual
dividiu seu tempo entre a investigação do câncer, a atenção a
seus pacientes e o ensino. Enquanto trabalhava para obter o
doutorado em química no Carnegie, comecei a assistir às
reuniões de Kathryn Kuhlman, que se realizavam todas as
sextas-feiras no velho auditório Carnegie, ao norte de Piltsburgh.
Ali, pela primeira vez em minha vida, senti o poder de Deus
agindo enquanto as pessoas se reuniam para adorar. Pouco
depois, me ofereci como voluntário para cantar no coro, e ali
conheci Rose, que tinha literalmente crescido dentro do
ministério da senhorita Kuhlman. Rose e eu começamos a sair,
nos apaixonamos e, em abril de 1959, a senhorita Kuhlman
celebrou nosso casamento. Um ano depois, nasceu a pequena
Joann. Rose teve uma gravidez e um parto normal, mas quando
levamos a menina para casa, notamos um grande machucado
em uma das nádegas. Perguntei ao doutor o que era isso, mas
nos assegurou que não havia nada que indicasse haver um
problema. Mas tanto meus pais, como a irmã de Rose, notaram
algo estranho no comportamento da bebê. Era extremamente
nervosa; muito, dizia minha mãe. Chorava e gemia
constantemente e não queria alimentar-se,
rejeitava a mamadeira, vomitava e gritava se a movíamos
enquanto era alimentada. Além disso, notamos que uma perna
estava sempre dobrada para o corpo, com o joelho e o pezinho
girados para fora, algumas vezes em um ângulo de até noventa
graus. Era impossível fazê-la esticar as duas perninhas ao
mesmo tempo para as pôr direitas. Quando a levamos
novamente ao médico da família, examinou suas pernas e
quadris. "Sim, realmente há algo errado com a perna direita",
disse. '"Não estou certo do que é, neste momento, mas
esperemos um tempo. Algumas vezes essas coisas se arrumam
sozinhas." Esperamos vários meses, mas nada se arrumou. Ao
contrário, ficou pior. Joann continuava sendo muito nervosa, e
muitas vezes chorava quando a tocávamos. Quando tomava sua
mamadeira, freqüentemente parava para chorar. Estes sintomas
nos comunicavam que sofria fortes dores. Mas, o que era? E
onde? Depois dos três meses Joann já deveria ter sido capaz de
levantar sua cabecinha do colchão, mas não o fazia. Cada vez
mais preocupados, a levamos novamente ao médico. Desta vez,
logo depois de examiná-la, o doutor me fez gestos para que me
aproximasse dele. A pequena Joann estava de costas sobre a
maca. O doutor tomou seu pezinho direito em uma mão e pôs a
outra sob seu joelho. Logo começou a dobrar lentamente o
pezinho para dentro. A menina gritou de dor. "A perna não gira
nada", disse o doutor. "Agora olhe isto." Suavemente começou a
girar a perninha para fora. Fiquei boquiaberto e, em seguida,
contive a respiração enquanto a perninha da minha filha girava
em sua mão, não só de cima para baixo, mas também no que foi
quase uma rotação completa de 360 graus. Só quando tinha
terminado a rotação a bebê começou a gemer de dor. O doutor
colocou cuidadosamente a perninha em sua posição original.
Depois me apontou as dobras na pele ao longo de sua coxa.
"Esta é uma das coisas que um médico observa", disse-me.
"Note que há duas dobras deste lado, mas só uma na outra
perna. Uma criatura normal teria as mesmas dobras em ambas
as pernas. Uma diferença como desta indica algum tipo de
alteração interna, quer dizer, que há algum defeito na estrutura
do quadril, da coluna ou da perna. Neste caso, estou certo de
que se trata do quadril." Rose tomou a menina e a apertou
contra si. "O que está querendo nos dizer, doutor?", perguntou,
com os olhos cheios de lágrimas. O doutor pôs sua mão sobre o
ombro do Rose. "Não posso dizer com total segurança",
respondeu, "por isso quero que seja examinada por um
ortopedista. Ele poderá nos dar um diagnóstico definitivo. Parece
um quadril deslocado." Rose se sentou na cadeira que estava
junto à maca, sustentando ainda a bebê junto a seu peito. O
médico continuou falando, e de forma
muito suave e amável, disse-nos o que podíamos esperar. Joann
possivelmente necessitaria de aparelhos ortopédicos,
possivelmente, inclusive, um colete ortopédico. O tratamento
levaria um longo tempo, e mesmo assim, não havia cem por
cento de probabilidades de que se curasse totalmente. Existia a
possibilidade concreta de que fosse uma aleijada durante toda
sua vida, e caminhasse sempre com dificuldades. Poderia ter
uma perna mais curta do que a outra, ou outro tipo de anomalia.
"Não devem esperar", disse o médico. "Levem-na a um
cirurgiãoortopedista." "Não entendo", falei para Rose. Ambos
estávamos agitados, sentados em nosso pequeno living. "Aqui
estamos, servindo ao Senhor, e ele deixa que isto nos
aconteça." Rose estava calada; seu belo rosto estava tenso, os
lábios tremiam um pouco. Eu queria parar, cruzar o quarto,
tomá-la em meus braços e consolá-la. Mas estava muito agitado
em meu interior. Não tinha nada para dar. "Estivemos dizendo a
outras pessoas que acreditamos na cura divina," explodi, "e
agora temos uma filha deformada." "Se Deus permitiu que
tivéssemos uma filha deformada," disse finalmente Rose,
"certamente espera que nos ocupemos dela e a cuidemos." "Não
discuto isso", falei amargamente. "Amo esta menina e farei tudo
o que for possível para que seja curada. Se não se curar, a
criaremos e a amaremos a vida toda. É que não parece justo. O
mundo está cheio de gente que não ama a Deus, que nem
sequer o conhece. Muitas destas pessoas odeiam a Deus, mas
têm filhos normais. Por que Nós temos que ter uma filha
deformada?" Era uma pergunta injusta. Eu sabia que Rose não
tinha a resposta, assim como eu não a tinha. Também sabia que
as pessoas que questionam a Deus estão mostrando sua falta
de fé. Estava me dando conta de que não tinha nenhuma, pelo
menos não o tipo de fé que eu achava que era necessária para
que nossa filha se curasse. Na manhã seguinte, enquanto me
vestia para ir para a aula, Rose se sentou ao lado da cama.
Tinha ficado acordada a maior parte da noite, cuidando da bebê,
e seu rosto mostrava os sinais da falta de sono. "Dick", disse,
indecisa, "vimos o Espírito Santo fazer tantas coisas
maravilhosas nos cultos da senhorita Kuhlman. Não crê que
deveríamos levar Joann e ter fé em que Deus vai curá-la?" Rose
se tinha retirado do coro da senhorita Kuhlman pouco antes do
nascimento da bebê, e embora tivéssemos tornado a ir a
algumas das reuniões, tanto em Piltsburgh como em
Youngstown, Ohio, a vergonha
tinha feito que não contássemos a ninguém sobre o estado da
menina. Só meus pais e a irmã de Rose sabiam. Com a
pergunta de Rose dando voltas na minha cabeça, detive-me em
frente do espelho durante um longo tempo, brincando com o nó
da minha gravata. Fé? Acabava de perceber que não tinha
nenhuma fé, ao menos, não a que se requeria para que Joann
fosse curada. Mas lembrava de algo que tinha escutado a
senhorita Kuhlman dizer muitas vezes: "Faça tudo o que puder.
Então, quando tiver chegado ao fim de seus recursos, deixe
Deus se encarregar". Tínhamos ido ao médico. Os únicos
recursos possíveis eram os aparelhos ortopédicos e uma
possível cirurgia, sem garantia de que a menina se curasse.
Rose tinha razão. Agora era o momento de confiar
completamente em Deus. Na sexta-feira de manhã saímos do
apartamento para levar a menina ao culto de milagres no
auditório Carnegie. Sentados no automóvel, inclinamos nossas
cabeças para orar. "Senhor Jesus, está escrito em tua Palavra
que temos o privilégio de vir diante de ti e te pedir que, em tua
misericórdia, toque o corpo de nossa filhinha. Mas não o
exigimos de ti, Senhor. Nem sequer o reclamamos, porque
embora já nos tenha sido dado, sabemos que ainda depende de
tua misericórdia. Simplesmente lhe pedimos, Senhor Jesus, que
cures a nossa pequena filha." Foi uma oração muito singela, não
do tipo que eu tinha imaginado muitas vezes que diria. Em minha
imaginação eu irrompia diante do trono da graça e atirava as
promessas de Deus na sua cara, exigindo que as cumprisse.
Mas agora, cara a cara com um problema que era maior que
nós, maior que a ciência medica, Rose e eu compreendíamos
que o nosso único descanso era na misericórdia de Deus. O
culto foi similar às centenas de reuniões a que já tínhamos
assistido antes, só que desta vez não estávamos simplesmente
como espectadores. Vínhamos esperar um milagre. Parecia que
era um desses dias em que a pequena Joann estava
especialmente incomodada. Várias vezes gemeu e gritou de dor.
Não queríamos que incomodasse no culto, por isso ficamos na
parte de trás do auditório, enquanto Rose a segurava nos
braços. Quando Joann chorava, Rose a levava ao saguão, e
voltava quando a menina se acalmava. Tínhamos dado nossos
assentos a outras pessoas e estávamos apoiados contra a
parede do fundo do grande auditório, enquanto se desenvolvia o
culto de milagres. Joann estava envolta em uma manta, e, de
vez em quando, Rose a levantava um pouco e olhava.
Acreditava que quando Deus começasse a agir, ela veria algo.
Quase ao final do culto, algo aconteceu. Desde que Joann
nasceu, os dedinhos de seu pé direito tinham estado firmemente
dobrados para
baixo. Agora, enquanto estávamos apoiados contra a parede,
esses pequenos dedinhos rosados começaram a relaxar, até se
parecerem com os de qualquer menina saudável de quatro
meses de vida. Rose me acotovelou. Seu rosto estava radiante.
"Deus começou a agir", disse. "Sua presença está sobre a
menina. Vou à plataforma." Estava decidida, e vi que seria inútil
tentar detê-la. Começamos a avançar pelo corredor. Eu
esperava que a qualquer momento algum obreiro nos detivesse,
já que tinham estritas ordens de evitar que qualquer pessoa
descesse, a menos que algum conselheiro tivesse falado com
ela antes. Mas não havia nenhum obreiro por perto. Seguimos
descendo pelo corredor. Enquanto caminhávamos, a senhorita
Kuhlman desceu da plataforma e se aproximou de nós. Nos
encontramos no centro do auditório. "Rose", disse, olhando
surpreendida para minha esposa. "Algum problema com a
menina?" Rose tentou falar, se engasgou, e tentou novamente.
"S-s-sim, senhorita Kuhlman. Ela tem um quadril deslocado
desde que nasceu." A senhorita Kuhlman sacudiu a cabeça,
assombrada. "por que não me disse...?" interrompeu-se e
voltando-se para auditório lotado de gente, disse: "Quero que
todos fiquem de pé e comecem a orar. Deus vai curar esta
preciosa criatura." Rose tirou a manta de Joann e a estendeu
para a senhorita Kuhlman. Em todo o lugar as pessoas estavam
de pé, com os olhos fechados, orando. Eu também orava, mas
tinha os olhos abertos. Queria ver o que acontecia. Observei
cuidadosamente. A senhorita Kuhlman estendeu seus dedos
sensíveis e tocou os dedinhos de Joann muito suavemente. Não
os agarrou. Nem sequer fechou os dedos. Só tocou ligeiramente
e começou a orar. "Maravilhoso Jesus, toque este precioso
bebê..." Eu vi! Eu vi com meus próprios olhos! Essa perninha,
torcida tão grotescamente para a direita, começou a endireitar.
Girou lentamente até que os dedinhos ficaram apontando para
cima, como os do outro pé. Tudo parecia perfeitamente natural.
Mas eu sabia que o que estava vendo era impossível. Alguma
força exterior estava movendo essa perna. Mas a senhorita
Kuhlman não o tinha feito. Rose, com os olhos fechados e o
rosto elevado para o céu, não o tinha feito. E é obvio, a pequena
Joann não o tinha feito. Quem podia tê-lo feito, então, a não ser
Deus! Mantive os olhos fixos na perninha que descansava em
posição natural, e soube que a cura era total. "Obrigado,
Senhor", não me cansava de repetir, em silêncio. "Obrigado." A
senhorita Kuhlman parou de orar, e todos se sentaram. Rose
envolveu a menina na manta, e começamos a voltar para a parte
de trás do auditório.
"Você viu?", sussurrei-lhe quando chegamos lá. "Ver o que?",
perguntou Rose. "Estava orando. Você não?" "Eu também
estava orando, mas com os olhos abertos. Não sentiu?" "Sentir o
que?" Rose me olhava intrigada. "A perna de Joann, seu pé. Vi
como sua perna se moveu. Endireitou. Eu vi quando foi curada!"
Estava tão entusiasmado que quase não conseguia me controlar
para não gritar. Rose arregalou os olhos, e a alegria se refletiu
em seu rosto, "Jesus!", sussurrou. "Oh, Jesus, obrigado."
Empurramos a porta vaivém e quase corremos para o saguão.
Ali tiramos a manta e observamos as perninhas de Joann.
Estavam perfeitas. A perninha direita já não estava dobrada para
dentro como antes. O pezinho direito já não estava dobrado para
fora. Ambas as pernas estavam retas, e os pés estavam bem
colocados. "Vamos para casa", falei. "Quero passar o resto do
dia louvando a Deus." Não só passamos o resto do dia louvando
ao Senhor, mas também a maior parte da noite. Depois do
jantar, que a bebê tomou sem problemas, a deitamos de barriga
para baixo no berço. Ficamos de mãos dadas junto ao berço e a
observamos. Pela primeira vez em sua vida, Joann levantou a
cabeça do colchão e olhou ao seu redor. Ficamos acordados até
as três da madrugada, observando-a. Dormia, acordava, fazia
gorgolejos, gorjeava e tornava a dormir. Era como se estivesse
compensando o tempo perdido em que sua vida não tinha
estado cheia de gozo. Na manhã seguinte ainda podíamos ver a
perfeita cura operada em suas pernas. Eu as podia manipular
sem problemas. A única ocasião em que chorou foi quando eu
tentei torcê-la para fora, como era possível fazer até o dia
anterior. Nossa Joann estava perfeitamente normal. A única
diferença entre seus perninhas era que uma tinha uma dobra na
pele, e a outras duas... uma lembrança de que tinha tido algo
ruim na sua estrutura. Na segunda-feira seguinte fomos à
consulta com o cirurgiãoortopedista. Ele olhou a menina e leu o
relatório enviado por nosso médico de família. "Por que seu
médico os enviou para cá?", perguntou enquanto esticava as
pernas de Joann. "Ele suspeitava que o quadril direito dela
estivesse deslocado", falei. O médico a examinou
cuidadosamente mais uma vez, e sacudiu a cabeça. "Não
entendo. Esta menina não tem nada errado. Sua perna
esquerda se torce um pouco, mas isso não é anormal. Vocês
não precisam de mim. Para mim, esta menina está perfeitamente
bem." Nós estávamos encantados por escutar a confirmação de
sua cura da boca de um médico. E agora Joann comia
normalmente; já não parava para chorar. Na sexta-feira, uma
semana depois de Joann ser curada, voltamos ao médico da
família. Perguntou-nos o que tinha acontecido e por que
havíamos retornado tão rápido. Lhe contamos toda a história,
sem omitir nenhum detalhe. Durante todo o relato, o doutor nem
sequer piscou, mas continuou examinando Joann e fazendo
anotações. Repetimos o que o outro médico havia dito. Ele
girava a perna, para a frente e para trás, para um lado e para o
outro, o mesmo exame que lhe tinha feito na semana anterior.
Com um gesto, indicou a Rose que seu exame estava concluído
e que podia vestir Joann. Em seguida, se sentou e se recostou
para trás. "Bom, as crianças mudam", disse. Mas logo
completou; "Mas não tão rápido. Isso tem que ser de Deus." Nós
estávamos extasiados de gozo. A cura era completa, e até o
medico dava a glória a Deus. Agora, anos mais tarde, faço parte
da equipe de um dos centros médicos mais importantes do
mundo. E, como tal, não vejo nenhum conflito entre a medicina e
a cura divina. O médico não cura. Pode prescrever um
medicamento, mas esse medicamento não troca os órgãos; só
melhora a maneira como eles funcionam. Toda cura vem de
Deus. Os cirurgiões podem cortar os tecidos ou as células
doentes, o que algumas vezes permite que o organismo se cure
mais rapidamente. Mas nenhum cirurgião pode entrar no corpo e
curar. Ele só costura o corpo, depois de terminar seu trabalho.
Quem cura é Deus. Deus nos proveu de uma grande quantidade
de medicamentos maravilhosos, técnicas cirúrgicas, ortopédicas,
a capacidade de cuidar dos doentes... e o cristão tem o benefício
adicional de poder ver além do que o médico pode fazer: ele
pode ver o que Deus pode fazer. Alguns de meus colegas
médicos sinceramente acreditam que isto não é assim. Outros,
igualmente sinceros, vão além e negam a existência de Deus.
Mas quando enfrentam o fato de que alguns de seus pacientes
"incuráveis" são curados quando se voltam para Deus, ficam
desconcertados. Para alguns pode parecer estranho que um
homem de ciência, dedicado a ser intelectualmente honesto,
possa ignorar esta maneira de curar. Mas as coisas do espírito
não são como as da mente natural. Na verdade, a mente natural
é inimiga da espiritual. Qualquer pessoa, até um cientista muito
capacitado, que não quer enfrentar o fato de que está em
rebeldia contra Deus e necessita de Jesus Cristo, fará algo para
anular a
mensagem da salvação de Deus. O mesmo acontece com o
reconhecimento do poder de Deus para curar. Entretanto,
aqueles que sinceramente desejam chegar ao conhecimento de
toda a verdade, finalmente chegarão a Jesus Cristo, "em quem",
diz Paulo, "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e
do conhecimento" (Colossenses 2:3). Foi somente nos últimos
anos, depois de me unir ao corpo de professores da
Universidade Johns Hopkins como ajudante da cadeira de
medicina, que comecei a apreciar plenamente a grandeza da
graça de Deus ao curar a pequena Joann. Não foi minha fé, nem
a de Rose, que fez isso acontecer. Nenhum de nós tinha o tipo
de fé necessária para "reclamar" a cura. Foi a misericórdia de
Deus; seu favor imerecido. Quando fomos a essa reunião,
tínhamos razões para esperar um milagre. Tínhamos visto
muitos outros que foram curados e, é obvio, sabíamos que Deus
ama as crianças. Mas, mesmo assim, não tínhamos a fé que
acreditávamos que era necessária para que um milagre assim se
produzisse. Mas sentimos que tínhamos que lhe dar a Deus a
oportunidade de tocar a nossa filha, deixando-a nas mãos dEle.
E quando a deixamos, a alcançou, a tomou e a curou. Por meio
deste milagre, aprendi a diferença entre a fé em Deus, que a
maioria de nós tem, e a fé de Deus (a mesma classe de fé que
Deus tem), que é um dom do Espírito Santo. A fé em Deus nos
permite acreditar que Deus fará algo maravilhoso. Mas, a menos
que tenhamos a fé de Deus, devemos fazer todo o
humanamente possível primeiro, acreditando que possivelmente
Deus queira operar por meio da ciência médica, e deixar o resto
em suas misericordiosas mãos. Muitas pessoas tentam obrigar
Deus a fazer algo, vindo à sua presença e quase exigindo que
opere. Algumas vezes Deus honra tais demandas, não porque
tenha que fazê-lo, mas sim porque o comovemos. Mas eu me
sinto muito mais seguro dependendo de sua graça e de sua
misericórdia para satisfazer todas minhas necessidades. Muitas
vezes me perguntei se muitas das curas que presenciei não
seriam psicossomáticas. A partir de um estudo básico da
natureza humana, sabia que algumas provavelmente o foram.
Mas uma bebê de quatro meses de vida não sabe o suficiente
para ter uma cura psicossomática. O que vimos naquele dia no
corredor do auditório Carnegie, não foi um processo mental; foi
puramente físico. E foi instantâneo. Não há termos médicos que
possam descrevê-lo, à exceção da palavra "milagre".
Constantemente me perguntam: "por que tenho esta
imperfeição? Esta deformidade? Por que Deus permite doenças
nas pessoas, especialmente nos cristãos? Por que Joann teve
essa imperfeição?" São perguntas inquietantes, sobretudo para
um médico. Realmente, não tenho a resposta. Mas, no que
concerne a Joann, estou absolutamente
convencido agora, embora não o estivesse então, que Deus
permitiu que sofresse dessa deformação em particular para que
sua cura fosse um testemunho dEle. Sentimos que, se Deus
podia nos confiar uma menina aleijada, tinha algo maior que
queria nos confiar: o testemunho de seu poder para curar.
Capítulo 5 Quando o céu baixa à Terra
Gilben Strackbein
Gilbert e Arlene Strackbein vivem em uma cômoda casa se
localizada entre os pinheiros de Little Rock, Arkansas. Gilben é
um bem-sucedido vendedor de uma empresa de artigos para
escritórios. Têm três lindas filhas e participam ativamente do
movimento do Espírito Santo que está varrendo a nação. Mas
nem sempre foi assim. Esta é a história de Gil. Certa vez,
quando eu solicitava um emprego como vendedor, o psicólogo
da companhia me perguntou: "por que quer você este cargo de
vendedor?" "Bom," respondi, "vender é o que sei fazer, o que
sempre fiz." "Isso é difícil de acreditar, senhor Strackbein", disse
o psicólogo, franzindo o cenho. "Normalmente, um vendedor tem
que lhe gostar de gente; mas segundo seu teste psicológico,
você nem sequer gosta de si mesmo." Ele tinha razão, é claro.
Realmente não me interessava se eu gostava ou não das
pessoas. Como vendedor, só estava interessado em duas
coisas: conseguir um pedido e sair dali em seguida. Sempre
tinha me afastado das pessoas. Meus pais eram alemães,
luteranos, muito rigorosos, do sul do Texas. Aprendi a falar
inglês só quando entrei na escola. Orgulhoso de minha herança,
encontrava uma grande satisfação em acreditar que minha
mente alemã podia levar vantagem em tudo o que fosse, seja
mecânica, eletrônica ou lógica. Com o passar dos anos, cheguei
a acreditar que poderia fazer qualquer coisa, por tão somente
me propor a isso. Embora ganhasse a vida como vendedor,
passava todo meu tempo livre na oficina, fazendo coisas como
montar computadores. Arlene tinha dezenove anos quando nos
casamos. Depois que nos mudamos para a New Orleans, ela
começou a sofrer ataques de desmaios
e perdeu grande parte de sua energia. Mas eu simplesmente me
neguei a acreditar que ela estivesse doente. A enfermidade,
para mim, era sinal de fraqueza. Quando nossa pequena filha,
Denise, tinha três anos, decidi que Arlene precisava ter outro
filho. Isto lhe faria tirar da cabeça o que ela chamava "seus
problemas", pensava eu, e lhe daria algo construtivo no que
pensar. Mas a gravidez de Arlene não foi tão simples. Desde o
início surgiram complicações que exigiram muita atenção
médica. Seus rins apresentavam problemas que ameaçavam a
ela e também ao bebê. Sofria horríveis espasmos nas pernas, e
para evitar o risco de um aborto espontâneo, o médico ordenou
que guardasse repouso... na cama, durante sete meses. Irritado
por esta demonstração de fraqueza de sua parte, afastei-me
ainda mais, tratando de ter o menor contato possível com ela.
Embora Arlene estivesse na primeira fase de uma terrível
doença, eu não tinha a menor idéia de que minha enfermidade
espiritual era ainda pior. Arlene tinha freqüentado uma Igreja
Metodista, em New Orleans. As senhoras de sua igreja, sabendo
que ela tinha que enfrentar seu problema sozinha, começaram a
passar em casa para preparar o almoço, já que o médico a tinha
proibido de se levantar, a não ser para ir ao banheiro. Se alguém
a visitava quando eu estava em casa, eu abria a porta e
desaparecia pelos fundos. Embora detestasse que Arlene
estivesse de cama, me incomodava muito mais que as pessoas
de fora interferissem em nossas vidas tentando ajudar. A
gravidez complicada foi só o começo. Durante os anos
seguintes, sua condição piorou: fraqueza, espasmos
musculares, infecções nos rins, enjôos, visão turva. Melhorava e
logo depois piorava novamente. Algumas vezes, tinha fases em
que sofria de falta de coordenação muscular, depois da qual
ficava com ainda menos energia que antes. Os médicos não
conseguiam descobrir o que estava errado, e eu continuava me
negando teimosamente a reconhecer que havia algo
funcionando mal. Numa noite, vim para casa à hora do jantar e
encontrei a mesa já preparada. Algumas senhoras da igreja
haviam trazido uma refeição completa, arrumado a mesa e ido
embora. Sabendo como eu me sentia, Arlene se levantou da
cama para sentar-se à mesa comigo. Chegou até a porta da
cozinha e caiu no chão. Não estava inconsciente, mas era como
se todos os músculos de seu corpo tivessem deixado de
funcionar ao mesmo tempo. Eu estava assustado. Queria fugir,
mas sabia que não podia deixála ali sozinha, caída no chão.
Levantei-a, chamei uma vizinha para que cuidasse de nossos
dois filhos, e a levei rapidamente ao hospital. Na sala de
emergências, a enfermeira, que tinha trabalhado com Arlene,
começou a gritar: "Doutor, está sem pressão sangüínea!" Os
médicos vieram imediatamente para o seu lado. Foi necessário
um tratamento de emergência para que seu coração voltasse a
bater.
Então, compreendi que minha demonstração de força era só
uma máscara. Ao enfrentar uma situação realmente impossível,
não tinha respostas. Odiei Arlene por sua fraqueza, mas me
odiei ainda mais, por ser incapaz de suportar a situação. Uma
noite voltei tarde para casa e encontrei Arlene semi-erguida na
cama, cochilando. Tinha um livro aberto sobre o colo: Creio em
milagres, de Kathryn Kuhlman. Resmungando, peguei o livro,
olhei a capa e vi uma dedicatória escrita na primeira página por
Tom e Judy Kent. Eu conhecia esse casal: Judy tinha trabalhado
no mesmo escritório que Arlene, enquanto Tom estudava
medicina em Tulane. Agora ele trabalhava como médico na
Califórnia. Arlene acordou e me viu de pé junto à cama. "Tom
me enviou isso", disse sorrindo, apontando o livro com um gesto.
"Disse que ele e Judy estavam orando para que o Senhor
fizesse um milagre de cura em mim." Sacudi a cabeça e lhe
devolvi o livro. "Como é possível que um médico acredite num
lixo como esse?" "Por favor, Gil", disse Arlene, com os olhos
cheios de lágrimas. "Não me tire minha fé em um Deus que faz
milagres, só porque você não crê. Tenho que acreditar em algo."
"Acredite em si mesma", falei. "É tudo o que tem que fazer para
sair dessa cama." Mas embora Arlene pudesse se levantar, não
conseguia manter-se em pé. Tentava. Fazia valentes esforços
para continuar, mas parecia que sempre terminava no hospital.
