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Correio
da
Educação


O
universo
mágico
dos
contos
de
fadas
(I)


Armindo
Mesquita1

Maria
de
Lurdes
Resende2


Introdução


A
 magia
 viveu,
 vive
 e
 viverá
 sempre
 nos
 contos
 maravilhosos.



Companheira
 inseparável
 do
 Homem
 desde
 os
 tempos
 primitivos,
 podemos

afirmar
 que
 continua
 a
 ter
 uma
 certa
 presença
 nas
 nossas
 vidas,
 invadindo
 o

nosso
quotidiano
sob
as
mais
diversas
formas
representações.
Todo
aquele
para

o
qual
o
racionalismo
não
é
resposta
para
as
suas
necessidades,
encontra
sempre

uma
 porta
 aberta,
 um
 “mundo
 outro”,
 inexplicável,
 sobrenatural,
 repleto
 de

magias,
 rezas,
 unguentos,
 crenças
 e
 rituais,
 que
 podem
 ser
 a
 cura
 “milagrosa”

para
os
males
que
lhe
atormentam
o
corpo
e
o
espírito.


Também
 a
 criança,
 para
 a
 qual
 a
 magia
 e
 o
 maravilhoso
 são
 parte



fundamental
 do
 crescimento
 psíquico,
 sobretudo
 nas
 primeiras
 idades,
 é

transportada
 para
 mundos
 fabulosos
 (personagens,
 cenários
 e
 intrigas
 que
 não

cabem
 no
 universo
 real)
 onde
 tudo
 é
 possível,
 simultaneamente,
 repletos
 de

significação
que
encontra
nestas
histórias.



O
 mundo
 maravilhoso
 das
 histórias
 encantadas
 permite
 à
 criança
 viajar



por
 países
 extraordinários,
 viver
 aventuras
 surpreendentes,
 encontrar‐se
 com

personagens
 prodigiosas,
 recorrer
 a
 fórmulas
 mágicas
 que
 conferem
 poderes


























































1
Docente da UTAD e Presidente do OBLIJ – Observatório da Literatura Infanto-Juvenil
2
Docente da Escola Básica 2, 3 de Penafiel N2 e Mestre em Literatura Infanto-Juvenil
Correio
da
Educação


admiráveis
 à
 linguagem
 («Abre‐te
 Sésamo»,
 «Abracadabra»),
 desvendar



segredos,
em
suma,
descobrir
tudo
o
que
é
susceptível
de
provocar
o
seu
espanto

e
curiosidade.
Não
poderíamos
estar
mais
de
acordo
com
as
palavras
de
Georges

Jean:
«Le
pouvoir
des
contes
est
pouvoir
de
fascination».
(1990:
198).


Neste
 quadro
 impõem‐se,
 quase
 que
 de
 uma
 forma
 espontânea,
 os

equívocos
entre
o
real
e
o
imaginário
que
levam
à
aceitação
de
todo
um
elenco

estereotipado
de
seres
sobrenaturais
que
povoam
grande
parte
da
literatura
oral

tradicional
 e
 que
 foram
 sendo
 adoptados
 e
 reelaborados
 pelo
 imaginário

popular,
 num
 contexto
 assinalado
 pelo
 misterioso
 e
 pelo
 inexplicável,
 que

caracteriza
 a
 vivência
 do
 Homem
 na
 sua
 relação
 com
 a
 terra
 e
 com
 a
 natureza.

Exercendo
 um
 fascínio
 renovado
 na
 sociedade
 contemporânea,
 estes
 seres

configuram
 um
 universo
 usualmente
 denominado
 «maravilhoso
 popular»,
 que

João
David
Pinto‐Correia
caracteriza
sinteticamente:



Características
 físicas
 e
 psicológicas
 mais
 próximas
 ou
 longínquas



em
 relação
 ao
 “normal”
 do
 dia‐a‐dia,
 poderes
 mágicos
 que
 mudam

abruptamente
 o
 destino
 não
 só
 dos
 protagonistas,
 como
 de
 todos
 os

mortais,
 metamorfoses
 de
 pessoas,
 de
 animais,
 de
 plantas
 e
 de
 objectos

encontram‐se
 convocados
 nessas
 intrigas
 mais
 ou
 menos
 longas
 que
 se

transmitem
 de
 geração
 em
 geração
 e
 desde
 os
 mais
 recuados
 tempos.

