Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Kathryn Kuhlman
por nós por seu divino Filho, Ele nos prepara tudo o que nos
espera neste mundo de dor... e mais à frente. Louvado seja
Deus!
Capítulo 2
"Depois que for curado," disse Walter, "é possível que seus
companheiros batistas não queiram ter mais nada a ver com
você." Sorriu como se soubesse. Falava com tal fé, como se
estivesse certo de que eu ia ser curado. "Não me importa o que
pensem os outros sobre mim, se for curado," falei, "contanto que
Deus toque meu corpo." Walter sorriu. Senti muito amor por este
novo amigo. "Bom, há algo de que podemos estar certos", disse
suavemente. "Deus não o trouxe de tão longe até aqui para
nada. Você vai voltar para Houston sendo um homem novo." O
fato de que esse diácono batista falasse com tanta fé me enchia
de entusiasmo. Estava ansioso para que começasse a reunião.
Ali no auditório, a senhorita Kuhlman se estava reunindo com os
obreiros, para lhes dar as últimas instruções antes que se
abrissem as portas. Me juntei a eles sobre a plataforma. "Hoje
temos aqui conosco um homem que é capitão da polícia de
Houston", disse Kathryn. "Ele tem câncer em todo o corpo, e vou
orar por ele agora. Quero que cada um de vocês, homens,
inclinem-se em oração, enquanto rogo ao Senhor por ele."
Percebi que isso era algo especial. Sabia que o ministério da
senhorita Kuhlman era simplesmente dizer o que Deus fazia à
medida que se desenvolviam os grandes cultos de milagres; que
ela não tinha nenhum dom pessoal de cura, em particular. Fez
um sinal para que eu me aproximasse e esticou suas mãos
sobre mim. Embora esse fosse o momento pelo qual eu tinha
esperado, duvidei. Lembrei o que tinha lido em seus livros, que
muitas vezes, quando ela orava por alguém, a pessoa caía ao
chão. Eu achava que isso de cair estava muito bem para alguns
pentecostais, mas não era para um batista, e muito menos para
um capitão da polícia. Mas não tinha opção. Dei um passo à
frente e deixei que orasse por mim. Apoiando firmemente os pés
em minha melhor postura de judô, esperei, enquanto ela me
tocava e orava por minha cura. Não aconteceu nada, e quando
comecei a relaxar, escutei-a dizer: "E enche-o, bendito Jesus,
com o Espírito Santo". Senti que cambaleava, e pensei: "Não
pode ser!" Firmei-me sobre meus pés, colocando-os um atrás do
outro, e a escutei dizer pela segunda vez: "E enche-o com teu
Santo Espírito". Senti como se alguém tivesse posto suas mãos
sobre meus ombros e me estivesse empurrando para o chão.
Não pude resistir, e desabei sobre a plataforma. Lutei para
recobrar a posição vertical, justamente quando a escutava dizer
pela terceira vez: "Enche-o com teu Espírito Santo". E caí de
novo.
Não queria chorar. Tinha prometido a mim mesma que não teria
reações emocionais, mesmo que Nanci fosse curada. Mas não
podia evitar. Olhei para Woody. Estava com o olhar fixo para
frente, mas por baixo das lentes de seus óculos, podia ver as
lágrimas. Repentinamente, sem aviso prévio, Nanci me deu um
chute no estômago. Muito forte. Tinha a cabeça apoiada no meu
braço esquerdo e seu corpo estava colado ao meu. Estiquei a
mão e segurei seus pés para que não me pegasse de novo, mas
então o senti outra vez. Desta vez notei que seus pés não se
moveram. A pancada havia partido do interior de seu corpo. Foi
um poderoso golpe de dentro dela que havia sentido contra meu
estômago. Olhei seu rosto, geralmente muito pálido. Estava
vermelha, febril, coberta de suor. Algo estava acontecendo
dentro de seu corpo. Ao mesmo tempo, senti um calor e uma
cócega que me percorria por inteiro. Já não pude me conter
mais. "Oh, obrigado, Jesus. Obrigado." No caminho de volta ao
aeroporto, só o que podíamos fazer era chorar. Woody me
advertiu de que não me entusiasmasse muito. "Se ela está
curada, só o tempo dirá", disse sabiamente. Eu sabia que tinha
razão, mas não havia como deter minhas lágrimas de alegria. Na
terça-feira seguinte fomos ver a doutora O'Brien para que
examinasse Nanci como vinha fazendo com regularidade.
Contei-lhe tudo. Ela escutou pacientemente, e notei que seus
olhos se enchiam de lágrimas. "O que foi?", perguntei. "Bom",
disse ela com voz duvidosa, "o lugar que você me descreveu, de
onde veio a pancada, é onde se localiza o baço, um órgão vital
que tem um papel muito importante em sua doença." "Você
acredita que ela foi curada?", eu quis saber. "Oh", disse ela,
segurando meu braço, "queria acreditar de todo coração." "Por
que não acredita, então?", perguntei. "Porque nunca vi isso
acontecer", respondeu. "É tão difícil acreditar em algo quando
nunca o vimos antes. Você entende, não é?" É claro que
entendia. Mas agora eu tinha olhos para ver o que não tinha
visto antes. Ao ficar de pé para sair, lhe falei: "No entanto,
aconteceu. O fato de que você nunca tenha visto uma montanha
se mover, não significa que não possa ocorrer." A doutora
O'Brien apalpou as costas de Nanci. "Não há exame que possa
comprová-lo agora. Só o tempo dirá se a cura é real ou não." O
tempo provou que era real. Dia após dia, a cor de Nanci
melhorou. Recuperou a vitalidade e o apetite. Deixamos de lhe
administrar as drogas. Todos os exames realizados nos últimos
quatro
anos tiveram resultados negativos. Não há rastros da
enfermidade em seu corpo. Embora a cura de Nanci tenha sido
maravilhosa, a cura operada em nosso lar e em nossas vidas foi
ainda mais milagrosa. Falando de montanhas que deviam ser
movidas do caminho... A situação em nosso lar era como uma
cadeia montanhosa; dura, rochosa. Mas desde que Nanci foi
curada. Woody recebeu Cristo como seu Salvador pessoal e
ambos fomos batizados no Espírito Santo. Nosso lar, que certa
vez esteve a ponto de ser destruído pelo divórcio, agora
recuperou a ordem divina. Uma montanha de milagres! E tudo
começou com uma fé tão pequena como uma semente de
mostarda.
Capítulo 7 Este é um ônibus protestante?
Marguerite Bergeron
Não pude conter as lágrimas ao contemplar o precioso bordado
que esta mulher do Canadá me havia entregado. Cada ponto era
um ato de amor, porque tinha sido feito por mãos que certa vez
estiveram dobradas e deformadas pela artrite. A senhora
Bergeron, que vive em Ottawa, Canadá, era uma católica
romana de sessenta e oito anos de idade que nunca tinha
entrado em uma igreja protestante. Durante vinte e dois anos
tinha sofrido de artrite paralisante, tão grave que não podia
manter-se em pé durante mais de dez minutos. Seu marido,
incapacitado por uma afecção cardíaca, é o orgulhoso possuidor
de uma medalha que lhe fora entregue pelo Primeiro-ministro do
Canadá por ocasião de sua aposentadoria, depois de servir
durante cinqüenta e um anos no serviço postal de seu país.
Marguerite e seu marido têm cinco filhos e vinte e três netos. Em
nosso pequeno apartamento no subúrbio de Ottawa tocou o
telefone. "Querida Maria, Mãe de Deus," rezei, "que não deixe
de tocar antes que eu chegue." Fiz um esforço para sair da
cadeira de balanço e me apoiei na parede para obter equilíbrio,
caminhando com dificuldade até a mesinha do telefone. Cada
passo me provocava espasmos de dor nos joelhos e nos
quadris. Fazia vinte e dois anos que sofria de artrite paralisante,
e esse inverno tinha sido o pior de todos. Não tinha podido sair
de casa. O intenso frio canadense tinha endurecido minhas
articulações de tal forma, que quase não podia andar. Até o
simples ato de cruzar a sala para atender ao telefone era mais
do que podia agüentar. Peguei o rosário e finalmente cheguei ao
telefone. Meu filho Guy, que vivia em Brockville, Ontario, disse:
"Mamãe, conhece Roma Moss?" Eu conhecia bem o senhor
Moss. Estava muito doente de artrite, como eu. Os médicos
tinham soldado vários discos de sua coluna. Não
podia agachar-se, assim também não podia sentar-se.
"Aconteceu algo ruim?", perguntei-lhe, temendo o pior. Até falei
em voz alta: "Está morto?" É estranho, agora que penso nisso.
Nunca imaginei que pudessem ser boas notícias. Eu sempre
esperava más notícias. Depois de anos ouvindo o médico dizer:
"Você não vai melhorar; só ficará pior", acreditava que todos os
doentes pioravam automaticamente cada vez mais, até morrer.
"Não, mamãe", disse entusiasmado Guy. "O senhor Moss não
morreu. Foi curado! Pode caminhar! Pode agachar-se! Já não
sofre mais de artrite!" "Como é?", perguntei secamente. Em vez
de me alegrar, me sentia ameaçada. Por que ele se curava
enquanto o resto de nós tinha que continuar vivendo na dor?
"Ele foi a Pittsburgh, mamãe", a voz do Guy soou feliz no
telefone. "Foi a um culto de Kathryn Kuhlman. Enquanto estava
lá, foi curado. Por que você não vai a Pittsburgh também? Quem
sabe poderá ser curada." Eu tinha ouvido falar de Kathryn
Kuhlman e até tinha visto seu programa de TV, mas sempre
tinha pensado que a cura era para outros, não para mim. "Oh, eu
estou muito doente para sair de casa", falei. "Como poderia fazer
essa viagem tão longa até Pittsburgh?" Guy me contou sobre um
ônibus especialmente fretado que fazia a viagem entre Brockville
e Pittsburgh todas as semanas. "Me deixe ligar para eles e
reservar um lugar para você", rogou. Eu não me sentia bem. Só
o fato de estar de pé junto ao telefone falando com Guy me fazia
sentir fraca. Meu corpo estava deformado e inchado pela artrite
fazia muito tempo. Lembrava que, a alguns anos, tinha brincado
com meus netos durante o aniversário de um deles. Tinham
amarrado um lenço ao redor dos olhos de um garotinho, que
tinha que ir por todo o lugar tocando as mãos das pessoas e
adivinhando quem era cada um. Ele me identificou
imediatamente porque as articulações estavam terrivelmente
inchadas e os dedos dobrados, como garras. E que era isso que
dizia da cura? Por acaso Guy achava que sabia mais do que os
médicos, que haviam dito que eu não tinha possibilidade de
cura? Sacudi a cabeça, sem esperanças. "Não, Guy, não faça
nenhuma reserva", suspirei. "Falarei com seu pai e responderei
amanhã à noite." Desliguei e voltei com dificuldade até minha
cadeira. Durante um longo momento estive ali, sentada na
penumbra do quarto, chorando, porque era velha e a dor era
muito forte. Tentei recordar dos tempos em
que meu corpo era jovem e ágil, e formoso. Lembrava quando
Paul e eu nos apaixonamos. Fomos tão corretos; ele, criado em
um ambiente católico francês e eu, com minha família católica
escocesa. Em uma noite, ele tocou timidamente as costas da
minha mão, e lentamente entrelaçou seus dedos com os meus.
Gostava de acariciar minhas mãos suavemente, com doçura, de
uma forma que me chegava ao coração. Agora eu não suportava
que Paul me tocasse as mãos. Doía muito. Estava velha e cheia
de nós, como um velho carvalho no topo de uma montanha
rochosa. Já não lembrava de nenhum momento em que não
estivesse sofrendo de dores. Essa dor tornava quase impossível
que alguém me chegasse ao coração. Nessa noite contei a Paul
sobre a ligação de Guy. Desde que meu marido se aposentou do
serviço postal, seu coração tinha ficado rodeado de líquido. Isto
lhe afetava as pernas, por isso estava parcialmente paralisado.
Mas Paul me estimulou para que fosse a Pittsburgh, e até disse
que queria ir comigo. "Não podemos perder nenhuma
oportunidade", disse. "Mas são quase mil quilômetros", protestei.
"Não sei se poderei suportar todos os buracos e problemas do
caminho." Paul assentiu. Era tão compreensivo... Mas algo nele
continuou insistindo. Finalmente concordei em ir, e no dia
seguinte liguei para o Guy. "Seu pai irá comigo", falei. "Mas
antes de que nos reserve lugar, quero ver o senhor Moss. Quero
ver com meus próprios olhos que está curado." Guy estava feliz,
e disse que arrumaria todo para que eu pudesse falar com o
senhor Moss, que vivia perto. No dia seguinte, enquanto
escutava o senhor Moss, quase não podia acreditar no que
ouvia. Era a história mais fantástica que jamais me contaram.
Uma senhora chamada Maudie Phillips lhe tinha reservado um
lugar para que ele pudesse viajar de Brockville a Pittsburgh. Ali
havia assistido ao culto de Kathryn Kuhlman na Primeira Igreja
Presbiteriana, e tinha sido curado. Para prová-lo, parou no meio
do quarto, inclinou-se e tocou o chão. Correu, saltou e girou as
costas em todas as direções para me mostrar que seus ossos e
articulações estavam como novos. Para mim, o mais incrível era
que tinha sido curado em uma igreja protestante. Eu tinha sido
católica durante toda minha vida. No Canadá, quando eu era
menina, as relações entre católicos e protestantes eram tão
tensas que às vezes parecia que iriam entrar em guerra. Desde
que eu era pequena me tinham ensinado que entrar em uma
igreja protestante podia me fazer perder a salvação, e sempre
que passava em frente a uma, prendia a respiração.
Em meus sessenta e oito anos de vida, nunca tinha entrado em
um desses lugares. E agora o senhor Moss me dizia que tinha
sido curado em uma igreja presbiteriana. Só pensar nisso era
quase mais do que eu podia suportar. "Querida Maria, isso pode
ser verdade? Deus ama aos protestantes, também?" Só a idéia
já me fazia estremecer. Mas não havia como negar o que tinha
acontecido ao senhor Moss. Antes, tinha estado obviamente
doente; mas agora estava perfeitamente saudável. Engoli saliva,
apertei os dentes e assenti diante de meu marido. Iríamos a
Pittsburgh. Guy fez as reservas. O ônibus partiria na quinta-feira
pela manhã. "Acha que devemos contar ao padre?", perguntou-
me Paul. "Oh, não", protestei decididamente. "Já é bastante ruim
que Deus saiba que estamos indo a uma igreja protestante, para
que também o padre saiba." Isto pesava muito em minha
consciência. O que aconteceria quando nossos amigos católicos
soubessem o que tínhamos feito? Mas mesmo assim, estava
convencida de que deveríamos ir. Na quinta-feira pela manhã
Paul se levantou cedo. Mas quando tentei me levantar, gritei de
dor. Geralmente a dor da artrite aparecia em um lado ou no
outro. Mas nessa manhã, a dor era intensa em todo o corpo.
