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AS EXIGÊNCIAS DO DISCIPULADO

O discipulado, de acordo com Dietrich Bonhoeffer, não se constitui uma opção para
a fé cristã, visto que ao negligenciar a sua prática a igreja necessariamente perde
sua relevância, tornando-se um “cristianismo sem Jesus Cristo”1.

Apesar de sua importância, ao longo dos anos, diversos estudiosos têm denunciado
a negligência do discipulado e as consequências negativas que inevitavelmente
sobrevêm à saúde espiritual da igreja. James Montgomery Boice lamenta as
pouquíssimas evidências de um verdadeiro cristianismo diante da
percepção de que grande parte das pessoas que se dizem cristãs, mesmo se
envolvendo em muitas atividades e conversas sobre Cristo, não estejam de fato
seguindo-o2.

A prática do discipulado, ao contrário do que pensam alguns, é muito mais do que


ajudar novos convertidos a se prepararem para o batismo por um período de três
meses. Segundo David Kornfield, “o discipulado é uma relação comprometida e
pessoal em que um discípulo mais maduro ajuda outros discípulos de Jesus Cristo a
se aproximarem mais dele e assim se reproduzirem”3.

A partir da narrativa da Grande Comissão no Evangelho de Mateus, Ed René Kivitz


afirma que discipular é mais do que ensinar. Para se ensinar basta bons mestres,
métodos didáticos, currículos e instalações adequadas. Para discipular, entretanto,
se faz necessário que o discípulo se relacione com pessoas que sejam exemplos
concretos e que estejam dispostas a lhe “ensinar a guardar todas as coisas que o
Senhor Jesus mandou” (Mateus 28.20)4.

Os evangelhos nos fornecem diversos relatos em que Jesus exercia seu ministério
cercado por uma grande multidão. Seu ensino a encantava (Mateus 7.28-29; 22.33;
Marcos 1.22) e seus milagres, principalmente de cura, a atraía a segui-lo (Mateus
15.30; João 6.2).
Apesar de seu sucesso e amor para com a multidão, esta não se constituía a
prioridade do seu ministério. “Embora Jesus tivesse feito tudo quanto estava ao
seu alcance para ajudar às multidões”, afirma Robert E. Coleman, “ele precisou dar
maior atenção ao pequeno grupo de homens-chave, e não às massas, a fim de que
essas multidões, finalmente, pudessem ser salvas”5.

“Ninguém pode transformar o mundo, a menos que os


indivíduos que o compõem sejam transformados; e
ninguém pode ser transformado senão quando
moldado nas mãos do Mestre.”
ROBERT E. COLEMAN

Nesse sentido, Jesus tinha compaixão pela multidão suprindo as suas necessidades,
mas quando se tratava dos seus discípulos o nível de comprometimento exigido
era bem maior. Afinal, como declara Günther Bornkamm, “caminhar atrás dele
ainda não significa segui-lo”6.

No Evangelho de Marcos 8.34 encontramos as exigências do discipulado: “Se


alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-
me”. William Hendriksen comenta que essa exortação de Jesus “indica o que a
pessoa deve fazer para ser um discípulo, um seguidor, ou um crente verdadeiro”7.
Sendo assim, o propósito desse artigo é apresentar as quatro exigências do
discipulado a partir dessa declaração de Jesus.

O Discipulado exige voluntariedade

A primeira exigência do discipulado é a decisão pessoal por parte do discípulo: “Se


alguém quiser acompanhar-me…”. O discipulado não se constitui uma imposição
em que o discípulo perde toda sua liberdade de decidir.
Infelizmente, muitos cristãos adquiriram uma enorme resistência ao termo
“discipulado” em virtude de vivenciar experiências negativas com pessoas que
afirmavam que o discípulo não tem de querer, apenas obedecer ao seu
“discipulador”. É preciso entender que o discipulado cristão tem como objetivo
levar e envolver as pessoas com Cristo, de quem de fato são discípulas. E não
torná-las massa de manobra na mão de líderes religiosos com pretensões
dominadoras e egocêntricas.