(2000:
10).


As
 mitologias,
 os
 textos
 fundadores
 da
 Humanidade,
 as
 composições



exemplares
 alimentaram‐se
 e
 continuam
 a
 alimentar‐se
 desses
 importantes

“ingredientes”.
 E,
 actualmente,
 sabemos
 que
 essas
 narrativas,
 esses
 vultos,
 por

mais
 excessivos
 que
 se
 apresentem,
 são
 essenciais
 à
 formação
 do
 homem,

transmitindo‐lhe
de
modo
mais
ou
menos
sub‐reptício
as
noções
fundamentais
de

que
 ele
 necessita
 para
 apreender
 a
 sua
 natureza,
 a
 sua
 “actividade”,
 os
 seus

valores.



Desse
universo
maravilhoso
nasceram
personagens
que
possuem
poderes

sobrenaturais,
 que
 se
 deslocam
 de
 um
 mundo
 para
 o
 outro,
 que
 sofrem

metamorfoses
 e
 que
 se
 defrontam
 com
 as
 forças
 do
 bem
 e
 do
 mal.
 E
 se
 há

personagem
 que,
 apesar
 do
 decorrer
 dos
 tempos,
 da
 mudança
 de
 costumes
 e

valores,
dos
progressos
tecnológicos
e
científicos,
continua
a
exercer
o
seu
poder

de
atracção
sobre
crianças
e
adultos,
essa
é,
certamente,
a
fada.

Correio
da
Educação


A
origem
das
fadas


O
 termo
 «fada»
 remonta
 ao
 grego,
 com
 a
 significação
 de
 «brilho»,



«fulgor»,
 tendo
 chegado
 até
 nós
 pelo
 latim
 através
 de
 «fatum»,
 lexema

pertencente
 a
 um
 campo
 semântico
 que
 engloba
 outras
 palavras
 como:
 fado,

fatal
 e
 fatalidade.
 Esta
 raiz,
 segundo
 Jesualdo,
 «parece
 explicar‐nos
 que
 quem

narra
 tais
 contos
 procura
 fazer
 brilhar
 as
 suas
 ideias,
 as
 expõe
 nas
 fábulas;
 o

destino
do
homem,
o
fatum,
é
o
brilho
que
lhe
dá
realce
e
o
determina»
(1978:

116‐117).


Nos
 países
 de
 língua
 românica
 a
 palavra
 «fatae»
 deu
 Fatas
 em
 Itália,

Hadas
 em
 Espanha,
 Fadas
 em
 Portugal,
 Fées
 em
 França
 e
 na
 língua
 anglo‐
saxónica
Fays,
o
que
comprova
essa
origem
comum.
E,
se
podemos
dizer
que
há

fadas
em
quase
todos
os
países
do
mundo
ocidental,
na
tradição,
no
folclore
e
nos

contos,
foi
nas
línguas
inglesa
e
francesa
que
os
termos
fairy
(de
fay)
e
féerie
(de

fée)
mais
se
divulgaram,
estando
a
condição
feérica
mais
ligada
ao
praticante
do

que
 aos
 destinatários
 (os
 seres
 fáes),
 embora
 não
 excluindo
 estes.


É
também
de
Inglaterra
e
França
que
nos
vem
um
mais
vasto
leque
de
nomes
e

de
 representações
 feéricas,
 a
 começar
 por
 Morgana
 (da
 Saga
 Arturiana)
 e

Melusina
(que
a
lenda
diz
ter
dado
origem
à
casa
de
Lusignan).