Cada articulação ardia. Só o que pude fazer foi me recostar
novamente na cama e chorar. Paul saiu do banho e se
aproximou da cama, sem saber o que fazer. Quando me doía o
pé ou o joelho, às vezes me fazia massagens para aliviar a dor.
Mas nessa manhã, qualquer movimento, qualquer contato, fazia
que sentisse como fogo líquido correndo por meus ossos. Nunca
a dor tinha sido tão extrema. Com minhas lágrimas molhei o
travesseiro, e nem sequer podia secá-las por causa da
intensidade da dor nas mãos. Minhas mãos estavam dobradas e
rígidas sobre o monte de lenços de papel que tinha segurado na
noite anterior, tentando que não se fechassem totalmente.
Nenhuma oração poderia fazer que se abrissem. Nesse
momento desejei morrer. "Não posso ir", solucei. "Deus não quer
que eu vá a essa igreja. Isso é um castigo dele por ter pensado
em fazê-lo." "Não é assim, mamãe", disse Paul, quase com
firmeza. "Deus quer que se cure. Ele não lhe faria algo assim.
Tem que se levantar." "Não posso ir. Não posso caminhar. Nem
sequer posso sair da cama. Não posso fazer nada. Até viver me
dói." "Deve se levantar, mamãe", rogou Paul. "Deus não quer
que se deixe morrer aqui. Tente. Por favor, tente."
Mover cada articulação era como romper gelo em uma corrente.
Cada movimento fazia ranger algo que estava solto. A dor era
insuportável, mas movi as articulações de um lado ao outro até
que finalmente consegui tirar as pernas da cama. Com a ajuda
de Paul, fiquei em pé. Em seguida lutamos para abrir minhas
mãos. "Agora ponha o vestido, mamãe", disse Paul. "Não
devemos chegar tarde para pegar o ônibus." Vestir foi
terrivelmente difícil... e pôr a cinta, quase impossível. Comecei a
chorar outra vez. "Continue tentando, mamãe", dizia Paul.
"Continue tentando. Esta pode ser sua última oportunidade de
ser curada." "Acha que irei sem minha cinta?", chorei. "Seria
indecente." Mas Paul continuou me incentivando, e finalmente
fiquei pronta para sair... sem vestir a cinta. Chegamos ao carro e
fomos para o lugar de onde sairia o ônibus. No estacionamento,
a esposa de Guy nos apresentou à senhora Maudie Phillips,
representante de Kathryn Kuhlman em Ottawa. A senhora
Phillips era cálida, amistosa, extrovertida, e me estendeu a mão.
"Sinto muito", falei, retrocedendo, "mas não posso dar a mão a
ninguém. Se me tocarem, a dor me faria desmaiar." Ela sorriu, e
senti que me entendia. Isso me ajudou muito. Mas o temor de
me misturar com os protestantes estava voltando a apoderar-se
de mim. Voltei-me para o Paul. "Deveríamos ter ido primeiro à
igreja. Tinha que confessar este grande pecado ao padre. Assim
não me sentiria tão mal." Guy me escutou e disse: "Mamãe, nem
que tenha que levá-la no colo, vai subir nesse ônibus."
Finalmente cedi, e a senhora Phillips, junto com o motorista do
ônibus, me ajudaram a subir. Cada passo, cada contato, me
fazia chorar de dor, mas cheguei até o assento junto a Paul.
Tínhamos uma viagem de quase mil quilômetros pela frente.
Quando o ônibus partiu, a senhora Phillips começou a ir de uma
ponta à outra do corredor, falando, respondendo perguntas,
ministrando às pessoas, como um pastor que cuida de suas
ovelhas. Cada vez que passava perto de mim, eu a detinha.
Tinha muitas perguntas. Muitas das pessoas que estavam no
ônibus já tinham feito essa viagem antes. Logo começaram a
cantar. Eu nunca tinha ouvido cantar assim. Era como uma igreja
com rodas percorrendo o campo, mas uma igreja diferente de
qualquer uma das que eu conhecia. Me preocupei, e a próxima
vez que a senhora Phillips passou por mim, segurei-a pelo
braço. "Este é um ônibus protestante?", sussurrei.
"Não", riu ela. "É um ônibus de Jesus. Costumamos levar alguns
sacerdotes católicos. Às vezes até nos dirigem no canto."
"Sacerdotes católicos em um ônibus protestante?", perguntei.
"Como pode ser?" A senhora Phillips sorriu. "Ao ônibus não
importa se você for protestante ou católica. A Jesus também
não." "Mas estamos indo a uma igreja protestante em
Pittsburgh", protestei. Como rezarão? Como eu devo rezar?
Posso rezar como em minha igreja?" A senhora Phillips era tão
doce, tão paciente, tão compreensiva. Depois de chamá-la seis
ou sete vezes para lhe perguntar coisas como essas, ajoelhou-
se junto a mim. "Senhora Bergeron." disse, "você crê que há um
só Deus para todos?" Senti que meus olhos se enchiam de
lágrimas. Não queria desonrar a minha fé, a minha igreja, os
meus padres. Todos eles tinham significado muito para mim.
Mas, como explicar a essa mulher que transmitia tanto amor?
"Oh, sim", respondi. "Creio que há um só Deus para todos nós.
Eu rezo a Maria, mas amo a Deus. Sei que só Deus pode me
curar." "Então simplesmente confie nele", disse ela. "Deus a
ama, mas Ele não pode fazer muito por você se continuar
fazendo tantas perguntas. Por que não se recosta em seu
assento e deixa que o Espírito Santo lhe ministre?" Comecei a
relaxar um pouco, embora não estivesse segura de quem era o
Espírito Santo. Depois de cruzar a fronteira e entrar nos Estados
Unidos, dormi. Não sei por quanto tempo dormi. Ainda estava
meio adormecida quando, ao me mover, vi meus pés. De alguma
forma, enquanto dormia, tinha posto um pé em cima do outro.
Não podia ser! Fazia anos que não podia cruzar as pernas.
Pisquei e olhei outra vez. Tinha os tornozelos cruzados. E o mais
notável... não sentia nenhuma dor. "O que está acontecendo?",
exclamei. Paul me olhou, com uma estranha expressão no rosto.
Eu estava muito entusiasmada para notar que também lhe
ocorria algo. "O que disse?", gaguejou. Então olhei minhas
mãos. Os dedos, que tinham estado rígidos e dobrados, estavam
se endireitando. Já não sentia dor ali tampouco. "O que está
acontecendo?", repeti. "Algo errado, mamãe?", perguntou Paul.
"Ouça", sussurrei. "Mas não diga a ninguém. Vão pensar que
estou imaginando."
"Imaginando o que?", perguntou Paul. "Olhe meus pés",
sussurrei. "Viu, os tornozelos estão cruzados. E não doem. E
olhe meus dedos. Já não me doem as mãos, e os dedos se
estão endireitando como os de uma menina. Estou me curando
antes de chegar a Pittsburgh! Estou me curando neste ônibus
protestante!" Paul tirou os óculos. Tinha os olhos cheios de
lágrimas. No início pensei que chorava por mim, mas depois
notei que havia algo mais. "O que está acontecendo com você?",
perguntei. "Algo me acontece", disse, atropelando-se ao falar.
"Enquanto você dormia, eu estava sonolento. Quando despertei,
senti algo quente, como uma onda de calor, que percorria meu
peito e chegava até as pernas. Foi tão forte que durante um
minuto não pude ver nada. Estava cego. Então você acordou.
Recuperei a vista. E creio que estou me curando." Nesse
momento o ônibus saiu da estrada para deter-se em um lugar de
descanso. A senhora Phillips voltou a nos ver. "Vamos parar
para tomar um café", disse. "Me deixe ajudá-la com seus pés."
"Não preciso de ajuda", falei, rindo alegremente e sem me
preocupar que me ouvissem. "Posso caminhar! Posso subir e
descer sozinha esses degraus." Me levantei e desci pelo
corredor, com meu marido atrás de mim. Desci os degraus e saí
no estacionamento. Todos se aglomeraram ao meu redor.
"Senhora Bergeron", perguntavam, "o que lhe aconteceu?" "Não
sei o que aconteceu", falei, sentindo-me transbordar de alegria.
"Mas faz vinte e dois anos que não me sinto tão bem."
Passamos a noite de quinta-feira em um hotel em Pittsburgh. No
mês anterior eu tinha ido ver meu médico, lhe rogando que me
desse algum calmante para a dor. "Olhe meus joelhos", lhe havia
dito. "Olhe meus dedos. Doem tanto que não consigo dormir de
noite." Ele tinha sido amável, mas firme. "Senhora Bergeron, não
há nada que possamos fazer. Minha própria mãe morreu dessa
doença. Os médicos não podem fazer nada mais do que lhe dar
comprimidos que aliviem a dor." E me tinha dado comprimidos.
Comprimidos para tomar de manhã, comprimidos para tomar
depois das refeições, comprimidos para tomar de noite. E cada
vez que engolia um comprimido, engolia onze centavos. Nessa
noite, em Pittsburgh, deixei os comprimidos em minha bolsa.
Não tomei nem um, e no mesmo instante em que apoiei minha
cabeça sobre o travesseiro, dormi. Nunca tinha dormido tão
bem. Durante mais de vinte anos só tinha conseguido dormir de
costas ou de bruços, mas essa noite dormi de lado, dobrada
como um bebê. Às quatro da manhã estava completamente
acordada. O quarto do hotel estava ainda às escuras quando saí
da cama, me sentindo mais
jovem e saudável do que tinha estado em muitos anos. Não via a
hora de ir ao culto de milagres... embora fosse em uma igreja
protestante. Na noite anterior, a senhora Phillips me havia dito
que sentia que eu tinha sido curada no ônibus quando falei:
"Amo a Deus e sei que só ele pode me curar." Ela me citou um
versículo da Bíblia: "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro
e pela palavra do seu testemunho" (Apocalipse 12:11). Mas não
importava quando tinha ocorrido. Só o que sabia era que, como
o senhor Moss, eu não era mais a pessoa que tinha sido até
então. E nem Paul. Suas dores de coração tinham desaparecido
e se sentia como novo. Estávamos muito bem. Haviam nos dito
que esperava-se por horas fora da igreja até que se abrissem as
portas. Eu tinha temido que minhas pernas não resistiriam se
tivesse que ficar de pé tanto tempo, por isso havia trazido um
banquinho para me sentar. Mas afinal não precisei dele. Estive
de pé durante três horas e meia às portas da Primeira Igreja
Presbiteriana de Pittsburgh, desejando encontrar alguém a quem
pudesse dar o banquinho. Fazia anos que não podia ficar de pé
mais do que dez minutos; agora estava parada durante horas,
desfrutando de cada momento, com o banquinho na mão.
Finalmente as portas se abriram e as pessoas se aglomeraram
na entrada. A senhorita Kuhlman subiu à plataforma e o culto
começou a desenvolver-se em meio de uma música gloriosa.
Poucos minutos depois ela parou os cantos e disse: "Entendo
que há aqui uma senhora que vem de Ottawa e que foi curada
no ônibus". Estava falando de mim. Paul e eu aceitamos seu
convite de subir à plataforma. Eu esqueci que estava em uma
igreja protestante. Esqueci que estava em frente a duas mil e
quinhentas pessoas. Senti esse amor especial de Kathryn
Kuhlman por todas as pessoas, pessoas como eu, e antes que
me desse conta, respondi-lhe, saltando, batendo palmas e me
dobrando para tocar o chão... diante de todas essas pessoas.
Como eu fui a primeira a subir à plataforma, não sabia o que
acontecia algumas vezes quando Kathryn Kuhlman orava por
alguém. Ela esticou sua mão e me tocou no ombro, e
repentinamente senti que caía. "Oh, não", pensei. "O que faz
uma mulher grande como eu aqui, caindo ao chão diante de toda
essa gente?" Mas não pude evitar. Era como se os céus
tivessem se aberto e o próprio Deus me tivesse tocado. Alegrei-
me de que houvesse um homem forte que me sustentou antes
que me desabasse sobre o chão... se ele não tivesse estado aí,
creio que teria atravessado a plataforma até acabar no subsolo.
Em seguida me colocou suavemente sobre o chão. Pus-me de
pé, surpreendida de não sentir nenhuma dor. "Obrigada", falei à
senhorita Kuhlman, entre lágrimas. "Obrigada, muito obrigada."
"Não me agradeça por isso", riu ela. "Eu não tive nada a ver com
sua cura. Nem sequer a conheço. Você foi curada antes mesmo
de vir aqui. Eu não tenho poder. Só Deus o tem. Agradeça a
Ele." Voltei para meu assento e comecei a agradecer a Deus. As
pessoas cantavam, como no ônibus. Mas desta vez não me
importava que fossem protestantes. Eu também queria cantar.
Como não conhecia a letra das canções, pus-me a escutar a
mulher que cantava junto a mim e a repetir o que ela dizia. Sei
que soava horrível, porque estava atrasada um verso em relação
a todos os outros, mas não podia evitá-lo... e não me importava!
Estava tão feliz... Quando os que me rodeavam levantavam as
mãos para louvar a Deus, eu também o fazia. Pela primeira vez
em vinte e dois anos podia levantar os braços, e o fazia em
adoração. Assim continuei cantando, (um verso depois que
todos os outros), levantando as mãos, chorando e louvando a
Deus por minha cura. Eram duas da manhã quando chegamos
de volta a Brockville. Guy estava à porta de sua casa quando
viramos para entrar em nossa rua. "Mamãe, está bem?",
perguntou, quando saí do automóvel que havia nos trazido do
lugar onde o ônibus nos deixara. Todos seus amigos, que
estavam esperando em sua casa, se juntaram ao seu redor.
"Não lhe pergunte, apenas olhe para ela!", gritaram. "Olha para
ela! Está curada! Deus a curou!" A essa hora da noite me pus a
dançar no meio da sala. "Oh, mamãe!", disse Guy, me tomando
em seus braços. Estava chorando. Todos choravam, menos eu,
que continuava dançando de um lado ao outro. Assim que
cheguei em casa, acredito que por volta das três da madrugada,
liguei para minha filha Jeanne. "Estou curada!", gritei pelo
telefone. "Fui curada!" "Mamãe?", respondeu Jeanne, com voz
sonolenta. "O que está dizendo?" "Já não sofro mais de artrite",
lhe falei, rindo. "Ligue para todos e lhes conte. Já não estou mais
doente." Quando finalmente me deitei, eram cinco da manhã.
