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L E I N° 9.610, D E 19 D E F E V E R E IR O D E 1998.(Legislação de Direitos Autorais)
Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais:
I - a reprodução:
d) de obras literárias, artísticas ou científicas, para uso exclusivo de deficientes visuais, sem pre que a reprodução,
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CONVICÇÕES, ATITUDES
E
ASSUNTOS HUMANOS
CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO
CONCEITOS BÁSICOS
Obra publicada
com a aprovação da
U N IV E R S ID A D E DE SÃO PA U LO
E D IT O R A D A U N IV E R S ID A D E DE SÁO PA U LO
Comissão Editorial:
Presidente — Prof. Dr. M ário Guimarães Ferri
(Institu to de Bíociências). M em bros: Prof. Dr.
A. Brito da Cunha (Institu to de Biociências),
Prof. Dr, Carlos da Silva Lacaz (Instituto de
Ciências Btom édicas), Pro f. Dr. Irineu Strenger
(F acu ldade de Direito) e Prof. Dr. Pérsio de
Souza S antos (Escola Politécnica).
\
FICHA CATALOGRÁFICA
(Preparada pelo Centro de Catalogação-na-fonte,
Câmara Brasileira do Livro, SP)
73-0027 CDD-152.452
-153.43
CONVICÇÕES, ATITUDES
E
ASSUNTOS HUMANOS
Tradução de
CAROLINA MARTUSCELLI BORI
Universidade de São Paulo ,
1
tre que não sou atípico). Porém, o que tratei de ressaltar
é que um colorido político é sempre acrescentado durante a
viagem até Washington. Segundo me parece, os cidadãos e
os senhores da decisão pública deveriam também saber dis
so.
Assim, os exemplos aqui analisados representam sem
dúvida um ensaio pessoal, diversamente do que ocorre com
eles, em outros livros, quando valem como “recursos pe
dagógicos para auxiliar a compreensão”. São como pedaços
de chocolate que dão sabor ao biscoito e, espero, tomarão
este livro agradável ao paladar.
Agradeço às várias pessoas que comentaram os pri
meiros rascunhos do manuscrito: Barry F. Anderson do
Portland State College, Theodore M. Newcomb e Edward
L. Walker, da University of Michigan e Eve V. Clark, Her-
bert H. Clark e Philip G. Zimbardo, da Stanford Univer
sity.
A influência de Thomas F. Pettigrew é mais profunda
do que indicam as citações explícitas de suas obras publi
cadas. Foi seu curso sobre as relações raciais em Harvard
que me levou a interromper a pós-graduação em física e
iniciar minha carreira em psicologia. Muitas seções deste
volume apresentam seus exemplos, mas seu exemplo é se
guido em todas.
A Dra. Sandra L. Bem, pesquisadora em psicologia e
membro do corpo docente da Carnegie-Mellon University,
apresentou sugestões para os vários capítulos do livro e é
co-autora da seção final: Estudo de uma Ideologia Não-
-Consciente: Preparando a Mulher para Conhecer seu Lugar.
É óbvio então que ela não datilografou o manuscrito, nem
preparou o índice ou evitou que as crianças me atrapalhassem,
demonstrando indulgência e resignação especiais durante meu
trabalho. Enfim, não fez nenhuma dessas coisas com as
quais as esposas tradicionalmente ganham afetuosas notas
2
de rodapé.* Daí se percebe, então, que se trata de minha
melhor amiga, minha colega e minha amada. Sem a sua
cooperação este livro certamente teria ficado pronto muitos
meses antes.
3
CAPITULO I
5
Tais críticos apoiavam claramente a decisão “pura
mente legal” de 1896, na qual a Corte reconheceu que a
“legislação não tem poder para erradicar instintos raciais”,
defendendo a opinião de que as “determinações estatais não
podem modificar costumes populares”.
Mas a crítica à decisão de 1954 envolve sua própria re
futação, revelando que a decisão de 1896 também era “so
ciológica e psicológica”. Assim, a concepção de que há
“instintos raciais” e a crença de que a ação legislativa ou
judicial não modifica a atitude são suposições psicológicas
que requerem uma evidência empírica favorável ou con
trária a elas. Não são verdades evidentes por si, nem prin
cípios históricos ou legais. Na realidade, até a linguagem
usada pela Corte em 1896 para justificar sua decisão parece
ser diretamente tomada dos escritos de William Graham
Sumner, influente sociólogo contemporâneo e defensor da
idéia de que as “determinações estatais podem modificar
costumes populares”.
Portanto, se há uma diferença marcante entre as de
cisões de 1896 e a de 1954, ela reside não na pureza legal
dos raciocínios, mas na diferença do conhecimento das cren
ças e atitudes nos séculos XIX e XX. Hm 1896, a Corte
reconhecia apenas menos claramente que em 1954 suas in
fluências sociológicas e psicológicas. Como veremos nos
dois últimos capítulos, sabemos agora que as determinações
estatais podem, claramente, modificar os costumes popu
lares.
Mas é a moral desse fato que desejo enfatizar aqui: a
legislação e as decisões judiciárias são sempre influenciadas
por suposições psicológicas e sociológicas. Todo o nosso
sistema legal é construído com base nessas suposições. Cren
ças relativas às condições em que um homem pode ser
considerado plenamente responsável, suposições sobre a efi
cácia da pena de morte para impedir o crime, decisões sobre
6
0 que é ou não obsceno — tudo envolve suposições psico
lógicas. Os senhores das decisões públicas não podem evi
tá-las; podem apenas tratá-las explícita e reconhecidamente,
como a Corte em 1954, ou permitir que elas funcionem
subrepticiamente, como fez a Corte em 1896. As crenças
sobre as crenças e atitudes desempenham papel fundamental
na formulação de uma política pública. E, como os Es
tados Unidos empenham-se ideologicamente em fazer seus
cidadãos participarem o mais possível nas decisões, gostaria
que estes baseassem suas suposições nas crenças sobre as
crenças e atitudes do século XX. Apreciaria ainda que o
fizessem intencionalmente, e não sem o saber. Estas foram
as considerações que me levaram a escrever o presente livro
e que, em boa parte, determinam seu conteúdo.
As crencas e atitudes humanas je„fundam entam em
quatro atividades do homem: jpensar, sentir, comportar-se ç
interagir com os outros^ Assim, este volume divide os fun
damentos psicológicos das crenças e atitudes cm quatro
partes; cognitivos, emocionais, comporjamentais e sociais.
Os Capítulos 2, 3 e 4 tratam dos fundamentos cogni
tivos, explorando a lógica, ou a psico-lógica,1 que une as
opiniões dos homens. Como se relacionam as crenças, as
atitudes e os valores? Quais são os componentes conscien
tes, não-conscientes e inconscientes do seu pensamento? O
homem é ou não coerente nas suas opiniões?
Respondendo a tais questões, esses três capítulos dis
cutem os estereótipos, a “new politics”, anti-semitismo, as
relações entre as crenças cristãs e o preconceito racial, as
crenças políticas dos cientistas do comportamento, c o li
beralismo e conservadorismo norte-americano.
7
O Capítulo V, sobre os fundamentos emocionais, discu
te os processos subjacentes através dos quais são adqui
ridos, transmitidos, modificados e eliminados os nossos sen
timentos, componentes emocionais das crenças e atitudes.
Esse capítulo também propõe uma questão enganosamente
simples: “Como sabemos o que estamos sentindo?”
Os exemplos do Capítulo V incluem uma rápida visão
do detetor de mentira, a origem das reações emocionais a
termos raciais e a palavras “feias”, os efeitos da violência
e da nudez nos meios de comunicação de massa, uma teoria
sobre porque os judeus obesos podem jejuar mais facil
mente do que os que têm peso normal — mas só se vão à
sinagoga — e um meio novo para obter mais satisfação da
página central da sua revista Playboy.
O Capítulo VI, sobre os fundamentos comportamentais
das crenças e atitudes, desafia a suposição comum de que
não se pode modificar o comportamento dos homens antes
de modificar seus “corações e mentes” . São examinadas
duas teorias que dão a entender que, na verdade, uma das
maneiras mais efetivas de mudar os “corações e mentes”
dos homens é modificar antes seu comportamento. O Ca
pítulo VI também explora as condições nas quais o “dizer
se transforma em crer”, e apresenta meu depoimento pe
rante o comitê do Senado sobre os possíveis efeitos psico
lógicos do interrogatório policial sobre a memória de um
suspeito.
O sétimo e último capítulo do livro, sobre os funda
mentos sociais, examina as várias influências sociais que
criam e modificam as crenças, as atitudes e os valores dos
homens. O capítulo começa com uma discussão da forma
mais superficial de influência social, a persuasão através dos
meios de comunicação de massa; passa então para as formas
mais profundas de influência que a família, amigos, profes
sores e colegas têm sobre o nosso sistema de crenças, e
8
termina com uma discussão da capacidade da sociedade para
inculcar toda uma ideologia nos seus cidadãos. Esta discus
são das influências sociais tenta também desmascarar algu
mas das reivindicações da aspirina, apresentadas através da
nossa televisão; considera brevemente as normas subjacentes
ao processo de integração racial, e apresenta um ponto de
vista tendencioso sobre a distância entre as gerações. O li
vro termina com uma longa dissertação sobre o papel da
mulher na nossa sociedade e sobre a ideologia oculta que
tão eficazmente “a mantém no seu lugar”.
9
CAPITULO II
II
do indivíduo e que por isso se opõe à lei da invasão do do
micílio e à legislação que regulamenta a posse de armas de
fogo. Posso discordar das suas opiniões, mas apreciar a
lógica nelas implícita. Curiosamente, porém, meu vizinho
amante da liberdade também advoga penalidades inflexíveis
para o uso de marijuana, acha que o lugar da mulher é no
lar e acredita que adultos aquiescentes que se envolvem em
comportamento homossexual deveriam receber penas de mui
tos anos de prisão. A lógica aqui implícita parece ser menos
clara, embora essas opiniões também pudessem ser estranha
mente previsíveis. Na realidade, meu vizinho e eu profes
samos ter como valor básico a liberdade do indivíduo, e
ambos proclamamos que nossas opiniões são coerentes com
os nossos valores. No entanto, cada um de nós acha muito
desagradáveis as opiniões do outro.
Em resumo, crenças, atitudes e valores parecem estar
logicamente ligados, mas em alguns casos a lógica mais pare
ce freudiana que aristotélica. É esta mescla da lógica e psico
lógica que nos preocupa neste e nos dois capítulos seguintes.
É esta mistura de lógica e psico-Iógica que constitui os fun
damentos cognitivos das crenças e atitudes.
CRENÇAS PRIMITIVAS
12
Muitas crenças são o produto de experiência direta. Sc
você perguntar aos seus amigos porque acreditam que as la
ranjas são redondas, eles tenderão provavelmente a respon
der que viram laranjas, pegaram laranjas e que as laranjas
são, na verdade, redondas. E isto parece encerrar o assun
to. Você poderia, naturalmente, perguntar-lhes porque con
fiam nos sentidos, mas isto seria indelicado.
Considere uma crença mais complicada. Se você pergun
tar aos seus amigos porque acreditam que os asteróídes são re
dondos (isto é, esféricos), o mais sofisticado dentre eles pode
ser capaz de mostrar como tal conclusão deriva de princí
pios da física e de observações astronômicas. Você pode
ria pressioná-los um pouco mais e pedir para que justifi
quem sua crença nos princípios físicos e nas observações
astronômicas: Donde deriva o conhecimento que têm dessas
coisas? Quando responderem a essa questão — talvez ci
tando o New York Times — você pode continuar a sondar:
Porque acreditam em tudo que lêem no Times'? Se eles então
se referirem à experiência anterior com a precisão do Times
ou se recordarem de que os seus professores sempre tiveram
palavras gentis sobre a integridade do jornal, desafie a va
lidade da experiência anterior ou a credibilidade nos pro
fessores.
O que você descobrirá através desse interrogatório —
além de um notável declínio no número de seus amigos —
é que se pode fazer recuar cada crença até que ela pareça
repousar, em último caso, sobre uma crença básica na credi
bilidade da própria experiência sensorial ou na credibilida
de em alguma autoridade externa. Outras crenças podem
derivar dessas crenças básicas, mas as próprias crenças bá
sicas são aceitas como dadas. Por isso, as denominamos
de “crenças primitivas”. 1
1) Tomei emprestado e modifiquei ligeiramente o conceito de
crença primitiva de Rokeach (1968).
13
Crenças de ordem zero
14
Crenças de primeira ordem
15
Crenças primitivas baseadas na autoridade externa
16
é a minha mão esquerda” e “hoje é terça-feira”, como se
fossem unidades físicas de conhecimento apresentadas por
alguma autoridade “realmente sábia”. Finalmente, grande
parte das crenças religiosas e quase-religiosas são crenças de
primeira ordem baseadas numa fé de ordem zero indiscutí
vel numa fonte de conhecimento interna ou externa. A crian
ça que canta “Jesus me ama — isso eu sei, / Pois é a Bíblia
quem diz” está na realidade sendo menos evasiva em rela
ção à natureza metafísica — e por isso não confirmável —
das suas crenças do que nossos pais fundadores quando pre
sumiram interpretar a realidade para o rei Jorge III: “Acre
ditamos que essas verdades são verdades auto-evidentes. . . ”
Generalizações e estereótipos
Muito poucas são as nossas crenças primitivas que re
pousam diretamente sobre uma única experiência. Muitas
deías sáo abstrações e generalizações de várias experiências
que ocorreram no tempo. Nesse sentido um indivíduo pode
acreditar que a vida na cidade é agitada, que João é generoso,
que a liberdade é maravilhosa e que a arte moderna é difícil
de entender. Cada uma dessas crenças deriva de várias situa
ções distintas, mas visto que o indivíduo ainda as relaciona
com a experiência direta, são mais apropriadamente classi
ficadas como crenças primitivas. No que tange ao indivíduo
elas ainda se originam diretamente de uma fonte cuja credi
bilidade é axiomática e auto-evidente: os seus sentidos.
Mas a vida na cidade nem sempre é agitada; João mos
trou-se algumas vezes avarento; a liberdade às vezes não é
tão maravilhosa; e a arte moderna é freqüentemente com
preensível. Em resumo, as generalizações nem sempig são
verdadeiras em todos os_casos além daquele conjunto de
experiências .nas qiiais .se baseiam. Quando um indivíduo
considera tais generalizações como se fossem verdades uni
17
versais, geralmente as denominamos de estereótipos. Devido
a uma série de razões muitos dentre nós aprenderam a con
siderar os estereótipos como indesejáveis. Às vezes, por
exemplo, os estereótipos não se baseiam em nenhuma ex
periência válida, mas são apreendidos como boatos ou são
formados a fim de racionalizar nossos preconceitos. Neste
caso os estereótipos são também freqüentemente utilizados
para justificar um tratamento mesquinho a indivíduos com
base num suposto grupo de características que, na realidade,
nem o indivíduo e nem o grupo possuem.
Ê importante constatar que o processo através do qual
surge a maioria dos estereótipos não é em si mesmo mau ou
patológico. Generalizar de um conjunto limitado de expe
riências e tratar indivíduos como membros de um grupo,
além de atos cognitivos comuns, são atos necessários. São
“recursos de pensamento” que nos possibilitam evitar o caso
conceptual, “empacotando” nosso mundo em um número
razoável de categorias. A formação de “estereótipos de tra
balho” é inevitável até que a experiência ulterior os refine
ou os desacredite, visto que é simplesmente impossível lidar
com cada situação ou pessoa como se fossem únicas. Por
exemplo, muitos calouros provenientes de áreas rurais do
país gastam as primeiras semanas ao entrarem na universida
de pensando que todos os novaiorquinos são judeus e que
todos os judeus são nova-iorquinos. Não existe necessaria
mente qualquer malícia ou má vontatle atrás desse estereó
tipo; o calouro simplesmente ainda não viu as características
distintivas não correlatas dos judeus e dos nova-iorquinos
— se é que tais características existem. Mas quando verifica
que o seu colega de quarto “obviamente-nova-iorquino-ju-
deu” é adepto da Ciência Cristã, vem de New Jersey e se
chama Murphy, e que o texano com botas de vaqueiro admi
te que seu pai é um rabino cm Houston, o calouro logo co
meça a diferenciar com mais precisão as categorias do seu
18
meio social. Suspeito que a maioria dos nossos estereótipos
são dessa variedade benigna e que aprendemos, à medida
que nossas experiências se ampliam e multiplicam, a descar
tar as características irrelevantes das nossas categorias sociais.
A palavra mais importante aqui é “ampliam” . A nova
experiência deve ser do tipo que realmente separa as ca
racterísticas relevantes das irrelevantes, não do tipo que serve
para reforçar os estereótipos. Por exemplo, sugere-se, fre
qüentemente, que um maior contato entre grupos étnicos
automaticamente causará o desaparecimento automático dos
estereótipos. Mas ninguém teve mais contato racial do que
os negros que residem no gueto e os policiais brancos. E,
no entanto, esses contatos não se destacam como produtores
de qualquer tolerância racial espetacular. O que ocorre, na
turalmente, é que os policiais brancos lidam primordialmente
com o elemento criminoso do gueto e que os residentes negros
vêem no gueto precisamente aqueles brancos que foram des
tacados para desempenhar papéis autoritários. Tais con
tatos somente reforçam ambos os lados porque a identifica
ção racial continua a ser pareada com características irrele
vantes.
O maior insucesso desses contatos não é tanto o fato
de ocorrerem em situações hostis (embora certamente isso
também não ajude) mas de os participantes não terem igual
status (Allport, 1954). Vemos assim que estereótipos si
milares são mantidos em ambos os lados até mesmo em
encontros mais amenos entre negros residentes no gueto e
brancos donos de loja ou empregados de agências assisten-
ciais, casos nos quais a exigência de igualdade de status não
é satisfeita. Quando esta exigência não é satisfeita os par
ticipantes tendem mais a se perceberem como tendo crenças,
atributos e objetivos comuns, e não a se perceberem como
participantes em antigos papéis estereotipados.
19
O tipo de contatos vicários ínter-raciais possibili
tados pelos meios de comunicação de massa deve ope
rar com base no mesmo princípio de representação de
igualdade de síatus para também ser útil na eliminação
de estereótipos. Em 1968, depois de anos de pressão das
organizações de direitos civis, os meios de comunicação de
massa finalmente começaram a observar esse princípio apre
sentando regularmente faces negras além daquelas apresen
tadas nos papéis de “negro” . Assim, embora os comerciais
na televisão continuem a ofender nossas sensibilidades por
outras razões, realmente auxiliam os norte-americanos a
perder seus estereótipos — mesmo quando seja somente
para demonstrar que quaisquer odores que os negros norte-
-americanos possam ter são dos tipos familiares que podem
ser eliminados com Dial ou Listerine.
Mas se alguns estereótipos são vulneráveis a novas ex
periências, muitos outros podem ser extremamente impene
tráveis à evidência contrária. Até mesmo não-confirmações
repetidas de um estereótipo podem freqüentemente não alte
rá-lo porque o indivíduo as trata como exceções. Assim, ele
nota que há um Sidney Poitier ou um Thorgood Marshall,
Juiz da Supreme Court Justice — mas que existe também
“todo o resto”. Alguns estereótipos são ainda mais astuta
mente insulados da realidade do que este porque o indivíduo
vê que não há como surgirem exceções. Ele simplesmente
nem se incomoda em confrontar o estereótipo com um crité
rio independente. Por exemplo, muitas pessoas apregoam
que podem “distinguir um homossexual a milhas de distân
cia”. Naturalmente, não podem fazer isso. O que podem
é reconhecer um homem que apresenta gestos ligeiramente
afeminados e, quando o fazem, proclamam que “descobri
ram outro homossexual”, reforçando desse modo seu este
reótipo. Visto que não procuram assegurar-se das prefe
rências sexuais do indivíduo “descoberto”, o raciocínio é
20
)
puramente circular. Classificam desse modo, erroneamente,
como homossexuais um grande número de indivíduos não-
-homossexuais que têm gestos afeminados. O homem que
proclama ter tal “radar para homossexuais” pode sentir-sc
ligeiramente infeliz ao saber que está errando na classifica
ção desses indivíduos, mas pode-se apostar com segurança
que ele ficaria muito mais agitado sabendo que não está de
tectando todos aqueles homossexuais que tão desconsiderada-
mente se misturam ao nosso meio sem um “sussurro” iden
tificador. Mas ele está a salvo visto que a evidência não
desempenha nenhum papel válido na manutenção desse este
reótipo, que está efetivamente insulado contra os dois tipos
de não-confirmação, e ele nunca saberá.
Os estereótipos são então crenças supergeneralizadas
baseadas em um conjunto muito limitado de ...experiências,.
Quer os estereótipos sejam maus ou benignos em suas con
seqüências, são como outras crenças primitivas de primeira
ordem no sentido de que parecem auto-evidentes para o jn -
divíduo; parecem não exigir nenhuma justificação além da
citação da experiência direta ou de alguma autoridade exter
na cuja credibilidade é considerada como dada, Esta cre
dibilidade, em outras palavras, é uma crença de ordem zero.
