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Refere-se ao Art. de mesmo nome, 12(2), 13-22, 2002 Rev. Bras.

OPlNIAO / ATIJALJCZAÇÃO
Cresc. Des. Hum. S. Paulo, 12(2), 2002
OPINlON / CURIRENT COMENTS

VOCABULÁRIO EXPRESSIVO DE CRIANÇAS ENTRE 22 E 36


MESES: ESTUDO EXPLORATÓRIO

EXPRESSIVE VOCABULARY OF CHILDREN FROM TWENTY-TWO


TO THIRTY-SIX MONTHS OF AGE: AN EXPLORATORY STUDY

Márcia Regina Marcondes Pedromônico 1


Luciana Aparecida Affonso 2
Adriana Sañudo 3

PEDROMÔNICO, M. R. M.; AFFONSO, L. A.; SAÑUDO, A. Vocabulário expressivo de crianças


entre 22 e 36 meses: estudo exploratório. Rev. Bras. Cresc. Desenv. Hum., São Paulo, 12 (2),
2002.

Resumo: O objetivo deste estudo foi descrever o vocabulário expressivo de uma amostra de
crianças entre 22 e 36 meses, inseridas no Programa de Puericultura do Centro de Saúde de Vila
Mariana (SP), por meio de entrevista com o cuidador primário. Para tanto, foram entrevistadas
mães de 3() crianças, sendo 17 (57%) do sexo masculino e 13 (43%) do sexo feminino, e destas
15 entre 22 e 28 meses e 15 entre 29 e 36 meses. Utilizamos a Lista de Avaliação de Vocabulário
Expressivo LAVE - (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997), sob a forma de entrevista com a
mãe de cada criança. Foram calculadas medidas descritivas e empregada para tratamento esta-
tístico a ANOVA. As crianças da amostra fadaram em média 195 palavras, sendo 3 crianças
consideradas de risco para atraso de emissão. As crianças do sexo feminino produziram ao
redor de 43 palavras e 2 palavras por frase a mais do que as crianças do sexo masculino. Verifi-
camos que houve um acréscimo estatisticamente significativo no vocabulário de acordo com o
aumento da faixa etária, independente do sexo. As categorias mais faladas por crianças da faixa
etar^la estudada foram Pessoa.s, Partes do Corpo, Ações, Casa e Objetos. Com isto pôde-se
concluir que é possível caracterizar o vocabulário e detectar crianças de risco para atrasos de
emissão através de informações dos pais.

Palavras-chave: avaliação de linguagem; vocabulário expressivo; LAVE; triagem.

INTRODUÇÃO proposta enfatizando em vários países, inclusive


no Brasil (PEREIRA et al., 1993; PEDRO-
O fato de pesquisas das últimas décadas MÔNICO et al., 1998) do acompanhamento, por
apontarem para capacidades perceptuais e de longo prazo, do desenvolvimento de recém-nas-
aprendizagem no recém-nascido humano promo- cidos prematuros de peso inferior a 2000 gramas.
veu a ênfase no acompanhamento multiprofissio- As causas biológicas decorrentes de riscos pré e
nal do desenvolvimento da criança, visando ga- peri-natal são responsáveis por 10% da etiologia
rantir a interferência neste processo quando da dos diferentes níveis de gravidade do retardo men-
suspeita de atrasos ou desvios. Exemplo disto é a tal (DSM IV, 1994). No entanto, as causas am-

1 Psicóloga. Doutora em Distúrbios da Comun icação Humana pela Universidade Federal dc São Paulo. Prot`essora Ad junta da
Disciplina de Disturbios da Comunicação Humana. Chefe do Setor de Desenvolvimento do Comportamento da Intancia e da
Adolescência da Disciplina de Distúrbios da Comunicação Humana da UNIFESP. Endereço para correspondência: Rua Afonso
Celso, 575 apto 301. CEP: 04119-002. Vila Mariana São Paulo. E-mailmnarciadch.otor(ãepm.br
2 Fonoaudióloga. Especializada em Fonoaudiologia com ênfase em Psiquiatria Int‘antil pela Universidade de São Paulo. Especiali-
zada em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP.
3 Estatistica. Mestre em Estatistica pela Universidade de São Paulo. Professora da Disciplina de Bioestatistica da UNIFESP.