Tinha estado em pé durante vinte e quatro horas, mas me sentia
cheia de vitalidade e força. E Paul também. No dia seguinte meu
marido foi ao campo de golfe com Guy e o acompanhou num
percurso de cinco buracos. Oh, Deus! O Senhor foi tão bom
conosco. No domingo de tarde, Pierre, outro de nossos filhos,
veio com sua esposa e seus três filhos à casa de Guy, para ver
se eu tinha sido realmente curada. O rosto de Pierre refletia um
enorme sorriso enquanto caminhava ao meu ao redor, me
observando de todos os ângulos. "Mamãe, está curada. Agora
chegará a ser anciã, a menos que um caminhão passe por
cima de você. E mesmo que isso acontecesse, acho que temeria
mais pelo caminhão que pela senhora." Uma de minhas netas, a
pequena Michelle, apareceu: "Mamãe, quando esteve em
Pittsburgh, eu fui à escola católica, levantei as mãos e falei:
'Jesus, cure a minha avozinha'. E Ele o fez." Então apareceu
meu netinho de sete anos. "Agora, vovó, já não precisará
caminhar como um pingüim." Deus estava fazendo algo mais.
Não só havia curado meu corpo, mas, além disso, também
estava agindo em minhas atitudes. Como muitas outras pessoas
que vivem constantemente sob uma intensa dor, eu havia me
tornado resmungona e difícil de suportar. Não sabia disso até
que ouvi minha nora falando com Jeanne pelo telefone. "Houve
outro milagre", dizia. "Não só foi curada da artrite. Já não
encrenca mais. Algo maravilhoso aconteceu em seu interior." No
domingo seguinte fiz que toda minha família fosse comigo,
caminhando, até a Igreja do Sagrado Coração. Quando cheguei
lá, falei ao sacerdote: "Padre, Deus me curou de minha artrite."
Eu queria que ele compreendesse o que realmente tinha
acontecido, assim, no domingo seguinte, levei a todos os
sacerdotes um exemplar dos livros de Kathryn Kuhlman. Duas
semanas depois fui ver meu médico. Quando entrei caminhando
no consultório, a enfermeira me disse: "Senhora Bergeron, o que
aconteceu? Parece estar muito bem." Minutos depois o médico
entrou na sala de espera. "Ei doutor," lhe falei, "não tenho mais
artrite. Olhe minhas mãos. Olhe os joelhos. Olhe! Estou
caminhando." O médico parou no meio da sala, me olhando
caminhar por todo lado. Logo tomou minhas mãos e examinou
os pulsos e os dedos. "Sei o que está pensando", lhe falei. "Está
pensando: "Bom, a senhora Bergeron já não sofre de artrite...
agora está louca." Riu e me fez gestos de que entrasse outra
vez no consultório. "Não, não creio que esteja louca", disse com
voz séria. "Seu estado era irreversível, incurável. Agora você
está curada. Não entendo." Peguei minha bolsa e lhe passei um
dos livros de Kathryn Kuhlman. "Leia isto, doutor. Terá que
enviar todos seus pacientes a Pittsburgh... e depois terá que
procurar outro emprego." Riu outra vez, pegou o livro e me
abraçou. "Isso me converteria no homem mais feliz do mundo...
ver todos meus pacientes tão bem como você." No mês
seguinte, Paul e eu subimos novamente ao ônibus que ia a
Pittsburgh. Desta vez, dezessete membros de nossa família nos
acompanhavam, e também alguns amigos. Um jovem sacerdote
católico ia
conosco. Durante todo o caminho a Pittsburgh, fomos cantando
e louvando a Deus. Uma mulher me perguntou: "Você trabalha
para Kathryn Kuhlman?" "Não", respondi. "Trabalho para Deus."
Antes, sempre que tinha que pedir algo a Deus, eu tinha medo.
Por isso, em vez de ir a Jesus, ia a Maria, para lhe pedir que
intercedesse por mim. Agora compreendo que Deus me ama
tanto que não tenho por que temê-lo. Quando oro, digo: "Deus,
sou eu, a senhora Bergeron." E Ele para tudo o que está
fazendo e me escuta. Assim é Deus.
Capítulo 8 A cura é só o começo
Dorothy Day Otis
Entre as pessoas que vêm como convidadas ao meu programa
semanal de televisão, Creio em milagres, encontram-se médicos
e barmans, famosos educadores e crianças, modelos e donas de
casa. Todos foram tocados por Jesus de uma forma especial e
atestam a mudança produzida em suas vidas. Entretanto,
poucos convidados me emocionam tanto como os
representantes do mundo do espetáculo, tanto televisivo como
teatral, que deixam de lado toda sua capacidade de atuação e,
com sinceras lágrimas de agradecimento, contam ao mundo o
que Jesus fez por eles. Este foi o caso de Dorothy e Dom Otis,
que apareceram no programa que eu gravava nos estúdios da
CBS em Los Angeles. Dorothy Day Otis dirige uma das agências
de artistas mais bem-sucedidas. Representa artistas muito
importantes da TV, do cinema e do teatro. Dom tem uma
florescente agencia de publicidade. Ambos são bem conhecidos
e muito respeitados por todos os artistas de Hollywood. "Faz
anos que Dom e eu estamos na TV", disse Dorothy, "mas a
única aparição verdadeiramente importante foi a que fizemos no
programa de Kathryn Kuhlman." Disse isso porque essa
aparição foi completamente dedicada a Jesus. Eu pensava que
era normal sentir-se mal. Nunca me senti realmente bem, e fazia
anos que sabia que minha saúde estava se deteriorando. Ficava
cansada facilmente e tinha constantes dores nas costas, que
tentava ignorar. Mas não podia ignorar o meu estômago, que
reagia violentamente a quase tudo que eu comia. Vivia me
alimentando com grandes quantidades de queijo cottage, pudins
e geléias, e só de olhar para comida comum me causava
repulsa. Quando a dor se tornou insuportável, fui ver os médicos.
Vários clínicos me observaram e deram o mesmo diagnóstico:
"um grave
problema estomacal", doença que parece ser companheira
constante de muitos dos que se deixam apanhar pelo
redemoinho de Hollywood. Os médicos prescreveram
comprimidos, que comecei a tomar tal como me tinham indicado,
mas não melhorei. Durante anos arrastei dores nas costas, uma
nuca rígida, uma total falta de energia e apetite. Passava a
maioria dos finais de semana na cama. Algumas vezes me
perguntava em voz alta se meus problemas estomacais estariam
relacionados com minhas dores nas costas, minha forma
estranha de caminhar e o fato de que meus sapatos se
gastavam de forma desigual. Mas os médicos simplesmente me
olhavam, sacudiam a cabeça... e me mandavam à farmácia a
comprar mais comprimidos. Eu tinha me formado no curso de
teatro na universidade, e depois disso iniciei minha carreira na
moda e na televisão. Vivi durante dois anos em São Francisco,
conduzindo meu próprio programa de entrevistas e de cozinha
na TV e atuando como apresentadora de filmes aos sábados de
tarde. Depois mudei para Los Angeles, onde continuei minha
carreira como modelo e atuando na TV. Todas as manhãs
levantava às 05:30 para chegar a tempo para passar pela
maquiadora e a cabeleireira. O dia todo estava sob as luzes,
frente a uma câmara ou trabalhando com pessoas. À noite,
muito tarde, literalmente desabava sobre a cama. Com minha
exigente agenda, não achava que fosse estranho que sofresse
dores constantes e me sentisse completamente exausta todo o
tempo. Além disso, aparentemente todos os outros que me
rodeavam se sentiam igual. Seis meses depois de chegar a Los
Angeles, conheci Don Otis. Sua história era similar à minha:
atuava em TV e rádio, era disc jóquei, diretor de programas, e
agora era dono de uma agência de publicidade. Eu tinha ido ao
escritório de Don para uma entrevista para um comercial de TV.
Quando saí, ele disse a um colaborador: "Essa é a garota com
quem vou me casar. "Sério?", perguntou seu amigo. "Qual é o
nome dela?" Don não sabia, e teve que ir a outro escritório para
perguntar a uma secretária. Ao voltar, sorriu. "Seu nome é
Dorothy Day, e continuo pensando em me casar com ela." Um
ano mais tarde eu continuava doente, como de costume... mas já
estávamos casados. Don teve que fazer todos os acertos,
inclusive conseguir autorização para utilizar o belo Mission Inn
de Riverside para nossa cerimônia de casamento. Nessa época
eu era presbiteriana, e ia à igreja só ocasionalmente. Don era
metodista, mas nunca ia à igreja. "Cristãos nominais" é a
expressão que eu usava para nos descrever. Don, que é mais
franco, diz que fomos "cristãos péssimos".
Apesar de minha saúde ruim e nossa total falta de
espiritualidade, ambos tínhamos muito sucesso nas carreiras
que tínhamos escolhido. A agência de Don crescia a passos
largos, e eu aparecia com muita freqüência na TV. Então, logo
quando achava que estava aprendendo a conviver com meus
problemas físicos, a saúde de Don começou a decair. Meu
marido fumava muito desde que tinha quinze anos.
Repentinamente, depois de todos esses anos, começou a ter
problemas respiratórios. Só conseguia respirar de forma
entrecortada, e pouco a pouco teve que reduzir toda sua
atividade física. Sequer podia subir a colina que estava atrás de
nossa casa. Um exame físico nos permitiu descobrir uma doença
temível: enfisema pulmonar. Não havia cura. Don estava tão
desanimado que nem sequer pensou em deixar de fumar. Já que
não tinha solução, deixar de fumar não faria diferença. Em 1966,
Harold Chiles, um importante representante de Hollywood,
ofereceu-me trabalho como agente de crianças para
interpretações e comerciais de TV. Ele e Don acreditavam que
os anos que eu tinha passado na TV me capacitavam para a
tarefa. Significava entrar em um campo completamente novo em
minha profissão, e a idéia me fascinou. Quando Chiles morreu,
comprei sua agência dos sucessores, e repentinamente me vi
dentro do negócio, comandando uma das agências mais bem-
sucedidas de Hollywood. Então minha própria saúde começou a
piorar. Eu media 1,75m, por isso meu peso normal era cerca de
65 kg. Mas comecei a perder peso. Comecei a evitar todas as
comidas, até o queijo cottage, e rapidamente baixei a 55 kg.
Parecia um esqueleto, e tornei a visitar os consultórios dos
médicos. Nenhum podia me ajudar. Eu me obrigava a ir
trabalhar, embora me sentisse muito mal. Só meu amor pelo
trabalho me mantinha em pé. Uma amiga próxima andava
assistindo aos cultos de Kathryn Kuhlman. Ela nos animou a ir,
certa de que, se fossemos, seríamos curados. A idéia de Deus
não me interessava muito, mas mesmo assim comprei os livros
de Kathryn Kuhlman e os li. Don também os leu. Eram muito
interessantes, e até me fizeram chorar. Mas quando se
aproximavam os finais de semana, era mais fácil cair na cama o
que assistir às reuniões. "Um dia desses iremos ao Shrine", eu
repetia à minha entusiasmada amiga. Mas se passaram três
anos antes de cumprirmos essa promessa. Don e eu assistimos
ao primeiro culto de milagres em janeiro de 1971. Mesmo agora
ainda é difícil descrever o que eu sentia enquanto esperava que
as portas do auditório se abrissem. Milhares de pessoas
rodeavam as portas, mas eu não as sentia como estranhas, mas
sim como amigos que não tinha conhecido antes. Era como uma
grande reunião
familiar. Havia tal amor mútuo, tal compaixão pelos doentes...
Todos falavam e compartilhavam com alegria enquanto
esperavam. Antes de que se abrissem as portas, Don e eu já
sabíamos que Deus estava lá. Voltamos no mês seguinte. Ali,
sentada no auditório, chorei ao ver as curas, orando pelos
doentes que me rodeavam. Pela primeira vez em minha vida
senti a presença de um Deus de amor que se preocupava tanto
que queria tocar essas pessoas imersas em uma terrível
situação e as curar por completo. Mas eu não era curada.
Minhas dores nas costas ficaram piores. E ainda pior; a nuca
estava tão rígida que não podia virar a cabeça sem virar o tronco
junto. Olhava e caminhava como as múmias dos filmes de terror.
Em março de 1971 fui consultar um médico traumatologista, o
doutor Larry Hirsch. Ele me fez um exame preliminar e me
encaminhou a fazer radiografias da coluna. Quando voltei a vê-
lo, vários dias depois, mostrou-me a radiografia. "Olhe isto",
disse-me. Até para meu olho inexperiente, era óbvio que minha
coluna não era normal. O doutor Hirsch descobriu que os
grandes depósitos de cálcio em cada vértebra eram indicadores
de uma artrite em desenvolvimento. Como se isto fosse pouco,
meu quadril estava torcido, pelo qual a perna direita ficava dois
centímetros e meio mais acima que a esquerda. Isso explicava
alguns dos meus problemas: porque meus sapatos se gastavam
de maneira desigual, porque tinha a nuca rígida, e por que
sempre doía a parte inferior das costas. O doutor Hirsch também
me disse que meus problemas estomacais possivelmente se
deviam à pressão sobre os nervos. Lembrei que quando
estudava na Universidade de Iowa, certa vez tinha levado um
tombo, caindo pesadamente sobre o gelo. A enfermeira da
universidade me tinha enfaixado as costas, mas a dor tinha
permanecido durante muito tempo depois disso. O doutor Hirsch
disse que provavelmente esse acontecimento tivesse dado
origem aos meus problemas atuais. "Deveria estar de cama",
disse-me. "A maioria das pessoas que estão em sua situação
nem sequer podem caminhar." Mediu minhas pernas e inseriu
uma palmilha em meu sapato direito. "Se não houver alguma
melhora notável até a próxima semana", disse, "será melhor que
consulte um especialista." Isso foi em uma sexta-feira. Deixei o
consultório muito desanimada, com o compromisso de voltar na
segunda-feira para que me fizesse outro exame.
No domingo, Don e eu fomos a Los Angeles para assistir ao
culto no auditório Shrine. Depois de ficar de pé em frente à porta
durante mais de duas horas, tentamos nos mover rapidamente
para conseguir assentos. Entre a respiração ofegante de Don e
meu andar lento, só conseguimos dois assentos na parte de
cima, a cinco filas da parede. "A vantagem de estar aqui em
cima" disse Don, com respiração arfante, "é que estamos mais
perto do céu." Desde o começo do culto comecei a contar a
Deus todas as coisas que estavam erradas comigo, como se Ele
não soubesse. Em alguns momentos, enquanto Kathryn
Kuhlman pregava, eu voltava a orar. Então escutei que ela dizia:
"Alguém na parte superior do auditório foi curado de um mal-
estar estomacal. Você não come a muito tempo." Senti que
minha respiração se tornava agitada, como se me faltasse o ar.
