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Lisboa:
Temas e Debates, 2007. 471 p.(Obra completa)
Notas Prévias:
- Unidade de Produção de Informação do Serviço de Apoio ao Estudante com
Deficiência da Universidade do Porto
- Organização da Paginação: rodapé
Autores:
Rui Grilo Capelo
Augusto José Monteiro
João Paulo Avelãs Nunes
António Simões Rodrigues
Luís Filipe Torgal
Francisco Manuel Vitorino
NOTA DE APRESENTAÇÃO
Foi importante que este tipo de crítica se fizesse para trazer à História a
interpretação que lhe faltava, mas saliente-se que nem por isso Herculano, como
os verdadeiros «novos historiadores», deixaram de procurar ser rigorosos na
fixação das datas, de se interessar pela captação dos factos, de caracterizar
personagens. E se a historiografia portuguesa acabou insistentemente por
redundar, durante algumas décadas do século XX, numa «historiografia factual»
com algumas vantagens também em relação ao rigor cronológico e ao interesse
pelas personalidades, situação que foi causadora da discussão tardia e até de um
certo radicalismo doentio de apelo à «História Nova», que se verificou depois de
1974, é porque, indiscutivelmente, o autoritarismo de quase 40 anos abafou a
saudável polémica que deve existir sempre no domínio científico, sob pena da sua
estagnação. Por isso chega a preocupar-me uma certa ideia de consenso que
quase acompanha hoje o labor dos nossos historiadores...
[6]
[7]
(Legenda: Coroa votiva de Recesvinto (Madrid, Museu Arqueológico Nacional).
[8]
ANTES DE PORTUGAL
Antes De Cristo
218 - O exército romano, sob o comando de Cneio Cornélio Cipião, entra pela
primeira vez na Península Ibérica, como resposta à conquista de Sagunto, por
Aníbal.
209 - Públio Cornélio Cipião, com um golpe audacioso, toma Nova Cartago.
c. 194-193
Os Lusitanos revoltam-se contra a dominação romana e iniciam a resistência
armada.
[9]
(Legenda: «Pactos» do Castro de Monte Murado, Vila Nova de Gaia.)
138 - A Hispânia Ulterior começa a ser governada por Décio Júnio Bruto que
fortifica a cidade de Olisipo para servir de base a operações militares.
c. 134-133
Cipião Emiliano conquista Numância na Hispânia Citerior.
16-13
Reorganização dos territórios provinciais.
Fundação da divisão administrativa dos conventus.
Depois De Cristo
7-9
«Pactos» (Castro de Monte Murado), entre um cidadão romano - D. Júlio Cilo - e
indígenas túrdulos.
73-74
Vespasiano, por édito, concede o direito latino aos aglomerados urbanos da
Península Ibérica.
[10]
c. 182-188
Existência de comunidades cristãs organizadas, e não já simples fiéis isolados.
284-288
Nova organização administrativa da Hispânia, sob Diocleciano. Divisão em cinco
províncias: Tarraconense, Cartaginense, Bética, Lusitânia e Galécia, que
perdurará até à perda da Península Ibérica por Roma.
297 - Instituição da Galécia como província separada definitiva, com os três
conventus de Bracara, Lucus e Asturica.
300-304
Concílio de Elvira, o primeiro concílio peninsular referenciado.
303-305
Perseguição de Diocleciano aos cristãos, com várias vítimas na Península Ibérica.
380-385
Repressão eclesiástica contra o priscilianismo.
Medidas do I Concílio de Saragoça que conduziram à execução dos
responsáveis.
407-428
Decretos do imperador Teodósio II contra maniqueus, priscilianistas e donatistas.
414 - Viagem de Paulo Orósio, clérigo de Braga, a Hipona, para se encontrar com
Santo Agostinho.
c.415
Baquiário, presbítero de Braga, escreve a obra De fide, retractando-se do
priscilianismo.
c.427
Idácio, autor de uma Crónica, é ordenado bispo de Chaves.
428 - Suevos e Romanos são derrotados pelos Alanos na Batalha de Mérida.
454 - Os povos hispano-romanos pedem auxílio a Teodorico II, rei dos Visigodos,
contra as incursões suevas.
457 - Requiário, rei dos Suevos, é preso e condenado à morte. O reino suevo é
entregue a Agiulfo, cliente do rei visigodo.
468 - Lusídio, governador romano de Lisboa, entrega esta cidade aos Suevos.
[11]
570-574 - Leovigildo, rei dos Visigodos, inicia acções militares que lhe conferem
inteira supremacia sobre a Hispânia.
[12]
681 - XII Concílio de Toledo. O bispo de Toledo é nomeado primaz das Espanhas.
[13]
866-910
Reinado de Afonso III. Conquista da faixa ocidental da Península até ao Mondego.
Repovoamento de Portucale, Coimbra, Viseu, Lamego e Leão.
910 - Partilha de territórios entre os filhos de Afonso III. Ordonho fica com a Galiza
e tem o apoio dos condes portucalenses.
[14]
987 - Revolta do conde Gonçalo Mendes contra Bermudo II. Derrota dos
revoltosos.
1028 - Afonso V morre durante o cerco a Viseu. Sucede-lhe seu filho Bermudo III,
sob tutela navarra.
[15]
1080 - Concílio de Burgos: abolição oficial do rito moçárabe. Sisnando toma parte
na invasão a Granada. O bispado de Coimbra é restabelecido.
[17]
[18]
Idade Média
Rui Grilo Capelo • Augusto José Monteiro /João Paulo Avelãs Nunes • António
Simões Rodrigues Luís Filipe Torgal • Francisco Manuel Vitorino
Esta sumária introdução à temática medieval visa apenas estabelecer uma ligação
entre o mundo europeu além-Pirenéus e os acontecimentos que marcaram o viver
dos povos peninsulares e sobretudo a realidade portuguesa.
O mundo ibérico, embora enquadrado no espaço europeu, nunca deixou de
ser uma região periférica, com características específicas, fruto do cruzamento de
povos com culturas e civilizações próprias.
Se na Alta Idade Média europeia assistimos ao nascimento dos reinos
germânicos, a períodos de grande instabilidade política, de enfraquecimento do
poder central, de predomínio de uma economia ruralizada, na Península Ibérica,
embora se tenha vivido uma situação análoga, particularmente no Norte, já que no
Centro e no Sul, áreas com ligações privilegiadas aos povos mediterrânicos, não
assistimos a um fenómeno total de ruralização.
A península hispânica, encruzilhada de povos e culturas, que vão da
germânica, da romano-cristã, da romana à judaica e bizantina, gerou uma
mentalidade que no Centro e no Sul não perdeu completamente as características
urbanas, muito mais abertas.
Na Península, ao contrário do que acontecia para além-Pirenéus, o poder
político não se fragmentou tanto, os reis acabaram por conseguir uma articulação
mais afirmativa do seu poder em relação ao poder senhorial.
Os reinos cristãos que se foram construindo a partir da região montanhosa
das Astúrias, dando origem ao movimento da reconquista cristã, souberam
habilmente aproveitar as desinteligências entre Berberes e Árabes. Na verdade
toda a luta pela reconquista desenvolve-se à volta de dois factores, de um lado a
coesão dos cristãos, do outro a menor unidade dos muçulmanos. Quando estes
factores se invertiam, os seguidores de Alá retomavam as posições perdidas. As
fronteiras, logicamente, estavam longe de serem linhas definidas, as flutuações
eram constantes.
Sem nos perdermos nessas lutas entre cristãos e mulçumanos, nem tão-
pouco nas rivalidades havidas nos reinos cristãos saídos desses confrontos,
apenas nos limitamos a recordar que Fernando, o Magno, em 1064, levava a
fronteira até à linha do Mondego, conquistando a importante cidade de Coimbra.
No século seguinte, seu filho Afonso VI de Leão e Castela conseguia, através do
esforço militar, da ajuda dos cavaleiros francos e da política de alianças com os
príncipes muçulmanos divididos, estender a sua zona de influência até ao Tejo.
Desenvolvia-se a ideia de um Império Hispânico, onde Afonso VI imporia a sua
autoridade.
Entre os cavaleiros francos, muitos dos quais oriundos da aristocracia,
vieram D. Raimundo e D. Henrique que acabariam por casar com as filhas de
Afonso VI, respectivamente D. Urraca e D. Teresa. A D. Raimundo seria dada a
tenência da Galiza que se estendia até ao Mondego, enquanto a D. Henrique
seria concedido o Condado Portucalense, em 1096. Seria deste condado que iria
nascer o futuro reino de Portugal.
Quer o conde D. Henrique, quer sua mulher D. Teresa, tentaram libertar-se
dos laços feudais que prendiam o condado ao rei de Leão. A intromissão da
família galega dos Travas provocou a revolta da nobreza nortenha portucalense
que em S. Mamede (1128) afastou D. Teresa do poder e o entregou a seu filho
Afonso Henriques.
Este lutou em três frentes: libertar-se dos laços de vassalagem em relação
ao seu primo AlfonsoVII, rei de Leão e Castela, e imperador das Hespanhas;
alargar o território na luta contra os Mouros; e, finalmente, pela via diplomática,
prestar vassalagem à Santa Sé, conseguindo desta o reconhecimento do reino de
Portugal.
[19]
À medida que se consolidava o reino de Portugal, Guimarães antiga
residências dos condes, era substituída por Coimbra, que se tornaria no centro da
Monarquia a partir de 1131. Ali, a corte encontrou apoio no importante centro
cultural que foi o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, fundado em 1131, e
directamente subordinado à Cúria Romana.
Em 1145(6) D. Afonso Henriques casou com Matilde, filha do conde de
Sabóia, facto que revela o contacto com países do Centro da Europa. -=
Nestas lutas contra os muçulmanos, D. Afonso Henriques e os seus
continuadores contaram com o importante auxílio das cruzadas que se dirigiam à
Palestina. Também obtiveram o apoio de ordens militares, estas constituídas por
monges soldados disciplinados e bem armados que tiveram um papel importante
nas lutas da reconquista e na fixação das populações nas áreas fronteiriças de
maior risco.
A conquista de Santarém, tomada de assalto em Março de 1147 e a de
Lisboa que se renderia em 24 de Outubro do mesmo ano, dois centros urbanos e
comerciais importantes, e ainda a ocupação das praças fortes de Sintra, Almada e
Palmela, consolidara a posição do rei, assegurara o domínio cristão da linha do
Tejo, abrindo o caminho para investidas em direcção ao sul.
O desastre de Badajoz (1169), que não só o impede de tomar essa praça
estratégica, como o faz cair prisioneiro do rei de Leão, vai-lhe limitar a sua futura
actividade guerreira , por incapacidade física.
Entretanto, os Almóadas atacam e reconquistam praças alentejanas, pondo
em perigo a linha do Tejo.
O início do reinado de D. Sancho I será marcado pelo desenvolvimento de
intensa actividade guerreira, primeiro na fronteira islâmica contra os Almóadas e
depois na fronteira leonesa. As guerras em várias frentes tornaram a situação
difícil, particularmente os muçulmanos reocupavam muitas das praças perdidas e
punham em perigo a linha do Tejo, chegando a cercar Santarém em 1184.
Este estado de guerra levou à necessidade de repovoar as regiões
fronteiriças, concedendo cartas de foral, atraindo assim populações. Também as
ordens militares foram fundamentais para resistir às investidas do inimigo e fixar
as populações.
As dificuldades vividas no reino nos finais do século XII e princípios do
seguinte com fomes, pestes e outras calamidades faziam aumentar as tensões
sociais, onde se confrontavam oficiais régios, burgueses, clérigos e os bispos de
Coimbra e do Porto.
D. Afonso II foi um defensor dos direitos régios, estabelecendo uma política
de centralização jurídico-administrativa inspirada nos princípios do direito romano,
por influência de canonistas como Vicente Hispano. As medidas do rei
agudizariam os conflitos que vinham do reinado anterior com a nobreza e o clero.
Em 1211 a chancelaria régia ao inventariar os bens da coroa, tentava
controlar os abusos senhoriais.
A política de centralização de poder vai continuar com D. Sancho II, mas
cada vez mais se agravam os conflitos com a hierarquia da Igreja, interessada em
manter os seus privilégios.
Embora neste reinado se tenha iniciado a fase final da reconquista, os
conflitos com os bispos portugueses agravam-se, apresentando estes queixas ao
papa Inocêncio IV. A Santa Sé vai responsabilizar D. Sancho II pela anarquia
reinante em Portugal. O monarca acabaria por ser destituído e o trono entregue a
seu irmão Afonso III, que marcará o fim da reconquista portuguesa.
Em 1258 D. Afonso III continuando a política de centralização, ordenou
Inquirições Gerais, fundamento da profunda obra de reorganização administrativa.
Em 1217 entravam as ordens mendicantes em Portugal que tiveram um
papel decisivo na divulgação da cultura e até na conciliação da sociedade
desavinda.
D. Dinis ao continuar a política dos seus antecessores mais directos, teve
de enfrentar no princípio do seu reinado a oposição de uma parte da nobreza,
mas o rei inflexível ia-se impondo, apoiando-se na população e nos concelhos.
[20]
[21]
[22]
(Legenda: D. Afonso VI, rei de Leão (Catedral, Santiago de Compostela).)
[23]
1112 - Atribuição pelo conde D. Henrique dos forais de Sátão, Soure, Tavares e
Azurara da Beira, com o objectivo de reforçar os privilégios das comunidades
locais e para as encorajar a participar na defesa do território cristão, então
gravemente ameaçado pelos Almorávidas.
[Abril] Morte do conde D. Henrique, senhor do Condado de Portucale na cidade de
Astorga, tendo determinado que o seu corpo fosse sepultado em Braga.
[24]
nobreza galega. Desempenhou funções militares de vigilância junto à fronteira
muçulmana e terá vivido maritalmente com D. Teresa. O seu papel preponderante
na corte portucalense afastou dela os principais membros da nobreza nacional,
acentuou a oposição do arcebispo de Braga, grande adversário de Diego
Gelmírez, e acabou por suscitar a revolta aberta dos barões portucalenses
quando estes obtiveram o apoio do infante Afonso Henriques.
Invasão e saque de Portugal pelas tropas de D. Urraca, rainha de Leão e
Castela e de Diego Gelmírez, arcebispo de Compostela. Este facto foi de grande
humilhação para D. Teresa, que teve de recuar e de se refugiar no Castelo de
Lanhoso, onde acabou por se submeter a sua irmã D. Urraca.
Viagem do arcebispo de Braga, Paio Mendes, a Roma para defender os
seus direitos contra o arcebispo de Santiago de Compostela. Em Junho de 1121
conseguia o reconhecimento papal dos direitos metropolíticos sobre as dioceses
de Viseu, Lamego e Idanha que pertenciam anteriormente à província de Mérida,
e que deviam ser, por isso, teoricamente sufragâneas de Compostela. No
regresso da sua viagem, foi preso por D. Teresa, conseguindo a sua libertação
graças à intervenção do papa.
Afastamento da corte de D. Teresa dos representantes das mais poderosas
e prestigiadas famílias nobres do Condado Portucalense, nomeadamente os
senhores de Sousa (Soeiro e Gonçalo Mendes), os de Ribadouro (Ermígio, Egas
e Mendo Moniz), da Maia (Paio Soares), e ainda Sancho Nunes de Barbosa, um
nobre de origem galega, todos favorecidos pelo conde D. Henrique com cargos da
maior confiança.
1127 - [Abril] Acordo de Paz por tempo determinado entre D. Teresa, Fernão
Peres de Trava e Afonso VII em Zamora.
[Setembro-Outubro] Afonso VII invade a Galiza e submete as forças de D.
Teresa, que recusava prestar-lhe serviços de vassalagem e pretendia exercer
autoridade sobre Portugal e o condado de Toronho.
Cerco de Guimarães por D. Afonso VII com o objectivo de exigir de D.
Afonso Henriques a prestação de serviços de vassalagem. A oposição de Afonso
Henriques aos invasores contou com a colaboração empenhada dos nobres
portucalenses, facto que contrastou com a passividade de Fernão Peres de Trava.
Conquista por Afonso Henriques dos castelos de Neiva e Feira, na terra de
Santa Maria, a sua mãe D. Teresa.
1128 - [Março] Tentativa de pacificação entre D. Teresa, Fernão Peres de Trava e
a nobreza portucalense revoltada.
[25]
[26]
1141 - Nova invasão de Toronho por D. Afonso Henriques que não desiste de se
apoderar de territórios situados na fronteira galega. D. Afonso VII dirige-se com o
seu exército para a Galiza, acabando por entrar em confronto com D. Afonso
Henriques perto de Valdevez.
[27]
1158 [ou 1160] - Conquista de Alcácer do Sal por D. Afonso Henriques, com o
auxílio de alguns cruzados, após um cerco de dois meses.
Assinatura do Pacto de Sahagún, entre os reis D. Fernando II, de Leão, e
D. Sancho III, de Castela, celebrado depois da morte de Afonso VII. O acordo
estipulava a divisão entre os dois reis da zona muçulmana a reconquistar e a
partilhar o reino de Portugal, se viessem a apoderar-se dele. Contudo, a morte de
Sancho III no mesmo ano veio comprometer o ataque comum de leoneses e
castelhanos contra Portugal.
1159 - Nova ocupação de Tui, capital do condado de Toronho, por D. Afonso
Henriques.
Doação do rei português, à Ordem dos Templários, do Castelo de Ceras,
com todos os seus termos, incluindo Tomar, onde vieram a edificar o seu
convento e castelo.
[28]
1182 - Julião Pais era nomeado, por D. Afonso Henriques, chanceler-mor. A este
funcionário da cúria régia, estava confiado o selo real com que eram autenticados
os diplomas régios. O chanceler tinha funções muito amplas, controlando os
diversos funcionários administrativos e ocupando chefia da magistratura. Tendo
origem no reino de Leão, insere-se na progressiva organização e implantação da
máquina administrativa do poder.
[30]
[31]
1192-1210 - Portugal foi assolado por várias fomes e pestes. Estas calamidades
teriam sido provocadas pelas invasões almóadas e pela guerra com o reino de
Leão. Estando nós perante uma economia de base agrícola, facilmente se
compreendem os efeitos negativos das catástrofes naturais ou dos efeitos
devastadores da guerra. Na sequência das pestes que assolaram o reino, morre a
rainha D. Dulce, em 1198.
[32]
[33]
[34]
1231 - Morre em Pádua, Santo António de Lisboa, uma das figuras mais notáveis
da Igreja e da Cultura do seu tempo.
Celebra-se o Acordo de Sabugal, entre D. Sancho II e Fernando III, pelo
qual nos era devolvida Chaves.
1247 - O conde de Bolonha era derrotado em Leiria. Mas a partir daí, D Sancho II
foi sendo abandonado. O príncipe de Castela regressava ao seu país e talvez com
ele o próprio D Sancho II.
[36]
1253 - O papa insistia para que fosse estabelecida a paz entre Castela e Portugal,
sendo nesse ano assinado um Tratado de Paz.
Era publicada a Lei do Tabelamento dos preços dos produtos. Portugal,
aliás como outros países europeus, estava a sofrer efeitos de uma série de maus
anos agrícolas, que provocaram fomes e carestia de géneros. O rei pela Lei da
Almotaçaria procurou fixar os preços, proibindo a exportação de cereais e metais
preciosos.
[37]
compiladas se tornariam num dos mais curiosos monumentos da documentação
medieval portuguesa.
1262-1264 - Abandono da corte régia por vários nobres, com o fortalecimento das
facções fiéis ao rei. Em consonância com o espírito que presidiu à execução das
Inquirições e à consequente repressão dos abusos senhoriais, operaram-se
dentro da própria corte algumas mudanças no que diz respeito aos dententores
dos mais importantes cargos. O rei procurou substituir alguns representantes da
velha nobreza senhorial, por nobres de segunda linha, mas da sua confiança.
[38]
1267 - Celebração do Tratado de Badajoz entre Portugal e Castela, pelo qual este
reino renuncia definitivamente à posse do Algarve, legitimando para sempre a
integração do Algarve em Portugal.
1272 - D. Afonso III promulga a lei sobre os padroeiros. A lei tentava prevenir
contra a multiplicação e abusos dos padroeiros. O direito de padroado radicava no
direito de propriedade, isto é, no facto de o mosteiro ou a igreja terem sido
fundados por determinada pessoa, a qual reservava para si parte do benefício.
Primitivamente esse direito limitava-se a apresentar ao bispo (para confirmação)
uma pessoa idónea para prover ao governo do mosteiro. Posteriormente os
padroeiros (e seus descendentes) começaram a pretender desfrutar
abusivamente dos bens das comunidades religiosas.
1273 - Publicação de bula Scire debes fili, de Gregório X, acerca das questões
com o clero. Recordando ao rei as principais acusações dos bispos, feitas no
libelo de 1268, o papa solicitava ao rei a imunidade em relação aos bispos, para
que pudessem regressar ao reino sem receio de represálias. D. Afonso III reúne
as Cortes em Santarém para tratar do asssunto.
[39]
com o nome de João XXI. Nasceu em Lisboa, onde fez os primeiros estudos, indo
depois para Paris. Aí se tornou conhecido, assim como em outros pontos da
Europa culta, como é o caso da corte de Frederico II. Cultivou a filosofia, a
medicina, a teologia e a matemática. Como papa, procurou dar cumprimento às
disposições de Gregório X sobre a questão com D. Afonso III, lançando mesmo o
interdito sobre o reino de Portugal. Morre em 1277.
(Legenda: Pedro Hispano (papa João XXI).)
[40]
1285 - Realização das Cortes em Lisboa. Protesto dos nobres contra a quebra
das imunidades senhoriais nas Inquirições. Este clima de contestação terá
contribuído para o desencadear da revolta do infante D. Afonso contra D. Dinis.
Promulgação da lei de taxação dos tabeliães.
(Legenda: Rainha Santa Isabel e D. Dinis (Sala dos Capelos, Universidade de
Coimbra).)
[41]
[42]
1299 - Continuação da luta entre D. Dinis e o infante D. Afonso, cujo resultado foi
a troca dos seus senhorios perto da fronteira castelhana por outros do interior:
recebe Ourem e Sintra. Estava consumado o desejo de D. Dinis de o desapossar
de fortalezas situadas demasiado próximo da fronteira.
[43]
[44]
[45]
1319 - Início da guerra entre D. Dinis e o filho, futuro rei Afonso IV, que,
encarnando a revolta de todos os nobres que se consideravam prejudicados pela
forma como o rei usava o poder judicial para reprimir os abusos senhoriais, exige
que lhe seja entregue a justiça do reino.
1320 - Concessão pela Santa Sé da aplicação do dízimo de todas as rendas
eclesiásticas do reino ao financiamento de uma armada para combater os
muçulmanos. O objectivo fundamental era o de combater a pirataria sarracena
que assolava as costas portuguesas.
Primeiro manifesto de. D. Dinis contra o príncipe D. Afonso, em
consequência do conflito que opunha ambos.
[46]
[47]
[48]
[49]
1366 - Tendo por objectivo reforçar os laços dinásticos existentes entre as famílias
reais de Portugal e Castela, D. Pedro I de Portugal estabelece com D. Pedro I de
Castela (e depois, com Henrique de Trastâmara, Henrique II de Castela) um
tratado que estabelece as condições de casamento do infante D. Fernando com
uma infanta castelhana.
[50]
de Portugal para leste e para norte (à custa de Castela) e o acordo para o seu
casamento com a filha primogénita de Henrique II.
Ao casar com D. Leonor Teles, D. Fernando provoca levantamentos
populares em Lisboa e incumpre a última cláusula do Tratado de Alcoutim,
levando à sua revogação.
[51]
de, na Idade Média, contando apenas com pequenos exércitos feudais e com um
embrionário aparelho de Estado, fazer cumprir os acordos e tratados
internacionais.
D. Fernando ordena a realização de Inquirições na região do Alto Alentejo.
[52]
destinada colocar no trono daquele país o duque de Lencastre), a possibilidade de
Portugal se expandir territorialmente para norte e para leste à custa de Castela, o
envio para o nosso país de um contingente de 2000 mercenários ingleses, o
casamento da infanta D. Beatriz (de 8 anos) com um membro da família real
inglesa.
Se até então (e desde 1378), no contexto do Grande Cisma do Ocidente,
D. Fernando impusera à Igreja portuguesa o apoio ao papa de Avinhão, Clemente
VII (patrocinado pela França e por Castela), notificaria imediatamente a hierarquia
eclesiástica portuguesa da necessidade de voltar a obedecer ao papa de Roma,
Urbano VI (apoiado pela Inglaterra) o que aconteceu em 1381.
[53]
[54]
[56]
1393 - Retribuindo o apoio prestado pelo rei e pela Igreja portuguesa (no contexto
da aliança com Inglaterra), o papa de Roma, Bonifácio IX, autoriza, através da
bula In eminentiddimae dignitatis, a criação do arcebispado de Lisboa. Para além
de outras razões, esta alteração na hierarquia da Igreja portuguesa terá resultado
da necessidade de reconhecer, também no plano religioso, a importância
crescente de Lisboa no contexto do país e enquanto base essencial de suporte do
poder real.
[57]
1408 - A partir das Cortes de Évora terá provavelmente tido início em Portugal a
concessão regular por parte da coroa de um subsídio (ou «assentamento») que
visava assegurar aos «filhos segundos» das famílias da grande e média nobreza
(privados de rendimentos próprios pelo sistema de herança unilinear) a
possibilidade de continuar a viver na corte sem perda de estatuto socioeconómico.
1411 - Tratado de Paz de Segóvia, entre Portugal e Castela, que põe termo ao
prolongado conflito entre os dois países.
Primeiro alvará para um engenho de papel nas margens do rio Lis, em
Leiria.
1412 - Ano provável em que D. Duarte foi associado ao poder por D. João I.
D. João I oferece-se para cooperar na conquista do reino de Granada; D.
Fernando de Aragão, um dos tutores de D. João II de Castela, não aceita esse
apoio.
Cortes de Lisboa.
1412 (?) - Livro da Ensinança do Bem Cavalgar toda a Sela, de D. Duarte (escrito
após 1412).
[58]
é uma mui notável cidade e mui azaeda para se tomar» (Zurara, Crónica da
Tomada de Ceuta, Cap. IX). A conquista de Ceuta foi o primeiro passo da
expansão portuguesa. Razões e vontades várias confluíram para a realização
desta empresa. Dado o cuidado e a antecedência com que foi preparada, pode
concluir-se da sua importância. No entanto, Ceuta permanecia uma ilha no meio
dos inimigos, pois todas as vias de comércio foram desviadas pelos Mouros.
(Após a conquista de Ceuta os nossos reis são «reis» e «senhores». Reis de
Portugal e do Algarve e senhores de Ceuta.)
Purificação e conversão da mesquita de Ceuta em templo cristão, dedicado
a Nossa Senhora da Assunção. Aqui D. João I arma seus filhos cavaleiros.
A defesa de Ceuta fica a cargo de D. Pedro de Meneses.
Já em Tavira, após o regresso de Ceuta, são concedidos os títulos de
duque de Coimbra e de Viseu, respectivamente aos infantes D. Pedro e D.
Henrique. Dá-se assim a introdução em Portugal do título de duque.
Lei que regulamenta a acção dos cambistas, restringindo a sua actividade
às cidades de Lisboa e Porto.
Utilização pela marinha portuguesa do barco denominado varinel (barinel).
(Legenda: Infante D. Henrique (políptico de Nuno Gonçalves. Lisboa, Museu
Nacional de Arte Antiga).)
[59]
(Legenda: João Gonçalves Zarco (Lisboa, Museu Militar.)
1421 - Provável início das tentativas para reconhecimento das terras além do
cabo Não.
Bula de Martinho V determinando que a igreja de Ceuta seja elevada a
catedral. Bula de Martinho V confirmando a nomeação do 1.º bispo nomeado
para Ceuta.
D. Henrique recebe o monopólio da estacada no Ródão (para reter o peixe)
e do relego de Viseu.
1422 - [22 de Agosto] Carta régia, ordenando que a era de César (ou de Augusto)
seja substituída pela era de Cristo. (O 1.º ano da era de César correspondia ao
ano 38 a.C.; quando se deu a alteração estava-se, por conseguinte, no ano de
1460 da era de César).
Bula de Eugénio IV, declarando que a cidade de Ceuta ficava sob a
protecção pontifícia.
D. Henrique recebe o direito de conceder terras suas e da Ordem de Cristo
em regime de sesmaria.
Elaboração da reforma do rol dos besteiros do conto. Este rol tem servido,
a partir do historiador oitocentista Rebelo da Silva para, de uma forma crítica, se
estabelecer o cômputo absoluto da população.
[60]
1426 - Bula do papa Martinho V na qual ele mostra a sua estranheza pelo facto de
os bispos não reagirem às interferências do rei no poder episcopal.
Concílio de Braga, para defesa das liberdades eclesiásticas.
Viagem provável de Frei Gonçalo Velho pela costa africana, até à Terra
Alta.
1429 - Peste.
1432 - Peste.
Tratado de paz com Castela.
Estabelece-se a indivisibilidade nos aforamentos perpétuos de bens da
coroa.
Nascimento do príncipe D. Afonso, futuro D. Afonso V, em Sintra, a 15 de
Janeiro.
Presumível descobrimento da ilha de S. Miguel, Açores.
Desembarca na Praia dos Lobos, ilha de Santa Maria, Açores, a expedição
de
[61]
(Legenda: Gil Eanes (Lisboa, Museu Militar).)
1434 - Gil Eanes, natural de Lagos e escudeiro do infante, dobra o cabo Bojador,
«fronteira do mar impossível» e marco importante no reconhecimento da costa de
África. Conta Zurara que nos mareantes causava grande espanto e medo ter de
passar o Cabo Bojador: «(...) o mar é tão baixo que a uma légua de terra não há
de fundo mais que uma braça. As correntes são tamanhas que navio que lá passe
jamais poderá tornar.» (Zurara, Crónica dos Feitos da Guiné).
D. Duarte encarrega Fernão Lopes de «pôr em crónica» as «estórias dos
reis que antigamente em Portugal foram», assim como os feitos de D. João I.
Atribui-lhe uma tença vitalícia de 14 000 réis.
O infante D. Henrique promove nova expedição às Canárias, por
consentimento e mandado de D. Duarte.
Rodrigo Rebelo, Pedro Reinei e João Colaço viajam pela Senegalândia
interior em demanda do Prestes João das índias.
Regimento dos Capitães de Ceuta.
[8 de Abril] Promulgação da Lei Mental, assim chamada «por ser primeiro
feita segundo a vontade e tenção del-rei D. João o primeiro», que em seu tempo a
aplicara, em casos isolados, embora a não formalizasse. A Lei Mental
determinava que todas as terras e bens doados pela coroa, no passado ou no
futuro, só poderiam ser herdados pelo filho varão primogénito. Simultaneamente
pretendia fazer regressar à coroa certos bens que haviam sido doados por D.
João I. Abriram-se, no entanto, excepções ao teor da Lei Mental. Nomedamente,
D. Afonso, conde de Barcelos, tronco da futura Casa de Bragança, obteve isenção
para os seus bens por Carta de mercê deste mesmo ano de 1434.
D. Henrique fixa-se no Sul do país.
1435 - Gil Eanes terá voltado, juntamente com Afonso Gonçalves Baldaia, ao
cabo Bojador, atingindo a Angra dos Ruivos ou dos Cavalos, 50 léguas além do
famoso cabo. Peste.
[62]
1437-1441 - Peste.
[63]
«cortes restritas», instituídas para esse efeito. (Esta solução não agrada a
ninguém.)
Ano provável da morte do Mestre André Dias, autor da obra poética
religiosa Laudes e Cantigas Espirituais.
[64]
barco por excelência das Descobertas, foi usada pela primeira vez por Nuno
Tristão na referida viagem ao cabo Branco.
Primeiro moinho para o fabrico de pasta de papel, em Leiria.
Cortes de Torres Vedras.
1442 ou 1443 - Antão Gonçalves volta ao Rio do Ouro. No regresso terá trazido o
1. º ouro africano e alguns escravos.
1443 - Nuno Tristão terá atingido as ilhas de Gete, Garças e Arguim, no golfo de
Arguim.
Carta régia que atesta já a existência de colonos nos Açores, isentando-os
de pagarem décimas ou portagens (por cinco anos) de tudo quanto fosse trazido
das ilhas para o continente.
Morre o infante D. Fernando, em Fez.
Carta régia de 22 de Outubro, do regente D. Pedro, em nome de D. Afonso
V, concedendo ao infante D. Henrique o monopólio da navegação, guerra e
comércio das terras para além do Cabo Bojador, desta forma: «Dom Afonso (...)
fazemos saber como o infante D. Henrique meu muito prezado e amado tio (...) se
meteu a mandar seus navios a saber parte da terra que era além do cabo Bojador
(...) e nos disse que sua vontade era mandar seus navios mais adiante (...) e que
nos pedia por mercê que lhe déssemos nossa carta, que nenhum não fosse
àquelas terras sem seu mandado e licença assim para guerra como para
mercadorias, e que de aqueles a que ele assim mandasse ou desse licença lhe
déssemos o direito do quinto ou dízima do que de lá trouxessem, segundo a nós
pertence. E (...) defendemos que em vida do dito meu tio ninguém não passe
além do dito cabo Bojador sem seu mandado e licença (...)»
O regente D. Pedro doa a D. Henrique a vila de Gouveia e o cabo de
Transformar (S. Vicente) e uma légua em seu redor.
[65]
segundo o costume de sua terra (...). Mas para seu dó ser mais acrescentado,
sobrevieram aqueles que tinham carregado da partilha e começaram de os
apartar uns dos outros, a fim de porem os seus quinhões em igualeza; onde
convinha de necessidade apartarem os filhos dos padres e as mulheres dos
maridos e os irmãos uns dos outros. A amigos nem a parentes não se guardava
nenhuma lei, somente cada um caía onde a sorte o levava!» Ao infante, que «era
ali em cima dum poderoso cavalo, acompanhado de suas gentes», couberam do
quinto que lhe pertencia «46 almas», (Zurara, Crónica da Guiné.)
Carta de doação e confirmação do almirantado a Lançarote Pessanha.
Terceira viagem de Nuno Tristão que atinge uma região que Zurara
apelidou de Terra dos Negros, próxima da foz do rio Senegal.
Dinis Dias atinge o promontório de cabo Verde e a ilha das Palmas. O
escudeiro Álvaro Fernandes fica em terra para obter informações sobre a região.
Carta de privilégios e isenção aos moradores das ilhas da Madeira, Porto
Santo e das outras ilhas do infante D. Henrique, do pagamento de dízima e
portagem de todas as mercadorias que trouxessem para o continente.
O infante D. Henrique manda em caravelas Antão Gonçalves, Diogo Afonso
e Gomes Pires ao Rio do Ouro.
Bula de Eugênio IV em que confere ao bispo D. Frei João Manuel o título
de primaz de África.
Estabelecimento de feira franca anual na cerca da Vala de Viseu, senhorio
de D. Henrique.
D. Afonso V, através do infante D. Pedro, passa a D. Henrique uma carta
de privilégio no sentido de nenhum navio poder ir às Canárias sem seu
consentimento. (Verifica-se assim que as ilhas Canárias ainda eram consideradas
como domínio português.)
A Ordem de Avis torna-se independente da Ordem castelhana de
Calatrava, à qual até esta data estava ligada.
Cortes de Évora.
[66]
1449 - Edificação do Forte de Arguim, por Soeiro Mendes, que ali ficara como
governador (ver 1446 e 1461).
Confirmação geral de todas as graças, privilégios e mercês e liberdades
concedidas
[67]
[68]
signadas pelos nomes de S. Tomás e Santa Maria num mapa que pertenceu a D.
Henrique.
D. Henrique manda erguer a Ermida de Santa Maria de Belém.
Perdão geral de D. Afonso V, em 8 de Abril, concedido à gente miúda de
Coimbra, Montemor-o-Velho, Penela, Tentúgal, Vila Nova de Anços, Aveiro, Lousã
e Miranda, habitantes das terras de D. Pedro falecido em Alfarrobeira.
Bulas de Nicolau V, concedendo a D. Afonso V a faculdade de conquistar
terras aos «infiéis» e subjugá-los.
Bula de Nicolau V, confirmando que fossem desviadas certas rendas das
igrejas de Tui e Badajoz para a de Ceuta.
Autorização do infante D. Henrique para que Diogo de Teive montasse uma
fábrica de açúcar na Madeira.
Crise cerealífera e fome (que se prolonga até 1455).
(Legenda: Panorâmica de Ceuta)
1454 - Ano em que Fernão Lopes, «por seu prazimento» e por estar «tam velho e
flaco que per si nom pode bem servir o dito ofício», foi substituído por Gomes
Eanes de Zurara no cargo de «guardador» da Torre do Tombo.
D. Henrique alicia o jovem veneziano, recentemente chegado à Vila do
Infante, Cadamosto, para as suas navegações.
Ratificam-se, por bula de Nicolau V, as conquistas africanas do cabo Não
até à costa da Guiné, inclusive, em favor de D. Afonso V, infante D. Henrique e
seus sucessores.
Embaixada de Castela a Portugal sobre questões relacionadas com a
conquista da Guiné.
D. Afonso V entrega à Ordem de Cristo, que seu tio D. Henrique «muito
acrescentara», a administração espiritual e jurisdição de todas as terras
conquistadas e por conquistar da Guiné, Núbia, Etiópia, etc. Tais direitos seriam
confirmados por Nicolau V na bula Romanus Pontifex.
1455 - [8 de Janeiro] Bula de Nicolau V Romanus Pontifex, concedendo ao rei de
Portugal, seus sucessores e ao infante, as terras descobertas ou a descobrir
pelos Portugueses: «E esta conquista que vai desde o cabo Bojador e do cabo
Não, correndo por toda a Guiné, passando além dela vai para a plaga
[69]
1456-1458 - Peste.
[70]
1460 - As Cortes convocadas para Santarém não chegam a reunir, por doença do
rei.
Cortes de Évora.
A parceria de Diogo Gomes e António da Noli descobre 5 ilhas orientais de
Cabo Verde.
Carta régia concedendo a capitania da Ribeira Grande, Cabo Verde, a
António da Noli.
Pedro de Sintra terá alcançado a Serra Leoa, limite das terras descobertas,
na costa ocidental africana, sob a «direcção» do infante D. Henrique.
Carta do infante D. Henrique doando as ilhas Terceira e Graciosa (Açores)
ao infante D. Fernando, seu sobrinho e filho adoptivo.
Carta de doação do infante D. Henrique das ilhas cabo verdianas, então
conhecidas pelos nomes de S. Luís, S. Dinis, S. Jorge, S. Tomás e Santa Joana,
a D. Afonso V.
Doação do «espiritual» das ilhas Terceira e Graciosa à Ordem de Cristo,
pelo infante D. Henrique.
Doação das ilhas de S. Miguel e Santa Maria (Açores) pelo infante D.
Henrique à Ordem de Cristo.
[28 de Outubro] Testamento do infante D. Henrique. Por ele verifica-se que
a Casa senhorial do infante, regedor e governador da Ordem de Cristo, duque de
Viseu e senhor da Covilhã, estava entre as mais poderosas forças económicas do
reino. D. Fernando, seu filho adoptivo, passou assim a deter o maior senhorio de
Portugal. (O filho de D. Fernando será o rei de Portugal, D. Manuel I.)
[13 de Novembro] Morte do infante D. Henrique.
Doação, por D. Afonso V, a seu irmão D. Fernando, das ilhas da Madeira,
Porto Santo e Desertas e das ilhas açorianas que lhe haviam sido doadas por seu
tio D. Henrique. Doa-lhe também as ilhas de S. Miguel e Santa Maria (Açores) que
o infante havia confirmado à Ordem de Cristo.
[71]
1461 - Segundo João de Barros, D. Afonso V manda construir o Castelo de
Arguim por Soeiro Mendes (ver 1446 e 1449).
Breve de Pio II, Dum Tuam, concedendo o mestrado da Ordem de Cristo a
D. Afonso V.
Bula conferindo o mestrado da Ordem de Cristo ao infante D. Fernando.
Pedro de Sintra atinge o cabo de Santana.
Descobrimento das ilhas de Santa Luzia e S. Nicolau, em Cabo Verde, por
Diogo Afonso.
1464 - Tentativa falhada de conquistar Tânger (com perda de 300 homens, entre
mortos e cativos).
Concessão régia da capitania-mor de Arguim a Soeiro Mendes de Évora.
Peste.
Concedido a Bragança o foro de cidade. É o primeiro aglomerado que
recebe tal «honra», embora não fosse sede de bispado. Os duques de Bragança
não queriam ser duques de uma vila.
1465 - Cortes da Guarda. A escolha do local deve estar relacionada com a vinda
de D. Leonor, rainha de Castela, à referida localidade, onde «requer», a seu irmão
D. Afonso V, um tratado recíproco de aliança.
[72]
1473 - Doação régia das ilhas Desertas e Porto Santo a D. Diogo, duque de Viseu
e Beja.
Carta régia prorrogando por mais um ano o arrendamento do comércio da
Guiné concedido a Fernão Gomes.
Doação régia do lugar de Larache, na África do Norte, a D. Fernando,
duque de Guimarães.
Carta de privilégios aos moradores de Anafé (Norte de África).
Contrato matrimonial entre o príncipe D. João (futuro D. João II) e D.
Leonor (irmã do futuro rei D. Manuel I e do duque de Viseu que será assassinado
por D. João II).
Frequentavam então o Estudo de Lisboa 41 moços, filhos de nobres e
funcionários da corte, todos a expensas régias.
1474 - Doação a Fernão Teles de «quaisquer ilhas que indo ele ou mandando
seus navios ou homens nas partes do mar oceano (...) achar».
Confirmação régia da venda da capitania da ilha de S. Miguel (Açores), por
João Soares de Albergaria a Rui Gonçalves da Câmara.
Carta régia dividindo a ilha Terceira (Açores) em duas capitanias, ficando
Álvaro Martins Homem com a da Praia e João Vaz de Corte-Real com a de Angra.
Ordenação proibindo a intromissão de estranhos no comércio e pescarias
da Guiné
[73]
junto de Luís XI para o seu projecto de união dos dois reinos peninsulares
(Portugal e Castela).
Primeiras contas públicas elaboradas sistematicamente.
1477-1479 - Peste.
1478 - Cortes de Lisboa. [16 de Abril] D. Afonso V escreve a seu filho, o príncipe
D. João, concedendo-lhe poderes para nomear e destituir capitães, cercar as
tropas inimigas e realizar tudo o que entendesse necessário para a condução da
guerra com Castela. (Esta carta prova que D. Afonso V não havia ainda desistido
das suas intenções de combater os Reis Católicos).
Primeiro orçamento da coroa elaborado sistematicamente.
[75]
[76]
[77]
1484 - D. Diogo, 4.º duque de Viseu, é assassinado por D. João II. Execução do
bispo de Évora, D. Garcia de Meneses. Prisão, exílio ou execução de outros
implicados na conspiração.
D. João II concede honra de fidalguia a Diogo Cão e uma tença anual de
dez mil reais brancos.
A rainha D. Leonor funda um hospital nas Caldas da Rainha.
1488 - Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã chegam a Adém. Aquele segue para a
Etiópia e este para o Índico.
Carta de Andrea Bianco em que claramente são registados os primeiros
descobrimentos portugueses.
Bartolomeu Dias, depois de aportar em Angra dos Vaqueiros, atinge o rio
do Infante, terminando aqui a sua viagem, bem como os descobrimentos sob o
reinado de D. João II.
Carta de D. João II ao alcaide e moradores de Safim, renovando e
confirmando o Tratado de Paz e Amizade, assinado por seu pai com aquela
cidade.
[79]
1491 - Pêro da Covilhã, após ter percorrido o Oriente até Sofala, regressa ao
Cairo.
Viagem terrestre de Martins Lopes à Ásia.
Chegada à foz do Zaire-Congo da embaixada de D. João II, chefiada por
Rui de Sousa. Os religiosos portugueses fundam a primeira igreja no Congo.
Morte do infante D. Afonso.
(Legenda: Última página do Tratado de Tordesilhas.)
[81]
[82]
Antes de 1500
Livro de Rotear, de um anónimo.
[83]
1503 - Fernando de Noronha descobre as ilhas que hoje têm o seu nome.
Capítulos de Paz, entre D. Manuel I e os Reis Católicos, sobre os navios
espanhóis que navegassem para a costa da Guiné.
D. Manuel I estabelece uma convenção com os Welser, para a venda de
mercadorias da Índia.
Parte para a Índia a frota de D. Francisco de Almeida.
Surto de fome e epidemia no país.
Vicente Sodré terá chegado à ilha de Socotorá.
Afonso de Albuquerque é enviado à Índia.
Transformação da feitoria de Cochim em fortaleza, por D. Francisco de
Almeida e Afonso de Albuquerque, passando a funcionar como sede do Estado
da Índia.
Gonçalo Coelho chefia uma expedição ao Brasil.
Assinatura do primeiro contrato de arrendamento das receitas de Cabo
Verde e Guiné, pelo período de três anos, a favor de Gil Álvares, Bartolomeu
Jerónimo e Pedro Francisco.
(Legenda: D. Francisco de Almeida.)
[84]
1504 - Parte para a Índia o capitão-mor, Lopo Soares com uma frota de treze
velas e mil e duzentas pessoas.
Regimento do Hospital de Todos-os-Santos, outorgado por D. Manuel I.
Aparecimento do escudo de prata.
Regimento das capelas, hospitais e albergarias e confrarias da cidade de
Lisboa.
Negociação de novo contrato entre os Welser e a coroa portuguesa.
Bula aprovando os novos estatutos da Ordem de Cristo.
Publicação da obra Mundus Novus, de Américo Vespúcio.
Acordo com Castela sobre a demarcação das fronteiras.
Bula Orthodoxae fidei nostrae, concedendo a el-rei, por dois anos, a
cruzada para a guerra de África.
Arrendamento das ilhas de Santiago e Fogo, Cabo Verde, pelo visconde de
Vila Nova da Cerveira.
Instituição da devoção e procissão do «Anjo Custódio do Reino».
1505 - Início da reforma das Ordenações, a cargo de Rui Boto, Rui da Grã e João
Cotrim.
Grande epidemia de origem tifóide, em Lisboa, com numerosas vítimas.
Destruição de Mombaça, por ordem de D. Francisco de Almeida.
Por ordem régia, Lopes Sequeira faz construir a Fortaleza de Santa Cruz,
no cabo de Guer.
Carta régia estabelecendo a orgânica administrativa da Índia. A feitoria de
Sofala passa a centralizar o resgate do ouro da costa africana.
Carta régia nomeando D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia.
D. Manuel I autoriza a construção da fortaleza de Mazagão (Marrocos).
D. Francisco de Almeida conquista Quíloa e Mombaça.
Duarte Pacheco Pereira regressa do Oriente. Início provável da redacção
do Esmeraldo de Situ Orbis.
O primeiro elefante visto no reino chega numa armada da Índia.
[85]
1512 - D. Afonso, rei do Congo, envia a Lisboa uma embaixada chefiada por seu
primo D. Pedro, que depois seguirá para Roma.
Livro I das Ordenações Manuelinas.
Conquista do Forte de Benastarim, por Afonso de Albuquerque.
Demarcação da posse portuguesa e castelhana de Velez, entre D. Manuel
e D. Joana de Castela.
Artigos das Sisas.
Velho da Horta, de Gil Vicente.
Extinção das feitorias de Quíloa e Melinde.
Embaixada ao Sião conduzida por António de Miranda de Azevedo.
Nasce em Évora o infante D. Henrique, futuro cardeal, regente e monarca
de Portugal.
[87]
[88]
[89]
(Legenda: D. João III, por Cristovão Lopes (Lisboa, Museu Nacional de Arte
Antiga).)
1521-1522 - Maus anos agrícolas, grave crise de fome e surto de epidemias.
[90]
1528 - D. Nuno da Cunha, 7.º governador, parte para a Índia com onze naus.
António de Azevedo Coutinho, embaixador em Castela, recebe plenos
poderes para tratar com Carlos V a questão das Molucas.
1529 - Tratado de Saragoça, entre D. João III e Carlos V, sobre a posse das ilhas
Molucas. A Espanha desiste das suas pretensões.
[91]
(Legenda: Esquerda-Nuno da Cunha; Direita-Garcia de Noronha)
[92]
[93]
[94]
[95]
1546 - Segundo cerco de Diu. S. Francisco Xavier viaja para a ilha de Amboína e
aporta às Molucas. Assalto geral e violento das forças do rei de Cambaia à
cidade de Diu. Na destruição de um dos baluartes de Diu, morre D. Fernando de
Castro, filho de D. João de Castro.
Enceta-se o sistema de adjudicação da armação e organização do
transporte da carreira da Índia, por contratadores. Provisão régia destinada a
proteger a madeira de sobreiro para a construção naval (demarcando-se uma
área ao longo do Tejo, de Abrantes a Lisboa, estendendo-se 10 léguas para sul).
D. João de Castro parte de Goa, em auxílio de Diu. Ataca e desbarata as
forças inimigas. Morre D. João Parvi, bispo de Cabo Verde. Elevação de Ponta
Delgada, Açores, à categoria de cidade. João Fernandes publica uma edição dos
Adágios, de Erasmo. De Arte Atque Navigandi Libro Duo, de Pedro Nunes.
Damiano Góis Equitis Lusitani. Verbis lovaniensis Obsídio, de Damião de
Góis.
1548 - Colégio das Artes inicia a sua actividade no espaço dos colégios crúzios de
S. Miguel e de Todos-os-Santos, cedidos de
[96]
[97]
1552 - Os rios de Quama são descobertos por Gaspar Veiga, tomando desde
então incremento o resgate de ouro de Moçambique.
Embarca para o Brasil o 1.º bispo da Baía, D. Pêro Fernandes Sardinha, na
armada de Fernão Soares de Albergaria.
Breve de Júlio III, autorizando o rei de Portugal a comerciar com os infiéis
em cavalos e metais.
O bispo de Tânger, D. Gonçalo Ribeiro, é nomeado para a diocese de
Viseu.
Casamento do herdeiro do trono, infante D. João, com a infanta D. Joana,
filha de Carlos V.
Aprovação régia do primeiro regimento do Santo Ofício.
Início da publicação das Décadas da Ásia, de João de Barros.
Naufrágio do barco onde regressava ao reino, Manuel de Sousa de
Sepúlveda, com a sua mulher Leonor e filhos.
Morte de S. Francisco Xavier (Sanchuang — China).
[98]
1555 - Parte de Goa Diogo Dias, para negociar com o imperador da Abissínia a
total obediência à Igreja de Roma.
Contrato de Paz feito entre o Mealecão e D. Pedro de Mascarenhas, vice-
rei da índia.
D. João III ordena a entrega da direcção do Colégio das Artes ao padre
Diogo Mirão, povincial da Companhia de Jesus em Portugal.
Os jesuítas fundam o Colégio do Espírito Santo (Évora).
Ocupação francesa do Rio de Janeiro.
Morte em Goa de D. Pedro de Mascarenhas, 6.º vice-rei da Índia.
Francisco Barreto é nomeado 12.º governador da Índia.
Nomeação de Manuel de Andrade como ouvidor-geral e capitão-mor de
Cabo-Verde.
Início da instalação de uma feitoria em Macau.
O principal do Colégio das Artes em Coimbra, Diogo de Teive, entrega o
edifício aos jesuítas.
[99]
Lei da prata.
Insurreição dos índios na capitania do Espírito Santo.
Foral da vila de Piratininga, na capitania de S. Vicente, Brasil.
Deixa Goa o 12.º governador da Índia, Francisco Barreto.
Fernão Mendes Pinto regressa a Lisboa, vindo da Índia.
1560 - Alvará para a junção da Casa dos Contos e dos Contos do Reino.
Autorização do papa para o estabelecimento da Inquisição em Goa.
Construção dos fortes de Jafanapatam (Oriente), Sena e Tete
(Moçambique).
Brás Cubas descobre ouro e esmeraldas no sertão de S. Paulo.
Ocupação do litoral brasileiro até ao rio S. Francisco, na sequência de uma
expedição contra os Índios.
Mem de Sá expulsa (temporariamente) os Franceses da baía da
Guanabara.
Paulo Dias de Novais atinge o rio Quanza e Pungo-Andongo.
Alvará mandando cessar o pagamento de juros a cargo da Casa da Índia.
D. Gaspar de Leão Pereira, arcebispo de Goa, viaja para a Índia com os
dois primeiros inquisidores.
Comédia dos Vilhalpandos, de Sá de Miranda.
Atlas, de Fernão Vaz Dourado.
Repertório dos Cinquo Livros das Ordenações, de Duarte Nunes de Leão.
1560-1565 - Datas das duas edições do Itinerário da índia a Portugal por Terra, de
António Tenreiro.
[100]
[101]
1567 - Mem de Sá, trazendo reforços, junta-se a Estácio de Sá, para a derradeira
ofensiva contra os Franceses instalados no Rio de Janeiro.
Morte de Estácio de Sá, ferido em combate.
Mem de Sá transfere a recém-fundada cIdade do Rio de Janeiro para o
morro de S. Januário, por razões de defesa.
Lei proibindo a saída de cristãos-novos para as colónias.
Crónica do Príncipe D. João, o Segundo do Nome, de Damião de Góis.
Proezas da Segunda Távola Redonda, de Jorge Ferreira de Vasconcelos.
Libro de Algebra em Arithmetica y Geometria, de Pedro Nunes.
[102]
[103]
[104]
[105]
[106]
1589 - Auxílio naval dos Ingleses a D. António, prior do Crato, com ataque falhado
a Lisboa.
Arzila é restituída ao sultão Almançor.
Diálogos, de Frei Amador Arrais.
Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso.
Tratado del Consejo y de los Consejeros de los Príncipes (2.ª ed.), de
Bartolomeu Filipe.
[107]
[108]
[109]
c. 1603 - Diários Anónimos da Carreira da índia nos anos de 1595, 1596, 1597,
1600 e 1603.
ANTES DE 1608
Antes de 1611
[110]
(Legenda: Lisboa em 1619, quando do desembarque de Filipe III)
1614 - Perseguição aos jesuítas no Japão, que os leva a abandonar esse reino.
Extinção do Conselho da Índia.
Batalha de Guaxenduba, no Maranhão, entre Portugueses e Franceses.
Edição póstuma de Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto.
Quarta Década da Ásia de João de Barros, por João Baptista Lavanha.
[111]
[112]
1620-1807
1621
[31 de Março] Morre Filipe III. Sucede-lhe o filho, Filipe IV (apenas com 16
anos).
[18 de Abril] «Levantamento» de Filipe IV na Sé de Lisboa.
Gaspar Filipe de Guzman, conde (depois duque) de Olivares, assume às
rédeas do poder que mantém, como ministro poderoso, até 1643. O «olivarismo»
procura instaurar, em Portugal, um modelo «mais activo» de governo que
revolucionasse sob o impulso da coroa, a constituição do reino e o seu viver
habitual.