A
palavra
«fada»
ainda
integra
o
léxico
em
expressões
de
sentido
delicado

e
laudatório:
«trabalho
de
fada»,
«mãos
de
fada»,
«dedos
de
fada»
e
«fada
do
lar».


Filhas
 da
 imaginação
 popular,
 as
 fadas
 surgiram
 no
 declinar
 do

paganismo,
 herdeiras
 de
 determinadas
 peculiaridades
 que
 as
 crenças

mitológicas
haviam
atribuído
às
ninfas,
às
ondinas,
oríades,
dríades,
entre
outras.

Podemos
considerá‐las
irmãs
das
druidesas
entre
os
Celtas
e
das
valquírias
entre

os
 Germânicos.
 Em
 França,
 vemo‐las
 como
 “elementos”
 maravilhosos
 dos

romances
de
cavalaria.


As
fadas,
conforme
as
lendas
que
nelas
se
inspiram,
dispõem
de
poderes

mágicos,
 usados
 preferencialmente
 para
 beneficiar
 um
 afilhado,
 ou
 seja,
 um

indivíduo,
 cuja
 protecção
 lhes
 é
 confiada
 ao
 nascer.
 Podem
 cumulá‐lo
 de
 dons

Correio
da
Educação


admiráveis,
como
riqueza,
beleza,
fortuna,
poder,
para
mais
não
citar.
Presidem,

assim,
 à
 evolução
 de
 um
 destino
 e,
 daí,
 a
 origem
 do
 nome
 latino
 «fatum»
 ‐

destino.
Por
isso
se
diz
que
há
pessoas
bem
ou
mal
fadadas,
consoante
o
destino

que
lhes
está
traçado.


Mas,
de
onde
vêm
as
fadas?


Serão,
como
alguns
supõem,
encarnações
mitológicas?
Traduzirão
apenas

a
 experiência
 popular
 do
 povo
 na
 sua
 expressão
 mais
 simples?
 Procederão
 do

engenho
 dos
 anónimos
 mais
 dotados
 de
 imaginação?
 Ou
 identificar‐se‐ão
 a

símbolos
criados
para
exercer
uma
determinada
influência
mercê
dos
seus
feitos,

virtudes,
defeitos?


Apesar
 dos
 esforços
 de
 perseverantes
 pesquisas
 da
 mais
 diversa
 índole,

não
 tem
 sido
 possível
 determinar,
 com
 exactidão,
 o
 ponto
 geográfico
 ou
 o

momento
 temporal
 em
 que
 as
 fadas
 terão
 aparecido;
 o
 mais
 provável
 é
 terem

surgido
naquela
fronteira
ambígua
entre
o
real
e
o
imaginário,
que
vem
desde
a

origem
 dos
 tempos,
 atraindo
 desde
 sempre
 os
 homens.
 No
 entanto,
 algumas

delas
 oferecem
 certas
 pistas
 para
 uma
 possível
 explicação
 da
 sua
 presença
 na

vida
dos
homens.


Quanto
à
sua
origem
céltica,
ela
parece
não
suscitar
dúvidas
entre
para
os

investigadores,
 apesar
 das
 dificuldades
 práticas
 de
 tal
 delimitação.
 Sabe‐se
 que

esse
povo
se
concentrou
durante
séculos
na
Gália
e
se
foi
expandindo
e
fundindo

com
outros
povos.
Daí
a
irradiação
da
sua
influência
cultural,
no
que
respeita
à

convivência
 humana,
 à
 espiritualidade,
 à
 religiosidade
 e,
 mais
 amplamente,
 à

exaltação
 do
 «imaginário»,
 que
 acabou
 por
 ser
 mais
 profunda
 na
 Bretanha,
 no

País
 de
 Gales
 e
 na
 Irlanda.
 Por
 outro
 lado,
 fazem‐se
 referências
 às
 fadas
 como

personagens
 na
 literatura
 cavaleiresca
 surgida
 na
 Idade
 Média,
 nos
 lais
 da

Bretanha
 e
 nas
 novelas
 de
 cavalaria,
 de
 origem
 céltico‐bretã.
 Corrobora
 esta

teoria
 Nelly
 Novaes
 Coelho,
 que
 escreve
 que
 foi
 «no
 seio
 do
 povo
 celta
 que

nasceram
 as
 fadas
 [...]
 foi
 na
 criação
 poético‐bretã
 que
 surgiram
 as
 primeiras

mulheres
sobrenaturais
a
darem
origem
à
linhagem
das
fadas»
(1987:
31).