Todos nós nos baseamos até um certo ponto em estereótipos
para “empacotar” nossos mundos perceptual e conceptual.
2
inserir uma premissa consciente e explícita entre a palavra
de uma autoridade e nossa crença: 3
O Comitê Médico diz que fumar causa câncer.
O Comitê Médico é digno de confiança.
Portanto, fumar causa câncer.
22
li
Note-se que é possível dois homens manterem aparen
temente a mesma crença, porém, com estruturas verticais de
crenças diferentes. Por exemplo, o médico acredita que os
fumantes morrem, em média, mais jovens do que os não
fumantes, mas o mesmo ocorre com o homem que acredi
ta que:
Fumar é pecado.
O preço Uo pecado é a morte.
Portanto, fumantes morrem mais jovens do que não fu
mantes.
23
Fumar causa câncer. Fumantes bebem mui Estatísticas mostram
to mais do que não que fumantes mor
fumantes. rem mais jovens do
que não-fumantes.
Câncer pode causar Beber muito pode Estas estatísticas são
morte. acarretar morte pre fidedignas.
matura.
Portanto, fumantes Portanto, fumantes Portanto, fumantes
morrem mais jovens morrem mais jovens morrem mais jovens.
24
ccntral ou muito importante no sistema de crenças do indi
víduo. Por exemplo, minha crença de que os asteróides são
esféricos se baseia em vários tipos diferentes de evidência,
c algumas das cadeias de raciocínio nas quais se apóia são
bem longas. Minha crença, portanto, tem uma estrutura
horizontal ampla e uma vertical profunda; tem base suficien
temente ampla e altamente diferenciada. Mas se a minha cren
ça de que os asteróides são redondos devesse ser de alguma
forma modificada, em consequência algumas das minhas
outras crenças deveriam sê-lo também. Em termos do nosso
modelo silogístico, muitos são os silogismos que levam à mi
nha crença de que os asteróides são redondos, mas poucos
têm nela sua base; ela aparece como conclusão de muitos
silogismos, mas entra como premissa apenas em alguns. Isto
c o que significa dizer que a crença não é muito central no
meu sistema de crenças.
Crenças altamente diferenciadas e de bases muito am
plas não são necessariamente centrais; o oposto também é
verdadeiro. Exemplificando: por definição, as crenças pri
mitivas são completamente indiferenciadas; não têm base
horizontal e nem vertical. E, no entanto, muitas das nossas
crenças primitivas são muito centrais nos nossos sistemas de
crenças. Na verdade, a nossa crença primitiva de ordem
zero na fidelidade geral de nossos sentidos é a crença mais
central; quase todas as outras crenças que temos repousam
nela, e perder a nossa fé nela é perder a nossa sanidade. E
como foi notado acima, a maioria das nossas crenças reli
giosas e filosóficas são crenças primitivas de primeira ordem
sobre as quais são construídas muitas outras crenças. Elas
são também centrais.
As crenças, portanto, variam entre si quanto ao grau
de diferenciação (estrutura vertical), a amplitude da sua base
(estrutura horizontal) e a importância para outras crenças
(centralidade). Estes são alguns dos principais fatores que
25
contribuem para a complexidade e riqueza de nosso sistema
cognitivo de crenças.
27
CAPÍTULO III
CRENÇAS AVALIATIVAS
29
gosto do espinafre é horrível”), crenças primitivas abstratas
baseadas em várias experiências separadas (“A liberdade é
desejável”) ou crenças primitivas baseadas na autoridade
(“Deus é bom”). As crenças avaliativas podem ser também
crenças de ordem superior. As crenças avaliativas de ordem
superior são especialmente derivadas de silogismos nos quais
uma crença não avaliativa serve como primeira premissa e
uma avaliativa como segunda:
30
gismo parece trivial porque tão freqüentemente gostamos de
coisas que avaliamos positivamente e não gostamos das que
avaliamos negativamente que, em geral, não distinguimos
entre uma crença avaliativa e uma atitude que dela se segue
diretamente. A primeira premissa e a conclusão são trata
das como sinônimos porque a premissa do meio é tantas
vezes verdadeira que se tornou uma crença não-consciente.
A premissa do meio raras vezes é explicitamente admitida.
“Gostos horríveis” são detestados quase que por definição.
Existem porém exceções deste elo entre uma crença
avaliativa e uma atitude. Por exemplo, considere o seguinte
“não-silogismo” :
VALORES
Quando se insistir:
32
“auto-realização é desejável” (ou, como alternativa, a afir
mação da atitude “Eu gostaria de me auto-realizar”) aparece
para o indivíduo como um fim em si mesmo, não como o
dinheiro ou a aposentadoria, tratados como meios para al
gum outro objetivo. Não parece necessária e mesmo possí
vel qualquer justificação lógica para desejar a auto-realiza-
ção; o desejável é auto-evidente. Isto é, naturalmente, apenas
um caso especial do que foi definido anteriormente neste
livro como crença primitiva; neste caso, acontece que a
crença primitiva é uma atitude, ou uma crença avaliativa.
Mais suscintamente, um valor é então uma preferência pri
mitiva por, ou uma atitude positiva para com certos estados-
-finais de existência (como igualdade, salvação, auto-reali
zação ou liberdade) ou determinados modos amplos de con
duta (como coragem, honestidade, amizade ou castidade).
(Veja Rokeach, 1968). Os valores são fins, não meios, e
o fato de serem desejáveis é uma suposição não-conscien-
te (crença de ordem zero) ou uma derivação direta da expe
riência da pessoa ou de alguma autoridade externa (crença
de primeira ordem). Para se saber se uma atitude positiva
ou uma crença avaliativa de um indivíduo determinado é
também um valor, é preciso conhecer o papel funcional que
desempenha em seu sistema de crenças. A atitude de ordem
superior de um homem pode ser o valor de um outro ho
mem. O dinheiro é um bom exemplo: para a maioria dos
indivíduos é um meio de atingir outros valores, mas um fim
em si mesmo para alguns.
Tabela I
Li berdade 1 1 2
Igual dade 3 6 lí
34
Na Tabela vemos que, para todos os três grupos, liber
dade ocupa uma posição a]ta na classificação, mas igualdade
c considerada relativamente sem importância (próxima do
último dos doze valores) por aqueles que não simpatizavam
com as demonstrações de direitos civis. Este último padrão
c quase idêntico àquele obtido com cinqüenta policiais numa
cidade do oeste que classificaram liberdade em primeiro, mas
igualdade em último lugar. Similarmente, brancos desem
pregados classificaram liberdade em terceiro lugar e igualdade
em nono. Começa-se a apreciar a profundidade da divisão
racial na nossa sociedade quando se compara esses grupos
com um grupo de negros desempregados: eles classificaram
liberdade em décimo lugar e igualdade em primeiro!
Se valores como Uberdade e igualdade são realmente
centrais nos nossos sistemas de crença, então eles deveriam
fundamentar mais amplamente nossos pontos de vista polí
ticos, e não somente valores raciais. Este é, sem dúvida, o
ponto de vista de Rokeach. Por exemplo, ele sugere que
podemos pensar em muitas orientações políticas nos termos
desses dois valores, como é mostrado na Figura 1.
+ Igualdade
B A
C D
i
— Igualdade
Figura I
35
Nesta figura os indivíduos que em comparação com ou
tros valores avaliam positivamente tanto igualdade quanto
liberdade se localizam em i4. De acordo com Rokeach,
entram nessa descrição os democratas liberais, os socialistas
e os humanistas. Os comunistas stalinistas e maoistas se
enquadram em B: valorizam mais igualdade do que liberdade.
Em C estariam os facistas, os nazistas e os membros da Ku
Klux Klan, visto que todos parecem emprestar pouco valor
tanto à liberdade quanto à igualdade. Finalmente, Rokeach
enquadra os republicanos conservadores, os seguidores de
Ayn Rand e os membros da John Birch Society em D: valo
rizam liberdade mais do que igualdade.
Rokeach tem alguma evidência para justificar suas clas
sificações. Ele e seu colega James Morrison selecionaram
escritos políticos que acreditavam representar cada um dos
quatro grupos. Escolheram amostras de 25.000 palavras de
escritores socialistas como Norman Thomas e Erich Fromm.
Outras amostras foram tiradas de livros como Collected
Works de Lenin, Mein Kampf de Hitler e Conscience of a
Conservative de Goldwater. Contaram o número de vezes
que em cada amostra foram mencionados dezessete valores
diferentes, incluindo liberdade e igualdade. Depois, ordena
ram os dezessete valores de cada seleção cm termos do nú
mero de referências favoráveis, menos o número de referên
cias desfavoráveis. Por exemplo, os socialistas mencionaram
favoravelmente liberdade 66 vezes, e igualdade 62 vezes; pa
ra eles liberdade ocupa o primeiro lugar na classificação, e
igualdade o segundo, na freqüência relativa de menções fa
voráveis entre os 17 valores. A Tabela II mostra as ordena
ções de todos os quatro grupos. Observe-se como a hipótese
de Rokeach foi bem subsidiada.
Tabela II
Liberdade 1 17 16 1
Igualdade 2 . 1 17 16
44
CAPÍTULO IV
A coerência cognitiva
46
não mencionadas. É isto, naturalmente, o que a teoria de
coerência cognitiva prediz; se se muda a premissa em al
gum ponto da estrutura vertical da crença, o impulso para a
coerência motivará uma mudança nas crenças de ordem su
perior que se apóiam naquela premissa. Uma semana de
pois, McGuire verificou que haviam diminuído os efeitos da
persuasão sobre as proposições discutidas nas mensagens,
mas que se mantinha a maioria das crenças mais fortes nas
conclusões. McGuire sugere que isto mostra um tipo de
inércia mental: a mudança induzida originalmente nas pre
missas menores continuou a se “infiltrar” até às conclusões
durante a semana de intervalo e ultrapassou parcialmente o
esvanecimento dos efeitos da persuasão.
Num estudo correlato, McGuire verificou que a persua
são em si não é sempre necessária. Relata que o mero pre
encher do questionário os levou a ajustar suas crenças de
modo que uma semana mais tarde existia maior coerência
entre suas crenças nas premissas e suas conclusões. Verifi
cou também que as mensagens persuasivas eram mais efica
zes se tentavam levar as crenças do indivíduo no sentido de
maior coerência do que de incoerência. Todos esses resul
tados concordam com a hipótese da coerência cognitiva ge
ral. Deve-se mencionar, entretanto, que esta hipótese nem
sempre pôde se manter, e alguns estudos subseqüentes não
demonstraram a infiltração da persuasão através do silo
gismo como o exige a teoria.
Os estudos de McGuire examinaram a coerência em si
logismos simples que não continham crenças avaliativas.
Outros teóricos dessa área procuraram estudar a coerência
também de atitude, e alguns pesquisaram a coerência entre
silogismo, bem como em silogismos isolados. Por exemplo,
vários pesquisadores usaram escalas numéricas e fórmulas
algébricas para demonstrar que as atitudes de ordem supe
rior de um indivíduo podem ser previstas combinando-se os
47
silogismos vertical e horizontal que contêm as crenças e va
lores subjacentes relevantes (entre outros, Fishbein, 1963;
Peak, 1955; Rosenberg, 1956, 1960; Zajonc, 1954),
Foi validada, em vários experimentos relacionados es
pecificamente com valores e atitudes, também a hipótese de
que mudança na crença pode ser produzida expondo ou
criando incoerências dentro do sistema de crenças. Por
exemplo, Rokeach (1968) tentou provocar sentimentos de
incoerência de atitude e valor em universitários a fim de ver
se ocorrem mudanças de atitude ou valor.
Rokeach obteve primeiro as classificações de valores
dos estudantes e seus pontos de vista sobre igualdade de di
reitos e demonstrações de direitos civis. Depois, mostrou a
eles que, em média, haviam classificado Uberdade em primei
ro lugar e igualdade em sexto. Mostrou-lhes também a bai
xa classificação atribuída à igualdade por aqueles que não
simpatizavam com as demonstrações de direitos civis. Disse
então: “Isto sugere que os alunos do Estado de Michigan
em geral estão mais interessados em sua própria liberdade
do que na liberdade de outras pessoas... (e) isto coloca a
questão de se saber se aqueles contrários aos direitos civis es
tão realmente dizendo que se interessam muito pela própria
liberdade mas que são indiferentes à liberdade de outras pes
soas. Aqueles que são favoráveis aos direitos civis talvez
estejam realmente dizendo que não somente querem liberda
de para si mesmos mas também para as outras pessoas.” Os
alunos foram então convidados a pensar sobre a classifica
ção de valores e atitudes apresentada sob esse prisma. Três
semanas mais tarde foram solicitados novamente a ordenar
seus valores e apresentar suas atitudes e, ainda uma vez,
três a cinco meses mais tarde.
Os resultados desse experimento concordaram, em ge
ral, com o que prevê a hipótese da coerência. Entre os estu
dantes que já eram coerentes verificou-se pequena mudança
48
de atitude; isto é, os estudantes que classificaram igualdade
bem alto e eram a favor dos direitos civis e os estudantes que
classificaram igualdade baixo e eram contra os direitos civis
não mudaram suas atitudes. (O último grupo entretanto
colocou igualdade um pouco acima na classificação). Por
outro lado, aqueles que classificaram igualdade bem alto,
mas que inicialmente eram contra os direitos civis, aumen
taram drasticamente seu liberalismo na questão dos direitos
civis, mantendo contudo a importância da igualdade nas orde
nações de valores. Assim, a exposição da incoerência entre
a ordenação de valores e suas atitudes motivou a mudança
de atitude, como fora previsto na hipótese de coerência. Par
ticularmente interessante é o fato de se ter verificado um efei
to de atraso semelhante àquele relatado por McGuire no seu
estudo de silogismo: a mudança nas atitudes relativas aos di
reitos civis foi maior depois de três a cinco meses do que três
semanas depois do experimento. Neste caso também as mu
danças aparentemente necessitaram de tempo para permear a
estrutura silogística. Finalmente, os estudantes que inicialmen
te classificaram igualdade baixo, mas que eram favoráveis aos
direitos civis, aumentaram drasticamente a importância de
igualdade na ordenação dos valores e mantiveram suas ati
tudes pró-direitos civis.
Talvez o leitor tenha notado que os sujeitos de Rokeach
poderiam também ter resolvido suas incoerências diminuindo
a importância de igualdade na ordenação ou, neste último
grupo, opondo-se mais aos direitos civis. Isto é, as mudanças
de atitude e valor que Rokeach observou neste estudo ocor
reram na direção “socialmente desejável”, um resultado que
não fora previsto na hipótese de coerência. Isto parece in
dicar que a pressão social estava operando muito fortemente
nesses experimentos, o que deixa aberta a possibilidade da
pressão social ser a responsável por iodas as mudanças e não
a incoerência. A fim de assegurar que isto não ocorreu de
49
veríamos mostrar que podemos mudar, com esta técnica, ati
tudes e valores na direção socialmente nâo-aceitável, um
procedimento que muitos psicólogos, incluindo Rokeach, he
sitam em tentar por razões éticas.
COERÊNCIA E RACIONALIDADE
50
a correlação entre as ordenações das crenças e as ordena
ções da desejabilidade observadas antes da persuasão. Am
bas produzem a coerência, não lógica, mas psico-lógica.
O teórico da coerência Milton Rosenberg (1960) tam
bém mostrou a racionalização e o pensamento desejoso. Ro
senberg começou com a idéia perversa de que seria capaz
de trabalhar de trás para diante, por assim dizer, e mudar
as crenças e atitudes subjacentes a um silogismo alterando
primeiro a atitude de ordem superior. Por exemplo, pode-se
alterar as premissas do silogismo seguinte mudando-se, pri
meiro, a conclusão:
COERÊNCIA ENCOBERTA
3
dores que ignoram simplesmente as premissas reais nas quais
o sistema de crenças se baseia. Dois casos servirão para
ilustrar meu ponto: as atitudes raciais de alguns norte-ame
ricanos cristãos e a orientação política da maioria dos cien
tistas do comportamento.
54'
religiosos e raciais do que indivíduos que não têm tal com
promisso.
Mas aqui está a armadilha: Stark e Glock verificaram
também que o compromisso com a ética cristã não está re
lacionado a outras formas de compromisso cristão. Os mem
bros da igreja que aceitavam suas outras doutrinas histori
camente ortodoxas, que a freqüentavam regularmente ou
participavam das suas atividades tendiam menos a aceitar a
ética cristã do que aqueles menos ortodoxos nas suas crenças
e menos regulares na sua participação. Em outras palavras,
quando as igrejas buscam apoio para os seus ensinamentos
éticos, mais provavelmente o encontrarão entre seus mem
bros mais inativos do que entre os que ocupam seus bancos.
Um estudo feito na Califórnia (Glock e Stark, 1966) mos
trou que, embora 91% tanto de membros da igreja cató
lica quanto da protestante concordassem que “amar ao próxi
mo significa que deveríamos tratar todas as raças da mesma
forma” e achassem que “os negros devem ter os mesmos di
reitos e oportunidades que todos os outros”, quase um terço
disse, na mesma página do questionário, que não queria
negros nas suas igrejas. Mais de 40% se mudaria se famílias
negras se mudassem para o seu quarteirão; um terço achava
que os negros são menos inteligentes que os brancos; e
quase metade culpava os comunistas e outros radicais pela
tensão racial. Um estudo nacional (Hadden, 1969) mostrou
que 89% de cristãos leigos achavam que os negros deveriam
aproveitar as oportunidades que a sociedade lhes oferece e
deixar de protestar. E, também neste caso, esta percentagem
foi substancialmente menor somente entre aqueles cristãos
que raramente ou nunca frequentam igreja.
Estes pontos de vista dos cristãos leigos divergem com
pletamente daqueles dos seus clérigos e das posições oficiais
de suas igrejas. Além disso, o cristão que hoje freqüenta a
igreja se opõe fortemente ao papel desempenhado pelas igre
55
jas no sentido de superar o preconceito. Assim é que 70%
dos leigos no estudo nacional denunciaram o envolvimento
do clero nas questões sociais, tais como a dos direitos civis;
e muitos outros estudos indicam que a maioria dos leigos
quer que sua igreja se limite a atender às necessidades re
ligiosas de seus membros e não se envolva em questões de
paz, justiça e direitos humanos. É verdade que a ação social
é a principal atividade de algumas denominações e que os
exemplos individuais de tolerância racial podem ser encon
trados na maioria das igrejas, mas permanece o fato de que
essas denominações ativas e esses indivíduos comprometidos
não constituem a maioria.
É claro, então, que a base ética cristã que pode servir
como conjunto central de premissas para a tolerância racial
não parece desempenhar esse papel para a maioria dos fre
qüentadores de igrejas cristãs na América do Norte. Mas
isto não supõe necessariamente que os cristãos assíduos à
igreja sejam incoerentes. Ao contrário, Stark e Glock (1968)
sugerem que há outras crenças centrais na doutrina cristã que
— ao menos quando interpretadas pelo leigo — contribuem
para o preconceito racial e não para diminuí-lo. A crença
mais central entre essas parece ser uma versão radical da
concepção do livre arbítrio do homem.
A concepção do livre arbítrio vê o homem como um
ator livre, essencialmente capaz de alçar-se acima das cir
cunstâncias do seu ambiente por seus próprios esforços, livre
para escolher e assim livre para buscar a sua própria sal
vação. Em termos gerais, esta concepção do homem baseia
o pensamento cristão tradicional e é central nas doutrinas do
pecado e salvação. As noções de punição do pecado e a
necessidade de arrependimento têm sentido teológico —
oposto aò psicológico — somente se um homem for consi
derado como senhor e responsável pelo seu próprio destino. As
56
sociedades ocidentais são em grande parte construídas sobre
essa concepção geral do homem.
No mundo moderno, a versão radical de homem livre
foi modificada, e a maioria dos teólogos e dos clérigos tem
variantes relativamente sofisticadas dessa concepção geral.
Mas, a grande maioria dos cristãos leigos adere a ela na sua
forma mais primitiva, e esses leigos são exatamente os mem
bros mais ativos da igreja (Stark e Glock, 1969). A crença
radical no livre arbítrio os leva a manter um ponto de vista
conservador na questão dos direitos civis (e em muitas outras
questões) porque os leva a culpar os que estão em condi
ções inferiores pela sua inferioridade. Nesse sentido, o leigo
tende a esquecer as forças externas que podem dominar as
circunstâncias dos que estão em condições inferiores e tende
a ver os esforços políticos e sociais em favor dessas pessoas,
na melhor das hipóteses, como irrelevantes. Como Stark e
Glock apontaram, não é que esses cristãos absolvam as for
ças sociais que privam os negros norte-americanos ou outros
grupos minoritários, mas nem mesmo reconhecem a existência
ou a extensão de tais forças. Reconhecem que os negros nor
te-americanos, por exemplo, estão coletivamente em condi
ções inferiores, mas a conclusão que se segue, com base na
crença radical no livre arbítrio, é que essa limitação coletiva
deve ser um traço racial. Enquanto as instituições cristãs
concordarem com uma concepção radical da liberdade indi
vidual e da responsabilidade, pode-se esperar que seus mem
bros rejeitem as próprias premissas nas quais repousam o
argumento contra o preconceito e a discriminação. As con
dições inferiores dos grupos minoritários provam a indigni
dade dessas pessoas e não há nenhuma razão para apoiar
medidas que as auxiliem.
