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COORDENADOR: GABRIELA
Perguntas chave no
COORDENADORES:
GABRIELA SOUSA
ARNALDO FIGUEIREDO
Associação
Portuguesa
de Urologia PERMANYER PORTUGAL
www.permanyer.com
100
Perguntas chave no
CANCRO DA
PRÓSTATA
COORDENADORES:
GABRIELA SOUSA
ARNALDO FIGUEIREDO
© 2017 Permanyer Portugal
Av. Duque d’Ávila, 92, 6.º Dtº
1050-084 Lisboa
Tel.: 21 315 60 81
Fax: 21 330 42 96
permanyer@permanyer.com
www.permanyer.com
Pedro Nunes
Serviço de Oncologia Médica
Instituto Português de Oncologia do Porto
Porto
Prefácio VII
G. Sousa e A. Figueiredo
Capítulo 1
Epidemiologia, rastreio e diagnóstico precoce 1
L. Campos Pinheiro
Capítulo 2
Diagnóstico e estadiamento 8
P. Conceição, R. Godinho e R. Henrique
Capítulo 3
Fatores de prognóstico e vigilância ativa 13
J.P. dos Reis e R. Henrique
Capítulo 4
Doença localizada: prostatectomia radical e novas técnicas 18
B. Parada
Capítulo 5
Doença localizada: radioterapia externa e braquiterapia 22
R. Sousa e G. Vieira
Capítulo 6
Recidiva bioquímica 39
A. Cleto e A. Fraga
Capítulo 7
Doença metastizada 43
P. Nunes e M.J. Mauricio
Capítulo 8
Carcinoma da próstata resistente à castração 51
I. Augusto e C. Martins da Silva
Capítulo 9
Tratamento dirigido à metastização óssea 58
C. Fernandes e P. Lapa
Capítulo 10
Controlo sintomático da doença metastizada 63
F. Gonçalves, G. Melo, J. Oliveira, D. Roda, M. Cruz e R. Freitas
Gabriela Sousa
Serviço de Oncologia Médica
Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil
Coimbra
Arnaldo Figueiredo
Departamento de Urologia e Transplante Renal
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)
Professor de Urologia – Faculdade de Medicina
Coimbra
Epidemiologia, rastreio
e diagnóstico precoce
L. Campos Pinheiro
Tabela 1. A distribuição de novos casos de carcinoma da próstata por grupo etário em 20101
35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 > 85 Total
Novos casos 3 9 72 229 553 831 1252 1403 968 448 212 6080
Incidência 0,7 2,4 19,1 65,3 172,3 320,5 1515,6 649,3 545,5 408,6 295,2 120,3
35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 > 85 Total
Mortalidade – 0,3 1,6 2,9 8,7 22,7 46,5 84,7 206,3 411,4 778,5 35,3
Tabela 4. A incidência de carcinoma da próstata aumenta categoricamente com o grupo etário como se
demonstra nos estudos epidemiológicos em Portugal1
35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 > 85 Total
Novos casos 3 9 72 229 553 831 1252 1403 968 448 212 6080
Incidência 0,7 2,4 19,1 65,3 172,3 320,5 1515,6 649,3 545,5 408,6 295,2 120,3
O papel da utilização do doseamento de PSA Tabela 6. Para valores inferiores a 4 ng/ml a incidência
no rastreio é altamente controverso, uma vez que de carcinoma da próstata incluindo a incidência de
carcinomas pouco diferenciados mantém-se assinalável3
o decréscimo de mortalidade por CP ocorre às
custas de sobrediagnóstico e sobretratamento PSA % de carcinoma % de Gleason
muito importantes. (ng/ml) da próstata >=7
A maioria das associações científicas, designa- 0- 0.5 6,6 0,8
damente a AUA e a EAU, desincentivam o rastreio
0,6- 1,0 10,1 1,0
e sugerem efetuar o doseamento de PSA em doen-
tes assintomáticos apenas após esclarecimento dos 1,1-2,0 17,0 2,0
doentes dos riscos de sobrediagnóstico e sobretra-
2,1-3,0 23,9 4,6
tamento e após a obtenção do seu consentimento.
Neste sentido, o diagnóstico precoce com do- 3,1-4,0 26,9 6,7
seamento de PSA está já a diminuir assinalavel- PSA: antigénio prostático específico.
mente nos países ocidentais.
As consequências da diminuição acentuada de
diagnóstico precoce terão seguramente implica- Muitos autores propõem valores de PSA indi-
ções de diminuição da incidência, mas aumento cativos de biopsia prostática de acordo com a
da mortalidade de CP apenas dentro de uma dé- idade do doente (Tabela 7).
cada (em virtude da história natural lenta de CP). Na verdade, o valor de PSA indicativo de biopsia
A dimensão e o impacto destas alterações epide- é uma questão de opinião. À medida que esse li-
miológicas são profundamente imprevisíveis. miar é diminuído ou aumentado, aumenta-se a sen-
sibilidade e diminui-se a especificidade e vice-versa.
8. EXISTE UM VALOR DE ANTIGÉNIO
ESPECÍFICO DA PRÓSTATA 9. QUAL A UTILIDADE DA
INDICATIVO DA NECESSIDADE DENSIDADE DO ANTIGÉNIO
DE BIOPSIA PROSTÁTICA? ESPECÍFICO DA PRÓSTATA E DA
SUA FRAÇÃO LIVRE PARA INDICAR
Embora se considere habitualmente o valor de A BIÓPSIA?
4 ng/ml como indicativo para biopsia prostática,
não existe um valor absoluto definido. Com o objetivo de aumentar a especificidade
Sabe-se que para valores inferiores a 4 ng/ml do doseamento de PSA para a deteção de CP
a incidência de CP, incluindo a incidência de desenvolveu-se a fração livre de PSA. No soro, a
carcinomas pouco diferenciados, mantém-se as- maior parte de PSA existe ligado a proteínas,
sinalável3 (Tabela 6). enquanto uma pequena parte circula livre. As
Tabela 7. Valores de PSA indicativos de biopsia prostática de acordo com a idade do doente segundo diversos
autores
n Idade
Diagnóstico e estadiamento
linear ou proporção estimada); presença ou au- (4+4 e 3+5 a 5+5)5. A melhor discriminação
sência de permeação vascular ou perineural; ex- prognóstica foi confirmada num grande estudo
tensão extraprostática e envolvimento das vesí- multicêntrico americano, pelo que foi recomen-
culas seminais (se amostradas)4. dada a inclusão, por rotina, da informação do
grupo de graduação no relatório anatomopato-
15. COMO É O NOVO SISTEMA lógico de CP5.
DE GRADUAÇÃO DO CANCRO
DA PRÓSTATA? 16. QUAIS OS TIPOS
HISTOLÓGICOS MAIS COMUNS
A graduação de uma neoplasia maligna tem DE NEOPLASIAS DA PRÓSTATA?
por objetivo estratificar a sua agressividade clíni-
ca, indicando o risco potencial que a mesma A expressão “cancro da próstata” correspon-
representa para o paciente e auxiliando na defi- de, na realidade, a um conjunto diversificado de
nição da melhor estratégia terapêutica. O siste- neoplasias malignas, com expressão morfológi-
ma de graduação mais utilizado no adenocarci- ca, biológica e clínica distintas e muito variadas.
noma da próstata foi desenvolvido por Donald F. A neoplasia maligna mais comum na próstata
Gleason entre 1966 e 1974, tendo sido sujeito a tem origem no epitélio glandular, evidenciando
atualização em 2005 e, mais recentemente, em este fenótipo numa extensão variável, pelo que
2014. Este sistema avalia padrões morfológicos se designa “adenocarcinoma” e corresponde a
arquiteturais e permite integrar a elevada hetero- cerca de 90-95% de todas as neoplasias prostá-
geneidade do adenocarcinoma da próstata. Ba- ticas6. Atendendo ao seu predomínio como tipo
seia-se em cinco graus primários (1 a 5, com histológico, quando a expressão “cancro da
agressividade clínica e biológica crescentes), os próstata” é utilizada, geralmente refere-se, em
quais são combinados num score (ou grau com- sentido estrito, ao “adenocarcinoma”. Contudo,
binado) resultante do reconhecimento dos dois o adenocarcinoma prostático é uma entidade
graus mais representados (peça de prostatecto- heterogénea, tendo como tipo histológico mais
mia radical) ou do mais representado e do mais comum o designado adenocarcinoma acinar, o
agressivo (biopsia prostática), o qual é expresso qual corresponde a neoplasia invasiva, de fenó-
numericamente de 2 (1+1) a 10 (5+5). O score tipo glandular, constituída por células com ca-
de Gleason é um importante parâmetro prog- pacidade secretora, dispostas em glândulas,
nóstico, correlacionando-se com a sobrevivência cordões, toalhas ou isoladamente no seio do
específica de doença e o risco de recorrência. estroma prostático. Estas células assemelham-se
Contudo, este sistema apresenta diversas fragi- morfológica e funcionalmente, em grau variável,
lidades, nomeadamente reprodutibilidade inter- e às células epiteliais glandulares normais da prós-
intraobservador modesta, assim como o facto de, tata. O adenocarcinoma acinar possui diversas
aparentemente, não discriminar dentro da cate- variantes morfológicas (por exemplo, atrófico,
goria mais frequente (score 7) os níveis distintos mucinoso, pseudo-hiperplásico, etc.), algumas
de agressividade (menor nos casos 3+4 e maior das quais com maior agressividade clínica (ade-
nos casos 4+3)5. Assim, em 2016 foi introduzido nocarcinoma sarcomatoide e adenocarcinoma
um novo sistema de graduação, baseado no sis- de células gigantes pleomórficas)6. Formas me-
tema de Gleason, sob a forma de “grupos de nos frequentes de adenocarcinoma da próstata
graduação” enumerados de 1 a 5, no qual o incluem o adenocarcinoma ductal, o qual se
grupo de graduação 1 corresponde aos tumores associa frequentemente a adenocarcinoma aci-
mais indolentes (scores de Gleason ≤ 6); o gru- nar. Este tipo histológico não deve ser confun-
po 2 ao score 3+4; o grupo 3 ao score 4+3; e dido com “carcinoma intraductal”, entidade
os grupos 4 e 5 aos tumores mais agressivos recentemente reconhecida na classificação de
Fatores de prognóstico
e vigilância ativa
21. QUAIS SÃO OS FATORES DE como dos gânglios linfáticos regionais caso a lin-
PROGNÓSTICO MAIS RELEVANTES fadenectomia seja efetuada.
NA DOENÇA LOCALIZADA? Os principais fatores prognósticos para doen-
tes submetidos a prostatectomia radical são, as-
A principal questão prognóstica perante um sim, o score de Gleason, o status das margens
doente com um cancro da próstata (CP) e que cirúrgicas, a presença ou ausência de doença ex-
influencia decisivamente a abordagem terapêutica tracapsular, a invasão das vesículas seminais e o
é justamente a de estarmos, ou não, perante uma envolvimento dos gânglios linfáticos.
doença localizada. Assim, na realidade, mais do Ainda hoje são de alguma forma atuais as fa-
que pensarmos nos fatores prognósticos da doen- mosas tabelas de Partin publicadas (disponíveis na
ça localizada, pensamos na probabilidade de a Internet), que tão extensamente consultámos no
doença estar realmente localizada. Isto porque se princípio dos anos 90 do século XX1, em que se
a doença efetivamente estiver localizada, então, tentava prever a possibilidade de doença efetiva-
em princípio, ela poderá ser definitivamente tra- mente localizada perante os dados do estadiamen-
tada pelos vários tratamentos muito apropriada- to clínico. A evolução exponencial das casuísticas
mente designados de com intuito curativo, obvia- dos grandes centros e o desenvolvimento de técni-
mente desde que corretamente efetuados. cas e modelos preditivos estatísticos muito evoluí-
Os primeiros fatores de prognóstico são, justa- dos como as redes neuronais probabilísticas leva-
mente, obtidos no estadiamento clínico inicial e ba- ram ao desenvolvimento, já no final dos anos 90,
seiam-se parcialmente na marcha diagnóstica que de modelos preditivos muito evoluídos para a épo-
levou ao diagnóstico definitivo, isto é, nos dados pré- ca, abrangendo os principais cenários, pré e pós-
biopsia como o toque retal, os valores de antigénio -operatórios e outras modalidades de tratamento
prostático específico (PSA) e, cada vez mais, os da- de intuito curativo como a radioterapia, em várias
dos de imagem mais evoluídos como a ressonância plataformas digitais, como os ainda atuais mode-
magnética multiparamétrica (RMmp). A estes dados, los do Memorial Sloan Kettering Cancer Center2.
que normalmente são os que desencadeiam a biop-
sia, juntam-se depois os dados obtidos na própria 22. QUAIS SÃO OS FATORES DE
biopsia, com especial relevo para o score de Gleason PROGNÓSTICO MAIS RELEVANTES
e o número e percentagem de cilindros envolvidos. NA DOENÇA LOCALMENTE
Caso a opção seja pela cirurgia, o prognóstico AVANÇADA?
será então ajustado, de uma forma significativa-
mente mais precisa, pelo estadiamento patológico, Não existem muitos dados sobre a história na-
tanto da peça operatória e suas margens cirúrgicas tural da doença localmente avançada, na ausência
de tratamento, e os que existem são normalmen- Não havendo lugar, exceto em circunstâncias
te antigos correspondentes à histórica abordagem absolutamente excecionais a tratamento diferido,
de watchful waiting (ver abaixo). Um estudo pu- não existem praticamente dados sobre a evolução
blicado em 19733 do conhecido Veterans Admi- destes tumores na ausência de tratamento que
nistration Cooperative Urological Research Group permitam definir fatores prognósticos indepen-
(VACURG), incluindo 248 doentes tratados com dentes. O prognóstico do doente metastizado e
placebo, mostrou uma sobrevida global aos cinco “virgem” de terapêutica sistémica fica assim mui-
anos de 58%. to dependente de um fator altamente imprevisível
O fator prognóstico provavelmente mais im- que é a resposta à terapêutica hormonal de pri-
portante nestes doentes será o grau de diferen- meira linha. A título de exemplo, a estratificação
ciação tumoral. Foram publicados em 1997 os do estudo Southwest Oncology Group (SWOG)
resultados de um estudo prospetivo nórdico de 9346 em três grupos, consoante os valores de
647 doentes4 nas várias fases da doença e trata- PSA obtidos após sete meses de hormonotera-
dos conservadoramente. Aos 15 anos, a sobrevida pia, mostrou claramente uma maior sobrevida
específica dos doentes com doença clinicamente nos doentes com respostas bioquímicas mais con-
localizada foi de 89%, enquanto nos doentes com sistentes. Assim, enquanto os doentes que atin-
doença localmente avançada foi de 57%. Mais giram valores de PSA inferiores a 0,2 ng/ml tive-
interessante, apenas 6% dos doentes (cerca de ram uma sobrevida média de 75 meses, os que
metade da amostra) que apresentavam tumores atingiram entre este valor e 4 ng/ml uma sobre-
bem diferenciados vieram a falecer de CP, enquan- vida média de 44 meses e os que não obtiveram
to 17% faleceram com tumores medianamente valores de PSA abaixo de 4 ng/ml uma sobrevida
diferenciados e mais de metade (56%) com tu- de apenas 13 meses5.
