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50 Acidose Metabólica 03 //
74 Alcalose Metabólica 04 //
86 Potássio 05 //
105 Sódio 06 //
OBJECTIVOS:
Compreender os conceitos de concentração e pressão parcial Introduzir a sequência universal de avaliação de um doente com
desequilíbrio ácido-base e/ou hidroeletrolítico
Reconhecer acidoses, alcaloses e respetivos desvios do pH
>
Capítulo 01 //
Conceitos Básicos
Concentração: quantidade de uma substância dissolvida numa Solução molar = solução que contém o peso molecular de uma
solução. substância, expresso em g por litro.
Glicose a 5%
Adrenalina numa diluição de 1: 1 000 Mas como no corpo humano as concentrações são muito mais
baixas, há casos em que é necessário usar unidades mais pe-
Adrenalina numa diluição de 1: 10 000 quenas, como por ex:
O conceito de solução molar é importante porque o peso mo- A percentagem de O2 no ar inspirado pode ser aumentada até
lecular em gramas, de todas as substâncias, tem exactamente 100%. Por convenção a fracção de O2 no ar inspirado
o mesmo nº de moléculas = 6x1023. Assim sendo quando com- representa-se por FiO2 e expressa-se como fracção de 1.
paramos soluções de igual molaridade já sabemos que têm ex- FiO2=1 significa que a percentagem de O2 no ar inspirando é
actamente o mesmo nº de moléculas e por isso é válida a con- 100%. Assim se o ar inspirado tiver 50% de O2 diz-se que tem
frontação dos respectivos pesos moleculares. uma FiO2 = 0,5.
A concentração de um ião pode ser apresentada em unidades Nota: quando referimos percentagens não explicitamos con-
de “equivalentes” (ex. 140 mEq/L de Na+) em vez de unidades centrações.
molares, referindo-se ao número de cargas iónicas. Isto signi-
fica que a concentração em mEq de um ião com 2 cargas (ex.
Ca++) será o dobro da mesma em mmol/L.
Azoto = 78,06%,
Fig. 1.1 | Diferença entre percentagem e concentração
Oxigénio = 20,98%,
Dióxido de Carbono = 00,04%
e Gazes Inertes = 00,92%
Nestes dois recipientes a percentagem de cada uma das molé- Ex: PO2 = 20,98:100 x 760 mmHg = 159 mmHg
culas e é igual mas a concentração de moléculas no re-
cipiente da direita é o dobro da concentração de moléculas no
Contudo se o gás estiver em contacto com um líquido, parte
recipiente da esquerda, por isso é preciso acrescentar à per-
desse gás dissolve-se no líquido, o que é muito importante em
centagem outra especificação. Este facto levou à introdução
fisiologia humana, já que a maior parte do organismo é líquido.
do conceito de:
O volume que se dissolve no líquido depende de duas forças:
Pressão parcial = soma de todas as moléculas desse gás em
a pressão parcial que “empurra” o gás para dentro do
colisão com as paredes do contentor.
líquido, e
Se o gás é uma mistura, como é o caso do ar, a pressão parcial a solubilidade = que reflecte a facilidade com que as molécu-
é a soma das pressões parciais de cada um dos seus compo- las desse gás se misturam com o líquido.
nentes. Tendo em consideração a composição habitual do ar
teremos:
O CO2, por ex., é 20 vezes mais solúvel no plasma do que o O2,
Pressão atmosférica = pressão parcial do Azoto (= 78,06%) + o que quer dizer que para a mesma pressão parcial, o CO2 se
Oxigénio (= 20,98%) + Dióxido de Carbono (= 00,04%) + dissolve no plasma vinte vezes mais do que o O2.
Gazes inertes (= 00,92%).
Se o gás ficar em contacto com o líquido sem interferências,
Se a pressão atmosférica for 760 mmHg, a pressão parcial de as moléculas que se dissolvem no líquido acabam por se equili-
cada um dos seus componentes será respectivamente: brar com as do gás, sendo possível determinar a pressão par-
cial desse gás no líquido. Por isso, para que não haja con-
593,2 mmHg + 159 mmHg + 0,3 mmHg + 6,9 mmHg fusões é necessário explicitar onde é que a pressão parcial do
gás foi medida.
Estes valores foram obtidos a partir da percentagem de cada
gás, dividida por cem (percentagem) e multiplicada pela
pressão total da mistura.
No caso do O2, essas variáveis são simbolizadas da seguinte Os valores da pressão parcial são representados em mmHg ou
forma: em kPa (quilo Pascal), sendo que 1 kPa = 7,5 mmHg
ácido clorídrico, Alcalis = substância dadora de OH, por ex. NaOH, mas que
ácido láctico, também é capaz de aceitar H+ e por isso pode comportar-se
ácido carbónico, como alcali e como base. Por isso todos os alcalis são bases
cetoácidos, mas nem todas as bases são alcalis.
ácido pirúvico,
ácido úrico,
pH, alcalemia e acidemia
proteínas.
A “acidez” de uma solução é uma propriedade que resulta do nº
de hidrogeniões nela dissolvidos. No organismo a concentração
Base é toda a substância que aceita hidrogeniões quando está
de H+ ([H+]) é baixíssima, quando comparada com a concen-
em solução. As bases mais importantes no controlo do
tração de outros iões essenciais à vida, por ex.:
equilíbrio ácido-base (Eq a-b), são:
proteínas,
amónia.
Acidose e Alcalose
Acidose e alcalose são termos que definem processos fisiopa- nesta definição também se compreende que pode existir ao
tológicos e identificam a origem da perturbação, ao passo que mesmo tempo mais do que uma perturbação fisiopatológica a
as designações acidemia e alcalemia se referem apenas ao alterar o pH em sentidos opostos, p. ex: acidose respiratória (re-
valor do pH independentemente dos mecanismos fisiopatológi- tenção de CO2) + alcalose metabólica (retenção de HCO3-). Olhar
cos que lhes dão origem. só para o pH não chega para definir o estado do Eq. a-b.
As alterações do Eq a-b ocorrem primariamente dentro da cé- Pode haver acidose sem acidemia (desde que esteja compen-
lula, mas se não forem corrigidas e a perturbação persistir aca- sada), mas não pode haver acidemia sem acidose.
bam por se repercutir no plasma provocando acidemia ou al-
A actividade metabólica normal liberta grande quantidade de hi-
calemia.
drogeniões intracelulares. Se nada fosse feito, a acumulação
desses H+ provocaria graves alterações de pH a curto prazo.
Do ponto de vista fisiopatológico poderemos considerar que: Como os enzimas, essenciais à vida, só funcionam se o pH es-
tiver numa estreita margem, sempre que o pH se desvia grande-
Acidose metabólica = diminuição do HCO3-
mente da margem fisiológica há risco de vida.
Alcalose metabólica = aumento do HCO3-
Felizmente, há moléculas capazes de aceitar e ceder H+ para
Acidose respiratória = aumento do CO2 equilibrar o pH, que se designam por tampões.
Alcalose respiratória = diminuição do CO2 Os tampões, em presença de bases fortes, são igualmente ca-
Assim sendo, compreende-se que pode existir acidose com pH pazes de ceder H+, para equilibrar o pH. Cerca de ¾ da capaci-
normal e alcalose com pH normal, por isso é necessário distin- dade de tamponamento intracelular é assegurada pelas pro-
guir acidemia de acidose e alcalemia de alcalose. Com base teínas e pelos fosfatos (existentes em grande concentração den-
tro das células). A hemoglobina é um dos principais protago- ismo, dissolve-se no plasma enquanto o CO2 é eliminado com
nistas deste processo de tamponamento porque tem grande a respiração. Esta reacção tende para a direita ou para a
apetência e facilidade para receber e dar H+. O restante ¼ da esquerda, conforme a pressão do ambiente metabólico.
capacidade tampão do organismo é assegurado por proteínas Quando as reacções para a direita tendem a igualar as re-
séricas e pelo sistema bicarbonato - ácido carbónico. En- acções para a esquerda atinge-se um estado de equilíbrio que
quanto as proteínas plasmáticas se encarregam de levar o H+ contribui para regular o pH.
ao rim para ser eliminado, o sistema bicarbonato - ácido
carbónico mantém o equilíbrio gerindo a associação e a disso- Importante: o sistema do bicarbonato / ácido carbónico
ciação do H2CO3 em H2O + CO2 numa relação representada nunca se satura porque há sempre a possibilidade de o
pela fórmula: desdobrar em CO2 e H2O que são continuamente eliminados
ou incorporados no plasma.
Os dados clínicos mais relevantes são os que traduzem a eficá- no contexto de acontecimentos médicos recentes (cirurgia,
cia da circulação: pós operatórios recentes, infecções com expressão sistémi-
ca, trauma, queixa de toracalgia, administração de sedativos,
1. Pressão arterial e características dos pulsos periféricos
doente em ventilação mecânica, …)
2. Estado de preenchimento do leito vascular
e quando confrontada com a pressão arterial habitual nesse
3. Estado da perfusão dos tecidos e órgãos nobres indivíduo.
Para fins epidemiológicos e para a investigação clínica, é clássi- Rim: que apesar de representar apenas 4% do peso corporal
co definir hipotensão se PA sistólica < 90mmHg, se PAM < recebe 20% do débito cardíaco pelo que é muito sensível
65mmHg e/ou se há uma queda da PA sistólica habitual > 40- aos estados de hipoperfusão e traduz essas alterações na va-
50mmHg. Estes dados só têm valor se forem clinicamente con- riação da diurese que pode ser pronta e facilmente medida.
textualizados, p.ex. um jovem, habitualmente hipotenso pode Tem a grande vantagem de permitir uma monitorização fácil
estar sem qualquer queixa e/ou manifestação de hipoperfusão e quantificável a médio prazo;
celular apesar de ter PA = 85-55 mmHg, mas ficará sintomáti-
Pele: traduzida pelo arrefecimento das extremidades (fre-
co antes da sistólica cair 40mmHg. No outro extremo é possí-
quentemente associada a redireccionamento do sangue
vel ter um indivíduo de 70 anos hipertenso não controlado, ha-
para órgãos vitais), pela aparência marmórea (a traduzir alte-
bitualmente com PA = 190-75mmHg que evidencia sinais de hi-
rações da microcirculação). Tem a vantagem de ser uma ma-
poperfusão porque a pressão arterial baixou para 140-70
nifestação sensível, facilmente acessível, mas com o inconve-
mmHg.
niente de ser pouco específica;
Por esta razão a valorização da pressão arterial deve ser asso- Territórios com estenose prévia da circulação arterial: coroná-
ciada à avaliação do funcionamento dos órgãos nobres que rias: angor; carótidas e seus ramos: défices neurológicos fo-
manifestam alterações clínicas quando a perfusão é insuficien- cais; mesentéricas: angina intestinal; artérias distais dos
da percepção, modificações do comportamento, …). Tem a destas manifestações consolida a noção de que os órgãos/teci-
grande vantagem de permitir uma monitorização imediata / dos estão em sofrimento por alterações da perfusão tecidular.
instantânea;
Mecanismos de compensação: Por outro lado o organismo es- 2. Estado de preenchimento do leito vascular
força-se por compensar as alterações circulatórias que podem
O preenchimento do leito vascular é essencial para assegurar
influenciar a perfusão dos órgãos nobres, activando o sistema
um débito cardíaco eficaz e por essa via a perfusão periférica.
neuro-endócrino, com particular ênfase para o sistema nervo-
O débito cardíaco depende do volume sistólico (o volume que
so autónomo, o sistema renina-angiotensina e, secundaria-
o coração ejecta em cada sístole) e da frequência cardíaca (nº
mente, o sistema da hormona antidiurética (ADH). Por isso é
de sístoles por minuto). Ora, o volume sistólico, além do inotro-
importante que na avaliação clínica se pesquisem manifesta-
pismo e da afterload está na dependência do volume intravas-
ções que sugerem a activação dos mecanismos de compensa-
cular porque depende da préload (indicador indirecto do volu-
ção, entre as quais se salientam a taquicardia, outros sinais de
me de sangue existente no ventrículo no fim da diástole).
hiperactividade adrenérgica (sudação profusa, piloerecção, va-
soconstrição periférica) e a taquipneia (sinais de esforço respi- DC (Débito cardíaco) = VS (Volume sistólico) x FC (Frequência Cardíaca)
ratório).