Esse é um ponto que distingue o discipulado cristão dos modelos de formação das
escolas de filosofia dos gregos e das escolas rabínicas dos judeus. Entre os filósofos
gregos, um homem era chamado mathêtês(discípulo) quando se vinculava a
um didaskalos (mestre), a quem tinha de pagar pelos ensinamentos. Sócrates,
contudo, não se considerava um didaskalos e não aceitava ter
nenhum mathêtês porque acreditava num tipo “particular de relacionamento
comunitário, no qual tanto o mestre quanto o aluno se sentem dedicados ao
mesmo alvo em comum”8.

De maneira semelhante, as escolas rabínicas surgiram a partir de alguns


estudiosos que encaravam seus métodos e opiniões doutrinárias como critérios
absolutos de conhecimento válido da Torah. Para eles, o talmîd (discípulo) era
alguém que pertencia ao seu hâkâm (mestre), a quem se subordinava de maneira
quase servil e, por meio de quem adquiria o “escutar correto” e o “entender
correto” da Torah, visto que na visão deles, “escutar as Escrituras sem a orientação
de um professor é algo que deve ser evitado, custe o que custar”9.

No discipulado cristão, a relação entre o discipulador e o discípulo é


completamente diferente das propostas gregas e judaicas. Enquanto o objetivo dos
discípulos dos mestres gregos e judeus era receber conhecimentos objetivos para
se tornarem também mestres ou rabinos, no discipulado cristão o discípulo nunca
se separa de Jesus para se tornar um mestre: “Mas vocês não devem ser chamados
mestres; um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos” (Mateus 23.8).

Sendo assim, a primeira exigência do discipulado é o sincero desejo por parte do


discípulo de seguir a Cristo. De acordo com Dietrich Bonhoeffer, “ninguém pode ser
forçado a isso, nem mesmo se pode esperar que alguém o faça; antes, ‘se alguém
quiser’ segui-lo, a despeito de quaisquer outras ofertas que lhe sejam feitas”. Nesse
sentido, “antes de se anunciar a lei do discipulado, os próprios discípulos têm que
sentir-se em liberdade”10.

O Discipulado exige renúncia

A segunda exigência do discipulado é a renúncia total ao controle da vida: “Se


alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo…”. Embora
etimologicamente os termos “negação de si mesmo” e “abnegação” tenham o
mesmo sentido, William MacDonald faz uma diferenciação entre os mesmos. De
acordo com ele, autonegação “significa abrir mão de determinados alimentos,
prazeres e bens”, já negar a si mesmo significa abdicar do trono numa “tão
completa submissão ao senhorio de Cristo [em] que o ego não tem nenhum direito
ou autoridade”11.

Numa sociedade em que todo caminho que conduza à felicidade pessoal é


justificado, a exigência da renúncia total do controle da vida se mostra mais dura
do que muitos estão dispostos a aceitar. Günther Bornkamm afirma que “aceitar o
convite, pôr-se a caminho, vir – significa, no entanto, renúncia, recusa a tudo aquilo
com que o ser humano normalmente procura ganhar e sustentar a sua vida”12.

O psicólogo cristão Larry Crabb aborda a questão da renúncia utilizando a


metáfora dos dois caminhos: o velho caminho de Moisés e o novo caminho de
Cristo. Segundo Crabb, você está andando por um dos dois caminhos da vida: “ou
decidiu que aquilo que mais deseja na vida está ao seu alcance e se empenha em
fazer o que acredita ser necessário para obtê-lo, ou compreendeu que aquilo que
mais deseja está além do seu alcance e vai confiar em Deus para a satisfação que
almeja”13.

“Nossa agenda é consertar o mundo até que Ele


venha cuidar de nós. A agenda de Deus é fazer
convergir em Cristo todas as coisas até que todo
joelho se dobre diante dEle.”
LARRY CRABB

O primeiro caminho alega que tudo o que você precisa para ser feliz só depende de
você. Sendo assim, se você quer um salário melhor, basta trabalhar mais ou
melhorar sua estratégia; para um casamento feliz você só precisa seguir os
princípios bíblicos para um relacionamento conjugal; se quiser as bênçãos de Deus
você precisa cumprir a todos os mandamentos.