"Além disso, alguém está sendo curado de uma afecção na
coluna", adicionou a senhorita Kuhlman. Minha respiração se
acelerou a tal ponto que já não podia controlá-la. Estava sem
fôlego, e ao mesmo tempo comecei a chorar com todas minhas
forças. Sabia que estava atraindo a atenção de todos, mas não
podia evitar. Em meio a tudo isso, um grande calor se apoderou
de mim, como uma manta em um dia frio. Meus soluços
violentos sobressaltaram Don. Tentou me ajudar, mas eu não
podia falar. Não podia lhe contar o que acontecia. Ele me
passou um lenço, e quando me virei para pegá-lo, quase gritou:
"Você virou a cabeça! Olha pra mim, Dorothy! Você virou a
cabeça!" Era mesmo. Sem que eu tivesse percebido, a nuca
destravou e se movia livremente. Com a respiração ainda
entrecortada e soluçando, comecei a virar a cabeça de um lado
para o outro, da frente para trás. Não havia dor. Saí
cambaleando e me aproximei de uma obreira. "Fui curada", falei
soluçando. A mulher me olhou com grande calma. "Como sabe?"
Eu estava quase histérica, sacudindo a cabeça e tentando
desesperadamente conseguir ar. "Posso virar o pescoço", falei
com dificuldade. "E meu estômago também foi curado." "Seu
estômago?", perguntou. "Como pode saber que se curou do
estomago?" Não sabia. Nem sequer tinha pensado nisso. As
palavras saíram aos borbotões. "Eu sei", insisti. "Se posso
mover a cabeça, sei que Deus me curou do estômago também."
A mulher sorriu, convencida. Pegou-me pelo braço e me ajudou
a descer. Havia uma longa fila na plataforma, esperando para
testemunhar sobre suas curas. Fiquei na fila, ainda soluçando.
"Onde está Don?", me perguntei, repentinamente. Olhei para o
mar de rostos, tentando achá-lo. Então o vi, descendo junto com
um obreiro. Ele também chorava. Ao me ver, começou a rir. Nos
abraçamos. "Eu também fui curado, Dorothy", disse-me.
"Quando você desceu, uma sensação de calor me envolveu. Caí
no choro. Então notei que podia respirar normalmente. Veja!",
continuou. "Pela primeira vez em oito anos não tenho que me
esforçar para respirar." Ria e chorava ao mesmo tempo... mas
respirava bem. Então Kathryn Kuhlman nos chamou para que
subíssemos à plataforma. Algo tinha acontecido no íntimo de
meu marido. Não só em seus pulmões, mas também em sua
alma. Notei ao vê-lo em frente ao microfone, respirando
profundamente, com a alegria lhe inundando a face. A senhorita
Kuhlman queria lhe fazer perguntas, mas só o que ele dizia era:
"Olhem! Posso respirar". Compreendendo que não poderia obter
muita informação de nenhum de nós, em nosso estado de
agitação, ela pôs as mãos sobre nossos ombros e começou a
orar. Senti que Don pegava em minha mão, e a seguir, só soube
que estávamos ambos no chão. Eu não escutava nada. Não
sentia nada definido, só uma maravilhosa calidez e uma paz que
nos envolvia. Lembro vagamente da voz de Kathryn Kuhlman
dizendo: "Isto é só o começo. A partir de agora, suas vidas serão
totalmente transformadas". Oh, como tinha razão! Compreendo
agora, olhando para trás, que a mão de Deus fez muito mais do
que curar meu corpo. Mas como a cura física tinha sido tão
sensacional, levou algum tempo até que pude compreender a
mudança, mais profunda, que se tinha produzido em meu
interior, simultaneamente. Quando chegamos em casa, essa
noite, toda a dor de minhas costas tinha desaparecido. A
primeira coisa que fiz foi tirar a palmilha do sapato. Don estava
tão feliz com seus "novos" pulmões, que saiu correndo para
subir a colina de trás de nossa casa. Depois saímos para jantar
fora. Comemos bifes. Eram os primeiros que eu comia depois de
muito tempo. Na manhã seguinte fui à consulta com o doutor
Hirsch. Assim que me viu, perguntou: "O que aconteceu?" Eu
não conhecia muito bem o médico e fiquei em dúvida se devia
lhe contar tudo. "Quero que você me diga", respondi. Foi fácil
para ele perceber que os músculos de meu estômago estavam
relaxados, mas quando examinou minha coluna, realmente
soube que tinha acontecido algo. "Esta não é a mesma coluna
que eu examinei na sexta-feira", disse.
"Você tem um minuto, doutor?", perguntei, mais animada para
lhe contar todo. Ele assentiu, e me lancei a relatar em detalhes o
que tinha acontecido na reunião de Kathryn Kuhlman, no dia
anterior. "Se houve alguma mudança, Dorothy," disse ele, "as
radiografias mostrarão." Tirou uma série de chapas e me disse
que voltasse em dois dias. Nessa noite, entretanto, lembrei que
não lhe havia contado que tinha tirado a palmilha de meu
sapato, e liguei para a sua casa para dizer-lhe. "Oh, não",
protestou o doutor. "Volte a pô-la. Se não o fizer, perderá todo o
benefício que ganhou. Embora Deus haja curado seu estômago,
sua perna direita sempre será mais curta que a esquerda." Mas,
quando coloquei a palmilha, me senti desequilibrada. Sabia que
agora, ambas as pernas tinham o mesmo comprimento. Dois
dias depois voltei ao consultório. Don foi comigo. A primeira
coisa que o doutor Hirsch fez, foi medir minhas pernas. Em
seguida, tornou a medi-las. Tinha um olhar estranho quando
finalmente disse: "Têm o mesmo comprimento". Comecei a
chorar. "Eu sabia", falei. "Só queria que você também
soubesse." O doutor Hirsch não tinha tido tempo de examinar as
chapas, então as examinamos os três juntos. O médico ficou
mudo. Minha coluna estava perfeitamente direita. A curvatura em
"L" de minha última vértebra tinha desaparecido. Todos os
depósitos de cálcio tinham desaparecido. Minha nuca estava
perfeitamente alinhada com a coluna e o crânio. O mais
surpreendente era que a bacia tinha girado notavelmente e
estava na posição correta. O medico exclamou: "Eu diria que
você teve um transplante completo de coluna, se isso fosse
possível". Então me deu os dois conjuntos de radiografias,
tirados com uma semana de diferença. Eu os guardo em meu
escritório e os mostro a toda pessoa que me visita. São mais
preciosos para mim do que um Picasso. Don estava menos
preocupado do que eu em obter uma prova de sua cura. O
simples fato de que podia respirar era evidência suficiente para
ele. Na verdade, foi imediatamente se matricular na academia de
Beverly Hills, e começou a fazer quatro horas por dia. Também
deixou de fumar, como agradecimento ao Senhor. Também tinha
mudado por dentro. Nove meses mais tarde voltou ao seu
médico. Depois de um exame clínico completo, o doutor
começou a lhe dizer ele estava em ótimo estado. Don pensou
que ele estava tentando fugir do assunto, então lhe perguntou
diretamente: "Bem, doutor, e como está meu enfisema?"
O médico pigarreou: "Bem. Don, você sabe que enfisema é
incurável. Uma melhora de um por cento seria algo
verdadeiramente chamativo." "E eu tenho uma melhora de um
por cento, ou não?" "Não tem nenhum problema nos pulmões",
disse o médico. "É só o que posso lhe dizer." O maior milagre,
entretanto, foi muito além do que a cura da coluna ou os
pulmões. Kathryn Kuhlman tinha razão. Quando o Espírito Santo
entrou em nossas vidas, tudo mudou. Don e eu agora
freqüentamos uma igreja dinâmica, onde se ensina a Bíblia, em
Burbank. Don se tornou membro da Associação Cristã de
Homens de Negócios, e ambos demos muitas vezes nossos
testemunhos para grandes audiências. Sabemos que Jesus está
vivo, não só porque curou nossos corpos, mas também porque
mudou nossa forma de ver a vida. Embora estejamos mais
ocupados do que nunca em nossos respectivos trabalhos,
ambos sentimos que somos missionários que testemunham do
Senhor Jesus Cristo e da gloriosa experiência de nascer de
novo... e ser cheios do Espírito Santo. Meus colaboradores e
meus clientes dizem que meu local de trabalho é "o escritório
feliz". Sei que isso não se deve ao brilhante papel amarelo que
cobre as paredes, mas sim a que o Espírito Santo enche esse
escritório com sua alegria e me dirige no trabalho. Eu oro por
meus clientes e vejo acontecerem coisas, em suas profissões e
em suas vidas, coisas que só Deus pode fazer. É maravilhoso.
Mas o mais maravilhoso é isto: sabemos que isto é só o começo
do que Deus tem reservado para nós: "Coisas que olhos não
viram, nem ouvidos ouviram, nem penetraram o coração do
homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Porque
Deus no-las revelou pelo seu Espírito." (1 Coríntios 2:9-10).
14 de abril de 1972 A quem possa interessar: Em 3 de março de
1971 a senhora Dorothy Otis se apresentou neste consultório
com queixa de dores em múltiplas zonas da coluna vertebral,
pelo qual tirou uma extensa série de radiografias (desde a
primeira até a última vértebra de sua coluna). Estas radiografias
mostraram uma dupla escoliose com um encurtamento da perna
direita de aproximadamente 2,54 cm, e uma compressão de
nervos ao longo dos intestinos. A senhora Otis começou um
tratamento ao qual respondia com lentos progressos. Cinco dias
depois assistiu ao culto de milagres de Katrhyn Kuhlman. No dia
seguinte, ao submeter-se a um novo exame, era como se lhe
tivessem implantado uma nova coluna e uma nova bacia, em
substituição das anteriores, e a perna direita tinha o
comprimento normal. Também o trato intestinal estava
completamente relaxado e havia tornado a funcionar
normalmente. Tiramos novas chapas radiográficas da coluna da
senhora Otis nessa mesma semana e desta forma confirmamos
que a curvatura tinha sido eliminada totalmente. A coluna está
direita e não há zonas de pressão. Em meus vinte anos de
prática profissional, nunca encontrei este tipo de resultados que
não fosse resultado de um extenso tratamento. Houve uma
milagrosa mudança de estruturas. Respeitosamente, Dr. Larry
Hirsch Médico traumatologista
Capítulo 9 Um vazio com forma de Deus
Elaine Saint-Germaine
Eliza Elaine Saint-Germaine, cujo nome artístico em Holywood
era Elaine Edwards, foi uma vez proclamada uma das mais
brilhantes jovens estrelas da indústria da TV e do cinema. Mas
Elaine, como muitos apanhados no enlouquecedor redemoinho
da fama e a fortuna, sem perceber, começou a procurar a
felicidade em Satanás, em vez de procurá-la em Cristo. Santo
Agostinho disse certa vez que dentro de cada pessoa há um
vazio com forma de Deus. Um jovem drogado o descreveu como
um "oco de solidão" no mais profundo da alma de cada criatura.
Podemos tentar preenchê-lo com todos os tipos de amores
pervertidos, mas esse oco, esse vazio, foi feito para o amor de
Cristo. Nenhuma outra coisa pode verdadeiramente preenchê-lo.
Quando olho para trás e vejo minha infância, acho que meus
pais tentavam agradar a Deus. Sempre iam à igreja. Meus
primeiros passos aconteceram entre os bancos de uma Igreja
Batista do Sul, em Dearbon, Michigan. Mas tudo isso era
somente uma "religião dos domingos". Meus pais não tinham
nenhuma fonte de poder pessoal que os ajudasse a transportar
os princípios que aprendiam na igreja para suas vidas ou seu lar.
Papai tinha problemas com bebida, e mamãe sempre pensava
negativamente. Cresci pensando que Deus era igual a
infelicidade. Em minha casa, demonstrações de amor não eram
costumeiras, e meu coração clamava por ser cheio de amor.
Visto que em minha casa, isso me era negado, busquei-o em
outras partes, e aos quinze anos me casei com um marinheiro e
fui com ele para a Califórnia. Depois que meu jovem marido
partiu em uma viagem pelo oceano, descobri que estava grávida.
Eu não queria sofrer o processo de me adaptar em um novo
lugar e de criar um filho ao mesmo tempo, então fui a Michigan e
fiz um aborto. Ao voltar para São Francisco conheci outro
homem, um atraente capitão de corveta das Forças Armadas,
que estava a serviço de um submarino fora de função. Ainda
procurando desesperadamente por
amor, me deixei arrastar... e me casei com ele, embora já tivesse
um marido. A Segunda Guerra Mundial estava em pleno
desenvolvimento, e pouco depois meu segundo marido foi
convocado a embarcar. Em seguida meu primeiro marido
retornou. Encontrei-me com ele e lhe pedi o divórcio. Ele se
sentiu profundamente magoado, mas vendo que eu estava
totalmente decidida, concedeu. Passou-se quase um ano até
que meu segundo marido voltasse de sua viagem. Me encontrei
com ele em Nova Iorque, e em nossa primeira noite juntos decidi
lhe confessar toda a verdade, esperando que pudéssemos
começar todo de novo, limpamente. Em vez de ouvir minha
confissão e mostrar que me amava, rejeitou-me. Enlouquecido,
pediu a anulação de nosso casamento. Eu continuava em minha
desesperada busca por amor. O segui até Washington, e roguei
que voltasse. Ele se negou a me receber. Em Washington
conheci um homem dez anos mais velho do que eu. Houve outro
tórrido romance, e seis meses depois estava casada pela
terceira vez. Aos dezessete anos já tinha vivido uma vida inteira.
Tinha cometido bigamia, feito um aborto, me divorciado duas
vezes e estava casada outra vez. Meu terceiro marido estava
interessado em interpretação. Eu tinha trabalhado como modelo
e me ofereci ajudar a nos mantermos, se ele quisesse estudar.
Nos mudamos para Los Angeles, onde ele começou a ter aulas
de interpretação, em Pasadena. Ele era ator por natureza, e logo
foi contratado como protagonista de uma bem-sucedida série de
TV. Nosso casamento começou a ter problemas quase
imediatamente, porque ele começou a fazer turnês por todo o
país, em apresentações pessoais. Eu continuava precisando de
amor... e de aceitação. Estando ele fora a maior parte do tempo,
a solidão me pesava. Dessa vez tentei procurar satisfação em
uma carreira. Me matriculei para estudar teatro em Pasadena.
Tal como meu marido, eu era atriz por natureza. Ao terminar os
estudos em Pasadena continuei minha carreira no teatro. Fui
uma estrela desde o início. Finalmente achei que tinha
encontrado o que me daria satisfação, aquilo que encheria o
vazio que havia em meu interior. Durante um tempo, tudo
parecia se encaminhar. Em 1954 ganhei o papel de protagonista
da peça Bernardine, em sua estréia na costa oeste. Na noite da
estréia atuei para mais de duas mil pessoas que se amontoaram
no belo teatro. Foi um enorme sucesso. Quando eu estava em
cena, as pessoas não conseguiam tirar os olhos de cima de
mim. Patterson Greene, o renomado crítico, escreveu sobre a
peça, dizendo que era "incrível".
