Sei sulla pagina 1di 18

EXIBIÇÃO DE FILMES EM SALA DE AULA E A PARTICIPAÇÃO DE

ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL


Lívia Maria Villela de Mello Motta1

DESCRIÇÃO: A charge de Ricardo Ferraz mostra uma professora na frente da sala exibindo um filme na
televisão colocada sobre a mesa para um grupo de alunos, dentre eles dois cegos. A professora, com
jaleco branco sobre saia escura, com as mãos na cintura, audiodescreve a cena: É dia. Dois meninos
caminham pela estrada de terra batida...

1. INTRODUÇÃO

Os filmes são muito utilizados na escola como atividades didáticas tanto para trabalhar
com conteúdos programáticos mais áridos, rompendo, dessa forma, a resistência dos
alunos com relação a determinados temas, como para apresentar conteúdos
temáticos ligados à atualidade, ambos com resultados positivos com relação à
compreensão e à abstração de conceitos. São, portanto, recursos pedagógicos
determinantes para o processo de ensino-aprendizagem, para a formação de
espectadores críticos e reflexivos, que consigam ter mais elementos comparativos
entre ficção e realidade.
São inúmeros os desdobramentos e atividades que podem ser feitos com filmes, o que
aumenta o interesse e a motivação dos alunos pelas aulas e disciplinas. Mas e os
alunos com deficiência visual, como participam dessas atividades essencialmente
visuais? O que temos observado, geralmente e infelizmente, é a exclusão dos alunos
com deficiência visual das atividades com filmes. Depoimentos de alunos de ensino
fundamental, médio e de faculdade confirmam isso. O professor prefere, muitas
vezes, ignorar a presença dos alunos com deficiência visual em sala de aula, não
fazendo uso de nenhuma estratégia que permita que eles possam acompanhar o filme
a contento. Alguns professores pedem que os colegas ajudem dando algumas
informações sobre as cenas. Também quando o filme é parte de atividade para casa, a

1
Capítulo do livro: AUDIODESCRIÇÃO NA ESCOLA: ABRINDO CAMINHOS PARA LEITURA DE MUNDO.
Motta, L.M.V.M. 2016. Pontes Editora. Campinas.

1
tarefa pode causar dificuldade e o aluno acabar sem poder desempenhá-la de forma a
tirar o máximo de proveito. Ou seja, deixam o problema da falta de acessibilidade
inteiramente nas mãos do aluno com deficiência.
Cientes das dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência visual para ter
acesso aos conteúdos multimídia, faz-se necessário um planejamento mais cuidadoso
que aborde as questões relativas à acessibilidade. Importante pensar em atividades
preparatórias e de aquecimento que antecedam a apresentação do filme, outras que
aconteçam durante e, também, após a exibição. Outro aspecto importante é a escolha
do filme ou cenas que serão exibidas, estabelecendo os objetivos e tecendo as
ligações com o conteúdo que está sendo abordado em sala de aula.
A audiodescrição é, pois, um recurso de acessibilidade que muito poderá colaborar
para o entendimento dos filmes que são exibidos na escola. O seu uso faz toda a
diferença entre o participar e o ser excluído, o entender e poder desempenhar a
contento a atividade proposta e o ter que ficar de lado, sem uma efetiva participação.
Uma forma de apresentar para todos os alunos o recurso é fazer uma atividade de
sensibilização, com todos eles usando vendas para assistir a algumas cenas de filmes
ou documentários sem e com audiodescrição. Esta é uma sugestão que, certamente,
irá fazer com que reflitam sobre a importância da acessibilidade na escola e na
sociedade, uma vez que vão sentir na pele o impacto que a falta da visão tem sobre a
compreensão dos conteúdos audiovisuais. Uma pesquisa sobre a audiodescrição em
diferentes produtos audiovisuais, espetáculos e eventos pode dar continuidade à
atividade de sensibilização e viabilizar uma interessante discussão sobre o recurso.

2. FILMES COM AUDIODESCRIÇÃO

O número de títulos que já contam com audiodescrição e que estão disponíveis em


vídeo-locadoras ou em lojas para venda vem aumentando gradativamente. Listo aqui
alguns títulos.

1. IRMÃOS DE FÉ
2. ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
3. CHICO XAVIER
4. NOSSO LAR
5. O SIGNO DA CIDADE
6. ANTES QUE O MUNDO ACABE
7. MATILDA
8. BRODER
9. CINCO VEZES FAVELA
10. OS SMURFS
11. CINE GIBI
12. O PALHAÇO
13. O TEMPO E O VENTO
14. MENINOS DE KICHUTE
15. DO LADO DE FORA
16. COLEGAS
17. A OESTE DO FIM DO MUNDO

2
18. MENOS QUE NADA
19. SIMONE
20. HOTEL TRANSILVÂNIA
21. MUPPETS - OS MELHORES ANOS DE CACO
22. MUPPETS - MUPPETS DO ESPAÇO
23. EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS
24. XINGU
25. O CASEIRO

Além dos filmes que estão disponíveis no circuito comercial, há também alguns sites
com curtas e longas com audiodescrição, que podem ser baixados gratuitamente;
curtas e traillers que estão estão disponíveis no YOU TUBE com audiodescrição, e que
poderão ser utilizados em sala de aula, de acordo com os temas que estão sendo
discutidos nas unidades didáticas.
O conhecimento sobre técnicas e procedimentos utilizados pelos audiodescritores
para a elaboração de roteiros de audiodescrição e narração de filmes será bastante
útil para professores, que poderão usá-lo na preparação de filmes para exibição na
escola. Tornar os filmes acessíveis permitirá a inclusão cultural, escolar e social dos
alunos com deficiência, além de contribuir para a formação mais crítica de todos os
alunos que terão a oportunidade de aprender suas primeiras noções de acessibilidade.
Ao planejar o uso de um filme em sala de aula onde haja alunos com deficiência visual,
a primeira coisa a ser feita é verificar se o filme já foi feito com audiodescrição. Se não,
os primeiros passos para audiodescrever um filme é conhecer sua sinopse, ficha
técnica e personagens. Para isso, fazemos uma pesquisa na internet, levantamos as
informações e críticas sobre o filme. Quanto mais mergulhamos no filme que iremos
audiodescrever melhor será nossa interação com o conteúdo, terminologia e
linguagem fílmica.
Elaboramos, então, a parte introdutória do roteiro, da qual fazem parte a sinopse,
ficha técnica, caracterização física dos personagens e figurino, e é apresentada antes
do filme. Exemplos de sinopses e caracterização de personagens dos filmes O TEMPO E
O VENTO e MENINOS DE KICHUTE serão apresentadas logo abaixo.
3. FILME O TEMPO E O VENTO COM AUDIODESCRIÇÃO
Pôster do filme O Tempo e o Vento