Mudamos para Little Rock, Arkansas, onde comecei a trabalhar
para uma empresa de artigos de escritório. Em meu tempo livre
eu fazia o possível em não pensar na situação de Arlene, que se
deteriorava rapidamente. Me incomodava que, embora não
pudessem diagnosticar qual era seu problema, os médicos a
fizessem retornar ao hospital a cada poucos meses para lhe
fazer novos exames e tratamentos. Depois do nascimento de
nossa terceira filha, Lisa, Arlene começou a assistir a um culto
nas noites de quinta-feira, na Igreja Anglicana de Cristo. Wanda
Russel, sua professora da escola dominical na Igreja Metodista,
vinha todas as quintas buscá-la, depois do jantar, e a levava às
reuniões. Eu achava que era uma tolice, mas pensava que
Arlene precisava passar algum tempo fora de casa. Assim, não
neguei que fosse... até uma noite em que voltou mais tarde que
de costume. "Arlene, por que quer ir à reunião de uma Igreja
Anglicana? Temos a Igreja Metodista mais perto."
Arlene caminhou fracamente até o sofá e se sentou. "Essa Igreja
Metodista não acredita na cura divina", disse. "Está me dizendo
que esteve assistindo a cultos de cura?" Arlene simplesmente
assentiu. "Nenhuma pessoa inteligente acredita nessas coisas",
falei firmemente. "É tudo superstição. E não quero que minha
mulher seja vista com esses charlatães." Arlene tentou ficar de
pé, mas suas pernas se negaram a mover-se. "Por favor, Gil. Eu
preciso. Não me tire isso." "Ouça", falei com determinação. "Sei
tudo sobre essas coisas. Quando eu era menino, no Texas,
havia uma Igreja Pentecostal perto da minha casa. Íamos ali
depois que escurecia, e espiávamos pelas janelas. Tinham
cultos de cura, e gritavam em idiomas estranhos, rolavam pelo
chão, gritavam, corriam pelo templo e caíam na plataforma como
se fossem animais feridos. Não vou deixar que minha esposa se
meta em tolices como essas." "Oh, Gil", disse Arlene, com os
lábios tremendo. "Não é assim. O pastor Womble diz que ele
acredita que Deus vai me curar." "Me recuso a acreditar nisso de
Deus", falei. Estava começando a me zangar. "Esse assunto das
curas não passa de uma tolice e eu a proíbo de voltar lá." Arlene
se recostou para trás no sofá e fechou os olhos. Pequenas
lágrimas começaram a cair sobre suas bochechas. "Você
conheceu meu pai depois que Jesus entrou em seu coração.
Mas o que eu lembro dele, quando era uma garotinha, não é
nada agradável; ele era alcoólatra. Ficava louco quando estava
alcoolizado. Não tínhamos comida suficiente em casa porque o
álcool era mais importante para ele do que minha mãe ou eu.
Mamãe tentou continuar com ele, mas finalmente se deu por
vencida. Quando eu fiz seis anos, nos mudamos para o outro
lado da cidade, e, num ataque de fúria provocado pelo álcool,
meu pai tentou arrombar a porta e me levar com ele. Mamãe e
eu nos abraçamos dentro da casa e ficamos orando e chorando
até que ele se foi." "Quando cresci, pensava que a coisa mais
maravilhosa no mundo seria ter um marido que amasse tanto a
Deus como a mim. Para mim, ter uma família cristã seria o céu.
Pensei que tinha realizado esse sonho quando o conheci, Gil.
Mas você foi fazer o serviço, e quando voltou, odiava a Deus.
Não sei o que aconteceu com você." Eu estava paralisado.
"Você tem tudo o que precisa", exclamei. "Vivemos em uma bela
casa, numa boa vizinhança. Tenho um bom salário e jamais lhe
neguei nada, nem sequer cuidados médicos. Não me importa
que vá à igreja aos domingos. Nem mesmo a proíbo de dirigir o
coro infantil."
"Na verdade, não preciso de você, sabe?", me disse Arlene,
olhando diretamente na minha cara. "Quando eu era pequena,
sempre orava para que os anjos do Senhor me protegessem, e
sei que o faziam. Pode me proibir de ir aos cultos de cura, mas
não pode me tirar meu relacionamento com Deus. Ele é tudo de
que preciso." Ardendo de ira, saí da casa e me dirigi à oficina.
Quando finalmente voltei para me deitar, tinha passado da meia-
noite. Apesar de Arlene estar com o rosto enfiado no travesseiro;
eu podia ouvir seus soluços incontidos. Queria acariciá-la, tomá-
la em meus braços. Mas ser terno, doce, chorar... tudo isso seria
sinal de fraqueza, e eu tinha sido criado para ser forte. Na
manhã seguinte, me levantei, preparei meu café da manhã e saí
de casa, sem me despedir sequer das meninas. Me odiei por
isso, mas não sabia agir de outra forma. Embora estivesse
ganhando muito dinheiro e ter recebido muitas promoções, por
dentro eu estava me deteriorando ainda mais rapidamente do
que Arlene se deteriorava fisicamente. Arrumava viagens "de
negócios" que duravam vários dias. Arlene suspeitava de minhas
infidelidades, mas eu racionalizava minha conduta permissiva,
justificando que ela não era capaz de satisfazer minhas
necessidades. O álcool tranqüilizava minha consciência, e
gradualmente foi se convertendo em um companheiro constante.
A saúde de Arlene piorou depois do nascimento de Lisa. Ela já
tinha sido internada no hospital mais de vinte vezes, com coisas
como problemas urológicos, mas isto agora era diferente. Sua
pressão sangüínea subiu a mais de vinte, e seu braço esquerdo
ficou parcialmente paralisado; não podia fechar a mão. O médico
que a atendia chamou um neurologista para realizar uma
consulta. Disseram que poderia ter um tumor cerebral. Três dias
depois, no corredor, fora de seu quarto no hospital, o doutor me
disse o que acontecia. "Suspeitamos que pode haver um tumor
no cérebro, senhor Strackbein. Queríamos fazer um
arteriograma, mas Arlene tem apresentado reações alérgicas a
todas as tintas que usamos em radiologia. O próprio exame
poderia matá-la. Eu não gosto disso, mas teremos que esperar
para ver o que acontecerá." Engoli em seco e percebi que não
podia encará-lo. "Faremos o melhor que pudermos e o
avisaremos se for necessário operar." Não era um tumor
cerebral. O diagnóstico final revelou que era uma enfermidade
do sistema nervoso central; podia ser miastenia grave, esclerose
múltipla, ou ambas... e devia estar progredindo já a vários anos.
Permitiram que voltasse para casa, mas lhe recomendaram ficar
na cama a maior parte possível do tempo. Uma noite, enquanto
eu assistia TV na sala, ela apareceu cambaleando do dormitório.
Seu rosto estava macilento.
"Por favor, venha", disse-me. "Meu corpo todo está tremendo."
Quando apoiei minha mão em suas costas, senti os músculos
sacudindo-se em espasmos sob a pele. "Deite e relaxe", falei.
"Se sentirá melhor daqui a pouco." Ela me olhou e voltou para
quarto. Quinze minutos depois a escutei levantar-se, caminhar
para o banheiro... e gritar. Quando cheguei até ela, estava caída
no chão, inconsciente e sem firmeza alguma no corpo. Quando a
levantei, senti os músculos retorcendo-se debaixo da pele. Então
teve a convulsão. Sua coluna ficou rígida, e a cabeça foi jogada
violentamente para trás. Ao mesmo tempo, todo o corpo ficou
rígido e os olhos reviraram. A língua se enrolou para trás,
obstruindo sua garganta. Consegui levantá-la do chão e
repentinamente perdeu força uma vez mais, ficando como um
peso morto em meus braços. Levei-a ao dormitório e chamei a
nossa vizinha, Edna Williamson, para que cuidasse das meninas
enquanto eu levasse Arlene ao Hospital St. Vincent. Quando
terminei de fazer a ligação para o hospital, o corpo inconsciente
de Arlene estava sofrendo uma nova convulsão. O espasmo
durou aproximadamente um minuto e em seguida se acalmou.
Momentos depois, começou outra vez. Edna chegou quando eu
já tinha posto Arlene no automóvel. Foi internada na UTI do
hospital. Dois dias depois, tivemos o diagnóstico definitivo. Era,
sem dúvida alguma, esclerose múltipla, com a possibilidade de
que ter sido complicada por miastenia grave. Fazia muito tempo
eu havia dito a Arlene; "Um dia encontrarei algo que eu não
possa superar sozinho, e quando esse momento chegar, vou me
converter em uma pessoa melhor." Este era o momento. Sempre
tinha podido fazer todo o que quisesse. Se precisava de mais
dinheiro, podia sair e trabalhar seis horas extras por dia, mas o
simples fato de ser forte não curaria Arlene de sua esclerose
múltipla. Eu tinha chegado ao limite. A trouxe novamente para
casa e contratei a uma enfermeira profissional que passava oito
horas diárias com ela. Durante dois anos, nos mantivemos com
grande esforço, pagando US$ 137,50 por semana à enfermeira,
mais os medicamentos que custavam aproximadamente o
mesmo valor, mais as viagens adicionais ao hospital.
Finalmente, recebi uma ligação da companhia de seguros,
dizendo que estimavam que sua obrigação para conosco tinha
sido concluída; de agora em diante teríamos que custear tudo
sozinhos. Enquanto tudo isso acontecia, eu me fechei em mim
mesmo totalmente. Arlene tinha pedido o divórcio e eu, com
minha típica lógica alemã, não quis concedê-lo. Durante muitas
noites, desejei poder sair de mim mesmo e lhe dar o apoio que
ela necessitava tão desesperadamente. Como desejava poder
abraçar minhas filhas e as trazer para perto de mim.
Mas não podia. Era forte, obstinado, e a muralha que tinha
construído ao meu redor era tão forte que nem eu podia escapar
dessa clausura. Um dia, ao sair do escritório, Dick Cross, que
trabalhava em outra seção, me deteve no elevador. Dick
trabalhava para a divisão de Serviços Diversos para
Investidores, e disse que fazia tempo que queria me falar sobre
o investimento de recursos mútuos. Eu não tive como lhe dizer
que, nesse momento, isso era o que menos me interessava,
então acabei me comprometendo a recebê-lo em casa, na
segunda-feira às 19:00. Sabia que Arlene iria à fisioterapia
nessa tarde, e esperava receber Dick, escutar seu discurso de
vendas, e mandá-lo de volta para sua casa. Quando Dick
chegou, expliquei-lhe brevemente qual era nossa situação. Ele
estava de saída, quando Arlene voltou. Depois de alguns breves
comentários, Dick disse de forma bastante direta: "Suponho que
sabe que a esclerose múltipla é incurável". "Sei", disse Arlene.
"Mas creio que Deus pode me curar." "Eu também creio", disse
Dick. Eles se sentaram e conversaram sobre o poder de Deus
para curar, durante quatro horas. "Este homem está
completamente louco", pensei. "Não se pode falar de coisas
como estas, pelo menos entre pessoas inteligentes." Mas Dick
não era nenhum tolo. Era um bem-sucedido agente de
investimentos que, além disso, acreditava no poder sobrenatural
de um Deus pessoal. Era meu convidado, e embora eu tivesse
vontade de expulsá-lo, não pude fazer outra coisa, a não ser me
sentar e escutar. Arlene perguntou ao Dick sobre sua
experiência pessoal, e sua história foi quase mais do que eu
podia compreender: Dick tinha sido muito parecido comigo, tão
imerso em seus negócios, que não tinha consciência de que seu
lar estava se desmoronando. Então, seu pequeno filho, David,
tinha sofrido um sério acidente enquanto andava de bicicleta,
que o deixou num estado muito grave, com um coágulo de
sangue no cérebro. Tiveram que chamar um neurocirurgião para
ficar de prontidão, caso fosse necessária uma cirurgia de
emergência. Logo depois de tirarem algumas radiografias, David
sofreu uma série de convulsões e entrou em coma. "Sei que
você não entenderá", disse Virginia, a esposa do Dick, "mas
chamei alguns amigos e estamos orando. Entregamos David nas
mãos do Senhor." Dick disse que ele não sabia do que sua
mulher estava falando. Então lembrou que muitos anos antes,
Virginia tinha confessado que tinha ficado a ponto de suicidar-se,
mas começou a assistir aos cultos de cura na Igreja Anglicana, e
tinha sido libertada espiritualmente. Minutos depois de Virginia
dizer essas palavras ao marido, o médico apareceu no hall e
disse que, embora David tivesse recuperado a
consciência, ainda seria necessário operar. Entretanto, sua
melhoria era franca e constante. Quarenta e oito horas depois, a
crise tinha sido superada. David tinha sido curado. A partir desse
momento, Dick se tornou crente. Sua fé em Deus tinha crescido
rapidamente, ao ver muitas outras pessoas curadas pelo mesmo
poder da oração. Se eu não tivesse pessoalmente convidado
Dick a vir à minha casa, teria acreditado que esta conversa tinha
sido preparada especialmente para que eu a escutasse. Ali,
sentado, ouvindo a conversa dos dois, comecei a me dar conta
de que um de meus problemas, durante todos esses anos, tinha
sido que eu sempre tinha "sofrido" de lógica: queria explicar as
coisas cientificamente. Dick, por outro lado, operava sobre uma
base totalmente diferente: uma base de fé. Ele aceitava as
coisas em fé, como diziam as Escrituras. Algo tinha acontecido a
Dick Cross. Tinha sido como eu, mas agora era livre. Na
verdade, até amava pessoas que nunca tinha visto antes, como
nós. Enquanto a conversa entre Dick e Arlene continuava
animadamente, minha mente trabalhava em outras áreas.
Estava tentando definir, logicamente, é claro, quais eram minhas
opções. Tinha chegado ao limite. Ou admitia que não havia nada
que eu pudesse fazer, e me resignava a que Arlene morreria, ou
punha minha confiança nos médicos, ou admitia que havia um
Deus que estava interessado nessa situação. Não podia aceitar
o primeiro; tinha comprovado que o segundo não era suficiente,
o que me deixava somente com a terceira opção. O que eu faria
com ela? Dick Cross era diferente da maioria das pessoas que
eu conhecia. Nem mesmo tinha mencionado qual igreja
freqüentava. Não tentava nos convencer a nos juntarmos a uma
organização. Só falava sobre Jesus e sobre o poder do Espírito
Santo. Quando se foi, eu já tinha decidido iniciar uma honesta
investigação sobre o poder de Deus. Comecei de noite seguinte,
depois do jantar, lendo a Bíblia. A única Bíblia que tinha lido até
então, era a versão King James. Mas alguém tinha dado a
Arlene uma versão em paráfrase. Muito depois que ela tinha ido
para a cama, eu continuava lendo suas páginas, tentando
comprovar as coisas que tinha escutado Dick dizer. No início,
pensava somente na cura de Arlene. Mas, quanto mais lia a
Bíblia, mais me apercebia de que também continha a solução
para minhas necessidades pessoais... essas que nunca tinha
contado a ninguém. Dick e Virginia começaram a vir em casa
regularmente. Embora Dick tivesse se convertido há pouco
tempo, esforçava-se por responder a todas minhas perguntas.
Finalmente sugeriu que fôssemos com eles à aula da Escola
Dominical, na Igreja Central da Assembléia de Deus.
Então retrocedi. As cenas que tinha visto naquela igreja em
minha infância ainda estavam vívidas em minha memória. Mas
Arlene queria ir, e finalmente aceitei. Entretanto, falei que se ela
caísse no chão como eu tinha visto acontecer com outros na
igreja, eu simplesmente a deixaria lá. O orgulho continuava
ocupando o trono na minha vida. A igreja da Assembléia de
Deus era muito diferente do que eu esperava. O professor que
ensinou essa noite disse coisas que tinham sentido para mim.
Desenhou um pequeno círculo em um quadro-negro, que
conforme disse, representava a vida de um cristão. Nos
rodeando, assinalou, estava o poder de Satanás. À medida que
crescemos em Cristo, nosso círculo cresce, empurrando os
poderes da escuridão, estendendo nossa área e permitindo que
conquistemos o terreno que Satanás tinha dominado por longo
tempo. Este terreno, disse o professor, continha muitas coisas
maravilhosas, como uma comunicação pessoal com Deus,
saúde para o corpo físico e limpeza para a alma. Sempre tinha
pensado que era nossa responsabilidade nos sentar dentro de
nosso pequeno círculo e "guardar a fortaleza". Agora via que
Satanás estava na defensiva, e que era nosso privilégio sair e
possuir a terra. Logicamente, tinha sentido. Nem sequer as
portas do inferno poderiam prevalecer contra o poder crescente,
em expansão, do circulo. Ao final do culto, o ministro fez um
apelo para receber a Cristo. Antes de que eu soubesse o que
acontecia, Arlene e Virginia caminhavam para a frente. Virginia
ajudava Arlene a caminhar, para evitar que caísse. Comecei a
me sentir incomodado. Em vez de orar para que Arlene fosse
curada, o pastor pôs a mão sobre a cabeça de minha mulher e
orou para que ela fosse cheia do Espírito Santo. Comecei a ir
para frente, mas Arlene parecia estar em outro mundo. Virginia a
sustentava (me perguntei se Arlene tinha comentado com ela o
que eu havia dito, sobre deixá-la no chão se caísse), e da boca
de minha esposa saíam palavras pronunciadas em um estranho
e melodioso idioma. Minha lógica venceu outra vez e me neguei
a aceitar o que ouvia. Esperei, e em seguida ajudei Arlene a
voltar para seu assento. O orgulho impediu que lhe perguntasse
sobre a experiência que tinha vivido. Deus ainda tinha que me
quebrantar antes que pudesse escutá-lo por mim mesmo. Dick e
Virginia começaram a nos trazer livros "carismáticos", quer dizer,
livros que falavam de curas, batismo no Espírito Santo, dons do
Espírito e salvação. Um deles foi o livro de Kathryn Kuhlman,
Creio em milagres. Arlene não teve coragem de contar que o
tinha lido fazia alguns anos. Como ela não enxergava bem, tive
que lê-lo em voz alta, para ela. Deus tinha uma linda maneira de
quebrar minha dura couraça. Uma noite, depois de Arlene ter ido
para a cama, eu estava sentado na sala lendo a Bíblia. Era
começo de julho, aproximadamente um mês depois da primeira
visita de Dick a nossa casa. O ar condicionado não funcionava e
o calor era sentido em toda a casa... um calor como só pode
fazer no Arkansas. Mas o calor não me importava, só o
desespero
que havia em meu coração. Finalmente, deixei de ler e pus o
livro sobre meus joelhos. "Senhor," orei em voz alta, "preciso de
ajuda." Foi assim, simples, mas era a primeira vez que eu orava
pedindo ajuda em toda minha vida. A partir desse momento as
coisas começaram a mudar. Mais dois ataques fizeram Arlene
ficar totalmente fora de circulação. O primeiro foi um bloqueio do
coração que quase a matou; em seguida uma insuficiência
coronariana a mandou outra vez ao hospital, pela segunda vez
em menos de um mês. Entretanto, as coisas já tinham
começado a mudar. Eu estava com Arlene no hospital, num
domingo à tarde, em meados de agosto. Dick e Virginia
chegaram, trazendo com eles uma amiga, Leanne Payne, que
tinha sido professora de literatura no Wheaton College, em
Wheaton, Illinois, e agora estudava para outra profissão. Eu não
sabia nesse momento, mas eles tinham vindo para impor as
mãos sobre Arlene e a orar por ela. Como Dick não estava certo
sobre como eu reagiria ao fato de fazerem uma reunião de
oração no quarto do hospital, ele me convidou para tomar uma
xícara de café, enquanto as mulheres ficavam com Arlene,
"conversando". Encontramos uma mesa na cafeteria e quase
imediatamente Dick me contou que tinha sido "batizado no
Espírito Santo". Disse-me que tinha acontecido em um sonho, e
depois, novamente, no dia seguinte, enquanto estava acordado.
Desde então, confessou-me, sua vida transbordava de gozo.
Realmente não entendi o que me dizia. Só o que podia pensar
nesse momento era que Arlene estava lá naquele quarto do
hospital, no quinto andar, e que logo terminaria a hora de visita.
Tomamos o elevador para ir ao quinto andar. A porta do quarto
de Arlene estava fechada. Me detive um instante antes de entrar.
Havia uma estranha quietude. Os sons normais do hospital, os
tons suaves das vozes femininas na sala de enfermeiras, o som
dos sapatos de borracha sobre o chão de cerâmica, o chiado
dos carrinhos que as enfermeiras levavam, os alto-falantes que
chamavam os médicos e enfermeiras, os sons das rádios e
televisões em outros quartos, todos tinham sido absorvidos por
um grande vazio de silêncio. Soube que Deus estava detrás
dessa porta. Empurrei-a e abri. Arlene, vestida com sua bata
branca do hospital, estava deitada na cama. Os fios do monitor
cardíacos estavam presos a seu corpo. Virginia, de pé à
esquerda da cama, e Leanne à direita. Tinham posto suas mãos
sobre o corpo de Arlene e as três oravam suavemente em um
idioma que não pude entender. Instantaneamente todos os pelos
do meu corpo se arrepiaram. Olhei meus braços; o pêlo estava
arrepiado como os espinhos de um porco-espinho. Era como se
tivesse pisado em um cabo de alta voltagem, só que não sentia
choque nem dor; só uma poderosa corrente de poder que
percorria meu corpo.
As duas mulheres acabaram de orar e as acompanhei até o
carro, em baixo, onde Dick as esperava. Ainda sentia essa fonte
de poder dentro de mim, e continuei sentindo-a até depois de
chegar em casa. Meu primeiro pensamento foi que tinha me
contagiado com alguma doença estranha no hospital. Procurei
em todos os dicionários médicos que pude encontrar, esperando
descobrir o que era o que causava esse formigamento, o que
fazia com que meu cabelo se arrepiasse. Não encontrei nada.
Mas, na quarta-feira, o assunto já não me importava, porque
compreendia que durante estes últimos dias me havia sentido
mais feliz do que nunca antes em minha vida. Essa noite,
sentado outra vez na sala lendo a Bíblia, deixei o livro ao lado, e
falei em voz alta: "Senhor, queres me dizer algo? Se for isso,
terás que fazê-lo de forma que eu possa entender". Dick tinha
me contado experiências de pessoas que tinham "provado" a
Deus. Isso era algo novo para mim, mas precisava descobrir.
"Senhor," falei, "sabes que faz dois anos que tenho estas dores
na nuca. Se estás tentando me dizer algo, podes tirar essa dor
de mim? Fui para a cama e, ao acordar na manhã seguinte, a
primeira coisa que fiz foi pôr a mão na nuca. Já não tinha dor
alguma. Estava curado. Pela primeira vez na minha vida, soube,
realmente soube, que Deus era real, e que se importava comigo.
Enquanto me barbeava, me olhando no espelho, também me
ocorreu que se Deus podia curar a dor de minha nuca, também
poderia curar a minha esposa. Foi tão repentino que quase cortei
o queixo. Nessa tarde, enquanto estacionava o carro em frente
ao hospital, os pelos de meu corpo voltaram para sua posição
normal. O formigamento também desapareceu. Isso me
aterrorizou, e pensei que certamente tinha feito algo que tinha
desagradado a Deus. Mas, ao terminar de estacionar, senti algo
novo, ainda mais forte que o anterior. Foi como se tivessem
atirado um balde de ar quente em cima de mim. Não houve
trovões nem relâmpagos, e não escutei nada com meus ouvidos.
Mas dentro, muito dentro de mim, onde somente o espírito pode
ouvir, escutei uma voz que dizia: "Arlene ficará bem". Foi então
que soube. Não houve nem um instante de dúvida. Soube com
tanta certeza como se um anjo tivesse aparecido e se sentado
no capô do meu carro. Arlene seria curada. Embora Arlene
tivesse sido muito forte até esse momento, quando cheguei ao
quarto, a encontrei com o pior quadro de depressão que jamais
tinha visto. O médico tinha dado o relatório final. O padrão
anormal de seu eletroencefalograma e a insuficiência coronária
não eram causados pela esclerose múltipla. Voltou a surgir a
forte suspeita de que poderia estar sendo complicada com
miastenia grave. Arlene estava mais fraca, enxergava menos, e
lhe era impossível ficar em pé sem ajuda. Mas em
meio a toda essa situação, eu tinha uma fé que não
desapareceria. Sabia que ela seria curada. Arlene voltou para
casa mais doente que nunca; já quase não podia sair da cama,
nem sequer para ir ao banheiro. Até suas amigas, que tinham
sido muito otimistas, pareciam deprimidas. Seu estado piorava
cada vez mais. Um mês depois, eu estava no escritório e soou o
telefone. Era Arlene. "Gil, Katrhyn Kuhlman estará em St. Louis
na terça-feira que vem. Queria ir." A lógica me dominou
rapidamente e comecei a enumerar as razões pelas quais era
impossível que ela fosse a St. Louis. Estava a 650 km de
distância. Não havia nenhuma cidade grande entre Little Rock e
St. Louis, caso precisasse ir a um hospital. Arlene devia ficar
próxima de dois especialistas que a atendiam aqui, em Little
Rock. E se tivéssemos problemas com o carro e precisássemos
nos deter em algum lugar da rota...? Quando terminei, só o que
escutei do outro lado da linha foi o suave soluçar de Arlene. "Por
favor, Gil, é minha vida..." Senti que voltava a entrar em minha
couraça. Em vez de me irar, falei simplesmente: "Falaremos
sobre isto quando eu chegar em casa." Essa noite, Arlene na
cama e eu sentado em uma cadeira a seu lado, ela me contou
que no começo dessa semana Edna Williamson tinha ido visitá-
la. Ao ver o livro "Creio em milagres" que Arlene tinha, Edna
disse: "Sabe, tenho outro livro de Kathryn Kuhlman, "Deus pode
fazê-lo outra vez". Quer trocar comigo?" Envergonhada de lhe
dizer que ela já não podia ler, Arlene aceitou a troca. Na manhã
seguinte Edna voltou. Ela e Arlene começaram a falar sobre
milagres, e por que estes não aconteciam em Little Rock. Arlene
disse que achava que o fato de ter um ambiente de fé ao redor
ajudava muito. Nem mesmo Jesus pôde realizar milagres em
sua cidade natal, porque as pessoas diziam: "Não, não". Minha
esposa disse ainda que ela também acreditava que jamais
estaria em um culto em que todas as pessoas estivessem em
um mesmo espírito, esperando, acreditando que Deus a tocaria
e a curaria. Nesta manhã, Virginia Cross entrou e despejou a
notícia como uma bomba: "Kathryn Kuhlman vai realizar um
culto de milagres na próxima terça-feira em St. Louis." Arlene
jamais tinha estado em uma dessas reuniões, assim não tinha a
menor idéia de quão difícil seria entrar. Estava decidida a ir.
"Creio que Deus está me dizendo para ir a St. Louis", afirmou. "É
possível que Deus lhe tenha dito que vá," falei, "mas não me
disse que a levasse."
Assim que pronunciei estas palavras, todos os pelos de meu
corpo se arrepiaram outra vez. Tentei falar, mas minha língua se
negou a moverse. Finalmente, com a boca e os olhos muito
abertos, limpei a garganta e com uma voz que parecia vir do
outro extremo da casa, falei: "Está bem, iremos". O rosto de
Arlene refletia uma mistura de alegria e surpresa. "Oh, Gil..."
Mas eu já estava de pé, e saía cambaleando do quarto. Já sabia
que seria melhor não discutir mais. Estava na presença do
Senhor! Saímos no domingo à noite, depois que voltei do
trabalho. Arlene ia jogada no banco de trás do carro. Passamos
a noite em Poplar Bluff, Missouri, e chegamos a St. Louis
aproximadamente ao meio dia de terçafeira. Eu não conhecia
nada da cidade, por isso seguimos a estrada até o centro da
cidade. Saímos na Market Street, e de repente nos encontramos
em frente ao auditório. A reunião começaria às 19:00, mas já
havia uma grande quantidade de gente esperando diante das
portas fechadas. Comecei a temer que nos tivéssemos arrojado
a fazer mais do que podíamos. Mas Deus tinha ido diante de
nós. O Hotel Holiday Inn da Market Street nos deu seu último
quarto vago. Minutos depois, Arlene descansava comodamente,
e o gerente do hotel tinha prometido nos levar em seu carro ao
auditório, às 16:30. Era um dia úmido e tremendamente quente
em St. Louis, com uma temperatura de aproximadamente 40°.
