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PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

MÓDULO POLÍTICA EXTERNA E INTEGRAÇÃO REGIONAL

Professor: Daniel Araújo dos Santos

1. Material pré-aula

a. Tema

Política Externa Brasileira – Do Barão aos Generais

b. Noções Gerais

Com a queda do Império e o surgimento da República, a política


externa brasileira passa por transformações marcantes. A primeira
delas seria a mudança do foco geopolítico da inserção internacional
do país: o tratamento bilateral com os britânicos, em declínio desde a
metade do século XIX, deixaria de ser o principal parceiro do Brasil;
em seu lugar, os norte-americanos passariam a ser o centro das
atenções da diplomacia brasileira. Outrossim, as relações do país com
seus vizinhos sul-americanos melhorariam sensivelmente em função
da simpatia republicana; esse efeito foi particularmente notável com
a Argentina: as relações entre Buenos Aires e Rio de Janeiro
ganharam novo status e foi possível, inclusive, a solução do último
litígio territorial entre as duas nações. Assim, a Questão de Palmas
(1895) foi finalmente decidida mediante arbitragem do governo
norte-americano, com resultado francamente favorável ao pleito
brasileiro. Além de representar um ganho territorial importante, esse
evento possui um significado especial para a história diplomática
brasileira: ele marca a ascensão do diplomata que revolucionaria a
PEB - José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco.

Se, de 1889 a 1902, a PEB carece de uma grande linha de atuação


externa e se realiza, portanto, em movimentos oscilantes, a partir da
nomeação de Paranhos como chanceler, a diplomacia brasileira
ganharia contornos bem definidos e estrategicamente delimitados.
Segundo Rubens Ricupero (2000), o Barão representou a síntese do
que havia de melhor na PEB do Império e, ademais, modernizou e
aperfeiçoou a diplomacia brasileira de tal modo que o seu legado é,

até os dias atuais, a principal referência sobre o ofício diplomático no
país. Seu vastíssimo legado é objeto de inúmeras obras acadêmicas;
a seguir, tentaremos sintetizar, ainda que de modo minimo, as
principais características da década do Barão (1902-1912).

A diplomacia preconizada por Paranhos pode ser dividida em quatro


eixos fundamentais, os quais se complementam e interagem entre si:
1) a ideia de supremacia compartilhada na América do Sul, pautada
pela convivência pacífica com as nações vizinhas, sobretudo com a
Argentina (apesar de eventuais rusgas, como no caso da corrida
naval no Prata); 2) a solução dos problemas lindeiros por vias
pacíficas (cujo movimento mais marcante é o Tratado de Petrópolis,
de 1903, com a Bolívia); 3) a defesa da imagem do Brasil no exterior
e do agronegócio cafeeiro nas praças internacionais; 4) o
Americanismo como principal diretriz da inserção internacional do
Brasil no mundo. Esse último ponto é, sem dúvidas, o elemento de
maior envergadura da política do Barão. Para o chanceler, o
Americanismo não se confundia com subserviência ou alinhamento
automático às posições norte-americanas; pelo contrário: a
aproximação com os Estados Unidos – e, consequentemente, com a
Doutrina Monroe - era a garantia de relações privilegiadas com a
principal nação emergente do mundo ocidental, e, ao mesmo tempo,
o reforço do prestígio brasileiro, sobretudo no continente sul-
americano. Além dessas diretrizes, o Barão também imprimiu à
diplomacia brasileira, de forma indelével, os princípios da igualdade
soberana, do respeito ao Direito Internacional e do postulado da não-
intervenção como pilares que, até hoje, guiam a PEB.