3
Descrição do pôster: o pôster do filme é ilustrado por fotografia colorida da tropa farroupilha
comandada pelo Capitão Rodrigo que vem à frente montado em um cavalo marrom, no meio dos
pampas gaúchos com capim alto amarelado. Na parte de cima, sobre o céu acinzentado, as fotos em
close e de perfil, do Capitão Rodrigo, interpretado por Tiago Lacerda, Bibiana jovem, interpretada por
Marjorie Estiano e Bibiana idosa, interpretada por Fernanda Montenegro. Rodrigo está com a
fisionomia séria, tem os olhos verdes emoldurados pelas sobrancelhas cerradas, bigodes e um
pequeno cavanhaque triangular logo abaixo do lábio superior, usa lenço vermelho e chapéu
campineiro. Ao seu lado, Bibiana jovem, com os cabelos castanhos repartidos ao meio, os olhos
pequenos olhando para o lado, os lábios vermelhos entreabertos em um sorriso. Bibiana idosa, de
cabelos bem brancos, repartidos ao meio e presos em um coque, a pele enrugada, com um xale verde
enrolado em torno do pescoço, olha para baixo, com um leve sorriso e a fisionomia pensativa. O título
do filme O TEMPO E O VENTO e as frases: A maior história de amor de todos os tempos; um filme de
Jayme Monjardim, assim com os nomes dos atores e ficha técnica, escritos com letras brancas, e as
logomarcas dos patrocinadores e apoiadores estão na parte de baixo do pôster.

3.1. SINOPSE DO FILME O TEMPO E O VENTO

O filme O TEMPO E O VENTO, dirigido por Jayme Monjardim, é uma adaptação do livro
O Continente, de Érico Veríssimo, que conta a história da rivalidade entre duas famílias
gaúchas ao longo de 150 anos. Em meio ao cerco do casarão de sua família pelos
Amarais, a já centenária Bibiana Terra Cambará, interpretada por Fernanda
Montenegro, relembra cento e cinquenta anos de história. Desde a trajetória de sua
avó Ana Terra, interpretada por Cleo Pires, até o final do século XIX. Bibiana narra sua
paixão pelo Capitão Rodrigo, interpretado por Thiago Lacerda, um romance que
atravessa o tempo e prova que o amor é capaz de resistir às guerras.

3.2. CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS

Bibiana moça, interpretada por Marjorie Estiano, é uma jovem de pele alva, estatura
mediana, magra, cabelos castanhos, longos e anelados, olhos castanhos pequenos que
parecem sorrir, nariz delicado, levemente arrebitado. Ela é filha de Pedro Terra e
Arminda, e neta de Ana Terra, que lhe ensinou a fiar, bordar e a observar os homens
com desconfiança. Não resiste aos encantos do Coronel Rodrigo Cambará, com quem
se casa e vive um grande amor. Tiveram dois filhos, Bolívar e Anita. Bibiana usa
vestidos longos enfeitados com rendas e babados.

Bibiana mulher madura, interpretada por Janaína Kremer, tem a pele alva, os olhos
castanhos pequenos, os cabelos castanhos sempre presos, repartidos ao meio. Usa
saias em tons escuros, blusas fechadas e xales.

Bibiana idosa, interpretada por Fernanda Montenegro, é uma senhora de pele alva,
com a face enrugada, os cabelos brancos, repartidos ao meio e presos em um coque.
Seus olhos e sorriso se iluminam com a presença sempre constante do Capitão
Rodrigo em seu quarto para intermináveis conversas. Usa camisolas brancas
enfeitadas com rendas e xale nos ombros.
Capitão Rodrigo Cambará, interpretado por Tiago Lacerda, é um jovem alto e forte, de
pele clara, os cabelos castanhos fartos e penteados para trás, olhos verdes
expressivos, bigodes, costeletas e um pequeno cavanhaque triangular logo abaixo do
lábio inferior. Ele é marido de Bibiana com quem vive um grande e intenso amor, e

4
tem dois filhos, Bolívar e Anita. Veste uniforme vermelho e azul das tropas
farroupilhas.

Ana Terra moça, interpretada por Cleo Pires, é uma jovem de pele morena, de
estatura mediana, o corpo bem feito, os seios firmes, os cabelos castanhos lisos e
longos, repartidos ao meio, os olhos castanhos amendoados, os lábios volumosos, as
maçãs do rosto angulosas. Ela é filha de Maneco e Henriqueta, irmã de Antônio, e mãe
de Pedro Terra, fruto do relacionamento amoroso com Pedro Missioneiro. Usa blusas
decotadas que deixam os ombros à mostra e saias franzidas.

Ana Terra mulher madura, interpretada por Susana Pires, tem a pele morena, os
cabelos castanhos repartidos ao meio, os olhos castanhos ligeiramente puxados e
boca grande. Usa vestidos longos escuros e xale de lã nos ombros.

Maneco Terra, interpretado por Luiz Carlos Vasconcellos, é um homem de pele


morena, alto, de barbas e cabelos grisalhos, olhos castanhos penetrantes, rosto sério.
Ele é marido de Henriqueta, e pai de Ana Terra e Antônio Terra.