VS depende e correlaciona-se com:
Os doentes com reserva fisiológica conseguem compensar a
disfunção, mantendo parâmetros de monitorização em valores préload (tensão sobre a parede do ventrículo no final da diástole)
normais, enquanto as reservas fisiológicas não se esgotam, à
inotropismo (força de contracção do miocárdio)
custa da vasoconstrição, do aumento do débito cardíaco (au-
mento do inotropismo e da frequência cardíaca) e da retenção afterload (resistência à ejecção do sangue dos ventrículos)
de fluídos (activação do sistema renina-angiotensina e do sis-
tema da ADH). Os doentes com reservas fisiológicas diminu-
tas/insuficientes descompensam rapidamente. Assim se percebe que para optimizar o débito é necessário
que o leito vascular esteja adequadamente preenchido (para
que no final da diástole o ventrículo esteja bem preenchido),
porque o volume sistólico depende do volume de sangue exis-
tente no ventrículo no final da diástole.
Importa pois saber se, no caso concreto que estamos a tratar, zontal ficam preenchidas, já que as jugulares não têm válvulas
a depleção de volume intravascular é relevante ou não. A me- e portanto têm todo o sangue que retorna ao coração direito
lhor forma de o fazer é: (sem que daí se possa deduzir que há hipertensão venosa). Cli-
nicamente será preocupante se as jugulares, com o doente na
Rever a existência de sintomas (sede, tonturas, hipotensão
horizontal, estiverem colapsadas, o que sugere que há grave
ortostática, …) e sinais clínicos de depleção de volume (colap-
depleção de volume intravascular. Pelo contrário jugulares túr-
so inspiratório da onda de pulso, oligúria, colapso jugular…);
gidas, com o doente a 45ºC, traduzem hipertensão venosa que
Enquadrar estas manifestações na situação clínica concreta; sugere sempre patologia associada. Se a PVC (pressão venosa
central) estiver a ser avaliada, medida por catéter venoso cen-
Nos casos em que há instabilidade hemodinâmica fazer um tral considera-se normal se for < 10mmHg. Na maioria das situ-
teste de sobrecarga (“fluid challenge”) = perfundir 500 mL de ações clínicas está entre 0-5 mmHg. PVC > 15 mmHg é hiper-
cristalóides, em 20-30min, avaliando de 10 em 10 min a res- tensão venosa que na maioria das vezes, mas nem sempre, tra-
posta da pressão arterial, frequência do pulso e respiratória, duz estados de hipervolémia.
pressão venosa central, SatO2, sinais de sobrecarga de volu-
me (edema pulmonar) e evolução da função dos órgãos (cére- Em situação de depleção de volume intravascular o organismo
bro, coração, rim e pele). Uma resposta positiva sem efeitos tenta corrigir em primeiro lugar essa deficiência e assegurar a
indesejáveis sustenta o diagnóstico de depleção do volume perfusão de órgãos, condicionando a correcção de outros dese-
intravascular. quilíbrios.
2º De cada vez que se forma uma molécula de ATP, por fusão Há duas razões fundamentais para que se instale o choque:
de ADP + Pi, liberta-se H+, para o meio interno. A forma nor-
1ª o fornecimento de O2 é inadequado (solução: optimizar o
mal do organismo compensar esta acumulação de H+ é conju-
DO2 = fornecimento de O2)
gá-lo com O2, para formar H2O e repor a electroneutralidade.
2ª a célula está tão doente que já não consegue utilizar o O2
que lhe chega (solução: reconhecer os estados de hipoperfu-
são o mais precocemente possível para optimizar o DO2 e o tra-
tamento da causa em tempo oportuno)
Esse O2 de reserva pode ser medido no sangue venoso sob a for- Com base no que fica revisto, do ponto de vista hemodinâmico,
ma de SvcO2 (Saturação do sangue venoso obtido por catéter o tratamento de todo o doente em estado crítico deve centrar-
central > 70%). Quando a célula tem necessidades acrescidas e se em três pontos essenciais:
a DO2 não aumenta em proporção às necessidades verifica-se
1º Reconhecimento precoce, que significa valorização dos si-
uma baixa da SvO2, a traduzir um estado de disóxia celular (cho-
nais de alerta (incluindo as manifestações de SIRS, elevação
que) que pode não ter ainda tradução hemodinâmica explícita
dos lactatos e descida da SvcO2 = estados de choque críptico)
(choque críptico). De forma equivalente os doentes com reserva
e antecipação dos desvios esperados
fisiológica suficiente podem manter-se hemodinamicamente
compensados mas já com disóxia significativa (choque) traduzi- 2º Optimização da DO2, que significa estabilização do débito
do pela elevação dos lactatos > 4mmol/L (anaerobiose por inca- cardíaco e assegurar a melhor oxigenação possível, guiado pe-
pacidade de utilização de O2). las regras expressas nas fórmulas:
3º Correcção da causa
/ 26 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
pele quente
taquicardia
disritmias de predomínio supraventricular
pulso amplo
sudação profusa
/ 27 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
Acidose metabólica
/ 28 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
Em condições normais o ácido láctico é imediatamente tampo- vocada pela hiperventilação mecânica num doente sedado ou
nado pelo HCO3-, produzindo lactato que é de seguida dissocia- com patologia neurológica, provoca com frequência:
do, no fígado, em CO2, glicose e H2O. Assim se compreende
disritmias
que a produção excessiva de ácido láctico (situações de anae-
robiose celular) ou a sua metabolização insuficiente (falência aumento das resistências vasculares com redução do débito
hepato-celular) podem ambas produzir uma acidose láctica, cardíaco
que por convenção se designa de tipo A no 1ºcaso e de tipo B hipoperfusão periférica
no 2º caso.
Alcalose respiratória
parestesias
confusão
tonturas
sensação de aperto torácico Fig. 1.11 | Alcalose Respiratória
convulsões (raramente)
tetania Alcalose metabólica
Se o doente está acordado a alcalose respiratória raramente Tem manifestações inespecíficas e múltiplas:
se complica com consequências cardio-circulatórias porque o
doente reage e cessa a hiperventilação, contudo, quando é pro- hipovolémia
/ 29 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
/ 30 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
Exemplos a considerar:
/ 31 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
/ 32 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
/ 33 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
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Capítulo 01 //
/ 35 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
/ 36 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 01 //
Bibliografia Recomendada
Moe OW, Alperin RJ. Common acid-base disorders. In: Wachter RM, Goldman L, Hollander H, Eds. Hospital Medicine. Philadelphia: Lippincott Williams &
Wilkins, 2001: 871 - 879.
Burton DR. Ed. Clinical physiology of acid-base and electrolyte disorders, 4th ed, McGraw-Hill International, 2000.
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Kellum JA. Disorders of acid-base balance. Crit Care Med 2007; 35 (11): 2630-2636.
Theodore W Post and Burton D Rose (Authors). UpToDate. At: http://www.Uptodate.com/ Acedido em Setembro 2008.
/ 37 | Interpretação dos desequilíbrios a-b | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 02 //
OBJECTIVOS:
Identificar os mecanismos de hipoxemia e avaliar a resposta ao Reconhecer situações de perigo associados a alterações iónicas
tratamento na GSA e conhecer as regras para a sua correcção
>
Capítulo 02 //
Introdução
A gasometria do sangue arterial (GSA) é um exame de fácil exe- A análise sistemática dos dados da GSA e do ionograma (habitu-
cução e está disponível na maioria dos locais onde se tratam almente disponível na GSA) constitui o 3º passo da Sequência
doentes críticos. Este é, provavelmente, o melhor exame para Universal que propomos (Cap. 1). É a ele que nos dedicamos
estratificar o risco do doente grave. agora.
A GSA permite realizar 3 análises imediatas: Avaliação da A “Regra dos 3” é uma simplificação assumida para facilitar a
oxigenação/ventilação, avaliação do equilíbrio ácido-base e pre- memorização. Vamos ver que, de facto, podemos avaliar a
sença de situações de perigo associadas a distúrbios iónicos. oxigenação/ventilação, o equilíbrio ácido-base e as alterações
iónicas que põem a vida em risco com 3 perguntas em cada
Neste capítulo propomos regras simples para estas 3
uma delas.
avaliações, a sua correlação clínica e indicações para a cor-
recção imediata.
1ª Avaliação: Oxigenação/ventilação
Conceitos chave G(A-a) = PAO2 – PaO2
Respiração é um mecanismo celular de utilização de O2. Fala- PAO2 = FiO2 x (PB – PH20) – PaCO2/R
mos de hipóxia quando as células são impedidas de utilizar cor-
Se:
rectamente o oxigénio, o que pode acontecer mesmo na presen-
ça de uma pressão arterial de O2 normal.
FiO2 – 0,21, ar ambiente
Embora classicamente seja definida como insuficiência respirató-
PB – 760 mmHg, nível do mar
ria uma PaO2 < 60 mmHg, esta definição assume que o doente
está a respirar uma FiO2 = 0,21. Em doentes a quem está a ser ad-
PH20 – 47 mmHg, 37ºC
ministrado oxigénio suplementar, podemos dizer que existe insufi-
ciência respiratória (IR) quando a relação PaO2/FiO2 ≤ 300, sendo PaCO2 – medida da ventilação
tanto mais grave quanto menor for esta relação.
R – quociente respiratório (0,8)
IR tipo 1 – apenas hipoxemia.
Então:
IR tipo 2 – hipercapnia, com ou sem hipoxemia.
O gradiente álveolo-arterial (G(A-a)) é uma medida fundamental PA02 = 150 – 1,25 x PaCO2
da capacidade de transferência do oxigénio do ar alveolar para Embora o valor possa ser calculado desta forma, a maioria das
o sangue. gasometrias já apresentam o resultado.
Valores normais são ≤ 15 mmHg, aumentando cerca de 5 mmHg
por cada década acima dos 30 anos.
Se a FiO2 for diferente de 0,21 devem ser utilizados os seguin- O G(A-a) traduz compromisso das trocas gasosas quando está
tes valores de referência: aumentado. É particularmente útil quando está aumentado na
presença de valores normais de PaO2 (à custa de hiperventila-
FiO2 de 0,21 – G(A-a) de 10 mmHg ção).
FiO2 de 1 – G(A-a) de 122 mmHg 1. Aumento da produção – normalmente compensado pelo au-
mento da ventilação/minuto
Simplificando, por cada 0,1 de aumento da FiO2, o G(A-a) nor- 2. Hipoventilação
mal = idade/2 para FiO2 - 0.21 e aumenta 7 por cada aumento 3. Desequilíbrio grave da relação ventilação/perfusão
de 10% na FiO2
A conjugação destas 3 perguntas é a base do algoritmo da Fig 2.2. Fig. 2.2 | Algoritmo para abordagem da hipoxemia
In Clinical physiology of acid-base and electrolyte disorders, 4th ed, by Burton David Rose. Ed. McGraw-Hill International editors, 2000.
As compensações não são mecanismos fisiopatológicos e, por- mos fisopatológicos de desequilíbrio ácido-base (diversas
tanto, não devemos chamar “acidose” ou “alcalose” à compensa- “oses”). Estes podem concorrer no mesmo sentido (ex. acidose
ção. No entanto, quando as compensações não são as espera- metabólica + acidose respiratória) ou em sentidos contrários
das estamos em presença de distúrbios mistos, ou seja, situa- (ex. acidose metabólica + alcalose respiratória).
ções em que concorrem no mesmo doente diversos mecanis-
/ 46 | 2ª Avaliação: Equilíbrio ácido-base | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 02 //
3. Como está o Gap Aniónico? por cada diminuição de 1g/dL da albumina, o valor do GA dimi-
nui 2,5 mmol/L.