De fato, a diplomacia do Barão elevou o perfil internacional do Brasil


e foi de crucial importância para a solidificação dos conceitos-mestres
que guiam a inserção externa do país. Com sua morte, a diplomacia
da I República tenderia a manter o mesmo curso de ação delimitado
pelo Barão, ainda que com menor sucesso devido aos
constrangimentos externos e domésticos à execução da diplomacia
brasileira. Para Cervo e Bueno, os anos que vão de 1912 a 1930 são
marcados pelo apogeu e declínio da política de prestígio. O apogeu
seria representado pela participação do Brasil na I Guerra Mundial,
tendo sido o Brasil o único país latino-americano a tomar parte no
conflito, ainda que, no plano militar, sua participação tenha sido
absolutamente marginal. De todos os modos, a não-neutralidade

brasileira assegurou a participação do país no concerto das nações
em Versalhes e, consequentemente, fez com que o Brasil figurasse
entre um dos Estados signatários da Liga das Nações.
A Liga, que fora motivo de orgulho para a diplomacia brasileira, seria,
em 1926, palco de um dos movimentos mais desastrados da
diplomacia pátria, de acordo com Amado Cervo. Desde que iniciou
sua participação na organização, o Brasil pleiteava um assento no
conselho permanente da instituição. Na visão dos diplomatas
brasileiros, a concessão do assento seria o reconhecimento da
posição de prestígio do Brasil no sistema internacional. Contudo,
motivada por uma visão míope e pouco realista de suas próprias
capacidades, a diplomacia brasileira transformou um interesse
legítimo em uma obsessão prejudicial: em 1926, havia uma
expectativa geral na comunidade internacional de que a Alemanha
seria admitida na Liga das Nações e, assim, daria início a uma nova
era das relações internacionais, deixando para trás os anos amargos
da I Guerra Mundial. Tudo conspirava para tal fato: um ano antes,
em 1925, os chanceleres do Reino Unido, França e Alemanha
assinariam uma série de tratados conhecidos como os Acordos de
Locarno, os quais marcavam um novo espírito nas relações entre as
três potências centrais do Velho Continente. Assim, o próximo passo
era a admissão de Berlim na Liga; no meio do caminho, entretanto,
estava a diplomacia brasileira, ou, como salienta Amado Cervo e
Francisco Doratioto, a histriônica diplomacia do governo Artur
Bernardes. O governo Bernardes havia sido um dos mais conturbados
da I República: agitações tenentistas e crises sucessivas no preço do
café fizeram com que o presidente governasse sob Estado de Sítio,
durante quase todo seu governo. Por essas razões, Bernardes via a
política externa como a última esperança de um legado positivo no
seu currículo. Como a aceitação de novos membros na Liga dependia
do consenso de todos os países (qualquer voto contra vetaria a
entrada da Alemanha), o Brasil condicionou seu voto à concessão do
assento permanente que tanto almejava. Diante da negativa das
potências, o Brasil não hesitou: vetou, sob ordens expressas de
Bernardes, a entrada da Alemanha. Como consequência, o Brasil
virou alvo de ataques de todos membros da Liga, inclusive de países
sul-americanos e outras nações até então simpáticas à diplomacia
brasileira. Isolado e sem nenhum prestígio, o Brasil se retiraria da
Liga e amargaria relativo isolamento diplomático até o final da I
República. Para Amado Cervo, a diplomacia histriônica de Bernardes

errou ao adotar uma leitura equivocada da posição do poder de
barganha do Brasil e, ao alimentar uma visão irrealista sobre o
prestígio do país, protagonizou o episódio que, até hoje, é lembrado
como um dos desvios mais graves da tradição moderada que
caracteriza a diplomacia pátria.

Após o lamentável episódio da Liga, a diplomacia brasileira seria


marcada pelo retraimento e pela discrição. Em 1930, entretanto, o
cenário mudaria radicalmente, tanto no plano interno, com a
ascensão de Vargas, quanto no plano externo, com a implosão do
liberalismo político e econômico que caraterizara as relações
internacionais até o crash de 29. Da crise até o ano de 1933, a
diplomacia brasileira ocupar-se-ia, basicamente, da defesa
internacional do preço do café, ainda a principal commodity do país e
setor do qual dependia a economia nacional. Diante da insustentável
crise internacional, ocorrem mutações na economia brasileira que
marcariam toda a trajetória da política brasileira no século XX:
mediante a intervenção estatal em praticamente todos os setores da
economia, o Brasil transitaria de uma economia rural para uma
economia industrial. A política externa seria, nesse sentido, uma
componente essencial desse processo modernizador: por meio da
diplomacia, o Brasil negociaria acesso a capitais estrangeiros e à
tecnologia dos quais o país carecia. Desse modo, a questão do
desenvolvimento nacional tornar-se-ia uma das preocupações
permanentes do Itamaraty, traço que, até hoje, marca nossa
diplomacia.

