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proletariado?
Projeto Editorial Praxis
A Condição de Proletariedade: A precariedade do SÉRIE TELA CRÍTICA
trabalho no capitalismo global
Giovanni Alves Tempos Modernos
Charles Chaplin (1936)
Dilemas da globalização: O Brasil e a
mundialização do capital Metrópolis
Francisco Luiz Corsi (Org.) Fritz Lang (1927)
TRADUÇÃO:
Diógenes Moura Breda
Mestre em Estudos Latino-Americanos do Programa de Estudos Latino-Americana da
Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM, México.
1ª edição 2016
Projeto Editorial Praxis Bauru, SP
Copyright do Autor, 2016
Conselho Editorial
Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior – UNESP
Prof. Dr. Ariovaldo de Oliveira Santos – UEL
Prof. Dr. Francisco Luis Corsi – UNESP
Prof. Dr. Jorge Luis Cammarano Gonzáles – UNISO
Prof. Dr. Jorge Machado – USP
Prof. Dr. José Meneleu Neto – UECE
Ilustração da capa
“Saturno devorando um filho” – Francisco de Goya (c. 1819-23)
ISBN 978-85-7917-XXX
CDD: 331.2
Giovanni Alves1
1 Giovanni Alves é doutor em ciências sociais pela Unicamp, livre-docente em sociologia e profes-
sor da Unesp, campus de Marília. É pesquisador do CNPq com bolsa-produtividade em pesquisa
e coordenador da RET (Rede de Estudos do Trabalho) –www.estudosdotrabalho.org ; e do Projeto
Tela Crítica/CineTrabalho (www.telacritica.org). É autor de vários livros e artigos sobre o tema
trabalho e sociabilidade, entre os quais “O novo (e precário) mundo do trabalho: reestrutura-
ção produtiva e crise do sindicalismo (Boitempo Editorial, 2000)”, “Trabalho e subjetividade: O
espírito do toyotismo na era do capitalismo manipulatório” (Boitempo Editorial, 2011), “Dimen-
sões da Precarização do trabalho” (Ed. Praxis, 2013), “Trabalho e neodesenvolvimentismo” (Ed.
Praxis, 2014) e “A Tragédia de Prometeu: A degradação da pessoa humana-que-trabalha na era do
capitalismo manipulatório” (Ed. Praxis, 2016). E-mail: giovanni.alves@uol.com.br. Home-page:
www.giovannialves.org
7
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
8
Decifrando o conceito de precariado
precariado: “O precariado: Uma nova classe social? E o que ocorreu com o prole-
tariado?”. Adrian Sotelo Valencia conclui salientando que, o que vislumbramos no
século XXI, é um processo crescente de precarização que atingem todas as cate-
gorias, qualificações, rendas, idades e origens étnicas, sendo a precarização, uma
dimensão global do mundo do trabalho. Deste modo, o precariado não pode ser
considerado um “sujeito social” distinto do proletariado, mesmo como camada
social, tendo em vista que a precarização como processo histórico-social de atua-
lização e reestruturação da precariedade do trabalho atinge e abrange a maioria
das categorias semiprofissionais da classe trabalhadora independentemente da
idade, sexo, etnia, origem racial, cultura ou categoria profissional. Deste modo,
Adrián Valencia considera que o conceito de precariado torna-se desnecessário
como categoria heurística no século XXI.
Adrian Sotelo Valencia assumiu neste livro, uma posição marxista ortodoxa
(diria ele, essencialista e doutrinária). Ele se recusa a validar heuristicamente o
conceito de precariado, considerando suficiente o conceito de proletariado para
tratar do movimento das classes sociais no século XXI. De imediato, ele diverge
categoricamente de Guy Standing que considera o precariado uma nova classe so-
cial. Ao mesmo tempo, concorda com Ruy Braga, que torna equivalente o conceito
de precariado ao conceito de proletariado precário. Entretanto, Valencia poderia
interrogar Ruy Braga: Por que não utilizar apenas o conceito de proletariado pre-
cário ao invés de precariado? Eis a questão). Adrián Valencia diz também que,
não se deve tratar o precariado como sujeito social. Diz ele: “[...] não é correto
falar de precariado como “sujeito social”, seja como camada, fração, categoria,
como parte ou não do proletariado; seja como “nova” classe diferenciada da classe
trabalhadora, do proletariado, da juventude ou dos adultos”. Depois salienta que a
precarização do trabalho assume dimensão global, atingindo todas as categorias
sociais do mundo do trabalho e não apenas o precariado: “Para nós, o correto,
mesmo correndo o risco de que nos acusem de essencialistas e dogmáticos, é falar
de precarização como processo histórico-social de atualização e reestruturação da
precariedade do trabalho na era do capitalismo neoliberal e depredador, que vai
atingindo e cobrindo a maioria das categorias socioprofissionais da classe traba-
lhadora e do proletariado independentemente da idade, sexo, etnia, origem racial,
cultural ou da categoria profissional”.
Para concluir, a título de polêmica fraterna com Adrian Valencia, torna-se
necessário esclarecer o seguinte:
9
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
10
Decifrando o conceito de precariado
11
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Na verdade, a política radical deve deixar claro, como pressuposto necessário, a im-
portância crucial da unidade política e programática da classe do proletariado cliva-
do de segmentações sociais, que impedem sua eficácia histórica no plano da práxis
política.
5. Finalmente, discordamos categoricamente de Adrian Sotelo Valencia, que
considera insignificante no plano critico-heurístico, o conceito de precariado. Na
dialética, as categorias são formas de ser e modos de existência social. A categoria de
precariado expressa, deste modo, uma forma de ser do proletariado como totalidade
viva do trabalho. Dissolver a camada social do precariado na classe social do proleta-
riado, seria emascular o conceito de sua capacidade de expor, em si e para si, as novas
contradições da ordem burguesa hipertardia e do modo de produção capitalista na
etapa de crise estrutural do capital. A função heurística da dialética é expor o novo,
inscrito no movimento contraditório do capital. É observando a camada social do
proletariado jovem, altamente escolarizado, frustrado em suas expectativas de as-
censão profissional e sonhos, anseios e expectativas de consumo, que desvelamos as
contradições radicais da ordem sociometabólica do capital no século XXI. Para que
possamos exercer a percepção crítica dos limites do capital global no século XXI,
devemos focar sobre a juventude proletária escolarizada vulnerável ao desalento e
angústia intrínsecos ao prosaísmo da vida burguesa e a incapacidade da sociedade
das mercadorias na etapa de capitalismo manipulatório em permitir uma vida plena
de sentido. Enfim, o precariado representa, em si e para si, a carência de futuridade
intrínseca à ordem do capital (o que não nos impede de abordarmos a precarização
social noutras categoriais sociais do novo e precário mundo do trabalho).
6. A tarefa política da esquerda radical é construir a aliança interna das
camadas sociais do proletariado urbano – o que não ocorre hoje, por exemplo, na
União Européia, onde as lutas de classes alcançaram maior desenvolvimento social.
De um lado, os movimentos sociais do precariado; e de outro, as manifestações das
centrais sindicais e sindicatos do proletariado organizado com deformação burocrá-
tica. Por um lado, as misérias do esquerdismo, e por outro lado, a miséria do buro-
cratismo, impedindo a unidade política do proletariado como classe social capaz de
fazer história. Divide et impera torna-se hoje, mais do que nunca, nas condições da
proletariedade universal, o lema da ordem sociometabólica do capital.
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAPÍTULO 1
O MODO DE PRODUÇÃO
NÃO É MAIS CAPITALISTA?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
CAPÍTULO 2
O ANTAGONISMO: TRABALHO-CAPITAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
CAPÍTULO 3
DESMEDIDA DO VALOR, TEMPO DE TRABALHO Y CRISE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
CAPÍTULO 4
TRABALHO IMATERIAL E SUPEREXPLORAÇÃO DO TRABALHO. . . . . . . . . . . . . . 65
CAPÍTULO 5
TRABALHO PRECÁRIO E BARBÁRIE SOCIAL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
CAPÍTULO 6
A CONDIÇÃO DE PRECARIEDADE
DO TRABALHO ASSALARIADO NO SÉCULO XXI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
CAPÍTULO 7
O PRECARIADO: UMA NUEVA CLASE SOCIAL? E O QUE
OCORREU COM O PROLETARIADO?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
REFERÊNCIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
13
INTRODUÇÃO
1 George Lukács, Ontología del ser social: el trabajo, Buenos Aires, Ediciones Herramienta, 2004.
15
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
2 Ver: OIT, Tendencias mundiales del empleo 2012, Prevenir una crisis mayor del empleo, disponi-
ble en internet: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/docu-
ments/publication/wcms_168095.pdf), p. 33.
3 A respeito, ver nosso livro Los rumbos del trabajo. Superexplotación y precariedad social en el Siglo
XXI, coedição Miguel Ángel Porrúa-FCPyS-UNAM, México, 2012, onde tratamos este tema. Por
sua vez, Julio Gambina caracteriza a crise como “[…] global, sistêmica, civilizatória, com uma di-
versidade de fases simultâneas na qual se manifesta: financeira, da bolsa e dos bancos, econômica
(pela falência de empresas, pela superprodução de mercadorias ou capitais), alimentária, energé-
tica, ambiental”, Crisis del capital (2007-2013). La crisis capitalista contemporánea y el debate sobre
las alternativas, Fundación de Investigaciones Sociales y Políticas (FISYP), Buenos Aires, 2013, p.
8, tradução nossa.
16
Introdução
Este livro está organizado em torno a essa hipótese central, de maneira que o
primeiro capítulo tenta demonstrar que, na atualidade, o sistema capitalista inter-
nacional, como modo de produção que alberga uma grande formação econômico-
-social, é hegemônico no conjunto das relações sociais, políticas e culturais, em
tal medida que estas estão constantemente pressionadas a adaptar-se à lógica de
acumulação e de valorização de capital pautados pelos ciclos econômicos e pelas
grandes empresas transnacionais que operam em escala mundial, nacional e local.
O capítulo 2 documenta o antagonismo entre o trabalho e o capital na eco-
nomia e na sociedade em várias dimensões de sua existência para mostrar que,
contrariamente aos postulados que sustentam os autores que chamamos do “fim
do trabalho” – e que de alguma maneira negam ou subestimam a existência desse
antagonismo –, o trabalho e o conjunto de relações e categorias que o conformam
como princípio originário e constituinte da humanidade continua sendo o eixo
central e dinâmico da produção de riqueza e das sociedades capitalistas que se
servem dele. Conclui-se que aquela premissa metodológica levantada por Marx na
Terceira Seção do Livro II do Capital relativa aos esquemas de reprodução, onde se
supõe a existência de apenas uma economia capitalista global, passou de premissa
metodológica a ser hoje em dia uma irrefutável premissa história, essencial, o pon-
to de partida para qualquer análise sobre a situação contemporânea.
Devido a que o eixo de nossa pesquisa no presente livro é mundo do tra-
balho – e sua precarização – como categoria essencial e central das sociedades
contemporâneas, o capítulo 3 retoma as reflexões de Marx tanto dos Grundris-
se como do Capital, as quais sintetizamos na categoria desmedida do valor que,
em síntese, significa que a redução constante do tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção e reprodução das mercadorias, incluindo a própria
força de trabalho, é cada vez mais insuficiente tanto como parâmetro de medição
do valor global da produção mercantil, quanto para garantir escalas crescentes e
sustentáveis de produção de mais-valia. Esta hipótese nos permite concluir que a
crise capitalista atual é uma crise derivada de graves dificuldades do capital social
global para produzir valor e mais-valia, o que o impele, como ocorre atualmente,
a um processo de crescente desdobramento em esferas financeiro-especulativas,
reforçando assim o regime que podemos denominar de capital fictício produtor
de lucros fictícios. A desmedida do valor constitui, portanto, o eixo central da crise
contemporânea do capitalismo e do poderoso impulso ao processo de proletariza-
ção e precarização do mundo do trabalho.
17
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
O capítulo 4 tenta demonstrar como, frente a esta crise, o capital reage de vá-
rias maneiras para aumentar suas taxas de rentabilidade, especialmente através da
incorporação do trabalho subjetivo e imaterial diretamente à produção de mais-
-valia. Da mesma forma, a superexploração do trabalho, mecanismo que consiste
em expropriar parte do fundo de consumo da classe trabalhadora em favor da
acumulação de capital, estabelece-se como um processo genuíno de exploração e
produção de mais-valia inclusive nos países do capitalismo avançado, com a res-
salva, e diferentemente do que ocorre nos países dependentes e subdesenvolvidos,
de que lá isso ocorre sob a hegemonia da produção de mais-valia relativa, questão
que de alguma maneira expressa as dificuldades que o capital encontra em muitos
países desenvolvidos (Alemanha, Inglaterra, França, Estados Unidos) para gene-
ralizar, tal como ocorre na América Latina, o regime de superexploração da força
de trabalho.
O capítulo 5 documenta a relação íntima que se estabelece entre o trabalho
precário e a barbárie social desencadeada pela reestruturação capitalista e pela in-
trodução de dois componentes que operam de forma estrutural nos processos de
trabalho e na vida social: a tensão que se deriva da organização capitalista baseada
no método toyotista e o fenômeno da fratura social que se replica na estrutura de
classes, em particular na classe trabalhadora no proletariado, como uma forma
de debilitar sua organização social e política e de abrir de par em par as portas à
derrota dos trabalhadores e à imposição da precarização monumental no mundo
do trabalho.