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bientais encontram-se entre aqueles fatores que RESCORLA desenvolveu a IDS (Langua-
podem restringir ou promover condições de ma- ge Development Survey) objetivando identificar
nutenção da saúde do desenvolvimento da crian- atrasos na população geral de crianças de 02 anos
ça, mesmo na ausência de riscos biológicos (De de idade. A LDS se propõe a pesquisar a lingua-
ANDRACA et al., 1998). Além disto, RUTTER gem emissiva, não sendo designada para acossar
E SROUFE (2000) e SAMEROFF et al. (1987) a linguagem receptiva, por ser considerada mais
afirmaram que a combinação de fatores de risco difícil a obtenção de dados acurados da mãe so-
influencia mais nos atrasos no desenvolvimento bre a compreensão de seu filho. Tal questionário
do que um fator isolado, e que os fatores relacio- foi traduzido, adaptado, nornatizado e validado
nados ao ambiente são mais determinantes na ida- no Brasil por CAPOVILLA e CAPOVILLA
de pré-escolar. Entretanto, em estudos de desen- (1997), e denominada de Lista de Avaliação do
volvimento é importante ressaltar que a Vocabulário Expressivo (LAVE). Os estudos de
capacidade de a criança enfrentar as adversida- RESCORLA (1989) e de CAPOVILLA e
des, denominada de resiliência (ALVAREZ et al., CAPOVILI A (1997) evidenciaram a capacidade
1998; RUTTER & SROUFE, 2000), deve ser con- do instrumento em diterenciar as crianças de dois
siderada quando se busca o efeito dos riscos co- anos com atrasos de emissão daquelas que adqui-
nhecido ao longo do ciclo vital. riram bem o vocabulário.
No acompanhamento do desenvolvimento Com as premissas: 1. atrasos de emissão
da criança, o atraso motor é mais facilmente iden- estão associados ao futuro status de desenvolvi-
tificado, embora possua menor associação com o mento; 2. atrasos de emissão podem indicar pre-
futuro do desenvolvimento da criança. O inverso sença de uma psicopatologia; 3. atrasos de emis-
ocorre com o desenvolvimento da linguagem, cuja são se constituem num sinal possível de ser
identificação é mais difícil, porém de maior asso- identificado aos dois anos por meio de informa-
ciação com o desempenho escolar, competência ções do cuidador primário, neste estudo
comportarnental e social futuras. Disto decorre a exploratório objetivamos descrever o vocabulá-
necessidade de aprimorar o conhecimento profis- rio de uma amostra de crianças entre 22 e 36 me-
sional nesta área. ses, por meio de informação da mãe.
Entre 22 e 36 meses de idade, as crianças
apresentam uma “explosão” na aquisição do vo-
cabulário e passam a organizar essas paavras em METODOLOGIA
frases para conseguirem comunicar seus desejos
e necessidades. Elas aprendem palavras que são Foram recrutadas crianças, com idades
nomes de coisas ou pessoas (bola, carro, cachor- entre 22 e 36 meses, entre aquelas agendadas na
rinho, vovó, titia) e aquelas ligadas a relaciona- Rotina do Programa de Puericultura do Centro de
mentos sociais (você, mim, não, quer, sim, por Saúde de Vila Mariana. Entre os meses de abril a
favor, amo você, vá embora). Palavras, como os Setembro de 2001, foi sorteado um dia da sema-
verbos, tendem a se desenvolver mais tarde. BEE na para a ocorrência da pesquisa, visando a pos-
(1996) afirmou que as primeiras frases de duas sibilidade de participação das crianças de forma
ou três palavras aparecem normalmente entre 18 aleatória. Os critérios de seleção foram a faixa
e 27 meses. Para RESCORLA (1989), crianças etária, o acompanhamento pediátrico no Progra-
normais de 02 anos de idade apresentam vocabu- ma de Puericultura e entrevistar a mãe sobre uma
lário expressivo de pelo menos 50 palavras e são única criança filho da sua prole, para minimizar o
capazes de formar combinações de duas ou três viés da seleção da amostra. A amostra final cons-
palavras. tituiu-se de 30 crianças, 17 (57%) do sexo mas-
Na idade pré-escolar escolar, o atraso de culino e 13 (43%) do sexo feminino, 15 (50%) da
fala é uma das queixas mais freqüentes (BAX et faixa etária de 22 a 28 meses e 15 (50%) dos 29
al., 1980; LAW, 2001), sendo que esta pode ser aos 36 meses. Entre elas, 03 (10%) eram prema-
uma manifestação comum entre as diferentes turas e 27 (90%) eram nascidas a tendo. Em rela-
psicopatologias que acometem a criança. Por este ção às otites, encontramos 14 (47%) sem quadros
motivo, entendemos que a identificação precoce de otites e 16 (53%) com quadros de otites.
deste sinal é fundamental. Uma das formas de Para caracterização dos antecedentes físi-
identificação de atrasos de desenvolvimento do cos e sócio-demográficos das crianças, foi utili-
comportamento, estudadas e consideradas vanta- zado o questionário proposto por RESCORLA
josas por vários autores, são questionários preen- (1987) e traduzido, adaptado, normatizado e vali-
chidos por pais (ARAM et al., 1984; GLASCOE dado no Brasil por CAPOVILLA e CAPOVILLA
et al.,1989; GLASCOE 1991; GLASCOE & (1997), o qual antecede a lista de palavras - LAVE
DWORKIN, 1995; DUTRA et al., 2002). (Anexo I).