Em 1933, o mundo era um lugar bem diferente daquele que, em


1919, Woodrow Wilson, pai do idealismo liberal pós-guerra, havia
imaginado. Na Itália e na Alemanha, o fascismo e o nazismo
ganhavam apoio popular e, cada vez mais, passavam a questionar o
status quo estabelecido em Versalhes; na Ásia, o Japão expandia seu
império à revelia dos britânicos e dos americanos; por fim, na URSS,
Stalin dava prosseguimento, à ferro e fogo, ao seu Plano Quinquenal.
Era diante desse quadro substancialmente conturbado que o Brasil
precisava inserir-se. A estratégia desenvolvida pelo governo seria
denominada, por Gerson Moura, de “Equidistância Pragmática”: assim
como no plano doméstico, Vargas possuía inegável talento para
negociar com os diferentes lados da moeda, conseguindo, desse
modo, extrair os resultados mais favoráveis ao Brasil. Assim o fez no

plano externo: por um lado, em 1935, assina com os EUA um tratado
de livre-comércio e se aproxima da figura do presidente Roosevelt,
dentro do espírito da “Política da Boa Vizinhança” de Washington; do
outro, em 1936, firma com a Alemanha nazista um acordo de
comércio compensado que permitia a troca vantajosa de produtos
agrícolas por itens industrializados produzidos por Berlim. Essa
barganha diplomática tinha como objetivo maximizar os ganhos do
Brasil em prol da industrialização e foi, até 1939, uma estratégia
extremamente bem-sucedida. A partir dessa data, já com Oswaldo
Aranha como chanceler, a equidistância pragmática entra no que
Gerson Moura denomina de “equilíbrio difícil”: em função do início da
Segunda Guerra e o consequente fechamento do Atlântico à livre-
navegação, o comércio entre Brasil e Alemanha se torna pouco
viável; simultaneamente, cresce a pressão dos norte-americanos
para que o Brasil adote posição contrária ao Eixo (mesmo que, desde
de 1937, o Estado Novo ganhasse contornos autoritários que se
assemelhavam, em alguma medida, com esses regimes de força). Em
1942, ano em que o Japão ataca Pearl Harbor e assim atrai os EUA
para o conflito mundial, a pressão se intensifica: o Brasil então sedia
a Conferência de Chanceleres do Rio de Janeiro onde Vargas negocia
e acerta o rompimento do Brasil com as potências do Eixo. Desse
modo, o Brasil entrava na Guerra. Teria participação modesta, mas
bem mais significante do que aquela na I GM: enviaria tropas para o
front e seria importante ponto de apoio estratégico para os Aliados,
fosse como fornecedor de matérias-primas, fosse como ponte
territorial para o teatro de operações africano. Em troca, o Brasil
lograria empréstimos, a modernização de parcela de suas forças
armadas e, principalmente, os capitais e a tecnologia para a
construção da Companhia Siderúrgica Nacional, indústria que
representava um salto estrutural na capacidade de industrialização do
país. Ademais, o Brasil estaria, ao final do conflito, uma vez mais no
bloco dos vencedores e participaria, portanto, da fundação da nova
ordem em gestação.