Eu havia trazido um par de cadeiras de jardim, mas não foram
de grande ajuda. Arlene tinha estado de cama desde seus
primeiros problemas de coração, em julho, e estávamos a 19 de
setembro. Nos últimos dias, não saía da cama nem para comer,
mas aqui estava, a mais de 600 km de casa, sentada em uma
cadeirinha de jardim na calçada, debaixo do sol ardente. Eu
temia que não chegasse a entrar no auditório. As pessoas que
esperavam junto a nós perceberam o estado de saúde de
Arlene. Ao contrário do que costuma acontecer quando há
aglomeração na entrada de um estádio de futebol, ali as
pessoas se alternavam para protegê-la do sol e lhe trazer
bebidas geladas. As portas laterais onde se alinhavam as
cadeiras de rodas foram abertas às 18:00. Fui falar com o
ajudante que estava encarregado da entrada e lhe roguei que
deixasse Arlene entrar também. "Lamento, amigo, tenho ordens
estritas. Só quem está em cadeiras de rodas podem entrar
agora." E fechou a porta com firmeza. O desespero e a
frustração de antigamente começaram a crescer dentro de mim
outra vez. O estado de Arlene naturalmente requeria o uso de
uma cadeira de rodas, mas seu temor de tornar-se muito
dependente dela tinha evitado que lhe comprasse uma. Quis
fugir. Não podia suportar a visão de todas estas pessoas que
sofriam. Eram como aqueles doentes que se amontoavam junto
ao tanque de Betesda. Mas, apesar de doentes como estavam,
cantavam e se ajudavam mutuamente, cheios de gozo. Voltei
para junto de Arlene, decidido a não sair do seu lado.
Dez minutos depois, as portas se abriram, e a maré humana que
corria para o interior nos arrastou. Eu nunca tinha visto nada
como aquilo. Momentos depois estávamos sentados exatamente
no centro do enorme auditório. Um imenso coro já estava sobre
a plataforma, ensaiando, e até os assentos pareciam ferver de
expectativa e poder. A senhorita Kuhlman, com um vestido
branco e vaporoso de mangas largas, estava parada no centro
da plataforma. "O Espírito Santo está aqui", sussurrou, em voz
tão baixa que tive que me esforçar para escutá-la. Enquanto
esperávamos, aconteceu outra vez: esse silêncio que tinha
experimentado no corredor do hospital, pareceu assentar-se
sobre o imenso auditório. Na massa humana que ocupava o
lugar deve ter havido tosses, pés arrastando, ruídos de papéis...
mas eu não escutei nada disso. Estava envolvido por um suave
manto de silêncio. A senhorita Kuhlman estava de pé no centro
da plataforma, com a mão esquerda levantada, seu dedo
indicador apontando para o céu. Sua mão direita descansava
suavemente sobre uma velha e gasta Bíblia apoiada sobre o
púlpito. E havia silêncio, um silêncio como o que certamente
haverá no céu depois de ser aberto o sétimo selo. A senhorita
Kuhlman não era absolutamente o que eu tinha esperado. Era
cálida e amigável, informal. Recebeu as pessoas e os fez sentir
à vontade, como em casa. Depois se virou para a lateral e
moveu os braços enquanto apresentava o seu pianista, Dino.
"Sabe quem é?", perguntou Arlene enquanto o arrumado jovem
de cabelos escuros se sentava ao piano. "Certa vez quis escutar
boa música de piano e telefonei à livraria batista. Eles me
enviaram algumas gravações do Dino. Todo este tempo escutei
sua música, e nem sequer sabia que acompanhava Kathryn
Kuhlman." A senhorita Kuhlman começou a pregar, mas não era
como nenhuma outra pregação que eu tivesse escutado antes.
Falava sobre o Espírito Santo como se fosse uma pessoa real.
Enquanto escutava, comecei a compreender que ela não
somente o conhecia pessoalmente, mas também andava com
Ele dia a dia. Não era estranho que fosse tão real para ela; O
conhecia melhor do que a qualquer homem no mundo. De
repente, se deteve, com a cabeça inclinada como se estivesse
escutando. Estaria escutando o Espírito Santo? Esforcei-me
para ver se eu também podia ouvi-lo. Então ela levantou o braço
e apontou para cima, à esquerda. "Há alguém ali em cima,
nessa seção, que acaba de ser curado de câncer no fígado."
Virei-me em meu assento e olhei para cima. Era mesmo o
Espírito Santo quem lhe havia dito isso? Ele fala às pessoas de
forma que possam saber coisas como essas? Todo isso e as
curas acontecia tão rapidamente que minha cabeça dançava. As
pessoas começavam a descer pelos corredores, indo para a
plataforma para testemunhar do que tinham sido curadas.
Quando recebeu o primeiro homem, Kathryn Kuhlman agiu como
se tivesse sido o primeiro milagre que tinha visto em sua vida.
Certamente, pensei, esta mulher viu centenas de milhares de
pessoas curadas, mas está tão entusiasmada como se fosse a
primeira vez. É este o segredo de seu ministério, que não perdeu
a capacidade de maravilhar-se? A senhorita Kuhlman falou com
o homem por um momento e em seguida começou a orar por
ele. "Pai Santo...", disse, e o homem caiu no chão. O mesmo
aconteceu com a segunda pessoa que passou à plataforma. E a
seguinte, e outra mais. Tentei compreender todo logicamente,
mas o que acontecia desafiava toda a lógica. Era como se Deus
estivesse me dizendo: "Há algumas coisas que você não pode
compreender, e o poder de meu Espírito Santo é uma delas." À
medida que o culto prosseguia, algo acontecia em meu interior.
Estava me suavizando. Como uma dura esponja colocada
debaixo da água, senti que me tornava muito brando e suave.
Meus olhos se encheram de lágrimas, e comecei a orar por
outras pessoas, que eu não conhecia, no culto. Enquanto orava,
senti que fluía o amor. Era uma experiência nova e magnífica. A
seguir, minhas orações se concentraram em Arlene, que estava
sentada junto a mim, e roguei a Deus que a curasse. Em todos
esses anos de casamento, era a primeira vez que queria orar por
ela. Tinha acreditado que ela seria curada; sabia que Deus nos
tinha guiado. Mas nunca meu coração se abrandou o suficiente
para sair de mim mesmo e pedir ao Senhor que a tocasse e a
curasse. Quase instantaneamente Arlene se apoiou em mim.
"Sente a brisa? Sinto uma brisa", sussurrou ela, "uma brisa
suave e acariciante em todo meu corpo." Olhei ao meu ao redor,
mas não havia lugar algum de onde pudesse vir a brisa. Deixei
de lhe prestar atenção e olhei novamente para a plataforma.
Uma jovem sentada aproximadamente cinco filas de assentos
adiante tinha se virado para nós, e falou com Arlene. "O Senhor
está agindo em você?", perguntou, em voz tão alta que todos a
ouviram claramente. Um pouco envergonhada, Arlene
respondeu em um sussurro: "Não sei". A jovem, totalmente
desconhecida para nós, perguntou: "Qual é seu problema?" "Lhe
diga que tenho esclerose múltipla e problemas de coração",
sussurrou Arlene à senhora que estava sentada junto dela. A
jovem não ficou satisfeita com isso. Continuou enviando
mensagens. "Lhe pergunte como se sentia quando entrou."
"Mal tive forças para entrar", disse Arlene. "Lhe pergunte como
se sente agora", disse a jovem, quase gritando. Essas
interrupções já estavam começando a me incomodar, e me voltei
para pedir a Arlene que se calasse. Ela olhava suas mãos,
atônita. "Os tremores", murmurou com voz trêmula.
"Desapareceram. Já não estou inflamada. Vejo bem. Meus olhos
estão bem outra vez." A jovem estava muito entusiasmada,
inclinando-se sobre as pessoas da outra fila. "Tem que ir à
frente," gritou, "e aceitar sua cura." No mesmo momento Arlene
ficou de pé, passou por cima de mim, pisando nos pés dos que
estavam no caminho, saindo da fileira de assentos para o
corredor. Quase sem fôlego, eu também compreendi que ela
tinha sido curada. Segui-a com os olhos enquanto descia pelo
corredor para a frente. Um obreiro a deteve por um instante, e
logo lhe fez gestos para que continuasse. Arlene subiu as
escadas até a plataforma como uma mulher normal. Os
espasmos, os tremores, as convulsões tinham desaparecido.
Como o homem junto ao tanque de Betesda, tinha esperado que
um anjo movesse as águas para que ela pudesse entrar... até
que finalmente compreendeu que não precisava do tanque; só
precisava de Jesus. Tinha sido curada por Sua mão. A
plataforma estava cheia de gente e o culto estava para terminar.
Arlene não conseguiu chegar ao púlpito para atestar de sua
cura. Mas não importava. Enquanto o majestoso coro começava
a cantar, Arlene parou na outra extremidade do cenário, apoiada
contra o piano, e com o rosto luminoso, sua voz se uniu às do
coro cantando as palavras do velho hino: "Embora Satanás me
sacuda e venham as provas, esta bendita confiança terei, que
Cristo viu meu estado de angústia e seu sangue verteu por
minha alma." O culto tinha terminado, Kathryn Kuhlman já saía
da plataforma, mas ao passar junto a Arlene se voltou
ligeiramente e esticou a mão em um gesto de oração.
Instantaneamente Arlene caiu no chão. Mas desta vez eu sabia
que não era pela esclerose múltipla, mas sim pelo poder de
Deus. O auditório estava cheio de música. Milhares de pessoas
entoavam uma e outra vez "Aleluia", com as mãos levantadas.
Nunca tinha visto ninguém elevar as mãos assim, mas, antes
que pudesse entender, minhas mãos também estavam no alto,
fazendo o mesmo que eles faziam: louvar ao Senhor.
Finalmente Arlene conseguiu voltar para seu assento. Parecia
que ninguém queria ir embora. As poucas vezes que eu tinha ido
a igrejas, mal o pastor dizia "Amém", as pessoas saíam correndo
para a porta. Mas essa gente não queria ir. Queriam ficar,
abraçar-se e cantar. Pessoas que eu absolutamente não
conhecia vinham e me abraçavam. Todos diziam: "Louvado seja
o Senhor!", e "Aleluia!" Estávamos a sete quadras de distância
do hotel, e o gerente tinha prometido vir nos buscar se o
chamássemos por telefone. Arlene sorriu. "Vamos caminhando",
disse. E fizemos isso. Ao voltar para o quarto, lembrei-a que
devia tomar seu remédio anti-convulsivo. Se não o fizesse,
poderia sofrer convulsões que a matariam antes da noite chegar.
"Creio que Deus verdadeiramente me curou", disse, olhando os
frascos de remédios, "e não preciso mais disso." "Isso é entre
você e o Senhor, querida", falei. Não tomou o remédio... e não
voltou mais a tomá-los. Uma semana depois Arlene literalmente
irrompeu no consultório de seu neurologista. Na semana anterior
quase tivemos de levá-la de maca. O médico a olhou e
exclamou: "Algo lhe aconteceu! O que foi?" "Fui curada, doutor",
disse ela. "Fui a um culto de milagres em St. Louis. Sabia que
você me proibiria isso, assim fui ao Chefe Máximo, e perguntei a
Ele." O médico reconheceu que tinha acontecido algo
maravilhoso. Examinou os reflexos de Arlene, sua visão, até a
fez saltar pelo consultório para observar sua coordenação.
Finalmente voltou para seus papéis sacudindo a cabeça. "Em
meus vinte e cinco anos de prática da medicina, vi só três casos
que não tinham explicação médica. Sei que há possibilidade de
remissão da esclerose múltipla, mas isto é outra coisa. Tem que
ser de Deus." Juntos riram alegremente. "Não sei o que fez
você, ou o que está fazendo", adicionou ele. "Mas seja o que for,
continue fazendo. E não esqueça de agradecer a Deus todas as
noites." Parecia que a cura de Arlene seria o clímax de nossas
vidas. Mas foi só o começo. Três meses depois, entrei na plena
dimensão do poder do Espírito Santo. Estava em uma pequena
reunião doméstica de oração, e o líder falou sobre a ocasião em
que Pedro, impulsionado pelo Senhor, caminhou sobre as
águas. Em seguida disse: "Todos temos duas opções. Ou
ficamos tranqüilos em nosso bote, ou saltamos à água e vamos
para Jesus. Se não o tiver feito antes, este é o momento de
saltar."
E eu saltei. Literalmente! Saltei de meu assento, e aterrissei com
ambos os pés no centro do aposento. "Eu quero", falei. "Quero
agora." E o dizia a sério. Alguém trouxe uma cadeira. Sentei-me,
e em seguida todos ficaram ao meu redor e impuseram suas
mãos sobre mim. Um pastor batista, de voz suave e cabelos
brancos, começou a orar, e nesse momento minha vida deu uma
reviravolta total. Ao contrário daquelas primeiras experiências
em que o Espírito Santo veio sobre mim, fazendo que todos os
pelos do meu corpo se arrepiassem, desta vez Ele veio dentro
de mim... e a mudança foi permanente. Em outra noite, sentados
à mesa antes do jantar, em família, tivemos nosso tempo de
oração costumeiro. Cada um leu um versículo da Bíblia, demos
as mãos, e em seguida, um por vez, oramos de forma individual.
Ao terminar, vi que Arlene tinha lágrimas nos olhos. "Faz muito
tempo, Gil," disse-me suavemente, enquanto nossas filhas
escutavam, "eu lhe falei que, para mim, ter uma família cristã,
com o pai como sacerdote do lar, seria o céu. Mesmo que não
tivesse sido curada, só o fato de fazer parte desta maravilhosa
família teria valido a pena. Realmente o céu baixou à Terra."
Arlene tem razão. O céu baixou à Terra. Cada reunião da família
se converte em um culto de adoração. Arlene e eu nos
alternamos para ensinar em uma classe bíblica em nossa Igreja
Metodista, e cada vez vêm mais gente. Creio que estão como
nós estávamos, desejosos de ouvir falar sobre o poder do
Espírito Santo, que não só cura corpos doentes, mas também
maridos doentes.
Capítulo 6 Diga às montanhas
Linda Forrester
Linda e John (Woody) Forrester vivem em Milpitas, uma zona
residencial ao sudeste da Baía de São Francisco, na Califórnia,
ao pé do Monument Peak. Woody é programador de
computadores na vizinha cidade de San Jose. Têm duas filhas,
Teresa e Nanci. A montanha sempre esteve ali. Ergue-se como
um monumento solitário, oitocentos metros acima da bacia da
Baía de São Francisco. No inverno, às vezes está coberta de
neve; no verão, uma grama amarronzada cobre alguns setores.
Está a menos de 16 km de nossa casa, em terreno plano, e
muitas vezes as nuvens ou o smog a cobrem parcialmente, mas
sempre está ali, perfilando-se ameaçadora diante de nós. Os
nascidos ao sul da baía aparentemente não lhe dão importância.
A chuva a erode. O Sol faz brilhar seus perfis nus. Algumas
poucas almas valorosas sobem até seu cume. Simplesmente
está ali, e sempre estará. Nada pode tirá-la. É como a doença.
Desde que Adão pecou, a doença esteve sempre conosco. O
homem aprendeu a viver com ela. Alguns tentam escondê-la,
fingindo que não está ali, ensinando que a doença não existe.
Outros a ignoram, com a esperança de que não tocará sua casa.
Muitos tentaram conquistá-la por meio da medicina e das
pesquisas. Quase todos a aceitam, entretanto, como aceitam a
montanha que domina a paisagem e que desafia a quem tenta
lançá-la ao mar. Eu era um dos que temiam a doença e tentava
ignorá-la. Em nossa família não se adoecia com freqüência. Se
alguém adoecia, encontrávamos alguma injeção ou um
comprimido que o curava, até que Nanci adoeceu. Desta vez, as
coisas foram diferentes. Nanci, nossa filhinha de quinze meses,
tinha sido muito ativa desde que começou a andar. Na verdade,
nunca caminhava; ela corria. Mas ultimamente tinha começado a
agir de forma estranha. Caía com freqüência, e de cada tombo
ficavam feios hematomas. Chegou a ficar coberta de
hematomas, como se a tivessem espancado.
Em uma segunda-feira de manhã, em 1970, Nanci acordou com
uma febre muito alta. Comecei a lhe dar aspirina infantil, mas no
segundo dia a temperatura tinha subido a mais de 40° e não
baixava. Liguei para Woody em seu escritório, em San Jose, e
me disse que a levasse ao Hospital Kaiser, em Santa Clara.
Nanci tinha nascido ali, e conhecíamos vários médicos e
enfermeiras. Um jovem médico a examinou na sala de
emergências. Encontrou uma infecção nos ouvidos e na
garganta, prescreveu alguns medicamentos e nos enviou de
volta para casa. Dois dias depois, a febre não tinha baixado e a
levei novamente ao hospital. Antes, sempre tínhamos
conseguido superar as doenças com remédios. Mas desta vez, a
doença parecia erguer-se diante de nós, inconquistável. Durante
a semana notei algo mais. Nancy tinha uma pequena bolha de
sangue na virilha. No primeiro dia em que a vi, tinha o tamanho
de uma cabeça de alfinete. Agora tinha crescido até ser do
tamanho da unha de meu dedo mindinho. O médico a observou,
disse que provavelmente seria um furúnculo que logo ficaria
maduro, deu-nos mais medicamentos e nos enviou novamente
para casa. Na manhã de sábado eu estava à beira do pânico.
Apesar de toda a medicação, Nanci estava pior que antes.
"Temos que levá-la outra vez ao hospital", disse Woody. Teresa
se sentou no banco traseiro e eu levei Nanci no colo até
chegarmos a Santa Clara. Ela sempre tinha sido inquieta e
agitada. Desta vez ficou em meus braços quase sem se mover,
fraca demais até para choramingar. Seu corpo ardia em febre. O
doutor Feldman a examinou brevemente com olhar preocupado.
"Este medicamento deveria ter controlado a febre. Também não
gosto do aspecto desse furúnculo. Leve-a ao andar superior
para coleta de sangue, depois voltem aqui e aguardem." Depois
de receber o resultado da análise, o doutor Feldman apareceu
novamente. Notei preocupação em seu rosto. "Nanci tem uma
anemia aguda", disse. "Quero que seja internada." Isso me
aliviou. Tinha temido que lhe dessem outra quantidade de pílulas
e xaropes e a mandassem de volta para casa. Achei que anemia
não era algo muito grave, e eu estava contente de que
cuidassem dela no hospital. A responsabilidade de cuidar
sozinha de alguém muito doente me assustava. A médica de
plantão na pediatria era a doutora Cathleen O'Brien, que tinha
atendido Nanci desde o nascimento. "De tarde faremos um
exame físico completo nela", disse. "Não quero que fiquem aqui.
Podem voltar às seis da tarde e então a verão."

Deixamos Teresa com uma vizinha e voltamos ao hospital ao


entardecer. Ao entrar no quarto de Nanci, tive um choque.
Estava deitada de costas no berço, com tubos espetados nos
dois braços. Tinha os olhos fechados. A doutora O'Brien
apareceu na porta. "Linda, quero ver você e Woody em meu
consultório. Temos alguns resultados dos exames." Senti meu
coração dando pulos no peito enquanto a seguíamos pelo
corredor. A doutora O'Brien nos indicou duas cadeiras. Quando
a olhei e vi lágrimas em seus olhos, meu próprio temor quase se
converteu num grito. "Esta tarde, depois de que vocês foram
embora, Nanci perdeu sangue pelo nariz, e depois evacuou duas
vezes com sangue. Ainda não fechamos o diagnóstico, mas há
duas possibilidades: um tumor canceroso tão expandido que é
intratável, ou leucemia." Woody prendeu a respiração e trincou
os dentes. Segurei sua mão e senti que começava a tremer.
"Oh, não", gaguejou. "Oh, por favor, não." Eu queria chorar, mas
Woody já tinha desmoronado. Eu sabia que um de nós teria que
manter um pouco de controle. Olhei para a doutora O'Brien.
"Todos os sinais apontam para leucemia", disse. "Daqui a pouco
vamos fazer um exame de medula, mas se quiserem, podem vê-
la primeiro." Voltei-me para Woody. "Por favor, ligue para o
pastor Langhoff. Pergunte se ele pode vir." É estranho como as
pessoas, assim como nós, vivem como se Deus não existisse.
Mas quando estamos frente a frente com a morte, procuramos
ajuda espiritual. Eu tinha sido criada como católica romana.
Quando conheci Woody, depois de me divorciar, concordamos
em adotar um meio termo entre minha fé católica e sua fé
evangélica, e nos unimos a uma Igreja Luterana, em Milpitas.
Mas raramente assistíamos aos cultos. Não sabíamos quase
nada de Deus. Nunca líamos a Bíblia nem orávamos. Mas, ao
enfrentar a morte, chamamos a única pessoa que conhecíamos
que supostamente conhecia Deus: o pastor Langhoff, da Igreja
Luterana Reformada. O pastor Langhoff, que já era idoso, tinha
estado muito doente. Na verdade, saiu da cama para vir ao
hospital essa noite. Nos ministrou como um pai ministraria a
seus filhos, e estava conosco quando a enfermeira veio buscar
Nanci e levá-la para fazer o exame de medula.
Eu sabia o que iriam fazer. Tinha visto a longa agulha que
inseririam no seu quadril para extrair um pouco de medula.
Fiquei no quarto, estremecendo ao ouvir seus gritos de dor.
Woody e o pastor tinham ido conversar no corredor. Eu estava
sozinha no quarto. De repente, pela primeira vez em minha vida,
tive consciência de uma presença espiritual, uma sensação de
que o Filho de Deus estava ali. Eu não conhecia a Jesus Cristo.
Só tinha ouvido falar dele, e não muito. Mas, por um momento,
Jesus esteve naquele quarto comigo. Meia hora depois, a
doutora O'Brien voltou. "Sinto muito", disse. "Definitivamente, é
leucemia." Caí no choro, mas quando notei a agonia de Woody,
me recompus. Não tinha ninguém a quem me agarrar. A doutora
O'Brien disse que poderíamos ficar todo o tempo que
quiséssemos, mas eu tinha a horrível sensação de que Nanci
morreria naquela noite, e não queria estar ali quando
acontecesse. Queria fugir. Mas, para onde fugir quando a
montanha me rodeava por toda parte? Saímos do hospital e
fomos para casa. A lua estava saindo por cima do Monument
Peak, que se levanta sobre nossa casa, a leste. A doença de
Nanci era como essa sólida montanha. Podíamos gritar com ela,
chutá-la, cavá-la, pôr dinamite. Mas ali estava ela, irremovível.
Nossa vizinha nos ligou assim que chegamos. "Como está
Nanci?", Perguntou alegremente. "Espero que tudo esteja bem."
"Não!" Gritei pelo telefone. "Ela tem leucemia." Houve uma longa
pausa; e em seguida, uma suave voz do outro lado da linha me
perguntou: "Quer que eu vá até aí?" "Não", falei, recobrando o
controle. "Precisamos ficar sós. Se puder ficar com Teresa esta
noite, a veremos de manhã." Passamos a noite em casa, juntos
mas solitários. Queríamos nos aproximar um do outro, mas,
despojados de toda superficialidade, descobrimos que não nos
conhecíamos. Éramos dois solitários mortais, enfrentando uma
situação impossível, deslizando lentamente pelo ralo. Andei de
quarto em quarto pela casa na semi-penumbra. Durante longos
momentos me detive na porta do quarto de Teresa, olhando sua
caminha branca apoiada contra a parede cor de lavanda. Será
que Deus me castigava por ter me divorciado? Teresa era filha
de meu primeiro casamento. Deus ia levar Nanci para me
castigar? "Por que, Deus? Por quê?", chorei. "Por que fez isso
com minha filhinha? Ela é tão pequena, tão indefesa. Por que é
tão cruel e nos tortura dessa maneira?" Voltei ao quarto de
Nanci. A Lua se refletia por detrás do topo da montanha no
quarto pintado de amarelo brilhante, agora tão quieto e
desolado. A cama ainda estava desfeita. Me agachei e recolhi
um patinho
de borracha do chão. Apertei-o, e assobiou. Mentalmente,
lembrei as centenas de vezes que Nanci o tinha apertado
enquanto eu lhe dava banho, e o patinho fazia borbulhas
debaixo da água. Suavemente, coloquei o patinho de borracha
em uma prateleira e peguei o porquinho de pele cor-de-rosa.
Dei-lhe corda e começaram a soar umas singelas notas:
"Quando o ramo se quebrar, o berço cairá... Venha, neném..."
Comecei a gritar às paredes e saí do quarto para a cozinha.
Woody estava sentado à mesa, com o olhar perdido na
escuridão. Eram quase três da madrugada, e era impossível
dormir. "Temos que armar um plano de ação", disse Woody.
Suas palavras soavam ocas e mecânicas. "Temos que ser
positivos. Não podemos deixar que nossa atitude mental afete
Nanci. Mesmo que por dentro estejamos destroçados, temos que
sorrir diante dela." Que vazio, pensei. Que falso. Mas não
tínhamos nada mais. Concordamos que seria isso que faríamos.
Na manhã seguinte (era domingo), voltamos ao hospital. "Está
muito mal", admitiu a doutora O'Brien. "Mas é pequena, e isso
conta a seu favor. Deveremos conseguir que a doença retroceda
logo. Ainda assim, não devem abrigar esperanças." "Quanto
tempo ela tem?", eu quis saber. A pergunta soou melodramática
como num filme ruim. "Se pudermos fazer com que a doença
retroceda imediatamente, poderia durar dois anos", disse a
doutora O'Brien, esperançosa. "Mas essas crianças duram um
ano com a doença controlada e depois decaem rapidamente."
Fomos ver Nanci. Estavam lhe dando uma transfusão de
sangue. Um hematologista viria de Stanford para ajudar a dar
um diagnóstico final. Nos disseram o que podíamos esperar:
mais exames de medula, muitas mais transfusões de sangue.
"Como morrem?", sussurrei. Enquanto formulava a pergunta,
percebi que mentalmente já tinha transformado Nanci em um
objeto, uma terceira pessoa que estava se preparando para
desaparecer. A doutora O'Brien foi muito suave: "Geralmente,
quando uma criança pequena morre de leucemia, é devido a um
ataque. Pode sofrer um pouco, mas não será por muito tempo."
Woody e eu tínhamos freqüentado reuniões de Encontro
Matrimonial em nossa vizinhança. Nosso casamento tinha sido
difícil, e tínhamos chegado nesse nível de humanismo para
tentar encontrar ajuda. Um dos casais do Encontro ficou
sabendo o que estava acontecendo com Nancy e nos ligaram.
Sua pequena filhinha acabara de morrer de leucemia, e queriam
vir para nos contar suas experiências.