Eu representava o papel de Bernardine com perfeição. Mas
Bernardine, como eu mesma, não era mais do que uma ilusão.
Não existia. De pé sobre o cenário, ouvindo a ovação da
multidão que me aplaudia e dava vivas à minha atuação, me
sentia irreal, como se não estivesse ali. Mas de qualquer
maneira, eu gostava disso, e bebia os aplausos, as adulações, o
reconhecimento e a aceitação com que meus fãs me brindavam.
Desfrutava e absorvia tudo. Para mim, ser amada e admirada
por fãs de todo o país era o máximo que podia desejar. A seguir
passei a outro tipo de ilusões. Assinei contrato com Edward
Small para protagonizar filmes. Ele disse que estava me
preparando para ser a maior estrela de Hollywood. Fui
protagonista de alguns filmes de Allied Artists, e alguns para a
TV. Atuei no Playhouse 90 e O milionário, e fui co-protagonista
de Chuck Conners, em alguns de seus primeiros espetáculos.
Eu não tinha problemas em trabalhar o dia todo no set de
filmagem e depois pegar um avião para ir trabalhar em alguma
peça de noite. Estava na crista de uma incrível onda de sucesso.
Mas as ondas finalmente se desfaziam em espuma e
borbulhas... e sempre voltavam para o mar. Eu continuava vazia.
Numa manhã de outubro saí cedo de casa. Ed e eu tínhamos
comprado uma bela mansão ao pé das colinas, em La
Crescenta. Enquanto dirigia meu próprio Cadillac, a caminho do
estúdio em Hollywood, comecei a me perguntar: "Para que tudo
isto? por que faço isto?" Essas perguntas existenciais provinham
do profundo vazio que havia em minha vida. Tinha todo: fama,
dinheiro, um belo lar, um marido atraente e famoso... Mas me
sentia muito infeliz. Então lembrei de algumas palavras de "Tam
O'Shanter", de Robert Burn: "Mas os prazeres são como um
campo de papoulas; colhida a flor, sua beleza se desvanece; ou
como a neve que cai no rio, branca por um momento, antes de
fundirse para sempre". Eu tinha me rodeado de todos os
prazeres que meus sentidos podiam apreciar. Tinha
transformado a busca da felicidade em um negócio. Nesse dia,
enquanto ia para o estúdio, decidi traçar uma linha debaixo de
tudo que tinha, e fazer a soma. O resultado era zero. Lembrei de
um versículo de meus dias de escola dominical, na infância:
"Tudo é vaidade, como apanhar o vento". Desse dia em diante
comecei a buscar verdades espirituais. Mas eu não sabia que há
duas fontes diferentes de energia e poder espiritual. Em minha
ignorância, fui em direção à escuridão. Comecei a freqüentar um
grupo de oração que se reunia todas as semanas em uma casa
próxima. Mas ali nunca acontecia nada. Era tão carente de poder
como tinha sido a religião de minha infância. Como eu,
todos os outros estavam procurando, mas nenhum tinha
encontrado nada. Passávamos as noites analisando
intelectualmente a oração. Quando nos púnhamos a orar, não
era real, e nunca houve respostas. Tudo era vazio, sem
significado algum. Então tentei a Ciência Cristã, e daí passei a
um pequeno grupo que estudava religiões orientais. O sul de
Califórnia está cheio de pessoas vazias que correm atrás de algo
que lhes ofereça esperança. Um vazio, ainda que tenha forma
de Deus, atrai tudo que não esteja amarrado... especialmente os
espíritos malignos. Ed ficava fora de casa durante dias inteiros, e
eu caí em uma profunda depressão. Nem queria sair da cama.
Estava perdendo o interesse em minha carreira, e logo me
encontrei balbuciando até quando estava no set de filmagem.
"Algo está errado", falei a minha psiquiatra em certo dia de
setembro de 1959. "Minha carreira já não me faz feliz. Meu
casamento não me satisfaz. Sinto-me culpada por ter todas
estas coisas que deveriam me fazer feliz e, no entanto estou tão
mal." Ela me escutou com atenção e comentou sobre um novo
método de psicanálise com drogas que o doutor Sidney Cohen
estava experimentando na UCLA. Era uma nova droga, bastante
controversa, que, se tomada de forma controlada,
aparentemente acelerava o processo de análise: cinco sessões
com a droga eram equivalentes a uma terapia completa, que
geralmente levava anos. Aceitei imediatamente experimentar
essa nova terapia, na qual deveria tomar uma dose por semana.
O nome da droga era ácido lisérgico: LSD. Eu tinha acabado de
protagonizar, junto com Agnes Moorehead e Vincent Price, o
filme O vampiro, inspirado em um livro de Agatha Cristhie.
Embora nesse momento não acreditasse em espíritos malignos,
agora compreendia que meu papel nesse filme tinha me
preparado para as "viagens" de LSD que estava por
empreender. Em 19 de setembro ingressei em uma instituição
privada como paciente ambulatorial. Minha psiquiatra,
entusiasmada com o projeto, assegurou-me que a droga faria
com que minha mente se expandisse, aprofundaria meu estado
de consciência e seria a resposta a todos meus problemas.
Também assegurou que viria com freqüência me ver, para tomar
notas e fazer perguntas, enquanto eu estivesse sob a influência
da droga. Naturalmente, acreditei nela. Mas foi um engano
terrível e trágico. Em vez de liberdade, encontrei uma escravidão
pior do que todas as que tinha conhecido até então. Em vez de
cinco sessões com o LSD, tive 65: uma por semana durante um
ano e meio. A única maneira de me libertar do LSD era tomar
outras drogas, ou beber álcool. Comecei a tomar mescalina
(outro alucinógeno), e logo comecei a desmoronar.
A seguir, nos "graduamos", passando de viagens individuais com
o LSD a terapias de grupo. Sob a supervisão dos psiquiatras da
UCLA, aproximadamente doze pacientes nos reuníamos de
manhã cedo aos sábados e passávamos o dia, até tarde na
noite, "viajando" com o LSD. Nós psico-analizávamos uns aos
outros, falávamos sobre nossos ódios e nos contaminávamos
mutuamente com nossos problemas. Em pouco tempo adotei
todos os sintomas de outros pacientes do grupo, para deleite
dos psiquiatras, que cada vez estavam mais convencidos de que
finalmente tínhamos encontrado a realidade. Durante uma
dessas viagens com o LSD revivi um acidente automobilístico
muito traumático que tinha sofrido quando tinha três anos de
idade. Todo terror que havia sentido então, voltou para mim.
Minha psiquiatra estava encantada: "Oh, por fim está chegando
à última peça de seu quebra-cabeças. Finalmente conseguirá
arrumar sua vida". Mas em vez de se arrumar, minha vida estava
se amarrando em um nó de confusão que não havia como
desatar. Durante um ano e meio de puro terror, as drogas
desataram todas as forças malignas e demoníacas que já tinham
entrado em minha mente. Meu cérebro não parava de funcionar
em alta velocidade, e cada dia sofria visões como efeitos da
droga. Comecei a engolir todo tipo de narcóticos que pudessem
me fazer "descer" dos "picos" que o LSD produzia. Assim, fui
apanhada em um vício que duraria doze longos anos. Mal
conseguia trabalhar no set de filmagem: tinha inexplicáveis
ataques de ira, resistia a obedecer ordens e aparecia tão
drogada que nem sequer podia ler meus scripts. "Elaine," me
disse Edward Small, "você poderia chegar a ser uma das
maiores atrizes no cenário artístico, mas está arruinando sua
vida. Saia disso!" Eu já não tinha controle sobre mim mesma.
Força extremas, muito mais poderosas do que a minha força de
vontade, se instalaram em meu interior. Já não era dona de mim
mesma. Em 1961 quase fui protagonista, junto com Mickey
Rooney, da série televisiva The Seven Little Foys. Mas quase
não conseguia me arrastar pelo set e finalmente desabei no
chão. Então soube que meus dias como atriz estavam contados.
Minha última experiência como atriz teve estranhos toques
sobrenaturais. Uma diretora com quem tinha trabalhado
anteriormente, me ligou de Albuquerque, Novo México. "Elaine,
temos um problema", disse-me. "Faltam só dois dias para a
estréia de Dulcie, e Jean Cagney, que faz o papel principal,
adoeceu. Pode tomar o lugar dela?" "Sem problema", falei.
"Posso fazê-lo. Irei esta noite de avião." Depois de desligar,
comecei a me perguntar por que tinha aceitado. Eu nunca tinha
feito comédias. Demorava muito a decorar as
falas, geralmente semanas. Dulcie estava em cartaz durante
toda a temporada, e eu nem mesmo tinha lido o script. Isso era
ridículo. Tinha uma sessão de LSD programada para essa tarde,
a qual participei, como estava agendado. Quando tomei a droga,
tive uma visão. Vi um tremendo raio de luz, e no meio dessa luz
havia um homem que me dizia que saísse das sombras e fosse
para ele. Me deu medo, mas sempre tinha achado que a luz não
podia ser algo ruim. Quando saí da sombra e entrei na luz, senti
uma grande corrente de poder e energia. Era como se pudesse
fazer qualquer coisa, quase como se fosse o próprio Deus. Saí
daquele lugar ainda sentindo essa grande energia, nova para
mim. Passei pelo escritório da diretora, em Los Angeles, peguei
uma cópia do script do Dulcie, e o li de cabo a rabo durante o
vôo a Albuquerque. Sabia que o tinha dominado. Estavam me
esperando no aeroporto, e me levaram ao teatro para ensaiar. A
diretora caminhava de um lado ao outro, meditando. "Não
poderá fazê-lo, Elaine", disse-me. "É impossível. Tem que ficar
em cena durante duas horas e meia." Mas eu tinha uma
confiança sobre-humana. Começamos o ensaio. "Não está
anotando seus blocos", dizia-me a diretora. Os "blocos" incluem
todos os movimentos sobre o cenário, e geralmente, para uma
obra como essa, demoraria pelo menos três semanas para
aprendê-los. "Não preciso anotá-los", sorri misteriosamente.
Nunca havia sentido uma energia e um poder tão fortes em toda
minha vida. Essa noite fui ao hotel e estudei minhas falas
durante umas duas horas. No dia seguinte, no ensaio com
figurino, tinha tudo perfeitamente aprendido. Era a obra mais
importante já encenada em Albuquerque. Os críticos ficaram
loucos. "É como uma luz quando ela está em cena", escreveu
um deles. "Literalmente, domina o resto do elenco e faz que a
sigam." A peça foi apresentada durante duas semanas e atraiu
mais gente do que qualquer outra já representada ali. Durante
esse tempo, fiz coisas que jamais tinha sonhado fazer, como dar
várias aulas de representação na Universidade de Novo México.
Parecia que eu estava flutuando no poder daquela tremenda
energia... sem imaginar, nem por um segundo, que poderia
provir de Satanás. Meu marido veio para me assistir na última
apresentação, e logo depois dela terminar, desabou o inferno.
Acabou comigo. Eu nunca tinha visto tanto ódio e tanta ira em
um ser humano. Embora eu já suspeitasse que ele estava com
ciúme de meu sucesso, não pude suportar a violência de seu
ataque. Perdi toda minha coragem, e quando voltamos para Los
Angeles, todo o poder e a energia que havia sentido, tinham
desaparecido por completo. Me sentia como Cinderela ao chegar
a meia-noite. Tornei a cair numa profunda depressão. As trevas
se instalaram novamente em mim, tão espessas que não podia
rompê-las. Soube que nunca voltaria a atuar. Voltei para o LSD.
Drogas de manhã, drogas de tarde, drogas de noite. Caia cada
vez mais baixo. O produtor de meu marido o convenceu a ir a
Nova Iorque para protagonizar uma novela. Não somente
ganhou o papel principal, mas também começou um
relacionamento romântico com a protagonista feminina. Nosso
casamento, que tinha durado dezenove anos, estava condenado
a morrer. Ele pediu e obteve o divórcio e se casou com sua
protagonista. Eu fiquei na Califórnia, abandonada
emocionalmente e com o espírito destroçado. Comecei a visitar
um psicólogo que estava fazendo experiências com o ocultismo.
Ele acreditava que podiam ser ativadas certas energias do
"exterior" que formariam "triângulos protetores de luz" ao meu
redor. Chamava-os de "vértices de energia", que entrariam em
meu corpo e abririam minha mente para novos e mais elevados
níveis de conhecimento. Tudo estava relacionado com Shakti, a
energia feminina do deus hindu Shiva. Comecei a freqüentar
duas vezes por semana às sessões, em uma tentativa
desesperada para encontrar a verdade para minha vida
destroçada. No entanto, só o que fazia era me afundar cada vez
mais nas trevas. Isso me levou a cursos de astrologia,
espiritismo, e de ondas alfa de energia mental. Eu ainda não
tinha pensado que a energia e o poder podiam vir de fontes que
não fossem boas. Em nossa terapia de grupo, meu psicólogo
nos fazia invocar certos "mestres ascendidos", espíritos que
viriam nos ministrar conhecimento. Ele insistia que eu invocasse
um, especialmente, chamado "o Tibetano", que poderia me dar
uma grande sabedoria. Nessa época, eu já estava tão metida no
mundo do ocultismo, que parecia que nunca poderia desenredar
o matagal retorcido que era minha vida. A antiga busca do amor
reapareceu. Me relacionei com um ator e diretor divorciado, com
o qual vivi durante dois anos. Esse homem abusava de mim, e
várias vezes tentou me matar. Era um pesadelo. Em um louco
intento de escapar dele, fugi no meio da noite. Duas semanas
depois, ele me achou. Se eu não tivesse concordado em voltar a
viver com ele, ele teria me matado. Meses depois, ele adoeceu
gravemente. Então pude escapar e fui viver em um velho
apartamento em Havenhurst, na saída do Sunset Boulevard. Era
o mesmo apartamento em que Carole Lombard morara antes de
ser assassinada. John Barrymore tinha morado bem em frente.
Meus amigos ocultistas estavam entusiasmadíssimos com o
lugar, e
diziam que podiam sentir toda classe de espíritos que habitavam
ali. Insistiam para que eu entrasse em contato com eles, mas eu
tinha medo. Tornei a me refugiar em meu mundo de drogas e
solidão. Um de meus amigos era um famoso astrólogo judeu,
amigo pessoal de um colunista de uma revista de Toronto,
Canadá, que tinha preparado as sessões do Bispo Pike. Esse
colunista tinha entrevistado Kathryn Kuhlman, e meu amigo
judeu me leu os relatos do seu ministério. Pela primeira vez,
senti um indicio de esperança. Seria possível que, apesar do
mundo enlouquecedor dos demônios e das trevas, houvesse
uma verdadeira luz, não poluída pelos poderes do mundo
subterrâneo? Fascinada por essa esperança, comecei a assistir
às reuniões mensais de Kathryn Kuhlman no auditório Shrine de
Los Angeles. Várias vezes a ouvi falar contra as coisas das
quais eu participava: astrologia, espiritismo, ocultismo. Parecia
que sabia do que estava falando. Falava com autoridade, não
como os psiquiatras, psicólogos e psicanalistas que eu tinha
consultado. Em vez de fazer perguntas, ela dava respostas. E
quando orava, tinha resultados. Decidi que me esforçaria para
me libertar de todas essas ataduras. Comecei orando por cura,
pedindo a Deus que me tirasse a necessidade de drogas. E
decidi exorcizar meu apartamento, limpá-lo de todos os espíritos
malignos. Não sabia nada sobre as técnicas de exorcismo, então
perguntei aos meus amigos espíritas. "Quero fazer como diz na
Bíblia", lhes falei. Eles me deram todo tipo de sugestões, e uma
delas foi queimar incenso e mirra (isso sim, estava na Bíblia).