O Gap aniónico (GA) é a diferença entre o catião Na+ e os ani-
ões HCO3- e Cl-. Este valor, que deve estar entre 8 e 12, permite A comparação da variação do Gap aniónico com a variação do
identificar um mecanismo de acidose metabólica que pode es- bicarbonato ( GA/ Bicarbonato) é mais um dado importante
tar oculto. para a análise do Gap aniónico:
O Gap aniónico deve ser calculado em todos os casos porque O aumento do Gap aniónico é superior à descida de HCO3-?
pode identificar uma acidose metabólica, mesmo em situações Se a resposta for sim, há distúrbio misto: acidose metabólica
de pH normal ou alcalémico. + alcalose metabólica.
O aumento do Gap aniónico é inferior à descida de HCO3-? Se
Uma vez que os ácidos são dadores de H+, a parte restante da a resposta for sim, há distúrbio misto: acidose metabólica
molecula tem carga negativa (anião) e, não sendo medida, vai com Gap aniónico aumentado + acidose metabólica com Gap
aumentar o Gap aniónico calculado. Um aumento do Gap anió- aniónico normal.
nico superior a 5 mmol/L em relação ao que seria de esperar
As acidoses metabólicas com Gap aniónico aumentado
traduz sempre presença de acidose metabólica com ácidos em
correspondem a situações de presença anormal na
circulação.
circulação de um ácido endogeno ou exógeno.
O Gap aniónico permite classificar as acidoses em acidoses
As acidoses metabólicas com Gap aniónico normal
com Gap aniónico normal ou acidoses com Gap aniónico eleva-
correspondem a situações em que há diminuição primária do
do (ver abaixo). bicarbonato, sem que ele tenha sido consumido. Estas
situações resultam de perda de bicarbonato ou incapacidade
Gap aniónico = [Na+ - (Cl- + HCO3-)] = 8-12 mmol/L (valor normal) do rim formar amónia (NH4+) e gerar bicarbonato de novo.
Sendo a albumina uma proteina aniónica não medida, se esti- As acidoses metabólicas com Gap aniónico normal
ver diminuída o Gap aniónico também fica diminuído. Assim, correspondem a perda efectiva ou não produção de
bicarbonato.
/ 47 | 2ª Avaliação: Equilíbrio ácido-base | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 02 //
A avaliação sistemática e tratamento dos distúrbios iónicos será > 3 perguntas na hipoxemia:
tratada em capítulos próprios deste manual. 1. CO2
2. Gradiente A-a
3. Resposta ao O2
> 3 perguntas no ácido-base:
1. Desvio Primário
2. Compensações
3. Gap aniónico
> 3 avaliações iónicas:
1. Sódio
2. Potássio
3. Cálcio
Bibliografia Recomendada
Theodore W Post and Burton D Rose (Authors). UpToDate. At: http://www.Uptodate.com/ Acedido em Setembro 2008.
O’Driscoll B R, Howard L S, Davison A G. Guideline for emergency oxygen use in adult patients: British Thoracic Society Emergency Oxygen Guideline
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ternal Medicine. 17th Ed. New York: McGraw-Hill, 2008: 287-296.
Acidose Metabólica
OBJECTIVOS:
Compreender e sistematizar a metodologia de abordagem dos Reconhecer a acidose metabólica com Gap aniónico normal — fi-
doentes com acidose siopatologia e clínica
Reconhecer a acidose metabólica com Gap aniónico aumentado Saber tratar alguns dos quadros de acidose metabólica mais co-
— fisiopatologia e clínica muns no Serviço de Urgência (cetoacidose diabética, cetoaci-
dose alcoólica)
>
Capítulo 03 //
Sistemas tampão
Pulmão - compensação respiratória
Rim
Fig. 3.1 | Fórmula
Por isso, quando aumenta a produção de H+ aumenta o CO2 Se o distúrbio primário for respiratório, por exemplo aumentan-
que é excretado pelo pulmão. A PaCO2 é influenciada pelo esta- do a PaCO2 como acontece na acidose respiratória, o pH dimi-
do da ventilação, constituindo a compensação respiratória. nui. Neste caso, o rim compensa aumentando a produção de
bicarbonato, através do aumento de produção e excreção de
O bicarbonato é um dos tampões consumido no processo me-
NH4+.
tabólico. O rim reabsorve o bicarbonato filtrado (cerca de
4000 mmol/dia) e produz bicarbonato de novo, através da ex-
creção da acidez titulável e da síntese e excreção de amónia
(NH4+). Quando necessário o rim aumenta a produção de bicar-
bonato de novo. A compensação renal é lenta demorando até
5 dias, enquanto que a respiratória demora apenas 12 a 24 h a
atingir o seu máximo.
Mecanismos de compensação:
Da equação de Henderson:
Abordagem sistemática do doente A análise do equilibrio ácido-base tem por base a resposta às
seguintes perguntas:
com desequílibrio ácido-base
como está o pH ?
Perante o doente com desiquílibrio ácido-base o médico deve
como está o HCO3- ?
seguir a SEQUÊNCIA UNIVERSAL DE AVALIAÇÃO (vide Cap 1, Fig 1.2):
como está a PaCO2 ?
1º Avaliação dos dados clínicos e antecipação dos desvios espera- qual é o desvio primário ?
dos
as compensações são as esperadas ?
2º Identificação e tratamento de situações de perigo iminente o desvio é simples ou misto ?
3º Análise sistemática dos dados da gasometria e ionograma
como está o Gap Aniónico ?
1. Como está a oxigenação
qual a relação do aumento do Gap aniónico com a diminui-
2. Como está o equilíbrio ácido-base
ção do bicarbonato ( GA/ Bicarbonato)?
3. Como estão os iões Como está o potássio?
Por razões didáticas vamos analisar cada uma das perguntas: Na acidose metabólica há diminuição primária do HCO3-. O me-
canismo de compensação faz diminuir a PaCO2. Considera-se
Qual é o desvio primário ?
que a compensação é adequada se: a PaCO2 diminuir 12
Há acidemia ou alcalemia (pH)? mmHg por cada 10 mmol/L que o HCO3- baixar.
Há alterações do componente respiratório (PaCO2)? Ex: se HCO3- = 14, baixou 10 mmol/L. A acidose estará compen-
Há anormalidade do componente metabólico (HCO3-)? sada se a PaCO2 baixar 12 mmHg, pelo que deve ser 28 (a com-
pensação começa na 1ª hora e completa-se em 12-24h).
O médico deve perguntar-se “Quem manda no pH?” e olhar
para os desvios do CO2 e do bicarbonato. Aquele que estiver Em alternativa, outra regra é que a PaCO2 deve ser igual à por-
no sentido do desvio do pH é o desvio primário. ção decimal do pH (por ex: pH = 7,30 – PaCO2 deve ser 30
mmHg).
As compensações são as esperadas ?
Se a compensação não for a esperada, considerar a possibilida-
Os valores da PaCO2 e do bicarbonato variam de forma a corri-
de de distúrbio misto.
gir o pH? Se a resposta for não, significa que o distúrbio é mis-
to ou a compensação é parcial. As compensações renal ou res-
piratória corrigem os desvios do pH, mas na maioria das vezes O desvio é simples ou misto ?
não o normalizam. A presença de um distúrbio grave do Eq a-b
Na acidose metabólica
com pH normal significa quase sempre a existência de distúr-
bio misto. Se a PaCO2 não diminuir de forma apropriada é porque há
também acidose respiratória e
Compensação esperada na: Se a PaCO2 diminuir mais do que é de esperar é porque há
também alcalose respiratória.
mais de 3 mmHg o valor esperado) o risco de necessitar de en- O pH baixo e a PaCO2 elevada indicam acidose respiratória. O
tubação aumenta 4,2 vezes. bicarbonato devia aumentar 3 mmol/L (acidose aguda) ou 10,5
mmol/L (acidose crónica). Logo devia ser 27 ou 34,5 mmol/L,
Nos distúrbios respiratórios
mas o valor medido é de 30 mmol/L, o que pode significar que
Se o HCO3- está inapropriadamente elevado, então há tam- existe:
bém alcalose metabólica e
Acidose respiratória aguda + alcalose metabólica: por exem-
Se o HCO3- está inapropriadamente baixo, então há também plo, doente com pneumonia grave e vómitos.
acidose metabólica.
Acidose respiratória crónica + acidose metabólica: por exem-
Exemplo: Se um doente com insuficiência respiratória crónica plo, doente com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica e diar-
compensada (portanto a PaCO2 está aumentada e o bicarbona- reia.
to aumentado de forma proporcional) desenvolver diarreia, per- Acidose respiratória aguda sobreposta a acidose crónica: por
de bicarbonato nas fezes e por isso a concentração plasmática exemplo, doente com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica
que desenvolve pneumonia.
de bicarbonato baixa, provocando acidose metabólica, apesar
da concentração de bicarbonato no plasma ser “normal”.
Como está o Gap Aniónico ?
Na acidose ou alcalose respiratória aguda, a variação do HCO3 -
é menor do que na crónica porque o rim demora mais tempo a Há aumento do Gap aniónico? Em caso afirmativo existe aci-
compensar os distúrbios respiratórios. dose metabólica com Gap aniónico elevado e portanto há que
saber se:
Exemplo:
Aniões: Cl-, HCO3-, proteínas-, ácidos orgânicos-, PO4-, SO3- Por cada diminuição de 1g/dL da albumina abaixo do valor de
Catiões: Na+, K+, Ca++, Mg++ 4 g/dL, o valor do GA diminui 2,5 mmol/L.
[Na+] + [outros catiões] = [Cl-] + [HCO3-] + [outros aniões] Assim, se albumina diminuir de 4 para 2 g/dL, o valor do Gap
aniónico previsto passa a ser 3-7 mmol/L e não 8-12 mmol/L.
Na prática clínica só se utilizam o sódio, cloro e bicarbonato Neste caso, se o Gap aniónico for 13 significa que há acidose
para calcular o Gap aniónico, que reflecte as cargas não medi- metabólica com Gap aniónico elevado.
das. Em condições normais estas cargas são essencialmente
da albumina.
Qual é a relação entre o desvio do Gap Aniónico e o des-
Em situações patológicas (cetoacidose, acidose láctica, insufici- vio do bicarbonato ( / ) ?
ência renal, intoxicações) o aumento de aniões aumenta o Gap
Em situação de acidose metabólica com Gap Aniónico aumen-
aniónico, daí a sua utilidade no diagnóstico diferencial das cau-
sas de acidose. tado (presença de ácidos endógenos) o aumento do GA deve
ser acompanhado de uma descida equivalente do bicarbonato.
Gap aniónico = [Na+-(Cl-+HCO3-)] = 8-12 mmol/L (valor normal)
A avaliação desta relação é importante para determinar se
existem distúrbios mistos e em que sentido operam.
Quando o aumento do valor do Gap aniónico é maior do que 5
mmol/L há sempre acidose metabólica. Se o aumento do Gap aniónico é superior (em pelo menos 5
mmol/L) à descida de HCO3- há distúrbio misto: acidose meta-
Deve ser sempre calculado porque permite identificar uma aci-
bólica + alcalose metabólica. Esta alcalose “oculta” é responsá-
dose metabólica mesmo com pH normal ou alcalémico.
vel pela não descida do bicarbonato no valor que devia.
Se o aumento do Gap aniónico é inferior (em pelo menos 5 Como está o K+?
mmol/L) à descida de HCO3- há outro tipo de distúrbio misto: aci-
Os valores do K+ são muito importantes porque, além das situa-
dose metabólica com Gap aniónico aumentado + acidose meta-
ções de perigo iminente de vida que exigem intervenção imedia-
bólica com Gap aniónico normal. Estas duas acidoses são res-
ta, há desequilíbrios do potássio que quando associados a aci-
ponsáveis pela descida exagerada do bicarbonato em relação dose podem dar pistas para o diagnóstico:
ao aumento do GA.
a) Acidose metabólica associada a hipocalemia sugere
Insuficiência renal
Défice ou resistência à aldosterona
Cetoacidose
Clínica
Tratamento
manter perfusão EV na mesma dose até o Gap aniónico es- se o doente mantiver hipercalemia grave apesar do trata-
tar normalizado. mento com insulina.
