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A NATUREZA DO ESPAÇO E DO TEMPO

Resumo. Pretende-se com este trabalho divulgar as principais ideias e princi-


pios fı́sicos da Teoria de Gravidade Quântica de Loops e analisar as mudanças
que esta impõe sobre a nossa usual interpretação da natureza do Espaço e do
Tempo.

Agradecimentos

Professor Alfredo Barbosa Henriques


Professor José Sande e Lemos

1 - O que é o Espaço ? O que é o Tempo? - Ideias Clássicas

2 - Breve exposição das principais ideias e conceitos da relatividade geral; Espaço-


Tempo dinâmico; Comparação das equações de Newton com as de Einstein

3 - Carácter não determinista da Mecânica Quântica. Escala de Planck. Dificul-


dades na conjugação com a Relatividade Geral ; Ideia de Gravitação Quântica

4 - Teorias Perturbativas/Não-Perturbativas

5 -Dependência/independência do Fundo

6 - Gravidade Quântica - A ideia dos Loops

7 - Redes e Espumas de Spin - A Natureza do Espaço-Tempo

9 - Aplicações da teoria - Modelos Cosmológicos e Singularidades

10 - Outras teorias candidatas à gravitação quântica - T wistor Theory,Geometria


não-comutativa e M -Theory

1
2 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

1. O que é o Espaço ? O que é o Tempo? - Ideias Clássicas


“Os materiais tem apenas propriedades espaciais mas não uma capacidade ine-
rente de existência Temporal. É Deus que recria um corpo, em cada instante, numa
acção contı́nua” - René Descartes

“O Tempo é algo que existe, independentemente do movimento, mesmo desde a


Criação do Universo por Deus”- I saac B arrow

“Espaço e o tempo são o pano de fundo de todos os acontecimentos e existem


independentemente destes. Não são substâncias materiais” - N ewton

“O tempo não existe independentemente dos acontecimentos. É uma ordenação


deste” - Leibniz

“Não é possı́vel ter uma percepção directa do tempo mas apenas a capacidade
de experimentar nele acontecimentos. O Espaço fisico é Euclideano” - K ant

“O intervalo de tempo entre dois acontecimentos depende dos observadores. Não


existem referenciais absolutos” -E instein

1.1. Tempo Relativo e Tempo Absoluto.


Numa visão Newtoniana, o tempo existe independentemente dos acontecimentos
que nele ocorrem. Serve apenas de pano de fundo. No entanto cada acontecimento
é definido pela sua posição especial, num dado valor de tempo. Na relatividade,
o espaço e o tempo unem-se formando uma entidade denominada espaço-tempo
sobre a qual as quantidades são invariantes. Cada acontecimento continua a ser
identificado pela sua posição nesta entidade.

2. Breve exposição das principais ideias e conceitos da relatividade


geral; Espaço-Tempo dinâmico, Comparação das equações de
N ewton com as de E instein

2.1. Equações da Gravitação de Newton.


Suponha-se um potencial gravı́tico denominado V,numa região do espaço com
simetria esférica e um sistema de coordenadas radial. Este potencial, tal como
apresentado na formulação newtoniana, é igual a GM
r sendo ~r o vector posição, M
a massa que origina o campo e G a Constante de Gravitação Universal de Newton.
Temos então que dV ~
dr = φ representa o valor do campo gravitacional em cada ponto
do espaço considerado. Tendo em conta a definição de V tomada:

dV ~ = d ( GM ) = − GM e~r
(2.1) =φ
dr dr r r2

Pode-se ainda calcular o variação deste vector em ordem à distância radial r, dr .
Seja A esta quantidade.
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 3

Figura 1

dφ d GM 2GM 2G 34 πr3 ρ 8πG


(2.2) A= = (− 2 ) = 3
= = ρ
dr dr r r r3 3
Demonstra-se assim que a variação do campo gravitico depende da densidade do
corpo que origina o campo.

Suponha-se agora um outro sistema de coordenadas, ortonormado, Oxyz, e um


corpo de massa M na origem do referencial. Tem-se que o vector campo gravitico
terá agora componentes sobre cada uma das direcções e tem-se a igualdade r =
p
x2 + y 2 + z 2q
. Numa notação mais compacta, ponha-se x1 = x;x2 = y;x3 = z; e
P3 i
obtém-se r = 1x .

