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O MÉTODO PSICANALÍTICO
E O OBJETO DA PSICANÁLISE.
Mário Lúcio Alves Baptista1.
Agostinho de Hispona (Agostinho, Séc. IV — 397/398) resolve a
questão da atemporalidade de Deus e nos dá a primeira informação de como
o homem tem uma dimensão de puro presente, ou, em suas palavras: “Exis-
tem, pois, estes três tempos na minha mente que não vejo em outra parte:
lembrança presente das coisas passadas, visão presente das coisas presentes e
esperança presente das coisas futuras.” (Local citado Livro XI – O Homem
e o Tempo – 14 a 20.) Nesta proposta encontro a concepção do homem, na
sua relação com o tempo, com a qual converge minha própria maneira de
conceber o homem — o ser do puro presente.
Desde Platão, o método para alcançar o conhecimento foi uma preo-
cupação da filosofia. Descartes concebeu três métodos: o dedutivo, o induti-
vo e o anagógico. Este último ficou perdido no emaranhado da teoria do
conhecimento desde que, tendo sido adotado pela religião, ficou mais co-
nhecido como revelação. Foi esse método que permitiu a conversão de A-
gostinho, através do alcance de um conhecimento que se dera como um to-
do, de trás para diante. Por esta razão, o método anagógico de alcançar o
conhecimento quase se viu restringido à conversão religiosa, à revelação.
Entretanto, não é uma forma incomum de se alcançar o conhecimento cien-
tífico e filosófico, pois muitas inteligências não alcançam o conhecimento
por acumulação sucessiva, mas somente depois que conseguem apreender a
totalidade dos elementos ligados a determinado saber, exatamente, de trás
para diante ou com o método anagógico.
Os outros dois métodos — o dedutivo e o indutivo — são muito
mais difundidos e dispensam maiores comentários. São todos, entretanto,
métodos para alcançar o conhecimento em geral.
Seria função da filosofia, e de cada uma das ciências que se foi des-
membrando dela, indagar que método aplicaria que a tornasse distinta da fi-
losofia e, somente depois disto, indagar: qual é o seu objeto?
O método de cada ciência é de grande importância na sua consolida-
ção, pois é ele que leva o indivíduo a passar da observação ingênua para a
observação científica e isto não escapou à arguta observação de Karl Marx
quando formulou sua famosa expressão: “Se as coisas fossem como pare-
cem ser, não haveria a necessidade da ciência.” (Marx, 1857). Para que a es-
sência das coisas e as verdades sobre elas transpareçam é necessário que se-
jam estudadas metodicamente.
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Membro Efetivo e Analista Didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da Socieda-
de Psicanalítica do Rio de Janeiro. Presidente do Núcleo Psicanalítico de Belo Horizonte.
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Recorreremos mais detalhadamente à lingüística moderna de Ferdinand de Saussure adiante.
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Em verdade, Freud deu-se conta dos fenômenos transferenciais desde que entrou em contato com o
caso Anna O., pois, a pseudociese da paciente não lhe escapou e foi, sem dúvida, um dos fatores que
pôs em movimento a argúcia investigadora de Freud na direção do que hoje conhecemos como trans-
ferência.
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Por indiferente, neste parágrafo, quero referir-me tão somente à igualdade metodológica. Pois, como
veremos, as diferenças técnicas podem levar a diferentes resultados, mas, se usadas com o mesmo
método criarão objetos da mesma disciplina, ou da mesma ciência, mesmo que objetos de corpos teó-
ricos diversos.