Correio
da
Educação


Seres
 misteriosos,
 elas
 sempre
 exerceram
 um
 enorme
 fascínio
 sobre
 os

homens
 e,
 por
 isso
 mesmo,
 foram
 muitos
 os
 autores
 que
 consagraram
 os
 seus

estudos
ao
desvendamento
dos
mistérios
que
as
envolvem.


Pierre
 Grimal
 (1992:
 335)
 relaciona
 as
 fadas
 com
 as
 Parcas
 (do
 latim

Parcae),
 divindades
 romanas
 que
 parecem
 ter
 sido,
 na
 origem,
 os
 espíritos
 do

nascimento.
 Ainda
 segundo
 Grimal,
 as
 três
 Parcas
 figuravam
 no
 Forum
 em
 três

estátuas,
vulgarmente
denominadas
“as
três
fadas”
(tria
Fata,
os
três
destinos).



As
 Parcas
 eram
 três
 deusas
 que
 «fiavam
 o
 destino
 de
 cada
 criança
 que

nascia,
 simbolizado
 por
 um
 fio
 que
 era
 puxado,
 medido
 e
 cortado.»
 (Cotterell

1998:
 41),
 ou
 seja,
 o
 comprimento
 desse
 fio
 representava
 a
 duração
 de
 vida

atribuída
a
cada
mortal.



Edith
 Hamilton
 refere,
 na
 sua
 obra
 intitulada
 A
 Mitologia,
 que,
 segundo

Hesíodo,
as
Parcas
eram
filhas
de
Zeus
e
davam
ao
homem,
quando
nascia,
o
bem

e
 o
 mal:
 «Eram
 três,
 Cloto,
 a
 Fiandeira,
 que
 fiava
 o
 fio
 da
 vida.
 Láquesis,
 a

Distribuidora
da
Sorte,
que
atribuía
a
cada
homem
o
seu
destino.
Átropos,
aquela

que
não
podia
voltar‐se,
portadora
das
“tesouras
abomináveis”,
que
cortavam
o

fio
da
vida.»
(Hamilton
1991:
56).


Poder‐se‐á
 relacionar
 esta
 crença
 com
 a
 fada
 dos
 contos
 que
 pode,

também,
dar
e
tirar
a
vida,
comandar
o
destino
das
personagens,
em
particular

do
herói.


As
 Parcas,
 como
 divindades
 do
 Destino
 (Fatum),
 surgem
 identificadas



com
 as
 Meras3
 gregas
 (Moirai),
 deusas
 cujo
 comportamento
 simbolizava
 o

cumprimento
 do
 destino.
 Fatum
 surge
 também
 como
 o
 deus
 do
 Destino,
 cujas

decisões
 eram
 irrevogáveis.
 Assim
 sendo,
 este
 vocábulo
 passou
 a
 designar
 as

divindades
do
destino,
as
Parcas.