Calculando as componentes do campo gravı́tico sobre cada uma das direcções xi

∂V ∂ GM GM xi
(2.3) φi = = ( qP )=−
∂xi ∂xi 3 r3
1 xi
Repetindo o cálculo da variação do vector campo gravı́tico, mas agora em relação
a cada uma das componentes, tem-se que:

∂φi ∂ ∂V ∂ GM xi GM 3xi xj
(2.4) = ( ) = −Aij = (− 3
) = 3 (1 − )
∂xj ∂xj ∂xi ∂xj r r r2
Pela demonstração feita acima para o referencial radial e considerando uma den-
sidade de matéria para cada componente xj

GM 3xi xj 8πG
(2.5) Aij = − 3
(1 − 2
)e~j = ρj
r r 3
A entidade Aij é um tensor, denominado tensor de maré, pois descreve a forma
como um corpo e a sua forma são afectadas pelos diferentes valores do campo
gravı́tico, de ponto para ponto. Tal como mostrado na imagem, um corpo pode ser
dilatado ou contraı́do, perdendo a sua morfologia inicial.
4 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

D
D C
?
C
?
@
~
φ A @B -
 C
 C
? @
? ? A CB
@C C? ?
C 
? C 
C
CC


2.2. A Métrica e o Espaço-Tempo na Relatividade Geral.


Quer para Newton, quer para Einstein, a continuidade do Espaço e do Tempo
nem sequer era posta em causa. Einstein começou por estudar simplesmente os
movimentos uniformes, ou referenciais Inerciais, assumindo de forma axiomática
a invariância da velocidade da luz e o principio de que as leis da fı́sica deve ser
as mesmas para todos os observadores em referenciais inerciais. Chegou a uma
formulação de algum modo similar à equação de Poisson, da gravitação newtoniana,
na qual a fonte do campo gravitico é a densidade de máteria.

(2.6) Gij = kTij


8πG
sendo k = c3

Gij é o tensor de Einstein, formado apartir do Tensor de Riemann ( que contem


informações sobre a curvatura) e da métrica e Tab o tensor energia-da-matéria.

1 8πG
(2.7) Gij = Rij − gij R = 3 Tij
2 c
No segundo membro da equação, Tij substitui o parâmetro ρ da densidade (Ten-
sor Energia-da-Matéria) da equação de Newton. Tij contém informação acerca da
densidade de Matéria e Energia num dado Local do Espaço-Tempo.

Começaremos primeiro pelo lado esquerdo da equação procurando explicar, de


forma nao muito detalhada, os pormenores geométricos da equação e a relação
alcançada por Einstein.

Considere-se uma superficie bidimensional “contı́nua” mergulhada num espaço


tridimensional. Esta analogia é, no entanto, arriscada pois o Espaço-Tempo não se
encontra mergulhado em nada e é uma superficie quadridimensional. A Teoria está
formulada de forma a que não seja necessária tal suposição mas assumiremos, para
uma maior clareza, esta hipótese. Cada ponto dessa superficie poderá ser dado por
um vector posição do espaço tridimensional.
 
x1
(2.8) xα =  x2 
x3
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 5

Figura 2

Tal como a trajéctoria unidimensional de uma particula pode ser descrita por
um vector posição em função do tempo, uma vez que a superficie é bidimensional,
será dada em função de dois parâmetros, u e v (que mais tarde serão identificados),
e teremos xα (u, v)
Pode-se assim determinar um vector que seja tangente a essa superfı́cie num
ponto xα . Tal vector será dado por dxα que se obtém derivando parcialmente em
relação a cada um dos parâmetros.

∂xα ∂xα
(2.9) dxα = du + dv
∂u ∂v
Temos então que os vectores ∂x ∂xα
∂u = e~u e ∂v = e~v são linearmente independentes,
α

pois dependem de parâmetros diferentes. Desta forma, podem constituir uma base
para o conjunto dos vectores tangentes à superfı́cie no ponto xα , denominado Espaço
Tangente.

Se considerarmos agora um vector ds ~ neste espaço tangente, de módulo infini-


tamente pequeno e sem especificar, por enquanto, nenhum produto interno sobre
~ é dado como combinação linear dos vectores de base
este espaço, ds

2
X
(2.10) ~ = due~u + dv e~v =
ds dxi e~i
1
Sem perda de generalidade

2
X 2
X 2
X 2
X
(2.11) ~ 2 = ds2 =<
||ds|| dxi e~i , dxj e~j >= dxi dxj < e~i , e~j >
1 1 1 1
onde < e~i , e~j >= gij . Esta matriz (neste caso de ordem 2x2 pois trata-se de
uma superficie bidimensional) representa a métrica, que no fundo traduz o produto
interno utilizado neste espaço.