Com o fim da Guerra, as condições sistêmicas mudam novamente. O


governo de Dutra assume acreditando ser um parceiro privilegiado
dos norte-americanos que, então, despontavam como superpotência.
Com a mudança da correlação de forças no jogo internacional e com
o deslocamento do interesse norte-americano para o cenário europeu
(em função da tensão com o comunismo soviético), o Brasil seria

relegado à posição menor na política externa estadunidense. Desse
modo, o alinhamento do Brasil de Dutra com Washington seria “sem
recompensas” e duraria somente até 1947, ano em que os estadistas
brasileiras se dão conta de que seria difícil repetir os mesmos trunfos
que Vargas havia conseguido antes. O Brasil havia, uma vez mais,
saído triunfante do conflito mundial para desaguar em expectativas
frustradas (ainda que desta vez, as condições sistêmicas fossem mais
desfavoráveis ao Brasil).

Em 1950, Vargas retorna ao assento presidencial. O mandato de


Vargas seria marcado por forte pressão nacionalista no plano
doméstico e por acirramento da Guerra Fria no plano externo. O
Brasil insistiria em uma parceria privilegiada com os EUA, tentando,
nesse sentido, um “alinhamento negociado”; contudo, os resultados
foram parcos: comissões técnicas – como a Comissão Brasil-EUA -,
tinham o objetivo de superar os gargalos produtivos que impediam a
industrialização do Brasil, mas careciam da boa vontade norte-
americana na liberação de capitais. Internamente, o acirramento da
disputa entre grupos internos levaria ao trágico desfecho do suicídio
de Getúlio (retardando o golpe militar até 1964) e marcaria o fim da
política externa varguista.

Com a eleição de JK – após o breve interregno Café Filho, visto como


um “hiato liberal” na política doméstica e externa – a diplomacia
começaria ganhar novos contornos que definiriam, de modo
abrangente, o modelo de inserção do Brasil de 1955 a 1964. De fato,
JK depara-se com um sistema internacional em mutação:
coexistência pacífica entre as potências, recuperação da Europa e do
Japão no quesito econômico, surgimento do movimento dos não-
alinhados em Bandung e, finalmente, fissuras no bloco comunista e
capitalista, cujo maior exemplo seria a Revolução Cubana, que
afetaria decisivamente a diplomacia continental na América Latina.
Nos anos do Plano de Metas, a PEB foi caracterizada por uma Política
Externa do desenvolvimentismo associado, isso é, estaria focada,
sobretudo, em atrair capitais para a consecução do ambicioso
programa de industrialização em marcha forçada preconizado por
Kubitschek. A maior iniciativa do governo foi a Operação
Panamericanca (OPA), criada em 1958 com o intuito de associar a
ideia de financiamento externo com a questão do combate do
comunismo. Na Europa, o Plano Marshall havia conseguido resultados

impressionantes na reconstrução econômica do Velho Continente; já
as nações latino-americanas, relegada ao segundo plano na
estratégia global de Washington, continuava sofrendo de problemas
estruturais crônicos. Com a OPA, a diplomacia brasileira ligaria seu
interesse maior – desejo por capitais – com o objetivo maior dos
americanos – combate às “ideologias estranhas”; assim, JK conseguiu
multilaterizar a campanha por assistência financeira e técnica e deu
maior fôlego e legitimidade à capacidade do Brasil de negociar com
Washington. Apesar de os resultados terem sido abaixo do esperado
pelo governo brasileiro, a OPA deixou um legado importante:
influenciou a criação do Banco Interamericano de Desenvolvimento e
firmou a ALADI, primeiro projeto de cooperação econômica entre os
países latinos. Ademais, influenciaria, ainda que a posteriori, a
iniciativa norte-americana da Aliança para o Progresso.

