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O discipulado, de acordo com Dietrich Bonhoeffer, não se constitui uma opção para
a fé cristã, visto que ao negligenciar a sua prática a igreja necessariamente perde
sua relevância, tornando-se um “cristianismo sem Jesus Cristo”1.
Apesar de sua importância, ao longo dos anos, diversos estudiosos têm denunciado
a negligência do discipulado e as consequências negativas que inevitavelmente
sobrevêm à saúde espiritual da igreja. James Montgomery Boice lamenta as
pouquíssimas evidências de um verdadeiro cristianismo diante da
percepção de que grande parte das pessoas que se dizem cristãs, mesmo se
envolvendo em muitas atividades e conversas sobre Cristo, não estejam de fato
seguindo-o2.
Os evangelhos nos fornecem diversos relatos em que Jesus exercia seu ministério
cercado por uma grande multidão. Seu ensino a encantava (Mateus 7.28-29; 22.33;
Marcos 1.22) e seus milagres, principalmente de cura, a atraía a segui-lo (Mateus
15.30; João 6.2).
Apesar de seu sucesso e amor para com a multidão, esta não se constituía a
prioridade do seu ministério. “Embora Jesus tivesse feito tudo quanto estava ao
seu alcance para ajudar às multidões”, afirma Robert E. Coleman, “ele precisou dar
maior atenção ao pequeno grupo de homens-chave, e não às massas, a fim de que
essas multidões, finalmente, pudessem ser salvas”5.
Nesse sentido, Jesus tinha compaixão pela multidão suprindo as suas necessidades,
mas quando se tratava dos seus discípulos o nível de comprometimento exigido
era bem maior. Afinal, como declara Günther Bornkamm, “caminhar atrás dele
ainda não significa segui-lo”6.
Esse é um ponto que distingue o discipulado cristão dos modelos de formação das
escolas de filosofia dos gregos e das escolas rabínicas dos judeus. Entre os filósofos
gregos, um homem era chamado mathêtês(discípulo) quando se vinculava a
um didaskalos (mestre), a quem tinha de pagar pelos ensinamentos. Sócrates,
contudo, não se considerava um didaskalos e não aceitava ter
nenhum mathêtês porque acreditava num tipo “particular de relacionamento
comunitário, no qual tanto o mestre quanto o aluno se sentem dedicados ao
mesmo alvo em comum”8.
O primeiro caminho alega que tudo o que você precisa para ser feliz só depende de
você. Sendo assim, se você quer um salário melhor, basta trabalhar mais ou
melhorar sua estratégia; para um casamento feliz você só precisa seguir os
princípios bíblicos para um relacionamento conjugal; se quiser as bênçãos de Deus
você precisa cumprir a todos os mandamentos.
É nesse sentido que o discipulado cristão exige renúncia. Não se pode cumprir as
próximas exigências quando o “eu” e não Deus está no controle de nossas decisões.
Não basta deixar de praticar determinadas coisas, é necessário que Cristo assuma
o controle de nossas vidas e nos capacite a cumprir a próxima exigência do
discipulado: o sacrifício.
Esse é o pressuposto do seu discipulado: uma vez que “o discípulo não está acima
do seu mestre” (Lucas 6.40), deve estar disposto a suportar os sofrimentos e a
rejeição semelhante a que ele enfrentou. Assim como o mestre tomaria a sua cruz,
seus discípulos também deveriam fazer o mesmo. Jesus diz em Lucas
14.27: “aquele que não carrega sua cruz e não me segue não pode ser meu
discípulo”.
Bonhoeffer afirma que “quem não quiser tomar sobre si a cruz, quem não quiser
expor sua vida ao sofrimento e à rejeição por parte dos seres humanos, perde a
comunhão com Cristo e não é seu discípulo”15. Dentre os sofrimentos impostos a
todo discípulo de Jesus ele destaca dois: o abandono de suas vinculações com o
mundo (morte no batismo) e o levar sobre si os pecados de outros seres
humanos (os fardos uns dos outros).
O primeiro sofrimento está relacionado ao fato de que não podemos permitir que
nada neste mundo, incluindo pai, mãe, marido, esposa, filho, filha, bens materiais e
realizações pessoais, fique entre nós e Cristo (Lucas 14.26). O segundo sofrimento
envolve levar “os fardos pesados uns dos outros” (Gálatas 6.2) que, de acordo com
Bonhoeffer, é “levar não apenas sua situação, a maneira de ser, o temperamento,
mas, acima de tudo, seus pecados”16.
Josef Tson, nos ensina quatro lições importantes ao tratar do tema do sofrimento e
do martírio como estratégia de Deus no mundo. A primeira lição é que Jesus sabe
que o mundo odiará os seus discípulos, mas que ele espera que a reação de suas
testemunhas ao ódio seja o amor e à violência seja suportá-la com alegria.
Por fim, a quarta lição é que o discípulo está totalmente à disposição do Mestre
porque pensa como um escravo. Tson afirma que “é o Mestre quem decide que tipo
de serviço o discípulo irá realizar [e que seu dever] é descobrir a vontade do
Mestre e cumpri-la com alegria e paixão”187. Para saber como descobrir a vontade
de Deus, leia o meu artigo A tomada de decisão e a vontade de Deus.
Em Lucas 6.46, aqueles que dizem reconhecer ao senhorio de Cristo sem, contudo,
se submeter às suas ordens são confrontados com as seguintes palavras: “Por que
vocês me chamam ‘Senhor, Senhor’ e não fazem o que eu digo?”.
O problema denunciado por Jesus é a incoerência entre confissão e prática. Quando
confessamos nossa fé em Jesus Cristo e o negamos com as nossas atitudes estamos
enganando a nós mesmos: “sejam praticantes da palavra, e não somente ouvintes,
enganando vocês mesmos” (Tiago 1.22).
De acordo com James Montgomery Boice, “Jesus não pode ser o nosso Senhor sem
a nossa obediência; e se Ele não é o nosso Senhor, não pertencemos a Ele. Somos
como o homem cuja casa foi levada pela correnteza”21.
Conclusão