   2 X
2
2 g11 g12 du X
gij dxi dxj = gij dxi dxj

(2.12) ds = du dv =
g21 g22 dv
1 1
6 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

O engenho de Einstein surge mais uma vez aqui. Considerando que esta superfı́cie
de que temos vindo a falar é o Espaço-Tempo e os parâmetros (u,v) são as coorde-
nadas de um acontecimento (x,t), temos que em cada ponto, ou seja, localmente,
podemos encontrar um plano tangente (ou Espaço Tangente) que é Euclideano pois
está dotado de um produto interno, em que os referenciais são inerciais e podemos
aplicar a relatividade restrita.

Concluindo, a equação de Einstein relaciona a densidade energética com a geome-


tria do Espaço-Tempo. A ideia de espaço absoluto e tempo absoluto sem qualquer
género de dinâmica é abandonada e substituı́da por uma outra noção em que o
espaço e tempo são deformados ou afectados pela energia (deformados no sentido
em que as distâncias não são fixas. Variam de ponto para ponto com a energia)

Para cada ponto, em função da densidade energética, será encontrada uma


métrica gij que define o produto interno e portanto uma diferente noção de distância.

Surge ainda algo ainda mais inovador: os efeitos gravitacionais e campos gravi-
ticos, não são mais do que “deformações” do Espaço-Tempo em que uma particula
menor é atraı́da para outra de massa superior, não por qualqer tipo de força ou
mecanismo à distância, mas porque a energia dessa particula deforma o espaço-
tempo em seu redor, que acaba por adquirir uma geometria curva. A particula
menor limita-se a cair, seguindo o caminho mais curto (a geodésica) nessa curva.

Esta Equação é em alguns aspectos análoga à formulada em cima para a gra-


vitação Newtonina. Pode-se fazer uma analogia entre o tensor de Efeito de Maré e
o Tensor de Einstein

8πG
(2.13) Aij = ρ
3

8πG
(2.14) Gij = Tij
c3

Uma vez que para Einstein a deformação do espaço-tempo é a gravidade, a forma


como a geometria deste se altera é a forma como o campo gravitico varia de ponto
para ponto. Na primeira equação supõem-se apenas variações espaciais enquanto
que na equação de einstein encara-se o tempo não apenas como um parâmetro de
medida mas como uma dimensão adicional. O termo c2 surge da incorporação
na relatividade restrita do axioma de que a velocidade da luz é uma constante
universal. Finalmente, a densidade de matéria é substituı́da por um tensor que
contém informações relativas às densidades de energia e de matéria, incorporando
a relação de que a massa é um estado de Energia (E = mc2 ). Poder-se-ia, para
uma melhor percepção, imaginar uma imagem análoga à mostrada acima e a sua
deformação num espaço de 4 dimensões.
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 7

3. Carácter não determinista da Mecânica Quântica. Escala de


Planck. Dificuldades na conjugação com a Relatividade Geral
3.1. Fundamentos da Teoria.
Desde a antiguidade até ao século XX que, primeiramente os filósofos, e poste-
riormente os fı́sicos, ponderaram a hipótese da matéria ter uma estrutura discreta,
isto é, granular. No inı́cio do século XX foi finalmente provado que a matéria não
é infinitamente divisı́vel mas sim que existem estruturas básicas que a constituem
- os átomos. Com o estudo desses átomos, percebeu-se que seriam feitos de outras
particulas que actualmente se julgam ser fundamentais (quarks e electrões). Para
explicar a fı́sica a esse nı́vel e as suas relações com a fisica das radiações desenvolveu-
se a Mecânica Quântica, em que a energia de um fotão se encontra quantificada em
múltiplos da sua frequência (E = hν) e as particulas têm propriedades ondulatórias
Chegou-se, portanto, à conclusão de que as partı́culas podem ser estudadas como
ondas e existem quantidades minimas no Universo.

3.2. Função de Onda.


Esta função Ψ(xi , t) pode-se indentificar como a base de toda a Mecânica Quântica.
De uma forma simples, esta função fornece a probabilidade de uma partı́cula se en-
contrar numa dada posição no espaço xi , num dado valor de tempo t, incorporando
o princı́pio da Incerteza de Heinsenberg, segundo o qual é impossı́vel determinar
com elevada precisão o momento e a posição de uma partı́cula. O aumento de
precisão na medição da velocidade conduz obrigatoriamente a uma imprecisão na
medição da sua posição e vice-versa (3.1).