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47% das famílias apresentavam uma renda palavras. As crianças do sexo masculino produzi-
mensal de até 2,5 salários mínimos, sendo que em ram, em média, 175,65 (+ 82,18) palavras, en-
30% da amostra as famílias eram compostas de pelo quanto as crianças do sexo feminino produziam,
menos 5 pessoas, ou seja, na maioria das famílias, em média, 219,15 (+ 67,07) palavras. O interva-
a renda obtida era por volta de meio salário míni- lo de confiança de 95% para o sexo masculino foi
mo por pessoa. Além disso, 87% das crianças ti- de [136,58; 214,71] e para o sexo feminino foi de
nham menos de I mês de escolarização, 52% das [182,69; 255,61] (Gráfico 1).
mães apresentaram de 04 ou menos anos de esco- As crianças de 22 a 28 meses produziram,
larização, 38% estavam desempregadas e 28% exe- em média, 158,73 (+ 86,58) palavras, enquanto
cutavam trabalhos manuais não especializados (em- as crianças de 29 a 36 meses produziram, em
pregadas domésticas). Estes dados sugerem que a média, 230,27 (+ 48,30) palavras. O intervalo de
maioria das crianças e suas famílias viviam em pre- confiança para a faixa etária de 22 a 28 meses foi
cárias condições sócio-culturais. de [114,92; 202,55] e para 29 a 36 meses foi de
A LAVE traduzida e adaptada por [205,82; 254,71] (Gráfico 2).
CAPOVILLA e CAPOVILLA (1997) da LDS O Gráfico 3 mostra a relação da média do
(RESCORLA, 1987) foi o instrumento escolhido número total de palavras produzidas em relação à
para investigar o vocabulário e detectar eventuais faixa etária e ao sexo. Não existiu efeito de inte-
atrasos de emissão oral. Fizemos a opção por este ração entre sexo e faixa etária (p = 0,149). Po-
instrumento de triagem em função dos dados de rém, pudemos verificar que houve um pequeno
validação e contabilidade apontados por diferen- acréscimo no número total de palavras em rela-
tes autores na literatura internacional e, no Brasil, ção ao sexo (p = 0.059); quanto à faixa etária, as
por CAPOVILLA e CAPOVILLA (1997). A LAVE crianças mais velhas falaram em média 71 pala-
consta de uma lista com 307 palavras arranjadas vras a mais do que as mais novas, independente
em 14 categorias semânticas, escolhidas com base do sexo (p = 0.005).
em estudos sobre o desenvolvimento lexical inici- As crianças do sexo masculino produziram
al e consideradas de alta freqüência (Anexo II). A 3,29 (+ 1,72) palavras por frase, enquanto as crian-
mãe da criança deve assinalar aquelas palavras que ças do sexo feminino produziram 5,15 (+ 1,95).
sua criança fala espontaneamente. Neste estudo, O intervalo de confiança para o sexo masculino