O problema desse caminho é que o conduz a dois destinos e nenhum deles


te aproxima de Deus. Caso você consiga alcançar o alvo estabelecido, o destino
será a arrogância. Seu discurso para com aqueles que não alcançaram o mesmo
“sucesso” que você será: se você fizer o mesmo que “eu” fiz, colherá os mesmos
frutos que “eu”.

Porém, se você não conseguir o resultado esperado, o destino será a frustração.


Você se afastará de Deus e das outras pessoas porque acreditará que não possui
nenhum valor ou virtude e, portanto, não terá nenhum “sucesso” na vida.
Novamente o “eu” será o foco da questão, não Deus. É você quem está no controle e
por essa razão será você o motivo do “sucesso” ou do “fracasso” de tudo o que
almeja em sua vida.

O segundo caminho está fundamentado na fé em Deus, uma vez que desistimos de


buscar fazer a nossa vida dar certo neste mundo e depositamos toda nossa
confiança n’Ele. Nas palavras de Crabb, “Deus primeiro planeja um desejo em seu
coração, um anseio que valoriza a presença dele mais do que as suas bênçãos; ele
então o convida a viver esse desejo, abandonar-se ao que mais almeja […] isso faz
com que perca o controle, mas o liberta”14.

É nesse sentido que o discipulado cristão exige renúncia. Não se pode cumprir as
próximas exigências quando o “eu” e não Deus está no controle de nossas decisões.
Não basta deixar de praticar determinadas coisas, é necessário que Cristo assuma
o controle de nossas vidas e nos capacite a cumprir a próxima exigência do
discipulado: o sacrifício.

O Discipulado exige sacrifício

A terceira exigência do discipulado é o sacrifício: “…tome a sua cruz…”. Momentos


antes de proferir seu chamado ao discipulado, Jesus havia declarado que “era
necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos
líderes religiosos, pelos chefes do sacerdotes e pelos mestres da lei…” (Marcos
8.31).

Esse é o pressuposto do seu discipulado: uma vez que “o discípulo não está acima
do seu mestre” (Lucas 6.40), deve estar disposto a suportar os sofrimentos e a
rejeição semelhante a que ele enfrentou. Assim como o mestre tomaria a sua cruz,
seus discípulos também deveriam fazer o mesmo. Jesus diz em Lucas
14.27: “aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu
discípulo”.

Bonhoeffer afirma que “quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser
expor sua vida ao sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a
comunhão com Cristo e não é seu discípulo”15. Dentre os sofrimentos impostos a
todo discípulo de Jesus ele destaca dois: o abandono de suas vinculações com o
mundo (morte no batismo) e o levar sobre si os pecados de outros seres
humanos (os fardos uns dos outros).

O primeiro sofrimento está relacionado ao fato de que não podemos permitir que
nada neste mundo, incluindo pai, mãe, marido, esposa, filho, filha, bens materiais e
realizações pessoais, fique entre nós e Cristo (Lucas 14.26). O segundo sofrimento
envolve levar “os fardos pesados uns dos outros” (Gálatas 6.2) que, de acordo com
Bonhoeffer, é “levar não apenas sua situação, a maneira de ser, o temperamento,
mas, acima de tudo, seus pecados”16.

Talvez a narrativa do martírio de Estevão seja um exemplo do comportamento


ideal do discípulo de Jesus diante do sofrimento gerado pelo pecado de outras
pessoas. De acordo com Lucas, enquanto o apedrejavam, Estevão intercedeu ao
Senhor Jesus em favor de seus agressores: “Senhor, não os considerem culpados
deste pecado” (Atos 7.60).