Henriqueta, interpretada por Cyria Coentro, é uma mulher de pele morena, baixa e
magra, olhos pequenos, rosto comprido. Os cabelos estão sempre escondidos por um
lenço. Ela é esposa de Maneco Terra, e mãe de Ana Terra e Antônio Terra.

Antônio Terra, interpretado por José Henrique Ligabue, é um homem moreno, alto, de
barbas e cabelos pretos encaracolados, olhos redondos pretos, fisionomia séria e
contraída. Ele é filho de Maneco e Henriqueta, e irmão de Ana Terra.
Pedro Missioneiro Jovem, interpretado por Martin Rodriguez, é um jovem de pele
morena, com traços indígenas, alto e magro, os cabelos negros e longos presos com
uma faixa vermelha na testa, os olhos esverdeados, o rosto liso sem um único fio de
barba, a face angulosa, o peito nu. Órfão desde o nascimento foi criado por padres
jesuítas no povoado de São Miguel das Missões, onde aprendeu a ler e escrever.

4. FILME MENINOS DE KICHUTE COM AUDIODESCRIÇÃO


Capa do livro Meninos de Kichute

5
Descrição da capa do livro MENINOS DE KICHUTE: a capa do livro, com fundo rosado, é
ilustrada pela fotografia colorida, em primeiro plano e de perfil, de Beto, um menino de 12 anos de
cabelos castanhos lisos penteados para frente, com a cabeça apoiada nos braços que estão
enroscados na rede do gol. Ele usa camiseta preta de mangas longas e esboça um leve sorriso com
os olhos semicerrados, parecendo pensativo. O nome do autor do livro, Márcio Américo, escrito
com letras pretas, está na parte superior da capa. O título do livro, escrito também com letras
pretas desenhadas, está na parte inferior da capa e sobre ele, o desenho em preto de um
campinho de futebol onde estão 10 jogadores, um deles no ar, chutando a bola para o alto. No
rodapé, a frase: O livro que inspirou o filme. 2ª edição.

4.1. SINOPSE DO FILME MENINOS DE KICHUTE

MENINOS DE KICHUTE conta a história de Beto, um menino de 12 anos que vive com
seus pais e irmãos, em um bairro operário do Brasil. Seu grande sonho é o de se tornar
um importante jogador de futebol; na realidade, ele quer mesmo é “ser o goleiro da
seleção brasileira”. No entanto, seu sonho esbarra com o radicalismo de seu pai,
Lázaro, que vê o jogo como um grande pecado. Nos anos 70, época em que o filme se
passa, vivia-se o mito do “Brasil, o País do futebol”, do milagre econômico e também
da pressão social. Beto e seus amigos, bem distantes dos problemas do mundo, se
divertiam com os simples prazeres da infância, como jogar bola, fazer um lindo gol de
placa e bater figurinhas. A turma criou o clubinho “Meninos de Kichute”. O que eles
queriam mesmo era aproveitar a liberdade plena, incondicional, desafiadora e
emocionante dessa fase da vida.

4.2. CARACTERIZAÇÃO DOS PERSONAGENS

Beto, interpretado por Lucas Alexandre, é um menino de doze anos, moreno, de


estatura mediana, cabelos castanhos lisos, penteados para frente, olhos castanhos
redondos, nariz delicado e boca bem desenhada. Para fazer o papel de Beto, um
garoto apaixonado por futebol, que quer ser goleiro, Lucas foi selecionado entre mais
ou menos setecentos meninos que vieram de várias regiões do Brasil.

Lázaro, interpretado por Werner Schünemmann, é o pai de Beto, um homem de pele


clara, de estatura mediana, cabelos escuros e crespos, olhos verdes, costeletas e
bigodes finos. Ele é pintor de paredes e tem um táxi.

Maria, interpretada por Viviane Pasmanter, é a mãe de Beto, uma mulher


morena, baixa, cabelos compridos e lisos castanhos claros, quase sempre cobertos
com lenço, olhos verdes amendoados. Ela é dona de casa e trabalha duro para manter
a casa, o marido e os três filhos.
D. Leonor, interpretada por Arlete Salles, é uma mulher de meia idade, morena, de
cabelos compridos e anelados pretos e olhos castanhos. Ela é vizinha da família de
Beto, casada com Seu Luizinho. Toca sanfona e gosta de tomar uma pinguinha.

Rosa, interpretada por Mayara Comunale, é a irmã mais velha, amiga e confidente de
Beto, uma adolescente de pele clara, cabelos louros longos e lisos repartidos ao meio,
olhos verdes, nariz afilado.

6
Ismael, interpretado por Vinicius Damas, é o irmão mais novo de Beto, um menino
pequeno, louro de cabelos encaracolados, que ainda faz xixi na cama.

Os meninos de kichute, amigos de Beto, são: Zé Luís (alto, cabelos ruivos e olhos
azuis), Pardal (alto, negro e gordo), Silvanir (alto, de cabelos lisos e longos), Wesley
(baixo, de cabelos crespos e cheios, e olhos verdes).

Os meninos do time adversário que jogam de conga ou descalços são: Barriguinha


(cabelos lisos de franja), Pilico (baixo, cabelos ruivos, olhos pequenos e sardas),
Edivaldo (negro, magro, cabelos armados), Gambá (magro, de cabelos cacheados),
Hiroshi (japonês, de franja).

Soninha é amiga de Rosa, uma menina alta, de cabelos louros e lisos, apaixonada por
Beto. Ela é irmã de Zé Luís, o melhor amigo de Beto.

Claudio Bacalhau, um menino de cabelos louros longos e olhos verdes, e Wanderley,


alto de cabelos pretos cacheados, estão sempre juntos provocando os meninos de
kichute.

Volpone, interpretado por Paulo César Pereio, é homem de meia idade, alto, um
pouco calvo, de cabelos ralos e grisalhos. Ele é diretor do Nacional Futebol Clube.