Foi horrível, mas dissemos a nós mesmos que precisávamos
saber, para estarmos preparados para quando chegasse a
morte. Contaram-nos todos os detalhes: como as drogas tinham
feito com que sua filhinha inchasse, como tinha perdido o cabelo,
sua intensa agonia, sua morte. Contaram-nos o que podíamos
esperar de nossas relações mútuas e com nossa família. Em
nenhum momento disseram algo que pudesse projetar alguma
esperança. Os médicos tinham conseguido controlar a leucemia
de Nanci. Na segunda semana, estava em estado de remissão
temporária, e as drogas a manteriam assim até que se
produzisse o ataque final, fatal, furioso. Mas a bolha de sangue,
que agora chamavam de úlcera de sangue, tinha crescido até
cobrir todo um lado da virilha da menina. Os médicos diziam que
era um "efeito secundário" da leucemia, e que continha uma
bactéria que poderia matá-la. Ironicamente, o único
medicamento que poderia curá-la era mortal para a maioria dos
pacientes de leucemia. Uma noite, depois de que Teresa fora
dormir, Woody e eu nos sentamos à mesa da cozinha. Tínhamos
chorado até ficar sem lágrimas. Finalmente, falei: "Woody,
vamos fazer prova com Deus". "Está querendo que a levemos a
um desses que curam por fé?", disse com desaprovação na voz.
"Claro que não", exclamei. "Essas pessoas não passam de
charlatães." Woody estava perplexo. "Pensei que havia dito que
queria provar com Deus." "Quero dizer que oremos", falei. "Mas
eu não sei como orar." "Eu também não", falei, "mas temos que
fazer algo." Ele assentiu. Eu tomei sua mão e murmurei umas
poucas palavras. "Deus, por favor, que encontrem algo com que
possam tratá-la." Foi um começo tão fraco... como atirar pedras
na montanha, com a esperança de que ela se levantasse e
fugisse. Mas era um começo, e na manhã seguinte, quando
chegamos ao hospital, a doutora O'Brien sorria pela primeira
vez. "Boas notícias", disse. "Em Stanford descobriram uma
droga para tratar a úlcera. É um pequeno milagre." O cirurgião
do Kaiser abriu a úlcera, e a isto seguiram meses de dolorosos
tratamentos. Entretanto, Nanci melhorava. O primeiro encontro
com a oração me convenceu de que havia mais poder ao meu
alcance do que tinha imaginado. Comecei a orar diariamente
antes de visitar Nanci.
Então aconteceu algo. Uma de nossas vizinhas estava na
mesma associação de pais e mestres que eu. Uma tarde, depois
de falar dos assuntos da associação, ela me disse: "Sabe, Linda,
Deus a ama, e ama a Nanci". Isso me tocou. Ninguém nunca
havia dito isso de mim, e nem de Nanci. Era um conceito novo e
maravilhoso. Deus me amava, como pessoa. E amava Nanci. "A
Bíblia está cheia de relatos de Jesus curando pessoas",
continuou dizendo ela. "A igreja em que vou não acredita que
Jesus continue curando hoje, mas eu acredito. Creio que se
Deus te ama, também pode te curar." Suas palavras foram como
uma luz num quarto escuro. Então comecei a abrir caminho para
essa luz. Muitos anos antes, durante a tramitação do meu
divorcio, eu tinha comprado uma Bíblia. Naquela ocasião eu
achava que ter uma bíblia em casa poderia me dar sorte. Agora
compreendia que a Bíblia era muito mais que um amuleto de boa
sorte. Abri a gaveta de meu armário, encontrei-a, e prometi a
mim mesma que leria um capítulo por dia, começando com o
evangelho de Lucas. Quase imediatamente, de meu
subconsciente, um versículo do passado me veio à mente. Não
sabia onde buscá-lo, nem mesmo se estava na Bíblia. Mas
repetidamente, dia após dia, ele ressoava em minha mente: " o
que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora". Comecei a
passar mais tempo em oração. Visitava Nanci no hospital todas
as manhãs, e logo depois do almoço, lia um capítulo da Bíblia e
orava, antes de Teresa voltar da escola. Aquele tempo se tornou
uma parte do dia muito importante para mim. Certa tarde, minha
vizinha me perguntou se já tinha ouvido falar de Kathryn
Kuhlman. "Ela acredita em milagres", disse-me. Encarei-a. "Não
me diga que você crê na cura pela fé", lhe falei cheia de
sarcasmo. Sorriu docemente. "Antes de julgar, por que não
sintoniza seu rádio na KFAX?" Confiei nela, e no dia seguinte
voltei do hospital com tempo suficiente para escutar a
transmissão das 11:00. Gostei do que ouvi. A senhorita Kuhlman
falava de uma experiência que ela chamou "novo nascimento".
Embora eu não tivesse idéia do que ela estava falando, de
alguma maneira soava certo. Eu gostei especialmente de sua
maneira positiva e feliz de falar. Muitos de meus amigos eram
negativos. Um pastor com quem tínhamos falado no hospital até
nos tinha sugerido que

"a morte é a melhor cura de todas". Eu precisava ouvir uma voz


positiva, que apontasse para a luz em vez das trevas. Um dia,
depois de escutar o programa, que durava meia hora, abri a
Bíblia para ler um capítulo de Lucas. Casualmente, era o relato
da crucificação de Jesus Cristo. Enquanto lia, fui inundada pela
compreensão profunda da verdade. Jesus tinha morrido por
mim. Foram meus pecados que o tinham levado à cruz. Ele tinha
morrido porque me amava. Comecei a soluçar. "Oh, Deus,
lamento que tenha tido que morrer por mim." Mas ao mesmo
tempo que o dizia, um gozo e uma sensação de bem-estar me
inundavam interiormente. Era a sensação de ter tomado um bom
vinho, mas não estava em meu estômago, mas sim em meu
espírito. Então soube o que era. Eu tinha nascido de novo.
Sentada na poltrona verde da sala, gritando, chorando e rindo ao
mesmo tempo, falei: "Obrigada, Deus, por me salvar. Te amo!
Durante anos soube que tinha morrido por causa dos meus
pecados. Agora sei que morreu por mim." Nesse momento voltei
à vida. Era uma nova criatura. Tudo em mim tinha mudado. Ao
mesmo tempo, a cura de Nanci se tornou algo mais do que uma
luzinha no fim do túnel; agora era como o Sol, uma gigantesca
bola de luz que inundava todo meu ser. Era possível. Deus podia
curá-la. Nos dias seguintes terminei de ler o evangelho de Lucas
e comecei o de João. Certo meio-dia, depois de ouvir o
programa da senhorita Kuhlman na rádio e de orar, peguei a
Bíblia e li o sexto capítulo de João. Ali estava: "...o que vem a
mim de maneira nenhuma o lançarei fora." Junto com ele, veio
outra revelação, tão assombrosa que eu estava certa de que
ninguém a tinha compreendido antes. Em nenhum lugar do Novo
Testamento se dizia que um doente tivesse ido a Jesus e Ele o
tivesse recusado. Ele curava a todos! Parecia tão impossível...
os médicos especialistas, meus amigos que tinham perdido o
seu filhinho, todos diziam que Nanci morreria. Não havia
esperança. Mas dentro de mim havia uma fé que surgia como
uma fonte no desolador deserto de minha vida. Era pequena
como um grão de mostarda, mas estava ali. Eu sabia que era tão
impossível para mim achar que Nanci seria curaria, como falar
com a montanha e lhe ordenar que se lançasse à Baía de São
Francisco. Mas, a Bíblia não dizia que todas as coisas são
possíveis para Deus? Me agarrei a isso. Tomei a decisão de
confiar nele, embora não o entendesse, embora não fizesse
sentido. Deus teria de lhe dar novo sangue e uma nova medula
para seus ossos. Mas decidi confiar em sua Palavra, sem me
importar com o que os outros dissessem. "Pai." orei. "Tu
prometeste que o que vem a ti, não o jogarás fora. Venho a ti
com esta necessidade. Creio que serás fiel a tua Palavra." Foi
simples assim. Agora, só tinha que esperar.

Após cinco semanas os médicos nos deixaram levar Nanci para


casa. "Ela não está bem", advertiram. "E não vai melhorar. Se
tiverem muita sorte, é possível que consiga viver mais um ano e
meio. Mas depois disso, a leucemia será mais forte que as
drogas." Os primeiros dias de Nanci fora do hospital foram
terríveis. Dois dias depois de trazê-la para casa surgiram úlceras
nos lábios, que logo se estenderam a toda a boca, gengivas e
garganta. Os médicos diagnosticaram escarlatina, complicada
pelas drogas que estava tomando, que provocavam sintomas
parecidos. A úlcera (do tamanho de uma mão) na virilha estava
secando, mas tínhamos que limpá-la três vezes por dia com
água oxigenada. Logo depois da limpeza, devíamos prender as
mãos e os pés de Nanci às laterais do berço, e colocar uma
lâmpada elétrica acesa a curta distância da úlcera, para secá-la.
Uma enfermeira vinha duas vezes por semana para ajudar. As
coisas começaram a melhorar. Depois de seis semanas Nanci
pôde moverse de forma um pouco mais independente, mas
continuava sendo uma garotinha doente. Para Woody a situação
era muito difícil de suportar. Ele via a grande transformação
ocorrida em mim, e não a compreendia. "Querida, tem que
controlar isto", me advertiu. "Não pode ficar se enganando dessa
forma. Quando Nanci morrer, isso vai deixá-la totalmente
arrasada." "Você não entende", eu lhe dizia. "Pela primeira vez
sei que poderei aceitar sua morte, se acontecer. Sei que Deus
está com ela, e comigo. Porém, creio que Deus a curará."
"Queria poder acreditar nisso", disse Woody, com os olhos
cheios de lágrimas. "Queria poder acreditar." Certa tarde minha
vizinha me ligou para me contar que Kathryn Kuhlman estaria
em Los Angeles para realizar um culto de milagres. Também me
deu um telefone onde poderia pedir informações. A atendente da
agência de viagens nos informou que a passagem de avião ida e
volta a Los Angeles custaria setenta dólares. Eu não tinha esse
dinheiro, mas ela disse que incluiria nossas reservas na lista de
junho, o mês seguinte, para o caso de conseguirmos reunir o
dinheiro. Janet, uma adolescente que vivia próximo, tinha sido
babá de Nanci desde que ela era um bebezinho. Um grupo,
chamado Vida Jovem, se reunia em sua casa às terças-feiras de
noite. Quando souberam que levaríamos Nanci ao culto de
Kathryn Kuhlman, quiseram nos apoiar em oração. Na terça-feira
seguinte levei Nanci à casa de Janet, onde estavam reunidos
mais de cem jovens para participar do estudo bíblico.
Combinaram que, no domingo em que nós iríamos a Los
Angeles, eles se reuniriam na casa de Janet para orar e jejuar.
Eles também criam que Deus a curaria.
Na semana anterior à nossa partida para Los Angeles, fui a uma
livraria cristã em Fremont. Uma amiga me tinha recomendado
vários livros que queria que eu lesse, incluindo dois de Kathryn
Kuhlman: Creio em milagres e Deus pode fazê-lo outra vez.
Enquanto estava ali olhei alguns marcadores de páginas
plásticos, procurando algum para usar em minha Bíblia. Me
chamou a atenção um deles, até que o comprei, sem atentar ao
versículo bíblico que estava impresso na parte de trás. A
caminho de casa, indo para o sul pela auto-estrada Nimitz,
repentinamente fui invadida por uma sensação desencorajadora.
Que tipo de tola eu era? Todos diziam que Nanci era incurável,
mas aqui estava sua mãe, comprando livros, juntando dinheiro
para comprar passagens de avião, pensando em levá-la até Los
Angeles para assistir a um culto de milagres de uma mulher que
eu jamais tinha visto. Pus-me a chorar. Saí da auto-estrada em
Dixon Landing, e olhei para cima. Ali estava a montanha,
erguendo-se ameaçadora diante de mim. Era mais do que eu
podia suportar. Saí da rua, chorando. Quando finalmente
consegui controlar o choro, estiquei a mão para o outro assento,
procurando um lenço de papel. Ao fazê-lo, o cordão do marcador
que havia comprado enganchou em minha mão. Então li o
versículo que estava impresso. Não pude acreditar no que via.
"Se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte:
Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será
impossível." (Mateus 17:20). Olhei para a montanha e sorri em
meio às lágrimas. "Saia do meu caminho, montanha. Nanci vai
ser curada." Eu quase não podia abranger a imensa multidão
que esperava no auditório Shrine. Nos guiaram até uns assentos
na parte de baixo. Fazia calor quando chegamos, então tirei os
sapatinhos de Nanci e pedi a Woody que os segurasse. Nanci
tinha ficado muito inquieta no avião. Não tinha dormido nem um
minuto e se dobrava e se retorcia enquanto ocupávamos nossos
assentos. Woody também estava incomodado. "Você ficará
muito bem" disse ele: "mas não vou agüentar ficar sentado em
um culto que dure quatro horas." A reunião começou, e o
magnífico coro começou a cantar. Então a senhorita Kuhlman
apresentou Dino. Eu adoro música, e esse elegante jovem grego
que acariciava o piano como se fosse um anjo acariciando uma
harpa, me fascinou. Mas para Nanci nada disso interessava.
Continuou se retorcendo e gemendo. Durante os momentos
mais quietos, quando Dino acariciava as teclas do piano como
com uma pluma, Nanci se pôs a chorar. Imediatamente vi um
obreiro parado no corredor, que se inclinava para nós. "Senhora,
terá que levar a menina para fora. Está atrapalhando as outras
pessoas."

"Levá-la para fora?" exclamei indignada. "estivemos


economizando dinheiro durante dois meses para vir até aqui, e
você me diz para sair!" Olhei para Woody. Ele assentiu. "por que
não a leva para caminhar um pouco?", sugeriu. "Depois pode
trazê-la de volta." A ponto de gritar de raiva, mordi os lábios e
saí cambaleando entre as pessoas que estavam sentadas perto
de nós, até chegar ao corredor. Com uma mistura de vergonha e
irritação, saí para o saguão. Nanci já tinha quase dois anos de
idade e era bastante pesada para carregá-la, mas caminhei de
um lado a outro com ela nos braços até que se acalmou. Então
voltei para meu assento. Minutos depois começou a choramingar
de novo. O obreiro apareceu novamente. Dessa vez não foi
muito amistoso. "Senhora," disse, "muitas destas pessoas
fizeram muitos sacrifícios e vieram de muito longe para chegar a
esta reunião. Terá que levar a menina para fora." Bem, eu
também tinha vindo de muito longe. Estive a ponto de discutir,
mas o obreiro fez um gesto direto com seu indicador, como
dizendo: "Fora!" Não quis fazer um escândalo, então peguei
Nanci, e saí pisando em pés e me chocando com os joelhos das
demais pessoas, e me dirigi novamente para o saguão. Estava
furiosa. "Esta é uma reunião cristã", resmunguei diante de um
homem que estava parado junto à porta. "Nem sequer se pode
assistir a um culto de cura com uma menina doente sem que a
expulsem. Linda reunião!" Caminhei pelo hall com Nanci nos
braços. Woody estava com os seus sapatinhos, e eu não queria
que minha menina pisasse no chão sujo. Fui para o banheiro.
Continuei caminhando de um lado para o outro do saguão.
Quanto mais eu andava, mais furiosa ficava e mais Nanci gritava
e se retorcia. Não era justo. Nós tínhamos economizado
dinheiro. Mas era eu que queria ver Kathryn Kuhlman. E Woody,
que nem sequer queria estar aqui, estava confortavelmente
sentado na reunião, enquanto eu estava aqui fora. Finalmente
me sentei nos degraus. "Bem, Deus", murmurei entre dentes, "se
vais curá-la, certamente será em outro dia, porque estando aqui
fora, no saguão, nem mesmo poderá nos ver." E me dei por
vencida. Pelo movimento que percebia do auditório, notei que
certamente já havia começado a parte das curas no culto. Nesse
momento uma senhora de meia-idade cruzou o saguão. Estava
radiante de alegria. "O que necessita?", perguntou-me. Fiz um
gesto apontando para Nanci, que se retorcia e reclamava em
meus braços. "Ela tem leucemia", falei. "E não posso entrar na
reunião porque grita e incomoda os outros."

O rosto da mulher se iluminou. "Querido Jesus, reclamamos a


cura desta criatura." A seguir, começou a agradecer a Deus.
"Obrigado, Senhor, por curar esta menina. Te louvo por curá-la.
Te dou toda a glória." Oh, Senhor, pensei, este lugar está cheio
de loucos. Mas não podia negar o gozo e o amor que brotavam
dessa mulher. Ela tinha fé suficiente para acreditar que Nanci se
curaria. Lentamente, minha amargura e ressentimento
começaram a dissipar-se, e enquanto ela estava ali, com suas
mãos ao alto, louvando a Deus, minha própria semente de
mostarda de fé começou a surgir outra vez. "Sabe, há muita
atividade lá dentro", disse ela. "por que não vem e fica junto
dessa porta? Dessa forma poderá ver, e se a menina começar a
queixar-se outra vez, pode voltar para o saguão." Eu quase não
podia acreditar no que via. Havia uma longa fila de gente que
subia por ambos os lados da plataforma. Todos atestavam que
haviam sido curados. Nanci, que tinha estado lutando e
revirando-se em meus braços, aquietou-se. Começou a dizer
repetidamente: "Aleluia!" Aleluia? De onde ela tinha tirado essa
palavra? De nossa casa, certamente não. E eu não tinha ouvido
ninguém dizê-la na reunião. Até então, o vocabulário de Nanci
tinha se limitado a "mamãe", "papai", "queima", e "não". "Vou
voltar para meu assento", falei à mulher que estava ao meu lado.
Minhas costas doíam de carregar Nanci, e estava cansada de
que toda montanha que se interpunha em meu caminho me
sacudisse a seu bel prazer. Outra vez mais passei por sobre pés
e joelhos e aterrissei junto a Woody. Minutos depois Nanci
estava adormecida em meu colo. Escutei enquanto a senhorita
Kuhlman anunciava as curas que se produziam em todas as
partes do auditório. "Um quadril. Alguém está sendo curado de
uma séria afecção no quadril." "Alguém na parte alta do auditório
está sendo curado de um problema de coluna." "Leucemia..."
Leucemia! As distrações quase me tinham feito esquecer o
motivo principal por que estávamos ali. "Leucemia. Alguém está
sendo curado de leucemia neste momento", repetia a senhorita
Kuhlman. Então eu soube. Era Nanci. Comecei a chorar.

Não queria chorar. Tinha prometido a mim mesma que não teria
reações emocionais, mesmo que Nanci fosse curada. Mas não
podia evitar. Olhei para Woody. Estava com o olhar fixo para
frente, mas por baixo das lentes de seus óculos, podia ver as
lágrimas. Repentinamente, sem aviso prévio, Nanci me deu um
chute no estômago. Muito forte. Tinha a cabeça apoiada no meu
braço esquerdo e seu corpo estava colado ao meu. Estiquei a
mão e segurei seus pés para que não me pegasse de novo, mas
então o senti outra vez. Desta vez notei que seus pés não se
moveram. A pancada havia partido do interior de seu corpo. Foi
um poderoso golpe de dentro dela que havia sentido contra meu
estômago. Olhei seu rosto, geralmente muito pálido. Estava
vermelha, febril, coberta de suor. Algo estava acontecendo
dentro de seu corpo. Ao mesmo tempo, senti um calor e uma
cócega que me percorria por inteiro. Já não pude me conter
mais. "Oh, obrigado, Jesus. Obrigado." No caminho de volta ao
aeroporto, só o que podíamos fazer era chorar. Woody me
advertiu de que não me entusiasmasse muito. "Se ela está
curada, só o tempo dirá", disse sabiamente. Eu sabia que tinha
razão, mas não havia como deter minhas lágrimas de alegria. Na
terça-feira seguinte fomos ver a doutora O'Brien para que
examinasse Nanci como vinha fazendo com regularidade.
Contei-lhe tudo. Ela escutou pacientemente, e notei que seus
olhos se enchiam de lágrimas. "O que foi?", perguntei. "Bom",
disse ela com voz duvidosa, "o lugar que você me descreveu, de
onde veio a pancada, é onde se localiza o baço, um órgão vital
que tem um papel muito importante em sua doença." "Você
acredita que ela foi curada?", eu quis saber. "Oh", disse ela,
segurando meu braço, "queria acreditar de todo coração." "Por
que não acredita, então?", perguntei. "Porque nunca vi isso
acontecer", respondeu. "É tão difícil acreditar em algo quando
nunca o vimos antes. Você entende, não é?" É claro que
entendia. Mas agora eu tinha olhos para ver o que não tinha
visto antes. Ao ficar de pé para sair, lhe falei: "No entanto,
aconteceu. O fato de que você nunca tenha visto uma montanha
se mover, não significa que não possa ocorrer." A doutora
O'Brien apalpou as costas de Nanci. "Não há exame que possa
comprová-lo agora. Só o tempo dirá se a cura é real ou não." O
tempo provou que era real. Dia após dia, a cor de Nanci
melhorou. Recuperou a vitalidade e o apetite. Deixamos de lhe
administrar as drogas. Todos os exames realizados nos últimos
quatro
anos tiveram resultados negativos. Não há rastros da
enfermidade em seu corpo. Embora a cura de Nanci tenha sido
maravilhosa, a cura operada em nosso lar e em nossas vidas foi
ainda mais milagrosa. Falando de montanhas que deviam ser
movidas do caminho... A situação em nosso lar era como uma
cadeia montanhosa; dura, rochosa. Mas desde que Nanci foi
curada. Woody recebeu Cristo como seu Salvador pessoal e
ambos fomos batizados no Espírito Santo. Nosso lar, que certa
vez esteve a ponto de ser destruído pelo divórcio, agora
recuperou a ordem divina. Uma montanha de milagres! E tudo
começou com uma fé tão pequena como uma semente de
mostarda.
Capítulo 7 Este é um ônibus protestante?
Marguerite Bergeron
Não pude conter as lágrimas ao contemplar o precioso bordado
que esta mulher do Canadá me havia entregado. Cada ponto era
um ato de amor, porque tinha sido feito por mãos que certa vez
estiveram dobradas e deformadas pela artrite. A senhora
Bergeron, que vive em Ottawa, Canadá, era uma católica
romana de sessenta e oito anos de idade que nunca tinha
entrado em uma igreja protestante. Durante vinte e dois anos
tinha sofrido de artrite paralisante, tão grave que não podia
manter-se em pé durante mais de dez minutos. Seu marido,
incapacitado por uma afecção cardíaca, é o orgulhoso possuidor
de uma medalha que lhe fora entregue pelo Primeiro-ministro do
Canadá por ocasião de sua aposentadoria, depois de servir
durante cinqüenta e um anos no serviço postal de seu país.
Marguerite e seu marido têm cinco filhos e vinte e três netos. Em
nosso pequeno apartamento no subúrbio de Ottawa tocou o
telefone. "Querida Maria, Mãe de Deus," rezei, "que não deixe
de tocar antes que eu chegue." Fiz um esforço para sair da
cadeira de balanço e me apoiei na parede para obter equilíbrio,
caminhando com dificuldade até a mesinha do telefone. Cada
passo me provocava espasmos de dor nos joelhos e nos
quadris. Fazia vinte e dois anos que sofria de artrite paralisante,
e esse inverno tinha sido o pior de todos. Não tinha podido sair
de casa. O intenso frio canadense tinha endurecido minhas
articulações de tal forma, que quase não podia andar. Até o
simples ato de cruzar a sala para atender ao telefone era mais
do que podia agüentar. Peguei o rosário e finalmente cheguei ao
telefone. Meu filho Guy, que vivia em Brockville, Ontario, disse:
"Mamãe, conhece Roma Moss?" Eu conhecia bem o senhor
Moss. Estava muito doente de artrite, como eu. Os médicos
tinham soldado vários discos de sua coluna. Não
podia agachar-se, assim também não podia sentar-se.
"Aconteceu algo ruim?", perguntei-lhe, temendo o pior. Até falei
em voz alta: "Está morto?" É estranho, agora que penso nisso.
Nunca imaginei que pudessem ser boas notícias. Eu sempre
esperava más notícias. Depois de anos ouvindo o médico dizer:
"Você não vai melhorar; só ficará pior", acreditava que todos os
doentes pioravam automaticamente cada vez mais, até morrer.
"Não, mamãe", disse entusiasmado Guy. "O senhor Moss não
morreu. Foi curado! Pode caminhar! Pode agachar-se! Já não
sofre mais de artrite!" "Como é?", perguntei secamente. Em vez
de me alegrar, me sentia ameaçada. Por que ele se curava
enquanto o resto de nós tinha que continuar vivendo na dor?
"Ele foi a Pittsburgh, mamãe", a voz do Guy soou feliz no
telefone. "Foi a um culto de Kathryn Kuhlman. Enquanto estava
lá, foi curado. Por que você não vai a Pittsburgh também? Quem
sabe poderá ser curada." Eu tinha ouvido falar de Kathryn
Kuhlman e até tinha visto seu programa de TV, mas sempre
tinha pensado que a cura era para outros, não para mim. "Oh, eu
estou muito doente para sair de casa", falei. "Como poderia fazer
essa viagem tão longa até Pittsburgh?" Guy me contou sobre um
ônibus especialmente fretado que fazia a viagem entre Brockville
e Pittsburgh todas as semanas. "Me deixe ligar para eles e
reservar um lugar para você", rogou. Eu não me sentia bem. Só
o fato de estar de pé junto ao telefone falando com Guy me fazia
sentir fraca. Meu corpo estava deformado e inchado pela artrite
fazia muito tempo. Lembrava que, a alguns anos, tinha brincado
com meus netos durante o aniversário de um deles. Tinham
amarrado um lenço ao redor dos olhos de um garotinho, que
tinha que ir por todo o lugar tocando as mãos das pessoas e
adivinhando quem era cada um. Ele me identificou
imediatamente porque as articulações estavam terrivelmente
inchadas e os dedos dobrados, como garras. E que era isso que
dizia da cura? Por acaso Guy achava que sabia mais do que os
médicos, que haviam dito que eu não tinha possibilidade de
cura? Sacudi a cabeça, sem esperanças. "Não, Guy, não faça
nenhuma reserva", suspirei. "Falarei com seu pai e responderei
amanhã à noite." Desliguei e voltei com dificuldade até minha
cadeira. Durante um longo momento estive ali, sentada na
penumbra do quarto, chorando, porque era velha e a dor era
muito forte. Tentei recordar dos tempos em
que meu corpo era jovem e ágil, e formoso. Lembrava quando
Paul e eu nos apaixonamos. Fomos tão corretos; ele, criado em
um ambiente católico francês e eu, com minha família católica
escocesa. Em uma noite, ele tocou timidamente as costas da
minha mão, e lentamente entrelaçou seus dedos com os meus.
Gostava de acariciar minhas mãos suavemente, com doçura, de
uma forma que me chegava ao coração. Agora eu não suportava
que Paul me tocasse as mãos. Doía muito. Estava velha e cheia
de nós, como um velho carvalho no topo de uma montanha
rochosa. Já não lembrava de nenhum momento em que não
estivesse sofrendo de dores. Essa dor tornava quase impossível
que alguém me chegasse ao coração. Nessa noite contei a Paul
sobre a ligação de Guy. Desde que meu marido se aposentou do
serviço postal, seu coração tinha ficado rodeado de líquido. Isto
lhe afetava as pernas, por isso estava parcialmente paralisado.
Mas Paul me estimulou para que fosse a Pittsburgh, e até disse
que queria ir comigo. "Não podemos perder nenhuma
oportunidade", disse. "Mas são quase mil quilômetros", protestei.
"Não sei se poderei suportar todos os buracos e problemas do
caminho." Paul assentiu. Era tão compreensivo... Mas algo nele
continuou insistindo. Finalmente concordei em ir, e no dia
seguinte liguei para o Guy. "Seu pai irá comigo", falei. "Mas
antes de que nos reserve lugar, quero ver o senhor Moss. Quero
ver com meus próprios olhos que está curado." Guy estava feliz,
e disse que arrumaria todo para que eu pudesse falar com o
senhor Moss, que vivia perto. No dia seguinte, enquanto
escutava o senhor Moss, quase não podia acreditar no que
ouvia. Era a história mais fantástica que jamais me contaram.