Nas situações mais graves pode haver também acidose láctica Acidose por Ácido Piroglutâmico
devida a:
metabolismo do etanol
(deplecção de glutatião)
hipoxemia Surge em doentes sépticos a receber doses terapêuticas de
contracção muscular (delírio, trémulo, convulsões) paracetamol:
défice de tiamina
Acidose metabólica grave com Gap Aniónico aumentado
Na acidose metabólica com Gap aniónico elevado pode não Alterações estado mental (confusão coma).
haver acidemia, como acontece nas situações em que há vómi-
tos associados que provocam alcalose metabólica, por perda
maciça de H+ do suco gástrico.
Tratamento
Quadro clínico caracterizado por episódios recorrentes de: A rapidez de administração vai depender da gravidade da acide-
mia, da velocidade de produção de H+, da concentração de
Encefalopatia - alterações mentais ( semelhantes a embria-
potássio e da situação cardíaca do doente.
guês) – voz arrastada, ataxia, alteração equilíbrio, confusão,
alterações comportamento
Acidose metabólica com Gap Aniónico aumentado Riscos da administração de HCO3-
Ausência de corpos cetónicos
sobrecarga de volume
hipocalemia
Tratamento
hipocalcemia
Restrição de hidratos de carbono produção excessiva de CO2 (atenção aos doentes ventilados)
Antibiótico – neomicina, vancomicina ou metronidazol possível hipoglicemia
A acidose com Gap aniónico normal também pode ser cha- pós-hipocapnia
mada hiperclorémica porque a diminuição do bicarbonato é
4º. Baixa excreção de NH4+ pelo rim
compensada, em termos de anião, com elevação proporcional
do cloro. devida a diminuição de produção de NH3 nas células do
túbulo proximal
por má difusão do NH3 na medula
CAUSAS
incapacidade das células do túbulo colector secretarem H+
1º. Perdas digestivas de HCO3- que transforma o NH3 em NH4+ para ser excretada na urina
6º. Diminuição da secreção de H+ no túbulo distal Em condições normais o rim responde à acidose metabólica
crónica aumentando a produção de NH4+. Esta resposta está
acidose tubular renal distal
diminuída na insuficiência renal, na hipercalemia e na acidose
tubular renal.
Situações mais frequentes no Serviço de Urgência: Como não é possível medir o NH4+, usa-se o Gap aniónico da
urina e o Gap osmótico da urina como indicadores indirectos
Diarreia
do aumento de produção de NH4+ pelo rim.
Fístula intestinal
Drenagem de fluídos pancreáticos
Acidose dilucional – por hidratação agressiva com soro Qual é o Gap aniónico da urina?
fisiológico, o que aumenta o espaço vascular e dilui o
Na urina, tal como no sangue, há neutralidade electroquímica,
bicarbonato, diminuindo a sua concentração. O Gap aniónico
com igual número de catiões e aniões:
não aumenta porque aumenta o cloro
Acidose tubular renal Na+ + K+ + NH4+ + Ca++ + Mg++ = Cl- + H2PO4- + SO4- + aniões
Estados de recuperação da cetoacidose orgânicos
As perguntas a formular nas acidoses com Gap aniónico nor- Gap aniónico da urina, é a diferença entre cargas positivas
mal são: (sódio + potássio) e negativas (cloro) medidas na urina.
Qual é o Gap aniónico na urina (“Urine net charge”): (Na+ + A soma do cálcio e magnésio corresponde a 15 mmol/dia (ca-
K+) – Cl-? tiões constantes). A soma do fosfato e sulfato na urina corre-
sponde a 85 mmol/dia (aniões constantes). Logo, simplificando
Qual é o Gap osmótico da urina?
a fórmula anterior:
Qual é a [K+] do plasma?
Na+ + K+ + NH4+ = Cl- + 70
Qual é o pH da urina?
Na+ + K+ – Cl- = 70 - NH4+
Assim, o Gap aniónico da urina (Na+ + K+ – Cl-) é uma medida na depleção de volume com sódio urinário inferior a 25
indirecta da amónia (=70-NH4+) e traduz a excreção de amónia mmol/L – nesta situação há aumento de reabsorção de cloro
para manter a volémia, diminuindo a excreção de Cl- e suger-
na urina associada a cloro (NH4Cl).
indo erradamente uma acidose tubular renal
Nas situações de acidose em que o rim aumenta a produção na cetoacidose – porque a excreção de cetoácios faz-se liga-
de amónia e a excreta sob a forma de NH4Cl, a excreção de dos ao sódio e potássio ( para manter electroneutralidade)
podendo dar um Gap aniónico na urina positivo, apesar do
cloro aumenta e, como este é medido e entra na conta do Gap
aumento de excreção de NH4+
aniónico da urina, o valor final do Gap é negativo.
se o pH da urina é > 6.5
Ou seja, se Cl- > (Na+ + K+) o Gap aniónico da urina terá valor na presença de bicarbonatúria
negativo e significa que existe aumento da produção de NH4+ durante a administração de carbenecilina ou outros aniões
com excreção associada a cloro, e isto representa perdas de durante a administração de lítio
HCO3- extra-renais (por exemplo, diarreia) com rim normofun-
na hipercalcemia
cionante.
Ou seja, o aumento de excreção de NH4+ não pode ser avali-
Por outro lado, se Cl- < (Na+ + K+) o Gap aniónico da urina terá ado pelo Gap aniónico da urina se a NH4+ não for excretado
valor positivo o que significa que há défice de produção NH4+ sob a forma de NH4Cl mas, por exemplo, ligada a cetoácidos.
(por exemplo, na acidose tubular renal) ou excreção de NH4+ Neste caso, o aumento de excreção é dado pelo aumento do
com um anião que não o cloro (por exemplo, com cetoácidos). Gap osmótico da urina.
Contudo o Gap aniónico na urina só pode ser interpretado em Qual é o Gap osmótico da urina ?
determinadas condições. A interpretação não é válida:
O Gap osmótico da urina é a diferença entre a osmolaridade
na ausência de acidose medida e a osmolaridade calculada da urina. Usa-se se a NH4+
é excretada com outro anião que não o Cl- (por exemplo: ce- Qual é o pH da urina ?
toácidos, aniões de drogas, metabolitos do tolueno).
É útil para detectar HCO3- na urina, mas pouco útil para deter-
U NH4+ (amónia urinária) = 0,5 x Gap osmótico da urina minar a excreção da amónia. Se estiver elevado indica pre-
sença de HCO3- na urina ou infecção urinária por bactéria pro-
o que equivale a
dutora de urease.
U NH4+ = 0,5 x (Osmolaridade medida na urina - Osmolaridade
calculada na urina) Na acidose aguda é habitual o pH urinário ser inferior a 5.5,
e assim também mas na acidose crónica não dá informação sobre a produção
U NH4+ = 0.5 x (U.Osm - [ 2(Na+ + K+) + Ureia/6 + Glicose/18]) de amónia.
Acidose tubular renal distal tipo 1 que é uma bomba de H+, e a H+K+ATPase, que troca hidro-
genião por potássio. O H+ no lumen tubular vai ligar-se ao NH3
A resposta normal do rim à acidemia é reabsorver todo o formando-se NH4+, que será excretado na urina sob a forma
HCO3- filtrado e aumentar excreção de NH4+. A Fig. 3.3 mostra de NH4Cl ou ligado a outro anião que não o cloro.
a formação de amónia no rim. Por cada NH4+ excretada na
Assim, há acidose tubular renal (ATR) distal nas situações de:
urina há formação de um bicarbonato.
Défice ou defeito de H+ATPase
Défice ou defeito da H+/K+ATPase
Anomalia no permutador de HCO3-/Cl-
défice de gradiente, o que é raro (por aumento na permeabili-
dade da membrana apical ao H+; a única situação descrita é
devida a toxicidade pela anfotericina)
Falta de sódio no túbulo distal, o que explica a acidose e a
hipercalemia na cirrose hepática
A acidose tubular renal distal surge quando há défice de pro-
dução de NH3 ou defeito na secreção de H+ pelas células in-
tercalares.
Drogas ou toxinas, lar, nefrocalcinose ou litíase renal são pistas para o diagnós-
Nefrite túbulo intersticial tico num doente com acidose metabólica com Gap aniónico
re-expandir o volume
corrigir a acidose
Bibliografia Recomendada
Moe OW, Alperin RJ. Common acid-base disorders. In: Wachter RM, goldman L, Hollander H, Eds. Hospital Medicine. Philadelphia: Lippincott Williams &
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Alcalose Metabólica
OBJECTIVOS:
Conhecer as causas de alcalose metabólica Sistematizar a metodologia de abordagem dos doentes com al-
calose metabólica
Compreender os mecanismos que perpetuam a alcalose metabó-
lica
>
Capítulo 04 //
Existem 3 factores principais para o aumento da reabsorção de ro, pode ser mais importante do que o associado à depleção
bicarbonato na alcalose metabólica: deplecção volume, deplec- de volume. A reabsorção de Na+ neste segmento não é segui-
da pelo Cl-, há falta de Cl-, o que aumenta o gradiente eléctri-
ção de cloro e hipocalemia:
co que promove a secreção de H+. O resultado final é a reab-
A deplecção de volume arterial efectivo, associada à diminui- sorção quase completa do bicarbonato filtrado e o achado pa-
ção da taxa de filtração glomerular, aumenta a reabsorção de radoxal de uma urina ácida num doente que está alcalémico
HCO3- no tubo proximal na tentativa de preservar volume.
(Fig 4.2).
No entanto, a maior parte dos estudos mostram que o princi-
pal aumento da reabsorção do bicarbonato ocorre no tubo co-
lector, devido ao hiperaldosteronismo secundário, que acom-
panha a deplecção de volume:
A aldosterona aumenta directamente a acidificação, porque
estimula a actividade da bomba H+ATPase na membrana lu-
minal das células intercaladas, promovendo a secreção tubu-
lar de H+, logo aumentado a reabsorção de bicarbonato (Fig
4.1);
A aldosterona estimula a reabsorção de Na+ nas células prin-
cipais, tornando o lumen mais electronegativo, logo inibe a
difusão passiva do H+ para fora do lumen tubular, ficando a
urina mais ácida.
A diminuição da chegada do cloro, diminui a secreção do bi- Mecanismos de transporte da secreção de H+ e HCO3- e reabsorção de K+
Fig. 4.1 |
carbonato nas células intercaladas tipo B, sendo este um nas células intercaladas tipo A no tubo colector cortical (adaptado de Uptodate.com
componente importante da resposta renal normal ao exces- Maio 31, 2008)
so de bicarbonato (Fig 4.2).
A deplecção de Cl- (ex:vómitos, diuréticos) também tem um pa-
pel importante quer no aumento da reabsorção de HCO3-, quer
na redução da secreção no nefrónio distal. Este efeito do clo-
Gastrointestinal
Vómitos
Drenagem gástrica
Tratamento com antiácidos (Insuficiência renal)
Adenoma viloso
Renal
Abordagem
1. Avaliação clínica e antecipação dos desvios esperados
O défice de magnésio, tem múltiplas consequências, podendo O síndrome leite-alcalinos é caracterizado pela presença de alca-
causar alcalose metabólica, porque aumenta a renina, com hipe- lose metabólica e insuficiência renal, em que ocorre excesso de
raldosteronismo secundário. bicarbonato associado à ingestão de cálcio (carbonato cálcio,
leite). Tipicamente estes doentes apresentam nefrocalcinose. A
Doentes com expansão de volume, hipocalemia hipercalcemia e a insuficiência renal favorecem a acumulação
Estes doentes têm aumento primário de mineralocorticóides (hi- de bicarbonato.
peraldosteronismo primário) e não respondem à reposição de
volume. A etiologia do aumento de mineralocorticoides pode ser Alcalose pós-hipercapnica
diferenciada medindo a renina plasmática (ex: estenose artéria
A acidose respiratória crónica está associada a um aumento da
renal, adenoma suprarenal).
excreção renal de H+ e retenção de bicarbonato, que represen-
tam a resposta compensatória apropriada à acidose. O trata-
mento destes doentes com ventilação mecânica pode levar à re- 4. Avaliação complementar: Medir os electrólitos na urina
dução rápida da PaCO2 corrigindo a acidose respiratória, man-
tendo-se o bicarbonato sérico elevado, já que a excreção renal Como vimos, a etiologia da alcalose metabólica é habitualmente
é mais lenta. Desta forma desenvolve-se alcalose metabólica clara atendendo à história clínica e exame físico do doente. No
com aumento rápido de pH intracerebral o que pode originar al-
entanto, há casos em que a história é inexistente ou não é clari-
terações neurológicas graves e morte.
ficadora, como na ingestão surreptícia de diuréticos ou vómitos
induzidos. Nestes casos, a medição do Na+, Cl- e pH urinários po-
2. Há perigo iminente? dem ser úteis no diagnóstico diferencial das causas de alcalose.
Na alcalose metabólica o perigo iminente pode estar associado
Quando o doente tem vómitos recentes (1 a 3 dias) o pH urinário
fundamentalmente a alterações da volémia e do potássio.