(3.1) ∆xi ∆pi ' h

3.3. Escala De Planck.


A quantificação da Energia conduziu a uma discretização de todos os parâmetros
que normalmente são utilizados nas medições fı́sicas. Surgem quantidades mı́nimas
de distância lp e tempo tp , deduzidas apartir do Raio de Compton e do Raio de
Schwarzschild.

r
hG
(3.2) lplanck =
c3

r
hG
(3.3) tplanck =
c5
Todos os parâmetros resultam da utilização de ideias provenientes da relativi-
dade e da Mecânica Quântica e obtêm-se apenas por recorrência às três constantes
fundamentais na Natureza até agora descobertas. Podemos considerá-los também
como fundamentais. A introdução destas entidades conduz-nos a um novo limite:
Nenhum comprimento ou intervalo de tempo poderá ser mais pequeno que a sua
unidade de Planck.
8 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

4. Teorias Perturbativas/Não-Perturbativas
Por vezes existem equações que não podem ser resolvidas de forma directa, ou
seja, não é possı́vel encontrar formas lineares de encontrar as suas soluções ou até de
provar que matematicamente existe uma consistência geral. Em vez de enveredar
pelo difı́cil caminho de procurar as soluções exactas assume-se algo acerca da sua
natureza que permita uma aproximação. A estes processos chamamos perturbati-
vos. De uma forma mais concisa, uma teoria perturbativa é uma teoria onde alguns
dos fenómenos são interpretados em termos de pequenas oscilações (perturbações)
em torno de um estado estável a partir do qual se podem efectuar cálculos.

Um caso clássico da aplicação das aproximações perturbativas é a electrodinâmica


quântica (QED), uma teoria que relaciona os fenómenos eléctricos e visuais (fotões)
com processo quânticos. Esta teoria possui um pequeno parâmetro denominado
constante de estrutura fina que é dado (em unidades do sistema internacional) por:

e2 1
(4.1) α= ∼
4π0 ~c 137
Nesta equação, 0 é a constante dieléctrica do vácuo.
Generalizando, como α é um valor reduzido, para qualquer T (α) com significado
fı́sico é possı́vel expandir o seu valor numa série de potencias dadas por:

(4.2) T (α) = T0 α0 + T1 α1 + T2 α2 + ...


de forma a que se obtenha uma boa aproximação para o valor desejado através
da soma dos primeiros termos da série.

Esta aproximação de “teoria perturbativa” como anteriormente mencionado, tem


sido a forma como se têm estudado as teorias de supercordas (superstrings) até
bem recentemente. O problema reside no desconhecimento dos valores para os
parâmetros de expansão não havendo, portanto, nenhuma razão para admitir que
estes sejam pequenos.
A teoria de gravidade quântica de loops (Loop Quantum Gravity) tem por base
uma formulação não-perturbativa, isto é, não toma como válidas e aplicáveis as
aproximações efectuadas por perturbação. Ao invés, as bases da teoria assentam
na tentativa de uma quantização do espaço-tempo não-perturbativa.

5. Dependência/Independência do Fundo
A (in)dependência do fundo (background ) está relacionada com a forma como
se interpreta o espaço-tempo. Classicamente, na mecânica newtoniana, as di-
mensões espaciais nem sequer estavam ligadas ao tempo, facto constatável pelas
transformações de Galileu, onde o tempo era um parâmetro absoluto.
Com o aparecimento da Relatividade Restrita, no inı́cio do século XX, compreendeu-
se, no entanto, que o espaço e o tempo formavam um só tecido ao qual se passou a
chamar Espaço-Tempo devido à sua indissociabilidade, facto, por sua vez, eviden-
ciado nas transformações de Lorentz. A métrica de Minkowski surge da passagem
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 9

para 3+1 em vez das usuais três dimensões espaciais. Segundo a teoria da gra-
vitação de Einstein, o espaço-tempo é na realidade o campo gravitacional. É a par-
tir deste ponto que residem as mais marcantes diferenças nos candidatos a teorias
de gravitação quântica actuais. Posto de forma simples, o conceito de dependência
ou independência do fundo pode ser analisado recorrendo ao conceito de métrica.
O procedimento consiste na divisão da métrica em duas componentes, uma delas
própria do espaço e outra que ”contém”a informação relativa ao campo gravı́tico.

(5.1) gij = ηijf undo + hij


Os desenvolvimentos efectuados em teorias de supercordas são baseados na pre-
missa de que o espaço-tempo é regular e plano, isto é, utilizam apenas um espaço
dotado da métrica de Minkowski criado como consequência da relatividade restrita
e tratam à parte o o campo gravitico*.