Um fato que não devemos deixar passar é o de que
muitos negros norte-americanos são também cristãos. Assim
como alguns brancos norte-americanos consideram a ética
57
cristã como base do seu compromisso com a justiça racial
e a igualdade, assim também muitos negros norte-americanos
tomam suas crenças religiosas como a base lógica do tipo
de ativismo dos direitos civis sintetizado pelo falecido Dr.
Martin Luther King Jr.. Mas, até mesmo na comunidade
negra, a crença central na concepção do livre arbítrio do
homem desempenha um papel de compensação. Num estu
do sobre a militância na comunidade negra, foi verificada
uma alta correlação negativa entre compromisso religioso
e o desejo de justiça e igualdade (Marx, 1967). Isto é, quan
to mais o informante negro estava comprometido com as
crenças e instituições cristãs, mais provavelmente mantinha
o ponlo de vista de que os próprios negros eram respon
sáveis pelas suas condições de privação. Dois terços dos ne
gros urbanos da amostra estudada acreditavam que “negros
que querem trabalhar bastante podem progredir tão facil
mente quanto qualquer outra pessoa”, e cerca da metade
pensava que “antes de se dar direitos civis iguais aos negros
estes deveriam mostrar que os merecem.”
A concepção do livre arbítrio do homem não é a única
premissa teológica que Stark e Glock descobriram em seus
estudos. Freqüentemente, aliada a esta premissa, encontra
va-se a crença de que a reforma social só ocorre através da
intervenção divina e isto também reforça a oposição aos
esforços no sentido de melhorar as condições daqueles me
nos favorecidos. Neste caso, também, esta crença é uma
premissa básica para alguns negros norte-americanos. Cerca
de um terço dos negros urbanos do Norte e mais da metade
dos negros urbanos do Sul no estudo acima mencionado
(Marx, 1968) achavam que “os negros deveriam gastar mais
tempo rezando do que fazendo demonstração”.
Assim, ao invés de concluir que a maioria dos cristãos
que freqüentam a igreja são incoerentes, devemos reconhecer
que, no ponto de vista deles, se existe aqui alguma contra
58
dição, é entre as doutrinas da igreja e os seus próprios es
forços para realizar mudanças sociais!
60
Quanto à crença religiosa, cerca da metade dos soció
logos e quase dois terços dos psicólogos indicaram que não
eram religiosos ou que não consideravam a religião uma for
ça importante nas suas vidas. Os cientistas políticos tende
ram um pouco mais a se considerarem “moderadamente”
religiosos. Mas, assim como não parece que haja muitos
comunistas, parece também que não existe entre esses cien
tistas muitos ateus. Somente 15% dos psicólogos, o menos
religioso entre os três grupos, indicaram “nenhuma” quando
perguntados sobre sua preferência religiosa. Senhores das
decisões públicas, anotem: isto é o que somos.
Liberais ou conservadores?
64
1 combater a pobreza. O programa de escolaridade Head Start
para crianças foi aceito por 67% e o treinamento profissio
nal, financiado pelo governo federal, era endossado por 75%
da população norte-americana; a maioria também se opôs
a qualquer redução nos programas correntes que envolvem
auxílios federais para projetos habitacionais de baixo custo,
para o bem estar e assistência financeira. No que concerne
aos aspectos específicos de questões de bem estar, os norte-
-americanos são, em grande parte, “liberais” .
Mas, e a ideologia? O que se dizer dos conservadores
que apoiaram Barry Goldwater em 1964 ou que votaram em
candidatos conservadores em 1966 e 1968? Certamente mais
de 14% da população norte-americana é “conservadora” .
E sem dúvida o é, como Free e Cantril descobriram através
de um segundo questionário idealizado para identificar libe
rais e conservadores não-operacionais, mas ideológicos, fa
zendo as seguintes perguntas:
Tabela ITT
Escala Escala
Ideológica Operacional
66
\ Tabela IV
\
Escalas operacional e ideológica combinadas.
(Adaptado de Free e CantrU, 1967, pág. 37.)
ESCALA IDEOLÓGICA
68
Moléculas de opinião; em busca de uma teoria da não-
-coerência.
Abelson (1968) sugere que as crenças e atitudes de um
indivíduo são freqüentemente compostas de “moléculas de
opinião” encapsuladas e isoladas. Cada molécula é com
posta de (1) uma crença, (2) uma atitude e (3) da percepção
de uma base social para elas. Ou, como Abelson prefere
colocar, cada molécula de opinião contém um fato, um sen
timento e um seguidor. Por exemplo: “É fato que quando
meu tio Charlie teve um problema nas costas foi curado por
um massagista (fato). Sabe, acho que os massagistas foram
escarnecidos demais (sentimento), e não me envergonho de
dizer isso porque conheço muitas pessoas que sentem da
mesma maneira (seguidor). Ou: “Ninguém neste quarteirão
quer vender para negros (seguidor) e eu tampouco (sentimen
to). O valor das propriedades declinaria (fato)”.
As moléculas de opinião têm uma função tão simples
que, em geral, os psicólogos as ignoram. São unidades de
conversa. Elas nos dão algo coerente para dizer quando um
determinado tópico se apresenta na conversação. Assim,
não precisam de conecções lógicas, e são bastante invulne
ráveis a argumentos por causa do seu caráter molecular e
isolado. Suspeito que a maior parte do nosso conhecimento
está empacotada em pequenas moléculas de opinião como
essas, apenas esperando que o tópico seja mencionado.
Em conclusão: (1) É um fato que existe mais incoerên
cia no céu e na terra do que sonham nossas teorias psico
lógicas; (2) acho que a teoria da “molécula de opinião” se
aplica também aos intelectuais — mais do que eles mesmos
pensam; e (3) não me envergonho de dizer isso, porque sei
que Robert Abelson acha o mesmo.
69
CAPÍTULO V
Os fundamentos emocionais
das crenças e atitudes
Até agora, nossa exploração das crenças e atitudes se
restringiu somente às áreas acima do pescoço. Estava im
plícito que as crenças e atitudes devem ser encontradas no
cérebro. Mas nossas intuições nos dizem que as opiniões
mais fortes parecem ter raízes também inferiores. Pelo me
nos os Republicanos de Goldwater assim o pensaram em
1964, quando proclamaram em comícios e cartazes: “no seu
coração você sabe que ele está certo!” Ao que adeptos de
outras orientações se apressaram a acrescentar “mas em sua
barriga vocc sabe que ele é louco!” E depois existem aque
las invejáveis figuras públicas que possuem “carismas”, uma
substância que presumivelmente influencia nosso voto atra
vés de órgãos mais exóticos, mas ainda não descobertos.
Existe alguma verdade nessas observações pois as emo
ções desempenham um papel importante nas crenças e ati
tudes. Quando, por alguma razão, nos emocionamos ocor
rem várias modificações fisiológicas no nosso corpo. As ba
tidas cardíacas e a pressão sangüínea se alteram; transpira
mos mais; o ritmo dos processos digestivos diminui; as pupi
las dos olhos se dilatam, e assim por diante. Tanto as emo
ções positivas quanto as negativas podem ser acompanhadas de
tais mudanças; e mesmo quando uma emoção é tão fraca
que o indivíduo dela não se apercebe, instrumentos de me-
71
dida sensíveis podem, freqüentemente, detectar as respostas
internas da emoção. Por exemplo, o chamado detetor de men
tira é simplesmente uma coleção de instrumentos para medir
as menores modificações fisiológicas que acompanham a leve
ansiedade ou culpa que a mentira pode produzir. Não diz
diretamente ao interrogador se o homem está ou não mentin
do, já que qualquer indício de emoção (mesmo a felicidade
ou a incitação sexual) pode mover a agulha do registrador.
A conclusão de que um homem está mentindo é somente
uma inferência do interrogador a partir do padrão das res
postas fisiológicas apresentado a uma seqüência cuidadosa
mente composta de questões.
Os componentes emocionais, tanto negativos quanto po
sitivos, das atitudes também podem ser detectados da mes
ma maneira. Por exemplo, Hess, Eckhard, Seltzer e Shlien
(1965) realizaram um estudo no qual mostraram a sujeitos
do sexo masculino hetero e homossexuais figuras de homens
e mulheres “nus”. Quando os heterossexuais olharam para
as mulheres nuas, as pupilas dos seus olhos se dilataram mais
do que quando olhavam para as figuras de homens nús, e
o oposto ocorreu com os homossexuais. Neste experimento
a dilatação das pupilas indicava a pressumida atitude po
sitiva da atração sexual, e uma leve excitação sexual fazia
provavelmente parte da resposta emocional total evocada
pelas figuras. Os componentes emocionais das atitudes ne
gativas também foram detectados fisiologicamente. Num dos
experimentos, sabia-se quais os indivíduos que mantinham
preconceitos raciais contra negros. (Porier e Lott, 1967). O
estudo foi camuflado como um experimento de rotina que
exigia do sujeito estar ligado a equipamentos de medição fi
siológica. Um dos instrumentos media a resposta psicogal-
vânica da pele do sujeito (GSR), um índice comum de emo-
cionalidade que detecta mudanças na resistência da pele à
passagem de uma corrente elétrica muito fraca. Durante o
72
experimento um assistente de pesquisa negro devia ajustar
os eletrodos e ao fazê-lo, “inadvertidamente” tocar o sujeito.
Os sujeitos com preconceito apresentaram respostas fisioló
gicas mais fortes (GSRs) quando foram tocados do que os
sujeitos que não tinham preconceito. O experimento mostrou
também que os sujeitos com preconceito não reagiam mera
mente ao toque, mas ao serem tocados por um negro.
No experimento de Porier e Lott os sujeitos com pre
conceito foram realmente confrontados com o objeto do seu
preconceito, mas num experimento correlato, realizado por
Cooper (1959), demonstrou-se que os componentes emocio
nais de uma atitude podem se apresentar mesmo quando o
objeto reaí da atitude não está presente. As atitudes, nesse
estudo de Cooper, eram favoráveis ou desfavoráveis em re
lação a vários grupos étnicos. Cada GSR do indivíduo foi
medido enquanto o experimentador lia em voz alta uma série
de afirmações lisonjeiras ou depreciativas acerca dos vários
grupos étnicos. As reações emocionais mais fortes ocorre
ram sempre que eram feitas afirmações lisonjeiras a grupos
étnicos antipáticos ou depreciativas a grupos preferidos do
que quando feitas a grupos mais neutros.
Reações emocionais como essas são feitas, não nascem,
e é importante descobrir como são forjadas as ligações entre
emoções e objetos. Como adquirimos respostas emocionais
frente a objetos particulares, e a pessoas e mesmo a afir
mações verbais sobre estes objetos e pessoas? Dois processos
parecem dar a resposta: o condicionamento clássico e a gene
ralização semântica.
73
meira vez pelo filósofo russo Ivan Pavlov (1849-1936). Nesse
procedimento, um estímulo (denominado estímulo in condi
cionado) é selecionado para automaticamente provocar algu
ma resposta fisiológica. Por exemplo, Pavlov usou o pó de
carne como estímulo incondicionado porque provoca a sa
livação quando colocado na boca de cães. Demonstrou de
pois que se pode dar o mesmo poder a qualquer estímulo ar
bitrário, tal como as batidas de um metrônomo, se este for
dado simultaneamente ou apenas um pouco antes da apre
sentação do pó de carne. Isto é, depois de várias apresen
tações pareadas de ambos, metrônomo e pó de carne, o som
do metrônomo isoladamente era suficiente para produzir a
salivação. O estímulo arbitrário, neste caso a batida do me
trônomo, é denominado estímulo condicionado.1
Os seres humanos são também susceptíveis de condi
cionamento clássico. Por exemplo, quando o corpo humano
é exposto ao frio, uma das reações fisiológicas automáticas
é a constrição dos pequenos vasos sangüíneos próximos da
superfície. Menzies (1937) foi capaz de condicionar essa
resposta ao som de uma cigarra fazendo-a soar ao mesmo
tempo que a mão do sujeito era imersa num vasilhame con
tendo água gelada. Depois de vários emparelhamentos de
água gelada e cigarra, esta isoladamente era capaz de pro
duzir a vasoconstrição. Pesquisa recente, especialmente a
realizada na União Soviética, indicou que muitas respostas
dos nossos órgãos internos e quase todos os índices fisioló
gicos da emoção podem ser condicionados através de varia
ções do procedimento básico de condicionamento clássico.
A importância do condicionamento clássico para o com
portamento torna-se mais aparente quando verificamos que
palavras e até pensamentos podem se tomar estímulos con
1) Para uma discussão mais ampla veja Walker, Condiciona-
mento e Aprendizagem Instrumental, nesta série. S. Paulo, Herder,
1967.
74
dicionados capazes de eliciar respostas emocionais inter
nas num indivíduo. Isto foi mostrado experimentalmente
por Roessler e Brogden (1943) que modificaram o experi
mento com a água gelada, mencionado acima, substituindo
a cigarra simplesmente por uma palavra que o experimenta
dor dizia em voz alta quando mergulhava a mão do sujeito
na água gelada. Finalmente, a palavra isoladamente passou
a provocar a vasoconstrição.
A operação do detetor de mentira se baseia no fato de
que as respostas emocionais podem ser condicionadas classi
camente a palavras e pensamentos. Sempre que mentíamos
quando crianças, éramos punidos, e essa punição automati
camente evocava todas as respostas fisiológicas negativas as
sociadas à ansiedade e culpa. Quando nos tornamos adultos,
mentir tornou-se um estímulo condicionado capaz de produ
zir as mesmas respostas emocionais até mesmo quando os
estímulos incondicionados originais da punição não estão
presentes. Estas respostas condicionadas ao mentir são as
que o “detetor de mentiras” capta.
Todos conhecemos um exemplo ainda mais comum de
condicionamento clássico: as palavras “feias”. Todos co
nhecemos pessoas (talvez você mesmo) para as quais essas
palavras provocam respostas emocionais fortes que as impede
de dizê-las em voz alta, mesmo quando sozinhas. Ou enru
bescem quando as pronunciam*, outra resposta classicamente
condicionada que conhecemos bem. Na nossa cultura, tais
palavras adquiriram seu poder como estímulos condicionados
porque, como mentir, acarretam punição.
75
des. Parece pouco provável, por exemplo, que cada uma
das pessoas que não gosta de negros na nossa sociedade pas
sou por processo de condicionamento no qual um negro se
tornou o estímulo condicionado ao ser pareado com um
choque elétrico ou outro estímulo condicionado aversivo.
Na verdade, muitos indivíduos preconceituosos nunca chega
ram a encontrar o objeto dos seus preconceitos; e, como
vimos acima, tais indivíduos podem ter respostas emocionais
até a afirmações verbais lisonjeiras sobre os grupos étnicos
com os quais antipatizam. Parece então que, quando pe
gamos os componentes verbal e cognitivo das crenças e
atitudes, devemos de alguma forma também “apanhar” as
reações emocionais. H se as reações emocionais são desse
modo “contagiosas”, então de alguma forma a linguagem
deve ser o meio transmissor. Isto é de fato o que ocorre s
o processo básico é denominado generalização semântica.
Quando uma resposta foi condicionada de modo clássi
co a algum estímulo, outros estímulos similares também evo
carão a mesma resposta. Por exemplo, Hovland (1937) con
dicionou a resposta galvânica da pele (GSR) de sujeitos hu
manos a um sinal auditivo de determinada intensidade usan
do um choque elétrico leve como estímulo incondicionado.
Verificou então que sons mais altos e mais baixos em in
tensidade podiam também produzir a GSR; quanto mais dis
tante da original era a intensidade, menor a resposta. Este
fenomeno é denominado generalização e ocorre automatica
mente sempre que a resposta é classicamente condicionada.
O ponto mais interessante para nosso propósito, porém, é o
de que os seres humanos mostram generalização de estímulos
similares ao estímulo condicionado não somente nas carac
terísticas físicas mas no significado. Por exemplo, com sujei
tos humanos uma GSR condicionada ao som de uma cam
painha pode ser também provocada pela visão dessa cam
painha, ou pela palavra falada “campainha” . Se condiciona
76
dos à palavra “campainha”, há generalização para a palavra
“gongo”, Este é o tipo de generalização denominado gene
ralização semântica. Por esse meio, as respostas emocionais
podem ser generalizadas de objetos a palavras, de palavras
a objetos e de palavras a outras palavras com significados
similares. É o processo crucial através do qual o condicio
namento clássico pode criar os componentes emocionais das
crenças e atitudes.
A conexão entre generalização semântica e atitudes é
muito bem ilustrada em um experimento realizado pela psi
cóloga soviética Volkova (1953). Ela condicionou a saliva
ção em crianças à palavra russa para “bom”, usando purê
de mirtilo como estímulo incondicionado. O purê era colo
cado na boca do sujeito através de um tubo enquanto o
experimentador dizia em voz alta “bom” . Depois de algu
mas tentativas a própria palavra “bom” passou a produzir a
salivação. “Bom” havia se tornado um estímulo condicio
nado. Então Volkova demonstrou que sentenças como “O
jovem pioneiro auxilia seu camarada” também produziam
salivação, enquanto sentenças como “Os fascistas destruíram
muitas cidades” não o faziam.
Assim, no seu experimento, Volkova primeiro tornou a
palavra “bom” um estímulo condicionado e depois demons
trou que afirmações de atitudes “boas” adquiriram simulta
neamente o poder de originar salivação. A resposta se gene
ralizou a partir de um estímulo verbal “bom” para outros ao
longo da dimensão do significado comum. Isto é o que que
remos dizer por generalização semântica: a transmissão de
uma resposta condicionada através da linguagem.
O experimento de Volkova apresenta uma base para
sugerir que podemos adquirir componentes emocionais de
um preconceito através de meios puramente verbais, sem nun
ca entrarmos em contato com os objetos de preconceito. O
meio social pode, de fato, sealizar o experimento de Volkova
77
usando palavras e frases que já possuem para nós conotações
emocionais de experiências anteriores de condicionamento;
estas palavras e frases já se tornaram estímulos condiciona
dos. Quando usadas para descrever e caracterizar membros
de minorias étnicas, transferem suas respostas emocionais
para a dimensão dos seus significados.
Dois psicólogos, Arthur e Carolyn Staats (1958) veri
ficaram esta hipótese mais diretamente trabalhando com os
nomes de seis nacionalidades: alemão, sueco, italiano, fran
cês, holandês e grego. No estudo que realizaram os sujeitos
deviam aprender listas de palavras. Na fase crítica de “con
dicionamento” do experimento, cada nome de nacionalidade
foi apresentado visualmente seguido de alguma outra pala
vra. Cada nome de nacionalidade foi apresentado 18 vezes
em ordem randômica. Para um grupo, a palavra holandês foi
sempre seguida por uma palavra de significado avaliativo
positivo (por exemplo, bonito, gentil, prendado, saudável) e
a palavra sueco foi seguida de uma palavra com significado
avaliativo negativo (por exemplo, amargo, feio, insucesso).
Para um segundo grupo isto foi invertido: sueco foi seguida
por palavras positivas e holandês por negativas. Os outros
nomes de nacionalidade foram sempre seguidos de palavras
neutras (exemplo, cadeira, com, doze). Assim, holandês e
sueco desempenharam o papel de estímulos condicionados,
e as palavras positivas e negativas o dos estímulos incondicio-
nados (visto que elas presumivelmente sempre tiveram o po
der de provocar respostas emocionais).
No fim do experimento, cada sujeito indicava, num
conjunto de escalas de sete pontos, o que ele sentia em re
lação ao nome de cada nacionalidade. Por exemplo, pe
dia-se que julgasse alemão numa escala variando de “agra
dável” até “desagradável”. (Os resultados dos que percebe
ram que os experimentadores estavam tentando condicio
ná-los não foram incluídos na análise final.) Os resultados
78
estão de acordo com a hipótese do experimento: o grupo
que ouvia palavras favoráveis junto com holandês o classifi
cam como agradável, bom, etc., enquanto expressava, na mes
ma escala, sentimentos negativos em relação ao sueco. Como
se previa, os julgamentos do outro grupo foram inversos. Em
bora exista ainda um salto lógico dos resultados desse es
tudo para a conclusão de que o preconceito contra grupos
étnicos é formado por um processo análogo, estou inclinado
à concluir que o condicionamento clássico e a generalização
semântica desempenham tal papel no estabelecimento de al
guns componentes emocionais do preconceito.