é elevado, dado o aumento da filtração e excreção de bicarbona-
to, e por isso o Na+ na urina também se encontra elevado. O Cl-
3. Análise sistemática dos dados da gasometria e do iono- na urina, neste caso, é baixo. Quando o doente deixa de vomitar
grama (vómitos tardios) e há deplecção de volume, há retenção de Na+
e bicarbonato, assim, o pH na urina é baixo, o Na+ é baixo e o Cl-
No 3º momento da sequência universal de avaliação, ao realizar é baixo. Como a chegada de Na+ ao tubo distal está diminuida,
a avaliação ácido-base, são pontos relevantes: menos K+ será secretado.
Depois de identificar o distúrbio primário, vamos verificar se a Se o Na+, K+ e Cl- na urina estão todos elevados devemos pen-
compensação é apropriada. Nos casos de alcalose metabólica,
sar em:
sabemos que por cada aumento de 10 mmol de bicarbonato a
PaCO2 aumenta 7mmHg. Se a PaCO2 não aumenta de forma
uso de diuréticos
apropriada significa que coexiste alcalose respiratória.
deficiência de magnésio
Em seguida vamos calcular o Gap aniónico. Se há aumento do
GA, calculamos a variação do bicarbonato ( GA). Se a variação alterações tubulares raras como os Síndromes de Bartter ou
for maior que a variação do bicarbonato é porque há também Gittelman.
acidose metabólica.
Bibliografia Recomendada
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Potássio
OBJECTIVOS:
>
Capítulo 05 //
Conceitos e fisiopatologia
O potássio é o catião predominante no meio intracelular, sendo Regulação da homeostasia do potássio
o principal responsável pelo potencial da membrana celular que
é essencial para numerosas funções celulares, como a contrac- Numa dieta normal, ingerimos 70 a 120 mmol de potássio por
ção muscular e a condução nervosa. Só 2% do potássio do orga- dia. Se não existissem mecanismos rápidos de regulação, o po-
nismo se encontra no meio extracelular; isto deve-se à acção da tássio extracelular passaria de 4 a 8 mmol, o que seria obvia-
bomba de sódio (Na+/K+ ATPase) que existe em todas as célu- mente letal.
las, transportando o sódio para o meio extracelular e o potássio
Há 3 mecanismos que regulam a concentração de K+:
para dentro da célula. Assim, cria-se um gradiente de potássio
do exterior para o interior, que é determinante para o potencial Transporte celular (entrada/saída das células)
de membrana. Eliminação renal
Todas as células excitáveis do organismo, músculos e tecido ner- Eliminação gastrointestinal
voso, necessitam deste potencial de membrana para as suas
A excreção de potássio na urina é lenta e regulável por mecanis-
funções e por essa razão quando o gradiente do potássio é alte-
mos que falaremos mais adiante.
rado pode existir risco de vida.
A excreção gastrointestinal é mínima (inferior a 5 mmol/dia) e
Como 98% do potássio é intracelular, nos distúrbios deste cati- não é regulável, pelo que não iremos abordá-la.
ão não é possível determinar o seu défice/excesso no organis-
A entrada de K+ nas células é o principal mecanismo de adapta-
mo, pelo que o tratamento envolve a sua determinação seriada.
ção às alterações rápidas da concentração de K+.
lula e o sódio para fora. No lado luminal da célula há um canal A secreção de K+ no tubo colector cortical é regulada pelos
de sódio, por onde o sódio entra passivamente na célula condi- mineralocorticoides e pela chegada de Na+ ao tubo distal.
cionado pelo gradiente de concentração entre o sódio no lú-
men e o sódio intracelular. A concentração de K+ dentro da cé-
lula é elevada, logo o potássio vai difundir para fora da célula 1. Mineralocorticoides
pelos canais de K+. O potássio que difunde para o intestício, en-
tra novamente na célula transportado pela bomba Na+/K+ Estimulam a secreção de K+ por 3 mecanismos:
ATPase, o potássio que difunde para o lúmen tubular represen- aumentam a concentração de potássio intracelular por esti-
ta o potássio secretado e excretado na urina (Fig 5.1). mulação directa da bomba de sódio-potássio-ATPase;
aumentam a permeabilidade da membrana apical ao potás-
sio;
estimulam a reabsorção de sódio na membrana apical, au-
mentando o gradiente eléctrico e favorecendo a secreção de
potássio.
Se há deplecção de volume, ou seja se a pressão arterial efecti- o resultado será um aumento da quantidade de Na+ que chega
va diminui, os níveis de mineralocorticoides elevam-se mas a fil- ao tubo distal. Os dois mecanismos actuam também neste caso
tração glomerular diminui e a reabsorção de Na+ no tubo proxi- em direcções opostas e por isso a secreção de K+ não é alterada.
mal aumenta e portanto chega menos Na+ ao tubo distal. Estes
dois mecanismos que regulam o potássio, anulam-se mutua-
mente e a secreção de K+ não se altera.
Quando há alteração da concentração sérica do potássio, signi- mineralocorticoides + aumento de Na+ no tubo distal, com o
fica que estes dois mecanismos não estão a actuar em direc- consequente aumento da secreção de K+ e hipocalemia.
ções opostas. Vamos ver quatro exemplos relativos a este tipo
de alterações:
3. Diminuição primária de mineralocorticoides
1. Aumento primário de mineralocorticoides
Pelo contrário, nos casos de diminuição primária de mineralo-
Nos casos de aumento primário de mineralocorticoides, ou corticoides, como por exemplo na doença de Addison, há dimi-
seja um aumento que não é devido a contracção de volume, nuição da absorção distal de Na+ e por isso excreção aumenta-
como por exemplo no caso de um tumor produtor de aldostero- da de Na+ e água. Consequentemente há deplecção de volume
na, há aumento da reabsorção de Na+ e água e consequente com diminuição da TFG e diminuição do Na+ no tubo distal. O
expansão de volume. A expansão de volume condiciona um au- que resulta é uma combinação de diminuição de mineralocorti-
mento da TFG e diminuição da absorção proximal de Na+, o re- coides e diminuição da chegada de Na+ ao tubo distal, o que
sultado será um aumento da chegada de Na+ ao tubo distal. leva a uma diminuição da excreção de K+ e hipercalemia.
No final teremos uma combinação de aumento da chegada de
Na+ ao tubo distal e aumento de mineralocorticoides, do que
4. Diminuição do Na+ no tubo distal
resultará um aumento da secreção de K+ e hipocalemia.
O último exemplo refere-se aos casos de diminuição primária
da chegada de Na+ ao tubo distal, ou seja casos que não são
2. Aumento do Na+ no tubo distal
devidos a deplecção de volume como na glomerulonefrite agu-
Estes são os casos de aumento primário da chegada de Na+ da. Nestas situações há diminuição da TFG e diminuição da
ao tubo distal, ou seja, aqueles que não são devidos a expan- chegada de Na+ ao tubo distal, com expansão de volume o
são de volume, o exemplo mais comum é o uso de diuréticos que vai frenar a libertação de mineralocorticoides. Estes dois
que actuam antes do tubo distal. Nestes casos, há uma inibi- mecanismos – diminuição do Na+ no tubo distal e diminuição
ção da reabsorção de Na+ e portanto mais Na+ vai chegar ao de mineralocorticoides — levam à diminuição da excreção de
tubo distal; concomitantemente há deplecção de volume o K+ e hipercalemia.
que leva ao aumento de mineralocorticoides. Há aumento de
/ 91 | Conceitos e fisiopatologia | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 05 //
Hipocalemia
Definição Causas
1. Pseudohipocalemia
K+ plasmático < 3,5 mmol/L
Ocorre nos casos de aumento maciço dos leucócitos, por exem-
plo leucemias. É raro.
Riscos associados
2. Entrada de K+ nas células
Disritmias (essencial realizar ECG para pesquisar alterações as-
sociadas a risco aumentado – Fig 5.2) Alcalose associa-se frequentemente a hipocalemia. Um dos
Fraqueza muscular mecanismos pelo qual ocorre é a entrada de K+ nas células,
mas este mecanismo é pouco relevante. A hipocalemia deve-
Íleo paralítico
se a perdas renais.
Estados anabólicos ocorrem em casos de proliferação celular
rápida, por exemplo linfoma de Burkitt, leucemias.
Paralisia periódica hipocalemica caracteriza-se por ataques in-
termitentes de paralisia muscular e hipocalemia. Há duas for-
mas: autossómica dominante que é rara e a associada à tir-
eotoxicose.
Vómitos
Há duas outras condições que se comportam desta forma: No tubo contornado distal temos um cotransporte de Na+ e Cl-.
É este transportador que é inibido pelos diuréticos tiazídicos, re-
1. Síndrome de Liddle , que se caracteriza por uma al-
sultando igualmente uma maior quantidade de sódio no tubo
teração nos canais de Na+ do tubo colector cortical, que
colector cortical (Fig. 5.4).
têm uma maior avidez para o Na+, desta forma, neste seg-
mento, é reabsorvido mais Na+ e secretado mais K+.
Hipercalemia
Definição
Riscos associados
Paragem cardíaca
Disritmias
Fraqueza muscular
Fig. 5.6 | Alterações electrocardiográficas na hipercalemia
Alterações electrocardiográficas
Paralisia periódica hipercalemica - rara a redistribuição celular é mais rápida nos doentes com
IRC
a excreção intestinal de K+ é maior nos doentes com IRC
3. Retenção renal de K+
Desta forma a hipercaliemia é incomum até que a TFG seja in-
Diminuição primária de mineralocorticoides
ferior a 5mL/min. A ocorrência de hipercalemia em doentes
A diminuição primária de mineralocorticoides ocorre mais fre- com IRC e TFG > 10mL/min deve-se normalmente a níveis de
quentemente no hipoaldosteronismo hiporreninémico, cuja aldosterona baixos, lesões no tubo colector ou utilização de
causa mais comum é a nefropatia diabética. Na doença de fármacos que causam hipercalemia.
Addison em que há falência da supra-renal também há défi-
ce de mineralocorticoides.
Tubo colector anormal
O estudo RALES publicado em 1999 mostrou que a adição de
Doenças genéticas raras e casos de nefrites tubulo-intersti- 25 mg de espironolactona aos IECAs reduzia a mortalidade
ciais que destroem o tubo colector. nos doentes com insuficiência cardíaca. No entanto, o numero
de doentes hospitalizados por hipercalemia aumentou de
Fármacos
2.4/1000 em 1994 para 11/1000em 2001 e a mortalidade por
Diuréticos poupadores de K+
hipercalemia de 0.3/1000 para 2.0 / 1000. Isto coloca um dile-
IECA’s
ma terapêutico, porque os doentes de mais risco são também
Ciclosporina os que mais beneficiam com a terapêutica. O risco aumenta de
forma significativa quando a filtração glomerular é inferior a
30 mL/min.