Surto de fome no reino.
Motim em Barcelos (motivado por questões de sisas).
[114]
1623 - [31 de Janeiro] Carta de lei que estabelece que os funcionários públicos
devem proceder à declaração de bens.
[Março] Cessa o bloqueio de uma armada anglo-holandesa a Goa. (Iniciado
em Dezembro de 1622.)
Repelido o ataque anglo-holandês a Mascate.
Motim anticastelhano em Lisboa. Populares (em especial «moços e
maraos») arremetem contra o «quartel dos castelhanos».
Fome e «preços altos».
Expedição portuguesa pelo rio Ankobra (a partir de Achém), fundação de
um forte em Duma e início da exploração aurífera. Ribeiras do Mondego (novela
pastoril), de Elói de Sá Sotto Mayor. É editada La Jornada del Rei D.Filipe III a
[115]
[116]
1626 - Extensão da Inquisição às colónias africanas.
Preparações militares em Lisboa contra a Inglaterra.
Expulsão dos missionários do Japão (por um período de 15 anos).
Empréstimo contraído junto dos homens de negócios de Lisboa para
socorrer a Índia.
Arte de Música, de António Fernandes.
Campos Elísios, do padre João Nunes Freire.
Novo Descobrimento do Grã Catayo ou Reinos de Tibet, por António de
Andrade.
Discurso de Ia jurídica y verdadera razón de Estado, de Barbosa Homem.
[117]
1630
[Janeiro] Profanação das hóstias sagradas na Igreja de Santa Engrácia.
Motins antijudaicos em Lisboa, Setúbal, Santarém, Torres Novas,
Portalegre, Évora e Coimbra. (O crime de profanação das hóstias é atribuído aos
judeus.)
[Fevereiro] Conquista de Olinda e Recife pelos Holandeses. (Pernambuco
era a capitania com maior número de moradores brancos; Olinda a «capital
açucareira» do Brasil.)
Motim da juventude cristã-velha da Universidade de Coimbra que tenta
expulsar os «colegas» com sangue judaico. De 4 a 9 de Março é grande a
agitação. (Aos estudantes juntam-se rapazes e moços dos escolares.)
[Maio] Carta régia que manda proceder ao confisco dos bens dos «judeus»
que abandonem o reino.
[28 de Junho] Carta régia que reafirma o respeito das leis que impediam o
desempenho de cargos públicos e ofícios da justiça e da fazenda aos «judeus»,
seus familiares e descendentes.
[Julho] Motim em Setúbal (Julho). Reacção dos moradores contra a
«aposentadoria» de um corpo militar. Como razões mais profundas: efeitos da
baixa exploração salineira (provocada pela ausência de mercadores flamengos e
ingleses).
A construção de novos mosteiros passa a depender de autorização régia.
[29 de Outubro] Morre D. Teodósio, 7.º duque de Bragança. D. João (futuro
rei) herda o senhorio da casa ducal.
Ataque inglês a Ceilão. Os Portugueses restabelecem-se sob a chefia do
conde de Linhares.
De Frei António Brandão é publicada a 3.ª parte da Monarquia Lusitana.
[118]
de socorro ao Brasil: Filipe IV oferece 500 000 cruzados da sua fazenda e indulta
os presos (com culpas leves) que queiram embarcar na armada.
Entra em declínio o poderio dos Portugueses no golfo Pérsico e na costa
arábica.
Batalha de Abrolhos (entre os Pernambucanos e os Holandeses).
Olinda é incendiada pelos Holandeses.
Assalto dos Dinamarqueses a Coulão.
Os Árabes e os Cafres massacram os Portugueses em Mombaça.
Flores de España, Excelencias de Portugal, de António de Sousa de
Macedo. (O livro surge, não por acaso, numa fase de agudização de conflitos,
devido à política do conde-duque Olivares.)
(Legenda: Miguel de Vasconcelos: cena da Revolução de 1640)
[119]
1634
[Janeiro] Assinada uma trégua com a Inglaterra.
A duquesa de Mântua, Margarida de Sabóia, é nomeada regente (vice-
rainha) de Portugal. (Chega a Lisboa a 23 de Dezembro.)
Miguel de Vasconcelos, na reorganização do governo de Portugal por
Olivares, é escolhido para escrivão da Fazenda do Reino.
Tumultos populares no Porto.
[Maio] Atentado frustrado (com armas de fogo) contra a vida de Miguel de
Vasconcelos. Mais uma manifestação da oposição portuguesa (em que o ano de
1634 é fértil), contra o «autoritarismo» de Olivares e o aumento da carga fiscal.
[Dezembro] Os Holandeses apoderam-se de Paraíba.
Os Portugueses são expulsos da Etiópia.
O Japão fecha-se aos Portugueses. O xógun proíbe o comércio com
Macau. (O Império Português é privado de uma importante fonte de prata e de um
significativo escoadouro da seda chinesa.)
Malaca Conquistada, por Francisco de Sá de Meneses.
1634-1638
[120]
1636
[Abril] Motim em Chaves quando o provedor de Moncorvo pretende
proceder à imposição de novos tributos. Mais tarde, o provedor de Guimarães é
também expulso da vila.
[Julho] Motim em Vila Real. Trata-se também, provavelmente, de um
movimento «cabeças principais e autores» são eclesiásticos.
[31 de Outubro] Novo regimento do real-d‘água, para obter «cabedais»
para a defesa do Ultramar.
Publicação (póstuma) de Ulisseia ou Lisboa Edificada, de Gabriel Pereira
de Castro.
1637
[Janeiro] Chega ao Recife, o conde João Maurício de Nassau-Siegen, nomeado
para governar a colónia. Vai dar corpo a um Brasil holandês (1637-1644).
[Março] Proibição de conceder «estancos» às «pessoas poderosas».
Medida de Miguel de Vasconcelos que «irrita» a nobreza.
[Junho] Manda proceder-se ao inventário de todas as fazendas pelos
corregedores, constando que era para cobrar o «quinto». (A medida, que levanta
uma enorme inquietação, não teve, todavia, efeito.)
Tentativa de impor em Portugal o imposto do papel selado. Provoca uma
tal reacção (mesmo por parte dos ministros) que a sua execução veio a ser
suspensa.
[Julho-Agosto] Motim de pescadores de Lisboa.
«Alterações de Évora». O ponto máximo das contestações ao real-d‘água e
ao aumento do cabeção das sisas verifica-se em 1637, tendo Évora como
«epicentro». Évora rebela-se em 21 de Agosto. (Em princípios de Dezembro de
1637, a cidade havia já admitido os novos impostos.)
O «fogo» ateia-se ao Algarve que se começa a amotinar antes de 29 de
Setembro. Aqui é sobretudo o campo (o termo) que se manifesta. Entre os
principais centros urbanos atacados pelos camponeses contam-se os de Silves,
Tavira e Faro. Mas há núcleos urbanos que lideram o movimento como acontece
em Aljezur e (talvez) em Lagoa. Os levantamentos algarvios são populares,
«plebeios» e têm um carácter mais violento. (Não significa, contudo, que não
tivessem contado, aqui e ali, com o apoio de elementos do clero e da nobreza.) A
nobreza de Faro, pelo menos a do governo citadino, opôs-se pelas armas (com
outros elementos do poder municipal e outras autoridades) à entrada na cidade
dos amotinados do campo. As pacificações ocorrem, de um modo geral, entre
meados de Dezembro (de 1637) e meados de Janeiro (de 1638). As sentenças
para os «exceptuados» do perdão geral são executadas, com alguns
enforcamentos, em Março.
Os Holandeses apoderam-se da capitania de Sergipe.
Uma armada holandesa (enviada de Pernambuco) toma a Fortaleza de S.
Jorge da Mina.
Início do bloqueio holandês à barra de Goa (que dura até 1644).
O bandeirante Pedro Teixeira explora o Amazonas e alcança o Peru (anos
de 1637 e 1638).
Levantamentos populares
[121]
[122]
pelo simples esgotamento , pois, salvo instrumentalização por outros grupos mais
capazes de arquitectarem um projecto político de curso mais longo, o povo miúdo
não tinha horizontes políticos que excedessem o viver quotidiano.»
António Manuel Hespanha, «A resistência aos poderes», in História de
Portugal (dir. de José Mattoso), vol. IV, pp. 451-452.
«Mas o decénio de 630 é a baixa-mar – estamos nos tempos de
dificuldade. Tempos, portanto, de dificuldades para os produtores.
Por toda a Europa Ocidental estamos em conjuntura de miséria das
massas populares e de motins da arraia-miúda (coube a Joel Serrão o mérito de
integrar as ‗alterações‘ portuguesas neste contexto geral). A imposição fiscal é
que os desencadeia frequentemente. […]
Mas o grande motor da Restauração vão ser as ‗alterações‘ de Évora e do
Algarve, com eco complacente noutros pontos do país. Revoltas da fome – o
preço do trigo sobe em Évora de 1623 a 1637 inclusive […] – e contra a opressão
fiscal a que a crise do Império forçava o Estado.»
Vitorino Magalhães Godinho, «1580 e a Restauração» (Dicionário de
História de Portugal, art: «Restauração») in Ensaios II, Lisboa, 1968, pp. 273-275.
1639
[26 de Janeiro] Carta régia que recruta 6000 soldados de infantaria e 1500
de cavalaria à custa do reino para servirem nas frentes de luta em que a Espanha
está envolvida.
[Abril] O duque de Bragança (D. João) é nomeado general-de-mar-e-terra
de Portugal.
[Junho] Em Almada, onde se desloca, o duque de Bragança é informado
por alguns nobres do plano da «conjura».
[Setembro] No porto de Pangim, os Holandeses queimam alguns dos
melhores barcos portugueses (destinados ao socorro de Malaca).
É pedida à nobreza portuguesa (como também à espanhola) a organização
de «coronelias», ou seja, o recrutamento e sustento de um certo número de
soldados para as guerras da monarquia espanhola.
Constituída uma armada para socorrer Pernambuco.
Decretada no Japão a imediata e permanente cessação de todo o comércio
com Macau.
Comentários dos Lusíadas, de Manuel de Faria e Sousa.
[123]
Da Restauração…
«...Situa-se por alturas de 1620 a mudança radical que tende a apagar os
privilégios do Reino de Portugal e a levá-lo, para além da unidade dinástica, à
unificação institucional ; por conseguinte, os conjurados de 1640 visam o regresso
à forma legítima – o mesmo é dizer, tradicional, anterior a 1580 ou pelo menos
1620 – de Estado e governo [...]. 1640 reenvia-nos desde logo a 1580, sem cuja
compreensão não a poderemos compreender.
Simplesmente, 1580 é muito mais um ponto de chegada do que um ponto
de partida : não será excessivo dizer-se que consagra dinasticamente a viragem
de estrutura de meados do século [...].
Com a interligação económica confluía a penetração cultural [...].
[124]
[125]
A «conjura» de 1640
Mas esta aproximação das camadas politicamente dirigentes (como, nas vésperas
da Restauração, o partido dos ‗populares‘, composto por aristocratas e letrados)
era dificultada pelo facto de estas não poderem, de acordo com os códigos
estereotipados da sociedade moderna, nem desencadear, nem comprometer-se
com tais movimentos [motins da plebe].
À natureza explícita da revolta opõe-se o carácter dissimulado da
resistência contesã. Esta exprime-se de acordo com o modelo de comportamento
da ‗simulação/dissimulação‘ […].
Entre uma coisa e outra estava o modelo da ‗conjuntura‘, como o foi a de
1640. Tratava-se de uma forma de resistência tipicamente aristocrática, herdeira
directa das conjurationes e ligas medievais. Partilhava com a dissimulação o
segredo das intenções, mas, em contrapartida, consumava-se, como a revolta,
num acto de ruptura violenta, embora organizado, dirigido por normas rituais e
capitancado. […] A conjura era um movimento de poucos (em Portugal, os ‘40
conjurados‘), não principalmente porque o segredo não se pudesse manter entre
muitos, mas porque por um lado, se baseava numa rede de laços pessoais
preexistentes e íntimos, e, por outro se formalizava num juramento…»
António Manuel Hespanha, «A resistência aos poderes» in História de
Portugal, (dir. de José Mattoso), vol. IV, pp. 452-453.
[126]
[127]
1643 - [24 de Janeiro] Alvará que restabelece, por três anos, o imposto das
meias-anatas (com o nome de «novos direitos»).
[29 de Janeiro] Lei que revalida as Ordenações Filipinas.
Criação da Junta dos Três Estados (para administrar e supervisionar a
arrecadação de impostos e administrar os arsenais militares).
Criação do Conselho Ultramarino (Decreto de 14 de Julho).
[29 de Novembro] Alvará que cria o cargo de secretário de Estado das
«Mercês e Expediente» para além do único secretário de Estado existente.
Criação da Casa das Rainhas de Portugal.
Desvalorização monetária.
Execução de Francisco de Lucena (secretário de Estado de D. João IV),
acusado de conspirar contra o rei.
Proposta do padre António Vieira solicitar o regresso dos «judeus
mercadores» que andavam pela Europa. (Por haver reconhecido o «miserável
estado do Reino».)
Estreitamento das relações comerciais com as cidades hanseáticas.
Chegada a Haia (onde vai permanecer até 1650) de Francisco de Sousa
Coutinho.
Arte de Reinar, por António Carvalho da Parada. Do mesmo autor:
Justificação dos Portugueses sobre a acção de libertarem seu reino da obediência
de Castela.
Chronicas d‘El-Rei D. João de Gloriosa Memória, o I desse Nome, de
Duarte Nunes de Leão.
[128]
1646-1647 - Missões do padre António Vieira a Paris e Haia. Tenta obter o apoio
de Mazarino para o resgate das terras do Brasil (ocupadas pelos Holandeses);
proposta de casamento de D.Teodósio (herdeiro do trono) com a filha do duque
de Orleães.
Lutas no Brasil contra os Holandeses.
1648 - Cerco de Olivença pelo marquês de Leganés (as tropas castelhanas são
mal sucedidas).
Vieira e Negreiros triunfam na primeira Batalha dos Montes Guararapes.
Derrota do general holandês Von Schoppe, que pretendia liquidar a insurreição
dos Pernambucanos. Os colonos contam com a colaboração dos «pretos» e dos
Índios.
Salvador Correia de Sá (e Benevides) reconquista Luanda e expulsa os
Holandeses de Angola. (A expedição portuguesa sai do Brasil a 12 de Maio.) A
Holanda perde o mercado de escravos, o que contribui para dificultar o domínio
do Nordeste brasileiro.
[Setembro] Após ter libertado Angola, Salvador Correia de Sá reconquista
S. Tomé.
[129]
1649 - [19 de Fevereiro] Segunda Batalha dos Montes Guararapes com derrota
dos Holandeses, vencidos pelo «exército» de Francisco Barreto.
[10 de Março] Alvará que institui a Companhia Geral de Comércio para o
Brasil. Recebe o monopólio das exportações de farinha, bacalhau, azeite e vinho
e das importações de pau-brasil. É incumbida, ainda, de «comboiar» os navio
Smercantes entre o Brasil e Portugal.
[30 de Novembro] Refugiam-se no Tejo os príncipes carlistas ingleses
Rubert e Maurício. As simpatias portuguesas com
[130]
1652
[19 de Novembro] Decreto que diz que os comendadores das Ordens e os
donatários da coroa passam a pagar a dupla décima, ou o «quinto».
Existem em Portugal 448 conventos (337 do sexo masculino e 111 do
feminino).
Reaparece a Relação da Baía (havia sido extinta em 1626).
A Praia torna-se oficialmente a capital de Cabo Verde (acarretando o
declínio da Ribeira Grande).
Calaturé (fortaleza de Ceilão) é conquistada pelos Holandeses.
A diplomacia portuguesa tenta conseguir a paz com o governo de
Cromwell. D. João de Rodrigues e Sá desloca-se a Londres com ordens para
assinar os artigos preliminares do tratado de paz.
Arte de Furtar (atribuída ao padre António Vieira). Autoria provável do
jesuíta Manuel da Costa. Obra de grande valor literário e informativo (e de
penetrante crítica social) sobre o período da Restauração. Fraudulentamente
datada de «Amsterdão…1652». (Impressa, provavelmente, em Lisboa, no ano de
1743.)
ludex Perfectus, de Tomé de Velasco.
1653
[15 de Maio] Morte do príncipe herdeiro D. Teodósio. O filho segundo de D.
João, D. Afonso (futuro herdeiro do trono) sofre de graves perturbações mentais.
[Outubro] Cortes de Lisboa para jurar D. Afonso como sucessor e tratar da
«defesa e conservação» do reino.
Recontro de Arronches.
Reconquista de Pernambuco aos Holandeses, com a capitulação de Van
Loo. O Recife não resiste ao cerco da armada de Pedro Jacques de Magalhães.
Estatutos da Universidade de Coimbra.
1654
[Janeiro] Tratado de capitulação dos Holandeses residentes no Brasil.
Marca a sua expulsão e a reconstituição do Brasil português.
[10 de Julho] Assinatura do Tratado de Westminster de paz e aliança entre
Portugal e a Inglaterra. Abre o Império português ao livre comércio inglês e
concede outros privilégios aos súbditos britânicos residentes em Portugal. Por
força das circunstâncias, Portugal tem de inclinar-se perante este diktat e é
arrastado, política e economicamente, para o âmbito de influência da Grã-
Bretanha. (D. João IV vai protelar a ratificação.)
Prosseguimento das Cortes de Lisboa.
Constituição da Casa do Infantado. Vasto património senhorial (criado em
1654-55) para sustento dos infantes secundogénitos. Começa por beneficiar o
infante D. Pedro.
[131]
1655
[7 de Setembro] Tratado de aliança e amizade entre D. João IV e Luís XIV.
[Novembro] Chega a Roma Francisco de Sousa Coutinho. Não lhe é
reconhecido o título de embaixador.
Surto de fome no reino.
Publicação (póstuma) de Notícias de Portugal, por Manuel Severim de
Faria.
Obras Métricas, de D. Francisco Manuel de Melo. Edição integral das
produções líricas (Lião).
1656
[Maio] Fundação da Companhia de Cacheu e Rios, para a Guiné.
Destinada ao tráfego de escravos.
[9 de Junho] Ratificação do tratado pelo governo português (a 9 de Junho).
[8 de Novembro] Morte de D. João IV.
[15 de Novembro] Juramento e aclamação do novo rei D. Afonso que
apenas conta 13 anos. D. Luísa de Gusmão assume a regência.
Ultimato do governo de Cromwell: a esquadra de Blake e Montagu entra no
Tejo para exigir a ratificação do tratado de 1654.
Paz com a rainha Ginga do Congo. (A «soberana» converte-se ao
cristianismo).
História Seráfica da Ordem dos Frades Menores (1.ª parte), por Frei
Manuel da Esperança; (2ª parte: 1666).
1657
[Abril] Olivença é tomada pelos exércitos espanhóis.
Estado de guerra entre Portugal e a Holanda. Os Holandeses mantêm o
Tejo bloqueado, durante três meses, com 40 navios.
D. Afonso atinge 14 anos. (A regência deveria terminar.)
Criação da Junta do Tabaco.
Hospital das Letras, de D. Francisco Manuel de Melo.
1658
[OUTUBRO-DEZEMBRO] Elvas é cercada pelas tropas castelhanas.
Cerco (fracassado) de Badajoz.
Abolidos os «estanques» da Companhia de Comércio do Brasil (vinhos,
farinhas, te e bacalhau).
Termo do domínio português em Ceilão, com a conquista das últimas
praças pelos Holandeses.
Ataque paulista às missões do Paraguai.
1659
[15 de Março] Regimento dos linhos.
Manifestações de fome.
Reposição do «estanco» régio do tabaco.
Nas ilhas açorianas dão-se violentas erupções vulcânicas.
A Fazenda real é autorizada a servir-se dos bens dos penitenciados pela
Inquisição (contrariamente às bases da Companhia do Comércio do Brasil).
Batalha das Linhas de Elvas. Em meados de Janeiro, as tropas
portuguesas, comandadas por D. Sancho Manuel e o conde de Cantanhede,
conseguem, nos campos de Elvas, a 1.ª grande vitória da Restauração.
Portugal não «entra» na Paz dos Pirenéus (assinada entre a Espanha e a
França).
Rompimento das relações diplomáticas com a Suécia (que reconhecera
Filipe IV como rei de Portugal).
História Geral da Ethiopia [...], de Manuel de Almeida.
Luís de Abreu e Melo: Avisos para o Paço.
1660
[22 de Junho] Morre o embaixador Francisco de Sousa Coutinho,
considerado o primeiro diplomata de carreira português.
[24 de Dezembro] Regimento que institui o imposto do papel selado. O
imposto é levantado com o fim da guerra.
[132]
(Legenda. D. Luísa de Gusmão (Lisboa, Museu Nacional dos Coches.)
1661
[Abril-Maio] Motim no Porto contra o imposto do papel selado. Despoletado
pelos procuradores dos mesteres. O povo comete os costumados desacatos
contra as autoridades.
[23 de Junho] Tratado de paz e aliança entre Carlos II e Afonso VI.
Acordado o casamento de D. Catarina (irmã de D. Afonso VI) com o rei inglês.
Portugal deve pagar 2 milhões de cruzados (como dote da princesa) e ceder a
posse de Tânger e do porto e ilha de Bombaim. Ratifica os tratados anteriores,
concedendo grandes facilidades aos Ingleses. A Inglaterra garante apoio
internacional e a vinda para Portugal de mercenários ingleses.
Ano «estéril», responsável pela existência de fome em várias zonas do
reino.
«Paz» luso-holandesa. Os Holandeses conservam as conquistas feitas no
Oriente e gozam de liberdade de comércio em todo o Império e dos mesmos
privilégios dos Ingleses. Tratado desastroso para Portugal: como preço de
reconhecer a sua evicção (irremediável) do Brasil, de Angola e de S. Tomé, a
Holanda recebe 4 milhões de cruzados (pagáveis em 16 anos).
Rebeliões no Pará e Maranhão que visam a expulsão dos jesuítas.
1662
[30 de Maio] Casamento de D. Catarina com Carlos II.
Chegada a Portugal de 2700 ingleses (2000 de infantaria e 700 de
cavalaria). Destacados para as zonas mais nevrálgicas do Alentejo.
[16 de Junho] Prisão de António Conti, valido de D. Afonso VI.
[26 de Junho] Golpe de Estado palaciano que põe termo à regência de
Luísa de Gusmão. O governo é entregue a D. Afonso VI. D. Luís de Vasconcelos
e Sousa (3.º conde de Castelo Melhor) parece ter sido o «cérebro» da manobra
que afasta a rainha da vida pública. (É apoiado por um grupo de fidalgos mais
inovadores.)
[15 de Novembro] Decreto que incorpora no Estado a Companhia de
Comércio do Brasil passando a constituir uma «Junta de Comércio» (cuja função
essencial era a de organizar comboios de barcos para o Brasil).
Entrega de Tânger à Inglaterra.
Nomeação de Castelo Melhor como gentil-homem da câmara do rei.
Segue-se a nomeação como «escrivão da puridade» (por Carta de 21 de Julho).
Durante a sua «governação» vão travar-se as campanhas mais decisivas da
Guerra da Restauração. A sua actuação corresponde a mais uma tentativa
(depois da do conde-duque de Olivares) de instaurar em Portugal um modelo
«mais activo» de governo.
António de Sousa de Macedo é escolhido para secretário de Estado.
[133]
1663
[Janeiro] Inicia-se a publicação do periódico Mercúrio Português.
Destinado, em especial às «novas» da guerra.
[22 de Maio] Évora capitula.
[Julho] Batalha do Ameixial (perto de Estremoz. As tropas portuguesas,
comandadas por D. Sancho Manuel e Pedro Jacques de Magalhães, alcançam a
mais decisiva vitória da Restauração e recuperam Évora.
[21 de Setembro] Regimento da Junta do Comércio.
D. Luísa de Gusmão retira-se da Corte.
Conquista de Cochim e de Cananor pelos Holandeses.
Portugal ratifica o Tratado com a Holanda (esquiva-se à sua aplicação até
ao novo Tratado de 1669).
Academia dos Singulares (realiza sessões até 1665).
Europa Portuguesa (ed. póstuma), de Manuel de Faria e Sousa.
(Legenda: D. Afonso VI (Lisboa, Museu Nacional dos Coches).)
1664
Batalha de Castelo Rodrigo. (Nova vitória das armas portuguesas.)
Publicada, em Roma, a 1 Parte das Cartas Familiares, de D. Francisco
Manuel de Melo.
1665
[18 de Janeiro] Auto de entrega e posse da ilha de Bombaim aos Ingleses.
[17 de Julho] Batalha de Montes Claros (perto de Estremoz). A vitória
portuguesa é saudada como um êxito nacional. (Última grande batalha das
campanhas da Restauração.)
[17 de Setembro] Morte de Filipe IV.
Batalha de Ambuíla (com vitória sobre o rei do Congo).
Relação do Novo Caminho que fez por Terra e Mar da Índia para Portugal,
do padre Manuel Godinho.
Fidalgo Aprendiz (edição autónoma), de D. Francisco Manuel de Melo.
1666
[24 de Agosto] Morre D. Francisco Manuel de Melo.
Morte de D. Luísa de Gusmão.
Casamento de Afonso VI com Maria Francisca Isabel de Sabóia,
Mademoiselle d‘Aumale.
Asia Portuguesa (1.º tomo), de Manuel de Faria e Sousa; (2.º tomo, 1674;
3.º tomo, 1675).
1667
[31 de Março] Assinatura do tratado de aliança ofensiva e defensiva (por 10
anos),
[134]
1668
[5 de Janeiro] Tratado de Madrid que firma a paz com a Espanha.
(Ratificado em Lisboa a 13 de Fevereiro.) Assinado em nome de D. Afonso VI
(embora o governo já estivesse nas mãos de D. Pedro). Decisiva a mediação de
Carlos II de Inglaterra que fica como garante da paz. Cessação imediata das
hostilidades e paz perpétua; reconhecida a legitimidade do monarca português;
confirmada a cedência da praça de Ceuta à Espanha.
[24 de Março] Sentença de nulidade do matrimónio de D. Afonso VI com
Maria Francisca de Sabóia.
[8 de Maio] Decreto instituindo que os nobres portugueses que
permanecessem em Espanha perderiam as fazendas que eram «constituídas»
por bens da coroa.
Casamento do regente D. Pedro com Maria Francisca de Sabóia.
Cortes de Lisboa. D. Pedro é jurado príncipe herdeiro.
Suspensão das décimas e, provavelmente, do «quinto» (a que eram
obrigados donatários e comendadores).
Introduzida em Portugal a Congregação do Oratório de S. Filipe Néri. (Vai
desempenhar um importante papel no campo pedagógico.)
Publicação (em Paris) de Aristipo ou o Homem da Corte, de Duarte Ribeiro
de Macedo.
Duarte Ribeiro de Macedo (diplomata em Paris) inicia a correspondência
com o governo de Lisboa, fornecendo informações sobre as realizações do
«colbertismo».
1669
[1de Janeiro] Breve «Dilectum Filium». O papa compromete-se a resolver o
[135]
1670
[8 de Janeiro] Alvará que consagra os procedimentos eleitorais municipais.
Bula de Clemente XI que reconhece a restauração da Monarquia
portuguesa.
Culminar da crise dos engenhos do açúcar no Brasil.
Nascimento e Geneologia do Conde D. Henrique, Pai de D. Afonso I, Rei
de Portugal, de Duarte Ribeiro de Macedo.
Arte de Galanteria, de D. Francisco de Portugal.
Castrioto Lusitano, de Frei Rafael de Jesus.
1672
[19 de Setembro] Alteração do regimento da Junta do Comércio que
continua a ter como principal tarefa a organização dos comboios marítimos.
[17 de Outubro] Pragmática anti -sumptuária.
Perseguição, pela Inquisição, aos cristãos-novos de Lisboa, na sequência
do sacrilégio da Igreja de Odivelas.
Proposta de fundação, pelos cristãos-novos, de uma Companhia de
Comércio para a índia.
O governador-geral do Brasil concede poderes discricionários e o título de
«governador da Terra das Esmeraldas» a Fernão Dias Pais Leme.
Publica-se a 6.ª parte da Monarquia Lusitana, de Frei Francisco Brandão.
1674 - Cortes de Lisboa. São dissolvidas quando tentam opinar sobre despesas
públicas.
D. Afonso VI é transferido dos Açores e encarcerado no Palácio de Sintra.
Os inquisidores são privados de exercício.
[136]
1674-1681
Fernão Dias Pais Leme, com o filho e o genro Manuel da Borba Gato, exploram o
território de Sabarábuçu (Minas Gerais) à procura de pedras preciosas.
1675
[10 de Abril] Novo regimento das minas de estanho.
D. Luís de Meneses, 3.º conde da Ericeira, é nomeado vedor da Fazenda.
(Vai ser um dos principais responsáveis, no período de crise económica, pela
organização e relançamento da indústria portuguesa.)
Intensificação dos investimentos industriais manufactureiros (de 1675 a
1680).
Organização de uma armada para combater os corsários no Norte de
Angola.
Eva e Ave, ou Maria Triunfante [...], de António de Sousa de Macedo.
Publicação de Nova Lusitânia, História da Guerra Brasílica, por Francisco
de Brito Freire.
Discurso sobre a Introdução das Artes no Reino, de Duarte Ribeiro de
Macedo. Obra escrita em Paris onde o autor era embaixador. (Defende soluções
«colbertistas».) Corre em cópias manuscritas. (É editada em 1817.)
1678 - D. Luís de Meneses manda vir artífices (de Itália) para aperfeiçoarem o
fabrico da seda.
Prossegue o incremento da plantação de amoreiras. (Os oficiais de justiça
deviam mandá-las plantar nas zonas da sua jurisdição.)
O papa Inocêncio XI suspende o Tribunal da Inquisição.
[137]
1680
[4 de Janeiro] Alvará que cria a Companhia da Cabo Verde e de Cacheu
Destinada ao tráfego de escravos.
Incremento da exportação do vinho do Porto para Inglaterra.
Início da construção das Fortaleza de S. João Baptista de Ajudá (no
Daomé).
Fundação da colónia do Sacramento.
Obtenção do monopólio do comércio com Cantão.
Europa Portuguesa, do padre Manuel Faria e Sousa.
Morre Duarte Ribeiro de Macedo.
1681
[7 de Maio] Tratado provisório entre o regente D. Pedro e Carlos II de
Espanha: é concedida a Portugal a conservação da colónia do Sacramento.
[Agosto] É restabelecido o Santo Ofício.
Os teatinos abrem um convento em Portugal.
África Portuguesa, de Manuel de Faria e Sousa.
1683
[12 de Agosto] Morte de D. Afonso VI.
Início do reinado de D. Pedro II.
Morte da rainha D. Maria Francisca Isabel de Sabóia.
Invasão de Goa pelo chefe marata Sambagi.
Concessão papal, ao Santo Ofício, de jurisdição plena em matéria
espiritual.
Monarquia Lusitana (7.ª parte), por Frei Rafael de Jesus.
Faíscas de Amor Divino, de Frei António das Chagas.
[138]
(Legenda: Padre Manuel Bernardes.)
1690
[26 de Maio] Morte de D. Luís de Meneses, 3.º conde da Ericeira, que se
suicida.
A sede da Companhia de Cacheu e Cabo Verde instala-se na ilha do
Príncipe. (Principal objectivo: fornecer escravos às índias Espanholas.)
Nova «pragmática».
Sermões Genuínos, de Frei António das Chagas.
[139]
1692
[11 de Junho] Novo regimento dado às ferrarias de Tomar e Figueiró.
Fundação da capitania de Bissau.
Introduzida a cátedra de Ciências Matemáticas no quadro das disciplinas
da Universidade de Évora.
Abecedario real, e regia instrução de prIncipes lusitanos, por Frei João dos
Prazeres.
1693
[20 de Janeiro] Chega a Lisboa a rainha D. Catarina (viúva de Carlos II de
Inglaterra).
[4 de Abril] Breve papal que permite a veneração em imagem da princesa
Santa Joana (filha de D. Afonso V).
Início de um período de expansão económica (que perdura até 1714).
Melhoria do aparelho sanitário com o Regimento que se há de observar
sucedendo haver peste [...]
Descoberta provável do tão desejado ouro nos sertões de Casa da Casca
(Minas Gerais), pelo paulista António Rodrigues Arzão.
Política predicável, de Frei Manuel dos Anjos (obra escrita cerca de 1650).
(Legenda: Santa Joana (Aveiro, Antigo Convento de Jesus).)
1693-1695
1697-1698
[140]
Estados (no Antigo Regime) para jurarem herdeiro do trono D. João (filho de D.
Pedro II). A historiografia tradicional, ao considerar-se estar-se já na fase
«clássica do absolutismo», vê a decadência das Cortes como um indicador seguro
do declínio da capacidade de comunicação dos poderes da periferia com o centro.
Conclusão que pode ser vista como precipitada. (Ver Nuno Gonçalo Monteiro,
«Os Concelhos e as Comunidades» in História de Portugal – dir. de José Mattoso
-, vol. IV, p. 310.)
1698
[28 de Março] Decreto que estabelece uma «décima reduzida», os 4,5 por
cento cobrados em termos semelhantes.
Conquista de Mombaça pelos árabes de Omã.
1699
[10 de Junho] Extinção da «Companhia do Reino, do Oriente e de
Moçambique» pelos próprios accionistas.
Morte da segunda mulher de D. Pedro (Maria Sofia Isabel de Neuburgo).
Nasce Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro marquês de Pombal).
Nova «pragmática».
Liquidação de contencioso entre a França e Portugal, relativo às
possessões a norte do Amazonas.
Lisboa dá as «boas-vindas» a 514 kg de ouro (enviados directamente do
Rio).
Viriato Trágico (edição póstuma), de Brás Garcia de Mascarenhas.
[141]
Do Tratado de Methuen…
Os «panos de lã e mais fábricas de lanifícios de Inglaterra» eram
livremente admitidos, «para sempre», em Portugal; os vinhos portugueses com
destino à Inglaterra pagariam menos um terço dos direitos «para igual quantidade
ou medida de vinho de França». No que respeita a Portugal, o tratado só foi
tornado exequível a partir de 19/4/1704, quando foram revogados, para os
lanifícios ingleses, as disposições da recente pragmática. Aquela mesma regalia é
aplicada, a partir de 1705, aos panos holandeses, e, pouco depois, é também
aplicada aos panos franceses. Os Ingleses só vendiam mais por mérito próprio.
É necessário ter em conta o «interesse inglês pelo mercado português,
quer por motivo da exportação dos seus lanifícios, quer por motivo – e julgamos
que sobretudo por isso – do afluxo a Portugal do ouro brasileiro. O vinho
português começou por construir um bom frete de retorno para os barcos ingleses
que frequentavam Portugal […]. Ganhando na venda dos seus tecidos, ganhavam
com a carga de regresso».
O aumento de exportação de vinho do Porto, depois de Methuen, «não foi
nem brusco, nem espectacular. Integra-se no crescimento geral do comércio
inglês em Portugal».
«Desde 1677 (relacionado com a baixa da venda do açúcar e do seu preço)
que se discutia em Inglaterra a necessidade de fornecer ao comércio português
alguma reciprocidade nos meios de pagamentos […]. A compensação necessária
acabou por se fixar no vinho: os Ingleses tinham, em qualquer caso, de o adquirir
no estrangeiro; era natural que o fizessem onde mais lhes convinha. Estes
factores têm muito peso para explicar a subida do vinho do Porto no mercado
inglês, de que o Tratado de Methuen é uma consequência, muito mais que uma
causa […].»
«A áspera presença da indústria inglesa já existia efectiva e
constantemente em Portugal, com a solene garantia de tratados e jogando com a
necessidade política portuguesa do apoio externo e de mercados, que tanto
pesaram na elaboração dos instrumentos diplomáticos de 1642, 1654 e 1661.»
Na opinião deste autor, o Tratado de Methuen pouco terá afectado a
indústria local (em especial a do interior), defendida, pelas suas características, da
concorrência estrangeira. «É fácil demosntrar que, tanto depois como antes do
Tratado de Methuen, continuou a existir indústria de lanifícios em Portugal, com
amplo e seguro consumo.»
A hipótese de que o tratado influenciou desfavoravelmente a indústria de
luxo, embora válida, «parece desviar o problema para um campo secundário». O
atraso da indústria manufactureira estaria correlacionado com a chegada do ouro
brasileiro (quatro anos antes do Tratado). «Mas quando em Portugal aparece a
forma mais prestigiada de pagamento […], o ouro, toda a política manufactureira
perdeu muito da sua razão de ser, que era a economia de meios de pagamento.»
(Ver Jorge Borges de Macedo, Methuen, Tratado de 1703, in Dicionário de
História de Portugal.).
[142]
(Legenda: D. João V (Lisboa, Arquivo Nacional da Torre do Tombo).)
1705
[8 de Maio] Rendição de Valência de Alcântara. Capitulação da Praça de
Albuquerque às tropas portuguesas (comandadas pelo conde de Galveias).
O marquês das Minas retoma Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira,
Castelo Branco e Monsanto.
[143]
1707
[25 de Abril] Batalha de Almansa (Espanha). As forças do arquiduque
Carlos, que incluem os contingentes portugueses, sofrem pesada derrota.
[26 de Maio] Capitulação de Serpa, às forças do duque de Ossuna.
[15 de Novembro] Reorganização do exército por alvará.
Motins em Lisboa.
Guerra dos «Emboabas», em Minas Gerais Brasil. (Prolonga-se até 1710.)
Emboabas, nome pejorativo dado pelos Paulistas aos forasteiros (em especial aos
Portugueses). Ferozes lutas opõem os Paulistas às tropas oficiais e aos
«forasteiros». Os Emboabas vencem os seus adversários (1709). A animosidade
estende-se até à constituição em Minas Gerais de um governo próprio,
independente do do Rio de Janeiro. (Decreto de 09/11/1709: criação da capitania
de S. Paulo e Minas.)
Anales Societas Jesu in Lusitania, do padre António Franco.
1708
[6 de Maio] Lei que reitera antigas pragmáticas contra o luxo.
[9 de Julho] Viena de Áustria: casamento, por procuração, entre D. João V
e Dona Maria Ana.
[20 de Dezembro] Regimento das ordenanças militares.
[Dezembro] Fome generalizada a todo o reino.
[Dezembro] Começa a entrar no Tejo a frota do Brasil com uma carga
avaliada em 54 milhões de cruzados (ouro, diamantes e outros géneros).
É arrasada a fortaleza de Bissau e extinta a capitania.
1709
[4 de Abril] É nomeado, pela última vez, um patriarca para a Etiópia. (Não
chegará a exercer o seu múnus.)
[20 de Abril] Bartolomeu de Gusmão ensaia, no Terreiro do Paço, o seu
aeróstato. Outras experiências com máquinas voadoras: 8 de Agosto e 3 de
Outubro.
Necessária autorização régia para fundar novos conventos no Brasil
(Determinação de Abril).
[7 de Maio] Batalha do Caia: tropas portuguesas são derrotadas nas
cercanias de Badajoz.
[25 de Novembro] Decreto que proíbe a emigração para o Brasil.
[144]
1710
[Fevereiro] Combate entre tropas espanholas e a guarnição de Castelo de
Vide.
[Março] Grandes atrasos nos soldos militares, por dependerem das rendas
do contrato do tabaco que havia falido.
[8 de Junho] A praça de Miranda do Douro cai em poder das forças
espanholas.
[Setembro] Ataque a vários pontos do litoral brasileiro por uma esquadra
francesa comandada por Duclerc (corsário). O Rio de Janeiro é cercado.
[17 de Setembro] Morre o padre Manuel Bernardes.
[20 de Setembro] Proibida, por alvará, a entrada no reino de vinhos,
aguardentes cervejas e outras bebidas.
[10 de Dezembro] Batalha de Vila Viçosa. Mais um desastre para Portugal.
(As tropas de Filipe V derrotam as forças do arquiduque Carlos.)
Guerras dos «Mascates». Guerra civil em Pernambuco (que aí se prolonga
até 1711).
MASCATES
Designação que os brasileiros de Olinda davam aos portugueses
negociantes que habitavam o Recife. Rivalidades entre Olinda e Recife (elevada a
cidade em 1710) e hostilidades entre «lealistas» (que defendem a autoridade real)
e «separatistas» levam a violentos conflitos. Em 1711 chega um novo governador,
Félix de Mendonça. A ordem é restabelecida e o Recife conserva os seus
privilégios. Concede-se, no entanto, que o capitão-general resida, durante 6
meses no anos, em Olinda.
Criação de uma Companhia de Comércio com Macau.
O Porto é dividido em 3 bairros: Santa Catarina, Santo Ovídio e Cedofeita.
Oriente Conquistado, do padre Francisco de Sousa.
1711
[8 de Fevereiro] Determina-se por alvará que só integrados em frotas
comerciais, os navios estrangeiros podem comerciar nos portos do Brasil.
[15 de Março] Recuperada a praça de Miranda do Douro (ocupada pelos
Espanhóis).
[Junho] Cerco de Elvas pelas forças espanholas do marquês de Bay.
[Julho] S. Paulo (Brasil) ascende a cidade.
[Agosto] Uma força naval francesa comandada pelo corsário Duguay Trouin
força a barra do Rio de Janeiro A cidade capitula em Outubro.
[Setembro-Outubro] Cerco a Campo Maior, pelas forças espanholas do
marquês de Bay. (A praça não é ocupada.)
[Setembro] Corsários franceses tomam a ilha das Cobras, junto ao Rio de
Janeiro.
1712
[Fevereiro] Os procuradores dos mesteres apresentam, à Câmara de
Lisboa, um quadro negro da situação económica e financeira do país.
[28 de Março] Decreto que proíbe o envio de degredados para o Brasil.
[Outubro] Começa a chegar ao Tejo, a frota do Brasil (com uma carga
estimada no valor de 50 milhões de cruzados).
[27 de Novembro] Portugal assina, no Congresso de Utreque, um armistício
com a França e a Espanha: suspensão de armas (por 4 meses) entre D. João V e
os reis Luís XIV e Filipe V.
Saque da ilha de Santiago (em Cabo Verde), por uma armada francesa.
Provisão de D. João V (dirigida ao reitor da Universidade de Coimbra),
proibindo que se introduzam formas novas de dar
[145]
1713
[16 de Março] Legislação que reitera a proibição do curso de moeda
cerceada.
[11 de Abril] Assinatura, no Congresso de Utreque, do Tratado de Paz e
Amizade, entre D. João V e Luís XIV. (Ratificado em 18/04 e 09/05.)
[24 de Junho] Regimento dos Ministros e Oficiais da Justiça e da Fazenda.
[24 de Junho] Alvará que introduz algumas alterações no funcionamento do
Desembargo do Paço.
1714
[26 de Março] Reatam-se as relações diplomáticas com a França.
[6 de Junho] Nasce o infante D. José (futuro rei), filho de D. João V e de
Dona Maria Ana.
Crise comercial ligada à economia brasileira.
1715
[Janeiro] Breve do papa a D. João V, solicitando socorro contra os Turcos.
Os navios portugueses (que saem de Lisboa a 5 de Julho) não chegam a tempo
de se incorporarem na armada papal.
[6 de Fevereiro] Tratado de paz e amizade entre D. João V e Filipe V de
Espanha, assinado em Utreque. Garantido por Jorge I de Inglaterra. (Ratificado
em Março.) A única vantagem consistiu na entrega a Portugal do território e
colónia do Sacramento. O tratado de Utreque põe termo à Guerra da Sucessão de
Espanha. Filipe V é rei de Espanha; os tratados secretos e o oficial muito pouco
deixaram a Portugal.
[10 de Agosto] Inicia-se a publicação da chamada Gazeta de Lisboa:
Historia Annual Chronologica, e Política do Mundo e Especialmente da Europa.
(Publicação semanal Termina em 1741.)
[18 de Agosto] Faz a sua entrada em Paris a magnificente embaixada do
conde da Ribeira Grande.
[20 de Agosto] Reforma do exército, com o objectivo de reduzir alguns dos
efectivos.
[25 de Novembro] Carta régia: da décima volta-se aos 4,5 por cento.
Cresce bruscamente, após 1715, a exportação de vinhos para Inglaterra.
José Freire de Monterroio Mascarenhas: Relação dos Progressos das
Armas na índia.
Publicação do Tratado Analytico e Apologetico, de Manuel Rodrigues
Leitão (escrito nos meados do século XVII).
1716
[6 de Janeiro] O papa solicita novamente socorros navais contra os Turcos.
A armada portuguesa regressa, uma vez mais, a Lisboa, sem participar na luta.
[Novembro] D. João V obtém do papa a criação do patriarcado de Lisboa.
Bula In suprema apostolatus solio, de Clemente XI. Insere-se numa política de
prestígio da coroa, procurando colocar as relações entre Portugal e a Santa Sé ao
nível das de outras grandes potências. (Alguns dos incidentes diplomáticos do
período joanino,
[146]
1717
[15 de Janeiro] Divisão de Lisboa em duas circunscrições administrativas:
ocidental e oriental.
[Fevereiro] D. João V nomeia Alexandre de Gusmão seu agente
diplomático em França.
[Fevereiro] O monarca concede ao patriarca de Lisboa as mesmas
prerrogativas que eram conferidas, no reino, aos cardeais da Santa Sé.
[Abril] Volta a sair de Lisboa uma armada para auxiliar as forças papais
contra o turco. O encontro naval vai dar-se no cabo de Matapão (19/07). Os
Turcos são derrotados.
[15 de Julho] Nasce o infante D. Pedro, futuro marido de D. Maria I.
[Julho] É permitida por decreto a exportação de azeite, que havia sido
suspensa por exigência de abastecimento do mercado interno.
[4 de Outubro] Grande incêndio em Lisboa (junto à Rua de Cima).
[Dezembro] Primeira reunião, no palácio do conde da Ericeira (em Lisboa)
da futura Academia Real da História Portuguesa. (Alguns autores identificam este
acto com a fundação da Academia.)
Abertura da manufactura de papel da Lousã.
História Insulana, do padre António Cordeiro.
Arte de Navegar, de Manuel Pimentel.
Lançamento da 1.ª pedra da Biblioteca da Universidade de Coimbra.
1718
[6 de Janeiro] Publica-se a Gazeta de Lisboa Ocidental.
[9 de Março] Carta régia que permite a escravização dos Índios
antropófagos do Brasil.
«Quádrupla Aliança». Portugal vai manter-se neutral.
[Novembro] Lavram-se os pequenos cruzados ou cruzadinhos.
Nova Arte de Conceitos, de Francisco Leitão Ferreira. (A publicação vai até
1721.)
Pedro Supico de Morais: Colecção Política de Vários Apotegmas.
História do Futuro e Livro Antiprimeiro da História do Futuro (edições
póstumas), do padre António Vieira.
1719
[8 de Fevereiro] Estabelecidas, no Brasil, por decreto, as Casas de
Fundição e Moeda.
[4 de Março] O papa cria o bispado do Grão-Pará.
[6 de Março] Violento tremor de terra no Algarve e em Lisboa.
[10 de Março] Volta a proibir-se, por
[147]
1720
[1 de Fevereiro] Extinção definitiva da Companhia Geral do Comércio do
Brasil.
[20 de Fevereiro] Por decreto o porto brasileiro de Santos é declarado
aberto.
[Fevereiro] Criação da capitania de Minas Gerais, que se separa de S.
Paulo.
[14 de Março] Lei que manda confiscar todo o ouro proveniente do Brasil,
que não tivesse sido registado.
Proibida a emigração, sem passaporte, para o Brasil (em virtude da
descoberta de minas auríferas). Nova intervenção da coroa que limita a
emigração, com o intuito de estancar a despovoação do reino. (A emigração
andaria pelas 8 a 10 mil saídas anuais.)
[Março] Início da cunhagem do dobrão em ouro (no valor de 24 000 réis) e
do meio-dobrão.
[23 de Julho] Data aprazada para o início da aplicação do imposto dos
quintos, sobre a produção mineira do Brasil.
[12 de Setembro] Alexandre de Gusmão parte para Roma, com a
incumbência de obter o chapéu cardinalício para o núncio, Vicente Bichio (como
acontecia com os seus homólogos em Paris, Viena e Madrid).
[16 de Setembro] Alvará que isenta de direitos a exportação de açúcar.
[20 de Setembro] Breve de Clemente XI que concede ao patriarca de
Lisboa, pro tempore, o poder de sagrar e dar insígnias aos monarcas
portugueses.
[Outubro] No Brasil é restaurada a cobrança dos quintos por avença.
Medidas preventivas, no Algarve, contra a cólera (que alastra em Marselha
e no Sul de Espanha).
Início de um surto manufactureiro (inter-médio, pela dimensão, no contexto
do século XVIII) que se prolonga até 1740.
Devido à oposição francesa à participação de Portugal na Paz de Cambrai,
dá-se um arrefecimento nas relações diplomáticas com a França. As duas nações
ficam ao nível de simples enviados. (O embaixador Mornay deixa Lisboa e o
conde de Ribeira Grande deixa Paris.)
Criação, em Lisboa, da Academia dos Retóricos.
[8 de Dezembro] Decreto que cria a Academia Real da História Portuguesa.
Academia destinada a recriar a História de Portugal, eclesiástica e civil (de um
ponto de vista erudito e monumental). D. Manuel Caetano de Sousa foi o principal
inspirador e o primeiro presidente.
[148]
1721
[14 de Janeiro] Aprovação régia dos estatutos da Academia Real da
História Portuguesa.
[19 de Março] Entrada no porto de Setúbal de mais de 40 embarcações
holandesas para carregar sal.
[27 de Março] Proibido, por alvará, o comércio particular aos funcionários
superiores ultramarinos.
[30 de Maio] Primeira sessão da Academia dos Laureados, em Santarém.
[17 de Setembro] Insubordinação das religiosas do Convento das Mónicas
(dirigem-se, de cruz alçada, ao Terreiro do Paço, clamando terem fome).
Navios estrangeiros são autorizados a comerciar em Cabo Verde.
Aliança anglo-luso relativa à Índia.
Reflexões sobre o estudo Académico para a Academia Real da História
Portuguesa, pelo 4.º conde da Ericeira.
Frei Manuel Guilherme: Escada Mística de Jacob para Subir ao Céu da
Perfeição.
Duarte Ribeiro de Macedo: Discursos Políticos e Obras Métricas (ed.
póstuma).
Regras da Língua Portuguesa, Espelho da Língua Latina, por D. Jerónimo
Contador de Argote.
Apólogos Dialogais (ed. póstuma), de D. Francisco Manuel de Melo.
1722
[4 de Abril] Ordem régia para a cunhagem do escudo (no valor de 1600
réis).
[28 de Maio] Ordem régia restabelecendo as Casas de Fundição das Minas
em Vila Rica.
[Junho] Indígenas angolanos são vencidos na província de Quilengues.
[149]
[30 de Julho] D. João V assiste a uma sessão de trabalhos na Academia
Real de História.
[Dezembro] Chega a Lisboa o padre João Mourão, 1.º enviado diplomático
do imperador da China à corte de Lisboa.
[27 de Dezembro] Violento tremor de terra no Algarve.
Criação da manufactura vidreira de Coina.
Concedido o monopólio do tabaco ao comerciante alemão Paulo Klotz.
Criação de uma Academia Médica.
Tratado Sobre o Modo mais Fácil e mais Correcto de Fazer as Cartas
Geográficas, de Manuel de Azevedo Fortes.
1723
[19 de Abril] Lotaria a favor dos meninos enjeitados.
[16 de Maio] Sai do Tejo uma nau para dar caça aos corsários ingleses que
operavam nas costas de Angola.
[28 de Julho] Morre Sóror Mariana Alcoforado.
[15 de Outubro] É registada, em Lisboa, a passagem de um cometa.
Surto de febre-amarela em Lisboa.
Canta-se, no Palácio Real de Lisboa, a ópera Le Ninfe del Tago.
1724
[Janeiro] Constituição da Companhia da Ilha do Corisco para o comércio
com os portos de Angola.
[26 de Setembro] Bartolomeu Lourenço de Gusmão, acossado pela
Inquisição, foge do país e refugia-se em Espanha.
[12 de Outubro] Forte abalo de terra sentido em Lisboa, Porto, Eivas,
Santarém e Portimão.
[19 de Novembro] Furacão em Lisboa, responsável pelo naufrágio de 62
embarcações surtas no Tejo.
Luís XV envia para a corte de Lisboa um novo embaixador: o Abade de
Livry chega a Lisboa (15/09) e deixará Portugal sem apresentar credenciais.
História Tripartida Compreendida em Três Estados, de Frei Agostinho de
Santa Maria.
Manuel da Fonseca Borralho: Luzes da Poesia […].
O mensageiro do rei do Camboja, para comunicar com o capitão inglês
Alexander Hamilton, entrega-lhe cartas escritas em língua portuguesa. (Episódio
significativo da importância que o português continuava a ter, como língua franca,
no Oriente.)
(Legenda: António José da Silva.)
[150]
1727
[Janeiro] Fundação no Brasil, da vila do Bom Jesus (onde antes se
implantou o respectivo arraial mineiro).
[18 de Maio] Chega a Pequim a embaixada de Alexandre Mettelo de Sousa
e Menezes. (Tinha partido de Lisboa em 12/04/1724.)
[12 de Junho] Procissão do Corpo de Deus com a participação de D. João
V.
Tratado matrimonial dos infantes portugueses e espanhóis (negociado em
Setembro e Outubro).
Introdução do café no Brasil.
Instalação da 1.ª loja maçónica em Lisboa.
Publicada a 8.ª parte da Monarquia Lusitana, por Frei Manuel dos Santos.
Catálogo Cronológico, Genealógico e Crítico das Rainhas de Portugal e
seus Filhos, de D. José de Barbosa.
Frei Agostinho de Santa Maria: Meditações e Suspiros de Santo Agostinho.
Dissertação sobre o Número Era, de José Soares da Silva.
1728 - D. João V corta relações com a Santa Sé, por a cúria ter elevado ao
cardinalato Monsenhor Firrão, ascensão que fora prometida ao ex-núncio Bichi.
Insubordinação de nobres.
Publicadas as Prosas Portuguesas, de Rafael Bluteau.
Manuel de Azevedo Fortes: O Engenheiro. (A publicação continua em
1729.)
Últimos Fins do Homem, do padre Manuel Bernardes.
Prosa Portuguesa Recitada em Diversos Congressos Académicos, de
Rafael Bluteau.
1729
[10 de Janeiro] Regimento das minas de ouro do Brasil.
[19 de Janeiro] Casamentos de Dona Maria Bárbara, filha de D. João V
com o futuro rei de Espanha, Fernando VI, e do príncipe D. José com Dona
Mariana
[151]
1730-1735
1730
[24 de Junho] Nomeação de um superintendente para as minas de
diamantes do Brasil.