utilizamos a forma de entrevista para o preenchi- foi de 12,47; 4,11] e para o sexo feminino boi de
mento, buscando evitar diferenças na aplicação [4~09; 6,21] apresentados no gráfico 04. As crian-
quando a mãe era “não-leitor”, na sala de espera ças de 22 a 28 meses produziram 3,53 (+ 2,00)
de consulta pediátrica. Para a classificação da crian- palavras por frase, enquanto que as crianças de
ça com “suspeita” de atraso de emissão utilizamos 29 a 36 meses produziram 4,67 (+ 1,84) palavras
os mesmos critérios da validação americana e do por frase. O intervalo de confiança para a faixa
estudo brasileiro que registraram menos de 50 pa- etária de 22 a 28 meses foi de [2,47; 6,00] e para
lavras ou ausência de combinação de 02 palavras. a faixa etária de 29 a 36 meses foi de [3,73; 5,60],
Encerrado o período de coleta de dados, foi com- apresentados no Gráfico 5.
putado o número de palavras produzidas registradas O Gráfico 6 mostra a relação da média dc
no protocolo de cada criança, e a seguir, os dados número de palavras por frase segundo o sexo ~
foram calculadas medidas descritivas do número faixa etária. Não existiu efeito de interação entre
total de palavras produzidas e número de palavras sexo e faixa etária (p = 0,404). Porém, pudemos
por frase, apresentadas em gráficos, sempre consi- verificar que as meninas falaram aproximadamen-
derando as variáveis: sexo e faixa etária da crian- te 2 palavras a mais do que os meninos, indepen-
ça. A Análise de Variância (ANOVA), com dois dente da faixa etária (p = 0.005) e que houve um
fatores fixos, foi utilizada para verificar o efeito de pequeno acréscimo no número de palavras por
interação entre sexo e faixa etária no número total frase em relação à faixa etária (p = 0.057).
de palavras e número de palavras por frase. Foi Ainda a amostra foi estudada segundo a
calculada a proporção média do total de palavras frequência de uso de cada uma das 14 catego-
produzidas pela amostra, por categoria, visando de- rias. Em função de na listagem o número de pa-
terminar qual classe semântica as crianças utiliza- lavras em cada categoria não ser o mesmo, cal-
ram mais frequentemente. culamos a proporção da distribuição de palavras
por categoria e a seguir a proporção média de
uso, considerando o total de crianças da amos-
RESULTADOS tra. Na tabela I estão apresentadas as proporções
médias de uso de cada categoria pelas crianças
O número médio de palavras produzidas da amostra, dispostas em ordem decrescente de
pelas crianças da amostra foi de 194,50 (+ 77,90) freqüência.

