Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
net/publication/323870925
CITATIONS READS
0 321
2 authors, including:
Emerson Rasera
Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
67 PUBLICATIONS 187 CITATIONS
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Difusão do construcionismo social entre terapeutas familiares: desafios e potencialidades. View project
The dissemination of social constructionist discourse among family therapists: challenges and potentialities View project
All content following this page was uploaded by Emerson Rasera on 20 March 2018.
Resumo
A terapia de casal tradicionalmente restringiu seu interesse pela linguagem
verbal, considerando pouco outras formas linguísticas. A fim de investigar alter-
nativas terapêuticas, este estudo buscou compreender os processos relacionais de
coconstrução de sentidos mediante a criação de desenhos na clínica de casal. Me-
todologicamente os dados foram coletados usando a vídeo-gravação de três casais
em atendimento terapêutico. A análise dos dados, fundamentada na poética social,
incluiu as transcrições de todas as sessões, seguidas de sua leitura, que possibilitou
a identificação de diferentes usos do desenho, caracterizados como forma de: (a)
promover a conversa inviabilizada pela tensão; (b) sinalizar o foco e a seleção da
conversa; (c) explorar o ainda não-dito na conversa; (d) fortalecer descrições e
narrativas na conversa e (e) sintetizar o processo avaliatório. A conclusão foi que
o desenho consiste em uma nova linguagem que, incorporada à usual, permitirá a
aprendizagem de novos gestos e a produção de novos sentidos.
Palavras-chave: desenho; terapia de casal; poética social.
Abstract
Couple therapy has traditionally restricted its interest to verbal language,
giving little consideration to other linguistic forms. In order to investigate alter-
native therapeutics, the present study sought to further understand the relational
processes of co-construction of meaning through the creation of drawings, in the
clinical setting. Methodologically, the data were collected using video recordings
of three couples. Data analysis, grounded in social poetics, included the transcripts
Resumen
Terapia de pareja tradicionalmente restringida su interés por los recursos del
lenguaje verbal, dando muy poca consideración a otras formas lingüísticas. En un
intento por investigar las alternativas terapéuticas, este estudio ha tratado de com-
prender los procesos relacionales de co-construcción de significado a través de la
creación del dibujo en la clínica de la pareja. Metodológicamente la recolección de
datos se llevó a cabo a través de grabaciones de video de tres tratamientos terapéu-
ticos. El análisis de datos, basado en la poética sociales, incluido las transcripciones
de todas las sesiones, seguidas por las lecturas que permitieron la identificación de
los diferentes usos del dibujo, que se caracteriza por ser una forma de: (a) promover
la conversación frustrada por la tensión; (b) señalar el enfoque y la selección de
la conversación; (c) explorar la aún no dicho en la conversación; (d) fortalecer las
descripciones y narraciones en la conversación y (e) sintetizar el proceso evaluativo.
La conclusión fue que el dibujo consiste en un nuevo lenguaje, que cuando se in-
corporen a la habitual, permite el aprendizaje de nuevos gestos y la producción de
nuevos significados.
Palabras clave: dibujos; terapia de pareja; poética social.
Introdução
O casal, sob o ponto de vista pós-moderno, poderia ser descrito como uma
estrutura microssocial que, co-habitada por duas pessoas compartilhantes de suas
histórias e suas culturas próprias, é constituída mediante ação conjunta, a partir
da qual negociam sentidos de si e da relação. A construção de sentidos está dispo-
nível a partir do uso da linguagem, articulada nas relações dialógicas, sendo por
meio delas que as pessoas mantêm descrições de si, as quais dão acesso a determi-
nadas interações conversacionais e restringem outras e, mais que isso, geram con-
sequências imediatas para o fluxo conversacional (Bakhtin, 2010; Shotter, 2010).