[24 de Setembro] Grande incêndio no Porto destrói muitas casas e causa
elevados prejuízos materiais.
Memórias para a História de Portugal que Compreendeu o Governo del-rei
D. João I, do ano de 1383 até ao de 1433 (3 vols.), por João Soares da Silva.
Padre José Pereira Beirão: Crónica do Muito Alto e Muito Esclarecido
Príncipe D. Sebastião.
Estímulo Prático para Seguir o Bem e Fugir do Mal, de Frei Manuel
Bernardes.
Histórias da América Portuguesa desde o ano de 1500 ao seu
descobrimento até o de 1724, de Sebastião da Rocha Pita.
(Legenda: Mafra: vista aérea do convento.)
[152]
1731
[Fevereiro] Grandes cheias no Tejo.
[8 de Março] Fundação da Academia dos Unidos em Torre de Moncorvo,
Trás-os-Montes.
[16 de Março] Por Carta régia, os terrenos diamantíferos no Brasil devem
ser arrematados por contrato. (Por falta de arrematantes, o primeiro contrato só se
veio a efectivar em 1739.)
[Maio] Trabalham na construção do Convento de Mafra 15 470 operários
(entre canteiros, entalhadores, carpinteiros, etc.).
[30 de Agosto] É fundada a Academia Bracarense.
[24 de Setembro] O papa concede, finalmente, o cardinalato ao ex-núncio
em Lisboa, Monsenhor Bichi. (A recusa da concessão tinha levado ao corte de
relações com a Santa Sé em 1728.)
[Dezembro] Aprovada a construção da Igreja da Irmandade dos Clérigos do
Porto, cuja traça será encomendada a Nicolau Nasoni.
Manifestações de quebra de disciplina conventual (que se prolongam até
1740).
A Preciosa: Alegoria Moral (1731 a 1733), de Soror Maria do Céu.
Desafios para os Meninos da Escola, de Paulo Gomes da Silva Barbosa.
1732
[10 de Março] Alvará que proíbe a vinda para o reino de mulheres
residentes no Brasil.
[Abril] Inicia-se a construção da Igreja dos Clérigos no Porto.
[Agosto] Início da construção, em Lisboa, do Aqueduto das Águas Livres.
[16 de Setembro] Explosão do paiol de munições de Campo Maior
(provocada pela queda de um raio). Inúmeros mortos, 302 feridos e grandes
prejuízos.
Reatamento de relações com a Santa Sé. Sanado o conflito, com a
chegada (17/09), a Lisboa, do novo núncio, a Lisboa.
[24 de Dezembro] Decreto que cria duas Academias Militares, em Elvas e
Almeida, a juntar às já existentes (em Lisboa e Viana).
[27 de Dezembro] Um sismo destrói parcialmente Loulé.
Greve dos pedreiros de Mafra.
Descoberta de diamantes na Baía. (Vedado o acesso pelo vice-rei, para
evitar a concorrência à região das Minas. Só em 1832 estas jazidas foram
exploradas.)
O Conselho Ultramarino manifesta-se alarmado com a emigração para o
Brasil.
A população portuguesa é de cerca de 2 143 000 habitantes.
Tomás Pinto Brandão: O Pinto Renascido Empenado e Desempenado,
Primeiro Voo.
História de Tânger, de D. Francisco Xavier de Meneses.
A Academia Universal de Vária Erudição, do padre Manuel Consciência.
Evidência Apologética e Crítica, de Manuel Azevedo Fortes.
De Anselmo Caetano [...] Castello Branco: Ennaea (hermético texto sobre
alquimia; procura-se racionalizar o oculto).
Lista de Fogos e Almas que há nas Terras de Portugal [...], do marquês de
Abrantes (incorporada na Geografia Histórica [...] de Luiz Caetano de Lima).
[153]
1734
[Janeiro] Cerco da praça de Mazagão, que se estenderá por quase um
mês.
[2 de Fevereiro] Fortes abalos de terra em Faro e Portimão.
[6 de Fevereiro] Proibição de se jogar o Entrudo.
[13 de Fevereiro] Morre o padre Rafael Bluteau.
[24 de Março] A coroa impõe, por Regimento, a capitação da população
das zonas auríferas.
[10 de Maio] Provisão do Conselho da Fazenda: proibidos os vidros
estrangeiros (salvo espelhos, garrafas e frascos de vidro verde).
[10 de Agosto] Um incêndio devasta casas de 59 famílias na Rua Nova de
Almada (em Lisboa).
[5 de Outubro] Escritura lavrada a favor do francês Robert Godin, para
estabelecer uma fábrica de sedas em Lisboa.
[17 de Dezembro] Nasce a infanta D. Maria (futura rainha), filha do príncipe
D. José e Dona Mariana Vitória.
Francisco Xavier de Oliveira, o Cavaleiro de Oliveira, perseguido pela
Inquisição, deixa o país.
Parecer redigido pelo cardeal da Mota (Advoga as vantagens da criação de
manufacturas.)
Descoberta de novas jazidas de ouro em Mato Grosso (Brasil).
Trabalham, na zona de Cerro Frio, na exploração de diamantes, entre 5000
a 6000 escravos.
Portugal Ilustrado pelo Sexo Feminino, Notícia Histórica de Muitas Heroínas
Portuguesas [...], do padre Manuel Tavares.
Apontamentos para a Educação de um Menino Nobre, de Martinho de
Mendonça (de Pina e Proença).
[154]
1736-1739
1736
[28 de Fevereiro] Decreto que obriga, que o transporte de ouro, diamantes
e outras pedras preciosas (do Brasil) tem de ser feito exclusivamente nos cofres
das frotas.
[Março] Regimento dos capitães-de-mar-e-guerra.
[28 de Julho] Alvará que cria a Secretaria de Estado dos Negócios
Estrangeiros e da Guerra (assumida por Marco António de Azevedo Coutinho).
Reorganizadas as outras Secretarias de Estado que passam a ser designadas
por: Negócios Interiores do Reino e Negócios da Marinha e Domínios
Ultramarinos. Com esta reforma, o Conselho de Estado reduz-se à reunião dos
secretários de Estado; os Conselhos da Guerra e o Ultramarino perdem
competências e funções.
[Outubro] Novas disposições sobre o regime das coudelarias.
[Novembro] Mazagão é, uma vez mais, atacada.
[155]
1737
[12 de Janeiro] Após condenação por um tribunal local, são degolados, na
província chinesa de Tonquim, alguns jesuítas.
[1 de Fevereiro] Em Lisboa é observado um cometa.
[16 de Março] «Pazes» com a Espanha. Convenção luso-espanhola sobre
o incidente com o embaixador português, por mediação da Inglaterra e da
Holanda.
[Março] Reatamento das relações diplomáticas com a França. Seria o novo
enviado especial, de acordo com um despacho do governo francês, a fazer a
primeira visita protocolar ao secretário de Estado português. (Ver 1740.)
D. Luís da Cunha é nomeado embaixador em Paris (notificação à corte de
França em Abril).
[Maio] Termo do conflito armado luso-espanhol na zona da Prata (a sul do
Brasil).
Nova manufactura de couros em Lisboa.
Representada a peça Guerras do Alecrim e Manjerona, de António José da
Silva.
Jacob de Castro Sarmento: Teórica verdadeira das Marés.
Tratados vários, do padre Manuel Bernardes.
(Legenda: Diogo Barbosa Machado.)
1738
[19 de Julho] É concedida a Carvalho e Melo a qualidade de familiar do
Santo Ofício.
[28 de Julho] Zarpa do Tejo uma flotilha da Armada Real para dar caça aos
navios mouros que atacavam a costa portuguesa.
Criação da Lotaria pela Misericórdia de Lisboa.
D. Luís da Cunha redige Instruções Inéditas a Marco António de Azevedo
Coutinho (analisa as causas da crise da economia e apresenta soluções).
Memória do valor da moeda de Portugal, pelo 4.º Conde da Ericeira.
António José da Silva, Precipício de Faetonte.
1739
[Janeiro] Lei dos Tratamentos. Alarga todo o leque capaz de receber o
tratamento de «excelência» e o de «senhoria». Consagra e delimita a primeira
élite da monarquia, na qual têm lugar os grandes eclesiásticos e seculares (que
não incluem
[156]
1740
[Janeiro] Aparece, em Lisboa, o hebdomadário O Expresso da Corte e
Emprego de Curiosidades nas Cidades de Lisboa Ocidental e Oriental.
[Fevereiro] Provimento de várias cadeiras da Faculdade de Leis da
Universidade de Coimbra.
[1 de Junho] O conde de Chavigny, novo representante diplomático da
França, visita o secretário de Estado de acordo com a regra protocolar
portuguesa.
Os Maratas conquistam Chaul e as aldeias da jurisdição de Damão.
Início da construção da Igreja do Senhor Jesus da Pedra, em Óbidos.
Campanha a favor da «sesta» e em Lisboa.
1741
[Março] Concessão de privilégios à fábrica de vidros de Coina.
[Agosto] Publica-se o periódico Mercúrio Político e Histórico.
[Agosto] Termina a publicação da Gazeta de Lisboa Ocidental.
Fundação do Colégio do Patriarcal.
Cartas Femininas, do Cavaleiro de Oliveira.
De João Evangelista: Suplemento da História Cronológica dos Papas,
Emperadores e Reis que tem reinado na Europa.
Diogo Barbosa Machado inicia a publicação da Biblioteca Lusitana (4 vols.).
Recolha de biografias e bibliografias de escritores.
Carvalho e Melo redige as Causas da Ruína do Comércio Português.
Escadório do Santuário do Bom Jesus, Braga.
1742
[25 de Março] Demarcação, por alvará, dos bairros de Lisboa.
[10 de Maio] D. João V, acometido por grave doença, fica parcialmente
paralisado.
[25 de Maio] A rainha Dona Maria Ana assume a regência por incapacidade
do monarca.
[Julho-Agosto] O monarca permanece um mês nas Caldas, onde procura
remédio para a sua doença. (Para facilitar a deslocação são arranjados os
caminhos entre Aveiras de Baixo e Óbidos.)
[Agosto] D. João reconhece a filiação dos chamados Meninos da Palhavã
(D. António, D. Gaspar e D. José).
Morre em Lisboa, Carlos Seixas, músico e compositor.
Orbe Celeste, de Sóror Madalena Glória.
A velhice Instruída e Destruída, do padre Manuel Consciência,
[157]
1743
[14 de Março] Preso em Lisboa Jean Coustor, venerável de uma loja
maçónica estabelecida em Lisboa.
[Novembro] Chega a Lisboa, regressado da sua missão diplomática em
Londres, Sebastião de Carvalho e Melo.
[21 de Dezembro] Morte de D. Francisco Xavier de Meneses, 4.º conde da
Ericeira.
Cartas familiares, políticas e críticas. Discursos sérios e jocosos [...], Haia,
2 vols., de Francisco Xavier Oliveira (Cavaleiro de Oliveira).
Séries dos Reis de Portugal, Reduzidas a Tábuas Genealógicas, de
António Caetano de Sousa.
Reportório das Ordenações do Reyno de Portugal novamente recopiladas
com as Remissões de todos os Doutores do Reyno [...], de M. Mendes de Castro.
Obras do Doutor Duarte Ribeiro de Macedo (reúne os escritos do autor já
publicados e alguns inéditos).
Conclusão do Palácio dos Governadores no Rio de Janeiro.
Conclusão da Igreja Matriz da Póvoa do Varzim.
[158]
1746
[Maio] Criada em S. Paulo uma Junta de Missões, para se ocupar de
questões relacionadas com os índios.
[9 de Junho] Fernando VI e Dona Maria Bárbara (filha de D. João V)
ascendem ao trono de Espanha.
[31 de Agosto] Por resolução régia os casais açorianos que se queiram
estabelecer no Brasil são transportados à custa da Fazenda real.
Decisão do Conselho Ultramarino de colonizar Santa Catarina (Brasil).
[Setembro] Fundação da Academia Tirões Bracarenses.
Querela dita do sigilismo.
[159]
porque, neste particular, a voz do mestre faz mais do que os preceitos. E não se
deve intimidar os rapazes com mau modo ou pancadas, como todos os dias
suceder; mas, com grande paciência, explicar-lhe as regras, e, sobretudo,
mostrar-lhe, nos seus mesmos discursos, ou em algum livro vulgar e carta bem
escrita e fácil o exercício e a razão de todos estes preceitos. […]» (Luís António
Verney, Verdadeiro Método de Estudar.)
Memórias Históricas Geográficas e Políticas Observadas de Paris a Lisboa,
de Pedro de Aucourt e Padilha.
Novo Método para se aprender a Gramática Latina, de Frei Manuel
Monteiro
1747
[Abril] Sagração da igreja do Palácio das Necessidades, em Lisboa.
Conclusão da Catedral de Mariana, Brasil.
[Agosto] No palácio do marquês de Alegrete estabelece-se uma Academia,
denominada Congresso dos Ocultos.
[4 de Outubro] Morre o cardeal da Mota, secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros que, na prática, exercia as funções de «primeiro-ministro». (A
administração pública, já perturbada com a doença do rei, ressente-se ainda mais
com a morte do cardeal.)
Convenção postal luso-espanhola.
Início da construção do Palácio de Queluz.
Montagem da Capela de S. João Baptista na Igreja de S. Roque (em
Lisboa).
D. Frei Manuel do Cenáculo cria, em Coimbra, a Academia de Liturgia.
Crítica à Famosa Tragédia de Cid, pelo marquês de Valença.
Elogios das Rainhas, Mulheres dos Cinco Reis de Portugal do Nome de
João, por D. José de Portugal.
1748
[1 de Abril] Parte de Lisboa para a Índia uma esquadra, de cinco naus de
guerra, em missão de soberania.
[Maio] Criação da capitania do Mato Grosso.
[Junho] Colocação da 1.ª pedra do Real Colégio de S. Paulo em Coimbra,
segundo traçado do arquitecto João Famossi.
[Junho] Abre-se ao culto a Igreja dos Clérigos.
[23 de Dezembro] O papa Bento XIV concede a D. João e seus sucessores
o título e denominação de «Fidelíssimo».
Transferência da manufactura de vidros de Coina para a Marinha Grande.
Termina a publicação dos Sermões, do padre António Vieira.
Padre Francisco José Freire (Cândido Lusitano): Arte Poética ou Regras da
verdadeira Física; Método Breve e Fácil para Estudar a História Portuguesa.
D. Luís da Cunha: redige, provavelmente, o Testamento Político (1747-
1749). Propostas ao príncipe D. José para solucionar os «males» da economia
portuguesa. Sugere a nomeação do futuro marquês de Pombal para uma
Secretaria de Estado.
1749
[28 de Março] Morte de Manuel de Azevedo Fortes (engenheiro-mor do
reino e autor de vários escritos).
[19 de Abril] Alvará que proíbe a exportação do trapo (para protecção da
fábrica de papel da Lousã).
[160]
1750
[13 de Janeiro] Tratado de Madrid ou dos Limites, entre D. João e
Fernando VI (de Espanha) sobre os «limites» das possessões portuguesas e
espanholas na América Meridional. O Tratado dos Limites consta de duas partes:
uma de estruturação geográfica dos territórios portugueses e espanhóis e outra
de defesa contra ataques inimigos. (O território ocupado pelos Portugueses, após
Tordesilhas é, cada vez mais, de facto, bastante diferente do que lhe pertencia de
jure; o acordo de Tordesilhas é anulado e fixa-se uma nova fronteira (?).)
Alexandre de Gusmão, grande responsável pelo tratado, procura assegurar a
Portugal a posse do Rio Grande do Sul. A colónia de Sacramento é cedida à
Espanha e Portugal recebe o território dos Sete Povos das Missões e outras áreas
no interior do continente. O tratado é inovador, porque se baseia no princípio das
fronteiras naturais. A colónia portuguesa não chega a ser entregue; é
[161]
(Legenda: esquerda- D. Frei Manuel do Cenáculo (Lisboa, Biblioteca Nacional)
Direita- D. José I (Rio de Janeiro, Museu Nacional de História.)
é grande a resistência dos índios dos Sete Povos (Guerra Guarani, 1753-1756).
Estes acontecimentos levam ao Tratado do Pardo (ver 1761).
[19 de Maio] Morre Marco António de Azevedo Coutinho, secretário de
Estado e diplomata. [31 de Julho] Morre D. João V. D. José ascende ao trono.
[2 de Agosto] Nomeação de Sebastião José de Carvalho e Melo para
secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra e de Diogo
Mendonça Corte-Real como secretário da Marinha e Ultramar.
[7 de Setembro] Aclamação de D. José, em Lisboa, nos Paços da Ribeira.
[9 de Setembro] Contrato da pesca das baleias da ilha de Santa Catarina,
Brasil.
[11 de Setembro] João Frederico Ludovici é nomeado arquitecto-mor do
reino.
[21 de Setembro] Juramento de D. José como protector da Universidade de
Coimbra.
[5 de Dezembro] Alvará que restabelece o imposto dos quintos para
substituir a capitação dos moradores de Minas Gerais.
O fogo consome o Hospital de Todos-os-Santos (mandado erguer por D.
Manuel).
Prenúncios de crise na mineração brasileira.
A Fábrica das Sedas (fundada por Robert Godin), então sem laborar, é
sujeita a controle estatal e passa a «Real Fábrica das Sedas».
Alexandre de Gusmão redige um parecer sobre o projecto de alvará que
altera a lei da pragmática de 1749 (propõe a aplicação de medidas proteccionistas
e refere-se à situação das manufacturas).
1751
[16 de Janeiro] Decreto que reduz os direitos de entrada do açúcar e do
tabaco; concedido um bónus de 50 por cento para a reexportação destas
mercadorias.
[6 de Março] Instruções para a cobrança do quinto do ouro.
[10 de Março] Aviso para se lavrar, nas Casas da Moeda do Brasil, moedas
provinciais de ouro, prata e cobre.
[15 de Março] Lei contra o delito de pôr cornos nas portas (dos maridos
enganados.)
[162]
1752
[Abril] Autonomia de Moçambique do governo do Estado da índia;
instituição da Capitania-Geral de Moçambique.
[27 de Maio] Aviso que determina a vistoria de mercadorias comestíveis por
oficiais de saúde.
[15 de Junho] Lei insistindo para que os missionários ensinem o português
aos indígenas do Brasil.
[23 de Dezembro] Pauta para o despacho dos portos secos, molhados e
vedados das alfândegas.
Concedidos privilégios aos plantadores de amoreiras.
Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, de Matias Aires.
Padre António Pereira de Figueiredo: Novo Método de Gramática Latina.
1753
[1 de Janeiro] Regimento do preço do tabaco.
[16 de Março] Fundação da Companhia do Comércio Oriental. Trata-se,
verdadeiramente, de uma concessão monopolista feita ao grande mercador
Feliciano Velho Oldemberg. (Termina na falência 3 anos e meio depois.)
[Março] Entra solenemente em Pequim a embaixada de Francisco de Assis
Pacheco de Sampaio.
[5 de Maio] Alvará facultando o descobrimento de quaisquer minas na
América.
[24 de Maio] Concedidos privilégios a Manuel Leitão de Oliveira para o
estabelecimento de uma refinaria de açúcar em Lisboa.
[28 de Junho] Decreto que providencia «a bem do bom fabrico» do tabaco.
[163]
[30 de Junho] Decreto que manda fabricar a pólvora por conta da Fazenda
real.
[4 de Julho] Naus de guerra zarpam de Lisboa para dar caça aos corsários
barbarescos.
[11 de Agosto] Alvará estabelecendo o monopólio régio para os diamantes
do Brasil.
[23 de Agosto] Extinção dos executores dos Contos do Reino.
[2 de Outubro] Alvará contra a feitura ou publicação de sátiras ou libelos
famosos.
[19 de Novembro] Proibição aos estrangeiros de andarem a vender pelas
ruas.
[31 de Dezembro] Morre Alexandre de Gusmão, principal inspirador e
definidor da política externa portuguesa entre 1735 e 1750.
A ilha do Príncipe é incorporada nos bens da coroa, por aquisição feita ao
seu donatário.
Restabelecimento da capitania de Bissau.
Polémica sobre a definibilidade do mistério da Conceição de Maria.
Catecismo Histórico, do padre José de Mesquita e Quadros.
Fundação, Antiguidade e Grandeza da Mui Insígne Cidade de Lisboa, por
Luís Marinho de Azevedo.
Cláudio Manuel da Costa: Labirinto de Amor.
Começa a tomar vulto a Escola de Escultura de Mafra.
1754
[14 de Janeiro] Decreto que cria, na Universidade de Coimbra, a cadeira de
Controvérsias.
[Janeiro] Religiosos da Ordem da Santíssima Trindade vão a Argel resgatar
cativos.
[28 de Março] Provisão que manda reunir uma colecção completa de todas
as leis e ordens expedidas para o Brasil.
[26 de Maio] Resolução permitindo o jogo das cartas e proibindo devassas
das casas de jogo.
[Junho] Representação no teatro da corte, da ópera L‘ Eroe Cinese,
musicada por Pietro Metastasio.
[9 de Julho] Lei que proíbe a venda de pólvora em casas particulares.
[14 de Agosto] Morre Dona Maria Ana de Áustria, viúva de D. João V.
[9 de Novembro] Alvará sobre a posse dos morgados.
[20 de Novembro] Regimento do Conselho da Fazenda.
O Bom Gosto Refinado na Recriação e na Utilidade, de Félix José da
Costa.
Inicia-se a construção da Torre dos Clérigos.
1755
[10 de Janeiro] Decreta-se o comércio franco em Moçambique.
[15 de Janeiro] Alvará que procura regularizar a partida, torna-viagem e
carregação das frotas do Brasil.
[18 de Fevereiro] Destruída por um incêndio a Rua do Príncipe, nas
cercanias do Terreiro do Paço.
[Fevereiro] Criação de grande número de igrejas no Brasil.
[Março] Criação da capitania do Rio Negro.
[4 de Abril] Alvará que declara isentos de qualquer infâmia quantos
casassem com índias da América.
[Maio] Instituída no Porto a Ordem Terceira da Trindade.
[6 de Junho] Lei que restitui aos índios do estado do Grão-Pará e
Maranhão a liberdade das suas pessoas e bens.
[7 de Junho] Criação da Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão.
(Estabelecimento da Companhia por Alvará de 30/10/1756.)
[30 de Setembro] Abolida a Mesa do Bem Comum e restabelecida a Junta
do
[164]
Comércio (que aquela havia substituído). A Junta é um organismo semioficial, que
congrega os interesses do Estado e dos negociantes mais influentes e abastados.
Destinada, essencialmente, a coordenar o fomento industrial.
[1 de Novembro] (Dia de Todos-os-Santos) Regista-se em Lisboa, pelas
9.30 da manhã, um intenso terramoto. A «maior catástrofe» do século, com
manifestos reflexos políticos, económicos e culturais, vai dar a Carvalho e Melo a
oportunidade de mostrar a sua capacidade dirigente e eficiência executiva; a
maneira como enfrenta a situação decorrente da catástrofe vai fazer dele o
homem forte do rei.
[2 de Novembro] Consulta de Carvalho e Melo ao cardeal-patriarca sobre o
destino a dar aos corpos que jaziam nas ruas de Lisboa.
[4 de Novembro] Decreto que obriga os mercadores a um donativo de 4 por
cento sobre os direitos aduaneiros que se cobravam pelas mercadorias
importadas.
Decreto que estabelece a forma de processar os crimes por furto.
Decreto contra os vadios e ociosos.
[6 de Novembro] Aviso que ordena que as forcas, para a execução dos
réus dos roubos, fossem altas quanto possível, «ficando eles nelas até o tempo os
consumir».
[7 de Novembro] Portaria a convocar a «Casa do 24» para os mesteres
concorrerem nas obras de misericórdia.
[8 de Novembro] Novo tremor de terra. (Repete-se 3 dias depois.)
Ordenam-se preces públicas no reino por causa dos sismos.
[14 de Novembro] Alvará que determina a reconstrução da Ribeira das
Naus.
[29 de Novembro] Decreto para se proceder à medição e tombo das
praças, ruas, edifícios, etc., da zona arruinada de Lisboa (para evitar futuros
pleitos aquando da reedificação da cidade).
[1 de Dezembro] Aviso para não se alterarem os preços dos materiais e
ordenados dos artífices nas obras dos prédios de Lisboa.
[5 de Dezembro] Ordenada a visita geral a todas as embarcações surtas no
Tejo, para
(Legenda: Terramoto: ruínas da Casa da Ópera, em Lisboa.)
[165]
1756
[Fevereiro] Derrota dos índios que se opõem à demarcação fronteiriça dos
domínio luso-espanhóis e submissão dos que se opunham à reinstalação em
outras áreas.
[15 de Maio] Os ciganos são obrigados, por Aviso, a servir nas obras
públicas de Lisboa.
[15 de Junho] Decreta-se que nenhum rural pode exigir salário superior ao
percebido no ano anterior.
Derrota dos Portugueses em Goa pelos Maratas. D. Luís de Mascarenhas,
46.º vice-rei da Índia, morre em combate (26/06) contra o rei de Sunda em Ponda.
[16 de Julho] Alvará que cria a Companhia Geral da Agricultura das vinhas
do Alto Douro. Estatutos da Companhia (31/08). Para se obter capital para a sua
fundação, ordena-se que o dinheiro dos cofres da Casa de Relação do Porto seja
dado a juros (Carta régia de 29/09).
[17 de Agosto] Decreto que condena os implicados numa conjura contra
Carvalho e Melo.
[30 de Agosto] O secretário de Estado, Diogo de Mendonça Corte-Real,
caído em desgraça, é degredado.
Sebastião de Carvalho e Melo deixa a Secretaria dos Negócios
Estrangeiros e da Guerra e assume (31/08) a dos Negócios do Reino. (D. Luís da
Cunha Manuel havia sido nomeado, em Maio, para a «pasta» dos Negócios
Estrangeiros.)
[30 de Novembro] Alvará que permite o estabelecimento de uma fábrica de
cal em Lisboa, propriedade de Guilherme Stephen.
Criação da Companhia de Pesca da Baleia.
Relatório de Francisco de Assis Pacheco de Sampaio, relatando a sua
enviatura à China (no ano de 1752).
Canonização da princesa Joana.
Fundação da Arcádia Lusitana ou Olisiponense.
António Ribeiro Sanches: Origem da Denominação de Cristão-Velho e
Cristão-Novo em Portugal; Tratado da Conservação da Saúde dos Povos.
Dissertação Filisófica sobre o Terramoto de Portugal do 1.º de Novembro
de 1755 [...], de Veríssimo Moreira de Mendonça.
Vida do Infante D. Henrique, de Francisco José Freire.
Eusébio da Veiga: Planetário Lusitano para o Ano de 1757.
1757
[5 de Janeiro] Alvará concedendo aos funcionários do Estado «inteira
liberdade» para participarem nos negócios das Companhias privilegiadas.
[5 de Janeiro] Decreto que ordena a mudança da fábrica de pólvora da
Ribeira de Alcântara (Lisboa), para a de Barcarena.
Extinção das diversas tesourarias (em Lisboa); os seus depósitos devem
transitar para o Depósito Público (Alvará de 13 de Janeiro). São acoplados à
«Junta de Administração dos Depósitos Públicos...»
[17 de Fevereiro] Decreto que estabelece uma fábrica de cal em Lisboa,
propriedade régia.
[20 de Fevereiro] Lei que concede privilégios aos criadores de bichos-da-
seda.
[166]
1758
[11 de Janeiro] Alvará que declara a liberdade de comércio com Angola.
[26 de Janeiro] Alvará fixando os direitos a pagar pelos escravos: 8700 réis
se tiverem a altura de 4 palmos craveiros e 4350 réis se não atingirem tal medida.
[1 de Fevereiro] Determina-se a construção de 6 faróis nas costas do reino.
[20 de Março] Carta régia que declara os
[167]
1759
[Janeiro] Prisão de diversos jesuítas, entre os quais o padre Gabriel
Malagrida.
[13 de Janeiro] Os Távoras e o duque de Aveiro são executados em
Lisboa. São-lhes confiscados os bens. A inusitada violência do suplício imposto
aos sentenciados (em particular aos Távoras) suscitou vivas reacções na Europa
ilustrada. (Marca decisivamente as representações construídas pela posteridade
sobre o período pombalino.)
[19 de Janeiro] Ordem para sequestrar todos os bens móveis e de raiz,
rendas, pensões, etc., dos padres da Companhia de Jesus.
[Março] Fundação da Real Fábrica de Chapéus de Tomar.
[11 de Abril] Elevação da vila de Aveiro à categoria de cidade.
Início da reforma do ensino: instituição da Aula do Comércio (estatuto de
19 de Abril).
[28 de Junho] Alvará que cria a instrução secundária do Estado. Extintas as
escolas reguladas pelo método inaciano.
[28 de Junho] Alvará que proíbe de imediato o uso De Institutione
Grammatica Libri Tres, a célebre Arte, do padre Manuel Alves.
[Junho] Os jesuítas são suspensos de confessar e pregar.
[Junho] Sebastião José de Carvalho e Melo é agraciado com o título de
conde de Oeiras.
[Junho] Funda-se a Academia Brasílica dos Renascidos (S. Salvador da
Baía). Extinta em fins de Novembro.
[5 de Julho] Morre D. António Caetano de Sousa.
[168]
1760
[25 de Janeiro] Alvará que regula os direitos e o frete a cobrar, por cada
escravo saído de Angola.
[Junho] Casamento da futura rainha D. Maria com seu tio (o infante D.
Pedro).
[25 de Julho] Decreto que cria «a Intendência-Geral da Polícia da Corte e
do Reino». Além dos Serviços Centrais, a Intendência funcionava, em Lisboa,
com a «Guarda Real da Polícia» e o «Comissário da Polícia». Órgão criado pelo
absolutismo pombalino, «com ampla e ilimitada jurisdição na matéria da mesma
Polícia...» Com a sua criação dá-se uma «desconcentração» entre a função
judicial e a função policial. Aspectos mais inovadores: a prevenção da
criminalidade, a que se vai juntar a preocupação com medidas de política
demográfica.
[15 de Julho] Expulsão do núncio apostólico e corte de relações com a
Santa Sé.
[169]
1761
[9 de Fevereiro] Alvará incentivando a criação de manufacturas de
picheleiros e «de latoeiros de lima».
[12 de Fevereiro] Tratado do Pardo, entre D. José e Carlos III de Espanha.
Anula o Tratado de Madrid de 1750.
[7 de Março] Criado o Colégio Real dos Nobres. (Aberto 5 anos depois.)
[2 de Abril] Alvará que equipara os cristãos da índia aos naturais do reino.
[2 de Abril] Alvará que determina a total liberdade para os índios do Brasil.
[18 de Abril] Cessa o monopólio do fabrico e venda dos produtos pelas
corporações.
[4 de Maio] Decreto que isenta de direitos o café.
[Junho] Proibida a cultura da cana-sacarina no Maranhão.
[170]
[25 de Dezembro] Lei que incorpora na coroa os bens seculares dos
jesuítas.
Grande reforma da administração financeira. Criados os cargos de
tesoureiro-mor e de inspector-geral do Tesouro. Criação do «Erário Régio» (Carta
de Lei de 22/12) – extintos o cargo de contador-mor e os Contos do Reino –
dirigido por um presidente que acumulava com as funções de inspector-geral (o
próprio marquês de pombal exerceu ambos os cargos até 1777). A instauração da
unidade orçamental contabilística manifesta um novo sentido da unidade do
poder.
Estabelecimento da aula de Retórica na Universidade de Coimbra.
Publica-se a Gazeta Literária ou Notícia Exacta dos Principais Escritos que
Modernamente se vão Publicando na Europa.
Postilhão de Apolo (recolhe composições de Seiscentos e Setecentos).
Gertrudes Margarida de Jesus: Primeira Carta Apologética em Favor e
Defesa das Mulheres.
1762
[2 de Abril] Alvará que proíbe a utilização, em Lisboa, de carruagens de
mais de duas bestas.
[16 de Março, 1 e 23 de Abril] Pró-memórias: a Espanha e a França
pressionam o governo português para aderir ao Pacto de família (assinado em
1761) e envolvê-lo na luta contra a Grã-Bretanha. O governo português mantém a
neutralidade. A guerra é inevitável.
[Abril] Decretos que mandam aumentar o número de tropas nos regimentos
de infantaria, cavalaria e outros.
[Abril, Maio, Junho] Início das hostilidades com retirada de embaixadores
dos respectivos países (Portugal, Espanha e França); interrupção das relações e
declarações de guerra.
«Guerra fantástica» com a Espanha. São ocupadas, entre outras, as
praças de: Vimioso (Maio); Miranda do Douro (Maio), após violenta explosão do
paiol que destrói boa parte do núcleo urbano; Castelo Rodrigo e Almeida (Agosto);
Burgoyne, chefiando tropas luso-britânicas, passa o Tejo e ataca Valência
(Agosto).
[Abril, Setembro, Outubro e Dezembro] Legislação que relança a décima
em substituição do imposto dos 4,5 por cento, por motivo da chamada «guerra
fantástica». Os próprios eclesiásticos ficam obrigados (são isentos em 1777 e
voltam a pagá-la em 1796).
[Julho] O conde de Lippe é nomeado marechal-general do exército
português. Reformulação «estatizante e autoritária» do aparelho militar com a
acção do conde de Lippe.
Forças espanholas põem cerco à colónia do Sacramento que se rende, em
fins de Outubro, às forças de Pedro de Cevallos.
[30 de Novembro] Armistício entre os exércitos de Portugal e Espanha.
Suspensa a Gazeta de Lisboa. (Volta a publicar-se 15 anos depois.)
Frei Sebastião de Santo António: Conversações Familiares sobre a
Eloquência do Púlpito.
Memórias Cronológicas e Críticas para a História da Cirurgia Moderna, de
M. Lima Bezerra.
Inauguração, no Porto, do 1.º teatro lírico da cidade.
1763
[Janeiro] O Brasil é elevado a vice-reino; a capital é transferida de S.
Salvador da Baía para o Rio de Janeiro.
[10 de Fevereiro] Tratado de Paris. Adesão de D. José ao tratado definitivo
entre a França, Inglaterra e Espanha que põe termo à guerra do «Pacto de
Família». A Espanha restitui a colónia do Sacramento e todas as praças tomadas
na guerra.
[Setembro] Morre o arquitecto Carlos Mardel.
[24 de Outubro] Edital que manda demolir todas as barracas de madeira e
de pano, levantadas em Lisboa após o terramoto.
[Dezembro] Publica-se o Hebdomadário Lisbonense, Papel Curioso,
Noticioso, Útil e de Notícias Públicas.
[171]
1764
[Março] Criação do Arsenal Real do Exército.
(Legenda: Conde de Lippe (Lisboa, Banco de Portugal).)
1765
[1 de Janeiro] Tremor de terra em Lisboa. (A 13/9 sente-se, novamente, um
fraco tremor.)
[2 de Janeiro] Alvará que manda concretizar o plano que cria o Terreiro
Público (área para abastecimento da população na Ribeira de Lisboa).
[13 de Março] Criação de fábricas de relógios.
[6 de Abril] Lei que reinvoca o princípio do beneplácito régio, para impedir
em Portugal os efeitos do breve Apostolicum Pascendi, pelo qual o papa
confirmava de novo o instituto da Companhia de Jesus.
[27 de Julho] Regimento das Lezírias e Pauis.
[10 de Setembro] Alvará que abole as frotas e esquadras para o Rio de
Janeiro e Baía; franqueada a liberdade de comércio com todos os domínios.
[Outubro] Mandadas arrancar as vinhas dos campos do Tejo, Mondego e
Vouga.
[16 de Dezembro] Criação de fábricas de serralharia.
[20 de Dezembro] Decreto que termina com o monopólio do sabão e
estabelece condições para a administração das saboarias por conta do Estado.
[172]
1768
[5 de Fevereiro] Criada em Lisboa, a Real Mesa Censória, por iniciativa de
Carvalho e Melo. Retirava à Inquisição os poderes do exame prévio e de censura
dos livros. Aglutina todos os órgãos de censura existentes. Clara separação entre
o domínio secular e eclesiástico: no que respeita à matéria episcopal e pontifícia
ficaram as inspecções
[173]
1769
[23 de Janeiro] Decreto que cria, em Pombal, uma fábrica de chapéus finos
de propriedade régia.
[Março] Abandonada a praça de Mazagão. (A população vai para o Brasil,
onde funda a colónia de Vila Nova de Mazagão.)
[5 de Abril] Decreto que atribui a censura dos livros, retirada à Inquisição, à
competência da Real Mesa Censória.
[5 de Maio] Decreto autorizando o estabelecimento, na Lousã, de uma
fábrica de papel de escrever.
[6 de Maio] Alvará que cria a Junta das Confirmações. Ao sujeitar os ofícios
a confirmação régia são os mesmos considerados como bens da coroa e
insusceptíveis de apropriação patrimonial. Medida de indesmentível significado
político. (Prosseguida pela Lei da «Boa Razão» e pela Carta de lei sobre o
provimento dos ofícios de 23/11/1770).
Legislação sobre a enfiteuse: alvará régio (12 de Maio) que combate a
consolidação dos prazos das igrejas.
[20 de Maio] Alvará que declara a Inquisição como Tribunal Régio.
[8 de Junho] Alvará que cria uma fábrica de louça fina em Lisboa.
[7 de Julho] Alvará que concede a Guilherme Stephens, um subsídio para o
estabelecimento da Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande.
[17 de Julho] Alvará para protecção dos sapais e marinhas de Tavira.
[18 de Julho] Lei da Boa Razão. Derroga grande parte do «velho» direito
português. Deixa de ter fundamento jurídico o direito consuetudinário; acaba com
a relevância do direito canónico nos tribunais civis. Reduz, ainda, o domínio de
aplicação do direito romano. Visa-se pôr fim à «precedência (prática) da doutrina
e da jurisprudência sobre a lei do soberano».
[31 de Julho] Alvará que cria uma fábrica, em Lisboa, de cartas de jogar
(pertença do monarca).
[26 de Agosto] Francisco de Castro é autorizado a estabelecer uma fábrica
de tecidos de linho em Abrantes.
Fundação da Fábrica de chapéus de Elvas.
[Setembro] Trégua luso-marroquina.
Carta de lei (9 de Setembro) que sanciona o direito de renovação pela
chamada equidade bartolina.
[Outubro] Nomeação do 1.º cônsul-geral da Rússia em Lisboa.
[16 de Outubro] Concessão do título de marquês ao conde de Oeiras.
[17 de Outubro] Decreto que estipula penas para os atravessadores de
vinho.
[26 de Outubro] Alvará que proíbe as devassas sobre os concubinatos.
[174]
1770
[4 de Janeiro] Martinho de Melo e Castro assume a Secretaria de Estado
da Marinha e Domínio Ultramarinos (por morte, a 05/11/69, do irmão do marquês
de Pombal, titular do cargo).
[Janeiro] A Casa da Rainha fica sob a administração do Erário Régio.
[7 de Abril] Licença para a fundação, no Porto, de uma refinaria de açúcar
(propriedade de João Batalha Freire).
[19 de Maio] Autorização para o estabelecimento de uma fábrica de
camurça, pelicas e pergaminhos (em Trancão).
[Maio] Restabelecimento das relações diplomáticas com a Santa Sé: chega
a Lisboa o núncio apostólico, Innocêncio Conti.
[Julho] Breve de Clemente XIV suprimindo, em Portugal, os mosteiros dos
cónegos regulares de Santo Agostinho.
[13 de Julho] Morre Domingos dos Reis Quita (poeta bucólico).
[3 de Agosto e 9 de Setembro] Leis sobre o morgadio: impõem um
equilibrado respeito pelos direitos naturais de todos os filhos à herança;
concretizam as condições juridicamente necessárias para a subsistência dos
morgados anteriores e instituição de novos morgados.
Clemente XIV cria várias dioceses.
[Agosto] Pinhel é elevada a cidade.
[30 de Agosto] Carta de lei que determina a inscrição de todos os
comerciantes de Lisboa na Junta do Comércio.
[6 de Outubro] Edital da Real Mesa Censória, proibindo inúmeras obras
literárias.
[12 de Outubro] Criação de uma fábrica régia de pentes de marfim em
Lisboa (cuja propriedade passará depois para Gabriel da Cruz).
[23 de Outubro] Lei que diz que os cargos da República nada mais são que
«uma comissão simples e precária do Príncipe...»
[7 de Novembro] Proibida a importação de louça estrangeira. Excepção
para a da índia, quando transportada em navios portugueses.
Legislação sobre o provimento e serventia dos ofícios. Proibida a
transmissão de empregos por herança (alvará de 23 de Novembro).
[27 de Novembro] Descoberta de um grupo de franco-mações na ilha da
Madeira (informação do governador do Funchal).
[10 de Dezembro] Proibição de importação de chapéus estrangeiros.
[23 de Dezembro] Criada a Junta de Providência Literária.
A Real Fábrica das Sedas é encarregada de fomentar a cultura de
amoreiras.
Declaração do comércio como profissão «nobre, necessária e proveitosa».
[175]
1771
[26 de Janeiro] Alvará que constitui os Açores como província de Portugal.
[3 de Fevereiro] Auto-de-fé em Goa com 91 sentenciados.
[25 de Fevereiro] Extinta a Feitoria de Linhos.
[9 de Abril] Preso, no Limoeiro, o poeta Pedro Correia Garção.
[Junho] Clemente XIV concede novamente a bula de Cruzada (publicada
em Novembro de 1772).
[Junho] Criação da Cordoaria Nacional.
[4 de Junho] O Ensino passa a depender da Real Mesa Censória.
[12 de Julho] Criada, em Lisboa, a Inspecção Geral dos Diamantes. A
coroa fica com o contrato exclusivo da sua exploração (Regimento de 02/08).
[Julho] Regulamento dos teatros.
[Agosto] Apresenta-se ao monarca o parecer da Junta da Providência
Literária, acerca do estado das Artes e Ciências no reino.
[6 de Setembro] Apedrejada a carruagem do marquês de Pombal, à saída
do paço. O autor do «crime» é imediatamente detido.
[22 de Outubro] Alvará que autoriza a criação de uma fábrica de chapéus
finos, no Porto.
[14 de Dezembro] Edital proibindo 72 obras latinas e portuguesas.
[16 de Dezembro] Criação da Superintendência dos contrabandos.
(Ampliadas as suas atribuições em 1773 e 1774).
[16 de Dezembro] Criação do cargo de conservador dos privilegiados.
Figueira da Foz é promovida a vila; Castelo Branco recebe o título de
cidade.
Início da construção da Real Fábrica de Lanifícios de Portalegre.
Isenção de direitos para os chapéus fabricados no reino e seus domínios;
os privilégios concedidos à fábrica de Pombal são estendidos às restantes
fábricas de chapéus.
Legislação relativa à libertação de escravos negros.
Hissope (manuscrito), de Cruz e Silva.
António José dos Reis Lobato, Arte da Grammatica de Língua Portuguesa
(oficialmente adoptada para a aprendizagem da leitura e da escrita).
1771-1777
1772
[13 de Março] Alvará sobre as causas da decadência do Colégio dos
Nobres.
[5, 8 e 10 de Abril] Tremores de terra em Lisboa. Não causam danos.
[17 de Maio] Sublevação dos negros e habitantes das plantações do
Maranhão.
[Junho] Chega a Lisboa a «Nau dos Quintos» (com 7,5 milhões de
cruzados e um cofre de diamantes, avaliado em 1,5 milhões de cruzados).
[10 de Junho] Alvará que concede a Pietro Schiappa, uma fábrica de
serralharia, a fundar em Pernes.
[Agosto] Novos Estatutos da Universidade de Coimbra conhecidos por
«pombalinos» (12 de Agosto). Pode falar-se num
[176]
A reforma do ensino
1773
[12 de Janeiro] Alvará que determina que só pode abrir tavernas quem
«levante» estalagens para cómodos dos viajantes.
[15 de Janeiro] Alvará que cria a a Compania Geral das Reais Pescas do
Reino do Algarve.
[18 de Janeiro e 18 de Fevereiro] Reforma territorial do Algarve. Integrada
num projecto de racionalização jurisdicional e territorial, em marcha desde
meados de
[177]
1774
[Janeiro] Carta de lei cjue altera a administração do governo da índia. É
suprimida a Relação de Goa (15/01). Regimento da Alfândega de Goa (20/01).
[5 de Janeiro] Isenção de direitos, por 10 anos, nas importações de tecidos
de algodão.
[11 de Janeiro] Tratado de paz entre D. José e o sultão de Marrocos.
[Fevereiro] Ordenada a extinção da Inquisição de Goa. (Despacho de
Pombal de 10/02.)
[12 de Abril] Clemente XIV cria o bispado de Aveiro.
[24 de Abril] Prisão de José Seabra da Silva.
Fundação da Vila Real de Santo António.
[1 de Junho] Estabelecimento de uma fábrica de charões em Lisboa.
[9 de Julho] As capitanias do Maranhão e do Piauí desmembram-se do
Pará.
[18 de Agosto] Alvará que cria uma fábrica régia de linhos.
[20 de Agosto] Fundação régia, em Lisboa, de uma fábrica de botões de
casquinha (que passará à propriedade de Francisco Guilobel).
[20 de Agosto] Lei que reforma a organização judiciária.
[1 de Setembro] Regimento pombalino do Tribunal do Santo Ofício. Torna-
se um simples tribunal político.
Concessão aos naturais da índia portuguesa de direitos iguais aos dos
metropolitanos.
Deslocação a Coimbra do botânico Júlio
[178]
1775
[25 de Maio] Carta de lei: progressiva restrição das isenções da nobreza ao
pagamento do direito senhorial da jugada. (Os privilégios «corporativos» da
nobreza iam-se limitando. O fenómeno acentua-se na última década do século
XVIII, com uma série de disposições que representam a virtual extinção das
isenções tributárias das ordens privilegiadas.)
[9 de Junho] Legislação relativa ao casamento e à família.
[16 de Junho] Primeira pedra da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro.
[6 de Julho] Inauguração da Estátua Equestre de D. José I, no Terreiro do
Paço.
[27 de Julho] Autorizada a fundação de uma fábrica de papel de escrever.
[5 de Agosto] Alvará que cria uma fábrica de chitas, em Azeitão,
propriedade de Magalhães e Larche.
[11 de Outubro] É executado João Baptista Pelle, o presumível autor do
atentado contra o marquês de Pombal.
[17 de Outubro] Autorizada a criação de uma fábrica de tecidos de lã em
Penafiel.
[16 de Novembro] Concedida licença para fundar, no Porto, uma fábrica de
linhas.
[23 de Novembro] Abre o mercado da Praça da Figueira em Lisboa.
César, de Teotónio Gomes de Carvalho.
1776
[24 de Janeiro] Graves incidentes na Trafaria (Repressão do motim por
Pina Manique.)
[8 de Fevereiro] Alvará que cria, no Porto, uma fábrica de camurças,
pelicas e pergaminhos.
[8 de Março] Concedida licença para estabelecer uma fábrica de pratear
metais, em Lisboa.
[Abril] Rio Grande, no Sul do Brasil, temporariamente na posse de
Espanha, é recuperado pelas armas portuguesas.
[2 de Maio] Autorizado o estabelecimento de uma fábrica de fivelas de
metal, em Lisboa, propriedade de Francisco Loian.
Licença para a fundação de uma fábrica de quinquilharias em Lisboa.
[10 de Maio] Autorização para Pietro Schiappa estabelecer, em Pernes,
uma fábrica de limas.
[21 de Maio] Alvará que autoriza a criação de uma fábrica de tapeçarias em
Tavira.
[10 de Junho] Concedida autorização para uma fábrica de espelhos em
Lisboa.
[4 de Julho] Carta de lei relativa à enfiteuse: destrinça entre os contratos
sujeitos às regras do emprazamento e os que se deveriam julgar segundo as
normas de locação.
[4 de Julho] Decreto que ordena o encerramento dos portos portugueses
aos navios das colónias americanas (em revolta contra a Inglaterra).
[Outubro] Autorizado o estabelecimento de uma fábrica de fogo na
Panasqueira; concedida autorização para fundar, no Porto, uma fábrica de botões
de unha; licença concedida a Mateus Walker para estabelecer, em Lisboa, uma
fábrica de limas.
[29 de Novembro] A rainha Dona Mariana Vitória assume a regência por
doença de D. José.
[Novembro] O monarca proíbe a entrada do marquês de Pombal na
Câmara Real.
A população do Brasil é estimada em 1 900 000 habitantes.
O Circo (teatro), de Manuel de Figueiredo.
[31 de Dezembro] Contrato régio para a fundação em Lisboa de uma
cutelaria (a propriedade passará para António João Chalter).
Fundação régia de uma fábrica de relógios, em Lisboa (a propriedade
passará para António Durand).
[179]
(Legenda: D. Maria I (Museu de Aveiro).)
1777
[20 de Fevereiro] Pedro de Cevallos apodera-se de Santa Catarina (no Sul
do Brasil).
[21 de Fevereiro] Perdão régio que concede a liberdade a Frei Manuel de
Anunciação, bispo de Coimbra (preso desde 1768 sob acusação de crime de lesa-
majestade). Reposto (07/07) na administração da sua diocese.
[24 de Fevereiro] Morre D. José, 25.º rei de Portugal. D. Maria sobe ao
trono.
[4 de Março] D. Maria defere o pedido de exoneração do marquês de
Pombal. (Deixa a corte a caminho do exílio, na vila de Pombal.)
[7 de Março] Perdão régio concedido aos marqueses de Távora e de
Alorna.
[13 de Março] Nomeação do novo ministério. O lugar de marquês de
Pombal é ocupado pelo visconde de Vila Nova de Cerveira (futuro marquês de
Ponte de Lima) e pelo marquês de Angeja. Os restantes secretários de Estado
mantiveram-se. A substituição do marquês de Pombal pelo visconde de Vila Nova
da Cerveira tem sido utilizada como prova da chamada «viradeira» política de D.
Maria. O certo é que o restante gabinete era pombalino, o que traduz o cuidado
posto na transição política de um para outro reinado, bem como a «manutenção
da linha reformista josefino-pombalina». Além disso, as «reformas mariano-
joaninas» provam justamente o contrário de um movimento de retorno. (Ver José
Subtil, in História de Portugal, dir. de José Mattoso, vol. IV, p. 179).
[10 de Maio] Decreto que promove diversos membros da nobreza que se
haviam conservado «desafectos» ao marquês de Pombal.
[13 de Maio] Aclamação de D. Maria I no Terreiro do Paço. (Na coroação
da rainha serve-se, pela primeira vez, com a baixela Germain.)
[17 de Maio] O marquês de Alorna é declarado isento de culpa de
inconfidência e são-lhe restituídas as honras a que tinha direito. Declarada a
inocência do conde de S. Lourenço e do visconde de Vila Nova de Cerveira.
[20 de Maio] A colónia de Sacramento entrega-se, sem luta, às forças
espanholas de Pedro de Cevallos.
[18 de Julho] Alvará que cria a Junta de Administração das Fábricas do
Reino e Águas Livres. (Extinta a Junta de Fábricas do Reino.)
[1 de Outubro] Tratado de Santo Ildefonso. Assinatura com a Espanha do
Tratado preliminar de paz e limites na América Meridional. Portugal entrega a
colónia de Sacramento e recebe, em troca, a ilha de Santa Catarina.
[21 de Outubro] Ilibado de culpas o antigo secretário de Estado José
Seabra da Silva (permitido o regresso de Angola onde estava desterrado).
Publicação de um Novo Regimento das Mercês. (Afinam-se os processos
de controle e fiscalização dos provimentos.)
Ribeiro Sanches: redige o manuscrito Algumas Causas da Perda da
Agricultura em Portugal depois do Ano de 1640. Apontamentos para promover
Toda a Sorte de Trabalho em Portugal (defende que o crédito agrícola levaria a
estimular o investimento no sector).
[180]
1778
[Janeiro] Criação da Academia Real da Fortificação, Artilharia e Desenho.
[5 de Janeiro] Decreto que extingue a Companhia do Grão-Pará e
Maranhão.
[11 de Março] Tratado do Pardo: de aliança, de neutralidade e comércio
entre D. Maria e Carlos III de Espanha. Põe termo à guerra na América
Meridional; Portugal cede as ilhas de Fernão Pó e Ano Bom.
[Abril] Restabelece-se o Tribunal da Relação de Goa.
[1 de Julho] Prisão de José Anastácio da Cunha pela Inquisição.
[13 de Julho] Regimento de todos os oficiais da Armada.
[20 de Julho] Concordata entre Pio VI e D. Maria I, sobre o direito de
Padroado.
[Agosto] Filinto Elísio, fugido da Inquisição, chega a França.
[Agosto] Partem, para Argel, religiosos da Ordem da Santíssima Trindade
para reagatar portugueses cativos.
[Agosto] Reaparece a Gazeta de Lisboa.
[26 de Agosto] Sismo na região de Lisboa.
[23 de Outubro] Criação da Escola de Fiação de Trás-os-Montes.
João Jacinto Magalhães é enviado a Londres para comprar uma máquina a
vapor.
1779
[20 de Janeiro] Criação da Aula de Pilotos.
[Julho] Entrega da ilha de Ano Bom à Espanha (conforme o estipulado pelo
Tratado de Pardo).
[5 de Agosto] Criação da Academia Real da Marinha.
[Agosto] Reforma dos Estudos Menores. A partir daqui muitas escolas cujo
número se eleva já a 720 são encerradas e a regência de outras é entregue a
religiosos.
[14 de Novembro] Grandiosa procissão do Senhor dos Passos, em Lisboa,
a pedir o termo da inclemente seca.
[26 de Novembro] Extinção do Tribunal da Inquisição de Goa (que havia
sido determinado por carta régia de 15/01/1774).
[27 de Novembro] Criação no Porto, de uma Aula Pública de Debuxo e
Desenho.
[24 de Dezembro] Fundação da Academia Real das Ciências de Lisboa,
por iniciativa do 2.º duque de Lafôes, do abade Correia da Serra e com o apoio de
Domingos Vandelli e do visconde de Barbacena. Tem como mecenas a rainha D.
Maria. É dividida em duas classes, a das Letras e a das Ciências. (De realçar,
como no caso da Academia da História, a proximidade do Poder e a
«aristocratização» dos seus membros e dos saberes.)
Colocação da 1.ª pedra da Basílica da Estrela.
Termina a construção do Observatório Astronómico de Coimbra.
Apresentação, no Real Teatro de Queluz, da serenata La Galatea, da
autoria do maestro António da Silva.
[181]
1780
[4 de Abril] Abertura da Academia do Nu (da qual o pintor Vieira Lusitano
foi grande animador).
[8 de Maio] Decreto que extingue a Companhia de Pernambuco e Paraíba.
(Liberdade de comércio em todas as regiões que eram monopólio da Companhia.)