Parecia uma boa idéia para expulsar os espíritos malignos.
Decidi adicionar "pó de sangue de dragão" à mistura, para fazê-
la mais potente. Uma noite, enchi o apartamento de incenso e
caminhei por todos os cômodos, repetindo o salmo 91, para ter
boa sorte e ganhar coragem. Depois queimei incenso e mirra,
coloquei-os num prato, polvilhei o "pó de sangue de dragão"
sobre ele, e pus o prato perto de minha cama, sobre o chão. Mal
virei as costas, ouvi uma pancada e senti um cheiro diferente de
fumaça. Me virei, e vi que o prato tinha se virado sobre o chão. A
parte de baixo da minha cama estava em chamas! Corri para o
banheiro, enchi um copo de água e fui para a cama. De joelhos,
levantei o colchão para jogar a água no fogo. Repentinamente,
senti uma força sobre-humana que atirava o colchão para baixo,
esmagando minha mão entre o elástico e o colchão. Nesse
momento, o fogo literalmente explodiu da cama. Tentei libertar a
mão. Estava presa. Estava como que pregada à cama que se
incendiava. As chamas se espalharam pelo quarto, subindo pela
cortina e paredes. "Deus, me ajude!", gritei. Então dei um último
puxão, consegui soltar minha mão, e saí cambaleando do quarto
para o corredor. Quando os bombeiros chegaram, o apartamento
estava totalmente destruído. Depois que as cinzas esfriaram,
entrei. O dormitório era um monte de carvões, como o interior de
um forno crematório. Eu tinha perdido tudo, exceto a vida. Em
fevereiro de 1972 voltei ao auditório Shrine. Depois de ter estado
tão perto da morte, esperava ansiosamente o momento de voltar
ali para estar na presença do Espírito Santo. Nessa tarde de
domingo, sentada atrás, na parte de baixo, comecei a orar pelas
pessoas que me rodeavam. Repentinamente tomei consciência
das trevas em que tantas pessoas andavam. Quantos outros,
milhares, milhões, estariam tropeçando no caminho, como eu,
tentando libertar-se das garras do maligno? Enquanto orava,
senti uma Presença à minha volta e sobre mim. Soube
imediatamente quem era. Nunca o tinha conhecido, mas não
precisávamos ser apresentados. Eu estivera buscando-o por
toda minha vida, e de repente, estava ali. Jesus estava ali. Senti
um grande calor em todo o corpo, e comecei a chorar. Algumas
vezes eu ia acompanhada a esses cultos, mas dessa vez tinha
ido sozinha. Me alegrei de não ter que explicar a ninguém o que
me acontecia. Jesus estava ali, me envolvendo com seu amor. E
nesse momento, soube que era amada, com um amor muito
maior do que o que qualquer homem poderia me dar. Estava nos
braços do Pai. Era como se em todos aqueles anos tivesse
havido um buraco vazio em meu coração, com um cartaz
dizendo: "Reservado para Jesus Cristo". Agora Ele tinha
chegado, e todas as minhas necessidades de amor estavam
satisfeitas. Soube que nunca mais voltaria a precisar das drogas.
Foi assim: simples, definitivo, absoluto. Estava curada. Depois
que terminou o culto, saí rapidamente. Esperava ansiosamente o
momento de ficar sozinha. Antes, sempre tinha necessidade de
ter gente ao meu redor, multidões de pessoas que me
admirassem. Agora já não queria nem necessitava de mais
ninguém. Era suficiente estar com Ele. Jantei tranqüila em um
pequeno restaurante fora do ambiente mais cheio, e voltei para
meu pequeno apartamento de um cômodo. Fui ao banheiro e
esvaziei o conteúdo de todos os frascos e das caixas de
medicamentos na privada. Nunca mais voltaria a ser escrava das
drogas. Fui até o sofá-cama. Foi tão natural me ajoelhar para
orar, para agradecer a Deus pelo que tinha feito. Nessa noite,
pela primeira vez em anos, dormi pacificamente. Sem drogas,
sem pesadelos, sem insônia. Compreendi então o significado do
versículo: "Em paz me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor,
me fazes habitar em segurança." (Salmo 4:8).
Meus problemas não se acabaram por completo com a
experiência dessa noite. Houve momentos de desalento e
solidão. A maioria de meus antigos "amigos" se afastaram de
mim, e tenho que criar novas amizades com crentes. Ainda há
momentos de tristeza e tentação, mas agora sei que não estou
sozinha. Jesus me ama. E estou aprendendo a deixar que Ele
lute em meu lugar. Algumas vezes, de noite, depois de apagar a
luz, sinto forças malignas à minha volta. Já não repito rituais de
exorcismo, nem mesmo falo com os espíritos. Simplesmente oro:
"Jesus, preciso de tua ajuda. Eles voltaram. Podes vir e mandá-
los embora?" E Ele sempre responde minha oração.
Capítulo 10 A cética do chapéu de pele
Jo Gummelt
A senhora Jo Gummelt, esposa de um ex-pastor batista, era
reconhecida como uma das colaboradoras mais importantes do
Congresso, em Capitol Bill (Washington D.C.). Nasceu em
Mobile, Alabama, estudou na Universidade Baylor e depois se
mudou para Fort Worth, Texas, junto com seu marido Walter,
que fez pósgraduação no Seminário Teológico Batista dessa
cidade. Desde 1958, os Gummelt vivem em District Heights,
Maryland, onde Walter ocupou vários cargos importantes dentro
de sua denominação. Como a maioria dos batistas, eu
acreditava que a Bíblia é o registro inspirado da revelação de
Deus à humanidade, e agradecia a Deus pela maneira como
tinha falado aos profetas e aos apóstolos. Acreditava que
quando Jesus tocava em alguém, essa pessoa era curada.
Acreditava que logo depois dele subir ao céu, aqueles cento e
vinte crentes que estavam no cenáculo durante a celebração do
Pentecostes, e muitos outros na igreja primitiva, receberam o
poder do Espírito Santo. Acreditava que esses homens e
mulheres tinham falado em línguas, realizado milagres e tinham
visto a recuperação dos doentes depois de impor as mãos sobre
eles. Mas por alguma razão, não compreendia que Deus podia
derramar seu Espírito em mim, hoje, da mesma maneira. Não é
que não quisesse receber seu Espírito, sentir seu poder ou
manifestar os dons do Espírito. Sim, desejava todo isto. Na
verdade, eu estava dirigindo um estudo bíblico sobre o Espírito
Santo, para mulheres. É que pensava que Pentecostes era algo
que tinha acontecido em um tempo muito longínquo. Tive que
chegar a estar perto da morte para descobrir a verdade de que
podia receber a vida de Deus hoje. Em 1949, depois de me
formar na escola secundária em Mobile, Alabama, meu pai me
presenteou com uma viagem a Washington D.C. Apesar de ter
estado doente durante quase tantos anos como os que eu tinha
de vida, papai tinha economizado o suficiente para comprar duas
passagens de ônibus e poder visitar meu irmão mais velho, que
trabalhava na biblioteca da Suprema Corte. Meu irmão conhecia
Truman Ward, um importante funcionário da Câmara de
Deputados. O senhor Ward me ofereceu um emprego, e assim
me tornei a mais jovem estenografa do Capitol Hill. Três dias
depois, o senador Spessard Holland, da Florida, ofereceu-me um
emprego como sua secretária por três mil dólares por ano. Isso
era mais do que meu pai jamais havia ganhado em Mobile.
Então soube que ficaria em Washington. Logo me encontrei
submersa no fascinante mundo da política, e passei a trabalhar
para outro congressista, com um salário ainda maior. Nesse
momento o casamento não me atraía. Meu constante esforço
por obter eficiência e perfeição me transformara na colaboradora
ideal... e eu adorava sê-lo. Dormia três horas por noite, e uma
sesta de quinze minutos depois de comer uma salsicha de
quinze centavos. Isso era só o que necessitava. Mas já estava
criando padrões de vida e de trabalho que quase me levariam à
destruição antes de completar os quarenta anos. Durante
aqueles primeiros anos em Washington, conheci um grupo de
jovens da Igreja Batista Metropolitana, que eram diferentes de
tudo o que eu tinha conhecido antes. Em sua alegria e
testemunho constantes, podia ver que tinham algo que me
faltava. Aqueles jovens de Washington me motivaram a ter uma
sede nova: a de ser como Jesus, e entregar toda minha vida a
Ele para servi-lo em tempo integral. O gasto de tempo "mais
completo" que eu podia conceber naquele momento era ser
médica missionária. Talvez porque papai estava sempre doente;
talvez pelo que tinha lido sobre o Jesus que impunha suas mãos
sobre os doentes e os curava. Fosse pelo que fosse, eu queria
ver as pessoas curadas, e ser médica missionária era a única
forma que eu conhecia de obtê-lo. Matriculei-me na Universidade
Baylor, em Waco, Texas. Meu chefe, o deputado Prince Preston,
da Georgia, ajudou-me financeiramente, e me disse que, quando
ficasse com o dinheiro curto, poderia voltar para Washington, e
que meu emprego sempre estaria me esperando. Aproveitei seu
oferecimento e, alternando entre Washington e Waco, finalmente
terminei meus estudos, depois de seis anos. Enquanto estava
em Baylor, conheci Walter Gummelt, um jovem muito atraente,
loiro, de cabelo ondulado e físico atlético. Walter se formou antes
de mim, e em seguida se mudou para Fort Worth, onde se
matriculou no Seminário Batista. Nos casamos logo após eu
terminar meus estudos. Meu desejo de ser médica missionária
tinha sido substituído por outro: o de ser esposa de um pastor.
Depois de Walter se formar no seminário, voltamos para
Washington. Voltei a trabalhar, e Walter aceitou o convite para
ser pastor da Igreja Batista Parkway, uma congregação nova em
District Heights, Maryland.
Imediatamente voltei para meu antigo estilo de vida: trabalhava
até horas incríveis, comia mal, e tudo o que empreendia,
concluía com perfeita precisão. Conservei minha boa saúde
durante os primeiros anos. Mas logo, gradualmente, as pressões
de ser esposa de pastor, além das incríveis pressões de
trabalhar no Congresso, começaram a se fazer sentir. Perdi
peso. Em algumas manhãs, me levantava mais exausta do que
ao me deitar. Sofri vários abortos espontâneos, e quando
finalmente consegui chegar ao final de uma gravidez, trabalhei
até que o pequeno Gordon nasceu. Logo depois de um breve
recesso, voltei a trabalhar. Havia me tornado viciada em
trabalho. Quando meu chefe perdeu a reeleição, Walter sugeriu
que poderia ser um sinal de Deus para que eu deixasse de
trabalhar. Mas antes de ter tempo de considerar seu conselho,
ofereceram-me um dos cargos mais importantes: um
congressista do Texas me pediu que fosse sua assistente
administrativa, o cargo mais importante dentro do gabinete de
um congressista. O emprego exigia alguém perfeccionista, e eu
tinha ganhado a reputação de ser exatamente isso: motivada,
eficiente, leal. Aceitei o posto e comecei com um trabalho que
me desgastava sem misericórdia, administrando o escritório,
dirigindo o pessoal, escrevendo discursos e fazendo pesquisas
sobre leis até muito depois do horário de encerramento do
expediente. Noite após noite, me arrastava para casa, muito
depois de escurecer, e me sentava no banco do piano, com
papéis ao meu redor: trabalhava até a madrugada. Continuei
perdendo peso. Sofri outros três abortos espontâneos, e me
surgiram três úlceras hemorrágicas, características de quem
trabalha no Congresso, conseqüências inevitáveis dos conflitos
internos do gabinete e da perseguição dos empregados homens,
que invejavam minha posição. Eu trabalhava setenta horas por
semana, dormia menos de quatro horas por noite e continuava
tentando estar presente na igreja junto ao Walter. Então
começaram as dores de cabeça. As enxaquecas começavam
como uma dor surda na parte de trás e em uma lateral da
cabeça. Quando começava, a dor era como um fogo que me
incendiava o cérebro. Era como ter o crânio em um torno gigante
que o apertava tão forte que parecia que ia explodir. Junto com a
dor vinham as náuseas, em ondas, enquanto meu corpo se
convulsionava em agonia. O médico disse que eu sofria de uma
"clássica enxaqueca de personalidade", e me receitou drogas.
Comecei a tomar grandes doses de Darvon composto.
Disseram-me que não causava vício, mas logo me dei conta de
que psicologicamente já tinha sido apanhada. À medida que as
enxaquecas se faziam mais e mais intensas e freqüentes, fui
aumentando a dose. Então, como se estivesse em uma comédia
de horror, meu cabelo
começou a cair. Coloquei a culpa nos abortos espontâneos e no
fato de que estava começando a envelhecer, mas a perspectiva
de me tornar calva não era nada divertida. Comprei uma peruca.
Num dia de primavera, muito ventoso, saí cedo de meu trabalho.
Nossos escritórios ficavam no edifício Sam Rayburn, e ao sair
pela porta principal, vi, estacionadas na rua circular, as grandes
limusines pretas dos membros do Gabinete. Cada uma, com seu
motorista parado ao lado da porta. Eu sabia que estava
acontecendo uma audiência especial, e não pensei muito mais
no assunto, até que saí da área protegida. Então, o vento me
arrancou a peruca e a fez voar até um espaço aberto, no meio
de todos esses motoristas uniformizados. Gritei pedindo ajuda,
mas ninguém se moveu. Os seguranças e os motoristas ficaram
parados, com as bocas abertas, olhando como minha peruca
dava voltas pelo gramado até "aterrissar" sobre um pé de tulipas.
