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Rio Grande
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG
Reitora
CLEUZA MARIA SOBRAL DIAS
Vice-Reitor
DANILO GIROLDO
Chefe de Gabinete
DENISE MARIA VARELLA MARTINEZ
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
DANIEL PORCIÚNCULA PRADO
Pró-Reitor de Planejamento e Administração
MOZART TAVARES MARTINS FILHO
Pró-Reitor de Infraestrutura
MARCOS ANTONIO SATTE DE AMARANTE
Pró-Reitor de Graduação
RENATO DURO DIAS
Pró-Reitora de Assuntos Estudantis
DAIANE TEIXEIRA GAUTÉRIO
Pró-Reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas
LÚCIA DE FÁTIMA SOCOOWSKI DE ANELLO
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação
EDUARDO RESENDE SECCHI
ISBN: 978-85-7566-461-2
CDU 37:613.88
Catalogação na Publicação: Simone Godinho Maisonave – CRB-10/1733
Projeto Gráfico: Zél Seibt / Capa: Lidiane Dutra com base em vetor Freepik /
Diagramação: Erik Pohlmann
Impressão: Gráfica da FURG. Tiragem: 1000 exemplares.
SUMÁRIO
Apresentação ................................................................................7
Paula Regina Costa Ribeiro e Joanalira Corpes Magalhães
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Extrapolaria os propósitos deste artigo ingressar nas complexidades das
discussões sobre o conceito ideologia. Cabe observar que, antes que
eclodissem as polêmicas e os enfrentamos que aqui se procura
problematizar, o conceito sociológico “ideologia de gênero” já tinha sido
elaborado, com o intuito de permitir identificar, compreender e criticar os
processos de naturalização das relações de gênero, a subordinação das
mulheres, a assimetria de poder e de acesso aos recursos por parte das
mulheres em relação aos homens. De acordo com tal entendimento, são
manifestações de ideologias de gênero o machismo, o sexismo, a
misoginia, a homofobia, assim como esta polêmica empreendida pelo
Vaticano contra o “gender” e a “teoria/ideologia do gender”.
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A gênese do sintagma
Em reação às discussões ocorridas para a aprovação dos
documentos da Conferência Internacional sobre População, no
Cairo, em 1994, e da Conferência Mundial sobre as Mulheres,
em Pequim, no ano seguinte, dezenas de “especialistas” foram
convocados pelo Vaticano para pôr em marcha uma
contraofensiva para reafirmar a doutrina católica e a
naturalização da ordem sexual.
Em 1994, Christina Hoff Sommers, ensaísta
antifeminista, professora de Filosofia da Clark University,
publicou o livro Who Stole Feminism? How Women Have
Betrayed Women, com o apoio do think tank da direita norte-
americana. Nele, ela atacou o que chamou de Gender Feminism:
uma ideologia de feministas que, em vez de buscar a conquista
de igualdade de direitos entre homens e mulheres, passou a
antagonizar desigualdades históricas baseadas no gênero,
falando em patriarcado, hegemonia masculina, sistema sexo-
gênero etc. O livro teve grande circulação e repercussão.
Não por acaso, na ocasião das conferências da ONU, a
expressão cunhada por Sommers foi retomada por Dale
O’Leary, jornalista e escritora norte-americana, ligada à Opus
Dei, representante do lobby católico Family Research Council e
da National Association for Research & Therapy of
Homosexuality, que promove terapias reparadoras da
homossexualidade. Entre suas publicações mais importantes
está o livro The Gender-Agenda: redefining equality (1997). Ela
mantém o blog What Does the Research Really Say?, com
artigosem defesa da moralidade e da família tradicional.
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Tradução disponível no portal do Vaticano.
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É importante lembrar que tal teologia encontrou uma de suas mais
nítidas formulações na Carta de João Paulo II às Famílias, Gratissimam
Sane, de 2 de fevereiro de 1994, o Ano da Família. Ela postula que as
disposições da mulher – em primeiro lugar, o amor materno – são naturais
e derivam diretamente da sua específica anatomia, e de seu corpo deriva
também a sua “particular psicologia”. Diferentemente do que postulava a
doutrina tradicional da Igreja, agora a mulher deixa de ser representada
como subordinada ao homem e torna-se sua complementar. Diferente,
mas igual em dignidade. A centralidade dessa Teologia se manteve intacta
nas décadas seguintes, e seus elementos podem ser facilmente
encontrados nos pronunciamentos das autoridades eclesiásticas sobre o
tema (JOÃO PAULO II, 1994).
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São exemplos de países em que têm ocorrido campanhas contra a
“teoria/ideologia de gênero”: França, Itália, Espanha, Portugal, Alemanha,
Bélgica, Polônia, Croácia, Eslovênia, Eslováquia, Lituânia, Finlândia,
Estados Unidos, Canadá, Argentina, Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia, Peru,
Equador, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Guatemala, México, Porto
Rico, República Dominicana, Austrália, Nova Zelândia, Taiwan, entre
outros. Especialmente na África e Ásia, tematizações contra o gender têm
ficado mais a cargo de autoridades religiosas nacionais ou estrangeiras do
que de um ativismo local.
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Referências
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Comisión Episcopal de Apostolado Laical, Conferencia Episcopal
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2015.
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Sugestões de leitura
AQUINO, Renata. O que se fala quando se fala sobre “ideologia de
gênero”. Professores contra o Escola Sem Partido, 3 jun 2016.
Disponível em: <goo.gl/C5yKz3>. Acesso em: 5 jun. 2016.
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preconceito. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
DINIZ, Débora. Kit-polêmica. O Estado de São Paulo, Caderno
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Deputados. In: ENCONTRO da Associação Brasileira de Ciência
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LIONÇO, Tatiana. “Ideologia de gênero”: emergência de uma
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Forum, São Paulo,27 set. 2014. Disponível em: <goo.gl/CBEJ3I>.
Acesso em: 31 set. 2014.
LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da
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MATEO, Luíza R. A direita cristã e a política externa norte-
americana durante a administração W. Bush. In: ENCONTRO
Nacional ABRI, 3. São Paulo, 2011. Disponível em:
<goo.gl/kDmVmD>. Acesso em: 22 set. 2016.
MELO, Demian. “Escola sem partido” ou escola com “partido
único”? Blog de Junho, 13 out. 2015. Disponível em:
<goo.gl/wcx1It>. Acesso em: 20 out. 2015.
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