5. AUDIODESCRIÇÃO DE PERSONAGENS

A forma como os personagens são caracterizados e a organização dos elementos


imagéticos quando audiodescrevemos personagens é muito importante para a
construção da imagem mental com maior ou menor facilidade. Chamar a atenção dos
alunos para os adjetivos que podem ser usados para descrever pessoas (estatura,
cabelos, olhos, compleição, vestuário), servirá para ampliar o repertório linguístico e a
fluência verbal. O esquema abaixo, que organiza as características físicas, facilita a
elaboração da descrição dos personagens:

Audiodescrição de personagens

Gênero e faixa etária homem, mulher, jovem, criança, garoto, garota,


menino, menina, senhor, senhora, homem idoso,
mulher idosa, homem de meia idade, mulher de
meia idade
Cor de pele louro, moreno, negro, ruivo, oriental

Estatura alto, baixo, estatura mediana

Peso corpulento, esquelético, magro, musculoso, corpo


atlético

Olhos cores (azuis, pretos, castanhos, verdes, cor de mel);


formato (amendoados, grandes, puxados, pequenos)

7
Cabelos cores (pretos, castanhos, louros, vermelhos,
brancos, grisalhos); comprimento (longos, curtos,
curtíssimos, na altura dos ombros) tipo/textura
(encaracolados, lisos, anelados, ondulados,
cacheados, espetados, armados, fartos, ralos)

Boca lábios finos, lábios grossos

Sobrancelhas espessas, finas, grossas, arqueadas

Nariz afilado, arrebitado, grande, largo, adunco

Trajes vestido, saia, calça, blazer, terno, bermuda, shorts,


colete, camiseta, jeans, vestido longo, capa, casaco,
sobretudo, camisa de manga longa, cueca, calção de
banho. Atenção para os trajes de época.

Não será necessário mencionar todas as características físicas, somente as


mais marcantes, como se estivéssemos diante da caricatura da pessoa.

Tanto o filme O TEMPO E O VENTO como MENINOS DE KICHUTE já têm


audiodescrição. Eles poderão ser exibidos com o recurso para todos os alunos e não
somente para os alunos com deficiência visual, incluindo a parte de extras como a
descrição de personagens, o que amplia o senso de observação, aumenta o
vocabulário, desenvolve a habilidade de elaboração de texto.
No caso de filmes que não têm audiodescrição, a pesquisa sobre sinopse,
personagens, ficha técnica, críticas sobre o filme, poderá ser feita pelos alunos
divididos em grupos, sendo que cada grupo pode ficar responsável por determinadas
informações sobre o filme, apresentando-as em sala de aula em seguida. Também o
professor pode preparar algumas atividades usando sinopses de diferentes fontes,
críticas de diferentes jornais, revistas e sites, pedindo para os alunos estabelecerem
comparações, observando o que cada crítica destaca de positivo e negativo no filme e
também os argumentos que são utilizados para convencer o espectador a respeito da
qualidade – ou não – do filme. Essas atividades poderão ser usadas do ensino
fundamental à universidade, variando o grau de dificuldade da tarefa.
Uma sugestão para ser trabalhada em aulas de Língua Portuguesa tanto do ensino
médio como da faculdade é com leitura e produção de resenhas de filmes, peças,
óperas e outros espetáculos. A resenha é um gênero acadêmico, geralmente difícil de
ser elaborada e que sempre traz dúvidas. Os alunos poderão fazer análises e
comparações de resenhas, o que será essencial para aprender a elaborá-las, além de
aprofundar o conhecimento sobre o filme assistido.
É realmente mágico perceber a emoção que chega até as pessoas pelas palavras. A
imagem que no cinema é sempre a protagonista, passa a ser mera coadjuvante. As
palavras ganham destaque. As palavras que traduzem as cenas, os cenários, os
trejeitos, os figurinos, a sequência das ações, as paisagens verdejantes de prados e

8
montanhas, ou as ondas altas e espumosas do mar... E junto com os diálogos dos
filmes, a trilha sonora, as palavras que compõem o roteiro de audiodescrição vão
ajudando as pessoas com deficiência visual a desenhar em sua mente as imagens que
estão na telona, ampliando, dessa maneira, o entendimento do filme.
O filme NÁUFRAGO, por exemplo, que conta a história de Chuck Noland, um
empregado da FedEx que sobrevive a um acidente aéreo e que vive durante quatro
anos em uma ilha desabitada do Pacífico, é um dos mais requisitados pelas pessoas
com deficiência visual para ter audiodescrição, devido às inúmeras cenas sem
diálogos, praticamente o filme todo. Sem audiodescrição, não seria possível entender
as cenas marcantes da queda do avião, do mar em chamas, da chegada de Chuck à ilha
deserta, suas tentativas desesperadas de ultrapassar a barreira espumante da
arrebentação das ondas, sua determinação para conseguir fazer fogo, suas estratégias
de sobrevivência e até o seu afetuoso relacionamento com a bola da marca Wilson, o
amigo de longas conversas, interlocutor do seu eu.
A elaboração de roteiros para audiodescrição é um trabalho minucioso, que exige do
audiodescritora a pesquisa sobre o tema, busca de termos para qualificar mais
fielmente os cenários, as personagens e as próprias ações. No filme NÁUFRAGO, por
exemplo, especial atenção precisa ser dada tanto para os advérbios e locuções
adverbiais, que podem qualificar as ações, como para os adjetivos, pois sem eles não
há como qualificar os olhares e expressões de amor, afeição, dúvida, ansiedade,
curiosidade, irritação, paixão, medo ou pavor; as ondas gigantescas e violentas, e por
vezes calmas, sempre espumantes e vigorosas; o mar bravio, ondulado ou calmo,
transparente, e por vezes esverdeado, escuro e ameaçador; os coqueiros altos e
viçosos, com folhas brilhantes verde escuro, carregados de cocos; o vento que ondula
e encrespa o mar e balança vigorosamente as folhas dos coqueiros; a ilha com
vegetação exuberante, areias brancas, rochedos escarpados e pontiagudos (MOTTA,
2011).
Também na narração, a voz e entonação do audiodescritor precisa acompanhar tanto
o desespero e angústia de Chuck e dos pilotos no momento da queda do avião, seu
desapontamento em várias situações de sobrevivência na ilha e, ao mesmo tempo a
sua alegria nas descobertas de novas possibilidades. Não de forma a competir com o
desempenho fantástico de Tom Hanks, mas de forma a acompanhar o ritmo e as
variadas nuances, os ups e downs do filme.
Para um audiodescritor, não tem coisa melhor do que poder ouvir as risadas conjuntas
da plateia se deliciando com determinadas cenas ou observar as faces emocionadas,
alguma lágrima teimosa que escorre pelo canto do olho do espectador. É nesse
momento que percebemos o poder das palavras que traduzem a beleza ou a rudeza
das imagens, a sutileza das expressões fisionômicas, do gestual e de tantos outros
detalhes. É nesse momento também que percebemos a nossa responsabilidade como
profissionais da audiodescrição.
A escola poderá contratar audiodescritores profissionais para elaborar roteiros e fazer
a gravação da audiodescrição de filmes que serão utilizados em atividades didáticas;
ou mesmo fazer a audiodescrição de eventos escolares. Entretanto, será fundamental
que o próprio professor conheça o recurso e passe a utilizá-lo em suas aulas como
ferramenta pedagógica, o que poderá colaborar para a leitura de mundo de todos os
alunos em vários tipos de atividades.