mores indiferenciados. Em termos de possíveis fatores independentes
de prognóstico, é intuitivo e relativamente con-
23. QUAIS SÃO OS FATORES sensual que será importante a presença ou não
DE PROGNÓSTICO MAIS de metástases viscerais, a carga metastática ós-
RELEVANTES NA DOENÇA sea, seu número e localização, o score de Glea-
METASTIZADA? son, o PSA e a fosfatase alcalina iniciais e também
o performance status, não existindo, no entanto,
A população de CP M1 é uma população estudos que permitam afirmar a importância re-
extremamente heterogénea, onde se misturam lativa de cada um deles, nem sequer assegurar a
doentes que progrediram após terapêuticas de sua relevância prognóstica.
intuito curativo, tendo passado ou não por uma
doença localmente avançada documentada, com 24. BIOPSIAS LÍQUIDAS
doentes que se apresentam com metástases logo (DNA CIRCULANTE, EXOSSOMAS
na altura do diagnóstico. E MICRO-RNA) – QUE
Por outro lado, a maioria destes doentes já se APLICABILIDADE PRÁTICA?
encontra em tratamento, pelo que os fatores prog-
nósticos são muitas vezes dominados mais pelas Embora a biopsia de tecidos constitua o pa-
respostas aos tratamentos do que pelas caraterís- drão de material diagnóstico em Oncologia, a sua
ticas específicas do tumor e do hospedeiro. Um natureza invasiva e limitações relacionadas com
exemplo paradigmático é o muito pior prognóstico a amostragem têm levado ao desenvolvimento
do CP em fase de resistência à castração, com- de estratégias diagnósticas alternativas, no-
parativamente com um caso com as mesmas ca- meadamente através do isolamento e carateri-
raterísticas histológicas, imagiológicas e clínicas, zação de células neoplásicas, ou ácidos nuclei-
que ainda não iniciou terapêutica hormonal. cos delas derivados, em suspensão nos fluídos
orgânicos (sangue [plasma, soro], urina, fluído anos atrás, em que, perante um doente que era
seminal, etc.). O termo “biopsia líquida” aplica- diagnosticado com CP se aguardava que o mes-
se, portanto, a este tipo de amostras, em contra- mo desenvolvesse metástases, obviamente na
posição à biopsia tecidular dos “tumores sóli- esperança de que isso nunca viesse a acontecer,
dos”. As grandes vantagens das biopsias líquidas para então introduzir tratamentos paliativos, nor-
incluem o grau mínimo ou ausente de invasivida- malmente a hormonoterapia.
de para a sua colheita, diminuindo o incómodo Já a vigilância ativa é um tratamento atual e
para o doente e incrementando a frequência de validado como alternativa ao tratamento imedia-
monitorização, bem como o potencial de maior to de intuito curativo, que pretende evitar o
representatividade da heterogeneidade tumoral. tratamento eventualmente desnecessário de tu-
O ácido desoxirribonucleico (DNA) livre circulante mores “não clinicamente significativos” que são
(ctDNA) e os micro-RNA (miRNA) estão entre as detetados de forma cada vez mais frequente,
biomoléculas mais estudadas como potenciais permitindo ainda o tratamento de intuito curati-
biomarcadores oncológicos em biopsia líquida. vo nos doentes em que se registe progressão da
No CP, diversos estudos sugerem a utilidade da doença para uma forma clinicamente agressiva,
análise do ctDNA para deteção precoce (por evidenciada de forma histológica ou bioquímica,
exemplo, quantificação de metilação de promo- ao longo do processo.
tores de genes como GSTP1 e APC) e predição
de resposta terapêutica (por exemplo, número de 26. QUE INDICAÇÕES PARA
cópias circulantes do gene AR e resposta à en- WATCHFUL WAITING?
zalutamida), enquanto a quantificação dos níveis
de expressão de miRNA circulantes (por exemplo, O princípio do watchful waiting reside no fac-
miR-21, miR-141, miR-375) poderá auxiliar na to de que, frequentemente, o CP evolui de uma
deteção precoce e discriminação da agressivida- forma lenta e, por outro lado, surge frequente-
de tumoral6. As vesículas extracelulares e, espe- mente em doentes com idade e avançada e múl-
cialmente, os exossomas são uma das fontes de tiplas comorbilidades. Assim, seria possível prote-
ácidos nucleicos nos fluídos orgânicos, podendo lar ou mesmo evitar o tratamento em doentes de
o seu conteúdo ser utilizado para caraterização idade avançada e com um CP localizado.
genotípica, com utilidade no diagnóstico e prog- O limite clássico da expetativa de vida seriam
nóstico do adenocarcinoma da próstata. Contu- os 10 anos mas, obviamente, este limite deverá
do, na atualidade, nenhuma destas abordagens ser ajustado perante um tumor clinicamente mais
se encontra validada para uso clínico de rotina, agressivo ou perante populações em particular
embora o seu potencial de aplicação seja consi- risco de progressão como os indivíduos de raça
derado muito elevado. negra a viver em países ocidentais, em analogia
com a população afro-americana, mais bem es-
25. QUAL A DIFERENÇA tudada neste aspeto, ou indivíduos com muta-
ENTRE WATCHFUL WAITING ções do BRCA 2 conhecidas.
E VIGILÂNCIA ATIVA? Os estudos mostraram7 sobrevidas específicas
da doença de 80 a 95% para estádios clínicos T1
É frequente a confusão entre watchful wait- e T2 e scores de Gleason até 7. As sobrevidas são
ing (vigilância armada) e a vigilância ativa (active tanto melhores quanto mais bem diferenciados
surveillance). Na realidade, estas duas opções são sejam os tumores. A título de exemplo, no estudo
bastante diferentes, tanto na filosofia como na atrás referido, a sobrevida específica foi de 91%
época em que são ou foram utilizadas. Assim, o nos tumores bem diferenciados, 90% para os mo-
conceito de vigilância armada corresponde muito deradamente diferenciados e 74% para os mais
tipicamente à abordagem que era feita há muitos indiferenciados.
Doença localizada:
prostatectomia radical
e novas técnicas
B. Parada
invasivas. Uma vez excluídas causas secundárias • Radioterapia de salvação após recidiva bio-
de incontinência urinária, como aperto da anas- química do antigénio prostático específico
tomose ou hiperatividade vesical, o tratamento (PSA) (PSA > 0,2 ng/ml) e idealmente antes
pode incluir uma abordagem conservadora, como que exceda os 0,5 ng/ml.
o treino do pavimento pélvico, para as formas A radioterapia adjuvante, embora não se as-
ligeiras, ou uma abordagem cirúrgica, com slings socie de forma inequívoca a um aumento da OS,
masculinos para as formas moderadas e esfíncte- melhora a sobrevivência livre de progressão bio-
res urinários artificiais para as formas mais graves. química e o controlo local da doença8.
–– Nos doentes com gânglios positivos após a cirur-
36. QUAIS AS TAXAS DE DIFUNÇÃO gia (pN1), a radioterapia adjuvante, associada a
ERÉTIL E COMO TRATÁ-LA? hormonoterapia, está indicada por se associar
a aumento da sobrevivência específica do cancro.
À semelhança da questão anterior, há grandes
variações nas taxas de disfunção erétil reportadas, 38. QUANDO ESTÁ INDICADO
com valores que vão dos 0 aos 85%, um ano FAZER UMA PROSTATECTOMIA
após a cirurgia. RADICAL POUPADORA
Num estudo prospetivo, controlado e não alea- DE NERVOS?
torizado, envolvendo 14 centros, comparando
a prostatectomia radical assistida por robot com a A cirurgia poupadora de nervos pode ser fei-
prostatectomia retropúbica convencional, a inci- ta em doentes sem disfunção erétil prévia e com
dência de disfunção erétil aos 12 meses foi de baixo risco de doença extracapsuslar: cT1c, Glea-
70,4 e de 74,7%, respetivamente6. Numa análise son < 7 e PSA < 10 ng/ml.
sistemática, avaliando a disfunção erétil após esta Na doença de risco intermédio ou de alto
cirurgia ao longo de um período de 17 anos risco, a utilização de RMmp pode ajudar a sele-
(1997-2014), mostrou-se que os valores não va- cionar os candidatos a esse procedimento.
riaram significativamente ao longo do tempo7. Em caso de dúvidas peroperatórias, o cirur-
O tratamento da disfunção erétil deve ser ini- gião deve remover o rolo vásculo-nervoso ou rea-
ciado precocemente, podendo incluir terapêutica lizar estudos patológicos extemporâneos.
farmacológica oral com inibidores de fosfodieste- Séries recentes mostram que a cirurgia poupa-
rase-5 ou alprostadil sob a forma de creme ou dora de nervos, para além do efeito benéfico na
injetável. O aparelho de vácuo pode ser usado em função sexual, leva a uma melhoria das taxas de
alguns casos. Nos doentes que falham as terapêu- continência urinária a longo prazo9.
ticas de primeira e segunda linhas, a colocação de
uma prótese peniana é a única opção terapêutica. 39. QUAL O PAPEL DAS
TERAPÊUTICAS ABLATIVAS?
37. QUANDO INDICAR A
RADIOTERAPIA ADJUVANTE APÓS As terapêuticas ablativas incluem um conjun-
A PROSTATECTOMIA RADICAL? to de técnicas minimamente invasivas utilizadas
para tratar toda a próstata ou apenas uma parte
–– Nos doentes pT3N0, com elevado risco de (terapêutica focal) da próstata com cancro. As
recidiva local após a prostatectomia radical principais técnicas ablativas são a braquiterapia,
devido a margens positivas, rutura da cápsula, a criocirurgia e a high intensity focused ultrasou-
Gleason > 7 e/ou invasão das vesículas semi- nd (HIFU). Existem ainda outros procedimentos,
nais, há duas opções terapêuticas: como a ablação por radiofrequência, a terapêuti-
• Radioterapia adjuvante imediata ao leito cirúr- ca fotodinâmica e a eletroporação, em fases mais
gico, após recuperação da função urinária; ou iniciais de desenvolvimento.
Doença localizada:
radioterapia externa
e braquiterapia
R. Sousa e G. Vieira
O racional da associação da HT com a EBRT dose da radiação, nos doentes de risco intermé-
assenta em três níveis: a) diminuição do volume dio, estando em aberto a demonstração do bene-
de próstata até cerca de 30% quando usada entre fício da HT face às novas modalidades de escalada
dois a seis meses antes do tratamento definitivo; de dose. Por este motivo, existem atualmente em
b) aumentar a oxigenação e diminuir a resistência curso seis ensaios aleatorizados: Radiation Therapy
vascular, potencializando o efeito radiobiológico3,4, Oncology Group (RTOG) 0815; NCT 00936390;
e c) inibição da proliferação celular, prevenindo a EORTC 22991, National Center for Tumor Diseases
disseminação sistémica. (NCT) 00021450; Groupe d’étude des tumeurs
Na doença de baixo risco não existe benefício urogénitales (GETUG) 14; NCT 00104741, que se
em termos de sobrevida global (SG) ou sobrevida espera que venham responder definitivamente a
livre de progressão (SLP) na associação de HT à EBRT. esta questão, mas a tendência com base nos resul-
Pelo contrário, existe forte evidência no bene- tados preliminares, é que a escalada de dose, por
fício da associação de HT com a EBRT em grupos si só, não é superior ao efeito combinado da HT.
de alto risco e risco intermédio, apoiados fundamen- Os efeitos secundários não devem ser negli-
talmente nos estudos aleatorizados de D’Amico5-7 genciados: a) diminuição da massa muscular, que
e Trans-Tasman Radiation Oncology Group (TROG) se traduz em fadiga e aumento de peso; b) efeitos
96.018, em termos de progressão bioquímica e local. metabólicos com resistência à insulina e dislipide-
As linhas de orientação da European Associa- mia; c) o risco cardiovascular, resultante da con-
tion of Urology (EAU) de 20169 e da American junção da dislipidemia, do aumento de peso e da
Urologic Association (AUA)10, revistas em 2016, resistência à insulina, foi avaliado recentemente
recomendam HT de curta duração (quatro a seis numa metanálise20 com 4.141 doentes, em que
meses) associada a EBRT para os casos de risco in- não se verificou aumento de eventos cardíacos em
termédio, e de dois a três anos nos de risco eleva- doentes que receberam HT durante seis meses ou
do ou localmente avançados. menos; d) diminuição da densidade óssea e risco
Em termos de hormonoterapia neoadjuvante, de fraturas; e) sintomas vasomotores traduzidos por
a evidência é um pouco confusa. Mais importan- hot flashes devidos à libertação de norepinefrina em
te do que o fator temporal é a concomitância. Com resposta à diminuição de testosterona e estrogé-
os dados de que dispomos hoje, é consensual nio, e f) efeitos sexuais, com disfunção erétil e di-
iniciar o tratamento hormonal dois a três meses minuição da líbido, ginecomastia e dor mamária.
antes da radioterapia. Existem estudos que supor- Em resumo, mesmo na era da escalada de
tam esta indicação, mas incidem fundamentalmen- dose e modernas técnicas de radioterapia, a asso-
te em doentes com doença localmente avançada, ciação da HT é benéfica para os doentes de risco
não existindo nenhum estudo em relação ao be- intermédio e alto. Devem ser tomadas medidas
nefício da neoadjuvância em doentes com doença adicionais para minimizar os riscos da terapêutica
localizada8,11,12. Considerando o efeito citorredutor hormonal. Para os doentes de risco intermédio,
que prevê entre 25-33% aos três meses13,14, é lí- quatro a seis meses de HT parecem suficientes. No
cito considerar que iniciar a redução hormonal dois momento presente, dois a três anos de HT é a re-
a três meses antes permite otimizar a dose-alvo. comendação para os doentes de alto risco. Como
A evidência do benefício da redução hormonal consequência da recomendações da US Preventive
associada a EBRT em doentes de alto risco está Services Task Force (USPSTF) em relação ao rastreio,
fortemente suportada e recomendada nos en- prevê-se que o número de doentes com doença
saios da European Organisation for Research and intermédia e de alto risco venha a aumentar. Vão
Treatment of Cancer (EORTC) 2286315 e EORTC ser estudados novos fármacos na combinação
2296116, e confirmada por outros estudos17-19. com a radioterapia: degarelix (que ao inibir a via
Existe alguma controvérsia na duração do tra- do fator vascular endotelial, pela sua ação con-
tamento de redução hormonal e na otimização da comitante na hormona foliculoestimulante (FSH),
Figura 1. Resultados da meta-análise publicada pela Prostate Cancer Treatment Research Foundation,
de acordo com o grau de risco da doença e o tratamento realizado (fonte: http://www.pctrf.org/download-
study-results/).
alterações intestinais nos dois primeiros anos pode haver doença microscópica na proximidade
após a prostatectomia radical em relação à EBRT, (clinical target volume [CTV]), o que implica es-
porém, sem impacto nos efeitos secundários aos tabelecer margens de segurança até 20 mm,
15 anos de seguimento. de acordo com o tamanho da próstata, o grau de
risco da doença e o estadiamento, prescrevendo
44. QUAIS AS OPÇÕES a dose a tratar ao volume total (planning target
DE ADMINISTRAÇÃO volume [PTV]).