Uma senhora chamada Maudie Phillips lhe tinha reservado um
lugar para que ele pudesse viajar de Brockville a Pittsburgh. Ali
havia assistido ao culto de Kathryn Kuhlman na Primeira Igreja
Presbiteriana, e tinha sido curado. Para prová-lo, parou no meio
do quarto, inclinou-se e tocou o chão. Correu, saltou e girou as
costas em todas as direções para me mostrar que seus ossos e
articulações estavam como novos. Para mim, o mais incrível era
que tinha sido curado em uma igreja protestante. Eu tinha sido
católica durante toda minha vida. No Canadá, quando eu era
menina, as relações entre católicos e protestantes eram tão
tensas que às vezes parecia que iriam entrar em guerra. Desde
que eu era pequena me tinham ensinado que entrar em uma
igreja protestante podia me fazer perder a salvação, e sempre
que passava em frente a uma, prendia a respiração.
Em meus sessenta e oito anos de vida, nunca tinha entrado em
um desses lugares. E agora o senhor Moss me dizia que tinha
sido curado em uma igreja presbiteriana. Só pensar nisso era
quase mais do que eu podia suportar. "Querida Maria, isso pode
ser verdade? Deus ama aos protestantes, também?" Só a idéia
já me fazia estremecer. Mas não havia como negar o que tinha
acontecido ao senhor Moss. Antes, tinha estado obviamente
doente; mas agora estava perfeitamente saudável. Engoli saliva,
apertei os dentes e assenti diante de meu marido. Iríamos a
Pittsburgh. Guy fez as reservas. O ônibus partiria na quinta-feira
pela manhã. "Acha que devemos contar ao padre?", perguntou-
me Paul. "Oh, não", protestei decididamente. "Já é bastante ruim
que Deus saiba que estamos indo a uma igreja protestante, para
que também o padre saiba." Isto pesava muito em minha
consciência. O que aconteceria quando nossos amigos católicos
soubessem o que tínhamos feito? Mas mesmo assim, estava
convencida de que deveríamos ir. Na quinta-feira pela manhã
Paul se levantou cedo. Mas quando tentei me levantar, gritei de
dor. Geralmente a dor da artrite aparecia em um lado ou no
outro. Mas nessa manhã, a dor era intensa em todo o corpo.
Cada articulação ardia. Só o que pude fazer foi me recostar
novamente na cama e chorar. Paul saiu do banho e se
aproximou da cama, sem saber o que fazer. Quando me doía o
pé ou o joelho, às vezes me fazia massagens para aliviar a dor.
Mas nessa manhã, qualquer movimento, qualquer contato, fazia
que sentisse como fogo líquido correndo por meus ossos. Nunca
a dor tinha sido tão extrema. Com minhas lágrimas molhei o
travesseiro, e nem sequer podia secá-las por causa da
intensidade da dor nas mãos. Minhas mãos estavam dobradas e
rígidas sobre o monte de lenços de papel que tinha segurado na
noite anterior, tentando que não se fechassem totalmente.
Nenhuma oração poderia fazer que se abrissem. Nesse
momento desejei morrer. "Não posso ir", solucei. "Deus não quer
que eu vá a essa igreja. Isso é um castigo dele por ter pensado
em fazê-lo." "Não é assim, mamãe", disse Paul, quase com
firmeza. "Deus quer que se cure. Ele não lhe faria algo assim.
Tem que se levantar." "Não posso ir. Não posso caminhar. Nem
sequer posso sair da cama. Não posso fazer nada. Até viver me
dói." "Deve se levantar, mamãe", rogou Paul. "Deus não quer
que se deixe morrer aqui. Tente. Por favor, tente."
Mover cada articulação era como romper gelo em uma corrente.
Cada movimento fazia ranger algo que estava solto. A dor era
insuportável, mas movi as articulações de um lado ao outro até
que finalmente consegui tirar as pernas da cama. Com a ajuda
de Paul, fiquei em pé. Em seguida lutamos para abrir minhas
mãos. "Agora ponha o vestido, mamãe", disse Paul. "Não
devemos chegar tarde para pegar o ônibus." Vestir foi
terrivelmente difícil... e pôr a cinta, quase impossível. Comecei a
chorar outra vez. "Continue tentando, mamãe", dizia Paul.
"Continue tentando. Esta pode ser sua última oportunidade de
ser curada." "Acha que irei sem minha cinta?", chorei. "Seria
indecente." Mas Paul continuou me incentivando, e finalmente
fiquei pronta para sair... sem vestir a cinta. Chegamos ao carro e
fomos para o lugar de onde sairia o ônibus. No estacionamento,
a esposa de Guy nos apresentou à senhora Maudie Phillips,
representante de Kathryn Kuhlman em Ottawa. A senhora
Phillips era cálida, amistosa, extrovertida, e me estendeu a mão.
"Sinto muito", falei, retrocedendo, "mas não posso dar a mão a
ninguém. Se me tocarem, a dor me faria desmaiar." Ela sorriu, e
senti que me entendia. Isso me ajudou muito. Mas o temor de
me misturar com os protestantes estava voltando a apoderar-se
de mim. Voltei-me para o Paul. "Deveríamos ter ido primeiro à
igreja. Tinha que confessar este grande pecado ao padre. Assim
não me sentiria tão mal." Guy me escutou e disse: "Mamãe, nem
que tenha que levá-la no colo, vai subir nesse ônibus."
Finalmente cedi, e a senhora Phillips, junto com o motorista do
ônibus, me ajudaram a subir. Cada passo, cada contato, me
fazia chorar de dor, mas cheguei até o assento junto a Paul.
Tínhamos uma viagem de quase mil quilômetros pela frente.
Quando o ônibus partiu, a senhora Phillips começou a ir de uma
ponta à outra do corredor, falando, respondendo perguntas,
ministrando às pessoas, como um pastor que cuida de suas
ovelhas. Cada vez que passava perto de mim, eu a detinha.
Tinha muitas perguntas. Muitas das pessoas que estavam no
ônibus já tinham feito essa viagem antes. Logo começaram a
cantar. Eu nunca tinha ouvido cantar assim. Era como uma igreja
com rodas percorrendo o campo, mas uma igreja diferente de
qualquer uma das que eu conhecia. Me preocupei, e a próxima
vez que a senhora Phillips passou por mim, segurei-a pelo
braço. "Este é um ônibus protestante?", sussurrei.
"Não", riu ela. "É um ônibus de Jesus. Costumamos levar alguns
sacerdotes católicos. Às vezes até nos dirigem no canto."
"Sacerdotes católicos em um ônibus protestante?", perguntei.
"Como pode ser?" A senhora Phillips sorriu. "Ao ônibus não
importa se você for protestante ou católica. A Jesus também
não." "Mas estamos indo a uma igreja protestante em
Pittsburgh", protestei. Como rezarão? Como eu devo rezar?
Posso rezar como em minha igreja?" A senhora Phillips era tão
doce, tão paciente, tão compreensiva. Depois de chamá-la seis
ou sete vezes para lhe perguntar coisas como essas, ajoelhou-
se junto a mim. "Senhora Bergeron." disse, "você crê que há um
só Deus para todos?" Senti que meus olhos se enchiam de
lágrimas. Não queria desonrar a minha fé, a minha igreja, os
meus padres. Todos eles tinham significado muito para mim.
Mas, como explicar a essa mulher que transmitia tanto amor?
"Oh, sim", respondi. "Creio que há um só Deus para todos nós.
Eu rezo a Maria, mas amo a Deus. Sei que só Deus pode me
curar." "Então simplesmente confie nele", disse ela. "Deus a
ama, mas Ele não pode fazer muito por você se continuar
fazendo tantas perguntas. Por que não se recosta em seu
assento e deixa que o Espírito Santo lhe ministre?" Comecei a
relaxar um pouco, embora não estivesse segura de quem era o
Espírito Santo. Depois de cruzar a fronteira e entrar nos Estados
Unidos, dormi. Não sei por quanto tempo dormi. Ainda estava
meio adormecida quando, ao me mover, vi meus pés. De alguma
forma, enquanto dormia, tinha posto um pé em cima do outro.
Não podia ser! Fazia anos que não podia cruzar as pernas.
Pisquei e olhei outra vez. Tinha os tornozelos cruzados. E o mais
notável... não sentia nenhuma dor. "O que está acontecendo?",
exclamei. Paul me olhou, com uma estranha expressão no rosto.
Eu estava muito entusiasmada para notar que também lhe
ocorria algo. "O que disse?", gaguejou. Então olhei minhas
mãos. Os dedos, que tinham estado rígidos e dobrados, estavam
se endireitando. Já não sentia dor ali tampouco. "O que está
acontecendo?", repeti. "Algo errado, mamãe?", perguntou Paul.
"Ouça", sussurrei. "Mas não diga a ninguém. Vão pensar que
estou imaginando."
"Imaginando o que?", perguntou Paul. "Olhe meus pés",
sussurrei. "Viu, os tornozelos estão cruzados. E não doem. E
olhe meus dedos. Já não me doem as mãos, e os dedos se
estão endireitando como os de uma menina. Estou me curando
antes de chegar a Pittsburgh! Estou me curando neste ônibus
protestante!" Paul tirou os óculos. Tinha os olhos cheios de
lágrimas. No início pensei que chorava por mim, mas depois
notei que havia algo mais. "O que está acontecendo com você?",
perguntei. "Algo me acontece", disse, atropelando-se ao falar.
"Enquanto você dormia, eu estava sonolento. Quando despertei,
senti algo quente, como uma onda de calor, que percorria meu
peito e chegava até as pernas. Foi tão forte que durante um
minuto não pude ver nada. Estava cego. Então você acordou.
Recuperei a vista. E creio que estou me curando." Nesse
momento o ônibus saiu da estrada para deter-se em um lugar de
descanso. A senhora Phillips voltou a nos ver. "Vamos parar
para tomar um café", disse. "Me deixe ajudá-la com seus pés."
"Não preciso de ajuda", falei, rindo alegremente e sem me
preocupar que me ouvissem. "Posso caminhar! Posso subir e
descer sozinha esses degraus." Me levantei e desci pelo
corredor, com meu marido atrás de mim. Desci os degraus e saí
no estacionamento. Todos se aglomeraram ao meu redor.
"Senhora Bergeron", perguntavam, "o que lhe aconteceu?" "Não
sei o que aconteceu", falei, sentindo-me transbordar de alegria.
"Mas faz vinte e dois anos que não me sinto tão bem."
Passamos a noite de quinta-feira em um hotel em Pittsburgh. No
mês anterior eu tinha ido ver meu médico, lhe rogando que me
desse algum calmante para a dor. "Olhe meus joelhos", lhe havia
dito. "Olhe meus dedos. Doem tanto que não consigo dormir de
noite." Ele tinha sido amável, mas firme. "Senhora Bergeron, não
há nada que possamos fazer. Minha própria mãe morreu dessa
doença. Os médicos não podem fazer nada mais do que lhe dar
comprimidos que aliviem a dor." E me tinha dado comprimidos.
Comprimidos para tomar de manhã, comprimidos para tomar
depois das refeições, comprimidos para tomar de noite. E cada
vez que engolia um comprimido, engolia onze centavos. Nessa
noite, em Pittsburgh, deixei os comprimidos em minha bolsa.
Não tomei nem um, e no mesmo instante em que apoiei minha
cabeça sobre o travesseiro, dormi. Nunca tinha dormido tão
bem. Durante mais de vinte anos só tinha conseguido dormir de
costas ou de bruços, mas essa noite dormi de lado, dobrada
como um bebê. Às quatro da manhã estava completamente
acordada. O quarto do hotel estava ainda às escuras quando saí
da cama, me sentindo mais
jovem e saudável do que tinha estado em muitos anos. Não via a
hora de ir ao culto de milagres... embora fosse em uma igreja
protestante. Na noite anterior, a senhora Phillips me havia dito
que sentia que eu tinha sido curada no ônibus quando falei:
"Amo a Deus e sei que só ele pode me curar." Ela me citou um
versículo da Bíblia: "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro
e pela palavra do seu testemunho" (Apocalipse 12:11). Mas não
importava quando tinha ocorrido. Só o que sabia era que, como
o senhor Moss, eu não era mais a pessoa que tinha sido até
então. E nem Paul. Suas dores de coração tinham desaparecido
e se sentia como novo. Estávamos muito bem. Haviam nos dito
que esperava-se por horas fora da igreja até que se abrissem as
portas. Eu tinha temido que minhas pernas não resistiriam se
tivesse que ficar de pé tanto tempo, por isso havia trazido um
banquinho para me sentar. Mas afinal não precisei dele. Estive
de pé durante três horas e meia às portas da Primeira Igreja
Presbiteriana de Pittsburgh, desejando encontrar alguém a quem
pudesse dar o banquinho. Fazia anos que não podia ficar de pé
mais do que dez minutos; agora estava parada durante horas,
desfrutando de cada momento, com o banquinho na mão.
Finalmente as portas se abriram e as pessoas se aglomeraram
na entrada. A senhorita Kuhlman subiu à plataforma e o culto
começou a desenvolver-se em meio de uma música gloriosa.
Poucos minutos depois ela parou os cantos e disse: "Entendo
que há aqui uma senhora que vem de Ottawa e que foi curada
no ônibus". Estava falando de mim. Paul e eu aceitamos seu
convite de subir à plataforma. Eu esqueci que estava em uma
igreja protestante. Esqueci que estava em frente a duas mil e
quinhentas pessoas. Senti esse amor especial de Kathryn
Kuhlman por todas as pessoas, pessoas como eu, e antes que
me desse conta, respondi-lhe, saltando, batendo palmas e me
dobrando para tocar o chão... diante de todas essas pessoas.
Como eu fui a primeira a subir à plataforma, não sabia o que
acontecia algumas vezes quando Kathryn Kuhlman orava por
alguém. Ela esticou sua mão e me tocou no ombro, e
repentinamente senti que caía. "Oh, não", pensei. "O que faz
uma mulher grande como eu aqui, caindo ao chão diante de toda
essa gente?" Mas não pude evitar. Era como se os céus
tivessem se aberto e o próprio Deus me tivesse tocado. Alegrei-
me de que houvesse um homem forte que me sustentou antes
que me desabasse sobre o chão... se ele não tivesse estado aí,
creio que teria atravessado a plataforma até acabar no subsolo.
Em seguida me colocou suavemente sobre o chão. Pus-me de
pé, surpreendida de não sentir nenhuma dor. "Obrigada", falei à
senhorita Kuhlman, entre lágrimas. "Obrigada, muito obrigada."
"Não me agradeça por isso", riu ela. "Eu não tive nada a ver com
sua cura. Nem sequer a conheço. Você foi curada antes mesmo
de vir aqui. Eu não tenho poder. Só Deus o tem. Agradeça a
Ele." Voltei para meu assento e comecei a agradecer a Deus. As
pessoas cantavam, como no ônibus. Mas desta vez não me
importava que fossem protestantes. Eu também queria cantar.
Como não conhecia a letra das canções, pus-me a escutar a
mulher que cantava junto a mim e a repetir o que ela dizia. Sei
que soava horrível, porque estava atrasada um verso em relação
a todos os outros, mas não podia evitá-lo... e não me importava!
Estava tão feliz... Quando os que me rodeavam levantavam as
mãos para louvar a Deus, eu também o fazia. Pela primeira vez
em vinte e dois anos podia levantar os braços, e o fazia em
adoração. Assim continuei cantando, (um verso depois que
todos os outros), levantando as mãos, chorando e louvando a
Deus por minha cura. Eram duas da manhã quando chegamos
de volta a Brockville. Guy estava à porta de sua casa quando
viramos para entrar em nossa rua. "Mamãe, está bem?",
perguntou, quando saí do automóvel que havia nos trazido do
lugar onde o ônibus nos deixara. Todos seus amigos, que
estavam esperando em sua casa, se juntaram ao seu redor.
"Não lhe pergunte, apenas olhe para ela!", gritaram. "Olha para
ela! Está curada! Deus a curou!" A essa hora da noite me pus a
dançar no meio da sala. "Oh, mamãe!", disse Guy, me tomando
em seus braços. Estava chorando. Todos choravam, menos eu,
que continuava dançando de um lado ao outro. Assim que
cheguei em casa, acredito que por volta das três da madrugada,
liguei para minha filha Jeanne. "Estou curada!", gritei pelo
telefone. "Fui curada!" "Mamãe?", respondeu Jeanne, com voz
sonolenta. "O que está dizendo?" "Já não sofro mais de artrite",
lhe falei, rindo. "Ligue para todos e lhes conte. Já não estou mais
doente." Quando finalmente me deitei, eram cinco da manhã.
Tinha estado em pé durante vinte e quatro horas, mas me sentia
cheia de vitalidade e força. E Paul também. No dia seguinte meu
marido foi ao campo de golfe com Guy e o acompanhou num
percurso de cinco buracos. Oh, Deus! O Senhor foi tão bom
conosco. No domingo de tarde, Pierre, outro de nossos filhos,
veio com sua esposa e seus três filhos à casa de Guy, para ver
se eu tinha sido realmente curada. O rosto de Pierre refletia um
enorme sorriso enquanto caminhava ao meu ao redor, me
observando de todos os ângulos. "Mamãe, está curada. Agora
chegará a ser anciã, a menos que um caminhão passe por
cima de você. E mesmo que isso acontecesse, acho que temeria
mais pelo caminhão que pela senhora." Uma de minhas netas, a
pequena Michelle, apareceu: "Mamãe, quando esteve em
Pittsburgh, eu fui à escola católica, levantei as mãos e falei:
'Jesus, cure a minha avozinha'. E Ele o fez." Então apareceu
meu netinho de sete anos. "Agora, vovó, já não precisará
caminhar como um pingüim." Deus estava fazendo algo mais.
Não só havia curado meu corpo, mas, além disso, também
estava agindo em minhas atitudes. Como muitas outras pessoas
que vivem constantemente sob uma intensa dor, eu havia me
tornado resmungona e difícil de suportar. Não sabia disso até
que ouvi minha nora falando com Jeanne pelo telefone. "Houve
outro milagre", dizia. "Não só foi curada da artrite. Já não
encrenca mais. Algo maravilhoso aconteceu em seu interior." No
domingo seguinte fiz que toda minha família fosse comigo,
caminhando, até a Igreja do Sagrado Coração. Quando cheguei
lá, falei ao sacerdote: "Padre, Deus me curou de minha artrite."
Eu queria que ele compreendesse o que realmente tinha
acontecido, assim, no domingo seguinte, levei a todos os
sacerdotes um exemplar dos livros de Kathryn Kuhlman. Duas
semanas depois fui ver meu médico. Quando entrei caminhando
no consultório, a enfermeira me disse: "Senhora Bergeron, o que
aconteceu? Parece estar muito bem." Minutos depois o médico
entrou na sala de espera. "Ei doutor," lhe falei, "não tenho mais
artrite. Olhe minhas mãos. Olhe os joelhos. Olhe! Estou
caminhando." O médico parou no meio da sala, me olhando
caminhar por todo lado. Logo tomou minhas mãos e examinou
os pulsos e os dedos. "Sei o que está pensando", lhe falei. "Está
pensando: "Bom, a senhora Bergeron já não sofre de artrite...
agora está louca." Riu e me fez gestos de que entrasse outra
vez no consultório. "Não, não creio que esteja louca", disse com
voz séria. "Seu estado era irreversível, incurável. Agora você
está curada. Não entendo." Peguei minha bolsa e lhe passei um
dos livros de Kathryn Kuhlman. "Leia isto, doutor. Terá que
enviar todos seus pacientes a Pittsburgh... e depois terá que
procurar outro emprego." Riu outra vez, pegou o livro e me
abraçou. "Isso me converteria no homem mais feliz do mundo...
ver todos meus pacientes tão bem como você." No mês
seguinte, Paul e eu subimos novamente ao ônibus que ia a
Pittsburgh. Desta vez, dezessete membros de nossa família nos
acompanhavam, e também alguns amigos. Um jovem sacerdote
católico ia
conosco. Durante todo o caminho a Pittsburgh, fomos cantando
e louvando a Deus. Uma mulher me perguntou: "Você trabalha
para Kathryn Kuhlman?" "Não", respondi. "Trabalho para Deus."
Antes, sempre que tinha que pedir algo a Deus, eu tinha medo.
Por isso, em vez de ir a Jesus, ia a Maria, para lhe pedir que
intercedesse por mim. Agora compreendo que Deus me ama
tanto que não tenho por que temê-lo. Quando oro, digo: "Deus,
sou eu, a senhora Bergeron." E Ele para tudo o que está
fazendo e me escuta. Assim é Deus.
Capítulo 8 A cura é só o começo
Dorothy Day Otis
Entre as pessoas que vêm como convidadas ao meu programa
semanal de televisão, Creio em milagres, encontram-se médicos
e barmans, famosos educadores e crianças, modelos e donas de
casa. Todos foram tocados por Jesus de uma forma especial e
atestam a mudança produzida em suas vidas. Entretanto,
poucos convidados me emocionam tanto como os
representantes do mundo do espetáculo, tanto televisivo como
teatral, que deixam de lado toda sua capacidade de atuação e,
com sinceras lágrimas de agradecimento, contam ao mundo o
que Jesus fez por eles. Este foi o caso de Dorothy e Dom Otis,
que apareceram no programa que eu gravava nos estúdios da
CBS em Los Angeles. Dorothy Day Otis dirige uma das agências
de artistas mais bem-sucedidas. Representa artistas muito
importantes da TV, do cinema e do teatro. Dom tem uma
florescente agencia de publicidade. Ambos são bem conhecidos
e muito respeitados por todos os artistas de Hollywood. "Faz
anos que Dom e eu estamos na TV", disse Dorothy, "mas a
única aparição verdadeiramente importante foi a que fizemos no
programa de Kathryn Kuhlman." Disse isso porque essa
aparição foi completamente dedicada a Jesus. Eu pensava que
era normal sentir-se mal. Nunca me senti realmente bem, e fazia
anos que sabia que minha saúde estava se deteriorando. Ficava
cansada facilmente e tinha constantes dores nas costas, que
tentava ignorar. Mas não podia ignorar o meu estômago, que
reagia violentamente a quase tudo que eu comia. Vivia me
alimentando com grandes quantidades de queijo cottage, pudins
e geléias, e só de olhar para comida comum me causava
repulsa. Quando a dor se tornou insuportável, fui ver os médicos.
Vários clínicos me observaram e deram o mesmo diagnóstico:
"um grave
problema estomacal", doença que parece ser companheira
constante de muitos dos que se deixam apanhar pelo
redemoinho de Hollywood. Os médicos prescreveram
comprimidos, que comecei a tomar tal como me tinham indicado,
mas não melhorei. Durante anos arrastei dores nas costas, uma
nuca rígida, uma total falta de energia e apetite. Passava a
maioria dos finais de semana na cama. Algumas vezes me
perguntava em voz alta se meus problemas estomacais estariam
relacionados com minhas dores nas costas, minha forma
estranha de caminhar e o fato de que meus sapatos se
gastavam de forma desigual. Mas os médicos simplesmente me
olhavam, sacudiam a cabeça... e me mandavam à farmácia a
comprar mais comprimidos. Eu tinha me formado no curso de
teatro na universidade, e depois disso iniciei minha carreira na
moda e na televisão. Vivi durante dois anos em São Francisco,
conduzindo meu próprio programa de entrevistas e de cozinha
na TV e atuando como apresentadora de filmes aos sábados de
tarde. Depois mudei para Los Angeles, onde continuei minha
carreira como modelo e atuando na TV. Todas as manhãs
levantava às 05:30 para chegar a tempo para passar pela
maquiadora e a cabeleireira. O dia todo estava sob as luzes,
frente a uma câmara ou trabalhando com pessoas. À noite,
muito tarde, literalmente desabava sobre a cama. Com minha
exigente agenda, não achava que fosse estranho que sofresse
dores constantes e me sentisse completamente exausta todo o
tempo. Além disso, aparentemente todos os outros que me
rodeavam se sentiam igual. Seis meses depois de chegar a Los
Angeles, conheci Don Otis. Sua história era similar à minha:
atuava em TV e rádio, era disc jóquei, diretor de programas, e
agora era dono de uma agência de publicidade. Eu tinha ido ao
escritório de Don para uma entrevista para um comercial de TV.
Quando saí, ele disse a um colaborador: "Essa é a garota com
quem vou me casar. "Sério?", perguntou seu amigo. "Qual é o
nome dela?" Don não sabia, e teve que ir a outro escritório para
perguntar a uma secretária. Ao voltar, sorriu. "Seu nome é
Dorothy Day, e continuo pensando em me casar com ela." Um
ano mais tarde eu continuava doente, como de costume... mas já
estávamos casados. Don teve que fazer todos os acertos,
inclusive conseguir autorização para utilizar o belo Mission Inn
de Riverside para nossa cerimônia de casamento. Nessa época
eu era presbiteriana, e ia à igreja só ocasionalmente. Don era
metodista, mas nunca ia à igreja. "Cristãos nominais" é a
expressão que eu usava para nos descrever. Don, que é mais
franco, diz que fomos "cristãos péssimos".
Apesar de minha saúde ruim e nossa total falta de
espiritualidade, ambos tínhamos muito sucesso nas carreiras
que tínhamos escolhido. A agência de Don crescia a passos
largos, e eu aparecia com muita freqüência na TV. Então, logo
quando achava que estava aprendendo a conviver com meus
problemas físicos, a saúde de Don começou a decair. Meu
marido fumava muito desde que tinha quinze anos.
Repentinamente, depois de todos esses anos, começou a ter
problemas respiratórios. Só conseguia respirar de forma
entrecortada, e pouco a pouco teve que reduzir toda sua
atividade física. Sequer podia subir a colina que estava atrás de
nossa casa. Um exame físico nos permitiu descobrir uma doença
temível: enfisema pulmonar. Não havia cura. Don estava tão
desanimado que nem sequer pensou em deixar de fumar. Já que
não tinha solução, deixar de fumar não faria diferença. Em 1966,
Harold Chiles, um importante representante de Hollywood,
ofereceu-me trabalho como agente de crianças para
interpretações e comerciais de TV. Ele e Don acreditavam que
os anos que eu tinha passado na TV me capacitavam para a
tarefa. Significava entrar em um campo completamente novo em
minha profissão, e a idéia me fascinou. Quando Chiles morreu,
comprei sua agência dos sucessores, e repentinamente me vi
dentro do negócio, comandando uma das agências mais bem-
sucedidas de Hollywood. Então minha própria saúde começou a
piorar. Eu media 1,75m, por isso meu peso normal era cerca de
65 kg. Mas comecei a perder peso. Comecei a evitar todas as
comidas, até o queijo cottage, e rapidamente baixei a 55 kg.
Parecia um esqueleto, e tornei a visitar os consultórios dos
médicos. Nenhum podia me ajudar. Eu me obrigava a ir
trabalhar, embora me sentisse muito mal. Só meu amor pelo
trabalho me mantinha em pé. Uma amiga próxima andava
assistindo aos cultos de Kathryn Kuhlman. Ela nos animou a ir,
certa de que, se fossemos, seríamos curados. A idéia de Deus
não me interessava muito, mas mesmo assim comprei os livros
de Kathryn Kuhlman e os li. Don também os leu. Eram muito
interessantes, e até me fizeram chorar. Mas quando se
aproximavam os finais de semana, era mais fácil cair na cama o
que assistir às reuniões. "Um dia desses iremos ao Shrine", eu
repetia à minha entusiasmada amiga. Mas se passaram três
anos antes de cumprirmos essa promessa. Don e eu assistimos
ao primeiro culto de milagres em janeiro de 1971. Mesmo agora
ainda é difícil descrever o que eu sentia enquanto esperava que
as portas do auditório se abrissem. Milhares de pessoas
rodeavam as portas, mas eu não as sentia como estranhas, mas
sim como amigos que não tinha conhecido antes. Era como uma
grande reunião
familiar. Havia tal amor mútuo, tal compaixão pelos doentes...