Então prorromperam em gargalhadas. Eu imaginei os
congressistas, correndo até as janelas e me vendo correr atrás
da minha peruca. Finalmente a peguei, coloquei-a
apressadamente na cabeça, e me dirigi ao estacionamento. Para
os homens fôra muito engraçado, mas eu tinha vontade de
chorar. Por que tinha que usar uma peruca? Por que não podia
ser normal? Sentada no carro, desatei a chorar. Certa manhã,
vários meses depois, levantei-me da cama, fraca e cambaleante,
para preparar o café da manhã para o Walter. Ali, inclinada
sobre o fogão, comecei a chorar. Minhas lágrimas caíam sobre o
óleo quente da frigideira e provocavam pequenas nuvens de
fumaça. "Já não tenho um lar", pensei. "E Walter não tem
esposa, porque eu estou casada com meu trabalho. Mas ele
nunca se queixa. Ele é como o penhasco de Gibraltar, enquanto
eu estou me partindo pela base." O simples pensamento de
enfrentar outro dia no escritório me fazia tremer. Senti o braço do
Walter me rodeando a cintura por trás, seu rosto contra meu
pescoço, e o perfume de sua loção de barba. Quanto tempo
fazia que eu não ficava olhando ele se barbear? Antes, quando
batalhávamos juntos, na época em que estudávamos no
seminário, eu tinha tempo para isso. Lembrei dos primeiros anos
de casamento. Nosso pequeno duplex na rua Stanley, perto do
Seminary Hill, no cruzamento com a Wichita Falls, onde Walter
pregava aos finais de semana. Não tínhamos dinheiro, mas
caminhávamos pelas ruas desertas do centro de Fort Worth,
muito tarde na noite, e olhávamos as vitrines. Algumas noites,
para me distrair, ia com ele à biblioteca do seminário e ficava
olhando ele pesquisar nos livros, preparando-se para um exame.
Ou simplesmente caminhávamos ao redor do saguão central, de
mãos dadas, olhando os retratos dos antigos reitores do
seminário. Agora não tinha tempo para coisas assim, para me
sentar e olhar para ele. Não tinha tempo para caminhar com ele
de mãos dadas. Não tinha tempo para lhe passar colônia depois
de haver se barbeado e sorrir, fazendo-lhe cócegas no nariz.
Continuei chorando.
"Não vale a pena, Jo", me disse Walter, suavemente. Ele sempre
foi tão gentil, tão amável. "Deixe o trabalho. Não precisamos de
dinheiro extra. Deixe-o antes que a mate." Ele tinha razão, mas
já era muito tarde. Fui ao médico. Me olhou e sacudiu a cabeça.
Ulceras hemorrágicas e enxaquecas! Anotou em minha ficha:
incapacidade total permanente. "Descanse muito", advertiu-me,
"ou lhe acontecerá algo drástico." Ele não sabia, e nem eu, mas
já tinha começado a acontecer algo drástico. Eu tinha começado
a morrer. Walter pensou que seria bom pegar o trailer e sair por
uma semana, de férias às montanhas Allegheny. Eu não tinha
vontade de fazer camping. Gordon tinha seis anos e muita
energia. Mas fui, decidida a aproveitar o máximo possível.
Deixamos o trailer em um camping no Parque Estatal Allegheny,
ao sul do Estado de Nova Iorque, e seguimos de automóvel até
a fronteira com o Canadá, para visitar as cataratas do Niágara.
Foi um dia cansativo. Passeamos pelos caminhos de concreto,
subimos as escadas e pegamos o bote até a base das cataratas.
No retorno, a caminho do trailer, enquanto Gordon dormia no
banco traseiro, comecei a me sentir mal como nunca antes.
Sentia uma tremenda pressão em ambos os lados da parte de
baixo da coluna, como se tivesse toda a água do rio Niágara
fazendo pressão contra um dique. Quando tentei girar o corpo
no assento, a dor aumentou. A via pela qual trafegávamos
estava em obras, e a cada solavanco, um espasmo agônico
percorria meu corpo. Então, lentamente, notei algo mais: uma
paralisia que se estendia por minha coluna. Ofegando, agarrei
Walter, lhe cravando as unhas no braço. "O que foi, Jo?",
perguntou ele, alarmado. "Está branca como papel." "Não sei",
respondi com dificuldade. "Mas tenho medo. Estou perdendo a
sensibilidade nas costas." Isso não era uma simples úlcera ou
uma dor de cabeça. A dor se estendia pelas costas e enchia o
estômago. As ondas de náuseas me faziam ter desejos de
vomitar. Pela primeira vez em minha vida, soube o que era sentir
as garras da morte sobre mim. Quando chegamos ao trailer, já
tinha escurecido. Atirei-me na cama enquanto Walter foi procurar
um hospital, levando Gordon com ele. Quando voltou, disse-me
que o mais próximo estava a quilômetros de distância. Mordi os
lábios. "Talvez, se descansar, me sentirei melhor." Walter estava
preocupado, mas eu insisti em esperar até de manhã. Mas à
medida que a noite avançava, eu me sentia pior. Sentia que meu
corpo se estava destroçando por dentro. De manhã cedo,
levantei para ir ao banheiro. Pude eliminar algo de meu
organismo, e me senti um pouco melhor. Cambaleando, voltei
para a cama, e enquanto o Sol nascia sobre as árvores,
adormeci.
Quando despertei, a manhã já estava avançada. Ouvia as vozes
de Walter e Gordon lá fora. Quando tentei me levantar, percebi
que estava no meio de uma poça de sangue. Walter queria me
levar ao hospital, mas outra vez tratei de acalmá-lo e o convenci
a não fazê-lo. "Somente me leve para casa. Se me deitar em
minha cama, ficarei bem." Mas não melhorei, e Walter me levou,
finalmente, a um médico. Logo que descrevi meus sintomas,
pude ver o olhar de alarme no rosto do profissional. "Não se
pode ignorar este tipo de hemorragia, senhora Gummelt", disse.
Depois de tirar algumas radiografias, disse-me com voz severa:
"A espero esta tarde no hospital". Percebi que algo estava
terrivelmente mal. "O que é?", perguntei. "Saberemos melhor em
poucos dias. Mas neste momento, parece como se literalmente
estivesse expulsando pedaços de seus rins. O diagnóstico: uma
variante de necrose papilar renal, uma doença muito rara e
grave, que causa a deterioração do interior do rim. O urologista
me explicou que meus rins eram como duas esponjas podres, as
quais poderiam ser atacadas por qualquer bactéria insignificante
que entrasse em meu sistema, causando ainda mais
deterioração. Quase a metade dos dois rins já tinha se
desprendido e sido eliminada de meu sistema. Estava morrendo.
Walter enviou uma carta à congregação, pedindo que orassem
por mim. Embora a oração pelos doentes (a oração da fé, com
autoridade), fosse algo estranho para a maioria deles, houve um
grupo de mulheres que compreenderam que Deus as havia
preparado para esse momento e esse lugar, para orar por minha
cura. Aproximadamente um ano antes, algumas jovens donas de
casa da igreja, tinham vindo me pedir que as ensinasse. Elas
queriam uma relação mais profunda com o Senhor, mas não
sabiam como obtê-la. Aparentemente sentiam que, apesar de
meus nervos destroçados e meu corpo doente, eu podia lhes
indicar a direção correta. Muitos anos antes, quando estudava
em Baylor, tinha me acontecido algo. Uma tarde, enquanto
atravessava a rua Ocho, em Waco, repentinamente recebi a
revelação de que o Espírito Santo habitava em mim. Meus olhos
se encheram de lágrimas, e mal consegui chegar ao outro lado
da calçada. "Que assustador, mas maravilhoso, ao mesmo
tempo!", murmurei. "Levo o Espírito Santo a todo lugar que vou!"
A partir desse momento o Espírito Santo se converteu em uma
pessoa para mim, alguém que escutava todas as minhas
palavras,
conhecia todos os meus pensamentos, via tudo o que eu fazia.
Durante semanas, caminhei pelos edifícios da universidade
completamente alheia a qualquer problema, inundada pelo
Espírito Santo, apaixonada pelo Senhor. Comecei a dar o
dízimo, não só de meu dinheiro, mas também de meu tempo, em
estudo bíblico e oração. Ao final desse período passava
aproximadamente cinco horas por dia em comunhão com o
Senhor. Mas não havia durado muito. Foi uma relação
passageira, não algo para toda a vida. Mas embora meu "amor"
pelo Espírito Santo tivesse se desvanecido, eu continuava
consciente de seu poder. Portanto, quando essas jovens vieram
me pedir que as ensinasse a andar mais próximas do Senhor,
era natural que começasse por lhes ensinar o que a Bíblia dizia
sobre o Espírito Santo. Sabia que eu mesma era uma aprendiz.
E suspeitava que embora falasse todas as palavras corretas,
não compreendia realmente o que estava dizendo. "Pentecostes
não é tempo passado", eu havia dito. "Se a Bíblia é verdadeira,
então, por que não podemos tomá-la literalmente?", tinham
perguntado minhas alunas. "por que não podemos esperar
milagres e curas, agora?" Como batistas que éramos,
acreditávamos que a Bíblia era a Palavra inspirada de Deus, e
fazer esse tipo de perguntas sempre provocava grandes
frustrações. Eu queria ser intelectualmente honesta, mas como
nunca tinha visto um milagre, nunca tinha visto uma
demonstração física do poder de Deus, me custava acreditar.
Aprofundamos mais nosso estudo da Palavra, tentando
encontrar respostas. De alguma forma, sabíamos que esse
caminhar mais perto de Deus tinha a ver diretamente com a
doutrina do Espírito Santo. Mas o que esperávamos e
necessitávamos desesperadamente era uma demonstração do
poder de Deus, e não apenas palavras sobre Ele. Essa
demonstração se produziria no sábado de manhã, uma semana
após eu ter dado entrada no hospital. Nesse dia eu completava
trinta e sete anos. As mulheres do grupo de estudo bíblico
tinham vindo ao hospital me visitar, e estavam rodeando minha
cama. Ao olhar para elas, soube que algo tinha acontecido.
"Como se sente?", perguntou Pat Vandeventer. O marido de Pat
era da Marinha, e eles tinham começado a freqüentar nossa
igreja, não porque fossem batistas tradicionais, mas sim porque
o Senhor lhes tinha indicado que o fizessem. Poucas pessoas se
aproximavam de nossa igreja porque o Senhor lhes ordenava,
mas com Pat e seu marido foi assim. Eu estava fraca, muito
fraca e muito sedada, mas me esforcei em responder com um
ligeiro sorriso: "um pouco melhor. Não tenho tanta hemorragia".
"Louvado seja o Senhor!", disse Pat, suavemente, e piscou o
olho para uma das mulheres que estava do outro lado da cama.
Essa, por sua
vez, sorriu e piscou para outra. Em seguida, todas começaram a
assentir com a cabeça e sorrir, como se soubessem algo que eu
não sabia. E assim era... mas só fiquei sabendo várias semanas
depois. Então, uma tarde, quando estava sozinha no quarto do
hospital, Pat veio me visitar e contou o que tinha acontecido
naquele sábado. "Quando recebemos a carta do pastor", disse-
me, "todas do grupo de oração soubemos que estava morrendo.
Também sabíamos que esse era o momento de provar se o que
tínhamos estudado com você era verdade. Ou Deus cura, ou
não cura. É simples assim." "Parece que é como colocar Deus à
prova", falei. "Não, não é isso", disse Pat, aproximando sua
cadeira de minha cama. "Simplesmente decidimos nos juntar e
confiar nele para sua cura. Talvez Deus tenha nos posto à prova,
para ver se acreditamos no que Ele diz em sua Palavra. As oito
integrantes do grupo nos reunimos aquele sábado para ter uma
reunião de oração ao amanhecer, num canto do parque
municipal." Esperei em silêncio enquanto Pat fazia uma pausa.
Seus olhos começaram a umedecer-se. "Foi um momento muito
precioso e sagrado para cada uma de nós. Enquanto
esperávamos em Deus, cada uma, de forma pessoal, recebeu
uma demonstração do poder do Senhor. Todas soubemos que
seria curada milagrosamente." "Não entendo", interrompi-a. "Sei
que estou melhor, mas isso é porque estou no hospital, e estão
me enchendo de medicamentos. Mas o doutor diz que meus rins
desapareceram." "Já sabemos", disse Pat, sorrindo uma vez
mais. "Mas também sabemos que Deus demonstrou seu poder,
o poder de que temos lido na Bíblia. Sabemos que será curada."
"Diz que demonstrou seu poder? Como?" Pat ficou em pé e foi
para a janela. Falava com suavidade, como se estivesse
revivendo aqueles momentos no parque. "Cada uma o sentiu ao
mesmo tempo, mas de maneiras diferentes. Eu estava sentada
no banco, com a cabeça apoiada em minhas mãos, e
repentinamente senti como se meu coração se partisse. Todas
começamos a sentir um amor por você, tão profundo como
nunca o havíamos sentido antes. E parecia que íamos perdê-la.
Começamos a orar por você, mas quando o sol começou a
nascer, ficamos sem palavras. Já não podíamos orar mais, e
ficamos sentadas, chorando em silêncio. Então, do fundo do
meu coração, surgiu como um manto de paz, como a neve
fresca que cai sobre a paisagem cinza e a cobre de branco puro.