[20 de Maio] Fundação da Casa Pia de Lisboa. Inicialmente vocacionada
para a recolha de mendigos, mais tarde vai acolher e educar jovens. (Desaparece
em 1807, com as Invasões Francesas; reabre em 1812.)
[20 de Maio] Edital expulsando da cidade de Lisboa os mendigos que dela
não fossem naturais.
Diogo Inácio de Pina Manique toma posse como superintendente da
Intendência-Geral da Polícia. (Permanece à frente da instituição até 1805.)
[15 de Junho] Pina Manique introduz a obrigatoriedade do registo da
correspondência nas repartições públicas.
[4 de Julho] Abertura solene da Academia Real das Ciências.
Ordens da Intendência (31/07) para que os provedores elaborem mapas
estatísticos da população (transmitidas para o Norte em 03/02/81).
[29 de Agosto] Três abalos de terra de fraca intensidade, em Lisboa.
[18 de Setembro] Criação da Junta de Arrecadação e Distribuição da
Fazenda da Guiné.
[Setembro] Instituição de uma sociedade de comércio para as ilhas de
Cabo Verde.
[Novembro] Inicia-se, por iniciativa de Pina Manique, a iluminação pública
de Lisboa. Acendem-se 770 candeeiros na Baixa lisboeta.
1781
[15 de Janeiro] Morre a rainha Dona Mariana Vitória (mulher de D. José).
[27 de Março] Pina Manique decreta a obrigatoriedade da inspecção
sanitária das prostitutas.
[23 de Maio] Sentença que absolve a memória dos Távoras.
[30 de Maio] Pina Manique é nomeado administrador-geral das Alfândegas
de Lisboa.
[23 de Julho] Edital do intendente-geral da Polícia (Pina Manique)
regulando a oferta de trabalho para os indigentes.
[16 de Agosto] Decreto que condena o marquês de Pombal (obrigado a
manter-se afastado da corte 20 léguas; são-lhe perdoadas quaisquer penas
corporais).
[23 de Agosto] Criação em Lisboa da Aula Régia do Desenho de Figura e
Arquitectura Civil.
[26 de Agosto] Último auto-de-fé em Coimbra com 16 sentenciados.
[182]
1782
[18 de Janeiro] Luísa Todi dá um segundo concerto em Viena de Áustria.
[14 de Fevereiro] Reforma pautal: visa-se a reorganização «económica»
das alfândegas.
[14 de Fevereiro] Criação da Companhia dos Guardas-Marinhas.
[8 de Maio] Morre, em Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo.
[10 de Maio] Proibição às mulheres do Brasil de virem para o reino, sem
prévia autorização do rei.
Portugal, que durante a Guerra da Independência Americana se manteve
neutral, adere à Liga dos Neutros (14 de Julho). Tem como desfecho a assinatura
de acordos bilaterais com os Estados Unidos e a Rússia. (Acordo de
«neutralidade armada» com Catarina II da Rússia 24/07.)
Fundação do presídio de Lourenço Marques (marca o início da colonização
dessa zona).
Teatro do Salitre, Lisboa.
De Luís Ferrari de Mordau: sai o texto Despertar da Agricultura de Portugal
(Pontos de vista tributários do pensamento fisiocrático).
Dado à estampa o Suplemento à Obra da Agricultura, de L. F. Mordaun.
Memória Histórica sobre a agricultura portuguesa, de Veríssimo Álvares da
Silva.
1783
[Janeiro] A cantora lírica Luísa Todi realiza nova viagem a Viena de Áustria.
[2 de Janeiro] Criação da Sociedade de Comércio das Ilhas de Cabo
Verde.
[15 de Fevereiro] Decreto em que Portugal reconhece a independência dos
Estados Unidos da América do Norte. Assinado um Tratado de Amizade.
(Revogada a proibição de entrada dos navios norte-americanos nos portos
portugueses.)
[24 de Maio] O intendente Pina Manique reconhece, oficialmente, a
instituição das rodas dos expostos.
[14 de Outubro] Morre, em Paris, António Ribeiro Sanches.
[18 de Outubro] Morre, em Mackney, Francisco Xavier de Oliveira
(Cavaleiro de Oliveira).
Criação da cadeira de Terapêutica Cirúrgica na Universidade de Coimbra.
O drama de Martinelli, musicado por João de Sousa Carvalho, é
apresentado no Teatro da Real Câmara.
1784
[20 de Maio] Santarém é flagelada por um furacão.
[6 de Junho] Bocage é dado como desertor.
[6 de Outubro] Determinação sobre os esponsais.
Oratória Sagrada, com música de Haydn, no Real Teatro de Queluz.
Início da construção da Igreja do Bom Jesus do Monte, Braga.
D. Rodrigo de Sousa Coutinho escreve as Reflexões Políticas sobre os
meios de Criar e Fundar Solidamente em Portugal a Cultura e Manufactura da
Seda.
[183]
1786
[30 de Janeiro] Tratado franco-português. Reconhecidos os direitos de
Portugal sobre o território de Cabinda.
[14 de Fevereiro] Proibida a importação de meias de seda de cor.
[4 de Abril] Bocage parte para a índia.
[25 de Maio] Morre D. Pedro III, filho de D. João V, rei consorte.
[2 de Agosto] Breve de Pio VI à rainha, sobre as perseguições aos cristãos
na China.
[6 de Setembro] Destinados lugares públicos em Lisboa, para a venda
exclusiva de peixe.
Abade de Jazente (Paulino António Cabral), Poesias (2 vols.: 1786 e 1787).
1787
[3 de Janeiro] Inaugurado o Observatório Astronómico da Academia de
Ciências de Lisboa (instalado no Castelo de S. Jorge).
[7 de Fevereiro] Alvará que concede, à fábrica de louça de Domingos
Vandelli (Coimbra), o privilégio da exclusividade de venda na Beira e Minho.
[24 de Março] Chega a Lisboa William Beckford que escreverá as suas
impressões sobre Portugal.
[Junho] Reforma da Real Mesa Censória. Passa a designar-se Mesa da
Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros.
[20 de Dezembro] Tratado de amizade, navegação e comércio entre D.
Maria e Catarina II da Rússia-Sampetersburgo. (Apenas será ratificado em 1798.)
Grande «animação cultural» com espectáculos de belo canto nos teatros
de Lisboa e Queluz, na Embaixada de Espanha e palácio do marquês do Louriçal.
1788
[29 de Março] Decreto que entrega a particulares a exploração das
Fábricas e Manufacturas de Portalegre, Fundão e Covilhã.
[5 de Junho] Lei que cria a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e
Navegação destes Reinos e seus Domínios, em substituição da Junta de
Administração das Fábricas do Reino e Águas Livres.
[31 de Julho] Privilégios às fábricas de lanifícios do reino.
[Outubro] Proibição das sedas da índia.
[11 de Novembro] Morre o príncipe herdeiro D. José (filho de D. Maria I e
de D. Pedro).
[Dezembro] Criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda.
(Só organizada definitivamente em 1801.)
[13 de Dezembro] Pela Inquisição são, ainda, capitalmente justiciados 15
réus de fé.
Significativas remodelações nos gabinetes de secretários de Estado. Para
além de outros, José Seabra da Silva, caído em desgraça durante o consulado
pombalino, assume a pasta do Reino; o visconde de Vila Nova de Cerveira é
indigitado para a nova Secretaria de Estado dos Negócios da Fazenda.
Sobe à cena, no Teatro do Salitre, Idílio, musicado por Marques Portugal.
[184]
1789
[3 de Fevereiro] Decreto que cria uma Junta de Exame e revisão de um
novo Código Legislativo. Projecto do Novo Código de Direito Público (apresentado
por Pascoal José de Melo Freire).
[16 de Junho] Alvará que estabelece a liberdade da pesca e concede
incentivos fiscais aos pescadores.
[19 de Junho] Nova formulação das Ordens Militares. O papa confere o
grão-mestrado e perpétua administração das três Ordens Militares a S. M.
Fidelíssima (18/08).
[20 de Junho] Criação de uma aula de Anatomia no Hospital de Chaves, a
que se seguem outras (em Elvas e no Porto).
A Intendência organiza uma estatística detalhada das mortes violentas
ocorridas no reino (para diagnosticar causalidades criminais).
Prisão do Tiradentes (principal responsável pela Inconfidência Mineira) e do
poeta Tomás António Gonzaga.
1789-1794
[185]
Memórias Económicas [...], tomo II. (Num dos estudos, Tomás António de
Vilanova Portugal reflecte sobre a circulação mercantil).
Inicia-se a publicação de O Correio Mercantil e Económico de Portugal.
Francisco António Moraes de Campos escreve O Príncipe Perfeito.
Motivos da Decadência da Agricultura da Província do Alentejo, e
Remédios para o Seu Estabelecimento, de Manuel José Correia da Serra.
(Legenda: D. Carlota Joaquina (Lisboa, Museu Nacional dos Coches).)
1791
[17 de Janeiro] Tratado de paz com o rei de Sunda (Goa).
[14 de Fevereiro] Decreto que confere o contrato de diamantes brutos da
América a Joaquim Pedro Quintela.
[22 de Março] Alvará que ordena o encanamento do Mondego.
[28 de Março] Alvará para a abertura de estradas do reino (incluindo a de
Lisboa ao Porto).
[27 de Julho] Criação do cargo de superintendente dos Tabacos das
Províncias.
[21 de Novembro] Carta régia que estabelece preceitos para proteger os
negros sertanejos de Angola.
[27 de Novembro] Forte sismo em Lisboa e Beja.
[6 de Dezembro] Luís XVI agradece à rainha o apoio à causa monárquica.
Abolição das organizações corporativas.
Plano da «Intendência» de construção de novos cemitérios (expressa
intenções sanitárias e objectivos de registo e controle da mortalidade).
Criação da cadeira de Botânica e Agricultura na Universidade de Coimbra,
de que foi 1.º titular Avelar Brotero.
Memórias Económicas [...], tomo III. Destaque para: «Memórias sobre o
estado da agricultura e comércio do Alto Douro»; «Memória sobre os juros
relativamente à cultura das terras».
Manuel Maria Barbosa du Bocage: Rimas (publicados 3 vols. em vida do
autor: 1791, 1799 e 1804).
1792
[7 de Janeiro] Regulamento sobre o alargamento das competências do
Desembargo do Paço, com vista à organização racional do espaço administrativo.
[7 de Janeiro] Alvará que estabelece critérios de racionalização territorial,
enquanto não se operava uma reforma definitiva das comarcas. (Tinham-se criado
algumas novas comarcas para englobar as terras compreendidas nas ouvidorias
que tinham sido extintas pela Lei de 19/07/1790.)
[10 de Janeiro] Noticiado o estado de insanidade da rainha, pela Gazeta de
Lisboa.
[10 de Fevereiro] O príncipe D. João assume a governação.
[12 de Fevereiro] Inicia-se no Porto a Lotaria da Misericórdia.
[186]
1793
[Março-Abril] A Convenção francesa tenta obter, sem sucesso, a
neutralidade portugesa.
[10 de Abril] Informado o governo espanhol da decisão portuguesa de
entrar na liga contra a França.
[25 de Maio] Carta de lei que põe termo às qualificações e denominações
dos cristãos-novos.
[3 de Junho] Criação da Contadoria dos Armazéns da Guiné e Índia.
[15 de Julho] Tratado de auxílio mútuo e convenção militar luso-espanhola.
[Setembro] Embarque das divisões portuguesas para a campanha do
Rossilhão.
[26 de Setembro] Tratado entre D. Maria e o rei inglês sobre o mútuo
auxílio contra a França.
[3 de Novembro] Deixam Bolama os ingleses que ali se tentaram radicar.
[Dezembro] Tropas inglesas desembarcam em Lisboa.
Corso aos navios portugueses pela França.
Lei visando o estabelecimento de um cadastro do país.
Inauguração do Teatro de S. Carlos.
A Academia de Ciências publica o Dicionário da Língua Portuguesa (não
passa do 1.º vol.).
[187]
Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros. Com a abolição
deste organismo, as atribuições, que lhe eram confiadas, são, de novo, cometidas
ao Santo Ofício e à Mesa do Desembargo do Paço.
Fundação da 1.ª fábrica de fiação em Tomar.
Publicação do periódico Mercúrio Histórico, Político e Literário de Lisboa.
Ensaio sobre o Comércio de Portugal e suas Colónias [...], de José
Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho.
Reflexões sobre o Estado da Agricultura de Portugal [...], de Agostinho
Inácio da Costa Quintela.
Corografia Económica Política da Província da Beira (manuscrito), por
Jerónimo Couceiro de Almeida. Realizada para a projectada reforma das
comarcas.
Nova Arte de Escrever, de António Jacinto de Araújo.
Termina a construção do Palácio de Queluz.
Conclusão da Igreja da Conceição Nova, Lisboa.
1795
[24 de Janeiro] Concerto vocal, no Teatro de S. Carlos, a cargo da cantora
Joaquina Conceição Lapinha.
A Espanha negoceia, após o malogro da ofensiva do Rossilhão,
bilateralmente, com a França, os preliminares da Paz de Santo Ildefonso.
Ratificado pelo Tratado de Basileia (Junho). Portugal é excluído das negociações.
[1 de Junho] Edital que autoriza, a título excepcional, a importação de
algodão fiado, para acorrer às necessidades das fábricas de estamparia.
[30 de Junho] Autorizada a Academia das Ciências de Lisboa a nomear
pessoas aptas para a recolha de lápides e inscrições que se achassem pelo reino.
[30 de Julho] Reconhecimento da autoridade dos bispos em matéria de
censura de livros.
José de Abreu Bacelar Chichorro, Memória Económico-Política da
Província da Estremadura.
Demonstração das Grandes Utilidades que devem resultar a todos aqueles
que empreenderem a fiação e tecelagem do algodão em Portugal, de Jácome
Ratton.
1796
[6 de Janeiro] Início da Aula de Diplomática na Universidade de Coimbra.
[17 de Janeiro] Forte abalo de terra em Lisboa.
[29 de Fevereiro] Onda de frio e queda de neve em Lisboa.
[29 de Fevereiro] Alvará da fundação da Real Biblioteca Pública da Corte e
do Reino (Lisboa). Abre ao público em 13/05/97.
[5 de Abril] Decreto que ordena a aquisição de terrenos para cemitérios
públicos.
[13 de Maio] Carta de lei criando um porto franco em Lisboa.
[19 de Julho] Edital que suspende as relações políticas e comerciais com
os Estados Gerais das Províncias Unidas.
[16 de Agosto] Alvará concedendo aos proprietários a liberdade de
armarem os seus respectivos navios.
[17 de Setembro] Decreto de neutralidade a observar-se nos portos
portugueses, face ao conflito europeu.
[24 de Outubro] Suprimida a isenção da décima aos eclesiásticos;
supressão da isenção de sisa aos cavaleiros das ordens militares; os bens da
coroa são sujeitos a uma dupla décima (o quinto), mesmo que o donatário seja
eclesiástico.
[26 de Outubro] Criação da Junta da Fazenda da Marinha.
[29 de Outubro] Lançamento de um empréstimo de 10 milhões de cruzados
(ao juro de 5%).
[2 de Dezembro] Carta régia que isenta de censura as publicações da
Universidade de Coimbra.
D. Rodrigo de Sousa Coutinho elabora
[188]
1797
[18 de Janeiro] A coroa expropria o ofício de correio-mor. Extinção do
cargo. Os Correios passam para a órbita da Secretaria de Estado dos Negócios
Estrangeiros, que irá reorganizar o serviço de Postas, Correios e Diligências.
[22 de Fevereiro] Criação da Companhia de Seguros Tranquilidade
Recíproca.
[7 de Março] Barbosa du Bocage é transferido do Limoeiro e entra nos
cárceres da Inquisição. (Em 1798 é transferido para o Mosteiro de S. Bento da
Saúde.)
[10 de Março] Alvará que restaura o uso do papel selado.
[13 de Maio] Alvará lançando um novo empréstimo de 12 milhões de
cruzados, a 6%.
[13 de Maio] Inaugurado o Teatro de S. João no Porto.
[Junho] Extinta a publicação do Mercúrio Histórico, Político e Literário de
Lisboa.
[Junho] Chega a Lisboa um exército inglês de 6000 homens.
[Junho] Descoberto um plano revolucionário no Rio Grande do Sul, Brasil.
[13 de Julho] As apólices de valor inferior a 50 000 réis devem ser
recebidas pelo seu valor nominal.
[10 de Agosto] Paris: Tratado de paz luso-francês, cujas cláusulas incluíam
uma avultada indemnização à França, exclusão de apoio militar e logístico à
Inglaterra e restrições à entrada de navios ingleses nos nossos portos
continentais. (As negociações arrastam-se pelo ano de 1798; o tratado jamais
será assinado).
[23 de Setembro] O tratado é ratificado, parcialmente, pelo governo
português.
[2 de Outubro] Concessão do título de conde de Évora-Monte a Godoy,
«príncipe da Paz».
[28 de Dezembro] Decreto do Directório que manda prender, em Paris, o
plenipotenciário português, António de Araújo de Azevedo.
Criação do cargo de intendente-geral da Polícia do Exército.
Alvará sobre o papel moeda.
Convenção secreta franco-espanhola para a invasão do território
português, caso Portugal não abdicasse do tráfego inglês nos seus portos.
Início da publicação de História e Memórias, da Academia Real das
Ciências.
O Secretário Português, do padre Francisco José Freire. (Tratado de
epistolografia para bem saber escreve cartas.)
1798
[20 de Janeiro] Aviso que isenta de censura as publicações da Academia
Real das Ciências de Lisboa.
[3 de Fevereiro] O governo britânico notifica Portugal da enviatura de um
emissário a Espanha, para lograr uma paz em separado.
[28 de Março] O plenipotenciário português, António de Araújo Azevedo,
que havia sido preso, é expulso de França por decreto do Directório.
[12 de Maio] Carta régia abolindo o Directório dos Índios do Brasil.
[18 de Maio] Alvará que autoriza a pesca livre da baleia.
[22 de Junho] Ratificação pelo sultão de Marrocos do Tratado de paz luso-
marroquino de 11/01/74.
[30 de Junho] Criação da Sociedade Real Marítima, Militar e Geográfica
(com fins culturais e científicos).
[189]
[190]
1799
[23 de Janeiro] União das fábricas de Portalegre, Covilhã e Fundão.
[1 de Abril] Regimento provisório do Correio, criando correios em todas as
cidades e vilas principais.
Frustradas as negociações com a França, retornam a Lisboa (11 de Maio)
os diamantes que se destinavam a pagar a indemnização estipulada no tratado de
10/08/97.
[25 de Maio] Medidas de protecção aos pinhais.
[15 de Julho] O príncipe D. João assume a regência de direito, durante o
impedimento de D. Maria I. (A regência prolonga-se até 1816, ano da morte da
rainha.)
[Setembro] Ocupação simbólica de Goa pelos Ingleses.
Alterações ministeriais provocadas pela «recaída política» de José Seabra
da Silva.
Plano de «instrução pública» de Garção Stocker. (Primeiro grande projecto
de instrução pública.)
Entrada em actividade da Junta da Directoria-Geral dos Estudos e Escolas
do Reino (criada em 1794), que terá o papel de coordenação do ensino.
1801
[7 de Março] Novo empréstimo de 12 milhões de cruzados, constante de 20
000 acções de 240 réis cada uma.
[6 de Junho] Assinatura de acordos com a Espanha e a França.
«Guerra das Laranjas» com a Espanha. Desta ofensiva relâmpago, em
Maio, resulta a perda de Olivença.
Interrupção das reuniões do Conselho de Estado. (Revitalizado com a
revolução liberal.)
Inconfidência Pernambucana.
É fundada a Escola de Medicina e Cirurgia de Goa.
A «Junta dos Estudos...» pede a criação de 200 escolas. (São apenas
abertas 21 entre 1809-1820.)
Criação da Guarda Real da Polícia.
Contam-se em Lisboa 5 lojas maçónicas.
A população portuguesa anda pelos 3 milhões de habitantes (2 931 930).
1801-1802
1803
[Julho] Motins de Campo de Ourique.
[19 de Dezembro] Convenção obtida pelo diplomata Lannes, garantindo a
neutralidade portuguesa.
Fundação do Colégio da Luz (antecessor do Colégio Militar).
A Aula de Desenho e Debuxo é incorporada na Academia Real da Marinha
e Comércio.
João António Carvalho Rodrigues da Silva escreve a Memória sobre o
Estado actual das Fábricas de Lanifícios da Vila da Covilhã [...].
Manuel Luís da Veiga (comerciante) escreve Escola Mercantil sobre o
Comércio.
[191]
(Legenda: Duque de Lafões (Lisboa, Academia das Ciências de Lisboa).)
1804
[24 de Janeiro] Abolido, de novo, o imposto do papel selado.
[11 de Dezembro] Alvará com disposições para regulamentar os
aforamentos dos maninhos e montados. O processo de apropriação privada dos
maninhos caminha a par com a afirmação do «individualismo agrário».
Napoleão reconhece a neutralidade de Portugal.
A presença do «partido francês», no governo português, é reforçada com a
ascensão de António de Araújo Azevedo à Secretaria dos Negócios Estrangeiros.
Uma viagem de exploração em Moçambique alcança o rio Tete.
Tratado de amizade e fraternidade entre as duas obediências: os Grandes
Orientes de França e Portugal.
José da Silva Lisboa (sob anonimato) redige os Princípios de Economia
Política […] (considerado o 1.º manual de economia publicado em Portugal).
Diário da Agricultura (1804-1806), de Francisco Soares Franco.
1805
[20 de Abril] Decreto sobre o Regimento Geral do Correio.
Junot chega a Lisboa como embaixador. (Na sua passagem por Madrid fica
praticamente decidido o projecto de invasão franco-espanhola.)
Proposta do príncipe D. João para a criação de seminários em todas as
dioceses.
Ordenada a criação de cemitérios públicos.
1806
[21 de Novembro] Napoleão decreta o Bloqueio Continental, em Berlim.
Exige-se o encerramento dos portos portugueses à navegação britânica e a
confiscação dos bens dos súbditos ingleses estacionados em Portugal.
Enviada a Portugal uma esquadra inglesa, para negociar o apoio militar e
político contra a França.
Conspiração de Mafra (intentada contra o príncipe D. João por um grupo de
aristocratas que pretendem o seu afastamento do poder).
Os pombeiros Pedro João Baptista e Amaro José chegam ao Cazembe no
interior da África Austral.
Morre o duque de Lafões.
Colecção dos principais autores da Historia Portuguesa, da Academia Real
das Ciências (8 vols.: 1806-1809).
1807
[Julho] Napoleão ordena o encerramento dos portos portugueses à
Inglaterra.
Encerramento dos portos, mas autorização de residência aos ingleses.
[11 de Outubro] Ordem a Junot para a invasão.
[27 de Outubro] Tratado de Fontainebleau. Projecto de ocupação conjunta
e divisão do território português em 3 partes: uma para o rei da Etrúria, outra para
a Espanha e ainda outra que ficaria sob a tutela de Napoleão.
Convenção secreta entre Portugal e a Inglaterra: prevê-se a transferência
da sede da
[192]
[193]
[194]
1808-1890
Luís Filipe Torgal
[195]
1808
[21 de Janeiro] Chegada da família real – D. Maria I e o príncipe D. João –,
acompanhada da respectiva corte, ao Brasil. A primeira invasão das tropas
napoleónicas e espanholas, comandadas pelo ex-embaixador em Lisboa, general
Junot, provocou esta fuga precipitada, que causou grande polémica entre os
políticos da época.
[22 de Janeiro] Abertura dos portos brasileiros ao tráfego internacional e
aos aliados de Portugal. Esta decisão régia, tomada sob pressão inglesa, fez
desabar o sistema baseado no «pacto colonial», em vigor desde a época
pombalina, que submetia os interesses do comércio brasileiro ao monopólio de
Portugal, favorecendo particularmente a Inglaterra, que se encontrava
especialmente voltada para os mercados brasileiro e português, e colocando a
metrópole, pelo menos temporariamente, na dependência da colónia do Brasil.
[Fevereiro] O crescente «afrancesamento» ideológico e institucional que o
país viveu depois da saída da família real culminou na dissolução do Conselho de
Regência e na destituição oficial da Casa de Bragança levada a cabo pelo general
Junot. Na sequência destes factos, Junot forma um governo composto por
portugueses e franceses da sua confiança.
[Fevereiro-Março] Com o objectivo prioritário de colocar o exército
português
[196]
[197]
1809
[Março-Maio] Segunda invasão francesa, comandada pelo general Soult,
que em Março entrou em Portugal, venceu as serranias do Alto Douro e Trás-os-
Montes e atingiu o Porto, onde se manteve durante um mês. Em Maio, sob
pressão do exército anglo-luso, os Franceses são obrigados, novamente, a
retirarem-se, sofrendo a última derrota já em território espanhol, na Batalha de
Talavera.
[Março] São presas e colocadas fora da capital, com residência fixa, várias
personalidades, a maior parte das quais ligadas à Maçonaria e ao Grande Oriente
Lusitano, cujo arquivo cai sob a alçada da polícia. Esta medida integra-se numa
política de reconstituição do poder central, levada a cabo em Portugal pelas forças
britânicas apostadas em punir todos os suspeitos de jacobinismo e «afeição» aos
Franceses.
Ocupação da Guiana Francesa pelas forças portuguesas no Brasil, que
permanecerá em poder das forças luso-brasileiras até ao Congresso de Viena
(1815). Esta invasão, que permitiu o alargamento do território brasileiro, integra-se
na política de renovação administrativa, judicial e de desenvolvimento económico
que o príncipe regente, entretanto instalado no Rio de Janeiro, começa a pôr em
prática na colónia portuguesa, que parece vocacionada para substituir Lisboa
como centro do Império.
Publicação do primeiro quotidiano português, Diário Lisbonense.
1810
Assinatura entre Portugal e Inglaterra dos Tratados do Comércio e Amizade
e de Aliança e Navegação que passam a assegurar aos Britânicos o acesso
preferencial dos seus produtos a todos os territórios portugueses, com a
concessão de privilégios especiais, mesmo em relação aos produtos portugueses.
A partir de então, o movimento industrial português entra em depressão face ao
profundo impacto da industrialização inglesa que permite a colocação no país de
produtos manufacturados de qualidade superior a preços competitivos.
[Junho] Terceira invasão francesa, comandada pelo marechal Massena,
que penetra em Portugal pela Beira Alta à frente de um poderoso exército
composto por 80 000 homens. Toma Almeida e Viseu; contudo será travado no
Buçaco pelo exército anglo-luso liderado por Wellesley, futuro duque de
Wellington. A vitória do Buçaco será acompanhada por um recuo estratégico do
exército anglo-luso até às Linhas de Torres, onde se constitui uma fortificação
tendo em vista a defesa de Lisboa.
[27 de Setembro] Batalha do Buçaco entre o exército francês invasor,
comandado por Massena, e o exército anglo-português, comandado por
Wellesley. O exército francês sai derrotado neste violento recontro, onde as forças
do general inglês tiram partido da natureza acidentada do terreno. Apesar da
derrota, Massena prosseguiu a marcha rumo a Lisboa, não conseguindo, no
entanto, ultrapassar as fortificações de Torres Vedras.
[Setembro] Prisão e exílio de cerca de cinquenta personalidades ligadas à
magistratura, comércio, exército, profissões liberais e clero, acusadas de
colaboracionismo durante a ocupação francesa e de conotações ideológicas
liberais. Este processo, conhecido pela designação de «Setembrizada» inseriu-se
em toda uma estratégia de política repressiva desencadeada pelas forças.
[198]
1810-1811
[Outubro-Março] Retenção das forças francesas nas linhas fortificadas de
Torres Vedras que impedem a chegada do exército invasor a Lisboa. O exército
de Massena, incapaz de transpor este obstáculo, recuará definitivamente,
retomando já em Março de 1811 o caminho da fronteira.
1812
[Julho] Criação da instituição Vacínica, por iniciativa de alguns médicos,
sócios da Academia Real das Ciências de Lisboa. Este organismo visou introduzir
e divulgar em Portugal a vacina descoberta por Jenner na última década do
século XVIII, como meio privilegiado de combate contra as doenças infecto-
contagiosas, com particular destaque para o flagelo da varíola, um dos males
endémicos mais mortais do século XIX.
[199]
O Brasil, que havia sido a «jóia da coroa» portuguesa, devido às suas riquezas
naturais, ascende da condição de colónia à situação de reino, ficando em pé de
igualdade com a metrópole.
1816
[20 de Março] Morte de D. Maria I, que reinou, de facto, até 1792, altura em
que, já viúva, manifestou sinais de demência, tendo sido, por isso, chamado à
governação o príncipe D. João, que veio a assumir a regência do reino em 1799 e,
posteriormente, a ser oficialmente proclamado rei de Portugal.
[200]
1820
[Julho] Segunda viagem de Beresford ao Brasil, para obter de D. João VI
poderes políticos e militares mais alargados, para travar as intrigas de alguns
membros da regência e controlar os partidários do liberalismo.
[24 de Agosto] Pronunciamento militar no Porto, que contou com a adesão
popular e larga participação de comerciantes e magistrados, que se revoltam
contra o regime absoluto conduzido por uma regência controlada pela
interferência inglesa. Esta revolta, iniciada no Campo de Santo Ovídio, deu origem
a uma alteração dinâmica na sociedade portuguesa, ao pôr em causa as
estruturas de um Estado de Antigo Regime, abrindo caminho à aplicação em
Portugal dos valores do liberalismo.
Na sequência do movimento liberal ocorrido no Porto, em 24 de Agosto,
constitui-se nesta cidade a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, que
integra, entre outros, o brigadeiro António da Silveira, os coronéis Sebastião
Cabreira e Bernardo Sepúlveda e os burgueses Manuel Fernandes Tomás, José
Ferreira Borges e José da Silva Carvalho. O numeroso governo da Junta do Porto
marcha em seguida rumo a Lisboa, com o intuito de provocar a queda da regência
e aí fazer chegar a revolução liberal.
Beresford é proibido de desembarcar em Portugal quando regressa do
Brasil, devido à eclosão da revolução portuguesa, que veio, de resto, pôr fim à sua
carreira no nosso país. Voltará, contudo, em 1826 a pedido da regente D. Isabel
Maria para proteger o vacilante regime liberal. Mas a oposição que se lhe deparou
fê-lo partir definitivamente para Inglaterra.
[201]
1820-1821
1821
[26 de Janeiro] Reunião das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes
da Nação Portuguesa, escolhidas em eleições por sufrágio indirecto. A sua tarefa
fundamental e prioritária foi elaborar o mais antigo texto constitucional português,
que consolidasse os princípios do movimento liberal revolucionário de 1820.
[Fevereiro] Juramento das bases de uma futura Constituição por D. João
VI, no Brasil, que entretanto, face à pressão do governo metropolitano e depois de
uma longa polémica no seio da própria corte, decidirá, contra sua vontade,
regressar a Portugal.
[20 de Março] Supressão e abolição de alguns «direitos banais». Este
decreto, perfeitamente integrado dentro do espírito liberal, pretende abolir tributos
e imposições que remontam ao período senhorial, contribuindo para uma maior
liberalização das actividades agrícolas e um acesso dos estratos sociais mais
vastos aos meios de produção.
Extinção do Tribunal do Santo Ofício. O espírito tolerante e laico do
liberalismo, que assimilou os valores do iluminismo, entendeu desde logo extinguir
este órgão católico repressivo, ao mesmo tempo que pugna pela secularização da
sociedade, da cultura e das instituições e por uma não interferência da Igreja nos
poderes do Estado.
Fundação da primeira instituição bancária em Portugal – o Banco de Lisboa
–, que contribuirá decisivamente para a liberalização da economia e dinamização
do mercado. Este banco será, simultaneamente, comercial, concessor de créditos,
aceitante de depósitos, intermediário na oferta e procura de capitais e banco
emissor exclusivo até 1835. Em 1846 fundir-se-á com a Companhia Confiança
Nacional, dando origem ao Banco de Portugal.
[5 de Maio] Publicação do decreto que inicia o processo de desamortização
do período liberal, o qual se traduz no desmantelamento de corporações e de
estabelecimentos religiosos e laicos, na nacionalização dos bens da coroa e na
incorporação dos seus bens na Fazenda Nacional, que posteriormente os
transferirá, por meio de venda em hasta pública, para o domínio privado.
[202]
1822
[3 de Junho] Publicação do decreto sobre a lei dos foros que vem ao
encontro das aspirações dos camponeses, ao reduzir para a metade as rações e
para a quarentena os laudémios Este diploma, que no entanto apenas se aplicava
às terras cujos direitos eram regulamentados por carta foral, integra-se num
ambicioso plano de reforma que visa remover os principais obstáculos ao
desenvolvimento da agricultura, libertando a terra de excessivas cargas tributárias
que ascendiam ao regime agrícola senhorial.
[7 de Setembro] Proclamação da Independência do Brasil. O regresso de
D. João VI a Lisboa, em 1821, as medidas desastrosas das Cortes portuguesas
relativamente ao Brasil, que decretam o seu retrocesso à situação de simples
colónia e hostilizam o príncipe D. Pedro que ficara entre os Brasileiros, aliados à
onda liberal autonomista que no século XIX invadiu toda a América Latina,
levaram a que o Brasil proclamasse a independência pela boca do príncipe D.
Pedro Portugal viria em 1825 a reconhecer este acto proclamado nas margens do
no Ipiranga.
[23 de Setembro] Promulgação da Constituição portuguesa, que se afasta
(Legenda: Frontispício da Constituição de 1822.)
[203]
1823
[23 de Fevereiro] Rebelião contra-revolucionária liderada pelo general
Manuel da Silveira, conde de Amarante, e outros militares que haviam sido
afastados depois da Martinhada. A revolta contra o governo liberal, no Norte do
país, é dominada pelas forças militares afectas ao governo. O conde de Amarante
é derrotado, os seus bens são confiscados, sendo obrigado a refugiar-se em
Espanha. Esta sua acção foi um sinal evidente dos ventos de mudança que se
avizinhavam e onde ele teve um papel de destaque.
[Março] Extinção de todas as portagens, íncluindo as que se encontrassem
doadas, vendidas ou vinculadas, com algumas excepções relativas à Alfândega
de Lisboa e ao pescado do Algarve.
[27 de Maio] Sublevação de D. Miguel, denominada Vila-Francada. Foi
sobretudo uma demonstração militar de forças políticas absolutistas contrárias ao
liberalismo, ocorrida em Vila Franca de Xira. O infante D. Miguel obedecia a um
plano conspirador, a que não era estranha a influência da rainha, D. Carlota
Joaquina, para destronar o rei, de quem se dizia que era coagido pelo governo
liberal. Na sequência do golpe contra-revolucionário é abolida a vigência da
Constituição de 1822, o rei nomeia outro executivo, atribuindo a D. Miguel o
comando do exército, restitui à rainha as prerrogativas que lhe haviam sido tiradas
e manda soltar os presos por motivos políticos. O Partido Absolutista obtém assim
a sua primeira vitória significativa depois dos acontecimentos de 1820.
[18 de Junho] Nomeação de uma Junta presidida pelo marquês de
Palmela, integrando 14 membros, entre os quais predominavam os nomes mais
conhecidos do movimento conservador, para preparar o projecto da carta de lei
fundamental da monarquia portuguesa. Em fim de Dezembro do mesmo ano a
Junta tinha já definido um texto constitucional moderado que, contudo, não é
colocado em prática devido às manobras das forças absolutistas.
[19 de Junho] Criação de uma Junta, onde predominavam nomes
consagrados do movimento conservador para examinar as leis das Cortes
vintistas e propor as que estivessem de acordo com os verdadeiros princípios do
direito público. Depois de seis meses de análise da obra legislativa das Cortes
vintistas, é publicada uma Carta de lei em 18 de Dezembro que revogava os seus
decretos e ordens numa relação circunstanciada. Apenas se mantém em vigor o
decreto da criação do Banco de Lisboa.
[2 de Julho] As Cortes Extraordinárias auto-suspendem os seus trabalhos
na sequência da Vila-Francada, não sem antes cerca de 60 deputados terem
apresentado
[204]
(Legenda: D. Miguel I (Lisboa, Banco de Portugal)
1824
[4 de Janeiro] Carta de lei declarando em vigor as leis tradicionais. Esta
decisão régia põe fim à vigência da Constituição de 1822 e permite o regresso à
tradicional ordem jurídica do Antigo Regime.
[Janeiro] Conclusão dos trabalhos de preparação da Carta fundamental da
monarquia e proposta ao rei de restabelecimento das antigas Cortes. Apenas
depois do golpe absolutista malogrado da Abrilada o rei decidiu convocar em
Junho os três estados do reino.
[Fevereiro] Assassinato em Salvaterra do marquês de Loulé, confidente e
conselheiro de D. João VI e início da perseguição aos seus ministros mais
próximos, duque de Palmela e conde de Subserra.
[Abril] Abrilada. Golpe absolutista premeditado pelos opositores de D. João
VI e liderado pelo infante D. Miguel, que acusava a Maçonaria de pretender
assassinar o rei e a família real. As forças revoltosas acabam por prender os
conselheiros de D. João VI e sequestrá-lo no Palácio da Bemposta. A intervenção
do corpo diplomático estrangeiro no sentido de libertar o rei permitiu que este se
refugiasse num navio inglês estrategicamente colocado no Tejo, onde irá
determinar o exílio de D. Miguel e intimidar a rainha, D. Carlota Joaquina a sair de
Portugal.
[Maio] Exílio do infante D. Miguel para Viena, decretado por D. João VI na
sequência do golpe absolutista malogrado da Abrilada.
[Junho] Dissolução da Junta anteriormente convocada para examinar as
leis emanadas pelas extintas Cortes vintistas. Convocação por D. João VI das
Cortes à moda antiga com a presença dos três estados do reino: clero, nobreza e
povo. Contudo, tal nunca chegou a realizar-se, nem em 1825, nem em 1826, ano
da morte do rei.
[Junho] Revogação da Lei dos Forais. Esta determinação surge na
sequência das sucessivas revoltas contra-revolucionárias que criaram uma
conjuntura política pouco propícia a mudanças económicas de fundo. O seu
cumprimento permitiu a recuperação do poder dos grupos privilegiados, afectos à
ordem absolutista, cujos rendimentos provinham das estruturas tradicionais da
propriedade.
[26 de Outubro] Nova tentativa de revolta militar miguelista em Lisboa,
visando assassinar os ministros de D. João VI, forçar a abdicação do rei e
estabelecer uma regência a favor da rainha «humilhada», D. Carlota Joaquina.
Fundação da Fábrica da Vista Alegre, em Ílhavo. O principal dinamizador
deste projecto, na sua primeira fase caracterizada pela produção de vidro e, já
nos anos 1830, pela introdução, em Portugal, do fabrico de porcelana, foi José
Ferreira Pinto Basto.
Almeida Garrett publica Camões.
[205]
1825
[15 de Novembro] O governo português reconhece a independência do
Brasil e assina com o novo Estado um Tratado de Paz e Aliança. Este acordo
permite a permanência de mercadores nacionais no Brasil e a continuidade da
corrente de emigração lusa rumo à ex-colónia de Portugal.
Fundação das Escolas Régias de Cirurgia de Lisboa e Porto que vieram
melhorar a qualidade do ensino e da prática da cirurgia em Portugal, já que, em
Coimbra, a Faculdade de Medicina dava sobretudo relevo à formação médica não
cirúrgica.
1826
[6 de Março] D. João VI nomeia um conselho de regência, sendo regente a
infanta D. Isabel Maria. O decreto assinado pelo rei clarifica a questão da
regência, no sentido de procurar evitar uma eventual subida ao poder de D.
Carlota Joaquina.
[10 de Março] Morte de D. João VI e início da regência da infanta D. Isabel
Maria, que coincide com um período de indefinição e instabilidade política, que
culmina com a outorga da Carta Constitucional enviada por D. Pedro I.
[29 de Abril] Outorga da Carta Constitucional concedida por D. Pedro ainda
no Brasil, que seguia de perto o modelo brasileiro, influenciado, por sua vez, pelo
modelo francês. A Carta, que garantia à nobreza hereditária as suas regalias,
considerava a existência de quatro poderes do Estado: o legislativo, pertencia às
cortes compostas por duas câmaras (Câmara dos Deputados e Câmara dos
Pares), o moderador, que pertencia privativamente ao rei, o executivo, que cabia
ao monarca e ao governo, e o judicial, na mão dos juizes e jurados. A Constituição
Outorgada continua, portanto, a afirmar o poder monárquico, sem manifestar
declarada inimizade à ideia constitucional. Nesta perspectiva permite um maior
consenso político, pois pretendia agradar às tradicionais classes privilegiadas,
assim como aos proprietários e aos grandes burgueses, que questionavam o
liberalismo de cunho vintista. Foi o texto constitucional que mais tempo esteve em
vigor (1826-1828, 1834-1836, 1842-1910).
[2 de Maio] Abdicação, por D. Pedro, da coroa de Portugal na sua filha D.
Maria da Glória. Esta deveria casar com o seu tio, o infante D. Miguel, que juraria
a Carta.
(Legenda: D. Maria II (Coimbra, Sala dos Capelos da Universidade)
[206]
1828
[22 de Fevereiro] Regresso de D. Miguel a Lisboa. Jura a Carta no Palácio
da Ajuda, assume a regência e nomeia um executivo. Contudo, a partir de Março
contraria anteriores resoluções e imprime uma nova mudança no processo político
em Portugal, optando por uma concepção prática de poder absoluto.
[Março] D. Miguel dissolve a Câmara dos Deputados e nomeia uma Junta
para preparar a convocação da antiga assembleia dos três estados do reino.
Cerimónia em que o rei usou os símbolos da sua realeza (manto e ceptro) numa
demonstração clara de regresso à monarquia absoluta.
Assassinato dos lentes de Coimbra, próximo
[207]
de Condeixa, quando se dirigiam a Lisboa para felicitar D. Miguel, em
representação da Universidade, por um grupo de estudantes liberais que
integravam a associação secreta dos Divodignos.
[Abril] Retirada dos principais agentes diplomáticos europeus, radicados em
Portugal, conseguindo o governo de D. Miguel apenas obter o reconhecimento da
Espanha, do Vaticano e dos Estados Unidos.
[Maio] Revoltas liberais por todo o país, face ao domínio miguelista. No
Porto constitui-se um governo revolucionário – a Junta do Porto.
[Junho] Belfastada. Desembarque no Porto de um grupo de exilados
liberais que chegam de Inglaterra no navio Belfast. Não se entendendo com os
membros da Junta Revolucionária portuense, regressam a Inglaterra ainda antes
da contra-ofensiva miguelista.
[23 a 25 de Junho] Reunião dos três estados do reino – clero, nobreza e
povo – aclamando o infante D. Miguel como rei absoluto.
Cisão dos liberais no exílio, agrupados em duas correntes: palmelistas que
tinham em Palmela o chefe e defendiam uma orientação moderada, anglófila, e
saldanhistas, que consideravam Saldanha o seu chefe carismático, sendo um
grupo mais radical e francófilo.
Almeida Garrett publica Adozinda.
[208]
1831-1832
1832-1833
Cerco do Porto pelas forças miguelistas que destacaram para a cidade do Norte
cerca de 80 000 homens. Apesar da abissal superioridade do exército absolutista,
este cerco duraria cerca de um ano. Em meados de 1833, a situação era
desesperada para os liberais: fome, epidemias, deserções, atraso no pagamento
dos soldos, indisciplina e revoltas, para além das eternas divergências entre
Palmela e Saldanha que faziam prever um fim trágico para a aventura
constitucional. Perante a iminência da vitória dos absolutistas, os liberais enviam
[209]
para o Algarve, por via marítima, uma coluna de 2500 homens, comandados pelo
duque da Terceira que marchará posteriormente sobre Lisboa e alterará o rumo
dos acontecimentos em favor dos liberais.
1833
[24 de Junho] Desembarque das tropas constitucionais, comandadas pelo
duque da Terceira no Algarve. Um mês depois de se ter apeado nestas paragens,
o duque entrava vitoriosamente em Lisboa.
[Junho] Derrota da esquadra miguelista junto ao cabo de São Vicente, no
Algarve, infligida pelas forças liberais comandadas pelo almirante mercenário
Napier.
[24 de Julho] Entrada das tropas do duque da Terceira em Lisboa, depois
de ter destroçado, junto de Almada, a divisão comandada pelo general Teles
Jordão – ele próprio foi linchado por soldados enraivecidos, por ser conhecido
como odioso torcionário da repressão miguelista.
Desembarque do regente D. Pedro e dos membros do seu governo em
Lisboa.
Fixação em Santarém do quartel-general de D. Miguel, depois deste
abandfonar Braga com o objectivo de preparar a ocupação de Lisboa.
Aprovação do Código Comercial Português, da autoria de Ferreira Borges,
que vigorou até 1888. Este documento regulamentou o comércio português,
renovando e actualizando os processos e técnicas comerciais de acordo com os
princípios do liberalismo económico.
Extinção da Casa de Suplicação (30 de Julho) e do Desembargo do Paço
(3 de Agosto) e instalação do Supremo Tribunal da Justiça.
[Outubro] Epidemia de cólera que afectou quase todo o país, provocando
cerca de 40 000 óbitos.
1834
[Janeiro] Conquista de Leiria e Torres Novas por Saldanha que, entretanto,
também derrota na Batalha de Pernes as hostes miguelistas, local de fulcral
importância para o abastecimento de pão a Santarém, onde as tropas de D.
Miguel se encontravam entrincheiradas.
[Fevereiro] Derrota das forças miguelistas na Batalha de Almoster, no
Ribatejo.
[Março-Maio] Conquista liberal do Minho, Trás-os-Montes e Beiras. Nesta
última região, quase todas as localidades caem sem dificuldade, porque as
respectivas populações se dispõem a aclamar a causa constitucional.
[22 de Abril] Assinatura do Tratado da Quádrupla Aliança, na sequência de
um projecto patrocinado pela Inglaterra e pela França visando um acordo entre
Portugal e Espanha, no qual ambas as coroas peninsulares se comprometiam a
pôr termo às guerras civis e previam o exílio de D. Miguel e D. Carlos, este último
pretendente absolutista à coroa de Espanha, exilado em Portugal. Este tratado foi
assinado pelos reis de França e de Inglaterra e pelas rainhas de Portugal e de
Espanha.
[7 de Maio] Extinção da Casa dos Vinte e Quatro. Órgão que remonta ao
tempo de D. João I, sendo apenas oficializado no reinado de D. Manuel I, tinha a
função de zelar pelos interesses dos mesteirais na administração municipal.
[16 de Maio] Batalha de Asseiceira, onde as forças liberais comandadas
pelo marechal duque da Terceira desbarataram as tropas realistas, abrindo
caminho para a aproximação de Santarém, derradeiro reduto miguelista, e para a
consequente ocupação da cidade.
[26 de Maio] Concessão ou Convenção de Évora-Monte, negociada entre
os marechais liberais Saldanha e Terceira, e o marechal miguelista José António
de Azevedo Lemos que colocava termo à guerra civil sangrenta através da
rendição e exílio de D. Miguel. D. Pedro, em troca da deposição das armas,
acabou por ter para com o adversário uma grande clemência concedendo uma
amnistia geral a todos os prisioneiros políticos, o regresso livre dos vencidos às
respectivas casas, a posse de todas as fazendas e bens pessoais, a garantia de
que os militares miguelistas manteriam os postos que possuíam. A D. Miguel
[210]
era atribuído o pagamento de uma pensão e garantida a posse dos bens próprios,
não podendo, todavia, regressar a Portugal.
[30 de Maio] Extinção das ordens religiosas masculinas e nacionalização
dos seus bens. Esta medida radical, da responsabilidade exclusiva do regente D.
Pedro e do ministro Joaquim António de Aguiar conhecido por isso por «o Mata-
Frades», tornara-se inevitável: pela crise persistente das ordens religiosas, pelo
contributo que estas prestaram ao regime miguelista, pela convicção generalizada
da sua inutilidade, pela convergência de interesses particulares e públicos e,
ainda, pela tendência secularizante do tempo.
[Junho] D. Miguel chega a Itália e renega a Concessão de Évora-Monte.
Divulga entretanto um manifesto em que promete regressar a Portugal logo que
lhe fosse possível reconquistar o trono – ilusória esperança que acalentou até a
sua morte, em 1866. Em consequência ser-lhe-ia recusada a pensão de 60 contos
anuais que anteriormente lhe fora reconhecida no Tratado de Évora-Monte.
Realização de eleições, decretadas por D. Pedro, para reunir as Cortes. O
sufrágio era masculino, indirecto e censitário: só os maiores de 25 anos ou de 21
anos, conforme o estado civil e o estatuto profissional, detentores de um
rendimento anual líquido não inferior a 100 000 réis, poderiam votar nas
assembleias paroquiais. Os escolhidos nestas, possuidores de um rendimento a
partir de 200 000 réis, reuniam-se depois nas capitais de província e elegiam, por
sua vez, os deputados, que, entre outras condições, teriam que auferir de uma
renda não inferior a 400 000 réis.
[15 de Agosto] Abertura solene das Cortes, reunidas num antigo convento
extinto, o de São Bento da Saúde, entretanto adaptado para as novas funções.
No discurso que D. Pedro proferiu na sessão de abertura propôs à consideração
dos parlamentares se deveria ou não continuar como regente durante a
menoridade da rainha e se o autorizavam a celebrar o casamento desta com um
príncipe estrangeiro. Depois de aceso debate, obteve resposta favorável às suas
pretensões.
[24 de Setembro] Morte de D. Pedro IV com 36 anos.
[22 de Dezembro] Lei da Liberdade de Imprensa.
Novo ministério nomeado pela rainha D. Maria II, presidido pelo duque de
Palmela.
Criação da Associação das Casas de Asilo da Infância Desvalida, com a
inauguração do primeiro estabelecimento. Considerada uma das mais importantes
novidades dos governos liberais em matéria de assistência, esta associação irá
inaugurar, na segunda metade do século XIX, estabelecimentos por todo o país,
proporcionando às crianças órfãs ou provenientes de famílias pobres, agasalho,
educação moral e cívica e instrução elementar.
Entrada em vigor do Código Comercial de Ferreira Borges, elaborado e
aprovado em 1833.
Fundação de associações comerciais por todo o país que emergem no
contexto do triunfo do liberalismo. O seu objectivo foi
[211]
1834-1836
1835
[26 de Janeiro] Casamento de D. Maria II com o príncipe Augusto de
Leuchtenberg, que morreria pouco depois.
[15 de Abril] Carta de lei ordenando a venda em hasta pública dos bens
nacionais. Esta medida surgiu aos olhos de muitos como o remédio para todos os
males de que o país sofria. Invocaram-se vantagens económicas, porque era
indispensável entregar estes bens a pessoas com capacidades para desenvolver
a agricultura, produzir riqueza e fomentar a prosperidade do país; projectaram-se
intenções sociopolíticas, porque era necessário multiplicar o número de
propriedades, dividindo os prédios, que poderiam ser adquiridos por amplas
camadas da população, a fim de se alargar a base social de apoio do novo
regime; e perspectivaram-se imensos benefícios financeiros para o Tesouro
Público, entretanto vítima de uma enorme dívida pública.
[25 de Abril] Reformas na administração geral e municipal. O continente é
dividido em dezassete distritos administrativos e as ilhas adjacentes em três. Os
distritos, governados por um magistrado de nomeação real, são divididos em
concelhos à frente dos quais se encontra um administrador escolhido pelo
governo de uma lista apresentada pela câmara. A circunscrição menor, a
paróquia, é governada por um comissário. Estas bases foram, posteriormente,
desenvolvidas pelo Decreto de 18 de Julho do mesmo ano.
[Setembro] Lei obrigando à construção de cemitérios e regulamentos sobre
funerais, que provocou a oposição popular ligada a tradicionais crenças religiosas
e que não abdicava de enterrar os seus mortos nas igrejas.
[7 de Setembro] Tentativa de criação do Conselho Superior de Instrução
Pública em Lisboa. Seria seu presidente um ministro do reino, «na sua qualidade
de ministro de Instrução Pública». Pela primeira vez se alude expressamente à
figura do «ministro de Instrução Pública» (ainda que não se crie autonomamente
essa pasta) e se tira a Coimbra e à Universidade a superintendência do órgão
máximo de administração do ensino. No entanto, mercê dos protestos da
Universidade, esta medida não foi posta em prática.
Criação do Banco Comercial do Porto, facto que se integra no contexto de
uma política de liberalização económica e de dinamização do mercado.
Fundação da Sociedade Farmacêutica Lusitana.
Publicação do Código Farmacêutico Lusitano, de autoria de Agostinho
Albano da Silveira Pinto, médico da Real Câmara e doutor em Filosofia. Esta obra
substituiu a antiga farmacopeia preconizada pelos Estatutos da Universidade de
1772, da autoria de Francisco Tavares, médico e lente da Faculdade de Medicina
de Coimbra.
1836
[Janeiro] Casamento de D. Maria com Fernando II de Saxe-Coburgo-Gotha.
Ficava assim assegurada a protecção da rainha e justificada a esperança de que
deste enlace conjugal resultasse um sucessor ao trono português, o que não
tardou a concretizar-se com o nascimento do príncipe herdeiro, futuro rei Pedro V.
[15 de Agosto] Convocação de Cortes Extraordinárias, dissolução do
Parlamento pela rainha e marcação de eleições na sequência da instabilidade
política criada pela
[212]
(Legenda: O ―Remexido‖.)
[213]
1836-1837
1837
[Janeiro] Atentado frustrado contra o príncipe consorte, D. Fernando.
[Maio] Conjura das Marmotas. Conspiração de um grupo de antigos oficiais
de D. Miguel que se reúnem no lugar das Marmotas, perto de Loures, para
estudar a hipótese de repor no trono o antigo rei D. Miguel. Os conspiradores
acabarão, contudo, por ser presos pelo governo e o seu respectivo material de
guerra capturado.
[12 de Julho-Setembro] Revolta dos Marechais. Insurreição militar
desencadeada pelos cartistas, com o apoio de Leopoldo I da Bélgica, comandada
pelos marechais duques de Saldanha e da Terceira, com o fim de restabelecer a
Constituição Outorgada por D. Pedro. A sublevação não conseguiu obter o apoio
da Guarda Nacional de Lisboa e deparou com a resistência dos exércitos
setembristas do marquês de Sá da Bandeira e do conde de Bonfim, acabando por
ser anulada. Terceira e Saldanha, os dois marechais revoltosos, foram obrigados
a exilar-se.
[16 de Setembro] Nascimento do príncipe herdeiro, filho de D. Maria e de
D. Fernando, futuro rei D. Pedro V, aclamado em 1855.
Nova Reforma da organização judiciária.