A diplomacia de toda zona latino-americana seria sacudida pela


Revolução Cubana de 1959. Com o recrudescimento da retórica
capitalismo vs. socialismo no continente, a diplomacia precisou,
novamente, readaptar-se. Com Jânio e Jango, ocorre o movimento
denominado de Política Externa Independente (PEI), que, junto com
o Barão e o Pragmatismo Responsável de Geisel, seria uma das
maiores inflexões da diplomacia brasileira no século XX. A PEI tomou
de empréstimo elementos autonomistas presentes na política externa
de JK e aprofundou-os diante das condições sistêmicas que
encontrou, interna e externamente, durante a complicada primeira
metade da década de 1960. A PEI compreende dois governos – Jânio
e Jango – e foi o produto de, principalmente, três chanceleres:
Afonso Arinos, San Tiago Dantas e Araújo Castro. No plano das
diferenças, enquanto a PEB de Jânio era diretamente influenciada
pela retórica afetada e teatral do presidente, com João Goulart a PEI
torna-se mais pragmática e institucionalizada, resultado do maior
direcionamento e consistência imprimidos pelo Itamaraty. De modo
geral, a PEI caracteriza-se por cinco grandes eixos de atuação: 1) a
desideologização das RI (ou seja, um pragmatismo em função do
interesse nacional e não de ideologias); 2) a mundialização das
relações internacionais do Brasil (embrião do que, atualmente,
chamamos de multilateralismo); 3) o tema da descolonização (em
função da onda de libertação das nações afro-asiáticas); 4)
independência nas decisões de política externa (representação do
desejo de autonomia do Brasil frente às duas superpotências); 5) a

bissegmentação do sistema internacional não somente em conflito
leste-oeste, mas também em tensões Norte-Sul, entre desenvolvidos
e subdesenvolvidos). Como pode se observar, a PEI marca uma
inflexão retórica e pragmática na história da PEB. Por outro lado,
conservou elementos como o princípio da não-intervenção, o qual
defendeu com afinco no caso da suspensão cubana da OEA (em
votação que o Brasil, e mais cinco países latino-americanos,
abstiveram-se, contra a vontade dos EUA). Além disso, o Brasil
expandiu significativamente seus contatos bilaterais, inclusive com
países do bloco soviético; o país também levantou a bandeira da
descolonização ainda que, no plano da prática, deixasse a desejar nas
suas ações anticoloniais sobretudo por causa de seu relacionamento
privilegiado com Portugal; e, finalmente, o Brasil inaugurou uma fase
de grande participação nos mecanismos multilaterais como a ONU, a
UNCTAD, o Comitê do Desarmamento, entre outras OI’s. Nesse
contexto, destaca-se o histórico discurso de Araújo Castro na
Assembleia Geral das Nações Unidas (1963), no qual o chanceler
mapeou a diplomacia brasileira de acordo com os 3 “D’s” que
guiavam a PEI: desenvolvimento, descolonização e desarmamento.

A PEI deixou um legado intelectual que, até hoje, reverbera na


diplomacia brasileira. O agravamento da crise interna, entretanto,
pôs fim abrupto ao regime trabalhista de João Goulart por meio de
um golpe civil-militar que inaugurou um largo período de
autoritarismo. Ao assumir o governo, o General Castello Branco
(1964-1967) discursou contra a PEI, vista como produto de ideologias
de esquerda (posição que, entretanto, é taxativamente equivocada
do ponto de vista histórico. Basta recordar, por exemplo, que Afonso
Arinos, um dos chanceleres da PEI, era udenista). Assim, Castello
reformaria a PEB e tentaria trazê-la de volta ao que os militares
ilustrados da Escola Superior de Guerra consideravam a normalidade
da diplomacia brasileira; segundo a historiografia, porém, aquilo que
Castello via como o retorno aos tempos áureos do Barão não passava
de um anacronismo inviável diante de um mundo em franca
transformação. Assim, Cervo e Bueno consideram a diplomacia de
Castello Branco como um passo fora da cadência. De fato, o governo
militar condicionaria a atuação diplomática à aliança ideológica,
política e militar, com os EUA: repetiria, portanto, o erro do
alinhamento automático, agora acrescido da ideologia da “segurança
coletiva” do mundo ocidental como pedra de toque da retórica

militaresca. Em pouco tempo, essa estratégia se demonstraria
equivocada, já que pouco lucrou o Brasil de sua relação com os EUA.
Conclui-se, desse modo, que a diplomacia de Castello foi um
anacronismo resultante de uma leitura pobre e altamente
ideologizada (pelo viés da casa militar) sobre o sistema internacional.