Objetivo
Metodologia
Pressupostos teóricos
Contexto e participantes
assim como entre o pesquisador e seu corpus (Guanaes, & Japur, 2008), e (c)
a análise descritiva do processo conversacional envolvendo a produção criativa
que assim se desenvolveu: (c1) seleção dos momentos marcantes relativos aos
sentidos do problema e de si entre os cônjuges; (c2) identificação de trechos das
sessões que ilustram esse processo conversacional nas narrativas de mudança; (c3)
descrição dos processos de construção de sentidos; e (c4) análise do lugar do de-
senho no processo de construção de sentido. Essa análise possibilitou identificar
cinco categorias do uso do desenho, assim como os momentos marcantes vividos
pelo casal e pelo terapeuta no processo terapêutico, com vistas a compreender os
processos dialógicos a partir dos quais a terapia emergiu como um contexto de
construção de sentidos de si e da relação conjugal.
Resultados e discussão
A leitura do desenho feita por Écio resgatou uma conversa de duas ses-
sões anteriores que dizia respeito a sua dificuldade em manter-se livre dentro do
casamento. Tema este que o deixava dividido, posto sentir-se sempre convidado
a aceitar o convite de reviver a liberdade dos tempos de solteiro. A partir daí,
Écio produziu sentidos novos sobre o que, de forma limitadora, até então havia
concebido como liberdade. Bia discutiu, a partir da produção de seu desenho, a
possibilidade de viver algo melhor, que lhe parecia existir de alguma forma, mas
que ela ainda não conseguia acessar. A linguagem do desenho disponibilizou
recursos dialógicos sobre o tema da separação, menos ameaçadores, até então
inexistente na vida do casal.
A partir daí, veio à tona a insatisfação de Carla sobre a compra de uma casa
que planejavam juntos, mas não tinham um acordo claro sobre tal projeto. Situa-
ção esta promotora de muitas brigas que levavam Carla a pensar em “ir embora”.
Diante dessa constatação, a conversa adquiriu um tom mais comprometido e
sério a respeito dos temas que trouxeram o casal à terapia e Carla dedicou atenção
à possibilidade que via da separação do casal em um futuro próximo.
A partir do desenho, Dany conta que, às vezes, ficava revoltada por estar
passando por essa situação e se questionava se merecia isso. Durante a conversa,
Dany entendeu que participou ou contribuiu para que isso ocorresse quando
aceitou a situação, uma vez que poderia ter recusado conviver com as histórias da
vida de solteiro de Ciro, as quais não lhe diziam respeito. Ciro afirma não mais
se interessar por essas histórias e Dany dá vida a elas, trazendo-as para o presente
e para o meio da relação do casal. Assim, ela devolve Ciro para o passado e não
consegue vê-lo como é no presente, ao lado dela. Dany declara não ser feliz assim
e que, embora deseje mudar isso em sua vida, não consegue se livrar da situação.
Ciro relata que até aquele momento não imaginava que ela se maltratava por cau-
sa do passado que pertence a ele. Dany admitiu que o problema existia somente
para ela, possivelmente em decorrência de sua insegurança.
para que não caia no vazio, necessita fortalecimento substancial a partir de recur-
sos criativos que possibilitem ao casal uma construção comprometida com suas
potencialidades.
O uso do desenho como exercício nutridor de discursos mais construtivos
pode viabilizar um olhar mais atento para o desarme das armadilhas das narrativas
adotadas como imutáveis e, portanto, definitivas na vida conjugal. A linguagem
do desenho adquire um caráter reflexivo sobre a manutenção de tais narrativas,
potencializando assim entendimentos alternativos acerca do vivido como proble-
ma na interação conjugal. A autoria do desenho é produtora de uma linguagem
nova e criativa em seu contexto. Assim, por meio de seu uso, o autor legitima a
sua própria narrativa. A partir daí o desenho torna-se um registro gráfico-criativo
legitimador e fortalecedor do discurso alternativo, com possibilidades de novas
narrativas. Os desenhos descritos a seguir representam a utilização considerada.