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Gráfico 1: Freqüência de palavras por sexo (mé- Gráfico 4: Freq. de palavras como função dc sexo
dia e Desvio padrão). (média e desvio padrão)

Gráfico 2: Freqüência de palavras por faixa etá- Gráfico 5: Freq. de palavras como função de fai-
ria (média e desvio padrão). xa etária (média e desvio padrão)

Gráfico 3: Média do número total de palavras Gráfico 6: Média do número de palavras produ-
produzidas em relação à faixa etária e ao sexo zidas por frase em relação à faixa etária e ao sexo

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Comparando as proporções médias, encon- co enriquecidos e dificuldade de transmissão de


tramos como a categoria mais freqüente Pessoas experiências entre os adultos e as crianças (De
e a menos freqüente Lugares. Quando compara- ANDRACA et al., 1998; RAMEY & RAMEY,
mos os intervalos de confiança, entre esta catego- 1998). Em nosso estudo, os dados sobre a ocupa-
ria e Partes do Corpo, Ações, Casa e Objetos, não ção materna indicaram que 38% das mães esta-
ocorreram diferenças estatisticamente sendo que vam desempregadas. Este fato pode ser um fator
os intervalos se sobrepõem e desta forma pode- de risco quanto à relação com seus filhos, primei-
mos considerar ser estas as quatro categorias apa- ro em função do “grau de satisfação com a vida”
receram como as mais frequentes na amostra. e segundo pela preocupação em adquirir uma for-
ma de contribuir com a renda familiar, o que pode
reduzir o investimento na criança, dificultando o
COMENTÁRIOS acesso da mesma à exploração do ambiente. Além
disto, 21% das mães deste estudo tinham quatro
O número de palavras produzidas pela ou menos anos de escolaridade, o que é referido
amostra foi de 195 palavras. Considerando o cri- pela UNICEF (2001) como escolarização precá-
tério proposto por RESCORLA (1989) e CA- ria e de alto risco para o desenvolvimento global
POVILLA e CAPOVILLA (1997), encontramos das crianças, e em especial para o desenvolvimen-
que 03 (10%) crianças da amostra eram de risco to da linguagem.
para atraso de linguagem expressiva. Uma das Quando comparamos o número médio de
palavras produzidas pela amostra em relação ao
Tabela 1: Ordern decrescente de freqüência de sexo, encontramos que as crianças do sexo femi-
palavras produzidas por categoria nino produzem 43 palavras a mais do que as crian-
Categorias Proporção Média 95% Cl ças do sexo masculino, o que indica que as meni-
nas, independentemente da faixa etária, falam
Pessoas 81% [73%; 89%] mais palavras na idade estudada, achado este con-
Partes do Corpo 71% [60%; 82%] cordante com os de RESCORLA (1989); DALE
Ações 68% [59%; 78%] (1991); ROBERTS et al. (1999). Quanto ao nú-
Casa 67% [56%; 78%] mero de palavras produzidas por frase, as meni-
Objetos 65% [53%; 77%] nas produziram aproximadamente duas palavras
Comida 63% [55%; 72%] a mais do que os meninos. BEE (1996) referiu
Veículo 63% [52%; 75%] que as diferenças entre os sexos aparecem em ha-
Roupas 63% [51%; 74%] bilidades específicas, o que pode ter sido eviden-
Modificadores 62% [49%; 74%] ciado neste estudo sobre a área de linguagem
Outros 61% [51%; 73%] emissiva.
Ambiente 57% [47%; 68%] Quando comparamos o número médio de
Animais 44% [41%; 62%] palavras produzidas pela amostra em relação à
Brinquedo 41% [135%; 54%] faixa etária, encontramos que as crianças de 29 a
36 meses de idade produziram 71 palavras a mais
do que as crianças de 22 a 28 meses, indicando
crianças falava apenas 04 palavras e as outras duas que houve um acréscimo estatisticamente signifi-
não formavam frases. O estudo de BAX et al. cativo no número de palavras de acordo com o
(1980) detectou 17% de prevalência de proble- aumento da idade. O mesmo ocorreu em relação
mas de linguagem em crianças de 02 anos e 12% ao número de palavras por frase. Estes achados,
para crianças de 03 anos, em uma amostra bas- referidos por muitos autores (BAX et al., 1980;
tante grande. Sob esta referência, nossa amostra BATES et al., 1994; REZNICK & GOLDFIELD,
pareceu ter comportamento semelhante. No en- 1994; CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997;
tanto, consideramos este percentual alto e lem- ROBERTS et al., 1999), possivelmente se rela-
bramos que o tamanho da amostra pode ter inter- cionam ao fato de as crianças, conforme ficam
ferido neste percentual. Vale ainda ressaltar, que mais velhas, ampliarem a consciência de si como
os dados como o da renda familiar, tamanho da efetivos comunicadores através da linguagem oral,
familia, escolaridade e ocupação materna pude- além do acréscimo qualitativo em suas estruturas
ram determinar esta amostra como sendo, predo- mentais.
minantemente, de classe social baixa média-bai- Com relação à categoria mais freqüente,
xa, o que vem sendo considerado como condiçao as crianças da amostra falaram mais as palavras
de risco para o desenvolvimento das crianças em da categoria Pessoas, Partes do Corpo, Ações,
função dos desdobramentos decorrentes desta con- Casa e Objetos. Observando as palavras incluí-
dição tais como baixa expectativa, ambientes pou- das em cada uma dessas categorias, é possível