E FRAGMENTAÇÃO DE DOSE? Em 2015, Juneja, et al.27 indicavam o uso
diário de aplicadores ou substâncias na ampola
Relativamente à dose a administrar em EBRT, retal, no sentido de diminuir esta variação e, con-
ela está estreitamente relacionada com a opção sequentemente, as margens usadas nos planea-
da técnica que se estabelece no tratamento. mentos, como uma das possíveis técnicas a usar
Hoje em dia é obsoleto o uso da técnica na resolução deste problema.
de 2D, utilizada nas décadas de 70 e 80, e o Com a IMRT, o planeamento da radioterapia
tratamento com a técnica 3D conformacional ado- permite isodoses em forma côncava, conseguindo
tada desde os anos 90, parece ser insuficiente. assim uma maior proteção do reto. Esta é reali-
O uso da IMRT em associação com a IGRT é atual- zada com planeamento inverso, onde é definida
mente o que apresenta melhores resultados e, a dose que não se pode ultrapassar nos diferentes
por isso, fortemente recomendado. órgãos adjacentes, de acordo com a sua biologia
De acordo com a estratificação do grau de e tolerância à radiação, sob pena de haver efeitos
risco e do estadiamento da doença, já em 1993, secundários irreversíveis com impacto na qualida-
Roach 3rd, et al.25 indicavam o valor preditivo da de de vida dos pacientes.
irradiação ganglionar pélvica, tendo por base o Em 2013, Bakiu, et al.28 apontam a eficácia
valor do PSA e de Gleason da biopsia sextante. Os do tratamento à próstata com doses de 80 Gy. Em
doentes de baixo risco não carecem desta irradiação 2016, Rudat, et al.29, com a associação da IGRT
profilática ganglionar, contudo, é fundamental a com a IMRT, advogam a possibilidade de aumentar
realização da mesma nos de intermédio e alto risco. a dose para cerca de 86 Gy e simultaneamente
A dose a administrar, com a EBRT 3D confor- diminuir as margens do PTV, sendo colocados
macional, são 45 Gy/25 frações com frações de marcadores fiduciais no interior da próstata, como
1,8 Gy/dia, à região ganglionar pélvica, à próstata referências da sua localização diária. Utilizando um
e às vesículas seminais, seguida da irradiação do sistema de imagem de kilovoltagem (cone beam
1/3 das vesículas seminais e da próstata, com uma computed tomography ou on-board Imaging [OBI]),
dose de 16 Gy/8 frações com frações de 2 Gy/dia o campo de tratamento é ajustado ao posiciona-
e concluindo com a irradiação da próstata, com mento dos marcadores, sendo muito mais fidedig-
uma dose de 14 Gy/7 frações, mantendo o fra- no do que as referências ósseas anatómicas.
cionamento de 2 Gy/dia, desde que as doses de Em 2005, Zietman, et al.30 e DeWeese, et al.31
constrangimento dos órgãos próximos não sejam e, em 2014, Dearnaley, et al.32 demonstraram que
ultrapassadas. a escalada de dose no tratamento de radioterapia
Atendendo ao facto de que a próstata tem é crucial, e que doses inferiores a 72 Gy levam a
uma mobilidade diária não desprezível, devido à uma diminuição da eficácia do tratamento, no que
quantidade de urina na bexiga e das fezes na respeita ao controlo local da doença com conse-
ampola retal, e dos movimentos peristálticos do quente diminuição na sobrevida dos doentes.
intestino, já em 1998, Antolac, et al.26 referem A recente utilização da radioterapia estereo-
desvios diários na ordem dos 11 aos 15 mm, o que táxica extracraniana (SBRT) em dose fracionada,
leva os radioncologistas a considerarem que, para nos tumores localizados de baixo risco da prósta-
além do órgão-alvo (gross tumor volume [GTV]), ta, com a administração de 36,25 Gy/5 frações
em CyberKnife®, como publicado em 2012 por –– Pele – a área irradiada com os campos de
King, et al.33, é usado apenas em investigação entrada e de saída da radiação no tratamento);
clínica. –– Aparelho geniturinário, principalmente a be-
Por muito eficaz e assertiva que seja a locali- xiga, podendo haver efeitos a nível da uretra,
zação do alvo, quando se aumenta a dose por da glande e, menos usual, nos testículos.
fração/dia (o standard é 1,8 a 2,0 Gy), radiobio- Os efeitos secundários tardios tem impac-
logicamente estamos a agravar os efeitos secun- to na qualidade de vida dos pacientes.
dários tardios da radiação. A conclusão da inves- –– Aparelho gastrointestinal, principalmente o
tigação afirma haver o mesmo controlo local da reto, podendo haver efeitos, apesar de raros,
doença, mas carece de tempo de seguimento, a nível do intestino delgado. Doentes com
para verificar o que vai suceder aos tecidos e antecedentes ou com patologia hemorroidá-
órgãos adjacentes, pois estes resultados têm ape- ria presente têm habitualmente um incremen-
nas cinco anos de publicação. to considerável das queixas ou mesmo uma
Já o planeamento e uso da SBRT de dose crise de inflamação deste plexo vascular.
única (single fraccion), publicado em março de Os efeitos secundários tardios têm impac-
2017, por Henderson, et al.34, com a administra- to na qualidade de vida dos doentes e são
ção de 15 Gy/1 fração, é referido como teorica- considerados na altura de decisão da dose a
mente realizável, baseando-se na experiência do prescrever.
uso de braquiterapia de alta dose (HDR), mas Assim, de acordo com a sintomatologia apre-
carece de ensaios clínicos e é utilizada apenas em sentada descrevem-se abaixo os vários efeitos:
investigação. –– Portanto, a nível da pele, os efeitos agudos
podem ser classificados como se mostra na
45. QUAIS AS COMPLICAÇÕES tabela 1.
DA RADIOTERAPIA E COMO A nível pélvico, na pele irradiada, é raro
TRATÁ-LAS? haver casos superiores ao grau II. A sintoma-
tologia aparece no final da segunda semana
As complicações da radioterapia advêm da de tratamento e, caso não haja assistência,
área que irradiamos ao realizar o tratamento. Com agrava-se na quinta semana de tratamento. É
a radiação há efeitos induzidos nas células e te- raro suspender-se o tratamento à próstata por
cidos que são reversíveis, mas também há efeitos radiodermite.
irreversíveis, de acordo com a dose e o intervalo Habitualmente usam-se cremes hidratan-
de tempo de recuperação que realizamos entre tes, como por exemplo o Biafine®, Bepanthe-
as frações. ne® Plus Creme, Sativa Gel® com aloe vera,
Desta forma, podemos dividir os efeitos se- Trixera® ou Ureadin Rx® Rd, duas a três vezes
cundários da radioterapia em: agudos, que de- por dia, mas nunca imediatamente antes do
correm durante o tratamento e gradualmente vão tratamento diário.
desaparecendo até sensivelmente seis semanas –– A nível do aparelho gastrointestinal, os efeitos
após o término do mesmo; e em efeitos secun- agudos podem ser classificados de acordo com
dários tardios, que podem suceder a partir dos o apresentado na tabela 2.
seis meses após o término do tratamento até ao A nível pélvico é raro haver casos superio-
final da vida. res ao grau II.A sintomatologia aparece no
Tratando-se da radioterapia da próstata, exis- final da segunda semana de tratamento, e
tem três órgãos que normalmente apresentam tem tendência a agravar-se por volta da quin-
alterações agudas (dois deles representam tam- ta semana.
bém a nossa preocupação com os efeitos secun- Habitualmente, prescreve-se UL-250® (re-
dários tardios), sendo: por a flora intestinal) de uma forma profilática,
advoga-se uma boa hidratação (cerca de três órgão mais atingido, havendo, no entanto,
litros de líquidos, sem gás, por dia), e nos por vezes, queixas a nível da uretra ou da
casos de diarreia frequente (mais do que dois glande (se estiver incluída nos campos de tra-
episódios por dia) o Imodium®, após cada epi- tamento).
sódio diarreico, mas nunca com toma diária A sintomatologia aparece no final da quar-
superior a quatro comprimidos. ta semana de tratamento, e tem tendência a
–– A nível do aparelho geniturinário, os efeitos agravar-se por volta da sexta semana, poden-
agudos podem ser classificados como se se- do permanecer até quatro semanas após o
gue na tabela 3. final do tratamento.
A nível pélvico é raro haver casos superio- Geralmente, prescreve-se Urispás® de
res ao grau II. Habitualmente, a bexiga é o uma forma profilática, recomenda-se uma boa
Atrofia epitelial ligeira Poliúria moderada Poliúria severa e disúria Necrose com contratura
Telangiectasia minor Telangiectasias Telangiectasia severa de bexiga (capacidade
Hematúria microscópica generalizadas (frequentemente com < 100 cc)
Hematúria macroscópica petéquias) Cistite hemorrágica
intermitente Hematúria frequente severa
Redução da capacidade
da bexiga (< 150 cc)
hidratação (cerca de três litros de líquidos sem da realização da aplicação de argon. Nos ca-
gás por dia) e, nos casos de agravamento das sos mais graves, de grau III, a oxigenoterapia
queixas (grau II, de uma forma mais exube- hiperbárica tem excelentes resultados.
rante), associa-se um anti-inflamatório e/ou –– A nível do aparelho geniturinário, podem ser
um antibiótico de largo espetro. Nos casos de classificados de acordo com a tabela 5.
agravamento pode-se prescrever um esquema A nível pélvico é raro haver casos de cisti-
curto de corticoterapia. tes superiores ao grau II. A sintomatologia
Em relação aos efeitos secundários tar- pode aparecer ao final de um a quatro anos,
dios, eles também estão relacionados com a com maior evidência nos casos em que, du-
sintomatologia apresentada. rante o tratamento, os efeitos agudos tenham
–– A nível do aparelho gastrointestinal, podem sido muito exuberantes. Com as novas técni-
ser classificados como mostra a tabela 4. cas verifica-se a diminuição dos efeitos. No
A nível pélvico, na área irradiada é raro entanto, com o incremento de dose, ainda é
haver casos superiores ao grau II. A sintoma- prematuro afirmar que não possam suceder
tologia pode aparecer ao final de um ano, casos com graus mais elevados.
caso durante o tratamento os efeitos agudos Habitualmente, solicita-se a observação e
tenham sido muito exuberantes, mas, com orientação pelos colegas da urologia, para a
as novas técnicas, verifica-se uma diminuição realização de exames auxiliares de diagnóstico
acentuada destes sintomas. que comprovem e classifiquem estas altera-
Habitualmente solicita-se a observação e ções. Prescreve-se inicialmente a instalação de
orientação pelos colegas da gastroenterologia, protetores da mucosa, e nos casos refratários
para a realização de exames auxiliares de diag- há a necessidade da realização da oxigenote-
nóstico que comprovem e classifiquem estas rapia hiperbárica, com excelentes resultados.
alterações. Prescrevem-se inicialmente supo- Nos poucos casos verificados de grau III/IV,
sitórios de Sucalfate® ou equivalente, e nos a cistectomia parcial ou total pode ser a so-
casos refratários há, por vezes, a necessidade lução para a melhoria na qualidade de vida
Indicações
RTU-P – -
Contraindicações
As contraindicações relativas mais importan- próstatas pequenas, poderá ser efetuado uma
tes são: ITU-p no mesmo tempo cirúrgico, com deri-
–– Ressecção transuretral (RTU-p) da próstata pré- vação suprapúbica de segurança;
via – por dois motivos: o primeiro prende-se –– Interferência de arco púbico – aceita-se como
com o defeito da loca prostática, tanto pela regra que não deverá exceder os 25%. Esta
irregularidade como pela dimensão, uma vez interferência limita ou impede a inserção de
que dificulta e pode prejudicar o planeamento; fontes nas coordenadas pré-definidas. Pode ser
em segundo lugar, pelo risco de incontinên- avaliada através de ecografia endocavitária ou
cia, embora os resultados publicados sejam com TC pélvica. Este facto explica também a
controversos, aceita-se que o risco rondará os limitação de volume, definida nos consensos
10%. Não existem estudos sobre os resulta- (50-60 cm3). Existem técnicas que podem col-
dos com a incisão transuretral (ITU-p) uni ou matar esta dificuldade através da litotomia exa-
bilateral. Do ponto de vista prático, a decisão gerada ou com planeamento, e respetiva dosi-
deve ser ponderada caso a caso. Em casos de metria faseada, ou poderá ser efetuada uma
sintomas de esvaziamento importantes, com citorredução através de manipulação hormonal;
–– Presença de “lobo médio” – condiciona o a dose administrada na uretra deve ser inferior a
planeamento e a respetiva dosimetria, uma 150% da dose-alvo, isto é, deverá ser inferior a
vez que poderá ser tecnicamente difícil a co- 200 Gy (UD150), e o volume da uretra, que pode
locação de fontes, com risco de migração. receber mais do que 125% da dose-prescrita
Mais uma vez, deve ser equacionado caso a (UV125), deverá ser inferior a 1 cm3.
caso, e poderá eventualmente ser efetuada Através das curvas de isodose, não deverão
uma ressecção transuretral deste lobo, no existir áreas acima dos 150% da dose-prescrita
mesmo tempo cirúrgico. É um procedimento no interior da próstata.
relativamente simples e seguro, embora po- Após a conclusão do implante, deverá ser
dendo obrigar a tempo de internamento hos- confirmado o número de fontes inseridas, através
pitalar suplementar; de intensificador de imagem, e conferido com o
–– Envolvimento extenso das vesículas seminais número de fontes que foram disponibilizadas para
– em que se configura uma doença localmen- o implante, para efeitos de controlo do número
te avançada. de fontes inseridas no paciente, mas também
–– Doença inflamatória pélvica – pelos riscos como medida de proteção do ambiente e profis-
agravados de toxicidade gastrointestinal, que sionais contra radiações.
podem ser graves; À quatro a seis semanas deverá ser efetuada
–– Radiação prévia – pelo efeito cumulativo e dosimetria de controlo, através de TC, e confirma-
toxicidade; dos os parâmetros de boa qualidade do implante.
–– Limitação osteoarticular da anca – pela inca- O seguimento imediato do doente deverá ser
pacidade de litotomia ou mesmo de litotomia efetuado às 24 horas e oitavo dia do implante,
exagerada. com especial ênfase na avaliação de sintomas e
Os resultados e as morbilidades de um im- exame do períneo.
plante estão diretamente relacionados com a se- O seguimento oncológico deverá ser efetuado
leção do doente e com a precisão e técnica do com avaliação clínica e determinação sérica do
implante. PSA total de três em três meses, durante os pri-
Existem várias modificações da técnica, desde meiros cinco anos, e depois anualmente.
o pré-planeamento, ao planeamento em tempo-
-real, à dosimetria intraoperatória, ao pré-carre- 47. QUAIS OS RESULTADOS
gamento das fontes em agulhas, ao carregamen- DA BRAQUITERAPIA?
to das fontes mediante planeamento em tempo
real, ao uso de sementes soltas com espaçadores Na avaliação dos resultados de qualquer téc-
ou através de dispositivos de libertação (mick- nica para tratamento oncológico há que, em pri-
-applicator), ou sementes ligadas com espaça- meiro lugar, definir os objetivos end-points. Os
mento fixo ou variável, ao implante efetuado sob objetivos mais frequentemente usados são a so-
controlo ultrassonográfico e/ou com ajuste de brevida livre de progressão bioquímica (SLPB), a
intensificador de imagem. SG e a sobrevida específica de cancro (SEC).
Os parâmetros mais importantes que definem A moderna braquiterapia com implantes per-
um bom implante são a percentagem da dose-al- manentes de baixa taxa de dose (BQTBTD) é usa-
vo administrada em 90% da próstata (D90), que da há cerca de duas décadas, estando largamen-
deverá ser superior a 120%, idealmente perto te difundida e com resultados sólidos e robustos.
dos 170-180 Gy, e o volume de próstata que A BQTBTD tem sido usada maioritariamente em
recebe 100% da dose prescrita (V100), que de- doentes com doença de baixo risco, definida segun-
verá ser superior a 90%. do os critérios NCCN (cT1-T2a; PSA < 10 ng/ml;
Em relação à toxicidade, nomeadamente a score de Gleason (SG) ≤ 6) e nalguns casos de risco
uretral, existem dois parâmetros a ter em conta: intermédio (cT2b-T2c; SG 7; PSA 10-20 ng/ml).