Bibliografia Recomendada
Clinical Phisiology of acid-base and electrolyte disorders, Burton David Rose, Theodore W. Post. NEPHSAP, Vol 15, Jan 2006
Sódio
OBJECTIVOS:
Compreender os princípios fisiológicos que regem a osmolarida- Saber traçar um algoritmo de abordagem diagnóstica nas hipo-
de dos líquidos corporais natremias e nas hipernatremias
Conhecer o funcionamento básico do nefrónio no controlo da Conhecer os riscos associados ao tratamento e definir planos te-
água e dos solutos rapêuticos adequados a cada situação
>
Capítulo 06 //
Dizemos que uma partícula é osmoticamente activa quando A água desloca-se livremente entre os vários compartimen-
ela não se move livremente através das membranas celula- tos corporais de forma a manter osmolaridades iguais entre
res. Assim, ela “obriga” a água a manter-se no local onde se todos os compartimentos.
encontra. As partículas que mais contribuem para a osmolari-
dade intracelular efectiva são o potássio e os fosfatos. No es- A deslocação da água mantém a osmolaridade
intracelular igual à extracelular e à intravascular.
paço extracelular este papel é realizado quase totalmente
pelo sódio.
A osmolalidade pode ser calculada ou medida directamente,
numa solução.
/ 106 | Fisiologia da osmolalidade dos líquidos corporais | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelec- >
Capítulo 06 //
Osmolalidade calculada = 2 x [Na+] + Ureia/6 + Glicose/18 renças de osmolaridade entre os compartimentos intra e extra-
celular.
Gap osmótico = Osm medida – Osm calculada (= 5 a 10 mOsm/L)
Em situação normal, 95% da tonicidade do plasma é da respon-
A osmolaridade calculada por Kg de plasma corresponde, de fac- sabilidade do Na+. Deste modo, todas as hipernatremias cursam
to, a um volume de distribuição dos solutos pela fracção aquosa com hipertonicidade.
do plasma, a qual corresponde, em situações normais, a 93% Pelo contrário, as hiponatremias podem cursar com hipotonici-
do total do plasma. Os restantes 7% são a fracção lipídica e pro- dade, normotonicidade ou mesmo hipertonicidade (ex. hipergli-
teica. Por este motivo, a concentração real de sódio na água do cemia) do plasma.
plasma é de cerca de 154 mmol/L, o teor de sódio do Soro Fisio-
lógico. A tonicidade plasmática é objecto de um controlo estrito porque
o volume intracelular varia de forma proporcional mas na razão
A medição da osmolaridade do plasma não é realizada por roti- inversa da tonicidade plasmática. Se a tonicidade plasmática au-
na nos nossos laboratórios. Assim, na prática clínica usa-se a os- menta o volume intracerebral diminui proporcionalmente (por
molaridade calculada, que normalmente varia entre os 280 e perda de água) e vice-versa.
290 mOsm/L.
As variações do volume celular cerebral são responsáveis
A osmolaridade efectiva do plasma, também conhecida como
pelas manifestações clínicas das alterações da tonicidade do
tonicidade, é conferida pelas partículas que não se difundem fa-
plasma, podendo causar lesões irreversíveis e morte!
cilmente entre os compartimentos: em situações normais são o
Na+ e a glicose.
O rim filtra por dia cerca de 145 L de água (4 vezes a água corpo-
ral total). Destes, cerca de 99% são recuperados. Os tubos proxi-
mais reabsorvem cerca de 95 L e a ansa de Henle mais 30L.
/ 108 | Fisiologia da osmolalidade dos líquidos corporais | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelec- >
Capítulo 06 //
Aos túbulos distais chegam no máximo 20 L, dos quais 19,5L Os diuréticos tiazídicos actuam nos túbulos contornados dis-
podem ser reabsorvidos até aos tubos colectores, quando tor- tais, inibindo a reabsorção de sódio. Desta forma, provocando
nados permeáveis à água por acção da ADH. A reabsorção de aumento do teor de sódio no líquido que chega aos túbulos co-
água neste local é feita de forma passiva, graças ao gradiente lectores, promovem menor reabsorção passiva de água e origi-
hiperosmolar do interstício medular renal, gerado pela reabsor- nam perda de sódio superior à de água. Por este motivo são
ção activa de sódio na ansa de Henle. uma das causas de hiponatremia nos doentes que continuam
a ingerir água.
Por dia, são eliminados cerca de 600 mOsm de solutos, deriva-
dos do metabolismo. Sendo a concentração máxima de urina A volémia (volume intravascular efectivo) depende sobretudo
de cerca de 1200 mOsm/L, o volume mínimo de urina diária da quantidade de solutos osmoticamente activos desse espa-
para que não haja acumulação de solutos é de 500 mL. ço. O sódio é o seu principal constituinte e, assim, a volémia
está controlada por mecanismos que regulam a eliminação ou
Na insuficiência renal, a baixa da filtração glomerular é com-
reabsorção de sódio pelo rim.
pensada por este “excesso” de filtrado diário. Só em níveis gra-
ves de insuficiência renal é que os nefrónios “restantes” não A osmolalidade é regulada pelo controlo da água.
conseguem regular o metabolismo do sódio e da água adequa- A volémia é regulada pelo controlo do sódio.
damente.
A volémia é proporcional à quantidade de sódio corporal total
Os diuréticos de ansa inibem a reabsorção tubular de sódio no e tem 4 sistemas de controlo:
segmento ascendente da ansa de Henle. Desta forma, impe-
1. ADH
dem a formação do gradiente hiperosmolar do líquido interstici-
al medular renal. Assim, o efeito final e predominante dos diu- 2. Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona
réticos de ansa é promover perda de água livre superior à de 3. Sistema Adrenérgico
sódio; ou seja, promovem uma urina menos concentrada, bai-
4. Sistema de Peptídeos Natriuréticos.
xando a osmolaridade máxima da urina para cerca de metade
da que teria sem o seu efeito.
/ 109 | Fisiologia da osmolalidade dos líquidos corporais | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelec- >
Capítulo 06 //
O sistema de controlo da osmolaridade e o sistema de contro- canismo contribui para a correcção das hiponatremias com hi-
lo da volémia coincidem em muitos pontos e podem concorrer povolémia.
ou competir um com o outro.
exponencial. Assim, em situações extremas, o estímulo da hi- volémia (in Kokko JP. Fluids and electrolytes. In: Goldman J, Ausiello D. Eds. Cecil
Textbook of Medicine, 22nd Ed. Philadelphia: WB Saunders, 2004: 669-687)
povolémia sobrepõe-se ao estímulo osmolar (Fig. 6.2).
/ 110 | Fisiologia da osmolalidade dos líquidos corporais | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelec- >
Capítulo 06 //
Hiponatremia
Definição mia) e do estado do líquido extracelular (LEC), que reflete aque-
le mas também a permeabilidade capilar (3º espaço).
LEC diminuído / LEC normal / LEC aumentado Osmolaridade, sódio, potássio e creatinina;
Cloro — dá indicação de depleção de volume na alcalose me-
tabólica, em que o Na+ urinário está aumentado por estar a
ser excretado com bicarbonato.
Explicação do Algoritmo (Fig. 6.3): Os casos de hiponatremia hipotónica são os mais frequentes.
Correspondem aos casos de osmolaridade verdadeiramente
A osmolaridade plasmática poderá apresentar um valor nor-
baixa.
mal, elevado ou diminuído:
Osmolaridade normal = Hiponatremia isotónica Este tipo de hiponatremia pode ser devido a dois grandes me-
canismos:
Acontece quando o Gap osmótico está elevado (> 10). É o caso
da pseudo-hiponatremia por aumento da fracção não aquosa 1. Aumento exagerado da ingestão de água (polidipsia psicogé-
do plasma (> 7%) na hiperlipidemia ou hiperproteinemia gra- nea ou potomania de cerveja).
ves. O diagnóstico depende do contexto e da medição das pro- Neste caso o rim responde adequadamente eliminando uma
teínas e lípideos plasmáticos. urina maximamente diluída, com osmolaridade inferior a 100
mOsm/L.
Osmolaridade elevada = Hiponatemia hipertónica
2. Perturbação da excreção de água. Acontece na maioria dos
Se a osmolaridade real está elevada, o sódio diminuiu como casos de hiponatremia. De facto, as hiponatremias têm quase
forma de compensação. Estes casos correspondem à presença sempre associado um mecanismo que impede a normal excre-
de um soluto com actividade osmolar efectiva limitada ao com- ção de água. Podemos sistematizar estes mecanismos em
partimento extra-celular. Correspondem a cerca de 15% das dois grupos:
hiponatremias e a causa mais frequente é a hiperglicemia. Na
2.1 Diminuição da função tubular (insuficiência renal cróni-
hiperglicemia a Na+ plasmático baixa cerca de 2,4 mmol/L por
ca avançada)
cada 100 mg/dL de elevação da glicemia.
2.2 Elevação persistente da ADH. Neste, duas situações
Osmolaridade baixa = Hiponatremia hipotónica podem acontecer:
Tiazidas: Há doentes, particularmente mulheres ido- tremia crónica moderada (Na+ > 125 mmol/L) assinto-
sas, que desenvolvem hiponatremia grave horas ou mática que tende a voltar sempre a um valor fixo
dias após início de tiazidas. Este síndrome associa quando se tenta a correcção.
uma predisposição de causa não esclarecida à de-
Como vimos, com a medição da osmolaridade urinária pode-
plecção de potássio, estimulação da sede e manuten-
mos descartar os casos de aumento de ingestão de água livre.
ção de ingestão de água apesar da hiponatremia. Os
sintomas mais frequentes são: mal estar, letargia,
tonturas, vómitos, confusão mental, quedas. Nos restantes casos, a urina tem osmolaridade > 100 mOsm/L.
O passo seguinte será a avaliação do estado do líquido extra-
Insuficiência Supra-renal e Hipotiroidismo: Nestes ca-
celular (LEC) do doente.
sos o mecanismo não é claro. A presença de sinais
clínicos são pistas a explorar (por ex. hipercalemia). A avaliação do LEC permite classificar os doentes em:
Cortisol sérico “normal” em doente com doença agu-
LEC diminuído: O mecanismo é sempre a elevação da ADH. De-
da, não exclui diagnostico de insuficiência supra-re-
vemos medir o sódio urinário, que nos permitirá distinguir os
nal. É necessário, se a causa não for evidente, fazer
casos de perda renal ou extrarenal.
prova de estimulação.
[Na+] urinário < 10 = o rim está a reabsorver sódio, o que su-
Alteração do osmostato: A alteração do osmostato é
gere uma causa extrarenal: Vómitos, diarreia, hemorragia, ter-
uma causa não rara de hiponatremia. É mais frequen-
ceiro-espaço.
te em doentes idosos e corresponde a um novo “set”
do valor “normal” de osmolaridade pelos receptores [Na+] urinário > 20 = o rim não está a reabsorver sódio, o que
hipotalâmicos. Calcula-se que cerca de 1/3 dos casos sugere uma causa intrínseca renal: diuréticos, diurese osmóti-
aparentes de SIADH sem causa identificada corres- ca (bicarbonato, cetonúria…), nefropatias perdedoras de sal
pondem a este síndrome. Trata-se de uma situação (poliquistose, pielonefrite crónica, uropatia obstrutiva, aci-
benigna, que não requer tratamento. A suspeita des- dose tubular renal tipo II, “Cerebral Salt Wasting”).
te mecanismo deve ocorrer em presença de hipona-
No síndrome denominado “cerebral salt wasting” a hipona- LEC aumentado: Nestes doentes, apesar da retenção de volu-
tremia surge com frequência após a 1ª semana nos doentes me extracelular há hipovolémia funcional. As causas principais
com hemorragia subaracnoideia. Por diminuição do tono são:
simpático e/ou aumento de libertação de factores natriuréti- Insuficiência cardíaca congestiva
cos há diminuição da absorção de sódio com depleção de
Cirrose hepática
volume. A mesma diminuição do tono simpático explica que o
Síndrome nefrótico
sistema renina angiotensina aldosterona não seja activado.
Apesar da excreção de sódio estar aumentada e haver défice Gravidez
de volume, não há hipocalemia por falta de aldosterona.