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identificar o quanto, nas idades estudadas, o am- • em diferentes condições sócio-culturais


biente humano-familiar da criança possui maior as diferenças no número de palavras
valência afetiva. A categoria Pessoas incluiu pa- entre meninos e meninas se mantém?
lavras como mamão, papai, vovó, vovô que, na • o sexo poderia interagir com a faixa etá-
prática clínica, as mães sempre relatam ser as pri- ria e, essas variaveis juntas, poderiam
meiras palavras do vocabulário infantil. A cate- influenciar no número total de palavras
goria Partes do Corpo também apresentou pala- produzidas e no número de palavras
vras comuns, já que as mães desde cedo nomeiam por frase em diferentes condições só-
as partes do corpo durante o banho, a alimenta- cio-culturais?
ção e a troca. A categoria Ações envolveu pala- • a frequência de uso das categorias se
vras como dar, querer, comer, dormir, fazer que modificaria com aumento da amostra
são os verbos mais comuns nesta idade, pois são ou com diferenças do ambiente de ori-
aqueles que permitem as primeiras justaposições gem das crianças?
de palavras. As categorias Casa e Objetos apre- • a escolarização pode se constituir em
sentaram palavras como cama, faca, copo, TV, es- fator de proteção para crianças de bai-
cova, chave que são de uso diário das famílias. É xa renda?
compreensível que as categorias mais faladas pe- Consideramos de extrema importância a
las crianças da nossa amostra tenham sido estas, detecção precoce de crianças de risco e também
pois são palavras de alta freqüência no início da dos fatores que interferem nesta condição de atra-
aquisição lexical, já que estas são as palavras que so, para termos a possibilidade de referir para uma
fazem parte das experiências de troca da criança avaliação completa e interferir, com um progra-
com a mãe. Quanto à categoria menos freqüente - ma eficiente. Esta é uma das formas de garantir
Lugares - encontramos relação com o estudo bra- melhores condições de desenvolvimento infantil,
sileiro de BEFI-LOPES e GALEA (2000) que re- promovendo o desenvolvimento típico em todos
feriu que as crianças de sua amostra apresenta- os seus aspectos, principalmente no que diz res-
ram pior desempenho nesta categoria. peito à Linguagem.
Com base neste estudo exploratório, acre-
ditamos que a LAVE seja um instrumento útil e
eficaz para detectar crianças com atraso de emis- CONCLUSÕES
são; além disto, atende critérios básicos para um
instrumento de triagem: ser de baixo custo, de Na amostra de crianças de 22 a 36 meses aten-
rápida e fácil aplicação. Quando a escolaridade didas no Programa de Puericultura do Centro de
materna for considerada precária (igual ou infe- Saúde Vila Mariana: as meninas falam mais pala-
rior a 4 anos de estudo completos), sugerimos que vras e mais palavras por frase do que os meninos; as
a aplicação da LAVE seja feita sob a forma de crianças mais velhas falam mais palavras e mais
entrevista. palavras por frase do que as mais novas; as catego-
Partindo destes dados, pretendemos conti- rias mais freqüentes foram Pessoas, Partes do Cor-
nuar a investigação sobre a aplicabilidade da po, Ações, Casa e Objetos e a menos frequente foi
LAVE na triagem de atrasos de emissão, aumen- Lugares. As mães, independente de sua escolariza-
tando o número de crianças da amostra com as ção, são boas informantes sobre o desenvolvimento
seguintes hipóteses de estudo: do vocabulário de seus filhos.

Abstract: This study aimed at describing lhe vocabulary of children from twenty-two to thirty-
six months of age, inserted into lhe child care program of the Health Center of Vila Mariana - São
Paulo. We interviewed lhe mothers of 30 children, 17 (57°^Ó) mate and 13 (43%) female; 15
were between 22 and 28 months of age and 15 were between 29 and 36 months of age. We used
lhe Expressive VocabularyAssessmer^ltChecklist (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997). We
calculated the descriptive measures and used ANO^VA for the statistical treatment. The results
showed that children around two years of aKe speak an average of ! 95 words. The girls spoke 43
words more than the boys and two words more per sentence. We verified that as age increased,
the number of words used and the number of words per sentence also increased in both sexes.
The categories that were most spoken by the children were names of people, body parts, actions,
house and objects. We concluded that it is possible to characterize children’s vocabulary and to
detect children with utterance delay through the parents’ information.

Key-words: language assessment; expressive vocabulary; LDS; screening.

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