O desenho abriu espaço para que falassem sobre o afeto de forma menos
reticente ou ameaçadora, uma vez que legitimaram que Écio era menos dado a ca-
rícias que Bia. Tais características pessoais sempre se tornavam pauta de discussões
regadas a argumentos defensivos por parte de ambos os cônjuges.
Considerações finais
Referências
Anderson, H. (2007). O cliente é o especialista: uma abordagem para terapia a partir de uma
posição de não saber. Nova Perspectiva Sistêmica, 27, 66-81.
Anderson, H. (2009). Conversação, linguagem e possibilidades: um enfoque pós-moderno da tera-
pia. (M. G. Armando, Trad.). São Paulo: Roca. (Obra original publicada em 1970)
Anderson, H., & Goolishian, H. A. (1996). Narrativas e self: alguns dilemas pós-modernos
da psicoterapia. In Schnitman, D. F. (Org.), Novos paradigmas, cultura e subjetividade (p.
191-199). (J. H. Rodrigues, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Bakhtin, M. M. (1986). Speech genres and other late essays. (AV. W. McGee, Trans.). Austin:
University of Texas.
Bakhtin, M. M. (2010). Problemas com a poética de Dostoievski (5ª ed.). (P. Bezerra Trad.). Rio
de Janeiro: Forense Universitária.
Colombo, S. F. (2012). Como ouvimos nossas crianças? In Cruz, H. M. (Org.), Me aprende?
– Construindo lugares seguros para crianças e seus cuidadores (p. 111-127). São Paulo: Roca.
Cunliffe, A. L. (2002). Social poetics as management inquiry: a dialogical approach. Journal
of Management Inquiry, 11, 128-146.
Epston, D., Freeman, J., & Lobovits, D. (2001). Terapia narrativa para niños: aproximación a
los conflictos familiares a través del juego. Buenos Aires: Paidós.
Grandesso, M. (2000). Sobre a reconstrução do significado: uma análise espistemológica e herme-
nêutica da prática clínica. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Grubits, S., Tardivo, L. S. L.P. C., Bonfin, T, et al. (2012). Semelhanças e diferenças nos dese-
nhos de crianças indígenas brasileiras. Avaliação Psicológica, 11(3), 461-474.
Guanaes, C. (2006). A construção social da mudança em terapia de grupo: um enfoque constru-
cionista social. São Paulo: Vetor.
Guanaes, C. (2009). Reflexões teóricas. Nova Perspectiva Sistêmica, 34, 40-44.
Guanaes, C., & Japur, M. (2008). Contribuições da poética social à pesquisa em psicoterapia
de grupo. Estudos de Psicologia, 13, 117-124.
Juras, M. M., & Costa, L. F. (2011). O divórcio destrutivo na perspectiva de filhos com menos
de 12 anos. Estilos da Clínica, 16(1), 222-245.
Kjellberg, E. (2002). Pintura de paisagens como uma forma de expressar-se e comunicar-se
em situações críticas – a uma forma de criar espaço para o diálogo nas crises familiares.
Pensando Famílias, 4(4), 104-126.
Lima, R. C. P., Colus, F. A. M., Gonini, F. A. C., et al. (2008). Qualidade e saudosismo: repre-
sentações sociais de pais sobre a escola. Psicologia da Educação, 27(2), 31-51.
Malchiodi, C. A. (2001) Using drawing as intervention with traumatized children. Trauma
and loss: research and interwntions, 1(1). Recuperado em 23 jul. 2013 de <http://www.
tlcinst.org/drawingintervention.html>.
Neuber, L. M. B., Do Valle, T. G. M., & Palamin, M. E. G. (2008). O adolescente e a defi-
ciência auditiva: as relações familiares retratadas no teste do desenho em cores da família.
Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, 18(3), 321-338.
Peres, R. S. (2002). Tão longe, tão perto: andarilhos de estrada e a vivência do distanciamento
familiar. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, 3(2), 6-13.