1º. O neurónio perde solutos inorgânicos (electrólitos), sobretu- A progressão dos sintomas neuropsiquiátricos traduz a crescen-
do o potássio. Ocorre em horas e é rapidamente reversível. te gravidade:
Qual o risco de desmielinização osmótica? A taxa de correcção não deve ser baseada no facto da hipona-
Qual a taxa adequada de correcção para minimizar o risco? tremia ser aguda ou crónica. A excepção a esta regra será a ins-
talação da hiponatremia em internamento, com causa identifica-
Qual o melhor método para elevar a concentração de sódio
plasmático? da (por ex. administração de soros). O ritmo de correcção deve
ser baseado apenas nos sintomas. Nos doentes sintomáticos
deve ser feita correcção activa com soros até melhoria dos sinto-
1. Risco de desmielinização osmótica mas.
O ritmo de correcção das hiponatremias é decidido
Em caso de correcção exagerada forçar de imediato,
pelos sintomas do doente.
com soros hipotónicos, a baixa do sódio para os valores
No doente assintomático, a correcção não deve ultrapassar pretendidos.
8 a 12 mmol/L/dia.
No doente sintomático corrigir 1,5 a 2 mmol/h nas primeiras
3-4 h ou até melhoria dos sintomas.
3. Método para elevar a [Na+]
Manter sempre o objectivo de corrigir < 12 mmol/L/24h.
Avaliar resultado da correcção cada 4-6h e ajustar o plano. Como regra geral, a administração de soros hipertónicos só
está claramente indicada nos doentes sintomáticos. Nos res-
Há também situações em que a correcção tem de ser RÁPIDA: tantes, a escolha do método para elevar o sódio depende da
volémia do doente e deve seguir os seguintes princípios:
Hiponatremia hiperaguda (corredores de maratona)
Intoxicação pela água (doentes psiquiátricos; consumo de Doente hipervolémico:
ecstasy) Restrição de água e administração de diurético de ansa. Este
Presença de convulsões vai produzir urina com osmolaridade cerca de metade da que
Presença de outra lesão cerebral (trauma; tumor; meningite) teria antes da sua utilização. Desta forma, promove perda de
água livre.
A resposta é dinâmica e como simultâneamente se corrige a
volémia (o que altera a regulação da ADH) a resposta renal
nem sempre é previsível, pelo que se deve monitorizar o iono- Doente hipovolémico:
grama para ajustar a intervenção em tempo útil. Dar prioridade ao que produz mais sintomatologia: hipovolé-
mia ou hiponatremia.
Em caso de correcção exagerada, se o valor de sódio for força-
do a baixar o mais precocemente possível para o valor preten- Se a hipovolémia é sintomática, deve ser feita expansão inici-
dido, com soros hipotónicos ou administração de DDAVP, isto al da volémia com soro isotónico (SF) até repor volémia. Esta
pode reduzir o risco de desmielinização. Uma vez instalados os reposição vai frenar a ADH e provocar, nas horas seguintes,
uma diurese de urina diluída com correcção adicional da hipo-
sinais, raramente são reversíveis.
/ 121 | Hiponatremia | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 06 //
natremia. Se a correcção inicial da hipovolémia for feita com Nota: No SIADH a reposição tem que ser com soro hipertónico
soro hipertónico, pode resultar na subida do sódio por dois me- em relação à urina (que tem habitualmente 600 mOsm/L) ou,
canismos (expansão volémica + administração de sódio) e se em alternativa, soro fisiológico e redução da osmolaridade uri-
a correcção for exagerada há risco de mielinólise. nária com administração concomitante de diurético de ansa.
(Na+) soro - (Na+) doente NOTA (sobre o uso de VAPTANOS): (Verbalis JG. Vaptans for the treatment of
hyponotremia: how, who, when and why. Nephnol Self Assess Program. 2007:
199-209).
Os vaptanos são antagonistas dos receptores da vasopressina. O primeiro a ser
aprovado pela FDA para correcção de hiponatremia foi o conivaptano para uso
endovenoso nos doentes com SIADH ou insuficiência cardíaca.
Estão indicados no tratamento de hiponatremia hipotónica com LEC normal Os vaptanos de uso oral (tolvaptano, satavatpano e lixivaptano) podem ter in-
ou aumentado e estão contraindicados quando existe depleção de volume. O dicação no tratamento crónico de SIADH, mantendo a natremia em valores
sódio urinário permite distinguir situações de hipovolémia — UNa+ < 30 mmol/ normais sem necessidade de restrição de água. A correcção da hiponatremia
L – das de euvolémia — UNa+ > 30 mmol/L - em doentes sem sinais de deple- crónica melhora as funções cognitivas, a qualidade de vida e o estado funcio-
ção de volume. nal, por ser causa frequente de desequilíbrio e quedas nos doentes idosos.
Hipernatremia
Definição A hipernatremia pode resultar de ganho de sódio ou perda efec-
tiva de água, isolada ou como componente de solutos hipotóni-
cos, sendo esta última muito mais frequente. Para a hipernatre-
Sódio plasmático superior a 145 mmol/L, o que representa
mia persistir é necessário que aqueles ocorram num contexto
sempre hiperosmolaridade.
de desiquilíbrio da resposta adequada à hiperosmolaridade: au-
mento da ingestão de água estimulada pela sede e excreção de
urina maximamente concentrada por efeito da ADH.
Fisiopatologia
O sódio é um soluto a que a membrana celular é semi-permeá- Causas
vel e que, por isso, condiciona tonicidade.
A osmolaridade plasmática depende essencialmente do sódio, A perda de água é responsável pela maioria dos casos
de hipernatremia
sendo o valor da osmolaridade aproximadamente o dobro da
concentração deste ião no soro. Assim, a hipernatremia não é
Resposta alterada à sede – sem esta alteração, as causas abai-
mais que um estado de hiperosmolaridade hipertónica em que
xo enumeradas seriam compensadas com aumento da inges-
invariavelmente existe desidratação celular, pelo menos transitó-
tão de água, o que implicaria reduzida variação da natremia.
ria, por movimentação de água através das membranas celula-
res. Os casos de hipernatremias significativas implicam quase
sempre uma alteração do mecanismo da sede
Por outro lado, o sódio plasmático e a osmolaridade são regula-
dos pelos mecanismos já abordados anteriormente, que envol-
vem essencialmente a sede, a ADH e o rim.
Nefrogénica (DIN) – resistência à acção da ADH
Condições que alteram a hipertonicidade medular renal
Pode ser congénita ou adquirida. As formas adquiridas Diurese osmótica
são:
Excesso de ingestão de água
Doenças renais intrínsecas
Administração de diuréticos de ansa
Nefropatia das células falciformes
Doença poliquística renal
Ganho de sódio hipertónico — raramente ocorre pela capacida- Existem populações de risco para o desenvolvimento de hiper-
de do rim excretar o excesso de sódio, despoletada pela hiper- natremia:
volémia que resulta desse ganho. Resulta habitualmente de
Idosos
intervenção clínica ou sobrecarga acidental com sódio.
Crianças
Perfusão de bicarbonato de sódio hipertónico
Doentes com alterações mentais e hipodipsia
Perfusão de cloreto de sódio hipertónico
Diabéticos descompensados
Nutrição hipertónica
Doentes com poliúria
Ingestão de cloreto de sódio
Doentes hospitalizados
Ingestão de água do mar
Eméticos ricos em cloreto de sódio
Dentro do grupo dos doentes hospitalizados, a hipernatremia é
Enemas com soro salino hipertónico habitualmente iatrogénica, surgindo num número limitado de
situações como:
Perfusão intrauterina de soro salino hipertónico
Perfusão de solutos hipertónicos
Diálise hipertónica
Alimentação por sonda gástrica
Hiperaldosteronismo primário
Diuréticos osmóticos
Síndrome de Cushing
Lactulose
Ventilação mecânica (perdas insensíveis)
Movimento transcelular da água – do Líquido Extracelular
(LEC) para o Líquido Intracelular (LIC); ocorre em situações ra-
ras de hiperosmolaridade intracelular transitória
Rabdomiólise
Crises convulsivas
Uma situação de ganho de sódio pode ser confirmada por ex- Tratamento
pansão do volume do LEC e uma [Na+] urinária ([Na+]U) habitual-
mente > 100 mmol/L. Nas situações de hipernatremia com LEC A abordagem de uma hipernatremia tem de ser feita em dois
diminuído por perdas extra-renais habitualmente a [Na+]U é < passos:
10 mmol/L. Assim, a [Na+]U pouco acrescenta à avaliação do es-
1 º Tratar a causa subjacente
tado do LEC do doente.
Corrigir a nutrição
Reduzir as perdas gastrointestinais
Suspender lactulose e diuréticos
Tratar a febre
Tratar a hiperglicemia
Tratar a hipercalcemia e a hipocaliemia
Regras para o tratamento: Podemos considerar três grandes grupos de situações peran-
tes as quais é necessária a correcção de hipernatremia, e como
O ritmo de correcção deve ser proporcional ao ritmo de instala-
devem ser abordadas:
ção da hipernatremia e depende da existência de disfunção
neurológica associada.
Hipernatremia e hipovolémia: neste caso, deve corrigir-se pri-
meiro a hipovolemia e depois a hipernatremia. A hipovolemia
Objectivos: deve ser corrigida com soro heminormal ou, em situações de
choque hipovolémico, com soro fisiológico. A hipernatremia
ritmo rápido: reduzir a natremia 1 mmol/L/h
pode ser corrigida com soro heminormal, soro glicosado a 5%
ritmo lento: reduzir a natremia 0,5 mmol/L/h ou água.
limite máximo de redução da natremia: 10 mmol/L em 24h Hipernatremia e euvolemia: Basta corrigir a hipernatremia
como na situação anterior.
Quando a hipernatremia é significativa, a terapêutica implica
monitorização regular do ionograma, a começar 2-3 horas Hipernatremia com hipervolemia: Neste caso devem ser admi-
após o início da mesma. nistrada água ou soro glicosado a 5% associados a furosemi-
da — 0,5 a 1 mg/Kg de peso – porque os primeiros vão agravar
A via de eleição para administração de fluídos correcção é a
a hipervolémia. Em algumas situações pode ser necessário re-
oral.
correr à hemodiálise.
O tipo de soros a usar são os hipotónicos (água, soro heminor-
mal ou soro glicosado a 5%).
O ritmo de administração deve ser tanto mais lento quanto
mais hipotónico for o soro.
Legenda:
Bibliografia Recomendada
Post TW and Rose BD (Authors). UpToDate. At: http://www.Uptodate.com/. Acedido em Setembro 2008.
Gauthier PM, Szerlip HA. Common electrolyte disorders. In: Hospital Medicine. Wachter RM, goldman L, Hollander H, Eds. Philadelphia: Lippincott Wil-
liams & Wilkins, 2000:859-869.
Kokko JP. Fluids and electrolytes. In: Goldman J, Ausiello D. Eds. Cecil Textbook of Medicine, 22nd Ed. Philadelphia: WB Saunders, 2004: 669-687.
Sambandam K, Vijayan A. Fluid and electrolyte management. In: Coopr DH, Krainik AJ, Lubner SJ, Reno HEL, Micek ST. Eds. The Washington Manual of
Medical Therapeutics. 32nd Ed. St. Luis, Missouri. 2007: 54-101.
Singer GS, Brenner BM. Fluid and electrolyte disturbances. In: Fauci AS, Kasper DL, Longo DL, Braunwald E, Hauser SL, Jameson JL, Loscalzo J. Eds. Harri-
son`s Principles of Internal Medicine. 17th Ed. New York: McGraw-Hill, 2008: 274-285.
OBJECTIVOS:
>
Capítulo 07 //
/ 138 | Fisiopatologia do cálcio e fósforo | Manual do Curso de Equiíbrio Ácido-Base e Hidroelectrolítico >
Capítulo 07 //
Hipercalcemia
Definição Doença de Paget do osso
Hipercalcemia hipocalciúrica familiar
Cálcio ionizado superior a 1,30 mmol/L. Deficiência congénita de lactase
Condrodisplasia metafisária
Excesso de vitamina E
Causas
Hiperparatiroidismo A hipercalcemia é quase sempre provocada pela entrada de cál-
cio para o fluído extracelular, por reabsorção óssea ou absorção
Neoplasias
intestinal, e diminuição da excreção renal de cálcio.