[214]
1838
[Março] Revolta do Arsenal. Sublevação de setembristas radicais, que
reuniam no Arsenal da Marinha, com o objectivo de exigirem um ministério
«genuinamente» setembrista, sem a inclusão de personalidades moderadas. O
marquês de Sá da Bandeira, então presidente do governo, decidiu pactuar com os
revoltosos, demitindo alguns ministros, dissolvendo, todavia, o batalhão sedicioso
e dispersando as forças insurrectas.
[4 de Abril] Juramento da Constituição de 1838. Este texto constitucional
procurou conciliar a Constituição de 1822 com a Carta Constitucional de 1826,
suprimindo o radicalismo do texto vintista, mas alargando significativamente a
intervenção da soberania nacional, que a Carta restringia. Os seus princípios
fundamentais apontam para a definição da soberania popular como base
democrática do poder, retorno ao esquema tripartido de poderes, domínio efectivo
do poder real, que condiciona o poder legislativo através da sanção e do veto
definitivo, bicameralismo electivo e temporário e consagração do regime
censitário. Apesar do compromisso entre as duas facções políticas, o documento
não uniu os Portugueses, pois não agradava aos setembristas mais fervorosos,
nem aos cartistas mais ortodoxos. Em 1842, Costa Cabral restaura a Carta
Constitucional, anulando a vigência da Constituição de 1838.
[9 de Abril] Nova lei eleitoral que dividiu o país em 24 círculos eleitorais, aos
quais se juntavam mais três correspondentes às ilhas e às possessões
ultramarinas. O número total de deputados era de 142, eleitos pelos 27 círculos e
de 71 o número de senadores. A eleição far-se-ia por sufrágio directo e censitário,
mas menos restritivo do que o estipulado na Carta Constitucional
1839
[Abril] Queda dos governos setembristas do marquês de Sá da Bandeira e
do barão da Ribeira de Sabrosa.
[Novembro] Ascensão de Costa Cabral, membro proeminente do novo
governo de tendência cartista, mas antigo revolucionário comprometido com
algumas das actuações mais radicais do setembrismo.
Início da carreira de sertanejo de Silva Porto. A partir do Bié, em Angola, e
até à data da sua morte, em 1890, percorreu toda a África Central acompanhado
dos seus pombeiros, tomando-se ali o melhor representante da soberania
portuguesa e precursor das futuras explorações científicas.
[215]
1841-1842
1842
[27 de Janeiro] Golpe militar dirigido por Costa Cabral e pelo duque da
Terceira com o objectivo de repor a Carta Constitucional.
[10 de Fevereiro] Restabelecimento da vigência da Carta Constitucional de
1826.
[24 de Fevereiro] Tomada de posse do governo presidido pelo duque da
Terceira, com enorme influência de Costa Cabral, que surge como ministro do
Reino. Seria um longo governo de tendência conservadora e autoritária que
procurou adoptar uma política de reorganização do Estado e reconstrução
económica do país, a qual se prolongaria por mais de quatro anos, período que
ficou conhecido para a história por «cabralismo».
[3 de Julho] Tratado assimilando o tráfico negreiro à pirataria, permitindo à
Royal Navy inspeccionar os navios com bandeiras portuguesas.
Entrada em vigor do Código Administrativo de tendência centralizadora,
que introduziu maior disciplina na administração local. Permaneceu em vigência
durante 36 anos, sendo apenas alterado com a publicação do Código de 6 de
Maio de 1878.
Publicação de O Alfageme de Santarém, de Almeida Garrett, e das Cartas
sobre a História de Portugal, de Alexandre Herculano.
1843 - Publicação das obras Viagens na Minha Terra, Frei Luís de Sousa e
Romanceiro, de Almeida Garrett. Alexandre Herculano edita as obras O Bobo (1ª
versão) e Apontamentos para a História dos Bens da Coroa e Forais (que se
concluiria em 1844).
1843-1847
1844
[4 de Fevereiro] Revolta militar malograda em Torres Novas, desencadeada
pelas forças setembristas radicais, contra o governo de Costa Cabral. O fracasso
da sublevação resultou, sobretudo, da falta de apoio popular e do exército, que se
manteve fiel a Costa Cabral.
[20 de Setembro] Criação em Coimbra do Conselho Superior de Instrução
Pública, presidido pelo ministro do Reino, sendo o reitor da Universidade o vice-
presidente. Esta medida vai contra a tendência centralista do governo de Costa
Cabral, mantendo Coimbra o domínio dos poderes do ensino.
Fundação da Companhia Nacional dos Tabacos e da Companhia das
Obras Públicas.
Criação da província de Macau, Solor e Timor, que anteriormente
pertenciam ao Estado da Índia, nomeação do respectivo governador, que passa a
residir em Macau, e designação de um governador subalterno para o território
timorense.
Reforma do ensino com o estabelecimento de obrigatoriedade de
frequência no ensino primário para as crianças dos 7 aos 15 anos, residentes nas
povoações onde existissem escolas. Esta reforma dividia a instrução primária em
dois graus. No primeiro aprendia-se a ler, escrever e a contar,
[216]
1844-1845
1846 - Grave crise económica, agravada pelo mau ano agrícola, provocado pela
praga da batata e pela intensa seca que se fez sentir. Consequentemente, o
aumento dos preços dos cereais e dos produtos de primeira necessidade e a
baixa dos salários aceleram a crise geral de subsistência, incrementando o mal-
estar social.
[Abril] Rebelião da Maria da Fonte. Foram motins populares, que eclodiram
primeiro no Norte (Vieira do Minho), desencadeados espontaneamente por
camponeses contra as novas leis de saúde e a reforma do sistema tributário
decretadas pelo governo autoritário e centralizador de Costa Cabral.
Posteriormente, este movimento veio colher o apoio dos sectores políticos
miguelistas, setembristas e de cartistas dissidentes, cujos objectivos eram,
sobretudo, derrubar o governo de Costa Cabral, o que veio a acontecer em 18 de
Maio.
[Maio] Formação de um novo ministério chefiado pelo duque de Palmela,
chamado ao poder após a queda de Costa Cabral.
[22 de Junho] Lei concluindo a extinção dos forais.
[6 de Outubro] A Emboscada. Golpe de Estado organizado por Costa
Cabral, a partir de Madrid, e dirigido por Saldanha. Foi um golpe palaciano
realizado com o apoio da rainha D. Maria II e que conduziu à exoneração do
duque de Palmela e à constituição de um ministério que continuaria uma política
governamental de cariz centralizador, similar à cabralista.
[217]
1847
[29 de Junho] Assinatura da Convenção do Gramido que coloca termo à
guerra civil, firmando a derrota das forças revoltosas e consagrando a vitória do
governo cartista.
[Agosto] Eleições, realizadas em condições desvantajosas para os
setembristas, que dão a vitória ao ministério de Saldanha e ao próprio Costa
Cabral.
Epidemia de febre tifóide, que se prolongará por dois anos.
Fundação da Sociedade Secreta de S. Miguel da Ala, que reunia adeptos
absolutistas, interessados em derrubar o regime liberal.
1848
[Março] Eleições que vêm acentuar as divergências entre cartistas.
Nomeadamente acentuam-se as hostilidades entre os irmãos José da Silva
Cabral e António Bernardo Costa Cabral, defendendo alguns como facto
unificador da família cartista o regresso a Portugal de António Bernardo Costa
Cabral, ainda exilado em Espanha.
[29 de Maio] Criação da Carbonária Lusitana, sociedade secreta, de
carácter conspirativo, fundada em Coimbra, adversária do clericalismo e
identificada com os valores do republicanismo.
Primeira tentativa de iluminar Lisboa a gás.
Publica-se A Sobrinha do Marquês, de Almeida Garrett, e O Monge de
Cister, de Alexandre Herculano.
1849
[Junho] Regresso ao poder de Costa Cabral, que, apoiado por Saldanha,
assumirá a chefia do executivo governamental.
[Dezembro] Reorganização militar do país que, contudo, nunca chegou a
vigorar em alguns dos seus aspectos. Nela se separava Portugal em três grandes
divisões militares territoriais: Lisboa, Porto e Évora, passando os Açores e a
Madeira à condição de comandos militares. Era também aumentado o número de
soldados das diversas armas, criando-se ainda unidades especializadas de
comunicação, como é o caso de um batalhão de engenharia e de um corpo de
serviço telegráfico.
Chegada a Moçâmedes, em Angola, do primeiro grupo de colonos.
Constituição da Comissão Geológica, dependente da Academia de
Ciências de Lisboa, que tinha como funções essenciais determinar a elaboração
do cadastro geológico de Portugal e rectificar as cartas geológicas preexistentes.
1850
[4 de Setembro] Promulgada uma lei de repressão ao tráfico de escravos
no Brasil. A partir desta data, muitos negreiros foram presos ou declarados
persona non grata, o que os levou a abandonar os negócios e a refugiarem-se em
Portugal, trazendo consigo somas avultadas de capitais líquidos.
Promulgação de legislação contra a liberdade de imprensa, «Lei das
Rolhas», emitida no segundo período do cabralismo, e que gerou acesos
protestos em todo o país.
O governo português, com o objectivo de contrariar a crescente influência
holandesa em Timor, publica um decreto que separava o governo de Solor e
Timor do de Macau, nomeando em seguida Lopes de Lima governador e
comissário da nova província de Timor.
Fundação da Associação dos Operários,
[218]
1852
[5 de Junho] Promulgação do Acto Adicional à Carta Constitucional de
1826. O documento, constituído por 16 artigos, substitui o sistema eleitoral de
eleição indirecta da Carta pelo sistema de eleição directa da Constituição de
1838; diminui a capacidade de eleitor; abole a pena de morte para os crimes
políticos; impõe a aprovação pelas cortes dos tratados internacionais antes da sua
ratificação pelo rei; e reforça, ainda, o poder local, depois do centralismo
administrativo dos governos cabralistas. O Acto Adicional procurou pôr termo à
divisão entre cartistas e setembristas, tornando a Carta praticamente aceitável por
todos e contribuindo para a estabilização da vida política nacional.
(Legenda: António Maria de Fontes Pereira de Melo.)
[219]
[Dezembro] Eleições com vitória dos regeneradores e cartistas sobre a
coligação que agrupava históricos, cartistas e miguelistas.
Criação do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria, medida de
extraordinário alcance para o desmantelamento da estrutura ministerial de tipo
«Antigo Regime», até então em vigor. Passam para a esfera de competência do
novo ministério os assuntos relativos aos equipamentos colectivos, a produção e a
circulação de bens.
I Exposição Agrícola Portuguesa.
Grande desenvolvimento do ensino técnico levado a cabo durante a
Regeneração, através da acção do Ministério das Obras Públicas, Comércio e
Indústria, cuja pasta foi primeiro ocupada por Fontes Pereira de Melo.
Entrada em vigor do Código Penal, que supera definitivamente muitas das
disposições das Ordenações até então em vigência. Recorrendo
fundamentalmente a fontes estrangeiras (Código de Napoleão de 1810, Código
Espanhol de 1848, Código Brasileiro de 1831, etc.), o primeiro Código Penal
Português consagra o princípio nullum crimes sine lege, assim como proíbe a
interpretação extensiva e a analógica. Os juizes vêem o seu poder discricionário
bastante limitado.
Início da publicação de O Instituto de Coimbra, que, oficialmente pelo
menos, ainda hoje existe e é considerada a mais antiga revista científica editada
em Portugal.
Fundação do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes
Laboriosas, Associação que, juntamente com a Sociedade dos Artistas
Lisbonenses, criada em 1850, marcará em Portugal o início do movimento
operário.
1854
[29 de Julho] Instituição do sistema de padrão ouro clássico, muito antes de
o terem feito os restantes países da Europa, que adoptaram este regime durante
a segunda metade do século XIX.
Abolição dos prazos em Moçambique, estabelecendo-se o sistema de
arrendamento por tempo limitado.
Início da publicação da História da Origem e do Estabelecimento da
Inquisição em Portugal, de Alexandre Herculano.
Morre Almeida Garrett.
1855
[16 de Setembro] Aclamação de D. Pedro V no próprio dia em que
completava 18 anos e atingia a maioridade para governar.
Exposição Industrial no Porto.
Participação de Portugal na Exposição Universal de Paris, evento muito
significativo
[220]
1855-1856
1856
[6 de Junho] Novo ministério assume funções sob a presidência do
marquês de Loulé, tio do rei D. Pedro V e chefe dos progressistas históricos. Em
termos de política económica, propunha-se continuar a política regeneradora do
governo que lhes antecedera, promovendo o desenvolvimento nacional
protagonizado por uma política de transportes e criação de mercados
internacionais, que decorria em simultâneo com a execução de iniciativas
regionais e o aceleramento de economias particulares.
Inauguração do primeiro troço de caminho-de-ferro, Lisboa-Carregado (36
km), introduzido em Portugal pela equipa governamental de Fontes Pereira de
Melo, com o objectivo de facilitar e promover a circulação de pessoas e bens e,
simultaneamente, dinamizar o mercado.
Publica-se Onde Está a Felicidade? de Camilo Castelo Branco.
1857
[Agosto-Dezembro] Epidemias de febre-amarela que atingiram extrema
gravidade em Lisboa, contagiando cerca de 16 000 a 17 000 pessoas (quase 10%
da população da capital), elevando-se o número de mortos a perto de 5000. As
péssimas condições de salubridade existentes na maioria das freguesias da
cidade nos meados do século XIX explicam a propagação da doença e o
acréscimo da taxa de mortalidade.
Criação em Huíla de uma colónia militar agrícola.
Abertura ao público da telegrafia eléctrica que facilitou a comunicação e
viria a revelar-se um elemento essencial à funcionalidade dos transportes
ferroviários.
Criação da Comissão Central de Estatística do Reino.
1857-1862
1858-1859
1859
[16 de Março] Regresso ao poder dos regeneradores que constituem um
novo ministério presidido pelo duque da Terceira, tendo Fontes Pereira de Melo
assumido a pasta do Reino. As desinteligências entre Fontes Pereira de Melo, D.
Pedro V e o duque de Saldanha, que se prendem com concepções diferentes da
prática do poder moderador e da intervenção régia na política governativa
regeneradora, levam à demissão do ministério em 1860.
1861
[Abril] Desamortização dos bens das freiras e das igrejas, que se traduziu
no desmantelamento dos seus bens e incorporação destes na Fazenda Nacional.
Estas medidas inserem-se na política da década de 60, marcada por um novo
impulso no processo de alienação dos bens nacionais.
[24 de Maio] Fundação da Associação 1º de Dezembro de 1640, que surge
como reacção às concepções iberistas emergentes na época. As suas intenções
estavam voltadas para o enaltecimento da gesta histórica antiespanhola, para o
culto da independência nacional e para a inoculação do sentimento nacional na
mentalidade popular portuguesa.
Morte de D. Pedro V e início do reinado de D. Luís.
Exposição Industrial Portuguesa, realizada no Porto.
Conclusão da linha férrea do Barreiro a Vendas Novas e de Pinhal Novo a
Setúbal.
São publicadas as Memórias do Cárcere, de Camilo Castelo Branco.
1861-1863
1862
[Agosto] Tratado de Tien-Tsin, entre Portugal e a China, reconhecendo
Macau como território inteiramente português.
(Legenda: Antero de Quental, por Columbano (Lisboa, Museu Nacional de Arte
Contemporânea).)
1863
[19 de Maio] Decreto do governo regenerador abolindo definitivamente os
morgados, com excepção para a Casa de Bragança.
[Julho] Reorganização do crédito hipotecário, da responsabilidade do ministro da
Fazenda, Joaquim Tomás Lobo.
Nascimento do infante Carlos, futuro rei D. Carlos I.
Conclusão da linha férrea até Évora (Linha do Sul) e ligação com a fronteira
espanhola (Linha do Leste).
Exposição Agrícola e Industrial em Braga.
Exposição da indústria têxtil no Teatro D. Maria II.
Criação da cadeira de Histologia e Fisiologia
[222]
1864
[Abril-Maio] Rolinada. Rebelião estudantil em Coimbra contra o governo do
duque de Loulé e o seu ministro Rolim de Moura, que se traduziu no abandono da
cidade rumo ao Porto, «berço da liberdade», em comboio especial.
Primeiro recenseamento sistemático de toda a população do reino: 3 829
618 h.
Conclusão da linha férrea do Norte até Gaia e do Sul até Beja.
Criação do Banco Nacional Ultramarino, que instala o seu centro de
operações em Luanda, especializando-se com empréstimos em dinheiro aos
plantadores e mantendo uma estreita ligação com a rede mercantil de Lisboa. A
partir de 1870 quase desaparece, vindo contudo a ser salvo nos finais desta
década graças à ajuda do governo e aos capitais provenientes de bancos
estrangeiros.
Campanhas militares na Zambézia em África.
Fundação do Diário de Notícias.
1865
[17 de Abril] Organização de um ministério presidido pelo marquês de
Loulé, englobando históricos e regeneradores, a que se chamou «governo de
fusão». O governo «fusionista» sofre uma forte onda de contestação em 1867,
quando procura colocar em prática uma reforma fiscal, sendo em 1868 demitido
pela Revolta da Janeirinha.
Criação do Partido Reformista, face à incapacidade política de
regeneradores e históricos. Os reformistas ascendem, posteriormente, ao poder
pela Janeirinha (1868), governando em sintonia com as massas populares que os
apoiaram, aplicando uma política que visou a organização das finanças do
Estado, através da reforma dos serviços públicos e de um sistema tributário mais
justo.
Realização da Exposição Internacional do Porto (indústria) no Palácio de
Cristal.
Publicação das Odes Modernas, de Antero de Quental.
1865-1866
1866-1869
Envio de quatro expedições portuguesas à Alta Zambézia. Constituíram as
«Guerras do Bonga», concluídas sem sucesso, mas reeditadas de forma vitoriosa
em 1887-1888.
1868
[1 de Janeiro] Revolta da Janeirinha, no Porto. Movimento de
descontentamento popular para com a política de agravamento fiscal decretada
pelo governo, constituído pela fusão de regeneradores e históricos.
[223]
1869-1870
1870
[19 de Maio] A Saldanhada. Golpe militar, liderado por Saldanha, em que
este impõe ao rei D. Luís a demissão do ministério do duque de Loulé. O governo
que daqui sairá durará cerca de cem dias, não resistindo às fortes críticas da
opinião pública. O duque de Saldanha é exilado em Londres, onde falece, em
1876, com 86 anos.
[Julho] Criação do Supremo Tribunal Administrativo, formado a partir da
separação entre o Conselho de Estado «político» e o Conselho de Estado
«administrativo».
Início da «escalada» de África, que provocará um processo de competição
entre as diversas nações europeias com interesses neste continente, e que
apenas acalmará depois da realização da Conferência de Berlim.
Criação do Centro Democrático de Lisboa, por Casimiro Gomes, Felizardo
de Lima e João Bonança. Organização de inspiração republicana, federalista e
socializante.
Tentativa de reintrodução das ordens religiosas em Portugal.
Criação do Ministério da Instrução Pública, surgido durante o curto governo
ditatorial saído do golpe de Estado do duque de Saldanha. As intenções de
organização do novo ministério, que durou apenas 69 dias, foram rapidamente
revogadas pelo novo governo de Sá da Bandeira.
Instalação de um cabo submarino que ligava Portugal a Inglaterra.
Publicação das obras Os Mistérios da Estrada de Sintra, de Ramalho
Ortigão e Eça de Queirós, e História da Literatura Portuguesa, de Teófilo Braga.
1871
[Maio-Junho] Realização das Conferências Democráticas do Casino
Lisbonense, que contaram com a participação activa de Antero de Quental,
Teófilo Braga, Eça de Queirós, Manuel de Arriaga, Batalha Reis, Oliveira Martins,
José Fontana, entre outros. As conferências pretendiam agitar a opinião pública
para o debate das grandes correntes filosóficas, literárias, políticas, sociais e
científicas emergentes na Europa e, simultaneamente, propor um novo rumo para
os destinos de Portugal em sintonia com algumas das correntes inovadoras
apresentadas.
[26 de Julho] Proibição da continuação das Conferências do Casino,
decretada pelo presidente do Conselho, marquês de Ávila e Bolama, com o
argumento de que estas prelecções procuravam sustentar doutrinas e
proposições que atacavam a religião e as instituições do Estado.
Epidemias de filoxera, causando graves danos
[224]
1871-1872
Grande Revolta dos Dembos, no Norte de Angola, face à tentativa de penetração
e ocupação pelos Portugueses dos seus territórios.
1872
[Janeiro] Fundação da Associação Fraternidade Operária, nascida graças
aos esforços de Antero de Quental, Nobre França, José Fontana e Brito Monteiro.
A defesa do socialismo de tendência radicalizante valeu-lhe o ataque de outras
organizações operárias mais moderadas, de conotação demoliberal, que
acusavam esta Associação de pregar a anarquia, a extinção completa da lei e a
destruição da família.
Primeiro grande movimento grevista. Destacaram-se neste ano cerca de 29
acções de greve.
Inauguração da primeira Escola do Conde de Ferreira em Alenquer.
Joaquim Ferreira dos Santos, próspero comerciante no Brasil e em África e digno
defensor da causa constitucional, deixou antes da sua morte um legado para a
construção de 120 escolas com moradias para professores. Estas escolas, que
tinham todas um traço arquitectónico semelhante, constituem até então o plano
mais vasto de construção de escolas com base num legado particular.
Início da reorganização da Secção Zoológica do Museu da Universidade de
Coimbra levada a cabo por Albino Giraldes.
Publicação das obras Os Fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis, e A
Teoria do Socialismo, de Oliveira Martins.
1875-1878
[225]
1876
[7 de Setembro] Nascimento do Partido Progressista, surgido da fusão do
Partido Histórico e do Partido Reformista no Pacto da Granja. O objectivo deste
acordo formal foi criar um novo partido, suposto herdeiro do espírito da Patuleia,
que reunisse todos os elementos progressistas, por forma a obter uma base
enérgica e robusta de apoio para o exercício do poder.
Fundação em Lisboa do Centro Eleitoral Republicano Democrático, que
integrava diversas sensibilidades do movimento republicano português. Esta
agremiação moderada, adversa do princípio revolucionário, procurou difundir os
valores do republicanismo segundo os princípios legais e pacíficos da escola
liberal evolucionista.
Publicação da Cartilha Maternal ou Arte de Leitura, de João de Deus,
método de ensino da leitura que teve uma enorme difusão no tempo (e, ainda
hoje, tem os seus adeptos), graças sobretudo à criação, em 1882, de Escolas
Móveis pelo Método de João de Deus.
1877
[Abril] Entrada em vigor do Código de Processo Civil, que altera muitas das
disposições da Novíssima Reforma Judiciária, terminando a reforma judiciária.
A via férrea chega ao Porto.
1877-1878
1877-1879
1878
[Outubro] Eleição que constituíram uma verdadeira efeméride para os
republicanos, que conseguiram eleger o seu primeiro deputado, Rodrigues de
Freitas, pelo Porto.
Novo Código Administrativo, considerado por muitos o mais centralizador
das nossas leis administrativas. Manteve a divisão do território (distritos,
concelhos e paróquias), assim como as mesmas magistraturas. Os conselhos
municipais são suprimidos. Os conselhos de distrito continuam a desempenhar
funções contenciosas. A tutela do governo reduz-se ao mínimo, as decisões dos
corpos administrativos executam-se prontamente.
Censo da população portuguesa: 4 160 315 habitantes.
Primeira experiência de iluminação eléctrica em Lisboa.
Início do funcionamento do Observatório Astronómico da Ajuda.
Publicação de O Primo Basílio, de Eça de Queirós.
1878-1879
[226]
(Legenda: Rosto do 1º número de O Século.)
1880
[10 de Junho] Comemorações do tricentenário da morte de Camões,
aproveitadas pelos republicanos que associam o nome glorioso de Camões ao
possível e necessário renascimento da pátria. De norte a sul do país realizaram-
se diversas actividades (prémios literários, inauguração de bibliotecas, de bairros
populares, vendas de chapéus, de lenços e calçados «à Camões») que tiveram o
seu expoente em Lisboa, no grande cortejo cívico do dia 10 de Junho. O governo
do Partido Progressista e o rei D. Luís, que entenderam a iniciativa como um
propósito político de movimento revolucionário, não aderiram plenamente ao
acontecimento.
Tentativas, entre os republicanos, de fundar o Centro Republicano
Democrático e o Centro Republicano de Lisboa, com o objectivo de criar e tornar
viável a constituição de um grande partido que unisse todos os republicanos.
Fundação do jornal O Século.
Realização em Lisboa do IX Congresso Internacional de Antropologia e
Arqueologia Pré-Histórica.
Publicação das obras O Brasil e as Colónias Portuguesas e Elementos de
Antropologia, de Oliveira Martins. São ainda editados O Mandarim, de Eça de
Queirós, e A Corja, de Camilo Castelo Branco.
1881
[Janeiro] Criação do Centro Eleitoral Republicano Federal do Círculo 96,
também designado por Clube Henriques Nogueira, que se empenhou na
unificação partidária das diversas facções do republicanismo português.
Lançamento do movimento de Subscrição Nacional Permanente, destinado
ao estabelecimento de «Estações Civilizadoras nos Territórios Sujeitos e
Adjacentes ao Domínio Português em África», pela Sociedade de Geografia de
Lisboa.
Publicação do Portugal Contemporâneo, de Oliveira Martins.
[227]
1884
[Fevereiro] Tratado com a Inglaterra, pelo qual este país reconhece a
soberania portuguesa nas regiões das duas margens do rio Zaire até as fronteiras
do novo Estado do Congo, em troca de facilidades de comércio e navegação do
Zaire e Zambeze.
Fundação em Portugal da primeira fábrica de adubos químicos, na Póvoa
de Santa Iria.
Expedição de Henrique Dias de Carvalho ao Quibundo, Cubango e Cassai.
Expedição de Serpa Pinto e Augusto Cardoso ao Niassa.
Deslocação dos primeiros colonos da Madeira para Angola.
Reorganização militar, de Fontes Pereira de Melo. Implicou a fixação da
composição das armas e a dimensão das diversas unidades O alongamento do
serviço obrigatório a 12 anos, ainda que distribuído por três fases de serviço «nas
fileiras», como «primeira reserva» e como «segunda reserva», e a divisão do
continente em quatro divisões militares territoriais (fixadas em Lisboa, Porto,
Évora e Viseu), estabelecendo-se ainda comandos militares para as ilhas.
Conferência de Berlim, onde os países europeus definem as condições em
que se processará o domínio do continente africano. A partir de então define-se
um novo conceito de direito colonial baseado na ocupação efectiva dos territórios
africanos que anula os direitos históricos tradicionais, sobretudo dos Portugueses,
os quais se traduziam na prioridade da descoberta. Depois desta data, acelera-se
o processo das conquistas militares em África, por parte das potências europeias.
Expedição de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, atravessando a
África, de Luanda a Tete com o objectivo de explorar o território interior de Angola
e concretizar o plano de ocupação das regiões compreendidas entre Angola e
Moçambique.
«Expedição Científica Pinheiro Chagas» de Serpa Pinto e Augusto
Cardoso.
Expedição de Henrique de Carvalho à Lunda.
Fundação do Ateneu Comercial do Porto.
1885
[2 de Julho] Criação das cadeiras de Antropologia, Paleontologia Humana e
Arqueologia Pre-Histórica da Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra,
por iniciativa de Bernardino Machado.
[24 de Julho] Acto Adicional à Carta
[228]
1886 - Celebração do convénio com a França que garantia que este país não se
viria a opor ao projecto português de ocupação de uma parcela do território
africano entre Angola e Moçambique.
Celebração de um convénio com a Alemanha onde era delimitado o
território reivindicado por Portugal, colorido a rosa numa carta geográfica em
anexo (mapa cor-de-rosa) e se reconhecia os direitos portugueses a essa região
desde que não fossem contestados por uma terceira potência estrangeira.
(Legenda: D. Luís.)
(Legenda: Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, na África Central.)
[229]
(Legenda: A ponte de D. Luís, no Porto.)
1887-1888
[230]
1889
[Novembro-Dezembro] Atritos diplomáticos de Portugal com a Inglaterra
pela posse da área do Zumbo.
Morte de D. Luís e início do reinado de D. Carlos.
A linha férrea do Sul chega a Faro.
Iluminação eléctrica da Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Paiva Couceiro ocupa Barotze, território da região do Zambeze.
[231]
(Legenda: As Eleições Municipais de 1908, por Veloso Salgado (Lisboa, Museu da
Cidade).
[232]
1890-1926
[233]
[234]
1890
[11 de Janeiro] Ultimato inglês em resposta à tentativa de Portugal de
ocupar as regiões compreendidas entre Angola e Moçambique, dando corpo a um
projecto consagrado pela Regeneração de fundar a África Meridional portuguesa
da costa atlântica à contracosta (no mapa a cor-de-rosa). Tais projectos, porém,
chocavam com os interesses ingleses de estabelecer um Império Britânico do
Cabo ao Cairo. É uma questão que se insere num movimento de expansão
colonial levado a cabo pela Europa na segunda metade do século XIX, em
consequência da crise que ia derivando do desenvolvimento do capitalismo
industrial. A industrialização maciça criava nos países europeus a necessidade
cada vez maior de procurar mercados para o escoamento dos seus produtos e
que funcionassem, ao mesmo tempo, como fornecedores de matérias-primas. No
prosseguimento dessa estratégia, o princípio da ocupação efectiva, consagrado
definitivamente após a Conferência de Berlim, reunida em 1885, substituía o
antigo princípio do direito histórico, que tinha garantido até agora a Portugal, na
qualidade de descobridor, a posse dos seus territórios coloniais.
[14 de Janeiro] Governo chefiado pelo regenerador, Serpa Pimentel. Este
governo viu-se confrontado com uma opinião pública descontente com a atitude
da Inglaterra, por um lado, e com a necessidade de agir com diplomacia, por
outro, sob pena de pôr em risco a soberania portuguesa em Angola e
Moçambique.
[Março] Promulgação da nova lei de imprensa que tentou fazer face aos
ataques cerrados levados a cabo pela imprensa portuguesa ao governo e à
Monarquia. Denunciava-se, sobretudo, a passividade das instituições em relação
ao comportamento da Inglaterra.
[Maio] O 1º de Maio é comemorado em Lisboa, pela primeira vez.
[19 de Maio] Nasce, em Lisboa, o poeta Mário de Sá-Carneiro.
[Junho] Morre Camilo Castelo Branco (n. 1825). É o termo de uma vida
agitada e instável e de uma personalidade impulsiva, irreverente e insatisfeita.
Filho bastardo, órfão de pai e de mãe foi, desde cedo, entregue ao cuidado de
familiares e religiosos em Trás-os-Montes. Fixa-se mais tarde no Porto, onde leva
uma vida atribulada, boémia, cheia de duelos e rixas amorosas. Escreve na prisão
a sua mais importante obra: Amor de Perdição, que é expressão do ultra-
romantismo que o caracterizava. Envereda desde cedo por uma literatura
confessional, de carácter autobiográfico, baseada na sua tumultuosa vida
sentimental, criando tipos e descrevendo costumes numa linguagem depurada e
vernácula, e utilizando um vocabulário extremamente rico. O sofrimento vivido, a
cegueira e a psicose da morte, qual herói romântico, levam-no ao suicídio na sua
casa em S. Miguel de Seide.
[20 de Agosto] Tratado assinado entre Portugal e Inglaterra, pelo qual se
delimitavam as possessões portuguesas ao norte do Zambeze, se reconhecia em
todos os territórios africanos de ambos os países a liberdade religiosa de culto e
ensino, se acentua a liberdade recíproca de navegação e comércio nos rios,
lagos, canais e portos marginais no interior, e se proclama inteiramente livre, para
os navios de todas as nações, a navegação no Zambeze, Chire e seus afluentes.
Deste modo, não só se confirma a perda de tudo o que Portugal já tinha sido
obrigado a abandonar pelo Ultimatum, como ainda se abria mão de territórios não
contestados ao norte e ao sul do Zambeze, e se facultava um novo campo à
colonização inglesa ao ser permitida a liberdade de culto, de comércio e de
navegação. Este tratado, considerado como mais uma humilhação infligida por
Inglaterra a Portugal, deu origem, à semelhança do que acontecera com o
acatamento do Ultimatum, a uma nova onda de manifestações de protesto.
[Outubro] Constituição de um novo governo, agora chefiado por João
Crisóstomo. Substituía o de Serpa Pimentel que não resistira à contestação do
acordo com a Inglaterra para pôr termo à questão levantada com o Ultimatum.
Inauguração do Coliseu dos Recreios, Local de encontro de uma pequena
burguesia
[235]
(Legenda: Alfredo Keil.)
[236]
[237]
(Legenda: D. Carlos.)
[238]
1892
[30 de Janeiro] Publicação de um conjunto
(Legenda: Oliveira Martins.)
[239]
1893
[19 de Fevereiro] Demissão do segundo governo de Dias Ferreira, que
significou o fim das soluções extrapartidárias tentadas por D. Carlos para fazer
frente à grave situação de crise que o país atravessava. O novo governo, chefiado
por Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, dirigente do Partido Regenerador, marcou o
reinício do
[240]
[241]
[242]
1895
[28 de Março] Publicação do decreto, revogando a lei eleitoral de 1884, que
permitia a representatividade das forças políticas minoritárias. A área dos círculos
eleitorais coincide agora com os distritos administrativos, o que permite ao
governo Hintze Ribeiro-João Franco um controlo mais apertado das eleições. As
cidades de Lisboa e Porto não eram destacadas dos restantes distritos, como
acontecia anteriormente, o que visava impedir a eleição de forças oposicionistas
ao regime, em especial o Partido Republicano, cuja expressão eleitoral era mais
significativa naqueles centros urbanos. Atribuía ainda o direito de voto
exclusivamente aos indivíduos maiores de 21 anos que fossem colectados em
500 réis ou mais de contribuições directas (o valor mínimo exigido anteriormente
eram 1$000 réis), ou que soubessem ler e escrever. Apesar de baixar a quota
censitária para metade, retirava a qualidade de eleitor aos chefes de família, o
que fazia afastar um bom número de cidadãos pertencentes às camadas mais
desfavorecidas da população, entre as quais o Partido Republicano tinha maior
expressão eleitoral.
[14 de Agosto] Reforma do ensino secundário de Jaime Moniz. Acentua-se
o pendor humanístico no plano de estudos, valorizando-se as línguas vivas e o
latim em detrimento das disciplinas científicas. (...) No total dos tempos lectivos de
todo o curso liceal (da 1ª à 7ª classes), as disciplinas de Física, Química e História
Natural, Matemática e Desenho, representavam apenas 1/3 da carga horária,
preenchendo as línguas modernas, o Latim, Geografia, História e Filosofia, os
restantes 2/3 (Nota 7 – Cfr. S. Campos Matos, 1990, pp. 25 e 179.).
[Outubro] Visita a Lisboa do presidente da República Francesa, Émile
Loubet. À medida que nos aproximávamos do final do século, a propaganda
republicana subia de tom. Por todo o país se multiplicavam os comícios e as
manifestações que não perdiam a oportunidade para reforçar o sentimento
antimonárquico e para se impor progressivamente como partido de massas. À
semelhança do que já havia acontecido a propósito das comemorações do
tricentenário da morte de Camões (1880), do centenário da morte de Pombal
(1882) e das manifestações de desagravo pelo Ultimatum inglês, também a visita
desta personalidade foi aproveitada como motivo da propaganda republicana.
Congresso do Partido Socialista Português em Tomar. O Partido Socialista
propunha uma reforma das sociedades humanas, onde o princípio da máxima
socialização da riqueza estivesse presente. Defendia, entre outros princípios, a
abolição do Estado, o sufrágio universal, ampla participação directa do povo,
educação igual e gratuita para todos, igualdade de direitos adquirida pelo trabalho,
assistência, etc.
[17 de Novembro] Realização de novas eleições que não contaram com a
presença das forças da oposição, em resposta à publicação da nova lei eleitoral.
Em consequência destas eleições a câmara eleita compunha-se apenas de
partidários do governo (regeneradores), tendo ficado conhecida pela designação
de Solar dos Barrigas.
A sucessão de eleições neste período acompanhou, como acontecera na
anterior fase rotativista, as vicissitudes dos governos. O princípio eleitoral, um dos
princípios fundamentais da legitimação do poder liberal, foi constantemente
violado pela monarquia constitucional. A prerrogativa régia do poder moderador
(prevista na Carta Constitucional de 1826) conferia ao soberano, entre outras, a
capacidade de nomear e demitir os membros do governo, pelo
[243]
1896
[11 de Janeiro] Morre João de Deus (n. 1830). Poeta e pedagogo, cultivou
temas como o amor, a vida e a morte, e a sátira de contorno e espírito popular.
Em 1870 publica a Cartilha Maternal tornando-se, durante gerações, no método
de iniciação à leitura preferido pelos educadores portugueses.
[13 de Fevereiro] Lei de João Franco que procurava reprimir as acções
violentas que iam acontecendo em protesto contra a ditadura de Hintze Ribeiro. A
lei ameaçava com a deportação para as colónias a quem perturbasse a ordem
social.
[Maio] Publicação de uma lei sobre as instituições de previdência operária.
[5 de Maio] Entrada em vigor do Código
[244]
(Legenda: João Franco.)
1897
[Fevereiro] Novo governo liderado por José Luciano de Castro. Significava
o fim quatro anos de governo regenerador e o regresso do Partido Progressista.
[18 de Março] Carta de lei que cria as chamadas Escolas Normais, para
habilitação de professores de instrução primária.
[Março] Realização de um Congresso Operário em Lisboa.
[2 de Maio] Novas eleições que deram a vitória ao Partido Progressista.
[Agosto] Os inspectores industriais são obrigados por lei a fazerem a
estatística dos acidentes de trabalho.
Criação da Carbonária Portuguesa por António Augusto Duarte da Luz
Almeida. Associação paralela da Maçonaria, esta pretendia ser uma agremiação
filantrópica, filosófica, mutualista e apartidária, aquela apontava para a
prossecução de objectivos político-conspirativos (Nota 9 – Cfr. F. Catroga, 1991,
pp. 137-138.). Parece ter sido introduzida em Portugal após a Revolução de 1820,
tendo tido grande actividade durante a primeira metade do século, altura em que
entra num longo marasmo até ao início da década de 90. Renasce com a
indignação nacional subsequente ao Ultimatum e progressivamente vai-se
aproximando dos meios anarquistas e republicanos radicais. Estará por detrás da
tentativa de implantação da República em 1908 e dos acontecimentos de 1910.
Realização de eleições, nas quais não participou o Partido Republicano
como protesto
[245]
1898
[17,18 e 19 de Maio] Celebração, em Lisboa, do 4° Centenário do
Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.
[30 Agosto] Tratado Anglo-Germânico prevendo, em cláusula secreta, a
divisão das possessões portuguesas ao sul do equador. Os Alemães ficariam com
as regiões ao norte do Zambeze e o Sul de Angola, e Timor, ficando para os
Ingleses a baía da Lagoa e a parte norte de Angola. Este acordo resulta da
pressão alemã que sabendo da tentativa portuguesa de negociar um novo
empréstimo em Londres, a aproveita.
[Outubro] Decreto de Elvino de Brito sobre segurança e higiene no trabalho.
Nasce Ferreira de Castro.
Surgimento da CUF (Companhia União Fabril) por fusão da Companhia
Aliança Fabril (ligada ao fabrico de sabões, velas de estearina, óleos, glicerina,
etc.), com a sua
principal concorrente, a União Fabril. Por detrás deste empreendimento, que deu
origem a um dos principais grupos económicos portugueses até ao 25 de Abril,
estava Alfredo da Silva (1871-1942), figura excepcional no panorama industrial
português. Expandiu a sua actividade a diversos ramos da indústria que abarcam
desde os sabões, velas de estearina, adubos químicos, sulfates ácidos, fundição,
construção de navios de aço, transportes, tabacos, etc. O seu nome fica ligado a
grupos económicos como a Companhia União Fabril, a Sociedade Geral de
Comércio, Indústria e Transportes, a Tabaqueira, etc.
Existem em Lisboa 193 associações mutualistas, com o total de 102 052
associados.
É criada a Direcção-Geral de Estatística e dos Próprios Nacionais.
Teixeira Bastos, Bolsas de Trabalho; Habitações Operárias; Tribunais de
Árbitros Avindoures; O Primeiro de Maio.
Ladislau Batalha, Pátria e Conversão – Verdades Amargas; Astronomia
Social; Zé Sisudo e Zé Pagante.
Abel Botelho, Mulheres da Beira.
Sampaio Bruno, O Brasil Mental.
D. João da Câmara, a peça O Beijo do Infante.
[246]
1899
[23 de Março] Decreto sobre a mendicidade.
[19 de Abril] Nasce em Loulé, Duarte Pacheco, que virá a ser o grande
ministro das Obras Públicas do Estado Novo e marcará de forma indelével a
primeira parte do consulado salazarista.
[26 de Julho] Publicação da Lei dos Cereais, também conhecida por «Lei
da Fome». A isenção de direitos de importação de cereais, em resposta à quebra
de produção, levou a que abundasse o trigo estrangeiro sem que o nacional
obtivesse escoamento. Face à contestação do mundo rural, o governo viu-se
obrigado a ceder, restabelecendo o imposto à entrada de cereais.
[26 de Julho] Reforma da legislação eleitoral. Reintroduz os círculos
uninominais (revogados pela legislação de 1895), exceptuando-se Lisboa e Porto,
que constituíam círculos plurinominais, embora sem representação de minorias.
[Julho] Entrada em vigor do Código das Falências.
[Agosto] Publicação da lei que estipulava o financiamento do fundo
especial de beneficência pública, destinado à defesa sanitária contra a
tuberculose.
Epidemia de peste bubónica no Porto, com origem provável em Bombaim e
cujos efeitos o governo procurou atalhar através de um cordão sanitário em volta
da cidade. As medidas impostas, apesar de necessárias, foram consideradas
prejudiciais para a economia da cidade, tendo o Partido Republicano aproveitado
o descontentamento popular para eleger três deputados nas eleições de 26 de
Novembro.
[Setembro] Nasce o poeta José Régio (José Maria dos Reis Pereira).
[14 de Outubro] Tratado de Windsor entre Portugal e a Inglaterra. São
reafirmados os anteriores tratados de amizade entre os dois países, e é garantida
a integridade dos domínios portugueses, bem como é inviabilizado o tratado
anglo-alemão do ano anterior.
[18 de Novembro] Realização do 8° Congresso do Partido Republicano, em
Lisboa.
[26 de Novembro] Novo acto eleitoral que já contou com a participação dos
republicanos, que, no Porto, elegeram três deputados: Afonso Costa, Paulo
Falcão, Xavier Esteves. Perante estes resultados as eleições foram anuladas, por
alegadas irregularidades, e repetidas em 18 de Fevereiro de 1900.
Fundação da primeira União Velocipédica Portuguesa.
Campos Júnior, O Marquês de Pombal (ficção).
Henrique Cardoso, A Crise Portuguesa e os Partidos Revolucionários.
Maria Amália Vaz de Carvalho, Em Portugal e no Estrangeiro.
Augusto Fuschini, O Presente e o Futuro de Portugal.
Ernesto da Silva, Elogio Histórico de Roberto Owen.
Eurico de Seabra, A circulação fiduciária nas suas relações com a crise
monetária em Portugal.
[247]
1900
[Janeiro] A Real Associação de Agricultura lança um manifesto ao país,
exigindo medidas prontas e eficazes contra a crise vinícola que se vinha sentindo,
e que ainda se acentuou mais nos anos seguintes. A febre de replantar vinha, que
resultara das perdas causadas pela filoxera, juntamente com uma quebra
estrutural da exportação de vinho, dada a concorrência estrangeira, levou a que
se começassem a sentir dificuldades no seu escoamento.
[12 de Fevereiro] José Bento Ferreira de Almeida, antigo ministro da
Marinha e Ultramar, discursa na Câmara de Deputados, em que defende a venda
das colónias (à excepção de Angola e S. Tomé e Príncipe), para com cujo produto
se poder pagar a dívida externa e fomentar o desenvolvimento do país.
[18 de Fevereiro] Novas eleições, onde o Partido Republicano não só
manteve a votação anterior como a alargou.
[2 de Março] Morte de António de Serpa Pimentel, chefe do Partido
Regenerador, tendo sido substituído por Hintze Ribeiro.
[12 de Março] Abertura das Cortes, já com a presença dos deputados
republicanos, onde durante três meses criaram um ambiente de grande
contestação que atingiu as próprias instituições e acelerou a queda do ministério,
gasto já por três anos de governo.
[Março] Morre o poeta António Nobre. Nasceu no Porto, cursou Direito em
Coimbra e Letras na Sorbonne. Cantou o drama da solidão e a saudade da Pátria
e marca uma viragem na poesia nacional, quanto à métrica e ao ritmo dos seus
versos. Publicou em Paris o livro de poemas Só (1892), tendo saído póstuma a
colectânea Despedidas.
[25 de Junho] Nomeação do novo governo de Hintze Ribeiro que sucedeu a
José
(Legenda: António Nobre.)
[248]
1901
[17 de Fevereiro] Ocorre a chamada Questão Calmon. À saída da missa da
Igreja da Trindade, no Porto, um grupo de homens tenta raptar (com a conivência
da visada) a filha do cônsul do Brasil naquela cidade. O objectivo do rapto era
conduzi-la a uma casa religiosa para onde desejava entrar contra a vontade dos
pais. Este acontecimento gerou protestos e manifestações hostis contra as
instituições clericais. Na sequência destas manifestações, que se prolongaram por
todo o ano, o governo regenerador ordena um inquérito (Decreto de 18 de Abril)
às casas religiosas, restringindo a sua existência àquelas que se dedicassem «à
instrução ou beneficência ou à propaganda da fé e civilização no Ultramar».
De referir que o Decreto de 18 de Abril foi uma forma hábil de legalizar a
existência de ordens religiosas, uma vez que era fácil alegar a prossecução dos
intuitos em causa. Desta forma a questão religiosa acabou por
(Legenda: Eça de Queirós (caricatura em bronze).)
[249]
[250]
1902
[5 e 6] de Janeiro Realiza-se, em Coimbra, o Congresso do Partido
Republicano. No princípio do século, os efeitos da repressão monárquica, por um
lado, e as dissidências no seio da partido, por outro, levaram a alguma quebra de
actuação no movimento republicano. Desta forma, no Congresso de Coimbra,
foram retirados os poderes ao Directório e entregues a três juntas directivas
(norte, centro e sul), medida que parece ter animado, de alguma forma, os
organismos de base. A agudização dos conflitos sociais, momento propício à
acção da propaganda, irá favorecer ao
[251]
1903
[27 de Fevereiro] Demissão do governo de Hintze Ribeiro, que não
conseguiu resistir à contestação crescente. A pedido do rei, Hintze Ribeiro
continuou com outro ministério.
[Março] «Greve geral» em Coimbra. Embora não possa ser considerada
inteiramente operária, já que assume um carácter sobretudo popular contra a
carestia de vida e a pressão fiscal (teve por motivo os selos das licenças e multas
aos pequenos vendedores do mercado), ela representa uma manifestação de
resistência popular à progressiva penetração capitalista em Portugal. A greve,
para além de alastrar a vários sectores e localidades do país, representa o início
de uma nova fase das lutas operárias, nomeadamente através do recurso à
«greve geral».
O associativismo de classe desenvolveu-se de forma mais consistente a
partir da década de 80 do século XIX, sob o impulso, embora contraditório, do
ideário socialista e, mais tarde, do movimento anarquista. Embora tenha mostrado
alguma hesitação perante a forma como os industriais procuram reorganizar-se
durante a crise de inícios da década, não se pode deixar de reconhecer ao
movimento operário, segundo Villaverde Cabral, alguma actividade e esforço
organizativo. As greves do final do século representam, segundo o autor, uma
generalização do princípio organizativo (Nota 13 - Cfr. Cabral, 1988, p. 85.).
Desde o princípio do século e até à queda da Monarquia, o desenvolvimento da
organização dos trabalhadores numa lógica de classe evolui significativamente.
As greves da primeira década do nosso século, testemunham a crescente
insatisfação face ao evoluir da situação política, e são o reflexo da ascensão
republicana, da tendência associativista crescente e, sobretudo, da ligação do
anarquismo ao movimento dos trabalhadores (Nota 14 - Sobre o problema da
ascensão do sindicalismo revolucionário no início do séc. XX, cfr. V Cabral, 1988,
p. 131 e s. Até 1907, esta vaga de fundo praticamente não pára.).
[Abril] Realiza-se, em Braga, o III Congresso Galaico-Português.
[16 de Maio] Consumou-se a dissidência de João Franco no seio dos
regeneradores, com a formação do Centro Regenerador-Liberal. Opondo-se ao
sistema rotativo, a quem atribuía as culpas da degradação da
[252]
1904
[4 e 5 de Fevereiro] Os trabalhadores portuários e os metalúrgicos das
casas Street, Ornellas, Vulcano, Dargent, Colares, Boqueirão, Previdente, etc.,
aderem às greves das indústrias metalúrgicas, iniciadas no ano anterior. Apesar
do número de operários envolvidos, o movimento fracassaria completamente.
[25 de Junho] Novo acto eleitoral, após a decisão de Hintze Ribeiro em
dissolver o Parlamento. O triunfo foi para o Partido Regenerador.
[18 de Outubro] Cai o governo de Hintze Ribeiro, aquando da discussão
parlamentar a propósito dos novos contratos do tabaco e dos fósforos.
[20 de Outubro] José Luciano de Castro, chefe do Partido Progressista, é
convidado a formar governo. Marcado pela questão dos tabacos, pela crise
vinícola e pela dinâmica republicana crescente, o regresso dos progressistas ao
poder duraria até Março de 1906.
[Outubro] Publicação de legislação que facilita a obtenção de empréstimos
pelos círculos operários católicos.
[16 de Novembro] Por ocasião da visita de D. Carlos a Eduardo VII de
Inglaterra é assinado o tratado de arbitragem que é conhecido por Segundo
Tratado de Windsor (o anterior é de 1899).
[Dezembro] Motim dos estudantes do Seminário de Bragança, revoltados
contra os excessos disciplinares ou menos vocacionados para a carreira
eclesiástica, do qual resulta algumas expulsões.
É concluída a linha férrea da Beira Baixa e o ramal Setil-Vendas Novas.
Inicia-se o consumo particular de luz eléctrica em Lisboa.
Visitas a Portugal da rainha Alexandra de Inglaterra, do imperador
Guilherme II da
[253]
1905
[1 de Maio] Dissidência de José Maria de Alpoim em relação ao Partido
Progressista, levando consigo mais seis deputados do partido, dando origem à
chamada Dissidência Progressista.
[12 de Agosto] Publicação do Regulamento Policial dos Mendigos da
Cidade de Lisboa.
[29 de Agosto] Decreto que promulga a reforma do Ensino Secundário, da
autoria do ministro Eduardo José Coelho. Introduz algumas modificações na
reforma de Jaime Moniz, mormente no que se refere ao plano de estudos. Na
presente reforma, o número de disciplinas de Letras passou a ser equilibrado com
o de Ciências, durante o curso geral, aumentando também o peso do Francês,
dando-se ao aluno a possibilidade de optar pelo Inglês ou pelo Alemão a partir do
2° ano. O número total de horas de ensino baixou para 26 (curso geral) e 22
(cursos complementares). O esquema de base adoptado aqui serviu de referência
a todas as reformas posteriores (1918, 1919 e 1921), que não passaram de
retoques ao esquema de 1905.
[10 de Setembro] A crescente obstrução Parlamentar levou a que José
Luciano de Castro conseguisse o encerramento das Cortes.
Promulgação do Código do Processo Comercial.
Termina a construção da linha férrea entre Estremoz e Vila Viçosa.
Criação da Liga de Educação Nacional.
Maria Amália Vaz de Carvalho publica, As Nossas Filhas.
Luís Gonçalves, A Evolução do Movimento Operário em Portugal.
Fernando Emídio da Silva, O Operariado na Questão Social; As Classes
Operárias, Traços para a Sua História.
Basílio Teles, Do Ultimatum ao 31 de Janeiro.
Ruy Ennes Ulrich, Ordens e Congregações Religiosas em Portugal (desde
1834 a 1904).
1906
[Fevereiro] Fundação do Círculo de Estudos Sociais Teófilo Braga.
[21 de Março] Após a queda do governo progressista de José Luciano de
Castro, forma-se o último governo em que participou Hintze Ribeiro, e que duraria
apenas dois meses. Terminaria aqui a fase do rotativismo partidário iniciado em
1893.
[19 de Maio] João Franco é nomeado chefe do governo dando início a um
governo ditatorial. O fortalecimento do poder real, de que D. Carlos era partidário,
já há muito vinha sendo anunciado. A origem da defesa de tal fortalecimento,
residia na crise que a partir da década de 80 começou a avolumar-se na
sociedade portuguesa, pondo em causa a eficácia do constitucionalismo rotativo.
A partir de meados da década, as críticas cederam lugar à defesa de soluções
alternativas autoritárias que permitissem colmatar os males do regime liberal.
A população é perseguida no Rossio em Lisboa, quando aguardava a
chegada dos candidatos de esquerda. É a chamada «chacina do Rossio».
[5 de Junho] Dissolução das Cortes e
[254]
1907
[14 de Fevereiro] Aprovada a lei que reconhece a liberdade de associação
sem autorização prévia.
[Março] Greve académica iniciada em Coimbra, originada pela reprovação
do candidato a Doutor José Eugénio Dias Ferreira e que se insere num
movimento generalizado de contestação ao governo de João Franco. Os actos
hostis contra membros do júri, e a respectiva reacção do governo, ordenando a
suspensão dos trabalhos escolares, provocaram a solidariedade de alguns
professores republicanos que, assim, politizaram o acontecimento. Dispondo de
maioria parlamentar, o governo apoiado pela Concentração Liberal (constituída
pela aliança com os progressistas) não conseguia dominar o Parlamento cujas
sessões decorriam em clima agitado. O movimento de contestação alargou-se a
outras universidades.
[11 de Abril] Face aos ataques constantes da imprensa republicana e
dissidente-progressista, João Franco faz aprovar uma nova lei de imprensa, que
pelo seu carácter repressivo ficou conhecida como lei contra a imprensa.
[12 de Abril] Decreto do governo de João
[255]
[256]
1908
[28 de Janeiro] Tentativa de golpe revolucionário para derrubar a
Monarquia. A acção repressiva da ditadura provocara uma mudança na definição
da estratégia do Partido Republicano. Gradualmente, a linha que defendia a
acção revolucionária imediata foi ganhando terreno face à linha mais moderada.
Esta redefinição de estratégia leva à aliança com outras forças das quais se
destacam a Carbonária, entre os civis, e a Corporação dos Sargentos, entre os
militares. Uma denúncia levou à prisão dos principais chefes: Luz de Almeida,
Afonso Costa, Egas Moniz, João Chagas, e António José de Almeida, que
mantivera os contactos entre o Directório do Partido Republicano Português e a
organização revolucionária. Privado pelos seus principais chefes, o movimento
veio para a rua mas foi sufocado pelas forças fiéis ao governo.
