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José Jobson de Andrade Arruda (Departamento de Histéria da USP) Foi no século XVII, na Inglaterra, que se deu a primeira Revo- fugio burguesa da Histéria da Civilizagio Ocidental, Em 1640 teve inicio a Revolugéo Puritana. Em 1688 ocorreu a Revolugdo Gloriosa. Ambas, contudo, fazem parte do mesmo processo revoluciondrio, 0 que nos Ievou a optar pela denominacao de Revolugao Inglesa ¢ niio Revolucées Inglesas, considerando-se que a verdadeira revolucdo se deu no transcurso da Reyo- lugdo Puritana entre 1640 ¢ 1649 © que a Revolucdo Gloriosa de 1688 foi apenas seu complemento natural, Desde entio, variados enfoques tém resultado em diferentes vises da Revolugao. (1) 1. A Tradi¢ao Whig e Tory Os préprios contempordneos aperceberam-se da sua ocorréncia, mas deram-lIhe um tratamento essencialmente politico ¢ constitucional, vendo na Historia um camino para a sabedoria politica. No século XVIII a hist6~ tia da Revolugdo Inglesa é realizada na perspectiva dos partidos Whig e 1. De uma forma mais getal a Revolugéo Inglesa foi estudada, em termos histo- riogréficos, por H, R. Hale, The Evolution of British Historiography, London, Macmillan, 1967; C. H. George, “Puritanism ss history and historiography". Past ‘and Present 12 41, 1968; F. Stern (editor) The Varieties of History from Voltaire to the Present, 2nd edition, London, Macmillan, 1970...De uma forma mais espect- fica vale a pena ressaltar 0 estudo conciso mas substancial de R,C. Richardson, The Debate of the English Revolution, London, Methuen, 1977, Revista Brasileira de Hist6ria nt Tory, profundamente envolvida nas suas rivalidades e contendas politicas. Para a tradicao liberal, a luta politica foi conduzida pelo Parlamento contra 0 absolutismo mondrquico em defesa das liberdades indivi- duais, contra 0 governo tirdnico que impunha aprisionamento sem julga- mentos prévios, cobrava impostos nao autorizados, aboletava soldados sem consentimento, atentava contra a propriedade individual e as sagradas insti- tuigdes parlamentares. Por outro lado, para a tradicio conservadora, a Revolugio foi conduzida pela classe de capitalistas ambiciosos, represen- tados no Parlamento, contra o Rei que procurava defender as camadas populares, evitando, por exemplo, o avanco sobre as terras comuns, na medida em que impedia os cercamentos (enclosures). Os liberais, portanto, salientam o carter progressista da Revolucio, identificando o interesse burgués com o interesse nacional, como se seus interesses correspondessem aos interesses do conjunto da sociedade. En- quanto isso, os conservadores negam 0 sentido progressista da Revolugio enfatizando seu aspecto classista. Negligenciam o sentido politico do apoio ‘monérquico &s massas camponesas, resultado iminente da politica de equi- librio social que flu‘a do conflito de classes, pedra angular de sustentagéo social da monarquia absolutista e, portanto, completamente privada de seu possivel sentido altrufsta, De uma maneira geral, estas linhas de interpretaco pontificaram du- rante todo 0 século XIX. Macaulay (2) enfatizou o glorioso acontecimento representado pela luta do Parlamento contra Carlos I em prol da liberdade politica ¢ religiosa do povo inglés; significou 0 primeiro confronto entre a liberdade e a tirania real, primeiro combate em favor do iluminismo e do liberalismo, confronto capaz de colocar a Inglaterra no caminho da mo- narquia parlamentar e das liberdades civis. Gardiner (3), apesar de seu apego A cronologia e A tentativa de resgatar a hist6ria da Revolugéo do seu envolvimento politico e trazé-la para o santuério da academia, nio conseguiu subtrair-se 4 tradigdo liberal, destacando 0 aspecto politico do conflito envolvendo as instituigdes politicas e religiosas, Trevelyan (4), j4 no decurso do século XX, dé continuidade & tradicGo historiografica do século XIX, entendendo a Revolugo em termos constitucionais, esvaziada 2, T, B. Macaulay. The History of England from the accession of James II. London, 1849. 3... R. Gardiner. The first two Stuart and the Puritan Revolution. London, 1876. . 4:_G. M. Trevelyan. The English Revolution 1688-89. London, Butler & Tan- ner, 1938, 12 Revista Brasileira de Histéria dos seus aspectos econdmicos ¢ até mesmo sociais, resumindo-se numa luta de partidos, 2. A Dimensdo Social A renovagio das perspectivas no século XX tem inicio numa linhagem de historiadores que remontam a Richard Tawney. Para ele a histéria nao era simplesmente um amontoado de informagdes “mortas”; era, acima de tudo, uma forma de compreensio do passado e um guia para a aco poli- tica, Profundamente marcado pelo socialismo cristio, Tawney desenvolveu um interesse especial pelos séculos XVI e XVII, nos quais via um perfodo crucial para a emergéncia do capitalismo e para a mudanga de relaciona- mento entre poder econdmico e o poder politico. A Revolucio adquiriu entao uma dimensao social mais ampla. Formulou a hipétese do descom- asso entre a realidade econémica e a estrutura politica para explicar a guerra civil. Demonstrou a dos pequenos produtores camponeses, arrasados pela expansio do capitalismo no campo, cuja forga foi intensi- ficada pela distribuigdo das terras mondsticas no século XVI. (5) Salien- tou o declinio relative da aristocracia num perfodo de depressdio monetéria e de ascensio de uma nova classe, a gentry, enriquecida pelas novas opor- tunidades emergentes com a economia de mercado. (6) Dos trabalhos de Tawney nasceram duas vertentes explicativas. Lawrence Stone passou a destacar o papel da aristocracia. Para ele, ainda que a crise somente possa ser entendida a luz das mudancas sociais econdmicas, o que deve ser explicado, em primeiro lugar, nfio é uma crise dentro da sociedade, mas uma crise dentro do regime politico, isto 6 a alienagio de amplos setores da nobreza em relacdo as instituicdes politicas religiosas vigentes. As perdas da aristocracia nfo se deram apenas no nivel do poder militar, mas também na posse de terras e de prestigio social. Durante o reinado de Elizabete os rendimentos reais da nobreza declina- ram tdo bruscamente que, no século XVII, acima de tudo, eles estavam em posig&io desvantajosa quando comparados A grande gentry. Foi 0 declinio do poder da aristocracia, argumentava Stone, que em diltima instincia possi- bilitou 0 colapso do governo de Carlos I, em 1640, desde que o seu resul- 5. R. H, Tawney. The agrarian problem in the sixteenth century. London, 1912. . 6. RH. Tawney. “The rise of the gentry, 1558-1640". In: Essays in Economic History, E. M, Carus Wilson (ed.). London, Butler & Tanner, 1966. Revista Brasileira de Historia 123

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