Todos falavam e compartilhavam com alegria enquanto
esperavam. Antes de que se abrissem as portas, Don e eu já
sabíamos que Deus estava lá. Voltamos no mês seguinte. Ali,
sentada no auditório, chorei ao ver as curas, orando pelos
doentes que me rodeavam. Pela primeira vez em minha vida
senti a presença de um Deus de amor que se preocupava tanto
que queria tocar essas pessoas imersas em uma terrível
situação e as curar por completo. Mas eu não era curada.
Minhas dores nas costas ficaram piores. E ainda pior; a nuca
estava tão rígida que não podia virar a cabeça sem virar o tronco
junto. Olhava e caminhava como as múmias dos filmes de terror.
Em março de 1971 fui consultar um médico traumatologista, o
doutor Larry Hirsch. Ele me fez um exame preliminar e me
encaminhou a fazer radiografias da coluna. Quando voltei a vê-
lo, vários dias depois, mostrou-me a radiografia. "Olhe isto",
disse-me. Até para meu olho inexperiente, era óbvio que minha
coluna não era normal. O doutor Hirsch descobriu que os
grandes depósitos de cálcio em cada vértebra eram indicadores
de uma artrite em desenvolvimento. Como se isto fosse pouco,
meu quadril estava torcido, pelo qual a perna direita ficava dois
centímetros e meio mais acima que a esquerda. Isso explicava
alguns dos meus problemas: porque meus sapatos se gastavam
de maneira desigual, porque tinha a nuca rígida, e por que
sempre doía a parte inferior das costas. O doutor Hirsch também
me disse que meus problemas estomacais possivelmente se
deviam à pressão sobre os nervos. Lembrei que quando
estudava na Universidade de Iowa, certa vez tinha levado um
tombo, caindo pesadamente sobre o gelo. A enfermeira da
universidade me tinha enfaixado as costas, mas a dor tinha
permanecido durante muito tempo depois disso. O doutor Hirsch
disse que provavelmente esse acontecimento tivesse dado
origem aos meus problemas atuais. "Deveria estar de cama",
disse-me. "A maioria das pessoas que estão em sua situação
nem sequer podem caminhar." Mediu minhas pernas e inseriu
uma palmilha em meu sapato direito. "Se não houver alguma
melhora notável até a próxima semana", disse, "será melhor que
consulte um especialista." Isso foi em uma sexta-feira. Deixei o
consultório muito desanimada, com o compromisso de voltar na
segunda-feira para que me fizesse outro exame.
No domingo, Don e eu fomos a Los Angeles para assistir ao
culto no auditório Shrine. Depois de ficar de pé em frente à porta
durante mais de duas horas, tentamos nos mover rapidamente
para conseguir assentos. Entre a respiração ofegante de Don e
meu andar lento, só conseguimos dois assentos na parte de
cima, a cinco filas da parede. "A vantagem de estar aqui em
cima" disse Don, com respiração arfante, "é que estamos mais
perto do céu." Desde o começo do culto comecei a contar a
Deus todas as coisas que estavam erradas comigo, como se Ele
não soubesse. Em alguns momentos, enquanto Kathryn
Kuhlman pregava, eu voltava a orar. Então escutei que ela dizia:
"Alguém na parte superior do auditório foi curado de um mal-
estar estomacal. Você não come a muito tempo." Senti que
minha respiração se tornava agitada, como se me faltasse o ar.
"Além disso, alguém está sendo curado de uma afecção na
coluna", adicionou a senhorita Kuhlman. Minha respiração se
acelerou a tal ponto que já não podia controlá-la. Estava sem
fôlego, e ao mesmo tempo comecei a chorar com todas minhas
forças. Sabia que estava atraindo a atenção de todos, mas não
podia evitar. Em meio a tudo isso, um grande calor se apoderou
de mim, como uma manta em um dia frio. Meus soluços
violentos sobressaltaram Don. Tentou me ajudar, mas eu não
podia falar. Não podia lhe contar o que acontecia. Ele me
passou um lenço, e quando me virei para pegá-lo, quase gritou:
"Você virou a cabeça! Olha pra mim, Dorothy! Você virou a
cabeça!" Era mesmo. Sem que eu tivesse percebido, a nuca
destravou e se movia livremente. Com a respiração ainda
entrecortada e soluçando, comecei a virar a cabeça de um lado
para o outro, da frente para trás. Não havia dor. Saí
cambaleando e me aproximei de uma obreira. "Fui curada", falei
soluçando. A mulher me olhou com grande calma. "Como sabe?"
Eu estava quase histérica, sacudindo a cabeça e tentando
desesperadamente conseguir ar. "Posso virar o pescoço", falei
com dificuldade. "E meu estômago também foi curado." "Seu
estômago?", perguntou. "Como pode saber que se curou do
estomago?" Não sabia. Nem sequer tinha pensado nisso. As
palavras saíram aos borbotões. "Eu sei", insisti. "Se posso
mover a cabeça, sei que Deus me curou do estômago também."
A mulher sorriu, convencida. Pegou-me pelo braço e me ajudou
a descer. Havia uma longa fila na plataforma, esperando para
testemunhar sobre suas curas. Fiquei na fila, ainda soluçando.
"Onde está Don?", me perguntei, repentinamente. Olhei para o
mar de rostos, tentando achá-lo. Então o vi, descendo junto com
um obreiro. Ele também chorava. Ao me ver, começou a rir. Nos
abraçamos. "Eu também fui curado, Dorothy", disse-me.
"Quando você desceu, uma sensação de calor me envolveu. Caí
no choro. Então notei que podia respirar normalmente. Veja!",
continuou. "Pela primeira vez em oito anos não tenho que me
esforçar para respirar." Ria e chorava ao mesmo tempo... mas
respirava bem. Então Kathryn Kuhlman nos chamou para que
subíssemos à plataforma. Algo tinha acontecido no íntimo de
meu marido. Não só em seus pulmões, mas também em sua
alma. Notei ao vê-lo em frente ao microfone, respirando
profundamente, com a alegria lhe inundando a face. A senhorita
Kuhlman queria lhe fazer perguntas, mas só o que ele dizia era:
"Olhem! Posso respirar". Compreendendo que não poderia obter
muita informação de nenhum de nós, em nosso estado de
agitação, ela pôs as mãos sobre nossos ombros e começou a
orar. Senti que Don pegava em minha mão, e a seguir, só soube
que estávamos ambos no chão. Eu não escutava nada. Não
sentia nada definido, só uma maravilhosa calidez e uma paz que
nos envolvia. Lembro vagamente da voz de Kathryn Kuhlman
dizendo: "Isto é só o começo. A partir de agora, suas vidas serão
totalmente transformadas". Oh, como tinha razão! Compreendo
agora, olhando para trás, que a mão de Deus fez muito mais do
que curar meu corpo. Mas como a cura física tinha sido tão
sensacional, levou algum tempo até que pude compreender a
mudança, mais profunda, que se tinha produzido em meu
interior, simultaneamente. Quando chegamos em casa, essa
noite, toda a dor de minhas costas tinha desaparecido. A
primeira coisa que fiz foi tirar a palmilha do sapato. Don estava
tão feliz com seus "novos" pulmões, que saiu correndo para
subir a colina de trás de nossa casa. Depois saímos para jantar
fora. Comemos bifes. Eram os primeiros que eu comia depois de
muito tempo. Na manhã seguinte fui à consulta com o doutor
Hirsch. Assim que me viu, perguntou: "O que aconteceu?" Eu
não conhecia muito bem o médico e fiquei em dúvida se devia
lhe contar tudo. "Quero que você me diga", respondi. Foi fácil
para ele perceber que os músculos de meu estômago estavam
relaxados, mas quando examinou minha coluna, realmente
soube que tinha acontecido algo. "Esta não é a mesma coluna
que eu examinei na sexta-feira", disse.
"Você tem um minuto, doutor?", perguntei, mais animada para
lhe contar todo. Ele assentiu, e me lancei a relatar em detalhes o
que tinha acontecido na reunião de Kathryn Kuhlman, no dia
anterior. "Se houve alguma mudança, Dorothy," disse ele, "as
radiografias mostrarão." Tirou uma série de chapas e me disse
que voltasse em dois dias. Nessa noite, entretanto, lembrei que
não lhe havia contado que tinha tirado a palmilha de meu
sapato, e liguei para a sua casa para dizer-lhe. "Oh, não",
protestou o doutor. "Volte a pô-la. Se não o fizer, perderá todo o
benefício que ganhou. Embora Deus haja curado seu estômago,
sua perna direita sempre será mais curta que a esquerda." Mas,
quando coloquei a palmilha, me senti desequilibrada. Sabia que
agora, ambas as pernas tinham o mesmo comprimento. Dois
dias depois voltei ao consultório. Don foi comigo. A primeira
coisa que o doutor Hirsch fez, foi medir minhas pernas. Em
seguida, tornou a medi-las. Tinha um olhar estranho quando
finalmente disse: "Têm o mesmo comprimento". Comecei a
chorar. "Eu sabia", falei. "Só queria que você também
soubesse." O doutor Hirsch não tinha tido tempo de examinar as
chapas, então as examinamos os três juntos. O médico ficou
mudo. Minha coluna estava perfeitamente direita. A curvatura em
"L" de minha última vértebra tinha desaparecido. Todos os
depósitos de cálcio tinham desaparecido. Minha nuca estava
perfeitamente alinhada com a coluna e o crânio. O mais
surpreendente era que a bacia tinha girado notavelmente e
estava na posição correta. O medico exclamou: "Eu diria que
você teve um transplante completo de coluna, se isso fosse
possível". Então me deu os dois conjuntos de radiografias,
tirados com uma semana de diferença. Eu os guardo em meu
escritório e os mostro a toda pessoa que me visita. São mais
preciosos para mim do que um Picasso. Don estava menos
preocupado do que eu em obter uma prova de sua cura. O
simples fato de que podia respirar era evidência suficiente para
ele. Na verdade, foi imediatamente se matricular na academia de
Beverly Hills, e começou a fazer quatro horas por dia. Também
deixou de fumar, como agradecimento ao Senhor. Também tinha
mudado por dentro. Nove meses mais tarde voltou ao seu
médico. Depois de um exame clínico completo, o doutor
começou a lhe dizer ele estava em ótimo estado. Don pensou
que ele estava tentando fugir do assunto, então lhe perguntou
diretamente: "Bem, doutor, e como está meu enfisema?"
O médico pigarreou: "Bem. Don, você sabe que enfisema é
incurável. Uma melhora de um por cento seria algo
verdadeiramente chamativo." "E eu tenho uma melhora de um
por cento, ou não?" "Não tem nenhum problema nos pulmões",
disse o médico. "É só o que posso lhe dizer." O maior milagre,
entretanto, foi muito além do que a cura da coluna ou os
pulmões. Kathryn Kuhlman tinha razão. Quando o Espírito Santo
entrou em nossas vidas, tudo mudou. Don e eu agora
freqüentamos uma igreja dinâmica, onde se ensina a Bíblia, em
Burbank. Don se tornou membro da Associação Cristã de
Homens de Negócios, e ambos demos muitas vezes nossos
testemunhos para grandes audiências. Sabemos que Jesus está
vivo, não só porque curou nossos corpos, mas também porque
mudou nossa forma de ver a vida. Embora estejamos mais
ocupados do que nunca em nossos respectivos trabalhos,
ambos sentimos que somos missionários que testemunham do
Senhor Jesus Cristo e da gloriosa experiência de nascer de
novo... e ser cheios do Espírito Santo. Meus colaboradores e
meus clientes dizem que meu local de trabalho é "o escritório
feliz". Sei que isso não se deve ao brilhante papel amarelo que
cobre as paredes, mas sim a que o Espírito Santo enche esse
escritório com sua alegria e me dirige no trabalho. Eu oro por
meus clientes e vejo acontecerem coisas, em suas profissões e
em suas vidas, coisas que só Deus pode fazer. É maravilhoso.
Mas o mais maravilhoso é isto: sabemos que isto é só o começo
do que Deus tem reservado para nós: "Coisas que olhos não
viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do
homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Porque
Deus no-las revelou pelo seu Espírito." (1 Coríntios 2:9-10).
14 de abril de 1972 A quem possa interessar: Em 3 de março de
1971 a senhora Dorothy Otis se apresentou neste consultório
com queixa de dores em múltiplas zonas da coluna vertebral,
pelo qual tirou uma extensa série de radiografias (desde a
primeira até a última vértebra de sua coluna). Estas radiografias
mostraram uma dupla escoliose com um encurtamento da perna
direita de aproximadamente 2,54 cm, e uma compressão de
nervos ao longo dos intestinos. A senhora Otis começou um
tratamento ao qual respondia com lentos progressos. Cinco dias
depois assistiu ao culto de milagres de Katrhyn Kuhlman. No dia
seguinte, ao submeter-se a um novo exame, era como se lhe
tivessem implantado uma nova coluna e uma nova bacia, em
substituição das anteriores, e a perna direita tinha o
comprimento normal. Também o trato intestinal estava
completamente relaxado e havia tornado a funcionar
normalmente. Tiramos novas chapas radiográficas da coluna da
senhora Otis nessa mesma semana e desta forma confirmamos
que a curvatura tinha sido eliminada totalmente. A coluna está
direita e não há zonas de pressão. Em meus vinte anos de
prática profissional, nunca encontrei este tipo de resultados que
não fosse resultado de um extenso tratamento. Houve uma
milagrosa mudança de estruturas. Respeitosamente, Dr. Larry
Hirsch Médico traumatologista
Capítulo 9 Um vazio com forma de Deus
Elaine Saint-Germaine
Eliza Elaine Saint-Germaine, cujo nome artístico em Holywood
era Elaine Edwards, foi uma vez proclamada uma das mais
brilhantes jovens estrelas da indústria da TV e do cinema. Mas
Elaine, como muitos apanhados no enlouquecedor redemoinho
da fama e a fortuna, sem perceber, começou a procurar a
felicidade em Satanás, em vez de procurá-la em Cristo. Santo
Agostinho disse certa vez que dentro de cada pessoa há um
vazio com forma de Deus. Um jovem drogado o descreveu como
um "oco de solidão" no mais profundo da alma de cada criatura.
Podemos tentar preenchê-lo com todos os tipos de amores
pervertidos, mas esse oco, esse vazio, foi feito para o amor de
Cristo. Nenhuma outra coisa pode verdadeiramente preenchê-lo.
Quando olho para trás e vejo minha infância, acho que meus
pais tentavam agradar a Deus. Sempre iam à igreja. Meus
primeiros passos aconteceram entre os bancos de uma Igreja
Batista do Sul, em Dearbon, Michigan. Mas tudo isso era
somente uma "religião dos domingos". Meus pais não tinham
nenhuma fonte de poder pessoal que os ajudasse a transportar
os princípios que aprendiam na igreja para suas vidas ou seu lar.
Papai tinha problemas com bebida, e mamãe sempre pensava
negativamente. Cresci pensando que Deus era igual a
infelicidade. Em minha casa, demonstrações de amor não eram
costumeiras, e meu coração clamava por ser cheio de amor.
Visto que em minha casa, isso me era negado, busquei-o em
outras partes, e aos quinze anos me casei com um marinheiro e
fui com ele para a Califórnia. Depois que meu jovem marido
partiu em uma viagem pelo oceano, descobri que estava grávida.
Eu não queria sofrer o processo de me adaptar em um novo
lugar e de criar um filho ao mesmo tempo, então fui a Michigan e
fiz um aborto. Ao voltar para São Francisco conheci outro
homem, um atraente capitão de corveta das Forças Armadas,
que estava a serviço de um submarino fora de função. Ainda
procurando desesperadamente por
amor, me deixei arrastar... e me casei com ele, embora já tivesse
um marido. A Segunda Guerra Mundial estava em pleno
desenvolvimento, e pouco depois meu segundo marido foi
convocado a embarcar. Em seguida meu primeiro marido
retornou. Encontrei-me com ele e lhe pedi o divórcio. Ele se
sentiu profundamente magoado, mas vendo que eu estava
totalmente decidida, concedeu. Passou-se quase um ano até
que meu segundo marido voltasse de sua viagem. Me encontrei
com ele em Nova Iorque, e em nossa primeira noite juntos decidi
lhe confessar toda a verdade, esperando que pudéssemos
começar todo de novo, limpamente. Em vez de ouvir minha
confissão e mostrar que me amava, rejeitou-me. Enlouquecido,
pediu a anulação de nosso casamento. Eu continuava em minha
desesperada busca por amor. O segui até Washington, e roguei
que voltasse. Ele se negou a me receber. Em Washington
conheci um homem dez anos mais velho do que eu. Houve outro
tórrido romance, e seis meses depois estava casada pela
terceira vez. Aos dezessete anos já tinha vivido uma vida inteira.
Tinha cometido bigamia, feito um aborto, me divorciado duas
vezes e estava casada outra vez. Meu terceiro marido estava
interessado em interpretação. Eu tinha trabalhado como modelo
e me ofereci ajudar a nos mantermos, se ele quisesse estudar.
Nos mudamos para Los Angeles, onde ele começou a ter aulas
de interpretação, em Pasadena. Ele era ator por natureza, e logo
foi contratado como protagonista de uma bem-sucedida série de
TV. Nosso casamento começou a ter problemas quase
imediatamente, porque ele começou a fazer turnês por todo o
país, em apresentações pessoais. Eu continuava precisando de
amor... e de aceitação. Estando ele fora a maior parte do tempo,
a solidão me pesava. Dessa vez tentei procurar satisfação em
uma carreira. Me matriculei para estudar teatro em Pasadena.
Tal como meu marido, eu era atriz por natureza. Ao terminar os
estudos em Pasadena continuei minha carreira no teatro. Fui
uma estrela desde o início. Finalmente achei que tinha
encontrado o que me daria satisfação, aquilo que encheria o
vazio que havia em meu interior. Durante um tempo, tudo
parecia se encaminhar. Em 1954 ganhei o papel de protagonista
da peça Bernardine, em sua estréia na costa oeste. Na noite da
estréia atuei para mais de duas mil pessoas que se amontoaram
no belo teatro. Foi um enorme sucesso. Quando eu estava em
cena, as pessoas não conseguiam tirar os olhos de cima de
mim. Patterson Greene, o renomado crítico, escreveu sobre a
peça, dizendo que era "incrível".
Eu representava o papel de Bernardine com perfeição. Mas
Bernardine, como eu mesma, não era mais do que uma ilusão.
Não existia. De pé sobre o cenário, ouvindo a ovação da
multidão que me aplaudia e dava vivas à minha atuação, me
sentia irreal, como se não estivesse ali. Mas de qualquer
maneira, eu gostava disso, e bebia os aplausos, as adulações, o
reconhecimento e a aceitação com que meus fãs me brindavam.
Desfrutava e absorvia tudo. Para mim, ser amada e admirada
por fãs de todo o país era o máximo que podia desejar. A seguir
passei a outro tipo de ilusões. Assinei contrato com Edward
Small para protagonizar filmes. Ele disse que estava me
preparando para ser a maior estrela de Hollywood. Fui
protagonista de alguns filmes de Allied Artists, e alguns para a
TV. Atuei no Playhouse 90 e O milionário, e fui co-protagonista
de Chuck Conners, em alguns de seus primeiros espetáculos.
Eu não tinha problemas em trabalhar o dia todo no set de
filmagem e depois pegar um avião para ir trabalhar em alguma
peça de noite. Estava na crista de uma incrível onda de sucesso.
Mas as ondas finalmente se desfaziam em espuma e
borbulhas... e sempre voltavam para o mar. Eu continuava vazia.
Numa manhã de outubro saí cedo de casa. Ed e eu tínhamos
comprado uma bela mansão ao pé das colinas, em La
Crescenta. Enquanto dirigia meu próprio Cadillac, a caminho do
estúdio em Hollywood, comecei a me perguntar: "Para que tudo
isto? por que faço isto?" Essas perguntas existenciais provinham
do profundo vazio que havia em minha vida. Tinha todo: fama,
dinheiro, um belo lar, um marido atraente e famoso... Mas me
sentia muito infeliz. Então lembrei de algumas palavras de "Tam
O'Shanter", de Robert Burn: "Mas os prazeres são como um
campo de papoulas; colhida a flor, sua beleza se desvanece; ou
como a neve que cai no rio, branca por um momento, antes de
fundirse para sempre". Eu tinha me rodeado de todos os
prazeres que meus sentidos podiam apreciar. Tinha
transformado a busca da felicidade em um negócio. Nesse dia,
enquanto ia para o estúdio, decidi traçar uma linha debaixo de
tudo que tinha, e fazer a soma. O resultado era zero. Lembrei de
um versículo de meus dias de escola dominical, na infância:
"Tudo é vaidade, como apanhar o vento". Desse dia em diante
comecei a buscar verdades espirituais. Mas eu não sabia que há
duas fontes diferentes de energia e poder espiritual. Em minha
ignorância, fui em direção à escuridão. Comecei a freqüentar um
grupo de oração que se reunia todas as semanas em uma casa
próxima. Mas ali nunca acontecia nada. Era tão carente de poder
como tinha sido a religião de minha infância. Como eu,
todos os outros estavam procurando, mas nenhum tinha
encontrado nada. Passávamos as noites analisando
intelectualmente a oração. Quando nos púnhamos a orar, não
era real, e nunca houve respostas. Tudo era vazio, sem
significado algum. Então tentei a Ciência Cristã, e daí passei a
um pequeno grupo que estudava religiões orientais. O sul de
Califórnia está cheio de pessoas vazias que correm atrás de algo
que lhes ofereça esperança. Um vazio, ainda que tenha forma
de Deus, atrai tudo que não esteja amarrado... especialmente os
espíritos malignos. Ed ficava fora de casa durante dias inteiros, e
eu caí em uma profunda depressão. Nem queria sair da cama.
Estava perdendo o interesse em minha carreira, e logo me
encontrei balbuciando até quando estava no set de filmagem.
"Algo está errado", falei a minha psiquiatra em certo dia de
setembro de 1959. "Minha carreira já não me faz feliz. Meu
casamento não me satisfaz. Sinto-me culpada por ter todas
estas coisas que deveriam me fazer feliz e, no entanto estou tão
mal." Ela me escutou com atenção e comentou sobre um novo
método de psicanálise com drogas que o doutor Sidney Cohen
estava experimentando na UCLA. Era uma nova droga, bastante
controversa, que, se tomada de forma controlada,
aparentemente acelerava o processo de análise: cinco sessões
com a droga eram equivalentes a uma terapia completa, que
geralmente levava anos. Aceitei imediatamente experimentar
essa nova terapia, na qual deveria tomar uma dose por semana.
O nome da droga era ácido lisérgico: LSD. Eu tinha acabado de
protagonizar, junto com Agnes Moorehead e Vincent Price, o
filme O vampiro, inspirado em um livro de Agatha Cristhie.
Embora nesse momento não acreditasse em espíritos malignos,
agora compreendia que meu papel nesse filme tinha me
preparado para as "viagens" de LSD que estava por
empreender. Em 19 de setembro ingressei em uma instituição
privada como paciente ambulatorial. Minha psiquiatra,
entusiasmada com o projeto, assegurou-me que a droga faria
com que minha mente se expandisse, aprofundaria meu estado
de consciência e seria a resposta a todos meus problemas.
Também assegurou que viria com freqüência me ver, para tomar
notas e fazer perguntas, enquanto eu estivesse sob a influência
da droga. Naturalmente, acreditei nela. Mas foi um engano
terrível e trágico. Em vez de liberdade, encontrei uma escravidão
pior do que todas as que tinha conhecido até então. Em vez de
cinco sessões com o LSD, tive 65: uma por semana durante um
ano e meio. A única maneira de me libertar do LSD era tomar
outras drogas, ou beber álcool. Comecei a tomar mescalina
(outro alucinógeno), e logo comecei a desmoronar.
A seguir, nos "graduamos", passando de viagens individuais com
o LSD a terapias de grupo. Sob a supervisão dos psiquiatras da
UCLA, aproximadamente doze pacientes nos reuníamos de
manhã cedo aos sábados e passávamos o dia, até tarde na
noite, "viajando" com o LSD. Nós psico-analizávamos uns aos
outros, falávamos sobre nossos ódios e nos contaminávamos
mutuamente com nossos problemas. Em pouco tempo adotei
todos os sintomas de outros pacientes do grupo, para deleite
dos psiquiatras, que cada vez estavam mais convencidos de que
finalmente tínhamos encontrado a realidade. Durante uma
dessas viagens com o LSD revivi um acidente automobilístico
muito traumático que tinha sofrido quando tinha três anos de
idade. Todo terror que havia sentido então, voltou para mim.
Minha psiquiatra estava encantada: "Oh, por fim está chegando
à última peça de seu quebra-cabeças. Finalmente conseguirá
arrumar sua vida". Mas em vez de se arrumar, minha vida estava
se amarrando em um nó de confusão que não havia como
desatar. Durante um ano e meio de puro terror, as drogas
desataram todas as forças malignas e demoníacas que já tinham
entrado em minha mente. Meu cérebro não parava de funcionar
em alta velocidade, e cada dia sofria visões como efeitos da
droga. Comecei a engolir todo tipo de narcóticos que pudessem
me fazer "descer" dos "picos" que o LSD produzia. Assim, fui
apanhada em um vício que duraria doze longos anos. Mal
conseguia trabalhar no set de filmagem: tinha inexplicáveis
ataques de ira, resistia a obedecer ordens e aparecia tão
drogada que nem sequer podia ler meus scripts. "Elaine," me
disse Edward Small, "você poderia chegar a ser uma das
maiores atrizes no cenário artístico, mas está arruinando sua
vida. Saia disso!" Eu já não tinha controle sobre mim mesma.
Força extremas, muito mais poderosas do que a minha força de
vontade, se instalaram em meu interior. Já não era dona de mim
mesma. Em 1961 quase fui protagonista, junto com Mickey
Rooney, da série televisiva The Seven Little Foys. Mas quase
não conseguia me arrastar pelo set e finalmente desabei no
chão. Então soube que meus dias como atriz estavam contados.
Minha última experiência como atriz teve estranhos toques
sobrenaturais. Uma diretora com quem tinha trabalhado
anteriormente, me ligou de Albuquerque, Novo México. "Elaine,
temos um problema", disse-me. "Faltam só dois dias para a
estréia de Dulcie, e Jean Cagney, que faz o papel principal,
adoeceu. Pode tomar o lugar dela?" "Sem problema", falei.