[31 de Janeiro] Decreto que previa a deportação para qualquer província
ultramarina, dos indivíduos que atentassem contra a segurança do Estado.
[1 de Fevereiro] Assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís
Filipe. O ano de 1908 iniciara-se com a prisão indiscriminada de vários chefes
republicanos (António José de Almeida, Afonso Costa, etc.). À agitação que se ia
tornando irreprimível, a ditadura continuava a responder com a repressão. Ao
regressar a Lisboa no primeiro dia de Fevereiro, vindo de Vila Viçosa, no Terreiro
do Paço a família real é alvejada dentro da carruagem onde seguia (Nota 15 -
Sobre a descrição do atentado na versão do jornal O Século, cfr. António Reis,
1989, (dir) Vol. 2, p 91.). D. Carlos nascera a 28/9/1863, e era filho de D. Luís e D.
Maria Pia de Sabóia, tendo-se casado em 1886 com D. Maria Amélia de Orleães.
Pintor e cientista, D. Carlos participou em várias investigações oceanográficas.
Como pintor conquistou vários prémios em competições internacionais, sendo
considerado um dos mais fortes intérpretes do mar português.
D. Manuel II sobe ao trono com apenas 18 anos.
Queda do ministério de João Franco, que não resistiu aos ataques da
oposição, por um lado, e às vozes que começavam a
[257]
1909
[Março] Motins vinícolas em todo o vale do Douro, que se inserem no
contexto da crise do sector, que se vinha acentuando desde inícios do século.
[11 de Abril] Sucede a Campos Henriques, o progressista Sebastião Teles.
[23 de Abril] Terramoto que atingiu a região de Benavente, Salvaterra de
Magos e Samora Correia, tendo provocado alguns mortos e significativas
destruições, numa região já bastante assolada pelas cheias do Tejo.
[24 e 25 de Abril] Congresso do Partido Republicano Português realizado
em Setúbal onde, pela primeira vez, esteve representada uma organização
feminina, a recém-criada Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. O
crescimento da facção que defendia a acção revolucionária era tal, que do
congresso saiu um novo Directório a quem foi confiado o mandato imperativo de
fazer a revolução. Eram seus membros efectivos Teófilo Braga, Basílio Teles,
José Relvas, Eusébio Leão e Cupertino Ribeiro. Dos 18 meses que mediaram
entre o Congresso de Setúbal e a Revolução de 5 de
[258]
[259]
1910
[1 de Janeiro] As agremiações filiadas no Partido Republicano Português
elevam-se a 167.
[Fevereiro] Edita-se, em Coimbra, a publicação anarquista O Clarão.
[29 e 30 de Abril] Realização, no Porto, do Congresso do Partido
Republicano. O congresso foi dominado pelo receio de que Inglaterra não
aceitasse a implantação da República em Portugal. Foi aí eleita uma comissão
para sondar as potências europeias sobre a questão.
[14 de Junho] A Maçonaria decide, em assembleia geral, nomear uma
«comissão de resistência» encarregada de colaborar de forma mais activa com a
Carbonária. Dessa comissão faziam parte, José de Castro, Miguel Bombarda,
Machado Santos, Francisco Grandela entre outros. António José de Almeida e
Cândido dos Reis são os representantes do Directório republicano, nesta
comissão.
[26 de Junho] Formação do ministério regenerador, presidido por Teixeira
de Sousa, que vem a conseguir a dissolução do Parlamento a 26 de Junho.
[28 de Agosto] Eleições para o Parlamento onde o Partido Republicano
consegue eleger 14 deputados.
[5 de Setembro] Realiza-se um Congresso Cooperativista e Sindicalista.
Surto de greves por todo o país, incidindo principalmente nas regiões de
forte implantação operária da margem Sul do Tejo, e trabalhadores da cortiça do
Alentejo e Algarve. As reivindicações prendiam-se com a defesa do trabalho,
através da proibição de exportação de cortiça em bruto.
[3 de Outubro] Assassinato do Dr. Miguel Bombarda. Acontecimento que
quase comprometeu todo o plano de acção revolucionária, uma vez que gerou
incontroladas manifestações de indignação popular.
[4 de Outubro] Os cruzadores S. Rafael e Adamastor bombardeiam o
Palácio das Necessidades e o Rossio. A escolha dos primeiros dias de Outubro,
nomeadamente o dia 4, para realizar a revolução dependeu da presença no Tejo
de algumas unidades navais, consideradas indispensáveis para o êxito das
operações. O sinal para o início das operações, deveria partir exactamente
dessas unidades navais, ao qual responderia Artilharia I. Mercê de alguma
desarticulação entre os vários intervenientes no processo, o sinal não chegou a
ser activado, pelo que, face a informações desmoralizadoras e perante o malogro
iminente da acção, Cândido dos Reis suicida-se na madrugada do dia 4 de
Outubro.
[260]
[261]
[8 de Outubro] Publicação dos decretos que instituem a expulsão dos
jesuítas e o encerramento dos conventos. São expulsas de Portugal as ordens
religiosas. Sendo a laicização do Estado e da sociedade um dos temas
fundamentais da propaganda republicana, aliás, monarquia e clericalismo
confundiam-se, não admira que uma das primeiras medidas a ser tomadas tivesse
como pano de fundo a questão religiosa. A 18 de Outubro foi abolido o ensino da
doutrina cristã e o juramento religioso nos tribunais e noutros actos oficiais. A 20
de Outubro, o núncio apostólico abandona Lisboa, a 3 de Novembro estabelece-
se o divórcio e, a 25 de Dezembro, é introduzido o princípio do casamento como
contrato de validade exclusivamente civil.
Tentando erradicar com rapidez os vestígios do regime deposto o governo
provisório tomou algumas medidas, a saber: abolição do Conselho de Estado e da
Câmara dos Pares, demissão de funcionários da Casa Real, abolição de títulos,
distinções e direitos de nobreza, adopção de uma nova bandeira e hino nacionais,
entre outras medidas de carácter liberal, entretanto contrariadas pelo franquismo.
Afonso Costa manda a polícia prender os padres que fossem encontrados
na rua, a fim de evitar abusos. De tal forma que, no dia 10, encontram-se na
Cadeia do Limoeiro 46 padres, no Forte de Caxias 82 e no Arsenal da Marinha
233 freiras.
[10 de Outubro] Assalto popular e destruição dos jornais de Lisboa, Liberal
(ex-progressista) e Portugal (ultramontano).
[12 de Outubro] É criada a Guarda Republicana.
Decreto que manda considerar feriados os dias 1 e 31 de Janeiro, 5 de
Outubro e 1 e 25 de Dezembro.
[13 de Outubro] Portaria que nomeia uma comissão para proceder ao
arrolamento de todos os bens pertencentes aos palácios reais.
[14 de Outubro] Chega a Inglaterra, após passagem por Gibraltar, a Família
Real. Dias antes, o governo português havia sido informado de que D. Manuel II
seria recebido como simples particular.
[17 de Outubro] Criação de uma comissão para estudar a reorganização do
exército. É de referir que as dificuldades de relacionamento entre o novo regime e
o exército, que não aderiu, aliás, activamente aos acontecimentos de 4 e 5 de
Outubro irão ser agravadas pelo tipo de reestruturação que se procura
implementar na organização: um exército miliciano, em detrimento de um corpo
profissional.
Decreto do ministro José Relvas que impõe limites à circulação fiduciária.
Os crónicos défices do orçamento, tão criticados pelos republicanos durante a
vigência dos governos monárquicos, continuam após a implantação da República.
O endividamento continua, também, a ser o método mais usado para financiar os
défices orçamentais, recorrendo-se sobretudo ao aumento da circulação
fiduciária.
[24 de Outubro] Decreto que determina que o Teatro D. Maria II se
denomine Teatro Nacional.
[26 de Outubro] Decreto que aprova os estatutos da Academia de Ciências
de Portugal. Fundada em 1907 por acção de Teófilo Braga, a Academia tentava
colmatar alguma quebra de produção científica da Academia de Ciências de
Lisboa, bem como um certo elitismo (de outra ordem que não eminentemente
científico), em que esta havia caído. Tendo como grande objectivo o progresso e a
integração filosófica dos principais ramos do saber humano, a Academia viria a ter
o seu Regulamento Geral em 27 de Janeiro de 1911. Não tendo correspondido
inteiramente ao que dela se esperava, não sobreviveu muito tempo à morte de
Teófilo Braga (1924).
[Outubro] Realiza-se o Congresso do Livre-Pensamento.
[3 de Novembro] Promulgação da Lei do Divórcio. Lei que marca uma
viragem significativa na conceptualização utilizada no Direito Civil português, na
medida em que, ao definir o casamento como um contrato, susceptível de
dissolução, estava também a consagrar, pelo menos teoricamente, a igualdade
entre os cônjuges.
[262]
[263]
1911
[4 de Janeiro] Estreia no Teatro da Rua dos Condes, a peça Cinco de
Outubro, original de Mário Monteiro.
[6 de Janeiro] Assalto às redacções dos jornais monárquicos de Lisboa,
Correio da Manhã e Diário Ilustrado.
Primeira récita no Teatro Nacional da peça Pena Última, de Henrique de
Mendonça.
[7 de Janeiro] Primeira greve geral ferroviária. É o culminar de uma vaga de
greves no caminho-de-ferro, que se iniciara em 16 de Novembro do ano anterior.
Registam-se, ainda, outros movimentos grevistas na região de Setúbal e Lisboa.
No primeiro caso, aquando das greves das operárias da indústria de conservas
morrem mesmo dois operários às mãos da GNR. Neste mesmo período, ocorrem,
também, greves e insurreições no mundo rural, nomeadamente no Alentejo e no
Ribatejo, cujo principal móbil se prende com questões salariais.
[10 de Janeiro] É decretado o descanso semanal obrigatório, ao domingo,
para todo o assalariado.
[15 de Janeiro] Inicia a sua publicação o jornal República, dirigido por
António José de Almeida.
A Carbonária e batalhões de voluntários, manifestam-se, em Lisboa, a
favor do governo e contra as greves e reivindicações operárias.
[17 de Janeiro] O Daily Mail, de Londres, publica uma entrevista com D.
Manuel de Bragança, sobre a sua disponibilidade de voltar a Portugal.
[19 de Janeiro] Primeira apresentação, no Teatro Nacional em Lisboa, da
peça Bi, original de Victoriano Braga e Vasconcelos e Sá.
[21 de Janeiro] Decreto que extingue o culto religioso na capela da
Universidade de Coimbra e cria um museu de arte no mesmo edifício.
[25 de Janeiro] Primeira récita da peça Pátria Livre, original de Ernesto do
Carmo, no Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa.
[28 de Janeiro] Decreto que esclarece que os dias feriados decretados pelo
governo da República correspondem, para todos os efeitos, aos dias santificados
mandados guardar pela legislação anterior.
[1 de Fevereiro] Populares invadem o Centro Académico de Democracia
Cristã, destruindo o mobiliário.
[4 de Fevereiro] Estreia, no Teatro da Avenida em Lisboa, a revista Nem
mais nem menos, de Guedes de Oliveira.
[13 de Fevereiro] Nomeação de uma comissão, para estudar as causas da
decadência do teatro português e respectivas reformas. O teatro, como o cinema,
era dos divertimentos mais procurados fora de casa. Portugal dispunha de uma
rede de teatros que cobria praticamente todo o país, com especial realce para
Lisboa e o Porto, com algumas dezenas de salas de espectáculo. Todos os
restantes distritos, sobretudo os do Sul, onde a concentração urbana impunha um
maior número de salas, dispunham de teatros, muitos deles localizados nas sedes
de concelho, realidade que, infelizmente, hoje quase desconhecemos. Os
espectáculos eram variados, indo a preferência para a farsa e a comédia, não
faltando o drama, a mágica, a opereta e o vaudeville, a revista e o music-hall, a
declamação poética, o circo, etc. A ópera via-se sobretudo em Lisboa e no Porto.
[15 de Fevereiro] Portaria que cria uma comissão para o estudo do
problema da ortografia. Pretendia-se introduzir alterações na ortografia por forma
a aproximá-la mais da fonética. Integravam esta comissão Aniceto dos Reis
Gonçalves Viana, Carolina Michaèlis de Vasconcelos, Cândido de Figueiredo,
Adolfo Coelho e Leite de Vasconcelos.
[264]
[265]
[266]
[267]
[268]
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[270]
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[272]
[273]
1913
[9 de Janeiro] Tomada de posse do primeiro governo homogéneo da
República, presidido por Afonso Costa. Era o culminar da hegemonia crescente
dos democráticos. Através de uma política de contenção orçamental, o governo
conseguiu terminar o ano económico com saldo positivo, o que constituiu uma
primeira vitória. Uma segunda vitória, viria a ser conseguida nas eleições
suplementares para o Parlamento, onde os democráticos obtiveram uma forte
maioria absoluta.
A repressão sobre os operários e o movimento sindical, por um lado, e a
hegemonia política que demonstrava, por outro, levaram a que os adversários
políticos do governo receassem a incapacidade dos mecanismos constitucionais-
legais de garantir o funcionamento da alternância do Poder. Daqui decorre o
recurso a algumas práticas golpistas. A actividade legislativa do governo de
Afonso Costa é vastíssima, sobretudo no campo das finanças (Nota 18 - Sobre a
actividade legislativa do governo de Afonso Costa, cfr. Oliveira Marques, (coord.)
1991, p. 708).
[24 de Janeiro] Decreto que aprova a organização geral da Cruz Vermelha
Portuguesa.
[26 de Janeiro] Conferência de Afonso Costa sobre Catolicismo, Socialismo
e Sindicalismo, que suscita reacções entre sindicalistas e monárquicos.
[29 de Janeiro] Criação, junto do Ministério da Justiça, de uma comissão de
Reforma Penal e Prisional.
[27 de Abril] Tentativa de derrube do governo de Afonso Costa, levada a
cabo por Machado Santos e apoiada por sectores radicais. Consistiu em
manifestações civis junto do Ministério do Interior e de alguns aquartelamentos de
Lisboa. Durante o mês de Abril registaram-se ainda outros movimentos
insurreccionais, que recorreram mesmo a atentados bombistas.
[28 de Abril] São suspensos os jornais lisboetas O Dia, A Nação, O
Intransigente, O Socialista e O Sindicalista. Reaparecem uma parte deles, alguns
dias depois.
[Abril] Realiza-se, em Évora, o II Congresso dos Operários Agrícolas, onde
o número de associações locais aderentes aumentou de 67 para 127, em relação
ao congresso do ano anterior.
[10 de Maio] Nasce, em Lisboa, aquele que viria a ser o grande actor e
declamador João Villaret.
[Maio] Realiza-se, em Lisboa, um comício para protestar contra o aumento
de casa e reclamar do Parlamento e do governo enérgicas e imediatas
proveniências contra os abusos praticados pelos senhorios.
[12 de Junho] Lei que cria um porto franco em Lisboa. A criação de portos
francos na região de Lisboa era matéria de discussão desde o final da Monarquia,
como forma de remediar a decadência da marinha mercante portuguesa. Não
faltavam, todavia, os adversários deste projecto, alegando não ser a medida
adequada em portos de escala como eram os portugueses. A medida não passou
do papel, e a guerra fez desviar as atenções da planeada medida.
[21 de Junho] Lei de Afonso Costa que, em face da dificuldade em
concretizar as alterações monetárias do novo sistema (o de 1911) determinava a
sua aplicação em toda a contabilidade do Estado, documentos particulares
apresentados em juízo e nas repartições públicas. Passa, também, a entrar em
circulação a nova nota de vinte mil réis, ou vinte escudos.
Realização do V Congresso Nacional do Partido Socialista.
[Junho] Proposta de lei do governo de Afonso Costa que estabelece as
regras básicas da administração ultramarina.
Encerramento pelo governo da Casa Sindical. Dezenas de sindicalistas são
presos e encarcerados no forte militar de Évora.
[Junho e Setembro] Criação da Faculdade de Direito de Lisboa.
[274]
(Legenda: D. Manuel II com a princesa Augusta Vitória de Hohenzollern.)
[275]
1914
[26 de Janeiro] Uma manifestação de apoio a Afonso Costa encontra-se
com uma contramanifestação, promovida por
[276]
[278]
1915
[20-21 de Janeiro] Protesto de alguns oficiais, à frente dos quais se
encontravam Machado Santos e Pimenta de Castro, contra a demissão de um seu
colega, o major João Craveiro Lopes, alegadamente por motivos políticos. Ficou
conhecido como o «Movimento das Espadas», já que Machado Santos entrega a
sua espada (a que utilizara na Rotunda), ao presidente da República.
[22 de Janeiro] Decreto que fixava o número de horas de trabalho. O
decreto estabelecia sete horas diárias para empregados de escritório e bancários,
oito a dez para operários de fábricas e oficinas e dez para empregados de lojas,
com intervalo de duas horas para almoço.
[23 de Janeiro] Decreto que aprova, para ser ratificado, o Tratado de
Comércio e Navegação entre Portugal e a Grã-Bretanha, assinado em 12 de
Agosto de 1914.
[25 de Janeiro] Tomada de posse do novo governo resultante da
intervenção do presidente da República, Manuel de Arriaga que, alarmado com a
virulência da luta política (várias intentonas revolucionárias aconteceram ao longo
do ano de 1914), e utilizando, como pretexto, os acontecimentos de 20 de Janeiro
procedeu a um autêntico golpe de Estado. Provocou a demissão do governo e
encarregou, em ditadura, o general Pimenta de Castro de organizar um ministério,
com o objectivo de pacificar a Nação e preparar próximas eleições legislativas.
Inicia-se aqui a tendência, que haveria de marcar os últimos anos da República,
para o aumento de poder dos militares.
A União Operária Nacional divulga uma circular sobre a carestia de vida.
[1 de Fevereiro] Invasão, por grupos de desempregados, do Ministério do
Fomento.
[3 de Fevereiro] Partem para Angola mais contingentes expedicionários,
para fazer face aos ataques constantes das tropas alemãs.
[7 de Fevereiro] D. António Manuel Pereira Ribeiro é sagrado bispo do
Funchal, o que representa a primeira sagração episcopal após a implantação da
República. Sinal de que começavam a dar mostras de pacificação as relações
entre as duas esferas.
[12 de Fevereiro] No Teatro de S. Carlos, em Lisboa, estreia a comédia de
Eduardo Schwalbach, Os Anos do Papa.
[24 de Fevereiro] Portugal requisita todos os navios alemães, a fim de
serem colocados ao serviço da Aliança Luso-Britânica.
[3 de Março] A subida das tabelas do preço do pão provoca assaltos às
padarias e tumultos em vários pontos do país. Acontecimentos que se repetem
nos dias seguintes.
[4 de Março] Proibição da entrada no Parlamento dos deputados do Partido
Democrático. Face à proibição de realização da última sessão do Parlamento, e
sua respectiva dissolução, os deputados e senadores democráticos, reunidos no
antigo Palácio da Mitra, em Loures, aprovaram uma moção declarando fora da lei
o ministério e o chefe do poder executivo. Com esta medida o governo entrava,
formalmente, em ditadura.
[5 de Março] Estreia, no Teatro de S. Carlos de Lisboa, a peça Ciúmes de
Mulher de António Carneiro.
[10 de Março] II Congresso, em Lisboa, do Partido Republicano
Evolucionista.
[11 de Março] Ocorrem motins populares
[279]
[280]
[281]
1916
[16 de Janeiro] É lançada a primeira pedra do Casino Estoril.
[Janeiro] Greves nos estabelecimentos de ensino superior. Os confrontos
de rua entre populares e forças da ordem, devido à carestia de vida, ocorrem por
todo o país e prolongar-se-ão nos meses seguintes.
[26 de Fevereiro] Estreia, no Teatro da República em Lisboa, a peça A
Maluquinha de Arroios.
A equipa Fortuna de Vigo, vence o Benfica em futebol.
[9 de Março] Declaração de guerra por parte da Alemanha a Portugal, em
consequência da concretização (a partir de 24 de Fevereiro) do pedido feito pela
Inglaterra (30 de Dezembro último), no sentido da requisição de todos os navios
mercantes alemães que se haviam refugiado em portos do Continente, Ilhas e
Ultramar. O próprio país tinha necessidade de alguns desses navios para o seu
comércio internacional, desorganizado devido à guerra. Ao todo, entre Fevereiro e
Julho de 1916, o governo português requisitou 70 navios alemães e 2 austro-
húngaros, Portugal entrava, formalmente, na I Guerra Mundial.
[15 de Março] Constituição do chamado governo de «União Sagrada», em
que Afonso Costa cede o seu lugar de chefe do executivo ao evolucionista
António José de Almeida. Unionistas e socialistas, embora não detivessem
qualquer pasta no governo, concederam-lhe o seu apoio. Apesar de tudo, os
democráticos continuaram a controlar a situação já que as pastas-chave
(Finanças, Guerra e Estrangeiro) ficaram nas suas mãos.
[16 de Março] Criação do Ministério do Trabalho (e Previdência Social), que
alargou os serviços de assistência prestados pelo Estado. Foram criados órgãos
próprios destinados a uma prestação mais vasta de serviços, como é o caso dos
socorros mútuos, seguros, caixas de pensão e económicas, cooperativas, etc.
[28 de Março] Decreto que manda à censura prévia, enquanto durar o
estado de
[282]
[283]
1917
[30 de Janeiro] Parte para França a 1ª Brigada do Corpo Expedicionário
Português, sob o comando do coronel Gomes da Costa. Até ao momento, o único
contacto das tropas portuguesas com a guerra limitara-se às colónias. A partir de
agora, as duras condições impostas pelo clima e pela estratégia de combate em
trincheiras, por um lado, e o forte e bem preparado exército alemão, por outro,
levariam à morte de inúmeros soldados portugueses.
[23 de Fevereiro] Parte para França o segundo contingente do Corpo
Expedicionário Português.
[26 de Fevereiro] Em resultado da falta de iluminação, imposta pelo
governo como forma de racionar de energia, a Guarda Nacional Republicana
reforça o policiamento das ruas.
[5 de Março] Morre, em Lisboa, Manuel de Arriaga Foi o primeiro presidente
constitucional da República Portuguesa (de 24/8/1915 a 29/5/1915). Pertencia já
ao Directório do Partido Republicano aquando dos acontecimentos de 31 de
Janeiro de 1891, tendo sido eleito deputado em duas legislaturas durante a
Monarquia (1882 a 1892) Foi ainda, advogado, escritor, poeta e professor, tendo
exercido os cargos de procurador-geral da República e reitor da Universidade de
Coimbra.
[4 de Abril] É morto em combate, na frente francesa, o primeiro soldado
português, de seu nome António Gonçalves Curado.
[25 de Abril] Constituição do terceiro governo de Afonso Costa, na
sequência do abandono do poder por parte dos evolucionistas. Era o fim do
ministério da União Sagrada. O esforço de guerra e o reduzido espaço de
manobra deixado pelos democráticos, levou ao abandono do poder pelos
evolucionistas sem, no entanto, retirarem o seu apoio ao governo.
Não podemos esquecer que o ano de 1917 começava a revelar-se um ano
difícil para qualquer governante. A fé inabalável na vitória
[284]
[285]
[286]
1918
[6 de Janeiro] Tentativa de acção contra-
[287]
[288]
(Legenda: Amadeo de Sousa Cardoso.)
[289]
1919
[3 de Janeiro] Manifesto da Junta Militar do Norte, sediada no Porto,
autoproclamando-se representante da herança sidonista.
[9 de Janeiro] Estreia a peça Egas Moniz, de Jaime Cortesão, no Teatro de
S. Luís em Lisboa.
[12 de Janeiro] Movimento revolucionário republicano em Santarém, que
resulta em confrontos com o exército durante alguns dias.
[18 de Janeiro] Inicia-se em Versalhes a Conferência de Paz. A delegação
portuguesa chefiada, primeiro por Egas Moniz, e depois por Afonso Costa, lutou
por conseguir representatividade igual à dos restantes beligerantes, bem como
por obter as indemnizações a que se julgava com direito. O tratado de paz
(assinado a 28 de Junho, com a Alemanha) restituiu Quionga (Moçambique) a
Portugal e reconheceu a integridade das suas colónias.
[19 de Janeiro] É proclamada a Monarquia no Porto e em Lisboa. É
declarado o estado de sítio em todo o continente, no entanto a proclamação é
efémera, pois a 24 de Janeiro a revolta é subjugada no Sul. No Norte os
monárquicos aguentaram-se durante mais tempo (até 13 de Fevereiro), tendo sido
mesmo criada uma Junta Governativa do Reino chefiada por Paiva Couceiro. Este
órgão ficou conhecido como «Monarquia do Norte»,
[20 de Janeiro] Ruidosas manifestações em Lisboa a favor da República.
Entretanto, são abertas inscrições pelo governo para que se constituam batalhões
de voluntários para defender a República. Ao mesmo tempo, o governo convida
os militares do Corpo Expedicionário Português, recentemente chegados, a
organizarem uma coluna de defesa da República.
[13 de Fevereiro] Após combates em todo o litoral centro, a guerra civil
termina com a entrada dos republicanos no Porto.
[6 de Março] Decreto que promulgava a abertura de um crédito de 100
contos para a construção de bairros operários na margem sul do Tejo. A questão
da habitação nos meios operários, que vivia em condições degradantes de falta
de higiene, arejamento e iluminação, demorou a ser encarada com preocupação,
apesar dos relatórios que iam proliferando. A pressão cada vez maior da questão
social, levou a que os governos começassem a tomar medidas para fazer face ao
problema. O mês de Abril deu à luz mais legislação nesse sentido, permitindo a
construção de mais bairros operários (recorrendo o governo, inclusivamente, ao
crédito bancário através da Caixa Geral de Depósitos). Apesar da boa vontade, a
falta de verbas, a má administração, a exploração por parte dos construtores,
levou a que se fossem suspendendo paulatinamente os trabalhos. O Decreto de
23 de Outubro de 1925, reconhecendo o fracasso da política de habitação dos
sucessivos governos, liquidava todos os bairros sociais (menos o do Arco do
Cego), restituindo aos antigos proprietários a posse dos terrenos.
[30 de Março] Após a queda do governo de José Relvas, que substituíra,
em Janeiro, o do sidonista Tamagnini Barbosa, tomava
[290]
posse um outro governo desta feita sem sidonistas, chefiado pelo democrático
Domingos Pereira. Era o regresso da «República Velha».
[17 de Abril] Nova lei do inquilinato que proibia a elevação das rendas e a
liberdade de sublocação aos inquilinos.
[Abril] Início de um período de grande instabilidade laboral, durante o qual
trabalhadores da Companhia União Fabril, corticeiros, estofadores, decoradores,
metalúrgicos, trabalhadores da Carris e da Companhia das Águas, etc., iniciavam
um conjunto de greves que viriam a ter grande efeito social.
[7 de Maio] Decreto que faz estender a todo o território nacional, a
obrigatoriedade das oito horas de trabalho diárias (a semana de 48 horas). Tardou
até que a legislação fosse incondicionalmente aceite.
[10 de Maio] Decreto que, revogando o de 1911, tenta reorganizar a
instrução primária. A escolaridade obrigatória passa de três para cinco anos. Os
salários eram actualizados e ligeiramente aumentados. O decreto transfere a
responsabilidade de administração do ensino primário para juntas escolares
concelhias, constituídas por oito membros.
Decreto que obriga à realização de um seguro contra desastres de trabalho
em todas as profissões. Esta importantíssima legislação, como outra desta
natureza, não teve durante muitos anos aplicação prática na medida em que os
governos, não só não possuíam força política para a aplicar, como também se
deixavam enredar em toda a espécie de compromissos e influências.
Decreto que reforma os serviços de assistência pública. Revogando o de
1911, este prevê a autonomia da Casa Pia de Lisboa, bem como a da
Misericórdia de Lisboa. O princípio da descentralização havia já sido seguido
durante o consulado sidonista, onde foi dada autonomia aos hospitais civis de
Lisboa, dando-se-lhe agora seguimento através da criação do Instituto de Seguros
Sociais Obrigatórios e de Previdência Geral.
Decreto que substitui a Faculdade de Letras de Coimbra por uma
Faculdade Técnica e uma Escola de Belas-Artes. A Faculdade de Letras de
Coimbra seria colocada na Universidade do Porto. Dias depois, em resposta a
esta medida, entram em greve os professores universitários.
[11 de Maio] Eleições legislativas nas quais o Partido Democrático obteve a
maioria. Na sequência desta vitória, nasceria um ministério presidido pelo coronel
Sá Cardoso que tomaria posse a 26 de Junho.
[16 a 18 de Junho] Greve geral decretada pelo operariado. Era o culminar
de um período de agitação com paralisações na CUF, com Alfredo da Silva a
decretar, a 14 de Junho, o lock-out da empresa por tempo indeterminado. O
governo manda encerrar as sedes da União Operária Nacional e o diário A
Batalha.
[28 de Junho] Tratado de Versalhes. Tratado de paz com a Alemanha,
assinado pela parte portuguesa por Afonso Costa. É adoptado o pacto que institui
a Sociedade das Nações. No seu projecto original, o tratado só previa o
pagamento de indemnizações aos países invadidos ou atacados depois da sua
entrada oficial no conflito. A delegação portuguesa conseguiu que fosse incluído
no texto do tratado o pagamento de indemnizações referentes aos prejuízos
sofridos nas colónias, entre 1914 e 1916. É de referir que a dureza do tratado e a
forma como, na generalidade, os países vencedores aplicaram as suas
prerrogativas, criaria na Alemanha um sentimento de revolta que, em parte,
explica a criação de condições para a ascensão do nazismo e para eclosão do
segundo conflito mundial.
[2 de Julho] Greve ferroviária que se prolongará até Setembro. Para evitar
actos de sabotagem, o governo determina que os comboios circulem com um
vagão à frente da locomotiva carregado de grevistas, e guardado à vista por
militares armados. E o chamado «Vagão Fantasma».
[6 de Agosto] Realização de eleições presidenciais, tendo António José de
Almeida sido eleito presidente da República.
[291]
1920
[10 de Janeiro] Afonso Costa é nomeado representante de Portugal à
primeira Assembleia da Sociedade das Nações. A Sociedade das Nações, criada
na sequência das conversações de paz, tinha como objectivo garantir essa
mesma paz, e promover a cooperação económica, social e cultural entre os
Estados membros. Este organismo (precursor da ONU), embora gozando de
algum prestígio durante os anos 20, não conseguiu cumprir inteiramente os
objectivos para que foi criado, definhando completamente durante os anos 30.
[21 de Janeiro] Toma posse o ministério de Domingos Pereira (durará até 8
de Março). A instabilidade governativa, iniciada já no ano anterior, prolonga-se por
este e pelo ano seguinte. Até Março de 1921 sucederam-se, vertiginosamente,
sete ministérios. Em Portugal, como no resto da
[292]
Europa, nos anos que medeiam entre 1919 e 1923, sucederam-se os atentados, a
corrupção, a crise de autoridade, a inflação. As grandes personalidades políticas
da República retiraram-se de cena e os militares foram intervindo cada vez mais
(até 1926, doze dos vinte e seis ministérios foram presidídos por militares),
situação que, aliás, a opinião pública começava a exortar.
Face à agitação operária nos sectores dos telefones e indústria corticeira é
decretado, no Porto, o estado de sítio com encerramento das sedes sindicais e
com dezenas de prisões.
[Fevereiro] Na capital registam-se assaltos e rebentamento de petardos em
vários estabelecimentos.
[5 de Março] Tendo como pano de fundo as greves dos ferroviários, dos
Correios e Telégrafos, da Companhia dos Tabacos, e outras que se lhe seguirão,
o governo manda invadir a sede da Confederação Geral dos Trabalhadores, onde
decorria uma reunião da construção civil.
[15 de Março] Realiza-se, em Beja, o 4º Congresso dos Trabalhadores
Rurais, onde apenas se fizeram representar cerca de 20 associações. Isto revela
as dificuldades porque passara, durante a guerra, o associativismo rural que, após
a agitação dos três primeiros anos da República conheceu um declínio acentuado.
A isso se deverá, possivelmente, não só um domínio maior da parte dos grandes
proprietários, mas também o facto de ter sido o mundo rural aquele que melhor
ultrapassou as dificuldades provocadas pela economia de guerra.
[18 de Março] No âmbito dos Tratados de Paz impostos pelos países
vencedores à Alemanha, entre os quais se encontra Portugal, é publicado um
aviso suplemento que marca os prazos em que os cidadãos portugueses podem
apresentar quaisquer reclamações relativas a compensações a exigir da
Alemanha.
[20 de Março] É encerrada a Confederação Geral dos Trabalhadores em
conjunto com os sindicatos instalados no mesmo edifício, o que gera, no dia
seguinte, confrontos graves entre grevistas e Guarda Nacional Republicana.
[2 de Abril] É assinado o manifesto do Núcleo de Acção de Reconstituição
Nacional, mais tarde, Partido Republicano de Reconstituição Nacional. Os
reconstituintes pretendiam preencher o espaço do centro, entre os democráticos e
os liberais.
[28 de Abril] É reaberta a Confederação Geral do Trabalho, enquanto vão
sendo postos em liberdade os operários detidos no decurso das últimas greves. A
19 do mês seguinte volta a ser encerrada na sequência de mais greves.
[17 de Maio] Sacadura Cabral faz o percurso aéreo Inglaterra-Lisboa, com
escala em Brest e no Ferrol.
[6 de Junho] Constitui-se o 24º governo constitucional dirigido por José
Ramos Preto, assumido logo após a morte, em pleno Conselho de Ministros, do
presidente do ministério, o coronel António Maria Baptista. Seguir-lhe-á, logo no
dia 26, o 25º governo chefiado por António Maria da Silva.
[19 de Julho] Após a demissão do governo de António M. Silva, iniciam-se
as negociações para formar novo gabinete. Desistem Correia Barreto, Sá
Cardoso, Herculano Galhardo e Abel Hipólito, até que António Granjo decide
aceitar formar governo. Durará até 20 de Novembro.
[23 de Julho] Nasce a fadista, Amália Rodrigues.
[31 de Julho] O infante D. Miguel de Bragança abdica no seu filho terceiro,
D. Duarte Nuno que é, pouco depois, reconhecido e declarado herdeiro do trono
pelo Integralismo Lusitano.
[7 de Setembro] Decreto que aumenta o preço do pão e dá, por isso,
origem a uma vaga de contestação, destruição e assaltos a padarias por todo o
país. Inicia-se um período de greves nos caminhos-de-ferro que só terminaria dois
meses depois.
[28 de Novembro] É encarregado de formar governo, o tenente-coronel
Liberate Pinto, o homem que havia sido responsável pela reestruturação da GNR
no ano anterior.
[293]
1921
[9 e 10 de Janeiro] Realiza-se o primeiro Congresso da Confederação
Patronal Portuguesa. O associativismo patronal conheceu um surto considerável
após a implantação da República, fruto do fortalecimento do movimento operário e
(segundo pensavam patrões) da deficiente protecção que lhe era dada pelo
Estado. Neste congresso, pretendia-se organizar as forças da burguesia das
cidades e do campo numa grande frente comum. Não se conseguiu.
[18 de Janeiro] Greve geral dos operários da imprensa que se prolongará
por quatro meses. Entretanto, agrava-se a crise económica e a escassez de
produtos, o que leva governo a decretar créditos especiais para fazer face às
dificuldades.
[11 de Fevereiro] Por falta de azeite, encerram as fábricas de conservas do
Algarve. Dias depois é decretado o seu racionamento.
[2 de Março] Toma posse o 29º governo constitucional sob a chefia de
Bernardino Machado. Seguir-lhe-á o de Tomé de Barros Queirós, em 23 de Maio,
após pronunciamento da Guarda Nacional Republicana contra o governo de
Bernardino Machado.
[6 de Março] Criação do Partido Comunista Português. Sucessor da
Federação Maximalista Portuguesa, agrupamento, surgido em Setembro de 1919
em consequência da Revolução Russa de 1917, o Partido Comunista defendia a
tomada do poder pelos operários e camponeses. Defendia ainda a nacionalização
da propriedade, da banca, dos seguros e das principais indústrias. Ao Estado
cabia o monopólio da instrução e do comércio externo. Deveriam, segundo as
suas propostas, ser alienados os territórios ultramarinos.
[24 de Março] Morre, em Lisboa, a escritora e poetisa Maria Amália Vaz de
Carvalho. Contemporânea, em termos etários, da geração de 70 esta autora
constitui um momento alto da intelectualidade feminina até aos primeiros anos
deste século. Cultivou géneros como a poesia, o ensaio, o romance, o folhetim, a
crítica literária e artística, a educação, etc. Dentro deste último campo destacam-
se as suas posições conservadoras relativamente aos ideais de emancipação da
mulher. Combatia o divórcio, defendendo a ideia de que a mulher se deve manter
no estrito espaço do lar.
[6 de Abril] São depositados no Mosteiro da Batalha, os corpos de dois
Soldados
[294]
(Legenda: Jaime Cortesão.)
[295]
[296]
1922
[29 de Janeiro] Eleições gerais, que deram a vitória aos democráticos.
Iniciava-se aqui um período de relativa acalmia, o que permitiu ao governo de
António Maria da Silva manter-se no activo, embora com algumas remodelações,
entre 6 de Fevereiro de 1922 e 15 de Novembro de 1923.
[16 de Fevereiro] Concentram-se em volta de Lisboa tropas vindas da
província, alegadamente para combater as greves operárias em curso (Carris,
conservas de peixe em Setúbal, etc.). Entretanto, as tropas da capital colocam-se
em alerta, enquanto o governo se transfere para Caxias com receio de intentonas
revolucionárias.
[9 de Março] Decreto que regulamenta a preferência aos professores
cônjuges que concorram a escolas da mesma localidade.
O governo manda encerrar a sede do Sindicato do Pessoal da Carris, ao
passo que,
[297]
(Legenda: Manuel Teixeira-Gomes.)
1923
[30 de Janeiro] A Federação Marítima decide boicotar todos os navios de
transporte de tropas ou material de guerra para a Rússia ou para a Alemanha.
[Janeiro] Regulamentação da Lei nº 1368, de fins de 1922, que prevê um
agravamento nos principais impostos directos (contribuição industrial e predial,
aplicação e
[298]
[299]
1924
[28 de Janeiro] Morre Joaquim Teófilo Braga, erudito, professor e chefe do
governo provisório da República. Um dos mais antigos e importantes militantes e
ideólogos do Partido Republicano, desempenhou um papel fulcral na sua
divulgação e organização. Presidente do Directório do partido em 1910, foi
escolhido para chefe do governo provisório após a instauração da República, e foi
eleito presidente em Maio de 1915, quando Manuel de Arriaga se afastou do
cargo. Autor de dezenas de obras, entre as quais se podem destacar Soluções
Positivas de Política Portuguesa, História das Ideias Republicanas em Portugal e
o Manifesto e Programa do Partido Republicano Português.
[10 de Fevereiro] Sacadura Cabral pede a demissão do quadro dos oficiais
da marinha. Virá a desaparecer, no mar do Norte, a 15 de Novembro de 1924,
num voo de regresso da Holanda.
[22 de Fevereiro] Realização, em Lisboa, de uma importante manifestação
convocada pelas juntas de freguesia, contra a degradação das condições de vida.
A desvalorização da moeda e a inflação galopante não viu, na mesma proporção,
a actualização dos salários, o que, a juntar à memória recente do racionamento
dos produtos alimentares, levou a mais um momento de contestação que
terminou com o assalto a padarias e lojas.
[27 de Fevereiro] Decreto que converte a cadeira de Psiquiatria, da
Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em curso de Psiquiatria.
[Fevereiro-Março] Nomes da banca e do comércio, como Driesel Schroter,
Levy Marques da Costa e Ruy Ulrich, condenam a política económica do governo
de Álvaro de Castro, cujo objectivo principal era controlar o mercado cambial
(evitar a saída de capitais e a queda do escudo).
[7 de Abril] Os aviadores Brito Pais, Sarmento Beires e Manuel Gouveia
partem, de Lisboa, para a 1ª viagem aérea até Macau.
[2 de Maio] Tem início em Lisboa o Congresso Feminista e da Educação.
[24 de Maio] Inaugura-se, no Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa, a
exposição Um Século de História da Cerâmica Portuguesa.
[30 de Maio] Revolta, na Amadora, dos oficiais da força aérea.
A Associação Comercial de Lisboa lança um movimento de associações
patronais em torno de uma reivindicação: que os ministros das pastas económicas
sejam nomeados sem levar em conta factores políticos.
[3 de Junho] Início da primeira Festa da Raça, a celebrar anualmente
durante uma semana. As comemorações do dia 10 de Junho, Dia de Camões,
foram posteriormente aproveitadas pelo Estado Novo como forma de estimular e
reproduzir o ideal patriótico, através da glorificação do passado nacional.
[6 de Julho] Governo do democrático Alfredo Rodrigues Gaspar. Terminará
a 2 de
[300]
1925
[10 de Janeiro] Morre António Sardinha, ideólogo do Integralismo Lusitano.
[301]
[302]
Existem no país cerca de 9535 automóveis, para uma rede de estradas na ordem
dos 13 387 km de estradas nacionais e distritais e mais 4000 km de estradas
municipais.
António Botto, Pequenas Esculturas.
Raul Brandão, Memórias II.
Brito Camacho, Quadros Alentejanos.
Bento Carqueja, Política Portuguesa.
Fernanda de Castro, Náufragos.
Ferreira de Castro, A Morte Redimida; Sendas de Lirismo e de Amor.
D. João de Castro, O Jogo da Morte.
Latino Coelho, Literatura e História.
Campos Lima, A Revolução em Portugal.
David Lopes, História de Arzila.
Carlos Rates, A Rússia dos Sovietes.
José Régio, Poemas de Deus e do Diabo.
1926
[2 de Fevereiro] Martins Júnior e Lacerda de Almeida penetram no Quartel
da Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, e dominam os oficiais com a
ajuda de sargentos e civis.
[12 de Fevereiro] Gomes da Costa recusa o convite feito por Mendes
Cabeçadas, para chefiar o movimento militar em preparação. Será novamente
sondado para encabeçar uma revolta contra a situação política vigente, pouco
antes do golpe militar, vindo a aceitar a 25 de Maio. Parte, pouco depois, para
Braga de onde iniciará a marcha até Lisboa no dia 28 de Maio.
[8 de Março] Afonso Costa é eleito para presidir à assembleia
extraordinária da Sociedade das Nações.
[27 de Março] O grupo Seara Nova organiza uma semana contra o
fascismo. Embora admirado desde cedo, o fascismo não encontrou em Portugal
muitos adeptos antes de 1930. Para além do Integralismo Lusitano, outro
movimento de direita, surge em finais de 1922, a Acção Nacionalista, seguida do
Centro do Nacionalismo Lusitano, que não diferiam muito daquele.
[Maio] Realiza-se o II Congresso do Partido Comunista, que será
interrompido pelo golpe de Estado militar.
[303]
(Legenda: Concentração da Mocidade Portuguesa durante uma prova desportiva.
[304]
1926-1974
João Paulo
Avelãs Nunes
O presente capítulo desta Cronologia aborda os quarenta e oito anos da história
de Portugal que medeiam entre dois golpes militares «fundadores»: o primeiro,
iniciado no dia 28 de Maio de 1926, esteve na base da estruturação de regimes
ditatoriais; o segundo, despoletado no dia 25 de Abril de 1974, deu origem a um
processo revolucionário que permitiu a institucionalização de uma sociedade
democrática.
Por definição, tratando-se de golpes militares, em ambas as situações a
intervenção das Forças Armadas foi decisiva no desmantelar das modalidades de
organização político-institucional anteriormente existentes:
[305]
[306]
1926
[28 de Maio] Desenvolve-se a partir de Braga, sob a liderança emblemática
do general Gomes da Costa («herói» da Primeira Guerra Mundial), o golpe militar
fundador da Ditadura militar, regime de tipo autoritário que substitui a I República
demoliberal a partir do qual se estruturará o Estado Novo.
As operações militares iniciadas em Braga foram secundadas, em muitas
outras cidades do país (Porto, Lisboa, Évora, Coimbra, Vila Real, Santarém,
Lagos, etc.), pela interervenção de outras unidades militares chefiadas por oficiais
superiores representativos de diversas correntes político-ideológicas
«conservadoras».
[29 de Maio] O ainda presidente da República, Bernardino Machado, aceita
o pedido de demissão apresentado colectivamente por todos os membros do
governo liderado por António Maria da Silva. Desaparecia assirn, sem esboçar
qualquer tipo de resistência, o último governo da I República.
À semelhança do que já havia ocorrido aquando da Revolução republicana
de 5 de Outubro de 1910, a facilidade com que foi desmantelada a estrutura
institucional do .regime demoliberal português terá resultado, entre outros
factores, da situação de profundo isolamento social, divisão interna, incapacidade
de realização e descrédito em que se encontrava a sua «classe dirigente».
Realiza-se em Lisboa o II Congresso do (ainda embrionário) Partido
Comunista Português (PCP), fundado em 1921, sob a influência da Revolução
Russa de 1917, a partir de dissidências do Partido Socialista e das correntes
anarquista e anarco-sindicalista. Compareceram cerca de 100 delegados, mas os
trabalhos foram interrompidos devido ao golpe militar.
[30 de Maio] Presidido pelo comandante Mendes Cabeçadas (principal
representante da corrente republicana «moderada» das Forças Armadas, «herói»
da Revolução de 5 de Outubro de 1910), entra em funções o primeiro governo da
Ditadura militar. A Assembleia Nacional e o Senado são encerrados por tropas
envolvidas no golpe militar. O presidente da República, Bernardino
(Legenda: José Mendes Cabeçadas.)
[307]
1927
[5 de Janeiro] Através do Decreto nº 12 972, o governo da Ditadura militar
cria junto do Governo Civil de Lisboa uma «polícia especial de informações de
carácter secreto».
[12 a 14 de Janeiro] Diversos partidos e movimentos cívico-políticos
oposicionistas (Partido Republicano Português, Esquerda Democrática, Partido
Republicano Radical, Acção Republicana, «Grupo Seara Nova», Partido Socialista
Português, Partido Republicano Nacionalista) contestam junto da Embaixada da
Grã-Bretanha e das Legações em Lisboa da França e dos EUA a
[309]
[310]
(Legenda: José Régio)
1928
[3 de Janeiro] Oliveira Salazar publica, uma vez mais no diário católico
Novidades, um artigo («O empréstimo externo») no qual condena a opção do
governo da Ditadura militar de contrair um avultado empréstimo internacional sem
o prévio restabelecimento do equilíbrio orçamental. Torna-se assim público e
notório o «conflito» existente desde há algum tempo entre aquele docente
universitário e militante
[311]
[312]
1929
[11 de Abril] Antecedendo uma vez mais a estruturação jurídico-institucional
dos mecanismos do «condicionamento industrial» e da «organização corporativa
do trabalho nacional», através do Decreto nº 16 717, o governo da Ditadura militar
procura «resolver as dificuldades» então sentidas pela «indústria moageira
nacional» proibindo o estabelecimento de novas empresas ou fábricas e a
alienação ou modificação das empresas ou das fábricas existentes.
[21 de Abril] Com a realização na clandestinidade de uma Conferência
Nacional e com a eleição de Bento Gonçalves para o cargo de secretário-geral,
inicia-se o primeiro processo de reorganização do PCP. Pretendia-se adaptar o
partido à conjuntura de clandestinidade e repressão que então se vivia; reconstruir
as suas estruturas de direcção e propaganda; aumentar a ligação dos comunistas
aos sectores operários, camponeses, estudantis e militares; estabelecer
[313]
[314]
forma «positiva» como a Ditadura militar encarava aquela que foi a primeira
experiência fascista de governação.
[5 de Outubro] Aproveitando as comemorações da Revolução republicana
de 5 Outubro de 1910 e o facto de o governo se empenhar cada vez menos na
organização dessa efeméride, os sectores oposicionistas realizam em Lisboa e
em outras cidades do país manifestações de contestação à Ditadura militar.
[16 Outubro] Acompanhado pelo presidente do Conselho e pelo ministro
dos Negócios Estrangeiros, visita oficialmente Espanha o presidente da
República, general Óscar Carmona. Os governantes portugueses são recebidos
pelo rei Afonso III e pelo general Miguel Primo de Rivera, chefe do regime
ditatorial vigente no país vizinho desde 13 de Setembro de 1923.
[21 de Outubro] Com o objectivo de demonstrar o «apoio da Nação» a
António de Oliveira Salazar, decorre na sala do Conselho de Estado a chamada
«Manifestação dos Municípios».
Organizada por Lopes da Fonseca, ministro da Justiça, nela participaram
membros das Comissões Administrativas das Câmaras Municipais. Salazar
agradece lendo o discurso «Política de verdade, política de sacrifício, política
nacional», no qual utiliza pela primeira vez a fórmula «Nada contra a Nação, tudo
pela Nação».
[30 de Outubro] Morre António José de Almeida, dirigente republicano e
presidente da República entre 1919 e 1923. O governo da Ditadura Militar
determina a realização de funerais nacionais. O seu funeral, realizado em Lisboa
no dia 2 de Novembro, resultou numa grande manifestação de protesto
(silencioso) contra o regime ditatorial e de apoio à restauração das «liberdades
públicas».
Ao longo do ano, em resultado de um esforço de reconstrução depois da
violenta repressão sofrida e da onda de prisões ocorridas durante o ano de 1927
(sobretudo depois da tentativa revolucionária de 3 a 10 de Fevereiro) retoma a
actividade (agora na clandestinidade) a Liga Anarquista Portuguesa.
1930
[4 a 27 de Janeiro] Em resultado do conflito sobre «o problema do crédito
em Angola», surgido entre o ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar –
apoiado pelo outro «ministro católico de Coimbra», o responsável pela pasta da
Justiça, Manuel Rodrigues Júnior, e o governador do Banco de Angola, Cunha
Leal, ex-líder de um partido da direita republicana, ex-«candidato a ditador» na
qualidade de defensor de uma «saída ditatorial» para a crise do regime
demoliberal vigente durante a I República -, apoiado pelos restantes membros do
governo presidido pelo general Artur Ivens Ferraz, o presidente da República,
general Óscar Carmona, aceita o pedido de demissão apresentado pelo chefe do
Executivo.
Depois de uma tentativa mal sucedida de constituição de um novo
gabinete, da responsabilidade do coronel Passos e Sousa, Carmona nomeia um
novo governo, presidido pelo general Domingos da Costa Oliveira e no qual
António de Oliveira Salazar detém uma posição reforçada. Para além de ministro
das Finanças, é também ministro das Colónias (interinamente, até fins de Julho).
Na dupla qualidade de ministro das Finanças e das Colónias, Salazar
demite Cunha
[315]
[316]
[317]
1931
[14 de Fevereiro] Com o objectivo de generalizar ao conjunto da actividade
industrial as modalidades de controlo estatal (ou «condicionamento») já
implementadas nos sectores conserveiro e da panificação (particularmente
estratégicos e/ou mais afectados pela crise económica), o governo da Ditadura
militar aprova o Decreto n.º 19 354 e, mais tarde, em 4 de Março do mesmo ano,
o Decreto n.º 19 409. Em colaboração mais ou menos «harmoniosa» com as
estruturas associativas de empresários (corporativas ou não), pretendeu-se desta
forma refrear a competição económica entre empresas, assegurar
(simultaneamente) elevados níveis de concentração monopolista e a
sobrevivência de pequenas e médias empresas pior apetrechadas, reforçar a
capacidade de intervenção do Estado na economia.
Estes documentos legais, ilustrativos de uma concepção embrionariamente
intervencionista, panificadora, corporativista. proteccionista, nacionalista e algo
«tradicionalista» «imobilista» da actividade industrial e relações entre o Estado e o
«mercado capitalista» (típica da modalidade fascista de estruturação do
capitalismo monopolista do Estado), tornam dependente de autorização
ministerial: a instalação de novos estabelecimentos industriais ou a reabertura do
que tiverem paralisado a sua exploração por mais de dois anos; a montagem ou
substituição de maquinismos de que resulte aumento de produção; a passagem,
por arrendamento ou alienação, de estabelecimentos industriais para posse de
estrangeiros. Suspende ainda a concessão de patentes de introdução de novas
indústrias e dá novos processos industriais.
[25 de Fevereiro] Coordenadas pela embrionária organização clandestina
do PCP, iniciam-se em diversas localidades industriais do país formas de luta
(greves e manifestações) exigindo medidas de combato ao desemprego e maior
liberdade de organização e intervenção sindical.
[4 de Abril] Por iniciativa do governo, começa a ser publicado o Diário da
Manhã, órgão oficioso da UN e veículo explícito de propaganda da Ditadura militar
e, posteriormente, do Estado Novo. Numa das suas primeiras tomadas públicas
de posição, os responsáveis editoriais do Diário da Manhã consideram que a
implantação em Espanha de um regime republicano democrático constitui uma
ameaça grave para a Ditadura militar portuguesa.
[Abril-Maio] Sucedem-se (na Madeira, Açores e Guiné) diversas tentativas
de revolta militar e civil contra a Ditadura, assim como manifestações estudantis e
populares de protesto (sobretudo em Lisboa e no Porto). Umas e outras são, no
entanto, rapidamente reprimidas por contingentes militares «leais ao Governo da
Nação» e por forças policiais.
São efectuadas inúmeras prisões, deportações e demissões da função
pública. Uma vez mais, são dissolvidas as unidades militares que apoiaram
maioritariamente as iniciativas «reviralhistas».
[17 de Maio] Com o objectivo de anular na opinião pública nacional e
internacional
[318]
[319]
1931
Resultado prático do esforço de reorganização e relançamento da
actividade realizado pelas estruturas clandestinas do PCP e das Juventudes
Comunistas Portuguesas, liderado pelo secretário-geral Bento Gonçalves, são
criados a Organização Revolucionária do Exército (ORE), a Organização
Revolucionária da Armada (ORA) e os Grupos de Defesa Académica (GDA). Inicia
ainda a sua publicação (no dia 15 de Fevereiro de 1931) o jornal Avante!
1932
[1 de Janeiro] Numa nova manifestação do bom relacionamento existente
entre a Ditadura militar portuguesa e o Estado fascista italiano, chega a Lisboa,
acompanhado por membros da Câmara dos Deputados e da Câmara dos Pares,
ítalo Balbo, ministro do Ar do governo chefiado por Benito Mussolini.
[Fevereiro] Começa a publicar-se em Lisboa o diário Revolução, principal
órgão do Movimento Nacional-Sindicalista. Liderado por Rolão Preto
(personalidade oriunda do Integralismo Lusitano), esta organização foi a mais
importante expressão organizada da corrente mais radical e minoritária
(«fascista», no sentido restrito do termo) do universo de apoiantes da Ditadura
militar e do Estado Novo.