Josef Tson, nos ensina quatro lições importantes ao tratar do tema do sofrimento e
do martírio como estratégia de Deus no mundo. A primeira lição é que Jesus sabe
que o mundo odiará os seus discípulos, mas que ele espera que a reação de suas
testemunhas ao ódio seja o amor e à violência seja suportá-la com alegria.

A segunda lição é que a motivação do sofrimento e do martírio dos discípulos é a


fidelidade a Jesus, já que “não buscam nessas coisas benefícios próprios nem
infligem a si mesmos esses sofrimentos” e que o objetivo deles “não é sofrer e
morrer: é a pessoa de Cristo e a causa de Cristo no mundo, a expansão de seu
evangelho”17.

A terceira lição é que o discípulo recebe de Deus a capacitação para enfrentar o


sofrimento e o martírio uma vez que sofrer por Jesus significa se envolver
voluntariamente em sofrimentos e viver uma vida de sacrifício por Cristo e seu
evangelho.

Por fim, a quarta lição é que o discípulo está totalmente à disposição do Mestre
porque pensa como um escravo. Tson afirma que “é o Mestre quem decide que tipo
de serviço o discípulo irá realizar [e que seu dever] é descobrir a vontade do
Mestre e cumpri-la com alegria e paixão”187. Para saber como descobrir a vontade
de Deus, leia o meu artigo A tomada de decisão e a vontade de Deus.

O Discipulado exige submissão

A quarta exigência do discipulado – “…siga-me” – pode ser entendida como uma


consequência natural das exigências apresentadas anteriormente. Henry E.
Turlington, ao comentar Marcos 8.34, afirma que “siga-me significa, por causa da
forma do verbo, faça, de seguir o meu exemplo, o seu hábito”19 e que se trata mais
de uma ordem acessória do que outro requisito, uma vez que abrange e interpreta
as outras exigências.

De nada adianta a uma pessoa desejar se tornar um discípulo de Cristo, renunciar


ao controle de sua vida, suportar com alegria os sofrimentos que envolvem o
discipulado, e não se submeter a uma nova orientação e direção a partir de tudo o
que Jesus ordenou (Mateus 28.20).

Dewey M. Mulholland correlaciona, corretamente, a exigência de seguir a Cristo


com a necessidade de obedecê-lo. “O ‘segue-me’ de Jesus”, ele diz, “requer
obediência, a disciplina necessária para se desistir dos desejos e dos planos
próprios para atender ao que Deus quer”20.

Em Lucas 6.46, aqueles que dizem reconhecer ao senhorio de Cristo sem, contudo,
se submeter às suas ordens são confrontados com as seguintes palavras: “Por que
vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?”.
O problema denunciado por Jesus é a incoerência entre confissão e prática. Quando
confessamos nossa fé em Jesus Cristo e o negamos com as nossas atitudes estamos
enganando a nós mesmos: “sejam praticantes da palavra, e não somente ouvintes,
enganando vocês mesmos” (Tiago 1.22).

De acordo com James Montgomery Boice, “Jesus não pode ser o nosso Senhor sem
a nossa obediência; e se Ele não é o nosso Senhor, não pertencemos a Ele. Somos
como o homem cuja casa foi levada pela correnteza”21.

Conclusão

Para se tornar um discípulo de Jesus é preciso atender à quatro exigências: “Se


alguém quiser (voluntariedade) acompanhar-me, negue-se a si
mesmo (renúncia), tome a sua cruz (sacrifício) e siga-me (submissão).

É preciso, contudo, compreender que ninguém tem, em si mesmo, a capacidade de


cumprir as exigências do discipulado. Como afirma Hendriksen, “a conversão (bem
como o processo de santificação que se segue), apesar de ser, certamente, uma
responsabilidade humana, é impossível de acontecer sem a regeneração (Jo 3.3,5),
que é a obra do Espírito Santo no coração do pecador”22.

Ao apresentar as exigências do discipulado tem como desejo encorajar àqueles que


buscam a presença de Jesus para satisfazer suas necessidades a se entregar a Ele
para um relacionamento mais íntimo e transformador.

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