No capítulo 6 nos concentramos particularmente na análise das semelhanças
e diferenças entre a categoria de precariedade e a de precarização do trabalho,
chegando à conclusão de que esta última corresponde a um processo de constante
atualização da primeira.
Por último, no capítulo 7, discutimos com autores relevantes, primeiro de
maneira geral sobre o conceito de classes sociais para depois discutir pormeno-
rizadamente a relação, existente ou não, entre precariedade e proletariado: se são
categorias idênticas ou, ao invés, se alguma delas substituiu a outra. Aqui exami-
naremos três posturas: os que propõem e reafirmam a existência do proletariado
como classe social fundamental na sociedade; os que, pelo contrário, afirmam que
aquele deixou de existir ou, pelo menos, já não representa uma classe significativa;
e, por último, os que assumem a existência de um precariado social, porém como
uma fração do proletariado. Concluímos com a tese de que, embora mudanças
18
Introdução
vertiginosas e profundas tenham ocorrido nas últimas décadas, estas não mo-
dificaram a essência das estruturas de classes, mas criaram novas frações que se
explicam, todas elas, em função das classes fundamentais da sociedade: burguesia
e proletariado.
Frente ao tema da existência ou não de um precariado enquanto classe ou
fração de classe, concluímos que sua existência não se sustenta como tal, dado que
a precariedade e a precarização são atributos constitutivos das relações sociais de
produção, trabalhistas, salariais e de trabalho que atingem praticamente todas
as categorias, ramificações, setores, e qualificações do mundo do trabalho. Mas
podem, de fato, existir setores mais precarizados que outros, como indiscutivel-
mente ocorre com a juventude trabalhadora, homens e mulheres que a cada dia se
veem expostos aos lacerantes e perniciosos efeitos macro e micro da precariedade,
expressados na perda de garantias e de direitos sociais que os submetem a regimes
de vulnerabilidade, insegurança e estresse, restringindo suas vidas e seu futuro
não só como trabalhadores, mas como seres humanos.
19
CAPÍTULO 1
O MODO DE PRODUÇÃO
NÃO É MAIS CAPITALISTA?
INTRODUÇÃO
21
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
22
O modo de produção não é mais capitalista?
“Uma formação social nunca perece antes que estejam desenvolvidas todas
as forças produtivas para as quais ela é suficientemente desenvolvida, e no-
vas relações de produção mais adiantadas jamais tomarão o lugar, antes que
4 Octavio Ianni captou esta expansão da globalização: “Nesta altura da história, no declínio do sé-
culo XX e limiar do século XXI, as ciências sociais se defrontam com um desafio epistemológico
novo. Seu objeto transforma-se de modo visível, em amplas proporções e, sob certos aspectos,
espetacularmente. Pela primeira vez, são desafiadas a pensar o mundo como um sociedade global.
As relações, os processos e as estruturas econômicas, políticas, demográficas, geográficas, histó-
ricas, culturais e sociais, que se desenvolvem em escala mundial, adquirem preeminência sobre
as relações, processos e estruturas que se desenvolvem em escala nacional. O pensamento cientí-
fico, em suas produções mais notáveis, elaborado primordialmente com base na reflexão sobre a
sociedade nacional, não é suficiente para apreender a constituição e os movimentos da sociedade
global”, em: Teorias da Globalização, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, p. 237.
23
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
5 Marx, Karl, Para a crítica da economia política; Salário, preço e lucro; O rendimento e suas fontes:
a economia vulgar, 1ª ed., São Paulo, Abril Cultural, 1982, p. 26.
24
O modo de produção não é mais capitalista?
6 Karl Marx y Friedrich Engels, Manifesto Comunista, Boitempo, São Paulo, 1998, p. 43.
7 Diferentemente do que em geral se acredita, Marx também atribui um aspecto negativo à estas
forças produtivas, que: “sob o regime da propriedade privada, obtêm apenas um desenvolvimento
unilateral, convertem-se para a maioria em forças destrutivas e uma grande quantidade dessas
forças não consegue alcançar a menor utilização na propriedade privada”. Karl Marx e Friedrich
Engels, A ideologia alemã, Boitempo, São Paulo, 2007, p. 60.
8 Elmar Altvater, El fin del capitalismo tal y como lo conocemos, El Viejo Topo, Barcelona, 2011, p.
119, tradução nossa.
25
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
9 Elmar Altvater, El fin del capitalismo, op. cit. p. 247, tradução nossa.
10 Úrsula Huws, “Vida, trabalho e valor no Século XXI”, em: Caderno CRH, Revista do Centro de
Recursos Humanos da Universidade Federal da Bahia, Salvador, v.27, n.º 70, Janeiro-Abril de
2014, p. 18.
11 Ernest Mandel, El capitalismo tardío, Ediciones ERA, México, 1972, p. 212. Neste livro o autor
identifica três revoluções tecnológicas ocorridas após a primeira revolução industrial original de
finais do século XVIII: a) produção maquinizada de motores a vapor, a partir de 1848; b) fabrica-
ção maquinizada de motores elétricos e de combustão interna, na última década do século XIX
e, por último c) produção maquinizada dos aparatos movidos a energia nuclear, no século XX, op
cit. p 115. A atual (quarta revolução tecnológica), surgida a partir da metade da década de setenta
do século passado, sustenta-se nas tecnologias microeletrônicas, dos novos materiais e da infor-
mação conectada aos meios de produção e comunicação.
26
O modo de produção não é mais capitalista?
e científico dificilmente poderá coroar esta tarefa, a exemplo do que parece estar
ocorrendo atualmente.
O outro problema se refere à segunda tese, ao fato de determinar se na atua-
lidade, no contexto da crise global do capital, existem forças sociais e políticas (o
sujeito histórico) suficientes e capazes não somente de desestabilizar o regime do
capital e seu modo de produção – algo que alguns movimentos político-sociais no
mundo já fazem parcialmente –, mas também de transcender a ordem capitalista
e constituir uma nova sociedade histórica diametralmente oposta – e qualitativa-
mente diferente e superior – ao capitalismo. Ao que parece esta última alternativa
não ocorre porque não está o suficientemente madura para se expressar.
CONCLUSÃO
12 Eleutério Prado, Desmedida do valor. Crítica da pós-grande indústria, Xamã, São Paulo, 2005, p. 41.
13 Úrsula Huws, “Vida, trabalho e valor no Século XXI”, em: Caderno CRH, Revista do Centro de
Recursos Humanos da Universidade Federal da Bahia, Salvador, v.27, no. 70, Janeiro-Abril de
2014, p. 14.
27
CAPÍTULO 2
O ANTAGONISMO: TRABALHO-CAPITAL
INTRODUÇÃO
Dimensão econômica
29
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Dimensão social
14 Robert Castel, As metamorfoses da questão social. Uma crónica do salário, Editora Vozes, 1998, p.
600.
30
O antagonismo: trabalho-capital
Dimensão política
15 Anthony Giddens, A terceira via : reflexões sobre o impasse político atual e o futuro da social-demo-
cracia, 4ª ed., Record, Rio de Janeiro, 2001, e A terceira via e seus críticos, Record, Rio de Janeiro,
2001.
31
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Dimensão ético-cultural
16 Elmar Altvater, El fin del capitalismo tal y como lo conocemos, op. cit., p. 91, tradução nossa.
32
O antagonismo: trabalho-capital
“[...] graças às mediações de segunda ordem do capital cada uma das for-
mas primárias é alterada de modo a se tornar quase irreconhecível, para
adequar-se às necessidades expansionistas de um sistema fetichista e alie-
nante de controle sociometabólico, que subordina absolutamente tudo ao
imperativo da acumulação de capital”19.
17 István Mészáros, Para além do capital: rumo a uma teoria da transição, Boitempo, São Paulo,
2002, p. 180 e ss.
18 Ibid., p. 208 y ss.
19 Ibid., p. 213.
33
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
“No fundo, o que se expressa desta maneira é uma contradição entre o va-
lor de uso (trabalho concreto) e o valor de troca (trabalho abstrato), já que
[...] a própria produção de trabalho abstrato implica a absorção tendencial-
20 Ibid., p. 214.
34
O antagonismo: trabalho-capital
mente cada menor de trabalho vivo por unidade de trabalho morto. É o que
produz a caída tendencial da taxa média de lucro, em prejuízo dos aumen-
tos de produtividade que são a principal contra-tendência interna desta lei.
Assim, sucumbe a própria base da formação de valor’”21.
21 Alain Bihr, “Las formas concretas del trabajo abstracto”, Revista Herramienta no. 44, junio de
2010, p. 37, tradução nossa. De fato, “O tempo de trabalho abstrato/geral existe somente através do
concreto/particular. Colocados esses dois tempos em relação, o valor se manifesta com toda cla-
reza como abstração do tempo social”. Daniel Bensaïd, Marx intempestivo. Grandezas y miserias
de una aventura crítica, Ediciones Herramienta, Buenos Aires, 2013, p. 126, tradução nossa.
22 Ver Robert Reich, O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo do Século 21, Educa-
tor, São Paulo, 1993.
23 Ver: Ricardo Antunes y Ruy Braga, Infoproletários. Degradação real do trabalho virtual, Boitempo
Editorial, São Paulo, 2009.
35
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
parâmetros do conceito de classe social, não se deve eludir a íntima relação exis-
tente entre estes novos tipos de trabalhadores e o trabalho assalariado. De fato,
36
O antagonismo: trabalho-capital
Dimensão científico-técnica
26 Luciano Vasapollo y Arriola, Flexibles y precarios. La opresión del trabajo en el nuevo capitalismo
europeo, El Viejo Topo, 2003, pp. 136-137, tradução nossa.
27 NT: Este trecho não consta na versão brasileira do livro de Manuel Castells: A sociedade em rede,
8ª ed. rev. e ampl., Paz e Terra, São Paulo, 2005, por se tratar de uma versão mais recente – e
completamente revisada por Castells – do que a utilizada por Sotelo Valencia neste trabalho. O
trecho que traduzimos nesta nota consta na versão em língua espanhola: Manuel Castells, La era
37
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Curioso argumento o de Castells, o mesmo que foi criticado por Marx em seu
tempo, quando James Mill, Torrens, Mc-Culloch e John Stuart Mill supunham
“[...] que toda maquinaria que desloca trabalhadores sempre libera, simultânea e
necessariamente, um capital adequado para ocupar esses mesmos trabalhadores”
29
. Marx se opôs a essa (falsa) “teoria da compensação”, afirmando que a substi-
tuição de trabalhadores por máquinas, em todas os ramos da produção social,
engendra o exército industrial de reserva cujas funções consistem em aumentar
a concorrência entre os trabalhadores, baixar os salários e elevar também a taxa
média de exploração do trabalho.
de la información, Vol. 1, Siglo XXI, México, 2004, p. 284, tradução nossa. Todas as referências
posteriores deste trabalho serão extraídas da versão brasileira.
28 Manuel Castells: A sociedade em rede, 8ª ed. rev. e ampl., Paz e Terra, São Paulo, 2005, pp. 320-
321. Salta à vista que o autor desconsidera que, em última instância, o sistema funciona por meio
da concorrência e que esta é, ao mesmo tempo, guiada pela lógica e pela dinâmica mercantil do
lucro extraordinário, fator essencial no estímulo à introdução de novas tecnologias no processo
produtivo, o que resulta na substituição da força de trabalho e na redução do emprego.
29 Marx, O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I: O processo de produção do capital, Boitem-
po, São Paulo, 2013, p. 410.
38
O antagonismo: trabalho-capital
Ainda que se possa estar de acordo com Castells no fato de que não se trata
somente de uma conta de soma zero, de uma simples redistribuição ocupacional
que coloca o que se perde de um lado da balança e o se ganha do outro lado, o que
criticamos é o argumento principal dessa correlação, porque se fundamenta em
um período histórico muito curto, o que impede a análise de macrotendências de
longo prazo. Porém, ao ampliarmos o período de análise, por exemplo, de 1980
a 1995, veremos que na indústria automotriz europeia o emprego direto caiu de
2,2 milhões a 1 milhão de trabalhadores, e não se pode negar que durante todo
este período houve mudanças evidentes tanto na organização do trabalho como
na organização da produção30. Também nos Estados Unidos, entre 2000 e 2009,
o emprego absoluto nas empresas automobilísticas se reduziu em torno de 75%,
após o fechamento massivo de unidades produtivas31. O mesmo se pode afirmar
sobre o setor automotriz mexicano onde, entre 1990 e 2012, o pessoal ocupado se
reduziu praticamente à metade, apesar da – ou devido à – introdução de tecnologia
e sistemas toyotistas de organização do trabalho.
Em escala mundial, a curva de emprego – com o correlato aumento do de-
semprego – seguiu uma trajetória descendente na década de oitenta e noventa
do século passado, como produto da crise estrutural, da automação das unidades
produtivas e do surgimento de novos setores dinâmicos tais como os serviços ele-
trônicos, bancários e financeiros que incorporaram tecnologia de ponta em seus
processos de gestão, design e marketing.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o ano de
1997 é um divisor de águas nas tendências de desemprego e criação de empregos
no mundo. Nesse novo cenário, América Latina aparece para a OIT como uma
região onde a situação do emprego melhora de forma duradoura, pois nesse ano:
39
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
32 Organización Internacional del Trabajo, Panorama Laboral 1997, “Mejora coyuntural de la si-
tuación laboral”, Oficina Regional para América Latina y el Caribe, Lima, Perú, tradução nossa.
Disponível na internet: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/docu-
ments/publication/wcms_187606.pdf.