Dando continuidade às movimentações operárias iniciadas em 1931 como
forma de protesto contra o desemprego e contra a Ditadura militar, ocorrem
greves e manifestações (sempre prontamente reprimidas pelas forças policiais) na
Marinha Grande, Lisboa, Setúbal e Algarve.
[27 de Abril] Assinalando o 4° aniversário da posse de Oliveira Salazar
como ministro das Finanças de um governo da Ditadura militar, este é
condecorado pelo presidente da República com a Grã-Cruz da Ordem do Império
Colonial.
[28 de Maio] O 6° aniversário da «Revolução Nacional» é assinalado, entre
outras iniciativas, pela divulgação através da imprensa do projecto de Constituição
que irá marcar a linha jurídica e institucional de fronteira entre a Ditadura militar e
o Estado Novo.
Resultado de um esforço de negociação compatibilização de interesses
entre os diversos sectores do universo sócio político ideológico de apoio à
Ditadura, este esboço de texto constitucional incluía críticas típicas dos regimes
democráticos princípios definidores dos regimes riais e corporativistas.
A crescente relevância de Salazar no seio do governo e do regime é
confirmada por acto de Óscar Carmona, presidente da república e vector de
conciliação entre as diversas correntes político-militares apoio da Ditadura: o
ministro das Finanças é cada vez mais condecorado, desta vez com a Cruz da
Torre e Espada.
[24 de Junho] Ultrapassado pelo prestígio e pela efectiva liderança de
Salazar (até então «apenas» ministro das Finanças), demite-se o presidente do
Ministério, general Domingos de Oliveira.
[5 de Julho] Toma posse o 8° governo da Ditadura militar, presidido por
António de Oliveira Salazar, o primeiro civil a ocupar o cargo desde 28 de Maio de
1926. Na ocasião, Salazar pronuncia o discurso «Os homens são outros, o
governo é o mesmo».
[Julho] Por proposta do engenheiro Duarte Pacheco, recém-nomeado para
o cargo de ministro das Obras Públicas e Comunicações, as verbas do Fundo de
Desemprego passarão a ser aplicadas nos programas de obras públicas que o
Estado Novo se propõe desenvolver.
Inicia-se assim o período do Estado Novo durante o qual os programas de
«obras públicas» atingirão maior importância relativa e maior «visibilidade social».
Para além das modalidades autoritárias de relacionamento entre o Estado e os
proprietários de terrenos a «valorizar», dos métodos de planificação e dos
objectivos de modernização urbanística e económica, a actividade de Duarte
Pacheco ficou ainda marcada pela sua capacidade para utilizar os grandes
projectos de obras públicas como
[320]
(Legenda: Duarte Pacheco)
[321]
1933
[23 de Janeiro] Através do Decreto n.º 22 151, o governo chefiado por
Salazar extingue a Secção de Vigilância Política e Social da Polícia Internacional
Portuguesa e cria a Polícia de Defesa Política e Social, subordinada ao ministro
do Interior e com «dever de vigilância» sobre todo o território continental.
[18 de Fevereiro] O Movimento Nacional-Sindicalista, organização
tipicamente fascista que dava expressão política aos sectores (civis e militares)
mais radicais do Estado Novo, realizou em Lisboa, no Palácio das Exposições (ao
Parque Eduardo VII), o primeiro de uma série de banquetes concretizados em
várias cidades do país durante o ano de 1933.
Tratava-se, não apenas de pressionarão sentido do reforço da natureza
totalitária do regime (à semelhança do que então acontecia, entre outros países,
na Itália de Mussolini e na Alemanha de Hitler), mas também de reforçar a
posição de Rolão Preto como «candidato a chefe» do regime ditatorial português
(em alternativa a Salazar, considerado excessivamente «moderado»).
[24 de Fevereiro] A Empresa Nacional de Publicidade lança uma edição de
125 mil exemplares da obra Salazar, o Homem e a Obra, texto prefaciado pelo
próprio Salazar que resulta da compilação das entrevistas realizadas por António
Ferro ao «chefe» do Estado Novo e publicadas pelo Diário de Notícias durante o
mês de Dezembro de 1932.
O livro foi ainda divulgado em diversos outros países europeus, iniciativa
propagandística financiada pelo governo português. A edição francesa (com o
título Lê Portugal et son Chef) foi prefaciada por Paul Valéry. A edição espanhola
data de 1935 e a inglesa de 1939, havendo ainda uma edição italiana, realizada
por indicação próprio Benito Mussolini.
[19 de Março] Concluindo um processo negociações e de consolidação de
equilíbrio entre as diversas correntes político ideológicas apoiantes da Ditadura
militar inicia em 1929, realiza-se, num contexto de total ausência de liberdades
cívicas e politicas, o plebiscito do projecto de Política da República apresentado
ao país pelo governo liderado por Oliveira Salazar. Devido ao prestígio do regime,
ao empenhamento do aparelho de Estado e, sobre tudo, à sua capacidade para
manipular totalmente o processo eleitoral, a proposta apresentada é referendada
positivamente. De acordo com os critérios definidos pelo governo, 99,5% dos
1330258 eleitores inscritos no Continente, Ilhas Adjacente Colónias votaram «a
favor». Desses 40,2 % eram abstenções que, de acordo com a lei eleitoral, foram
contados como, votos favoráveis.
[11 de Abril] É promulgada e entra em vigor a Constituição Política da
República Portuguesa, terminando assim o período «de transição» normalmente
designado por Ditadura militar.
Com a função de preparar, na dependência directa do próprio Oliveira
Salazar, a estrutura jurídico-institucional do «corporativismo português», Pedro
Teotónio Pereira é nomeado subsecretário de Estado das Corporações e
Previdência Social.
[27 e 28 de Maio] Das comemorações do 7.º aniversário da «Revolução
Nacional» realizadas em Lisboa, fizeram, significativamente parte, uma récita de
gala no Teatro de S. Carlos, desfiles militares, um serviço religioso solene
presidido pelo cardeal-patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira e uma «sessão
política» da UN na qual Oliveira Oliveira Salazar pronunciou o discurso «É esta a
Revolução que esperávamos?».
Os «camisas-azuis», chefiados por Rolão Preto, surgem fardados e
organizados sob a forma de milícia nas comemorações do 28 de Maio realizadas
em Braga. Coerentemente com a sua postura de radicalismo fascista explícito, os
militantes nacionais-sindicalistas envolvem-se em confrontos,
[322]
(Legenda: Capa do jornal Revolução)
[323]
1934
[18 de Janeiro] Tem início a primeira tentativa revolucionária de derrube do
Estado Novo que foi exclusivamente protagonizada por civis. Organizada pela
CGT e pelo PCP, teve expressão sobretudo na Marinha Grande, Barreiro, Seixal e
Silves. Rapidamente anulada pelo regime, da sua repressão resultou a prisão e
deportação de muitos dirigentes e activistas sindicais e políticos anarquistas e
comunistas.
[28 de Janeiro] Realiza-se em Lisboa, no Teatro de São Carlos, a cerimónia
pública de lançamento da Acção Escolar Vanguarda, primeira organização de
juventude directamente promovida pelas estruturas dirigentes do Estado Novo.
Os objectivos principais desta iniciativa tiveram a ver, quer com
preocupações de enquadramento e formação político-ideológica
[324]
[325]
1935
[14 de Fevereiro] Como corolário lógico de uma «campanha eleitoral»
(esforço de mobilização dos apoiantes e de propaganda dos valores do Estado
Novo) totalmente monopolizada pela «Situação», o general Óscar Carmona,
candidato único apresentado pelo regime, é «reeleito» presidente da República.
[27 de Abril] Assinalando uma vez mais o aniversário da nomeação de
Oliveira Salazar para o cargo de ministro das Finanças de um executivo da
Ditadura militar, o «chefe» do Estado Novo recebe cumprimentos de todos os
membros do seu governo e oferece um «porto de honra» aos principais oficiais
das Forças Armadas. Pronuncia na altura o discurso «Balanço da obra
governamental. Problemas políticos do momento».
[1 de Maio] Procurando, à semelhança do que acontecia em outros regimes
fascistas coevos, apropriar-se do capital simbólico que envolvia esta data («Dia do
Trabalhador») - particularmente relevante para o movimento operário e sindical e
para os ideais socialistas -, o Estado Novo promove pela primeira vez festejos
oficiais do «Dia do Trabalho».
Em Belém (Lisboa), milhares de filiados dos «Sindicatos Nacionais», das
Casas do Povo e dos organismos corporativos desfilam saudando o presidente da
República. Em Guimarães realiza-se a «Festa do Trabalho», marcada por desfiles
alegóricos e manifestações de apoio à «ordem corporativa» e ao Estado Novo.
[13 de Maio] Aprovado o Decreto-Lei n.º 25 317, o governo liderado por
Salazar aposenta, reforma (compulsivamente) e demite um novo conjunto de
funcionários públicos (civis ou militares) cujo único «crime» era o de se terem
manifestado contrários ao Estado Novo. Entre os penalizados encontram-se 33
docentes do ensino superior.
[21 de Maio] Por intermédio da Lei n.º 1901, o governo determina a
ilegalização de todas as «sociedades secretas» então existentes em Portugal,
com especial destaque para a Maçonaria.
[326]
1936
[23 de Abril] Através do Decreto-Lei no 25 539, o governo do Estado Novo
cria no Tarrafal (ilha de Santiago, arquipélago de Cabo Verde) uma «Colónia
Penal» («campo de concentração») para «presos políticos e sociais».
Ficou conhecido como «Campo da Morte Lenta», tendo sido
essencialmente utilizado, até à década de 50, como instrumento de eliminação
física dos principais dirigentes e activistas políticos, sindicais e militares
anarquistas e comunistas.
[Abril-Outubro] Através de um conjunto articulado de medidas legislativas,
promulgadas nos meses de Abril a Dezembro de 1936, o ministro da Instrução
Pública, António Faria Carneiro Pacheco (docente da Faculdade de Direito de
Lisboa e ex-docente da Faculdade de Direito de Coimbra), protagoniza um esforço
decisivo no sentido da «regeneração» do sistema educativo português (do
aumento da sua eficácia enquanto estrutura de reprodução do Estado Novo): o
Ministério da instrução Pública é substituído pelo Ministério da Educação
Nacional, são criadas a Junta Nacional de Educação, a Organização Nacional
Mocidade Portuguesa (MP) e a Obras das Mães pela Educação Nacional (OMPE)
- da qual derivará a Organização Nacional Mocidade Portuguesa Feminina (MPF)
-, os ensinos primário e liceal sofrem profundas reformas.
[11 de Maio] Com o objectivo de liderar pessoalmente o processo de
depuração política das Forças Armadas (à esquerda e à direita) e de
transformação destas num sustentáculo
[327]
[328]
[329]
1937
[Fevereiro] Mantendo a linha de duplicidade diplomática e de
«relacionamento amigável» quer com os outros regimes fascistas, quer com os
regimes demoliberais, o governo português compromete-se (não cumprindo) a
aceitar a proibição de recrutamento de voluntários para a Guerra Civil de Espanha
e a permitir a sua fiscalização pelo Comité Internacional para a Aplicação do
Acordo de Não Intervenção (com sede em Londres, liderado pela Grã-Bretanha e
pela França).
As negociações, avanços e recuos, objecções acordos e desacordos em
torno desta questão, resultantes da estratégia assumida pelo Estado Novo,
tiveram o seu início em Agosto de 1936.
[330]
Março A Lei n.º 1953 cria as Casa dos Pescadores. Tratou-se de estruturas do
tipo corporativo que, à semelhança do mundo rural e com as Casas do Povo,
partia do pressuposto de comunidades essencialmente: dependa pesca
desconheciam a diferença capital» e «trabalho» entre empregadores e
empregados), dispensando a existência de «Sindicatos Nacionais».
[17 de Maio] Através da Lei nº 1956, o do Estado Novo sistematiza os
orientadores, reformula as modalidades de intervenção e universaliza o aplicação
do «Condicionamento Industrial.
[18 de Maio] Sintoma claro da fase da crispação e de relativamente de
maior mobilização políticas e ideológicas vividas no Estado Novo a LP e a MP
substituem pela primeira vez as forças armadas no desfile integrante das
principais comemorações oficiais, realizadas em Lisboa, 11º aniversário da
Revolução nacional.
[19 de Junho] Desde os primeiros anos da década de 30 que diversos
autores e analistas estrangeiros «denunciavam» a ausência de «legitimidade
histórica» e de capacidade Sonómica de Portugal para «civilizar», ministrar e
explorar com eficácia as suas colónias.
Diversos órgãos de informação nacionais e estrangeiros publicaram,
durante a primeira metade de 1937 e até ao início da Segunda Guerra Mundial,
numerosas notícias que apontavam no sentido da existência de negociações e/ou
de um acordo entre as principais potências europeias no sentido da cedência de
grande parte dos territórios coloniais portugueses à Itália de Mussolini e à
Alemanha de Hitler. Procurando contrariar este tipo de rumores o governo do
Estado Novo lança um conjunto de iniciativas propagandistas, as mais
importantes das quais foram o I Congresso da História da Expansão Portuguesa
no Mundo e â Exposição Histórica da Ocupação.
Realizado em Lisboa, no Parque Eduardo VII e inaugurada por Óscar
Carmona e Oliveira Salazar, a Exposição pretendeu ser: «Uma afirmação
categórica dos direitos dos portugueses além-mar e da firmeza de propósitos em
os defender perante ambições ou agravos de terceiros.»
[4 de Julho] Oliveira Salazar escapa ileso a um atentado à bomba
organizado em Lisboa por militantes anarquistas. Durante a tarde desse mesmo
dia, a LP e a MP promovem, em Lisboa, desfiles de homenagem ao «chefe» do
Estado Novo e de «repúdio do comunismo e de todas as doutrinas subversivas».
No dia 6 de Julho, na Sala dos Passos Perdidos
[331]
1938
[Janeiro] Em resultado da contestação provocada em alguns sectores das
Forças Armadas pelas «reformas» governamentalizadoras introduzidas por
iniciativa de Oliveira Salazar, voltam a surgir boatos que apontam para a
possibilidade de eclosão de um golpe militar contra o Estado Novo. A PSP, a GNR
e a LP são colocadas em estado de alerta.
[27 de Março] Através de mais uma «nota oficiosa» (de publicação
obrigatória pela imprensa), Salazar divulga «ao país e ao mundo» os objectivos e
o primeiro esboço do programa geral das Comemorações do Duplo Centenário da
Fundação e da Restauração (a realizar em 1940): Grande Exposição Histórica do
Mundo Português, Exposição de Arte Portuguesa, Grande Exposição Etnográfica,
Grande Exposição do Estado Novo, Congresso do Mundo Português, Cortejo do
Mundo Português (em Lisboa), Cortejo do Trabalho (Porto), programa de obras
públicas (Auto-Estrada Lisboa-Cascais, Estádio Nacional, Parque de Monsanto).
[27 de Abril] Na penúltima sessão da s primeira legislatura, a Assembleia
Nacional decide, por proposta do deputado Pinto, assinalar mais um aniversário
da nomeação de Oliveira Salazar para o ministro das Finanças de um governo da
Ditadura militar atribuindo-lhe o título «Benemérito da Pátria».
[28 de Abril] Oficializando uma posição que, na prática, vinha assumindo
desde o início de 1937, ainda em plena guerra civil, o governo do Estado Novo
reconhece que jure a Junta de Burgos, estrutura governativa da Espanha
«nacionalista» chefiada peIo general Francisco Franco.
Esta decisão é tornada pública pelo próprio Oliveira Salazar através do
discurso «Realizações de política interna. Problemas de política externa»,
pronunciado na sessão solene de encerramento da I Legislatura da Assembleia
Nacional.
[28 e 29 de Maio] Por ocasião das comemorações da «Revolução
Nacional», realiza-se em Lisboa o II Acampamento Nacional da Mocidade
Portuguesa. Na parada/desfile que marcou o encerramento destas iniciativas e
que contou com a presença do presidente da República, do presidente do
Conselho, do ministro da Educação Nacional e de vários outros membros do
governo, das chefias das Forças Armadas e dos principais dignitários da Igreja
Católica, estiveram presentes mais de 20000 filiados da MP e da MPF. Algumas
centenas de oficiais das Forças Armadas homenageiam Salazar num jantar
realizado no Palácio das Exposições do Parque Eduardo VII, em Lisboa.
[30 de Outubro] Uma nova «eleição» dos deputados da Assembleia
Nacional assegura a «escolha» de todos os candidatos da lista única da UN ao
círculo que abrangia a «metrópole» e as «colónias».
Em discurso proferido aos microfones da Emissora Nacional no dia 27 de
Outubro - dia do encerramento da «campanha eleitoral» - («Preocupação da paz
e preocupação da vida»), Salazar havia anunciado a intenção do governo de se
manter neutral em caso de eclosão de um conflito militar generalizado ao nível
europeu ou mundial.
[332]
[333]
1940
[7 de Maio] O governo português e a Santa Sé assinam em Roma a
Concordata e o Acordo Missionário Sintoma evidente de uma coincidência de
pontos de vista entre as estruturas de cúpula da Igreja Católica e o Estado Novo
(quer em termos política interna e colonial, quer no respeito à situação
internacional), acordos marcam ainda o fim do período de conflito mais ou menos
declarado entre Estado português (monárquico liberal e posteriormente,
republicano demoliberal) a Igreja e a Acção Católica.
Introduzidos pelos revolucionários liberais de 1820 e renovados após a
Revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 com o objectivo de contribuírem
para o reforço do Estado-Nação e do processo de «modernização» política,
socioeconómica e cultural da sociedade portuguesa, o anticongreganismo, o
anticlericalismo e mesmo, em algumas conjunturas (sobretudo entre 1910 e
1914), o laicismo, foram recusados pela Ditadura militar e pelo Estado Novo.
Pelo menos durante as primeiras fases do regime fascista português (até à
década de 60), o relacionamento entre o regime (chefiado por António de Oliveira
Salazar), a Igreja e a Acção Católica portuguesas (lideradas por Manuel
Gonçalves Cerejeira) foi, no essencial e globalmente considerado, de colaboração
estreita, apoio mútuo, divisão de funções e reconhecimento da superioridade do
Estado enquanto agente imprescindível de tutela da sociedade e da própria Igreja.
[25 de Maio] No decorrer da sessão da Assembleia Nacional durante a qual
são aprovados a Concordata e o Acordo Missionário (assinados em Roma, no
Vaticano, no dia 7 de Maio, pelo embaixador Carneiro Pacheco, ex-ministro da
Educação Nacional), Salazar pronuncia o discurso «Problemas político-religiosos
da Nação Portuguesa e do seu Império‖.
[2 de Junho] Durante a cerimónia realizada no Castelo de Guimarães com
o objectivo de marcar com solenidade e forte carga simbólico-propagandística o
início das comemorações oficiais do «Duplo Centenário da Formação da
Nacionalidade e da Restauração (1140-1640-1940)», Salazar pronuncia o
discurso «800 anos de independência‖.
[334]
[Junho] É inaugurada em Belém, na Praça Império, a Exposição do Mundo
Português uma das principais iniciativas concretas no âmbito das comemorações
do Duplo Centenário».
A sistemática utilização «da história» e das comemorações histórico-
patrióticas» enquanto veículos privilegiados de difusão e legitimação dos
principais valores ideológicos do de afirmação da sua capacidade regeneradora»
(reforçada pelo contraste com a situação de guerra que afectava o resto do
continente europeu), estão bem presentes nos diversos pavilhões e outras
estruturas da grande exposição «Pavilhão da Fundação de Portugal», «Pavilhão
da ‖Formação e Conquista», «Pavilhão da Independência», «Pavilhão dos
Descobrimentos «Pavilhão da Colonização», «Pavilhão do Brasil», «Casa de
Santo António», «Pavilhão de Lisboa», «Pavilhão dos Portugueses no Mundo»,
«Secção da Vida Popular», «Nau Portugal», «Padrão dos Descobrimentos»,
«Secção Colonial», «Jardim dos Poetas», etc.
[12 de Junho] É acordada e divulgada uma declaração conjunta de
neutralidade dos governos português e espanhol, afirmando o primeiro a «estrita
neutralidade» TC o segundo a «não beligerância»
Do compromisso assumido pelos dois regimes no sentido de evitar um
envolvimento directo na Segunda Guerra Mundial, derivará ainda a assinatura, no
dia 29 de Junho de 1940, de um Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade e
Não Agressão vigente desde Março de 1939
[27 de Agosto] Em resultado, quer da adopção pelo governo do Estado
Novo de uma vontade política de intervenção planificada no sentido da
transformação global da economia, quer do início do processo de subalternização
dos interesses ligados à agricultura relativamente às necessidades e valores dos
sectores industrial e financeiro, o Decreto-Lei nº 30 679 cria o Ministério da
Economia, para o qual transitam os serviços do Ministério do Comércio e Indústria
e do Ministério da Agricultura
[2 de Dezembro] Sintomaticamente, as «Comemorações do Duplo
Centenário» são oficialmente encerradas, quer com um Te Deum na Sé de
Lisboa, celebrado pelo cardeal-patriarca, quer com uma sessão solene na
Assembleia Nacional, presidida por Óscar Carmona e por Oliveira Salazar.
1941
[19 de Abril] A Universidade de Oxford atribui a Oliveira Salazar o título de
Doutor
[335]
[337]
1942
[8 de Fevereiro] Óscar Carmona, candidato único do regime às «eleições»
para a Presidência da República, é de novo «eleito » «magistrado supremo da
Nação». Uma vez mais, na véspera da votação, Oliveira Salazar dirige-se «aos
Portugueses» através da Emissora Nacional, apelando ao voto no general
Carmona e ao reforço do próprio Estado Novo («Na reeleição do General
Carmona»).
[9 de Março] Através do Decreto-Lei nº 31 908, o governo do Estado Novo
determina que as estruturas de direcção nacional da MP passariam a controlar e
fiscalizar todas as organizações de juventude portuguesas não oficiais ou não
integrantes da Acção Católica.
[31 de Março] O governo de Salazar protesta em Londres contra a
severidade do bloqueio económico imposto a Portugal
[336]
[337]
[338]
1944
[Fevereiro] Em protesto contra o aumento dos preços, a escassez de bens
essenciais e a natureza ditatorial do regime, realizam-se no Alentejo e Ribatejo,
sob a coordenação das estruturas clandestinas do PCP, greves e manifestações
de assalariados agrícolas As forças policiais intervêm, reprimindo os
trabalhadores e efectuando prisões
[339]
1945
[Janeiro] É desmantelada uma tentativa de golpe militar contra o Estado
Novo planeada por elementos integrantes de uma «coligação» entre os sectores
liberais dos meios monárquicos e ala mais conservadora da oposição ao regime
ditatorial chefiado por Oliveira Salazar.
[Março] Através da Lei nº 2 005 (Lei do Fomento e Reorganização
Industrial), o governo de Salazar estabelece as linhas orientadoras de um futuro
crescimento industrial integrado e com forte pendor monopolista (responsabilidade
conjunta do Estado e das grandes empresas) A vitória (aparentemente definitiva)
dos sectores «modernizadores» do regime veio, no entanto, a revelar-se
incompleta, uma vez que a referida legislação acabou por não ser implementada
em muitas das suas vertentes essenciais.
[Abril] Realizam-se no Ribatejo e no Alentejo concentrações e greves de
trabalhadores rurais contra a falta de alimentos, a subida dos preços e a natureza
ditatorial do Estado Novo.
[3 de Maio] Sintoma indiscutível da forma contraditória como a Ditadura
fascista portuguesa encarou e participou (embora indirectamente) na Segunda
Guerra Mundial, é a decisão tomada pelo governo do Estado Novo de decretar
«luto oficial» de três dias pela morte de Adolfo Hitler, «chefe» do Partido Nacional-
Socialista e do III Reich Alemão
[341]
[342]
(Legenda: Comissão Central do MUD (Movimento de Unidade Demicrática.)
1946
[Janeiro] Exigindo a melhoria das condições de vida e a instauração de um
regime democrático, os operários têxteis da zona da Covilhã realizam um
movimento grevista de grande amplitude. Apesar da intervenção policial, os
trabalhadores conseguem alcançar alguns dos seus objectivos (aumento dos
salários e redução do horário de trabalho).
[31 de Janeiro] Tendo como pretexto as comemorações de mais um
aniversário da primeira tentativa revolucionária de instauração em Portugal de um
regime republicano, Lisboa e o Porto são novamente palco de manifestações
onde se exige o fim da Ditadura e a instauração em Portugal de um regime
democrático.
[1 de Fevereiro] Transportados no navio Guiné, chegam a Lisboa e são
libertados 110 dos presos políticos até então detidos no Campo de Concentração
do Tarrafal. Depois da amnistia de Outubro de 1945,
[343]
[344]
1947
[Janeiro] Em defesa de melhores salários e como forma de protesto contra
a Ditadura, entra em greve um grande número dos operários da construção naval
da região de Lisboa.
Este processo de luta, coordenado pelas estruturas clandestinas do PCP,
foi reprimido pelas forças policiais (com a colaboração de muitos empresários) de
forma particularmente violenta.
[Março] Não obstante a proibição governamental, diversas associações de
estudantes universitários de Lisboa e do Porto levam a cabo iniciativas públicas
de comemoração do Dia do Estudante. A polícia invade as instalações da
Faculdade de Medicina de Lisboa. Simultaneamente, é ordenada a prisão dos
dirigentes do MUD Juvenil.
[4 de Abril] Sob a coordenação das estruturas clandestinas do PCP, é
desencadeado pelos trabalhadores da construção naval de Lisboa um movimento
grevista de protesto contra a imposição pelo governo e pelo patronato de «horas
suplementares» de trabalho.
Esta forma de luta irá alastrar a muitas outras empresas da região de
Lisboa e Setúbal, acabando por ser reprimida pelas forças policiais. Embora sem
julgamento, são deportados para o Campo de Concentração do Tarrafal 29 dos
mais destacados dirigentes dos movimentos grevistas.
[10 de Abril] Através da detenção de um grupo de oficiais de alta patente
(entre os quais se encontra o general Marques Godinho) sob a acusação de
conspiração contra o Estado Novo, o governo de Salazar anula mais uma
tentativa de golpe de Estado. Organizada pela Junta Militar de Libertação
Nacional, esta iniciativa contaria com o apoio tácito do presidente da República,
general Óscar Carmona.
[Abril] Exigindo aumento dos salários, redução do horário de trabalho,
melhores condições de segurança e de apoio social, os operários da construção
civil da região de Lisboa iniciam um movimento grevista. As forças policiais
intervêm com a violência habitual, provocando confrontos com os grevistas e
ocupando alguns dos estaleiros de obras onde era maior a mobilização dos
trabalhadores.
[2 de Maio] O Conselho de Ministros decide promover Óscar Fragoso
Carmona ao posto de marechal do Exército português. Procurando desmentir os
rumores que incluíam o próprio presidente da República no universo dos que
consideravam que, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, não se justiçava a
continuação do Estado Novo, o governo chefiado por Oliveira Salazar aproveita as
comemorações anuais do aniversário da «Revolução Nacional» de 1926
(realizadas com grande aparato militar) para conceder a Óscar Fragoso Carmona
o bastão de marechal.
[Maio-Junho] Na Academia de Lisboa, o governo responde com cargas
policiais e prisões a greves e iniciativas de protesto contra o regime organizadas
pelos estudantes. São detidos os membros da Comissão
[345]
1948
[11 de Janeiro] Um grupo de mulheres afectas ao regime organiza, junto do
Palácio de São Bento (residência oficial do presidente do Conselho) mais uma
manifestação de agradecimento e exaltação do «chefe» do governo pela sua
acção «em favor da paz» Oliveira Salazar agradece proferindo o discurso «Às
mulheres de Portugal».
[27 de Janeiro] Apesar de Portugal ser membro fundador da Organização
Europeia de Cooperação Económica (OECE), em reunião de Conselho de
Ministros, o governo de Salazar decide, com base em motivos de «política geral»,
rejeitar a aplicação a Portugal das modalidades de apoio financeiro e técnico
propostas pelos EUA no âmbito do Plano Marshall Destinado a apoiar a
reconstrução da Europa no seguimento das destruições provocadas
(Legenda: António Sérgio.)
[346]
[347]
1949
[27 de Janeiro] Infringindo a legislação vigente (que proibia explicitamente a
existência de estruturas associativas de tipo federativo), várias associações de
estudantes universitários de Lisboa constituem a Comissão Interassociações de
Estudantes.
[Fevereiro] Por não terem sido asseguradas condições mínimas de
democraticidade, num comício em Lisboa, Norton de Matos anuncia a desistência
da sua candidatura às «eleições» para a Presidência da República. Óscar
Carmona é de novo «eleito» presidente da República.
[4 de Abril] Com o objectivo de, no âmbito do processo de
rivalidade/confrontação com a URSS de Estaline e com os outros países
europeus onde foram estruturadas modalidades de «socialismo real» (normal
mente designado por «guerra fria»), unificai os esforços político-militares
desenvolvidos pelos EUA, pelo Canadá e pela generalidade dos países europeus
que se mantiveram como sociedades predominantemente marcadas pelo Modo
de Produção Capitalista foi assinado em Washington o Protocolo do Pacto do
Atlântico. Foi assim constituída a Organização dos Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), sendo o Portugal de Salazar e do Estado Novo um dos seus membros
fundadores.
[348]
1950
[27 de Fevereiro] Oficializando objectivos e reivindicações definidos desde
a independência, a União Indiana apresenta formalmente ao governo português
uma proposta de negociação dos termos em que Estado Português da índia»
seria integrado na União.
A proposta foi liminarmente recusada pelos dirigentes do Estado Novo com
base princípio de que «o governo português podia discutir ou negociar com um
governo estrangeiro questões de soberania seus territórios».
[3 de Maio] Inicia-se no Tribunal Plenário de Lisboa o julgamento de Álvaro
Cunhal, militante do PCP. Aquele dirigente comunista acabará por ser condenado
a prisão perpétua.
[Julho] O MDN protesta publicamente contra uma nova vaga de prisões por
motivos políticos concretizada, no início do mês de Julho, pela polícia política do
Estado Novo.
[Dezembro] Perante a decisão do governo de proibir a realização de duas
iniciativas programadas pelas associações de estudantes universitários do país (a
Semana Universitária e o Congresso Nacional de Estudantes), a Comissão
Interassociações (Lisboa), a Associação Académica de Coimbra e a Comissão
Provisória do Porto tomam uma posição pública de discordância e protesto.
É criado o Directório Democrato-Social, núcleo agregador da oposição não
comunista ao Estado Novo.
1951
[16 de Janeiro] No âmbito das actividades da NATO, visita Portugal o
general Dwight Eisenhower, herói da Segunda Guerra Mundial, responsável
máximo pela componente militar daquela aliança político-militar e futuro
presidente dos EUA.
[18 de Abril] Com 81 anos, morre em Lisboa o marechal Óscar Fragoso
Carmona, figura destacada do golpe militar de 28 de Maio de 1926, presidente da
República desde 1928 e elemento importante do equilibro estruturado e mantido
por Salazar com o objectivo de assegurar a consolidação e a reprodução do
Estado Novo. É declarado luto nacional e são celebrados funerais nacionais.
[23 de Abril a 1 de Junho] Perante a recusa de Salazar em aceitar
abandonar o cargo de presidente do Conselho em favor da «função moderadora»
de presidente da República (solução defendida pelos sectores «modernizadores»
do regime, liderados por Marcelo Caetano), o governo e a UN aprovam o nome de
Craveiro Lopes para «candidato» «oficial» à Presidência da República.
[28 de Maio] No âmbito das comemorações de mais um aniversário da
«Revolução Nacional», procurando, numa conjuntura decisivamente marcada pela
morte do marechal Carmona, renovar a imagem de total sintonia entre o regime e
as Forças Armadas, o governo do Estado Novo organiza na Praça do Império uma
imponente parada militar.
[3 de Junho] Reflexo no plano nacional da rivalidade e do combate
ideológico que, no plano internacional, opõe o «mundo capitalista
[349]
(Legenda: General Craveiro Lopes.)
1952
[6 de Janeiro] São presos pela PIDE, sob a acusação de «participação
numa intentona subversiva», membros (militares e civis) de um grupo político
clandestino de matriz «republicana» formado na sequência da campanha eleitoral
de Quintão Meireles Entre os detidos encontra-se Henrique Galvão
[350]
1953
[Janeiro] Perante a recusa do governo de Salazar em encetar negociações,
a União Indiana propõe à Assembleia Geral da ONU que as possessões coloniais
portuguesas na índia sejam directamente integradas no seu território por decisão
daquela organização internacional.
[Fevereiro] Protestando contra as condições de recrutamento forçado de
mão-de-obra «indígena» para as grandes plantações, milhares de pessoas
manifestam-se em várias localidades de São Tomé e Príncipe.
Da repressão destas iniciativas de contestação, realizada pelas autoridades
coloniais, resulta a morte de mais de um milhar de pessoas.
[27 de Abril] Mantendo a estratégia de identificação entre as características
e virtudes do «chefe» e a natureza do próprio Estado Novo, a UN comemora uma
vez mais, com diversas iniciativas públicas, o 25° aniversário da entrada de
Salazar para o «governo da Nação» Sob a presidência do presidente da
República, general Craveiro Lopes, realiza-se no Palácio de S Bento, em Lisboa,
uma sessão conjunta da AN e da CC Na Igreja de
[351]
1954
[26 de Janeiro] Procurando responder às pressões e denúncias
apresentadas, quer pelas diversas correntes oposicionistas, quer no plano
internacional, o governo de Salazar encerra o Campo de Concentração (ou
«Colónia Penal») do Tarrafal, em Cabo Verde.
Ali morreram devido à tortura, aos trabalhos forçados, às doenças, às
condições climatéricas, às deficientes condições higiénicas e aos (muitas vezes)
quase inexistentes cuidados médicos, 32 presos políticos. Os 340 detidos que ali
estiveram deportados totalizaram, no seu conjunto, cerca de 2 mil anos de prisão.
Francisco Miguel, militante e dirigente do PCP, último preso político detido
no Tarrafal durante a primeira fase de funcionamento deste campo de
concentração transportado para Lisboa no navio da Silva.
[1 de Maio] Retomando uma tradição festa e luta operária consolidada
desde final do século XIX - que a Ditadura militar e o Estado Novo tentaram
combater e domesticar (criando o «Dia do Trabalho» -, o «Dia do Trabalhador» é
assinalado em várias localidades do país através de greves e manifestações de
protesto contra a Ditadura e em favor de melhores condições de vida.
[Maio-Julho] Com a coordenação das estruturas clandestinas do PCP e
apesar das medidas repressivas tomadas pelo governo e pelas forças policiais em
colaboração com muitos grandes proprietários, trabalhadores agrícolas
alentejanos concretizam sucessivos movimentos grevistas exigindo melhores
salários e medidas eficazes de combate ao desemprego sazonal. No dia 19 de
Maio, durante uma dessas greves, realizada em Baleizão (tal como em outras
zonas do Alentejo), um graduado da GNR assassina a tiro Catarina Eufémia,
assalariada agrícola de 29 anos e militante do PCP.
[Julho] Como resposta simbólica e propagandística (induzida pelo regime
ditatorial português) à situação de ruptura das relações diplomáticas entre o
governo português e a União Indiana, realizam-se em Lisboa romagens ao túmulo
de Vasco da Gama.
Por ocasião da manifestação de apoio à «firme» e «patriótica» política
seguida pelo Estado Novo no que diz respeito às «províncias ultramarinas» em
geral e ao «Estado português da índia» em particular, realizada na Praça do
Município, também em Lisboa, o presidente da República, general Craveiro
Lopes, dirige-se ao país através dos microfones da Emissora Nacional.
Sob a liderança de Holden Roberto, é formalmente constituída em Leopoldville
(capital do Zaire, ex-Congo Belga) a União das Populações do Norte de Angola
(UPNA.
[352]
1955
[2 de Janeiro] Com 87 anos, morre em Ponte de Lima o general Norton de
Matos, uma das mais destacadas figuras da corrente republicana de contestação
ao Estado Novo e candidato da oposição às «eleições» de 1949 para o cargo de
presidente da República Portuguesa.
[5 de Janeiro] Procurando anular o crescendo de contestação social e
política que então se verificava, seguindo orientações governamentais, a PIDE
concretiza uma nova vaga de prisões «preventivas». Só nos distritos do Porto e
Braga são detidos mais de uma centena de «reviralhistas».
[11 de Fevereiro] O 25° aniversário da posse de Manuel Gonçalves
Cerejeira como cardeal-patriarca de Lisboa é assinalado com um solene Te Deum
na Sé de Lisboa. Entre muitas outras «personalidades» do Estado Novo,
estiveram presentes o presidente da República, o presidente do Conselho de
Ministros e todos os ministros.
[Maio] Pescadores de Matosinhos, Afurada, Figueira da Foz, Setúbal,
Lagos e Olhão concretizam um movimento grevista exigindo melhores salários.
[Julho-Agosto] Ocorrem em diversas unidades militares movimentos de
contestação à atitude de intransigência assumida pelo governo de Salazar perante
a União Indiana.
[14 de Dezembro] Apesar da sobrevivência do Estado Novo (regime de tipo
fascista) e da permanência de Oliveira Salazar como líder da Ditadura, em
resultado de um acordo entre os «países ocidentais» e os países do «socialismo
real», o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU decidem admitir
Portugal como membro de pleno direito daquela organização internacional.
1956
[12 de Março] Através do Decreto-Lei 40550, o governo do Estado Novo
reforça a capacidade repressiva da PIDE ampliando o âmbito de intervenção das
«medidas provisórias de segurança». Podendo implicar até três anos de prisão,
sempre prorrogáveis, as referidas «medidas de segurança» seriam aplicadas a
«todos aqueles que fundem associações, movimentos ou agrupamentos de
carácter comunista, ou que exerçam actividades subversivas, ou que tenham por
fim a prática de crimes contra a segurança do Estado ou que utilizem o
terrorismo». A partir de então, a polícia política do Estado Novo passa a poder
concretizar,
[353]
1956-1957
1957
[Janeiro-Fevereiro] Por iniciativa dos novos países afro-asiáticos e dos
países da Europa de Leste, a Assembleia Geral da ONU condena por diversas
vezes (embora sem consequências práticas) a atitude de intransigência do Estado
Novo português no que diz respeito à situação dos seus territórios coloniais
(«territórios não autónomos», ou, de acordo com a terminologia adoptada pelo
Estado Novo desde Junho de 1953, «províncias ultramarinas»).
[16 a 20 de Fevereiro] Confirmando o bom relacionamento existente entre o
Reino Unido e o regime fascista português, chefiado por Oliveira Salazar, visita
Portugal a rainha Isabel II.
[7 de Março] Têm início em Portugal as emissões regulares de televisão.
Tal como no caso da rádio (através da Emissora Nacional), também a
Radiotelevisão Portuguesa vai ser utilizada pelo governo de Salazar - de forma
directa e explícita ou de forma indirecta e implícita - como um instrumento de
propaganda e enquadramento ideológico.
[Março] Um grupo de 72 advogados de Lisboa, Porto e Coimbra protesta
publicamente contra a prática de torturas pela PIDE e exige a abertura de um
inquérito aos métodos de actuação daquela força policial.
[1 de Maio] Em diversos pontos do país ocorrem greves comemorativas do
Dia do Trabalhador, nas quais são ainda apresentadas reivindicações relativas a
salários, horários de trabalho, segurança social, liberdade sindical e política.
[Agosto] Em resultado de um longo processo de luta e apesar da postura
repressiva sistematicamente adoptada pelo governo e pelas forças policiais, os
assalariados agrícolas alentejanos conquistam importantes aumentos salariais.
[5 e 6 Outubro] O 47° aniversário da Revolução republicana de 5 de
Outubro de 1910 é assinalado em diversas localidades do país por pequenas
manifestações de contestação ao Estado Novo. Inicia-se em Aveiro o I Congresso
Republicano.
[25 de Outubro] Com o apoio de Henrique Galvão e de António Sérgio (dos
ex-apoiantes do Estado Novo nas Forças Armadas e da «oposição demoliberal»),
o general Humberto Delgado (ele próprio oriundo das fileiras do regime) aceita
apresentar-se às «eleições» para a Presidência da República como candidato da
oposição «não comunista».
[3 de Novembro] Uma vez mais, a totalidade dos candidatos da União
Nacional vê assegurada a sua «eleição» para a Assembleia Nacional. A oposição
ao regime, de novo unificada, opta por não concorrer devido à total ausência de
condições que garantam um mínimo de democraticidade ao acto eleitoral.
1958
[27 de Abril] A União Nacional comemora os trinta anos de Salazar
enquanto membro do «governo da Nação». É inaugurada no Palácio Foz, em
Lisboa, uma estátua de Francisco Franco representando António de Oliveira
Salazar, O discurso de elogio da pessoa do chefe do governo é proferido por
Marcelo Caetano.
[1 de Maio] Temporariamente suspenso o «conflito» que opunha a «ala
conservadora
[355]
[356]
(Legenda: General Humberto Delgado)
[357]
1959
[Janeiro] Milhares de cidadãos portugueses subscrevem uma petição na
qual solicitam a Salazar que se demita e permita a transição pacífica para um
regime democrático. Em consequência desta iniciativa, a PIDE prende dezenas de
pessoas.
[1 de Março] Quarenta e cinco personalidades dos sectores católicos (entre
as quais se encontram sacerdotes) enviam ao presidente do Conselho de
Ministros, António de Oliveira Salazar, uma «carta aberta» na qual denunciam e
condenam as violências e crimes sistematicamente cometidos pela PIDE, exigindo
simultaneamente a realização de um inquérito (conduzido por entidades
independentes) à actividade da polícia política portuguesa. Os signatários serão
processada pela PIDE por «injúrias contra aquela prestigiada corporação»,
acusados de «fazerem afirmações falsas ou, pelo menos, grosseiramente
deformadas, que, pela sua natureza, faziam perigar o bom nome de Portugal e o
prestígio do Estado português no estrangeiro».
[11 de Março] São presos muitos dos envolvidos num projecto de golpe
militar conhecido como «Golpe da Sé». Esta tentativa de derrube da Ditadura,
organizada pelo autodesignado «Movimento Militar Independente» - próximo do
general Humberto Delgado e com cumplicidades até ao mais alto nível das Forças
Armadas -, contaria ainda com a participação de um número importante de civis
provenientes de diversas correntes oposicionistas.
[Março-Maio] Ocorrem em diversas localidades do país movimentos de luta
(com greves e pequenas manifestações) em defesa de melhores salários e de
liberdade sindical. As forças policiais intervêm reprimindo os trabalhadores.
Contam muitas com o apoio dos trabalhadores.
[20 de Abril-12 de Maio] No fim de um longo conflito com o governo de -
que passou mesmo por ameaças à segurança pessoal do «General sem medo o
qual, a partir de 12 de Janeiro de 1959 refugiou e pediu asilo político na
Embaixada da do Brasil em Lisboa), pela fuga de Henrique Galvão do Hospital de
Santa Maria (onde se encontrava detido) e consequente pedido de asilo político
na Embaixada da Argentina em Lisboa (em 16 de Janeiro de 1959) -, Humberto
Delgado e Henrique Galvão conseguem abandonar o país. Estabelecidos,
respectivamente, no Brasil e na Venezuela, desenvolvem actividade sistemática
de denúncia e oposição ao Estado Novo.
[27 de Abril] A União Nacional organiza diversas iniciativas públicas com o
objectivo de comemorar o 70° aniversário de Oliveira Salazar. O Conselho Escolar
da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra atribui ao presidente do
Conselho o título de Doutor honoris causa em Letras.
[17 de Maio] Contando com a presença do cardeal-patriarca de Lisboa, D.
Manuel Gonçalves Cerejeira, decorre em Almada a cerimónia de inauguração do
Monumento a Cristo-Rei.
Construído a partir de um modelo realizado pelo escultor Francisco Franco,
resultou do cumprimento de um voto dos bispos portugueses, formulado em 1940
com o objectivo de «evitar que Portugal fosse directamente atingido pela guerra».
À semelhança do que já havia ocorrido em outras ocasiões nas quais o Estado
Novo pudesse surgir aos olhos da opinião pública como demasiado dependente
do apoio e do «patrocínio moral» da Igreja Católica - e apesar das estreitas e
decisivas relações existentes entre a Ditadura portuguesa e a hierarquia católica
portuguesa -, Oliveira Salazar recusou-se a participar na cerimónia em causa e
aconselhou o presidente da República a tomar atitude idêntica.
[3 de Agosto] Uma greve dos carregadores «indígenas» do Porto de Bissau
(Guiné-Bissau
[358]
1960
[3 de Janeiro] Ultrapassando as reforçadas medidas de segurança
definidas pelas forças policiais do regime, dez militantes do PCP presos devido às
suas convicções políticas evadem-se do Forte de Peniche. Entre os fugitivos, que
contaram com a colaboração de um militar da GNR, encontra-se Álvaro Cunhal.
[Abril] Protestando contra o despedimento de um grande número de
trabalhadores, cerca de 150 mineiros de Aljustrel ocupam a mina durante um dia e
meio, enquanto os seus familiares ocupam a sede do Sindicato Nacional dos
Mineiros. As forças policiais intervêm, prendendo e enviando para o Forte de
Peniche 130 trabalhadores.
[1 de Maio] Em Lisboa, Couço, Tortosendo e Guimarães, o Dia do
Trabalhador é assinalado por greves de protesto contra as más condições de vida
e a ausência de liberdade sindical.
[Junho] Agostinho Neto é preso em Angola (no dia 8 de Junho), o que
origina protestos populares. Da repressão destas manifestações, realizada pelas
autoridades coloniais, resultam diversos mortos e feridos.
[359]
[360]
1961
[15 de Janeiro] Através da imprensa, os principais responsáveis pela Igreja
Católica -portuguesa divulgam uma nota formal na solidarizam, uma vez mais, de
forma explícita e inequívoca, com a política colonial do Estado Novo: «Nesta hora
em que o Ocidente parece ter perdido a consciência de si mesmo, na anarquia
das ideias, na dívida dos direitos e deveres, na fascinação dos mitos, na quebra
das tábuas forais do Decálogo [...] Portugal é consciente da sua missão
evangelizadora e cívica. E sofre ao ver que ela não é compreendida e apreciada,
e até se tenta a contestar-lha.»
[21 de Janeiro] Liderada por Henrique Galvão e com a concordância do
general Humberto Delgado, a «Operação Dulcineia resulta no assalto ao paquete
Santa Maria e numa denúncia internacional da natureza ditatorial e
antidemocrática do Estado Novo.
Os EUA e o Reino Unido colaboram com o governo de Salazar no esforço
de vigilância e posterior neutralização dos militantes oposicionistas empenhados
no desvio do paquete Santa Maria. A operação termina no dia 4 de Fevereiro de
1961, sendo o navio entregue pelos revoltosos às autoridades brasileiras.
Elementos da Brigada Naval da LP, que haviam seguido de Lisboa para o Recife
(com armamento ligeiro), acompanham o paquete de regresso a Portugal.
[Janeiro] Perante a recusa do governo em aceitar a eleição democrática
(pelos próprios estudantes) da direcção da Associação da Casa dos Estudantes
do Império, várias iniciativas de protesto são concretizadas na Academia de
Lisboa.
Fundada em 1945, a Casa dos Estudantes do Império acabou por se
tornar, desde os finais da década de 50, num pólo de contestação do colonialismo
português e num espaço de formação de alguns dos principais quadros e
dirigentes dos «movimentos de libertação» entretanto surgidos em Angola, Guiné-
Bissau e Moçambique.
[4 de Fevereiro] Elementos do MPLA tentam, em Luanda, assaltar a Casa
de Reclusão Militar, o quartel da PSP e a delegação da Emissora Nacional.
Durante esse dia e nos dias seguintes as forças policiais e militares massacram
mais de três mil civis «indígenas».
Este conjunto de «incidentes» marca o início das guerras coloniais (ou
«guerras de libertação», na perspectiva dos povos colonizados) que, até 1974,
vão marcar decisivamente a evolução, quer das três mais importantes «províncias
ultramarinas portuguesas» (Angola, Guiné-Bissau e Moçambique), quer do próprio
Estado Novo.
[27 de Fevereiro] No Brasil, o general Humberto Delgado defende, pela
primeira vez de forma explícita, a necessidade de Portugal abandonar a postura
colonialista seguida até então: apoia a convocação do Conselho de Segurança da
ONU para discutir a situação em Angola, defende a autodeterminação dos povos
dos territórios africanos e a integração do «Estado português da índia» na União
Indiana.
[15 a 21 de Março] Greves, manifestações e movimentos insurreccionais
ocorrem em diversas pontos de Angola. Em resultado da acção da UPA, inúmeros
colonos portugueses instalados no Norte daquele território colonial são obrigados
a fugir e muitos são mesmo mortos. Por iniciativa de diversos países africanos e
asiáticos, o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU discutem os
acontecimentos ocorridos em Angola e a situação dos outros territórios coloniais
portugueses.
A título de protesto, afirmando uma vez mais a recusa do Estado Novo em
aceitar discutir a hipótese da independência dos povos dominados por Portugal,
os representantes do governo chefiado por Oliveira Salazar abandonam a sala
dos trabalhos.
[Março] Álvaro Cunhal, destacado militante comunista desde o início da
década de 30, principal responsável pelo esforço de reorganização concretizada
no início dos anos 40, é eleito secretário-geral do PCP.
Encerra-se assim um período durante o qual este partido, exercendo o
essencial da sua actividade na clandestinidade e sofrendo sistematicamente as
consequências do esforço repressivo desenvolvido pela Ditadura
[361]
(Legenda: Coluna do exército português no Norte de Angola (1961).)
[362]
1962
[Janeiro] Realizam-se no Porto várias pequenas manifestações
(imediatamente reprimidas pela polícia) contra a continuação da guerra em África
e contra o regime ditatorial existente em Portugal desde 1926.
[Fevereiro] O governo de Salazar proíbe uma vez mais as comemorações
do Dia do Estudante. Um grande número de estudantes da Universidade Clássica
de Lisboa reagem ocupando a cantina universitária, sendo reprimidos pelas forças
policiais.
[9 de Março] Apesar da proibição expressa do governo, inicia-se em
Coimbra o I Encontro Nacional de Estudantes. Dessa reunião resultam, entre
outras iniciativas, a constituição do Secretariado Nacional dos Estudantes
Portugueses (SNEPE).
[12 de Março] A Rádio Portugal Livre, da responsabilidade da oposição ao
Estado
[363]
Novo, inicia as suas emissões em onda curta a partir de Argel (capital da Argélia),
procurando desta forma ultrapassar a censura e o quase-monopólio informativo
estruturado e mantido pela Ditadura portuguesa entre 1926 e 1974. Esta emissora
de rádio manterá a sua actividade até 1974.
[Março-Abril] No dia 23 de Março, o ministro da Educação Nacional, Manuel
Lopes de Almeida (docente de História da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra), proíbe as comemorações do Dia do Estudante (que deveriam
decorrer entre 23 e 25 de Março).
A Academia de Lisboa decide realizar uma greve de protesto. A Academia
de Coimbra solidariza-se com os colegas de Lisboa. Uma concentração de
estudantes na Cidade Universitária de Lisboa é violentamente reprimida pela
polícia de choque. Perante a recusa definitiva do governo de autorizar a
realização das comemorações do Dia do Estudante e como forma de protesto
contra a violência policial, as Academias de Lisboa e Coimbra decretam o luto
académico. Às diversas modalidades de contestação adoptadas pelos estudantes,
por indicação do governo de Saldar, as forças policiais respondem de forma
violenta.
Marcelo Caetano, na época reitor da Universidade Clássica de Lisboa,
pediu a demissão do cargo que ocupava por discordar da forma como a polícia
havia violado a autonomia da «corporação universitária» e a dignidade dos
«órgãos de governo» da Universidade.
O ministro da Educação Nacional anuncia a suspensão das direcções de
todas as Associações de Estudantes das Universidades portuguesas. Os «órgãos
de governo» das Universidades de Lisboa e Coimbra participam activamente na
repressão dos estudantes envolvidos em acções de contestação e da
implementação de medidas limitadoras da autonomia das respectivas estruturas
associativas.
[6 de Abril] Portugal adere ao Acordo Geral sobre as Tarifas Aduaneiras e
Comércio (GATT) - celebrado em Genebra em 3 de Outubro de 1947 -, medida
que resulta de uma maior abertura do governo de Salazar às teses dos sectores
«indústria: listas», defensores da plena integrado da economia portuguesa na
economia mundo-capitalista e do abandono definitivo dos princípios «ruralistas»,
«colonialistas» e «semi-isolacionistas» que também haviam marcado a estratégia
económica e social do regime desde o final da década de 20.
[13 de Abril] Integrado na estratégia global de resposta às pressões
(internas e externas) que crescentemente exigiam a independência dos territórios
colonialmente dominados por Portugal - e sob o pretexto de comemorar o primeiro
aniversário da tomada de posse de Oliveira Salazar como ministro da Defesa
(interino) -, o Diário de Luanda publica um número especial que integra um texto
do «chefe» do Estado Novo intitulado «Mensagem dirigida ao povo de Angola».
[27 de Abril] Procurando diminuir os motivos de contestação à dominação
colonial portuguesa, o governo liderado por Oliveira Salazar aprova o Decreto-Lei
44309, através do qual se promulga o Código do Trabalho Rural (aplicável nas
«províncias ultramarinas» de Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola,
Moçambique e Timor) e se revoga o Código do Trabalho Indígena (aprovado pelo
Decreto n.º 16 119, de 6 de Novembro de 1928).
[28 de Abril] Em luta por melhores salários e condições de trabalho mais
seguras, os mineiros de Aljustrel realizam uma greve seguida de manifestação.
Da brutal repressão concretizada pela GNR resultam dois mortos e dezenas de
feridos.
[Maio] Realiza-se em Lisboa uma grande manifestação (essencialmente
operária) comemorativa do 1° de Maio. Milhares de manifestantes chegam mesmo
a fazer frente à polícia de choque. Dos confrontos resulta um morto e vários
feridos. O Porto, Almada, Barreiro e Alcácer do Sal assistem também a
manifestações comemorativas do Dia do Trabalhador. No Ribatejo e Alentejo,
coordenados pela estrutura clandestina do PCP, mais de 70000 assalariados
agrícolas fazem greve e
[364]
1963
[23 de Janeiro] À semelhança do que já havia acontecido em Angola,
também, na Guiné-Bissau a intransigência do regime fascista português forçou o
PAIGC a adoptar a luta armada como instrumento de conquista da independência
- anseio comum, na conjuntura internacional que se seguiu à Segunda Guerra
Mundial, não apenas às novas «elites indígenas» dos diversos territórios coloniais
e protectorados, como também a segmentos cada vez mais amplos das
respectivas populações.