 
1 0 0 0
 0 −1 0 0 
(5.2) gij = ηijf undo =
 0 0 −1 0 

0 0 0 −1
A teoria de campo clássica (QFT) consegue simplesmente unir as conclusões da
relatividade restrita aos fenómenos explicados pela mecânica quântica e portanto
assume esta métrica para o espaço -tempo. Todavia, se há uma lição importante a
retirar da teoria da relatividade geral de Einstein é a de que o espaço, na sua gene-
ralidade, não é plano mas sim curvo, sendo esta é a única forma de o compreender.
A gravidade é, efectivamente, geometria e a relatividade geral fornece as equações
para o cálculo de como a geometria do espaço-tempo (e portanto a métrica) é afec-
tada pela massa dos corpos. Uma vez que a geometria, per se, é dinâmica, seria de
esperar que uma teoria satisfatória de gravitação quântica fosse igualmente livre de
uma métrica de fundo.

Teorias que assumam uma métrica própria do espaço ηijf undo , imutável e fixa
- caracterı́sticas de um espaço-tempo não relativista - são dependentes do fundo
(background dependent). Pelo contrário, teorias (como a LQG) que compreendem
a ausência de métrica de fundo, tratando as duas componentes η e h como um
todo, e cujas equações consideram as variações da geometria do espaço-tempo como
meras acções dinâmicas causadas pela matéria são ditas independentes do fundo
(background independent ou background free).

6. Gravidade Quântica - A ideia dos Loops


As várias tentativas de explicação dos fenómenos gravı́ticos a um nı́vel quântico
têm-se revelado um fracasso. O tratamento normalmente utilizado consiste em
estudar o Espaço-Tempo, e portanto a gravitação, como uma entidade geométrica
contı́nua (variedade) sobre a qual ocorrem as interacções quânticas (dependentes
do fundo).
Só como exemplo,na década de 60, Wheeler e DeWitt chegariam a uma equação
que se considera ser a base da gravitação quântica (equação de Wheeler-DeWitt):
10 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

1 δ δ
(6.1) ((~G2 )qab qcd − qac qbd − det qR [q])ψ(q) = 0
2 δqac δqbd
que é a equação principal da gravitação quântica e para a qual existem algumas
soluções conhecidas. Esta equação contém elementos variáveis de métrica e a função
de onda de Schrödinger.

Tal como a hipótese da estrutura contı́nua da matéria foi substituı́da por uma
configuração granular, podemos eventualmente discutir a mesma possibilidade para
a estrutura do Espaço-Tempo. Até aqui, em todas as ideias que apresentámos,
assumimos axiomaticamente a continuidade desta estrutura, sem ponderarmos as
consequências deste axioma.

Partindo do principio básico da relatividade geral de que o Espaço-Tempo tem


uma geometria dinâmica e assumindo que uma eventual teoria de gravidade quântica,
não poderia de modo alguem depender de um espaço-tempo fixo, o fı́sico indiano
Abhay Ashtekar efectuou uma reformulação das equações de campo de Einstein
usando o que mais tarde viria a ser reconhecido como as variáveis de Ashte-
kar.Tentou formular a teoria assumindo o Espaço-Tempo não como uma variedade
contı́nua, mas discreta, chegando a uma quantificação da Geometria Riemanniana
(Geometria Quântica). Assim, através das já referidas teorias da medida, Ashtekar
conseguiu estabelecer os princı́pios básicos para uma eventual quantização da gra-
vidade. Uma vez que as formulações de Ashtekar eram independentes do fundo foi
possı́vel a aplicação de loops de Wilson (o que deu um teor não-perturbativo à teo-
ria). Na década de 90 foram obtidos resultados que permitiram uma generalização
do conceito de loops através do qual era possı́vel efectuar cálculos considerando
intersecções entre diversos loops. Os resultados mostravam que esses loops e as
suas interacções poderia ser estudados como objectos matemáticos denominados
redes de spin (spin networks) desenvolvidos por Roger Penrose baseada em teoria
de grafos (em meados do século XX). O estudo destes Loops não depende da sua
posição face ao espaço em que se encontra mas apenas face aos outros loops. Uma
estrutura de Loops poderá ser melhor entendida como um grafo que é uma estrutura
matemática em que são estabelecidas relações entre os seus vários elementos, sendo
cada um desses elementos um nó. A posição de cada elemento é apenas importante
face á posição de outro elemento e das conexões entre os elementos.