80
lavras tabus depois de um tempo e mostramos pequena ou
nenhuma resposta emocional a elas, mas nossas reações emo
cionais reaparecem quando as mesmas palavras são usadas
em contexto diferente. Imagine, por exemplo, como a sua
fisiologia interna teria pulado alguns segundos atrás se a
editora não tivesse me controlado e suprimido a palavra tabu
do parágrafo anterior.
E embora eu me oponha fortemente a esta pequena cen
sura tola, devo admitir que dá um exemplo elegante do pró
prio ponto que estou apresentando: a supressão reflete o
medo da editora de que tais palavras tabus — às quais pro
vavelmente o leitor já se adaptou em trabalhos de ficção —
possam ser “ofensivas” no contexto de um livro como este.
Somente quando se extinguirem nossas respostas classi
camente condicionadas a palavras tabus, diminuirá a sensibi
lidade classicamente condicionada do editor a essas respostas.
Com a passagem do tempo, os significados emocionais
das palavras se modificam de modo paralelo às mudanças de
crenças e atitudes em relação aos conceitos associados a tais
palavras. O condicionamento, a extinção e o recondiciona-
mento ocorrem através da generalização. A história recente
dos sinônimos para a palavra “negro” oferece um excelente
exemplo. Quase todos nós, exceto os intolerantes declara
dos, temos fortes reações negativas à palavra “nigger” *
Durante anos, alguns dos políticos mais velhos do Sul pas
saram de “nigger” para “nigra” nas suas alocuções pú
blicas, mas as substituíram por “negro” logo que começa
ram a buscar eleitores nacionais. Se o leitor tem mais de
.35 anos (preto ou branco) e for razoavelmente conservador,
provavelmente se sinta ainda emocionalmente confortável
com o adjetivo “de cor”, mas o termo “preto” com certeza
o aborrece tanto como se fosse uma variante de “nigger” .
* Corruptela de negro N. T.
81
Por outro lado, se tiver menos de 35 ou simpatiza com o
recente espírito militante, “preto” é na verdade bonito, en
quanto “de cor” evoca toda a aversão associada ao passado
(“As pessoas de cor gostam muito de melancia”). Nenhuma
organização de direitos civis fundada hoje escolheria como
nome “Associação Nacional para o Progresso da Gente de
Cor”. Como o leitor provavelmente sabe, as conotações
emocionais de “negro” estão hoje passando pelas mesmas
transformações por que passou a expressão “de cor”. A
palavra permanece suficientemente neutra em escritos for
mais ou técnicos (“O assistente de pesquisa negro devia to
car o sujeito. . . ” “As atitudes do branco em relação ao ne
gro mostraram uma mudança de 2 0 % . . . ”), mas nas dis
cussões especificamente relacionadas à questão racial ad
quiriu conotações negativas e o termo “preto” é mais popu
lar. Somente “preto” retém parte da ferroada e da acrimô-
nia emocionais apropriadas à nova militância.
Terapia da extinção
Os processos de extinção e recondicionamento descritos
acima são essencialmente casuais; ocorrem como complemen
tos das mudanças em crenças e atitudes correlatas. Mas os
resultados científicos são quase sempre utilizados direta e
deliberadamente e o fenômeno de extinção não é uma exce
ção. Por exemplo, surgiu uma nova escola de psicoterapia
que tenta remover as respostas emocionais negativas a ob
jetos e situações, através de técnicas de extinção. (Estas são,
às vezes, chamadas de processos de contra-condicionamento,
já que a extinção é geralmente considerada como aprendiza
gem de uma resposta alternativa que desloca a resposta con
dicionada.) Primeiro, ensina-se ao paciente técnicas de rela
xamento profundo; pede-se depois que ele imagine uma sé
rie de situações, cada uma delas assemelhando-se mais inti
82
mamente que a anterior à situação real que lhe é aversiva.
Ele pratica as respostas de relaxamento à medida que cada
situação-estímulo é imaginada, até ser capaz de relaxar (não
mostrar ansiedade) ao pensar na situação real que teme. Os
defensores dessa técnica de terapia apregoam que ela ex
tingue ou inibe as respostas emocionais negativas do paciente
quando este for colocado realmente na situação que previa
mente evitara, e os relatos que publicam apoiam esta afir
mação. Alguns críticos questionaram, porém, a alegação
teórica de que as técnicas são realmente análogas aos proce
dimentos de extinção do laboratório. Objetam ao fato de
apenas se pedir ao paciente que imagine a situação, ao invés
de controlá-lo com a situação-estímulo real. Pode ser, entre
tanto, que tais procedimentos sejam análogos aos do labora
tório e que a habilidade do paciente ao transferir seu relaxa
mento fisiológico de uma situação imaginada para uma real
seja reflexo da generalização semântica. A controvérsia
continua muito vívida. (Veja, por exemplo, Breger e Mc-
Gaugh, 1965, 1966; Rachman e Eysenck, 1966.)
83
Assim, existe uma forte razão psicológica para objetar
a apresentação desnecessária da violência em filmes e na te
levisão. Como tal violência não é pareada com a dor no es
pectador, circunstância que nos condicionaria a desgostar
mais ainda da violência, nossas respostas emocionais condi
cionadas gradualmente se extinguem: nossa tolerância à vio
lência aumenta. Parece razoável supor que, à medida que
a tolerância coletiva aumenta, diminui a oposição pública a
mostras de violência, permitindo aos meios de comunicação
introduzir ainda mais materiais gráficos e, assim, iniciar uma
nova fase da “terapia de extinção”. Na realidade, este pro
cesso parece estar ocorrendo na transmissão de notícias te
levisionadas de cenas de batalha no Vietnam. As redes emis
soras removem todo o material rejeitável pelo público (isto
é, material que poderia manter nossa repulsão emocional
contra a violência) mas retêm tanto do horror visual quanto
podemos “confortavelmente” tolerar. O leitor reconhece que
esta é, precisamente, a maneira de proceder de um terapeuta
da extinção para capacitar seu paciente a enfrentar uma
quantidade crescente de violência no seu meio. Talvez, co
mo sociedade, devêssemos concluir que, enquanto não se dis
ponha de controles alternativos, os custos sociais para nos
manter “bem ajustados” são muito altos.
Mas este argumento tem dois ângulos. Se propomos a
censura do meio de comunicação baseados em não querer
mos eliminar as reações emocionais negativas que as pessoas
têm em relação à violência e brutalidade, como responder
àqueles que, como minha tia, propõem censurar cenas de
amor e nudez com base no mesmo raciocínio? Ocorre que
não gosto de violência e brutalidade, mas gosto de cenas
de amor e de nudez. Portanto, sou favorável a reter as rea
ções emocionais negativas às duas primeiras e remover as
reações emocionais negativas às últimas. Talvez você con
corde. Mas esses julgamentos de valor não derivam do prin-
84
cípio de extinção — ou de qualquer outro princípio cientí
fico. Tais princípios podem ser utilizados com base para os
dois lados do argumento da censura; são gratuitos não so
mente para os inocentes dentre nós que amam a vida, mas
também para minha tia, a diretora feminina, bem como para
o delegado distrital.
85
4
seu fígado, Sr. João, que está latejando?”) A meu ver, salvo
raras exceções, as identificações internas que não nos en
sinaram permanecem desconhecidas para nós. O auto-des-
conhecimento, como argumentarei, chega até nós de fora.
Vamos ver por que.
Origens da auío-percepção
87
nos observáveis e, depois, nos ensinaram como rotular a si
tuação interna que eles supõem acompanhar aqueles indí
cios. Ferimento — dor — lágrimas — causa externa —
estado interno — efeito externo. Estas são as correlações
nas quais se baseia o conhecimento que o indivíduo A tem
dos estados internos do indivíduo B. Estas são, portanto,
as correlações básicas do conhecimento que o indivíduo B
tem dos seus próprios estados internos.
Hipótese da auto-percepção
90
Se os indivíduos obesos realmente se baseiam menos
nos indícios internos do que os normais, como sugere este
estudo, então realmente deveriam ser mais capazes de tole
rar privação de alimento do que os outros se fossem removi
dos os indícios externos. Schachter e seus colaboradores tam
bém pensaram nessa possibilidade (Goldman, Jaffa e Schach
ter, 1968) e descobriram que os judeus obesos tendiam a
jejuar mais no Yom Kippur, o dia de expiação, do que os
de peso normal. Além disso, verificaram que quanto mais
tempo os judeus obesos passavam na sinagoga (longe dos
indícios externos de alimento) mais fácil era para eles jejua
rem. Os judeus de peso normal, por outro lado, levavam
para a sinagoga os indícios de fome (internos). Para eles,
estar na sinagoga tinha pequena relação com a dificuldade
de jejuar.
Se passarmos da sinagoga para ambientes mais subver
sivos, como o do campus universitário, podemos encontrar
ainda outros exemplos nos quais nossa habilidade para iden
tificar estimulação interna não pode ser suposta. Os que
fumam marijuana, por exemplo, alegam freqüentemente que
tiveram que “aprender” quais reações internas constituem o
estar “alto”, e, mesmo se as conhecessem imediatamente, de
viam aprender a considerá-las agradáveis. Relatam também
que grande parte da experiência interna produzida pela ma
rijuana continua a ser fortemente influenciada pela situação
social externa na qual é usada. E finalmente, aquelas almas
aventureiras que estão dispostas a arriscar as possíveis con
seqüências médicas do uso do LSD para explorar o espaço
interno nos dizem que suas “viagens” particulares são lite
ralmente indescritíveis. Tal afirmação (gabolice?) bem pode
ser um tributo à novidade da experiência com o LSD, mas
dificilmente constitui em si mesma evidência persuasiva para
um novo processo de obter o auto-conhecimento.
91
Tenho um coração romântico mas na cabeça sou um
psicólogo. Em última análise, a maior parte do auto-conhe-
cimento deve ainda chegar até nós de fora, mesmo se uma
droga nos ajuda a processá-lo diferentemente uma vez que
esteja dentro.
Estivemos considerando a auto-percepção dos estados
internos e deveríamos esperar que a auto-percepção das ati
tudes seguisse as mesmas regras. Deveríamos verificar que
a percepção de um indivíduo das suas próprias atitudes pode
ser também desviada, se forem introduzidos indícios externos
enganosos. Uma engenhosa demonstração desse fato foi
apresentada por Stuart Valins (1966). Valins realizou um
experimento no qual foram mostrados diapositivos de mu
lheres seminuas a sujeitos do sexo masculino. Estes acredi
tavam que o experimentador estava medindo suas reações
fisiológicas às figuras e podiam ouvir o que achava ser as
batidas do seu coração através de uma fita de gravador co
nectada ao aparelho de medida. Na realidade, tratava-se de
um ritmo cardíaco falso, registrado anteriormente. A gra
vação fora arranjada de tal modo que eles podiam ouvir cla
ramente a mudança do ritmo cardíaco quando algumas das
figuras eram mostradas na tela. Depois do experimento,
pediu-se a cada sujeito para ordenar cada uma das figuras
apresentadas de acordo com seu gosto, e foi lhes permitido
levar algumas para casa.
Valins relata que as figuras nos quais o ritmo cardíaco
aumentava ou diminuia marcadamente foram classificadas
como muito mais atraentes pelos sujeitos do que aquelas du
rante cuja apresentação não havia ocorrido mudança nas
batidas cardíacas; e os sujeitos escolheram sobretudo
as “mais atraentes” para levar para casa. Até mesmo qua
tro ou cinco semanas depois do experimento os sujeitos ainda
preferiam essas figuras. Uma interpretação desse resultado
é que os sujeitos basearam suas atitudes em relação às figu-
92
ras sobre o que pensaram ser suas reações internas a elas,
embora, na verdade, as “reações internas” fossem externas
e tivessem sido pré-determinadas. Os indícios externos do rit
mo do coração anularam quaisquer indícios internos sobre
os quais poderiam, em outra situação, basear suas atitudes.
Os partidários de Barry Goldwater, em 1964, que na
sua proclamação pública nos asseguravam que “no seu co
ração você sabe que ele está certo” deveriam encontrar al
gum consolo nestes resultados. Em nossos corações pode
ríamos muito bem ter sabido, mas os indícios externos eram
todos tão confusos!
93
CAPÍTULO VI
95
a discriminarem menos, mas outras evidências mais válidas
sugerem que levar as pessoas a discriminarem menos pode
convencê-las a ter mais boa vontade e a agir como irmãos.
A fim de ver como o comportamento poderá servir de fun
damento a crenças e atitudes, consideraremos duas teorias:
a teoria da dissonância cognitiva (Festinger, 1957) e a teoria
de auto-percepção, que introduzi no Capítulo V deste livro.
A maioria das pessoas concorda que a questão “por
que você come pão de centeio?” pode ser adequadamente
respondida com “Porque gosto”. Gostaria de convencer o
leitor, porém, de que a questão “por que você come pão de
centeio?” freqüentemente deveria ser respondida com “por
que como” .
97
Os resultados mostraram que os estudantes autores de
ensaios por 10 ou 5 dólares subseqüentemente expressaram
opiniões que não diferiram muito daquelas expressas pelo
grupo de controle que não havia sido solicitado a escrever
ensaios. Isto e, escrever o ensaio, mesmo por uma quantia
relativamente grande de dinheiro, não os havia persuadido!
Ainda achavam que a polícia não podia ser justificada. Mas
o resultado interessante foi que os sujeitos que haviam rece
bido somente 1 dólar para escrever o ensaio, em conseqüên
cia se tornaram significativamente mais favoráveis às ações
policiais. Os estudantes que receberam apenas 50 cents se
tornaram ainda mais favoráveis à polícia do que os sujeitos
que haviam recebido 1 dólar. Em outras palavras, quanto
menos foi pago ao indivíduo para se envolver nesse compor
tamento “dissonante” de escrever o ensaio, mais ele se per
suadiu do que havia escrito!
Estes resultados podem parecer muito surpreendentes, e
mesmo opostos ao que o leitor poderia antecipar, mas são
exatamente o que prevê a teoria de dissonância cognitiva.
De acordo com ela, escrever o ensaio produziria incoerên
cia porque devido às atitudes iniciais do indivíduo não havia
“uma boa razão” para escrevê-lo. Mas a grande soma de
dinheiro dissolve a incoerência, dando-lhe uma razão muito
boa para escrevê-lo. Ele pode agora justificar seu compor
tamento para si mesmo e, portanto, não haverá mais “pres
são de dissonância” exigindo-lhe colocar suas atitudes a par
com seu comportamento. Não existe mais qualquer conflito
entre envolver-se em comportamento pró-polícia e, ao mes
mo tempo, manter uma atitude anti-polícia. Por outro lado,
escrever um ensaio por uma pequena ou nenhuma compen
sação não fornece ao indivíduo uma “boa razão” para seu
comportamento; portanto, ele não encontra uma racionaliza
ção conveniente (tal como o dinheiro). Nesse caso, ele so
frerá as pressões da dissonância, ou da incoerência, até mu
98
dar suas opiniões para torná-las coerentes com seu compor
tamento. Tomar-se-á mais favorável à polícia. Em outras
palavras, a teoria prevê que quanto menor a compensação
maior a dissonância e, portanto, maior a modificação de
atitude. Estes são os resultados do experimento de Cohen.
O mesmo padrão de resultados foi obtido em outros
experimentos diferentes; e outras predições feitas pela teo
ria no que concerne à seqüência o “comportamento causa
atitudes” foram também confirmadas. Em geral, a teoria de
Festinger da dissonância cognitiva teve em média muitos
outros e a natureza não intuitiva de muitas das suas predi
ções atraiu-lhe ampla atenção.
Mas, a teoria de dissonância foi também criticada (por
exemplo, Chapanis e Chapanis, 1964). Uma das dificulda
des apontadas é que os experimentos da teoria da dissonân
cia são muito complicados e seus resultados permitem ou
tras interpretações. Isto é, os experimentos freqüentemente
apoiam a teoria, mas são também coerentes com outras ma
neiras teóricas de olhar para os resultados. Eu mesmo estou
envolvido numa controvérsia dessa natureza com alguns dos
teóricos da dissonância e, na próxima seção, reconsidera
rei o experimento de Yale em meu próprio território teó
rico. 1
TEORIA DA AUTO-PERCEPÇÃO
99
cordar de que no Capítulo V mencionei que o indivíduo A in
fere que o indivíduo B está experimentando um estado interno
baseando-se em indícios externos, publicamente observáveis.
Tentei argumentar, a partir desse fato, que o indivíduo B
também se baseia em aíguns desses indícios externos para
informar a si mesmo que emoção está experimentando e que
atitudes mantém. Nos experimentos e exemplos discutidos
verificou-se que os indícios externos residem na situação
social ou física em que o indivíduo se localizava. Mas, esta
não é a única fonte desses indícios. Para nós, observadores,
os indícios mais importantes dos estados internos de um in
divíduo encontram-se no seu comportamento. Quando de
sejamos saber como uma pessoa sente, olhamos para ver
como ela age. Assim, minha teoria sobre as origens do co
nhecimento que um indivíduo tem de si mesmo prevê que
ele pode também inferir seus próprios estados internos ob
servando seu próprio comportamento. De fato, é o que
ocorre.
Suponha que observemos um indivíduo recebendo uma
série de choques elétricos na mão. Suponha também que
sabemos que pode escolher apertar um botão e interromper
o choque ou que pode agüentar o choque dois segundos até
que automaticamente se interrompa. Num choque, vemo-lo
apertar o botão; no outro, não o faz. Igualados os outros
aspectos, inferimos que o choque interrompido deve ser
mais doloroso ou desconfortável do que o choque que es
colheu tolerar. Isto é, usamos seu comportamento como
guia para inferir seu estado de desconforto. A questão que
se coloca é: o indivíduo usará também seu próprio compor
tamento como guia para inferir o desconforto do choque? A
fim de testar essa possibilidade, dois dos meus alunos e eu
(Bandler, Bandaras e Bem, 196B) pagamos voluntários para
se submeterem a uma série de choques elétricos. Estes não
fbrun informados de que todos os choques tinham 'a mesma
intensidade. Antes de cada choque, dizíamos ao sujeito se
preferíamos que ele fugisse ou tolerasse, mas que a escolha
final era dele. Desta maneira poderíamos, de fato, controlar
que choques o sujeito interrompia e quais suportava, mesmo
quando sabia que tinha uma escolha. Depois de cada
choque, o sujeito ordenava o grau de desconforto numa es
cala de 7 pontos.
Os resultados concordam com a teoria da auto-percep-
ção. Nossos sujeitos classificaram os choques como insigni
ficantemente mais inconfortáveis quando fugiam deles do
que quando os toleravam: a mesma conclusão a que teria
chegado um observador externo. Isto ocorreu embora os
choques tolerados fossem necessariamente mais longos que
os choques aos quais fugiam. Verificamos também que o
sujeito tinha que acreditar dispor de uma escolha entre to
lerar ou fugir; se lhe tivéssemos dito para apertar o botão de
fuga para medirmos seu “tempo de reação”, quando o cho
que fosse apresentado, ele não teria usado seu comportamen
to como guia para inferir o desconforto do choque. Esta
também é a mesma inferência que um observador externo
teria feito: se visse o sujeito apertar o botão somente porque
o experimentador o exigiu, não poderia utilizar o com
portamento do sujeito para inferir o grau de desconforto que
o choque produzira.
Sempre soubemos que o indivíduo A tenta inferir os es
tados internos do indivíduo B observando seu comportamen
to. Vemos agora que o indivíduo B observa seu próprio com
portamento para auxiliá-lo a captar seus próprios estados
internos. Este é, naturalmente, apenas um caso especial da
hipótese da auto-percepção discutida no Capítulo V. Vamos
aplicar esta hipótese à percepção das crenças e atitudes.
Considere primeiro, como nós, observadores externos,
inferimos as crenças e atitudes dos outros. Considere, por
exemplo, nossas reações a uma figura muito conhecida que
101
endossa pessoalmente um produto num comercial de tele
visão. O que concluímos sobre suas atitudes reais e pessoais?
Usualmente tomamos esse endosso como um grão de sal por
que sabemos que ele está sendo pago. Isto é, geralmente ten
demos a atribuir seu entusiasmo ao dinheiro e não às suas
convicções. Supomos que seu comportamento não tem nada
com suas atitudes privadas em relação ao produto. No en
tanto, a Madison Avenue avançou para roubar nossas zom
barias cínicas e sufocar nosso ceticismo renitente empregando
a técnica da “câmara ingênua”. Nesses comerciais, algumas
donas de casa pouco convencionais ou um pedreiro enfá
tico são abordados na rua ou no supermercado e esponta
neamente erguem louvores à “cera Aerowax” ou ao “sabão
Babo” . Os propagandistas esperam que cheguemos a inferir
que essas pessoas simples devem realmente preferir a qua
lidade X, já que não têm nenhum outro motivo (o dinheiro)
para fazer isso. Isto é, visto que não são pagos pelos elogios,
mais provavelmente estão refletindo suas reais atitudes.