Pierre
 Grimal
 enraíza
 nas
 Fata
 a
 designação
 de
 fadas:
 «É
 este
 nome
 de

Fata,
que
tomado
como
um
singular
feminino,
está
na
origem
do
nome
das
fadas

no
folclore
romano.»
(1992:
164).



























































3
As três Moiras da mitologia grega que distribuíam os destinos pelos mortais.
Correio
da
Educação


O
primeiro
autor
que
fez
alusão
às
fadas
foi
Pompônio
Mela,
geógrafo
do

século
I,
que
localiza
na
ilha
de
Sena
nove
virgens
dotadas
de
poder
sobrenatural,

comandando
 os
 ventos
 do
 Atlântico,
 protegendo
 os
 navegantes,
 assumindo

diversas
 encarnações
 e
 transformando
 os
 seres
 (Mantovani
 1974:
 10).
 Aliás,

Circe
já
o
fazia
segundo
o
testemunho
de
Ulisses
e
o
crédito
de
Homero,
se
bem

que
ela
tivesse
mais
de
feiticeira
do
que
de
fada.


As
fadas
teriam
sido
mencionadas,
pela
primeira
vez,
no
poema
«O
sonho

de
Rhonabry»4.
Este
é
um
dos
quatros
poemas
narrativos,
os
«Mabinogion»,
que,

surgidos
 por
 volta
 do
 século
 IX
 e
 pertencentes,
 igualmente,
 àquela
 fronteira

entre
o
real
e
o
imaginário,
se
encontram
entre
os
mais
antigos
documentos
da

poesia
primitiva
céltico‐gaulesa,
que
deu
origem
às
novelas
de
cavalaria
do
ciclo

arturianas.
 São,
 segundo
 Nelly
 Novaes
 Coelho,
 «relatos
 fantásticos,
 onde
 se

multiplicam
 os
 factos
 e
 seres
 maravilhosos,
 sortilégios,
 fadas,
 magos,

encantamentos
 e
 metamorfoses,
 animais
 monstruosos,
 paisagens
 irreais
 e

misteriosas»
(1987:
46).


Embora
 não
 se
 possa
 dizer
 que
 as
 fadas
 sejam
 deusas,
 há
 uma

proximidade
entre
elas
e
a
natureza
divina,
sobrenatural.
Elas
possuem
o
poder

de
 interferir
 no
 destino
 do
 homem


‐
veja‐se,
por
exemplo,
o
caso
dos
heróis
dos
contos
‐,
auxiliando‐o
em
situações

limites
 a
 nível
 humano,
 sobretudo
 quando
 já
 nenhuma
 solução
 natural
 se

afiguraria
possível.





 São
 descritas
 ou
 conhecidas
 como
 seres
 fantásticos
 ou
 imaginários,
 de

grande
beleza,
que
se
apresentam
sob
a
forma
de
mulher.
Podem
ser
angelicais,

difundindo
 o
 bem,
 ou
 encarnar
 o
 mal,
 representadas
 pela
 figura
 da
 bruxa.
 É

comum
referir‐se
que
a
fada
e
a
bruxa
são
formas
simbólicas
da
eterna
dualidade

da
mulher
ou
da
condição
feminina.



























































4
«Trata‐se
 do
 episódio
 da
 luta
 contra
 os
 romanos,
 quando
 Artur,
 traído
 pelo
 sobrinho

Morderete,
é
vencido
e,
mortalmente
ferido,
levado
pelas
fadas
(mulheres
belas
e
sobrenaturais)

para
a
ilha
de
Avalon,
onde
moram.
Aí
ele
permanece
oculto
até
ao
dia
em
que,
recuperado,
pode

voltar
à
luta
para
resgatar
o
seu
povo
e
cobrir‐se
de
glória.»
(Coelho
1987:
46).


Correio
da
Educação


Algumas
 fadas,
 nomeadamente
 as
 que
 provêm
 das
 novelas
 de
 cavalaria,

eternizaram‐se
 na
 literatura.
 Entre
 elas
 está
 Morgana,
 a
 fada
 mais
 famosa
 do

ciclo
 bretão,
 personagem
 benfazeja
 que
 continuou
 a
 aparecer
 na
 literatura
 dos

tempos
modernos.
Outra
fada
também
célebre
é
Viviana,
cuja
personalidade
vai

mudando:
 aparece
 pela
 primeira
 vez
 como
 Dama
 do
 Lago,
 protectora
 de

Lancelote;
depois
como
fada,
companheira
do
mago
Merlin,
e,
quando
este
já
está

velho,
como
sedutora
maligna.
Em
Viviana,
já
podemos
constatar
a
versatilidade

inerente
à
imagem
feminina,
bem
como
a
dualidade
da
sua
essência.
Ela
não
se

apresenta
como
fada,
figura
do
bem,
mas
transforma‐se
consoante
a
necessidade,

actuando
 em
 conformidade
 com
 o
 momento.
 Pelo
 seu
 comportamento,
 é
 uma

fada
que
se
torna
bruxa.