[7 de Março] Morre em Lisboa Isabel Aboim Inglês, licenciada em Ciências
Históricas e Filosóficas pela FLL. Devido ao seu empenhamento na fundação e na
actividade posterior do MUD (desde 1945), ao apoio que prestou aos candidatos
oposicionistas à Presidência da República Norton de Matos, Rui Luís Gomes e
Humberto
[365]
1964
[Janeiro] Por iniciativa de ex-militantes e ex-dirigentes do PCP (com
destaque para Francisco Martins Rodrigues), defensores da luta armada contra o
Estado Novo, apoiantes do «modelo chinês» e contestatários do regime soviético,
são fundadas a Frente de Acção Popular (FAP), os Grupos de Acção Popular
(GAP) e o Comité Marxista-Leninista Português (CMLP) - esta última organização
é criada em Abril de 1964.
[Fevereiro] A OIT condena uma vez mais o sistema «corporativo»
português, imposto pelo Estado Novo com o objectivo de impedir os trabalhadores
de se organizarem em sindicatos livres e de defenderem directamente os seus
interesses perante o patronato e o Estado.
(Legenda: Humberto Delgado (à direita) e Álvaro Cunhal (à esquerda), em Praga
(1963).)
[366]
1965
[Janeiro] Procurando retirar às associações estudantes universitários os
seus mais importantes activistas e evitar a eclosão de nova «crise académica», a
PIDE prende vários estudantes universitários de Lisboa e Coimbra.
Realizam-se nestas duas cidades - e são imediatamente reprimidas pelas
forças policiais - manifestações estudantis de protesto contra o facto de colegas
seus estarem presos e serem submetidos a tortura.
(Legenda: Mário Soares, Tito de Morais e Ramos da Costa (da esquerda para a
direita), dirigentes da Acção Socialista Portuguesa.)
[367]
[368]
1966
[Janeiro] A Associação dos Estudantes /Portugueses na Universidade de
Lausana (Suíça) aprova uma declaração na qual condena o regime fascista
português. O Estado Novo é considerado responsável, quer pela guerra colonial
que se arrasta em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, quer pela imposição de
um sistema corporativo» que limitaria decisivamente a liberdade de organização
sindical dos trabalhadores portugueses.
[15 de Março] Fundada a UNITA, passam a existir em Angola três
«movimentos de libertação» (MPLA, FNLA, UNITA) que, pelo menos
teoricamente, lutam contra o estado Novo e pela independência «do seu povo».
Esta pluralidade de organizações, que rapidamente evoluiu no sentido da
rivalidade e do conflito (sobretudo por parte da UNITA, que acabou, entre 1970 e
1974, por se tornar numa estrutura de apoio às Forças Armadas portuguesas no
seu esforço de combate ao MPLA), resultou de diversos factores: rivalidades
étnicas e pessoais, interesses estratégicos de outros países (os EUA e a URSS;
«potências regionais», com destaque para a República Sul-Africana e para o
Zaire), divergências quanto ao modelo de sociedade a estruturar depois de
alcançada a independência, etc.
[28 de Maio] No âmbito das comemorações de mais um aniversário da
«Revolução Nacional», realizadas em Braga, Oliveira Salazar profere o discurso
«No 40° aniversário do 28 de Maio». No dia anterior, ao viajar desde Lisboa num
avião, o líder do Estado Novo havia concretizado o seu baptismo de voo.
[6 de Agosto] Símbolo do esforço «modernizador» e de «abertura
cosmopolita» concretizado, quer pelos sectores mais «industrialistas» do aparelho
de Estado, quer pela grande burguesia industrial e financeira - e apenas tolerado,
como inevitável, pela ala mais «conservadora» do regime (liderada pelo próprio
presidente do Conselho) -, é inaugurada em Lisboa a ponte sobre o rio Tejo
(Ponte Salazar). Entre outras «individualidades», estiveram presentes o
presidente da República, o presidente do Conselho de Ministros e o cardeal-
patriarca de Lisboa.
[24 de Setembro] Com o objectivo de reforçar a sua própria capacidade
para amedrontar, reprimir e anular fisicamente os principais militantes dos
«movimentos de libertação» dos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique,
através do Decreto-Lei n 47216, o governo liderado por António de Oliveira
Salazar determina a reabertura do Campo de Concentração do Tarrafal (em Cabo
Verde).
[Outubro] Realiza-se em Toronto uma conferência internacional, organizada
por associações não governamentais de defesa dos direitos humanos e por
exilados portugueses, destinada a denunciar a natureza ditatorial do Estado Novo
e a exigir uma amnistia geral para todos os presos políticos portugueses.
[4 de Novembro] Em resultado da postura conservadora assumida pelo
Estado Novo e pela hierarquia da Igreja Católica relativamente à situação da
mulher na sociedade portuguesa, só no final de 1966, através do Decreto-Lei n
47314, o governo chefiado por Oliveira Salazar aprova para ratificação a
Convenção n 100 da OIT.
Adoptada em 29 de Julho de 1951 pela 34.a Sessão da Conferência Geral
daquela substrutura da ONU, reunida em Genebra, a referida convenção visava
assegurar a igualdade
[369]
1967
[22 de Fevereiro] Apesar da natureza ditatorial do Estado Novo e da
condenação internacional da atitude intransigentemente colonialista assumida
pelo regime liderado por Salazar, que assim se tornava responsável pelos
conflitos militares que decorriam em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique - vejam-
se, entre outras, as posições assumidas pela ONU, Movimento dos Não Alinhados
e OUA -, Portugal vê a sua posição no seio da NATO ser reforçada pela decisão
de localizar em Lisboa a sede do recém-criado Comando da Área Ibero-Atlântica.
[17 de Maio] A Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR),
organização clandestina que visava lutar contra o regime fascista português
através da realização de acções de guerrilha, concretiza a sua primeira
«operação» assaltando a delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz.
Destinado a financiar a própria organização, o golpe foi dirigido por Palma Inácio.
[Julho] Ocorrem em diversas empresas de transportes das regiões de
Lisboa e Porto movimentos grevistas de luta por melhores salários e pelo
reconhecimento do direito à liberdade sindical.
1968
[Janeiro-Fevereiro] Organizadas por estudantes universitários e por outras
estruturas associativas e políticas «legais» ou «clandestinas», ocorrem em Lisboa
(perto da Embaixada dos EUA) e no Porto diversas manifestações de protesto
contra a intervenção norte-americana no Vietname e contra as guerras coloniais
em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. A polícia intervém reprimindo os
manifestantes e realizando diversas prisões.
[19 de Março] Devido à sua actividade, quer como advogado de cidadãos
perseguidos pelo Estado Novo, quer como activista e dirigente oposicionista, por
decisão do Conselho de Ministros, Mário Soares é detido pela PIDE e deportado
para São Tomé, onde lhe é fixada residência.
[Abril] Cerca de 5000 pescadores de Matosinhos realizam um movimento
como forma de luta em favor de melhores salários e de mais eficazes medidas
apoio e segurança social.
[Maio] Protestos estudantis contra a Comissão Administrativa imposta pelo
ministro da Educação Nacional à Associação de Estudantes da Faculdade de
Ciências de Lisboa são violentamente reprimidos pelas forças policiais.
Lutando por melhores salários, os trabalhadores conserveiros de Setúbal,
Olhão, Aveiro, Figueira da Foz, Afurada, Espinho, Matosinhos, etc., desenvolvem
um movimento grevista.
[Junho-Julho] Durante uma greve realizada com o objectivo de exigir
melhores salários, os trabalhadores da Carris (empresa de transportes públicos de
Lisboa) são agredidos e envolvem-se em confrontos violentos com forças
policiais.
[Julho] No âmbito da estratégia de promoção de um mais rápido processo
de industrialização e crescimento económico, num contexto de estreitamento das
relações económicas com a República Sul-Africana (país no qual a minoria branca
havia imposto o regime do apartheid), procurando reforçar a «presença
portuguesa em África» e aumentar a sua «capacidade civilizadora», o governo de
Salazar decide iniciar o processo que permitirá a construção da Barragem de
Cabora Bassa, em Moçambique.
[17 de Julho] Alterando decisões tomadas anteriormente, a OUA reconhece
o MPLA como única organização que luta em Angola contra a dominação colonial
portuguesa. Em consonância com esta tomada de posição, decide retirar o apoio
até então prestado à FNLA.
[Agosto-Setembro] No dia 3 de Agosto, gozando alguns dias de férias no
Forte de Santo António do Estoril, António de Oliveira Salazar, presidente do
Conselho de Ministros e dirigente máximo do Estado Novo desde o final da
década de 20 início da década de 30, sofre um grave acidente. No dia 7 de
Setembro é operado a um
[370]
[371]
[372]
[373]
1970
[Janeiro] Num comunicado ao país, a Comissão Nacional de Socorro aos
Presos Políticos (CNSPP) denuncia publicamente diversas situações de grave
violação dos direitos humanos ocorridas nas prisões portuguesas.
[21 de Fevereiro] No decorrer do seu V Congresso, a União Nacional,
partido único do Estado Novo durante o consulado de Salazar, decide
transformar-se na Acção Nacional Popular (ANP) - partido único do Estado Social
durante o consulado de Marcelo Caetano. À semelhança do que acontecia
anteriormente com a UN, o presidente do Conselho de Ministros é eleito
presidente da Comissão Central da ANP.
[25 de Fevereiro] Cerca de 147 individualidades, oriundas da «ala liberal do
regime», dos sectores «católicos progressistas» e das correntes republicanas e
socialistas apresentam ao presidente da República um pedido de aprovação dos
Estatutos da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES).
[Fevereiro] Realiza-se em Lisboa uma manifestação de protesto contra a
guerra colonial e contra os massacres cometidos pelos Norte-Americanos no
Vietname.
[Fevereiro-Março] Ocorrem em algumas zonas do país movimentos
grevistas em defesa, quer de aumentos salariais e melhor segurança social, quer
de liberdade de organização sindical.
[Março] Diversos presos políticos detidos no Forte de Peniche são
violentamente espancados por guardas prisionais como castigo por terem liderado
um movimento de protesto contra as condições existentes na prisão.
[Abril] Em resultado de um esforço de relativa «normalização»,
modernização parcial e «abertura controlada» do sector do ensino - que passou,
entre outras medidas, pela nomeação de Veiga Simão para o cargo de ministro da
Educação Nacional e pelo lançamento de um processo de reforma do sistema
educativo -, o governo de Marcelo Caetano amnistia os estudantes da
Universidade de Coimbra penalizados durante a «Crise Académica de 1969».
Contando com a presença de Mário Soares, o Conselho da Europa realiza
em Estrasburgo um debate sobre as violações, dos direitos humanos em Portugal.
A OIT condena uma vez mais o governo português pela violação
sistemática dos direitos sindicais.
É promovida em Londres uma campanha de opinião exigindo a realização
em Portugal de um inquérito independente à morte do general Humberto Delgado.
[374]
1971
[6 de Janeiro] Em resultado de diversas iniciativas diplomáticas
desenvolvidas, desde Fevereiro de 1969, pelo governo liderado por Marcelo
Caetano, tem lugar a primeira reunião plenária das delegações destacadas para
as «conversações exploratórias» entre Portugal e a CEE.
[21 de Janeiro] Incapaz de prevenir ou reprimir com eficácia as acções de
contestação pública à hierarquia universitária e ao regime sistematicamente
concretizadas por milhares de estudantes e por alguns docentes
[375]
[376]
1972
[1 de Janeiro] Na cidade da Beira (em Moçambique) o padre Joaquim
Sampaio desenvolve durante uma homilia o tema Queres a Paz trabalha pela
Justiça». Denuncia publicamente as atrocidades cometidas por forças militares
portuguesas às populações civis das regiões moçambicanas de Cabo Delgado e
Tete (em Setembro de 1971).
[Abril] Uma missão do Comité Especial das Nações Unidas para o
Colonialismo, visita às regiões da Guiné-Bissau «lideradas pelo PAIGC da
dominação colonial portuguesa, declara ser aquele movimento o «único
representante legítimo do povo guineense». Esta decisão será confirmada numa
reunião plenária daquele Comité realizada em Agosto de 1972.
[5 de Maio] Por intermédio do Decreto 150/72, o governo de Marcelo
Caetano concretiza mais uma das transformações «de fachada» que visavam
responder à pressão da opinião pública nacional e internacional e,
simultaneamente, manter quase inalteradas as características e mecanismos
fundamentais do regime: é extinta a Censura Prévia e criado o regime de Exame
Prévio.
[15 de Maio] O jornal Economia e Finanças, «ligado aos sectores mais
conservadores do‖ regime, exige em editorial que o governo passe a considerar
como «subversiva» (e, em consequência, a proibir) toda e qualquer «propaganda
a favor da integração de Portugal na CEE», uma vez que esta pressupõe o
«abandono do Ultramar».
[Maio-Junho] Conjugando a «acção disciplinar» dos «órgãos de governo»
dos estabelecimentos de ensino superior, a sua própria produção legislativa e
regulamentar e a intervenção repressiva (muitas vezes bruta]) das forças policiais
(DGS incluída), o governo de Marcelo Caetano procura, sem sucesso, anular as
inúmeras e sucessivas iniciativas de contestação académica e política
dinamizadas por estudantes e docentes do ensino superior de Lisboa e Coimbra.
[26 de Junho] No decorrer do 12° Congresso da Internacional Socialista,
realizado em Viena (capital da Áustria), a ASP torna-se membro de pleno direito
daquela organização de partidos e movimentos políticos sociais-democratas.
[27 de Junho] Na sua 57ª sessão, a OIT aprova uma resolução
condenando o governo português pelas políticas de opressão colonial,
discriminação racial e violação dos direitos sindicais sistematicamente praticadas
em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.
[22 de Julho] Pondo termo a um relativamente longo processo negocial, é
assinado em Bruxelas o acordo comercial celebrado entre o governo português e
a CEE. Reforçavam-se assim as posições dos sectores do regime que defendiam
a adopção de políticas abertamente «industrialistas» e que colocavam cada vez
mais em questão a irredutibilidade do governo no que diz respeito à «questão
africana» - nomeadamente quando esta era contraditória e impeditiva do
estreitamento das relações políticas e económicas com os países mais
desenvolvidos do mundo capitalista.
[25 de Julho] No contexto legal e institucional defensivo assumido pelo
Estado Novo depois da campanha eleitoral protagonizada em 1958 pelo
general Humberto Delgado, o colégio eleitoral restrito composto por
«representantes» das várias sensibilidades do regime rectifica o nome
indicado pelo líder da Ditadura para ocupar o cargo de presidente da
República. Com 78 anos, o almirante Américo Tomás é «eleito» para um
segundo mandato, o qual deveria prolongar-se até 1979.
[12 de Outubro] Sintoma da situação de contestação e de repressão que se
vivia nas Universidades portuguesas (sobretudo em Lisboa), o estudante José
António Ribeiro dos Santos é morto a tiro pela DGS no interior das instalações do
Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, em Lisboa.
[377]
[378]
[379]
[380]
1974
[14 de Janeiro] Na sequência da morte da esposa de um fazendeiro
português em resultado de uma acção da FRELIMO, ocorrem em Moçambique
incidentes entre colonos brancos e elementos das Forças Armadas.
Os primeiros acusam os segundos de não se empenharem suficientemente
na destruição do «terrorismo» (dos «movimentos de libertação»), no
restabelecimento da «normalidade» e na defesa dos «interesses portugueses em
África».
[23 de Janeiro] O «Movimento dos Capitães» divulga informações sobre a
situação criada em Moçambique. Exige que os militares «deixem de ser
enxovalhados». Denuncia a possibilidade de as Forças Armadas virem a ser
apresentadas como responsáveis pelo fracasso da «política ultramarina do
regime». Aventa, finalmente, a hipótese de aqueles acontecimentos terem por
objectivo criar condições para a estruturação em Moçambique e Angola de
regimes de apartheid semelhantes aos já existentes na RSA, na Namibia e na
Rodésia.
[23 de Fevereiro] Obtida a autorização de Costa Gomes (chefe do Estado-
Maior-General das Forças Armadas), o general António de Spínola publica o livro:
Portugal e o Futuro, no qual contesta a política colonial «teimosamente seguida
pelo governo» e defende a «liberalização do regime», a adesão de Portugal à
CEE, o fim da guerra e a constituição de uma federação de Estados (parcialmente
soberanos) da qual fariam parte, com Portugal, Angola,
[381]
[382]
(Legenda: I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu dos Recreios.)
[383]
(Legenda: Cartaz de Vieira da Silva alusivo ao 25 de Abril de 1974.)
[384]
1974-1994
António Simões Rodrigues
[385]
[386]
1974
[25 de Abril] O MFA consegue fazer cair a mais velha e conservadora
ditadura europeia, marcada contradições políticas, económicas, sociais e
culturais. Por isso diz-se que o regime caiu de podre».
A transmissão pela Rádio Renascença de Grândola Vila Morena», de Zeca
Afonso às 0h e 20minutos (era a senha), iniciavam-se as operações militares.
Os momentos culminantes desse dia que para sempre ficara ligado à
história do século, foram protagonizados sobretudo pelo capitão Salgueiro Maia,
comandante da força da Escola Prática de Cavalaria Santarém. Primeiro, detendo
no Terreiro do Paço a contra-ofensiva governamental, pois ao cercar o Quartel do
Carmo até à rendição de Marcelo Caetano. forças militares viram-se envolvidas e
apoiadas por uma verdadeira multidão, que não olhando a riscos, vitoriava os
revoltosos e vaiava os responsáveis do regime salazarista.
A junta de Salvação Nacional presidida pelo general Spínola passa a ter as
atribuições dos órgãos fundamentais do Estado, entretanto destituídos.
[26 de Abril] A polícia política cercada, na sua sede pela multidão, rende-se
às Forças Armadas na manhã do dia seguinte. O programa do MFA, distribuído à
imprensa, é objecto de grandes discussões, por causa da política ultramarina.
Aponta três objectivos fundamentais: democratizar, descolonizar e desenvolver.
Américo Tomás, Marcelo Caetano, Silva Cunha e Moreira Baptista, alguns
dos responsáveis pelo regime salazarista, após a morte do ditador, são enviados
para a Madeira, onde passam a ter residência vigiada. O PS, PCP e MDP
defendem a autodeterminação e a independência das colónias.
[27 de Abril] A Junta de Salvação Nacional nomeia os chefes dos Estados-
Maiores dos três ramos das Forças Armadas. Reúne com os movimentos políticos
MDP/CDE, SEDES e Convergência Monárquica e ainda com os responsáveis dos
órgãos de Comunicação Social. O mundo do teatro apoia a JSN.
[28 de Abril] Os dirigentes do PS, Mário Soares, Ramos Costa e Tito de
Morais regressam do exílio e são alvo na Estação de Santa Apolónia, de uma
manifestação popular de apoio.
São publicados os primeiros diplomas da JSN pelos quais são destituídos
dos seus cargos o almirante Américo Tomás de presidente da República; Marcelo
Caetano de chefe do governo, bem como todos os responsáveis de altos cargos
políticos.
[387]
[388]
[389]
(Legenda: Francisco Costa Gomes.)
[390]
[391]
(Legenda: Otelo Saraiva de Carvalho.)
[392]
[393]
(Legenda: Álvaro Cunhal.)
1975
[2 de Janeiro] O Conselho Superior do MFA defende a unicidade sindical.
O PCP e a Intersindical promoveram, com o apoio de outros partidos de
esquerda uma manifestação a favor desta política. O governo em reunião do dia
21 aprova por maioria o princípio de unicidade sindical. O PS, através de
militantes como Salgado Zenha, opunha-se firmemente contra esta medida,
considerada arbitrária e prejudicial das liberdades sindicais, defendendo a
unidade sindical.
Salgado Zenha, em artigo de fundo, publicado no Diário de Notícias, de 7
de Janeiro, explica a rejeição dos princípios que inspiram a unicidade
sindical que só permite a existência de uma central sindical de
trabalhadores.
[6 de Janeiro] É criada a Comissão Organizadora do Serviço Cívico
Estudantil.
[8 de Janeiro] É dado por concluído o recenseamento eleitoral.
[10 de Janeiro] Inicia-se, no Alvor, prolongando-se até 28 de Janeiro, a
cimeira para discussão da independência de Angola. Portugal e os movimentos
(MPLA, UNITA, FNLA) que lutavam pela autodeterminação do povo angolano,
estabelecem 11 de Novembro como a data da independência. Durante esta fase o
alto-comissário português dirige um governo provisório. Os exames nacionais
serão substituídos por provas elaboradas no âmbito das escolas.
[14 de Janeiro] O governo inicia o processo das nacionalizações com as
instituições de crédito e as companhias de seguros.
[17 de Janeiro] O Conselho Permanente do Episcopado denuncia o
anticlericalismo e faz considerações sobre a liberdade sindical.
[19 de Janeiro] O MFA reafirma o compromisso de promover eleições
livres.
[394]
[395]
[396]
[397]
[398]
[399]
A intervenção do Regimento de Comandos da Amadora restabelece a ordem.
[23 de Setembro] Sá Carneiro retoma funções partidárias, sendo
reconduzido como secretário-geral do PPD pelo Conselho Nacional, reunido em
28 de Setembro.
[30 de Setembro] Costa Brás está presente na Cimeira de Kampala onde
os movimentos angolanos revelam incapacidade de entendimento. Em Timor, a
FRETILIN controla o território. A guerra civil leva muitos a procurarem refúgio na
zona indonésia da ilha.
[1 de Outubro] Costa Gomes inicia uma visita oficial à União Soviética.
O exército desocupa estações de rádio e televisão, com excepção da Rádio
Renascença que era mandada encerrar por Pinheiro de Azevedo.
[2 de Outubro] A edição do Jornal Novo, que tem um comunicado do PS
sobre os riscos de um golpe de Estado, é impedido de sair.
[9 de Outubro] É criado um grupo de intervenção militar (AMI).
O PCP denuncia a viragem à direita do 6° governo provisório.
PS, PPD e CDS acusam o PCP de controlar de forma totalitária os
principais órgãos de informação.
[13 de Outubro] Pinheiro de Azevedo faz um comunicado ao país dando
conta da situação económica e social.
Com a presença de milhares de peregrinos realiza-se em Fátima a
tradicional peregrinação de 13 de Outubro, com os acessos controlados por
militares.
[16 de Outubro] Forças indonésias invadem regiões fronteiriças de Timor,
apesar do desmentido do governo indonésio São efectuados verdadeiros
massacres sobre a população e grupos armados da FRETILIN.
[17 de Outubro] O seguro escolar passa a ser obrigatório no Ensino
Preparatório, Secundário e Médio.
[19 de Outubro] Em Angola, o MPLA avança em várias frentes.
[20 de Outubro] Uma nota pastoral dos bispos portugueses chama a
atenção para a situação dos retornados das antigas colónias.
[21 de Outubro] A Rádio Renascença é reocupada pela extrema-esquerda.
Em 7 de Novembro será destruída por ordem do Conselho da Revolução.
[22 de Outubro] O Conselho Permanente do Episcopado emite uma nota
sobre a liberdade de ensino na nova Constituição.
[23 de Outubro] Em Lisboa decorre uma manifestação em apoio do Poder
Popular No dia seguinte as BR anunciam o seu regresso à clandestinidade por
serem obrigadas a entregar as armas.
[25 de Outubro] Os órgãos do poder local passam a estar regulamentados
por nova legislação.
[27 de Outubro] Nalguns jornais torna-se evidente a agitação entre
elementos «gonçalvistas» e outros afectos ao PS e PSD No Século é cada vez
mais profunda a divisão.
[29 de Outubro] O ministro da Educação nomeia uma comissão destinada a
apreciar as habilitações conseguidas no estrangeiro e conceder a respectiva
equivalência.
[2 de Novembro] Em Roma decorrem negociações entre Portugal e a
Indonésia sobre a situação em Timor.
[4 de Novembro] Angola é palco de combates violentos com o aproximar da data
da independência Adeptos do MPLA, apoiados por unidades cubanas, impedem o
avanço sobre Luanda da UNITA reforçada com elementos sul-afncanos e
portugueses.
[400]
[402]
1976
[4 de Janeiro] Iniciam-se as emissões da Radiodifusão que irá englobar
todas as rádios oficiais e particulares.
A Rádio Renascença mantém-se autónoma.
[13 de Janeiro] O presidente da República passa a ser eleito por sufrágio
universal após conversações entre partidos e MFA.
[14 de Janeiro] A Assembleia Constituinte cria no continente regiões
administrativas.
[26 de Janeiro] É constituída a Junta Governativa da Madeira que passa a
ser presidida por Carlos Azeredo.
O MEIC lança o programa de alfabetização de adultos.
[28 de Janeiro] É inaugurada em Évora uma exposição de Vieira da Silva
do período de 1959 a 1972.
[29 de Janeiro] O PCP divulga a «estatística do terror» apresentando a
cronologia de acções terroristas contra as suas sedes, desde Maio de 1975.
São libertadas figuras políticas do regime salazarista Militares e civis
ligados ao ELP e MDLP regressam a Portugal, após a dissolução desses
movimentos.
[1 de Fevereiro] A CAP leva a efeito, em várias regiões do país, reuniões
para discutir a Reforma Agrária.
[2 de Fevereiro] Os separatistas açorianos manifestam-se em Ponta
Delgada.
[7 de Fevereiro] É aprovado o acordo de cooperação científica e técnica
entre Portugal e a República de Cabo Verde.
Os deputados dissidentes do PPD formam uma organização política - O
Movimento Social-Democrata.
[9 de Fevereiro] É criado o Instituto Universitário dos Açores.
[11 de Fevereiro] Melo Antunes avista-se com o ministro dos Negócios
Estrangeiros de Espanha, a fim de serem reatadas as relações amistosas entre os
dois países ibéricos.
[16 de Fevereiro] Em Estrasburgo, Portugal adere à Convenção Cultural
Europeia.
[21 de Fevereiro] É oficializada a Universidade Aberta Portugal reconhece
oficialmente a República Popular de Angola.
Ramalho Eanes afirma em Bruxelas que se torna imperativo o regresso de
Portugal à Europa.
[26 de Fevereiro] É assinado 2° Pacto Constitucional entre o MFA e os
partidos políticos Subscrevem-no PS, PSD, CDS e PCP.
[27 de Fevereiro] Prosseguem os avanços das tropas indonésias em Timor,
obrigando a FRETILIN,
[403]
[404]
[405]
[406]
1977
[3 de Janeiro] Tomam posse os autarcas eleitos em Dezembro.
[7 de Janeiro] Vieram para Portugal mais de 400000 desalojados das ex-
colónias, segundo dados fornecidos pelo recenseamento.
[13 de Janeiro] O MEIC procede a um inquérito na Universidade de
Coimbra para averiguar as razões que impediram alguns professores de leccionar.
[20 de Janeiro] Os separatistas açorianos provocam distúrbios em Ponta
Delgada aproveitando o protesto do aumento da gasolina. Os Açores mantêm o
preço da gasolina ao contrário do que acontece na Madeira.
[27 de Janeiro] Na sessão do Comité Ministerial do Conselho da Europa,
Portugal anuncia que vai apresentar um pedido de adesão à CEE. Inicia-se, em
Lisboa, o Congresso de todos os sindicatos que tem como meta a unidade dos
trabalhadores. Elege o novo secretariado e aprova o caderno reivindicativo.
[1 de Fevereiro] O MEIC cria o Sistema Público da Educação Pré-Escolar e
as Escolas Normais de Educadores de Infância. A participação das Associações
de Pais no sistema nacional de ensino passam a ser regulamentadas.
[10 de Fevereiro] A classificação numérica entra de novo no acesso ao
Ensino Superior.
[13 de Fevereiro] Toma posse a Comissão Instaladora da Condição
Feminina.
[14 de Fevereiro] Mário Soares inicia um conjunto de visitas às capitais
europeias com vista à integração na CEE. Esta política, para além do apoio do
PS, tem acolhimento favorável por parte do PSD e CDS.
O governo estabelece regras relativas à anunciada greve da função
pública, dos sectores da pesca e da marinha mercante.
[18 de Fevereiro] O PCP afirma-se contra a integração de Portugal na CEE.
São estabelecidas normas para a eleição das comissões de trabalhadores.
[25 de Fevereiro] O governo toma um conjunto de medidas económicas (1º
pacote) para fazer face à grave situação económica. A CIP discorda do
planeamento económico. Pretende uma definição da lei dos sectores (público e
privado) e uma modificação nas leis laborais.
[28 de Fevereiro] O Conselho Nacional do PS analisa os novos estatutos e
a linha sindical do partido.
O Conselho Nacional do PSD defende uma maioria democrática estável
assente numa plataforma interpartidária.
As listas afectas à JSD ganham as eleições nas Universidades de Coimbra,
Lisboa e Porto. Os bispos portugueses manifestam a sua apreensão perante a
degradação económica e o aumento do desemprego. A Bolsa de Valores
recomeça a sua actividade.
[1 de Março] Regulamentado o acesso à Universidade. Os candidatos têm
de se inscrever no Serviço Cívico estudantil; e terem uma aprovação nas provas
de língua portuguesa e de nível científico.
[2 de Março] A CEE distingue o escultor Valadas Coriel no concurso
«Chama Europeia».
[4 de Março] O 10 de Junho, Dia de Camões, passa também a ser
dedicado às comunidades portuguesas no estrangeiro.
[7 de Março] Mário Soares inicia a 2ª série de visitas às capitais europeias
com vista à integração de Portugal na CEE.
[11 de Março] A Assembleia da República extingue o Serviço Cívico.
[407]
[408]
[409]
[410]
1978
[5 de Janeiro] Um documento subscrito por milhares de pessoas solicita ao
presidente da República medidas para «afastar a ameaça fascista e extinguir da
terra portuguesa as raízes do fascismo».
[8 de Janeiro] Agricultores da ria de Aveiro processam a Portucel pela
grave poluição na ria prejudicando as suas explorações agrícolas.
[11 de Janeiro] Mário Soares e Freitas do Amaral concluem um acordo
político. Luís Cabral, presidente da República da Guiné-Bissau inicia uma visita
oficial a Portugal.
[16 de Janeiro] O PCP e o MDP solicitam a dissolução da FEPU por
divergência com a FSP.
[28 de Janeiro] O 5° Congresso do PSD elege Sousa Franco, presidente da
Comissão Política Nacional e Sérvulo Correia, secretário-geral. Sá Carneiro
recusa o cargo de presidente, embora permaneça no Conselho Nacional.
Em Lisboa decorre a Convenção Nacional da União de Esquerda Socialista
e Democrática que pretende contribuir para a construção de uma sociedade sem
classes, onde o poder democrático dos trabalhadores seja expressão da vontade
popular.
[20 de Janeiro] O presidente da República dá posse ao 2° governo
constitucional, resultante do acordo de incidência governamental e parlamentar
entre o PS e o CDS.
[411]
[412]
[413]
(Legenda: Alfredo Nobre da Costa.)
[414]
[415]
1979
[2 de Janeiro] É publicada a Lei de Finanças locais em que a cobrança de
alguns impostos reverte a favor das autarquias.
[7 de Janeiro] O PS sugere aos trabalhadores a sua inscrição na UGT e
que lutem nos seus sindicatos por aquela Central Sindical.
[11 de Janeiro] A FSP anuncia a sua dissolução. Torres Vedras é elevada à
categoria de cidade.
[13 de Janeiro] É apresentado um projecto de revisão constitucional por Sá
Carneiro ao Conselho Nacional do PSD.
[27 de Janeiro] No Porto, inicia-se o 1° Congresso da UGT, sob o lema
«por uma alternativa democrática na defesa dos interesses dos trabalhadores».
Esta nova estrutura sindical tem o apoio do PS, PSD e CDS.
[29 de Janeiro] Continuam os confrontos na zona da Reforma Agrária onde
prosseguem as devoluções de terras.
[2 de Fevereiro] O general Melo Egídio é nomeado governador de Macau.
[6 de Fevereiro] Mota Pinto e o seu governo respondem na Assembleia da
República a 50 perguntas formuladas pelos partidos.
[7 de Fevereiro] Sá Carneiro defende a manutenção do governo dada a
grave crise económica e financeira do país.
[8 de Fevereiro] Portugal e China Popular estabelecem relações
diplomáticas.
[16 de Fevereiro] O CDS propõe ao PSD um acordo entre os dois partidos
extensível ao PS.
[20 de Fevereiro] A Conferência Nacional da CGTP é marcada pelas
críticas à UGT e ao governo.
[21 de Fevereiro] O governo assegura meios financeiros aos municípios.
[416]
[3 de Março] O 3° Congresso do PS inicia-se em Lisboa sob o lema «Dez
anos para mudar Portugal» e mantém Mário Soares na liderança. Vasco da Gama
Fernandes antigo presidente da Assembleia da República demite-se do PS.
[7 de Março] O Conselho de Ministros autoriza a venda do jornal O Século.
[10 de Março] Ocorrem alguns incidentes na zona da Reforma Agrária na
sequência da devolução de terras.
[14 de Março] A Igreja Católica publica uma carta pastoral sobre a
perspectiva cristã da vida.
[16 de Março] Sá Carneiro anuncia que o PSD retira o seu apoio crítico ao
4° governo constitucional.
[17 de Março] Em várias localidades realizam-se manifestações pedindo a
queda do governo de Mota Pinto.
O presidente da República reafirma a sua confiança no governo.
[19 de Março] Ramalho Eanes visita oficialmente países do Leste europeu
(Bulgária, Roménia, Hungria).
[22 de Março] A Assembleia da República rejeita o Plano e OGE para 1979.
Deputados do PSD ligados ao grupo «Opções Inadiáveis» abandonam o
Parlamento antes das votações, agravando o conflito com a direcção do partido.
[27 de Março] É criado, em Madrid, o Instituto de Cultura Portuguesa.
[28 de Março] Ramalho Eanes, após reunião com Mota Pinto, mantém o
governo em funções. Este irá apresentar novo OGE.
[1 de Abril] O Conselho Nacional do PSD reunido na Guarda rejeita a
eventual tentativa de criação de um governo presidencial, defendendo eleições
gerais antecipadas e retirando a confiança política à direcção do grupo
parlamentar.
Sousa Franco é convidado a sair do PSD por se mostrar empenhado
noutros projectos político-partidários.
(Legenda: Maria de Lurdes Pintassilgo.)
[417]
[418]
[419]
[420]
1980
[1 de Janeiro] O violento tremor de terra atinge as ilhas Terceira, Graciosa e
S. Jorge provocando mortes e elevados prejuízos materiais. Angra do Heroísmo,
cidade desde 1534 e património mundial, é muito atingida pelo sismo.
[2 de Janeiro] O presidente da República empossa o 6° governo
constitucional, o primeiro da responsabilidade da AD.
[8 de Janeiro] Leonardo Ribeiro de Almeida do PSD é eleito presidente da
Assembleia da República.
[12 de Janeiro] Morre o maestro Frederico de Freitas, compositor que aliava
o cultivo da música de vanguarda à composição de canções populares e números
musicais para cinema e teatro ligeiro. Foi distinguido com diversos prémios entre
os quais avulta o Prémio Nacional Carlos Seixas.
[17 de Janeiro] O programa de governo é aprovado na Assembleia da
República sendo derrotadas as moções de rejeição apresentadas pelo PS e PCR.
O governo apresenta uma moção de confiança aprovada pela maioria. Nas
relações exteriores o governo defende uma mudança de política - declaramente
pró-europeia e pró-ocidental. O programa do governo prevê institucionalização do
referendo e a alteração da Lei Eleitoral.
[24 de Janeiro] O governo condena a invasão do Afeganistão pelas tropas
soviéticas.
[25 de Janeiro] David Mourão-Ferreira é agraciado com a Legião de Honra
Francesa.
[28 de Janeiro] O ministro dos Negócios Estrangeiros reafirma a intenção
do governo acelerar as negociações para integrar Portugal na CEE.
[3 de Fevereiro] Sousa Tavares reassume a direcção do jornal A Capital.
[4 de Fevereiro] O Encontro dos Povos em Luta previsto para 7, 8, 9 não
terá a participação de estrangeiros, por proibição do governo.
[12 de Fevereiro] Os reformadores resolvem constituir-se em agrupamento
parlamentar.
[21 de Fevereiro] Começam os exames do propedêutico com 35000
candidatos.
[6 de Março] No Pavilhão dos Desportos em Lisboa inicia-se o 3º
Congresso da CGTP sob o lema «Fortalecer a unidade e a organização,
prosseguir Abril».
[7 de Março] São inaugurados os emissores a cores da Televisão.
[10 de Março] São condenados por um tribunal de Matosinhos militantes do
PRP, acusados de assaltos a bancos, rebentamento de engenhos e uso de armas
de guerra. Morre o poeta e escritor Vasco de Lima Couto, autor de O Silêncio das
Palavras.
[14 de Março] A Assembleia da República aprova uma amnistia para
pequenos delitos.
[15 de Março] O presidente da República inaugura as novas instalações da
Faculdade de Ciências da Universidade Nova de Lisboa.
[28 de Março] É criada a FUP (Força de Unidade Popular), destacando-se
entre os seus quadros, Otelo.
[2 de Abril] É comemorado o 4° aniversário da promulgação da
Constituição.
[8 de Abril] O Conselho da Revolução considera inconstitucional o diploma
governamental que visa alterar a delimitação dos sectores público e privado.
[421]
[422]
[423]
[424]
1981
[9 de Janeiro] O presidente da República empossa o 7° governo
constitucional presidido por Pinto Balsemão.
Nos discursos Ramalho Eanes garante a solidariedade institucional e a
confiança política e democrática neste 2° governo da AD.
São assinados protocolos com municípios da Região Centro para a
execução de obras. Os investimentos rondam os 600 mil contos.
14 de Janeiro]Ramalho Eanes, em cerimónia realizada na Assembleia da
República, é reinvestido nas funções de presidente da República. O grupo teatral
«A Barraca» é distinguido pela crítica. A peça Menino ou Menina é considerada
como o melhor espectáculo teatral de 1980.
[19 de Janeiro] O Conselho Nacional do Ambiente lança uma campanha
contra o ruído.
[22 de Janeiro] O governo apresenta uma moção de confiança na
Assembleia da República aprovada por 133 votos contra 97.
Luís Dias Amado, grão-mestre da Maçonaria, morre em Lisboa, com 80
anos.
[30 de Janeiro] Inicia-se o 2° Congresso da UGT sob o lema «No pleno
emprego, a consolidação da democracia».
[31 de Janeiro] Pinto Balsemão defende a criação de bancos privados em
Portugal.
[1 de Fevereiro] O presidente da República do Brasil, João Figueiredo,
inicia uma visita oficial de 4 dias a Portugal.
O PSD ganha as eleições disputadas em 7 freguesias açorianas.
[2 de Fevereiro] O Ministério dos Transportes dá a conhecer os resultados
do inquérito ao acidente de Camarate em que perderam a vida, entre outros, Sá
Carneiro e Amaro da Costa. A conclusão final diz não ter havido interferência
ilícita ou criminosa no bimotor Cessna.
[3 de Fevereiro] A Assembleia da República elege para o cargo de provedor
de Justiça, Pamplona Corte Real do CDS, que toma posse no dia 11. Também
nesse dia toma posse Cavaco Silva de presidente do Conselho Nacional do
Plano.
[16 de Fevereiro] O Comité Central do PCP exige a demissão do governo e
a realização de eleições intercalares para a Assembleia da República.
[17 de Fevereiro] O general Melo Egídio é nomeado CEMGFA.
[20 de Fevereiro] Pinto Balsemão vence o 8° Congresso do PSD e a linha
radical que o contestava.
[425]
(Legenda: Miguel Torga.)
[426]
[427]
[428]
1982
[4 de Janeiro] O 1° ministro visita oficialmente a Espanha.
[5 de Janeiro] A Assembleia da República define o estatuto do objector de
consciência.
[8 de Janeiro] A CGTP decide realizar uma greve geral de meio-dia, em 12
de Fevereiro. A UGT declara, posteriormente, não aderir a esta greve.
É entregue simbolicamente à Força Aérea Portuguesa o avião Corsair II de
origem norte-americana.
[9 de Janeiro] Mário Soares sublinha que a falta de diálogo do governo com
as organizações sindicais está a agravar a onda de greves.
[429]
(Legenda: Francisco Pinto Balsemão.)
[430]
[431]
[432]
[434]
[435]
1983
[18 de Janeiro] O presidente da República ouve o Conselho de Estado
sobre a situação política. O Conselho decide por 8 votos contra 7 pela
manutenção da actual Assembleia da República.
A Assembleia da República rejeita o projecto do PPM para a criação do
concelho de Vizela. A população corta as estradas de ligação a Guimarães, Porto
e Santo Tirso.
[20 de Janeiro] A obra de restauro e transformação em pousada da
fortaleza de Vila Nova de Cerveira é distinguida pela Federação Internacional das
Sociedades de Conservação do Património.
[23 de Janeiro] O presidente da República decide pela dissolução da
Assembleia da República e convoca eleições antecipadas.
[24 de Janeiro] Acaba de ser publicada em França uma colectânea de 21
contos de Miguel Torga com o título Lapidaires.
[25 de Janeiro] Em Bruxelas, na reunião ministerial, João Salgueiro critica a
CEE pelas dificuldades levantadas à adesão de Portugal.
[27 de Janeiro] O filme Francisca, de Manoel de Oliveira,
[436]
[437]
[438]
[439]
[440]
1984
[6 de Janeiro] O Episcopado, em nota pastoral, considera que a lei que
consagra a prática do aborto «será sempre iníqua, pela especial gravidade dos
actos que consente e promove».
Os jornalistas rejeitam as alterações da Lei de Imprensa propostas pelo
governo.
[8 de Janeiro] Decorre no Porto o Congresso dos Trabalhadores sociais-
democratas.
[10 de Janeiro] A Assembleia da República deverá pronunciar-se sobre
qual das instituições representa o poder judicial: o Supremo Tribunal de Justiça ou
o Tribunal Constitucional.
[12 de Janeiro] O Conselho de Ministros decide avançar com a obra de
aproveitamento hidroeléctrico do Alqueva.
O bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, apela para a criação de um fundo
de solidariedade para acudir a situações desesperadas, devido ao desemprego no
distrito.
[17 de Janeiro] O governo elabora um anteprojecto de lei sobre
actualização das rendas de casa. Mota Pinto visita oficialmente os EUA.
[18 de Janeiro] Com 47 anos morre o poeta José Carlos Ary dos Santos.
Muitos dos seus versos constituíam a letra de músicas de intervenção.
[441]
[442]
[443]
[444]
[445]
[446]
1985
[3 de Janeiro] A Assembleia da República autoriza o governo a contrair um
empréstimo de 150 milhões de dólares junto do Fundo de Restabelecimento do
Conselho da Europa. O governo aprova o diploma que facilita os acessos aos
Arquivos de Salazar e Caetano à Comissão do Livro Negro sobre o Regime
Fascista.
[4 de Janeiro] É assinado um acordo de viabilização do sector da cristalaria
da Marinha Grande.
[12 de Janeiro] O 2° Congresso da ASDI decide pela extinção do partido,
embora mantenha o grupo parlamentar.
[17 de Janeiro] Segundo a imprensa as autarquias devem 50 milhões de
contos à EDP.
[18 de Janeiro] Falece o padre jesuíta Manuel Antunes, professor
catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa e director da revista Brotem entre
1965 e 1983. Publicou diversos volumes de ensaios literários, filosóficos e
culturais.
[19 de Janeiro] Inicia-se em Lisboa o 2° Congresso das Mulheres
Socialistas.
[20 de Janeiro] Almeida Santos diz que a imprensa privada deve mais de 2
milhões de contos à banca.
[21 de Janeiro] No Ensino Preparatório passa a vigorar o sistema de
avaliação contínua.
[22 de Janeiro] A Assembleia da República inicia o debate sobre as
Grandes Opções do Plano e do OGE para 1985. As propostas são aprovadas na
sua generalidade.
[27 de Janeiro] A 3ª Convenção Ecológica Nacional elege o Conselho
Nacional do Movimento Ecologista Português Partido «Os Verdes».
[28 de Janeiro] O presidente da República do Brasil, Tancredo Neves, visita
oficialmente Portugal. A Universidade de Coimbra concede-lhe o doutoramento
honoris causa.
[1 de Fevereiro] As FP 25 de Abril continuam a reivindicar
[447]
[448]
[449]
[450]
(Legenda: Assinatura do Tratado de Adesão à CEE, em 1985.)
[451]
1986
[1 de Janeiro] Portugal e a Espanha depois de prolongadas negociações
entram na CEE. O Acordo de Adesão, assinado em 12 de Julho de 1985, traça
uma nova orientação da economia portuguesa a médio e longo prazo, prevê
períodos de transição para a agricultura e indústria, meios financeiros de apoio e
acesso da concorrência comunitária ao mercado interno português.
[15 de Janeiro] A cultura portuguesa é representada, em Paris, na
exposição intitulada «Un móis de Portugal».
[16 de Janeiro] O serviço militar obrigatório é reduzido para 12 meses.
[26 de Janeiro] Decorre a 1ª volta das eleições presidenciais com os
seguintes resultados: Freitas do Amaral, 46,3%; Mário Soares, 25,4%; Salgado
Zenha, 20,9%; M. L. Pintassilgo, 7,4%.
Os dois candidatos mais votados disputam a 2ª volta no dia 16 de Fevereiro.
Mário Soares vencerá com 51,2% contra 48,8% de Freitas do Amaral.
[452]
[453]
1987
[6 de Janeiro] Falece Gaspar Simões, escritor e crítico literário. Em 1927
fundara com José Régio e Branquinho da Fonseca a famosa revista Presença.
Romancista, notabilizou-se como ensaísta e biógrafo.
[7 de Janeiro] Toma posse a Comissão Nacional das Comemorações dos
500 anos dos Descobrimentos.
[22 de Janeiro] O presidente da República veta a Lei da Rádio.
[28 de Janeiro] As Faculdades de Letras paralisam por os alunos não
concordarem com a reestruturação dos cursos.
[2 de Fevereiro] O AMO da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, foi
contemplado, em Itália, com um prémio da secção de Literatura Estrangeira
Gizane Cavous.
[12 de Fevereiro] Os docentes provisórios passam a efectivos de acordo
com a nova legislação.
[454]
[455]
1988
[12 de Janeiro] O Centro Cultural de Belém tem o projecto aprovado pelo
Conselho de Ministros.
[21 de Janeiro] A Assembleia da República aprova a Lei da Rádio.
[31 de Janeiro] Freitas do Amaral regressa à presidência do CDS de acordo
com a votação do Congresso.
[5 de Fevereiro] Vai ser lançado o Programa Propidata que prevê o apoio
da informática nacional no desenvolvimento do Sistema Educativo.
[8 de Fevereiro] O governo decreta a requisição civil dos trabalhadores da
Carris em greve.
[9 de Fevereiro] Em todas as escolas do país é debatida a questão da
reforma do ensino.
[21 de Fevereiro] O Congresso do PS reelege Victor Constâncio secretário-
geral.
[4 de Março] O Ensino Particular é integrado na rede escolar.
[28 de Março] As duas centrais sindicais convocam uma greve geral de
protesto contra o pacote laboral. Pela 1ª vez, a UGT e CGTP promovem uma
acção concertada de luta.
[6 de Abril] Nova legislação proíbe o fumo nos estabelecimentos de ensino.
[14 de Abril] O pacote laboral, que tanta controvérsia provoca, é aprovado
na Assembleia da República apenas com votos da maioria.
[456]
[457]
1989
[1 de Janeiro] Entra em vigor a nova Reforma Fiscal.
[4 de Janeiro] A Faculdade de Ciências de Lisboa paralisa por falta de
condições de financiamento. O Ministério da Educação assegurará novas verbas
para resolver a situação.
[5 de Janeiro] A Cimpor vai despender milhão e meio de contos com
medidas antipoluidoras.
[10 de Janeiro] O FEDER concede a Portugal 6500000 contos para
projectos de infra-estruturas aprovados em Bruxelas.
[15 de Janeiro] O Congresso do PS elege Jorge Sampaio, secretário-geral,
sucedendo a Victor Constâncio.
[18 de Janeiro] Portugal decide devolver as jóias de Goa à União Indiana.
[22 de Janeiro] A mais conhecida pintora portuguesa, deste século, Helena
Vieira da Silva vê um quadro seu, Composição, pintado em 1957 atingir o preço
recorde de 17 mil contos, num leilão em Lisboa.
[25 de Janeiro] Cavaco Silva responsabiliza o patronato por falta de acordo
social.
[28 de Janeiro] Os sargentos dos três ramos das Forças Armadas
reivindicam a publicação do seu estatuto.
[31 de Janeiro] Fernando Namora, um dos mais notáveis e traduzidos
escritores portugueses deste século, falece em Lisboa. A Casa da Malta, Retalhos
da Vida de Um Médico, Domingo à Tarde e Rio Triste são os seus romances mais
conhecidos.
[8 de Fevereiro] Na ilha de Santa Maria, do arquipélago dos Açores, ocorre
um acidente aéreo que vitima 145 passageiros.
[9 de Fevereiro] Ramos Rosa, poeta cuja obra de qualidade reflecte
elementos neo-realistas, surrealistas, neoclássicos e neobarrocos, é galardoado
com o Prémio Fernando Pessoa, instituído pelo semanário Expresso.
[13 de Fevereiro] No rio Mondego um desastre ecológico destrói, numa
grande área, a fauna piscícola.
[14 de Fevereiro] Os músicos das Orquestras Sinfónicas da RDP de Lisboa
e Porto dão um concerto frente ao Parlamento como forma de protesto contra a
sua extinção.
[17 de Fevereiro] O Ballet Gulbenkian obtém em Londres um grande êxito,
merecendo muitos aplausos do público e grandes elogios da crítica. Entre as
peças interpretadas contava-se «Treze gestos de um corpo», de Olga Roriz.
[25 de Fevereiro] Falece, um dos mais. consagrados barítonos
portugueses, Hugo Casais.
[3 de Março] Portugal consagra-se Campeão Mundial de
[458]
[459]
1990
[10 de Janeiro] A Procuradoria-Geral da República determina um inquérito
à actividade dos Skinheads.
[17 de Janeiro] Hermínio Martinho pede a demissão da liderança do PRD.
[18 de Janeiro] Porto Santo é atingido por uma maré negra, provocada por
derrame de petróleo.
[22 de Janeiro] Jorge Sampaio toma posse de presidente da CML.
[23 de Janeiro] Fernando Gomes é empossado nas funções de presidente
da CMP.
[8 de Fevereiro] São abolidas as taxas de televisão.
[5 de Março] O jornal Público inicia a sua actividade.
[8 de Março] A Assembleia da República aprova a Lei da Alta Autoridade
para a Comunicação Social.
[22 de Março] Maria João Pires, pianista de renome internacional, é
distinguida com o Prémio Pessoa 1989, em cerimónia realizada no Palácio de
Queluz.
[22 de Abril] Como forma de protesto pelo anunciado alargamento do
Campo de Tiro de Alcochete, estabelece-se um cordão humano entre Montijo e
Alcochete.
[23 de Abril] O presidente da República veta a Lei da Alta Autoridade para a
Comunicação Social.
[24 de Abril] Em Portugal é inaugurado o 1° laboratório de fusão nuclear
controlada.
[460]
[461]
(Legenda: Aníbal Cavaco Silva.)
1991
[13 de Janeiro] Mário Soares é reeleito presidente da República, com
70,4% dos votos. Basílio Horta com 14,2% é o candidato que se classifica a
seguir. É atribuída ao Porto uma verba de 1 milhão de contos para a continuação
das obras de recuperação do seu Centro Histórico.
[14 de Fevereiro] Portugal devolve as jóias de Goa, trazidas para Portugal,
antes da invasão pelas tropas indianas do antigo Estado Português da índia.
[11 de Março] O Dr. José de Almeida, independentista açoriano e antigo
deputado à Assembleia Nacional, é absolvido do crime de traição à Pátria de que
era acusado.
[25 de Março] Os professores fazem greve às avaliações.
[7 de Abril] Inicia-se a maior operação estatística realizada em Portugal -
Censos 1991.
[3 de Maio] O pianista português Pedro Burmester ganha o Prémio Europeu
da Cultura.
[10 de Maio] O papa João Paulo II inicia uma visita oficial a Portugal.
[14 de Maio] O Diário de Notícias de Lisboa, um dos jornais mais vendidos
em Portugal, é privatizado.
[22 de Maio] Iniciam-se, em Lisboa, as obras de reconstrução do Chiado.
[2 de Junho] A 5ª Convenção do PRD rejeita a sua extinção e elege Pedro
Canavarro seu presidente.
[4 de Junho] A Assembleia da República aprova o Acordo Ortográfico.
[9 de Junho] É solicitado que a Alta de Coimbra seja integrada no
património da UNESCO.
[11 de Junho] É aberto o nó de Queluz facilitando os acessos a Lisboa.
[20 de Junho] A Assembleia da República vota contra a amnistia aos
presos das FP 25 de Abril.
[462]
1992
[1 de Janeiro] Portugal inicia a Presidência da CEE, cujos serviços
funcionaram no Centro Cultural de Belém.
[17 de Janeiro] Doze generais passam à reserva entre 7 de Março e 30 de
Outubro, dentro do Plano de Reestruturação das Forças Armadas.
[6 de Fevereiro] São atribuídos pelo governo os 3° e 4º canal de televisão,
respectivamente ao projecto SIC e TVI.
[463]
[464]
1993
[30 de Janeiro] Iniciam-se as emissões da TVI, canal 4, mas as emissões
regulares começaram a 20 de Fevereiro.
[19 de Fevereiro] O governo não concede aos funcionários públicos
dispensa ao serviço na 2ª feira de Carnaval.
[26 de Fevereiro] O 1° ministro dá a conhecer a intenção do governo de
prosseguir os trabalhos de construção da Barragem do Alqueva, no Alentejo que
se tornará no maior lago artificial da Europa. O seu custo ascenderá a 295000000
de contos, irrigando uma área de 110000 hectares.
[11 de Março] Falece Manuel da Fonseca, poeta e ficcionista, uma figura
mítica da corrente neo-realista.
[16 de Março] Natália Correia, natural dos Açores, poetisa, romancista,
ensaísta, dramaturga, pintora, falece em Lisboa.
[17 de Março] António José Saraiva, professor universitário que nos legou
uma importante obra cultural, falece em Lisboa.
[21 de Março] Abre ao público, em Lisboa, o Centro Cultural de Belém, obra
polémica pelos seus custos e enquadramento arquitectónico.
[23 de Março] Os órgãos de comunicação social iniciam um boicote às
actividades na Assembleia da República como protesto às limitações postas pelo
PSD à circulação dos jornalistas.
[26 de Março] Uma grande manifestação de estudantes, professores e pais
frente ao Ministério da Educação acaba com uma carga policial.
[28 de Abril] Termina o boicote dos jornalistas às actividades da Assembleia
da República depois de lhes ser assegurado o acesso aos corredores que
circundam o hemiciclo.
[465]
[466]
BIBLIOGRAFIA
[468]
[470]
[471]