A recidiva bioquímica após braquiterapia con- esmagadora maioria de grau I. Em média, aos
siste numa elevação dos valores do PSA total, 12 meses cerca de 90% regressam à situação
segundo dois critérios mais usados: basal, e aos 10 anos cerca de 95% dos doen-
–– Phoenix – nadir + 2 ng/ml; tes não tem sintomas urinários. Os fatores
–– American Society for Therapeutic Radiology preditivos são obviamente o score de base e
and Oncology (ASTRO) – três subidas conse- o volume prostático. A taxa de retenção uri-
cutivas acima do nadir, com intervalos de três nária é, em média, de 5-10%, a maioria re-
meses. solvida com cateter uretral de curta duração
É importante referir que podem existir flutua- (uma a duas semanas); cerca de 2-3% dos
ções do PSA nos primeiros dois anos, fenómeno doentes requerem algum tipo de instrumen-
conhecido como PSA bounce – definido como um tação desde dilatações uretrais (1,7%), cate-
aumento de pelo menos 0,2 ng/ml acima do na- terismo (2,7%) até RTU-p (0,4%)44,45;
dir, seguido de baixa espontânea para valores –– Retais – existe alguma sintomatologia irritativa
iguais ou inferiores ao nível pré-bounce35,36. durante o primeiro e o segundo anos pós-im-
Nem todos os doentes com recidiva bioquími- plante (20-30%), maioritariamente de grau I;
ca progridem para doença metastática ou morte, retorragias estão descritas entre 2-7%; ulce-
estima-se que somente um terço. O tempo para rações ou fístulas retouretrais são raríssimas
recorrência é um fator prognóstico importante (< 0,01%);
quanto à presunção de recorrência local e pro- –– Disfunção erétil – a idade e o score pré-trata-
gressão para doença metastática, assim como o mento são os fatores preditivos mais importan-
tempo de duplicação do PSA. tes. Em termos globais, aos oito anos, a capa-
Doentes com PSA > 0,5 ng/ml, que permane- cidade erétil está preservada em 60-80% dos
cem estáveis, podem estar livres de doença. doentes com menos de 60 anos, reduzindo
Os resultados do tratamento com BQTBTD são para 55-60% nos doentes com 60-70 anos,
consistentes em toda a literatura publicada. Para e 20-30% nos doentes acima dos 70 anos46.
doentes com doença de baixo risco a SLPB, quando Globalmente, 50% dos doentes tem função
aplicado o critério de Phoenix, aos cinco anos é de erétil preservada aos oito anos, sendo que
92,8%37; 94,638; 98,9%39; 92,9%40, aos 10 anos cerca de 30% destes necessitam de recurso a
entre 87-94%41, segundo uma revisão publicada inibidores da 5-fosfodiesterase. Existem, po-
em 2009, e aos 15 anos de 85,9%42, segundo os rém, séries com taxas de manutenção de ere-
resultados de Seattle, publicados em 2010. ção satisfatória aos cinco anos de 82%47.
Os resultados da BQTBTD, quando comparada Como nota final existem centros e estudos a
com a EBRT nos grupos de baixo risco e de risco decorrer com escalada de dose de 145 Gy para
intermédio, foram revistos num estudo canadiano 160 Gy (no caso de I125), permitindo a obtenção
retrospetivo publicado em 2015, que englobou de D90 (dose distribuída em 90% do volume da
7974 doentes tratados com BQTBTD, ou com próstata) de cerca de 180 Gy, com excelentes re-
EBRT, ou com BQTATD + EBRT, entre 1994 e 2010, sultados e baixa toxicidade.
e que mostra que a BQTBTD em monoterapia
para doentes de baixo risco e risco intermédio 48. QUE DIFERENÇA ENTRE
não é inferior aos resultados com a EBRT isolada BRAQUITERAPIA DE BAIXA
ou associada a BQTATD43. E ALTA DOSE?
Os efeitos secundários mais comuns são:
–– Urinários – são os mais frequentes, podendo Quer a BQTBTD com implantes permanentes
ser de enchimento ou de esvaziamento. Cerca quer a BQTATD com implantes temporários são téc-
de 50% dos doentes têm algum grau de in- nicas competitivas e, embora não existam ensaios
cómodo imediatamente após o implante, a aleatorizados comparativos, os dados disponíveis
permitem inferir que ambas são igualmente efi- ser usadas, em monoterapia, em doentes com ris-
cazes, estádio a estádio, com uma elevada taxa co de doença extraprostática, consensualmente
de controlo da doença. aceite como presença de, pelo menos, dois fato-
A BQTBTD recorre à colocação de pequenas res de risco: PSA > 20 ng/ml; estádio clínico su-
fontes permanentes, distribuídas pelo órgão, de perior a T2b; score de Gleason > 7. O risco inter-
acordo com várias métodos de planimetria e im- médio (presença de, pelo menos, um dos fatores
plantadas com recurso a várias modalidades de de risco enunciados) não é uma contraindicação
dosimetria. É usada em monoterapia e associada absoluta para tratamento com monoterapia, quer
à EBRT como boost, no tratamento do CP localiza- com a BQTATD quer com a BQTBTD.
do, como alternativa à prostatectomia radical e à Em termos de técnica de implante, ambas são
EBRT, segundo indicações e estratificação de risco, similares: desde a preparação intestinal, antibiote-
bem fundamentadas e reconhecidas pelas diferen- rapia profilática, avaliação do risco de trombose
tes sociedades48-50. É um procedimento realizado venosa profunda e respetiva manipulação de fár-
num único tempo, com baixa estadia hospitalar, macos, ao posicionamento do doente, anestesia,
podendo mesmo ser efetuado em ambulatório, e planimetria mediante recurso a ecografia endoca-
tem resultados favoráveis com tempo de recuo vitárias (pré-tratamento ou intraoperativa). Ambas
elevado, em termos de sobrevida livre de doen- necessitam de um plano de tratamento que inclui
ça, controlo bioquímico e baixa toxicidade42,51-55. a posição das agulhas, número, e comprimento
A reduzida taxa de complicações imediatas e tar- das fontes (no caso da BQRBTD), ou número e
dias, mesmo com escalada de dose, associadas a localização das agulhas (no caso da BQTATD), con-
diferentes técnicas de implante e desenvolvimen- formação e volume da próstata. O equipamento
to de novos planeamentos computorizados, per- de ultrassons é combinado com uma grelha de
mitiu um aumento da acessibilidade e populari- coordenadas (template) e a sonda assente num
dade, que fizeram da BQTBTD o procedimento posicionador. O plano de carregamento das fon-
gold standard da braquiterapia da próstata para tes transmite coordenadas ao sistema computo-
doentes de baixo risco. rizado, de acordo com o template acoplado, de-
A BQTATD é uma modalidade de braquiterapia finindo o local exato de inserção de cada agulha.
em que a fonte radioativa, usualmente iridium 192 A partir deste ponto as técnicas divergem, sendo
(192Ir) ou cobalto 60 (60Co), largamente difundida que na BQTBTD as fontes são deixadas nas coor-
e disponível, é aplicada temporariamente, median- denadas certas mediante a remoção de agulha a
te um aplicador com recurso a equipamento que agulha, mediante controlo ecográfico e/ou fluo-
é usado desde há 30 anos, também disponível e roscópico, sem possibilidade de remoção das mes-
comum a tratamentos de neoplasias de outros ór- mas, uma vez já implantadas. Além da dosimetria
gãos. O posicionamento da fonte no aplicador e o intraoperatória, o controlo de qualidade do im-
fracionamento da dose podem ser livremente pro- plante é efetuado com TC entre a quarta e a
gramados, com controlo preciso através de plani- sexta semanas pós-implante, com recurso a histo-
metria e dosimetria em tempo-real, permitindo gramas de dose-volume. No caso da BQTATD, as
uma elevada precisão. Inicialmente, a BQTATD foi fontes são removidas em cada sessão, o que im-
introduzida como suplemento da EBRT, mas desde plica que a dosimetria seja diferente, só sendo
o final da última década tem sido usada em mo- possível no decurso do tratamento e de acordo
noterapia para doentes de baixo risco e intermédio. com o fracionamento da dose, o que, por sua vez,
As indicações para braquiterapia com estas implica a introdução de dois parâmetros diferen-
duas modalidades BQTBTD e BQTATD estão bem tes: taxa de dose e dose por fração da dose-alvo
estabelecidas nas recomendações da ABS e de (D100, D90 para CTV1, CTV2 e CTV3). Existem
GEC-ESTRO56-58. Mas, de um modo simplificado, também parâmetros para o controlo de dose na
as duas modalidades de braquiterapia não devem uretra, bexiga e reto, para ambas as técnicas.
Em termos de dose, a BQTBTD tem parâ- De igual modo, não existindo restrições de migra-
metros bem estabelecidos para monoterapia ção de fontes ou de emissão de radiação pelo
(140-160 Gy) e para tratamento combinado com paciente, a par do menor edema devido ao curto
EBRT (40-50 Gy EBRT + 100-110 Gy de boost período de tratamento, parece aliciante o uso de
BQT). A BQTATD usa diferentes esquemas de fra- BQTATD para o tratamento de doença mais agres-
cionamento, podendo ser efetuada uma vez ou siva e com maior probabilidade de extensão ex-
em várias vezes. A ABS propõe três esquemas tracapsular.
para monoterapia e quatro para tratamento com- Por outro lado, em termos de braquiterapia com
binado. Dependendo do esquema usado, em cada implantes permanentes de baixa taxa, esta tem a
sessão as doses administradas tem um intervalo seu favor os excelentes resultados aos 15 anos,
de tempo de seis horas. A titulo de exemplo, um para doença de baixo risco, custo e menor duração
dos esquemas mais correntes é 3*10.5-11 Gy com do procedimento (um dia vs. 46 semanas). Am-
uma a duas semanas de intervalo. bas as técnicas são muito dependentes da expe-
Vale a pena referir que as doses biologicamen- riência individual. Foram apresentados em 1998,
te efetivas, quando comparadas a BQTBTS e a na ASTRO Meeting – Phoenix, os resultados com-
BQTATD, podem ter diferenças importantes, sen- parativos entre as duas técnicas.
do esta uma apreciação que transcende o objeti-
vo desta abordagem. 49. QUAL O LUGAR
Simplificando e comparando as duas diferen- PARA A ASSOCIAÇÃO
tes técnicas ou métodos de braquiterapia: para a DE BRAQUITERAPIA
BQTBTD os dois parâmetros mais importantes na E RADIOTERAPIA EXTERNA?
dosimetria de controlo são o D90 (90% da prós-
tata que recebe a dose prescrita, por exemplo, O prognóstico para homens com CP clinica-
140 Gy), que deve ser perto ou superior a 120% mente localizado, de alto risco, tratados com ra-
da dose prescrita, e o V100 (o volume de prósta- dioterapia externa (EBRT) tem melhorado significa-
ta que recebeu 100% da dose prescrita); para a tivamente nos últimos 25 anos. Com a associação
BQTATD o parâmetro mais importante é o V100, do tratamento de privação androgénica (bloqueio
em que é recomendado que seja superior a 90% hormonal) ao tratamento de EBRT 3D conformacio-
da dose prescrita (V100 > 90%). nal e às doses usadas com esta técnica, em 1988,
Em conclusão, ambas as modalidades de bra- Zagars, et al.63, num estudo aleatorizado prospe-
quiterapia só podem ser comparáveis em doença tivo, referia o aumento da sobrevida específica
de baixo risco. Existem ainda poucos resultados do sem doença e da SG. Para além disso, o incre-
uso de BQRATD em monoterapia, quer no que diz mento de dose para 78-80 Gy trouxe melhorias
respeito à taxa de sucesso quer no que diz respei- na sobrevivência livre de recidivas bioquímicas. No
to à taxa de complicações59-62. A BQTATD permi- entanto, mesmo com estas melhorias, os doentes
te uma distribuição de dose menos homogénea, com CP de alto risco continuam a ser um desafio
permitindo concentrações maiores na zona do terapêutico para as equipas multidisciplinares.
tumor (maiores V150 e V200), permitindo mino- Em 2009, Stock, et al.64 publicaram o uso da
rar as doses nos órgãos em risco (uretra, bexiga terapêutica trimodal, implante de braquiterapia
e reto), através do planeamento e dosimetria mais com palladium 103 (Pd103) associado à EBRT e ao
flexíveis e à custa de uma menor conformaciona- bloqueio hormonal, em pacientes com doença de
lidade. É impossível a reversão de hot spots após alto risco, com score de Gleason 8-10, numa série
braquiterapia de baixa dose, ao passo que a alta de doentes tratados entre 1994 e 2006, concluin-
taxa, permite compensações através dos fracio- do haver uma melhoria no controlo da doença
namentos, o que permite antever um papel mais à distância, aumento da sobrevida específica da
relevante no tratamento de doença extracapsular. doença e controlo bioquímico a longo prazo.
Em 2011, Carpenter, et al.65 publicaram o uso ulcerações ou necrose, com necessidade de inter-
da terapêutica trimodal, em pacientes com doen- venção (grau IV). Já no que diz respeito à toxicida-
ça extraprostática (biopsia prostática com invasão de tardia (superior a três anos), varia entre o grau I
seminal, presença de gânglios positivo histologi- (atrofia epitelial minor, telangiectasias mínimas ou
camente comprovada ou classificados clinica- micro-hematuria; aumento do trânsito intestinal
mente como T3), numa série de doentes tratados < cinco vezes, dejeções mucosas ou hemorrági-
entre 1992 e 2004, concluindo haver um aumen- cas minor) até ao grau IV (necrose vesical, dimi-
to do controlo bioquímico a longo prazo, identi- nuição da capacidade e acomodação < 100 ml,
ficando numa análise multivariada como fator cistite hemorrágica severa; necroses intestinais
preditivo a administração de doses radiobiológi- ou fístulas).
cas eficazes (BED) superiores a 200 Gy, com sig- A uretrite e prostatite induzidas pela radiação
nificância estatística. podem traduzir-se em aumento de frequência uri-
O racional baseia-se na possibilidade da bra- nária, urgência, nictúria, hesitação, jato enfraque-
quiterapia poder aumentar a dose local e, em cido e disúria terminal, e podem manifestar-se a
associação com a radioterapia ganglionar pélvica, partir da segunda e terceira semanas de implante,
poder melhorar os resultados na doença de alto com um pico de intensidade aos dois meses, com
risco, onde taxas de controlo bioquímico do PSA melhoria gradual ao sexto a nono mês.
de 85-90% poderão ser obtidas em grandes coor- Cerca de 90% dos doentes têm algum sintoma
tes de pacientes. geniturinário, de grau I ou II, durante os primeiros
No Japão, a associação da braquiterapia, com 12 meses pós-implante69. Por outro lado, somen-
implantes permanentes com sementes, associada te cerca de 1,5% tem toxicidade de grau IV. Os
ao tratamento de radioterapia externa começou α-bloqueantes, os inibidores da 5-fosfosdiestera-
a fazer parte das guidelines nacionais no trata- se e o uso de anti-inflamatórios não esteroides
mento do CP localizado na doença de alto risco. (AINE) melhoram geralmente os sintomas na fase
O estudo publicado em 2012 por Konaka, et al.66, aguda (grau II).
com o uso da terapêutica trimodal, ou, mais re- A retenção urinária aguda (RUA) tem uma taxa
centemente, o estudo publicado em 2014 por de incidência variável, consoante as séries, entre
Ohashi, et al.67, com o uso da associação braqui- 1 a 5,5%, atingindo nalguns casos 42%70-72. Os
terapia e EBRT, sem bloqueio hormonal (tratamen- fatores preditivos de risco para RUA, permanente
to bimodal), vêm reforçar esta abordagem tera- ou transitória são o volume de próstata pré-trata-
pêutica com melhoria nos resultados. mento, mesmo e se manipulados com hormono-
terapia citorredutora, e o score de sintomas. Um
50. QUAIS AS COMPLICAÇÕES dado interessante é que não foi encontrado sig-
DA BRAQUITERAPIA E COMO nificado estatístico nos parâmetros de qualidade
TRATÁ-LAS? de implante, nomeadamente o D90, V100 e V200.