"Posso fazê-lo. Irei esta noite de avião." Depois de desligar,
comecei a me perguntar por que tinha aceitado. Eu nunca tinha
feito comédias. Demorava muito a decorar as
falas, geralmente semanas. Dulcie estava em cartaz durante
toda a temporada, e eu nem mesmo tinha lido o script. Isso era
ridículo. Tinha uma sessão de LSD programada para essa tarde,
a qual participei, como estava agendado. Quando tomei a droga,
tive uma visão. Vi um tremendo raio de luz, e no meio dessa luz
havia um homem que me dizia que saísse das sombras e fosse
para ele. Me deu medo, mas sempre tinha achado que a luz não
podia ser algo ruim. Quando saí da sombra e entrei na luz, senti
uma grande corrente de poder e energia. Era como se pudesse
fazer qualquer coisa, quase como se fosse o próprio Deus. Saí
daquele lugar ainda sentindo essa grande energia, nova para
mim. Passei pelo escritório da diretora, em Los Angeles, peguei
uma cópia do script do Dulcie, e o li de cabo a rabo durante o
vôo a Albuquerque. Sabia que o tinha dominado. Estavam me
esperando no aeroporto, e me levaram ao teatro para ensaiar. A
diretora caminhava de um lado ao outro, meditando. "Não
poderá fazê-lo, Elaine", disse-me. "É impossível. Tem que ficar
em cena durante duas horas e meia." Mas eu tinha uma
confiança sobre-humana. Começamos o ensaio. "Não está
anotando seus blocos", dizia-me a diretora. Os "blocos" incluem
todos os movimentos sobre o cenário, e geralmente, para uma
obra como essa, demoraria pelo menos três semanas para
aprendê-los. "Não preciso anotá-los", sorri misteriosamente.
Nunca havia sentido uma energia e um poder tão fortes em toda
minha vida. Essa noite fui ao hotel e estudei minhas falas
durante umas duas horas. No dia seguinte, no ensaio com
figurino, tinha tudo perfeitamente aprendido. Era a obra mais
importante já encenada em Albuquerque. Os críticos ficaram
loucos. "É como uma luz quando ela está em cena", escreveu
um deles. "Literalmente, domina o resto do elenco e faz que a
sigam." A peça foi apresentada durante duas semanas e atraiu
mais gente do que qualquer outra já representada ali. Durante
esse tempo, fiz coisas que jamais tinha sonhado fazer, como dar
várias aulas de representação na Universidade de Novo México.
Parecia que eu estava flutuando no poder daquela tremenda
energia... sem imaginar, nem por um segundo, que poderia
provir de Satanás. Meu marido veio para me assistir na última
apresentação, e logo depois dela terminar, desabou o inferno.
Acabou comigo. Eu nunca tinha visto tanto ódio e tanta ira em
um ser humano. Embora eu já suspeitasse que ele estava com
ciúme de meu sucesso, não pude suportar a violência de seu
ataque. Perdi toda minha coragem, e quando voltamos para Los
Angeles, todo o poder e a energia que havia sentido, tinham
desaparecido por completo. Me sentia como Cinderela ao chegar
a meia-noite. Tornei a cair numa profunda depressão. As trevas
se instalaram novamente em mim, tão espessas que não podia
rompê-las. Soube que nunca voltaria a atuar. Voltei para o LSD.
Drogas de manhã, drogas de tarde, drogas de noite. Caia cada
vez mais baixo. O produtor de meu marido o convenceu a ir a
Nova Iorque para protagonizar uma novela. Não somente
ganhou o papel principal, mas também começou um
relacionamento romântico com a protagonista feminina. Nosso
casamento, que tinha durado dezenove anos, estava condenado
a morrer. Ele pediu e obteve o divórcio e se casou com sua
protagonista. Eu fiquei na Califórnia, abandonada
emocionalmente e com o espírito destroçado. Comecei a visitar
um psicólogo que estava fazendo experiências com o ocultismo.
Ele acreditava que podiam ser ativadas certas energias do
"exterior" que formariam "triângulos protetores de luz" ao meu
redor. Chamava-os de "vértices de energia", que entrariam em
meu corpo e abririam minha mente para novos e mais elevados
níveis de conhecimento. Tudo estava relacionado com Shakti, a
energia feminina do deus hindu Shiva. Comecei a freqüentar
duas vezes por semana às sessões, em uma tentativa
desesperada para encontrar a verdade para minha vida
destroçada. No entanto, só o que fazia era me afundar cada vez
mais nas trevas. Isso me levou a cursos de astrologia,
espiritismo, e de ondas alfa de energia mental. Eu ainda não
tinha pensado que a energia e o poder podiam vir de fontes que
não fossem boas. Em nossa terapia de grupo, meu psicólogo
nos fazia invocar certos "mestres ascendidos", espíritos que
viriam nos ministrar conhecimento. Ele insistia que eu invocasse
um, especialmente, chamado "o Tibetano", que poderia me dar
uma grande sabedoria. Nessa época, eu já estava tão metida no
mundo do ocultismo, que parecia que nunca poderia desenredar
o matagal retorcido que era minha vida. A antiga busca do amor
reapareceu. Me relacionei com um ator e diretor divorciado, com
o qual vivi durante dois anos. Esse homem abusava de mim, e
várias vezes tentou me matar. Era um pesadelo. Em um louco
intento de escapar dele, fugi no meio da noite. Duas semanas
depois, ele me achou. Se eu não tivesse concordado em voltar a
viver com ele, ele teria me matado. Meses depois, ele adoeceu
gravemente. Então pude escapar e fui viver em um velho
apartamento em Havenhurst, na saída do Sunset Boulevard. Era
o mesmo apartamento em que Carole Lombard morara antes de
ser assassinada. John Barrymore tinha morado bem em frente.
Meus amigos ocultistas estavam entusiasmadíssimos com o
lugar, e
diziam que podiam sentir toda classe de espíritos que habitavam
ali. Insistiam para que eu entrasse em contato com eles, mas eu
tinha medo. Tornei a me refugiar em meu mundo de drogas e
solidão. Um de meus amigos era um famoso astrólogo judeu,
amigo pessoal de um colunista de uma revista de Toronto,
Canadá, que tinha preparado as sessões do Bispo Pike. Esse
colunista tinha entrevistado Kathryn Kuhlman, e meu amigo
judeu me leu os relatos do seu ministério. Pela primeira vez,
senti um indicio de esperança. Seria possível que, apesar do
mundo enlouquecedor dos demônios e das trevas, houvesse
uma verdadeira luz, não poluída pelos poderes do mundo
subterrâneo? Fascinada por essa esperança, comecei a assistir
às reuniões mensais de Kathryn Kuhlman no auditório Shrine de
Los Angeles. Várias vezes a ouvi falar contra as coisas das
quais eu participava: astrologia, espiritismo, ocultismo. Parecia
que sabia do que estava falando. Falava com autoridade, não
como os psiquiatras, psicólogos e psicanalistas que eu tinha
consultado. Em vez de fazer perguntas, ela dava respostas. E
quando orava, tinha resultados. Decidi que me esforçaria para
me libertar de todas essas ataduras. Comecei orando por cura,
pedindo a Deus que me tirasse a necessidade de drogas. E
decidi exorcizar meu apartamento, limpá-lo de todos os espíritos
malignos. Não sabia nada sobre as técnicas de exorcismo, então
perguntei aos meus amigos espíritas. "Quero fazer como diz na
Bíblia", lhes falei. Eles me deram todo tipo de sugestões, e uma
delas foi queimar incenso e mirra (isso sim, estava na Bíblia).
Parecia uma boa idéia para expulsar os espíritos malignos.
Decidi adicionar "pó de sangue de dragão" à mistura, para fazê-
la mais potente. Uma noite, enchi o apartamento de incenso e
caminhei por todos os cômodos, repetindo o salmo 91, para ter
boa sorte e ganhar coragem. Depois queimei incenso e mirra,
coloquei-os num prato, polvilhei o "pó de sangue de dragão"
sobre ele, e pus o prato perto de minha cama, sobre o chão. Mal
virei as costas, ouvi uma pancada e senti um cheiro diferente de
fumaça. Me virei, e vi que o prato tinha se virado sobre o chão. A
parte de baixo da minha cama estava em chamas! Corri para o
banheiro, enchi um copo de água e fui para a cama. De joelhos,
levantei o colchão para jogar a água no fogo. Repentinamente,
senti uma força sobre-humana que atirava o colchão para baixo,
esmagando minha mão entre o elástico e o colchão. Nesse
momento, o fogo literalmente explodiu da cama. Tentei libertar a
mão. Estava presa. Estava como que pregada à cama que se
incendiava. As chamas se espalharam pelo quarto, subindo pela
cortina e paredes. "Deus, me ajude!", gritei. Então dei um último
puxão, consegui soltar minha mão, e saí cambaleando do quarto
para o corredor. Quando os bombeiros chegaram, o apartamento
estava totalmente destruído. Depois que as cinzas esfriaram,
entrei. O dormitório era um monte de carvões, como o interior de
um forno crematório. Eu tinha perdido tudo, exceto a vida. Em
fevereiro de 1972 voltei ao auditório Shrine. Depois de ter estado
tão perto da morte, esperava ansiosamente o momento de voltar
ali para estar na presença do Espírito Santo. Nessa tarde de
domingo, sentada atrás, na parte de baixo, comecei a orar pelas
pessoas que me rodeavam. Repentinamente tomei consciência
das trevas em que tantas pessoas andavam. Quantos outros,
milhares, milhões, estariam tropeçando no caminho, como eu,
tentando libertar-se das garras do maligno? Enquanto orava,
senti uma Presença à minha volta e sobre mim. Soube
imediatamente quem era. Nunca o tinha conhecido, mas não
precisávamos ser apresentados. Eu estivera buscando-o por
toda minha vida, e de repente, estava ali. Jesus estava ali. Senti
um grande calor em todo o corpo, e comecei a chorar. Algumas
vezes eu ia acompanhada a esses cultos, mas dessa vez tinha
ido sozinha. Me alegrei de não ter que explicar a ninguém o que
me acontecia. Jesus estava ali, me envolvendo com seu amor. E
nesse momento, soube que era amada, com um amor muito
maior do que o que qualquer homem poderia me dar. Estava nos
braços do Pai. Era como se em todos aqueles anos tivesse
havido um buraco vazio em meu coração, com um cartaz
dizendo: "Reservado para Jesus Cristo". Agora Ele tinha
chegado, e todas as minhas necessidades de amor estavam
satisfeitas. Soube que nunca mais voltaria a precisar das drogas.
Foi assim: simples, definitivo, absoluto. Estava curada. Depois
que terminou o culto, saí rapidamente. Esperava ansiosamente o
momento de ficar sozinha. Antes, sempre tinha necessidade de
ter gente ao meu redor, multidões de pessoas que me
admirassem. Agora já não queria nem necessitava de mais
ninguém. Era suficiente estar com Ele. Jantei tranqüila em um
pequeno restaurante fora do ambiente mais cheio, e voltei para
meu pequeno apartamento de um cômodo. Fui ao banheiro e
esvaziei o conteúdo de todos os frascos e das caixas de
medicamentos na privada. Nunca mais voltaria a ser escrava das
drogas. Fui até o sofá-cama. Foi tão natural me ajoelhar para
orar, para agradecer a Deus pelo que tinha feito. Nessa noite,
pela primeira vez em anos, dormi pacificamente. Sem drogas,
sem pesadelos, sem insônia. Compreendi então o significado do
versículo: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor,
me fazes habitar em segurança." (Salmo 4:8).
Meus problemas não se acabaram por completo com a
experiência dessa noite. Houve momentos de desalento e
solidão. A maioria de meus antigos "amigos" se afastaram de
mim, e tenho que criar novas amizades com crentes. Ainda há
momentos de tristeza e tentação, mas agora sei que não estou
sozinha. Jesus me ama. E estou aprendendo a deixar que Ele
lute em meu lugar. Algumas vezes, de noite, depois de apagar a
luz, sinto forças malignas à minha volta. Já não repito rituais de
exorcismo, nem mesmo falo com os espíritos. Simplesmente oro:
"Jesus, preciso de tua ajuda. Eles voltaram. Podes vir e mandá-
los embora?" E Ele sempre responde minha oração.
Capítulo 10 A cética do chapéu de pele
Jo Gummelt
A senhora Jo Gummelt, esposa de um ex-pastor batista, era
reconhecida como uma das colaboradoras mais importantes do
Congresso, em Capitol Bill (Washington D.C.). Nasceu em
Mobile, Alabama, estudou na Universidade Baylor e depois se
mudou para Fort Worth, Texas, junto com seu marido Walter,
que fez pósgraduação no Seminário Teológico Batista dessa
cidade. Desde 1958, os Gummelt vivem em District Heights,
Maryland, onde Walter ocupou vários cargos importantes dentro
de sua denominação. Como a maioria dos batistas, eu
acreditava que a Bíblia é o registro inspirado da revelação de
Deus à humanidade, e agradecia a Deus pela maneira como
tinha falado aos profetas e aos apóstolos. Acreditava que
quando Jesus tocava em alguém, essa pessoa era curada.
Acreditava que logo depois dele subir ao céu, aqueles cento e
vinte crentes que estavam no cenáculo durante a celebração do
Pentecostes, e muitos outros na igreja primitiva, receberam o
poder do Espírito Santo. Acreditava que esses homens e
mulheres tinham falado em línguas, realizado milagres e tinham
visto a recuperação dos doentes depois de impor as mãos sobre
eles. Mas por alguma razão, não compreendia que Deus podia
derramar seu Espírito em mim, hoje, da mesma maneira. Não é
que não quisesse receber seu Espírito, sentir seu poder ou
manifestar os dons do Espírito. Sim, desejava todo isto. Na
verdade, eu estava dirigindo um estudo bíblico sobre o Espírito
Santo, para mulheres. É que pensava que Pentecostes era algo
que tinha acontecido em um tempo muito longínquo. Tive que
chegar a estar perto da morte para descobrir a verdade de que
podia receber a vida de Deus hoje. Em 1949, depois de me
formar na escola secundária em Mobile, Alabama, meu pai me
presenteou com uma viagem a Washington D.C. Apesar de ter
estado doente durante quase tantos anos como os que eu tinha
de vida, papai tinha economizado o suficiente para comprar duas
passagens de ônibus e poder visitar meu irmão mais velho, que
trabalhava na biblioteca da Suprema Corte. Meu irmão conhecia
Truman Ward, um importante funcionário da Câmara de
Deputados. O senhor Ward me ofereceu um emprego, e assim
me tornei a mais jovem estenografa do Capitol Hill. Três dias
depois, o senador Spessard Holland, da Florida, ofereceu-me um
emprego como sua secretária por três mil dólares por ano. Isso
era mais do que meu pai jamais havia ganhado em Mobile.
Então soube que ficaria em Washington. Logo me encontrei
submersa no fascinante mundo da política, e passei a trabalhar
para outro congressista, com um salário ainda maior. Nesse
momento o casamento não me atraía. Meu constante esforço
por obter eficiência e perfeição me transformara na colaboradora
ideal... e eu adorava sê-lo. Dormia três horas por noite, e uma
sesta de quinze minutos depois de comer uma salsicha de
quinze centavos. Isso era só o que necessitava. Mas já estava
criando padrões de vida e de trabalho que quase me levariam à
destruição antes de completar os quarenta anos. Durante
aqueles primeiros anos em Washington, conheci um grupo de
jovens da Igreja Batista Metropolitana, que eram diferentes de
tudo o que eu tinha conhecido antes. Em sua alegria e
testemunho constantes, podia ver que tinham algo que me
faltava. Aqueles jovens de Washington me motivaram a ter uma
sede nova: a de ser como Jesus, e entregar toda minha vida a
Ele para servi-lo em tempo integral. O gasto de tempo "mais
completo" que eu podia conceber naquele momento era ser
médica missionária. Talvez porque papai estava sempre doente;
talvez pelo que tinha lido sobre o Jesus que impunha suas mãos
sobre os doentes e os curava. Fosse pelo que fosse, eu queria
ver as pessoas curadas, e ser médica missionária era a única
forma que eu conhecia de obtê-lo. Matriculei-me na Universidade
Baylor, em Waco, Texas. Meu chefe, o deputado Prince Preston,
da Georgia, ajudou-me financeiramente, e me disse que, quando
ficasse com o dinheiro curto, poderia voltar para Washington, e
que meu emprego sempre estaria me esperando. Aproveitei seu
oferecimento e, alternando entre Washington e Waco, finalmente
terminei meus estudos, depois de seis anos. Enquanto estava
em Baylor, conheci Walter Gummelt, um jovem muito atraente,
loiro, de cabelo ondulado e físico atlético. Walter se formou antes
de mim, e em seguida se mudou para Fort Worth, onde se
matriculou no Seminário Batista. Nos casamos logo após eu
terminar meus estudos. Meu desejo de ser médica missionária
tinha sido substituído por outro: o de ser esposa de um pastor.
Depois de Walter se formar no seminário, voltamos para
Washington. Voltei a trabalhar, e Walter aceitou o convite para
ser pastor da Igreja Batista Parkway, uma congregação nova em
District Heights, Maryland.
Imediatamente voltei para meu antigo estilo de vida: trabalhava
até horas incríveis, comia mal, e tudo o que empreendia,
concluía com perfeita precisão. Conservei minha boa saúde
durante os primeiros anos. Mas logo, gradualmente, as pressões
de ser esposa de pastor, além das incríveis pressões de
trabalhar no Congresso, começaram a se fazer sentir. Perdi
peso. Em algumas manhãs, me levantava mais exausta do que
ao me deitar. Sofri vários abortos espontâneos, e quando
finalmente consegui chegar ao final de uma gravidez, trabalhei
até que o pequeno Gordon nasceu. Logo depois de um breve
recesso, voltei a trabalhar. Havia me tornado viciada em
trabalho. Quando meu chefe perdeu a reeleição, Walter sugeriu
que poderia ser um sinal de Deus para que eu deixasse de
trabalhar. Mas antes de ter tempo de considerar seu conselho,
ofereceram-me um dos cargos mais importantes: um
congressista do Texas me pediu que fosse sua assistente
administrativa, o cargo mais importante dentro do gabinete de
um congressista. O emprego exigia alguém perfeccionista, e eu
tinha ganhado a reputação de ser exatamente isso: motivada,
eficiente, leal. Aceitei o posto e comecei com um trabalho que
me desgastava sem misericórdia, administrando o escritório,
dirigindo o pessoal, escrevendo discursos e fazendo pesquisas
sobre leis até muito depois do horário de encerramento do
expediente. Noite após noite, me arrastava para casa, muito
depois de escurecer, e me sentava no banco do piano, com
papéis ao meu redor: trabalhava até a madrugada. Continuei
perdendo peso. Sofri outros três abortos espontâneos, e me
surgiram três úlceras hemorrágicas, características de quem
trabalha no Congresso, conseqüências inevitáveis dos conflitos
internos do gabinete e da perseguição dos empregados homens,
que invejavam minha posição. Eu trabalhava setenta horas por
semana, dormia menos de quatro horas por noite e continuava
tentando estar presente na igreja junto ao Walter. Então
começaram as dores de cabeça. As enxaquecas começavam
como uma dor surda na parte de trás e em uma lateral da
cabeça. Quando começava, a dor era como um fogo que me
incendiava o cérebro. Era como ter o crânio em um torno gigante
que o apertava tão forte que parecia que ia explodir. Junto com a
dor vinham as náuseas, em ondas, enquanto meu corpo se
convulsionava em agonia. O médico disse que eu sofria de uma
"clássica enxaqueca de personalidade", e me receitou drogas.
Comecei a tomar grandes doses de Darvon composto.
Disseram-me que não causava vício, mas logo me dei conta de
que psicologicamente já tinha sido apanhada. À medida que as
enxaquecas se faziam mais e mais intensas e freqüentes, fui
aumentando a dose. Então, como se estivesse em uma comédia
de horror, meu cabelo
começou a cair. Coloquei a culpa nos abortos espontâneos e no
fato de que estava começando a envelhecer, mas a perspectiva
de me tornar calva não era nada divertida. Comprei uma peruca.
Num dia de primavera, muito ventoso, saí cedo de meu trabalho.
Nossos escritórios ficavam no edifício Sam Rayburn, e ao sair
pela porta principal, vi, estacionadas na rua circular, as grandes
limusines pretas dos membros do Gabinete. Cada uma, com seu
motorista parado ao lado da porta. Eu sabia que estava
acontecendo uma audiência especial, e não pensei muito mais
no assunto, até que saí da área protegida. Então, o vento me
arrancou a peruca e a fez voar até um espaço aberto, no meio
de todos esses motoristas uniformizados. Gritei pedindo ajuda,
mas ninguém se moveu. Os seguranças e os motoristas ficaram
parados, com as bocas abertas, olhando como minha peruca
dava voltas pelo gramado até "aterrissar" sobre um pé de tulipas.
Então prorromperam em gargalhadas. Eu imaginei os
congressistas, correndo até as janelas e me vendo correr atrás
da minha peruca. Finalmente a peguei, coloquei-a
apressadamente na cabeça, e me dirigi ao estacionamento. Para
os homens fôra muito engraçado, mas eu tinha vontade de
chorar. Por que tinha que usar uma peruca? Por que não podia
ser normal? Sentada no carro, desatei a chorar. Certa manhã,
vários meses depois, levantei-me da cama, fraca e cambaleante,
para preparar o café da manhã para o Walter. Ali, inclinada
sobre o fogão, comecei a chorar. Minhas lágrimas caíam sobre o
óleo quente da frigideira e provocavam pequenas nuvens de
fumaça. "Já não tenho um lar", pensei. "E Walter não tem
esposa, porque eu estou casada com meu trabalho. Mas ele
nunca se queixa. Ele é como o penhasco de Gibraltar, enquanto
eu estou me partindo pela base." O simples pensamento de
enfrentar outro dia no escritório me fazia tremer. Senti o braço do
Walter me rodeando a cintura por trás, seu rosto contra meu
pescoço, e o perfume de sua loção de barba. Quanto tempo
fazia que eu não ficava olhando ele se barbear? Antes, quando
batalhávamos juntos, na época em que estudávamos no
seminário, eu tinha tempo para isso. Lembrei dos primeiros anos
de casamento. Nosso pequeno duplex na rua Stanley, perto do
Seminary Hill, no cruzamento com a Wichita Falls, onde Walter
pregava aos finais de semana. Não tínhamos dinheiro, mas
caminhávamos pelas ruas desertas do centro de Fort Worth,
muito tarde na noite, e olhávamos as vitrines. Algumas noites,
para me distrair, ia com ele à biblioteca do seminário e ficava
olhando ele pesquisar nos livros, preparando-se para um exame.
Ou simplesmente caminhávamos ao redor do saguão central, de
mãos dadas, olhando os retratos dos antigos reitores do
seminário. Agora não tinha tempo para coisas assim, para me
sentar e olhar para ele. Não tinha tempo para caminhar com ele
de mãos dadas. Não tinha tempo para lhe passar colônia depois
de haver se barbeado e sorrir, fazendo-lhe cócegas no nariz.
Continuei chorando.
"Não vale a pena, Jo", me disse Walter, suavemente. Ele sempre
foi tão gentil, tão amável. "Deixe o trabalho. Não precisamos de
dinheiro extra. Deixe-o antes que a mate." Ele tinha razão, mas
já era muito tarde. Fui ao médico. Me olhou e sacudiu a cabeça.
Ulceras hemorrágicas e enxaquecas! Anotou em minha ficha:
incapacidade total permanente. "Descanse muito", advertiu-me,
"ou lhe acontecerá algo drástico." Ele não sabia, e nem eu, mas
já tinha começado a acontecer algo drástico. Eu tinha começado
a morrer. Walter pensou que seria bom pegar o trailer e sair por
uma semana, de férias às montanhas Allegheny. Eu não tinha
vontade de fazer camping. Gordon tinha seis anos e muita
energia. Mas fui, decidida a aproveitar o máximo possível.
Deixamos o trailer em um camping no Parque Estatal Allegheny,
ao sul do Estado de Nova Iorque, e seguimos de automóvel até
a fronteira com o Canadá, para visitar as cataratas do Niágara.
Foi um dia cansativo. Passeamos pelos caminhos de concreto,
subimos as escadas e pegamos o bote até a base das cataratas.
No retorno, a caminho do trailer, enquanto Gordon dormia no
banco traseiro, comecei a me sentir mal como nunca antes.
Sentia uma tremenda pressão em ambos os lados da parte de
baixo da coluna, como se tivesse toda a água do rio Niágara
fazendo pressão contra um dique. Quando tentei girar o corpo
no assento, a dor aumentou. A via pela qual trafegávamos
estava em obras, e a cada solavanco, um espasmo agônico
percorria meu corpo. Então, lentamente, notei algo mais: uma
paralisia que se estendia por minha coluna. Ofegando, agarrei
Walter, lhe cravando as unhas no braço. "O que foi, Jo?",
perguntou ele, alarmado. "Está branca como papel." "Não sei",
respondi com dificuldade. "Mas tenho medo. Estou perdendo a
sensibilidade nas costas." Isso não era uma simples úlcera ou
uma dor de cabeça. A dor se estendia pelas costas e enchia o
estômago. As ondas de náuseas me faziam ter desejos de
vomitar. Pela primeira vez em minha vida, soube o que era sentir
as garras da morte sobre mim. Quando chegamos ao trailer, já
tinha escurecido. Atirei-me na cama enquanto Walter foi procurar
um hospital, levando Gordon com ele. Quando voltou, disse-me
que o mais próximo estava a quilômetros de distância. Mordi os
lábios. "Talvez, se descansar, me sentirei melhor." Walter estava
preocupado, mas eu insisti em esperar até de manhã. Mas à
medida que a noite avançava, eu me sentia pior. Sentia que meu
corpo se estava destroçando por dentro. De manhã cedo,
levantei para ir ao banheiro. Pude eliminar algo de meu
organismo, e me senti um pouco melhor. Cambaleando, voltei
para a cama, e enquanto o Sol nascia sobre as árvores,
adormeci.
Quando despertei, a manhã já estava avançada. Ouvia as vozes
de Walter e Gordon lá fora. Quando tentei me levantar, percebi
que estava no meio de uma poça de sangue. Walter queria me
levar ao hospital, mas outra vez tratei de acalmá-lo e o convenci
a não fazê-lo. "Somente me leve para casa. Se me deitar em
minha cama, ficarei bem." Mas não melhorei, e Walter me levou,
finalmente, a um médico. Logo que descrevi meus sintomas,
pude ver o olhar de alarme no rosto do profissional. "Não se
pode ignorar este tipo de hemorragia, senhora Gummelt", disse.
Depois de tirar algumas radiografias, disse-me com voz severa:
"A espero esta tarde no hospital". Percebi que algo estava
terrivelmente mal. "O que é?", perguntei. "Saberemos melhor em
poucos dias. Mas neste momento, parece como se literalmente
estivesse expulsando pedaços de seus rins. O diagnóstico: uma
variante de necrose papilar renal, uma doença muito rara e
grave, que causa a deterioração do interior do rim. O urologista
me explicou que meus rins eram como duas esponjas podres, as
quais poderiam ser atacadas por qualquer bactéria insignificante
que entrasse em meu sistema, causando ainda mais
deterioração. Quase a metade dos dois rins já tinha se
desprendido e sido eliminada de meu sistema. Estava morrendo.
Walter enviou uma carta à congregação, pedindo que orassem
por mim. Embora a oração pelos doentes (a oração da fé, com
autoridade), fosse algo estranho para a maioria deles, houve um
grupo de mulheres que compreenderam que Deus as havia
preparado para esse momento e esse lugar, para orar por minha
cura. Aproximadamente um ano antes, algumas jovens donas de
casa da igreja, tinham vindo me pedir que as ensinasse. Elas
queriam uma relação mais profunda com o Senhor, mas não
sabiam como obtê-la. Aparentemente sentiam que, apesar de
meus nervos destroçados e meu corpo doente, eu podia lhes
indicar a direção correta. Muitos anos antes, quando estudava
em Baylor, tinha me acontecido algo. Uma tarde, enquanto
atravessava a rua Ocho, em Waco, repentinamente recebi a
revelação de que o Espírito Santo habitava em mim. Meus olhos
se encheram de lágrimas, e mal consegui chegar ao outro lado
da calçada. "Que assustador, mas maravilhoso, ao mesmo
tempo!", murmurei. "Levo o Espírito Santo a todo lugar que vou!"