j
H j
J
@ 

j
A j
B @ 
@ @ 
@j
C j
M @j
I j
E

C
@
@ C
@ C
j
K
@CCFj

Os loops de Wilson ou holonomias, nos quais se baseou a ideia de gravidade


quântica de loops, não são mais de que uma invariância de transformações ao nı́vel
das teorias de medida (gauge theories). Estas teorias de medida são uma classe da
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 11

fı́sica que se baseia na ideia de que, tanto localmente como globalmente, é possı́vel
estabelecer transformações simétricas (daı́ se explica que haja uma covariância geral
ou difeomorfismo invariante na LQG assim como na relatividade geral).

7. Redes e Espumas de Spin - A Natureza do Espaço-Tempo


O estudo da Teoria da Gravidade Quântica de Loops desenvolveu-se conceptual-
mente com base na estrutura das redes de Spin.
Como resultado da quantificação da geometria, surgem entidades discretas mı́nimas
(relacionadas com os já referidos tplanck e lplanck ). Tal como a noção de compri-
mento de Planck, a teoria sugere a existência de uma quantidade geométrica funda-
mental para os possı́veis Volumes e Áreas. Estes estão também quantificados como
múltiplos de um volume e área fundamental. Tal como na Mecânica Quântica, a
energia de um fotão pode apenas existir em múltiplos de uma constante fundamen-
tal (constante de Planck), e o espectro de emissão dos átomos são descontı́nuos,
também todos os volumes e áreas possı́veis de considerar podem ser vistas como
quantidades bem definidas, múltiplas de um Volume de Planck Vplanck e de uma
área de planck Aplanck múltipla do comprimento de Planck quadrado.
Xp
2
(7.1) aj = 8πγlplanck jI (jI + 1)

Figura 3
Poderı́amos assim ser levados a pensar que o espaço é formado por pequenos
cubos ou esferas com o volume de planck embora tal não aconteça de forma tão
simples de acordo com a LQG. Para perceber esta ideia, pensemos na representação
de um cubo tridimensional. Nesta analogia podemos representar o volume do cubo
como um nódulo ou nó, pelo qual passam 6 linhas, cada uma representando as
faces do cubo. A cada nódulo e a cada linha podemos associar um número que
especifique o volume (associado ao nódulo) e a área definida pela linha. A junção
de várias figuras poderia ser representada por uma rede de nós e linhas em que
cada nó representaria o volume da figura e as conexões entre cada volume de cada
figura seriam estabelecida pelas linhas.
12 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

Figura 4

Figura 5

Figura 6

Em cada rede de Spin (spin network ), os nódulos representam, portanto, um


volume de Planck e as linhas, uma área da mesma unidade. São assim possı́veis
de considerar estruturas mais complexas, formadas por uma rede com vários nós
(volumes) e linhas (áreas).
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 13

Figura 7

A quantificação da geometria do espaço torna-se evidente. Cada Volume e cada


Área são múltiplos de quantidades mı́nimas relacionadas com o comprimento fun-
damental.

Esta anologia permite-nos perceber como podem ser descritos os estados quânticos
associados a uma rede de Spin. Cada um dos possı́veis grafos, ou redes de Spin
representa um estado quântico ou, inversamente, cada estado quântico é represen-
tado por uma Rede de Spin que é definida pela forma como os seus elementos se
conectam entre si e com os elementos vizinhos. Obtemos, assim, uma representação
simplificada para todos os estados quânticos possı́veis do espaço, muito mais geral
que a representação poliédrica. Uma estrutura poliédrica pode ser representada
por uma rede de spin, mas nem todas as redes de spin representam combinações de
volumes e áreas possı́veis de ser consideradas como poliedros. A figura 8 representa
umas dessas possı́veis combinações.