Não
 podemos
 esquecer
 Melusina,
 famosa
 personagem
 de
 novela
 de



cavalaria
que
aparece
em
vários
episódios
arturianos,
descrita
como
uma
mulher

de
 grande
 beleza,
 transformada,
 alternadamente,
 em
 mulher
 e
 em
 serpente.
 É

apontada
(segundo
a
lenda)
como
a
fundadora
da
estirpe
Lusignan.
Reza
ainda
a

lenda
 que
 agia
 ora
 como
 fada
 benfeitora,
 ora
 como
 anunciadora
 das
 desgraças

iminentes,
 surgindo
 na
 torre
 do
 castelo
 e
 lançando
 gritos
 lúgubres
 sempre
 que

um
dos
membros
da
família
ia
morrer.


Se
 as
 fadas,
 as
 bruxas
 e
 as
 feiticeiras
 configuram
 um
 universo
 feminino

dicotómico
(desejável
versus
temível;
possível
versus
improvável),
é
interessante

assinalar,
com
Laurence
Harf‐Lancner
(1984),
o
duplo
papel
que
a
mulher‐fada

pode
assumir:



Figure‐clé
 de
 l’imaginaire
 médiéval,
 en
 elle
 se
 cristallisent
 les



archétypes
 de
 la
 féminité
 dans
 l’affectivité
 humaine.
 Dans
 les
 contes

merveilleux
se
dessine
déjà
une
typologie
des
fées:


‐
Conquérante,
la
femme
fantastique
soumet
l’homme
aux
lois
de
son
désir,
le

ravissant
à
jamais
dans
un
autre
monde.


‐
 Conquise
 par
 la
 force
 ou
 soumise
 par
 l’amour,
 elle
 se
 plie
 aux
 lois
 de
 son

époux
mortel.


En
pénétrant
dans
le
domaine
littéraire,
où
ils
ont
éveillé
de
multiples
échos,

ces
 deux
 types
 féeriques
 ont
 reçu
 un
 nom,
 Morgane
 et
 Mélusine,

reconstituant
 en
 un
 couple
 antithétique
 le
 régime
 diurne
 et
 le
 régime

nocturne
 des
 images
 de
 la
 féminité,
 […]
 En
 Morgue,
 la
 ‘femme
 fatale’,

s’incarne
la
féminité
maléfique:
[…]
Mélusine,
c’est
Morgue
apprivoisée.

Correio
da
Educação



Em
 Portugal,
 veja‐se
 o
 exemplo
 das
 lendas
 intituladas
 A
 dama
 pé­de­
cabra,
A
mulher
marinha,
A
Lenda
de
Gaia.


Assim,
 outras
 fadas
 ou
 mulheres
 com
 dons
 sobrenaturais
 povoaram
 as

narrativas
no
transcorrer
dos
séculos:
são
inúmeras
as
obras
surgidas
no
século

XVI
que
acusam
a
influência
da
atmosfera
mágica
céltico‐bretã:
o
mago
Oberon,

Titânia,
a
rainha
das
fadas
na
peça
Sonho
de
uma
noite
de
verão,
a
rainha
Mab,
em

Romeu
e
Julieta,
de
Shakespeare;
a
fada
Alcina,
irmã
da
famosa
fada
Morgana,
no

poema
 épico
 de
 Boiardo,
 Orlando
 enamorado;
 as
 fadas
 Andronica
 e
 Melissa
 e
 a

maga
Carandina,
no
poema
épico
Orlando
furioso,
de
Ariosto.