9
6. ELABORAÇÃO DE ROTEIROS

Alguns dos princípios básicos da audiodescrição orientam a elaboração do roteiro:


• Analisar previamente a obra a ser audiodescrita;
• Elaborar frases curtas e objetivas;
• Não interpretar, mas fornecer informações descritivas que permitam a quem
escuta construir sua própria interpretação daquilo a que assiste;
• Usar o tempo verbal no presente ou presente contínuo;
• Privilegiar os seguintes elementos: o que/quem, como, onde, quando, não
necessariamente nesta ordem;
• Informar as mudanças de cena com relação a lugar e tempo: muitas vezes poucas
palavras bastam: no jardim, no andar de cima, à noite, pela manhã, já é noite,
dentro do quarto;
• Informar quem são e quantos são os personagens presentes em cena;
• Descrever gestos e expressões faciais;
• Usar advérbios para qualificar a ação desde que não traduzam opiniões pessoais;
• Inserir as informações preferencialmente entre as falas dos personagens;
• A entonação do narrador deverá ser adequada ao gênero de filme: em um drama,
a voz precisa revelar a tensão da cena; em uma comédia, é importante descrever
com um sorriso nos lábios, mas não é possível cair na gargalhada.

Abaixo, apresento dois fragmentos de roteiros, um do filme MENINOS DE KICHUTE e


outro do filme O TEMPO E O VENTO, para que vocês, professores, possam conhecer
esse gênero de texto, preparando-se para promover a acessibilidade em sala de aula,
quando algum filme, documentário, vídeo clipe ou comercial lá for exibido. Prestem
atenção aos princípios da audiodescrição que foram apresentados acima e tentem
observá-los nos dois fragmentos de roteiros.

6.1. FRAGMENTO DE ROTEIRO DE AUDIODESCRIÇÃO DO FILME


MENINOS DE KICHUTE

NA PORTA DA CASA DE DONA LEONOR, BETO ESTÁ SENTADO OLHANDO PARA A TELEVISÃO
LIGADA NA SALA.

DONA LEONOR, DE ROBE BRANCO ACENA PARA ELE.

BETO LEVANTA-SE.

SENTA-SE NO SOFÁ DE COURVIN PRETO AO LADO DELA.

DEIXA: DONA LEONOR: O QUE VC VAI SER QUANDO CRESCER?

ELA PEGA UMA GARRAFA.

DERRAMA BEBIDA EM UM FUNIL DENTRO DE UMA GARRAFINHA DE METAL.

DEIXA: MEIO QUILO DE CAFÉ E UM CRUZEIRO DE CACHAÇA.

ELA DÁ DINHEIRO A ELE. PEGA A GARRAFA VAZIA. PÕE EM UM SACO DE PAPEL.

10
DEIXA: PRÁ COMPRAR TUAS FIGURINHAS. VÁ...

BETO LEVANTA-SE.

DONA LEONOR PEGA A SANFONA.

DEIXA: A CACHAÇA BETO...

ELE SAI. AS CRIANÇAS BRINCAM NA RUA.

DEIXA: VAI COMPRAR CACHAÇA PRA DONA LEONOR? ... EU VOU COM VOCÊ.

ZÉ LUIZ SEGUE BETO.

DEIXA: VAI FICAR COM A BOLA GOLEIRO?

UMA MENINA JOGA A BOLA.

ELE PEGA.

DÁ PARA SONINHA.

ELA SORRI.

DEIXA: SONINHA, JOGA A BOLA...

NA VENDA DE SEU TANAKA.

DEIXA: PEGA O CAFÉ... PEGA AÍ...

NA RUA, ENCONTRAM PILICO E BARRIGUINHA.


DEIXA: DAMOS DEZ DE VOCÊS.

NO CAMPINHO DE FUTEBOL....

IROSHI DOMINA A BOLA, PASSA PRA BARRIGUINHA, QUE CHUTA, E BETO DEFENDE.

NO REBOTE OUTRO CHUTE.

BETO MERGULHA, DEFENDE COM AS MÃOS ESPALMADAS...

DO MEIO CAMPO GAMBA CHUTA FORTE E BETO DEFENDE DE NOVO.

O OLHEIRO, UM HOMEM DE CABELOS GRISALHOS E ÓCULOS ESCUROS PEGA A BOLA.

PÕE NO CHÃO.

DEIXA: VOCÊ AQUI, MOLEQUE... VOCÊS TAMBÉM...