33 Ruy Mauro Marini, “Proceso y tendencias de la globalización capitalista”, em Ruy Mauro Marini
Ruy Mauro y Márgara Millán, La Teoría Social Latinoamericana, Vol. IV, Cuestiones contemporá-
neas. Ediciones El Caballito, 1996, p. 55.
34 Eurostat, disponível em internet: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/3-
31082012-BP/EN/3-31082012-BP-EN.PDF, julho de 2012.
35 OIT, Global employment…Tabla P1, p. 147. Projeções para 2014 y 2015.
40
O antagonismo: trabalho-capital
Quadro nº1
Evolução do desemprego nos principais países capitalistas avançados: 1950-2013 e projeções para
2014 e 2015 (%)
Anos
Países 1950-1973 1973-1983 2012 2013 2014 2015
Europa (24 países) 4 8
OCDE 7,9
UE 10,5
Zona do Euro 11,4
Países desenvolvidos (inclui UE) 8,7 8,6 8,4
Fonte: Quadro elaborado com base nos dados das notas 32, 33, e 34.
41
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
42
O antagonismo: trabalho-capital
39 Carlos Arenas Posadas, Historia económica del trabajo (siglos XIX y XX), Tecnos, Madrid, 2003, p.
271, tradução nossa.
40 Para este tema ver: Manuel Mera, “El contexto socioeconómico y los retos actuales del sindicalis-
mo”, III Xornadas do Mundo do Traballo, CIG-Ourense e FESGA, Galiza, Estado Español, s/d.
43
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
44
O antagonismo: trabalho-capital
formaram nos últimos anos nesta região, particularmente após a caída da URSS
e do bloco socialista.44 No mesmo momento em que a divisão internacional do
trabalho se amplia e a fratura operária se aprofunda, este mapa de deslocalizações
intensifica a concorrência pela utilização das zonas de baixos salários, incrementa
a taxa de exploração do trabalho e se aproveita do pouco ou nulo ativismo sindi-
cal, especialmente em regiões que enfrentam desvalorizações e crises endêmicas,
como a Indústria Maquiladora de Exportação (IME) no México 45.
Contudo, mesmo neste contexto crítico e de mudanças estruturais, não se
perde a centralidade do trabalho assalariado, criador de valor, responsável pela
produção de mais-valia e de lucros que garantem a reprodução do capital, e que se
mantém como o alicerce das sociedades capitalistas contemporâneas em sua atual
fase neoliberal, neoimperialista e dependente. Porque se estas categorias já não
fossem funcionais ao sistema – como alguns de seus intelectuais orgânicos creem
– dificilmente o capital encontraria os substitutos necessários para garantir sua
reprodução e continuidade, por mais que se professem as “virtudes” da tecnologia
e da ciência como dispositivos capazes de alcançar este fim “por si mesmas”.
As ideias expostas acima provam que, por mais que o sistema e suas institui-
ções – através da automatização e das inovações tecnológicas desencadeadoras
das constantes crises e restruturações do capital – pressionem para substituir o
fator humano (como força de trabalho simples e complexa, objetiva e subjetiva,
material e imaterial, cognoscitiva e manual) – e, assim, aumentar a taxa de lucro
– este objetivo enfrenta limites históricos-estruturais derivados da necessidade
de reprodução do sistema e da dinâmica da taxa de lucro. Demonstram, também,
que o que vem se transformando verdadeiramente é a fisionomia do mundo do
trabalho, modificada pela restruturação capitalista (downsizing) em, pelo menos,
quatro direções:
44 Estas novas periferias surgem nos países da Europa do Leste logo após a desintegração da URSS
e se constituem como plataformas de deslocalização da produção a favor das grandes empresas
transnacionais dos países desenvolvidos como Alemanha e França. Cf. Adrián Sotelo, Desindus-
trialización y crisis del neoliberalismo: maquiladoras y telecomunicaciones, coedición Editorial
Plaza y Valdés, UOM-ENAT, México, 2004, capítulo 6, p. 139 y ss.
45 Para este tema, ver meu livro, México (re)cargado. Dependencia, neoliberalismo y crisis, coedición
Facultades de Ciencias Políticas y Sociales-UNAM-Editorial Itaca, México, 2014.
45
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
46
O antagonismo: trabalho-capital
CONCLUSÃO
47
CAPÍTULO 3
DESMEDIDA DO VALOR, TEMPO DE
TRABALHO Y CRISE
INTRODUÇÃO
Este capítulo tem por objetivo expor um assunto bastante complexo que Marx
desenvolveu nos Grundrisse e que tem sido pouco considerado pelos autores que
se ocuparam do tema que abordamos neste livro. Interessa-nos, principalmen-
te, porque acreditamos que nos permite construir uma perspectiva analítica que
explique a crise contemporânea do capitalismo em curso, a qual se traduz, es-
sencialmente, em graves problemas de produção de mais-valia derivados de dois
movimentos inter-relacionados dialeticamente: por um lado, a crescente redução
do tempo de trabalho socialmente necessário para a produção do valor das mer-
cadorias e, por outro, a ênfase desmesurada do capital na extensão do tempo de
trabalho excedente para aumentar a mais-valia, à custa do primeiro movimento.
Ambos movimentos se desdobram nos ciclos e no fluxo do capital à esfera finan-
ceira, ocasionando o fenômeno que alguns economistas denominam “financei-
rização da economia mundial”, mas que se relaciona, em nossa opinião, com a
categoria de desmedida do valor e do capital.
49
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Diagrama nº 1
Jornada de Trabalho = 8 hrs.
49 Consideramos que ambas obras (O Capital e os Grundrisse) são complementárias, como uma
sequência epistemológica e conceitual, em discordância com Antonio Negri, que em seu livro
Marx além de Marx (N.T.: no original, Marx beyond Marx, sem tradução ao português) afirma
que as duas são obras separadas (a primeira localizada acima da segunda), nem como Althusser
na sua afirmação sobre a “ruptura epistemológica” que divide o pensamento de Marx em compar-
timentos estanques. Ver nosso libro: Crisis capitalista y desmedida del valor: un enfoque desde los
Grundrisse, coedición Editorial Itaca-UNAM-FCPYS, México, 2010.
50 Karl Marx, O Capital. Crítica da Economia Política. Livro I: O processo de produção do capital,
Boitempo, São Paulo, 2013, p. 123. Marx já havia esboçado essa tese em seus Grundrisse. Ma-
nuscritos econômicos de 1857-1858. Esboços da crítica da economia política, Boitempo, São Paulo,
2011, pp. 269-270.
50
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
Um ângulo desta indiferença radica no fato de que o capital social global ra-
pidamente percebe, mesmo sem compreender a essência do processo, que com a
dificuldade crescente para reduzir o tempo de trabalho socialmente necessário,
a revolução científico-tecnológica não cria mais valor nem, consequentemente,
mais-valia; mas que, ao contrário, cedo ou tarde a taxa de lucro cai, mesmo em
um ambiente onde o capital fictício sustente a hegemonia, o qual, em todo caso,
não faz outra coisa que exacerbar ainda mais a centralização do capital. Esta é
a essência do conceito de mais-valia relativa: para que esta se produza deve ha-
ver uma redução da magnitude necessária correspondente ao valor da força de
trabalho através da redução do valor e do tempo socialmente necessário para a
produção dos elemento materiais e histórico-morais que o conformam. Assim se
alcançam os limites do modo de produção capitalista já que, como afirma Mandel,
este limite não reside na absorção das esferas não capitalistas de produção, como
pensava Rosa Luxemburgo – processo que, diga-se de passagem, ocorreu de forma
massiva no transcurso dos dois últimos séculos –, nem na impossibilidade de va-
lorizar a totalidade do capital acumulado, como supunha Henry Grossman52, mas
51 Karl Marx, Grundrisse, op. cit., pp. 270. Destaques do autor. Contrariamente aos dogmas neoli-
berais, este trecho comprova que não é o salário em si o que provoca problemas na valorização
do capital, mas justamente o oposto: é porque baixa constantemente a participação do salário,
sobretudo em sua dimensão real, que se multiplicam estes problemas na esfera da valorização do
capital.
52 Ver: Henry Grossman, La ley de la acumulación y del derrumbe del sistema capitalista, México,
Siglo XXI, 3ª ed., 2004.
51
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
no fato de que “[...] Esse limite reside no fato de que a própria massa de mais-valia
necessariamente diminui como resultado da eliminação do trabalho vivo do proces-
so de produção no transcurso da etapa final de mecanização-automação” 53.
Esta relação entre tempo de trabalho e forças produtivas no âmbito do pro-
gresso técnico é o núcleo duro da teoria de Marx e opera com status de lei no
sistema capitalista, particularmente quando postula que “O aumento das forças
produtivas deviria indiferente para o capital”. O que significa isso? Por mais que
o capital revolucione seus meios de produção e de transporte, aplique a ciência e
a técnica aos processos produtivos e de trabalho, mesmo assim não consegue au-
mentar significativamente a produção de valor e de mais-valia (mas consegue des-
truir a natureza e as forças produtivas da sociedade), questão que coloca o sistema
à beira de um perigoso caminho de entrada ao (quase) estancamento, à recessão
de longo prazo e à barbárie depredadora, como parece estar ocorrendo hoje em
dia em quase todo o mundo 54 .
Do trecho seguinte dos Grundrisse pode-se inferir o conteúdo da categoria
desmedida do valor ou, em outras palavras, da insuficiência do tempo de trabalho
para determinar quantitativamente o valor das mercadorias e da riqueza em geral:
52
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
recem somente como meios para o capital, e para ele são exclusivamente
meios para poder produzir a partir de seu fundamento acanhado”55.
Diagrama nº 2
53
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
mais-valia (da qual a taxa de lucro depende), enquanto a riqueza social (valores de
uso) aumenta sobre uma base frágil que o sistema capitalista já não pode suportar.
Além do mais, como afirma Bensaïd: “O valor está determinado pelo tempo de
trabalho socialmente necessário para a produção da mercadoria, tempo ele próprio
flutuante, flexível como instrumento de medida que variará de acordo com o obje-
to medido” 56, particularmente mediante o desenvolvimento fenomenal das forças
produtivas.
Essa tese foi formulada por Marx nos Grundrisse quando prognosticou que o
capitalismo terminaria sendo governado pelo General Intellect57, o que significa,
em síntese, que, se bem a riqueza social deve necessariamente ser produzida no pro-
cesso de trabalho e de reprodução material do capital mediante relações de explora-
ção e de valorização, cada vez mais – contraditoriamente – se dificulta sua medição
adequada pelo tempo de trabalho58, e que cedo ou tarde esta contradição conduziria
o capitalismo a uma crise profunda. Alguns autores têm destacado esta tese recha-
çando a afirmação de que a produção de valor continua dependendo do tempo de
trabalho, tal como nós sustentamos, pois no momento atual do capitalismo estaria
ocorrendo uma “transformação da produção” em “produção inteligente, em um
espécie de “capitalismo cognitivo”, tal como assevera Prado59. Ao contrário, para
nós, isso se deve fundamentalmente a) à redução do tempo de trabalho socialmente
necessário para a produção de mercadorias, o qual auxilia a redução da massa de
mais-valia e, b) ao fato de que o capital constrói toda sua estratégia no aumento
exorbitante do trabalho excedente não remunerado, com o auxílio da aplicação e
utilização capitalista da ciência e da tecnologia. Não enxergar este fato significa
menosprezar o “trabalho manual” na fase que o autor denomina de “pós-grande in-
dústria” onde, supostamente, o general intellect60 governa, deixando de considerar
que, em Marx, por mais desenvolvido que este general intellect esteja, o mesmo se
explica, em última instância, pela relação dialética entra força produtiva material
e o trabalho manual-intelectual que intervém na produção para engendrar valor e
54
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
55
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
56
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
57
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
69 Françoise Chesnais, “A fisionomia das crises no regime de acumulação sob dominância financei-
ra”, Novos Estudos, CEBRAP, núm. 52, novembro de 1993.
70 Reinaldo Carcanholo, Capital, essência e aparência, Vol.2, Expressão Popular, São Paulo, 2013, p.
139.
58
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
“Por essa razão, ele diminui o tempo de trabalho necessário para aumentá-
-lo na forma do supérfluo; por isso, põe em medida crescente o trabalho
supérfluo como condição – questão de vida e morte – do necessário”71.
59
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
60
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
74 Jürgen Habermas, Teoría de la acción comunicativa, vol. II, Crítica de la razón funcionalista, Tau-
rus, México, 2005.
75 Claus Offe, “¿Es el trabajo una categoría sociológica clave?”, en Offe, Claus y Carlos Hinrichs (co-
ords.), La sociedad del trabajo, problemas estructurales y perspectivas de futuro, Alianza, Madrid,
1992, pp. 17-51.
76 Jeremy Rifkin, The End of Work: The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-
-Market Era, Putnam Publishing Group, New York, 1995.
77 Robert Reich, O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo do Século 21, Educator,
São Paulo, 1993.
78 Dominique Méda, El trabajo. Un valor en peligro de extinción, Editorial Gedisa, Barcelona, 1998.
79 André Gorz, Miséres du présent, richesse du posible, dépasser la société salariale, Galilée, 1997.
80 Robert Castel, As metamorfoses da questão social, op. cit., p. 571. Analisaremos in extenso o traba-
lho deste autor no último capítulo.
81 Daniel Bell, El advenimiento de la sociedad post-industrial, Alianza, Madrid, 1989, p. 34, tradução
nossa.