Este exemplo mostra que não só utilizamos o compor
tamento de um indivíduo como guia para inferir suas cren
ças e atitudes, mas tomamos em consideração também as
circunstâncias que parecem ser responsáveis pelo seu com
portamento. Olhamos para os motivos bem como para o
comportamento. No caso do comercial da televisão, usamos
a grande quantidade de dinheiro para o astro como um tipo
de sinal ou indício dc “mentira” para nos dizer que seu
comportamento não pode ser uma base para inferir suas
atitudes verdadeiras. Por outro lado, uma pequena soma
ou nenhuma atua como um sinal de “verdade” : somos
mais inclinados a considerar o endosso do indivíduo no seu
valor nominal e usá-lo como guia das suas atitudes reais. Em
geral, portanto, podemos supor que quanto menor a soma
de dinheiro paga ao comunicador, mais provavelmente infe
102
rimos que ele mantém as atitudes que está proclamando na
sua comunicação.
Revisão de Yale
106
CRENÇA INDUZIDA EM CONFISSÕES FALSAS
108
rimento pediu-se primeiro aos sujeitos para praticarem algum
ato (“crime”) sobre o qual poderiam ser interrogados mais
tarde. Para essa finalidade, receberam uma lista de 100 subs
tantivos comuns e uma lista alfabética contendo 50 desses su
bstantivos. Pediu-se a cada sujeito, então, que riscasse as pa
lavras da lista maior que também apareciam na lista alfabé
tica. Em outras palavras, seu “crime” consistia em riscar al
gumas palavras e não outras. Cada sujeito foi então submeti
do à sessão de treino preliminar descrita acima, durante a qual
aprendeu a fazer afirmações verdadeiras sempre que a luz
âmbar estava acesa e afirmações falsas sempre que estava
acesa a verde. Depois, cada um devia dizer em voz alta
que havia riscado uma palavra e, às vezes, que não tinha
riscado uma palavra (por exemplo, “eu não risquei a pa
lavra árvore”). O sujeito desconhecia que metade das afir
mações que tinha que fazer era verdade e metade falsa.
Neste experimento as luzes também foram ligadas a um
gravador, de modo que enquanto ele fazia sua “confissão” al
gumas vezes a luz âmbar estava acesa, e outras, a verde. De
pois de cada confissão o sujeito indicava numa folha de pa
pel se lembrava ter riscado a palavra ou não. Ele também
indicava o quanto confiava na sua memória. A fim de se
estabelecer uma comparação, perguntou-se ao sujeito sobre
várias palavras não mencionadas nas suas confissões.
Os resultados desse estudo mostraram que as confissões
falsas não tinham efeito sob presença da luz “mentira” . Os
sujeitos foram capazes de lembrar tão precisamente quanto se
recordavam das palavras que não apareceram nas suas con
fissões. Mas, sob a luz “verdade”, acreditavam nas con
fissões falsas: os sujeitos cometiam maior número de erros
de lembrança e tinham menos segurança das suas memórias.
Curiosamente, os sujeitos foram também desorientados pelas
afirmações verdadeiras que apresentaram à luz “mentira” .
As afirmações eram verdadeiras mas as condições eram
109
aquelas em que o sujeito havia aprendido a não confiar em si
mesmo. Portanto, não acreditava nas suas afirmações.
Como no experimento anterior, os sujeitos não perceberam os
efeitos sistemáticos das confissões ou das luzes sobre sua
habilidade de lembrar de suas ações. Este experimento con
firma, então, minha suposição de que o processo de auto-
-persuasão pode alterar a lembrança que um homem tem
dos fatos se dele se exigir que pronuncie afirmações falsas
sob condições de “dizer a verdade”.
Como disse no subcomitê do Senado, depois de de
monstrar e explicar este experimento, é possível que elemen
tos do processo experimental possam estar inerentemente
presentes durante um interrogatório real. Por exemplo, o
ambiente físico de qualquer interrogatório policial provavel
mente já atua como sinais “verdade” para o cidadão mé
dio, porque simplesmente não concebe a si mesmo ou a
qualquer outro cidadão honesto apresentando afirmações
falsas em tais circunstâncias. Em conseqüência, ele já
se encontra numa situação que muito provavelmente afe
tará suas próprias afirmações. Quaisquer erros inadvertidos
que fizer durante um depoimento veraz nos demais aspectos,
ele tenderá a aceitá-los daí por diante como sendo verda-
dadeiros. Além disso, um interrogador hábil pode provocar
afirmações imprecisas e distorcidas usando questões orien
tadoras e fazendo insinuações para “auxiliar”. (“Ela le
vava uma bolsa marrom, não levava?”) Testemunhas ocula
res também podem ser levadas a acreditar em imprecisões
iniciais de seus relatos através do mesmo processo. Por
exemplo, “eu a vi levando uma bolsa marrom” é exatamente
análogo a “eu risquei a palavra árvore” no sentido de estar
sujeito ao mesmo tipo de distorção através da auto-per-
suasão.
Existe ainda outra técnica que um interrogador pode
empregar e que tem paralelo no experimento de “confissão
110
falsa” . Assim como treinei sujeitos a usar a luz âmbar
como sinal de “verdade”, fazendo com que sempre dissessem
a verdade quando esta luz estava acesa, um interrogador
hábil poderia estabelecer todos os indícios de um interroga
tório como sinais de “verdade” . Poderia fazer isto pergun
tando primeiro várias questões que o suspeito ou a teste
munha ocular poderiam responder com averdade sem
hesitar. Quando a situação estiver assim estabelecida como
sessão de “dizer a verdade”, o interrogador gradualmente
passaria para questões sobre as quais o indivíduo não tinha
certeza, questões cujas respostas poderiam ser manipuladas
com insinuações para auxiliar. Seguindo esta seqüência, o
interrogador aumentaria a possibilidade das respostas pas
sarem a exercer um efeito persuasivo sobre o indivíduo.
Um interrogador poderia, assim, criar sinais de “ver
dade”, inadvertida ou deliberadamente, empregando técnicas
paralelas às do experimento. Poderia, por conseguinte, obter
uma testemunha que se tornou confusa pelo próprio interro
gatório. Existe, porém, uma implicação ainda mais irônica
na análise da auto-persuação no processo de interrogatório
— o papel da coerção e da livre escolha.
Vamos assumir a perspectiva do observador estranho
que ouve um indivíduo afirmar suas crenças e atitudes.
Assim como aprendemos a não considerar as afirmações
de alguém que foi subornado com dinheiro, também é
improvável que acreditemos na confissão de um homem
coagido a fazê-la. Como um suborno, a coerção constitui
para nós sinal de que a pessoa não deve ser necessariamente
acreditada. Parece estar confessando somente para escapar
a um tratamento rude. Por outro lado, tendemos a tomar a
confissão de uma pessoa como verdade se parecer voluntária.
Neste caso, é a falta de coerção que atua como sinal de
“verdade” para nós. Estas considerações já fazem parte dos
111
nossos procedimentos legais: as confissões forçadas nunca
são aceitas como evidência.
A hipótese da auto-percepção sugere então que o pró
prio suspeito responda aos mesmos indícios de “credibili
dade” que nós. Neste caso, ele usa o total da coerção
como um indício para acreditar nas suas próprias afirma
ções, assim como os estudantes de Yale usaram a quantia de
dinheiro recebido para decidir se acreditavam nos seus en
saios pró-polícia e como os sujeitos usaram as luzes “verda
de” e “mentira” nos experimentos de laboratório. Amea
çando ou coagindo um homem, podemos fazê-lo confessar
o que quisermos, mas certamente não mudaremos suas cren
ças; está claro para ele que confessa somente para fugir das
conseqüências aversivas. Entretanto, se o levamos a con
fessar usando pressões muito sutis ou uma pequena coerção
ele tenderá a acreditar naquilo que o induzimos a dizer.
Consideremos novamente as orientações impostas pela
Corte para o interrogatório. A polícia deve informar um
suspeito de que ele não precisa fazer uma confissão mas
que se a fizer a responsabilidade é dele e que não será
punido se se recusar a depor, etc. O leitor reconhecerá
que essas são exatamente as condições — condições de esco
lha aparentemente livre — sob as quais o indivíduo estará
mais psicologicamente afetado por qualquer confissão que
escolher apresentar. Isto é, se apesar dessas advertências o
interrogador for capaz de induzir sutilmente o indivíduo a
confessar, esta confissão, não obtida através de coerção, com
mais probabilidade ainda levará o suspeito a acreditar no que
disse. Em tais casos, a garantia de que o suspeito não pre
cisa confessar atua realmente como sinal de “verdade” que
diz ao suspeito que quaisquer afirmações que fizer são pro
vavelmente verdadeiras, já que existe outra razão para apre
sentá-las. É possível que o interrogador dispenda mais tem
po para obter a confissão se precisa primeiro advertir o sus
112
peito e depois não usar ameaças ou coerção de qualquer
tipo; mas se obtém uma confissão sob essas circunstâncias
parece provável que as próprias crenças do suspeito serão
alteradas no processo. É irrelevante uma corte não admitir
a confissão como evidência: o próprio interrogatório teria
criado um acusado que pode se incriminar na corte por meio
de uma memória que se tornou falha pela auto-persuasão.
É claro, naturalmente, que o efeito da auto-persuasão
não é o único fator envolvido; obviamente o indivíduo tem
outros meios de conhecer qual é a verdade. No entanto, a
pesquisa indica que esse efeito ajuda a determinar o que o
indivíduo acredita ser verdade. É também importante notar
que o indivíduo não precisa ser induzido a fazer um con
junto completo de afirmações falsas. Até mesmo impreci
sões inadvertidas numa confissão veraz em outros aspectos
tendem, daí por diante, a serem vistas como verdade pelo
indivíduo. De fato, na prática real, suspeito que esta seja
a conseqüência mais comum do efeito da auto-persuasão:
pequenos erros subitamente se tornam fatos apenas porque
foram feitos sob condições de luz “verdade” .
Somos então levados a uma conclusão um tanto irônica:
parece que quanto menos uma sociedade usa táticas coer
citivas em interrogatórios, mais susceptível se torna a pessoa
que está sendo interrogada ao controle das idéias pela auto-
-persuasão. Falando agora como cidadão, espero que nin
guém argumente a partir dessa conclusão que a polícia de
veria empregar a coerção a fim de proteger os suspeitos
contra a auto-persuasão. Ao contrário, parece-me que tais
conclusões argumentam a favor de proteções legais ainda
maiores para o suspeito durante o interrogatório. (Um pro
fessor de direito sugeriu no seu depoimento que todas as
sessões do interrogatório fossem registradas em fita magné
tica à prova de adulteração e colocadas à disposição da
defesa no julgamento.) As garantias da Quinta Emenda
113
são realmente menos cruciais na sala do juri, onde os advo
gados da defesa e outras proteções estão presentes, do que
no quarto de fundo da delegacia do distrito, onde essas
proteções estão ausentes. 3 A proteção da Quinta Emenda
é certamente inútil se for aplicada somente depois de ocorrer
a auto-incriminação ou depois da memória do suspeito ter
sido distorcida pela auto-persuasão.
114
movidos a contramestre se tornavam mais pró-gerência. Estas
mudanças de atitude ocorriam logo depois das mudanças
de papel e, em três anos, os dois grupos de homens haviam
tomado posições e atitudes quase que totalmente opostas.
Além disso, quando a alteração das condições econômicas
exigiam que alguns contramestres voltassem a seus papéis
anteriores entre os operários suas atitudes também muda
vam e revertiam para o que eram antes. Embora outros es
tudos anteriores a este mostrassem que papéis e atitudes
freqüentemente se correlacionam (por exemplo, os oficiais
são mais favoráveis ao exército do que recém-alistados)
(Stouffer e colaboradores, 1949), o estudo de Lieberman
foi o primeiro a confirmar a seqüência causa e efeito que
estamos discutindo, na qual a mudança de comportamento
causa mudança de atitude.
Norte-americanos negros
115
negras de até três anos de idade rejeitam bonecas negras
como inferiores às brancas (Clark e Clark, 1965). Além
dessa, outra pesquisa (por exemplo, veja Pettigrew, 1964)
mostrou que os negros norte-americanos consideravam sua
própria situação e comportamento, sua impotência diante
da discriminação, derivando daí auto-imagem negativa e
baixa auto-estima. Desempenhar o papel dc “negro” na
nossa sociedade produziu uma interiorização do papel, um
auto-ódio por parte de muitos negros norte-americanos.
Mas o processo também funciona ao contrário. As
atitudes seguem o comportamento e agora sabemos que não
existe melhor maneira de tom ar qualquer homem, negro ou
branco, um militante do que colocá-lo numa linha de piquete
ou numa passeata. Uma pesquisa sobre estudantes negros
no Sul, no início da década de 1960, mostrou que os mais
dispostos a iniciar manifestações de direitos civis eram aque
les que já haviam começado a desembaraçar-se dos efeitos
do papel de “negro”. Os ativistas negros tendiam mais a
sentir que seus destinos estavam sob seus controles, en
quanto os não-participantes achavam que seus destinos esta
vam sob o poder de forças que não podiam controlar (Gore e
Rotter, 1963). A comunidade negra está agora deliberada
e conscientemente capitalizando esse processo, gerando um
orgulho e uma auto-estima novos e seus membros participam
de atividades que demonstram — a eles mesmos e aos brancos
norte-americanos — que podem exercer controle sobre seus
próprios ambientes. O princípio permanece o mesmo: as
atitudes seguem o comportamento.
No princípio da década de 1960, freqüentemente os
brancos norte-americanos afirmavam que as demonstrações
civis eram inúteis, sobretudo quando não chegavam a alcan
çar os objetivos programados. Assim, em 1963, 60°/# dos
sulistas brancos e 43% dos brancos do Norte acharam que
as demonstrações haviam “prejudicado e não auxiliado a
116
causa do negro” (Sheatsley, 1966). De modo semelhante,
os jovens militantes negros de hoje tendem a minimizar a im
portância das atividades de direitos civis do início da dé
cada anterior. Ambos não notam, porém, a enorme im
portância psicológica que essas demonstrações tiveram para
modificar as auto-percepções da comunidade negra — até
nos casos em que os objetivos das demonstrações eram sem
importância ou não chegavam a ser alcançados. Os jovens
militantes de hoje devem muito da sua militância, do seu
novo orgulho de ser, da sua auto-estima, às atividades dos
seus irmãos mais velhos no início dos anos sessenta.
Norte-americanos brancos
117
5
Embora muitas vezes seja difícil separar causas e efeitos,
uma análise mais próxima dos dados indica que, em geral,
as atitudes favoráveis a um movimento específico de inte
gração surgem depois, e não antes do movimento. Por
exemplo, levantamentos feitos em 1956, dois anos depois
da decisão do Supremo Tribunal contra a segregação escolar,
mostraram que apenas 31% de brancos das comunidades
que haviam iniciado a integração na escola aprovaram o
movimento. Mas, em 1963, quando as áreas integradas
incluiam muitas outras comunidades onde sentimento anti-
-integração era muito forte, a maioria dos sulistas brancos
daquelas comunidades havia aceitado a integração escolar.
No âmbito nacional, as atitudes contra a segregação na
escola aumentou de 30% em 1942 para 49% em 1956 e
para 62% em 1963. Até mesmo nas áreas mais resistentes
do Sul a aprovação da integração escolar cresceu de 4%
em 1956 para 28% em 1963. 4
Os levantamentos sobre outras questões raciais mostram
o mesmo tipo de padrão. Aprendemos que muitos norte-ame
ricanos brancos continuarão a expressar o ponto de vista de
que o ritmo da mudança deve diminuir e até mesmo parar,
e que muitos brancos sempre se oporão a “qualquer novo
passo. Mas, aprendemos também que, ao mesmo tempo que
essas atitudes de oposição em relação ao próximo passo es
tão sendo expressas, as atitudes em relação ao passo já
caminhado na realidade começaram a sancioná-lo. Final
mente, todos os estudos revelaram que as atitudes em re
lação à integração, tanto dos negros como dos brancos,
são mais favoráveis entre aqueles que a experimentaram do
que entre aqueles que não têm contatos inter-raciais (Pettigrew,
1969). E ainda, a seqüência causa-efcito mais freqüente
118
mente aparece como sendo “primeiro comportamento e de
pois atitudes".
Podemos agora ver uma das razões do porque as de
cisões da corte e a legislação podem mudar os “corações e
as mentes dos homens”, porque “determinações legais podem
modificar costumes populares”. Assim o fazem, cm parte
provocando uma modificação no comportamento; e depois,
quando o comportamento se modificar, as atitudes o seguem.
Mas isto não é tudo, pois no processo de mudança de ati
tude estão também envolvidas normas sociais. Mas este é
o tópico do próximo capítulo.
119
CAPITULO VII
123
nhum analgésico é mais forte ou mais eficaz do que a
Marca A ”. Os fabricantes da Marca A estão certos: A
marca que oferecem contém só aspirina e os testes oficiais
mostraram que nenhum analgésico era mais poderoso e mais
eficaz, é também verdade que nenhum outro analgésico
se mostrou nesses testes mais fraco ou menos eficaz do que
a Marca A. Isto é, todas as marcas eram igualmente fortes
e eficazes. Os testes financiados pela Federal Trade Commis-
sion e publicado no Journal of the American Medicai Asso-
ciation, em dezembro de 1962, compararam uma das mar
cas mais baratas de aspirina pura com os quatro remédios
para dor de cabeça mais anunciados: Marca A , a aspirina
refinada mais conhecida (Marca B) e os dois comprimidos
de “força-extra” mais populares (Marca C e Marca D). O
estudo verificou a inexistência de diferenças significantes en
tre qualquer uma dessas cinco marcas, tanto na rapidez
quanto na eficácia da eliminação da dor.
Ê claro que existe uma diferença entre os remédios para
dor de cabeça: o preço! Atualmente, a Marca A está sendo
vendida na farmácia do meu bairro a 98 cents uma caixa
de 100 tabletes, enquanto outras marcas nacionais e locais
estão sendo vendidas à razão de 15 cents por 100 tabletes.
Os médicos atendentes do Sindicato de Consumidores, a
maior organização do mundo sem fim lucrativo que testa o
que se consome, continuam a enfatizar ano após ano que
“você obterá um bom alívio de suas dores comuns e febre,
e sem receitas, se comprar a aspirina U. S. P. mais barata
que sua farmácia vender. . . . A única diferença impor
tante entre as marcas de aspirina pura ou refinada é o
preço” (Consumers Union, 1963, págs. 11 e 13).
MARCA B: Talvez você use aspirina refinada porque
tenha ouvido que ela não revoltará seu estômago como a
aspirina, ou porque foi persuadido pelos comerciais a prefe
rir a Marca B, “a marca mais conhecida de aspirina refinada,
124
pois esse produto atua duas vezes mais depressa que a aspi
rina”. Mas os testes do governo mostraram que não há di
ferença significante entre aspirina pura e a refinada (Marca
fí) na rapidez ou na incidência de distúrbio estomacal. Os
fabricantes de Marca B declaram ter evidência experimental
e clínica de que seu produto é de absorção mais rápida,
mas os peritos há muito duvidam da maneira pela qual
esses testes foram realizados. Outros testes, mais cuidado
samente controlados, realizados por pesquisadores do New
York Medicai e da Syracuse University não mostraram dife
renças na rapidez da absorção, no alívio da dor, ou na se
gurança entre a aspirina bruta e refinada (Consumers Union,
1963, pág. 15). Mas se você, ainda assim, quiser aspirina
refinada, poderá comprar 100 tabletes por cerca de 25 cents
de uma marca cujo produtor não está gastando uma for
tuna na propaganda da televisão. Na farmácia do meu
bairro, 100 tabletes da Marca B custam 1,49 dólares.
MARCAS C e D: Na época em que o governo rea
lizou os testes, alguns remédios para dor de cabeça, incluindo
dois daqueles testados, combinavam aspirina com fenacetina
e cafeína. Por isso esses tabletes são chamados AP C. A
fenacetina tem mais ou menos a mesma eficácia da aspirina
no alívio da dor e na diminuição da febre, mas não é tão
boa na supressão da inflamação causada por males como a
artrite. Quanto à cafeína, não é uma droga que alivia a dor
e não há nenhuma evidência fidedigna de que ela aumente
o efeito da aspirina (Consumers Union, 1963, pág. 14). Por
tanto, não surpreende o fato do estudo do governo verificar
que os tabletes APC não são mais eficazes que a aspirina
pura. O estudo concluiu, porém, que os tabletes APC per
turbam o estômago “com freqüência bem maior do que
qualquer outro produto testado.” Além disso, revistas mé
dicas começaram a relatar suspeitas de que o uso prolon
gado de fenacetina, em doses substanciais, poderia estar asso-
125
ciado a prejuízos irreversíveis e possivelmente fatais aos
rins (Consumers Union, 1963).
A partir dessa época, uma das marcas testadas, Marca
C, substituiu a fenacetina por outro composto, mantendo a
aspirina e a cafeína, e aumentando seu preço — 100 ta
bletes custam agora 1,59 dólares na minha farmácia. O
outro comprimido testado pelo governo, Marca D, retirou
simplesmente a fenacetina e manteve a aspirina e a cafeína.