APONTA PARA SILVANIR E BARRIGUINHA...

DEIXA: E VOCÊ MENINO...

PARA BETO...

XAVECO: DEIXA EU IR EMBORA... JOGA AÍ...

11
XAVECO AFASTA-SE.

DEIXA: PASSOU UMA SEMANA SEM PODER SENTAR...

OS MENINOS CORREM ALEGREMENTE.

NA FRENTE DE CASA, O PAI DE ZÉ LUIZ SAI DE UMA CAMIONETE AMARELA CARREGANDO UMA
MELANCIA E UMA PASTA AZUL.

SONINHA SEGURA UMA CAIXA. BETO SAI DA CASA COM ZÉ LUIZ.

DEIXA: ERA CONHECIDO COMO PÉ DE CABRA. FAZIA GOL ATÉ DE TIRO DE META, MOLEQUE.

O PAI ENCOSTA A CABEÇA NA TESTA DO FILHO. BETO SORRI.


ZÉ LUIZ PEGA A CAIXA. ENTRA.

A MÃE PEGA A SACOLA DA MÃO DE SONINHA.

DEIXA: MÃE: VEM SONINHA, VAMOS.

AS DUAS ENTRAM.

ZÉ LUIZ SAI COM A CHUTEIRA NA MÃO.

DEIXA: BETO: VOU PEDIR PARA MINHA MÃE FAZER. AI, AI...

OS DOIS SENTAM-SE NA CALÇADA.

6.2. FRAGMENTO DE ROTEIRO DE AUDIODESCRIÇÃO DO FILME O


TEMPO E O VENTO

IN 02’58” O CÉU NA LINHA DO HORIZONTE TINGE-SE DE AMARELO, VERMELHO E ROSA...

IN 03’05” DEVAGAR, A SILHUETA ESCURA DE UM HOMEM CAVALGANDO VAI PREENCHENDO


A TELA.

IN 03’13” ELE USA CHAPÉU CAMPINEIRO DE FELTRO PRETO, COM COPA CURTA E ABAS
LARGAS.

IN 03’10” PERCORRE OS PAMPAS GAÚCHOS, REGIÃO COM VEGETAÇÃO RASTEIRA, POUCOS


ARBUSTOS E ÁRVORES.

IN 03’25” SEGUE, AO LONGE, PELA MARGEM DE UM RIO LARGO, DE ÁGUAS CALMAS.

IN 03’38” É DIA.

IN 03’40” FACHADA DE UM SOBRADO DE PAREDES BRANCAS COM MUITAS JANELAS EM


ARCO, DE MADEIRA ESCURA.

IN 03’46” NA FRENTE, ALGUNS COQUEIROS.

IN 03’48” NA SALA, UM HOMEM CALVO DE BIGODES, SEGURANDO UMA ESPINGARDA, OLHA


PARA CIMA PREOCUPADO.

12
IN 03’54” NO QUARTO, DEITADA NA CAMA, UMA JOVEM LOURA, GRÁVIDA, CONTORCE-SE
COM DOR.

IN 04’02” LÁ FORA, UMA BARRICADA E HOMENS ARMADOS.

IN 04’08” NA SALA, UMA MULHER APROXIMA-SE COM UMA LAMPARINA.

ACHO QUE A ALICE VAI TER A CRIANÇA ESTA MADRUGADA, CUNHADO. PEÇA TRÉGUA!

TRÉGUA?

AGORA, É TUDO UMA QUESTÃO DE HORAS.

AMANHÃ, SANTA FÉ PODE AMANHECER LIVRE. E SUA MULHER PODE AMANHECER MORTA!

IN 04’28” O HOMEM MORENO DESLOCA-SE ATÉ OUTRA SALA.

IN 04’33” UM VELHO DE BARBAS E CABELOS LONGOS BRANCOS ESTÁ SENTADO DE FRENTE


PARA UMA JANELA.

IN 04’42” ELE SENTA-SE A SEU LADO.

LICURGO: SEU FLORÊNCIO, PARECE QUE A COUSA É PRA ESTA MADRUGADA, HÃ? QUE É QUE
SE FAZ?

SEU FLORÊNCIO: VOSSUNCÊ É O DONO DA CASA, LICURGO.

LICURGO: MAS O SENHOR É O PAI DA ALICE. E É O MAIS VELHO DE TODOS NÓS. ME DIGA COM
TODA SINCERIDADE: ACHA QUE ESTOU PROCEDENDO MAL?

SEU FLORÊNCIO: QUE IMPORTA O QUE EU PENSO? VOSSUNCÊ SEMPRE FAZ O QUE BEM
ENTENDE. SOU UM HOMEM IGNORANTE, MAS CONHEÇO BEM AS PESSOAS. VOSSUNCÊ PODE
ESTAR PROCEDENDO MUITO BEM COMO CHEFE POLÍTICO, MAS ESTÁ PROCEDENDO MUITO
MAL COMO CHEFE DE FAMÍLIA.

IN 05’22” LICURGO VIRA-SE PREOCUPADO.

IN 05’26” O CAVALEIRO DE CHAPÉU CAMPINEIRO E UNIFORME DE SOLDADO FARROUPILHA


CHEGA NA CIDADE.

IN 05’33” ELE É UM HOMEM ALTO, DE PELE CLARA, OLHOS VERDES, BIGODES.

IN 05’38” USA JAQUETÃO AZUL COM OMBREIRAS E PUNHOS DOURADOS, LENÇO VERMELHO
NO PESCOÇO ATADO POR UM NÓ, FAIXA BRANCA E VERMELHA NA CINTURA E CHIRIPÁ,
GRANDE TIRA DE PANO ENROLADA NA CINTURA COMO UMA SAIA, E BOTAS MARRONS.

IN 05’52” UM VIOLÃO ESTÁ PENDURADO NAS SUAS COSTAS.

IN 05’56” PASSA POR IGREJA... POR SOLDADOS ENTRINCHEIRADOS...