61
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
82 Ulrich Beck, Un nuevo mundo feliz, la precariedad del trabajo en la era de la globalización, Bar-
celona, Paidós, 2000, p. 45, tradução nossa. Evidentemente que o tema é muitíssimo mais com-
plexo do que simplesmente reduzi-lo a uma mera questão de plausibilidade de instaurar o pleno
emprego. Gorz insiste nesta confusão (Metamorfosis.... p. 282): “[...] o que era utópico no início do
último século em parte já não o é atualmente: o processo social de produção, a economia, reque-
rem cada vez menos o trabalho assalariado. A subordinação de todas as outras atividades e dos
outros objetivos humanos ao trabalho assalariado e aos objetivos econômicos perde seu sentido
e sua necessidade”, não diferenciando duas equações elementares: a redução efetiva da massa de
trabalho, mas não do trabalho assalariado enquanto relação social.
83 Para uma apreciação da categoria trabalho, ver a obra de György Lukács, Ontología del ser social:
el trabajo, Buenos Aires, Ediciones Herramienta, 2004, onde se analisa o papel do trabalho no
processo de hominização y de constituição do Ser Social Humano.
62
Desmedida do valor, tempo de trabalho y crise
CONCLUSÃO
84 Para o tema da extensão da superexploração do trabalho ao mundo desenvolvido ver: Ruy Mauro,
Marini, “Proceso y tendencias de la globalización capitalista”, em Ruy Mauro Marini y Márgara
Millán, La Teoría Social Latinoamericana, Vol. IV, Cuestiones contemporáneas. Ediciones El Ca-
ballito, 1996, pp. 49-68. Existe uma versão na internet: http://biblioteca.clacso.edu.ar/ar/libros/
secret/critico/marini/08proceso.pdf.
63
CAPÍTULO 4
TRABALHO IMATERIAL E
SUPEREXPLORAÇÃO DO TRABALHO
INTRODUÇÃO
TRABALHO IMATERIAL
65
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
66
trabalho imaterial e superexploração do Trabalho
ções fenomênicas e suas categorias essenciais: “[...] toda a ciência seria supérflua
se a forma de manifestação e a essência das coisas coincidissem imediatamente”87.
Isso não ocorre, porém, com as teorias do fim do trabalho que, mediante
diversos procedimentos metodológicos e artimanhas argumentativas, chegam
àquela conclusão através de uma separação flagrante entre essência e aparência,
por exemplo, ao confundir o trabalho como Urphänomen – fenômeno originá-
rio – com o trabalho enquanto simples emprego ou posto de trabalho. É dessa
maneira como, em geral, um dos argumentos mais utilizados pelos partidários
do trabalho imaterial, reflexivo, de conhecimento, informacional, é o de que,
enquanto o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção de uma
mercadoria tangível, material, efetiva, é perfeitamente comensurável e, portanto,
está submetida às leis econômicas, não ocorre o mesmo com o serviços, os quais,
efetivamente, afirmam seus partidários, tornaram-se hegemônicos na sociedade
contemporânea nas últimas décadas. Nesta linha, Claus Offe, afirma o seguinte:
87 Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Livro terceiro, Volume III, Tomo II, Nova Cul-
tural, São Paulo, 1986, p. 271.
88 Claus Offe, op. cit., pp. 30-31, tradução nossa.
67
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
68
trabalho imaterial e superexploração do Trabalho
69
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
70
trabalho imaterial e superexploração do Trabalho
limitar sua dependência em relação ao trabalho, porém não pode fazê-lo por com-
pleto, pois depende de sua exploração para gerar mais-valia”95.
O tempo de trabalho socialmente necessário se determina pelo desenvolvimen-
to das forças produtivas e pelo grau médio de destreza, produtividade e intensidade
da força de trabalho, aspectos que atuam como processos inter-relacionados96 onde
a produção do valor novo (o equivalente do valor da força de trabalho mais a mais-
-valia), assim como a conservação e a transferência de valor dos meios de produção
ao produto-mercadoria, estão exclusivamente a cargo da força de trabalho, ampara-
da em seu caráter duplo de ser produtora de valor de uso e de valor de troca.
Como a experiência histórica comprova, o método idôneo, vernáculo, do ca-
pital é produzir mais-valia relativa com ênfase no incremento da produtividade,
reduzindo assim o tempo de trabalho socialmente necessário para a produção do
valor da força de trabalho. Mas, ao atingir um limite estrutural, tal desenvolvi-
mento das forças produtivas entra em contradição com as necessidades imanentes
de valorização do capital e da taxa de lucro, os componentes vitais para garantir a
reprodução ampliada do sistema.
Atualmente, estas duas contradições – desenvolvimento das forças produtivas
e desvalorização da força de trabalho – têm se potencializado com o progresso
científico e técnico. Mas, ao fazê-lo, têm ao mesmo tempo colocado em xeque a
produção de valor e de mais-valia – em função de que o sistema segue fundado
tanto no modo de produção capitalista e em seus conceitos e categorias funda-
mentais (exploração, propriedade privada, apropriação mercantil, valorização,
monopólio, capital fictício), quanto na lógica do metabolismo social do capital – e
impulsionado o capital à apropriação da parte subjetiva do trabalhador e à exten-
são da superexploração do trabalho como um recurso adicional colocado em prá-
tica para manter a continuidade da reprodução do valor e do regime de produção
de mercadorias.
71
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
SUBJETIVIDADE Y MAIS-VALIA
72
trabalho imaterial e superexploração do Trabalho
CONCLUSÃO
73
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
74
CAPÍTULO 5
TRABALHO PRECÁRIO E
BARBÁRIE SOCIAL
INTRODUÇÃO
75
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
76
trabalho precário e barbárie social
77
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Diagrama nº. 3
Integridade e des-integridade do contrato de trabalho
100 Ulrich Beck, Un nuevo mundo feliz, op. cit., p. 96, tradução nossa. Em outro texto, este autor
chama de “sociedade de risco mundial” (weltrisikogesellschaft) à capacidade da sociedade pós-
-industrial para afrontar, na “segunda modernidade”, cinco processos inter-relacionados: a glo-
balização, a individualização, a revolução dos gêneros, o subemprego e os riscos globais como as
crises ecológicas e dos mercados financeiros. Ulrich Beck, La sociedad del riego mundial. En busca
de la seguridad perdida, Editorial Paidós, Barcelona, 2008.
78
trabalho precário e barbárie social
101 Adoración Guamán Hernández y Héctor Illueca Ballester, El huracán neoliberal. Una reforma
laboral contra el trabajo, Editorial sequitur, Madrid, 2012. p. 91, tradução nossa.
102 “España tardará 16 años en volver al nivel de desempleo previo a la crisis”, Periodismo Interna-
cional Alternativo (PIA), 20 de abril de 2014, disponível na internet: http://www.noticiaspia.org/
espana-tardara-16-anos-en-volver-al-nivel-de-desempleo-previo-la-crisis/.
103 Guy Standing, O precariado: a nova classe perigosa, Autêntica, Belo Horizonte, 2013, p. 11.
79
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
total somente 9,3% (13.481) foram contratos fixos, enquanto os 90,7% restantes
foram temporários 104 .
Alguns autores têm insistido nessa ideia. Vasapollo, por exemplo, destaca
que uma das características do mundo atual no tema trabalhista é a conversão
do trabalho “atípico” em norma, mais do que em exceção105. Também para Castel
é um erro crasso considerar os empregos precários – contratos de trabalho por
atividade determinada, interinatos, part time, empregos subsidiados pelo Estado
– como “particulares ou atípicos”, e o autor agrega que, em geral, tanto o desem-
prego como a precarização devem ser considerados como fenômenos “inseridos
na dinâmica atual da modernização” 106.
Por sua vez, Ulrich Beck acredita que a “A desregulamentação e a flexibiliza-
ção do trabalho introduzem como normalidade algo que durante muito tempo foi
uma catástrofe superável no ocidente: a economia informal e o setor informal”107.
Este autor estabelece, como um dos princípios daquilo que define como a “se-
gunda modernidade”, que: “Também a sociedade do trabalho formal e do pleno
emprego, e com ela a rede construída em torno ao Estado assistencial, entra em
crise em face de um novo modo de produção e de cooperação ‘deslocalizadas’”108.
Desta forma, o trabalho precário e informal, de produtos da crise do capi-
talismo e dos mercados de trabalho, converteram-se em princípios jurídicos-
-institucionais dos regimes de trabalho e dos contratos individuais e coletivos
contemporâneos, congruentes, assim, com as políticas e interesses do capital e
de seus agentes representativos: os empresários e seus aparatos burocráticos e
administrativos. De fato, “É como se a segurança socioeconômica, tal e como a
Organização Internacional do Trabalho (OIT) define, tivesse se convertido no
104 “España tardará 16 años en volver al nivel de desempleo previo a la crisis”, Periodismo Interna-
cional Alternativo (PIA), 20 de abril de 2014, disponível na internet: http://www.noticiaspia.org/
espana-tardara-16-anos-en-volver-al-nivel-de-desempleo-previo-la-crisis/.
105 Ver: Luciano Vasapollo, O devir posfordista e o traballo atípico como elemento estratéxico, em: Mar-
tufi R y Vasapollo L, O mundo do traballo fronte á globalización capitalista, Galicia, CIGa., 2007.
106 Robert Castel, As metamorfoses… op. cit., p. 516.
107 Ulrich Beck, Un nuevo mundo feliz, op. cit. p. 135, tradução nossa.
108 Ulrich Beck, Un nuevo mundo feliz…2000, pp. 28-29, tradução nossa. Para o autor, a “segunda
modernidade”, que implica a “modernidade reflexiva”, define-se pela crise ambiental (umweltkri-
se), a crise do mundo do trabalho (arbeitswelt), retrocesso do trabalho remunerado, a individuali-
zação, a globalização e a revolução sexual (p. 25).
80
trabalho precário e barbárie social
81
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
111 Holm-Detlev Köhler, “El milagro Alemán: mito y realidad de la Agenda 2010”, La Vanguar-
dia.com, 11 de maio de 2014, disponível na internet: http://www.lavanguardia.com/econo-
mia/20130317/54369368696/mito-y-realidad-de-la-agenda-2010.html, tradução nossa.
112 Ibid.
82
trabalho precário e barbárie social
papéis entre quem trabalhava como empregado e quem o fazia como trabalhador
independente113.
Entre outras consequências dessas reformas que se implementaram na Euro-
pa, além do aumento do desemprego, foi o estímulo que deram ao desenvolvimen-
to da informalidade. Assim, institui-se o setor informal, nas palavras de um autor,
como um “para-choques da globalização”, que cumpre quatro funções:
113 Luciano Vasapollo, “O trabalho atípico e a precariedade”, em: Ricardo Antunes, Riqueza e Mi-
séria…op. cit., p. 49. A ênfase nos “trabalhadores autônomos” se deve ao fato de que cerca de
25% dos empregos na Itália e na Espanha correspondem a trabalho deste tipo, enquanto que na
Europa a média flutua em torno de 15%. A última reforma trabalhista, aprovada em junho de
2012, consagra o trabalho temporário, aumenta a idade de aposentadoria e facilita a demissão dos
trabalhadores, favorecendo, assim, os patrões.
114 Altvater, p. 263 y ss.
83
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
115 Amable, Benach y González, “La precariedad y su repercusión sobre la salud: conceptos y resulta-
dos preliminares de un estudio multimétodos”, em: Revista Archivos de Prevención, vol. 4, 2001,
p. 169, tradução nossa.
84
trabalho precário e barbárie social
Por outro lado, a onda de suicídio na France Telecom, que contava com 100.000
empregados naquele país, ressurge tragicamente: entre 2008 e 2010 se registraram
mais de sessenta suicídios, dos quais 27 estão ligados ao trabalho, de acordo com
a plataforma sindical Observatório do Estresse e da Mobilidade Laboral Forçada117.
Um Informe da Organização Internacional do Trabalho (OIT), por sua vez,
revela que em torno de 6 mil e 300 pessoas morrem a cada dia no mundo devido
a acidente ou doenças do trabalho. Ao ano, são 2 milhões e 300 mil mortes. Além
do mais, 270 milhões de trabalhadores padecem de lesões e 160 milhões adquirem
doenças vinculadas ao trabalho como, por exemplo, a LER (Lesão por Esforço
Repetitivo), que é uma doença que se produz em função dos esforços repetitivos
dentro de uma jornada de trabalho excessiva de 14 ou 15 horas por dia – algo fre-
quente nos dias de hoje – como pouco ou nulo descanso para o trabalhador. Outro
fenômeno colateral que afeta o trabalhador é o estresse devido ao trabalho – o que
116 AFL-CIO, Informe 2011, “Dead on the job”, cit. Por: Norberto Emmerich, “Ajuste, desregulaci-
ón, privatizaciones, despidos y cierres en Estados Unidos”, em: http://www.rebelion.org/noticia.
php?id=129447, 31de maio de 2011, tradução nossa.
117 Andrés Pérez, “La crisis de suicidios en France Telecom se reabre trágicamente”. Disponível na
internet: http://www.rebelion.org/noticia.php?id=127314, 28 de abril de 2011.
85
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
118 Para este tema, ver: Richard Sennett, La corrosión del carácter. Las consecuencias personales del
trabajo en el nuevo capitalismo, 10ª ed., Barcelona, Anagrama, 2009.
119 Giovanni Alves, Trabalho e neodesenvolvimentismo, op. cit., p. 99.
120 Feliz expressão de Giovanni Alves: “Crise estrutural do capital, trabalho imaterial e modelo de
concorrência-notas dialéticas”, em: Vários, Trabalho educação, contradições do capitalismo global,
Editora Praxis, Maringá, Paraná, 2006, p. 51.