Mas esta solução para o problema médico causou um pro
blema de relações públicas para os produtores da Marca D.
Haviam gasto 86.400,00 dólares num comercial para a tele
visão que mostrava três pratos de ingredientes, enquanto um
narrador dizia que a Marca D continha “não um, não dois,
mas uma combinação de ingredientes medicamente aprova
dos”. (Masters, 1965, pág. 220). Quando o número de in
gredientes reduziu-se ao inexpressivo dois, considerou-se uma
afronta abandonar o diapasão de venda suficientemente efi
caz que havia custado mais que o filme “ E o vento levou”
(Masters, 1965, pág. 220). Portanto, a princípio o comer
cial manteve os três pratos de ingredientes, mas os trans
feriu do primeiro plano para o envólucro. Depois de mais
alguns meses, os três pratos foram suprimidos do comer
cial, mas continuou-se a ouvir “combinação de ingredientes”.
A próxima versão que ví tinha três linhas inúteis e uma
narração correspondente informando ao telespectador que a
Marca D contém (1) o alívio para a dor que os médicos
mais recomendam (isto é, naturalmente, a aspirina), (2) além
disso, mais daquilo que alivia a dor (mais aspirina), e (3)
mais a força de outro ingrediente (cafeína). Assim 2 foram
apresentados como 3. Quando escrevia este livro, a Marca
D havia deixado de focalizar os ingredientes e passara para
o alívio. Os comerciais agora enfatizam que ela contém
mais do ingrediente que “os médicos mais recomendam para
126
o alívio das dores leves da artrite e reumatismo”. Adivinhe
o que é. Na minha farmácia, o preço desse composto de
“força extra” é de 100 tabletes por 1,39 dólares.
O teste está encerrado. E você, como procedeu? As
estatísticas do mercado indicaram que você provavelmente
foi reprovado, que você é um dos milhões de norte-america
nos cujo dinheiro é gasto pelo privilégio de ser persuadido
a gastá-lo. E isto apesar de você se considerar “desconfia
do, prudente e cético” em relação aos comerciais da te
levisão.
Existe uma moral neste exemplo: a persuasão não perde
sua eficácia só por sabermos que o anunciante é tendencioso
ou que está explicitamente tentando persuadir. O ponto de
vista contrário de que a persuasão perde sua eficácia nessas
circunstâncias c porém muito comum. É mesmo citado em
alguns livros de psicologia social como um “princípio psi
cológico’ da persuasão, mas as tentativas repetidas de de
monstrar sua validade falharam e parece agora que é apenas
um dos outros princípios de “psicologia da vovó” (McGuire,
1969, págs. 182-187). Isto é, um “princípio psicológico”
que a avó de cada um de nós conhece como verdadeiro,
mas que de fato é falso.
Mas vse meu exemplo da aspirina ajudou a expor um
princípio da “psicologia da vovó”, corre o risco de perpe
tuar nossa crença em outro, o ponto de vista orwelliano de
que a persuasão dos meios de comunicação de massa é
altamente eficaz no controle de nossas crenças, atitudes e
comportamento. Mas não é assim, é verdade que a pro
paganda da televisão pode aumentar a procura de mercado
rias pequenas e freqüentemente substituíveis (NBC, 1954);
que a propaganda pode ajudar o conhecimento e a pro
cura de Um novo produto; e que uma promoção nacional
intensa pode auxiliar um grupo de produtores (como as
L27
grandes companhias de aspirina) a dominar um determinado
mercado. Além disso, a comunicação de massa sem dúvida
afeta, indiretamente, algumas das nossas crenças e atitudes.
Mas o resto do argumento a favor da eficácia de persuasão
da comunicação de massa não é muito válido.
Por exemplo, depois de uma intensa campanha de cons
trução de uma imagem para a indústria do óleo, 13% da
amostra pesquisada se tornara mais favorável, mas 9% me
nos favorável, um resultado líquido de apenas 4% . (Watson,
1966, pág. 260). Ainda, uma revisão das campanhas presi
denciais desde 1792 até 1940 constatou que a maioria dos
jornais tanto poderia ter apoiado o vencedor quanto o ven
cido (Mott, 1944), e estudos mais recentes verificaram que
os mais apresentados na campanha presidencial pelos meios
de comunicação de massa parecem os menos beneficiados por
eles (Berelson, Lazarsfeld e McPhee, 1954). Existem muitos
outros exemplos como estes (veja McGuire, 1969).
O que explica esses insucessos persistentes de encontrar
os efeitos mensuráveis da persuasão? Algumas pessoas su
geriram que nos comerciais e na propaganda política os efei
tos de uma campanha podem anular os efeitos de uma cam
panha oposta. Outra explicação popular é a de que as
pessoas só se expõem a informações que estão de acordo
com as crenças e atitudes que já possuem. Foi também su
gerido que existem os efeitos da persuasão, mas que são
muito sutis para serem detectados pelos estudos. Esta e
muitas outras possibilidades podem ser verdadeiras, mas a
evidência delas não é particularmente forte (McGuire, 1969).
Algumas delas talvez até pertençam ao campo da “psicolo
gia da vovó*’.
Parece-me que a propaganda é mais eficaz como canal
de informação do que como modo de persuasão. Como
canal de informação, uma promoção pode tornar conhecida
128
a vantagem real e substancial de um produto ou candidato,
mas não pode salvar um produto que não tenha um atra
tivo real. O insucesso da Companhia de Motores Ford ao
vender os automóveis Edsel dificilmente resultou de qualquer
falta de promoção nos meios de comunicação de massa.
A maioria das vezes, porém, a propaganda tenta pro
mover um entre os vários produtos competidores ou candi
datos que, como as marcas de aspirina, são objetivamente
similares entre si. Nestas circunstâncias, suspeito que ocor
rem os efeitos de cancelamento e o resultado final de qual
quer campanha isolada será bem pequeno. Entretanto, é
preciso notar que nessa situação um produtor ou candidato
não pode deixar de anunciar se os seus competidores o fazem.
Além disso, alguns pontos de percentagem numa votação de
âmbito nacional freqüentemente decide uma eleição, e o
aumento de alguns pontos na venda de um produto num
mercado nacional representa uma apreciável soma de di
nheiro. E enquanto existirem pessoas espertas e bem infor
madas como você, que estão dispostas a pagar 1,50 dólares
pela aspirina, a Madison Avenue não alterará seus métodos
simplesmente porque os psicólogos sociais podem mostrar
que o impacto de suas mensagens persuasivas nos meios de
comunicação de massa não só é pequeno mas, psicologica
mente, é insignificante para o sistema de crenças mais am
plo do indivíduo.
O leitor pode considerar os anúncios de televisão como
um mal nocivo, mas esses resultados de pesquisa sugerem
que não precisa temer que a comunicação de massa vá lhe
fazer uma “lavagem cerebral” do tipo orwelliano. Isto é
particularmente. verdade enquanto nossa sociedade permitir
que canais de informações competidores operem efetivamen
te. Porque, aposto mesmo que o leitor está a ponto de mu
dar sua marca de aspirina!
129
INFLUÊNCIA INTERPESSOAL
130
meios de comunicação de massa e a “tropa”. Isto é, as
jdéias passam da televisão, rádio e páginas impressas para
os líderes de opinião e deles para o resto da comunidade.
Este fluxo de duas etapas foi demonstrado num estudo
realizado em Decatur, Illinois (Katz e Lazarsfeld, 1955).
F!e envolvia questões públicas, mercado, modas e freqüên
cia a cinema. Pediu-se aos participantes para citar as pessoas
que acreditavam conhecer mais sobre cada um desses tópi
cos, as pessoas que consideravam ser de mais confiança, as
pessoas que realmente os influenciaram em alguma decisão
específica e as pessoas com as quais falavam mais vezes so
bre o que aprendiam através dos meios de comunicação de
massa e outras fontes. Os entrevistadores acompanharam
muitos dos nomes dados pelos entrevistados, e até seguiram
alguns dos nomes dados pela primeira pessoa indicada. Des
se modo puderam reconstruir os padrões de influência.
Os resultados mostraram que os contatos pessoais in
fluenciaram as opiniões e as decisões de comprar mais que
os meios de comunicação de massa, independentemente do
assunto ou questão em pauta. Entretanto, o assunto deter
minava quem seria o líder de opinião. Em questões relativas
a produtos caseiros, por exemplo, os líderes de opinião se
concentravam nas mulheres mais velhas com famílias gran
des, enquanto em modas e freqüência ao cinema os papéis
de liderança eram de moças mais jovens e solteiras. So
mente em questões públicas deu-se alguma concentração de
liderança entre aqueles de mais alto statiis. Na amostra,
27% eram líderes em uma única área; 10°/o em duas áreas
e somente 3% eram líderes em mercado, modas e assuntos
públicos. Os restantes 60% da amostra constituiam a “tro
pa” em todas as questões.
O processo do fluxo de informação em duas etapas não
se confina ao público em geral; opera também nas áreas
profissionais. Por exemplo, o fenômeno ocorre na profis-
131
são médica (Menzel e Katz, 1956). Verificaram que a de
cisão de um médico de adotar uma droga, logo depois dela
ter sido colocada no mercado, é determinada mais pela quan
tidade de contato que mantém com seus colegas do que
pela sua idade, escola de medicina que cursou, renda dos
seus pacientes, ou ao fato de ler revistas médicas. Na rea
lidade, cerca de metade dos membros de cada grupo de mé
dicos que adotou uma nova droga o fez com diferença de
alguns dias entre um e outro e, exceto o próprio “pioneiro”,
nenhum médico adotou uma nova droga a não ser que tivesse
contato direto com outro médico que já a utilizara. Os
pioneiros, ou líderes de opinião, eram médicos que liam um
grande número de revistas profissionais, participavam de
maior número de reuniões profissionais fora da cidade, e
mantinham contato com maior variedade de instituições mé
dicas e sociedades. Serviam como mediadores no processo
de duas etapas de influência entre a fonte de inovação e a
população geral dos médicos.
Parece que a influência interpessoal direta nunca se
tornará obsoleta, não importando quão sofisticados se tor
nem os instrumentos de comunicação na nossa sociedade
tecnologicamente avançada. Como nossa avó sempre dizia:
a principal influência sobre as pessoas são as pessoas.
NORMAS SOCIAIS
132
sentido de que os líderes de opinião proporcionam, também
nesse caso, ura elo entre uma força externa de mudança e
uma modificação dos comportamentos e atitudes da comu
nidade em geral. O processo anti-segregacionista no Sul dos
Estados Unidos oferece um exemplo notável.
Durante anos, muitas teorias foram elaboradas para
explicar os padrões da segregação racial do Sul e os claros
sentimentos raciais expressados por muitos sulistas. Por
exemplo, a teoria da personalidade autoritária (discutida no
Capítulo IV) afirma que alguns indivíduos têm preconceitos
raciais por razões inconscientes, que estão relacionadas à
estrutura da família. Alguns observadores sugeriram que o
Sul poderia conter maior proporção de famílias e persona
lidades autoritárias do que no Norte. Mas Thomas Pettigrew,
psicólogo social que se especializou em relações raciais, há
muito argumentou que a segregação e os preconceitos sulinos
são mantidos pela simples conformidade às normas sociais
predominantes naquela região (Pettigrew, 1959). Existem, na
turalmente, causas históricas, econômicas, sociológicas e psi
cológicas que deram origem a essas normas raciais mas, de
acordo com Pettigrew, a simples conformidade é a respon
sável primeira pela sua manutenção. Visto queaprescrição
para mudanças sociais seria diferente para os dois casos, é
importante saber que teoria está correta. Se a teoria da
personalidade autoritária estiver certa, o único caminho para
mudanças sociais duradouras poderia ser a psicoterapia de
massa. Se as hipóteses sobre a conformidade estão corretas,
o curso prescrito de ação seria mudar as normas sociais
através das opiniões dos líderes. Por essa razão, Pettigrew
testou as duas teorias.
Empregando o questionário originalmente desenvolvido
para medir o autoritarismo, Pettigrew descobriu que os su
listas não são mais autoritários que os do norte. Além disso,
verificou que os sulistas preconceituosos contra o negro não
133
6
mantêm, necessariamente, preconceito contra outros grupos
externos, como a teoria do autoritarismo o exige. Na rea
lidade, o Sul, assim como o Oeste, é uma das regiões menos
anti-semita dos Estados Unidos. Uma amostra de adultos
brancos da Louisiana mostrou-os bastante favoráveis aos
judeus mas, ao mesmo tempo, desfavoráveis em relação aos
negros (Prothro, 1952). Finalmente, os veteranos oriundos
do Sul (cuja experiência no exercício os colocou em con
tato com normas sociais diferentes) são bem mais tolerantes
do que os não-veteranos, apesar dos veteranos, tanto do
Norte como do Sul, serem mais autoritários.
A hipótese da conformidade de Pettigrew é também con
firmada pelo resultado que obteve de que os indivíduos mais
conformados às normas sociais, em geral, também refletem
mais as normas locais referentes às atitudes raciais. Por
exemplo, mulheres (que, em geral, parecem mais conformistas)
são no Sul mais significantemenle racistas do que os homens,
mas não no Norte — onde as normas sociais não sancionam
tais sentimentos. No mesmo sentido, os informantes sulinos
identificados como politicamente independentes toleram mais
os negros do que os considerados democratas ou republica
nos. Neste caso também, tais diferenças não foram encon
tradas na população do Norte. Finalmente, no Sul, onde
freqüentar igreja é uma norma social forte, aqueles que o
fazem regularmente são mais racistas.
A hipótese da conformidade esclarece porque o padrão
das práticas raciais desafiava qualquer tipo de lógica. Por
exemplo, os mineiros de carvão negros e brancos de
McDowell, West Virginia, em 1952, praticavam a integração
embaixo da terra e uma quase completa segregação na su
perfície (Minard, 1952). No Sul, indivíduos que vinham
se ajustando muito bem à integração no ônibus e nos cursos
públicos de golfe se opunham à integração na escola pública.
E se este padrão parecer lógico, considere então Nashville,
134
onde os cidadãos estavam aceitando a integração escolar,
mas se opondo à integração nos balcões de lanche. Natu
ralmente, é verdade que em cada um desses casos alguns
indivíduos eram coerentes. Por exemplo, estimou-se que
cerca de 40% dos mineiros de West Virginia comportavam-
-se coerentemente de um modo tolerante ou intolerante tanto
acima quanto abaixo da terra. Mas restam 60% que podiam
facilmente se acomodar a uma norma ditando segregação
ou integração.
Todos esses resultados apoiam a teoria da conformidade
de Pettigrew e sugerem ainda que a segregação poderia aca
bar sem muita confusão se os líderes de opinião, aqueles
que estabelecem as normas sociais para o resto da comu
nidade, pudessem ser induzidos a concordar. Isto é exata
mente o que os psicólogos sociais disseram quando foram
procurados pelos políticos. Assim, usualmente se prescreve
que a integração seja iniciada simultaneamente em toda uma
fábrica ou comunidade ou se isto não puder ser feito, que o
seja primeiro junto aos líderes de opinião (nos níveis de
gerencia de uma fábrica, por exemplo, ou na classe média
alta de uma comunidade). Este processo levaria à criação
da norma para a “tropa”. Tal parece, naturalmente, contrá
rio à sabedoria convencional: “Nossos operários brancos se
ressentiriam de negros em posições de gerência; integrare
mos primeiro a linha de produção”. Ainda mais freqüente
mente, é claro, o parecer pode contrariar os interesses dos
líderes de opinião que prefeririam continuar segregados. De
fato, foi a tentativa de integrar as escolas de classe mais
baixa e da classe média baixa, sem atuar simultaneamente
nas escolas de classe média superior, que contribuiu para a
crise racial de Little Rock. Arkansas, e New Orleans. Os
líderes de opinião descobriram que nem sempre podiam se
livrar com “faça-como-eu-digo-não-como-eu-faço”, visto que
c o que fazem que estabelece as normas.
135
No Capítulo VI, notei que a legislação e as decisões da
corte podem mudar “os corações e as mentes dos homens”
porque, quando o comportamento for modificado, o novo
comportamento fornece uma fonte de evidência observável
sobre a qual podem ser elaboradas novas crenças e atitudes,
Existe uma segunda razão do por que a coação legal da igual
dade racial está colocada em fundamentos psicológicos ade
quados: tal execução compulsória representa um empurrão
no sentido de maior coerência cognitiva com os principais
valores da nossa sociedade. Em terceiro lugar, em contraste
com a proibição de bebidas alcoólicas e as tentativas recen
tes de conter o uso de marijuana, a exigência de justiça ra
cial é dirigida a comportamento que é público e não privado.
Estamos agora em posição para tomar o quarto e último passo
deste argumento, notando que a exigência legal de igualda
de racial se dirige para atitudes e comportamentos que têm
suas raízes primariamente na aquiescência a normas sociais,
não em dinamismos inconscientes freudianos. Por todas essas
razoes acreditamos agora e somos de opinião de que as deter
minações estatais podem, realmente, modificar os costumes
populares.
GRUPOS DE REFERÊNCIA
136
crcnças, atitudes e comportamentos através do uso da recom
pensa e punição social. Existe uma segunda maneira, e mais
tu til, através da qual os grupos podem nos influenciar: for
necendo-nos um quadro de referência pelo qual comparamos
e avaliamos nossas reações às coisas, isto é, de grupos que às
vezes nos fornecem óculos através dos quais olhamos para
o mundo. Qualquer grupo que exerce um dos dois tipos de
influência — isto é, qualquer grupo ao qual o indivíduo se
refere para comparar, julgar e decidir sobre suas opiniões e
comportamentos — é indicado como sendo seu grupo de
referência.
Um indivíduo necessariamente não pertence a todos os
seus grupos de referência. Por exemplo, como mostrou a
discussão na seção anterior, os sulistas brancos da classe
média baixa freqüentemente usam os membros da classe
média das suas comunidades como seu grupo de referência
em assuntos raciais. Do mesmo modo, os norte-americanos
negros usaram no passado o quadro de referência dado pelos
norte-americanos brancos na avaliação de seu próprio va
lor; só recentemente a comunidade negra fez um esforço
consciente para dar aos seus membros um grupo de referên
cia diverso, uma alternativa da sua etnogenia.
O peso de um grupo de referência se toma particular
mente claro quando uma influência de fora tenta seduzir um
indivíduo e afastá-lo das normas do grupo. Em um estudo
de Kelley e Volkart (1952) um grupo de escoteiros ouviu um
discurso feito por um adulto que criticava a ênfase que o
escotismo emprestava ao acampamento e aos trabalhos em
madeira. Medidas de atitude, feitas antes e depois do discur
so, mostraram que aqueles que valorizavam sua participação
no escotismo mostraram menor modificação em suas atitudes
favoráveis ao acampamento e trabalhos com madeira. Um
estudo correlato, realizado por Kelley e Woodruff (1956)
demonstrou que se o grupo de referência de um indivíduo
137
parece mudar seu espírito, é provável que também o indi
víduo o faça. Esses pesquisadores fizeram com que um grupo
de alunos de uma faculdade de educação progressista ouvisse
um discurso gravado que exortava a volta a métodos de
ensino mais tradicionais do que os advogados pelos chama
dos educadores progressistas. Esses alunos ouviram o dis
curso ser interrompido sete vezes por aplausos da audiência
presente à conferência. Metade dos alunos foi informada de
que a audiência era composta de membros da sua própria
faculdade; a outra metade, de que a audiência se compunha
de pessoas da cidade. Os resultados mostraram que os alunos
que acreditavam ser a audiência que aplaudia composta de
membros do seu próprio grupo de referência mudaram suas
opiniões sobre a educação progressista na direção advogada
pelo discurso mais do que o fizeram os alunos que acredita
vam ser os aplausos de “pessoas de fora”.
138
a decisão da Suprema Corte sobre a oração nas escolas pú
blicas, como fez a maioria das organizações judaicas, ao
contrário da maioria das organizações de veteranos? (Eles
a apoiaram.) Deveriam opor-se ao falecido Dr. Martin
Luther King, Jr., cujas atividades em prol dos direitos civis
receberam apoio de muitas organizações judaicas, quando
ele atacou o envolvimento dos Estados Unidos no Vietnam?
(Eles se opuseram a ele.) Certamente as reuniões políticas
dessa organização devem ser mais estimulantes do que aque
las das outras organizações de veteranos -— organizações
cujas afirmações políticas poderiam ter sido muito bem to
madas por um programa de computador. 1
Os judeus, naturalmente, não são os únicos que por
vezes se deparam com situação de “pressão-cruzada” por
grupos de referência conflitantes. Na eleição presidencial de
1960, os eleitores mais difíceis de prever eram os protestan
tes fundamentalistas que se registravam também como de
mocratas, e o Católico Romano, registrado como republi
cano. Estes eleitores votariam para o católico Kennedy ou
para o republicano Nixon?