Figura 8
14 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

As redes de Spin devem ser tratadas tridimensionalmente pois tratam-se de


relações e ligações entre volumes e áreas. No entanto elas não existem em locais
especı́ficos no espaço. Não podemos visualizá-las como entidades separadas mas
como sendo o próprio espaço.Tudo o que existe são linhas (áreas de planck) e nós
(volumes de planck) e as suas conexões definem o espaço e a sua geometria. Sendo a
gravidade a distorção do Espaço-Tempo, temos que a distorção destas redes nos dá
uma teoria de gravidade a nı́vel quântico. Estas redes não são, no entanto, idênticas
a diagramas de Feynman que representam interacções quânticas entre partı́culas,
de um estado quântico para outro. As redes correspondem a estados quânticos
fixos de volumes e áreas do espaço. A teoria não sugere um limite máximo para o
tamanho e complexidade de uma rede de Spin. Uma representação detalhada do
Universo conhecido numa rede de Spins poderia ter mais de 10184 nós.
Na representação das redes de Spin, a matéria existe apenas em certos tipos de
nós (ou volumes) representados pela adição de rótulos. Os diferentes campos de
forças são representados pela adição de rótulos às linhas da rede. As distribuições
da matéria e dos diferentes campos pela rede é feita pelo movimento dos respectivos
rótulos, em passos discretos.
Para além da evolução das distribuições de partı́culas e campos na rede e uma
vez que a relatividade geral explica que a geometria do espaço evolui no tempo
pela acção da matéria, a movimentação desta provoca uma alteração da geometria
da Rede de Spin. Contrariamente às ideias da relativade geral, em que os efeitos
gravı́ticos se propagam em ondas no Espaço-Tempo contı́nuo, na Teoria da Gra-
vidade Quântica de Loops, estes processos estão quantificados e são representados
por mudanças de conectividade dos nódulos das redes de Spin.

Figura 9

A evolução das Redes de Spin gera, portanto, uma evolução da configuração


do espaço. Se o estudo destas redes for feito introduzindo mais uma dimensão,
passamos a ter estruturas designadas por Espumas de Spin (SpinFoams) que são
uma actualização do conceito de Espaço-Tempo. Cada nó é agora uma linha e
cada linha da rede de Spin torna-se num plano nesta estrutura. Os nós destas
novas estruturas representam os pontos em que a configuração das redes se altera,
havendo mudanças de conexões.
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 15

Figura 10

Tal como na relatividade é possı́vel fazer foliações do Espaço-Tempo, também


em Teoria de Gravidade Quântica de Loops são possı́veis as mesmas foliações das
Espumas de Spin sendo cada uma dada por diferentes redes de Spin que caracte-
rizam a estrutura espacial nesse instante. Não podemos, no entanto, pensar que o
fluido temporal é continuo apesar das espumas de Spin o serem. Tal como o espaço
é definido pela estrutura discreta da rede, o tempo é definido pela sequência de
alterações e movimentos discretos que reorganizam a rede. Desta forma, o tempo é
discreto e a sua fluência é quantificada em intervalos do valor do tempo de Planck.
Assim, e de acordo com a relatividade geral, o tempo pode fluir diferentemente
de local para local, dependendo do fluxo de matéria e dos campos, que alteram as
conexões e a estrutura da rede.

Figura 11

A figura representa a evolução de um local do Espaço-tempo. Nas três primeiras


configurações, apesar de as distâncias serem diferentes, a estrutura espacial resul-
tante é a mesma. Apenas na quarta configuração, quando ocorrem mudanças ao
nı́vel das conexões dos nós, é que se obtém uma nova estrutura espacial. O Estudo
das Espumas de Spin centra-se, portanto, no estudo das conexões e da sua evolução.
16 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

8. Aplicações da teoria - Modelos Cosmológicos e singularidades


Os maiores sucessos, ate à data, da Gravidade Quântica de Loops passam pela
mais viável quantização não-perturbativa do Espaço-Tempo com operadores de área
e de volume estabelecidos, o que lhe permite um nı́vel de rigor próprio da fı́sica
matemática; e pelos artifı́cios matemáticos relativos a singularidades. Desta forma,
as aplicações mais naturais para a LQG são a cosmologia do universo primordial
e a fı́sica de buracos negros, áreas nas quais alguns desenvolvimentos têm sido
atingidos.

Factos como a quantização da geometria têm efeitos de maior ordem na dinâmica


do universo inicial. Verifica-se, por exemplo, que no big bang o universo não possui
um comportamento de singularidade e que a evolução cosmológica é discreta, ou
seja, tomando o tempo como discreto - sendo a menor base possı́vel o tempo de
Planck - obtém-se uma quantização do tempo cosmológico.