A estenose da uretra e a toxicidade tardia de
As complicações relacionadas com a radiação grau III (frequência severa, disúria, hematúria fre-
pós-braquiterapia são fundamentalmente geni- quente e redução de capacidade vesical < 150 ml)
turinárias e do trato gastrointestinal baixo. De- ocorrem em cerca de 9-10% dos doentes. A to-
vem ser classificadas de acordo com a graduação xicidade de grau IV ocorre em cerca de 0,4% dos
RTOG/EORTC, para a morbilidade aguda e tar- doentes, e implica normalmente derivação urinária
dia68. Em termos de toxicidade aguda, a severida- e colostomia73. A dose recebida pela uretra é o
de varia desde a duplicação da frequência urinária fator preditivo mais importante para este tipo de
ou nictúria, disúria e urgência, que não requerem complicações graves, pelo que um bom implan-
tratamento farmacológico (grau I) até à hematúria te com uma dosimetria cuidada é a chave para
com necessidade transfusional, obstrução urinária, prevenção destas complicações. Os parâmetros
mais importantes em termos de histograma de 7. D’Amico AV, Chen MH, Renshaw AA, Loffredo M, Kantoff PW.
Androgen suppression and radiation vs radiation alone for pros-
dose/volume para a uretra são essencialmente tate cancer: a randomized trial. Jama. 2008;299(3):289-95.
dois: D30% < 150% (30% do volume da uretra 8. Denham JW, Steigler A, Lamb DS, et al. Short-term neoadjuvant
androgen deprivation and radiotherapy for locally advanced pros-
não deve receber mais de 150% da dose prescri- tate cancer: 10-year data from the TROG 96.01 randomised
ta) e D1% < 200 Gy (1% do volume da uretra trial. Lancet Oncol. 2011;12(5):451-9.
9. European Association of Urology Guidelines. 2016 Edition pre-
não deve receber mais de 200 Gy). sented at the 31st Annual Congress of EAU in Munich.
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espaçamento variável e até, em última análise, o 11. Laverdière J, Nabid A, De Bedoya LD, et al. The efficacy and
recurso a atividades diferentes, de modo a redu- sequencing of a short course of androgen suppression on free-
dom from biochemical failure when administered with radiation
zir a dose na uretra, mantendo uma boa qualida- therapy for T2-T3 prostate cancer. J Urol. 2004;171(3):1137-40.
de da taxa de implante com D90 elevados. 12. Denham JW, Steigler A, Lamb DS, et al. Short-term androgen
deprivation and radiotherapy for locally advanced prostate can-
A toxicidade retal desenvolve-se normalmente cer: results from the Trans-Tasman Radiation Oncology Group
após o primeiro ano e persiste durante mais um 96.01 randomised controlled trial. Lancet Oncol. 2005 Nov;6(11):
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ou dois anos. A taxa de toxicidade grau II e grau 13. Zelefsky MJ, Leibel SA, Burman CM, et al. Neoadjuvant hor-
III é de 2-12%, e de 0,4-2% para o grau IV74. monal therapy improves the therapeutic ratio in patients with
bulky pro- static cancer treated with three-dimensional confor-
A taxa de impotência aos dois anos após bra- mal radiation therapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 1994;29(4):
quiterapia de baixa taxa de dose é de 21%, com 755-61.
14. Ebara S, Manabe D, Kobayashi Y, et al. The efficacy of neoad-
um incremento até 42% aos cinco anos, sem juvant androgen deprivation therapy as a prostate volume reduc-
recurso a medicação75. tion before brachytherapy for clinically localized prostate cancer.
Acta Medica Okayama. 2007;61(6):335-40.
Não obstante, em conclusão, a taxa de toxi- 15. Bolla M, de Reijke TM, Van Tienhoven G, et al. Duration of
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em termos de qualidade de vida e função sexual, 16. Bolla M, Van Tienhoven G, Warde P, et al. External irradiation
é bastante satisfatória74, existindo uma pequena with or without long-term androgen suppression for prostate
cancer with high metastatic risk: 10-year results of an EORTC
percentagem de doentes com sintomas urinários randomised study. Lancet Oncol. 2010; 11(11):1066-73.
ligeiros e muito poucos com sintomas acentua- 17. Warde P, Mason M, Ding K, et al. Combined androgen deprivation
therapy and radiation therapy for locally advanced prostate cancer:
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Recidiva bioquímica
A. Cleto e A. Fraga
A subida do PSA, por si só, não é suficiente 6 anos nos doentes com BF após RP, e foi esta-
para distinguir entre recidiva local e recidiva à belecido através de 11 parâmetros, nomeada-
distância. mente: PSA pré-RP, Gleason, invasão das vesí-
Para ajudar a responder a essa importante culas seminais, extensão extracapsular, status
questão, torna-se necessário conhecer os dados das margens cirúrgicas, metastização ganglio-
clínicos prévios à cirurgia – estadiamento clíni- nar, aumento persistente de PSA, PSA pré-radio-
co, PSA, grau Gleason da biopsia – e após a ci- terapia de salvação (SRT), PSA-DT, HT e dose de
rurgia radical – estadiamento patológico, grau de EBRT.
Gleason da peça operatória, cinética do PSA –, Igualmente, o Memorial Sloan Kettering Cancer
bem como os dados imagiológicos mais recen- Center (MSKCC) desenvolveu um monograma para
tes obtidos a partir nomeadamente de resso- doentes submetidos a EBRT utilizando parâmetros
nância magnética multiparamétrica (RMmp), pré-tratamento, como o estádio, grau Gleason,
cintilograma e (tomografia por emissão de po- HT neoadjuvante, o PSA pós-RT, assim como a
sitrões) PET. dose total administrada.
Conjugando as variáveis preditivas de recor- Kattan, et al. criaram um monograma para
rência (tempo de recidiva bioquímica > ou < dois doentes tratados com BT utilizando parâmetros
anos; grau Gleason da peça operatória; invasão como o estádio, grau Gleason e coadministração
ou não das vesículas seminais; presença de gân- de EBRT.
glios positivos ou não; PSAv < 0,75 ng/ml/ano; Os monogramas apresentam limitações, pois
PSA-DT) com os dados imagiológicos, é possível baseiam-se em estudos retrospetivos e heterogé-
obter uma boa acuidade de diagnóstico diferen- neos. No entanto, podem servir de uma forma
cial entre recidiva local ou sistémica3. individualizada para aconselhamento de tratamen-
to em alguns doentes, mas não como recomen-
54. QUAL A UTILIDADE dações de orientação clínica4.
DOS MONOGRAMAS
NA ABORDAGEM DE RECIDIVA 55. QUANDO NÃO INDICAR
BIOQUÍMICA? TRATAMENTO NA RECIDIVA
BIOQUÍMICA?
Os monogramas são instrumentos que usam
alguns parâmetros clínicos para calcular a proba- Uma vez confirmada a recidiva bioquímica,
bilidade de sobrevivência livre de recorrência bio- não é fácil optar pelo não tratamento – fazer
química (BDFS) após um tratamento local definiti- apenas vigilância clínica –, até porque as opções
vo como a prostatectomia radical (RP), EBRT, ou BT terapêuticas existentes para estes casos apre-
e poder predizer os resultados terapêuticos após sentam melhores resultados do que a vigilância
um tratamento de salvação. Idealmente, deveriam clínica.
ter valor preditivo para avaliar a probabilidade de Contudo, discutindo o assunto com o doente,
progressão local/locorregional, de metástases à pode assumir-se o risco de opção apenas pela
distância, assim como para a sobrevivência espe- vigilância clínica até que surja metastização nos
cífica de cancro (CSS) e sobrevivência global (OS). seguintes casos:
Geralmente utilizam fatores preditivos como o PSA –– Recusa do doente em realizar terapêutica;
pré e pós-tratamento, a sua cinética, a histologia –– Doentes com esperança média de vida
do tumor, o estadiamento e o tipo de terapêutica < 10 anos e elevada comorbilidade;
instituída para a doença. –– Doentes com critérios de baixo risco progres-
O monograma apresentado por Stephenson, são: PSA-DT > 12 meses, grau de Gleason < 7
et al. tem como objetivo predizer a probabilidade (3+4), tempo para recidiva bioquímica > três
de sobrevivência livre de progressão (PFS) aos anos, estádio patológico pT2.
Para estes doentes, pode ser expetável um Tradicionalmente, a SRP é a modalidade te-
tempo médio para a metastização de oito anos, rapêutica de salvação local mais utilizada, no
sendo nesses casos aceitável não realizar trata- entanto, deve-se pesar os seus efeitos adversos
mento5. pelo risco de fibrose e alterações da cicatrização
após a EBRT.
56. QUAIS AS OPÇÕES Não são bons candidatos à crioterapia de sal-
NA RECIDIVA BIOQUÍMICA vação doentes com antecedentes de resseção tran-
PÓS-PROSTATECTOMIA? suretral de próstata (RTU-P), invasão das vesículas
seminais e volume prostático de 50-60 cc. Quan-
Antes de escolher qualquer medida terapêu- to a este tratamento e ao HIFU, ainda existem
tica, é bom ter presente que cerca de 50% dos poucos estudos na literatura, pelo que a sua evi-
casos de recidiva bioquímica pós-prostatectomia dência em tratar a BF após EBRT é limitada.
radical, nunca se traduzirão em progressão clínica O tipo de reirradiação usado na BF depende
– EAU Guidelines on Prostate Cancer. da topografia da doença, volume tratado, dose
De qualquer modo, são as seguintes as mo- total administrada e função dos tecidos normais
dalidades terapêuticas disponíveis após recidiva circundantes.
bioquímica: vigilância ativa; cirurgia dirigida a re- A SBT de baixa taxa de dose (LDR) ou de alta
cidiva ganglionar isolada; radioterapia externa sal- taxa de dose (HDR) pode ser uma opção terapêu-
vação; radioterapia externa salvação associada a tica efetiva e com toxicidade aceitável, no entan-
terapeutica privação androgénica (TPA) adjuvan- to, as séries são pequenas e deve ser realizada
te; TPA contínua ou intermitente. em centros com experiência.
Em recorrências unifocais pode-se equacionar
57. QUAIS AS OPÇÕES terapia de salvação focal em vez do tratamento
NA RECIDIVA BIOQUÍMICA dirigido a toda a próstata para diminuição da
PÓS-RADIOTERAPIA? toxicidade6.
Russo7 recomenda a realização de SRP após circunstâncias muito particulares e perante recidi-
BT primária apenas em doentes com, pelo menos, va apenas ganglionar, os doentes beneficiam com
12 meses de follow-up, uma esperança média de exérese das lesões.
vida > 10 anos, grau Gleason ≤ 7, PSA < 10 ng/ml
no momento da BF e sempre com confirmação 60. QUAIS AS INDICAÇÕES
da doença localizada por biopsia. DA HORMONOTERAPIA ISOLADA
Os resultados da SBT focal após BT primária OU EM CONJUNTO NA RECIDIVA
são muito limitados, com muito poucos estudos e BIOQUÍMICA?
geralmente avaliam doentes que também foram
tratados em associação com a EBRT. Esta opção Embora a HT seja usada com muita frequên-
terapêutica pode ser válida em alguns doentes, cia, os estudos existentes que suportam a sua
no entanto é esperado que as complicações se- utilização são contraditórios, havendo contudo
jam maiores do que após o tratamento inicial. estudos que demonstram o aumento da sobrevi-
Doentes muito selecionados podem eventual- da livre de progressão e de sobrevida global, no-
mente serem tratados com crioterapia ou HIFU, meadamente em doentes com PSA-DT < 12 me-
embora haja autores que não recomendam este ses e/ou grau Gleason > 7 (4+3)9.
último tratamento, pois existe a capacidade de as
sementes dos implantes poderem redirecionar um BIBLIOGRAFIA
excesso de energia nas estruturas à volta da prós- 1. Mottet N, Bellmunt J, Briers E, et al.; EAU Guidelines on Prostate
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Doença metastizada
É uma forma irreversível de bloqueio, não permi- –– Hipogonadismo e disfunção sexual: diminui-
tindo um tratamento intermitente. ção do volume peniano e testicular, disfunção
Os análogos (leuprorrelina, triptorrelina, gose- erétil e diminuição da líbido;
relina) e os antagonistas (degarelix e abarelix) da –– Instabilidade vasomotora e afrontamentos: são
recetor da hormona libertadora das gonadotro- os efeitos secundários mais comuns. Apare-
pinas (LHRH) são fármacos injetáveis, cuja ação cem cerca de três meses após o início do
diminui a produção de androgénios testiculares. tratamento. Podem ser minorados com mo-
Os análogos LHRH induzem um aumento transi- duladores dos recetores de estrogénios (por
tório da testosterona – fenómeno de flare – po- exemplo, tamoxifeno), estrogénios em baixas
dendo agravar a sintomatologia do CP. Nos doen- doses (dietilestilbestrol [DES] 1 mg) ou pro-
tes com metastização exuberante este fenómeno gestagénios;
deve ser prevenido com a administração prévia e –– Saúde óssea: diminuição da densidade mi-
concomitante de antiandrogénios. neral óssea com osteoporose e aumento do
Os antiandrogénios são fármacos orais que risco de fraturas. Os doentes devem ser ava-
bloqueiam os recetores de testosterona e perten- liados com densitometria óssea. Pode ser
cem a dois grupos: necessária suplementação com cálcio e vita-
–– Esteroides: acetato de ciproterona, acetato de mina D;
megestrol e acetato de medroxiprogesterona. –– Sarcopenia: diminuição da massa e força mus-
–– Não esteroides ou puros: nilutamida, flutami- cular, contribuindo para a diminuição da força
da e bicalutamida (não modificam ou até ele- e aumento do risco de quedas;
vam ligeiramente os níveis de testosterona). –– Efeitos metabólicos: resistência à insulina, au-
A orquidectomia, análogo ou antagonista mento do risco de diabetes, alterações do
LHRH são igualmente eficazes. Nos doentes em metabolismo lipídico, obesidade e síndrome
risco de compressão medular deve ser realizada metabólica;
uma orquidectomia ou utilizado um antagonista –– Doença cardiovascular: é a principal causa de
LHRH. morte nos doentes com CP (mais do que a
A monoterapia com antiandrogénios é menos mortalidade por CP!). A HT associa-se a um
eficaz do que a castração (médica ou cirúrgica). aumento do risco cardiovascular (CV) (diabe-
O bloqueio androgénico completo (castração tes, doença vascular periférica, eventos mio-
+ antiandrogénios) melhora em 5% a sobrevivên- cárdicos). Os doentes devem ser incentivados
cia relativamente à monoterapia, mas à custa de a diminuir o seu risco CV: cessação tabágica,
um aumento de efeitos secundários. exercício físico, perda de peso, aconselhamen-
to nutricional. Alguns estudos parecem de-
63. QUAIS OS EFEITOS monstrar um menor risco CV quando são uti-
SECUNDÁRIOS lizados antagonistas LHRH;
DA CASTRAÇÃO? –– Fadiga: pode ter múltiplas causas como a ane-
mia e a progressão da doença, mas é também
A HT tem vantagens claras em termos de pa- um efeito do tratamento hormonal;
liação sintomática e atraso na progressão da doen- –– Deterioração cognitiva e doença de Alzhei-
ça. A sua utilização a longo prazo associa-se, no mer: relação com a terapêutica hormonal ain-
entanto, a efeitos secundários frequentes e que da mal definida e risco aparentemente baixo
interferem grandemente com a qualidade de vida mas existente;
dos doentes3. A incidência e gravidade dos efeitos –– Outros efeitos: diminuição da pilosidade, le-
secundários aumentam com a duração do trata- são renal aguda, ginecomastia e mastodinia
mento. Doentes e familiares devem ser avisados (bicalutamida), diarreia (flutamida), hepatoto-
acerca deles antes do início da terapêutica. xicidade (antiandrogénios).