Mas existe um choque de grupo de referência que so
bressai entre todos os demais: o conflito experimentado pe
los judeus jovens entre o grupo de referência familiar e o
grupo de referência formado pela sua universidade ou seus
companheiros. O mais importante e amplo estudo do con
flito entre esses dois influentes grupos de referência foi o
de Bennington, um exame das atitudes políticas de toda a
população do Bennington College, uma universidade femi
nina pequena e muito liberal. O estudo foi concebido e
executado por um psicólogo social, Theodore M. Newcomb,
139
membro do corpo docente de Bcnnington na época. As datas
da primeira parte do estudo, 1935 a 1939, constituem um
lembrete útil para os que só agora estão descobrindo a la
cuna entre gerações; o estudo de Bennington pode ser con
siderado como o primeiro exame-empírico sério desse fe
nômeno venerável.
Três são as partes do estudo de Bennington. Primeiro,
Newcomb examinou as atitudes políticas das mulheres de
Bennington durante os anos de 1935 a 1939 (Newcomb,
1943). Então ele e vários colaboradores acompanharam a
maioria dessas mulheres um quarto de século depois, em 1961
e 1964, para ver sc suas posições políticas haviam mudado. E
finalmente ele e seus colaboradores voltaram a Bennington
no início dos anos 60 para ver como as normas da institui
ção e seu corpo discente haviam mudado (Newcomb, Koenig,
Flacks e Warwick, 1967). O estudo de Bennington não é
somente a pesquisa mais extensa realizada sobre grupos de
referência, mas também uma das pesquisas mais ambiciosas
e importantes sobre crenças e atitudes em geral. Considera
remos aqui as duas primeiras partes do projeto.
A reputação liberal do Bennington College é agora tão
divulgada que tende a atrair alunos que já são liberais em
potencial. Em 1960, por exemplo, a maioria dos pais que
mandavam suas filhas para Bennington, estavam fitiados ao
Partido Democrata. Mas, em 1935, o primeiro ano que
Bennington teve uma classe de último ano, a maioria das
mulheres provinham de lares conservadores — lares, deve-
-se notar, que tinham recursos para mandar suas filhas a
uma universidade dispendiosa durante os anos de depressão.
Assim, em contraste com os anos 60, em 1936 mais de dois
terços dos pais eram filiados ao Partido Republicano. A
atmosfera liberal estava presente em Bennington durante os
anos 30, mas não era então uma das razões porque a maio
ria das mulheres a escolheu.
140
O principal resultado do primeiro estudo foi que cada
classe de alunas se tornou cada vez mais liberal politica
mente durante seus quatro anos em Bennington. Por exem
plo, na campanha presidencial de 1936, na qual cerca de
66% dos pais das alunas apoiavam o candidato republicano,
Landon (em oposição ao democrata Roosevelt), aquele era
apoiado por 62% das calouras de Bennington, 43% das se-
gundanistas e apenas por 15% das juniors e seniors.
As entrevistas com as alunas revelaram claramente
que seu liberalismo crescente refletia uma escolha deliberada
entre os dois grupos de referência oponentes e entre as re
compensas sociais contingentes a essa escolha. Afirmações
como a seguinte eram típicas:
141
Eu queria discordar de todos esses liberais ruidosos, mas
temia não poder. Então, construí uma parede dentro de mim
contra o que diziam. Verifiquei que não podia competir, por
tanto, decidi manter as idéias de meu pai. Durante dois anos
eu me isolei contra todas as influências da universidade (pág. 119).
142
e mantiveram o liberalismo simplesmente como meio de ga
nhar aceitação ou de se revoltar contra os pais. As influên
cias “intelectualmente respeitáveis” também desempenharam
um papel importante.
A influência combinada de fatores sociais e intelectuais
foi mencionada pelas próprias alunas nas entrevistas: “Não
demorei muito a ver que as atitudes liberais tinham valor
de prestígio. . . . A princípio tomei-me liberal devido ao
prestígio; continuei a sê-lo porque são importantes os pro
blemas sobre os quais meu liberalismo se ergue. O que eu que
ro agora é ser capaz de resolver esses problemas.” Uma outra
aluna colocou isso da seguinte maneira: “Eu queria aceitar
as idéias liberais . . . que predominam aqui. Mas tive que
me assegurar que eram minhas, e assim passei vários perío
dos trabalhando em organizações da esquerda. Agora sou
mais crítica, e o que acredito é meu.” E, finalmente: “O
prestígio e o reconhecimento sempre significaram tudo para
mim. . „ . Mas suei sangue tentando ser honesta comigo
mesma, e o resultado é que realmente sei o que quero que
minhas atitudes sejam e que conseqüências trarão para mi
nha própria vida”. (Veja Newcomb, 1943, págs. 136-137).
Como sugere este último comentário, as conseqüências
a longo prazo são as provas reais das novas crenças e ati
tudes. O liberalismo aprendido na universidade é apenas
uma base passageira ou se manterá quando os alunos a deixa
rem e voltarem para o “mundo real”? A segunda parte do
estudo, realizada entre 1961 e 1964, demonstrou que o li
beralismo das alunas de Bennington se manteve: a maioria
das egressas de Bennington permaneceram liberais. Por
exemplo, na eleição presidencial de 1960, Kennedy foi apoia*
do por 60% daquelas que se haviam formado por Bennington
nos anos 30. Como forma de comparação, estimou-se que
Kennedy foi preferido por menos de 30% das mulheres nor-
te-americanas mais semelhantes às formadas por Bennington,
143
isto é, por mulheres de meia idade, com educação universi
tária, protestantes, do nordeste dos Estados Unidos e perten
centes ao 1% da população sócio-economicamente dominan
te (Newcomb e colaboradores, 1967, pág. 48). Em outras
palavras, as formadas por Bennington tenderam duas vezes
mais a preferir Kennedy a Nixon em confronto com as mu
lheres de mesma situação que não freqüentaram B en n in g to n
25 anos antes. Resultado similar colheu-se da eleição pre
sidencial de 1964, na qual cerca de dois terços da popu
lação total de “mulheres como as graduadas de Bennington
dos anos 30” preferiram Johnson a Goldwater. Entre as
diplomandas por Bennington, a preferência por Johnson foi
de 90°/o (Newcomb e colaboradores, 1967, pág. 49).
As opiniões em outras matérias seguem o mesmo pa
drão. Por exemplo, 62% das formadas por Bennington con
cordavam em admitir a China Comunista nas Nações Unidas
em 1960; 85% apoiavam os piquetes e protestos dos estudan
tes negros; e 79% foram favoráveis ao plano Medicare, (Lem
bremo-nos de que estas eram posições muito liberais em
1960.) Finalmente, cerca de 60% haviam trabalhado para
um candidato ou organização política durante algum tempo,
depois de formadas em Bennington. O Partido Democrático
e outros partidos e candidatos da esquerda haviam recebido
ajuda de 66% dessas mulheres, enquanto que o Republica
no e outros partidos e candidatos da direita foram auxiliados
por somente 27%.
Newcomb e seus colaboradores sugeriram que as atitu
des políticas permaneceram estáveis durante os 25 anos, so
bretudo porque as mulheres selecionaram novos grupos de
referência — amigos e esposos — depois da universidade que
continuaram a reforçar as atitudes anteriores. Isto ocorreu
também com as conservadoras. Por exemplo, 67% das mu
lheres que se localizavam acima da média em conservado
rismo na universidade se casaram com homens que, em 1960,
144
preferiram Nixon a Kennedy. Somente 33% das mulheres
abaixo da média em conservadorismo se casaram com ho
mens que preferiram Nixon (Newcomb e colaboradores,
1967, pág. 61). O estudo de Bennington ilustra um princípio
geral que Newcomb antecipou: freqüentemente selecionamos
nossos grupos de referência porque eles compartilham nossas
atitudes e, por sua vez, os grupos de referência auxiliam a
desenvolver e manter nossas atitudes. A inter-relação é
circular.
Bennington não é a única universidade que ensina libe
ralismo político a seus alunos. Na realidade, parece que a
maioria dos cursos de artes liberais fazem o mesmo até certo
ponto. A National Review (1963) realizou um amplo levanta
mento de doze diferentes universidades do país, em 1961-62
e 1962-63. As escolas foram escolhidas de modo a repre
sentar um corte transversal dos vários tipos de instituições
educacionais que incluem um currículo de artes liberais.
De todos os segundanistas e veteranos, cerca de 70% re
latam que mudanças significativas ocorreram em suas cren
ças políticas desde que entraram na universidade, e dois
terços desses mudaram em direção oposta à maneira de
pensar anterior. Em todas as escolas, com exceção de duas,
a mudança operou-se em sentido liberal, e mesmo nas duas
exceções (Marquette e Brandeis) o corpo discente é predo
minantemente liberal. Em Marquette os alunos são mais
democráticos que seus pais, e em Brandeis os alunos pro
vêem de lares liberais (os pais dos alunos de Brandeis são
86°/» democratas e 11% republicanos), de modo que a per
centagem de alunos que passam de conservadores para li
berais c bem pequena. Somente 7% dos alunos de Brandeis
se consideram conservadores, e a maioria dos 16% que pas
saram a conservadores depois de entrar ali é como se tivesse
mudado de esquerda radical para a moderada.
145
Entre aqueles estudantes que no estudo da National
Review indicaram que suas crenças mudaram depois de en
trarem na universidade, 40% apontaram as aulas ou biblio
grafia lida para os cursos como o principal agente na mu
dança; o “aumento de preocupação com as questões políti
cas” foi citado por 70%; e 10% citaram “contato pessoal
com membros do corpo docente” como uma das influências.
A pesquisa tendeu também a mostrar uma correlação entre
os pontos de vista dos membros do corpo docente e o dis
cente. A National Review chegou assim à conclusão impe
cavelmente redigida: “A influência dos docentes de artes
liberais, então, é aparentemente um fator preponderante na
determinação da concepção política desses universitários,
cujos pontos de vista eram flexíveis por ocasião da matrícu
la” (pág. 281).
Se o leitor lê a National Review sabe que houve pouca
alegria na sala editorial quando esses dados chegaram. Mas
o editor William F. Buckley Jr. nunca perde a calma. A
National Review nunca diria em voz alta que “a influência
diabólica dos docentes esquerdistas de artes liberais é o prin
cipal fator na sedução das mentes maleáveis da nossa mais
fina juventude.” Mas deveriam estar pensando nisso.
148
G comportamento sexual é outro exemplo importante.
As tentativas mal dirigidas dos pais de controlar a conduta
sexual dos filhos com as nefastas admoestrações sobre as
doenças venéreas e a gravidez parecem ter declinado um
pouco nos últimos anos. Mas, quando os filhos os desafiam
a justificar sua posição contra as relações pré-matrimoniais,
poucos pais têm argumentos racionais “post-pílula” para
substituir os conselhos atemorizantes. O dilema dos pais
resulta do fato de que ensinaram os filhos a tratar das de
cisões sobre conduta como teoremas — isto é, como con
clusões cuja validade deve ser demonstrada. Desanimam,
então, quando os filhos persistem em tratar o julgamento
contra a relação sexual pré-matrimonial como se fosse discu
tível, deixando-os perceber que é um axioma e não um teo
rema. Este “fora” dos pais não escapa à observação dò
jovem.
Em tempos anteriores, o jovem freqüentemente violava
os ensinamentos paternos em assuntos sexuais, mas quase
sempre concordava que de fato estava se comportando mal.
Hoje, os jovens não pensam assim. Interrogaram-se alunas
de colégios mistos e suas mães sobre a importância que da
vam à virgindade da mulher ao casar-se. Entre as mães, 88%
disseram que era “muito importante”, mas apenas 55% de
suas filhas concordaram; 13% acharam que “não é impor
tante”, mas nenhuma mãe concordou (Bell e Buerkle, 1961).
Para muitos pais, essas discordâncias significam um
grave aumento na freqüência de relações sexuais entre os
jovens, aumento de promiscuidade, desumanização do ato
sexual e ausência de um código moral. Para a maioria dos
quartanistas universitários significa pequena mudança na
freqüência de relações sexuais, um decréscimo na promiscui
dade, humanização do ato sexual e a emergência de um có
digo moral mais forte.
149
7
A evidência está do lado dos jovens. As pesquisas mos
traram que a freqüência de carícias e relações pré-matrimo-
niais aumentou rapidamente durante os anos 20 e não mudou
muito depois (Bell, 1966). A freqüência de relações sexuais
entre pares fixos ou comprometidos aumentou um pouco.
Mas isto é tudo. A promiscuidade, dormir com muitos par
ceiros, parece ter diminuído para homens e mulheres (Smigel
e Seiden, 1968), e as prostitutas estão reclamando que não
têm clientes com menos de trinta anos.
Mas os valores mudaram desde os anos de 1920. “O
que era feito por uma mulher em 1925, agindo como uma
rebelde e uma transviada, pode ser feito por uma conformis
ta em 1965” (Reiss, 1966, pág. 126). Se uma revolução
sexual ocorreu na última década no campus, é menos uma
revolução no comportamento do que uma revolução na ética
que o governa. Os estudantes estão desenvolvendo uma ética
sexual baseada não sobre uma distinção pré ou pós-matri-
monial, mas na qualidade do relacionamento pessoal entre as
duas pessoas. Os valores subjacentes à conduta sexual são
cada vez mais a franqueza, a honestidade e a igualdade nas
relações pessoais. Muitos pais fizeram o máximo para insti
lar esses valores, mas nem todos se mostram entusiasmados
com as conseqüências específicas que derivam do seu êxito.
Assim, a crença de que os pais perdem na competição
entre os grupos dc refcrcncia é apenas em parte verdadeira.
Em nossa sociedade, o ambiente do lar ainda parece ser o
mais importante agente socializador, mesmo que os pais se
jam incapazes de reconhecer o produto final. Na próxima
seção, veremos mais evidências do profundo e penetrante
efeito da influência dos pais sobre o sistema de crenças dos
filhos. Veremos que o jovem é menos freqüentemente “li
berado” do que diz. A moral dessa seção, portanto, é a de
que a lacuna entre as gerações começa no lar. Os professores
universitários merecem apenas parte do crédito.
150
O ESTUDO DO CASO DE UMA IDEOLOGIA NÃO-
-CONSCIENTE: PREPARANDO A MULHER PARA
CONHECER SEU LUGAR
151
I
mais sutil e mais profunda. É também o tipo mais difícil de
enfrentar porque permanece invisível. Mesmo aqueles que
se consideram suficientemente radicais ou intelectuais para
rejeitar as premissas básicas de uma ideologia social deter
minada encontram seus sistemas de crenças repletos de seus
remanescentes.
De acordo com nosso ponto de vista, não há melhor
ideologia que exemplifique esses pontos do que as crenças e
atitudes da maioria dos norte-americanos em relação à mu
lher. Não somente a maioria dos homens e mulheres da
nossa sociedade possuem preconceitos sobre o papel “natu
ral” da mulher, mas essas crenças não-conscientes motivam
um conjunto de práticas sutis que são dramaticamente efeti
vas em mantê-la “no seu lugar”. Mesmo os norte-america
nos liberais, que insistem que uma pele negra não devia cons
tituir a única maneira de qualificar seu dono para um servi
ço de contínuo ou empregada doméstica, continua a supor
que a posse de um útero qualifica sua dona precisamente só
por isso.
Considere, por exemplo, a primeira rebelião dos alunos
na Columbia University, ocorrida na primavera de 1968. O
leitor se recordará de que os esíudantes da esquerda radical
tomaram alguns edifícios da administração em nome dos ideais
igualitários que acusavam a universidade de desprezar. Aqui
estavam os militantes mais ativos da causa dos ideais iguali
tários que se poderia encontrar. Mas, logo depois de ocupa
rem os edifícios, os militantes masculinos candidamente se
voltaram para as suas irmãs-de-armas e lhes atribuiram a
tarefa de preparar a comida, enquanto eles — os homens —
iriam talvez planejar outras estratégias. A resposta que re
ceberam foi merecida e o fato das tarefas domésticas atrás
das barricadas terem integrado os sexos naquele dia é um
tributo duradouro à consciência de classe das senhoras da
esquerda.
152
Mas essas companheiras não são típicas, pois as afirma
ções sobre o papel “natural” da mulher são pelo menos tão
freqüentes entre mulheres como o são entre homens. Philip
Goldberg (1968) demonstrou isto pedindo a estudantes do
sexo feminino que classificassem uma série de artigos pro
fissionais de seis diferentes campos. Os artigos foram com
parados em dois livretos idênticos, apenas mudados os no
mes dos autores de modo que o mesmo artigo era atribuído
a um autor masculino (por exemplo, John T. McKay) num
livreto e a um autor'feminino (por exemplo, Joan T. McKay)
no outro. Pediu-se a cada estudante que lesse os artigos e
os classificasse de acordo com o valor, competência, persua
são, estilo, etc.
Como antecipara, Goldberg verificou que o mesmo arti
go recebeu classificação bem mais baixa quando era atri
buído a uma mulher do que quando o era a um homem. Ele
havia previsto esse resultado, pois os artigos geralmente tra
tavam de áreas do homem, como o direito e o planejamento
urbano, mas para sua surpresa as alunas também classifica
ram mais baixo os artigos de autores femininos tirados dos
campos da dietética e da educação primária. Era outras
palavras, essas mulheres classificaram os autores masculi
nos como melhores em tudo, concordando com Aristóteles
quando diz que “devemos considerar a natureza feminina
como afetada por uma imperfeição natural” . Repetimos in
formalmente esse experimento no nosso curso e descobrimos
que os alunos mostram o mesmo preconceito implícito con
tra autores femininos que as alunas de Goldberg. Essa é a
natureza de uma ideologia não-consciente!
É significativo que exemplos como esses podem ser en
contrados no mundo universitário visto que a geração atual
não tem o menor interesse na perpetuação de maneiras esta
belecidas de olhar para a maioria das questões, incluindo a
relativa ao papel da mulher. Como notamos em nossa dis-
153
cussão sobre conduta sexual, os universitários de hoje rejei
tam cedo aquelas atitudes dos pais que se chocam explicita
mente com os principais valores dos estudantes. Mas como
sugere o exemplo acima, acharam muito mais difícil des
prender-se de alguns aspectos mais sutis da ideologia do pa
pel do sexo que — como tentaremos agora demonstrar —
conflita com seus valores existenciais como quaisquer ordens
explícitas dos pais contra as quais se rebelaram. Examinan
do a ideologia norte-americana do papel do sexo dentro do
quadro de referência dos valores da juventude mais cons
ciente e sensível dos nossos dias, podemos ilustrar melhor o
poder e a penetração das influências sociais que produzem
as ideologias não-conscientes numa sociedade.
9
a ele será permitido desenvolver e realizar sua própria iden
tidade única, particularmente se for branco e da classe mé
dia. Mas se o recém-nascido for uma menina, podemos ge
ralmente prever com segurança como ela irá gastar seu tem
po 25 anos depois. Sua individualidade não precisa ser con
siderada porque será irrelevante.
A socialização do homem norte-americano também de
marcou-lhe determinadas opções. Os homens são desencora
jados dc desenvolver certos traços, como a ternura e a sen
sibilidade, assim como as mulheres de serem positivas e
“muito inteligentes” . Os meninos são encorajados à incom
petência em questões de cozinha e cuidado de crianças, co
mo as meninas o são em relação à matemática e ciência.
Um dos erros do primeiro movimento feminista deste
país foi o de supor que os homens eram santarrões e que as
mulheres deveriam alcançar a auto-realização assemelhan
do-se meramente ao homem. Mas esta não é a utopia que
as universitárias antevêem hoje. Ao contrário, a extensão
lógica do seu valor de auto-realização exigirá que a socie
dade crie suas crianças de tal modo que alguns homens ad
quirem a motivação, a habilidade e a oportunidade de ficar
em casa e criar os filhos, sem o estigma da peculiaridade.
Se ser dona-de-casa é tão encantador quanto o querem as re
vistas, então o homem deveria ter a opção de se tornar dono-
-de-casa. Mesmo que as tarefas domésticas não sejam tão
atraentes, provavelmente alguns homens nelas se realizariam
melhor do que em suas ocupações atuais.
E se realmente há diferenças biológicas entre homens e
mulheres na “criação”, nas suas motivações inatas para cuidar
de filhos, então isto irá se mostrar automaticamente na distri
buição final de homens e mulheres através dos vários pa
péis: relativamente poucos homens escolherão permanecer
em casa. O valor da auto-realização, portanto, não supõe
que deva existir igualdade de resultados, um número igual
162
de homens e mulheres em cada papel. Supõe que deveria
existir a variação mais ampla possível de resultado, coerente
com a amplitude das diferenças individuais entre pessoas, in
dependentemente do sexo. E, por fim, o valor da auto-rea
lização parece supor que a sociedade devesse criar seus ho
mens de modo que pudessem realizar suas próprias identi
dades em atividades menos remunerativas do que aquelas
realizadas pelas suas esposas, sem o sentimento de estar “vi
vendo às custas da esposa”. Raramente se ouve de uma
mulher que ela “está vivendo às custas do marido”.