Rasera, E. F., & Japur, M. (2007). Grupo como construção social: aproximações entre construcio-
nismo social e a terapia de grupo. São Paulo: Vetor.
Riley, S. (2001). Art therapy with adolescents. Western Journal of Medicine, 175(1), 54-57.
Rober, P. (2002). Some hypotheses about hesitations and their nonverbal expression. Journal
of Family Therapy, 24, 187-204.
Rober, P. (2009). Relational drawings in couple therapy. Family Process, 48(1), 117-133.
Rober, P., Larner, G., & Paré, D. (2004). The client’s nonverbal utterances, creative understan-
ding & the therapist’s inner conversation. In Strong T., & Paré, D. (Eds.), Furthering talk:
advances in the discursive therapies (p. 109-123) USA: Springer.
Sá, M. C. N. (2002). Um estudo sobre os cuidadores familiares de pacientes internados com
doenças hematológicas. PSIC – Revista de Psicologia da Vetor Editora, 3(1), 124-141.
Santos, M. A., Raspantini, R. L., Silva, L. A. M., et al. (2003). Dos laços de sangue aos laços
de ternura: o processo de construção da parentalidade nos pais adotivos. PSIC – Revista de
Psicologia da Vetor Editora, 4(1), 14-21.
Santos, B. C. A., Ribeiro, M. C. C., Ukita, G. M., et al. (2010). Características emocionais e
traços de personalidade em crianças institucionalizadas e não institucionalizadas. Boletim
de Psicologia, 60(133), 139-152.
Schneider, M. S., & Ramires, V. R. R. (2011). As especificidades do padrão de apego de meni-
nos: estudo de casos múltiplos. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano,
21(2), 296-306.
Shotter, J. (1996). Living in a Wittgensteinian world: beyond theory to a poetics of practices.
Journal for the Theory of Social Behaviour, 26(3), 293-311.
Shotter, J. (1998). Social constructionism and social poetics: Oliver Sacks and the case of Dr.
P. In Bayer, B. M. &, Shotter, J. (Eds.), Reconstructing the psychological subject: bodies, prac-
tices and technologies (p. 33-51). London: Sage.
Shotter, J. (2008). Conversational realities revisited: life, language, body and world (2ª ed.).
Changrin Falls: Taos Institute Publications. (First published by Sage Publications, London,
1993)
Shotter, J. (2010). Social construction on the edge: “withness”-thinking and embodiment. Chan-
grin Falls: Taos Institute Publications.
Shotter, J. (2012). Dialogando. In Cruz, H. M. (Org.), Me aprende? – Construindo lugares
seguros para crianças e seus cuidadores (p. 104-107). São Paulo: Roca.
Shotter, J., & Katz, A. M. (1996). Articulating a practice from within the practice itself: esta-
blishing formative dialogues by the use of a “social poetics”. Concepts and Transformation,
1, 213-237.
Souza, A. M. D. R. (2009). Perspectiva social e projetiva das representações gráficas da família
em crianças paraenses. Revista do NUFEN, 1(1), 120-139.
Souza, O. R. (2005). Longevidade com criatividade: arteterapia com idosos. Belo Horizonte:
Armazém de Idéias.
Vieira, C. M., Costa, J. M., Caminha, M. F. C., et al. (2012). Escutando contos, desenhando
a vida: arteterapia em enfermarias pediátricas de um Hospital de Ensino de Alta Comple-
xidade em Pernambuco – IMIP. Revista SBPH, 15(2), 46-64.
Wagner, A. & Féres-Carneiro, T. (2000). O recasamento e a representação gráfica da família.
Temas psicologia da SBP, 13(1), 11-19.
Wilson, J. (2012). A arte de brincar? Características de orientação para o profissional que
trabalha com crianças e família. In Cruz, H. M. (Org.), Me aprende? – Construindo lugares
seguros para crianças e seus cuidadores (p. 91-109). São Paulo: Roca.