Ao nı́vel da termodinâmica da buracos negros chegou-se ao resultado de que a


área seria dada por:

ln 2 k
(8.1) SBH = √ A
λ4π 3 ~G

Nesta equação λ é o parâmetro de Immirzi-Barbero que mede a tamanho de um


quantum de área, sendo neste caso expresso por:

ln 2
(8.2) λ= √
π 3

Substituindo em 8.1 chega-se à conclusão que:

kA
(8.3) SBH =
4~G
Este resultado é igual às deduções efectuadas por Bekenstein e Hawking, cerca
de 30 anos antes, a partir das quais se chegou à conclusão de que o valor da entropia
de um buraco negro era dada por:

k
(8.4) SBH = a A
~G
em que:

1
(8.5) a=
4
A LQG reproduz, portanto, um resultado coerente com as equações já previa-
mente conhecidas para os cálculos termodinâmicos de buracos negros, indicando que
a teoria mantém alguma consistência. O valor do parâmetro de Immirzi encontra-se
actualmente fixo podendo ser utilizado para os diversos tipos de buracos negros.
A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO 17

9. Outras teorias candidatas à gravitação quântica - Twistor


Theory, Geometria não-comutativa e M-Theory
O problema da gravitação quântica é o Santo Graal da Fı́sica. Supõe-se que
uma união da Relatividade Geral com os princı́pios da mecânica quântica dariam
origem a uma teoria que explicasse, por fim, o universo com uma série de postulados
nos quais estariam implı́citas as “equações finais”. Além da teoria de Gravidade
Quântica de Loops (que inicialmente não era uma tentativa de unificação da fı́sica),
existem teorias que possuem precisamente o mesmo objectivo. Algumas dessas
teorias como a Twistor Theory, Geometria não-comutativa e a M-Theory são pro-
vavelmente as mais conhecidas.

9.1. Twistor Theory.

A Twistor Theory é uma criação original de Roger Penrose, matemático britânico


que trabalha neste campo há mais de 30 anos. Na Twistor Theory há uma refor-
mulação radical da descrição geométrica do espaço-tempo, sendo um twistor um par
que dá as coordenadas do espaço de Minkowksi pelo uso de números complexos.
De forma semelhante à LQG, baseia-se também nas redes de spin (inventadas pelo
próprio Penrose) e na ideia de que o espaço-tempo altera a sua geometria através
das equaçoes dadas por Einstein.

9.2. Geometria não-comutativa.

A Geometria não-comutativa é essencialmente uma teoria matemática que pre-


tende efectuar uma generalização de todas as geometrias (e daı́ acreditar-se que
seja possı́vel uma generalização para uma “geometria quântica”). A ideia principal
é tratar os objectos não-comutativos como se pertencessem a espaços igualmente
não-comutativos (embora estes não existam realmente). A gama de áreas em que
se baseia é muito vasta passando por diversas álgebras e ramos como topologia e
teoria de grupos.

9.3. M-Theory.

A Teoria-M (ou M-Theory) é uma teoria resultante da união de 5 diferente


géneros de teorias de supercordas (teorias baseadas no conceito de supersimetria em
que a cada bosão corresponde um fermião e vice-versa) com um modelo matemático
de 11 dimensões. As teorias de supercordas baseiam-se essencialmente em processos
não-perturbativos e são dependentes do fundo. A grande conquista destas teorias
foi a determinação da entropia dos buracos negros (à semelhança da LQG) não
havendo, no entanto, qualquer prova da existência das dimensoes-extra previstas
ou da supersimetria esperada.
18 A NATUREZA DO ESPAÇO-TEMPO

Recursos Bibliográficos

Abhay Ashtekar- “Beyond Space and Time” - New Scientist 17 May 1997

Abhay Ashtekar- arXiv:gr-qc/0404018 v1 3 Sep 2004 : “Background Indepen-


dent Quantum Gravity: A Status Report”

Abhay Ashtekar- arXiv:gr-qc/0410054 v1 19 Oct 2004 : “Gravity and Quantum”

Lee Smolin - “Átomos de Espaço e Tempo” , Scientific American Brasil, Feve-


reiro de 2004

Abhay Ashtekar- arXiv:gr-qc/0112038 v1 17 Dec 2001 : “Quantum Geometry


and Gravity: Recent Advances”

Carlo Rovelli - “Quantum Gravity” - draft versão 30 Dezembro 2003 http://www.cpt.univ-


mrs.fr/∼rovelli/book.pdf

Lee Smolin -arXiv:hep-th/0303185 v2 11 Apr 2003 “How far are we from the
quantum theory of gravity”

Lee Smolin - “Three Roads to Quantum Gravity” - Basic Books 2001

Carlo Rovelli “Loop Quantum Gravity” http://relativity.livingreviews.org/Articles/lrr-


1998-1/

Carlo Rovelli - arxiv:hep-th/0310077 v2 12 Oct 2003 “A Dialog on Quantum


Gravity”

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