Tal foi o erro de Castello que seus sucessores militares modificariam,


uma vez mais, os rumos da PEB. Costa e Silva (1967-1969)
inauguraria a “Diplomacia da Prosperidade”, e Médici (1969-1973)
criaria a “Diplomacia do Interesse Nacional”. Ainda que tenham
diferenças pontuais, as duas diretrizes representavam uma correção
de rumos em relação a Castello e o retorno de uma diplomacia mais
pragmática, focada em retornos materiais para o país, rejeitando,
portanto, alinhamentos automáticos. Ambas eram produto da “linha
dura” dos militares nacionalistas que assumiram o regime: assim, se
no plano interno esses governos foram responsáveis pelo pior
momento da repressão violenta e autoritária, no plano externo eles
produziram uma política externa de melhores resultados que seu
antecessor. Nesse período, um dos maiores destaques da diplomacia
foi o chamado “périplo africano” de Mário Gibson Barbosa, iniciativa
que inaugurou uma nova fase de relacionamento externo com o
continente africano e que se solidificaria como uma vertente
fundamental da inserção brasileira no mundo, pelo menos até o fim
da década de 1980.

Com Geisel (1973-1979) os elementos autonomistas e universalistas


ensaiados por Médici e Costa e Silva ganhariam maior densidade e
consagrariam o chamado “Pragmatismo Responsável e Ecumênico”.
Reflexo de distensões domésticas – abertura do regime militar – e
externas – détente, fim do arco de descolonização, e novas fontes de
capital em função dos petrodólares pós-choque de 1973 -, o
Pragmatismo Responsável obteve resultados expressivos.
Universalizou a PEB e atuou de modo autônomo, sendo, inclusive, o
primeiro país a reconhecer a independência do regime marxista
implantado em Angola. Esse episódio é simbólico, pois demonstra
que o Brasil guiava-se, de fato, por interesses econômicos
pragmáticos, sem condicionantes ideológicas que pudessem limitar os
ganhos diplomáticos. É preciso compreender o Pragmatismo
Responsável em conjunto com o ambicioso II Plano Nacional de
Desenvolvimento de Geisel, pacote econômico que visava completar

o longo arco do nacional-desenvolvimentismo iniciado por Vargas em
1930. Desse modo, a diplomacia priorizou os contatos econômicos de
forma a conseguir capitais e tecnologia para concluir seu processo de
industrialização. Exemplo maior dessa transformação se dá no plano
da energia: o Brasil era, até a década de 1970, dependente de
importações de petróleo; com a crise de 1973 e a inflação repentina
do barril de petróleo, o Brasil modifica sua estratégia e passa, via
endividamento externo, a investir massivamente na sua indústria de
extração de petróleo de modo a reduzir sua dependência externa.
Essa estratégia, bem-sucedida no longo prazo, é um dos resultados
mais evidentes do pragmatismo de Geisel. Até os dias atuais, a
política externa do general é referência elementar para a formulação
da diplomacia brasileira; há, inclusive, muitos autores que percebem
diversos paralelos entre a política externa de Geisel e a política
externa de Lula, ambas como expressões de uma inserção
pragmática e ambiciosa do Brasil no plano externo.

O último general a ocupar o posto da presidência foi João Figueiredo


(1980-1985). Em linhas gerais, a PEB desses anos finais do regime
militar manteve os aspectos universalistas (principalmente terceiro-
mundistas) e pragmáticos do seu antecessor; entretanto, angariou
muito menos resultados em função de um quadro externo e interno
bem mais complicado. Enquanto a Guerra Fria entrava em uma nova
e derradeira fase “quente” com Ronald Reagan, o Brasil enfrentava os
efeitos do endividamento excessivo e o esgotamento da capacidade
de financiamento externo (sobretudo em função da política de altos
juros praticada pelos EUA). Assim, a crise da dívida minaria a
capacidade de ação do Brasil.