IN 06’02” APROXIMA-SE DE UMA ÁRVORE FRONDOSA.

IN 06’08” OLHA DE UM LADO PARA O OUTRO, SORRIDENTE.

13
IN 06’12” DESCE DE SEU CAVALO.

IN 06’20” VAI EM DIREÇÃO AO SOBRADO DE PAREDES BRANCAS E JANELAS DE MADEIRA.

IN 06’28” ENTRA.

IN 06’30” DENTRO DA CASA, HOMENS ARMADOS COM ESPINGARDAS ESPIAM PELAS JANELAS
ENTREABERTAS.

IN 06’46” UMA MULHER CUIDA DE UM HOMEM IDOSO FERIDO DEITADO NO CHÃO.

[TINOCO DELIRANDO] VOU CONTAR PRA BIBIANA...

IN 06’55” O HOMEM DELIRA.

IN 06’58” A MULHER ENXUGA A TESTA DELE.

MARAGATO FEZ FOGO. EU VOU CONTAR PRA BIBIANA. ÁGUA... ÁGUA... CALMA, TINOCO,VAI
FICAR TUDO BEM. MARAGATO!

IN 07’13” ELE SOBE DOIS LANCES DE ESCADAS.

IN 07’17” CAMINHA POR CORREDOR.

IN 07’20” SEU FLORÊNCIO, O HOMEM DE CABELOS E BARBAS BRANCAS ESTÁ SENTADO NO


CORREDOR.

IN 07’25” MAIS HOMENS ESPREITAM PELAS JANELAS.

IN 07’29” ABRE UMA PORTA. ENTRA EM UM QUARTO DE PAREDES ROSADAS.

IN 07’35” EM UMA GRANDE CAMA DE CASAL COM ANJOS E FLORES ENTALHADAS, UMA
MULHER IDOSA, DE CABELOS BRANCOS, DORME RECOSTADA EM TRAVESSEIROS.

IN 07’ 46” ELE TIRA O CHAPÉU.

IN 07’49” OBSERVA-A COM TERNURA.

IN 07’51” APROXIMA-SE.

IN 07’56” SENTA-SE NA CAMA AO LADO DELA.

IN 08’02” OLHA DETIDAMENTE PARA SEU ROSTO E SORRI.

IN 08’11” COLOCA A MÃO SOBRE A MÃO DELA.


IN 08’14” UM XALE MARROM COBRE SEUS OMBROS.

CAPITÃO RODRIGO: BIBIANA.

Observem a marcação do tempo para inserção da audiodescrição na trilha original do


filme no fragmento de roteiro do filme O TEMPO E O VENTO. Isso é geralmente feito
para a gravação em estúdio.

14
A audiodescrição é inserida preferencialmente entre os diálogos, entretanto quando
for necessário transmitir uma informação essencial para o entendimento de
determinada cena, poderá se sobrepor aos diálogos ou fala do narrador em
documentários, por exemplo. Há, ainda, a necessidade da sumarização e escolha dos
elementos essenciais para o entendimento – aqueles que sejam mais relevantes – pois
o tempo entre as falas é, geralmente, pequeno, o que aponta para a necessidade de
seleção da informação. Deve ser, portanto, o mais informativa possível, mas, ao
mesmo tempo, breve e precisa para transformar em palavras toda a dimensão do
visual.
Hoje, é possível encontrar trailers no You Tube, o que permitirá que alunos e professor
antecipem o conhecimento sobre o filme, personagens, parte da ambientação e
figurino. Também no You Tube estão versões mais antigas de alguns filmes, o que
poderá ser material interessante na preparação de uma atividade de comparação
entre versões com foco nas diferenças de época que estão presentes no figurino,
cenário e outros detalhes.
Durante a apresentação do filme na sala de aula, você, professor, fará a
audiodescrição ao vivo à medida que as cenas forem sendo exibidas. Como o roteiro
foi elaborado antes, você já conhece personagens, seus nomes e o desenrolar da ação.
Isso será essencial para imprimir naturalidade e entonação à narração. Esta atividade
que deverá ser incorporada à rotina escolar toda vez que forem exibidos filmes,
documentários, desenhos, animações, vídeos clipes e outros recursos de multimídia,
também poderá ser compartilhada com alunos, dividindo as cenas por grupos para
que preparem o roteiro de audiodescrição. Certamente, será uma oportunidade
oferecida a todos os alunos, para desenvolver o senso de observação e também a
capacidade de síntese e elaboração textual.
Para a fase pós-exibição, também são inúmeras as possibilidades de propostas:
discussão sobre temas tratados nos filmes, com desdobramento em pesquisas e
projetos em diferentes disciplinas e, mesmo, interdisciplinares. Também o uso de
materiais táteis, principalmente em filmes infantis pode ajudar a ampliar ainda mais o
entendimento, como na experiência relatada abaixo.

