6 Belém-PA, 12/05/2013
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Infrator
interessa aos
traficantes
COM 14 ANOS GAROTOS
ENTRAM NO TRÁFICO
PARA ASSUMIR AS
“BRONCAS”
A
iala Colares, es-
pecialista em pla-
nejamento urbano
e mestre em pla-
nejamento do desenvolvimento
pela Universidade Federal do
Pará (UFPA), entre 2008 e 2010
foi a campo para entender a or-
ganização do tráfico de drogas
nos bairros do Guamá e da Terra
Firme. De acordo com o pes-
quisador, crianças e adolescen-
tes costumam estar à frente das
atividades por conta do amparo
legal. “A menor idade é algo que
interessa ao tráfico de drogas. O
convívio com essas vulnerabili-
dades é mais acentuado na ro-
tina de crianças e adolescentes
que vivem em situação de rua.
Esses adolescentes migram de
um ponto a outro pelas institui-
ções da cidade, circulam pelo es-
paço urbano e estabelecem uma
rede de relações que é reconhe-
cida pelos seus pares”, explica.
Segundo Colares, a partir de
seus estudos, ficou constatado
que o jovem criminoso se inse-
re na rede social do tráfico, em
sua maioria, a partir dos 14 anos.
“(Eles) recebem armas para pro-
moverem assaltos, ou então tra-
balham no esquema de aluguel
de armas: estão sempre à fren-
te da maioria dos crimes realiza-
dos nos bairros. Caso ocorra uma
apreensão da droga pela polícia,
o jovem tem o papel de assu-
mir a responsabilidade. Isso dá
mais respeito perante os crimi-
nosos”, explica. Desestruturação
familiar, influência de trafican-
tes mais velhos e a evasão escolar
são apontados como fatores que
contribuem para milhares de jo-
vens entrarem na criminalidade.
Para o pesquisador, apenas a
integração entre escola, Estado e
comunidade, revertida em polí-
ticas públicas eficazes, pode dar
conta de resolver o problema a
médio e longo prazo. “Nós vive-
mos em um verdadeiro caos ur-
bano. O Estado não pode simples-
mente se impor numa área sem
oferecer alternativas para esses
jovens e crianças, que já estão
predispostos, não entrarem no
tráfico. É preciso investir em cur-
sos profissionalizantes, oficinas
de arte, cultura, esporte e garantir
condições para que os alunos re-
almente sintam interesse em fre-
quentar a escola”, pontua.
A DOCE ILUSÃO DE SE
TORNAR O “REI DO PÓ”
A coordenadora do Centro de
Apoio Operacional (CAO) da In-
fância e Juventude do Ministério
Público do Estado (MPE), Leane
Barros Fiuza de Mello, explica
que muitas crianças e adolescen-
tes envolvidos com o tráfico pre-
cisam ser incluídos no Programa
Segundo especialistas, solução
seria dar oportunidades culturais
e de ensino para tirar jovens da
marginalidade
de Proteção a Crianças e Adoles-
centes Ameaçados de Morte (PP-
CAAM). “Nós não desconsidera-
mos que muitos entram para o
tráfico sonhando em ser grandes
traficantes. No entanto, a grande
maioria se envolve por ser usuá-
rio de narcóticos e fica sem ter
como manter o vício. Eles são
aliciados pelos traficantes para
honrar as dívidas porque, se não
for se envolvendo no esquema,
pagam com a vida”, explica.
A promotora do MP lem-
bra que iniciativas do Gover-
no do Estado, como o Progra-
ma Pro Paz, contribuem para
fomentar políticas públicas que,
aliadas às políticas de seguran-
ça pública, previnem o aumen-
to das redes do narcotráfico. No
entanto, para a coordenadora do
CAO da Infância e da Juventude,
a oferta dos entorpecentes não
deve ser proporcional à procu-
ra. “O enfrentamento e a repres-
FOTOS: THIAGO GOMES
são ao tráfico precisam ser for-
talecidos. Os traficantes sempre
vão encontrar clientela suscetí-
vel a consumir entorpecentes se
eles estiverem disponíveis. Nós
sabemos que não existem consu-
midores apenas na periferia. Por
isso, é preciso investir cada vez
mais na área da segurança públi-
ca”, afirma.
Segundo o delegado-geral da
Polícia Civil, Rilmar Firmino, o
último mês foi emblemático para
o Estado no combate ao narcotrá-
fico. “Foram mais de cem mil pés
de maconha destruídos na região
do Piriá, no nordeste do Esta-
do, em uma operação coordena-
da com diversos órgãos de segu-
rança pública, inclusive a Polícia
Militar. Nós não estamos apenas
fazendo pequenas apreensões”,
explica o delegado-geral. Firmi-
no lembra que, no último dia 15,
a Delegacia de Repressão a En-
torpecentes (DRE) e o Núcleo
de Apoio à Investigação (NAI)
do Baixo Amazonas conseguiram
apreender, em Santarém, mais de
56 quilos de pedra de óxi e de-
sarticular uma quadrilha detendo
seis traficantes. (EP e TJ)