A partir desse momento o Espírito Santo se converteu em uma
pessoa para mim, alguém que escutava todas as minhas
palavras,
conhecia todos os meus pensamentos, via tudo o que eu fazia.
Durante semanas, caminhei pelos edifícios da universidade
completamente alheia a qualquer problema, inundada pelo
Espírito Santo, apaixonada pelo Senhor. Comecei a dar o
dízimo, não só de meu dinheiro, mas também de meu tempo, em
estudo bíblico e oração. Ao final desse período passava
aproximadamente cinco horas por dia em comunhão com o
Senhor. Mas não havia durado muito. Foi uma relação
passageira, não algo para toda a vida. Mas embora meu "amor"
pelo Espírito Santo tivesse se desvanecido, eu continuava
consciente de seu poder. Portanto, quando essas jovens vieram
me pedir que as ensinasse a andar mais próximas do Senhor,
era natural que começasse por lhes ensinar o que a Bíblia dizia
sobre o Espírito Santo. Sabia que eu mesma era uma aprendiz.
E suspeitava que embora falasse todas as palavras corretas,
não compreendia realmente o que estava dizendo. "Pentecostes
não é tempo passado", eu havia dito. "Se a Bíblia é verdadeira,
então, por que não podemos tomá-la literalmente?", tinham
perguntado minhas alunas. "por que não podemos esperar
milagres e curas, agora?" Como batistas que éramos,
acreditávamos que a Bíblia era a Palavra inspirada de Deus, e
fazer esse tipo de perguntas sempre provocava grandes
frustrações. Eu queria ser intelectualmente honesta, mas como
nunca tinha visto um milagre, nunca tinha visto uma
demonstração física do poder de Deus, me custava acreditar.
Aprofundamos mais nosso estudo da Palavra, tentando
encontrar respostas. De alguma forma, sabíamos que esse
caminhar mais perto de Deus tinha a ver diretamente com a
doutrina do Espírito Santo. Mas o que esperávamos e
necessitávamos desesperadamente era uma demonstração do
poder de Deus, e não apenas palavras sobre Ele. Essa
demonstração se produziria no sábado de manhã, uma semana
após eu ter dado entrada no hospital. Nesse dia eu completava
trinta e sete anos. As mulheres do grupo de estudo bíblico
tinham vindo ao hospital me visitar, e estavam rodeando minha
cama. Ao olhar para elas, soube que algo tinha acontecido.
"Como se sente?", perguntou Pat Vandeventer. O marido de Pat
era da Marinha, e eles tinham começado a freqüentar nossa
igreja, não porque fossem batistas tradicionais, mas sim porque
o Senhor lhes tinha indicado que o fizessem. Poucas pessoas se
aproximavam de nossa igreja porque o Senhor lhes ordenava,
mas com Pat e seu marido foi assim. Eu estava fraca, muito
fraca e muito sedada, mas me esforcei em responder com um
ligeiro sorriso: "um pouco melhor. Não tenho tanta hemorragia".
"Louvado seja o Senhor!", disse Pat, suavemente, e piscou o
olho para uma das mulheres que estava do outro lado da cama.
Essa, por sua
vez, sorriu e piscou para outra. Em seguida, todas começaram a
assentir com a cabeça e sorrir, como se soubessem algo que eu
não sabia. E assim era... mas só fiquei sabendo várias semanas
depois. Então, uma tarde, quando estava sozinha no quarto do
hospital, Pat veio me visitar e contou o que tinha acontecido
naquele sábado. "Quando recebemos a carta do pastor", disse-
me, "todas do grupo de oração soubemos que estava morrendo.
Também sabíamos que esse era o momento de provar se o que
tínhamos estudado com você era verdade. Ou Deus cura, ou
não cura. É simples assim." "Parece que é como colocar Deus à
prova", falei. "Não, não é isso", disse Pat, aproximando sua
cadeira de minha cama. "Simplesmente decidimos nos juntar e
confiar nele para sua cura. Talvez Deus tenha nos posto à prova,
para ver se acreditamos no que Ele diz em sua Palavra. As oito
integrantes do grupo nos reunimos aquele sábado para ter uma
reunião de oração ao amanhecer, num canto do parque
municipal." Esperei em silêncio enquanto Pat fazia uma pausa.
Seus olhos começaram a umedecer-se. "Foi um momento muito
precioso e sagrado para cada uma de nós. Enquanto
esperávamos em Deus, cada uma, de forma pessoal, recebeu
uma demonstração do poder do Senhor. Todas soubemos que
seria curada milagrosamente." "Não entendo", interrompi-a. "Sei
que estou melhor, mas isso é porque estou no hospital, e estão
me enchendo de medicamentos. Mas o doutor diz que meus rins
desapareceram." "Já sabemos", disse Pat, sorrindo uma vez
mais. "Mas também sabemos que Deus demonstrou seu poder,
o poder de que temos lido na Bíblia. Sabemos que será curada."
"Diz que demonstrou seu poder? Como?" Pat ficou em pé e foi
para a janela. Falava com suavidade, como se estivesse
revivendo aqueles momentos no parque. "Cada uma o sentiu ao
mesmo tempo, mas de maneiras diferentes. Eu estava sentada
no banco, com a cabeça apoiada em minhas mãos, e
repentinamente senti como se meu coração se partisse. Todas
começamos a sentir um amor por você, tão profundo como
nunca o havíamos sentido antes. E parecia que íamos perdê-la.
Começamos a orar por você, mas quando o sol começou a
nascer, ficamos sem palavras. Já não podíamos orar mais, e
ficamos sentadas, chorando em silêncio. Então, do fundo do
meu coração, surgiu como um manto de paz, como a neve
fresca que cai sobre a paisagem cinza e a cobre de branco puro.
Eu soube, Jo. Soube que Deus a havia curado. Não houve
foguetes, nem terremotos; só a profunda certeza interior de que
estava sendo curada... e quando Deus o dispuser, saberá." Pat
se voltou da janela e me olhou. Continuou o relato: "Levantei a
vista, e todas as outras mulheres do grupo estavam sorrindo
através das
lágrimas. Elas tinham recebido a mesma mensagem que eu, ao
mesmo tempo. Saímos do parque com essa segurança, e depois
disso todas as dúvidas se dissiparam." "Mas não estou curada",
falei. "Oh, sim, claro que está", disse Pat com firmeza. Seus
olhos faiscavam, cheios de decisão e fé. "Sabemos que os
médicos disseram ao pastor Gummelt que sua enfermidade é
incurável; mas lembre, nosso Deus é o Deus do impossível." Eu
sabia que estava muito doente. Mas... incurável? Esqueci todo o
resto que Pat havia dito. Essa palavra ficou ressoando em minha
mente. Muitos, muitos especialistas vieram me examinar durante
as semanas seguintes. Na região de Washington, eu era a única,
até então, em quem tinha sido diagnosticado esse tipo de
doença de rins, em particular. Um dos urologistas comentou que
na Suécia havia sido feito um estudo com cento e vinte e cinco
pessoas que tinham sintomas similares aos meus e estavam em
iguais condições. Mas quando lhe perguntei sobre os resultados
do estudo, respondeu com evasivas. O que pude deduzir foi que
todas elas tinham morrido. O único alento que recebi dos
médicos foi a esperança de que pudessem estabilizar meus rins
e possivelmente deter o processo de deterioração. Eu sabia que
não havia medicina capaz de me curar. Finalmente, me deram
alta do hospital, recomendando que ficasse de doze a quatorze
horas por dia na cama. A advertência não era necessária. Eu
estava completamente sem forças. Antes sempre tinha
conseguido extrair de mim mesma um pouco mais de energia ou
força para completar uma tarefa. Mas dessa vez, quando
procurei em meu interior, somente encontrei vazio. Na segunda
manhã em casa, esperei até que Walter fosse trabalhar. Então
me levantei para abrir a janela do quarto. A simples tarefa de
andar até o outro lado do quarto e tentar abrir a janela consumiu
toda minha energia, como se tivesse andado mais de três
quilômetros. Desabei novamente sobre a cama, ofegando de
cansaço, sem ter conseguido abrir a janela. Podia sentir meus
rins inchados, se esmagando contra minhas costas. Minhas
energias de reserva, esse pequeno "extra" que evita que uma
pessoa morra quando chega ao final de suas forças, esgotaram-
se. O médico havia dito: "Uma pequena bactéria, que possa
contrair, por exemplo, de água não muita limpa, a colocará em
perigo iminente de morte". Havia outras pressões acumulando-
se ao mesmo tempo. O médico me havia dito que quando me
sentisse bem, poderia voltar para a igreja, mas não mais de uma
vez por semana. Antes de entrar no hospital eu
pesava aproximadamente cinqüenta quilos. Mas quando me
deram alta, meu corpo começou a reter líquidos, e fiquei muito
inchada. Não queria que me vissem assim. Passei o ano
seguinte entrando e saindo do hospital. Tinha que ir
constantemente ao médico para que me fizesse exames,
análises e cultivos. À medida que meu corpo se auto-imunizava
contra uma droga, o médico me dava outra, e com a mudança,
vinha toda uma nova série de exames para comprovar se essa
droga me mataria, em vez de me fazer bem. Parecia que estava
todo tempo no consultório do médico, fazendo uma radiografia
atrás da outra. Para combater as infecções internas que sempre
surgiam, constantemente devia tomar diversos antibióticos. As
despesas com remédios subiam sem parar. Preparar-se para a
morte é uma experiência psicológica aterradora. Todo meu estilo
de vida mudou. Eu sabia que morreria, e era muito difícil me
adaptar a esse fato enquanto ainda estava viva. O médico da
família me sugeriu consultar um psiquiatra. "Talvez ele possa
ajudá-la um pouco com essas enxaquecas", disse. Isso era o
que esperava. Minha oração era que pudesse jazer em paz e
acabar com esse processo de morrer. Já não podia funcionar
como esposa ou mãe. Não podia fazer nenhuma tarefa caseira.
Ouvia quando Gordon voltava da escola e passava pelo corredor
nas pontas dos pés sem entrar no meu quarto, para não me
incomodar. Me fazia lembrar de quando eu era menina e meu
papai estava sempre doente. As crianças deviam andar sempre
nas pontas dos pés em casa, para não despertá-lo. Agora tudo
isso tornava a acontecer. Sentia-me terrivelmente culpada. Isso
será a única coisa que meu filho lembrará de sua mãe, pensava.
Doente, na cama, atrás de uma porta fechada. Será que esse
horror vai continuar de geração em geração? Então começaram
a acontecer coisas. Tudo começou com uma carta de minha
irmã mais nova, que soube que minha doença era terminal e me
sugeriu que lesse o livro de Kathryn Kuhlman, Creio em
milagres. Dois dias depois, eu estava na cama, ouvindo um
programa em uma rádio local, e escutei o anúncio de uma
convenção da Associação Internacional de Homens de Negócios
do Evangelho Pleno, que aconteceria no Hotel Hilton de
Washington. O anúncio não teve grande importância para mim,
até que ouvi o nome de Kathryn Kuhlman. Ela falaria em uma
reunião vespertina da convenção. Era estranho que escutasse
esse nome duas vezes seguidas em uma semana. Deus ainda
não tinha terminado. Na manhã seguinte, Pat Vandeventer veio
me ver. "Jo, vamos à Convenção de Homens de Negócios do
Evangelho Pleno. Kathryn Kuhlman vai falar lá na quintafeira à
tarde."
Três vezes seguidas em uma semana não podiam ser
coincidência. Entretanto, resisti. "Sinto muito, Pat, mas não me
convence o fato de uma mulher pregando", respondi. "Pensei
que fosse mais aberta", sorriu Pat, com os olhos brilhantes.
"Você não é aberta, é batista." Foi um golpe no meu ponto fraco,
e eu soube que ela tinha razão. Eu estava julgando essa mulher,
apoiada em que não tinha visto seu nome impresso em
nenhuma publicação de nossa Convenção Batista do Sul. Eu lia
todas elas, e nunca tinha visto seu nome em nenhuma delas. Até
duvidava se seria do Senhor, já que os batistas do Sul pareciam
não reconhecê-la. Olhei para Pat. "Está bem, tem razão. Meu
coração tem tanta fome da plenitude do Espírito como o seu. E
se podemos aprender algo a respeito de Deus de alguém que
não seja batista do Sul, estou preparada." Pat foi me buscar na
quarta-feira de noite e cruzamos a cidade até chegar ao Hilton,
na noite de abertura da convenção. Eu tinha estado em muitas,
muitas reuniões batistas, desde reuniões de associações até as
imensas convenções anuais. Mas esta não era como nenhuma
outra reunião que já houvesse freqüentado. As palavras-chaves
eram a alegria e a liberdade. Mais de três mil pessoas estavam
sentadas ali, no luxuoso salão, e todas pareciam estalar de
gozo. Jamais tinha visto tantos rostos sorridentes.
Imediatamente suspeitei de algo. Nas reuniões batistas que eu
havia freqüentado, ninguém sorria assim. Na verdade, não
sorriam assim nem em nossa igreja. Eu havia trazido um
gravador para poder captar tudo o que o orador pudesse dizer,
mas não tinha adiantado nada. O homem sentado à minha frente
estava tão feliz que ficou o tempo todo falando ao mesmo tempo
que o orador. A cada frase, esse homem respondia gritando:
"Louvado seja o Senhor!" ou "Obrigado, Jesus". Eu tinha
escutado alguns "Amém" no Baylor, e nos cultos do seminário,
mas nunca nada como isto. Estava irritada. "Por que não se
cala?", protestei intimamente. Saí da reunião muito confusa.
Seria real tudo isso? Toda essa gente era genuinamente feliz, ou
eram simplesmente desequilibrados mentais? Quanto a mim,
sentia que estava se aproximando uma enxaqueca, e pedi a Pat
que fosse mais rápido. Ao despertar ao dia seguinte, a
enxaqueca continuava me incomodando. O psiquiatra me havia
prescrito uma série de drogas, um comprimido a cada trinta
minutos durante três horas. As drogas me reviravam
terrivelmente o estômago, mas acalmavam a dor de cabeça.
Quando tomava o quinto comprimido, a dor já se estava
acalmando, mas
tinha que ficar de cama por causa de meu estômago. Sabia que
Pat teria que ir sozinha à reunião de Kathryn Kuhlman. Mas
dessa vez foi diferente. Era estranho, mas a dor de cabeça
desapareceu, e meu corpo parecia mais forte do que antes.
Depois de tudo, poderia ir ao culto de milagres. Nesse ano
Walter era presidente da Conferência de Pastores Batistas de
Washington D.C. Nesse dia teriam um almoço. Pouco antes do
meio-dia, Walter me ligou para saber como estava. Contei-lhe
que Pat e eu iríamos ao culto de Katrhyn Kuhlman. Walter sorriu
maliciosamente. "Vários pastores da cidade estão pensando em
ir", disse. "A maioria são curiosos, e é capaz de levantarem as
lapelas de seus casacos para esconder o rosto, para que
ninguém os reconheça." Eu não tive coragem de lhe contar que
acabara de pegar meu grande chapéu de pele, que podia
abaixar as abas até me cobrirem as orelhas, e que pensava em
usá-lo, para que ninguém me reconhecesse também. Foi uma
tarde verdadeiramente estranha. Chegamos ao hotel uma hora e
meia atrasadas, mas encontramos um lugar para estacionar bem
em frente... sem nos apercebermos de que todos os lugares
para estacionar estavam ocupados em um raio de quatro
quadras ao redor. Aceleramos rumo ao salão, que estava lotado
de gente, esperando encontrar assentos perto da saída, onde
pudéssemos nos sentar e observar. Quando já pensávamos que
teríamos que ficar de pé junto à porta, duas senhoras que
estavam perto da primeira fila se levantaram e deixaram seus
assentos vazios. Pat e eu nos sentamos quase imediatamente.
Meu chapéu estava enfiado o mais baixo possível na cabeça.
Mal conseguia espiar algo de debaixo da aba. Kathryn Kuhlman
estava falando. Havia uma quietude tão dinâmica na sala que eu
quase podia escutar os batimentos de meu coração. Sua voz era
suave, tão suave que algumas vezes não conseguia distinguir o
que dizia. Tinha que me esforçar para escutar cada palavra. Não
estava dizendo nada novo nem diferente. Tudo o que ela dizia,
eu já tinha escutado Walter dizer umas cem vezes do púlpito de
nossa igreja. Mas havia um espírito diferente nela e nesse lugar.
As pessoas tinham vindo esperando algo, e ela falava com
autoridade. Embora isso tenha me comovido profundamente, eu
continuava sendo cética. Havia uma garotinha cega sentada
atrás de mim, e comecei a orar por ela. "Senhor, toque essa
garotinha." Senti que meus olhos fechados se enchiam de
lágrimas. Repentinamente todos nos pusemos de pé e Kathryn
Kuhlman começou a cantar: Senhor, eu recebo. Senhor, eu
recebo.
Todas as coisas são possíveis; Senhor, eu recebo. "Levante
seus braços", dizia ela. "Levante seus braços e receba o Espírito
Santo." Levantar meus braços? De repente voltei a ser uma
esposa de pastor batista do Sul, muito decorosa. O que
aconteceria se alguém me visse? E se algum pastor batista
amigo do Walter me visse? Algum membro de nossa igreja? Mas
não pude evitar. Minhas mãos já estavam levantadas, e era
como se estivessem sendo puxadas por fios para cima. Para
cima, para cima... eu não podia controlá-las. Sentia como se
estivessem me esticando até que tivesse que ficar nas pontas
dos pés. Nunca tinha me esticado tanto nem tinha chegado tão
alto. Quando minhas mãos já estavam completamente
levantadas, senti que as palmas se viravam para cima e, ao
mesmo tempo, minha cabeça caía. Nunca havia sentido tal
humildade em toda minha vida. Esqueci por completo de mim
mesma, de quem era, de onde estava, e só sabia que Deus
estava me tocando literalmente, fisicamente. Senti como se me
estivessem derramando água morna da cabeça aos pés. Então
escutei uma voz que vinha do corredor. "Oh, Deus, sua glória
sobre esta." Era Kathryn Kuhlman. Eu nem tinha percebido que
ela havia descido da plataforma. Ela tocou meu pulso muito
suavemente. Me senti totalmente sem peso. Parecia que estava
flutuado no espaço e dando voltas ao redor do teto nos braços
de Jesus. Um homem, atrás de mim dizia: "me deixe ajudá-la a
levantar-se". Mas eu o ignorei, ao mesmo tempo que me
perguntava o que esse homem estava fazendo no teto, comigo.
Eu só queria ficar onde estava, mas ele não queria ir. Sua voz
ressoava em meus ouvidos. "Me deixe ajudá-la a levantar-se.
Me deixe ajudá-la a levantar-se." Pensei: "O que ele quer dizer
com "levantar-se"? Não posso ir mais acima do que estou, aqui
no teto. Finalmente abri os olhos. Estava estendida de costas no
corredor, com as mãos esticadas para cima. Meus lábios
repetiam seguidamente: "Louvado seja o Senhor! Louvado seja
o Senhor!" Não me importava quem me visse ou me escutasse.
A caminho de casa, Pat e eu revivemos cada momento da
reunião. Em nenhum momento me ocorreu que pudesse ter sido
curada. De qualquer modo, não tinha ido por isso. Só o que
sabia era que Deus me havia tocado e que no mais íntimo de
mim, eu era diferente agora. "Melhor não contar a nossos
maridos." disse Pat. "Acho que não compreenderiam."
Concordei. Mas eu sabia que em algum momento que Deus
prepararia, Walter estaria disposto a escutar e compreender.
O momento chegou uma semana depois. Walter tinha se
levantado cedo para participar de um café da manhã de pastores
com um evangelista batista, o doutor Paul Rader. Também
estaria lá o doutor George Schuler, autor de Overshadowed.*
Walter, como presidente da Conferência de Pastores, seria o
moderador. Nesse sábado dormi quase até o meio-dia e fui
despertada pelo toque do telefone. Quando Walter chegou, eu
estava sentada a um lado da cama, falando ao telefone. Olhei
para ele, quando entrou no quarto. Ele fez uma pausa e saiu.
Mas continuou entrando e saindo, até que finalmente me
interrompeu. "Quando terminar de falar ao telefone, tenho algo
que quero lhe contar." Walter nunca me interrompia assim, por
isso compreendi que precisava falar comigo... e logo. De modo
que cortei a comunicação e quase o levei aos empurrões à
cozinha. Nos sentamos à mesa e esperei, impaciente, que ele
começasse a falar. "Preciso compartilhar algo com você", disse.
"Esta manhã aconteceu algo." Tentava falar, mas percebi que
estava explodindo por dentro. Nunca o tinha visto assim. Walter
era sólido, estável, muito confiável. Raramente mostrava alguma
emoção. Mas agora, cada vez que abria a boca para falar, seus
olhos se enchiam de lágrimas. Finalmente estendeu o braço,
pegou minha mão, e ficou ali sentado, olhando através da janela
da cozinha, esperando que suas emoções se acalmassem.
Finalmente, quando pôde falar, começou a fazê-lo lentamente,
fazendo longas pausas entre as frases, lutando para controlar a
voz. "O salão estava cheio de pastores", disse suavemente, "e o
presidente do comitê de planejamento da campanha estava
falando. Então entrou esse homem alto, de cabelo branco, o
doutor Schuler. Tinha o cabelo parecendo crina, muito
desordenado, lhe rodeando a cabeça como um halo. Mas havia
algo mais nele... como uma aura, um halo. Todos os pastores
deixaram de falar quando ele entrou. Produziu-se um silêncio
absoluto. Todos e cada um de nós soubemos que o Espírito
Santo tinha entrado com esse homem. Finalmente, eu levantei a
voz e falei: "por que não nos ajoelhamos e oramos?"
"Imediatamente, todos nós caímos de joelhos. Não sei o que
estava acontecendo. Foi como se algo na atmosfera daquele
lugar nos obrigasse a adorar. Nunca tinha sentido a presença de
Deus com um poder tão avassalador." Walter deixou de falar.
Era óbvio que ainda estava profundamente comovido pela
experiência. Era minha vez. Com a maior suavidade possível,
contei-lhe o que me havia acontecido uma semana antes. Ele
ficou sentado, me escutando solenemente e em silêncio. Eu
continuei falando, lhe contando como as mulheres do grupo
tinham orado, lhe

Overshadowed - Ofuscado (Nota da tradutora).


contando sobre a reunião, e finalmente o que tinha vivido no
Hilton, quando Kathryn Kuhlman me tocou o pulso. Ele
simplesmente me escutava, assentindo, como se soubesse tudo
de antemão. Eu podia ver que Deus o tinha preparado essa
manhã, ao visitar esses ministros com uma experiência tão
comovedora, e que dissesse eu o que dissesse, Walter estava
preparado para recebê-lo como do Senhor. "Foi curada?",
perguntou. "Não sei", respondi, sorrindo. "Não pensei muito
nisso. Só sei é que já não tenho depressão. A necessidade de
ser perfeita também desapareceu. A incapacidade de aceitar a
mim mesma como imperfeita no corpo e na alma, também
desapareceu. Sou livre." "Mas, como se sente fisicamente?",
insistiu Walter. "Maravilhosamente", falei. "deixei que tomar as
drogas e os antibióticos. Pela primeira vez em anos, tenho força
e energia." "Creio que foi curada", disse Walter, com os olhos
novamente cheios de lágrimas. "Acho que tem que voltar ao
médico e pedir que a examine, para ter certeza." Na semana
seguinte voltei ao consultório do médico, que tirou radiografias e
fez outros exames. Dois dias depois voltei a me sentar na frente
dele, no consultório. "O que lhe aconteceu, senhora Gummelt?",
perguntou. "Estava esperando que me perguntasse isso", sorri.
E lhe contei, detalhadamente, exatamente o que tinha
acontecido. O doutor ficou olhando a parede onde estavam seus
diplomas durante um longo momento. Finalmente pegou a pasta
que continha meu histórico médico. "Vou fechar seu caso",
disse-me. "Você está completamente curada. Não há evidências
de nenhum problema renal; só tecidos com lesões leves por
danos anteriores. Se alguma vez tiver problemas com os rins,
será algo completamente distinto." Eu queria dançar de alegria,
e pude fazê-lo mais tarde. Chega de drogas, de inchaços, de
hemorragias, de fraqueza! Agora podia viver uma vida saudável
e normal como mãe e como esposa. Então soube como Lázaro
se havia sentido ao sair da tumba para o sol, pestanejando.
Minha vida tinha sido restaurada. Glórias a Deus! Nos três
meses seguintes, meu peso subiu de cinqüenta até quase
oitenta quilos. Pela primeira vez em minha vida tive que fazer
regime. Mas aconteceu algo mais. Ao receber o Espírito Santo
em minha vida, pude aceitar também a mim mesma, tal como
era. A tensão foi substituída por louvor. As enxaquecas
desapareceram. Não só meu corpo
tinha sido restaurado, mas também minha mente tinha sido
renovada. Aleluia! Seis meses depois pude voltar a trabalhar. A
Jo Gummelt que entrou no edifício Sam Rayburn nesse dia não
era a mesma de antes. Eu tinha prometido ao Senhor que, se
me deixasse voltar a trabalhar, lhe daria a maior parte do que
fizesse. Fui trabalhar com um congressista de Kentucky, livre da
compulsão de ser a número um, de ser perfeita. Pouco tempo
depois, todas as mocinhas que trabalhavam no escritório tinham
aceitado a Jesus como seu Salvador, e a metade tinha sido
batizada no Espírito Santo. Eu nunca tinha estado tão
consciente do poder do Espírito Santo para testemunhar de
Jesus. Pouco tempo depois que eu voltei a trabalhar, Walter,
Gordon e eu tiramos umas curtas férias. Na primeira noite que
estávamos fora, fui ao banheiro para lavar o cabelo. Walter e
Gordon ficaram no quarto, assistindo TV. Enquanto passava a
mão por meus cabelos, notei uma textura diferente. Levantei a
cabeça, tirei o sabão dos olhos, e pude ver que os cabelos que
nasciam ao redor de meu rosto eram novos, fortes. Poderia
guardar a peruca. Pessoas começaram a se aproximar de mim
para que as aconselhasse. Antes, eu sempre estava muito fraca
para as ajudar. Mas agora podia compartilhar com elas minha
experiência pessoal com um Deus que demonstra seu poder e
seu amor. Comecei a passar várias horas de joelhos, orando e
com a Bíblia aberta na minha frente. No lugar onde me ajoelhava
para orar, literalmente ficaram buracos no tapete. O Senhor me
ensinava e me dava uma nova linguagem, maravilhosa, para
orar. Na primavera, aproximadamente um ano depois de ter sido
curada, tive uma ligeira infecção urinária. Eu sabia que quando
Deus cura, a cura permanece. Mas o velho temor voltou,
rugindo, e corri ao médico. Ele me examinou e em seguida parou
com as mãos na cintura, me olhando seriamente. "Você tem
uma ligeira infecção na bexiga", disse. "A última vez que esteve
aqui, lhe falei que se tivesse algum problema renal, seria algo
totalmente distinto. Você foi curada." Saí do consultório,
agradecida, apesar da reprimenda. Washington nunca me
pareceu tão formosa. As cerejeiras ao redor da fonte estavam
em flor. A grama do parque era luxuriosamente verde. Até as
tulipas haviam tornado a florescer no edifício Sam Rayburn. A
cúpula branca do Capitólio brilhava contra o céu azul. As
pessoas corriam para seus escritórios. Soavam as buzinas. O
trânsito era terrível. Era igual a sempre. Mas eu era diferente.
Pentecostes tinha chegado à minha vida!

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