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Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe

Associação de Ensino e Pesquisa “Graccho Cardoso”


Autorizada a funcionar por intermédio da Portaria Ministerial nº 2.246 de 19/12/1997
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DISCENTE : Luciana Lima Wanderley


CURSO : Bacharelado em Direito PERÍODO : 2018
DISCIPLINA : Trabalho de Conclusão de Curso I

FICHAMENTO Nº 01
REFERÊNCIA:
HOLLANDA, Cristina Buarque de. Direitos humanos e democracia: A experiência das comissões da
verdade no Brasil. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 33, n. 96, e339610, p. 1-18, mar. 2018.

Pg. Citação Comentário


‘Os direitos humanos chegaram aqui porque eram uma Em sua gênese, os direitos humanos
categoria neutra’, afirmou uma importante militante pela eram restritos a uma inconsistente
igualdade racial na África do Sul em entrevista à autora proteção a pessoas, no tocante a práticas
deste artigo. O mundo que ela observava era o da transição por parte de agentes do Estado. Restritos
do apartheid para a democracia, apoiada em uma delicada porque – e não obstante mantenham-se
arquitetura institucional que manejava setores em ascensão na “letra” –, atualmente, novas
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e declínio políticos. Em meio a uma sociedade exigências foram somadas a esse âmbito
profundamente dividida por décadas de segregação racial, do Direito, que, não raro, compõe a
nascia um consenso mínimo em torno da ideia de que fundamentação do trabalho de juristas e
agentes do Estado não podiam matar, torturar, sequestrar de operadores do direito.
ou desaparecer com pessoas. Era apenas isso que
demandavam os direitos humanos, afinal.
Entre os vetores de disseminação e normalização de Resta evidente que, na contramão das
políticas e discursos de direitos humanos estão os funestas consequências das guerras e de
mecanismos da chamada justiça de transição, um campo regimes autoritários, a justiça de
que combina reflexão e intervenção pública em ambientes transição, analogamente à função de
marcados pelo legado de violências passadas, cometidas uma ponte, viabiliza e facilita a
em contextos de guerra ou regimes autoritários. Consta concretização de políticas públicas
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que a expressão “justiça em tempos de transição” tenha embasadas nos direitos humanos.
sido usada pela primeira vez pela argentina Ruti Teitel, em
1992, para tratar dos modos de articulação entre direito e
política em processos de estabilização institucional –
normalmente, em democracias recém-estabelecidas
(KRITZ, 2004).
No Brasil, a criação da Comissão Nacional da Verdade Diferentemente da CNV
(CNV), em dezembro de 2011, não escapou à diretriz da caracteristicamente imparcial, nas
imparcialidade ou do ‘desapaixonamento’. O mesmo não esferas legislativas estaduais e
se pode dizer, contudo, sobre as comissões subnacionais da municipais, no Brasil, distinguem-se
verdade. Mais próximas do ponto de vista das ‘vítimas’,5 estruturas motivadas pela perspectiva
elas se disseminaram no país após o lançamento da CNV, passional das vítimas, menores e
3 vinculadas a governos e legislativos estaduais e municipais independentes, criadas por sindicatos,
por leis, decretos e resoluções. No domínio extraestatal, universidades e associações
foram criadas por sindicatos, universidades e associações profissionais. O repertório idealizado de
profissionais. A expansão ultrapassou, portanto, a participantes adequou as bases da CNV
iniciativa da CNV, que, em seu relatório final, publicado a ideais mais concretos e imediatos das
em dezembro de 2014, sequer foi capaz de identificar o comissões de estados, municípios,
número exato de comissões dedicadas à “busca da universidades e sindicatos vizinhos.
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Faculdade de Administração e Negócios de Sergipe
Associação de Ensino e Pesquisa “Graccho Cardoso”
Autorizada a funcionar por intermédio da Portaria Ministerial nº 2.246 de 19/12/1997
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verdade”, limitando-se a uma estimativa: elas somariam, Houve, portanto, o aumento


naquela altura, cerca de cem em todo país. Tal dificuldade significativo no número de comissões
deveu-se à notável vitalidade do fenômeno, que contou que buscavam a “busca da verdade”,
com o lastro significativo de movimentos de familiares e porém, não há dados exatos.
militantes envolvidos, desde longa data, com as pautas de
memória, verdade e justiça.6 Vigoroso entre os anos de
2012 e 2016, esse movimento de proliferação de
comissões da verdade – que eu passo a designar
comissionismo – teve seus andamento e diretrizes apenas
em parte acompanhados pela CNV. Ela conviveu com
estruturas semelhantes de menor porte, independentes e
incentivadas por processos locais de sugestão-imitação, e
se extinguiu antes que o ânimo expansivo arrefecesse. O
repertório imaginativo de comissionários combinou
referências metodológicas e modelares à CNV com
horizontes mais palpáveis e imediatos das comissões de
estados, municípios, universidades e sindicatos vizinhos.
Se a narrativa de imobilismo social e político é tomada Com base na pesquisa em que
como verdadeira, o observador da cena contemporânea entrevistou presidentes e outras pessoas
teria poucas pistas para compreender o fenômeno do relevantes da CNV e de dez comissões
comissionismo e poderia tender a uma descrição em chave estaduais da verdade no Brasil,
espontaneísta, concebendo-o como uma súbita e totalizando quinze comissões e cerca de
generalizada tomada de consciência, sem atenção aos 140 comissionários (considerando-se
acúmulos históricos que compõem as suas bases. Nas falas apenas os níveis federal e estadual),
de comissionários, contudo, as representações sobre os dentre outras análises, a autora destaca a
grupos de militância dedicados a pautas da ditadura importância de considerar alguma
6
contrastam fortemente com a chave da letargia cívica diferença entre suposições, memórias e
atribuída à população em geral. A luta de familiares de verdade. Vítimas indiretas, familiares de
desaparecidos e ex-perseguidos políticos, objeto de alusões desaparecidos e ex-perseguidos políticos
reiteradas, teria desaguado no presente engajado das fornecem, através de memórias, as
comissões. Tal como descritas pelos comissionários, elas verdades indispensáveis para as
seriam a encarnação de virtualidades contidas na história, comissões de verdade. Todavia, tais
resultado de acúmulos paulatinos e passíveis de memórias não condizem com a chave da
antecipação e compreensão pelo exame do passado. letargia cívica atribuída à população em
geral.

Aracaju, XX de outubro de 2018

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