121 André Gorz, Metamorfósis del trabajo. Búsqueda del sentido, Editorial Sistema, Madrid, 1995, p.
118, tradução nossa. Skins (pele) se refere a um drama britânico sobre temas como a violência,
86
trabalho precário e barbárie social
87
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
123 Ludovico Silva, A mais-valia ideológica, Insular - IELA, Coleção Pátria Grande, Florianópolis,
2013, p. 176 y ss.
124 Desenvolvo este tema em meu livro: Los rumbos…op. cit.
125 Ver: Marcos Roitman, El pensamiento sistémico, los orígenes del social-conformismo, Siglo XXI,
México, 2010 (3ª reimp.).
126 Roitman, op. cit., p.1. Por exemplo, quando uma pessoa diz a outra esta frase que se ouve diaria-
mente: “Não alimente ilusões e não seja idealista, não é possível mudar o sistema, os que pensam
assim estão completamente equivocados.”
88
trabalho precário e barbárie social
Esta ilusão se deriva de uma premissa teórica que supõe, em termos abstra-
tos, que o desenvolvimento científico-técnico e sua aplicação aos processos de
trabalho e à organização do trabalho contribuiriam a reverter a tensão social, a
precarização e a fragmentação do mundo do trabalho, visando assim afiançar a
superação dos elementos negativos da reestruturação. Da criação desta imagem
de um “mundo feliz” à la Aldous Huxley estão encarregados os departamentos de
relações humanas das grandes companhias corporativas que a difundem massiva-
mente em seus meios de comunicação.
É preciso esclarecer que a pretendida autonomia da ciência e da técnica não
tem outro objetivo que o de garantir a reprodução capitalista, motivo pelo qual
limita, mas não substitui, o trabalho assalariado na produção de valor e de mais-
-valia. Ao invés, é possível advertir que a tecnologia implicada nos processos pro-
dutivos, assim como a adoção de novas formas de organização do trabalho base-
adas no neofordismo, no neotaylorismo, na reengenharia e no toyotismo (todas
elas chamadas “tecnologias leves”), em geral, reforçaram seis âmbitos da reestru-
turação do trabalho: a propriedade privada, a quebra da solidariedade de classe,
a despolitização, a cultura, a compra-venda da força de trabalho e a ciência e a
tecnologia, ao mesmo tempo que ampliaram seu raio de ação na economia e na
sociedade, ameaçando seriamente as populações trabalhadoras de todo o planeta.
No plano ideológico, a luta das ideias e a tomada de consciência anticorpo-
rativa por parte das classes trabalhadoras de todos os países e continentes são
fundamentais para a compreensão crítica, identitária e consciente da realidade
social, política e laboral, visando descobrir e estimular as potencialidades críticas
de sua transformação em todos os planos da existência humana. A organização
127 Adrián Sotelo V., América Latina, de crisis y paradigmas: la teoría de la dependencia en siglo XXI,
coedición Plaza y Valdés-FCPyS, México, 2005, p. 15, tradução nossa.
89
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
A outra vertente ideológica pode ser positiva quando induz à reflexão e à análi-
se sobre o tempo de trabalho mas, principalmente, quando postula que são os seus
sujeitos concretos os que podem, potencial e realmente, transformar as sociedades
existentes e o sistema capitalista que lhes serve de sustentação. Os trabalhadores e
trabalhadoras recuperam, deste modo, seu potencial criativo para converter-se em
sujeito histórico de transformação do modo de produção e da sociedade. Assim,
nos dizeres de Vasapollo, “O trabalho, longe de perder sua potência, se apresenta
com toda sua carga explosiva, colocando em jogo dinâmicas de recomposição de
classe”129 a partir de onde deve surgir, nós agregamos, o novo sujeito histórico de
transformação e superação da formação social capitalista.
Esta visão realista da sociedade e do mundo do trabalho se contrapõe às figu-
ras midiáticas a às imagens preciosistas que os meios de comunicação privados e
128 Jeremy Rifkin, La era del acceso, la revolución de la nueva economía, Barcelona, 2000, onde a
“clave” do “acesso” é o comércio eletrônico e a internet.
129 Vasapollo, Novos…, op. cit., p. 75.
90
trabalho precário e barbárie social
130 Nise Jinkings, Trabalho e resistência na ‘ fonte misteriosa’’. Os bancários no mundo da eletrônica e
do dinheiro, Editora da UNICAMP, São Paulo, 2005, p. 12.
131 Para este tema, ver: Michael Hammer y James Champy. Reingeniería, Editorial Norma, México,
1994. A reengenharia (Business Process Reeingeniering) é o ajuste constante das empresas à re-
alidade mutável do capitalismo, em que se parte do zero com o objetivo de revisar e reprojetar
radicalmente os processos, conseguindo assim melhorias radicais de rendimentos em áreas como
custos, qualidade, serviço e repidez. Na maior parte dos casos implica demissão massiva de tra-
balhadores. Podemos, portanto, associar, no que toca aos efeitos sobre o mundo do trabalho, a
reengenharia com a precarização, enquanto mecanismo de atualização da precariedade.
132 Richard Sennett, La corrosión del carácter, op. cit., p. 50.
133 Ver: Thomas Gounet, Fordismo e toyotismo na civilização do automóvel, Boitempo, São Paulo,
1999.
91
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
134 Ver: Ricardo Antunes, Riqueza e miseria do trabalho no Brasil (vol. I, 2006) y (vol. II, 2013), Boi-
tempo, São Paulo.
135 Al respecto consúltese el artículo de Néstor de Buen, “ El principio de la inestabilidad en el em-
pleo”, en La jornada on line, 30 de março de 2014, disponível na internet: http://www.jornada.
unam.mx/2014/03/30/opinion/020a2pol.
92
trabalho precário e barbárie social
trabalho e aos produtos de seu trabalho, isolando-o, logo após, do coletivo dos
trabalhadores e da própria sociedade.
Como afirma Marx:
136 Karl Marx, Manuscritos econômico-filosóficos, Boitempo, São Paulo, 2010, p. 80. Destaques do
autor.
137 Manuel Castells, La era…op. cit., pp. 29-30, tradução nossa.
93
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
138 Castel considera que flexibilidade “não se reduz à necessidade de se ajustar mecanicamente a
uma tarefa pontual. Mas exige que o operador esteja imediatamente disponível para adaptar-se às
flutuações da demanda”, Robert Castel, As metamorfoses..., op. cit., p. 517.
139 Em 1984, o governo britânico encabeçado por Margaret Thatcher, em ação combinada como o
Partido Trabalhista, reprimiu os mineiros do carvão que realizavam uma greve de mais de um
ano pela defesa de seus empregos; a primeira-ministra os tachou de “inimigos internos” e o resul-
tado desta ação repressiva, que marcou o início do neoliberalismo, foi a redução da força de traba-
lho de 150 mil a 10 mil empregados. Cf. István Mészáros, “Desemprego e precarização, um grande
desafio para a esquerda”, em Ricardo Antunes (organizador), Riqueza e Miséria do trabalho no
Brasil, Boitempo Editorial, São Paulo, 2006, p. 43. Também é interessante o caso do Brasil, onde
o efeito das privatizações se sentiu “Imediatamente depois que os novos proprietários privados
(estadunidenses) assumiram as empresas estatais da telecomunicações privatizadas pelo governo
FHC em julho de 2008 [...] implementaram uma vigorosa onda de demissões voluntárias ou não,
aposentadorias forçadas, contratos flexíveis e relações individualizadas com o trabalhadores, com
94
trabalho precário e barbárie social
95
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
96
trabalho precário e barbárie social
Quadro nº 2
Evolução dos trabalhadores sindicalizados e cobertos
por contrato sindical (%)
Variação
percentual
na cobertura
de contratos
sindicais
1980 2000 Variação (%) (1980-2000)
País
Reino Unido 51 31 -39 -57
Japão 31 22 -29 -40
Estados Unidos 22 13 -41 -46
Alemanha 35 25 -29 -15
Francia 18 10 -44 13
Suécia 80 79 -1 13
Austrália 48 25 -48 0
Itália 50 35 -30 0
OCDE 32 21 -33 -22
Fonte: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), Employment Outlook, Paris, 2004.
144 Isabel Rauber, Actores sociais, loitas reivindicativas e política popular, Confederación Intersindical
Galega y Promócions Culturais Galegas, S.A., Colección Ter Razóns, Vigo, Galiza, España, marzo
de 2003, 1ª edición, p. 9.
97
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
CONCLUSÃO
98
CAPÍTULO 6
A CONDIÇÃO DE PRECARIEDADE
DO TRABALHO ASSALARIADO NO
SÉCULO XXI
INTRODUÇÃO
PRECARIZAÇÃO E PRECARIEDADE
99
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
lhador se torna uma mercadoria tão mais barata quanto mais mercadorias
cria. Com a valorização do mundo das coisas (Sachenwelt) aumenta em
proporção direta a desvalorização do mundo dos homens (Menschenwelt).
O trabalho não produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e ao
trabalhador como um mercadoria; e isto na medida em que produz, de fato,
mercadorias em geral”145.
100
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
“[...] o sistema do capital já não está em posição de conceder seja o que for
ao trabalho, em contraste com as conquistas reformistas do passado. A de-
sanimadora acomodação e mesmo a capitulação total de alguns dos antigos
partidos da classe trabalhadora às exigências dos interesse do grande negócio
– na Grã-Bretanha e em vários países europeus, mas não somente na Europa
– consistem não apenas na manutenção da autoritária legislação antitraba-
lhista das últimas décadas, mas também na concessão de cargos importan-
tes, nos governos do ‘New Labour’, da ‘Esquerda Democrática’ italiana e em
outras partes, a proeminentes representantes do capital corporativo”149.
148 Dídimo Castillo, Fernández, Los nuevos trabajadores precarios, México, Porrúa-UAEM, 2009, p.
39, tradução nossa.
149 István Mészáros, “Desemprego e precarização”, em: Antunes (organizador), Riqueza e miséria…,
op. cit., pp. 41-42.
101
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
O TRABALHO DECENTE
150 André Gorz, Miserias del presente, riqueza de lo posible, Editorial Paidós, Buenos Aires, 2003, p.
64, tradução nossa.
102
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
A “informalidade” alude:
103
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
154 OIT, Conclusiones sobre el trabajo decente en la economía informal, párrafo 3, Ginebra, 2002, tra-
dução nossa. Disponível na internet: http://www.ilo.org/public/spanish/standards/relm/ilc/ilc90/
pdf/pr-25res.pdf.
104
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
105
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Esta situação é diversa de acordo com a situação de cada região e de cada país,
mas a tendência que parece se constituir é estrutural e provoca uma séria de in-
tervenções por parte dos governos e do capital privado nacional e internacional156.
Cabe assinalar que a caída moderada do nível de desemprego nos três primeiros
semestres de 2013 foi principalmente resultado de uma diminuição interanual na
oferta de mão-de-obra, antes que de um crescimento da ocupação neste período,
já que a taxa média de ocupação, entre janeiro e setembro de 2013, manteve-se em
nível igual ao registrado no mesmo período de 2012157.
Enquanto isso, consideramos que frente a estas tendências se observa que, em
termos absolutos, o emprego vulnerável aumentou, mesmo que com uma lenta e
leve diminuição de sua taxa relativa. De fato, de acordo com seus próprios resulta-
dos, a OIT conclui que, apesar de que se tenha registrado uma diminuição da taxa
mundial de emprego vulnerável, caindo de 52,8% em 2000 para 49,1% em 2011, a
vulnerabilidade no emprego aumentou em termos absolutos, ao passar de 1 bilhão
e 379,7 milhões de trabalhadores no ano 200 para 1 bilhão e 600 milhões em 2011
– um incremento de 136 milhões de trabalhadores –, como se pode observar no
quadro seguinte:
156 OIT, Panorama Laboral, 2013, p. 26. Intervenções que, na maioria dos casos, atuam somente sobre
os efeitos, mas não sobre as causas do desemprego, da informalidade e da precariedade.
157 Panorama Laboral, 2013, p. 27.
106
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
Quadro nº 3
Emprego vulnerável por setor, no mundo e por região (milhões). Ambos sexos.
Fonte: OIT, Tendências mundiais do emprego 2012. Prevenir uma crise maior do emprego, Genebra, 2012, Qua-
dro A-13, p. 107, disponível em Internet: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/--
-publ/documents/publication/wcms_168095.pdf.
107
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
158 OIT, Tendencias mundiales del empleo 2012, op. cit., p. 48.
159 La jornada on-line, “Dos terceras partes de los trabajadores del mundo, sin empleo decente: OIT”,
disponível na internet: http://www.jornada.unam.mx/2013/10/08/sociedad/035n2soc, 08 de outu-
bro de 2013.
160 ILO, Global Employment Trends 2013. Recovering from a second jobs dip, Disponível na internet:
http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/publication/
wcms_202326.pdf, p. 39. Ver Anexo 1, Cuadro A13, p. 143.
108
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
milhões de trabalhadores a mais sem emprego 161. Como os governos que se colo-
caram a serviço da precariedade, da informalidade e da expulsão de trabalhadores
para favorecer os interesses do grande capital resolverão os novos problemas que
se acumulem no futuro imediato?
161 “Hay en el mundo 199.8 millones de desempleados, revela informe de la OIT”, http://www.jorna-
da.unam.mx/2014/05/28/economia/026n1eco, 28 de maio de 2014.