Assim, é verdade que as opções dos homens estão tam
bém limitadas pela nossa ideologia do sexo, mas como o
“teste de previsibilidade” revela, é ainda a mulher cuja iden
tidade é tomada irrelevante pelas práticas de socialização
norte-americanas. Em 1954, a Suprema Corte dos Estados
Unidos declarou que atrás do slogan “separados mas iguais”
havia uma fraude e uma burla. É improvável que uma corte
algum dia fará o mesmo com o lema mais sutil, que com
tanto êxito mantém as mulheres nos seus lugares: “com
plementar mas igual” .
164
Bendigo-vos, ó Senhor nosso Deus, Rei do Universo, por não
ter nascido um escravo.
Bendigo-vos, ó Senhor nosso Deus, Rei do Universo, por não
ter nascido uma mulher.
168
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169
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175
ÍNDICE ANALÍTICO
177
10
raciais (veja Racial, precon Centralidade das crenças, 24-26,
ceito) 33-37
Auto-conhecimento, (veja Auto- Cristãos,
-percepção) atitudes em relação à mulher,
Auto-percepção, J63-164
de crenças e atitudes, 92, atitudes raciais, 7, 54-61
99-119 Civis, direitos, (veja também In
de emoção, 85-93 tegração)
de fome, 90-91 atitudes em relação aos, 33-
hipótese da, 88-93 -37, 48-50, 53-61, 116-119
origens da, 86-88 decisões relativas aos, e o
teoria da, 96, 99-114 Supremo Tribunal dos Es
Autoritária, personalidade, 41-44 tados Unidos, 5-7, 114-115,
v. normas sociais de integra 163
ção, 132-136 execução legal dos, e mu
Avaliativas, crenças, 29-32 dança de atitude, 6-7, 95-
(veja também Atitudes) -96, 119, 136
Coerência cognitiva (veja Cogni
Básicas, crenças, (veja Primitivas,
tiva, coerência)
crenças)
Cognitiva, coerência, 7, 11-12,
Bem estar, programas de, atitu
45-69, 96-99
des de norte-americanos sobre,
encoberta, 53-61
64-68
entre atitudes e valores, 48-50
Bíblia, atitudes em relação à
entre comportamento e cren
mulher na, 163-164
ças ou atitudes, 95-99
Bode expiatório, teoria de pre
entre crenças, 45-49
conceito, 40-44
e atitudes políticas, 63-68
(veja também Racial, precon
e atitudes raciais, 53-61, 136-
ceito)
-137
Brandeis University, orientação
e racionalidade, 26-27, 50-53
política da, 145
estratégias para alcançar,
Casamento, papéis no, 163-168 52-53
Católicos, não-coerência, teorias de,
e a campanha presidencial de 61-69
I960, 139 teorias de, 45-46, 61-62, 96
atitudes raciais dos, 54-59 Cognitivas, dissonância, teoria.
Censura, 84 96-99, 114-115
178
(veja tam bém Cognitiva, coe 26-27, 33, 45, 61, 121, 122,
rência) 151-152
Collected Works de V. Lenin, 36 Crenças, mudança de (veja Atitu
Cohimbia University, rebelião de, mudança de)
estudantil de 1968, 152-153 Crenças
Comportamental, cientistas, 1, 7, avaliativas, 29-32 (veja tam
59-61 bém Atitudes)
Comunicador, credibilidade do, centralidade das, 24-26, 33-37
{veja Credibilidade) coerência das (veja Cogniti
Comunistas (veja também Políti va, coerência)
cos, partidos) definição, 12
atitudes em relação à liber fundamentos,
dade e igualdade, 36 cognitivos das, 7, 11-27
e autoritarismo, 43 comportamentais das, 7-8,
Condicionamento clássico, 73-85 95-103
Conformidade, 133-136 emocionais das, 7-9, 71-93
Conscience o f a Conservative, 36 psicológicos das, 1, 5-7
Conservadorismo, (veja Políticas, sociais das, 7-9, 121-168
atitudes) horizontal, estrutura das,
Comitê Médico Norte-americano, 23-24
22 inconscientes, 15, 40-44
Constituição (veja Estados Uni mudança de, (veja Atitude,
dos, Constituição dos) mudança de)
Consumidor, sindicato dos, 125- não-consciente, 15, 37-40,
-126 151-168
Corão, atitude em relação à mu ordem superior, de 21-26,
lher no, 165 32-33
Credibilidade, política (veja Política, ati
dos sentidos, 14-17, 25-26, tude)
85-86 primeira ordem, de, 15-17,
e auto-percepção, 101-106, 25, 32
111-112 primitivas, 11-21, 33, 85
e persuasão, 102, 123-128 religiosas, reja Religiosas,
em autoridade, 13, 16-17, 21- crenças)
22 vertical, estrutura, das, 21-27
Crenças, sistemas de, 8-9, 24-25, Criminal, investigação, 8, 107-114
179
Democrático, Partido, (veja P o ção na escola, 5-6, 115-116,
líticos, partidos) 163
Desegregação, 5-6, 9, 132-136 policial, interrogatório, 107-114
(veja ta m b ém Civis, direitos) E scobedo v, Illinois, 107
Determinismo, crença no, 59-61 M iranda v. A rizo n a , 107
Discriminação, orações nas escolas públicas,
contra a mulher, 9, 151-168 138-139
Estados Unidos, Senado dos, ses
racial (veja Racial, precon
sões sobre investigação crimi
ceito)
nal, 8, 107-111
Dissonância, teoria da ( veja Cog
Estereótipos
nitiva, dissonância, teoria da)
definição, 18, 21
“Determinações estatais” e “cos
de homossexuais, 20-21
tumes populares”, 6, 95, 119,
de judeus como Novayorki-
136
nos, 18
Droga, uso de,
de mulher, 151-168
marijuana e LSD, 27, 91-93
racial, 18-19 (veja tam bém
pais-filhos, conflito entre,
Racial, preconceito)
devido à, 27, 148-149
Estímulo, generalização (veja Se
Emoção, auto-percepção de, 85- mântica, generalização)
-93 Etudantes da universidade
E scobedo v. Illinois, 107 ativistas, 147-149
Estados Unidos, Constituição dos, atitudes e valores de, 139-168
e os direitos civis, 5 Etnocentrismo, 42 (veja tam bém
F ifth A m en dem en t, 107, 113- Racial, preconceito)
-114 Extinção de respostas emocionais,
79-85
Estados Unidos, governo dos,
atividades de bem estar, ati Extinção, terapia de, 82-85
tudes de norte-americanos em Falsas confissões, 107-114
relação às, 63*68 Facistas,
Estados Unidos, Supremo Tribu atitudes em relação a liber
nal dos, 1 dade e igualdade, 36
e direitos civis, racial, preconceito, 40-44
1896 decisão “separados-mas- Federal, atividades do Governo,
-iguais”, 5-6 atitudes de norte-americanos
1954 decisão sobre integra em relação às, 60-68
180
Federal Trade Comission, estudo interpessoal, 149-150, 154,
da aspirina da, 123 163-168
“Feias”, palavras reações emo Incoerência (veja Cognitiva, coe
cionais a, 8, 75, 80 rência)
Feminista, movimento, 161-162 Indutivo, raciocínio, 22, 26
Fifth A m endem ent da Constitui Inconsciente, crenças v. crenças
ção dos Estados Unidos, 107, não-conscientes, 14
113-114 Inconscientes, valores, 37, 40-44
Fisiológicas, respostas, a crenças Influência, (ve/a Social, influên
e atitudes, 71-93 cias)
Fome, auto-percepção da, 90-91 Integração, racial, 5, 9, 51, 132-
F, escala, 43 -136 (veja também Civis, direi
tos)
Gallup, organização de pesquisa
Interpessoal, igualdade, 150, 154,
de opinião, 63
163-168
Galvânica, resposta, da pele, 72-
Interpessoal, influência, 130-132
-73, 76
(veja também Social, influên
Generalizações,
cias)
e esteriótipos, 17-21
Inter-racial, contatos, 19 (veja
indutivas, 22-27
também Racial, relações)
Generalização semântica, 75-79,
83 Interrogatório, policial, 8, 107-114
Geração, distância entre, 9, 139- Jewish War Veterans, organiza
-140, 146-150 ção, 139
GSR, 72-73, 76 John Birch Society, atitudes em
H ead Start, Programa, atitudes relação a liberdade e igualda
de norte-americanos em rela de da, 36
ção ao, 65 Journal of the American Medicai
Association, relatório sobre
Homossexuais, 12, 20-21, 72, 121
aspirina no, 124
Horizontal, estrutura, das cren
ças, 23-24 Judeus
atitude em relação aos, 41-
Ideologias, não-conscíentes, 9, -44, 134
151-168 atitude em relação à mulher,
Igualdade, 164-165
e liberdade, valores de, 11, jejum no dia do Perdão, 8,
33-37, 48-50 91
181
pais-filhos, discordância en atitudes dos ex-atunos do
tre, em relação às leis die Bennington College em re
téticas, 146-148 lação a, 144
referência, grupos de, 121, M ein K a m p f, 36
138-140 Meio de comunicação de massa
esteriótipos de, como No- e esteriótipos raciais, 20
vayorkinos, 18 e persuasão, 8, 101-102, 123-
-132
Ku Klux Klan, atitudes em re Minoritários, grupos (veja Negros
lação a liberdade e igualdade
norte-americanos, Hom osse
da, 36
xuais, Judeus, Mulher)
Liberalismo (veja Políticas, ati M iranda v. A rizo n a , 107
tudes) Mudança de crenças e atitudes
Liberdade e igualdade, valores {veja Atitude, mudança de)
de, 11, 33-37, 48-50 Mulher
Livre arbítrio, crença no, atitudes em relação à, no
Novo Testamento, nas ora
e ideologia do papel do sexo,
ções judaicas, e no Corão,
157-159
163-165
e atitudes raciais, 54-61
ideologia norte-americana
Little Rock, Arkansas, crise ra
em relação à, 2-3, 9, 151-
cial em, 5, 135
-168
Lógico v. psico-lógico, 12, 26-
status da, comparado com o
-27, 61
de norte-americanos ne
LSD, 91 (veja tam bém Droga,
gros, 152, 157-158, 163,
uso de)
167-168
Madison Avenue, 102, 129
Não-conscientes, crenças, 14, 37-
Marijuana, 12, 27, 91, 148 (veja -40, 151-168
tam bém Droga, uso de) v. inconscientes, crenças, 14
Marquette University, orientação Não-conscientes, ideologias, 9,
política da, 145 151-168
Médica, profissão, duas etapas Não-conscientes, valores, 37-40
da comunicação na, 130-132 Não-coerência, teoria da, 61-69
M edicare N ation al A ssociation fo r the A d
atitudes de norte-americanos vancem ent o f C olo red P eople,
em relação a, 63-64 82
182
National Review , survey de ati (veja também Social, influên
tudes políticas no campus, 145 cias)
-146 Poder Negro, 11, 30, 52-53, 62
Nazista, Alemanha, 41-46 (veja Policial, interrogatório, 8, 107-114
também Facista) Policial, o, e esteriótipos raciais,
Negros (veja Norte-americanos 19-20
negros) Políticas, atitudes,
N ew D eal, atitude de norte-ame de estudantes ativistas e seus
ricanos em relação ao, 64-65 pais, 147-149
New Politics, 7, 37-40 de judeus, 122, 138-139
New York Times, 13, 24 dos autoritários, 42-43
Norte-americano negro dos cientistas do comporta
auto-estima do, 115-117 mento, 59-61
atitudes dos cristãos em re dos Cristãos, 54-61
lação ao, 54-61 do público norte-americano,
grupos de referência do, 137 63-68
N ovo Testamento, atitudes em e a “new politics”, 37-40
relação à mulher no, 163-164 incoerência entre, 63-68 (ve
Nudez nos meios de comunicação ja também Cognitiva,
de massa, 6-8, 84-85 coerência)
nos campus de college nor
Opinião, mudança de (veja Ati
te-americano, 139-146
tude, mudança de)
operacional v. ideológico,
Opinião, líderes da, 130-136
liberalismo e conservado
Opinião, moléculas de, 69
rismo, 63-68
Opiniões, coerência das (veja
valores subjacentes às, 33-40
Cognitiva, coerência)
Políticos, partidos (veja também
Ordem-superior, crenças de, 21-
Políticas, atitudes)
-24, 30-33
filiação dos cientistas do
Pensamento desejoso, 50-52 comportamento, 60
Papel, desempenhado de, filiação dos estudantes do
e mudança de atitude, 95-119 college e pais, 140, 143-
Papel da mulher, 151-168 ( veja -144, 145
também Mulher) Preconceito
Percepção (veja Auto-percepçao) contra a mulher, 151-168
.Persuasão, 8, 101-102, 123-132 (veja também Mulher)
183
racial (veja Racial, precon gros, Civis direitos, Judeus)
ceito) desegregaçSo, 5-6, 9, 132-136
Premarital, relações sexuais, ati inter-racial, contatos, 19
tudes em relação a, 147-150 poder negro, 11, 30, 52-53,
Presidencial, campanhas 62
influência dos meios de co preconceito (veja Racial,
municação de massa, 128 preconceito)
de 1960 “preto” v. “negro”, reações
católicos e protestantes, emocionais em relação a,
eleitores, 139 81-82
preferências dos ex-alunos racial, estereótipos, 18-20
do Bennington College, “separados-mas-iguais”, a
143-144 doutrina, 5, 163
de 1964, 65, 67, 71, 93, 143- Racial, preconceito (veja tam
-144 bém Raça, relações entre)
preferência dos ex-alunos anti-semitismo, 7, 41-43, 134
do Bennington College, autoritária, personalidade, teo
144 ria da, 41-43, 133-134
de 1968, 39, 67 contra norte-americanos ne
a “new politics”, 37-41 gros, 19, 54-61, 72, 116-
“Preto v. N egro” , reações emo -119, 133-135
cionais a, 81-82 (veja também Norte-america
Primeira-ordem, crenças de, 15- nos negros)
-17, 24-26, 32-33 e crenças religiosas cristãs,
Primitivas, crenças, 11-21, 33, 85 7, 53-59
Projeção, 41-43 emocional, componentes, do,
Protestantes 73, 75-79
atitudes raciais dos, 54-59 e normas sociais, 132-136
e a campanha presidencial de estereótipos, 18-20
1960, 139 inter-racial, contatos, 18
Psicanalítica, teoria Racionalização, 50-52
do preconceito racial, 40-44 Reed College,
e a “new politics”, 37-40 orientação política do, 122
Psico-lógica, 7, 12, 26, 50^53,
61-62 Referência, grupos de, 136-150
Raça, relações entre (veja tam Bennington College, o es
bém Norte-americanos ne tudo do, 139-145, 146-147
184
. conflito entre, 138-146 o meio de comunicação de
definição, 137 massa, 8, 20, 102, 123-132
Religiosas, crenças, opinião, líderes da, 130-137
e atitudes em relação à mu Socialistas, atitude em relação a
lher, 163-165 liberdade e igualdade de, 36
e atitudes raciais, 7, M-61 Socialização das diferenças entre
de cientistas do comporta os sèxos, 151-168
mento, 61 Supremo Tribunal (veja Estados
centralidade das, 24-26 Unidos, Supremo Tribunal dos)
como crenças primitivas, 17 Tabú, palavras, reações emocio
Republicano, Partido (veja Po nais a, 8, 75, 79-81
líticos, partidos) Televisão (veja M eio de comu
Richm ond Times-Dispatch, 5 nicação de massa)
Secregação, 5, 9, 51-52, 132-136 Teorias de coerência cognitiva
(veja tam bém Civis, direitos) (veja Cognitiva, coerência)
Semântica, generalização, 75-79, Teoria de dissonância cognitiva
83 (veja Cognitiva, teoria de dis
Senado, dos Estados Unidos, ses sonância)
sões sobre investigação de cri União Soviética, mulher profissio
me, 8, 107-110 nal na, 156-158
“Separado-mas-igual”, doutrina, 5, Valores, conflito de, pais-filhos,
163 (veja Gerações, distância en
Sexo, papel do, ideologia norte- tre as)
-americana sobre o, 151-168 Valores, 11-12, 32-44
Sexual, comportamento, e valo auto-realização, 33- 154-163
res, conflito entre país e filhos centralidade dos, 33-37
sobre, 147-150 coerência dos (veja Cogniti
Social, influências, 8, 121-168 va, coerência)
(veja tam bém Referência, gru~ definição, 33
pos de) de estudante do college, 139-
ideologias societárias, 151- -168
-168 de liberdade e igualdade,
interpessoal, contato, 130- 11-12, 33-37, 48-50
-132 amor à vida, 37-40
normas sociais, 8-9, 119, insconsciente, 37, 40-44
132-136 não-consciente, 37-40
185
Vertical, estrutura, das crenças, Violência nos meios de comuni
21*27 cação de massa, 6-7, 84
Veteranos, Yale University, estudo de atitu
atitudes políticas dos, 139 des na, 97-106
atitudes raciais dos, 134 Zero-ordem, crenças de, 14-17,
Vietnam, 11, 40, 84, 121, 139 22, 24, 33, 85
INDICE DE NOMES
187
Friedan, B., 102, 160 Landon, Alfred, 141
Fromm, E., 36, 38, 40 Lazar sfeld, P. F., 128, 130
Lenin, Vladimir I., 36, 37
Gerard, H. B., 22,
Levin, H., 155
Gilmore, J. B., 104
Levinson, D. J., 41
Glock, C. Y., 54, 55, 56, 57
Lewis, M., 155
Goldberg. P., 153
Lieberman, S., 114, 115
Goldberg, S., 155
Linder, D. E., 99
Goldman, R., 91
Lipsitz, L. L., 3
Goldwater, Barry, 36, 65, 67, 71,
Loewenton, E. P., 99
93, 144
Lott, A. J., 72, 73
Gore, P. M., 116
Gottesman, I. I., 159 Maccoby, E. E., 155
Gross, L. P., 90 Maccoby, M., 37, 38, 40
Madaras, G. R., 100
Hadden, J. K., 54, 55 Marshall, Thurgood, 20
Hammond, P., 99 Marx, G. T., 58
Hendrix, C. T., 3 Masters, D., 126
Hess, E. H ., 72 McCarthy, Eugene, 37, 38, 39
Hitler, Adolph, 36, 37 McCauley, C.} 99
Hovland, C. I., 76 McClintock, C. G., 60
Humphrey, Hubert H., 39 McClosky, H., 63
McConnell, H. K., 99
Jaffa, M., 91
McDavid, J. W-, 157
Jahoda, M., 43
McGaugh, J. L., 83
Janis, I. L., 104
McGuire, W. J., 46, 47, 49, 50,
Johnson, Lyndon B., 38, 144
53, 62, 127, 128
Jones, E. E., 22, 99
McPhee, W. N., 128
Jones, R. A., 99
Menzel, H., 132
Katz, E., 131, 132 Menzies R., 74
Kelley, H. H., 137 Mills, J., 99
Keniston, K., 68 Milton, G. A., 156
Kennedy, John F ., 139, 143, 144 Minard, R. D ., 134
Kennedy, Robert F., 39, 40 Morrison, J., 36
Kiesler, C. A., 99 Mott, F. L., 128
King, Martin Luther, Jr., 58, 139 Newcomb, T. M., 2, 62, 139, 140,
Koenig, K. E., 140 141, 143, 144, 145
188
Nisbett, R. E., 99 Seiden, R., 150
Nixon, Richard M., 39, 67, 139, Seltzer, A. L., 72
144, 145 Sheatsley, P. B., 117, 118
Shlien, J. M., 72
Pavlov, Ivan, 74
Singer, J., 88, 89
Peak, H., 48
Smigel, E. O., 150
Pettigrew, T. F., 2, 5, 116, 118, Spaulding, C. B., 60
133, 134, 135 Spock, Benjamin, 44
Piliavin, I. M., 99 Staats, A. W., 78
Piliavin, J. A ., 99 Staats, C. K., 78
Poitier, Sidney, 20 Stark, R., 54, 55, 56, 57
Porier, G. W., 72, 73 Stouffer, S. A., 115
Prothro, E. T., 134 Sumner, William Graham,
Rabson, A., 157 Tannenbaum, P. H., 62
Rachman, S., 83 Thomas, Norman, 36
Rand, Ayn, 36 Turner, H. A., 60
Reagan, Ronald, 39
Reiss, I. L., 150 Valins, S., 92
Volkart, E. H., 137
Rockefeller, Nelson, 39
Volkova, V. D ., 77
Roessler, R. L., 75
Rokeach, M., 13, 48, 49, 33, 34, Walker, E. L., 2, 74, 80
35, 36, 37, 43 Wallace, George C., 39
Roosevelt, Franklin D., 141 Warren, Earl, 115
Rosen, B. C., 146 Warwick, D. P., 140
Rosenberg, M. J., 7, 48, 51, 62, Watson, G., 123, 128
105 Wayne, John, 154
Rotter, J. B., 116 Woodruff, C. L., 137