Objetivo
Diminuição dos níveis de androgénios circulantes ou da sua ação periférica
Níveis de testosterona (castração): < 50 ng/dl ou, idealmente, < 20 ng/ml
Paliação sintomática/atrasar a progressão da doença
O estudo STAMPEDE confirmou este benefício Este estudo não estratificou os doentes por vo-
na sobrevivência dos doentes com CP avançado lume de doença metastática, e demonstrou benefí-
tratado com tratamento hormonal e docetaxel cio para a população inteira, pelo que defende que
em primeira linha11. a deprivação androgénica associada ao doceta-
xel deve ser considerada em todos os homens com
68. QUAIS OS RESULTADOS doença metastática hormonossensivel, indepen-
DA UTILIZAÇÃO DE dentemente do volume da doença7. Outros estu-
QUIMIOTERAPIA dos anteriormente realizados, como o GETUG-15,
NA DOENÇA não tinham demonstrado esta melhoria de SG.
HORMONODEPENDENTE? Pontos a reter:
–– Indicação de deprivação androgénica + doce-
Os resultados do uso de QT na fase de hormo- taxel ab initio:
nossensibilidade mostrados pelo estudo CHAARTED • Doença de alto volume:
são os seguintes: ♦♦ Existência de metástases viscerais ou qua-
–– Tempo mais longo até ao desenvolvimento de tro ou mais lesões metastáticas ósseas,
castração resistência; com, pelo menos, uma lesão além do eixo
–– Maior taxa de diminuição do nível de PSA para vertebral e pélvis.
níveis inferiores a 0,2 ng/ml aos 12 meses;
–– Menor número de mortes por CP; 69. QUAIS OS RESULTADOS
–– Substancial benefício na melhoria da SG. DAS MANIPULAÇÕES
No estudo acima referido, a mediana da SG HORMONAIS SECUNDÁRIAS?
foi 33,3% superior para os doentes que recebe-
ram agonistas da LHRH e docetaxel vs. os que Várias expressões têm sido usadas para des-
fizeram apenas monoterapia com agonistas da crever o CP que recidiva após o tratamento hor-
LHRH (57,6 meses vs. 44,0 meses, respetivamen- monal inicial com deprivação androgénica, como
te). Portanto, os doentes que iniciaram precoce- hormonorresistente, androgénio independente
mente QT tiveram uma mediana de SG 13,6 me- e hormonoindependente. O termo castração-re-
ses superior àqueles que só fizeram deprivação sistente mas ainda hormonossensível (CRPC) é
androgénica. uma designação mais recente, essencialmente em
Verificou-se também que o subgrupo de doen- resposta à observação de atividade hormonal de
tes com doença de alto volume, tratados com drogas de nova geração, em que o alvo terapêu-
deprivação androgénica e QT tiveram o maior tico é o recetor de androgénio (enzalutamida) ou
benefício, com uma mediana da SG de 17 meses a inibição enzimática da biosssíntese do androgé-
superior à conseguida com deprivação androgé- nio (abiraterona). É importante distinguir entre
nica sozinha (49,2 meses vs. 32,2 meses, respeti- castração resistente e hormonorresistente.
vamente). Embora o CP castração-resistente responda a
A plataforma do estudo STAMPEDE, iniciada manipulações hormonais secundárias, o verdadei-
em outubro de 2005, recrutou homens com M1, ro cancro hormonorresistente é resistente a todas
doença localizada de alto risco (N0) ou doença as medidas hormonais.
metastática ganglionar (N+). Esta plataforma foi Atualmente várias opções terapêuticas estão
desenhada para testar o quanto a adição de vá- disponíveis para doentes com doença progressiva
rios tratamentos à data do início da HT melho- após deprivação androgénica. Elas incluem essen-
raria a SG. O estudo, confinado aos doentes com cialmente a retirada de antiandrogénio e os novos
doença metastática, mostrou um benefício de SG agentes hormonais. Há quem atualmente consi-
estatisticamente significativo de 15 meses para o dere que a retirada do antiandrogénio não é uma
docetaxel mais HT vs. HT sozinha. manipulação hormonal.
–– Pontos a reter: 6. Nguyen PL, Alibhai SM, Basaria S, et al. Adverse Effects of An-
drogen Deprivation Therapy and Strategies to Mitigate Them.
• Estratégias para diminuir os efeitos da de- European Urology. 2015;67(5):825-36.
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♦♦ Cálcio: 1.000-1.200 mg por dia (dieta e men with coronary artery disease –induced congestive heart
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8. Barkin J. Risks, benefits and approaches to hormonal blockade
♦♦ Vitamina D: 800-1.000 UI por dia; in prostate cancer. Highlihts from the European Association of
♦♦ Exercício físico. Urology Meeting, March 20-24, 2015, Madrid, Spain. Can J Urol.
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Carcinoma da próstata
resistente à castração
71. QUAL A DEFINIÇÃO DE mínimo de uma semana), sendo que dois destes
CARCINOMA DA PRÓSTATA aumentos devem ser superiores a 50% sobre o
RESISTENTE À CASTRAÇÃO? valor nadir alcançado com a terapêutica de pri-
vação de androgénios.
O termo “carcinoma da próstata resistente à Ainda de acordo com as Guidelines Europeias
castração” (CPRC) aplica-se à fase do cancro da de Urologia, considera-se haver progressão ima-
próstata (CP) em que há progressão da doença giológica quando há duas ou mais novas lesões
neoplásica, apesar de o doente ter níveis de cas- ósseas no cintilograma ósseo ou uma lesão dos
tração (testosterona sérica < 50 ng/dl). Nesta fase, tecidos moles usando os critérios Response Evalua-
a doença neoplásica deixou de responder à tera- tion Criteria In Solid Tumours (RECIST)1,2.
pêutica de privação de androgénios (castração Pode parecer estranho, mas a progressão sin-
cirúrgica ou castração médica), podendo a pro- tomática como o aumento da dor ou o agrava-
gressão da doença ser apenas bioquímica [aumen- mento do estado geral, sem progressão imagio-
to dos níveis de antigénio prostático específico lógica ou bioquímica, não é suficiente por si só
(PSA)], haver progressão de doença preexistente para se fazer o diagnóstico de CPRC.
ou o aparecimento de novas metástases. Os critérios de progressão utilizados até hoje nos
Os doentes com CPRC com progressão ape- estudos clínicos não têm incorporado parâmetros de
nas bioquímica constituem um subgrupo particu- novas modalidades de imagem e funcionais, nomea-
lar de doentes. São doentes que não têm ainda damente ressonância magnética (RM) e tomogra-
evidência imagiológica de metastização (CPRCM0). fia por emissão de positrões (PET). No entanto, na
Espera-se que este grupo de doentes venha a prática clínica é cada vez mais crescente o recurso
aumentar nos próximos anos devido ao facto de a estas novas modalidades, e torna-se assim inevi-
estarmos a assistir à introdução precoce de hor- tável e premente uma definição do seu papel no
monoterapia em doentes com recidiva bioquímica estadiamento da doença, avaliação de resposta aos
e ainda sem metastização objetivada, após tera- tratamentos e avaliação de progressão da doença.
pêuticas com intenção curativa, como a prosta-
tectomia radical ou a radioterapia. 72. QUAIS AS OPÇÕES
A definição de progressão bioquímica conti- DE TRATAMENTO NA DOENÇA
nua ainda a ser um tema controverso! De acordo METASTIZADA RESISTENTE
com as Guidelines Europeias de Urologia1, define- À CASTRAÇÃO?
se que há progressão bioquímica quando o PSA
é maior do que 2 ng/ml e documentação de três Até há cinco anos, o tratamento do CPRC
aumentos consecutivos do PSA (com um intervalo assentava na quimioterapia com docetaxel, tendo
este fármaco sido aprovado para esta indicação após tratamento. Há vários métodos de avaliação
a publicação dos resultados do estudo TAX 3273. geriátrica que permitem definir corretamente
Recentemente, além de uma nova opção de qui- o estado de cada doente, tornando desta for-
mioterapia (cabazitaxel), três novas linhas tera- ma mais segura e assertiva a escolha terapêu-
pêuticas foram introduzidas no mercado para o tica5,6;
tratamento do CPRC: imunoterapia (sipuleucel-T), –– O estado funcional e nutricional do doente;
novas terapêuticas dirigidas ao receptor andro- –– As comorbilidades: um doente com história
génio (acetato de abiraterona (AA), enzalutami- de epilepsia não será o melhor candidato a
da) e terapia com radionuclídeos (rádio-223). Os efetuar tratamento com enzalutamida7, his-
aumentos na sobrevida induzidos por estas no- tória de patologia cardíaca importante pode
vas terapêuticas são similares, de acordo com ser razão suficiente para não tratar com AA8,
os resultados apresentados nos vários estudos assim como um doente que apresente neu-
que culminaram na aprovação pelas autorida- ropatia após tratamento com docetaxel, po-
des de regulação como a Food and Drug Admi- derá não ser o candidato ideal para efetuar
nistration (FDA) e a European Medicines Agency cabazitaxel.
(EMA).
Mas foi fundamentalmente a introdução das b) Caraterísticas da doença
terapêuticas hormonais de nova geração, AA e
enzalutamida, que alterou significativamente o pa- –– A metastização visceral é um fator de mau
radigma da terapêutica do CPRC. Além de serem prognóstico conhecido, podendo ser determi-
fármacos de administração oral e sem toxicidade nante na escolha do tratamento9;
significativa associada, mostraram-se terapêuticas –– Doença sintomática: a presença de queixas
com eficácia clínica, independentemente do uso álgicas pode estar associada a um pior prog-
prévio da quimioterapia4. nóstico, podendo ser um fator a ter em con-
ta aquando da escolha do tratamento10;
73. QUE FATORES PODERÃO –– Um “score” de Gleason elevado associa-se a
SER ÚTEIS CONSIDERAR doença mais agressiva e, consequentemente,
NA DECISÃO DO TRATAMENTO? a um pior prognóstico. No entanto, a quimio-
terapia com docetaxel parece melhorar a so-
Alguns parâmetros clínicos e/ou biológicos brevivência em tumores pouco diferenciados
estão relacionados com a presença/ausência de (Gleason > 7)11. O mesmo se verificou em re-
eficácia de alguns tratamentos. Ainda não estão lação à utilização de enzalutamida7, abirate-
identificados fatores preditivos de resposta que rona8 e cabazitaxel12;
permitam orientar a decisão terapêutica. No en- –– Um tempo curto de duplicação do valor de
tanto, as subanálises dos vários estudos efetua- PSA e valores elevados de testosterona tam-
dos têm sido uma grande ajuda nesse sentido. bém se associam a um comportamento mais
Assim sendo, há alguns dados que devemos agressivo da doença e, consequentemente, a
ter em atenção na altura em que é necessária um pior prognóstico.
uma decisão terapêutica:
c) Resposta aos tratamentos
a) Caraterísticas do doente efetuados previamente
Quando é feita uma decisão terapêutica é neces- –– Duração do tratamento hormonal: parece não
sário ter em conta alguns parâmetros, como sejam: haver relação entre o tempo de resposta ao
–– Idade que não deve, só por si, ser fator deci- tratamento hormonal e a posterior resposta à
sivo para a realização ou não de qualquer quimioterapia12,13;
Tabela 1.
Cabazitaxel Ligação e estabilização TROPIC 10 (n = 755) Melhoria da SG: 15,1 vs. 2010
da tubulina cabazitaxel + prednisolona 12,7 meses (HR: 0,70;
vs. mitoxantrone IC 95%: 0,59-0,83)
Acetato de Inibidor da CYP17 COU-AA-3018 (n = 1.195) Melhoria da SG: 15,8 vs. 2011
abiraterona abiraterona + prednisolona 11,2 meses (HR: 0,74;
vs. placebo + prednisolona IC 95%: 0,64-0,86)
Enzalutamida Bloqueia o recetor AFFIRM7 (n = 1.199) enzalutamida Melhoria da SG: 18,4 vs. 2012
do androgénio vs. placebo 13,6 meses (HR: 0,63;
IC 95%: 0,53-0,75)
Rádio-223 Radiofármaco emissor ALSYMPCA18 (n = 921) rádio-223 Melhoria da SG: 14,9 vs. 2013
de partículas α e vs. placebo 11,3 meses (HR: 0,80;
mimético do cálcio IC 95%: 0,67-0,97)
–– Tempo até progressão após tratamento com A aprovação de cada um dos fármacos teve
docetaxel: quanto mais precoce for a progres- como suporte estudos aleatórios, em que os bra-
são após ou durante os tratamentos de quimio- ços comparadores não eram iguais, o que desta
terapia, pior parece ser o prognóstico. O estu- forma dificulta a comparação em termos de efi-
do TROPIC mostrou que o cabazitaxel mantém cácia de cada um deles.
um benefício significativo com tradução na O cabazitaxel é um taxano de nova geração,
sobrevivênvia global (SG), mesmo nos doentes que inibe a despolimerização dos microtúbulos e
que pararam docetaxel por progressão10. a divisão celular, ligando-se à tubulina e interrom-
pendo o ciclo celular9,16,17. Quando comparado
d) Presença/ausência de alterações com outros fármacos, parece atravessar a barreira
genéticas hematoencefálica. No estudo TROPIC, foi eviden-
te a vantagem do fármaco relativamente ao mito-
A deteção da variante 7 do recetor do andro- xantrone, em termos de SG (15,1 vs. 12,7 meses),
génio (AR-V7) em células tumorais circulantes de com uma redução do risco de morte em cerca de
doentes com CPRC foi associado a resistência pri- 30%. No entanto, o ganho mais expressivo veri-
mária à AA e enzalutamida14. ficou-se nas taxas de resposta quer a nível do PSA
A expressão da AR-V7 não está associada à quer na resposta tumoral, com tradução no tempo
resistência aos taxanos. Em tumores com expres- até à progressão da doença (5,4 vs. 8,8 meses)10.