7. FILME RIO COM AUDIODESCRIÇÃO: O USO DE MATERIAIS TÁTEIS PARA


CRIANÇAS PEQUENAS

A convite de Cecília Oka, coordenadora do PROCEJA – Programa de Complementação


Educacional do Jovem e do Adulto, fomos Jumara Bienias, Fátima Angelo e eu
apresentar o filme Rio com audiodescrição na LARAMARA – Associação Brasileira de
Assistência ao Deficiente Visual, no dia 04 de julho de 2012, uma quarta feira, dia do
tão esperado jogo do Corinthians e Boca Juniors.
O filme, que conta as aventuras das araras azuis, Blu e Jade, foi mais um dos muitos já
apresentados por mim na Laramara, desde que comecei a trabalhar com
audiodescrição. Sempre, ótimas oportunidades de mostrar o recurso, divulgar e
compartilhar cultura acessível com um considerável público com deficiência visual e
fórum privilegiado para discussão e feedback.
Como essa animação havia sido apresentada pela IGUALE no Cine SESC, há algum
tempo atrás, conversei com o Maurício Santana sobre a possibilidade de usar o roteiro
15
elaborado por eles e fui prontamente atendida. Enquanto Jumara e Fátima ensaiavam
a narração, comecei a pensar em algumas atividades que pudessem ser feitas com as
crianças, considerando que a grande maioria seria de crianças pequenas e com
múltipla deficiência. Fui, então, para a Rua 25 de Março em busca de materiais que
tivessem ligação estreita com o tema, para contribuir para maior entendimento e
ilustração do filme. Lá comprei uma estola de penas azuis, sacos de penas avulsas,
asas de anjinho de procissão, chapéus de arara azul e de tucano, tinta relevo, palitos
de picolé, olhinhos com pupilas que se movimentam, cola plástica, folhas A4 mais
grossas.
A Rua 25 de Março é um lugar rico em quinquilharias, onde tudo se acha. Um paraíso
para professores criativos que buscam colocar em prática ideias que possam tornar
suas aulas mais coloridas e interessantes, o que, sem dúvida, aumenta a motivação e
chama mais a atenção de todos os alunos. Eu, particularmente, adoro ir lá em busca
de materialização para minhas ideias e invenções, para a construção de painéis táteis
ilustrativos que completam e ilustram as histórias que costumo contar com recursos
sonoros, táteis e olfativos, além, é claro, da audiodescrição.
No dia, o auditório da Laramara estava lotado, com mais de 100 pessoas entre
familiares, funcionários e crianças, muitas crianças. No meio do vozerio cheio de
excitação, misturado ao cheiro gostoso de pipoca, as carinhas felizes, algumas um
pouco assustadas, o vai e vem de pessoas ainda se acomodando nas cadeiras, o Nei
preparava os equipamentos e testava o som; Jumara, Fátima e eu ajeitávamos os
materiais para darmos início ao evento. Anderson, finalmente, nos apresentou e
começamos.
Falei sobre a audiodescrição, o que é e seus benefícios para as pessoas com deficiência
visual. Aproveitei a oportunidade para me dirigir especialmente às mães destacando a
importância da descrição para as crianças. Descrever faz com que as crianças sejam
mais curiosas, mais interessadas pelas coisas do mundo. Descrever informa,
contextualiza, motiva. Descrever abre mais oportunidades de aprendizagem.
Descrever amplia o vocabulário, enriquece o repertório, abre janelas para o mundo. A
criança que tem pais e irmãos que descrevem as coisas para ela, chegará na escola
mais questionadora, pronta para reivindicar o recurso lá também.
Falei sobre o filme, as araras azuis, o voo das aves. Fomos mostrando às crianças as
penas, as asas, o movimento das asas durante o voo, a cabeça da arara, do tucano.
Distribuímos penas azuis para os pequenos. Fizemos a introdução do filme, com a
sinopse e a caracterização dos personagens: Blu, Jade, Linda, Túlio, Fernando, Nigel,
Pedro, Rafael, Nico e Luiz. Jumara e Fátima dividiram a narração do filme.

16
Apresentação do filme Rio na Laramara

Descrição: Fotografia colorida de Lívia, com estola de penas azuis e chapéu de arara azul com bico
amarelo, Jumara e Fátima com tiaras de tucano com grandes bicos amarelos, as três sorridentes
segurando asas brancas de anjos, no auditório da Laramara.

Preparamos também o desenho da arara contornado com tinta relevo para ser levado
para casa e incentivamos as crianças, mães e irmãozinhos a pintar, colar e decorar o
desenho. Acompanhando a arara, um kit contendo penas, olhinhos e palitos de picolé
para servir de poleiro.
Desenho em relevo e kit.

Descrição: Fotografia colorida, em plano detalhe, de mãos segurando o desenho de arara, contornado
com tinta relevo sobre folha branca. Sobre ele, o kit em saquinho também branco com penas, olho e
palito de sorvete, nas mãos de Lívia.

17
Sei que muitas crianças que ali estavam eram muito pequenas para acompanhar um
filme, algumas até dormiram nos braços das mães. Mas mesmo assim fiquei satisfeita
em ter contato com tantas mães e crianças. Maria Eduarda, uma garotinha cega que
estava começando a andar, me mostrou com clareza que mesmo para as crianças mais
pequeninas o evento foi significativo de alguma forma. Enquanto Fátima e Jumara
faziam a narração, passei várias vezes pelo auditório, enrolada em muitas penas azuis
e com chapéu de arara, observando a reação das crianças. Cheguei perto de Maria
Eduarda e rocei delicadamente as penas no bracinho dela. Fiquei surpresa e feliz ao
ouvi-la dizer: arara, arara… (Post do Blog VER COM PALAVRAS)
Assistir a um filme com acessibilidade coloca em igualdade de condições, para a
realização das tarefas, os alunos com deficiência visual e também aqueles com
deficiência intelectual e outros com dificuldades de aprendizagem, o que é
estimulante e motivador, uma vez que contribui para que todos tenham experiências
bem sucedidas de aprendizagem. Sabemos que o simples fato de se sentir capaz,
incluído e aceito pelo grupo alavanca o processo de aprendizagem. Certamente, vocês,
professores, têm batalhado para desconstruir o círculo vicioso do fracasso escolar,
produzido, principalmente, pela falta de estímulos e materiais, pouca participação e
exclusão, o que gera desinteresse e desmotivação e acaba empurrando os alunos para
fora da escola. A audiodescrição é mais uma ferramenta que vocês poderão utilizar
nessa batalha.

REFERÊNCIAS

MOTTA, L. M. V. M. Filme Rio com audiodescrição na Laramara. Blog VER COM PALAVRAS.
2012. Disponível em: <http://www.ver compalavras. com.br/blog/?p=892>. Acesso em: 15
fev. 2015.
MOTTA, L. M. V. M. Audiodescrição do filme Náufrago. Blog VER COM PALAVRAS. 2011.
Disponível em: <http://www.vercompala vras.com.br/ blog/?p=553>. Acesso em: 2 mar.
2015.

18

Potrebbero piacerti anche