A
 Ilha
 de
 Avalon
 tornou‐se,
 igualmente,
 conhecida
 como
 habitação
 de



fadas.
 Camões
 foi,
 certamente,
 influenciado
 por
 essa
 tradição
 do
 maravilhoso,

quando
 cria,
 em
 Os
 Lusíadas,
 o
 episódio
 da
 Ilha
 do
 Amores,
 onde
 as
 ninfas

acolhem
os
Portugueses.


Foi,
contudo,
em
França
que
elas
encontraram
a
plenitude
da
sua
actuação

poética,
social
e
humana,
pela
pena
de
Perrault.


Ainda
 neste
 contexto,
 e
 em
 pleno
 Romantismo,
 os
 Irmãos
 Grimm



redescobriram‐nas.
 Na
 Dinamarca,
 Andersen
 é
 o
 poeta
 das
 fadas,
 o
 último
 que

pertenceu
ao
Romantismo
e
que
acreditou
firmemente
nelas.



Não
 deixa
 de
 ser
 longa
 a
 lista
 de
 obras
 que
 acolheram
 o
 maravilhoso

feérico
 nas
 suas
 mais
 variadas
 formas
 de
 representação.
 Gil
 Vicente
 com
 o
 seu

Auto
 das
 Fadas
 (1965)5,
 o
 Romanceiro
 garrettiano
 e
 Fernando
 Pessoa,
 em
 Obra

Poética
(1977:
239),
não
deixaram
de
as
imortalizar.



A
criança
que
pensa
em
fadas
e
acredita
nas
fadas


Age
como
um
deus
doente
mas
como
um
deus.


Porque
embora
afirme
que
existe
o
que
não
existe


Sabe
como
é
que
as
cousas
existem,
que
é
existindo,



























































5
Na farsa Auto das Fadas, a feiticeira Genebra Pereira passa o tempo a fazer feitiços para resolver
problemas de “mulheres mal casadas”.
Correio
da
Educação


Sabe
que
existir
existe
e
não
se
explica,


Sabe
que
não
há
razão
nenhuma
para
nada
existir.


Sabe
que
ser
é
estar
em
um
ponto


Só
não
sabe
que
o
pensamento
não
é
um
ponto
qualquer.


O
grande
poeta
Antero
de
Quental
também
acreditava
nelas:


As
fadas...
eu
creio
nelas!


Umas
são
moças
e
belas,


Outras,
velhas
de
pasmar...


Umas
vivem
nos
rochedos,


Outras,
pelos
arvoredos,


Outras,
à
beira
do
mar...



[…]


Umas
têm
mando
nos
ares;


Outras,
na
terra,
nos
mares;


E
todas
trazem
na
mão


Aquela
vara
famosa,


A
vara
maravilhosa,


A
varinha
de
condão!


O
que
elas
querem,
num
pronto


Fez‐se
ali!
Parece
um
conto....


Mesmo
de
fadas...
eu
sei!


São
condões,
que
dão
à
gente,


Ou
dinheiro
reluzente,


Ou
jóias,
que
nem
um
rei!


[…]
(1983:
72‐77)




Correio
da
Educação


O
 mesmo
 podemos
 dizer
 de
 Adolfo
 Simões
 Müller,
 que
 acreditava
 «em

Íris,
 pelo
 menos»
 (1985:
 5),
 assim
 como
 de
 Ester
 de
 Lemos,
 Ricardo
 Alberty,

Sophia
 de
 Mello
 Breyner
 Andresen,
 Matilde
 Rosa
 Araújo
 e
 José
 Jorge
 Letria.

Como
diria
Luísa
Dacosta
(1986:
49)
só
aqueles
que
perderam
os
seus
olhos
de

criança
afirmam
que
elas
não
existem.





[……………………………………………………………………]


(A
continuar)


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