são da AR-V7, os taxanos parecem ser mais efi- A AA é um inibidor seletivo da enzima 17α-hi-
cazes do que o AA ou a enzalutamida15. droxilase-C17,20-liase (CYP17), necessária à bios-
síntese dos androgénios. Esta enzima é expres-
74. QUAIS AS OPÇÕES DE sa nos tecidos testicular, suprarrenal e tumoral
TRATAMENTO APÓS PROGRESSÃO prostático. A inibição da CYP17 também resulta
COM DOCETAXEL? no aumento da produção de mineralocorticoides
pelas glândulas suprarrenais. Os resultados do es-
Até 2010, eram poucas as opções de trata- tudo COU-AA-301 mostraram um ganho em com-
mento para este tipo de doentes. Atualmente paração com o braço de controlo (corticoterapia)
dispomos de várias alternativas terapêuticas no em termos de SG, sobrevivência livre de progres-
CPRC, em progressão após tratamento com do- são radiológica (SLPR), atraso na progressão do
cetaxel (Tabela 1). PSA, atraso no tratamento com quimioterapia e
no uso de opioides. Todos os doentes submetidos No entanto, quando comparado com o doce-
a tratamento com AA efetuaram prednisolona taxel, torna-se evidente que o cabazitaxel se asso-
em concomitância8. cia a uma menor incidência de neuropatia, alopecia,
A enzalutamida é um inibidor do recetor de disgeusia, alterações ungueais e neutropenia19.
androgénio, que impede a translocação nuclear
do recetor de androgénio, a sua ligação ao DNA Acetato de abiraterona
e o recrutamento do coativador. Tem também
grande afinidade para o recetor sem efeitos ago- O estudo COU-301 comparou a utilização de
nistas. O estudo AFFIRM comparou a utilização de AA versus placebo em doentes com progressão da
enzalutamida versus placebo em doentes previa- doença após realização de quimioterapia com do-
mente tratados com docetaxel. A utilização con- cetaxel. Em ambos os braços era efetuada cortico-
comitante de corticoide era permitida, mas não terapia com prednisolona 5 mg duas vezes por dia.
obrigatória. Verificou-se um ganho importante Quando comparado com o placebo, os doentes
em termos de SG, com uma redução do risco de submetidos a tratamento com AA apresentaram
morte em 37%. Foi também evidente o ganho em um aumento da incidência de retenção de líquidos
tempo até à progressão do valor do PSA e SLPR7. (28 vs. 24%), hipocaliemia (17 vs. 13%), hiperten-
O rádio-223 é um emissor de radiação α, que são arterial (22 vs. 13%) e alterações cardíacas (19
atua em áreas de elevado turnover ósseo, tendo vs. 16%). Os doentes que efetuaram tratamento
como vantagem a pequena capacidade de disper- com AA apresentaram também, com maior fre-
são da radiação. Quando comparado com place- quência, alterações dos valores das transaminases8.
bo, e em doentes com doença exclusivamente
óssea, parece haver um ganho em termos de SG Enzalutamida
(14,9 vs. 11,3 meses) e também na mediana de
tempo até a um primeiro evento esquelético Os doentes a efetuar tratamento com enzalu-
[skeletal related event (SRE)]. O benefício parece tamida apresentaram quando comparados com
ser mais expressivo nos doentes que apresentam o grupo placebo um aumento da incidência de
seis ou mais metástases ósseas18. Estão a decorrer fadiga (34 vs. 29%), diarreia (21 vs. 18%), hot
estudos que pretendem determinar o benefício flushes (20 vs. 10%), dores musculares (14 vs.
de tratamentos combinados com o rádio-223. 10%) e cefaleias (12 vs. 6%). De referir a ocor-
rência de crises convulsivas em < 1% dos doentes
75. QUE EFEITOS SECUNDÁRIOS submetidos a tratamento com enzalutamida, o
PODEMOS ESPERAR DE CADA que deve ser tido em conta, sobretudo em doen-
UMA DAS TERAPÊUTICAS? tes com fatores predisponentes [história de epi-
lepsia, traumatismo cranioencefálico (TCE)]7.
Cabazitaxel
Rádio-223
Em termos de toxicidade, e em comparação
com o mitoxantrone, verificou-se no estudo TRO- Os efeitos laterais mais frequentes foram so-
PIC uma maior incidência de eventos hematológi- bretudo hematológicos, dores ósseas, alterações
cos, sobretudo neutropenia grau > 3 (82 vs. 58%). do trânsito intestinal, náuseas, vómitos, anorexia,
O uso de cabazitaxel também está associado a fadiga e perda de peso. No entanto, é importan-
uma maior incidência de diarreia (47 vs. 11%), te referir que a incidência global de efeitos laterais
náuseas (23 vs. 34%) e vómitos (10 vs. 23%). foi mais baixa e de forma consistente nos doentes
Também se verificou com maior frequência alguns que efetuaram tratamento com rádio-223, quan-
sintomas constitucionais, como a fadiga e astenia do comparados com os doentes que realizaram
(27 vs. 37% e 12 vs. 20%, respetivamente)10. placebo. Mesmo em termos de número de doentes
Group 3 (PCWG3) –, a definição de progressão sabe-se que a via de sinalização do recetor andro-
de doença metastática não óssea (adenomegalias génico continua ativa nesta fase. Este facto, por si
e doença visceral) nesta fase de resistência à cas- só, parece justificar a manutenção da castração na
tração deve fazer-se de acordo com os critérios prática clinica. Por outro lado, nos estudos prin-
de RECIST 1.1.25. cipais para avaliação de novas terapêuticas, nesta
O melhor método de confirmação de progres- fase da doença, a manutenção da castração con-
são de doença metastática óssea ainda não está tinuou a ser a prática corrente10, 26,27. No entanto,
bem definido. Após a deteção de prováveis novas esta prática é um assunto controverso desde há
metástases na cintigrafia óssea durante o follow- décadas28-30 e a controvérsia só poderá ser defini-
up, sugere-se que uma nova reavaliação seja fei- tivamente esclarecida com a inclusão desse obje-
ta após 16 semanas para confirmação inequívoca tivo em futuros estudos aleatórios e prospetivos.
da progressão imagiológica (até que duas novas
lesões sejam confirmadas). Durante este período 80. COMO DEVEM SER TRATADOS
de indefinição, sugere-se que o tratamento não OS DOENTES IDOSOS
seja descontinuado, desde que seja bem tolera- E QUE CUIDADOS TER?
do e não haja outras razões clínicas para a inter-
rupção. Na verdade, atualmente é consensual que O número de doentes idosos com CPRC é sig-
um tratamento só deve ser descontinuado quan- nificativo e é de esperar que aumente nos próxi-
do já não houver benefício clínico e não neces- mos anos. Como em qualquer terapêutica nesta
sariamente ao primeiro sinal de progressão25. faixa etária, onde o risco de complicações é maior
A deterioração clínica pode ser devida a pro- e com maior repercussão clínica, impõe-se uma
gressão da doença neoplásica ou a outros fatores, avaliação cuidada dos riscos e benefícios antes da
como efeitos laterais da medicação ou outras co- instituição das mesmas.
morbilidades. Sendo assim, a deterioração clínica Vários ensaios clínicos demonstraram que te-
não deve ser assumida de imediato como pro- rapêuticas como docetaxel, AA pré e pós-quimio-
gressão da doença, sem ter havido documenta- terapia, enzalutamida pré e pós-quimioterapia, e
ção para tal. É mais um fator importante a ter em rádio-223, também prolongam significativamente
conta na decisão de interrupção da medicação. a sobrevida em doentes idosos com CPRC, sem um
Como atrás já foi referido, reitera-se que a aumento significativo da toxicidade. Deve-se ter,
progressão da doença nem sempre implica a mu- contudo, alguma precaução ao fazer a extrapolação
dança de terapêutica. Na verdade, a decisão de dos resultados, em particular da segurança, para a
suspender a medicação só deve ser ponderada prática clínica diária, onde a presença de comorbi-
quando parecer já não existir benefício clínico lidades é muito mais significativa do que na maior
para o doente e geralmente após verificação de parte dos doentes incluídos nos ensaios clínicos.
dois dos três critérios de progressão da doença Sendo assim, a idade não deve ser assumida
(progressão do PSA, progressão imagiológica, de- como um parâmetro que, por si só, exclua a ins-
terioração cínica por progressão da doença). tituição das recentes terapêuticas prolongadoras
de sobrevida em doentes idosos31.
79. QUAL O PAPEL
DA MANUTENÇÃO DA CASTRAÇÃO BIBLIOGRAFIA
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Tratamento dirigido
à metastização óssea
C. Fernandes e P. Lapa
82. QUAIS AS INDICAÇÕES PARA verificou-se haver 4,2 meses de tempo de sobre-
O USO DE DENOSUMAB E QUE vivência significativamente maior sem metásta-
CUIDADOS TER? ses ósseas, comparativamente com o placebo
(média de 29,5 vs. 25,2 meses; hazard ratio [HR]:
Além de bifosfonatos, a inibição de osteoclas- 0,85; intervalo de confiança [IC]: 95%: 0,73-0,98;
tos pode também ser conseguida por direcio- p < 0.028)4. Neste contexto, apesar de ainda não
namento ativador do recetor do fator nuclear κB haver aprovação, o denosumab poderá vir a ser
ligante (RANKL), um componente-chave na via uma possibilidade para prevenção da metastiza-
para a formação de osteoclastos e ativação. A ex- ção óssea na neoplasia da próstata em doentes
pressão de RANKL no osso é também pensada para de alto risco.
contribuir para o desenvolvimento de metástases
ósseas por se ligar ao seu recetor (recetor ativador 83. QUAIS AS INDICAÇÕES
do fator nuclear k B, RANK) sobre a superfície das PARA O USO DE RADIOTERAPIA
células tumorais1. DIRIGIDA À METASTIZAÇÃO
O principal risco do denosumab (120 mg, men- ÓSSEA?
sal, subcutâneo) é a osteonecrose da mandíbula3.
Como tal, alguns dos cuidados adicionais aquan- As principais indicações para a radioterapia
do da sua administração são semelhantes aos do (RT) dirigida à metastização óssea não tem uma
zolandronato, tais como enviar ao estomatologis- indicação curativa e destina-se essencialmente ao
ta o doente antes do início dos tratamentos para controlo dos sintomas locais, nomeadamente dor
tratamento dentário prévio, e explicar ao doente intensa localizada, limitação motora e risco de
a contraindicação para tratamentos dentários du- compressão medular5.
rante o tratamento e até 45 dias após a última
administração. O risco de osteonecrose da man- 84. QUE DOENTES SÃO
díbula é maior com o denosumab comparativa- CANDIDATOS À REALIZAÇÃO
mente com os bisfofonatos assim como a incidên- DE RADIUM-223?
cia da hipocalcemia2,3. Neste contexto, deve ser
bem ponderado o tratamento após um ano de Embora se encontre em investigação a possi-
denosumab e devem ser prescritos cálcio e vita- bilidade da sua realização em doentes assinto-
mina D, dado o risco aumentado de hipocalcemia máticos e em doentes hormonossensíveis, ela
com denosumab2,3. encontra-se principalmente indicada em doentes
Também é importante confirmar a existência com CP resistente à castração, com metastização
de metastização óssea e locais de doença à data óssea múltipla sintomática. Habitualmente, esta
do início da administração e ter um perfil hema- terapêutica era realizada apenas em doentes sem
tológico antes da administração, mas, neste caso, doença extra óssea ou com metastização extra
não é preciso controlo da função renal. óssea mínima (até uma adenopatia com menos
No entanto, existem atualmente estudos sobre de 3 cm de eixo axial), mas provavelmente tam-
denosumab como prevenção da metastização ós- bém poderá ter utilidade em doentes com me-
sea no CP4. Num estudo de fase 3, controlado por tastização extra óssea mais extensa, nomeada-
placebo e aleatorizado, com 1.432 doentes com mente visceral, embora os resultados não sejam
cancro da próstata refratário à terapêutica hor- tão bons. Em relação à doença óssea, a carga
monal (CPHR), se metastização óssea e com, pelo tumoral não deverá ser muito elevada, obtendo-se
menos, uma caraterística de alto risco para o melhores respostas clínicas e maiores aumentos
desenvolvimento de metástases ósseas (antigénio da sobrevida nos doentes que iniciam esta tera-
prostático específico [PSA] superior a 8 ng/ml ou o pêutica mais precocemente, ou seja, com menor
tempo de duplicação da PSA inferior a 10 meses), carga tumoral óssea e sintomatologia álgica
menos marcada. Não têm indicação os doentes associado a um baixo poder de penetração, infe-
com carga tumoral óssea muito elevada, nomea- rior a 100 µm. Exerce assim uma ação focalizada
damente os doentes que apresentem cintigrafia nas metástases ósseas, condicionando danos co-
óssea ou tomografia por emissão de positrões/ laterais mínimos nos tecidos adjacentes. Efeitos
tomografia computorizada (PET/TC) óssea com adversos hematológicos (anemia, neutropenia e
FNa-F18 descrito como superscan, ou seja, com trombocitopenia) ocorrem numa baixa percenta-
envolvimento ósseo maciço. Os doentes candida- gem de doentes, sendo raros os efeitos secundá-
tos à realização da terapêutica devem ter uma rios hematológicos de grau 3 e 47.
contagem absoluta de neutrófilos > 1,5 K/μl e
uma contagem de plaquetas > 100 K/μl. Os níveis 86. QUAL O ESQUEMA
de Hb devem estar acima de 10 g/dl e se a he- DE ADMINISTRAÇÃO?
moglobina estiver abaixo desse valor, os doentes
deverão ser submetidos a transfusão sanguínea O esquema de tratamento implica seis admi-
antes da terapêutica com radium-223. Antes de nistrações endovenosas de radium-223. O inter-
um novo ciclo, a contagem absoluta de neutró- valo entre as administrações deverá ser de cerca
filos deve ser superior a 1,0 K/μl e a contagem de quatro semanas. O tratamento deverá ser rea-
de plaquetas superior a 50 K/μl6. lizado num Serviço de Medicina Nuclear. A tera-
pêutica é realizada em regime de ambulatório,
85. COMO É EFETUADO sem necessidade de cuidados sofisticados de ra-
ESTE TRATAMENTO E QUE dioproteção, uma vez que as partículas α emitidas
EFEITOS SECUNDÁRIOS SÃO pelo radium-223, devido ao seu curto alcance e
ESPERADOS? baixo poder de penetração, são facilmente blo-
queadas e manuseadas. No entanto, os doentes
O tratamento com radium-223 implica a ad- deverão ser instruídos sobre alguns cuidados (mí-
ministração por via endovenosa de uma solução nimos) de proteção radiológica, a ter no domicí-
de dicloreto de rádio, durante cerca de um minu- lio, e relacionados com a via de eliminação do
to, numa atividade de 50 kBq/kg (1,4 μCi/kg). radium-223.
Contudo, devido ao seu perfil de segurança, há Está demonstrada uma relação direta entre o
investigação a decorrer sobre a otimização da número de administrações de radium-223 e os
dose e é previsível que possam vir a ser adminis- benefícios terapêuticos obtidos, nomeadamente
tradas doses mais elevadas, aumentando a eficá- a diminuição da sintomatologia dolorosa, a dimi-
cia do tratamento. nuição dos eventos esqueléticos e o aumento da
Devido á sua via de eliminação gastrointesti- sobrevida. O benefício é claramente superior nos
nal, são, por vezes, registados efeitos secundários doentes que realizam a totalidade das adminis-
como náuseas, vómitos e diarreias. É, por vezes, trações (seis) em relação àqueles que, por algu-
ainda referido existir fadiga e dor óssea. A dor ma razão, têm que interromper a terapêutica.