Eu soube, Jo. Soube que Deus a havia curado. Não houve
foguetes, nem terremotos; só a profunda certeza interior de que
estava sendo curada... e quando Deus o dispuser, saberá." Pat
se voltou da janela e me olhou. Continuou o relato: "Levantei a
vista, e todas as outras mulheres do grupo estavam sorrindo
através das
lágrimas. Elas tinham recebido a mesma mensagem que eu, ao
mesmo tempo. Saímos do parque com essa segurança, e depois
disso todas as dúvidas se dissiparam." "Mas não estou curada",
falei. "Oh, sim, claro que está", disse Pat com firmeza. Seus
olhos faiscavam, cheios de decisão e fé. "Sabemos que os
médicos disseram ao pastor Gummelt que sua enfermidade é
incurável; mas lembre, nosso Deus é o Deus do impossível." Eu
sabia que estava muito doente. Mas... incurável? Esqueci todo o
resto que Pat havia dito. Essa palavra ficou ressoando em minha
mente. Muitos, muitos especialistas vieram me examinar durante
as semanas seguintes. Na região de Washington, eu era a única,
até então, em quem tinha sido diagnosticado esse tipo de
doença de rins, em particular. Um dos urologistas comentou que
na Suécia havia sido feito um estudo com cento e vinte e cinco
pessoas que tinham sintomas similares aos meus e estavam em
iguais condições. Mas quando lhe perguntei sobre os resultados
do estudo, respondeu com evasivas. O que pude deduzir foi que
todas elas tinham morrido. O único alento que recebi dos
médicos foi a esperança de que pudessem estabilizar meus rins
e possivelmente deter o processo de deterioração. Eu sabia que
não havia medicina capaz de me curar. Finalmente, me deram
alta do hospital, recomendando que ficasse de doze a quatorze
horas por dia na cama. A advertência não era necessária. Eu
estava completamente sem forças. Antes sempre tinha
conseguido extrair de mim mesma um pouco mais de energia ou
força para completar uma tarefa. Mas dessa vez, quando
procurei em meu interior, somente encontrei vazio. Na segunda
manhã em casa, esperei até que Walter fosse trabalhar. Então
me levantei para abrir a janela do quarto. A simples tarefa de
andar até o outro lado do quarto e tentar abrir a janela consumiu
toda minha energia, como se tivesse andado mais de três
quilômetros. Desabei novamente sobre a cama, ofegando de
cansaço, sem ter conseguido abrir a janela. Podia sentir meus
rins inchados, se esmagando contra minhas costas. Minhas
energias de reserva, esse pequeno "extra" que evita que uma
pessoa morra quando chega ao final de suas forças, esgotaram-
se. O médico havia dito: "Uma pequena bactéria, que possa
contrair, por exemplo, de água não muita limpa, a colocará em
perigo iminente de morte". Havia outras pressões acumulando-
se ao mesmo tempo. O médico me havia dito que quando me
sentisse bem, poderia voltar para a igreja, mas não mais de uma
vez por semana. Antes de entrar no hospital eu
pesava aproximadamente cinqüenta quilos. Mas quando me
deram alta, meu corpo começou a reter líquidos, e fiquei muito
inchada. Não queria que me vissem assim. Passei o ano
seguinte entrando e saindo do hospital. Tinha que ir
constantemente ao médico para que me fizesse exames,
análises e cultivos. À medida que meu corpo se auto-imunizava
contra uma droga, o médico me dava outra, e com a mudança,
vinha toda uma nova série de exames para comprovar se essa
droga me mataria, em vez de me fazer bem. Parecia que estava
todo tempo no consultório do médico, fazendo uma radiografia
atrás da outra. Para combater as infecções internas que sempre
surgiam, constantemente devia tomar diversos antibióticos. As
despesas com remédios subiam sem parar. Preparar-se para a
morte é uma experiência psicológica aterradora. Todo meu estilo
de vida mudou. Eu sabia que morreria, e era muito difícil me
adaptar a esse fato enquanto ainda estava viva. O médico da
família me sugeriu consultar um psiquiatra. "Talvez ele possa
ajudá-la um pouco com essas enxaquecas", disse. Isso era o
que esperava. Minha oração era que pudesse jazer em paz e
acabar com esse processo de morrer. Já não podia funcionar
como esposa ou mãe. Não podia fazer nenhuma tarefa caseira.
Ouvia quando Gordon voltava da escola e passava pelo corredor
nas pontas dos pés sem entrar no meu quarto, para não me
incomodar. Me fazia lembrar de quando eu era menina e meu
papai estava sempre doente. As crianças deviam andar sempre
nas pontas dos pés em casa, para não despertá-lo. Agora tudo
isso tornava a acontecer. Sentia-me terrivelmente culpada. Isso
será a única coisa que meu filho lembrará de sua mãe, pensava.
Doente, na cama, atrás de uma porta fechada. Será que esse
horror vai continuar de geração em geração? Então começaram
a acontecer coisas. Tudo começou com uma carta de minha
irmã mais nova, que soube que minha doença era terminal e me
sugeriu que lesse o livro de Kathryn Kuhlman, Creio em
milagres. Dois dias depois, eu estava na cama, ouvindo um
programa em uma rádio local, e escutei o anúncio de uma
convenção da Associação Internacional de Homens de Negócios
do Evangelho Pleno, que aconteceria no Hotel Hilton de
Washington. O anúncio não teve grande importância para mim,
até que ouvi o nome de Kathryn Kuhlman. Ela falaria em uma
reunião vespertina da convenção. Era estranho que escutasse
esse nome duas vezes seguidas em uma semana. Deus ainda
não tinha terminado. Na manhã seguinte, Pat Vandeventer veio
me ver. "Jo, vamos à Convenção de Homens de Negócios do
Evangelho Pleno. Kathryn Kuhlman vai falar lá na quintafeira à
tarde."
Três vezes seguidas em uma semana não podiam ser
coincidência. Entretanto, resisti. "Sinto muito, Pat, mas não me
convence o fato de uma mulher pregando", respondi. "Pensei
que fosse mais aberta", sorriu Pat, com os olhos brilhantes.
"Você não é aberta, é batista." Foi um golpe no meu ponto fraco,
e eu soube que ela tinha razão. Eu estava julgando essa mulher,
apoiada em que não tinha visto seu nome impresso em
nenhuma publicação de nossa Convenção Batista do Sul. Eu lia
todas elas, e nunca tinha visto seu nome em nenhuma delas. Até
duvidava se seria do Senhor, já que os batistas do Sul pareciam
não reconhecê-la. Olhei para Pat. "Está bem, tem razão. Meu
coração tem tanta fome da plenitude do Espírito como o seu. E
se podemos aprender algo a respeito de Deus de alguém que
não seja batista do Sul, estou preparada." Pat foi me buscar na
quarta-feira de noite e cruzamos a cidade até chegar ao Hilton,
na noite de abertura da convenção. Eu tinha estado em muitas,
muitas reuniões batistas, desde reuniões de associações até as
imensas convenções anuais. Mas esta não era como nenhuma
outra reunião que já houvesse freqüentado. As palavras-chaves
eram a alegria e a liberdade. Mais de três mil pessoas estavam
sentadas ali, no luxuoso salão, e todas pareciam estalar de
gozo. Jamais tinha visto tantos rostos sorridentes.
Imediatamente suspeitei de algo. Nas reuniões batistas que eu
havia freqüentado, ninguém sorria assim. Na verdade, não
sorriam assim nem em nossa igreja. Eu havia trazido um
gravador para poder captar tudo o que o orador pudesse dizer,
mas não tinha adiantado nada. O homem sentado à minha frente
estava tão feliz que ficou o tempo todo falando ao mesmo tempo
que o orador. A cada frase, esse homem respondia gritando:
"Louvado seja o Senhor!" ou "Obrigado, Jesus". Eu tinha
escutado alguns "Amém" no Baylor, e nos cultos do seminário,
mas nunca nada como isto. Estava irritada. "Por que não se
cala?", protestei intimamente. Saí da reunião muito confusa.
Seria real tudo isso? Toda essa gente era genuinamente feliz, ou
eram simplesmente desequilibrados mentais? Quanto a mim,
sentia que estava se aproximando uma enxaqueca, e pedi a Pat
que fosse mais rápido. Ao despertar ao dia seguinte, a
enxaqueca continuava me incomodando. O psiquiatra me havia
prescrito uma série de drogas, um comprimido a cada trinta
minutos durante três horas. As drogas me reviravam
terrivelmente o estômago, mas acalmavam a dor de cabeça.
Quando tomava o quinto comprimido, a dor já se estava
acalmando, mas
tinha que ficar de cama por causa de meu estômago. Sabia que
Pat teria que ir sozinha à reunião de Kathryn Kuhlman. Mas
dessa vez foi diferente. Era estranho, mas a dor de cabeça
desapareceu, e meu corpo parecia mais forte do que antes.
Depois de tudo, poderia ir ao culto de milagres. Nesse ano
Walter era presidente da Conferência de Pastores Batistas de
Washington D.C. Nesse dia teriam um almoço. Pouco antes do
meio-dia, Walter me ligou para saber como estava. Contei-lhe
que Pat e eu iríamos ao culto de Katrhyn Kuhlman. Walter sorriu
maliciosamente. "Vários pastores da cidade estão pensando em
ir", disse. "A maioria são curiosos, e é capaz de levantarem as
lapelas de seus casacos para esconder o rosto, para que
ninguém os reconheça." Eu não tive coragem de lhe contar que
acabara de pegar meu grande chapéu de pele, que podia
abaixar as abas até me cobrirem as orelhas, e que pensava em
usá-lo, para que ninguém me reconhecesse também. Foi uma
tarde verdadeiramente estranha. Chegamos ao hotel uma hora e
meia atrasadas, mas encontramos um lugar para estacionar bem
em frente... sem nos apercebermos de que todos os lugares
para estacionar estavam ocupados em um raio de quatro
quadras ao redor. Aceleramos rumo ao salão, que estava lotado
de gente, esperando encontrar assentos perto da saída, onde
pudéssemos nos sentar e observar. Quando já pensávamos que
teríamos que ficar de pé junto à porta, duas senhoras que
estavam perto da primeira fila se levantaram e deixaram seus
assentos vazios. Pat e eu nos sentamos quase imediatamente.
Meu chapéu estava enfiado o mais baixo possível na cabeça.
Mal conseguia espiar algo de debaixo da aba. Kathryn Kuhlman
estava falando. Havia uma quietude tão dinâmica na sala que eu
quase podia escutar os batimentos de meu coração. Sua voz era
suave, tão suave que algumas vezes não conseguia distinguir o
que dizia. Tinha que me esforçar para escutar cada palavra. Não
estava dizendo nada novo nem diferente. Tudo o que ela dizia,
eu já tinha escutado Walter dizer umas cem vezes do púlpito de
nossa igreja. Mas havia um espírito diferente nela e nesse lugar.
As pessoas tinham vindo esperando algo, e ela falava com
autoridade. Embora isso tenha me comovido profundamente, eu
continuava sendo cética. Havia uma garotinha cega sentada
atrás de mim, e comecei a orar por ela. "Senhor, toque essa
garotinha." Senti que meus olhos fechados se enchiam de
lágrimas. Repentinamente todos nos pusemos de pé e Kathryn
Kuhlman começou a cantar: Senhor, eu recebo. Senhor, eu
recebo.
Todas as coisas são possíveis; Senhor, eu recebo. "Levante
seus braços", dizia ela. "Levante seus braços e receba o Espírito
Santo." Levantar meus braços? De repente voltei a ser uma
esposa de pastor batista do Sul, muito decorosa. O que
aconteceria se alguém me visse? E se algum pastor batista
amigo do Walter me visse? Algum membro de nossa igreja? Mas
não pude evitar. Minhas mãos já estavam levantadas, e era
como se estivessem sendo puxadas por fios para cima. Para
cima, para cima... eu não podia controlá-las. Sentia como se
estivessem me esticando até que tivesse que ficar nas pontas
dos pés. Nunca tinha me esticado tanto nem tinha chegado tão
alto. Quando minhas mãos já estavam completamente
levantadas, senti que as palmas se viravam para cima e, ao
mesmo tempo, minha cabeça caía. Nunca havia sentido tal
humildade em toda minha vida. Esqueci por completo de mim
mesma, de quem era, de onde estava, e só sabia que Deus
estava me tocando literalmente, fisicamente. Senti como se me
estivessem derramando água morna da cabeça aos pés. Então
escutei uma voz que vinha do corredor. "Oh, Deus, sua glória
sobre esta." Era Kathryn Kuhlman. Eu nem tinha percebido que
ela havia descido da plataforma. Ela tocou meu pulso muito
suavemente. Me senti totalmente sem peso. Parecia que estava
flutuado no espaço e dando voltas ao redor do teto nos braços
de Jesus. Um homem, atrás de mim dizia: "me deixe ajudá-la a
levantar-se". Mas eu o ignorei, ao mesmo tempo que me
perguntava o que esse homem estava fazendo no teto, comigo.
Eu só queria ficar onde estava, mas ele não queria ir. Sua voz
ressoava em meus ouvidos. "Me deixe ajudá-la a levantar-se.
Me deixe ajudá-la a levantar-se." Pensei: "O que ele quer dizer
com "levantar-se"? Não posso ir mais acima do que estou, aqui
no teto. Finalmente abri os olhos. Estava estendida de costas no
corredor, com as mãos esticadas para cima. Meus lábios
repetiam seguidamente: "Louvado seja o Senhor! Louvado seja
o Senhor!" Não me importava quem me visse ou me escutasse.
A caminho de casa, Pat e eu revivemos cada momento da
reunião. Em nenhum momento me ocorreu que pudesse ter sido
curada. De qualquer modo, não tinha ido por isso. Só o que
sabia era que Deus me havia tocado e que no mais íntimo de
mim, eu era diferente agora. "Melhor não contar a nossos
maridos." disse Pat. "Acho que não compreenderiam."
Concordei. Mas eu sabia que em algum momento que Deus
prepararia, Walter estaria disposto a escutar e compreender.
O momento chegou uma semana depois. Walter tinha se
levantado cedo para participar de um café da manhã de pastores
com um evangelista batista, o doutor Paul Rader. Também
estaria lá o doutor George Schuler, autor de Overshadowed.*
Walter, como presidente da Conferência de Pastores, seria o
moderador. Nesse sábado dormi quase até o meio-dia e fui
despertada pelo toque do telefone. Quando Walter chegou, eu
estava sentada a um lado da cama, falando ao telefone. Olhei
para ele, quando entrou no quarto. Ele fez uma pausa e saiu.
Mas continuou entrando e saindo, até que finalmente me
interrompeu. "Quando terminar de falar ao telefone, tenho algo
que quero lhe contar." Walter nunca me interrompia assim, por
isso compreendi que precisava falar comigo... e logo. De modo
que cortei a comunicação e quase o levei aos empurrões à
cozinha. Nos sentamos à mesa e esperei, impaciente, que ele
começasse a falar. "Preciso compartilhar algo com você", disse.
"Esta manhã aconteceu algo." Tentava falar, mas percebi que
estava explodindo por dentro. Nunca o tinha visto assim. Walter
era sólido, estável, muito confiável. Raramente mostrava alguma
emoção. Mas agora, cada vez que abria a boca para falar, seus
olhos se enchiam de lágrimas. Finalmente estendeu o braço,
pegou minha mão, e ficou ali sentado, olhando através da janela
da cozinha, esperando que suas emoções se acalmassem.
Finalmente, quando pôde falar, começou a fazê-lo lentamente,
fazendo longas pausas entre as frases, lutando para controlar a
voz. "O salão estava cheio de pastores", disse suavemente, "e o
presidente do comitê de planejamento da campanha estava
falando. Então entrou esse homem alto, de cabelo branco, o
doutor Schuler. Tinha o cabelo parecendo crina, muito
desordenado, lhe rodeando a cabeça como um halo. Mas havia
algo mais nele... como uma aura, um halo. Todos os pastores
deixaram de falar quando ele entrou. Produziu-se um silêncio
absoluto. Todos e cada um de nós soubemos que o Espírito
Santo tinha entrado com esse homem. Finalmente, eu levantei a
voz e falei: "por que não nos ajoelhamos e oramos?"
"Imediatamente, todos nós caímos de joelhos. Não sei o que
estava acontecendo. Foi como se algo na atmosfera daquele
lugar nos obrigasse a adorar. Nunca tinha sentido a presença de
Deus com um poder tão avassalador." Walter deixou de falar.
Era óbvio que ainda estava profundamente comovido pela
experiência. Era minha vez. Com a maior suavidade possível,
contei-lhe o que me havia acontecido uma semana antes. Ele
ficou sentado, me escutando solenemente e em silêncio. Eu
continuei falando, lhe contando como as mulheres do grupo
tinham orado, lhe