162 Confederación Sindical Internacional, 2013: “Países en situación de riesgo Violaciones de los dere-
chos sindicales”¸ p. 6. Disponível na internet: http://www.ituc-csi.org/IMG/pdf/survey_ra_2013_
es_final.pdf.
163 OIT, Panorama Laboral 2013, p. 13 e 15.
109
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Gráfico nº 1
América Latina (13 países): componentes do emprego informal não-agrícola (%)
Fonte: OIT, Panorama Laboral 2013, América Latina y el Caribe, Ginebra, p. 63, disponível na internet: http://
www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/documents/publication/wcms_232760.pdf.
110
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
111
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
além de baixos salários –, mas como parte da “anomia social” e da “disfunção das
economias” 168 que podem ser “corrigidas”.
A análise da estratégia da OIT lhes permite concluir que:
168 OIT, Panorama Laboral 2013, p. 66. O conceito de “anomia” vem da sociologia clássica e foi for-
mulado primeiramente por Emile Durkheim em obras como A divisão social do trabalho e O
suicídio: refere-se a uma situação de “desvio das normas sociais”, uma patologia que é preciso
“corrigir” para estabelecer o “estado normal”. Standing entende por anomia “[...] um sentimento
de passividade nascido do desespero. Ele é certamente intensificado pela perspectiva de empregos
simples e desprovidos de carreira. A anomia surge de uma indiferença associada com a derrota
constante”, O precariado..., op. cit. p. 45.
169 OIT, Panorama Laboral 2013, p. 67.
112
A condição de precariedade do trabalho assalariado no século xxi
CONCLUSÃO
113
CAPÍTULO 7
O PRECARIADO: UMA NUEVA CLASE
SOCIAL? E O QUE OCORREU COM O
PROLETARIADO?
INTRODUÇÃO
115
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
“[...] grandes grupos de pessoas que se diferenciam entre si pelo seu lu-
gar num sistema de produção social historicamente determinado, pela sua
relação (as mais das vezes fixada e formulada nas leis) com os meios de
produção, pelo seu papel na organização social do trabalho e, consequen-
temente, pelo modo de obtenção e pelas dimensões da parte da riqueza
social de que dispõem. As classes são grupos de pessoas, um dos quais pode
170 Nos Manuscritos econômico-filosóficos, Boitempo, São Paulo, 2010, Marx trata esta temática das
bases econômicas e sociomateriais das três classes principais da sociedade burguesa dadas pelos
salário, lucro e renda da terra, pp. 23-77.
171 Karl Marx, O capital: crítica da economia política, Livro terceiro, Volume III, Tomo II, Nova Cul-
tural, São Paulo, 1985-1985, p. 317.
172 Karl Marx, O 18 Brumário de Luis Bonaparte, Boitempo, São Paulo, 2011, p. 143.
116
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Esquema nº 2
Definição das classes sociais
Para não induzir a equívocos, é necessário enfatizar que este primeiro nível
genético-estrutural de definição das classes sociais deve contemplar os constituin-
tes sociais, jurídico-políticos e a formação da consciência ideológica que intervêm
na conformação e na estruturação das sociedades de classe. Não existe, portanto,
uma relação mecânica e imediata entre situação estrutural de classe e consciência
– social e política – de classe, porque esta se vê influenciada e mediada pela ideo-
logia dominante e pelas instituições de persuasão – e de manipulação! – do poder
político, como os meios de comunicação, a igreja e a escola, em uma palavra: pelas
indústrias ideológicas. 174
Por esta razão, Agustín Cueva indica a necessidade de formular uma definição
ampla de classe social. Afirma o autor: “O marxismo sustenta que o problema das
173 V.I. Lenin, Una gran iniciativa, OE, Editorial Progreso, Moscú, 1971, p. 504, tradução nossa.
174 Expressão de Ludovico Silva que, depois de Adorno e Horkheimer – os primeiros em falar de
indústria cultural para denominar os meios de comunicação, em especial a televisão – , define
as indústrias ideológicas como: [...] produtora de ideologia no sentido estrito, destinada a formar
ideologicamente as massas, a dotá-las de ‘imagens’, valores, ídolos, fetiches, crenças, representa-
ções etc., que tendem a preservar o capitalismo”. Ludovico Silva, op. cit., p. 179. Nesta indústria
não se fazem somente negócios para ganhar dinheiro, mas, fundamentalmente, para produzir
mais-valia ideológica: “[...] um excedente de energia mental do qual o capitalismo se apropria.” (p.
182). Para as massas e para o ser humano, o consumo do valor de uso desta mais-valia ideológica
consiste na alienação, na obediência, na submissão e na escravidão, enquanto homem e euquanto
força de trabalho, ao capital e ao capitalismo através da alienação inconsciente ao sistema.
117
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
classes sociais não pode ser estudado senão a partir de um teoria geral da socie-
dade e da história”175. De fato, como bem afirma esse autor, coincidindo, além do
mais, com Gramsci, as classes sociais, enquanto agregados humanos vinculados
por interesses materiais, sociais, culturais e espirituais comuns, não podem ser
compreendidas à margem da estrutura histórico-social e do modo de produção,
mas somente dentro do conjunto de determinações e instituições da sociedade da
qual formam parte – como o Estado, a Igreja e o Exército – e que lhes imprime sua
dinâmica. De tal maneira que uma classe social como os indígenas, por exemplo,
ainda que sejam parte do proletariado em sentido amplo, em situações histórico-
-sociais concretas determinadas podem manter posições progressistas dentro da
luta de classes ou, ao contrário, aparecer aliada com as posições retrógradas e
conservadoras das classes superiores da oligarquia e da burguesia. Mas, em ge-
ral, deve-se distinguir a classe – enquanto conceito teórico – de suas expressões
empíricas, as quais se podem observar na cotidianidade e na dinâmica dos movi-
mentos sociais. Desta forma, por exemplo, as insurreições do trabalho que a im-
prensa internacional registra diariamente põe sobre a mesa a interrogante: quem
são os insurrectos? A resposta é: milhares de trabalhadores manuais, intelectuais,
técnicos e administrativos; camponeses sem-terra, trabalhadores agrícolas, estu-
dantes, filhos de trabalhadores, proletários das cidades e do campo, professores
de educação primária e secundária. Categorias vinculadas tanto à indústria e à
agricultura quanto aos setores mais “invisíveis”, como os trabalhadores das te-
lecomunicações, dos serviços e das indústrias do “conhecimento e do software”.
Mas, em muitas ocasiões, os bastiões da classe trabalhadora industrial (tradicional
e moderna) não aparecem no cenário das lutas ou, ao menos, nas primeiras filas
das batalhas antiestatais e contra o capital, e esta “ausência” tem nutrido as teorias
dos “novos movimentos e sujeitos sociais” que, supostamente, teriam “substituído
o proletariado” e a classe trabalhadora como sujeitos históricos da transformação
social, ao menos no sentido em que Marx havia afirmado. Além disso, muitas
vezes esses movimentos não se expressam autenticamente como movimentos de
classe, mas como mera representação profissional ou sociológica – tal como ocor-
re com movimentos estudantis, indígenas e camponeses – sem a consciência – de
175 Agustín Cueva, La teoría marxista. Categorías de base y problemas actuales, Editorial Planeta, Quito,
1987, p. 8, tradução nossa.
118
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
“[...] a reação racional adequada, que deve ser adjudicada a uma situação tí-
pica determinada no processo de produção. Esta consciência não é, portanto,
nem a soma, nem a média do que cada um dos indivíduos que formam a
classe pensam, sentem etc. E, no entanto, a ação historicamente decisiva da
classe como totalidade é determinada, em última análise, por essa consciên-
cia e não pelo pensamento do indivíduo; essa ação só pode ser conhecida a
partir dessa consciência”176.
176 Georg Lukács, História e consciência de classe, Martins Fontes, São Paulo, 2003, p. 142.
177 Georg Lukács, História e consciência de classe, op. cit., pp. 156-157.
119
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
120
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
121
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
De forma alguma se pode sustentar que as classes sociais não tenham experi-
mentado mudanças em diversos planos: econômico, social, político e ideológico.
Seria uma negação insustentável, além de inverossímil. As mudanças produzidas
nas relações sociais de produção e na produtividade do trabalho, devido às rees-
truturações constantes operadas no mundo do trabalho nas últimas três décadas,
não deixaram intactas as classes sociais que constituem e reproduzem a sociedade
burguesa. Ao mesmo tempo, essa sociedade não se extingue com a ação das trans-
formações que produzem o surgimento de novos processo de acumulação e de
reprodução do capital, os quais continuam dependentes da lei do valor-trabalho e
de suas categorias essenciais: exploração, mais-valia, taxa de lucro (média e extra-
ordinária), propriedade privada dos meios de produção e de consumo, reprodução
ampliada e crises estruturais e sistêmicas provocadas, essencialmente, pelos pro-
blemas relativos à produção de valor e mais-valia derivados da crise do trabalho
abstrato e da desmedida do valor.
Consideramos que as classes sociais – qualquer que seja sua definição –184 se
diversificaram e se complexificaram em função dos processos de reprodução do
capital que trouxe consigo, ao lado da grande indústria, novos processos de tra-
balho e formas de organização do mesmo que alteraram perfis e comportamen-
tos de classes e frações de classe, qualificação do trabalho, escalas e hierarquias
salariais, categorias e funções desempenhadas. Também no plano estrutural das
184 Dentro do marxismo podemos citar as seguintes obras que contêm elementos para construir uma
teoria contemporânea das classes sociais. De Marx: Carta a Weydemeyer, O Capital, Cap. III; O
Dezoito de Brumário de Luís Bonaparte, A Guerra Civil na Francia, A luta de classes na França,
O Manifesto do Partido Comunista, A miséria da filosofia; de Engels, As guerras camponesas na
Alemanha; de Lenin, Uma grande iniciativa, O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, Impe-
rialismo: fase superior do capitalismo, ¿Quem são os amigos do povo?, O Estado e a revolução, O
programa agrário socialdemocracia russa, O partido operário e o campesinato. Os trabalhos de
Poulantzas são fundamentais tanto na sistematização das obras clássicas como no aporte de novos
elementos: Poder político e classes sociais, Martins Fontes, São Paulo, 1977, e As classes sociais no
capitalismo hoje, Zahar, Rio de Janeiro, 1975. Do ponto de vista funcionalista, são importantes as
seguintes obras: Stanislav Ossowsky, Estructura de clase y conciencia social, Península, Barcelona,
1969, y Georges Gurvitch, El concepto de clases sociales desde Marx a nuestros días, Nueva Visión,
Buenos Aires. 1973.
122
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
185 Ver: Ricardo Antunes y Ruy Braga, Infoproletários. Degradação real do trabalho virtual, Boitem-
po, São Paulo, 2009. Existem evidências que nos ramos do “setor de conhecimento”, como os call
centers, onde trabalham milhares de pessoas em todo o mundo, bastam umas poucas semanas de
treinamento para “habilitar” o trabalhador e dotá-lo de “competências laborais”. Dessa forma,
por exemplo, “Observamos em campo que o tempo de treinamento proporcionado pelas empre-
sas para a maioria das teleatividades nunca vai além de poucas semanas. Na realidade, após um
treinamento básico, o teleoperador não proficiente é colocado na Posição de Atendimento (PA),
necessitando ficar o tempo todo atento – “carrapateando”, conforme o jargão do setor – aos pro-
cedimentos utilizados pelos colegas mais experientes para alcançar suas metas de vendas ou de
número de atendimentos. Pudemos registrar por meio de entrevistas que esse tipo de situação
acrescenta uma importante carga de estresse nos primeiros meses de trabalho do teleoperador,
até que ele se sinta habituado ao produto. Exatamente porque a indústria de call center não neces-
sita uma força de trabalho com qualificação especial, as empresas bebeficiam-se de um regime de
relações de trabalho apoiado em elevadas taxas de rotatividade da força de trabalho. Aliás, o ciclo
ao qual o trabalhador está submetido é bastante conhecido pelas empresas em geral: em geral, são
necessários dois a três meses de experiência para se tornar proficiente no produto”, Ruy Braga, A
política do precariado: do populismo à hegemonía lulista, Boitempo, São Paulo, 2012, pp. 193-194,
destaques do autor.
123
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
O ADVENTO DO “PRECARIADO”
“Desde finais dos anos noventa, o grupo dos Precari Nati – nascidos pre-
cários – elabora um discurso militante sobre il precariato. Em dezembro
de 2006, a Fundação Friedrich Ebert utilizou o termo Prekariat em seu
estudo Gesellschaft im Reformprozess (sociedade em processo de reforma).
186 Marcelo Amable y Joan Benach, op. cit., p. 419, tradução nossa.
124
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
125
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
189 Pierre Bourdieu, “Actualmente la precariedad está en todas partes”, em: Bourdieu, Contrafuegos.
Reflexiones para servir a la resistencia contra la invasión neoliberal, Anagrama, Barcelona, 1999,
tradução nossa.
190 Sennett, op. cit.
191 Gorz, Miserias del presente, p. 59, tradução nossa.
126
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
“[...] o trabalho sem garantias e mal pago está se alastrando como uma man-
cha de óleo, ao passo que mesmo o trabalho mais estável está sofrendo uma
pressão em direção à intensificação sem precedentes à plena disponibili-
dade para uma submissão aos mais diversificados horários de trabalho”195.
127
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
196 Ver: Robert B. Reich, The worf of nations, Preparing Ourselves for 21st Century Capitalism. Al-
fred A. Knopf, 1992; Ricardo Antunes y Ruy Braga. Infoproletários. Degradação real do trabalho
virtual, Boitempo Editorial, São Paulo, 2009; Úrsula Huws. “A construção de um cibertariado?