óssea é atribuível ao fenómeno de flare, é mais Estudos efetuados sugerem mesmo que poderá
frequente entre a primeira e a segunda adminis- existir benefício no aumento do número de ad-
tração, e estes doentes apresentam habitualmente ministrações para além das seis atualmente reco-
uma excelente melhoria sintomática nas adminis- mendadas.
trações seguintes. No conjunto, todos estes efeitos A eliminação do radiofármaco faz-se, pratica-
secundários indesejados são discretos ou mode- mente, apenas por via fecal, sendo a eliminação
rados e transitórios. renal inferior a 5%. Esta terapêutica pode, por
O radium-223, é um calcium mimetic, emissor isso, ser ministrada independentemente do estado
de partículas α, que se caraterizam por serem da função renal ou hepatobiliar do doente, não
altamente energéticas e terem um curto alcance tendo sobre elas qualquer rebate8.
87. QUAL O MELHOR TIMING sua administração possa ser feita sequencial ou
PARA O TRATAMENTO concomitantemente com outros agentes terapêu-
COM RADIUM-223? ticos com diferentes mecanismos de ação, nomea-
damente os bifosfonatos. Com efeito, parece até
Não existe opinião consensual sobre o timing existir um sinergismo entre os bifosfonatos e o
mais adequado para a administração de radium-223 radium-223, traduzindo-se num efeito positivo adi-
no esquema terapêutico destes doentes. tivo. Este efeito pode ser explicado pelo facto de os
Inicialmente eram considerados com indicação bifosfonatos atuarem na matriz óssea, inibindo
para esta terapêutica os doentes com metastiza- os osteoclastos e, consequentemente, permitirem
ção óssea múltipla com sintomatologia dolorosa. um aumento da atividade dos osteoblastos, o prin-
Os trabalhos mais recentes salientam as vantagens cipal local de ação do radium-223. Deste modo,
da realização desta terapêutica em situações sem os bifosfonatos poderão preparar e propiciar um
doença óssea muito extensa, ou seja, quando ambiente favorável à atuação do radium-223.
ainda existe uma carga tumoral óssea não muito Por outro lado, têm sido referidos valores de
marcada. A PET/TC com FNa-F18 é apresentada sobrevida média significativamente superiores em
como um excelente preditor da resposta à tera- doentes concomitantemente tratados com deno-
pêutica com radium-223, ao permitir quantificar sumab, com abiraterona ou, ainda, com enzalu-
a carga tumoral óssea. Os doentes com elevadas tamida, parecendo existir uma ação sinergética
cargas tumorais estão associados a ausências de entre o radium-223 e aqueles fármacos, principal-
resposta e ao aparecimento de eventos esqueléti- mente com a abiraterona.
cos apesar da administração da terapêutica. Suge- Começa também a ser considerada a possibi-
re-se, também, que poderão ser obtidos melhores lidade de utilizar radium-223 e quimioterapia em
resultados em situações de doença sem sintoma- doentes com metástases viscerais que até agora
tologia ainda não muito marcada, colocando-se não eram considerados para a realização de ra-
já atualmente a hipótese de introdução desta dium-223.
terapêutica antes do aparecimento de sintomas. O tratamento com radium-223 poderá tam-
É, portanto, nos doentes em fase precoce de bém vir a ser útil como tratamento adjuvante em
doença óssea que se obtêm os melhores resultados doentes hormonossensíveis10.
e se consegue tirar um maior partido da adminis-
tração de radium-223. Os benefícios terapêuticos 89. COMO AVALIAR A RESPOSTA AO
terão tradução numa diminuição da sintomatologia TRATAMENTO COM RADIUM-223?
álgica, na melhoria da qualidade de vida, na di-
minuição da probabilidade de ocorrência de even- Embora os valores do PSA, e principalmente
tos esqueléticos e no aumento da sobrevida9. da fosfatase alcalina, assim como a avaliação da
sintomatologia e da qualidade de vida, possam
88. PODE O TRATAMENTO dar uma informação sobre a resposta à tera-
COM RADIUM-223 SER pêutica, esta avaliação deverá ser imagiológica.
CONCOMITANTE COM OUTRAS É mais vulgarmente realizada por cintigrafia ós-
TERAPÊUTICAS, NOMEADAMENTE sea, comparando o exame realizado após a tera-
BIFOSFONATOS? pêutica com o exame realizado antes da terapêu-
tica (Fig. 1). Contudo, é previsível que a PET/TC
A introdução do radium-223 na prática clínica óssea com FNa-F18, pela sua maior sensibilidade
trouxe mais uma arma terapêutica para a abor- e especificidade mais elevada, venha a substituir,
dagem dos doentes com CP com metastização na prática clínica, a cintigrafia óssea11.
óssea, resistentes à castração. O radium-223 tem A avaliação deverá ser feita no final da tera-
um mecanismo de ação único, permitindo que a pêutica, cerca de 6 a 12 semanas após as seis
Controlo sintomático
da doença metastizada
91. COMO AVALIAR A dor pode ser definida numa base temporal
E CARATERIZAR A DOR em: aguda (com início bem definido, geralmente
ONCOLÓGICA? associada a sinais físicos e objetivos com hipera-
tividade simpática) e crónica (padrão temporal
A dor tem um elevado impacto na qualidade menos bem definido e com mecanismos fisiopa-
de vida dos doentes e suas famílias. Entre 30- tológicos distintos). Quanto aos mecanismos res-
50% dos doentes com cancro da próstata (CP) ponsáveis pela sua sustentação, a dor pode ser
apresentarão dor em algum momento da sua dividida em três grandes categorias: nociceptiva,
doença e 90% nas fases mais avançadas. Ainda neuropática e idiopática1.
que apenas uma minoria dos doentes com diag-
nóstico recente de CP apresente doença óssea 92. QUAIS AS ESTRATÉGIAS
metastática, aproximadamente 75-100% vão de- FARMACOLÓGICAS DE CONTROLO
senvolvê-la no curso da doença, principalmente DA DOR?
aqueles com carcinomas de alto grau e refratários
à hormonoterapia. Utilizamos a escada analgésica da Organiza-
A abordagem da dor oncológica deve ser sem- ção Mundial de Saúde (OMS) como o guia prin-
pre multidimensional. A sua avaliação deve ter cipal para o tratamento da dor no cancro. é cons-
em conta em primeiro lugar a localização, a in- tituída por três degraus que permitem o processo
tensidade, as caraterísticas, a irradiação, o padrão de seleção de determinado fármaco em função da
temporal, a resposta obtida com tratamentos pré- intensidade da dor:
vios, os sintomas associados, o impacto emocio- –– Degrau I (dor ligeira): paracetamol e anti-in-
nal, etc. Em segundo lugar, devemos determinar flamatórios não esteroides (AINE);
qual o provável mecanismo fisiopatológico e, em – – Degrau II (dor moderada): codeína e tra-
terceiro lugar, avaliar se a etiologia da dor está madol;
relacionada com o cancro ou os seus tratamentos –– Degrau III (dor intensa): morfina, oxicodona,
ou se não tem relação com a doença oncológica. hidromorfona, metadona, tapentadol, fenta-
Como instrumentos de avaliação, existem es- nil e buprenorfina.
calas unidimensionais e multidimensionais, de Em todos os escalões se podem associar fár-
auto e heteroavaliação. Em cuidados paliativos, a macos adjuvantes (anticonvulsivantes, antidepres-
escala mais usada é a Edmonton Symptom As- sivos, corticosteroides), úteis para o controlo da
sessment System. No caso da dor, solicita-se ao dor com caraterísticas neuropáticas.
doente para pontuar de 0 (sem dor) a 10 (dor O tratamento da dor deve iniciar-se no esca-
máxima). lão correspondente à sua intensidade.
No CP pode observar-se dor pélvica secundá- é altamente efetiva para o controlo da dor, com
ria à invasão locorregional, mas mais frequente é possibilidade de redução ou até suspensão dos
a presença de dor óssea metastática. Frequentes analgésicos, melhoria funcional e diminuição do
são também as complicações associadas à pre- risco de fratura óssea.
sença destas metástases, de que se destacam as A cirurgia ortopédica nas fraturas patológicas
fraturas patológicas, a compressão medular e a (em casos selecionados) tem como objetivo prin-
hipercalcemia. Os bifosfonatos (o ácido zoledró- cipal preservar ou reestabelecer a função, mas
nico é o único aprovado pela Food and Drug também é útil no controlo da dor.
Administration [FDA]) têm demonstrado benefício A estimulação elétrica transcutânea dos ner-
na redução do risco destas complicações e na vos, a acupuntura, a hipnose, a musicoterapia,
estabilização ou regressão das lesões ósseas. Exis- a aromaterapia, entre outras, são alternativas
te igualmente evidência do seu potencial analgé- credíveis e complementares ao correto controlo
sico, especialmente quando a doença é difusa. da dor3.
Os radioisótopos samário-153 e estrôncio-89
são igualmente úteis para o tratamento da dor 94. QUE ATITUDES TOMAR
em mais de 75% dos doentes com CP com doen- NA COMPRESSÃO MEDULAR?
ça metastática multifocal osteoblástica2.
O corpo vertebral é o local de metastização
93. QUAIS AS TÉCNICAS mais frequente, seguido pelo fémur e pela pél-
INTERVENTIVAS E/OU INVASIVAS vis. Consequentemente, o CP é a segunda pa-
DE CONTROLO DA DOR? tologia que mais frequentemente origina com-
pressão medular, sendo a primeira o cancro do
A dor pode ser controlada eficazmente com pulmão. A metastização sintomática epidural (ple-
medidas simples em 80% dos casos, e os analgé- xo de Batson) lombar e cervical surge em cerca
sicos opioides são os fármacos de eleição para a de 27 e 6% dos doentes, respetivamente.
abordagem da dor moderada a intensa. Nos res- A compressão extrínseca medular condiciona
tantes 20% será necessário uma intervenção mais obstrução venosa progressiva, conduzindo a ede-
complexa, que inclua o uso de estratégias tera- ma vasogénico. Nesta fase, a administração de
pêuticas farmacológicas e não farmacológicas. corticoides em alta dose (dexametasona) é extre-
Os bloqueios nervosos e os métodos neu- mamente benéfica. A progressão da compressão
roablativos usam-se cada vez menos, à medida conduz a uma diminuição do fluxo sanguíneo
que se refina o uso dos opioides. A neuroablação local, desmielinização, isquemia e enfarte medu-
não é permanente, nem sempre é bem-sucedida lar. Existe, portanto, uma janela temporal entre a
e tem uma alta incidência de efeitos laterais. instalação dos sintomas neurológicos e a comple-
Os bloqueios terapêuticos podem ser usados ta perda de função. A administração atempada
para: dor que responde aos analgésicos; para de radiação, quimioterapia ou cirurgia poderá es-
reduzir a dose; reduzir os efeitos laterais e au- tabilizar ou reverter o quadro neurológico.
mentar o alívio da dor; dor que não responde à A radioterapia (RT) (Fig. 1) é o tratamento de
medicação apesar do uso de doses adequadas de eleição inicial, exceto nos casos de muito rápida
opioides e adjuvantes e do controlo de fatores progressão clínica secundária a severa destruição
psicológicos, etc. Efeitos laterais possíveis são a óssea com instabilidade e/ou ao colapso do corpo
lesão de estruturas adjacentes, neuralgias, anes- vertebral. O CP é considerado moderadamente
tesia dolorosa, fraqueza motora e distúrbios auto- radiossensível, pelo que os esquemas de RT tipi-
nómicos. camente administrados variam entre 20 Gray em
Quando a dor óssea é secundária a metastiza- 5 frações e 30 Gray em 10 frações4. Regimes de
ção óssea localizada, a radioterapia externa (EBRT) hipofracionamento extremos estão em estudo4.
reduzem o edema e os défices neurológicos fo- eloquentes e em doentes com esperança de vida
cais em cerca de dois terços dos doentes. superior a três meses. A RT, holocraniana ou di-
A RT holocraniana ou a radiocirurgica, conti- rigida à loca cirúrgica/resíduo lesional, deverá ser
nua a ser considerada o standard of care, deven- equacionada em contexto pós-cirúrgico.
do ser iniciada precocemente.
A irradiação de todo o conteúdo craniano está 97. COMO PREVENIR E TRATAR
indicada em doentes com múltiplas lesões, baixo A CAQUEXIA?
Karnofsky Performance Status [KPS] ou uma espe-
rança de vida inferior a três meses. A dose de ra- A síndrome de anorexia-caquexia é um pro-
diação e o esquema de fracionamento continuam blema frequente nos doentes com cancro avan-
a ser controversos, no entanto, tipicamente é çado. Nesta síndrome ocorre uma combinação
prescrita uma dose total de 30 Gray em 10 fra- sinérgica: por um lado, existe uma diminuição do
ções. A eventual preservação do hipocampo po- apetite e do anabolismo; por outro lado, há um
derá ser avaliada no sentido de conservar a me- aumento do catabolismo. Consequentemente,
mória de curto prazo. existirá uma perda ponderal gradual.
A radiocirurgia (Fig. 3) é uma técnica que uti- Há que diferenciar a síndrome de anorexia-
liza múltiplos feixes colimados, permitindo a irra- caquexia da desnutrição. A síndrome anorexia-ca-
diação precisa de lesões pequenas, geralmente quexia está associada a um aumento de inflamação
inferiores a 3 cm, com grande gradiente de dose. sistémica, proteólise e stress oxidativo. Os doen-
Esta modalidade, aplicada em sessão única, tes afetados têm níveis elevados de proteína C
permite a deposição de altas doses de radiação reativa e hipoalbuminemia. A desnutrição é, pre-
(15 a 24 Gray) de forma extremamente conformada, dominantemente, devida a uma redução da in-
poupando ao máximo o tecido cerebral normal6. gestão energética.
O procedimento neurocirúrgico poderá ser A abordagem é multidisciplinar, envolvendo
ponderado quando se tratam de lesões solitá- aconselhamento nutricional e um tratamento mul-
rias superiores a 3 cm, em áreas cerebrais não timodal.
local sintomática. Contudo, o seu caráter retros- pressuposto que 69-82% dos doentes falecidos
petivo, assim como a sua população heterogénea teriam tido necessidade de cuidados paliativos,
tornam os resultados do estudo difíceis de extra- podemos determinar que existirão em Portugal
polar9. entre 72.299 e 85.923 doentes com necessidades
A resseção transuretral de próstata (RTU-P) é paliativas.
o tratamento standard atual para obstrução infra- Num total de 27 unidades de internamento,
vesical por progressão locorregional. Apesar de com serviço público, existem 359 camas, o que
pouco estudada no contexto de neoplasia da prós- representa um ratio de 34,6 camas/106 habitan-
tata, uma revisão de 1990 indicava a necessidade tes e uma taxa de cobertura nacional de 38,2%.
de reoperação em 22% e 5% de incontinência Uma realidade de alguma adversidade e resis-
urinária. Uma alternativa em doentes criteriosa- tência tem permitido que um núcleo resiliente de
mente selecionados poderá ser a colocação de um profissionais continue a manter a informação so-
stent prostático/uretral, todavia a sua aceitação bre a premência destes cuidados, sendo bastante
global é baixa pela elevada taxa de complicações8. recompensador ver o interesse de gerações mais
novas de profissionais em trabalhar especifica-
100. QUAL O PAPEL mente nesta área10.
DOS CUIDADOS PALIATIVOS
E QUAL A COBERTURA NACIONAL? BIBLIOGRAFIA
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