Excesso de vitamina D (exógena, endógena (linfomas) e doen-
ças granulomatosas) Mais de 90% das hipercalcemias estão relacionadas com
Drogas (tiazidas, síndrome leite-alcalinos, lítio, vitamina A, teo- hiperparatiroidismo primário ou associado a neoplasias.
filina)
D. Endócrinas (hipertiroidismo, insuficiência suprarrenal, feo- O hiperparatiroidismo primário provoca o maior número de ca-
cromocitoma, acromegalia, diabetes insípida nefrogénica) sos de hipercalcemia nos doentes em ambulatório. É mais fre-
quente em mulheres idosas e 85% dos casos são devidos a um
Terapêutica com estrogéneo ou anti-estrogéneo em doentes
adenoma numa das quatro glândulas paratiroides. A maioria
com Neoplasia da Mama e metastização óssea
dos doentes tem hipercalcemia assintomática, descoberta inci-
Imobilização
dentalmente, e os valores de cálcio ionizado tipicamente são in-
Rabdomiólise e insuficiência renal aguda não-oligúrica feriores a 1,38 mmol/L e raramente ultrapassam 1,63 mmol/L.
Reduz a calcemia em 60-70% dos doentes em horas mas o cinoma da paratiroide ou no hiperparatiroidismo secundário
efeito reduz-se após alguns dias por taquifilaxia.
associado a insuficiência renal crónica em hemodiálise.
Não tem efeitos adversos graves e é segura na insuficiência
Diálise com dialisado baixo em cálcio (hemodiálise ou diáli-
renal, com o benefício extra de ter efeito analgésico nos do-
se peritoneal)
entes com metastização óssea.
Muito eficaz.
Alguns dos efeitos adversos são flushing, náuseas e raramen-
Particularmente vantajosa nos casos de hipercalcemia seve-
te reacções de hiperssensibilidade.
ra (> 4 mmol/L) associadas a insuficiência cardíaca ou renal
Corticoides: Prednisolona 20-60 mg/dia ou equivalente.
que proíbam hidratação agressiva.
Reduzem a calcemia por inibirem a libertação de citoquinas,
por efeitos citolíticos directos nalgumas células tumorais, por
inibirem a absorção intestinal de cálcio e aumentarem a ex-
creção renal de cálcio.
Pode demorar 5-10 dias até ser notório o seu efeito hipocalce-
miante. Depois de estabilizada a calcemia, a sua dose deve
ser reduzida gradualmente até à dose mínima necessária
para controle dos sintomas de hipercalcemia.
A sua toxicidade limita o uso como terapêutica crónica.
Calcimiméticos (cinacalcet)
Úteis nas situações de hipercalcemia grave associadas a car-
Hipocalcemia
Definição Défice de vitamina D – leva a redução dos depósitos de cálcio
com calcemia preservada à custa de hiperparatiroidismo, ex-
cepto quando o défice é grave. Causas:
Cálcio ionizado inferior a 1,05 mmol/L.
Exposição solar limitada
Má absorção
Causas Insuficiência renal avançada – redução da síntese de calcitriol
Hipoparatiroidismo efectivo por: Doença hepática crónica grave – diminuição da síntese hepá-
tica de 25(OH)D3, precursor do calcitriol
Diminuição da secreção — destruição das paratiroides por
doença autoimune, infiltrativa ou cirurgia; cinacalcet; infec- Síndrome nefrótico grave – perda urinária de 25(OH)D3.
ção por VIH Drogas indutoras do citocromo P450 (anti-convulsivantes
Pseudohipoparatiroidismo - resistência à PTH (ex: fenitoína), isoniazida, rifampicina) – aumentam o meta-
bolismo da vitamina D
Alterações do Magnésio – a hipomagnesemia provoca resis-
tência aos efeitos da PTH e se grave (< 0,4 mmol/L) pode di- Raquitismo dependente da vitamina D
minuir a secreção da PTH; a hipermagnesemia grave (> 2.5
mmol/L) também pode diminuir esta secreção. A hipocalce- Deposição extravascular de cálcio
mia por hipomagnesemia corrige-se em minutos a horas
Quando existem substâncias tecidulares no LEC capazes de
após suplementação de magnésio.
formar complexos com o cálcio:
Paratiroidectomia – avidez óssea por cálcio quando retirado Alguns dos meios de contraste de gadolinium (gadodiamide e
o estímulo desmineralizante gadoversatamide) interferem com os testes colorimétricos para
Inibição da reabsorção óssea - bifosfonatos (ácido zoledrôni- doseamento do cálcio, habitualmente usados em laboratórios
co), intoxicação por flúor hospitalares. O efeito é revertido após excreção renal do gadoli-
nium. Nos doentes com insuficiência renal dura mais tempo.
foscarnet ev
fosfato
Outros
Doentes críticos – a hipocalcemia é frequente, provavelmen-
te por diminuição da secreção de PTH e calcitriol, associada
à resistência dos órgãos à sua acção
Disfunção cardiovascular
As manifestações clínicas dependem da gravidade e Bradicardia
velocidade de instalação da hipocalcemia
Hipotensão
Prolongamento do intervalo QT
Manifestações de excitabilidade neuromuscular
Parestesias perorais e distais
Pistas para o diagnóstico
Caimbras
Tetania: Cirurgia do pescoço prévia – o hipoparatiroidismo pode surgir
anos após a cirurgia
Sinal de Trousseau: espasmo cárpico após oclusão da arté-
ria braquial com cuff de esfigmomanómetro durante 3 minu- Manifestações compatíveis com Síndrome Autoimune Poliglan-
tos. dular (hipotiroismo, Insuficiência suprarrenal, candidíase)
Sinal de Chvostek: contracção do músculo facial à percus- História familiar de hipocalcemia
são do nervo facial na região anterior do ouvido.
Ambos significam tetania latente. Drogas causadoras de hipocalcemia e/ou hipomagnesemia
Confusão
Bioquímica com doseamento de: Doseamento da PTH – baixa ou inapropriadamente normal si-
gnifica hipoparatiroidismo; elevada significa défice de vitamina
albumina
D e pseudohiperparatiridismo. Pode estar baixa, normal ou ele-
fosfato – habitualmente está baixo quando existe défice vi- vada na hipomagnesemia.
tamina D, excepto na insuficiência renal (excreção diminuí-
Doseamento da vitamina D [25(OH)D3]
da). Nestas situações, a hipofosfatemia frequentemente é
mais grave que a hipocalcemia, por hiperparatiroidismo se-
cundário. A fracção excrecional de fosfato (cálculo semelhan-
te à do sódio) é útil para distingir a causa da hipofosfatemia
associada à hipocalcemia: se > 5% existe fosfatúria, logo hi-
perparatiroidismo secundário, e se < 5% significa que a in-
gestão de fosfato é baixa.
A fosfatemia está aumentada nas situações de:
hipoparatiroidismo efectivo
rabdomiólise
creatinina
ECG
Sulfato de Magnésio
Tratar a hipocalcemia
Hiperfosfatemia
Definição Movimento transcelular
Clínica
Tratamento Agudo
Atribuível à hipocalcemia (ver Cálcio)
Calcificações metastáticas dos tecidos moles Consiste em aumentar a excreção renal de fosfato:
calcifilaxia – isquemia tecidular que resulta da calcificação dos Tratar a doença subjacente e resolver a insuficiência renal
Osteodistrofia renal – na hiperfosfatemia crónica Acetazolamida 15 mg/Kg 4/4 horas – aumenta a fosfatúria, se
necessário
Hemodiálise
se hipocalcemia sintomática
Hipofosfatemia
Definição Hiperglicemia
Cetoacidose diabética
Fósforo plasmático inferior a 0,80 mmol/L Fase poliúrica da necrose tubular aguda
Administração de ferro ev
Absorção intestinal insuficiente Síndrome de Fanconi
Ingestão insuficiente
Manifestações neurológicas
Parestesias
Disartria
Confusão
Estupor
Crises convulsivas
Coma
Doseamento de cálcio urinário- a hipofosfatemia prolongada Se surgir hipotensão, suspeitar de hipocalcemia aguda, pelo
leva a hipercalciúria; no Síndrome de Fanconi também existe que a perfusão deve ser interrompida e doseado o cálcio io-
uricosúria, glicosúria e aminoacidúria. nizado
Hipocalcemia
Calcificações metastáticas
Insuficiência renal
Magnésio
O magnésio tem um papel importante nas funções neuromuscu- De forma diversa da que observamos nos electrólitos discutidos
lares. até este ponto do manual, a regulação do magnésio não depen-
de de uma hormona específica. O principal factor determinante
da homeostasia do magnésio é a própria magnesemia, que influ-
Fisiopatologia encia directamente a excreção renal. A hipomagnesemia estimu-
la a reabsorção tubular de magnésio enquanto a hipermagnese-
Aproximadamete 60% do magnésio corporal reside no osso, a
mia a inibe.
maior parte do restante é intracelular e apenas 1% está no LEC.
A permuta de magnésio entre estes 3 compartimentos não é fá-
cil e por isso, existe pouca capacidade de atenuar as flutuações
da concentração plasmática do mesmo. Da mesma forma, pela
dificuldade e lentidão desta permuta, a concentração sérica de
magnésio é pouco representativa dos depósitos intracelulares e
corporal.
Hipermagnesemia
Definição Insuficiência renal crónica terminal
Causas
Clínica
Iatrogenia – representa a maioria as situações clínicas. Como
a excreção renal é a única forma de reduzir a concentração Só existe clínica quando a [Magnésio] é > 2 mmol/L.
plasmática de magnésio, a administração deste ião em doses
terapêuticas a doentes com insuficiência renal significativa é Manifestações neuromusculares
suficiente para desenvolverem toxicidade. Hiporreflexia – habitualmente é a 1º manifestação de toxici-
Antiácidos com magnésio dade pelo magnésio
Fraqueza muscular
Outras situações – nestas, habitualmente a hipermagnesemia Parésia – se diafragmática pode levar a insuficiência respi-
é ligeira e insignificante ratória
Bradicardia Prevenir:
Paragem cardíaca Evitar prescrição de fármacos com magnésio a doente com in-
suficiência renal
Exames
Hipermagnesemia sintomática
Hipomagnesemia
Definição Fluxo tubular aumentado – reduz a reabsorção de magnésio
Diurese osmótica
Magnésio plasmático inferior a 0,65 mmol/L. Expansão de volume intravascular
Alcoolismo crónico
Absorção intestinal insuficiente Síndromes de Bartter ou Gitelman
Malnutrição – frequente nos alcoólicos crónicos Doenças intersticias renais
Síndromes de má absorção Drogas – induzem defeitos no transporte tubular de magné-
Perdas gastrointestinais – perda de magnésio secretado sio
Pentamidina Clínica
Ciclosporina
Manifestações neurológicas
Tetania
Crises convulsivas
Pela necessidade de re-estabeler os depósitos intracelula- Nas situações de insuficiência renal, ainda que ligeira, deve
res, a perfusão pode manter-se 3-7 dias. ser reduzida a dose e ser monitorizada mais regularmente
a magnesemia.
A magnesemia deve ser avaliada cada 24 horas e a taxa
de perfusão ajustada para manter a mesma < 1.25 mmol/L.
Devem ser avaliados frequentemente os reflexos osteo-
tendinosos, pois a hiporreflexia sugere hipermagnesemia.
Bibliografia Recomendada
Sambandam K, Vijayan A. Fluid and electrolyte management. In: Coopr DH, Krainik AJ, Lubner SJ, Reno HEL, Micek ST. Eds. The Washington Manual of
Medical Therapeutics. 32nd Ed. St. Luis, Missouri. 2007: 54-101.
Post TW and Rose BD(Authors). UpToDate. At: http://www.Uptodate.com/. Acedido em Setembro 2008.