Trabalho virtual num mundo real”, em: Ricardo Antunes and Ruy Braga, Infoproletários...op. cit.,
37-58; Guy Standing, The precariat. The new dangerous class. Bloomsbury Academic, London,
2011 e Giovanni Alves, A condição de proletariedade, Editora Praxis, Londrina, 2009, Giovanni
Alves, Trabalho e Neodesenvolvimentismo. Choque de capitalismo e nova degradação do trabalho
no Brasil, Praxis, Bauru, São Paulo, 2014.
197 Luciano Vasapollo, “O devir posfordista e o traballo atípico como elemento estratéxico”, citado
em: Rita Martufi y Luciano Vasapollo, O mundo do traballo fronte á globalización capitalista,
CIGa, Galiza, España, 2007, p. 77.
198 Sadi Dal Rosso, Mais trabalho. A intensifição do trabalho na sociedade contemporânea, Boitempo,
São Paulo, 2008.
199 Uma expressão recente deste fenômeno social é a luta de grupos juvenis e de trabalhadores sindi-
calizados nos Estados Unidos contra as políticas neoliberais do governo, mediante o movimento
denominado Occupy Wall Street (Ocupa Wall Street), cujo lema é: “Que se escute a voz dos 99% do
128
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Gorz constrói sua concepção com base em uma interpretação de vários tre-
chos da obra de Marx, particularmente dos Grundrisse, que versam sobre a dialé-
tica entre o tempo de trabalho e o tempo livre, e que nós sintetizamos na categoria
desmedida do valor. Desde seus primeiros escritos, Gorz é crítico à concepção de
Marx sobre o trabalho e seu sujeito histórico: o proletariado que, como se sabe,
Gorz nega desde seus primeiros escritos para afirmar a preponderância de outros
sujeitos e outros contextos que estão fora dos circuitos de produção e reprodução
do capital.
Efetivamente, Gorz desenvolve sua concepção sobre a não-classe (non-classe)
dos (neo)proletários pós-industriais no capítulo III de seu livro Adeus ao proleta-
riado, e a contrapõe ao conceito de classe que Marx e Engels identificaram encar-
nada no proletariado revolucionário.
Esquema nº 3
Proletariado e não-classe dos neoproletários
país e não do 1% que continua enriquecendo!”. Palavras de ordem que, efetivamente, expressam
o sentimento popular das maiorias deserdadas e expropriadas pelo capitalismo concentrador e
depredador.
129
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
130
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
203 André Gorz, Metamorfosis del trabajo, op. cit., p. 124, tradução nossa.
204 André Gorz Metamorfosis del trabajo, op. cit., p. 125, tradução nossa.
131
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Esquema nº 4
Sociedade Dual
Liberdade Necessidade
Produção autônoma Modo de produção capitalista
Trabalho autônomo não assalariado Trabalho assalariado
Pequenas oficinas Divisão do trabalho despersonalizante e
especializado
205 André Gorz, Las metamorfosis…op. cit., pp. 125-126, tradução nossa, destaques do autor.
206 André Gorz, Las metamorfosis…op. cit., p. 129, tradução nossa. Obviamente, em parte alguma das
obras de Marx se encontra semelhante afirmação mecanicista.
132
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
133
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
A questão social foi uma expressão lançada a finais do século XIX aludia às
“disfunções” da sociedade industrial nascente. As transformações radicais da so-
ciedade industrial trouxeram consigo mudanças nos modos de vida dos países
ocidentais. Robert Castel identifica a década de 1830 como a data em que se come-
çou a falar da questão social como tal. Esta era entendida como:
134
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
212 Robert Castel, As metamorfoses da questão social. Uma crônica do salário, Editora Vozes, Petró-
polis, RJ, 2013, p. 30.
213 Pierre Bourdieu, La miseria del mundo, Editorial AKAL, Madrid, 1999, p.
214 Castel, As metamorfoses…, op. cit., p. 415.
215 Castel, As metamorfoses..., op. cit., p. 526.
135
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Esquema nº 5
A Questão Social de Castel
136
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
revolucionário e os que a percebem como uma ameaça para a ordem social? 218
Obviamente, a resposta é negativa. Ao contrário, cita Michele Crozier, quem
afirma que a “era do proletariado terminou” 219. Mais adiante, o autor esboça
uma de suas teses centrais:
137
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
138
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
social capitalista, e seu sujeito histórico não está mais encarnado na classe traba-
lhadora e no proletariado, a partir da perspectiva de Castel o que resta, em uma
espécie de tautologia política, é a intervenção do Estado que o autor expõe nos
seguintes termos:
Em nossa opinião, esta importante obra do sociólogo francês enfatiza uma re-
alidade generalizada atualmente: a questão da condição de precariedade do mun-
do do trabalho que se está estendendo como mofo por todas as sociedades do
planeta. Na ausência de uma análise fundada na parte fundamental do sistema ca-
pitalista, isto é, a produção de valor e de mais-valia mediante a exploração da força
de trabalho do trabalhador coletivo, o autor mantém uma lacuna – que, diga-se
de passagem, está presente em todas as teorias sociológicas do fim do trabalho –
que nos conduz a um círculo vicioso: crise da relação salarial, crise do Estado de
bem-estar, perda da centralidade do trabalho e, tudo isso, ocasionando uma crise
profunda do sistema capitalista global. Propõe-se que para “resolver” esta crise é
novamente urgente a intervenção do Estado – obviamente, mesmo que não men-
cionado pelo autor –, do mesmo Estado capitalista responsável, juntamente com o
227 Castel, op. cit., pp. 610-611. Destaques do autor. É evidente que aqui o autor nos apresenta uma
visão idílica do Estado, obviando sua natureza capitalista e de classe, assim como suas funções
substanciais entre as que predominam a manutenção do sistema de dominação em seu conjunto,
e não somente “comandar a manobra e evitar o naufrágio”.
139
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
capital, pela crise do sistema. Da mesma maneira com o que ocorre com as demais
correntes econômicas e sociais de corte keynesiano, como as vertentes desenvol-
vimentistas e neodesenvolvimentistas das ciências sociais, omite-se a explicação
importante e essencial sobre a origem dos recursos do Estado necessários para
levar a cabo suas tarefas substanciais, consistentes em auxiliar a reprodução do ca-
pital em seu conjunto, assim como para custear suas funções de caráter social em
matéria de segurança, educação, alimentação e, principalmente, da continuidade
da questão social que, de acordo com o próprio autor, descansa atualmente na
crise profunda da relação salarial, na condição de precariedade do trabalho e em
fortes tendências e forças desencadeadoras da ruptura da coesão das sociedades
contemporâneas.
Sem dúvida, foi Guy Standing, em seu livro The precariat: the new dange-
rous class quem formulou as principais tendências da precarização do trabalho e a
constituição de uma – suposta – “nova” classe social denominada precariado que,
é claro, diferencia-se estrutural e socialmente da categoria tradicional de proleta-
riado definida por Marx, como vimos anteriormente. São várias as versões deste
livro. Uma delas, em português, publicada pela editoria Autêntica, tem o título
mais fiel ao da edição original em inglês: O precariado. A nova classe perigosa. Ou-
tra edição, espanhola, pela editora Pasado y Presente, leva o título: El precariado.
Una nueva clase social. As diversas edições publicadas atestam a relevância deste
livro que, ainda que trate de um tema da maior importância, isto é, a tendência
crescente e universal de extensão da precarização do trabalho, carece de uma dis-
cussão profunda sobre suas causas e de argumento convincentes que expliquem
– e justifiquem – o nascimento de uma nova classe social que, além do mais, o
autor atribui o adjetivo de “perigosa”, devido a sua propensão de assumir traços
fascistas e conservadores.
De acordo com autor, a flexibilidade do mercado de trabalho, responsável
pela transferência dos riscos e inseguranças aos trabalhadores, é a causa prin-
cipal do surgimento de um “precariado global”. Porém, Standing não se detém
140
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
228 Guy Standing, O precariado: a nova classe perigosa, Autêntica, Belo Horizonte, 2013, p. 15.
141
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
ternos e pelas tensões dentro do precariado que ainda estão lá e não vão
embora. Os líderes dos manifestantes do EuroMayDay fizeram o possível
para literalmente encobrir rachaduras, como acontecia em seus cartazes e
imagens visuais. Alguns enfatizaram uma unidade de interesses entre os
migrantes e outros grupos (migrante e precarie foi uma mensagem estam-
pada num cartaz do EuroMayDay de Milão em 2008) e entre os jovens e os
idosos – uma simpática justaposição no cartaz do EuroMayDay de Berlim
em 2006”229.
142
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
localização do precariado no sistema social, como uma nova classe social diferen-
ciada dentro da estrutura de classes da sociedade capitalista.
Standing escolhe dois métodos para definir o que entende por precariado. O
primeiro alude à construção de um “tipo ideal”, como se nota a seguir:
Esquema nº 6
Esquema de estratificação social de Standing
143
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
O autor salienta que se inclina por este último método de definição do preca-
riado e inclui as seguintes figuras em suas fileiras:
Esquema nº 7
Figuras relevantes do precariado
• Ocupados temporários
• Empregados parciais (part time)
• Contratistas dependentes ou independentes
• Trabalhadores dos call centers
• Bolsistas
144
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
145
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
238 Giovanni Alves, Trabalho e neodesenvolvimentismo, op. cit., especialmente capítulo 9, “O que é o
precariado?”, pp. 189-197.
239 Giovanni Alves, Trabalho e neodesenvolvimentismo, op. cit., p. 212.
146
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Alves dirige sua crítica às teses do proletariado precarizado de Ruy Braga, mas
antes é preciso reconhecer que é justa crítica deste último a Standing e a Castel,
de que a precariedade não é uma condição externa, mas interna à própria relação
salarial. O problema parece radicar em considerar a precariedade tanto como ca-
tegoria quanto como sujeito social e em não distinguir ambos elementos. Assim,
Alves afirma que os proletários precarizados são a fração mais subordinada e ex-
plorada da classe trabalhadora, em particular do proletariado urbano e dos traba-
lhadores agrícolas. O precariado se diferencia, dessa forma, de outro setor: o dos
“proficians”, os grupos, dentro da classe trabalhadora, mais qualificados, melhor
remunerados e com uma estabilidade maior no emprego.
Aqui podemos ver esta ambiguidade entre precariedade como categoria e pre-
cariedade como sujeito social:
“[...] procuramos salientar o ‘precariado’ como sendo, não uma nova clas-
se social, nem o ‘proletariado precarizado’, mas sim uma nova camada da
classe social do proletariado com demarcações categoriais bastante precisas
147
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
E esclarece que é redundante falar de “precariado jovem”, já que para ele “[...]
o precariado constitui, em si, uma camada social especificamente jovem”242 que
não é uma nova classe social, como defende Guy Standing, nem um “proletaria-
do precarizado”, como postula Ruy Braga, mas uma “[...] nova camada da classe
social do proletariado com demarcações categoriais bastante precisas no plano
sociológico”243. Alves reconhece que se trata efetivamente de um “proletariado
precarizado”, mas esclarece que “[...] é preciso qualificá-lo como um proletariado
jovem e altamente escolarizado, frustrado em suas expectativas de ascensão pro-
fissional e sonhos, anseios e expectativas de consumo”244.
Em função disso, é fundamental incorporar variáveis sociológicas tais como
idade (geracionais) e educação (níveis de escolaridade), de tal modo que este “[...]
recorte sociológico do precariado (juventude, nova precariedade salarial/precari-
zação existencial e nível educacional superior) torna-se deveras crucial para apre-
endermos as contradições radicais da ordem sociometabólica do capital no século
XXI”245.
Desta forma, ao ter como vetor de delimitação a categoria de juventude, para
este autor, por exemplo, fazem parte da camada social do precariado os jovens
empregados como trabalhadores escolarizados em setores como os serviços e o
comércio que estão
241 Alves, Trabalho e neodesenvolvimentismo, op. cit., p., 191. Destaques do autor.
242 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p., p. 213.
243 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p., 191. Vale a pena observar que em um texto anterior
o autora considerava a classe proletária constituída por tre camadas: 1) o proletariado estável, 2)
o proletariado precário e, 3) o proletariado de “classe média”. Como se observa, aqui não se inclui
o o elemento ou a categoria social da juventude como característica definitória do precariado; ao
que parece, o autor converteu o “proletariado de classe média” em seu precariado, constituído por
jovens-adultos. Ver: Giovanni Alves, Dimensões da reestruturação produtiva. Ensaios de sociolo-
gia do trabalho, 2ª ed., Editora Praxis, Londrina, 2007, p. 263.
244 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p., 192. Destaques do autor.
245 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p., 192.
148
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Segundo o Alves, este núcleo ou camada social foi o protagonista central das
jornadas de protestos contra o aumento dos preços do transporte público em ju-
nho de 2013, em parte estimulado e tendo como pano de fundo as condições de
precariedade existentes no Brasil. Sob a condução, em um princípio, do Movimen-
to Passe Livre (MPL), os protestos de junho, entre outras coisas, puseram abaixo o
mito de que o Brasil era um país predominantemente de “classe média”247.
Alves faz um exercício sugestivo para delimitar os conceitos de camada, fra-
ção de classe e categoria social que formam parte do conceito de classe social e que
resumimos a seguir:
As camadas sociais se definem pelo nível de escolaridade, pelos grupos de
idade/geração, pela cor/etnia, pelo gênero e pela categoria salarial/renda.