Esse brevíssimo histórico evidencia a longa trajetória da PEB no


século XX. Entre seus vários movimentos e reações, destacam-se a
política de prestígio do Barão, a Política Externa Independente e o
Pragmatismo Responsável como as três maiores inflexões da PEB, as
quais, até hoje, influenciam de modo decisivo o pensamento
diplomático brasileiro. É possível observar, além disso, a constância
de alguns aspectos fundamentais da diplomacia brasileira nesse longo
período: a busca constante por autonomia, a preocupação prioritária
como o desenvolvimento nacional, e a atuação principista (em defesa
da não-intervenção e do primado do Direito Internacional), são

alguns dos elementos que podem ser verificados na constância
diplomática do Itamaraty, até os dias atuais.

c. Leitura sugerida

CERVO, Amado Luiz & BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior


do Brasil. Brasília: UnB, 2002.

FILHO, Synesio Sampaio Goes. Rio Branco, inventor da história.


BARÃO DO RIO BRANCO. 100 ANOS DE MEMÓRIA. FUNAG. Brasilia.
2012. Disponível em:
http://funag.gov.br/loja/download/1007-Barao_do_Rio_Branco_-
_100_anos_de_memoria.pdf

RICUPERO, Rubens. Rio Branco: O Brasil no Mundo. São Paulo:


Contraponto, 2000.

d. Leitura complementar

A Cobra Fumou - O Brasil na 2ª Guerra


https://www.youtube.com/watch?v=Z726h2euqBs O documentário A
cobra fumou (2003), de Erik de Castro, ajuda a conhecer um pouco
mais sobre a participação da FEB, a Força Expedicionária Brasileira,
na Segunda Guerra Mundial. O título faz referência à piada, que se
fazia na década de 1940, de que seria mais fácil uma cobra fumar do
que o Brasil enviar tropas para o grande conflito.

Autonomia na Política Externa Brasileira Ligiero, Luiz Fernando.


A autonomia na política externa brasileira : a política externa
independente e o pragmatismo responsável: momentos diferentes,
políticas semelhantes? / Luís Fernado Ligiero. – Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2011. 412 p.
http://funag.gov.br/loja/download/877-
Autonomia_na_Pol%C3%ADticaExBs.pdf

CERVO, Amado. Política exterior e relações internacionais do Brasil:


enfoque paradigmático. RBPI, v.46, n.2. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-
73292003000200001>

conteúdos.
Discurso dos três Ds - Araujo Castro
https://www.youtube.com/watch?v=IrNQeAdaseE

Entrevista com Azeredo da Silveira Sessão de perguntas e


respostas rápidas com o Ministro Azeredo da Silveira sobre temas
como Petróleo, África, Armamento e Energia Nuclear. Link disponível
no sítio http://silveiradepoimento.com.br/site/ , dedicado ao livro
"Azeredo da Silveira: um depoimento", organizado por Matias
Spektor.

Ministério das Relações Exteriores


http://www.itamaraty.gov.br/index.php?lang=pt-br O Ministério das
Relações Exteriores apresentou seu novo sítio eletrônico,
reorganizado e com novos
Origens e direção do Pragmatismo Ecumênico e Responsável
SPEKTOR, M. . Origens e direção do Pragmatismo Ecumênico e
Responsável (1974-1979). Revista Brasileira de Política Internacional,
Brasilia, v. 47, p. 191-222,
2004.http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/4
173/RBPI_pragmatismorespons%C3%A1vel_2004.pdf?sequence=1&i
sAllowed=y

Seminário para a Comemoração do Primeiro Centenário ad


Posse do Barão do Rio Branco como Ministro de Estado das
Relações Exteriores. Rio Branco, A América do Sul e a
modernização do Brasil. Organizadores Carlos Henrique Cardim, João
Almino; prefácio Fernando Henrique Cardoso. – Rio de Janeiro: EMC,
2002. Disponível em: http://funag.gov.br/loja/download/148-
Rio_Branco_-_a_America_do_Sul_e_a_Modernizacao_do_Brasil.pdf

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