As categorias sociais se conformam pelos jovens, mulheres, negros e estudan-
tes, entre outros.
As frações de classe correspondem a âmbitos como o rural e o urbano; os em-
pregados e o desempregados; os trabalhadores da indústria, da agricultura, do
comércio e dos serviços, assim como a categorias como bancários, metalúrgicos
e telefonistas.
Para este autor, o “[...] nível de concreção heurístico das camadas sociais no
interior das classes, é o nível mais efetivo em termos de concreção sociológica”248,
porque permite “cortes” mais densos dentro das estruturas de classe e de estra-
tificação social. Deste modo, pode-se alcançar um nível muito alto e preciso de
246 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p., 192. Destaques do autor.
247 Uma análise sobre estas jornadas está em: Ricardo Antunes y Ruy Braga, “Los días que conmovie-
ron a Brasil. Las rebeliones de junio-julio de 2013”, Revista Herramienta no. 53, Buenos Aires, julio
de 2013, pp. 9-21. Para una discussão a respeito das “classes médias” no Brasil, ver: cf. Marcio Po-
chman, O mito da grande classe média. Capitalismo e estrutura social, Boitempo, São Paulo, 2014.
248 Alves, Trabalho e desenvolvimento, op. cit., p. 214. Destaques do autor.
149
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
249 Nicos Poulantzas, Las clases sociales en el capitalismo actual, Editorial siglo XXI, México, 3ª edi-
ción, 1978, p. 23, tradução nossa.
250 Nicos Poulantzas, Las clases sociales en el capitalismo actual, op. cit., p.23. Destaques do autor,
tradução nossa.
150
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
151
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
152
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
“Em 2011, 74,8 milhões de jovens de idade entre 15 e 24 anos estavam de-
sempregados, 4 milhões a mais que em 2007. A taxa de desemprego juvenil
mundial, de 12,7 por cento, mantém-se situada um ponto percentual acima
do nível anterior à crise. Em escala mundial, os jovens têm quase três vezes
mais probabilidades de estar desempregados do que os adultos. Além disso,
estima-se que 6,4 milhões de jovens perderam a esperança de encontrar
trabalho e abandonaram completamente o mercado de trabalho. Inclusive
aqueles que possuem um emprego têm cada vez mais probabilidades de
trabalhar em tempo parcial, geralmente com um contrato temporário. Nos
países em desenvolvimento, a proporção de jovens entre os trabalhadores
pobres é excessiva. Visto que não há previsão de que se altere a proporção
de jovens desempregados em 2012, e visto que a proporção de jovens que
abandonam completamente o mercado de trabalho continua aumentando,
existem poucas esperanças de uma melhoria substancial do panorama la-
boral dos jovens e curto prazo na situação atual”.252
252 OIT, Tendencias mundiales del empleo 2012, Prevenir una crisis mayor del empleo, disponível na
internet: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---dgreports/---dcomm/---publ/documents/
publication/wcms_168095.pdf), pp. 9-10.
253 Eurostat Newsrelease Euroindicators, “Euro area unemployment rate at 11.8%”, 7 de mayo de 2014,
disponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/3-02052014-AP/EN/3-
02052014-AP-EN.PDF.
153
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Quadro nº 4
Europa: taxas dessazonalizadas de desemprego em porcentagem e em milhares de pessoas
Março de 2014
% Número de pessoas
EA18 11.8 18.913
EU28 10.5 25.699
Alemanha 5.1 2.191
Irlanda 11.8 257
Grécia 26,5* 1.311***
Espanha 25,3 5.777
França 10,4 3.056
Itália 12,0 3.248
Portugal 15,2 807
Reino Unido 6,8** 2.201**
Estados Unidos 6,7 10.444
* Janeiro de 2014 **Janeiro de 2014 ***Janeiro de 2013
Fonte: Eurostat Newsrelease Euroindicators, “Euro area unemployment rate at 11.8%”, 7 de mayo de 2014, dis-
ponível em: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/3-02052014-AP/EN/3-02052014-AP-EN.
PDF
154
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Quadro nº 5
Europa: taxas dessazonalizadas de desemprego juvenil (menores de 25 anos)
em porcentagem e em milhares de pessoas
Março de 2014
% Número de pessoas
EA18 23,7 3.426
EU28 22,8 5.340
Alemanha 7,8 341
Irlanda 25,9 54
Grécia 56,8* 167***
Espanha 53,9 873
França 23,4 656
Itália 42,7 683
Portugal 35,4 135
Reino Unido 18,9** 850**
Fonte: Eurostat Newsrelease Euroindicators, “Euro area unemployment rate at 11.8%”, 7 de mayo de 2014,
disponible en: http://epp.eurostat.ec.europa.eu/cache/ITY_PUBLIC/3-02052014-AP/EN/3-02052014-AP-EN.
PDF
254 OIT, Trabajo decente y juventud en América Latina. Políticas para la acción, Informe, Lima, 2013,
em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/documents/publication/
wcms_235577.pdf, p. 90.
255 OIT, Trabajo decente y juventud en América Latina. Políticas para la acción, Informe, Lima, 2013,
em: http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/---americas/---ro-lima/documents/publication/
wcms_235577.pdf, p. 26.
155
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
256 DIEESE, A Situação do trabalho no Brasil na primeira década dos anos 2000, Departamento In-
tersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), São Paulo, 2012, p. 253. Conside-
ram-se os jovens compreendidos entre 16 e 24 anos de idade. Para uma análise histórica da desi-
gualdade no Brasil relacionada com o mundo do trabalho, ver: Adalberto Cardoso, A construção
da sociedade do trabalho no Brasil. Uma investigação sobre a persistencia secular das desigualda-
des, FVG-FAPERJ, RJ, 2010.
257 INEGI, “Estadísticas a propósito del Día Internacional de la Juventud (12 de agosto)”, Datos Na-
cionales, Aguascalientes, México, 8 de agosto de 2014, p.1. Disponível na internet: http://www.
inegi.org.mx/inegi/contenidos/espanol/prensa/Contenidos/estadisticas/2014/juventud0.pdf.
156
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
Quadro nº5
México: Tasa de desocupação da população de 15 anos em diante, por faixas etárias, 2014
Fonte: INEGI-STPS. Encuesta Nacional de Ocupación y Empleo, 2014. Primer trimestre. Consulta interactiva
de datos
Não é casual que a Encuesta mencione que os temas que mais preocupam a
juventude são a insegurança e o desemprego, pois ela se defronta atualmente com
o umbral do desemprego real, dos salários raquíticos e do extenso setor da eco-
nomia informal que vai devorando paulatinamente o empregos formais, situação
estimulada – e, em parte, explicada –, em grande medida, pela alta corrupção das
autoridades dos três níveis de governo que se enriquecem à custa destas práticas
generalizadas e, inclusive, institucionalizadas.
Tampouco é melhor o aspectos das rendas do trabalho, os quais se caracteri-
zam por sua precariedade, de acordo com o próprio INEGI:
157
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
Quadro nº 6
Distribuição percentual da população jovem por grupo de idade de acordo
com grau de escolaridade
2014
Sem
Faixas instrução e Primária Primária Média Educação
etárias Total pré-escolar incompleta completa Secundariaa Superiorb Superiorc
a
Considera estudos técnicos ou comerciais com primária terminada, secundária incompleta e
completa.
b
Considera estudos técnicos ou comerciais com secundária terminada, normal básica, preparató-
ria incompleta e completa.
c
Considera aos que tem estudos profissionais e de pós-graduação.
Fonte: INEGI-STPS. Encuesta Nacional de Ocupación y Empleo, 2014. Primer trimestre. Consulta interactiva
de datos.
258 INEGI, Estadísticas a propósito del Día Internacional de la Juventud, op. cit., p. 5, tradução nossa.
158
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
superior, mas a estatística não indica em que proporção este nível é completado
pelos jovens e, por último, somente 18,8% da população juvenil possuem estudos
profissionais e pós-graduação (educação superior) e, ainda assim, sem o dado de
quem obteve, e em que proporção, o título correspondente, seja a nível de gradua-
ção, de mestrado ou doutorado.
Somada às altas taxas de desemprego aberto ou disfarçado que padece a ju-
ventude, destaca-se também a deterioração do número de filiados ou inscritos a
algum serviço de saúde pública. De acordo com o INEGI, no universo da popu-
lação entre 15 e 29 anos de idade, 36,7% dos homens e 28,7% das mulheres não
estão filiados ou inscritos aos serviços de saúde. Além do mais, o Instituto indica
que em torno de 70% não frequenta a escola, e em torno de 52% da população
jovem não trabalha, concluindo, então que: “Unindo as três condições, observa-
-se que 9,3 % da população jovem, durante 2012, declarou que não tem proteção
de saúde, não frequenta a escola e não trabalho, situam a coloca em uma grande
desvantagem social”259
Quadro nº 7
México: Porcentagem de jovens entre 15 e 29 anos, por características selecionadas e sexo. 2012.
Características selecionadas Total Homens Mulheres
População sem proteção de saúde, que não traba- 9,3 6,4 12,0
lha e não frequenta a escola
População sem proteção de saúde 32,7 36,7 28,7
População que não frequenta a escola 68,8 68,1 69,5
População que não trabalha 51,5 37,2 65,5
Fonte: INSP (2012). Encuesta Nacional de Salud y Nutrición 2012. Base de datos. Procesó INEGI.
159
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
CONCLUSÃO
Neste capítulo analisamos as obras e as teses de três autores que têm em co-
mum o tema do precariado como um sujeito social que se constitui ao influxo
da crise do capitalismo e do processo expansivo da globalização. Apesar das di-
versas filiações teóricas, políticas e metodológicas de tais autores, consideramos
que, ainda que cada um dos argumentos empíricos respaldem a existência de um
processo ampliado de precarização do trabalho e, em particular, das categorias
dos trabalhadores industriais, que são seu núcleo central, restringir o conceito
de precariado, seja como uma (nova) classe social (Standing), seja como um de-
terminante do assalariado ou relação salarial (Castel), ou, finalmente, como uma
camada ou fração do proletariado circunscrita à juventude (Alves), por um lado
trata as outras camadas, setores ou frações como se não estivessem expostas a
um processo amplamente universal que é a precarização do trabalho enquanto
processo imanente de atualização das relações sociais de exploração e de precarie-
dade. Por outro lado, segmenta a classe trabalhadora e o proletariado em sentido
amplo em dois subsetores: um setor precário e outra não precário, quando a reali-
dade histórica e empírica do capitalismo é de que vivemos um processo que afeta
cada vez mais os setores outrora denominados “aristocracia operária” – geralmen-
te encarnada nos dirigentes corporativos aliados aos círculos dominantes do capi-
tal e do Estado –, assim como setores completos de trabalhadores e trabalhadoras
cujas condições de trabalho, de salários e de bem-estar social correspondiam ao
paradigma keynesiano-fordista que floresceu no mundo capitalista e se expandiu
depois da Segunda Guerra Mundial no século passado.
Por último, consideramos que as novas condições de produção, acumulação
de capital e da organização do trabalho repousam, como afirmamos a princípio,
na temporalidade, flexibilidade e desregulamentação do trabalho sob a hipóte-
se de que, diferentemente do passado – do período posterior à Segunda Guerra
160
O precariado: uma nueva clase social? E o que ocorreu com o proletariado?
161
CONSIDERAÇÕES FINAIS
163
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
260 Chamamos a atenção para o conceito utilizado por Renan Araújo, op. cit., ao longo de sua pesqui-
sa sobre o jovem-adulto flexível como um “segmento” dos metalúrgicos, sem enquadrá-lo exclu-
sivamente no marco conceitual do “precariado”, mesmo este estudo revelando a alta precarização
do trabalho que o caracteriza como “jovem adulto flexível filho da reestruturação produtiva da
década de noventa do século passado”, p. 110. Destaques nossos.
164
Considerações finais
Por isso, pensamos que não é correto falar de precariado como “sujeito so-
cial”, seja como camada, fração, categoria, como parte ou não do proletariado;
seja como “nova” classe diferenciada da classe trabalhadora, do proletariado, da
juventude ou dos adultos. Para nós, o correto, mesmo correndo o risco de que
nos acusem de essencialistas e dogmáticos, é falar de precarização como proces-
so histórico-social de atualização e reestruturação da precariedade do trabalho
na era do capitalismo neoliberal e depredador, que vai atingindo e cobrindo a
maioria das categorias socioprofissionais da classe trabalhadora e do proletariado
independentemente da idade, sexo, etnia, origem racial, cultural ou da categoria
profissional. É claro – como bem indica a análise de Alves – que este fenômeno
261 Graça Druck, “A precarização social do trabalho no Brasil”, em: Ricardo Antunes, Riqueza e Po-
breza do trabalho no Brasil, vol. II, Boitempo, São Paulo, 2013, p. 56.
262 A. Tiddi, Precarios, caminos de vida entre trabajo y no trabajo, Derive Approdi, Roma, 2002, cit.
em: Joaquín Arriola y Luciano Vasapollo, Flexibles y precarios. La opresión del trabajo en el
nuevo capitalismo europeo, Editorial El Viejo Topo, Madrid, 2003, p. 164, tradução nossa. Neste
livro, Arriola y Vasapollo consideram que a nova organização capitalista do trabalho está carac-
terizada pela precariedade, flexibilidade e desregulamentação, p. 146. Destaques do autor.
165
PRECARIADO OU PROLETARIADO?
166
REFERÊNCIAS
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Sobre o livro
Formato 15,5 x 23 cm
Tipologia Minion Pro (texto)
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Capa e Diagramação Erika Woelke